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Resenha narrativa-crítica: Contabilidade de mercados municipais
Ao atravessar a feira central numa manhã chuvosa, senti sob os pés a história de uma cidade: marcas de rodas de carrinho, papéis grudados, fios de luz que cruzavam barracas como equações improvisadas. Foi ali, entre bancas de hortifrutis e açougues, que percebi a contabilidade que realmente importa — aquela que não está apenas em livros, mas nos rostos, nos acordos orais, nas trocas de dívida em pequenas folhas de caderno. Esta resenha é, portanto, um relato híbrido: narro experiências, reverencio práticas locais e argumento que a contabilidade de mercados municipais merece ser repensada como ferramenta pública de equidade e sustentabilidade.
Meu primeiro encontro foi com Dona Marina, quitandeira que guarda as contas do dia num caderno surrado. "Anoto as compras, os fiados e o troco", disse ela, apontando para uma página onde números se misturavam a nomes de clientes e desenhos de produtos. Há, nessa escrita marginal, uma lógica contábil — fluxo de caixa, provisões para perdas e até análise de sazonalidade — mas sem a rigidez das normas disciplinares. A narrativa que se desdobra nesse caderno revela um sistema paralelo: informal, resiliente e, por vezes, mais sensível às necessidades da comunidade do que os demonstrativos oficiais.
Ao observar o gerente do mercado público, percebi outra dimensão. Ele lida com aluguéis de boxes, taxas municipais e relatórios trimestrais. Sua contabilidade é formal, orientada por leis, por controles internos e por prestação de contas. Contudo, há uma tensão constante entre essa formalidade e a imprevisibilidade da vida de barraca. Quando um produtor falta, quando a fiscalização municipal muda a regra do lixo, o balanço do mercado treme. É nesse vão entre o formal e o informal que mora o desafio da contabilidade municipal: tornar-se ponte entre eficiência técnica e compreensão socioeconômica local.
Argumento aqui que a contabilidade de mercados municipais precisa ser reconfigurada em três eixos. Primeiro, reconhecer a pluralidade de registros: integrar práticas informais (cadernetas, memorandos) aos sistemas oficiais, sem burocratizar o cotidiano dos comerciantes. Isso não significa precarizar controles, mas ampliar o reconhecimento de evidências contábeis que refletem a realidade do fluxo de bens e valores nesses espaços.
Segundo, fortalecer mecanismos de transparência participativa. A prestação de contas do mercado não deve ser um documento hermético para técnicos. Proponho relatórios simplificados, painéis mensais e assembleias onde números sejam discutidos com feirantes. Transparência compartilhada estimula responsabilização mútua e permite diagnósticos mais precisos sobre inadimplência, inadaptação de preços e necessidades de infraestrutura.
Terceiro, incorporar indicadores sociais e ambientais. Mercados municipais não são apenas pontos de venda; são núcleos de segurança alimentar, de inclusão econômica e de preservação de culturas alimentares. Contabilizar desperdício, acesso a alimentos saudáveis, geração de trabalho informal e impacto de políticas sanitárias transforma a contabilidade em instrumento estratégico para políticas públicas.
A resenha deve também problematizar: há riscos na formalização precipitada. Insistir em requisitos fiscais padronizados pode excluir pequenos comerciantes que vivem de margens estreitas. Por outro lado, tolerar a informalidade sem regulação acarreta evasão fiscal e precarização do serviço público. O equilíbrio requer soluções graduais: capacitação contábil básica para feirantes, linhas de crédito adaptadas e sistemas de registro simplificados que preservem direitos e responsabilidades.
Narrativamente, os mercados são territórios de saberes. Vi um contador voluntário que, após uma conversa de cinco minutos, organizou as entradas e saídas de uma barraca de peixe e mostrou ao proprietário como uma planilha básica diminuiu perdas em 12% no mês seguinte. Histórias como essa mostram a potência transformadora da contabilidade quando limpa sua aura de técnica distante e se converte em ferramenta pedagógica e comunitária.
Também convém destacar a tecnologia: aplicativos simples de registro e terminais de pagamento móvel estão ampliando a formalidade sem esmagar a cultura local. Ainda assim, a adoção tecnológica exige treinamento e conectividade confiável — bens que muitas prefeituras precisam garantir para evitar exclusão digital.
Concluo esta resenha reafirmando uma convicção: contabilidade de mercados municipais é muito mais que números; é narração de vida econômica e social. Seu papel deve ir além de cumprir leis fiscais; precisa mediar justiça econômica, eficiência operacional e preservação cultural. A obra que mais me inspirou neste tema é, paradoxalmente, a própria cena do mercado — um laboratório vivo onde contadores, comerciantes e gestores municipais podem reinventar, no dia a dia, o sentido da prestação de contas. Se a contabilidade aprender com essa cena, teremos não apenas melhores balanços, mas cidades mais alimentadas, justas e transparentes.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
1) O que diferencia a contabilidade formal da praticada nos mercados municipais?
Resposta: A formal é padronizada por normas e tributos; a dos mercados é mais informal, baseada em cadernos, relações de confiança e adaptações cotidianas.
2) Como integrar registros informais aos sistemas oficiais?
Resposta: Por meio de registros simplificados, capacitação, digitalização assistida e reconhecimento legal de documentos comunitários.
3) Quais indicadores sociais devem integrar a contabilidade municipal?
Resposta: Desperdício de alimentos, segurança alimentar, geração de renda informal, acesso a produtos frescos e impacto sanitário.
4) Quais riscos da formalização rápida nos mercados?
Resposta: Exclusão de pequenos comerciantes, aumento de custos operacionais e perda de práticas culturais adaptativas.
5) Que papel a tecnologia pode exercer?
Resposta: Facilitar registros, reduzir perdas, ampliar transparência e possibilitar pagamento eletrônico, desde que haja treinamento e conectividade.
Resenha narrativa-crítica: Contabilidade de mercados municipais
Ao atravessar a feira central numa manhã chuvosa, senti sob os pés a história de uma cidade: marcas de rodas de carrinho, papéis grudados, fios de luz que cruzavam barracas como equações improvisadas. Foi ali, entre bancas de hortifrutis e açougues, que percebi a contabilidade que realmente importa — aquela que não está apenas em livros, mas nos rostos, nos acordos orais, nas trocas de dívida em pequenas folhas de caderno. Esta resenha é, portanto, um relato híbrido: narro experiências, reverencio práticas locais e argumento que a contabilidade de mercados municipais merece ser repensada como ferramenta pública de equidade e sustentabilidade.
Meu primeiro encontro foi com Dona Marina, quitandeira que guarda as contas do dia num caderno surrado. "Anoto as compras, os fiados e o troco", disse ela, apontando para uma página onde números se misturavam a nomes de clientes e desenhos de produtos. Há, nessa escrita marginal, uma lógica contábil — fluxo de caixa, provisões para perdas e até análise de sazonalidade — mas sem a rigidez das normas disciplinares. A narrativa que se desdobra nesse caderno revela um sistema paralelo: informal, resiliente e, por vezes, mais sensível às necessidades da comunidade do que os demonstrativos oficiais.

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