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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES PROFESSORA JOELMA SOUZA LIVROS MANUAL DE DIREITO CIVIL - PABLO STOLZE E RODOLFO PAMPLONA FILHO MANUAL DE DIREITO CIVIL - FLÁVIO TARTUCE DIREITO CIVIL BRASILEIRO 2 - CARLOS ROBERTO GONÇALVES CURSO DE DIREITO CIVIL 2 - CRISTIANO CHAVES DE FARIAS E NELSON ROSENVALD AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO PROVA OBJETIVA E SUBJETIVA QUESTÕES MÚLTIPLAS ESCOLHAS E QUESTÕES DISCURSIVAS AVALIAÇÃO TRABALHO INTRODUÇÃO A obrigação é tida por muitos estudiosos do Direito como um dos institutos jurídicos mais importantes de todo o Direito Civil. Para sua compreensão é imperioso estudar os conceitos básicos que decorrem da relação jurídica obrigacional. A teoria geral das obrigações é o primeiro tema a ser tratado pela parte especial do CC/02. O CC/02 trata do tema entre os seus artigos 233 a 420. São pontos que interessam tanto o Direito Contratual ou Obrigacional, como todo o Direito Privado. No que se refere ao conceito, o CC/02 não define o que seria obrigação. Tal função ficou a cargo da doutrina, e, de tal forma, não são poucos os conceitos existentes. CONCEITOS NA DOUTRINA TARTUCE, “conceitua-se a obrigação como a relação jurídica transitória, existente entre um sujeito ativo, denominado credor, e outro sujeito passivo, o devedor, e cujo objeto consiste em uma prestação situada no âmbito dos direitos pessoais, positiva ou negativa. Havendo o descumprimento ou inadimplemento obrigacional, poderá o credor satisfazer-se no patrimônio do devedor”. WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, a obrigação é “a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio”. PABLO STOLZE GAGLIANO E RODOLFO PAMPLONA FILHO, obrigação é a “relação jurídica pessoal por meio da qual uma parte (devedora) fica obrigada a cumprir, espontânea ou coativamente, uma prestação patrimonial em proveito da outra (credor)”. CONCEITOS NA DOUTRINA CRISTIANO CHAVES DE FARIAS E NELSON ROSENVALD, “relação jurídica transitória, estabelecendo vínculos jurídicos entre duas diferentes partes (denominadas credor e devedor, respectivamente), cujo objeto é uma prestação pessoal, positiva ou negativa, garantido o cumprimento, sob pena de coerção judicial”. RUBENS LIMONGI FRANÇA, “é o vínculo jurídico ou de equidade, pelo qual alguém está adstrito a, em benefício de outrem, realizar uma prestação”. ÁLVARO VILLAÇA AZEVEDO, “a obrigação é a relação jurídica transitória, de natureza econômica, pela qual o devedor fica vinculado ao credor, devendo cumprir determinada prestação positiva ou negativa, cujo inadimplemento enseja a este executar o patrimônio daquele para a satisfação de seu interesse”. CONCEITO Obrigação é o vínculo jurídico, de caráter transitório, que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação positiva ou negativa, por cujo descumprimento o seu patrimônio (patrimônio do devedor) responde. Em sentido clássico e estrutural, obrigação era considerada apenas como o vínculo jurídico formado por um sujeito, denominado credor, que poderia exigir de outro sujeito, devedor, o cumprimento de uma prestação (dar, fazer ou não fazer – modalidades de obrigações). Modernamente, influenciada pela doutrina alemã, a relação obrigacional vem sendo considerada uma relação dinâmica, vista como um processo, ou seja, uma sequência de atos encadeados que devem levar ao adimplemento da obrigação. ELEMENTOS ESSENCIAIS O Direito das Obrigações possui elementos essenciais, sem os quais a relação obrigacional não existiria, por este motivo, os elementos essenciais encontram - se no Plano da Existência, são eles: 1) Sujeitos (credor e devedor); 2) Prestação – objeto da obrigação (o devedor se compromete com o credor a uma prestação, que pode ser de qualquer modalidade das obrigações de dar, fazer ou não fazer). 3) Vínculo jurídico (vínculo imaterial ou elo de ligação abstrata entre credor e devedor); Há dois fatores decompostos da ideia de vínculo obrigacional: débito (schuld) e responsabilidade (haftung). Débito é a prestação a ser cumprida pelo devedor, em decorrência da relação de direito material. É a situação jurídica passiva representada pelo dever de realizar certa conduta ou atividade. Responsabilidade patrimonial é a situação que recai sobre o patrimônio do devedor como garantia do direito do credor, derivada do inadimplemento. A responsabilidade somente se concretiza quando do descumprimento da obrigação. 4) Valores sociais fundados nos princípios constitucionais do Estado Democrático de Direito, os quais passam a integrar, como pressuposto lógico e necessário, o conteúdo da relação jurídica obrigacional. A obrigação somente terá legitimidade e tutela do Estado se ajustada a esses valores. ELEMENTOS ACIDENTAIS Os elementos acidentais são aqueles que serão analisados no Plano da Eficácia, no caso de reconhecida uma obrigação, será necessário verificar se ela é apta para produzir efeitos imediatos, o que dependerá da existência ou não dos elementos acidentais. Em outras palavras, na relação obrigacional nem sempre teremos os elementos acidentais, são eles: Condição: Está vinculada a evento futuro e incerto. Pode ser dividida em condição suspensiva ou condição resolutiva. Na suspensiva, a produção de efeitos depende de seu implemento, enquanto que na resolutiva, a eficácia de sua obrigação se extingue com seu implemento. Termo: Consiste num evento futuro e certo, estabelecido como marco, ou do início da produção de efeitos ou do final. Encargo: Se reveste de um ônus ao beneficiado por uma obrigação gratuita PRINCÍPIOS Após a segunda metade do século XX e, no Brasil, mais especificamente, após a Constituição de 1988, houve a necessidade de reler essa relação tradicional, analisada sob a perspectiva da estrutura da obrigação, a fim de adaptá-la aos valores constitucionais, dessa forma os Princípios que regem o Direito das Obrigações são: PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE PRINCÍPIO DA JUSTIÇA SOCIAL PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL PRINCÍPIO DA IGUALDADE SUBSTANCIAL PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA Adimplemento e Extinção das Obrigações Para o Direito das Obrigações Pagamento significa ADIMPLEMENTO ou CUMPRIMENTO VOLUNTÁRIO da prestação devida. É através do pagamento, cumprimento ou adimplemento obrigacional Que se tem a liberação total do devedor em relação ao vínculo obrigacional. NATUREZA JURÍDICA O pagamento ou adimplemento voluntário é um fato jurídico. A doutrina diverge quanto à espécie de fato jurídico. CAIO MÁRIO fala que o pagamento é um fato jurídico enquanto ato negocial. STOLZE remete ao caso concreto para concluir acerca da natureza negocial ou não do pagamento. A discussão em torna de se reconhecer a natureza negocial do pagamento é a repercussão quanto à aplicação dos vícios do negócio jurídico ao ato. A Teoria do Adimplemento Substancial ou Substancial Performance se trata de uma teoria advinda do direito norte-americano, segundo a qual, à luz do princípio da boa-fé objetiva, não se considera razoável resolver a obrigação nos casos em que a prestação pactuada, posto que não adimplida de forma completa, tenha sido substancialmente adimplida pelo devedor. Exemplo de aplicação prática da citada teoria no Direito pátrio é a possibilidade de pagamento da indenização ao segurado que estava em mora com o pagamento do prêmio no contrato de seguro. Da mesma forma, a título de exemplo, a despeito da redação do artigo 763, que prevê a perda do direito do segurado, o STJ já julgou favoravelmente ao segurado, a fim de se evitar injustiças, condenando a seguradora ao pagamento da indenização devida, abatido a parcela do prêmio que estava em atraso. No mesmo sentido, o STJ também já aplicou a teoria do adimplemento substancial em contrato de alienação fiduciária de bem imóvel (REsp 415.971/SP).real, deixando de ser o crédito de natureza pignoratícia para se torna quirografário. O artigo 1.436, §1º, do CC/02 elenca a remissão (inc. V) e a renúncia (inc. III) da coisa empenhada como hipóteses de extinção do penhor, sendo que a renúncia será presumida quando a posse da coisa empenhada é restituída ao devedor. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES O inadimplemento das obrigações trata-se de uma matéria com enorme relevância dentro dos direitos das obrigações, tendo em vista que um dos maiores interesses jurídicos quanto à obrigação surge justamente quando ela não é satisfeita. Dessa forma, com o inadimplemento da obrigação, ou inexecução ou descumprimento, surge a responsabilidade civil contratual, baseada nos artigos. 389 a 391 do CC/2002. Nasce, portanto, o dever de indenizar as perdas e danos, sem prejuízo de outros direitos, como os danos morais. MODALIDADES DE INADIMPLEMENTO De acordo com a doutrina, o inadimplemento pode ocorrer em dois casos: • Inadimplemento relativo, parcial ou mora: trata-se da hipótese em que há apenas um descumprimento parcial da obrigação, que ainda pode ser cumprida. • Inadimplemento total ou absoluto: trata-se da hipótese em que a obrigação não pode ser mais cumprida, tornando-se inútil ao credor. Portanto, o critério para distinguir ambos, é a utilidade da obrigação para o credor. Os efeitos decorrentes da mora, logicamente, são menores do que os efeitos do inadimplemento absoluto, já que no inadimplemento absoluto a obrigação não pode mais ser cumprida. Regras quanto ao inadimplemento relativo ou mora O conceito de mora pode ser retirado do artigo 394 do CC/02: CC/02. Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer. Assim, a mora pode estar relacionada a um inadimplemento temporal, bem como pode estar relacionada com o lugar ou a forma de cumprimento. ➢ Mora do devedor Conforme a doutrina, existe a mora solvendi, debitoris ou debendi. Mora do devedor: quando ele não cumpre, por culpa sua, a prestação referente à obrigação, de acordo com o que foi pactuado. O artigo 395 do CC/02, se refere ao principal efeito da mora, que é a responsabilização do sujeito passivo da obrigação por todos os prejuízos causados ao credor, mais juros, atualização monetária e honorários do advogado. CC/02. Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos. No caso do disposto no parágrafo único do referido artigo, a mora é convertida em inadimplemento absoluto. Em relação a este dispositivo, foi aprovado, na III Jornada de Direito Civil, o Enunciado nº 162. Enunciado nº 162: A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte do credor deverá ser aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalagma, e não de acordo com o mero interesse subjetivo do credor. Conforme o artigo 396 do CC/02, não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora. A doutrina subclassifica a mora do devedor em: • Mora ex re ou mora automática: quando a obrigação for positiva (de dar ou fazer), líquida (certa quanto à existência e determinada quanto ao valor) e com data fixada para o adimplemento. O CC/02 dispõe que o inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor (artigo 397). Assim, implica na mora do devedor de forma automática, sem a necessidade de qualquer providência por parte do credor. • Mora ex persona ou mora pendente: é caracterizada se não houver estipulação de termo final para a execução da obrigação assumida. A caracterização do atraso dependerá de uma providência, do credor ou seu representante, por meio de interpelação, notificação ou protesto do credor, que pode ser judicial ou extrajudicial. Assim, não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial (artigo 397 parágrafo único). • Mora irregular ou presumida: ela está prevista no artigo 398 do CC/02. Nos termos do referido artigo, nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou. Nos termos do artigo 399 do CC/02, o devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada. Sobre referido artigo, TARTUCE ensina que “o comando representa exceção à regra do art. 393 do CC, pelo qual a parte não responde pelo caso fortuito (evento totalmente imprevisível) ou pela força maior (evento previsível, mas inevitável). Entretanto, se o devedor provar que a perda da coisa objeto da obrigação ocorreria mesmo não havendo o atraso, tal responsabilidade deverá ser afastada. Exemplo: imagine-se um caso em que um devedor está em atraso quanto à obrigação de entregar um cavalo. Ocorre uma enchente em sua fazenda e o cavalo se perde. Em regra, responderá tal devedor por perdas e danos, o que inclui o valor do animal. Mas se ele provar que a enchente também atingiu a fazenda do credor, onde supostamente estaria o animal se não houvesse atraso, tal responsabilidade deverá ser afastada”. MORA DO CREDOR A mora do credor também é denominada pela doutrina de mora accipiendi, creditoris ou credendi. Conforme TARTUCE, a mora do credor, “apesar de rara, se faz presente nas situações em que o credor se recusa a aceitar o adimplemento da obrigação no tempo, lugar e forma pactuados, sem ter justo motivo para tanto. Para a sua configuração basta o mero atraso ou inadimplemento relativo do credor, não se discutindo a culpa deste”. Nos termos do que dispõe o artigo 400 do CC/02, a mora do credor gera 3 efeitos: • A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa; • Obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la; e • Sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação. QUESTÕES Ano: 2023 Banca: Instituto Americano de Desenvolvimento - IADES Prova: IADES - SEAGRI - DF - Analista - Área Direito - 2023 Em relação às obrigações estabelecidas pelo Código Civil, assinale a alternativa correta. O inadimplemento da obrigação, negativa e ilíquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Como regra, o devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação. No entanto, deixa de responder se essa impossibilidade resultar de caso fortuito ou de força maior, ainda que estes fatos ocorram durante o atraso. Mesmo não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, incorre este em mora. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer. O devedor responde pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo os índices oficiais regularmente estabelecidos, dispensado, contudo, do pagamento de honorários de advogado. RESPOSTA A - ERRADA - Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial. B - ERRADA - Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada. C - ERRADA- Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora. D - CERTA - Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer. E - ERRADA - Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. PURGAÇÃO OU EMENDA DA MORA A purgação ou emenda da mora significa afastar os efeitos decorrentes do inadimplemento parcial, principalmente do atraso no cumprimento. Conforme o artigo 401 do CC/02, purga-se a mora: • I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta; • II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data. Trata-se de premissas gerais. Há, no entanto, regras especiais a respeito da purgação da mora, como exemplo a como a que consta do art. 62 da Lei nº 8.245/1991, para as locações imobiliárias urbanas. Por fim, importante destacar a diferença da purgação da mora com a cessação da mora. TARTUCE cita Maria Helena Diniz que explica a diferença de ambos os institutos, a qual entende que “ocorre a purgação da mora por meio de ato espontâneo do sujeito obrigacional em atraso, que visa remediar a situação a que deu causa, evitando os seus efeitos decorrentes e reconduzindo a obrigação à situação de normalidade. A purgação ou emenda da mora somente produz efeitos para o futuro (ex nunc), não destruindo os efeitos danosos produzidos desde o dia da incidência em mora. Por outra via, a cessação da mora, ocorrerá por um fato extintivo de efeitos pretéritos e futuros, como sucede quando a obrigação se extingue com a novação, remissão de dívidas ou renúncia do credor”. REGRAS QUANTO AO INADIMPLEMENTO ABSOLUTO DA OBRIGAÇÃO Nos termos do artigo 389 do CC/02, não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. A respeito dos honorários advocatícios referido no artigo mencionado, o Enunciado 161 da III Jornada de Direito Civil da CJF dispõe o seguinte: Enunciado 161 da CJF: Os honorários advocatícios previstos nos arts. 389 e 404 do Código Civil apenas têm cabimento quando ocorre a efetiva atuação profissional do advogado. O artigo 390 do CC/02 determina que nas obrigações negativas (de não fazer), o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster. Em complemento, o artigo 391 dispõe que pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor (princípio da imputação civil dos danos ou princípio da responsabilidade patrimonial do devedor). Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei (artigo 392). Por fim, o artigo 393 do CC/02, dispõe que o devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Sobre as conseqüências do inadimplemento absoluto, a principal refere-se ao pagamento de perdas e danos, previstas entre os artigos 402 a 405 do CC/02. Conforme o artigo 402 do CC/02, salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu (danos emergentes ou danos positivos), o que razoavelmente deixou de lucrar (lucros cessantes ou danos negativos). Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual (artigo 403). Nos termos do artigo 404 do CC/02, as perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional. Entretanto, provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar. Por fim, o artigo 405 dispõe que contam-se os juros de mora desde a citação inicial. JUROS NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 Um dos principais efeitos do inadimplemento da obrigação é a incidência de juros a serem suportados pelo devedor. Juros são frutos civis ou rendimentos, devidos pela utilização de capital alheio. A doutrina classifica os juros da seguinte forma: • Quanto à origem: o Juros convencionais: São os juros que decorrem de acordo entre as partes. o Juros legais: São os juros que decorrem da norma jurídica. • Quanto à relação com o inadimplemento:329 o Juros moratórios: Os juros moratórios constituem um ressarcimento imputado ao devedor pelo descumprimento parcial da obrigação. Como regra geral, eles são devidos desde a constituição em mora e independem da alegação e prova do prejuízo suportado (art. 407 do CC). o Juros compensatórios ou remuneratórios: Os juros compensatórios ou remuneratórios são aqueles que decorrem de uma utilização consentida do capital alheio, como nos casos de inadimplemento total da obrigação. Nos termos do artigo 406 do CC/02, quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Ademais, o artigo 407 do CC/02 dispõe que ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes. Enunciado 428, da V Jornada de Direito Civil: Os juros de mora, nas obrigações negociais, fluem a partir do advento do termo da prestação, estando a incidência do disposto no art. 405 da codificação limitada às hipóteses em que a citação representa o papel de notificação do devedor ou àquelas em que o objeto da prestação não tem liquidez. A atualização monetária e juros a partir do vencimento de cada prestação; QUESTÃO Ano: 2022 Banca: Fundação Getúlio Vargas - FGV Prova: FGV - MPE GO - Promotor de Justiça Substituto - 2022 A Robustez Ltda. foi contratada pelo condomínio do edifício Rosas para prestar serviços de segurança e vigilância por um ano, em troca do pagamento mensal de R$ 10.000,00, a ser efetivado até o dia 05 de cada mês. Findo um ano, o contrato não foi renovado porque o condomínio ficou inadimplente das três últimas prestações, e agora a Robustez Ltda. pleiteia o pagamento do total devido. Sobre cada prestação atrasada, incidirão: A) atualização monetária e juros a partir do vencimento de cada prestação; B) atualização monetária a partir do ajuizamento da ação e juros a partir da citação; C) atualização monetária a partir do vencimento de cada prestação e juros a partir da citação; D) atualização monetária a partir da sentença que quantificou o valor devido e juros a partir do vencimento de cada prestação; E) atualização monetária e juros a partir da sentença que quantificou o valor devido. CLÁUSULA PENAL A cláusula penal está prevista no CC/02, sendo estudada como tema condizente ao inadimplemento obrigacional, entre os artigos 408 a 416. TARTUCE conceitua a cláusula penal como a penalidade, de natureza civil, imposta pela inexecução parcial ou total de um dever patrimonial assumido”. O autor acrescenta ainda que “a cláusula penal é pactuada pelas partes no caso de violação da obrigação, mantendo relação direta com o princípio da autonomiaprivada, motivo pelo qual é também denominada multa contratual ou pena convencional. Trata-se de uma obrigação acessória que visa a garantir o cumprimento da obrigação principal, bem como fixar, antecipadamente, o valor das perdas e danos em caso de descumprimento. Por ser acessória, aplica-se o princípio pelo qual a obrigação acessória deve seguir a principal (princípio da gravitação jurídica), fazendo com que no caso de nulidade do contrato principal a multa também seja declarada nula”. Vejamos o que dispõe o artigo 408 do CC/02:Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora. Dessa forma, em regra, a incidência da cláusula penal exige a culpa genérica do devedor. O artigo 409 do CC/02 dispõe que a cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora. Nos termos do CC/02, existem duas espécies de cláusula penal: cláusula penal compensatória e cláusula penal moratória. • Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor (artigo 410). Trata-se da cláusula penal compensatória (compensar o inadimplemento), a qual é estipulada para servir como indenização no caso de total inadimplemento da obrigação principal. • Entretanto, quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal (artigo 411). Trata-se da cláusula penal moratória (compulsória), estipulada para desestimular o devedor a incorrer em mora ou para evitar que deixe de cumprir determinada cláusula especial da obrigação principal. Jurisprudência:Em regra, a cláusula penal moratória não pode ser cumulada com indenização por lucros cessantes “A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra, estabelecida em valor equivalente aolocativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes”. STJ./2019 Para o Min. Luis Felipe Salomão, a natureza da cláusula penal moratória é eminentemente reparatória (indenizatória), possuindo também, reflexamente, uma função dissuasória (ou seja, de desestímulo ao descumprimento). Tanto isso é verdade que a maioria dos contratos de promessa de compra e venda prevê uma multa contratual por atraso (cláusula penal moratória) que varia de 0,5% a 1% ao mês sobre o valor total do imóvel. Esse valor é escolhido porque representa justamente a quantia que imóvel alugado, normalmente, produziria ao locador. Assim, como a cláusula penal moratória já serve para indenizar/ressarcir os prejuízos que a parte sofreu, não se pode fazer a sua cumulação com lucros cessantes (que também consiste em uma forma de ressarcimento). Diante desse cenário, havendo cláusula penal no sentido de prefixar, em patamar razoável, a indenização, não cabe a sua cumulação com lucros cessantes. Por que a tese fixada fala “em regra”? Porque o Min. Luis Felipe Salomão disse que, a depender do caso concreto, a parte poderá demonstrar que sofreu algum dano especial, além daqueles regularmente esperados da inadimplência, e que a cláusula penal moratória seria insuficiente para reparar esse dano. Assim, nesses casos excepcionais, seria possível a cobrança tanto da cláusula penal moratória como também da indenização. É o caso, por exemplo, da situação em que a cláusula penal moratória se mostre objetivamente insuficiente, em vista do tempo em que veio a perdurar o descumprimento contratual, a atrair a incidência do princípio da reparação integral, insculpido no art. 944 do CC. Se não houver cláusula penal, continua sendo possível a condenação por lucros cessantes: Nem sempre os contratos de promessa de compra e venda possuem cláusula penal estipulando multa para a construtora em caso de atraso na entrega do imóvel. Assim, se não existir cláusula penal e se houve efetivamente o atraso, será possível condenar a construtora ao pagamento de lucros cessantes. “O atraso na entrega do imóvel enseja pagamento de indenização por lucros cessantes durante o período de mora do promitente vendedor, sendo presumido o prejuízo do promitente comprador. Os lucros cessantes serão devidos ainda que não fique demonstrado que o promitente comprador tinha finalidade negocial na transação”. STJ. 2018 Ressalta-se que o CC/02 dispõe que o valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal (artigo 412). O artigo 413 do CC/02 determina uma redução equitativa da penalidade pelo juiz, se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo. CC/02. Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio. Nos termos do Enunciado 356 da CJF da IV Jornada de Direito Civil, o referido dispositivo se trata de norma de ordem pública, cabendo a decisão de redução ex officio pelo magistrado, independentemente de arguição pela parte. Enunciado 356 da CJF: Nas hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, o juiz deverá reduzir a cláusula penal de ofício. Enunciado 355 da CJF: Não podem as partes renunciar à possibilidade de redução da cláusula penal se ocorrer qualquer das hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, por se tratar de preceito de ordem pública. Jurisprudência: Caso CBF e Marfrig: contrato de patrocínio da Seleção Brasileira de Futebol “A CBF e a Marfrig celebraram contrato de patrocínio que tinha previsão de anos de vigência. Ocorre que a empresa deixou de efetuar os pagamentos, tendo ocorrido a resolução do ajuste. Havia, no contrato,cláusula penal prevendo o pagamento de multa de 20%. O STJ não aceitou a sua redução, com base nos seguintes fundamentos: A cláusula penal possui natureza mista, ou híbrida, agregando, a um só tempo, as funções de estimular o devedor ao cumprimento do contrato e de liquidar antecipadamente o dano. A jurisprudência do STJ tem admitido o controle judicial do valor da multa compensatória pactuada, sobretudo quando esta se mostrar abusiva, para evitar o enriquecimento sem causa de uma das partes, sendo impositiva a sua redução quando houver adimplemento parcial da obrigação. Não é necessário que a redução da multa, na hipótese de adimplemento parcial da obrigação, guarde correspondência matemática exata com a proporção da obrigação cumprida, sobretudo quando o resultado final ensejar o desvirtuamento da função coercitiva da cláusula penal. No caso concreto, a cláusula penal tinha preponderantemente função coercitiva, de modo que ela não poderia ser reduzida ao valor de uma única prestação ao fundamento de que essa seria a quantia que mais se aproximava do prejuízo suportado pela autora. Quando na estipulação da cláusula penal prepondera a finalidade coercitiva, a diferença entre o valor do prejuízo efetivo e o montante da pena não pode ser novamente considerada para fins de redução da multa convencional com fundamento na segunda parte do art. 413 do Código Civil. A preponderância da função coercitiva da cláusula penal justifica a fixação de uma pena elevada para a hipótese de rescisão antecipada, especialmente para o contrato de patrocínio, em que o tempo de exposição da marca do patrocinador e o prestígio a ela atribuído acompanham o grau de desempenho da equipe patrocinada. Em tese, não se mostra excessiva a fixação da multa convencional no patamar de 20% sobre o valor total do contrato de patrocínio, de modo a evitar que, em situações que lhe pareçam menos favoráveis, o patrocinador opte por rescindir antecipadamente o contrato. Deve-se considerar ainda que a cláusula penal está inserida em contrato empresarial firmadoentre empresas de grande porte, tendo por objeto valores milionários, inexistindo assimetria entre os contratantes que justifique a intervenção em seus termos, devendo prevalecer a autonomia da vontade e a força obrigatória dos contratos”. STJ. 3ª Turma. 2021 (Info 717). Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena. Mas a cláusula penal somente poderá ser demandada integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua quota (artigo 414). Aos não culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena. Jurisprudência:O devedor solidário responde pelo pagamento da cláusula penal compensatória, ainda que não incorra em culpa “Situação adaptada: a Petrobrás celebrou contrato de afretamento de embarcação com a Larsen Limited. Em outras palavras, a Larsen Limited deveria entregar uma embarcação para a Petrobrás, que viria do exterior para o Brasil. Como o contrato envolvia vultosos valores e a Larsen Limited está situada no exterior, a Petrobrás exigiu que a Larsen Brasil Ltda (outra empresa do grupo) também figurasse no ajuste como devedora solidária. Assim, a Larsen Brasil se obrigou conjuntamente com a outra empresa pelas “obrigações pecuniárias decorrentes do contrato”. A Larsen Limited, por culpa exclusiva sua, não cumpriu o contrato (não entregou a embarcação combinada). Diante disso, a Petrobrás cobrou o valor da cláusula penal compensatória exigindo o seu pagamento tanto da Larsen Limited (devedora principal) como da Larsen Brasil Ltda (devedora solidária). No caso, a parte não se obrigou pela entrega da embarcação (obrigação que se tornou impossível), mas pelas obrigações pecuniárias decorrentes do contrato. No entanto, é oportuno assinalar que a cláusula penal compensatória tem como objetivo prefixar os prejuízos decorrentes do descumprimento do contrato, evitando que o credor tenha que promover a liquidação dos danos. Assim, a cláusula penal se traduz em um valor considerado suficiente pelas partes para indenizar o eventual descumprimento do contrato. Tem, portanto, caráter nitidamente pecuniário”. STJ. 3ª Turma. 2021 TARTUCE ilustra tal obrigação da seguinte forma: “se a obrigação for de entrega de um touro reprodutor, com cinco devedores e uma multa moratória de R$ 1.000,00 (mil reais), na hipótese em que houver culpa de apenas um deles quanto ao atraso, apenas deste a multa poderá ser exigida na totalidade (R$ 1.000,00). Em relação aos demais, somente poderá ser exigida a quota correspondente, ou seja, R$ 200,00 (duzentos reais). Mesmo assim, aos não culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena (art. 414, parágrafo único, do CC). Entretanto, nos termos do artigo 415 do CC/02, quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua parte na obrigação. O artigo 416 do CC/02 ainda dispõe que para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo. Assim, a parte interessada não precisa provar o prejuízo para ter direito à multa. Ademais, nos termos do parágrafo único do referido artigo, ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente. TARTUCE exemplifica tal dispositivo da seguinte forma: “A contrata com B a compra de um estabelecimento comercial pelo último, que vale R$ 500.000,00. O instrumento impõe multa compensatória de R$ 50.000,00 e a possibilidade de a parte pleitear a indenização suplementar. A descumpre o pactuado, fazendo com que B sofra um prejuízo de R$ 30.000,00 diante de contratos já celebrados com fornecedores. Nesse caso, B poderá exigir a multa pactuada como taxa mínima ou o cumprimento do contrato, depositando para tanto o preço. Se quiser a multa não precisará provar o prejuízo suportado. Mas, se o seu prejuízo for de R$ 80.000,00 e constar a cláusula que dá direito a B à indenização suplementar, o credor poderá pleitear os R$ 80.000,00 ou o cumprimento do contrato. No primeiro caso terá somente que provar o prejuízo excedente à multa, ou seja, de R$ 30.000,00. Quanto aos R$ 50.000,00, não precisará provar o prejuízo”. image1.pngTeoria do Adimplemento Substancial ou Substancial Performance Há que se ressaltar que a referida teoria tem sido aceita pelos Tribunais, todavia, sua incidência não é automática, e, portanto, dependerá da análise do caso concreto. Jurisprudência: STJ – Informativo 500: Por meio da teoria do adimplemento substancial, defende-se que, se o adimplemento da obrigação foi muito próximo ao resultado final, a parte credora não terá direito de pedir a resolução do contrato porque isso violaria a boa-fé objetiva, já que seria exagerado, desproporcional, iníquo. No caso do adimplemento substancial, a parte devedora não cumpriu tudo, mas quase tudo, de modo que o credor terá que se contentar em pedir o cumprimento da parte que ficou inadimplida ou então pleitear indenização pelos prejuízos que sofreu (art. 475, CC). Em uma alienação fiduciária, se o devedor deixou de pagar apenas umas poucas parcelas, não caberá ao credor a reintegração de posse do bem, devendo ele se contentar em exigir judicialmente o pagamento das prestações que não foram adimplidas. O fundamento para aplicação da teoria do adimplemento substancial no Direito brasileiro é a cláusula geral do art. 187 do Código Civil, que permite a limitação do exercício de um direito subjetivo pelo seu titular quando se colocar em confronto com o princípio da boa-fé objetiva. Portanto, é plausível concluir que a teoria do adimplemento substancial está baseada no princípio da boa-fé objetiva, bem como no princípio da função social dos contratos. CONDIÇÕES DO PAGAMENTO ➢ Condições subjetivas do pagamento São condições subjetivas do pagamento: • Quem pode pagar; e • A quem se deve pagar. a) De Quem Deve Pagar: Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, aquele que se vincula juridicamente à obrigação, fiador/avalista. Igual direito cabe ao não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. Nesse sentido dispõe o artigo 304 do CC/02: CC/02. Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. Qual a diferença? O terceiro interessado (fiador, por exemplo), ao efetuar o pagamento, sub-roga-se em todos os direitos, ações, privilégios e garantias do credor originário. Já o terceiro não interessado, podem ocorrer duas situações: • Se pagar em seu próprio nome, terá pelo menos direito ao reembolso, mas não se sub- roga em todos os direitos e garantias que porventura venha a existir; • Se, todavia, pagar apenas em nome do devedor, não terá direito a nada. CC/02. Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor. Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento. O devedor pode se opor ao pagamento feito por terceiros? Nos termos do artigo 306 do CC/02 é possível a oposição ao pagamento, desde que o devedor indique ter meios de satisfazer o credor. Também é possível a oposição quando houver fundamento relevante, tal como a ocorrência de prescrição, por exemplo. CC/02. Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação. Nos termos do artigo 307 do CC/02, só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la. b) Daqueles a Quem se Deve Pagar: Inicialmente, o pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente. É o que dispõe o artigo 308 do CC/02: CC/02. Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. Nos termos do artigo 309 do CC/02, o pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor. Dessa forma, é juridicamente possível o pagamento feito à TERCEIRO, observando-se as duas seguintes condições: • O credor deverá ratificar o pagamento, ou, caso não o faça, poderá o devedor demonstrar que o pagamento reverteu em proveito daquele. • Também será considerado eficaz pagamento feito a terceiro nos termos do art. 309, à luz da “Teoria da Aparência” no caso do credor putativo. O fundamento para o reconhecimento da eficácia no pagamento feito ao credor putativo é o princípio da boa-fé, na faceta da confiança, a quem se apresenta na qualidade de credor, sem, contudo, sê-lo Porém, não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu (artigo 310). O artigo 311 do CC/02 dispõe também que considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante. Por fim, nos termos do artigo 312 do CC/02, se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor. CONDIÇÕES OBJETIVAS As condições objetivas são aquelas relacionadas ao tempo, lugar, prova (quitação) e objeto do pagamento. a) Objeto do pagamento: Nos termos do artigo 313 do CC/02, o credor não está obrigado a receber prestação diversa, ainda que mais valiosa. É a regra da INTANGIBILIDADE DO OBJETO. CC/02. Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. Em razão do princípio da INDIVISIBILIDADE, o credor não está obrigado a receber e nem o devedor a pagar por partes, se assim não se convencionou. CC/02. Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. Trata-se da consagração do princípio da identidade física da prestação. Nas obrigações pecuniárias o devedor libera-se da obrigação pagando a exata quantidade de moeda prevista no título da obrigação. Princípio do nominalismo - atualmente, acaba por ser relativizado em função dos mecanismos de correção monetária CC/02. Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo VALOR NOMINAL, salvo o disposto nos artigos subseqüentes. CHEQUE/CARTÕES: o credor não está obrigado a aceitar receber em cheque ou cartão de crédito, uma vez que somente a moeda nacional possui curso forçado no Brasil. CHEQUE/DANO MORAL: apesar de não ser de aceitação obrigatória, se admitido o pagamento por meio de cheque, sua recusa indevida pode gerar dano moral. A variação cambial pode ser utilizada como índice de correção monetária? Salvo em hipóteses excepcionais, como no leasing (arrendamento mercantil) ou quando previamente autorizada por lei (Lei nº 8.880/94, art. 6º), a variação cambial não pode ser utilizada como índice de correção monetária. A possibilidade de atualização das dívidas em dinheiro está prevista no artigo 316 do CC/02: CC/02. Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas. (Cláusula de escala móvel ou cláusula de escalonamento) STOLZE aduz que o referido dispositivo não trata de atualização do débito, mas sim de aumento progressivo da base da dívida. Exceções à regra do nominalismo Artigo 317 do CC/02. Na doutrina, várias são as manifestações no sentido de que esse dispositivo consagra a teoria da imprevisão. CC/02. Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução,poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação Artigo 318, do CC/02, são nulas as convenções de pagamento em ouro (cláusula ouro) ou em moeda estrangeira (obrigação voluntária), bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial. b) Prova (quitação) do pagamento: O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada (artigo 319). Assim, o ato jurídico que tem o condão de fazer prova do pagamento é a quitação. O Recibo é o documento ou instrumento da quitação. Assim, a quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Ainda sem esses requisitos, valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida (artigo 320). Caso o credor se recuse a dar quitação, o devedor poderá ingressar com a consignação em pagamento – forma especial de pagamento. O QUE SE ENTENDE POR PRESUNÇÃO DE PAGAMENTO? É a presunção de quitação. Possui regramento no CC/02 podendo ocorrer quando: 1) Pagamento feito em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de pagamento das anteriores; 2) Sendo quitação de capital sem reserva de juros, estes se presumem pagos; 3) Entrega do título ao devedor firma presunção de pagamento. Ficará sem efeito a quitação se o credor provar, em 60 dias, a falta do pagamento. No que tange a quitação por meios eletrônicos, as Jornadas de Direito Civil (JDC) já apreciaram o tema: JDC 18 – Art. 319: A “quitação regular” referida no art. 319 do novo Código Civil engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de “comunicação a distância”, assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes. O CC/02 traz ainda as seguintes disposições sobre a prova (quitação) do pagamento, de relevante leitura: CC/02. Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido. Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos. Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento. Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida. Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução. c) Lugar do pagamento: No que se refere ao lugar do pagamento, o CC/02 dispõe em seu artigo 327, que efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Dessa forma, no Direito pátrio, salvo convenção em contrário ou se resultar da lei, as dívidas são quesíveis, ou seja, o pagamento é feito no domicílio do devedor. Excepcionalmente, se o pagamento for feito no domicílio do credor, diz-se que serão dívidas portáveis (portable). Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel ou prestações relativas a imóvel, o pagamento será realizado no lugar onde situado o bem. CC/02. Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor (artigo 329). Nos termos do artigo 330 do CC/02, o pagamento repetidamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. Fundamenta-se, tal premissa, nos deveres anexos ao Princípio da Boa-fé objetiva – Supressio -, em que há a renúncia do credor quanto ao lugar do pagamento da prestação, fazendo surgir um direito subjetivo ao devedor em continuar fazendo o pagamento em local diverso do contratado (Surrectio). d) Tempo do pagamento: Em regra, o pagamento deverá ser feito ao tempo do VENCIMENTO da dívida (art. 331). Caso a obrigação não tenha vencimento certo, salvo norma especial em contrário, o credor pode exigi-la de imediato. É o princípio da satisfação imediata. CC/02. Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. As obrigações condicionais devem ser cumpridas na data do implemento da condição, cabendo ao credor provar que o devedor teve ciência nesse fato (artigo 332). Contrato de Mútuo – Regra especial para pagamento No caso de mútuo, não havendo convenção expressa acerca do vencimento da obrigação, o prazo mínimo para pagamento será de 30 dias (art. 592, CC/02) O artigo 333 do CC/02 regula hipóteses de vencimento antecipado de dívida: CC/02. Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes MODALIDADES DE PAGAMENTO INDIRETO DAS OBRIGAÇÕES A teoria do adimplemento tem como espécie: • O pagamento direto – voluntário ou “meio normal de satisfação do direito subjetivo de crédito” e • O pagamento indireto, o qual também leva à extinção da relação jurídica obrigacional. Os tipos de pagamento indireto podem ser classificados em: o “Pagamento satisfativo” (satisfação da prestação devida, com a entrega de algum bem ou objeto): consignação em pagamento, sub-rogação, imputação de pagamento e dação em pagamento; e o “Pagamento não satisfativo” (adimplemento sem a entrega de qualquer objeto): novação, compensação, confusão e a remissão. Vejamos então cada uma das modalidades de pagamento indireto. DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO OU DA CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO ➢ Conceito A Consignação em Pagamento trata-se de uma modalidade especial ou indireta de adimplemento de uma obrigação. Está disciplinada nos artigos 334 a 345 do CC/02, os quais tratam dos elementos materiais do instituto, e nos artigos 539 a 549 do CPC/15, os quais regulam a forma de pretensão da tutela processual. O Código Civil de 2002 utiliza a expressão pagamento em consignação, enquanto o Código de Processo Civil utiliza o termo consignação em pagamento. ORLANDO GOMES a define como sendo uma técnica que se apresenta para o devedor ou para o terceiro como um meio ou instrumento de se liberar da obrigação, quando houver alguma circunstância que impeça o pagamento diretamente ao credor. De acordo com TARTUCE, “o pagamento em consignação, regra especial de pagamento, pode ser conceituado como o depósito feito pelo devedor, da coisa devida, para liberar-se de uma obrigação assumida em face de um credor determinado. (...) Desse modo, na esteira da melhor doutrina, o pagamento em consignação pode ser definido como o meio indireto de o devedor, em caso de mora do credor, exonerar-se do liame obrigacional, consistente no depósito judicial(consignação judicial) ou em estabelecimento bancário (consignação extrajudicial), da coisa devida, nos casos e formas da lei”. ➢ Natureza jurídica Em face desse dualismo normativo (Código Civil e CPC/15), a doutrina majoritária tem defendido a natureza MISTA da consignação em pagamento, sendo instituto de direito material e de direito processual. (CHAVES/ROSENVALD; TEPEDINO; CAIO MÁRIO) Assim, essa regra de pagamento tem natureza mista ou híbrida, ou seja, é instituto de direito civil e processual civil ao mesmo tempo (direito material + instrumental). ➢ Prazo: A Consignação em pagamento deverá ser efetivada no prazo previsto para o pagamento da obrigação. Todavia, mesmo em mora, será possível a consignação, desde que agregada à coisa devida os encargos, tais como juros, correção monetária, multa dentre outros. ➢ Hipóteses legais: De acordo com o artigo 335, do CC/02, a consignação tem lugar: • I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma: hipótese de mora accipiendi, mora no recebimento, sendo uma causa subjetiva, pessoal. • II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos: também se trata de hipótese de mora accipiendi – causa subjetiva. • III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil: causa subjetiva, relacionada com o sujeito ativo da obrigação. • IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento: causa subjetiva, denominada pela doutrina de dúvida subjetiva ativa, já que o devedor não sabe a quem pagar. • V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento: esta é a única causa objetiva para a consignação em pagamento. ➢ Regras Gerais: Nos termos do artigo 336 do CC/02, para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais 298 não é válido o pagamento. Assim, o devedor terá que observar todos os requisitos do pagamento direto, inclusive quanto ao tempo e lugar. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente (artigo 337). Assim, o depósito deverá ocorrer no local acertado para o pagamento, que constar do instrumento obrigacional, afastando a incidência de juros moratórios e os riscos da dívida. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as conseqüências de direito (artigo 338). Dessa forma, enquanto o credor não informar que aceita a consignação ou não a impugnar, poderá o devedor levantar o depósito, subsistindo integralmente a dívida. Entretanto, julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores (artigo 339). Nos termos do artigo 340 do CC/02, o credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os co-devedores e fiadores que não tenham anuído. Trata-se da renúncia do credor ao depósito. No caso de a coisa devida ser imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada (artigo 341). Porém, havendo obrigação de dar coisa incerta, cabendo a escolha da coisa indeterminada ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher (artigo 342). Mas se feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á conforme o artigo 341 do CC/02 (será citado o credor para receber a coisa consignada). No que se refere às despesas com o depósito, quando julgado procedente, elas correrão à conta do credor, e, no caso contrário, correrão à conta do devedor (artigo 343). O CC/02 dispõe em seu artigo 344 que o devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento. Por fim, nos termos do artigo 345 do CC/02, se a dívida vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação. Trata-se de única hipótese em que o credor, e não o devedor, pode tomar a iniciativa da consignação. ➢ Efeitos: O depósito da coisa devida não tem efeito liberatório. A transferência de domínio da coisa se opera apenas quanto o credor levanta o objeto da prestação depositado, ou, ainda, quando o mérito da ação consignatória é julgado procedente. ➢ Consignação Extrajudicial A consignação extrajudicial em pagamento é uma faculdade deferida ao devedor (ou terceiro) como um meio ou instrumento de se liberar da obrigação, quando houver alguma circunstância que impeça o pagamento diretamente ao credor, como uma forma alternativa de solução de conflito. Ela está prevista no artigo 539 e parágrafos do CPC/2015, se materializando com o depósito do objeto a ser consignado em estabelecimento bancário. A consignação extrajudicial, segundo entendimento majoritário da doutrina, está restrita à quantia pecuniária em dinheiro, enquanto objeto prestacional, em razão da expressa disposição do CPC/2015: CPC/2015. Art. 539. (...) § 1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em estabelecimento bancário, oficial onde houver situado no lugar do pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa. Por outro lado, como o CC/02, no artigo 334, apenas referiu-se a depósito da coisa em “estabelecimento bancário”, há quem defenda na doutrina que o depósito extrajudicial não se restringiria à quantia em dinheiro, devendo ser admitido o depósito de qualquer coisa que possa ser depositada em estabelecimento bancário, tais como títulos, jóias, dentre outros bens corpóreos. Essa divergência ainda não foi dirimida pelos Tribunais pátrios, sobretudo em face do não atingimento dos objetivos inicialmente previstos para a consignação em pagamento como meio de pagamento indireto. Após o depósito, o consignante deverá cientificar o credor por carta com A.R., assinando prazo de 10 dias para manifestação de recusa quanto ao objeto depositado. Decorrido o prazo, sem recusa, o devedor estará liberado da obrigação. Se houver recusa pelo credor, o devedor ou terceiro poderá propor, dentro de 30 dias, a ação de consignação em pagamento, instruindo a inicial com a prova do depósito e da recusa. E se o prazo não for observado, a única consequência é a ineficácia do depósito, podendo o depositante levantá-lo. Pagamento com Sub-Rogação O pagamento com Sub-rogação trata-se de uma modalidade especial ou indireta de adimplemento de uma obrigação, também denominada de “satisfativa”, pois o cumprimento se dará mediante a entrega de uma coisa. Ela está disciplinada nos artigos 346 a 351, do CC/02, ficando restritos à sub-rogação pessoal. Ressalta-se que a sub-rogação real ou objetiva (a substituição de uma coisa por outra) não integra o direito das obrigações. TARTUCE101 ensina que “a SUB-ROGAÇÃO É CONCEITUADA PELA MELHOR DOUTRINA CONTEMPORÂNEA COMO A “SUBSTITUIÇÃO DE UMA COISA POR OUTRA, COM OS MESMOS ÔNUS E ATRIBUTOS, CASO EM QUE SE TEM A SUB-ROGAÇÃO REAL, OU A SUBSTITUIÇÃO DE UMA PESSOA POR OUTRA, QUE TERÁ OS MESMOS DIREITOS E AÇÕES DAQUELA, hipótese em que se configura a sub-rogação pessoal de que trata o Código Civil no capítulo referente ao pagamento com sub-rogação”. Assim sendo, no âmbito obrigacional, nosso Código Civil trata da sub-rogação pessoal ativa, que vem a ser a substituição em relação aos direitos relacionados com o crédito, em favor daquele que pagou ou adimpliu a obrigaçãoalheia”. A sub-rogação pessoal constitui-se na alteração da titularidade do crédito, porque o sujeito que adimple a prestação (terceiro que paga) será promovido a condição de credor. Portanto, a subrogação pessoal envolve a substituição de um dos sujeitos da relação jurídica obrigacional – o credor. Sub-rogar implica substituir ou alterar o sujeito que ocupa o polo ativo da relação obrigacional, estando adstrita a ideia de um pagamento que é realizado por um terceiro – que não o devedor primitivo. No pagamento com sub-rogação (pessoal), a obrigação será extinta em relação ao credor primitivo, que nada mais poderá reclamar após receber o pagamento de terceiro. Em relação ao devedor primitivo não há alteração, passando ele, agora, a estar vinculado ao terceiro adimplente (que se sub-rogou no direito ao crédito). ➢ Natureza jurídica O pagamento com sub-rogação, não se confunde com outros institutos, tais como a cessão de crédito e a novação. Trata-se de um instituto autônomo do direito civil, com disciplina normativa própria, constituindo modalidade de pagamento indireto de uma obrigação. Difere-se da novação porquanto, ainda que em ambas haja substituição subjetiva em um dos polos da relação obrigacional, na sub-rogação o vínculo jurídico não se altera, subsistindo integralmente, agora, entre o devedor primitivo e o terceiro adimplente. Na novação há substituição do polo ativo, mas com extinção do vínculo jurídico e constituição de um novo. Já quanto à cessão de crédito, a diferença reside na natureza jurídica. Enquanto o pagamento com sub-rogação é forma indireta de adimplemento da obrigação, a cessão de crédito é modalidade de transmissão das obrigações, possuindo disciplina própria, visando a circulação da prestação, haja vista seu caráter dinâmico e funcional. ➢ Espécies A sub-rogação pode ser legal ou convencional. O artigo 346 do CC/02 disciplina a sub-rogação legal como sendo o exercício de um direito subjetivo, motivo pelo qual opera de pleno direito, dispensando qualquer manifestação de vontade do credor primitivo ou do próprio devedor, sujeitos da relação originária: CC/02. Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: I - do credor que paga a dívida do devedor comum; II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. Ressalta-se que a sub-rogação legal não se esgota no rol do artigo 346, havendo outras hipóteses de sub-rogação legal em outros dispositivos do CC/02, tal como o que prevê o artigo 259, em que, sendo obrigação indivisível, havendo dois ou mais devedores, cada um será obrigado pela dívida toda, mas aquele que pagar, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados (art. 349). Por outro lado, será convencional quando a sub-rogação decorrer de um negócio jurídico e não do exercício de um direito subjetivo, tal como se dá na sub-rogação legal. As duas hipóteses de subrogação convencional estão previstas no artigo 347 do CC/02: CC/02. Art. 347. A sub-rogação é convencional: I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. Nos termos do artigo 348 do CC/02, na hipótese do inciso I do artigo 347 já referido, vigorará o disposto quanto à cessão do crédito. ➢ Efeitos A principal vantagem do pagamento com sub-rogação (legal ou convencional) é o efeito translativo da integralidade do conteúdo do direito subjetivo, com todas as suas peculiaridades, tal como prevê o artigo 349 do CC/02: CC/02. Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. O novo credor, com a sub-rogação, passará a desfrutar de todos os direitos, ações, privilégios e garantias do credor primitivo. Por exemplo: se o credor primitivo era idoso, não importa a idade do novo credor (sub-rogação), terá direito à preferência na tramitação do feito a qual era deferida ao credor anterior. A transferência, naturalmente, envolve os acessórios do crédito, de tal modo que, majoritariamente, na doutrina, fala-se em amplo efeito translativo da sub-rogação. Nos termos do artigo 350 do CC/02, na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. ➢ Sub-Rogação Parcial – Direito de preferência do credor primitivo Quando houver sub-rogação parcial, ou seja, no caso de o adimplemento da obrigação não alcançar a integralidade do débito, o CC/02, no artigo 351, prevê que o credor originário terá preferência sobre o sub-rogado, caso os bens do devedor não sejam suficientes para arcar com o crédito do credor primitivo e do novo credor. CC/02. Art. 351. O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever. Assim, se o pagamento ao credor primitivo (pelo terceiro) não for integral, ele permanecerá no polo ativo, ao lado do sub-rogado, mas terá preferência em relação a este novo credor, na hipótese de, excutindo-se os bens do devedor, esses forem insuficientes para o pagamento de ambos. IMPUTAÇÃO AO PAGAMENTO Imputar significa indicar, apontar. A imputação ao pagamento trata-se de uma modalidade especial ou indireta de pagamento de uma obrigação. Ela está disciplinada nos artigos 352 a 355 do CC/02, ficando restritos à sub-rogação pessoal. Nos termos do artigo 352 do CC/02, a pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. Assim, a expressão “imputar” significa atribuir ou indicar, sendo que, em matéria de adimplemento, corresponde a “indicar”, dentre vários débitos, líquidos e vencidos, qual deles será solvido pelo pagamento ou entrega de certa importância, a qual é insuficiente para a liquidação de todos os débitos. ➢ Natureza jurídica A faculdade de escolha, em regra, pelo devedor (ou do credor), caracteriza direito potestativo, uma vez que o destinatário da escolha se sujeita ao ato de vontade praticada na indicação do débito a ser adimplido. JUDITH MARTINS-COSTA ensina que, o devedor (ou o credor), ao imputar ao pagamento, exerce direito formativo ou potestativo, restando ao credor mero estado de sujeição frente ao ato manifestado pelo devedor. ➢ Requisitos O CC/02 traz expressamente como pressuposto essencialmente necessário a esta modalidade de pagamento indireto a existência de pluralidade de débitos. Os débitos devem ter a mesma natureza, ou seja, dívida em dinheiro somente pode ser imputada com outra dívida em dinheiro. Dessa forma, é impossível imputar dívida de dar imóvel com obrigação de fazer ou de dar dinheiro com obrigação de fazer. Deve existir identidade de objetos. Por fim, os débitos devem ser líquidos vencidos. Sobre eles é que incidirá o ato de “indicação”. ➢ Da escolha A legitimidade para escolha é, em regra, ope legis, do devedor, o qual indicará qual débito será pago. Todavia, se não o fizer, caberá ao credor a imputação. Nos termos do artigo 353 do CC/02, não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo. Na hipótese de omissão de ambos (credor e devedor), o CC/02 disciplina as regras para indicação. É denominada “imputação legal.” Assim, caso não haja manifestação nem do sujeito passivo nem do sujeito ativo, a imputação será feitapela norma jurídica, conforme as regras de imputação legal. ➢ Imputação legal A imputação legal trata-se de uma sanção civil para os sujeitos da relação obrigacional que foram omissos em relação à imputação ao pagamento, sendo, sempre, subsidiária. Ou seja, apenas será aplicável quando o devedor não indicar o débito, e, ainda, o credor permanecer inerte e não der/a quitação. Nesses casos, a lei define a ordem de indicação dos débitos na imputação ao pagamento, sendo que, em primeiro lugar, por esta regra, quitam-se as dívidas mais antigas (vencidas há mais tempo), e,se todas vencerem na mesma data, quitar-se-á a mais onerosa. É o que dispõe o artigo 355 do CC/02. Vejamos: CC/02. Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa. PAULO NADER ensina que os critérios da imputação legal seguem o princípio da maior onerosidade. Quanto maior o ônus do devedor, maior a prioridade para sua eliminação – por meio da imputação ao pagamento. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital (artigo 354). Jurisprudência: Capitalização de juros e imputação do pagamento “No caso de dívida composta de capital e juros, a imputação de pagamento (art. 354 do CC) insuficiente para a quitação da totalidade dos juros vencidos não acarreta a capitalização do que restou desses juros”. STJ. 3ª Turma. REsp- 1518005-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/10/2015 (Info 572) Jurisprudência: No pagamento diferido em parcelas, não havendo disposição contratual em contrário, é legal a imputação do pagamento primeiramente nos juros “A imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é instituto que, via de regra, alcança todos os contratos em que o pagamento é diferido m parcelas. O objetivo de fazer isso é o de diminuir a oneração do devedor. Ao impedir que os juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser abatido o valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de juros”. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1843073-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 30/03/2020 (Info 669). Em matéria tributária, a imputação legal segue regra distinta. Com objetivo de proteger os interesses da Fazenda Pública, caberá a autoridade administrativa competente para receber o pagamento, fazer a imputação, segundo o critério legal do artigo 163 do CTN. CTN. Art. 163. Existindo simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do mesmo sujeito passivo para com a mesma pessoa jurídica de direito público, relativos ao mesmo ou a diferentes tributos ou provenientes de penalidade pecuniária ou juros de mora, a autoridade administrativa competente para receber o pagamento determinará a respectiva imputação, obedecidas as seguintes regras, na ordem em que enumeradas: I - em primeiro lugar, aos débitos por obrigação própria, e em segundo lugar aos decorrentes de responsabilidade tributária; II - primeiramente, às contribuições de melhoria, depois às taxas e por fim aos impostos; III - na ordem crescente dos prazos de prescrição; IV - na ordem decrescente dos montantes. DAÇÃO EM PAGAMENTO (DATIO IN SOLUTUM) ➢ Conceito/Regras Gerais A dação em pagamento é uma modalidade especial de pagamento, satisfativa, tratada pelo CC/02 entre seus artigos 356 a 359, constituindo-se na entrega de prestação diversa da pactuada originariamente para a extinção da obrigação. CC/02. Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida. Trata-se de meio supletivo de pagamento, na modalidade indireta. Nela, o credor consente em receber objeto diverso do avençado, com a liberação do devedor, extinguindo-se a obrigação originária. Portanto, é forma de extinção da obrigação. TARTUCE104 a conceitua como “uma forma de pagamento indireto em que há um acordo privado entre os sujeitos da relação obrigacional, pactuando-se a substituição do objeto obrigacional por outro. Para tanto, é necessário o consentimento expresso do credor, o que caracteriza o instituto como um negócio jurídico bilateral”. Nos termos do artigo 357 do CC/02, determinado o preço da coisa dada em pagamento, asrelações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda. Jurisprudência: Determinada empresa deu ao credor um terreno como pagamento da dívida (dação em pagamento); se não foi feita nenhuma ressalva, presume-se que a transferência do imóvel incluiu a plantação ali existente105 “Na dação em pagamento de imóvel sem cláusula que disponha sobre a propriedade das árvores de reflorestamento, a transferência do imóvel inclui a plantação”. STJ. 4ª Turma. REsp 1567479-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/06/2019 (Info 651). ➢ Natureza jurídica Trata-se de um negócio jurídico bilateral translativo de propriedade, no qual o devedor cumpre a obrigação com a entrega de uma prestação diversa daquela originariamente assumida, com a concordância do credor, extinguindo-se a relação jurídica obrigacional. Funda-se no artigo 356 do CC/02: O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida. ➢ Requisitos O devedor não tem o direito potestativo de impor o pagamento da obrigação mediante a substituição da coisa pactuada inicialmente com o credor por outra de natureza diversa. Para restar configurada a dação em pagamento, deverão concorrer três requisitos: 1º. Dívida vencida: a preexistência de um vínculo obrigacional; 2º. Consentimento do credor, pois sua ocorrência é exceção ao princípio da exatidão da prestação. 3º. Diversidade entre a prestação originariamente pactuada e aquele oferecida em substituição. ➢ Datio Pro Solvendo (Dação em cumprimento) Na dação em pagamento o devedor deve agir com ânimo de solver a dívida, e não apenas visando reforçar a garantia de adimplemento ao credor. Trata-se de instituto construído pelo exercício da autonomia privada, avalizado pela doutrina, porém não previsto no CC/02. A dação pro solvendo, o objetivo é facilitar o cumprimento da obrigação, e não a solver imediatamente com a entre do objeto diverso da prestação pactuada. É, em verdade, uma garantia prestada pelo devedor, e não pagamento. O devedor assume uma obrigação paralela de que a dívida somente será extinta quando a obrigação for cumprida. A dação em cumprimento resguarda o cessionário que recebeu o direito (do devedor), pois a extinção do débito primitivo fica condicionado ao êxito na cobrança do direito/crédito transferido ao credor. ➢ Dação em pagamento vs. Compra e Venda A despeito de o CC/02 ter sido equiparada à compra e venda para certos fins (arts. 490 e 492), a dação em pagamento com ele não se confunde. A finalidade da dação em pagamento é a extinção de uma obrigação, exigindo-se, como pressuposto essencial, a entrega da coisa, sendo negócio real, ao contrário da compra e venda que é consensual. ➢ Dação em pagamento e Cessão de Crédito Nos termos do artigo 358 do CC/02, se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão. Contudo, não há identidade entre as duas figuras. Na cessão de crédito há a transmissão de obrigação, já na dação ocorre o pagamento indireto pela substituição do objeto, da prestação. ➢ Dação em pagamento e Títulos de Crédito A dação em pagamento tem como principal objetivo liberar o solvens (devedor) no momento da tradição do objeto subsidiário. Assim, se a prestação diversa constituir-se de títulos de crédito, somente haverá dação se a entrega dos títulos for pro soluto, ou seja, o devedor responde apenas pela existência e legalidade do crédito, mas não pela solvência do devedor do título, ficando, dessa maneira, liberado da obrigação, que se extingue. Se a dação for pro solvendo, na qual a extinção da obrigação primitiva ficará condicionada ao êxito da cobrançado crédito representado pelos títulos entregues, não haverá dação em pagamento,mas, ao contrário, dação em cumprimento (datio pro solvendo). É a assunção pelo devedor, perante o credor, de obrigação paralela de que a dívida primitiva somente será extinta quando – e se – a cobrança dos títulos dados for exitosa. Em outras palavras, na dação pro soluto, o risco da insolvência do devedor é integralmente assumido pelo cessionário/credor que recebe os títulos de crédito em dação, extinguindo-se a obrigação primitiva para o devedor. Na dação de títulos de crédito, pro solvendo, as duas obrigações irão subsistir, somente sendo extintas quanto o devedor cumprir a segunda. ➢ Efeito da evicção Evicção é a perda de um direito em decorrência de decisão judicial que reconhece a um terceiro a propriedade de um determinado bem, o qual é o real titular da coisa. Na evicção ocorrida por recebimento de bem/coisa por dação em pagamento não se aplica a consequência normal da evicção: indenização do evicto que recebeu o bem. O CC/02 possui regra especial para proteger o credor evicto de coisa recebida por meio de dação em pagamento: restaura-se a obrigação primitiva que havia sido extinta por efeito da dação em pagamento (art. 359) CC/02. Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros. CAIO MÁRIO o define como efeito repristinatório da evicção, ressurgindo a obrigação, com todas suas garantias, ressalvadas as prestadas por fiador e o direito de terceiros. Em razão de norma expressa, a fiança não será reestabelecida. ➢ Matéria tributária A Lei Complementar 104/2001, para fins de extinção do crédito tributário, passou a admitir, expressamente, a dação em pagamento em bens imóveis, desde que observadas as disposições e condições fixadas pela lei. CTN. Art. 156. Extinguem o crédito tributário: (...) XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. (Incluído pela LCP nº 104, de 2001)311 Cada ente federativo, no âmbito de sua competência constitucional tributária, estabelecerá os requisitos para a viabilidade desta modalidade de pagamento indireto, na hipótese de relação jurídica tributária. ➢ Promessa de dação em pagamento O STJ possui entendimento no sentido de que a promessa de dação em pagamento não tem o condão de extinguir a dívida, ante a ausência de transferência efetiva dos bens objeto da dação em pagamento. (AgREsp 1.631.520/PR) Nesse sentido, dessume-se, apesar de o julgado não adentrar o mérito, que o acordo de vontades formalizado pela promessa de dação foi considerado válido pelo STJ. Todavia, registre-se que a mesma Corte Superior assentou que a promessa de dação não tem o condão de extinguir a dívida, na medida em que, sua pactuação, de per si, não promove a transferência dos bens objeto da promessa de dação em pagamento. Tal como estudamos acima, a natureza jurídica desse instituto consiste na anuência do credor em receber prestação diversa daquela originariamente pactuada, extinguindo-se a relação jurídica obrigacional. Na promessa de dação em pagamento, tem-se, tão somente, ato de vontade manifestado no sentido de entregar a coisa em momento posterior, portanto, na condição de negócio jurídico, inexiste o ânimo de solver imediatamente a dívida, com a transferência (entrega) da coisa ao credor. Sobre o assunto, interessante o julgado do Conselho Superior da Magistratura do TJSP: (...) Para Flávio Tartuce, a dação em pagamento é uma forma de pagamento indireto em que há um acordo privado de vontades entre os sujeitos da relação obrigacional, pactuando-se a substituição do objeto obrigacional por outro. Para tanto é necessário o consentimento expresso do credor, o que caracteriza como um negócio jurídico. Assim, com a dação em pagamento, a obrigação se extingue mediante a execução efetiva de uma prestação distinta da devida. Pressupõe ela a imediata transmissão da propriedade de um bem para quitação de dívida, razão pela qual o contrato, a partir do momento em que é definida a coisa que será dada em pagamento, e o seu preço, regula-se pelas normas do contrato de compra e venda, conforme dispõe o artigo 357, do Código Civil. É por essa razão que se permite o ingresso do título da dação em pagamento no registro de imóveis. Já a promessa de dação em pagamento não extingue a dívida, porque não há transferência do bem. Ocorre, na verdade, a substituição de uma obrigação por outra, o que caracteriza novação, direito pessoal e não real, não sendo permitido, portanto, seu ingresso no registro. (Apelação 90000001-40.2013.8.26.0238) NOVAÇÃO A novação, juntamente com a compensação, a confusão, e a remissão, formam a categoria dos pagamentos obrigacionais não satisfativos. Tais institutos implicam na extinção da obrigação inicialmente pactuada, porém sem a entrega de qualquer objeto, próprio ou diverso, para adimplir a prestação devida. Ela é tratada entre os artigos 360 a 367 do CC/02. Por meio de um novo negócio jurídico o vínculo obrigacional é extinto, criando-se uma nova obrigação. É a ideia de extinção da obrigação pactuado através de um acordo, com efeito liberatório. Ou seja, tem efeito constitutivo (nova obrigação) e liberatória, com a extinção do vínculo original. Na novação modifica-se ou substituir-se a obrigação primitiva por outra obrigação, substancialmente diversa da anterior. Etimologicamente, significa “nova-ação” ou “nova obrigação”. TARTUCE ensina que a novação “pode ser definida como uma forma de pagamento indireto em que ocorre a substituição de uma obrigação anterior por uma obrigação nova, diversa da primeira criada pelas partes. Seu principal efeito é a extinção da dívida primitiva, com todos os acessórios e garantias, sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364 do CC)”. CHAVES/ROSENVALD ensinam que a novação se liga a ideia de substituição de uma obrigação, por meio da intenção das partes de novar, manifestada mediante acordo, cessando o vínculo anterior, com a aquisição de novo direito de crédito pelo credor. O mesmo ato jurídico que ceifa uma obrigação é o gérmen para brotar outra. Deve ser compreendida sob perspectiva funcional, em razão da boa-fé e da função social incidente sobre o direito obrigacional, não tendo por escopo transmitir a obrigação, mas sim criar uma nova obrigação a par da extinção da primitiva. CC/02. Art. 360. Dá-se a novação: I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior; II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor; III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este. NATUREZA JURÍDICA O CC/02 não conceitua a novação, podendo ser compreendida como aquilo que ocorre quando, por meio de um negócio jurídico bilateral, os sujeitos da relação obrigacional criam uma nova obrigação, com a finalidade de substituir e extinguir a obrigação anterior. (CARNACCHIONI) A novação tem natureza jurídica de um negócio jurídico, operando-se em consequência de ato de vontade dos interessados, e, a rigor, jamais por imposição de lei. Portanto, para que se configura a novação, imprescindível que as partes convencionem a extinção da obrigação primitiva. Por isso, o ânimo de novar precisa ser expresso ou inequívoco. (art. 361) CC/02. Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira. O CC/02 não prevê nenhuma hipótese de novação legal. Registra-se que a Lei 11.101/2005, no artigo 59107, prevê situação peculiar que é discutida pela doutrina como sendo uma exceção à convencionalidade do negócio jurídico “novação”, pois, por seu teor, aparentemente, admitiria a novação legal. Para FABIO ULHOA COELHO a novação realizada no âmbito da recuperação judicial será sempre condicional. Valem e são eficazes unicamente na hipótese de o plano de recuperação ser implementado e ter sucesso. Casose verifique a convolação em falência, os credores retornam, com todos seus direitos, ao status quo ante. Por tais razões, em razão de estar a novação condicionada ao cumprimento do plano de recuperação judicial, doutrinariamente, de forma majoritária, tem-se defendido que a novação da Lei de Falência não tem a mesma natureza jurídica da novação tradicional, e, portanto, seria considerada uma espécie sui generis de novação. Nesse sentido, o STJ editou a Súmula 581: Súmula 581, STJ: A novação da lei de falência, por ser condicionada e por não afetar as garantias, não se equipara à novação civil. REQUISITOS DA NOVAÇÃO 1) Acordo de vontade: É o elemento da convencionalidade, corresponde ao ânimo de novar (animus novandi), o qual constará do título e será expresso ou, se tácito, deve ser inequívoco, aferido de acordo com as circunstâncias. 2) Existência de obrigação anterior e válida: O CC/02 admite que obrigações simplesmente anuláveis podem ser objeto de novação, sendo vedada se incidir sobre obrigações nulas ou extintas. Isso, pois as anuláveis podem convalescer pela “confirmação” (art. 172), e, ainda, porque virtuais vícios atentariam apenas contra interesses meramente privados, de modo que nada impediria de serem objeto de novação. E a obrigação natural, pode ser objeto de novação? Apesar das controvérsias doutrinárias sobre o tema, SILVIO RODRIGUES diz que a obrigação natural é mais do que mero dever moral, pois a própria lei tem como válido seu pagamento, tanto que não admite repetição. De modo que, se as partes quiserem nová-la, podem fazê-lo, e, a obrigação nova, extinguindo a antiga, é jurídica, e, por conseguinte, exigível.” A obrigação natural não afeta direito subjetivo, mas apenas a pretensão ou poder de exigibilidade. Exemplificando, no caso de dívida prescrita, se o devedor aceitar nová-la, estaria, com esse comportamento, renunciando tacitamente à prescrição, o que legitima e dá respaldo à posição doutrinária que sustenta a aplicabilidade do instituto às obrigações naturais. 3) Nova obrigação essencialmente diversa ou Aliquid Novi: A nova obrigação deve ser substancialmente diversa da obrigação anterior, que será extinta a partir da novação. Meras alterações acessórias no contrato – tais como modificação de prazos para pagamento ou do valor do débito, não caracterizam novação. Em suma, é imprescindível que a segunda obrigação apresente elemento novo, podendo consistir em substituição das partes (novação subjetiva) ou do objeto prestacional (novação objetiva), ou, ainda, na causa motivacional da obrigação. 4) Ânimo de novar ou Animus Novandi: É o requisito subjetivo da novação, previsto no CC/02,como intenção de novar a obrigação, a qual deverá, a rigor, sem expressa e constar do título. Como a novação não se presume, para que se possa configurar novação tácita, deverá estar inequivocamente demonstrada por uma mudança radical no objeto e na causa debendi, de tal modo que não se confunde com o mero silêncio da parte na celebração da novação. A novação subjetiva passiva pode ser: • - Por Delegação: é aquela não prevista em lei, mas admitida ante a tendência dinâmica das obrigações, a substituição será feita com a participação do devedor primitivo, que indicará uma terceira pessoa para resgatar seu débito, com o que deve concordar o credor; • - Por Expromissão: é a alteração na relação obrigacional sem o consenso do devedor, em que terceiro assume espontaneamente o débito de outrem, dispensando a anuência do devedor, mas exige-se a concordância do credor para que se opere a substituição do polo passivo da relação. Distingue-se da assunção de dívida porque, na novação, há extinção do vínculo jurídico e formação de um novo; na assunção, há substituição no polo passivo, permanecendo inalterada a relação jurídica. CC/02. Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste. Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição. Novação objetiva: Quando credor contrai com o devedor nova dívida ou nova obrigação para substituir e extinguir a antiga. (Art. 360, I, do CC/02). ➢ Efeitos O principal efeito é a extinção da obrigação primitiva, desaparecendo todos os acessórios e garantias, salvo convenção em contrário. Com a dívida novada cessam todas as garantias reais. Todavia, tal norma do CC/02 é de natureza dispositiva, podendo ser estipulado de modo diverso pelas partes. CC/02. Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação. O artigo 365 do CC/02 consigna efeito pessoal da novação, sendo que, no caso de solidariedade existente entre devedores, havendo novação por apenas um deles e o credor, o ato será eficaz em face do devedor que novou, recaindo sobre seu patrimônio a responsabilidade pelo crédito novado, ficando, assim, liberados os demais devedores solidários. CC/02. Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados. Quanto ao terceiro garantidor (fiador), deverá anuir expressamente a manutenção de eventuais garantias oferecidas ao negócio primitivo. Importará em exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal. CC/02. Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal. Nos termos do artigo 367 do CC/02, salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas. COMPENSAÇÃO A compensação trata-se de meio indireto de adimplemento da obrigação, no qual dois sujeitos são, simultaneamente, credores e devedores um do outro. A extinção da obrigação se dará no limite do crédito recíproco que um tem contra o outro, remanescendo, se houver, saldo em favor do maior credor. (Art. 368). A compensação é tratada pelo CC/02 entre seus artigos 368 a 380. Assim, dispõe o artigo 368: CC/02. Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem. ➢ Espécies • Compensação Legal: prevista no CC/02 (artigo 368 e ss.), satisfeitos os requisitos da lei, o juiz, após ser provocado, apenas a reconhece, mediante declaração. Ela se concretiza de pleno direito, independentemente da vontade das partes. Ressalta-se que o CTN possui disciplina específica para compensação de dívidas de natureza tributária; • Compensação Convencional: demanda autonomia da vontade das partes, sendo prescindível a observâncias dos requisitos legais, de modo que ela pode se operar, inclusive, entre dívidas de natureza distinta, uma vez que as partes tem o poder de regular os próprios interesses. Estão adstritas apenas às normas de ordem pública; • Compensação Judicial: realizada em juízo, por autorização de norma expressa, independentemente de provocação. A doutrina diverge sobre o assunto. Para uma corrente, tal compensação somente seria possível mediante autorização legal expressa; para outros, é judicial aquela que o juiz declara, mesmo se ausente um dos requisitos exigidos pela lei; por fim, há quem defenda ser judicial a compensação decorrente de sentença judicial, declaratória ou constitutiva. REQUISITOS/REGRAS GERAIS As obrigações devem ser provenientes de títulos diversos, com reciprocidade de obrigações ou a existência de duas obrigações distintas e autônomas entre os mesmos sujeitos. Conforme o artigo 369 do CC/02, a compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade,quando especificada no contrato (artigo 370). De acordo com o artigo 371 do CC/02, o devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado. Ressalta-se que os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação (artigo 372). O CC/02, ainda dispõe em seu artigo 373 que a diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto: • I - se provier de esbulho, furto ou roubo; • II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; • III - se uma for de coisa não suscetível de penhora. Ademais, quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à operação (artigo. 378). E sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento (artigo 379). Por fim, o artigo 380 do CC/02 veda a compensação em prejuízo de terceiros. CC/02. Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio credor disporia. Jurisprudência: A prescrição somente obsta a compensação se for anterior ao momento da coexistência das dívidas “Caso hipotético: João deve R$ 100 mil a Pedro. Essa dívida surgiu em 2018. Como não houve o pagamento, em 2022, Pedro ajuizou ação de cobrança contra ele. Ao ser citado, João apresentou contestação admitindo que existe a dívida. Alegou, contudo, que Pedro também lhe deve R$ 80 mil. Essa dívida surgiu em 2014. Diante disso, João pediu a compensação das obrigações e que, ao final, só tenha que pagar R$ 20 mil. Pedro se insurgiu contra isso argumentando que esses R$ 80 mil que João está cobrando estão prescritos desde 2019. Logo, não é mais possível exigir a quantia ainda que para fins de compensação. O argumento de Pedro deve ser acolhido? Não. A prescrição somente obstará (impedirá) a compensação se ela for anterior ao momento da coexistência das dívidas. Se o prazo prescricional se completou posteriormente a esse fato, tal circunstância não constitui empecilho à compensação dos débitos. Foi justamente o exemplo dado acima. No momento em que surgiu a dívida de João para com Pedro (2018), a dívida de Pedro para com João ainda existia. Logo, houve um período de coexistência de dívidas exigíveis”. STJ. 3ª Turma. REsp 1969468-SP, Rel. Min. CONFUSÃO A confusão trata-se de meio indireto de adimplemento da obrigação, extinguindo a obrigação pactuada, sendo caracterizado quando credor e devedor passam a ser o mesmo sujeito. A confusão é abordada pelo CC/02 entre seus artigos 381 a 384. CC/02. Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor. ORLANDO GOMES ensina que a confusão é verificada quando o devedor passa a ser titular do crédito do credor, podendo a coincidência ser a título universal ou singular, operando-se tanto mortis causa quanto inter vivos. A causa mais frequente é a sucessão hereditária, em que se confundem as duas qualidades opostas sempre que o devedor herda do credor, ou o credor do devedor. A extinção da obrigação pode ser total ou parcial, uma vez que a fusão dos sujeitos (credor e devedor) pode estar relacionada a uma fração ou parcela do direito subjetivo ou dever jurídico. CC/02. Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela. No caso de solidariedade, o artigo 383 do CC/02 disciplina que a confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito ou na dívida, subsistindo quando ao mais a solidariedade. CC/02. Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade. Por fim, nos termos do artigo 384 do CC/02, cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior. REMISSÃO A remissão trata-se de meio indireto de adimplemento da obrigação, o qual leva à extinção da obrigação. Remitir é perdoar a obrigação ou dívida. A remissão poderá ser total ou parcial. A remissão é abordada pelo CC/02 entre seus artigos 385 a 388. CC/02. Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro. Ao contrário da renúncia de direitos (ato unilateral), a remissão constitui negócio jurídico bilateral pois a produção de efeitos está condicionada à aceitação do perdão (remissão) pelo devedor. ➢ Natureza jurídica Nos termos do artigo 385 do CC/02, o qual expressamente prevê a “aceitação do devedor” como requisito para sua constituição, a remissão tem natureza jurídica contratual ou convencional, a despeito de existir respeitável doutrina que defende a dispensa do consentimento do devedor para que se opere a remissão (ORLANDO GOMES/CAIO MÁRIO). ➢ Requisitos A extinção da obrigação pela remissão depende da concorrência de 3 requisitos, quais sejam: • A intenção ou ânimo do credor em remitir/perdoar a dívida; • Aceitação do perdão pelo devedor; e • Ausência de prejuízo de terceiro (art. 385). ➢ Espécies : A remissão pode ser expressa ou, ainda, à luz do artigo 386 do CC/02, tácita. Por remissão tácita não se deve entender como implícita ou presumível de mero comportamento de tolerância ou inatividade do credor. O artigo 386 do CC/02 traz hipótese legal de remissão tácita: CC/02. Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir. CHAVES/ROSENVALD ensinam que não basta só a posse do título pelo devedor, exigindo-se ato material de entrega espontânea do título pelo próprio credor ou por quem o represente, sendo vedado a entrega por terceiros. Isso porque a remissão tácita é induzida a partir de um comportamento pessoa do credor, que traduzir, de forma inequívoca, sua intenção de perdoar a dívida, num gesto de liberalidade gratuita. Em regra, a remissão é gratuita, pois inerente ao próprio ato de perdoar. ORLANDO GOMES, em posição isolada, defende a possibilidade de remissão onerosa. ➢ Remissão e solidariedade: Na solidariedade passiva, a remissão concedida a um dos codevedores apenas extingue a dívida na parte correspondente ao devedor perdoado. Ou seja, a remissão pessoal rompe o vínculo com o devedor, restante extinta a obrigação, definitivamente, em relação a ele. É a remissão pessoal ou in personam, os efeitos do perdão atingem o codevedor remitido e sal respectiva cota-parte da obrigação, exclusivamente, subsistindo a solidariedade em relação aos demais codevedores. Tal como prevê o artigo 388, do CC/002, o credor ainda deterá a solidariedade em relação aos outros codevedores, contra os quais, no entanto, não poderá cobrar o valor da parcela remitida. CC/02. Art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida. ➢ Remissão limitada à garantia da dívida: A remissão (perdão) pode ser limitada à garantia real, objeto de penhor, o qual foi constituído para cobrir o crédito contratado. O artigo 387 do CC/02 assim prevê: CC/02. Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida. É o caso em que a obrigação está garantida por penhor, direito real em garantia sobre coisa móvel, cuja posse é transferida ao credor (art. 1.431). Assim, se o credor, voluntariamente, restitui ao devedor tão somente a coisa empenhada, sem que isso tenha implicação na extinção da dívida, tal ato de remissão (renúncia para o dispositivo) ficará limitado à garantia