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Constituição 1988
Os preceitos constitucionais relativos à educação assim se apresentam:
Capítulo III - Da Educação, da Cultura e do Desporto 
Seção I - Da Educação
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - Valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União;
VI - Gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - Atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;
V - Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições:
I - Cumprimento das normas gerais da educação nacional;
II - autorização E avaliação de qualidade pelo poder público.
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 1º A União organizará e financiará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, e prestará assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória.
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e pré-escolar
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir.
§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no caput deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213.
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, nos termos do plano nacional de educação.
§ 4º Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários.
§ 5º O ensino fundamental público terá como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida, na forma da lei, pelas empresas, que dela poderão deduzir a aplicação realizada no ensino fundamental de seus empregados e dependentes.
Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
I - Comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação;
II - Assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao poder público, no caso de encerramento de suas atividades.
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando o poder público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade.
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do poder público.
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder público que conduzam à:
I - Erradicação do analfabetismo;
II - Universalização do atendimento escolar;
III - melhoria da qualidade do ensino;
IV - Formação para o trabalho;
V - Promoção humanística, científica e tecnológica do País
Referência:
BRASIL. Constituição de 1988. Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/ CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf
Este material foi baseado em: PACHECO, Ricardo Gonçalves; CERQUEIRA, Aquiles Santos. Legislação Escolar. Universidade Federal de Mato Grosso/Rede e-Tec: Mato Grosso, 2013.
A Educação Escolar na LDB
Não podemos tratar de Leis de Diretrizes e Bases (LDB) sem antes falarmos, um pouco que seja, dos ideais que as envolveram. Antes mesmo de instrumento de controle e ordenamento legal da educação brasileira, o que se pretendia com o estabelecimento de diretrizes e bases para a educação era configurar um conjunto coeso de normas para a educação brasileira. Buscar um ordenamento legal que configurasse nossa educação a partir de demandas da sociedade brasileira, o que, a nosso ver, tem sido atingido. 
Foi neste intuito que, ainda em 1932, embalados pela onda de transformações nacionalistas e liberais que caracterizavam a intelectualidade e a sociedade brasileira nas décadas de 1920 e 1930, os Pioneiros, em Manifesto, exigiram diretrizes para se moldar um projeto nacional de educação. 
Esse projeto contemplaria as demandas da sociedade brasileira e garantiria o papel da educação escolar na modernização social, política e econômica da sociedade brasileira. Utopia educacional e social que embalou os preceitos constitucionais relativos à educação nas constituições de 1934 e 1946 e os dispositivos de nossa primeira Lei de Diretrizes eBases (LDB) – a Lei nº 4.024, de 1961. 
Esse movimento, com um olhar republicano para a educação e a sociedade, implicava o entendimento da ação educativa como ferramenta alavancadora da modernização social. E exigia da sociedade, sob a orientação estatal, um papel de promotora das condições para o desenvolvimento de uma educação voltada à cidadania. Nessa perspectiva, as leis de diretrizes da educação editadas no Brasil, desde a primeira, de 1961, até a atual (Lei 9.394 de 1996) e mesmo a Lei 5692, de 1971, em plena ditadura, configuram-se como regulamentadoras da educação preconizada constitucionalmente – em alguns momentos até reeditando o texto constitucional. E caracterizaram-se por marcos de avanços, mesmo que pequenos, na organização desta educação nacional.
Assim, nesta reflexão sobre a educação brasileira, dadas as limitações de espaço e, principalmente, por se tratar de material também instrucional, trataremos as diretrizes e bases da educação como ferramental de trabalho dos profissionais da educação. Sem omitir análises necessárias dos textos legais, vamos abordá-los na sua dimensão funcional, como ferramenta de trabalho dos profissionais dos setores administrativos da escola. 
Será dada maior ênfase à atual LDB que já sofreu mais de cem mudanças no texto - em função de sua vigência, desde 1996 - o que faz dela a peça legislativa de maior impacto no trabalho cotidiano dos profissionais administrativos escolares. Por isso, recomendamos, a partir deste momento, a leitura do texto atualizado da Lei nº 9.394, de 1996. Mas tal postura não implicará no preterimento das demais LDB’s, pois entendemos como importante para o profissional o conhecimento crítico do processo evolutivo dessa legislação
Este material foi baseado em: PACHECO, Ricaro Gonçalves; CERQUEIRA, Aquiles Santos. Legislação Escolar. Universidade Federal de Mato Grosso/Rede e-Tec: Mato Grosso, 2013.
As Leis de Diretrizes e Bases (LDB)
Pela LDB – 4024/61 a educação se estruturava nos seguintes níveis: pré-primário; primário; ensino secundário de primeiro e segundo ciclos e ensino superior. O ensino secundário atendia, além da educação propedêutica, própria para a continuidade nos demais níveis da educação, o ensino profissional nas áreas agrícola, industrial e comercial e o Curso Normal, de formação para o magistério no pré-primário e no primário. 
Orientada pela vaga liberal, descentralizadora, a LDB 4024/61 trouxe mudanças significativas à organização da educação brasileira. Conferia maior autonomia aos órgãos estaduais, descentralizava a gestão da educação (arts. de 15 a 17) e regulamentava os Conselhos Estaduais de Educação (art.10) e o Conselho Federal de Educação (arts. 8 e 9). 
A Lei 4.024, de 1961, apoiava-se nos preceitos de financiamento da Constituição de 1946, pelos quais a União devia aplicar 12% dos impostos com a educação, e os estados, municípios e o Distrito Federal 20% (art. 92). Esta definição, além de aclarar os limites mínimos de comprometimento orçamentário dos entes federados, facilitava o planejamento do setor. 
A LDB 4024 detalhava a organização do trabalho pedagógico a ser desenvolvido na educação escolar. Estabelecia ano letivo com duração de 180 dias (art. 72); previa atendimento a alunos excepcionais, inclusive na rede privada, com aporte de recursos públicos (arts. 88 e 89); esclarecia o que não seria considerado despesa com educação (art. 93 § 2º); definia como facultativa a frequência ao ensino religioso, embora constante da grade horária escolar (art. 97); e possibilitava a instalação de escolas com propostas de ensino experimental (art. 104). 
Esta LDB 4024 estabelecia a obrigatoriedade de matrícula no ensino primário (art. 3) e propunha o Curso Normal como instância de formação de profissionais para o Ensino Primário – docentes, coordenadores, orientadores e administradores - (art. 52 a 55).
O ingresso na carreira docente, na rede pública de ensino se daria, a partir desta Lei, mediante concurso de provas e títulos (art. 60). E obedeceria aos critérios de formação nela estabelecidos: para os cursos secundários, em licenciaturas de nível superior. As mudanças pretendidas pela LDB de 1971 foram mais profundas. Reconfigurou-se toda a Educação Básica, instituindo o 1º grau, com oito séries, sendo as 4 primeiras equivalentes ao antigo primário e as 4 últimas, ao primeiro ciclo do secundário – abolindo-se a exigência de aprovação em “exame de admissão ao ginásio”. O segundo ciclo secundário foi rebatizado de Ensino de 2º grau, compulsoriamente profissionalizante, com duração de 2 a 5 anos. Havia alternativas de habilitações técnicas, com maior carga horária profissional, e de auxiliares. 
Ao Curso Normal, que já formava professores para o magistério na pré-escola e nas séries iniciais do primário, foi indicada a possibilidade de ampliação em um ano, habilitando seu egresso à docência até a sexta série. 
Mas as mudanças da Lei 5692/71 não se limitaram à estrutura da educação escolar; avançavam no currículo. Organizaram-no em atividades, áreas de estudo e disciplinas, segundo os aportes da psicologia evolutiva e, pelo art. 7º, definiu como obrigatório, dentre outros componentes, a Educação Moral e Cívica, disciplina de natureza ideologicamente comprometida com os ideais que fundamentavam o golpe civil-militar de 1964. O viés profissionalizante foi atenuado pela reação de acadêmicos e da burguesia que colocava seus filhos em escolas privadas para disputar os vestibulares aos cursos de prestígio (direito, engenharias e medicina). Uma “reforma da reforma” instituiu as “habilitações básicas” no lugar das terminalidades técnicas. 
A década de 1990, apesar de caracterizar-se pelas ideias neoliberais com relação à educação, trouxe o desejo de ampliação do alcance das políticas de educação e o clima de inclusão social que envolveu a sociedade ocidental desde a convenção de Educação para Todos, realizada em Jontien, na Tailândia, em 1990, e da Declaração de Salamanca, na Espanha (1994).
Estes eventos, no Brasil, influenciaram a LDB 9.394/96, recolocando-a em consonância com a Constituição de 1988 que já orientava o Estado brasileiro numa perspectiva mais atenta às demandas da sociedade civil. Essa convergência entre a LDB 9394/96, os fundamentos filosóficos de seu tempo e a Carta Magna de 1988 conferiram à educação brasileira caracteres típicos de uma prática centrada no processo de modernização social, o que implicou e implica em mudanças significativas na organização da educação brasileira, em todos os níveis, a começar pela sua amplitude.
Este material foi baseado em:
PACHECO, Ricardo Gonçalves; CERQUEIRA, Aquiles Santos. Legislação Escolar. Universidade Federal de Mato Grosso/Rede e-Tec: Mato Grosso, 2013.
A LDB atual: lei nº 9.394, de 1996
A LDB 9394/96, em seu primeiro artigo, define a abrangência da educação para o Estado brasileiro, ao afirmar que ela abarca os
"processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais."
No artigo 5º, caracteriza o direito à educação como direito público subjetivo. O que implica o Estado, em todas as suas instâncias, com a sua garantia e a estabelece como prioridade. Esta caracterização permite ao cidadão ou a qualquer entidade da sociedade civil acionar o Estado legalmente na cobrança deste direito, no caso de “oferta irregular da educação”, ficando a autoridade sujeita a responder por crime de responsabilidade.
O que é uma oferta irregular? Menos dias letivos anuais? Menos horas letivas diárias? Professores sem habilitação? Índices muito negativos de aprendizagem? A LDB defende uma percepção da educação que, mais do que esclarecer a complexidade do ato educativo, identifica os limites do compromisso que o envolve. Um comprometimento que não pode se limitar aos muros escolares, tampouco aos profissionais da educação que atuam na docência. Pois aponta diferentes espaços educativos e comprometetodos os atores na defesa dos princípios da liberdade e da solidariedade humana (art.2º).
A atual LDB parte da perspectiva de construção de uma “sociedade aprendente”, na qual todos se encontram implicados com a educação e, consequentemente, com a transformação social. Para tanto, ainda no art.2º, a LDB 9394/96 apresenta como sua meta educativa “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
O art. 3º replica e amplia os princípios constitucionais do ensino, que também expressam sua filosofia de educação. A saber:
I – Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III – pluralismo ideias e de concepções pedagógicas;
IV – Respeito à liberdade e o apreço à tolerância.
V – Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI – Gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais;
VII – valorização do profissional da educação escolar;
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma da lei e da legislação dos sistemas de ensino;
IX – Garantia de padrão de qualidade.
X – Valorização da experiência extraescolar;
XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
Atendendo ao preceito constitucional presente no artigo 205 da Carta de 1988, que estabelece o compromisso estatal e familiar com a educação, a LDB 9394/96 define nos artigos 4º a 6º as obrigações relativas ao Estado e às famílias com a educação.
Ao Estado compete garantir, segundo o artigo 4º:
Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
Universalização do ensino médio gratuito;
Atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino;
Atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade; Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
Oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola;
Atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;
Padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem;
Vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.
A educação brasileira, pela LDB 9394/96, passou a organizar-se em apenas dois níveis, o básico e o superior (art. 22). A educação básica compreende a educação infantil, que atende em creches às crianças de 0 a 3 anos de idade e na pré-escola, às de 4 e 5 anos (arts. 29 e 30). O ensino fundamental, com nove anos de duração (art. 32), atende às crianças a partir de 6 anos (art. 32). E o ensino médio, última etapa da educação básica, com três anos de duração – em que a idade certa de matrícula varia de 14 a 18 anos. Quanto à estrutura, o ensino médio, com a edição dos decretos 2.208/97, que regula a educação profissional, e 5.154/04, que cria a modalidade de ensino médio integrado à educação profissional técnica de nível médio, sofreu alterações significativas.
O decreto 2.208/97 estabelece no seu artigo 2º que:
"à educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou em modalidades que contemplem estratégias de educação continuada, podendo ser realizada em escolas do ensino regular, em instituições especializadas ou nos ambientes de trabalho. (Brasil, 1997)"
Uma das inovações mais radicais da LDB, que merece bastante atenção, é, sem dúvida, a variedade de possibilidades de organização apresentada às escolas da educação básica. Pelo art. 23, elas poderão ser estruturadas em séries anuais; em semestres; ciclos; períodos de estudos alternados; grupos não seriados; enturmados por faixa etária; por competências demonstradas pelos alunos; ou por outros critérios. Entretanto, o parâmetro de organização será sempre “o que o interesse do processo de aprendizagem recomendar”. Essa observação, que em leis anteriores se aplicava ao ensino de artes e de línguas estrangeiras, deve agora ser levada em conta para todas as etapas, modalidades e componentes curriculares da educação básica. Daqui se vê a importância do diálogo entre professores e secretaria escolar, que muitas vezes corre o risco de engessar os tempos e espaços da escola em ritos burocráticos.
No que tange ao currículo do ensino fundamental, a obrigatoriedade de inclusão de conteúdos relativos aos direitos das crianças e dos adolescentes (§ 5º, inciso IV, art. 32), também é digna de destaque. Uma vez que se trata de ação concreta de construção de postura cidadã, um dos objetivos fundamentais da educação básica.
Já o ensino médio tem sofrido grandes alterações curriculares com as mudanças na atual LDB, que incorporaram dispositivos dos decretos referentes à educação profissional, já citados, trazendo novos conteúdos e formas de oferta, nas diferentes modalidades de atendimento. O importante é saber que, aos alunos concluintes do ensino fundamental, abrem-se hoje oportunidades as mais variadas, desde o tradicional ensino médio comum – preparatório à educação superior – até cursos profissionais a ele concomitantes ou subsequentes e os de currículo integrado, oferecidos principalmente pelas redes estaduais e pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, presentes em 500 municípios brasileiros.
O “cardápio” de cursos da educação superior é estruturado em graduações (licenciatura, bacharelado e tecnológico) e pós-graduações, lato sensu (aperfeiçoamento e especialização) e stricto sensu (mestrado e doutorado), bem como em cursos de extensão e sequenciais, descritos no art. 44 da Lei, tendo os últimos como pré-requisito a certificação do ensino médio.
Embora não tenhamos a pretensão de construir um manual de legislação educacional, entendemos como bem-vindo o destaque de alguns aspectos da lei que dizem respeito a pontos específicos da rotina administrativa de uma escola.
Comecemos, então, pelo ingresso de alunos. A matrícula na educação básica, na educação infantil faz-se em creches para crianças de até 3 anos de idade (art. 30, inciso I) e é obrigatória na pré-escola para aquelas entre 4 e 5 anos (art.30, inciso II). No ensino fundamental, de matrícula obrigatória, o ingresso será aos 6 anos de idade (Art. 32). Alguns sistemas, seguindo resolução do Conselho Nacional de Educação, adotam 31 de março como a data de nascimento limite para admitir as crianças no 1º ano do ensino fundamental.
Não tendo completado seis anos até este dia, a criança deve ser matriculada ainda na pré-escola. Já para o ensino médio, a legislação não estabelece uma idade limite mínima para ingresso, nem mesmo exigindo-se a conclusão do ensino fundamental. Sendo, porém, 18 anos a idade para realização dos exames de suplência (Art.38 § 1º, inciso II), podemos deduzir os 17 anos como sendo a idade limite para ingresso no ensino médio regular. Daí por diante o estudante se enquadra na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Num país de dimensões continentais como o Brasil, a busca por melhores oportunidades, em todos os campos da vida, tem levado pessoas e famílias a porem-se em constante movimento. Esta mobilidade tem afetado a vida escolar de crianças e adultos, exigindo dispositivos legais que minimizem os impactos deste fenômeno social sobre a frequência à escola.
Atento a essa questão, os legisladores da educação trazem para a LDB, em seu art. 24, inciso II, item b,a possibilidade de matrícula em qualquer ano ou série da educação básica por promoção ou transferência, e mesmo sem comprovação de escolarização anterior. Nesta última possibilidade de acolhimento do aluno à escola realizará avaliação para verificar o “grau de desenvolvimento e experiência do candidato” (Inciso II, item c) antes de enturmá-lo. Essa avaliação poderá, inclusive, resultar em “aceleração de estudos” ou “avanços nos cursos e nas séries”. O art. 24 permite extrema flexibilidade, mas não se pode usá-la para prejuízo futuro do estudante.
À migração podemos associar a busca precoce por emprego como fator que compromete a frequência regular e até mesmo o ingresso de nossos jovens na escola na idade considerada regulamentar. E, paralelamente a esta chaga social, que é a não preparação do jovem para ingresso digno no mundo do trabalho, os avanços tecnológicos exigem cada vez mais uma formação de maior qualidade. Nesse contexto, como impacto no sistema educacional vem, num primeiro momento, a elevação dos postulantes à Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, com ele, a busca por formação profissional. Diante de tal cenário, a LDB, nos arts. 37 e 38, estabelecendo a educação como política social, alavanca do desenvolvimento social e econômico, assegura a gratuidade dos cursos fundamentais e médios da EJA e a gratuidade dos exames de suplência para os jovens e adultos que não frequentaram a educação básica na idade certa. Mais ainda: alia aos currículos da EJA os componentes da educação profissional.
Os exames de suplência, para o ensino fundamental, estão garantidos aos maiores de 15 anos e os exames para conclusão do ensino médio são ofertados aos maiores de 18 anos de idade (Art. 38). Nesses exames, os sistemas de ensino poderão manter formas de aferir e aproveitar os conhecimentos adquiridos informalmente pelo educando (§2º). A maior novidade quanto à formalização dos conhecimentos como política pública é a instituição pelo governo federal do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que certifica a conclusão do ensino médio para os aprovados com mais de 18 anos e os habilita, por classificação, a ocupar milhares de vagas em cursos superiores de graduação de instituições públicas e privadas.
Ainda nesta vertente da educação como política social articulada a outras demandas da sociedade, como a de formação de mão de obra, por exemplo, a LDB 9394/96 teve, a partir da Lei 11.741 de 2008, alterados o capítulo II, com a criação da seção IV – A “Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio e o capítulo III, que passou a titular-se “Educação Profissional e Tecnológica” (arts. de 36 a 42).
Desta forma, o ensino médio, à semelhança do antigo 2º grau da LDB 5692/61, voltou a ser instância também de formação profissional, contudo, sem o caráter obrigatório e o aligeiramento dos conteúdos científicos e humanísticos a que levava a lei anterior. É tarefa também da secretaria escolar subsidiar o estudante ao término do ensino fundamental para a decisão entre um curso profissional ou de currículo comum (propedêutico). Outra distinção desta forma de organização da educação profissional é seu alinhamento com o mercado de trabalho da região, bem como a parceria com instituições de formação profissional de outras redes de ensino.
Sempre articulada com o ensino regular, a formação profissional poderá atender também a demandas de formação continuada em cursos especiais focados no interesse comunitário, sem exigência de comprovação de algum nível de escolaridade. Não nos esqueçamos de que a educação profissional é uma modalidade que perpassa a educação básica e superior e, neste último nível, expressa-se pelos cursos tecnológicos, que são graduações de menor duração, e pelos inúmeros cursos superiores de graduação e pós-graduação que conduzem a postos especializados de trabalho cada vez mais numerosos e diversificados. Pode-se dizer que, nos dias de hoje, mede-se o desenvolvimento econômico, social e cultural dos países pelo número e variedade dos concluintes de seus cursos superiores. Entretanto, nos termos da Lei 11741/08, a LDB teve o acréscimo dos artigos 36-A, B, C e D. Nos dois primeiros, diz-se que a formação profissional pode ser integrada ao ensino médio de duas formas: articulada ou subsequente, sempre aproveitando os espaços e tempos disponíveis do aluno.
A subsequente é clara, atende àqueles que já concluíram o ensino médio. Já a forma articulada pode ser assumir várias organizações: a integrada, destinada aos concluintes do ensino fundamental, tem pôr fim a habilitação profissional de nível médio, na própria escola, contendo os componentes profissionais, científicos e humanísticos do currículo; e a concomitante, oferecida aos que ingressam no ensino médio ou aos que já o cursam, podendo ocorrer em turnos distintos da própria escola ou na escola convencional num turno e em instituições especializadas, em outro turno.
Dentro da proposta de inclusão social assumida pela sociedade brasileira no final do século XX e no começo do XXI, a atenção educacional aos estudantes entendidos como de “necessidades educacionais especiais” – pessoas deficientes, com transtornos globais de desenvolvimento ou superdotadas - ganhou destaque considerável. A LDB 9394/96 avança nesse aspecto em relação às anteriores, ao estabelecer o atendimento a estes estudantes preferencialmente dentro da rede regular de ensino, prevendo o suporte de profissionais especializados às turmas comuns e salas para atenção específica quando for necessário (art. 58).
A atenção a estes alunos, pelo art. 59 da LDB 9394/96, terá, em função das demandas dos estudantes, adequação curricular e metodológica, de forma a atender a seu desenvolvimento educativo e pessoal. O mesmo artigo prevê a formação geral e específica para os profissionais dedicados à modalidade da educação especial, inclusiva e especializada.
O capítulo da LDB consagrado aos profissionais da educação não é focalizado neste Caderno. Entretanto, a publicação recente da Lei nº 12.796, em 4 de abril de 2013, obriga-nos a uma referência especialíssima.
Depois da Lei nº 12.014, que reconheceu os funcionários de escolas como a Categoria III dos profissionais de educação (art. 61 da LDB), desde que em exercício permanente nas redes públicas e formados em cursos reconhecidos de nível médio e superior, “em área pedagógica ou afim”, dois avanços muito importantes foram trazidos pela Lei 12.796/13, que introduziu o art. 62-A na LDB. O primeiro é que confirma a formação profissional da Categoria III por meio de “cursos de conteúdo técnico-pedagógico”, descartando a possibilidade de aproveitamento de diplomas sem ligação direta com a essência da identidade dos funcionários: técnicos e educadores. O segundo é que se garante a formação continuada dos funcionários em cursos de graduação e pós-graduação, o que fundamenta a reivindicação por horário de trabalho dedicado à capacitação permanente.
Sobre o financiamento da educação na LDB, fazemos somente algumas referências, já que ele é tema constitucional e de outras leis ordinárias, e foi e será tratado em outros Cadernos. Registre-se, então, que um avanço da Lei 9394/96 foi sem dúvida a transparência em relação aos recursos destinados à educação. No art.68, detalha a fonte desses recursos; no art. 69 os percentuais mínimos a serem aplicados anualmente por União (18%), os estados e o Distrito Federal (25%) e os municípios (25%). Aspecto importante no acompanhamento pela sociedade dos investimentos em educação é a discriminação, presente nos arts. 70 e 71, do que seja e não seja “manutenção e desenvolvimento do ensino” (MDE). É importante, para quem trabalha na secretaria escolar, conhecer bem estes itens, embora as despesas com cada programa (PNDDE, por exemplo) tenham regras próprias.
A legislação configura-se como a síntese de um acordo, um pacto social, a garantia legal de direitos. Contudo, sua efetivação demanda mobilização social, fiscalização, atuação em conselhos e organismos da sociedade, debate com os movimentos que atuam na comunidade.Tudo isso requer compreensão dos mecanismos de gestão e participação social, em que os planos de educação têm papel fundamental.
Este material foi baseado em:
PACHECO, Ricardo Gonçalves; CERQUEIRA, Aquiles Santos. Legislação Escolar. Universidade Federal de Mato Grosso/Rede e-Tec: Mato Grosso, 2013.

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