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Livro didático complementar ao curso
Gramática
da LibrasMaly Magalhães Freitas
malymfreitas@gmail.com
258.693.358-33
Diretoria Signa
Educação: Jade Geovana Moia Gama
Geral: Fabíola da Rocha Borba
Marketing: Leandro da Cunha
Tecnologia: Icaro Rezende 
Autoria: Ronice Müller de Quadros
Coordenação: Jade Geovana Moia Gama
Diagramação: Aline Gomes da Silva
Ilustração: Lais Rovani Teixeira
Projeto gráfico de capa: Aline Gomes da Silva
Revisão de texto: Gisele Iandra Pessini Anater Matos
1º Edição: Novembro | 2020
ISBN nº 978-65-993106-0-7Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Quadros, Ronice Müller de
Gramática da libras : estudos introdutórios sobre 
seus componentes gramaticais [livro eletrônico] :
signa : livro didático complementar ao curso /
Ronice Müller de Quadros. -- Florianópolis, SC :
Signa, 2020.
PDF
ISBN 978-65-993106-0-7
1. Língua brasileira de sinais - Estudo e ensino
2. Português - Gramática - Estudo e ensino I. Título.
20-50136 CDD-419.07
Índices para catálogo sistemático:
1. Libras : Língua brasileira de sinais : Estudo e
ensino 419.07
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
Maly Magalhães Freitas
malymfreitas@gmail.com
258.693.358-33
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
SU
M
ÁR
IO
SU
M
ÁR
IOSUMÁRIOSUMÁRIO
1 Introdução ...................................................................................................5
 
2 Espaço gramatical e corpo ........................................................13
3 Espaço referencial .............................................................................31
4 Corpo na estrutura 
da Libras .........................................................................................................54
5 Componentes macro 
do texto em Libras: estrutura narrativa .................................81
6 Componentes nucleares 
do texto em Libras: as frases ........................................................98
7 Componentes micro do 
texto em Libras: as palavras ..........................................................131
8 Palavras finais ...................................................................................159
INTRODUÇÃO
11
Objetivos
Apresentar um panorama geral sobre a Gramá-
tica da Libras, os níveis de análise gramatical e 
a organização do material dos aspectos grama-
ticais estudados neste volume.
Panorama geral sobre a Gramática da Libras
Maly Magalhães Freitas
malymfreitas@gmail.com
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
Definição de Gramática
Um sistema de uma determinada língua ou de lín-
guas em geral que consiste de vários níveis de aná-
lise que vão desde os aspectos mais amplos (macro) 
até as questões mais específicas na composição de 
suas unidades. Vamos ser mais concretos: unidades 
macro podem ser compreendidas como um discur-
so que é composto de parágrafos (unidades de sen-
tido maiores), enunciados (frases e sentenças), com-
binações de palavras que representam unidades de 
sentido menores, até as unidades sem sentido, que 
são os sons nas línguas orais e as configurações de 
mãos, localizações e os movimentos nas línguas de si-
nais. O sistema gramatical é constituído de sentido e 
de estrutura. O discurso precisa ter um sentido que, 
normalmente, é construído a partir das intenções de 
quem o produz. Esse sentido é organizado por meio 
de combinações estruturais que seguem regras es-
pecíficas das línguas. Isso constitui uma gramática.
A perspectiva de gramática estudada está pautada 
nos estudos linguísticos, especialmente considerando 
os usos da língua a partir de descrições linguísticas. 
Isso significa dizer que a proposta desenvolvida aqui 
parte de “olhar” para a língua sendo usada por diferen-
tes sinalizantes a fim de observar como ela se organi-
za para produzir sentidos. Não será apresentada uma 
perspectiva de gramática prescritiva, ou seja, de como 
historicamente as gramáticas foram produzidas, com 
base em prescrição de regras, para determinar como 
uma língua deveria ser usada. Isso não é compatível 
com a proposta desenvolvida aqui, porque com esta 
será apresentado como de fato a língua é usada, que 
por si só carrega complexidade e riqueza gramaticais 
e dispõe de várias possibilidades que os sinalizantes 
utilizam, mais ou menos, com o propósito de tornar o 
que dizem mais significativo, mais claro, mais preciso. 
Vocês irão aprender sobre esses recursos para apre-
sentar discursos em Libras com diferentes propósitos, 
tomando consciência sobre seus usos e acerca das 
formas de tornar o que vocês pretendem dizer em 
Libras mais claro e preciso. Também, vocês vão com-
preender com mais propriedade e de forma mais clara e 
precisa quando os sinalizantes produzem textos em Libras.
Objeto da gramática em estudo: a língua 
brasileira de sinais (Libras)
A Libras é uma língua usada no Brasil em suas co-
munidades surdas. Os sinalizantes da Libras podem 
ser surdos e ouvintes. É uma língua que se constituiu 
entre os surdos e estes a transmitiram como herança 
aos seus filhos, parentes e amigos ouvintes bem como 
aos demais surdos. O encontro surdo-surdo viabiliza a 
língua de sinais, tornando-se fundamental na consti-
tuição da Libras. A Libras é uma das manifestações da 
cultura surda que marca as identidades surdas brasi-
leiras. 
É uma língua nacional, ou seja, é usada em todo o Bra-
sil, especialmente nos grandes centros urbanos, onde 
os surdos se encontram com mais facilidade. Essa lín-
gua passou a ser reconhecida legalmente em 2002 por 
meio da lei 10.436. Ela reconhece a Libras como língua 
nacional usada nas comunidades surdas brasileiras.
Atualmente, contamos com os cursos livres de Libras, 
assim como o curso de Letras Libras em várias insti-
tuições de ensino do país. Assim, mais pessoas têm 
aprendido a Libras e se apropriado dessa língua. 
Os estudos gramaticais da Libras que serão apre-
sentados aqui representam aspectos que constituem 
a base da gramática dessa língua. Este material irá 
abordar os usos do espaço para fins gramaticais e tra-
tar do corpo na qualidade de constituidor de línguas 
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
visuais-espaciais, tais como a Libras. A partir do espa-
ço gramatical e do corpo, a Libras se harmoniza e se 
organiza para produzir sentido de forma estruturada. 
Neste material estudaremos a Libras, mas sempre ten-
do como referência estudos com diferentes línguas de 
sinais, pois muitos aspectos que são observados nela 
parecem ser inerentes às línguas de sinais de modo ge-
ral, apesar das diferenças existentes entre elas.
Assim, vocês terão a oportunidade de visualizar usos 
na própria Libras e identificar como determinadas es-
truturas podem impactar na constituição dos senti-
dos. A Libras, portanto, será nosso objeto de estudo 
gramatical neste material.
Propósito deste material
Com este material, vocês irão aprender sobre alguns 
componentes gramaticais da Libras. Vocês vão conhe-
cer como a Libras, uma língua visual-espacial, se estru-
tura gramaticalmente. Os aspectos abordados incluem 
o uso do espaço para fins de composição de sentido e 
de forma, o corpo como unidade gramatical intrínseca 
das línguas de sinais, alguns tipos de estruturas de fra-
ses e categorias de palavras. 
Os conhecimentos abordados servirão de base para 
você perceber como usar a língua de forma mais apro-
priada, explorando as possibilidades de produção tex-
tual em Libras nos diferentes contextos e com variados 
propósitos. Por exemplo, você poderá usar esse conhe-
cimento nas suas atividades profissionais para poten-
cializar a sua própria elaboração em Libras.vários elementos em um único 
sinal. Vamos retomar o uso de verbos e classificadores 
EU ENTREGAR VOCÊ
Eu entrego (algo) a você.
VOCÊ ENTREGAR ELE
Você entrega (algo) para ele.
que incorporam pontos referenciais previamente es-
tabelecidos ou sinais nominais que se sobrepõem aos 
pontos referenciais no espaço de sinalização na uni-
dade 7.
Nessa unidade, apresentamos alguns usos do espa-
ço referencial por meio de estabelecimento de pontos 
no espaço de sinalização que podem representar pro-
nomes pessoais, demonstrativos, de lugar ou posicio-
namento dos sinais para estabelecimento de referên-
cia. Os pronomes integram o sistema dêitico da Libras. 
Vimos que o espaço referencial é altamente complexo 
do ponto de vista gramatical, pois envolve vários com-
ponentes que impactam na gramática da Libras. En-
tre eles, verificamos que os pontos referenciais podem 
ser usados de diferentes maneiras para contrastar re-
ferentes que ocupam posições argumentais. Também 
podem ser empilhados com outros componentes gra-
maticais para determinar relações intrínsecas entre 
eles. E, por fim, vimos que os verbos e classificadores 
podem incorporar esses pontos referenciais para com-
por relações gramaticais, como a concordância verbal.
Atividades
 
1) Assista ao vídeo “Congresso de Milão”, produzido 
pela Edinata Camargo no curso de Imersão em Libras 
da Signa, e identifique os tipos de usos do espaço refe-
rencial considerando os seguintes elementos: 
a. Estabelecimento referencial no espaço de pro-
nomes pessoais por meio da apontação (inclui primei-
ra, segunda e terceira pessoas do discurso).
b. Estabelecimento referencial no espaço de pro-
nomes demonstrativos.
c. Estabelecimento referencial no espaço por meio 
de pronomes de lugar.
Síntese da unidade 3 - Espaço referencial
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
d. Estabelecimento referencial relacionado a pro-
nomes possessivos.
e. Estabelecimento referencial no espaço para 
marcar temporalidade.
f. Estabelecimento referencial no corpo por meio 
da apontação para indicação de listas utilizando a 
mão para representar a lista em si. 
Feedback: Nesse vídeo, Edinata Camargo produz um 
texto sobre o Congresso de Milão, um acontecimen-
to do passado. Ela utiliza a apontação para indicar o 
próprio acontecimento, pronome de terceira pessoa, 
assim como para indicar a comunidade surda, utili-
zando o pronome NÓS. Ela situa temporalmente no 
espaço a referência ao passado, quando aconteceu 
o Congresso de Milão. Utiliza a referência às pessoas 
por meio do sinal que indica pessoas produzido repe-
tidamente à sua direita. Faz referência espacialmente 
estabelecida apresentando tais pessoas sentadas em 
forma de círculo. No ponto espacial à direita, com o 
corpo levemente voltado para esse lado, produz vários 
sinais empilhados para referir os acontecimentos nes-
se Congresso. Estabelece o contraste espacial entre 
“oralismo” ou “língua de sinais” e novamente empilha os 
demais referentes no lado do Congresso falando sobre 
a votação. Finalmente, ela se volta para o interlocutor 
(quem está assistindo ao vídeo) e informa que o ora-
lismo foi eleito como opção naquela ocasião. Discorre 
sobre os efeitos que isso teve na comunidade surda e 
o movimento de resistência por parte deles; utiliza o 
pronome possessivo DELES para referir os direitos DE-
LES (de eles) usarem a língua de sinais. Não há uso de 
pronomes demonstrativos e de listas no vídeo.
2) Segue o vídeo em Libras “Existe ainda comunidade 
surda em 2019?”, um documentário da Signa sob a di-
reção de Darley Goulart, para ser assistido. Identifique 
os mecanismos gramaticais que os sinalizantes usam 
que envolvam o espaço referencial. A seguir, há uma 
lista de marcações referenciais que foram destacadas. 
Analise a introdução feita por Darley Goulart ao vídeo 
apresentando o tema do documentário e marque as 
opções abaixo: 
a. Estabelecimento referencial no espaço de pro-
nomes pessoais por meio da apontação (inclui primei-
ra, segunda e terceira pessoas do discurso).
b. Estabelecimento referencial no espaço de pro-
nomes demonstrativos.
c. Estabelecimento referencial no espaço por meio 
de pronomes de lugar.
d. Estabelecimento referencial relacionado a pro-
nomes possessivos.
e. Estabelecimento referencial no espaço para 
marcar temporalidade.
f. Estabelecimento referencial no corpo por meio 
da apontação para indicação de listas utilizando a 
mão para representar a lista em si. 
Feedback: Nesse vídeo, Darley Goulart introduz o tema 
sobre a existência da comunidade surda. Ele utiliza 
o espaço referencial de diferentes formas: apresenta 
verbos espaciais, direciona sinais para o interlocu-
tor (a câmera) incluindo sinais nessa direção quando 
envolve a referência de segunda pessoa, assim como 
verbos espaciais como o verbo SE-COLOCAR-NA PO-
SIÇÃO-DO-OUTRO. Estabelece pontos espaciais à sua 
frente para referir diferentes referentes por meio da 
apontação, sinais empilhados no ponto referencial e 
direção do olhar. Utiliza a mão para representar lista 
elencando diferentes contextos em que há dificulda-
des de acessibilidade. Utiliza pronomes pessoais como 
NÓS, ELA (a comunidade surda), ELA (a Libras), apon-
tando para a mão; usa o pronome demonstrativo ISSO 
(a comunidade surda), TU (segunda pessoa apontando 
para a câmera), pronome possessivo SUA (comunidade 
surda ajuda sua vida) e ELES (entrevistados).
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CORPO NA ESTRUTURA DA 
LIBRAS
Objetivos
Visualizar os diferentes usos do corpo para fins gramaticais: (1) 
função de desambiguizar e/ou determinar contrastes referen-
ciais por meio do posicionamento do corpo e da alternância de 
perspectivas usada no corpo para estabelecer coesão e coerên-
cia textuais; (2) função semântica e referencial atribuída a partes 
do corpo para referir entidades, pessoas e ações; e (3) função 
criativa para dar vida a coisas ou humanizar animais por meio 
do antropomorfismo (uma espécie de ação construída).
O corpo desempenha funções importantes nas línguas de sinais, 
afinal de contas, essas línguas acontecem a partir do corpo. Na 
Libras, assim como em todas as línguas de sinais estudadas até 
o presente, diferentes partes do corpo estão diretamente envol-
vidas na produção discursiva. As mãos, os braços, a face, a ca-
beça, o torso se combinam para produzir sentido por meio de 
uma gramática espacial. Essas partes do corpo são usadas para 
formar palavras e sentenças com o intuito de combinarem forma 
e significado para fins comunicativos e linguísticos. Nós já temos 
visto nas unidades anteriores alguns aspectos sobre o corpo 
como parte do sistema referencial, assim como indicações que 
determinam a clareza de sentidos ao se usar o corpo associado 
aos pontos espaciais e à direção do olhar. Nesta unidade, iremos 
aprofundar os aspectos gramaticais ativados através do corpo 
nas línguas de sinais, analisando tais usos na Libras.
44 Conceitos
Uma das diferenças mais impactantes entre línguas 
de sinais e línguas orais é a de que, nas línguas de si-
nais, os movimentos dos articuladores do corpo (face, 
mãos, cabeça e torso) correspondem diretamente a 
funções linguísticas específicas, aspectos identificados 
ao longo dos anos por pesquisadores de diferentes lín-
guas de sinais (SANDLER, 2018). Sandler (2018) sintetiza a 
composição corporal das línguas de sinais: 
(i) As mãos para compor palavras nas línguas de 
sinais, associadas a movimentos e localizações especí-
ficas. O uso da mão não dominante para manter a re-
ferência ativa em blocos discursivos, com função ana-
fórica, produzidos simultaneamente aos sinais da mão 
ativa.(ii) A face com a direção do olhar e expressões fa-
ciais é combinada com as palavras e com sentenças 
indicando funções gramaticais: afirmação, interroga-
ção, topicalização, ênfase, condição e suposição, por 
exemplo. 
(iii) A cabeça auxilia na organização da estrutura 
informacional, pois pode indicar a formação de tipos 
diferentes de sentenças: interrogativas, tópico, foco e 
condicionais, por exemplo. 
(iv) O torso toma diferentes formas, podendo envol-
ver posicionamento do corpo com movimentos para 
frente e para trás e alternância de perspectivas, com 
movimentos do corpo com o torso virado mais para 
um lado ou para o outro, implicando referência e corre-
ferência com função anafórica. Normalmente, a movi-
mentação do torso caracteriza contrastes de perspec-
tivas ou de tópicos a partir do espaço neutro.
Na composição da gramática da Libras, assim como 
identificado em outras línguas de sinais, o corpo, que 
inclui as mãos, a face, a cabeça e o torso, é usado sis-
tematicamente para compor o texto em sinais. 
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
Corpo: posicionamento no espaço
O corpo tem várias funções nas línguas de sinais. 
Uma delas é desambiguizar os referentes estabeleci-
dos no espaço de sinalização. O corpo se posiciona 
mais para o lado do referente com movimento do torso 
para trás para garantir a visualização dos contrastes 
entre os pontos referenciais estabelecidos no espa-
ço gramatical. Nesse caso, como já vimos no vídeo de 
Yvone Konder Ruiz, jogar o corpo mais para o lado, ou 
mais para frente, ou mais para trás, garante a visuali-
zação dos contrastes entre os espaços. Quando Yvone 
sinaliza sua amiga, se posiciona para frente seguindo 
a apontação introduzida previamente. Quando refere 
a si mesma, joga seu corpo para trás. Isso não é neces-
sariamente obrigatório, mas quando necessário para 
manter a percepção visual dos contrastes e garantir 
que não fique ambígua a referência; é um recurso usa-
do na Libras.
Em relação, ainda, ao posicionamento do corpo, a 
sua função é estabelecer de forma mais clara no dis-
curso as oposições entre os referentes. Nesse caso, o 
corpo não é o referente, pois os referentes foram es-
tabelecidos nos pontos espaciais e são explicitados 
por meio dos sinais e das apontações no discurso, 
estando associados com o corpo ou não. O corpo se 
move para facilitar a visualização dos contrastes en-
tre os referentes, tornando a produção mais clara. O 
EU AMIGA
posicionamento do corpo, embora indique o próprio 
sinalizante e também outros referentes indicados no 
espaço de sinalização, mantém a retomada sistemáti-
ca da direção do olhar para o interlocutor.
Entre as funções desempenhadas pelo corpo, há 
também a de referência à primeira pessoa do discurso. 
A partir da posição do sinalizante pode ser estabele-
cida a primeira pessoa do discurso. Assim, o próprio 
corpo passa a ser o sujeito da sentença, argumento 
externo. Na estrutura gramatical, essa posição por si 
só já preenche essa posição argumental, assim como 
observado em diferentes línguas de sinais (MEIR, PAD-
DEN, ARONOFF e SANDLER, 2007). A noção de sujeito 
parece ter um status privilegiado sobre os demais ar-
gumentos, segundo os autores Meir, Padden, Aronoff e 
Sandler. Esse status especial se manifesta no compor-
tamento morfológico, sintático, semântico e nos níveis 
do discurso. Os autores identificaram que a estrutura 
nas línguas de sinais denota estados que manifestam 
um padrão inerente de correspondência “forma e signi-
ficado” no qual o corpo do sinalizante consistentemen-
te representa um argumento de um verbo (predicado), 
ou seja, representa o sujeito da sentença. Assim, o cor-
po ocupa a posição de sujeito, uma vez que esse argu-
mento externo está representado pelo corpo e faz par-
te da estrutura lexical do verbo, o que torna o sujeito 
mais básico do que o objeto favorecendo sua omissão 
(MEIR, PADDEN, ARONOFF e SANDLER, 2007, p. 531). Se-
gundo os autores, “o corpo é independente das mãos e 
expressa somente um argumento; as mãos expressam 
os eventos e outros argumentos” (p.546). Essa manifes-
tação apresenta várias nuances, pois as mãos podem 
passar a representar o corpo e, consequentemente, to-
mar a posição de sujeito sentencial. Em todos esses 
casos, o sujeito é um ser animado, isto é, tem vida. Para 
expressar argumentos inanimados, sem vida portanto, 
os sinalizantes usam as mãos articulando os sinais no 
espaço neutro ou em espaços marcados associados a 
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
pontos espaciais. 
Na Libras, os sinalizantes usam o corpo como sujeito 
de forma bastante produtiva, no sentido de argumento 
externo do predicado (as mãos). Dessa forma, parece 
que muitas vezes a estrutura na Libras tem sujeito nulo 
(sujeito omitido), ou seja, quando ele não está expresso 
na frase. Em português, por exemplo, é possível ter um 
sujeito nulo:
“Saí de mansinho da festa.”
Sabemos que o sujeito dessa sentença em português 
é a primeira pessoa (do singular) do discurso: “(eu) saí 
de mansinho da festa”. Nesse caso e em outros, é pos-
sível recuperar o sujeito por meio da concordância ver-
bal. 
No caso do uso do próprio corpo como sujeito da 
sentença, a recuperação se dá porque a Libras utiliza 
o corpo para ocupar posições argumentais. O corpo 
como primeira pessoa pode ser usado na posição de 
argumento externo, a posição de sujeito, não sendo 
necessária a referência explícita do referente inde-
pendentemente do tipo de verbo. Na posição de argu-
mento interno, as posições de objeto da sentença já 
não são recuperadas somente pela posição do corpo, 
a não ser que estejam associadas a verbos espaciais 
ou sinais produzidos no espaço do corpo. Nesses ca-
sos, os verbos e sinais especializados é que cumprem 
a função de recuperar os argumentos. Como alguns 
verbos não podem ser especializados, por exemplo, o 
verbo GOSTAR em Libras, não tem como usar o corpo 
como referência para dizer que “alguém gosta de mim” 
sem usar o pronome.
Portanto, o sinalizante pode produzir sentenças com 
sujeito nas quais o próprio corpo ocupa tal posição 
parecendo que o sujeito está nulo, mas, na verdade, 
não está, porque o corpo em si é a posição gramatical 
nessas sentenças.
O uso da apontação na direção do corpo explicita 
que essa posição que o corpo ocupa é de primeira 
pessoa, portanto “eu”. Então, o sinal EU que envolve a 
apontação está indicando que essa pessoa, ocupan-
do esse corpo, é a primeira pessoa do discurso.
Agora, entramos em uma discussão mais complexa, 
pois o próprio corpo do sinalizante pode também as-
sumir outras referências que não referem a si mesmo, 
mas sim a quaisquer referentes projetados pelo sinali-
zante utilizando o seu próprio corpo. A isso denomina-
mos “alternância de perspectivas”. 
GOSTAR IX(aquela) PESSOA 
EU GOSTAR IX(aquela) PESSOA
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
Corpo: alternância de perspectivas
A alternância de perspectivas, também chamada de 
alternância de referências, envolve o uso do corpo do 
sinalizante como referência gramatical. Nesse proces-
so, há a mudança do próprio sinalizante como referen-
te de primeira pessoa a outros referentes que passam 
a ser os referentes no corpo do sinalizante. Segundo 
Lillo-Martin (1995), a alternância da referência afeta 
a interpretação de uma sentença por apresentar re-
ferentes a partir do ponto de vista do sinalizante. É 
como se o sinalizante emprestasse o corpopara outro. 
É como se o corpo alternasse os referentes transferin-
do pontos argumentais de referência para exercer uma 
função gramatical nas sentenças de acordo com as 
posições ocupadas pelo próprio corpo dos pontos no 
espaço. Esse mecanismo gramatical acontece por meio 
de diferentes posicionamentos corporais. Os posicio-
namentos do corpo podem ser marcados ou não mar-
cados, de forma análoga aos pontos no espaço neutro 
e espaço marcado. A marcação do posicionamento do 
corpo está associada a um referente específico que é 
explicitado por meio do corpo e das expressões faciais 
e trejeitos associados ao referente (assim como obser-
vado na Língua de Sinais de Quebec por Poulin & Mil-
ler, 1995). Ao alternar as perspectivas para associá-las 
a referentes específicos, o discurso mantém a coesão 
textual atribuindo a função anafórica aos contrastes 
estabelecidos pelo posicionamento do corpo. 
A alternância de perspectivas acontece a partir do 
sinalizante, que passa a ter o próprio corpo como re-
ferente de algo ou alguém e a sua sinalização passa 
a ser produzida a partir dessa perspectiva. A alter-
nância acontece porque o sinalizante pode ir e vir de 
uma para outra perspectiva alternando as referências, 
consequentemente referindo a diferentes argumentos 
da estrutura sintática. Essa alternância de perspectiva 
pode acontecer de forma mais explícita ou sutilmente, 
dependendo do gênero textual. Por exemplo, em uma 
narrativa, normalmente a alternância de perspectiva é 
mais marcada com contrastes explícitos no espaço de 
sinalização. Por outro lado, em um texto acadêmico, a 
alternância pode ser quase que imperceptível. 
Nós também vimos que o espaço disponível para si-
nalizar pode impactar nas formas de usos do corpo, 
pois havendo mais espaço, o sinalizante pode inclusive 
se mover de uma posição para outra, enquanto que, 
em espaços mais restritos, ele pode acabar movendo 
apenas a cabeça ou utilizar somente a direção dos 
olhos para manter a alternância de perspectivas.
A alternância de perspectivas é usada para marcar 
uma alternância da referência entre a primeira pessoa 
e outra pessoa referida no próprio corpo do sinalizan-
te. Os sinalizantes também alternam entre a posição 
do narrador e a referência a si mesmos. 
Padden (1986) apresenta a alternância de perspecti-
vas como uma alternância da terceira pessoa na pri-
meira. Os sinalizantes incorporam uma terceira pessoa 
(outra entidade) para produzir a perspectiva a partir 
dessa pessoa. Segundo Padden, essa alternância de 
perspectivas é contrastiva, ou seja, o sinalizante move 
seu corpo de um lado para o outro para indicar a mu-
dança de referência. Nesse caso, o dispositivo grama-
tical pode ser usado para alternar entre o sinalizante, 
o narrador ou outra pessoa; e também pode ser usado 
para empregar o discurso direto. Nessa mesma linha, 
dentro da alternância de perspectivas, acontece o po-
sicionamento do corpo. No entanto, esse posiciona-
mento é da perspectiva do referente incorporado na 
perspectiva assumida no ato da enunciação. É como 
se fosse um subespaço criado dentro do espaço do 
sinalizante, pois esse subespaço passa a ser usado 
com todos os recursos gramaticais da língua a partir 
da perspectiva incorporada.
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
A esse recurso gramatical, Liddell (1995) refere como 
espaço sub-rogado, tipo de espaço estudado na uni-
dade anterior. Na perspectiva de Liddell, é como se o 
sinalizante incorporasse o referente e passasse a re-
presentá-lo assumindo todas as suas características 
físicas e seus trejeitos. As expressões faciais também 
passam a externar o referente incorporado. Assim, nes-
sa proposta, é como se as alternâncias de perspecti-
vas fossem produzidas para estabelecer um discurso 
direto. No entanto, os estudos indicam que, na verda-
de, até é possível ter esse mecanismo gramatical sen-
do usado para expressar o discurso direto nas línguas 
de sinais, assim como também observamos na Libras, 
mas não somente isso. O uso da alternância de pers-
pectivas é muito mais complexo gramaticalmente e vai 
além do discurso direto. O sinalizante pode alternar 
entre ele e o referente incorporado ocupando posições 
alternadas contrastivas, no sentido proposto por Pa-
dden, para desempenhar funções estruturais na gra-
mática espacial. O corpo, então, ocupa efetivamente 
a posição argumental na sentença, desempenhando 
função de sujeito em sentenças simples e complexas. 
Por exemplo, as orações subordinadas podem utilizar 
o corpo como sujeito. Quando o corpo não é usado 
como sujeito, faz-se necessário indicar explicitamente 
qual é o referente por meio do nome ou da apontação 
a ocupar tal posição gramatical.
Considerando o uso dos espaços para fins gramati-
cais, o espaço ocupado pelo corpo parte da referência 
do próprio falante, podendo alternar para outro refe-
rente, no caso do uso da alternância de perspectivas. 
Isso provoca uma reorganização gramatical a partir do 
ponto de referência ocupado pela posição referencial 
no corpo do sinalizante. O próprio corpo pode ocupar 
uma posição gramatical como sujeito ou objeto da 
sentença, além de desempenhar funções semânticas 
(tema, paciente, agente, experienciador ou causador).
Na Libras, o uso de alternância de perspectivas é 
extremamente rico e pode ser aplicado de forma su-
til ao longo do discurso. Há uma grande variedade de 
informações associadas às perspectivas alternadas 
que pode representar diferentes descrições (BERENZ, 
1996). Berenz (1996) se refere a essa estratégia referen-
cial como retórica, que exige o uso consistente do es-
paço gramatical com contrastes internos para pessoa 
de forma altamente complexa. Há, de certa forma, uma 
função dêitica também associada à alternância de 
perspectivas, pois é um mecanismo que necessaria-
mente depende do discurso para ser interpretado. 
No vídeo da história sobre os dois lobos, um repre-
sentando o bem e o outro o mal, Rimar contrasta usan-
do o corpo de forma alternada entre os personagens 
que integram a história, desde o cacique da comuni-
dade indígena e o menino que pede sua ajuda para 
lidar com o mal, assim como na história narrada pelo 
cacique dos dois lobos. O posicionamento do corpo 
aparece em todas as retomadas da contação da his-
tória enquanto narrador, assim como em relação às 
referências ao cacique e ao menino ao longo do texto 
e ao final dele, quando apresenta a moral da história. 
Vocês podem observar o contraste entre o uso do me-
canismo de posicionamento do corpo e o de alternân-
cia da perspectiva por meio da direção dos olhos. No 
posicionamento do corpo, o olhar com o interlocutor é 
retomado sistematicamente. Quando há a alternância 
da perspectiva, o olhar direciona-se aos personagens 
do texto produzido pelo narrador. O lado direito e o 
lado esquerdo do corpo do Rimar são usados de for-
ma consistente ao longo do texto para indicar o mal 
e o bem, respectivamente. As mãos são usadas para 
representar as pernas do menino e as pernas dos dois 
ASSISITIR AO VÍDEO ILUSTRANDO O USO DE ALTERNÂNCIA DE REFERÊN-
CIAS E POSICIONAMENTOS DO CORPO de Rimar Segala – Os dois lobos: 
o bem e o mal.
Maly Magalhães Freitas
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lobos. Também são usadas para indicar os dois lobos 
em si, um de cada lado. Quando realiza a alternância 
de perspectiva entre o cacique e o menino, claramen-
te o corpo ocupa a posição de sujeito da sentença. O 
corpo na perspectiva receptora da ação do outro ocu-
pa a posição de objeto da sentença.
Vejam alguns exemplos destacados a seguir:
Posicionamento do corpo 
como narrador
Posicionamento como 
menino
Alternância de perspectivacacique (olhar para o menino)
Alternância de perspectiva 
menino (olhar para o cacique)
Partes do corpo para atribuir referência
Segundo Meir, Padden, Aronoff e Sandler (2017), o cor-
po como sujeito apresenta várias nuances de repre-
sentação nas línguas de sinais, pois partes do corpo, 
por exemplo as mãos do sinalizante, podem passar 
a representar o corpo e, consequentemente, tomar a 
posição de argumento externo do predicado. Esse é o 
caso de quando as mãos são usadas para expressar o 
corpo nas línguas de sinais. 
Taub (1997, p. 123-124) apresenta alguns padrões iden-
tificados no uso de partes do corpo para atribuição de 
significado. Os articuladores do sinalizante podem re-
presentar partes do corpo do mesmo tipo (como mãos 
representando mãos); partes do corpo de animais que 
correspondem às mãos (por exemplo, mãos represen-
tando patas dianteiras); e partes do corpo humano ou 
de animais que não correspondem a partes do arti-
culador usado pelo sinalizante (por exemplo, mãos re-
presentando os pés ou a cabeça). Esses usos são ob-
servados, normalmente, em contação de histórias ou 
fábulas. 
Mãos usadas para pernas 
do menino
Mãos usadas para garras 
do lobo
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Outra forma de usar as mãos para representar o cor-
po é na representação do próprio corpo. As mãos são 
usadas para representar pessoas como entidades hu-
manas, por exemplo, com o uso do dedo indicador para 
cima, ou para representar pessoas em pé ou sentadas 
com os dois dedos, indicador e médio, voltados para 
baixo. Também o número pode ser incorporado para 
indicar uma pessoa, duas pessoas, três pessoas, qua-
tro pessoas e muitas pessoas com todos os dedos das 
mãos, no caso dos dedos estendidos e virados para 
cima. Se os dedos forem encolhidos, podem represen-
tar pessoas sentadas ou agachadas que podem estar 
dispostas de diferentes formas no espaço (sentadas 
em círculo, umas atrás das outras, em fileira etc.). Su-
palla (1986) refere a esses usos como um tipo de classi-
ficador, chamado de classificador corporal. Seguem as 
ilustrações desses usos:
1 PESSOAS 2 PESSOAS
3 PESSOAS 4 PESSOAS
MUITAS-PESSOAS-PASSANDO-UMAS-PELAS-OUTRAS
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MUITAS-PESSOAS-PASSANDO-NA-MULTIDÃO
PESSOAS-NA-FILA
1PESSOA-SENTADA
PESSOAS-SENTADAS-CÍRCULO
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PESSOAS-SENTADAS-EM-UMA-PLATEIA-ATRÁS-UMAS-DAS-
-OUTRAS
PESSOAS-SENTADAS-ENFILEIRADAS
Ainda, as mãos podem representar ações feitas pelo 
corpo, como “cortar-com-machado”, “pintar-parede-
-com-rolo-com-cabo”, “escrever-com-lápis” ou “digitar-
-no-teclado”. Esses são exemplos que podem ser re-
presentados pelas mãos do sinalizante indicando as 
formas de cada ação. Supalla (1986) denomina esse 
grupo de “classificadores instrumentais”, que são com-
binados com classificadores corporais.
CORTAR-COM-MACHADO ou
CORTAR-COM-MACHADO
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PINTAR-PAREDE-COM-ROLO-COM CABO
ESCREVER-COM-LÁPIS DIGITAR-NO-TECLADO
Nesses casos, o corpo e a ação implicada no evento 
estão incorporados na mão para serem representados 
visualmente no texto na Libras. 
Uso de mãos não dominantes (boias)
Outro uso de partes do corpo para fins gramaticais é 
o uso da mão não dominante de forma concomitante 
com outros sinais produzidos com a mão dominante. 
Segundo Liddell (2003), os sinalizantes produzem sinais 
com a mão não dominante mantendo essa mão para-
da no espaço de sinalização com uma configuração 
de mão que remeta ao sinal introduzido inicialmente. 
Essa mão, portanto, fica mantida no discurso visual-
mente contribuindo para a coesão discursiva. A essa 
mão mantida no discurso enquanto a outra mão ar-
ticula outros sinais, Liddell refere como “boia”. A ideia 
é que a mão fica “boiando” para não ser esquecida ou 
ser referenciada ao longo do discurso. Uma forma pro-
dutiva de uso de “boias” é a utilização da mão não do-
minante para indicar uma lista de itens, como já vimos 
anteriormente. 
No exemplo a seguir, retirado da história sobre o bem 
e o mal contada por Rimar Segala, o posicionamento 
do corpo é do narrador, que usa a boia mantida à di-
reita referente ao lobo bom para fazer um contraste 
com o lobo mal indicado na posição à esquerda por 
meio de vários sinais ao longo da enunciação.
Boia: Lobo bom (mão não dominante)
Sinais sobre o lobo mal com a mão dominante: OU-
TRO, ELE, LOBO.
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Antropomorfismo
Antropomorfismo é uma forma de personificação de 
referentes que representam objetos ou entidades não 
humanas, mas passam a ser humanizados no corpo 
do sinalizante. O sinalizante incorpora a entidade su-
postamente não humana utilizando a personificação 
dessa entidade para representá-la no discurso. Sut-
ton-Spence & Napoli (2010) analisam a realização de 
antropomorfismo na Língua de Sinais Britânica (BSL), 
que é muito similar ao que acontece na Libras. Antro-
pomorfismo é uma forma de animar objetos ou enti-
dades para expressar sentimentos, emoções e pensa-
mentos típicos de seres humanos de forma altamente 
criativa nas línguas de sinais. É uma maneira de usar 
analogias ao objeto com formas humanas utilizando 
o próprio corpo do sinalizante, especialmente em poe-
mas e contação de histórias.
Segundo Sutton-Spence & Napoli (2010:452), quando 
há o uso do corpo para produzir o antropomorfismo, o 
narrador “desaparece” em favor da entidade que é alvo 
nesse processo. Assim, o corpo do sinalizante (mãos, 
faces e torso) passa a ser o do personagem que é alvo 
do antropomorfismo. Dessa forma, o sinalizante pode 
passar a ser qualquer entidade. A transferência para 
a entidade-alvo é representada por meio de formas 
descritas pelas mãos e pelo corpo. As autoras obser-
varam que nas línguas de sinais, no uso de antropo-
morfismo, as entidades raramente sinalizam, mas usam 
comunicação visual, tanto manual como não manual, 
do ponto de vista dos surdos. Os sinalizantes explo-
ram analogias que são mais visíveis dando mãos, de-
dos e olhos para as entidades, alvo desse mecanismo. 
Enfim, “as autoras concluem que antropomorfismo nas 
línguas de sinais demonstram um potencial extraordi-
nário para os contadores de histórias e poetas apre-
sentarem visões de mundo alternativas por meio de 
transferência direta da pessoa para entidades não hu-
manas”. (p.471)
Vamos ver um caso de antropomorfismo em Libras 
em um poema sobre o celular, de Anna Luiza Maciel.
Nesse poema, assim como em outros nos quais se faz 
uso do antropomorfismo, os olhos desempenham uma 
função importante sobre a entidade incorporada, seu 
comportamento, suas emoções e seus sentimentos, 
deixando de ser um simples objeto, nesse caso um ce-
lular qualquer. Como observado por Sutton-Spence e 
Napoli, nenhuma dessas entidades inanimadas possui 
olhos. Então, o sinalizante parece potencializar o olhar 
para humanizar o objeto incorporado no corpo.
A poeta usa o mecanismo do antropomorfismo para 
humanizar o celular, dando a ele emoções e reações 
diante do que é feito com ele. Os olhos são usados, as-
simcomo as expressões faciais, para indicar o que ele 
está sentindo e suas emoções são assim manifestadas. 
ASSISTIR AO VÍDEO do poema “Celular”, de Anna Luiza Maciel (Literatura 
em Libras – Domínio público: Acessado em 15 de setembro de 2020).
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Ela intercala entre o celular humanizado e ela mesma 
agindo sobre o objeto. 
Veja alguns exemplos a seguir:
O corpo com função coesiva e para garan-
tia da coerência 
A unidade do texto depende da coesão e da coerên-
cia, ou seja, dos elos estabelecidos ao longo do texto e 
da composição dos sentidos para integrá-lo de forma 
adequada, consistente com a intenção do sinalizante. 
O uso do corpo, considerando todos os mecanismos 
estudados, contribui efetivamente para isso. 
CELULAR ACORDA CELULAR SENTE SER TECLADO
Coesão Coerência
A coesão envolve a conexão entre os 
elementos que compõem um texto oral 
ou escrito. Oral aqui é entendido como 
produzido no ato da interação com o 
outro, portanto os textos em Libras são 
considerados orais quando produzidos 
no ato da interação. A proposta de esta-
belecer relações por meio de elementos 
coesivos garante a harmonia entre eles. 
A coesão é estabelecida através de elos 
que nas línguas humanas podem se ma-
nifestar de diferentes formas, por meio 
de palavras ou pelo corpo.
A coerência é a forma que o texto se 
apresenta para garantir o sentido, a 
partir das relações entre suas partes, 
entre o texto e o contexto. É o que faz a 
produção ter sentido. A composição do 
todo apresenta uma organização das 
ideias para compor o sentido que re-
presenta a intenção do sinalizante para 
que seja compreendido pelos interlocu-
tores-alvos. 
O posicionamento do corpo, a alternância de pers-
pectiva a partir do corpo, o uso de partes do corpo 
para referência a partes do corpo, o uso da mão não 
dominante de forma simultânea à mão dominante e o 
antropomorfismo são formas altamente visuais usadas 
nas línguas de sinais que favorecem o estabelecimento 
da coesão e da coerência. 
Quanto à coesão, o uso de cada mecanismo esta-
belece elos entre as produções por meio do contraste 
entre o que é produzido a partir do corpo na posição 
neutra e em relação ao espaço neutro. Cada mecanis-
mo corporal é por si só uma forma de elo coesivo, pois 
indica claramente a quem se refere no texto. A reinci-
dência do mecanismo atrelado a um mesmo referente 
estabelece a correferência e ao longo do texto apre-
senta função anafórica.
Quanto à coerência, a composição do todo com a 
utilização desses mecanismos favorece a compreensão 
dos sentidos. Quando o sinalizante decide empilhar 
mecanismos associados ao corpo em uma posição es-
pecífica referencial, o sentido almejado é o de indicar 
relações de tais mecanismos com a referência em si. 
Em contraste, a oposição de posições referenciais por 
meio do posicionamento do corpo ou de alternância 
de perspectivas, ou mesmo no caso do antropomor-
fismo e do uso das mãos para indicar partes do corpo 
podem evidenciar referências alternadas no discurso 
que precisam ser associadas de forma consistente a 
cada ponto. Isso garante a compreensão do sentido 
proposto pelo sinalizante. 
A simultaneidade também é um mecanismo de coe-
são que garante a coerência nas línguas de sinais. Vi-
mos na Libras, que o uso da mão não dominante pode 
ser estendido ao longo de enunciados com a produ-
ção concomitante da mão dominante fazendo referên-
cia à mão não dominante, a qual mantém a referência 
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a algo introduzido por ela mesma. Esse mecanismo co-
esivo é específico das línguas de sinais por ser viabili-
zado visualmente e de forma simultânea ao que está 
sendo dito.
Síntese da unidade 4- Corpo na estrutura 
da Libras
Nessa unidade, analisamos em mais detalhes o uso 
do corpo na Libras. O corpo é algo que integra as lín-
guas de sinais, línguas visuais-espaciais. Ao privilegiar 
o corpo como mecanismo gramatical, as línguas de si-
nais potencializam a composição de sentidos. Vimos 
que o corpo pode ser usado de diferentes formas para 
garantir a coesão e a coerência. Entre os mecanismos 
estudados, analisamos o uso do posicionamento do 
corpo, a alternância de perspectivas por meio do cor-
po, o uso de partes do corpo, o uso da mão não do-
minante concomitantemente à mão dominante produ-
zindo diferentes sentidos e, ainda, uma forma de uso 
criativo do corpo que se apresenta pelo antropomor-
fismo.
Atividades 
1) Veja o uso do antropomorfismo no poema “Bola 
de sinuca”, de Fábio de Sá, e identifique os usos do cor-
po para expressar o objeto. Marque V para verdadeiro 
e F para falso, após analisar o vídeo.
a. ( ) Antropomorfismo é aplicado no jogador.
b. ( ) Antropomorfismo é aplicado na bola de sinuca.
c. ( ) Antropomorfismo é aplicado no taco de sinuca.
d. ( ) O poeta alterna entre a perspectiva dos jogadores 
e da bola de sinuca.
e. ( ) O poeta alterna entre a perspectiva do taco e da 
Vídeo do poema “Bola de sinuca”, de Fábio de Sá.
bola de sinuca.
f. ( ) O poeta alterna entre o narrador e os jogadores 
de sinuca.
Feedback: No poema “Bola de sinuca”, de Fábio de Sá, 
o poeta utiliza o antropomorfismo especialmente na 
bola de sinuca, alvo da jogada. Ele alterna entre a bola 
e o jogador, assim como entre a bola e as demais bolas 
no papel de narrador. Em alguns momentos ele apli-
ca o antropomorfismo no taco de sinuca também, mas 
retoma o antropomorfismo na bola, que é o tema prin-
cipal do poema. A bola expressa sentimentos em rela-
ção a sua movimentação pelos jogadores, assim como 
seus temores em relação à batida do taco e expressa 
também as suas emoções em relação às consequên-
cias da batida do taco e das batidas em outras bolas 
até cair na cesta. 
2) Você vai ler a história “O asno e o cavalo” e se 
filmar narrando-a, tendo como público-alvo imaginá-
rio pessoas surdas. Depois de produzir o vídeo, assis-
ta-o novamente e identifique em que posição marcada 
você utilizou seu corpo para identificar cada referente 
por meio do corpo e faça uma lista.
“O asno e o cavalo”
Um asno, de passo tardo, mal podendo suportar o pesadíssimo fardo 
que tinha de carregar, pediu ao Cavalo:
- Amigo, podes dividir comigo a carga que mal suporto? Se assim 
continuar, muito em breve estarei morto.
O Cavalo respondeu:
- Com isso pouco me importo.
Sem demora, o Asno morreu. Então o dono dos dois transferiu para o 
Cavalo todos os sacos de arroz. E foi assim que um esperto acabou 
bancando o otário e pagou um alto preço porque não foi solidário.
Fonte: Qdivertido, acessado em 26/09/2020.
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A seguir, há um checklist para você identificar no seu 
próprio vídeo produzido em Libras:
( ) corpo na posição de narrador 
( ) corpo como sujeito da sentença
( ) corpo com posicionamentos diferenciados (para trás e 
para frente) associados aos referentes
( ) corpo com alternância da perspectiva entre o narrador 
e os demais personagens
( ) antropomorfismo
( ) referência espacial por meio de pontos no espaço
( ) referência com a utilização de pronomes (apontações)
( ) direção do olhar
Feedback: Para narrar a história, você provavelmente 
deve ter usado o corpo para indicar a posição do nar-
rador, o corpo para alternar a referência entre o nar-
rador e outros personagens da história, o corpo como 
sujeito da sentença, a face para expressar emoções, a 
direção do olhar, o antropomorfismo para incorporaremoções no objeto e posições corporais, além dos me-
canismos gramaticais espaciais e de referência estu-
dados nas unidades 2 e 3.
COMPONENTES MACRO 
DO TEXTO EM LIBRAS: 
ESTRUTURA NARRATIVA
Objetivos
Identificar os elementos que constituem a estrutura narrati-
va em Libras por meio da segmentação das narrativas e das 
partes que a compõem.
Nesta unidade, vamos verificar como se estabelece a estru-
tura da composição das narrativas em Libras. Há elementos 
que constituem a segmentação do texto e da estrutura nar-
rativa que já foram identificados em produções em Libras a 
partir do desenvolvimento de pesquisas (NEVES, 2012; LEITE, 
2008). 
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Conceitos
Narrativa envolve um gênero textual bastan-
te disseminado nas comunidades surdas brasilei-
ras. Como observado por Bahan & Supalla (1995), 
uma narrativa pode ser contada por um surdo uma 
única vez ou ser recontada inúmeras vezes entre 
os surdos e passar de geração em geração. Isso 
acontece devido ao fato de as comunidades sur-
das manterem uma tradição eminentemente oral, ou 
seja, as histórias não são escritas, mas são conta-
das um para o outro para serem passadas a diante. 
A segmentação é importante para a composi-
ção da estrutura macro de um texto que pode com-
preender a estrutura narrativa. Macro refere ao todo 
que é dividido em várias partes a partir da segmen-
tação. O sinalizante divide unidades enunciativas 
maiores dentro do discurso, como os blocos textu-
ais que apresentam diferentes finalidades dentro do 
todo. Esses blocos envolvem pedaços com a finalida-
de de introduzir, de explicar, de apresentar o que se 
quer falar e de concluir, cada grande bloco desses 
envolve macroestruturas menores que são delimita-
das através de mecanismos de segmentação. Ainda 
dentro de cada bloco, há outros mecanismos de seg-
mentação para iniciar e terminar um enunciado me-
nor que pode envolver sentenças. Dentro das senten-
ças, também teremos outros elementos para indicar 
a segmentação dos constituintes (as frases nominais, 
as frases verbais, as frases adjetivais e as frases ad-
juntas). Dentro das frases, ainda temos a segmentação 
entre os sinais que nos permitem identificar a palavra. 
A estrutura narrativa nas línguas de sinais envol-
ve agrupamentos de sinais associados à direção do 
olhar que estabelece contrastes referencias com uni-
dade rítmica por meio do uso do espaço associado 
aos movimentos, aos contrastes entre os pontos esta-
belecidos, à direção do olhar e aos posicionamentos 
do corpo. Esses agrupamentos podem estar dentro 
de um agrupamento maior, que formam uma unidade 
discursiva, e se combinarem para formar estrofes, ou 
seja, unidades ainda maiores. Essas unidades maiores 
podem compor conjuntos maiores ainda e que podem 
ser chamados de seções. Bahan e Supalla (1995, p. 177-
180) identificaram alguns elementos que indicam seg-
mentação dessas unidades na ASL conforme segue:
Pausa – As pausas determinam a segmenta-
ção dos pedaços de cada parte da narrativa pro-
duzida. O tamanho das pausas está relaciona-
do com o tipo de quebra estabelecida na unidade 
da narrativa, da menor para maior, refletindo em 
uma pausa menor a uma maior, respectivamente. 
Movimento de cabeça – Há um tipo de movimen-
to de cabeça que está associado ao final da senten-
ça, funcionando como uma certa afirmação que se 
aplica em sentenças declarativas. Parece que o movi-
mento da cabeça é um tipo de mecanismo para indi-
car o final da sentença dentro da estrutura narrativa.
Comportamento dos olhos – O comportamento dos 
olhos inclui dois tipos de ocorrências: piscar de olhos 
e breves movimentos que caracterizam um desvio do 
olhar para as mãos. Esses dois tipos de ocorrências pa-
recem indicar a fronteira de constituintes da estrutura.
Comportamento da direção do olhar – A direção 
do olhar parece ter mais funções no decorrer da nar-
rativa, podendo envolver a direção para o interlocu-
tor, a direção do olhar para os personagens que in-
tegram a narrativa e para as mãos do sinalizante. A 
manutenção ou a retomada da direção do olhar com 
o interlocutor tem a função de manter o interesse 
dele na história contada. No caso do uso da direção 
do olhar para os personagens introduzidos ou men-
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
cionados durante a narrativa, acontece quando há 
o reposicionamento do narrador com alternância de 
perspectiva. Nesse caso, o olhar não é do narrador 
em si, mas de quem ele está incorporando, do per-
sonagem, e de sua respectiva perspectiva. O uso da 
direção do olhar para as mãos é uma forma de con-
vidar o interlocutor a olhar para a narrativa em si.
A questão das fronteiras entre partes da narrativa 
nas línguas de sinais é algo pouco estudado. As marca-
ções de pausa, o movimento da cabeça e o piscar dos 
olhos indicam essas quebras. Os tipos de direção do 
olhar aplicados ao longo da narrativa também contri-
buem para a identificação dessas quebras de constituin-
tes, oferecendo indícios da segmentação das unidades.
Leite (2008) analisou a segmentação na conversação 
espontânea entre surdos. Na conversa, eles contam coi-
sas um para o outro. O foco do autor envolve os atos de 
fala que, apesar da diferença do tipo textual produzido, 
indicam elementos que também foram observados por 
Bahan e Supalla (1995). Leite observou que a segmenta-
ção envolve alguns mecanismos recorrentes, tais como: 
a) Identificação das fases da produção gestual 
(preparação, realização dos sinais e retração parcial e 
total);
b) Fechamento prolongado dos olhos; 
c) Aceleração para a unidade seguinte; 
d) Itens lexicais de licenciamento de turnos; 
e) O olhar com função de gerenciar as transições 
(e trocas de turnos); 
f) Convergência de olhar (sinalizante e interlocu-
tor); e
g) Divergência do olhar (sinalizante e outra coisa, 
não para o interlocutor, mantém o turno).
Leite (2008) também identificou aspec-
tos prosódicos usados na Libras. Segue o qua-
dro síntese das marcas formais de salientação 
da Libras no âmbito do discurso, de Leite (2008, 
p. 256). (UEs se refere à “unidades entoacionais”):
Marcas formais prosódicas de segmentação na Libras
Nível Tipo Função Prosódica
MANUAL
Alongamento final
a) manutenção da suspen-
são pós-golpe 
ou da suspensão indepen-
dente
b) reiteração dos movimen-
tos 
repetitivos internos ao golpe
c) transformação de uma 
fase expressiva formada por 
suspensão independente em 
uma fase expressiva forma-
da por golpe
Marcação de disjunção 
na 
cadeia de fala, delimi-
tando 
fronteiras entre UEs e/
ou trechos maiores de 
discurso
Reduções fonético-fonoló-
gicas
a) sobreposição da fase 
expressiva de um sinal com a 
fase de preparação de outro 
sinal
b) elisão de movimentos 
repetitivos 
internos ao golpe
c) retenção bastante breve 
da suspensão independente 
nas fases expressivas sem 
golpe
d) assimilação da configura-
ção de mão 
do sinal subsequente pelo 
sinal inicial
e) abreviação dos movimen-
tos 
repetitivos internos ao golpe
Marcação de junção na 
cadeia de fala, fortale-
cendo 
a coesão interna da UE
Gestos atencionais coesos
a) espacialização dos sinais
Delimitação de UEs e/ou 
trechos maiores de 
discurso
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
NÃO-MANUAL
Sinais não-manuais
a) piscada de olhos
b) acenos de cabeça
c) retomada do contato 
visual
d) espraiamento de imagens 
bucais
Marcação de disjunção 
na 
cadeia de fala, delimi-
tando 
fronteiras entreUEs e/
ou trechos maiores de 
discurso
Marcação de junção na 
cadeia de fala, fortale-
cendo 
a coesão interna da UE
Gestos atencionais coesos
a) expressões faciais
b) posicionamentos e/ou 
movimentos da cabeça
c) orientações e/ou movi-
mentos 
do tronco
d) direcionamento e/ou 
movimentos do olhar
Delimitação de UEs e/ou 
trechos maiores de dis-
curso
Quadro de Leite (2008,p.256)
Golpe diz respeito ao tipo de movimento que o si-
nal faz na sua execução efetiva, veja o exemplo a seguir:
Na produção do sinal DIFERENTES, realizado pela Ma-
rianne Rossi Stumpf, observamos que ela o inicia com 
um pré-golpe, realiza o sinal com movimentos repeti-
dos e interrompe-o no pós-golpe associado à direção 
do olhar que acompanha a trajetória do movimento 
até retomar o olhar com o interlocutor junto ao alon-
gamento final do sinal (encerrando-o, portanto) para 
proceder com a próxima unidade discursiva. O gesto 
da boca associado ao sinal DIFERENTES se espraia ao 
longo da execução do sinal sobre todas as repetições 
mantendo a unidade coesiva. Ao final, a alteração da 
expressão facial com os olhos mais abertos retomando 
o contato do olhar com o interlocutor anuncia o en-
cerramento de um trecho da fala e, ao mesmo tempo, 
o reestabelecimento do engajamento do interlocutor 
no discurso.
Neves (2012) fez uma análise da estrutura das narrati-
vas na Libras, a partir de estudos sobre outras línguas 
de sinais e com base em Labov & Waleztky (1967, apud 
NEVES, 2012). Por exemplo, Morgan (2002) identifica dois 
tipos de espaço nas línguas de sinais: (1) o espaço refe-
rencial fixo e (2) o espaço referencial alternado. No pri-
meiro tipo de uso de espaço referencial, os movimentos 
dos sinais acontecem tomando o ponto espacial esta-
belecido previamente, conforme já vimos na unidade 
sobre espaço referencial a partir de estabelecimento 
de pontos referenciais. O segundo tipo de espaço refe-
rencial é o alternado, no qual o sinalizante utiliza o pró-
prio corpo, conforme vimos na unidade sobre o corpo 
em alternância de perspectivas. Neves (2012) também 
identificou o uso da simultaneidade como um meca-
nismo produtivo nas narrativas em língua de sinais. Por 
exemplo, o narrador utiliza o corpo, a face, o olhar, as 
mãos para produzir eventos que acontecem ao mesmo 
tempo. O encadeamento de eventos é produzido se-
quencialmente acompanhado de produções que indi-
cam a simultaneidade, assim os narradores escolhem 
a ordenação e a sobreposição dos eventos ao longo 
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
da trama narrada. A possibilidade da simultaneidade 
dos eventos sobrepostos nas línguas de sinais decorre 
da especificidade da modalidade dessas línguas. 
Labov & Waleztky (1967, apud NEVES, 2012, p. 54-55) 
apresentam os componentes da estrutura das narra-
tivas nas línguas:
(1) Resumo (introdução da história que dá uma ideia ge-
ral do que será tratado)
(2) Orientação (definição da cena com apresentação do 
tempo, do lugar, dos personagens e do espaço)
(3) Complicação (descrição da ação e dos eventos da 
história configurando a principal parte da narrativa)
(4) Avaliação (revelação da atitude do narrador em re-
lação à história, enfatizando a importância das partes da 
narrativa)
(5) Resolução (indicação do final da narrativa descreven-
do a solução ou o resultado que pode envolver a indicação 
de um problema a ser considerado depois da história conta-
da)
(6) Coda (fechamento da narrativa)
Nem sempre todos os elementos da estrutura estão 
presentes, embora a etapa da complicação seja im-
prescindível. Na Libras, Neves (2020) identifica elemen-
tos que compreendem a estrutura narrativa apresenta-
da por Labov e Waleztky (1967). 
A partir das análises de Neves (2012; 2020) e de Bahan 
e Supalla (1995), vamos analisar a estrutura de uma 
narrativa em Libras.
Vamos apresentar a estrutura da narrativa conside-
rando o vídeo assistido:
ASSISTIR AO VÍDEO “História do SignWriting”, de Débora Campos (Vídeo 
produzido para a Signa).
Estrutura da Narrativa Elementos estruturais identificados em 
“História do SignWriting”
Resumo
PRIMEIRO VOU EXPLICAR A HISTÓRIA DE COMO 
O SIGNWRITING FOI CRIADO A PARTIR DA HISTÓ-
RIA DA ESCRITA QUE SE ESTABELECEU HÁ MUI-
TOS ANOS.
Olhar alterna entre o interlocutor e o 
SignWriting
Orientação
INTRODUÇÃO SOBRE A CRIAÇÃO DA ESCRITA, A 
ESCRITA DA PEDRA, DEPOIS DA CRIAÇÃO DE CÓ-
DIGOS CONVENCIONALIZADOS, ATÉ A CRIAÇÃO 
DO ALFABETO COM OBJETIVO DE COMUNICA-
ÇÃO ATEMPORAL, DA PEDRA, PARA O PAPEL E 
PARA RECURSOS TECNOLÓGICOS. ISSO LEVOU 
MUITOS ANOS, MAS ATÉ HOJE NEM TODAS AS 
LÍNGUAS TÊM UMA ESCRITA.
Olhar alterna entre o interlocutor e os elemen-
tos introduzidos na narrativa, chamando a 
atenção para a história e retomando o olhar 
com o interlocutor de forma sistemática.
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
O piscar dos olhos é marcado a cada fim de 
constituinte acompanhado de pausas mais 
curtas ou mais longas de acordo com a unida-
de discursiva. Segue um exemplo da etapa da 
orientação na qual a narradora conclui a apre-
sentação do tempo (desde a idade da pedra 
até os dias de hoje, evolução da escrita, situa a 
escrita em diferentes países, informa que nem 
todos as línguas possuem uma representação 
escrita).
Complicação
ENTÃO A MESMA COISA ACONTECEU COM AS 
LÍNGUAS DE SINAIS. NARRAÇÃO DE TODA A HIS-
TÓRIA DA CRIAÇÃO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS DE 
SINAIS.
Há uma escrita de sinais no Brasil? Sim, há sim. 
Aqui, ela introduz a complicação com a pergun-
ta fechando com o piscar dos olhos e responde 
positivamente movimentando a cabeça com a 
direção do olhar para o interlocutor. Ao longo 
da complicação, ela conta a história da criação 
da escrita de sinais no Brasil, utilizando alter-
nância na direção do olhar e do posicionamen 
to do corpo. Move a cabeça para manter a apre-
sentação de forma afirmativa e utiliza todos os 
mecanismos referenciais estudados previamen-
te para compor a narrativa.
Avaliação
NOSSA A ESCRITA DE SINAIS JÁ SE ESPALHOU 
POR TODO O BRASIL COM A FORMAÇÃO DE VÁ-
RIOS PROFESSORES QUE USAM A ESCRITA DE 
SINAIS. POR EXEMPLO, EU MESMA QUE ESTOU 
ENSINANDO VOCÊS.
Resolução Não há
Coda
Fechamento com a informação de que a 
escrita está espalhada e tomou uma grande 
dimensão em todo o Brasil.
REVEJA O VÍDEO “História do SignWriting”, de Débora Campos, EDITADO, 
para acompanhar alguns mecanismos aplicados na narrativa que foram 
indicados por Bahan e Supalla (1995), assim como quando os passos da 
estrutura da narrativa aparecem no vídeo.
Coesão e coerência textuais nas narrativas
A coesão das narrativas é determinada pelo uso 
dos mecanismos gramaticais do espaço referencial, 
do posicionamento do corpo, da alternância de pers-
pectivas, das alternâncias entre as direções do olhar 
para as mãos, para a história e para o interlocutor, das 
pausas e do piscar do olhar. Também pela composi-
ção das partes da narrativa que compreendem texto, 
pelos elementos que combinam os enunciados e pela 
combinação das palavras para formar frases incluindo 
elementos coesivos na forma de sinais (sinais de como, 
porque, quando, mas, então, por exemplo). 
A estrutura da narrativa garante a coerência com o 
desencadeamento da história com uma introdução 
que pode envolver o resumo e a orientação, o desen-
volvimento que acontece por meio da complicação, a 
avaliação e resolução que pode incluir o fechamento 
ou ser desdobrada com a coda (fase final), que encerra 
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a história (exemplo: “então aqui encerramos a história 
sobre ...”). Essas etapas não necessariamente aconte-
cem em todas as narrativas. De qualquer modo, uma 
introdução, um desenvolvimento e um fechamento são 
fundamentais para a coerência do texto apresentado. 
Darley Goulart Darley Gourlat conta a história “O Ovo 
e a Gansa” seguindo as etapas da estrutura da narra-
tiva. Nela, ele inicia com o resumo, convidando os seus 
interlocutores a imaginarem uma situação com duas 
coisas as quais ele está oferecendo. Essa breve introdu-
ção configura o resumo e na sequência ele efetivamen-
te introduz a história do “Ovo” (do seu lado esquerdo, 
virando o corpo para esse lado) e da “Gansa” (do seu 
lado direito, virando o corpo para esse lado). Ao lon-
go da história, ele vai alternar entre os lados esquerdo 
e direito para posicionar o corpo de acordo com as 
referências introduzidas nessa parte da narrativa e 
faz a pergunta “qual dos dois você vai escolher?”, ou 
seja, que corresponde à orientação. Nessa introdução, 
Darley Goulart Darley utiliza a alternância do olhar, faz 
pausas curtas para marcar unidades e pausas mais 
longas para delimitar os constituintes.
ASSISTIR AO VÍDEO “O Ovo e a Gansa”, narrado por Darley Goulart 
Darley Gourlat (Vídeo produzido para a Signa).
RESUMO ORIENTAÇÃO
Após a introdução, o desenvolvimento da narrati-
va se desenrola, a etapa da complicação, na qual ele 
vai supor as escolhas e justificá-las. Nessa etapa da 
narrativa, ele continua utilizando a alternância entre 
os dois referentes, à esquerda a à direita, através da 
apontação, da direção do olhar e do posicionamento 
do corpo, fazendo uma alternância entre indagações 
ao interlocutor e supostas respostas, apresentando 
vantagens e desvantagens entre uma e outra alterna-
tiva escolhida. Em todas as perguntas direcionadas ao 
interlocutor e respostas dadas por ele, há alternância 
de posicionamento do corpo correspondendo à op-
ção em análise (para esquerda, o ovo, ou para a direita, 
a gansa). Quando ele comenta sobre a gansa, utiliza 
também a alternância de perspectiva entre o animal 
(direcionando o olhar da perspectiva da gansa para 
a comida), o narrador (com o olhar retomado com o 
interlocutor) e o interlocutor (direcionando o olhar do 
interlocutor no corpo para a gansa). Depois de apre-
sentar as opções, ele introduz a avaliação por meio 
do sinal ESPERAR e apresenta a moral da história: as 
pessoas só pensam no imediato, não pensam a longo 
termo.
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Complicação Avaliação
Para encerrar a história, ele questiona o interlocutor: 
“e você?”, apresentando as duas opções e concluindo 
a narrativa.
A coesão está estabelecida na narrativa “O Ovo e a 
Gansa” pelo uso dos mecanismos gramaticais que en-
volvem o espaço referencial: apontar para um lado e 
para o outro e referir esses lados de forma consistente 
ao longo da história, o lado esquerdo para o “ovo” e o 
lado direito para a “gansa”. Também a coesão apresen-
ta consistência devido ao uso do posicionamento do 
corpo que alterna entre o ovo e a gansa de um lado e 
do outro, bem como a posição neutra do narrador e a 
posição do interlocutor diante da escolha pelo ovo ou 
pela gansa. A direção do olhar é alternada sistemati-
camente. As pausas são feitas estabelecendo os cons-
Coda
tituintes. A coesão, portanto, está garantida. A coerên-
cia foi estabelecida por conta da aplicação das etapas 
da estrutura de uma narrativa: o resumo, a orientação, 
a complicação, a avaliação e a coda.
Síntese da unidade 5 - A estrutura 
narrativa na Libras
Nessa unidade analisamos em mais detalhes os ele-
mentos que constituem a estrutura narrativa na Libras 
a partir da segmentação dos componentes estruturais 
da composição de uma história. Analisamos compo-
nentes da própria língua que são usados na produção 
de contação de histórias ou de narração de eventos 
para segmentar as unidades enunciativas, como o uso 
das pausas, mais curtas e mais longas; os movimentos 
da cabeça, especialmente ao final das unidades enun-
ciativas garantindo o engajamento do interlocutor; o 
comportamento dos olhos, incluindo a piscada deles 
e o movimento que essa parte do corpo faz ao acom-
panhar o sinal e sua trajetória; a direção do olhar que 
alterna entre referentes e envolve a retomada do olhar 
com o interlocutor; e o comportamento da boca que 
acompanha os sinais se espraiando sobre constituin-
tes. Também estudamos a estrutura das narrativas, 
considerando sua introdução (resumo e orientação), o 
desenvolvimento (complicação) e fechamento (avalia-
ção e coda). Os aspectos associados com as unidades 
entoacionais (aspectos prosódicos) estão mais relacio-
nados com o estabelecimento da coesão textual, en-
quanto que os elementos de estruturação da narrativa 
são fundamentais para garantir a coerência, ou seja, o 
sentido do que está sendo contado. 
Atividades 
1 ) Assista ao vídeo “Congresso de Milão e a Lín-
gua de Sinais”, por Edinata Camargo (Signa), e regis-
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tre os diferentes indicadores de marcação segmental 
da narrativa identificados no vídeo. Marque a seguir 
identificando cada um desses mecanismos e descreva 
algumas das ocorrências observadas:
a.( ) Pausa ______________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
b.( ) Movimento da cabeça ___________________________
____________________________________________________________ 
____________________________________________________________
c.( ) Comportamento dos olhos ________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
d.( ) Comportamento da direção do olhar _______________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
e.( ) Comportamento da boca _________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
Feedback: A narrativa de Edinata Camargo sobre o 
Congresso de Milão apresenta pausas curtas e longas 
ao longo da exposição, associadas com o piscar dos 
olhos para indicar blocos mais pontuais que compre-
endem a estrutura da narrativa, como unidades de 
constituintes (sujeito e predicado, unidades discursi-
vas e adjuntos), bem como a delimitação das senten-
ças (por exemplo, interrogativas, declarativas, negati-
vas e estruturas retóricas). A direção do olhar para os 
sinais, assim como a direção do olhar para os referen-
tes, é recorrente como mecanismo coesivo, algumas ve-
zes associadas a posicionamento do corpo indicando 
temporalidade e referência.
2 ) No vídeo em Libras “Existe ainda comunidade 
surda em 2019?”, que já assistimos na unidade 3, temos 
um documentário da Signa sob a direção de Darley 
Goulart. Ele inicia a entrevista com a seguinte pergun-
ta: “Como era a sua vida antes do seu envolvimento na 
comunidade surda?”. Veja as respostas a essa pergun-
ta, identifique os componentes da narrativa em cada 
uma das respostas e marque abaixo os que foram 
identificados:
a. Introdução (resumo e/ou orientação)
b. Complicação (desenvolvimento do tema)
c. Avaliação (avaliação pessoal de aspectos relati-
vos ao tema)
d. Coda (fechamento)
Feedback: Em todas as respostas o foco foi responder 
a pergunta, portanto todos foram direto para a com-
plicação. A complicação foi o foco do que narraram, 
não houve uma introdução nem um fechamento,ape-
nas o desenvolvimento do tema referente à pergunta, 
ou seja, a resposta à pergunta “como foi sua vida antes 
do seu envolvimento na comunidade surda?”. A respos-
ta é eminentemente informativa, mas em alguns casos 
apresenta a avaliação também. 
 
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COMPONENTES DO TEXTO 
EM LIBRAS: AS FRASES
Objetivos
Verificar a composição sentencial da Libras a partir dos tipos 
de verbos: simples, com concordância, manuais e classifica-
dores. Analisar a produção de sentenças através do uso de 
verbos em série.
Nesta unidade, será apresentada a sentença na Libras com-
posta por constituintes, ou seja, por unidades gramaticais 
com componentes sintáticos, morfológicos e semânticos (pa-
lavra, sintagma e frase) que ocorre como elemento de uma 
estrutura maior. São subcomponentes da sentença (ou frase) 
que compreendem os sintagmas nominais, verbais, adjetivais 
ou adjuntos. 
Vamos estudar os diferentes tipos de verbos da Libras: verbos 
simples, verbos de concordância, verbos manuais e classifica-
dores predicativos que podem sempre incluir argumentos ex-
ternos e internos de acordo com o tipo de sentença. Após co-
nhecer os tipos de verbos e sua distribuição na Libras, vamos 
analisar alguns tipos de sentença: estruturas declarativas, 
interrogativas e negativas. Também vamos estudar as cons-
truções com verbos em série, que são específicas da Libras.
66
Conceitos
A composição das sentenças na Libras compreende 
a combinação de sintagmas para formar sentenças. 
Os sintagmas podem ser nominais, verbais, adjetivais, 
preposicionais e, ainda, conter adjuntos a eles conec-
tados. O sintagma nominal tem um substantivo como 
núcleo, o sintagma verbal tem um verbo como núcleo, 
os sintagmas adjetivais têm um adjetivo como núcleo 
e o sintagma preposicional tem uma preposição com 
núcleo. Já os adjuntos, quando conectados aos sin-
tagmas, modificam estes. 
Por exemplo, podemos ter um adjunto temporal com 
advérbios de tempo: ONTEM, HOJE, AMANHÃ, FUTU-
RO, PASSADO ou um adjunto de modo: SEMPRE, FRE-
QUENTEMENTE, ESPORADICAMENTE, CONTINUA-
MENTE, DIARIAMENTE, SEMESTRALMENTE e assim por 
diante. Os sintagmas podem ter mais de uma palavra, 
dependendo do sintagma. 
Por exemplo:
Na sentença: O João gosta da Maria.
Temos os seguintes sintagmas:
1 Sintagma Nominal (SN): [O João]
1 Sintagma Verbal (SV): [gosta da Maria] que inclui um 
Sintagma Preposicional (SP) [da Maria] que inclui, por 
sua vez, outro Sintagma Nominal [a Maria]
Então a organização dos subconjuntos da sentença 
fica da seguinte forma:
[ [O João]SN [gosta [d+ [a Maria]SN]SP]SV]Sentença
Na Libras, acontece da mesma forma:
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Esses dois exemplos, do português e da Libras, res-
pectivamente, apresentam sentenças simples. Os sin-
tagmas se combinam a partir do verbo que pode sele-
cionar argumentos externos e internos. Como já vimos, 
o argumento externo ocupa a posição de sujeito da 
sentença e os argumentos internos ocupam as posi-
ções de objeto, que pode ser direto ou indireto.
Assista ao vídeo seguinte, com o qual ilustraremos o 
uso de alguns tipos de verbos da Libras, na medida em 
que iremos abordando cada um deles a seguir.
ASSISTIR AO VÍDEO “Ser Surdo”, de Edinata Camargo (Vídeo produ-
zido para o curso imersão em Libras da Signa).
Os tipos de verbos na Libras podem ser descritos 
considerando a sua composição morfológica, ou seja, 
se menos ou mais flexão e, assim, contendo menor ou 
maior complexidade morfológica. A seguir, apresenta-
mos as categorias dos verbos da Libras, começando 
com os mais simples até os mais complexos do ponto 
[[ESTA ÁRVORE]SN [SABER [HISTÓRIA]SN ]SV ]Sentença
de vista morfológico: 
- Verbos simples – sem marcação de concordân-
cia pessoal, verbos que normalmente são ancorados 
no corpo. A própria forma com a qual essa categoria é 
referida já indica a sua simplicidade. Os verbos simples 
podem estar associados com o sujeito da sentença ex-
presso no corpo, mas não se movem de um referente 
para o outro para incorporar o sujeito e o objeto da 
sentença. Eles até podem ser produzidos sobre um 
ponto no espaço, caso não sejam ancorados no corpo, 
caso contrário, não é possível empilhá-los sobre pon-
tos no espaço previamente estabelecidos. Os verbos 
simples podem ter flexão para aspecto, ou seja, estar 
associados com marcação de modo por meio do movi-
mento que pode indicar intensidade, continuidade ou 
incompletude da ação, por exemplo. 
CONHECER CONHECER-INTENSAMENTE
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SONHAR-INTENSAMENTE
SONHAR SONHAR-DEVANEI
Segue um exemplo de uma sentença com verbo sim-
ples produzida pela Edinata Camargo no texto “Ser 
Surdo”:
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Nesse exemplo, há dois verbos da Libras: EXPERIEN-
CIAR e CRESCER. Os dois são considerados verbos 
simples, pois não apresentam concordância verbal. O 
verbo EXPERIENCIAR é considerado um verbo ancora-
do no corpo, ou seja, ele é produzido associado a uma 
localização do corpo, no caso a cabeça, na têmpora 
direita. O verbo CRESCER é produzido no espaço de si-
nalização e pode ser empilhado com o referente. Nesse 
caso, o verbo CRESCER foi empilhado na posição na 
qual o sinal da ÁRVORE a que se refere foi produzido, 
ou seja, no lado direito a partir da perspectiva da sina-
lizante. 
- Verbos com concordância – com marcação de 
concordância pessoal, são verbos que normalmente 
apresentam uma trajetória no espaço de um ponto ao 
outro do espaço e/ou do corpo. Há um grupo de ver-
bos de concordância que concordam com o locativo, 
ou seja, com o ponto no espaço que se refere à locali-
zação espacial. Os verbos com concordância apresen-
tam uma complexidade morfológica maior do que os 
verbos simples, porque flexionam para as pessoas do 
discurso, ou seja, incorporam as posições referenciais 
para marcar a relação gramatical entre elas. A partir 
ESTA ÁRVORE EXPERIENCIAR SOL CHUVA CRESCER.
dessas relações estabelecidas pela flexão, é possível 
identificar o sujeito e o objeto da sentença a partir do 
verbo. 
Segue um exemplo de uso de verbo com concordân-
cia pela Edinata Camargo:
ELE-AVISAR-ELAELE-AVISAR-EU
EU-AVISAR-VOCÊAVISAR
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
Nesses dois exemplos, Edinata Camargo usa o verbo 
com concordância EXPLICAR. A sinalizante estabelece 
a concordância entre a ÁRVORE, como sujeito da sen-
tença, e ela mesma na primeira pessoa marcada pelo 
corpo. Assim, o verbo inicia na posição da ÁRVORE e se 
move numa trajetória até posição em que está o cor-
po da sinalizante: (árvore-b)EXPLICAR(eu), na sentença 
subordinada à sentença principal ELA PRECISAR que 
seleciona a oração (árvore-b)EXPLICAR(eu). Na segunda 
TAMBÉM (eu)PRECISAR (eu)EXPLICAR(árvore)
ELA PRECISAR NÃO (árvore-d)EXPLICAR(eu)
sentença, Edinata diz que também não precisa explicar 
algo para a árvore. Nesse caso, a primeira pessoa é o 
sujeito e a árvore passa a ser o objeto: (eu)EXPLICAR(ár-
vore), invertendo a direção do movimento da primeira 
pessoa até a árvore. O verbo da oração principal,PRE-
CISAR, é um verbo simples.
- Verbos manuais – são aqueles que utilizam a 
mão de forma instrumental incorporando ou seguran-
do o objeto. Esses verbos apresentam uma complexi-
dade morfológica fundamentalmente porque incor-
poram o objeto na própria mão que produz o verbo 
simultaneamente.
(Signa)ABRIR-PORTA e (Signa)ENTREGAR-OVOS(você)
CORTAR-COM-TESOURA 
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O exemplo a seguir, de Darley Goulart, apresenta o 
verbo ABRIR incorporando a porta e o verbo ENTRE-
GAR incorporando os ovos (previamente Darley inseriu 
o sujeito da sentença que foi omitido e que se refere a 
alguém da Signa):
O exemplo a seguir, de Darley Goulart, apresenta o 
verbo ABRIR incorporando a porta e o verbo ENTRE-
GAR incorporando os ovos (previamente Darley inseriu 
o sujeito da sentença que foi omitido e que se refere a 
alguém da Signa):
Nesse exemplo, a mão incorpora a porta para o si-
nal de ABRIR e faz o movimento de “abrir a porta” e o 
sinal de ENTREGAR tem incorporado os ovos nas mãos 
e realiza o movimento de trajetória, no qual o sujeito é 
alguém-da-Signa que entrega os ovos para o interlo-
cutor.
- Classificadores predicativos – são verbos po-
limorfêmicos, ou seja, que apresentam muitos morfe-
mas. Os classificadores apresentam uma configuração 
de mão que representa uma classe de palavras e po-
dem apresentar o sentido do sinal referente incorpora-
do associado a várias outras informações que compre-
endem o evento, a localização e o modo como o evento 
acontece. Os classificadores são altamente motivados 
pelo evento em si, pela sua forma e pelo jeito como 
acontece.
(Signa)ABRIR-PORTA e (Signa)ENTREGAR-OVOS(você)
Seguem exemplos retirados do vídeo do Darley Gou-
lart:
CL: OVO+NASCER+NASCER+NASCER
Coloca vários ovos, um depois do outro.
CL: PESSOA+ANDAR+PARA-LÁ+PARA-CÁ
Uma pessoa andando para lá e para cá alegremente.
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
CL: PESSOA+PULAR+CURTO
A pessoa pula bem curto.
CL: PATO+COMER+COMER+COMER
A gansa comeu continuamente.
CL: PATO+COMER+COMER+COMER
A gansa comeu continuamente.
Nesses exemplos de classificadores que incorporam 
o evento, a mão representa uma entidade que realiza 
uma ação de diferentes formas. No primeiro exemplo, 
uma pessoa está andando feliz da vida para lá e para 
cá. Esse movimento de ir para lá e para cá está incor-
porado na configuração de mão que representa a pes-
soa por meio do dedo indicador. No segundo, o OVO 
que foi apresentado na sua forma é colocado sucessi-
vamente, assim o movimento é repetido algumas vezes 
para indicar essa sucessão de colocação de ovos para 
dar a ideia de que a gansa terá muitos ovos de ouro. 
No terceiro exemplo, a configuração de mão do sinali-
zante indica animais que têm bico de pato para referir 
a gansa. Ele faz o movimento do bico e do pescoço da 
gansa para dar a ideia de comer de forma contínua 
a ração que está no chão para ficar bem alimentada. 
O quarto trecho envolve um classificador para pernas 
de pessoa (ou animal) que realiza um movimento curto 
indicando pular de um lugar para outro. Nesse caso, 
quer se referir às pessoas que querem encurtar cami-
nho acreditando ser mais fácil. Em todos os exemplos, 
percebe-se que há uma motivação para realizar o sinal 
dessa maneira, incorporando a forma da configuração 
da mão, os movimentos e a locação. Os estudos indi-
cam essa motivação como “iconicidade”.
Iconicidade envolve uma semelhança entre o significante (a forma) 
e o significado (o sentido), entre a forma e a coisa ou o evento repre-
sentado. É uma propriedade dos signos linguísticos para represen-
tar por semelhança ou motivação o mundo real.
Todos esses verbos impactam na estrutura da frase 
na Libras. Vamos discutir os diferentes tipos de estrutu-
ras identificados na Libras sempre retomando as suas 
combinações a partir dos verbos usados. De maneira 
geral, os verbos mais densos do ponto de vista morfo-
lógico acabam ficando no final da sentença, ou seja, 
verbos manuais e classificadores tendem a ficar sem-
pre no final da frase com o sujeito e o objeto introdu-
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
zidos antes deles. Quando o verbo é de concordância, 
há uma flexibilidade maior, pois ele não é tão complexo 
morfologicamente como os classificadores e os verbos 
manuais. Assim, ele pode estar no meio da frase, como 
acontece com a maioria das sentenças em português, 
ou seja, aparecer dentro da ordem Sujeito-Verbo-Ob-
jeto – SVO – ou ser produzido sozinho, porque é pos-
sível identificar seus argumentos por meio da flexão 
(pontos referenciais incorporados no verbo); e, ainda, 
surgir no final da sentença, como acontece com os 
classificadores e os verbos manuais. Já os verbos sim-
ples apresentam uma ordem mais rígida, pois eles não 
têm informações incorporadas para poder dar dicas 
de seus referentes, assim, normalmente, eles aparecem 
também na ordem Sujeito-Verbo-Objeto na sentença.
Os tipos de frases a partir dos tipos de 
verbos
Frases com verbos simples
As frases com verbos simples normalmente se apre-
sentam na ordem Sujeito-Verbo-Objeto. Quando o su-
jeito está no corpo do sinalizante ele pode estar omiti-
do, assim parece que há apenas um verbo e o objeto. A 
frase simples pode também contar com mais elemen-
tos, como adjetivos e advérbios ou ainda outras frases 
que podem ocupar a posição de objeto, no caso de um 
objeto oracional em frases com estruturas subordina-
das. Uma frase simples pode ser, inclusive, coordenada 
com outras frases. Vamos ver alguns exemplos:
SURDO PRECISAR COMUNIDADE SURDA
O surdo precisa da comunidade surda.
Nesse exemplo, temos apenas uma frase simples com 
sujeito SURDO, o verbo PRECISAR e o objeto COMUNI-
DADE SURDA, portanto compondo a ordem SVO.
 
SURDO PRECISAR ENCONTRAR OUTROS SURDOS
O surdo precisa encontrar outros surdos.
Aqui, o verbo PRECISAR selecionou um objeto ora-
cional: ENCONTRAR OUTROS SURDOS, que representa 
uma oração subordinada.
 
PRECISAR ENCONTRAR SURDO IXxyz
(Eu) preciso encontrar surdos.
No exemplo, o sujeito está no corpo, ou seja, na pri-
meira pessoa e pode ser omitido, assim a frase começa 
diretamente pelo verbo.
Tipos de frases com verbos de 
concordância
A frase declarativa é produzida na ordem SVO, mas 
apresenta mais flexibilidade, pois o verbo permite re-
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
cuperar mais facilmente os pontos referenciais incor-
porados, diferentemente dos verbos simples que não 
apresentam essa possibilidade. O verbo ENCONTRAR é 
um verbo com concordância marcada, portanto pode 
ser produzido sem os argumentos pronunciados.
ELEx xENCONTRARy SURDOy DEPOIS IDADE 12 PARA-CIMA
Ele encontrou surdos depois dos 12 anos de idade.
DEPOIS xENCONTRARy SENTIR VIDA MELHOR
Depois de ter encontrado os surdos, sentiu que sua 
vida melhorou.
Se a frase for negativa, pode ser incluída a negação 
associada à marcação não manual de negação, con-
forme segue:
ATÉ IDADE 12, ELE [ENCONTRAR SURDOS NÃO]neg
Ele não encontrou surdos até os 12 anos.
IX(ele) [NUNCA ENCONTRAR SURDO ATÉ IDADE 12]
Ele nunca encontrou surdo até os 12 anos.
A interrogativa pode incluir pronomes interrogativos 
e sempre está associada à marcação não manual in-
terrogativa:
 
[QUE IDADE ENCONTRAR SURDO PRIMEIRO?]interrogativaTambém, 
se você for professor de alunos surdos, poderá traba-
lhar com eles tais componentes gramaticais no dia a 
dia da prática de ensino e aprendizagem para que os 
seus alunos consigam ter uma percepção mais precisa 
e utilizem a sua língua de forma mais apropriada de 
acordo com seus objetivos de comunicação. Caso você 
atue como intérprete ou tradutor de Libras, poderá 
usar esses conhecimentos gramaticais com mais cons-
ciência para produzir sentidos de forma mais clara e 
precisa ao realizar suas atividades tendo o português 
como língua de origem e a Libras como a língua-alvo 
da sua atividade. No sentido inverso, você terá mais 
elementos linguísticos para perceber nuances grama-
ticais da produção em Libras para realizar uma tradu-
ção para o português de forma mais apropriada. Caso 
você seja um fonoaudiólogo que trabalha com clínica 
linguística em Libras, você contará com mais elemen-
tos para identificar os desvios ou atrasos de lingua-
gem de crianças surdas. Se você trabalha com softwa-
res de reconhecimento facial ou corporal, saber sobre 
a gramática da Libras poderá contribuir diretamente 
para o desenvolvimento de seus materiais. Enfim, são 
várias as possibilidades de aplicação com as quais o 
conhecimento gramatical das línguas de sinais pode 
contribuir efetivamente, sobretudo em se tratando de 
suas práticas linguísticas e profissionais.
Atividade inicial
Antes de iniciar o estudo sobre a gramática da 
Libras, pense sobre o que você já viu sobre gramáti-
ca na sua escolarização. Essa reflexão pode ser sobre 
a língua que você estudou na escola, por exemplo, a 
língua portuguesa ou a Libras. Quais as suas concep-
ções sobre “gramática”? Você já discutiu sobre a dife-
rença entre gramática tradicional e estudos gramati-
cais na concepção da linguística? Você já conversou 
sobre os usos da gramática? 
Responda essas questões por escrito para 
retomá-las ao final do curso.
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
Os estudos gramaticais da Libras apresentados nes-
te material compreendem uma introdução sobre os 
seus componentes gramaticais. A proposta foi organi-
zada explorando aspectos macroestruturais, tais como 
os usos do espaço para fins gramaticais na Libras que 
incluem o estabelecimento referencial e a exploração 
do corpo como componente integrante da língua. A 
proposta também inclui os aspectos microestruturais, 
que envolvem mecanismos de coesão para compor os 
enunciados, assim como as unidades menores de sen-
tido que são apresentadas por meio de sinais que se 
combinam entre si.
A gramática apresentada aqui parte da unidade 
TEXTO em Libras, que compreende um conjunto de 
enunciados, que por sua vez envolve um conjunto de 
FRASES, que são compostas por conjuntos de SINAIS 
combinados entre si. Essa composição pode ser feita 
Conteúdo abordado neste material
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de diferentes maneiras, apresentando formas diversas 
de organização para compor os sentidos que os sinali-
zantes querem expressar. Neste material, a proposta é 
visualizar algumas possibilidades de combinações em 
produções na Libras.
As unidades estão organizadas a partir de um objeti-
vo específico que é estudado com base nos conceitos 
desenvolvidos e ilustrados por meio de exemplos em 
Libras. Após cada unidade, você irá realizar uma ativi-
dade para consolidar os conhecimentos trabalhados. 
Inicialmente, serão abordados os usos do espaço 
gramatical e do corpo nas línguas de sinais a partir de 
textos em Libras. Os conceitos de espaço gramatical e 
a inerência do corpo nas produções gramaticais nas 
línguas de sinais serão estudados. Exemplos de usos 
do espaço e da interação do corpo na produção espa-
cial de textos em Libras serão analisados. 
Ainda sobre os usos do espaço gramatical, serão es-
tudados em detalhes os usos de referência na Libras. 
Quando as pessoas produzem textos, elas falam ou 
sinalizam sobre as coisas utilizando referências. Para 
isso, torna-se fundamental compreender as formas de 
estabelecer essas referências nas línguas de sinais.
Então, o foco passará a ser o corpo. As línguas de 
TEXTO
Enunciado - Enunciado - Enunciado
Frase - Frase - Frase - Frase - Frase
Sinal - Sinal - Sinal - Sinal - Sinal - Sinal - Sinal 
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sinais, assim como a Libras, usam o corpo nas produ-
ções linguísticas. O corpo por meio de movimentos, 
posicionamentos, expressões faciais e mãos compõem 
sentido na Libras, e esses recursos são usados de for-
ma regrada. O foco desta unidade estará nas ações 
construídas, na alternância de perspectivas, nas dire-
ções do olhar, nas expressões faciais aplicadas pelo 
sinalizante para estabelecer unidades de sentido.
A partir desses componentes macroestruturais, a 
estrutura narrativa será abordada. As narrativas en-
volvem contação de histórias, casos, situações etc. As 
pessoas narram diferentes acontecimentos por meio 
de uma estrutura organizada para produzir sentido 
concatenado e coerente. 
Então, serão estudados os componentes nucleares 
da frase, com foco nos tipos de verbos e como eles 
impactam na estrutura da frase na Libras. Os verbos 
simples, os verbos com concordância, os verbos manu-
ais e os classificadores são núcleos frasais que exigem 
composição frasal mais ou menos flexível por causa do 
grau de uso do espaço gramatical e do corpo. Também 
analisaremos a estrutura com a utilização de verbosCom que idade você encontrou surdo pela primeira 
vez?
 
[IDADE ENCONTRAR SURDO PRIMEIRO?]interrogativa
Com que idade você encontrou surdo pela primeira 
vez?
Ainda, há perguntas polares, ou seja, que esperam 
uma resposta direta SIM ou NÃO e que sempre são 
associadas com a marcação não manual de pergunta 
polar.
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[VOCÊ ENCONTRAR SURDOS ANTES IDADE 4?]pergunta_polar
Você encontrou surdos antes dos 4 anos de idade?
Os verbos manuais apresentam uma distribuição 
mais diferenciada, assim como os classificadores, pois 
tendem a ser produzidos ao final da frase, uma vez que 
apresentam muita informação de ordem morfológica, 
ou seja, muitos morfemas.
 
EU LIVRO COLOCAR-LIVRO
Eu coloco o livro na estante. 
A frase negativa mantém o verbo no final da frase, 
mas nesse caso é possível marcar a negação no es-
copo de toda sentença ou topicalizar os argumentos 
previamente introduzidos e iniciar a marcação não 
manual da negação a partir do verbo. Mas, nesse caso, 
o sinal de negação vai aparecer no final da sentença, 
depois do verbo:
[EU LIVRO COLOCAR-LIVRO NÃO]negativa
Eu não coloquei o livro na estante.
 
[EU] [LIVRO]tópico [COLOCAR-LIVRO NÃO]negativa
Eu, o livro, não coloquei na estante.
Os argumentos podem ser topicalizados, como ilus-
trado nesse último exemplo. As posições de tópico são 
mais altas porque apresentam destaque. Esse desta-
que dado aos argumentos normalmente está asso-
ciado com a marcação não manual de elevação das 
sobrancelhas. A negação não foi associada ao tópico 
porque está acima da sentença, é como se dissesse 
que sobre “eu e o livro” digo que não o coloquei na es-
tante. Vejam que os argumentos são destacados pri-
meiro para depois serem referidos na frase tanto posi-
tiva como negativamente. Nesse caso, a frase seguinte 
é uma negação. 
Da mesma forma acontece nas interrogativas, o ver-
bo fica na posição final:
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[QUEM LIVRO COLOCAR-LIVRO?]interrogativa
Quem colocou o livro na estante?
 
A pergunta polar mantém a mesma estrutura:
[VOCÊ LIVRO COLOCAR-LIVRO?]pergunta_polar
Você, o livro, na estante, colocou?
Com os classificadores, a distribuição observada é a 
mesma dos verbos manuais:
PRAIA BOLA ÁGUA CL:boiar_por_cima_mar
A bola caiu e ficou boiando na praia.
 
[BOLA ÁGUA CL:boiar_por_cima_mar NENHUM]negativa
A bola não caiu e ficou boiando.
 
[BOLA CL:boiar_por_cima_mar] TER pergunta_polar
A bola caiu e ficou boiando?
 
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[VIVER BOLA CL:boiar_por_cima_mar]interrogativa_polar
Tem uma bola boiando?
 
[QUAL BOLA CL:boiar_por_cima_mar]interrogativa
Qual bola caiu e ficou boiando?
Até aqui vimos que os verbos na Libras impactam 
na ordem dos sinais na sentença, mas algumas coisas 
são sempre constantes, como a posição da negação 
ao final da frase e as marcas não manuais de negação, 
de interrogativas e de perguntas polares. A ordem dos 
sinais será diferente com verbos que são considerados 
mais pesados, mais ricos morfologicamente, ou seja, os 
verbos manuais e os verbos classificadores. 
Estruturas com verbos em série no texto 
em Libras
As estruturas com verbos em série são produtivas na 
Libras. Esses tipos de verbos se caracterizam por serem 
produzidos em série ao manterem a mesma referência:
 
EU PENSAR ORGANIZAR IR ENCONTRAR FAMÍLIA PRÓXIMO MÊS
Eu estou pensando em organizar de ir encontrar a 
família no próximo mês.
Veja que nesse exemplo há quatro verbos, um depois 
do outro, usando o mesmo argumento externo EU. O 
verbo PENSAR selecionou um objeto oracional ORGA-
NIZAR IR ENCONTRAR FAMÍLIA PRÓXIMO MÊS. Na sequ-
ência, o verbo ORGANIZAR selecionou IR ENCONTRAR 
FAMÍLIA PRÓXIMO MÊS; o verbo IR selecionou ENCON-
TRAR FAMÍLIA PRÓXIMO MÊS; e o verbo ENCONTRAR se-
lecionou FAMÍLIA PRÓXIMO MÊS. 
O verbo em série é muito usado também com a alter-
nância de perspectiva. Veja o exemplo a seguir:
MENINA CACHORRO alterna_perspectiva_menina_chachorro CUI-
DAR ALIMENTAR TRATAR BRINCAR 
A menina cuida, alimenta, trata, brinca com o seu 
cachorro.
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Já vimos alguns exemplos de frases com os verbos 
estudados nessa unidade nos vídeos de Edinata Ca-
margo e de Darley Goulart. Vamos analisar o vídeo de 
Fábio de Sá, sobre o Setembro Azul, identificando al-
guns exemplos de frases que ilustram o que discutimos 
até agora.
Fábio introduz o vídeo informando o que ele irá apre-
sentar e para isso utiliza uma frase na ordem SVO com 
o verbo VIR, um verbo com concordância espacial:
EU VIR TÓPICO SETEMBRO AZUL
Eu venho abordar o tópico Setembro Azul.
A seguir, ele introduz a pergunta: 
POR QUE SURGIR SETEMBRO SURDO?
Por que surgiu o Setembro Surdo?
Nessa pergunta, ele introduz o sinal interrogativo ge-
ral que se adapta a cada tipo de interrogativa, e que 
nesse caso significa POR-QUÊ? E produz a interroga-
tiva com a marcação não manual que envolve as so-
brancelhas para dentro e para baixo com a elevação 
da cabeça na frase com o verbo SURGIR, um verbo sim-
ples que pode ser produzido no ponto espacial, em-
bora não apresente concordância pessoal. O sujeito 
parece estar na posição final da sentença por causa 
da formulação da pergunta que conta com a resposta. 
Mas veja que como o verbo SURGIR foi feito no pon-
to referencial do sujeito associado à direção do olhar, 
ele incorporou o sujeito da sentença na sua posição 
original, antes do verbo: (SETEMBRO SURDO)x xSURGE 
PORQUE.
A seguir, ele repete duas frases com estruturas dife-
rentes:
 
FALTA RAIZ
Faltam raízes.
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ESSA-RAIZ FALTAR
Essas raízes faltam.
Na segunda sentença, ele destaca o sinal RAIZ com 
a apontação. As duas frases apresentam ordenação 
diferente, pois na primeira, RAIZ, ocupa a posição de 
objeto e na segunda a posição de tópico. O verbo FAL-
TAR é um verbo simples que pode ser realizado no pon-
to espacial, apesar de não ter concordância pessoal, 
assim apresentando uma concordância espacial. Na 
sequência, ele continua falando dessas raízes.
 
RAIZ ARRANCAR ATIRAR
A raiz é arrancada e atirada.
Nesse exemplo, o sinal ARRANCAR e ATIRAR são ver-
bos manuais. Esses verbos incorporam a planta que 
é arrancada e junto com ela a raiz é tirada da terra e 
deixada de lado. Os verbos são manuais porque se-
guram a planta e realizam o movimento associado ao 
significado atrelado ao verbo. RAIZ é o sujeito que é 
mantido ao longo da frase. Ambos os verbos ficam na 
posição final, seguidos um do outro.
OUTRO PLANTAR BROTAR PLANTAR-AQUI PLANTAR-ALI PLANTAR-
-LÁ
Outro planta aqui e brota, planta aqui neste outro 
lugar, planta ali e planta lá.
Nesse exemplo, temos o verbo manual PLANTAR-
-PLANTA-localização. Como o verbo já incorpora a 
planta, o objeto está presente e é repetido em luga-
res diferentes (aqui, aqui do lado, ali e lá, posições no 
braço indicando essas posições distintas). Os verbos 
são apresentados sequencialmente depois do sujeito, 
não há um objeto pronunciado e, se houvesse, teria 
que aparecer depois do sinal OUTRO,uma vez que os 
verbos manuais aparecem na posição final, depois do 
sujeito e do objeto. 
Verbos sequenciais aparecem na produção de Fábio 
de Sá, conforme segue no exemplo:
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
ELES CURIOSAR COMPARAR CONHECER
Eles ficam curiosos, comparam, conhecem 
(os termos).
Na Libras, nesse exemplo, aparecem três verbos (por-
que “curiosar” é verbo em Libras). Assim, os verbos se-
quenciais aqui tomam o sujeito ELES que indica “as 
pessoas que usam diferentes terminologias para o Se-
tembro Azul”.
Vocês também vão perceber que muitas vezes as 
frases parecem não ter verbo nenhum. Isso acontece 
porque essas frases são predicativas, ou seja, indicam 
uma relação verbal, mas sem um verbo expresso por 
não conter conteúdo em si. No português, usamos o 
verbo SER, TER e ESTAR para isso, como verbos de li-
gação sem conteúdo específico, mas com a função de 
ligar o sujeito com o objeto. Na Libras, simplesmente se 
diz de forma direta (sem esse verbo de ligação), mas o 
sentido é o mesmo de quando se usa o verbo de liga-
ção em português. A seguir, apresentamos dois exem-
plos retirados do texto de Fábio de Sá:
 
EU ORGULHO
Eu tenho orgulho.
 
EU [PROBLEMA NENHUM]negativa
Eu não tenho nenhum problema.
Nesse último exemplo, Fábio produziu uma frase ne-
gativa com a marcação não manual negativa associa-
da ao predicado PROBLEMA NENHUM.
Esses foram alguns exemplos para ilustrar diferentes 
tipos de frases produzidas em Libras a partir dos ver-
bos. 
Síntese da Unidade 6 - Componentes do 
texto em Libras: as frases
Na unidade 6, analisamos a composição de alguns 
tipos de frases na Libras, em especial as simples, as ne-
gativas, as interrogativas e as perguntas polares. Para 
analisar essas frases, partimos das categorias verbais 
na Libras e falamos dos verbos simples, verbos com 
concordância, verbos manuais e classificadores ver-
bais. Analisamos cada um deles, alguns tipos de frases 
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
e vimos exemplos de produções em Libras de diferen-
tes surdos. Vimos que as frases podem ter diferentes 
tipos de ordenação a partir dos tipos de verbos, pois 
os verbos que apresentam uma morfologia mais rica 
são produzidos no final da frase (SOV), enquanto que 
os verbos mais simples aparecem antes da posição do 
objeto (SVO). As ordenações dos sinais podem variar 
a partir da combinação de fatores que vão se sobre-
por aos verbos, como a topicalização, por exemplo, 
mas normalmente acontecem nestas ordenações: SVO 
e SOV. O fato de os verbos simples serem produzidos 
normalmente em frases SVO indica que esta parece ser 
a ordem mais básica da sentença, pois, quando não há 
marcação nenhuma, a ordem vai ser SVO (QUADROS, 
1999; ROYER, 2018).
Atividades 
Continue assistindo ao vídeo de Fábio de Sá sobre o 
Setembro Azul e identifique os diferentes tipos de ver-
bos e tipos de frases produzidos. Marque nas listas a 
seguir os verbos usados e os tipos de frases usadas:
1 ) Verbos:
a. simples
b. com concordância pessoal
c. com concordância espacial
d. manuais
e. classificadores
Feedback: Fábio de Sá usa o verbo simples TER várias 
vezes ao longo do seu texto. O verbo VIVER é um ver-
bo simples e ancorado no corpo. FALTAR é outro verbo 
simples usado por Fábio de Sá. Usa o sinal CONHECER, 
um verbo simples ancorado no corpo. Também utiliza 
o verbo INFORMAR, um verbo que marca concordân-
cia pessoal. Aparece o verbo MOVIMENTAR, um verbo 
simples que pode ser feito no ponto espacial e o sinal 
ACONTECER, um verbo simples. Verbo de modo PODER 
também aparece no seu texto, um verbo simples. Fábio 
usa o verbo RESPEITAR, um verbo com concordância 
de pessoa. 
 
2 ) Tipos de frases:
a. Estrutura declarativa SVO com verbo simples.
b. Estrutura negativa com verbo simples.
c. Estrutura interrogativa com verbo simples.
d. Estrutura polar com verbo simples.
e. Estrutura declarativa SVO com verbo com con-
cordância.
f. Estrutura declarativa SOV com verbo com con-
cordância.
g. Estrutura negativa com verbo com concordân-
cia.
h. Estrutura interrogativa com verbo manual.
i. Estrutura declarativa SVO com verbo manual.
j. Estrutura declarativa SOV com verbo manual.
k. Estrutura negativa com verbo manual.
l. Estrutura interrogativa com verbo manual. 
m. Estrutura interrogativa com classificador.
n. Estrutura declarativa SVO com classificador.
o. Estrutura declarativa SOV com classificador.
p. Estrutura negativa com classificador.
q. Estrutura interrogativa com classificador. 
Feedback: Fábio de Sá organiza o seu comentário 
sobre o Setembro Azul a partir de uma variedade de 
frases que compõem seu texto. Após questionar o uso 
de “setembro surdo” ao invés de “setembro azul”, ele 
faz uma retrospectiva histórica. Ele utiliza frases sem 
um sujeito pronunciado falando da história no senti-
do de existência: TEM HISTÓRIA LINHA DO TEMPO e 
MILHÕES DE ANOS TEM VIVER SURDO. Nesse último 
exemplo, ele usa a sequência de verbos TER VIVER, am-
bos verbos simples. As duas sentenças são usadas no 
sentido de existência: há história, há surdos há milhões 
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de anos. Fábio usa o verbo VIVER na seguinte frase: 
NÓS SURDOS HUMANOS VIVER SOCIEDADE. Nessa fra-
se, o sujeito é NÓS SURDOS HUMANOS, o verbo VIVER 
e a frase complementar que indica o lugar SOCIEDA-
DE. Na sequência, ele apresenta: PENSAR IMPORTAN-
TE O QUE: LISTA1 IMPLANTADOS, LISTA2 ORALIZADOS, 
LISTA3 APARELHADOS, MUDOS, SURDOS, VÁRIOS DEFI-
CIENTES. Nessa frase, ele introduz com uma pergun-
ta PENSAR IMPORTANTE O QUE?, e lista vários grupos 
de pessoas que se identificam com a surdez. Introduz 
AZUL topicalizado para falar da história do Setembro 
Azul: [AZUL]tópico HISTÓRIA TER AO-LONGO-TEMPO. 
Nessa sentença, HISTÓRIA é o sujeito do verbo TER e 
então ele localiza no tempo: AO-LONGO-HISTÓRIA. Ele 
diz PRECISAR RESPEITAR VIVER LINHA-TEMPO. O sujeito 
aqui está no corpo de Fábio para indicar as pessoas 
em geral que precisam respeitar viver a linha do tem-
po. ISSO IMPORTANTE, aqui o verbo de ligação não se 
apresenta na Libras, assim o predicado parece não ter 
componente verbal, mas indica que ISSO é importante. 
Outra frase usada foi a seguinte: VOCÊS FALTAR INFOR-
MAÇÃO, uma frase Sujeito-Verbo-Objeto com verbo 
simples FALTAR. Outra frase é AGORA SURDOS PERÍO-
DO MOVIMENTO ACONTECER ACONTECER. O verbo 
ACONTECER está marcado com a repetição, por isso 
fica no final da frase, a ordem ficou SOV. Ainda, outra 
frase apresentada foi NÓS ORGULHO AZUL que é uma 
frase com predicado sem o verbo, uma vez que envolve 
uma ligação predicativa que em português seria pre-
enchida com o verbo “ter”, “nós temos orgulho azul”. 
Outra frase: NÓS RESPEITAR A TODOS, seguida pela 
frase ATÉ OUVINTE RESPEITAR NÓS SURDOS. Ambas 
as frases usam a ordem SVO com um verbo que marca 
concordância pessoal. Esses foram alguns exemplos 
de frases retirados do texto de Fábio de Sá.
COMPONENTES MICRO DO 
TEXTO EM LIBRAS: AS PALA-
VRAS
Objetivos
Compreender a formação das palavras na Libras: verbos, no-
mes, adjetivos e advérbios nas produções textuais. 
Nesta unidade, abordaremos uma parte mais microestrutu-
ral da Libras, ou seja, o nível das palavras. As palavras, que 
referimos como sinais nas línguas de sinais, são compostas 
pelas menores unidades de sentido das línguas. Vamos con-
versar sobre essas unidades de sentido e discutir sobre as 
categorias de palavras da Libras. A proposta é vermos cada 
categoriade palavras considerando-as no contexto linguísti-
co, que são os nomes, os verbos, os adjetivos e os advérbios 
que acontecem na língua de forma organizada, consistente e 
precisa. Além disso, vamos falar também sobre a flexão aspec-
tual, que diz respeito às unidades que se combinam com as 
palavras para acrescentar sentido, que indica o modo como 
acontecem as coisas e também o seu tempo
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O estudo das palavras nas línguas de sinais foi um 
dos pontos iniciais das pesquisas dessas línguas. Tal-
vez as investigações tenham se dedicado a essa parte 
porque buscar compreender as unidades menores sem 
compromisso com uma gramática espacial parecesse 
mais viável. As unidades menores parecem ser mais vi-
síveis, mais concretas. Fazer uma lista de sinais e orga-
nizá-los agrupando-os conforme critérios linguísticos 
parece mais exequível do que começar a analisar uma 
gramática que utiliza o corpo e as mãos no espaço. 
No entanto, surpreendentemente, os linguistas se de-
pararam com palavras extremamente complexas que 
em si representavam estruturas sentenciais completas, 
pois os sinais podem ter inúmeras combinações que 
os tornam altamente complexos do ponto de vista da 
estrutura da língua. Uma frase longa em português 
pode ser traduzida por um único sinal na Libras. Isso é 
possível porque a gramática espacial e a gramática do 
corpo utilizam meios que são de outra ordem quando 
comparados com as línguas que utilizam o canal oral-
-auditivo, ou seja, a fala. As produções nas línguas de 
sinais não são somente lineares como são nas línguas 
orais, mas incluem a simultaneidade que viabiliza o uso 
concomitante de vários componentes gramaticais. Por 
isso, este curso foi organizado a partir do macro, ou 
seja, a partir da gramática espacial e do corpo, para 
então começarmos a analisar os sinais.
As unidades que compõem as palavras são chama-
das de morfemas, que representam as menores unida-
des de sentido das línguas. No português, por exemplo, 
um morfema pode representar a raiz da palavra que 
pode ser agregada a alguns outros morfemas derivan-
do novas palavras ou flexionando-as para acrescentar 
sentido. Vamos ver os exemplos a seguir:
[feliz] pode derivar várias palavras ao serem acres-
Conceitos centados morfemas:
[felicidade]
[felizmente]
[infeliz]
[felizardo]
Esses morfemas que foram combinados com a pa-
lavra-morfema [feliz] reaparecem combinados com 
outros morfemas. A esse tipo de combinação chama-
mos de derivação, porque são formadas palavras que 
podem compor novas categorias gramaticais (nomes, 
verbos, adjetivos ou advérbios).
Outro exemplo de combinação de morfemas envolve 
a flexão. Nesse caso, a palavra continua na mesma ca-
tegoria e não deixa de ser ela, apenas passa a indicar 
algo a mais nela própria. Os casos de flexão envolvem 
marcação de concordância, de número, de grau ou de 
modo, por exemplo. Vejamos um exemplo do português 
que demonstra flexão verbal:
[amar]
[amo]
[amamos]
[amarei]
[amei]
[amaremos]
Os morfemas de flexão também reaparecem em ou-
tros verbos da língua. 
Como isso acontece na Libras? Na verdade, vocês já 
podem arriscar a indicar como isso acontece na Li-
bras, pois nós já estudamos a gramática espacial e a 
gramática do corpo que nos dão subsídios para visua-
lizar a composição de palavras nela.
Vamos começar assistindo a um vídeo em Libras. Eu 
sugiro a vocês assistirem ao vídeo em modo slow mo-
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tion com velocidade de 50% para visualizarem cada si-
nal produzido pelo Jonatas Medeiros no conto “Com 
as pontas dos dedos e os olhos do coração”, de autoria 
de Leila Rentroia Iannone. O tradutor Jonatas Medei-
ros utiliza várias palavras de forma recorrente nas três 
partes do conto. As palavras reaparecem, mas tomam 
novas formas, embora tenham a mesma raiz. Façam o 
exercício de assistir ao vídeo observando essa recor-
rência dos sinais produzidos para analisarmos como 
as palavras são formadas na Libras.
Assista o vídeo “Com as pontas dos dedos e os olhos do coração” , 
de Leila Rentroia Iannone, com tradução para a Libras de Jonatas 
Medeiros
Os sinais são produzidos pelas mãos, juntamente 
com movimentos, em localizações do corpo ou do es-
paço, com orientações das mãos marcadas e associa-
dos a expressões faciais. Esse conjunto de elementos 
são chamados de parâmetros (QUADROS & KARNOPP, 
2004). 
Os elementos em si podem não ter significado algum. 
Nesse caso, são apenas “pedacinhos” que servem para 
se combinar com outros para formar os morfemas. Os 
“pedacinhos” sem significados são chamados de fo-
nemas. Os sinais também utilizam as duas mãos que 
podem ser ativadas simultaneamente quando neces-
sário ou que podem indicar uma mão dominante (que 
se associa a movimentos e localizações), enquanto a 
outra mão é considerada não dominante (quando fica 
estável na produção do sinal, também chamada de 
mão base).
Nosso foco aqui são os morfemas, porque são as 
unidades menores de sentido que formam as palavras 
na Libras. As mãos, os movimentos, a localização em 
que o sinal é realizado e as expressões faciais podem 
ser morfemas nas línguas de sinais. Assim, o morfema 
pode ter a mesma forma de um fonema. Isso também 
acontece nas línguas orais, por exemplo: “a” é um fone-
ma do português que pode ser um morfema de mar-
cação de gênero feminino. O “a” que não tem sentido 
porque é apenas uma unidade da língua portuguesa, 
passa a fazer sentido quando está na palavra. Por 
exemplo em: “namorada”, porque se contrapõe com a 
palavra “namorado”, marcando o respectivo gênero.
Assim acontece com a Libras. Por exemplo, a configu-
ração de mão que representa o fonema L pode ser um 
morfema em um conjunto de sinais que utiliza o L com 
o sentido de “tela”:
 
Quando é um morfema dos seguintes sinais:
AMBIENTE-VIRTUA VIDEOCONFERÊNCIA HIPERMÍDIA
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Nesse caso, o morfema que é constante nesses sinais 
representa o sentido de “tela” e é produzido pela mão 
não dominante, ficando com a base do sinal. 
Vamos ver os exemplos do vídeo do conto “Com as 
pontas dos dedos e os olhos do coração”, de autoria 
de Leila Rentroia Iannone, traduzido pelo Jonatas Me-
deiros. 
Nomes
Os nomes são combinados com adjetivos, com ad-
vérbios e com verbos. Podem ser intensificados e po-
dem ter a mesma forma que o respectivo verbo. Assim, 
o contexto distingue a ocorrência enquanto nome ou 
enquanto verbo. Em alguns casos, o movimento asso-
ciado ao nome apresenta um padrão diferente do mo-
vimento associado ao verbo, indicando uma possível 
derivação marcada pela alteração do movimento. O si-
nal AULA foi usado também como MATERIAL-ESCOLAR 
nos seguintes exemplos do conto:
 
 
No primeiro exemplo, o sinal AULA foi feito do lado 
direito associado a um lugar aonde o personagem 
precisava ir. Na segunda ocorrência, ele está dentro 
do ônibus e vai colocar o material escolar debaixo do 
braço, então o sinal é produzido pertinho do rosto, 
uma vez que o ônibus está lotado, ele não tem muito 
MATERIAL-ESCOLARAULA
espaço para se movimentar. Em ambos os exemplos, 
temos substantivos produzidos relativos ao sinal AULA 
(ou ESTUDAR) que estão sendo marcados em diferentes 
localizações. Assim, o sinal está associado a essa loca-
lização marcada atribuindo sentido adicional ao sinal.
O próximo sinal se refere à HORA (de horarelógio):
A articulação da boca e o franzimento dos olhos 
associados ao sinal HORA com repetições curtas na 
primeira ocorrência indica que tem pouco tempo. Na 
segunda ocorrência, o olhar com olhos arregalados 
juntamente com a articulação da boca indica que 
está em cima da HORA, com repetições um pouco mais 
alongadas do que as produzidas anteriormente. Na 
terceira ocorrência a apontação é direta e precisa, in-
dicando que chegou na HORA exata. 
O sinal MULHER aparece significando mulher; em 
uma segunda ocorrência vem associado ao sinal BEN-
ÇÃO para marcar o gênero:
HORA
HORAHORA
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Na primeira ocorrência indica MULHER, mas na se-
gunda forma um composto com o sinal BENÇÃO que 
refere MÃE. Nesse caso, temos um sinal composto. O 
sinal MULHER e o sinal HOMEM são usados em sinais 
compostos para indicar qual o gênero dos membros 
da família, assim podem ser combinados com ME-
NIN@, TI@, VOV@, FILH@, PRIM@, CUNHAD@ ou BEN-
ÇÃO (para compor MÃE e PAI nessa variante de sinais). 
Há um processo fonológico na composição de sinais, 
no qual o movimento associado ao primeiro sinal deixa 
de existir.
A seguir temos o sinal ÔNIBUS que foi produzido em 
diferentes momentos do conto:
No primeiro exemplo, o sinal ÔNIBUS foi produzido 
mais próximo ao rosto. Esse mecanismo de aproximar 
do rosto o sinal está associado com marcação de grau, 
indicando mais pertinho. No segundo, o sinal ÔNIBUS 
está associado ao sinal ponto, ponto de ônibus, loca-
lizado no espaço onde se determinou o local para o 
ponto de ônibus. No terceiro, finalmente, a pessoa en-
tra no ÔNIBUS: a cabeça está virada para cima com 
o sinal de ÔNIBUS e abaixo indica que a pessoa está 
dentro do ônibus. No quarto exemplo, sinaliza com 
uma expressão facial com os olhos semifechados e 
com a boca aberta para indicar que o ÔNIBUS está 
lotado. O adjetivo lotado, produzido na sequência, já 
se sobrepõe à expressão facial do sinal ÔNIBUS.
A marcação de grau para diferentes graduações, do 
pequeno ao gigante, pode estar associada com o ta-
manho do sinal e, também, com mudanças na configu-
ração de mão que passa de menos dedos para mais 
dedos, e que desse modo representam maior grandeza 
do sinal. No exemplo a seguir, o sinal VOVÓ é feito as-
sociado à expressão facial com olhos semifechados in-
dicando que a vovó é velhinha. O sinal é feito com uma 
sutil elevação dos ombros para indicar a proximidade 
ao rosto que marca o grau.
 
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Na segunda ocorrência do sinal VOVÓ, ele é produ-
zido simultaneamente a outro sinal:
 
A mão não dominante é uma boia do sinal CORRER 
realizado concomitantemente ao sinal VOVÓ, com a 
elevação da cabeça que dá a ideia de estar “falando 
mais alto”.
Os nomes também sempre estão associados aos as-
pectos abordados nas unidades anteriores, que estão 
relacionados com a gramática espacial e o corpo. Os 
nomes podem ser produzidos no espaço referencial 
em diferentes locais, pois são associados aos referen-
tes estabelecidos previamente no discurso quando ne-
cessário. Por exemplo, o sinal de CASA produzido pelo 
Jonatas Medeiros no conto tem a ver com uma casa 
específica, não é qualquer casa, mas a CASA da qual 
ele está saindo.
VOVÓ
 
O sinal LEMBRANÇA está sendo produzido com o 
olhar para cima simultaneamente à repetição do movi-
mento para remeter às lembranças do passado. Tam-
bém remete a algo que está ligado ao pensar, ao ima-
ginar, no espaço que fica acima da cabeça.
Ele sinaliza CAFÉ afastado do corpo, indicando que 
está em uma posição longe do sinalizante. O sinal PÃO 
é produzido concomitantemente ao sinal de CAFÉ e 
depois individualmente. No sinal com CAFÉ, está indi-
cada a ação que dá a ideia de “enquanto” estava pe-
gando o café sobre a bancada, estava comendo o pão. 
Esse é um tipo de construção de sentença encaixada 
indicando simultaneidade das ações que, portanto, 
estão sendo produzidas ao mesmo tempo na Libras. 
LEMBRANÇAS
CASA
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A marcação não manual associada aos sinais pode 
estar marcando entonação, que é o caso do exemplo 
de PÃO, em que os olhos estão bem abertos com as 
sobrancelhas elevadas.
Os nomes podem estar associados com marcação 
de grau. Nesse caso, os sinais podem ser produzidos 
bem pertinho do rosto para indicar algo pequeno ou 
mais longe e de forma alargada para indicar algo que 
é grande. A marcação de grau é gradual, podendo ir na 
direção do muito grande ao muito pequeno associado 
ao tamanho do sinal em direção a sua produção em 
espaço mais reduzido próximo ao rosto. Vejam mais um 
exemplo produzido por Jonatas Medeiros:
PÃO
CAFÉ PÃOCAFÉ Nesse exemplo, o Jonatas Medeiros ainda deixa seus 
olhos semiabertos, além de produzir o sinal próximo ao 
rosto, indicando que faltava apenas um minutinho. 
A seguir vamos ver alguns adjetivos que podem ser 
intensificados.
Adjetivos
Os adjetivos modificam os nomes, ou seja, vão atri-
buir algo de valor ao substantivo. Você pode ter um 
amigo qualquer e um amigo generoso, por exemplo. Na 
Libras, os adjetivos podem se juntar aos nomes como 
no português. No exemplo a seguir, há uma marcação 
de intensidade por meio da tensão dada ao sinal e do 
tamanho do sinal, produzido de forma mais ampla, as-
sociado à marcação não manual (o sinal foi produzido 
com o nome VOVÓ). Os adjetivos podem estar marca-
dos com intensidade e com grau.
 
AVANÇADA
1-MINUTINHO
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O sinal a seguir indica BRABO, que também está ten-
sionado e inclui uma marcação não manual que inten-
sifica o sinal, marcando a entonação associada a ele.
Há vários outros exemplos que apresentam a marca-
ção de intensidade, conforme segue:
A seguir, temos duas ocorrências do sinal JOVEM, 
que foi produzido de forma muito diferente. Mas am-
bos marcam intensidade, embora com sentidos dife-
rentes, uma vez que na primeira é como se ele estivesse 
dizendo BEM-JOVEM e na segunda JOVENZINHO, en-
tão há a marcação de intensidade com tensão muscu-
lar e a marcação de grau com a aproximação do sinal 
ao rosto.
INSISTENTE VELHO
FURIOSO FRIO
BRAVO
A seguir, vamos ver os advérbios. Eles, em si, têm in-
formações aspectuais que denotam tempo, modo, mas 
que podem ser intensificadas.
Vejamos exemplos de verbos que estão flexionados 
de diferentes formas.
Verbos
Já vimos que os verbos na Libras se apresentam de 
diferentes formas: simples, com concordância pessoal 
e espacial, manuais e como classificadores predicati-
vos. Nesta unidade, vamos analisar a produção verbal 
com foco na flexão verbal a partir de exemplos produ-
zidos em Libras pelo Jonatas Medeiros. 
Verbos simples:
ACORDAR CONSEGUIR
JOVEM JOVEM
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Nos verbos simples, quando não estão ancorados no 
corpo, é possível marcar a concordância espacial reali-
zando o sinal no espaço. Os exemplos ERRAR, ESPERAR 
e FAZER ilustram isso, pois se remetem ao referente que 
foi estabelecido em um ponto espacial específico. O 
verbo ARREPIAR apresenta uma concordânciaespacial 
no corpo para indicar que a pessoa ficou completa-
mente arrepiada, ao evidenciar o arrepio no lado direi-
to e no lado esquerdo, localizando o sinal em ambos os 
ARREPIAR ARREPIAR
ESPERAR FAZER
ERRAR PRECISAR
braços. Esse tipo de marcação pode estar associada à 
intensidade. Os verbos simples podem marcar inten-
sidade e modulações que evidenciam o modo, como 
vamos ver mais adiante.
Verbos com concordância pessoal:
Os verbos que marcam concordância pessoal, nor-
malmente, estão associados com o movimento de tra-
jetória no espaço ou com a orientação da palma da 
mão voltada para o argumento interno (o objeto da 
sentença). Os exemplos acima contam com a orienta-
ção da palma da mão, especialmente em ALIMENTAR e 
CUIDAR, que não necessariamente marcam trajetória. 
Os sinais de CONTAR E OBSERVAR também apresen-
tam a orientação da palma da mão para o argumento 
interno, mas também estão associados com a traje-
tória do movimento e, mesmo que essa trajetória seja 
encurtada, ela está presente. Ao encurtar a trajetória, 
ALIMENTAR CONTAR
CUIDAR OBSERVAR
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a marcação com o argumento externo (sujeito) fica mi-
nimizada.
Verbos com concordância espacial:
A concordância espacial pode tomar pontos espa-
ciais, assim como referentes locativos. No caso de EN-
TRAR e SAIR, alguém entra em algum lugar e sai de al-
gum lugar para outro. Pode também estar associada 
com a concordância pessoal para o agente, o sujeito 
da frase, argumento externo, mas o argumento interno 
é um locativo.
Verbos manuais:
ENTRAR SAIR
Os verbos manuais, como já vimos na Unidade 6, in-
corporam ou seguram o objeto assumindo uma função 
instrumental e contam com o argumento interno no 
próprio verbo, porque foi incorporado na própria mão. 
Tornam-se morfologicamente complexos porque con-
tam com os morfemas do próprio verbo que pode ser 
flexionado, assim como o morfema do objeto em um 
único sinal. Os verbos manuais podem ter concordân-
cia pessoal, locativa e modular para aspecto e inten-
sidade, assim como acontece com os classificadores 
predicativos, que também apresentam uma morfologia 
complexa. Tanto os verbos manuais, como os classifica-
dores predicativos, são considerados polimorfêmicos.
Classificador predicativo:
COLOCAR-ÁGUA-VASO ESCOVAR-DENTES
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A seguir, vamos ver os advérbios que são mais flexí-
veis quanto as suas posições nas frases. Eles podem 
se distribuir de diferentes maneiras, pois se agregam 
aos sintagmas nominais, verbais, adjetivais e preposi-
cionais. Eles se juntam para acrescentar informações 
relativas ao modo, ao tempo, à inclusão e exclusão, ne-
gação e conclusão.
Advérbios
Os advérbios indicam circunstância associados aos 
verbos, aos nomes ou aos adjetivos. São componentes 
que agregam informação. Podem indicar tempo, modo, 
lugar, intensidade, negação, inclusão, exclusão, dúvida 
ou assertividade. Os advérbios a seguir marcam infor-
mações temporais e podem estar associados com ten-
são, sendo assim intensificam seus sentidos. 
AGORA MANHÃ
A seguir foram registradas duas ocorrências do sinal 
PASSADO com marcações diferentes de intensidade.
Outros advérbios indicam conclusão de algo, térmi-
no, fechamento.
Há também advérbios que indicam exclusão (como 
somente, só, unicamente e apenas) e inclusão (inclusi-
vamente, também, mesmo e ainda):
PASSADO PASSADO
SÓ
TUDO
QUASE
PRONTO
JÁ
FIM
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Os advérbios também podem indicar negação (por 
exemplo: não, jamais e nunca):
Os advérbios podem indicar ordem (primeiramente, 
ultimamente, depois e antes):
Ou ainda indicar modo (bem, mal, rapidamente, de-
vagar e calmamente). 
Ainda, podemos ter advérbios indicando dúvida (tal-
vez, possivelmente e provavelmente) e lugar (aqui, ali, 
RAPIDAMENTE
DEPOIS
NUNCA AINDA-NÃO
atrás, longe, perto e embaixo).
Marcação aspectual de tempo e de modo
A marcação aspectual pode aparecer nas diversas 
categoriais. Envolve modo para indicar como as coisas 
acontecem: lentamente, rapidamente, preguiçosamen-
te, ativamente, atenciosamente, normalmente, associa-
da ao o ritmo mais ou menos longo do movimento, por 
exemplo. A marcação aspectual de tempo envolve no-
ções temporais: finalização, andamento, continuidade, 
frequência, normalmente associadas com padrões de 
repetição dos movimentos, por exemplo. Há também 
marcação de intensidade: mais intenso, menos intenso, 
normalmente associada com a rigidez dos músculos 
na produção dos sinais. 
No exemplo a seguir, o sinal é feito de forma mais in-
tensa associado à marcação não manual de olhos se-
miabertos indicando intensidade:
Quando o sinal fica estabilizado (congelado, parado) 
pode indicar modo durativo (por um longo período):
AMAR-MUITO RECLAMAR-MUITO
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A repetição do movimento pode indicar o modo de 
continuidade, insistência, frequência:
CONVERSAR-CONTINUAMENTE ENTREGAR-CONTINUAMENTE
APERTAR-CAMPAINHA-VÁRIAS-
-VEZES
CONTAR-CONTINUAMENTE
FICAR-CASA-LONGO-TEMPO FICAR-LONGO-TEMPO
FICOU-CASACO-LONGO-TEMPO ESPERAR-POR-LONGO-TEMPO
Composição das frases em Libras: nomes, 
verbos, adjetivos, advérbios no espaço e 
com o corpo
Os sinais se combinam para formar frases. Os nomes 
podem ser associados aos adjetivos e aos verbos. Os 
SEMPRE-SISTEMATICIDADE SOZINHO-SISTEMATICIDADE
SINALIZAR-CONTINUAMENTE TRATAR-CONTINUAMENTE
 FALAR-CONTINUAMENTE INTERAGIR-CONTINUAMENTE
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
advérbios e a marcação aspectual podem estar asso-
ciados com nomes, verbos e adjetivos. Essas combina-
ções acontecem na gramática espacial combinadas 
com o corpo ou no próprio corpo, como vimos nas Uni-
dades 2, 3 e 4. Os verbos com mais informações ten-
dem a ficar no final da frase. O advérbio pode ir para 
lá e para cá, sem muitas restrições de posição na frase, 
exceto entre o verbo e o objeto, no mais parece poder 
se acomodar em qualquer lugar. O adjetivo normal-
mente fica depois do nome.
Síntese da Unidade 7 - Componentes micro 
do texto em Libras: as palavras
Nessa unidade, analisamos a formação de palavras a 
partir das categorias nome, verbo, adjetivo e advérbio. 
Vimos que os sinais são produzidos em contextos es-
pecíficos e tomam formas de acordo com a proposição 
do sinalizante. Os sinais são formados acrescentando-
-se a eles modulações que marcam grau, intensidade 
e modo, além de poderem ser flexionados para marcar 
pessoa e ponto espacial. Os sinais também são produ-
zidos incluindo marcação não manual que pode indi-
car padrões entonacionais. Os padrões de tamanho, 
de tensão das articulações, dos movimentos e de repe-
tição de sinais são marcações que se agregam aos si-
nais para imprimir novos sentidos atribuindo-lhes grau, 
intensidade e modo (tempo, frequência, continuidade, 
sistematicidade, inclusão, exclusão, negação, dúvida 
ou lugar). Os sinais são palavras que ocupam posições 
na estrutura da língua; os nomes se combinam com os 
verbos e com os adjetivos, mas seguindo ordenações 
específicas.Os nomes normalmente são modificados 
pelo adjetivo na ordem NOME-ADJETIVO. Os verbos se 
combinam com nomes enquanto argumentos, externo 
e interno, que passam a ocupar as posições de sujeito 
e objeto da frase. Na Libras, os verbos com mais infor-
mações morfológicas tendem a ficar no final da frase, 
assim o sujeito e o objeto antecedem esses verbos – 
SOV ou OSV. Já os verbos simples aparecem na ordem 
SVO. Os advérbios podem aparecer em diferentes par-
tes da frase, mas parece haver uma restrição em se ter 
o advérbio entre o verbo e o objeto da frase. A negação 
tende a aparecer na posição final da frase. 
Atividades 
1 ) Assista ao vídeo “Com as pontas dos dedos e os 
olhos do coração”- parte 3 – a partir do minuto 00:05:41 
- e identifique cinco nomes, cinco adjetivos, cinco ad-
vérbios e cinco verbos – também identifique o uso de 
marcação aspectual:
Feedback: Na tradução de Jonatas Medeiros, no minu-
to 00:05:41, inicia a parte 3 da história narrada. Nessa 
parte, foram observados vários nomes, verbos, adjeti-
vos, advérbios e identificadas também algumas marca-
ções aspectuais, conforme seguem: 
Nomes: aula, tópico, mundo, geografia, professor, tra-
balho, grupo, basquete, futebol, casa, vovó, reunião, 
amigo, ônibus.
Verbos: começar, classificador-sentar, dar, dividir, sepa-
rar, combinar, entrar, combinar, perguntar, acontecer, 
sentir, fazer, comer, dar-bolo, encontrar, argumentar, 
opinar, aceitar, ir, inventar, recortar, precisar, deixar-pra-
-lá, classificador-caminhar, classificador-chutar-pe-
dras, imaginar.
Adjetivos: nervoso, vazio, falha, errada, certo, insistente, 
triste, constrangido, responsável, brabo.
Advérbios: sempre, amanhã, novamente, já, pronto.
Marcações aspectuais: conversar-continuamente, sem-
pre-sistematicamente, fura-fura-fura-continuamente, 
atrasa-atrasa-atrasa-continuamente, um-fora-um-fo-
ra-do-grupo-continuamente, deixar-deixar-deixar-sis-
tematicamente, sair-sair-sair-muitos, muito-distraído.
2 ) No poema Lei de Libras – Anna Luiza Maciel e 
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
Sara Amorim (Literatura em Libras – Domínio público: 
Acessado em 15 de setembro de 2020), as poetas usam 
vários sinais com marcações analisadas nessa unida-
de. Identifique cinco nomes, cinco adjetivos, cinco ad-
vérbios e cinco verbos – também identifique o uso de 
marcação aspectual:
Feedback: No poema “Lei de Libras”, de Anna Luiza Ma-
ciel e Sara Amorim, foram observados os usos de no-
mes e verbos. 
Nomes: nome, sinal, Libras, lei, vernácula.
Verbos: interiorizar, expressar, visualizar, sinalizar, co-
municar, expressar-facialmente, valorizar, exprimir, sor-
rir, dramatizar, ser.
Advérbios: sempre.
Adjetivos: não há.
Marcações aspectuais: a repetição aparece em todos 
os verbos marcando a continuidade e a intensidade.
PALAVRAS FINAIS
Objetivos
Sintetizar os conhecimentos abordados sobre a Gramática 
da Libras neste material. Indicar outros componentes grama-
ticais que podem ser estudados e aprofundados.
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
O que você aprendeu com este material? 
Você aprendeu a reconhecer alguns componentes 
gramaticais da Libras: (1) espaço gramatical; (2) espaço 
referencial; (3) o corpo na estrutura da Libras; (4) com-
ponentes macro do texto em Libras: estrutura narrati-
va; (5) componentes nucleares do texto em Libras: as 
frases; e (6) componentes micro do texto em Libras: as 
palavras. Segue uma síntese do que foi apresentado 
no quadro a seguir:
Unidades 
integrantes do 
material
O que foi 
apresentado em 
uma frase
Objetivos de cada 
Unidade
1 Introdução
Panorama geral 
sobre a Gramática 
da Libras
Panorama geral sobre a 
Gramática da Libras, os 
níveis de análise grama-
tical e a organização do 
material dos aspectos 
gramaticais estudados 
neste curso.
2 Espaço gramatical 
e corpo
Libras: a gramática 
espacial e do corpo
O uso do espaço e do 
corpo gramaticalizados 
na Libras: o dimensio-
namento do uso do es-
paço gramatical (amplo, 
intermediário, restrito e 
altamente restrito). A lín-
gua de sinais no espaço 
e o corpo enquanto 
componentes grama-
ticais para produzir 
sentido na Libras.
3 Espaço referencial
Libras: a gramática 
referencial.
O uso do espaço 
referencial na Libras: 
apontação com função 
pronominal, estabe-
lecimento de pontos 
no espaço, direção do 
olhar e posicionamento 
do corpo.
4 Corpo na es-
trutura da Libras: 
alternância de 
perspectivas
Libras: a gramática 
no corpo por meio 
da alternância de 
perspectivas.
Os diferentes usos do 
corpo para fins gra-
maticais: (1) função de 
desambiguizar e/ou de-
terminar a alternância 
de perspectivas usada 
no corpo para estabe-
lecer coesão e coerên-
cia textuais; (2) função 
semântica e referencial 
atribuída a partes do 
corpo para referir enti-
dades, pessoas e ações; 
e (3) função criativa 
para dar vida a coisas 
ou humanizar animais 
por meio do antropo-
morfismo (uma espécie 
de ação construída).
5 Componentes 
macro do texto em 
Libras: estrutura 
narrativa
Libras: a estrutura 
narrativa do texto 
em Libras.
Os elementos que 
constituem a estrutura 
narrativa em Libras: (1) 
aspectos intrínsecos ao 
texto em Libras (as pau-
sas, os olhos, a direção 
do olhar, as piscadas, a 
boca e as transições); e 
(2) aspectos de estru-
turação da narrativa: 
resumo, orientação, 
complicação, avaliação 
e coda.
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
6 Componentes nu-
cleares do texto em 
Libras: as frases 
Libras: a composi-
ção de sentenças 
com verbos simples, 
verbos de con-
cordância, verbos 
manuais e classifi-
cadores.
A composição senten-
cial da Libras a partir 
dos tipos de verbos: sim-
ples, com concordância, 
manuais e classificado-
res analisar a aplicação 
de verbos em série na 
composição sentencial 
em Libras. 
Os aspectos gramaticais estudados evidenciam a 
complexidade da Libras. A Libras é uma língua que 
apresenta uma riqueza de componentes gramaticais 
que se constituem a partir do espaço e do corpo. É 
uma língua que se apresenta na modalidade visual-es-
pacial e utiliza o corpo (as mãos, os braços, o tronco e 
a face) e o espaço ao redor do sinalizante para com-
por seus sinais, suas frases, seu texto e seu discurso. O 
componente gestual da Libras utiliza as articulações 
motoras disponíveis para compor as referências dis-
cursivas e combiná-las por meio das próprias palavras 
usadas com o corpo, a direção dos olhos e os movi-
mentos. Ainda, a Libras se inspira nas formas e nos 
acontecimentos para compor sentidos, ou seja, parte 
da iconicidade e compõe uma gramática espaço-ges-
tual com regras.
Ainda há muito a estudar sobre a gramática da Li-
bras. Há uma série de componentes que precisamos 
aprofundar. Entre eles, para conhecer mais sobre a Li-
bras, será importante conhecer mais detalhes sobre a 
formação dos sinais, como se criam novos sinais, os 
sinais que tomamos emprestados de outras línguas e 
as variações das palavras existentes no país. Também 
precisamos aprofundar mais sobre a estrutura da fra-
se da Libras, conhecer mais sobre como as estruturas 
complexas são produzidas (orações coordenadas, ora-
ções subordinadas e estruturas encaixadas). A partir 
desses componentes, será possível aprofundarmos 
ainda mais a composição discursiva percorrendo dife
rentes gêneros textuais. Esses componentes gramati-
cais poderão ser estudados em um curso mais avan-
çado de gramática da Libras.
Atividade final do curso
Lembraque você escreveu sobre suas concepções de 
gramática no início do curso a partir das seguintes 
perguntas?
Quais as suas concepções sobre “gramática”? Você já discutiu so-
bre a diferença entre gramática tradicional e estudos gramaticais 
na concepção da linguística? Você já conversou sobre os usos da 
gramática?
Agora que você já fez o curso, responda essas pergun-
tas novamente considerando o que estudamos sobre 
a Gramática da Libras e compare com as concepções 
que você tinha previamente.
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
Feedback: O estudo gramatical apresenta a função de 
trazer para a consciência os componentes gramati-
cais da língua a partir dos usos da língua estudada. 
No nossocaso, estudamos alguns componentes gra-
maticais da Libras a partir de vários textos produzidos 
por sinalizantes fluentes, quase todos eram surdos. A 
proposta foi ver nas produções em Libras os aspectos 
estudados. Nessa perspectiva, o objetivo foi conhecer 
a língua como ela se apresenta quando produzida por 
diferentes sinalizantes em contextos diversos. A fun-
ção de estudar a gramática nessa perspectiva não é 
prescritiva, mas sim descritiva funcional. Então, pas-
samos a compreender que a língua se realiza no mo-
mento da produção e é atravessada por vários fatores 
que acabam impactando na sua forma para produzir 
uma dada intenção. Assim, nosso objetivo foi mostrar 
a complexidade da gramática da Libras e, ao mesmo 
tempo, evidenciar que é uma língua regida por regras 
que se ajustam às práticas linguísticas. Esperamos 
que esse estudo gramatical tenha contribuído efeti-
vamente para o seu conhecimento sobre essa língua, 
assim como para a compreensão do que significa es-
tudar uma gramática de uma dada língua.
Referências
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
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malymfreitas@gmail.com
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
Gramática da Libras: estudos introdutórios 
sobre seus componentes gramaticais é um livro 
didático que faz parte do curso de Gramática 
da Libras produzido pela Signa, de autoria de 
Ronice Müller de Quadros. Este livro didático 
apresenta aspectos gramaticais da Libras que são 
fundamentais para a estrutura dessa 
língua. O uso do espaço gramatical, o espaço 
referencial, o corpo com suas diferentes funções na 
sintaxe da Libras, a estrutura da narrativa, elementos 
constitutivos da segmentação nesta língua, os 
tipos de verbos, categorias de palavras e frases 
são tratados em detalhes pela autora. Além disso, o 
texto traz exemplos que ilustram os aspectos 
estudados, assim como atividades a serem 
realizadas pelos alunos contando com feedback da 
autora.
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258.693.358-33em série, muito produtiva na Libras.
Os sinais passam então a ser o tema de estudo a 
partir das diferentes categorias que se combinam para 
formar as frases e os enunciados na Libras. 
Encerraremos o curso com a síntese do que foi estu-
dado procurando visualizar todos os componentes em 
um texto na Libras. Ao final do curso, você revisará sua 
reflexão sobre o que compõe uma gramática.
 
ESPAÇO GRAMATICAL E 
CORPO
22
Objetivos
Reconhecer o uso do espaço e do corpo grama-
ticalizados na Libras.
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
Introdução da unidade
As línguas de sinais e as línguas orais apresentam 
uma gramática que se constitui de regras que os sina-
lizantes e falantes dispõem sem mesmo ter consciên-
cia delas. As línguas, portanto, são manifestações de 
propriedades humanas com objetivos de estabelecer 
a comunicação e de expressar ideias e sentimentos. 
Os seres humanos usam suas línguas para conversar 
com outras pessoas, para informar, para persuadir e 
por simples prazer. Isso acontece em quaisquer lín-
guas, independentemente das modalidades nas quais 
se apresentam. O mais incrível é que isso está dentro 
das pessoas, elas usam a língua para diferentes fins de 
forma coletiva, ou seja, de tal forma que possam ser 
compreendidas umas pelas outras. Isso é possível, exa-
tamente porque a base dessas línguas está calcada 
em uma gramática.
No entanto, apesar da existência da gramática ser 
algo comum entre todas as línguas humanas, as lín-
guas de sinais e as línguas orais manifestam suas re-
gras gramaticais com diferenças que se constituem em 
função de suas modalidades. São esses aspectos que 
nos interessam mais, pois ao estudar a gramática da 
Libras percebemos o quanto os usos do espaço e do 
corpo são importantes para a compreensão e produ-
ção de textos com sentidos. Nesta unidade, nos debru-
çaremos sobre esses aspectos gramaticais mais gerais 
que envolvem esses usos do espaço e do corpo na Li-
bras. Ao longo das demais unidades, aprofundaremos 
alguns desses componentes espaciais e corporais que 
são fundamentais nessa língua de sinais.
 Conceitos
O espaço é relativo, depende do espaço de visualiza-
ção disponível aos sinalizantes e do contexto para ser 
explorado gramaticalmente. Sempre os componentes 
espaciais são apresentados no espaço dos sinalizan-
tes acomodados proporcionalmente, de acordo com a 
situação. Hoje em dia, por exemplo, os surdos postam 
muitos vídeos nas redes sociais e os utilizam no celular, 
o que redimensiona esse espaço de sinalização. 
A seguir, vamos ver quatro vídeos dos quais explora-
remos aspectos abordados nesta unidade. Tais produ-
ções em Libras utilizam o espaço e o corpo de formas 
redimensionadas de acordo com o contexto por meio 
de um espaço amplo, um espaço intermediário, um es-
paço restrito e um espaço altamente restrito. Estamos 
diferenciando esses quatro tipos de espaço disponí-
veis para a sinalização, mas na verdade, eles são ajus-
tados de forma gradual. 
O primeiro vídeo é de Sylvia Lia, considerada uma 
surda de referência na comunidade surda paulistana. 
Sylvia Lia está participando de um seminário que reu-
niu surdos de referência do país em Florianópolis, na 
Universidade Federal de Santa Catarina. Ela foi convi-
dada a apresentar uma palestra sobre a situação dos 
surdos na cidade de São Paulo.
ASSISTIR AO VÍDEO DA PALESTRA DE SYLVIA LIA: Vídeo integrante do 
Corpus de Libras (Seminário do Inventário Nacional de Libras – Syl-
via Lia – Domínio p úblico, acessado em 15 de setembro de 2020). NA 
SEQUÊNCIA, ASSISTIR AO PRIMEIRO TRECHO EDITADO DO MESMO 
VÍDEO na videoaula.
No vídeo, Sylvia Lia está apresentando uma palestra 
em um auditório, utilizando um espaço amplo de sina-
lização. Ela está em um palco ao lado da projeção dos 
slides que está utilizando como referência para a sua 
palestra. O corpo dela está posicionado à direita dos 
slides (considerando a nossa perspectiva) voltado tam-
bém para o público no auditório. No início do vídeo, ela 
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GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
 
 
direciona o olhar para a pessoa que está controlando 
a filmagem e a projeção. Depois, direciona o olhar para 
os slides e se volta para o público para iniciar. Ela volta 
o olhar para o público, alternando-o ora para a proje-
ção ora para os diferentes espaços estabelecidos ao 
longo da sua apresentação. A direção do olhar para 
os espaços de sinalização impacta na construção dos 
sentidos.
Além da direção do olhar, vocês podem perceber que 
ela sinaliza para a audiência utilizando um espaço 
mais amplo de sinalização a sua frente. Os braços se 
estendem ocupando um espaço maior na sua frente 
como se ela tivesse a intenção de ser vista por todos os 
presentes. Ela também utiliza de forma mais sistemáti-
ca as duas mãos para sinalizar, o que também facilita 
a visualização dos sinais por parte do público. Ela se 
refere ao público direcionando os próprios sinais a eles 
em diferentes direções, de modo a incluir todos os par-
ticipantes que estão assistindo a sua apresentação. 
Essa sinalização é ampliada para facilitar a visualiza-
ção dos interlocutores que estão mais afastados fisi-
camente do palco. 
Sylvia também faz referência ao tempo, mantendo 
uma das mãos indicando o presente a sua frente no 
espaço neutro de sinalização e, ao mesmo tempo, re-
ferindo ao passado com a outra mão no espaço mais 
atrás do seu corpo. Este é tomado como um ponto de 
referência na linha do tempo frente e atrás. O espaço 
atrás do corpo, nesse caso, corresponde ao passado, 
em oposição ao espaço à frente do corpo, que envolve 
o espaço neutro e o espaço mais à frente desse espaço 
neutro, que pode indicar o futuro, quando a referên-
cia é temporal. Na sequência, ela faz várias referências 
a pessoas e ao lugar posicionando a apontação nas 
respectivas direções no espaço de sinalização. Então, 
passa a citar os surdos de referência de São Paulo in-
dicados inicialmente nos slides (as fotos deles estão 
no slide), situando-os no espaço neutro a sua frente. 
Ela informa que eles (estabelecidos no espaço neutro) 
enviaram e submeteram informações a ela. Essa infor-
mação acontece por meio de verbos espaciais (verbos 
com concordância que se movem no espaço incorpo-
rando os referentes, um tipo de flexão verbal). 
Veja novamente partes do vídeo da Sylvia Lia editado 
para identificar esses elementos.
Ela se movimenta entre a projeção dos slides e a sua 
posição original à direita, mantendo seu corpo posi-
cionado nesse espaço e usa esse mesmo espaço, que 
compreende uma região no entorno do seu corpo, para 
estabelecer relações gramaticais de tempo, de referên-
cia e de conexão entre os argumentos do discurso que 
configuram as posições de sujeito, dos verbos e dos 
objetos sentenciais.
Em seguida, temos o vídeo de uma apresentação de 
um livro digital feita pela Profª Marianne Rossi Stumpf. 
Esse vídeo foi filmado em estúdio com uma perspectiva 
da câmera pré-fixada para a produção textual em es-
paço intermediário.
Nesse vídeo, o espaço intermediário é utilizado, pois 
foi feita uma produção em vídeo para um livro. Nesse 
caso, a sinalizante não conta com um espaço amplo 
ASSISTIR AO SEGUNDO TRECHO EDITADO DO VÍDEO DA SYLVIA LIA 
na videoaula.
ASSISTIR AO VÍDEO DA PROFESSORA MARIANNE ROSSI STUMPF RE-
LATIVO A UMA APRESENTAÇÃO DO LIVRO DIGITAL (Aquisição de 
Língua de Sinais – Marianne Rossi Stumpf, domínio público, versão 
atual do v-book disponível pela Editora Arara Azul, em https://edito-
ra-arara-azul.com.br/site/produtos/detalhes/114 ).
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GRAMÁTICADA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS GRAMÁTICA DA LIBRAS: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE SEUS COMPONENTES GRAMATICAIS 
de sinalização como a Sylvia Lia dispunha para produ-
zir seu texto em Libras. A Marianne Stumpf conta com 
o espaço intermediário para estabelecer as relações 
gramaticais dentro do espaço estabelecido pela pers-
pectiva apresentada pela câmera. No entanto, como 
vocês podem observar, o espaço de sinalização é am-
plamente usado para fins gramaticais. A Marianne 
Stumpf inicia a sua apresentação a partir do espaço 
neutro com a direção do olhar estabelecida com o seu 
interlocutor, quem está assistindo ao vídeo, e espaços 
marcados para outras pessoas, coisas ou ideias. Ela 
alterna o olhar entre o interlocutor e as referências que 
estabelece no espaço de sinalização. Tais referências 
são genéricas, se referem a coisas em geral, ou seja, 
publicações e pesquisas diversas marcadas espacial-
mente por meio dos verbos espaciais. A Marianne en-
tão apresenta dois pontos espaciais contrastivos: o 
espaço à direita (na perspectiva de quem está assistin-
do) para referir ao desenvolvimento da linguagem em 
crianças e adultos que falam uma língua oral e o es-
paço à esquerda para indicar as crianças e os adultos 
que usam uma língua de sinais. Volta ao espaço neutro 
para explicar como o livro está organizado ao leitor, 
e, como este encontra-se estabelecido no próprio cor-
po da sinalizante, os verbos são direcionados para o 
seu corpo para dizer que o leitor receberá essas infor-
mações. Então, ela indica quatro aspectos que serão 
abordados por meio da apontação para os dedos da 
mão que representam uma lista de itens. Os itens são 
detalhados individualmente no próximo trecho. Cada 
item vai sendo referido no espaço associado à direção 
do olhar que é alternada entre o item que está sendo 
explicado e estabelecido no ponto espacial e o inter-
locutor. No vídeo da Marianne, também aparece o uso 
do espaço múltiplo, ou seja, quando um mesmo sinal é 
realizado em diferentes espaços indicando uma rela-
ção com diferentes pontos espaciais.
Vamos rever os mecanismos espaciais elencados no 
vídeo da Marianne Rossi Stumpf com cada um dos ele-
Estrutura argumental é determinada pela relação dos predicadores 
(verbos, nomes e adjetivos) com seus argumentos e pode ser analisada 
tanto do ponto de vista sintático como semântico, ou seja, o primeiro en-
volve posições sentenciais (por exemplo: sujeito na posição de argumento 
externo, complemento na posição de argumento interno) e o segundo as 
funções semânticas (como agente, o beneficiário, o tema, o alvo, o paciente 
e o experienciador).
O verbo INFORMAR que aparece no vídeo da Marianne Stumpf está em 
uma sentença que apresenta a seguinte estrutura argumental:
[TEXTOS DIVERSOS] argumento externo [INFORMAR] predicador [LEITOR]
argumento interno
Nesse exemplo, o argumento externo é o sujeito da sentença do ponto de 
vista sintático e o tema do ponto de vista semântico; e o argumento in-
terno é o alvo, considerando a perspectiva semântica, e complemento 
ocupando a posição de objeto direto da sentença do ponto de vista 
sintático.
mentos indicados de forma explícita no próprio vídeo.
A Marianne Stumpf está apresentando um livro e o 
seu conteúdo. É um texto informativo em que há con-
teúdos elencados espacialmente e o interlocutor que 
receberá esse material. O texto produzido utiliza vários 
mecanismos gramaticais estabelecidos espacialmente 
com uma estruturação dos argumentos e os verbos es-
pacialmente relacionados por meio do espaço, do cor-
po e das direções do olhar.
O próximo vídeo é da Ivone Konder Ruiz, que conta 
um pouco de sua história como pessoa surda e sua 
relação na família. 
É uma filmagem de enquadramento restrito.
ASSISTIR AO TRECHO EDITADO DO VÍDEO DA MARIANNE ROSSI 
STUMPF na videoaula.
Maly Magalhães Freitas
malymfreitas@gmail.com
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No vídeo, Yvone Konder Ruiz está se filmando utilizan-
do seu próprio equipamento para isso, que pode ser 
um celular ou um computador. A filmagem foi feita com 
um espaço restrito de sinalização. Yvone utiliza o po-
sicionamento do corpo para indicar os referentes ao 
longo do vídeo, assim como pontos espaciais estabe-
lecidos à sua direita, no espaço marcado à sua esquer-
da e no espaço neutro. Também faz apontações para 
indicar os referentes, utiliza verbos espaciais, alterna a 
direção do olhar e utiliza pronomes demonstrativos e 
possessivos associados aos pontos no espaço.
Vamos verificar novamente o vídeo da Ivone Konder 
Ruiz com tais mecanismos gramaticais indicados no 
próprio vídeo.
Nesse vídeo, fica evidenciado o uso de mecanismos 
gramaticais espaciais ajustados devidamente ao es-
paço restrito para a produção dos sinais. Os compo-
nentes gramaticais espaciais aparecem nos diferen-
tes contextos de sinalização, independentemente da 
disponibilidade espacial que o sinalizante tem no ato 
de enunciação. O que acontece é um ajuste da sinali-
zação para enquadrar no espaço disponível todos os 
mecanismos espaciais necessários para produção dos 
sinais por meio de combinações que expressem senti-
do em um texto.
De forma mais radical ainda, os surdos estão usan-
do o celular sistematicamente para enviar mensagens 
ASSISTIR AO VÍDEO DA YVONE KONDER RUIZ (Literatura em Libras – 
Conto “A luta”, de Yvone Konder Ruiz – Repositório UFSC, domínio pú-
blico, acessado em 15 de setembro de 2020).
ASSISTIR AO TRECHO EDITADO DO VÍDEO DA YVONE KONDER RUIZ 
na videoaula.
uns para os outros em Libras em um espaço altamente 
restrito. O próximo vídeo é da Miriam Royer, enviado no 
Whatsapp. Nesse vídeo, o espaço está limitado à tela 
do celular. Além disso, como a Miriam Royer está segu-
rando o celular, ela utiliza apenas uma mão para pro-
duzir seu texto em Libras. Os mecanismos espaciais, 
ainda assim, são preservados, em um espaço altamen-
te restrito, pois são cruciais para a produção de textos 
gramaticais e com sentido.
A seguir vamos analisar a filmagem realizada em es-
paço altamente restrito: no celular, com uma mão segu-
rando o aparelho e a outra mão produzindo os sinais.
Apesar das restrições aplicadas ao texto produzido 
com esse espaço tão pequeno, ele ainda é compre-
ensível. Miriam Royer também está de máscara, mas 
mesmo assim o texto está coeso e coerente. Ela inicia 
o vídeo sinalizando para o interlocutor com a apon-
tação associada à direção do olhar. Introduz o refe-
rente (o texto) no espaço por meio da apontação e do 
próprio sinal de TEXTO ao lado do ponto espacial no 
espaço marcado que indica o interlocutor em frente 
ao sinalizante. Vocês podem ver que são pontos espa-
ciais muito próximos, mas que são produzidos de for-
ma distinta, ou seja, apresentam contraste. No ponto 
espacial atribuído ao TEXTO, ela produz verbos espa-
ciais na mesma direção. Na sequência, Miriam alterna 
pontos espaciais para especificar partes específicas 
do TEXTO associando-os à direção do olhar e utilizan-
do tais pontos nos verbos espaciais. Utiliza a aponta-
ção várias vezes e volta então a direcionar os verbos 
e a apontação ao interlocutor, levantando a possibili-
dade de conclusão da revisão pelo interlocutor, caso 
seja possível, ou voltando a ser indicada por meio do 
ASSISTIR AO VÍDEO DA MIRIAM ROYER (Vídeo da Miriam Royer, publi-
cado mediante autorização).
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verbo espacial que inclui o próprio corpo da sinalizan-
te como objeto sentencial (corpo como referência). Mi-
riam Royer também utiliza o posicionamento do corpo.
Veja tais mecanismos gramaticais espaciais no vídeo 
com as devidas anotações:
Apesar do espaçoaltamente restrito, o texto produ-
zido em sinais com apenas uma mão e nesse espaço 
foi ajustado para apresentar os devidos mecanismos 
gramaticais que envolvem o uso do espaço gramati-
cal na Libras. Assim, independentemente do espaço 
disponível para a realização do texto em Libras e, da 
mesma forma, apesar do contexto e do tipo de texto, 
os mecanismos gramaticais espaciais serão utilizados 
na sua composição.
Espaços de sinalização e visualização do corpo
ASSISTIR AO TRECHO EDITADO DO VÍDEO DA MIRIAM ROYER na vi-
deoaula.
Espaço 
amplo
Espaço 
intermediário
Espaço 
restrito
Espaço altamente 
restrito
O corpo todo 
está visível.
O corpo está 
enquadrado 
em um espaço 
determinado. O 
tronco, os bra-
ços e a cabeça 
estão visíveis.
O corpo está par-
cialmente visível 
restrito apenas 
aos ombros. As 
mãos, parte dos 
braços e o rosto 
estão visíveis.
O corpo quase não 
está visível, apenas o 
rosto, um dos ombros 
e um braço.
Em todos os espaços disponíveis para a sinalização, a 
língua de sinais apresenta uma dimensão tridimensio-
nal. Assim, dentro de cada espaço a partir do corpo, 
também é estabelecida uma linha de tempo que parte 
do espaço neutro para o que está sendo dito, do es-
paço atrás do corpo do sinalizante e do espaço a sua 
frente, que podem remeter a questões temporais. Isso 
ficou mais claro no vídeo da Sylvia Lia.
Os elementos gramaticais que são realizados no espa-
ço, identificados nesses vídeos, foram os seguintes:
A questão espacial é determinante nas línguas de si-
nais, desde a formação dos sinais até a composição 
discursiva. Os sinais são formados de combinações 
de configurações de mãos, movimentos e localizações, 
além de expressões faciais e orientações das mãos. As 
localizações associadas a cada sinal integram o espa-
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ço de sinalização. Essas localizações podem determi-
nar a diferença no significado de uma palavra. Vejamos 
um exemplo da Libras:
Esses dois sinais se contrapõem por causa da locali-
zação. AZAR é produzido na frente do nariz, enquanto 
DESCULPA é produzido na frente do queixo. Portanto, 
a localização dos sinais em si, como palavras efetiva-
mente, é relevante na formação do sinal. 
As palavras também podem ser produzidas em espa-
ços diferentes, caso estejam associadas a pontos es-
tabelecidos no espaço. Nós vimos vários exemplos nos 
vídeos analisados até aqui. 
Os pontos estabelecidos no espaço por meio da 
apontação ou pela produção dos sinais onde são loca-
lizados são contrastivos, ou seja, são disponibilizados 
no espaço para diferenciar referentes do discurso. Tais 
pontos são localizados espacialmente em uma área 
definida pelo sinalizante. Quando são introduzidos de 
forma múltipla, a tendência é de serem colocados em 
pontos opostos, mas nem sempre isso é possível, como 
vimos no texto produzido no celular pela Miriam Royer. 
Os pontos para o interlocutor e para o TEXTO ficaram 
lado a lado, pois o espaço já era restrito por natureza. 
Nesse caso, associar os pontos com a direção do olhar 
AZAR DESCULPA
Quadros (2019, p.61)
torna mais clara a referência, por isso é um mecanismo 
que normalmente está associado aos pontos estabe-
lecidos. 
A lista de itens é estabelecida espacialmente, um me-
canismo produtivo nas línguas de sinais que apareceu 
no vídeo da Marianne Stumpf. Sinalizantes utilizam o 
próprio corpo por meio dos dedos de uma das mãos 
para elencar, listar, referenciar elementos em série. Os 
dedos das mãos se apresentam espacialmente de 
acordo com o número de itens elencados: dois, três, 
quatro, cinco ou mais. O “mais” é indicado abaixo dos 
dedos ao ultrapassar os cinco itens (a quantidade de 
dedos disponível em uma das mãos) como elementos 
adicionais. Normalmente, a lista compreende no máxi-
mo seis a sete itens, quando esse recurso espaço-cor-
poral é utilizado.
Esses mecanismos espaciais estão no nível do discur-
so restringidos pela sintaxe, ou seja, pela estrutura da 
língua. No nível ainda mais amplo, há ocorrências de 
estruturas espaciais associadas ao corpo: posiciona-
mento do corpo e o corpo em si enquanto argumento 
da estrutura. Vamos analisar em mais detalhes a ques-
tão do corpo.
Corpo nas línguas de sinais
O corpo do próprio sinalizante é uma das localiza-
ções possíveis de serem usadas no espaço gramatical. 
O corpo pode ser em si uma posição argumental utili-
zada de diferentes formas: para representar a primeira 
pessoa por meio da apontação para si, para represen-
tar a posição de um referente incorporado no corpo, 
para estabelecer relações argumentais por meio de 
contrastes entre uma posição e outra, entre um refe-
rente e outro. A Yvone Konder Ruiz utilizou o posiciona-
mento do corpo para explicitar os referentes aos quais 
se reportava no seu texto em Libras. Ela movia levemen-
te o corpo para frente à sua direita para associar o que 
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estava dizendo aos referentes estabelecidos no espa-
ço à sua direita e mantinha esse posicionamento até 
se referir a ela mesma, movendo então o corpo para 
a posição neutra ou para outro referente estabeleci-
do no lado esquerdo, direcionando levemente o corpo 
para a esquerda. Esses movimentos de um lado para 
o outro em diferentes posições corporais garantem a 
compreensão do texto produzido pela sinalizante. No 
entanto, essa movimentação do corpo é bastante sutil, 
especialmente se o espaço de sinalização é mais res-
trito.
Além do posicionamento do corpo, este pode repre-
sentar o próprio sinalizante na qualidade de referente 
e argumento do discurso, ou seja, o corpo do sinalizan-
te pode ocupar a posição argumental de sujeito ou de 
objeto da estrutura produzida selecionados pelo verbo 
como argumento externo ou interno, respectivamente. 
Quando o sinalizante produz verbos espaciais com 
concordância que incorporam a posição do corpo, 
este passa a ser o componente da estrutura da frase 
ou das frases produzidas. Vários exemplos em todos os 
textos produzidos ilustram esse tipo de uso do espaço 
gramatical. Marianne Stumpf, por exemplo, produziu o 
verbo INFORMAR na direção do corpo para representar 
o corpo como os possíveis leitores do v-book. O corpo, 
nesse caso, passou a ser o argumento interno do ver-
bo INFORMAR, ocupando a posição de objeto direto 
do verbo. 
O corpo por meio da direção do olhar também é usa-
do ao longo do discurso como um mecanismo grama-
tical associado aos pontos referenciais e à apontação. 
A direção do olhar normalmente é produzida simulta-
neamente com outros elementos espaciais. 
Partes do corpo podem ser usadas para estabelecer 
referência. Os dedos das mãos como parte do corpo, 
como já mencionado, podem representar uma lista de 
itens. O corpo pode ser usado para retratar um mapa 
em que as localizações são indicadas, ou ainda, pode 
ser utilizado para representar partes do corpo ou for-
mas que sejam usadas como referência dentro de um 
texto em Libras, que é o caso dos classificadores ou 
descritivos visuais. 
Nas unidades seguintes, vamos aprofundar sobre es-
ses usos gramaticalizados do corpo.
Sandler e Lillo-Martin (2006) discutem aspectos da 
produção simultânea dos mecanismos gramaticais. A 
simultaneidade é altamente produtiva nas línguas de 
sinais. Os exemplos que foram analisados nessa unida-
de evidenciam essa simultaneidade na Libras. As auto-
ras levantam três razões para essa simultaneidade: (1) a 
motivação, uma vez que as línguas de sinais se apre-
sentam no corpo e pelo corpo utilizam a simultaneida-
de porque podem usá-la (diferente das línguas orais); 
(2) a natureza dos sistemas de produção e percepção,uma vez que as línguas de sinais são mais visíveis e 
mais facilmente percebidas por usarem o corpo (face, 
mãos, braços, tronco e cabeça) e o espaço é visível aos 
sinalizantes (em oposição às articulações dos sons 
das línguas orais); e (3) as restrições de processamento, 
pois se leva mais tempo para produzir um sinal do que 
produzir uma palavra falada (numa língua oral), mas 
mesmo assim o comprimento das sentenças coincide, 
por causa da simultaneidade em oposição à linearida-
de; além de impactar na memória, pois a produção se 
ajusta à capacidade de memória (como os sinais levam 
mais tempo para serem produzidos, a simultaneidade 
compensa isso para que seja processada pela memó-
ria de forma apropriada, não comprometendo a per-
cepção). 
Síntese da unidade 2 - Espaço gramatical e 
corpo
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Nessa unidade, começamos a reconhecer o uso do 
espaço e do corpo gramaticalizados na Libras a par-
tir de produções realizadas em diferentes espaços de 
sinalização: amplo, intermediário, restrito e altamente 
restrito. Apesar das diferentes dimensões de produção 
dos sinais, os aspectos gramaticais que se manifestam 
por meio dos usos do espaço e do corpo na Libras 
sempre estão presentes. Esses aspectos são redimen-
sionados no espaço disponível pelo sinalizante. Entre 
eles, aprendemos a reconhecer o posicionamento do 
corpo, o corpo como argumento, a direção do olhar, o 
estabelecimento de pontos no espaço de sinalização, 
o uso da apontação, o uso de partes do corpo, a mar-
cação temporal no espaço, o espaço neutro e o espaço 
contrastivo. Com todos esses mecanismos gramaticais, 
reconhecemos a complexidade das línguas de sinais 
que acontecem tridimensionalmente.
Atividades 
1) Assista ao vídeo “Ser Surdo”, da Edinata Camargo 
(Imersão em Libras da Signa), e identifique os usos do 
espaço gramatical marcando as opções observadas 
procurando registrar como cada um destes elementos 
é utilizado pela sinalizante:
a. ( ) apontação: _________________________________________
___________________________________________________________________
b. ( ) estabelecimento de pontos no espaço: ___________
___________________________________________________________________ 
c. ( ) espaço temporal (passado): ________________________
_________________________________________________________________
d. ( ) espaço temporal (presente): ________________________
_________________________________________________________________
e. ( ) espaço temporal (futuro): ___________________________
_________________________________________________________________
f. ( ) espaço contrastivo: ________________________________
_________________________________________________________________
g. ( ) espaço neutro: _____________________________________
___________________________________________________________________
Feedback: Todos esses elementos aparecem no ví-
deo “Ser Surdo”, de Edinata Camargo. Ela está falan-
do sobre aspectos inerentes do ser surdo e utiliza o 
posicionamento do corpo se incluindo nesse grupo e 
referindo aos aspectos abordados. Introduz uma me-
táfora e sinaliza uma ÁRVORE no espaço à direita e 
outra no lado esquerdo de forma contrastiva. Situa o 
movimento surdo que se instaura há muito tempo (pas-
sado) utilizando a referência temporal no espaço atrás 
do corpo. O espaço neutro é utilizado como base re-
ferencial e temporal situando o presente e o tempo da 
sinalização. A frente refere o futuro. Edinata alterna a 
direção do olhar ao longo do discurso à medida que 
estabelece os referentes.
2) Nesse mesmo vídeo, veja o uso do corpo para pro-
duzir sinais pela sinalizante e então marque todos os 
componentes que integram esses usos:
a. ( ) as mãos: _____________________________________________
___________________________________________________________________
b. ( ) posicionamento do corpo: __________________________ 
___________________________________________________________________
c. ( ) a direção do olhar: __________________________________
___________________________________________________________________
d. ( ) o corpo como sujeito da frase: _______________________
___________________________________________________________________
e. ( ) o corpo como objeto da frase: _______________________
___________________________________________________________________
f. ( ) o corpo para localizar os sinais: ______________________
___________________________________________________________________
Metáfora é um mecanismo semântico realizado por meio de palavras 
ou expressões com intuito de representar outras coisas ou qualidades 
que remetem às palavras por analogia ou semelhança. Por exemplo, em 
português, “touro” pode remeter à “força”. No exemplo dado por Edinata 
em Libras, ela usa a metáfora ÁRVORE de um lado e ÁRVORE de outro 
para representar as relações entre os surdos.
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Feedback: Edinata utiliza as mãos como lista ao referir 
aos elementos abordados que integram o ser surdo ao 
final do vídeo. A direção do olhar aparece várias ve-
zes associada às referências temporais e aos pontos 
estabelecidos no espaço. Ela utiliza o posicionamen-
to do corpo se incluindo nesse grupo e referindo aos 
aspectos abordados. Utiliza o corpo para indicar os 
surdos na posição de sujeito e na posição de objeto 
marcadas também pelos verbos espaciais. Localiza os 
sinais no espaço, como o exemplo da ÁRVORE de um 
lado e de outro acompanhadas pela posição do corpo 
virada para um lado e para o outro conforme a árvore 
indicada.
 
ESPAÇO REFERENCIAL: A 
GRAMÁTICA DA REFERÊNCIA 
NA LIBRAS
Objetivos
Reconhecer o uso do espaço referencial na Libras constituído 
na gramática dessa língua.
Nesta unidade, vamos analisar o fenômeno gramatical da re-
ferência na Libras. A referência é uma parte importante da ela-
boração discursiva, pois as línguas falam e sinalizam sobre as 
coisas, as pessoas, as ideias e os sentimentos. Para fazer isso, é 
preciso referir. Na Libras, o estabelecimento referencial aconte-
ce de diferentes formas. Vamos estudar tais formas para com-
preender como se introduz tais componentes referenciais no 
discurso dessa língua utilizando o espaço, o corpo e os sinais. 
Inicialmente, vamos entender melhor sobre esse fenômeno gra-
matical e então analisaremos em produções em Libras como 
isso acontece.
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Highlight
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Conceitos
Referência é dicionarizada como ação ou efeito de 
referir, mencionar algo ou alguém, indicar algo ou al-
guém. O que se conta ou se relata.
Do ponto de vista dos estudos da linguagem, refe-
rência é um mecanismo altamente complexo, pois por 
meio de uma indicação passa a representar algo ou 
alguém que pode ser uma instância única no momen-
to da fala ou sinalização. Vamos pensar sobre a refe-
rência utilizando como exemplo um pronome qualquer 
que pode indicar uma pessoa em qualquer língua:
Quem é “ele” ou “ela” ou a pessoa indicada pela apon-
tação na língua de sinais?
Do ponto de vista da filosofia da linguagem, a ques-
tão da referência é mais complexa porque não é uma 
entidade estável, não simplesmente uma relação de 
uma palavra com seu sentido, pois este vai depender 
de quem está falando em um determinado contexto. 
Isso é observado nas línguas de sinais da mesma for-
ma, especialmente por meio do “apontar”. 
Berenz (1996) estudou aspectosda referência na Li-
bras com foco na dêixis. O termo “dêixis” vem do gre-
go e significa “apontação” ou “indicação” (LYONS, 1977). 
Faz todo o sentido usar a palavra “dêixis” para as ma-
nifestações que usam o apontar ou o indicar na Libras. 
Ele / Ela
Mas vejam que esse é um fenômeno que se observa 
em todas as línguas. Quando usamos “ele/ela” em por-
tuguês, também estamos indicando alguém que será 
identificado no contexto do momento da produção do 
pronome, da mesma forma quando usamos o sinal de 
apontar em Libras. Sabemos a quem ou ao que se refe-
re a apontação somente no ato da sinalização em um 
determinado contexto linguístico.
A dêixis, no entanto, é um fenômeno que envolve pro-
priedades formais. É uma forma gramatical de trazer o 
contexto para dentro da prática linguística. As catego-
rias clássicas de dêiticos incluem pessoa, tempo, lugar 
e espaço dependentes do contexto e do momento da 
enunciação. 
Na Libras, temos o uso da apontação de forma pro-
dutiva como dêiticos para indicar os pronomes pesso-
ais, os pronomes de lugar, os dêiticos temporais e os 
pronomes demonstrativos e possessivos. Nem sempre 
a forma dos pronomes envolve apenas a apontação 
com o dedo indicador, apesar de a apontação ser a 
mais comum de todas.
Pronomes demonstrativos com uso da mão:
 
 
A referência depende do contexto em que é estabelecida no momento 
da enunciação.
ESTE/ESTA ESTES/ESTAS
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Pronomes possessivos com uso de configurações de 
mão específicas:
Vamos identificar em um texto em Libras esses ele-
mentos contextuais que indicam alguns elementos dê-
iticos que podem referir pessoa, tempo, lugar ou espa-
ço.
Nesse vídeo, há diferentes tipos de estabelecimen-
to referencial. “As brasileiras” é um poema produzido 
por um duo de poetas, Anna Luiza e Klícia Campos. As 
duas elaboram partes do poema individualmente re-
presentando cada uma um território do Brasil e, tam-
bém, produzem componentes em conjunto para repre-
sentar coisas em comum. Essa variação entre produzir 
sozinha e produzir em conjunto por si só já representa 
um mecanismo referencial. Essa possibilidade aconte-
ce por ser um poema, ou seja, uma produção artística. 
Os poemas manifestam potenciais gramaticais das lín-
guas. Portanto, trazer esse poema para o escopo deste 
material torna-se importante. Percebam que o uso do 
espaço referencial está associado a cada poeta, incre-
mentado pelo cenário, é claro. 
MEU/MINHA SEU/SUA/DELE/DELA MEU-PRÓPRIO
ASSISTIR AO VÍDEO “As brasileiras”, de Anna Luiza Maciel e Klícia Cam-
pos (Literatura em Libras, domínio público, acessado em 17 de setembro 
de 2020).
A seguir, vamos assistir a um trecho do poema “As bra-
sileiras” procurando identificar todos os componentes 
usados no espaço referencial.
As duas iniciam o poema utilizando o pronome de-
monstrativo associado ao espaço ocupado pelo corpo: 
“ESSA (movimentando o demonstrativo de cima para 
baixo ao longo do corpo) BRASILEIRA (cada uma pro-
duz da mesma forma) BRASIL (produzido pelas duas de 
forma criativa)”.
As referências introduzidas foram “elas mesmas”, 
“brasileira” e “Brasil”. A terceira, Brasil, foi introduzida 
pela composição das duas de forma criativa, ou seja, 
com a junção dos dois sinais produzidos para BRASIL, 
que utiliza apenas uma mão, e passa a configurar com 
duas mãos (uma mão de cada poeta).
A anáfora inclui dêiticos e envolve as referências a 
algo que foi introduzido preliminarmente no texto. As-
sim, podemos contar com relações gramaticais esta-
belecidas por meio da anáfora que conserva as refe-
rências estabelecidas no texto. Como isso acontece na 
Libras?
Ainda considerando o vídeo “As brasileiras”, contamos 
com o estabelecimento de referência por meio de dêiti-
cos que têm função anafórica. Ou seja, os dêiticos que 
apareceram mais de uma vez, serviram para retomar a 
referência introduzida anteriormente dentro do texto.
Os dêiticos envolvem pessoas por meio de pronomes; 
lugares por meio de pronomes ou advérbios ou posi-
cionamento dos sinais; espaço por meio de pronomes 
de lugar e entidades por meio de demonstrativos. 
ASSISTIR AO PRIMEIRO TRECHO EDITADO DO VÍDEO DO POEMA “AS 
BRASILEIRAS”, de Anna Luiza Maciel e Klícia Campos, na videoaula.
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No vídeo “As brasileiras” aparecem elementos dêiticos 
que só podem ser identificados propriamente ao assis-
tirmos a toda sinalização compreendendo o contexto 
e o sentido do que está sendo dito na enunciação em 
si, no momento do texto produzido, no tempo do tex-
to em si. São, além dos pronomes demonstrativos, os 
pronomes pessoais e o uso de sinais produzidos em 
pontos espaciais específicos, o que confere ao sinal a 
referência específica de pessoas, entidades, ideias e 
sentimentos.
A anáfora é uma forma de estabelecer a coesão tex-
tual. Na Libras, já identificamos algumas formas de 
apontar e de estabelecer referência que podem ser 
usadas como elementos anafóricos. 
Os dêiticos são usados no espaço referencial de for-
ma gramaticalizada. Na Libras, representam pontos 
situados no espaço no entorno do sinalizante. Para 
serem estabelecidos, necessariamente o sinalizante 
precisará seguir convenções gramaticais intrínsecas à 
língua.
Quadros (1997) apresenta restrições que se aplicam 
no estabelecimento de referentes no espaço de sina-
lização. Os pontos estabelecidos no espaço não são 
atribuídos de forma aleatória. Ainda, os pontos serão 
arbitrários com referentes abstratos (por exemplo: paz 
e amor) ou para referentes de subcomponentes de um 
todo mencionados individualmente (por exemplo: sa-
las de um prédio). Haverá uma relação da direção na 
qual o ponto é estabelecido congruente com a pessoa, 
a entidade ou o objeto referido (por exemplo, apontar 
para cima para referir ao norte e para baixo para refe-
rir ao sul). 
Quando os referentes estão presentes no ato da si-
nalização, o ponto é estabelecido na direção do re-
ferente, porque, nesse caso, o estabelecimento de re-
ferência no espaço segue o princípio “real”, ou seja, a 
localização verdadeira deles. Isso se aplica também 
para localizações no espaço.
Normalmente, a apontação é acompanhada da di-
reção do olhar, mas é possível também manter o olhar 
estabelecido com o interlocutor, enquanto se aponta 
para outra direção.
Seguem algumas regras que são observadas na Li-
bras para se estabelecer a referência no espaço:
1) Apontar para um ponto estabelecido no espaço 
de forma contrastante com demais pontos (incluem os 
pontos reais e os tokens);
2) Associar um sinal no próprio ponto para sobre-
por o sinal ao referente previamente estabelecido no 
mesmo ponto determinando uma relação com esse 
referente (chamados de espaço sub-rogado, em inglês 
surrogate);
3) Incorporar o ponto no movimento associado ao 
verbo;
4) Incorporar o ponto no movimento associado ao 
classificador; e
5) Retomar os pontos previamente estabelecidos 
de forma consistente.
Para Liddell (1995), os pontos estabelecidos no espa-
ço são instâncias associadas a imagens reais ou ima-
ginárias que determinam a sua forma a partir de re-
presentações mentais. O autor apresenta três tipos de 
referência por meio de representação mental:
1) Real – entidades visíveis no ambiente que são 
referidas na produção em sinais tomando a posição 
real dos referentes presentes como a posição na qual 
os pontos referenciais estabelecidos no espaço, reve-
lando efetivamente a relação referencial real.
2) Token – o referente é imaginado pelo sinalizante 
no espaço referencial, é como se fossem cenas inteiras 
imaginadas em espaços estabelecidos pelo sinalizan-
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te. Esses espaços são representados em miniatura por 
causa do espaço do token. Vários tokens podem ser 
estabelecidos para representar diferentes entidades 
no espaço referencial.
3) Sub-rogado – o próprio sinalizante passa a ser 
o referente em si, ele toma o lugar do referente para 
representá-lo no ato da enunciação. Assim, ele passa a 
ter a perspectiva do referente utilizando o próprio cor-
po. Nesse caso, o sinalizante interrompe o olhar com o 
interlocutor e alterna fisicamente a posição do corpo. 
As expressões faciais e as características da postura 
não estão mais associadas ao sinalizante, mas ao re-
ferente representado por meio do espaço sub-rogado.
As referências “reais” e “tokens” representam os esta-
belecimentos dos pontos no espaço gramatical de re-
ferência. O espaço sub-rogado inclui a alternância de 
perspectivas. Esse último será detalhadamente anali-
sado na próxima unidade, pois impacta na estrutura 
das línguas de sinais de diferentes formas. 
Em relação à suposta referência “real” indicada no 
espaço referencial na mesma direção do referente pre-
sente no ato da enunciação, é preciso esclarecer que 
esse “real” não é o referente em si, pois continua sendo 
um ponto estabelecido no espaço de sinalização que é 
restrito e se localiza à frente do sinalizante.
Vamos identificar diferentes formas de usar o espaço 
referencial na produção em Libras considerando o es-
paço de sinalização à frente do sinalizante.
Nessa parte do vídeo, as duas poetas compõem o 
poema posicionadas lado a lado e atrelam às suas 
respectivas posições às suas respectivas regiões do 
ASSISTIR AO SEGUNDO TRECHO EDITADO DO VÍDEO DO POEMA “AS 
BRASILEIRAS”, de Anna Luiza Maciel e Klícia Campos, na videoaula.
país, previamente indicadas na parte 1 do poema: Klí-
cia Campos do nordeste, no sertão, e Anna Luiza da 
região sudeste, em uma grande cidade. O próprio po-
sicionamento das duas já situa a região referida espa-
cialmente a partir dessa parte do vídeo. Klícia começa 
a sua produção utilizando sinais classificadores. Os 
classificadores serão estudados de forma mais deta-
lhada na unidade 7. Na presente unidade, o importante 
é a localização espacial referencial indicada. A posição 
da Klícia é a primeira pessoa do discurso que está nar-
rando o poema. Ela é referência corporificada durante 
toda a sua produção. Todos os demais referentes se 
realizam no seu entorno e a partir dela, devidamen-
te indicados por sinais, pela direção do olhar e pelos 
posicionamentos do corpo. O entorno é referido com 
a utilização das duas mãos de forma alternada para 
citar diferentes referentes. Também foram usados si-
nais com as duas mãos simultaneamente para referir 
elementos específicos. A direção do olhar acompanha 
todos os sinais produzidos. O sinal do dedo indicador 
que faz referência à pessoa é posicionado à esquer-
da e, na sequência, à direita. Essa referência espacial 
indica que uma pessoa passou pela Klícia de um lado 
e depois outra pessoa passou pelo outro lado. Depois 
o sinal QUATRO é produzido passando por um lado 
e pelo outro, correspondendo a quatro pessoas que 
passaram por ela. Klícia ainda produz o sinal que se 
refere às árvores do cerrado passando por ela e às ca-
sas pelas quais ela passa e as quais admira. O sinal 
de CASA foi produzido de forma repetida, múltiplas ve-
zes, indicando várias casas ao longo da via por onde 
passava. E, então, estabelece a sua frente o sinal de 
igreja, concluindo a descrição do local. Anna Luiza, 
nesse sentido, também descreve sua região utilizando 
os mesmos mecanismos gramaticais: mãos alternadas 
para diferentes referentes, posicionamento do corpo e 
direção do olhar 
No vídeo, os pontos estabelecidos no espaço referen-
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cial referem aos seguintes elementos dêiticos gramati-
calizados por meio do espaço e que são considerados 
representações mentais por Liddell:
Exemplos de componentes 
gramaticais identificados no 
vídeo “As brasileiras”
Análise 
gramatical
Classificação de 
Liddell (1996)
Pronome 
demonstrativo
Espaço real
Pronome 
pessoal
Espaço real
Pronome de 
lugar
Espaço real
Mapeamento 
topográfico Espaço token
Classificador de 
pessoa
Espaço token
Classificador de 
4 pessoas
Espaço token
Todos os exemplos es-
tão associados à dire-
ção do olhar 
 
Direção do olhar
Pode estar as-
sociada aos es-
paços das três 
categorias
Posicionamento 
do corpo
Espaço 
sub-rogado
Posicionamento 
dos sinais:
(1) pontos 
específicos
Podem estar 
associados 
aos espaços 
das três 
categorias
(2) pontos 
alternados
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(3) pontos múlti-
plos
As referências pronominais de pessoa são identifi-
cadas na Libras por meio da apontação. Lillo-Martin 
e Klima (1990) analisam a distribuição das apontações 
na Língua de Sinais Americana (ASL) que parece ser 
muito similar ao que observamos na Libras. Os autores 
propõem que os pronomes pessoais na ASL se apre-
sentem como primeira pessoa com a apontação para 
si e não primeira pessoa com a apontação no espaço 
referencial por meio de pontos estabelecidos na fren-
te do sinalizante, relação que pode representar, por 
exemplo, a segunda ou terceira pessoas do discurso. 
Esses pontos no espaço de não primeira pessoa são 
tratados como tokens por Liddell. Padden (1986) trata 
dos pronomes de não primeira pessoa como formas 
estabelecidas espacialmente de maneira contrastiva, 
assim como elementos gramaticais que existem em ou-
tras línguas naturais.
Sinal referencial CHUVA no 
espaço de sinalização à direita 
acima do espaço neutro asso-
ciado à direção do olhar simul-
taneamente com o verbo REZAR 
produzido com a mão esquer-
da no espaço neutro. CHUVA 
ocupa a posição de argumento 
externo, complemento do verbo 
REZAR na forma de objeto da 
sentença.
Sinal referencial COPO estabe-
lecido no espaço à esquerda 
com a mão esquerda simultane-
amente produzido com o verbo 
COLOCAR realizado com a mão 
direita no espaço à direita, um 
verbo manual espacial que 
“segura a alça da jarra” e produz 
o movimento na direção do sinal 
COPO, complemento nominal, 
objeto da sentença.
O espaço topográfico se distingue do espaço refe-
rencial, sobretudo no que se refere aos mecanismos 
de pr ocessamento cerebral, que acontecem de for-
mas diferentes para cada um deles. Emmorey, Corina 
e Bellugi (1995) apresentam pesquisas que evidenciam 
essa distinção, o espaço topográfico é processado 
no hemisfério direito e o espaço referencial no hemis-
fério esquerdo do cérebro. O espaço topográfico tem 
uma relação com o tipo de espaço real apresentado 
por Liddell (1995), pois refere o espaço para comunicar 
informações espaciais diretas. No caso de “As brasi-
leiras”, o espaço topográfico é o mapa do Brasil que 
se constitui geograficamente, com um determinado 
formato e que internamente apresenta localizações 
espaciais diretas, como a região nordeste e a região 
sudeste devidamente indicadas no próprio mapa. Os 
pontos espaciais apresentam funções referenciais de 
ordem linguística necessariamente associadas aos no-
minais. Já o espaço topográfico não necessariamen-
te apresenta função referencial. Uma das evidências 
da distinção é de estudos neurológicos com surdos 
que apresentavam lesões em um dos hemisférios ce-
rebrais, as quais evidenciaram que o processamento 
do espaço topográfico acontece do lado direitodo 
cérebro, lado no qual aspectos visuais-espaciais são 
processados, enquanto o processamento do espaço 
referencial, relacionado com o uso de pronomes e de 
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verbos espaciais, acontece do lado esquerdo, lado no 
qual a linguagem é processada. Isso acontece porque 
há uma interação entre gesto e sinais muito intensa. 
O gesto aqui, no sentido de que está associado com 
aspectos não linguísticos propriamente ditos, mas que 
impactam na linguagem. O espaço topográfico pare-
ce, portanto, representar uma produção mais gestual 
nas línguas de sinais, enquanto o espaço referencial é 
usado para ocupar posições argumentais na senten-
ça, tanto do ponto de vista semântico como sintático 
(sujeito e predicado) que pode ser dissociado das po-
sições reais dos referentes, mesmo quando estes este-
jam presentes, exatamente porque o ponto referencial 
é abstrato. O espaço topográfico representa posições 
espaciais de ordem física; enquanto o espaço referen-
cial, por meio dos pontos espaciais estabelecidos no 
espaço de sinalização, envolve referências arbitrárias 
na sentença apresentando funções de ordem linguísti-
ca (gramatical). No entanto, é importante lembrar que 
os espaços topográficos e referenciais podem ser usa-
dos sistematicamente e apresentar múltiplas funções, 
dependendo do contexto linguístico. No caso de “As 
brasileiras”, há uma referência explícita à região nor-
deste e à região sudeste relacionada a cada uma das 
brasileiras, uma referência de lugar (embora o mapa 
desenhado apresente uma função topográfica). 
Berenz (1996) faz uma distinção interessante entre 
pronomes pessoais e demonstrativos. Parece haver 
uma relação diferenciada entre essas duas categorias 
gramaticais com a interação realizada em paralelo 
com a direção do olhar. No caso do demonstrativo, a 
direção do olhar associada ao pronome demonstrati-
vo é necessária. O sinalizante parece convidar o seu 
interlocutor a olhar para o que está sendo demonstra-
do acompanhando o movimento da mão com o olhar. 
Quando o sinalizante usa o pronome, isso não é neces-
sário. Assim, Berenz ilustra o caso da primeira pessoa 
em contraste com a demonstração da primeira pessoa. 
Quando é pronome EU, ele continua a estabelecer o 
olhar com o seu interlocutor, mas quando é demons-
trativo, o olhar acompanha a direção do sinal ESSA-
-PESSOA. Identificamos em produções que, na verdade, 
o que parece ser necessário acompanhar o demons-
trativo é o movimento da cabeça que coincide com o 
olhar. No caso da primeira pessoa ser demonstrada, é 
possível movimentar a cabeça na própria direção, mes-
mo mantendo o olhar no interlocutor. Esse tipo de dis-
tinção é que faz a diferença na fluência em Libras. São 
detalhes, mas eles impactam na forma e no sentido e 
evidenciam o quanto o sinalizante é fluente na língua.
A seguinte foto ilustra o pronome EU na Libras:
A foto do pronome estabelecido no espaço para ter-
ceira pessoa, apresentada no início dessa unidade, 
evidencia uma instância do uso pronominal da apon-
tação. Esse tipo de referência pronominal pode ser re-
alizado em diferentes pontos do espaço, vejamos no-
vamente:
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Na Libras, a terceira pessoa é como no inglês, pode 
referir “ele”, “ela”, “coisas” (no inglês seria it). Veja que 
pode ser produzido o pronome de terceira pessoa sem 
acompanhamento da direção do olhar. Seguem mais 
dois exemplos desse tipo de ocorrência:
A apontação também pode ser acompanhada do 
olhar, veja o contraste entre apontar mantendo o olhar 
para o interlocutor ou direcionando o olhar para o re-
ferente no espaço com função demonstrativa ou pes-
soal, o que depende do contexto para ser propriamen-
te identificado:
A apontação para terceira pessoa, na verdade, é am-
bígua quanto a sua função gramatical. Pode ser um 
pronome de terceira pessoa (ELE, ELA), assim como 
pode ser um demonstrativo (ISTO, AQUILO), mesmo 
configurando a forma com o dedo indicador, assim 
como pode ser um pronome de lugar (AQUI, ALI, LÁ). To-
dos são dêiticos, porque necessitam do contexto para 
ganharem significado. A pessoa pode dizer em Libras 
que mora AQUI em Florianópolis, ou AQUI no Brasil, em-
bora essas ocorrências do AQUI possam ser idênticas 
na sua forma, mas com significados diferentes. Assim 
como dizer AQUI próximo ao corpo para indicar que 
está em casa, mas AQUI em Florianópolis mais distante 
do corpo, embora represente AQUI da mesma forma, 
mas referindo a um local mais abrangente. 
A segunda pessoa, normalmente, tem a direção do 
olhar sobreposta à apontação: 
Os pronomes de primeira e segunda pessoas são 
mais claramente identificados como pronomes de pes-
soa na Libras.
Os pronomes demonstrativos, pronomes possessivos 
e os de lugar são dêiticos na Libras, pois seus respec-
tivos significados dependem de cada instância do seu 
acontecimento na enunciação. 
No relato de Ivone Konder Rui sobre sua história de 
lutas, há usos de pronomes possessivos, conforme se-
gue:
DELEx DELEy
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Os pronomes demonstrativos envolvem referência 
com o uso de uma ou duas mãos, conforme segue:
Como mencionado anteriormente, os pontos referen-
ciais estabelecidos no espaço podem ser sobrepostos 
a outros sinais e serem incorporados pelos verbos e 
pelos classificadores.
No caso da sobreposição de um sinal ao ponto esta-
belecido previamente no espaço, o sinal simplesmente 
é empilhado no ponto para indicar uma relação intrín-
seca com o referente.
Vejam esses casos nas seguintes fotos:
Havia sido estabelecido um ponto no espaço à es-
querda do sinalizante que foi usado sobreposto pelo 
MEU MEU-PRÓPRIO
ESTE/ESTA
sinal CASA. O ponto referencial e a CASA estão sobre-
postos. Os sinais podem ser empilhados no mesmo 
ponto referencial para indicar relações com o referente 
previamente estabelecido. Por exemplo, nesse caso, o 
sinalizante poderia ter dito que “Maria ficou em casa” 
ou que “a casa é da Maria”, caso previamente o ponto 
referencial estabelecido se referisse à Maria. Isso de-
pende do contexto e das diferentes combinações de 
sinais sobrepostos ou sinalizados no ato da enuncia-
ção.
No caso de introdução de sinais nominais (substanti-
vos) em pontos referenciais previamente estabelecidos, 
necessariamente o nome sinalizado é definido (não 
pode ser qualquer casa, nesse exemplo, mas sim é uma 
casa específica, definida).
Incorporação dos pontos associados à primeira pes-
soa (o próprio corpo do sinalizante) e o ponto da se-
gunda pessoa (à frente do sinalizante na direção do 
interlocutor) no verbo com concordância ENTREGAR:
CASA
A casa (associada a esse ponto referencial)
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Incorporação dos pontos associados à segunda pes-
soa (à frente do sinalizante na direção do interlocutor) 
e à terceira pessoa (alguém previamente estabelecido 
em um ponto à esquerda do sinalizante) no verbo com 
concordância ENTREGAR:
Da mesma forma que com verbos de concordância 
do tipo de ENTREGAR, esse modo de incorporação 
apresenta-se associado aos classificadores. Os classi-
ficadores compõem uma categoria de sinais conside-
rados “polimorfêmicos”, ou seja, são altamente comple-
xos porque combinam

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