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Microbiologia CASO CLÍNICO 1 Um recruta naval de 26 anos apresenta-se à base médica com lesões extensas e cheias de pus, rodeadas de eritemas em ambas as pernas. A suspeita é de infecção por Staphylococcus. Questão 1: Quais propriedades estruturais são exclusivas dessa espécie de Staphylococcus? R: Produção de coagulase, presença de proteína A na parede celular, staphyloxanthin e, em algumas cepas a cápsula polissacarídica Questão 2: Como as citotoxinas produzidas por esse organismo acarretam as manifestações clínicas observadas nesse paciente? R: As citotoxinas da bactéria, como a leucocidina de Panton-Valentine e as hemolisinas, destroem leucócitos e outras células do tecido, o que causa inflamação intensa, formação de pus e outras reações. Questão 3: Três toxinas adicionais distintas são descritas em cepas de S. aureus. Quais doenças estão associadas a essas substâncias? R: TSST-1 associada à síndrome do choque tóxico, exfoliatina associada à Síndrome da Pele Escaldada Estafilocócica, e Enterotoxinas associadas à Intoxicação alimentar estafilocócica Questão 4: Atualmente, em infecções causadas por S. aureus adquiridas na comunidade, é comum o quadro de resistência a qual classe de antibacterianos? R: Essas pessoas apresentam um quadro de resistência aos antibacterianos da classe dos betalactâmicos, especialmente às penicilinas e cefalosporinas, devido à produção da proteína PBP2a, codificada pelo gene mecA, característica das cepas de S. aureus resistentes à meticilina. CASO CLÍNICO 2 Um menino de 8 anos foi ao pediatra apresentando febre baixa e uma erupção eritematosa difusa em seu tórax, que se desenvolveu 2 dias após ele ter se queixado de dor de garganta. Um exsudato estava presente sobre a área tonsilar da garganta e cobriu sua língua. O diagnóstico clínico de febre escarlatina foi confirmado por teste de antígeno positivo para Streptococcus do grupo A, derivado de um espécime da garganta. Os gêneros Streptococcus e Enterococcus incluem um grande número de espécies capazes de causar um amplo espectro de doenças. Questão 1: Quais são os locais do corpo humano normalmente colonizados por Streptococcus pyogenes, S. agalactiae e S. pneumoniae? Como isso se relaciona com infecções causadas por essas bactérias? R: Streptococcus pyogenes coloniza principalmente a orofaringe e a pele, causando infecções como faringite, febre escarlatina, piodermatite, erisipela e fasciite necrosante. S. agalactiae está presente no trato geniturinário e gastrointestinal, sendo importante na transmissão vertical que pode levar a sepse e meningite neonatal. S. pneumoniae coloniza a nasofaringe e pode causar sinusite, otite média, pneumonia e meningite. A colonização nesses locais facilita o desenvolvimento de infecções em indivíduos suscetíveis. Questão 2: Os estreptococos do grupo viridans (i. e., estreptococos a-hemolíticos e não hemolíticos) são subdivididos em cinco grupos. Quais são eles e quais as doenças específicas associadas a cada um deles? R: Os estreptococos do grupo viridans, compostos por espécies alfa-hemolíticas e não hemolíticas, são divididos em cinco grupos: S. mitis, relacionado à endocardite bacteriana subaguda, especialmente após procedimentos odontológicos; S. anginosus, associado à formação de abscessos profundos no cérebro, fígado e pulmões, além de infecções odontogênicas; S. mutans, Microbiologia principal agente da cárie dentária; S. salivarius, que pode causar bacteremia e endocardite, embora raramente seja patogênico; e S. sanguinis, ligado à endocardite infecciosa subaguda e à formação de biofilme dental. Questão 3: Como muitas outras bactérias, os enterococos podem causar infecções no trato urinário, sobretudo em pacientes hospitalizados. Quais características dessa bactéria são responsáveis pela maior incidência dessas doenças nessa população? R: Essa maior incidência vai ser comum em pacientes hospitalizados devido à resistência natural e adquirida desses microrganismos a diversos antibióticos, especialmente em ambientes onde o uso de agentes antimicrobianos é intenso. Em conjunto com a capacidade dos enterococos de sobreviver em condições adversas, como variações de pH, alta concentração de sais e exposição a desinfetantes, é favorecido o surgimento de infecções, principalmente urinárias. Além disso, a formação de biofilmes em dispositivos invasivos, como cateteres urinários, facilita a colonização e persistência no trato urinário, dificultando o tratamento e aumentando a incidência dessas infecções em pacientes hospitalizados. CASO CLÍNICO 3 R.M.F, 32 anos, sexo masculino, casado, agricultor, natural e procedente de Brazlândia-DF. Procurou atendimento de emergência no Hospital Regional com queixa principal de tosse com sangue e febre. O paciente relata que há cerca de dois meses o paciente apresenta tosse com expectoração purulenta, cursando há cerca de um mês para hemoptise. Há três semanas, passou a apresentar febre alta vespertina e sudorese noturna. Ao exame físico, o paciente encontrava-se em estado geral regular, pálido e emagrecido. O médico suspeitou de tuberculose, encaminhando o paciente para internação e isolamento e solicitou de imediato um hemograma, que demonstrou anemia normocitica e normocrômica e discreta leucocitose com monocitose. Os demais exames solicitados foram: PPD, radiografia de tórax e baciloscopia do escarro. • O exame de PPD demonstrou halo maior que 10mm, sendo considerado forte reativo. A baciloscopia do escarro foi positiva +++: mais de 10 BAAR por campo. A radiografia de tórax apresentou opacidades heterogêneas em campo superior de ambos os pulmões com cavitações. Questão 1: Qual o principal constituinte da parede de M. tuberculosis? Qual a sua importância e efeito biológico? R: O principal componente da parede celular de Mycobacterium tuberculosis é o ácido micólico, um ácido graxo de cadeia longa exclusivo das micobactérias, presente na camada lipídica do envelope bacteriano. Essa estrutura presente na bacteria tem uma parede espessa, hidrofóbica e resistente, dificultando a penetração de muitos antibióticos, desinfetantes e a ação do sistema imunológico. Além do ácido micólico, a parede celular também contém peptidoglicano e arabinogalactana. Questão 2: Qual a importância da tuberculose na pandemia de Aids? R: A imunossupressão causada pelo vírus facilita a reativação da infecção latente por Mycobacterium tuberculosis e aumenta a vulnerabilidade a formas graves da doença. O comprometimento do sistema imunológico nesses pacientes vai dificultar o controle da infecção, o que resulta em maior suscetibilidade e agravamento da tuberculose. A coinfecção também torna o manejo clínico mais complexo, elevando a morbidade e mortalidade. Com a pandemia de AIDS, houve um aumento significativo nos casos de tuberculose mundialmente, consolidando a tuberculose como um grave problema de saúde pública relacionado ao HIV, já que a grande causa das mortes em pacientes soropositivos foi associada à infecção por M. tuberculosis. Questão 3: Quais os fatores relacionados com a capacidade do bacilo ser transmitido pessoa-pessoa? Microbiologia R: A transmissão pessoa a pessoa do Mycobacterium tuberculosis ocorre principalmente pela inalação de gotículas respiratórias expelidas durante a tosse, fala ou espirro de indivíduos infectados. A alta resistência do bacilo no ambiente, conferida pelos ácidos micólicos da parede celular que impedem a dessecação, permite sua sobrevivência prolongada em aerossóis suspensos. Além disso, a elevada carga bacilar presente em pacientes com tuberculose pulmonar cavitária aumenta significativamente a infectividade, facilitando a liberação massiva de bacilos no escarro. Questão 4: Comparativamente, qual indivíduo infectado apresenta maior capacidade de transmissão da tuberculose? Indivíduos com melhor ou pior estado geral? Por que? R: Geralmente, os indivíduos com melhor estado geral tendema transmitir a tuberculose com maior eficiência, pois conseguem tossir com mais força e frequência, facilitando a dispersão dos bacilos. Já as formas cavitárias, caracterizadas por alta carga bacilar no escarro, geralmente ocorrem em pacientes mais tranquilos, mas são altamente infectantes devido à grande quantidade de bacilos liberados. De outra maneira, os pacientes com pior estado geral apresentam, em geral, menor capacidade de tossir e dispersar bacilos, apesar da possível alta carga bacilar nos pulmões. Questão 5: Defina tuberculose primária e secundária. R: A tuberculose primária vai ser a infecção inicial pelo Mycobacterium tuberculosis em indivíduos não previamente expostos, caracterizada pela formação do complexo primário, que inclui o foco de Ghon e linfadenite regional. Nessa fase, a infecção costuma ser assintomática ou apresentar sintomas leves, como febre baixa e tosse seca, podendo evoluir para cura, latência com calcificação do foco ou progressão da doença. Já a tuberculose secundária, ou reativada, resulta da reativação dos bacilos latentes ou reinfecção em indivíduos sensibilizados, geralmente acometendo os ápices pulmonares. Essa forma é mais grave, com sintomas típicos como tosse persistente com escarro, febre vespertina, sudorese noturna, emagrecimento e hemoptise, além de maior capacidade de transmissão. QUESTIONAMENTOS Questão 1: Muitos membros da família Enterobacteriaceae fazem parte da população normal de bactérias que colonizam o corpo humano. Dê três exemplos de organismos que são parte da microbiota normal em indivíduos saudáveis e um exemplo de doença causada por cada organismo. Qual condição leva a essas doenças? R: Três exemplos de Enterobacteriaceae que fazem parte da microbiota normal em indivíduos saudáveis são Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Proteus mirabilis. Escherichia coli é frequentemente associada a infecções do trato urinário, resultantes da migração da bactéria do ânus para a uretra, favorecida por má higiene e uso de sondas urinárias. Klebsiella pneumoniae pode causar pneumonia lobar grave, especialmente em pacientes alcoólatras, devido à aspiração de secreções contaminadas. Já Proteus mirabilis está ligada a infecções urinárias complicadas, frequentemente associadas à formação de cálculos renais, obstrução urinária e infecção prolongada. Questão 2: Algumas Enterobacteriaceae são normalmente encontradas em animais, mas causam doenças quando os seres humanos são expostos a elas. Dê três exemplos e as doenças que elas causam. R: Elas são: Salmonella enterica, que é encontrada no trato intestinal de aves, répteis, suínos e bovinos, responsável pela salmonelose, uma gastroenterite aguda frequentemente adquirida pelo consumo de alimentos contaminados de origem animal. Yersinia enterocolitica, que vêm de porcos, outros mamíferos e aves, e causa enterocolite com dor abdominal, geralmente por ingestão de produtos suínos contaminados. Já Escherichia coli enterohemorrágica EHEC, encontrada no trato intestinal de bovinos, provoca colite hemorrágica e síndrome hemolítico-urêmica, associadas ao consumo de carne bovina mal cozida ou água contaminada. Microbiologia Questão 3: Algumas Enterobacteriaceae são patógenos humanos estritos. Dê dois exemplos e as doenças que elas causam. R: Dois exemplos são a Shigella e Salmonella Typhi. Shigella é a causadora da shigelose, uma doença que provoca diarreia com a presença de sangue e muco, cólicas abdominais intensas e febre, resultado da invasão e destruição da mucosa intestinal. Já Salmonella Typhi é responsável pela febre tifóide, caracterizada por febre alta e prolongada, dor abdominal, prostração, hepatoesplenomegalia e manchas róseas na pele, podendo evoluir para complicações graves como perfuração intestinal. Ambas têm como único reservatório o ser humano e são transmitidas principalmente pela via fecal-oral. Questão 4: Descreva os 5 patotipos de E. coli R:Enterotoxigênica: adere aos enterócitos do intestino delgado e produz duas enterotoxinas principais, a termolábil e a termorresistente, que provocam secreção excessiva de água e eletrólitos, causando diarreia aquosa, especialmente em crianças e viajantes. Enteropatogênica: causa diarreia principalmente em lactentes ao aderir às células epiteliais do intestino delgado, destruindo as microvilosidades e formando lesões do tipo attaching and effacing, que prejudicam a absorção intestinal e desencadeiam resposta inflamatória. Enteroagregativa: forma biofilmes espessos na mucosa dos intestinos delgado e grosso, produzindo citotoxinas e enterotoxinas que causam diarreia aquosa persistente, especialmente em crianças e pacientes imunocomprometidos. Enterohemorrágica: caracteriza-se pela produção da toxina de Shiga, que causa colite hemorrágica e pode levar à síndrome hemolítico-urêmica . Induz lesões attaching and effacing; o sorotipo O157:H7 é o mais conhecido. Enteroinvasiva: invade e destrói o epitélio do cólon, causando a lise do fagossomo e se movendo entre células por nucleação de actina, causando quadro semelhante à disenteria, com diarreia contendo muco e sangue.