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DISCIPLINA: CRIMES EM ESPÉCIE I 
PERÍODO: 4º 
CARGA HORÁRIA: 40 H Teórica presencial 
 
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO OU A 
AUTOMUTILAÇÃO 
 
Introdução 
O crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio é previsto no art.122 
do Código Penal e tomou mais relevância nos concursos públicos após o jogo 
Baleia Azul, desafio da internet que instigava jovens e crianças a se 
automutilarem e cometerem suicídio. Então, a Lei nº 13.968/13 alterou o 
art.122 do Código Penal para abarcar essa realidade. 
 
O tema há muito não gerava grandes discussões, porém, em tempos 
recentes, especialmente com o crescimento de plataformas de interação 
pela internet como Facebook, Twitter e WhatsApp, o induzimento e a 
instigação (principalmente) vieram aos temas de frequente debate pelo 
público geral após casos em que pessoas teriam ceifado diversas vidas ou, 
pelo menos, tentado fazê-lo, através de “desafios” como o Baleia Azul e, 
mais recentemente, as aparições da assustadora boneca “Momo”, criação 
de um artista japonês que apareceria em diversos vídeos infantis na 
internet, ofertando ideias suicidas a crianças e adolescentes. 
 
Suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Embora a vida seja um 
bem jurídico indisponível, o direito não pune aquele que, com sua conduta, 
tira ou tenta tirar aquilo que tem de mais precioso: sua própria vida. 
Assim, o suicídio consumado não é crime pela impossibilidade de 
aplicação de sanção penal, e na forma tentada, por razões de política 
criminal como também, em ambos os casos, pelo fato do suicida ser, na 
realidade, considerado vítima e não autor. 
 
 
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Embora não seja crime, a conduta suicida é antijurídica porque ninguém 
tem direito de dispor da própria vida. Neste sentido, verifica-se que não 
configura constrangimento ilegal, a conduta daquele que exerce coação 
contra quem tenta suicidar-se (CP, art.146, § 3º,II). Por analogia, 
entendemos que este dispositivo também se aplica nos casos de coação 
contra quem tenta se automutilar. 
 
Automutilação (ou lesão autoprovocada intencionalmente) consiste em 
qualquer lesão intencional e direta dos tecidos do corpo provocada pela 
própria pessoa, sem que esta tenha a intenção de cometer suicídio. O 
desejo reiterado de provocar lesões em si próprio é considerado uma 
doença de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças 
(CID-10). Trata-se de um sintoma relativamente comum nos casos de 
perturbações da personalidade e perturbações mentais, a exemplo da 
depressão, ansiedade, esquizofrenia e abuso de substâncias. A 
automutilação, tentada ou consumada, também não é punida 
criminalmente. 
 
Entretanto, a participação em suicídio ou automutilação, é punida nos 
termos do art. 122, do Código Penal, que dispõe: “Induzir ou instigar 
alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio 
para que o faça: Pena - reclusão, de 6 (meses) a 2 (dois) anos”. 
 
Conduta simples e pena 
Art. 122, CP. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar 
automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: (Redação dada 
pela Lei nº 13.968, de 2019). 
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Redação dada pela Lei nº 
13.968, de 2019) 
A pena será cominada a quem: 
• Induzir: criar a ideia para quem não estava pensando nisso. 
• Instigar: estimular a ideia que já existe na vítima. 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10621886/artigo-146-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10621757/paragrafo-3-artigo-146-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10621682/inciso-ii-do-paragrafo-3-do-artigo-146-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
 
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• Auxiliar: ajudar quem quer se suicidar, prestando auxílio. 
 
Qualificadoras 
As qualificadoras aumentam a pena mínima e máxima para, respectivamente, 
1 a 3 anos, ou 2 a 6 anos. As hipóteses são: 
• Resultar em lesão corporal grave ou gravíssima: reclusão de 1 a 3 
anos. 
• Resultar em morte: reclusão de 2 a 6 anos. 
 
Causas de aumento de pena 
A pena será duplicada quando: 
• O crime é praticado por motivo fútil ou torpe 
• A vítima é menor de idade ou tem a capacidade de resistência reduzida. 
A pena será aumentada até o dobro quando a conduta é realizada por meio da 
rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. Essa 
causa de aumento foi criada por conta do alcance das redes sociais, que 
aumenta os danos da instigação. 
 
A pena era aumentada em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo 
ou de rede virtual. Essa majorante também foi criada para coibir atitudes 
como a dos grupos voltados à disseminação de automutilação, como ocorreu 
no Baleia Azul e ocorre nos canais de Discord. Entretanto, a Lei 14.811/2024 
alterou o artigo, com a pena agora sendo dobrada nesse caso: 
 
§ 5º Aplica-se a pena em dobro se o autor é líder, coordenador ou 
administrador de grupo, de comunidade ou de rede virtual, ou por estes é 
responsável. (Redação dada pela Lei nº 14.811, de 2024). 
 
Atenção para a vítima 
A lei exige, para fins do art.122, que a vítima tenha que ter maturidade e 
autodeterminação sobre as consequências do suicídio ou da automutilação. 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14811.htm#art5
 
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Se o crime resultar em lesão corporal grave ou gravíssima (§1º) e for praticado 
contra menor de 14 anos, ou contra quem não tenha discernimento para a 
prática do ato ou não pode oferecer resistência, o agente responderá como se 
tivesse praticado a modalidade que resulta em morte (§2º), cuja pena é 2 a 6 
anos. 
Se o crime resultar na morte de menor de 14 anos ou de quem não tenha 
discernimento para a prática do ato ou não pode oferecer resistência, o autor 
responderá pelo crime de homicídio (art. 121). 
 
Crime hediondo 
A partir da Lei 14.811/2024, que alterou a Lei de Crimes Hediondos (Lei 
8072/90), passou a ser hediondo o crime de indução ao suicídio feito através 
da internet: 
 
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no 
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados 
ou tentados: 
X - Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação 
realizados por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitidos 
em tempo real (art. 122, caput e § 4º); (Incluído pela Lei 14.811, de 2024) 
 
2. Classificação doutrinária 
Trata-se de crime comum (aquele que pode ser praticado por qualquer 
pessoa), plurissubsistente (costuma se realizar por meio de vários atos), 
comissivo (decorre de uma atividade positiva do agente “induzir, instigar 
ou auxiliar”), de forma livre (pode ser cometido por qualquer meio de 
execução, menos a omissiva), de ação múltipla (ou de conteúdo variado, 
porque o tipo penal descreve três modalidades de realização: induzir, 
instigar e auxiliar), formal (se consuma sem a produção do resultado 
naturalístico previsto no tipo penal: morte ou lesão corporal de qualquer 
natureza), instantâneo (uma vez consumado, está encerrado, ou seja, a 
consumação não se prolonga), monossubjetivo (pode ser praticado por um 
 
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único agente), simples (atinge dois bens jurídicos alternativos: 
vida ou integridade corporal e, por isso, não é crime complexo), doloso (o 
agente quer ou assume o risco de produzir o resultado morte ou lesão 
corporal de qualquer natureza. 
 
3. Objetos jurídico e material 
O objeto jurídico é alternativo: é a proteção do direito à vida ou a 
integridade corporal. Objeto material é a pessoa sobre a qual recai a 
conduta criminosa do agente que consiste no induzimento, instigação ou 
auxílio a suicídio ou a automutilação. 
 
4. Natureza jurídica da morte e das lesões corporais de natureza grave 
Existem duas correntesdoutrinárias: Para uma delas, o resultado morte 
ou lesão corporal de natureza grave constituem condições objetivas de 
punibilidade do crime de participação em suicídio. Nélson Hungria afirma 
que, “embora o crime se apresente consumado com o simples induzimento, 
instigação ou prestação de auxílio, a punição está condicionada à 
superveniente consumação do suicídio ou, no caso de mera tentativa, à 
produção de lesão corporal de natureza grave na pessoa do frustrado 
desertor da vida”. 
 
Para a outra corrente, na qual nos filiamos, a morte e a lesão corporal de 
natureza grave não constituem condições objetivas de punibilidade e, sim, 
elementares do tipo, pelo fato de que as condições objetivas de 
punibilidade se situam fora da descrição típica do crime e sua ocorrência 
não depende do dolo do agente. Nos ensinamentos de Fernando de Almeida 
Pedroso, a morte e as lesões graves no crime de participação em suicídio, 
“não constituem condições objetivas de punibilidade, pois representam o 
objetivo e propósito a que se direcionava e voltava o intento do agente. 
Trata-se no caso, portanto, do resultado naturalístico ou tipológico do 
crime”. 
 
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Nessa mesma corrente, Damásio de Jesus, afirma que “a morte e as lesões 
corporais de natureza grave devem estar no âmbito do dolo. Logo, 
constituem o tipo e não se revestem dos caracteres das condições objetivas 
de punibilidade”. 
 
5. Sujeitos do delito 
O sujeito ativo do crime de participação em suicídio ou a automutilação 
pode ser qualquer pessoa, não se exigindo nenhuma condição especial, 
pois, trata-se de crime comum. O sujeito passivo será a pessoa induzida, 
instigada ou auxiliada. Pode ser, da mesma forma, qualquer pessoa com 
plena capacidade de discernimento, pois, caso contrário é crime de 
homicídio ou de lesão corporal, praticado por meio de autoria mediata. 
 
Embora seja o crime de participação em suicídio ou a automutilação, 
verifica-se que o mesmo admite tanto a coautoria quanto a participação em 
sentido estrito. Exemplos: (a) Se A induz B a se automutilar. A será autor 
do crime de participação em suicídio ou a automutilação; (b) Se A e B 
induzem C a suicidar-se. A e B serão coautores do crime de participação 
em suicídio ou a automutilação; (c) Se A induz B a instigar C a se 
automutilar. Teremos, A (indutor) como partícipe, e B (instigador) como 
autor do crime de participação em suicídio ou a automutilação, pois este 
realizou uma das condutas típicas do delito em estudo. 
 
Verifica-se, então, que induzir, instigar ou auxiliar, constituem, em regra, 
atividades de partícipe. No crime de participação em suicídio ou a 
automutilação, essas atividades constituem o núcleo do tipo penal, ou 
seja, quem as pratica será autor ou coautor e não partícipe, de acordo com 
a concepção restritiva, onde autor é somente aquele que realiza a conduta 
típica. 
 
6. Conduta típica 
 
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O núcleo do tipo penal é representado pelos verbos induzir, instigar ou 
auxiliar. Desta forma, a participação em suicido ou a automutilação pode 
ser moral (no induzimento ou na instigação) ou material (no auxílio). 
Mesmo que o agente realize todas as condutas, responde por crime único, 
pois se trata de crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. 
 
Induzir – consiste em fazer nascer, criar na mente de alguém, a ideia de 
autodestruição ou de autolesão até então inexistente. Desta forma, o 
agente indutor acaba, por qualquer meio, criando em alguém uma vontade 
que o leva ao suicídio ou a automutilação. 
Instigar – consiste em reforçar, estimular uma ideia de autodestruição ou 
de autolesão já existente. O agente instigador provoca, por qualquer meio, 
a vontade já existente da vítima, mas não toma parte nem da execução 
nem do domínio do fato. 
 
Auxílio – pressupõe a participação material ao suicídio ou a 
automutilação, de forma meramente secundária, como, por exemplo, o 
fornecimento de veneno ou de qualquer objeto ou instrumento para a 
prática de autolesão, empréstimo do punhal, do revólver, a indicação de 
um local ideal para o suicídio ou a automutilação etc. De qualquer forma, 
o auxílio deve ser material e não moral, ou seja, o auxílio moral caracteriza 
forma de participação por induzimento ou instigação. Embora existam 
opiniões contrárias, o auxílio é sempre prestado por uma ação ou atividade 
positiva de fazer e, por isso, entendemos não ser possível prestar o auxílio 
por omissão. Neste sentido, Damásio de Jesus afirma que “mesmo que o 
sujeito tenha o dever jurídico de impedir o resultado, como no caso do 
soldado que assiste passivamente à vítima dar cabo à própria vida, não 
existe delito de participação em suicídio por atipicidade do fato”. 
 
De qualquer forma, para caracterizar o crime de participação em suicídio 
ou a automutilação, é necessário que a conduta do agente seja dirigida a 
pessoa ou pessoas determinadas, e não quando são praticadas de modo 
 
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geral. Exemplo: não comete o crime em estudo, quem escreve um livro 
induzindo os leitores ao suicídio ou a automutilação como única forma de 
solução de seus problemas amorosos. 
 
7. Elemento subjetivo 
O elemento subjetivo do delito é o dolo, direto ou eventual, consistente na 
vontade livre e consciente de induzir, instigar ou prestar auxílio para que 
a vítima se suicide ou pratique a automutilação. Não há previsão da 
modalidade culposa. 
 
Na modalidade de dolo eventual, é possível o agente assumir o risco de 
alguém praticar o suicídio ou a automutilação? Sim, é possível. É o caso 
do agente que pratica reiteradas sevícias (ofensas, maus tratos, crueldade) 
contra a esposa, sabendo-se que a mesma se encontra na iminência de 
praticar o suicídio ou a automutilação. Se ele continuar a seviciar a 
esposa, vindo a mesma a suicidar-se ou a se automutilar, estará 
configurado o crime de participação em suicídio ou a automutilação, a 
título de dolo eventual. Magalhães Noronha exemplifica muito bem, o caso 
do “pai que expulsa de casa a filha desonrada, tendo poderosas razões 
para supor que ela se suicidará, com esse gesto, assume o risco de 
produzir o resultado”. 
 
8. Consumação e tentativa 
O crime de participação em suicídio ou a automutilação se consuma sem 
a produção do resultado naturalístico (morte ou lesão corporal de qualquer 
natureza), previsto no tipo penal, embora ele possa ocorrer, pois, quanto 
ao resultado, trata-se de crime formal, da mesma forma da extorsão 
mediante sequestro, no qual o recebimento do resgate exigido é irrelevante 
para a plena realização do tipo. 
 
Trata-se, ainda, quanto à conduta, de crime comissivo porque decorre de 
uma atividade positiva do agente “induzir, instigar ou auxiliar” e de crime 
 
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plurissubsistente porque costuma se realizar por meio de vários atos. 
Desta forma, a tentativa, embora de difícil configuração, é teoricamente 
possível, como, por exemplo, se o agente, utilizando-se de uma rede social, 
induz a vítima a suicidar-se ou a se automutilar, mas o fato não chega ao 
conhecimento da mesma. 
 
É oportuno observar que, antes do advento da Lei 13.968/2019, quando 
ainda não havia a criminalização das condutas de induzir ou instigar a 
automutilação, o crime de auxílio ao suicídio consumava-se com o 
resultado morte ou lesão corporal de natureza grave, pois, quanto ao 
resultado, tratava-se de crime material. Assim, se a vítima tentasse se 
suicidar e viesse a falecer, o participante seria punido com pena de 
reclusão de 2 a 6 anos. Se da tentativa de suicídio resultasse lesão corporal 
de natureza grave, o participante seria punido com pena de reclusão de 1 
a 3 anos. 
 
Entretanto, se da tentativa de suicídio a vítima sofresse lesão corporal de 
natureza leve ou não sofre nenhuma lesão, o participante não respondia 
por nenhum crime porque o fato era atípico. Assim, não existia tentativa 
de participação em suicídio porque o legislador anterior havia 
condicionadoa imposição de pena à produção do resultado morte ou lesão 
corporal de natureza grave. 
 
9. Figuras típicas qualificadas 
São aquelas em que a lei acrescenta alguma circunstância ao tipo básico 
com a finalidade de agravar a pena. No crime de participação em suicídio 
ou a automutilação, em estudo, existem duas figuras qualificadas, a saber: 
 
9.1 Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima 
Nos termos do § 1º, do art. 122, do Código Penal, a pena é de reclusão, de 
1 (um) a 3 (três) anos, “Se da automutilação ou da tentativa de suicídio 
 
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resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 
1º e 2º do art. 129 deste Código”. 
 
As lesões corporais de natureza grave, estão previstas nos quatro incisos 
do § 1º, do art. 129, do Código Penal, e são elas: I – incapacidade para as 
ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias; II – perigo de vida; III – 
debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV – aceleração de 
parto. 
 
As lesões corporais de natureza gravíssima, estão previstas nos cinco 
incisos do § 2º, do art. 129, do Código Penal, e são elas: I – incapacidade 
permanente para o trabalho; II – enfermidade incurável; III – perda ou 
inutilização de membro, sentido ou função; IV – deformidade permanente; 
V – aborto. 
 
Desclassificação para lesão corporal gravíssima: nos termos do § 6º, do 
art. 122, do Código Penal, se da automutilação ou da tentativa de suicídio 
que resulta lesão corporal natureza gravíssima (observa-se que não inclui 
a lesão de natureza grave) e o delito é cometido contra menor de 14 
(quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, 
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por 
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, o agente não 
responde por este crime qualificado de participação em suicídio ou a 
automutilação (que tem pena prevista de reclusão, de 1 a 3 anos) e, sim, 
pelo crime de lesão corporal gravíssima (CP, art. 129, § 2º), cuja pena é 
sensivelmente superior: reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. 
 
9.2 Se resulta morte em razão do suicídio ou da automutilação 
Nos termos do § 2º, do art. 122, do Código Penal, a pena é de reclusão, de 
2 (dois) a 6 (seis) anos, “Se o suicídio se consuma ou se da automutilação 
resulta morte”. 
 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10624670/artigo-129-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10624438/paragrafo-2-artigo-129-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
 
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Desclassificação para homicídio: nos termos do § 7º, do art. 122, 
do Código Penal, se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta 
morte e o delito é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra 
quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, 
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, o agente não 
responde por este crime qualificado de participação em suicídio ou a 
automutilação (que tem pena prevista de reclusão, de 2 a 6 anos) e, sim, 
pelo crime de homicídio (CP, art. 121), cuja pena é sensivelmente superior: 
reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. 
 
10. Causas de aumento de pena 
No crime de participação em suicídio ou a automutilação, em estudo, 
existe e a possibilidade de três aumentos de pena, aplicados distintamente 
em diversas causas de aumento, a saber: 
 
Nos termos do § 3º, do art. 122, do Código Penal, “a pena é duplicada: I – 
se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; II – se a vítima 
é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de 
resistência”. Verifica-se, então, as seguintes hipóteses: 
 
(a) Motivo egoístico – entende-se o motivo que decorre do exclusivismo 
que faz o sujeito referir tudo a si próprio, sem consideração aos interesses 
alheios. Exemplo: agente induz a vítima ao suicídio para ficar com a sua 
herança, com seu cargo, com sua esposa, para receber o seguro de vida 
etc. Guilherme de Souza Nucci define o motivo egoístico como sendo o de 
“excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida alheia, 
desde que algum benefício concreto advenha ao agente”. 
(b) Motivo torpe – é aquele baixo, ignóbil (que inspira horror do ponto de 
vista moral) e repugnante que deixa perplexa a coletividade. 
(c) Motivo fútil – é aquele insignificante, banal, sem importância, 
totalmente desproporcional em relação ao crime praticado. 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625629/artigo-121-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
 
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(d) Vítima menor – quando a lei fala de vítima menor, está se referindo 
àquela maior de 14 anos e menor de 18 anos, que ainda não atingiram a 
maioridade penal (CP, art. 27). Se a vítima for menor de 14 anos, haverá 
presunção da sua incapacidade de discernimento. 
(e) Vítima com diminuída capacidade de resistência– em razão de 
enfermidade física ou mental (vítima embriagada, sob o efeito de tóxicos, 
angustiada, deprimida, com idade avançada, com algum tipo de 
enfermidade grave etc.) 
É necessário que a capacidade de resistência da vítima esteja diminuída. 
Exemplo: agente induz ao suicídio alguém embriagado. Entretanto, se a 
vítima tiver totalmente sem capacidade de discernimento e resistência, 
estará configurado o crime de homicídio e não de participação em suicídio 
ou a automutilação qualificada. 
Nos termos do § 4º, do art. 122, do Código Penal, “A pena é aumentada até 
o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de 
rede social ou transmitida em tempo real”. Verifica-se, então, as seguintes 
hipóteses: 
 
(a) Rede de computadores – neste caso, o agente pratica a conduta típica 
por meio de um conjunto de dois ou mais computadores que usam 
determinadas regras (protocolo) em comum para compartilhar, 
especialmente, a troca de mensagens entre si, utilizando-se de uma 
conexão por meio de fio de cobre, fibra ótica, ondas de rádio e também via 
satélite. Exemplos: a internet; a intranet de uma empresa; uma rede local 
doméstica etc. 
(b) Rede social – é uma estrutura social composta por pessoas ou 
organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações, que 
compartilham valores e objetivos comuns. Uma das fundamentais 
características na definição das redes é a sua abertura, possibilitando 
relacionamentos horizontais e não hierárquicos entre os participantes. 
Exemplos: Facebook, YouTube, WhatsApp, Messenger, Instagram, Twitter, 
Snapchat, LinkedIn etc. 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637112/artigo-27-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
 
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(c) Transmitida em tempo real - é uma expressão utilizada na 
reportagem, no meio televisivo ou radiofónico para indicar que um 
programa ou evento está sendo transmitido em tempo real, 
simultaneamente enquanto ocorre. No caso do delito em estudo, o agente 
se utiliza de qualquer meio de comunicação (falado ou escrito) para 
praticar a conduta delituosa em tempo real. 
 
Nos termos do § 5º, do art. 122, do Código Penal, “Aumenta-se a pena em 
metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual”. 
Verifica-se, então, as seguintes hipóteses: 
(a) Líder ou coordenador – é o indivíduo que tem autoridade para 
comandar ou coordenar outros, ou seja, é a pessoa cujas ações e palavras 
exercem influência sobre o pensamento e comportamento de outras. 
(b) Grupo ou rede virtual – é um espaço específico na Internet que 
permite compartilhar, aos respectivos participantes, dados e informações 
sendo estas de caráter geral ou específico, das mais diversas formas 
(textos, arquivos, imagens, fotografias, vídeos etc). 
 
11. Casos especiais 
(a) Automutilação – tambémconhecida como autolesão, não é punida 
pelas mesmas razões de política criminal em relação ao suicídio, ou seja, 
não comete crime o sujeito que ofende a própria integridade corporal. 
Entretanto, a conduta de se auto lesionar, dependendo do propósito do 
agente, pode ser meio de execução utilizado pelo mesmo para praticar 
outros crimes. 
Assim, se o agente lesa o próprio corpo, ou agrava as consequências da 
lesão existente, com a finalidade de receber indenização ou valor de 
seguro, responde por estelionato (CP, art. 171, § 2º, V). Se o agente cria 
ou simula incapacidade física que o inabilite para o serviço militar, 
responde pelo crime de criação ou simulação de incapacidade física, 
previsto no art. 184, do Código Penal Militar (Decreto-lei nº 1.001/1969). 
 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617301/artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617176/paragrafo-2-artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10616971/inciso-v-do-paragrafo-2-do-artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91699/codigo-penal-militar-decreto-lei-1001-69
 
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(b) Greve de fome – especialmente dentro do sistema prisional, o médico 
tem o dever de zelar pela vida do grevista de fome, ou seja, ele está na 
posição de garantidor, onde sua omissão o fará responder pela morte do 
grevista (CP, art.13,§ 2º). 
Assim, chegará o momento em que a intervenção médica para ministrar 
alimentação ou medicamento se torna inevitável para que o grevista não 
venha morrer ou sofrer lesões irreversíveis. Neste caso, a coação exercida 
pelo médico para impedir o suicídio do grevista não caracteriza o crime de 
constrangimento ilegal (CP, art. 146, § 3º, I). 
Situação análoga ocorre com as testemunhas de Jeová que, por motivos 
religiosos, são contra as transfusões de sangue. Assim, a transfusão 
determinada pelo médico, quando necessária para salvar a vida do 
paciente, também não caracterizará o crime de constrangimento ilegal (CP, 
art. 146, § 3º, II). 
(c) Pacto de morte – também chamado de suicídio a dois, ocorre quando 
duas pessoas combinam, por qualquer razão, o duplo suicídio e, para 
tanto, ficam em um cômodo da casa hermeticamente fechado, com o gás 
de cozinha aberto. Entretanto, se um ou ambos sobreviverem, teremos as 
seguintes situações: 
 
Se um sobrevive e foi ele quem abriu o gás, responde pelo crime de 
homicídio (CP, art.121), pois realizou o ato executório de matar; 
Se um sobrevive e não foi ele quem abriu o gás, responde pelo crime de 
participação em suicídio ou a automutilação (CP, art. 122); 
 
Se os dois sobrevivem, havendo lesão de natureza grave: quem abriu o gás 
responde por homicídio tentado (CP, art. 121, caput c/c art. 14, II), e quem 
não abriu responde pelo crime de participação em suicídio ou a 
automutilação (CP, art. 122); 
Se os dois sobrevivem, e não há lesão de natureza grave: quem abriu o gás 
responde por homicídio tentado (CP, art. 121, caput c/c art. 14, II), e quem 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10638340/artigo-13-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10638280/paragrafo-2-artigo-13-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10621886/artigo-146-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10621757/paragrafo-3-artigo-146-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10621725/inciso-i-do-paragrafo-3-do-artigo-146-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10621886/artigo-146-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10621757/paragrafo-3-artigo-146-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10621682/inciso-ii-do-paragrafo-3-do-artigo-146-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625629/artigo-121-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
 
15 
não abriu pelo crime de participação em suicídio ou a automutilação (CP, 
art. 122); 
Se os dois sobrevivem e ambos abriram a torneira do gás: ambos 
respondem por homicídio tentado (CP, art. 121, caput c/c art. 14, II). 
 
(d) Duelo americano ou roleta russa – no duelo americano existem duas 
armas e só uma delas está carregada e os agentes escolhem uma delas; na 
roleta russa, a única arma tem um só projétil, devendo ser disparada pelos 
agentes cada um em sua vez. Nestes casos, o sobrevivente responde pelo 
crime de participação em suicídio ou a automutilação (CP, art. 122). 
 
(e) Erro na execução ou aberratio ictus – ocorre quando o agente 
pretende atingir determinada pessoa, efetua o golpe, mas, por má pontaria 
ou qualquer outro motivo, acaba atingindo pessoa diversa da que 
pretendia. Assim, se um suicida dispara uma arma sobre si mesmo e acaba 
errando, atingindo e matando uma terceira pessoa, responde pelo crime 
de homicídio culposo. 
 
12. Pena, competência e ação penal 
As penas cominadas ao crime de induzimento, instigação ou auxílio a 
suicídio ou a automutilação (CP, art. 122) são as seguintes: (a) Na figura 
simples (caput), a pena é de reclusão de 6 meses a 2 anos; (b) Na figura 
qualificada pela lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (§ 1º), 
a pena é de reclusão de 1 a 3 anos; (c) Na figura qualificada pelo 
resultado morte (§ 2º), a pena é de reclusão de 2 a 6 anos; (d) Causas 
de aumento de pena (§ 3º), a pena é duplicada; (e) Causas de aumento 
de pena (§ 4º), aumento até o dobro; (f) Causas de aumento de pena (§ 
5º), aumento de metade. 
 
O bem jurídico protegido é a vida (no caso de suicídio) e a integridade 
corporal (no caso da automutilação). Desta forma, se a conduta do agente 
consiste em induzir, instigar ou prestar auxílio material ao suicídio, a 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
 
16 
competência é do Tribunal do Júri que julga os crimes dolosos contra a 
vida (homicídio, induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, 
infanticídio e aborto), na forma tentada ou consumada (CF, art. 5º, 
XXXVIII, alínea d, c/c CPP, art. 74, § 1º). O Júri é também competente 
para julgar os crimes conexos, mesmo quando o réu tenha sido absolvido 
da imputação principal. E, no caso de concurso entre a competência do 
Júri e de outro órgão de jurisdição comum, prevalecerá a competência do 
Júri (CPP, art. 78, I). 
 
A ação penal é pública incondicionada, cujo oferecimento da denúncia 
para iniciar a ação penal não depende de qualquer condição de 
procedibilidade.O ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO PENAL. 
 
Conforme Capez (2016, páginas 122 e 124), o elemento subjetivo, em 
sentido amplo, compreende a vontade efetiva do agente de produzir o 
resultado naturalístico, também conhecido como dolo. Seguindo esta 
linha, o autor assinala: 
 
O elemento subjetivo do delito de participação em suicídio é somente o 
dolo, direto ou eventual, consistente na vontade livre e consciente de 
concorrer para que a vítima se suicide (CAPEZ, 2016, p. 122). 
Faz-se necessário que entre a ação do dolosa do agente (participação moral 
ou material) e o suicídio haja nexo de causalidade. A participação há de 
revelar-se efetiva, como causa do atentado levado a efeito pela própria 
vítima (CAPEZ, 2016, p. 124). 
 
O artigo 122 do Código Penal prevê que o agente deve, para a configuração 
do delito, ter a vontade consciente de causar a morte da vítima ou, pelo 
menos, de ajudar a vítima a consumar seu intento suicida (BRASIL, 1940). 
 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91622/codigo-processo-penal-decreto-lei-3689-41
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10672958/artigo-78-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10672904/inciso-i-do-artigo-78-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
 
17 
Quando o agente auxilia na produção da morte da vítima, por exemplo, ao 
fornecer um objeto com o qual sabe que a vítima irá se ferir, o agente deve 
ter a intenção e a consciência do motivo pelo qual a vítima tomou posse 
do objeto, não bastando a desconfiança (CAPEZ, 2016, p. 124). 
 
Seguindo, quanto à modalidade da instigação, o acusado deve ter a 
intenção de, ao proferir palavras as quais possam trazer à vítima o 
sentimento de tristeza (ou qualquer que seja o sentimento o qual leva a 
vítima a tirar sua vida), esta inevitavelmente fomentando os pensamentos 
suicidas da vítima, com o intento de levar-lhe a se matar (NUCCI, 2018, p. 
81). 
 
Por fim, a imputação no sentido do cometimento do verbo “induzir”, traz à 
baila a necessidade inarredável de que seja comprovada a intenção de criar 
a ideação suicida na consciência da vítima, ao passo em que profere 
palavras ou age de forma a fazer com que a vítima comece a pensar que 
sua vida não mais detém valor, iniciando, assim, todo o pensamento 
suicida (CAPEZ, 2016, p. 123). 
 
Em qualquer dos verbos contidos no tipo penal, em suma, o agente tem o 
dolo de produzir a morte da vítima, independentemente do meio do qual 
se utiliza para “ajudar” o ofendido na empreitada mortal (CAPEZ, 2016, p. 
123). 
 
Aliás, é nesse sentido que assinalou Nucci: 
Registre-se o alerta de Bento de Faria no sentido de que qualquer forma 
de convencimento deve ser real e séria, mas são indiferentes os meios de 
persuasão, desde que não envolvam qualquer espécie de coação ou 
expressem prática suscetível de excluir a consciência ou a liberdade do 
sujeito passivo (NUCCI, 2018, p. 84; e NUCCI, 2019, s/p). 
 
 
18 
Interessa se perceber que Nucci, no trecho acima citado, refere que não 
pode ser constatado o afastamento da livre vontade do sujeito passivo, ou 
seja, a vítima ainda deve ter a vontade consciente de tirar sua própria vida, 
não cabendo ao agente a tarefa de forçar-lhe a nada, sob pena de incorrer-
se em outro tipo penal que não o previsto no artigo 122 (NUCCI, 2018, p. 
84). 
 
MEIOS DE PROVA QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO. 
Feita a definição acerca do elemento subjetivo, se faz necessário 
estabelecer qual a natureza das provas a serem produzidas no processo 
penal com o intuito de penalizar os acusados pela prática do crime em 
comento (NUCCI, 2018, p. 83). 
 
Conforme já citado, uma das formas para se chegar à comprovação acima 
de dúvida razoável seria a realização de diversas avaliações psicológicas, 
tanto na vítima (se sobrevivente, ou de forma indireta), quanto no acusado. 
O intuito dessas avaliações seria o de estabelecer o “peso” das ações do 
agente para que se chegasse à morte da vítima (NUCCI, 2018, p. 83). 
A avaliação traria ao processo (e aos jurados, em último momento) uma 
espécie de “panorama” da psique de acusado e vítima, mostrando 
tecnicamente, com a maior precisão possível, a forma como funcionava o 
raciocínio da vítima e, ainda, do acusado, mostrando efetivamente o 
quanto o acusado poderia ter “impulsionado” a vítima a cometer suicídio 
(inclusive sendo possível delimitar, durante a avaliação, se houve a 
presença do induzimento ou da instigação ao suicídio) (WERLANG, 2012. 
s/p). 
 
Quanto a avaliação psicológica da vítima do suicídio, de acordo com 
Werlang: 
Então, a autópsia psicológica é uma estratégia utilizada para delinear as 
características psicológicas de vítimas de morte violenta, sendo utilizada 
durante o curso de uma investigação de morte, para auxiliar a determinar 
 
19 
o modo de morte de um indivíduo, especialmente em casos duvidosos. Com 
o passar do tempo, este recurso que muito auxiliou a médicos legistas e 
profissionais da área do direito penal e cível, passou, também, a contribuir 
na corroboração e/ou identificação de novos fatores de risco e correlatos 
sociodemográficos do suicídio (WERLANG, 2012, s/p). 
 
A comunidade de profissionais da psicologia e da psiquiatria vem, há 
tempos, estudando o fenômeno do suicídio, mas, ainda conforme Werlang, 
encontra ainda diversos obstáculos no estudo, principalmente pelo 
estigma atrelado ao tema (WERLANG, 2012, s/p). 
 
De qualquer forma, é de suma importância para a investigação de cada 
caso que seja estabelecido um perfil psicológico da vítima para, daí, se 
passar à análise do impacto causado pelo agressor (NUCCI, 2018, p. 84). 
A análise do perfil psicológico do acusado já é prática conhecida no Brasil, 
no entanto, é mais comum em casos de instauração de incidente de 
insanidade mental, no intento de verificar a imputabilidade (ou não) dos 
acusados. Justamente devido ao caráter corriqueiro desse tipo de estudo 
psicológico é que não seria de grande ônus aplicá-lo, também, aos 
acusados da prática do delito previsto no art. 122 do Código 
Penal (NUCCI, 2018, p. 84). 
 
Há ainda que se frisar que as avaliações psicológicas já são velhas 
conhecidas dos apenados brasileiros pois, conforme preceitua a Lei de 
Execuções Penais, também são sujeitados os apenados a avaliação 
psicossocial. Nesse caso, os apenados são submetidos à entrevista 
psicológica para que seja mais fácil avaliar suas condições para 
recebimento de benesses como a progressão de regime carcerário, saídas 
temporárias e livramento condicional (BRASIL, 1984, s/p). 
 
Conforme citado, a Lei de Execuções preceitua, ainda que de forma tácita 
(e há discussão acerca da necessidade das avaliações psicológicas para 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109222/lei-de-execucao-penal-lei-7210-84
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109222/lei-de-execucao-penal-lei-7210-84
 
20 
fins de progressão de regime), a confecção de laudos psicossociais, os 
quais relatam o comportamento carcerário dos apenados, assim ditando a 
LEP: 
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma 
progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser 
determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto 
da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, 
comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas 
que vedam a progressão. 
 
§ 1o A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do 
Ministério Públicoe do defensor. 
§ 2o Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento 
condicional, indulto e comutacao de penas, respeitados os prazos 
previstos nas normas vigentes (BRASIL, 1984, s/p, GRIFEI). 
O fato de que já se utiliza da avaliação psicológica também reforça o 
preparo já existente no sistema judicial para absorver a demanda oriunda 
da aplicação do método avaliativo nos acusados de participação em 
suicídios (BRASIL, 1984, s/p). 
Sobre a avaliação psicológica, propriamente dita, a Cartilha de Avaliação 
Psicológica, do Conselho Federal de Psicologia preceitua: 
 
A avaliação psicológica é um processo técnico e científico realizado com 
pessoas ou grupos de pessoas que, de acordo com cada área do 
conhecimento, requer metodologias específicas. Ela é dinâmica, e se 
constitui em fonte de informações de caráter explicativo sobre os 
fenômenos psicológicos, com a finalidade de subsidiar os trabalhos nos 
diferentes campos de atuação do psicólogo, dentre eles, saúde, educação, 
trabalho e outros setores em que ela se fizer necessária. Trata-se de um 
estudo que requer um planejamento prévio e cuidadoso, de acordo com a 
demanda e os fins aos quais a avaliação se destina (CONSELHO FEDERAL 
DE PSICOLOGIA, 2007, s/p). 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109222/lei-de-execucao-penal-lei-7210-84
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95100/lei-do-indulto-decreto-5993-06
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/820769/lei-do-indulto-natalino-decreto-7046-09
 
21 
 
Voltando o foco à questão da prova material, o Código de Processo Penal, 
em seus artigos 155 e seguintes, bem como, em analogia, o Código de 
Processo Civil, em seus artigos 369 e seguintes, preceituam que serão 
admitidos diversos tipos de provas, desde que oriundas de meios de 
obtenção legais e não provenientes de outra prova considerada ilegal 
(BRASIL, 1941, s/p). 
 
A aplicação analógica do Código de Processo Civil, vale lembrar, encontra 
resguardo no art. 3º do Código de Processo Penal, quando o dispositivo 
afirma que “a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e 
aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de 
direito” (BRASIL, 1941, s/p). 
 
Conforme o Código de Processo Civil de 2015, aqui em uso analógico, no 
Processo Penal: 
Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem 
como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, 
para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e 
influir eficazmente na convicção do juiz. 
Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar 
as provas necessárias ao julgamento do mérito. 
 
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as 
diligências inúteis ou meramente protelatórias. 
Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente 
do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da 
formação de seu convencimento. 
Art. 372. O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro 
processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o 
contraditório (BRASIL, 2015, s/p). 
 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91622/codigo-processo-penal-decreto-lei-3689-41
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10667014/artigo-155-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28893070/artigo-369-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10679062/artigo-3-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91622/codigo-processo-penal-decreto-lei-3689-41
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
 
22 
Assim, se utilizando de provas materiais como gravações em que o acusado 
incita a vítima a tirar sua vida ou lhe faz sentir como se precisasse o fazer, 
vídeos demonstrando o acusado, saindo de um supermercado com uma 
corda, a qual foi utilizada para que a vítima se enforcasse, por exemplo, 
seria possível estabelecer e, mais importante, provar que o acusado usou 
de determinado meio para, com animus necandi (intenção de matar), fazer 
com que a vítima tirasse sua vida (BRASIL, 1940, s/p). 
O meio material é o mais simples para a obtenção de uma condenação no 
processo penal, no entanto, no caso das investigações ligadas a um 
suicídio, seria necessária, de igual forma, mesmo que de maneira indireta, 
uma avaliação por parte do Conselho de Sentença, no sentido de atribuir 
às provas seu devido valor (BRASIL, 1941, s/p). 
As provas materiais, aliás, constituem o meio mais utilizado pela acusação 
com a finalidade de imputar ao acusado sua devida parcela de culpa, 
sendo inclusive os elementos materiais de prova usados de uma maneira 
quase que subjetiva no âmbito do julgamento do caso particular (BRASIL, 
1941, s/p). 
Sobre o tema, vale a explicação de que o julgador tem o condão – e até a 
necessidade – de avaliar o “peso” dos elementos de convencimento usados 
pelo acusado no intuito de induzir ou instigar a vítima a tirar sua vida. 
Esta incumbência é uma extensão do livre convencimento motivado, pelo 
qual o julgador deve avaliar o peso das provas a ele apresentadas no 
decorrer da instrução julgando usando-se da prova para fundamentar sua 
decisão (BRASIL, 2015, s/p). 
Vale ainda destacar que dentre as provas mais comuns e, ao mesmo 
tempo, de maior potencial de eficácia, estão as oitivas das testemunhas 
ligadas à vítima e ao acusado. Estas seriam as pessoas as quais, sem 
dúvida, teriam a maior noção do que ocorria no convívio social das partes 
no processo, podendo afirmar, sem risco de viés para qualquer dos “lados”, 
como a vítima vinha se comportando, como o acusado interagia com o 
ofendido e, talvez mais importante, como a própria sociedade afetava o 
âmbito psicológico da vítima (WERLANG, 2012, s/p). 
 
23 
Novamente seria o intuito da prova o de demonstrar as características da 
rotina diária da vítima e do agressor, delimitando todos os elementos os 
quais podem ter exercido alguma influência na psique da vítima até o 
momento de sua morte (NUCCI, 2018, p. 84). 
Devem ser sopesadas as ações do acusado com o âmbito do convício social 
da vítima, nas interações que com ela tinha, a fim de se chegar o mais 
próximo possível da verdade real dos fatos, visto que a vítima não se faz 
mais presente para elucidar quais os motivos que a levaram a cometer o 
suicídio (NUCCI, 2016, p. 84). 
 
ANÁLISE DO ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL E DOUTRINÁRIO 
ACERCA DA COMPROVAÇÃO DA EXISTÊNCIA DO NÚCLEO DO TIPO 
PENAL. 
Adentrando a discussão acerca do entendimento jurisprudencial quanto 
ao assunto abordado no presente artigo, primeiramente, é trazido o 
julgamento do Recurso em Sentido Estrito nº 00081814220068190206 
RJ 0008181-42.2006.8.19.0206, cujo acórdão foi proferido pelo Tribunal 
de Justiça do Rio de Janeiro, no ano de 2015. 
 
No acórdão, a oitava câmara criminal entendeu que demonstradas autoria 
e materialidade no sentido de que a então acusada teria, através de 
correspondências enviadas ao ex-companheiro, lhe instigado a tirar sua 
própria vida. Inclusive, ao ser lida a decisão proferida pelos 
desembargadores, é possível se perceber que a acusada chegou a descrever 
para a vítima como esta poderia se utilizar de um lençol para se enforcar 
como, de fato, o fez, indo a óbito algum tempo depois da tentativa de 
suicídio em consequência de complicações causadas justamente pelos 
ferimentos (RIO DE JANEIRO, 2015, s/p). 
 
Ainda no caso acima, foi suscitado pelo Ministério Público que a vítima 
seria incapaz, em função de doença mental. No entanto, de acordo com os 
https://tj-rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/205915914/recurso-em-sentido-estrito-rse-81814220068190206-rj-0008181-4220068190206https://tj-rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/205915914/recurso-em-sentido-estrito-rse-81814220068190206-rj-0008181-4220068190206
https://tj-rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/205915914/recurso-em-sentido-estrito-rse-81814220068190206-rj-0008181-4220068190206
 
24 
desembargadores, era ônus da acusação comprovar que a vítima, de fato, 
sofria de transtornos mentais, o que não fez (RIO DE JANEIRO, 2015, s/p). 
A falta de provas acerca dos supostos transtornos mentais enfrentados 
pela vítima no caso julgado pelo TJ-RJ seria sanada se, por exemplo, o 
Ministério Público tivesse pedido pela realização de avaliação psicológica 
indireta na vítima. O laudo seria utilizado como subsídio, repisa-se, para 
lastrear as alegações ministeriais, evitando incertezas (RIO DE JANEIRO, 
2015, s/p). 
 
No Supremo Tribunal Federal, em julgamento realizado no ano de 1995, o 
Ministro Marco Aurélio Melo manifestou-se na relatoria do HC nº 
72.049/95, no sentido de definir que não existe a modalidade de 
“provocação indireta ao suicídio”, em resposta a parte do recurso em que 
foi levantada a possibilidade de que existisse uma espécie de modalidade 
culposa para o delito previsto no art. 22 do Código Penal (SUPREMO 
TRIBUNAL FEDERAL, 1995, s/p). 
 
O precedente é de suma importância, pois, ao delimitar a possibilidade de 
culpabilização do agente, o STF fez com que não fosse possível, por 
exemplo, punir-se uma pessoa que inadvertidamente causa as ideações 
suicidas na pessoa da vítima, ausente o dolo por parte do agente, que 
poderia inclusive nem saber quem era a vítima. (SUPREMO TRIBUNAL 
FEDERAL, 1995, s/p). 
Destaca-se também o acórdão proferido pela Segunda Câmara Criminal do 
Tribunal de Justiça do Espírito Santo no bojo da apelação criminal 
nº 00017897320098080049, publicado no ano de 2013. A decisão, de 
surpreendente simplicidade, deixa nítida a necessidade de comprovação 
do elemento subjetivo (dolo), indo em conformidade com a decisão 
proferida pelo STF, no sentido de afastar a participação indireta no crime 
do artigo 122 (ESPÍRITO SANTO, 2013, s/p). 
 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://tj-es.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/385485414/apelacao-apl-17897320098080049
 
25 
No julgado do estado do Espírito Santo, o acusado teria vendido à vítima 
uma arma de fogo, sem saber que, na verdade, a vítima pretendia usar o 
armamento bélico para ceifar sua própria vida. Surge, dessa forma, a 
discussão pacificada pelo TJ-ES pois, de acordo com a acusação naquele 
caso, o vendedor da arma (acusado), deveria prever que o ofendido iria 
praticar o suicídio, incorrendo (de acordo com a acusação) na ficção da 
modalidade tentada do artigo 122 do Código Penal (ESPÍRITO SANTO, 
2013, s/p). 
 
O entendimento jurisprudencial tem sido bastante fiel ao texto do 
próprio Código Penal, evitando, de uma forma geral, a “discricionariedade” 
dos julgadores em interpretar o dispositivo legal, sendo que este não tem 
sido objeto de recorrentes discussões e novas interpretações ao longo dos 
anos (NUCCI, 2018, p. 84). 
 
Assim, foi possível perceber que, em função do parco conjunto de julgados 
pelos tribunais do país, não foram acrescentadas inovações no âmbito da 
investigação e julgamento de denúncias referentes ao delito previsto no 
artigo 122 do Código Penal, sendo admitidas, todas as provas aptas a 
delinear entendimento acerca da culpa do acusado, desde que obtidas de 
forma legal (CAPEZ, 2016, p. 123). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS. 
O delito de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio e, mais 
especificamente, os meios de prova utilizados no âmbito judicial e 
inquisitorial, a fim de buscar a condenação dos agentes que praticam os 
verbos previstos no tipo penal foram o ponto de partida para a presente 
pesquisa, conforme explanado. 
O tema do suicídio – e, por consequência, do induzimento, instigação ou 
auxílio ao suicídio – tem sido noticiado com maior frequência nos últimos 
anos, especialmente com o lançamento de seriados como 13 reasons why e 
da ocorrência de “jogos” como o Baleia Azul. A dificuldade em se falar 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
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sobre o assunto do suicídio, principalmente sobre o que levou as vítimas 
a tirarem suas vidas é, também, o motivo que gera interesse no assunto, 
justamente por se tratar de um assunto tão pouco abordado. 
Delimitando-se o tema do artigo, se chegou à necessidade de estabelecer 
como o judiciário procedia para provar, acima de dúvida razoável, que uma 
pessoa qualquer teria a capacidade de influenciar de maneira tão extensa 
na psique de outra pessoa (como ocorre nas modalidades de induzimento 
e instigação). O objetivo era entender quais eram os argumentos, em 
especial da acusação, utilizados como lastro para que seja requerida a 
condenação do ofensor em casos dessa natureza. 
Não só era pretendido o entendimento acerca de quais os argumentos 
utilizados, mas, principalmente, quais são efetivamente recebidos pelos 
tribunais brasileiros, visto que é sabido que nem todas as teses 
acusatórias são acolhidas, por mais que pareçam convincentes. 
Então, foi dessa forma que se procedeu para a formulação do problema: 
apontando para a necessidade de entender quais eram os meios de prova 
utilizados para a consecução do tipo penal, se iniciou a pesquisa pelos 
julgados nas cortes do país e, em uma abordagem talvez inversa ao que se 
esperasse, depois, prosseguiu-se à pesquisa doutrinária, em busca das 
definições necessárias para a explicação do tipo penal propriamente dito 
e, após, dos meios de prova empregados nos casos levantados durante a 
pesquisa jurisprudencial. 
As hipóteses foram justamente os meios de provas mais encontrados 
durante as pesquisas realizadas. Dessa forma, foi possível se constatar 
que as avaliações psicológicas, realizadas na vítima e no acusado, a prova 
material e a prova testemunhal foram usadas inúmeras vezes como 
subsídios para o alicerce decisório. 
Começando pelo método mais “comum” de prova, a prova material foi 
encontrada com certa frequência nos julgados levantados durante a 
pesquisa, foram encontradas menções de cartas e e-mails, 
correspondências as quais contavam a história de pressão psicológica 
sustentada pelas vítimas do crime do artigo 122 do Código Penal. 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
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O fato de terem sido observados casos em que a prova material foi a 
principal – senão a única – forma de buscar-se a condenação é de grande 
valia, tendo em vista que afasta definitivamente a noção de que as provas 
materiais seriam de difícil ou rara ocorrência. O fato é que a prova 
material, apesar de sua natureza, foi utilizada como se fosse subjetiva, ou 
seja, os julgadores, nos casos analisados, invariavelmente deveriam 
analisar o grau de influência das provas apresentadas no psicológico da 
pessoa vitimada pelo delito. 
Continuando, chegou-se à prova testemunhal, no ponto não houve 
grandes surpresas, visto que conforme esperado as testemunhas eram, na 
maior parte dos julgados analisados durante a pesquisa, pessoas ligadas 
à vítima, as quais presenciavam as agressões verbais e físicas feitas pelos 
agressores. 
Foram vistos casos em que os vizinhos das vítimas afirmavam que os 
agressores,seus genitores não raras vezes, criavam um ambiente no qual 
a vítima sentia como se não houvesse saída senão a do suicídio. Este ponto 
da pesquisa também foi de grande valia, pois foi possível se verificar que 
os agressores poderiam ser inclusive pessoas encarregadas da proteção 
das vítimas. 
Enfim, adentrando o meio de prova no qual o presente trabalho mais se 
resguardou, o laudo de uma avaliação psicológica extensa realizada com a 
vítima e com o acusado, bem como com todas as pessoas com quem ambos 
conviviam antes dos fatos. Na discussão do assunto, foi possível perceber 
que, em verdade, o meio de prova já é empregado por diversas áreas do 
Direito, inclusive no âmbito processual penal, mais especificamente na 
execução de penas privativas de liberdade. 
Aliás, manteve-se após a pesquisa a conclusão de que a avaliação serviria 
como um meio de prova convincente o suficiente para sanar a 
subjetividade da qual é dotado o crime previsto no artigo 122 do Código 
Penal. 
Entretanto, para que fosse possível ser entendido o método usado pelos 
avaliadores em casos como esse, foi necessário verificar-se como e o que é 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40
 
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a avaliação psicológica, realizando-se pesquisa inclusive em artigos e 
cartilhas do Conselho Nacional de Psicologia do Brasil, a fim de que se 
pudesse entender como seria procedida a avaliação e, posteriormente a 
lavratura do laudo do exame psicossocial realizado. 
Delineados os meios de prova (hipóteses de resposta ao problema 
formulado pela delimitação do tema do artigo), procedeu-se ao objetivo 
geral do trabalho, o qual era justamente o de entender aqueles meios de 
prova e constatar qual seria sua eficácia no processo penal, no sentido de 
condenar ou absolver eventuais acusados. 
Assim, foi possível perceber no decorrer da pesquisa que os tribunais 
brasileiros ainda não utilizam com grande frequência a prova pericial nos 
casos de instigação, induzimento ou auxílio ao suicídio, dependendo mais 
da prova material do que de qualquer outro elemento. No entanto, foi 
igualmente possível se perceber que os Tribunais já lançam mão da prova 
pericial de natureza psicológica para a análise de diversos outros tipos de 
processos, não necessariamente criminais, inclusive. 
Aliás, também foi possível perceber a escassez de processados pelo delito, 
encontrando-se, por exemplo, no sítio do Supremo Tribunal Federal, 
apenas UM julgado, do ano de 1995, o qual versava sobre o crime em 
debate. Sendo analisado o julgado, no entanto, foi possível se extrair o 
entendimento da Corte sobre o crime previsto no art. 122 do Código 
Penal e, mais ainda, sobre como são analisadas as provas pelo STF nos 
casos dessa natureza, sendo possível a leitura de votos dos ministros na 
sua integralidade, trazendo estes as explicações utilizadas pelos 
julgadores no julgamento da causa. 
Nos Tribunais de Justiça foram encontradas mais ocorrências do crime, 
especialmente na modalidade de instigação, na qual o agente apenas 
“alimenta” a ideia já preexistente na vítima, de se matar. 
Naqueles julgados analisados, novamente, em conformidade com os 
demais estados analisados e com o próprio Supremo Tribunal Federal, 
constatou-se que a prova material, seguida da prova testemunhal, como 
de praxe, é a o meio de prova mais “confiável” de acordo com o 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625219/artigo-122-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
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entendimento jurisprudencial, prática que provavelmente se deva ao 
costume do judiciário de imputar pouco valor às avaliações psicológicas 
no âmbito do processo penal, salvo em casos nos quais esta é exigida. 
No entanto, foi possível se extrair dos diversos julgados analisados o fato 
comum de que, em todos, os julgadores tentavam entender qual era o 
estado de espírito da vítima no momento de sua morte e, mais ainda, quais 
foram os motivos que a levaram a tirar sua própria vida, adentrando 
claramente no cerne da psicologia, mesmo que, talvez, sem que 
percebessem. 
Em suma, a pesquisa realizada trouxe constatações, na maioria das vezes, 
surpreendentes, ao passo em que as pré concepções advindas da fase de 
projeto foram em grande parte derruídas, aqui vindo o destaque da 
utilização da prova material, a qual era tida como de difícil obtenção e, na 
verdade, é a modalidade mais comum utilizada pela acusação para 
alicerçar seus pedidos em face dos acusados. 
Porém, também de grande benefício foi constatar que, apesar de não 
utilizada diretamente como forma primária de obtenção da verdade real 
dos fatos nos processos relativos ao crime de induzimento, instigação ou 
auxílio ao suicídio, a avaliação psicológica da vítima, do acusado e das 
pessoas a elas ligadas é feita, mesmo que de forma indireta e “não oficial” 
pelos julgadores, ao passo em que se utilizam não raramente da prova 
material para tecer sobre o contexto de vida dos envolvidos nos processos. 
 
	Introdução
	Conduta simples e pena
	Qualificadoras
	Causas de aumento de pena
	Atenção para a vítima
	Crime hediondo

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