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CRIMINOLOGIA
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Nobre combatente, hoje daremos mais um importante passo rumo à sua aprovação.
Abordaremos criminologia de maneira direta, sem abrir mão dos aprofundamentos
necessários. No final de cada aula teremos exercícios para a fixação do conteúdo.
O nosso edital trouxe a seguinte redação:
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA
1. O crime como fato social. 2. Instituições sociais relacionadas com o crime: as Polícias, o Poder
Judiciário, o Ministério Público, os sistemas penitenciários etc. 3. A extensão da criminalidade no
mundo e no Brasil. 4. O crime como fenômeno de massa: narcotráfico, terrorismo e crime
organizado. 5. O crime como fenômeno isolado: estudo do homicídio. 6. Classificação de tipos
criminosos: criminoso nato; criminoso ocasional; criminoso habitual ou profissional; criminoso
passional; criminoso alienado; criminoso menor (delinquência juvenil); a mulher criminosa. 7. As
atividades repressivas, preventivas e educacionais para diminuir os índices de criminalidade.
Não se preocupe!!! Cada tema será abordado no nosso material de maneira
satisfatória para que você consiga gabaritar criminologia e se tornar um POLICIAL MILITAR
DO ESTADO DO CEARÁ.
Dito isto, vamos à luta!
➢ DIFERENÇAS ENTRE CRIMINOLOGIA, POLÍTICA CRIMINAL E DIREITO PENAL.
As ciências supracitadas, compõe o grupo das chamadas “ciências criminais ou ciências
penais”. Vale ressaltar que cada uma delas é autônoma e independente, apesar de
compartilharem informações entre si. Veremos agora as principais características de cada uma
delas.
O DIREITO PENAL é uma ciência normativa, ou jurídico-normativa, que se ocupa em
elaborar a norma. É a ciência que vai elencar os fatos humanos tidos como indesejáveis por
determinada sociedade e, para inibir a sua ocorrência, vai rotula-los como infração penal
estabelecendo uma punição para quem os praticar. Utiliza-se do método dedutivo-sistemático.
É a ciência do DEVER SER, pois tem como missão precípua, regular o convívio social e
estabelecer um modelo ideal de conduta. Ocupa-se do crime enquanto norma.
A CRIMINOLOGIA trata-se de uma ciência empírica que estuda o crime, o criminoso, a
vítima e o comportamento da sociedade. Analisa o crime enquanto fato, é ciência do SER, que,
observando as características dos casos concretos busca realizar um diagnóstico da realidade e
das causas da criminalidade. Busca explicar a etiologia criminal, criminogênese (origem do
crime).
A POLÍTICA CRIMINAL, volta seus olhos ao estudo dos meios de prevenção e repressão
dos delitos, ou seja, busca estabelecer, apresentar e aplicar estratégias políticas e meios de
controle da criminalidade na sociedade. Observa o fenômeno criminal enquanto valor. Consiste,
Noções Introdutórias
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portanto, na organização de estratégias, métodos e táticas voltadas ao controle social da
criminalidade, com o intuito de propor melhorias na legislação penal atual e prevenir condutas
delituosas. Além disso, trata-se de uma ciência que atua como elo entre a Criminologia e o
Direito Penal.".
• A criminologia analisa os casos concretos, através do empirismo, e esses resultados servem
de orientação à política criminal;
• A política criminal vai elaborar mecanismos e estratégias para a redução e prevenção do
crime propondo soluções que serão analisadas e servirão de base para a atuação do direito
penal;
• O direito penal vai obeservar a eventual necessidade de criação de causa de
aumento/diminuição, atenuante/agravante, qualificadora/privilegiadora, ou mesmo a
criação de crimes (ou revogação), como medidas capazes de reduzir comportamentos
desviados e antissociais;
• Esses comportamentos sociais vão sofrer alterações que serão observadas pela
criminologia.
Percebeu como o ciclo se repete? É assim que acontece nas chamadas CIÊNCIAS CRIMINAIS.
Vale ressaltar que cada ciência analisada acima é AUTÔNOMA e INDEPENDENTE, ou seja,
não podem ser encaradas como ramo, sub-ramo, extensão, ramificação ou “braço” umas das
outras. Não existe uma relação de dependência pois uma possui um objeto de estudo próprio e
um método para a análise desse objeto, contudo, elas se complementam de modo que uma
auxilia a outra.
CRIMINOLOGIA
POLÍTICA
CRIMINAL
DIREITO PENAL
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➢ CONCEITO DE CRIMINOLOGIA
Podemos afirmar que a criminologia é concebida como uma ciência autônoma, de
natureza empírica e caráter interdisciplinar, dedicada à análise do crime, do infrator, da vítima e
dos mecanismos de controle social, utilizando métodos oriundos das ciências biológicas e
sociais. Seu objetivo central é compreender a criminalidade como um fenômeno social, visando
ao seu controle e à sua prevenção.
Atenção a essas características. Elas são muito cobradas em prova.
• Ciência Autônoma: A criminologia é definida como ciência autônoma porque possui
função, métodos e objeto próprios.
• Ciência Empírica: O empirismo consiste na investigação de situações concretas a partir da
observação direta. Refere-se ao saber adquirido pela experiência, fundamentado na
realidade externa e perceptível, sendo assimilado por meio dos sentidos
• Ciência Interdisciplinar: Ainda que se configure como uma ciência autônoma, a
Criminologia não atua de forma isolada. Ao contrário, ela se vale de aportes teóricos e
metodológicos provenientes de diversas outras disciplinas, como a Sociologia, a Biologia, a
Psicologia e a Medicina Legal, reconhecendo a complexidade do fenômeno criminal e a
necessidade de uma abordagem interdisciplinar para sua compreensão, análise e
enfrentamento eficaz.
Feitas as considerações acerca do conceito de criminologia, é de extrema importância,
para fins de prova, destacar o que a criminologia não é. Muitas questões de concurso buscam
confundir o candidato dando a criminologia características que não são suas.
NÃO É CIÊNCIA DO DEVER SER, NÃO É TEORÉTICA, NÃO É NORMATIVA, NÃO É JURÍDICA,
NÃO É DOGMÁTICA, NÃO É AXIOLÓGICA.
Ademais, a criminologia é reconhecida como uma ciência autônoma, uma vez que dispõe
de funções específicas, métodos próprios de investigação e um objeto de estudo distinto.
➢ MÉTODOS DA CRIMINOLOGIA
Como já citado acima, a criminologia científica se vale do empirismo, que consiste na
análise de casos concretos nos quais há a ocorrência de delitos, com a finalidade de identificar
suas causas. A partir das conclusões extraídas dessas análises, busca-se formular generalizações
aplicáveis a situações semelhantes, com o objetivo de prevenir a reincidência criminal,
caracterizando a utilização do método indutivo.
No campo sociológico, são analisados os padrões culturais, valores e reações de diferentes
grupos sociais diante do crime e do criminoso. Exemplos incluem grupos que promovem a
ressocialização de egressos do sistema penal, os que reforçam o estigma social ou mesmo os
que adotam postura de indiferença — cada um exercendo diferentes impactos na prevenção
ou incentivo à reincidência.
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Já pelo viés biológico, a ciência criminológica examina os aspectos orgânicos do indivíduo
que comete delitos, investigando possíveis fatores predisponentes, como distúrbios mentais e
condições fisiológicas que possam influenciar o comportamento criminoso. Simultaneamente,
dedica atenção ao comportamento da vítima, considerando sua possível contribuição para a
dinâmica do delito.
Dessa forma, é possível afirmar que a Criminologia fundamenta-se nos métodos
empírico/experimental e indutivo, integrando ainda abordagens biológicas e sociológicas na
compreensão do fenômeno criminal.
➢ OBJETOS DA CRIMINOLOGIA
A criminologia contemporânea observa quatro objetos: O crime, o criminoso, a vítima e
o controle social.
➢ Crime: O conceito de crime abordado pela criminologia é diferente do conceito de crime
exposto pelo direito penal. O delito, para a criminologia,pelo agente.
➢ TEORIAS UTILITARISTAS, RELATIVAS ou PREVENTIVAS
As Teorias de Prevenção, também conhecidas como Teorias Relativas da Pena, afastam-
se da noção de punição como simples retribuição pelo delito cometido. Em vez disso, atribuem
à pena uma função eminentemente preventiva, orientada por critérios de utilidade social.
Com base na realidade de que o infrator, mais cedo ou mais tarde, retornará ao convívio
em sociedade, a sanção penal deve operar como mecanismo de contenção de futuras infrações,
transmitindo uma mensagem dissuasória tanto à coletividade quanto ao próprio condenado,
com o intuito de evitar novas práticas criminosas.
Essa função preventiva da pena se manifesta em duas dimensões principais: a Prevenção
Geral e a Prevenção Especial, cada uma subdividida em positiva e negativa.
• PREVENÇÃO GERAL
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Chama-se prevenção geral aquela que tem como público-alvo a sociedade como um
todo. A ideia é que, ao aplicar a pena a quem comete um crime, o Estado transmita duas
mensagens bem claras aos demais cidadãos: Evitem praticar crimes e “O Estado está presente
e atuante na defesa da ordem social.”
Essa forma de prevenção não se direciona apenas ao infrator, mas funciona como um
aviso coletivo. E dentro dela, existem duas abordagens diferentes: a negativa, que atua pela
intimidação, e a positiva, que reforça a confiança da população na Justiça.
✓ Prevenção Geral Positiva
Como o Estado, de modo geral, é quem detém o monopólio do poder de punir e também
carrega a responsabilidade de garantir a segurança e a ordem na sociedade, a pena acaba
ganhando um papel a mais: o de reforçar essa ordem.
Em outras palavras, ao aplicar a punição a quem violou a lei, o Estado busca restabelecer
sua credibilidade diante da sociedade. Afinal, se não conseguiu evitar o crime, precisa ao menos
mostrar que está agindo, para recuperar a confiança da população e reafirmar sua autoridade.
É o chamado efeito Integrador.
✓ Prevenção Geral Negativa
Essa forma de prevenção é chamada de “negativa” porque sua principal mensagem à
sociedade é simples: não cometam crimes. O foco está em intimidar, não em educar. A ideia é
que a pena funcione como um alerta, desestimulando qualquer pessoa a delinquir por medo
das consequências.
Não se trata de promover valores ou ensinar o que é certo — trata-se, sim, de mostrar que
o crime não vale a pena, usando como exemplo real a punição aplicada a quem já cometeu
alguma infração. É a lógica do susto: ao ver a penalidade sendo imposta a outro, o indivíduo
pensa duas vezes antes de seguir o mesmo caminho. É a função exemplificadora.
• PREVENÇÃO ESPECIAL
Já a chamada prevenção especial, também conhecida como prevenção individual, tem
como foco o próprio infrator que já foi condenado de forma definitiva.
Embora essa abordagem entenda a pena como uma forma de proteger a sociedade, ela
também reconhece um papel educativo na punição: o objetivo é fazer com que o condenado
reflita sobre seus atos e evite cometer novos crimes no futuro.
Assim como a prevenção geral, a especial também se divide em duas vertentes:
negativa e positiva.
✓ Prevenção Especial Positiva
Objetivando o retorno do agente ao seio social, surge a prevenção especial positiva, que
tem como principal objetivo ressocializar o apenado, ajudando-o a se preparar para voltar a
conviver em sociedade de forma construtiva e responsável.
Esse processo de ressocialização ganha ainda mais força quando a prevenção geral
positiva também é bem aplicada, já que a sociedade tem um papel fundamental nisso tudo:
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acolher o indivíduo de volta, sem preconceito ou estigmatização, criando condições reais para
sua reintegração.
✓ Prevenção Especial Negativa
Chamamos essa forma de prevenção de negativa porque sua principal mensagem ao
condenado é clara: não volte a cometer crimes.
Ao ser privado da liberdade e de direitos fundamentais como a privacidade e a intimidade,
o indivíduo passa a sentir os efeitos incômodos da pena. A ideia é que, ao ser punido e enviado
ao sistema prisional, ele fique temporariamente impedido de praticar novos delitos.
É conhecida como função neutralizadora, já que, estando o indivíduo privado de
liberdade, suas chances de delinquir novamente são consideravelmente reduzidas enquanto
estiver preso.
ANOTAÇÕES
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Segue um resumo:
Destinatário Objetivo Central Enfoque Características
Principais
Prevenção
Geral
Positiva
Sociedade
em geral
Reforçar a
confiança na
justiça e nos
valores do Estado
de Direito
Educativo
Busca fortalecer a
consciência coletiva
sobre a importância do
respeito às leis e à
ordem social.
Prevenção
Geral
Negativa
Sociedade
em geral
Intimidar os
indivíduos para
que não
pratiquem
crimes
Intimidatório
A pena funciona como
um aviso: quem
delinque será punido.
Desencoraja pela via
do medo.
Prevenção
Especial
Positiva
Condenado
Promover a
ressocialização e
reintegração à
vida em
sociedade
Ressocializador
A pena é usada como
instrumento para
orientar o condenado,
preparando-o para
uma vida lícita.
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Destinatário Objetivo Central Enfoque Características
Principais
Prevenção
Especial
Negativa
Condenado
Evitar a
reincidência pela
experiência
negativa da
punição
Dissuasivo/neutralizador
O desconforto da pena
faz o apenado refletir e
entender que o crime
não compensa, bem
como o cárcere limita
as suas possibilidades
de delinquir
novamente.
➢ TEORIA UNITÁRIA, UNIFICADORA, MISTA ou ECLÉTICA
Aqui temos a corrente teórica representa a junção das duas principais abordagens
anteriormente analisadas. Seu objetivo é fazer com que a pena cumpra, simultaneamente, uma
função retributiva — punindo o agente pelo mal causado — e uma função preventiva,
desestimulando a prática de novos crimes.
Na prática, essa teoria possui três finalidades centrais: Retribuição; Prevenção e
Ressocialização.
É justamente essa concepção tripla que foi adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro.
O artigo 59 do Código Penal reflete essa orientação ao estabelecer que o juiz, na fixação da pena,
deve considerar elementos como culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade,
motivos e circunstâncias do crime, visando uma punição que seja, ao mesmo tempo, necessária
e suficiente para a reprovação e prevenção do delito.
No contexto do Estado Democrático de Direito, uma das principais inquietações gira em
torno de como se deve reagir diante da ocorrência de um crime. Dessa forma, a Política Criminal,
como estratégia voltada ao controle da criminalidade, precisa estar amparada em medidas
eficazes e apropriadas, que sejam capazes de resolver ou minimizar os conflitos gerados no
tecido social.
De modo geral, todo crime gera consequências que afetam a coletividade. Como
representante dessa sociedade, cabe ao Estado apresentar respostas diante do delito —
respostas essas que podem assumir caráter punitivo, preventivo ou restaurativo.
Modelos de Reação ao Delito
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É com base nisso que surgem três formas distintas de abordagem da reação estatal frente
ao crime: o modelo dissuasório, omodelo ressocializador e o modelo restaurador, este último
vinculado à chamada Justiça Restaurativa.
Veremos cada uma a seguir:
➢ MODELO RETRIBUTIVO, CLÁSSICO ou DISSUASÓRIO
Originado na Escola Clássica, esse modelo fundamenta-se na ideia de punir o infrator de
forma proporcional ao mal que ele causou. A lógica é simples: ao cometer um crime, o indivíduo
deve receber uma punição equivalente, funcionando como uma forma de retribuição — o mal
causado é pago com o mal da pena.
A pena, nesse contexto, não tem como objetivo a reabilitação do condenado, mas sim
servir como instrumento de intimidação. A expectativa é que o medo do castigo funcione como
um freio psicológico para os demais membros da sociedade, desencorajando-os a cometer
crimes.
Nesse modelo, o foco principal está no Estado e no criminoso. A vítima e a coletividade
ocupam papéis secundários, muitas vezes deixados de lado.
Vale ressaltar que o Modelo Retributivo não tem como objetivo recuperar o infrator ou
reparar os danos causados à vítima. Seu foco está unicamente na punição, deixando de lado
qualquer preocupação com a reintegração social do condenado ou com a restauração do
equilíbrio afetado pelo crime.
➢ MODELO RESSOCIALIZADOR
Esse modelo adota uma perspectiva completamente distinta do anterior, ao conferir à
pena um propósito utilitário, centrado na reintegração do condenado à sociedade — alinhando-
se, portanto, à ideia de prevenção especial positiva. Nesse contexto, abandona-se a concepção
de punição com viés retributivo e punitivista.
Por promover intervenções que visam o desenvolvimento pessoal do infrator, essa
abordagem é frequentemente reconhecida pela doutrina como o modelo humanista de
resposta ao crime.
Além disso, destaca-se a importância do envolvimento social no processo de
ressocialização, especialmente no sentido de combater estigmas e preconceitos — fatores que,
para muitos estudiosos, podem inclusive contribuir para a reincidência criminal.
➢ MODELO INTEGRADOR, RESTAURADOR, JUSTIÇA RESTAURATIVA,
CONSENSUAL DE JUSTIÇA PENAL.
Esse modelo propõe uma ruptura com a lógica tradicional do sistema penal, ao
reposicionar os protagonistas do conflito criminal: a vítima e o infrator tornam-se os principais
envolvidos na busca pela resolução do delito, conceito conhecido como "dupla penal". A ideia é
que, ao permitir que os diretamente afetados encontrem juntos uma solução para o problema,
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aumentam-se consideravelmente as chances de promover uma pacificação verdadeira e
duradoura.
Diferente do enfoque punitivo, a Justiça Restaurativa tem como objetivo restabelecer o
estado anterior à prática criminosa (status quo ante), por meio de acordos voluntários, reparação
dos danos e oferta de assistência à vítima. Ao submeter ambas as partes a um processo de
escuta e responsabilização mútua, busca-se reparar os impactos do crime e reconstruir, ao
menos simbolicamente, a realidade existente antes da violação. Assim, alcança-se uma forma
alternativa de restaurar a ordem social.
Nesse contexto, a reparação do dano não é apenas simbólica, mas representa
efetivamente o caminho para a restauração das relações sociais rompidas pelo crime,
substituindo a punição retributiva tradicional por uma resposta mais humanizada e
participativa.
Outro ponto importante é que, nesse modelo, o Estado abre mão de seu protagonismo
no processo penal, atuando como coadjuvante e assumindo a função de facilitador, ou seja, de
intermediador dos acordos entre os verdadeiros interessados: vítima e infrator.
Para que se configure de fato a chamada Justiça Criminal Negociada, algumas condições
precisam ser observadas:
• Reparação do dano à vítima;
• Assunção da culpa pelo delinquente (voluntária);
• Presença de um facilitador.
Atenção! A doutrina apresenta diferentes entendimentos sobre até onde a Justiça
Restaurativa pode ser aplicada, levando em conta a gravidade do crime e o histórico do autor:
• Primeira corrente (minoritária): Defende que a Justiça Restaurativa pode ser utilizada
amplamente, inclusive em casos de crimes graves e praticados por pessoas com várias
reincidências. Ou seja, mesmo em situações mais complexas, ainda haveria espaço para
conciliação e mediação.
• Segunda corrente (majoritária): Adota uma visão mais restrita, limitando a aplicação da
Justiça Restaurativa a autores primários e a crimes de menor potencial ofensivo. Para essa
linha, delitos mais sérios, como homicídio e latrocínio, não seriam compatíveis com esse
tipo de abordagem.
Modelo Retributivo
(Clássico/Dissuasório)
Modelo
Ressocializador
Modelo Integrador
(Restaurativo/Consensual)
Origem/Fundamento
Escola Clássica do
Direito Penal
Prevenção
especial positiva
Justiça Restaurativa /
Justiça Criminal Negociada
Finalidade da pena
Retribuição pelo mal
causado; intimidação
(efeito dissuasório)
Reintegração
social do infrator;
prevenção da
reincidência
Reparação dos danos;
restauração das relações e
reconciliação
Principais atores Estado e infrator Estado e infrator Vítima, infrator (dupla
penal)
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Modelo Retributivo
(Clássico/Dissuasório)
Modelo
Ressocializador
Modelo Integrador
(Restaurativo/Consensual)
Papel da vítima Inexistente Marginalizado
Central — participa
ativamente do processo de
reparação
Papel do infrator
Deve ser punido
proporcionalmente ao
delito
Deve ser
reeducado e
ressocializado
Deve assumir
responsabilidade e buscar
reparar o dano
O processo de criminalização envolve um conjunto de etapas por meio das quais o Estado
identifica e define quais condutas merecem reprovação penal, além de aplicar sanções
concretas àqueles que as praticam. Esse processo se desenvolve em duas fases distintas: a
criminalização primária e a criminalização secundária.
➢ CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA
Refere-se ao momento em que o Estado, por meio do Poder Legislativo, decide quais
comportamentos devem ser considerados crimes. Trata-se da elaboração de normas penais
incriminadoras, em que determinadas condutas são abstratamente rotuladas como
penalmente reprováveis.
No Brasil, essa competência é atribuída, em regra, à União (conforme o art. 22, inciso I, da
Constituição Federal de 1988). Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da
República, legislar sobre Direito Penal, escolhendo quais atos antissociais devem ser
criminalizados.
Por isso, costuma-se dizer que a criminalização primária corresponde à criação do Direito
Penal Objetivo, ou seja, do conjunto de normas que definem crimes e penas.
Agentes da criminalização primária:
• Poder Legislativo (Congresso Nacional)
• Poder Executivo da União (Presidência da República)
➢ CRIMINALIZAÇÃO SECUNDÁRIA
A criminalização secundária representa a aplicação prática do Direito Penal. É nessa etapa
que o Estado, por meio de suas instituições, exerce seu poder punitivo de forma concreta diante
da prática de uma infração penal.
Esse processo se manifesta quando um indivíduo, ao cometer uma conduta já tipificada
como crime, passa a ser investigado pela polícia judiciária, depois denunciado pelo Ministério
Processo de Criminalização
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Público e, por fim, julgado e condenado pelo Poder Judiciário, sendo obrigado a cumprir a pena
imposta. Todas essas fases compõem o que se entende por criminalização secundária, pois
representam a efetiva atuação estatal frente à violação da norma penal.
Mais do que aplicar a lei, o sistema de justiça penal também tem o dever de assegurar os
direitos e garantias fundamentais do acusado, sobretudo quando este se encontra sob a
custódia do Estado. O devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa são pilares
essenciais dessa fase.
Agentes da criminalização secundária:
• Delegados de Polícia (fase investigativa)
• Promotores de Justiça (titular da ação penal)
• Juízes de Direito (responsáveis pelo julgamento e aplicação da pena)
CriminalizaçãoPrimária Criminalização Secundária
Definição
Etapa em que o Estado define, por
meio da lei, quais condutas devem ser
consideradas crimes.
Fase em que o Estado aplica
concretamente a punição a quem
pratica uma conduta criminosa.
Natureza
Abstrata – criação da norma penal
(Direito Penal Objetivo).
Concreta – aplicação prática da norma
penal.
Objetivo
Tipificar condutas como crimes e
estabelecer as penas correspondentes.
Responsabilizar e punir o autor do
crime com base na norma já existente.
Quem
realiza
Poder Legislativo (Congresso Nacional)
e Executivo (Presidência da República).
Delegados, Promotores de Justiça e
Juízes de Direito.
Exemplo de
atuação
Aprovação de uma lei que define o
furto como crime.
Investigação de um furto, denúncia do
autor, julgamento e execução da pena.
Foco
principal
Criação da lei penal. Aplicação da lei penal ao caso
concreto.
ANOTAÇÕES
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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
QUESTÃO 01 - Os processos de criminalização indicam a seletividade do sistema penal.
A esse respeito, é correto afirmar que
A) cabe à polícia a criminalização primária, por ser a primeira a se deparar com o crime.
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B) os processos de criminalização são atribuição do Poder Judiciário, que é, em última análise, a
instituição que decide.
C) a criminalização primária consiste no ato legislativo de criação de tipos penais.
D) a criminalização terciária é realizada pelas próprias organizações criminosas no chamado
Tribunal do Crime.
E) a criminalização secundária consiste no ato legislativo de aumentar as penas para os crimes
já existentes.
QUESTÃO 02 - À luz das teorias sociológicas no âmbito da criminologia, assinale a opção que
apresenta um exemplo de prevenção secundária.
A) educação
B) melhorias nas condições e oportunidades de trabalho
C) programa de prevenção policial
D) programa de combate à fome
E) ressocialização de indivíduo encarcerado
QUESTÃO 03 - A polícia militar de determinado estado institui um programa educacional de
prevenção e resistência às drogas, o que ensejou o atendimento de aproximadamente dois mil
estudantes do ensino médio.
Nessa situação hipotética, considerando-se os modelos de prevenção do delito pelo Estado,
trata-se de
A) ação preventiva de natureza primária.
B) ação preventiva secundária.
C) ação repressiva primária.
D) ação repressiva secundária.
E) ação preventiva terciária.
QUESTÃO 04 - Destina-se a setores da sociedade que podem vir a padecer do problema
criminal e não ao indivíduo, manifestando- se a curto e médio prazo de maneira seletiva,
ligando-se à ação policial, programas de apoio, controle da comunicação etc.
É correto afirmar que o enunciado refere-se à prevenção
A) primária.
B) primária e secundária.
C) terciária.
D) secundária.
E) secundária e terciária.
QUESTÃO 05 - Direciona-se a atingir a consciência de todos, incutindo a necessidade de
respeito aos valores mais importantes da comunidade e, por conseguinte, à ordem jurídica.
É correto afirmar que o enunciado refere-se à prevenção
A) especial negativa.
B) especial positiva.
C) geral positiva ou integradora.
D) geral negativa.
E) por intimidação.
QUESTÃO 06 - Sobre a criminologia prevencionista (prevenção dos delitos), assinale a
alternativa correta.
A) A Prevenção Primária ou Etiológica atua na raiz do problema, na conscientização, educação,
prestações sociais, intervenção comunitária. Atua na base da origem criminosa, evitando seu
acontecimento. Dentre as políticas de prevenção é aquela que apresenta resultados a longo
prazo no combate à criminalidade
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B) A prevenção terciária ou tardia age no momento posterior ao crime ou na sua iminência.
Conjunto de ações policiais e políticas legislativas, controle dos meios de comunicação,
ordenação urbana, atuando com seletividade sobre grupos que apresentam maior risco de
protagonizar algum problema criminal
C) A prevenção secundária ou cirúrgica é voltada à população carcerária, com caráter punitivo
e busca pela recuperação do recluso (ressocialização). Prestação de serviços à comunidade,
liberdade assistida
D) A prevenção especial positiva tem como fundamento a ideia de que aplicação e execução da
pena evitam que ocorra a reincidência criminal
E) Prevenção Geral Positiva tem como fundamento a intimidação coletiva gerada pela punição.
Quando a pena é aplicada, há um efeito de causar medo e intimidação sobre aque aqueles que
eventualmente cogitam o cometimento de crimes
QUESTÃO 07 - No Estado Democrático de Direito a prevenção criminal é integrante da agenda
federativa passando por vários setores do Poder Público, não se restringindo à Segurança
Pública e ao Judiciário. Com relação à prevenção criminal, assinale a afirmativa correta:
A) A prevenção secundária tem como destinatário o condenado, se orientando a evitar a
reincidência da população presa por meio de programas reabilitadores e ressocializadores.
B) A prevenção primária corresponde a estratégias de política cultural, econômica e social,
atuando, por exemplo, na garantia da educação, saúde, trabalho e bem-estar social.
C) A prevenção terciária se orienta aos grupos que ostentam maior risco de protagonizar o
problema criminal, se relacionando com a política legislativa penal e com a ação policial.
D) A prevenção secundária corresponde a estratégias de política cultural, econômica e social,
atuando, por exemplo, na garantia da educação, saúde, trabalho e bem-estar social.
E) A prevenção primária se orienta aos grupos que ostentam maior risco de protagonizar o
problema criminal, se relacionando com a política legislativa penal e com a ação policial.
QUESTÃO 08 - A justiça restaurativa, como modelo de reação ao crime, se adequa ao modelo
A) marxista.
B) dissuasório.
C) clássico.
D) ressocializador.
E) integrador.
QUESTÃO 09 - No último modelo de reação ao crime, busca-se o retorno da vítima ao status
quo ante ao cometimento do delito, de forma a tentar resgatar o momento anterior à violação
dos bens jurídicos. Passam a compor, de forma principal, nesse modelo de reação, a vítima e o
condenado, ficando de fora o Estado.
No que concerne aos modelos de reação, é correto afirmar que o enunciado se refere ao modelo
conhecido por
A) conciliatório.
B) dissuasório.
C) clínico.
D) ressocializador.
E) despenalizador.
QUESTÃO 10 - A respeito dos modelos de reação ao crime, assinale a alternativa correta.
A) O modelo clássico confere à vítima papel mais ativo e preponderante em resposta ao crime.
B) No modelo ressocializador, a finalidade retributiva da pena tem papel preponderante.
C) O modelo integrador confere à vítima papel mais ativo em resposta ao crime.
D) No modelo ressocializador, a finalidade de prevenção geral negativa da pena tem papel
preponderante.
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E) No modelo dissuasório, a finalidade conciliadora da pena tem papel preponderante.
A Vitimologia constitui um campo de investigação científica voltado à compreensão dos
processos de vitimização que ocorrem em situações de conflito criminal. Seu escopo inclui a
identificação das causas, da natureza e da dimensão desses processos, mesmo quando não há
atuação direta do Direito Penal.Além disso, essa área analisa os efeitos da vitimização sobre os
indivíduos envolvidos, bem como os fatores sociais que influenciam esses desdobramentos,
com atenção especial às instituições que operam na manutenção da ordem, como as polícias e
o sistema de justiça criminal.
Neste contexto, é relevante mencionar a definição proposta por Benjamin Mendelsohn,
reconhecido como o precursor da Vitimologia. Para ele,
“a Vitimologia é a ciência que se dedica ao estudo da vítima e dos processos de vitimização,
tendo como meta a redução da incidência de vítimas em uma sociedade, desde que haja
um verdadeiro comprometimento coletivo com essa finalidade.”
No campo da Vitimologia, o olhar se afasta do autor do crime para se concentrar na figura
da vítima, promovendo uma compreensão mais empática e humanizada da criminalidade. Para
entender essa mudança de perspectiva, é importante revisitar os principais marcos históricos
ligados à criminalidade e à função punitiva do Estado, observando como a vítima foi percebida
e tratada ao longo da evolução do sistema penal.
Historicamente, o papel da vítima oscilou bastante: já foi o centro das decisões punitivas,
caiu no esquecimento e, mais recentemente, passou a ser reconhecida como alguém que
merece atenção, dignidade e proteção institucional. A seguir, analisamos essas etapas centrais:
➢ VINGANÇA PRIVADA ("IDADE DE OURO DA VÍTIMA")
Nos primórdios, a vítima ocupava um lugar de destaque no processo de punição. A justiça
era conduzida de maneira pessoal, orientada por normas como a Lei de Talião — célebre pela
máxima “olho por olho, dente por dente” —, que autorizava a vítima a buscar justiça por conta
própria, exercendo o chamado direito de autotutela.
Em delitos mais graves, como o homicídio, o direito de punir era transferido para os
familiares da vítima, que podiam impor sanções severas, incluindo a pena de morte. Nesse
contexto, a justiça tinha um caráter vingativo e desproporcional, marcada por emoções pessoais
e pela ausência de limites institucionais
➢ VINGANÇA PÚBLICA (OU A "INVISIBILIZAÇÃO DA VÍTIMA")
Vitimologia
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Com a formação do Estado e a consolidação das estruturas do sistema de Justiça
Criminal, a responsabilidade de punir deixou de estar nas mãos da vítima e passou a ser
exclusiva do poder estatal. Nesse novo arranjo, a pena continuou sendo uma resposta ao
crime, mas agora aplicada de forma institucionalizada e baseada em princípios como
imparcialidade, proporcionalidade, publicidade e impessoalidade.
A punição também assumiu um caráter preventivo, com a função de desencorajar
comportamentos criminosos por meio do medo da sanção (prevenção geral). No entanto,
nesse processo, a vítima foi quase completamente excluída da equação. O foco se voltou para
a relação entre o Estado e o infrator, relegando as necessidades da vítima — como escuta,
acolhimento e reparação — a um segundo plano. Por isso, essa fase é frequentemente
associada à invisibilização da vítima dentro do sistema penal.
➢ PERÍODO HUMANISTA (OU O "REDESCOBRIMENTO DA VÍTIMA")
Foi só com o avanço da Criminologia no século XX que o papel da vítima passou a ser
analisado de forma mais estruturada e consistente, dando origem à Vitimologia como um
campo específico de investigação.
É importante destacar que a Vitimologia é amplamente reconhecida como uma vertente
da Criminologia, que tradicionalmente abrange quatro pilares: o crime, o criminoso, a vítima e o
controle social. Embora exista uma corrente que defenda a Vitimologia como disciplina
autônoma, essa visão ainda é minoritária e pouco aceita em ambientes formais como concursos
públicos.
A revalorização da vítima ganhou força especialmente após a Segunda Guerra Mundial,
quando o mundo passou a reconhecer os sofrimentos vividos por judeus e outros grupos
perseguidos. A partir desse marco, a vítima passou a ser vista como alguém que merece não
apenas proteção legal, mas também voz ativa no processo penal, além de mecanismos reais de
reparação — tanto simbólica quanto material.
Vingança Privada /
Idade de Ouro da
Vítima (Antiguidade)
- Direito de punir era da própria
vítima (autotutela)
- Lei de Talião (“olho por olho”)
- Punições desproporcionais e
sem controle estatal
Protagonista
absoluta
Tradições tribais e
familiares
Vingança Pública /
Neutralização da
Vítima (surgimento
do Estado)
- Monopólio estatal da punição
- Surgimento da justiça penal
institucionalizada
- Vítima excluída do processo
- Foco no criminoso e na ordem
pública
Esquecida
Formação dos
Estados e do
Direito Penal
estatal
Período Humanista /
Redescobrimento da
Vítima(pós-segunda
guerra mundial)
- Revalorização da dignidade da
vítima
- Preocupação com direitos
humanos
- Reconhecimento da vítima
como parte afetada e merecedora
de proteção e reparação
Reconhecida e
protegida pelo
Estado
ONU (1945), DUDH
(1948), avanços na
Criminologia
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➢ PROCESSOS DE VITIMIZAÇÃO
Da mesma forma que o Direito Penal se ocupa em estudar as etapas percorridas pelo
autor de um crime (o chamado iter criminis), a Vitimologia volta sua atenção para o caminho
percorrido pela vítima durante o processo de vitimização. Esse percurso, composto por fases
distintas que marcam a experiência da vítima diante da infração penal, é denominado iter
victimae.
Dentro desta perspectiva, analisaremos a seguir as etapas do processo de vitimização.
• VITIMIZAÇÃO DIRETA
Essa etapa representa o sofrimento vivenciado por quem foi diretamente atingido por
um ato criminoso ou por seus efeitos imediatos. É considerada uma categoria geral que engloba
diferentes tipos de vitimização: primária, secundária, terciária e quaternária
✓ Vitimização Primária
Refere-se ao impacto direto sofrido pela vítima em razão da conduta delituosa. Os danos
podem ser de ordem física, psicológica, patrimonial ou moral. Essa fase corresponde ao
momento exato em que o crime ocorre e atinge a vítima de forma imediata.
Exemplo: Um jovem que tem seu aparelho celular furtado. A consumação do furto marca
a vitimização primária.
✓ Vitimização Secundária (Revitimização ou Sobrevitimização)
Essa forma de vitimização tem origem no sistema formal de justiça criminal. Ocorre
quando a vítima, ao buscar proteção ou justiça, é exposta a novos sofrimentos — seja por meio
de procedimentos legais, como depoimentos e audiências, seja em razão de abordagens
inadequadas por parte de agentes públicos.
Nos procedimentos regulares, essa etapa pode se manifestar quando a vítima é forçada
a reviver o trauma ao recontar o ocorrido, como acontece durante uma audiência judicial.
Exemplo: uma mulher, vítima de estupro, é constrangida ao detalhar o crime perante o juiz e as
partes durante a audiência.
Já nos casos de procedimentos irregulares, a vitimização ocorre por meio de atitudes
abusivas, negligentes ou desrespeitosas por parte de profissionais do sistema de justiça.
Exemplo: um delegado trata com frieza e julgamento uma vítima de estupro, insinuando que
ela teria provocado o agressor, desumanizando-a no atendimento.
O termo revitimização, inclusive, passou a integrar formalmente a legislação brasileira
com a inserção da Lei nº 13.505/2017 na Lei Maria da Penha, reconhecendo legalmente essa
forma de violência institucional.
✓ Vitimização Terciária
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A vitimização terciária ocorre quando a vítima, além de sofrer os impactos diretos do
crime e das possíveis falhas institucionais, enfrenta o descaso, a indiferença ou até a rejeição por
parte das pessoas ao seu redor — como familiares, amigos, vizinhos ou membros da
comunidade. Esse tipo de vitimização amplia ainda mais o sofrimento, pois representa um
abandono moral e emocional em um momento em que o apoio social seria essencial para a
superação do trauma. Exemplo: uma vítima de violência doméstica que, ao buscar apoio
familiar, é desencorajada a levar o caso à justiça.
✓ VitimizaçãoQuaternária
A vitimização quaternária diz respeito ao sentimento de medo constante e à sensação de
insegurança psicológica que uma pessoa pode desenvolver diante da possibilidade de ser vítima
de um crime. Esse tipo de vitimização ultrapassa o âmbito pessoal, refletindo uma inquietação
coletiva frequentemente alimentada por discursos alarmistas — especialmente por parte da
mídia — sobre a escalada da criminalidade, muitas vezes sem contexto ou explicações
adequadas sobre suas causas e dinâmicas.
Esse fenômeno pode se manifestar de duas maneiras principais: - Quando alguém já foi
vítima de um crime ou conhece de perto alguém que passou por uma situação traumática, o
que faz com que desenvolva medo recorrente ou comportamentos de autoproteção, mesmo
em situações rotineiras.
Exemplo: uma pessoa que evita andar pelas ruas do próprio bairro por receio de ser atacada
novamente. - Quando o sentimento de insegurança é provocado por informações divulgadas
pelos meios de comunicação, que retratam determinadas regiões ou situações como
extremamente perigosas, muitas vezes com um viés sensacionalista.
Exemplo: alguém que passa a temer fazer compras online após ver reportagens frequentes
sobre fraudes, clonagens de cartão ou roubo de dados, desenvolvendo um receio que ultrapassa
a realidade estatística do risco.
Assim, a vitimização quaternária mostra como o medo pode se espalhar socialmente e
influenciar comportamentos, mesmo sem que o indivíduo tenha sido diretamente atingido por
um crime.
Vejamos um quadro comparativo.
Vitimização Definição Exemplo
Primária
É o impacto direto sofrido pela vítima
no momento em que o crime é
cometido. Os danos podem ser físicos,
psicológicos, patrimoniais ou morais.
Jovem que tem seu celular
furtado; a consumação do
crime representa essa fase.
Secundária
(Revitimização /
Sobrevitimização)
Ocorre quando a vítima, ao buscar
justiça ou apoio no sistema penal, é
submetida a novos sofrimentos —
como reviver o trauma ou ser
maltratada por agentes públicos.
Vítima de estupro constrangida
em audiência judicial; delegado
que culpa ou julga a vítima.
Terciária
Refere-se à negligência, ao desprezo ou
à rejeição sofrida pela vítima por parte
de familiares, amigos ou da sociedade,
ampliando seu sofrimento.
Mulher vítima de violência
doméstica desestimulada pela
família a denunciar o agressor.
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Vitimização Definição Exemplo
Quaternária
Está ligada ao medo constante e à
insegurança de ser vítima de um crime,
muitas vezes alimentados por relatos
alarmistas da mídia.
Pessoa evita andar no bairro
por medo após presenciar um
crime; receio de comprar online
por medo de fraudes.
• VITIMIZAÇÃO INDIRETA
Enquanto nas formas diretas de vitimização — como a primária, secundária e terciária —
o foco recai sobre a pessoa que sofre diretamente os efeitos da ação criminosa, na vitimização
indireta o olhar se volta para aqueles que, mesmo não sendo o alvo direto do crime, acabam
sendo afetados por sua proximidade emocional com a vítima.
Essa modalidade é comum em situações que provocam grande sofrimento, impacto
emocional ou repercussão pública. Familiares, parceiros, filhos ou amigos próximos
frequentemente vivenciam dor intensa e traumas psicológicos ao ver alguém querido passar
por uma experiência criminosa grave. Exemplo: pais que entram em profundo sofrimento ao
descobrir que a filha foi vítima de crime contra a dignidade sexual.
• HETEROVITIMIZAÇÃO
Neste tipo de vitimização, a própria vítima passa a carregar um peso emocional de culpa.
É um sentimento de autorrecriminação, em que a pessoa deixa em segundo plano a
responsabilidade do agressor e começa a atribuir a si mesma a causa do ocorrido.
Essa sensação pode surgir de comportamentos que, embora comuns ou inofensivos, são
interpretados pela vítima como "erros" que facilitaram a ação criminosa.
Exemplos: alguém que se sente culpado por ter deixado a porta do carro destrancada e, por
isso, foi furtado; uma vítima de golpe financeiro que se culpa por ter confiado demais; ou ainda,
uma mulher violentada que acredita que sua roupa provocou o agressor.
• VITIMIZAÇÃO DIFUSA
A vitimização difusa se refere a crimes que não atingem uma vítima específica e
identificável, mas sim um grupo coletivo ou toda a sociedade. Nesses casos, os danos recaem
sobre interesses difusos, como o meio ambiente, a ordem econômica ou as relações de
consumo, e os sujeitos prejudicados não podem ser determinados com precisão.
Esses crimes geram prejuízos sociais amplos, afetando o bem comum de forma indireta.
Exemplo: crimes ambientais.
➢ CLASSIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS
• CLASSIFICAÇÃO DE BENJAMIN MENDELSOHN
✓ Vítima Ideal ou Totalmente Inocente
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Esse tipo de vítima é caracterizado por não ter qualquer envolvimento, direto ou indireto,
na prática criminosa. Trata-se de alguém que foi atingido de forma aleatória, sem que tenha
provocado ou contribuído com o ocorrido por meio de atitudes imprudentes ou negligentes.
Popularmente, costuma-se dizer que essa pessoa simplesmente “estava no lugar errado,
na hora errada”.Exemplos: pessoas atingidas por bala perdida; vítimas de ataques terroristas;
pedestres atropelados por motoristas embriagados enquanto caminhavam na calçada.
✓ Vítima menos culpada que o delinquente/ por ignorância/ com culpa diminuta
De acordo com Mendelsohn, essa vítima possui uma parcela de responsabilidade menor
se comparada à do autor do crime. Trata-se de indivíduos que, por distração ou descuido — sem
qualquer intenção de se colocar em risco — acabam contribuindo, mesmo que de forma
indireta, para a ocorrência do crime.
Essa situação costuma acontecer quando alguém se expõe em ambientes considerados
perigosos ou adota comportamentos que facilitam a ação criminosa. Exemplos: pessoa que
circula sozinha à noite em áreas perigosas; alguém que exibe objetos de valor, como joias ou
roupas de grife, em locais onde há alta incidência de furtos ou assaltos.
✓ Vítima tão culpada quanto o delinquente
Esse perfil gera bastante confusão, pois o termo pode sugerir que a vítima também será
punida — o que não é verdade. Aqui, a expressão “igualmente culpada” refere-se à colaboração
direta da vítima para a prática do crime, caracterizando o que se chama de atos bilaterais, ou
seja, delitos que só se concretizam com a participação ativa da própria vítima.
Nesses casos, se não houver o consentimento ou envolvimento da vítima, o crime nem
sequer se consuma, permanecendo na forma tentada. Há quem defenda que essa categoria
exige má-fé da vítima, mas há também a perspectiva — adotada aqui — de que não é necessário
dolo por parte dela: basta que sua adesão tenha sido essencial à concretização do ato criminoso.
Exemplos: situações em que a vítima é enganada e, mesmo sem má-fé, colabora para a
realização do delito, como em fraudes, ou quando age com má-fé intencional, como em acordos
ilícitos com o infrator.
✓ Vítima mais culpada que o delinquente / Vítima Provocadora
Um exemplo clássico se encontra em uma das situações de homicídio privilegiado,
prevista no artigo 121, §1º, do Código Penal, onde o agente comete o crime sob o domínio de
intensa emoção, logo após ter sido provocado de forma injusta pela própria vítima. Trata-se de
hipótese expressamente reconhecida pela legislação como justificativa para abrandamento da
pena.
Esse tipo de vítima é aquela que instiga ou provoca de maneira direta a prática do crime.
Embora a imputação penal continue sendo atribuída ao autor da infração, a provocação feita
pela vítima pode ser levada em consideração pelo Judiciário como circunstância atenuante ou
até como causa para redução da pena. Por exemplo: imagine que Tício invade uma casa e
mantém uma família refém: pai, mãe e filha. Durante o ato criminoso, ele estupra a jovem na
presença dos pais, que estão amarrados. Após os vizinhos acionarem a polícia, o criminoso se
rende pacificamentee é preso sem resistência. Porém, enquanto é conduzido algemado até a
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viatura, ele olha para o pai da jovem e, em tom de zombaria, dá um sorriso. Tomado por um
surto emocional, o pai consegue tomar a arma de um dos policiais e atira contra Tício, matando-
o no local.
Neste caso, como a ameaça já havia cessado e o criminoso estava sob custódia, não se
configura legítima defesa. Assim, o pai responderá por homicídio, e Tício, paradoxalmente, será
reconhecido como a vítima da ação. Contudo, nesse contexto específico, ele é classificado
como vítima mais culpada que o autor do crime de homicídio, justamente por ter provocado,
de maneira cruel, a reação letal.
✓ Vítima como única culpada / Pseudovítima / Vítima Agressora / Imaginária /
Simuladora
Nesse cenário, não há crime propriamente dito, já que a responsabilidade recai
unicamente sobre a pessoa que se apresenta como vítima. Por isso, costuma-se utilizar o termo
pseudovítima, uma vez que ela é a única causadora do próprio dano ou foi legitimamente
agredida após desencadear a violência.
Podemos dividir esses casos em duas categorias principais:
• Quando a pessoa sofre prejuízo exclusivamente por sua própria conduta;
• Quando sofre uma reação justa decorrente de uma agressão anterior praticada por ela
mesma.
Exemplos de culpa exclusiva da suposta vítima:
• Pessoa que comete suicídio;
• Indivíduo que participa voluntariamente de roleta-russa;
• Sujeito embriagado que atravessa uma rodovia movimentada e acaba sendo atropelado.
Exemplo de vítima de agressão legítima: imagine que Tício inicia uma briga e agride Mévio.
Em resposta imediata, Mévio se defende e agride Tício, atuando em legítima defesa. No Direito
Penal, Tício será responsabilizado por lesão corporal, enquanto Mévio estará protegido por
excludente de ilicitude. No entanto, sob a ótica da Vitimologia, Tício será considerado vítima —
mas uma vítima que contribuiu exclusivamente para o próprio infortúnio, ao provocar a reação.
Segue quadro comparativo:
Categoria da
Vítima
Descrição Participação no
Crime
Exemplos
1. Vítima
completamente
inocente (Ideal)
Pessoa que não contribuiu
de forma alguma para o
crime. É atingida de forma
aleatória, sem ter provocado
ou facilitado a ação do
criminoso.
Nenhuma
participação.
Totalmente alheia à
situação.
Pessoa atingida por
bala perdida;
pedestre atropelado
por motorista
embriagado; vítimas
de atentados
terroristas.
2. Vítima com
culpa menor (Por
ignorância)
Sofre o crime por agir com
descuido ou desatenção,
sem intenção de se colocar
em risco. O comportamento
Participação indireta,
involuntária.
Esquecer a porta do
carro aberta e ser
furtado; expor bens
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Categoria da
Vítima
Descrição Participação no
Crime
Exemplos
negligente acaba facilitando
a ação criminosa.
de valor em local
perigoso.
3. Vítima tão
culpada quanto o
infrator
Participa ativamente do
crime, sem a qual o delito
não ocorreria. A conduta da
vítima é essencial para a
consumação do fato.
Participação direta,
embora não haja
responsabilização
penal.
Participação
voluntária em crime
de corrupção; vítima
ludibriada em golpe
que entrega dados
sigilosos ao
criminoso.
4. Vítima mais
culpada que o
delinquente
Estimula ou provoca o
criminoso, contribuindo
decisivamente para o crime.
A provocação pode gerar
atenuantes para o autor da
infração.
Provoca o crime, mas
ainda é
tecnicamente vítima.
Autor de crime reage
à provocação
emocional da vítima e
comete homicídio
sob forte abalo.
5. Vítima como
única culpada
(Pseudovítima)
Situação em que a vítima
causa sozinha o próprio
dano ou sofre uma agressão
legítima. Nesses casos,
muitas vezes nem há crime
configurado.
Responsabilidade
exclusiva da vítima.
Suicídio; vítima de
roleta-russa; pessoa
atropelada ao
atravessar de forma
imprudente; agressor
que sofre legítima
defesa.
• CLASSIFICAÇÃO DE HANS VON HENTING
✓ Grupos de Criminosos Vítimas
Indivíduo Sucessivamente Criminoso-vítima-criminoso: Essa categoria descreve o indivíduo
que, após ser preso, enfrenta humilhações dentro do sistema carcerário e sofre exclusão e
desprezo por parte da sociedade. Sentindo-se sem opções ou apoio, acaba reincidindo no crime.
É chamado de “criminoso sucessivo” justamente por repetir condutas delituosas, movido pela
ausência de acolhimento social e falta de oportunidades reais de reintegração.
Indivíduo Simultaneamente Criminoso-vítima-criminoso: Segundo Henting, há situações em
que a mesma pessoa ocupa simultaneamente os papéis de vítima e de autor do crime. Um
exemplo típico é o do dependente químico, que, ao ser marginalizado pela estrutura social que
o cerca, se vê envolvido no tráfico de drogas. Ele é, ao mesmo tempo, alguém vitimado pelo
contexto em que vive e agente de uma atividade criminosa.
Criminoso-Vítima Imprevisível: Inclui casos em que o indivíduo passa da condição de vítima
para a de autor de um crime de maneira repentina e imprevisível. A doutrina costuma ilustrar
com exemplos como o de um homem que, após ser ofendido gravemente por seu chefe, chega
em casa transtornado e acaba agredindo a esposa; ou ainda, pessoas que se envolvem em
tumultos, saques ou linchamentos; e indivíduos que, por questões médicas, como um ataque
epiléptico, causam danos sem intenção.
✓ Classificações dos Grupos de Vítimas
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Vítima Resistente: Refere-se à pessoa que, diante de uma agressão injusta, atual ou iminente,
reage com firmeza, exercendo seu direito à legítima defesa. Trata-se de uma vítima com postura
ativa, que não aceita passivamente o ataque e busca se proteger ou repelir a ação do agressor
por meios lícitos.
Vítima Colaboradora ou Coadjuvante: Essa categoria envolve indivíduos que, de alguma
forma, contribuem para o desfecho criminoso. Isso pode ocorrer tanto por comportamentos
imprudentes, negligentes ou por falta de habilidade, quanto por atitudes de má-fé. Ainda que
não tenham a intenção direta de facilitar o crime, acabam, de forma consciente ou inconsciente,
auxiliando na sua concretização.
Segue quadro comparativo.
Definição
Características
Principais Exemplo
Indivíduo
Sucessivamente
Criminoso-vítima-
criminoso
Pessoa que, após sofrer
humilhações na prisão e
rejeição social, reincide
no crime por falta de
acolhimento e
oportunidade.
- Reincidente
- Excluído
socialmente
- Falta de
reintegração
Ex-detento que, sem
apoio ou emprego,
volta a praticar furtos
para sobreviver.
Indivíduo
Simultaneamente
Criminoso-vítima-
criminoso
Indivíduo que é vítima e
criminoso ao mesmo
tempo, especialmente
em contextos sociais de
vulnerabilidade.
- Vítima do contexto
social
- Atua como agente
de crime
- Situação simultânea
Dependente químico
envolvido com o
tráfico por estar à
margem da
sociedade.
Criminoso-Vítima
Imprevisível
Alguém que, sem
planejamento, passa de
vítima a criminoso de
forma repentina,
motivado por impulsos
ou condições
específicas.
- Ação impulsiva ou
inconsciente
- Sem intenção inicial
de delinquir
Pessoa que, após
ofensa no trabalho,
desconta a raiva em
casa; ou que comete
agressão durante
convulsão epiléptica.
Vítima Resistente
Vítima que reage diante
de agressão injusta,
exercendo seu direito à
legítima defesa de
forma proporcional e
lícita.
- Postura ativa
- Legítima defesa
- Não se submete
passivamente à
agressão
Pessoa que reage a
um assalto utilizando
técnicas de defesa
pessoal.
Vítima Colaboradora
ou Coadjuvante
Indivíduo que contribui,
ainda que de forma não
intencional, para o crime
— por descuido, má-fé
ou despreparo.
- Contribuição
indireta
- Pode agir por
imprudência,
negligência,
imperícia ou má-fé
Pessoa que deixa o
carro destrancado
com itens visíveis e
acaba sendo furtada.
➢ SÍNDROMES VITIMAIS
✓ Síndrome de Estocolmo
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A Síndrome de Estocolmo ocorre quando a vítima desequestro ou abuso desenvolve uma
ligação emocional com seu agressor, chegando até a defendê-lo ou justificar suas ações. Esse
fenômeno foi observado pela primeira vez após um sequestro bancário ocorrido na Suécia,
quando reféns começaram a mostrar simpatia pelos sequestradores. A dinâmica psicológica por
trás desse comportamento está relacionada ao medo extremo, à dependência e à necessidade
de sobrevivência, que levam a vítima a encontrar conforto ou apoio emocional em seu captor.
Em termos psicológicos, a Síndrome de Estocolmo pode ser vista como uma resposta
adaptativa ao trauma, onde a vítima, ao perceber que sua sobrevivência depende da
conformidade emocional com o agressor, começa a se identificar com ele, até a ponto de
desenvolver empatia.
O termo Síndrome de Estocolmo foi cunhado pelo psicólogo clínico Harvey Schlossberg
(1934–2021), com base em um sequestro ocorrido na capital da Suécia. A expressão descreve
uma resposta psicológica atípica, na qual a vítima, em situação de intensa pressão e ameaça,
cria um vínculo afetivo com seu agressor. Trata-se de uma reação semelhante ao fenômeno
conhecido na psicologia como “transferência”, no qual um paciente desenvolve uma conexão
emocional com seu terapeuta, algo que, nesse contexto terapêutico, facilita o progresso do
tratamento.
✓ Síndrome de Londres
O termo tem origem em um fato verídico ocorrido em 1980, quando a Embaixada do Irã
em Londres foi invadida por um grupo composto por seis militantes árabes iranianos. Durante
a ação, os invasores mantiveram vinte e seis pessoas reféns — entre elas, funcionários
diplomáticos iranianos, três cidadãos britânicos e um libanês. O sequestro durou cinco dias,
período em que a tensão e o risco de violência foram constantes.
Dentre todos os reféns, destacou-se o iraniano Abbas Lavasani, funcionário da própria
embaixada, por sua postura firme e confrontadora diante dos terroristas. Durante o
confinamento, Lavasani não se calou diante dos sequestradores: enfrentava-os verbalmente e
deixava claro que não apoiava o regime do Aiatolá, posicionando-se a favor da justiça e dos ideais
da Revolução Islâmica — visão que colidia diretamente com os valores defendidos pelos
sequestradores.
A chamada Síndrome de Londres se apresenta de forma totalmente contrária à
conhecida Síndrome de Estocolmo. Enquanto nesta última a vítima tende a desenvolver
vínculos afetivos ou empáticos com seu agressor, na de Londres o efeito psicológico é o oposto:
o refém manifesta sentimentos intensos de rejeição, aversão e até mesmo ódio direcionado ao
sequestrador.
Atenção: NÃO CONFUNDA!!!
Síndrome de Estocolmo Síndrome de Londres
Desenvolve empatia, afeto ou apego emocional
pelo sequestrador.
Reage com repulsa, ódio e inconformismo
em relação ao criminoso.
Assalto a banco em Estocolmo (Suécia), 1973.
Invasão da Embaixada do Irã em Londres
(Reino Unido), 1980.
Reféns defenderam e protegeram os
sequestradores, até recusando-se a testemunhar.
Abbas Lavasani confrontou os terroristas e
foi morto por se recusar a ceder.
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Síndrome de Estocolmo Síndrome de Londres
Vínculo emocional baseado na identificação com
o agressor.
Rejeição e postura de enfrentamento
contra o agressor.
Mecanismo inconsciente de sobrevivência e
adaptação à situação de medo e dependência.
Reação de resistência psicológica e moral
diante da agressão e da injustiça.
Vítima pode agir para proteger o agressor. Vítima pode se colocar em risco por não
aceitar a dominação ou violência.
✓ Síndrome de Lima
A Síndrome de Lima é um fenômeno psicológico no qual o criminoso desenvolve
sentimentos positivos pelas vítimas, como empatia, simpatia, admiração ou até afeição. Essa
resposta emocional por parte do sequestrador surge, geralmente, após um período de
convivência direta, em que o agressor passa a perceber a vítima como um ser humano com
emoções, histórias e valores, o que gera identificação e compaixão.
O termo foi cunhado após um episódio real ocorrido em 1996, na cidade de Lima, no Peru,
quando membros do grupo guerrilheiro MRTA fizeram mais de 400 reféns durante um evento
na embaixada japonesa. Com o tempo, os sequestradores começaram a criar vínculos com os
reféns e, surpreendentemente, passaram a libertá-los voluntariamente, mesmo sem receber o
que haviam exigido inicialmente. Esse caso demonstrou que, em certas situações, a empatia
pode interferir nas intenções criminosas, levando a comportamentos inesperados. Embora
menos discutida do que a Síndrome de Estocolmo, a Síndrome de Lima oferece uma
perspectiva inversa e igualmente relevante sobre o impacto da convivência forçada em
ambientes de sequestro. Ela mostra como a humanização da vítima pode desconstruir o papel
do agressor, revelando que, em determinados contextos, o criminoso também pode ser
emocionalmente afetado pelas circunstâncias do crime.
Segue quadro comparativo.
Síndrome de Lima Síndrome de Estocolmo Síndrome de Londres
Lima, Peru – Sequestro na
embaixada japonesa (1996)
Estocolmo, Suécia – Tentativa
de assalto a banco (1973)
Londres, Inglaterra – Invasão
da embaixada iraniana (1980)
O criminoso desenvolve
empatia em relação à vítima
A vítima desenvolve empatia
em relação ao criminoso A vítima rejeita o criminoso
Empatia, afeição, simpatia,
proteção
Afeto, dependência
emocional, lealdade
Ódio, aversão, repulsa,
confronto
Criminoso se sensibiliza e cria
vínculo com a vítima
Vítima passa a defender e até
proteger o agressor
Vítima enfrenta e desafia seu
algoz
Liberação dos reféns sem
cumprimento de exigências
Vítimas se recusam a
testemunhar contra
criminosos
A vítima é muitas vezes
atacada por se opor ao
agressor
Inversão do papel tradicional
de poder
Submissão emocional da
vítima
Rejeição e resistência ativa da
vítima
✓ Síndrome da mulher de potifar
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A Síndrome da Mulher de Potifar é uma expressão usada para descrever situações em
que uma pessoa — geralmente uma mulher — acusa falsamente outra de assédio, tentativa de
estupro ou comportamento sexual inadequado, motivada por vingança, frustração, rejeição,
raiva ou desejo de prejudicar o acusado.
O nome vem de uma passagem bíblica do Antigo Testamento, no livro de Gênesis.
Segundo o relato, José, filho de Jacó, foi vendido como escravo ao Egípcio Potifar, um oficial do
faraó. A esposa de Potifar se encantou por José e tentou seduzi-lo. Quando ele recusou suas
investidas, ela o acusou falsamente de tentativa de estupro. Como resultado, José foi preso
injustamente, apesar de inocente.
Tal situação envolve falsas acusações, geralmente de natureza sexual motivadas por
sentimentos como rejeição, vingança, ciúmes ou desejo de retaliação. A pessoa acusada pode
sofrer danos sociais, psicológicos e jurídicos graves.
Embora seja um fenômeno raro, tem grande impacto quando ocorre, especialmente por
envolver questões delicadas e de difícil prova.
É preciso pontuar que essa síndrome não deve ser usada de forma leviana para
desacreditar vítimas reais de abuso. Casos de falsas acusações são exceção, não a regra. O uso
indevido dessa expressão pode prejudicar o debate sobre crimes sexuais e deslegitimar o
sofrimento de vítimas verdadeiras.
✓ Síndrome de Barbie
A chamada Síndrome de Barbie reflete uma crítica social profunda à forma como a
mulher é historicamente tratada como objeto, e não como sujeito de direitos. Essa ideia não tem
como objetivo condenar o cuidado pessoal, a vaidade ou escolhas individuais femininas, mas
sim chamar atenção para o condicionamento estrutural imposto às mulheres desde a infância,
que as leva, muitas vezes, a se enxergarem mais como instrumentos de agradar, servir e cuidar,
do que como indivíduos com plena autonomia e liberdade.
Esse processo começa de forma sutil, geralmente por meio da socialização infantil,
quando meninas são incentivadas a brincar com bonecas, miniaturas de eletrodomésticos,
utensílios domésticose outros símbolos que representam papéis sociais tradicionalmente
atribuídos à mulher: dona de casa, mãe cuidadora, companheira submissa. Essas influências
moldam comportamentos, silenciam vontades e, pior, plantam a ideia de que o valor feminino
está sempre vinculado à aparência ou à função que exerce para os outros. Com isso, não é
incomum que, ao sofrerem agressões ou abusos, muitas mulheres sequer reconheçam que
estão sendo vitimizadas — sentem culpa, vergonha ou até acreditam que mereceram, fruto
dessa cultura de coisificação que normaliza a violência.
Além disso, a Síndrome de Barbie chama atenção para um fenômeno igualmente
preocupante: a vitimização secundária. Essa ocorre quando autoridades, que deveriam acolher
e proteger, acabam revitimizando a mulher, seja por comentários misóginos, julgamentos de
cunho moral, ou pela negação sutil de acolhimento institucional. Casos em que vítimas de
estupro são questionadas sobre a roupa que usavam, sobre seu comportamento ou suas
escolhas pessoais revelam o machismo institucional ainda presente em muitos setores da
justiça e segurança pública. Isso pode desestimular a denúncia, fortalecer a impunidade e
alimentar o ciclo da violência, especialmente nos chamados crimes de "cifra negra", que
permanecem ocultos por não serem oficialmente registrados.
51
✓ Síndrome do Abandono Aprendido
A Síndrome do Abandono Aprendido — também conhecida como desamparo aprendido
(learned helplessness, no termo original em inglês) — é um fenômeno psicológico identificado
e estudado principalmente por Martin Seligman, um dos fundadores da Psicologia Positiva. Esse
conceito surgiu a partir de experimentos com animais, mas foi rapidamente expandido para
explicar comportamentos humanos em contextos de sofrimento, abuso e repetidas frustrações.
Trata-se de um estado mental e emocional em que a pessoa, após vivenciar
repetidamente situações de dor, fracasso ou abandono sem conseguir reagir de forma eficaz,
internaliza a crença de que nada do que fizer poderá mudar sua realidade. Esse aprendizado
leva a uma paralisia emocional e comportamental, marcada por passividade, desistência, baixa
autoestima e apatia diante de novas oportunidades ou desafios — mesmo quando há, de fato,
chances reais de mudança ou superação.
Síndrome Origem
Característica
Principal Consequência
Estocolmo
Sequestro em banco
na Suécia (1973)
Vítima cria laços
emocionais com o
agressor
Mecanismo inconsciente de
sobrevivência; identificação
com o opressor como forma de
autoproteção
Londres
Invasão à embaixada
do Irã em Londres
(1980)
Vítima reage com
repulsa, resistência e
até ódio ao agressor
Reflexo de inconformismo;
recusa da dominação ou
identificação com o agressor
Lima
Sequestro na
embaixada japonesa
no Peru (1996)
Sequestradores
desenvolvem empatia e
afeto pelas vítimas
Desumanização do crime; o
criminoso passa a ver a vítima
como semelhante, promovendo
libertação
Mulher de
Potifar
Passagem bíblica
sobre José e a esposa
de Potifar
Falsa acusação de
natureza sexual,
motivada por rejeição,
ciúmes ou vingança
Pode gerar sérias injustiças e
danos sociais; fenômeno raro,
mas com alto impacto
emocional e legal
Barbie
Crítica social
contemporânea à
cultura de gênero
Condicionamento da
mulher como objeto
desde a infância
Coisificação leva à tolerância à
violência e à vitimização
secundária em ambientes
institucionais
Abandono
Aprendido
Estudos de Martin
Seligman com cães
na década de 1960
Pessoa acredita que
não pode mudar sua
situação, mesmo
quando há
possibilidade real
Desenvolve apatia, passividade
e desistência diante da vida;
comum em vítimas de abuso
prolongado
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
52
QUESTÃO 01. Dentro do tema Vitimização, denomina-se
A) vitimização primária, quando a vítima sofre a falta de amparo das instâncias formais de
controle social.
B) heterovitimização, quando ocorre a autorrecriminação da vítima, pela ocorrência do delito.
C) vitimização indireta, quando a vítima sofre a falta de amparo de sua família e de seu círculo
de amigos.
D) sobrevitimização, quando a vítima sobrevive ao crime contra ela praticado.
E) revitimização, quando a vítima, por ser familiar de outra vítima, acaba sofrendo, junto a esta,
as consequências do crime.
QUESTÃO 02. Sobre vitimização primária e secundária, assinale a alternativa correta.
A) A vítima primária é aquela que efetivamente sofre o prejuízo do crime, ao passo que a vítima
secundária é aquela que sofre com o processo de violência do criminoso nos crimes de roubo
B) A vítima primária é o sujeito passivo do crime ao passo que a vitimização secundária é o
sofrimento da família e de pessoas ligadas à vítima
C) A vitimização primária decorre da autoculpa que a vítima mesmo se impõe por ter sofrido
determinado crime
D) A vitimização secundária decorre da atuação que os meios de comunicação em massa e
redes sociais possam impor à vítima que revive a cena criminosa de forma desnecessária, ante
a espetacularização
E) A vitimização primária é o dano decorrente do próprio fato criminoso. As consequências da
vitimização podem ser de ordem físicas, patrimonial, moral, psicológica, sexual, pois varia com a
espécie de crime. Já, por outro lado, a vitimização secundária ocorre no âmbito institucional,
dentro dos próprios órgãos formais de Estado. Também chamada de “Revitimização” ou de
“Sobrevitimização”, é aquela causada pelas instâncias formais que detêm o controle sobre o
âmbito social (isto é, em delegacias, no Ministério Público etc.). Abrange os custos pessoais
derivados da intervenção do sistema legal que podem aumentar o sofrimento da vítima. Ocorre
quando há desrespeito às garantias e aos direitos fundamentais das vítimas de crime no curso
da investigação ou do processo penal
QUESTÃO 03. No que se refere à vitimologia, leva em conta a participação ou provocação da
vítima: a) vítimas ideais; b) vítimas menos culpadas que os criminosos; c) vítimas tão culpadas
quanto os criminosos; d) vítimas mais culpadas que os criminosos e e) vítimas como únicas
culpadas.
É correto afirmar que a classificação contida no enunciado é atribuída a
A) Howard Becker.
B) Israel Drapkin.
C) Edwin Lemert.
D) Robert Merton.
E) Benjamin Mendelsohn.
QUESTÃO 04. Segundo a classificação de vítimas proposta por Mendelsohn, o jovem que
transita por rua conhecida por ser local perigoso, falando ao celular, mediante uso de fones de
ouvido, portanto, desatento ao movimento em seu redor, ocasião em que tem o seu aparelho
eletrônico subtraído por meliantes, é considerado uma vítima
A) por ignorância ou vítima de menor culpabilidade.
B) mais culpada que o delinquente ou vítima por provocação.
C) tão culpada quanto o delinquente ou vítima voluntária.
D) como única culpada ou pseudovítima.
E) totalmente inocente ou vítima ideal.
53
QUESTÃO 05. Chama-se neutralização da vítima
A) o abandono da vítima na relação jurídico-processual penal.
B) a reparação do dano material sofrido pela vítima.
C) a reinserção social da vítima após o trauma por ela sofrido.
D) a atuação do Estado a fim de evitar a vingança privada.
E) a possibilidade de participação da vítima na relação jurídico-processual penal.
QUESTÃO 06. Sabe-se que o estudo da vítima em Criminologia passou por três grandes
períodos. Assinale a alternativa correta a respeito de uma dessas fases.
A) Neutralização do poder da vítima: punições extremamente leves, por pressão dos grupos
abolicionistas.
B) Idade de ouro da vítima: impossibilidade de composição e de autotutela; inaplicabilidade da
Lei de Talião – “olho por olho, dente por dente”.
C) Revalorização do poder do verdugo: processo inquisitivo, perda do poder de reação ao delito
cometido por parte da vítima, em detrimento da atuação estatal.
D) Idade de ouro do verdugo: possibilidade de composição e de autotutela; Código de Hamurabi.
E) Revalorizaçãodo poder da vítima: constatação de que a vítima havia sido olvidada pelo
sistema de persecução penal e que é preciso recuperar seu protagonismo.
QUESTÃO 07. Verifica o comportamento da vítima e considera-o para efeitos de tipificação
penal, tendo por objetivo aplicar um direito penal mais justo ao autor do fato, e não a
incriminação da vítima, conforme poderia se interpretar equivocadamente.
É correto afirmar que o enunciado se refere à
A) vitimização secundária.
B) vitimização terciária.
C) revitimização.
D) vitimodogmática.
E) vitimologia corporativa.
QUESTÃO 08. À luz dos estudos criminológicos modernos, assinale a opção correta com relação
ao papel da vítima e a sua importância na persecução penal.
A) A vítima não possui capacidade de influir na gênese do crime.
B) No processo penal, a participação da vítima é exclusivamente periférica, sendo o réu a figura
central em destaque.
C) No direito penal hodierno prevalece a tríade criminológica: delito, delinquente, pena.
D) A atitude da vítima de colocar a si mesma em risco, em regra, é causa de exclusão do tipo
penal.
E) A participação da vítima em determinados crimes é indispensável para a configuração da
figura típica.
QUESTÃO 09. Considerando que “Vitimologia” é a disciplina que estuda o papel da vítima no
fenômeno da criminalidade, é correto afirmar que
“vitimodogmática” é a trajetória percorrida pela vítima, rumo à vitimização.
A) “dupla criminal” é aquela que se vitima a si própria, com fins fraudulentos.
B) “iter victimae” é o estudo da contribuição da vítima na ocorrência do crime.
C) “pseudovítima” é o par formado pelo criminoso e pela vítima.
D) “heterovitimização” é a autoculpabilização da vítima pelo crime contra si praticado.
QUESTÃO 10. Após ser agredida por seu marido, Ana Cláudia busca auxílio em delegacia policial
próxima a sua residência. Após narrar todo o ocorrido ao servidor responsável, ele afirmou que
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não parecia ser nada grave porque ela não apresentava nenhuma marca de lesão, sugerindo,
em tom jocoso, que ela deveria voltar logo para casa porque “marido está difícil de encontrar”.
Diante disso, Ana Cláudia deixa a delegacia de polícia sem realizar o registro de ocorrência
pretendido.
Dentro de uma perspectiva criminológica, os fatos hipotéticos acima narrados descrevem,
respectivamente, as noções de:
A) vitimização secundária e vitimização primária;
B) vitimização primária e vitimização terciária;
C) seletividade primária e vitimização primária;
D) vitimização primária e vitimização secundária;
E) seletividade secundária e vitimização secundária.
Considerando que o crime se manifesta como um fenômeno de natureza social, as teorias
sociológicas procuram compreendê-lo sob duas óticas principais: a etiológica, que investiga
suas causas, e a interacionista, que foca na reação da sociedade diante da conduta criminosa.
O pensamento criminológico atual é fortemente influenciado por duas correntes
fundamentais: as teorias do consenso e as teorias do conflito.
➢ TEORIAS DO CONSENSO; DA INTEGRAÇÃO; FUNCIONALISTAS
As teorias do consenso sustentam que a coesão social só é alcançada quando há um
acordo coletivo sobre as normas que regem a vida em sociedade. Segundo essa perspectiva,
frequentemente associada a posturas conservadoras e ideologias de direita, a ordem social
depende da adesão espontânea dos indivíduos e instituições a um conjunto comum de
valores.
Uma metáfora útil para compreender essa lógica é a de um mecanismo composto por
diversas engrenagens — cada uma representando uma pessoa ou uma organização. Quando
todas funcionam em sincronia, a máquina opera de forma eficiente. Porém, se uma dessas
peças apresenta falhas — como alguém que infringe as leis —, é necessário isolá-la para
reparo, restaurar sua funcionalidade e, então, recolocá-la no sistema, numa alusão clara ao
processo de punição, reeducação e reintegração social.
Essa linha de pensamento se ancora na crença de que a convivência harmoniosa resulta
da integração de todos os membros da sociedade, da aceitação ampla de valores
predominantes e da execução de papéis sociais que garantem o equilíbrio do todo —
princípios diretamente ligados ao funcionalismo.
Apesar de centralizar o foco no comportamento desviante, essa abordagem reconhece
que condições externas, como contextos sociais adversos ou ambientes degradados,
também podem influenciar a conduta criminosa.
Teorias Sociológicas
55
✓ ESCOLA DE CHICAGO
A chamada Escola de Chicago desempenhou um papel decisivo na consolidação da
sociologia nos Estados Unidos, especialmente entre as décadas de 1920 e 1930. Seus estudos,
conduzidos pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, surgiram em
resposta ao crescimento expressivo da criminalidade urbana, especialmente naquela cidade,
que serviu como laboratório social para as investigações.
Com o avanço da industrialização e a consequente expansão das áreas urbanas, notou-se
um aumento paralelo nos índices de delitos. Diante desse cenário, os pesquisadores da Escola
de Chicago direcionaram seus esforços à análise da dinâmica das cidades, concluindo que o
espaço urbano exercia influência direta sobre os comportamentos desviantes.
A partir dessa abordagem, ficou evidente para os estudiosos que a criminalidade não era
uma manifestação isolada do indivíduo, mas resultado das condições ambientais em que ele se
encontrava inserido. A convivência contínua com pessoas envolvidas em práticas ilícitas
acabava por naturalizar tais condutas, levando o indivíduo, eventualmente, a reproduzir os
mesmos atos.
Durante o século XIX, a cidade de Chicago passou por uma transformação
impressionante em termos populacionais. Em 1840, contava com pouco mais de 4 mil
moradores; já em 1880, esse número havia saltado para meio milhão, ultrapassando a marca de
um milhão por volta de 1900. Esse aumento vertiginoso da população foi impulsionado, em
grande parte, pela chegada de imigrantes estrangeiros que buscavam oportunidades de
trabalho. O crescimento populacional, porém, não foi acompanhado por um planejamento
urbano eficaz. A cidade se expandiu de forma caótica, enfrentando sérios desafios relacionados
não apenas à infraestrutura, mas também ao ambiente familiar, às relações de trabalho, à
moralidade e aos valores culturais da época.
Foi nesse cenário de rápida urbanização e desordem social que surgiu, dentro da Escola
de Chicago, a chamada Teoria da Ecologia Criminal — também conhecida como Teoria da
Desorganização Social. Essa abordagem marcou o início da Criminologia Ambiental, ao propor
que o meio em que as pessoas vivem exerce influência significativa sobre o comportamento
criminoso. A ideia central é que ambientes urbanos desorganizados e socialmente instáveis
tendem a favorecer a ocorrência de crimes, ao invés de preveni-los.
Veremos agora, de maneira resumida, algumas teorias que surgiram a partir desta escola.
• Teoria da Desorganização Social (ou Ecológica)
Formulada por volta de 1915, essa teoria tem como base os estudos pioneiros de Robert
Park e Ernest Burgess, notadamente na obra The City: Suggestion for the Investigation of
Human Behavior in the City Environment. A principal hipótese defendida é que o progresso
acelerado e a expansão desordenada dos centros urbanos estão intrinsecamente ligados ao
aumento da criminalidade.
De acordo com essa perspectiva, o crescimento das cidades tende a enfraquecer os laços
sociais e os mecanismos informais de controle — como os vínculos familiares, as redes de
amizade e a convivência comunitária. A ruptura dessas estruturas sociais tradicionais acarreta a
perda de valores essenciais à coesão coletiva, como solidariedade, civismo e pertencimento.
56
Esse enfraquecimento da estrutura social gera um ambiente propício à delinquência,
uma vez que compromete a capacidade da comunidade de regular o comportamento de seus
membros. Emsíntese, quanto mais desorganizado e fragmentado for o contexto social, maior
será sua vulnerabilidade à criminalidade.
• Teoria do Espaço Defensável
Desenvolvida inicialmente na década de 1940 e consagrada pela obra Defensible Space,
do arquiteto Oscar Newman, essa teoria defende que a própria configuração arquitetônica e
urbanística das cidades pode desempenhar um papel decisivo na prevenção da criminalidade.
A premissa central é que construções bem planejadas — residenciais ou públicas —
devem favorecer a vigilância natural pelos próprios usuários, ao mesmo tempo em que
dificultam a atuação de infratores. Para isso, devem incorporar tanto barreiras físicas (como
muros, cercas e portões) quanto barreiras simbólicas (como boa iluminação, organização visual
e sinalizações que transmitam sensação de ordem e segurança).
O objetivo é criar espaços que transmitam a percepção de controle e presença constante,
desestimulando potenciais transgressores. Quanto maior a visibilidade e a possibilidade de
intervenção comunitária, menor a atratividade do ambiente para a prática de crimes.
• Teoria das Janelas Quebradas
A Teoria das Janelas Quebradas, desenvolvida pelos criminologistas James Wilson e
George Kelling na década de 1980, propõe que sinais de abandono e desordem em um
ambiente urbano — como lixo nas ruas, pichações ou uma janela quebrada — transmitem uma
sensação de negligência e falta de controle. Essa percepção leva à ideia de que ninguém está
cuidando daquele espaço, o que pode desencadear comportamentos desviantes, já que os
indivíduos deixam de sentir a presença da autoridade e da vigilância social.
Uma das bases empíricas que inspiraram esse conceito foi o experimento realizado em
1969 pelo psicólogo Philip Zimbardo, da Universidade de Stanford. Em seu estudo, ele deixou
dois carros abandonados em regiões distintas: um no Bronx, bairro de menor renda em Nova
Iorque, e outro em Palo Alto, na Califórnia, área de classe alta. O veículo no Bronx foi depredado
rapidamente, enquanto o de Palo Alto permaneceu intacto — até que Zimbardo quebrou
propositalmente uma janela. A partir desse pequeno ato de desordem, o carro foi igualmente
destruído em poucas horas, mesmo em um bairro considerado seguro. O experimento
demonstrou que o primeiro sinal de deterioração pode provocar uma reação coletiva de descaso
e vandalismo.
Com base nessa lógica, a teoria defende que a tolerância a pequenas infrações contribui
para o surgimento de crimes mais graves. Por isso, seria fundamental agir de forma rápida e
firme diante dos primeiros indícios de desorganização no espaço urbano. A repressão imediata
a delitos menores não apenas impede sua repetição, mas também evita a sensação de
impunidade e mantém a ordem em comunidades que, de outra forma, poderiam se tornar
zonas de risco. O cuidado com o ambiente, portanto, atua como uma estratégia eficaz de
prevenção criminal.
o Política de tolerância zero
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A chamada política de tolerância zero tem suas raízes na Teoria das Janelas Quebradas e
foi adotada em Nova Iorque durante a gestão do então prefeito Rudolph Giuliani. Essa
abordagem surgiu no contexto do movimento conhecido como Lei e Ordem (Law and Order),
e consistia em uma filosofia jurídico-política que defendia a aplicação rigorosa e uniforme das
normas penais, eliminando qualquer espaço para decisões subjetivas por parte da polícia ou do
judiciário. O objetivo era garantir que todas as pessoas, independentemente das circunstâncias
ou do grau de envolvimento no delito, recebessem punições idênticas por infrações
semelhantes.
Ao aplicar com rigor essa lógica, a política passou a tratar inclusive delitos de menor
gravidade com severidade. Em vez de alternativas penais, como penas restritivas de direitos ou
medidas socioeducativas, adotava-se a punição direta e imediata, reforçando a ideia de que toda
infração seria inevitavelmente penalizada. A estratégia visava reforçar o respeito às normas de
convivência por meio do medo da sanção, com a expectativa de que, a longo prazo, esse tipo de
intimidação criaria um ambiente mais seguro e restauraria a confiança da sociedade nas
instituições públicas.
o Teoria dos Testículos Quebrados
Inspirada por princípios semelhantes, surgiu também a chamada Teoria dos Testículos
Esmagados (Breaking Balls Theory), que, embora relacionada à tolerância zero, foca
especialmente na postura das forças de segurança. Nessa perspectiva, a polícia deve atuar de
maneira firme e implacável, mesmo diante de delitos leves, a fim de demonstrar autoridade e
desestimular ações criminosas. A lógica é simples: quanto mais rígida e ostensiva a atuação
policial, maior a sensação de risco para o infrator, que tende a abandonar o local em busca de
regiões com menor controle. No entanto, essa teoria é criticada por estudiosos, pois não resolve
o problema da criminalidade em sua essência — apenas a transfere de um território para outro.
✓ TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL / APRENDIZAGEM / SOCIAL LEARNING
Desenvolvida por Edwin Sutherland, influenciada pelos pensamentos do sociólogo
francês Gabriel Tarde, propõe uma nova perspectiva sobre a origem da criminalidade. Em vez
de associar o crime exclusivamente à marginalização das classes sociais mais baixas, Sutherland
argumenta que o comportamento delitivo atravessa todas as camadas sociais — ou seja, tanto
pobres quanto ricos cometem crimes. Para ele, o crime não é um reflexo da pobreza, mas sim
um comportamento aprendido dentro das relações sociais.
Segundo sua teoria, o ser humano forma sua conduta com base nas experiências sociais
às quais está exposto. Assim como se adquire uma profissão ou um hábito, é possível assimilar
práticas criminosas por meio da convivência com indivíduos que as reproduzem. Nesse
processo de socialização, a pessoa absorve desde as técnicas e estratégias para cometer delitos
até as justificativas que os tornam aceitáveis dentro daquele grupo. Quando os exemplos de
desvios de conduta predominam sobre os de comportamento ético, o indivíduo tende a repetir
aquilo que observa — como ocorre, por exemplo, em contextos familiares ou em círculos de
amizades onde a criminalidade é naturalizada.
Para Sutherland, o aprendizado do crime depende de uma interação direta e pessoal com
os demais membros do grupo. Ele acredita que essa troca próxima e constante é o que forma o
comportamento delinquente, diferenciando-se de Gabriel Tarde, que via a aprendizagem como
um processo baseado principalmente na imitação. Em vez de um sujeito passivo que copia o
que vê, Sutherland propõe um agente ativo, que absorve valores e práticas por meio da
convivência e comunicação contínuas com seu meio social.
58
ATENÇÃO: No final da década de 1930, Edwin Sutherland introduziu o conceito de "crime
de colarinho branco", revelando que pessoas das classes altas também cometem delitos,
especialmente econômicos, ao assimilarem comportamentos ilícitos em ambientes sociais
corrompidos. Essa ideia rompeu com a visão de que o crime estaria restrito às camadas mais
pobres, mostrando que condutas como corrupção e fraude são aprendidas e normalizadas
mesmo entre os mais privilegiados. Essa inovação teve grande impacto no desenvolvimento do
Direito Penal Econômico, ao ampliar o foco da criminologia para além da criminalidade
tradicional.
• Teoria da Identificação diferencial
A Teoria da Identificação Diferencial, elaborada por Daniel Glaser, propõe uma visão
própria sobre o processo de aprendizagem da criminalidade, diferenciando-se da Teoria da
Associação Diferencial. Enquanto esta última defende que o comportamento delinquente é
absorvido a partir do contato direto e da convivência com indivíduos envolvidos no crime, a
teoria de Glaser argumenta que não é necessário haver proximidade física ou interação pessoal
para que alguém adote condutas desviantes. O ponto central da proposta é a identificação
simbólica com certosdeve preencher, de forma
cumulativa, os seguintes requisitos:
• O fato criminoso deve ocorrer de maneira reiterada perante a sociedade;
• O fato deve causar sofrimento à vítima, ou seja, possuir caráter aflitivo;
• O fato deve ocorrer em mais de um local, ou seja, deve ocorrer de maneira
distribuída no território nacional;
• Deve haver um consenso quanto à identificação das causas do crime (etiologia) e
às estratégias de intervenção consideradas eficazes para o seu enfrentamento.
MÉTODOS DA CRIMINOLOGIA
Empírico ou
Experimental
Indutivo Biológico Sociológico
Consiste na
observação do caso
concreto com o
objetivo de extrair as
causas e fatores
ligados ao crime.
Tomando por base a
análise de casos
concretos, busca-se
chegar a conclusões
que possam ser
aplicadas a casos
semelhantes com o
fito de inibir novos
delitos.
Parte-se do caso
concreto para as
premissas genéricas.
Análise de aspectos
orgânicos da pessoa
do criminoso
(exemplos:
diagnósticos de
doenças mentais e
outros fatores de
predisposição à
criminalidade)
Observa-se a
incidência de fatores
sociais, com o
objetivo de identificar
padrões
comportamentais,
valores
predominantes em
determinados grupos
sociais entre outros.
6
➢ Criminoso: O conceito de criminoso ou delinquente varia de acordo com a ótica da escola
em análise. Vamos destacar, em apertada síntese, a visão de algumas das principais
escolas:
• Escola clássica ou Retribucionista: O criminoso é assemelhado a figura do
pecador, dotado de livre arbítrio, que opta por seguir o caminho do mal, mesmo
possuindo a oportunidade de praticar o bem;
• Escola positivista ou antropológica: O criminoso herda o gene criminoso, é um
ser atávico. Defende o determinismo biológico. Esses fatores podem ser
unicamente hereditários ou podem decorrer de influência social.
• Escola Correcionalista: Enxerga o criminoso como alguém que carece de ajuda,
sendo incapaz de controlar a si próprio. Por isso mesmo não merecia punição.
Nessa senda, a pena seria uma espécie de tratamento e teria uma função
terapêutica/pedagógica.
• Filosofia Marxista: Enxerga o indivíduo criminoso como resultado das
desigualdades estruturais do sistema capitalista, fundamentando uma lógica de
determinismo social e econômico.
• Visão atual/moderna: A concepção contemporânea do criminoso é a de um
indivíduo comum, distinto das representações anteriores — não é visto como
pecador, como nas escolas clássicas; nem como ser instintivo e perigoso, como
propunham os positivistas; tampouco como figura fragilizada, como afirmavam os
correcionalistas; ou como simples produto do sistema, conforme a visão marxista.
É, antes, um sujeito real inserido na sociedade atual, que está sujeito às normas
jurídicas, mas que pode descumpri-las por motivações nem sempre plenamente
compreendidas por aqueles ao seu redor.
➢ Vítima: É a pessoa que sofreu o dano de maneira direta ou indireta. Iremos analisar a
vítima em um tópico próprio.
➢ Controle Social: A convivência em sociedade exige a atuação de mecanismos e
instrumentos que possibilitem o surgimento de um padrão harmônico de convívio. O
professor Paulo Sumariva define controle social como “o conjunto de instituições,
estratégias e sanções sociais que pretendem promover a submissão dos indivíduos aos
modelos e normas de convivência social”.
A partir dessa premissa, apresentam-se dois sistemas de controle social; O
controle/agentes de controle social FORMAL e o controle/agentes de controle social
INFORMAL.
• Controle ou agentes de controle social INFORMAL: São aqueles que têm
influência na vida do indivíduo desde o seu nascimento apontando determinados
comportamentos a serem adotados. NÃO POSSUEM PODER DE COERÇÃO. Ex:
Família, Igreja, Escola, Ambiente de trabalho, Amizades e etc.
• Controle ou agentes de controle social FORMAL: São órgãos e instrumentos
constituídos pelo estado que devem intervir na vida do indivíduo quando o
Highlight
Highlight
Highlight
Highlight
7
controle socias informal falhar. É a chamada ultima ratio. POSSUEM PODER DE
COERÇÃO. Esse controle pode ser dividido em seleções/instâncias, a saber:
✓ Primeira Seleção/Instância/ Primário: Corresponde ao início da
persecução penal e objetiva esclarecer a materialidade, autoria e
circunstâncias do crime. É a atuação da polícia judiciária (PC ou PF);
✓ Segunda Seleção/Instância/ Secundário: Caracteriza-se pela atuação do
Ministério Público, com a oferta da denúncia em face do delinquente.
✓ Terceira Seleção / instância / terciário: Com a tramitação do processo
judicial (recebimento da peça acusatória até a condenação definitiva),
caracteriza-se com a participação do Poder Judiciário.
➢ FUNÇÕES/FINALIDADES DA CRIMINOLOGIA
A Criminologia tem por objetivo central a compreensão e prevenção da criminalidade, a
intervenção sobre o indivíduo infrator e a análise crítica das diferentes formas de resposta ao
fenômeno criminal, constituindo-se como um campo do saber alicerçado em fundamentos
científicos. A seguir, destacam-se suas principais funções:
➢ Compreensão e prevenção do crime: A Criminologia busca identificar os fatores que
originam o comportamento delituoso (criminogênese), por meio da análise de suas
causas, com a finalidade de propor, posteriormente, estratégias preventivas voltadas à
redução desses fatores de risco.
➢ Intervenção no indivíduo infrator: A análise criminológica do delinquente visa
compreender as motivações e circunstâncias que o levaram à prática criminosa. A partir
desse diagnóstico, desenvolvem-se medidas voltadas tanto à prevenção primária (evitar
que indivíduos em situações semelhantes cometam crimes) quanto à ressocialização,
com foco na não reincidência do condenado.
➢ Avaliação crítica das respostas sociais à criminalidade: Por ser uma ciência de caráter
interdisciplinar, a Criminologia se apoia em conhecimentos advindos de outros campos,
como Sociologia, Psicologia e Direito. No entanto, uma vez que muitas dessas ciências
também operam com hipóteses e deduções — e não necessariamente com dados exatos
—, a Criminologia aplica um critério seletivo, valorizando teorias e propostas que
contribuam de forma concreta e eficaz para a compreensão e enfrentamento do crime.
Autores contemporâneos são uníssonos ao afirmar que a função primordial da
Criminologia é informar a sociedade e os órgãos estatais a respeito do crime, do criminoso, da
vítima e dos mecanismos de controle social. Para isso, reúne um corpo de conhecimentos
confiáveis que permitam compreender o fenômeno criminal de forma científica, preveni-lo de
maneira efetiva e intervir positivamente sobre o indivíduo que pratica o delito
Função Descrição
1. Compreensão e Prevenção do
Crime
- Estuda as causas do crime (criminogênese)
- Diagnostica fatores de risco
- Propõe estratégias de prevenção com base nesses
diagnósticos
8
Função Descrição
2. Intervenção sobre o
Delinquente
- Analisa o perfil e as motivações do infrator
- Desenvolve ações preventivas para evitar que outros
cometam crimes
- Promove a ressocialização do condenado
3. Valoração das Respostas à
Criminalidade
- Avalia criticamente contribuições de outras ciências (ex.:
Sociologia, Psicologia)
- Aplica um “filtro” para adotar apenas abordagens úteis e
eficazes
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
QUESTÃO 01 - Considera-se um objeto da criminologia
a) as ciências sociais.
b) o juiz processante.
c) a mídia.
d) o Ministério Público.
e) a vítima.
QUESTÃO 02 - O conceito de controle social informal compreende as seguintes instituições:
a) Instituições penitenciárias, instituições policiais e varas criminais.
b) Família, Igreja e organizações não governamentais.
c) Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário.
d) Sociedade civil, mídia e instituições policiais.
e) Manicômios, prisões e conventos.
QUESTÃO 03 - Em respeito ao controlemodelos de comportamento, que podem ser observados à distância.
A teoria parte do pressuposto de que as pessoas podem se inspirar e internalizar condutas
com base na admiração ou na empatia por personagens ou figuras públicas, ainda que não
tenham nenhum tipo de relacionamento direto com elas. Isso significa que indivíduos podem
ser influenciados por imagens e histórias veiculadas em conteúdos midiáticos, como filmes,
séries, novelas ou até noticiários, especialmente quando esses materiais romantizam ou
glorificam figuras criminosas. Essa influência é considerada tão poderosa quanto a convivência
direta com delinquentes.
Nesse sentido, a teoria lança um olhar crítico sobre o papel da mídia na formação de
valores sociais, alertando para os impactos de representações que, por exemplo, retratam vilões
como justiceiros ou traficantes como heróis sociais, enquanto policiais e autoridades aparecem
como corruptos ou opressores. Essa inversão de papéis, ao naturalizar ou valorizar o
comportamento criminoso, pode gerar identificação por parte do público e incentivar, ainda
que indiretamente, a replicação desses padrões na realidade.
• Teoria do Reforço Diferencial
Essa teoria sustenta que o comportamento criminoso é moldado pela interação contínua
entre o indivíduo e o contexto social ao seu redor, sendo afetado pela presença de fatores como
satisfação e privação. De acordo com essa perspectiva, aqueles que têm suas necessidades
atendidas reagem de maneira distinta em comparação com os que enfrentam privações. Por
exemplo, uma pessoa em situação de vulnerabilidade econômica, privada de direitos e recursos,
pode ser mais inclinada a cometer crimes contra o patrimônio para atender a suas carências.
Além das condições socioeconômicas, a teoria também reconhece que elementos
biológicos e bioquímicos podem influenciar o comportamento criminoso. Esses fatores, aliados
ao contexto social, podem aumentar a probabilidade de envolvimento com atividades
delituosas, dependendo das circunstâncias e dos estímulos recebidos ao longo da vida do
indivíduo.
Inspirada nos princípios da Escola Clássica, essa abordagem propõe que a efetividade da
punição está diretamente ligada à sua certeza e não à sua severidade. A ideia central é que a
59
ausência de consequências para ações criminosas incentiva a reincidência, o que torna essencial
a aplicação de sanções claras e consistentes para prevenir a criminalidade.
• Teoria do Condicionamento Operante
Essa teoria, desenvolvida na década de 1960 por Robert Burgress e Ronald Akers, é uma
variação da teoria da Associação Diferencial. Ela propõe que a prática de comportamentos
criminosos é moldada pelas experiências vividas ao longo da vida, resultando de uma série de
estímulos que o indivíduo recebe. De acordo com os autores, o processo de aprendizagem é
influenciado por princípios psicológicos de condicionamento operante, que podem ser tanto
positivos quanto negativos.
Esses princípios de condicionamento atuam de maneira a reforçar e incentivar
determinados comportamentos. Por exemplo, recompensas ou reforços positivos, como um pai
que elogia seu filho por atitudes corretas, podem estimular comportamentos desejáveis. Por
outro lado, punições ou reforços negativos, como abusos ou castigos excessivos, podem gerar
efeitos opostos, levando o indivíduo a adotar condutas problemáticas ou até mesmo criminosas.
A teoria sugere que a experiência de reforço, seja ela positiva ou negativa, desempenha
um papel crucial na formação do comportamento delinquente. Com isso, os autores destacam
que a forma como as pessoas são tratadas ao longo de suas vidas — desde o ambiente familiar
até as interações sociais mais amplas — influencia diretamente o desenvolvimento de atitudes
desviantes.
✓ TEORIA DA NEUTRALIZAÇÃO
A teoria da neutralização foi desenvolvida por David Matza e Gresham Sykes ao
analisarem a delinquência juvenil, observando como os próprios delinquentes utilizam
estratégias para justificar suas ações criminosas. Segundo essa perspectiva, o crime é um
comportamento aprendido através da interação social, mas alguns indivíduos passam a se
justificar por meio de argumentos que, de alguma forma, tentam racionalizar suas atitudes.
Matza e Sykes identificaram cinco principais técnicas de neutralização usadas pelos
criminosos para defender suas ações. A primeira é a negação de responsabilidade, onde o
delinquente alegou que sua conduta foi um acidente ou resultado de circunstâncias fora de seu
controle, como no caso de um criminoso que diz que sua violência é consequência de um
ambiente familiar desestruturado. A segunda técnica, negação do dano, envolve a ideia de que
o ato criminoso não causou danos reais à vítima, como no caso de um furto que é justificado
como algo sem grandes consequências. A negação da vítima é a terceira técnica, na qual o
criminoso acredita que a vítima merecia o que aconteceu, como um assalto cometido sob a
justificativa de fazer justiça social, comparando-se a personagens como Robin Hood.
A condenação dos condenadores é a quarta técnica, onde o delinquente descredita as
autoridades envolvidas no processo de justiça, acusando-os de injustiça ou maus tratos. A última
técnica, apelo à lealdade, é quando o criminoso justifica seu comportamento em nome de uma
causa superior ou ética, como um terrorista que alega agir por um bem maior, como uma
missão divina. Assim, essas técnicas de neutralização ajudam os criminosos a manterem uma
imagem de si mesmos como pessoas que agem por motivos justificados, apesar da ilegalidade
de suas ações.
Segue uma tabela
60
Negação de
Responsabilidade
O delinquente alega que sua ação
criminosa foi um acidente ou
resultado de circunstâncias externas.
"Minha violência é fruto do
ambiente desestruturado em
que cresci."
Negação do Dano
O criminoso afirma que sua ação não
causou danos reais à vítima ou que o
dano foi insignificante.
"Eu só furtava para uso
próprio, não causei mal a
ninguém."
Negação da Vítima
O criminoso acredita que a vítima
merecia a punição que recebeu.
"A pessoa rica merecia ser
assaltada, é uma forma de
justiça social."
Condenação dos
Condenadores
O delinquente desqualifica as
autoridades e o sistema de justiça,
acusando-os de injustos ou corruptos.
"A polícia é injusta, todos me
perseguem sem razão."
Apelo à Lealdade
O criminoso justifica sua conduta com
uma causa maior ou superior, como
uma missão ética ou mo
"Eu matei por uma causa
maior, estava cumprindo uma
missão divina."
✓ TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE
A Teoria da Subcultura, desenvolvida pelo sociólogo americano Albert K. Cohen (1918-
2014), ganhou destaque principalmente com a publicação de sua obra Delinquent Boys em 1955.
Cohen propôs que, dentro de uma cultura predominante, surgem grupos que formam uma
subcultura, um conjunto de valores e normas que se distanciam da cultura dominante e que
são geralmente associados a comportamentos desviantes. Essa teoria surgiu no contexto pós-
Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos experimentavam um período de grande
crescimento econômico e tecnológico.
Com o avanço das grandes cidades e a crescente industrialização, houve uma
intensificação da desigualdade social, refletindo no distanciamento cada vez maior entre as
classes sociais. O aumento da pobreza nas periferias das grandes metrópoles gerou um cenário
em que as camadas mais desfavorecidas da população não tinham acesso aos bens culturais e
educacionais que seriam típicos das classes mais altas. Esse fenômeno foi identificado como
uma subcultura que, embora reconhecesse os valores da cultura dominante, acabava por criar
seus próprios valores e normas, frequentemente associadas à delinquência.
Assim, a teoria de Cohen sugere que o aumento da criminalidade nas camadas mais
pobres está diretamente relacionado à falta de acesso à cultura dominante, resultando na
adoçãode valores alternativos, que muitas vezes podem envolver a prática de crimes. O foco,
portanto, está no fato de que essa subcultura acaba, em alguns casos, justificando
comportamentos que são socialmente considerados desviantes ou criminosos.
A subcultura delinquente se caracteriza por 03 fatores:
Não
utilitarismo
Muitos delitos são cometidos sem uma
motivação racional ou necessidade prática.
Jovens furtam roupas que não
irão usar.
61
✓ TEORIA DA ANOMIA / ESTRUTRAL-FUNCIONALISTA
A Teoria da Anomia, que tem origem no grego (a = ausência + nomos = lei), é uma ideia
importante na sociologia criminal. Ela descreve a situação em que a falha dos métodos
tradicionais de controle social, como a ineficácia das punições, junto com o descrédito nas
normas sociais e nos valores, leva a uma situação de desordem. Esse fenômeno, conhecido
como anomia, é caracterizado pelo abandono das regras de convivência, resultando em um
estado de anarquia.
Para fins didáticos, vamos dividir a anomia sob as vertentes de dois autores principais.
• Émile Durkheim
Durkheim foi o primeiro a introduzir o conceito de anomia, descrevendo-a como um
estado de desorganização social causado pela ausência de normas sociais que fossem
amplamente aceitas ou pela implementação de normas que favorecessem o isolamento e a
violência. Ele não via a anomia apenas como uma falta de leis, mas como a perda de eficácia das
normas sociais. Para ele, a anomia se refletia em uma falha das normas penais, como a não
realização da função de ressocialização e prevenção da pena.
O pensamento de Durkheim pode ser sintetizado da seguinte maneira: ele via o crime
como um componente natural da vida em sociedade, presente em todas as formas de
organização social. Da mesma forma, a resposta punitiva ao crime também era vista como algo
inerente e necessário, já que atende a uma exigência coletiva por ordem. Para Durkheim, o
crime não só é normal, mas também exerce função essencial no equilíbrio e na evolução cultural
e moral das sociedades. No entanto, quando os índices de criminalidade aumentam de forma
desproporcional, há um enfraquecimento das normas sociais, gerando instabilidade, perda de
referências éticas e desconfiança nas regras que regem o convívio coletivo — cenário este que
caracteriza o estado de anomia. Assim, o crescimento da criminalidade reflete diretamente o
colapso da legitimidade e da eficácia do sistema normativo.
• Robert King Merton
Robert King Merton, sociólogo americano, a partir das ideias de Émile Durkheim, propôs
que a criminalidade pode ser explicada pela violação de valores compartilhados pela sociedade,
argumentando que o comportamento criminoso é o resultado da incapacidade de alcançar
certos objetivos culturais estabelecidos, devido à falta de meios apropriados. A partir disso, ele
explicou que o desequilíbrio entre os fins culturais e os meios disponíveis pode levar a atitudes
desviante e criminosas. Merton popularizou sua teoria em 1949 com seu livro “Estrutura Social e
Anomia”.
Os objetivos (fins, metas) culturais representam aquilo que a maioria das pessoas busca
alcançar em sociedade — como conquistar riqueza, reconhecimento, bem-estar, prestígio e
Malícia da
conduta
Prazer em prejudicar ou causar dano ao
próximo, muitas vezes sem um motivo
objetivo.
Gangues que intimidam
jovens para que se integrem
ao grupo.
Negativismo
da conduta
Oposição consciente aos padrões e normas
predominantes na sociedade.
Pichação de muros como
forma de demonstrar rebeldia
contra a autoridade.
62
segurança. Já os meios institucionalizados correspondem às formas consideradas legítimas e
aceitas socialmente para se atingir esses objetivos, como o estudo, o trabalho, o mérito
individual e o comprometimento com normas éticas. Esses meios são apontados como
caminhos corretos para o sucesso dentro de uma estrutura social organizada.
Com base nisso, Merton apresenta 05 comportamentos adaptativos possíveis a partir da
aceitação das metas culturais e meios institucionalizados. Para facilitar a compreensão,
sintetizamos em uma tabela.
Adaptação
Aceitação
das Metas
Culturais
Aceitação
dos Meios
Legítimos
Descrição Exemplo
Conformidade Sim Sim
Modelo mais comum; o
indivíduo busca atingir
as metas culturais por
meios aceitos
socialmente.
Pessoa que trabalha e
estuda para alcançar o
sucesso, mesmo que
demore.
Inovação Sim Não
Aceita os objetivos
sociais, mas utiliza
meios ilegítimos para
alcançá-los.
Sujeito que deseja
riqueza, mas recorre a
crimes como roubo
para consegui-la.
Ritualismo Não Sim
Rejeita os objetivos
culturais, mas continua
seguindo os meios
institucionais por
hábito.
Pessoa que não
acredita no valor do
sucesso material, mas
continua trabalhando
e estudando.
Evasão
(retraimento ou
Inocuização)
Não Não
Rejeita tanto os fins
quanto os meios
sociais, isolando-se da
sociedade.
Moradores de rua,
dependentes químicos
crônicos, que não
buscam inserção
social.
Rebelião
Não (rejeita
e propõe
novos)
Não (rejeita
e propõe
novos)
Rejeita os valores e
meios existentes,
tentando substituí-los
por outros por meio da
ruptura.
Anarquistas ou radicais
que buscam impor
uma nova estrutura
social.
➢ TEORIAS DO CONFLITO
As chamadas teorias do conflito, frequentemente associadas a correntes de pensamento
de esquerda e a movimentos de transformação social, são fortemente inspiradas nos princípios
do marxismo. Elas partem da premissa de que a aparente harmonia social é, na verdade,
resultado da imposição de regras por parte dos grupos dominantes sobre os dominados,
utilizando para isso mecanismos de poder, controle e coerção. Essa perspectiva adapta o
conceito marxista de luta de classes, aplicando-o às relações sociais e à criminalidade.
63
Segundo essa visão, a ordem social não é fruto de consenso ou escolha livre dos
indivíduos, mas sim consequência da pressão exercida pelos detentores do poder. A paz social,
portanto, não se estabelece espontaneamente, mas é imposta pela classe dominante.
✓ TEORIA DA ROTULAÇÃO/ETIQUETAMENTO/REAÇÃO SOCIAL/INTERACIONISMO
SIMBÓLICO/LABELLING APPROACH
Na década de 1960, três pensadores — Erving Goffman, Edwin Lemert e Howard Becker
— desenvolveram uma teoria influenciada pelas reflexões sociológicas de Émile Durkheim. Essa
corrente passou a enxergar o crime não como algo inerente ao ato praticado, mas como o
resultado de um processo social que envolve seleção, discriminação, rotulação e interação, tanto
em contextos formais quanto informais.
De acordo com essa abordagem, para que determinada conduta seja tida como
criminosa, é indispensável a existência de uma norma penal que a incrimine. Essa norma, por
sua vez, seria elaborada estrategicamente pelas elites, com o propósito de proteger seus
próprios interesses e manter o controle sobre os grupos menos favorecidos. Assim, o processo
de criminalização primária — aquele que define o que é crime — seria, na verdade, um
mecanismo de dominação e exclusão, a serviço das classes política e economicamente
privilegiadas.
Dentro dessa perspectiva, duas vertentes se destacam, oferecendo visões distintas sobre
como esse processo de rotulação ocorre. A primeira, mais radical, sustenta que o etiquetamento
parte de instituições formais de controle social, como a polícia, o Ministério Público e o Poder
Judiciário. Já a segunda, de caráter ampliado, entende que a estigmatização também pode
surgir no ambiente cotidiano, em contextos informais. Um exemplo são os julgamentos feitos
por familiares, que desde cedo rotulam certos membros como “problemáticos” ou “desviantes”,
ou ainda as situações escolares, onde certos alunos são excluídos ou marginalizados desde os
primeiros anos por seus colegas.
Corrente
Radical
- O processo de etiquetamento é
exercido exclusivamente por agentes
formais do controle social.- Enfatiza a atuação do sistema penal
(polícia, promotores, juízes) na criação e
aplicação dos rótulos criminais.
- Sujeito é rotulado como
"criminoso" após ser julgado e
condenado pelo sistema de justiça.
Corrente
Ampliativa
- O etiquetamento ocorre tanto por
agentes formais quanto informais.
- A sociedade como um todo participa da
rotulação de indivíduos, inclusive
familiares, colegas, escolas, etc.
- Criança rotulada como “rebelde”
pela família desde cedo.
- Aluno excluído no ambiente
escolar como “problemático”.
A teoria do etiquetamento representou uma verdadeira ruptura na forma tradicional de
compreender o crime. Em vez de manter o foco exclusivamente na conduta delituosa, essa
abordagem deslocou o centro da análise para a maneira como a sociedade reage ao
comportamento desviante. O olhar passou a se voltar para os efeitos que a intervenção penal —
especialmente o encarceramento — pode gerar sobre o indivíduo, destacando seu papel como
potencial incentivador da delinquência secundária e da reincidência. Assim, mais do que o ato
criminoso em si, o interesse passou a recair sobre as consequências sociais da rotulação imposta
pelo sistema de justiça.
64
Os comportamentos considerados desviantes não surgem de forma espontânea, mas são
construídos socialmente. São os próprios grupos sociais que estabelecem normas e
determinam quais condutas são aceitáveis ou não. Quando essas regras são infringidas por
determinados indivíduos, eles passam a ser rotulados como desviantes ou marginais.
Dentro desse processo, podemos identificar duas etapas distintas: o desvio primário e o
desvio secundário.
O desvio primário ocorre quando o indivíduo comete uma infração pela primeira vez,
muitas vezes motivado por necessidades pessoais — como a busca por recursos financeiros —
ou pelo desejo de se integrar a uma subcultura que valoriza comportamentos contrários às
normas convencionais.
Já o desvio secundário é caracterizado pela continuidade das práticas infratoras,
geralmente como resultado do estigma sofrido após a primeira infração. Ao ser rotulado e
excluído do convívio social tradicional, o indivíduo tende a se associar a outros que
compartilham do mesmo estigma, reforçando ainda mais sua inserção no mundo do crime.
Desvio
Primário
Primeira infração cometida pelo indivíduo,
motivada por necessidades pessoais ou para se
encaixar em um grupo.
Roubo para suprir
necessidade financeira,
pequenos furtos.
Desvio
Secundário
Repetição dos atos delitivos, resultado do
estigma e da associação com outros indivíduos
que compartilham do mesmo comportamento.
Aumento da criminalidade
após rotulação, associação
com grupos delinquentes.
A principal ideia dessa teoria pode ser resumida pela afirmação de que cada indivíduo
acaba se tornando aquilo que os outros percebem dele. Nesse processo, a prisão desempenha
um papel reprodutor, onde a pessoa rotulada como criminosa passa a assumir o
comportamento esperado para esse rótulo, agindo conforme o papel que lhe é atribuído. Todo
o sistema penal está estruturado para criar e reforçar essa rotulação e os papéis que dela
derivam.
✓ TEORIA CRÍTICA/MARXISTA/RADICAL/NOVA CRIMINOLOGIA
Essa teoria, como o nome já indica, visa questionar e desafiar os pressupostos da
criminologia tradicional, alinhando-se com os princípios das abordagens de conflito. Seu
principal objetivo é, antes de tudo, problematizar a sociedade capitalista como o fundamento
do fenômeno criminal. Há diversas vertentes dentro dessa teoria, as quais serão detalhadas mais
adiante.
Sua origem remonta ao livro Punição e Estrutura Social, de Georg Rusche e Otto
Kichheimer, publicado pela primeira vez em 1930 e republicado em 1967. A obra, influenciada
pela perspectiva marxista, faz uma ligação entre as formas de punição e o sistema de produção
de riqueza em uma sociedade.
O núcleo da teoria crítica reside na sua crítica à criminologia convencional, que, para seus
adeptos, não consegue enxergar o fenômeno do crime em sua totalidade. Nessa ótica, o crime
é visto como uma consequência inevitável do sistema capitalista de produção, e as leis que
definem o crime são moldadas para atender aos interesses da classe dominante.
65
Nessa senda, a lei penal é vista como um reflexo da dominação, especialmente na
sociedade moderna, onde ela emerge da relação entre a burguesia e o proletariado (dominante
e dominado, respectivamente). Dentro dessa perspectiva, até mesmo a teoria da rotulação
social é criticada, pois ela se esquiva de abordar as causas subjacentes dos desvios primários.
Assim, para que a criminologia evolua de maneira significativa, seria necessário reestruturar ou
reformular a sociedade capitalista, com destaque para a desigualdade social como um dos seus
principais problemas.
A partir da teoria crítica, podemos elencar três pensamentos:
• Teoria Abolicionista
Os defensores dessa perspectiva propõem a extinção do Direito Penal, o que acarreta a
supressão da prisão e de toda a estrutura do sistema penal. O termo “crime” seria descartado e
substituído pela expressão “situação-problema”. A ideia central dessa abordagem é que o
Direito Penal não resolve os conflitos, mas, na verdade, tem o potencial de gerar novas infrações
por meio da estigmatização seletiva. A resolução dos problemas, portanto, viria através de
métodos informais como o diálogo, tratamentos terapêuticos, reconciliação e solidariedade, ou
ainda por meio de mecanismos menos punitivos, como as esferas do Direito Civil e
Administrativo.
• Teoria Minimalista
Essa perspectiva pode ser vista como uma forma de "abolicionismo moderado", que
defende a preservação do Direito Penal, mas de maneira limitada, aplicando-o apenas em
situações de extrema gravidade. A prisão seria uma medida excepcional e, em vez disso, o
Estado deveria optar por alternativas punitivas, como serviços comunitários, multas ou doações
em cestas básicas. Um exemplo disso é a rejeição à aplicação da prisão em casos envolvendo
organizações criminosas ou o tráfico internacional de armas, com a justificativa de que essas
penas não atingem seus objetivos principais, que seriam erradicar os criminosos e afastar os
comportamentos delinquentes dos indivíduos.
• Neorrealismo de esquerda
Essa abordagem segue uma linha completamente oposta ao abolicionismo e ao
minimalismo, propondo um Direito Penal mais severo e expansivo, inspirado pela teoria da
“tolerância zero” e pelo conceito das “janelas quebradas”. Para os defensores dessa perspectiva,
a criminalidade não é explicada apenas pela pobreza, mas também por outros fatores como
competitividade, ganância, machismo, consumismo e individualismo. Com isso, eles advogam
por um sistema punitivo rígido, aplicando severidade a comportamentos considerados
socialmente inaceitáveis, como atitudes machistas, homofóbicas ou excessivamente
gananciosas. Além disso, propõem a limitação da discricionariedade do Poder Judiciário,
defendendo que a lei penal deve ser aplicada de maneira estrita, sem margem para
interpretações ou julgamentos subjetivos, e com total objetividade.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
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QUESTÃO 01. A Criminologia é o ramo da Ciência Penal que abrange os conhecimentos relativos
ao delito como fenômeno social, inclusive os processos de elaborar as leis, infringir as leis e reagir
à infração das leis.
Acerca das teorias criminológicas, analise as afirmativas a seguir.
I. A teoria ecológica do delito foi criada no contexto da Escola de Chicago e consiste na
sustentação, baseada em pesquisas empíricas, da correlação entre o ambiente comunitário e a
formação de determinados padrões infracionais.
II. A teoria da associação diferencial, também chamada de teoria da aprendizagem social,
preconiza que as racionalidades motivacionais e metodológicas que envolvem o cometimento
de ilicitudes podem ter origem genética, mas são principalmente transmitidas em
circunstânciasespecíficas no curso da convivência grupal.
III. Os chamados crimes do colarinho branco são infrações praticadas por indivíduos dotados de
elevado status socioeconômico no curso de atividades filantrópicas, sendo a razão pela qual as
cifras negras não incidem sobre tais comportamentos ilícitos.
Está correto o que se afirmar em
A) I, apenas.
B) I e II, apenas.
C) I e III, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I, II e III.
QUESTÃO 02. Classificam-se como teorias de consenso de vertentes sociológicas:
A) a criminologia crítica, a associação diferencial e a teoria do etiquetamento.
B) a teoria do etiquetamento, a criminologia marxista e a subcultura delinquente.
C) a criminologia crítica, a teoria do etiquetamento e a escola de Chicago.
D) a criminologia marxista, a criminologia crítica e a escola de Chicago.
E) a teria da anomia, a subcultura delinquente e a associação diferencial.
QUESTÃO 03. A teoria foi desenvolvida a partir da obra Delinquent Boys, de 1955, de
Albert K. Cohen, importante criminólogo dos Estados Unidos. As gangues de jovens de classe
baixa surgem como meio de eles lidarem com os problemas de ajuste social; são exemplos
os punks, os hooligans e os skinheads.
Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna.
A) do interacionismo simbólico
B) do conflito social
C) da criminologia radical
D) do conflito cultural
E) da subcultura delinquente
QUESTÃO 04. Acerca das teorias sociológicas da criminologia, assinale a opção correta.
a) A teoria da desorganização social é considerada uma teoria do conflito social.
b) A subcultura delinquente é um exemplo de teoria do consenso.
c) A escola de Chicago, importante marco para o estudo da criminalidade urbana,
representa uma das teorias do conflito social.
d) A criminologia feminista opõe-se frontalmente à criminologia crítica que advém do
positivismo criminológico.
e) A teoria do labelling approach é exemplo de teoria do consenso, uma vez que se
preocupa com os comportamentos não desviantes.
67
QUESTÃO 05. A primeira teoria sociológica que fixou o entendimento de que o crime é produto
da desorganização própria da grande cidade, onde se debilita o controle social e se deterioram
as relações humanas, foi a
A) ecológica.
B) estrutural-funcionalista.
C) da anomia.
D) conflitual marxista.
E) do conflito social.
QUESTÃO 06. De acordo com a teoria da anomia, o crime é entendido como
A) um fenômeno normal da sociedade, que pode em alguns casos ajudá-la a consagrar sua
identidade em torno de certos valores.
B) uma justificativa para o controle político e legal das classes sociais e varia de acordo com a
estrutura econômica e política de cada sociedade.
C) uma busca de status em determinado grupo social quando praticado por jovens que aderem
a padrões da subcultura.
D) um comportamento aprendido através da interação com outras pessoas, resultante de um
processo de comunicação social.
E) uma anomalia que tem como resultado a fragilização da solidariedade e dos valores éticos da
sociedade.
QUESTÃO 07. Assinale a opção que apresenta corretamente a teoria que defende a ideia de
que a conduta criminosa resulta de uma série de estímulos contínuos na vida do indivíduo,
sendo produto de suas experiências passadas.
A) teoria do reforço diferencial
B) teoria dos instintos
C) teoria do condicionamento operante
D) teoria da identificação diferencial
E) teoria dos tipos de autor
QUESTÃO 08. A respeito da Escola de Chicago e das teorias que dela decorrem, assinale a
alternativa correta.
A) A teoria ecológica entende a cidade como produtora de delinquência, havendo zonas em que
a criminalidade seria maior e outras com índices menores de criminalidade.
B) De acordo com a Escola de Chicago e suas teorias derivadas, a relação entre o espaço urbano
e a criminalidade é preterida em favor da relação entre o fator biológico e a criminalidade.
C) A atuação da Escola de Chicago foi marcada pelo pragmatismo, inovando pelo método de
observação participante, no qual o observador mantém-se equidistante do fenômeno social que
estuda, tomando parte da experiência alheia.
D) Segundo a teoria da associação diferencial, iniciada por Edwin Sutherland, a conduta
criminosa está relacionada ao meio em que o delinquente vive e com as oportunidades que teve
ou deixou de ter durante o processo de formação moral. O autor associa, ainda, a baixa
escolaridade com maior índice de propensão delitiva.
QUESTÃO 09. A teoria estrutural-funcionalista do desvio e da anomia foi desenvolvida por:
A) Howard Becker.
B) Robert Merton.
C) Edwin Sutherland.
D) John Rockefeller.
E) Albert Cohen.
QUESTÃO 10. Sobre a teoria criminológica da associação diferencial, analise as assertivas abaixo:
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I. O comportamento delituoso se aprende do mesmo modo que o indivíduo aprende também
outras condutas e atividades lícitas, em sua interação com pessoas e grupos e mediante um
complexo processo de comunicação.
II. O delito não é algo anormal nem sinal de uma personalidade imatura, senão um
comportamento ou hábito adquirido, isto é, uma resposta a situações reais que o sujeito
aprende.
III. A pobreza e a classe social são fatores suficientes para a explicação da tendência de alguém
para o crime, no contexto das teorias da aprendizagem.
IV. O indivíduo aprende assim não só a conduta delitiva, senão também os próprios valores
criminais, as técnicas comissivas e os mecanismos subjetivos de racionalização (justificação ou
autojustificação) do comportamento desviado.
São CORRETAS apenas as assertivas:
A) I, II e III.
B) I, II e IV.
C) I, III e IV.
D) II, III e IV.
Atendendo a previsão editalícia, veremos agora os detalhes do crime de homicídio.
HOMICÍDIO SIMPLES
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de 6 a 20 anos.
• MATAR é retirar a vida. Exige o chamado “Animus Necandi”;
• Material: Se consuma com a MORTE DA VÍTIMA;
• Admite tentativa;
• Doloso ou Culposo;
• Comum: não exige uma característica especial do autor.
ATENÇÃO!!! O objeto jurídico do crime de homicídio é a VIDA HUMANA EXTRAUTERINA.
APROFUNDANDO: O momento da morte, para o direito penal, é o momento em que ocorre a
MORTE ENCEFÁLICA OU CEREBRAL. É neste instante que ocorre a CONSUMAÇÃO do crime
de homicídio. Tal critério é extraído da Lei 9.434/97, a Lei de Transplante de Órgãos, no caput
do seu artigo 3º, in verbis:
O crime como fenômeno isolado: estudo do
homicídio.
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Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados
a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica,
constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e
transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por
resolução do Conselho Federal de Medicina
HOMICÍDIO “PRIVILEGIADO”
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3.
O relevante valor social está ligado a COLETIVIDADE, a SOCIEDADE. Imagine o indivíduo que
descobre quem está por trás de uma série de crimes bárbaros que assolam a sua pequena
cidade. Munido desta informação, o agente fica a espreita do criminoso e, para por um fim ao
mal que aflige a sociedade, mata o sujeito. Nesta situação hipotética, o que levou o agente a
praticar um homicídio foi um motivo de RELEVANTE VALOR SOCIAL. O relevante valor moral,
por sua vez, é relacionado a intimidade do agente. Refere-se, portanto, a sua subjetividade.
Exemplificando, pense no pai que, tempos depois, descobre a identidade do estuprador de sua
filha de 05 anos e, de posse desta informação, vai até o local onde o indivíduo se encontra e o
mata. Neste exemplo, deve ser reconhecida a causa de diminuição depena do privilégio. Para
exemplificar o domínio de violenta emoção pense no sujeito que, ao chegar em sua casa, após
um dia de trabalho árduo, se depara com várias viaturas na porta e, ao entrar na sala, vê o corpo
de sua esposa e filha, ambas sem vida. Ao sair para a calçada observa que, dentro da viatura, está
o assassino. Este, ao perceber a expressão de desespero do pai, manda um beijo e sorriso
debochado. O pai, logo após, SOB O DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO, ocasionada por uma
INJUSTA PROVOCAÇÃO, se dirige a viatura, quebra o vidro do automóvel e mata o algoz de sua
família com suas mãos.
ATENÇÃO!!! As circunstâncias aptas a ensejar o reconhecimento do privilegio são de natureza
subjetiva, portanto, não se comunicam com os demais coautores ou partícipes do crime
ATENÇÃO!!! A provocação da vítima deve ser INJUSTA, podendo ser até indireta, voltando-
se a terceiros ou a animais.
APROFUNDANDO É possível o reconhecimento do privilégio inclusive nas hipóteses em que o
homicídio será qualificado desde que a qualificadora seja de ordem objetiva. Isto ocorre porque
o privilégio possui natureza subjetiva, deste modo, revela-se compatível com as qualificadoras
de ordem objetiva sendo possível, portanto, a incidência concomitante dos institutos.
Nesta hipótese, temos o chamado HOMICÍDIO HÍBRIDO
HOMICÍDIO QUALIFICADO
• I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
O homicídio cometido mediante paga ou promessa de recompensa é chamado de
“homicídio mercenário”. Trata-se de hipótese de crime plurissubjetivo ou de “concurso
70
necessário”, pois exige a presença de, no mínimo, dois agentes, um MANDANTE e um
EXECUTOR.
APROFUNDANDO: Questão tormentosa é a possibilidade de comunicação da qualificadora do
homicídio mercenário ao mandante do delito. Vale ressaltar que o tema não é pacificado e,
assim sendo, tomaremos por base o entendimento mais recente do STJ. Tal entendimento
aponta para a impossibilidade de comunicação, tendo em vista que o pagamento é elemento
que está ligado ao concurso de pessoas.
Com efeito, se sua prova indagar a respeito desta temática, adote o posicionamento de
que “A QUALIFICADORA DA PAGA ou PROMESSA DE RECOMPENSA NÃO SE APLICA AO
MANDANTE”.
A qualificadora da paga (art. 121, 2º, I, do CP) não é aplicável aos mandantes do homicídio,
porque o pagamento é, para eles, a conduta que os integra no concurso de pessoas, mas
não o motivo do crime. STJ. 5ª Turma. REsp 1973397-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado
em 06/09/2022 (Info 748).
Motivo torpe é aquilo que é desprezível, repugnante, vil, abjeto. O legislador se utilizou da
chamada interpretação analógica, ao, após enumerar as hipóteses de paga ou promessa de
recompensa, mencionar “outro motivo torpe”. Exemplificando: João é filho de José e, para ficar
com os bens do seu genitor, mata-o. Estamos diante de um motivo desprezível e, portanto,
TORPE.
APROFUNDANDO: A análise da torpeza é feita casuisticamente, ou seja, de acordo com o caso
concreto. Contudo, a jurisprudência vem entendendo que o homicídio motivado por vingança,
se enquadra no motivo torpe.
MUITO CUIDADO!!! O STF, no julgamento da ADO 26 e do MI 473, em junho de 2019, considerou
que a DISCRIMINAÇÃO HOMOTRANSFÓBICA representa, “na hipótese de homicídio doloso,
circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe.
CURIOSIDADE! A doutrina chama o homicídio motivado por vingança de “HOMICÍDIO
TESEUNIANO”, em alusão ao herói ateniense Teseu que, de acordo com a mitologia, matou
Procusto em vingança às vítimas deste.
• II - por motivo futil;
O motivo fútil é aquele considerado desproporcional. É matar alguém por um motivo
insignificante, por exemplo, um esbarrão em uma festa.
MUITO CUIDADO!!! A ausência de motivo, NÃO pode ser considerada motivo fútil. Por
exemplo, se um sujeito sai na rua e, sem nenhum motivo, mata um transeunte, não se pode
falar em “motivo fútil”.
• III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
71
As hipóteses previstas no presente inciso, se referem aos MEIOS e MODOS de execução
do homicídio.
ATENÇÃO!!! As situações elencadas são formas qualificadoras. O crime de homicídio é, na
verdade, crime de forma livre, podendo ser realizado de qualquer modo, pelo agente, que leve
ao resultado morte, como golpes de faca, envenenamento ou atropelamento.
Emprego de veneno: Entende-se por veneno toda e qualquer substância que seja considerada
tóxica. Se, por exemplo, o criminoso sabe que a vítima sofre de diabetes, o açúcar pode ser
considerado veneno.
APROFUNDANDO: Só é possível a incidência da qualificadora se A VÍTIMA NÃO SOUBER QUE
INGERE O VENENO. Se a vítima for forçada a tomá-lo, sabendo que se trata de veneno, pode-
se configurar o meio cruel.
Emprego de fogo: É o uso da combustão de material para provocar a morte.
Emprego de explosivo: É a utilização de um explosivo para provocar a morte, por exemplo, uso
de uma dinamite.
Asfixia: É a morte através da obstrução das vias respiratórias. Pode ocorrer através de
esganadura (uso das mãos para comprimir ou obstruir as vias respiratórias), estrangulamento
ou qualquer outro modo.
Tortura: É a hipótese em que o sujeito, desde o início, deseja a morte da vítima e, para isso, utiliza
a tortura.
MUITO CUIDADO!!! NÃO CONFUNDA HOMICÍDIO QUALIFICADO PELA TORTURA, com
TORTURA QUALIFICADA PELO RESULTADO MORTE.
HOMICÍDIO QUALIFICADO PELA TORTURA: Há animus necandi, ou seja, intenção de matar. O
indivíduo usa a tortura como um meio para a execução do crime.
TORTURA QUALIFICADA PELO RESULTADO MORTE: NÃO há animus necandi. O resultado
morte ocorre por CULPA. Trata-se de crime PRETERDOLOSO.
Meio insidioso: É o meio dissimulado, oculto, latente, sorrateiro.
Meio Cruel: É aquele que maximiza o sofrimento da vítima.
• IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte
ou torne impossível a defesa do ofendido;
As hipóteses previstas no presente inciso, se referem aos MEIOS e MODOS de execução
do homicídio.
Traição: É o ataque surpresa, inesperado. Pode ser tanto física quanto moral, como, por
exemplo, um amigo que leva outro a um local sob o pretexto de comprar algo e, na verdade, o
leva para a morte.
Emboscada: É a tocaia. Por exemplo, o sujeito que espera a vítima escondido atrás de um poste
próximo a residência daquela.
Dissimulação: É o fingimento. É a ocultação de sua real intenção
72
Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima: Trata-se de uma cláusula
de interpretação analógica.
• V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Neste inciso temos as chamada “qualificadoras por conexão”
Conexão Teleológica: É a hipótese em que o homicídio é praticado para assegurar a execução
de um outro delito. Exemplificando: João pretende sequestrar Mario, empresário, para obter
determinada quantia como preço do resgate. Ocorre que Mario possui muitos seguranças e,
para conseguir por em prática o plano criminoso, João mata um dos seus seguranças. Estamos
diante de homicídio qualificado, pois, foi praticado para assegurar a execução de um outro
crime.
Conexão Consequencial: É a infração penal praticada para assegurar a ocultação, vantagem ou
impunidade de outro crime. Por exemplo, um sujeito pratica um determinado crime e, semanas
depois, em uma padaria, reconhece uma das vítimas e é por esta reconhecido. Para não ser
denunciado, o sujeito mata a vítima que o reconheceu.
• VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício
da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
Cumpridas as exigências acima,estamos diante do “Homicídio Qualificado Funcional”
ATENÇÃO!!! É possível que os agentes descritos no inciso em análise sejam vítimas de crime de
homicídio em razão de sua função mesmo de folga ou de férias. Por exemplo: Caio é delegado
de polícia e, em um dia de folga, estava fazendo compras em um supermercado quando foi visto
por Mévio, assassino conhecido na região que foi preso graças a uma excelente investigação,
em sede de inquérito policial, realizada por Caio. Mévio, em razão disso, na oportunidade que
teve, efetuou 5 disparos contra Caio, que ocasionou sua morte. Na situação hipotética narrada,
Caio, mesmo de folga, foi morto em razão de sua função, o que, sem dúvida, atrai a incidência
da qualificadora
MUITO CUIDADO!!! O inciso limita a incidência da qualificadora ao parentesco consaguíneo até
o 3º grau. NÃO ESTÃO INCLUÍDOS no texto legal os parentes por afinidade (sogro, sogra e
cunhados) nem o parentesco civil (como o filho adotivo). Os primos também não estão incluídos
(4ºgrau).
Esse detalhe é constantemente cobrado em provas de concurso, tenha MUITA ATENÇÃO.
ATENÇÃO!!!: NÃO BASTA a simples condição do agente, é necessário que o homicídio ocorra
no:
✓ EXERCÍCIO DA FUNÇÃO, ou
✓ EM RAZÃO DELA
73
• VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido:
Esta qualificadora está relacionada ao instrumento usado para a prática do crime. Cuida-se de
norma penal em branco, pois depende de norma que defina o que é a arma de fogo de uso
restrito ou proibido.
HOMICÍDIO CONTRA MENOR DE 14 (QUATORZE) ANOS
• IX - contra menor de 14 (quatorze) anos:
A Lei n. 14.344, também conhecida como Lei Henry Borel, datada de 24 de maio de 2022,
introduziu uma modificação significativa no crime de homicídio, adicionando o inciso IX ao §2º
do artigo 121 do Código Penal.
CURIOSIDADE! A motivação por trás dessa mudança na legislação foi um caso que gerou
grande comoção social, envolvendo o trágico assassinato do jovem Henry em seu próprio
apartamento, localizado na Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro/RJ.
Em resposta à intensa comoção provocada por esse evento, decidiu-se acrescentar uma
nova circunstância qualificadora ao crime de homicídio, com foco em vítimas que se
enquadrem nos critérios definidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Essa
qualificadora abrange crianças com menos de 12 anos de idade e também adolescentes com
menos de 14 anos de idade.
O homicídio praticado contra menor de 14 anos possui majorantes específicas previstas no §2º-
B.
§ 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é aumentada de:
I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que
implique o aumento de sua vulnerabilidade;
II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro
título tiver autoridade sobre ela.
III - 2/3 (dois terços) se o crime for praticado em instituição de educação básica pública ou
privada
HOMICÍDIO CULPOSO
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Entende-se por culposo o homicídio praticado por NEGLIGÊNCIA, IMPRUDÊNCIA ou
IMPERÍCIA.
TOME NOTA!!!: No Homicídio Culposo, apesar de presente o resultado mortem, NÃO HÁ DOLO
DE MATAR. Não há animus necandi.
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MAJORANTES NO HOMICÍDIO
Aumento de Pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço)
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia
privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
MUITO CUIDADO!!! Algumas dessas hipóteses se destinam ao crime de homicídio na
MODALIDADE CULPOSA.
ATENÇÃO!!! Parcela da doutrina, em razão da promulgação da lei Henry Borel, aponta para a
revogação tácita da majorante aplicada ao homicídio praticado contra menos de 14 anos, tendo
em vista que esta circunstância já será valorada na qualificadora e, assim sendo, seu
reconhecimento na terceira fase da dosimetria da pena acarretaria indevido bis in idem.
MUITO CUIDADO!!! Para o direito penal, o tempo do crime é o momento em que ocorreu a
conduta (teoria da atividade). Desta forma, se Caio, com a intenção de matar, efetua 5 disparos
contra Mévio na véspera de seu aniversário de 60 anos e a vítima só vem a morrer semanas
depois, estaremos diante de HOMICÍDIO SIMPLES.
APROFUNDANDO: A majorante da inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício,
só incide quando a gente possui habilitação para a referida profissão, conforme
doutrina majoritária. É a chamada CULPA PROFISSIONAL.
ATENÇÃO!!! A causa de aumento de pena aplicada quando o agente deixa de prestar imediato
socorro a vítima tem a sua configuração condicionada a possibilidade da prestação do socorro
sem risco pessoal para si. Ou seja, havendo risco, não há que se falar nesta majorante.
PERDÃO JUDICIAL (BAGATELA IMPRÓPRIA)
Perdão Judicial
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária.
MUITO CUIDADO!!! O PERDÃO JUDICIAL é aplicado apenas em caso de homicídio CULPOSO.
NÃO HÁ PERDÃO JUDICIAL em homicídio DOLOSO.
APROFUNDANDO: Apesar de o texto legal utilizar a palavra “pode”, o perdão judicial é direito
público subjetivo do réu, ou seja, cumpridos os requisitos, o juiz deve aplicar o perdão.
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O perdão judicial também é chamado de bagatela imprópria e possui natureza jurídica de causa
de extinção da punibilidade.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
QUESTÃO 01. No campo da criminologia, ao estudarmos o crime como fenômeno isolado, em
especial o delito de homicídio, o que importa, de fato, é a causa motivadora da prática do
delito. Tomando por base tal premissa, assinale a alternativa que não represente uma das
qualificadoras do crime de homicídio:
a) Motivo fútil.
b) Dissimulação.
c) Domínio de violenta emoção.
d) Assegurar a ocultação de outro crime.
e) Assegurar a vantagem de outro crime.
QUESTÃO 02. É correto afirmar, com relação ao crime de homicídio culposo previsto no
Código Penal:
a) a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
b) o crime apenas se caracteriza se resultar de inobservância de regra técnica de
profissão, arte ou ofício.
c) se o criminoso é primário o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de
detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
d) o crime é privilegiado se o agente o comete impelido por motivo de relevante
valor social ou moral.
e) o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem
o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
QUESTÃO 03. Assinale a alternativa INCORRETA acerca do crime de homicídio
a) No caso de promessa de recompensa, a qualificadora é afastada caso o
mandante, após a prática do crime, não entregue ao executor os valores
combinados.
b) É inviável a coexistência de motivo fútil e torpe, por absoluta incompatibilidade.
c) Meio insidioso é um meio velado, ou seja, um meio fraudulento para atingir a
vitima sem que se perceba que está havendo um crime.
d) De acordo com o Código Penal, o homicídio é qualificado se cometido com o
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.
e) De acordo com o CódigoPenal, o homicídio é qualificado se cometido contra
pessoa menor de 14 (quatorze) anos
QUESTÃO 04. No crime de homicídio, o Código Penal dispõe que:
a) o juiz poderá deixar de aplicar a pena, na hipótese de homicídio culposo, se as
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
sanção penal se torne desnecessária
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b) a pena é aumentada se o crime é cometido contra parente consanguíneo até
terceiro grau de policial militar, em razão dessa condição
c) o juiz pode reduzir a pena se o agente comete o crime sob a influência de
violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima
d) a pena será agravada se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto
de prestação de serviço de segurança
QUESTÃO 05. Sobre o crime de homicídio previsto no Código Penal Brasileiro, assinale a
alternativa correta.
a) Todo e qualquer crime de homicídio contra a mulher, doloso ou culposo, é
denominado feminicídio.
b) Será considerado simples o homicídio praticado contra um guarda municipal, em
decorrência da função pública por ele exercida.
c) O homicídio será qualificado, quando for praticado com o emprego de arma de
fogo de uso permitido.
d) O homicídio praticado contra menor de 14 (quatorze) anos será sempre
qualificado.
QUESTÃO 06. De acordo com o que prevê o Código Penal (CP) acerca dos crimes contra a
pessoa, caracteriza, obrigatoriamente, uma qualificadora do crime de homicídio o seu
cometimento
a) contra vítima menor de 14 anos, apenas quando praticado na modalidade
culposa.
b) por motivo de vingança.
c) contra a mulher, apenas no caso de menosprezo ou discriminação em razão do
seu gênero.
d) com emprego de arma de fogo de uso restrito.
e) contra primo de policial civil, em razão da função exercida.
QUESTÃO 07. João, de forma livre e consciente, matou José, mediante recurso que dificultou
ou tornou impossível a defesa do ofendido, consistente em cinco tiros pelas costas, que foram
disferidos por João assim que a vítima José saía do hospital recém-operado.
Assim agindo, João está incurso nas penas do crime de
a) homicídio simples, com causa de aumento porque foi praticado com disparo de
arma de fogo.
b) homicídio simples, com causa de aumento porque foi praticado quando a vítima
saía do hospital.
c) homicídio qualificado, pois o crime foi cometido com recurso que dificultou ou
tornou impossível a defesa do ofendido.
d) homicídio privilegiado, porque a vítima estava recém-operada.
e) homicídio simples, com causa de aumento porque foi desferido mais de um
disparo de arma de fogo.
QUESTÃO 08. Assinale a alternativa INCORRETA, de acordo com o Código Penal.
a) Constitui homicídio simples matar alguém, com pena de reclusão de seis a vinte
anos;
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b) Constitui homicídio qualificado se o homicídio é cometido mediante paga ou
promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
c) Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço;
d) O homicídio é qualificado se for cometido por motivo fútil;
e) Se o homicídio for culposo a pena será de reclusão;
QUESTÃO 09. Definimos como Homicídio Qualificado a designação dada à figura delituosa do
homicídio já enumerado pela lei penal com os elementos qualificativos. A qualificação do
homicídio, assim, apresenta o crime de maior gravidade, em vista da intensidade do dolo, da
natureza dos meios utilizados para executar o homicídio, do modo de ação ou desejo de fugir à
punição, ou ainda contra vítima que recebe da lei penal uma proteção especial. Revela, assim, o
grau de perversidade do agente ou a visível maldade de sua prática, cominando pena de
reclusão de 12 a 30 anos, para os casos assim enumerados. À luz da doutrina majoritária, define
corretamente o Homicídio Funcional, o que está inscrito apenas em
a) matar alguém com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.
b) matar alguém que seja considerada autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional
de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição.
c) matar alguém como resultado de inobservância de regra técnica de profissão,
arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante.
d) matar alguém que seja considerada mulher por razões da condição de sexo
feminino, seja em situação de violência doméstica e familiar, seja por menosprezo
ou discriminação à condição de mulher.
QUESTÃO 10. De acordo com o Código Penal, considera-se homicídio simples o ato de matar
alguém, cuja pena prevista é de reclusão de seis a vinte anos. Se o agente comete o crime
impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção,
logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode:
a) Aumentar a pena de um terço até a metade.
b) Reduzir a pena de um sexto a um terço.
c) Não aplicar a pena.
d) Não há possibilidade de redução da pena.
e) Aumentar a pena em até um quarto.
Tipos Criminosos
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A criminologia que se apresenta como contemporânea tem como foco principal
promover a reintegração do infrator à sociedade e buscar formas eficazes de prevenir o crime.
Para que esses objetivos sejam alcançados, é essencial compreender com exatidão tanto o
fenômeno criminal quanto o perfil do autor da infração.
No que se refere à figura do criminoso, torna-se fundamental investigar quais motivos o
levaram à prática delituosa, bem como identificar os elementos que o influenciaram, sejam eles
diretos ou indiretos. A partir dessa necessidade, diversos estudiosos se dedicaram a analisar e
organizar classificações que permitissem compreender melhor o comportamento e as
características dos indivíduos que cometem crimes.
➢ CLASSIFICAÇÃO DE CESARE LOMBROSO
Cesare Lombroso, renomado médico legista e um dos principais representantes da
Escola Positivista, é amplamente lembrado por ter desenvolvido a ideia do “criminoso nato”. No
entanto, reduzir sua contribuição apenas a essa teoria seria uma simplificação. Sua obra foi mais
abrangente, incluindo uma tipologia detalhada dos indivíduos que cometem crimes, com base
em características biológicas, psicológicas e circunstanciais.
✓ Criminoso nato: Para Lombroso, certos indivíduos carregam em sua constituição física e
biológica uma predisposição inata para o crime. Esses sujeitos seriam guiados por
impulsos instintivos e apresentariam traços físicos considerados anômalos ou primitivos,
como cabeça desproporcional, testa inclinada para trás, sobrancelhas espessas, maçãs do
rosto salientes, orelhas com má formação, membros superiores alongados, entre outros.
Tais sinais revelariam um ser que não se adaptou plenamente à vida em sociedade,
aproximando-se mais de um estado selvagem. A epilepsia também era relacionada por
ele a esse tipo de criminoso.
✓ Criminoso louco: Esse perfil corresponde àquele acometido por transtornos mentais ou
desordens de comportamento, como a loucura moral. Os atos criminosos praticados por
esse indivíduo geralmente envolvem crueldade extrema e comportamentos perversos. A
recomendação, segundo Lombroso, seria sua internação em instituições psiquiátricas, e
não em presídios.
✓ Criminoso ocasional: Neste caso, trata-se de alguém que possui certa tendência
hereditária ao delito, mas que não cometeria crimes se não fosse levado pelas condições
externas. Fatores ambientais, como oportunidades propícias ou influências sociais
negativas, são os gatilhos que o impulsionam a adotar comportamentos ilícitos.A velha
máxima de que “a ocasião faz o ladrão” traduz bem esse tipo.
✓ Criminoso passional: Este é movido por emoções intensas e descontroladas. Costuma
agir em momentos de grande tensão emocional, muitas vezes envolvendo ciúmes,
vingança ou outras paixões. A violência é sua forma de extravasar sentimentos intensos,
o que o torna impulsivo e perigoso em situações de conflito afetivo.
➢ CLASSIFICAÇÃO DE ENRICO FERRI
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Enrico Ferri, notório representante da Escola Positivista e também genro e seguidor das
ideias de Cesare Lombroso, partiu da noção do delinquente inato para desenvolver uma
tipologia própria das figuras criminosas. Sua classificação buscava compreender o
comportamento delituoso a partir de diferentes motivações e graus de periculosidade.
✓ Criminoso Nato: Para Ferri, assim como para Lombroso, essa categoria representa o
indivíduo que nasce com uma estrutura moral comprometida, revelando uma natureza
degenerada e uma deficiência profunda no senso ético.
✓ Criminoso Louco: Inclui pessoas com transtornos mentais graves ou com perturbações
parciais que reduzem a responsabilidade penal. Essa classe engloba os indivíduos
conhecidos hoje como semi-imputáveis, com distúrbios psicológicos intermediários.
✓ Criminoso Ocasional: É aquele que não possui um histórico de criminalidade contínua,
cometendo delitos de forma esporádica, geralmente influenciado por fatores externos.
Para Ferri, essa figura representa a ideia de que o crime, em certas situações, encontra o
sujeito – e não o contrário.
✓ Criminoso Habitual: Enquadra-se aqui quem faz do crime um modo de vida,
demonstrando reincidência constante e comportamento delituoso repetitivo. Esse tipo
vê na atividade criminosa uma espécie de ocupação habitual.
✓ Criminoso Passional: Age sob forte tensão emocional, tomado por uma explosão de
sentimentos. Ferri descreve essa conduta como fruto de um desequilíbrio momentâneo
da mente, uma espécie de tormenta interna que leva o indivíduo a agir por impulso.
➢ CLASSIFICAÇÃO DE RAFAELE GARÓFALO
Garófalo, também um importante nome associado à Escola Positivista, foi um jurista que
buscou incorporar os princípios dessa corrente filosófica ao direito penal. Seu objetivo era
moldar o sistema jurídico com base em fundamentos científicos e deterministas.
Entre suas ideias mais controversas está a firme defesa da pena de morte para indivíduos
considerados irrecuperáveis — especialmente os classificados como criminosos natos — ou,
como alternativa, sua expulsão definitiva do território nacional. Em sua tentativa de entender a
criminalidade a partir de traços morais e psicológicos, ele propôs a seguinte tipologia:
✓ Criminoso Assassino: Caracterizado por um comportamento autocentrado e imaturo,
esse tipo de infrator demonstra atitudes semelhantes às de uma criança, agindo de
maneira impulsiva e egocêntrica. Garófalo acreditava que certos traços físicos revelavam
uma predisposição interna à violência.
✓ Criminoso Energético ou Violento: Trata-se de um sujeito incapaz de sentir empatia ou
remorso. Age com brutalidade, muitas vezes excedendo qualquer resposta proporcional
à situação, e revela uma natureza essencialmente hostil e desumana.
✓ Criminoso Ladrão ou Neurastênico: Nesse grupo estão aqueles que violam regras de
convivência por ausência de senso ético. São pessoas marcadas por atitudes fraudulentas
e condutas enganosas. Garófalo descrevia seu perfil físico com características peculiares,
80
como expressões faciais instáveis, olhar inquieto e traços marcantes como o nariz
achatado.
Segue tabela comparativa:
Autor Tipo Criminoso Características
Cesare
Lombroso
Criminoso nato
Indivíduo biologicamente predisposto ao crime.
Apresenta traços físicos considerados primitivos, como
cabeça pequena, braços longos e tatuagens.
Criminoso louco
Sujeito com distúrbios mentais, como a loucura moral.
Costuma agir com extrema crueldade. Deveria ser
internado, não preso.
Criminoso ocasional
Tem tendência hereditária ao crime, mas é
impulsionado por fatores externos, como ambiente e
oportunidade.
Criminoso passional
Movido por emoções intensas e descontrole afetivo. Age
por impulso em contextos de ciúmes ou vingança.
Enrico Ferri
Criminoso nato
Apresenta degeneração moral e deficiência no senso
ético, nascendo com essa predisposição.
Criminoso louco
Engloba alienados mentais e também os semi-
imputáveis. Possuem perturbações mentais que
comprometem parcialmente a responsabilidade.
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Autor Tipo Criminoso Características
Criminoso ocasional
Comete delitos esporádicos por influência do meio.
Ferri defendia que o crime, às vezes, é que encontra o
indivíduo.
Criminoso habitual Vê no crime uma profissão. É reincidente e tem
comportamento delituoso constante.
Criminoso passional Atua sob forte pressão emocional, como em explosões
de raiva ou angústia. Impulsividade marca sua conduta.
Raffaele
Garófalo
Criminoso assassino
Apresenta mentalidade infantil e egoísta. Demonstra
sinais externos de predisposição à violência.
Criminoso
energético/violento
Desprovido de empatia ou piedade. Age com extrema
brutalidade e é guiado por natureza agressiva.
Criminoso
ladrão/neurastênico
Indivíduo com ausência de moralidade. Mostra sinais
físicos como face instável e olhar agitado. Atua de forma
desonesta e enganosa.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
QUESTÃO 01. Assinale a opção que apresenta corretamente o teórico que classificava os
criminosos nas três categorias seguintes: criminoso assassino, criminoso enérgico ou violento,
e ladrão ou neurastênico.
a) Cesare Lombroso
b) Enrico Ferri
c) Giovanni Carmignani
d) Francesco Carrara
e) Raffaele Garofalo
QUESTÃO 02. A figura do delinquente como um indivíduo que optou pelo mal, mesmo
podendo e devendo respeitar a lei, decorre da escola
a) moderna.
b) marxista.
c) correcionalista.
d) positivista.
e) clássica.
QUESTÃO 03. Na criminologia, a concepção do delinquente como um ser inferior, que é
incapaz de dirigir por si mesmo a própria vida e cuja vontade requer uma eficaz e
desinteressada intervenção tutelar do Estado, é típica da visão
a) clássica.
b) positivista.
c) correcionalista.
d) pluralista.
e) marxista.
QUESTÃO 04. Assinale a opção que apresenta a tipologia de delinquência estabelecida
pela Criminologia Positivista, de Cesare Lombroso.
82
a) Criminosos natos, ocasionais, loucos e passionais.
b) Criminosos involuntários, natos, ocasionais, habituais, loucos e passionais.
c) Criminoso cínicos, assassinos violentos ou enérgicos, ladrões ou neurastênicos.
d) Criminosos recuperáveis e irrecuperáveis.
e) Criminalidade de sangue e criminalidade de colarinho branco.
QUESTÃO 05. Os objetos de investigação da criminologia incluem o delito, o infrator, a vítima e
o controle social. Acerca do delito e do delinquente, assinale a opção correta.
a) Para a criminologia positivista, infrator é mera vítima inocente do sistema
econômico; culpável é a sociedade capitalista.
b) Para o marxismo, delinquente é o indivíduo pecador que optou pelo mal, embora
pudesse escolher pela observância e pelo respeito à lei.
c) Para os correcionalistas, criminoso é um ser inferior, incapaz de dirigir livremente
os seus atos: ele necessita ser compreendido e direcionado, por meio de medidas
educativas.
d) Para a criminologia clássica, criminoso é um ser atávico, escravo de sua carga
hereditária, nascido criminoso e prisioneiro de sua própria patologia.
e) A criminologia e o direito penal utilizam os mesmos elementos para conceituar
crime: ação típica, ilícita e culpável.
QUESTÃO 06. Entende-se o criminoso como uma mera vítima inocente do sistema
econômico; culpável é a sociedade capitalista. Tal conceito corresponde a definição de
criminoso para a escola:
a) clássica.
b) positivista.
c) correcionalista.
d) pluralista.e) marxista.
Com a consolidação da Criminologia como ciência no século XIX, o uso de dados
estatísticos passou a ter papel essencial na análise da criminalidade. A ideia era simples, mas
eficaz: reunir informações numéricas para tentar entender melhor os fatores que levam alguém
a cometer um crime. Ainda que essas estatísticas estejam longe de representar a realidade de
forma absoluta — já que uma parte significativa dos delitos sequer chega ao conhecimento das
autoridades —, elas continuam sendo uma ferramenta indispensável para quem estuda o tema.
Através desses dados, é possível identificar tendências, delimitar perfis regionais de
criminalidade e propor políticas públicas mais eficientes para combatê-la ou preveni-la.
Justamente por essa limitação dos números em captar toda a complexidade do
fenômeno criminal, a criminologia passou a diferenciar alguns tipos de registros:
Cifras da Criminalidade
83
• Criminalidade real: engloba todos os crimes realmente praticados, independentemente
de terem sido denunciados ou não. É a dimensão mais abrangente do fenômeno, mas
também a mais difícil de medir com precisão.
• Criminalidade registrada (ou revelada): diz respeito apenas aos delitos oficialmente
comunicados ao Estado, como os que são anotados em boletins de ocorrência ou
chegam ao conhecimento do Ministério Público.
• Criminalidade oculta (conhecida como cifra negra): refere-se aos crimes que, por
diversos motivos, nunca são reportados aos órgãos responsáveis, ficando fora das
estatísticas oficiais. Essa discrepância entre o que acontece e o que se registra é um dos
grandes desafios na formulação de políticas criminais.
Além disso, para sistematizar melhor esses dados e categorizar diferentes formas de
subnotificação e registro, a doutrina desenvolveu uma classificação baseada em “cifras”
identificadas por cores.
✓ Cifra Negra: A "cifra negra" é também conhecida como Zona Escura ou Dark Number.
Trata-se da discrepância entre a criminalidade real, ou seja, os crimes efetivamente
cometidos, e os que são de fato registrados. Em outras palavras, ela se refere aos delitos
que não chegam ao conhecimento das autoridades competentes.
✓ Cifra dourada: Abrange os crimes praticados pela elite, frequentemente associados aos
chamados crimes de colarinho branco. Esses crimes estão relacionados a práticas
criminosas impunes realizadas por pessoas com poder político ou econômico, que
prejudicam a sociedade em benefício das oligarquias financeiras. Embora uma parte da
doutrina limite essa categoria apenas aos crimes de colarinho branco desconhecidos e
não registrados, a visão predominante é que ela inclui todos os crimes cometidos pelas
elites econômico-financeiras.
✓ Cifra cinza: refere-se aos casos que, embora registrados, não avançam para o processo
judicial ou ação penal. Esses crimes são resolvidos dentro da própria delegacia, muitas
vezes por meio de uma conciliação entre as partes envolvidas, ou quando a vítima decide
não seguir com a denúncia.
✓ Cifra amarela: Está relacionada aos abusos ou violências cometidas por funcionários
públicos contra cidadãos comuns. Alguns estudiosos argumentam que essa categoria é
uma subespécie da cifra negra, considerando-a apenas como crimes cometidos por
policiais que não são registrados pelas vítimas devido ao medo de represálias. No entanto,
a maioria dos especialistas considera a cifra amarela uma classificação mais ampla, que
inclui qualquer funcionário público abusando de seu poder contra particulares, mesmo
que o crime não seja registrado.
✓ Cifra verde: Trata dos crimes que não são reportados à polícia, sendo que sua principal
vítima é o meio ambiente. Esses crimes, muitas vezes, não chegam ao conhecimento das
autoridades competentes.
✓ Cifra azul: Refere-se aos chamados "blue-collar crimes", ou crimes cometidos pelas
classes trabalhadoras, geralmente por indivíduos de classe econômica baixa. Esse termo
surgiu durante a Revolução Industrial nos Estados Unidos, onde os trabalhadores usavam
uniformes com colarinhos azuis, o que os diferenciava dos patrões.
✓ Cifra rosa: Diz respeito a crimes motivados por homofobia, que não chegam ao
conhecimento das autoridades. Esses crimes envolvem violência contra homossexuais
devido à sua orientação sexual, e o vínculo motivacional da homofobia é essencial para
sua classificação.
✓ Cifra branca: Abrange os crimes que são efetivamente solucionados dentro do sistema
de justiça. Isso inclui todas as etapas do processo judicial, e não está necessariamente
vinculada à condenação do réu. Inclusive, um caso pode ser classificado como cifra
branca se, por exemplo, o acusado for absolvido após um julgamento definitivo, pois a
84
ideia central aqui é que o caso foi resolvido de forma definitiva, seja com condenação ou
absolvição.
✓ Cifra vermelha: Está associada a homicídios cometidos por serial killers (assassinos em
série), indivíduos que, geralmente psicopatas, matam várias vítimas com características e
métodos semelhantes, deixando uma marca identificável em seus crimes. Esse conceito
é mais comumente discutido na doutrina europeia, especialmente na espanhola.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
QUESTÃO 01. A vitimização secundária, como estudo da criminologia, atenta para o fenômeno
da inércia da vítima para noticiar o fato criminoso aos órgãos de persecução penal.
Na hipótese em que a vítima de um crime praticado com abuso de poder deixa de acionar os
órgãos competentes por medo de represália, está-se diante da denominada
a) Cifra Dourada.
b) Cifra Cinza.
c) Cifra Vermelha.
d) Cifra Amarela.
e) Cifra Verde.
QUESTÃO 02. consiste em crimes que são de conhecimento dos órgãos policiais,
porém, não chegam a ter um processo-crime instaurado. Um exemplo é a renúncia da vítima
ao direito de queixa ou representação.
Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna.
a) A infortunística
b) A heterovitimização
c) A cifra cinza
d) A vitimodogmática
e) O iter victimae
QUESTÃO 03. No julgamento da Ação Penal nº 470 no Supremo Tribunal Federal, que ficou
popularmente conhecido como “Caso do Mensalão”, o Ministro Luiz Fux valeu-se destas
expressões em seu voto:
“[...] o desafio na seara dos crimes do colarinho branco é alcançar a plena efetividade da tutela
penal dos bens jurídicos não individuais. Tendo em conta que se trata de delitos cometidos
sem violência, incruentos, não atraem para si a mesma repulsa social dos crimes do colarinho
azul.”
Diante do exposto, no que tange aos “crimes de colarinho branco”, para representar a situação
de impunidade provocada por omissão ou falta de comunicação e registro de condutas
criminosas, nas quais o poder político e econômico pode vir a fomentar elevado grau de
impunidade, as expressões do Ministro Luiz Fux se referem à
a) Subnotificação privilegiada.
b) Cifra dourada.
c) Subnotificação azul.
d) Cifra azul.
85
e) Subnotificação do colarinho prateado.
QUESTÃO 04. As taxas de subnotificação criminal são importantes indicadores do nível de
vitimização de determinada sociedade. Entende-se por cifra
a) verde – criminalidade do colarinho branco que não chega ao conhecimento das
autoridades encarregadas de sua apuração e consequente punição.
b) amarela – casos em que as vítimas sofrem algum tipo de ilegalidade praticada
por servidor público, mas que deixam de denunciar o fato por temor de
represália.
c) dourada – os crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento
das autoridades.
rosa – crimes que são de conhecimento dos órgãos policiais, mas que não
chegam a transformarem-se em processo-crime.
d) cinza – os delitos que provocam degradação do meio ambiente, mas que não
chegam a ter sua autoria identificada, por omissão das pessoas que tomam
conhecimento do fato ou por desinteresse das autoridades.
QUESTÃO 05. É correto afirmar que a cifra negra correspondeà criminalidade
a) sem registro oficial, desconhecida, impune e não elucidada.
b) registrada, investigada, todavia impune.
c) registrada, mas não investigada pela Polícia.
d) sem registro oficial, não investigada, porém denunciada pelo Ministério Público.
e) registrada, investigada, contudo não elucidada.
QUESTÃO 06. Entende-se por cifras negras
a) os crimes hediondos praticados com violência ou grave ameaça.
b) as ocorrências criminais não registradas nos órgãos policiais responsáveis, em
prejuízo do interesse da sociedade.
c) apenas os crimes praticados por policiais, que não são apurados, por temor de
represália.
d) somente os delitos praticados pelos criminosos de colarinho branco, em prejuízo
da coletividade.
e) os crimes de menor potencial ofensivo praticados sem violência ou grave
ameaça.
QUESTÃO 07. A expressão “cifra negra”, em Criminologia, corresponde ao número de
a) erros judiciais (decisões judiciais incompatíveis com a realidade dos fatos).
b) crimes ocorridos e não reportados à autoridade.
c) criminosos reincidentes.
d) prisões efetuadas injustamente.
e) crimes ocorridos em ambientes públicos, mas cuja autoria permanece ignorada.
O crime como fenômeno de massa: narcotráfico,
terrorismo e crime organizado.
86
Para compreendermos a presente temática é preciso, primeiro, conhecermos o conceito
de cada uma das tipologias criminosas exigidas pelo edital.
➢ CRIME ORGANIZADO.
A criminalidade organizada é hoje um dos principais problemas de segurança pública
que assola o país. O conceito de organização criminosa está previsto na lei 12.850/13.
Lei 12.850/13 (lei das organizações criminosas)
Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os
meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser
aplicado.
§1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 ou mais pessoa
ESTRUTURALMENTE ORDENADA e caracterizada pela DIVISÃO DE TAREFAS, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, VANTAGEM DE QUALQUER
NATUREZA, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores
a 4 anos, ou que sejam de caráter transnacional.
§ 2o Esta Lei se aplica também:
I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;
II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos
de terrorismo legalmente definidos.
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta
pessoa, organização criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas
correspondentes às demais infrações penais praticadas.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a
investigação de infração penal que envolva organização criminosa.
§ 2º As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa
houver emprego de arma de fogo.
§ 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da
organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução.
§ 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):
I - se há participação de criança ou adolescente;
II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa
condição para a prática de infração penal;
87
III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao
exterior;
IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas
independentes;
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização.
Desde já é preciso pontuar a diferença entre: Organização Criminosa; Associação Criminosa e
Associação para o tráfico.
➢ NARCOTRÁFICO.
A tipificação do crime de tráfico de drogas é trazida pela lei 11.343/06 (Lei de combate às
drogas).
Lei 11.343/06 (Lei de combate às drogas).
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,
entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500
(mil e quinhentos) dias-multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece,
fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-
prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;
Assoc. p/ TRÁFICO Assoc. Criminosa ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
Associarem-se DUAS OU
MAIS pessoas para o fim de
praticar, reiteradamente ou
não, qualquer dos crimes
previstos nos arts. 33, caput
e § 1º , e 34 desta Lei.
Associarem-se 3
(TRÊS) OU MAIS
PESSOAS, para o
fim específico de
cometer crimes.
Associação de 4 (QUATRO) OU MAIS
pessoas estruturalmente ordenada/
divisão de tarefas/ a prática de
infrações penais cujas penas
máximas sejam superiores a 4
(quatro) anos OU caráter
transnacional.
88
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação
de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios
razoáveis de conduta criminal preexistente.
§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-
multa.
§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500
(mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas
de um sexto a dois terços, vedada a conversão em pena restritiva de direitos, desde que o
agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem
integre organização criminosa.
ATENÇÃO!!! Trata-se de requisitos cumulativos.
➢ TERRORISMO.
A prática do terrorismo no território nacional é conduta tipificada pela lei 13.260/16 (lei de
combate ao terrorismo).
TRÁFICO PRIVILEGIADO
REQUISITO CUMULATIVOS
AGENTE PRIMÁRIO
BONS ANTECEDENTES
NÃO SE DEDIQUE ÀS ATIVIDADES CRIMINOSAS
NÃO INTEGRE ORCRIM
89
Lei 13.260/16 (lei de combate ao terrorismo)
Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos
neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e
religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado,
expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.
§ 1º São atos de terrorismo:
I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos,
gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes
de causar danos ou promoversocial formal, assinale a alternativa correta.
a) Ao tratarmos da primeira seleção do controle social formal, estaremos diante da atuação
inicial do controle social, ou seja, do momento de ação das instituições escolares na
formação do indivíduo.
b) Ao tratarmos da primeira seleção do controle social formal, estaremos diante da atuação
primária do controle social, ou seja, a influência da sociedade antes da efetiva ocorrência
do fato criminoso que pode ser caracterizada pela observância da opinião pública na
população.
c) A segunda seleção voltada ao controle social pode ser caracterizada pela influência da
religião no indivíduo e o papel das igrejas na mitigação da ocorrência dos fatos
criminosos, independentemente da crença religiosa concreta.
d) A primeira seleção de controle social formal se dá em face da atuação de seus órgãos de
repressão jurídica, ou seja, da efetiva atuação da polícia judiciária.
e) Em se tratando da terceira seleção do controle social formal, estamos diante do círculo
social mais próximo do infrator, ou seja, da influência exercida no seio de suas relações
familiares e na importância da presença familiar na prevenção do crime heterodoxo.
QUESTÃO 04 - Assinale a alternativa que indica a correta relação da Criminologia com a Política
Criminal, Direito Penal ou com o Sistema de Justiça Criminal:
9
a) O Direito Penal é condicionante e moldura da criminologia, visto que esta tem por objeto
o estudo do crime e, assim, parte em suas diversas correntes e teorias, das definições
criminais dogmáticas e legais postas pelo Direito Penal, e a elas se circunscreve.
b) A Criminologia, especialmente em sua vertente crítica, tem como incumbência a
explicação e justificação do Sistema de Justiça Criminal que tem por finalidade a
implementação do Direito Penal e consequente prevenção criminal.
c) A Política Criminal é uma disciplina que estuda estratégias estatais para atuação
preventiva sobre a criminalidade, e que tem como uma das principais finalidades o
estabelecimento de uma ponte eficaz entre a criminologia, enquanto ciência empírica, e
o direito penal, enquanto ciência axiológica.
d) A Política Criminal é condicionante e moldura da criminologia, visto que esta tem por
objeto o estudo do crime e, assim, parte em suas diversas correntes e teorias, das
definições criminais dogmáticas e legais postas pela Política Criminal, e a elas se
circunscreve.
QUESTÃO 05 – A criminologia moderna, enquanto ciência, tem por objeto de estudo:
a) O crime, o criminoso e a vítima apenas;
b) O crime e o criminoso, sendo a vítima objeto de estudo da vitimologia;
c) O delito, o delinquente, a vítima e o controle social;
d) O crime, o delito, a vítima e o controle social;
e) O delito, a vítima e os meios de controle.
QUESTÃO 06 – Para a Escola retribucionista:
a) O criminoso é assemelhado a figura do pecador, que não possui livre arbítrio, e é forçado
a seguir pelo caminho do mal, não possuindo a oportunidade de praticar o bem;
b) O criminoso herda o gene criminoso, é um ser atávico.
c) O criminoso é alguém que carece de ajuda, sendo incapaz de controlar a si próprio. Por
isso mesmo não merece punição.
d) O criminoso é assemelhado a figura do pecador, dotado de livre arbítrio, que opta por
seguir o caminho do mal, mesmo possuindo a oportunidade de praticar o bem;
e) Sofre o determinismo biológico que é uma herança genética.
QUESTÃO 07 – O Controle social formal é a chamada ultima ratio e pode ser dividido em
Seleções. Aponte a alternativa que indica o mecanismo de controle social formal de segunda
seleção:
a) Policia Civil;
b) Policial Federal;
c) Igreja;
d) Sistema da Justiça;
e) Ministério público.
QUESTÃO 08 – Sobre as Ciências Criminais, é correto afirmar que
a) a Criminologia tem por uma de suas funções a compreensão da etiologia do crime.
b) a Política Criminal dedica-se a elucidar os crimes, procurando vestígios, provas, realizando
perícias.
c) o Direito Penal é uma ciência zetética, indutiva, empírica e interdisciplinar.
d) a Criminologia emprega conhecimentos da Medicina para o esclarecimento de fatos de
interesse da justiça.
10
e) a Medicina Legal e a Criminologia confundem-se, por serem responsáveis pela aplicação
de conhecimentos científicos na elucidação de crimes.
QUESTÃO 09 - Quanto à criminologia, assinale a alternativa INCORRETA.
a) Pode ser compreendida como uma ciência empírica, pois é baseada na observação da
realidade dos fatos e na experiência.
b) É uma ciência autônoma, independente e interdisciplinar, uma vez que envolve diversos
outros ramos do conhecimento para explicar os objetos de estudo.
c) Pode ser entendida como uma ciência formal e normativa, pois sistematiza princípios e
regras de proteção de bens jurídicos, projetando estratégias, táticas e meios de controle
social.
d) Observa o crime como um fenômeno social e comunitário, buscando compreender os
fatores da criminogênese.
e) Estuda o crime, o criminoso, a vítima e o controle social das condutas criminosas.
QUESTÃO 10 - Sobre os conceitos e objetos das ciências criminais, assinale a alternativa correta.
a) O Direito Penal é marcado pelo empirismo, uma vez que se baseia em evidências
b) A criminologia tem como traço característico de seu estudo a interdisciplinariedade, pois
utiliza-se e necessita para se fundar como ciência do saber de múltiplas áreas do
conhecimento
c) O ramo das políticas criminais tem objeto deôntico (formado no dever-ser, deveres
morais), pois tem como objeto de estudo a norma valorada
d) A finalidade do Direito Penal é possibilitar que os Poderes Públicos e a sociedade como
um todo compreendam cientificamente o crime, criminoso, vítima e controle social, de
modo a permitir uma atuação que seja eficiente em prevenir e intervir de forma eficaz no
fenômeno criminal
e) O Direito Penal define estratégias e meios de controle social da criminalidade, planeja a
criação de programas eficazes de prevenção de ocorrências e de intervenção positiva no
homem delinquente, além do desenvolvimento dos diversos modelos ou sistemas de
resposta ao delito
Antes de abordarmos esse tema de extrema relevância para provas de concurso, é mister
fazer uma distinção entre as fases pré-científica e científica da criminologia, tendo em vista a
frequente cobrança em certames.
O período pré-científico engloba tanto as chamadas pseudociências quanto a
Criminologia Clássica.
As pseudociências não possuem qualquer base científica. Suas explicações para o
comportamento criminoso se fundamentavam em crenças religiosas ou em suposições
derivadas de características físicas, como a forma do crânio ou o suposto subdesenvolvimento
Escolas Criminológicas
11
mental. Entre os principais exemplos desse período estão a frenologia, a demonologia e a
fisionomia.
Já no período científico temos a Escola Positivista. Essa corrente marca uma ruptura
com a análise puramente jurídica do crime, passando a considerar o criminoso como o principal
objeto de estudo, sob uma perspectiva empírica e multidisciplinar, que engloba aspectos
biológicos, psicológicos e sociológicos.
Posteriormente, ainda no âmbito da fase científica, surge a denominada Criminologia
Moderna, que amplia o campo de investigação da disciplina. Em vez de limitar-se à figura do
criminoso, essa abordagem passa a considerar quatro objetos centrais: o crime, o criminoso, a
vítima e o controle social.
Com essa ampliação, a criminologia supera a visão tradicional, que buscava
exclusivamente identificar doenças mentais ou anomalias como causas determinantes do
comportamento criminoso. A partir de então, fatores psicológicos e sociológicos passam a ser
incorporados às análises, juntamente com os fatores biológicos, os quais, embora relativizados,
continuam a ser considerados na explicação do fenômeno criminal.
É nesse momento que surgem as teorias sociológicas com seusdestruição em massa;
IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa
ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo
temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações
ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos,
instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de
geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino
e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento;
V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou
à violência.
ATENÇÃO!!! § 2º O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva
de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe
ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios,
visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos,
garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei.
Art. 3º Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por
interposta pessoa, a organização terrorista:
Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa.dois grandes grupos:
Teorias do Consenso e Teorias do Conflito.
Fase Pré-científica x Fase Científica
Fase Pré-científica Fase Científica
Natureza do
Saber
Ausência de base científica;
fundamentada em crenças, mitos e
suposições físicas
Fundamentação empírica; uso do
método científico para investigação do
fenômeno criminal
Objeto de
Estudo
Explicações centradas em crenças
religiosas ou em características
físicas e anatômicas
Inicialmente, o criminoso (Escola
Positivista); posteriormente, crime,
criminoso, vítima e controle social
Método
Utilizado
Especulativo e dogmático Empírico, interdisciplinar (biológico,
psicológico e sociológico)
Exemplos de
Correntes
Frenologia, Fisionomia,
Demonologia, Escola Clássica
Escola Positivista; posteriormente,
Criminologia Moderna
Dito isto, vamos ao estudo das principais escolas.
➢ ESCOLA CLÁSSICA ou RETRIBUCIONISTA
Desenvolvida no contexto do século XVIII, sob forte influência do pensamento iluminista,
essa escola surgiu como reação ao autoritarismo vigente nos regimes absolutistas. Seu objetivo
central consistia em estabelecer limites racionais ao exercício do poder punitivo estatal, com
foco na proteção das garantias e dos direitos individuais do cidadão.
É importante destacar que nunca existiu uma escola que se autodenominasse “Clássica”.
O termo foi utilizado de forma crítica por Enrico Ferri, defensor da Escola Positivista, com a
intenção de atribuir um caráter ultrapassado e conservador à então chamada Escola
Retribucionista, seu nome original. No entanto, para fins didáticos e em consonância com a
12
nomenclatura amplamente adotada em concursos públicos, utilizaremos a expressão Escola
Clássica ao longo deste estudo.
Concentrou-se na definição jurídica e abstrata de crime e pena, buscando fundamentar
o sistema penal em princípios racionais e universais. A abordagem metodológica adotada foi a
dedutiva, partindo de conceitos gerais para a análise e aplicação aos casos concretos, dentro de
uma lógica que visava assegurar a previsibilidade e a limitação do arbítrio estatal.
É relevante observar que a Escola Clássica se fundamenta em duas teorias essenciais:
Jusnaturalismo e Contratualismo. Este, inspirado na concepção iluminista de Jean-Jacques
Rousseau, parte do pressuposto de que o Estado surge a partir de um acordo coletivo — o
chamado contrato social. Nesse pacto simbólico, os indivíduos concordam em renunciar
voluntariamente a parte de suas liberdades individuais em troca da proteção e organização
proporcionadas pela vida em sociedade, com vistas ao bem comum. Já o jusnaturalismo é a
doutrina que reconhece a existência de direitos naturais, ou seja, prerrogativas que derivam da
própria condição humana. Esses direitos são considerados universais, imutáveis e independem
de qualquer ato de reconhecimento por parte do Estado, por serem intrínsecos à essência do
ser humano.
Com efeito, em razão da elevada incidência em provas de concurso, vale destacar os
principais postulados da escola clássica.
Princípios Fundamentais da Escola Clássica
Livre-arbítrio
O ser humano é racional e capaz de escolher entre o bem e o mal. Ao
optar pela prática criminosa, deve ser responsabilizado por sua
conduta.
Crime como ente
jurídico
O crime não é visto como uma ação concreta, mas sim como uma
violação de norma, uma construção jurídica abstrata.
Rejeição à tortura
Influenciada por Beccaria, a Escola Clássica se posiciona contra a
tortura e os abusos do Estado absolutista, defendendo garantias e
direitos individuais.
Função da pena
A pena é considerada um instrumento legítimo de proteção dos bens
jurídicos e da ordem social.
Caráter retributivo da
pena
A punição deve retribuir a culpa moral do criminoso. Para ser eficaz,
precisa ser certa, célere e severa, com intuito preventivo e
intimidador.
Proporcionalidade da
pena
A pena deve ser proporcional ao crime cometido, além de ser justa,
conhecida e previamente estabelecida, garantindo segurança
jurídica.
Vale ressaltar que a escola clássica, com todos os postulados citados
anteriormente, inspirou duas teorias contemporâneas: Teoria das Atividades Rotineiras e
Teoria da Escolha Racional. Esta, desenvolvida por Ronald V. Clark e Cornish, propõe que o
comportamento criminoso resulta de uma decisão consciente e estratégica. De acordo com
essa perspectiva, o indivíduo avalia racionalmente as vantagens que poderá obter com a
infração penal, comparando-as com os possíveis riscos envolvidos. Quando os benefícios
aparentam superar as consequências negativas, o sujeito tende a optar pela prática delitiva. Já
aquela, formulada por Marcus Felson e Lawrence E. Cohen, também entende o crime como uma
13
decisão baseada em cálculo racional. No entanto, essa abordagem incorpora a influência de
elementos contextuais, ou seja, fatores do ambiente social e cotidiano que podem favorecer a
ocorrência do delito. Sob essa ótica, a infração surge da convergência de três condições: a
presença de um agente disposto a delinquir, a existência de uma vítima ou objeto vulnerável, e
a ausência de mecanismos eficazes de vigilância ou proteção.
A Escola Clássica, ao longo do seu desenvolvimento, foi defendida por diversos autores,
tais como: Cesare Bonesana (1738–1794), Francesco Carrara (1805–1888), Giovanni Carmignani
(1768–1847), Jean Domenico Romagnosi (1761–1835), Jeremy Bentham (1748–1832), Franz Joseph
Gall (1758–1828) e Anselm von Feuerbach (1775–1833).
A seguir, veremos alguns nomes devido sua relevância em provas.
• Cesare Bonesana, o marquês de beccaria: Cesare Bonesana foi o representante mais
proeminente da chamada Escola Clássica. Sua principal contribuição teórica está na obra
"Dos Delitos e das Penas" (Dei delitti e delle pene), publicada em 1764, que propôs uma
visão inovadora sobre o sistema penal — influência essa que permanece significativa até
os dias atuais.
Apesar de apresentar uma abordagem essencialmente filosófica, a obra de Beccaria foi
escrita como reação aos abusos do poder punitivo característicos do absolutismo. Seu
objetivo era reformar e humanizar a forma como o Estado respondia às infrações penais.
Principais ideias
Movimento
humanitário
Defendia penas menos cruéis e o fim das desigualdades punitivas
entre ricos e pobres.
Contratualismo e
racionalismo
dedutivo
Adotava uma perspectiva contratualista e elaborava princípios gerais
antes de aplicá-los aos casos.
Inspiração
filosófica
Influenciado por Montesquieu, Hume e Rousseau, com base no
contrato social, direito natural e utilidade pública.
Função do juiz O juiz deveria apenas aplicar a lei, sem interpretações subjetivas ou
juízos de valor.
Princípios
processuais
Defendia julgamentos imparciais, públicos e com penas
proporcionais ao delito.
Acesso à
legislação
Propunha que todos os cidadãos tivessem pleno conhecimento das
leis.
• Francesco Carrara: Carrara é reconhecido por atribuir ao delito uma natureza jurídica, ou
seja, não o via apenas como um simples acontecimento, mas como uma oposição entre
a conduta do indivíduo e a norma legal. Para ele, o crime era composto por duas
dimensões:
✓ Dimensão Física: o ato corporal em si e o prejuízo concreto resultante da infração;
✓ Dimensão Moral: a intenção consciente e voluntária do agente ao cometer o delito.
14
Um ponto que o distingue da Escola Clássica é sua visão sobre a pena. Carrara não a via
como uma forma de retribuição pelo mal praticado, mas sim como um instrumento
necessário para neutralizar uma ameaça à coletividade.
➢ ESCOLA POSITIVISTA
Conhecida também como Escola Positiva ou Criminologia Positivista, essa corrente
surgiu no início do século XIX, na Europa, sob forte influência das ideias dos iluministas e
fisiocratas do século anterior. Teve como principais representantes os italianos Cesare
Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo. Marca o início da fasecientífica da criminologia.
A Escola Positivista surgiu como uma reação contrária à Escola Clássica, rejeitando de
forma expressiva suas bases conceituais, especialmente no que se refere ao método adotado,
tendo em vista que adota um método de base empírica e indutiva, ou seja, fundamenta-se na
observação de situações reais e específicas para, posteriormente, construir conclusões de
caráter geral. O processo começa com a análise da realidade concreta, e só depois busca-se
interpretá-la. Vale destacar que esse método representa a contribuição mais significativa da
Escola Positivista, já que a criminologia contemporânea continua utilizando essa abordagem
até hoje.
Para os pensadores da Escola Positivista, o crime deixou de ser considerado uma simples
violação jurídica e passou a ser interpretado como um fenômeno natural e inerente à
convivência social. Em oposição à Escola Clássica, que acreditava no livre-arbítrio, os positivistas
adotaram o determinismo, enxergando o criminoso como um indivíduo anormal, influenciado
por fatores biológicos e psicológicos, e não como alguém que escolhe livremente delinquir.
Com essa visão, a pena perde o caráter de punição moral e passa a ser compreendida como
uma medida preventiva, voltada à proteção da sociedade.
Com efeito, é possível afirmar que a escola positivista passou por três fases, cada uma com
um autor predominante para representa-la.
Fase Representante Foco Principal Contribuições
Antropológica
Cesare
Lombroso
Características físicas e
biológicas do criminoso
Buscou identificar traços
corporais associados à
predisposição criminal
Sociológica Enrico Ferri
Integração de saberes
diversos e influência do
meio social
Propôs quatro abordagens ao
crime: reparação, prevenção,
repressão e exclusão
Jurídica
Raffaele
Garofalo
Aplicação do pensamento
positivista no campo legal
Inseriu as ideias da escola nas leis
penais, influenciando o
ordenamento jurídico
Em razão da elevada cobrança em concursos, veremos detalhadamente cada autor e sua
respectiva fase.
• Cesare Lombroso (fase antropológica): Lombroso é reconhecido como o maior
representante da Escola Positivista, sendo amplamente chamado de pai da Criminologia
pela maioria dos estudiosos da área. Sua obra mais influente, "O Homem Delinquente"
(1876), marca o nascimento da criminologia como ciência, utilizando observações diretas,
coleta de dados, análises empíricas e conclusões baseadas em evidências.
15
Foi ele quem introduziu na Criminologia o método indutivo-experimental, rompendo
com a abordagem teórica e filosófica da Escola Clássica. Embora não tenha elaborado uma
teoria formal, foi essencial para sistematizar estudos criminológicos antes isolados, lançando as
bases para a análise científica do comportamento criminal.
Na condição de médico legista, Lombroso conduziu mais de 400 autópsias de criminosos
e examinou mais de 6.000 indivíduos vivos com histórico de delitos. A partir dessas
investigações, propôs a ideia do "criminoso nato", teoria segundo a qual certas pessoas nascem
predispostas ao crime por conta de anomalias físicas observáveis, especialmente no crânio —
conceito que, embora popularizado por ele, foi originalmente nomeado por Ferri.
Durante o estudo do crânio de um delinquente reincidente, Lombroso identificou
deformações que, em sua visão, explicariam a origem do comportamento criminoso. Ele
acreditava que tais malformações corporais revelavam uma tendência inata ao crime, ou seja, o
indivíduo já nasceria inclinado a delinquir.
Essa concepção levava a uma consequência grave: admitir a aplicação de penas mesmo
antes da ocorrência do crime, inclusive punições severas como prisão perpétua ou pena de
morte, baseadas apenas em traços físicos.
As ideias centrais de sua teoria incluíam:
✓ Atavismo – o criminoso herdaria traços primitivos de seus antepassados;
✓ Degeneração epiléptica – distúrbios neurológicos associados à delinquência;
✓ Criminoso nato – sujeito biologicamente predisposto à prática de crimes.
É incorreto afirmar que Lombroso limitava sua teoria apenas à existência do criminoso
nato. Esse é um erro comum, já que muitos ignoram o fato de que ele elaborou uma
classificação mais ampla dos tipos de delinquentes, ainda que sua teoria sobre o criminoso nato
tenha ganhado maior notoriedade.
De acordo com Lombroso, os criminosos se dividiriam em três categorias principais:
✓ Criminoso nato: considerado por ele o verdadeiro delinquente, esse indivíduo
apresentaria uma inclinação natural para o crime, originada principalmente por fatores
hereditários, ou seja, características genéticas herdadas de ancestrais (conforme o
conceito de atavismo).
✓ Pseudodelinquentes: englobavam os criminosos ocasionais e passionais, ou seja,
pessoas que cometiam crimes em situações excepcionais, sem apresentarem
predisposição constante à prática criminosa.
✓ Criminaloides: termo criado por Lombroso para definir aqueles que ele descrevia como
"meio loucos" ou "meio criminosos", grupo que hoje seria interpretado pela criminologia
moderna como criminosos fronteiriços, ou, no Direito Penal, como indivíduos semi-
imputáveis — que possuem discernimento reduzido, mas não ausente.
Criminoso
Nato
É o indivíduo cuja predisposição ao crime é inata e biologicamente
determinada. Apresenta anomalias morfológicas como crânio pequeno e
deformado, fronte inclinada, arcadas supraciliares proeminentes, maçãs do
rosto afastadas, orelhas disformes, membros superiores desproporcionalmente
longos, além de comportamento impulsivo, propensão à mentira e tatuagens.
Está associado a estados epilépticos e a uma natureza instintivamente violenta
e antissocial.
16
Criminoso
Louco
Corresponde ao indivíduo que comete delitos em razão de distúrbios psíquicos,
sejam eles de ordem moral ou mental. Caracteriza-se por atitudes de extrema
crueldade e perversidade. Devido à sua condição patológica, é indicado o
tratamento em instituições manicomiais.
Criminoso
Ocasional
Indivíduo que, apesar de possuir certa predisposição genética, é levado à
prática delitiva por fatores externos e contextuais, como ambiente social e
oportunidades propícias. Representa a ideia de que condições externas, como a
oportunidade, podem desencadear comportamentos criminosos latentes.
Criminoso
Passional
Sujeito que age impulsionado por fortes emoções ou perturbações afetivas,
principalmente ligadas a relações interpessoais. Demonstra instabilidade
emocional, tendência à exaltação e recorre à violência como resposta a conflitos
passionais.
• Enrico Ferri (fase sociológica): genro e seguidor de Cesare Lombroso, destacou-se
como criminólogo, político e escritor.
Sua obra mais relevante, "Sociologia Criminal" (1914), trouxe uma ampliação significativa
dos estudos de seu mestre, ao integrar novas dimensões à análise das causas do crime.
Enquanto Lombroso concentrava-se nos aspectos biológicos do indivíduo, Ferri
argumentava que a criminalidade era resultado da combinação entre fatores antropológicos,
físicos e sociais. Segundo ele, as raízes do comportamento criminoso poderiam ser agrupadas
em três categorias:
• Fatores antropológicos: relacionados às condições do próprio indivíduo, como
estrutura corporal, funcionamento psíquico, idade, gênero, raça, entre outros;
• Fatores físicos: elementos do ambiente natural, como o clima, a temperatura e a época
do ano;
• Fatores sociais: aspectos do convívio coletivo, como religião, estrutura familiar, relações
de trabalho, vínculos afetivos, influência da opinião pública e a densidade populacional.
Dessa forma, Ferri ampliou o campo de estudo da criminologia ao defender uma visão
multidisciplinar e interdependente das causas do crime, aproximando-a das ciências sociais.
Ferri destacou-se como um dos principais opositores da ideia de livre-arbítrio defendida
pela Escola Clássica. Para ele, o crime não deveria ser analisado sobuma perspectiva moral, mas
sim sob um ponto de vista social, afastando a noção de culpa individual e substituindo-a pela
noção de responsabilidade coletiva e social. Além disso, argumentava que a pena deveria
funcionar como um mecanismo de proteção da sociedade, sendo necessário isolar o criminoso
do convívio com os demais, a fim de evitar novos delitos.
Ferri também desenvolveu uma classificação dos tipos de delinquentes, organizando-os em
cinco grupos:
Criminoso
nato
Baseando-se nas ideias de Lombroso, esse perfil é visto como alguém com
desvios inatos, apresentando uma deterioração do senso ético desde o
nascimento.
Criminoso
louco
Corresponde ao indivíduo com transtornos mentais, incluindo também
aqueles com discernimento parcial, como os que estão entre a sanidade e a
insanidade plena.
17
Criminoso
ocasional
Trata-se de alguém que comete delitos esporádicos, sem envolvimento
contínuo com o crime. Para Ferri, o delito surge e encontra essa pessoa, e não
o contrário.
Criminoso
habitual
É aquele que vê o crime como sua ocupação principal, sendo reincidente e
transformando a prática criminosa em seu modo de sobrevivência.
Criminoso
passional
De acordo com Ferri, esse tipo age movido por intensas emoções, em um
estado de abalo mental repentino, cometendo o crime em um impulso quase
incontrolável.
• Raffaele Garófalo (fase jurídica): foi jurista de formação e juiz da Corte de Apelação em
Nápoles, destacou-se por aplicar uma abordagem mais técnica e jurídica à Criminologia,
sendo o responsável por introduzir os princípios da Escola Positivista no campo
normativo.
Sua obra mais conhecida, "Criminologia" (1885), embora não tenha sido a primeira a
empregar o termo (criado por Paul Topinard), foi a que deu real visibilidade e relevância à
expressão, motivo pelo qual Garófalo é frequentemente reconhecido como o criador do termo
“criminologia”.
Assim como outros positivistas, negava a existência do livre-arbítrio, defendendo que o
crime está intimamente ligado à essência do indivíduo criminoso. Para ele, o delito não
dependia de fatores externos, mas sim da natureza íntima e revelada do delinquente,
independentemente das circunstâncias em que o crime ocorresse.
Garófalo propôs uma tipologia de criminosos, dividindo-os em:
Criminoso assassino
Possui uma mentalidade semelhante à de uma criança, age de forma
egocêntrica e apresenta sinais visíveis de predisposição para
comportamentos criminosos.
Criminoso
energético ou
violento
Indivíduo desprovido de compaixão, cruel e implacável com suas
vítimas, com tendência a agir com violência desproporcional.
Criminoso ladrão ou
neurastênico
Falta-lhe senso moral e honestidade, demonstrando propensão a
atitudes desonestas.
Uma de suas contribuições foi a distinção entre dois tipos de crimes:
✓ Crimes legais: infrações que não ferem a moral comum e cuja prática depende do
contexto cultural e geográfico (como crimes tributários, por exemplo);
✓ Crimes naturais: violam princípios universais de humanidade, como a compaixão e o
altruísmo, sendo reconhecidos como crimes em qualquer sociedade (como homicídio
ou aborto).
Garófalo acreditava que, se há o criminoso nato, deve haver também o crime de
natureza inata, ou seja, universalmente condenável.
Comparativo entre Lombroso, Ferri e Garófalo – Escola Positivista
18
Cesare Lombroso Enrico Ferri Raffaele Garófalo
Profissão/Formação Médico legista Político, escritor e
criminólogo
Jurista e magistrado
Obra Principal O Homem Delinquente
(1876)
Sociologia Criminal
(1914)
Criminologia (1885)
Método Científico
Indutivo e empírico
(observação direta e
estudo de casos)
Empírico e
multidisciplinar Técnico-jurídico
Contribuições
Centrais
Introduziu a teoria do
criminoso nato
(baseada em
características físicas e
biológicas)
Expandiu as causas
do crime para
fatores
antropológicos,
físicos e sociais
Inseriu a Criminologia no
Direito Penal;
popularizou o termo
"criminologia"
Posição sobre o
Livre-Arbítrio
Negava o livre-arbítrio:
o criminoso nasce
predisposto ao crime
Rejeitava o livre-
arbítrio e a culpa
moral, defendendo a
responsabilidade
social
Também negava o livre-
arbítrio; o crime decorre
da natureza interna do
delinquente
Classificação de
Criminosos
Natos,
pseudodelinquentes e
criminaloides
Natos, habituais,
insanos, ocasionais e
passionais
Fortuitos, natos e de
defeito moral especial
Conceito de Pena
Isolamento do
criminoso como
proteção social
Instrumento de
defesa da sociedade,
não punição moral
Medida de defesa social,
conforme a
periculosidade do
agente
Teoria dos Delitos Não desenvolveu
tipologia de delitos
Não diferenciou
tipos de delito
especificamente
Dividiu em delitos
naturais (universais) e
legais
(contextuais/culturais)
Vejamos agora as principais distinções entre as escolas clássica e positivista.
Escola Clássica x Escola Positivista
Aspecto Escola Clássica Escola Positivista
Período Século XVIII Segunda metade do século XIX
Fase Pré-Científica Científica
Contexto Histórico
Influência do Iluminismo; reação
ao absolutismo
Desenvolvimento da ciência
moderna e métodos empíricos
Nome Original Escola Retribucionista Escola Positiva
Objeto de Estudo
O crime, como conceito jurídico e
abstrato
O criminoso, como sujeito concreto
e observável
Método Utilizado Dedutivo (do geral para o
particular)
Indutivo (baseado na observação e
experiência)
Visão sobre o Delito Fato jurídico, violação da norma;
responsabilidade moral e racional
Resultado de causas biológicas,
psicológicas e sociais
19
Aspecto Escola Clássica Escola Positivista
Responsabilidade
Penal
Baseada no livre-arbítrio e na
culpabilidade
Determinismo: o indivíduo é
produto de fatores externos ou
internos
Finalidade da Pena Retribuição e prevenção Defesa social, correção e
reeducação do delinquente
Concepção de
Justiça
Justiça como racionalidade e
equilíbrio entre crime e pena
Justiça como proteção da
sociedade e intervenção científica
➢ ESCOLA DE LYON
A chamada Escola de Lyon, também conhecida como Escola Antropossocial ou
Criminal-Sociológica, consolidou-se através dos trabalhos do médico-legista Alexandre
Lacassagne, cujo pensamento foi fortemente moldado pelas descobertas científicas de Louis
Pasteur, especialmente no campo da biologia.
Lacassagne defendia que o indivíduo criminoso não escolhe livremente delinquir, pois já
nasce com tendências patológicas, apresentando distúrbios físicos e psíquicos que o
diferenciam do sujeito tido como normal. Assim, traçava uma distinção nítida entre o
delinquente, portador de anomalias, e o indivíduo comum, considerado biologicamente
equilibrado.
Contudo, ele não via a criminalidade como fruto exclusivo de condições individuais. Pelo
contrário: sustentava que o meio social exerce papel central no desenvolvimento do
comportamento criminoso, criando as circunstâncias que favorecem ou dificultam o
surgimento do crime. Nesse sentido, a sociedade seria coautora do delito, por moldar o terreno
onde germina a delinquência.
Essa visão crítica está sintetizada em sua célebre frase: “As sociedades produzem os
criminosos que merecem.”
Com base em sua concepção criminológica, Lacassagne traça uma analogia célebre
entre o criminoso e o micróbio, buscando ilustrar como o ambiente influencia diretamente a
manifestação da delinquência:
Micróbio ou Vírus Delinquente
Trata-se de um organismo vivo capaz
de provocar danos a outros seres
vivos. No entanto, quando isolado,
permanece inofensivo.
É o indivíduo com predisposição biológica ou
psíquica para o crime, mas que não
necessariamente manifesta esse comportamento
sem estímulo externo.
Ao penetrar no organismo de um
hospedeiro, o micróbio pode provocar
efeitos variados — de simples
sintomas a quadros fatais.
Quando inserido em um ambientesocial
deteriorado, desorganizado ou corrompido, o
delinquente tem seu potencial criminoso ativado,
dando origem ao comportamento delituoso.
Por meio dessa comparação, Lacassagne enfatiza que o crime não nasce apenas do
indivíduo, mas sobretudo da interação entre ele e o meio social. Assim, o delinquente é visto
como um agente que só se torna perigoso quando exposto a um ambiente social favorável à
criminalidade.
20
➢ TERCEIRA ESCOLA ITALIANA
Surgida no início do século XX, a Terceira Escola Italiana, ou Terza Scuola Italiana,
destacou-se por tentar harmonizar os princípios conflitantes das Escolas Clássica e
Positivista, propondo um modelo mais equilibrado de compreensão do crime e do Direito
Penal.
Um dos principais representantes desse movimento foi Bernardino Alimena, que
sustentava que o Direito Penal deveria manter sua autonomia científica, ou seja, não poderia
ser subordinado à Sociologia, como defendiam os positivistas, especialmente Enrico Ferri.
Ainda assim, Alimena reconhecia a utilidade de disciplinas externas ao Direito — como
Psicologia, Antropologia e Estatística — para o aprimoramento técnico da análise penal.
Princípios da Terceira Escola Italiana
Autonomia do Direito
Penal
O Direito Penal deve manter-se como ciência autônoma, sem
submissão a outras áreas como a Sociologia.
Rejeição ao fatalismo
criminal
Não aceita a ideia de crime como destino inevitável (fatalismo),
nem a tipificação penal baseada em traços físicos (antropologia
criminal).
Aceitação do
determinismo
Reconhece que o crime pode ter causas determinadas, ou seja,
influenciado por fatores externos e internos.
Influência do meio social
Admite que fatores sociais influenciam o comportamento
criminoso; o Estado deve promover reformas sociais como
forma de prevenção.
Finalidade da pena A pena deve ter função protetiva (defesa social) e também
aflitiva (dissuasão do crime por meio do sofrimento causado).
Imputabilidade Distingue os indivíduos entre imputáveis e inimputáveis, com
base na capacidade de compreensão e autodeterminação.
Responsabilidade moral
com base determinista
A pena é fundamentada na ideia de livre-arbítrio (Escola
Clássica), mas reconhece a influência de fatores causais
(Escola Positivista).
Natureza do crime
O delito é visto como um fenômeno simultaneamente
individual e social, resultado da interação entre sujeito e
contexto.
Uso combinado de
métodos científicos
Aplica o método empírico e indutivo-experimental para
ciências auxiliares (como Psicologia, Antropologia) e o método
lógico-dedutivo para o Direito Penal.
➢ ESCOLA CORRECIONALISTA
A chamada Escola Correcionalista teve suas origens na Alemanha, com Carlos Davis
Augusto Röder, que publicou a obra Comentatio na poena malun esse debeat, em 1839. Seus
21
fundamentos foram influenciados pelo pensamento do filósofo panteísta Karl Christian
Friedrich Krause.
Visão do
delinquente
Indivíduo com patologia de desvio social, e não herdeiro genético de
conduta criminosa. Hereditariedade e meio são causas secundárias.
Natureza da pena
Remédio social voltado à cura do desvio, e não à punição. A pena deve
se ajustar conforme a evolução ou regressão do condenado.
Direito de punir O Estado não age por direito subjetivo, mas sim por um poder-dever de
intervir para proteger a sociedade e reabilitar o infrator.
Duração da pena Indeterminada: perdura enquanto durar o desvio. Requer reavaliações
frequentes.
Função do juiz Visto como “médico social”, responsável por aplicar o tratamento
adequado ao desvio.
Interdisciplinaridade O magistrado deve ter domínio ou apoio técnico de áreas como
psicologia, antropologia e sociologia.
Crítica principal Possibilidade de sanções sem conduta criminosa tipificada, apenas
com base em diagnóstico de desvio social.
➢ ESCOLA SOCIOLÓGICA ALEMÃ
Franz von Liszt inaugurou uma nova perspectiva no campo penal com sua célebre aula em
Marburgo, intitulada A Ideia de Fim no Direito Penal. Essa proposta, que ficou conhecida como
Programa de Marburgo, marcou o surgimento de uma vertente que reformulou o pensamento
penal sob uma ótica sociológica, rompendo com os modelos tradicionais até então
predominantes.
A escola formada a partir de suas ideias é identificada por diversas denominações — Escola
Sociológica Alemã, Escola de Marburgo, Escola Moderna ou ainda Nova Escola.
Diferenciando-se da Escola Positivista, esta corrente rejeitava a criação de tipos criminosos com
base em características biológicas, defendendo que o crime é resultado de influências sociais e
contextuais, e não de predisposições naturais.
Principais fundamentos da Escola de Política Criminal:
Redefinição das
ciências penais
A Criminologia passa a ser encarada como a ciência voltada à
investigação das causas do delito, enquanto a Penologia analisa tanto
as origens quanto os efeitos da pena.
Método científico
adotado
Utilização do método indutivo e experimental na análise criminológica,
priorizando a realidade observável.
Critério de
imputabilidade
Substituição do critério do livre-arbítrio pela normalidade psíquica. A
pena é aplicada aos imputáveis (normais), enquanto os inimputáveis
recebem medidas de segurança com base em sua periculosidade.
Highlight
22
Concepção do
crime
O crime é compreendido simultaneamente como um fato social e
jurídico, resultante da interação humana em sociedade.
Finalidade da pena
A pena deixa de ser retributiva (como defendia a Escola Clássica) e
passa a ter função protetiva e preventiva, visando preservar a ordem
social. Isso pode ocorrer por meio da reintegração social do criminoso
(adaptação artificial) ou pelo afastamento do infrator perigoso
(inocuização).
➢ ESCOLA SOCIOLÓGICA DO DIREITO
A Escola Sociológica Jurídica, também conhecida como Escola do Direito, fundamenta-
se na noção de que o Direito surge como um fenômeno essencialmente social — resultado
direto da convivência entre os indivíduos dentro de uma coletividade.
Dessa forma, essa corrente recusa a ideia de que o Direito tenha origem divina, racional,
estatal ou mesmo subjetiva (consciência humana). Para seus teóricos, o Direito nasce e se
estrutura a partir das relações sociais estabelecidas entre os membros da sociedade.
Com base nesse entendimento, as normas jurídicas não passam de instrumentos voltados à
regulação da conduta dos indivíduos no meio social, ajustando-se às exigências e conveniências
coletivas.
Características centrais da Escola Sociológica do Direito
O homem é um ser social O indivíduo, por sua própria natureza, precisa viver em
comunidade.
Impossibilidade do isolamento O ser humano não consegue viver de forma plena
afastado do convívio coletivo.
O Direito surge das relações
sociais
As normas jurídicas são fruto das interações
estabelecidas na sociedade.
Finalidade das normas jurídicas
As leis servem para disciplinar a conduta humana e
garantir a ordem social.
Direito como instrumento de
organização coletiva
As normas atendem às necessidades e conveniências do
grupo social.
➢ NOVA DEFESA SOCIAL
As concepções que deram origem à Defesa Social surgiram durante o período do
Iluminismo, mas o movimento propriamente dito ganhou força após a Segunda Guerra
Mundial, sendo impulsionado por nomes como Adolphe Prins e Fillipo Gramatica. Em 1954, esse
movimento foi reformulado e passou a ser denominado Nova Defesa Social, consolidando seus
princípios na obra La Défense Sociale Nouvelle, de Marc Ancel.
Entre os principais fundamentos da Nova Defesa Social, destacam-se:
23
Crítica ao Direito Penal
tradicional
Defende a extinção do sistema penal repressivo, propondo sua
substituição por mecanismos alternativos de controle social.
Pedagogia da
Responsabilidade
O criminoso deve ser educado e responsabilizado, não apenas
punido.
Individualização das
medidas aplicadas
Propõe quemedidas sejam adaptadas às características de cada
infrator, afastando penas fixas e abstratas.
Ênfase na prevenção e
reeducação
A aplicação de medidas preventivas e reeducativas deve possibilitar
a reintegração social do condenado.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
QUESTÃO 01 - No tocante às escolas da Criminologia, assinale a afirmativa correta.
A) A Escola da Criminologia Positivista tem como objetos de estudo o crime, o criminoso, o
controle social e a vítima.
B) A Escola da Criminologia Clássica tem como objeto de estudo o delito, compreendido como
um ente jurídico.
C) A Escola da Criminologia Positivista tem como objeto de estudo os processos de
criminalização.
D) A Escola da Criminologia Crítica tem como objeto de estudo o delinquente.
E) A Criminologia Radical tem enfoque exclusivamente na pessoa da vítima do delito.
QUESTÃO 02 - Relacione a Escola Criminológica com a afirmativa com ele compatível:
1. Escola Clássica
2. Escola Positivista
3. Escola de Chicago
( ) É fundada no livre-arbítrio, portanto o crime é fruto de uma decisão de seres racionais.
( ) Também chamada de ecologia criminal, é uma das mais importantes escolas do consenso da
sociologia criminal.
( ) É fundada no determinismo, no estudo do delinquente, utiliza-se do método empírico. Seu
principal expoente foi Cesare Lombroso.
Assinale a opção que indica a relação correta, na ordem apresentada.
A) 1 – 2 – 3.
B) 3 – 2 – 1.
24
C) 1 – 3 – 2.
D) 2 – 3 – 1.
E) 3 – 1 – 2.
QUESTÃO 03 - A figura do delinquente como um indivíduo que optou pelo mal, mesmo
podendo e devendo respeitar a lei, decorre da escola
A) moderna.
B) marxista.
C) correcionalista.
D) positivista.
E) clássica.
QUESTÃO 04 - No que concerne às Escolas Penais, Cesare Lombroso, autor italiano, é apontado
como um dos principais expoentes da Escola
A) Tecnicista.
B) Correcionalista.
C) Positivista.
D) Clássica.
E) de Defesa Social.
QUESTÃO 05 - O criminoso era um ser que pecou, que optou pelo mal, embora pudesse e
devesse escolher o bem. É correto afirmar que o enunciado se refere à Escola
A) Contemporânea.
B) Positiva.
C) Clássica.
D) Positiva Italiana.
E) de Política Criminal.
QUESTÃO 06 - É considerado o pai da Criminologia
A) John Howards, autor da obra O estado das prisões.
B) Rafael Garófalo, autor da obra Criminologia.
C) Cesare Lombroso, autor da obra O homem delinquente.
D) Cesare Bonesana, autor da obra Dos delitos e das penas.
E) Raimundo Nina Rodrigues, autor da obra As leis de imitação.
QUESTÃO 07 - Na criminologia, a concepção do delinquente como um ser inferior, que é
incapaz de dirigir por si mesmo a própria vida e cuja vontade requer uma eficaz e desinteressada
intervenção tutelar do Estado, é típica da visão
A) clássica.
B) positivista.
C) correcionalista.
D) pluralista.
E) marxista.
QUESTÃO 08 - O positivismo criminológico
A) constitui uma continuidade da Escola Clássica, aprofundando suas ideias a partir do mesmo
paradigma metodológico.
B) rejeita o viés etiológico ao buscar o desenvolvimento de um plano individualizador da pena.
C) sofreu um abandono teórico que teve como decorrência a ausência de reflexos em práticas
atuais e no direito contemporâneo.
D) revela, em seus estudos, a primazia do livre-arbítrio na compreensão do fenômeno criminoso.
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E) primou pela aplicação do método científico no qual a observação direta e a experiência
assumem papel decisivo.
QUESTÃO 09 - A respeito das escolas criminológicas, é correto afirmar:
A) A escola positivista, cujos representantes principais são Lombroso, Ferri e Garófalo,
apresentou uma severa crítica às teses do direito penal do inimigo, contribuindo para o
surgimento de doutrinas abolicionistas.
B) A escola liberal clássica do direito penal teve origem no Iluminismo e possibilitou o
surgimento de medidas substitutivas da prisão, baseadas na ideia de periculosidade do sujeito
delinquente.
C) A escola clássica apresenta duas fases: a filosófica, cujo principal representante é Cesare
Beccaria, e a jurídica, representada por Enrico Ferri e seu conceito de crime como ente jurídico.
D) Cesare Beccaria, cujo pensamento é apontado como uma das mais influentes bases da escola
clássica, fez uma forte crítica ao sistema penal do Antigo Regime e lançou bases filosóficas
limitadoras do poder punitivo estatal.
E) A escola positivista, tributária do método científicoexperimental, explica a criminalidade a
partir do estudo do homem delinquente, o qual pratica crimes porque é dotado de livre arbítrio.
QUESTÃO 10 - Assinale a opção que apresenta a tipologia de delinquência estabelecida pela
Criminologia Positivista, de Cesare Lombroso.
A) Criminosos natos, ocasionais, loucos e passionais.
B) Criminosos involuntários, natos, ocasionais, habituais, loucos e passionais.
C) Criminoso cínicos, assassinos violentos ou enérgicos, ladrões ou neurastênicos.
D) Criminosos recuperáveis e irrecuperáveis.
E) Criminalidade de sangue e criminalidade de colarinho branco.
A prevenção criminal compreende o conjunto estruturado de estratégias, ações e
políticas voltadas à contenção e redução da criminalidade, sendo operacionalizada tanto por
instituições públicas quanto por organizações privadas. Tais medidas têm como objetivo central
impedir ou dificultar a concretização de condutas delituosas, interferindo no ciclo do crime de
maneira direta ou indireta.
A seguir, veremos cada uma dessas formas de prevenção de maneira pormenorizada.
➢ PREVENÇÃO PRIMÁRIA
A prevenção primária é frequentemente reconhecida como a forma mais autêntica e
essencial de prevenção criminal, na medida em que busca atuar diretamente sobre os fatores
estruturais e sociais que originam a criminalidade.
Sistemas de Prevenção Criminal
Highlight
Highlight
Highlight
Highlight
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É relevante observar que, embora os atos criminosos sejam praticados por indivíduos,
condições externas e contextuais — como carência de políticas públicas, exclusão social e
desigualdade — contribuem significativamente para a formação de um ambiente propício à
prática delitiva. Esses fatores, ainda que não sejam determinantes absolutos, exercem influência
inegável sobre o comportamento criminal.
Nesse sentido, a prevenção primária fundamenta-se na efetivação dos direitos e garantias
fundamentais assegurados pelo Estado Democrático de Direito, como o direito à vida, à
educação, à saúde, ao lazer, ao trabalho, à segurança e à moradia. Contudo, sabe-se que tais
direitos são historicamente acessíveis de forma desigual, favorecendo apenas uma parcela
limitada da população.
Portanto, a essência da prevenção primária reside na promoção da justiça social,
objetivando reduzir as desigualdades estruturais que favorecem o surgimento da criminalidade.
Parte-se do princípio de que quanto maior a equidade social, menor será a incidência de
condutas criminosas.
As principais características da prevenção primária incluem:
Abrangência
populacional ampla
Destina-se a toda a sociedade, atuando de forma universal e
preventiva, sem foco exclusivo em grupos de risco ou
delinquentes.
Exige altos
investimentos
Demanda recursos financeiros consideráveis, uma vez que envolve
políticas públicas estruturantes e de longo alcance.
Resultados de médio a
longo prazo
Os efeitos da prevenção primária não são imediatos, exigindo
tempo para que mudanças sociais e estruturais se consolidem.
Responsabilidade do
Poder Executivo
Atribuição direta dos gestores públicos (Presidente, Governadores,
Prefeitos), que devem implementar políticas voltadas à redução
das causas sociais do crime.
Foco nos direitos
fundamentais
Busca garantir direitos básicos como educação, saúde, moradia,
segurança, trabalho e lazer, como forma de mitigar a desigualdade
social.
Redução da
desigualdade social
Visa promover justiça social como estratégia de contenção da
criminalidade, partindodo princípio de que maior equidade resulta
em menor propensão ao crime.
Atuação fora do sistema
penal
Não envolve diretamente o sistema de justiça criminal (polícia,
Ministério Público, Judiciário ou sistema prisional), priorizando
políticas públicas e sociais.
Instrumento de
prevenção estrutural
Atua sobre as causas profundas da criminalidade, considerando
fatores socioeconômicos, culturais e educacionais que influenciam
o comportamento delitivo.
Exemplos: Programas nacionais de alfabetização; campanhas de vacinação em massa;
Construção de escolas, hospitais, centros de cultura e esporte em comunidades carentes; Planos
de governo voltados ao combate à pobreza e inclusão social; dentre outros.
➢ PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
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A prevenção secundária representa a modalidade mais recorrente nas práticas estatais,
sendo amplamente implementada pelas forças de segurança pública e instituições vinculadas
ao Sistema de Justiça Criminal. Essa forma de prevenção caracteriza-se pela atuação em
situações de risco iminente ou logo após a ocorrência do delito, com foco direto na contenção
da criminalidade em locais e momentos de maior vulnerabilidade.
Diferentemente da prevenção primária, a prevenção secundária não visa
necessariamente o criminoso, mas sim grupos e regiões sociais mais expostos à criminalidade,
como áreas urbanas periféricas, comunidades carentes e populações em situação de risco. As
ações incluem patrulhamento ostensivo, policiamento comunitário, programas de mediação de
conflitos, controle de armas e substâncias ilícitas, bem como medidas de suporte a indivíduos
vulneráveis, como usuários de drogas e vítimas de violência doméstica.
Seu objetivo principal é atuar antes ou durante a execução do crime, buscando reduzir
sua ocorrência e gravidade, seja por meio da inibição da conduta criminosa, seja pela pronta
resposta estatal. Assim, políticas públicas voltadas ao reaparelhamento das polícias, aumento
do efetivo e intervenção direta em áreas de risco são exemplos claros de medidas de prevenção
secundária.
As principais características da prevenção secundária incluem:
Foco em grupos e
áreas vulneráveis
Direciona-se a populações e regiões com maior exposição à
criminalidade, como comunidades periféricas ou indivíduos em
situação de risco.
Ação preventiva e
reativa
Atua tanto para inibir a prática delitiva quanto para responder de
forma rápida e eficaz após a ocorrência do crime.
Protagonismo do
Estado
Exige a atuação direta das instituições estatais, especialmente as
forças de segurança pública e órgãos do Sistema de Justiça
Criminal.
Instrumento de curto
a médio prazo
Seus efeitos são percebidos em menor espaço de tempo, embora
exijam manutenção constante das ações para garantir continuidade
dos resultados.
Aplicação de medidas
de contenção
Utiliza estratégias práticas e visíveis para dissuadir a criminalidade e
proteger a população vulnerável.
Exemplos: Programas para jovens em conflito com a lei; ações em favelas e bairros com
alto índice criminal; patrulhamento ostensivo; intervenção imediata em casos de violência
doméstica; aumento do efetivo policial; operações integradas entre polícia e Ministério Público;
dentre outros.
➢ PREVENÇÃO TERCIÁRIA
A prevenção terciária manifesta-se na fase de execução penal, incidindo sobre indivíduos
já condenados definitivamente pela prática de crimes. Trata-se de uma modalidade de
prevenção que, embora revestida de um aspecto ressocializador, carrega igualmente uma
função punitiva, tendo como objetivo essencial reduzir a reincidência criminal.
Assim como a prevenção secundária, a prevenção terciária atua diretamente com os
instrumentos do Direito Penal e da Política Criminal, valendo-se do aparato institucional voltado
à punição e ao controle da conduta delitiva. Contudo, ao incidir apenas após a prática do crime
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e sua consequente condenação, essa forma de prevenção parte da constatação do insucesso
das estratégias preventivas anteriores — uma vez que pressupõe a ineficácia das medidas
primárias e secundárias em evitar o delito.
Na prática, a prevenção terciária se limita à tentativa de evitar que o condenado volte a
delinquir, tornando-se um mecanismo de contenção de danos futuros, e não de resolução das
causas estruturais da criminalidade. Diante disso, sua efetividade é frequentemente
questionada, especialmente em contextos em que o sistema prisional não oferece condições
adequadas para a reintegração social, revelando-se, assim, insuficiente como política preventiva
autônoma.
A seguir, temos um quadro comparativo entre as formas de prevenção.
Prevenção Primária Prevenção Secundária Prevenção Terciária
Momento de
atuação
Antes da prática do
crime
Na iminência ou logo
após o crime
Após a condenação
definitiva
Foco principal
Causas sociais e
estruturais da
criminalidade
Situações de risco e
grupos vulneráveis
Reeducação e
reintegração do
condenado
Instrumento de
ação
Políticas sociais
(educação, saúde,
moradia, lazer, etc.)
Políticas de segurança
pública e intervenção
estatal imediata
Sistema penal e de
execução da pena
Protagonismo
institucional
Poder Executivo
(administração pública
em geral)
Forças de segurança
pública e Sistema de
Justiça Criminal
Sistema Prisional,
Ministério Público,
Judiciário e órgãos de
reintegração social
Abrangência
populacional Toda a sociedade
Regiões e grupos
sociais mais expostos à
criminalidade
Indivíduos condenados
Duração dos
efeitos
Médio a longo prazo Curto a médio prazo
Variável, geralmente de
difícil mensuração e com
baixa efetividade
comprovada
Embora não represente o único mecanismo de controle social e repressão à
criminalidade, a pena ocupa posição central no âmbito do Direito Penal, visto que a norma penal
carece de efetividade prática se desvinculada da noção de sanção — sem ela, a própria
existência da norma se torna questionável.
Considerada o principal instrumento de reação do Estado frente à prática delitiva, a
reflexão mais relevante sobre o tema está em compreender qual é, de fato, a finalidade da pena.
Dito isto, surgiram teorias que buscam, de certo modo, dar legitimidade a sanção penal.
Veremos a seguir.
Teorias legitimadoras da pena
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➢ TEORIAS RETRIBUTIVAS ou ABSOLUTAS
Originadas na Escola Clássica do Direito Penal e fortemente influenciadas pelo
pensamento filosófico de Immanuel Kant e Georg Wilhelm Friedrich Hegel, as Teorias
Retributivas fundamentam-se na ideia de que o mal praticado pelo infrator deve ser retribuído
pelo Estado, com base na culpabilidade moral do agente.
Segundo essa concepção, o indivíduo, ao exercer seu livre-arbítrio para violar a norma
penal, assume plena responsabilidade por sua conduta e, por consequência, deve receber uma
sanção equivalente ao mal que causou.
A pena, portanto, não tem função utilitária, mas se justifica unicamente pela prática do
delito.
A base conceitual dessa corrente teórica está fundamentada na ideia de vingança — ou
seja, na retribuição proporcional ao mal causado pelo delito. Inicialmente, essa resposta punitiva
era realizada diretamente pela vítima ou por seus familiares (Vingança Privada), sendo
posteriormente assumida pelo Estado como forma de garantir ordem, imparcialidade e justiça.
Podemos dividi-las em:
Retribuição
Divina
Defendida por Friedrich Julius Stahl e Ernst von Bekker, entende a pena
como um castigo espiritual, exercido pelo Estado como agente da divindade,
punindo o pecado do infrator.
Retribuição
Moral
Proposta por Immanuel Kant, considera a pena uma exigência ética de
justiça, baseada na culpa moral e na proporcionalidade da punição (Lei de
Talião).
Retribuição
Jurídica
Sustentada por Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Francesco Pessina,
compreende a pena como uma resposta racional do Estado à violação do
Direito, assumida conscientemente