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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE FARMÁCIA HELLEN FRANK E SILVA MARINA DE SOUZA LINS MICAELLY BEZERRA DOS SANTOS SANDRYANNE MARCELY DOS SANTOS LUCENA VINICIUS DA ROSA SILVA BALIEIRO VITOR SOUZA DE LIMA TOXICOLOGIA DE MEDICAMENTOS BELÉM - PA 2025 HELLEN FRANK E SILVA MARINA DE SOUZA LINS MICAELLY BEZERRA DOS SANTOS SANDRYANNE MARCELY DOS SANTOS LUCENA VINICIUS DA ROSA SILVA BALIEIRO VITOR SOUZA DE LIMA TOXICOLOGIA DE MEDICAMENTOS Monografia sobre toxicologia de medicamentos, explorando os efeitos adversos associados ao uso terapêutico e às intoxicações decorrentes de doses excessivas ou uso inadequado. Além de dados epidemiológicos, histórico e exemplos. Com orientação do Prof. Dr. Flavio Vasconcelos. BELÉM - PA 2025 SUMÁRIO 1. Introdução...............................................................................................................................4 2. Referencial Teórico................................................................................................................ 6 3. Histórico................................................................................................................................. 7 4. Aspectos epidemiológicos......................................................................................................8 5. Circunstâncias e tipos de intoxicação com medicamentos...................................................11 6. Aspectos toxicológicos de medicamentos usados em doenças tropicais e no COVID-19...13 6.1. Malária....................................................................................................................... 13 6.2. Doença de Chagas......................................................................................................16 6.3. Leishmaniose..............................................................................................................17 6.4. COVID-19.................................................................................................................. 19 Referências...........................................................................................................................22 1. Introdução A toxicologia de medicamentos é uma área de extrema importância da farmacologia que estuda os efeitos tóxicos que substâncias químicas podem causar no organismo, especialmente aqueles relacionados ao uso de fármacos. Embora os medicamentos sejam desenvolvidos para tratar doenças, seu uso pode resultar em diferentes tipos de reações indesejadas, algumas das quais podem ser graves ou até fatais de acordo com suas janelas terapêuticas. De acordo com Coberllini et al. (2011), os efeitos adversos são respostas indesejadas a um medicamento administrado em um paciente mesmo sendo dentro da terapia adequada, podendo incluir reações leves, como náuseas e tonturas, até complicações mais graves, como hepatotoxicidade, nefrotoxicidade e efeitos cardiovasculares. Esses efeitos podem ocorrer devido a mecanismos farmacológicos diretos, interações com outros fármacos ou até mesmo a saúde do paciente. Por outro lado, os efeitos colaterais, são reações previsíveis e inerentes à ação farmacológica do medicamento. Diferente dos efeitos adversos, que podem ser inesperados, os efeitos colaterais são conhecidos como consequências do uso de tal medicamento como é possível observar em anti-histamínicos, que quando usados costumam ocasionar sonolência nesse paciente. As reações tóxicas ocorrem quando a exposição a um fármaco ultrapassa o limite da janela terapêutica, sendo por uma superdosagem, uso indevido, interações medicamentosas inadequadas, dose acumulada e excreção demorada. Em casos graves, podem levar a insuficiência de órgãos, toxicidade neurológica ou até morte. Algumas substâncias possuem um índice terapêutico estreito, o que significa que pequenas variações na dose podem resultar em efeitos tóxicos ao sujeito desse tratamento. A idiossincrasia corresponde a reações inesperadas e não relacionadas à dose administrada, normalmente de origem genética. Algumas pessoas possuem variações genéticas que afetam a metabolização ou a sensibilidade a determinados medicamentos, tornando-as mais suscetíveis a reações adversas graves. Um exemplo relevante é a deficiência da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD), uma condição hereditária que pode levar à hemólise grave quando certos fármacos são administrados. Antimicrobianos como as sulfonamidas, a primaquina e a nitrofurantoína podem desencadear uma crise hemolítica em indivíduos com deficiência de G6PD, tornando essencial a avaliação genética antes da prescrição desses medicamentos. Testes farmacogenéticos podem auxiliar na identificação de indivíduos em risco para esses eventos, permitindo uma abordagem mais segura e personalizada na escolha do tratamento (Cordeiro et al., 2022). Outro ponto importante na toxicologia de medicamentos é o uso recreativo de substâncias. Trata-se do uso impróprio e não terapêutico de medicamentos com a finalidade de alcançar efeitos psicoativos, tais como euforia, relaxamento ou redução do estresse. O uso excessivo de substâncias como opióides, benzodiazepínicos e estimulantes é comum, podendo levar a toxicidade aguda, overdose e ao surgimento de dependência química, constituindo um grave problema de saúde. Erros de prescrição representam um problema crítico na prática clínica, podendo resultar em toxicidade medicamentosa e comprometimento da segurança do paciente. Esses erros incluem a administração de doses inadequadas, a falta de avaliação de possíveis interações medicamentosas, a prescrição para pacientes com contraindicações conhecidas e falhas na comunicação entre profissionais de saúde. Além disso, a automedicação agrava esse cenário, uma vez que pode levar ao uso inadequado de fármacos sem supervisão profissional, aumentando os riscos de reações adversas e intoxicações (Gonçalves, 2017). Para minimizar esses riscos, a monitorização terapêutica de fármacos (MTF) é uma ferramenta essencial, especialmente para medicamentos com estreita janela terapêutica, ou seja, aqueles cuja diferença entre a dose terapêutica e a dose tóxica é pequena. A MTF permite a avaliação dos níveis plasmáticos de determinados fármacos, garantindo que as concentrações estejam dentro da faixa terapêutica ideal. Dessa forma, busca-se otimizar a eficácia do tratamento e reduzir o risco de toxicidade, promovendo uma abordagem mais segura e personalizada para o uso de medicamentos. Nesse contexto, a farmacovigilância desempenha um papel fundamental na identificação, prevenção e controle dos efeitos adversos dos medicamentos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a farmacovigilância é definida como a ciência e as atividades relacionadas à detecção, avaliação, compreensão e prevenção de eventos adversos ou qualquer outro problema relacionado ao uso de medicamentos. No Brasil, essa prática é regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estabelece diretrizes para a notificação e investigação de reações adversas a medicamentos (RAM). Portanto, a combinação da monitorização terapêutica de fármacos e da farmacovigilância constitui um pilar essencial para a segurança do paciente e a efetividade dos tratamentos farmacológicos. O aprimoramento contínuo dessas práticas, aliado à educação dos profissionais de saúde e à conscientização da população sobre os riscos da automedicação, é fundamental para reduzir a incidência de erros de prescrição e minimizar os impactos da toxicidade medicamentosa. 2. Referencial Teórico A toxicologia de medicamentos, além de estudar os efeitos nocivos dos fármacos no organismohumano, engloba a identificação e caracterização de reações adversas que podem surgir mesmo quando os medicamentos são administrados em doses terapêuticas. Essas reações adversas podem variar desde efeitos leves até manifestações graves que comprometem a segurança do paciente. Fatores como idade, predisposição genética e condições de saúde preexistentes podem influenciar a suscetibilidade individual a essas reações (Klaassen; Watkins III, 2012). Santos (2024), por exemplo, destaca a polifarmácia, comum entre idosos, aumenta o risco de interações medicamentosas prejudiciais, podendo levar a complicações sérias, como insuficiências renal e hepática. A hepatotoxicidade é uma preocupação significativa na toxicologia de medicamentos, uma vez que o fígado é o principal órgão responsável pelo metabolismo de substâncias exógenas. Certos medicamentos, como paracetamol, amoxicilina-clavulanato e diclofenaco, estão associados a danos hepáticos, que podem variar de elevações assintomáticas de enzimas hepáticas a quadros de insuficiência hepática aguda. Além disso, medicamentos como nimesulida foram retirados do mercado em diversos países devido ao seu potencial hepatotóxico, embora ainda sejam comercializados em algumas regiões (Menegoi, 2019). A toxicogenômica surge como uma ferramenta promissora para compreender os mecanismos moleculares subjacentes à toxicidade dos medicamentos. Ao analisar a expressão gênica e as interações genéticas, essa abordagem permite a identificação de biomarcadores que podem prever a resposta individual a determinados fármacos, auxiliando na personalização terapêutica e na minimização de efeitos adversos (Caetano, 2015). Portanto, a compreensão aprofundada dos aspectos toxicológicos dos medicamentos é essencial para uma prática clínica segura e eficaz. Visto que orienta a seleção adequada de fármacos, o monitoramento terapêutico e a educação dos pacientes sobre os riscos potenciais, contribuindo para a otimização dos resultados terapêuticos e a redução de eventos adversos (Klaassen; Watkins III, 2012). 3. Histórico A toxicologia de medicamentos tem raízes em registros como o Papiro de Ebers (1500 a.C.), que documentou o uso de substâncias como chumbo, cobre e ópio em fórmulas medicinais, evidenciando riscos tóxicos associados a esses agentes (Bittencourt; Caponi, 2013). Hipócrates no século V a.C. estabeleceu princípios clínicos ao discutir biodisponibilidade e sobredosagem, antecipando preocupações com segurança terapêutica (Sprada, 2025). Na Grécia Antiga, Sócrates foi condenado à morte por ingestão de cicuta, um alcalóide vegetal altamente tóxico, enquanto Mitrídates VI testou antídotos em prisioneiros, demonstrando práticas precoces de experimentação (Assuntos gerais, 2008). Durante a Idade Média, Moisés Maimônides (1135–1204) escreveu o Tratado dos Venenos e seus Antídotos, enquanto Alberto Magno isolou o arsênico, ampliando o conhecimento sobre substâncias tóxicas (Sprada, 2025). Paracelsus (1493–1541) revolucionou a toxicologia ao afirmar: "Todas as substâncias são venenos; somente a dose diferencia o remédio do veneno", estabelecendo uma abordagem quantitativa (Kasvi, 2025). A Revolução Industrial (século XVIII) intensificou a exposição a substâncias químicas, com Bernardino Ramazzini (1633) associando doenças ocupacionais à saúde do trabalhador (Gandolfi; Andrade, 2006). Matthieu Orfila (1813) consolidou a toxicologia moderna ao demonstrar efeitos tóxicos em órgãos específicos e sistematizar análises químicas para diagnóstico forense (SBTox, 2025). O avanço da química orgânica e o uso de anestésicos e desinfetantes no século XIX levaram a incidentes de intoxicação, como os provocados por medicamentos em fase de "patente" (Sprada, 2025). Crises como a contaminação por sulfanilamida em gliol (1937) e o caso da talidomida (década de 1950), que causou malformações fetais, expuseram falhas na segurança farmacêutica (Bittencourt; Caponi, 2013). Leis como as de Wiley (1906) e Copeland (1938) exigiram testes prévios de segurança, enquanto desastres como Hawk’s Nest (1927–1935) e Minamata (1950) reforçaram a necessidade de regulamentações ambientais e ocupacionais (Gandolfi; Andrade, 2006). Durante esse período, também começaram a ser formuladas as primeiras regulamentações sobre a aprovação e a comercialização de medicamentos, estabelecendo a exigência de estudos toxicológicos pré-clínicos para garantir a segurança dos produtos farmacêuticos (De Castro, 2000). Na década de 1960, após a tragédia da talidomida, que causou defeitos congênitos em crianças cujas mães haviam utilizado o medicamento durante a gestação, houve uma mudança significativa na abordagem da toxicologia de medicamentos. Esse evento destacou a importância de realizar testes rigorosos de segurança antes da liberação de medicamentos no mercado, o que levou à criação de leis mais rígidas e de agências reguladoras, como a FDA (Food and Drug Administration) nos Estados Unidos e a ANVISA no Brasil, que passaram a exigir ensaios mais completos para avaliar os riscos associados ao uso de medicamentos (Drummond et al., 2020). A toxicologia clínica evoluiu com avanços em bioensaios e em farmacologia molecular, permitindo avaliar mecanismos de ação tóxicos versus terapêuticos (Kasvi, 2025). No Brasil, medicamentos foram os principais agentes de intoxicações humanas entre 1999 e 2004, destacando a relevância da vigilância (Gandolfi; Andrade, 2006). O avanço da biotecnologia e das ciências moleculares nas últimas décadas trouxe novas ferramentas para a toxicologia de medicamentos. O desenvolvimento de modelos in vitro, como culturas celulares e organoides, e o uso de técnicas como a biologia molecular e a genômica, permitiram uma compreensão mais detalhada dos mecanismos moleculares e celulares responsáveis pelos efeitos tóxicos. Além disso, a toxicogenômica, que estuda como os genes influenciam a resposta do organismo a substâncias químicas, têm desempenhado um papel crucial na personalização de tratamentos e na previsão de reações adversas (Da Silva Nóbrega, 2015). 4. Aspectos epidemiológicos Os medicamentos se mostram muito eficazes no que diz respeito aos avanços tecnológicos do homem, porém as intoxicações por medicamentos vem se destacando no Brasil devido o seu uso indiscriminado, automedicação, abuso levando a dependência e interações medicamentosas, com destaque a interações com álcool. Intoxicações medicamentosas compreendem a série de sintomas gerados pelo uso de um medicamento que foi inalado, injetado, ingerido ou se entrou em contato com a pele, mucosa ou olhos em uma dosagem acima da janela terapêutica. Podem ser divididas em dois grupos, aguda ou crônica, onde cada fármaco apresenta singularidades em um quadro de sinais e sintomas (Gonçalves et al., 2017). Os dados coletados do site do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), tem em 2017 seus últimos registros devido a diminuição da participação dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATs) nos levantamentos dos mesmos. Em 2017, segundo dados do site do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) e comparando os agentes que causaram intoxicações em seres humanos, cerca de 27% das intoxicações no Brasil foram causadas por medicamentos, perdendo somente para animais peçonhentos/escorpiões (15%). Esta percentagem de intoxicações por medicamentos indica 20637 pessoas, destas 50 vieram a óbito, sendo esta um valor de letalidade inferior em relação aos agentes de maior letalidade, como Agrotóxicos (41% de letalidade). Estes dados, ilustrados nos gráficos 1 e 2 abaixo, mostram a variação entre número de casos e letalidade de intoxicação por agentes em 2017. Visto que a letalidade é o número de casos, dividido pelo número de óbitos, seu valor em relação ao números de casos ébaixa, em oitavo lugar, pois seu número de óbitos em comparação com outros agentes é mais baixo em um número alto de casos. Gráfico 1: Casos de Intoxicação Humana por Agente em porcentagem. Fonte: MS / FIOCRUZ / SINITOX. Gráfico 2: Letalidade de Intoxicação Humana por Agente em porcentagem. Fonte: MS / FIOCRUZ / SINITOX. No Brasil, os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) foram criados a partir da década de 1960 e atuam na orientação referente às condutas clínicas e de suporte, nos casos de intoxicação, tanto para os profissionais que os procuram quanto para a população em geral. A Renaciat, que integra esses centros, coordenada pela Anvisa, foi criada em 2005 pela RDC nº 19. É composta por 36 Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciats), que funcionam em hospitais universitários, secretarias estaduais e municipais de saúde e fundações de 19 unidades federadas. Os CIATs têm como objetivo fornecer informações toxicológicas, assim como o diagnóstico, o tratamento e o registro dos casos de intoxicação e envenenamento provocados por agrotóxicos, medicamentos, cosméticos, domissanitários, produtos químicos industriais, metais, plantas tóxicas, animais peçonhentos, e quaisquer outras substâncias potencialmente agressivas para o ser humano. Esses registros, em relação a intoxicações por medicamentos deixam claro seu maior número de casos devido ao fácil acesso, tanto por meio de farmácias quanto por medicamentos guardados em casa, o que aumenta as chances de uso inadequado ou abusivo. Também é importante destacar a automedicação, por meio de uma forte cultura de automedicação, sem prescrição médica, desconhecimento sobre a dose máxima e efeitos colaterais, o que pode contribuir significativamente para casos que levem a intoxicação. O gráfico 3 abaixo vislumbra o número de casos de intoxicação por medicamentos nas diferentes regiões do Brasil de 1999 a 2017. O destaque da região sudeste com altos número de casos dentre esses anos, devido sua densidade populacional, maior acesso a serviços de saúde e medicamentos, alto nível de urbanização e cultura de automedicação facilitada pelo acesso. Além disso, o registro de notificações é muito maior se comparado à região norte. Esta que em 2004, 2009, 2011, 2012, 2014, 2015, 2016 e 2017 não registrou número de óbitos de intoxicação por medicamentos. Gráfico 3: Casos de Intoxicação por medicamento em Humanos por Região (1999 a 2017). Fonte: MS / FIOCRUZ / SINITOX. 5. Circunstâncias e tipos de intoxicação com medicamentos A ação de vigilância de intoxicação na esfera nacional teve início em 1980, pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (SINITOX), fundado pelo Ministério da Saúde e vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O objetivo é o registro e o processamento dos dados sobre as notificações em território nacional, com finalidade de coordenar a coleta, a compilação, análise e divulgação dos casos de intoxicação no país. Foram registradas 547.467 notificações de intoxicação no Brasil de 2012 a 2017. Dentre os agentes responsáveis por esses eventos, os medicamentos lideram o ranking. Com relação a intoxicação por medicamentos, o ano de 2016 teve o maior número de intoxicações, representando 33,17% dos casos totais. Foi observado um crescimento no número de casos associados a medicamentos entre os anos de 2014 a 2016. Entretanto, no ano de 2017, foram visualizados menores índices de notificações. Fonte: Souza, Pereira e Lima (2024) Ademais, em quesito de circunstâncias motivadoras para a intoxicação por medicamentos, no período disponível na plataforma SINITOX , tem se como questões relevantes, tentativa de suícidio (38,9 %), uso terapêutico (12,04%), e erro de administração (6,22%), na tabela abaixo se apresenta ocorrências mais expressivas por porcentagem. Fonte: Souza, Pereira e Lima (2024) De acordo com Souza e Silva (2014), Intoxicação medicamentosa consiste em uma série de sinais e sintomas produzidos, quando um medicamento é ingerido, inalado, injetado ou entra em contato com a pele, olhos ou membranas mucosas em dose(s) acima da(s) terapêutica(s). As intoxicações medicamentosas podem ser classificadas como agudas ou crônicas e cada droga apresenta um quadro de sinais e sintomas peculiares, de acordo com suas características específicas, incluindo a toxicocinética. Em casos de intoxicações agudas ocorre um único ou múltiplos contatos com a substância em um período de 24 horas, tendo efeitos imediatos ou em até duas semanas, já em circunstâncias de uma intoxicação crônica, o contato é pertinente por 3 meses ou até anos, tendo uma exposição prolongada ao intoxicante (COORDENAÇÃO, 2019). 6. Aspectos toxicológicos de medicamentos usados em doenças tropicais e no COVID-19 6.1. Malária Cerca de 263 milhões de pessoas foram acometidas pela malária em 2023 (WHO, 2024), o que representa aproximadamente 11 milhões de casos a mais em 2023 quando comparado ao ano de 2022 (WHO, 2023). A malária é uma doença causada pela picada do mosquito fêmea Anopheles, que está infectado por protozoários do gênero Plasmodium, em que seis espécies são capazes de infectar o homem: Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax, Plasmodium ovale wallickeri, Plasmodium ovale curtisi, Plasmodium malariae e Plasmodium knowlesi. A transmissão da malária por esse vetor é benéfica, visto que além de não sofrer danos com a presença do parasito, as suas características biológicas e adaptabilidade ecológica garantem a transmissibilidade da doença (Mbanefo; Kumar, 2020). O ciclo biológico do Plasmodium sp. está representado na figura 1 e as manifestações clínicas da malária variam conforme a espécie do Plasmodium envolvida, a resposta imunológica do hospedeiro e a gravidade da infecção. Os sintomas iniciais geralmente incluem febre, calafrios, sudorese, cefaleia, mialgia e fadiga. É importante ressaltar que, devido à semelhança dos sinais e sintomas da malária com a COVID-19, alguns diagnósticos podem ter sido equivocados, ou pode ter ocorrido casos de co-infecção (Hussein et al., 2020). Figura 1. Ciclo biológico do Plasmodium sp. Fonte: NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. Em casos mais graves, especialmente causados pelo Plasmodium falciparum, podem ocorrer complicações como anemia grave, insuficiência respiratória, disfunção renal, comprometimento neurológico e choque circulatório. Além disso, formas graves da doença podem levar à malária cerebral, caracterizada por alteração do nível de consciência, convulsões e coma, representando risco significativo de mortalidade (Melo et al., 2024). Estas manifestações estão associadas aos estágios eritrocíticos assexuados, no qual a forma de anel se desenvolve em forma de esquizontes que por sua vez liberam merozoítos (Meibalan; Marti, 2017). O tratamento eficaz e oportuno da malária é atualmente a base fundamental para o controle da doença. Antes do surgimento da resistência do Plasmodium falciparum à cloroquina, esse fármaco era empregado no tratamento das quatro espécies de plasmódios que infectam o ser humano. (FUNASA, 2001). Atualmente, o P. falciparum apresenta resistência não apenas à cloroquina, mas também a diversos outros antimaláricos, o que torna seu tratamento um desafio para os profissionais e autoridades de saúde. Os antimaláricos podem ser classificados com base em suas características químicas, farmacológicas, local de ação no ciclo do parasito, finalidade terapêutica e modo de obtenção. Assim como as suas toxicidades variam conforme a dose, duração do tratamento e susceptibilidade individual. De acordo com suas características químicas, os medicamentos antimaláricos podem ser classificados de acordo com o quadro 1. Quadro1. Medicamentos antimaláricos. Categoria química Composto 4-Aminoquinolinas Cloroquina E Amodiaquina 8-Aminoquinolinas Primaquina Quinolinometanóis Naturais Quinina Quinolinometanóis Sintéticos Mefloquina Fenantrenometanóis Halofantrina Lactonas Sesquiterpênicas Derivados Da Artemisinina Naftacenos Tetraciclinas (Doxiciclina) Lincosaminas Clindamicina Fonte: Adaptado de Manual de terapêutica da malária. A halofantrina é um antimalárico conhecido por seu elevado potencial de toxicidade cardíaca. Seu mecanismo de toxicidade envolve o bloqueio dos canais de potássio, resultando no prolongamento do intervalo QT e aumentando o risco de arritmias ventriculares fatais, como Torsades de Pointes. Clinicamente, a administração de halofantrina pode levar a arritmias graves, hipotensão, síncope e, em casos de overdose, morte súbita. Devido a esses riscos significativos, o uso da halofantrina tornou-se extremamente limitado na prática médica atual (Chassaigne, 2001). A mefloquina é um antimalárico cujo mecanismo de toxicidade pode envolver a interferência em canais iônicos e na função neuronal, com possível acúmulo em tecidos, desencadeando efeitos neuropsiquiátricos. Terapeuticamente, o uso de mefloquina tem sido associado a distúrbios neuropsiquiátricos, incluindo ansiedade, pesadelos, alucinações e psicose, além de convulsões e, em alguns casos, alterações cardíacas leves. Devido ao risco significativo de efeitos adversos no sistema nervoso central, especialmente em doses elevadas ou em indivíduos suscetíveis, recomenda-se cautela em sua administração. Durante o uso profilático, se o paciente desenvolver sintomas psiquiátricos ou neurológicos, como ansiedade aguda, depressão, agitação, alucinações ou confusão mental, o uso de mefloquina deve ser interrompido e um agente profilático alternativo deve ser considerado (Cabral et al., 2021). A quinina é um alcaloide utilizado no tratamento da malária, cuja toxicidade está associada à interferência na condução cardíaca e à possibilidade de desencadear o "cinchonismo". Este termo refere-se a um conjunto de sintomas que incluem zumbido nos ouvidos, visão turva, náuseas e cefaleia (Figueira Pimentel, 2004). Além disso, a quinina pode provocar arritmias cardíacas e hipoglicemia, esta última resultante da estimulação da liberação de insulina. Devido à sua estreita margem terapêutica, há um risco aumentado de toxicidade, especialmente em casos de superdosagem (Vieira e Mídio, 2000). A cloroquina e a amodiaquina, ambas pertencentes à classe das 4-aminoquinolinas, são antimaláricos que compartilham mecanismos de toxicidade semelhantes. Um dos principais mecanismos é o acúmulo tecidual, especialmente em tecidos ricos em melanina, como a retina e a pele, o que pode levar à retinopatia irreversível com o uso prolongado. Além disso, em casos de overdose ou administração intravenosa rápida, essas drogas podem causar arritmias e outros efeitos cardíacos adversos. Devido a esses riscos, é essencial monitorar cuidadosamente os pacientes em uso dessas medicações, especialmente em terapias de longa duração (Lacava, 2010). Notavelmente, a amodiaquina possui um risco mais elevado de reações hematológicas graves em comparação à cloroquina (Silva e Silva, 2009). Os derivados da artemisinina, pertencentes à classe das lactonas sesquiterpênicas, produzem radicais livres quando ativados pelo ferro, afetando o parasita e, potencialmente, causando efeitos neurotóxicos em doses elevadas ou uso prolongado, conforme observado em modelos animais. Do ponto de vista clínico, esses fármacos são geralmente bem tolerados, podendo ocasionar distúrbios gastrointestinais, leves efeitos no sistema nervoso e, raramente, prolongamento do intervalo QT quando combinados com outros medicamentos. Comparativamente, apresentam um perfil de toxicidade mais favorável quando utilizados corretamente e em combinação (Oliveira et al., 2022). Em resumo, enquanto a amodiaquina apresenta riscos hematológicos significativos, os derivados da artemisinina demonstram um perfil de segurança mais favorável, desde que administrados de forma adequada. A primaquina pode gerar espécies reativas de oxigênio, levando a estresse oxidativo nas hemácias. Em pacientes com deficiência de G6PD, isso pode resultar em hemólise grave e metemoglobinemia, manifestando-se por anemia, icterícia, urina escura e fadiga. Entretanto, em indivíduos com níveis normais de G6PD, a primaquina é geralmente segura (Silva et al., 2004). A doxiciclina, pode causar fotossensibilidade e irritação gastrointestinal, incluindo esofagite, e raramente, alterações hepáticas. Apesar desses efeitos, é considerada de baixa toxicidade em comparação com outros antimaláricos (Rodriguéz Lopéz, 2010). A clindamicina, uma lincosamina, pode alterar a flora intestinal, levando à proliferação de Clostridioides difficile, resultando em diarreia e colite pseudomembranosa; efeitos sistêmicos são raros. Entre os antimaláricos mencionados, apresenta o perfil toxicológico mais brando (Ferreira, 2023). 6.2. Doença de Chagas A doença de Chagas, também denominada tripanossomíase americana, é uma patologia infecciosa que pode apresentar tanto uma fase aguda quanto crônica, sendo causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. A transmissão pode ocorrer por diversas vias, incluindo a forma vetorial, caracterizada pelo contato direto com fezes e/ou urina de triatomíneos hematófagos, conhecidos popularmente como barbeiros. Além disso, a infecção pode ser adquirida por meio da ingestão de alimentos contaminados com o parasito proveniente desses vetores, pela transmissão vertical (materno-fetal), por transfusão sanguínea, transplante de órgãos, e por acidentes laboratoriais, quando há contato de pele lesionada ou de mucosas com material biológico infectado. Ademais, considerando a suscetibilidade das mucosas à transmissão do parasito, a via sexual tem sido apontada como uma possibilidade teórica, respaldada por evidências obtidas em modelos experimentais e pela indicação de seu potencial de ocorrência em populações humanas (BRASIL, 2018). O tratamento etiológico da doença de Chagas, independentemente da fase, baseia-se principalmente no uso de dois medicamentos: benznidazol e nifurtimox (Junior, 2017). Desenvolvidos há anos, esses fármacos continuam sendo as únicas opções terapêuticas disponíveis e demonstram eficácia na redução da duração e da gravidade da doença. No Brasil, o benznidazol é o medicamento mais utilizado e é indicado como primeira escolha, especialmente na fase aguda e nos estágios iniciais da forma crônica (Dias et al., 2016). Sua eficácia é maior quando administrado precocemente, visando eliminar o parasita e prevenir a progressão da enfermidade (Ribeiro, 2017). Entretanto, seu uso pode estar associado a efeitos adversos significativos, como reações cutâneas, sintomas gastrointestinais e alterações neurológicas. Esses efeitos colaterais podem levar à interrupção do tratamento em alguns pacientes (Ferreira, 2019). O nifurtimox, embora menos utilizado, é uma alternativa terapêutica para o tratamento da doença de Chagas. Assim como o benznidazol, sua administração pode resultar em efeitos adversos notáveis, incluindo intolerância gástrica, erupções cutâneas e problemas neuromusculares. Devido a esses potenciais efeitos colaterais, a adesão ao tratamento pode ser comprometida. É importante ressaltar que a eficácia desses medicamentos diminui na fase crônica da doença, tornando essencial o diagnóstico e a intervenção precoce (Santos et al., 2022). 6.3. Leishmaniose As leishmanioses são doenças zoonóticas causadas por protozoários do gênero Leishmania, sendo transmitidas por flebotomíneos infectados. De grande relevância para a saúde pública, essas infecções representam 75% das doenças emergentes no mundo. Clinicamente, são classificadasem Leishmaniose Visceral (LV), também chamada de Calazar, e Leishmaniose Tegumentar (LT), que engloba as formas cutânea localizada, cutânea mucosa e cutânea difusa (BRASIL, 2023). Essas doenças possuem um espectro grande de manifestações clínicas, e essas diferenças estão relacionadas à espécie de Leishmania envolvida (Pelissari et al., 2011). Os principais fármacos indicados para o tratamento da LT incluem o antimoniato de meglumina, o isetionato de pentamidina e a anfotericina B (nas formas desoxicolato e lipossomal). Além desses, a pentoxifilina foi incorporada como adjuvante no tratamento da leishmaniose mucosa, enquanto a miltefosina tem sido estudada como alternativa promissora, especialmente para a forma cutânea localizada (BRASIL, 2016). No caso da LV, o tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde inclui o uso de antimoniato de meglumina e anfotericina B (desoxicolato e formulações lipossômicas), além do isetionato de pentamidina e do estibogluconato de sódio, embora este último não esteja incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2016). A miltefosina também foi citada como possível alternativa terapêutica para a LV, apesar das limitações em relação ao seu registro no Brasil. Os tratamentos para LT e LV podem frequentemente apresentar perfis de toxicidade significativos. Os antimoniais pentavalentes, como o antimoniato de meglumina e o estibogluconato de sódio, têm sido amplamente utilizados no tratamento dessas enfermidades. No entanto, esses medicamentos podem causar efeitos adversos, incluindo cardiotoxicidade, nefrotoxicidade, hepatotoxicidade, sintomas gastrointestinais, mialgias e artralgias (Murray et al., 2005; Sundar et al., 2018). A anfotericina B é uma alternativa aos antimoniais, especialmente em casos de resistência ou intolerância. Contudo, Pelissari et al. (2011) associa seu uso a nefrotoxicidade significativa, podendo levar à insuficiência renal aguda, além de reações infusionais, como febre, calafrios e hipotensão, hepatotoxicidade e anemia. Em contrapartida, a formulação lipossomal tem demonstrado um perfil de toxicidade significativamente reduzido, sendo preferencialmente utilizada em pacientes com maior risco, como os imunodeprimidos, crianças e idosos. O isetionato de pentamidina - embora menos tóxico que os antimoniais - pode causar hipoglicemia, hipotensão e disfunção pancreática, levando, em alguns casos, ao desenvolvimento de diabetes mellitus insulino-dependente. Devido ao seu perfil de efeitos colaterais, a pentamidina é geralmente reservada para casos específicos, como infecções por Leishmania resistentes a outras terapias (BRASIL, 2016). A miltefosina, ainda não amplamente disponível no Brasil e recentemente introduzida como uma opção oral para o tratamento da leishmaniose, oferece conveniência, mas apresenta efeitos adversos que devem ser considerados, incluindo náuseas, vômitos e diarreia, além de ser contraindicada em mulheres grávidas devido ao risco de malformações fetais. Alterações nos parâmetros renais e hepáticos também foram observadas em alguns pacientes. A miltefosina representa um avanço no tratamento, especialmente pela via oral, mas requer monitoramento cuidadoso devido aos seus potenciais efeitos tóxicos (BRASIL, 2023). A pentoxifilina, utilizada como adjuvante na leishmaniose mucosa devido à sua ação anti-inflamatória e imunomoduladora, também apresenta efeitos adversos relevantes. Os principais incluem sintomas gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal. Além disso, pode causar toxicidade hematológica, com risco de hemorragias e trombocitopenia, sendo necessária cautela em pacientes com distúrbios de coagulação. Hipotensão, cefaleia, tontura e sonolência também são relatadas, assim como reações alérgicas, incluindo urticária e prurido (BRASIL, 2016). O antimoniato de meglumina, fármaco de primeira escolha para LT e LV, apresenta toxicidade cardíaca, hepática, pancreática e renal, podendo levar a arritmias cardíacas, disfunção hepática e insuficiência renal. Pode causar prolongamento do intervalo QT, arritmias cardíacas graves e até insuficiência cardíaca, sendo recomendada a realização de eletrocardiograma antes e durante o tratamento. Também pode provocar insuficiência renal aguda, exigindo monitorização da função renal, além de aumentar os níveis de transaminases hepáticas, indicando lesão hepática (BRASIL, 2016). A pancreatite é outro efeito adverso possível, frequentemente associada à hiperamilasemia, o que pode requerer a suspensão do tratamento em casos graves. Sintomas como mialgia, artralgia, cefaléia, tontura, náuseas, vômitos e perda de apetite são comuns. Devido a esses efeitos adversos, o antimoniato de meglumina deve ser utilizado com precaução em idosos e pacientes com doenças cardíacas, renais e hepáticas preexistentes, exigindo acompanhamento laboratorial frequente (BRASIL, 2023). Em suma, a escolha do tratamento para a leishmaniose requer uma avaliação cuidadosa das características clínicas do paciente e do parasita, além de um monitoramento contínuo para minimizar os riscos associados aos efeitos adversos dos medicamentos utilizados. A compreensão aprofundada do perfil toxicológico desses fármacos é fundamental para otimizar os resultados terapêuticos e garantir a segurança do paciente. 6.4. COVID-19 Durante a pandemia de COVID-19, diversos fármacos foram empregados no tratamento da doença, incluindo alguns que foram utilizados de maneira inadequada, sem a devida orientação médica, impulsionados pela desinformação. Entre esses medicamentos, destacaram-se a hidroxicloroquina, o remdesivir, a ivermectina e a azitromicina. Entre esses medicamentos, apenas o remdesivir foi efetivamente indicado para o tratamento da COVID-19, sendo o uso dos outros fármacos, especialmente a hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, amplamente desencorajado por autoridades sanitárias devido à falta de comprovação científica de eficácia e aos potenciais riscos à saúde. Esses agentes terapêuticos, embora amplamente utilizados no contexto da emergência sanitária, apresentaram potenciais efeitos tóxicos significativos, os quais exigiram monitoramento rigoroso e atento. A utilização indevida desses fármacos pode resultar em sérios riscos à saúde, reforçando a necessidade de uma abordagem clínica cautelosa e embasada em evidências científicas robustas. A hidroxicloroquina, amplamente utilizada no início da pandemia, demonstrou não apresentar eficácia comprovada no tratamento da COVID-19. Além disso, seu uso foi associado a efeitos adversos, como prolongamento do intervalo QT, que pode levar a arritmias cardíacas. A ivermectina, outro medicamento empregado sem evidências sólidas de eficácia contra o SARS-CoV-2, apresentou potenciais efeitos tóxicos. Um estudo utilizando o bioensaio Allium cepa revelou que a ivermectina causou alterações morfológicas nas raízes das plantas, sugerindo efeitos genotóxicos. A hidroxicloroquina, embora não tenha mostrado risco genotóxico nas dosagens testadas, pode oferecer riscos à saúde humana quando administrada em excesso ou sem orientação médica adequada (Oliveira, 2022). O remdesivir, aprovado para uso emergencial no tratamento da COVID-19, demonstrou eficácia antiviral em estudos clínicos. No entanto, seu uso está associado a efeitos adversos, incluindo insuficiência renal e hepática. Estudos relataram aumento das transaminases hepáticas, insuficiência renal e reações alérgicas após a sua administração. A hepatotoxicidade é uma preocupação significativa no tratamento de pacientes com COVID-19. Medicamentos como remdesivir, lopinavir/ritonavir e tocilizumab foram associados a danos hepáticos. De Lima et al. (2023) indicou que o uso desses fármacos poderia levar a elevações das transaminases hepáticas e outros biomarcadores de dano hepático. No Brasil, umestudo analisou as notificações de reações adversas a medicamentos em pacientes com COVID-19. Entre os fármacos mais associados a essas reações estavam a hidroxicloroquina, a azitromicina e o remdesivir. As principais reações adversas ocorreram nos sistemas cardíaco, gastrointestinal, cutâneo e hepatobiliar (Da Silva, 2021). Em suma, embora alguns medicamentos tenham sido utilizados no tratamento da COVID-19, é essencial considerar seus potenciais efeitos tóxicos. O uso desses fármacos deve ser cuidadosamente monitorado, com acompanhamento médico rigoroso, para minimizar riscos à saúde dos pacientes. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Proposta de Elaboração do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Leishmaniose Tegumentar. CONITEC, 2016. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br. Acesso em: 18 fev. 2025. BRASIL. Ministério da Saúde. Proposta de Elaboração do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Leishmaniose Visceral. CONITEC, 2016. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br. Acesso em: 18 fev. 2025. BRASIL. Secretaria da Saúde do Estado do Ceará. Nota Técnica: Tratamento das Leishmanioses. Ceará, 2023. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br. 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