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Edição 
2025.1
E s t a t u t o d o
DESARMAMENTO
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 1 
 
ESTATUTO DO DESARMAMENTO - LEI 10.826/2003 
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 4 
PARTE GERAL .................................................................................................................................... 5 
1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA.......................................................................................................... 5 
2. NOÇÕES PRELIMINARES .......................................................................................................... 6 
3. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO .................................................................................. 7 
4. NATUREZA DOS CRIMES .......................................................................................................... 7 
5. BENS JURÍDICOS PROTEGIDOS .............................................................................................. 8 
6. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO ................................................................................ 8 
 ARMAS DE FOGO DE USO PERMITIDO ............................................................................ 8 
 ARMAS DE FOGO DE USO RESTRITO ............................................................................. 9 
 ARMAS DE FOGO DE USO PROIBIDO .............................................................................. 9 
7. REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO ............................................................................ 10 
 1ª ETAPA: AQUISIÇÃO DA ARMA DE FOGO................................................................... 10 
 2ª ETAPA: REGISTRO ....................................................................................................... 12 
 3ª ETAPA: AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE.................................................................... 12 
 AUSÊNCIA DO REGISTRO OU DE AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE E ADEQUAÇÃO 
TÍPICA ............................................................................................................................................ 14 
 REGISTRO DE ARMA DE FOGO E LEI MARIA DA PENHA ............................................ 16 
8. POSSE X PORTE ....................................................................................................................... 16 
9. POSSE DE ARMA DE FOGO EM ZONA RURAL ..................................................................... 17 
DOS CRIMES E DAS PENAS ........................................................................................................... 18 
1. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO ......................................... 18 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................... 18 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 18 
 CONDUTA ........................................................................................................................... 18 
 OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 19 
 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO.................................................................................. 20 
 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 22 
1.6.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 22 
1.6.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 22 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 22 
 GUARDA DE ARMA DE FOGO COM REGISTRO VENCIDO .......................................... 24 
 AÇÃO PENAL...................................................................................................................... 25 
 ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA ................................................................................. 25 
 PENA ................................................................................................................................... 26 
2. OMISSÃO DE CAUTELA ........................................................................................................... 27 
 PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................. 27 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 27 
 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 27 
2.3.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 27 
2.3.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 27 
 ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................... 27 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 28 
 FIGURA EQUIPARADA À OMISSÃO DE CAUTELA ........................................................ 28 
2.6.1. Objetividade jurídica .................................................................................................... 28 
2.6.2. Sujeitos do delito .......................................................................................................... 28 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 2 
 
2.6.3. Observações importantes ............................................................................................ 29 
2.6.4. Consumação e tentativa .............................................................................................. 29 
3. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO .................................................. 29 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 29 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 30 
 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 30 
3.3.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 30 
3.3.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 30 
 ELEMENTO NORMATIVO .................................................................................................. 30 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 32 
 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES ..................................................................................... 33 
3.6.1. Crime de perigo abstrato ............................................................................................. 33 
3.6.2. Porte de arma de brinquedo e réplicas ....................................................................... 34 
3.6.3. Porte ilegal de arma de fogo desmuniciada ................................................................ 34 
3.6.4. Uso de munição como pingente e atipicidade ............................................................ 35 
3.6.5. Porte e homicídio ......................................................................................................... 35 
3.6.6. Porte ilegal e legítima defesa ...................................................................................... 36 
4. DISPAROsua residência. Os militares procederam ao local e pediram 
para fazer uma busca na residência, o que foi autorizado de forma consciente 
pelo seu único morador. Os policiais encontraram uma pistola 380, 
devidamente municiada. Indagado sobre a propriedade da arma e sobre o 
fato de estar circulando com a pistola na cintura em seu jardim, o morador 
admitiu ter se enervado com a festa do vizinho, apresentando, na sequência, 
um certificado de registro de arma de fogo, vencido há dois anos, bem como 
o registro de atirador desportivo. Diante da situação, é correto afirmar que o 
sujeito deve ter a arma de fogo apreendida, com aplicação de multa, sem 
responder por crime. Correto. 
 
(MPE-SC - Promotor - CESPE - 2021): O porte de arma de fogo com registro 
vencido é mera irregularidade administrativa, sendo tal conduta atípica em 
qualquer circunstância. Errado. 
 
(MPDFT - Promotor - MPDFT - 2021): A posse em residência de arma de 
fogo com registro vencido é conduta atípica. Errado. 
 
(Polícia Federal - Delegado - CESPE - 2021): É conduta atípica o porte ilegal 
de arma de fogo de uso permitido com registro de cautela vencido. Errado. 
 AÇÃO PENAL 
É crime de ação penal pública incondicionada. 
 ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA 
O Estatuto do Desarmamento estabeleceu, em seu art. 30, um prazo de 180 dias para que 
os possuidores e proprietários de armas de fogo de uso permitido fizessem a solicitação de registro. 
Após sucessivas prorrogações, o prazo limite foi estipulado em 31 de dezembro de 2009, nos 
termos do art. 20 da Lei 11.922/20. 
Com base neste dispositivo, passou-se a entender que houve uma abolitio criminis 
temporária para o crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido. De fato, se o cidadão 
foi flagrado com uma arma dessa espécie em sua residência, por exemplo, entre a entrada em vigor 
do Estatuto do Desarmamento e o dia 31 de dezembro de 2009, não poderia ser punido, pois ainda 
possuía prazo para efetuar a solicitação do registro da arma. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 26 
 
Em sua redação originária, o Estatuto do Desarmamento autorizava essa abolitio criminis 
temporária também para as condutas relacionadas às armas de uso restrito e àquelas que lhes são 
equiparadas por Lei, como as armas de numeração raspada, suprimida ou adulterada. Em relação 
a este tipo de arma, porém, a abolitio criminis temporária cessou no dia 23 de outubro de 2005. 
Nesse sentido, a Súmula 513 do STJ: 
Súmula 513 do STJ: A abolitio criminis temporária prevista na Lei n. 
10.826/2003 aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido 
com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, 
suprimido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005. 
 
Em suma: 
a) De 23 de dezembro de 2003 a 23 de outubro de 2005 a posse ilegal de arma permitida 
ou proibida não configurou crime; 
b) De 24 de outubro de 2005 a 31 de dezembro de 2009 a posse ilegal de arma permitida 
continuou a não configurar crime, mas a posse ilegal de arma proibida ou restrita 
(incluindo a arma permitida adulterada) passou a configurar crime; 
c) A partir de 1º de janeiro de 2010 a posse ilegal de arma permitida passou a configurar 
crime, mas a entrega espontânea à Polícia Federal constitui causa extintiva de 
punibilidade; 
d) O porte ilegal de qualquer arma sempre configurou crime, desde a entrada em vigor do 
Estatuto do Desarmamento. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-PR - Delegado - NC-UFPR - 2021): A abolitio criminis temporária, 
prevista nos artigos 5º, § 3º, e 30, durante a sua vigência temporal, abrangeu 
todos os crimes previstos na Lei nº 10.826/2003. Errado. 
 PENA 
A pena será de 1 a 3 anos e multa. 
Trata-se de crime de médio potencial ofensivo, admitindo-se a suspensão condicional do 
processo, prevista no art. 89 da Lei 9.099/95: 
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a 
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a 
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, 
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido 
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam 
a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). 
Salienta-se que, como a pena não ultrapassa 4 anos, o próprio Delegado de Polícia poderá 
arbitrar a fiança. 
Por fim, estando presentes os requisitos do art. 44 do CP, é perfeitamente possível que a 
pena seja convertida em restritiva de direitos, pois cabe a conversão quando é aplicada pena 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 27 
 
privativa de liberdade não superior a 4 anos e o crime não for cometido com violência ou grave 
ameaça à pessoa. 
2. OMISSÃO DE CAUTELA 
 PREVISÃO LEGAL 
O crime de omissão de cautela está previsto no art. 13 do Estatuto do Desarmamento, 
observe: 
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor 
de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere 
de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
Tutela-se a incolumidade pública em face do perigo decorrente do apoderamento da arma 
de fogo por pessoa despreparada, e ainda a própria integridade física do menor de idade ou 
deficiente mental, que também fica exposta a risco em tal situação. 
 SUJEITOS DO DELITO 
2.3.1. Sujeito ativo 
Pode ser qualquer pessoa, trata-se de crime comum ou geral. Se o agente não possui o 
registro da arma de fogo, incorre também no delito do art. 12. 
Frisa-se que a omissão de cautela em relação à munição ou acessório não está prevista no 
tipo penal. 
2.3.2. Sujeito passivo 
São sujeitos passivos: 
1) A coletividade; 
2) O menor de 18 anos; 
3) O portador de doença mental. 
 ELEMENTO SUBJETIVO 
Os crimes do Estatuto do Desarmamento, em geral, são dolosos. Contudo, o crime de 
omissão de cautela é culposo, eis que é um típico caso de negligência. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 28 
 
O proprietário da arma deixa de adotar as cautelas necessárias. Cita-se, como exemplo 
recente, o caso do adolescente de Goiânia que teve acesso à arma da mãe e atirou contra seus 
colegas de escola. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-SP - Delegado - VUNESP - 2022): Nos termos da Lei n° 10.826/2003 
(Estatuto do Desarmamento), é correto afirmar que o crime de Omissão de 
Cautela é considerado doloso e apenado com detenção. Errado. 
 
(TJ-ES – Juiz – FGV – 2023): Acerca dos crimes previstos no Estatuto do 
Desarmamento (Lei nº 10.826/2003), é correto afirmar que o crime de 
omissão de cautela pode ser cometido com culpa ou dolo eventual. Errado. 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
É crime material, o qual depende da produção do resultado naturalístico. Assim, não basta 
que o agente seja negligente, é necessário que o menor ou que o portador de transtorno mental se 
apodere da arma. 
É crime de perigo abstrato e também um delito omissivo impróprio. 
Por fim, não admite tentativa, já que se trata de crime culposo. 
 FIGURA EQUIPARADA À OMISSÃO DE CAUTELA 
O parágrafo único traz um crime diferente em que é aplicado a mesma pena do art. 13, a 
omissão de comunicação de perda ou subtração de arma de fogo: 
Art. 13, Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor 
responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem 
de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, 
roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição 
que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de 
ocorrido o fato. 
Nos casos em que ocorre a perda, furto, roubo ou outra forma de extravio de arma de fogo, 
a empresa de segurança tem a obrigação de comunicar à autoridade competente em 24h, sob pena 
de responder pelo delitodo art. 13, parágrafo único. 
2.6.1. Objetividade jurídica 
Protege-se a veracidade dos cadastros de arma de fogo perante o SINARM e o registro 
perante os órgãos competentes. 
2.6.2. Sujeitos do delito 
1) Sujeito ativo: trata-se de crime próprio ou especial, uma vez que somente pode ser 
praticado pelo proprietário da empresa ou pelo diretor responsável por empresa de 
segurança ou de transporte de valores. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 29 
 
2) Sujeito passivo: a coletividade, já que a veracidade dos cadastros é de interesse 
coletivo, e não apenas dos órgãos responsáveis. 
2.6.3. Observações importantes 
1) As armas de fogo utilizadas pelas empresas de segurança e de transporte de valores 
deverão pertencer a elas, ficando também sob sua guarda e responsabilidade. 
2) O registro e autorização para o porte, expedido pela Polícia Federal, deverão ser 
elaborados em nome da empresa. 
3) A empresa deve apresentar ao SINARM, semestralmente, relação dos empregados 
habilitados a portar as armas, restrita ao serviço. 
Obs.: caso o funcionário da empresa seja surpreendido com a arma 
de fogo, fora do horário de trabalho, responderá por porte ilegal de 
arma de fogo. 
2.6.4. Consumação e tentativa 
É um crime a prazo, em que o tipo penal condiciona a consumação do delito ao transcurso 
de determinado tempo. Assim, a consumação ocorrerá após o transcurso das 24h sem que haja a 
comunicação. 
Não admite tentativa, pois se trata de um crime omissivo próprio. 
3. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES 
O delito de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido está previsto no art. 14 do Estatuto 
do Desarmamento: 
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, 
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob 
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem 
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a 
arma de fogo estiver registrada em nome do agente. 
(DPE-RO – Defensor Público – CEBRASPE – 2023): A conduta de adquirir 
arma de fogo de origem internacional, de uso permitido, mas sem o registro 
adequado, de forma individual, e sem caracterizar um estabelecimento de 
comércio clandestino, configura porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. 
Correto. 
Trata-se de crime de elevado potencial ofensivo, incompatível com os benefícios da Lei 
9.099/95. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 30 
 
Ressalta-se que o STF, na ADI 3.112-1, considerou o parágrafo único inconstitucional, pois, 
atualmente, apenas a CF/88 pode dizer, de forma genérica e abstrata, que um crime é inafiançável. 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
Tutela-se a incolumidade pública, mais especificamente a segurança pública, no sentido de 
evitar que pessoas armadas coloquem em risco a vida, a incolumidade física ou o patrimônio dos 
cidadãos. 
 SUJEITOS DO DELITO 
3.3.1. Sujeito ativo 
É crime comum ou geral, podendo ser praticado por qualquer pessoa. 
É preciso ter atenção com o disposto no art. 20 do Estatuto do Desarmamento, que traz uma 
causa de aumento de pena, quando o crime é praticado por um dos integrantes dos órgãos e 
empresas constantes nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei: 
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é 
aumentada da metade se: 
I - forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 
6º, 7º e 8º desta Lei; ou 
II - o agente for reincidente específico em crimes dessa natureza. 
3.3.2. Sujeito passivo 
É a coletividade, tratando-se, pois, de crime vago. 
 ELEMENTO NORMATIVO 
Embora a denominação legal do delito seja “porte ilegal de arma de fogo de uso permitido”, 
é fácil notar que o texto legal possui abrangência maior, já que existem inúmeras outras condutas 
típicas. Com efeito, as ações nucleares são portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em 
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob 
sua guarda ou ocultar. 
Trata-se, porém, de crime de ação múltipla – também chamado de crime de conteúdo 
variado ou de tipo misto alternativo – em que a realização de mais de uma conduta típica, em relação 
ao mesmo objeto material, constitui crime único, na medida em que as diversas ações descritas 
na lei estão separadas pela conjunção alternativa “ou”. Assim, se o agente adquire e, em seguida, 
porta a mesma arma de fogo, comete apenas um crime. 
Destaca-se, nesse liame, que o STJ adotou o seguinte posicionamento quanto à modalidade 
“transportar”: 
O crime de porte de arma de fogo, seja de uso permitido ou restrito, na 
modalidade transportar, admite participação. STJ. 6ª Turma. REsp 
1887992-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/12/2021 (Info 721). 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 31 
 
 
(MP-SC – Promotor de Justiça – CEBRASPE – 2023): Julgue o 
próximo item, pertinentes à Lei Antiterrorismo — Lei n.º 13.260/2016 e 
ao Estatuto do Desarmamento — Lei n.º 10.826/2003.O crime de porte 
irregular de arma de fogo, na modalidade transportar, inadmite 
participação. Errado. 
 
Em continuidade, os objetos materiais do crime são as armas de fogo, munições ou 
acessórios de uso permitido. 
O elemento normativo do tipo encontra-se na expressão “sem autorização e em desacordo 
com determinação legal ou regulamentar”. Com efeito, só comete o crime quem porta arma de fogo 
e não possui autorização para tanto, ou o faz em desacordo com as normas que disciplinam o tema. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-AM - Delegado - FGV - 2022): No dia 22 de fevereiro de 2022, José foi 
abordado por guarnição policial militar, enquanto conduzia veículo automotor 
em via pública, em blitz regularmente realizada. No interior da mala do veículo 
foram encontradas vinte e cinco munições de fuzil calibre 7.65, de marcas 
variadas. Conduzido à unidade de polícia judiciária, durante a lavratura do 
seu auto de prisão em flagrante, confessou estar trabalhando para Carlos e 
Eduardo, tendo pleno conhecimento do material que transportava, mas que a 
contratação e o destino final teriam sido determinados pelos dois. Analisando 
a hipótese, sobre o crime de porte de arma de fogo, na modalidade 
transportar, é correto afirmar que admite coautoria ou participação. Correto. 
 
(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): O indivíduo que carrega consigo 
silenciador, desacompanhado de qualquer arma de fogo ou munição, não 
pratica crime, pois a essa lei não prevê punição para a posse ou porte de 
acessórios. Errado. 
 
(PC-RN - Delegado - FGV - 2021): Vanda, funcionária de uma empresa de 
segurança particular, recebe de seu chefe, Eric, ordem para levar uma arma 
de fogo a um dos seguranças que estava em serviço e havia esquecido o seu 
equipamento na empresa. Temendo ser demitida, apesar da inexistência de 
ameaça neste sentido, Vanda cumpre a ordem recebida, ciente da conduta 
criminosa que estaria perpetrando, mas no caminho é parada por policiais 
militares. Considerando os fatos acima narrados, Vanda e Eric praticaram 
crime de transporte ilegal de arma de fogo, em concurso de pessoas. Correto. 
Indaga-se: O porte de arma de fogo de uso permitido com registro vencido é mera 
infração administrativa e conduta penalmente atípica? 
Não, é crime previsto no artigo 14 da Lei 10.826/2003. 
Explica o prof. Márcio Cavalcante, que a Corte Especial do STJ decidiu que, uma vez 
realizado o registro da arma, o vencimento da autorização não caracteriza ilícito penal, mas mera 
irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e aplicação de multa (APn n. 
686/AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015). 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 32Tal entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de arma de fogo de uso 
permitido (art. 12 da Lei nº 10.826/2003), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo 
(art. 14), muito menos ao delito de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas 
elementares são diversas e a reprovabilidade mais intensa. 
Portanto: 
• Porte + Registro vencido = crime 
• Posse + Registro vencido = não há crime (para o entendimento majoritário) 
É típica a conduta de colecionador, com registro para a prática desportiva e guia de 
tráfego, que se dirigia ao clube de tiros sem portar consigo a guia de trânsito da arma de 
fogo? 
Não. No caso concreto, a acusação imputou ao paciente o crime previsto no art. 14 da Lei 
nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), em virtude de o agente estar transportando uma arma 
de fogo de uso permitido sem portar a necessária guia de tráfego no momento da abordagem. 
Todavia, ensina o prof. Márcio Cavalcante, que não é possível a imputação de uma conduta 
como típica sem analisar a proporcionalidade entre o fato e a respectiva sanção penal. 
No caso, o acusado possuía o certificado de registro para a prática de tiro desportivo, bem 
como a guia de tráfego para transportar a arma até o clube de tiros, e o Ministério Público ofereceu 
a denúncia apenas por ter o agente se olvidado de carregar consigo a referida guia quando se 
deslocava da sua residência para o clube. 
Dessa forma, conclui-se que a tipificação dessa conduta como crime ofende o princípio da 
proporcionalidade e deve ser repelida, por não encontrar abrigo no moderno Direito Penal. 
A simples ausência de cumprimento de uma formalidade não pode fazer com que o agente 
possa ser considerado criminoso, até porque ele é colecionador de armas e não praticou nenhum 
ato que pudesse colocar em risco a incolumidade de terceiros, pois a sua conduta não pode ser 
considerada como ilícito penal (STJ - AgRg no AgRg no RHC 148516-SC – Inf. 753). 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
Tratando-se de crime de mera conduta, a consumação ocorre no momento da ação, 
independentemente de qualquer resultado. 
É possível a tentativa quando, por exemplo, o agente inicia os atos de execução, mas não 
logra êxito em adquirir a arma de fogo de uso permitido. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(DPE-PR - Defensor - Instituto AOCP - 2022): João portava arma de fogo 
de uso permitido em via pública quando, ao amarrar seu calçado, ela 
disparou, sem, no entanto, atingir ninguém. Devido ao barulho provocado, a 
polícia foi acionada e abordou João, localizando o armamento e constatando 
que o seu registro de cautela estava vencido. Nessa situação hipotética, João 
deverá responder unicamente pelo crime de porte ilegal de arma de fogo de 
uso permitido. Correto. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 33 
 
 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES 
3.6.1. Crime de perigo abstrato 
O crime em análise é de perigo abstrato, em que a Lei presume, de forma absoluta, a 
existência do risco causado à coletividade por parte de quem, sem autorização, porta arma de fogo, 
acessório ou munição. É, portanto, totalmente desnecessária prova de que o agente tenha causado 
perigo a pessoa determinada. Por isso, pode-se também dizer que se trata de crime de mera 
conduta, que se aperfeiçoa com a ação típica, independentemente de qualquer resultado. 
Tratando-se de crime de perigo, a jurisprudência fixou entendimento de que o porte 
concomitante de mais de uma arma de fogo caracteriza situação única de risco à coletividade e, 
assim, o agente só responde por um delito, não se aplicando a regra do concurso formal. O juiz, 
todavia, pode levar em conta a quantidade de armas na fixação da pena-base, em face da maior 
gravidade do fato (art. 59 do CP). Se uma das armas for de uso proibido e a outra, de uso permitido, 
configura-se o crime mais grave, previsto no art. 16, § 2º, da Lei. 
Quando se diz que o crime é de perigo presumido ou abstrato, conclui-se apenas que é 
desnecessária prova de situação de risco a pessoa determinada. Exige-se, porém, que a arma 
possa causar dano, pois, do contrário, não se diria que o crime é de perigo. Por isso, a própria Lei 
(art. 25) menciona a elaboração de perícia nas armas de fogo, acessórios ou munições que tenham 
sido apreendidos, bem como a sua juntada aos autos, com o intuito de demonstrar a potencialidade 
lesiva da arma. Assim, pode-se afirmar que não há crime quando a perícia constata tratar-se de 
arma obsoleta ou quebrada (inoperante). 
À vista disso, o STJ entendeu que é atípica a conduta de portar arma de fogo ineficaz: 
Para que haja condenação pelo crime de posse ou porte NÃO é 
necessário que a arma de fogo tenha sido apreendida e periciada. Assim, 
é irrelevante a realização de exame pericial para a comprovação da 
potencialidade lesiva do artefato. Isso porque os crimes previstos no arts. 12, 
14 e 16 da Lei 10.826/2003 são de mera conduta ou de perigo abstrato, cujo 
objeto jurídico imediato é a segurança coletiva. No entanto, se a perícia for 
realizada na arma e o laudo constatar que a arma não tem nenhuma condição 
de efetuar disparos não haverá crime. Para o STJ, não está caracterizado o 
crime de porte ilegal de arma de fogo quando o instrumento apreendido 
sequer pode ser enquadrado no conceito técnico de arma de fogo, por estar 
quebrado e, de acordo com laudo pericial, totalmente inapto para realizar 
disparos. Assim, demonstrada por laudo pericial a total ineficácia da arma 
de fogo e das munições apreendidas, deve ser reconhecida a atipicidade 
da conduta do agente que detinha a posse do referido artefato e das 
aludidas munições de uso proibido, sem autorização e em desacordo 
com a determinação legal/regulamentar. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 
397473/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/08/2014 (Info 
544). STJ. 6ª Turma. REsp 1451397-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis 
Moura, julgado em 15/9/2015 (Info 570).4 
 
 
 
4 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Atipicidade da conduta de posse/porte ilegal de arma de fogo ineficaz. Buscador Dizer o Direito, 
Manaus. Disponível em: . 
Acesso em: 14/03/2024. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 34 
 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(TRF-4 - Juiz Federal - TRF-4 - 2022): Segundo entendimento atual do 
Superior Tribunal de Justiça, nos crimes dos artigos 12 (posse irregular de 
arma de fogo de uso permitido), 14 (porte ilegal de arma de fogo de uso 
permitido) e 16 (posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito) da Lei 
nº 10.826/2003, cuidando-se de crimes que atingem a incolumidade pública, 
é imprescindível a realização de perícia sobre as armas de fogo para aferição 
da potencialidade lesiva. Errado. 
 
(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): Não afasta a tipicidade da conduta 
criminosa o fato de a arma de fogo apreendida ter sido declarada 
absolutamente ineficaz por meio de perícia realizada no curso da ação penal. 
Errado. 
 
(PC-PR - Delegado - NC-UFPR - 2021): A atipicidade de conduta do agente 
que detém posse de arma de fogo sem autorização e em desacordo com a 
determinação legal/regulamentar deve ser reconhecida quando a total 
ineficácia dessa arma for demonstrada por laudo pericial. Correto. 
 
(MPDFT - Promotor - MPDFT - 2021): Para o Supremo Tribunal Federal 
(STF), a arma de fogo incapaz de efetuar disparos pode configurar elementar 
dos crimes de Porte ou Posse Ilegal dos arts. 12, 14 e 16 da Lei nº 
10.826/2003. Correto. 
3.6.2. Porte de arma de brinquedo e réplicas 
As armas de brinquedo, simulacros ou réplicas não constituem armas de fogo, de modo que 
o seu porte não está abrangido na figura penal. 
O Estatuto do Desarmamento se limita a proibir (sem prever sanção penal) a fabricação, a 
venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo,que possam com estas se confundir, exceto para instrução, adestramento ou coleção, desde que 
autorizados pelo Comando do Exército, nos termos do art. 26: 
Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação 
de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se 
possam confundir. 
Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros 
destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, 
nas condições fixadas pelo Comando do Exército. 
As armas de brinquedo que estejam sendo comercializadas ou fabricadas devem ser 
apreendidas pela fiscalização, na medida em que são proibidas. 
3.6.3. Porte ilegal de arma de fogo desmuniciada 
Entende-se que, por ser um crime de mera conduta, haverá crime. 
Nesse sentido, segue o posicionamento do STF e STJ: 
O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que é de perigo 
abstrato o crime de porte ilegal de arma de fogo, sendo, portanto, irrelevante 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 35 
 
para sua configuração encontrar-se a arma desmontada ou desmuniciada. 
(STF - HC 95861, Rel. Min. Cezar Peluso, Rel. p/ Acórdão: Min. Dias Toffoli, 
2ª Turma, julgado em 02/06/2015, Acórdão eletrônico DJe-128 divulg 
30/06/2015 public 01/07/2015). 
 
O entendimento deste Superior Tribunal de Justiça, firmado no julgamento do 
AgRg no EAREsp n. 260.556/SC, em 26/03/2014, tendo como relator o 
eminente Ministro Sebastião Reis Júnior, é no sentido de que o crime previsto 
no art. 14 da Lei n. 10.826/2003 é de perigo abstrato, sendo irrelevante o fato 
de a arma estar desmuniciada ou, até mesmo, desmontada ou estragada, 
porquanto o objeto jurídico tutelado não é a incolumidade física, e sim a 
segurança pública e a paz social, colocados em risco com o porte de arma 
de fogo sem autorização ou em desacordo com determinação legal, 
revelando-se despicienda até mesmo a comprovação do potencial ofensivo 
do artefato através de laudo pericial. (STJ - AgRg no AgRg no AREsp 
1437702/RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª Turma, julgado em 20/08/2019, DJe 
23/08/2019). 
3.6.4. Uso de munição como pingente e atipicidade 
O STF e o STJ consideram atípica a conduta do agente que portava uma munição como 
pingente, sem possuir arma de fogo: 
É atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente, munição 
desacompanhada de arma. STF. 2ª Turma. HC 133984/MG, Rel. Min. 
Cármen Lúcia, julgado em 17/5/2016 (Info 826). 
 
A atipicidade material da conduta não pode ser reconhecida, porquanto a 
munição apreendida com o paciente estava intacta e poderia ser utilizada em 
arma de fogo, diferentemente daquelas hipóteses em que a natureza do 
projétil é descaracterizada mediante utilização em obra de arte ou para 
confecção de chaveiro, colar etc. (STJ - AgRg no HC 391.282/MS, Rel. 
Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em 16/05/2017, DJe 
24/05/2017). 
 
Obs.: vale reiterar que, em regra, a jurisprudência não aplica o 
princípio da insignificância aos crimes de posse ou porte de armas ou 
munições. 
3.6.5. Porte e homicídio 
Se o agente, utilizando arma de fogo, atira e mata alguém, haverá homicídio e porte de arma 
de fogo ou apenas homicídio? Se uma pessoa pratica homicídio com arma de fogo, a acusação por 
porte deverá ser absorvida? Aplica-se o princípio da consunção? Depende da situação. 
O crime de porte não será absorvido (haverá concurso material de crimes) se ficar provado 
nos autos que o agente portava ilegalmente a arma de fogo em outras oportunidades antes ou 
depois do homicídio e que ele não se utilizou da arma tão somente para praticar o assassinato. Ex.: 
a instrução demonstrou que João adquiriu a arma de fogo 3 meses antes de matar Pedro e não a 
comprou com a exclusiva finalidade de ceifar a vida da vítima. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 36 
 
Contudo, crime de porte será absorvido se não houver provas de que o réu já portava a arma 
antes do homicídio ou se ficar provado que ele a utilizou somente para matar a vítima. Ex.: o agente 
compra a arma de fogo e, em seguida, dirige-se até a casa da vítima, e contra ela desfere dois tiros, 
matando-a. 
3.6.6. Porte ilegal e legítima defesa 
Em regra, o agente que age em legítima defesa utilizando arma de fogo sem registro poderá 
responder pelo crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo. Contudo, o crime poderá ser 
absorvido quando a conduta foi exclusiva para o ato de legítima defesa. 
4. DISPARO DE ARMA DE FOGO 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES 
O art. 15 do Estatuto do Desarmamento consagra o delito de disparo de arma de fogo, 
vejamos: 
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em 
suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa 
conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
O crime se aperfeiçoa com o disparo de arma de fogo ou, simplesmente, com o acionamento 
da munição (engatilhar a arma). 
Importante destacar a expressão “desde que essa conduta não tenha como finalidade a 
prática de outro crime”, a qual configura um crime expressamente subsidiário. Trata-se do princípio 
da subsidiariedade expressa na solução do conflito aparente de normas. Assim, tem-se as seguintes 
hipóteses: 
1) Se o agente dispara arma de fogo sem nenhum intuito, responderá pelo art. 15 do 
Estatuto do Desarmamento; 
2) Se o agente dispara arma de fogo para matar outra pessoa, responderá por homicídio 
(art. 121 do CP), pois o disparo será absorvido pelo homicídio. 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
Protege-se a incolumidade pública, mais especificamente a segurança pública. 
 OBJETO MATERIAL 
Apenas a munição, permitida ou proibida. 
 SUJEITOS DO DELITO 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 37 
 
4.4.1. Sujeito ativo 
É crime comum ou geral, tendo em vista que pode ser praticado por qualquer pessoa. 
Importante não esquecer da supramencionada causa de aumento prevista no art. 20. 
4.4.2. Sujeito passivo 
É a coletividade, mas também serão vítimas as pessoas que suportaram o perigo. 
 ELEMENTO ESPACIAL DO TIPO 
O disparo deve ocorrer em via pública ou em direção a ela, bem como em lugar habitado ou 
em suas adjacências. Portanto, o disparo de arma de fogo em lugar ermo é conduta atípica. 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
É crime de mera conduta. Assim, será consumado com o disparo da arma de fogo ou com 
o acionamento da munição. 
Igualmente, é um crime de perigo abstrato. 
É, perfeitamente, cabível a tentativa. Ex.: o agente aperta o gatilho do revólver, mas o 
disparo não ocorre porque outra pessoa, repentinamente, segura o tambor da arma, impedindo que 
gire (o que inviabiliza o disparo). 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-PR - Delegado - NC-UFPR - 2021): A comprovação da lesividade da 
conduta é indispensável para a caracterização típica do crime de “disparar 
arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, 
em via pública ou em direção a ela”. Errado. 
 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES 
4.7.1. Pluralidade de disparos 
Havendo pluralidade de disparos, no mesmo contexto fático, configura crime único. O 
número de disparos será utilizado para a dosimetria da pena. 
4.7.2. Veracidade do projétil 
É preciso que realmente ocorra o disparo de uma arma de fogo. Assim, disparo de arma de 
borracha não configura este crime. 
4.7.3. Crime mais grave e absorção 
O agente irá responder apenas pelo crime mais grave. O disparo fica absorvido. 
4.7.4. Porte ilegal e disparo de arma de fogo 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 38 
 
Para determinar os crimes que o agente irá responder, é necessário analisar o contexto 
fático, a fim de determinar se há ou não ligação entre as condutas. Observe-se, então, as seguintes 
hipóteses: 
1) João está em sua residência, assistindo ao jogo de seu time de futebol. Após o gol, 
dirige-se até a rua e efetua um disparopara o alto. Em seguida, retorna para sua casa. 
Perceba que João portou ilegalmente a arma de fogo apenas com a finalidade de efetuar 
o disparo. Assim, o disparo irá absorver o porte ilegal. 
2) João saiu de sua residência, com a arma de fogo, atravessou a cidade inteira para chegar 
ao estádio de futebol, após o jogo, novamente, atravessou a cidade para voltar para 
casa. Ocasião em que efetuou um disparo para o alto. Nesta hipótese, temos dois 
contextos distintos, por isso João irá responder pelos dois delitos (porte e disparo) em 
concurso material de crimes. 
Nesse liame, destaca-se o posicionamento do STJ: 
Aplica-se o princípio da consunção aos crimes de porte ilegal e de disparo de 
arma de fogo ocorridos no mesmo contexto fático, quando presente nexo de 
dependência entre as condutas, considerando-se o porte crime-meio para a 
execução do disparo de arma de fogo. (STJ - AgRg no AREsp 1.211.409/MS, 
Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª Turma, julgado em 08/05/2018, DJe 21/05/2018). 
 
Esta Corte Superior entende que a absorção do delito de porte de arma pelo 
de disparo não é automática, pois depende do contexto fático do caso 
concreto em que se deram as condutas. Não ficou caracterizada a hipótese 
de aplicação do princípio da consunção, na espécie, porque os momentos 
consumativos dos delitos ocorreram em situações diversas, em contextos 
destacados. (AgRg no REsp 1.347.003/SC, Rel. Min. Moura Ribeiro, 5ª 
Turma, julgado em 17/12/2013, DJe 03/02/2014). 
 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-RN - Delegado - FGV - 2021): Após discutir com alguns vizinhos, Lúcio 
efetuou disparos de arma de fogo para o alto na via pública, atingindo o 
telhado de uma das casas, o que fez com que os moradores da localidade, 
dois dias depois, registrassem o fato na delegacia de polícia. A autoridade 
policial representou pela busca e apreensão de eventual prova de crime na 
residência de Lúcio, o que foi deferido pelo juízo competente. No 
cumprimento do mandado, foi apreendida na residência uma arma de fogo 
sem registro, sendo certo que Lúcio não tinha autorização legal para portar 
ou possuir qualquer tipo de arma. Restando comprovados os fatos por prova 
oral e pericial, Lúcio responderá pelos crimes de posse de arma de fogo e de 
disparo de arma de fogo, em concurso material. Correto. 
 PENA 
A pena é de 2 a 4 anos. Portanto, trata-se de um crime de elevado potencial ofensivo. 
Assim, pode-se concluir que: 
1) Não é possível a transação penal, pois a pena máxima supera os 2 anos; 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 39 
 
2) Não é possível a suspensão condicional do processo, pois a pena mínima prevista para 
o crime ultrapassa 1 ano; 
3) É muito provável que a pena seja convertida em restritiva de direitos, desde que 
cumpridos os requisitos legais; 
4) Tendo em vista que a pena máxima não ultrapassa o patamar de 4 anos, o próprio 
Delegado poderá arbitrar a fiança. 
Obs.: conforme já apontado, o parágrafo único foi declarado 
inconstitucional pelo STF. Portanto, cabe sim fiança. 
 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-SP - Delegado - VUNESP - 2022): Nos termos da Lei n° 10.826/2003 
(Estatuto do Desarmamento), é correto afirmar que o crime de disparo de 
arma de fogo é apenado com detenção. Errado. 
5. POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO E PROIBIDO 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES 
A posse e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito estão previstas no art. 16 do Estatuto 
do Desarmamento. Há nos incisos do parágrafo primeiro uma série de figuras equiparadas. Verifica-
se, portanto, o dispositivo legal: 
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, 
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, 
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso 
restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar: 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: 
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação 
de arma de fogo ou artefato; 
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la 
equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar 
ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; 
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, 
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; 
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com 
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, 
suprimido ou adulterado; 
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, 
acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e 
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de 
qualquer forma, munição ou explosivo. 
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem 
arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) 
anos. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 40 
 
Quando a arma de fogo é de uso restrito, o crime será o mesmo tanto para a posse ilegal 
quanto para o porte ilegal. De outra banda, quando se trata de arma de fogo de uso permitido, os 
crimes serão distintos: posse ilegal (art. 12) e porte ilegal (art. 14) 
Nota-se que a Lei 13.964/2019 modificou o art. 16 do Estatuto do para diferenciar arma de 
fogo de uso restrito de arma de fogo de uso proibido: 
ESTATUTO DO DESARMAMENTO 
ANTES DA LEI 13.964/2019 ATUALMENTE 
Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso 
restrito 
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, 
receber, ter em depósito, transportar, ceder, 
ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, 
empregar, manter sob sua guarda ou ocultar 
arma de fogo, acessório ou munição de uso 
proibido ou restrito, sem autorização e em 
desacordo com determinação legal ou 
regulamentar: 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e 
multa. 
Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso 
restrito 
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, 
fornecer, receber, ter em depósito, transportar, 
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, 
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou 
ocultar arma de fogo, acessório ou munição 
de uso restrito, sem autorização e em 
desacordo com determinação legal ou 
regulamentar: 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e 
multa. 
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre 
quem: 
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: 
Não havia § 2º no art. 16. § 2º Se as condutas descritas no caput e no § 
1º deste artigo envolverem arma de fogo de 
uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 
(quatro) a 12 (doze) anos. 
 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
Assim como nos demais crimes do Estatuto, protege-se a incolumidade pública, mais 
especificamente a segurança pública. 
 SUJEITOS DO DELITO 
5.3.1. Sujeito ativo 
Qualquer pessoa poderá praticar o delito do art. 16, pois se trata de crime comum ou geral. 
Aqui, novamente, aplica-se a regra do art. 20 do Estatuto, segundo a qual a pena será 
aumentada quando o crime for praticado por integrantes dos órgãos e empresas referidas nos arts. 
6º, 7º e 8º. 
5.3.2. Sujeito passivo 
É crime vago. Assim, o sujeito passivo será a coletividade. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 41 
 
 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO 
O elemento normativo do tipo está contido na expressão “sem autorização e em desacordo 
com determinação legal ou regulamentar”. No que diz respeito ao registro, por exemplo, temos 
várias regras. O art. 27 da Lei 10.826/2003 diz que a aquisição de arma de uso restrito poderá ser 
autorizada, excepcionalmente, pelo Comando do Exército, e seu art. 3º, parágrafo único, estabelece 
que o registro também será feito em tal Comando. As armas de uso permitido, conforme já estudado, 
são registradas na PolíciaFederal. 
O delito em análise é uma espécie de figura qualificada dos crimes de posse e porte de 
arma, previsto, porém, em um tipo penal autônomo. A pena maior se justifica em virtude da maior 
potencialidade lesiva das armas de fogo de uso proibido ou restrito, que, por tal razão, elevam o 
risco à coletividade. 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
É crime de perigo abstrato, a Lei presume o perigo com a prática de qualquer uma das 
condutas descritas no art. 16. 
Igualmente, é um crime de mera conduta, ou seja, basta a prática da conduta para que se 
presuma o perigo. 
O tipo penal limita-se a descrever a conduta, sem prever o resultado naturalístico. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(TJ-RS - Juiz - FAURGS - 2022): Sobre os crimes de posse e porte ilegais 
de armas de fogo, considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é 
correto afirmar que são crimes de perigo abstrato. Correto. 
 FIGURAS EQUIPARADAS 
Estão descritas nos incisos do § 1º do art. 16. 
Trata-se de crimes autônomos com condutas e objetos materiais próprios, para os quais se 
aproveitou a pena do caput do art. 16. 
Obs.: as condutas não precisam ser relacionadas a arma de fogo de 
uso restrito ou proibido. 
5.6.1. Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de indicação de arma de 
fogo ou artefato 
O tipo penal pune o responsável pela supressão (eliminação completa) ou alteração 
(mudança) da marca ou numeração. Assim, quando existir prova de que o réu foi o autor da 
supressão, responderá por tal delito. Todavia, se não tiver sido ele o autor da adulteração, a posse 
ou o porte da arma com numeração suprimida ou alterada tipificará a conduta do art. 16, § 1º, IV, 
do Estatuto. 
O bem jurídico tutelado é a veracidade do cadastro das armas no SINARM. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 42 
 
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(TJ-ES - Juiz - FGV - 2023): Incide nas penas cominadas ao crime de posse 
ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito aquele que suprime ou altera 
marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo, ainda 
que esta seja de uso permitido. Correto. 
5.6.2. Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma 
de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo 
induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz 
Nota-se que há 2 condutas distintas: 
1) Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de 
fogo de uso proibido ou restrito. Cita-se, como exemplo, a conduta do agente que serra 
o cano de uma arma calibre 12. 
Pune-se apenas o responsável pela modificação. Qualquer outra pessoa que a porte ou 
possua irá responder pelo caput do art. 16. 
2) Modificar as características de arma de fogo para fins de dificultar ou de qualquer modo 
induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz. 
Aqui, tem-se um crime formal. Não incide o art. 347 do CP, que pune o crime de fraude 
processual. 
5.6.3. Possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem 
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar 
Em relação aos artefatos explosivos, este dispositivo prevalece sobre o art. 253 do CP: 
Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da 
autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou 
material destinado à sua fabricação: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
O art. 253 do CP continua em vigor em relação a gases tóxicos ou asfixiantes, bem como 
em relação a substâncias explosivas (ex.: tolueno), já que o inciso III só se refere a artefato 
explosivo pronto (ex.: dinamite). 
No tocante ao artefato incendiário, a exemplo do coquetel molotov, não é punível a mera 
posse de seus componentes, conforme posicionamento do STJ: 
A conduta de portar granada de gás lacrimogênio ou granada de gás de 
pimenta não se subsome (amolda) ao delito previsto no art. 16, 
parágrafo único, III, da Lei nº 10.826/2003. Isso porque elas não se 
enquadram no conceito de artefatos explosivos. STJ. 6ª Turma. REsp 
1627028/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/02/2017 
(Info 599). 
 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 43 
 
Ademais, segundo o STJ, explosivo é, em sentido amplo, um material extremamente 
instável, que pode se decompor rapidamente, formando produtos estáveis. Esse processo é 
denominado de explosão e é acompanhado por uma intensa liberação de energia, que pode ser 
feita sob diversas formas e gera uma considerável destruição decorrente da liberação dessa 
energia. 
Não será considerado explosivo o artefato que, embora ativado por explosivo, não projete 
nem disperse fragmentos perigosos, como metal, vidro ou plástico quebradiço, não possuindo, 
portanto, considerável potencial de destruição. Assim, para ser considerado artefato explosivo, é 
necessário que ele seja capaz de gerar alguma destruição. 
Desse modo, a título de exemplificação, 2 granadas, quando acionadas, liberam apenas 
densa fumaça e gás de pimenta, ou, quando muito, alguns fragmentos de borracha. Assim, a 
explosão decorrente da sua decomposição não é capaz de gerar destruição resultante da liberação 
de energia, apenas o incômodo gerado pelo gás tóxico. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(MPDFT - Promotor - MPDFT - 2021): O porte de granada de gás 
lacrimogêneo se enquadra no tipo penal do art. 16, § 1º, III, que assemelha o 
porte ilegal de arma de uso restrito ao porte de artefato explosivo ou 
incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar. Errado. 
5.6.4. Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, 
marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado 
Quem suprime ou modifica responde pelo inciso I. Já quem porta, possui, adquire, transporta 
ou fornece responde pelo inciso IV. 
Ressalta-se que pode ser qualquer tipo de arma de fogo, isto é, de uso restrito ou permitido. 
Não há vinculação ao caput. Nesse sentido, o HC 99.582/RS, noticiado no Informativo 558 do STF: 
Info 558 do STF: Para a caracterização do crime previsto no art. 16, 
parágrafo único, IV, da Lei 10.826/2003, é irrelevante se a arma de fogo é de 
uso permitido ou restrito, bastando que o identificador esteja suprimido. 
 
Firmou-se entendimento no sentido de que haverá concurso formal de crimes quando o 
agente portar uma arma com numeração raspada e outra com a respectiva numeração, com o 
argumento de que os bens jurídicos tutelados não são exatamente os mesmos. Veja-se: 
Condenação pelos crimes dos arts. 12 e 16 da Lei n. 10.826/03. 
Reconhecimento de crime único em sede de apelação. Restabelecimento do 
concurso formal. Precedentes. Embora as condutas de possuir arma com 
numeração raspada e munições e acessórios de uso permitido tenham sido 
praticadas em um mesmo contexto fático, houve lesão a bens jurídicos 
diversos, pois o art. 16 do Estatuto do Desarmamento, além da paz e 
segurança públicas, também protege a seriedade dos cadastros do Sistema 
Nacional de Armas, sendo inviável o reconhecimento de crime único. (STJ - 
AgRg no REsp 1732505/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª 
Turma, julgado em 15/5/2018, DJe 25/5/2018). 
 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 44 
 
Por fim, destaca-se que a descoberta de parte de numeração que foi suprimida de uma arma 
não torna possível a desclassificação da conduta do tipo penal de porte de arma de uso restrito (art. 
16, § 1º, IV) para porte de arma de uso permitido (art. 14), segundo entendimento do STJ: 
Reconhecida a prática do delito de porte ilegal de arma de fogo de uso 
restrito, afasta-se qualquer pretensão em ver a conduta desclassificada para 
o delito previsto no art. 14, caput, do Estatuto do Desarmamento, observando-
se que a rastreabilidadeda arma de fogo é irrelevante para materialidade do 
delito do art. 16, parágrafo único, IV, da Lei nº 10.826/2003 (atual art. 16, § 
1º, IV). STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 2.165.381-SP, Rel. Min. Antonio 
Saldanha Palheiro, julgado em 21/3/2023 (Info 13 – Edição Extraordinária). 
5.6.5. Vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, 
munição ou explosivo a criança ou adolescente 
De acordo com Victor Eduardo Rios Gonçalves, pela comparação desse tipo penal com 
outros da Lei 10.826/2003, pode-se concluir que: 
1) Quem vende, entrega ou fornece qualquer espécie de arma de fogo, acessório ou 
munição, intencionalmente (dolosamente) a menor de idade, comete o crime do art. 16, 
§ 1º, V. O dispositivo se aplica qualquer que seja a arma de fogo. 
O art. 242 do Estatuto da Criança e do Adolescente pune com reclusão de 3 a 6 anos a 
venda ou fornecimento de arma, munição ou explosivo a criança ou adolescente. Embora esse 
crime tenha tido sua pena alterada pela Lei 10.764, de 12 de novembro de 2003, acabou sendo 
derrogado pelo dispositivo em análise do Estatuto do Desarmamento, que entrou em vigor em 22 
de dezembro de 2003, e que pune as mesmas condutas. O art. 242 só continua aplicável a armas 
de outra natureza (que não sejam armas de fogo). 
2) Quem deixa de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de idade ou 
deficiente mental se apodere de arma de fogo, que esteja sob sua posse ou que seja de 
sua propriedade, responde pelo crime do art. 13. Trata-se de conduta culposa. Se quem 
se apodera da arma é pessoa maior de idade, o fato é atípico, porque a modalidade 
culposa não mencionou tal hipótese. 
3) O sujeito que fornece, empresta ou cede dolosamente arma de fogo de uso permitido a 
pessoa maior de idade pratica o crime do art. 14. 
4) Quem fornece, empresta ou cede dolosamente arma de fogo de uso proibido ou restrito 
a pessoa maior de idade incide no crime do art. 16, caput, ou § 2º. 
5) Aquele que fornece explosivo a pessoa menor de 18 anos comete o crime do art. 16, § 
1º, V, mas, se o destinatário for pessoa maior de idade, o crime será o do art. 253 do CP. 
5.6.6. Produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer 
forma, munição ou explosivo 
A finalidade desse dispositivo é a de abranger algumas condutas não elencadas nos arts. 
14 e 16 do Estatuto do Desarmamento, em relação a munições e explosivos. 
 NATUREZA HEDIONDA 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 45 
 
A Lei 13.497, de 26 de outubro de 2017, introduziu no rol dos crimes hediondos o crime de 
porte e de posse ilegal de arma de fogo de uso restrito ou proibido. Posteriormente, contudo, a Lei 
13.964/2019 modificou o art. 1º, parágrafo único, II, da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) e 
passou a prever que somente as condutas relacionadas a armas de fogo de uso proibido é 
que configuram crime hediondo: 
Art. 1º, Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou 
consumados: 
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, 
previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. 
 
Por se tratar de norma benéfica em relação às armas de uso restrito, tal Lei retroage para 
afastar a natureza hedionda daqueles que foram flagrados em poder de arma de fogo de uso restrito. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-SP - Delegado - VUNESP - 2022): Nos termos da Lei n° 10.826/2003 
(Estatuto do Desarmamento), é correto afirmar que o crime de posse ou porte 
ilegal de arma de fogo de uso proibido é considerado hediondo. Correto. 
 
(PC-MS - Delegado - FAPEC - 2021): O crime de posse ou porte de arma de 
fogo de uso restrito (art. 16, caput, da Lei nº 10.826/03) deixou de ser 
considerado hediondo após o advento da Lei nº 13.964/19 (“Pacote 
Anticrime”). Correto. 
 
(MPDFT - Promotor - MPDFT - 2021): A previsão legal de que o porte ilegal 
de arma de fogo de uso restrito é crime hediondo foi declarada pelo Supremo 
Tribunal Federal como inconstitucional. Errado. 
 PENA 
A pena será de 3 a 6 anos e multa. Novamente, trata-se de crime de elevado potencial 
ofensivo. 
Reitera-se que o Pacote Anticrime acrescentou o § 2º ao art. 16 do Estatuto do 
Desarmamento, prevendo pena de 4 a 12 anos para as condutas descritas no § 1º que envolverem 
arma de fogo de uso proibido: 
Art. 16, § 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo 
envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) 
a 12 (doze) anos. 
Por fim, para melhor fixação dos temas abordados, colaciona-se os seguintes quadros 
sinóticos da posse irregular e do porte ilegal de armas de fogo: 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES 
Encontra-se previsto no art. 17 do Estatuto do Desarmamento: 
Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em 
depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou 
de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de 
atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem 
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 47 
 
§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, 
qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou 
clandestino, inclusive o exercido em residência. 
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório 
ou munição, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou 
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos 
probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. 
O parágrafo § 1º possui uma norma explicativa, o dispositivo deixa claro que a atividade não 
precisa ser formal, mas deve ser habitual. 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
Tutela-se, mais uma vez, incolumidade pública, no sentido de evitar que armas ilegais, 
acessórios ou munições entrem em circulação. A pena do delito foi aumentada com a aprovação 
da Lei 13.964/2019, que também inseriu o delito no rol dos crimes hediondos. 
 SUJEITOS DO DELITO 
6.3.1. Sujeito ativo 
É crime próprio, ou seja, exige-se qualidade especial do agente, que deve exercer atividade 
comercial ou industrial. Ressalta-se que o dispositivo é de grande abrangência, na medida em que 
o seu parágrafo único equiparou à atividade comercial ou industrial qualquer forma de prestação de 
serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência. 
Importante relembrar da causa de aumento disposta no art. 20 do Estatuto do 
Desarmamento. 
6.3.2. Sujeito passivo 
É a coletividade (crime vago). 
 OBJETO MATERIAL 
O tipo penal do art. 17 não faz distinção entre arma de fogo de uso permitido e arma de fogo 
de uso restrito. Assim, o crime será o mesmo. 
Contudo, o art. 19 da Lei traz uma causa de aumento quando for de uso restrito ou proibido: 
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da 
metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou 
restrito. 
(TJ-ES – Juiz – FGV – 2023): Acerca dos crimes previstos no Estatuto do 
Desarmamento (Lei nº 10.826/2003), é correto afirmar que no crime de 
comércio ilegal de arma de fogo, ser a arma de fogo, acessório ou munição 
de uso proibido ou restrito não produz qualquer consequência na pena. 
Errado. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 48 
 
 ELEMENTO NORMATIVO 
O elemento normativo do tipo está contido na expressão “sem autorização ou em desacordo 
com determinação legal ou regulamentar”. Assim, comete o crime o agente que não tem autorização 
para vender arma, ou aquele que descumpre determinação legal, como, porexemplo, não 
mantendo a arma registrada em nome da empresa antes da venda (art. 4º, § 4º, da Lei 10.826/2003). 
Também como o delito aquele que vende munição de calibre diverso (art. 4º, § 2º) ou 
descumpre determinação regulamentar, como no caso do industrial que não fornece à Polícia 
Federal a relação de saída de armas do estoque e os dados dos adquirentes e as características e 
dados do armamento (art. 5º, § 1º, do Decreto 9.847/2019), ou do comerciante que não encaminha 
à Polícia Federal ou ao Comando do Exército, em 48h, a contar da venda, os dados identificadores 
da arma, da munição ou acessório e de seu comprador (art. 5º, § 2º, do Decreto 9.847/2019). 
Igualmente haverá crime na venda de munição sem a apresentação do registro da arma, ou 
em quantidade superior à permitida etc. 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
É crime de perigo abstrato e de mera conduta. 
Isto posto, pode-se concluir que se consuma com a prática de qualquer uma das condutas 
previstas em lei, presumindo-se, de forma absoluta, o perigo ao bem jurídico. 
É possível a tentativa, por exemplo, tentar adquirir arma de fogo. 
 ROL DOS CRIMES HEDIONDOS 
O Pacote Anticrime incluiu o crime de comércio ilegal de arma de fogo ao rol de crimes 
hediondos: 
Art. 2°, Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou 
consumados: 
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei 
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. 
 PENA 
O Pacote Anticrime aumentou a pena para 6 a 12 anos (era de 4 a 8 anos) e multa. Por isso, 
não é possível aplicação dos institutos despenalizadores, como a transação penal e a suspensão 
condicional do processo. 
7. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.826.htm#art17
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.826.htm#art17
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 49 
 
Por fim, o último crime previsto no Estatuto do Desarmamento está previsto no art. 18 e trata-
se do tráfico internacional de arma de fogo: 
Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, 
a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização 
da autoridade competente: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de 
fogo, acessório ou munição, em operação de importação, sem autorização da 
autoridade competente, a agente policial disfarçado, quando presentes 
elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. 
Destaca-se que o tipo penal prevê o tráfico internacional de armas de fogo. Não existe, 
aqui, o tráfico interestadual, que entrará em outra conduta. 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
 A incolumidade pública, no sentido de evitar o comércio internacional de armas de fogo, 
acessórios ou munições. A pena deste crime foi aumentada pela Lei n. 13.964/2019, que também 
inseriu o delito no rol dos crimes hediondos. 
 OBJETO MATERIAL 
Pode ser qualquer arma de fogo, acessório ou munição, tanto de uso restrito ou permitido. 
Quando for de uso restrito ou proibido, incide o art. 19, aumentando-se a pena de metade. 
 SUJEITOS DO DELITO 
7.4.1. Sujeito ativo 
É crime comum ou geral, portanto, qualquer pessoa pode praticá-lo. 
Incide, aqui, o art. 20 (aumento de pena). 
7.4.2. Sujeito passivo 
É a coletividade. 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
É crime de perigo abstrato e de mera conduta. 
A lei presume de forma absoluta o perigo à segurança pública com a entrada de uma arma 
clandestina. 
É, perfeitamente, possível tentativa. 
 ROL DOS CRIMES HEDIONDOS 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 50 
 
O Pacote Anticrime incluiu o crime de tráfico ilegal de arma de fogo ao rol de crimes 
hediondos: 
Art. 2°, Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou 
consumados: 
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, 
previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. 
Indaga-se: Quais crimes previstos na Lei 10.826/03 (Estatuto do 
Desarmamento), estão previstos na Lei dos Crimes Hediondos? 
São três: 
1) Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido; 
2) Comércio ilegal de armas de fogo; 
3) Tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição. 
 PENA 
O Pacote Anticrime aumentou a pena para 8 a 16 anos (era de 4 a 8 anos) e multa. Por isso, 
não é possível aplicação dos institutos despenalizadores, como a transação penal e a suspensão 
condicional do processo. 
 TRÁFICO INTERNACIONAL DE MUNIÇÃO E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
Não se aplica o princípio da insignificância para o tráfico internacional de munição, segundo 
o entendimento do STF: 
O tráfico internacional de armas e munições tem como maior clientela o crime 
organizado transnacional, que, via de regra, abastece o seu arsenal por meio 
do mercado ilegal, nacional ou internacional, de armas. Mostra-se irrelevante, 
no caso, cogitar-se da mínima ofensividade da conduta (em face da 
quantidade apreendida), ou, também, da ausência de periculosidade da ação, 
porque a hipótese é de crime de perigo abstrato, para o qual não importa o 
resultado concreto da ação, o que também afasta a possibilidade de 
aplicação do princípio da insignificância. STF. 1ª Turma. HC 97777, Rel. Min. 
Ricardo Lewandowski, julgado em 26/10/2010. 
8. FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA 
O parágrafo único do art. 14 veda a fiança, salvo se a arma estiver registrada no nome do 
infrator: 
Art. 14, Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo 
quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. 
Igualmente, o parágrafo único do art. 15 também veda a fiança: 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 51 
 
Art. 15, Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. 
Já o parágrafo único do art. 21 veda a liberdade provisória, com ou sem fiança, para os 
crimes dos arts. 16, 17 e 18 do Estatuto do Desarmamento: 
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de 
liberdade provisória. 
Todos os dispositivos mencionados acima foram declarados inconstitucionais na ADIN 
3.112-1. Portanto, admite-se liberdade provisória, com ou sem fiança, em todos os crimes do 
Estatuto do Desarmamento. 
9. PERFIL BALÍSTICO 
O Pacote Anticrime acrescentou o art. 34-A ao Estatuto do Desarmamento, criando o Banco 
Nacional de Perfil Balístico: 
Art. 34-A. Os dados relacionados à coleta de registros balísticos serão 
armazenados no Banco Nacional de Perfis Balísticos. 
§ 1º O Banco Nacional de Perfis Balísticos tem como objetivo cadastrar armas 
de fogo e armazenar características de classe e individualizadoras de 
projéteis e de estojos de munição deflagrados por arma de fogo. 
§ 2º O Banco Nacional de Perfis Balísticos será constituído pelos registros de 
elementos de munição deflagrados por armas de fogo relacionados a crimes, 
para subsidiar ações destinadas às apurações criminais federais, estaduais 
e distritais. 
§ 3º O Banco Nacional de Perfis Balísticos será gerido pela unidade oficial de 
perícia criminal. 
§ 4º Os dados constantes do Banco Nacional de Perfis Balísticos terão caráter 
sigiloso, e aquele que permitir ou promover sua utilização para fins diversos 
dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial responderá civil, penal e 
administrativamente. 
§ 5º É vedada a comercialização, total ou parcial, da base de dados do Banco 
Nacional de Perfis Balísticos. 
§ 6º A formação, a gestão e o acesso ao Banco Nacional de Perfis Balísticos 
serão regulamentados em ato do Poder Executivo federal. 
10. JURISPRUDÊNCIA EM TESE 
Com o intuito de deixar o material mais completo, colaciona-se os principais julgados do STJ 
acerca do tema: 
1) O crime de posse irregular de arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido (art. 
12 da Lei 10.826/2003)é de perigo abstrato, prescindindo de demonstração de efetiva 
situação de perigo, porquanto o objeto jurídico tutelado não é a incolumidade física e sim 
a segurança pública e a paz social. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 52 
 
2) O crime de porte ilegal de arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido (art. 14 
da Lei 10.826/2003) é de perigo abstrato e de mera conduta, bastando para sua 
caracterização a prática de um dos núcleos do tipo penal, sendo desnecessária a 
realização de perícia. 
3) O art. 14 da Lei 10.826/2003 é norma penal em branco, que exige complementação por 
meio de ato regulador, com vistas a fornecer parâmetros e critérios legais para a 
penalização das condutas ali descritas. 
4) O crime de disparo de arma de fogo (art. 15 da Lei 10.826/2003) é crime de perigo 
abstrato, que presume a ocorrência de dano à segurança pública e prescinde, para sua 
caracterização, de comprovação da lesividade ao bem jurídico tutelado. 
5) O crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito 
(art. 16, caput, da Lei 10.826/2003) é crime de perigo abstrato, que presume a ocorrência 
de dano à segurança pública e prescinde, para sua caracterização, de resultado 
naturalístico à incolumidade física de outrem. 
6) A abolitio criminis temporária prevista na Lei 10.826/2003 aplica-se ao crime de posse 
de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal de 
identificação raspado, suprimido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005. 
7) São atípicas as condutas descritas nos arts. 12 e 16 da Lei 10.826/2003, praticadas entre 
23/12/2003 e 23/10/2005, mas, a partir desta data, até 31/12/2009, somente é atípica a 
conduta do art. 12, desde que a arma de fogo seja apta a ser registrada (numeração 
íntegra). 
8) A regra dos arts. 30 e 32 da Lei 10.826/2003 alcança, também, os crimes de posse ilegal 
de arma de fogo praticados sob a vigência da Lei 9.437/1997, em respeito ao princípio 
da retroatividade da lei penal mais benéfica. 
9) A forma qualificada do art. 10, § 3º, IV, da Lei 9.437/1997, que foi suprimida do 
ordenamento jurídico com o advento da Lei 10.826/03, não tem o condão de tornar 
atípica a conduta, mas apenas de desclassificar o delito para a forma simples, prevista 
no caput do dispositivo legal mencionado. 
10) Não se aplica o princípio da consunção quando os delitos de posse ilegal de arma de 
fogo e disparo de arma em via pública são praticados em momentos diversos e em 
contextos distintos. 
11) A simples conduta de possuir ou de portar arma, acessório ou munição é suficiente para 
a configuração dos delitos previstos nos arts. 12, 14 e 16 da Lei 10.826/2003, sendo 
inaplicável o princípio da insignificância. 
12) Independentemente da quantidade de arma de fogo, de acessórios ou de munição, não 
é possível a desclassificação do crime de tráfico internacional de arma de fogo (art. 18 
da Lei de Armas) para o delito de contrabando (art. 334-A do Código Penal), em respeito 
ao princípio da especialidade. 
13) O simples fato de possuir ou portar munição caracteriza os delitos previstos nos arts. 12, 
14 e 16 da Lei 10.826/2003, por se tratar de crime de perigo abstrato e de mera conduta, 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 53 
 
sendo prescindível a demonstração de lesão ou de perigo concreto ao bem jurídico 
tutelado, que é a incolumidade pública. 
14) A apreensão de ínfima quantidade de munição desacompanhada de arma de fogo, 
excepcionalmente, a depender da análise do caso concreto, pode levar ao 
reconhecimento de atipicidade da conduta, diante da ausência de exposição de risco ao 
bem jurídico tutelado pela norma. 
15) Demonstrada por laudo pericial a inaptidão da arma de fogo para o disparo, é atípica a 
conduta de portar ou de possuir arma de fogo, diante da ausência de afetação do bem 
jurídico incolumidade pública, tratando-se de crime impossível pela ineficácia absoluta 
do meio. 
16) A conduta de possuir, portar, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo, seja de uso 
permitido, restrito ou proibido, com numeração, marca ou qualquer outro sinal de 
identificação raspado, suprimido ou adulterado, implica a condenação pelo crime 
estabelecido no art. 16, parágrafo único, IV, do Estatuto do Desarmamento. 
17) O crime de comércio ilegal de arma de fogo, acessório ou munição (art. 17 da Lei 
10.826/2003) é delito de tipo misto alternativo e de perigo abstrato, bastando para sua 
caracterização a prática de um dos núcleos do tipo penal, sendo prescindível a 
demonstração de lesão ou de perigo concreto ao bem jurídico tutelado, que é a 
incolumidade pública. 
18) O delito de comércio ilegal de arma de fogo, acessório ou munição, tipificado no art. 17, 
caput e parágrafo único, da Lei de Armas, nunca foi abrangido pela abolitio criminis 
temporária prevista nos arts. 5º, § 3º, e 30 da Lei de Armas ou nos diplomas legais que 
prorrogaram os prazos previstos nos referidos dispositivos. 
19) Compete à Justiça Federal o julgamento do crime de tráfico internacional de arma de 
fogo, acessório ou munição, em razão do que dispõe o art. 109, inciso V, da Constituição 
Federal, haja vista que este crime está inserido em tratado internacional de que o Brasil 
é signatário. 
20) O crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, tipificado no art. 
18 da Lei 10.826/03, é de perigo abstrato ou de mera conduta e visa a proteger a 
segurança pública e a paz social. 
21) Para a configuração do tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição não 
basta apenas a procedência estrangeira do artefato, sendo necessário que se comprove 
a internacionalidade da ação. 
22) É típica a conduta de importar arma de fogo, acessório ou munição sem autorização da 
autoridade competente, nos termos do art. 18 da Lei 10.826/2003, mesmo que o réu 
detenha o porte legal da arma, em razão do alto grau de reprovabilidade da conduta. 
23) É atípica a conduta de colecionador, com registro para a prática desportiva e guia de 
tráfego, que se dirigia ao clube de tiros sem portar consigo a guia de trânsito da arma de 
fogo. STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg no RHC 148.516-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, 
julgado em 09/08/2022 (Info 753). 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 54 
 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(TJ-RS - Juiz - FAURGS - 2022): Sobre os crimes de posse e porte ilegais 
de armas de fogo, considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é 
correto afirmar que são leis ou normas penais em branco. Correto. 
 
(PC-PR - Delegado - NC-UFPR - 2021): A comprovação da 
internacionalidade da ação é dispensável para a configuração do tráfico 
internacional de arma de fogo, acessório ou munição, bastando que se 
comprove a procedência estrangeira do artefato. Errado.DE ARMA DE FOGO ................................................................................................ 36 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 36 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 36 
 OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 36 
 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 36 
4.4.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 37 
4.4.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 37 
 ELEMENTO ESPACIAL DO TIPO ...................................................................................... 37 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 37 
 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES ..................................................................................... 37 
4.7.1. Pluralidade de disparos ............................................................................................... 37 
4.7.2. Veracidade do projétil .................................................................................................. 37 
4.7.3. Crime mais grave e absorção ...................................................................................... 37 
4.7.4. Porte ilegal e disparo de arma de fogo ....................................................................... 37 
 PENA ................................................................................................................................... 38 
5. POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO E PROIBIDO ......... 39 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 39 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 40 
 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 40 
5.3.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 40 
5.3.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 40 
 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO.................................................................................. 41 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 41 
 FIGURAS EQUIPARADAS ................................................................................................. 41 
5.6.1. Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de indicação de arma de 
fogo ou artefato ........................................................................................................................... 41 
5.6.2. Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma 
de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a 
erro autoridade policial, perito ou juiz ........................................................................................ 42 
5.6.3. Possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem 
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar ................................ 42 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 3 
 
5.6.4. Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, 
marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado .................. 43 
5.6.5. Vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, 
munição ou explosivo a criança ou adolescente ....................................................................... 44 
5.6.6. Produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer 
forma, munição ou explosivo ...................................................................................................... 44 
 NATUREZA HEDIONDA ..................................................................................................... 44 
 PENA ................................................................................................................................... 45 
6. COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO ............................................................................... 46 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 46 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 47 
 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 47 
6.3.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 47 
6.3.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 47 
 OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 47 
 ELEMENTO NORMATIVO .................................................................................................. 48 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 48 
 ROL DOS CRIMES HEDIONDOS ...................................................................................... 48 
 PENA ................................................................................................................................... 48 
7. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO .................................................................. 48 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 48 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 49 
 OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 49 
 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 49 
7.4.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 49 
7.4.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 49 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 49 
 ROL DOS CRIMES HEDIONDOS ...................................................................................... 49 
 PENA ................................................................................................................................... 50 
 TRÁFICO INTERNACIONAL DE MUNIÇÃO E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ......... 50 
8. FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA ...................................................................................... 50 
9. PERFIL BALÍSTICO ................................................................................................................... 51 
10. JURISPRUDÊNCIA EM TESE ............................................................................................... 51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 4 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Olá! 
Inicialmente gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja 
útil na sua preparação, em todas as fases.Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de 
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria. 
O Caderno Legislação Penal Especial - Estatuto do Desarmamento possui como base as 
aulas do professor Cleber Masson, do Curso G7 Jurídico. Posteriormente, complementado com a 
aula do Professor Sílvio Maciel. 
Três livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a) 
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar), b) 
Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ambos da Editora Juspodivm e c) 
Esquematizado - Legislação Penal Especial (Victor Eduardo Rios Gonçalves), ano 2022, da Editora 
Saraiva. 
Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito 
(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de 
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito), bem 
como a Jurisprudência em Tese do STJ. 
Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia 
da semana para ler no site do Dizer o Direito. 
Ademais, no Caderno constam os principais artigos da lei, mas, ressaltamos, que é 
necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação. 
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina 
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você 
faça uma boa prova. 
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer muitas questões. 
É muito importante! As bancas costumam repetir certos temas. 
Vamos juntos! Bons estudos! 
Equipe Cadernos Sistematizados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 5 
 
PARTE GERAL 
1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA 
O primeiro diploma legislativo a tratar sobre armas de fogo foi a Lei de Contravenções 
Penais, em seu art. 19, que foi parcialmente revogado (em relação às armas de fogo), mas continua 
válido no que se refere às armas brancas (dotada de ponta ou gume): 
Art. 19 - Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, 
sem licença da autoridade: 
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos 
mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente. 
Em 1997, editou-se a Lei 9.437 que tratava sobre armas de fogo. Assim, o porte ilegal de 
arma de fogo e a posse ilegal de arma de fogo, antes meras contravenções, a partir de 1997, 
passaram a ser considerados como crime. 
Ressalta-se que todos os crimes estavam previstos no art. 10 da Lei (posse, porte, comércio, 
disparo etc.), sujeitos a uma mesma pena. Assim, existiam condutas de gravidades totalmente 
diferentes submetidas a uma mesma pena. Claramente, havia uma violação ao princípio da 
proporcionalidade e da individualização da pena (que também se dirige ao Poder Legislativo). 
Verifica-se, portanto, a redação do art. 10 da Lei 9.437/97, revogado pela Lei 10.826/03: 
Art. 10. Possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar, expor à venda 
ou fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que 
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda e ocultar 
arma de fogo, de uso permitido, sem a autorização e em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar. 
Pena detenção de um a dois anos e multa. 
Em 2003 foi editada a Lei 10.826, conhecida como Estatuto do Desarmamento, fruto de um 
processo de conscientização da retirada das armas de fogo de circulação, que revogou 
integralmente a Lei 9.437/97. 
Com o Estatuto, passou-se a punir a posse (art. 12), porte (art. 14), posse/porte de uso 
proibido (art. 16), disparo (art. 15), comércio (art. 17), tráfico internacional (art. 18), atendendo à 
proporcionalidade e à individualização da pena. 
Em janeiro de 2019, editou-se o Decreto 9.685/2019 que regulamentava o registro, posse e 
comercialização de armas de fogo. Em maio, foi editado o Decreto 9.785/2019 (revogou o decreto 
de janeiro) que, por sua vez, foi revogado pelo Decreto 9.847/2019 de junho. Posteriormente, o 
registro, posse e comercialização de arma de fogo passou a ser regulamentado pelo Decreto 
9.847/2019, que passou por diversas alterações com a publicação do Decreto 10.630, de 12 de 
fevereiro de 2021. 
Em 2019, ainda, o Estatuto do Desarmamento foi alterado pela Lei 13.870/2019 (autorização 
para a posse de arma de fogo abrange toda a extensão da propriedade rural, não apenas a sede), 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 6 
 
pela Lei 13.886/2019 (destinação das armas de fogo apreendidas) e pela Lei 13.964/2019 (Pacote 
Anticrime). 
Em janeiro de 2023, foi editado o Decreto 11.366/2023 que revogou diversos dispositivos 
dos decretos anteriores. Em junho de 2023, mais um decreto foi editado e, atualmente, é o Decreto 
11.615/2023 que está vigente. 
Contudo, vale ressaltar que o STF considera inconstitucional, a flexibilização, via decreto 
presidencial, dos critérios e requisitos para a aquisição de armas de fogo prejudicam a fiscalização 
do Poder Público, pois viola a competência legislativa em sentido estrito para a normatização das 
hipóteses legais quanto à sua efetiva necessidade (Info 1.069). 
2. NOÇÕES PRELIMINARES 
O Capítulo I do Estatuto do Desarmamento regulamenta o SINARM - Sistema Nacional de 
Armas, órgão instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, com circunscrição 
em todo o território nacional. 
Antes, o controle de armas era exercido por cada estado através da Polícia Civil. 
O art. 2º, parágrafo único é claro ao ressalvar que o Estatuto do Desarmamento não é 
aplicado às Forças Armadas e Auxiliares, observe: 
Art. 2º, Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas 
de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem 
dos seus registros próprios. 
Salienta-se que, atualmente, o Decreto 9.847/2019 regulamenta o SINARM e o Sistema de 
Gerenciamento Militar de Armas. Assim, tem-se que o legislador optou por uma regulamentação da 
Lei, conforme é possível de se observar, por exemplo, no art. 3º, parágrafo único, no art. 4º, III, § 
8º, dentre outros. 
Art. 3º É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente. 
Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no 
Comando do Exército, na forma do regulamento desta Lei. 
Todas as armas de fogo deverão ser cadastradas no SINARM (Sistema Nacional de Armas 
de Fogo) ou no SIGMA (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas), sendo o Decreto 9.847/2019 
que determina em qual sistema a arma será cadastrada. 
Obs.: algumas provas (polícia, técnico, analista) costumam cobrar 
quais armas serão cadastradas no SINARM ou no SIGMA, razão pela 
qual recomenda-se a leitura atenta do Decreto, a depender do 
concurso escolhido. 
 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(TRF 2ª Região – Técnico Judiciário – Consulplan – 2017): É obrigatório 
o registro de arma de fogo no órgão competente, sendo certo dizer que as 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 7 
 
armas de fogo de uso restrito serão registradas no Comando do Exército, na 
forma do regulamento da Lei. Correto. 
(ABIN – Agente de Inteligência – CEBRASPE – 2018): É obrigatório o 
registro de arma de fogo no órgão competente, sendo o comando do Exército 
o responsável pelo registro de armas de uso restrito. 
3. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO 
Conforme visto, o controle de armas é feito pelo SINARM, órgão federal. Entretanto, a 
competência para julgar crimes relacionados ao Estatuto do Desarmamento, em regra, não é da 
Justiça Federal, mas da Justiça Estadual. Nesse sentido: 
O objeto jurídico protegido pela Lei nº 10.826/03 é a incolumidade de toda a 
sociedade, vítima em potencial do uso irregular das armas de fogo, não 
havendo qualquer violaçãodireta aos interesses da União, a despeito de ser 
o SINARM um ente federal. (STJ, HC 57348/RJ, 5ª Turma, rel. Min. Gilson 
Dipp, j. 12/06/2006). 
 
O crime atingirá interesse federal, atraindo a competência da Justiça Federal quando, por 
exemplo, um oficial da Polícia Federal for flagrado em serviço portando arma raspada ou quando 
se tratar de tráfico internacional de armas, cuja competência originária é da Justiça Federal, por ser 
crime à distância, envolver dois países, previsto em tratado ou convenção internacional. Ainda 
assim, no último caso, o simples fato de se tratar de arma estrangeira não é capaz de configurar o 
crime de tráfico internacional de armas. É preciso comprovar que a pessoa que estiver portando 
tenha sido a responsável pela importação da arma (cujo mesmo raciocínio é aplicado ao tráfico 
transnacional de drogas). 
Salienta-se que o crime praticado por militar poderá ser julgado pela Justiça Militar, 
considerando-se a ampliação do conceito de crime militar do art. 9º do Código Penal Militar, alterado 
pela Lei 13.491/2017. 
4. NATUREZA DOS CRIMES 
De acordo com o entendimento do STF e do STJ, todos os crimes do Estatuto do 
Desarmamento são crimes de perigo abstrato ou presumido, ou seja, haverá crime mesmo diante 
da ausência de perigo concreto/real. Presume-se abstratamente o perigo no tipo penal. 
Cita-se, como exemplo, o porte de uma caixa de munição que não causa perigo concreto, 
pois desacompanhada da suposta arma de fogo. 
Vamos relembrar os conceitos de crime de perigo concreto e perigo abstrato: 
 
 
 
 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 8 
 
 Crime de Perigo 
Concreto 
Crime de Perigo 
Abstrato 
Conceito 
Exige a comprovação 
efetiva de um perigo real e 
concreto para o bem 
jurídico protegido. 
Presume-se o perigo pela 
simples realização da 
conduta, sem a 
necessidade de 
comprovação de um risco 
efetivo. 
Comprovação 
do perigo 
Necessária a prova 
concreta de que a conduta 
do agente gerou um risco 
efetivo ao bem jurídico. 
Não há necessidade de 
prova concreta, pois o 
perigo é presumido pela 
lei. 
Justificativa 
Proteção de bens jurídicos 
que exigem uma maior 
comprovação do risco, 
como o meio ambiente. 
Proteção de bens jurídicos 
que, por sua natureza, já 
envolvem um risco 
inerente à conduta, como 
o trânsito. 
 
Salienta-se que há doutrina – como a discussão trazida por Luiz Flávio Gomes – sustentando 
a inconstitucionalidade dos crimes de perigo abstrato. No entanto, desde que estejam tipificando 
comportamentos comprovadamente perigosos, de acordo com as regras de experiência, não há 
qualquer inconstitucionalidade. 
Ressalta-se, por fim, que o Estatuto do Desarmamento prevê tipos penais preventivos, que 
criam uma espécie de obstáculos, de modo o legislador antecipa a tutela penal. Assim, o legislador 
incrimina de forma autônoma um ato preparatório de determinado crime. Por exemplo, o porte ilegal 
de arma de fogo, isoladamente considerado, é um ato preparatório para o roubo ou para o homicídio. 
5. BENS JURÍDICOS PROTEGIDOS 
Tanto o STF quanto o STJ dividiram os bens jurídicos protegidos pelo Estatuto do 
Desarmamento em 2 grupos, quais sejam: 
1) Bem jurídico imediato ou principal: trata-se da incolumidade pública. 
2) Bem jurídico mediato ou secundário: patrimônio, liberdade, vida, integridade física etc. 
6. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO 
O Estatuto separa as armas de fogo em 3 grandes grupos. Passa-se, então, a visualizar 
cada um deles. 
 ARMAS DE FOGO DE USO PERMITIDO 
São aquelas cuja utilização pode ser autorizada tanto a pessoas físicas quanto a pessoas 
jurídicas. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 9 
 
A relação das armas de fogo de uso permitido encontra-se no art. 3º, parágrafo único, inciso 
I do Anexo I do Decreto 10.030/2019 (alterado recentemente pelo Decreto 10.627/21). 
Por exemplo, revólveres de calibre 38 são de uso permitido. 
 ARMAS DE FOGO DE USO RESTRITO 
Nos termos do art. 3º, parágrafo único, inciso II do Anexo I do Decreto 10.030/2019, as armas 
de fogo de uso restrito são as armas de fogo automáticas, de qualquer tipo ou calibre, 
semiautomáticas ou de repetição que sejam: 
a) Não portáteis; 
b) De porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na saída do 
cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e 
vinte joules; ou 
c) Portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, 
atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou 
mil seiscentos e vinte joules. 
A K47, por exemplo, é um tipo de arma automática. 
 ARMAS DE FOGO DE USO PROIBIDO 
São aquelas em que há total vedação ao uso e estão elencadas no art. 3º, parágrafo único, 
inciso III do Anexo I do Decreto 10.030/2019: 
Art. 3º, Parágrafo único, III - arma de fogo de uso proibido: 
a) as armas de fogo classificadas como de uso proibido em acordos ou 
tratados internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja 
signatária; e 
b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos inofensivos. 
Cita-se, como exemplo, armas nucleares. 
Resumindo: 
USO PERMITIDO USO RESTRITO USO PROIBIDO 
 
A utilização pode ser 
autorizada tanto a 
pessoas físicas quanto 
a pessoas jurídicas. 
 
 
As armas de fogo de 
uso restrito são as 
armas de fogo 
automáticas, de 
qualquer tipo ou 
calibre, 
semiautomáticas ou de 
repetição. 
 
 
São armas em que há 
total vedação ao uso. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 10 
 
Art. 3º, parágrafo 
único, inciso I do Anexo 
I do Decreto 
10.030/2019. 
Art. 3º, parágrafo 
único, inciso II do 
Anexo I do Decreto 
10.030/2019. 
Art. 3º, parágrafo 
único, inciso III do 
Anexo I do Decreto 
10.030/2019. 
Ex.: Revólver calibre 
38 
Ex.: A K47, é um tipo 
de arma automática. 
Ex.: armas nucleares. 
 
7. REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO 
São necessárias 3 etapas: 
1) Compra da arma de fogo; 
2) Registro da arma de fogo; 
3) Autorização para o porte. 
 1ª ETAPA: AQUISIÇÃO DA ARMA DE FOGO 
A pessoa interessada na aquisição da arma de fogo, conforme disposto no art. 28 do 
Estatuto, deve ter mais de 25 anos, salvo quando for: 
1) Integrante das Forças Armadas; 
2) Integrante dos órgãos definidos no art. 144 da CF (polícia federal, polícia rodoviária 
federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos de bombeiros 
militares, polícias penais federal, estaduais e distrital); 
3) Integrante das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000 e menos de 
500.000 habitantes; (ADC 38/DF, ADI 5538/DF e ADI 5948/DF). 
4) Agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do 
Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da 
República; 
5) Integrante dos órgãos policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, 
referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal; 
6) Integrante do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, das escoltas de presos e 
as guardas portuárias; 
7) Integrante das carreiras de Auditoria da Receita Federal e da Auditoria-Fiscal do 
Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. 
Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo, 
ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, 
VI, VII e X do caput do art. 6º desta Lei. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 11 
 
No que se refere às guardas municipais, é importante evidenciar que o STF decidiu que 
todos os integrantes das guardas municipais possuem direito a porte de arma de fogo, em 
serviço ou mesmo fora de serviço, independentemente do número de habitantes do 
Município, conforme decisão abaixo colacionada: 
O art. 6º, III e IV, da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) somente 
previa porte de arma de fogo paraos guardas municipais das capitais e dos 
Municípios com maior número de habitantes. Assim, os integrantes das 
guardas municipais dos pequenos Municípios (em termos populacionais) não 
tinham direito ao porte de arma de fogo. O STF considerou que esse critério 
escolhido pela lei é inconstitucional porque os índices de criminalidade não 
estão necessariamente relacionados com o número de habitantes. Assim, é 
inconstitucional a restrição do porte de arma de fogo aos integrantes de 
guardas municipais das capitais dos estados e dos municípios com mais de 
500.000 (quinhentos mil) habitantes e de guardas municipais dos municípios 
com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) 
habitantes, quando em serviço. Com a decisão do STF todos os integrantes 
das guardas municipais possuem direito a porte de arma de fogo, em serviço 
ou mesmo fora de serviço. Não interessa o número de habitantes do 
Município. STF. Plenário. ADC 38/DF, ADI 5538/DF e ADI 5948/DF, Rel. Min. 
Alexandre de Moraes, julgados em 27/2/2021 (Info 1007).1 
 
Em continuidade, além da idade de 25 anos, é necessário atender determinados requisitos, 
são eles (art. 4º, incisos I, II e III do Estatuto do Desarmamento): 
1) Comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de 
antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de 
não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser 
fornecidas por meios eletrônicos; 
2) Apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; 
3) Comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma 
de fogo. 
Infere-se, ainda, que a aquisição de armas de fogo deve se pautar pelo caráter excepcional, 
razão pela qual se exige a demonstração concreta da efetiva necessidade, por motivos tanto 
profissionais quanto pessoais, conforme posicionamento do STF: 
A aquisição de armas de fogo deve se pautar pelo caráter excepcional, 
razão pela qual se exige a demonstração concreta da efetiva 
necessidade, por motivos tanto profissionais quanto pessoais. A única 
interpretação do art. 4º, caput, do Estatuto do Desarmamento compatível com 
a Constituição é aquela que vê na declaração de efetiva necessidade a 
conjugação de dois fatores: a) a imperatividade da demonstração de que, no 
caso concreto, realmente exista a necessidade de adquirir uma arma de fogo, 
segundo os critérios legais; e b) a obrigação do Poder Executivo de 
estabelecer procedimentos fiscalizatórios sólidos que permitam auferir a 
realidade da necessidade. Nesse contexto, o STF declarou inconstitucionais 
 
1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Todos os integrantes das guardas municipais possuem direito a porte de arma de fogo, em serviço 
ou mesmo fora de serviço, independentemente do número de habitantes do Município. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: 
. Acesso em: 14/03/2024. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 12 
 
diversos dispositivos infralegais editados em 2021 com a finalidade de 
promover a chamada “flexibilização das armas”. Esses dispositivos 
caracterizam-se como manifesto retrocesso na construção de políticas 
voltadas à segurança pública e ao controle de armas no Brasil, vulnerando as 
diretrizes nucleares do Estatuto do Desarmamento. A livre circulação de 
cidadãos armados, carregando consigo múltiplas armas de fogo, atenta 
contra os valores da segurança pública e da defesa da paz, criando risco 
social incompatível com ideais constitucionalmente consagrados. STF. 
Plenário. ADI 6119/DF, ADI 6139/DF e ADI 6466, Rel. Min. Edson Fachin, 
julgados em 01/07/2023 (Info 1102). STF. Plenário. ADI 6134 MC/DF, ADI 
6675 MC/DF, ADI 6676 MC/DF, ADI 6677 MC/DF, ADI 6680 MC/DF, ADI 
6695 MC/DF, ADPF 581 MC/DF e ADPF 586 MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, 
julgados em 01/07/2023 (Info 1102). 
 
Quando os requisitos legais estiverem presentes, o SINARM emitirá autorização para a 
compra da arma de fogo. Trata-se de uma autorização específica para a pessoa e para a arma. 
Igualmente, a compra de munição é específica para a arma de fogo autorizada, conforme os 
parágrafos 2º e 3º do art. 4º do Estatuto do Desarmamento: 
Art. 4º, § 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após 
atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente 
e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização. 
§ 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre 
correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no 
regulamento desta Lei. 
 2ª ETAPA: REGISTRO 
Após a aquisição da arma de fogo, o interessado deverá registrá-la perante o órgão 
competente. 
A definição do órgão competente está relacionada com a classificação da arma de fogo. 
Assim: 
1) Arma de fogo de uso permitido: compete à Polícia Federal, após a anuência do 
SINARM, com validade em todo o território nacional (art. 10 do Estatuto). 
2) Arma de fogo de uso restrito: compete ao Comando do Exército (parágrafo único do 
art. 3º do Estatuto). 
A finalidade do registro é autorizar o proprietário a manter a arma de fogo no interior de sua 
residência, ou ainda em seu local de trabalho, desde que ele seja o titular ou responsável legal do 
estabelecimento ou empresa. 
 3ª ETAPA: AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE 
Para que a arma de fogo seja levada consigo em via pública ou em local distinto, será 
necessária a autorização para o porte, nos termos do art. 6º e seguintes do Estatuto do 
Desarmamento. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 13 
 
Em regra, o porte é vedado em todo o território nacional, conforme se depreende do art. 6º, 
in verbis: 
Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo 
para os casos previstos em legislação própria e para: 
Contudo, a autorização para o porte poderá ser concedida em algumas hipóteses, seja em 
caso de função do sujeito, seja em decorrência da obtenção de autorização junto à Polícia Federal, 
após a anuência do SINARM, desde que preenchidos os requisitos legais previstos no art. 10 do 
Estatuto: 
Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo 
o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será 
concedida após autorização do Sinarm. 
§ 1º A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia 
temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e 
dependerá de o requerente: 
I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade 
profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física; 
II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei; 
III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o 
seu devido registro no órgão competente. 
§ 2º A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá 
automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado 
em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou 
alucinógenas. 
Obs.: mesmo no caso de porte funcional, é necessário o cumprimento 
da 1ª e da 2ª etapa. 
Isto posto, questiona-se: o porte funcional se estende aos aposentados que não mais 
exercem a função pública? 
Em 2014, o STJ decidiu o seguinte: 
O porte de arma de fogo a que têm direito os policiais civis não se 
estendem aos policiais aposentados. Isto porque, de acordo com o art. 33 
do Decreto 5.123/2004, que regulamentou o art. 6º da Lei 10.826/2003, o 
porte de arma de fogo está condicionado ao efetivo exercício das funções 
institucionais por parte dos policiais, motivo pelo qual não se estende aos 
aposentados (STJ. 5ª Turma. HC 267.058/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado 
em 4/12/2014. 
 
Contudo, com a edição do Decreto 9.847/2019, passou-se a permitir que alguns dos 
indivíduos previstosno rol do art. 6º do Estatuto do Desarmamento continuem a ter o porte de arma 
mesmo depois de aposentados, conforme dispõe o art. 30: 
Art. 30. Os integrantes das Forças Armadas e os servidores dos órgãos, 
instituições e corporações mencionados nos incisos II, V, VI e VII do caput 
do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003, transferidos para a reserva remunerada 
ou aposentados, para conservarem a autorização de porte de arma de 
fogo de sua propriedade deverão submeter-se, a cada dez anos, aos 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 14 
 
testes de avaliação psicológica a que faz menção o inciso III do caput do 
art. 4º da Lei nº 10.826, de 2003. 
§ 1º O cumprimento dos requisitos a que se refere o caput será atestado pelos 
órgãos, instituições e corporações de vinculação. 
§ 2º Não se aplicam aos integrantes da reserva não remunerada das Forças 
Armadas e Auxiliares as prerrogativas mencionadas no caput. 
 
Salienta-se que o policial, quando se aposenta, perde direito ao porte de arma que tinha 
quando era da ativa. Isso porque o porte como policial da ativa está condicionado ao efetivo 
exercício das funções institucionais. Logo, a se aposentar ele perde automaticamente o porte e terá 
que devolver a arma da corporação. 
Assim, conforme redação legal visualizada acima, o art. 30 do Decreto 9.847/2019 permite 
que o aposentado conserve a autorização de porte de arma de fogo de sua propriedade (apenas a 
arma de fogo particular, pois a funcional deve ser devolvida), desde que cumpridos alguns 
requisitos, como se submeter a testes de avaliação psicológica, realizados de 10 em 10 anos. 
Em sequência, é importante evidenciar que consoante o art. 10 do Estatuto, a autorização 
para o porte pode ser concedida com eficácia temporária e territorial, e perderá automaticamente 
sua eficácia se o portador for detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob o efeito de 
substâncias químicas ou alucinógenas. 
Há, ainda, o porte de trânsito para desportistas, colecionadores e caçadores, o qual é 
concedido pelo Comando do Exército, nos termos do art. 9º do Estatuto. 
Art. 9º Compete ao Ministério da Justiça a autorização do porte de arma para 
os responsáveis pela segurança de cidadãos estrangeiros em visita ou 
sediados no Brasil e, ao Comando do Exército, nos termos do regulamento 
desta Lei, o registro e a concessão de porte de trânsito de arma de fogo para 
colecionadores, atiradores e caçadores e de representantes estrangeiros em 
competição internacional oficial de tiro realizada no território nacional. 
Por fim, o porte na categoria “caçador de subsistência” poderá ser concedido pela Polícia 
Federal aos residentes em áreas rurais que comprovem depender do emprego de arma de fogo 
para prover a subsistência alimentar familiar, desde que se trate de arma portátil, de uso permitido, 
de tiro simples, com 1 ou 2 canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16, com base no 
disposto no § 5º do art. 6º do Estatuto. 
 AUSÊNCIA DO REGISTRO OU DE AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE E ADEQUAÇÃO 
TÍPICA 
Para melhor compreensão do tema, colaciona-se abaixo o quadro elaborado pelo 
doutrinador Cleber Masson: 
 ESPÉCIE DE ARMA TIPIFICAÇÃO 
Arma permitida: ausência de registro. Posse ilegal de arma de fogo (art. 12). 
Arma permitida: ausência de autorização 
para o porte. 
Porte ilegal de arma de fogo (art. 14). 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 15 
 
Arma de uso restrito: ausência de registro ou 
ausência de autorização para o porte. 
Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso 
restrito (art. 16). 
 
Nesse liame, importante trazer à tona um julgado do STJ que entendeu que o Delegado de 
Polícia que mantém arma em sua casa sem registro no órgão competente pratica crime de posse 
irregular de arma de fogo: 
2. É típica e antijurídica a conduta de policial civil que, mesmo 
autorizado a portar ou possui arma de fogo, não observa as imposições 
legais previstas no estatuto do Desarmamento, que impõem registro das 
armas no órgão competente. 3. É incabível a aplicação do princípio da 
adequação social, segundo o qual, dada a natureza subsidiária e 
fragmentária do direito penal, não se pode reputar como criminosa uma ação 
ou uma omissão aceita e tolerada pela sociedade, ainda que formalmente 
subsumida a um tipo legal incriminador. Possuir armas de fogo e munições, 
de uso permitido, sem certificados federais e que só vieram a ser 
apreendidas pelo Estado após cumprimento de mandado de busca e 
apreensão, não é uma conduta adequada no plano normativo. 4. Por fim, sob 
a ótica do princípio da lesividade, o recorrente não preenche os vetores já 
assinalados pelo Supremo Tribunal Federal para o reconhecimento do 
princípio da insignificância, tais como a mínima ofensividade da conduta, 
nenhuma periculosidade social da ação, reduzidíssimo grau de 
reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica 
provocada, ante os armamentos apreendidos (dois revólveres calibre 38 e 48 
munições). (...) STJ. 6ª Turma. RHC 70.141/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti 
Cruz, julgado em 07/02/2017. 
 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(TJ-RS - Juiz - FAURGS - 2022): Sobre os crimes de posse e porte ilegais 
de armas de fogo, considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é 
correto afirmar que a condição de Policial Civil afasta a tipicidade da conduta 
daquele que, autorizado a portar ou possuir arma de fogo, não observa as 
imposições legais previstas no Estatuto do Desarmamento que impõem 
registro das armas no órgão competente. Errado. 
 
(MPDFT - Promotor - MPDFT - 2021): Não pratica crime policial civil que 
porta arma de fogo sem registro no órgão competente. Errado. 
É importante destacar um outro julgado do STJ que possui entendimento distinto do adotado 
pelo STJ, no sentido de que o Magistrado que mantém sob sua guarda arma ou munição de 
uso restrito não comete crime: 
O Conselheiro do Tribunal de Contas Estadual que mantém sob sua 
guarda arma ou munição de uso restrito não comete o crime do art. 16 
da Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento). Os Conselheiros dos 
Tribunais de Contas são equiparados a magistrados e o art. 33, V, da LC 
35/79 (LOMAN) garante aos magistrados o direito ao porte de arma de fogo. 
O direito ao porte consta no art. 33, V, da Lei Complementar n. 35/1979 
(LOMAN). Há uma restrição específica nesse direito de que a arma seja 
destinada à defesa pessoal. E a melhor interpretação aqui é de que defesa 
pessoal está no animus do porte, e não no calibre da arma. Fora isso, as 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 16 
 
restrições infralegais são indevidas ou no mínimo discutíveis no âmbito da 
magistratura. STJ. Corte Especial. APn 657-PB, Rel. Min. João Otávio de 
Noronha, julgado em 21/10/2015 (Info 572).2 
 REGISTRO DE ARMA DE FOGO E LEI MARIA DA PENHA 
Observa-se o disposto no art. 22 da Lei Maria da Penha: 
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a 
mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, 
em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de 
urgência, entre outras: 
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao 
órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003. 
Caso o agressor continue com a arma, praticará o crime de posse ilegal de arma de fogo. 
Contudo, é mister salientar que a Lei 13.880/2019 incluiu como uma medida protetiva de 
urgência a apreensão imediata de arma de fogo sob posse do agressor (art. 18, inciso IV, da Lei 
Maria da Penha). 
8. POSSE X PORTE 
Verifica-se o quadro comparativo entre posse e porte de arma de fogo elaborado pelo 
Professor Márcio Cavalcante: 
POSSE PORTE 
Se o indivíduo tem direito à posse, significa que 
ele está autorizado a manter a arma de fogo 
exclusivamente no interior de sua residência oudomicílio ou no seu local de trabalho (desde que 
seja ele o titular ou o responsável legal pelo 
estabelecimento ou empresa). 
Se o indivíduo tem direito ao porte, significa 
que ele está autorizado a carregar consigo a 
arma de fogo mesmo em outros ambientes 
que não sejam a sua residência ou trabalho. 
A autorização para posse é concedida por meio 
de certificado expedido pela Polícia Federal, 
precedido de cadastro no SINARM. 
A autorização para o porte de arma de fogo de 
uso permitido é de competência da Polícia 
Federal e somente será concedida após 
autorização do SINARM. 
É necessário que o interessado cumpra os 
requisitos previstos no art. 4º da Lei 10.826/2003. 
É necessário que o interessado cumpra os 
requisitos previstos no art. 10, § 1º, da Lei 
10.826/2003. 
O titular deste direito recebe um documento 
chamado “certificado de registro de arma de 
fogo”. 
O titular deste direito recebe um documento 
chamado “porte de arma de fogo”. 
O indivíduo que possui ou mantém arma de fogo, 
acessório ou munição (de uso permitido) em sua 
O indivíduo que é encontrado com arma de 
fogo, acessório ou munição (de uso permitido) 
 
2 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Magistrado que mantém sob sua guarda arma ou munição de uso restrito não comete crime. 
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: 
. Acesso em: 14/03/2024. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 17 
 
residência ou trabalho, sem que tivesse 
autorização para isso (sem que tivesse 
certificado da Polícia Federal), comete o crime de 
posse irregular de arma de fogo (art. 12 da Lei 
10.826/2003). 
fora de sua residência ou local de trabalho 
sem que tivesse autorização para isso (sem 
que tivesse porte de arma), comete o crime de 
porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei 
10.826/2003). 
9. POSSE DE ARMA DE FOGO EM ZONA RURAL 
Segundo o Professor Márcio Cavalcante, é comum que a Polícia Federal conceda certificado 
de registro de arma de fogo para pessoas que moram em zona rural, considerando que geralmente 
atendem aos requisitos do art. 4º da Lei 10.826/2003. Assim, essas pessoas ficam autorizadas a 
possuir armas de fogo em suas residências ou locais de trabalho. 
Ocorre que a estrutura do imóvel rural é diferente dos imóveis urbanos. Isso porque no 
imóvel rural é comum haver um local onde a família efetivamente mora, ou seja, onde dorme, faz 
as refeições, onde é o banheiro etc. Esse local é a casa, que é conhecida como “sede da 
propriedade” ou “sede da fazenda”. No entanto, essa casa (sede da propriedade) é o menor local 
do terreno, existindo uma vasta área ao redor, onde os ocupantes do imóvel desenvolvem as 
atividades rurais, como plantações, criação de gado, de porcos, aves etc. 
Assim, a estrutura do imóvel rural é composta pela sede da fazenda e pelo terreno, sendo 
este último a maior extensão territorial. 
O art. 5º da Lei 10.826/2003 afirma que o titular do certificado de Registro de Arma de Fogo 
tem o direito de manter a sua arma de fogo “exclusivamente no interior de sua residência ou 
domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular 
ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.” 
Não havia dúvidas de que uma interpretação teleológica permitia a conclusão de que a 
autorização conferida pelo art. 5º abrangia tanto a sede da fazenda como o restante do terreno. No 
entanto, o legislador entendeu que seria mais adequado e seguro que essa interpretação ficasse 
expressamente consignada na Lei e, portanto, inseriu um parágrafo ao art. 5º com essa informação: 
Art. 5º, § 5º Aos residentes em área rural, para os fins do disposto no caput 
deste artigo, considera-se residência ou domicílio toda a extensão do 
respectivo imóvel rural. 
Tem-se como exemplo a seguinte situação hipotética: João possui uma fazenda de 2 mil 
hectares onde cria 10 mil cabeças de gado. Ele possui um certificado de registro de arma de fogo. 
Isso significa que ele pode ficar com sua espingarda dentro da casa onde mora com a família (sede 
da fazenda) e pode andar com ela por toda a extensão dos 2 mil hectares de sua fazenda. 
 
 
 
 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 18 
 
DOS CRIMES E DAS PENAS 
1. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
O art. 12 do Estatuto do Desarmamento dispõe sobre o crime de posse irregular de arma de 
fogo de uso permitido: 
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou 
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda 
no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do 
estabelecimento ou empresa: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
Destaca-se que a conduta descrita no art. 12 está relacionada à ausência de registro da 
arma de fogo, não há que se falar em porte, uma vez que a arma está na residência ou no local de 
trabalho. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(TJ-ES – Juiz – FGV – 2023): Acerca dos crimes previstos no Estatuto 
do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003), é correto afirmar que para o 
reconhecimento do crime de posse irregular de arma de fogo de uso 
permitido, a arma de fogo, acessório ou munição deverão 
necessariamente ser possuídos ou mantidos no interior da residência 
ou em dependência desta pelo agente, não abrangendo qualquer 
outro local. Errado. 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
Protege-se a incolumidade pública, mais especificamente a segurança pública. Além disso, 
tutela-se o controle sobre a propriedade de armas de fogo. 
Segundo o entendimento do STF e do STJ, protege-se reflexamente a vida, a integridade 
física, o patrimônio, a honra e a liberdade. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-PR - Delegado - NC-UFPR - 2021): O crime de posse irregular de arma 
de fogo, acessório ou munição de uso permitido é crime de perigo concreto, 
e o bem jurídico tutelado é a incolumidade física. Errado. 
 CONDUTA 
O tipo penal descreve duas condutas: possuir e manter sob a guarda. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 19 
 
Indaga-se: as condutas possuir e manter sob a guarda possuem o mesmo significado? 
Existem 2 correntes: 
1) 1ª corrente: para Nucci, possuir e manter sob a guarda possuem o mesmo significado. 
O legislador apenas utilizou palavras sinônimas para descrever a mesma conduta. 
2) 2ª corrente: segundo Capez, são expressões distintas, assim: 
a) Possuir significa estar na posse da própria arma; 
b) Manter sob guarda significa guardar armas de terceiros. 
Salienta-se que não é necessário contato físico entre o infrator e a arma para configuração 
do crime de posse ilegal de arma de fogo. 
 OBJETO MATERIAL 
Considera-se objeto material a arma de fogo, a munição e acessórios. 
Munição é tudo quanto dê capacidade de funcionamento à arma, para carga ou disparo 
(projéteis, cartuchos, chumbo etc.). Para a configuração do delito, basta a apreensão da munição, 
sendo desnecessária a concomitante apreensão da arma de fogo. 
Acessório é o artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do desempenho 
do atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a modificação do aspecto visual da 
arma. 
Importante salientar que o STF e o STJ adotaram entendimento no sentido de que a 
apreensão de ínfima quantidade de munição desacompanhada da arma de fogo NÃO implica, 
por si só, a atipicidade da conduta. Nesse sentido: 
O simples fato de os cartuchos apreendidos estarem desacompanhados 
da respectiva arma de fogo não implica, por si só, a atipicidade da 
conduta, de maneira que as peculiaridades do caso concreto devem ser 
analisadas a fim de se aferir: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; 
b) a ausência de periculosidade social da ação; c)o reduzido grau de 
reprovabilidade do comportamento; e d) a inexpressividade da lesão jurídica 
provocada. No caso concreto, embora o réu tenha sido preso com apenas 
uma munição de uso restrito, desacompanhada de arma de fogo, ele foi 
também condenado pela prática dos crimes descritos nos arts. 33 e 35, da 
Lei nº 11.343/2006 (tráfico de drogas e associação para o tráfico), o que 
afasta o reconhecimento da atipicidade da conduta, por não estarem 
demonstradas a mínima ofensividade da ação e a ausência de periculosidade 
social exigidas para tal finalidade. STJ. 3ª Seção. EREsp 1856980-SC, Rel. 
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 22/09/2021 (Info 710).3 
 
Não se reconhece a incidência excepcional do princípio da 
insignificância ao crime de posse ou porte ilegal de munição, quando 
 
3 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A apreensão de ínfima quantidade de munição desacompanhada da arma de fogo não implica, 
por si só, a atipicidade da conduta. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: 
. Acesso em: 14/03/2024. 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 20 
 
acompanhado de outros delitos, tais como o tráfico de drogas. STF. 1ª 
Turma. HC 206977 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2021. 
 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): Não se admite a incidência do princípio 
da insignificância aos crimes previstos na referida lei, ainda que seja 
apreensão de pouca munição desacompanhada de arma de fogo, por se 
tratar de infrações penais de perigo abstrato. Errado. 
 
(TJ-MG - Juiz - FGV - 2022): A apreensão de ínfima quantidade de munição, 
desacompanhada de arma de fogo implica, por si só, a atipicidade da 
conduta. Errado. 
 
(TJ-RS - Juiz - FAURGS - 2022): Sobre os crimes de posse e porte ilegais 
de armas de fogo, considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é 
correto afirmar que o porte de pequena quantidade de munição 
desacompanhada da arma de fogo pode afastar excepcionalmente a 
configuração típica em razão da ausência de potencial lesivo (princípio da 
insignificância). Correto. 
 
(DPE-RJ - Defensor - FGV - 2021): Aplica-se o princípio da insignificância e 
se reconhece a atipicidade material do crime de posse de ínfima quantidade 
de munição de uso permitido, ainda que a moldura fática do caso revele a 
apreensão de arma de fogo e drogas com o agente. Errado. 
 
(DPE-RJ - Defensor - FGV - 2021): Deve ser reconhecida a atipicidade 
material da conduta em situações específicas de ínfima quantidade de 
munição apreendida na posse do agente, de uso permitido ou restrito, aliada 
à ausência de artefato capaz de disparar o projétil. Correto. 
 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO 
Também chamado de elemento espacial do tipo, é o que o diferencia do porte. Observe a 
tabela: 
 POSSE PORTE 
Ocorre na residência ou na dependência da 
residência do infrator (intramuros). 
Local do trabalho do infrator, desde que seja 
proprietário ou responsável legal. 
 Em qualquer outro local. 
 
Imagine que João é gerente de um posto de gasolina. Durante o dia, Flávio faz a segurança 
armada do estabelecimento. Indaga-se: há crime? João e Flávio praticaram quais condutas? 
João responderá por posse ilegal de arma de fogo, tendo em vista que é o responsável legal 
pelo posto de gasolina. Flávio, por sua vez, responderá por porte ilegal de arma de fogo, já que está 
portando em qualquer outro lugar (fora de sua residência e não é nem proprietário e nem 
responsável legal pelo posto de gasolina). 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 21 
 
Obs.: importante lembrar que em áreas rurais, toda a propriedade 
rural, será considerada como residência para efeitos do Estatuto do 
Desarmamento. 
Ressalta-se que, de acordo com o entendimento do STJ, o motorista de caminhão ou de táxi 
que traz consigo arma de fogo comete o crime de porte ilegal do art. 14. O caminhão não pode ser 
considerado extensão de sua residência ou local de trabalho. Nesse sentido: 
Caracteriza-se o delito de posse irregular de arma de fogo quando ela estiver 
guardada no interior da residência (ou dependência desta) ou no trabalho do 
acusado, evidenciado o porte ilegal se a apreensão ocorrer em local diverso. 
O caminhão, ainda que seja instrumento de trabalho do motorista, não 
pode ser considerado extensão de sua residência, nem local de seu 
trabalho, mas apenas instrumento de trabalho. 3. No caso concreto, o 
recorrente foi surpreendido com a arma na cabine do caminhão, no interior 
de uma bolsa de viagem. Assim sendo, fica evidente que ele portava, 
efetivamente, a arma de fogo, que estava ao seu alcance, possibilitando a 
utilização imediata. 4. Ante a impossibilidade de desclassificação do crime de 
porte de arma para o delito de posse, está superada a irresignação no tocante 
à incidência da abolitio criminis temporária. 5. Recurso ordinário a que se 
nega provimento. (STJ - RHC 31.492/SP, Rel. Min. Campos Marques 
(Desembargador Convocado do TJ/PR), 5ª Turma, julgado em 13/08/2013, 
DJe 19/08/2013). 
 
A conduta prevista no art. 12 da Lei n. 10.826/2003 exige que o agente 
possua arma de fogo no interior de sua residência ou dependência desta, ou, 
ainda, no seu local de trabalho. A jurisprudência desta Corte Superior possui 
o entendimento de que o caminhão não pode ser considerado extensão 
de sua residência, ainda que seja instrumento de trabalho. (STJ - AgRg 
no REsp 1.408.940/SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em 
04/08/2015, DJe 18/08/2015). 
 
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de 
que veículos automotores não podem ser considerados como local de 
trabalho para fins da Lei n. 10.826/2003. Precedentes desta Corte Superior. 
(STJ - AgRg no AREsp 980.455/PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª 
Turma, julgado em 17/11/2016, DJe 01/12/2016). 
 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): Configura o delito de porte de arma, e 
não de posse de arma de fogo, a conduta do caminhoneiro que seja 
surpreendido transportando em seu caminhão revólver de uso permitido, sem 
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. 
Correto. 
 
(PC-MS - Delegado - FAPEC - 2021): Se a arma de fogo é encontrada no 
interior do caminhão dirigido por motorista profissional, trata-se de crime de 
posse de arma de fogo (art. 12 do Estatuto do Desarmamento), em virtude do 
veículo, nesse caso, ser considerado “local de trabalho”. Errado. 
Há, ainda, outro elemento normativo do tipo, consagrado na expressão “em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar”: 
 
 
CS - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2025.1 22 
 
 POSSE LEGAL POSSE ILEGAL 
Trata-se de fato atípico, tendo em vista que o 
agente obteve o registro, seguindo as 
disposições legais. 
É o crime tipificado no art. 12 do Estatuto do 
Desarmamento. 
 
Em continuidade, destaca-se que a entrega espontânea da arma extingue a punibilidade por 
posse ilegal de arma de fogo, nos termos do art. 32 do Estatuto do Desarmamento: 
Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, 
espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão 
indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de 
eventual posse irregular da referida arma. 
Obs.: de acordo com o entendimento do STJ, o que extingue a 
punibilidade é a entrega espontânea. Assim, quando a polícia encontra 
a arma, cumprindo mandado de busca e apreensão, haverá o crime. 
 SUJEITOS DO DELITO 
1.6.1. Sujeito ativo 
Qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. Trata-se de crime comum ou geral. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(TJ-SP - Juiz - VUNESP - 2021): Durante a abordagem a três pessoas que 
se encontravam em um ponto de ônibus,mediante grave ameaça verbal de 
morte, Caio, que completara 18 anos naquela data e Tácio, que iria completar 
18 anos no dia seguinte, subtraíram, para proveito comum, um aparelho de 
telefone celular da vítima A e a carteira da vítima B. Em razão de reação da 
vítima C, ambos a agrediram e, em seguida, dali se evadiram, sem nada 
subtrair de C. A dupla foi localizada e identificada um mês após os fatos, 
sendo apreendido em poder de Caio um revólver, calibre 38, com numeração 
visível, desmuniciado, que trazia em sua cintura. O revólver foi periciado, 
constatando-se que a arma estava apta para efetuar disparos. Nessa 
hipotética situação, é correto afirmar que Caio será processado criminalmente 
pelo delito de roubo com incidência da causa de aumento de pena pelo 
concurso de agentes, cometido contra três vítimas, observada a regra do 
cúmulo formal de infrações e pelo crime de porte irregular de arma de fogo 
de uso permitido. Correto. 
1.6.2. Sujeito passivo 
É a coletividade. Portanto, tem-se um crime vago, ou seja, o sujeito passivo é um ente 
destituído de personalidade jurídica. 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
No momento em que a arma dá entrada na residência ou estabelecimento comercial. 
 
 
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Obs.: por conta da permanência, importante evidenciar que: 
a) Será possível a prisão em flagrante, enquanto não cessada a 
permanência; 
b) O curso do prazo prescricional somente se inicia com a cessação 
da permanência; 
c) Sobrevindo lei penal mais gravosa, enquanto não cessada a 
permanência, poderá ser aplicada ao caso. 
Nesse sentido, destaca-se o Informativo 506 do STJ: 
Não é ilegal a prisão realizada por agentes públicos que não tenham 
competência para a realização do ato quando o preso foi encontrado em 
estado de flagrância. Os tipos penais previstos nos arts. 12 e 16 da Lei n. 
10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) são crimes permanentes e, de 
acordo com o art. 303 do CPP, o estado de flagrância nesse tipo de crime 
persiste enquanto não cessada a permanência. Segundo o art. 301 do 
CPP, qualquer do povo pode prender quem quer que seja encontrado em 
situação de flagrante, razão pela qual a alegação de ilegalidade da prisão - 
pois realizada por agentes que não tinham competência para tanto - não se 
sustenta. HC 244.016-ES, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 16/10/2012. 
 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(TJ-RS - Juiz - FAURGS - 2022): Sobre os crimes de posse e porte ilegais 
de armas de fogo, considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é 
correto afirmar que o crime de posse ilegal de arma de fogo de uso restrito é 
permanente. Correto. 
Assim como outros crimes previstos no Estatuto do Desarmamento, a posse irregular de 
arma de fogo de uso permitido é crime de perigo abstrato/perigo presumido. Assim, o crime se 
consuma com a mera exposição do bem jurídico a uma probabilidade de dano, não se reclama o 
dano efetivo. Como a lei presume de forma absoluta o perigo ao bem jurídico, não cabe prova em 
contrário. 
Além disso, é um crime de mera conduta ou de simples atividade, eis que o tipo penal se 
limita a descrever uma conduta, não há resultado naturalístico. O crime se consuma com a mera 
posse irregular, não importa a finalidade. Nesse sentido, evidencia-se julgado do STJ: 
A posse irregular de arma de fogo de uso permitido, ainda que 
desmuniciada, configura o delito do art. 12 da Lei n. 10.826/2003, de 
perigo abstrato, que presume a ocorrência de risco à segurança pública 
e prescinde de resultado naturalístico à integridade de outrem para ficar 
caracterizado. Precedentes. (STJ - AgRg no HC 650.615/PE, Rel. Min. 
Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em 01/06/2021, DJe 10/06/2021). 
 
É perfeitamente possível a tentativa, em tese. 
De acordo com Renato Brasileiro, parte da doutrina prefere dizer que não é possível a 
tentativa. Isso porque na eventualidade de o agente ser surpreendido, enquanto tentava, por 
 
 
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exemplo, adquirir ilegalmente uma arma de fogo de uso permitido para guardar em sua residência, 
o crime será o do art. 14, na forma tentada, e não o do art. 12 do Estatuto do Desarmamento. 
 GUARDA DE ARMA DE FOGO COM REGISTRO VENCIDO 
A cada 3 anos, o titular da arma de fogo deve renovar o seu registro, nos termos do art. 5º, 
§ 2º do Estatuto do Desarmamento, in verbis: 
Art. 5º, § 2º Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4º deverão 
ser comprovados periodicamente, em período não inferior a 3 (três) anos, na 
conformidade do estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação 
do Certificado de Registro de Arma de Fogo. 
Nos casos em que o agente mantém a arma de fogo, sem renovar o registro, o STJ entende 
que não há o crime do art. 12, mas mera infração administrativa. Nesse sentido, verifica-se a 
excelente explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o Direito) sobre o tema, no Info 572 do STJ: 
Não configura o crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 
10.826/2003) a conduta do agente que mantém sob guarda, no interior de 
sua residência, arma de fogo de uso permitido com registro vencido. 
Se o agente já procedeu ao registro da arma, a expiração do prazo é mera 
irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e aplicação 
de multa. A conduta, no entanto, não caracteriza ilícito penal. 
Ex.: a Polícia, ao realizar busca e apreensão na casa de João, lá encontrou 
um revólver, de uso permitido. João apresentou o registro da arma de fogo 
localizada, porém ele estava vencido há mais de um ano. João não praticou 
crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003). 
STJ. Corte Especial. APn 686-AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado 
em 21/10/2015 (Info 572). STJ. 5ª Turma. HC 294.078/SP, Rel. Min. Marco 
Aurélio Bellizze, julgado em 26/08/2014. 
 
Os argumentos utilizados pelo STJ foram os seguintes: 
1) Não há dolo do agente que procede ao registro e, depois de expirado o prazo, é 
apanhado com a arma nessa circunstância. 
2) Trata-se de uma irregularidade administrativa. Isso porque se a pessoa possui o registro 
da arma de fogo de uso permitido, significa que o Poder Público possui um completo 
conhecimento de que ele possui o artefato em questão, podendo rastreá-lo, se 
necessário. Logo, inexiste ofensividade na conduta. 
3) A mera inobservância da exigência de recadastramento periódico não pode conduzir à 
incriminação penal. Cabe ao Estado apreender a arma e aplicar a punição administrativa 
pertinente, não estando em consonância com o Direito Penal moderno deflagrar uma 
ação penal para a imposição de pena tão somente porque o indivíduo – devidamente 
autorizado a possuir a arma pelo Poder Público, diga-se de passagem – deixou de ir de 
tempos em tempos efetuar o recadastramento do artefato. Portanto, até mesmo por 
questões de política criminal, não há como submeter o paciente às agruras de uma 
condenação penal por uma conduta que não apresentou nenhuma lesividade relevante 
aos bens jurídicos tutelados pela Lei nº 10.826/2003, não incrementou o risco e pode ser 
resolvida na via administrativa. 
 
 
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4) O Direito Penal possui caráter subsidiário e de ultima ratio. 
Contudo, o entendimento acima é restrito aos casos de delito de posse ilegal de arma de 
fogo de uso permitido (art. 12), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14), 
muito menos ao delito de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas elementares 
são diversas e a reprovabilidade mais intensa. 
Como o tema foi cobrado em concurso? 
(PC-AM - Delegado - FGV - 2022): Foi noticiado a uma guarnição policial 
militar que, durante a realização de festa em uma casa em bairro residencial, 
o vizinho, insatisfeito com o barulho, teria discutido, sendo visto com arma de 
fogo no jardim da

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