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POLÍTICA CAMBIAL NO BRASIL: FUNDAMENTOS, REGIMES E IMPACTOS Alison Bueno de Oliveira Ciências Econômicas – FLD271901 Aulo Percio Vicente Nardo RESUMO Este trabalho aborda a política cambial no Brasil, analisando seus fundamentos teóricos, regimes históricos e instrumentos de intervenção utilizados pelas autoridades monetárias. O objetivo geral é compreender como a política cambial influencia variáveis macroeconômicas como inflação, taxa de juros, fluxo de capitais e competitividade internacional. Para isso, foi adotada uma metodologia qualitativa, descritiva e bibliográfica, com base em obras de autores consagrados como Mankiw, Blanchard e Pastore, além de dados e publicações do Banco Central do Brasil. O estudo examina a evolução do sistema cambial brasileiro, desde o padrão-ouro até o atual regime de câmbio flutuante, adotado a partir de 1999. Também são discutidos conceitos como Paridade do Poder de Compra (PPC), taxa PTAX, leilões de swap cambial e o uso de derivativos como mecanismos de proteção contra oscilações da moeda. A pesquisa evidencia que a gestão eficiente da política cambial é essencial para a estabilidade econômica e financeira do país, influenciando diretamente os níveis de investimento, as relações comerciais e a confiança de agentes econômicos nacionais e internacionais. Conclui-se que, embora o câmbio flutuante ofereça maior flexibilidade, ele também exige constante monitoramento por parte das autoridades econômicas para evitar volatilidades excessivas que possam comprometer o equilíbrio macroeconômico. Palavras-chave: Política Cambial; Taxa de Câmbio; Banco Central. INTRODUÇÃO A política cambial é um dos pilares da macroeconomia e exerce papel fundamental na regulação das relações econômicas entre um país e o mercado internacional, influenciando diretamente a inflação, os investimentos externos, a balança comercial, o valor da moeda e, consequentemente, o crescimento econômico. No Brasil, essa política passou por diferentes regimes ao longo das décadas, refletindo transformações internas e o contexto econômico global. Com a adoção do câmbio flutuante em 1999, o país passou a depender ainda mais de uma atuação estratégica do Banco Central para garantir a estabilidade da moeda e minimizar os impactos das oscilações cambiais. A pergunta que norteia esta pesquisa é: como a política cambial brasileira impacta o equilíbrio macroeconômico e quais são os principais mecanismos utilizados para sua gestão? O objetivo geral deste trabalho é analisar a política cambial no Brasil, considerando seus fundamentos teóricos, regimes históricos e os principais instrumentos de intervenção adotados. Os objetivos específicos consistem em compreender os diferentes tipos de regimes cambiais e sua aplicação no Brasil; identificar os fatores que afetam a taxa de câmbio e sua dinâmica; analisar o papel do Banco Central na gestão do câmbio; estudar o uso de instrumentos financeiros como os derivativos e swaps cambiais; e refletir sobre os impactos econômicos da política cambial na economia brasileira contemporânea. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A política cambial integra o campo da macroeconomia, área da ciência econômica que analisa o funcionamento agregado de uma economia, considerando variáveis como taxa de câmbio, inflação, taxa de juros, produto interno e balança de pagamentos (MANKIW, 2020). A valoração de uma nação é, portanto, processo complexo, envolvendo fatores internos e externos interligados (KRUGMAN; OBSTFELD, 2018). Nesse contexto, o mercado de câmbio configura-se como o principal ambiente de negociação de moedas estrangeiras, refletindo as relações econômicas internacionais do país por meio de exportações, importações e fluxos de capitais (FRENKEL; ROZENWAG, 2016). O Banco Central do Brasil, instituído pela Lei nº 4.595/1964, exerce papel central na política cambial, atuando na intervenção cambial, divulgação da taxa PTAX, administração das reservas internacionais e na coordenação de medidas para conter volatilidades excessivas (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2023). Adicionalmente, a utilização de derivativos financeiros, como contratos de hedge, tem-se mostrado essencial para proteção contra riscos cambiais, funcionando como instrumentos de mitigação frente às flutuações do mercado (DIEBOLD, 2019). A fundamentação teórica da política cambial brasileira apoia-se, portanto, nos princípios da macroeconomia, na teoria dos mercados financeiros e na atuação institucional. Nesse sentido, compreender tais bases é indispensável para a análise da determinação da taxa de câmbio, da atratividade dos investimentos e da estabilidade econômica (TAYLOR, 2017). Por fim, a teoria da Paridade do Poder de Compra (PPC) sustenta que, no longo prazo, as taxas de câmbio tendem a se ajustar para refletir o poder aquisitivo relativo das moedas, constituindo referência importante para a análise das dinâmicas cambiais (FROOT; THALER, 1990). Breve Histórico do Sistema Cambial Brasileiro A trajetória do sistema cambial brasileiro é marcada por transformações significativas, refletindo o contexto econômico, político e global ao longo das diferentes épocas (FRENKEL; ROZENWAG, 2016). Inicialmente, o Brasil adotou o padrão-ouro, no qual a moeda nacional era lastreada em reservas metálicas, conferindo estabilidade cambial e monetária. Contudo, esse modelo entrou em colapso a partir do início do século XX, especialmente em decorrência das pressões econômicas causadas pela Primeira Guerra Mundial e pela Grande Depressão de 1929, eventos que levaram diversos países a abandonarem o padrão-ouro em busca de maior flexibilidade monetária (KRUGMAN; OBSTFELD, 2018). No período do pós-Segunda Guerra Mundial, o sistema de câmbio fixo estabelecido pelo Acordo de Bretton Woods passou a reger as relações cambiais internacionais. Contudo, o regime sofreu um colapso em 1971, quando os Estados Unidos suspenderam a conversibilidade do dólar em ouro, provocando o fim da estabilidade cambial global vigente até então (MANKIW, 2020). Desde então, o Brasil experimentou diferentes regimes cambiais, transitando do câmbio controlado e arbitrado para o sistema de bandas cambiais, caracterizado por uma flutuação limitada dentro de faixas preestabelecidas. Esse processo evolutivo culminou na adoção do regime de câmbio flutuante em 1999, em resposta às crises internacionais que abalaram a economia mundial, como a Crise Asiática de 1997 e a Crise Russa de 1998 (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2023). No regime flutuante, o valor do real é determinado pelo mercado, cabendo ao Banco Central intervir apenas pontualmente para conter volatilidades excessivas e preservar a estabilidade econômica (TAYLOR, 2017). Este modelo também é sustentado pela lógica econômica de que “quanto maior a exportação, mais dinheiro entra no país”, ilustrando o incentivo às exportações e ao ingresso de divisas como estratégia para assegurar maior solidez cambial em um contexto de abertura econômica progressiva (FRENKEL, 2018). Atualmente, o regime de câmbio flutuante permanece vigente, e a compreensão desse histórico é fundamental para analisar as políticas cambiais contemporâneas e seus impactos sobre os investimentos, a inflação e o crescimento econômico brasileiro (DIEBOLD, 2019). Taxa de Câmbio A taxa de câmbio representa o preço de uma moeda estrangeira expresso em unidades da moeda nacional. No contexto brasileiro, a moeda estrangeira mais negociada é o dólar norte- americano, motivo pelo qual a cotação frequentemente aparece na forma “R$/US$”. Por exemplo, uma taxa de câmbio de 5,00 indica que um dólar equivale a cinco reais. Essa cotação é determinada pela interação de diversos fatores econômicos, tais como a oferta e demanda por moeda estrangeira, o fluxo de capitais, o volume de exportações e importações, entre outros.Conforme observado por Silva (2019), “o câmbio é um dos indicadores macroeconômicos mais complexos de se prever, pois é influenciado por uma diversidade de fatores”. No mercado cambial brasileiro, as instituições autorizadas pelo Banco Central atuam realizando cotações de compra e venda da moeda estrangeira, sendo a diferença entre esses valores denominada spread cambial. Para consumidores finais, como turistas ou importadores, aplica-se a taxa de venda da moeda, enquanto exportadores recebem a taxa de compra. Um indicador fundamental para o mercado é a taxa PTAX, divulgada diariamente pelo Banco Central. Essa taxa é calculada como a média das cotações realizadas entre as instituições credenciadas (dealers) em quatro períodos específicos ao longo do dia. Embora sua utilização não seja obrigatória, a PTAX funciona como referência para contratos futuros e diversas operações financeiras (Banco Central do Brasil, 2023). Além disso, o Banco Central disponibiliza diariamente as cotações oficiais em seu portal, promovendo maior transparência no mercado cambial. A relevância da taxa de câmbio transcende as operações financeiras, influenciando diretamente a competitividade dos produtos nacionais, o custo das importações, o comportamento da inflação e a atratividade dos investimentos estrangeiros (Frenkel; Rosenzweig, 2016). Tipos de Regimes Cambiais O regime cambial determina o mecanismo pelo qual a taxa de câmbio é estabelecida em um país e o grau de intervenção do governo ou do Banco Central no mercado de moedas estrangeiras (KRUGMAN; OBSTFELD, 2018). Existem três principais tipos de regimes: o câmbio fixo, o câmbio flutuante e o câmbio administrado. No regime de câmbio fixo, o valor da moeda nacional é atrelado a uma moeda estrangeira de referência, como o dólar americano, exigindo que o Banco Central intervenha constantemente para manter essa paridade por meio da compra e venda de reservas internacionais (FRENKEL; ROZENWAG, 2016). Embora esse sistema ofereça maior estabilidade e previsibilidade, ele demanda grandes reservas cambiais e restringe a autonomia da política monetária, dificultando o ajuste a choques externos. Por sua vez, o regime de câmbio flutuante, adotado pelo Brasil desde 1999, permite que a taxa de câmbio seja determinada livremente pelo mercado, pela interação entre oferta e demanda de moeda estrangeira, com intervenções pontuais do Banco Central para conter oscilações excessivas, mas sem fixar um valor alvo (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2023). Essa flexibilidade possibilita que a taxa reflita as condições econômicas e externas do país, como evidencia a máxima de que “quanto maior a exportação, mais dinheiro entrando no país”, destacando o impacto do ingresso de divisas no valor do real (SILVA, 2018). Por fim, o regime de câmbio administrado combina elementos dos dois anteriores, permitindo que a taxa flutue dentro de limites predefinidos ou mediante intervenções frequentes do Banco Central, como ocorreu no sistema de bandas cambiais brasileiro durante a década de 1990, antes da transição para o câmbio flutuante (TAYLOR, 2017). Cada regime apresenta vantagens e desvantagens específicas: o câmbio fixo proporciona previsibilidade, mas pode engessar a economia; o câmbio flutuante oferece liberdade e ajuste automático, embora possa gerar volatilidade; e o administrado busca equilíbrio, demandando alta capacidade técnica e credibilidade institucional para sua efetiva gestão (KRUGMAN; OBSTFELD, 2018). Figura 1: Taxa de câmbio nominal Fonte: Banco Central do Brasil Fatores que Afetam a Taxa de Câmbio A taxa de câmbio é influenciada por uma série de fatores que refletem tanto a dinâmica econômica interna quanto externa, configurando-se como um dos indicadores macroeconômicos mais complexos de se prever (SILVA, 2019). Entre os principais determinantes destacam-se o diferencial de juros, a inflação, o desempenho da balança comercial e da conta corrente, o Produto Interno Bruto (PIB) e a confiança dos investidores, o endividamento externo e os aspectos políticos do país. O diferencial de juros exerce forte influência, uma vez que investidores internacionais tendem a direcionar seus recursos para mercados que ofereçam maior rentabilidade; por exemplo, uma taxa Selic significativamente superior à taxa de juros dos Estados Unidos pode atrair maior volume de capital estrangeiro, valorizando a moeda nacional (FRENKEL; ROZENWAG, 2016). Entretanto, a inflação elevada pode reduzir a atratividade do país, corroendo o ganho real dos investidores; nesse sentido, se os Estados Unidos apresentarem inflação mais baixa que o Brasil, o dólar tende a se valorizar em relação ao real (KRUGMAN; OBSTFELD, 2018). Além disso, superávits na balança comercial — quando as exportações superam as importações — propiciam maior ingresso de dólares, fortalecendo a moeda local, ao passo que déficits pressionam a taxa de câmbio para cima (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2023). O crescimento econômico e a confiança dos investidores também desempenham papel crucial, pois perspectivas positivas atraem investimentos produtivos e financeiros, aumentando a demanda por moeda estrangeira e favorecendo a valorização do real (TAYLOR, 2017). Por outro lado, o endividamento externo, embora possa gerar ingresso de dólares, se elevado de forma excessiva, suscita desconfiança e pode provocar fuga de capitais, resultando na desvalorização cambial (DIEBOLD, 2019). Por fim, a estabilidade política é um fator determinante para a previsibilidade do mercado cambial; crises institucionais, adiamento de reformas econômicas e instabilidades entre os poderes da República tendem a aumentar a volatilidade da taxa de câmbio, afetando a confiança dos agentes econômicos (SILVA, 2019). Dessa forma, a análise integrada desses fatores é fundamental para compreender as variações cambiais, sendo imprescindível para traders, investidores e formuladores de políticas econômicas. Figura 2: Boletim focus Fonte: Banco Central do Brasil O Papel do Banco Central O Banco Central do Brasil (Bacen) é a autoridade responsável pela condução das políticas monetária e cambial, com o objetivo de assegurar a estabilidade da moeda, o equilíbrio do sistema financeiro e a previsibilidade econômica — fatores fundamentais para a confiança de agentes nacionais e internacionais (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2023). Entre suas principais atribuições estão: a emissão da moeda e o controle da sua circulação; a supervisão do sistema bancário, atuando como “banco dos bancos”; a administração das reservas internacionais e dos fluxos cambiais; e o assessoramento técnico ao governo em temas como juros, inflação e crescimento econômico. No âmbito cambial, embora o Brasil adote o regime de câmbio flutuante desde 1999, o Bacen intervém em momentos de elevada volatilidade, por meio de operações de compra e venda de moeda no mercado à vista e leilões de swap cambial. Essas ações visam suavizar movimentos abruptos da taxa de câmbio que possam comprometer a estabilidade dos preços e a política monetária. Além disso, o Banco Central divulga diariamente a taxa PTAX — média das cotações realizadas ao longo do dia por instituições credenciadas — que serve como referência em contratos futuros e operações comerciais. Assim, o Bacen exerce papel central na regulação do mercado cambial, promovendo estabilidade e previsibilidade, o que reforça a confiança dos investidores e contribui para a saúde macroeconômica do país. Figura 3: Ptax diária Fonte: Banco Central do Brasil Indicadores Econômicos Relevantes Os indicadores econômicos são instrumentos essenciais para a análise do comportamento da economia e sua influência sobre a taxa de câmbio. Compreendê-los é fundamental para quem atua no mercado financeiro ou busca interpretaros rumos da política econômica (SILVA, 2019). Entre os principais, destacam-se: A Taxa Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, é a taxa básica de juros da economia brasileira. Sua elevação tende a atrair capital estrangeiro, valorizando o real, ao tornar os títulos públicos mais rentáveis. Já o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, é o principal indicador de inflação do país. Afeta o poder de compra da moeda, influencia as decisões de política monetária e impacta diretamente o câmbio. A taxa de câmbio PTAX é a média ponderada das cotações do dólar apuradas em quatro momentos do dia, servindo como referência para contratos futuros, derivativos e outras operações financeiras. A balança comercial e a balança de pagamentos revelam o desempenho das transações comerciais e financeiras com o exterior: superávits contribuem para o ingresso de divisas e valorização da moeda nacional. Por fim, as reservas internacionais, mantidas pelo Banco Central, funcionam como instrumento de segurança frente a choques externos, elevando a confiança dos investidores e reduzindo o risco cambial percebido. Figura 4: Meta para a taxa selic Fonte: Banco Central do Brasil Paridade do Poder de Compra (PPC) A Paridade do Poder de Compra (PPC) é uma teoria econômica que estabelece que a taxa de câmbio entre duas moedas deve refletir o poder de compra relativo de cada uma em seus respectivos países. Em outras palavras, a taxa de câmbio estaria em equilíbrio quando uma mesma quantia de dinheiro adquirir o mesmo conjunto de bens em diferentes países — conceito conhecido como Lei do Preço Único (KRUGMAN; OBSTFELD, 2018). A PPC considera três principais elementos: as taxas de câmbio nominais, a inflação dos países envolvidos e o nível de renda ou Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Por exemplo, se um bem custa R$ 20 no Brasil e US$ 4 nos Estados Unidos, a taxa de câmbio de equilíbrio, segundo a PPC, seria 5,00. Se a cotação real do dólar estiver acima desse valor, o real estaria subvalorizado; se estiver abaixo, sobrevalorizado. Embora a PPC seja uma referência teórica válida principalmente no longo prazo, no curto prazo o câmbio pode ser impactado por fatores como fluxo de capitais, política monetária, crises financeiras e expectativas do mercado. Ainda assim, ao longo do tempo, os preços tendem a se ajustar, forçando um realinhamento cambial que elimina distorções e oportunidades de arbitragem. A teoria também contribui para explicar dinâmicas de consumo e comércio internacional, uma vez que produtos mais baratos em determinadas economias atraem maior demanda externa, enquanto bens mais caros tendem a perder competitividade — fenômenos que estimulam o movimento em direção ao equilíbrio cambial. Figura 5: Pib total Fonte: Banco Central do Brasil Derivativos e Proteção Cambial Os derivativos são instrumentos financeiros cujo valor depende do desempenho de ativos subjacentes, como moedas, taxas de juros ou commodities. No mercado cambial, eles desempenham papel estratégico ao oferecer proteção contra a volatilidade da taxa de câmbio, especialmente para empresas expostas a obrigações em moeda estrangeira. Segundo a definição da apostila, "derivativo é um contrato mútuo no qual se estabelece um valor econômico derivado do seu valor temporal (pagamento futuro) baseado num ativo adjacente". Entre os principais derivativos utilizados para fins cambiais estão: (i) contratos a termo, acordos privados de compra e venda de moeda com liquidação futura a preço fixado previamente; (ii) contratos futuros de dólar, negociados em bolsa e padronizados, com liquidação obrigatória; (iii) swaps cambiais, operações por meio das quais o Banco Central troca variações cambiais por taxas de juros, sendo amplamente usados para fornecer previsibilidade ao mercado sem mobilizar reservas internacionais; e (iv) opções de compra e venda de moeda, que conferem ao titular o direito, mas não a obrigação, de realizar a transação a um preço predefinido. A prática do hedge cambial — ou proteção contra risco de variação do câmbio — é essencial para mitigar perdas em momentos de instabilidade. Por exemplo, uma empresa brasileira com dívida em dólares pode utilizar contratos futuros para travar o valor da moeda, evitando prejuízos em caso de valorização do dólar. Como define a apostila, “hedge é como um seguro de preço”. Além dos hedgers, participam do mercado os especuladores, que assumem riscos buscando lucros com a oscilação do câmbio, e os arbitradores, que exploram diferenças de preço entre mercados, aumentando a liquidez e a eficiência do sistema. Durante períodos de crise — como os reflexos da crise econômica global sobre o real —, o Banco Central intensifica o uso de swaps cambiais, promovendo leilões diários ou extraordinários para conter a depreciação excessiva da moeda nacional. Essas operações têm como objetivo reduzir a volatilidade cambial no curto prazo, embora impliquem custos fiscais elevados, devido à rentabilidade indexada à variação cambial. Essa estratégia de intervenção pontual é alvo de debates. De um lado, reconhece-se sua eficácia momentânea; de outro, questiona-se sua sustentabilidade frente ao custo fiscal e à transparência. Alguns especialistas defendem o uso direto das reservas internacionais como alternativa mais eficiente em certos contextos, ressaltando a importância de maior previsibilidade e clareza nas diretrizes da política cambial. Figura 6: Leilões da Dívida Pública — Tesouro Nacional 1Taxa de Corte – Prefixado 2Taxa de Corte - Índice de Preços 3Taxa de Corte - Taxa Flutuante 1 2 3 Tipicamente, os leilões ocorrem às terças-feiras, para as NTN-B e LFT, e às quintas-feiras, para as LTN e NTN-F, com divulgação das portarias às 10h30, coleta de propostas entre 11h00 e 11h30 e divulgação do resultado a partir das 11h45. Fonte: Banco Central do Brasil https://www.gov.br/tesouronacional/pt-br/divida-publica-federal/mercado-interno/leiloes-da-divida-publica Figura 7: Emissões por titulo Fonte: Banco Central do Brasil Figura 8: Volume Emitido - 12 Meses Fonte: Banco Central do Brasil Tipos de Swap Os swaps são instrumentos financeiros derivativos que consistem na troca de fluxos de caixa entre duas partes, com base na variação de ativos como moedas, taxas de juros, índices ou commodities. Eles são amplamente utilizados tanto como ferramenta de proteção contra riscos (hedge) quanto para fins de especulação. No mercado cambial, o swap cambial é o mais comum e envolve a troca entre a variação do câmbio e uma taxa de juros previamente acordada. Ao final do contrato, uma das partes recebe o rendimento vinculado à variação cambial, enquanto a outra recebe a rentabilidade definida em reais. Um exemplo histórico desse tipo de operação ocorreu em 2008, quando a China utilizou swaps com a Argentina para estabilizar suas reservas internacionais. Dentro dessa modalidade, existem dois formatos principais: o swap cambial tradicional, utilizado quando se espera a desvalorização do real, e o swap cambial reverso, acionado em cenários de valorização da moeda brasileira. O Banco Central do Brasil emprega essas operações com o objetivo de conter movimentos bruscos na taxa de câmbio, oferecendo previsibilidade aos agentes econômicos sem a necessidade de mobilizar as reservas internacionais. Outras modalidades também são relevantes. O swap de índices permite a troca de rentabilidades entre indicadores como o IPCA, INPC ou o Ibovespa, geralmente acompanhados de uma taxa de juros.O swap de commodities é comum entre empresas que atuam no comércio de produtos primários, como milho, petróleo ou ouro, buscando proteção contra oscilações de preços internacionais. Já o swap de taxa de juros envolve a troca entre uma taxa prefixada e uma taxa pós-fixada, sendo útil para quem deseja se proteger de flutuações na política monetária. Por exemplo, um investidor com um título de renda fixa pode optar por um swap para converter sua rentabilidade fixa em variável, caso anteveja elevação nas taxas de juros. Os swaps estão intimamente ligados à estratégia de hedge, já que funcionam como mecanismos de proteção contra riscos cambiais, inflacionários ou financeiros. Assim, ao lado de outros instrumentos como contratos futuros e opções, os swaps integram a estrutura de defesa de empresas e investidores diante da volatilidade dos mercados, fortalecendo a eficiência e a estabilidade do sistema financeiro. METODOLOGIA A presente pesquisa adota uma abordagem qualitativa e descritiva, com o objetivo de apresentar de forma sistematizada os principais conceitos, fundamentos e instrumentos que compõem a política cambial no Brasil. A natureza conceitual do tema demanda uma análise interpretativa e crítica das estruturas macroeconômicas e das variáveis que influenciam o sistema cambial, justificando, assim, a escolha metodológica. O método de pesquisa utilizado é bibliográfico, baseado na revisão e análise de materiais teóricos e documentos oficiais. A principal fonte adotada foi a apostila do curso “Oficina do Fraja”, ministrado pelo professor Roney Albert (“Frajola”), ex-dealer da principal fonte do mercado de câmbio nacional, o Banco Central do Brasil (BCB). Complementarmente, foi utilizado o livro Macroeconomia: Teoria e Prática no Brasil, de Ana Cláudia Lemos, oferecem uma abordagem didática e aplicada da macroeconomia brasileira. A estrutura do trabalho foi organizada em sete seções temáticas interdependentes, que visam proporcionar ao leitor uma compreensão progressiva do funcionamento da política cambial, desde seus fundamentos teóricos até os mecanismos práticos de intervenção utilizados pelas autoridades monetárias. A utilização do método descritivo permitiu a exposição clara e objetiva dos principais conceitos da macroeconomia, com ênfase no papel do Banco Central, nos tipos de regime cambial e no uso de instrumentos financeiros, como os derivativos cambiais e os swaps. As informações utilizadas foram extraídas de materiais didáticos especializados e documentos de domínio público, especialmente os disponibilizados pelo Banco Central do Brasil, assegurando a credibilidade das análises. Dessa forma, esta pesquisa não apenas atende ao propósito acadêmico de aprofundar o conhecimento sobre a política cambial brasileira, como também se propõe a oferecer ao leitor uma compreensão acessível e aplicada do tema, contribuindo para a formação crítica no campo da economia. CONSIDERAÇÕES FINAIS A política cambial configura-se como um dos pilares centrais da macroeconomia brasileira, exercendo influência direta sobre variáveis estratégicas, como a competitividade internacional, a formação de preços internos, o fluxo de investimentos estrangeiros e a estabilidade econômica. Ao longo deste trabalho, foi possível constatar que a taxa de câmbio não decorre de um único fator isolado, mas resulta da interação complexa entre elementos como taxa de juros, inflação, balança comercial, política fiscal, nível de atividade econômica e, não menos importante, o cenário político nacional e internacional. A transição do regime de câmbio fixo para o flutuante, implementada em 1999, marcou um ponto de inflexão na condução da política cambial no Brasil. Essa mudança conferiu maior resiliência ao país frente a choques externos, mas também aumentou a exposição à volatilidade do mercado. Nesse contexto, o papel do Banco Central tornou- se ainda mais relevante, por meio de medidas como os leilões de swap cambial, a divulgação diária da taxa PTAX e a administração das reservas internacionais, que contribuem para a previsibilidade e a confiança dos agentes econômicos. Abordou-se ainda o uso de derivativos como ferramenta essencial de proteção cambial (hedge), sobretudo para empresas expostas a variações do dólar. Paralelamente, destacaram-se os papéis desempenhados pelos especuladores e arbitradores, que, embora motivados por lucro, colaboram com a liquidez e a eficiência dos mercados. A teoria da Paridade do Poder de Compra (PPC), por sua vez, foi discutida como referência teórica para o equilíbrio cambial de longo prazo, mesmo que, no curto prazo, fatores conjunturais provoquem distorções temporárias. A reflexão final recai sobre a complexidade da política cambial. Se avaliar o valor de uma empresa já é um exercício desafiador, precificar uma economia inteira — com suas múltiplas variáveis e incertezas — exige conhecimento técnico, sensibilidade institucional e habilidade de adaptação. Ao realizar esta pesquisa, foi possível compreender não apenas os fundamentos conceituais e operacionais da política cambial brasileira, mas também desenvolver uma visão crítica e integrada sobre o seu impacto no cotidiano econômico do país. Dessa forma, este trabalho proporcionou uma experiência enriquecedora de aprendizado, ao permitir o aprofundamento em temas como regimes cambiais, atuação do Banco Central, derivativos financeiros e indicadores macroeconômicos, ampliando a compreensão sobre os mecanismos que sustentam o sistema monetário nacional e sua interação com o cenário global. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERT, Roney (Frajola). Apostila do curso “Oficina do Fraja”. Material didático interno. [S.l.]: [s.n.], [2023?]. BANCO CENTRAL DO BRASIL (BCB). Séries temporais e indicadores econômicos. Disponível em: https://www.bcb.gov.br. Acesso em: jun. 2025. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Sistema de câmbio e política cambial. Disponível em: https://www.bcb.gov.br. Acesso em: 29 jun. 2025. BLANCHARD, Olivier; JOHNSON, David R. Macroeconomia. 6. ed. São Paulo: Pearson, 2012. DIEBOLD, Francis X. Financial risk management: models, history, and institutions. Princeton: Princeton University Press, 2019. 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