Prévia do material em texto
PROJETO ARQUITETÔNICO PROF.A ME VANESSA CALAZANS DA ROSA Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Gestão Educacional: Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Gabriela de Castro Pereira Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Luana Ramos Rocha Produção Audiovisual: Heber Acuña Berger Leonardo Mateus Gusmão Lopes Márcio Alexandre Júnior Lara Gestão de Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4 1 - PROJETAR .............................................................................................................................................................. 5 1.1. MAPEAMENTO DO PROCESSO ........................................................................................................................... 7 1.2. CONCEITOS ......................................................................................................................................................... 8 1.2.1. COMPOSIÇÃO .................................................................................................................................................... 8 1.2.2. PROGRAMA ARQUITETÔNICO ....................................................................................................................... 8 1.2.3. PARTIDO ARQUITETÔNICO ............................................................................................................................. 9 1.3 ETAPAS DO PROJETO ........................................................................................................................................ 10 1.4 PRECEDENTES DE OBRAS CONCEITUADAS DE ARQUITETURA ................................................................... 12 1.4.1 ANÁLISE DE PRECEDENTES ARQUITETÔNICOS .......................................................................................... 12 1.4.1.1. CASA FARNSWORTH ..................................................................................................................................... 13 1.4.1.2. CASA DAS CANOAS ...................................................................................................................................... 16 2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 22 PROJETO ARQUITETÔNICO PROF.A MA VANESSA CALAZANS DA ROSA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PROJETO ARQUITETÔNICO 4WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Arquitetura é, antes de mais nada, construção, mas, construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e visando a determinada intenção (COSTA, 1940). A palavra Arquitetura é composta por dois termos gregos: arché, cujo significado é primeiro ou principal, e tékton, construção. Arquitetura, então, seria a junção entre arte e técnica, o ato de projetar e edificar o ambiente que protege e abriga o ser humano. Essa construção é viabilizada pelo Projeto Arquitetônico, um conjunto de representações gráficas de uma edificação que ainda não existe, no qual o projetista deve operar com códigos e instruções adequadas para o entendimento de quem vai materializar a obra. O processo de projeto é o momento no qual os projetistas podem testar suas ideias. Para isso, podemos utilizar o desenho à mão, maquetes físicas e softwares computacionais, instrumentos que ajudam a simular a ideia, tirá-la da mente e materializá-la em forma. Ao encontrar a solução adequada para o edifício é hora de fazer o projeto executivo, que deve seguir uma série de normas e regras de representação necessárias para a comunicação com os construtores. Quanto mais problemas pudermos prever nessa etapa, mais soluções podemos encontrar antes do início da obra, evitando, assim, desperdícios de materiais, tempo e dinheiro. Alguns conceitos de processo de projeto, como análise, síntese, avaliação, programa, composição, partido arquitetônico etc., são muito conhecidos por arquitetos experientes. Além disso, o estudo de precedentes arquitetônicos (edifícios existentes e historicamente reconhecidos pela qualidade de suas soluções) nos auxilia a tomar as decisões mais apropriadas para solucionar um projeto e entender como funciona a mente dos projetistas. Nessa unidade vamos estudar conceitos de projeto arquitetônico e suas principais etapas, como dar início a essa tarefa e quais condicionantes devem ser consideradas pelo projetista. 5WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - PROJETAR Arquitetura e construção não são sinônimos, embora sejam termos muito próximos. Na antiguidade, projeto e construção eram realizados simultaneamente dentro do canteiro de obras, mas, a partir do período do Renascimento (séc. XV), houve uma separação entre projetistas e executores. Essa separação teve como consequência a necessidade de objetivar as ideias do projeto e expressá-las de modo compreensível para os construtores (CORONA MARTINEZ, 2000). Historicamente, plantas e especificações são um dado recente. No passado, aquele que fazia um desenho, em geral, o transmitia de forma direta para sua equipe de construção e o explicava mostrando diretamente o que deveria ser feito (NEUTRA, 1952). Figura 1 – Catedral de Metz, França, 1220-1520: projeto e execução acontecem simultaneamente. Catedral de Maringá, 1959-1972: o projeto é elaborado antes e fora do canteiro de obras. Fonte: a autora (2018). Projetar seria, então, imaginar e conceber algo que ainda não existe. As representações gráficas desse futuro objeto constituem a parte principal do Projeto Arquitetônico. As projeções ortogonais em planta, corte e elevação são os meios que temos para representar um objeto tridimensional em duas dimensões e foram sistematizadas pela Geometria Descritiva desde o século XVIII. Essa maneira de representar domina todas as etapas do projeto e é indispensável para a comunicação final com os construtores. Desse modo, o projetista inventa o objeto ao mesmo tempo em que o desenha e, conforme o projeto avança, os desenhos desse objeto inexistente vão ganhando cada vez mais precisão e detalhes. 6WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 2 – Evolução do projeto da Casa Gerassi do arquitetoda Casa de Vidro. Fonte: Fracalossi, Archdaily (2011). O caminho que se faz antes de entrar na casa é uma passagem no meio do bosque que rodeia a residência, camuflando o volume de vidro, que só é percebido quando estamos quase abaixo da laje da sala. Uma escada metálica de dois lances dá acesso da garagem à sala principal. Quando chegamos no vestíbulo superior, nos deparamos com uma belíssima árvore que ocupa um vazio no meio da sala principal. O único plano opaco do espaço divide o setor social do setor íntimo, e um jardim linear divide o setor íntimo do setor de serviços, transformando a cozinha em um espaço de transição e circulação para quem sair ao jardim posterior. 50WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 2.1.2. CASA CARMEM PORTINHO Essa residência está em um grande terreno de densa vegetação no Rio de Janeiro. Devido ao grande decline do lugar, a casa possui uma vista privilegiada para a cidade. O projeto é de Affonso Eduardo Reidy, em 1950, para ele e sua companheira Carmem Portinho, que dá nome à casa. O volume é o resultado do encontro de dois prismas trapezoidais. Um dos volumes está assentado diretamente sobre o solo e abriga garagem acesso principal, quarto de empregada e serviços. O outro se apoia sobre oito pilares, que passam a impressão do volume estar flutuando sobre o terreno, e abriga o programa principal da casa: sala de estar e terraço, cozinha, um dormitório e um estúdio. Figura 41 – Fachada de acesso. Fonte: Grupo de pesquisa casas brasileiras PROARQ-FAU-UFRJ (2001). A forma, reforçada por paredes laterais cegas, é definida pela calha central do telhado em V. Essa solução também permite que o pé-direito da sala e terraço fique mais alto, facilitando, assim, a ventilação cruzada em todo o volume principal da casa. Estrutura em concreto, venezianas de madeira e grandes janelas de vidro são os materiais que conformam esse volume. 51WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 42 – Planta e Corte da Casa Carmem Portinho. Fonte: Grupo de pesquisa casas brasileiras PROARQ-FAU- -UFRJ (2001). 52WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA O programa enxuto não permite grandes coleções de obras de arte ou móveis desnecessários. Todo o espaço é equipado com o mínimo para acomodar a vida moderna. Assim como na casa de vidro, também notamos aqui uma organização definida pelo zoneamento das funções: Aqui vemos como as áreas social, íntima e de serviço se articulam de modo a manter a hierarquia na privacidade doméstica sem comprometer a circulação interna e a solução formal, e sem interferir na integridade do espaço principal da casa com portas ou corredores indesejáveis (REGO, 2008, p. 47). 2.1.3. CASA ROTHSCHILD Essa casa, projetada por Oscar Niemeyer para o barão Edmond Rothschild em Israel, não foi construída. Os registros do projeto mostram uma planta quadrada com 32m de lado e 4m de altura. A cobertura é uma laje plana que foi recortada com um desenho curvo e sinuoso, deixando o terraço da piscina descoberto. Figura 43 – Modelagem tridimensional. Fonte: Milazzo; Almagro (2016). Mais uma vez área social e área íntima são separadas. A parte íntima ocupa a face leste do volume e está a um metro acima do solo – são cinco suítes e uma biblioteca conectadas por uma varanda, essa fachada recebeu um brise vertical fixo com ritmo variado e arbitrário. A parte social composta por um grande salão de estar e a varanda da piscina, com a projeção curva da laje, recebe o fechamento em quatro grandes placas pivotantes. A fachada norte é uma parede totalmente cega, enquanto a sul é uma grande parede com poucas aberturas de acesso, aqui também estão distribuídas as áreas de serviço e a cozinha. A planta quadrada e o fechamento das quatro fachadas estabelece uma relação de negação com o entorno. A paisagem que se quer preservar é aquela criada pela própria casa: a forma da piscina e o recorte orgânico da laje são o ponto focal da composição. 53WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 44 – Planta da casa Rothschild. Fonte: Rego (2008). 2.1.4. CASA OSCAR AMERICANO Essa casa em São Paulo foi projetada por Oswaldo Bratke, em 1952. Sua fachada alongada e horizontal possui rigidez geométrica e unidade em uma composição simples. A modulação da estrutura aparece nessa composição, deixando lajes e pilares ressaltados na fachada, evidenciando a independência entre estrutura e fechamento, que ora pode ser aberto e transparente, ora pode ser fechado e opaco. Figura 45 – Fachada de acesso. Fonte: Dias; Abascal. Foto de Kon (2013). 54WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Essa estrutura será a regra de composição do projeto da casa como um todo, não há espaço para a invenção formal, o arquiteto apenas pode trabalhar com a configuração formal pré- estabelecida. Assim, a geometria estrutural vai dar ordem ao projeto. Apesar da horizontalidade do volume, a casa possui dois pavimentos, que aproveitam o desnível natural do terreno. O superior é o pavimento principal e de acesso, está elevado do chão, são necessários cinco degraus para chegarmos ao terraço de entrada, delimitando o jardim diante da casa. Figura 46 – Planta da Casa Oscar Americano. Fonte: Fracalossi, Archdaily (2013). A organização da planta também respeita a modulação estrutural, a porção central da casa é a parte social: hall de entrada, sala de estar e terraço. À direita de quem entra, na residência se organizam as cinco suítes, enquanto à esquerda estão as áreas de serviço, cozinha e refeição. O salão principal é o espaço mais privilegiado da casa, pois dele podemos admirar tanto o jardim diante do acesso quanto a paisagem do fundo de vale no lado oposto. 55WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Lembre-se sempre do sistema estrutural. Figura 47 – Eixos de estrutura. Fonte: Frederick (2010). Procure sempre mostrar os pilares e as colunas estruturais no desenho da planta baixa, mesmo que seja o início do processo de projeto. Isso vai te ajudar a organizar os espaços. O posicionamento dos pilares é regularizado para a eficiência da construção e deve sempre ser considerado, pois pode determinar o uso do espaço. Estruturas de madeira têm normalmente colunas em sequência ou paredes de arrimo a cada 3 a 5 metros; edifícios em escala comercial de aço ou concreto a cada 7 a 15 metros. Sistemas estruturais para auditórios, arenas e outros espaços afins podem ter arcadas de 30 metros ou mais (FREDERICK, 2010). 56WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Como fazemos para organizar uma planta de forma racional? Como projetar as circulações? Os espaços de serviço? E os espaços de permanência? Figura 48 – Organização de planta através da circulação. Fonte: Frederick (2010). Para o propósito de design conceitual, considere as funções centrais de um edifício como sólidas: seus sanitários, depósitos, espaços mecânicos, passagens de elevador, escadas de incêndio, entre outras. Espaços centrais são normalmente agrupados ou localizados um próximo do outro. Os espaços vazios de um edifício são os primeiros e maiores a ser projetados: seus saguões, laboratórios, espaços para cultos, galerias de exposições, salas de leitura, auditórios, ginásios, salas de estar, escritórios, espaços industriais, e assim por diante. Deliberar uma planta baixa significa criar relações práticas e agradáveis entre as áreas centrais e as áreas do programa básico (FREDERICK, 2010). 57WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA O artigo Casas brasileiras do século XX traz projetos emblemáticos da arquitetura residencial e modernista produzida no Brasil. São analisadas18 casas projetadas no período de 1940 até os anos 2000. O artigo de Abilio Guerra e Alessandro José Castroviejo Ribeiro foi publicado na revista Arquitextos e pode ser lido através do link:. Acesso em: 20 out. 2018. Fonte: GaleriaDaArquitetura (2014). 58WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A casa é o programa arquitetônico essencial para todo projetista. É comum que arquitetos projetem suas próprias residências, inserindo com muita liberdade suas convicções do que é o espaço ideal. Moradia é o programa mais recorrente nas nossas cidades, seja apartamento, em edifícios multifamiliares, seja casa unifamiliar que ocupa um terreno na cidade. Todo ser humano, independente da classe social, tem direito à moradia, é por isso que o programa residencial sempre foi e sempre será uma questão atual para os projetistas e planejadores urbanos. O programa de necessidades de uma residência varia de acordo com o tipo de família que vai ocupar o espaço. Cada família possui um número de pessoas diferente, um estilo de vida diferente e esses critérios definem espaços distintos para as casas que projetamos. Assim, é de extrema importância que o projetista conheça bem os usuários para quem está projetando. Nos precedentes arquitetônicos que estudamos nessa unidade podemos perceber como o programa básico de uma residência é organizado. A separação entre as áreas de serviço, descanso e social é bastante recorrente. Essa solução permite que o espaço seja organizado de maneira racional, inclusive quando o sistema estrutural acompanha essa divisão permite que os ambientes fiquem livres de pilares e vigas, evitando que atrapalhasse a colocação dos móveis. O entendimento do local e do terreno onde se intervém também é um critério essencial para um bom projeto. Pois, com isso, o projetista garante o conforto ambiental do espaço interno e uma relação com o entorno da construção: um jardim ou uma cidade densa e construída. Por fim, é preciso conhecer as soluções construtivas, espaciais e organizacionais de precedentes arquitetônicos importantes da história da arquitetura brasileira e internacional, que nos ajudam a fazer as escolhas certas no projeto que concebemos. 5959WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 04 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 60 1 - PROGRAMA DE NECESSIDADES ....................................................................................................................... 61 1.1 TERRENO E LEGISLAÇÃO ................................................................................................................................... 62 2 - ESTUDO DE REFERÊNCIAS ARQUITETÔNICAS .............................................................................................. 63 3 - APROVAÇÃO DE PROJETO NOS ÓRGÃOS PÚBLICOS ..................................................................................... 65 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................................. 73 PROJETO ARQUITETÔNICO DE EDIFICAÇÃO DE USO MISTO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PROJETO ARQUITETÔNICO PROF.A MA VANESSA CALAZANS DA ROSA 60WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO “Como arquiteto, deve-se projetar para o presente, com certo conhecimento do passado, para um futuro que é essencialmente desconhecido” (FOSTER, s/d, s.p.). O projeto de residência térrea é sempre um bom ponto de partida para quem quer praticar a habilidade de conceber espaços. Mas a carreira de projetistas, arquitetos e engenheiros, possui situações de maior complexidade. Quanto maior o programa de necessidades, mais problemas devemos resolver e mais conflitos devemos evitar. Nessa unidade, estudaremos projetos de uso misto, suas diferentes funções, acessos e como será o resultado formal de tudo isso. Você deve projetar uma edificação de dois pavimentos com uso comercial e residencial. Esse programa foi definido pois é um tipo bastante comum em nossas cidades e gera benefícios para a população. Segundo Gaete (2013, s/p), “os bairros de uso misto, onde as pessoas podem caminhar mais, geram benefícios para a saúde de seus habitantes e fomentam a criação de comunidades mais ativas, com qualidade de vida superior”. Além disso, projetos de uso misto atendem às principais funções da cidade: moradia, trabalho, comércio e lazer. Após definido o programa de necessidades, vamos estudar o terreno e, então, buscar algumas referências arquitetônicas a fim de perceber e aprender como edifícios de uso misto devem ser projetados para suas diferentes funções. 61WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - PROGRAMA DE NECESSIDADES Nessa unidade vamos fazer um projeto de uso misto. Funções diferentes na mesma edificação devem ser bem planejadas de modo a evitar conflitos entre os usuários de cada função. O projetista precisa ter a sensibilidade de saber quais funções devem estar próximas e quais devem estar separadas, além de compreender o contexto urbano em que o empreendimento está inserido para resolver acessos e volumetria, deixando as diferentes funções claras e legíveis para quem passa pela via pública (calçada ou rua). Nessa unidade temos um programa de necessidades maior e mais complexo: - Estabelecimento de uso misto de 2 pavimentos; - Uso comercial: 2 salas comerciais; - Uso comercial: Lavabo acessível; - Uso comercial: Área de copa com pia; - Uso residencial: dois apartamentos de até 55m²; - Uso residencial: sala de estar; - Uso residencial: dois quartos; - Uso residencial: cozinha e área de serviço; - Uso residencial: um banheiro social; - Acessos independentes; - Circulação feita por escada protegida; - Estacionamento para automóveis; - Deixar espaço para instalação de futuro elevador. Programas como esse são interessantes pois agregam valor à edificação, uma vez que ter um espaço comercial (restaurante, salão de beleza, lojas em geral etc.) próximo a residências é favorável tanto para os moradores quanto para os comerciantes. Além de gerar uma circulação contínua de usuários (moradores, clientes, lojistas etc.) que acaba movimentando a rua e valorizando todo o bairro. Cabe ao projetista criar espaços confortáveis, com iluminação e ventilação apropriada, o correto dimensionamento das áreas e a separação adequada dos acessos às diferentes funções. É preciso, também, que a edificação possua legibilidade quanto aos seus distintos usos. Alguém que procura um apartamento ou um comércio nessa área, mas não conhece o edifício, precisa perceber logo onde estão os diferentes acessos ou o estacionamento onde deve deixar seu carro. 62WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA 1.1 Terreno e Legislação Localizado em Maringá na Avenida Joaquim Duarte Moleirinho, o terreno em que você deverá projetar possui área de 450,00m². Sendo um lote de esquina, com duas frentes, deverá ser projetada uma edificação com duas fachadasprincipais. O lado menor mede 15,00m e o maior 30,00m, considere um desnível inexistente. A zona a que o terreno pertence é a Zona Residencial 2 (ZR2), mas a presença da avenida submete o local aos parâmetros de uso e ocupação do Eixo de Comércio e Serviço B (ECSB), como demonstra a tabela a seguir. Figura 49 – Localização do terreno. Fonte: Prefeitura do Município de Maringá (2018). Figura 50 – Parâmetros de uso e ocupação do terreno. Fonte: Prefeitura do Município de Maringá (2018). Ao final do seu projeto, faça os cálculos dos índices urbanísticos e monte uma tabela de esquadrias. Nesse projeto você deve atender aos critérios de acessibilidade para o uso comercial, evitando escadas e espaços onde a cadeira de rodas não tem acesso. Para o uso residencial a acessibilidade universal não é obrigatória. 63WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA 2 - ESTUDO DE REFERÊNCIAS ARQUITETÔNICAS Nessa unidade vamos estudar um projeto que é residência e consultório médico no mesmo local. Construída em 1955, a casa Curutchet foi projetada pelo arquiteto Le Corbusier, que foi contratado por um médico argentino solicitando uma residência para sua família e um espaço para abrigar sua clínica de atendimento, no mesmo terreno, localizado na cidade de La Plata, próxima a Buenos Aires. Figura 51 – Fachada da Casa Curuuchet. Fonte: Holanda. Archdaily. (2012). Quando Le Corbusier aceitou o desafio de fazer esse projeto, ele precisou de um colaborador para acompanhar e executar a obra, uma vez que o arquiteto suíço não poderia se deslocar até a Argentina. O argentino Amancio Williams ficou responsável por essa tarefa, ele executou a obra e inclusive fez algumas mudanças necessárias no projeto, tudo com a permissão de Le Corbusier com quem se comunicava através de cartas. O terreno possui 9,00m de frente por 20,00m de profundidade e está localizado em frente a uma praça pública da cidade, mantendo uma relação visual através de terraços e a transparência das grandes janelas do consultório. A casa foi dividida em dois volumes: residência na parte posterior do lote e consultório na parte frontal, alinhado com a rua e com vista para a praça. Entre esses dois volumes, que separam os usos de moradia e trabalho, o arquiteto previu um pátio aberto com jardim. A ligação entre esses volumes acontece através de uma rampa de acesso que passa por esse pátio organizando as circulações entre residência e clínica. 64WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 52 – Rampa e pátio da Casa Curuuchet. Fonte: Holanda. Archdaily. Foto de Julia Risi (2012). Ao adentrar o terreno, o pedestre está protegido pelo volume do consultório que fica apoiado sobre pilares, deixando o térreo livre. Para entrar na casa é preciso subir um lance da rampa, passando pelo jardim do pátio. Para entrar no consultório é preciso subir mais um lance da rampa, completando o percurso e retornando à frente do lote, chegando ao volume superior que protege a entrada. O programa residencial está distribuído em quatro pavimentos, conectados por uma escada em U encostada no muro do fundo do lote. Já o programa do consultório médico está concentrado em um pavimento que possui como cobertura um terraço plano, protegido por um brise fixo de concreto branco, de onde podemos observar a praça. 65WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 52 – Plantas da Casa Curuuchet. Fonte: Holanda. Archdaily (2012). Essa casa é considerada a única obra construída do arquiteto suíço na América Latina, apesar de outros projetos e tentativas do arquiteto – inclusive no Brasil – que não foram concretizadas. A organização do programa de necessidades, que separa a casa em dois volumes, a composição modernista e a espacialidade obtida por esse projeto fizeram com que a casa ficasse muito conhecida no meio arquitetônico. Em 1987, ela foi declarada como um monumento nacional da Argentina. 3 - APROVAÇÃO DE PROJETO NOS ÓRGÃOS PÚBLICOS Como visto na Unidade I, as construções que fazemos como responsáveis técnicos em nossas cidades devem ser analisadas e aprovadas pelos órgãos públicos competentes, geralmente, a prefeitura. O documento que devemos preparar nessa etapa é o chamado Projeto Legal (P.L.) – ver 1.3. Etapas do Projeto. Cada prefeitura pode definir aquilo que o profissional deve entregar para a aprovação de sua obra e, assim, conseguir o alvará de construção. Na prefeitura de Maringá devemos obedecer aos critérios do Agiliza Obras. Se você precisa saber sobre outras cidades deve se informar na prefeitura ou com algum profissional da área. As informações sobre o Agiliza Obras podem ser facilmente encontradas no site da Prefeitura Municipal de Maringá, podendo ser acessadas por qualquer pessoa – profissional da área ou não. Existem três modelos de aprovação de projeto: regularização, modificação e construção. 66WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA A prancha do projeto legal é composta, basicamente, pelo desenho da implantação da edificação no lote e pelos gabaritos de área de cada pavimento. Essas informações já são suficientes para que a prefeitura de Maringá possa conferir parâmetros urbanísticos: recuos, índice de aproveitamento, taxa de ocupação e taxa de permeabilidade. Além disso, também é preciso identificar acessos de automóveis e pedestres e vagas de estacionamento, tanto de carros como de motocicletas. O Agiliza Obras de Maringá não exige a entrega das plantas e cortes completos, nem confere dimensões de ambientes ou esquadrias, esses itens são de inteira responsabilidade do profissional que assina o projeto. A redução dos dados apresentados para a aprovação do projeto e pedido de alvará da obra juntamente com a informatização e digitalização de todo o projeto tem como objetivo acelerar esse processo. Seguem imagens da legenda padrão e do carimbo que o profissional deve utilizar nas pranchas. 67WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 53 – Legenda padrão para o projeto legal. Fonte: Prefeitura do Município de Maringá (2018). 68WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 54 – Modelo de carimbo para a prancha. Fonte: Prefeitura do Município de Maringá (2018). 69WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Calçadas e fachadas ativas geram uma cidade inclusiva ao priorizar os cidadãos no planejamento urbano. Como o espaço público mais utilizado pelos pedestres na vida urbana, as calçadas devem ser bem pensadas a fim de darem conforto e segurança a quem usufrui e transita por elas. Quando estiver desenhando um edifício com perfil urbano, posicione sua fachada de forma alinhada à construção da rua, a não ser que haja uma razão para fazer o contrário. Na verdade, pode ser tentador – como foi para muitos arquitetos modernistas – destacar um prédio urbano retrocedendo-o da rua, mas a vida urbana é baseada em proximidade, facilidade de movimento e urgência. Colocar edifícios recuados da calçada torna-os menos acessíveis ao pedestre, reduz a viabilidade econômica das empresas [e lojas] do andar térreo e enfraquece a definição espacial da rua (FREDERICK, 2010). Figura 55 – Desenho da calçada ideal. Fonte: Frederick (2010). 70WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Imagine cada projeto como o resultado final da edificação. “Quando for difícil encontrar uma solução para uma planta baixa, uma planta do local, elevação do edifício, seção ou forma do edifício, considere-a como uma composição em 2D ou 3D. Isso irá encorajá-lo a dar atenção equilibrada à forma e ao espaço irá ajuda-lo a integrar aspectos discrepantes do esquema; irá, também, desencorajá-lo de focar excessivamenteem seu traço favorito (FREDERICK, 2010, p. 43). Faça as seguintes perguntas: • A composição possui um equilíbrio abrangente? • Algumas áreas da composição parecem ter sido ignoradas? Arte de projetar em arquitetura é um livro que todo projetista deveria consultar sempre. O livro traz informações de dimensionamento, organização e layout de edifícios de todos os tipos e funções que podemos imaginar. Esse manual de construção, escrito originalmente por Ernst Neufert, foi revisado e atualizado. Vale a pena buscar em alguma biblioteca e conhecer essa importante obra: NEUFERT, E. Arte de projetar em arquitetura. São Paulo: Gustavo Gili, 2013. Fonte: Neufert (2013). 71WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA A série de vídeos produzida pelo ArqFuturo Brasil “Cidade cidadão” apresenta os principais desafios enfrentados pelas cidades e as soluções propostas pelo urbanismo contemporâneo. Segue o link do vídeo que traz como assunto o “uso misto” nas cidades. CIDADE CIDADÃO | USO MISTO – Arq.Futuro Brasil. 2017. Disponível em: . Acesso em: 28 out. 2018. Fonte: Arqfuturo Brasil (2017). 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A cidade contemporânea é a cidade do uso misto. Estudiosos da área afirmam que a mistura de funções no espaço urbano permite a circulação permanente de pessoas, o que acaba gerando um sentimento de segurança no espaço público. Além disso, edifícios que abrigam mais de uma função são benéficos para o mercado imobiliário, uma vez que contribuem para a valorização de um bairro na cidade. Assim, o projetista contemporâneo precisa compreender a complexidade dos novos programas de necessidades que as nossas cidades demandam. Muitas vezes o maior desafio é fazer um bom projeto em que convivam funções distintas e, por vezes, conflituosas. A experiência e o conhecimento são essenciais para que o projetista consiga organizar da melhor maneira possível esses novos edifício multifuncionais. Terminamos essa disciplina com a realização de projeto legal, fundamental para a aprovação nos órgãos públicos e alvará de construção. Como explicado, cada sede municipal possui um padrão diferente de projeto legal, por isso o profissional deve se informar na prefeitura de sua cidade qual é o procedimento correto para a aprovação de obras arquitetônicas. 72WWW.UNINGA.BR ENSINO A DISTÂNCIA REFERÊNCIAS ACAYABA. M. M. Residências em São Paulo 1947 – 1975. São Paulo: Projeto, 1986. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12267: Normas para elaboração de Plano Diretor. Rio de Janeiro, 1992. _____. NBR 13531: Projetos de Edificações – Atividades Técnicas. Rio de Janeiro, 1995. _____. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2015. _____. NBR 9077: Saídas de Emergência em Edifícios. Rio de Janeiro, 2001. BRITTO. F. O uso misto do solo como mecanismo para reduzir a criminalidade. 10 abr. 2013. ArchDaily Brasil. Acesso em: 22 nov. 2018. Disponível em: . ISSN 0719- 8906. CARLOS. L. O que é Arquitetura. São Paulo: Brasiliense, 1994. CHING. F. D. K.; LAMPARELLI, A. H. Arquitetura: Forma, espaço e ordem. São Paulo: Martins Fontes, 2002. CORONA MARTÍNEZ. A. Ensaio sobre o projeto. Tradução de Ane Lise. COSTA. L. Relatório do Plano Piloto de Brasília. Rio de Janeiro, 1955. FRACALOSSI. I. Clássicos da Arquitetura: Casa das Canoas / Oscar Niemeyer. 15 dez. 2011. ArchDaily Brasil. Acesso em: 22 nov. 2018. Disponível em: . ISSN 0719-8906. _____. Clássicos da Arquitetura: Casa de Vidro / Lina Bo Bardi. 14 Dez 2011. ArchDaily Brasil. Acesso em: 22 nov. 2018. Disponível em: . ISSN 0719-8906. _____. Clássicos da Arquitetura: Residência Oscar Americano / Oswaldo Bratke. 24 jul. 2013. ArchDaily Brasil. Acesso em: 22 nov. 2018. Disponível em: . ISSN 0719- 8906. FREDERICK. M. 101 Lições que aprendi na Escola de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2010. HOLANDA. M. Clássicos da Arquitetura: Casa Curutchet / Le Corbusier. 21 abr. 2012. ArchDaily Brasil. Acesso em: 22 nov. 2018. Disponível em: . ISSN 0719-8906. 73WWW.UNINGA.BR ENSINO A DISTÂNCIA REFERÊNCIAS LAWSON. B. Como arquitetos e designers pensam. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. MILAZZO. M.; ALMAGRO. R. Residência Rothschild, de Oscar Niemeyer. Revista Projetos. 2016. ISSN 2595-4245. NEUFERT. E. A arte de projetar em arquitetura. 17ª ed. Barcelona: Gustavo Gili, 2011. _____. A Arte de Projetar em Arquitetura. São Paulo: Gustavo Gili, 2013. PERRONE. R. A. C.; VARGAS. H. C. Fundamentos de Projeto: Arquitetura e Urbanismo. São Paulo: EDUSP, 2014. REGO. R. L. Conformações para a vida moderna: A arquitetura e a morada em meados do século XX. Maringá: EDUEM, 2008. ROCHA. P. M. A cidade é feita mais de homens do que de construções. El País Brasil: São Paulo. 8 nov. 2018. Disponível em: . Acesso em: 10 nov. 2018. SABOYA. R. Taxa de ocupação e coeficiente de aproveitamento. Urbanidades, 2007. Disponível em: . Acesso em: 22 out. 2018. SABOYA. R. Urbanismo e planejamento urbano no Brasil – 1875 a 1992. Urbanidades, 2008. Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2018. _____. Zoneamento e planos diretores. Urbanidades, 2007. Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2018. _____. Zoneamento e planos diretores. Urbanidades, 2017. Disponível em: . Acesso em: 22 out. 2018. UNWIN. S. Exercícios de Arquitetura: Aprendendo a Pensar como um Arquiteto. São Paulo: Bookman, 2013. _____. Vinte Edifícios Que Todo Arquiteto Deve Compreender: Aprendendo a Pensar como um Arquiteto. São Paulo: Martins Fontes, 2014. VERRI JÚNIOR. A. A obra de José Augusto Bellucci em Maringá. 2001. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo. VILELA JÚNIOR, A. J. A casa na obra de João Filgueiras Lima, Lelé. 2011. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, Brasília. 74WWW.UNINGA.BR ENSINO A DISTÂNCIA REFERÊNCIAS WISNICK. G. Oscar Niemeyer. São Paulo: Folha de São Paulo, 2011. ZEVI. B. Saber ver arquitetura. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.Paulo Mendes da Rocha. Fonte: adaptado de Zein (2005). O processo de fazer projeto é uma habilidade complexa e sofisticada, ou seja, uma prática que apenas pode ser adquirida através de repetidas tentativas (UNWIN, 2013, p. 5). Assim como para aprender um novo idioma ou um instrumento musical não basta apenas seguir um manual de instruções, é preciso praticar o processo de projeto – desenhar, apagar e desenhar de novo. Mesmo um projetista com anos de experiência opera o projeto modificando-o inúmeras vezes, até encontrar uma solução satisfatória (CORONA MARTINEZ, 2000). Figura 3 – Processo de projeto para a rodoviária de Londrina de Oscar Niemeyer, em que o arquiteto descarta a planta retangular e adota a planta circular. Fonte: adaptado de Niemeyer (1978). O projeto possui várias escalas, cada uma com sua complexidade particular. Podemos começar, por exemplo, pela escala maior: o projeto de uma cidade inteira. Depois detalhamos um bairro dessa cidade e, então, uma edificação localizada nesse bairro. Diminuindo ainda mais a escala, podemos fazer o detalhamento de esquadrias, o projeto de interiores e até chegar ao detalhamento da dobradiça da porta de um armário. “Portanto, parte da definição de um problema de projeto é o nível de detalhamento que exige atenção” (LAWSON, 2011, p. 61). Para que os estudantes possam praticar atividades de projeto, é comum que as escolas do mundo todo utilizem o ateliê físico e conceitual como principal meio de ensino (LAWSON, 2011). O sistema de ateliê é um “processo de aprender fazendo, no qual os alunos recebem uma série de problemas de projeto para resolver” (LAWSON, 2011, p. 19): o aprendizado se dá através da realização de um projeto pelo estudante. A manipulação desses problemas, a interpretação das informações necessárias e a união coerente das ideias são um processo mental que deve ser concretizado em formas, sejam maquetes, modelos ou desenhos, que, normalmente, são mais usados no início desse processo. Essa concretização das ideias é o que permite testar, aferir e avaliar se a proposta é viável. É você, estudante, que nessa disciplina vai praticar e descobrir qual é a sua maneira de começar um projeto. Desenhos a mão e maquetes rápidas de papel são eficientes para testar forma e espaço no início do processo, mas há aqueles que não abrem mão dos instrumentos virtuais como Sketchup e AutoCAD. 7WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 4 – Processo de projeto para a catedral de Maringá, em que o arquiteto Bellucci utiliza desenhos e maque- tes. Fonte: adaptado de Verri (2000). 1.1. Mapeamento do Processo Chamamos de processo projetual o conhecimento dos problemas de projeto e as tentativas de resolvê-los. A solução desses problemas consiste, então, em uma “sequência de decisões” definida pelo ordenamento e estruturação do problema (análise); tentativa de criar resposta ao problema (síntese); crítica das soluções sugeridas (avaliação); e, por fim, a decisão de projeto. Essa sequência nem sempre é linear e unidirecional: é comum voltar a uma etapa precedente, dar um passo atrás e rever uma solução. O processo é, assim, uma sequência cíclica. O ato de projetar não é uma atividade que se manipula por meio de uma sequência de procedimentos logicamente encadeados ou dedutíveis, como numa experiência supermetódica ou cientifica. Esses procedimentos, por vezes, se manifestam de modo linear e sucessivo, por vezes de maneira tortuosa ou de forma retroativa ou superposta, quase sempre por idas e vindas, avanços e tropeços (PERRONE, 2014, p. 149). Figura 5 – Representação gráfica do processo de projeto. Fonte: Lawson (2011, p. 46-47). Outro ponto importante é que, em um projeto, o mesmo problema possui inúmeras respostas válidas. Assim, são possíveis infinitas combinações das diferentes respostas dadas aos diversos problemas que compõem um projeto. Por isso, o resultado nunca é o mesmo! O mesmo problema de projeto, orientado pelo mesmo professor em uma sala de aula acarreta sempre em resultados diferentes e únicos. 8WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2. Conceitos Durante o aprendizado de projeto, muitas vezes vamos nos deparar com novas palavras e novos conceitos relacionados à concepção do espaço ainda inexistente. “As expressões ‘desenho arquitetônico’, ‘composição arquitetônica’, ‘arquitetura’, ‘projetos’, etc. designam um conjunto de matérias de ensino da prática projetual que se semelham bastante nas diferentes escolas de arquitetura.” (CORONA MARTINEZ, 2000, p. 55). 1.2.1. Composição Em geral, compor significa “colocar junto”: relacionar e juntar partes que formam um todo, criando assim a forma e o espaço do futuro edifício. Um campus universitário, por exemplo, é composto por vários edifícios, cada um com sua função específica, que por sua vez, são compostos por elementos arquitetônicos – paredes, pisos, escadas, tetos, portas e janelas. Se ainda escolhermos uma janela desse edifício, também podemos dividi-la em partes que juntas formam esse objeto completo. Assim, chamamos as partes dos edifícios de “elementos de composição”. Repare que, os elementos são, geralmente, objetos estáticos – parede, porta, teto – e que nós nos movimentamos e ocupamos o espaço vazio entre esses elementos. As formas e as qualidades dos espaços arquitetônicos influenciam incrivelmente a experiência e o comportamento humano, porque nós habitamos os espaços do nosso meio construído e não as paredes sólidas, os telhados e as colunas que os formam (FREDERICK, 2010, p. 18). 1.2.2. Programa arquitetônico Cada novo edifício terá de cumprir determinadas necessidades, que estarão distribuídas e organizadas em espaços apropriados. Esse conjunto de necessidades funcionais e sociais é conhecido como Programa, e é a partir dele que o arquiteto inicia a criação artística. Programa arquitetônico ou programa de necessidades se refere, então, ao planejamento dos espaços de um edifício de acordo com as atividades que cada espaço deverá abrigar. É nesse momento que o projetista deve saber qual o correto dimensionamento desses espaços, analisando a área que cada atividade demanda, de qual o mobiliário necessita e quantos usuários vão realizá- la. 9WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 6 – Modelo de organização e dimensionamento dos espaços de um edifício. Fonte: Frederick (2010). 1.2.3. Partido arquitetônico O bom projeto é conduzido por ideias essenciais. Partido arquitetônico seria a ideia central ou o conceito de uma construção, que tem como consequência uma forma, ou seja, um resultado físico que é derivado de algumas condicionantes. Segundo Carlos Lemos (1994), existem seis condicionantes que determinam o partido arquitetônico: • A técnica construtiva, uma das mais importantes, depende dos materiais e recursos disponíveis; • O clima, que deve definir o conforto do usuário, dependendo do local onde a construção está no mundo; • As condições físicas e topográficas do local onde se intervém; • O programa de necessidades, segundo os usos, costumes populares e as expectativas do usuário; • As condições financeiras do empreendedor dentro do quadro econômico da sociedade; • A legislação regulamentadora e/ou as normas sociais e/ou as regras da funcionalidade. É importante lembrar, como já foi dito nesta unidade, que as mesmas situações podem justificar infinitos partidos, composições e soluções diferentes entre si. A representação do partido arquitetônico pode ser feita por meio de diagramas e/ou textos. 10WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA “[...] Dito isto, vejamos como nasceu, se definiu e resolveu a presente solução: 1 – Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o pró- prio sinal da cruz.2 – Procurou-se depois a adaptação à topografia local, ao escoa- mento natural das águas, à melhor orientação, arqueando-se um dos eixos a fim de contê-lo no triângulo equilátero que define a área urbanizada [...]”. Figura 7 – Representação do partido arquitetônico do projeto da nova capital Brasília. Fonte: Memorial de Brasília de Lucio Costa (1956). Na Roma Antiga, um arquiteto chamado Marcus Vitruvius Pollio escreveu os 10 volumes do livro “De Architectura”. Nos livros, Vitruvius entedia a arquitetura a partir de três aspectos: a solidez, a funcionalidade e a beleza. A solidez consiste no sistema construtivo do edifício, aquilo que faz ele “parar em pé”. A funcionalidade é a correta distribuição e dimensionamento das funções que o edifício deve abrigar. E a beleza consiste na harmonia da composição de elementos clássicos na obra. Para Vitruvius, a boa arquitetura seria aquela que representasse o perfeito equilíbrio entre esses três aspectos. 1.3 Etapas do Projeto As etapas de projeto são definidas pela Norma Brasileira de Elaboração de Projetos de Edificações – Atividades Técnicas (NBR 13.531/1995). Cada uma das etapas compõe uma parte sucessiva das atividades técnicas do projeto, a NBR 13531 divide o processo em oito partes. Seguem as definições de cada etapa: LEVANTAMENTO DE DADOS Etapa destinada à coleta das informações de referência que representem as condições preexistentes, de interesse para instruir a elaboração do projeto, podendo incluir os seguintes tipos de dados: planialtimétricos; cadastrais; geológicos; hídricos; ambientais; climáticos; ecológicos; técnicos; legais; legais e jurídicos; sociais; econômicos; financeiros; e outros. PROGRAMA DE NECESSIDADES Etapa destinada à determinação das exigências de caráter prescritivo ou de desempenho (necessidades e expectativas dos usuários) a serem satisfeitas pela edificação a ser concebida 11WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA ESTUDO DE VIABILIDADE Etapa destinada à elaboração de análise e avaliações para seleção e recomendação de alternativas para a concepção da edificação e de seus elementos, instalações e componentes. ESTUDO PRELIMINAR Etapa destinada à concepção e à representação do conjunto de informações técnicas iniciais e aproximadas, necessário à compreensão da configuração da edificação, podendo incluir soluções alternativas. ANTEPROJETO OU PRÉ-EXECUÇÃO Etapa destinada à concepção e representação das informações técnicas provisórias de detalhamento da edificação e de seus elementos, instalações e componentes, necessárias ao inter-relacionamento das atividades técnicas de projeto e suficientes à elaboração de estimativas aproximadas de custos e de prazos dos serviços de obra implicados. PROJETO LEGAL Etapa destinada à representação das informações técnicas necessárias à análise e aprovação, pelas autoridades competentes, da concepção da edificação e de seus elementos e instalações, com base nas exigências legais (municipal, estadual, federal), e à obtenção do alvará ou das licenças e demais documentos indispensáveis para as atividades de construção. PROJETO BÁSICO Etapa opcional destinada à concepção e à representação das informações técnicas da edificação e de seus elementos, instalações e componentes, ainda não completas ou definitivas, mas consideradas compatíveis com os projetos básicos das atividades técnicas necessárias e suficientes à licitação (contratação) dos serviços de obra correspondentes. PROJETO EXECUTIVO Etapa destinada à concepção e à representação final das informações técnicas da edificação e de seus elementos, instalações e componentes, completas, definitivas, necessárias e suficientes à licitação (contratação) e à execução dos serviços de obra correspondentes. Tabela 1 – Definição das Etapas de Projeto. Fonte: NBR 13531 (1995). 12WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA É comum, no Brasil, que o tempo do projeto seja menor que o tempo da obra. No entanto, não podemos poupar tempo na fase de projeto com o objetivo de começar a obra antes. É preciso que os projetistas passem por todas as etapas de projeto e tenham tempo suficiente para prever todo e qualquer problema antes da obra começar. Com isso, o tempo poderá ser facilmente recuperado na fase de execução da obra, inclusive gerando economia de gastos. 1.4 Precedentes de Obras Conceituadas de Arquitetura Todo novo projeto é para o projetista uma nova situação, e assim, todo projetista ao iniciar uma nova proposta se vê diante de uma folha em branco. Como começar um novo projeto? Quais são as atitudes iniciais? Como podemos saber qual é a solução mais adequada pra o novo desafio? Em primeiro lugar, nenhum objeto é realizado ou “inventado” sem que se conheça a existência de seus predecessores, seus análogos, ou quaisquer coisas que se possam ter em comum com o que vai ser projetado. Há de se ter em mente as memórias de objetos, espaços e ambientes similares (PERRONE, 2014, p. 149). A busca de precedentes é o procedimento mais adequado para o início do projeto. Todos os registros de um objeto similar devem ser pesquisados, revisados e apreendidos como referência para a concepção do novo objeto ainda inexistente. Conhecer os aspectos de um edifício similar e já existente ajuda o projetista a decidir sobre as qualidades que deseja manter e os defeitos que deseja evitar em seu novo projeto. “Assim, contata-se que não se deve pensar em projeto como uma inovação e criação de novidade, sem reservar espaço para o reconhecimento do que veio antes” (PERRONE, 2014, p. 149). Figura 8 – O Palácio do Itamaraty em Brasília possui claras referências aos tempos greco-romanos, com suas colu- nas na periferia da forma e a repetição dos arcos, resultando em um feitio moderno. Fonte: a autora (2018). 1.4.1 Análise de precedentes arquitetônicos As duas casas que vamos analisar nesse capítulo estão em situações completamente distintas, no entanto, apresentam alguns aspectos em comum que poderão ser observados através do estudo: 13WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1.4.1.1. CASA FARNSWORTH Figura 9 – Casa Farnsworth em Illinois, Estados Unidos da América. Fonte: Leoni (2011). Pequena residência projetada pelo arquiteto Mies Van der Rohe por volta de 1945, com construção em 1950 em um bosque no estado de Illinois, Estados Unidos. O arquiteto, nascido na Alemanha, começou sua carreira em Berlim. Porém, na década de 1930, se vê impossibilitado de continuar sua carreira profissional diante da ditadura nazista, por isso, emigra para a América do Norte e se estabelece nos Estados Unidos a partir de 1938. Essa é uma pequena casa, de forma simples, feita com poucos materiais – principalmente perfis de aço e vidro laminado. A obra mede, na planta, 8,80m por 23,50m, o programa está abrigado entre dois planos horizontais (lajes de forma retangular) paralelos: uma plataforma de piso e um teto plano, que são sustentados por oito pilares de aço, e têm seu espaço fechado por grandes planos de vidro transparente. A aparente simplicidade da casa tem muitas sutilezas. A Casa Farnsworth é elegante, e o contraponto entre sua estrutura branca e sua geometria disciplinada, por um lado, e a irregularidade pitoresca do cenário que a rodeia à margem do rio, por outro, é belo e envolvente. O edifício também está imbuído de uma poesia que apela ao intelecto, derivado da ressonância de sua forma com antigos precedentes arquitetônicos (UNWIN, 2014, p. 65). 14WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 10 – Esquema compositivo da Casa Farnsworth. Fonte: Unwin (2014). Ao entrar na casa, primeiro subimos alguns degraus para chegar a uma varanda descoberta, um plano horizontal que conforma um patamar entre o chão do bosque e o nível elevado do único pavimentoda residência. Ao passar por essa varanda, subimos mais alguns degraus e chegamos à segunda plataforma, onde, de fato, estão distribuídas as funções da casa que se moldam ao formato dos retângulos paralelos. Para entender a organização espacial observe a planta a seguir. 15WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 11 – Corte e Planta da Casa Farnsworth. Fonte: Unwin (2014). O layout é bastante flexível, permitindo que o morador possa mudar quando achar conveniente. Para garantir as funções de privacidade, o arquiteto previu um núcleo dividido em três partes – dois banheiros e o dispositivo de aquecimento central –, entre a sala de estar e a cozinha. Esse núcleo central possui simetria nos seus dois eixos centrais, ele define a posição da mobília fixa: bancadas da cozinha, instalações sanitárias e armários e lareira da sala de estar. 16WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 12 – Imagens do interior da Casa Farnsworth. Fonte: Leoni (2011). O espaço dessa residência não é definido por paredes sólidas, mas sim pela posição dos móveis, algo que gera uma liberdade de ocupação. A valorização da paisagem do bosque é concebida junto com o projeto, pois os planos de vidro permitem sua visão de dentro da casa e em qualquer posição. Assim, a natureza também faz parte da arquitetura. 1.4.1.2. CASA DAS CANOAS Figura 13 – Casa das Canoas de Oscar Niemeyer. Fonte: Fracalossi, ArchDaily (2018). 17WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Essa é uma residência projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer para ele e sua família. Construída em 1952, na floresta da Tijuca, Rio de Janeiro, em um terreno de declive acentuado e com vista privilegiada para a vegetação densa da floresta atlântica até alcançar o mar na linha do horizonte. A casa aproveita o desnível do terreno ao separar o programa em dois pavimentos. A parte mais íntima dos dormitórios e banheiro está no pavimento inferior, enquanto as áreas sociais – salas de estar e jantar e cozinha – estão na parte alta, nível de acesso principal a casa. Como uma esplanada, a sala, coberta por uma laje de desenho com curvas sinuosas, se abre para a paisagem da floresta por meio da transparência do vidro. Figura 14 – Laje com desenho em curvas sinuosas conformam varanda e sala. Fonte: Fundação Niemeyer (s/d). “Fugindo dos limites impostos pelos planos de vedação, a marquise forma amplas áreas cobertas no exterior da casa, criando uma delicada zona de transição entre o dentro e fora” (WISNICK, 2011, p. 31). Além da transparência, a integração com a natureza também acontece quando o arquiteto opta por manter uma grande rocha encontrada no terreno, que é incorporada no interior da casa e no limite da piscina. A paisagem natural das florestas e montanhas do Rio de Janeiro estão representadas nos contornos sinuosos que dão forma a casa. Figura 15 – Integração com a natureza através da vista e da permanência da pedra. Fonte: adaptado de Finotti (s/d). 18WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A inexistência de paredes no piso superior resulta em um layout flexível. Antes de entrarmos na casa, passamos por uma varanda conformada pela extensão da grande laje curva da cobertura. Esse elemento de cobertura passa uma sensação de grande leveza, uma vez que é sustentada por finos pilares metálicos pintados de preto. Dentro da casa estamos em um grande salão sem limites, apenas escada, banheiro e cozinha são delimitados por paredes sólidas. No pavimento inferior, totalmente intimista, estão distribuídos os três dormitórios, dois banheiros e o escritório, espaços separados por paredes para garantir a privacidade. Tem-se então dois pavimentos completamente diferentes em sua conformação: um superior totalmente social e sem limites, e um inferior totalmente compartimentado e que valoriza a vida íntima da família. Figura 16 – Plantas da Casa Farnsworth. Fonte: adaptado de Casas Brasileiras (2010). As duas casas que analisamos como precedentes foram projetadas e construídas em um intervalo menor que dez anos. Embora estejam em locais diferentes e tenham programas diferentes, elas possuem em comum a valorização da natureza ao seu redor, através de fechamentos transparentes e a extensão do espaço interno. Além disso, o espaço social nos dois casos é livre de limites sólidos, resultando em um grande salão de uso flexível. Na casa Farnsworth, percebemos uma forma bastante pragmática, definida por linhas e ângulos retos. Enquanto na casa das canoas, temos uma forma livre, definida pela linha curva da cobertura e do fechamento em vidro. No entanto, as duas residências têm seu espaço principal definido entres dois planos paralelos: o chão e uma laje de cobertura plana e sustentada por pilares metálicos. 19WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A teoria da figura-superfície afirma que o espaço que resulta da disposição das figuras deveria ser considerado tão cuidadosamente quanto as próprias figuras. O espaço é chamado espaço negativo se estiver sem forma após a disposição das figuras. Recebe o nome espaço positivo se tiver uma forma. Quando os elementos ou espaços não estão explícitos, mas ainda assim são aparentes – nós os vemos apesar de não podermos vê-los – são chamados deduzidos A teoria do sólido-nulo é a contrapartida tridimensional para a teoria da figura- superfície. Ela sustenta que os espaços volumétricos conformados ou deduzidos pela disposição de objetos sólidos são tão importantes quanto os próprios objetos, ou mais importantes que eles. Um espaço tridimensional é considerado um espaço positivo se tiver um formato definido e um senso de limite ou princípio entre o dentro e o fora. Espaços positivos podem ser definidos de infinitas maneiras por pontos, linhas, superfícies planas, volumes sólidos, árvores, beiradas de edifícios, colunas, paredes, montes de terra e outros inúmeros elementos Figura 17 – Texto e imagens retirados do livro 101 Lições que Aprendi na Escola de Arquitetura. Fonte: Frederick (2010). 20WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Forma e espaço devem seguir a uma função previamente definida pelo programa de necessidades? Projetar parece ser, ao mesmo tempo, muito fácil e muito difícil, na medida em que é influenciado por diversos aspectos. Mas, a questão central é sempre o espaço e sua construção através de elementos arquitetônicos: se o espaço individual é determinado por sua função, um conjunto espacial necessita, em contrapartida, de uma ordenação superior, um tema espacial. Os elementos arquitetônicos seguem este tema, dando caráter à forma específica e autenticidade temporal. Como a história mostra, a função determina apenas de maneira limitada a organização espacial. Um tipo de edifício modifica-se diversas vezes segundo motivos que nem sempre são os funcionais. Um edifício permite diversas formas de uso, pois é muito mais do que apenas uma “luva” para determinada função, o que é provado claramente pela vida útil de antigas construções (NEUFERT, 2013, p. 54). Figura 18 – No Pavilhão Alemão da Feira internacional de Barcelona, o arquiteto Mies Van Der Rohe define o espaço utilizando apenas planos verticais e horizontais. Fonte: a autora (2013). 21WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Para mais informações sobre o processo de projeto em arquitetura e os conceitos a ele relacionados, ver o livro: LAWSON, B. Como arquitetos e designers pensam. São Paulo: Oficina de Textos, 2011, p. 13- 40. Fonte: Lawson (2011). Uma definição interessante sobre a ideia de projeto arquitetônico pode ser vista no vídeo: O que define um bom projeto? O vídeo traz rápidas entrevistas com arquitetosde todo o Brasil que citam noções relacionadas a bons projetos de edificações e exemplos das suas obras preferidas. Segue o link do vídeo: O que define um bom projeto? – Arquitetura e Urbanismo para todos. 2014. Disponível em: . Acesso em: 05 out. 2018. Acredito que depois de ter assistido esse filme, você deve ter compreendido a importância de um bom projeto arquitetônico, aquele que possui uma implantação adequada no terreno, que se adequada à situação climática do local e traz conforto para os usuários do edifício. Você já parou para pensar como as pessoas podem ser mais felizes habitando espaços bem projetados? 22WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa parte inicial vimos alguns conceitos relacionados à arquitetura e que acompanham a ideia de projeto arquitetônico. Fazer projetos de edifícios é um tipo de conhecimento que se obtém com a prática, como aprender um novo idioma ou um instrumento musical. Projetar é imaginar algo que não existe e transmitir isso para o papel, formando um conjunto de documentos necessários para a construção da obra. Quanto mais experiência e mais conhecimento o projetista tem de outros edifícios similares, mais fácil se torna essa atividade de projetar. Por isso, é de extrema importância ler sobre arquitetura e construção, além de conhecer projetos de edifícios que marcaram a história da arquitetura, pois com esse conhecimento você terá mais facilidade quando receber um novo problema de projeto para solucionar. Também vimos que o ato de projetar é uma atividade que possui várias etapas e pode levar algum tempo para ser finalizado. Quanto mais tempo levamos para definir todos os detalhes do projeto e conferir todos os desenhos e documentos que acompanham a construção de uma obra, menos tempo perdemos durante a construção e mais recursos, materiais e dinheiro vamos economizar. Assim, um projeto bem detalhado, bem feito e que cumpre corretamente todas as etapas é benéfico tanto para o projetista quanto para o empreendedor ou usuário da edificação. 2323WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 24 1 - NOÇÕES GERAIS DE PLANO DIRETOR ............................................................................................................. 25 1.1 APLICAÇÃO DE ÍNDICES URBANÍSTICOS ........................................................................................................ 26 1.1.1 ZONEAMENTO ................................................................................................................................................... 26 1.1.2 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ........................................................................................................................... 28 1.2 CÓDIGO DE OBRAS E DIMENSIONAMENTO DA EDIFICAÇÃO ....................................................................... 31 2 - NORMAS BRASILEIRAS PARA PROJETO ......................................................................................................... 33 2.1 ACESSIBILIDADE A EDIFICAÇÕES, MOBILIÁRIO, ESPAÇOS E EQUIPAMENTOS URBANOS ..................... 33 2.2 SAÍDAS DE EMERGÊNCIA EM EDIFÍCIOS ...................................................................................................... 38 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 42 NORMAS E LEIS: ESTUDO DE DIMENSIONAMENTO DE ESPAÇOS ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PROJETO ARQUITETÔNICO PROF.A MA VANESSA CALAZANS DA ROSA 24WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A arquitetura acomoda diferentes tipos de coisas – animais, obras de arte, móveis e até mesmo atmosferas, “espíritos”, etc. –, mas seu conteúdo principal e mais desafiador são as pessoas. [...] Embora as pessoas tenham todo tipo de formatos e tamanhos, essas variações estão em uma faixa bastante limitada. Os seres humanos raramente ultrapassam determinada altura e em geral se movem e movimentam suas articulações da mesma maneira. O corpo – seu tamanho, alcance e mobilidade – representa outro tipo de geometria – a antropometria (UNWIN, 2013). Um edifício normalmente ocupa um espaço na cidade e quase sempre é construído para abrigar pessoas. Quando elaboramos um projeto existem alguns fatores que devemos seguir, como as leis de desenvolvimento da cidade, o conforto dos usuários, a acessibilidade universal para todos os tipos de pessoas e outros fatores de qualidade da edificação. Esses fatores são descritos na forma de leis ou normas. As leis urbanas são feitas para cada município, que deve levar em consideração suas particularidades, ou seja, as leis urbanas de uma cidade como São Paulo (uma grande metrópole) são muito diferentes das leis de Maringá (uma cidade média). Já as normas valem para todo o território nacional e são feitas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que possui um comitê técnico responsável por cada tema. O tema que nos interessa nessa disciplina é o da construção civil e infraestrutura, no entanto, vale lembrar que a ABNT é responsável por normatizar os mais variados temas como energia, saúde, serviços, pesquisa etc., sempre com o objetivo de garantir qualidade para os usuários. Nessa unidade vamos estudar sobre leis de edificação urbana, dimensionamento correto de ambientes, normas de acessibilidade universal, normas de saídas de emergência e outras normas que sempre irão nos auxiliar em projeto de edificações. 25WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - NOÇÕES GERAIS DE PLANO DIRETOR O plano diretor é uma lei municipal, obrigatória para cidades que tenham mais de 20 mil habitantes. As condições para a sua elaboração estão descritas na NBR 12267 - Normas para elaboração de Plano Diretor. Segundo esse documento, plano diretor é “Instrumento básico de um processo de planejamento municipal para a implantação da política de desenvolvimento urbano, norteando a ação dos agentes públicos e privados” (ABNT, 1992). A lei do Plano diretor deve ser revista a cada dez anos junto com a população do município em um processo transparente e democrático. O documento deve ser compreensível e acessível a todos que habitam aquele município, para isso deve conter textos, gráficos, mapas, desenhos, relatórios etc. São elementos mínimos de um plano diretor: a) objetivos do Plano Diretor expressos num documento introdutório onde sejam claramente explicitados; b) caracterização da região, do município e da cidade, composta dos seguintes elementos: - características geológico-geotécnicas de interesse para o uso e ocupação do solo; - principais condicionantes físicos, ambientais, socioeconômicos e demográficos, sistema viário e infraestrutura urbana, bem como equipamentos sociais e serviços urbanos; c) diagnóstico e prognósticos elaborados quanto aos aspectos anteriormente mencionados; d) conjuntos de proposições de diretrizes alternativas para a consecução do desenvolvimento do município; e) critérios adotados para avaliação das proposições alternativas apresentadas; f) diretrizes do Plano Diretor; g) anteprojeto da Lei, do Plano Diretor, de Uso, Ocupação e Parcelamento do Solo, do Código de Obras e Edificações; programas, planos setoriais, projetos e planos de ação do governo municipal; diretrizes orçamentárias, orçamentos anuais, vinculações e dotações; e aparelhamento administrativo necessário (ABNT, 1992). O plano diretor descreve o caminho que deve ser percorrido para atingir um objetivo, ou seja, é uma lei produzida juntamente com a população. Assim, essa lei é composta de várias outras leis que orientam o desenvolvimentourbano. Vamos estudar algumas delas a seguir. 26WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 19 – Para poder planejar é preciso saber onde se quer ir. O plano diretor deverá definir o caminho a ser seguido. Fonte: Saboya (2008). 1.1 Aplicação de Índices Urbanísticos Algumas leis complementares do plano diretor têm a função de controlar o crescimento urbano, escolher zonas com maior população, separar funções conflitantes, proteger áreas inadequadas à edificação, controlar o tráfego de veículos etc. 1.1.1 Zoneamento Esse instrumento é muito utilizado nos planos diretores, ele divide a cidade em áreas/ zonas que têm funções, usos e um tipo de ocupação específica. Portanto, o seu objetivo é separar usos conflituosos. Para isso, o zoneamento controla principalmente dois elementos: uso (função) da edificação e o porte (tamanho) dos lotes e dos prédios que serão construídos em cada zona, ou seja, o quanto se pode construir em cada terreno. Através disso, supõe-se que o resultado final alcançado através das ações individuais esteja de acordo com os objetivos do Município, que incluem proporcionalidade entre a ocupação e a infra-estrutura, necessidade de proteção de áreas frágeis e/ou de interesse cultural, harmonia do ponto de vista volumétrico, etc. (SABOYA, 2007). 27WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 20 – Mapa de Zoneamento de Maringá, produzido em 2014. Fonte: SEPLAN – Maringá/PR (2014). Geralmente, o zoneamento é representado em forma de mapa que acompanha uma legenda com cores e siglas representando o nome de cada zona da cidade. O modo como cada zona deve ser ocupada, ou seja, o tipo de edifício que podemos construir aparece, geralmente, em forma de tabela onde estão descritos os índices urbanísticos. Figura 21 – Detalhe do mapa de Zoneamento de Maringá com legenda das zonas. Fonte: SEPLAN – Maringá/PR (2014). 28WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.1.2 Uso e ocupação do solo Geralmente, na tabela de uso dividimos nas seguintes categorias: residencial, comercial e serviços, industrial, agrícola, proteção ambiental etc. No entanto, é comum que haja mistura de funções em determinadas zonas, por exemplo, pequenos estabelecimentos de comércio e serviço (padarias, academias etc.) são permitidos em zonas residenciais para atender a demanda dos moradores, já estabelecimentos maiores (shoppings, indústrias etc.) são proibidos. Fundos de vale e nascentes são locais que devem preservar a sua mata nativa, por isso é comum que esses locais sejam classificados como área de proteção ambiental, mesmo que a cidade preveja algum tipo de uso específico, esse não pode prejudicar o meio local. Outras áreas também envolvem questões ambientais e de tratamento do solo, como cemitérios e áreas de mineração. Figura 22 – Tabela de Uso de Maringá. Fonte: SEPLAN – Maringá/PR (2014). Atualmente, as leis de uso e ocupação incentivam atividades mistas na maior parte das zonas, especialmente no centro. Por outro lado, é possível evitar que usos muito incompatíveis instalem-se lado a lado. Um bom planejamento deve prever um tipo de ocupação que seja vantajoso para a cidade, a fim de atingir os objetivos de desenvolvimento previstos no plano diretor, além de melhorar a vida da sua população. A tabela de ocupação descreve o modo como cada zona deve ser construída e trazem os seguintes fatores de controle: a) Número máximo de pavimentos (altura ou gabarito); b) Coeficiente ou índice de aproveitamento (C.A. ou I.A.); c) Taxa de ocupação (T.O.); d) Afastamentos/recuos frontal, lateral e fundos; 29WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA e) Taxa de Permeabilidade do solo; f) Tamanho do Lote; g) Testada ou largura frontal do lote. Tabela 2 – Tabela de Ocupação de Maringá. Fonte: SEPLAN – Maringá/PR (2014). O número máximo de pavimentos, também chamado de gabarito, corresponde à altura máxima que a edificação pode atingir. Em algumas cidades ele é determinado em número de pavimentos, mas também pode ser definido por cota máxima que a cobertura pode atingir. Em Maringá, por exemplo, a altura máxima de um edifício é a cota 650 no centro. O coeficiente ou índice de aproveitamento é um número absoluto (1; 2; 3,5 etc.) que multiplicado pela área do lote indica a área máxima da construção somando-se todos os pavimentos. Algumas cidades não contabilizam, dentro dessa área máxima, espaços destinados a barrilete, casa de máquinas, central de gás, subsolos etc. O cálculo para a área construída de determinada zona é expresso da seguinte maneira: A taxa de ocupação é expressa em porcentagem e corresponde à projeção da edificação dentro do lote. Importante notar que essa projeção de área não tem relação com o número de pavimentos. Como se pudéssemos elevar o prédio do chão, a sombra resultante dele no seu terreno corresponderia à área de projeção, utilizada para o cálculo da seguinte maneira: 30WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 23 – Situações diferentes de ocupação no lote. Fonte: Saboya (2007). Os afastamentos ou recuos são medidas entre o edifício e os limites do lote que ocupa. Recuo frontal é a medida entre o prédio e o alinhamento da frente do lote, em contato com a via pública. Os afastamentos laterais são as medidas entre o prédio e o limite do lote em contato com os vizinhos. Finalmente, o afastamento de fundo ou posterior é a medida entre o prédio e o limite posterior do lote. Esse parâmetro, geralmente, é expresso em metros. Taxa de permeabilidade corresponde à porcentagem de área permeável dentro do lote, ou seja, a área que permite a infiltração de água no solo, sem pavimentação e que não é coberta pela construção. Nessa área pode ser feito o jardim, com cobertura vegetal, areia ou pedras. O cálculo de taxa de permeabilidade é expresso da seguinte maneira: Lote ou terreno é a definição de uma pequena área de terra dentro da cidade destinado à construção. Cada zona pode determinar uma área mínima de lote, ou seja, o menor tamanho de terra que pode ser parcelado para aquele pedaço da cidade. Na lei federal de Parcelamento do Solo Urbano (lei no 6766/79) a área mínima determinada é de 125m2. A testada é como chamamos a medida da lateral frontal do terreno, ou seja, aquela aresta do lote que está em contato com a via pública – calçada e rua. 31WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 24 – Desenho esquemático dos índices urbanísticos. Fonte: Saboya (2007). 1.2 Código de obras e dimensionamento da edificação A lei que regula as construções, obras ou serviços de engenharia é o código de obras e edificações do município. Assim, antes de construir é necessário que o projeto passe por uma análise, geralmente, realizada pela prefeitura, com a finalidade de garantir que a nova edificação satisfaça às exigências legais regulamentadas no código de obras. Alguns dos parâmetros definidos pelo código de obras são: a) altura mínima do pé-direito; b) área mínima dos ambientes (sala, dormitório, banheiros etc.); c) círculo inscrito em cada ambiente; d) área mínima de ventilação e iluminação; e) beiral; f) número de vagas de estacionamento. Outros aspectos das construções também podem ser previstos pelo código de obras, como o projeto de rampas e escadas, a organização do canteiro de obras etc. O código de obras de Maringá é a Lei Complementar 1045 atualizado em 2016. Esse documento é acompanhado pelas Normas Regulamentadoras Municipais (NRM) que definem aspectos precisos para o projeto de edificações na cidade. A NRM nº E-10003 institui sobre o número das vagas de veículos, dimensões, disposição, manobras etc. definidos de acordo com o tipo e o porte do edifício projetado. 32WWW.UNINGA.BR PR OJ ETO AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 25 – Trecho da NRM que trata sobre as vagas de estacionamento em habitações. Fonte: Câmara Municipal de Maringá (2016). Algumas cidades ainda trazem tabelas com especificações de área, círculo inscrito, pé- direito, ventilação e iluminação mínimas para cada ambiente habitacional, garantindo, assim, uma qualidade mínima para habitação social. Segue um exemplo do código de obras da cidade de Cianorte/PR: Figura 26 – Trecho do Código de Obras de Cianorte/PR. Fonte: Câmara Municipal de Cianorte (2006). No projeto legal é preciso indicar as dimensões e os materiais das aberturas (portas e janelas) de cada ambiente, assim é possível avaliar se as áreas de ventilação e iluminação estão dentro do padrão mínimo exigido. Para isso, devemos produzir uma tabela de esquadrias, que indica essas informações para quem lê o projeto. Nessa tabela, cada esquadria recebe um código, que possui medidas de largura, altura e peitoril, além de tipos de abertura e material. Os códigos devem ser colocados na planta, próximo às portas ou janelas à que ele se refere. Utilize P para portas (P1; P2; P3) e J para janelas (J1; J2; J3), como mostra o exemplo a seguir. 33WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 27 – Tabela de esquadrias para projeto legal. Fonte: a autora (2018). 2 - NORMAS BRASILEIRAS PARA PROJETO Quando projetamos edifícios e cidades, estamos lidando com seres humanos que possuem necessidades diferentes. A fim de garantir um grau ótimo de qualidade para os projetos, a ABNT normalizou algumas regras que os projetistas devem seguir para solução ou prevenção de problemas em edifícios. Essas regras valem para todo o território nacional e foram organizadas em documentos chamados de Norma Brasileira Regulamentadora (NBR). 2.1 Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos Essa norma é comumente conhecida pelo seu número – NBR 9050 – sua última atualização foi feita em 2015. Seu objetivo é estabelecer critérios e parâmetros observados quanto ao projeto e construção de edificações às condições de acessibilidade universal. O documento é extenso em completo com relação ao tema, por isso é importante que todo projetista tenha acesso a ele sempre que for começar um novo projeto. Aqui, vamos tentar eleger alguns pontos importantes da norma para que você possa entender como ela é organizada. Nunca se esqueça de pesquisar e consultar a NBR 9050 sempre que for necessário. Um dos primeiros pontos da norma trata de parâmetros antropométricos, dando especial atenção a pessoas com mobilidade reduzida (P.M.R.) e pessoas em cadeira de rodas (P.C.R.). 34WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 28 – Dimensões do módulo de referência (M.R.). Fonte: NBR 9050 (2015). As dimensões que uma cadeira de rodas, motorizada ou não, ocupa no piso é de 1,20m X 0,80m e é chamada de módulo de referência. As medidas necessárias para a manobra de cadeira de rodas sem deslocamento são: para rotação de 90° = 1,20m × 1,20m; para 180° = 1,50m × 1,20m e para 360° = círculo com diâmetro de 1,50m. Conforme a imagem a seguir: Figura 29 – Área para manobra de cadeira de rodas sem deslocamento. Fonte: NBR 9050 (2015). O projeto de rampas, para deslocamento vertical também é definido na NBR 9050. São consideradas rampas superfícies de piso com declividade igual ou superior a 5%. A declividade de uma rampa é apresentada em forma de porcentagem (%) e deve ser calculada através da seguinte equação: Onde: i= inclinação do piso (%); h= altura do desnível (m); c= comprimento da projeção horizontal (m). 35WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 30 – Dimensionamento de rampas. Fonte: NBR 9050 (2015). As inclinações máximas das rampas são definidas de acordo com a altura de seu desnível, também é recomendado o uso de descansos (patamares) a cada 50m de percurso. A inclinação máxima permitida é de 8,33%, no entanto, para reformas, quando não há possibilidades de construir rampas nesse limite, é permitido uma inclinação de até 12,5%. Observe a tabela a seguir para o projeto de rampas: Figura 31 – Dimensionamento de rampas. Fonte: NBR 9050 (2015). As laterais das rampas devem ser protegidas para maior segurança. Quando não houver paredes, é preciso prever guarda-corpo, corrimãos e guias de balizamento com altura mínima de 0,05m. Os corrimãos devem atender duas alturas: 0,70m e 0,92m, conforme o seguinte desenho: 36WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 32 – Corrimão, guarda-corpo e guia de balizamento. Fonte: NBR 9050 (2015). O projeto das vias públicas também devem atender normas de acessibilidade. As calçadas em frente ao lote onde estamos intervindo com projeto, são de nossa responsabilidade, por isso, é imprescindível conhecermos os parâmetros corretos do projeto. A largura da calçada é dividida em três faixas de uso: Faixa de serviço, faixa livre (ou passeio) e faixa de acesso ao lote, cada uma dessas faixas tem aspectos que devem ser obedecidos. - Faixa de serviço: serve para acomodar o mobiliário, os canteiros, as árvores e os postes de iluminação ou sinalização. Recomenda-se reservar uma faixa de serviço com largura mínima de 0,70 m; - Faixa livre ou passeio: destina-se exclusivamente à circulação de pedestres, deve ser livre de qualquer obstáculo, ter inclinação transversal de até 3%, ser contínua entre lotes e ter no mínimo 1,20 m de largura e 2,10 m de altura livre; - Faixa de acesso: consiste no espaço de passagem da área pública para o lote. Esta faixa é possível apenas em calçadas com largura superior a 2,00 m. Serve para acomodar a rampa de acesso aos lotes lindeiros. Figura 33 – Divisão das calçadas. Fonte: NBR 9050 (2015). 37WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA - Faixa de serviço: serve para acomodar o mobiliário, os canteiros, as árvores e os postes de iluminação ou sinalização. Recomenda-se reservar uma faixa de serviço com largura mínima de 0,70 m; - Faixa livre ou passeio: destina-se exclusivamente à circulação de pedestres, deve ser livre de qualquer obstáculo, ter inclinação transversal de até 3%, ser contínua entre lotes e ter no mínimo 1,20 m de largura e 2,10 m de altura livre; - Faixa de acesso: consiste no espaço de passagem da área pública para o lote. Esta faixa é possível apenas em calçadas com largura superior a 2,00 m. Serve para acomodar a rampa de acesso aos lotes lindeiros.0 Figura 34 – Divisão das calçadas. Fonte: NBR 9050 (2015). 38WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 2.2 Saídas de emergência em edifícios A NBR 9077 trata da segurança que os edifícios devem ter para que as pessoas possam abandoná-los em caso de incêndios, além de permitir o fácil acesso da equipe de resgate e bombeiros para o combate ao fogo e a retirada das pessoas. A largura das saídas deve ser dimensionada em função do número de pessoas que por elas deva transitar, ou seja, a população que ocupa o edifício. A largura das saídas, isto é, dos acessos, escadas, descargas e outros é dada pela seguinte fórmula: Uma unidade de passagem (N) corresponde a uma saída com 0,55m de largura. A largura mínima de qualquer saída deve ser 1,10m, correspondendo a duas unidades de passagem de 55 cm. Já em edifícios que abrigam funções de saúde é preciso permitir a passagem de macas e camas, assim, a largura mínima das saídas deve ser 2,20m. Para dimensionar a população, as larguras e o número de saídas de emergência dos edifícios que projetamos, a norma 9077 nos traz algumas tabelas em anexo que classificam as edificações de acordo com o uso, o porte e materiais construtivos: - Tabela 1 - Classificação das edificações quanto à sua ocupação;- Tabela 2 - Classificação das edificações quanto à altura; - Tabela 3 - Classificação das edificações quanto às suas dimensões em planta; - Tabela 4 - Classificação das edificações quanto às suas características construtivas. A última tabela (Tabela 5) cruza os dados obtidos nas tabelas anteriores e traz uma média da população, dando ao projetista a capacidade da unidade de passagem (C), útil na fórmula das saídas de emergência. Todos os parâmetros obtidos, tanto nas tabelas quanto na fórmula, devem ser entendidas como o mínimo aceitável pela NBR 9077. Segue um exemplo de cada uma das tabelas anexas na norma: 39WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 35 – Anexo da NBR 9077. Fonte: NBR 9077 (2001). 40WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 36 – Anexo da NBR 9077. Fonte: NBR 9077 (2001). Sempre que estamos projetando alguma edificação surgem dúvidas sobre diversos aspectos do projeto. Para que as dúvidas possam rapidamente ser sanadas é importante ter acesso às leis municipais e normas técnicas. Não é preciso aprender tudo sobre todas as leis e normas, como se estivesse memorizando um texto, basta saber onde procurar as informações necessárias, assim, a resolução dos problemas será mais rápida e eficiente. Ainda existem outras normas e leis federais que podem te auxiliar no projeto de edificações, segue uma lista de algumas delas para que você possa pesquisar assim que for necessário: - NBR 5626 – Instalação predial de água fria; - NBR 7198 – Projeto e execução de instalações prediais de água quente; - NBR 5410 – Instalações elétricas de baixa tensão; - NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto. 41WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Qual a lógica do zoneamento funcional das cidades? Existem áreas na cidade que possuem vocação para o uso comercial? Ou residencial? Ou industrial? Entender a lógica de localização dos usos é essencial para entender e planejar cidades. Entender a lógica de localização dos usos [na cidade] é importante porque permite que as ações de planejamento e intervenção sobre elas, com especial destaque para os planos e projetos urbanísticos, dialoguem com essa lógica, em vez de tentar impor a esses usos uma lógica que lhe é estranha. [...] O próprio sentido de “planejar” traz embutida uma descrença na ideia de que apenas a lógica própria da cidade, ou a lendária “mão invisível do mercado” (imobiliário, neste caso), serão suficientes para gerar resultados satisfatórios. Portanto, planejar significa interagir com essa lógica para orientá-la em direções consideradas mais adequadas do que as tendências existente (SABOYA, 2017). Para saber mais sobre as origens e os objetivos do zoneamento e planos diretores no desenvolvimento urbano das nossas cidades, leia a série de três artigos de Renato Saboya, disponíveis no site Urbanidades. Seguem os links: Fonte: Saboya (2018). 42WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Algumas definições sobre os termos acessibilidade, saídas e escadas de emergência em edificações podem ser conferidas no vídeo: Entenda sobre Acessibilidade e Rota de Fuga. Segue o link do vídeo: Entenda sobre Acessibilidade e Rota de Fuga – Acessibilidade Aplicada I Eduardo Ronchetti. 2017. Disponível em: . Acesso em: 15 out. 2018. Acredito que depois de ter assistido esse filme, você deve ter compreendido a importância de prever áreas acessíveis no projeto de edificações, mesmo aquelas de pequeno porte. 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa unidade nos mostrou o quanto é importante para um projetista conhecer as leis municipais de sua cidade e as normas federais que regulamentam nossos edifícios. Podemos ver com calma como se organiza um plano diretor, a lei municipal que têm como objetivo o pleno desenvolvimento urbano. Junto com ela existem as leis complementares que organizam e regulam os edifícios construídos de nossas cidades, a lei de zoneamento que possui as tabelas de uso e ocupação. Além da lei de zoneamento, também vimos como se organiza o código de obras, uma lei que regula como os edifícios devem ser construídos. É nesse documento que podemos conferir quantas vagas de estacionamento devem ser previstas em cada imóvel de acordo com o seu uso, qual é o porte mínimo de cada ambiente, quanto de iluminação e ventilação é necessário e critérios para a construção de escadas, rampas e acessos etc. As normas brasileiras (NBR) que interferem no espaço construído e devem fazer parte do dia-a-dia de quem faz projeto arquitetônico são a NBR 9050 (Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos) e a NBR 9077 (Saídas de emergência em edifícios). Essas normas são publicadas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e existem para garantir uma qualidade ótima para nossas edificações. As informações desses documentos são bastante complexas e detalhadas, assim, é importante que todo projetista tenha acesso a elas facilmente e compreenda como cada uma delas está organizada, de modo a otimizar o tempo que precisamos para consultá-las durante o trabalho. Na NBR 9050 encontramos informações sobre dimensões de cadeiras de rodas, rampas, escadas, corrimãos e projeto de calçadas. Enquanto na NBR 9077 encontramos informações para projetar corredores, portas e saídas de emergência em caso de edifícios que possuem uma grande aglomeração de pessoas, de modo a facilitar a fuga dos usuários ou a entrada de profissionais de resgate em casos de incêndios nesses locais. 4343WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................... 44 1 - PROGRAMA DE NECESSIDADES ...................................................................................................................... 45 1.1 TERRENO E LEGISLAÇÃO ................................................................................................................................... 46 2 - PROJETO DE RESIDÊNCIAS .............................................................................................................................. 47 2.1 ESTUDO DE REFERÊNCIAS ARQUITETÔNICAS .............................................................................................. 48 2.1.1. CASA DE VIDRO ............................................................................................................................................... 48 2.1.2. CASA CARMEM PORTINHO .......................................................................................................................... 50 2.1.3. CASA ROTHSCHILD ........................................................................................................................................ 52 2.1.4. CASA OSCAR AMERICANO ............................................................................................................................ 53 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 58 PROJETO ARQUITETÔNICO DE HABITAÇÃO TÉRREA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PROJETO ARQUITETÔNICO PROF.A MA VANESSA CALAZANS DA ROSA 44WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Mas a arquitetura não provém de um conjunto de larguras, comprimentos e alturas dos elementos construtivos que encerram o espaço, mas precisamentedo vazio, do espaço encerrado, do espaço interior em que os homens andam e vivem (ZEVI, 1996). Leis e normas para projetos arquitetônicos são importantes para garantir o mínimo de qualidade das edificações. Mas o espaço interior, criado pelo vazio entre paredes, lajes e outros elementos pode constituir-se como a essência da arquitetura. Projetar seria organizar esse espaço vazio, delimitado por elementos construídos. Nessa unidade, estudaremos projetos de residências. Você, aluno, deve projetar uma casa térrea, passando por todas as etapas de composição projetual. O programa casa foi escolhido por ser universal e conhecido de todos. Segundo Vilela (2011, p. 86), a casa é um instrumento de experimentação do arquiteto através de sua percepção da cidade, e da própria sociedade, no momento em que, ao realizar o projeto, o arquiteto inevitavelmente oscila entre o caráter excepcional de obra de arte e a criteriosa análise dos aspectos funcionais e construtivos. Primeiramente, vamos definir o programa de necessidades, ou seja, quais funções seu projeto deve atender. Depois, estudaremos o terreno em que a casa deverá ser projetada, dimensões, orientação, topografia e leis urbanísticas. Finalmente, será necessário estudar algumas referências arquitetônicas de residências projetadas por arquitetos brasileiros, para entender as decisões de projeto e aprender como uma casa deve ser organizada. Assim, você terá uma maior segurança para fazer o seu próprio projeto. 45WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - PROGRAMA DE NECESSIDADES Como já vimos na primeira unidade, programa de necessidades se refere à determinação das exigências, necessidades e expectativas dos usuários atendidas pelo projeto a ser concebido. Nesse exercício vamos construir uma residência térrea, que deve conter os seguintes critérios: - Área máxima de 180m²; - Sala de estar e jantar; - Cozinha; - Área de Serviço; - Garagem para dois automóveis; - Três quartos, sendo uma suíte; - Um banheiro social; - Um espaço de trabalho/estudo; Todos esses ambientes devem ter boa iluminação e boa ventilação, além de comportarem área suficiente para a colocação dos móveis e equipamentos necessários para o seu uso. Uma sala de estar e jantar deve ser suficiente para conter pelo menos sofá, televisão e equipamentos, poltronas e mesa de jantar com cadeiras, além disso, se achar necessário pode haver uma estante de livros, ou outro móvel de apoio. A cozinha é talvez o espaço mais complexo de uma residência, as instalações de água, gás, esgoto e elétricas devem ser bem planejadas e bem construídas para garantir a segurança da família, equipamentos como fogão e forno precisam estar ao lado de bancadas de apoio, a geladeira precisa de espaço suficiente para ser usada com conforto, é importante pensar no espaço que ela ocupa estando aberta. O lugar em que as pessoas passam menos tempo em uma residência é a área de serviço, apesar disso, seu projeto também deve ser pensado com cautela, nesse ambiente devemos prever tanque, máquina de lavar roupas e bancada de passar, além de armários para o armazenamento de produtos de limpeza. Os carros estacionados na garagem não podem impedir a entrada e saída de pedestres, seus acessos devem ser separados, além disso, um carro não pode impedir o outro de entrar ou sair. Os lugares preferidos dos usuários, geralmente, são os quartos, um ambiente exclusivo para descanso, é aqui que devemos prever camas, guarda-roupa e mesas de cabeceira. Em contrapartida, o espaço de trabalho e estudo também deve ser confortável para que os usuários possam se concentrar nas suas atividades, bem iluminado e ventilado para manter um conforto no ambiente e ter instalações, computadores e luminárias de mesa. Com esse programa de necessidades, você já pode começar a pensar como será o seu projeto de residência. Comece a imaginar: que forma tem esse volume? Como é a cobertura? Qual a estrutura dessa cobertura? O que as pessoas que passam pela rua veem ao olhar para o terreno? 46WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 1.1 Terreno e Legislação O terreno onde a casa deverá ser projetada se localiza na cidade de Maringá. O terreno possui área de 336,00m², testada de 12,00m, com profundidade de 28,00m, considere-o plano, ou seja, com desnível inexistente. Esse lote se encontra na Rua Vitório Del Ângelo, e está submetido aos parâmetros de uso de ocupação da Zona Residencial 2 (ZR2). Figura 37 – Localização do terreno. Fonte: Prefeitura do Município de Maringá (2018). Figura 38 – Parâmetros de uso e ocupação do terreno. Fonte: Prefeitura do Município de Maringá (2018). Lembre-se de olhar a orientação solar, através da posição norte, dessa forma, você poderá aplicar seus conhecimentos de conforto ambiental no seu projeto arquitetônico. Ao final do seu projeto, faça os cálculos dos índices urbanísticos que você aprendeu na unidade 2: Coeficiente de aproveitamento, taxa de ocupação e taxa de permeabilidade. Procure atender os critérios de acessibilidade no projeto, evitando escadas e espaços pequenos. Para esse projeto de uma casa térrea não é preciso aplicar as normas de saídas de emergência. 47WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 2 - PROJETO DE RESIDÊNCIAS Quando se faz uma casa para esse infame mercado, não se está fazendo uma casa para ninguém. O músico terá um piano, o criador de passarinho terá 10 gaiolas, e depois de alguns anos vão vender para outra pessoa. A casa se transforma. No fundo, a arquitetura somos nós, e uma cidade é feita mais dos comportamentos dos homens do que das construções (ROCHA, 2018). Conforme muda a relação das famílias e a tecnologia do mundo moderno, mudam as condições da vida doméstica. Essas mudanças acabam por modificar o programa de residência. Novas técnicas de construção, novas tecnologias e o tempo que ficamos descansando ou trabalhando em nossas casas são fatores que criam novas formas de morar. Cada residência que projetamos toma uma forma diferente, pois possui moradores diferentes. Antes de dar início ao projeto vamos fazer alguns estudos de referências arquitetônicas de residências. Daremos mais atenção para arquitetos brasileiros que ficaram reconhecidos no século XX, durante o conhecido movimento moderno. Selecionei residências de arquitetos responsáveis por pensar o projeto e suas relações com o entorno de modo particular, muitas vezes, fazendo do exterior uma extensão do espaço interno da casa. Assim, a casa é a perfeita oportunidade para os arquitetos experimentarem novas formas, novos elementos e novas tecnologias. Segundo Acayaba (1986, p.15), “a casa é muitas vezes a única, a melhor ocasião para o profissional experimentar”. Logo, faz todo sentido que o programa residência seja o primeiro objeto de projeto de quem pretender aprender essa habilidade. 48WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 2.1 Estudo de Referências Arquitetônicas 2.1.1. CASA DE VIDRO A residência implantada no bairro do Morumbi em São Paulo foi projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi, para ela e seu marido, por volta de 1949. A transparência do volume da sala fez com que a casa ficasse conhecida como Casa de Vidro. Figura 39 – Casa de Vidro – Lina do Bardi. Fonte: a autora (2013). O terreno possui um declive bastante acentuado e a casa foi implantada no ponto mais alto. Sua volumetria é composta por duas partes: a primeira abriga sala de estar, jantar e biblioteca. Possui total transparência e está apoiada em dez pilares, a uma altura que a deixa a cinco metros do solo e possuem apenas 7cm de diâmetro. A segunda, um corpo branco apoiado ao solo, que abriga dormitórios, cozinha e outras áreas de serviço. 49WWW.UNINGA.BR PR OJ ET O AR QU IT ET ÔN IC O | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 40 – Planta e Corte