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UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO CURSO DE MEDICINA CAMILLA TOZI FRANCISCHETTO GRUPO TUTORIAL BLOCO 3 – GESTAÇÃO BELO HORIZONTE 2021/1 Bloco Gestação @camillatozi Entender os mecanismos responsáveis pela produção dos hormônios hipotalâmicos e hipofisários envolvidos no ciclo menstrual; Entender os mecanismos hormonais envolvidos no crescimento e desenvolvimento folicular; Reconhecer as alterações cíclicas do endométrio em resposta aos esteróides ovarianos; Entender a divisão clássica do ciclo menstrual em fases folicular, ovulação e fase lútea, com suas respectivas características Os principais órgãos do aparelho reprodutor feminino humano, inclui os ovários, as trompas de Falópio (tubas uterinas), o útero e a vagina. A reprodução começa com o desenvolvimento dos óvulos nos ovários. No meio de cada ciclo sexual mensal, um só óvulo é expelido do folículo ovariano para a cavidade abdominal próxima das aberturas fimbriadas das duas trompas de Falópio. Esse óvulo, então, cursa por uma das trompas de Falópio até o útero; se tiver sido fertilizado por espermatozoide, o óvulo implanta-se no útero, onde se desenvolve no feto, na placenta e nas membranas fetais e, por fim, em um bebê. Um ovócito em desenvolvimento diferencia-se em um óvulo maduro através da ovogênese. Durante o desenvolvimento embrionário inicial, as células germinativas primordiais do saco vitelino migram, para a superfície externa do ovário, dividindo-se repetidamente. Quando as células germinativas primordiais atingem o epitélio germinativo, migram para o interior da substância do córtex ovariano, convertendo-se em ovogônias ou ovócitos primordiais. Em seguida, cada óvulo primordial reúne em torno de si uma camada de células fusiformes do estroma ovariano, que adquirem características epitelioides, tornando-se células da granulosa e caracterizando o folículo primordial. As ovogônias então completam a replicação mitótica e a primeira fase da meiose no quinto mês de desenvolvimento fetal onde esse processo é cessado. Nesse ponto, é denominado ovócito primário. No nascimento, o ovário contém cerca de 1 a 2 milhões de ovócitos primários. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM GT 1 FISIOLOGIA FEMININA - CICLO MENSTRUAL OVOGÊNESE E DESENVOLVIMENTO FOLICULAR Bloco Gestação @camillatozi Somente após a puberdade que ocorre a primeira divisão meiótica do ovócito, onde cada um é dividido em duas células, o ovócito secundário e um primeiro corpo polar. Cada uma dessas células contém 23 cromossomos duplicados. O primeiro corpo polar pode sofrer, ou não, uma segunda divisão meiótica e depois se desintegra. O óvulo é submetido a uma segunda divisão meiótica e, após a separação das cromátides irmãs, ocorre uma pausa na meiose. Se o óvulo for fertilizado, ocorre o estágio final da meiose, onde metade das cromátides irmãs permanece no óvulo fertilizado, e a outra metade é liberada em um segundo corpo polar, que, em seguida, se decompõe. Se não houver, ele é descartado junto à menstruação. O ciclo sexual mensal feminino (ciclo menstrual) caracteriza-se por variações rítmicas mensais da secreção dos hormônios femininos e correspondem a alterações nos ovários e outros órgãos sexuais. Dura, em média, 28 dias, podendo variar de 20 a 45 dias, embora o ciclo de duração anormal associe-se à menor fertilidade. Nesse processo um só óvulo costuma ser liberado dos ovários a cada mês e o endométrio uterino é preparado, com antecedência, para a implantação do óvulo fertilizado. HORMÔNIOS GONADOTRÓPICOS Mudanças ovarianas durante o ciclo sexual dependem dos hormônios FSH e LH, na ausência desses, permanecem inativos, como ocorre durante a infância, quando quase nenhum é secretado. Entre 9 e 12 anos, a hipófise começa a secretar progressivamente mais FSH e LH, levando ao início de ciclos sexuais, entre 11 e 15 anos (puberdade). Durante cada ciclo, ocorre alterações hormonais cíclicas que acarretam alterações ovarianas. Esses hormônios estimulam suas células-alvo ovarianas ao se combinarem a receptores específicos nas membranas, que ativados, aumentam a secreção, crescimento e proliferação das células. CICLO OVARIANO MENSAL Bloco Gestação @camillatozi FASE FOLICULAR Essa fase é a de maior variabilidade do ciclo, varia de 10 a 14 dias, sendo responsável pela maioria das alterações do ciclo. FOLÍCULO PRIMORDIAL = Óvulo circundado por uma camada única de células da granulosa. Presente na criança do sexo feminino ao nascer. FOLÍCULOS PRIMÁRIOS = Folículos com desenvolvimento de outras camadas das células da granulosa, após o primeiro estágio de crescimento folicular com aumento moderado do próprio óvulo, cujo diâmetro aumenta de duas a três vezes. Vale destacar que esse crescimento se dá depois da puberdade, quando FSH e LH da hipófise anterior começam a ser secretados em quantidades significativas. Durante os primeiros dias de cada ciclo, as concentrações de FSH e LH aumentam (FSH é maior e precede em alguns dias o de LH). Esses hormônios, especialmente FSH, causam o crescimento acelerado de 6 a 12 folículos primários por mês, proliferando as células da granulosa em mais camadas. Além disso, as células fusiformes, derivadas do interstício ovariano, agrupam-se em diversas camadas por fora das células da granulosa, levando ao aparecimento de uma segunda massa de células, denominadas teca, que se dividem em duas outras camadas: (1) A teca interna, com células de características epitelioides e capacidade de secretar o estrogênio e a progesterona; (2) A teca externa que forma uma cápsula ao redor do folículo. FOLÍCULO ANTRAL/SECUNDÁRIO = Depois dessa fase proliferativa inicial, que dura alguns dias, a massa de células da granulosa secreta o líquido folicular que contém concentração elevada de estrogênio. O acúmulo desse líquido ocasiona o aparecimento de antro dentro da massa de células da granulosa. FOLÍCULO VESICULAR/MADURO = O crescimento inicial do folículo primário até o estágio antral só é estimulado, principalmente, por FSH. Então, há crescimento muito acelerado, levando a folículos ainda maiores, denominados folículos vesiculares. Esse crescimento acelerado é causado pelos seguintes fatores: O estrogênio secretado no folículo faz com que as células da granulosa formem quantidades maiores de receptores de FSH, provocando efeito de feedback positivo, tornando-as mais sensíveis ao FSH; O FSH e os estrogênios se combinam para promover receptores de LH nas células originais da granulosa, permitindo que ocorra a estimulação pelo LH também, provocando aumento ainda mais rápido da secreção folicular; A elevada quantidade de estrogênio na secreção folicular mais a grande quantidade de LH, causam a proliferação das células tecais foliculares e aumentando também a sua secreção. Após uma semana ou mais de crescimento, mas antes de ocorrer a ovulação, um dos folículos começa a crescer mais do que os outros, que involuem; então, diz-se que esses folículos ficam atrésicos. Esse processo é importante, pois normalmente permite que apenas um dos folículos cresça o suficiente todos os meses para ovular, o que, em termos evita que mais de uma criança se desenvolva em cada gravidez. O folículo único atinge diâmetro de 1 a 1,5 cm na época da ovulação, quando é denominado folículo maduro. Bloco Gestação @camillatozi OVULAÇÃO A ovulação na mulher que tem ciclo de 28 dias se dá 14 dias depois do início da menstruação. Um pouco antes de ovular, a parede externa protuberante do folículo incha rapidamente, e a pequena área no centro da cápsula folicular, denominada estigma, projeta-se como um bico, e em 30min ou mais, o líquido começa a vazar através dele, e cerca de 2min depois se rompe, permitindo que um líquido mais viscoso, seja lançado carregando o óvulo cercado pela coroa radiada. PARTICIPAÇÃO DO LH = Sem esseplasmática basal, o IgG, para alcançar o espaço intersticial, tem de atravessar a membrana basal e o endotélio do capilar fetal. A membrana basal não é obstáculo significativo, mas, para atravessar o endotélio, é necessária a transcitose por vesículas. GLICOSE Substrato energético primário do metabolismo do feto e da placenta. Do total de glicose captada pela placenta do sangue materno, 30 a 40% são consumidos pela própria placenta. A força atuante para a transferência de glicose da mãe para o feto é a sua maior concentração no sangue materno comparada à do sangue fetal. O transporte de glicose se faz por difusão facilitada através dos transportadores de glicose (GLUT) expressos nas duas membranas plasmáticas polarizadas do sinciciotrofoblasto. AMNOÁCIDOS O transporte de aminoácidos (AA) através da membrana placentária é o transporte ativo com gasto de energia gerado pela Na + ,K + ATPase, resultando em concentração muito maior no sangue fetal do que no materno. Uma vez concentrados no citosol do sinciciotrofoblasto, os AA atravessam a membrana plasmática basal em direção à circulação fetal, utilizando o grande gradiente de concentração existente direcionado para o feto. LIPÍDIOS No final da gestação, grande parte dos nutrientes transferidos para o concepto é armazenada como gordura. Os triglicerídios não atravessam a placenta, mas os ácidos graxos livres (AGL) o fazem por difusão simples. A lipoproteína lipase (LPL), encontrada no lado materno da placenta, mas não no fetal, favorece a hidrólise dos triglicerídios no espaço interviloso. Bloco Gestação @camillatozi Compreender o papel dos hormônios durante a gravidez; Entender, fisiologicamente, as respostas do corpo da mãe à gravidez. O organismo da mulher sofre mudanças anatômicas e funcionais durante a gravidez, nas mais variadas esferas para, enfim, reorganizar a função de todos os órgãos e sistemas de forma harmônica, tornando-se capaz de redefinir um novo equilíbrio adaptativo para a presença do feto em desenvolvimento. Por esse motivo, o conhecimento dessas alterações é de importância fundamental para a boa prática obstétrica, de modo que seja possível reconhecer os desvios da normalidade. VOLUME SNGUÍNEO O volume sanguíneo materno aumenta, atingindo valores 30 a 50% maiores, associando-se a diferenças individuais e quantidade de tecido trofoblástico, sendo maior em gestações múltiplas e menor em gestações com predisposição a insuficiência placentária. O papel dessa hipervolemia associa-se ao aumento das necessidades de suprimento sanguíneo nos órgãos genitais, em especial no útero, cuja vascularização apresenta-se aumentada; e à função protetora para gestante e feto em relação à redução do retorno venoso, comprometido com as posições supina e ereta, e em relação às perdas sanguíneas esperadas no processo de parturição. Decorre do acréscimo de volume plasmático e, em menor proporção, da hiperplasia celular. Em geral, esse acréscimo é da ordem de 45 a 50% dos valores da mulher não gestante, enquanto o volume de células vermelhas se eleva em 33%, estabelecendo um estado de hemodiluição. Consequentemente, a viscosidade plasmática está diminuída, o que reduz o trabalho cardíaco. Fora do ciclo gravídico-puerperal, elevações agudas da volemia ativam receptores de volume e barorreceptores, e a baixa osmolaridade plasmática provoca a excitação de quimiorreceptores, acarretando na secreção de peptídio atrial natriurético, que atua em receptores presentes em rins, adrenais e vasos, permitindo excreção de sódio e água, e vasodilatação. Na gravidez, apesar do aumento dos níveis séricos de peptídio atrial natriurético, o aumento lento da volemia torna os receptores menos sensíveis aos estímulos, permitindo o acúmulo de sódio e água pelo organismo materno. Assim, a atividade do sistema renina- angiotensina-aldosterona a tem sua atividade aumentada de forma a suplantar a ação de mecanismos excretores, sofrendo aumento da filtração glomerular e de peptídio atrial natriurético, e os mecanismos de manutenção da volemia. COMPOSIÇÃO SANGUÍNEA ERITRÓCITOS = Apesar da hemodiluição fisiológica observada, o volume eritrocitário absoluto apresenta aumento considerável. Em média, mulheres grávidas possuem 450 mL a mais de eritrócitos/hemácias, a produção está acelerada, provavelmente em função do aumento dos níveis plasmáticos de eritropoetina. A concentração de hemoglobina encontra-se reduzida, resultado da hemodiluição. Gestantes com hemoglobina menor que 11g/dL serão consideradas anêmica. Da mesma forma, o hematócrito, cujos valores normais em não gestantes estão entre 38 e 42%, alcança nível de 32%. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM GT 4 A RESPOSTA DO CORPO MATERNO À GRAVIDEZ SISTEMA CIRCULATÓRIO Bloco Gestação @camillatozi LEUCÓCITOS = Existe aumento da produção da maioria dos elementos figurados do sangue na gravidez. A leucocitose pode estar presente na gravidez normal, com valores de leucócitos totais entre 5.000 e 14.000/mm3. Durante o parto e o puerpério imediato, os valores de leucócitos elevam-se de modo significativo, podendo chegar a 25.000/mm3, possivelmente relacionados à atividade das adrenais no momento de estresse. Seu aumento se dá principalmente às custas de células polimorfonucleares e linfócitos CD8. As proteínas inflamatórias da fase aguda estão aumentadas em todo o período gestacional. A proteína C reativa apresenta níveis plasmáticos mais elevados no momento próximo ao parto. A velocidade de hemossedimentação, por sua vez, eleva-se por causa do aumento de fibrinogênio e globulinas no sangue, perdendo seu valor em investigações diagnósticas na gravidez. COAGULAÇÃO Os níveis plaquetários estão discretamente reduzidos na gravidez normal. Parte desse evento se deve ao fenômeno da hemodiluição, mas o consumo de plaquetas também está envolvido nesse processo de forma evidente, o que se explica por certo grau de coagulação intravascular no leito uteroplacentário. Praticamente todos os fatores de coagulação apresentam-se elevados na gestação, com exceção dos fatores XI e XIII. Fibrinogênio e dímero D têm seus níveis elevados com o decorrer da gravidez em até 50%. Os valores de normalidade dessas substâncias estão alterados e sua interpretação laboratorial deve ser cuidadosa. Dessa forma, valores entre 300 e 600 mg/dL são considerados na avaliação da dosagem de fibrinogênio. FERRO As necessidades de ferro na gravidez aumentam consideravelmente. O consumo e a perda que ocorrem nesse momento não permitem que a gestante mantenha os níveis de hemoglobina e seus estoques dentro do intervalo de normalidade. Uma série de eventos contribui para esse estado de deficiência de ferro: consumo pela unidade fetoplacentária, utilização para produção de hemoglobina e mioglobina resultante do aumento da massa eritrocitária e da musculatura uterina, e depleção por meio de perdas sanguíneas e do aleitamento. Assim, a não ser que haja suplementação exógena adequada, a maioria das gestantes irá evoluir para anemia ferropriva. HEMODINÂMICA Na gravidez, o aumento da FC em conjunto com a elevação do volume sistólico desencadeia aumento do DC. O aumento relativo da produção de prostaciclina, quando relacionado à produção de tromboxano A2, ocasiona vasodilatação sistêmica e a mantém pela associação com os altos níveis de progesterona presentes no período gestacional. Além disso, a produção endotelial de óxido nítrico está aumentada e colabora localmente para a vasodilatação periférica. O resultado final é a redução da resistência vascular periférica até níveis capazes de reduzir a PA sistêmica, apesar do aumento do DC. A queda da PA sistêmica média é mais acentuada no 2º trimestre e retorna para níveis pré-gravídicos próximo ao parto. O aumento da pressão venosa nos membros inferiores é justificado pela compressão das veiaspélvicas pelo útero volumoso. CORAÇÃO Com o decorrer da gravidez, o diafragma eleva-se por causa do aumento do volume abdominal, alterando a posição cardíaca. Assim, o coração apresenta-se desviado para cima e para a esquerda, ligeiramente rodado para a face anterior do tórax. O volume do órgão também está aumentado, por conta do aumento do volume sistólico e da hipertrofia dos miócitos. Pequenas alterações do ritmo cardíaco são frequentes e o sopro cardíaco sistólico é comum, devido à redução da viscosidade sanguínea e ao aumento do DC. Ainda, pode haver alterações eletrocardiográficas nas ondas T e Q e desvio do eixo cardíaco para esquerda de 15° a 20°. Bloco Gestação @camillatozi HIPÓFISE A hipófise aumenta de tamanho às custas de hipertrofia e hiperplasia da porção anterior da glândula, em especial dos lactótrofos, geradas pela ação estimulante do estrógeno. Pode, no entanto, acarretar falência da glândula quando ocorre sangramento profuso no período periparto (síndrome de Sheehan). ADENO-HIPÓFISE: (1) aumento da produção de prolactina, que chega a níveis 10X maiores, com finalidade da preparar as glândulas mamárias para a produção de leite no pós-parto; (2) produção e secreção de hormônio do crescimento (GH), permanecem normais no 1º trimestre, para serem posteriormente substituídas pelo, (3) beta-hCG, que por sua semelhança molecular com a fração beta do hormônio estimulante da tireoide (TSH), estimula a função tireoidiana, que, por meio de retroalimentação negativa, (4) reduz a produção e a secreção hipofisária de TSH no 1º trimestre, com retorno a níveis normais no 2ºe no 3º trimestres. (5) Os níveis de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) aumentam. (6) decréscimo da secreção de gonadotrofinas hipofisárias, pela produção placentária de esteroides sexuais. NEURO-HIPÓFISE = Os níveis de ocitocina mantêm-se constantes durante a gestação, para se elevarem na fase ativa e no período expulsivo do trabalho de parto. De acordo com a hemodiluição fisiológica da gravidez, a gestante experimenta nível de osmolaridade sanguínea mais baixo para desencadear a liberação de ADH pelo mecanismo de sede. Assim, não há alteração dos níveis circulantes de ADH, mas sim um novo equilíbrio dos desencadeadores determinantes de sua liberação. TIREÓIDE A regulação da tireoide está alterada na gravidez por 3 modificações do organismo materno: redução dos níveis séricos de iodo pelo aumento da taxa de filtração glomerular, glicosilação da globulina transportadora de hormônios tireoidianos e consequente redução das frações livres dos hormônios, e estimulação direta dos receptores de TSH por beta-hCG. Essas provocam sobrecarga funcional e ꜛdo volume da glândula. A glicosilação da globulina transportadora de hormônios tireoidianos é estimulada pela crescente produção de estrógenos pela placenta, o que diminui sua metabolização hepática e, aumenta seus níveis circulantes. Isso faz com que as formas ligadas de tri-iodotironina (T3) e tiroxina (T4) estejam aumentadas fisiologicamente. Além disso, níveis de T4 livre decrescem ao longo da gravidez na maioria das gestantes normais. PARATIREOIDES A função das paratireoides está intimamente ligada ao metabolismo do cálcio, que está sobrecarregado na gravidez em razão das novas demandas fetoplacentárias. O aumento da filtração glomerular, por sua vez, contribui para maior excreção de cálcio urinário. Essas alterações levam a decréscimo do nível sérico de cálcio total. O paratormônio (PTH) apresenta redução de seus níveis séricos com o decorrer da gravidez. Os efeitos adaptativos que mantêm o equilíbrio do metabolismo do cálcio estão relacionados, principalmente, à elevação do calciferol (vitamina D), resultante da estimulação da atividade da 1-alfa-hidroxilase renal por estrógeno, hormônio lactogênico placentário, PTH e calcitriol produzidos pela placenta. Consequentemente, ocorre maior absorção de cálcio pelo sistema digestório. SISTEMA ENDÓCRINO Bloco Gestação @camillatozi ADRENAIS O aumento generalizado das atividades do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e do sistema renina- angiotensina-aldosterona, fazem da gravidez um período de hipercortisolismo e hiperaldosteronismo. O aumento do cortisol sérico é decorrente da redução de sua excreção e do aumento de sua meia-vida. Tem relação direta com a unidade fetoplacentária. Na presença de ambiente com altos níveis de progesterona, ocorre refratariedade da resposta tecidual ao cortisol, conferindo efeito antimineralocorticoide à progesterona. O hiperaldosteronismo relativo mantém o balanço eletrolítico de sódio, de acordo com as alterações do volume plasmático. Os níveis circulantes e excretados de andrógenos adrenais, como o sulfato de deidroepiandrosterona (DHEA-S), encontram-se reduzidos, possivelmente pelo consumo e metabolização em estrógeno placentário. OVÁRIOS A função endócrina ovariana está relacionada à produção de progesterona pelo corpo lúteo. Sua importância se limita até a 7ª semana, pois associa-se à manutenção da gestação até o período em que o trofoblasto cresce suficientemente para sua autonomia hormonal. A produção de outras substâncias como a relaxina associa-se a mecanismos de relaxamento sistêmico das fibras de colágeno e musculares, para a acomodação da gestação e para o processo de parturição, assim como a fisiopatologia do parto pré-termo e das alterações da cérvix. A produção de andrógenos está elevada. O maior crescimento do feto ocorre durante o último trimestre de gestação. Comumente, a mãe não absorve proteínas, cálcio, fosfato e ferro suficientes de sua dieta, nos últimos meses, para suprir essas necessidades extras do feto. Entretanto, antecipando tais necessidades, o corpo já trata de armazena-las, parte na placenta, e a maioria nos depósitos normais da mulher. Se os elementos nutricionais não estiverem presentes na dieta, pode ocorrer uma série de deficiências, especialmente de cálcio, fosfatos, ferro e vitaminas. Em média, a gestante engorda cerca de 11 kg a 15 kg, e grande parte desse ganho ocorre nos últimos dois trimestres. Cerca de 3,5 kg são do feto e 2 kg do líquido amniótico da placenta e das membranas fetais. O útero aumenta perto de 1,3 kg, e as mamas outro 1 kg, ainda restando aumento médio de peso de 3,4 kg a 7,8 kg. Cerca de 2 kg são líquido extra no sangue e no líquido extracelular, e geralmente o restante 1,3 kg a 5,6 kg é acúmulo de gordura. O líquido extra é eliminado na urina, nos primeiros dias pós parto, depois da perda dos hormônios retentores de líquido da placenta. Durante a gravidez, a mulher normalmente sente mais vontade de comer, em parte como consequência da remoção de substratos alimentares do sangue materno pelo feto e em parte devido a fatores hormonais. Sem o controle pré-natal apropriado da dieta, o ganho de peso da mulher pode ser tão grande quanto 34 kg, em vez dos usuais 11 kg a 15 kg. Como consequência de maior secreção de muitos hormônios, incluindo a tiroxina, hormônios adrenocorticais e hormônios sexuais, o metabolismo basal da gestante aumenta cerca de 15% na última metade da gravidez. Por conseguinte, frequentemente ela tem sensações de calor excessivo. Além disso, devido à carga extra que ela está carregando, precisa despender mais energia do que o normal na atividade muscular. METABOLISMO NUTRIÇÃO PESO Bloco Gestação @camillatozi METABOLISMO DOS LIPÍDIOS E CARBOIDRATOS A gravidez normal gera um deslocamento do equilíbrio entre o metabolismo materno de carboidratos e o de lípides, observando-se redução da glicemia de jejum e da glicemia basal materna às custas de armazenamento de gordura, glicogênese hepática e transferência de glicose para o feto, ocorrendo na primeira metade da gestação, e desencadeadas pelos hormônios estrógeno e progesterona. A partir da 2ª metade da gravidez, inicia-se o período catabólico, com lipólise,neoglicogênese e resistência periférica à insulina. Acredita-se que o hormônio lactogênico placentário, por sua ação somatotrófica, estimule a lipólise com liberação de ácidos graxos no sangue materna. É a partir de 30 semanas que a gestante começa a mobilizar suas reservas energéticas para se adequar ao crescimento fetal. O excesso de ácidos graxos desencadeia resistência à insulina, mantendo ambiente de hiperglicemia pós-prandial, com hiperinsulinemia. A hiperglicemia resulta da maior necessidade energética do feto no 3º trimestre, sendo preferencialmente transportada pela placenta por meio de difusão facilitada. Para manter o desvio de glicose para o produto conceptual, a gestante utiliza lípides como fonte de energia. Em jejum, especialmente quando muito prolongado, as concentrações plasmáticas de ácidos graxos, triglicérides e colesterol aumentam, podendo causar cetonemia mais facilmente. A redução da sensibilidade à insulina é fenômeno materno observado de forma mais evidente a partir de 26 semanas de gestação, período em que se estabelecem aumentos progressivos dos níveis de hormônio lactogênico placentário. A glicosúria leve pode estar presente em número considerável de gestantes, mas sem maiores significados, por estar relacionada ao aumento fisiológico da filtração glomerular. METABOLISMO PROTEICO Existe aumento do balanço nitrogenado materno total com acúmulo de proteína no termo da gestação. Metade desse acúmulo é direcionada ao feto e a seus anexos, e a outra destinada a suprir as necessidades da musculatura uterina hipertrofiada, do desenvolvimento mamário, da hipervolemia plasmática e da hiperplasia dos eritrócitos. Acredita-se que o incremento de aminoácidos na economia materna esteja relacionado ao melhor aproveitamento dietético e à menor taxa de excreção, no entanto, não pode ser avaliado no compartimento intravascular, uma vez que suas concentrações plasmáticas se encontram reduzidas pela hemodiluição. A insulina exerce importante função no armazenamento de aminoácidos e, com o desenvolvimento da capacidade fetal de produzi-la, também para o concepto. Em relação às proteínas plasmáticas, observam-se aumento da albumina total e redução de sua concentração plasmática. Os níveis circulantes de gamaglobulina também estão aumentados, mas em pequena proporção, o que aumenta a relação albumina-globulina. Outras proteínas como fibrinogênio e alfa e betaglobulinas também apresentam níveis aumentados. PELE E ANEXOS A produção placentária de estrógenos leva à proliferação da microvasculatura de todo o tegumento (angiogênese). Associado, ocorre vasodilatação de toda a periferia do organismo, levando a eventos vasculares da pele e dos anexos, como eritema palmar, teleangiectasias, hipertricose e aumento de secreção sebácea e da sudorese. A alopecia é rara, mas pode ocorrer por conta das alterações hormonais. MODIFICAÇÕES SISTÊMICAS DO ORGANISMO MATERNO Bloco Gestação @camillatozi A hiperpigmentação da pele da gestante também está relacionada aos altos níveis de progesterona, que parecem aumentar a produção e a secreção do hormônio melanotrófico da hipófise, agindo sobre moléculas de tirosina da pele e induzindo a produção excessiva de melanina, que provoca melasmas. Entres os locais de maior incidência estão face, fronte, projeção cutânea da linha alba (linha nigra), aréola mamária e regiões de dobras. Podem piorar com a exposição solar e costumam desaparecer após a gravidez. O sinal de Hunter nada mais é que a pigmentação periareolar que determina o surgimento da aréola secundária nas gestantes. As estrias são mais frequentes no período gestacional. Como não há alteração da qualidade das fibras colágenas nem da constituição da epiderme, atribui-se sua ocorrência à hiperfunção das glândulas adrenais, portanto, ao hipercortisolismo típico da gravidez. A distensão da pele do abdome, das mamas e do quadril pode provocar o aparecimento de estrias nessas regiões. SISTEMA ESQUELÉTICO As articulações, de modo geral, sofrem processo de embebição gravídica, com acúmulo de líquido proveniente da ação sistêmica da progesterona e do estrógeno, um processo adaptativo de aumento da mobilidade da pelve e que prepara o organismo para o parto. Nas articulações dos membros inferiores, no entanto, esse fenômeno pode predispor a gestante a dores crônicas, entorses, luxações e até fraturas. As articulações da bacia óssea (sínfise púbica, sacrococcígea e sinostoses sacroilíacas) se apresentam com maior elasticidade, aumentando a capacidade pélvica e modificando a postura e a deambulação maternas.Os ligamentos estão mais frouxos e são mais complacentes à movimentação, o que é imprescindível para o fenômeno de expulsão fetal, pois permite o aumento dos diâmetros e estreitos da pelve materna. O aumento do volume abdominal e das mamas desvia anteriormente o centro de gravidade materno, direcionando o corpo todo posteriormente, de forma a compensar e encontrar novo eixo de equilíbrio que permita se manter ereta, favorecendo hiperlordose e hipercifose da coluna vertebral, aumento da base de sustentação, com afastamento dos pés e diminuição da amplitude dos passos (marcha anserina). SISTEMA DIGESTÓRIO AUMENTO DE APETITE E SEDE = A elevação da produção de leptina e as alterações da secreção de ADH, contribuem para tais alterações. Mudanças nas preferências alimentares são comuns e podem chegar a configurar verdadeiras perversões do paladar, com desejos de ingerir terra, sabão, carvão, entre outros, o que se conhece por pica ou malacia. NÁUSEAS E VÔMITOS = Ocorrências mais prevalentes no 1º trimestre, que desaparecem ao longo da gravidez. Podem ser de difícil manejo, acompanhados de perda importante de peso, o que configura hiperêmese gravídica. Dados recentes associam tal entidadea altos níveis de hCG circulante e alterações laboratoriais da função tireoidiana. Os aspectos emocional e psíquico da paciente também exercem alguma função no quadro clínico. SIALORREIA/SECREÇÃO SALIVAR EXACERBADA = Desencadeada por estímulo neurológico do quinto par craniano (nervo trigêmeo) e do nervo vago, e relaciona-se mais à dificuldade de deglutição decorrente de náuseas que ao aumento de secreção salivar. SAÚDE BUCAL = As adaptações vasculares orais decorrentes dos altos níveis de esteroides sexuais circulantes causam hipertrofia e hipervascularização gengival, resultando em gengiva edemaciada, facilmente sangrante, o que dificulta a limpeza local. O pH salivar é mais baixo, o que pode causar proliferação bacteriana. Esses dois fatos podem aumentar o risco de ocorrência de cáries naquelas mulheres em que os hábitos de higiene são deficientes. A hipertrofia gengival com proliferação das papilas intermediárias e dos vasos locais pode eventualmente formar pseudotumores ou granulomas (epúlides gravídicos). Bloco Gestação @camillatozi REFLUXO E EMPACHAMENTO = Sabe-se que a progesterona é potente relaxante de fibras musculares lisas, e o estrógeno, age como indutor dos efeitos progestogênicos no organismo materno. Tais efeitos levam a relaxamento do esfíncter esofágico inferior e redução de seu peristaltismo com aumento da incidência de refluxo gastroesofágico. Da mesma forma, a contratilidade da musculatura lisa do estômago, da vesícula biliar e dos intestinos encontra-se reduzida, gerando empachamento e obstipação. SISTEMA RESPIRATÓRIO Observa-se elevação diafragmática de aproximadamente 4 cm e maior capacidade de excursão desse músculo. A amplitude de movimento do diafragma se reduz ao longo da gravidez devido ao aumento do volume abdominal. A caixa torácica apresenta aumento de 6 cm em sua circunferência e 2 cm em seu diâmetro. A capacidade vital é a soma das reservas pulmonares expiratória e inspiratória e do volume corrente, e a grávida, não se nota modificação, mas ocorre readaptação dos volumes distribuídos nos seus diversos componentes.Dessa forma, presencia-se aumento do volume corrente com redução da reserva expiratória e preservação da reserva inspiratória. A elevação do volume corrente pretende suprir as demandas de oxigênio, que se encontram aumentadas por conta de haver maior massa eritrócitária e quantidade total de hemoglobina circulante. A hemodiluição e a queda da hemoglobina induzem o aumento do volume corrente para compensar o fato de que a frequência respiratória em si não se altera. A capacidade pulmonar total (somatório das capacidades inspiratória e residual) está reduzida devido à elevação do diafragma. A FR sofre pouca ou nenhuma mudança, mas o aumento de volume corrente estabelece situação de hiperventilação. Consequentemente, ocorre queda da pressão parcial de dióxido de carbono (pCO2), que gera um gradiente entre gestante e feto, facilitando a excreção fetal. Ao mesmo tempo, o aumento do pH desvia a curva de dissociação de oxigênio para a esquerda, que dificulta sua liberação para os tecidos maternos. A discreta alcalose respiratória é compensada pela redução dos níveis circulantes de bicarbonato e pela produção de difosfoglicerato que retorna a curva para a direita, garantindo liberação suficiente para o feto. A facilidade da movimentação do ar nas estruturas brônquicas e alveolares é resultado de ação progestogênica no centro respiratório, diminuindo o limiar de estímulo pelo dióxido de carbono, além da ação direta desse hormônio na musculatura lisa dos brônquios. Essas alterações causam à gestante sensação de dispneia, queixa comum que pode estar associada somente à conscientização da respiração. SISTEMA URINÁRIO o aumento da volemia em associação com a redução da resistência vascular periférica provoca elevação do fluxo plasmático glomerular, com consequente aceleração do ritmo de filtração glomerular. A osmolaridade plasmática também se modifica por conta da ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e da redução do limiar de secreção de ADH. A liberação de ADH e o mecanismo de sede são desencadeados por menores níveis osmóticos, denotando menor capacidade renal de concentrar urina. As grávidas, em geral, filtram maiores quantidades de sódio e água no glomérulo, que são compensadas por maior reabsorção tubular desses elementos, resultante da ação da aldosterona e do ADH. As taxas de fluxo plasmático glomerular e ritmo de filtração glomerular também sofrem influência da posição materna, da mesma forma que a pressão arterial. Por essa razão, observa-se depuração renal até 20% menor em posição supina que em decúbito lateral. Os fatores etiológicos de tais modificações relacionam-se também a substâncias produzidas localmente, como o óxido nítrico, a endotelina e a relaxina. Acredita-se que o papel da endotelina nos vasos renais seja de estabilização do tônus vascular. A relaxina, por sua vez, age na osmolaridade plasmática, aumentando o ritmo de filtração glomerular. Bloco Gestação @camillatozi Fatores hormonais como a progesterona provocam hipotonia da musculatura dos ureteres e da bexiga, causando discreta hidronefrose e aumento do volume residual vesical. Fatores mecânicos, como aumento do plexo vascular ovariano direito, dextrorrotação e compressão extrínseca uterinas, predispõem a acentuação da hidronefrose do lado direito e redução da capacidade vesical. A bexiga encontra-se mais elevada ao longo da gestação, com retificação do trígono vesical, provocando refluxo vesicoureteral. Incontinência urinária é queixa comum, embora mecanismos protetores estejam mais desenvolvidos, como aumento do comprimento absoluto e funcional da uretra e aumento da pressão intrauretral máxima. SISTEMA NERVOSO CENTRAL As principais queixas das gestantes, relacionam-se a discretas alterações de memória e concentração, geralmente no último trimestre, e sonolência. Acredita-se que a sonolência esteja associada aos altos níveis de progesterona, e à alcalose respiratória. A lentificação geral do SNC é comum e progressiva, podendo corresponder a alterações vasculares das artérias cerebrais média (ACM) e posterior. As alterações do padrão e da qualidade do sono não só aumentam a fadiga da grávida ao fim da gestação, como também podem colaborar para quadros psíquicos de blues puerperal e mesmo depressão. Manifestações como hiperêmese gravídica, enxaquecas e alguns distúrbios psiquiátricos (hipomania e depressão) relacionam-se possivelmente com alterações vasculares e hormonais exclusivas da gravidez. VISÃO = Modificações da acuidade visual podem estar presentes por causa das alterações da córnea, entre elas edema localizado e opacificações pigmentares. A pressão intraocular costuma estar reduzida pelo aumento da velocidade de reabsorção do humor aquoso. As alterações retinianas da conformação vascular ao exame de fundo de olho na grávida podem denotar acometimento localizado por síndrome hipertensiva. NARIZ = A mucosa nasal apresenta-se edemaciada e hipervascularizada em decorrência de adaptações circulatórias do organismo materno que ocorrem de forma generalizada. Episódios de epistaxe, rinite vasomotora e hiposmia são, portanto, frequentes e sem maiores implicações. AUDIÇÃO = Pode estar discretamente comprometida, com regressão pós parto. Zumbidos e vertigem são queixas raras, mas estão presentes em gestantes cujas modificações vasculares foram mais acentuadas. Bloco Gestação @camillatozi Compreender a fisologia fetal: Entender o desenvolvimento dos sistemas circulatório e digestório; Há vários anos o feto é considerado um paciente, de forma que o cuidado e a assistência estão voltados não apenas para a saúde materna, mas também para o bem-estar fetal, com o propósito de preservar sua integridade e um adequado ambiente para seu desenvolvimento e crescimento. Apresenta características próprias, sobretudo porque, a nutrição e a oxigenação dependem da placenta. O cordão umbilical liga o feto à placenta. É composto por três vasos: duas artérias e uma veia. As artérias transportam o sangue do feto para a placenta, e a veia é responsável pelo retorno do sangue oxigenado e rico em nutrientes para o organismo fetal. É na veia que se encontra a maior saturação de oxigênio, o que torna a distribuição desse retorno venoso extremamente importante na oxigenação dos tecidos fetais. CIRCULAÇÃO FETAL As necessidades do organismo fetal devem ser supridas apesar das baixas concentrações de oxigênio em sua circulação. Para que o sangue oxigenado proveniente da placenta atinja os diversos órgãos, a circulação fetal apresenta intercomunicações. A desvantagem da mistura do sangue oxigenado com o não oxigenado é compensada pela existência de fluxos preferenciais. 1ª INTERCOMUNICAÇÃO VASCULAR = Trata-se do ducto venoso. Esse vaso encaminha aproximadamente metade do fluxo sanguíneo proveniente da veia umbilical diretamente para a veia cava inferior e a outra metade para o sistema venoso porta-hepático. Na entrada desse ducto, existem fibras musculares que podem funcionar como um esfíncter, regulando a distribuição do fluxo entre circulação hepática e veia cava inferior, e contribuindo para o fechamento funcional do ducto por ocasião do nascimento. Ela permite que o sangue com maior saturação de oxigênio seja diretamente direcionado ao coração fetal, onde tem seu maior volume encaminhado preferencialmente para o AE, via forame oval, o que permite que o SNC e o coração recebam sangue ricamente oxigenado. 2ª INTERCOMUNICAÇÃO VASCULAR = Trata-se desse forame oval. As peculiaridades anatômicas do AD fetal permitem a distribuição com fluxo preferencial. As veias cavas superior e inferior desembocam em pontos não alinhados no AD. Dessa forma, o fluxo proveniente da veia cava inferior é dividido pela crista dividens, com maior volume direcionado para o forame oval, e o menor ao AD, juntamente ao fluxo proveniente daveia cava superior, o VD e o tronco da artéria pulmonar, que fornece ramos pulmonares. O sangue proveniente da veia cava superior adentra no AD e tem seu fluxo direcionado ao VD pela crista interveniens (situada na parede posterolateral do AD). OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM GT 5 DESENVOLVIMENTO FETAL SISTEMA CARDIOVASCULAR FETAL Bloco Gestação @camillatozi 3ª INTERCOMUNICAÇÃO VASCULAR = No pulmão fetal, não ocorrem trocas gasosas e a circulação pulmonar oferece elevada resistência ao fluxo sanguíneo. Isso promove desvio do fluxo proveniente do VD para o canal arterial, atingindo a aorta descendente. O canal arterial/ducto arterioso/ducto arterial, é a terceira intercomunicação. O sangue que passa pelo AE mistura-se com pequeno volume de sangue, pouco oxigenado, proveniente dos pulmões e dirige-se para o VE. O sangue é então ejetado para a aorta fetal e, em seguida, direcionado ao miocárdio e ao sistema nervoso central fetais, órgãos nobres que necessitam de maior aporte de oxigênio. Além disso, o arco aórtico é importante local onde se localizam os barorreceptores e quimiorreceptores, que participam da regulação da FC fetal. SATURAÇÃO DE OXIGÊNIO O sangue da veia umbilical apresenta a maior saturação de oxigênio da circulação fetal (80%). A menor saturação de oxigênio é observada na veia cava inferior (35 a 40%). O fluxo preferencial do sangue oxigenado do ducto venoso é direcionado ao AD, e a saturação de oxigênio nessa câmara é de 55%. No AE, a saturação é de 65%, assim como a encontrada no VE e na aorta ascendente. Já o VD, apresenta saturação de oxigênio de 55%, a mesma verificada no tronco da pulmonar. DISTRIBUIÇÃO DO FLUXO SANGUÍNEO FETAL No feto, a distribuição do fluxo de sangue aos diversos órgãos é determinada por suas respectivas resistências vasculares. O fluxo é expresso em porcentagem do DC total. Os órgãos fetais situados abaixo do canal arterial são perfundidos por ambos os ventrículos, e a circulação coronariana e a parte superior do corpo fetal recebem sangue proveniente do ventrículo esquerdo. A proporção de sangue que atinge a placenta varia de 23 a 60% e diminui à medida que se aproxima o termo da gestação. A circulação pulmonar recebe de 4 a 25% do DC, o que se eleva com a evolução da gestação. Menos de 1% do sangue proveniente da VCS que chega ao AD passa para o esquerdo. O fluxo da VCI que atinge o AE através do forame oval é de 70 a 75% do DC total, caracterizando o fluxo preferencial do sangue oxigenado proveniente da placenta. A proporção na veia umbilical na metade da gestação, é cerca de 30% e reduz para 20% ao redor de 30 semanas; após esse período, permanece relativamente constante até o final da gravidez. No entanto, grande variação é observada em decorrência da oxigenação fetal, aumentando nas condições de hipoxemia. A perfusão coronariana é vital para a maturação ventricular. No feto, 75% da resistência coronariana decorre da pressão intracardíaca e o restante é causado por contração miocárdica e pressão tecidual. A regulação do canal arterial se dá pela ação vasoconstritora do oxigênio, de forma que a baixa pressão parcial de oxigênio (pO2) fetal é fator decisivo para a manutenção de sua permeabilidade. É escassa a inervação desse canal, indicando não existir participação neuronal na regulação de seu calibre. As prostaglandinas E1 e E2 produzidas na sua parede, nos pulmões fetais e na placenta são fatores importantes para a manutenção da permeabilidade do canal arterial pelo relaxamento de sua parede. SANGUE FETAL HEMATOPOESE A hematopoese, formação e desenvolvimento das células sanguíneas, inicia com a liberação na circulação fetal de eritrócitos nucleados e macrocíticos, que se tornarão menores e anucleados com o desenvolvimento. Sua produção se encontra estimulada no feto, inicialmente, os reticulócitos estão presentes em altos níveis, entretanto, sua taxa se reduz próximo ao termo, atingindo valor de 4 a 5%. Com o crescimento do feto, o volume sanguíneo fetal aumenta, bem como a concentração de hemoglobina. Na metade da gestação, a concentração de hemoglobina chega a 12 g/dL60 e no termo atinge o valor de 18 g/dL. Bloco Gestação @camillatozi O processo da eritropoese é controlado pela eritropoetina fetal, cuja produção é influenciada por testosterona, estrógenos, prostaglandinas, hormônio tireoidiano e lipoproteínas. O fígado fetal parece ser o local de produção da eritropoetina fetal, até que se inicie a produção renal. Após o nascimento, normalmente a eritropoetina não pode ser detectada após 3 meses. O volume de sangue total do recém-nascido normal a termo é estimado em 78 mL/kg, no momento em que é realizado o clampeamento do cordão. Estima-se que o volume de sangue fetal represado na placenta, após o nascimento, seja de aproximadamente 45 mL/kg. Portanto, o volume sanguíneo fetoplacentário no termo deve ser de aproximadamente 125 mL/kg de peso fetal. Durante o período de vida fetal, vários precursores das cadeias alfa e beta são produzidos, resultando na produção de diferentes tipos de hemoglobina embrionária. Todos são chamados por letras gregas: gama, delta, épsilon e zeta. As cadeias zeta e épsilon são sintetizadas no período embrionário; as cadeias alfa e gama, na vida fetal; e as cadeias alfa, beta e delta após o nascimento. As primeiras hemoglobinas embrionárias, que são produzidas na vesícula vitelínica, são as hemoglobinas Gower I, Gower II, Portland I e Portland II. Quando a eritropoese é deslocada para o fígado fetal, esta passa a produzir a hemoglobina F. Da 8ª semana até o termo, essa é a que está presente em maior proporção no sangue fetal. A hemoglobina A normal começa a surgir a partir da 11ª semana nos eritrócitos fetais e aumenta progressivamente sua proporção conforme evolui a maturação fetal. A concentração de hemoglobina F nos eritrócitos fetais se reduz nas últimas semanas de gestação. FATORES DE COAGULAÇÃO O fibrinogênio surge ao redor da 5ª semana. Apesar de apresentar a mesma composição de aminoácidos que do adulto, o feto apresenta menor grau de agregação. No sangue fetal, o tempo demandado para a conversão de fibrinogênio em fibrina, na adição de trombina, é mais prolongado quando comparado com o do adulto. A produção de fatores pró-coagulantes, fibrinolíticos e proteínas anticoagulantes inicia-se ao redor da 12ª semana, em quantidades reduzidas. As concentrações de vários fatores de coagulação são relativamente baixas no nascimento, quando comparadas às concentrações atingidas em poucas semanas de vida. Esses fatores incluem: II, VII, IX, X, XI, XII, XIII e fibrinogênio. Na ausência de tratamento profilático, os fatores dependentes da vitamina K usualmente diminuem nos primeiros dias de vida. A maturação pulmonar ocorre, em geral, ao redor da 35ª semana de gestação, mas a partir da 24ª semana o feto apresenta estruturas pulmonares capazes de realizar trocas gasosas, possibilitando a sobrevivência do recém-nascido prematuro extremo. O desenvolvimento pulmonar pode ser dividido em cinco períodos: PERÍODO EMBRIONÁRIO = Inicia-se com o aparecimento do botão pulmonar (26º - 28º dias após a fecundação), que se divide em dois brotos que posteriormente se ramificam para a formação dos brônquios principais. Ao redor da 6ª semana após a fecundação, todos os segmentos broncopulmonares tornam-se identificáveis; OBS: Apesar da relativa redução dos fatores pró-coagulantes, o feto parece protegido de processos hemorrágicos. Não se observa sangramento excessivo mesmo após procedimentos invasivos. SISTEMA RESPIRATÓRIO Bloco Gestação @camillatozi PERÍODO PSEUDOGLANDULAR = Formação de todos os condutos aéreos e aparecimento dos ácinos primitivos. Nesse período, as vias aéreas/árvore brônquica são recobertas em suas porções proximais por um epitélio colunar alto e em suas porções distais por um epitélio cuboide, com célulasricas em glicogênio, que se relacionam à síntese posterior das substâncias surfactantes. Os ramos axiais dos segmentos broncopulmonares continuam a dividir-se e, com 16 semanas, assumem aspecto morfológico semelhante ao do pulmão do adulto. Ao final desse período, a maioria das estruturas pulmonares está formada, exceto as unidades para as trocas gasosas; PERÍODO CANALICULAR = Entre 16 e 26 semanas, aparecem as primeiras estruturas relacionadas ao bronquíolo terminal (várias gerações de bronquíolos respiratórios e estruturas saculares). Com 24 semanas, algumas células que revestem o ácino diferenciam-se em: (1) Pneumócito do tipo I, uma célula com funções principalmente relacionadas ao revestimento alveolar; (2) Pneumócito do tipo II, célula rica em corpúsculos lamelares, que são estruturas intracelulares ricas em lipídios e que armazenam as substâncias surfactantes. Essas surgem entre 24 e 26 semanas. Ao final desse período, o pulmão já apresenta certa capacidade de realizar trocas gasosas, embora ainda esteja imaturo; PERÍODO SACULAR = Estende-se de 26 semanas até o nascimento. As vias aéreas terminam em um grupo de sacos terminais que vão diferenciar-se, no termo da gestação, em ductos alveolares e alvéolos. Ocorre expansão importante do espaço respiratório, resultando em rápido aumento da superfície destinada às trocas gasosas. As vias aéreas tornam-se mais vascularizadas, o epitélio de revestimento torna-se mais fino e observa-se adelgaçamento do interstício; PERÍODO ALVEOLAR = Os alvéolos maduros só se formarão após o nascimento, embora alguns sejam observados no recém-nascido a termo. Os grupos saculares terminais do período anterior se diferenciam, ao final da gestação, em ductos alveolares e alvéolos primitivos, de forma que apenas aproximadamente 5% dos alvéolos serão maduros no recém-nascido. O maior aumento no número de alvéolos ocorre nos primeiros 2 anos de vida e não se completa antes dos 8 anos. FIBRAS COLÁGENAS = No início do 2º trimestre, estão bem desenvolvidas nas grandes vias aéreas, nos vasos e na pleura. Entretanto, nos ácinos ainda são escassas. No pulmão maduro, essas fibras elásticas e o colágeno tecidual têm importante papel na expansão e retração pulmonar. Em pulmões imaturos com 23 a 24 semanas de gestação, essas propriedades ainda não estão desenvolvidas. FLUIDO ALVEOLAR = Preenche o pulmão fetal a partir do período canalicular. A produção chega a atingir de 200 a 400 mL/dia, o que contribui de forma significativa na composição do líquido amniótico. Parte desse fluido é deglutida pelo feto, antes de atingir a cavidade amniótica, e posteriormente é excretada pela diurese fetal. A composição química caracteriza-se por elevados níveis de cloro e baixas concentrações de proteínas e bicarbonato. O pH do fluido é significativamente menor em relação a outros fluidos biológicos. Nas últimas semanas, ocorre nítida redução na produção do fluido e aumento na de surfactantes, que parece decorrer de alterações na expressão dos canais de íons, com ativação dos canais epiteliais de sódio em pneumócitos dos tipos I e II. OBS: O período fetal verdadeiro compreende os períodos pseudoglandular, canalicular e sacular. O alveolar ocorre após o nascimento e não se completa antes dos 8 anos de idade. Bloco Gestação @camillatozi SISTEMA SURFACTANTE PULMONAR As substâncias surfactantes possibilitam a adequada expansão dos alvéolos durante a inspiração e evitam seu colapso durante a expiração. O mecanismo de ação se baseia na diminuição da tensão superficial da parede dos alvéolos, principalmente nos de menores dimensões, que tendem ao colapso no final da expiração. A composição do sistema surfactante inclui de 80 a 90% de lipídios e de 10 a 20% de proteínas, substâncias produzidas nos alvéolos pelos pneumócitos do tipo II, cuja composição conta com corpos lamelares, organelas ricas em lipídios e constituem local de armazenamento das substâncias surfactantes. No nascimento, com a primeira inspiração do recém-nascido, é produzida uma interface ar-tecido no alvéolo. O surfactante é liberado dos corpos lamelares e se espalha no alvéolo, prevenindo o colapso na expiração. A maturidade pulmonar fetal se estabelece com a capacidade dos pulmões fetais em produzir o surfactante. Dentre os fosfolípides que compõem o sistema surfactante, estão as fosfatidilcolinas (lecitinas), cujo principal componente ativo é a lecitina específica denominada dipalmitoilfosfatidilcolina. A lecitina é o principal componente tensoativo do sistema surfactante, ocorrendo aumento de sua concentração, em relação à esfingomielina, o que constitui indicador de maturidade pulmonar fetal. A lecitina tem sua produção acelerada ao redor de 30 semanas e a maturidade ocorre em torno de 35 semanas. O cortisol produzido na suprarrenal fetal tem efeito positivo na síntese de surfactante. Estudos em animais demonstram maturação anatômica do tecido pulmonar com aparecimento precoce de corpos lamelares, desaparecimento de glicogênio e afinamento da membrana capilar alveolar. A administração de glicocorticoides também aumenta a atividade de diversas enzimas envolvidas na biossíntese dos surfactantes. Tem sido amplamente aceito que o uso antenatal da betametasona acelera a maturidade pulmonar fetal. MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS FETAIS Os movimentos respiratórios fetais são observados no desenvolvimento normal do produto conceptual, a partir da 11ª semana até o termo. Na realidade, trata-se de movimentos torácicos fetais, pois não exercem função respiratória. Espelham o amadurecimento da função do centro respiratório cerebral e servem para preparar a musculatura envolvida no sistema respiratório, que terá função essencial após o nascimento. ADAPTAÇÃO RESPIRATÓRIA NO NASCIMENTO O primeiro movimento respiratório ocorre normalmente nos primeiros dez segundos de vida. A primeira inspiração usualmente é ofegante, pois resulta da reação do SNC à alteração repentina de pressão e temperatura, bem como de outros estímulos externos. A entrada de ar na árvore brônquica, preenchida por fluido pulmonar, requer pressão de abertura suficiente para superar a tensão superficial e a resistência tecidual. Na primeira expiração, a capacidade de reter o ar no pulmão está na dependência da ação dos surfactantes. Os alvéolos apresentam diferentes dimensões, e os menores, na ausência de surfactante, tendem a se colabar, pois apresentam maior pressão intra-alveolar. Isso seria decorrente da passagem do conteúdo aéreo para os alvéolos maiores, de menor pressão intra-alveolar. O surfactante desempenha papel fundamental, pois faz com que os alvéolos de diferentes dimensões mantenham a mesma pressão, permitindo a retenção de ar no final da expiração. Bloco Gestação @camillatozi Compreender a fisiologia fetal: Entender o desenvolvimento dos sistemas circulatório e digestório. TRATO GASTROINTESTINAL O intestino primitivo se forma durante a 4ª semana, quando a parte dorsal da vesícula vitelínica é incorporada ao embrião. O endoderma desse origina a maior parte do epitélio e as glândulas do sistema digestório. DEGLUTIÇÃO FETAL = Inicia-se entre a 10ª e a 12ª semanas, quando o intestino delgado adquire discreto peristaltismo e é capaz de transportar a glicose ativamente. A maior parte da água do fluido deglutido é absorvida. O esvaziamento gástrico e as alterações na composição do líquido amniótico são fatores potencialmente envolvidos na estimulação da deglutição fetal. No início da gestação, ela parece exercer pouco papel na regulação do volume de líquido amniótico, entretanto, no final, o volume de líquido amniótico é regulado de forma significativa pelo fluido deglutido. O esvaziamento gástrico parece ser estimulado primariamente pela distensão do estômago. O movimento do líquido amniótico pelo trato gastrointestinal promove o crescimentoe o desenvolvimento do canal alimentar, o que irá prover condições para a alimentação após o nascimento. MECÔNIO = Conteúdo do intestino fetal, constituído por produtos de secreção, como glicerofosfolípides dos pulmões, células fetais descamadas, lanugem, cabelos e vernix caseoso. Contém fragmentos deglutidos e não digeridos que se encontravam no líquido amniótico. Sua coloração verde-escura é causada pela biliverdina. A liberação de mecônio pode ser provocada pelo peristaltismo intestinal normal do feto maduro ou por maior atividade parassimpática na resposta à hipoxia fetal. FÍGADO O fígado, a vesícula biliar e as vias biliares originam-se da porção ventral da região caudal do intestino primitivo anterior, no início da 4ª semana. O fígado cresce rapidamente da 5ª à 10ª semana e preenche grande parte da cavidade abdominal. Na 5ª semana, o fígado apresenta dois lobos (direito e esquerdo). Os lobos caudado e quadrado desenvolvem-se na 6ª e 7ª semanas, respectivamente. Com 5 dias de vida, o lobo direito torna-se 10% maior do que o esquerdo. Os cordões hepáticos anastomosam-se e formam os sinusoides hepáticos primordiais. O tecido hematopoético e as células de Kupffer do fígado derivam do mesênquima. A quantidade de sangue oxigenado direcionada ao fígado fetal determina o desenvolvimento e a segmentação funcional do fígado. O suprimento sanguíneo (rico em oxigênio) do lobo esquerdo é proveniente da veia umbilical, e do lobo direito recebe sangue oxigenado do seio portal e também sangue pouco oxigenado da veia porta. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM GT 6 DESENVOLVIMENTO FETAL – PARTE 2 SISTEMA DIGESTÓRIO Bloco Gestação @camillatozi As enzimas hepáticas estão presentes em quantidades reduzidas e aumentam com a idade gestacional. Ele apresenta capacidade limitada para o metabolismo da bilirrubina livre, de forma que quanto mais imaturo for, mais deficiente será. Pelo fato de os eritrócitos fetais apresentarem meia-vida inferior àquela dos eritrócitos adultos, relativamente mais bilirrubina é produzida no organismo fetal. A maioria da bilirrubina é transferida para a circulação materna pela placenta, restando pequena fração a ser conjugada pelo fígado, e que é excretada para o trato intestinal e finalmente oxidada para a biliverdina. A bilirrubina não conjugada é excretada para o líquido amniótico a partir de 12 semanas e transferida através da placenta. A hematopoese pelo fígado fetal inicia-se na 6ª semana. Essa atividade é responsável pelo tamanho relativamente grande que o fígado fetal adquire entre a 7ª e a 9ª semanas. Na 9ª, o fígado corresponde a 10% do peso fetal. A maior parte do colesterol fetal é produzida pelo fígado do concepto. A grande demanda de LDL pela adrenal fetal é suportada pela síntese hepática fetal. É componente essencial para o desenvolvimento, pois integra as membranas celulares, é precursor dos hormônios esteroides e participa do desenvolvimento do SNC. PÂNCREAS Desenvolve-se entre as camadas do mesentério ventral, a partir do botão pancreático de células endodérmicas que se originam da porção caudal do intestino primitivo anterior. O parênquima pancreático, forma uma rede de túbulos. Precocemente no período fetal, ácinos se formam no final desses túbulos (ductos primitivos). As ilhotas pancreáticas desenvolvem-se a partir de grupos celulares que se separam dos túbulos e que logo se estabelecem entre os ácinos. Os grânulos que contêm insulina podem ser identificados a partir da 9ª e da 10ª semanas no pâncreas fetal. No plasma fetal, a insulina é detectada a partir da 12ª. O pâncreas fetal responde à hiperglicemia com secreção de insulina. O glucagon tem sido detectado no pâncreas fetal ao redor da 8ª semana e no plasma fetal ao redor da 15ª. A maioria das enzimas pancreáticas está presente após 16 semanas e aumenta com a idade gestacional. A amilase tem sido identificada no líquido amniótico após 14 semanas. Durante o período embrionário, três conjuntos de órgãos excretores são formados: PRONEFRO = Rudimentar e não funcionante, involuindo em 2 semanas; MESONEFRO = Função por curto período de tempo na 5ª semana, degenera-se da 11ª à 12ª.; METANEFRO = Forma-se da interação do botão ureteral e blastema, entre a 9ª e a 12ª semanas. Os rins e os ureteres derivam do mesoderma intermediário. A bexiga e a uretra derivam do seio urogenital e parte da bexiga também se desenvolve a partir do alantoide. A partir de 14 semanas, a alça de Henle é funcional e inicia-se a reabsorção tubular. Novos néfrons continuam a se formar até a 36ª semana. Apesar de haver produção de urina pelo feto, é limitada a capacidade do rim fetal em concentrar a urina e modificar o pH. A urina é hipotônica comparada ao plasma fetal e apresenta baixas concentrações de eletrólitos. O fluxo sanguíneo renal e a produção de urina são controlados por vários fatores, entre eles: sistema renina- angiotensina, SNS, prostaglandinas, calicreína e peptídio atrial natriurético. A taxa de filtração glomerular aumenta com a idade gestacional de 0,1 mL/min para 0,3 mL/min entre 12 e 20 semanas. No final da gestação, a diurese fetal permanece relativamente constante, quando corrigida pelo peso fetal. No termo, a diurese fetal aumenta para 27 mL/hora ou 650 mL/dia. APARELHO UROGENITAL Bloco Gestação @camillatozi DESENVOLVIMENTO DA UNIDADE HIPOTALÂMICO-HIPOFISÁRIA FETAL O hipotálamo tem sua origem na parte mais ventral do diencéfalo, estando completamente desenvolvido ao redor de 14 semanas após a concepção. O bulbo infundibular (neuro-hipófise primitiva), aparece na 5ª e próximo do sexagésimo dia está desenvolvido o trato hipofisário supraóptico. Na 8ª, a eminência média está formada, mas os plexos capilares do sistema porta hipotálamo-hipófise só a penetram a partir de 20 semanas. A adeno-hipófise, lobo anterior da hipófise, tem origem no ramo anterior da bolsa de Rathke, que aparece na 4ª semana. Na 5ª, sua parede posterior está em contato com o processo infundibular, que será a futura neuro-hipófise. A bolsa de Rathke divide-se em dois ramos: o anterior forma a adeno-hipófise e o posterior o lobo intermediário da hipófise. A adeno-hipófise já apresenta a sua estrutura formada na 14ª semana. O elo funcional entre o hipotálamo e a adeno-hipófise é o sistema porta hipotálamo-hipófise. Por meio dele, a adeno-hipófise recebe os fatores secretados pelo hipotálamo. A vascularização da adeno-hipófise primitiva já se encontra presente por volta de 13 semanas. Antes de 20 semanas, não há, no entanto, penetração dos capilares na eminência média. O plexo secundário surge na adeno-hipófise a partir de 20 semanas, e a partir de então se estabelece a conexão vascular funcional entre o hipotálamo e a hipófise anterior. A neuro-hipófise desenvolve-se a partir do processo infundibular do terceiro ventrículo, por volta da 5ª semana após a concepção. Após 12 semanas, o primeiro núcleo hipotalâmico e o trato supraóptico podem ser identificados histologicamente. HIPOTÁLAMO HORMÔNIO LIBERADOR DE CORTICOTROFINA (CRH) = É detectado no hipotálamo fetal a partir de 12 semanas. Atua controlando a expressão da pró-opiomelanocortina (precursor do ACTH) e a secreção do ACTH pela hipófise. Regula o crescimento dos corticotrofos da hipófise, a diferenciação adreno-cortical e a maturação do eixo hipotálamo-hipófise. É ainda potente vasodilatador da circulação fetoplacentária e pode potencializar o funcionamento de mediadores locais e hormônios. O progressivo aumento do CRH fetal e materno no final da gestação indica que ele desempenha papel importante no determinismo do parto. SISTEMA HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE Bloco Gestação @camillatozi HORMÔNIO LIBERADOR DA GONADOTROFINA (GnRH) = É detectado precocemente em embrião com 4 a 5 semanas. Ao redor de 16 semanas, fibras contendo GnRH estão presentes na eminência média, indicando que a regulação da liberaçãode gonadotrofinas inicia-se no 2º trimestre. Os neurônios que contêm as formas de GnRH de importância para o eixo hipotálamo-hipófise são derivados de locais fora do SNC. São primariamente derivados de células progenitoras do compartimento nasal, do placoide olfatório medial. Essas células migram da região nasal para o cérebro, de forma que o sistema secretor de GnRH no adulto está disperso no prosencéfalo e no hipotálamo. HORMÔNIO LIBERADOR DA TIREOTROFINA (TRH) = Tripeptídio que estimula a síntese de hormônio tireotrófico e de prolactina, e é detectado em embrião entre 4 e 5 semanas. Encontrado em quantidades crescentes no hipotálamo fetal entre 8 e 22 semanas, ou também em outras regiões do encéfalo. SOMATOSTATINA = É um tetradecapeptídio encontrado no encéfalo e no sistema digestório, e é secretado pelo hipotálamo na circulação porta para inibir a síntese de hormônio de crescimento (GH). É detectável no hipotálamo fetal a partir da 11ª semana. NORADRENALINA E A SEROTONINA = São detectadas em pequena concentração no hipotálamo fetal entre 10 e 24 semanas, em concentração que corresponde à metade da observada no adulto; DOPAMINA = É detectada no hipotálamo entre 10 e 15 semanas em concentração elevada, quando comparada à do adulto. A dopamina é importante neurotransmissor na regulação da prolactina em humanos, inibindo sua liberação. ADENO-HIPÓFISE A adeno-hipófise (ou hipófise anterior) apresenta 5 tipos celulares responsáveis pela liberação de 6 hormônios proteicos: lactotrofos, produtores de prolactina; somatotrofos, produtores do GH; corticotrofos, produtores do ACTH; tireotrofos, produtores do hormônio estimulante da tireoide (TSH); e gonadotrofos, produtores de LH e hormônio folículo-estimulante (FSH). O ACTH é detectado na hipófise ao redor da 7ª semana, e antes de 17 semanas a hipófise é capaz de sintetizar e armazenar todos os hormônios hipofisários. O GH, o ACTH e o LH foram detectados a partir de 13 semanas. GH = As concentrações do GH no plasma fetal são sempre superiores à concentração observada no plasma materno, que é parcialmente suprimida, provavelmente pelo hormônio lactogênico placentário. Parece não haver transferência placentária do GH. Esse hormônio desempenha papel limitado no crescimento fetal; PROLACTINA = As células produtoras de prolactina são detectáveis na adeno-hipófise fetal entre a 5ª e a 6ª semanas, e as plasmáticas são mensuradas a partir de 12 semanas, pouco se alterando até 20 semanas. Após 30 semanas, ocorre aumento linear até o termo, quando a concentração média no sangue de cordão umbilical atinge 168 ng/mL. Essa concentração é superior à materna, que também aumenta no final da gestação, atingindo valor 7 a 10x maior que o observado na mulher não grávida. LH = Detectado na hipófise por volta de 10 semanas. A concentração de LH na hipófise aumenta rapidamente entre 10 e 27 semanas, mantendo-se constante. Concentrações máximas de LH são detectadas no feto feminino entre 15 e 19 semanas, e no masculino entre 20 e 24 semanas. O LH plasmático fetal é detectado por volta de 14 semanas de gestação, atinge níveis máximos na metade da gestação e decai posteriormente. FSH = Detectável na hipófise fetal a partir da 10ª semana e também demonstra dismorfismo sexual, em que os fetos femininos apresentam maior concentração hipofisária desse hormônio. O FSH aumenta entre 10 e 25 semanas, permanecendo constante. No plasma fetal, é detectado inicialmente entre 10 e 11 semanas. No feto feminino, atinge pico entre 20 e 29 se manas, e decai em seguida, atingindo baixos teores no sangue de cordão umbilical. Bloco Gestação @camillatozi ACTH = Principal hormônio controlador do crescimento adrenocortical, da sua diferenciação e esteroidogênese. Atua via mediadores locais ou fatores de crescimento, como o fator de crescimento vascular endotelial e o fator de crescimento epidérmico, sincronizando o crescimento adrenocortical e a angiogênese. É detectado no plasma fetal a partir de 12 semanas e atinge concentração máxima com 34 semanas, com posterior queda no termo da gestação. Entretanto, as con centrações fetais são sempre superiores às observadas em adultos. TSH = Detectável na hipófise fetal entre a 8ª e a 10ª semanas. Sua concentração é baixa até 18 semanas, quando ocorre incremento que persiste até 28 semanas. No plasma fetal, é detectável por volta de 10 semanas, mantendo baixas concentrações até 20 semanas e aumentando a partir de então. Atinge o pico ao redor de 30 semanas e, a seguir, o nível plasmático diminui, atingindo, no termo, o valor de 9 µg/Ml. NEURO-HIPÓFISE Três hormônios neuro-hipofisários, com sequências de aminoácidos muito similares entre si, foram identificados no feto humano: a arginina-vasotocina, o hormônio antidiurético (ADH, na espécie humana corresponde à anginina-vasopressina) e a ocitocina. São sintetizados no corpo das células nervosas dos núcleos hipotalâmicos supraóptico e paraventricular. ARGININA-VASOTOCINA = Encontrada no hipotálamo fetal entre 11 e 19 semanas. É provavelmente produzida por células ependimárias presentes no desenvolvimento da hipófise e desaparece gradativamente com a evolução da gravidez. Sua ação relaciona-se com a redução do fluxo de água do compartimento materno para o fetal na membrana amniótica ou pode tratar-se simplesmente de precursor primitivo de hormônios mais especializados. ADH = Detectado na neuro-hipófise fetal a partir da 11ª à 12ª semanas e aumenta cerca de 1.000 vezes nas próximas 12 a 16 semanas. Seu papel não é bem conhecido, entretanto tem sido considerado fator primário na liberação do ACTH pela adeno-hipófise em fetos de ovelha. A liberação de ADH ocorre também como resposta à hipotensão fetal e é parcialmente mediada por barorreceptores arteriais. Essa resposta é expressiva, pois se verifica aumento da concentração plasmática fetal de 2 a 5 pg/mL para concentrações próximas a 1.000 pg/mL. O trabalho de parto parece estimular a secreção fetal do ADH. Fetos de ovelhas respondem à infusão de ADH com elevação de osmolaridade e diminuição do clearance de água livre. OCITOCINA = Detectada na hipófise fetal a partir da 11ª semana, com concentrações crescentes no decorrer da gestação. No final da gestação, relata-se aumento da expressão do RNA mensageiro da ocitocina no hipotálamo, em fetos de ovelhas, e a ocitocina demonstra ser capaz de estimular a liberação do ACTH na hipófise anterior. Verifica-se que, durante o trabalho de parto, ocorre aumento das concentrações no cordão umbilical. Os hormônios produzidos pela adrenal fetal regulam a homeostasia intrauterina, a maturação de órgãos, os sistemas necessários para a vida extrauterina e, em algumas espécies, o momento da parturição. Além disso, a maturação própria da glândula deve ser assegurada para que possa exercer papel essencial após o nascimento, quando houver a separação da placenta. MEDULA DA ADRENAL FETAL Origina-se de neuroblastos provenientes da crista neural. A capacidade de secreção está relacionada com o grau de maturação da medula da adrenal, que envolve dois aspectos: o desenvolvimento da inervação esplâncnica e a maturação da capacidade secretora do córtex da adrenal. ADRENAL Bloco Gestação @camillatozi A noradrenalina é a catecolamina predominante no feto e indica a imaturidade glandular. Com o avançar da idade gestacional, a proporção de adrenalina aumenta. A medula da adrenal somente atinge seu desenvolvimento completo após o nascimento, aos 3 anos de idade. Sua principal fase de evolução ocorre no período pós-natal. A regulação da secreção da medula é realizada pelo hipotálamo posterior, que envia impulsos nervosos através dos nervos esplâncnicos e provoca a liberação de catecolaminas pela medula. A transferência placentária de catecolaminas é verificada em proporção não superior a 20% da concentração materna. Durante o trabalho de parto, verifica-seaumento das concentrações de catecolaminas fetais (noradrenalina e adrenalina). Elas também influenciam o metabolismo de carboidratos pelo sistema da adenilciclase. A administração de adrenalina ao recém-nascido resulta no aumento da glicemia e na redução dos níveis de glicogênio. A atividade simpático-adrenal promove a glicogenólise, importante para a manutenção da glicemia neonatal. A produção de calor é função vital no período de adaptação do recém-nascido no ambiente extrauterino. O calor parece ser gerado pelo metabolismo do tecido adiposo, que é controlado pelo sistema simpático- adrenal. No feto e no recém-nascido, a noradrenalina medeia a conversão de triglicérides em glicerol e ácidos graxos não esterificados, modulando a resposta termogênica dos adipócitos. A adrenalina, ainda, incrementa a síntese e a liberação de surfactantes pelos pneumócitos do tipo II. O mecanismo de ação envolve o aumento da atividade da adenilciclase. A administração de glicocorticoides estimula a maturação pulmonar fetal, muito provavelmente por estimular a liberação de adrenalina pela medula da adrenal fetal. O começo da síntese de hormônios tireoidianos inicia-se ao redor da 10ª semana. O TSH é isolado em material de abortamento a partir da 10ª semana, mas a concentração sérica permanece baixa até 20 semanas. O aumento do TSH hipofisário, bem como do TSH sérico no 2º trimestre, coincide com o desenvolvimento da circulação porta hipotalâmico-hipofisária, facilitando a modulação da secreção de TSH pelo hormônio hipotalâmico da tireotrofina. O incremento da atividade hipotalâmico-hipofisária promove rápido aumento da síntese dos hormônios tireoidianos fetais a partir de 20 semanas de gestação. A partir de um período de 8 a 10 semanas, é possível detectar no plasma fetal as presenças da tiroxina (T4) e da globulina ligadora de tiroxina, que aumentam até 35 a 37 semanas, quando estabelecem um platô, com concentração de T4. O aumento progressivo dessa globulina reflete a maturação do fígado fetal. Após 37 semanas, a tireoide fetal adquire a capacidade de alterar a captação ou o transporte de iodo para o seu interior, de acordo com as variações da oferta desse elemento, independentemente de modificações do TSH. O T4 provém exclusivamente da tireoide. O T3 fetal e o T3 reverso são produzidos preferencialmente nos tecidos periféricos por deiodação do T4 e detectáveis no feto apenas no terceiro trimestre. Após 30 semanas, verifica-se aumento gradual das concentrações do T3 fetal, atingindo valor médio de 50 ng/dL no termo da gestação. O T3 reverso apresenta concentração elevada em todo o terceiro trimestre, reduzindo-se quando próximo ao termo, fato este relacionado com o aumento pré-natal do cortisol. TIREOIDE Bloco Gestação @camillatozi Compreender o trabalho de parto e as suas fases; Identificar as substâncias que induzem o trabalho de parto; Compreender como ocorre o descolamento da placenta. Ao final da gravidez, o útero fica progressivamente mais excitável, até que desenvolve contrações rítmicas tão fortes que o bebê é expelido. Não se sabe a causa exata do aumento da atividade uterina, mas duas categorias principais de eventos levam às contrações intensas: (1) mudanças hormonais progressivas que aumentam a excitabilidade da musculatura uterina; e (2) mudanças mecânicas progressivas. MAIOR PROPORÇÃO DE ESTROGÊNIOS EM RELAÇÃO À PROGESTERONA A progesterona inibe a contratilidade uterina durante a gravidez, ajudando, assim, a evitar a expulsão do feto. Por sua vez, os estrogênios têm tendência definida para aumentar o grau de contratilidade uterina, em parte porque elevam o número de junções comunicantes entre as células do músculo liso uterino adjacentes, mas também devido a outros efeitos pouco entendidos. Ambos são secretados em quantidades maiores durante grande parte da gravidez, mas, a partir do 7º mês, a secreção de estrogênio continua a aumentar, enquanto a de progesterona permanece constante ou até mesmo diminui um pouco. Por isso, já se postulou que a produção estrogênio-progesterona aumenta o suficiente até o final da gravidez para ser pelo menos parcialmente responsável pelo aumento da contratilidade uterina. OCITOCINA Hormônio secretado pela neuro-hipófise que, especificamente, causa contrações uterinas. Existem quatro razões para se acreditar nessa participação: 1. A musculatura uterina aumenta seus receptores de ocitocina e, portanto, aumenta sua sensibilidade a uma determinada dose de ocitocina nos últimos meses de gravidez; 2. A secreção de ocitocina pela neuro-hipófise é, consideravelmente, maior no momento do parto; 3. O trabalho de parto é prolongado; 4. Experimentos indicam que a irritação ou a dilatação do colo uterino, como ocorre durante o trabalho de parto, pode causar reflexo neurogênico, através dos núcleos paraventricular e supraóptico, que faz com que a neuro-hipófise aumente sua secreção de ocitocina. HORMÔNIOS FETAIS A hipófise do feto secreta grande quantidade de ocitocina, o que teria algum papel na excitação uterina. Além disso, as glândulas adrenais do feto secretam grande quantidade de cortisol, outro possível estimulante uterino. E, mais, as membranas fetais liberam prostaglandinas em concentrações elevadas, no momento do trabalhode parto, que também podem aumentar a intensidade das contrações uterinas. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM GT 7 NASCIMENTO FATORES HORMONAIS Bloco Gestação @camillatozi DISTENSÃO DA MUSCULATURA UTERINA A distensão intermitente, como ocorre repetidamente no útero, por causa dos movimentos fetais, pode também provocar a contração dos músculos lisos. Observe, particularmente, que os gêmeos nascem em média 19 dias antes de um só bebê, o que enfatiza a importância da distensão mecânica em provocar contrações uterinas. DISTENSÃO OU IRRITAÇÃO DO COLO UTERINO Acredita-se que a distensão ou a irritação do colo uterino seja particularmente importante para provocar contrações uterinas. Os próprios obstetras, muitas vezes, induzem o trabalho de parto, rompendo as membranas, de maneira que a cabeça do bebê distenda o colo uterino mais efetivamente que o usual, ou irritando-o de outras formas. Não se sabe o mecanismo pelo qual a irritação cervical excita o corpo uterino. Já foi sugerido que a distensão ou irritação de terminais sensoriais no colo uterino provoque contrações uterinas reflexas; no entanto, as contrações poderiam ser resultantes da pura e simples transmissão miogênica de sinais do colo ao corpo uterino. CONTRAÇÕES DE BRAXTONHICKS/TREINAMENTO = Episódios periódicos de contrações rítmicas fracas e lentas, que o útero sofre durante grande parte da gestação. Essas contrações ficam progressivamente mais fortes ao final da gravidez; então, mudam subitamente, em questão de horas, e ficam excepcionalmente fortes, começando a distender o colo uterino e, posteriormente, forçando o bebê através do canal de parto, levando, assim ao trabalho de parto, com contrações fortes, que resultam na parturição final, denominadas contrações do trabalho de parto. TEORIA DE FEEDBACK POSITIVO = Sugere que a distensão do colo uterino pela cabeça do feto torna-se, finalmente, tão grande que provoca forte reflexo no aumento da contratilidade do corpo uterino. Isso empurra o bebê para frente, o que distende mais o colo e desencadeia mais feedback positivo ao corpo uterino. Assim, o processo se repete até o bebê ser expelido. FATORES MECÂNICOS INÍCIO DO TRABALHO DE PARTO Bloco Gestação @camillatozi 1. As contrações do trabalho de parto obedecem a todos os princípios de feedback positivo, ou seja, quando a força da contração uterina ultrapassa certo valor crítico, cada contração leva a contrações subsequentes que vão se tornando cada vez mais fortes; 2. Dois conhecidos tipos de feedback positivo aumentam as contrações uterinas duranteo trabalho de parto: (1) a distensão do colo uterino faz com que todo o corpo do útero se contraia, e tal contração distende o colo ainda mais, devido à força da cabeça do bebê para baixo; e (2) a distensão cervical também faz com que a hipófise secrete ocitocina, que é outro meio de aumentar a contratilidade uterina; 3. Por fim, uma contração uterina torna-se forte o bastante para irritar o útero, especialmente no colo, o que aumenta a contratilidade uterina ainda mais devido ao feedback positivo. Quando essas contrações se tornam fortes o bastante para causar esse tipo de feedback, o processo chega ao fim. CONTRAÇÕES MUSCULARES ABDOMINAIS DURANTE O TRABALHO DE PARTO Quando as contrações uterinas se tornam fortes durante o trabalho de parto, sinais de dor originam-se tanto do útero quanto do canal de parto. Esses sinais, além de causarem sofrimento, provocam reflexos neurogênicos na medula espinal para os músculos abdominais, causando contrações intensas desses músculos. As contrações abdominais acrescentam muito à força que provoca a expulsão do bebê. MECANISMOS DO PARTO As contrações uterinas começam basicamente no topo do fundo uterino e se espalham para baixo, por todo. Além disso, a intensidade da contração é grande no topo e no corpo uterino, mas fraca no segmento inferior do adjacente ao colo. Portanto, cada contração tende a forçar o bebê para baixo, na direção do colo. No início do trabalho de parto, as contrações ocorrem apenas a cada 30 minutos. À medida que progride, as contrações finalmente surgem com tanta frequência quanto uma vez a cada 1 a 3 minutos, e sua intensidade aumenta bastante, com períodos muito breves de relaxamento entre elas. Felizmente, essas contrações do trabalho de parto ocorrem intermitentemente, pois contrações fortes impedem ou às vezes até mesmo interrompem o fluxo sanguíneo através da placenta e poderiam causar o óbito do feto, se fossem contínuas. ESTÁGIOS DO TRABALHO DE PARTO: 1. DILATAÇÃO CERVICAL PROGRESSIVA = Dura até a abertura cervical estar tão grande quanto a cabeça do feto. Esse estágio, geralmente, tem duração de 8 a 24 horas, na primeira gestação, mas muitas vezes apenas alguns minutos depois de várias gestações. 2. EXPULSÃO DO FETO = Quando o colo está totalmente dilatado, as membranas fetais geralmente se rompem, e o líquido amniótico vaza. Em seguida, a cabeça do feto se move rapidamente para o canal de parto, e, com a força descendente adicional, ele continua a forçar caminho através do canal até a expulsão final. Pode durar tão pouco quanto 1 minuto, depois de várias gestações, até 30 minutos ou mais, na primeira gestação. OBS: Para o feedback positivo persistir, cada novo ciclo deve ser mais forte que o precedente. Se em algum momento, depois de iniciado o trabalho de parto, as contrações não conseguirem reexcitar o útero, o feedback positivo poderia entrar em declínio retrógrado, e as contrações do trabalho de parto desapareceriam. Bloco Gestação @camillatozi 3. SEPARAÇÃO E EXPULSÃO DA PLACENTA = Durante 10 a 45 minutos depois do nascimento, o útero continua a se contrair, causando efeito de cisalhamento entre as paredes uterinas e placentárias, separando, assim, a placenta do seu local de implantação. Isso abre os sinusoides placentários e provoca sangramento. A quantidade de sangue limita-se, em média, a 350 mililitros pelo seguinte mecanismo: as fibras dos músculos lisos da musculatura uterina estão dispostas em grupos de oito ao redor dos vasos sanguíneos, onde estes atravessam a parede uterina. Portanto, a contração do útero, depois da expulsão do bebê, contrai os vasos que antes proviam sangue à placenta. Além disso, acredita-se que prostaglandinas vasoconstritoras, formadas no local da separação placentária, causem mais espasmo nos vasos sanguíneos. 4. OBSERVAÇÃO DA MÃO E INVOLUÇÃO DO ÚTERO = Trata-se de um momento de observação da mãe pela equipe médica com objetivo de evitar hemorragias. Além disso, tem-se a involução uterina, durante as primeiras 4 a 5 semanas depois do parto. Seu peso fica menor que a metade do peso imediatamente após o parto no prazo de uma semana; e, em quatro semanas, se a mãe amamentar, o útero torna-se tão pequeno quanto era antes da gravidez, resultado da supressão da secreção de gonadotropina hipofisária e dos hormônios ovarianos durante os primeiros meses de lactação. Durante a involução inicial do útero, o local placentário na superfície endometrial sofre autólise, causando uma excreção vaginal conhecida como “lóquia”, que primeiro é de natureza sanguinolenta e depois serosa, mantendo-se por cerca de 10 dias, no total. Depois desse tempo, a superfície endometrial é reepitalizada e pronta mais uma vez para a vida sexual normal não gravídica. DORES DO TRABALHO DE PARTO A cada contração uterina, a mãe sente dor considerável. A cólica, no início do trabalho de parto, provavelmente se deve, em grande parte, à hipoxia do músculo uterino, decorrente da compressão dos vasos sanguíneos no útero. Essa dor não é sentida quando os nervos hipogástricos sensoriais viscerais, que carregam as fibras sensoriais viscerais que saem do útero, tiverem sido seccionados. Entretanto, durante o segundo estágio do trabalho de parto, uma dor muito mais forte é causada pela distensão cervical, distensão perineal e distensão ou ruptura de estruturas no próprio canal vaginal. Essa dor é conduzida à medula espinal e ao cérebro da mãe por nervos somáticos, em vez de por nervos sensoriais viscerais.hormônio, mesmo em quantidades de FSH, o folículo não progredirá ao estágio de ovulação. Cerca de dois dias antes da ovulação, a secreção de LH aumenta bastante, de 6 a 10 vezes, com pico em torno de 16h antes. O FSH também aumenta em cerca de 2 a 3 vezes ao mesmo tempo. Eles agem sinergicamente causando rápida dilatação do folículo, durante os últimos dias antes da ovulação. O LH ainda, converte células da granulosa e tecais em células secretoras de progesterona. Portanto, a secreção de estrogênio começa a cair cerca de um dia antes da ovulação, enquanto quantidades cada vez maiores de progesterona começam a ser secretadas. Nesse ambiente de (1) crescimento rápido do folículo; (2) menor secreção de estrogênio; e (3) início da secreção de progesterona que ocorre a ovulação. INÍCIO = Esse LH ocasiona rápida secreção dos hormônios esteroides foliculares que contêm progesterona. Dentro de algumas horas ocorrem dois eventos, ambos necessários para a ovulação: 1. A teca externa começa a liberar enzimas proteolíticas dos lisossomos, causando dissolução da parede capsular do folículo e enfraquecimento, resultando em mais dilatação e degeneração do estigma; 2. Simultaneamente, há um rápido crescimento de novos vasos sanguíneos na parede folicular, e, ao mesmo tempo, são secretadas prostaglandinas (causam vasodilatação) nos tecidos foliculares. Esses efeitos promovem transudação de plasma para folículo, contribuindo para sua dilatação. A combinação dilatação + degeneração do estigma faz com que o folículo se rompa, liberando o óvulo. Bloco Gestação @camillatozi FASE LÚTEA Nas primeiras horas após expulsão do óvulo, as células da granulosa e tecais internas remanescentes se transformam em células luteínicas. Elas aumentam em diâmetro e ficam repletas de inclusões lipídicas que lhes dão aparência amarelada, processo chamado luteinização, e a massa total de células denominada corpo lúteo, onde um suprimento vascular bem desenvolvido também cresce. O processo depende essencialmente do LH, mas também da extrusão do óvulo do folículo. Um hormônio local, ainda não caracterizado no líquido folicular, denominado fator inibidor da luteinização, parece controlar o processo até depois da ovulação. Uma vez que o LH tenha agido nas células da granulosa e tecais, causando a luteinização, elas seguem a sequência pré ordenada de (1) proliferação; (2) aumento; e (3) secreção seguida por (4) degeneração, em aproximadamente 12 dias. As células da granulosa no corpo lúteo desenvolvem vastos retículos endoplasmáticos lisos intracelulares, que formam grandes quantidades dos hormônios progesterona e estrogênio (com mais progesterona do que estrogênio durante a fase lútea). As células tecais formam, basicamente, os androgênios androstenediona e testosterona, entretanto, a maioria desses também é convertida pela enzima aromatase, nas células da granulosa, em estrogênios. O corpo lúteo cresce normalmente até cerca de 1,5 centímetro em diâmetro, atingindo esse estágio de desenvolvimento 7 a 8 dias após a ovulação. Então, ele começa a involuir e, efetivamente, perde suas funções secretoras, bem como sua característica lipídica amarelada, passando a ser o corpus albicans. O estrogênio, em especial, e a progesterona, secretados pelo corpo lúteo, têm potentes efeitos de feedback na hipófise anterior, mantendo intensidades secretoras reduzidas de FSH e LH. Além disso, as células luteínicas secretam pequenas quantidades do hormônio inibina, que inibe a secreção de FSH pela hipófise anterior. O resultado são concentrações sanguíneas reduzidas de FSH e LH, e a perda desses hormônios, faz com que o corpo lúteo se degenere completamente (involução). A involução final normalmente se dá ao término de quase 12 dias exatos de vida do corpo lúteo, em torno do 26 dia do ciclo normal, dois dias antes de começar a menstruação. A parada súbita de secreção de estrogênio, progesterona e inibina pelo corpo lúteo remove a inibição por feedback da hipófise anterior, permitindo que ela comece a secretar novamente quantidades cada vez maiores de FSH e LH, dando início ao crescimento de novos folículos, começando novo ciclo ovariano. A escassez de progesterona e estrogênio também leva à menstruação uterina. Bloco Gestação @camillatozi Apenas três estrogênios estão presentes, em quantidades significativas, no plasma feminino: b-estradiol, estrona e estriol. O principal estrogênio secretado pelos ovários é o b-estradiol. Pequenas quantidades de estrona também são secretadas, mas grande parte é formada nos tecidos periféricos de androgênios secretados pelos córtices adrenais e pelas células tecais ovarianas. Na mulher não grávida, os estrogênios são secretados em quantidades significativas apenas pelos ovários, embora quantidades mínimas também sejam secretadas pelos córtices adrenais. Na gravidez, grande quantidade também é secretada pela placenta. A progestina mais importante é a progesterona. Entretanto, pequenas quantidades de 17- ahidroxiprogesterona, são secretadas em conjunto e têm os mesmos efeitos. Na mulher não grávida, a progesterona é secretada em quantidades significativas, apenas durante a 2ª metade de cada ciclo, pelo corpo lúteo, e na gravidez pela placenta, depois do quarto mês de gestação. SÍNTESE São sintetizados nos ovários, principalmente do colesterol derivado do sangue, mas também da acetil coenzima A. Durante a síntese, basicamente progesterona e androgênios são sintetizados primeiro; durante a fase folicular do ciclo, antes que esses dois hormônios possam deixar os ovários, são convertidos em estrogênios pela enzima aromatase, nas células da granulosa. Como as células da teca não têm aromatase, não podem converter androgênios em estrogênios, então se difundem para as células da granulosa adjacentes, onde são convertidos por estímulo do FSH. Na fase lútea, mais progesterona é formada do que pode ser convertida, o que responde pela grande secreção de progesterona no sangue nesse momento. TEORIA DAS DUAS CÉLULAS DUAS GONADOTROFINAS = Princípio que afirma haver uma subdivisão e compartimentalização da atividade de síntese de hormônios esteroides no folículo. A maioria das atividades da aromatase para a produção de estrogênio é desempenhada pelas células da granulosa, e intensificada pela estimulação de receptores específicos pelo FSH na superfície dessas. Células da granulosa não possuem várias enzimas que ocorrem antes na via esteroidogênica, e requerem androgênios como substrato para a aromatização. Esses são sintetizados em resposta à estimulação do LH, e as células da teca apresentam a maioria dos receptores de LH neste estágio. Portanto, uma relação sinergética deve existir: o LH estimula as células da teca a produzirem androgênios (em especial, androstenediona), que são transferidos às células da granulosa para aromatização estimulada pelo FSH, transformando-se em estrogênio que cria um microambiente dentro do folículo, favorável ao crescimento e à nutrição continuados. ESTROGÊNIO E PROGESTERONA Bloco Gestação @camillatozi TRANSPORTE Tanto estrogênios quanto progesterona são transportados no sangue, ligados principalmente à albumina plasmática e a globulinas de ligação específica a estrogênio e progesterona. A ligação entre esses dois hormônios e as proteínas plasmáticas é fraca o bastante para que sejam rapidamente liberados aos tecidos. Associado à produção cíclica mensal de estrogênios e progesterona pelos ovários, temos um ciclo endometrial no revestimento do útero, que opera por meio dos seguintes estágios: FASE PROLIFERATIVA No início de cada ciclo mensal, grande parte do endométrio foi descamada pela menstruação, permanecendo apenas uma pequena camada de estroma endometrial, e algumas células epiteliais. Sob a influência dos estrogênios, secretados durante a primeira parte do ciclo ovarianomensal, essas partes se proliferam rapidamente, reepitelizando a superfície endometrial de 4 a 7 dias após o início da menstruação. Em seguida, durante a próxima semana e meia, antes de ocorrer a ovulação, a espessura do endométrio aumenta bastante, devido ao crescente número de células estromais, das glândulas endometriais e de novos vasos sanguíneos. Na época da ovulação, o endométrio tem de 3 a 5 milímetros de espessura. As glândulas endometriais, especialmente as da região cervical, secretam um muco fino e pegajoso. Os filamentos de muco efetivamente se alinham ao longo da extensão do canal cervical, formando canais que ajudam a guiar o espermatozoide na direção correta da vagina até o útero. FASE SECRETORA Durante grande parte da última metade do ciclo, depois de ter ocorrido a ovulação, a progesterona e o estrogênio são secretados em grande quantidade pelo corpo lúteo. Os estrogênios causam leve proliferação celular adicional do endométrio, enquanto a progesterona causa inchaço e desenvolvimento secretor acentuados do endométrio. As glândulas aumentam em tortuosidade, e um excesso de substâncias secretoras se acumula nas células epiteliais glandulares. Além disso, o citoplasma das células estromais aumenta, com depósitos de lipídios e glicogênio aumentado; e o fornecimento sanguíneo ao endométrio aumenta ainda mais, em proporção ao desenvolvimento da atividade secretora, e os vasos sanguíneos ficam muito tortuosos. CICLO ENDOMETRIAL MENSAL E MENSTRUAÇÃO Bloco Gestação @camillatozi A finalidade geral dessas mudanças endometriais é produzir endométrio altamente secretor que contenha grande quantidade de nutrientes armazenados, para prover condições apropriadas à implantação do óvulo fertilizado, durante a última metade do ciclo mensal. Quando o óvulo se implanta, as células trofoblásticas, na superfície do ovo implantado, começam a digerir o endométrio e absorver as substâncias armazenadas, disponibilizando grandes quantidades de nutrientes para o embrião. MENSTRUAÇÃO Se o óvulo não for fertilizado, cerca de dois dias antes do final do ciclo mensal, o corpo lúteo no ovário subitamente involui e a secreção de estrogênio e progesterona diminui. O primeiro efeito é a redução da estimulação das células endometriais por esses dois hormônios, seguida rapidamente pela involução do endométrio para cerca de 65% da sua espessura. Em seguida, durante as 24 horas que precedem o surgimento da menstruação, os vasos sanguíneos tortuosos, que levam às camadas mucosas do endométrio, ficam vasoespásticos, supostamente devido a algum efeito da involução, como a liberação de material vasoconstritor — possivelmente um dos tipos vasoconstritores das prostaglandinas, presentes em abundância nessa época. A combinação desses efeitos desencadeia necrose no endométrio, especialmente dos vasos sanguíneos. Consequentemente, o sangue primeiro penetra a camada vascular do endométrio, e as áreas hemorrágicas crescem rapidamente durante um período de 24 a 36 horas. Gradativamente, as camadas externas necróticas se separam do útero, em locais de hemorragia, até que, em cerca de 48 horas depois de surgir a menstruação, todas as camadas superficiais do endométrio tenham descamado. A massa de tecido descamado e sangue na cavidade uterina mais os efeitos contráteis das prostaglandinas ou de outras substâncias no descamado em degeneração agem em conjunto, dando início a contrações que expelem os conteúdos uterinos. SECREÇÃO DE GnRH PELO HIPOTÁLAMO A secreção da maioria dos hormônios hipofisários anteriores é controlada por “hormônios de liberação”, formados no hipotálamo e, em seguida, transportados para a hipófise anterior por meio do sistema portal hipotalâmico-hipofisário. No caso das gonadotropinas, um hormônio de liberação, o GnRH, é importante. O hipotálamo não secreta GnRH continuamente, mas, sim, em pulsos de 5 a 25 minutos de duração que ocorrem a cada 1 a 2 horas, essencial a sua função e a produção intermitente de LH a cada 90 min em média. A secreção pulsátil de GnRH varia em frequência e amplitude ao longo do ciclo e é firmemente regulada. A fase folicular é caracterizada por pulsos de secreção de GnRH frequentes e de pequena amplitude. Na fase folicular tardia, há aumento tanto na frequência quanto na amplitude dos pulsos. Na lútea, há o alongamento do intervalo entre os pulsos (frequência menor) e a amplitude é maior que da fase folicular, mas declina de maneira progressiva durante as 2 semanas. Essas modificações em frequência de pulso possibilita a variação da secreção de LH e FSH ao longo do ciclo menstrual. Diminuir a frequência de diminui a secreção de LH, mas eleva o FSH, justificando a intensificação da disponibilidade de FSH na fase lútea tardia. A frequência de pulso não é o único determinante da resposta hipofisária; influências hormonais adicionais, como as exercidas por peptídeos ovarianos e esteroides sexuais, podem modular o efeito do GnRH. REGULAÇÃO DO RITMO MENSAL Bloco Gestação @camillatozi EFEITO DE FEEDBACK POSITIVO DO ESTROGÊNIO ANTES DA OVULAÇÃO Por motivos ainda não inteiramente compreendidos, a hipófise anterior secreta grandes quantidades de LH por 1 ou 2 dias, começando 24 a 48 horas antes da ovulação. Não se sabe a causa desse pico súbito na secreção de LH. Entretanto, as diversas possíveis explicações são: Já se sugeriu que o estrogênio, nesse ponto do ciclo, tem efeito de feedback positivo peculiar de estimular a secreção hipofisária de LH e, em menor extensão, de FSH, o que contrasta com seu efeito de feedback negativo normal, que ocorre durante o restante do ciclo feminino mensal; As células da granulosa dos folículos começam a secretar quantidades pequenas, mas cada vez maiores, de progesterona, mais ou menos um dia antes do pico pré-ovulatório de LH, e sugeriu-se que tal fato poderia ser o fator que estimula a secreção excessiva de LH. FEEDBACK NEGATIVO DO ESTROGÊNIO E DA PROGESTERONA NA DIMINUIÇÃO DE LH E FSH Em pequenas quantidades, o estrogênio tem forte efeito de inibir a produção de LH e FSH, e quando existe progesterona disponível, o efeito é multiplicado. Esse feedback negativo parece operar basicamente na hipófise anterior de modo direto, mas também, em menor extensão no hipotálamo, diminuindo a secreção de GnRH em especial, alterando a frequência dos pulsos de. Além dos efeitos de feedback, outros hormônios parecem estar envolvidos, sobretudo a inibina, que é secretada em conjunto com os hormônios esteroides sexuais pelas células da granulosa do corpo lúteo ovariano, da mesma maneira que as células de Sertoli secretam inibina nos testículos masculinos. Esse hormônio tem o mesmo efeito em mulheres e homens — isto é, inibe a secreção de FSH e, em menor extensão, de LH pela hipófise anterior. Portanto, acredita-se que a inibina seja especialmente importante ao diminuir a secreção de FSH e LH, no final do ciclo sexual mensal feminino. Bloco Gestação @camillatozi SEQUÊNCIA DA OSCILAÇÃO DE FEEDBACK DO SISTEMA HIPOTALÂMICO-HIPOFISÁRIO-OVARIANO 1. Entre a ovulação e o início da menstruação, o corpo lúteo secreto grandes quantidades de progesterona e estrogênio, bem como inibina A. Esses em conjunto, têm efeito de feedback negativo combinado na hipófise anterior e no hipotálamo, causando supressão da secreção de FSH e LH, reduzindo seus níveis, cerca de 3/4 dias antes da menstruação. 2. 2 a 3 dias antes da menstruação, o corpo lúteo regride quase à involução total, diminuindo sua secreção de estrogênio, progesterona e inibina, e liberando o hipotálamo e a hipófise anterior do efeito de feedback negativo. Mais ou menos 1 dia depois, em torno do momento em que se inicia a menstruação, a secreção de FSH começa novamente a aumentar em até o dobro. Vários dias após o início da menstruação, a secreção de LH também aumenta ligeiramente. Esses iniciam o crescimentode novos folículos ovarianos, atingindo um pico de secreção de estrogênio em torno de 12,5/13 dias depois do início do novo ciclo. Durante os primeiros 11/12 dias desse crescimento folicular, a secreção hipofisária das gonadotropinas cai ligeiramente devido ao efeito do feedback negativo, especialmente do estrogênio, na hipófise anterior. Há aumento súbito e acentuado da secreção de LH e, em menor extensão, de FSH. É o pico pré-ovulatório de LH e FSH, que é seguido pela ovulação. 3. Esse pico Pré-ovulatório de LH e FSH ocorre pois cerca de 11,5/12 dias depois do início do ciclo, o declínio da secreção de FSH e LH chega a seu fim súbito. Acredita-se que o alto nível de estrogênio nesse momento (ou o começo da secreção de progesterona pelos folículos) cause efeito estimulador de feedback positivo na hipófise anterior, levando a grande pico na secreção de LH e, em menor extensão, de FSH. O grande excesso de LH leva à ovulação e ao desenvolvimento subsequente tanto do corpo lúteo quanto da sua secreção. Assim, o sistema hormonal inicia seu novo ciclo de secreções, até a próxima ovulação. Bloco Gestação @camillatozi Entender as etapas envolvidas na fecundação e implantação; Compreender a regulação hormonal nesses períodos; Entender os mecanismos de nutrição embrionária; Identificar as fases de desenvolvimento embrionário. A fertilização corresponde ao processo de fusão entre gameta feminino e masculino, na região ampular (mais larga) da tuba uterina. Apenas 1% do esperma depositado na vagina penetra no colo uterino, onde os espermatozoides podem sobreviver por muitas horas. O movimento deles do colo para a tuba uterina ocorre pelas contrações musculares do útero e da tuba, e em pequena parcela por sua própria propulsão. Essa migração pode ocorrer rapidamente em 30min ou em até 6 dias. Uma vez que alcançam o istmo (parte da tuba que antecede a ampola), eles se tornam menos móveis e param de migrar, voltando apenas durante a ovocitação, provavelmente pelos quimiotáticos produzidos pelas células do cúmulo que cercam o ovócito e nadam pela ampola. Os espermatozoides não são capazes de fertilizar o ovócito imediatamente, devem sofrer capacitação e reação acrossômica para adquirirem essa capacidade. CAPACITAÇÃO Período de condicionamento no sistema genital feminino que dura aprox. 7h, sendo assim chegar logo a ampola não é de grande vantagem uma vez que sem se capacitar o espermatozoide não consegue fertilizar o ovócito. A maior parte desse processo ocorre na tuba uterina e envolve as interações entre o espermatozoide e a superfície mucosa da tuba, quando esse perde uma camada de glicoproteínas e proteínas plasmáticas seminais da membrana plasmática que recobre a região acrossômica. Passados por essa capacitação, pode passar pelas células da coroa radiada e sofrer a reação acrossômica. REAÇÃO ACROSSÔMICA Ocorre após a ligação à zona pelúcida, induzida por proteínas da mesma. Essa culmina na liberação das enzimas necessárias para a penetração da zona pelúcida, incluindo substâncias semelhantes à acrosina e à tripsina. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM GT 2 FERTILIZAÇÃO E IMPLANTAÇÃO ZIGÓTICA Bloco Gestação @camillatozi 1- PENETRAÇÃO DA COROA RADIADA Dos 200 a 300 milhões de espermatozoides normalmente depositados no sistema genital feminino, apenas 300 a 500 alcançam o local de fertilização, e somente um deles fertiliza o ovócito. Acredita-se que os outros ajudem o fertilizador a penetrar as barreiras que protegem o gameta feminino. Os espermatozoides capacitados atravessam livremente às células da coroa. 2- PENETRAÇÃO NA ZONA PELÚCIDA A zona pelúcida é uma camada de glicoproteínas que cerca o ovócito, facilitando e mantendo a ligação do espermatozoide e induzindo a reação acrossômica. Tanto a ligação quanto a reação são mediadas pelo ligante ZP3, uma proteína da zona. A liberação das enzimas acrossômicas (acrosina) possibilita que os espermatozoides penetrem a zona, entrando em contato com a membrana plasmática do ovócito. A permeabilidade da zona pelúcida se altera quando a cabeça do espermatozoide contata a superfície do ovócito, resultando na liberação de enzimas lisossomais dos grânulos corticais que estão alinhados na membrana. Essas enzimas alteram as propriedades da zona pelúcida (reação da zona), para evitar a penetração e inativar os locais de receptores específicos de espécies para o espermatozoide na superfície da zona. Sendo assim, outros espermatozoides são encontrados imersos na zona, mas apenas um é capaz de penetrar o ovócito. 3 – FUSÃO ENTRE MEMBRANAS A adesão inicial do espermatozoide ao ovócito é mediada parcialmente pela interação entre integrinas do ovócito e seus ligantes, e desintegrinas no espermatozoide. Após a adesão, as membranas plasmáticas de ambos se fundem. Como a membrana que cobre a cabeça acrossômica desaparece durante a reação acrossômica, a fusão de fato é alcançada entre a membrana do ovócito e a membrana que recobre a região posterior da cabeça do espermatozoide. Tanto a cabeça quanto a cauda entram no citoplasma do ovócito, mas a membrana é deixada para trás na superfície do ovócito. O ovócito pode responder de três maneiras: 1- REAÇÕES CORTICAL E DE ZONA = Como resultado da liberação dos grânulos corticais dos ovócitos, que contêm enzimas lisossomais, a membrana do ovócito se torna impenetrável a outros espermatozoides, e a zona pelúcida altera sua estrutura e sua composição para evitar a ligação e a penetração desses, evitando a poliespermia (penetração de mais de um espermatozoide no ovócito). FASES DA FERTILIZAÇÃO Bloco Gestação @camillatozi 2- CONTINUAÇÃO DA SEGUNDA DIVISÃO MEIÓTICA = O ovócito termina sua segunda divisão meiótica logo após a entrada do espermatozoide. Uma das células-filhas é conhecida como segundo corpúsculo polar; a outra é o ovócito definitivo ou óvulo. Seus cromossomos (22 mais X) se dispõem em um núcleo vesicular conhecido como pró-núcleo feminino. 3- ATIVAÇÃO METABÓLICA DO ÓVULO = O fator de ativação provavelmente é carregado pelo espermatozoide. Inclui eventos moleculares e celulares associados ao início da embriogênese. Enquanto isso, o espermatozoide se move até que fique próximo do pró-núcleo feminino. Seu núcleo se torna aumentado e forma o pró-núcleo masculino; a cauda se desprende e degenera. Morfologicamente, os pró- núcleos não são distinguíveis, ficam em contato íntimo e perdem seus envelopes nucleares. Durante o crescimento dos pró-núcleos (ambos haploides), cada um deve replicar seu DNA. Após essa síntese, os cromossomos se organizam no fuso em preparo para a divisão mitótica normal. Os 23 cromossomos maternos e os 23 paternos (duplicados) separam-se no centrômero, e as cromátides-irmãs se movem para polos opostos, fornecendo às duas primeiras células do zigoto a quantidade diploide de cromossomos e de DNA, enquanto aparece um sulco profundo na superfície da célula, dividindo o citoplasma em duas partes. RESTAURAÇÃO DA QUANTIDADE DIPLOIDE DE CROMOSSOMOS = Metade do pai e metade da mãe. O zigoto contém uma nova combinação cromossômica diferente de ambos os pais; DETERMINAÇÃO DO SEXO DO NOVO INDIVÍDUO = Um espermatozoide carregando um X produz um embrião feminino (XX), e um carregando um Y produz um embrião masculino (XY). INÍCIO DA CLIVAGEM = Sem a fertilização, geralmente o ovócito degenera 24 h após a ovocitação. RESULTADOS DA FERTILIZAÇÃO Bloco Gestação @camillatozi CLIVAGEM Uma vez que o zigoto tenha alcançado o estágio de duas células, e à medida que passa pela tuba em direção ao útero, sofre uma série de divisões mitóticas, aumentando o número de células, que se tornam menores a cada divisão de clivagem, sendo conhecidas como blastômeros. Até o estágio de oito células, elas formam um grupo sem associações entre si. Entretanto,após a terceira clivagem, os blastômeros maximizam seus contatos uns com os outros, formando uma bola compacta de células mantidas unidas por junções de oclusão. Essa compactação, segrega as células internas, que se comunicam intensamente por junções comunicantes, das células externas. Aproximadamente 3 dias após a fertilização, as células do embrião compactado se dividem novamente, formando uma mórula de 16 células. As células dessa constituem a massa celular interna, que origina os tecidos do embrião em si, o embrioblasto, e células circunjacentes compõem a massa celular externa, formando o trofoblasto (contribui para a formação da placenta). FORMAÇÃO DO BLASTOCISTO Por volta do período que a mórula entra na cavidade uterina, um fluido começa a penetrar os espaços intercelulares da massa celular interna através da zona pelúcida, tornando-os gradualmente confluentes e formando uma única cavidade, a blastocele. Nesse período, o embrião é denominado blastocisto. INÍCIO DA IMPLANTAÇÃO As células da massa celular interna, embrioblasto, estão em um polo, e as da massa celular externa, trofoblasto, achatam-se e formam a parede epitelial do blastocisto. A zona pelúcida desaparece, possibilitando que a implantação comece. As células trofoblásticas sobre o polo do embrioblasto começam a penetrar entre as células epiteliais da mucosa uterina por volta do sexto dia. A selectina L (proteínas que se ligam a carboidratos) nas células trofoblásticas e seus receptores de carboidratos no epitélio uterino parecem mediar a ligação inicial do blastocisto ao útero capturando o blastocisto da cavidade uterina pelo epitélio uterino. Após a captura pelas selectinas, a ligação adicional e a invasão pelo trofoblasto envolvem as integrinas expressas pelo trofoblasto e as moléculas de matriz extracelular laminina e fibronectina. Receptores de integrina para a laminina promovem a ligação, enquanto os para a fibronectina estimulam a migração. Essas moléculas também interagem com vias de transdução de sinal para regular a diferenciação do trofoblasto, sendo a implantação resultado da ação mútua entre o trofoblasto e o endométrio. Até o final da 1ª semana, o zigoto já passou pelos estágios de mórula e blastocisto, e teve início a implantação na mucosa uterina. O ÚTERO NESSE MOMENTO A parede uterina consiste em três camadas: (1) Endométrio (2) Miométrio (3) Perimétrio. Da puberdade até a menopausa, o endométrio sofre variações em um ciclo de aproximadamente 28 dias sob o controle hormonal dos ovários. Durante o ciclo, o endométrio passa por três estágios: (1) Fase folicular (2) Fase secretória e (3) Fase menstrual. Se a fertilização não ocorrer, o sangramento do endométrio marca o início da fase menstrual. Se a fertilização ocorrer, o endométrio ajuda na implantação e contribui para a formação da placenta, que mais tarde assume o papel de produção hormonal, e o corpo lúteo degenera. PRIMEIRA SEMANA DE DESENVOLVIMENTO Bloco Gestação @camillatozi Durante a implantação, a mucosa uterina está na fase secretória, período no qual as glândulas e artérias uterinas se tornam espiraladas e o tecido fica espessado. Como resultado, podem ser reconhecidas no endométrio três camadas distintas: (1) uma camada compacta superficial, (2) uma camada esponjosa intermediária e (3) uma camada basal fina. Normalmente, o blastocisto se implanta no endométrio ao longo da parede anterior ou posterior do corpo uterino, onde ele fica encaixado entre as aberturas das glândulas. OITAVO DIA O blastocisto está parcialmente encaixado no estroma endometrial; O trofoblasto se diferenciou em duas camadas: uma interna, de células mononucleares, o citotrofoblasto; e uma externa multinucleada sem limites celulares distintos, o sinciciotrofoblasto. As células mitóticas são encontradas no citotrofoblasto, portanto as células dessa camada se dividem e migram para o sinciciotrofoblasto, no qual se fusionam e perdem suas membranas celulares individuais. Células do embrioblasto também se diferenciam em duas camadas: uma de pequenas células cuboides adjacentes à cavidade blastocística, a camada hipoblástica; e uma de células colunares altas adjacentes à cavidade amniótica, a camada epiblástica. Juntas, elas formam um disco achatado. Ao mesmo tempo, aparece uma pequena cavidade no epiblasto, que aumenta para se tornar a cavidade amniótica. As células epiblásticas adjacentes ao citotrofoblasto são chamadas de amnioblastos que junto com o resto do epiblasto se alinham na cavidade amniótica. O estroma endometrial adjacente ao sítio de implantação é edematoso e bastante vascularizado. As glândulas grandes e tortuosas secretam glicogênio e muco abundantes. NONO DIA O blastocisto está alojado mais profundamente no endométrio, e o orifício deixado por sua penetração na superfície do epitélio é fechado por um coágulo de fibrina. O trofoblasto apresenta um progresso considerável, particularmente no polo embrionário, onde aparecem vacúolos no sincício, que ao se fusionarem, formam grandes lacunas em uma fase chamada estágio lacunar. Já no polo embrionário, as células achatadas, originadas provavelmente do hipoblasto, formam uma membrana fina, a exocelômica (de Heuser), que está alinhada na superfície interna do citotrofoblasto, e junto ao hipoblasto forma o revestimento da cavidade exocelômica/vesícula vitelínica primitiva. SEGUNDA SEMANA DE DESENVOLVIMENTO Bloco Gestação @camillatozi DÉCIMO PRIMEIRO AO DÉCIMO SEGUNDO DIA O blastocisto está completamente inserido no estroma endometrial, e o epitélio superficial cobre quase completamente o orifício de entrada na parede uterina. O blastocisto produz, então, uma pequena protrusão no lúmen uterino. O trofoblasto é caracterizado por espaços lacunares no sincício que formam uma rede intercomunicante, evidente no polo embrionário; o polo abembrionário, ainda é constituído por células citotrofoblásticas. Simultaneamente, células do sinciciotrofoblasto penetram mais fundo no estroma, alcançando e abrindo a parede de revestimento endotelial dos capilares maternos, congestionados e dilatados, conhecidos como sinusoides. As lacunas sinciciais se tornam contínuas com os sinusoides, e o sangue materno entra no sistema lacunar. Conforme o trofoblasto continua a abrir mais sinusoides, o sangue materno começa a fluir pelo sistema trofoblástico, formando a circulação uteroplacentária. Uma nova população de células aparece entre a superfície interna do citotrofoblasto e a superfície externa da cavidade exocelômica, derivadas do saco vitelínico. Formam um tecido conjuntivo frouxo e delicado, o mesoderma extraembrionário, que preenche todo o espaço entre o trofoblasto externamente e o âmnio e a membrana exocelômica internamente. Grandes cavidades se formam nesse mesoderma e, quando convergem, originam a cavidade extraembrionária/ coriônica, que circunda o saco vitelínico primitivo e a cavidade amniótica, exceto onde o disco germinativo se conecta ao trofoblasto. O mesoderma que reveste o citotrofoblasto e o âmnio é o mesoderma extraembrionário somático, e o do saco vitelínico, mesoderma extraembrionário esplâncnico. Bloco Gestação @camillatozi DÉCIMO TERCEIRO DIA O defeito na superfície do endométrio já se regenerou. Algumas vezes, entretanto, ocorre sangramento no local da implantação (nidaçao), como resultado de aumento do fluxo sanguíneo para os espaços lacunares. Como esse sangramento ocorre próximo ao 28º dia do ciclo menstrual, pode ser confundido com sangramento menstrual normal e causar inexatidão na determinação da data provável do parto. O trofoblasto é caracterizado pelas estruturas vilosas. Células do citotrofoblasto proliferam localmente e penetram no sinciciotrofoblasto, formando colunas de células circundadas por sincício, conhecidas como vilosidadesprimárias. O hipoblasto produz células adicionais que migram ao longo do interior da membrana exocelômica, e se proliferam formando uma nova cavidade dentro da cavidade exocelômica, a vitelina secundária/definitiva, muito menor que a cavidade exocelômica original ou a vitelina primitiva. Durante sua formação, grandes porções da cavidade exocelômica são pinçadas para fora, sendo representadas pelos cistos exocelômicos, encontrados frequentemente no celoma extraembrionário, ou cavidade coriônica. Nesse período, o celoma extraembrionário se expande e forma uma grande cavidade, a cavidade coriônica. O mesoderma extraembrionário que reveste o interior do citotrofoblasto e sua camada é conhecido como placa coriônica. O único local onde o mesoderma atravessa a cavidade coriônica é no pedúnculo embrionário, que com o desenvolvimento dos vasos sanguíneos, se transforma no cordão umbilical. OBS: NIDAÇÃO = Processo de implantação do óvulo na parede do endométrio e pode resultar em um sangramento. Esse sangramento dura no máx. 3 dias e a dor pode aparecer como sintoma. Bloco Gestação @camillatozi Entender o desenvolvimento, a anatomia e fisiologia da placenta; Compreender a formação das membranas amnióticas e a formação do líquido amniótico; Principais problemas placentários relacionados a hemorragia na segunda metade da gravidez; Identificar em relação à placenta prévia sua importância e correlações anatômicas, embriológicas e fisiológicas. O intervalo da 9ª semana (3º mês) ao nascimento é chamado período fetal e caracteriza-se pela maturação dos tecidos e órgãos e pelo crescimento corporal rápido. O comprimento do feto é indicado como comprimento craniocaudal (CCC) (altura sentado) ou comprimento craniotornozelo (CCT) (altura em pé). A placenta é o órgão que realiza a troca de nutrientes e gases entre os compartimentos materno e fetal. Ao iniciar a 9ª semana de desenvolvimento, a demanda do feto por fatores nutricionais aumenta, provocando mudanças na placenta: (1) Elevação na área superficial entre os componentes materno e fetal para facilitar a troca; (2) Disposição das membranas fetais se altera conforme aumenta a produção de líquido amniótico. PLACENTA X MODOFICAÇÕES TROFOBLÁSTICAS O componente fetal da placenta deriva do trofoblasto e do mesoderma extraembrionário (a placa coriônica); o componente materno, do endométrio. No começo do segundo mês, o trofoblasto se caracteriza por um grande número de vilosidades secundárias e terciárias, que dão à placenta uma aparência radial. Os troncos vilosos (ou vilosidades de ancoragem) se estendem do mesoderma da placa coriônica até a concha trofoblástica. A superfície da vilosidade é formada pelo sinciciotrofoblasto, situado sobre uma camada de células citotrofoblásticas que, por sua vez, recobrem um eixo de mesoderma vascularizado. SUPRIMENTO SANGUÍNEO À PLACENTA O sistema capilar que está se desenvolvendo no centro dos troncos vilosos entra em contato com os capilares da placa coriônica e com o pedúnculo embrionário, dando origem ao sistema vascular extraembrionário.O sangue materno é fornecido à placenta por artérias espiraladas no útero, cujas as abertura para liberar sangue nos espaços intervilosos é alcançada pela invasão endovascular, realizada pelas células citotrofoblásticas. Estas invadem as porções terminais das artérias espiraladas, onde substituem as células endoteliais maternas nas paredes dos vasos, criando vasos híbridos que contêm células maternas e fetais. Para completar esse processo, as células citotrofoblásticas sofrem uma transição epitelioendotelial, que passam de vasos de diâmetro pequeno e alta resistência, para vasos de grande diâmetro e baixa resistência, que podem fornecer quantidade maior de sangue materno para os espaços intervilosos. Várias pequenas extensões crescem dos troncos vilosos, se estendendo como vilosidades livres para os espaços lacunares ou intervilosos circunjacentes. Inicialmente, são primitivas; porém, no início do 4º mês, as células citotrofoblásticas e algumas células do tecido conjuntivo desaparecem. O sinciciotrofoblasto e a parede endotelial dos vasos sanguíneos são as únicas camadas que separam as circulações materna e fetal. OBJETIVOS DE APRESENDIZAGEM GT 3 RELAÇÃO FETO E PLACENTA – DA NONA SEMANA AO NASCIMENTO MEMBRANAS FETAIS E PLACENTA Bloco Gestação @camillatozi Nas semanas iniciais do desenvolvimento, as vilosidades cobrem a superfície inteira do cório. Conforme a gravidez progride, as vilosidades no polo embrionário continuam crescendo e expandindo-se, dando origem ao cório frondoso. As vilosidades no polo abembrionário degeneram, e, por volta do terceiro mês, esse lado do cório é liso, sendo, então, conhecido como cório liso. CÓRIO FRONDOSO E DECÍDUA BASAL Bloco Gestação @camillatozi A diferença entre os polos embrionário e abembrionário do cório também se reflete na estrutura da decídua, camada funcional do endométrio, que é eliminada durante o parto. A decídua sobre o cório frondoso, basal, consiste em uma camada compacta de células grandes, deciduais, com quantidades abundantes de lipídios e glicogênio. Essa camada, a placa decidual, faz contato direto com o cório. A camada decidual sobre o polo abembrionário é a decídua capsular, que com o crescimento da vesícula coriônica, se alonga e degenera. Subsequentemente, o cório liso fica em contato com a parede uterina (decídua parietal) no lado oposto do útero, com a qual se fusiona, obliterando o lúmen uterino. Assim, a única porção do cório que participa do processo de trocas é o cório frondoso, que, junto com a decídua basal, forma a placenta. De modo semelhante, a fusão do âmnio e do cório forma a membrana amniocoriônica, que oblitera a cavidade coriônica. É essa membrana que se rompe durante o trabalho de parto, liberando líquido. No início do quarto mês, a placenta tem dois componentes: PORÇÃO FETAL = Formada pelo cório frondoso. Desse lado, a placenta é limitada pela placa coriônica; PORÇÃO MATERNA = Constituída pela decídua basal. Esse lado, tem como limite a decídua basal, da qual a placa decidual é incorporada mais intimamente à placenta. Na zona juncional, o trofoblasto e as células deciduais se misturam. Nessa fase da gestação, a maioria das células citotrofoblásticas vilosas já degenerou. Entre as placas coriônica e decidual se encontram os espaços intervilosos, repletos de sangue materno, e derivados das lacunas no sinciciotrofoblasto e estão revestidos por ele. As árvores vilosas crescem para dentro dos espaços intervilosos de sangue. ESTRUTURA DA PLACENTA Bloco Gestação @camillatozi Durante o 4º e o 5º mês, a decídua forma numerosos septos deciduais, que se projetam para os espaços intervilosos, mas não alcançam a placa coriônica. Eles têm um eixo de tecido materno, mas sua superfície está coberta por uma camada de sinciciotrofoblasto, separando o sangue materno presente nos espaços intervilosos do tecido fetal da vilosidade. Como resultado, a placenta se divide em vários compartimentos, ou cotilédones. Como os septos deciduais não alcançam a placa coriônica, o contato entre os vários cotilédones se mantém. Como resultado do crescimento contínuo do feto e da expansão do útero, a placenta também cresce. Seu aumento em área superficial acompanha aproximadamente o do útero em expansão e, ao longo de toda a gravidez, ela cobre aproximadamente 15 a 30% da superfície interna do útero. O aumento da placenta em espessura é resultado da arborização das vilosidades existentes. PLACENTA A TERMO É discoide, com um diâmetro entre 15 e 25 cm, aprox. 3 cm de espessura e 500 a 600 g de peso. No nascimento, ela se desprende da parede uterina e, cerca de 30min após o nascimento, é expelida da cavidadeuterina. Quando é vista do lado materno, são claramente reconhecíveis de 15 a 20 áreas levemente salientes, os cotilédones. As fossas entre os cotilédones são formadas pelos septos deciduais. A superfície fetal da placenta é completamente recoberta pela placa coriônica. Várias grandes artérias e veias, os vasos coriônicos, convergem para o cordão umbilical. O cório, por sua vez, é recoberto pelo âmnio. A ligação do cordão umbilical em geral é excêntrica e, ocasionalmente, é até mesmo marginal. Entretanto, raramente ele se insere nas membranas coriônicas fora da placenta (inserção velamentosa). Bloco Gestação @camillatozi CIRCULAÇÃO DA PLACENTA Os cotilédones recebem seu sangue por meio de 80 a 100 artérias espiraladas que penetram a placa decidual e entram nos espaços intervilosos em intervalos mais ou menos regulares. A pressão nessas artérias força o sangue para dentro dos espaços intervilosos e banha as pequenas vilosidades da árvore vilosa com sangue oxigenado. Conforme a pressão diminui, o sangue flui de volta da placa coriônica para a decídua, entrando nas veias endometriais, retornando para a circulação materna. Coletivamente, os espaços intervilosos de uma placenta madura contêm aproximadamente 150 mℓ de sangue, que são abastecidos cerca de 3 a 4X por minuto. Esse sangue se move ao longo das vilosidades coriônicas, entretanto, a troca placentária não ocorre em todas as vilosidades, apenas nas que têm vasos fetais em contato íntimo com a cobertura de membrana sincicial. Nessas vilosidades, o sinciciotrofoblasto frequentemente tem uma borda em escova que consiste em numerosas microvilosidades, as quais aumentam muito a área superficial e a taxa de troca entre as circulações materna e fetal. A membrana placentária, que separa o sangue materno do fetal, inicialmente é composta por quatro camadas: (1) a camada endotelial de vasos fetais; (2) o tecido conjuntivo no eixo da vilosidade; (3) a camada citotrofoblástica; e (4) o sinciciotrofoblasto. Do 4º mês em diante, a membrana placentária torna-se mais fina porque a cobertura endotelial dos vasos fica em contato íntimo com a membrana sincicial, aumentando enormemente a taxa de troca. As vezes chamada de barreira placentária, a membrana não é uma barreira verdadeira, já que muitas substâncias passam por ela livremente. Como o sangue materno nos espaços intervilosos é separado do sangue fetal por um derivado coriônico, a placenta é considerada do tipo hemocorial. Normalmente, sangues materno e fetal não se misturam; entretanto, uma pequena quantidade de células sanguíneas fetais pode escapar por intermédio de defeitos microscópicos na membrana. TROCA DE GASES A troca de gases – como oxigênio, dióxido de carbono e monóxido de carbono – é realizada por difusão simples. A termo, o feto extrai entre 20 e 30 mℓ de oxigênio por minuto da circulação materna, e mesmo uma interrupção breve do suprimento de oxigênio é fatal para o feto. O fluxo sanguíneo placentário é crítico para o fornecimento de oxigênio, já que a quantidade que chega ao feto depende principalmente da distribuição, e não da difusão. TROCA DE NUTRIENTES E ELETRÓLITOS A troca de nutrientes e eletrólitos, como aminoácidos, ácidos graxos livres, carboidratos e vitaminas, é rápida e aumenta conforme a gravidez avança. FUNÇÕES DA PLACENTA Bloco Gestação @camillatozi TRANSMISSÃO DE ANTICORPOS MATERNOS A competência imunológica começa a se desenvolver no final do 1º trimestre, quando o feto sintetiza todos os componentes do complemento. As imunoglobulinas consistem quase completamente em imunoglobulina G materna (IgG), que começa a ser transportada da mãe para o feto aproximadamente na 14ª semana. Desse modo, o feto adquire imunidade passiva contra várias doenças infecciosas. Os recém-nascidos começam a produzir sua própria IgG, mas níveis adultos não são alcançados antes dos 3 anos de idade. PRODUÇÃO HORMONAL No final do 4º mês, a placenta produz progesterona suficiente para manter a gravidez na ausência do corpo lúteo. Todos os hormônios são sintetizados no trofoblasto sincicial. Além da progesterona, ela produz quantidades crescentes de hormônios estrogênicos, predominantemente o estriol, até um pouco antes do final da gravidez, quando se alcança o nível máximo. Esses altos níveis de estrógenos estimulam o crescimento uterino e o desenvolvimento das glândulas mamárias. Durante os primeiros 2 meses de gravidez, também produz gonadotrofina coriônica humana (hCG), que mantém o corpo lúteo. Esse hormônio é excretado pela urina da mãe. Outro hormônio produzido pela placenta é a somatomamotrofina (lactogênio placentário), substância semelhante ao hormônio do crescimento que dá ao feto prioridade sobre a glicose sanguínea materna e torna a mãe diabetogênica até certo grau. Ele também promove o desenvolvimento mamário para a produção de leite. A linha oval de reflexão entre o âmnio e o ectoderma embrionário (junção âmnio-ectodérmica) é o anel umbilical primitivo. Na 5ª semana do desenvolvimento, as seguintes estruturas passam pelo anel: (1) o pedúnculo embrionário, contendo o alantoide e os vasos umbilicais, que consistem em duas artérias e uma veia; (2) o pedúnculo vitelino (ducto vitelino), acompanhado dos vasos vitelinos; e (3) o canal que conecta as cavidades intraembrionária e extraembrionária. A própria vesícula vitelínica ocupa um espaço na cavidade coriônica, ou seja, o espaço entre o âmnio e a placa coriônica. Com a progressão do desenvolvimento, a cavidade amniótica aumenta rapidamente à custa da cavidade coriônica e o âmnio começa a envolver os pedúnculos embrionários e da vesícula vitelínica, comprimindo-os e dando origem ao cordão umbilical primitivo. Distalmente, o cordão contém o pedúnculo da vesícula vitelínica e os vasos umbilicais; mais proximalmente, ele contém algumas alças intestinais e o remanescente do alantoide. A vesícula vitelínica, está conectada ao cordão umbilical por seu pedúnculo. No final do 3º mês, o âmnio se expande entrando em contato com o cório, obliterando a cavidade coriônica. A vesícula vitelínica geralmente regride e é gradualmente obliterada. A cavidade abdominal fetal é temporariamente muito pequena para as alças intestinais, que se desenvolvem rapidamente, e algumas delas são empurradas para o espaço extraembrionário no cordão umbilical, formando a hérnia umbilical fisiológica. Ao final do 3º mês, as alças são de novo incorporadas ao corpo do embrião, e a cavidade do cordão é obliterada. Quando o alantoide e o ducto vitelino com seus vasos também são obliterados, o que permanece no cordão são os vasos umbilicais cercados pela geleia de Wharton, tecido rico em proteoglicanos que funciona como camada protetora. A parede das artérias é muscular e contém muitas fibras elásticas, as quais contribuem para que a constrição e a contração dos vasos umbilicais sejam rápidas após uma dobra no cordão. ÂMNIO E CORDÃO UMBILICAL Bloco Gestação @camillatozi No final da gravidez, várias alterações placentárias indicam redução nas trocas entre a circulação materna e a fetal: (1) aumento de tecido fibroso no eixo da vilosidade; (2) espessamento das membranas basais nos capilares fetais; (3) alterações que obliteram os pequenos capilares das vilosidades; e (4) deposição de fibrinoide na superfície da vilosidade na zona juncional e na placa coriônica. A formação excessiva de fibrinoide frequentemente causa infarto nos espaços intervilosos ou até mesmo em um cotilédone inteiro que, então, adota uma aparência esbranquiçada. A cavidade amniótica é preenchida por um líquido claro e aquoso que é produzido em parte pelas células amnióticas, mas é derivado principalmente do sangue materno. O volume líquido aumenta de aproximadamente 30 mℓ em 10 semanas de gestação para 450 mℓ em 20 semanas, e de 800 para 1.000 mℓ em 37 semanas. Durante os meses iniciais da gravidez,o embrião fica suspenso pelo cordão umbilical no líquido, que funciona como amortecedor protetor. O líquido absorve solavancos, evita a adesão do embrião ao âmnio e possibilita os movimentos fetais. O volume de líquido amniótico é reposto a cada 3 horas. A partir do início do 5º mês, o feto engole seu próprio líquido amniótico e estima-se que ingira cerca de 400 mℓ por dia, quase metade do volume total. A urina fetal soma-se diariamente ao líquido amniótico no quinto mês, mas ela é composta principalmente por água, já que a placenta funciona como meio de troca para as escórias metabólicas. Durante o parto, a membrana amniocoriônica forma uma cunha hidrostática que ajuda a dilatar o canal cervical. MODIFICAÇÕES PLACENTÁRIAS NO FINAL DA GESTAÇÃO LÍQUIDO AMNIÓTICO Bloco Gestação @camillatozi A placenta humana produz grande quantidade de esteroides – progesterona e estrogênio. O lugar da esteroidogênese é o sinciciotrofoblasto. Como a placenta tem capacidade muito limitada de sintetizar o colesterol de novo a partir de acetato, o lipídio tem de ser suprido pelo fígado materno. Ela também está desprovida de 17α-hidroxilase e, assim, não pode converter os esteroides C21 (pregnenolona e progesterona) nos produtos C19 (androgênios), que são precursores dos estrogênios. Dessa maneira, é um órgão incompleto no que diz respeito à elaboração dos esteroides. Para a formação dos estrogênios, ela necessita, fundamentalmente, de precursores fetais; para a síntese de progesterona, de substâncias provenientes da mãe. É o conceito da unidade fetoplacentária/unidade maternofetoplacentária. HORMÔNIOS ESTEROIDES PROGESTERONA O colesterol-LDL materno é ligado a um receptor específico no sinciciotrofoblasto, transportado por endocitose e hidrolisado em colesterol livre dentro dos lisossomos. No sinciciotrofoblasto, o colesterol é, então, convertido em pregnenolona pela enzima mitocondrial 20,22 desmolase, e posteriormente transformada em progesterona pela enzima 3- β-hidroxiesteroide-deidrogenase. A maioria dessa progesterona (90%) é secretada na circulação materna, e o restante (10%), na circulação fetal. Embora a placenta comece a sintetizar progesterona bem no início da gestação, antes de 8 a 9 semanas, a progesterona produzida pelo corpo amarelo gravídico é indispensável para o êxito da implantação e da placentação. Após essa época, a progesterona placentária é suficiente para manter a gravidez, mesmo na ausência do ovário (transferência luteoplacentária). A progesterona produzida pelo trofoblasto é fundamental para a quiescência do miométrio ao reduzir o número de junções comunicantes existentes entre as células miometriais, indispensáveis para o sincronismo da contratilidade uterina, assim como para inibir a síntese de prostaglandinas. ESTROGÊNIOS A maior quantidade de estrogênio produzida pela placenta é de estriol. Como a placenta não tem a enzima 17α-hidroxilase, ela não pode sintetizar os esteroides C19 a partir dos precursores C21 , pregnenolona e progesterona; por isso, a zona fetal da suprarrenal do concepto, a partir do colesterol-LDL, sintetiza a pregnenolona e, por fim, o esteroide C19 sulfato de deidroepiandrosterona (DHEAS) pela ação da enzima 17α-hidroxilase. O DHEAS, uma vez na placenta, sofre a ação da sulfatase, transformando-se em androstenediona e, a seguir, em estrona, após a ação da enzima aromatase. Os estrogênios desempenham papel relevante na implantação da placenta ao induzirem uma vasodilatação do leito vascular uterino materno. Desse modo, atuam promovendo o crescimento uterino e o aumento do fluxo sanguíneo uteroplacentário. Os estrogênios da gravidez determinam a proliferação do sistema ductal mamário e, em conjunto com a progesterona, promovem o desenvolvimento do tecido glandular. Após o parto, a súbita cessação do estímulo estrogênio-progesterona possibilita o estabelecimento da lactação. HORMÔNIOS POLIPEPTÍDIOS GONADOTROFINA CORIÔNICA HUMANA O hCG é uma glicoproteína produzida pela placenta e formada por duas subunidades, α e β, ligadas por forças iônicas e hidrofóbicas. A subunidade α é idêntica às subunidades α dos hormônios glicoproteicos hipofisários. As subunidades β dos hormônios glicoproteicos são únicas e conferem a eles as suas propriedades biológicas e imunológicas. Os níveis circulantes do hCG aumentam rapidamente 4 semanas após a implantação, dobram SECREÇÃO ENDÓCRINA PLACENTÁRIA Bloco Gestação @camillatozi seus valores após 2 a 3 dias, atingem um pico por volta de 10 semanas e, depois da queda, se nivelam até o termo. O hCG refere-se, na verdade, a 4 moléculas independentes produzidas por células distintas e cada uma delas com função própria. O hCG (regular), o hCG-hiperglicosilado (hCG-H), o hCG-β-livre e o hCG hipofisário. O hCG tem inúmeras funções, mas a principal é promover a produção de progesterona pelo corpo lúteo gravídico, até 3 a 4 semanas após a implantação. Depois desse prazo as células do sinciciotrofoblasto na placenta passam a assumir a produção de progesterona, até então realizada pelo corpo lúteo gravídico (transferência lúteo-placentária). O hCG-H promove a implantação normal pelo citotrofoblasto e o crescimento e a invasão das células do coriocarcinoma. LACTOGÊNIO PLACENTÁRIO HUMANO O hPL, também denominado somatomamotropina coriônica humana (hCS), é um polipeptídio. A despeito de sua homologia ao GH e à PRL, o hPL tem atividade lactogênica e, no crescimento, muito reduzida. Na espécie humana, parece constituir-se em redundância evolucionária do GH e da PRL. É produzido pelo sinciciotrofoblasto e pode ser detectado no plasma materno com 3 semanas de gestação, crescendo sua concentração até níveis de 10 a 16 µg/mℓ. É o maior hormônio secretado pela placenta, atingindo a produção de 1 g/dia no termo. Seu aumento ao longo da gestação segue a evolução da massa placentária. Os seus genes estão localizados no cromossomo 17, enquanto o gene da prolactina está localizado no cromossomo 6. O hPL pode modular o metabolismo materno e o fetal ao agir no fígado de ambos os organismos, assim como em outros tecidos. O hPL funciona como antagonista da insulina, induzindo resistência periférica a esse hormônio, e aumenta a lipólise e a proteólise da mãe, promovendo fonte adicional de glicose e aminoácidos para serem transportados para o feto. ATIVINA E INIBINA A inibina é composta de duas subunidades diferentes α e β ligadas por pontes dissulfeto. Há apenas uma subunidade α, mas existem duas subunidades β, βA e βB; existem, portanto, duas possíveis formas de inibina, a inibina A (αβA) e a inibina B (αβB). A ativina é um homodímero da subunidade inibina B, ligada por ponte dissulfeto, e, por isso, existem três formas: A, B e AB. A placenta sintetiza tanto a inibina como a ativina. O citotrofoblasto sintetiza a subunidade α, enquanto o sinciciotrofoblasto produz a subunidade βB. A subunidade βA é sintetizada tanto pelo cito como pelo sinciciotrofoblasto. O papel da ativina no início da parturição humana por estimulação da produção de prostaglandinas pelas membranas fetais é aventado. A inibina e a ativina também exercem funções parácrinas na placenta. Enquanto a inibina susta a estimulação do hormônio liberador da gonadotrofina (GnRH) no sinciciotrofoblasto para a produção de hCG, a ativina potencializa a secreção de hCG GnRHestimulada. A ativina parece aumentar a liberação de hCG e de progesterona, enquanto a inibina exerce efeito contrário sobre esses hormônios. Esses eventos regulatórios parecem ser paralelos àqueles da hipófise, onde a ativina promove a liberação do FSH, enquanto a inibina apresenta efeito contrário. RELAXINA Hormônio produzido pelo corpo lúteo, pela placenta e pela decídua. Toda a relaxina circulante na mãe parece ser originada do corpo lúteo. Entre suas atividades biológicas destacam-se: remodelação do colágeno, amolecimento da cérvice maternae do sistema reprodutivo inferior e inibição da contratilidade uterina. Todavia, não demonstra ser necessária para a manutenção da gestação ou do parto normal. Bloco Gestação @camillatozi HORMÔNIOS NEUROPEPTÍDIOS A placenta humana produz diversos neuropeptídios similares àqueles elaborados pelo hipotálamo. Por analogia com o sistema hipotálamo-hipofisário, sugere-se que a célula citotrofoblástica corresponda ao local da síntese dos neuropeptídios, enquanto o sinciciotrofoblasto produza o hormônio proteico. HORMÔNIO LIBERADOR DA GONADOTROFINA Secretado pelo citotrofoblasto, esse hormônio estimula o sincício a produzir hCG e esteroides que, por sua vez, inibem a sua produção por feedback negativo. São regulados pela placenta. HORMÔNIO LIBERADOR DA CORTICOTROFINA Neurormônio hipotalâmico que modula a função hipofisária e suprarrenal (eixo hipotálamo-hipófise- suprarrenal), produzido pela placenta. O CRH pode ser detectado no plasma materno com 20 semanas da gestação, e seus níveis aumentam nas fases finais da gravidez, com acréscimo rápido nas semanas que precedem o parto. É também relatado que os níveis de CRH crescem precocemente na gravidez complicada pelo parto pré-termo. Todos esses dados sugerem que o CRH placentário possa estar envolvido no determinismo do parto e que o “relógio placentário” controla a duração da gravidez humana PROTEÍNASPLACENTÁRIAS A placenta sintetiza inúmeras proteínas, tanto aquelas produzidas exclusivamente na gravidez, como outras também encontradas fora do estado gravídico. No que concerne às proteínas específicas da gravidez, são elas as proteínas plasmáticas associadas à gravidez (PAPP), A, B, C e D, cujas funções não estão ainda desvendadas. A PAPP-A tem sido utilizada no 1 o trimestre para o rastreamento bioquímico de aneuploidias fetais A placenta é estrutura biológica única, constituindo interface entre a circulação materna e a fetal. Sob a perspectiva do feto, a placenta apresenta funções similares àquelas do pulmão, rim e sistema digestivo na vida pós-natal. As funções fundamentais da placenta são: Prover barreira imunológica entre a mãe e o concepto; Promover produção hormonal que altere o metabolismo materno; Transportar nutrientes, gases respiratórios, íons e água para o feto; Transportar produtos de excreção do feto para a mãe. MEMBRANA PLACENTÁRIA A membrana placentária consiste no sinciciotrofoblasto e no endotélio do capilar fetal. Dessas estruturas, duas membranas plasmáticas polarizadas, a membrana microvilosa (MMV) e a membrana plasmática basal do sinciciotrofoblasto, restringem a transferência de moléculas. As microvilosidades da membrana plasmática apical do sinciciotrofoblasto aumentam consideravelmente a superfície de trocas, até então estimada em aproximadamente 50 m2. Isso, associado às taxas elevadas do fluxo sanguíneo materno e fetal e à pequena distância para a difusão entre esses compartimentos, é crucial para as trocas eficientes entre a mãe e o feto. TROCAS TRANSPLACENTÁRIAS Bloco Gestação @camillatozi MECANISMOS DAS TROCAS PLACENTÁRIAS DIFUSÃO SIMPLES = A maioria das pequenas moléculas atravessa segundo gradientes químicos ou eletroquímicos, como ocorre com o O2 e o CO2 . Quando o gradiente deixa de existir, a taxa de trocas através da membrana torna-se igual em ambas as direções; DIFUSÃO FACILITADA = Certas moléculas transitam após conjugar-se, em uma face da membrana, com outras, carreadoras, existentes na própria membrana, e que as veiculam mais rapidamente para a outra face, na qual são libertadas (p. ex., glicose); TRANSPORTE ATIVO = Quando a transferência de uma substância dá-se contra gradiente químico, admite- se que requeira dispêndio de energia; ULTRAFILTRAÇÃO = É a variedade de filtração na qual a pressão hidrostática força a passagem de líquido através de membrana semipermeável. Sólidos ou solutos de alto peso molecular são retidos, mas a água ou Bloco Gestação @camillatozi os solutos de baixo peso molecular atravessam a membrana. O resultado é o transporte muito mais rápido de água e/ou de solutos do que aquele previsto pela simples difusão; PINOCITOSE (ou endocitose na escala da microscopia eletrônica) = Por esse processo, a membrana celular invagina-se, englobando pequenas partículas que cruzam a célula e são liberadas do outro lado. Embora o processo seja lento, é responsável pela transferência de imunoglobulinas e grandes moléculas proteicas, lipoproteínas e ferro. Há outras possibilidades de trocas que funcionam em condições de exceção: É fato inquestionável a verificação de lesões vilosas, a possibilitar a passagem de macromoléculas e de células (hemácias, germes) através da barreira, dependendo do sentido da transferência das pressões hidrostáticas existentes de um e de outro lado, pelo geral ou sempre, maiores no capilar viloso do que no espaço interviloso; Outras células, por exemplo, leucócitos maternos, Treponema pallidum, atravessam por meio de sua própria motilidade. TROCA DE OXIGÊNIO O PO2 no ar atmosférico é, aproximadamente, de 160 mmHg. No ar alveolar, sendo a porcentagem de oxigênio de 14%, o PO2 decresce para 100 mmHg. O oxigênio atravessa, por difusão simples, a delicada parede alveolar e o endotélio dos capilares pulmonares. A exemplo do ocorrido nos alvéolos, a passagem transplacentária de oxigênio dá-se por difusão simples. Enquanto a diferença entre PO2 no ar alveolar e no sangue materno venoso é de cerca de 60 mmHg, na placenta, entre o sangue interviloso e o fetal a oxigenar, é de somente 20 mmHg. A taxa de utilização de O2 pelo concepto é cerca de 4 a 5 mℓ/kg do peso, e suas reservas desse elemento são bem pequenas. O suprimento ininterrupto de oxigênio para o feto é indispensável à sua sobrevida, aparecendo lesões irreversíveis do sistema nervoso central após 7 a 10 min de anoxia. PASSAGEM DE CO2 Uma vez que o PCO2 materno diminui cerca de 10 mmHg em consequência da hiperventilação, o seu gradiente transplacentário nos estágios finais da gravidez é de cerca de 10 mmHg. Por outro lado, a hemoglobina materna tem maior afinidade ao CO2 do que a hemoglobina fetal. O CO2 é carreado no sangue predominantemente como bicarbonato, com alguma porção ligada à hemoglobina, formando a carboemoglobina. A maior concentração de hemoglobina no sangue fetal, possibilita ao concepto carrear mais CO2 para determinado PCO2. À medida que o CO2 é produzido pelo metabolismo fetal, elevando os níveis sanguíneos de PCO2, ele se difunde através da placenta para o organismo materno, desde que o PCO2 fetal exceda o materno. PASSAGEM DE FERRO A transferina diférrica (Fe+3) no sangue materno se liga ao receptor da transferina na MMV do sinciciotrofoblasto e é internalizada por endocitose clatrina-mediada. O ferro é reduzido (Fe +2) e liberado no endossomo acidificado, e a apotransferina materna retorna à membrana plasmática para ser secretada. O efluxo de ferro do endossomo é mediado pela proteína transportadora de metal divalente (DMT1). Uma vez no citoplasma, é usado em vias biossintéticas, armazenado (ligado à ferritina ou como ferro livre) ou transportado através da membrana plasmática basal para o feto. Uma vez liberado no citoplasma do sinciciotrofoblasto, o ferro é oxidado pela ferroxidase endógena antes de ser transportado pela ferroportina/ proteína de transporte de metal (MTP1), através da membrana plasmática basal, para o feto. Bloco Gestação @camillatozi IMUNOGLOBULINA Os anticorpos maternos, na verdade os IgG, são transportados pela placenta humana e medeiam a imunidade passiva no feto e no recém-nascido. O IgG-1 é a subclasse preferencialmente transportada. A termo, os níveis de IgG no feto excedem àqueles do sangue materno, sugerindo transporte contra gradiente. O transporte através da membrana plasmática microvilosa se faz por meio de endocitose Uma vez transposta a membrana