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DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENSINO DA MÚSICA AULA 6 Prof. Flávio Denis Dias Veloso 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos lançar um olhar sobre as especificidades e desafios do ensino de música na atualidade. Para tanto, realizaremos um aprofundamento a respeito dos períodos denominados por Gainza (2004) como tendências de transição (1980-90) e novos paradigmas (1990). Em um segundo momento, com base na concepção abrangente1 de educação musical, defendida por França e Swanwick (2002), conheceremos as propostas didático-pedagógicas e curriculares do Modelo C(L)A(S)P, sob a perspectiva da integração entre diferentes modalidades do fazer musical nos processos de ensino-aprendizagem da música (com destaque às iniciativas composicionais). Encerraremos com uma síntese do legado oferecido pelas diferentes perspectivas didáticas/metodológicas para o ensino da música no século XXI. TEMA 1 – AS TENDÊNCIAS DE TRANSIÇÃO (1980-90) – UMA APROXIMAÇÃO AO SÉCULO XXI Um olhar atento às duas últimas décadas do século XX revela um cenário marcado, entre outros aspectos, pelos progressos da era digital (que possibilitou o acesso aos registros da vasta produção musical da humanidade e impulsionou o uso de tecnologias nos processos de ensino) e pela globalização (um processo geopolítico e sociocultural que atenuou as distâncias geográficas, facilitando os intercâmbios transculturais). Especificamente no âmbito da educação musical, Gainza (2004; 2011) salienta a ampliação do interesse pela música contemporânea; as influências dos mecanismos de registro (gravação) e reprodução musical; um olhar aos fenômenos urbanos como a poluição sonora (particularmente por meio da educação sonora, defendida por Murray Schafer); os avanços no domínio científico da música e nos estudos em musicologia (em suas diferentes vertentes); e outros acontecimentos sociais, culturais educacionais e artísticos. 1 “O conceito de educação musical abrangente faz referência a concepção educativo-musical proposta pelo modelo C(L)A(S)P e pelas abordagens integradoras equivalentes (Swanwick, 1994; França e Beal, 2004). Comporta, dentre outros aspectos, (a) o fazer musical ativo; (b) as experiências que integram e provem a interação entre as modalidades da experiência musical; (c) a associação entre compreensão musical e técnica; (d) o entendimento da música (a partir de seu potencial expressivo) como uma forma de discurso” (Veloso, no prelo; grifo nosso). 3 Tratando exclusivamente do ensino de música, nesse período de transição, é notória a ampliação do interesse pela música contemporânea (tendência iniciada pelos educadores-compositores que inauguraram a segunda geração de pedagogias musicais ativas). A música nova passou a integrar frequentemente os repertórios utilizados em sala de aula. Além disso, os procedimentos, práticas e posicionamentos filosóficos inerentes à produção musical contemporânea exerceram influência nas metodologias do ensino da música. Nesse sentido, Meyer-Denkmann (1970, citada por Souza, 2012, p. 231) reforça que as novas tendências na produção musical propuseram a mudança de foco da obra musical “fechada para um livre desenvolvimento sonoro”, criando a necessidade do surgimento de “uma concepção pedagógica correspondente”. É evidente que, diante de novos procedimentos de criação e execução musical e novas formas de ouvir e pensar os fenômenos sonoro-musicais, as maneiras como ensinamos música (as metodologias de ensino) não poderiam passar alheias às novidades. Além dos elementos já mencionados, outros aspectos desse período transitório merecem destaque, a saber: A aproximação entre educação musical e ecologia, particularmente por meio da educação sonora schaferiana, propondo reflexões acerca dos efeitos da poluição (saturação) sonora dos meios urbanos na qualidade da escuta; Os avanços no campo da musicoterapia, da psicologia da música e da cognição musical, áreas que alcançaram autonomia epistemológica nesse período e ofereceram suporte para compreendermos os aspectos que permeiam o desenvolvimento musical e a relação música e saúde; Os desafios como a transculturalidade (consequência da globalização e das culturas digitais), que requer a oferta de um ensino de música que considere e valorize diversas manifestações – repertório e práticas – culturais. Focalizando alguns dos fenômenos aqui descritos (particularmente a relação entre os processos de ensino e as novas tecnologias), considere a seguinte questão: do ponto de vista pragmático, como podemos aproximar o ensino da música e o uso de tecnologias digitais? A proposta de atividade 4 a seguir – originalmente apresentada por Veloso (no prelo) – ilustra respostas possíveis a esse questionamento. Trata-se de um exercício no qual técnicas de captação sonora são utilizadas em uma proposta que se apoia na construção de uma trilha sonora2 para uma produção visual. Figura 1 – Atuação do artista de foley Créditos: 1477301429 – Luciana Carla Funes/Shutterstock. Utilizando as fontes sonoras disponíveis em sala de aula (instrumentos, objetos, corpo/voz), sugira a sonorização da animação A evolução humana em um minuto e meio (disponível em ). Nessa proposta, os alunos serão “artistas de foley3”, e a sala de aula se tornará um estúdio de criação e gravação de sons para trilha sonora. Considere as seguintes etapas: (1) apresentar a animação (sem a trilha original), quantas vezes for necessário, para assimilação dos detalhes (recomenda-se a construção de um roteiro detalhado dos eventos visuais, incluindo a minutagem); (2) o processo de seleção do material sonoro (criando uma espécie de banco de sons); (3) a associação entre 2 A esse respeito, é importante realizarmos a seguinte diferenciação: “enquanto a trilha sonora não faz distinção em relação ao caráter dos sons concebidos na produção (música, ruídos e vozes), a trilha musical limita-se ao conjunto das obras musicais utilizadas em determinada produção” (Veloso; Silva; Bento, 2018, p. 3; grifo nosso). 3 Segundo Alves (2012, citado por Veloso; Silva; Bento, 2018, p. 5), o artista de foley é o profissional responsável pelo “processo de recriação de ruídos e criação de sons especiais em estúdio, sobretudo sons relacionados a movimentos e ações dos atores (passos, socos, tapas, o ato de sentar, lavar louça, arrastar uma cadeira, bater uma porta etc.)”. 5 os materiais sonoros elaborados e cada evento/cena da animação; (4) executar, sincronizando os sons e a animação (realizando uma gravação para posterior edição). Leitura complementar Leia o artigo A trilha sonora na sala de aula: um relato de experiência no contexto do Ensino Médio, de Flávio Veloso, Flávia Campos Silva e Victor Bento. O texto está disponível no seguinte endereço eletrônico: . TEMA 2 – OS NOVOS PARADIGMAS (1990) – ENSINAR MÚSICA NO MUNDO GLOBALIZADO A chegada ao século XXI reavivou discussões sobre a revisão dos paradigmas tradicionais do ensino de música (iniciadas com a primeira geração de pedagogias musicais). É evidente que os progressos observados na educação musical – particularmente entre as décadas de 1930 e 1990 – são significativos, especialmente para os contextos de musicalização. Entretanto, não vislumbramos a mesma evolução no âmbito da formação especializada em música (em nível técnico ou superior). Assim, Gainza (2004) reforça que a maioria das reformas educativo-musicais ocorreram na iniciação musical, com os conservatórios e as universidades à margem dessas mudanças. Segundo Couto (2014), os movimentos de reformulaçãodas concepções tradicionalistas do ensino da música no âmbito acadêmico (envolvendo conservatórios e universidades), especialmente no Brasil, ganharam projeção no final do século XX. Entre os elementos propulsores dessa tendência, destacam- se: (1) a necessária expansão dos repertórios abordados (tradicionalmente apoiados na música de concerto de matriz europeia, incluindo seus conteúdos e práticas subjacentes); e (2) a ampliação das pesquisas em educação musical e áreas correlatas. É dessa maneira que se passou a discutir metodologias de ensino que se preocupavam em incluir as práticas de aprendizagem chamadas de “informais”, a partir da constatação de que não só diferentes repertórios haviam sido excluídos e negligenciados durante muito tempo, mas também as habilidades técnicas e musicais que eles desenvolviam naqueles que os praticavam. (Couto, 2014, p. 239) 6 As práticas educativo-musicais no âmbito da formação especializada em música têm sido marcadas pela coexistência das propostas tradicionalistas e das novas abordagens alinhadas filosófica e pedagogicamente às metodologias ativas. Ao mesmo tempo que conservam traços progressistas, essas iniciativas apresentam características contraditórias. Gainza (2011) chama a atenção para o distanciamento entre os discursos “inovadores” (com foco na autonomia dos aprendizes e na aprendizagem criativa, por exemplo) e as práticas conservadoras (fragmentadas, essencialmente teóricas e com ênfase na repetição e no treino musical massivo). Propondo alternativas para a superação desses desafios, Gainza (2004, p. 15) explica que, atualmente, nas instituições de ensino de música, Trabalha-se a partir de diferentes modelos pedagógicos – tradicionais e modernos – que deveriam ser convenientemente analisados, debatidos e eventualmente descartados ou correlacionados de acordo com as necessidades e expectativas dos alunos, tendo em conta suas capacidades e suas diferentes formas de aprender. Vídeos Assista à palestra da pesquisadora Neide Espiridião, intitulada Saberes pedagógicos musicais necessários à educação musical do século XXI, apresentada no Projeto Compasso Virtual. O vídeo está disponível em: . TEMA 3 – ABORDAGENS INTEGRADORAS EM EDUCAÇÃO MUSICAL – CONTRIBUIÇÕES DO MODELO C(L)A(S)P As abordagens educativas baseadas no princípio da integração entre as modalidades do fazer musical consideram que a aprendizagem musical deve necessariamente abarcar os processos de criação musical (incluindo composição e improvisação), de escuta (incluindo a audição ativa) e de execução (em distintos níveis de complexidade). Para um aprofundamento a respeito desse tema, nos dedicaremos à compreensão da proposta educativo- musical do educador musical britânico Keith Swanwick (1937-), denominada C(L)A(S)P, sigla que integra os termos Composição, Literatura, Apreciação, Skills (habilidades técnicas) e Performance. 7 Figura 2 – Exposição do Modelo C(L)A(S)P Créditos: KEMEDO/Shutterstock; THOOM/Shutterstock; WAYHOME STUDIO/Shutterstock; JOY/Shutterstock; STOCKIMAGEFACTORY.COM/Shutterstock. Conforme comenta Swanwick (1979, citado por França; Swanwick, 2002, p. 17-18; grifo do original), O modelo “reúne em uma estrutura simples o que anteriormente poderia estar separado e fragmentado” (p. 50). Na prática, os cinco parâmetros devem ser inter-relacionados de forma equilibrada, oferecendo um leque de possíveis atividades curriculares (p. 46). No entanto, a recomendação de equilíbrio não quer dizer que as modalidades devem estar presentes em todas as aulas. Elas podem ser distribuídas ao longo destas, uma atividade sendo consequência natural da anterior, para que, ao final de um determinado período, os alunos tenham vivenciado uma série de experiências. Equilíbrio também não significa que se devem dedicar períodos de tempo equivalentes a cada uma dessas atividades. Uma atividade de apreciação de uma obra de dois minutos pode dar início a um projeto de composição que durará três ou quatro aulas. O equilíbrio é qualitativo, e não quantitativo. Com base na citação de França e Swanwick, podemos compreender que, além da integração, essa perspectiva propõe a interação dinâmica entre esses diferentes eixos da experiência musical, considerando que compor, ouvir e tocar/cantar figuram entre as modalidades centrais, ao passo que os estudos literários em música e as habilidades técnicas (skills) são dimensões subsidiárias. “A abordagem integrada dessas modalidades representa hoje uma forte corrente da teoria e da prática da educação musical: para que sejam educadas musicalmente, as crianças [jovens e adultos] devem ser introduzidas nesses métodos, procedimentos e técnicas fundamentais do fazer musical” (Plummeridge, 1991, citado por França e Swanwick, 2002, p. 8). Para evitarmos compreensões equivocadas acerca do Modelo C(L)A(S)P, consideremos as informações dispostas no Quadro 1, a seguir. https://www.shutterstock.com/pt/g/Josanque11 https://www.shutterstock.com/pt/g/Thoom https://www.shutterstock.com/pt/g/wayhome https://www.shutterstock.com/pt/g/MamaDina https://www.shutterstock.com/pt/g/MamaDina https://www.shutterstock.com/pt/g/StockImageFactory 8 Quadro 1 – Especificidades do Modelo C(L)A(S)P Modelo C(L)A(S)P Do que não trata Em que consiste Não se trata de um modelo com diretrizes de ensino padronizáveis. Não representa um inventário de práticas pedagógico-musicais (uma compilação de estratégias de ensino). Não representa uma abordagem metodológica (tal como as pedagogias musicais ativas). Não é um conjunto de atividades para as aulas de música. Trata-se de uma visão filosófica, um marco epistemológico em educação musical. Oferece orientações para a elaboração de currículos em música. Apresenta considerações sobre o planejamento das intervenções didático- pedagógicas em música. Trata dos processos avaliativos em educação musical. Fonte: Veloso, no prelo. As considerações aqui realizadas não findam o amplo aporte teórico- prático e filosófico que compõe o Modelo C(L)A(S)P, proposto por Keith Swanwick. Para um aprofundamento, é imprescindível a consulta à literatura especializada. Leitura complementar Leia o artigo Composição, apreciação e performance na educação musical: teoria, pesquisa e prática, de Cecília Cavalieri França e Keith Swanwick. Disponível em: . TEMA 4 – A COMPOSIÇÃO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICO-MUSICAL Iniciamos este tema com um conceito de composição musical. Tomamos emprestado as palavras de França e Swanwick (2002, p. 9), segundo os quais “composição musical acontece sempre que se organizam ideias musicais elaborando-se uma peça, seja uma improvisação feita por uma criança ao xilofone com total liberdade e espontaneidade ou uma obra concebida dentro de regras e princípios estilísticos”. As práticas de criação musical (incluindo a composição e improvisação) nos contextos de musicalização englobam desde “as mais breves e espontâneas expressões, assim como criações de proporções maiores e ensaiadas, e isso acontece quando se tem alguma liberdade para escolher a organização temporal da música, a utilização ou não de notação ou outras formas de instrução para performance” (Swanwick, 1994, p. 85). 9 Na mesma direção, referenciando Beineke (2015, p. 43), tomaremos o conceito de composição musical de “forma ampla, incluindo trabalhos de improvisação e arranjo, pequenas ideias musicais organizadas espontaneamente pelas crianças e peças mais elaboradas, sem a exigência de algum tipo de notação”. Nessa acepção, compor consiste em organizar as ideias musicais na criação de uma peça. Essa organização pode ser orientada tanto por processos sistemáticos quanto pelas práticas de exploração e improvisação.Nas concepções atuais de educação musical, a composição não diferencia o processo de criação do produto elaborado, tratando-se de faces distintas de um mesmo fenômeno. A respeito dos benefícios desse enfoque para o ensino e aprendizagem da música, destacamos: (a) a manipulação dos elementos musicais estruturantes desde a iniciação da formação em música; (b) as realizações criativas como um suporte à compreensão musical; e (c) o favorecimento da autonomia e do engajamento criativo. Voltando nossa atenção às proposições do modelo C(L)A(S)P, podemos compreender que o fato de a modalidade composição estar posicionada no início da sigla se justifica porque a criação musical é “celebrada por pedagogos e compositores como John Paynter, George Self [dentre outros representantes da segunda geração de pedagogias musicais ativas] e o próprio Swanwick como fundamento primordial da educação musical” (França; Swanwick, 2002, p. 19). Isso não representa, todavia, um demérito às demais modalidades (apreciação e performance). Resumidamente, embora o ensino exclusivo da composição conceba uma distinção entre os processos de criação e as obras musicais (isto é, os produtos de tais processos), o mesmo não é observado nas concepções de criação musical no âmbito da musicalização, em que produto e processo (meios e fins) se fundem. Não é possível, portanto, compreender e julgar a qualidade, o valor e o teor criativo da composição musical de uma criança sem considerar as variáveis socioculturais e contextuais (tratando das particularidades dos ambientes de aprendizagem) e as características e experiências de cada aprendiz. Assumindo um olhar cauteloso para esses aspectos e evitando uma dissociação entre processo de criação e produto criativo, passamos a valorizar os procedimentos de composição musical como ferramenta pedagógica. O Quadro 2, a seguir, expõe alguns benefícios do uso da composição no ensino de aprendizagem musical. 10 Quadro 2 – Benefícios da composição às práticas de musicalização A criação musical A) Favorece a manipulação dos elementos estruturantes da música As atividades de criação possibilitam um fazer musical efetivamente prático (antecedendo os saberes teóricos). “Trabalhando-se a partir da matéria-prima [o material sonoro], pode-se ‘decidir sobre a ordenação temporal e espacial dos sons, bem como sobre a maneira de produzir os sons e o fraseado’” (Swanwick, 1994, citado por França; Swanwick, 2002, p. 9). B) Estrutura o pensamento e facilita a compreensão musical Dada sua relação intrínseca com a manipulação sonora (do ponto de vista organizacional, estrutural e expressivo), as atividades de composição e improvisação representam “uma ferramenta poderosa para desenvolver a compreensão sobre o funcionamento dos elementos musicais, pois permite um relacionamento direto com o material sonoro” (Swanwick, 1994, citado por França; Swanwick, 2002, p. 9). C) Demanda uma postura ativa e autônoma, implicando o engajamento criativo Compor/improvisar tem implicações positivas no engajamento criativo e na constituição da autenticidade musical, isso porque “estende ao máximo o exercício da tomada de decisão expressiva, habilidade determinante no fazer musical. Compor é ‘uma forma de se engajar com os elementos do discurso musical de uma maneira crítica e construtiva, fazendo julgamentos e tomando decisões’ (Swanwick 1992, p. 10)” (Swanwick, 1994, citado por França; Swanwick, 2002, p. 9). Fonte: Veloso, no prelo. TEMA 5 – O LEGADO DAS PEDAGOGIAS EM EDUCAÇÃO MUSICAL NO SÉCULO XXI As propostas pedagógicas com as quais tivemos contato ao longo desta disciplina – dos primeiros representantes das pedagogias musicais ativas aos novos posicionamentos epistemológicos em educação musical do final do século XX – constituíram iniciativas favoráveis à promoção de mudanças. Nesse caminho, os compromissos e deveres dos docentes (Figura 3) foram revisados de modo a contemplar as demandas e desafios da contemporaneidade. Assim, no tocante às ações docentes: Passou-se a prezar pela formação de professores versáteis, que busquem expandir e revisar constantemente suas concepções educacionais. O foco das iniciativas educacionais deve ser formar “alunos capazes de julgar, interpretar, analisar, contestar, defender, criticar, celebrar ou condenar seus próprios trabalhos [...]. Isso seria alcançado graças à autonomia de pensamento e atitude desenvolvidas nos estudantes” (Couto, 2014, p. 249). 11 Os anseios discentes devem ocupar o foco das ações dos educadores musicais, os quais são responsáveis por proporcionar espaços para a expressão de ideias e o desenvolvimento da criatividade. Portanto, o alcance da autonomia discente e a aprendizagem criativa devem figurar entre os objetivos dos processos de ensino em música. Figura 3 – O papel dos docentes mudou para atender aos novos desafios Créditos: 774201550 – Monkey Business Images/Shutterstock. Em resumo, a educação musical no século XX promoveu inúmeras iniciativas favoráveis à promoção de mudanças. Os professores devem, agora, ampliar suas especializações e primar pela versatilidade artística e pedagógica. Aos aprendizes, cabe o compromisso de assumirem o protagonismo e a responsabilidade pela própria aprendizagem musical. O desenvolvimento da autonomia, da liberdade criativa e da autenticidade musical deve figurar entre os objetivos centrais dos processos de ensino-aprendizagem da música. Harder (2008) descreve algumas competências docentes necessárias à prática educativo-musical: (a) ofertar aos aprendizes subsídios para que possam avaliar a própria aprendizagem musical; (b) estruturar os espaços de ensino e construir planejamentos flexíveis, incluindo particularidades dos contextos socioculturais e as demandas discentes; (c) e possuir uma vasta bagagem de conhecimentos musicais e interdisciplinares, promovendo a articulação entre os saberes de cunho teórico e prático. Esses são alguns dos caminhos para a construção de uma educação musical alinhada às demandas da atualidade. 12 NA PRÁTICA Considere o trecho a seguir: Projeto minimalismo: a primeira audição de música minimalista causou grande impacto sobre os alunos, despertando seu interesse com relação aos líderes, ideais e princípios desse movimento. Nesse caso, a informação sobre o estilo e a natureza da sua performance facilitou o engajamento dos alunos em uma segunda seção de apreciação. Passamos a experimentar a performance de trechos de peças minimalistas didaticamente selecionadas. Gradativamente, a atitude dos alunos e a qualidade musical das performances atingiu um refinamento satisfatório. Em outro momento, quando a linguagem minimalista estava bem compreendida, os alunos compuseram e realizaram pequenas peças musicalmente consistentes e interessantes. (França; Swanwick, 2002, p. 20) A citação consiste no relato de uma atividade proposta por França e Swanwick (2002). Analise essa atividade e responda às questões a seguir com base na abordagem de educação musical sugerida pelo modelo C(L)A(S)P. 1. Você identificou, nessa atividade, a presença de alguma(s) das modalidades centrais do fazer musical, de acordo com o modelo C(L)A(S)P (composição – apreciação – performance)? Qual(is)? 2. Você notou o enfoque voltado a alguma dessas modalidades centrais da experiência musical? Comente a sua resposta. 3. A atividade contemplou alguma(s) das modalidades subsidiárias do referido modelo (literatura musical – habilidades técnicas)? Qual(is)? FINALIZANDO Para encerrarmos esta incursão pedagógico-musical e organizar os conhecimentos que construímos, considere a seguinte cronologia dos eventos, temas e propostas com os quais tivemos contato ao longo de nossos estudos, conforme ilustrado na Figura 4. 13 Figura 4 – Síntese das temáticas abordadas ao longoda disciplina Não deixe de consultar os materiais complementares que indicamos e os demais recursos de aprendizagem elaborados. A didática e metodologia do ensino da música é um campo amplo e aberto a novas proposições teórico- práticas. Você está convidado(a) a desbravá-lo. Bons estudos! 14 REFERÊNCIAS A EVOLUÇÃO humana em um minuto e meio. Senta que lá vem humanas, 26 mar. 2017. Disponível em: . Acesso em: 4 nov. 2019. BEINEKE, V. Ensino musical criativo em atividades de composição na escola básica. Revista da ABEM, Londrina, v. 23, n. 34, p. 42-57, 2015. COUTO, A. C. N. Repensando o ensino de música universitário brasileiro: breve análise de uma trajetória de ganhos e perdas. Opus, Porto Alegre, v. 20, n. 1, p. 233-256, 2014. PALESTRA – Saberes Pedagógico Necessários à Educação Musical do Século XXI. Oficinas Culturais do Estado de São Paulo, 24 nov. 2014. Disponível em: . Acesso em: 4 nov. 2019. FRANÇA, C. C.; SWANWICK, K. Composição, apreciação e performance na educação musical: teoria, pesquisa e prática. Em Pauta, v. 13, n. 21, p. 5-41, 2002. Disponível em: . Acesso em: 4 nov. 2019. FRANÇA, C. C.; BEAL, A. D. D. Redimensionando a performance instrumental: pesquisa-ação no ensino de piano de nível médio. Em Pauta, v. 14, n. 22, p. 65- 84, 2004. GAINZA, V. H. Educación musical siglo XXI: problemáticas contemporáneas. Revista da ABEM, Londrina, v. 19, n. 25, p. 11-18, 2011. _____. La educación musical en el siglo XX. Revista Musical Chilena, Buenos Aires, año LVIII, n. 201, p. 74-81, 2004. HARDER, R. Algumas considerações a respeito do ensino de instrumento: trajetória e realidade. Opus, Goiânia, v. 14, n. 1, p. 127-142, jun. 2008. SOUZA, J. V. Gertrud Meyer-Denkmann – uma educadora musical na Alemanha pós-Orff. In: MATEIRO, T.; ILARI, B. (Org.). Pedagogias em educação musical. Curitiba: IBPEX, 2012. p. 219-242. SWANWICK, K. Musical knowledge: intuition, analysis and music education. London: Routledge, 1994. 15 VELOSO, F. D. D. Improvisação e o ensino de música – aportes à prática docente. Curitiba: Intersaberes. No prelo. VELOSO, F. D. D.; SILVA, F. A. C.; BENTO, V. L. A trilha sonora na sala de aula: um relato de experiência no contexto do ensino médio. In: ENCONTRO REGIONAL SUL DA ABEM, 18, Santa Maria, 2018. Anais..., São Paulo: ABEM, 2018, p. 1-15.