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Manual do Curso de Autor: Vítor Nogueira Índice 1. SAÚDE MENTAL ........................................................... 6 2. DOENÇA MENTAL ......................................................... 7 1.1 O sistema de avaliação multiaxial do DSM-IV .................................................................... 7 3. Conceito de Normalidade .............................................. 9 4. Ambiente Terapêutico ................................................. 10 1.2 Definir limites: .............................................................................................................. 11 5. O cuidar Humano como relação interpessoal ................ 13 6. A relação com a Pessoa com doença mental ................ 17 1.3 Aspectos a ter em conta ................................................................................................ 17 1.4 Fase aguda/crise ........................................................................................................... 17 1.4.1 Quais são os sinais da recaída?............................................................................... 17 7. Alguns mitos na Psiquiatria ......................................... 19 8. Como actuar perante um doente irritado, agitado ou agressivo? 21 1.5 Técnicas verbais da inversão de escalada da violência: .................................................... 21 1.5.1 O controle de si mesmo ......................................................................................... 21 1.5.2 Postura física ......................................................................................................... 21 1.5.3 A utilização das técnicas ......................................................................................... 22 9. Como actuar perante alguém que ameaça com um objecto perigoso 23 10. PSICOPATOLOGIA ...................................................... 24 1.6 Apresentação do doente ................................................................................................ 24 1.6.1 Alterações da linguagem ........................................................................................ 24 1.6.2 Alterações motoras ................................................................................................ 25 1.7 Contacto ...................................................................................................................... 26 1.8 Estado de consciencia e atenção .................................................................................... 26 1.9 Humor, afectividade e ansiedade ................................................................................... 26 1.10 Pensamento ................................................................................................................. 27 1.10.1 Alterações do curso do pensamento ........................................................................ 27 1.10.2 Alterações da posse do pensamento ....................................................................... 27 1.10.3 Alterações do conteúdo do pensamento .................................................................. 28 1.11 Alterações da percepção ................................................................................................ 28 1.12 Alterações da estrutura do eu ........................................................................................ 29 1.13 Memória ....................................................................................................................... 29 1.14 Inteligência ................................................................................................................... 30 11. DISTÚRBIOS SOMATOFORMES .................................... 31 1.15 Distúrbios de somatização .............................................................................................. 31 1.16 Distúrbio de conversão .................................................................................................. 31 1.17 Hipocondria................................................................................................................... 32 1.18 Distúrbio dismórfico-corporal .......................................................................................... 32 1.19 Perturbação da dor ........................................................................................................ 32 12. ESQUIZOFRENIA ........................................................ 33 1.20 Sintomas....................................................................................................................... 33 1.20.1 Sintomatologia Positiva ........................................................................................... 33 1.20.2 Sintomatologia Negativa ......................................................................................... 34 Pobreza do pensamento e discurso ........................................................................................ 34 Dificuldade em expressar/sentir emoções ............................................................................... 34 1.20.3 Perturbações Psicomotoras: .................................................................................... 34 1.20.4 Perturbações da aparência: .................................................................................... 34 1.21 Tipos de esquizofrenia ................................................................................................... 35 1.21.1 Simples ................................................................................................................. 35 1.21.2 Desorganizada ....................................................................................................... 35 1.21.3 Catatónica ............................................................................................................. 35 1.21.4 Paranóide .............................................................................................................. 36 1.21.5 Tipo Indiferenciado ................................................................................................ 36 1.21.6 Tipo Residual ......................................................................................................... 36 1.22 Tratamento ................................................................................................................... 36 1.23 Anamnese de enfermagem ............................................................................................ 37 13. DISTÚRBIOS DO HUMOR ............................................ 38 1.24 Mania ........................................................................................................................... 38 1.24.1 Sintomas ............................................................................................................... 38 1.24.2 Complicações ........................................................................................................ 39 1.24.3 Tratamento ........................................................................................................... 39 1.24.4 Possíveis problemas / intervenções de enfermagem ................................................. 39 1.25 Depressão .................................................................................................................... 41 1.25.1 Causas .................................................................................................................. 41 1.25.2 Sintomas ............................................................................................................... 43 1.25.3 TRATAMENTO ....................................................................................................... 44 1.25.4 Anamnese de Enfermagem..................................................................................... 44 1.26e persecutórios; O doente apresenta tipicamente: Tensão Desconfiança Hostilidade/ agressividade Olhar fixo 1.21.5 Tipo Indiferenciado Um tipo de Esquizofrenia no qual os sintomas que satisfazem o Critério A estão presentes, mas não são satisfeitos os critérios para os Tipos Paranóide, Desorganizado ou Catatónico. 1.21.6 Tipo Residual Este termo é usado para se referir a uma esquizofrenia que já tem muitos anos e com muitas seque- las. O prejuízo que existe na personalidade desses pacientes já não depende mais dos surtos agudos. 1.22 Tratamento Farmacoterapia (neurolépticos, antipsicóticos incisivos e atípicos) ECT (Eectroconvulsivoterapia) Nalguns casos o doente poderá beneficiar de Psicoterapia (familiar, grupo, comportamental, etc.). Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 37 1.23 Anamnese de enfermagem A avaliação de utentes portadores de esquizofrenia pode ser um processo complexo, baseado em informações colhidas de diversas fontes. As pessoas num episódio agudo da sua doença raramente são capazes de dar uma contribuição significativa para a sua história. Os dados podem ser obtidos de membros da família, quando possível; de antigos registos, quando disponíveis; ou de outros indiví- duos que estavam em posição de poder relatar sobre a progressão do comportamento da pessoa. A enfermeira deve se familiarizar com os comportamentos comuns ao distúrbio para obter uma avalia- ção adequada de pessoas com esquizofrenia. Avaliar se a pessoa: Demonstra capacidade de relacionar-se satisfatoriamente com outros. Reconhece as distorções da realidade. Não causou danos a si mesmo ou a outros. Tem insight. Mantém a ansiedade a um nível controlável. Demonstra capacidade de confiar em outros. Usa uma comunicação verbal apropriada nas interacções com os outros. Executa independentemente as actividades de autocuidado. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 38 13. DISTÚRBIOS DO HUMOR 1.24 Mania «Estado de humor elevado e expansivo, eufórico ou irritável» O doente em mania apresenta aceleração dos processos psíquicos e sensação de bem-estar geral e de aumento da energia, com humor expansivo ou irritável, acompanhada de falta de crítica do estado mórbido. A pessoa pode sentir-se alegre, sociável, activa, faladora, auto-confiante, inteligente e criativa. 1.24.1 Sintomas 1.24.1.1 Processos de actividade: Aumento de actividades; Agitação psicomotora: incapacidade para estar parado, andando de um lado para o outro; As necessidades de higiene não são satisfeitas (aparência bizarra); Necessidade reduzida de dormir: pode passar dias sem dormir e sem se sentir cansado. 1.24.1.2 Processos de conhecimento: Auto-estima aumentada: ideias delirantes de grandeza e sentimentos de impulsividade; Diminuição do insight – sentido auto-crítico – (julgamento muito fraco de si próprio); Aumento dos gastos (mania de grandeza); Expansividade, optimismo não justificado. 1.24.1.3 Processos ecológicos: Dificuldade na manutenção do lar; Diminuição da realização das AVD’s. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 39 1.24.1.4 Processos emocionais: A euforia jovial e inocente transforma-se em raiva e irritabilidade quando os sues desejos são frustra- dos. 1.24.1.5 Processos interpessoais: Discurso apressado, rápido, difícil de interromper e feito em tom elevado; Verborreia; Discurso caracterizado por queixas, comentários hostis ou piadas amargas; Irritabilidade, agressividade (por exemplo, se descobre um defeito físico ou de personalidade na pes- soa com quem fala, realiza mudanças abruptas de um tópico para outro no seu discurso – fuga de ideias). 1.24.1.6 Processos de percepção: Distractibilidade: incapacidade em excluir estímulos externos irrelevantes. 1.24.2 Complicações Falta de adesão ao tratamento – excesso de auto-estima; Abuso de substâncias: benzodiazepinas, álcool, drogas; Violência; Perda financeira e social. 1.24.3 Tratamento Lítio (Priadel® - estabilizador do humor) Ácido Valpróico (anticonvulsivante) Carbamazepina (anticonvulsivante) Antipsicóticos 1.24.4 Possíveis problemas / intervenções de enfermagem Problema: Comportamento hiperactivo relacionado com mania. Objectivo: Protecção do doente e dos outros contra o seu comportamento hiperactivo. Processo de actividade: Simplificação do ambiente para garantir segurança; Atitude de ―ter todo o tempo do mundo‖ para o doente; Persuadir o doente com calma; Remover quadros/cortinas coloridas, mobílias desnecessárias; Oferecer água a cada hora; Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 40 Garantir que são realizados os cuidados de higiene; Proteger o doente contra o frio; Ensinar a descarregar o excesso de energia na escrita; As actividades físicas oferecidas devem exigir grandes movimentos. Processos emocionais: Quando o doente começa a apresentar um comportamento destrutivo deve ser levado a um quarto e permanecer lá até que as suas emoções estejam sob controle; Utilização de contenções e reclusão ou intervenções terapêuticas; Descobrir as situações que o incomodam e como podem ser evitadas; O enfermeiro deve reconhecer os sinais de um ataque emocional. Processos interpessoais: Tom firme, gentil, de baixa intensidade, senso de justiça e honestidade; Evitar longas discussões e explicações; Aceitar o comportamento dos indivíduos excitados, abster-se de reprimendas ou deixá-los envergo- nhados pelas suas acções desinibidas. O enfermeiro não se deve aborrecer com o doente se ele lhe fizer críticas dilacerantes e mordazes. Processos fisiológicos: Desnutrição (a hiperactividade faz com que o doente não possa comprar, preparar e ingerir o alimen- to); perde peso e desidrata; Obstipação e distensão da bexiga: Assegurar a alimentação/ingestão de líquidos e monitorizar a sua eliminação. Realizar um exame físico adequado. Estar alerta a sinais e sintomas de doença física. Problema: Potencial para a violência dirigida a outros, relacionada com excitação e hiperactividade. Plano de acção: Seleccionar 3 membros da equipa para trabalhar com o doente; Reduzir estímulos ambientais; Colocá-lo em quarto individual; Evitar jogos competitivos; Oferecer actividades no seu quarto; Não interromper as suas actividades; Ignorar piadas e críticas; Manter a calma, não discutir e utilizar frases curtas e simples. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 41 Problema: Nutrição alterada relacionada com hiperactividade. Plano de acção: Além das refeições, oferecer lanches altamente calóricos que possam ser ingeridos de pé; Oferecer líquidos; Pesar o doente semanalmente; Identificar sinais precoces de desidratação; Se recusar ir ao refeitório, promover a alimentação no quarto; Registar cuidadosamente o que o doente come. OUTROS: 1) Perturbação do comportamento motor relacionada com a Mania e manifestada por hiperactividade. 2) Perturbação da auto-estima relacionada com a Mania e manifestada por aumento dos gastos/ ex- travagâncias financeiras. 3) Perturbação do conteúdo do pensamento relacionada com a Mania e manifestada por ideias hiper- valorizantes. 4) Perturbação do curso (ritmo) do pensamento relacionada com a Mania e manifestada por taquipsi- quia. 1.25 Depressão Trata-se de uma doença incapacitante que traz prejuízos à pessoa, à família e à sociedade afectando milhões de pessoas por todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que, nos próximos 20 anos, a depressão sairá do quar- to para o segundo lugar na lista de doenças dispendiosas e fatais, ficará atrás apenas das cardíacas (OMS, 2001). A depressão é uma doença altamente incapacitante, interpondo-sede forma decisiva e intensa na vida pessoal e profissional, social e económica das pessoas acometidas 1.25.1 Causas 1.25.1.1 Factores ocupacionais Sobrecarga de trabalho Tempos de descanso curtos Não atingimento dos objectivos Problemas com os superiores Problemas de carreira Início das aulas Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 42 Dificuldades económicas Dificuldades financeiras Despedimento Reforma 1.25.1.2 Factores familiares Fim de uma relação sentimental Relações conflituosas Problemas conjugais Divórcio Luto Separação da família Estar longe de casa Casamento Paternidade Maternidade 1.25.1.3 Factores ligados ao estado de saúde Perda da integridade física Lesões graves Doença crónica Doença debilitante Doença incapacitante Fármacos (anti-hipertensores, corticosteróides, anti-dopaminérgicos para a doença de Parkinson, etc…) 1.25.1.4 Factores ligados a acontecimentos acidentais Testemunha de acontecimentos graves Catástrofes naturais Acidentes dos quais se sinta culpado Acidentes rodoviários, domésticos, nos tempos livres Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 43 1.25.1.5 Factores ligados à violência Violência física,Violência psicológica Tortura, Assalto, Rapto Ataque terrorista, Prisão, Guerra Viver em ambientes de elevada criminalidade 1.25.2 Sintomas 1.25.2.1 Processos de actividade: Alteração psicomotora: Agitação (torcer as mãos, andar de um lado para o outro) Inibição (lentidão na fala, mutismo, diminuição de volume no discurso). Diminuição da energia: Cansaço e fadiga Perturbação do sono: Dormem por intervalos mais longos e mais frequentes que o normal. Insónia. 1.25.2.2 Processos de conhecimento: Deficiências na capacidade de pensar, de concentração ou na toma de decisões: Dificuldades de memorização. Sentimento de desvalorização ou de culpa: Avaliações negativas irrealistas do seu próprio valor ou perturbações de culpa. Delírios auto-acusatórios. 1.25.2.3 Processos ecológicos: Ambiente sujo e desorganizado. 1.25.2.4 Processos emocionais: Angústia, fatalidade, senso de catástrofe iminente, sentimentos de culpa, tristeza e vergonha; Choro fácil ou vontade de chorar sem ser capaz; Perda de interesse ou prazer em quase todas as actividades (incluindo desejo sexual): isolamento social ou negligência das ocupações agradáveis. 1.25.2.5 Processos interpessoais: Pensamentos acerca da morte, ideias suicidas ou tentativas de suicídio. A pessoa tem energia física e mental para planear e levar avante um acto auto-destrutivo (suicídio). Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 44 1.25.2.6 Processos de percepção: Baixa auto-estima; Sentimentos de desvalorização duradouros. 1.25.2.7 Processos fisiológicos: O apetite pode estar aumentado ou diminuído; Pode existir um aumento ou diminuição significativa de peso. 1.25.3 TRATAMENTO Tratamento Farmacológico: Tricíclicos (Imipramina e Amitriptilina) IMAO – Inibidor da Mono-Amino-Oxidase (Aurorix) Inibidores Selectivos de Recaptação de Serotonina – Fluoxetina, Zoloft Outros: Efexor, Remeron, Zyban… Tratamento Não - Farmacológico: Psicoterapia ECT 1.25.4 Anamnese de Enfermagem Avalie as respostas fisiológicas, cognitivas, emocionais e comportamentais características do indivíduo com um distúrbio do humor Avalie a letalidade do comportamento suicida do indivíduo Estabeleça a intenção do cliente (tentar obter alívio do estresse, vingar-se de um ente querido) Avalie o plano de suicídio: o cliente tem um plano organizado e os meios para o executar? Explore o estado mental: identifique a presença de qualquer distúrbio do pensamento, ansiedade, humor. Analise os mecanismos stressores que afetam a pessoas no momento, tendo em mente que perdas recentes, doenças crônicas, cirurgias, parto, perda da segurança financeira e perda da posição na comunidade aumentam o risco de desenvolver um quadro com caracteristicas depressivas. 1.26 Perturbações de ansiedade A ansiedade é um estado patológico caracterizado por um sentimento de medo acompanhado por sinais somáticos de hiperactividade do sistema nervoso autónomo. É diferenciada do medo que é uma resposta a uma causa conhecida. Respostas fisiológicas à ansiedade Cardiovascular Palpitações Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 45 Coração ―disparado‖ Pressão arterial aumentada Tontura Desmaio Pressão arterial diminuída Frequência cardíaca diminuída Respiratório Respiração rápida Falta de ar Pressão no tórax Respiração superficial Nó na garganta Sensação de sufocar Engasgamento Trato urinário Pressão para urinar Micção frequente Neuromuscular Reflexos aumentados Reação de tremor Contratura da pálpebra Insônia Tremores Frigidez Encrespamento, compasso Face franzida Fraqueza generalizada Pernas tremulas Movimentos desajeitados Gastrintestinal Perda do apetite Repugnância em relação ao alimento Desconforto abdominal Dor abdominal Náusea Pirose Diarréia Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 46 Respostas comportamental, cognitiva e afetiva à ansiedade Comportamental Inquietação Tensão física Tremores Reação de tremor Fala rápida Falta de coordenação Propensão a acidentes Isolamento interpessoal Inibição Fuga Anulação Hiperventilação hipervigilância Cognitivo Atenção prejudicada Concentração deficiente Esquecimento Erros no julgamento Preocupação Bloqueio do pensamentos Campo perceptual diminuído Criatividade reduzida Produtividade diminuída Confusão Hipervigilância Autoconsciência Perda da objetividade Medo de perder o controle Imagens visuais ameaçadoras Flashbacks pesadelos Afetivo Irritável Impaciência Inquietação Tensão Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 47 Nervosismo Medo Alarme Terror Agitado Dormência Culpa Vergonha 1.26.1 Tipos de Perturbações de ansiedade 1.26.1.1 Perturbação de Pânico Caracteriza-se por ataques espontâneos de pânico. Pode estar associada a agorafobia (medo de estar em espaços abertos ou no meio de uma multidão. Em realidade, o agorafóbico teme a multidão pelo medo de que não possa sair do meio dela caso se sinta mal, e não pelo medo da multidão em si.) A agorafobia pode ocorrer isolada, embora esteja mais frequente/ associada a crises de pânico Ataques de Pânico tendem a recorrer 2 a 3 vezes por semana Curso crónico com remissões e exacerbações Prognóstico é excelente com terapia. 1.26.1.2 Perturbação de Ansiedade Generalizada A característica essencial da Perturbação de Ansiedade Generalizada é uma ansiedade ou preocupa- ção excessiva (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por um período de pelo menos 6 meses, acerca de diversos eventos ou actividades. O indivíduo considera difícil controlar a preocupa- ção. A ansiedade e a preocupação são acompanhadas de pelo menos três sintomas adicionais, que inclui inquietação, fatigabilidade, dificuldade em concentrar-se, irritabilidade, tensão muscular e perturbação do sono. 1.26.1.3 Fobia simples As fobias simples são frequentes , mas poucas pessoas procuram consulta por elas A maioria das fobias simples em adultos começa na infância, altura em que as fobias simples são mui- to frequentes. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03de Maio de 2013 48 1.26.1.4 Fobia Social As fobias sociais estão centradas em torno de um medo de expor-se a outras pessoas e tem, como consequência, o afastamento e evitamento sociais. A exposição à situação social ou de desempenho provoca, quase que invariavelmente, uma resposta imediata de ansiedade, a qual pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou predisposto pela situação. 1.26.1.5 Perturbação de Stress Pós- traumático A característica essencial da P. de Stress Pós-Traumático é o desenvolvimento de sintomas caracterís- ticos após a exposição a um evento intensamente traumático, envolvendo a experiência pessoal direc- ta de um evento real ou ameaçador que envolve morte, sério ferimento ou outra ameaça à própria integridade física. Os sintomas característicos resultantes da exposição a um trauma extremo incluem uma revivência persistente do evento traumático, esquiva persistente de estímulos associados com o trauma, e sin- tomas persistentes de hipervigilância aumentada. 1.26.1.6 Perturbação Obsessivo-Compulsiva As características essenciais da Perturbação Obsessivo-Compulsiva são obsessões ou compulsões re- correntes suficientemente severas para consumirem tempo (isto é, consomem mais de uma hora por dia) ou causar sofrimento acentuado ou prejuízo significativo. As obsessões são ideias, pensamentos, impulsos ou imagens persistentes, que são vivenciados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento. A qualidade intrusiva e ina- dequada das obsessões é chamada de "ego-distónica". As obsessões mais comuns são pensamentos repetidos acerca de contaminação (por ex., ser contami- nado em apertos de mãos), uma necessidade de organizar as coisas em determinada ordem (por ex., intenso sofrimento quando os objectos estão desordenados ou assimétricos). As compulsões são comportamentos repetitivos (por ex., lavar as mãos, ordenar, verificar) ou actos mentais (por ex., orar, contar, repetir palavras em silêncio) cujo objectivo é prevenir ou reduzir a an- siedade ou sofrimento, ao invés de oferecer prazer ou gratificação. Por definição, as compulsões ou são claramente excessivas, ou não têm conexão realista com o que visam a neutralizar ou evitar. As compulsões mais comuns envolvem lavar e limpar, contar, verificar, solicitar ou exigir garantias, repetir acções e colocar objectos em ordem. 1.26.2 Anamnese de enfermagem Avalie as manifestações fisiológicas da ansiedade envolvendo a resposta de luta ou fuga e também sintomas físicos individuais especiais. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 49 Avalie as respostas comportamentais e cognitivas específicas da pessoa que são congruentes ou in- congruentes com os critérios diagnósticos estabelecidos para os distúrbios da ansiedade no DSM-IV. Reveja a história pregressa de problemas relacionados à ansiedade do cliente. Reveja os fatores de stresse internos e externos actuais Discuta com a pessoa sua própria percepção dos problemas atuais. Avalie o nível da ansiedade da pessoa Analise o uso de estratégias adaptativas 1.27 Síndromes cerebrais orgânicos As perturbações cerebrais orgânicas nas quais todo o cérebro está afectado apresentam normalmente perturbação da consciência e/ou incapacidade cognitiva. Estas podem ser acompanhadas por sintomas e sinais neurológicos. O quadro clássico nos casos agudos é chamado delirium Casos crónicos demência. 1.27.1 Delirium Quadro clínico Redução do nível de consciência; Confuso e desorientado; Inquieto, hiperactivo, amedrontado, hipoactivo, retraído; Ilusões, alucinações, ideias delirantes paranóides variadas; Diminuição da capacidade de concentração; Grau de gravidade flutuante, piorando á noite. 1.27.2 Demência 1.27.2.1 Caracterítsicas: Progressiva Irreversível Incapacidade global adquirida do intelecto e da memória Mudanças da personalidade Mudanças do humor Mudanças do comportamento Causa orgânica 1.27.2.2 Quadro clínico: Início gradual Deterioração das funções intelectuais Labilidade do humor Acentuação dos traços da personalidade→comportamentos socialmente inaceitáveis Perda de memória recente→ desorientação Crítica ausente Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 50 A consciência não está comprometida. 1.27.2.3 Tipos: 1- A demência cortical inclui perturbação das ―funções elevadas‖, por exemplo, afasia, agnosia e apraxia. 2- Na demência subcortical estas funções estão preservadas, mas o paciente apresenta lapsos de memória, é lento e apático e pode mostrar grande labilidade emocional com bruscas explosões de riso ou raiva. 1.27.2.4 Tipos específicos de demência: Demência de Alzheimer Demência vascular Doença de Pick Doença de Huntington (Coreia de Huntington) Doenças do Prião Demência HIV Lesões cerebrais focais Lesões do lobo frontal Lesões do lobo temporal 1.27.2.4.1 Demência de alzheimer Sintomas: Início gradual 1º sintoma- perda da memória recente, seguida pela deterioração de outras funções cerebrais, labili- dade emocional ou depressão persistente e mudança de personalidade Podem ocorrer, nos casos mais avançados, ideias delirantes e alucinações, convulsões e sinais neuro- lógicos. O sentido crítico está normalmente ausente e o doente chega à consulta médica porque os parentes ou vizinhos dão conta das falhas de memória, confusão, fraca higiene e auto negligência. O nível de consciência e função cognitiva tendem a flutuar; e podem ocorrer ilusões visuais ou aluci- nações. 1.27.2.4.2 Demência vascular Sintomas: • Perda de memória • Deterioração intelectual e alterações do humor • O sentido crítico e a personalidade são mantidos por mais tempo que na doença de Alzheimer Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 51 • O sentido crítico pode contribuir para a depressão que muitas vezes está presente. • A deterioração é mais por fases do que gradual, dado que ocorrem repetidamente pequenos AVC ou episódios de encefalopatia hipertensiva, que deixam marcas residuais. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 52 14. Diagnóstico de enfermagem 1.28 Diagnóstico de enfermagem - Ansiedade: Ansiedade, presente em grau (reduzido, moderado, elevado, muito elevado) Autocontrolo ansiedade, diminuído/comprometido em grau… 1.28.1 Intervenções de enfermagem Encorajar a verbalização de sentimentos, percepções e medos Ajudar na identificação de situações problema geradoras de ansiedade Evitar barreiras à comunicação: Minimizar sentimentos, Oferecer situações fáceis, Interromper discurso, Falar de si próprio, Terminar prematuramente a conversa… Facilitar a identificação das estratégias eu habitualmente adopta face a situações de ansiedade/medo Proporcionar conforto Gerir o ambiente - providenciar ambiente tranquilo; reduzir níveis de ruído Executar técnicas de relaxamento Instruir técnicas de relaxamento Treinar técnicas de relaxamento Promover a participação em actividades (música, leitura, escrita, conversar, ver televisão, jogar, fazer ginástica…) Encorajar participar actividades de grupo Reforçar positivamente a participação nas actividades Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 53 Executar técnica de reestruturação cognitiva Gerir medicação SOS 1.29 Diagnóstico de enfermagem - insónia Insónia (inicial, intermédia, terminal ou total), em grau… 1.29.1 Intervenções de enfermagem Planear o horário sono/repouso Gerir o ambiente Facilitar o sono – Planear actividades para o ocupar durante o dia; Evitar sestas longas durante o dia Executar técnicas de relaxamento Instruir técnicas de relaxamento Treinartécnicas de relaxamento Evitar a interrupção do sono - Evitar estimulantes antes de dormir e alimentos de difícil digestão ao jantar 1.30 Diagnóstico de enfermagem – Autocontrolo Auto-controlo ineficaz em grau… Auto-controlo impulso ineficaz em grau… Auto-controlo agressividade em grau… 1.30.1 Intervenções de enfermagem Identificar problema ou situação a intervir Seleccionar estratégias de resolução de problemas adequadas ao individuo Instruir pessoa sobre auto-controlo Promover auto-controlo eficaz: Ajudar a pessoa a reconhecer o problema Discutir o que o problema significa para a pessoa Ajudar a pessoa a identificar consequências do comportamento Ajudar a pessoa a identificar os factores que desencadeiam o problema Incentivar a adopção de novos estilos de vida Promover a modificação do comportamento através de técnica de modificação de comportamento Explicar funcionamento das sessões Identificar comportamento que deve ser mudado (comportamento alvo) Determinar a motivação do doente para a mudança Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 54 Informar importância da sua participação activa no processo de mudança Motivar o doente para a mudança Instruir sobre auto-monitorização do comportamento (registo sistemático do comportamento, pensa- mentos e emoções, antecedentes e consequências) Promover a auto-avaliação (comparação dos dados recolhidos com o ideal de realização, o individuo decide sobre a adequação ou inadequação dos seus comportamentos) Negociar objectivos a alcançar Reflectir sobre mecanismos de aprendizagem que o levaram a aquisição do comportamento e que promoveram a sua manutenção Reflectir reacções perante situações imaginárias para evitar impulsos Planear estratégias de mudança (planos de mudança) Validar razões apresentadas para a eficácia das estratégias Operacionalizar estratégias de mudança Treinar estratégias de mudança de comportamentos Envolver pessoa significativa no processo de mudança Informar sobre recursos formais e informais Formalizar contacto com recurso prioritário Elogiar esforços de modificação do comportamento Executar técnicas de relaxamento Instruir técnicas de relaxamento Treinar simulação de situações reais (role playing) 1.31 Diagnóstico de enfermagem - coping Coping ineficaz, em grau… 1.31.1 Intervenções de enfermagem Promover a expressão de sentimentos, medos ameaças Identificar mecanismos de coping habitualmente utilizados Promover a reorganização e reestruturação de objectivos complexos Ajudar na definição de objectivos a curto e médio prazo Informar sobre recursos disponíveis a utilizar Ajudar a identificar sistema de suporte disponível (familiar, social, laboral…) Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 55 Promover a identificação de estratégias de coping eficazes Instruir técnicas de resolução de problemas Treinar técnicas de resolução de problemas Encorajar a utilização de estratégias de coping eficazes Executar relaxamento 1.32 Diagnóstico de enfermagem - Humor Humor depressivo em grau… Muito ligeiro: sente-se um pouco triste, clinicamente pouco significativo Ligeiro: É visível e referido humor ligeiramente depressivo com alguma perda de interesse Moderado: Sente-se com alguma frequência triste Moderadamente grave: sente-se triste e quase sempre com considerável perda de interes- se Grave: predomínio do humor depressivo com perda constante de interesse e do prazer 1.32.1 Intervenções de enfermagem Disponibilizar presença (sentimentos de segurança) Gerir ambiente Oferecer escuta activa Promover expressão de sentimentos Ajudar a reconhecer sentimentos, emoções (tristeza, raiva, culpa, ansiedade) Reflectir sobre estados de humor Dar esperança, estado transitório Recuperação lenta mas real Promover sentimentos positivos Elogiar conquistas, talentos Proporcionar ajuda na tomada de decisões Incentivar participação em actividades planeadas Vigiar humor 1.33 Diagnóstico de enfermagem – Tristeza ―Tristeza é um tipo de emoção com as características especificas: sentimentos de desalento e de me- lancolia associados com falta de energia‖ (CIPE, 2001) Tristeza presente em grau… Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 56 1.33.1 Intervenções de enfermagem Disponibilizar presença (sentimentos de segurança) Gerir ambiente Oferecer escuta activa Promover expressão de sentimentos Promover sentimentos positivos Incentivar participação em actividades planeadas Vigiar tristeza Diagnóstico de enfermagem – Euforia ―Euforia é um tipo de emoção com as características específicas: sentimentos de júbilo, sentimento exagerado de bem-estar físico, e emocional que se manifesta habitualmente por extrema alegria, optimismo e autosatisfação, sem base na realidade ou na verdade, desproporcionado às causas e inapropriado à situação; associada ao estado maníaco de perturbações mentais como a doença bipo- lar ou o uso de drogas‖ (CIPE Euforia presente em grau… Intervenções de enfermagem Gerir ambiente Calmo e relaxante Retirar objectos potencialmente perigosos Gerir comunicação Utilizar restrições físicas Gerir medicação SOS Incentivar a participação em actividades Estabelecer limites sobre determinados comportamento Informar normas a cumprir Informar consequências do comportamento Ajudar a adoptar comportamentos adequados Disponibilizar presença Vigiar euforia (humor) 1.34 Diagnóstico de enfermagem – pensamento Pensamento alterado (delírios) Pensamento inadequado (bloqueio de pensamento) Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 57 1.34.1 Intervenções de enfermagem Gerir comunicação Registar frequência, duração e tema do delírio Disponibilizar presença Planear relação de ajuda Gerir actividades lúdicas Atenuar delírio Gerir ambiente Supervisionar delírio Informar família sobre delírio Gerir medicação em sos 1.35 Diagnóstico de enfermagem – Alucinação Alucinação auditiva em grau… Alucinação visual em grau… 1.35.1 Intervenções de enfermagem Gerir ambiente – providenciar ambiente calmo e sem ruído, bem iluminado (as sombras podem favo- recem o desenvolvimento de alucinações) Gerir comunicação Atenuar a alucinação Incentivar a participação em actividades lúdicas Supervisionar alucinação Informar família sobre alucinação Gerir medicação em sos Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 58 15. PSICOFARMACOLOGIA 1.36 Ansiolíticos/benzodiazepínicos Exemplos: Alprazolam (Xanax®, Unilan®) Bromazepam (Lexotan®, Ultramidol®) Clobazam (Castilium®, Urbanil®) Cloxazolam (Cloxam®, Olcadil®) Diazepam (Valium®, Unisedil®) Halazepam (Pacinone®) Lorazepam (Lorerin®, Ansilor®…) Oxazepam (Serenal®) 1.36.1 Hipnóticos/sedativos Exemplos: Estazolam (Kainever®) Flunitrazepam (Rohypnol®) Flurazepam (Morfex®) Loprazolam (Dormonoct®) Midazolam (Dormicum®) Quazepam (Prosedar®) Triazolam (Halcion®) Buspirona (Buspar®) Valdispert Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 59 1.36.2 Efeitos Secundários: - Sonolência; - Sedação; - Ataxia; - Irritabilidade; - Hostilidade; - Amnésia anterógrada; - Tolerância aumentada a alguns efeitos; - Dependência; - Aumento do apetite e do peso; - Reacções cutâneas; - Náuseas e cefaleias; - Depressão. 1.36.3 Considerações de Enfermagem: Proporcionar actividades lúdicas (ocupação); Precaução ao utilizar máquinas, condução; Estar atento a condutas anti-sociais; Retirada de forma gradual; Não consumir com álcool e/ou outras drogas; Administrar com a comida; 1.37 Antidepressivos 1.37.1 Inibidores Selectivosda Recaptação da Seretonina Exemplos: Fluoxetina (Prozac®, Nodepe®, Digassim®) Fluvoxamina (Dumirox®) Paroxitina (Seroxat®) Sertalina (Zoloft®) 1.37.2 Inibidores da Mono-Amino-Oxidase Exemplos: Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 60 Moclobemide (Aurorix®) Selegelina (Jumex®) 1.37.2.1 Efeitos Secundários: - Hipotensão postural; - Caímbras musculares; - Sonolência; - Secura da boca; - Insónia; - Crises hipertensivas. 1.37.2.2 Restrições dietéticas: - Queijo curado; - Proteínas fermentadas/curadas; - Cerveja/ vinho tinto/ licores; - Fruta muito madura; - Iogurtes. 1.37.2.3 Restrições Medicamentosas: - Descongestionantes nasais; - Alguns anti alérgicos; - Narcóticos; - Anfetaminas; - Inaladores (Asma). 1.37.3 Considerações de Enfermagem: Levantar-se lentamente; Apoiar o doente (evitar as quedas - PIC); Ocupar o doente com actividades lúdicas; Evitar trabalhar com máquinas; Utilizar exilires orais, chiclets, líquidos; Instruir para a importância de não se automedicar 1.37.4 Outros: Mianserina (Tolvon®) Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 61 Trazodone (Triticum®) Venlafaxina (Efexor®) Amitriptilina + Perfenazina (Mutabon®) Amineptina (Directim®, Survector®) Amitriptilina (Triptizol®) Imipramina (Trofanil®) Protiadena Deprimil Clomipramina (Anafranil®) 1.37.4.1 Efeitos Secundários (Tricíclicos): - Visão enevoada; - Taquicardia; - Boca seca; - Retenção urinária; - Obstipação; - Hipotensão. 1.38 Antipsicóticos 1.38.1 Fenotiazinas Exemplos: Ciamemazina (Tercian®) Levomepromazina (Nozinan®) 1.38.2 Butiferonas Exemplos: Haloperidol (Haldol®, Serenelfi®) Melperona (Bunil®) 1.38.3 Depot (de acção prolongada) Exemplos: Anatensol Decanoato Haldol Decanoato Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 62 1.38.4 Outros: Clozapina (Leponex®) Olanzapina (Ziprexa®) Amisulpride (Amitrex®, Socian®) Sulpiride (Dogmatil®) Fluanxol Clorpromazina (Largactil®) Risperidona (Risperdal®) Quetiapina (Seroquel®) 1.38.5 Características Gerais dos Neurolépticos Bloqueiam os receptores dopaminérgicos; Melhoram os transtornos perceptivos e cognitivos de certas patologias mentais; Não provocam dependência; Têm uma larga margem de segurança; Baixo limiar convulsivo; São lipossolúveis – boa distribuição; Efeitos secundários centrais e periféricos. 1.38.6 Contra-Indicações 1.38.6.1 Absolutas: Miastenia Gravis; Doença de Adisson; Glaucoma; Depressão da Medula Óssea; Doença Hepática; Comas tóxicos 1.38.6.2 Relativas: Doença Renal; Distúrbios Cardiovasculares (AVC); Epilepsia; Doença de Parkinson; Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 63 Infecção grave. 1.38.7 Interacções Medicamentosas: Anti-ácidos e Cimetidina - ↓ absorção dos neurolépticos; Anti-colinérgicos; Anti-hipertensores; Anti-convulsivantes; Barbitúricos. 1.38.8 Farmacocinética: Per’os → pico plasmático entre 2 – 4 horas. I.M. → pico plasmático entre 10 – 30 minutos. 1.38.9 Efeitos Secundários dos Neurolépticos 1.38.9.1 Neurológicos: Discinésias agudas; Síndrome Parkinsónico; Acinésia; Discinésias tardias; Acatasia; Crises convulsivas. 1.38.9.2 Neuro-vegetativos 1.38.9.2.1 Cardiovasculares: Hipotensão Ortostática; Anormalidades no ECG; Taquicardia. 1.38.9.2.2 Modificações da regulação térmica: Hipotermia; Síndrome Maligno dos Neurolépticos. 1.38.9.3 Digestivos: Anorexia; Hipo/Hipercialorreia; Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 64 Obstipação; Secura da boca. 1.38.9.4 Metabólicos e endócrinos: Aumento de peso; Alterações menstruais; Galactorreia; Ginecomastia; Diminuição da libido; Disfunção eréctil; Anorgasmia. 1.38.9.5 Natureza psíquica: Depressão; Indiferença; Passividade; Ansiedade; Estados confusionais. 1.38.9.6 Alérgicos e tóxicos 1.38.9.6.1 Cutâneos: Hipersensibilidade à luz; Dermatites de contacto; Malanose; Prurido; Exantema. 1.38.9.6.2 Oftalmológicos: Retinites pigmentares; Dificuldades de acomodação. 1.38.9.6.3 Hepáticos: Icterícia; Hepatite tóxica. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 65 1.38.9.6.4 Hematopoiéticos: Acidentes trombo-embólicos; Leucopnia; Agranulocitose; Eosinofilia. 1.38.10 Alterações do Movimento Induzidas por Neurolépticos 1.38.10.1 Acatisia Características: Necessidade urgente de movimentação; Impossibilidade de estar quieto; Não confundir com ansiedade e agitação. Tratamento: Redução da dose ou mudança de droga; Antiparkinsónicos ou benzodiazepinas. 1.38.10.2 Parkinsonismo Características: Bradicinésia, Rigidez; Tremor. Tratamento: Antiparkinsónicos. 1.38.10.3 Distonia aguda Características: Espasmos musculares da língua, face, pescoço, tronco; Crises oculogiras; Diagnóstico diferencial: convulsões, histeria de conversão. Tratamento: Antiparkinsónicos: diagnóstico e curativo. Biperideno oral ou injectável. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 66 1.38.10.4 Acinésia Características: Pobreza da mímica corporal; Apatia; Diagnóstico diferencial: depressão. Tratamento: Se possível reduzir a dose; Antiparkinsónicos. 1.38.10.5 Tremor perioral Características: Tremor. Tratamento: Antiparkinsónicos. 1.38.10.6 Discinésias Características: Por sevrage: por retirada abrupta da medicação; Tardia (discinésia orofacial, coreoatetose generalizada). Tratamento: sevrage: retomar a droga anterior em doses semelhantes e, após melhoria clínica, redução da dose em 4 a 6 semanas. Tardia: prevenção, tratamento decepcionante, tentase: amantidina, clonidina, lecitina e colina. 1.38.10.7 Catatonia Características: Rara; Isolamento; Mutismo; Posturas bizarras; Rigidez e imobilidade. Tratamento: Tratar as complicações médicas; Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 67 Redução e paragem dos neurolépticos. 1.38.10.8 Sindrome maligno dos neurolépticos Características: Alterações da consciência, do estupor ao coma; Rigidez, febre, leucocitose e CPK elevedo. Tratamento: Paragem dos neurolépticos; Equilíbrio hidroelectrólitico; Tratamento das complicações médicas; Dantroleno é útil. 1.39 Estabilizadores do humor 1.39.1 Carbonato de lítio (Priadel®) – PMD NOTA: A sua absorção é boa e a eliminação é renal, requer doseamentos séricos periódicos uma vez que LITÉMIAS ≥ 2mg/dl produzem efeitos tóxicos muito graves. 1.39.1.1 Efeitos Secundários: Tremor ligeiro; Fadiga; Cefaleias; Poliúria; Polidipsia; Desconforto gástrico; Náuseas; Vómitos; Diarreia. 1.39.2 Anticonvulsivantes Exemplos: Carbamazepina (Tegretol®) Valproato de Sódio (Diplexil®) Depakine Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 68 16. Electroconvulsivoterapia «Indução de crises convulsivas, mediante a passagem de uma certa quantidade de corrente eléctrica através do cérebro do doente provocando-lhe a perda de consciência e crises convulsivas generaliza- das do tipo grande mal.» 1.40 ECT Simples: Sem qualquer tipo de indução anestésica, a ―sangue frio‖. O doente observa tudo, está perfeitamente consciente. 1.41 ECT Modificado: Com prévia indução anestésica – administrado um hipnótico/anestésico (Pentothal®, IV) antes da descarga eléctrica. Relaxante muscular: Trilux® - suprimir as convulsões e interromper os movimentos respiratórios, ficando o doente em apneia, corrigida através de ventilação mecânica. Sulfato de Atropina IV, administrado imediatamenteantes do hipnótico, evita a acumulação de exces- sivas secreções. 1.42 Fases do tratamento 1.42.1 Fase de latência: Medeia entre a descarga eléctrica e a fase tónica. Caracteriza-se pela perda de consciência e que se prolonga por um período aproximado de 10 segundos. 1.42.2 Fase tónica: É caracterizada por uma forte contracção, acompanhada de convulsões tónicas cadenciadas e de certa amplitude. Observa-se ainda midríase, hipersecreção salivar. 1.42.3 Fase clónica: Surge logo de seguida e caracteriza-se por movimentos sacudidos ritmados (convulsões clónicas) os quais de princípio, são rápidos e pequenos, tornando-se mais forte até que desaparecem depois de 30 a 40 segundos. O doente geralmente apresenta miose, cianose e taquicardia. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 69 1.42.4 Fase comatosa: Curto período de apneia, após o qual se segue um período de estado comatoso, que pode manter-se durante cerca de 15 a 30 minutos, após o qual o doente desperta de forma confusa. 1.43 Indicações terapêuticas 1ª ESCOLHA: Quando há necessidade de uma melhoria rápida, seja por complicações clínicas ou psiquiátricas; Quando os riscos de outros tratamentos são maiores que o da electroconvulsivoterapia; Quando existe história prévia de fraca resposta aos psicofármacos e/ou boa resposta à ECT; Quando o doente prefere este tipo de tratamento. 2.ª ESCOLHA: Ausência de resposta terapêutica adequada; Severos efeitos colaterais inevitáveis ou maiores do que aqueles que podem resultar da ECT; Agravamento do quadro clínico psiquiátrico. 1.43.1 Indicações major: Transtorno Afectivo Monopolar: Depressão Major; Melancolia/Tristeza. Transtorno Afectivo Bipolar Transtornos Esquizofrénicos Psicoses Atípicas e Reactivas 1.44 Contra-indicações: Aumento da pressão intra-craniana; Lesão expansiva do sistema nervoso; Traumatismo Craniano recente; AVC em evolução. Precauções adicionais nos seguintes casos: Enfarte recente do miocárdio (menos de 30 dias); Arritmias cardíacas; Doença coronária; Hipertensão Arterial grave (não controlada); Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 70 Trombose Venosa não tratada; Glaucoma; Hipo ou Hipercaliémia. 1.44.1 Contra-indicação absoluta: Tumores Cerebrais 1.44.2 Interacções medicamentosas Anticonvulsivantes e Benzodiazepinas: o seu uso deve ser evitado ou reduzido ao mínimo, uma vez que aumentam o limiar convulsivo. Antidepressivos: não devem ser administrados na manhã do tratamento, pois podem interagir com o anestésico ou dificultar a indução da convulsão. Antipsicóticos: podem ser mantidos, mas devem evitar-se aqueles com pronunciado efeito sedativo, como sejam a Clorpromazina (Largatil®) e a Levomepromazina (Nozinan®). Carbonato de Lítio (Priadel®): apesar de não haver consenso sobre esta prática, recomenda-se a sua suspensão de 2 a 7 dias antes do início do tratamento e sugere-se que a litémia esteja abaixo de 0,5 mg/dl. Anticoagulantes: aumentam o risco de hemorragia cerebral. Teofilina e Cafeína: podem aumentar a duração da convulsão por diminuição do limiar convulsivo. Devem ser mantidos no dia do tratamento: Betabloqueantes; Antiarrítmicos; Cardiotónicos; Vasodilatadores coronários; Corticóides. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 71 17. RELAXAMENTO Meio terapêutico que incide directa ou indirectamente no tónus muscular 1.45 Indicações Gerais: Auto-controlo da ansiedade Auto-controlo da dor aguda e dor crónica Auto-controlo do ritmo respiratório e cardíaco Preparação para o parto Problemas psicossomáticos Disfunções sexuais de origem ansiosa Depressões ansiosas Insónia 1.46 Contra-indicações: Crises agudas de ansiedade Depressões endógenas graves Surtos psicóticos 1.47 Características do técnico e ambiente Possuir formação e treino em técnicas de relaxamento Capacidade de comunicação, dicção, tom de voz Explicar ao doente objectivos do relaxamento Ambiente calmo, arejado, acolhedor, semi-obscurecido Cadeirão confortável e/ou colchões Música ambiente 1.48 Técnica da Respiração Utilizado há séculos no Oriente e na Índia Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 72 Indicações terapêuticas: ansiedade, insónia, irritabilidade, depressão, fadiga e ainda, respiração su- perficial, mãos e pés frios Exercícios: Percepção da respiração (torácica, abdominal, mista) Respiração profunda 1.49 Técnica de Imaginação dirigida Utiliza-se a imaginação, pensamento positivo para reduzir ansiedade Objectivo: atingir o relaxamento através da criatividade, isto é, da construção de impressões sensori- ais mentais Escolha de um loca agradável, imaginário ou real, experienciar as sensações, omitindo o que é desa- gradável Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 73 18. RELAÇÃO DE AJUDA O papel do profissional de "Relação de Ajuda" não é o de fornecer soluções ou estratégias previamente definidas para a resolução da situação-problema, mas antes agir de modo a que o outro compreenda melhor a sua situação e se compreenda melhor a si mesmo. SEQUEIRA (2006 p. 156), define a relação de ajuda como ―[…] uma relação na qual aquele que ajuda fornece ao outro, condições que ele necessita tendo em vista a satisfação das suas necessidades humanas fundamentais. Se a pessoa ajudada não tem uma participação activa durante a relação, então, não há interacção mas sim informação sem retro-acção, isto é, a sua experiência não é utilizada neste processo interactivo.‖ Segundo Rogers a relação de ajuda constitui "uma relação na qual pelo menos uma das partes procura promover na outra o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida" (RAFAEL s.d.) Já CHALIFOUR (2008, p.33), define que ―[…] a relação de ajuda1 consiste numa interacção particular entre duas pessoas, o interveniente e o cliente, cada uma contribuindo pessoalmente para a procura e a satisfação de uma necessidade de ajuda. […]‖. 1 Todo o processo da relação de ajuda é composto por diversas fases, sendo estas um continuum e que as tare- fas ligadas a um dado período prosseguem ao longo de toda a relação. CHALIFOUR (2008 pp. 124-128) define as seguintes fases: - A fase de orientação da relação: […] tem início como o primeiro encontro e perdura até à definição da neces- sidade de ajuda. […] No decurso das entrevistas, o interveniente deve prestar atenção particular a um certo número de aspectos […] [que poderão variar de acordo com o contexto de prática clínica] favorecer a criação de um clima de confiança; clarificar os papéis assumidos por cada um na relação; acompanhar o cliente na ex- pressão da sua necessidade de ajuda; informar o cliente dos recursos humanos e físicos à sua disposição; e es- clarecer o cliente acerca das rotinas, políticas e regulamentos da instituição […] - A fase de trabalho ou de emergência das identidades: […] o interveniente esclareceu a necessidade de ajuda e as expectativas do cliente […] de modo a seleccionar os meios que vai utilizar para responder à sua necessi- dade. […] algumas intervenções que facilitam a realização desta etapa […] [são:] definir as estratégias suscep- tíveis de responder à necessidade do cliente e favorecer a aprendizagem e expressão de novos comporta- mentos […] Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 74 Assim, estabelecer uma "Relação de Ajuda", significa que o profissional crie as condições relacionais que permitam àquele que pede ajuda, encontrar a melhor solução, o melhor caminho para si, no sentidode ultrapassar as suas dificuldades ou problemas. Para TRAVELBEE ―[…] o enfermeiro-se torna instrumento de ajuda que pode actuar de maneira compreensiva, colocando sempre o paciente no centro de sua assistência. Para isso, ele deve ser capaz de perceber as necessidades do paciente, unindo-se a ele, ajudando-o a adquirir atitudes necessárias, para que se previna e enfrente a experiência de adoecer, bem como colaborar para que possa encontrar significados para estas experiências.‖ (FANES e MAFTUM s.d., 3) Este processo de redescoberta por parte da pessoas, dos seus próprios recursos e potencialidades, permite-lhe a adquisição de uma maior confiança em si própria e consequente aumento da sua autonomia, maior empenho e responsabilidade pelas suas decisões. Por outro lado, permite-lhe descobrir as suas capacidades e limitações e daí maior consciência de si como pessoa, e maior preparação para enfrentar situações difíceis no futuro. Este é então uma processo activo no qual o técnico está empenhado em compreender a mensagem completa, quer o conteúdo cognitivo, quer emocional, que a outra pessoa está a transmitir. Este método não é um diálogo no sentido da troca de pontos de vista mas sim um diálogo, no qual o técnico está centrado no quadro de referências interno do outro, tentando compreender a realidade como o outro a vê e sente. Por outras palavras é importante o técnico ―saber escutar‖ para que possa percepcionar a situação tal como ela é vivenciada pelo outro e de acordo com o significado exacto que ela tem para o depressivo. Para Thomas Gordon (RAFAEL s.d.), a "escuta activa constitui um método poderoso para ajudar a outra pessoa a resolver determinado problema desde que quem escuta seja capaz de aceitar que o problema é do outro e permita à pessoa de forma consistente encontrar as suas próprias soluções." Implica igualmente uma aferição por parte do enfermeiro, no sentido de percepcionar e confirmar se a sua compreensão é exacta, o que pressupõe uma atitude de acompanhamento e não de ―inquiridor‖ ou explorador. Esta atitude, requer um respeito pelo outro, sem julgamento. Assim o depressivo pode sentir-se autónomo para reconhecer e elaborar as suas experiências da forma como entender e não como julga ser conveniente para o outro. ―[…] Para tal o interveniente [enfermeiro] adopta um modo de estar e de fazer, e comunica-o deforma verbal e não verbal em função dos objectivos a alcançar. Os objectivos estão ligados ao pedido do cliente e à compreensão que o profissional tem dessa dificuldade.‖ (CHALIFOUR 2008, 33). Em suma, se estão presentes estas condições, e se se mantém ao longo da Relação de Ajuda, obtêm- se resultados, que ocorrem ao nível da personalidade e do comportamento da pessoa. A pessoa tende a evoluir para um estado de maior "acordo interno", mais livre e menos defensivo, no qual, am - A fase da conclusão: [caracteriza o fim da relação. Segundo as circunstâncias que envolvem esta etapa, os seguintes aspectos são susceptíveis de facilitar a sua passagem. Comunicar a suas impressões quanto à rela- ção que se conclui e assegurar a transição do cliente entre a sua situação actual e a sua situação futura […] Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 75 percepção de si e dos outros é mais objectiva e aumenta a auto-estima, a tolerância e aceitação pelos outros. O indivíduo torna-se cada vez mais capaz de lidar com os seus problemas e de os resolver. […] O enfermeiro deve comprometer-se com o paciente, interessando-se por ele, por seus pensamentos, sua situação de vida, seu sofrimento e estar disposto a ajudá-lo a encontrar respostas ou saídas para situações possíveis de ser resolvidas, como também tornar-se capaz de apoiá-lo naquelas situações que não podem ser modificadas (TRAVELBEE, cti por: (FANES e MAFTUM s.d.) A melhor forma de estabelecer vínculo com a pessoa é a presença frequente e interessada, sempre demonstrando apoio e compreensão mesmo que ele fale pouco. A simples presença do profissional indica que ela é vista como uma pessoa de valor. É preciso ajustar-se ao ritmo da pessoa, falando mais devagar e dando mais tempo para que ela responda. Deve-se chamá-la pelo nome e escutá-la. Estudando os relatos sobre a vida e os interesses dessa pessoa é possível selecionar tópicos que permitam a criação de comunicações que despertem seu interesse. O que está em causa numa situação de doença, não é apenas, nem principalmente, um processo fisiopatológico, mas antes e sobretudo, uma experiência humana. Enquanto tal, pode ser ou não muito enriquecedora dependendo não só de quem a vive, mas também, de com quem a vive. Aqui, podem assumir papel de destaque os enfermeiros. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 76 19. FAMÍLIAS E SUAS DINÂMICAS O conceito de família é uma entidade da qual a maioria tem noção do que se trata, tanto pelo conhe- cimento da sua própria família, como pela observação da dos outros. Se pedirmos a alguém que descreva uma família, este terá a tendência de referir a família nuclear, em que os descendentes estão unidos aos progenitores pelo vínculo biológico. Nesta óptica relacional sistémica, a família funciona como uma entidade, onde a interacção das suas partes mantém uma interdependência recíproca, capaz de controlar o seu equilíbrio. Para Pauline Boss, conceber uma família como um sistema significa que ―o todo é mais do que a soma de cada uma das partes. No contexto familiar cada elemento influencia os restantes e é também influenciado por eles.‖ (cit. por SERRA, 1999 p.531). Assim, o que ocorre dentro e fora dela vai influenciar o seu equilíbrio. É um sistema em constante transformação, por factores internos à sua história e ciclo de vida em interacção com as mudanças sociais. A sua história percorre a dialéctica continuidade/ mudança, entre vínculos de pertença e necessidade de individualização. É no cenário familiar que aprendemos a defi- nir-nos como diferentes e a enfrentar os conflitos de crescimento. Monique Morval et. al. referem que uma família é um grupo de indivíduos em interacção. O que acontece a um dos membros (seja uma doença grave, a aposentação, ou o simples recomeço do ano escolar) repercute-se nos restantes. O que ocorre à família no seu todo (por exemplo a perda de bens, uma catástrofe ou a melhoria de condições económicas) vai ter impacto sobre cada um dos elementos. (cit. por SERRA, 1999 p.531) Assim, face às ameaças e às dificuldades das famílias, os pedidos de intervenção surgem quando esta sente ameaçada a sua organização. De acordo com Subtil et. al., (…) perante a necessidade de enfrentar novos problemas ou exigências, a família tenta manter a sua homeostasia, utilizando as capacidades e recursos que possuía, os significados que atribui à situação problemática e ao que deve Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 77 fazer para lidar com ela, isto é às suas capacidades. O resultado dos esforços para conseguir um funcionamento equilibrado traduz-se em termos de ajus- tamento ou adaptação familiar.‖ (cit. por COELHO et. al. 2002 p.157) As adaptações positivas reflectem-se na saúde mental da família e dos seus membros, no desempe- nho de papéis e na manutenção da unidade familiar que, por sua vez, permite cumprir as tarefas do seu ciclo de vida. Minuchin (cit. por ALARCÃO, 2006) definiu a estrutura familiar como um conjunto invisível de necessi- dades funcionais que organiza o modo como os elementos da família interagem uns com os outros. A partir destas interacções, formulam-se regras que vão padronizar as condutas no seio da família. A família é um sistema, e, como tal, uma mudançanum dos membros provoca necessariamente reper- cussões sobre todos os membros da célula familiar. A doença crónica provoca um mal estar familiar, sobretudo devido à mudança progressiva, mas por vezes abrupta do familiar que, a pouco e pouco, muda de comportamento ou perde capacidades. Ele que antes foi um modelo de referência e de imi- tação, torna-se de repente dependente, levando a uma inversão de papéis entre os filhos e pais, ou por vezes a nível conjugal. A situação de crise provocada pela doença vai levar as famílias ou a atitu- des de desadaptação, mantendo a homeostasia, ou então a mudanças que levarão necessariamente a uma adaptação em relação à doença, redefinindo fronteiras, reestruturação das funções e atitudes comportamentais (cfr. SUBTIL, et al., 1995). Frequentemente, trata-se o sintoma expresso pela lesão psíquica, esquecendo-se o ser humano e os seus familiares. A doença do familiar traz necessariamen- te sofrimento variável, pois o indivíduo existe num contexto biopsicosocial, com expressões emocio- nais de medo, ansiedade, depressão, desespero e ameaças, por vezes indescritíveis. Pode levar, mesmo, ao isolamento do cônjuge ou dos outros membros. Porém, não cabe só à família ocupar-se da pessoa com depressão. A sociedade também tem uma responsabilidade, através do desenvolvi- mento de apoio a nível social, psicológico às pessoas e familiares. Trabalhar com os familiares para integrar o(a) deprimido(a) a nível social, manter as suas competências, reduzir as lacunas entre o que ele era antes, o que é hoje e o que será amanhã, para levar ao luto do passado, à realidade do pre- sente e a uma expectativa concreta em relação ao amanhã. A saúde física e emocional dos membros da família ocupa um papel muito importante no funciona- mento e na dinâmica familiar, uma vez que as pessoas estão interconectadas e são dependentes umas das outras. Ao ocorrer qualquer alteração de saúde num desses membros, todos os demais serão afectados, e a unidade familiar, como um todo, sofrerá alterações, ou seja, a família influencia a saúde e bem-estar dos seus membros, mas pode sofrer as influências da saúde, do bem-estar e do mal-estar dos seus membros. Identificar como é a vida dos membros na família, que padrões de soli- dariedade se desenvolvem no interior do universo familiar e como estes podem contribuir para o pro- cesso de cuidado, cura ou reabilitação de um de seus membros são factores relevantes. Diante de tais considerações, a família não pode ser vista apenas como aquela que cumpre as acções determinadas por profissionais de saúde. Ao reconhecer o papel da família em responder pela saúde de seus mem- bros, o profissional deve considerar as dúvidas, opiniões e actuação da família na proposição das suas Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 78 acções e promover o contexto familiar para desencadear as mudanças e estratégias, propiciando o seu encorajamento para lidar com o seu familiar doente (cfr. CONN, 2001 p. 297). O sistema cultural é imprescindível para melhorar as relações afectivas e as delimitações de papéis a serem desempenhados dentro da dinâmica familiar, pois influencia a responsabilidade que cada um tem. Qualquer tentativa de tratar o indivíduo isoladamente de sua família é inútil para ele, pois os principais passos para a promoção da saúde mental e seu tratamento devem ser planeados dentro do contexto familiar (cfr. CNRSSM, 2007 p.16) 1.50 Negação da doença A família deve estar adequadamente orientada no sentido de que os comportamentos dos pacientes são originários de uma doença, pois existem ocasiões em que o paciente se nega a aceitar o trata- mento, mostrando-se contrário às orientações. A família, no contexto sócio-cultural é um núcleo básico de atenção à saúde. Neste sentido, o traba- lho, que congregue a atenção à família, deve ser valorizado. 1.51 Alteração da comunicação, com silêncios prolongados Conversam sobre a doença, mas não sobre os efeitos para a pessoa e família. Só quem passou por um quadro psicopatologico sabe o quanto é sofrido precisar reagir e não conseguir fazê-lo sozinho, pois este sofre calado na sua insegurança. Pode aceitar o estigma de ―fraco‖, além de temer o rótulo de ―doente mental‖ e de ―louco‖ (cfr. WILKINSON, et al., 2005 p. 150). 1.52 Inversão de papéis e medo Frequentemente, a inversão de papéis em geral ocorre quando o diagnóstico de doença mental é feito no membro responsável como o pai, a mãe, sendo o cuidado do paciente transferido para os filhos (administração de medicamentos, acompanhamento em consultas ou em grupos de apoio ou vigilân- cia) (cfr. FIGURIREDO, et al., 2007 p. 169). O medo gerado na família, pelo facto de o paciente já ter tentado suicídio, enfatiza os aspectos de vigilância, mas não os da atenção psicológica. Por isso, os pensamentos relativos à morte devem ser sistematicamente investigados, uma vez que essa conduta poderá prevenir actos suicidas, dando en- sejo ao doente de se expressar a respeito. O pessimismo é detectável a partir do olhar negativista em relação à visa e ao seu futuro, bem como do surgimento de preocupações sérias, por parte do pacien- te, a respeito de pessoas próximas e queridas, reflectidas como medo da separação ou morte, e acompanhadas de grande ansiedade. Há que avaliar o lugar que o paciente ocupa a nível das interacções familiares. Deixar a família com este paradoxo ―como mudar sem nada mudar‖, deveria ser como transformar as relações actuais nou- tras diferentes, encontrando uma distância diferente que não traga sofrimento a uns e outros, inter- vindo no momento da comunicação de uma doença que vai levar a curto, médio ou longo prazo, à Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 79 dependência, que é incapacitante não só para o indivíduo, mas também para as pessoas à sua volta, como os familiares. É necessário intervir junto da família, dando as informações necessárias para a compreensão da doença do familiar para que a visão acerca do seu comportamento mude; mudando também a perspectiva do acompanhamento do utente e familiares, implicando-os na mudança de comportamento, ajustamento e stress face à doença; e comunicando a existência dos serviços que poderão intervir junto do doente como alternativa possível para evitar o esgotamento das famílias ou, pelo menos, manter o estado do doente, evitando assim a sua deterioração e dando-lhe a melhor qualidade de vida. (cfr. WILKINSON, et al., 2005 p. 150; cfr. CNRSSM, 2007 p.86; cfr. CONN, 2001 pp. 297-302) 1.53 Aumento do dispêndio financeiro As enormes pressões psicológicas, sociais e económicas criam necessidades de ajustes e adaptações no contexto familiar, pois há gastos gerados para aquisição do tratamento de um de seus membros, levando à diminuição do poder aquisitivo. Dificuldades para lidar com a solução de problemas, como a perda de bens materiais ou valores, podem acontecer quando o indivíduo atribui a causa do problema a algum erro, tem dúvidas sobre sua capacidade para solucionar problemas ou lidar com a situação actual, e se sente culpado e fracassado por não corresponder mais às suas expectativas, muitas vezes projectadas na sociedade. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 80 Em suma, a rapidez necessária para atender a todos os pacientes que esperam na sala de espera do Centro de Saúde, o uso da tecnologia e o imediatismo de nossos tempos fazem esquecer, muitas ve- zes, a singularidade da pessoa que está a ser alvo dos nossos cuidados. A sua história de vida, está por vezes presente na ficha de anamnese, mas o tratamento é realizado de forma homogénea para todos. Ainda se questiona o porquê de algumas pessoas apresentarem melhorias e outras só terem regressões. Afinal, o tratamento é igual. E as pessoas são todas iguais? São diferentes?Ou são iguais e diferentes, dependendo do aspecto observado? Para melhorar a qualidade de vida do doente é necessário: primeiro, ter objectivos realistas; segundo, avaliar e definir o problema e as prioridades do doente; planear os cuidados, o que implica o forneci- mento de informação e discussão do problema com o doente e a sua família; implementar planos de acção pelo doente e técnicos de saúde – objectivo que pode ser alcançado melhorando os sintomas físicos e psicológicos; e, por último, avaliar os resultados da intervenção e reavaliar o problema (cfr. MORIARTY, et al., 2005). Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 81 20. Contactos Vítor Manuel Antunes Nogueira Telm. 00351936777395 Email: vmanogueira@iol.ptPerturbações de ansiedade ............................................................................................ 44 1.26.1 Tipos de Perturbações de ansiedade ....................................................................... 47 1.26.2 Anamnese de enfermagem ..................................................................................... 48 1.27 Síndromes cerebrais orgânicos ....................................................................................... 49 1.27.1 Delirium ................................................................................................................ 49 1.27.2 Demência .............................................................................................................. 49 14. Diagnóstico de enfermagem ........................................ 52 1.28 Diagnóstico de enfermagem - Ansiedade: ....................................................................... 52 1.28.1 Intervenções de enfermagem ................................................................................. 52 1.29 Diagnóstico de enfermagem - insónia ............................................................................. 53 1.29.1 Intervenções de enfermagem ................................................................................. 53 1.30 Diagnóstico de enfermagem – Autocontrolo .................................................................... 53 1.30.1 Intervenções de enfermagem ................................................................................. 53 1.31 Diagnóstico de enfermagem - coping ............................................................................. 54 1.31.1 Intervenções de enfermagem ................................................................................. 54 1.32 Diagnóstico de enfermagem - Humor ............................................................................. 55 1.32.1 Intervenções de enfermagem ................................................................................. 55 1.33 Diagnóstico de enfermagem – Tristeza ........................................................................... 55 1.33.1 Intervenções de enfermagem ................................................................................. 56 1.34 Diagnóstico de enfermagem – pensamento .................................................................... 56 1.34.1 Intervenções de enfermagem ................................................................................. 57 1.35 Diagnóstico de enfermagem – Alucinação ....................................................................... 57 1.35.1 Intervenções de enfermagem ................................................................................. 57 15. PSICOFARMACOLOGIA ................................................ 58 1.36 Ansiolíticos/benzodiazepínicos ........................................................................................ 58 1.36.1 Hipnóticos/sedativos .............................................................................................. 58 1.36.2 Efeitos Secundários: ............................................................................................... 59 1.36.3 Considerações de Enfermagem: .............................................................................. 59 1.37 Antidepressivos ............................................................................................................. 59 1.37.1 Inibidores Selectivos da Recaptação da Seretonina ................................................... 59 1.37.2 Inibidores da Mono-Amino-Oxidase ......................................................................... 59 1.37.3 Considerações de Enfermagem: .............................................................................. 60 1.37.4 Outros: .................................................................................................................. 60 1.38 Antipsicóticos ................................................................................................................ 61 1.38.1 Fenotiazinas........................................................................................................... 61 1.38.2 Butiferonas ............................................................................................................ 61 1.38.3 Depot (de acção prolongada) .................................................................................. 61 1.38.4 Outros: .................................................................................................................. 62 1.38.5 Características Gerais dos Neurolépticos .................................................................. 62 1.38.6 Contra-Indicações .................................................................................................. 62 1.38.7 Interacções Medicamentosas: ................................................................................. 63 1.38.8 Farmacocinética: .................................................................................................... 63 1.38.9 Efeitos Secundários dos Neurolépticos ..................................................................... 63 1.38.10 Alterações do Movimento Induzidas por Neurolépticos .......................................... 65 1.39 Estabilizadores do humor ............................................................................................... 67 1.39.1 Carbonato de lítio ................................................................................................... 67 1.39.2 Anticonvulsivantes .................................................................................................. 67 16. Electroconvulsivoterapia .............................................. 68 1.40 ECT Simples: ................................................................................................................. 68 1.41 ECT Modificado: ............................................................................................................ 68 1.42 Fases do tratamento ...................................................................................................... 68 1.42.1 Fase de latência: .................................................................................................... 68 1.42.2 Fase tónica: .......................................................................................................... 68 1.42.3 Fase clónica: ......................................................................................................... 68 1.42.4 Fase comatosa: ..................................................................................................... 69 1.43 Indicações terapêuticas ................................................................................................. 69 1.43.1 Indicações major: .................................................................................................. 69 1.44 Contra-indicações: ........................................................................................................ 69 1.44.1 Contra-indicação absoluta: ..................................................................................... 70 1.44.2 Interacções medicamentosas .................................................................................. 70 17. RELAXAMENTO .......................................................... 71 1.45 Indicações Gerais: ........................................................................................................ 71 1.46 Contra-indicações: ........................................................................................................ 71 1.47 Características do técnico e ambiente ............................................................................. 71 1.48 Técnica da Respiração ................................................................................................... 71 1.49 Técnicade Imaginação dirigida ...................................................................................... 72 18. RELAÇÃO DE AJUDA ................................................... 73 19. FAMÍLIAS E SUAS DINÂMICAS .................................... 76 1.50 Negação da doença ....................................................................................................... 78 1.51 Alteração da comunicação, com silêncios prolongados ..................................................... 78 1.52 Inversão de papéis e medo ............................................................................................ 78 1.53 Aumento do dispêndio financeiro ................................................................................... 79 20. Contactos .................................................................. 81 Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 6 1. SAÚDE MENTAL A assistência em saúde mental abrange não só assistência psiquiátrica, mas também assistência em saúde, odontológicas, sociais, jurídica, reabilitação, educação e garantia de trabalho, etc., capaz de assegurar a escuta e implementação dos direito de cidadania das pessoas garantindo-se o direito de escolha pelos serviços profissionais de sua preferência. Assim todos os cuidados que visem garantir o bem estar físico, mental e emocional dos seus cidadãos, e as exigências mínimas de higiene, seguran- ça, condições ecológicas e ambientais, conforto, privacidade e alimentação de qualidade, educação para a saúde, escutá-los enquanto parceiros do seu processo de reabilitação, com supervisão profis- sional, é saúde mental. A promoção da saúde mental visa assim a valorização do percurso individual e único do cidadão, na procura do seu desenvolvimento normal, prevenindo que as dificuldades encontradas por estes se transformem em padrões de adaptação disfuncionais, levando muitas vezes à patologia do indivíduo e até da sua família. Importa, assim, considerar de que forma intervir, precocemente, de maneira a propiciar maiores níveis de adaptação e ajustamento. Incluir a saúde mental na agenda de saúde pública e assegurar a todas as populações o acesso a serviços de saúde mental modernos e de qualidade tornou-se, assim, nos dias de hoje, um objectivo inadiável em todo o mundo. Segundo o Plano Nacional de Saúde (DGS 2004, p.86-87); A saúde mental percorre transversalmente todos os problemas de saúde humana, sendo fundamental a articulação dentro da saúde, em particular com os Cuidados de Saúde Primários (CSP) e o envolvimento com outros sectores e áreas, nomeadamente, a Edu- cação, a Segurança Social, o Trabalho, a Justiça, a Defesa, o Serviço Nacional de Bom- beiros e Protecção Civil, as Autarquias, as ONG e a comunicação social. É de realçar o papel a desempenhar pelos Conselhos Regionais de Saúde Mental e, num contexto mais lato, pelo Conselho Nacional de Saúde Mental. Será apoiada a sensibilização, a disponibilização de informação útil à sociedade em geral e a formação dos profissionais da área da saúde e dos outros sectores envolvidos, de forma que possam actuar na promoção da Saúde Mental e da detecção precoce dos ca- sos de doença existentes na comunidade, visto ser essencial para se alcançarem os ga- nhos de saúde desejados nesta área. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 7 2. DOENÇA MENTAL No DSM-IV (American Psychiatric Association [APA]), a APA define doença mental ou um distúrbio mental como: [...] uma síndrome ou padrão comportamental ou psicológico clinicamente significativo que ocorre numa pessoa e se associa no presente a sofrimento (um sintoma doloroso) ou incapacidade (distúrbio numa ou mais áreas impor- tantes do funcionamento), um aumento significativo no risco de vir a apresen- tar morte, dor, incapacidade ou uma perda de liberdade importante e não sim- plesmente uma resposta esperada a um evento específico. De acordo com os princípios básicos de stress/adaptação, a doença mental será caracterizada como respostas desajustadas a fatores de stress do ambiente interno ou externo, evidenciadas por pensa- mentos, sentimentos e comportamentos que não são congruentes com as normas locais e culturais e interferem no funcionamento social, ocupacional e/ou físico do indivíduo. 1.1 O sistema de avaliação multiaxial do DSM-IV A APA estimula a avaliação de casos num sistema multiaxial, "para facilitar a avaliação ampla e sis- temática, com atenção aos diversos distúrbios mentais e condições médicas gerais, problemas psicos- sociais e ambientais e o nível de funcionamento, que poderiam ser negligenciados se o foco fosse na avaliação de um único problema inicial". Cada indivíduo é avaliado segundo cinco eixos. Eles são defi- nidos pela DSM-IV da seguinte maneira: Eixo I — Distúrbios Clínicos e Outras Condições que Podem Ser Foco de Atenção Clínica. Isto inclui todos os distúrbios mentais (exceto os distúrbios de personalidade e o deficiência men- tal). Eixo II — Distúrbios de Personalidade e Retardo Mental. Esses distúrbios geralmente se inici- am na infância ou adolescência e persistem de forma estável até a idade adulta. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 8 Eixo III — Condições Médicas Gerais. Estas incluem qualquer condição médica corrente que seja potencialmente relevante para a compreensão ou o tratamento do distúrbio mental do indivíduo. Eixo IV — Problemas Psicossociais e Ambientais. Estes são problemas que podem afectar o diagnóstico, tratamento e prognóstico dos distúrbios mentais designados nos eixos I e II. Eles incluem problemas relacionados ao grupo de apoio primário, ambiente social, educação, ocu- pação, moradia, economia, acesso a serviço de saúde, interação com o sistema judicial ou o crime e outros tipos de problemas psicossociais e ambientais. Eixo V — Avaliação Global do Funcionamento. Isto possibilita ao clínico avaliar o funcionamen- to global do indivíduo pela escala de Avaliação Global do Funcionamento. Esta escala constitui em termos globais uma medida única do funcionamento psicológico, social e ocupacional do indivíduo. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 9 3. Conceito de Normalidade Não se deve rotular uma pessoa como sendo normal ou anormal, porque os comportamentos de- pendem de muitos factores: – a cultura, – a religião, – o país, – as crenças, – a educação que cada um recebe, Não se deve pensar que uma pessoa que pense e actue diferente de nós ou dos nossos padrões seja anormal, um doente mental não é uma pessoa anormal mas sim portadora de uma doença e a preci- sar de ajuda. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 10 4. Ambiente Terapêutico As pesquisas têm demonstrado que o ambiente no qual as pessoas mentalmente doentes são tratadas é um factor importante para melhorar ou impedir os efeitos terapêuticos de outras modalidades de tratamento. É interessante notar que essa não é uma preocupação nova ou inexplorada. Em arquivos históricos de psiquiatria encontramos formas de criar nos hospitais uma atmosfera agradável para os doentes mentais, proporcionando actividades sociais e recreativas. A criação e condução de um ambiente terapêutico são atribuições importantes dos membros da equi- pe de saúde, pois são eles que passam a maior parte do tempo com o utente e são também afectados pelo ambiente. Os objectivos do ambiente terapêutico são: ajudar o utente a desenvolver senso de auto-estima e valor pessoal; melhorar sua capacidade de relacionar-se com os outros; ajudá-lo a aprender a confiar nas pessoas; possibilitar que ele volte à comunidade melhor preparado para o trabalho e para a vida, e que conquiste padrões mais madurosde conduta. As probabilidades de atingir esses objectivos aumentam em um ambiente de tratamento que possua as seguintes características: - Condição de satisfazer as necessidades físicas do utente. Exemplo: fornecendo dieta adequada, repouso, roupas apropriadas, ambiente arejado, entre outros. - O utente deve ser respeitado como indivíduo que possui direitos, necessidades e opiniões, sendo encorajado a externá-las. Exemplo: uso do telefone em horários por eles estabelecidos, escolha de filmes, actividades e recre- ações planeadas em conjunto. - A autoridade para tomar decisões estará claramente definida e é distribuída apropriadamente entre a equipe e os utentes. - O utente é protegido de causar ferimentos a si próprio ou aos demais, sofrendo apenas as restrições necessárias que permitam essa protecção. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 11 - Oferecer oportunidades de liberdade de escolha, segundo a capacidade individual, para tomar decisões. - Dar ênfase à interacção social entre utente e equipe, sendo que a estrutura física e aparência do ambiente devem facilitar essa interacção. - Manter a programação estruturada, porém flexível. Portanto: - Os utentes vêem os profissionais como pessoas compreensivas, com quem podem discutir problemas diários e tensões emocionais, que aparecem quando eles começam a desenvolver novas formas de comportamento. - O profissional necessitará estar mais alerta para perceber esta mudança de conduta do uten- te. - Finalmente, num clima terapêutico de uma unidade psiquiátrica, em grande parte, a efectivi- dade da experiência total que o utente vive num hospital dependerá do nível de orientação profissional que a equipe multi-profissional ofereça ou estabeleça. 1.2 Definir limites: O indivíduo cujo comportamento, em consequência de doença ou educação, não é socialmente aceite, tem dificuldade de adaptação, de conviver com as pessoas de modo geral e, consequentemente, de- senvolve um sentimento de pouca auto-estima e valor pessoal. Na psiquiatria é fundamental o conceito de ambiente terapêutico. É nele que a equipe multidisciplinar ajudará o utente a desenvolver um comportamento adequado e um dos meios é através da colocação de limites ao comportamento quando necessário. Colocação de limites é um processo no qual uma pessoa especialmente preparada toma medidas te- rapêuticas com o objectivo de limitar as manifestações inadequadas de comportamento de outra. Essas medidas não devem ter finalidade de punição, mas sim de desenvolver comportamento aceitá- vel. O limite deve ser colocado em algumas situações como, por exemplo: - Quando o utente transgride normas de comum acordo na enfermaria. Exemplo: chega por último para tomar banho mas quer ser o primeiro, não respeitando a ordem de chegada. - Exige privilégios e torna-se reivindicador. Exemplo: quer fazer telefonemas a toda hora, mesmo sabendo que existem horários estipulados para tal. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 12 - Tenta assumir a liderança da enfermaria, estimulando comportamento negativo dos demais. Exemplo: utente estimula os demais a fugirem do hospital, alegando que o tratamento médico dispensado não é bom. - Em presença de agitação e agressividade que podem prejudicar os demais e a si mesmo. Exemplo: utente tenta agredir fisicamente o outro após desentendimento verbal. - Quando instiga determinadas pessoas contra outras com objectivo de ganhos. Exemplo: utente fala da equipe de trabalho do serviço nocturno para a equipe da tarde, e vice-versa. - Quando apresenta comportamento que gera ansiedade ou irritação nos demais. Exemplo: quer ouvir o seu rádio de pilhas em alto volume, não compatível com o ambiente hospita- lar. A colocação de limites a comportamentos inadequados deve ser, sempre que possível, conduta a ser tomada pelos membros da equipe de enfermagem como um todo após discussão da necessidade Além disso, deve ser: - Uniforme, ou seja, todos os profissionais devem fazer as mesmas exigências ao utente. - A medida deve ser explicada ao utente, enfatizando o seu carácter não-punitivo. - Deve ser avaliada periodicamente para ver se está apresentando resultado. - Por vezes, pode ser necessária mudança de estratégia. - Deve ser dado reforço positivo na presença do esforço do utente para melhorar o comporta- mento. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 13 5. O cuidar Humano como relação interpessoal A época em que vivemos, com todas as suas descobertas e riquezas, é também reconhecidamente de crise, a vários níveis. Vivemos actualmente numa sociedade caracterizada por um acelerado processo de transformação e mudança com profundas incidências nos valores, na existência da pessoa humana e no futuro da sociedade em crescente globalização. O acto humano, sendo inerente à pessoa huma- na, à interioridade de cada um, determina que a ética esteja presente em todos os momentos da nos- sa vida e em tudo aquilo que fazemos ou no modo activo como o fazemos. Sendo a ética uma refle- xão sobre as virtudes e os valores, destinados a orientar a conduta humana, ela fundamenta-se na tentativa da compreensão da razão prática da pessoa, enquanto ser livre. Segundo renaud (1996), vê- se na ética a procura daquilo que na posição do acto é mais ―pessoal‖, mais reflectido, numa palavra, mais fundamentado. O doente que precisa de nós profissional e humanamente deve ser o centro das nossas atenções no ―cuidar‖, aliado a todos os valores que lhe são inerentes. A nossa primeira preo- cupação deve ser o reconhecimento da dignidade e complexidade da pessoa humana. Cuidar é uma palavra portuguesa que deriva do latim cogitare e que possui entre outros significados: fazer com cuidado, pensar, reflectir, aplicar a atenção, o pensamento, a imaginação. Alguns autores são de opinião de que o cuidar é uma característica humana, universal e essencial para a sobrevivên- cia humana. É por isso que ninguém é feliz sozinho. A inter-relação pessoal é o que faz com que a sociedade exista. A célebre frase de Jesus cristo ―Amai-vos uns aos outros como eu vos amei‖ é uma premissa essencial à relação, pois cuidar é, também, amar. Contudo, apesar de sermos todos potenci- almente capazes de cuidar, esta habilidade não é uniforme. Nascemos com mais ou menos potenciali- dades para cuidar, sofremos influências culturais, sociais e espirituais que vão determinar o significado que lhe atribuímos e obviamente o modo como cuidamos. Para Watson (1988), o cuidar humano só pode ser efectivamente demonstrado e praticado interpes- soalmente. O processo humano intersubjectivo mantém vivo o sentido da humanidade, ensina-nos como o ser humano através da identificação com os outros, a humanidade de um é reflectida sobre o outro. A natureza do cuidar a partir da relação entre a pessoa que cuida e a pessoa que recebe o cuidado é uma relação interpessoal que define o cuidar englobando os sentimentos e comportamentos presentes na relação, como por exemplo, o mostrar preocupação com o que se passa com o doente. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 14 Nesta perspectiva, deve-se estabelecer uma relação com o doente de modo que todas as suas atitu- des e comportamentos constituam uma importante fonte de motivação que permita o desenvolvimen- to das suas próprias capacidades. Vários grupos de trabalho se debruçaram sobre o acolhimento dos utentes internados. Barnes (1978) a esse respeito descreve o que os grupos constataram: ―Sentem-se perdidos e assustados num universo branco e estranho. Subita- mente tornam-se difíceis as coisas vulgares... Os pormenores adquirem uma importância enorme... Muitos doentes sentem-se envergonhados e deprimidos por ali andarem deroupão e chinelos... O mais pequeno indício de impaciência ou má disposição por parte do pessoal pode adquirir neste momento uma im- portância tremenda‖. Embora a hospitalização proporcione alívio, os doentes ficam ansiosos perante a ideia de se colocarem nas mãos de pessoas desconhecidas nas quais têm de depositar a sua confiança. A consciencialização de que todo o doente é pessoa obriga-nos a respeitá-lo, aceitá-lo e cuidá-lo na sua singularidade, tendo em conta a sua dignidade de pessoa humana. Cuidar implica ser capaz de criar um clima de confiança, escutar em vez de discursar, compreender e reformular nos momentos oportunos aquilo que o doente verbaliza ou transmite é muito mais do que saber usar conhecimentos técnico- científicos, é, acima de tudo, saber respeitar a individualidade do doente. A arte é parte dos cuidados que muitas vezes é esquecida e que envolve a sua humanização. É neces- sária criatividade, sensibilidade, capacidade de entendimento, aceitar o outro como pessoa única que necessita de cuidados únicos, numa circunstância única. Talvez seja esta a razão pela qual o tempo e a presença são duas premissas essenciais no cuidar. A relação empática que se estabelece com o outro é a forma mais nobre de cuidar, e muitas vezes não é mais que uma mensagem não verbal, expressada frequentemente pela linguagem transparente do corpo; gestos, postura, tom de voz, toque e expressões faciais. Mudar a nossa maneira de estar, junto da pessoa que cuidamos, é talvez, a melhor arma de que dispomos. Dos profissionais que cui- dam de pessoas doentes, hoje e amanhã, espera-se uma conduta ideal caracterizada pela manuten- ção e desenvolvimento de relações profissionais em que a bondade, a benevolência, a continuidade, a sensibilidade, a solidariedade e o altruísmo se traduzem no apoio, conforto, segurança e ajuda autên- tica, proporcionados às pessoas que procuram cuidados numa instituição de saúde. Actualmente podemos destacar uma preocupação crescente por parte dos cidadãos, sobre a questão da humanização, numa perspectiva global do Homem respeitado na sua integridade física, psíquica, moral e social que o movimento moderno de humanização contempla. A oferta de um tratamento digno, solidário e acolhedor por parte daqueles que atendem a pessoa doente nas várias instituições, não é apenas um direito, mas a etapa fundamental na conquista da humanização das instituições é muito importante na conquista da cidadania numa vertente ética. Valor da pessoa humana a origem etimológica do conceito pessoa assenta em duas palavras: própson derivada do vocábulo grego persona derivada do latim, cujo significado é o de máscara que, colocada Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 15 sobre o rosto, oculta a face. O conceito de pessoa, no século XVIII, foi fundamentado na filosofia de Kant onde a pessoa é o sujeito moral, isto é, pode constituir-se na acção como sujeito puramente racional. A racionalidade distingue o Homem pois tenta compreender-se a si próprio e ao mundo que o rodeia. No ocidente, a pessoa é reflexo dos seus próprios actos, constrói-se a ela própria, pelo que deverá ser respeitada pela sua singularidade e pela sua individualidade. É um ser recíproco, inserido continuamente numa estrutura de reciprocidade. A pessoa é um ser dinâmico que nos remete para a concepção de um ser consciente de si, capaz de se afirmar e de poder livremente decidir no que diz respeito à sua realização. O Homem como pessoa é um ser que comunica, que interage que integra um desenvolvimento sem limites predetermináveis. É constituído por elementos de personalização como por exemplo o poder de discernimento, a capacidade de escolha, o poder de comunicar, o poder de se abrir ao diálogo. A pessoa saudável é autónoma e livre, por isso digna de ser respeitada. Como refere Rodeia (1998) não deverá ser a doença que a faça perder essas características pois, não a torna menos digna e me- recedora do nosso respeito, todo o ser humano tem o direito de ser tratado com dignidade. No entan- to, com o adoecer surge o confronto com a fragilidade, e neste caso espera-se que a humanização dos cuidados possa garantir o respeito pela dignidade da pessoa. Os profissionais de saúde sabem melhor do que ninguém a importância de uma palavra, de uma aju- da, de uma atitude diferente de maneira a que o doente se sinta reconhecido como pessoa, apesar da sua doença (renaud, 1996). Contudo, quando o médico, pela enésima vez, trata uma doença, quando a enfermeira dá a mesma explicação sempre repetida, compreende-se que o defeito profissional consista em ―despachar‖ o mais rapidamente possível o doente, que entretanto se tornou um ―caso‖ anónimo (deixa de ser o Sr. X e passa a ser o doente da cama 12 ou então o ―tumor cerebral‖ a ―insuficiência renal‖...). Para Hesbeen (2001), a expressão cuidar – que não deve ser confundida com prestar cuidados – diz respeito a todos os profissionais de saúde, ou não, que se consideram prestadores de cuidados, ou seja, que dedicam atenção às outras pessoas com intenção de as ajudar nas situações de vida pró- prias dessas pessoas. O cuidar faz parte integrante da vida diária e não depende apenas dos profis- sionais, nem das estruturas e instituições. O verdadeiro cuidar, independentemente do contexto em que é exercido, depende do encontro e da caminhada em comum entre uma pessoa, profissional ou não, que cuida e cuja intenção é ajudar, e uma outra pessoa, que recebe cuidados e que precisa de ser ajudada. Assim, cada doente… • É um ser individual, com necessidades, desejos e problemas diferentes; • Não pode ser confundido com um número, rótulo ou diagnóstico; • Não pode ser minimizado ao seu estatuto de doente; • Espera de cada um de nós uma atitude de empatia, de escuta e de adequada atenção; • Aprecia a nossa capacidade de acompanhar o seu ritmo, o seu tempo, o seu espaço e o seu sofrimento. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 16 E nós, na nossa prática… • Devemos mostrar sempre ao doente que investimos plenamente na sua pessoa e na sua re- cuperação; • Devemos assumir que a vida de qualquer doente é tão importante e vale tanto quanto qual- quer outra vida; • Nunca podemos esquecer que cada um de nós é co-responsável pela qualidade assistencial praticada e pelo modo de funcionamento de qualquer equipa, em qualquer unidade de inter- namento. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 17 6. A relação com a Pessoa com doença mental 1.3 Aspectos a ter em conta - O doente mental é uma pessoa que está em profundo sofrimento e que precisa muito da nos- sa ajuda; - As vozes ou pessoas que alguns doentes vêm e ouvem (alucinações e delírios) são reais para elas, logo, não adianta tentar convencê-los do contrário, porque isso só provoca agitação e agressividade; - Deve-se aceitar o doente como ele é, e não fazer comentários negativos; - Quando comunicamos com estes doentes devemos: o Saber escutar; o Falar num tom de voz calmo e baixo; o Tratar o doente pelo nome que este gosta de ser tratado; - Não confrontar directamente o doente; - Tentar compreender o problema/ queixa/ necessidade do doente; - Não mentir nem criar falsas expectativas; - Não emitir juízos de valor (―é um tolo‖; ―é um inútil, não quer é fazer nada…‖); - Tentar acalmar o doente quando estiver ansioso ou agitado; - Preservar a intimidade do doente, não o expondo aquando dos cuidados de higiene, por exemplo; - Não revelar/comentar nenhuma informação do doente fora do contexto hospitalar. 1.4 Fase aguda/crise - Factores stressantes podem conduzir um utente estável a uma crise (doença como percurso); - A doença existe, é real, e vai acompanhar a pessoa ao longo da vida, mas, com tratamento adequado e bem orientado, o portador deesquizofrenia pode ter uma vida próxima da nor- malidade. 1.4.1 Quais são os sinais da recaída? - Alterações do comportamento: Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 18 o Irritabilidade; o Insónia; o Isolamento social; o Alucinações; o Delírios. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 19 7. Alguns mitos na Psiquiatria Alguns Conceitos Errados Sobre Doença Mental As pessoas que sofrem de doenças mentais não irão nunca recuperar? As doenças mentais tratam-se e muitos doentes recuperaram a saúde. As doenças mentais devem ser encaradas do mesmo modo como se olha para as doenças físicas. Tal como o cancro e as doenças de coração, sabe-se que muitas doenças mentais têm causas definidas, requerendo cuidados e tratamento. Quando os cuidados e o tratamento são prestados, é de esperar uma melhoria ou recuperação, permitindo às pessoas regressarem à comunidade e retomarem vidas normais. Infelizmente, os preconceitos impedem que as pessoas, uma vez recuperadas das doenças mentais, consigam dar os passos para reingressar na vida vocacional, familiar e social, com total ple- nitude. Este obstáculo, vem bloquear os esforços que permitiriam que as suas vidas seguissem cursos tão normais e produtivos quanto possível. As pessoas com doenças mentais são violentas e perigosas para a sociedade? Essas pessoas apresentam tantos riscos de crime como os outros elementos da população em geral. Depois de recuperados e de regresso à comunidade, estes doentes têm maior tendência para se mos- trarem ansiosos, tímidos e passivos, mais sujeitos a serem vítimas de crimes violentos, do que autores dos mesmos. Uma pessoa que tenha tido acompanhamento psiquiátrico, mas sem passado criminal, tem menos probabilidades de vir a ser preso do que a média dos cidadãos. As pessoas que receberam tratamento psiquiátrico são instáveis podendo perder o con- trolo a qualquer momento? Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 20 A maioria das pessoas com doenças mentais têm maior tendência para se afastarem do contacto soci- al, do que de se confrontarem agressivamente com outros. O receio que a sociedade tem da sua violência é infundado, não sendo uma razão válida para lhes serem negadas oportunidades de emprego, casa ou amizades. Os peritos afirmam que a maior parte das recaídas aparecem gradualmente e não de forma abrupta. Se os médicos, amigos, família e os próprios doentes estiverem atentos aos sinais premonitórios da doença, as crises podem facilmente ser detectadas e tratadas convenientemente, antes de se tornarem demasiado graves. As pessoas que foram tratadas de perturbações mentais são empregados de baixa quali- dade? Muitas pessoas recuperadas de uma doença mental revelam-se excelentes empregados, havendo muitos patrões a declarar que são mais pontuais e assíduos que outros colegas. Demonstram serem iguais no que se refere à motivação, qualidade de trabalho e duração de tempo no emprego. Entenda- se que algumas destas pessoas estão sujeitas a recaídas, que podem causar períodos de ausência dos seus empregos. No entanto, através de programas que permitam horários flexíveis e períodos laborais que se acomodem a estas interrupções, estas pessoas podem vir a ser empregados produtivos. É justo que lhes seja dada uma oportunidade. As pessoas que recuperaram de uma doença mental estão mais indicadas para exercerem trabalhos de nível inferior, mas nunca posições de responsabilidade? Em todas as pessoas, a capacidade de progressão numa carreira depende dos talentos pessoais, da destreza, da experiência e motivação. O mesmo se passa com as pessoas com doenças mentais. Tem havido muitos exemplos de pessoas que, tendo recuperado, foram colocados em lugares de muita responsabilidade. Podem mesmo ser personalidades destacadas. É apenas necessário algum encora- jamento para que aqueles que recuperaram das doenças mentais, possam levar a cabo as suas tare- fas com todas as suas potencialidades. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 21 8. Como actuar perante um doente irritado, agitado ou agres- sivo? • Manter-se calmo; • Ouvir atentamente; • Manter contacto ocular (sem intimidar); • Ser cortês e respeitoso; • Procurar manter a situação controlada; • Fazer sinal a um colega de que necessita de ajuda; • Utilizar técnicas verbais de inversão da escalada da violência. 1.5 Técnicas verbais da inversão de escalada da violência: 1.5.1 O controle de si mesmo • Tentar parecer calmo, controlado e seguro de si, mesmo que não o sinta; • Usar um tom de voz moderado, tendencialmente baixo e uniforme; • Não se sentir na obrigação de se defender, mesmo que os comentários e insultos lhe sejam dirigidos; • Ser correcto e respeitoso no trato, mesmo quando tiver que ser firme ou chamar ajuda. • Estar consciente de todos os recursos disponíveis de que se pode socorrer (colegas, enfermei- ro, técnicos, outros auxiliares …); • Face a uma situação de potencial agressão física não controlável, se tiver tempo para isso re- tirar eventuais adornos, aventais, símbolos religiosos, políticos ou desportivos, antes de entrar em contacto com o doente (nunca em frente dele); 1.5.2 Postura física Nunca apontar nem abanar o dedo, em tom imperativo, ameaçador ou acusatório, em direc- ção ao doente; Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 22 Não tocar fisicamente no doente; Manter as mãos fora dos bolsos, livres e, se necessário, preparadas para se defender. 1.5.3 A utilização das técnicas Lembrar-se de que as técnicas verbais de inversão da escalada de violência não têm outro ob- jectivo a não ser reduzir a agitação/exaltação para níveis mais seguros; Não gritar, nem tentar fazer ouvir-se falando mais alto que o doente; esperar que ela faça uma pausa e fale então. Fale calmamente, com um volume de som médio. Responder selectivamente às questões que lhe são colocadas, por exemplo questões informa- tivas; não responder a questões provocatórias ou abusivas, por exemplo: ―Porque é que os funcionários deste serviço são tão antipáticos?‖ Explicar as regras e os limites de um modo claro e firme, mas sempre num tom respeitoso; Sempre que possível oferecer ao utente opções de escolha em que todas as alternativas suge- ridas são seguras, por exemplo:‖Prefere continuar a conversar calmamente, ou prefere inter- romper agora e voltarmos a falar mais tarde quando as coisas estiverem mais tranquilas?‖; Pode demonstrar compreensão relativamente aos sentimentos, mas não aos comportamentos, por exemplo: ‖Percebo que se sinta irritado, mas não é correcto ameaçar-me ou tratar incor- rectamente as pessoas‖; Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 23 9. Como actuar perante alguém que ameaça com um objecto perigoso • Procurar manter-se calmo; • Manter contacto ocular; • Pedir ajuda o mais discretamente possível; • Tentar ganhar tempo; • Continuar a falar – mas seguir as instruções dadas pelo doente que tem o objecto perigoso; • Não correr o risco de causar danos físicos a si próprio ou a outras pessoas; • Nunca tentar agarrar o objecto ou desarmar o agressor enquanto estiver só; • Estar atento a uma oportunidade para se retirar para uma área segura; Em suma: • Tratar de um doente mental requer atenção, dedicação, respeito e dádiva! – Se mostrarmos compreensão… ele respeita-nos! – Se o ajudarmos nas pequenas dificuldades do dia-a-dia… ele respeita-nos! – Se lhe mostrarmos devidamente quando está certo ou errado… ele respeita-nos! – Se o respeitamos…ele respeita-nos! – Se o ajudarmos a voltar a sorrir…ele sorri-nos de volta! Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria22 de Abril a 03 de Maio de 2013 24 10. PSICOPATOLOGIA Exame mental corresponde a um corte transversal no estado e na sintomatologia que a pessoa apresenta, no aqui e no agora. Utiliza os conhecimentos da psicopatologia. 1.6 Apresentação do doente O exame psiquiátrico do estado mental tem início no momento em que o examinador vê a pessoa pela primeira vez. O aspecto, a atitude e a actividade são informações importantes na avaliação da pessoa. O aspecto refere-se às características físicas, nomeadamente o tipo corporal, anomalias ou deficiências físicas, modo de vestir e higiene pessoal. O aspecto pode dar-nos pistas sobre o humor, grau de envelheci- mento, estado cognitivo, autoconhecimento, presença de perturbação do pensamento, perturbação motora e estado geral. A atitude refere-se à forma como a pessoa enfrenta a entrevista e interage com o examinador. Esta atitude afectará os dados obtidos e permitir prever a qualidade dos contactos futuros, embora não seja uma condição única para o sucesso da relação com a pessoa. A actividade refere-se ao nível e qualidade dos movimentos da pessoa. Este é um indicador útil do estado do hu- mor da pessoa. A actividade e movimentos anormais poderão indicar também uma condição neuroló- gica. 1.6.1 Alterações da linguagem Disartria – Defeito na articulação mas com memória preservada e sem alterações da compreensão das palavras. Anomia – o doente não é capaz de nomear os objectos embora possa reconhecê-los. Utiliza a para- frasia – em vez do nome tenta dizer para que servem os objectos. Afasia – Perda ou incapacidade de produzir e/ou compreender a linguagem escrita ou falada Afasia sensorial (Wernicke) – é incapaz de compreender o que se lhe diz. Dificuldade na recepção da informação. Afasia motora (Broca) – compreende o que se lhe diz mas não é capaz de responder. Gaguez – alteração da fala que se agrava em estados ansiosos. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 25 1.6.2 Alterações motoras Tiques – contracções breves, rápidas, repetidas e involuntárias de alguns grupos musculares. Com esforço, o doente pode domina-los durante alguns segundos. Manuseamentos – o doente manipula tudo o que estiver ao seu alcance; inquietação motora traduz normalmente ansiedade. Maneirismos – execução de gestos e movimentos dirigidos ou manutenção de posturas adaptativas, de forma reiterada e pouco habitual. Posturas motoras próprias de determinados grupos, traduzem um certo elitismo cultural. Por vezes o início é voluntário depois passa a ser involuntário. Perseveração – depois de atingida a finalidade, o movimento continua a repetir-se de forma persis- tente e desnecessária. Compulsão – tendência incoercível a executar um acto contra a própria vontade. Tem, normalmente, um certo carácter ritualístico, e é feito com o objectivo de diminuir a ansiedade. Impulsão – acto súbito, impossível de conter, que escapa ao controlo do indivíduo. Pode ter uma componente agressiva. Tensão muscular – estado tenso, rígido, as maxilas estão firmemente contraídas, as mãos aperta- das e entrelaçadas, as pálpebras cerradas, cabeça rígida, sem tocar o travesseiro durante horas – almofada psicológica – se se tentar movimentar, passivamente, um membro, nota-se resistência. Flexibilidade cérea – tensão muscular muito fraca, fácil de vencer, os membros deixam-se colocar nas posições mais variadas e aí permanecem fixos – catalepsia. Imobilidade flácida – o doente permanece imóvel, deixando mover os membros para todo o lado. Quando movimentamos e depois largamos, eles voltam a cair com o próprio peso. Posições estatuárias bizarras – os doentes ficam comparados a uma estátua em posições total- mente inexpressíveis, como se estivessem petrificados. Estados hipercinéticos – os doentes fazem lembrar robots descontrolados, executando movimentos variados, aparentemente sem objectivo, incompreensíveis e sem manifestarem qualquer expressão de afecto. Obstrução – o doente fica, subitamente, incapaz de continuar ou iniciar um movimento simples que noutras circunstâncias executaria com facilidade. Ambitendência – ao executar um acto motor, o doente debate-se com tendências contraditórias de o executar ou de o suspender, os seus movimentos tornam-se hesitantes ou oscilantes. Estereotipias – actos motores, sem finalidade, repetidos e executados de uma maneira uniforme. É um movimento anormal, espontâneo e sem finalidade (não foi induzido). Automatismos – descargas de movimentos involuntários, de forma brusca e incoordenada. São automáticos e incontroláveis, sentidos pelo doente como estranhos a si próprios. Sincinésias – formas menores de automatismos. Mimetismo – tendência a imitar a pessoa que o rodeia. Ecopraxia – imitação de acções simples. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 26 Ecolália – o doente ecoa uma parte ou tudo o que se lhe diz, repetidas vezes quer perceba ou não o que se foi dito. Logocolonia – o doente repete a última sílaba da última palavra. Palilália – é repetida uma palavra completa com velocidade cada vez maior e audibilidade cada vez menor. Estereotipia verbal – repetição monótona de uma palavra ou frase de uma forma desnecessária e absurda. Verbigeração – repetição contínua de uma ou mais frases ou séries de palavras fragmentadas, é impossível compreender o que o doente diz. Estupor – o doente fica mudo e imóvel, como que paralisado. 1.7 Contacto Negativismo – forma de contacto em que existe uma resistência. Pode ser passivo (recusa as or- dens) ou activo (faz o oposto do que lhe é pedido). Autismo – o doente ―vive‖ voltado para dentro de si. 1.8 Estado de consciencia e atenção Orientação auto-psiquica – em relação a si próprio. Orientação alo-psiquica – em relação ao tempo e ao espaço. Atenção activa – o indivíduo foca a sua atenção num acontecimento interno ou externo. Atenção passiva - quando é um acontecimento interno ou externo que atraí a atenção do individuo sem nenhum esforço consciente da sua parte. 1.9 Humor, afectividade e ansiedade Humor – tonalidade afectiva que predomina num determinado momento. Humor depressivo – tudo é visto pelo lado negativo. Negro, a vida não tem sentido. Humor elevado (mania) – a pessoa sente-se imensamente feliz, tudo a desperta e lhe dá alegria. Humor lábil – sofre variações rápidas, o doente passa do riso ao choro fácil e tem dificuldade em controlar as emoções. Elação do humor – há uma euforia contagiosa que nos pode levar a subestimar a sua natureza mórbida. Humor delirante – algo vago e inespecífico com tonalidade de auto-referência. O doente sabe que á sua volta se passa algo estranho que lhe diz respeito, embora não saiba exactamente o que é. A rela- ção consigo e com o mundo está em mudança. Afectividade – vida emocional total do indivíduo. Afectos – superficiais, profundos, inadequados. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 27 Embotamento afectivo (indiferença afectiva total/afectos ambivalentes) – perda de senti- mentos e emoções, porquanto o doente não reage aos acontecimentos que deveriam perturbá-lo e não experimenta as emoções que outras pessoas em determinadas circunstâncias experimentam. Sintónico – indivíduo sem patologia. Resposta emocional aumentada – o humor varia desde a euforia á tristeza com leves mudanças do ambiente emocional. Ansiedade – A ansiedade é um estado patológico caracterizado por um sentimento de medo acom- panhado por sinais somáticos de hiperactividade do sistema nervoso autónomo. Fobia – Medo irracional de um objecto ou situação isolada e necessidade de evitá-los. Euforia – felicidade exagerada, geralmente patológica. 1.10 Pensamento 1.10.1 Alterações do curso do pensamento Taquipsiquismo – sucessão rápida de pensamentos, mas que se mantêm ordenados.Fuga de ideias – sucessão rápida de pensamentos, sem direcção, sendo a associação de ideias feita por relações ocasionais (o pensamento é tão acelerado que o doente não consegue chegar ao fim da sua ideia, começa logo outro rapidamente, as ideias fogem ao seu alcance). Lentificação – o nº de ideias e imagens mentais está diminuído, sendo o seu curso lento. Bloqueio do pensamento – o curso do pensamento é interrompido subitamente, não voltando ao ponto de paragem, podendo surgir depois um outro pensamento totalmente novo. Aspecto saltitante ou de descarrilamento. Pensamento perseverante – as operações mentais persistem para além do ponto em que são rele- vantes, ou seja, há uma ideia sobrevalorizada que emerge sistematicamente em detrimento de outras. Pensamento circunstancial – o pensamento atinge o seu objectivo mas até lá vai-se processando lentamente, com muitos detalhes triviais e desnecessários. Pensamento tangencial – o pensamento foge sistematicamente ao objectivo, mas pelas respostas que o doente dá posteriormente infere-se que ele percebeu a questão inicial que lhe foi colocada. 1.10.2 Alterações da posse do pensamento Obsessão - incapacidade de um indivíduo se libertar de um conteúdo da consciência, embora quando este ocorre ele saiba que é absurdo e sem sentido, persiste sem causa e contra a vontade do doente, origina grande ansiedade. Fobia – medo irracional de um objecto, actividade ou situação, que origina um desejo irresistível para evitar o objecto, actividade ou situação temida. Alienação do pensamento – o doente experimenta os seus pensamentos como estando sob o con- trolo de forças exteriores a ele ou tem a sensação de que outros participam dos seus pensamentos. Ex: roubo do pensamento, inserção do pensamento e divulgação do pensamento. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 28 1.10.3 Alterações do conteúdo do pensamento Delírio – falsa crença, inabalável, não susceptível de argumentação lógica, em desacordo com o pas- sado cultural e social do doente. Ideia deliróide – ideia errada que resiste ao confronto lógico com a realidade, sendo secundária a outro fenómeno mórbido psicológico, distingue-se do delírio por não haver convicção delirante. Delírios primário – não podem ser compreendidos a partir de qualquer outro fenómeno psicológico mórbido (são irredutíveis, são a base/núcleo da patologia). Delírio secundário – é compreensível em função do seu estado mental. Delírio de grandeza – Delírio egocêntrico: a pessoa julga-se importante, superior, bela, forte, sexu- almente hiperpotente, poderosa ou rica, pelo que tem tendência à euforia e à generosidade Delírio de ciúme – quando há a convicção de se estar e ser enganado por o parceiro. Delírio de ruína – o doente acredita que está num estado desesperado de pobreza e miséria, ou sente-se ameaçado na sua segurança económica. Delírios hipocondríacos – o doente tem a convicção errada de sofrer de doença grave apesar da evidência mostrar o contrário. Delírio de referência – o doente relaciona as experiências delirantes consigo próprio. Percepções delirantes – é a atribuição de significados errados e delirantes a uma percepção ou experiência psicológica normal; é a atribuição de novos significados aos estímulos. Delírio de perseguição – o doente tem a ideia de que é objecto de perseguição por parte de pes- soas ou grupos; sente-se ameaçado na vida. Delírios fantásticos – caracterizam-se por imaginação exuberante. Delírios de culpa – o doente está convencido de que cometeu uma falta irreparável e por isso é merecedor de castigos terríveis. Delírios erotomaníacos – é a ideia delirante de se ser amado por alguém. Delírio de Cottard – o doente dizem que já nada existe, que perderam tudo, que parte do seu corpo está apodrecida ou que ele próprio já está morto. 1.11 Alterações da percepção Hiperestesia – aumento da intensidade da sensação. Hipoestesia – diminuição da intensidade da sensação. Ilusão – falsa percepção induzida pela combinação de estímulos vindos de um objecto com a ima- gem mental. Alucinação – percepção sem objecto. Vem de dentro do indivíduo, embora ele lhe reaja como se fosse uma percepção vinda de fora. Alucinações auditivas – Esta é uma falsa percepção de sons. Elas são mais comumente de vozes, mas o indivíduo pode relatar estalidos, ruídos de água corrente, música e outros ruídos. As alucina- ções imperativas podem colocar o indivíduo ou outras pessoas numa situação potencialmente perigo- Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 29 sa. As "vozes" que dão ordens de violência à própria pessoa ou a outras pessoas podem ou não ser obedecidas pela pessoa psicótica. As alucinações auditivas são mais comum nos distúrbios psicóticos. Alucinações Visuais – Uma falsa percepção visual. Elas podem consistir em imagens formadas, como de pessoas, ou de imagens sem forma, tais como raios luminosos. Alucinações Tácteis – Uma falsa percepção do sentido do tacto, com freqüência de algo sobre ou sob a pele. Uma alucinação táctil específica é a de formigueiro, a sensação de algo está a se arrastar sobre ou sob a pele. Alucinações Gustativas – Uma falsa percepção do paladar. As alucinações gustativas são mais comumente descritas como gostos desagradáveis. Alucinações Olfactivas – Uma falsa percepção do sentido do olfacto. Alucinação zoópsicas – no delirium tremens é frequente os doentes verem animais como cobras, ratos, aranhas, insectos. Alucinações cénicas – são frequentes as visões de fogo e de cenas religiosas. Alucinações hipnogógicas – são aquelas que surgem durante o sono. Alucinações somáticas – torções ou dores violentas que os doentes descrevem de forma bizarra. Alucinações funcionais – há um estimulo real que causa alucinação sendo experimentado ao mes- mo tempo que esta (ex.: doente que ouve o chilrear dos pássaros e ao mesmo tempo ouve a voz de Deus; ouve o relógio a bater e ao mesmo tempo ouve a voz de Deus, concluindo que Deus fala com ele através dos ruídos). Alucinações reflexas – um estímulo num campo sensitivo produz uma alucinação noutro (doente que ao ouvir um espirro sente dor de cabeça estando convencido que é o espirro que lhe provoca dor de cabeça). 1.12 Alterações da estrutura do eu Dissociação – perda da identificação temporal de si próprio. Despersonalização - perda da identificação espacial de si próprio. Desrealização – sensação de irrealidade do mundo externo. Auto-negação – o indivíduo nega existir. 1.13 Memória Amnésia – perda da memória. Amnésias catatímicas – o indivíduo reprime memórias para tentar evitar o sentimento desagradá- vel que elas produzem. Amnésia histérica ou dissociativa – perda completa da memória e da identidade. Amnésia ansiosa – deve-se á interferência da ansiedade excessiva com a percepção e a compreen- são. Amnésia antrógada – resulta da incapacidade em fazer registos permanentes. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 30 Amnésia retrógrada – o indivíduo é incapaz de se lembrar das memórias mais antigas Dismnésias – distorções da memória sem alterações qualitativas. Confabulações – falsas memórias com que o doente preenche as suas lacunas amnésicas. 1.14 Inteligência Inteligência – capacidade de agir e pensar, racional e logicamente, mostrando a eficiência global das capacidades cognitivas. QI = idade mental x 100 idade biológica Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 31 11. DISTÚRBIOS SOMATOFORMES Características: • Perturbações mentais caracterizadas pela presença de sintomas físicos, preocupação com a possibi- lidade de ter uma doença física ou com a imagem corporal, para os quais não existe uma correspon- dente patologia orgânica ou alteração da imagem. • Verifica-sea expressão da conflitualidade e sofrimento emocional através de preocupações somáti- cas. • Maior incidência no sexo feminino, á excepção da hipocondria que tem = incidência nos dois sexos. • Evolução crónica com maior nº de consultas. • Tratamento longo, essencialmente psicoterapeutico. 1.15 Distúrbios de somatização Síndrome de múltiplas queixas somáticas que não podem ser explicadas clinicamente e associam-se a desconforto psicossocial e a busca de ajuda de profissionais de saúde; Afecta mais a mulheres; Início adolescência e idade adulta jovem; Prevalência 0,1 – 0,5% da população; Doença curso crônico com curso flutuante ; Depressão é freqüente. 1.16 Distúrbio de conversão Perda ou alteração de uma função corporal em consequência de um conflito psicológico, cujo sinto- mas físicos não podem ser explicados por doença clínica ou mecanismo físico patológico conhecido; Presença de um ou mais sintomas neurológicos, que não podem ser explicados por uma patologia identificável, apresentando habitualmente de forma aguda e dramática. Aparecimento ou exacerbação associados a factores de ordem psicológica. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 32 No exame neurológico detectam-se incongruências, que permitem ao neurologista afastar a hipótese da existência de lesão orgânica. ‖La belle indiference‖ – seria de esperar que o doente demonstrasse uma postura preocupada e aflita, no entanto manifesta-se indiferente. Mais frequente nos adolescentes e adultos jovens e em meios rurais. Tendência a evoluir por surtos, normalmente relacionados com problemas sócio-familiares, afectivos e profissionais. 1.17 Hipocondria Medo ou crença mórbida de ter uma doença, embora não exista qualquer problema. Preocupação com órgãos ou doença específica; sistema digestivo e circulatórios mais afectados; História de trocar médicos; convencidos de não receber cuidados apropriados; Mais frequente em idades avançadas, incidência semelhante em ambos os sexos. Evolução irregular com fases de menor preocupação. 1.18 Distúrbio dismórfico-corporal Doente de aparência normal, exageradamente preocupado com um defeito físico inexistente ou sem importância. Frequentemente imperfeições na face ou na cabeça. Mais frequente no fim da adolescência. Evolução crónica, frequentadores habituais dos cirurgiões plásticos. 1.19 Perturbação da dor O doente queixa-se de dor intensa e prolongada sem causa física ou quando existe lesão não é sufici- ente para explicar as queixas manifestadas. Incidência na 4ª/5ª década de vida. Por vezes incapacitante, o doente salta de médico em médico e efectua os exames complementares mais modernos. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 33 12. ESQUIZOFRENIA O termo esquizofrenia foi criado em 1908 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler. A palavra derivava do grego "skhiz" (dividida) e "fren" (mente) (Birchwood et a/., 1989). É um transtorno de causas desconhecidas, caracterizado por sintomas psicóticos, que prejudicam significativamente o funcionamento e envolve perturbações das emoções, pensamento e comporta- mento. A esquizofrenia é uma doença crónica, grave e debilitante. Aproximadamente 1% da população desenvolve esta doença - ou seja, em cada 10 milhões de habi- tantes (a população de Portugal) cerca de 100 mil desenvolvem a doença. Há tratamentos disponíveis que podem aliviar muitos sintomas, mas a maioria dos doentes esquizo- frénicos continua a sofrer de alguns sintomas durante toda a vida. Calcula-se que apenas 1 em cada 5 doentes recupera completamente. 1.20 Sintomas Autismo, desconfiança, estranheza, dissociação com a realidade, estranha vida mental, isolamento social. Dissociação, incapacidade de formar ideias e associá-las, pensamento ilógico e desagregado, compor- tamento bizarro em ideação e linguagem. 1.20.1 Sintomatologia Positiva 1.20.1.1 Alucinações Experiência sensorial sem estímulo externo. Auditivas- vozes que o insultam e lhe dão ordens. Olfactivas – sente cheiros estranhos. Visuais – vê coisas sem que estas existam Gustativas – sente que lhe deitam veneno na comida. Cinestésicas – sensação de alterações nos órgãos do corpo. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 34 1.20.1.2 Delírios Falsas crenças, ideias falsas. Perseguição – alguém que o persegue e lhe quer fazer mal. Influência – controlado por estranhos poderes misteriosos que o influenciam. Ciúme – característico dos alcoólicos. Prejuízo – inserção e roubo do pensamento. 1.20.1.3 Perturbação do Pensamento Falta de continuidade lógica no pensamento, pode tornar a comunicação muito difícil e pode contribuir para o isolamento social do doente esquizofrénico. 1.20.1.4 Comportamento desorganizado Comportamento bizarro, agitação psicomotora e negligência nos cuidados pessoais 1.20.2 Sintomatologia Negativa 1.20.2.1 Alogia Pobreza do pensamento e discurso 1.20.2.2 Embotamento afectivo Dificuldade em expressar/sentir emoções 1.20.2.3 Avolição Ausência de iniciativa ou vontade 1.20.3 Perturbações Psicomotoras: Maneirismos Negativismo Catatonia Catalepsia Ecopraxia Esteriotipias 1.20.4 Perturbações da aparência: Pouca consideração pelas gentilezas sociais; Pouco empenho na higiene e aparência pessoal: Muitas vezes precisa de ser lembrado para tomar banho, barbear-se. Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 35 1.21 Tipos de esquizofrenia 1.21.1 Simples Perda gradual de impulso, interesse, ambição, iniciativa; Geralmente não há alucinações ou delírios, ou estes não persistem; Afasta-se do contacto com os outros; Isola-se no seu quarto; Perde o interesse pelo trabalho e amigos; Diminuição do rendimento escolar; Pode apresentar queixas somáticas; Posteriormente vai-se tornando cada vez mais desleixado; Respostas emocionais cada vez mais superficiais; Sente-se satisfeito em andar pela vida sem objectivos desde que o deixem a sós. 1.21.2 Desorganizada Também designada de Hebefrénica; É a ―demência precoce‖ dos jovens; Sobressaem as alterações do campo afectivo; O início é geralmente insidioso e progressivo até á desestruturação da personalidade; Dificuldades escolares; Diminuição do rendimento escola; Aumento da fadiga e muitas vezes queixas hipocondríacas; Acentuada regressão do comportamento; Indiferente aos valores sociais; Desleixo na aparência social; Geralmente de mau prognóstico evoluindo para a cronicidade com grave deterioração das funções psíquicas e de auto-cuidado. 1.21.3 Catatónica Menos frequente e de relativo bom prognóstico; Com início agudo; Manifestações psicomotoras; Pode-se apresentar: Curso de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria 22 de Abril a 03 de Maio de 2013 36 Estuporosa – diminuição dos movimentos espontâneos, pode não falar por longos períodos, exibe negativismo, estereótipos, obediência automática. Excitada – estado de extrema agitação psicomotora, fala e grita sem parar, produções verbais muitas vezes incoerentes. Exige urgente controlo físico e farmacológico uma vez que o doente se pode tornar destruidor e ex- tremamente violento; Elevado risco de auto e hetero agressividade; Pode levar à completa exaustão; Recorre-se na maior parte das vezes ao tratamento com ECT. 1.21.4 Paranóide Este tipo de esquizofrenia é o mais comum e também o que responde melhor ao tratamento. A pes- soa que sofre esta condição pode pensar que o mundo inteiro o persegue, que as pessoas falam mal dele, elas têm intenções de fazer-lhe mal, de matá-lo, etc Caracteriza-se por grande produtividade delirante e/ ou alucinatória; Aparece frequentemente no final da 2ª e 3ª década de vida; São característicos os delírios de grandeza, místicos