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Izabel de Loureiro Maior Professora da Faculdade de Medicina da UFRJ Mestre em Medicina Física e Reabilitação Ex-Secretária Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência/SDH 2002-2010 Formação em Acessibilidade e Inclusão Módulo I Fundamentos da Acessibilidade e Inclusão • Conteúdo programático: • Conceitos principais – deficiência, acessibilidade, inclusão e equidade • Acessibilidade para todas as pessoas e situações • Tipos de neurodiversidade e deficiência – física, auditiva, visual, intelectual, psicossocial e múltipla • Modelo biopsicossocial de avaliação da pessoa com deficiência Evolução conceitual da Deficiência Modelo Biomédico/Integração Modelo Social/Inclusão • Deficiência está fora da pessoa e resulta das barreiras à participação social • CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade OMS/2001 • base para o novo instrumento para avaliação da funcionalidade – enfoque biopsicossocial • Convenção da ONU/2006 e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência/2015 • Deficiência como atributo biológico da pessoa • Doença como deficiência • CID – Classificação de Doenças foco nos impedimentos • Decreto 3.298/99 categorização de deficiência pelo CID (em uso) Modelo social da deficiência • Surgiu a partir da reação dos movimentos sociais – anos 1960 e 70 • Opressão de grupos dominantes sobre uma minoria com base na diferença de seus corpos ou de seu comportamento • Hegemonia da corponormatividade considerada superior em direitos • Deficiência deixou de ser atributo biológico e passou a ser resultante de construto social • Falta de oportunidades, de apoios e de acessibilidade • Restrição de participal social devido a barreiras existentes • Barreira atitudinal – capacitismo estrutural e individual Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – Decreto 6.949/2009 • Artigo 1 – Propósito • O propósito da presente Convenção é promover, proteger e assegurar o exercício pleno e eqüitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente. • Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas. Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – Decreto 6.949/2009 • Artigo 3 – Principios gerais • a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas; • b) A não-discriminação; • c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade; • d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade; • e) A igualdade de oportunidades; • f) A acessibilidade; • g) A igualdade entre o homem e a mulher; • h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade. Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – Decreto 6.949/2009 • Artigo 9 – Acessibilidade (princípio e direito) • 1.A fim de possibilitar às pessoas com deficiência viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as medidas apropriadas para assegurar às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na rural. Essas medidas, que incluirão a identificação e a eliminação de obstáculos e barreiras à acessibilidade... Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) Lei 13.146/2015 • Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: • I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida; • II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva; Lei Brasileira de Inclusão da Pessoas com Deficiência – Lei 13146/2015 • Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: • III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social • VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais Lei Brasileira de Inclusão • DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO • Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. • § 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas • § 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios decorrentes de ação afirmativa. Lei Brasileira de Inclusão • Art.3º IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros, classificadas em: • a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo; • b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados; • c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes; • d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação; • e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas; • f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias; Equidade e inclusão • Equidade considera a diversidade humana e as condições de desequilíbrio social • Equidade busca a justiça social e inclusão com medidas específicas para propiciar equiparação de oportunidades. Exemplo: ação afirmativa como reservas de vagas ou cargos, adaptações razoáveis, profissionais de apoio e cuidadores • “Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferençanos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades” • Boaventura de Sousa Santos Neurodiversidade e neurodivergentes/atípicos • O conceito de Neurodiversidade foi apresentado em 1998, pela socióloga australiana Judy Singer (TEA) • A neurodiversidade é a constatação de que o cérebro de cada pessoa tem um funcionamento neurológico diferente e deve ser respeitada e reconhecida assim como outras categorias de minorias sociais. Não há cérebros com funcionamento certo e outros errados • A expressão “neurodivergência” foi cunhada pela a ativista norte-americana com divergências múltiplas Kassiane Asasumasu em 2000, com o objetivo de designar pessoas com formação cerebral diferente do considerado típico como, por exemplo, pessoas autistas (TEA) e pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). • Novos grupos estão se incorporando como ATÍPICOS: dislexia, disgrafia, discalculia, TOC, TAB, outras condições psiquiátricas e neurológicas cerebrais, inclusive altas habilidades e superdotação https://en.wikipedia.org/wiki/Kassiane_Asasumasu Por que avaliar a situação de deficiência • Para conhecer a realidade de vida e as necessidades específicas • Porque no Brasil existem políticas de ação afirmativa para pessoas com deficiência visando à equiparação de oportunidades • Porque é importante estabelecer o foco das políticas: as pessoas mais “discriminadas”, mais “vulneráveis” e dimensionar o orçamento necessário • Não há propósito em avaliar usuários de políticas universais: SUS, educação inclusiva, ambientes concebidos Lei Brasileira de Inclusão • Art. 2º § 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: (Art. 124. deverá entrar em vigor em até 2 (dois) anos a partir de janeiro 2016) • I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo • II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais • III - a limitação no desempenho de atividades e • IV - a restrição de participação • § 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência Índice de Funcionalidade Brasileiro • O instrumento IFBr tem o objetivo de aferir o grau de funcionalidade do indivíduo, sendo sua construção baseada na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial da Saúde (CIF), que adota o modelo social da deficiência, considerando o ambiente em que a pessoa está inserida: 41 atividades e participações selecionadas; impedimentos e fatores contextuais são assinalados • Projeto de pesquisa desenvolvido por convênio da SNPD/SDH, 2010-12, com a Faculdade de Medicina da UFRJ e o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade - IETS Validação do IFBr M • Versão do IFBr modificada pelo do Comitê do Cadastro- inclusão e Avaliação unificada da deficiência - 2018 • Consultoria da Universidade de Brasília • Capacitação das equipes nos polos regionais definidos (50 cidades) • Aplicação em amostra nacional encerrada com 8.800 pessoas, considerando diferentes faixas etárias e tipos de deficiência • Utilização de tablet/internet para aplicação do instrumento • Relatório da validação do instrumento - 30/10/2019 Instrumento de Funcionalidade – IFBr M • Composto por 57 atividades (variável segundo a faixa etária) de 7 domínios da CIF: • Aprendizagem e aplicação do conhecimento • Comunicação • Mobilidade • Cuidados pessoais • Vida doméstica • Educação, trabalho e vida econômica • Relações e interações interpessoais; Vida comunitária, social, cultural e política • A validação demonstrou que algumas atividades poderiam ser retiradas de acordo com a faixa etária por não apresentar poder discriminante (é repetitiva) Graduação pela Medida de Independência Funcional • Funcionalidade De acordo com o nível de independência (MIF) nas atividades e participações: • 100 = realiza a atividade de forma independente, sem nenhum tipo de adaptação ou modificação na velocidade habitual e em segurança • 75 = realiza a atividade de forma adaptada sendo necessário algum tipo de modificação ou adaptação ou realiza a atividade de forma diferente da habitual ou mais lentamente ou realiza a atividade sem adaptação, mas sente dor ou complicações após realizar • 50 = realiza a atividade com auxílio de terceiros, participando de alguma etapa da atividade; inclui preparo e supervisão • 25 = não realiza a atividade ou é totalmente dependente de terceiros para realiza-la; não participa de nenhuma IFBr M – Fatores Contextuais • Fazem parte do IFBr M e devem ser assinalados a cada atividade com pontuação 25, 50 ou 75 (barreiras) • Produtos e Tecnologia • Ambiente Natural e Mudanças Ambientais feitas pelo ser humano • Apoios e Relacionamentos • Atitudes • Serviços, Sistemas e Políticas Resultado da avaliação • Categorização em deficiência grave, moderada, leve, ou sem deficiência, com a pontuação da matriz e a aplicação do Fuzzy • A pontuação será automaticamente somada pelo sistema informatizado dedicado que considera todas as características avaliadas • IFBrM infantil e infantojuvenil - Adaptação do IFBrM adulto. Os 7 domínios permanecem, mas são excluídas atividades não pertinentes a cada grupo etário. (fator de ponderação) • BERNARDES, Liliane Cristina Gonçalves; MARCELINO, Miguel Abud; VILELA, Lailah Vasconcelos de Oliveira. Avaliação da deficiência para acesso a políticas públicas : contribuições para um instrumento unificado de avaliação da deficiência. Brasília, DF: Ipea, mar. 2024. 118 p. (Texto para Discussão, n. 2979). DOI: http://dx.doi. org/10.38116/td2979-port • “Deficiência é a soma das oportunidades perdidas” Izabel Maior Contato: izabelmaior@hotmail.com