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Alice Marçal Pires – T6 ELETROCARDIOGRAMA É o registro da atividade elétrica do coração. Para a sua avaliação e interpretação, vamos sempre considerar os dados clínicos do paciente. A máquina pode ter calibração auto ou manual, e ser calibrada em N, 2N ou N/2. Isso interfere na amplitude das ondas, sendo que N é a amplitude que já conhecemos, 2N é o dobro e N/2 é a metade. Prestar atenção nisso porque pode levar a erros! Os átrios se contraem antes dos ventrículos. Isso vemos no ECG: a onda P representa a contração/despolarização atrial; o complexo QRS é a sístole/despolarização ventricular; e onda T é a repolarização ventricular (diástole). O nó sinusal é o marcapasso natural do coração. Ele inicia o impulso cardíaco, que então passa para o AD → AE → NAV (nó atrioventricular) → feixe de His (intervalo PR) → ramos E e D (pelas fibras de Purkinje). FC normal entre 60 e 100. Calcula R-R, 1500 dividido pelo número de quadradinhos. Ou podemos usar a regra dos 10 segundos para calcular a FC → quando o registro tem 10 segundos por página, pode-se contar o número de batimentos nesse tempo e multiplicar por 6. Derivações eletrocardiográficas É importante saber qual derivação corresponde a cada região do coração, é importante em casos de infarto, por exemplo. Tem doze derivações divididas em dois grupos, sendo seis derivações nos membros e seis precordiais. As derivações bipolares são: D1 (braço esquerdo + braço direito); D2 (pé esquerdo + braço direito); D3 (pé esquerdo + braço esquerdo). As derivações unipolares são: aVr (braço direito); aVl (braço esquerdo); aVf (perna esquerda). As derivações do plano horizontal são: V1 (4° espaço intercostal, linha paraesternal direita); V2 (4° espaço intercostal, linha paraesternal esquerda); V3 (entre V2 e V4); V4 (5° espaço intercostal, linha hemiclavicular); V5 (5° espaço intercostal, linha axilar anterior); V6 (5° espaço intercostal, linha axilar média). Alice Marçal Pires – T6 Arranjo do traçado eletrocardiográfico ▪ Parede ântero-septal: representada por V1 e V2. ▪ Parede anterior: representada por V3 e V4. ▪ Parede lateral alta e ântero-lateral: representadas por D1, aVL, V5 e V6. ▪ Parede inferior: representada por D2, D3 e aVF. Onda P Normal: altura 2,5 mm e comprimento 0,08-,010. Hipertrofia atrial gera aumento de onda P (picale e mitrale). Picale é quando a altura é maior que 2,5, e representa hipertrofia do AD. Mitrale é comprimento maior que 0,10, e representa hipertrofia do AE. Todo ritmo sinusal tem necessariamente a onda P precedendo o complexo QRS! Intervalo PR Vai do início da onda P até o início do QRS. O normal é até 0,20 (ou 5 quadradinhos). Maior que isso, representa bloqueio atrioventricular de primeiro grau (o estímulo não está passando do átrio pro ventrículo). Menor que 0,12 significa que o estímulo não é sinusal. Complexo QRS Duração normal é até 0,11 s (ou 3 quadradinhos). Mais do que isso, temos bloqueio de ramo (E ou D). Segmento ST Do fim do QRS ao início da onda T. Tem que estar no mesmo nível do PR. Supradesnivelamento significa lesão miocárdica (início IAM) ou pericardite aguda. Infradesnivelamento significa também lesão miocárdica (início IAM) ou ação de digitálicos. Onda T É uma onda única e assimétrica. Tem uma ascensão lenta e uma deiscência mais rápida, e o ápice é arredondado. A isquemia miocárdica modifica a onda T. Positiva e apiculada = isquemia sub endocárdica. Onda T negativa e apiculada = isquemia sub epicárdica. Alice Marçal Pires – T6 Bradiarritmia Baixa frequência ventricular (abaixo de 50 de acordo com SBC). Atletas bem treinados apresentam bradicardia normal. ➔ Bradicardia sinusal: tem origem no nó sinusal, então tem onda P normal precedendo cada complexo QRS. Ritmo sinusal abaixo de 50. As causas podem ser um tônus vagal excessivo (vômitos, sono), tônus simpático deprimido, medicamentos, hipotermia, hipotireoidismo... quando relacionado ao IAM, é transitório e tem mais a ver com infarto de parede inferior. Mas geralmente é benigno e dispensa tratamento. Se associado a DC inadequado, atropina. Se sintomático e persistente, marcapasso. Pausa sinusal Quando tem ritmo sinusal, e de repente tem uma pausa dos batimentos! Depois volta sinusal. Comum em pacientes atletas durante o sono. Se for um caso de doença do NSA, em que a pessoa tem sintomas e pausas longas (mais que 3 segundos) durante a vigília, é interessante instalar um marcapasso. Bloqueio AV de primeiro grau Tempo de condução AV está aumentado, então o intervalo PR é longo. A condução está presente, só aumentada. Ou seja, sempre tem um P sucedido por QRS. Nunca é sintomático. Bloqueio AV de segundo grau A condução AV é intermitente. ➔ Tipo 1 (Mobitz): o intervalo PR vai ficando mais longo até que uma onda P não é conduzida. Aí o intervalo PR subsequente é mais curto e vai aumentando até surgir uma P não conduzida de novo. Pode surgir na fase aguda de um IAM de parede inferior! ➔ Mobitz 2: o intervalo PR é fixo, até surgir uma P não conduzida. Pode evoluir para bloqueio AV total e exige marcapasso! Bloqueio AV total Não existe condução AV. Apresenta síncopes ou sintomas de baixo débito. Pode ser devido a doença estrutural do sistema de condução ou por ação de medicamentos. Geralmente precisa de marcapasso definitivo. No ECG vai ver uma coisa super aleatória, ondas P e QRS sem relação. Porque o ventrículo não recebe o estímulo, então ele bate quando acha que deve. Alice Marçal Pires – T6 Bloqueios interventriculares (de ramo) ➔ BRD: tem a presença de complexos rsr’, rsR’ ou rSR' em V1 ou V2. No eletro normal, o QRS em V1 é negativo! No BRD fica positivo. O R’ representa outra onda positiva no QRS (se r minúsculo a segunda é menor que a primeira, se R maiúsculo é maior). Aí no ECG o complexo QRS vai formar como se fosse um M torto. O QRS vai ficar mais alargado que o normal (maior que 3 quadradinhos). Em BRD a gente tem a câmara direita batendo mais devagar que a câmara esquerda, ou seja, batem de forma ASSÍNCRONA. ➔ BRE: consequência da hipertrofia do VE. Tem a presença de ondas R alargadas ou com entalhes em V5, V6, D1 e aVL. No BRE o QRS fica negativo em V1 e V2. Também tem ausência de Q em V5, V6 e D1. Desnível de ST no sentido oposto ao da principal deflexão de QRS e onda T também oposta ao QRS. Taquiarritmia Se são SUPRAVENTRICULARES, o QRS é estreito. Se são ventriculares, o QRS é largo. As manifestações clínicas geralmente são palpitações, dispneia, diaforese e dor precordial. ➔ Taquicardia sinusal: ritmo normal, acima de 100 bpm. Pode ocorrer como resposta a estímulos fisiológicos (exercício, estresse) ou ser consequência de um estímulo excessivo (hipertireoidismo, medicações adrenérgicas, atropina...) Taquicardia atrial Unifocal: P com ritmo regular, diferente da sinusal. Multifocal: pelo menos 3 morfologias diferentes, PR com variações mínimas. Toda onda P é seguida pelo QRS! Alice Marçal Pires – T6 Fibrilação atrial Não tem atividade mecânica, contração. Ou seja, no ECG não tem onda P. O problema é que parte do sangue não é ejetado para o ventrículo, e pode coagular dentro do átrio. Então o paciente pode evoluir para um AVC isquêmico!! Sempre prestar atenção nos possíveis eventos tromboembólicos que esse paciente pode apresentar. Como não tem o comando do átrio, o ventrículo bate a hora que ele quer. Então no ECG, teremos intervalos R-R irregulares. O tratamento tem 3 objetivos: controle da resposta ventricular; restauração da sístole atrial; prevenção de episódios tromboembólicos. Flutter atrial Tem o traçado deondas em faca. Também não tem contração atrial, ou seja, não tem onda P. Extrassístoles supraventriculares O ritmo é irregular. Tem onda P’ batendo antes da hora, com morfologia diferente da onda P sinusal. O QRS é estreito porque o problema é em cima. Ao quadro clínico, pode ser assintomático ou ter palpitação, tipo “soco no peito”. Extrassístoles ventriculares Batimento precoce do ventrículo. Comum em pessoas normais e não tem mau prognóstico. Onda P sinusal geralmente está oculta pelo QRS. Existem as monomórficas, quando elas têm a mesma morfologia, e as polimórficas, quando têm morfologias diferentes (saem de lugares diferentes do ventrículo). Também tem as isoladas (acontece uma vez e para), pareadas (vem em dupla) e as bigeminadas (altera com os QRS normais). Taquicardias ventriculares Tem maior morbimortalidade. Tem alta chance de degeneração para fibrilação ventricular ou assistolia. O quadro clínico geralmente apresenta palpitações e dor torácica. Taquicardia ventricular não sustentada (TVNS) FC > 100, pelo menos 3 batimentos consecutivos, autolimitada. Duram menos que 30 segundos. Alice Marçal Pires – T6 TV sustentada (TVS) Pelo menos 3 batimentos que duram mais do que 30 segundos. FC > 100 bpm. TV polimórfica As morfologias dos QRS são diferentes. Se durar mais que 30 segundos, se fala TV polimórfica sustentada... ➔ Torsades de pointes: QRS largo, polimórfica, autolimitada, com QRS girando em torno da linha de base. Geralmente se corrige com sulfato de magnésio. Ainda tem pulso (diferencia da FV). Fibrilação ventricular (FV) Ritmo caótico, sem pulso, sem padrão nenhum, com amplitudes e frequências variáveis. Geralmente é precedido de TV ou torsades de pointes, que degeneram em FV. Assistolia Ausência de atividade ventricular contrátil e elétrica em pelo menos 2 derivações eletrocardiográficas. ECG na ICO (insuficiência coronariana obstrutiva) Isquemia Alteração na onda T, fica pontiaguda e simétrica (ela naturalmente é assimétrica). Ou seja, fica com amplitude aumentada! Lesão subendocárdica Infra do segmento ST. Lesão transmural Supra de ST. Pega a artéria inteira, obstrui completamente a passagem de sangue. Evolução das alterações do ECG no IAM Primeiros minutos do infarto: QRS apiculado, ondas T hiperagudas. Alice Marçal Pires – T6 Mais ou menos 30 minutos: supradesnivelamento do segmento ST. Aproximadamente 6 horas: surgimento de onda Q patológica (isso é por causa da necrose...) 24 horas: inversão da onda T. 1 semana: regressão do supra. Ou seja, a partir de 6 horas de evolução, a onda Q aumenta, enquanto que o supradesnivelamento do ST diminui progressivamente! A onda T, muito ampla e positiva no início, fica achatada e depois negativa, e a profundidade vai aumentando. Necrose Desaparecimento total ou parcial da onda T; aparecimento de complexo QRS tipo QS ou com onda Q patológica. Ou seja, a onda Q é maior que 1/3 do QRS total. Diagnóstico evolutivo Fase hiperaguda → 6 horas iniciais; onda R ainda preservada (QRS normal), supra de ST e onda T positiva alta. Fase aguda → até 3ª semana de evolução; QRS do tipo QS ou com onda Q patológica, segmento ST supradesnivelado/convexo, onda T negativa/simétrica/pontiaguda. Infarto em evolução! Fase crônica → mais de 3 semanas; permanece QS ou onda Q patológica, ST e T normais ou padrão anterior. Infarto antigo! Sobrecargas atriais O átrio direito é o primeiro a se ativar, e depois as fibras estimulam o átrio esquerdo. Isso é importante para entender que quando falamos em largura da onda P, é sobre o AE; e quando falamos em altura, estamos nos referindo ao AD. A sobrecarga do átrio esquerdo (SAE) cursa, então, com uma onda P mais larga ou com uma onda P bífida (entalhe em cima). Larga = mais que 3 quadradinhos. Já na sobrecarga do átrio direito (SAD), a onda P tem duração normal e amplitude aumentada, maior que 2,5 mm. Hipertrofias ventriculares Hipertrofia é diferente de dilatação. Na hipertrofia, ocorre muita pressão ao longo da vida, e isso aumenta a espessura da parede ventricular. Já na dilatação, ocorre aumento de volume, quando o ventrículo recebe uma quantidade muito grande de sangue, começa a não suportar, e então dilata.