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Prof. Sinval Silva, 300, Esplanada, CEP: 35020450 Governador Valadares - MG E-mail: angelica.leal@univale.br Bruno Lemos Paoliello Ensino Superior Incompleto - Curso de Medicina Instituição: Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE Endereço: Rua 9, 701, chácaras Braúnas, CEP: 35023040 Governador Valadares - MG E-mail: bruno.paoliello@univale.br Felipe Bouzas da Silva Ensino Superior Incompleto - Curso de Medicina Instituição: Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE Endereço: Rua Israel Pinheiros, 1455, São Pedro, CEP: 35020-220 Governador Valadares - MG E-mail: felipe.silva@univale.br Guilherme Martins Müller Ensino Superior Incompleto - Curso de Medicina Instituição: Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE Endereço: Endereço: Rua Israel Pinheiros, 1455, São Pedro, CEP: 35020-220 Governador Valadares - MG E-mail: guilherme.muller@univale.br Igor Costa Carvalho Ensino Superior Incompleto - Curso de Medicina Instituição: Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE Endereço: Av. Dr. Sérvulo Teixeira 192, Alto Esplanada, CEP: 35064-004 Governador Valadares - MG E-mail: igor.carvalhol@univale.br José Walter Sampaio Neto Ensino Superior Incompleto - Curso de Medicina Instituição: Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE Endereço: Av. Dr. Sérvulo Teixeira, 321, Alto Esplanada, CEP: 35064-004 Governador Valadares - MG E-mail: jose.sampaio@univale.br mailto:angelica.leal@univale.br mailto:bruno.paoliello@univale.br mailto:felipe.silva@univale.br mailto:guilherme.muller@univale.br mailto:igor.carvalhol@univale.br mailto:jose.sampaio@univale.br Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15554 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. Leonardo Figueiredo Mendes Silva Ensino Superior Incompleto - Curso de Medicina Instituição: Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE Endereço: Rua Benjamin Constant, 786, Centro - CEP: 35010-060 Governador Valadares - MG E-mail: leonardo.mendes@univale.br Michele Helena da Silva Ensino Superior Incompleto - Curso de Medicina Instituição: Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE Endereço: Av. Álvaro Reis, 293, Esplanada – CEP: 35020020 Governador Valadares - MG E-mail: michele.silva@univale.br Sarah Kellen Pereira Prates Ensino Superior Incompleto - Curso de Medicina Instituição: Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE Endereço: Rua Américo Menezes, 23, São Pedro, CEP: 35020-030 Governador Valadares-MG E-mail: sarah.prates@univale.br Yasmin Luiza Peruzzo Ensino Superior Incompleto - Curso de Medicina Instituição: Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE Endereço: Rua Israel Pinheiro, 1545, St Dumont I, CEP: 35020-220 E-mail. Yasmin.peruzzo@univale.br Pedro Henrique Ferreira Marçal Doutor em Imunologia e Genética Instituição: Universidade Vale do Rio Doce - Univale - Núcleo da Saúde Endereço: Rua Edgard Fernandes 78, Castanheiras, CEP: 35054753 Governador Valadares - MG E-mail: phfmarcal@gmail.com RESUMO O envelhecimento envolve diversos processos moleculares e celulares e a imunossenescência se evidencia no que concerne à redução generalizada das funções imunológicas. As razões para isso extrapolam a cronologia e apontam para a atuação da medicina preventiva, com o fito de promover qualidade de vida à população idosa que, segundo a tendência mundial, continua a crescer. Considerando aspectos imunológicos gerais, a senescência tem sido resumida à perda progressiva da homeostase, no que diz respeito à capacidade menor e mais lenta dos indivíduos senis quanto às respostas imunológicas, às alterações ambientais e à deterioração de seu funcionamento fisiológico, o que os tornariam mais vulneráveis a uma série de infecções e problemas crônicos. Mediante a isso, o presente estudo tem por objetivos centrais explorar o envelhecimento e discutir sobre suas alterações no organismo, evidenciando a influência de fatores como nutrição, estresse, sono, exercício físico e a Covid-19. Conclui-se, portanto, que tal sistema, atuante na proteção contra diversas doenças, mostra-se, um tanto, suprimido nessas idades, com vias de alta complexidade e ainda não completamente elucidadas. Nesse caso, traçar estratégias para compreender e amenizar a imunossenescência extrapola a perspectiva restrita ao rejuvenescimento e engloba o bem-estar, principalmente pelas doenças infecciosas e mailto:leonardo.mendes@univale.br mailto:michele.silva@univale.br mailto:sarah.prates@univale.br mailto:Yasmin.peruzzo@univale.br mailto:phfmarcal@gmail.com Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15555 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. inflamatórias às quais o público destacado mostra-se mais susceptível, o que torna o estudo de imensa relevância à sociedade civil e de interesse à comunidade científica, a fim de que os mecanismos envolvidos sejam consolidados e os objetivos mencionados, de fato, atingidos. Palavras-chave: imunossenescência, imunologia, covid-19. ABSTRACT Aging involves several molecular and cellular processes, the immunosenescence is evident in terms of the generalized reduction in immune functions. The reasons for this goes beyond the chronology, pointing to preventive medicine, with the aim of promoting quality of life for the elderly population, which, according to the world trend, continues to grow. Considering general immunological aspects, senescence has been summarized as the progressive loss of homeostasis, with regard to the smaller and slower capacity of senile individuals regarding immunological responses, environmental changes and the deterioration of their physiological functioning, which would make them more vulnerable to a range of infections and chronic problems. Therefore, the present study has as central objectives to explore aging and discuss its changes in the body, indicating the influence of factors such as nutrition, stress, sleep, physical exercise and Covid-19. It is concluded, therefore, that this system, which acts in the protection against several diseases, is suppressed at these ages, with highly complex pathways that have not yet been completely elucidated. In this case, draw strategies to understand and ease immunosenescence goes beyond the perspective restricted to rejuvenation and encompasses well-being, mainly due to infectious and inflammatory diseases to which the public in question is more susceptible, which makes the study of immense relevance to civil society and interesting to the scientific community, so that the mechanisms involved are consolidated and the objectives mentioned, in fact, achieved. Keywords: immunosenescence, immunology, covid-19. 1 INTRODUÇÃO O envelhecimento de uma espécie depende de múltiplos aspectos que superam a simples cronologia. Nessa perspectiva, já afirmava Levet-Gautrat, “(...) Não existe uma entrada na velhice e sim entradas diferentes e sucessivas”, haja vista que cada indivíduo reage de forma singular ao processo de amadurecimento. Partindo desse pressuposto, o processo de envelhecimento é visto como um conjunto de variáveis sejam eles de origem genética, metabólica celular ou molecular. Desse modo, é importante salientar dois mecanismos que se destacam quando se trata do envelhecimento: o deAcesso: 03/05/2021. ASSMANN, K. E.; LASSALE, C.; ANDREEVA, V. A.; JEANDEL, C.; HERCBERG, S.; GALAN, P.; KESSE, G. E. A healthy dietary pattern at midlife, combined with a regulated energy intake, is related to increased odds for healthy aging. J Nutr, v. 145, n. 9, sep., 2015. Disponível em: . Acesso: 03/05/2021. AVIDAN A. Y. Sleep in the geriatric patient population. SeminNeurol 25: 52–63, 2005. Disponível em: . Acesso: 03/05/2021. AW, D.; SILVA, A. B.; PALMER, D. B. Immunosenescence: emerging challenges for an ageing population. 2007. Disponível em: . 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O envelhecimento de natureza genético desenvolvimentista é definido como um processo contínuo e controlado geneticamente, sendo resultado de um desequilíbrio neuroendócrino que atenua a integração funcional dos sistemas orgânicos. Em contrapartida, a teoria estocástica defende a ideia de que o processo de envelhecimento é fruto do acúmulo de Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15556 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. agressões ambientais que atingem níveis incompatíveis com a manutenção da homeostase do organismo e, consequentemente, da vida. O envelhecimento se trata de um evento natural da vida dos seres humanos, que ainda possui muito a se conceber sobre seus efeitos. Ao analisar os dados demográficos mundiais, constata-se que, até o ano de 2050, o número total de idosos com mais de 60 anos ultrapassará a marca de 2 bilhões, ultrapassando os 900 milhões de 2015. Segundo Bacha, Perez e Vianna (2006), o decréscimo da taxa de fecundidade e o aumento da expectativa de vida são as principais fontes de contribuição para o envelhecimento da população total. Isso se deve não somente a mecanismos de cuidado focados na saúde dos mais velhos, como também em razão da evolução dos conceitos e tratamentos da medicina profilática, estes, fundamentados na eficácia de medicamentos e diagnósticos para doenças crônico-degenerativas e infecto contagiosas, onde são ponderados como determinantes na manutenção da qualidade de vida dos indivíduos. (FRIES; PEREIRA, 2011). O organismo humano com o avanço da idade sofre influências fisiológicas e patológicas como o câncer ou ainda por doenças autoimunes que podem promover interrupções no mecanismo de sinalização e, assim, influenciar na resposta imune do sistema. A imunidade adquirida possui como um de seus mecanismos de defesa as Células T, estas nas quais são ativadas por meio de eventos sequenciais de sinalização, fenômeno esse capaz de promover diferenciação, apoptose, energia e a evolução de funções efetoras ou de memória. Estas manifestações resultantes de ativação das Células T são determinadas por subpopulações onde cada uma possui receptores co-estimulatórios específicos, presentes na composição da membrana plasmática, para cada estímulo. Existem os receptores de células apresentadoras de antígenos (APC), na qual a sinalização ocorre por meio de células apresentadoras de antígenos (APC) que capturam os microrganismos invasores e levam até as células da imunidade adquirida que possuem competência em combater este invasor, como também há os receptores de equilíbrio entre as citocinas., citocinas essas que são produzidas por diversas células, mas principalmente por linfócitos e macrófagos ativados, com ação de modular a função de outras células ou da própria célula, de modo a promover o controle da resposta imune. Portanto, devido às alterações de características patológicas bem como transformações comuns à idade acomete em maior frequência indivíduos em idade avançada, as funções do sistema imunológico, acima descritas, acabam não sendo tão efetivas quanto em uma pessoa jovem. Portanto, com o envelhecimento do ser humano o sistema imune também passa por transformações ao longo do processo é marcado por mudanças em todas as suas fases, sendo que o ápice da função do sistema imune ocorre na puberdade e há um declínio gradativo durante Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15557 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. o envelhecimento (EWERS AT, RIZZO LV e FILHO JK, 2008). A OMS - Organização Mundial de Saúde- declara como idoso os cidadãos com idade superior a 65 anos. Assim, é importante destacar que esses indivíduos, com mais de 60 anos, devem receber um cuidado especial em razão do seu sistema imunológico. Dessa forma, o profissional de saúde deve propor tratamentos que visam atender essa peculiaridade, optando por procedimentos que não comprometam ainda mais as funções efetoras do sistema imune. A prevalência de uma população com idade avançada e acima do peso, baseados em dados demográficos, tende a ter um crescimento constante. Concomitante a isso, o desafio de alcançar uma boa saúde da população em geral se torna ainda maior, devido a essa tendência mundial, sendo necessário uma ação multifatorial, o que engloba, por exemplo, aspectos genéticos e bons hábitos de vida, como a alimentação saudável e a prática de atividades físicas corriqueiramente. Nesse sentido, se faz importante compreender as transformações fisiológicas vivenciadas pelos indivíduos com o passar da idade, a qual induz, simultaneamente, o enfraquecimento do sistema imunológico, a exemplo das doenças relacionadas à falha do mecanismo de apoptose, que causam degeneração. 2 MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida a partir de revisão bibliográfica, de forma exploratória. Para a busca de materiais bibliográficos foram utilizadas as palavras-chave: imunossenescência, Covid-19. A partir de tais palavras-chave, artigos científicos foram analisados nas bases de dados do Scientific Electronic Library Online (Scielo), Biblioteca Virtual em Saúde, no sistema de busca do Google acadêmico, Medline e PubMed, além de busca complementar de notas técnicas e informativas e boletins epidemiológicos disponíveis nos websites da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde. Foram incluídos textos publicados em português e inglês. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Designa-se imunosenescência o envelhecimento imunológico associado ao declínio contínuo da função imune, levando à suscetibilidade para infecções dos indivíduos, assim como predisposição para doenças auto-imunes e câncer, geralmente e mais frequentemente, após os 60 anos de idade. Essa diminuição da função imune está associada às alterações que podem ocorrer em qualquer etapa do desenvolvimento da mesma, uma vez que se trata de um processo complexo multifatorial envolvendo várias reorganizações e alterações no desenvolvimento regulatório, e, ainda, mudanças nas funções efetoras do sistema imune. (EWERS et al., 2008). Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15558 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. Durante o processo de envelhecimento ocorrem mudanças que são multifatoriais (social, comportamental, fisiológica, morfológica, celular e molecular), influenciando a longevidade humana e o perfil do envelhecimento, o qual está intrinsecamente ligado a genética, cuidados com saúde geral, estilo de vida, características psicológicas e comportamentais experimentadas ao longo da vida. Essas características definem a forma de envelhecimento desses indivíduos, podendo ser típico, patológico ou bem-sucedido. (RINALDI, 2019). Mais especificamente, a senescência simboliza um fenótipo complexo da biologia que se apresenta em todos os órgãos e tecidos. Ainda existem limitações no entendimento das causas do envelhecimento. Assume-se que o envelhecimento de células, dos órgãos e dos tecidos ocorre em diferentes ritmos, não apresentando um marco temporal único de início dessa senescência, impossibilitando a delimitação do processo no ser humano. (PARTRIDGE L;2002). Com esse efeito, há um declínio na qualidade de vida, a incapacidades funcionais e ao aparecimento de patologias, como por exemplo, as doenças infecciosas, autoimunes e neoplasias, assim como doenças cardíacas e pulmonares, diabetes e demência. Os adultos mais velhos que vivem em residências para idosos correm o maior risco devido ao fardo de doenças crônicas e ao impacto da habitação congregacional (JANKO et al. 2020). Estudos sugerem que o envelhecimento está associado ao aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias por macrófagose fibroblastos. Acredita-se que os níveis elevados desses mediadores sejam responsáveis pela maioria das doenças associadas à idade, como diabetes, osteoporose e aterosclerose, porque todos compartilham uma patogênese inflamatória. (MARTINIS et al., 2005; LICASTRO et al.; 2005). O envelhecimento por inflamação está associado ao desafio antigênico constante, a produção contínua de mediadores inflamatórios poderia potencialmente desencadear o início de doenças inflamatórias associadas. De fato, evidências emergentes sugerem que o equilíbrio entre citocinas pró e anti-inflamatórias pode ser usado como um perfil para indicar fragilidade e mortalidade em indivíduos mais velhos. (VAN et al., 2004). A “hipótese inflamatória”, surgida no final do século XX, explica as diferenças existentes nas alterações do sistema imune que podem ser observadas nos idosos. Tal hipótese é baseada na origem de várias patologias associadas ao envelhecimento, após exposição precedente a agentes infecciosos, além de outras fontes originárias de respostas inflamatórias, incluindo as ambientais, em fases mais precoces da vida, assim como, a forma como o organismo de cada indivíduo reage a elas. Esse processo denominado como “inflammaging”, gera um acúmulo de lesões crônicas e vem sendo considerado como determinante de doenças neurodegenerativas, aterosclerose, diabetes tipo II e sarcopenia. Estudos afirmam que as Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15559 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. infecções subclínicas, o acúmulo de tecido adiposo e o tabagismo auxiliam para a manutenção do processo inflamatório crônico. (CAMPISI, 2013). Infecções com vírus da gripe e Streptococcus pneumoniae, que levam à pneumonia, são uma das principais causas de morbidade e mortalidade em idosos. Estudos anteriores sugeriram que as respostas das células T específicas do vírus da gripe diminuem nos idosos e que isso é em parte resultado de defeitos na apresentação do antígeno. (EFFROS; WALFORD, 1984) O aumento da incidência de infecções pneumocócicas é resultado de um defeito na produção de anticorpos para os antígenos polissacarídeos capsulares, que são críticos para matar a bactéria pelas células fagocíticas.(BUTLER et al. 1999) A resposta do anticorpo aos polissacarídeos é dependente de células B e macrófagos (M), e nossos estudos recentes sugerem que os defeitos nos idosos são em parte resultado de deficiências na função M. (CHELVARAJAN et al. 2005). A zona marginal M do baço e as células B, possuem um papel na resposta do anticorpo aos antígenos polissacarídeos. (KRUETZMANN, S. et all., 2003; KANG, Y-S. et all., 2004). Há pouco tempo, por meio da utilização de um estudo com camundongo, nota-se que somente M esplênicos de camundongos jovens são capazes de suportar células B e produzir anticorpos anti-polissacarídeos (MILLER, R. A. 1996). Dessa forma, podemos concluir que a principal função de M é a produção das citocinas interleucina (IL) -1 e IL-6, necessárias para a diferenciação das células B. De fato, na presença de células B de IL-1 e IL-6 B dos jovens e do envelhecidos apresentaram níveis equivalentes de respostas anti-polissacarídicas. A principal razão para a incapacidade de M dos idosos de suportar as respostas das células B aos antígenos polissacarídicos foi o resultado de um defeito na secreção de IL-1 e IL-6. No entanto, o defeito na secreção de citocinas não se limitou a IL-1 e IL-6, como outras citocinas pró-inflamatórias, como IL-12 e fator de necrose tumoral (TNF-) também foram produzidos em níveis mais baixos por M do idoso em comparação com camundongos jovens. É interessante que os M dos idosos não eram defeituosos na produção de IL-10, mas produziam mais dessa citocina do que os M dos jovens. Assim, a produção de citocinas foi desregulada em M dos idosos. Também foi demonstrado que M pode ser alternativamente ativado por IL-4, levando à supressão de citocinas pró-inflamatórias e expressão aumentada de genes de classe II do complexo principal de histocompatibilidade (MHC II), bem como IL-1RA (GORDON, S., 2003). Como os idosos mostraram ter uma incidência aumentada de células T Th2 (HSU et al., 2005), era concebível que os M nos idosos tivessem marcadores de ativação de IL-4. O aumento da idade e da longevidade propicia o aumento da prevalência de doenças da terceira idade, para os idosos com envelhecimento típico e/ou patológico há maior prevalência delas, como as demências e as alterações do sistema imunológico. Para a Doença de Alzheimer Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15560 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. (DA) algumas das primeiras manifestações observadas são o declínio cognitivo leve (DCL), sintomas depressivos, queixa subjetiva de memória e comprometimento da capacidade funcional. No envelhecimento fisiológico ocorre alteração no sistema imunológico, tanto no sistema adaptativo quanto no inato, causando alterações nos linfócitos T (CD4 e CD8), podendo acarretar inversão da razão CD4/CD8, com consequente perfil de risco imunológico. (RINALDI, 2019) Em síntese, o processo de imunossenescência da resposta imune adaptativa tem como consequências clínicas o aumento da suscetibilidade às infecções, havendo maior morbidade e mortalidade; redução da resposta às vacinas, maior suscetibilidade às doenças auto-imunes e desenvolvimento de resposta inflamatória crônica. (STERVBO et al., 2015). 3.1 ASPECTOS MOLECULARES E AS CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE A imunossenescência é um processo marcado pela presença de um estado inflamatório crônico, resultado de um decréscimo da eficiência da resposta imune em virtude do envelhecimento. Convém ressaltar que o envelhecimento possibilita a capacidade de alterações em todas as fases da resposta imune. Essas mudanças, são significativas e afetam desde a hematopoiese até a diferenciação das células produzidas por esse mecanismo fisiológico (WASTOWSKI; ZANINI, 2016). Evidencia-se que a maior parte das células do sistema imune possui a capacidade de serem influenciadas pela imunossenescência, a qual pode dar início a erosão geral das capacidades imunológicas. A preservação de aspectos da imunidade inata é normalmente aceito, no entanto, novas evidências demonstram que componentes celulares da imunidade inata (fagócitos, células assassinas naturais e células dendríticas) sofrem mudanças relevantes associadas à idade que contribuem com maior suscetibilidade de infecções graves em indivíduos idosos (LARBI et al., 2008). Com o aumento da faixa etária, verifica-se uma maior suscetibilidade em relação ao quadro de doenças infecciosas, O envelhecimento provoca efeitos negativos sobre a maioria das células imunes. Consequentemente, em virtude da redução das respostas corporais às vacinas e a presença de uma inflamação sistêmica, os idosos torna-se mais vulneráveis a possíveis infecções. Somado a isso, é notável a existência de um declínio da vigilância imunológica contra o câncer, o que favorece o aumento da incidência dessas doenças. (DUGGAL N.A. et al., SIMPSON, R.J. et al.) Para que ocorra o sucesso e a longevidade de um organismo, é necessário que exista um equilíbrio nos recursos essenciais para reparo de suas funções. A nível celular, a prevenção e Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15561 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. reparo dos danos é exercido por processos enzimáticos, os quais mantém a integridade genômica. Em relação ao sistema imune, essa manutenção demonstra ser de extrema importância nas células de memória. Convém ressaltar, que todas as células do sistema imune são provenientes de células tronco precursoras, as quais podem se diferenciar ao longo da vida no processo de hematopoiese.Somado a isso, é presente nessas células uma intensa atividade da telomerase, complexo enzimático o qual detém a capacidade de alongar DNA telomérico. O sistema imune, possivelmente, caracteriza-se como o melhor exemplo no qual a manutenção da atividade da telomerase é essencial. Células troncos e linfócitos ativados representam as principais células em que se observa a atividade dos telômeros devido a necessidade de auto- renovação e replicação. A competência imunológica está relacionada com a expansão clonal, sobretudo, dos linfócitos B e T antígenos-específicos e a destruição dos telômeros pode ocasionar na diminuição da função imune. (RINALDI, 2019). O estresse oxidativo e o encurtamento dos telômeros são dois fatores que devem ser considerados na longevidade e no envelhecimento, sobretudo, pelo modo que reduzem a eficiência da resposta imunológica. (MACENA; HERMANO; COSTA, 2018). Segundo Ewers TA, Rizzo LV e Filho JK (2008) acredita-se que a erosão dos telômeros está relacionada com a frequência de infecções inoportunas e crônicas. A excessiva exposição aos agentes infecciosos favorece a degradação dos mesmos, os quais estão associados ao envelhecimento. No entanto, ressalta-se que os mecanismos pelos quais o encurtamento dos telômeros pode levar à autoimunidade em idosos ainda não estão totalmente elucidados. (DUARTE; GABRIEL DE MELO-ALMEIDA, 2010). Em relação ao estresse oxidativo, destaca-se que com o envelhecimento há um aumento de espécies reativas. Esses produtos derivados do metabolismo mitocondrial, possivelmente estão atrelados ao crescente acúmulo de lesões celulares. De acordo com a teoria de radicais livres, indivíduos mais velhos apresentam uma maior concentração de lipídeos, proteínas, carboidratos e DNA oxidados, quando comparado ao organismo de jovens. Esse fato, está relacionado com um declínio no metabolismo, principalmente, de idosos. Nesse sentido, é importante salientar a prática regular de exercícios físicos, bem como a presença de uma dieta rica em alimentos com substâncias antioxidantes, a fim de minimizar o estresse oxidativo (MARTINS DA SILVA; BUCALEN FERRARI, 2011). Assim, tendo em vista os fatos supracitados, conclui-se de maneira geral, que há uma queda na funcionalidade do sistema imunológico de idosos, afetando a proliferação celular do sistema imune inato e adquirido além da capacidade de proteção contra novos agentes infecciosos. (EDUARDA; MOREIRA ANDRETTA, 2020). Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15562 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. 3.2 LINFÓCITOS T O timo representa o principal local de desenvolvimento dos linfócitos T, sendo responsável por produzir células T imunocompetente auto-tolerantes e restritas ao complexo de histocompatibilidade principal. (AW; SILVA; PALMER, 2007). Convém ressaltar, a redução tímica como um dos acontecimentos fisiológicos mais proeminentes durante o envelhecimento. A redução gradual do córtex e da medula do timo tornam-se evidentes com o passar dos anos. (WEINBERGER et al., 2008). Esse processo é denominado de involução tímica e apresenta múltiplas causas, sendo seus mecanismos relacionados com repercussões negativas para as células T periféricas. (AW; SILVA; PALMER, 2007). Os linfócitos T maturados no timo começam a reduzir a partir da involução deste órgão. A presença de peptídeos tímicos decresce no sangue humano a partir dos 60 anos. Consequentemente, há uma redução na produção de linfócitos T ingênuos e aumento das células de memórias inertes. Em relação aos linfócitos T CD8, observa-se uma diminuição da capacidade de resposta citotóxica para conter uma infecção (EDUARDA; MOREIRA ANDRETTA, 2020). As células T efetoras caracterizam-se por marcadores de superfície, destacam-se entre eles C28, CD27, CD45RA, CCR7; telômeros longos, os quais indicam um histórico de poucas replicações; e por uma presença de receptores de células T diversificados. No entanto, o comprometimento numérico e funcional das células T funcionais em indivíduos idosos promovem entraves na indução de respostas imunes adaptativas diante da presença de antígenos apresentados. No que diz respeito a vacinação primária, evidencia-se uma redução das taxas de resposta (WEINBERGER et al., 2008). De acordo com um estudo realizado por Tummala, Taub e Ershler (2010), as células T ingênuas de idosos apresentam um declínio da resposta, além de uma redução na proliferação e origem de células efetoras. É importante salientar também, que a função auxiliar na produção de anticorpos sofre efeitos negativos, porém as células recém-formadas demonstram uma boa resposta aos antígenos. (EDUARDA; MOREIRA ANDRETTA, 2020) Atualmente, compreende-se que o envelhecimento está associado a uma redução na ativação e proliferação dos linfócitos T com um declínio na expressão de CD28. Essa redução, no entanto, não se mostra presente em relação ao TCR. Estudos demonstraram falhas nos processos de sinalização de linfócitos T de idosos, sobretudo, no primeiro sinal. Esses defeitos estão relacionados a diversas causas, destacam-se entre elas: fosforilação da tirosina; mobilização do cálcio; ativação dos caminhos; translocação no núcleo; produção de IL-2 e proliferação de células T. Ademais, evidencia-se uma queda nos valores percentuais de Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15563 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. linfócitos T CD8+ que são CD28+ e, em média o tamanho presente no telômero é menor em linfócitos CD28- indicando assim, que essas células passaram por diversas divisões celulares (EWERS; RIZZO; KALIL FILHO, 2008). Para ativação das células T, o contato físico sustentado com a APC é fundamental. Os contatos mais próximos são realizados no cluster de ativação supramolecular central (cSMAC), onde o processo de sinalização é facilitado por estruturas presentes na membrana das células. Outros receptores/ moléculas possuem localização periférica SMAC, e com isso migram para CSMAC a fim de regular a ativação. Apenas as moléculas / vias de sinalização conhecidas e que promovem alterações serão mostradas. Lck associado a CD4 ou CD8 reúne e ativa a proteína associada a Zeta de 70 kDa (ZAP-70) e fosfolipase C-1 (PLC-1) na exclusão de CD45. PLC-1 exerce seu papel no metabolismo do cálcio e ativação da proteína quinase C, enquanto ZAP-70 fosforila o ligante de células T ativadas (LAT). Este último, associa-se a várias moléculas, como o Vav e influencia os rearranjos do citoesqueleto. Essas alterações na expressão (E), fosforilação (P) ou recrutamento (R) são responsáveis por provocar uma ativação diferencial de proteínas quinases. Estas, são ativadas por mitógeno (MAPK) e realizam a translocação de fatores de transcrição, incluindo NF-B, NF-AT e AP-1 para o núcleo. Nas células T envelhecidas esse processo é diminuído,o que afeta diretamente a expansão clonal devido à baixa produção de IL-2.(LARBI et al., 2008). De acordo com DellaRosa et al. (2006), estudos indicam diferenças nos níveis de células T CD8+ presente em idosos, quando comparado a indivíduos jovens. Observa-se nos idosos uma redução dos níveis de CD8+ e CD4+. Um estudo analisou a expressão das células T CD28 e CD8+ em três grupos etários (adultos, idosos e nonagenários). Os resultados permitiram concluir que há uma manutenção das funções das células T CD8+, a qual demonstra ser um dos mecanismos atrelados a longevidade dos nonagenários. (RINALDI, 2019). Em decorrência do envelhecimento, há uma linfopenia progressiva de linfócitos T, tanto CD4+ como CD8+, devido ao decréscimo de precursores na medula óssea, pelo declínio do potencial proliferativo e/ou aumento da apoptose, a qual pode estar relacionada com a maior expressão de CD95 e aumento na produção de TNF-α, ou também, pelo aumento da susceptibilidadede linfócitos CD4+ e CD8+ existentes em idosos sofrerem apoptose por essa citocina.(RINALDI, 2019). No geral, a maturação de linfócitos T é um processo complexo, uma vez que inclui a atividade tímica, a qual sofre uma redução progressiva em virtude do envelhecimento. Enfatiza- se que esse processo ainda não está totalmente esclarecido. Nos timócitos existe uma elevada atividade da telômeros e o comprimento do telômero pode ser aumentado ou mantido, segundo Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15564 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. Veríssimo VMT (1999). O encurtamento do telômero tem sido associado a indivíduos portadores de patologias inflamatórias crônicas, como a artrite reumatoide, esclerodermia, lúpus eritematosos sistêmicos, a dermatite atópica, entre outras (DUARTE; GABRIEL DE MELO-ALMEIDA, 2010). 3.3 LINFÓCITOS B Há comprometimento da imunidade humoral com o processo de envelhecimento, seja pelo declínio da produção de linfócitos B, que produzem imunoglobulinas de longo prazo, em virtude de defeitos intrínsecos e microambientais, seja pela perda da diversidade e da afinidade das imunoglobulinas pela interrupção da formação do centro germinativo. (HAN S. et al.; 2003) Nesse sentido, sabe-se que as células B sofrem mudanças relacionadas à idade semelhantes às observadas em células T, em que ocorre redução de linfócitos efetores, o que desencadeia redução na diversidade de respostas dos anticorpos (ALLMAN, MILLER, 2005). Fatores como comutação, mutação somática e defeitos no isótopo, fundamentais para que os anticorpos IgG de alta afinidade sejam produzidos, interferem nas respostas imunes, mediadas por anticorpos, de modo que sejam de baixa afinidade e consideradas fracas em pessoas idosas (FRASCA, RILEY, BLOMBERG;2005). Convém destacar, desse modo, que as células plasmáticas de longa duração na medula óssea também se mostram em déficit nesses indivíduos, o que se justifica, aparentemente, pelo fato de a medula óssea envelhecida ter sua capacidade reduzida quanto a tais células (HAN et al.; 2003). De fato, as interações entre células B e T recebem influência, visto que os defeitos na função auxiliar de células T, provenientes do próprio envelhecimento, implicam de forma significativa na imunidade humoral. Esse fato remete à formação do centro germinativo e a produção de diversos fatores solúveis (RINK L.; CAKMAN I.; KIRCHNER H.; 1998). É de extrema relevância a interação entre as células B e T para que diferentes classes de anticorpos sejam produzidas. Em idosos, com a probabilidade de serem defeituosas tais interações, ressalta-se que os linfócitos T CD4+ senescentes apresentam expressão reduzida do ligante de CD40, uma molécula fundamental para que os linfócitos B recebam estímulo para ativação por meio de células T (ESQUENAZI; 2008). Conclui-se, portanto, que diversas mudanças no funcionamento e na quantidade de células que envolvem linfócitos B, inclusive suas precursoras, acontecem. Consequentemente, ocorre redução da quantidade das células B, mudança no repertório de receptores de superfície (imunoglobulinas) e vazão dos precursores da medula óssea. A produção de anticorpos contra novos antígenos é prejudicada, mas em comparação a outros aspectos da imunologia, a Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15565 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. imunidade humoral acerca de antígenos de memória é conservada (WENG; AKBAR; GORONZY; 2009). 3.4 MONÓCITOS, MACRÓFAGOS, NK, CÉLULAS DENDRÍTICAS E OUTROS COMPONENTES DA IMUNIDADE Macrófagos e neutrófilos sofrem uma redução na capacidade de realizar fagocitose, além de ter uma explosão oxidativa diminuída em pessoas idosas (GOMEZ; BOEHMER; KOVACS; 2005). A expressão do MHC de classe II, por regulação positiva, é prejudicada em macrófagos mais antigos (VAN, D. D.; SHAW A. C.; 2007). As células responsáveis pela fagocitose reconhecem as estruturas de patógenos via receptores Toll-like (TLRs). Defeitos na expressão de TLRs foram observados em macrófagos de pessoas idosas [25]. Com a idade, também ocorre uma redução no número de células de Langerhans na pele, além da expressão de MHC classe I e II e da capacidade de apresentar antígeno por parte das células dendríticas (GREWE; 2001). Essas deficiências no sistema inato relacionadas à idade e à resposta imunológica podem dificultar o sucesso da vacinação por conta da diminuição da captação de antígeno no local da injeção, que resulta em alterações fagocíticas negativas. Diversos defeitos no processamento e na apresentação de antígenos levam à diminuição da ativação e consequente estimulação de células imunes adaptativas (WEINBERGER et al.; 2008). As células dendríticas são responsáveis por relacionar a imunidade inata com a imunidade adaptativa. Com o processo de envelhecimento, observa-se que essas células apresentam menor eficiência na apresentação de antígenos, o que provoca uma redução no estímulo dos linfócitos T. Os monócitos/ macrófagos, numericamente, aumentam com avanço da idade, entretanto a sua função é diminuída. As células NK também apresentam um crescimento quantitativo, no entanto, tornam-se pouco eficientes na produção de citocinas, as quais são responsáveis pela emissão de sinal e regulação do sistema, e passam a ser denominadas células Killer de menor competência (WESSEL et al., 2010). O envelhecimento está associado ao aumento da produção de citocinas pró inflamatórias por parte dos macrófagos. Acredita-se que elevados níveis desses mediadores na circulação são responsáveis pela maioria das doenças relacionadas à idade. A expressão dos ‘’Toll-like receptors’’ diminui com a idade, ocasionando o aumento da produção de citocinas pró inflamatórias e quimocinas que interferem na regulação do sistema imune, como foi relatado acima. Um estudo realizado por Van Duin et al. (2007) apud MALHEIRO (2013) indicou que monócitos mais velhos expressam níveis reduzidos de TLR, o que pode acarretar em defeitos importantes na sinalização e na ativação do sistema imune Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15566 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. inato, além de comprometimento de uma resposta imunológica eficaz durante infecções ou por imunização vacinal. Ademais, os idosos apresentam mudanças na expressão de moléculas coestimulatórias, indicando uma redução na coestimulação dos linfócitos T com as células apresentadoras de antígeno. A expressão reduzida das moléculas de superfície diminui a eficácia da ativação no sistema imunológico, fazendo com que as respostas sejam tardias e de menor intensidade. (MACENA et al., 2018). Estudos recentes indicam um declínio da capacidade fagocítica e redução da produção de ânion superóxido em macrófagos e neutrófilos em indivíduos senescentes. Além disso, fagócitos envelhecidos incluem uma expressão reduzida de receptores ‘’Toll-like’’ nos macrófagos (GOMEZ, BOEHMER, KOVACS, 2005) (LORD et al., 2001). Levando em consideração o papel essencial que as células assassinas naturais (NK) desempenham na imunidade, é razoável supor que as manifestações clínicas relacionadas à imunossenescência possam também ser resultado de alterações dependentes da idade, em quantidade e qualidade de função das células NK. Nos dias atuais, considera-se que o número de células NK aumenta de forma significativa com a idade, porém as mudanças na função das células NK são menos esclarecidas e, em alguns casos, há relatos conflitantes (AW; SILVA; PALMER, 2007). Ocorre aumento na produção das citocinas pró-inflamatórias IL-1, IL-6 e TNF-α nos idosos, refletindo uma alteração no padrão regulatório destas citocinas, que podem estar relacionadas com os mecanismos que desencadeiam muitas dasdoenças típicas da idade, as quais é correto citar a aterosclerose, a demência e as doenças autoimunes. Também foi descrita uma perda do equilíbrio entre as citocinas do padrão Th1 e Th2. Essa perda pode ser responsável pelo aumento da suscetibilidade dos idosos a infecções causadas por vírus e por bactérias extracelulares. A regulação defeituosa da resposta imune também é um fator que pode levar a um aumento das doenças autoimunes (FRANCESCHI et al., 1996). Existem, ainda, as células dendríticas foliculares (FDC) que, durante o processo de envelhecimento, indicam uma perda da capacidade de estimular os linfócitos B. Além de possuírem menor capacidade de captar e de reter imunocomplexos, a redução quantitativa de receptores para a cadeia FC gama de anticorpos (FcγRII) resulta em menor capacidade de estimular a produção de novos centros germinativos e, consequentemente, em menor resposta humoral a antígenos recém-encontrados (AYDAR et al., 2004). As células que fazem parte da resposta imune inata são neutrófilas, eosinófilos, macrófagos, células dendríticas e células ‘’Natural Killer’’ (NK). Elas atuam por atividade fagocítica a patógenos, promovendo a lise de células infectadas e produzindo citocinas e Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15567 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. quimiocinas. Apesar da resposta imune inata sofrer menos alterações em decorrência da imunossenescência em comparação à imunidade adaptativa, existem evidências que células dessa resposta também são afetadas pelo envelhecimento. Entre as principais falhas celulares na resposta imune inata, é correto citar a redução da atividade microbicida, da quimiotaxia, da produção de citocinas e quimiocinas, da capacidade fagocítica, da transdução de sinais de ativação celular e do apoptose. Essas alterações são observadas, especialmente, em neutrófilos e monócitos/macrófagos. Essas células não sofrem redução quantitativa substancial na velhice. Entretanto, como já mencionado, em questão funcional há perda da eficiência da resposta imune promovida por elas. Essa perda de função resulta em maior suscetibilidade a infecções e resposta insatisfatória às vacinas. Ocorre, ainda, redução da eficiência em ativar a resposta imune adaptativa. Contrariando os neutrófilos e monócitos/macrófagos, as células dendríticas (DCs) sofrem redução quantitativa com o envelhecimento. Tais células são essenciais para ativação da resposta imune adaptativa. As DCs, com a senescência, apresentam redução na capacidade de produzir citocinas como IL-2 e expressar moléculas co-estimulatórias. Como consequência, os idosos apresentam declínio de respostas anti-tumorais e contra infecções, provocando maior morbimortalidade em decorrência dessas doenças (WASTOWSKI et al., 2016). Também foi observado que as células NK apresentam capacidade reduzida de secretar citocinas, como INF-γ por exemplo, e quimiocinas, além do declínio na transdução dos sinais de ativação e da eficiência de realizar citotoxicidade, ou seja, induzir a morte de células tumorais e/ou infectadas. Em razão de seu declínio de função, os idosos são mais suscetíveis ao desenvolvimento de cânceres, às infecções, e ainda apresentam resposta vacinal reduzida. O aumento da produção de citocinas inflamatórias é uma importante alteração da imunidade inata observada no processo de imunossenescência. Tal aumento auxilia na manutenção do constante estado inflamatório crônico característico da velhice. Esse estado tem sido associado ao desenvolvimento de várias doenças como as neurodegenerativas, cardiovasculares, sarcopenia e síndrome metabólica (WASTOWSKI et al., 2016). Como já foi mencionado anteriormente, durante a senescência as células do sistema imune inato apresentam perda significativa de função, como reduções importantes na resposta fagocítica, por exemplo. 3.4.1 Neutrófilos Apesar de não haver redução quantitativa dessas células com o aumento da idade, suas funções ficam bastante comprometidas. Durante a imunossenescência, a capacidade Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15568 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. quimiotática desses neutrófilos é diminuída, o que indica um maior tempo necessário para que essas células cheguem ao sítio de resposta imune. Tal fato também pode aumentar o tempo de resolução da inflamação. Um outro fator que sofre alteração com a idade é a produção de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio e a capacidade fagocítica. Essas duas funções são piores em idosos quando comparadas a adultos jovens (CECÍLIA et al., 2019). 3.4.2 Células NK e NKT De modo interessante e contrário, o número de células NK aumenta com a idade. Apesar disso, a citotoxicidade e a produção de citocinas e quimiocinas como IL-8 estão reduzidas. Isso ocorre possivelmente por um déficit de zinco, já que foi observado que a suplementação com zinco pode melhorar o funcionamento dessas células. Além disso, observa-se também um aumento no número de células NKT. Uma maior produção de IL-17 está diretamente relacionada a esse aumento. Tal crescimento da resposta inflamatória, e principalmente da IL- 17, pode estar relacionado a um aumento de doenças autoimunes e de maior suscetibilidade a infecções em indivíduos com idade mais avançada (CECÍLIA et al., 2019). 3.4.3 Monócitos e macrófagos Sua função está diminuída, principalmente em razão da ativação por toll-like receptor (TLR). Além disso, a fagocitose por monócitos/macrófagos em idosos está diminuída em relação a adultos jovens. A apresentação de antígenos para o sistema imune é papel essencial na montagem de uma boa resposta imune, e dependente da fagocitose, portanto qualquer alteração neste compartimento celular ao longo do processo de envelhecimento afetará diretamente a capacidade de montagem de uma resposta eficaz (CECÍLIA et al., 2019). 3.4.4 Células dendríticas A produção de citocinas induzida por TLR encontra-se reduzida também. De maneira interessante, é observado um aumento do nível basal de citocinas intracelulares em células dendríticas de idosos, e nessas mesmas células de jovens não. Entretanto, a produção de citocinas que não dependem de TLR, mas que dependem de lipopolissacarídeo (LPS) está aumentada em tipos de células dendríticas derivadas de monócitos (RIBIZZI G. et al.; 2010). Até o momento, considerando os dados disponíveis, sabe-se que ocorre um aumento na atividade apoptótica do sistema imune no idoso. Entretanto, ainda existem questões em aberto e a necessidade de determinação das reais consequências da senescência sobre o sistema imune (RINALDI, 2019). Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15569 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. 4 VACINAÇÃO Sabe-se que, ao objetivar a proteção efetiva do indivíduo contra determinada infecção, a vacinação utiliza da especificidade e memória do sistema imunológico. A vacinação explora a especificidade e a memória do sistema imune para conseguir a proteção eficiente do indivíduo contra uma determinada moléstia infecciosa (BARUTO; WASTOWSKI; DONADI, 2008). A diminuição da eficácia da vacinação em idosos está diretamente associada à diminuição das funções do sistema imune. Sobre isso, entende-se que o sistema imunológico sofre diversas alterações, no que concerne a processos extremamente complexos, e diz respeito à imunossenescência propriamente dita, com impactos tanto na imunidade inata quanto na imunidade adquirida (WEINBERGER B. et al., 2008). A análise de estudos com idosos vacinados contra influenza permite perceber uma redução de até 50% na proteção contra a doença em comparação a jovens e adultos. O fato está relacionado ao menor número de anticorpos séricos e pela baixa proliferaçãode linfócitos T após a imunização. Nesse cenário, o declínio da eficácia da vacina em idosos tem sido atribuída a vários fatores, a exemplo da diminuição da capacidade fagocítica de neutrófilos e macrófagos e redução do número de células de Langerhans na epiderme. Ademais, o estímulo crônico persistente do processo de “inflammaging” é capaz de comprometer o organismo idoso no reconhecimento de patógenos e nas respostas às vacinas enquanto alerta (WEINBERGER, B. et al., 2008). Convém ressaltar que as vacinas polissacarídicas puras também são menos eficazes em indivíduos idosos em comparação com adultos jovens. Em idosos, considerando que as células B maduras são presentes e apenas marginalmente afetadas nas respostas à sinalização a partir do receptor de células B, o motivo e o mecanismo para a redução da capacidade de respostas imunológicas a tais vacinas a razão para a capacidade de resposta reduzida às vacinas de polissacarídeos não são bem compreendidos (BUTLER, SHAPIRO, CARLONE, 1999). 4.1 ALTERAÇÕES HOMEOSTÁTICAS O processo de envelhecimento está diretamente relacionado a endocrinossenescência, isto é, envelhecimento do sistema endócrino, uma vez que nesse processo, são descritas, frequentemente, alterações hormonais e tireoidianas. Sendo necessário ressaltar que essa remodelação do sistema endócrino, por sua vez, reverbera consequência a homeostase do organismo (MARCENA; HERMANO; COSTA, 2018) A consequência da desregulação desse sistema, é desarranjo no andamento funcional do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e do eixo simpático-adrenal-medular (SAM), que, por Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15570 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. sua vez, controlam as respostas fisiológicas ao estresse (BAUER et al. 2009). Os níveis elevados do hormônio cortisol revelam as mudanças oriundas dessa fase, uma vez que, indicam uma redução na contagem de células T. Se não bastasse, a diminuição na produção de hormônios neurotransmissores e neuropeptídeos pelo HPA pode induzir uma proliferação linfocitária muito baixa. (MARCENA; HERMANO; COSTA, 2018). Logo, em síntese, entende-se que quando o sistema neuroendócrino é afetado, há uma perda da homeostase fisiológica. Sendo vários os fatores, uma vez que, o envelhecimento cerebral está relacionado com a deterioração da matéria branca e cinza nos lobos frontal, parietal e temporal, afetando a função motora primária e o córtex visual. Assim, como consequência do envelhecimento há uma ausência recorrente das células nervosas, ocasionando certo tipo de atrofia cerebral (MARCENA; HERMANO; COSTA, 2018). Quando a homeostasia é perdida várias são as consequências. É sabido que a elevação de hormônios como cortisol, aumenta o estresse em idosos, assim há uma sobrecarga emocional associada ao aparecimento de fragilidade e limitações, podendo ocasionar nesses casos, quadros de instabilidade psicológica e isolamento, favorecendo o aparecimento de quadros depressivos e distúrbios psicossomáticos. Ademais, a alteração no ciclo circadiano, provoca modificações no sono e redução da reserva funcional, e do eixo neuroendócrino pela diminuição na produção de hormônios neurotransmissores e neuropeptídeos (ESQUENAZI, D. A, 2008). É sugerido então que a imunossenescência é secundária a declínio hormonal, estresse e estímulo antigênico persistente. Em contrapartida, sugere-se também que a diminuição de linfócitos T virgens e o aumento de células de memória, parece ser compensada por respostas potencialmente menos inflamatórias (MARCENA; HERMANO; COSTA, 2018). Logo, em síntese, a imunidade nos idosos, depende diretamente de dois fatores: equilíbrio entre os benefícios e malefícios das respostas inflamatórias e intensidade das inflamações ocorridas ao longo da vida (MARCENA; HERMANO; COSTA, 2018). O envelhecimento é momento de perdas biológicas, e irá afetar funções do sistema nervoso central, do músculo esquelético e cardiovascular. Logo, com essas perdas de funções pode desencadear enfermidades e com piora se associado com as perdas psicológicas e sociais. Como sintomas fisiológicos, podem ser percebidos uma pulsação mais lenta, digestão e ritmo respiratório diminuído. O sistema nervoso central é o mais acometido na velhice, pois há uma diminuição dos neurônios e uma menor velocidade na condução nervosa. Outrossim, apresenta problemas de memória e dificuldade para realizar tarefas (RINALDI, 2019). O sistema cardiovascular também sofre alterações devido ao avanço da idade, e pode acarretar um endurecimento dos vasos sanguíneos, uma elevação da pressão sistólica, pode Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15571 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. ocorrer também uma dilatação da aorta e do ventrículo esquerdo do coração relacionado com uma hipertensão arterial. Enquanto, no sistema músculo- esquelético acontecem modificações na formação óssea e acarreta alterações na postura nas pernas e intensifica a curvatura da coluna torácica. O idoso pode ter uma diminuição do tônus muscular e uma perda óssea. Ademais, as articulações ficam comprometidas e consequentemente, perdem parte de sua flexibilidade gerando uma diminuição nos movimentos e no equilíbrio (RINALDI, 2019). 4.2 EXERCÍCIO FÍSICO REGULAR Sob a perspectiva de Tomasini (2007) o envelhecimento bem-sucedido (EBS) consiste em um conjunto de atividades exercidas pelo idoso com a finalidade de melhorar sua expectativa e qualidade de vida, adotando um estilo de vida considerado saudável, com a prática de exercícios físicos, alimentação adequada, ausência de hábito tabagista, entre outros. De acordo com o modelo de EBS estabelecido pelo médico Rowe e o psicólogo Kahn, o envelhecimento condizente pode ser definido pela baixa probabilidade de doenças e das incapacidades que elas geram, alta funcionalidade tanto no âmbito físico quanto cognitivo e um engajamento ativo com a vida (MOTA et al., 2009) (Rowe et al., 1987). A prática frequente de exercícios demonstra uma regulação mais adequada do sistema imunológico da população idosa, bem como, favorece o início mais tardio da imunosenescência pelo fato exercício físico proporcionar redução nos linfócitos T senescentes, um aumento de neutrófilos, células NK, e função dos linfócitos T, além uma redução na inflamação sistêmica. A atividade física também se mostrou eficaz ao melhorar o resultado de vacinas para uma variedade de doenças, incluindo influenza (DUGGAL, N.A et. al, KOHUT M. L. et al.). O exercício físico está ligado a mudanças do comportamento fisiológico, psicológico e do sistema neuroendócrino. A prática regular de esportes não competitivos produz diversos benefícios para a saúde. O estresse gerado pelas atividades físicas de alta intensidade, desencadeia um aumento da descarga de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), que influenciam uma variedade de processos fisiológicos, o que representa um determinante na modulação da imunidade. Diversos estudos constataram que em decorrência da prática de atividades físicas, ocorrem variações dos leucócitos, assim como da forma como as populações linfocitárias são distribuídas e da função imunológica (neutrófilos, células acessórias, células citotóxicas espontâneas ou Natural Killer, linfócitos T e B). A modulação da qualidade e a intensidade dessas alterações dependem da intensidade e da duração da atividade, que podem modificar a liberação de neurotransmissores e hormônios (MARTINEZ et al.,1999). Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15572 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. Dentre os métodos utilizados para melhorar a imunidade em adultos idosos, a atividade física de intensidade moderada se mostra uma opção viávelpara o envelhecimento bem- sucedido. Os efeitos moduladores da imunidade que as atividades físicas proporcionam incluem o aumento da atividade de células NK, linfócitos T, aumento da produção de anticorpos e reequilíbrio da relação entre linfócitos de memória e linfócitos maduros que nunca entraram em contato com um antígeno, associado a diminuição do processo inflamatório. A atividade física também tem influência sobre a imunidade de forma indireta, ao estimular a liberação de fatores neuroendócrinos e ter efeitos sobre variáveis psicológicas e sociais do indivíduo, como a ansiedade e depressão (WASTOWSKI et al., 2016). 5 ESTRESSE Sabe-se que há uma grande interação entre o sistema imune e o sistema nervoso e essa interação desempenha papel na exacerbação de infecções de cunho imunológico e na depressão das funções normais do sistema imune (BS McEwen, 2007). Ao que tudo indica, indivíduos idosos estão ainda mais sujeitos a esses efeitos. (JE Graham, 2006). Em idosos submetidos a quadros de estresse emocional e/ou depressão observa-se maior incidência de infecções, de doenças autoimunes e de neoplasias. (GUIDI, 1998). Esse aumento do estresse psicológico no envelhecimento ocorre em paralelo com ativação significativa do eixo HPA (M. Deuschle et al. 1997; E Van Cauter et al., 2000; C Luz et al, 2003). A ativação persistente do eixo SAM em respostas de estresse crônico e na depressão prejudica a resposta imunológica e contribui para o desenvolvimento e progressão de alguns tipos de câncer (EM. Reiche et al., 2005). Estresse e a depressão estão associados à diminuição do T- citotóxico células e atividades NK, que podem afetar os eventos que modulam o desenvolvimento e o acúmulo de mutações somáticas e instabilidade genômica influenciando na longevidade (VITETTA et al., 2005). 6 NUTRIÇÃO Fatores nutricionais desempenham um papel importante no sistema imunológico e nas respostas de indivíduos saudáveis, bem como imunocomprometidos. A desnutrição protéica energética é comum entre os idosos e pode ser um fator importante de influência das respostas imunes diminuídas (HEUSER, 1997; LESOURD, 1997; MAZARI, 1998). Em pessoas idosas, a desnutrição é comum, frequente e influencia a perda de eficiência dessa resposta imune. (ASSMMAN, et al., 2015). Desse modo, grande parte das disfunções associadas ao envelhecimento podem ser simplesmente um reflexo da má nutrição. A utilização Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15573 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. de alimentos funcionais tende a influenciar diretamente o funcionamento celular e minimizar os efeitos deletérios do envelhecimento. Com isso, as dietas ricas em fibras, macronutrientes antioxidantes, ácidos graxos poliinsaturados (PUFA), como o ômega-3, bem como, micronutrientes - tais quais vitaminas, zinco, ferro e selênio - têm despertado interesse em estudos de estratégias anti-envelhecimento. Tais estratégias de suplementação têm sido usadas para restabelecer o sistema imune durante o envelhecimento (GUPTA; PRAKASH, 2015). 7 SONO A imunossenescência não somente contribui para a diminuição da defesa contra doenças infecciosas no envelhecimento, como também ela mesma pode ser substancialmente causada por agentes infecciosos. Fatores comumente observados em idosos como alterações do ciclo circadiano, levando a modificações no sono e redução da reserva funcional, e do eixo neuroendócrino pela diminuição na produção de hormônios neurotransmissores e neuropeptídeos (AL GRUVER, et al., 2007). Tal desregulação do sono associada à idade é um fenômeno comum (Avidan AY, 2005). Em experimentos, ratos cobaias de laboratórios que foram privados de sono exibem uma série de anormalidades fisiológicas que, eventualmente, levam à morte destes. Mudanças associadas à privação de sono incluem hiperfagia, aumento dos níveis de glicose no sangue em jejum, e resistência à insulina (VAN et al., 2000). Dessa forma, os métodos a serem adotados visando minimizar esses efeitos dos processos associados ao envelhecimento não devem abranger questões meramente fisiológicas, e sim todos os fatores que possam interferir na qualidade de vida. Essa visão integral possibilita o desenvolvimento de estratégias “anti-aging” não restritas à alopatia. Dentre essas possíveis alternativas para o aumento da qualidade de vida ao envelhecer, temos a melhoria na qualidade da nutrição, prática de exercícios físicos e atividades que equilibrem corpo e mente. 8 ENVELHECIMENTO E COVID-19 Em 26 de janeiro de 2020, no hospital Wuhan Jin Yin-tan, 710 pacientes foram internados com SARS-CoV-2 confirmada, dos quais 93% foram considerados inelegíveis, incluindo três pacientes que tiveram parada cardíaca imediatamente após a admissão e 7% eram pacientes gravemente enfermos. A média de idade foi 59,7 anos (DP 13,3) e 52% dos pacientes tinham mais de 60 anos. Tornou-se evidente que pacientes mais velhos (> 65 anos) com comorbidades e SDRA apresentam risco aumentado de morte. (YANG et al., 2020). Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15574 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. A manifestação da patologia mencionada pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave, a depender do sistema imunológico do hospedeiro, sendo assim, idosos, indivíduos com doenças crônicas e, principalmente, idosos com doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, estão muito mais suscetíveis a desenvolver a forma grave, podendo ir a óbito com maior rapidez e facilidade. A suscetibilidade enfrentada pelos idosos, está diretamente relacionada à deterioração do sistema imunológico inato e adquirido, o que provoca uma maior probabilidade de desenvolver doenças autoimunes e inflamatórias, além de maior vulnerabilidade a doenças infecciosas, processo conhecido como imunossenescência, naturalmente provocado pelo envelhecimento (ANDRETTA; MOREIRA, 2020). A imunossenescência é um processo natural do envelhecimento que torna crescente a incidência de doenças infectocontagiosas, nesse sentido, quando os idosos evidenciam comorbidades, o risco de infecção e complicações aumenta (NUNES et al., 2020). O corpo, ao entrar em contato com um novo patógeno, começa a contrução das defesas necessárias, sendo que esse mecanismo pode ser mais lento que a velocidade de replicação e infecção do patógeno. Assim, fica evidente que o sistema imunológico desempenha papel importante para definir a recuperação ou gravidade dos casos dessa doença, visto que os idosos são mais infectados por apresentarem sistema imunológico mais enfraquecido e seus pulmões e mucosas costumam ser debilitados, o que os torna mais vulneráveis em casos de doenças virais. Por fim, as estatísticas pioram à medida que os pacientes envelhecem, pessoas na faixa dos 60 anos têm 0,4% de chance de morrer, pessoas no intervalo de 70 anos têm 1,3% de mortalidade e pessoas acima de 80 anos têm 3,6% de chance de morrer. (NÓBREGA et al., 2020). Após a infecção pelo SARS-CoV-2, o patógeno é imediatamente detectado pelas células da resposta imune inata e os receptores de reconhecimento de padrões (PRRs), presentes na superfície de fagócitos, principalmente macrófagos e neutrófilos, agem reconhecendo os PAMPs presentes na superfície viral. Essa sinalização desencadeia diversas respostas celulares inflamatórias, como a liberação de citocinas e quimiocinas, principalmente, o Interferon tipo I que age limitando a replicação e disseminação viral no início da infecção (ROKNI et al., 2020; LI et al., 2020). No entanto, quando essa resposta demora a acontecer, ocorre uma liberação maciça, sem relevante impacto no controle da replicação e causando uma “tempestade de citocinas”, podendo lesar o epitélio e levar a uma resposta inflamatória letal. Na Covid-19, a tempestade inflamatóriaestá ligada ao desenvolvimento e à progressão da síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), estando diretamente relacionada à taxa de mortalidade (YE et al., 2020). A ativação do sistema imune adaptativo é dependente da apresentação de antígenos pelas APCs aos Linfócitos, as células mais encontradas no interstício pulmonar de Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15575 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. pacientes infectados, são os Linfócitos T CD8, os quais possuem ação citotóxica que, conjuntamente com as células Natural Killers, é capaz de induzir a morte de células infectadas. e as células T CD4 auxiliares, produzem fatores que contribuem na produção das imunoglobulinas pelos Linfócitos B e outros que melhoram a resposta citotóxica dos Linfócitos CD8 (ANDRETTA; MOREIRA, 2020). Além dos idosos, os adultos mais velhos são mais suscetíveis ao COVID-19 e apresentam risco aumentado de morbidade e mortalidade (Wang et al. 2020b), assim, os fatores que contribuem para resultados ruins de saúde incluem as mudanças fisiológicas do envelhecimento e as comorbidades relacionadas à idade, como doenças cardíacas e pulmonares, diabetes e demência. Os adultos mais velhos que vivem em residências para idosos correm o maior risco devido ao fardo de doenças crônicas e ao impacto da habitação congregacional. Para aqueles que vivem sozinhos ou isolados, o acréscimo do distanciamento social total deve ser particularmente difícil e deve ser reconhecido e administrado. Para todos os adultos mais velhos, no entanto, a prevenção é fundamental (NIKOLICH-ZUGICH et al., 2020). Uma resposta imune inata rápida e bem coordenada representa a primeira linha de defesa contra a infecção viral. Porém, respostas imunológicas, caso ocorram de modo desregulado e excessivo, podem causar danos imunológicos ao corpo humano. A produção de IFN-I ou IFN- α / β é a principal resposta de defesa imunológica natural contra infecções virais, e o IFN-I é a molécula-chave, desempenhando um papel antiviral nos estágios iniciais da infecção viral. Desse modo, a liberação de forma retardada de IFNs nos estágios iniciais da infecção por SARS-CoV e MERS-CoV dificulta a resposta antiviral do corpo. Além disso, o rápido aumento de citocinas e quimiocinas atraem muitas células inflamatórias, resultando em uma infiltração excessiva das células inflamatórias no tecido pulmonar e em lesão pulmonar. (YE; WANG; MAO, 2020). Descobriu-se que várias citocinas pró-inflamatórias e quimiocinas, como CCL2, CCL-5, IFN γ - proteína induzida 10 (IP-10) e CCL3) contribuem para a ocorrência de Síndrome de Aflição Respiratória (ARDS), mostrando que após a infecção por SARS-CoV, altos títulos de vírus e desregulação da resposta de citocinas / quimiocinas causam uma tempestade inflamatória de citocinas. A tempestade de citocinas inflamatórias é acompanhada por alterações imunopatológicas nos pulmões. (YE; WANG; MAO, 2020). Em resumo, a infecção pelo novo tipo de coronavírus gera uma tempestade inflamatória de citocinas nos pacientes infectados, levando à ARDS ou à insuficiência extrapulmonar de múltiplos órgãos. Além disso, evidencia-se que a inflamação é uma parte essencial de uma resposta imune eficaz, uma vez que é difícil eliminar infecções com sucesso sem inflamação. Assim, a resposta inflamatória começa com o reconhecimento inicial dos patógenos, os quais Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15576 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. medeiam o recrutamento de células imunes, o que elimina os patógenos e, em última análise, leva ao reparo do tecido e à restauração da homeostase. Conclui-se que o controle oportuno da tempestade de citocinas em seu estágio inicial por meio de imunomoduladores e antagonistas de citocinas, bem como a redução da infiltração de células inflamatórias do pulmão, é a chave para melhorar a taxa de sucesso do tratamento e reduzir a taxa de mortalidade de pacientes com COVID-19. (YE; WANG; MAO,2020) 9 CONCLUSÃO O envelhecimento mostra-se como processo natural fisiológico, em que há declínio gradativo de alguns de seus sistemas que geram limitações e, em caso de sobrecarga em virtude de patologias, por exemplo, o comprometimento mostra-se mais acentuado. Nesse contexto, a dinamicidade do sistema imunológico é evidenciada, visto que ele depende da regeneração de células precursoras hematopoiéticas e a homeostase é constantemente ameaçada. As complexas alterações celulares e moleculares decorrentes do avanço da idade, ao atingirem especialmente a imunidade adquirida, forçam o sistema imune na busca da manutenção do equilíbrio e adaptação às agressões externas. Nesse sentido, tal estudo abrange os processos que envolvem o reconhecimento de diversos antígenos, bem como o armazenamento, o funcionamento das células das imunidades inata e adquirida e de todos os aspectos que relacionam as células de memória. Sabe-se que o a imunologia do envelhecimento aponta para o aumento da susceptibilidade dos indivíduos idosos às infecções e inflamações crônicas e latentes, o que é agravado por condições de morbidade pré-existentes. Isso, relacionado diretamente ao declínio da função imunológica, remete à incidência de doenças autoimunes, o desenvolvimento do câncer e a análise das reações desencadeadas pelas vacinas nesse público. Conclui-se que tal abordagem é multifatorial, dependendo dos mecanismos de regulação e das funções efetoras de todo o sistema. A imunossenescência, dessa maneira, afeta diversos tipos celulares na medula óssea, o timo, os linfócitos maduros no sangue e nos órgãos linfóides secundários e elementos da imunidade inata, destacando-se monócitos, células ‘’natural killer’’ (NK), e células dendríticas (DCs), bem como a imunidade adquirida, evidenciada pelo comportamento de linfócitos B e T. Nesse caso, as alterações da imunidade adaptativa são as que demonstram maior gravidade. Frente a isso e, adotando-se a tendência de envelhecimento populacional no mundo, percebe-se a necessidade de adotar estratégias efetivas que melhorem a qualidade de vida, o que envolve hábitos de vida como dieta, sono, controle do estresse, exercício físico regular e bem-estar emocional, na tentativa de reestabelecer o desequilíbrio do sistema e promover saúde Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15577 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. efetivamente ao público senil, considerando suas particularidades que envolvem, inclusive, sua imunologia. CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES Leal, A. S.; Paoliello, B. L.; Silva, F. B.; Muller, G. M.; Carvalho I. C.; Silva L. F. M.; Silva, M. H.; Prates, S. K. P.; Peruzzo Y. L. foram responsáveis pela revisão da literatura e elaboração do manuscrito. Marçal, P. H. F. participou na revisão crítica do conteúdo intelectual. CONFLITOS DE INTERESSE Os autores declaram que não há conflitos de interesses que possam interferir na imparcialidade deste trabalho. Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 15578 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 15553-15584, mar., 2022. REFERÊNCIAS ALLMAN, D.; MILLER J. P. B cell development and receptor diversity during aging. Curr Opin Immunol 2005; 17:463–7. Disponível em: . Acesso: 04/05/2021. ANDRETTA, M. E.; MOREIRA, A. C. O risco da imunossenescência na pandemia da COVID- 19 e os cuidados com os idosos. Disponível em: . Acesso: 03/05/2021. ARTZ, A. S., ERSHLER, W. B., LONGO, D. L. (2003) Pneumococcal vaccination and revaccination of older adults. Clin. Microbiol. Rev. 16, 308–318. Disponível em: .