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Autor: Prof. Juliano Rodrigo Guerreiro Colaboradoras: Profa. Vanessa Santhiago Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Noções Básicas de Farmacologia EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Professor conteudista: Juliano Rodrigo Guerreiro Juliano Rodrigo Guerreiro é formado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade de São Paulo (2004) e doutor em Bioquímica pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (2009). Realizou pós-doutorado com ênfase em Bioquímica de Plantas na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (2012). Tem formação de especialista em Mariologia pela Universidade Dehoniana (2017) e atualmente cursa licenciatura em História pela Universidade Paulista (término em 2018). É coordenador do curso de Farmácia (desde 2008) e professor titular da Universidade Paulista (desde 2005), tendo trabalhado como professor auxiliar na mesma universidade de 2005 a 2009. Tem experiência nas áreas de Bioquímica, Farmacologia, Fisiologia, Química, Teologia e História, além de amplo conhecimento na área de gerenciamento de drogarias (atuando principalmente nos seguintes temas: Estrutura de Biomoléculas, Bioquímica Estrutural, Metabólica e Clínica, Bioquímica e Fisiologia de Plantas, Interação ligante-receptor e Venenos Animais). É autor e coautor de 17 artigos científicos sobre venenos animais, fisiologia e bioquímica, além de três patentes; publicou, ainda, um livro sobre economia e gestão farmacêutica e um capítulo em um livro sobre peptídios vegetais. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G934f Guerreiro, Juliano Rodrigo. Farmacologia. / Juliano Rodrigo Guerreiro. – São Paulo: Editora Sol, 2019. 116 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-072/19, ISSN 1517-9230. 1. Farmacologia 2. Formas farmacêuticas. 3. Interações medicamentosas. I. Título. CDU 615 W501.33 – 19 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Talita Lo Ré Juliana Mendes Kleber Nascimento EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Sumário Noções Básicas de Farmacologia APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 NOÇÕES DE FARMACOLOGIA ..................................................................................................................... 13 1.1 Visão geral da farmacologia e das formas farmacêuticas ................................................... 13 1.1.1 Conceitos da divisão da Farmacologia ........................................................................................... 14 1.1.2 Formas farmacêuticas ........................................................................................................................... 15 1.2 Vias de administração ....................................................................................................................... 18 1.2.1 Enteral ......................................................................................................................................................... 18 1.2.2 Parenteral ................................................................................................................................................... 20 1.2.3 Outras vias ................................................................................................................................................. 21 1.3 Parâmetros farmacocinéticos ........................................................................................................ 22 1.3.1 Absorção ..................................................................................................................................................... 23 1.3.2 Distribuição ............................................................................................................................................... 23 1.3.3 Biotransformação ................................................................................................................................... 24 1.3.4 Eliminação ................................................................................................................................................. 25 1.4 Parâmetros farmacodinâmicos ....................................................................................................... 26 1.4.1 Mecanismos de ação dos fármacos................................................................................................. 27 1.4.2 Alvos de ação dos fármacos ............................................................................................................... 27 1.4.3 Classificação dos fármacos ................................................................................................................. 29 2 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO .................................................... 30 2.1 Fármacos colinérgicos e anticolinérgicos ................................................................................... 32 2.1.1 Fármacos colinérgicos ........................................................................................................................... 33 2.1.2 Fármacos anticolinérgicos ................................................................................................................... 33 2.2 Fármacos que atuam na junção neuromuscular ..................................................................... 33 2.2.1 Fármacos adrenérgicos e antiadrenérgicos .................................................................................. 33 2.2.2 Antagonistas adrenérgicos ................................................................................................................. 34 2.3 Fármacos que atuam no sistema nervoso central .................................................................. 36 2.3.1 Antiepiléticos e anticonvulsivantes ................................................................................................. 38 2.3.2 Relaxantes musculares ......................................................................................................................... 39 2.3.3 Ansiolíticosde “luta ou fuga”, enquanto o sistema nervoso parassimpático, nesse caso, pode ser considerado o sistema de “descanso e digestão” (ou vegetativo). Em muitas circunstâncias, os sistemas têm ações “opostas”: enquanto um ativa uma resposta fisiológica, o outro a inibe. Uma simplificação antiga, tachando os sistemas nervoso simpático e parassimpático de “excitório” e “inibitório”, respectivamente, foi derrubada devido às muitas exceções encontradas. Uma caracterização mais moderna retrata o sistema nervoso simpático como um “sistema de mobilização de resposta rápida” e o parassimpático como um “sistema de amortecimento mais lentamente ativado”. Recentemente, um terceiro subsistema do SNA foi descoberto, recebendo a denominação de entérico (por controlar, particularmente, o intestino). 31 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Em geral, o SNA simpático e o SNA parassimpático devem ser vistos como moduladores das funções vitais, geralmente de forma antagônica, para conseguir a homeostase. Algumas ações típicas dos sistemas simpático e parasimpático estão ilustradas e são listadas a seguir. • Sistema nervoso simpático: promove uma resposta de luta ou fuga e está relacionado à excitação, à geração de energia e à inibição da digestão. A seguir estão algumas das funções desempenhadas pelo sistema nervoso simpático. — Desvia o fluxo sanguíneo do trato gastrointestinal (TGI) e da pele através da vasoconstrição (o fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos é aumentado em até 1.200%). — Dilata os bronquíolos do pulmão através da adrenalina circulante, o que permite maior troca de oxigênio alveolar. — Aumenta a frequência cardíaca e a contratilidade das células cardíacas (miócitos), proporcionando, assim, um mecanismo para o aumento do fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos. — Dilata as pupilas e relaxa o músculo ciliar nos olhos, permitindo que mais luz entre no olho e melhorando a visão distante. — Fornece vasodilatação para os vasos coronários do coração. — Contrai todos os esfíncteres intestinais e o esfíncter urinário. — Inibe o peristaltismo. — Estimula o orgasmo. • Sistema nervoso parassimpático: promove tanto a resposta vegetativa “descanso” quanto as respostas regulares do organismo, além de melhorar a digestão. A seguir estão algumas das funções desempenhadas pelo sistema nervoso parassimpático. — Dilatação dos vasos sanguíneos que levam ao TGI, aumentando o fluxo sanguíneo (isso é importante após o consumo de alimentos, devido à maior exigência metabólica). — Contração dos bronquíolos pulmonares (pois a necessidade de oxigênio está reduzida). — Diminuição da frequência cardíaca por estimulação do nervo vago. — Constrição da pupila e contração dos músculos ciliares, facilitando a acomodação visual e permitindo uma visão mais próxima. — Estimulação da secreção das glândulas salivares e aceleração do peristaltismo, mediando a digestão dos alimentos e, indiretamente, a absorção de nutrientes. 32 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I — Estimulação sexual (promovendo a ereção). Parassimpático Simpático Contrai a pupila Estimula a salivação Reduz os batimentos cardíacos Contrai os brônquios Estimula a atividade do estômago e do pâncreas Estimula a vesícula biliar Contrai a bexiga Promove a ereção Gânglios simpáticos Dilata a pupila Inibe a salivação Relaxa os brônquios Acelera os batimentos cardíacos Inibe a atividade do estômago e do pâncreas Estimula a liberação de glicose pelo fígado Estimula a produção de adrenalina e noradrenalina Relaxa a bexiga Promove a ejaculação Figura 7 – As principais funções do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático 2.1 Fármacos colinérgicos e anticolinérgicos Os fármacos que afetam o sistema nervoso autônomo parassimpático são chamados de colinérgicos ou anticolinérgicos, pois agem em receptores de acetilcolina. A acetilcolina é um neurotransmissor que é liberado quando ocorre a estimulação dos neurônios parassimpáticos e também é usada na junção neuromuscular - em outras palavras, é a substância química que os neurônios motores do sistema nervoso liberam para ativar os músculos. Essa propriedade significa que os fármacos que agem sobre os sistemas colinérgicos podem ter efeitos muito perigosos, desde paralisia até convulsões. No cérebro, a acetilcolina funciona como neurotransmissor e como neuromodulador: o cérebro contém várias áreas colinérgicas, cada uma com funções distintas e desempenhando um papel importante na excitação, atenção, memória e motivação. Em parte em razão de sua função de ativação muscular e em parte em razão de suas funções no sistema nervoso autônomo e no cérebro, um grande número de fármacos importantes exerce os seus efeitos alterando a transmissão colinérgica. Inúmeros venenos e toxinas produzidos por plantas, animais e bactérias, bem como agentes químicos nervosos como o sarin, causam dano ao inativar ou hiperativar os músculos através de suas influências na junção neuromuscular. Drogas que agem sobre receptores de acetilcolina muscarínicos, como atropina, podem ser venenosas em grandes quantidades, mas, em doses menores, podem ser usadas para tratar certas condições cardíacas e problemas oculares. 33 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA A escopolamina, que atua principalmente nos receptores muscarínicos no cérebro, pode causar delírio e amnésia. As qualidades viciantes da nicotina derivam de seus efeitos sobre os receptores nicotínicos de acetilcolina no cérebro. Nos órgãos-alvo, ou seja, no local em que a acetilcolina terá efeito, é necessário que haja receptores específicos para esse neurotransmissor. Duas famílias de receptores colinérgicos foram descobertas e designadas como receptores muscarínicos e receptores nicotínicos. 2.1.1 Fármacos colinérgicos Os fármacos colinérgicos são divididos em três classes terapêuticas: os agonistas de ação direta, os agonistas de ação indireta reversíveis e os agonistas de ação indireta irreversíveis. 2.1.2 Fármacos anticolinérgicos Os antagonistas colinérgicos (ou bloqueadores colinérgicos ou, ainda, parassimpatolíticos) ligam-se aos receptores colinérgicos bloqueando-os e impedindo a ligação da acetilcolina. Os efeitos da estimulação parassimpática são interrompidos e as ações da estimulação simpática ficam sem oposição. Esses fármacos podem ser seletivos para os receptores nicotínicos ou seletivos para os receptores muscarínicos. 2.2 Fármacos que atuam na junção neuromuscular Os fármacos que atuam na junção neuromuscular geralmente são bloqueadores dessa transmissão colinérgica. São análogos à acetilcolina e atuam como antagonistas nicotínicos (não despolarizantes) ou agonistas nicotínicos (despolarizantes) na placa motora da junção neuromuscular. Esses fármacos são bastante utilizados para se obter uma paralisia muscular durante um procedimento cirúrgico ou para facilitar a intubação na traqueia. A tubocurarina foi o primeiro fármaco capaz de bloquear a junção neuromuscular e foi isolada do curare (componente do veneno da pele de sapos da região amazônica). A seguir estão listados os principais fármacos desta classe: pancurônio, atracúrio, vecurônio, rocurônio, cisatracúrio. 2.2.1 Fármacos adrenérgicos e antiadrenérgicos Os fármacos adrenérgicos e antiadrenérgicos atuam em receptores que são estimulados pela noradrenalina (norepinefrina) ou pela adrenalina (epinefrina). Os neurônios adrenérgicos liberam noradrenalinacomo neurotransmissor primário. Esses neurônios são encontrados no sistema nervoso central e no sistema nervoso simpático, onde servem de ligação entre os gânglios e os órgãos efetores. Os receptores adrenérgicos são alfa 1, alfa 2, beta 1 e beta 2. 2.2.1.1 Agonistas adrenérgicos Os fármacos agonistas adrenérgicos são divididos em três categorias: agonistas de ação direta, agonistas de ação indireta e agonistas de ação mista. 34 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I Agonistas adrenérgicos de ação direta Esses fármacos se ligam aos receptores adrenérgicos sem interagir com o neurônio pré-sináptico. A seguir estão listados os principais fármacos desta classe: epinefrina, norepinefrina, dopamina, dobutamina, fenilefrina, clonidina, terbutalina, salmeterol e formoterol. Quadro 1 – Principais agonistas adrenérgicos Fármaco Receptor Uso terapêutico Fenilefrina Alfa-1 Descongestionante nasal Metoxamina Alfa-1 Taquicardia Clonidina Alfa-2 Taquicardia Metaprotenerol Beta-1 Hipertensão Terbutalina Beta-2 Broncoespasmos Ritodrina Beta-2 Parto prematuro Albuterol Beta-2 Broncoespasmos Anfetamina Alfa e beta Hiperatividade Efedrina Alfa e beta Descongestionante nasal Agonistas adrenérgicos de ação indireta Esses fármacos promovem a liberação de noradrenalina dos terminais pré-sinápticos ou inibem a captação de noradrenalina. Agem potencializando os efeitos da noradrenalina endógena, mas não diretamente sobre os receptores adrenérgicos. Entre os exemplos de fármacos agonistas de ação indireta temos: as anfetaminas (recentemente proibidas no Brasil), a tiramina e a cocaína (droga ilícita). Agonistas adrenérgicos de ação mista Os agonistas adrenérgicos de ação mista induzem a liberação de noradrenalina dos terminais pré-sinápticos, agindo também diretamente sobre os receptores adrenérgicos. Entre os fármacos dessa categoria, podem-se citar as efedrinas e a pseudoefedrina, sendo a utilização de ambas bem restrita no país. 2.2.2 Antagonistas adrenérgicos Os fármacos antagonistas adrenérgicos (bloqueadores adrenérgicos ou simpatolíticos) ligam-se aos receptores adrenérgicos, mas não produzem efeitos, porém evitam a ativação desses receptores pela noradrenalina endógena. Assim como os agonistas, os antagonistas adrenérgicos são classificados de acordo com suas afinidades pelos receptores alfa e beta no sistema nervoso periférico. Numerosos fármacos desse tipo são utilizados na clínica, principalmente devido aos seus efeitos sobre o sistema cardiovascular. Bloqueadores alfa-adrenérgicos Os fármacos que bloqueiam os receptores alfa interferem drasticamente na pressão arterial, uma vez que o controle do tônus vascular é feito pelo sistema simpático em receptores alfa. Porém, esse 35 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA bloqueio leva à redução do tônus, o que resulta em menor resistência vascular periférica com taquicardia reflexa. Tais efeitos são sentidos principalmente com usuários em pé, sendo menos frequentes quando o paciente se encontra sentado ou deitado. A seguir estão listados os principais fármacos desta classe: fenoxibenzamina, prazosina, terazosina, doxazosina e tansulosina. Bloqueadores beta-adrenérgicos Os betabloqueadores, também escrito como β-bloqueadores, são antagonistas competitivos que bloqueiam os locais receptores das catecolaminas endógenas epinefrina (adrenalina) e norepinefrina (noradrenalina) nos receptores beta-adrenérgicos do sistema nervoso simpático. Alguns bloqueiam a ativação de todos os tipos de receptores β-adrenérgicos e outros são seletivos para um dos três tipos conhecidos de receptores beta (designados receptores β1, β2 e β3). Os receptores β1-adrenérgicos estão localizados principalmente no coração; os receptores β2-adrenérgicos estão presentes principalmente nos pulmões, no trato gastrointestinal, no fígado, no útero, no músculo liso vascular e no músculo esquelético; por fim, os receptores β3-adrenérgicos estão localizados em células adiposas. Os bloqueadores beta representam uma classe de medicamentos que particularmente utilizada para controlar arritmias cardíacas e proteger o coração de um segundo ataque cardíaco (infarto do miocárdio) após um primeiro ataque cardíaco (prevenção secundária). Eles também são amplamente utilizados para tratar a hipertensão, embora já não sejam a primeira escolha para o tratamento inicial da maioria dos pacientes. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Propranolol: 1 – Mecanismo de ação: betabloqueador não seletivo (beta-1 e beta-2) que promove diminuição do débito cardíaco, vasocontrição periférica, broncoconstrição, aumento na retenção de Na+ e distúrbios no metabolismo da glicose; 2 – Indicação: é indicado principalmente para hipertensão arterial sistêmica (redução do débito cardíaco), enxaqueca, hipertireoidismo (principalmente, no hipertireoidismo agudo, na prevenção dos efeitos da tempestade tireóidea), angina pectoris (diminui a necessidade de oxigênio no coração) e infarto do miocárdio; 3 – Efeitos adversos: broncoconstrição (contraindicado para asmáticos), arritmias, comprometimento sexual, distúrbios metabólicos, depressão, tonturas, letargia, fadiga e fraqueza. • Timolol: 1 – Mecanismo de ação: betabloqueador não seletivo (beta-1 e beta-2) mais potente que o propranolol; 2 – Indicação: tratamento de glaucoma (diminui a pressão intraocular e a produção de humor aquoso nos olhos); 3 – Efeitos adversos: como a administração é tópica, os efeitos adversos são reduzidos. • Atenolol, metoprolol, bisoprolol, betaxolol, nebivolol: 1 – Mecanismo de ação: são betabloqueadores beta-1 seletivos, agem na redução da pressão arterial em hipertensos e aumentam a tolerância ao exercício na angina; 2 – Indicação: hipertensão arterial sistêmica, inclusive para pacientes com função respiratória comprometida ou pacientes diabéticos que usam insulina ou hipoglicemiantes orais; 3 – Efeitos adversos: frio nas extremidades, entre outros. 36 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I • Labetalol e carvedilol: 1 – Mecanismo de ação: são betabloqueadores seletivos beta-1 e antagonistas de receptores alfa-1 concomitantemente, promovem vasodilatação periférica, reduzindo a pressão arterial e diminuindo o espessamento da parede vascular; 2 – Indicação: hipertensão arterial sistêmica quando se deseja promover concomitantemente vasodilatação periférica (os demais betabloqueadores induzem vasoconstrição periférica como efeito indesejado); também para insuficiência cardíaca e pré- eclâmpsia (labetalol); 3 – Efeitos adversos: hipotensão ortostática e tonturas. Quadro 2 – Principais betabloqueadores Fármaco Ação principal Uso/Funções Fenoxibenzamida Antagonista alfa Feocromocitoma Fentatomina Antagonista alfa Raramente utilizada Prazosina Antagonista alfa-1 Hipertensão Ioimbina Antagonista alfa-2 Não utilizada Propranolol Antagonista beta Angina, hipertensão, arritmias, glaucoma Alprenolol Antagonista beta Idem ao propranolol Practolol Antagonista beta-1 Hipertensão, angina, arritmias Metoprolol Antagonista beta-1 Hipertensão, angina, arritmias Butonamina Antagonista beta-2 Não utilizada Labetalol Antagonista alfa/beta Pré-eclâmpsia Observação Em 1964, James Black sintetizou o primeiro betabloqueador (propranolol). Com isso, ele revolucionou o tratamento da angina, e sua descoberta até hoje é considerada uma das contribuições mais importantes para a Medicina Clínica e a Farmacologia do século XX. Saiba mais O livroManual de Farmacoterapia, de Wells, é uma sugestão de referência para seus estudos: WELLS, B. G. et al. Manual de Farmacoterapia. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. 2.3 Fármacos que atuam no sistema nervoso central O sistema nervoso central (SNC) é a parte do sistema nervoso que consiste no encéfalo e na medula espinhal. O sistema nervoso central é assim chamado porque integra informação que recebe e coordena e influencia a atividade de todas as partes dos corpos de animais bilateralmente simétricos – isto é, 37 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA todos os animais multicelulares, exceto esponjas e animais radialmente simétricos. O SNC está contido dentro da cavidade do corpo dorsal, com o encéfalo alojado na cavidade craniana e na medula espinhal no canal espinhal. Nos vertebrados, o cérebro é protegido pelo crânio, enquanto a medula espinhal é protegida pelas vértebras. Em vários aspectos, o funcionamento básico dos neurônios no SNC é similar ao do sistema autônomo (SNA), descrito no livro de Farmacologia. Por exemplo, a transmissão da informação no SNC e na periferia envolve a liberação de neurotransmissores que se difundem através do espaço sináptico e se ligam a receptores específicos no neurônio pós-sináptico. Em ambos os sistemas, o reconhecimento do neurotransmissor pelo receptor de membrana do neurônio pós-sináptico inicia alterações intracelulares. Contudo, várias doenças existem entre os neurônios no sistema nervoso autônomo periférico e os neurônios no SNC. O SNC contém uma rede poderosa de neurônios inibitórios que estão ativos constantemente na modulação da velocidade de transmissão neuronal. Além disso, o SNC se comunica por meio de neurotransmissores múltiplos. No SNC, os receptores da maioria das sinapses estão associados a canais iônicos. A ligação do neurotransmissor ao receptor da membrana pós-sináptico resulta na abertura rápida e transitória de canais iônicos. A abertura permite que íons específicos, dentro ou fora da célula, fluam conforme o gradiente de concentração. A alteração resultante na composição iônica, através da membrana do neurônio altera o potencial pós-sináptico, produzindo despolarização ou hiperpolarização da membrana pós-sináptica, dependendo do íon específico que se move e da direção do seu movimento. Sistema nervoso central (SNC) Encéfalo Medula espinhal Cerebelo Cérebro Tronco encefálico Ponte Mesencéfalo Bulbo Diencéfalo Telencéfalo Figura 8 – Subdivisão do sistema nervoso central Os neurotransmissores podem ser classificados em excitatórios ou inibitórios, dependendo da natureza de ação que provocam. A estimulação de um neurônio excitatório causa movimento de íons que resulta em despolarização da membrana pós-sináptica. Esses potenciais pós-sinápticos excitatórios são gerados pelos seguintes fatores: 38 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I • Estimulação de um neurônio excitatório causa a liberação de moléculas neurotransmissoras, como o glutamato ou acetilcolina que se ligam aos receptores na membrana pós-sináptica, isso causa um aumento transitório na permeabilidade dos íons sódio. • O influxo de sódio causa uma leve despolarização que desloca o potencial pós-sináptico em direção ao limiar. • Se o número de neurônios excitatórios estimulado aumenta, mais neurotransmissor excitatório é liberado. Finalmente, isso determina que o potencial pós-sináptica ultrapasse o limiar, gerando um potencial de ação tudo ou nada. A estimulação de neurônios inibitórios causa movimento de íons que resulta em hiperpolarização da membrana pós-sináptica. Esses potenciais pós-sinápticos inibitórios são gerados pelos seguintes fatores: • A estimulação de neurônios inibitórios libera moléculas neurotransmissoras como o ácido gama aminobutírico (GABA) ou glicina, que se ligam a receptores na membrana pós-sináptica. Isso causa um aumento transitório na permeabilidade de íons específicos, como potássio ou cloreto. • O influxo de cloreto ou o efluxo de potássio causa uma leve hiperpolarização que afasta o potencial pós-sináptico do seu limiar. Isso diminui a geração de potenciais de ação. A maioria dos neurônios no SNC recebe esses potenciais excitatórios ou inibitórios. Assim, vários tipos de diferentes neurotransmissores podem atuar no mesmo neurônio, mas cada um se liga ao seu próprio receptor específico. O resultado líquido é a soma das ações individuais dos vários neurotransmissores no neurônio. Os neurotransmissores não estão uniformemente distribuídos no SNC, mas estão localizados em agrupamentos específicos de neurônios, cujos axônios podem fazer sinapses com regiões específicas do cérebro. Vários tratos neuronais parecem codificados quimicamente e isso pode permitir maiores oportunidades de modulação de certas vias neuronais. 2.3.1 Antiepiléticos e anticonvulsivantes Essa classe de medicamentos é usada para tratamento de convulsões ou ataques epiléticos. A epilepsia é um grupo de distúrbios neurológicos caracterizados por convulsões epiléticas. As crises epilépticas são episódios que podem variar de períodos breves e quase indetectáveis a longos períodos de agitação vigorosa. Esses episódios podem resultar em lesões físicas, incluindo ossos quebrados ocasionalmente. Na epilepsia, as convulsões tendem a se repetir e, como regra geral, não têm causa subjacente imediata. As convulsões isoladas que são provocadas por uma causa específica, tais como envenenamento, não são consideradas como epilepsia. Os fármacos reduzem as crises por meio de mecanismos como bloqueio dos canais voltagem-dependentes (sódio ou cálcio), potencializando impulsos inibitórios gabaérgicos. Alguns fármacos parecem ter múltiplos alvos no SNC. A seguir são listados os principais fármacos usados nessa terapêutica: ácido valpróico, benzodiazepínicos (clonazepam, clobazam e diazepam), carbamazepina, fenitoína, fenobarbital, gabapentina, lamotrigina e topiramato. 39 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA 2.3.2 Relaxantes musculares Relaxante muscular é uma droga que afeta a função do músculo esquelético e diminui o tônus muscular. Pode ser usado para aliviar sintomas como espasmos musculares, dor e hiper-reflexia. O termo “relaxante muscular” é usado para se referir a dois principais grupos terapêuticos: bloqueadores neuromusculares e espasmolíticos. Os bloqueadores neuromusculares agem interferindo na transmissão na placa final neuromuscular e não possuem atividade do sistema nervoso central (SNC). Eles são frequentemente usados durante procedimentos cirúrgicos e em cuidados intensivos e medicamentos de emergência para causar paralisia temporária. Espasmolíticos, também conhecidos como relaxantes musculares de “ação central”, são usados para aliviar a dor e os espasmos musculoesqueléticos e para reduzir a espasticidade em uma variedade de condições neurológicas. Tanto os bloqueadores neuromusculares quanto os espasmolíticos são frequentemente agrupados como relaxantes musculares, porém o termo é comumente usado para se referir apenas a espasmolíticos. Os agentes espasmolíticos comuns incluem: metacrobamol, carisoprodol, clorzoxazona, ciclobenzaprina, gabapentina, metaxalona e orfenadrina. Observação Considera-se que os relaxantes musculares são úteis em distúrbios dolorosos com base na teoria de que a dor induz espasmo e o espasmo causa dor. 2.3.3 Ansiolíticos e hipnóticos Os transtornos de ansiedade são um grupo de transtornos mentais caracterizadospor sentimentos significativos de ansiedade e medo. A ansiedade é uma preocupação com os eventos futuros e o medo é uma reação aos eventos atuais. Esses sentimentos podem causar sintomas físicos, como um aumento na frequência cardíaca e tremores rápidos. Há uma série de transtornos de ansiedade: incluindo transtorno de ansiedade generalizada, fobia específica, transtorno de ansiedade social, distúrbios de ansiedade por separação, agorafobia, transtorno de pânico e mutismo seletivo. A desordem é diagnosticada de acordo com os sintomas que surgem no paciente. Muitas vezes, as pessoas têm mais de um transtorno de ansiedade. A causa dos transtornos de ansiedade é uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Os fatores de risco incluem história de abuso infantil, história familiar de transtornos mentais e pobreza. Os distúrbios de ansiedade geralmente ocorrem concomitante com outros distúrbios mentais, principalmente: transtorno depressivo maior, transtorno de personalidade e transtorno do uso de substâncias. Para ser diagnosticado, os sintomas geralmente precisam estar presentes por pelo menos seis meses, ser mais do que seria esperado para a situação e comprometer o funcionalmente cerebral. Há outros problemas que podem resultar em sintomas semelhantes, como hipertireoidismo; doença cardíaca; uso de cafeína, álcool ou Cannabis; e retirada de certos medicamentos. Sem tratamento, os transtornos de ansiedade tendem a permanecer. O tratamento pode incluir mudanças no estilo de vida, aconselhamento psicológico e medicamentos. Aconselhamento é tipicamente um tipo de terapia cognitivo-comportamental. 40 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I Os medicamentos utilizados incluem os inibidores seletivos da receptação de serotonina (ISRS) que são escolhas de primeira linha para transtorno de ansiedade generalizada. Como não há nenhuma boa evidência para qualquer membro da classe seja considerado melhor do que o outro, então o custo costuma direcionar a escolha da droga. Buspirona, quetiapina e pregabalina são tratamentos de segunda linha para pessoas que não respondem a ISRSs, também há evidências de que os benzodiazepínicos, incluindo diazepam e clonazepam são efetivos, mas caíram em desuso devido ao risco de dependência e abuso. Como muitos dos fármacos ansiolíticos causam alguma sedação, eles podem ser usados clinicamente como ansiolíticos e como hipnóticos (indutores de sono). Observação O canabidiol (CBD) é o composto encontrado na maconha e que apresenta benefícios significativos para o tratamento de pessoas com ansiedade. O CBD é um dos 85 compostos encontrados Cannabis sativa (maconha). É um elemento importante, constituindo 40% do extrato da planta e tem um benefício médico mais amplo do que o THC. No Brasil, o uso do CBD não é permitido. 2.3.4 Antidepressivos O transtorno do humor também chamado de transtorno afetivo é um conjunto de transtornos que inclui mania ou hipomania; humor deprimido, dos quais o mais conhecido e mais pesquisado é o transtorno depressivo maior (comumente denominado depressão clínica, depressão unipolar ou depressão maior); e estados de humor que circulam entre mania e depressão, conhecido como transtorno bipolar (anteriormente conhecido como depressão maníaca). Existem vários subtipos de distúrbios depressivos ou síndromes psiquiátricas com sintomas menos graves, como distúrbio distímico (semelhante ou mais ameno do que o transtorno depressivo maior) e distúrbio ciférmico (bipolaridade mais leve). Os transtornos de humor podem induzidos por substâncias ou ocorrerem em resposta a uma condição médica. Os sintomas da depressão são sensação de tristeza e desesperança, bem como incapacidade de sentir prazer em atividades usuais, alterações nos padrões de sono e apetite, perda de vigor e pensamentos suicidas. A mania é caracterizada pelo comportamento oposto, ou seja, entusiasmo, raiva, pensamentos e fala rápidos, extrema autoconfiança e diminuição de autocrítica. A maioria dos fármacos antidepressivos úteis clinicamente potencializa direta ou indiretamente, as ações da noradrenalina e/ou da serotonina (5-HT) no cérebro. Isso, levou à teoria das aminas biogênicas, que propõe que a depressão se deve às deficiências das monoaminas em certos locais do cérebro. Já a mania seria causada por produção excessiva desses neurotransmissores. Contudo, trata-se de uma teoria simplista, que não explica por que os efeitos farmacológicos de qualquer antidepressivo e antimania na neurotransmissão ocorrem imediatamente, ao passo que a evolução temporal para a resposta terapêutica precisa de várias semanas. Isso sugere que a diminuição da captação dos neurotransmissores é apenas 41 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA o efeito inicial do fármaco, que pode não ser diretamente responsável pelos efeitos antidepressivos. A seguir estão listados os principais antidepressivos separados por mecanismos de ação: • Inibidores seletivos da captação da serotonina: são exemplos desta classe terapêutica o citalopram, escitalopram, fluoxetina, fluvosamina, paroxetina e sertralina. • Inibidores da captação de serotonina e noradrenalina: são exemplos desta classe os fármacos venlafaxina, desvenlafaxina e duloxetina. • Antidepressivos atípicos: são fármacos que tem ações em vários locais diferentes e os principais exemplos são a bupropiona, a mirtazapina, nefazodonae a trazodona. • Antidepressivos tríclicos (ADTs): são fármacos desta categoria a imipramina, amitriptilina, clomipramina, doxepina e nortriptilina. 2.3.5 Estimulantes do sistema nervoso central Os estimulantes do sistema nervoso central (SNC) são medicamentos que aceleram processos físicos (psicomotores) e mentais. Os estimulantes do sistema nervoso central são usados para tratar condições caracterizadas pela falta de estimulação adrenérgica, incluindo narcolepsia e apneia neonatal. Além disso, o metilfenidato (Ritalina) e o sulfato de dextroanfetamina (Dexedrine) são utilizados para o seu efeito paradoxal no transtorno de hiperatividade com déficit de atenção (TDAH). Os anorexígenoa como a benzfetamina, a dietilpropiona, a fendimetrazina, a fentermina e a si butramina são estimulantes do SNC utilizados na redução do apetite na obesidade severa. Embora essas drogas sejam estruturalmente semelhantes às anfetaminas, elas causam menos sensação de estimulação e são menos adequadas para uso em condições caracterizadas pela falta de estimulação adrenérgica. A fenilpropanolamina e a efedrina foram utilizadas tanto como auxiliares dietéticos quanto como vasoconstritores. A maioria dos estimulantes do SNC é quimicamente semelhante à norepinefrina e simula a síndrome tradicional de “luta ou fuga” associada à excitação do sistema nervoso simpático. A cafeína está mais relacionada às xantinas, como a teofilina. Um pequeno número de membros adicionais da classe de estimulantes do SNC não se enquadram em grupos químicos específicos. As anfetaminas têm um alto potencial de abuso. Eles devem ser usados em programas de redução de peso somente quando as terapias alternativas foram ineficazes. A administração por períodos prolongados pode levar à dependência de drogas. As anfetaminas são contraindicadas em arteriosclerose avançada, doença cardiovascular sintomática e hipertensão moderada a grave e hipertireoidismo. Eles não devem ser usados para tratar pacientes com hipersensibilidade ou idiossincrasia às aminas simpaticomiméticas, ou com glaucoma, história de estados agitados, história de abuso de drogas ou durante os 14 dias após a administração de inibidores da monoamina oxidase (MAO). O metilfenidato pode diminuir olimiar de convulsão. Houve relatos de que quando usado em crianças, o metilfenidato e as anfetaminas podem retardar o crescimento. Embora esses relatórios tenham sido questionados, pode-se sugerir que os medicamentos não sejam administrados fora do horário escolar (porque a maioria das crianças tem problemas de comportamento na escola), a fim de permitir que a estatura completa seja alcançada. 42 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I Os efeitos adversos mais comuns dos estimulantes do SNC estão associados à sua ação primária. As respostas típicas incluem superestimulação, tonturas, agitação e reações semelhantes. Raramente, foram relatadas reações hematológicas, incluindo leucopenia, agranulocitose e depressão da medula óssea. A diminuição do limiar de convulsão foi observada com a maioria das drogas nesta classe. 2.3.6 Antipsicóticos A psicose é uma condição anormal da mente que envolve uma perda de contato com a realidade. Pessoas com psicose podem apresentar alterações de personalidade e transtornos do pensamento. Dependendo da sua gravidade, isso pode ser acompanhado por um comportamento incomum ou estranho, bem como dificuldade com interação social e comprometimento na realização de atividades da vida diária. Essa característica é encontrada em pacientes que apresentam esquizofrenia. A esquizofrenia é uma doença mental caracterizada por comportamento social anormal e falha em entender o que é real. Os sintomas comuns incluem falsas crenças, pensamentos pouco claros ou confusos, ouvir vozes, ter engajamento social reduzido e falta de motivação. As pessoas com esquizofrenia, muitas vezes, têm problemas de saúde mental adicionais, como distúrbios de ansiedade, doença depressiva maior ou distúrbios do uso de substâncias. Os sintomas geralmente ocorrem gradualmente, começam na idade adulta jovem e duram muito tempo. As causas da esquizofrenia podem ser ambientais e genéticas. Possíveis fatores ambientais incluem ser criado em uma cidade, consumir de Cannabis durante a adolescência, ter certas infecções, ter sofrido de má nutrição durante a gravidez. Os fatores genéticos incluem variantes comuns e raras. O diagnóstico é baseado no comportamento observado, nas experiências relatadas pela pessoa e nos relatórios de terceiros que são familiarizados com a pessoa. A esquizofrenia não implica uma personalidade dividida ou transtorno de personalidade múltipla condições com as quais geralmente é confundida. O principal suporte do tratamento é a medicação antipsicótica, juntamente com aconselhamento, treinamento profissional e reabilitação social. Não está claro se os antipsicóticos típicos ou atípicos são melhores. Naqueles pacientes que não melhoram com outros antipsicóticos, a clozapina pode ser usada. Em situações mais graves – em que existem riscos para si ou para os outros – pode ser necessária hospitalização involuntária, embora as internações hospitalares sejam agora mais curtas e menos frequentes. Cerca de 0,3-0,7% das pessoas são afetadas pela esquizofrenia durante a vida. Em 2013, havia aproximadamente 23,6 milhões de casos no mundo todo. A expectativa de vida média das pessoas com o transtorno é de dez a vinte e cinco anos menos do que a população em geral. Os fármacos antipsicóticos (neurolépticos) são usados principalmente para tratar esquizofrenia, mas também são eficazes em outros estados psicóticos e estado de mania. O uso de medicação antipsicótica envolve o difícil limite entre o benefício de aliviar os sintomas psicóticos e o risco de uma ampla variedade de efeitos adversos perturbadores. Os antipsicóticos não são curativos e não eliminam o transtorno crônico do pensamento, mas com frequência diminuem a intensidade das alucinações e ilusões, permitindo que a pessoa com esquizofrenia conviva em um ambiente de apoio. Os antipsicóticos são divididos em primeira e segunda gerações. A primeira geração é subdividida em potência baixa e potência alta. Essa classificação não indica a eficácia clínica dos fármacos, mas especifica a afinidade pelo receptor de dopamina D2, que, por sua vez, pode indluenciar o perfil dos efeitos adversos do fármaco. 43 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Classificação dos antipsicóticos • Primeira geração: os antipsicóticos de primeira geração (também denominados antipsicóticos tradicionais, típicos ou convencionais) são inibidores competitivos em vários receptores, mas seus efeitos antipsicóticos refletem o bloqueio competitivo dos receptores D2 da dopamina. Os antipsicóticos de primeira geração são os que mais provavelmente causam transtornos do movimento conhecido como sintomas extrapiramidais (SEPs), particularmente o haloperidol. Os principais fármacos desta família são flufenazina, haloperidol, perfenazina e tiotixeno. • Segunda geração: a segunda geração de antipsicóticos (também denominada de antipsicóticos atípicos) têm menor incidência de SEP do que os de primeira geração, mas são associados com maior risco de efeitos adversos metabólicos, como diabetes, hipercolesterolemia e aumento de massa corporal. Esses fármacos devem sua atividade singular ao bloqueio dos receptores de serotonina, dopamina e outros. Os principais fármacos desta família são aripiprazol, asenapina, clozapina, olanzapina, quetiapina e risperidona. 3 FÁRMACOS QUE ATUAM NOS SISTEMAS CARDIOVASCULAR As doenças cardiovasculares são uma classe de doenças que envolvem o coração ou vasos sanguíneos. Entre essas patologias se incluem doenças da artéria coronária, como angina e infarto do miocárdio (comumente conhecido como ataque cardíaco). Outras doenças cardiovasculares incluem acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, doença cardíaca hipertensiva, cardiopatia reumática, cardiomiopatia, arritmia cardíaca, cardiopatia congênita, doença cardíaca valvar, cardite, aneurismas da aorta, doença arterial periférica, doença tromboembólica e trombose venosa. Os mecanismos subjacentes variam dependendo da doença em questão. A doença da artéria coronária, o acidente vascular cerebral e a doença arterial periférica, por exemplo, envolvem a aterosclerose. Tal quadro pode ser causado por pressão alta, tabagismo, diabetes, falta de exercício, obesidade, colesterol elevado no sangue, má alimentação e consumo excessivo de álcool, entre outros. A pressão arterial elevada resulta em 13% das mortes por doenças cardiovasculares; já o tabaco resulta em 9%, a diabetes em 6%, a falta de exercício em 6% e a obesidade em 5%. 3.1 Fármacos anti-hipertensivos A hipertensão arterial, também conhecida como pressão arterial elevada, é uma condição médica de longo prazo em que a pressão nas artérias é persistentemente elevada. A pressão arterial elevada geralmente não causa sintomas, mas, a longo prazo, torna-se um importante fator de risco para: doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, doença vascular periférica, perda de visão e doença renal crônica. A hipertensão pode ser classificada como primária (essencial) ou secundária. Cerca de 90%-95% dos casos são primários, definidos como hipertensão devido ao estilo de vida e a fatores genéticos. Os hábitos de vida que aumentam o risco incluem consumo desmedido de sal, excesso de peso corporal, tabagismo e álcool. Já a hipertensão secundária é definida como pressão arterial elevada diretamente 44 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I relacionada a uma causa identificável, como doença renal crônica, estreitamentodas artérias renais, doença endócrina ou uso de pílulas anticoncepcionais. A pressão arterial é expressa por duas medidas, as pressões sistólica e diastólica (que são as pressões máxima e mínima, respectivamente). A pressão arterial normal em repouso está dentro da faixa de 100-140 milímetros de mercúrio (mmHg) sistólica e 60-90 mmHg diastólica. A hipertensão será diagnosticada se a pressão arterial em repouso for persistentemente igual ou superior a 140/90 mmHg em adultos em repouso, e o monitoramento ambulatorial da pressão arterial durante um período de 24 horas é mais preciso para o diagnóstico definitivo. Alterações de estilo de vida e medicamentos podem diminuir a pressão arterial e diminuir o risco de complicações de saúde. Mudanças no estilo de vida incluem perda de peso, diminuição da ingestão de sal, exercício físico e uma dieta saudável. Se as mudanças de estilo de vida não forem suficientes, então os medicamentos serão recomendados. Muitas vezes, apenas um fármaco é insuficiente para controlar a hipertensão, tornando-se, portanto, necessária a introdução concomitante de vários fármacos. A regulação endógena da pressão arterial ainda não é completamente compreendida, mas alguns mecanismos foram bem-caracterizados. Observe-os a seguir. • Sistema renina-angiotensina (RAS): esse sistema é geralmente conhecido por seu ajuste de longo prazo da pressão arterial, permitindo que o rim a adapte à volemia, ativando um vasoconstritor endógeno conhecido como angiotensina II. • Liberação de aldosterona: esse hormônio esteroide é liberado do córtex adrenal em resposta à angiotensina II ou a níveis elevados de potássio sérico. A aldosterona estimula a retenção de sódio e a excreção de potássio pelos rins. Uma vez que o sódio é o principal íon que determina a quantidade de líquido nos vasos sanguíneos por osmose, a aldosterona aumentará a retenção de líquidos e, indiretamente, a pressão arterial. • Barorreceptores em zonas receptoras de baixa pressão (principalmente nas veias cava e nas veias pulmonares e nos átrios): resultam em uma regulação por feedback e promovem a secreção de hormônio antidiurético (ADH/vasopressina), renina e aldosterona. O aumento resultante no volume sanguíneo ocasiona um aumento do débito cardíaco pela Lei Frank-Starling, aumentando a pressão arterial. Esses diferentes mecanismos não são necessariamente independentes uns dos outros, como indicado pela ligação entre o RAS e a liberação de aldosterona. Quando a pressão arterial cai, muitos mecanismos fisiológicos são ativados a fim de restituir um nível mais adequado. A queda da pressão arterial é detectada por uma diminuição no fluxo sanguíneo e, portanto, uma diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG). Essa diminuição é sentida como uma redução dos níveis de Na+ pela mácula densa, que, por sua vez, causa um aumento na reabsorção de Na+; isso faz a água ser reabsorvida por osmose e leva a um aumento final no volume plasmático. Além disso, a mácula densa libera adenosina, composto que promove a constrição das arteríolas aferentes. Ao mesmo tempo, as células justaglomerulares sentem a diminuição da pressão arterial e liberam renina, que converte angiotensinogênio (forma 45 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA inativa) em angiotensina I (forma ativa). A angiotensina I flui na corrente sanguínea até atingir os capilares dos pulmões, onde a enzima de conversão da angiotensina (ECA) age sobre ela para convertê-la em angiotensina II. Esta é um vasoconstritor que irá aumentar o fluxo sanguíneo para o coração e, subsequentemente, a pré-carga, ampliando o débito cardíaco. Angiotensina II também provoca um aumento na liberação de aldosterona das glândulas suprarrenais, a qual estimula ainda mais a reabsorção de Na+ e H2O no túbulo contorcido distal do néfron. Os fármacos anti-hipertensivos são uma classe de medicamentos variados utilizados para tratar a hipertensão por diferentes meios. Entre os fármacos mais importantes e mais amplamente usados estão os diuréticos tiazídicos, os bloqueadores dos canais de cálcio, os inibidores da ECA, os antagonistas dos receptores da angiotensina II e os betabloqueadores. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Hidroclorotiazida e clortalidona: 1 – Mecanismo de ação: são diuréticos tiazídicos que agem no túbulo contorcido distal dos néfrons (o mecanismo detalhado será abordado mais adiante); 2 – Indicação: os diuréticos tiazídicos diminuem a pressão arterial tanto com o corpo deitado como em pé, portanto são indicados para tratamento da hipertensão e devem ser associados a outros agentes anti-hipertensivos; 3 – Efeitos adversos: induzem hipopotassemia (às vezes é necessário associar um diurético poupador de K+ na terapia), hiperuricemia, hiperglicemia e hipomagnesemia. • Betabloqueadores: essa classe já foi estudada na unidade anterior e inclui os fármacos propranolol, atenolol, metoprolol e nebivolol. 1 – Mecanismo de ação: são antagonistas de receptores beta-adrenérgicos podendo ser seletivos para o receptor beta-1 ou não seletivos (beta-1 e beta-2); 2 – Indicação: os betabloqueadores são mais eficazes na população branca que na negra, sendo também mais eficazes em pacientes jovens que em idosos. São úteis no tratamento de condições que possam coexistir com a hipertensão, como taquicardia supraventricular, infarto do miocárdio, angina pectoris e insuficiência cardíaca crônica; 3 – Efeitos adversos: os efeitos adversos causados já foram discutidos. • Inibidores da ECA: essa classe inclui os fármacos captopril, enalapril, lisinopril, ramipril. 1 – Mecanismo de ação: inibição da enzima conversora da angiotensina, o que promove a diminuição do vasoconstritor angiotensina II; 2 – Indicação: tratamento da hipertensão; mais eficazes quando associados aos diuréticos, diminuem a nefropatia diabética, pós-infartos do miocárdio e insuficiência cardíaca; 3 – Efeitos adversos: tosse seca, exantema, febre, alteração no paladar, hipotensão, hiperpotassemia (melhora com a associação com diuréticos tiazídicos). • Bloqueadores de receptor de angiotensina II: essa classe terapêutica inclui a losartana, a valsartana, a olmeosartana, a candesartana, entre outras. 1 – Mecanismo de ação: bloqueiam os receptores AT1 diminuindo sua ativação pela angiotensina II (seus efeitos farmacológicos são semelhantes aos dos inibidores da ECA); 2 – Indicação: tratamento da hipertensão, da nefrotoxicidade em diabéticos, sendo o tratamento ideal se o paciente for hipertenso e diabético; 3 – Efeitos adversos: causam menos efeitos adversos que os inibidores da ECA, mas são fetotóxicos. • Bloqueadores de canais de cálcio: essa classe de medicamentos inclui o dialtiazem, o verapamil, o nifedipino, o anlodipino e o felodipino. 1 – Mecanismo de ação: a concentração de cálcio 46 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I tem um papel importante na manutenção do tônus da musculatura lisa do vaso e na contração do miocárdio; os antagonistas de canais de cálcio bloqueiam a entrada de cálcio, causando o relaxamento do músculo liso vascular e dilatando as arteríolas. 2 – Indicação: pacientes hipertensos que também tenham asma, diabetes, angina (não requer a adição de diuréticos); 3 – Efeitos adversos: constipação, tonturas, sensação de fadiga. • Bloqueadores alfa-adrenérgicos: prazosina, doxazosina e terazosina. 1 – Mecanismo de ação: antagonistas seletivos para os receptores alfa-1-adrenérgicos; 2 – Indicação: tratamento de hipertensão leve a moderada; 3 – Efeitos adversos: taquicardia reflexa e síncope na primeira dose. • Adrenérgicos de ação central: clonidina e metildopa:1 – Mecanismo de ação: funcionam como agonistas do receptor alfa-2-adrenérgico, diminuindo a liberação de noradrenalina nos centros vasomotores centrais; 2 – Indicação: a clonidina é indicada para tratamento de hipertensão de leve a moderada, e a metildopa é indicada para pacientes com hipertensão e insuficiência renal, bem como para pré-eclâmpsia; 3 – Efeitos adversos: sedação, xerostomia e constipação. • Vasodilatadores: são exemplos dessa classe os fármacos hidralazina e minoxidil. 1 – Mecanismo de ação: relaxantes de músculo liso de ação direta, o que diminui a resistência periférica e a pressão arterial; 2 – Indicação: para tratamento de hipertensão e pré-eclâmpsia (hidralazina); 3 – Efeitos adversos: constipação, tonturas, sensação de fadiga. Lembrete A hipertensão arterial, também conhecida como pressão arterial elevada, é uma condição médica de longo prazo em que a pressão nas artérias é persistentemente elevada. 3.1.1 Fármacos usados no tratamento da insuficiência cardíaca A insuficiência cardíaca, frequentemente referida como insuficiência cardíaca congestiva (ICC), ocorre quando o coração é incapaz de bombear de forma adequada a manter o fluxo sanguíneo apropriado para atender às necessidades do corpo. Dentre os sinais e sintomas, são comuns falta de ar, cansaço excessivo e inchaço das pernas (a falta de ar geralmente se faz mais intensa com o exercício físico). As causas mais comuns de insuficiência cardíaca incluem a doença arterial coronariana, incluindo infarto do miocárdio anterior (ataque cardíaco), pressão arterial elevada, fibrilação atrial, doença cardíaca valvar, excesso de álcool, infecção e cardiomiopatia de causa desconhecida. Essas causas levam à insuficiência cardíaca, alterando a estrutura ou o funcionamento do coração. Existem dois tipos principais de insuficiência cardíaca: um causado pela disfunção ventricular esquerda e outro relacionado à fração de ejeção normal (dependendo da capacidade afetada: a do ventrículo esquerdo de se contrair ou a do coração de relaxar). A gravidade da doença é geralmente classificada pelo grau de problemas com o exercício físico. Insuficiência cardíaca não é o mesmo que infarto do miocárdio (em que parte do músculo cardíaco morre) ou parada cardíaca (em que o 47 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA fluxo sanguíneo para completamente). Outras doenças que podem ter sintomas semelhantes aos da insuficiência cardíaca incluem obesidade, insuficiência renal, problemas hepáticos, anemia e doença da tireoide. A insuficiência cardíaca é uma condição comum, dispendiosa e potencialmente fatal. Nos países desenvolvidos, cerca de 2% dos adultos têm insuficiência cardíaca, e entre aqueles com mais de 65 anos, essa taxa sobe para o intervalo 6%-10%. A insuficiência é diagnosticada com base no histórico de sintomas e em um exame físico (teste ergonométrico) com confirmação por ecocardiografia. Exames de sangue, eletrocardiografia e radiografia de tórax podem ser úteis para determinar a causa subjacente. O tratamento depende da gravidade e da causa da doença. Em pessoas com insuficiência cardíaca crônica leve estável, o tratamento geralmente consiste em modificações no estilo de vida, como parar de fumar, inserir exercício físico na rotina e fazer algumas mudanças na dieta, bem como lançar mão do uso de alguns medicamentos. No caso de pacientes com insuficiência cardíaca relacionada à disfunção ventricular esquerda, são recomendados os inibidores da enzima de conversão da angiotensina ou os bloqueadores dos receptores da angiotensina juntamente com os betabloqueadores. Para aqueles com um quadro grave, podem ser utilizados antagonistas da aldosterona ou hidralazina com um nitrato. Os diuréticos são úteis para prevenir a retenção de líquidos, e, às vezes, dependendo da causa, um dispositivo implantado, como um marca-passo ou um desfibrilador cardíaco, pode ser recomendado. Em alguns casos moderados ou graves, a terapia de ressincronização cardíaca (TRC) pode ser sugerida ou a modulação da contratilidade cardíaca pode ser benéfica. Um dispositivo de assistência ventricular ou, ocasionalmente, um transplante cardíaco pode ser recomendado para aqueles com doença grave. A IC é tratada normalmente com redução da atividade física, dieta com baixa ingestão de sódio, tratamento das condições mórbidas coexistentes e uso criterioso de diuréticos, inibidores de ECA e fármacos inotrópicos. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Inibidores da ECA: enalapril. • Bloqueadores do receptor de angiotensina II: losartana. • Betabloqueadores: carvedilol e metoprolol. • Diuréticos: furosemida. 1 – Mecanismo de ação: atuam na alça de Henle dos néfrons impedindo a reabsorção de sódio (a descrição do mecanismo será estudada mais adiante); 2 – Indicação: evitar congestão pulmonar e edema periférico associado a IC; 3 – Efeitos adversos: hipovolemia profunda, hipopotassemia, entre outros. • Vasodilatadores diretos: hidralazina e isossorbida. 1 – Mecanismo de ação: agem diretamente nos vasos promovendo relaxamento da musculatura lisa e, consequente, diminuição da resistência vascular periférica; 2 – Indicação: IC congestiva; 3 – Efeitos adversos: constipação, tonturas, sensação de fadiga (os demais vasodilatadores devem ser evitados em pacientes com IC). • Fármacos inotrópicos: glicosídeos digitálicos (digoxina). 1 – Mecanismo de ação: aumentam os níveis de cálcio livre no citoplasma das células cardíacas promovendo um aumento na força de 48 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I contração e na contratilidade do músculo cardíaco; 2 – Indicação: o tratamento com digoxina é indicado para pacientes com disfunção sistólica ventricular esquerda grave depois de iniciado o tratamento com inibidor de ECA e diurético; também é indicada na IC com fibrilação atrial; 3 – Efeitos adversos: arritmias, anorexia, náuseas, êmese, cefaleia, fadiga, confusão, visão borrada, alteração na percepção de cores e distúrbios eletrolíticos. IC descompensada Congestão (+) Extremidades quentes PAS > 105 mmHg Vasodilatadores IV ou levosimendana + Otimização terapêutica: • Oxigênio • Diuréticos IV • Ajustar ECA • Vasodilatadores orais • Reavaliar em 24 horas IC descompensada Congestão (+) Extremidades quentes PAS 90 ≤ 105 mmHg Levosimendana ou dobutamina ou milrinona (+ otimização) + vasopressor para manter PAS > 100 Reposta inadequada após 24 horas: • Aumento de BUN • Congestão persistente • Dispneia persistente Se necessário (para desmame da dobutamina), acrescentar levosimendana Dobutamina ou dopamina ou norepinefrina IC descompensada Congestão (+) ou (-) Extremidades frias PAS 90 ≤ 105 mmHg IC descompensada Congestão (+) ou (-) Extremidades frias ASde infarto do miocárdio e um ataque cardíaco sem dor). Em alguns casos, a angina pode ser bastante grave e, no início do século XX, ela era conhecida por ser um sinal de morte iminente. No entanto, dadas as atuais terapias médicas, as perspectivas melhoraram 49 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA substancialmente: as pessoas com idade média de 62 anos, com grau moderado a grave de angina (classificando-se pelas classes II, III e IV), têm uma taxa de sobrevida de 5 anos de aproximadamente 92%. O agravamento dos ataques de angina, a angina de repouso e a angina com duração superior a 15 minutos são sintomas de angina instável (geralmente agrupados com condições semelhantes à síndrome coronária aguda). Como podem preceder um ataque cardíaco, exigem atenção médica urgente e são, em geral, tratados de forma semelhante ao infarto do miocárdio. 3.2.1 Classificação da angina pectoris A angina pectoris pode ser classificada em estável ou instável. • Angina estável: também conhecida como angina de esforço, refere-se ao tipo clássico de angina, relacionada com a isquemia miocárdica. Uma apresentação típica é a de desconforto no peito e sintomas associados precipitados por alguma atividade física (corrida, andando, etc.), com sintomas mínimos ou inexistentes em repouso ou após administração de nitroglicerina sublingual. Os sintomas geralmente diminuem alguns minutos após o fim do exercício e retornam quando a atividade é retomada. • Angina instável: definida como angina pectoris que evoluiu de estável para instável (piora). Possui pelo menos uma destas três características: ocorre em repouso (ou com esforço mínimo), geralmente durando mais de 10 minutos; é grave e se repete (isto é, dentro de 4 a 6 semanas); ocorre com um padrão crescente de intensidade (isto é, distintamente mais grave, prolongada ou frequente do que antes). A angina instável pode ocorrer imprevisivelmente em repouso, o que pode ser um indicador grave de um ataque cardíaco iminente. O que diferencia a angina estável da angina instável (à exceção dos sintomas) é a fisiopatologia da aterosclerose. A fisiopatologia da angina instável é a redução do fluxo coronariano devido à agregação plaquetária transitória em endotélio aparentemente normal, espasmos das artérias coronárias ou trombose coronariana. O processo começa com aterosclerose, progride através da inflamação para produzir uma placa instável ativa, que sofre trombose, e resulta em isquemia miocárdica aguda, que, se não controlada, ocasiona necrose celular (infarto). Estudos mostram que 64% das anginas instáveis ocorrem entre 22h00 e 08h00, quando os pacientes estão em repouso. Na angina estável, o ateroma em desenvolvimento é protegido com um tampão fibroso; essa tampa pode se romper e estabelecer a angina instável, permitindo que coágulos de sangue diminuam ainda mais a área do lúmen do vaso coronariano. Isso explica por que, em muitos casos, a angina instável se desenvolve independentemente da atividade física. 3.2.2 Principais fármacos utilizados no tratamento da angina pectoris Os fármacos mais indicados para o tratamento da angina pectoris estão listados a seguir. • Nitratos orgânicos: isossorbida e nitroglicerina. 1 – Mecanismo de ação: esses fármacos são ésteres de ácido nítrico e nitroso com glicerol e inibem vasoconstrição ou espasmos coronarianos 50 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I aumentando a perfusão do miocárdio e, assim, aliviando os sintomas da angina; além disso, relaxam as veias diminuindo a pré-carga e o consumo de oxigênio pelo coração; 2 – Indicação: são eficazes nos sintomas da angina (para alívio imediato de um ataque de angina provocado por exercícios ou estresse emocional, o fármaco de escolha deve ser a nitroglicerina sublingual); 3 – Efeitos adversos: cefaleia (deve-se evitar a associação com outros vasodilatadores como a sildenafila, pois causam severa hipotensão). • Betabloqueadores: metoprolol e atenolol. • Bloqueadores de canal de cálcio: nifedipino, verapamil e diltiazem. 1 – Mecanismo de ação: o cálcio é essencial para a contração muscular e seu influxo aumenta a isquemia devido à despolarização da membrana provocada pela hipóxia; os bloqueadores de canal de cálcio agem inibindo sua entrada nas células cardíacas e musculares lisas dos leitos arteriais coronarianos e sistêmicos; 2 – Indicação: na angina, pois promovem o relaxamento das artérias coronárias; 3 – Efeitos adversos: taquicardia reflexa, rubor, cefaleia, hipotensão, edema periférico e constipação. 3.3 Antiarrítmicos A arritmia cardíaca, também conhecida como batimento cardíaco irregular, é um grupo de condições em que o batimento cardíaco é irregular, muito rápido ou muito lento. A frequência cardíaca considerada muito rápida (acima de 100 batimentos por minuto em adultos) é chamada de taquicardia, e uma frequência cardíaca considerada muito lenta (abaixo de 60 batimentos por minuto) é chamada de bradicardia. Muitos tipos de arritmia não apresentam sintomas, mas, quando estão presentes, podem incluir palpitações ou a sensação de pausa entre os batimentos cardíacos. Mais seriamente pode haver tontura, desmaio, falta de ar ou dor no peito. Embora a maioria dos tipos de arritmia não seja grave, alguns predispõem uma pessoa a complicações como acidente vascular cerebral ou insuficiência cardíaca; outros podem resultar em parada cardíaca. A maioria das arritmias pode ser efetivamente tratada, e os tratamentos podem incluir medicamentos, procedimentos médicos e cirurgia. Medicamentos para controlar uma frequência cardíaca rápida podem incluir betabloqueadores ou agentes que tentam restaurar um ritmo cardíaco normal, como procainamida. No entanto, este último grupo pode ter efeitos colaterais mais significativos, especialmente se ingerido por um longo período de tempo. Os marca-passos são frequentemente usados para situações de bradicardia, e aqueles com batimentos cardíacos irregulares são muitas vezes tratados com diluentes de sangue para reduzir o risco de complicações. Pacientes apresentando sintomas graves de arritmia podem receber tratamento urgente com uma carga de eletricidade sob a forma de cardioversão ou desfibrilação. Fármacos utilizados como antiarrítmicos Os fármacos antiarrítmicos podem ser classificados de acordo com seu efeito predominante sobre o potencial de ação. Sua classificação se dá conforme o quadro a seguir. 51 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Quadro 3 – Ação dos fármacos antiarrítmicos Classificação dos antiarrítmicos Classe I – Bloqueadores dos canais de sódio A (ação moderada) – quinidina, procainamida, disopiramida B (ação discreta) – lidocaína, hidantoína, mexiletina, tocainida C (ação atenuada) – propafenona, flecainida, encainida Classe II – betabloqueadores Propranolol e similares Classe III – Inibidores da repolarização Amiodarona, bretiílio, soltalol Classe IV – Bloqueadores de canais de cálcio Verapamil Lembrete Arritmia é um distúrbio do batimento ou ritmo cardíaco, como batimento muito rápido, muito lento ou irregular. 4 DIURÉTICOS Chamamos de diurético qualquer substância que promova a diurese, ou seja, o aumento da produção de urina. Existem várias categorias de diuréticos, Todos aumentam a excreção de água do organismo, embora cada classe o faça de uma maneira distinta. Analogamente, um antidiurético (como a vasopressina ou o hormônio antidiurético) é um agente ou fármaco que reduz a excreçãode água na urina. Na Medicina, os diuréticos são usados para tratar insuficiência cardíaca, cirrose hepática, hipertensão, gripe, intoxicação por água e certas doenças renais. Alguns diuréticos, como acetazolamida, ajudam a tornar a urina mais alcalina e são úteis por estimular a excreção de substâncias, como a aspirina, em casos de overdose ou envenenamento. Diuréticos são frequentemente usados como drogas de abuso por pessoas com transtornos alimentares, especialmente bulímicos, como uma tentativa de perder ou evitar o ganho. As ações anti-hipertensivas de alguns diuréticos (tiazidas e diuréticos de alça em particular) são independentes do seu efeito diurético, ou seja, a redução da pressão arterial não ocorre devido à diminuição do volume sanguíneo resultante do aumento da produção de urina, mas decorre de outros mecanismos (já que tem efeito anti-hipertensivo em doses mais baixas do que as necessárias para produzir diurese). A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Tiazidas – hidroclorotiazida, clortalidona e indapamida são os fármacos diuréticos mais utilizados. 1 – Mecanismo de ação: agem no túbulo contorcido distal diminuindo a reabsorção 52 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I de Na+ (aparentemente por inibir uma bomba cotransportadora de Na+/Cl-); não há alteração no equilíbrio ácido-base, e perdem a eficácia quando a função renal está diminuída (esses fármacos promovem perda de vários eletrólitos, como o K+, Mg2+); 2 – Indicação: aumento na excreção de Na+/Cl-, tratamento da hipertensão arterial, insuficiência renal, hipercalciúria e diabetes insipidus; 3 – Efeitos adversos: depleção de potássio, hiponatremia, hiperuricemia, hipotensão ortostática, hipercalcemia, hiperglicemia, hiperlipemia e hipersensibilidade. • Diuréticos de alça – os mais conhecidos (e os mais potentes) diuréticos, são furosemida e bumetanida. 1 – Mecanismo de ação: os diuréticos de alça inibem a bomba cotransportadora de Na+/K+/2Cl- presente na membrana na porção ascendente da alça de Henle; dessa forma, a reabsorção desses íons diminui; 2 – Indicação: os diuréticos de alça atuam rapidamente, reduzindo a resistência vascular (renal) e aumentando o fluxo sanguíneo (renal), sendo indicados para redução de edema pulmonar, insuficiência cardíaca e tratamento da hiperpotassemia e da hipercalcemia; 3 – Efeitos adversos: ototoxicidade, hiperuricemia, hipovolemia aguda, depleção de potássio e hipomagnesemia. • Espironolactona: 1 – Mecanismo de ação: são antagonistas de aldosterona, hormônio que favorece, de forma indireta, um aumento na reabsorção de Na+ no túbulo coletor por estimular uma bomba de Na+/K+ (portanto, a inibição da aldosterona leva um aumento na diurese e, em contrapartida, aumenta a retenção de K+, sendo, por isso, chamada de diurético poupador de potássio); 2 – Indicação: pode ser administrada para insuficiência cardíaca, como diurético ou no tratamento do hiperaldosteronismo secundário; é indicada, ainda, associada a outros diuréticos para evitar perda intensa de potássio; 3 – Efeitos adversos: distúrbios gástricos, ginecomastia e irregularidades menstruais. • Diuréticos osmóticos (manitol): 1 – Mecanismo de ação: são substâncias que aumentam a osmolalidade mas têm uma permeabilidade limitada das células epiteliais tubulares. Trabalham principalmente pela expansão extracelular líquida e pelo volume de plasma, aumentando o fluxo sanguíneo para o rim (particularmente nos capilares peritubulares), o que reduz a osmolalidade medular e, portanto, prejudica a concentração de urina no anel de Henle (que geralmente usa o alto gradiente osmótico para transportar solutos e água). Além disso, a permeabilidade limitada das células epiteliais tubulares aumenta a osmolalidade e, portanto, a retenção de água no filtrado. 2 – Indicação: tratamento de edemas cranianos para diminuição da pressão intracraniana (PIC); 3 – Efeitos adversos: os principais efeitos colaterais do manitol surgem, especialmente, quando o medicamento não é administrado de forma adequada e incluem desidratação, insuficiência cardíaca congestiva, inchaço dos pulmões ou redução súbita da pressão arterial. Resumo Vimos que a farmacologia pode ser estudada a partir de dois ramos principais: A farmacocinética que é o caminho que o medicamento faz no organismo. Não é o estudo do seu mecanismo de ação mais sim as 53 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA etapas que a droga sofre desde a administração até a excreção: absorção, distribuição, biotransformação e excreção. A doença pode modificar as propriedades farmacocinéticas de uma droga por alterar sua absorção para a circulação sistêmica e/ou sua distribuição. Já a farmacodinâmica é a forma como a droga age no organismo. Estuda os efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e dos seus mecanismos de ação, utilizando os conceitos básicos da fisiologia, bioquímica, biologia celular e molecular, microbiologia, imunologia, genética e patologia. É peculiar porque concentra a atenção nas características dos fármacos. Os fármacos podem ser classificados de acordo com o tipo de efeito causado ou como bloqueador do efeito da biomolécula natural do organismo e podem ser: agonista endógeno: composto naturalmente produzido pelo organismo que é capaz de se ligar e ativar um receptor específico; superagonista: composto que é capaz de produzir uma resposta máxima maior do que o agonista endógeno para o mesmo receptor e, assim tem uma eficácia superior a 100%; agonistas completos: são moléculas que se ligam (têm afinidade) e ativam um receptor, produzindo uma eficácia total nesse receptor; agonistas parciais: são moléculas que também se ligam e ativam um dado receptor, mas têm apenas uma eficácia parcial no receptor relativamente a um agonista completo, mesmo na ocupação máxima do receptor; agonista inverso: é um agente que se liga no mesmo local do receptor que o agonista endógeno, porém desencadeia efeitos contrários ao esperado; co-agonista: é uma molécula que age em conjunto com o agonista para produzir o efeito desejado; agonista irreversível: é um tipo de agonista que se liga permanentemente a um receptor através da formação de ligações covalentes; agonista seletivo: possui seletividade para um tipo específico de receptor; antagonista: é um tipo de ligante de receptor ou fármaco que bloqueia ou impede respostas mediadas por agonistas. Eles são, às vezes, chamados de bloqueadores. A interação medicamentosa é uma situação em que uma substância (normalmente outro fármaco) afeta a atividade de um fármaco quando ambos são administrados em conjunto. Ainda, nesta unidade, foram apresentados os principais fármacos que atuam no sistema nervoso autônomo e no sistema cardiovascular. Os distúrbios do sistema cardiovascular são uma das principais causas de morte precoce no mundo desenvolvido. Em alguns casos, podem ser melhorados por mudanças no estilo de vida, como adequar a dieta ou deixar de fumar. Em outros casos, requerem tratamento com fármacos que atuam nos vasos sanguíneos, no coração ou nos rins. 54 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I Foram apresentados medicamentos para tratar a pressão arterial elevada, uma doença que afeta uma em cada cinco pessoas nos países desenvolvidos. Muitos desses fármacos são eficazes não só na redução da pressão sanguínea, mas também no tratamento de insuficiência cardíaca, angina e doença arterial coronária. Ainda foram estudadosos principais fármacos disponíveis para tratamento de arritmias, um grupo de distúrbios em que o coração bate de forma extremamente rápida ou com um ritmo anormal. Os betabloqueadores e os bloqueadores dos canais de cálcio são utilizados para tratar certas arritmias. Tais drogas e nitratos também tratam a doença arterial coronariana. Já diuréticos, inibidores da ECA e betabloqueadores são úteis no tratamento da insuficiência cardíaca congestiva. A maioria desses fármacos é útil também na regulação da pressão arterial elevada. Os fármacos hipolipemiantes (que, por diminuir os níveis de gorduras no sangue, são utilizados para reduzir o risco de ataque cardíaco) foram estudados, e seus mecanismos, descritos. Posteriormente foram vistos fármacos capazes de estimular a excreção de sódio e, consequentemente, aumentar a eliminação de água (diurese), fármacos esses denominados diuréticos e que apresentam inúmeras indicações diferentes. Exercícios Questão 1. (Funiversa, 2012) Com relação aos conceitos gerais da farmacologia, assinale a alternativa correta. A) A farmacocinética é o ramo da farmacologia que estuda as modificações que o organismo exerce sobre um fármaco. B) A farmacodinâmica é o ramo da farmacologia que estuda a velocidade de atuação de fármacos no organismo. C) A toxicologia é o ramo da farmacologia que estuda especificamente a ação de toxinas no organismo. D) Toda droga pode ser considerada também um fármaco, desde que utilizada na dose correta. E) Cápsulas, drágeas, géis e injeções são exemplos de formas farmacêuticas sólidas. Resposta correta: alternativa A. 55 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: a farmacocinética abrange a relação entre a entrada do fármaco no organismo, que depende de fatores ajustáveis, como dose, forma farmacêutica, frequência e via de administração e a concentração alcançada com o tempo, e que abrange os processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção. Então, a prescrição medicamentosa abrange dose, via de administração e intervalos (que são calculados em função do tempo de sua eliminação). Fonte: TOZER, T. N; ROWLAND, M. Introdução à farmacocinética e à farmacodinâmica: as bases quantitativas da terapia farmacológica. Porto Alegre: Artmed, 2009. 336 p. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a farmacodinâmica estuda local de ação, mecanismo de ação, ações e efeitos, efeitos terapêuticos e efeitos tóxicos de uma droga. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a toxicologia é uma área próxima da farmacologia. É a ciência que estuda os agentes tóxicos. D) Alternativa incorreta. Justificativa: atualmente, a droga é definida como sendo qualquer substância que é capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento. Assim, a droga consiste em qualquer substância química que possui a capacidade de produzir efeito farmacológico, ou seja, que provoque alterações funcionais ou somáticas. Se essas alterações forem benéficas, podemos denominar de fármaco, droga-medicamento ou apenas medicamento, e se forem maléficas, denominamos de tóxico ou droga-tóxico. Fonte: CARVALHO NETO, C. Z. Prevenção à dependência química. 2. ed. Palmas: Unitins, 2011. 70 p. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a injeção é um exemplo de forma farmacêutica líquida e os géis são semissólidos. Questão 2. (EBSERH, 2013) A respeito do sistema nervoso autônomo e dos fármacos que agem nele, assinale a alternativa incorreta. A) Os medicamentos anticolinérgicos, no sistema nervoso autônomo, são antagonistas competitivos de acetilcolina em receptores muscarínicos. 56 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I B) Existem dois tipos principais de receptores colinérgicos: os receptores nicotínicos e os receptores muscarínicos. C) Além da atropina e da escopolamina, diversos fármacos possuem propriedades antimuscarínicas, incluindo antidepressivos tricíclicos, fenotiazinas e anti-histamínicos. D) Os efeitos muscarínicos de utilização clínica dos anticolinesterásicos são os mesmos dos agonistas colinérgicos. E) Os agentes anticolinesterásicos irreversíveis bloqueiam a degradação da dopamina durante minutos ou horas. Resolução desta questão na plataforma. 57 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Unidade II 5 FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS QUE ATUAM NO TRATO RESPIRATÓRIO 5.1 Anti-inflamatórios O processo inflamatório é uma resposta tecidual desencadeada por danos aos tecidos vivos. A resposta inflamatória é um mecanismo de defesa que evoluiu em organismos superiores para protegê-los de infecções e lesões. Seu objetivo é localizar e eliminar o agente prejudicial e remover componentes de tecido danificados para que o organismo possa se regenerar ou cicatrizar. A resposta consiste em mudanças no fluxo sanguíneo, aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos e migração de fluidos, proteínas e glóbulos brancos (leucócitos) da circulação para o local do dano tecidual. Uma resposta inflamatória que dura apenas alguns dias é chamada de inflamação aguda, enquanto uma resposta de maior duração é referida como inflamação crônica. Embora a inflamação aguda seja geralmente benéfica, muitas vezes, causa sensações desagradáveis, como a dor ou prurido (nas picadas de insetos). O desconforto geralmente é temporário e desaparece quando a resposta inflamatória termina. Mas, em alguns casos, a inflamação pode causar danos. A destruição do tecido pode ocorrer quando os mecanismos regulatórios da resposta inflamatória são defeituosos ou há incapacidade de remover o tecido danificado e quando há presença de substâncias estranhas ao organismo. Em outros casos, uma resposta imune inadequada pode dar origem a uma resposta inflamatória prolongada e prejudicial. Os exemplos incluem reações alérgicas ou de hipersensibilidade, em que um agente ambiental, como o pólen, que normalmente não representa ameaça para o indivíduo, estimula a inflamação e reações autoimunes, nas quais a inflamação crônica é desencadeada pela resposta imune do corpo contra seus próprios tecidos. Os fatores que podem estimular a inflamação incluem microgarnismos, agentes físicos, produtos químicos, respostas imunológicas inapropriadas e morte de tecidos. Agentes infecciosos como vírus e bactérias são alguns dos estímulos mais comuns da inflamação. Os vírus originam inflamação ao entrar e destruir células do corpo; as bactérias liberam substâncias chamadas de endotoxinas que podem iniciar a inflamação. Traumas físicos, queimaduras, radiações e congelamento podem danificar os tecidos e também causar inflamação, como podem produtos químicos corrosivos, como ácidos, álcalis e agentes oxidantes. Conforme mencionado acima, as respostas imunológicas com defeito podem incitar a uma resposta inflamatória inadequada e prejudicial. A inflamação também pode resultar quando os tecidos morrem por falta de oxigênio ou nutrientes, uma situação que, muitas vezes, é causada pela perda de fluxo sanguíneo para a área danificada. 58 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II O processo inflamatório costuma desencadear os seguintes sinais ou sintomas: vermelhidão (rubor), calor, inchaço (tumor) e dor. A vermelhidão é causada pela dilataçãoe hipnóticos ...................................................................................................................... 39 2.3.4 Antidepressivos ........................................................................................................................................ 40 2.3.5 Estimulantes do sistema nervoso central ..................................................................................... 41 2.3.6 Antipsicóticos ........................................................................................................................................... 42 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 3 FÁRMACOS QUE ATUAM NOS SISTEMAS CARDIOVASCULAR ....................................................... 43 3.1 Fármacos anti-hipertensivos ........................................................................................................... 43 3.1.1 Fármacos usados no tratamento da insuficiência cardíaca .................................................. 46 3.2 Antianginosos ........................................................................................................................................ 48 3.2.1 Classificação da angina pectoris ...................................................................................................... 49 3.2.2 Principais fármacos utilizados no tratamento da angina pectoris .................................... 49 3.3 Antiarrítmicos ........................................................................................................................................ 50 4 DIURÉTICOS ...................................................................................................................................................... 51 Unidade II 5 FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS QUE ATUAM NO TRATO RESPIRATÓRIO ......................... 57 5.1 Anti-inflamatórios ............................................................................................................................... 57 5.1.1 Analgésicos ................................................................................................................................................ 58 5.1.2 Antipiréticos .............................................................................................................................................. 59 5.1.3 Anti-inflamatórios não esteroidais (Aines) .................................................................................. 59 5.1.4 Anti-inflamatórios esteroidais (AIES) ............................................................................................. 61 5.2 Fármacos que atuam no trato respiratório ................................................................................ 63 5.2.1 Antiasmáticos ........................................................................................................................................... 63 5.2.2 Antialérgicos ............................................................................................................................................. 67 5.3 Terapêutica da DPOC .......................................................................................................................... 68 6 ANTIBIÓTICOS ................................................................................................................................................... 70 6.1 Antibacterianos ..................................................................................................................................... 71 6.1.1 Sulfonamidas ............................................................................................................................................ 71 6.1.2 Betalactâmicos e inibidores da betalactamase ........................................................................... 72 6.1.3 Penicilinas .................................................................................................................................................. 72 6.1.4 Cefalosporinas .......................................................................................................................................... 73 6.1.5 Inibidores da betalactamase ............................................................................................................... 74 6.1.6 Tetraciclinas ............................................................................................................................................... 75 6.1.7 Aminoglicosídeos .................................................................................................................................... 76 6.1.8 Macrolídeos ............................................................................................................................................... 76 6.2 Antifúngicos ........................................................................................................................................... 77 6.2.1 Poliênicos ................................................................................................................................................... 77 6.2.2 Imidazólicos .............................................................................................................................................. 78 6.2.3 Aliaminas .................................................................................................................................................... 79 6.2.4 Caspofunginas (equinocandinas) ..................................................................................................... 79 6.2.5 Griseofulvina ............................................................................................................................................. 80 6.3 Antiparasitários ..................................................................................................................................... 80 6.3.1 Fármacos usados contra os Nematódeos (Helminto) .............................................................. 80 6.3.2 Fármacos usados contra Trematódeos (Helminto) .................................................................... 81 6.3.3 Fármacos usados contra os Cestóideos (Helminto) .................................................................. 81 6.4 Antiprotozoários ................................................................................................................................... 82 6.5 Antivirais .................................................................................................................................................. 82 6.5.1 Antirretrovirais ......................................................................................................................................... 83 6.5.2 Anti-herpéticos ........................................................................................................................................ 84 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 6.5.3 Anti-influenza .......................................................................................................................................... 85 6.5.4 Anti-hepatites .......................................................................................................................................... 85 7 FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DE DISTÚRBIOS GÁSTRICOS, ESOFÁGICOS E INTESTINAIS ............................................................................................................................ 86 7.1 Distúrbios gástricos ............................................................................................................................. 86 7.2 Tratamento farmacológico da constipaçãode pequenos vasos sanguíneos na área da lesão. O calor resulta do aumento do fluxo sanguíneo através da área e é experimentado apenas em partes periféricas do corpo, como a pele. A febre é provocada por mediadores químicos da inflamação e contribui para o aumento da temperatura na lesão. O inchaço, chamado edema, é causado principalmente pela acumulação de fluido fora dos vasos sanguíneos. A dor associada à inflamação resulta em partes pela compreensão dos tecidos causada por edema e também é induzida por certos mediadores químicos da inflamação, como bradicinina, serotonina e prostaglandina. FOSFOLIPASE A2: enzima que quando ativada por um estímulo lesivo libera o ácido aracdônico na membrana celular para o citoplasma PROSTACICLINA (vasodilatação e inibição da agregação plaquetária) PROSTAGLANDINAS (sensibilidade exagerada à dor, febre, vasodilatação, inibição da agregação plaquetária, inibição da secreção de ácido gástrico, aumento da secreção gástrica de muco) Membrana celular fosfolipídica Estímulo lesívo Ácido aracdônico Mediadores inflamatórios (endoperóxidos) TROMBOXANO (agregação plaquetária e vasoconstrição) CICLOOXIGENASE (COX-1 e COX-2): enzimas que vão transformar o ácido aracdônico nos mediadores inflamatórios Figura 10 – Descrição do processo inflamatório e seus mediadores químicos (cascata de inflamação) Lembrete A inflamação é parte da resposta biológica complexa dos tecidos corporais aos estímulos prejudiciais, como patógenos, células danificadas ou irritantes e envolve células imunes, vasos sanguíneos e mediadores moleculares. 5.1.1 Analgésicos Um fármaco analgésico é qualquer membro do grupo de drogas usadas para alcançar analgesia, alívio da dor. Os fármacos analgésicos atuam de várias maneiras nos sistemas nervoso periférico e central. Eles são distintos dos anestésicos, que afetam temporariamente e, em alguns casos, eliminam completamente a sensação de dor. Os analgésicos incluem o paracetamol (conhecido na América do Norte como acetaminofeno ou simplesmente Apap), os antiinflamatórios não esteroides (Aines), como os salicilatos e os medicamentos opióides, como a morfina e a oxicodona. 59 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA A escolha do analgésico a ser utilizado no tratamento deve-se levar em consideração, a gravidade e a resposta a outros medicamentos. A escolha analgésica também é determinada pelo tipo de dor: para a dor neuropática, os analgésicos tradicionais são menos efetivos, e muitas vezes se beneficiam das classes de medicamentos que normalmente não são considerados analgésicos, como antidepressivos tricíclicos e anticonvulsivantes. 5.1.2 Antipiréticos Fármacos antipiréticos são substâncias que reduzem a febre. Os antipiréticos fazem com que o hipotálamo não aumente a temperatura corpórea em resposta a presença da prostaglandina. O corpo então trabalha para diminuir a temperatura, o que resulta em redução da febre. A maioria dos medicamentos antipiréticos tem outros propósitos. Os antipiréticos mais comuns nos Estados Unidos são ibuprofeno e aspirina, que são anti-inflamatórios não esteroides (Aines) usados principalmente como analgésicos, mas que também possuem propriedades antipiréticas. E paracetamol, um analgésico com propriedades anti-inflamatórias fracas. Há algum debate sobre o uso adequado de tais medicamentos, pois a febre é parte da resposta imune do organismo à infecção. Um estudo publicado pela Royal Society alega que a supressão da febre causa pelo menos 1% mais casos de morte por gripe, o que resultaria em pelo menos 700 mortes extras por ano apenas nos Estados Unidos. 5.1.3 Anti-inflamatórios não esteroidais (Aines) Os Aines são um grupo de fármacos quimicamente heterogêneo que se diferenciam na sua atividade antipirética, analgésica e anti-inflamatória. Eles atuam principalmente inibindo as enzimas ciclo-oxigenases (COX) que catalisam o primeiro estágio da biossíntese de prostaglandinas. Essa inibição leva à redução da síntese de prostaglandinas que pode ter um efeito benéfico na diminuição dos sintomas inflamatórios e indesejados no sistema cardiovascular, como risco potencial grave de trombose, infarto do miocárdio e derrame. No organismo humano estão descritos dois tipos de COXs: tipo 1 e tipo 2. A COX-1 é encontrada principalmente durante o processo inflamatório e a COX-2 é encontrada em muitos tecidos constitutivos como nas células parietais do estômago. Os principais agentes Aines estão descritos a seguir: • Ácido acetilsalicílico (AAS): o As é o protótipo dos Aines tradicionais e aprovado nos Estados Unidos desde 1939. 1 – Mecanismo de ação: atua na acetilação irreversível (e dessa forma inativando) a COX. A metabolização do AAS leva a formação do ácido salicílico que possui ação anti-inflamatória, antipirética e analgésica. Os efeitos antipiréticos e anti-inflamatórios dos salicilatos são devidos ao bloqueio da síntese de prostaglandinas no centro termorregulador do hipotálamo e nos sítios-alvo da periferia. 2 – Indicação: os derivados do ácido acetilsalicílico são utilizados no tratamento de gota, febre reumatoide, osteoartrite e artrite reumatoide. Estes fármacos também são usados para tratar condições comuns que requerem analgesia (cefaleia, artralgia e mialgia) devido aos seus efeitos anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos. O AAS é utilizado topicamente no tratamento de acne, calosidades, calos ósseos e verrugas. Outra utilização desse fármaco é na inibição da aglutinação plaquetária. Assim, doses baixas do 60 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II AAS são empregadas profilaticamente para reduzir os riscos de ataques isquêmicos transitórios, acidente vascular encefálico, reduzir os riscos de infarto do miocárdio recorrente e o risco cardiovascular em pacientes submetidos a certos procedimentos de revascularização. 3 – Efeitos adversos: o AAS pode desencadear inúmeras reações adversas entre elas no trato gastrointestinal com irritação epigástrica, náuseas, êmese e sangramento; no sistema circulatório pode provocar sangramentos e por isso deve ser descontinuado uma semana antes de procedimentos cirúrgicos; atua no sistema respiratório e nervoso e pode provocar depressão respiratória, acidose respiratória e metabólica. • Derivados do ácido propiônico: nesta categoria encontram-se os fármacos ibuprofeno, naproxeno, fenoprofeno e cetoprofeno. • Derivados do oxicam: nessa família tem-se o piroxicam e o meloxicam. • Derivados do ácido heteroarila acético: são exemplos de fármacos dessa classe diclofenaco e cetorolaco. • Inibidores seletivos da COX-2: os principais fármacos dessa categoria são a nimesulida, o celecoxibe e o etoricoxibe. • Paracetamol. 1 – Mecanismo de ação: o paracetamol inibe a síntese de prostaglandina no sistema nervoso central. Isso explica suas propriedades antipiréticas e analgésicas. Apresenta pouca atividade pelas COXs nos tecidos periféricos o que contribui para seu fraco efeito anti-inflamatório. O paracetamol não afeta os componentes sanguíneos e não é considerado AINE. 2 – Indicação: substituto para os efeitos analgésicos e antitérmicos do AAS nos pacientes com problemas gástricos. É moderado analgésico e antipirético e é o fármaco de escolha para tratamento por infecções virais ou varicela em crianças. Não interagem com os medicamentos utilizados no tratamento da gota como outros Aines. 3 – Efeitos adversos: é um fármaco relativamente seguro nas doses terapêuticas, mas raramente podem acontecer eritema cutâneo e reações alérgicas. Em altas doses pode ocorrer necrose tubular renal grave. Também pode desencadear necrose hepática. Em casosde intoxicações hepáticas por paracetamol é recomendado o uso de acetilcisteína. Em pacientes que precisam ser tratados com altas doses de paracetamol faz-se necessário o monitoramento periódico das enzimas hepáticas no sangue. Observação O salicilato de sódio foi usado para tratar a febre reumática como agente antipirético e no tratamento da gota em 1875. O enorme sucesso do fármaco levou à produção do ácido acetilsalicílico. Depois de demonstrado seus efeitos anti-inflamatórios, este medicamento foi introduzido na Medicina em 1899 por Dresser, com o nome de aspirina, imortalizando o seu nome para sempre na história da medicina. 61 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA 5.1.4 Anti-inflamatórios esteroidais (AIES) Os AIEs são uma classe de corticosteróides, derivados de hormônios esteroides. Os corticoides fazem parte do mecanismo de feedback no sistema imunológico que reduz certos aspectos da função imune, como a inflamação. Eles são, portanto, utilizados em medicina para tratar doenças causadas por um sistema imune hiperativo, como alergias, asma, doenças autoimunes e sepse. Os AIEs têm diversos efeitos (pleiotrópicos), incluindo efeitos colaterais potencialmente nocivos, e, como resultado, raramente são vendidos no balcão. Eles também interferem em alguns dos mecanismos anormais em células cancerígenas, portanto são usados em altas doses para tratar câncer. Isso inclui efeitos inibitórios sobre a proliferação de linfócitos, como no tratamento de linfomas e leucemias e a mitigação dos efeitos colaterais de drogas anticancerígenas. Os AIEs afetam células por ligação ao receptor de glicocorticoide. Os corticóides são distinguidos dos mineralocorticóides e esteroides sexuais por seus receptores específicos, células-alvo e efeitos. Em termos de termos técnicos, o “corticosteroide” refere-se tanto aos glicocorticoides como aos mineralocorticóides (uma vez que ambos são imitadores de hormônios produzidos pelo córtex adrenal), mas é frequentemente usado como sinônimo de “glicocorticoide”. Os glicocorticoides são produzidos principalmente na zona fasciculata do córtex adrenal, enquanto os mineralocorticóides são sintetizados na zona glomerulosa. O cortisol (ou hidrocortisona) é o glicocorticóide humano mais importante. É essencial para a vida, e regula ou suporta uma variedade de funções cardiovasculares, metabólicas, imunológicas e homeostáticas importantes. Vários glicocorticóides sintéticos estão disponíveis. Estes são amplamente utilizados na prática médica geral e inúmeras especialidades, quer como terapia de reposição na deficiência de glicocorticoide ou para suprimir o sistema imunológico. Os glicocorticoides são potentes anti-inflamatórios, independentemente da causa da inflamação; não só reprimem a resposta imune, mas também inibem os dois principais produtos de inflamação, prostaglandinas e leucotrienos. Eles inibem a síntese de prostaglandinas ao nível da fosfolipase A2, bem como ao nível da ciclooxigenase. Fosfolipídeos de membrana Ácido araquidônico Prostaglandinas Tromboxano FOSFOLIPASE A2 CICLOOXIGENASE-1 CICLOOXIGENASE-2 Anti-inflamatórios esteroidais: prednisona, dexametasona Anti-inflamatórios não esteroidais: indometacina, aspirina rofecoxib Figura 11 – Síntese de prostaglandinas e tromboxano a partir do ácido araquidônico e locais de ação dos anti-inflamatórios esteroidais e não esteroidais 62 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II Os AIEs comercializados como anti-inflamatórios são muitas vezes formulações tópicas, tais como pulverizações nasais para rinite ou inaladores para asma. Esses preparativos têm a vantagem de afetar apenas a área visada, reduzindo assim os efeitos colaterais ou potenciais interações. Nesses casos, os principais compostos utilizados são beclometasona, budesonida, fluticasona, mometasona e ciclesonida. Para rinite, são utilizados sprays. Para a asma, os glicocorticoides são administrados como inalantes com um inalador de pó com dose medida ou com pó seco. A seguir, apresentamos lista dos principais fármacos utilizados como AIEs: Tabela 1 – Classificação dos fármacos anti-inflamatórios esteroidais Nome Potencial como AIEs Ação Mineralocorticoide Meia vida (h) Hidrocortisona 1 1 8 Cortisona 0,8 0,8 8 Prednisona 4 0,8 16-36 Dexametasona 80 0 36-54 Betametasona 30 0 36-54 Fluticortisona 15 200 - Efeitos adversos Os Aies atualmente utilizados atuam de forma não seletiva, de modo que, a longo prazo, podem prejudicar muitos processos anabolizantes saudáveis. Para evitar isso, muitas pesquisas foram focadas recentemente na elaboração de medicamentos com glicocorticoides de ação seletiva. Os efeitos adversos incluem: • Imunodeficiência. • Hiperglicemia devido ao aumento da gliconeogênese, resistência à insulina e tolerância à glicose (“diabetes esteroide”). Atenção em pacientes com diabetes mellito. • Maior fragilidade da pele, contusões fáceis. • Balanço de cálcio negativo devido à redução da absorção intestinal de cálcio. • Osteoporose induzida por esteroides: redução da densidade óssea (osteoporose, osteonecrose, maior risco de fratura, reparação mais fraca da fratura). • Ganho de peso devido ao aumento da deposição de gordura visceral e truncal (obesidade central) e estimulação do apetite. • Hipercortisolemia com uso prolongado ou excessivo (também conhecida como síndrome de Cushing exógena). • Diminuição da memória e déficits de atenção. 63 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA • Insuficiência adrenal (se for usada por muito tempo e parar de repente). • Destruição de músculo e tendão (proteólise), fraqueza, massa muscular reduzida e redução na reparação tecidual. • Lipomatose dentro do espaço peridural. • Efeito excitador no sistema nervoso central (euforia, psicose). • Anovulação, irregularidade dos períodos menstruais. • Falha no crescimento, puberdade tardia. • Aumento dos aminoácidos plasmáticos, aumento da formação de ureia, balanço de nitrogênio negativo. • Glaucoma devido ao aumento da pressão ocular. Em doses elevadas, a hidrocortisona (cortisol) e os glicocorticoides com potência mineralocorticoide apreciável também podem exercer um efeito mineralocorticoide. Os efeitos de mineralocorticoides podem incluir retenção de sal e água, expansão do volume de fluido extracelular, hipertensão, depleção de potássio e alcalose metabólica. 5.2 Fármacos que atuam no trato respiratório As principais doenças que afetam o trato respiratório são a asma, a rinite alérgica e a doença pulmonar crônica obstrutiva (DPOC). Cada uma dessas condições pode estar associada com tosse incoercível, que pode ser a única queixa do paciente. A asma é uma doença crônica caracterizada por vias aéreas hiper-responsivas, que afetam milhões de pacientes (7% da população brasileira), resultando anualmente em 1 milhão de atendimentos de emergência, 150 mil hospitalizações e 3 mil mortes por ano. A DPOC, que inclui enfisema e bronquite crônica, pode afetar mais de 12 milhões de pessoas no Brasil. A rinite alérgica, caracterizada por olhos lacrimejantes, prurido, rinorreia e tosse não produtiva é uma condição extremamente comum que diminui a qualidade de vida segundo os pacientes. A tosse é uma defesa respiratória importante contra os agentes irritantes e é citada como a principal razão pela qual os pacientes procuram cuidados médicos. A tosse coercível pode representar diversas etiologias, como resfriado, sinusite ou doença respiratóriacrônica subjacente. 5.2.1 Antiasmáticos A asma é uma doença das vias aéreas caracterizada por episódios de broncoconstrição aguda, causando encurtamento da respiração, tosse, tensão torácica, respiração ruidosa e rápida. Esses sintomas agudos podem resolver espontaneamente com exercícios de relaxamento não farmacológico ou com fármacos de alívio rápido, como um agonista beta-2 adrenérgico de ação curta. A asma é uma doença crônica com fisiopatologia inflamatória subjacente que, se não tratada, pode evoluir em 64 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II remodelação das vias aéreas, resultando em agravamento e incidência de exacerbações e/ou morte. Mortes decorrentes de asma são relativamente infrequentes, mas a morbidade significativa resulta em altos custos de atendimento e ambulatorial, numerosas hospitalizações e redução na qualidade de vida. O tratamento da asma consiste em dois objetivos: redução do agravamento e redução do risco. A redução do agravamento significa diminuir a intensidade e a frequência dos sintomas e o grau de limitações que o paciente apresenta devido a estes sintomas. A redução do risco significa diminuir os resultados adversos associados à asma e ao seu tratamento. Trato respiratório superior Trato respiratório inferior Cavidade nasal Faringe Laringe Traqueia Brônquio principal Pulmão Figura 12 – Trato respiratório Os fármacos utilizados no tratamento das doenças respiratórias podem ser aplicados topicamente na mucosa nasal, inalados ou administrados por via oral ou parenteral para a absorção sistêmica. Os métodos de aplicação local, como nebulizadores ou inaladores, são preferidos, pois o fármaco atinge o tecido-alvo e minimiza os riscos sistêmicos. Os objetivos do tratamento da asma são diminuir a intensidade e a frequência dos sintomas e o grau de limitações que o paciente apresenta devido a esses sintomas. Todos os pacientes necessitam de medicação de alívio rápido para tratar de sintomas agudos. O tratamento farmacológico para controle de longo prazo objetiva reverter e prevenir a inflamação das vias aéreas. As principais classes terapêuticas estão listadas a seguir: • Modificadores de leucotrieno: os principais fármacos desta categoria são o montelucaste e o zafirlucaste. Os leucotrienos são produzidos a partir do ácido araquidônico pela via da 5-lipoxigenase e parte da cascata inflamatória. Os leucotrienos atuam no recrutamento dos eosinófilos e neutrófilos, além de promover contração dos músculos lisos dos bronquíolos, aumentar a permeabilidade endotelial e promover a secreção de muco. 1 – Mecanismo de ação: o montelucaste e o zafirlucaste atuam como antagonistas seletivos do receptor de leucotrieno. 2 – Indicação: esses fármacos são aprovados para prevenir os sintomas da asma. Eles não devem ser utilizados em situações em que é necessária a broncodilatação imediata. Os antagonistas 65 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA de leucotrieno também podem atuar na prevenção do broncoespasmo induzido pelo exercício. 3 – Efeitos adversos: ocorre elevação das enzimas hepáticas exigindo monitorização periódica e interrupção do tratamento se houver aumento das enzimas hepáticas no soro mais que 3 vezes os valores normais. Outros efeitos incluem cefaleia e dispepsia. • Cromolina. 1 – Mecanismo de ação: é um anti-inflamatório profilático que inibe a desgranulação e a liberação de histaminas dos mastócitos. 2 – Indicação: é um tratamento alternativo contra a asma leve persistente. Contudo, não é útil no manejo dos ataques agudos da asma, pois não é broncodilatador. 3 – Efeitos adversos: são mínimos, mas podem surgir tosse, irritação e gosto desagradável. • Antagonistas colinérgicos: são exemplos de fármacos utilizados nesta classe o ipratrópio e tiotrópio. 1 – Mecanismo de ação: os anticolinérgicos bloqueiam a contração dos músculos lisos das vias aéreas e a secreção de mudo mediadas pelo nervo vago. 2 – Indicação: são indicados para pacientes que possuem baixa tolerância a outros broncodilatadores durante os episódios de asma. Oferecem vantagens terapêuticas sobre os demais broncodilatadores durante o tratamento de crises agudas de asma em emergências. 3 – Efeitos adversos: xerostalmia e gosto amargo. Esses efeitos estão relacionados a efeitos locais. • Teofilina. 1 – Mecanismo de ação: a teofilina é um broncodilatador que promove o alívio das vias aéreas na asma crônica. Possui atividade anti-inflamatória, embora o mecanismo ainda não esteja esclarecido. 2 – Indicação: antigamente, a teofilina foi a base do tratamento da asma, sendo amplamente substituída pelos agonistas adrenérgicos e corticosteroides devido a janela terapêutica estreita. 3 – Efeitos adversos: os principais efeitos adversos relatados são convulsões e arritmias potencialmente fatais. Apresenta numerosas interações medicamentosas. • Omalizumabe. 1 – Mecanismo de ação: este fármaco é um anticorpo monoclonal que se liga seletivamente a imunoglobulina E (IgE) diminuindo a ligação do IgE ao seu receptor na superfície dos mastócitos e basófilos. A ligação do omalizumabe ao IgE impede, portanto, a liberação de histamina e de outros mediadores inflamatórios. 2 – Indicação: é indicado para o tratamento de asma persistente de moderada a grave em pacientes que são mal controlados com o tratamento convencional. 3 – Efeitos adversos: seu uso é limitado devido ao alto custo e a administração subcutânea e os efeitos adversos mais prevalentes são artralgias e urticárias. • Beta-2 agonistas adrenérgicos: essa classe terapêutica é dividida em fármacos de alívio rápido e fármacos para controle a longo prazo. Tabela de asma e tratamento • Alívio rápido (salbutamol e levossalbutamol): os beta-2 agonistas de curta duração (BACAs) tem rápido início de ação (5 minutos) e proporcionam alívio durante 4 horas. 1 – Mecanismo de ação: esses fármacos promovem broncodilação significativa com poucos efeitos indesejáveis de estimulação dos outros receptores adrenérgicos. 2 – Indicação: os BACAs não têm efeitos anti-inflamatórios e são usados no tratamento sintomático do broncoespasmo e dão alívio 66 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II rápido na broncoconstrição aguda. Todos os pacientes asmáticos devem fazer uso de um BACA. 3 Efeitos adversos: taquicardia, hiperglicemia, hipopotassemia, hipomagnesemia e tremores dos músculos esqueléticos. • Controle por longo prazo (salmeterol e formoterol): são beta-2 agonistas de longa duração (BALAs) e são parecidos quimicamente com o salbutamol. Promovem broncodilatação por 12 horas. 1 – Mecanismo de ação: são semelhantes aos BACAs possuem apenas tempo de meia vida maior. 2 – Indicação: não devem ser empregados como monoterapia e nem para alívio rápido durante o ataque de asma aguda. São considerados úteis como tratamento auxiliar para esse controle. 3 – Efeitos adversos: são similares aos efeitos adversos dos BACAs. • Corticosteroides (CSIs): Os CSIs são fármacos de escolha para controle de longo prazo em pacientes com algum grau de asma persistente e estão nesta categoria os fármacos prednisolona, metilprednisolona, prednisona, beclometasona, budesonida, mometasona e fluticasona. 1 – Mecanismo de ação: Os CSIs inibem a liberação de ácido araquidônico por meio da inibição da fosfolipase A2, produzindo assim efeito anti-inflamatório direto nas vias aéreas. O mecanismo detalhado já foi apresentado anteriormente. Não afetam diretamente o músculo liso das vias aéreas. Ao contrário,os CSIs inalados visam diretamente a inflamação subjacentes das vias aéreas, diminuindo a cascata inflamatória, revertendo o edema da mucosa, diminuindo a permeabilidade dos capilares e inibindo a liberação de leucotrienos. Após algum período de administração os CSIs diminuem a responsividade das vias aéreas aos alérgenos como irritantes, ar frio e exercício. 2 – Indicação: nenhuma outra medicação é tão eficaz no tratamento da asma crônica em longo prazo que os CSIs tanto em crianças como em adultos. Devem ser usados regularmente para obter a máxima eficácia. A asma grave e persistente pode exigir o uso de glicocorticoides oral. 3 Efeitos adversos: candidíase orofarígea, rouquidão. Pode apresentar efeitos sistêmicos semelhantes a outros CSIs. Quadro 4 – Resumo dos fármacos que agem no trato respiratório Medicação Indicação Levossalbutamol Asma, DPOC Salbutamol Asma, DPOC Salmeterol Asma, DPOC Formoterol Asma, DPOC Beclometasona Rinite alérgica, asma, DPOC Budesonida Rinite alérgica, asma, DPOC Ciclesonida Rinite alérgica Fluticasona Rinite alérgica, asma, DPOC Mometasona Rinite alérgica, asma Ipratrópio Rinite alérgica, DPOC Tiotrópio DPOC Montelucaste Asma, rinite alérgica Zafirlucaste Asma 67 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Azelastina Rinite alérgica Cetirizina Rinite alérgica Desloratadina Rinite alérgica Fexofenadina Rinite alérgica Loratadina Rinite alérgica Fenilefrina Rinite alérgica Oximetazolina Rinite alérgica Pseudoefedrina Rinite alérgica Benzonatato Supressor de tosse Codeína Supressor de tosse Dextrometorfano Supressor de tosse Guaifenesina Expectorante Cromalina Asma, rinite alérgica Teofilina Asma Adaptado de: Whalen, Finkel, Panavelil (2016). 5.2.2 Antialérgicos A rinite alérgica, também conhecida como febre do feno, é um tipo de inflamação no nariz que ocorre quando o sistema imune reage em excesso aos alérgenos no ar. Sinais e sintomas incluem um nariz entupido, espirros, olhos vermelhos, pruridos e inchaço ao redor dos olhos. O líquido do nariz geralmente é claro. O início do sintoma é geralmente em poucos minutos após a exposição e pode afetar o sono, a capacidade de trabalhar e a capacidade de se concentrar na escola. Aqueles cujos sintomas são devidos ao pólen geralmente desenvolvem sintomas durante épocas específicas do ano. Muitas pessoas com rinite alérgica também têm asma, conjuntivite alérgica ou dermatite atópica. A rinite alérgica geralmente é desencadeada por alérgenos ambientais, como pólen, pelos, poeira ou mofo. A genética hereditária e as exposições ambientais contribuem para o desenvolvimento de alergias. Crescer em uma fazenda e ter múltiplos irmãos diminui o risco. O mecanismo subjacente envolve anticorpos IgE associados ao alérgeno e causa a liberação de substâncias químicas inflamatórias, como a histamina dos mastócitos. O diagnóstico geralmente é baseado em uma história médica em combinação com um teste cutâneo ou exames de sangue para anticorpos IgE específicos para alérgenos. Esses testes, no entanto, às vezes são falsamente positivos. Os sintomas das alergias se assemelham aos do resfriado comum; no entanto, eles geralmente duram mais de duas semanas e tipicamente não incluem febre. Dentre as opções de medicamentos para tratamento da rinite alérgica estão: • Anti-histamínicos (fexofenadina, loratadina, desloratadina, cetirizina, azelastina). 1 – Mecanismo de ação: são antagonistas dos receptores H1 de histamina que estão constitutivamente distribuídos pelo organismo. Dessa forma, a histamina liberada pelos mastócitos durante a crise alérgica não produzirá os efeitos histamínicos da inflamação. 2 – Indicação: os anti-histamínicos são úteis no manejo dos sintomas de rinite alérgica causada pela liberação de histamina (espirros, rinorreia aquosa e prurido nasal e ocular). Contudo, são menos eficazes na prevenção dos sintomas do 68 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II que no tratamento após o aparecimento dos sintomas. A combinação de anti-histamínicos com descongestionantes nasais tem uma eficácia maior. 3 – Efeitos adversos: os efeitos mais comuns são sedação e efeitos anticolinérgicos. • Corticosteroides intranasais: (beclometasona, budesonida, fluticasona, ciclesonida, mometasona e triancinolona). • Agonista alfa adrenérgicos: são também chamados de descongestionantes nasais e incluem a fenilefrina e a oximetazolina. 5.3 Terapêutica da DPOC A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é um tipo de doença pulmonar obstrutiva caracterizada por fluxo de ar insuficiente a longo prazo. Os principais sintomas incluem falta de ar e tosse com produção de escarro. A DPOC é uma doença progressiva, o que significa que tipicamente piora ao longo do tempo. Eventualmente, as atividades diárias, como subir de escada, tornam-se difíceis. Bronquite crônica e enfisema são termos mais antigos usados para diferentes tipos de DPOC. O termo bronquite crônica ainda é usado para definir uma tosse produtiva que está presente há pelo menos três meses por ano por dois anos. O tabagismo é a causa mais comum de DPOC, com fatores como poluição do ar e genética desempenhando um papel menor. A exposição prolongada a estes irritantes provoca uma resposta inflamatória nos pulmões, resultando no estreitamento das pequenas vias aéreas e na lesão do tecido pulmonar. O diagnóstico é baseado no fluxo de ar pobre, conforme medido pelos testes de função pulmonar. Em contraste com a asma, a redução do fluxo de ar não melhora muito com o uso de um broncodilatador. A maioria dos casos de DPOC pode ser prevenida através da redução da exposição a fatores de risco. Isso inclui diminuir as taxas de tabagismo e melhorar a qualidade do ar interior e exterior. Enquanto o tratamento pode retardar a piora, não há cura. Os tratamentos de DPOC incluem interrupção do tabagismo, vacinações, reabilitação respiratória e, muitas vezes, broncodilatadores e esteroides inalatórios. Algumas pessoas podem se beneficiar de oxigenoterapia a longo prazo ou transplante pulmonar. Naqueles que têm períodos de agravamento agudo, pode ser necessário um aumento no uso de medicamentos e hospitalização. Em 2015, a DPOC afetou cerca de 174,5 milhões (2,4%) da população global. Geralmente ocorre em pessoas com mais de 40 anos independente do sexo. Ainda em 2015, a DPOC resultou em 3,2 milhões de mortes, contra 2,4 milhões de mortes em 1990. Mais de 90% dessas mortes ocorrem no mundo em desenvolvimento. Prevê-se que o número de mortes aumente ainda mais devido ao aumento das taxas de tabagismo no mundo em desenvolvimento e ao envelhecimento da população em muitos países. Ainda não existe uma cura conhecida para a DPOC, mas os sintomas são tratáveis e sua progressão pode ser adiada. Os principais objetivos do tratamento são reduzir fatores de risco, gerenciar DPOC estável, prevenir e tratar exacerbações agudas e gerenciar doenças associadas. As únicas medidas que 69 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA foram mostradas para reduzir a mortalidade são a cessação do tabagismo e a administração de oxigênio suplementar. Parar de fumar diminui o risco de morte em 18%. Outras recomendações incluem vacinação contra a gripe uma vez por ano, vacinação pneumocócica uma vez a cada cinco anos e redução da exposição à poluição ambiental do ar. Naqueles com doenças avançadas, os cuidados paliativos podem reduzir os sintomas, com a morfina melhorando os sentimentos de falta de ar. Aventilação não invasiva pode ser usada para suportar a respiração. Fornecer às pessoas um plano de ação personalizado, uma sessão educacional e apoio ao uso de seu plano de ação em caso de exacerbação, reduz o número de visitas hospitalares e incentiva o tratamento precoce de exacerbações. Dentre os tratamentos farmacológicos incluem-se: • Broncodilatadores: os broncodilatadores inalatórios são os principais medicamentos utilizados e resultam em um pequeno benefício geral. Existem dois tipos principais, β2 agonistas e anticolinérgicos; ambos existem em formas de ação prolongada e de ação curta. Eles reduzem a falta de ar, a sibilância e a limitação do exercício, resultando em uma melhoria da qualidade de vida. Não está claro se eles alteram a progressão da doença subjacente. Naqueles com doença leve, os fármacos de ação curta são recomendados conforme necessidade. Naqueles com doença mais grave, fármacos recomendados são de ação prolongada. Os fármacos de longa duração funcionam parcialmente melhorando a hiperinflação. Se os broncodilatadores de ação prolongada são insuficientes, então os corticosteróides inalados são tipicamente adicionados. No que diz respeito aos agentes de ação prolongada, não está claro se o tiotrópio (anticolinérgico de ação prolongada) ou agonistas beta de ação prolongada (BALAs) são melhores e pode valer a pena tentar cada um e continuar o que melhor funcionou. Ambos os tipos de agentes parecem reduzir o risco de exacerbações agudas em 15-25%. Ambos os tipos de fármacos já foram relatados acima quanto aos mecanismos de ação, indicações e efeitos adversos. • Corticosteroides: os corticosteróides geralmente são usados na forma inalada, mas também podem ser usados como comprimidos para tratar e prevenir exacerbações agudas. Enquanto os corticosteroides inalados (CSIs) não mostraram benefício para pessoas com DPOC leve, eles diminuem as exacerbações agudas naqueles com doença moderada ou grave. Por si só, não têm efeito sobre a mortalidade global em um ano. Não está claro se eles afetam a progressão da doença. Quando usado em combinação com um BALA, eles podem diminuir a mortalidade em comparação com CSI ou BALA sozinho. Os fármacos dessa classe já foram apresentados quanto aos mecanismos de ação, indicações e efeitos adversos. • Oxigenoterapia: consiste na administração de oxigênio suplementar. 1 – Mecanismo de ação: a falta do oxigênio em pacientes com DPOC é responsável pelos principais sintomas da patologia e sua reposição melhora os sinais clínicos. 2 – Indicação: é recomendado naqueles com baixos níveis de oxigênio em repouso (uma pressão parcial de oxigênio inferior a 50-55 mmHg ou saturações de oxigênio inferior a 88%). Nesse grupo de pessoas, diminui o risco de insuficiência cardíaca e morte, se usado 15 horas por dia e pode melhorar a capacidade de exercício das pessoas. Naqueles com níveis de oxigênio normais ou suavemente baixos, a suplementação de oxigênio pode melhorar a falta de ar quando administrada durante o exercício, mas pode não melhorar a falta de ar durante as atividades diárias normais ou afetar a qualidade de vida. 3 – Efeitos adversos: existe o risco de incêndios e pouco benefício quando os pacientes continuam a fumar. Nessa situação, não se 70 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II recomenda a sua utilização. Durante exacerbações agudas, muitos requerem oxigenoterapia; o uso de altas concentrações de oxigênio sem levar em conta as saturações de oxigênio de uma pessoa pode levar a níveis aumentados de dióxido de carbono e a piora dos resultados. Nos pacientes com alto risco de altos níveis de dióxido de carbono, recomenda-se saturações de oxigênio de 88-92%, enquanto que para aqueles sem esse risco, os níveis recomendados são de 94-98% 6 ANTIBIÓTICOS Os antibióticos também são chamados de medicamentos antimicrobianos e usados nos tratamentos e prevenções de infecções. Eles podem matar ou inibir o crescimento de bactérias ou outros microrganismos. Um número limitado de antibióticos ainda possui atividade antiprotozoária. Os antibióticos não são eficazes contra vírus como o resfriado comum ou a gripe; as drogas que inibem vírus são chamadas de medicamentos antivirais. Às vezes, o termo antibiótico (que significa “vida oposta”) é usado para se referir a qualquer substância usada contra micróbios, sinônimo de antimicrobiano. Algumas fontes distinguem entre antibacteriano e antibiótico; antibacterianos são usados em sabões e desinfetantes, enquanto os antibióticos são usados como medicamento. Os antibióticos revolucionaram a medicina no século XX. Com a vacinação, os antibióticos ocasionaram à quase erradicação de doenças como a tuberculose no mundo desenvolvido. No entanto, sua eficácia e fácil acesso também levaram ao seu uso excessivo, levando os microrganismos a desenvolver resistência. Isso levou a problemas generalizados, que fizeram a Organização Mundial da Saúde classificar a resistência antimicrobiana como uma “séria ameaça que não é mais uma previsão para o futuro, está acontecendo agora em todas as regiões do mundo e tem o potencial de afetar qualquer pessoa, de qualquer idade, em qualquer país”. O tratamento antimicrobiano aproveita-se das diferenças bioquímicas que existem entre os microrganismos e os seres humanos. Os fármacos antimicrobianos são eficazes no tratamento de infecções, pois são seletivamente tóxicos, ou seja, eles têm capacidade de lesar ou matar os microrganismos invasores sem prejudicar as células do hospedeiro. Na maioria das situações, a toxicidade seletiva é relativa, em vez de absoluta, exigindo que a concentração do fármaco seja cuidadosamente controlada para atingir o microrganismo enquanto ainda está sendo tolerada pelo hospedeiro. A caracterização do microrganismo é decisiva para selecionar o fármaco apropriado. Uma avaliação rápida da natureza do patógeno às vezes pode ser feita com base na coloração de Gram, que é particularmente útil na identificação da presença e das características morfológicas do microrganismo nos líquidos orgânicos que, em geral, são estéreis (sangue, soro, urina, líquor, pleural, sinovial e peritoneal). Entretanto, com frequência é necessário cultivar o microrganismo para chegar a um diagnóstico conclusivo e determinar a suscetibilidade aos antimicrobianos. Assim, é essencial obter uma amostra do microrganismo para cultura antes de iniciar o tratamento. De outra forma, seria inviável diferenciar se uma cultura negativa é devida à ausência de microrganismos, ou se é resultado dos efeitos antimicrobianos do fármaco administrado. Os antibióticos são comumente classificados com base em seu mecanismo de ação, estrutura química ou espectro de atividade. Aqueles que visam a parede celular bacteriana (penicilinas e cefalosporinas), ou a 71 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA membrana celular (polimixinas), ou interferem com enzimas bacterianas essenciais (rifamicinas, lipiarmicinas, quinolonas e sulfonamidas) têm atividades bactericidas, ou seja, agem levando o microrganismo à morte. Os inibidores da síntese de proteínas (macrolídeos, lincosamidas e tetraciclinas) são geralmente bacteriostáticos, ou seja, impedem o crescimento e proliferação do microrganismo (com exceção dos aminoglicosídeos bactericidas). A categorização adicional é baseada na especificidade de seu destino. Os antibióticos de “espectro estreito” visam tipos específicos de bactérias, como gram-negativos ou gram-positivos, enquanto os antibióticos de amplo espectro afetam uma ampla gama de bactérias. Após uma interrupção de 40 anos na descoberta de novas classes de compostos antibacterianos,quatro novas classes de antibióticos foram trazidas para uso clínico no final dos anos 2000 e início de 2010: lipopeptídeos cíclicos (como daptomicina), glicilciclinas (como tigeciclina), oxazolidinonas (como linezolide) e lipiarmicinas (como a fidaxomicina). Neste livro-texto, optou-se por classificar os agentes antimicrobianos pela sua estrutura química, assim, a seguir, serão apresentadas as principais classes de antimicrobianos usadas na terapêutica ATHF PABA Ribossomos Membrana celular Parede celular – Isoniazida – Anfotericina B – Polimixina – Fluoroquinolonas – Rifampicina – Tetracidinas – Aminoglicosideos – Macrolidos – Clindamicina – Cloranfenicol – Linezolida – β-lactâmicos – Vancomicina – Daptomicina – Telavancina – Fosfomicina – Sulfonamidas – Trimetoprima Inibidores das funções da membrana celular Inibidores da função ou síntese dos ácidos nucleicos Inibidores da síntese de proteínas Inibidores da síntese de parede celular Inibidores do metabolismo RNAm DNA Figura 13 – Classificação de alguns antibacterianos pelo seu local de ação. ATHF: ácido tetra-hidrofólico; PABA: ácido para-aminobenzoico 6.1 Antibacterianos A terminologia antibacterianos se refere a fármacos que têm efeito sobre bactérias, sendo bactericidas ou bacteriostáticos. Em algumas situações esses fármacos podem também desencadear respostas em outros microrganismos. 6.1.1 Sulfonamidas As sulfas raramente são prescritas como fármacos únicos, exceto em países em desenvolvimento, onde continuam sendo empregadas graças a seu baixo custo e à sua eficácia. Entre as sulfas utilizadas na terapêutica encontra-se a sulfametoxazol e o cotrimoxazol. • Mecanismo de ação: em vários microrganismos, o ácido di-hidrofólico é sintetizado a partir do ácido para-aminobenzoico (PABA). Todas as sulfonamidas empregadas atualmente são análogos sintéticos 72 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II do PABA. Devido a sua semelhança estrutural com o PABA, elas competem com esse substrato pela enzima bacteriana, a di-hidropteroato sintase. As sulfas são consideradas bacteriostáticas. • Indicação/espectro de ação: as sulfas são ativas contra infecções do trato urinário por Enterobactérias e Nocardia. Além disso, podem ser usadas se associadas a outros fármacos para o tratamento da toxoplasmose ou como antimalárica. • Resistência: bactérias que conseguem obter o folato de ambiente são naturalmente resistentes às sulfonamidas. A resistência bacteriana pode ser adquirida pela transferência de plasmídeos ou por mutações aleatórias. A resistência em geral é irreversível e pode ser devida 1) à alteração da di-hipteroato sintase; 2) à diminuição da permeabilidade celular às sulfonamidas; 3) à maior produção o substrato natural, o PABA. • Efeitos adversos: entre os principais efeitos adversos observados estão a cristalúrica (formação de cristais do fármaco nos rins), hipersensibilidade, distúrbios hematopoiéticos e icterícia nuclear (kernicterus). Atualmente, as sulfas são empregadas em associação com a trimetoprima, um inibidor da di-hidrofolato redutase bacteriana. Assim, tem eficácia maior que quando administrada isoladamente. 6.1.2 Betalactâmicos e inibidores da betalactamase Os fármacos denominados de betalactâmicos são assim chamados devido ao fato de apresentarem em suas estruturas químicas um anel heterocíclico chamado de betalactâmico. Dentre os fármacos desta classe encontram-se as penicilinas, cefalosporinas, carbapenamas e monobactamas. 6.1.3 Penicilinas As penicilinas estão entre os fármacos mais amplamente eficazes e também entre os menos tóxicos conhecidos, mas o aumento da resistência limitou o seu uso. Os membros dessa família diferem entre si apenas em uma porção da estrutura química, porém essa diferença afeta o espectro antimicrobiano, a estabilidade no suco gástrico, a hipersensibilidade cruzada e a suscetibilidade às enzimas bacterianas de degradação, conhecidas como betalactamases. Entre os fármacos desta família estão a amoxicilina, ampicilina, benzilpenicilina (penicilina G), dicloxacilina, oxacilina e ticarcilina. • Mecanismo de ação: as penicilinas interferem na última etapa da síntese da parede bacteriana (transpeptidação ou ligações cruzadas), resultando em exposição da membrana osmoticamente menos estável. Então, a bactéria fica mais suscetível à lise celular, seja pela pressão osmótica, seja apela ativação de autolisinas. As penicilinas são eficazes em microrganismos que estão em crescimento rápido, que sintetizam a parede celular de peptidoglicano. • Indicação/espectro de ação: o espectro das várias penicilinas é determinado, em parte pela sua capacidade de atravessar a parede celular da bactéria. Fatores que determinam a suscetibilidade a esses antimicrobianos incluem tamanho, carga e hidrofobicidade dos antimicrobianos. Em geral, 73 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA os microrganismos gram-positivos têm parede celular facilmente atravessadas pelas penicilinas e, por isso, na ausência de resistência, eles são susceptíveis a esses fármacos. Os microrganismos gram-negativos têm uma membrana lipolipopolissacarídica externa, que envolve a parede celular e atua como barreira contra penicilinas hidrossolúveis. • Resistência: resistência natural ocorre em microgarnismos que não possuem parede celular de peptidoglicano ou que têm paredes impermeáveis a esses fármacos. A aquisição de resistência às penicilinas por betalactamases mediadas por plasmídeos tornou-se um problema clínico importante. A multiplicação dessas cepas resistentes aumenta a disseminação dos genes de resistência. Obtendo resistência por plasmídeo, a bactéria pode adquirir uma ou mais propriedades descritas a seguir, permitindo-lhe sobreviver na presença de antimicrobianos betalactâmicos. Dentre as formas de resistência estão a presença de betalactamases, enzimas capazes de destruir fármacos betalactâmicos; a diminuição da permeabilidade celular ao antimicrobiano ou alterações nos componentes da parede bacteriana como os peptidoglicanos. • Efeitos adversos: dentre as principais reações adversas apresentadas pelas penicilinas estão hipersensibilidade, diarreia, nefrite, neurotoxicidade e toxicidade hematológica. 6.1.4 Cefalosporinas As cefalosporinas são uma classe de antibióticos β-lactâmicos originalmente derivados do fungo Acremonium, que anteriormente era conhecido como Cephalosporium. Com cefamicinas, eles constituem um subgrupo de antibióticos β-lactâmicos chamados cefamas. As cefalosporinas foram descobertas em 1945 pelo farmacologista italiano Giuseppe Brotzu e vendidas pela primeira vez em 1964. • Mecanismo de ação: as cefalosporinas são bactericidas e têm o mesmo modo de ação que os outros antibióticos β-lactâmicos (como penicilinas), mas são menos suscetíveis às β-lactamases. As cefalosporinas perturbam a síntese da camada de peptidoglicano formando a parede celular bacteriana. A camada de peptidoglicano é importante para a integridade estrutural da parede celular. • Indicação/espectro de ação: as cefalosporinas são classificadas de acordo com as gerações em primeira, segunda, terceira, quarta e avançada, com base principalmente no padrão de suscetibilidade bacteriana e resistência às betalactamases. — Primeira geração: entre os fármacos desta geração estão a cefazolina, a cefodroxila e a cefalexina. São ativas contra gram-positivo estafilococos sensíveis à meticilina e estreptococos produtoras de penicilinase (embora não sejam as drogas de escolha para tais infecções). Não há atividade contra estafilococos resistentes à meticilina ou enterococos. Em gram-negativo tem atividade contraProteus mirabilis, algumas Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae. — Segunda geração: fazem parte desta geração a cefuroxima e a axetil cefuroxima. Tem ação sobre gram-positivo menor do que a primeira geração, porém agem em gram-negativo mais do que ele, entre elas em Haemophilus influenzae, Enterobacter aerogenes e algumas Neisserias. 74 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II — Terceira geração: são integrantes desta geração a cefixima, ceftriaxona e ceftibuteno. Agem em gram-positivo, em especial em alguns membros deste grupo (em particular, aqueles disponíveis em uma formulação oral e aqueles com atividade antipseudomonal). Já em gram-negativas, as cefalosporinas de terceira geração possuem um amplo espectro de atividade e um aumento da atividade em relação aos organismos gram-positivos. Eles podem ser particularmente úteis no tratamento de infecções adquiridas no hospital, embora os níveis crescentes de betalactamases de espectro estendido estejam reduzindo a utilidade clínica desta classe de antibióticos. Eles também são capazes de penetrar no sistema nervoso central, tornando-os úteis contra a meningite causada por pneumococos, meningococos, H. influenzae e suscetíveis a E. coli, Klebsiella e N. gonorrhoeae resistentes à penicilina. Desde agosto de 2012, a cefalosporina de terceira geração, ceftriaxona, é o único tratamento recomendado para a gonorreia (além da azitromicina ou doxiciclina para o tratamento concomitante de Chlamydia). Cefixima já não é recomendado como tratamento de primeira linha devido a evidências de suscetibilidade decrescente. A atividade contra estafilococos e estreptococos é menor com os compostos de terceira geração do que com os compostos de primeira e segunda geração. — Quarta geração: estão entre os membros desta geração a cefepima. São agentes do espectro estendido com atividade similar contra organismos gram-positivos como cefalosporinas de primeira geração. Eles também têm maior resistência às β-lactamases do que as cefalosporinas de terceira geração. Muitos podem atravessar a barreira hematoencefálica e são eficazes na meningite. Eles ainda são usados contra Pseudomonas aeruginosa. — Quinta geração ou geração avançada: o ceftobiprole foi descrito como cefalosporina de quinta geração, embora a aceitação desta terminologia não seja universal. O ceftobiprole apresenta características antipseudomonais poderosas e parece ser menos suscetível ao desenvolvimento da resistência. A ceftarolina também foi descrita como cefalosporina de quinta geração, mas não tem cobertura antipseudomonal. Eftolozana é uma nova opção para o tratamento de infecções intra-abdominais complicadas (CIAI) e infecções do trato urinário. O ceftolozano é combinado com o inibidor de β-lactamase tazobactam, uma vez que as infecções bacterianas multirresistentes a fármacos geralmente apresentam resistência a todos os antibióticos de β-lactâmicos, a menos que esta enzima seja inibida. • Resistência: os mecanismos de resistência bacteriana às cefalosporinas são essencialmente os mesmos descritos para as penicilinas. • Efeitos adversos: incluem diarreia, náuseas, erupção cutânea, distúrbios eletrolíticos e dor, inflamação no local da injeção, vômitos, dor de cabeça, tonturas, candidíase oral e vaginal, colite pseudomembranosa, superinfecção, eosinofilia, nefrotoxicidade, neutropenia, trombocitopenia e febre. 6.1.5 Inibidores da betalactamase As betalactamases são uma família de enzimas envolvidas na resistência bacteriana aos antibióticos betalactâmicos. Eles atuam quebrando o anel betalactâmico que permite que os antibióticos tipo penicilina funcionem. Estratégias para combater esta forma de resistência incluíram o desenvolvimento 75 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA de novos antibióticos betalactâmicos que são mais resistentes à clivagem e ao desenvolvimento da classe de inibidores enzimáticos denominados inibidores da betalactamase. Embora os inibidores de β-lactamase tenham pouca atividade antibiótica própria, impedem a degradação bacteriana de antibióticos betalactâmicos e, portanto, estendem a gama de bactérias afetadas. Os inibidores de β-lactamase atualmente comercializados não são vendidos como drogas individuais. Em vez disso, eles são coformulados com um β-lactâmico que tem uma semivida sérica semelhante. Isto é feito não só para conveniência de dosagem, mas para minimizar o desenvolvimento da resistência que pode ocorrer como resultado da exposição variável a um ou outro medicamento. As principais classes de antibióticos β-lactâmicos utilizados para tratar infecções bacterianas gram-negativas incluem penicilinas (em ordem de resistência intrínseca à clivagem por β-lactamases), cefalosporinas de terceira geração e carbapenemas. As variantes individuais de β-lactamase podem atingir uma ou várias dessas classes de drogas, apenas um subconjunto será inibido por um determinado inibidor de β-lactamase. Os inibidores de β-lactamase expandem o espectro útil destes antibióticos de β-lactâmicos inibindo as enzimas de β-lactamase produzidas por bactérias para desativá-las. Entre eles estão ácido clavulânico ou clavulanato, geralmente combinado com amoxicilina (Augmentin) ou ticarcilina (Timentina); sulbactam, geralmente combinado com ampicilina (Unasyn) ou Cefoperazona (Sulperazon); tazobactam, geralmente combinado com piperacilina (Zosyn). 6.1.6 Tetraciclinas A tetraciclina é um antibiótico usado para tratar uma série de infecções. Isso inclui acne, cólera, brucelose, peste, malária e sífilis. • Mecanismo de ação: a tetraciclina inibe a síntese das proteínas bloqueando a ligação do aminoacil-tRNA carregado ao local A no ribossomo. A tetraciclina se liga à subunidade 30S dos ribossomos microbianos. Assim, impede a introdução de novos aminoácidos na cadeia de peptídeos nascente. A ação geralmente é inibitória e reversível após a retirada do fármaco. As células de mamíferos são menos vulneráveis ao efeito das tetraciclinas, apesar do fato de que a tetraciclina se liga à subunidade ribossômica pequena de ambos os procariotas e eucariotas (30S e 40S, respectivamente). Isso ocorre porque as bactérias acionam a tetraciclina ativamente em seu citoplasma, mesmo contra um gradiente de concentração, enquanto as células de mamífero não o fazem. Isso explica o efeito relativamente pequeno fora do local da tetraciclina em células humanas. • Indicação/espectro de ação: as tetracicilinas são antimicrobianos eficazes contra uma ampla variedade de microrganismos, incluindo bactérias gram-positivas e gram-negativas, protozoários, espiroquetas, micobactérias e espécies atípicas. • Resistência: a resistência natural às tetraciclinas mais frequente é uma bomba de efluxo que a expele para fora das células, impedindo assim, o seu acúmulo intracelular. Outros mecanismos de resistência às tetraciclinas incluem a inativação enzimática e produção de proteínas bacterianas que impedem a ligação da tetraciclina no ribossomo. 76 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II • Efeitos adversos: os efeitos adversos mais comuns incluem vômitos, diarreia, erupção cutânea e perda de apetite, desenvolvimento dentário deficiente, se usado por crianças com menos de oito anos de idade, problemas renais e queimaduras solares. O uso durante a gravidez pode prejudicar o bebê. 6.1.7 Aminoglicosídeos Os aminoglicosídeos são usados para tratamento de infecções graves decorrentes de bacilos gram-negativos aeróbicos. Contudo, suautilidade clínica é limitada por graves efeitos tóxicos. O termo aminoglicosídeo se origina da sua estrutura: dois açúcares unidos por ligação glicosídica a um núcleo de hexose central. Os aminoglicosídeos são derivados de Streptomyces sp (tem sufixo micina) ou de Micromonospora sp. São exemplos de fármacos desta classe a estreptomicina, gentamicina e neomicina. • Mecanismo de ação: os aminoglicosídeos difundem-se por meio de canais porina na membrana externa dos microgarnismos suscetíveis. Dentro das células, ele se fixa na subunidade ribossomal 30S, onde interfere com a montagem do aparelho ribossomal funcional e causam a leitura incorreta do código genético pela subunidade 30S do ribossomo completo. Os antimicrobianos que atuam na inibição da síntese proteica são bacteriostáticos, porém os aminoglicosídeos são bactericidas. • Indicação/espectro de ação: são eficazes contra a maioria dos bacilos aeróbicos gram-negativos, incluindo os que podem ser resistentes a múltiplos fármacos como Pseudomonas aeruginosa, Klebisiela pneumoniae e Enterobacter sp. Além disso, os aminoglicosídeos são associados com frequência a antibióticos betalactâmicos para obter efeito sinérgico. • Resistência: a resistência aos aminoglicosídeos ocorre via 1) bomba de efluxo; 2) diminuição da captação; 3) modificação e inativação por síntese de enzimas associada a plasmídeos. Cada uma dessas enzimas tem sua própria especificidade, portanto, a resistência cruzada não pode ser presumida. • Efeitos adversos: os principais efeitos adversos são ototoxicidade, nefrotoxicidade, reações alérgicas e paralisia neuromuscular. 6.1.8 Macrolídeos Os macrolídeos são um grupo de antimicrobianos com uma estrutura lactona macrocíclica à qual estão ligados um ou mais açúcares. Dentre os fármacos desta classe estão a eritromicina, azitromicina, claritromicina e telotromicina. • Mecanismo de ação: os macrolídeos são inibidores da síntese proteica. O mecanismo de ação dos macrolídeos é a inibição da biossíntese de proteínas bacterianas, eles impedem a elongação da cadeia polipetídica nos ribossomos de forma semelhante ao cloranfenicol, bem como inibindo a tradução ribossomal. Outro mecanismo potencial é a dissociação prematura do peptidil-tRNA do ribossomo. Os antibióticos macrolídeos fazem isso ligando-se reversivelmente ao local na subunidade 50S do ribossomo bacteriano. Essa ação é considerada bacteriostática. 77 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA • Indicação/espectro de ação: os macrolídeos são usados para tratar infecções causadas por bactérias gram-positivas (por exemplo, Streptococcus pneumoniae) e limitadas gram-negativas (por exemplo, Bordetella pertussis, Haemophilus influenzae) e algumas infecções do trato respiratório e do tecido mole. O espectro antimicrobiano dos macrolídeos é ligeiramente maior do que o da penicilina e, portanto, eles são um substituto comum para pacientes com alergia à penicilina. Os estreptococos beta-hemolíticos, pneumococos, estafilococos e enterococos são geralmente suscetíveis a macrolídeos. Ao contrário da penicilina, os macrolídeos demonstraram ser eficazes contra Legionella pneumophila, micoplasma, micobactérias, Rickettsia e clamídia. • Resistência: o principal meio de resistência bacteriana aos macrolídeos ocorre pela metilação pós-transcricional do ARN ribossômico bacteriano 23S. Essa resistência adquirida pode ser mediada por plasmídeo ou de maneira cromossômica, isto é, através de mutação, e resulta em resistência cruzada a macrolídeos. Outros dois tipos de resistência adquirida, raramente vistas, incluem a produção de enzimas inativadoras de drogas (esterases ou quinases), bem como a produção de proteínas de efluxo dependentes de ATP ativo que transportam o medicamento fora da célula. • Efeitos adversos: irritação e motilidade gástricas, icterícia colestática e ototoxicidade. Lembrete Macrolídeos não devem ser tomados com colchicina, pois podem levar à toxicidade da colchicina. Os sintomas da toxicidade da colchicina incluem distúrbios gastrointestinais, febre, mialgia, pancitopenia e insuficiência orgânica. 6.2 Antifúngicos As doenças infecciosas causadas por fungos são denominadas micoses e, com frequência, são de natureza crônica. As infecções micóticas podem ser superficiais e envolver apenas a pele (micoses cutâneas), e outras podem penetrar a pele, causando infecções subcutâneas ou sistêmicas. As características dos fungos são tão singulares e diversas, sendo eucarionte com paredes celulares rígidas composta largamente de quitina ao invés de peptidoglicano. Além disso, a membrana do fungo contém ergosterol, em vez de colesterol, encontrado nas membranas de células de mamíferos. Essas características estruturais são úteis no direcionamento dos fármacos a serem empregados. A seguir estão categorizadas e sistematizadas as principais classes de antifúngicos utilizados na terapêutica. 6.2.1 Poliênicos Um polieno é uma molécula com múltiplas ligações duplas conjugadas. Um antifúngico de polietileno é um polieno macrocíclico com uma região altamente hidroxilada no anel oposto ao sistema conjugado. Esta propriedade torna os antifúngicos de polietileno de caráter anfifílico. Os antimicóticos de polieno se ligam com esteróis na membrana celular fúngica, principalmente o ergosterol. Isso altera a temperatura de transição da membrana celular, colocando a membrana em um estado menos fluido, 78 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II mais cristalino. Como resultado, o conteúdo da célula, incluindo íons monovalentes (K+, Na+, H+ e Cl-) e pequenas moléculas orgânicas vazam do ambiente intracelular para o ambiente extraceluar, sendo essa a causa de morte do fungo. As células animais contêm colesterol em vez de ergosterol e, portanto, são muito menos suscetíveis. No entanto, em doses terapêuticas, a anfotericina B pode ligar-se ao colesterol da membrana animal, aumentando o risco de toxicidade humana. A anfotericina B é nefrotóxica quando administrada por via intravenosa. À medida que a cadeia hidrofóbica de polieno é encurtada, a sua atividade de ligação ao esterol é aumentada. Portanto, uma redução adicional da cadeia hidrofóbica pode resultar em ligação ao colesterol, tornando-o tóxico para os animais. Os principais fármacos dessa classe são a anfotericina B e a nistatina. • Anfotercina B: 1 – Mecanismo de ação: se liga ao ergosterol nas membranas plasmáticas das células dos fungos sensíveis. Ali ela forma poros (canais) que precisam de interações hidrofóbicas entre o segmento lipídico do antifúngico polieno e o esterol. O poro desorganiza a função da membrana, permitindo o vazamento de eletrólitos e pequenas moléculas. 2 – Indicação: é eficaz contra uma ampla variedade de fungos, incluindo Candida albicans, Histoplasma capsulatum, Cryptococus neoformans e várias cepas de Aspergillus. Também pode ser indicada no tratamento de infecções por protozoários (leishmaniose). 3 – Efeitos adversos: pode causar febres e calafrios, lesão renal, hipotensão e tromboflebites. • Nistatina: 1 – Mecanismo de ação: sua estrutura química se assemelha à anfotericina B e apresenta o mesmo mecanismo de ação. 2 – Indicação: é usada para tratamento de infecções cutâneas e orais por Candida. A absorção por via oral é desprezível e não é usada por via parenteral devido a sua toxicidade. 3 – Efeitos adversos: são raros, pois não são absorvidos por via oral. Saiba mais Para aprofundar seus estudos sobre a anfotericina B é recomendada a leitura do artigo a seguir: ANVISA. Anfotericina B. União Química Farmacêutica Nacional S. A. Brasília, [s.d.]. Disponível em:frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=9032052015&pIdAnexo=2892182.>. Acesso em: 17 dez. 2018. 6.2.2 Imidazólicos Os antifúngicos azóis são feitos de duas classes diferentes de fármacos: imidazois e triazóis. Ainda que esses fármacos tenham mecanismos de ação e espectros similares, sua farmacocinética e seus usos terapêuticos variam significativamente. Em geral, os imidazois são administrados topicamente contra infeções cutâneas, ao passo que os triazois são usados por via sistêmica para o tratamento e profilaxia 79 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA de infecções fúngicas cutâneas ou sistêmicas. São fármacos pertencentes a essa classe o cetoconazol, miconazol, terconazol, fluconazol, itraconazol, voriconazol, entre outros. • Mecanismo de ação: os azois são predominantemente fungistáticos. Eles inibem a biossíntese do ergosterol no fungo. Essa inibição desorganiza a estrutura e a função da membrana, o que, por sua vez, inibe o crescimento da célula fúngica. • Indicação: são utilizados para tratamento de inúmeras infecções fúngicas, dentre elas a blastomicose, esporotricose, paracoccidioidomicose e histoplasmose. • Efeitos adversos: incluem náuseas, vômitos, urticária, hipopotassemia, hipertensão, edema, cefaleia, hepatotoxicidade. Lembrete Cetoconazol é um fármaco antimicótico ou antifúngico derivado do imidazol usado topicamente (creme, gel ou xampu). Descoberto nos anos 1980. Não se usa mais na forma oral por ser muito mais tóxico que outros antifúngicos. 6.2.3 Aliaminas Os fármacos pertencentes a essa classe apresentam estuturas que se assemelham ao ergosterol. Entre os fármacos encontram-se a terbinafina, naftifina e butenafina. • Mecanismo de ação: esses fármacos atuam inibindo a esqualeno epoxidase, bloqueando, assim a biossíntese do ergosterol, um componente essencial da membrana celular dos fungos. O acúmulo de quantidades tóxicas de esqualeno resulta em aumento da permeabilidade da membrana e morte da célula fúngica. • Indicação: são ativas contra Trichophyton. Também pode ser eficaz contra Candida e Epidermophyton. • Efeitos adversos: distúrbios gastrointestinais (diarreia, dispepsia e náuseas), cefaleia, urticária, distúbios visuais e de paladar. 6.2.4 Caspofunginas (equinocandinas) A caspofungina foi o primeiro membro dos antifúngicos da classe das equinocandinas. • Mecanismo de ação: inferem com a síntese da parede fúngica por inibir a síntese dos glicanos, levando à lise e à morte celular. Estão disponíveis para a administração, uma vez ao dia. 80 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II • Indicação: apresentam atividade contra todos os Aspergillus e Candida, incluindo as cepas resistentes aos azóis. • Efeitos adversos: é bem tolerada, podendo apresentar eventualmente efeitos adversos como febre, urticária, náuseas e flebite no local da injeção. Se infundida rapidamente, pode provocar vermelhidão sistêmica. Saiba mais Para entender melhor os efeitos terapêuticos das caspofunginas é recomendado a leitura da bula ampliada que está disponível na página da ANVISA em: http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula. asp?pNuTransacao=29347362016&pIdAnexo=4357435. 6.2.5 Griseofulvina A griseofulvina causa ruptura do fuso mitótico e inibição da mitose do fungo. Ela é amplamente substituída pela terbinafina oral para tratamento de onicomicose, embora continue em uso contra dermatofitoses de escalpo e de cabelos. A griseofulvina é fungistática e requer longa duração de tratamento. A duração do tratamento depende da velocidade de substituição da pele e das unhas. Preparações cristalinas ultrafinas são adequadamente absorvidas no trato gastrointestinal; a absorção aumenta com alimentos rico em gorduras. A griseofulvina se concentra na pele, nos pelos, nas unhas e nos tecidos adiposos. O uso de griseofulvina é contraindicado para gestantes. 6.3 Antiparasitários Os antiparasitários são uma classe de medicamentos indicados para o tratamento de doenças parasitárias, como as causadas por helmintos, ameba, ectoparasitas, fungos parasitários e protozoários, entre outros. Os antiparasitários visam os agentes parasitários das infecções, destruindo-os ou inibindo seu crescimento; geralmente são efetivos contra um número limitado de parasitas dentro de uma determinada classe. Os antiparasitários são medicamentos antimicrobianos que incluem antibióticos que visam as bactérias e os antifúngicos que atingem os fungos. Eles podem ser administrados por via oral, intravenosa ou tópica. 6.3.1 Fármacos usados contra os Nematódeos (Helminto) Os Nematódeos são vermes redondos e alongados que possuem um sistema digestivo completo. Eles causam infecções no intestino, bem como no sangue e tecido. • Mebendazol. 1 – Mecanismo de ação: o fármaco atua inibindo a montagem dos microtúbulos no parasita e bloqueando a captação de dextrose de modo irreversível. Os parasitas atingidos 81 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA são expelidos nas fezes. 2 – Indicação: o mebendazol é o fármaco de primeira escolha para o tratamento de infecções causadas por Trichuris (tricuro), Enterobius vermicularis, Necator americanus, Ancylostoma duodenale e Ascaris lumbricoides (lombriga). 3 – Efeitos adversos: incluem dores abdominais e diarreia. O mebendazol não pode ser usado por gestantes. • Pamoato de pirantel. 1 – Mecanismo de ação: atua como fármaco despolarizante e bloqueador neuromuscular, causando liberação de acetilcolina, inibição da colinesterase e paralisia nos vermes. O verme paralisado se solta de sua fixação no trato intestinal e é expelido. 2 – Indicação: é eficaz no tratamento de infecções causadas por A. lumbricoides, E. vermicularis, N. americanus e A. duodenale. 3 – Efeitos adversos: náusea, vômito e diarreia. • Ivermectina. 1 – Mecanismo de ação: atua nos receptores de canais de cloro disparados por glutamato. O influxo de cloreto aumenta e ocorre a hiperpolarização, resultando em paralisia e morte do helminto. 2 – Indicação: é o fármaco de escolha para o tratamento contra a larva migrans cutânea, a estrongiloidíase e a oncocercose. Também é útil no tratamento da pediculose (piolhos) e sarnas. 3 – Efeitos adversos: a morte da microfilária na oncocercose pode causar a perigosa reação de Mazzotti (febre, cefaleia, tontura, sonolência e hipotensão). A gravidade desta reação é proporcional à carga parasitária. 6.3.2 Fármacos usados contra Trematódeos (Helminto) Os trematódeos (fascíolas) são vermes achatados em formato de folha e, geralmente caracterizados pelos tecidos que infectam, como fígado, pulmão, intestinos ou sangue. • Praziquantel. 1 – Mecanismo de ação: a permeabilidade da membrana ao cálcio aumenta, causando contratura e paralisia do parasita. 2 – Indicação: é o fármaco de escolha para o tratamento de todas as formas de esquistossomose e infecções por cestóideos (teníase). Também pode ser usado para o tratamento da cisticercose, causada por larvas de Taenia solium. 3 – Efeitos adversos: os efeitos mais comuns incluem tontura, mal-estar e anorexia. 6.3.3 Fármacos usados contra os Cestóideos (Helminto) Os cestóideos, ou tênias, têm normalmente corpo achatado e segmentado, fixam-se no intestino do hospedeiro. Como os trematódeos, os cestóideos não têm boca e trato digestório durante o seu ciclo vital. • Albendazol. 1 – Mecanismo de ação: inibe a síntese de microtúbulos e a captação de glicose em nematódeos, além de ser eficaz contra todos os nematódeos conhecidos.2 – Indicação: sua aplicação terapêutica primária, contudo, é o tratamento contra infecções cestóideas, como cisticercose e hidatidose, esta causada por estágios larvais de Echinococcus granulosus. 3 – Efeitos adversos: cefaleia, êmese, hipertermia e convulsão em decorrência dos parasitas que morrem no SNC. 82 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II 6.4 Antiprotozoários Agentes antiprotozoários é uma classe de produtos farmacêuticos utilizados no tratamento da infecção por protozoários. Os protozoários têm pouco em comum entre si e, portanto, os fármacos eficazes contra um patógeno podem não ser eficazes contra outro. Eles podem ser agrupados por mecanismo ou por organismo. São exemplos de fármacos desta categoria eflornitina, furazolidona, melarsoprol, metronidazol, nifursemizona e nitazoxanida. • Mecanismo de ação: os mecanismos de fármacos antiprotozoários diferem significativamente entre os fármacos. Por exemplo, parece que a eflornitina, uma droga usada para tratar a tripanossomíase, inibe a ornitina descarboxilase, enquanto o antibiótico/antiprotozoário de aminoglicosídeos, utilizado para tratar a leishmaniose, é pensado para inibir a síntese proteica. • Indicação: os antiprotozoários são usados para tratar infecções protozoárias, que incluem amebíase, giardíase, criptosporidiose, microsporidiose, malária, babesiose, tripanosomiases, doença de chaga, leishmaniose e toxoplasmose. Atualmente, muitos dos tratamentos para essas infecções são limitados pela sua toxicidade. • Efeitos adversos: os principais efeitos relatados são náuseas, vômitos, azias e cólicas abdominais. 6.5 Antivirais Os medicamentos antivirais são uma classe de medicação usada especificamente para o tratamento de infecções virais em vez de bactérias. A maioria dos antivirais é usada para infecções virais específicas, enquanto um antiviral de amplo espectro é eficaz contra uma ampla gama de vírus. Ao contrário da maioria dos antibióticos, os medicamentos antivirais não destroem seu patógeno-alvo. Em vez disso, eles inibem seu desenvolvimento. Os medicamentos antivirais são uma classe de antimicrobianos. Os antimicrobianos também incluem medicamentos antibióticos (denominados antibacterianos), antifúngicos e antiparasitários, ou medicamentos antivirais baseados em anticorpos monoclonais. A maioria dos antivirais é considerada relativamente inofensiva para o hospedeiro e, portanto, pode ser usada para tratar infecções. Eles devem ser distinguidos dos viricidas, que não são medicação, mas desativam ou destroem partículas de vírus, dentro ou fora do corpo. Os antivirais naturais são produzidos por algumas plantas, como o eucalipto. Os vírus consistem em um genoma e eventualmente algumas enzimas armazenadas em uma cápsula feita de proteína (chamada de capsídeo) e ocasionalmente coberta com uma camada lipídica, às vezes, chamada de envelope. Os vírus não podem reproduzir por conta própria e, em vez disso, se propagam subjugando uma célula hospedeira para produzir cópias de si mesmas, criando assim a próxima geração. Os pesquisadores que trabalham em estratégias de designação de drogas racionais para o desenvolvimento de antivirais tentaram atacar vírus em todas as fases dos ciclos de vida. Algumas espécies de cogumelos possuem moléculas antivirais com efeitos sinérgicos semelhantes. Os ciclos de vida virais variam em seus detalhes precisos dependendo do tipo de vírus, mas todos compartilham um padrão geral: • Anexo a uma célula hospedeira. 83 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA • Liberação de genes virais e possivelmente enzimas na célula hospedeira. • Replicação de componentes virais usando organelas de células hospedeiras. • Montagem de componentes virais em partículas virais completas. • Liberação de partículas virais para infectar novas células hospedeiras. 6.5.1 Antirretrovirais Um retrovírus é um vírus de RNA de sentido positivo de cadeia simples com um intermediário de DNA e, como parasita obrigatório, visa uma célula hospedeira. Uma vez dentro do citoplasma da célula hospedeira, o vírus usa sua própria enzima de transcriptase reversa para produzir DNA do seu genoma de RNA, o inverso do padrão usual, assim retro (para trás). O novo DNA é então incorporado no genoma da célula hospedeira por uma enzima integrase, em que ponto o DNA retroviral é referido como um provírus. A célula hospedeira, então, trata o DNA viral como parte de seu próprio genoma, traduzindo e transcrevendo os genes virais com os próprios genes da célula, produzindo as proteínas necessárias para montar novas cópias do vírus. É difícil detectar o vírus até que ele tenha infectado o hospedeiro. Nesse ponto, a infecção persistirá indefinidamente. O principal retrovírus de interesse clínico é o HIV (vírus da imunodeficiência humana). A seguir, estão listados os principais fármacos utilizados no tratamento. • Inibidores da transcriptase reversa análogo de nucleosídeos: fazem parte desta classe os fármacos zidovudina (AZT), estavudina e tenofovir. 1 – Mecanismo de ação: são análogos de nucleosídeos ou nucleotídeos desprovidos da hidroxila 3’. Uma vez dentro da célula, eles são fosforilados por enzimas celulares ao análogo trifosfato correspondente, que é incorporado ao DNA viral pela transcriptase reversa. Porém, por ter a hidroxila 3’ bloqueada, a transcriptase reversa não consegue terminar de sintetizar todo o DNA viral. 2 – Efeitos adversos: apresentam toxicidade hepática potencialmente fatal, caracterizada por acidose láctica e hepatomegalia com esteatose. • Inibidores da transcriptase reversa não análogo de nucleosídeo: são integrantes dessa categoria o efavirenz e a nepirapina. 1 – Mecanismo de ação: são inibidores não competitivos da transcriptase reversa altamente seletivos. Não necessitam de ativação celular. 2 – Efeitos adversos: apresentam alta taxa de hipersensibilidade causando urticárias, efeitos dermatológicos graves e efeitos adversos no SNC. • Inibidores da protease viral: são fármacos pertencentes à esta família o ritonavir, o saquinavir, o indinavir, o nelfinavir, entre outros. 1 – Mecanismo de ação: todos os fármacos deste grupo são inibidores reversíveis da aspartil protease, que é a enzima viral responsável pela clivagem e montagem do capsídeo. A inibição evita a maturação de partículas virais e resulta na produção de vírions não infecciosos. 2 – Efeitos adversos: causam parestesia, náusea, êmese e diarreia. Também ocorrem distúrbios no metabolismo de glicose e lipídeos, incluindo diabetes, hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia. Promove acúmulo de gordura abdominal e no pescoço e aumento do tórax. 84 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II • Inibidores de fusão: são fármacos desta classe a enfuvirtida e a maraviroque. 1 – Mecanismo de ação: para que o HIV entre na célula do hospedeiro, ele deve fundir sua membrana com a da célula do hospedeiro. Isso é possibilitado por mudanças na conformação da glicoproteína viral transmembrana GP41, o que ocorre quando o HIV se liga à superfície da célula do hospedeiro. Portanto estes fármacos impedem que a GP41 interaja com a célula hospedeira impedindo a infecção. 3 – Efeitos adversos: as reações principais ocorrem no local da injeção do fármaco e incluem dor, eritema, endurecimento e nódulos. Lembrete A terapia combinada antirretroviral age contra a resistência viral, reprimindo a replicação do HIV tanto quanto possível, reduzindo assim o pool potencial de mutações de resistênciaintestinal e da diarreia ................................ 90 8 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA ENDÓCRINO ......................................................................... 91 8.1 Tratamento farmacológico da osteoporose .............................................................................. 92 8.2 Tratamento farmacológico da obesidade ................................................................................... 93 8.3 Tratamento farmacológico de distúrbios da tireoide ............................................................ 94 8.4 Fármacos utilizados no tratamento do hipotireoidismo ...................................................... 95 8.5 Fármacos usados no tratamento do diabetes .......................................................................... 96 8.6 Insulinoterapia ....................................................................................................................................... 97 8.6.1 Fármacos hipoglicemiantes orais .................................................................................................... 97 8.7 Reposição hormonal e contraceptivos ........................................................................................ 98 8.7.1 Terapia de reposição hormonal ......................................................................................................... 98 8.7.2 Fármacos usados no tratamento da disfunção erétil ............................................................100 8.7.3 Esteroides anabolizantes ....................................................................................................................101 9 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 APRESENTAÇÃO A disciplina de Noções Básicas de Farmacologia propõe noções dos fatores modificadores da cinética e da dinâmica dos medicamentos de uso clínico e oferece informações relevantes sobre os principais grupos de medicamentos prescritos nas diferentes especialidades clínicas. Este livro-texto tem como objetivo primordial proporcionar ao aluno conhecimentos fundamentais de Farmacologia, capacitando o estudante ao entendimento do paciente que faz uso de medicamentos, bem como da relação entre benefício e desvantagem no tratamento das diferentes patologias. Também serão apresentadas noções sobre os diferentes grupos farmacológicos usados na terapêutica medicamentosa. O aluno, ao final do curso, deverá estar apto a discorrer sobre farmacocinética, mecanismos de ação, usos terapêuticos, efeitos colaterais, toxicidade e interações medicamentosas, além de estar ciente do mau uso ou do abuso de medicamentos. Assim, o aluno deverá ter condições de orientar, de maneira consciente e correta, a utilização de medicamentos, dialogando com a comunidade e com outros profissionais da área da saúde. Aliás, o conhecimento técnico sobre os fármacos, sua ação, atuação e reações que podem ocasionar deve ser detido por todos os profissionais da saúde, que são aqueles que estão em contato direto com o paciente. A Farmacologia estuda as interações que a droga (fármaco) tem com os sistemas biológicos em toda a extensão do corpo humano. Dessa forma, o conhecimento farmacológico irá ajudar o aluno a compreender o funcionamento dos fármacos, as reações adversas possíveis e a terapia farmacológica correta. O objetivo aqui é estabelecer os conhecimentos fundamentais acerca do comportamento geral de ação dos fármacos no organismo e desenvolver a capacidade de planejamento terapêutico racional. INTRODUÇÃO A Farmacologia é sem dúvida umas das principais ferramentas para profissionais da área de saúde, ou, em sentido mais amplo, para todos os profissionais que necessitam ou trabalham diretamente e indiretamente com medicamentos. A compreensão do modo pelo qual os fármacos agem no organismo é de fundamental importância para o melhor emprego dos medicamentos. Em sua fundamentação, a Farmacologia compreende: entendimento histórico, propriedades físico-químicas, composição, bioquímica, efeitos fisiológicos, mecanismo de ação, absorção, distribuição, eliminação e terapêutica, todos relacionados a substâncias químicas que alteram a função normal de um organismo. A Farmacologia é dividida em Farmacocinética e Farmacodinâmica. A Farmacocinética estuda a correlação do organismo com o fármaco, ou seja, em qual ponto ocorre sua absorção, quais os locais em que o fármaco se acumula no organismo, qual a rota de biotransformação e onde ocorre a sua eliminação. A Farmacocinética é muito aplicada para determinação adequada da posologia, interpretação de resposta inesperada (ou ausência de efeito), melhor compreensão da ação dos fármacos, além de seu uso racional. De forma simplificada, a Farmacocinética preocupa-se em entender como os fármacos se alteram no organismo. Já a Farmacodinâmica estuda a correlação do fármaco com o organismo, ou seja, 10 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 quais processos fisiológicos são afetados pela ação da droga. Com isso, pode-se afirmar que os focos da Farmacodinâmica são: local e mecanismo de ação, relação entre concentração e magnitude do efeito, variação de efeitos e respostas. A compreensão das ações dos fármacos no organismo é fundamental para o planejamento clínico da terapêutica. O conhecimento da Farmacologia está alicerçado em diversos conceitos, e seu entendimento facilitará a compreensão dessa ciência. A seguir, tem-se algumas definições fundamentais para o melhor aproveitamento deste livro-texto. • Fármaco: substância química capaz de provocar algum efeito terapêutico no organismo. • Medicamento: produto tecnicamente elaborado que contém um ou mais fármacos. Os outros componentes do medicamento recebem a denominação de excipientes, os quais podem ter as mais variadas funções, como melhorar o sabor, o odor e até mesmo atuar como conservantes. Vale lembrar que, do ponto de vista terapêutico, o excipiente é inerte, não devendo também interagir com o fármaco. Os medicamentos podem ser classificados em: magistrais (medicamentos manipulados e com receita médica), oficiais (produtos industrializados) e oficinais (medicamentos manipulados e que seguem a farmacopeia). • Remédio: qualquer tratamento que traga benefício para a saúde do paciente; o conceito de remédio é bem mais amplo, envolvendo até mesmo a definição de medicamento. • Dose: quantidade de fármaco capaz de provocar alterações no organismo. Essa dose pode ser eficaz (DE), letal (DL), de ataque (DA) ou de manutenção (DM). A DE é a dose capaz de produzir o efeito terapêutico desejado, podendo ser classificada em mínima eficaz e máxima tolerada. A DL, por sua vez, é a dose capaz de causar mortalidade. Em ambos os casos (DE e DL), a eficácia pode ser determinada em porcentagem, de forma que DE50 representa a dose eficaz em 50% dos tecidos ou pacientes. • Índice terapêutico: relação entre a DL50 e a DE50, pode ser um indicativo da segurança do fármaco. • Janela terapêutica: faixa entre as doses mínima eficaz e máxima eficaz sem produzir efeitos tóxicos. • Posologia: é a dose que deve ser administrada e sua frequência de administração. • Forma farmacêutica: forma de apresentação do medicamento (por exemplo, comprimidos, cápsulas e xaropes). • Pró-fármaco: fármaco que necessita ser ativado no organismo para ação terapêutica. • Interação medicamentosa: consequência da interação de dois fármacos, podendo, como resultado, ocorrer o aumento ou a atenuação do efeito farmacológico dos fármacos envolvidos. 11 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18espontânea. 6.5.2 Anti-herpéticos O herpes simples é uma doença viral causada pelo vírus Herpes simplex. As infecções são categorizadas com base na parte do corpo infectado. O herpes oral envolve o rosto ou a boca. Pode resultar em pequenas bolhas em grupos, muitas vezes chamadas de feridas ou bolhas de febre ou podem apenas causar dor de garganta. O herpes genital, muitas vezes conhecido como herpes, pode ter sintomas mínimos ou formar bolhas que se abrem e resultam em pequenas úlceras que costumam se curar entre duas e quatro semanas. Podem ocorrer dores e formigamento antes que as bolhas apareçam. O herpes cicatriza entre os períodos de doença ativa seguida de intervalos sem sintomas. O primeiro episódio é muitas vezes o mais grave e pode estar associado à febre, dores musculares, linfonodos inchados e dores de cabeça. Ao longo do tempo, os episódios de doença ativa diminuem em frequência e gravidade. Outros distúrbios causados por herpes simples podem ocorrer: nos dedos e no olho, além de infecção por herpes no cérebro e da herpes neonatal, quando afeta um recém-nascido. O tratamento da herpes deve ser medicamentoso e os principais fármacos estão indicados a seguir: • Aciclovir. 1 – Mecanismo de ação: é um análogo da guanosina e monofosforilado na célula por uma enzima viral. Dessa forma, células infectadas pelo vírus são mais suscetíveis. O aciclovir fosforilado compete com o substrato natural da DNA-polimerase viral e é incorporado ao DNA viral, causando a finalização prematura da cadeia de DNA. 2 – Efeitos adversos: irritação local, cefaleia, diarreia, náuseas e êmese. Se o paciente estiver desidratado, pode causar disfunção renal transitória. • Penciclovir e fanciclovir. 1 – Mecanismo de ação: é semelhante ao mecanismo descrito para o aciclovir. Está aprovado para uso no tratamento da Herpes-zóster aguda, infecção genital por herpes e herpes labial recorrente. 2 – Efeitos adversos: cefaleia e náusea. • Ganciclovir. 1 – Mecanismo de ação: semelhante ao aciclovir, porém é indicada também para tratamento por infecção por citomegalovírus. 2 – Efeitos adversos: grave neutropenia, carcinogênico, embriotóxico e teratogênico em animais de laboratório. 85 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA 6.5.3 Anti-influenza As infecções virais do trato respiratório, para as quais existem tratamentos, incluem a gripe (ou influenza) tipos A e B e o vírus sincicial respiratório (VSR). A imunização contra gripe A é a abordagem preferencial. Contudo, os antivirais são usados quando os pacientes são alérgicos à vacina ou quando ocorre um surto. Os principais fármacos estão arrolados a seguir. • Inibidores da neuraminidase: são exemplos de fármacos desta família o oseltamivir e o zanamivir. 1 – Mecanismo de ação: o vírus da gripe emprega uma neuraminidase específica, que é inserida na membrana celular do hospedeiro para proporcionar a liberação de vírions recentemente formados. Essa enzima é essencial para o ciclo vital do vírus. 2 – Indicação: esses fármacos são eficazes contra os dois tipos de vírus da gripe, A e B. Eles não interferem na resposta imune da vacina da gripe. São capazes de prevenir a infecção e, se forem administrados de 24 a 48 horas após o início dos sintomas, diminuem a intensidade dos sintomas. O oseltamivir é administrado por via oral enquanto que o zanamivir é inalado. 3 – Efeitos adversos: desconforto gastrointestinal e náuseas que diminuem com a ingestão concomitante de alimentos. Causam irritação das vias aéreas, podem ocorrer broncoespasmos. • Amantadina e rimantadina. 1 – Mecanismo de ação: interferem na função da proteína viral M2, possivelmente bloqueando o descascamento da partícula viral e prevenindo a liberação do vírus no interior da célula. 2 – Indicação: o espectro terapêutico é limitado a infecções por influenza A. Devido à resistência generalizada não são recomendados para o tratamento ou a profilaxia da gripe A. 3 – Efeitos adversos: insônia, tontura, ataxia, alucinações e convulsões. 6.5.4 Anti-hepatites A hepatite é inflamação do tecido hepático. Algumas pessoas não apresentam sintomas, enquanto outras desenvolvem coloração amarela da pele e dos brancos dos olhos, falta de apetite, vômitos, cansaço, dor abdominal ou diarreia. A hepatite pode ser temporária (aguda) ou em longo prazo (crônica), dependendo da duração. A hepatite aguda às vezes pode desaparecer por conta própria, progredir para hepatite crônica ou, raramente, resultar em insuficiência hepática aguda. Ao longo do tempo, a forma crônica pode progredir para a cicatrização do fígado, insuficiência hepática ou câncer de fígado. A causa mais comum de hepatite em todo o mundo são os vírus. Outras causas incluem o uso intenso de álcool, certos medicamentos, toxinas, outras infecções, doenças autoimunes e esteato-hepatites não alcoólicas (Nash). Existem cinco principais tipos de hepatite viral: tipo A, B, C, D e E. As hepatites A e E são principalmente espalhadas por alimentos e água contaminados. A hepatite B é basicamente transmitida por meio de relação sexual, mas também pode ser transmitida de mãe para bebê durante a gravidez ou o parto. Tanto a hepatite B como a hepatite C são comumente espalhadas através de sangue infectado, como pode ocorrer durante a partilha de agulhas por usuários 86 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II de drogas intravenosas. A hepatite D só pode infectar pessoas já infectadas com hepatite B. As hepatites A, B e D são evitáveis com imunização. Os medicamentos podem ser usados para tratar casos crônicos de hepatite viral. Não há tratamento específico para Nash; no entanto, é importante um estilo de vida saudável, incluindo atividade física, uma dieta saudável e perda de peso. A hepatite autoimune pode ser tratada com medicamentos para suprimir o sistema imunológico. Um transplante de fígado também pode ser uma opção em certos casos. A seguir, estão listados os principais fármacos utilizados no tratamento de infecções virais hepáticas. • Interferonas. 1 – Mecanismo de ação: seu mecanismo não está completamente elucidado. O fármaco parece envolver a indução de enzimas nas células dos hospedeiros que inibem a translação do RNA viral, o que acaba causando degradação do RNA mensageiro e RNA transportador do vírus. 2 – Indicação: hepatites virais. 3 – Efeitos adversos: febre, calafrios, mialgia, artralgia, distúrbios gastrointestinais, fadiga e depressão. Também pode potencializar a mielossupressão causada por outros agentes na medula óssea. • Lamivudina, adefovir, entecavir, telbivudina, telaprevir. 1 – Mecanismo de ação: são fármacos que interferem com a transcrição reversa ou replicação viral nas células hospedeiras. 2 – Indicação: hepatite A, B e C. 3 – Efeitos adversos: fadiga, cefaleia, diarreia e elevação das enzimas hepáticas no sangue. Observação A hepatite fulminante é uma complicação rara e potencialmente fatal de hepatite aguda que pode ocorrer nos casos de hepatite B, D e E, além da hepatite induzida por drogas e autoimune. Excluindo-se os sinais de hepatite aguda, as pessoas também podem demonstrar indícios de coagulopatia (estudos anormais de coagulação com hematomas e hemorragias fáceis) e encefalopatia (confusão, desorientação e sonolência). A mortalidade por hepatite fulminante é tipicamente o resultado de várias complicações, incluindo edema cerebral, sangramento gastrointestinal, sepse, insuficiência respiratória ou insuficiência renal. 7 FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DE DISTÚRBIOS GÁSTRICOS, ESOFÁGICOS E INTESTINAIS 7.1 Distúrbios gástricos A úlcera péptica é uma lesão que pode ocorrer na parede do estômago, na primeiraparte do intestino delgado ou, ocasionalmente, no esôfago inferior. Uma úlcera no estômago é conhecida como uma úlcera gástrica, quando se encontra na primeira parte dos intestinos é denominada de úlcera duodenal. Os sintomas mais comuns de uma úlcera duodenal são acordar à noite com 87 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA dor abdominal superior ou apresentar dor abdominal superior que melhora com o consumo de alimentos. Na úlcera gástrica a dor pode piorar com a ingestão de alimentos. Em ambos os casos, a dor é, muitas vezes, descrita como ardente ou maçante. Outros sintomas incluem arrotos, vômitos, perda de peso e falta de apetite. As complicações podem apresentar sangramento, perfuração e bloqueio do estômago. O sangramento ocorre em até 15% das pessoas. As causas mais comuns incluem a presença da bactéria Helicobacter pylori e o uso de anti-inflamatórios não esteroidais, os Aines (idosos são mais sensíveis aos efeitos causadores de úlcera pelos Aines). Outras causas menos comuns são tabagismo, estresse devido à doença grave, doença de Behçet, síndrome de Zollinger-Ellison, doença de Crohn e cirrose hepática, entre outros. O diagnóstico leva em consideração a apresentação de sintomas com confirmação por endoscopia. A bactéria H. pylori pode ser detectada através do teste de sangue para anticorpos ou por meio de uma biópsia do estômago. Outras condições que produzem sintomas semelhantes incluem câncer de estômago, doença coronariana, inflamação do revestimento do estômago e inflamação da vesícula biliar. Já a doença do refluxo gastroesofágico é uma condição médica de longo prazo em que os ácidos do estômago atingem a porção inferior do esôfago, gerando sintomas e/ou complicações. Os sintomas comuns são sabor do ácido na parte de trás da boca, azia, mau hálito, dor no peito, vômitos, problemas respiratórios e desgaste dos dentes. As complicações incluem esofagite, estenose esofágica e esôfago de Barrett. Quanto aos fatores de risco, podem ser citados obesidade, gravidez, tabagismo, hérnia de hiato e certos medicamentos (anti-histamínicos, bloqueadores dos canais de cálcio, antidepressivos e medicação para dormir). A principal causa do refluxo gastroesofágico é o fechamento deficiente do esfíncter esofágico inferior (a junção entre o estômago e o esôfago), o que leva à extrapolação do conteúdo gástrico para o esôfago. O diagnóstico envolve gastroscopia, monitorização do pH esofágico ou manometria esofágica. Algumas medidas simples podem auxiliar os sintomas do refluxo, como evitar se alimentar antes de deitar e colocar o travesseiro em uma posição mais elevada para evitar a subida do ácido do estômago para o esôfago. As possibilidades de tratamento incluem: eliminar a infecção por H. pylori, diminuir a secreção de ácido gástrico, com uso de inibidores da bomba de prótons ou antagonistas H2, e prover fármacos que protejam as mucosas gástricas e esofágicas da lesão. Se o paciente não tolerar os tratamentos mencionados, haverá ainda a possibilidade de neutralizar o ácido gástrico com antiácidos não absorvíveis. A secreção gástrica pelas células parietais da mucosa gástrica é estimulada por acetilcolina, histamina e gastrina. A ligação da acetilcolina, da histamina e da gastrina com seus receptores resulta na ativação da bomba de prótons H+/K+ ATPase, que passa a secretar íons hidrogênio em troca de K+ para o lúmen do estômago. Em contraste, a ligação de prostaglandina E2 com somatostatina diminui a produção de suco gástrico. 88 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II Célula parietal Lúmen do estômago Secreção ácida Acetilcolina Histamina Gastrina M H2 K+ H+ G (H+/K+ ATPase) Figura 14 – Esquema das células parietais da parede do estômago e sua estimulação para produção de ácido Antagonista de receptor H2 Os antagonistas do receptor H2 da histamina são: cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina. 1 – Mecanismo de ação: atuam seletivamente nos receptores H2 do estômago, dos vasos sanguíneos e de outros locais, mas não têm efeito sobre os receptores H1. Antagonistas competitivos da histamina são completamente reversíveis. Também são eficazes para promover concomitantemente a cicatrização das úlceras gástricas e duodenais; porém, após a interrupção do tratamento, as úlceras podem reaparecer. Em alguns casos, podem ser administrados em emergências gástricas. 2 – Indicação: úlceras pépticas, úlceras de estresse agudo e doença do refluxo gastroesofágico (o tratamento do refluxo deve ser com doses baixas, pois assim apresentam melhor resposta para essa patologia). 3 – Efeitos adversos: cefaleia, tonturas, diarreia e dor muscular. Em pacientes idosos podem surgir alterações no sistema nervoso central, como confusão e alucinação. A cimetidina tem efeitos endócrinos, já que atua como antiandrogênio não esteroidal, incluindo os efeitos de ginecomastia e galactorreia. Por alterar o pH do estômago, podem interferir na digestão e na absorção de alguns nutrientes e fármacos. Inibidores da bomba de prótons H+/K+ ATPase (IBP) O omeprazol foi o primeiro fármaco dessa classe. Ele se liga ao sistema enzimático H+/K+ ATPase (bomba de próton) das células parietais e suprime a secreção de íons hidrogênio do lúmen gástrico. Outros fármacos desta classe são: esomeprazol, lansoprazol, pantoprazol e rabeprazol. 1 – Mecanismo de ação: esses fármacos são pró-fármacos e dispõem de um revestimento entérico para protegê-los da degradação prematura pelo ácido gástrico. Tal revestimento é removido no intestino, permitindo que o pró-fármaco seja absorvido e transportado até as células parietais, onde é convertido em sua forma ativa e pode, então, ligar-se a H+/K+ ATPase, bloqueando-a por 18 horas (em doses adequadas, os IBPs inibem a secreção de ácido basal constante e a secreção estimulada). 2 – Indicação: os IBPs são mais eficazes que os antagonistas H2 na supressão da produção de ácido e na cicatrização das úlceras pépticas. São fármacos de primeira escolha para o tratamento de úlceras de estresse, esofagites erosivas e úlceras duodenais. Podem ser administrados por longos períodos, podendo, portanto, ser indicados 89 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA para tratamento de distúrbios ou síndromes endócrinas que levam ao aumento da secreção estomacal. Auxiliam na remoção da H. pylori, agindo como antimicrobiano. Devem ser ingeridos 30 minutos antes das refeições para que a resposta obtida seja máxima. 3 – Efeitos adversos: são medicamentos seguros; porém, em longo prazo, podem induzir a fraturas de bacia, coluna e punho. Além disso, interferem na absorção de outros fármacos e na biodisponibilidade da vitamina B12. Antiácidos Os antiácidos são bases fracas que reagem com o ácido gástrico formando água e sal para diminuir a acidez estomacal; como a pepsina depende do ácido do estômago para ser ativada, acabam reduzindo sua atividade. 1 – Mecanismo de ação: os antiácidos variam amplamente em composição química, capacidade de neutralização, conteúdo de sódio, palatabilidade e preço. Os antiácidos comumente usados são os derivados de alumínio e magnésio, como o hidróxido de alumínio e o hidróxido de magnésio. O carbonato de cálcio também pode ser administrado e forma como produtos o gás carbônico e o cloreto de cálcio, mas, se utilizado por longos períodos, interfere no nível de bicarbonato sanguíneo, levando à alcalose metabólica temporária. 2 – Indicação: são utilizados para alíviodos sintomas da úlcera péptica e da azia, podendo auxiliar na cicatrização de lesões duodenais. 3 – Efeitos adversos: o hidróxido de alumínio tende a causar constipação, ao passo que o hidróxido de magnésio tende a produzir diarreia. Podem causar ainda hipofosfatemia, alcalose sistêmica e comprometimento renal em pacientes com insuficiência renal. Vale lembrar que pacientes hipertensos não devem consumir os antiácidos que aumentam a disponibilidade de sódio. Fármacos protetores da mucosa Esses fármacos são conhecidos também como citoprotetores, pois apresentam várias ações que aumentam os mecanismos de proteção da mucosa, prevenindo lesões e reduzindo inflamação. O principal fármaco dessa categoria é o sucralfato, uma associação de hidróxido de alumínio e sacarose sulfatada. 1 – Mecanismo de ação: tais medicamentos aderem às proteínas das regiões lesionadas, protegendo-as da ação dos ácidos. Também são capazes de induzir a liberação de prostaglandina no estômago, diminuindo a produção de ácido gástrico. Não se deve associá-los a antiácidos ou antagonistas H2, pois é necessária a presença do ácido para que o sucralfato fique ativo. 3 – Efeitos adversos: são bem-tolerados, mas interferem na absorção de outros fármacos e não previnem o surgimento de úlceras causadas por Aines ou na cicatrização. Observação O omeprazol, descoberto em 1979, está na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial da Saúde, em que constam os medicamentos mais eficazes e seguros que são indispensáveis em um sistema de saúde. Ele também está disponível na forma de medicamento genérico. 90 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II 7.2 Tratamento farmacológico da constipação intestinal e da diarreia A seguir serão apresentados os principais fármacos utilizados no controle da diarreia e da constipação. Antidiarreicos O aumento da motilidade do TGI e a diminuição de absorção de líquidos são os principais fatores envolvidos na diarreia. Os antidiarreicos usados para tratar casos agudos incluem fármacos antimotilidade, adsorventes e fármacos que modificam o transporte de água e eletrólitos. • Fármacos antimotilidade: dois fármacos são comumente utilizados com essa finalidade, o difenoxilato e a loperamida. Eles têm ação tipo opioide no intestino, inibindo a liberação de acetilcolina e diminuindo o peristaltismo. Apresentam efeitos adversos de sedação, cólicas abdominais e tonturas. • Adsorventes: são o hidróxido de alumínio e a metilcelulose. Atuam adsorvendo toxinas intestinais e microrganismos ou protegendo a mucosa intestinal de irritações causadas por esses agentes. Por apresentar baixa absorção, esses fármacos não provocam efeitos adversos consideráveis. • Fármacos que interferem no transporte de íons: o salicilato de bismuto é usado na diarreia do viajante e diminui a secreção de líquidos pelo intestino. Os efeitos adversos mais evidentes são a língua negra e as fezes pretas. Laxantes Os laxantes são geralmente indicados para tratamento de constipação e aceleram a passagem do alimento pelo trato gastrointestinal. Seu uso crônico deve ser evitado, pois interferem na absorção de eletrólitos e podem causar dependência. • Irritantes e estimulantes: tais medicamentos causam irritação da mucosa intestinal e estimulam o peristaltismo, sendo indicados para constipações causadas por opioides ou constipações em geral. Efeitos adversos conhecidos são cólicas abdominais, irritação gástrica e dor. Nessa classe estão senna, bisacodil e óleo de rícino. • Laxantes aumentadores de volume: os laxantes volumosos incluem coloides hidrofílicos. Esses fármacos formam géis no intestino grosso, causando a retenção de líquidos e a distensão intestinal, o que estimula o peristaltismo. São exemplos a metilcelulose, a semente de linho e as fibras. • Laxantes salinos e osmóticos: os catárticos salinos, como citrato de magnésio, hidróxido de magnésio e fosfato de sódio, são sais não absorvidos que retêm água no intestino por osmose. Esse processo é capaz de causar distensão intestinal aumentando a atividade peristáltica. O polietilenoglicol (PEG) é indicado para lavagens colônicas, preparando o intestino para procedimentos endoscópicos. A lactulose, um dissacarídeo, também atua como laxante osmótico. 91 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA • Amolecedores de fezes (laxantes emolientes ou surfactantes): estão incluídos nessa categoria docusato sódico, docusato de cálcio e o docusato de potássio. Apresentam tempo de latência de dias e, por isso, são indicados como profiláticos. São capazes de emulsificar as fezes, pois atuam como detergentes. • Laxantes lubrificantes: o óleo mineral e a glicerina são considerados lubrificantes e agem facilitando a passagem de fezes endurecidas. Observação A senna é um laxante estimulante amplamente usado que tem como princípio ativo um grupo de senosídeos, um complexo natural de glicosídeos antraquinônicos. Usada por via oral, causa evacuação em um período de 8 a 10 horas. 8 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA ENDÓCRINO O sistema endócrino é responsável pela manutenção da homeostasia do organismo e realiza essa função por meio de glândulas que secretam hormônios diretamente no sistema circulatório, pelo qual são transportados para órgãos-alvo distantes. O conjunto de processos bioquímicos responsável por regular tecidos distantes por meio de secreções diretamente no sistema circulatório é chamado de sinalização endócrina. Nos vertebrados, o hipotálamo é o centro de controle neural para todos os sistemas endócrinos, e o campo de estudo que trata do sistema endócrino e seus distúrbios é a Endocrinologia, um ramo da Medicina Interna. O sistema endócrino está em claro contraste com o sistema exócrino, que secreta seus hormônios para o exterior do corpo usando dutos. O sistema endócrino é um sistema de sinal de informação como o sistema nervoso, mas seus efeitos e mecanismos são classicamente diferentes. Os efeitos do sistema endócrino desencandeiam respostas de início lento, porém prolongado, com duração que pode variar de algumas horas até semanas. Já o sistema nervoso envia informações muito rapidamente, e as respostas são geralmente de curta duração. As principais glândulas endócrinas são: glândula pineal, glândula pituitária, pâncreas, ovários, testículos, glândula tireoide, glândula paratireoide e glândulas suprarrenais. Essas glândulas possuem algumas propriedades características, como a inexistência de um ducto, a alta vascularização e, frequentemente, a presença de vacúolos intracelulares (ou grânulos) que armazenam seus hormônios. Em contraste, as glândulas exócrinas (tais como glândulas salivares, glândulas sudoríparas e glândulas dentro do trato gastrointestinal) tendem a ser muito menos vascularizadas e a ter canais ou um lúmen oco. Além dos órgãos endócrinos especializados mencionados, muitos outros que fazem parte de outros sistemas corporais (como ossos, rim, fígado, coração e gônadas) têm funções endócrinas secundárias: por exemplo, o rim secreta alguns hormônios endócrinos, tais como eritropoietina e renina. Os 92 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II hormônios podem consistir em complexos de aminoácidos, esteroides, eicosanoides, leucotrienos ou prostaglandinas. O conjunto de glândulas que apresentam sinalização em sequência é usualmente chamado de eixo (por exemplo, o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal). Hipotálamo Hipófise Tireoide Paratireoide Timo Adrenal PâncreasOvário (mulher) Testículo (homem) Figura 15 – Distribuição corporal das principais glândulas endócrinas A seguir serão apresentadas as principais patologias envolvendo o sistema endócrino, bem como os fármacos utilizados nos tratamentos. 8.1 Tratamento farmacológico da osteoporose A osteoporose é uma doença que diminui a resistência óssea, aumentando o risco de fraturas (sobretudo entre idosos). Os ossos podem enfraquecer a tal ponto que um pequeno trauma pode levar a uma fratura, ou ela pode ocorrer espontaneamente. Os ossos mais susceptíveis normalmente são os da coluna vertebral, do antebraço e do quadril. Por ser assintomática, a osteoporose costuma ser diagnosticada após a fratura óssea. A osteoporose pode se dar em razão de uma menor mineralização e, consequentemente, aumento na perda óssea. Essa perda tende a aumentar, nas mulheres, após a menopausa, devido a níveis mais baixos de estrogênio. A osteoporose também pode ocorrer como consequência de uma série de doenças ou tratamentos, incluindo alcoolismo, anorexia, hipertireoidismo, remoção cirúrgica dos ovários e doença renal. Certos medicamentos também aumentam a taxa de perda óssea, como alguns anticonvulsivantes, medicamentos quimioterápicos, inibidores da bomba de próton, inibidores seletivos da recaptação da serotonina e esteroides. A falta de exercício físico e o tabagismo também são fatores de risco. A 93 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA osteoporose é definida como uma diminuição na densidade óssea de 2,5 desvios-padrão abaixo da densidade óssea de um adulto jovem. A prevenção da osteoporose inclui uma dieta adequada desde a infância, além da evitação de medicamentos que propiciem essa condição; mudanças no estilo de vida, como parar de fumar e não beber álcool, também podem ajudar. No caso de pessoas com osteoporose, a prevenção de fraturas se dá com base em uma dieta adequada, exercícios físicos e prevenção de queda. Trata-se de uma patologia que se torna mais comum com o avançar da idade: entre pessoas de 50 anos, cerca de 15% apresentam osteoporose; já entre aquelas com 80 ou mais, esse valor sobe para 70%. Vale salientar que essa doença é mais comum em mulheres do que em homens, e que indivíduos brancos e asiáticos também apresentam maior predisposição a desenvolver essa enfermidade. Lembrete A osteoporose é uma enfermidade assintomática, o que deve nos fazer redobrar nossa atenção ao assunto. Mulheres e idossos são mais suscetíveis a essa doença, e tabagismo e vida sedentária são fatores de risco. 8.2 Tratamento farmacológico da obesidade A obesidade é uma patologia caracterizada pelo excesso de gordura corporal acumulada, com possíveis efeitos maléficos ao organismo. Um indivíduo é considerado obeso quando seu índice de massa corporal (IMC), uma medida obtida pela divisão do peso de uma pessoa pelo quadrado de sua altura, é superior a 30 kg/m2, sendo a faixa de 25-30 kg/m2 definida como a de um indivíduo com sobrepeso. Trata-se de uma enfermidade geralmente causada pela combinação de ingestão alimentar excessiva, falta de atividade física e suscetibilidade genética, no entanto, em alguns casos, pode ser ocasionada por genes, distúrbios endócrinos, medicamentos ou doenças mentais. A obesidade aumenta a probabilidade de várias doenças: diabetes tipo 2, apneia obstrutiva do sono, osteoartrose, depressão, certos tipos de tumores e, particularmente, doenças cardíacas. A visão de que as pessoas obesas comem pouco e ainda ganham peso pelo fato de ter um metabolismo lento muitas vezes não corresponde à realidade: em média, as pessoas obesas têm um gasto de energia maior que as pessoas magras, em razão da energia necessária para manter sua massa corporal acima da média. A obesidade pode ser evitada através de uma combinação de mudanças sociais e escolhas pessoais; as alterações com relação a dieta e a exercício físico são os principais tratamentos para essa patologia. A qualidade da dieta pode ser melhorada por meio da redução do consumo de alimentos ricos em energia (como aqueles com alto teor de gordura e açúcares) e do aumento da ingestão de fibra dietética. Medicamentos podem ser administrados juntamente com uma dieta adequada, para reduzir o apetite ou diminuir a absorção de gordura. Se a dieta, o exercício e a medicação não forem eficazes, poderão ser cogitados o uso de um balão gástrico ou a realização de uma cirurgia; dessa forma, será possível reduzir o volume do estômago (ou o comprimento do intestino), levando o paciente a sentir-se saciado com uma menor quantidade de alimentos ou obter a capacidade de absorver menos nutrientes dos alimentos. 94 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II Nos dias atuais, a obesidade é a principal patologia com causas evitáveis de morte em todo o mundo, com taxas crescentes em adultos e crianças. Em todo o mundo em 2014, 600 milhões de adultos (13% da população) e 42 milhões de crianças menores de cinco anos eram obesos. A obesidade é mais comum em mulheres do que em homens e, embora já tenha sido vista como um símbolo de riqueza e fertilidade em outros momentos da história (e ainda seja vista assim em algumas partes do globo), trata-se de uma doença bastante estigmatizada em grande parte do mundo moderno (particularmente no mundo ocidental). Duas classes de fármacos são utilizadas no tratamento da obesidade: os anorexígenos e os inibidores de lipase. • Anorexígenos: fentermina e sibutramina. 1 – Mecanismo de ação: esses fármacos promovem um aumento na liberação de norepinefrina e de dopamina no sistema nervoso central e inibem a receptação desses neurotransmissores, aumentando, assim, o tempo de permanência e a quantidade desses neurotransmissores nas fendas sinápticas; 2 – Indicação: como supressores de apetite; 3 – Efeitos adversos: dependência química e psíquica, xerostomia, cefaleia, insônia e constipação; podem afetar também o sistema cardiovascular (aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial). • Orlistate: 1 – Mecanismo de ação: inibidor das lipases gástricas e pancreáticas, diminuindo a hidrólise dos triglicérides da dieta em moléculas menores (que podem ser absorvidas); 2 – Indicação: obesidade; 3 – Efeitos adversos: sintomas gastrointestinais, como manchas oleosas, flatulência com evacuação, urgência fecal e maior defecação; interfere na absorção das vitaminas A, D, E e K e de fármacos como levotiroxina e amiodarona. Observação A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que a obesidade supere a desnutrição e as doenças infecciosas como maior preocupação de saúde pública no mundo. 8.3 Tratamento farmacológico de distúrbios da tireoide Os distúrbios envolvendo a tireoide afetam a função da glândula (o órgão endócrino encontrado na frente do pescoço). Os principais distúrbios tireoidianos são: • hipotireoidismo (baixa função): causado pela ausência da quantidade adequada de hormônios tireoidianos; • hipertireoidismo (alta função): é o caso oposto; trata-se do excesso de hormônios tireoidianos; • anormalidades estruturais que levam ao aumento da glândula tireoide; • tumores, que podem ser benignos ou malignos. 95 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Os sintomas mais comuns do hipotireoidismo incluem fadiga, baixa energia, ganho de peso, incapacidade de tolerar o frio, ritmo cardíaco lento, pele seca e constipação. Os sintomas comuns do hipertireoidismo incluem irritabilidade, perda de peso, batimentos cardíacos acelerados,intolerância ao calor, diarreia e aumento da tireoide. Em ambas as patologias pode surgir um inchaço de uma parte do pescoço, conhecido como bócio. O diagnóstico muitas vezes pode ser feito através de testes laboratoriais, sendo analisados, para tanto, os níveis do hormônio estimulante da tireoide (TSH), que estão geralmente abaixo do normal no caso do hipertireoidismo e acima do normal no hipotireoidismo. Outro teste útil de laboratório é o da tiroxina (ou T4 livre); já os níveis de tri-iodotironina total e livre (T3) são menos utilizados. Também pode ser pesquisada a presença de autoanticorpos antitireoide. Nessa situação, um número elevado de anticorpos de antitiroglobulina e antitireoide são comumente encontrados no hipotireoidismo de Hashimoto; no hipertireoidismo causado pela doença de Graves, são encontrados anticorpos do receptor de TSH. Procedimentos como ultrassom, biópsia e varredura com iodo radioativo também podem ser usados para ajudar no diagnóstico. O tratamento da doença da tireoide varia com base no tipo de enfermidade. A levotiroxina é o principal suporte do tratamento para pessoas com hipotireoidismo, enquanto as pessoas com hipertireoidismo causado pela doença de Graves podem ser tratadas com terapia com iodo, medicação antitireoidiana ou remoção cirúrgica da glândula tireoide. Uma cirurgia também pode ser realizada para remover um bócio obstruindo estruturas próximas ou mesmo um nódulo (ou lóbulo) da tireoide, para biópsia. O hipotireoidismo afeta 3%-10% dos adultos, com uma maior incidência em mulheres e idosos. Estima-se que um terço da população mundial atualmente viva em áreas com baixos níveis de iodo na dieta, tornando essa deficiência a causa mais comum de hipotireoidismo e bócio endêmico. Em regiões com grave deficiência de iodo a prevalência de bócio é tão alta que chega a 80%, ao passo que em áreas onde a deficiência de iodo não é encontrada o tipo mais comum de hipotireoidismo é um subtipo autoimune chamado tireoidite de Hashimoto, com uma prevalência de 1%-2%. Quanto ao hipertireoidismo, a doença de Graves, outra condição autoimune, é o tipo mais comum, com prevalência de 0,5% nos homens e 3% nas mulheres. Embora os nódulos tireoidianos sejam comuns, o câncer de tireoide é raro, sendo responsável por menos de 1% de todos os cânceres no Reino Unido (embora seja o tumor endócrino mais comum e constitua mais de 90% de todos os cânceres das glândulas endócrinas). Os hormônios tireoidianos facilitam o crescimento normal e a regulação adequada do metabolismo nos tecidos. Os dois principais hormônios são a tri-iodotironina (T3) e a tiroxina (T4). A T3 e a T4 precisam dissociar-se das proteínas plasmáticas ligadoras de tiroxina antes de entrar nas células, por difusão ou por transporte ativo. Na célula, a T4 é desiodinada e vira T3, que é transportada ao núcleo e se liga a receptores específicos. A ativação desses receptores promove a síntese proteica. 8.4 Fármacos utilizados no tratamento do hipotireoidismo O hipotireoidismo em geral resulta da destruição autoimune da glândula e é diagnosticado pelo alto nível de TSH. Essa enfermidade pode ser tratada com levotiroxina (T4), um fármaco administrado uma vez ao dia devido a sua longa meia-vida, e o estado de equilíbrio é alcançado em 8 semanas. A 96 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II toxicidade depende dos níveis de T4 e se manifesta por meio de nervosismo, palpitações cardíacas e taquicardia, intolerância ao calor e perda inexplicada de massa corporal. 8.5 Fármacos usados no tratamento do diabetes O diabetes mellitus (DM) é um conjunto de doenças metabólicas que apresentam como característica principal hiperglicemia por longos períodos. Os sintomas da hiperglicemia incluem micção frequente (poliúria) e intensificação das sensações de sede e fome. Se não for tratado, o diabetes poderá causar muitas complicações, como complicações agudas da cetoacidose diabética, coma hiperosmolar não cetótico ou morte. Outras complicações graves a longo prazo incluem doença cardíaca, acidente vascular cerebral, insuficiência renal crônica, úlceras de pé e danos aos olhos. O diabetes surge devido à incapacidade do pâncreas de produzir uma quantidade suficiente de insulina ou às células do corpo não responderem adequadamente à insulina produzida (resistência periférica à insulina). Existem três tipos principais de diabetes mellitus: • DM tipo 1 – Atinge principalmente adolescentes e se caracteriza pela falta absoluta de insulina causada por uma lesão intensa das células produtoras de insulina no pâncreas (células beta). A necrose pode ter relação com causas autoimunes, infecções ou toxicidade de substâncias, e, como resultado dessa necrose, o pâncreas deixa de responder à glicemia e os sintomas clássicos surgem. • DM tipo 2 – Tem início com a resistência à insulina, uma condição em que as células não respondem à insulina adequadamente. A maioria dos diabéticos tem o tipo 2, que é determinado por fatores genéticos, idade e obesidade. As perturbações metabólicas são mais sutis do que as observadas no diabetes tipo 1, mas as consequências clínicas a longo prazo são igualmente importantes. Como a doença é crônica, há uma progressão gradual que pode resultar também em uma deficiênica na produção de insulina pelo pâncreas. • Diabetes gestacional – É a terceira forma principal e ocorre quando mulheres grávidas e sem histórico prévio de diabetes apresentam hiperglicemia durante a gravidez, havendo um total restabelecimento após o parto. A prevenção e o tratamento dessa enfermidade envolvem dieta saudável, exercício físico regular, peso corporal adequado e abolição de tabaco. O controle da pressão arterial e a manutenção do cuidado adequado dos pés são importantes para as pessoas portadoras dessa doença. O DM tipo 1 deve ser tratado com injeções de insulina; o DM tipo 2 pode ser tratado com medicamentos com ou sem insulina associada. A insulina é um hormônio polipeptídico sintetizado como precursor (pró-insulina), e sua secreção é regulada não só pelos níveis sanguíneos de glicose, mas também por certos aminoácidos, outros hormônios e mediadores autonômicos. A secreção é mais acentuada e importante quando há hiperglicemia. A glicose no sangue é captada pelas células beta pancreáticas e rapidamente metabolizada, gerando altos níveis de ATP (adenosina trifosfato) nessas células. Tal aumento de ATP leva ao bloqueio dos canais de K+, levando à despolarização da membrana e à internalização de Ca2+, responsável pela exocitose pulsátil da insulina do interior da célula. 97 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA 8.6 Insulinoterapia A insulina é degradada no trato gastrointestinal e, portanto, está descartado seu uso por via oral, sendo administrada geralmente por via subcutânea. As preparações de insulina variam nos seus tempos de início e de duração de ação, o que se deve às diferenças na sequência de aminoácidos dos polipeptídios. A dose, o local da injeção, a vascularização, a temperatura e a atividade física, por exemplo, podem afetar a duração da ação de várias preparações. A insulina é degradada principalmente pelo fígado e pelos rins, que apresentam enzimas próprias para essa metabolização. O quadro a seguir resume o início de ação, o tempo até o pico e a duração de ação de vários tipos de insulina atualmente em uso (a sigla NPH significa “insulina protamina neutra de Hagedorn”). Saiba mais Você pode obter mais informações sobre o tema no Manual de Diabetes, de Costa e Almeida Neto: COSTA, A. A; ALMEIDA NETO, J. S. Manual de diabetes: alimentação, medicamentos, exercícios. 2. ed. São Paulo:Sarvier, 1998. 8.6.1 Fármacos hipoglicemiantes orais Esses fármacos são úteis no tratamento de pacientes com diabetes tipo 2, mas que não conseguem controlar a doença apenas com dietas. Pessoas que desenvolvem o diabetes após os 40 anos e que têm apenas 5 anos do início de tratamento respondem melhor aos hipoglicemiantes orais. Pacientes com a doença há mais de 5 anos em tratamento devem associar os hipoglicemiantes orais à insulinoterapia. Esses fármacos não devem ser utilizados em pacientes com diabetes tipo 1. Os hipoglicemiantes orais podem ser classificados, de acordo com seu mecanismo de ação, em secretagogos de insulina, sensibilizadores à insulina, inibidores da alfa-glicosidase e inibidores da dipeptidil peptidase IV. • Secretagogos de insulina: Esses fármacos promovem a liberação de insulina das células beta do pâncreas. Os principais fármacos dessa categoria são as sulfonilureias, como glibenclamida, glipizida e glimepirida, e as glinidas. • Sensibilizadores à insulina: duas classes de hipoglicemiantes orais, as biguanidas e as tiazolidinadionas (glitazonas), melhoram a resposta da insulina, não interferindo em sua liberação pelo pâncreas. As biguanidas, como a metformina leva a redução do débito hepático e da glicose, inibindo a gliconeogênese hepática. Retarda a absorção intestinal de glicose e melhora sua captação e uso periférico. Também é capaz de diminuir modestamente a hiperlipidemia. Geralmente esses efeitos são sentidos após 8 semanas de uso. Há redução de massa corporal por inibição do apetite. 98 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II • Inibidores da alfa-glicosidase: a acarbose e o miglitol são os fármacos pertencentes a essa classe terapêutica. • Inibidores da dipeptidil peptidase IV (DPP-IV): são exemplos de fármacos pertencentes a essa classe a sitagliptina e a saxagliptina. 8.6.1.1 Incretinamiméticos A incretina (GLP-1) é um hormônio liberado pelo intestino quando há presença de carboidratos na alimentação. Recentemente foram desenvolvidos fármacos que agem como miméticos desse hormônio. São exemplos dessa classe a liraglutida e a exenatida. 1 – Mecanismo de ação: são agonistas de receptores de GLP-1. Atuam aumentando a liberação da insulina glicose-dependente e retardam o esvaziamento gástrico. Esse efeito leva à diminuição da ingestão alimentar e da liberação de glucagon (alguns autores relatam que esses fármacos podem estimular a proliferação das células beta pancreáticas); 2 – Indicação: são recomendados como auxiliares no tratamento de pacientes que não obtiveram controle glicêmico com os hipoglicemiantes orais. Esses fármacos não podem ser administrados por via oral, sendo a preparação administrada por via subcutânea; 3 – Efeitos adversos: náuseas, êmese, diarreia e constipação. Saiba mais Hipoglicemia é comum em pessoas com DM tipo 1 e tipo 2. A maioria dos casos é leve e não é considerada emergência médica. Em casos leves, os sintomas são desconforto, sudorese, tremores e aumento do apetite. Em casos graves, pode haver confusão mental, alterações no comportamento (como agressividade), convulsões, inconsciência e, raramente, danos cerebrais permanentes ou morte. Para mais informações, acesse o documento Diagnóstico e Classificação do Diabetes Mellitus e Tratamento do Diabetes Mellitus Tipo 2, da Sociedade Brasileira de Diabetes, disponível em: (acesso em: 22 maio 2017). 8.7 Reposição hormonal e contraceptivos Os hormônios sexuais produzidos pelas gônadas são necessários para a concepção, a maturação embrionária e o desenvolvimento das características sexuais secundárias na puberdade. Os hormônios gonadais são usados na terapêutica de reposição e contracepção e no controle dos sintomas da menopausa. 8.7.1 Terapia de reposição hormonal A terapia de reposição hormonal é a administração de hormônios com o objetivo de suplementar a falta de hormônios naturais ou substituir hormônios sintéticos por naturais. As formas comuns de terapia de reposição hormonal são detalhadas a seguir, observe. 99 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA • Terapia de reposição hormonal para a menopausa: o tratamento pode prevenir o desconforto causado pela diminuição dos estrogênios circulantes e da progesterona; no caso de menopausa cirúrgica ou prematura, pode prolongar a vida e reduzir a incidência de demência. Envolve o uso de um ou mais de um grupo de medicamentos concebidos para aumentar artificialmente os níveis hormonais. Os principais tipos de hormônios envolvidos são estrogênio, progesterona ou progestágenos e, às vezes, testosterona. É muitas vezes referido como “tratamento”, em vez de terapia. • Terapia de reposição hormonal para pessoas transgênero: consite na introdução de hormônios associados ao sexo com que o paciente se identifica (principalmente testosterona para homens trans e estrogênio para mulheres trans). O tratamento hormonal para indivíduos transgênero é dividido em dois tipos principais: terapia de reposição hormonal do sexo feminino para o sexo masculino e terapia de reposição hormonal do sexo masculino para o feminino. • Terapia de reposição androgênica (uso andropausal e ergogênico): tratamento hormonal muitas vezes prescrito para combater os efeitos do hipogonadismo masculino. Também é indicado para diminuir os efeitos ou retardar o envelhecimento masculino normal. Além disso, a terapia de reposição androgênica é recomendada para homens que perderam sua função testicular. Estrogênios O estradiol é o mais potente estrogênio produzido e secretado pelo ovário. Já a estrona, um metabólito do estradiol produzido pela placenta durante a gravidez, possui 1/3 de sua potência. A preparação de estrógenos conjugados animais (estrona e equilina) extraídos da urina de éguas prenhas é utilizada na terapia de reposição hormonal. Há ainda estrógenos conjugados de origem vegetal e sintéticos (etinilestradiol). 1 – Mecanismo de ação: os hormônios esteroides possuem seus receptores dentro do núcleo das células-alvo. Há dois receptores para estrógenos, o receptor alfa e o receptor beta. Esses receptores, quando ativados pelos hormônios, promovem a transcrição de genes específicos ligados às características sexuais; 2 – Indicação: são usados para tratamento hormonal pós-menopausa, para contracepção e na estimulação de características sexuais; 3 – Efeitos adversos: náuseas, sensibilidade nos seios, sangramento uterino na pós-menopausa (há aumento no risco de eventos tromboembólicos, infarto do miocárdio, câncer de mama e câncer endometrial). Modulares seletivos de receptor de estrogênio São fármacos que interagem com os receptores de estrogênio e produzem efeitos tecido-específicos. Em alguns tecidos podem ser agonistas e em outros podem ser antagonistas. São exemplos tamoxifeno, raloxifeno e clomifeno. 1 – Mecanismo de ação: podem atuar como antagonistas de estrogênio nos tecidos mamários (tamoxifeno), reduzem a reabsorção e a renovação óssea, promovendo aumento na densidade dos ossos e diminuindo fraturas da coluna vertebral. Não agem no endométrio e não estão relacionados a tumores nessa região. Por aumentar os índices de TSH (hormônio folículo-estimulante), promovem a estimulação da ovulação; 2 – Indicação: tratamento paliativo e profilático do câncer de mama metastático na mulher em pós-menopausa; 3 – Efeitos adversos: fogachos e náuseas, irregularidades menstruais e sangramento vaginal. 100 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão :J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II Progestógenos A progesterona é produzida em resposta ao hormônio luteinizante, tanto em mulheres quanto em homens. É também produzido pela suprarrenal em ambos os sexos. Em mulheres, a progesterona promove o desenvolvimento de um endométrio secretor que pode acomodar a implantação do novo embrião em formação. São exemplos de progestógenos sintéticos norgestrel, drospirenona, levonorgestrel e noretindrona. 1 – Mecanismo de ação: promovem o aumento no glicogênio hepático, da temperatura corporal e da excreção de nitrogênio urinário; diminuem a reabsorção de Na+ nos rins e reduzem a quantidade de alguns aminoácidos no sangue; 2 – Indicação: são usados na correção da deficiência do hormônio e como contraceptivo; 3 – Efeitos adversos: cefaleia, depressão, aumento de massa corporal, alterações na libido, acne, hirsutismo (devido a efeitos androgênicos de alguns progestógenos). Observação A dupla proteção é o uso de mais de um método para previnir infecções sexualmente transmissíveis e gravidez, como a utilização de preservativo junto com outro método de controle de natalidade. Se a gravidez for uma grande preocupação, o uso de dois métodos ao mesmo tempo será bastante recomendado. Por exemplo, pacientes que tomam a isotretinoína (droga antiacne), devido ao alto risco teratogênico do fármaco, devem utilizar a dupla proteção. 8.7.2 Fármacos usados no tratamento da disfunção erétil A disfunção erétil (ED) ou impotência é uma disfunção sexual caracterizada pela incapacidade de promover ou manter a ereção do pênis durante a atividade sexual. Uma ereção peniana é o efeito hidráulico causado pela penetração e retenção de sangue no corpo esponjoso, dentro do pênis. O processo é mais frequentemente iniciado como resultado da excitação sexual, quando os sinais são transmitidos do cérebro para os nervos no pênis. As causas orgânicas mais importantes de impotência são doenças cardiovasculares, diabetes, problemas neurológicos (por exemplo, trauma de cirurgia de prostatectomia), insuficiências hormonais (hipogonadismo) e efeitos adversos de drogas. A impotência psicológica se dá quando a ausência de ereção ou penetração ocorre devido a pensamentos ou sentimentos do paciente (razões psicológicas), e não em função de uma impossibilidade física. Essa condição é mais frequente e também mais facilmente tratada. Notavelmente, na impotência psicológica há uma forte resposta ao tratamento com placebos. Cabe destacar que a disfunção erétil pode ter graves consequências psicológicas, uma vez que pode estar ligada a dificuldades de relacionamento e autoimagem (masculina). Muitas vezes é possível tratar a disfunção erétil atacando suas causas secundárias, como a deficiência de potássio ou a contaminação por arsênico. Contudo, o tratamento de primeira escolha consiste nos 101 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA fármacos inibidores da fosfodiesterase 5. Em alguns casos, o tratamento pode envolver a administração de prostaglandina na uretra, injeções diretas no pênis, a colocação de uma prótese peniana ou uma cirurgia vascular reconstrutiva. A seguir estão listados os principais fármacos relacionados ao tratamento da disfunção erétil. • Sildenafila, tadalafila e vardenafila: 1 – Mecanismo de ação: inibem a fosfodiesterase 5 presente no corpo cavernoso peniano, aumentando o fluxo de sangue mediante a estimulação sexual. A fosfodiesterase 5 degrada moléculas responsáveis pelo relaxamento da musculatura lisa dos vasos penianos; dessa forma, a inibição dessa enzima promove um relaxamento mais acentuado da vasculatura, aumentando o fluxo sanguíneo; 2 – Indicação: disfunção erétil e hipertensão pulmonar; 3 – Efeitos adversos: cefaleia, rubor, dispepsia, congestão nasal, distúrbios na visão colorida. Pacientes com riscos cardiovasculares devem tomar esses fármacos com cautela. É importante ressaltar também que esses medicamentos têm ação vasodilatadora e podem causar interações medicamentosas nocivas quando administrados com outros vasodilatadores (nitratos orgânicos), com antagonistas alfa-1 e com alguns antibióticos (claritromicina e eritromicina). Observação Estudos com a aranha armadeira brasileira descobriram que seu veneno contém uma toxina, chamada Tx2-6, que provoca ereções. Os cientistas acreditam que combinar essa toxina com a medicação existente, como o Viagra, pode levar a um tratamento mais eficaz para a disfunção erétil. 8.7.3 Esteroides anabolizantes Os esteroides anabolizantes, também conhecidos como esteroides anabólicos androgênicos (AAS), são andrógenos esteroidais que incluem andrógenos naturais como a testosterona, e os andrógenos sintéticos que são estruturalmente relacionados e têm efeitos semelhantes à testosterona. Eles são anabólicos e aumentam proteínas intracelular, especialmente nos músculos esqueléticos, e também têm diferentes graus de efeitos androgênicos e virilizantes, incluindo a indução do desenvolvimento e manutenção de características sexuais secundárias masculinas, como o crescimento de pelos faciais e corporais. Andrógenos ou AAS são agonistas de hormônios sexuais. Os androgênios produzem efeitos anabólicos e masculinizantes em homens e mulheres. A testosterona é sintetizada pelas células de Leydig nos testículos e, em menor quantidade, pela glândula suprarrenal. Os hormônios que estimulam as células de Leydig a produzir e liberar a testosterona são o FSH e o LH (hormônio luteinizante). Os androgênios causam maturação normal do homem, produção de esperma, aumento de síntese muscular e de hemoglobina, além da diminuição da reabsorção óssea. Eles se ligam a receptores específicos localizados nos núcleos das células-alvo. Embora a testosterona seja a molécula ativa, para o efeito em alguns tecidos é necessária sua metabolização. O complexo formado entre o hormônio e 102 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II seu receptor promove a transcrição e a síntese proteica. Alguns análogos de testosterona, no entanto, não sofrem metabolização, apresentando um efeito reduzido sobre o sistema reprodutor e maior sobre os tecidos musculares. Os AAS foram sintetizados na década de 1930 e agora são usados terapeuticamente na medicina para estimular o crescimento e o apetite muscular, induzir a puberdade masculina e tratar condições de desgaste crônico, como câncer e Aids. A Academia Americana de Medicina esportiva reconhece que os AAS, na presença de dieta adequada, pode contribuir para o aumento do peso corporal à medida que a massa magra aumenta, no entanto, os ganhos de força muscular são alcançados através de exercícios de alta intensidade e dieta adequada. Os riscos para a saúde podem ser produzidos pelo uso em longo prazo ou por doses excessivas de AAS. Estes efeitos incluem alterações prejudiciais nos níveis de colesterol (aumento da lipoproteína de baixa densidade e diminuição da lipoproteína de alta densidade), acne, hipertensão arterial, danos no fígado (principalmente com a maioria dos AAS orais) e alterações perigosas na estrutura do ventrículo esquerdo do coração. As condições relacionadas a desequilíbrios hormonais como ginecomastia e redução do tamanho dos testículos também podem ser causadas por AAS. Em mulheres e crianças, o AAS pode causar masculinização irreversível. Usos ergogênicos para AAS em esportes, corridas e fisiculturismo como fármacos para melhorar o desempenho são controversos por causa de seus efeitos adversos e do potencial de ganhar vantagem injusta em competições esportivas. Seu uso é referido como doping e banido pela maioria dos grandes eventos esportivos. Por muitos anos, osAAS foram de longe as substâncias de doping mais detectadas em laboratórios credenciados pelo COI. Em países onde os AAS são substâncias controladas, muitas vezes, há um mercado ilegal no qual drogas contrabandeadas, fabricadas clandestinamente ou mesmo falsificadas são vendidas aos usuários. Desde a descoberta e síntese da testosterona, na década de 1930, os AAS têm sido usados por médicos para muitos propósitos, com graus variados de sucesso. Estes podem ser amplamente agrupados em usos anabólicos, androgênicos e outros. Uso anabólico • Estimulação da medula óssea: durante décadas, os AAS foram o pilar da terapia para anemias hipoplásicas devido à leucemia ou à insuficiência renal. • Estimulação do crescimento: os AAS podem ser indicados por endocrinologistas pediátricos para tratar crianças com falha de crescimento. No entanto, a disponibilidade do hormônio de crescimento sintético, que tem menos efeitos colaterais, faz deste um tratamento secundário. • Estimulação do apetite e preservação e aumento da massa muscular: os AAS foram administrados a pessoas com condições de desgaste crônico, como câncer e Aids. • Estimulação da massa corporal magra e prevenção da perda óssea em homens idosos. No entanto, um ensaio controlado com placebo em 2006, com suplementação de testosterona em baixas doses 103 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA em homens idosos com baixos níveis de testosterona, não encontrou benefícios na composição corporal, desempenho físico, sensibilidade à insulina ou qualidade de vida. • Prevenção ou tratamento da osteoporose em mulheres na pós-menopausa. O decanoato de nandrolona é aprovado para esse uso. Embora tenham sido prescritos para essa indicação, os AAS foram pouco usados para esse propósito, devido a seus efeitos colaterais virilizantes. • Auxílio no ganho de peso após cirurgia ou trauma físico, durante infecção crônica ou no contexto de perda de peso inexplicável. • Reversão do efeito catabólico da terapia com corticosteroides em longo prazo. • A oxandrolona melhora tanto os desfechos de curto prazo como de longo prazo em pessoas que se recuperam de queimaduras graves e está bem estabelecida como tratamento seguro para essa indicação. • Tratamento de baixa estatura idiopática, angioedema hereditário, hepatite alcoólica e hipogonadismo. • A metiltestosterona é usada no tratamento de puberdade tardia, hipogonadismo, criptorquidia e disfunção erétil em homens. Em baixas doses é usada em mulheres para tratar sintomas da menopausa (especificamente para osteoporose e ondas de calor, e para aumentar a libido e a energia), também é usada para dor pós-parto, ingurgitamento e câncer de mama. Uso androgênico • Usado para reposição androgênica em homens com baixos níveis de testosterona; também é eficaz em melhorar a libido de homens idosos. • Indução à puberdade masculina: os andrógenos são administrados a muitos meninos que sofrem de atraso extremo na puberdade. Atualmente, a testosterona é praticamente o único andrógeno usado para essa finalidade e demonstrou aumentar a altura, o peso e a massa livre de gordura em meninos com puberdade atrasada. • Terapia hormonal masculinizante para homens transgêneros, outras pessoas transmasculinas e intersexuais, produzindo características sexuais secundárias masculinas, como o aprofundamento da voz, aumento da massa óssea e muscular, distribuição de gordura masculina, pelos faciais e corporais e aumento do clitóris. Ocasiona, também, bem-estar mental, como o alívio da disforia de gênero e aumento do desejo sexual. Outros usos • Para contracepção hormonal masculina; atualmente experimental, mas potencial para uso como contraceptivos masculinos eficazes, seguros, confiáveis e reversíveis. 104 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II A maioria dos usuários de esteroides não é atleta. Nos Estados Unidos, acredita-se que entre 1 milhão e 3 milhões de pessoas (1% da população) utilizaram o AAS. Estudos nos Estados Unidos mostraram que os usuários de AAS tendem a ser em sua maioria homens heterossexuais de classe média com uma média de idade de cerca de 25 anos, que são fisiculturistas e não atletas que usam os medicamentos para fins estéticos. De acordo com uma pesquisa recente, 78,4% dos usuários de esteroides eram fisiculturistas e não atletas não competitivos, cerca de 13% relataram práticas inseguras de injeção, como reutilização de agulhas, compartilhamento de agulhas e compartilhamento de frascos multidose. Os usuários de AAS tendem a pesquisar os medicamentos que estão tomando mais do que outros usuários de substâncias controladas; no entanto, as principais fontes consultadas por usuários de esteroides incluem amigos, manuais não médicos, fóruns baseados na internet, blogs e revistas fitness, que podem fornecer informações questionáveis ou imprecisas. Os usuários de AAS tendem a ficar insatisfeitos com a interpretação de que esses fármacos podem ser fatais, eles também desconfiam de seus médicos e 56% não revelaram seu uso para os médicos. Um estudo recente mostrou que os usuários de AAS em longo prazo tinham maior probabilidade de apresentar sintomas de dismorfia. Os AAS têm sido usados por homens e mulheres em muitos tipos diferentes de esportes profissionais para atingir uma vantagem competitiva ou para auxiliar na recuperação de lesões. Esses esportes incluem fisiculturismo, levantamento de peso, arremesso de peso e outros, como atletismo, ciclismo, beisebol, luta livre, artes marciais mistas, boxe, futebol e críquete. Tal uso é proibido pelas regras dos órgãos diretivos da maioria dos esportes. O uso de AAS ocorre entre adolescentes, especialmente por aqueles que participam de esportes competitivos. Os AAS que têm sido usados mais comumente na medicina são testosterona e seus muitos ésteres (mas mais tipicamente decanoato de testosterona, enantato de testosterona, cipionato de testosterona e propionato de testosterona), ésteres de nandrolona (tipicamente decanoato de nandrolona e fenilpropionato de nandrolona), estanozolol, e metandienona (metandrostenolona). Outros que também estão disponíveis e são usados, mas em menor extensão, incluem metiltestosterona, oxandrolona, mesterolona e oximetolona, bem como propionato de drostanolona (propionato de dromostanolona), ésteres de metenolona (metilandrostenolona) (especificamente acetato de metenolona e enantato de metenolona) e fluoximesterona. A di-hidrotestosterona (DHT), conhecida como androstanolona ou estanolona, quando usada clinicamente apresenta melhoras importantes, embora não seja amplamente usada na medicina. Os principais efeitos colaterais do AAS apresentam-se a seguir: • Dermatológicos/integrais: pele oleosa, acne vulgar, acne conglobata, seborreia, estrias (devido ao aumento rápido do músculo), hipertricose (crescimento excessivo dos pelos), alopecia androgênica (calvície padrão, calvície do couro cabeludo), retenção de líquidos/edema. 105 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA • Reprodutiva/endócrina: alterações da libido, infertilidade reversível, hipogonadismo hipogonadotrófico. — Masculino (específico): ereções espontâneas, emissões noturnas, priapismo, disfunção erétil, ginecomastia (principalmente apenas com EAA aromatizável e, portanto, estrogênico), oligospermia/azoospermia, atrofia testicular, leiomiossarcoma intratesticular, hipertrofia prostática, câncer de próstata. — Feminino (específico): masculinização, aprofundamento devoz irreversível, hirsutismo (crescimento excessivo de pelos faciais e corporais), distúrbios menstruais (por exemplo, anovulação, oligomenorreia, amenorreia, dismenorreia), aumento do clitóris, atrofia mamária, atrofia uterina, teratogenicidade (em fetos femininos). — Específicos para crianças: fechamento epifisário prematuro e baixa estatura associada, puberdade precoce em meninos, puberdade tardia e precocidade contrassexual em meninas. • Psiquiátrica/neurológica: alterações de humor, irritabilidade, agressividade, comportamento violento, impulsividade/imprudência, hipomania/mania, euforia, depressão, ansiedade, disforia, tendências suicídas, delírios, psicose, abstinência, dependência, neurotoxicidade, comprometimento cognitivo. • Musculosqueléticas: hipertrofia muscular, distensões musculares, ruptura dos tendões, rabdomiólise. • Cardiovasculares: dislipidemia (por exemplo, aumento dos níveis de LDL, diminuição dos níveis de HDL, redução dos níveis de apo-A1), aterosclerose, hipertensão, hipertrofia ventricular esquerda, cardiomiopatia, hipertrofia miocárdica, policitemia/eritrocitose, arritmias, trombose (por exemplo, embolia, acidente vascular cerebral) infarto, morte súbita. • Hepática: testes de função hepática elevados (AST, ALT, bilirrubina, LDH, ALP), hepatotoxicidade, icterícia, esteatose hepática, adenoma hepatocelular, carcinoma hepatocelular, colestase, peliose hepática; principalmente ou exclusivamente com AAS 17�-alquilados. • Renal: hipertrofia renal, nefropatia, insuficiência renal aguda (secundária à rabdomiólise), glomeruloesclerose segmentar e focal, carcinoma de células renais. • Outros: intolerância à glicose, resistência à insulina, disfunção imune. Lembrete Deve-se reiterar que o uso de esteroides anabolizantes com o objetivo de aumentar a chamada massa magra, a força muscular ou a resistência física não é aprovado pelos órgãos reguladores de saúde no mundo. 106 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II 8.7.3.1 Suplementos Para pessoas saudáveis não há evidências de que os suplementos tenham algum benefício, principalmente com relação à prevenção ou ao tratamento do câncer ou de doenças cardíacas. Suplementos de vitamina A e E não apenas não fornecem benefícios para a saúde de indivíduos geralmente saudáveis, mas podem aumentar a mortalidade. A maioria das vitaminas que são vendidas como suplementos dietéticos não deve exceder uma dose máxima diária referida como o nível máximo de ingestão tolerável (UL). Produtos vitamínicos acima desses limites regulatórios não são considerados suplementos e devem ser registrados com prescrição devido a seus possíveis efeitos colaterais. Os suplementos dietéticos geralmente contêm vitaminas, mas também podem incluir outros ingredientes, como minerais, ervas e plantas. Evidências científicas apoiam os benefícios dos suplementos alimentares para pessoas com certas condições de saúde. Em alguns casos, os suplementos vitamínicos podem ter efeitos indesejáveis, especialmente se administrados antes da cirurgia, com outros suplementos alimentares ou medicamentos, ou se a pessoa que os toma possui determinadas condições de saúde. Eles ainda podem conter níveis de vitaminas maiores e sob diferentes formas, do que se pode ingerir através dos alimentos. Resumo Nesta unidade, vimos que os anti-inflamatórios referem-se à propriedade de uma substância ou tratamento que reduzem a inflamação ou inchaço. Os medicamentos anti-inflamatórios constituem cerca de metade dos analgésicos, corrigindo a dor ao reduzir a inflamação em oposição aos opioides, que afetam o sistema nervoso central para bloquear a sinalização da dor no cérebro. Alguns anti-inflamatórios podem ser usados em doenças pulmonares, como a asma e o DPOC. Os fármacos usados para o tratamento das doenças respiratórias podem ser aplicados topicamente na mucosa nasal, inalados ou administrados por via oral ou parenteral para absorção sistêmica. Os métodos de aplicação local, como os nebulizadores ou inaladores, são preferidos, pois o fármaco atinge o tecido-alvo e minimiza os efeitos adversos sistêmicos. Ainda foram discutidos os fármacos antiviróticos. Os vírus são parasitas obrigatoriamente intracelulares. Eles são desprovidos tanto de parede celular quanto de membrana celular e não realizam processos metabólicos. Os vírus usam muito do mecanismo metabólico do hospedeiro, por isso, poucos fármacos são suficientemente seletivos para evitar a multiplicação viral sem lesar as células hospedeiras. O tratamento das doenças virais ainda é complicado pelo fato de os sintomas clínicos aparecerem tardiamente no 107 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA curso da doença, num momento em que a maioria das partículas virais já se multiplicou. Também foram estudados os fármacos utilizados no tratamento de disfunções do sistema endócrino, bem como nos distúrbios gastrointestinais e imunológicos. O sistema endócrino é responsável pela manutenção da homeostasia do organismo e realiza tal função por meio de um conjunto de glândulas que secretam hormônios diretamente no sistema circulatório para serem transportados para órgãos-alvo distantes. As principais patologias do sistema endócrino são osteoporose, obesidade, distúrbios da tireoide e disfunção erétil. Além disso, foram apresentadas formas de tratamento para essas situações médicas e foram discutidas formas de reposição hormonal e métodos farmacológicos de contracepção. Esta unidade descreveu ainda os fármacos usados para tratar algumas condições médicas comuns envolvendo o TGI, como úlceras pépticas, refluxo gastroesofágico, êmese, diarreia e constipação. Nessas patologias fármacos que agem na redução do ácido estomacal, como antagonistas de H2 ou IBPs, são mais eficazes no tratamento das úlceras pépticas e do refluxo esofágico. Já para combater diarreias, são utilizados fármacos que diminuem o peristaltismo intestinal, e, como laxantes, prescrevem-se fármacos que promovem uma maior eliminação de líquidos pelas fezes ou que aumentam o peristaltismo intestinal por irritação da mucosa. Exercícios Questão 1. (IF/RJ, 2010) A amiodarona é um antiarrítmico tipo III muito utilizado e contém em sua estrutura 39% de iodo. Que efeito ela apresenta sobre o sistema endócrino? A) Supressão transitória da função adrenal. B) Supressão transitória da função tireoideana. C) Indução da cetoacidose diabética. D) Diminuição do TSH. E) Diminuição do cortisol. Resposta correta: alternativa B. 108 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade II Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a dexametasona gera a supressão transitória da função adrenal. B) Alternativa correta. Justificativa: a classe III diminui a fase de repolarização e prolonga a duração da ação potencial e o intervalo QT, pelo bloqueio dos canais de potássio. Suas reações adversas atuam em eritemas cutâneos e problemas na tireoide, pulmões e outros distúrbios. Fonte: CHULAY, M.; BURNS, S. M. Fundamentos de enfermagem em cuidados críticos da AACN. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a cetoacidose diabética é uma condição aguda e grave que se desenvolve predominantemente em pacientes com diabetes mellitus do tipo 1 e é induzida pela deficiência relativa ou absoluta de insulina. Fonte: GROSSI, S. A. A. O manejo da cetoacidose em pacientes com diabetes mellitus: subsídios para a prática clínica de enfermagem. Rev. Esc.Enferm. USP, v. 40, n. 4, p. 582-6, 2006. D) Alternativa incorreta. Justificativa: o TSH indica que a tireoide produz hormônio tireoidiano em excesso, evidenciando o hipertireoidismo. Outros fármacos também podem diminuir o TSH com o uso de glicocorticoides, levodopa ou dopamina, bem como estresse, ou mais raramente quando a glândula que produz o hormônio (hipófise) ou o hipotálamo, que produz o TRH, não funcionam adequadamente. Fonte: BITTAR, R. S. M. et al. Prevalência das alterações metabólicas em pacientes portadores de queixas vestibulares. Rev. Bras. Otorrinolaringol. v. 69, n. 1, p. 64-8, 2003. E) Alternativa incorreta. Justificativa: fármacos glicocorticoides (imunossupressores e anti-inflamatórios) atuam na diminuição do cortisol. Fonte: disponível em: . Acesso em: 1 out. 2018. Questão 2. (EBSERH/UFMT, 2014) Diuréticos são empregados regularmente no controle da pressão arterial em paciente com hipertensão arterial sistêmica. Esses fármacos atuam nos rins aumentando o volume e o grau do fluxo urinário, podendo ser empregados também para outras indicações, como a Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC). Pacientes com ICC comumente utilizam digitálicos para o controle da doença, e o uso de diuréticos associados a esses cardiotônicos deve ser monitorado com 109 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA cautela para evitar a intoxicação digitálica, sendo necessária, muitas vezes, a utilização de diuréticos poupadores de potássio. Deste modo, assinale a alternativa que contém um diurético poupador de potássio. A) Indapamida. B) Hidroclorotiazida. C) Clortalidona. D) Espironolactona. E) Furosemida. Resolução desta questão na plataforma. 110 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 HANDS-1903104_960_720.JPG. Disponível em: . Acesso em: 6 maio 2017. Figura 2 MOUTH_WITH_LARGE_SUBLINGUAL_CYST_WELLCOME_L0062758.JPG. Disponível em: . Acesso em: 6 maio 2017. Figura 3 INTRAVENOUS-141551_960_720.JPG. Disponível em: . Acesso em: 6 maio 2017. Figura 4 FLU-SHOT-1719334_960_720.JPG. Disponível em: . Acesso em: 6 maio 2017. Figura 5 VACCINATION-1215279_960_720.JPG. Disponível em: . Acesso em: 6 maio 2017. Figura 6 SKIN-CARE-1491366_960_720.JPG. Disponível em: . Acesso em: 6 maio 2017. Figura 7 LOPES, S. Biologia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 168. Figura 8 DORETTO, D. Fisiopatologia clínica do sistema nervoso. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1996. p. 213. 111 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Figura 9 FÁBIO, V. B.; FERENC, F. Tratamento atual da insuficiência cardíaca descompensada. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 86, n. 3, p. 39, set. 2006. Figura 10 WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. Ed. Artemed, 2016. p. 439. Figura 12 EDWARD, A.; JOHN, B. Anatomy coloring workbook. [S.l.]. The Princeton Review, 2003. p. 238. Figura 13 WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. São Paulo: Artemed, 2016. p. 480. Figura 15 COSTA, A. A.; ALMEIDA NETO, J. S. Manual de diabetes: alimentação, medicamentos, exercícios. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 1998. p. 52. REFERÊNCIAS Textuais AVANCINI, E.; FAVARETTO, J. A. Biologia: uma abordagem evolutiva e ecológica. São Paulo: Moderna, 1997. v. 2, p. 97. BRODY, L.; MINNEMAN, N. Farmacologia humana: da molecular à clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. COSTA, A. A; ALMEIDA NETO, J. S. Manual de diabetes: alimentação, medicamentos, exercícios. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 1998. p. 52. CRAIG, C. R.; STITZEL, R. E. Farmacologia moderna. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. FERREIRA NETO, J. M. Tabela de indutores e inibidores enzimáticos. Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde, 2015. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2017. FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. 112 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. As bases farmacológicas da terapêutica. 12. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2012. HARVEY, R. A.; CHAMPE, P. C. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. KATZUN, B. G. Farmacologia básica e clínica. 12. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2013. RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M. Farmacologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Porto: Engebook, 2010. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. v. 101, n. 4, out. 2013. Disponível em: http://publicacoes. cardiol.br/consenso/2013/V_Diretriz_Brasileira_de_Dislipidemias.pdf. Acesso em: 22 maio 2017. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diagnóstico e classificação do diabetes mellitus e tratamento do diabetes mellitus tipo 2. São Paulo, 2000. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ consenso_bras_diabetes.pdf. Acesso em: 22 maio 2017. WELLS, B. G. et al. Manual de Farmacoterapia. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artemed, 2016. 113 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 114 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 115 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 116 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000• Efeito indesejado: efeito provocado pela ação do fármaco, no organismo, diferente do idealizado. Pode ser classificado em previsível e imprevisível. Os efeitos previsíveis são decorrentes da toxicidade por alta dosagem, efeito secundário (reação provocada pelo efeito do fármaco em um local de ação diferente do previsto), efeito colateral e interações medicamentosas. Por sua vez, os efeitos imprevisíveis podem ser classificados em idiossincrático, alérgico e por intolerância. 13 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Unidade I 1 NOÇÕES DE FARMACOLOGIA A Farmacologia é a ciência que estuda os fármacos e os medicamentos, avaliando os riscos e benefícios relacionados ao seu uso. As drogas e os medicamentos são usados há anos como recurso para combater diversas doenças e, assim, manter e restaurar a saúde, uma necessidade básica do ser humano. As formas farmacêuticas são aquelas em que os medicamentos podem estar disponíveis para o uso; isto é importante, pois a maioria dos fármacos não pode ser administrada de forma direta aos pacientes. 1.1 Visão geral da farmacologia e das formas farmacêuticas As enfermidades sempre acompanharam a vida humana e sempre despertaram curiosidade e misticismo nas pessoas. Tais doenças eram atribuídas a demônios e maus espíritos, e as pessoas sempre procuravam formas de amenizar essas situações patológicas. A base do tratamento era o uso de drogas de origem animal e vegetal (nesse caso, principalmente plantas malcheirosas). Os primeiros registros escritos na China e no Egito sobre o assunto citam muitos tipos de remédios, incluindo alguns que ainda hoje são reconhecidos como drogas úteis para diversos tratamentos, como é o caso do ginseng. Por volta do final do século XVII, a observação e a experimentação começaram a substituir a teorização em Medicina, seguindo o exemplo das Ciências Físicas. Quando o valor desses métodos no estudo das doenças tornou-se claro, os médicos na Grã-Bretanha e em outras regiões da Europa passaram a aplicá-los aos efeitos de medicamentos tradicionais utilizados em sua própria prática clínica. Assim, a matéria médica - isto é, a ciência da preparação e do uso clínico de medicamentos - começou a desenvolver-se como precursora da Farmacologia. No final do século XVIII e início do século XIX, François Magendie e seu aluno Claude Bernard começam a desenvolver métodos de Fisiologia e Farmacologia experimentais em animais. Baseado no princípio de prova e contraprova, Claude Bernard tentou trabalhar deixando o enfoque da pesquisa o mais restrito possível. No final do século XIX e início do século X surgiram pesquisas de base para o entendimento da atuação dos medicamentos nos tecidos e órgãos. Em seus primórdios, antes do advento da Química Orgânica Sintética, a Farmacologia ocupava-se exclusivamente da compreensão dos efeitos das substâncias naturais, principalmente extratos vegetais. Somente com o avanço das técnicas de Química Orgânica pôde-se identificar e purificar as estruturas químicas das drogas vegetais usadas na época. Entre 1803 e 1920, o estudo das drogas deu um grande salto com a descoberta dos alcaloides, e, em 1930, a Medicina já utilizava drogas, em sua maioria, de origem animal, vegetal e mineral. Em 1940, pesquisadores identificaram mais de 6 mil antibióticos, ao descobrirem que determinados fungos e outros micro-organismos 14 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I eram capazes de produzir substâncias que inibiam processos vitais de agressores do organismo humano. Novas tecnologias de síntese, caracterização e planejamento de novas moléculas possibilitaram o aparecimento de fármacos cada vez mais aprimorados, mais específicos e com menos efeitos adversos. Observação A Farmacologia, como vimos, é a ciência que estuda como as substâncias químicas interagem com os sistemas biológicos. Seu nome vem dos termos gregos fármacon (em português, droga) e logos (em português, ciência). 1.1.1 Conceitos da divisão da Farmacologia A Farmacologia pode ser dividida em Farmacologia Geral, Farmacologia Aplicada, Farmacodinâmica, Farmacocinética, Farmacotécnica, Farmacognosia, Farmacoterapia, Farmacologia Clínica e Toxicologia. • Farmacologia Geral: estuda os conceitos básicos e comuns a todos os grupos de drogas. • Farmacologia Aplicada: estuda os fármacos reunidos em grupos de ação farmacológica similar. • Farmacodinâmica: estuda local de ação, mecanismo de ação, ações e efeitos, efeitos terapêuticos e efeitos tóxicos de uma droga. • Farmacocinética: dedica-se aos estudos sobre vias de administração, absorção, distribuição, metabolismo e excreção de uma droga; os caminhos percorridos por um medicamento no corpo do animal. • Farmacotécnica: trata-se da preparação das formas farmacêuticas sob as quais os medicamentos são administrados (cápsulas, comprimidos, suspensões etc.). Estuda também sua purificação e conservação, visando a um melhor aproveitamento do medicamento no organismo do animal. • Farmacognosia: estuda a origem, as características, a estrutura e a composição química das drogas no seu estado natural, sob a forma de órgãos ou organismos vegetais e animais, assim como seus extratos. • Farmacoterapia: trata da orientação de uso dos medicamentos para prevenção, tratamento e diagnósticos das enfermidades. • Farmacologia Clínica: preocupa-se com os padrões de eficácia e segurança da administração de medicamentos aos animais, comparando informações obtidas em animais saudáveis com as obtidas em animais doentes. • Toxicologia: área próxima da Farmacologia; é a ciência que estuda os agentes tóxicos. 15 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA 1.1.2 Formas farmacêuticas São as formas físicas de apresentação do medicamento, podendo ser classificadas em sólidas, líquidas e semissólidas. Essas formas podem ser administradas por via oral, parenteral, retal, vaginal, oftálmica, aérea, auricular ou percutânea. As formas sólidas podem ser agrupadas em comprimidos, drágeas, cápsulas, supositórios e óvulos. Normalmente, as drogas não são administradas aos pacientes no seu estado puro ou natural, mas como parte de uma formulação – ao lado de uma ou mais substâncias não Medicinais que desempenham várias funções farmacêuticas. Esses adjuvantes farmacêuticos têm a função de suspender, diluir, solubilizar, preservar, espessar, estabilizar, emulsionar, colorir e melhorar o sabor da mistura final. 1.1.2.1 Formas farmacêuticas sólidas A seguir são discriminados os diferentes tipos de formas farmacêuticas sólidas. • Cápsulas: armazenamento de uma ou mais substâncias químicas em recipientes de gelatina que podem ser moles (armazenando líquidos, semissólidos e sólidos) ou duros (armazenando sólidos). Há casos específicos em que a cápsula pode ser aberta, e a substância, administrada na forma de pó, porém isso só poderá ser feito com indicação médica e orientação do farmacêutico; em geral, não se pode abrir, quebrar ou triturar as cápsulas, pois o medicamento pode perder seu efeito. • Comprimidos: compressão de uma ou mais substâncias químicas na forma de pó ou grânulo. Há quatro tipos de comprimidos. — Comprimidos de revestimento entérico: revestidos por um produto que garante sua passagem íntegra pelo estômago, chegando em perfeito estado ao intestino, onde irá se dissolver e iniciar sua ação. O revestimento é necessário para os casos em que os medicamentos, quando em contato com o líquido ácido do estômago, são destruídose perdem imediatamente sua ação terapêutica, mas pode ser utilizado também em casos de medicamentos que agridem a parede do estômago. — Comprimidos sublinguais: são colocados, obrigatoriamente, embaixo da língua e se dissolvem com auxílio da saliva, sendo absorvidos na própria boca. Costumam ser usados no caso de medicamentos que, em contato com o líquido ácido do estômago, são destruídos e perdem imediatamente sua ação terapêutica, mas também são adequados no caso de substâncias que são pouco absorvidas pelo intestino. — Comprimidos efervescentes: preparados com uma ou mais substâncias químicas associadas a alguns sais que liberam gases quando em contato com a água. Esse mecanismo facilita a desintegração e a dissolução do comprimido, para, então, ser absorvido. — Comprimidos mastigáveis: preparados para terem a sua desintegração facilitada pela mastigação. Depois de mastigados, eles são engolidos, para, então, serem dissolvidos e absorvidos. 16 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I • Drágeas: comprimidos revestidos com açúcares. Melhoram a deglutição, a aparência física e mascaram o sabor do medicamento. • Preparações extemporâneas: pós liofilizados ou grânulos, podem ser solúveis, resultando em soluções, ou insolúveis, resultando em suspensões. São preparações para substâncias que não são estáveis na presença da água (degradando-se facilmente depois de um curto tempo de contato). Assim, é necessário que as substâncias sejam acrescentadas à água filtrada ou fervida somente no momento da administração, para se fazer a solução ou suspensão. Geralmente, esses produtos devem ser utilizados por um período máximo de 14 dias após sua preparação (quando armazenado em geladeira; se armazenado em temperatura ambiente esse período cairá para 7 dias). Se não utilizado por completo dentro desse período e nessas condições, o que restar no frasco deverá ser descartado. Ter atenção, pois há produtos com especificações diferentes. 1.1.2.2 Formas farmacêuticas líquidas Os diferentes tipos de formas farmacêuticas líquidas são detalhados a seguir. • Soluções: preparações líquidas homogêneas que contêm uma ou mais substâncias químicas dissolvidas em solvente adequado ou em uma mistura de solventes mutuamente miscíveis. Em relação ao seu uso, uma solução farmacêutica pode ser classificada como oral, tópica, oftálmica, otológica, nasal e injetável. — Soluções orais: vantajosas em relação às cápsulas e aos comprimidos em razão de sua rapidez de absorção e facilidade de deglutição, principalmente em idosos e crianças. — Soluções tópicas: preparações que devem ser administradas sobre a superfície da pele ou do couro cabeludo. — Soluções oftálmicas: formas farmacêuticas líquidas estéreis para administração nos olhos, são utilizadas para lubrificação ocular, descongestionamentos, alergias, infecções, inflamações ou controle de algumas doenças, como glaucoma. — Soluções otológicas: formas farmacêuticas destinadas para aplicação no canal auditivo, utilizadas para remoção do cerúmen, infecções e inflamações. — Soluções nasais: destinadas ao tratamento local ou sistêmico, devem ser pingadas ou instiladas na cavidade nasal. — Soluções injetáveis: soluções administradas pela via parenteral (injeções). São utilizadas em situações nas quais se precisa de uma resposta rápida, e seu uso requer cuidados de aplicação e assepsia. • Colírios: formas farmacêuticas líquidas estéreis para administração nos olhos. Utilizados para lubrificação ocular, descongestionamento, alergias, infecções, inflamações ou controle de algumas doenças, como glaucoma. 17 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA • Elixires: soluções hidroalcoólicas de sabor agradável e adocicado, apresentando teor alcoólico na faixa de 20% a 50%. • Colutórios: soluções destinadas à aplicação bucal para agir sobre as gengivas e as mucosas da boca e da garganta (não devem ser engolidas). • Xaropes: preparações farmacêuticas que contêm açúcar, como a sacarose, e podem conter substâncias flavorizantes/aromatizantes (como morango ou framboesa). • Enemas: preparações líquidas destinadas à aplicação retal com finalidade laxativa ou para fins de diagnóstico. • Edulitos: formas farmacêuticas líquidas para uso oral isentas de sacarose, também conhecidas popularmente como “xaropes sem açúcar” ou “xaropes para diabéticos” (o açúcar geralmente é substituído por aspartame ou sacarina sódica). • Suspensões: formas farmacêuticas líquidas que contêm partículas sólidas dispersas em um veículo líquido no qual as partículas não são solúveis; quando em repouso as partículas se depositam no fundo do frasco. Antes da administração, o frasco com a suspensão deve ser bem agitado para que as partículas se misturem no líquido. A suspensão pode vir pronta de fábrica ou pode trazer apenas o frasco com o pó e as instruções para sua preparação; neste caso, é chamada de suspensão extemporânea. • Loções: formas farmacêuticas líquidas, perfumadas ou não, utilizadas no tratamento externo da pele ou no couro cabeludo. • Emulsões: formas farmacêuticas líquidas com um ou mais princípios ativos que consistem em um sistema de duas fases que envolve pelo menos dois líquidos imiscíveis (que não se misturam) e nas quais um líquido é disperso na forma de pequenas gotas (fase interna ou dispersa) através de outro líquido (fase externa ou contínua). Normalmente são estabilizadas através de um ou mais agentes emulsificantes e podem ser de uso interno ou externo. • Tinturas: soluções alcoólicas ou hidroalcoólicas preparadas com materiais vegetais, minerais ou animais, destinadas à aplicação na superfície da pele ou ao uso sistêmico. • Óleos Medicinais: preparações líquidas obtidas da mistura de princípios ativos com óleo. Podem ser de uso interno, como os óleos utilizados para fins laxativos, ou de uso externo, como os óleos para obter hidratação da superfície da pele (por exemplo, dependendo do tipo de princípio ativo, o óleo de girassol, que tem alto poder hidratante, previne a formação de cicatrizes, melhorando a aparência da pele). 18 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I 1.1.2.3 Formas farmacêuticas semissólidas Há diferentes tipos de formas farmacêuticas semissólidas; veja a seguir detalhes sobre cada uma delas. • Pasta: forma farmacêutica semissólida contendo uma ou mais substâncias ativas destinadas a aplicação tópica. Geralmente contém alta concentração de materiais sólidos, em geral 25% de material sólido, que lhe confere elevada consistência. • Gel: forma farmacêutica semissólida de um ou mais princípios ativos que contém um agente gelificante. • Creme: forma farmacêutica semissólida que consiste em uma emulsão formada por uma fase lipofílica e uma fase aquosa. Contém um ou mais princípios ativos dissolvidos ou dispersos em uma base apropriada e é utilizada normalmente para aplicação externa na pele ou nas mucosas. • Pomada: preparação farmacêutica estável, semissólida, de consistência mole, destinada ao uso externo, constituída por um ou mais princípios ativos e por excipientes com características lipofílicas ou hidrofílicas. • Emplastro: forma farmacêutica semissólida para aplicação externa, consiste em uma base adesiva contendo um ou mais princípios ativos distribuídos em uma camada uniforme num suporte apropriado feito de material sintético ou natural. Destinada a manter o princípio ativo em contato com a pele de tal forma que este seja absorvido lentamente, atua como protetor ou comoagente queratolítico. • Unguento: apresenta em sua formulação substâncias resinosas. • Emulgel: são emulsões, tanto do tipo óleo/água como água/óleo, misturadas com um agente gelificante. 1.2 Vias de administração A via de administração é, por vezes, determinada pelas propriedades químicas (solubilidade) dos fármacos e pela meta terapêutica (efeito rápido, tempo de ação e acesso). As principais vias de administração são a enteral, a parenteral e a tópica. 1.2.1 Enteral A via enteral é dividida em oral (administração pela boca), sublingual (administração embaixo da língua) e retal (administração pelo ânus/reto). • Via oral (VO): a administração de medicamentos por via oral é segura, e os usuários podem autoadministrar, sendo, portanto, conveniente e econômico. No entanto, a absorção pode ser limitada pelo pH e pela microbiota, os alimentos podem interferir e se faz necessária a colaboração do usuário. Cabe ressaltar que a medicação por via oral não é indicada para pacientes apresentando náuseas, vômitos, dificuldade de deglutição ou que estejam em jejum para cirurgia. 19 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Figura 1 – Administração de medicamentos por via oral • Via sublingual (SL): os medicamentos sublinguais seguem o mesmo procedimento empregado para os de via oral, com a única diferença de a medicação ser colocada sob a língua. Para isso, solicita-se que o usuário abra a boca, repouse a língua no palato e, a seguir, coloque o medicamento sob a língua (em comprimidos ou gotas); o usuário deve permanecer com o medicamento sob a língua até que ocorra sua absorção total. Essa via evita o efeito de primeira passagem (biotransformação), não há contato com a acidez do estômago e é de rápida absorção (efeito muito veloz). Não são todos os fármacos que podem ser administrados dessa maneira, e as doses não costumam ser muito elevadas. Essa via costuma ser utilizada em urgências, como acontece com as medicações para precordialgia e para hipertensão. Figura 2 – Administração de medicamentos pela via sublingual • Via retal (VR): muitos medicamentos que são administrados por via oral podem também ser administrados por via retal, em forma de supositório. São receitados quando a pessoa não pode 20 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I tomar o medicamento por VO (como em situações de náuseas e vômitos, quando há impossibilidade de engolir ou restrições à ingestão, como ocorre após uma cirurgia). Pela via retal são aplicados também os enemas. As vantagens associadas a essa via são: evita-se parcialmente o efeito de primeira passagem, não ocorre contato com o ácido do estômago e há rápida absorção. Por outro lado, seu uso é limitado a apenas alguns tipos de fármacos e não é uma opção bem-aceita. 1.2.2 Parenteral Essa via introduz o fármaco diretamente na circulação sistêmica, evitando barreiras orgânicas. É utilizada quando há limitação ou impedimento de uso pela via enteral ou quando os fármacos são instáveis no trato gastrointestinal. Para usuários inconscientes, é uma via bastante utilizada. Não apresenta efeito de primeira passagem e tem maior biodisponibilidade. • Via intravenosa (IV): é a administração de medicamento diretamente na corrente sanguínea através de uma veia. A administração pode variar desde uma única dose até uma infusão contínua. Como o medicamento ou a solução é absorvidos imediatamente, a reposta do cliente também é imediata. A biodisponibilidade instantânea transforma a via IV na primeira opção para ministrar medicamentos durante uma emergência. Como a absorção pela corrente sanguínea é completa, grandes doses de substâncias podem ser fornecidas em fluxo contínuo. Contudo, tem limitações para alguns tipos de fármacos oleosos; as injeções em bolus podem causar toxicidade e requerem assepsia. Figura 3 – Administração de medicamentos pela via intravenosa • Via intramuscular (IM): trata-se de uma via de absorção mais rápida que a subcutânea; o músculo pode ser usado como depósito da droga para absorção lenta, principalmente de drogas insolúveis. Por essa via não podem ser administradas drogas irritantes, e ela não comporta grandes volumes; por isso, deve-se estar atento à quantidade a ser administrada em cada músculo (é necessário que o profissional realize uma avaliação da área de aplicação, certificando-se do volume que esse local pode receber). Atenção: não esqueça que esse volume irá depender da massa muscular do paciente e que quanto menor a dose aplicada, menor o risco de possíveis complicações. 21 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Figura 4 – Administração de medicamentos pela via intramuscular • Via subcutânea (SC): na via subcutânea (ou hipodérmica) os medicamentos são administrados debaixo da pele, no tecido subcutâneo. Por essa via a absorção é lenta, ocorrendo através dos capilares, de forma contínua e segura. Costuma ser usada para administração de vacinas (antirrábica e antissarampo), anticoagulantes (heparina) e hipoglicemiantes (insulina). As regiões de injeção SC incluem as superiores externas dos braços, o abdômen (entre os rebordos costais e as cristas ilíacas), a parte anterior das coxas e a superior do dorso. Essa via não deve ser utilizada quando o cliente tem doença vascular oclusiva e má perfusão tecidual, pois a circulação periférica diminuída retarda a absorção da medicação. Os locais de administração para essa via devem ser alternados com rigor, evitando iatrogenias, e o volume não deve exceder 1,0 ml. Figura 5 – Administração de medicamentos pela via subcutânea 1.2.3 Outras vias Além da via tópica, existem as vias transdérmica e inalatória. Vejamos melhor cada uma delas. • Via tópica: utiliza-se essa via quando os medicamentos são administrados diretamente no local de ação (peles ou mucosas). A absorção depende das condições do local de administração, bem como do modo de uso e da natureza do medicamento (veículo aquoso, oleoso ou alcoólico). 22 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I Figura 6 – Administração de medicamentos pela via tópica • Transdérmica: essa via proporciona efeitos sistêmicos pela aplicação do fármaco na pele, em geral por meio de adesivo cutâneo. A velocidade de absorção varia bastante de acordo com as características da pele. • Inalatória: é a via que se estende desde a mucosa nasal até os pulmões. Pode ser utilizada para efeito local (descongestionante nasal ou medicamento para asma) ou sistêmico (anestesia inalatória) e tem a vantagem de permitir a administração do fármaco em pequenas doses e com rápida absorção. A administração pode ser na forma de gás, pequenas partículas líquidas (nebulização) ou partículas sólidas (pó inalatório). Essa via é bastante utilizada para problemas respiratórios, quando, utilizando a comunicação existente com os pulmões, a administração é feita pela boca. Como o medicamento está em forma de gás ou pó, em vez de ser engolido (como acontece com a comida), ele percorrerá o trajeto do ar da respiração, passando pela traqueia até chegar aos pulmões. Lembrete A medicação por via oral não é indicada em clientes apresentando náuseas, vômitos, dificuldade de deglutição, ou que estejam em jejum para cirurgia. 1.3 Parâmetros farmacocinéticos A Farmacocinética estuda o que o organismo faz com o fármaco,ao passo que a Farmacodinâmica descreve o que fármaco faz no organismo. Uma vez administrado por uma das várias vias disponíveis, a velocidade do início da ação, a intensidade do efeito e a duração da ação do fármaco são determinadas pelas quatro propriedades farmacocinéticas descritas a seguir. • Absorção: local onde o fármaco será absorvido e de onde passará para a circulação sistêmica (plasma). 23 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA • Distribuição: refere-se à distribuição do fármaco por todo o organismo, considerando-se principalmente sua passagem do plasma para os tecidos. • Biotransformação: são modificações químicas que os fármacos sofrem no organismo, sobretudo no fígado. Essas modificações visam a aumentar a velocidade de eliminação do fármaco. • Eliminação: trata-se da passagem do fármaco ou de seus metabólitos (produto da biotransformação) de dentro do organismo para fora. As principais vias de eliminação são pelos rins (urina) ou pela vesícula biliar (bile e fezes). As variáveis farmacocinéticas permitem ao clínico elaborar e otimizar os regimes terapêuticos, incluindo as decisões quanto a: via de administração de cada medicamento, dose, frequência de administração e duração de todo o tratamento. 1.3.1 Absorção Consiste na transferência do fármaco de seu local de aplicação até a corrente circulatória. É um processo que influencia o início e a magnitude de efeito dos fármacos, atuando de forma determinante na escolha das vias de administração e das doses. Se um fármaco for inadequadamente absorvido, seus efeitos sistêmicos não ocorrerão. A absorção depende do fluxo sanguíneo no sítio absortivo, da extensão e espessura da superfície de absorção e das vias de administração escolhidas. Algumas situações fisiológicas (menstruação, puerpério) ou patológicas (edema, inflamação, ulceração) podem alterá-la. 1.3.2 Distribuição A distribuição dos fármacos é o processo pelo qual essas moléculas abandonam o leito vascular (plasma sanguíneo) e passam para o interstício (líquido extracelular) e para as células. Essa passagem depende principalmente do fluxo sanguíneo no local, da permeabilidade vascular, do volume do tecido-alvo, da afinidade do fármaco com as proteínas plasmáticas (principalmente albumina) e da hidrofobicidade do fármaco. • Fluxo sanguíneo: a velocidade do sangue varia muito de tecido para tecido; isso ocorre em razão de uma distribuição desigual do débito cardíaco (por exemplo, o fluxo sanguíneo para fígado, cérebro e rins é maior que para a musculatura esquelética, e outros tecidos têm um fluxo sanguíneo menor ainda). • Permeabilidade vascular: as estruturas dos capilares são diferentes entre os diversos tecidos. Por exemplo, os capilares hepáticos permitem uma maior passagem entre as moléculas presentes no plasma e o interstício, já os capilares do sistema nervoso central não permitem essa transferência de substâncias tão livremente; isso se deve à presença de células mais justapostas nos capilares do cérebro do que no fígado. 24 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I • Ligação dos fármacos às proteínas plasmáticas: os fármacos ligam-se às proteínas plasmáticas, e sua eficácia está diretamente associada ao grau em que ocorrem essas ligações. Quanto menor for a afinidade entre o fármaco e as proteínas plasmáticas, mais eficientemente o fármaco poderá transpor as membranas celulares ou se difundir. As proteínas com que os fármacos mais têm afinidade são albumina, lipoproteína, glicoproteína e globulina. Um fármaco existe no sangue em duas formas: ligado e não ligado às proteínas. Se a ligação à proteína for reversível, então um equilíbrio químico irá existir entre os estados ligado e não ligado, tal que: Proteína + fármaco ⇌ Complexo proteína-fármaco Notavelmente, é a fração não ligada (ou livre) que exibe efeitos farmacológicos e que pode ser metabolizada e/ou excretada. Por exemplo, a “fração ligante” do anticoagulante varfarina é de 97%; isso significa que 97% de toda varfarina presente no sangue está ligada a proteínas plasmáticas; os 3% restantes (fração não ligada) corresponde à que está realmente ativa e pode ser excretada. A ligação às proteínas pode influenciar a meia-vida do fármaco no organismo. A porção ligada pode atuar como um reservatório ou depósito do qual o fármaco é lentamente liberado na forma não ligada. Como a forma não ligada está sendo metabolizada e/ou excretada, a fração ligada será liberada a fim de que se mantenha o equilíbrio. • Hidrofobicidade do fármaco: a natureza química do fármaco influencia fortemente sua capacidade de atravessar membranas celulares. Os fármacos hidrofóbicos (que têm afinidade com porções lipídicas) movem-se mais facilmente através das membranas, podendo difundir-se por membranas ou porções lipídicas no organismo. 1.3.3 Biotransformação Como dito anteriormente, o fígado é o ponto principal de biotransformação de fármacos. Embora a biotransformação classicamente efetue a inativação de fármacos, alguns metabólitos são farmacologicamente ativos e, às vezes, muito mais que o composto original. Uma substância inativa ou fracamente ativa que tenha um metabólito ativo é denominada pró-fármaco, em especial se projetada para liberar a porção ativa de modo mais efetivo. Os fármacos podem ser biotransformados por oxidação, redução, hidrólise, hidratação, conjugação, condensação ou isomerização; no entanto, qualquer que seja o processo, o objetivo é facilitar sua excreção. As enzimas envolvidas na biotransformação encontram-se em muitos tecidos, mas, em geral, concentram-se no fígado. Os índices de biotransformação de fármacos variam entre os pacientes: alguns metabolizam um fármaco tão rapidamente que não se torna possível atingir as concentrações sanguínea e tecidual terapeuticamente efetivas; em outros, a biotransformação pode ser tão lenta que as doses usuais desencadeiam efeitos tóxicos. Os índices individuais de biotransformação de fármacos são influenciados por fatores genéticos, doenças coexistentes (em particular, hepatopatias crônicas e insuficiência cardíaca avançada) e interações de fármacos (em especial os que envolvem indução ou inibição de biotransformação). 25 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA Para muitos fármacos, a biotransformação ocorre em duas fases. As reações da fase I envolvem a formação de um grupo funcional novo ou modificado ou uma clivagem (oxidação, redução e hidrólise); essas reações não são sintéticas. As reações da fase II envolvem a conjugação com substância endógena (por exemplo, ácido glicurônico, sulfato e glicina); essas reações são sintéticas. Os metabólitos formados nas reações sintéticas são mais polares e mais prontamente excretados pelos rins (na urina) e pelo fígado (na bile) que aqueles formados por reações não sintéticas. Alguns fármacos são submetidos apenas às reações das fases I ou II, assim o número de fases reflete a classificação funcional em vez da sequencial. Cabe destacar que o sistema enzimático mais importante da fase I da biotransformação é o citocromo P-450 (CYP450), uma superfamília microssômica de isoenzimas que catalisam a oxidação de muitos fármacos. As enzimas do citocromo P-450 podem ser induzidas ou inibidas por muitos fármacos e substâncias, o que ajuda a explicar muitas interações em que um fármaco exacerba a toxicidade ou reduz o efeito terapêutico do outro. 1.3.3.1 Efeito de primeira passagem Um fármaco absorvido pelo trato gastrointestinalé difundido pelo sistema porta-hepático antes de alcançar a circulação sistêmica. Se o fármaco for rapidamente biotransformado no fígado durante essa passagem inicial, a quantidade inalterada que chega à circulação sistêmica diminuirá. Lembrete Metabolismo de primeira passagem é um fenômeno no qual a concentração do fármaco é significantemente reduzida pelo fígado antes de atingir a circulação sistêmica. 1.3.4 Eliminação A excreção pode ser definida como a passagem do fármaco da circulação sanguínea para o meio externo, sendo, então, removido de nosso organismo. A eliminação de fármacos requer que a substância seja suficientemente hidrofílica para uma excreção eficiente. A eliminação ocorre por numerosas vias, sendo a mais importante por meio dos rins, na urina. As características físico-químicas de um fármaco, como a solubilidade e o pH, interferem diretamente em seu comportamento no organismo. Fármacos com característica lipossolúvel tendem a sofrer melhor absorção, enquanto os hidrossolúveis são facilmente excretados. Em um meio com pH igual ao seu, o fármaco tende a ser absorvido melhor; porém, ao encontrar um meio com pH diferente, tende a sofrer ionização, tornando-se hidrossolúvel e aumentando sua taxa de eliminação. Muitos fármacos são ácidos ou bases fracos, sendo, portanto, lipossolúveis e de difícil eliminação. Para que ocorra a excreção, tais compostos sofrerão biotransformação ou conjugação com substâncias polares (hidrossolúveis), favorecendo a eliminação. Os fármacos podem ser eliminados em sua forma inalterada (forma original), inativa (metabólitos polares obtidos durante a biotransformação) ou polar e hidrossolúvel (composto parenteral). No sistema 26 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I circulatório, esses fármacos se apresentam ligados às proteínas plasmáticas ou podem circular livremente (não ligados). Na excreção renal, temos três importantes e distintos processos fisiológicos, conhecidos como filtração glomerular, reabsorção tubular passiva e secreção tubular ativa. Durante a filtração, as drogas que não estiverem ligadas às proteínas plasmáticas sofrerão passagem para dentro dos túbulos renais, através de poros presentes nos glomérulos. Nos túbulos renais dos néfrons, as drogas ainda podem sofrer reabsorção passiva e voltar para a corrente sanguínea, envolvendo transportadores de membrana presentes nas células epiteliais renais. Nesse processo, moléculas de ácidos e bases fracas não ionizadas sofrem reabsorção, ao passo que as moléculas no estado ionizado são passíveis de eliminação. Essa característica pode ser utilizada no manejo de drogas, diante de uma intoxicação, modificando o pH do meio para facilitar a excreção do fármaco em excesso no organismo. Já durante a secreção, algumas poucas substâncias, como ácidos e bases orgânicas, são secretadas do sangue capilar peritubular para o líquido tubular (espaço de Bowman) e, assim como na reabsorção, a secreção envolve transportadores de membrana. Com isso, tanto a filtração como a secreção oferecem mecanismos para que ocorra a excreção de substâncias através da urina. A excreção biliar envolve principalmente a eliminação de fármacos que não sofreram absorção (via oral) e de metabólitos excretados na bile ou, ainda, secretados diretamente para o trato intestinal e que não foram reabsorvidos, sendo eliminados nas fezes. 1.3.4.1 Meia-vida dos fármacos O tempo de eliminação do fármaco (ou seja, o tempo que o medicamento levará para ser excretado pelo organismo) dependerá das características próprias da substância. A meia-vida é determinada como o tempo necessário para que a concentração de um fármaco no organismo, após ter entrado em contato com a corrente sanguínea, seja reduzida à metade. De acordo com esse parâmetro, devemos também considerar o tempo que o fármaco leva para alcançar a circulação sanguínea (ou seja, ser absorvido), para só então estimar o real tempo de eliminação do composto do nosso organismo. Com isso, podemos entender que fármacos administrados por via endovenosa (que, portanto, não sofrem a etapa de absorção) terão como cálculo somente o tempo de meia-vida. Vale lembrar que pacientes com funções renal e hepática prejudicadas podem ter um aumento no tempo de meia-vida, em razão do comprometimento da atividade metabólica. 1.4 Parâmetros farmacodinâmicos A Farmacodinâmica é o estudo das alterações bioquímicas ou fisiológicas causadas no organismo pelos fármacos. A interação, em grau celular, envolvendo um medicamento e certos componentes celulares (proteínas, enzimas ou receptores-alvo) representa a ação do fármaco. A resposta decorrente dessa ação é o efeito do medicamento. 27 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA 1.4.1 Mecanismos de ação dos fármacos Na Farmacologia, a expressão mecanismo de ação refere-se à interação bioquímica específica através da qual uma substância medicamentosa produz o seu efeito farmacológico. Um mecanismo de ação inclui habitualmente a identificação dos alvos moleculares específicos aos quais o fármaco se liga, como uma enzima ou um receptor (os fármacos possuem afinidade específica com os receptores devido a sua estrutura química peculiar); os fármacos que não se ligam aos receptores e que produzem o seu efeito terapêutico correspondente agem simplesmente interagindo com propriedades químicas ou físicas do organismo; exemplos comuns de fármacos que funcionam dessa forma são antiácidos e laxantes. Ainda, o mecanismo de ação descreve alterações funcionais ou anatômicas, em grau celular, resultantes da exposição de um organismo ao fármaco. Elucidar o mecanismo de ação de novos medicamentos e medicamentos já em uso é importante por várias razões. Veja algumas delas a seguir. • No caso do desenvolvimento de fármacos antibióticos, o mecanismo de ação permite prever problemas relacionados com a segurança clínica. • Ao conhecer o local de interação envolvendo o fármaco e um receptor, novos fármacos podem ser criados, produzindo os mesmos efeitos terapêuticos (na verdade, este método é usado para criar novos fármacos). • Pode ajudar na identificação de quais pacientes são mais propensos a responder ao tratamento. • Pode permitir um melhor ajuste de dosagem, pois os efeitos do fármaco podem ser monitorizados no usuário (a dosagem de estatinas, por exemplo, é normalmente determinada medindo-se os níveis de colesterol no sangue do paciente). • Permite que os fármacos sejam combinados de tal modo que a probabilidade de surgir resistência a eles seja reduzida. • Possibilita que outras indicações para o medicamento sejam identificadas. O local de ligação do fármaco ao organismo é muito variado e, por isso, suas moléculas-alvo podem ser: enzimas, receptores, canais iônicos, moléculas transportadoras, entre outros. 1.4.2 Alvos de ação dos fármacos A expressão alvo biológico é frequentemente utilizada na investigação farmacêutica para descrever a proteína nativa no organismo cuja atividade será modificada por um fármaco (resultando num efeito específico, que pode ser um efeito terapêutico desejável ou um efeito adverso indesejado). Nesse contexto, o alvo biológico é frequentemente referido como um alvo de fármaco. 28 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I Enzimas As enzimas são catalisadores biológicos macromoleculares, pois aceleram ou catalisam reações químicas. As moléculas sobre as quais as enzimas podem agir no início do processo são chamadas de substratos; o resultadoda ação da enzima sobre essas moléculas são os chamados produtos. Quase todos os processos metabólicos na célula necessitam de enzimas para ocorrer em taxas suficientemente rápidas de forma a sustentar a vida. O conjunto de enzimas presente numa célula determina quais vias metabólicas ocorrem nela. As enzimas são conhecidas por catalisar mais de 5.000 tipos de reações bioquímicas, por isso, essas moléculas são excelentes alvos biológicos para ação dos fármacos. Canais iônicos e transportadores As proteínas de transporte presentes nas membranas (ou simplesmente transportadores) estão envolvidas no transporte de íons, pequenas moléculas ou macromoléculas através de uma membrana biológica. São proteínas transmembranares integrais, ou seja, existem permanentemente na membrana através da qual transportam substâncias. As proteínas podem auxiliar no movimento de substâncias por difusão facilitada ou transporte ativo, e os dois principais tipos de proteínas envolvidas nesses transportes são, em geral, categorizados como canais ou transportadores. Um transportador não está aberto simultaneamente nos ambientes extracelular e intracelular. Em contraste, um canal pode estar aberto a ambos os ambientes ao mesmo tempo, permitindo que os solutos que transporta possam se difundir sem interrupção. Os transportadores têm locais de interação com o ligante, mas os canais não se ligam às substâncias que transportam. Quando um canal é aberto, milhões de íons podem passar através da membrana por segundo, mas apenas 100 a 1.000 moléculas tipicamente passam através de uma molécula transportadora ao mesmo tempo. Cada proteína transportadora é projetada para reconhecer apenas uma substância ou um grupo de substâncias muito semelhantes. Os canais iônicos podem ser classificados como acionados por ligante ou acionados por voltagem (voltagem-dependentes) e são frequentemente utilizados como alvo de ação dos fármacos por estarem presentes principalmente em neurônios e células musculares, como as células cardíacas. • Os canais iônicos acionados por ligantes são também referidos como receptores ionotrópicos e são um grupo de proteínas que se abrem para permitir que íons como Na+, K+, Ca+2 e/ou Cl- passem através da membrana em resposta à ligação de um mensageiro químico ligante, por exemplo, um neurotransmissor. Quando um neurônio pré-sináptico é excitado, libera o neurotransmissor das vesículas para a fenda sináptica. Esse neurotransmissor se liga, então, aos receptores localizados no neurónio pós-sináptico (geralmente esses receptores são canais iônicos), levando a uma alteração conformacional e resultando na abertura do canal, o que conduz a um fluxo de íons através da membrana celular. Isso, por sua vez, resulta quer numa despolarização, para uma resposta do receptor excitatório, quer numa hiperpolarização, para uma resposta inibidora. • Os canais iônicos dependentes de voltagem são uma classe de proteínas transmembranares que são abertas por mudanças no potencial da membrana elétrica próxima ao canal. O potencial da 29 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA membrana altera a conformação das proteínas do canal, regulando sua abertura e seu fechamento. As membranas celulares são geralmente impermeáveis aos íons, que precisam difundir-se através dela (membrana plasmática) pelos canais iônicos. Eles têm um papel crucial em células excitáveis, como tecidos neuronais e musculares, permitindo uma despolarização rápida e coordenada em resposta à mudança de tensão de disparo. Encontrados ao longo do axônio e na sinapse, os canais de íons com voltagem direcional propagam direcionalmente os sinais elétricos. Os canais iônicos dependentes de voltagem são geralmente específicos aos íons – foram identificados canais específicos para os íons sódio (Na+), potássio (K+), cálcio (Ca+2) e cloreto (Cl-). A abertura e o fechamento dos canais são desencadeados pela alteração da concentração de íons e, por conseguinte, pelo gradiente de carga entre os lados da membrana celular. Receptores Os receptores são moléculas proteicas encontradas geralmente nas membranas plasmáticas das células, contudo os receptores de hormônios esteroides são encontrados no citoplasma das células. As moléculas capazes de interagir com esses receptores são chamadas de ligantes, e quando ocorre essa ligação os receptores se ativam e desencadeiam respostas celulares diversas. Entre os principais ligantes estão compostos sensíveis à luz, odores, ferormônios, hormônios e neurotransmissores. Os ligantes variam em tamanho, desde moléculas pequenas até proteínas grandes. Os receptores acoplados à proteína G estão envolvidos em muitas doenças e também são alvo de aproximadamente 40% de todos os medicamentos modernos. Observação A identificação da origem de uma doença e dos potenciais alvos de intervenção é o primeiro passo para a descoberta de um medicamento. São usadas várias abordagens diferentes para isso, como a estabilidade de ligação e a afinidade do alvo com o fármaco. 1.4.3 Classificação dos fármacos Os fármacos podem ser classificados de acordo com o tipo de efeito causado ou como bloqueadores do efeito da biomolécula natural do organismo. Agonista O fármaco agonista é uma molécula que se liga a um receptor e o ativa para produzir uma resposta biológica. Os receptores podem ser ativados por agonistas endógenos (hormônios e neurotransmissores) ou por agonistas exógenos (como os fármacos), resultando em uma resposta biológica (efeito). Um agonista fisiológico é uma substância que produz as mesmas respostas biológicas, mas não se liga ao mesmo receptor do agonista endógeno. Os agonistas podem ser classificados em oito grupos distintos. 30 EN F - R ev isã o: Ta lit a - D ia gr am aç ão : F ab io - 25 /0 5/ 20 16 - RE di m en sio na do : M ar cíl ia – D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 20 /1 2/ 18 Unidade I Antagonista Um antagonista (às vezes chamado também de bloqueador) é um tipo de ligante de receptor ou fármaco que bloqueia ou impede respostas mediadas por agonistas. Exemplos incluem alfabloqueadores, betabloqueadores e bloqueadores dos canais de cálcio. Em Farmacologia, os antagonistas têm afinidade, mas sem eficácia, com os seus receptores específicos, e a sua ligação ao receptor irá atrapalhar a interação (a função) de um agonista (ou agonista inverso) nesses receptores. Os antagonistas medeiam os seus efeitos ligando-se ao sítio ativo ou a sítios alostéricos nos receptores, ou interagindo em locais de ligação únicos que normalmente não estão envolvidos na regulação biológica da atividade do receptor. A atividade antagonista pode ser reversível ou irreversível, dependendo da efetividade do complexo antagonista-receptor, o qual, por sua vez, depende da natureza da ligação antagonista-receptor. A maioria dos antagonistas atinge a sua potência ao competir com os agonistas endógenos ou substratos endógenos em locais de ligação estruturalmente definidos nos receptores. Observação O antagonismo é um fenômeno em que a exposição a um químico resulta na redução do efeito de outro químico. 2 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO O sistema nervoso autônomo (SNA) é uma divisão do sistema nervoso periférico que controla a musculatura lisa e as glândulas e, portanto, influencia a função dos órgãos internos. Trata-se de um sistema de controle que atua inconscientemente e regula funções corporais em geral, como a frequência cardíaca, a digestão, a frequência respiratória, a resposta pupilar, a micção e a excitação sexual. No sistema nervoso central é o hipotálamo que coordena o SNA. O SNA é dividido em dois subsistemas: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático. O sistema nervoso simpático é muitas vezes considerado o sistema