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GESTÃO EM PROGRAMAS E PROJETOS SOCIAIS Professor Dr. Edson Marques Oliveira GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; OLIVEIRA, Edson Marques. Gestão em Programas e Projetos Sociais. Edson Marques Oliveira. Maringá - PR: Unicesumar, 2018. Reimpresso em 2025. 180 p. “Graduação - EaD”. 1. Gestão. 2. Projetos. 3. Sociais. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0581-3 CDD - 22 ed. 361 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Coordenador de Conteúdo Maria Cristina Araujo de Brito Cunha Qualidade Editorial e Textual Daniel F. Hey, Hellyery Agda Design Educacional Giovana Cardoso Iconografia Isabela Soares Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Matheus Felipe Davi Revisão Textual Pedro Afonso Barth Daniela Ferreira dos Santos Cintia Prezoto Ferreira Ilustração Marcelo Goto Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis- so, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R Professor Dr. Edson Marques Oliveira Pós-doutorado em ciências sociais pela Universidade de Coimbra (UC/2015), Portugal. Pós-doutorado em Administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR/2015). Doutor em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/2004). Mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP/1996). Bacharel em Serviço Social pela Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS/1989). Certificado Internacional de Coach e Trainer Coaching pela Lambent do Brasil e Neurocoaching pelo IBC, Brasil. Professor associado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), no curso de Serviço Social. Membro Grupo Gepec e coordenador Grupo Gesicur da Unioeste. Ganhador do Prêmio Ethos-Valor de Responsabilidade Social Empresarial e Sustentabilidade edição de 2007. SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) aluno(a), sou o Prof. Edson Marques Oliveira, seja bem-vindo(a) à disciplina Ges- tão de Programas e Projetos Sociais. Preparei este material com o intuito de apresentar a você os principais conceitos e elementos que envolvem a gestão social (o planejamen- to, a organização, a direção e controle) na elaboração de planos, programas, projetos e serviços na área social. Esse conhecimento é de fundamental importância, visto que é a forma em que o trabalho profissional do assistente social se materializa e se diferencia do trabalho de um leigo e um amador. Essa tarefa envolve vários fatores, tais como: pessoas, organizações, recursos, meio am- biente, tecnologias e vários problemas a serem resolvidos, demandas que são reivindi- cadas, entre outros. O que torna essa tarefa complexa, mas, também, muito gratificante, estimulante e desafiadora, pois exige imaginação e muita criatividade quanto ao exer- cício prático de valores tão preciosos, como ética, solidariedade, cooperação, participa- ção e, sobretudo, objetividade, além da promoção de uma ação concreta, inovadora e transformadora. Considerando essa importância e complexidade é que preparei esse nosso estudo de forma a explicitar os principais conhecimentos que você poderá usar em sua prática profissional e ser bem-sucedido em suas ações. Espero, também, que, a partir da leitura das unidades, você possa saber apresentar e concretizar ações que possam, de fato, fa- zer valer o seu preparo como profissional, que tem como principal foco ler a realidade criticamente, e irpensamento sistêmico e pragmá- tico crítico. Chamei a atenção para o fato de que no Serviço Social é preciso, dar a atenção a essas três configurações para realizar um processo de intervenção profissional mais eficaz, principalmente considerados os desafios do trabalho intersetorial e interdisciplinar. Isso requer; dos profissionais, mais do que discursos bem intencionados de revolução. Pois, não basta ler criticamente a sociedade e dizer que tem que trans- formá-la, mas é preciso saber como fazer isso. É esse o maior desafio da atualidade para o Serviço Social, dar visibilidade, materialidade e, sobretudo, resultados congruentes com o falar e o fazer. O que me faz lembrar uma verdade dita a quase 100 anos por Mary Richmond (apud SILVA, 2004, p. 105) que afirma que assim como o escritor é um artífice em sua profissão, assim também o assistente social deve ser em sua área de atuação, ou seja, “um artífice das relações sociais”. Com isso, ouso afirmar, e espero que você concorde comigo, que o assis- tente social no século XXI é um profissional artífice do design social, em que, junto com os nossos usuários e clientes, encontramos os recursos e estratégias para superar a pobreza, desigualdade e injustiças de nosso tempo. Vamos abrir as mentes e corações para realizar um ótimo trabalho no campo da gestão social. 40 1. Dos eixos de contextualização que apresentamos e que interferem no pensar e agir na área de gestão social, qual que lhe chamou mais atenção? Explique essa escolha. 2. Conceitue, com suas palavras, o que seria o paradigma-sistêmico-crítico? 3. Por que uma ideológica revolucionária tem problemas de materialização de ações concretas na intervenção social por meio do Serviço Social? 4. Das três configurações apresentadas, qual, na sua opinião, mais interfere na ela- boração e gestão de programas, projetos e serviços sociais? 5. Na sua opinião, considerando o que foi apresentado nessa primeira unidade, qual a importância da habilidade e competência de gestão de projetos sociais para o assistente social na atualidade? 41 RESENHA: AS FONTES DO SELF, DE CHARLES TAYLOR O filósofo canadense Charles Taylor, autor do excelente Hegel-Sistema, Método e Estru- tura, procurou analisar, em sua obra As Fontes do Self, a evolução da consciência de si no mundo ocidental desde suas origens gregas até o mundo moderno. Taylor procura ser bastante honesto com o leitor desde o início, portanto, não esconde suas preferências pessoais durante todo o livro. Começando com Homero, esse o representante clássico da ética do guerreiro que busca a glória nesse mundo em incontáveis batalhas, Taylor crê que essa mentalidade, que não consegue estabelecer qualquer conceito de um bem maior do espírito, nunca deixou de existir no Ocidente. Basta lembrarmo-nos da cava- laria medieval e da prática dos duelos. Com Platão, surge uma filosofia que situa o Bem fora desse mundo, pois Platão cria o conceito do hiperbem. Platão associa esse Bem à imagem do Sol (o Filho que se mostra na narrativa platônica), situada no alto e que ilumina a todos os seres humanos. Para ele, a felicidade não era possível nesse mundo, nem mesmo por meio da prática da virtude, o que é uma opinião bem diferente de vá- rios outros filósofos ao longo da história. Platão, de certa maneira, cria a vida interior na alma do homem, situando o Bem em um mundo imaterial, o qual pode ser alcançado pelo autocontrole e pela criação dentro do homem do “Estado interior”, desconfiando sempre de qualquer apoio do mundo material para alcançarmos essa meta. Aristóteles, como sempre, vai tentar desfazer de mais um alto pensamento de Platão, pois, para ele, a noção do hiperbem não é válida. Aristóteles desconfiava desse ascetis- mo platônico e tentou criar uma concepção de Bem que abrigasse a comida, a bebida, o sexo etc., diz Taylor. De certa forma, Aristóteles vai negar qualquer tentativa de um filó- sofo platônico e do monge cristão de elevar-se acima do mundo a nossa volta. Séculos mais tarde isso vai ser incorporado ao protestantismo. O platonismo, contudo, irá gerar um belíssimo fruto que é a filosofia de Santo Agostinho, que é muito elogiado por Taylor, e com muita justiça. Agostinho aceita a ideia platônica do hiperbem, mas a associa a Deus. Agostinho, segundo Taylor, também absorve e en- sina a existência das Ideias arquetípicas. Todas as coisas do mundo são expressões do pensamento divino. Por meio de sua obra Confissões, Agostinho coloca, pela primeira vez em um livro, toda uma experiência de vida, que irá servir de modelo para os euro- peus por vários séculos, desde Montaigne até Rousseau. Passando pela Idade Média e chegando à Filosofia Moderna, Taylor é bastante duro com John Locke e seu liberalismo (Taylor é um crítico famoso do pensamento liberal). Ele acusa Locke de atomizar a sociedade e ignorar qualquer tentativa do ser humano de si- tuar a mente em algum Bem extramundano. Filósofos modernos que seguem a linha de pensamento liberal também são criticados, como John Rawls, isso porque o liberalismo, segundo Taylor, evita sair da linha de pensamento que define o bem como algo localiza- do e individualizado, pois para os liberais o bem tende a ser muito relativo. É o famoso o que é bom para você não é bom para mim. 42 Taylor escreve que o pensamento liberal é claramente fruto do nominalismo de Ockham. Não só o liberalismo mas também o protestantismo. O nominalismo destruiu o universal e atomizou a sociedade e a ciência, produzindo muitos dos seus efeitos durante séculos, mesmo nos dias de hoje. Nenhum Bem situado acima deste mundo, juntamente com seres isolados e buscando por conta própria sua felicidade produziu um ressurgimento do aristotelismo dentro da religião calvinista, afirma Taylor. Calvino (e os protestantes), criando a conceito de vocação, valorizaram as atividades diárias do ser humano, mas isso ao custo altíssimo de negar qualquer tentativa do homem transcender o mundo através do isolamento e das práticas ascéticas, como era na Antiguidade e no mundo Medieval. O resultado foi talvez nem tanto uma elevação das atividades manuais, mas sim um notável rebaixamento do Filósofo e do monge. Como afirmei, Taylor é um defensor da concepção platônica do hiperbem. O mundo moderno tende a ver a natureza como uma fonte de amoralidade, como o próprio Taylor demonstra na parte final. Isso não é surpreendente, pois como afirma Bertrand Russell, a partir desse mundo não podemos ter qualquer ideia dos bens eternos e da verdadeira fonte moral. Sim, o mundo foi criado por um ato de bondade divina, mas isso não quer dizer que devemos ter uma visão de “sapo”, olhando apenas para baixo como quiseram muitos ao longo da história. É preciso olhar para a origem da bondade da Criação, e isso quer dizer olhar para o alto. As Ideias platônicas continuam sendo a fonte que ilumina o pensamento humano há mais de 2300 anos. Fonte: Pinta e Felipe (2015, on-line)1. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Serviço Social e Sustentabilidade Humana: o empreendedorismo social como estratégia de efetivação de Direitos. Edson Marques Oliveira Editora: Appris Ano: 2013 Sinopse: este livro apresenta uma visão diferenciada do Serviço Social como disciplina cientifi ca e profi ssional no contexto da sociedade do conhecimento e da informação. Tendo o empreendedorismo social e o conceito de sustentabilidade humana como escopo teórico-metodológico estratégico na dinâmica de efetivação de direitos já conquistados e de busca de novos direitos. Um Plano Brilhante Ano: 2008 Sinopse: um fi lme de 2008, com duas grandes feras do cinema norte-americano. Michael Caine e Demi Moore. Ela, fazendo o papel de uma executiva de uma grande empresa global, na cidade de Londres, Inglaterra na década de 30 do século XX, sofre a discriminação de ser mulher em um mundo corporativo machista e vê as oportunidades de promoção ser roubadas vez após vez apenas por causa de sua condição feminina e consequentedesvalorização de seu trabalho e talento profi ssional. Ele, o papel de um faxineiro, que trabalha há muito tempo na mesma empresa e na mesma função, e esconde um segredo e uma profunda mágoa de seus empregadores. Esse sentimento faz com esses dois personagens se juntem para planejar um plano brilhante, e com isso se vingarem de seus malfeitores, os patrões da grande corporação. Comentário: mostra o quanto as pessoas são afetadas pelo contexto, pelas relações sociais e principalmente pelo ambiente organizacional. conceito de sustentabilidade humana como escopo teórico-metodológico um fi lme de 2008, com duas grandes feras do cinema norte-americano. Michael Caine e Demi Moore. Ela, fazendo o papel de uma executiva de uma grande empresa global, na cidade de Londres, Inglaterra na década de 30 do machista e vê as oportunidades de promoção ser roubadas vez após vez apenas trabalho e talento profi ssional. Ele, o papel de um faxineiro, que trabalha há muito tempo na mesma empresa e na mesma função, e esconde um segredo e uma profunda mágoa de seus empregadores. Esse sentimento faz com esses dois personagens se juntem para planejar um plano brilhante, e com isso se vingarem mostra o quanto as pessoas são afetadas pelo contexto, pelas REFERÊNCIASREFERÊNCIAS ARANDA, M. Pragmatismo, interaccionismo simbólico y trabajo social. De como la caridad y la filantropia se hicieram científicas. Dissertação de doutoramento em Antropologia Social e Cultural. Roma, Universitat Rovira i Virgili, 2003. BERTALANFFY, L. V. Teoria General de los Sistemas. 10. ed. México: FCE, 1995. BOBBIO, N. As ideologias e o poder em crise. Trad. de João Ferreira. Brasília: Edito- ra Universidade de Brasília, 1999. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangen- te da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. DALRYMPLE, T. 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Seria o sentimentalismo e romantismo que leva a um pensar puramente ideoló- gico sem consequências práticas, no tocante à gestão social só causa distorções, levando a um gasto e ineficiência de resultados. 2. Em linhas gerais, seria a fusão de duas escolas epistemológicas (de pensamen- to) o pragmatismo norte-americano e o pensamento sistêmico vindo da teoria geral dos sistemas. 3. Porque os propósitos de um pensamento revolucionário não é congruente com o de uma profissão, pois uma profissão visa prestar serviços de boa qualidade e um pensamento revolucionário é típico de ONGs ativistas com propósitos mili- tantes e não profissionais. 4. As três são de máxima importância, estará correto se for apontada as seguintes e principais características de importância para cada uma: a) contexto = mudan- ças dos valores, comportamento das pessoas e formas de governança e forma- tação das políticas públicas; b) pessoas = são afetadas pelas novas configurações societárias, uma centralidade do ego, na personalização e no narcisismo, o que compromete a busca de soluções que visem o bem comum e c) organizações = os impactos do contexto, e do modo de pensar e agir das pessoas, determinam o formato das organizações, o que via, de regra, compromete o modo de elaborar e gerenciar os programas, projetos e serviços sociais. 5. Em linhas gerais espera-se que o(a) aluno(a) perceba que não basta ter uma vi- são crítica da sociedade, é preciso ir além, o que requer uma visão criativa e pro- positiva que se materializa em ações práticas por meio da elaboração e gestão de programas, projetos e serviços sociais que de fato atinjam as necessidades tanto das organizações como dos clientes – usuários das atividades dos assis- tentes sociais. U N ID A D E II Professor Dr. Edson Marques Oliveira CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender melhor o conceito e caracterização da gestão e da gestão social. ■ Analisar a importância do conceito e das funções da gestão para a prática profissional e na gestão de programas e projetos sociais. ■ Identificar os elementos fundamentais da gestão de planos, programas, projetos e serviços sociais. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Importância e consonância da área e atividade administrativa no Serviço Social ■ Administração ou gestão? ■ Gestão social ou gestão do social? ■ Elementos básicos e funções da gestão Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Na unidade anterior, vimos o quanto é importante per- cebermos as três configurações: contexto, pessoas e organizações, bem como a peculiaridade que é trabalhar no campo da gestão social, pois essas três confi- gurações, mais o paradigma que se tem, pode alargar, como estreitar a visão e, conseguintemente, a ação dos profissionais de Serviço Social. Por isso, estoupropondo que vocês sejam profissionais corajosos e corajo- sas e ousem pensar além do pensamento hegemônico, marxista, que predomina em nossa categoria na atualidade, e no Brasil, fugindo dos males tóxicos do bom pensar e exercitando a filosofia de carne e osso, como sugere Miguel de Unamuno (2013). E, para isso, cabe agora refletirmos sobre o principal ponto quanto à gestão de programas e projetos, que é a noção mais precisa e acertada do que seja gestão, de forma geral, a gestão social, de forma específica, e como isso é importante para a prática profissional e como é sua materialização em nossas ações cotidianas. Note que estou propondo uma reflexão que visa ir além da visão crítica da realidade social, que é extremamente importante, nunca se deve perder de vista essa dimensão da vida profissional. Mas também quero chamar a atenção para o fato de que é preciso ir além, ou seja, é preciso dominar o conhecimento e as habilidades que podem, de fato, da visibilidade a nossa prática - e o domínio e entendimento da gestão - e, prin- cipalmente, da gestão social, para serem muito importante para essa finalidade. Para isso, veremos quatro pontos vitais para essa reflexão e preparo para ser um bom profissional na gestão de projetos sociais. Serão os seguintes pon- tos: a) importância e consonância da área e atividade administrativa no Serviço Social; b) administração ou gestão?; c) gestão social ou gestão do social? e, por fim, d) elementos básicos e funções da gestão aplicadas no campo da gestão social. Bons estudos! CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E50 IMPORTÂNCIA E CONSONÂNCIA DA ÁREA E ATIVIDADE ADMINISTRATIVA NO SERVIÇO SOCIAL Ao longo de minha carreira como assistente social, houve muita coisa estranha sobre a nossa prática. Uma delas é dizer que o Serviço Social e seus profissio- nais nada têm a ver com administração ou burocracia. Nada mais enganoso do que acreditar em uma coisa dessas, pois bem, ao contrário, o Serviço Social no século XXI tem tudo a ver com a gestão. E se considerarmos um dos espaços que mais emprega os profissionais, área pública e assistência social, dada a con- figuração da gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), é repleto de elementos estruturais e processuais de gestão, isso só para dar um exemplo. Mas a maior e principal evidência de nossa vinculação com o campo da gestão está na própria Lei Nº 8.662/93 (1993 on-line)¹ que regulamenta nossa profissão, e considera privativo a esse profissional o exercício das seguintes atribuições: I. Coordenar, elaborar, executar supervisionar e avaliar estudos, pesqui- sas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social. II. Planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidades de Serviço Social. III. Assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública direta e Indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social [...]. IV. Dirigir serviços técnicos de serviço Social em entidades públicas e pri- vadas. [...]. Além desses pontos, vemos em estudos, como de Úrsula M. Simon Karsch, no livro Serviço Social na era dos serviços (KARSCH, 1986, p. 36), que destaca: “as necessidades exacerbadas pela publicidade justificam novos serviços para novas necessidades que, no mundo moderno, desenvolvem uma proliferação de for- mas de atendimentos ao homem, administrados por profissionais.” Em outros termos, vivemos na era dos serviços e a maior parte dos serviços estão relacio- nados à produção de conhecimento, de informação e inovação. O campo social não foge à regra, ao contrário, precisa entrar nessa regra, caso contrário, como ©shutterstock Administração ou Gestão? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 51 dizíamos nos anos 80, perderemos o bonde da história. Essa constatação está diretamente ligada ao que foi sinalizado na unidade um, principalmente quanto aos eixos de contextualização, lembra? Sobretudo quando destaquei que hoje predomina uma forte influência do romantismo e sentimenta- lismo que não permite atuar no campo público e social de forma mais objetiva e racional. Entre os serviços que mais crescem nessa área estão os serviços de apoio e atendimento pessoal, entre eles, do trabalho de assessoria e consultoria que são perfeitamente plausíveis serem exercidos pelos assistentes sociais. Mas isso é outra história e outra matéria, mas que está diretamente ligada a nossa reflexão, pois como as atividades de assessoria e consultoria se materializam? Exatamente como vocês devem ter imaginado. Por meio de planos, programas, projetos e serviços sociais. Então, as questões relacionadas à administração, gestão e gestão social estão mais do que relacionadas ao Serviço Social. Na verdade, fazem parte da consti- tuição organizada da prática profissional. Mas é preciso saber melhor diferenciar alguns conceitos e termos, como veremos no próximo tópico. ADMINISTRAÇÃO OU GESTÃO? Não só no Serviço Social, mas principal- mente nessa área, é comum fazer certa confusão com alguns termos. O princi- pal é administração: será que é a mesma coisa de gestão? Isso é decorrente ao fato de encontrarmos, tanto na literatura cor- rente como na fala cotidiana de vários profissionais, os termos administração e gestão sendo usados de formas varia- das. Por que é importante essa distinção? Primeiro que toda ação sem precisão de conceitos pode gerar equívocos tanto na concepção do processo de elabo- ração de programas e projetos sociais com o de seus resultados práticos. Nesse CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E52 sentido, é preciso ter clareza a respeito desses dois termos para se ter uma visão mais objetiva da reflexão sobre o tema, de forma geral, e para o Serviço Social, de forma específica. Então preste atenção. A palavra administração está ligada à noção de orga- nização da vida em sociedade e de setores específicos. As primeiras expressões de administração, no sentido organizacional, são advindas da formação dos exércitos e das religiões, dos quais grande parte das organizações, tanto públi- cas como privadas, foi, e é, profundamente influenciada. Os primeiros esboços dos princípios da administração como disciplina remontam as ações efetuadas por civilizações, como a dos egípcios e dos hebreus e até por civilizações como a dos sumérios, datados de mais de 5.000 anos (SILVA, 2001). Até chegar ao estágio da administração científica no século XIX, a adminis- tração passou por vários processos e complementos na busca de melhor trabalhar com as pessoas, gerir as organizações e os recursos para se chegar a determina- dos objetivos. Administração se refere a uma disciplina que contém um conjunto de princípios, teorias, conhecimentos e procedimentos, principalmente volta- dos para o exercício das funções básicas de planejamento, organização, direção e controle. Na Unidade II, detalho cada uma dessas funções. Há um processo histórico do pensamento e da construção da teoria da administração que passa, como sinaliza Silva (2001), por momentos históricos, apresentados a seguir. ■ Clássica e científica: acompanhou a evolução do surgimento da sociedade industrial. Nessa fase, destacaram-se duas grandes linhas, a científica, de Frederick Winslow Taylor (1986-1915) e Jules Henri Fayol (1841-1925), e a burocrática, de Max Weber (1864-1920). ■ Humanística: foi marcada pelas mudanças do pós II Guerra Mundial e dos novos processos produtivos e surgiu a partir de uma maior preocu- pação com o comportamento dos seres humanos no processo produtivo. Teve como expoentes as teorias de transição, relações humanas, escola comportamentalista e teoria estrutural.Administração ou Gestão? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 53 ■ Quantitativista: era expressa nas abordagens das pesquisas operacionais, sistemas de informação gerencial e na utilização de instrumentos estatísti- cos e informatizados. Foi amplamente utilizada nos processos de logísticas e influenciou o surgimento de áreas específicas de gestão, como a logís- tica e a administração de produção. É uma abordagem que dá ênfase à lógica quantitativa dos elementos de análise do processo de administração. ■ Moderna e contemporânea: teve como principais expoentes a teoria dos sistemas, teoria das contingências, desenvolvimento organizacio- nal, administração de objetivos e da qualidade total ou administração enxuta, em outros termos. É fruto das inovações tecnológicas da era da revolução tecnológica, marcada, sobretudo, pela gestão da informação e do conhecimento. ■ Complexidade e auto-organização: é uma teoria recente com forte influ- ência da teoria da complexidade de Edgar Morin e do biólogo Humberto Maturana. Ampliou as possibilidades de uma gestão que lida com cená- rios de incerteza e mudanças constantes. É uma abordagem que sinaliza a busca pelo diferente, pela complexidade, não como coisa difícil, mas entrelaçada, que dá conta das múltiplas faces dos processos de gestão e busca por resultados, não só quantitativos, mas também qualitativos e significativos. A partir desse processo histórico evolutivo, a administração apresenta vários pontos de vista para ser conceituada. Dois entendimentos são básicos. No primeiro entendimento, administração é uma disciplina científica cons- tituída como uma ciência social aplicada. Como tal, é exercida por profissionais formados por essa disciplina, que são os(as) administradores(as). Segundo, é uma atividade que pode ser realizada por pessoas que exercem algum tipo de atividade que necessite gerir seres humanos e recursos para buscar objetivos e resultados dentro de um tipo de organização. No segundo entendimento, compreende-se que o domínio dos conhecimentos da disciplina administração permitirá um melhor desempenho. O não domínio desse conhecimento poderá apresentar resultados, mas não efetivamente como sendo uma administração, considerando os aspectos fundamentais da disciplina. CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E54 É nesse ponto que muitas atividades que necessitam, em sua prática, do conhecimento da administração pecam profundamente por não dominarem minimamente os fundamentos da administração, o que fica patente nos resul- tados pífios que muitas ações expressam ao longo de determinado período e um determinado montante de investimento de recursos e de ações realizadas, em específico no campo da gestão social. Logo, é possível perceber duas aplicações da administração dos conheci- mentos da disciplina administração, tanto para as disciplinas do conhecimento humano quanto para as específicas do Serviço Social. A primeira é em rela- ção à atividade profissional do assistente social (visão endógena) e a segunda é em relação à sua ação de intervenção e ao cumprimento de suas competências (visão exógena). Para melhor compreensão dessa análise, vejamos alguns con- ceitos sobre o que é administração no Quadro 1. Quadro 1 - Administração segundo alguns autores AURÉLIO (2004, p. 53). [...] ação de administrar. Gestão de negócios públicos ou particulares. Governo, regência [...] Conjunto de princípios, normas e funções que têm por fim ordenar os fatores de produção e controlar a sua produtividade e eficiência, para se obter determinado resultado. AURÉLIO (2004, p. 53). Administrar é “gerir (negócios públicos ou particulares), reger com autoridade suprema. Governar, dirigir [...]." HAMPTON (1992, p. 9). O trabalho envolvendo a combinação e a direção da utilização dos recursos necessários para atingir ob- jetivos específicos chama-se administração [...] inclui planejamento, organização, direção e controle. SILVA (2001, p. 6). Administração é um conjunto de atividades dirigidas à utilização eficiente e eficaz dos recursos, no sentido de alcançar um ou mais objetivos ou metas organizacio- nais. Fonte: o autor. A partir desses conceitos, é possível destacar alguns elementos fundamentais que se relacionam à administração: a) Pessoas; b) Organizações; c) Tarefas; d) Objetivos; e) Recursos; f) Metas e tempo; g) Ações e resultados e h) Avaliação e melhoria contínua. Administração ou Gestão? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 55 Esses elementos fazem com que a administração seja uma disciplina trans- versal à vida humana moderna, principalmente se considerarmos que sua constituição como disciplina só ocorreu em meados do século XX, mas, em sua essência, os princípios remontam a antiguidade e, mais em específico, por meio de outros tipos de organizações, como o exército e as igrejas. Mas é no conceito de um dos maiores especialistas da administração que se encontra um entendimento que é importante ao Serviço Social. Administração é uma ação que se constitui como uma prática que lida com o ser humano em sociedade, portanto, é um processo social. A administração, como disciplina e como prática, lida com valores humanos e sociais. Sem dúvida, a organização existe para alguma fi- nalidade além de si mesma [...] a invenção moderna peculiar que cha- mamos de administração organiza os seres humanos para atuação conjunta e cria uma organização social. Mas, somente quando a ad- ministração consegue tornar capaz de alcançar os objetivos e resulta- dos externos desejados (DRUCKER, 1989, p. 220, grifo nosso). Esse entendimento de administração ressalta o dimensionamento da importân- cia de dois elementos centrais para a ação do Serviço Social: a) o ser humano inserido no campo social e organizacional e b) os valores como forma de orga- nização do viver em sociedade para alcançar objetivos e resultados desejados. Drucker (1989) reforça que a administração se torna uma das disciplinas de maior importância para o século XXI, pois todas as ações são geridas por meio de organizações. A partir do advento da revolução da informação e do conheci- mento, administrar não se limita às organizações empresariais. Muito ao contrário, sua aplicação e importância são também para as organi- zações públicas e as suas funções, na busca de resultados públicos e coletivos de maior importância, sentido e significado, pois a gestão pública, como a privada, tem que mostrar resultados. O que também não é diferente para as organizações do terceiro setor, que inclusive vem buscando, no segundo setor (empresarial), modelos e estratégias de gestão para suprir suas necessidades. CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E56 Logo, administrar, nos dias atuais, tem o entendimento de uma ação que perpassa o sentido limitado ou restrito de administração de empresas ou de negó- cios privados. Isso significa que nossa vida pessoal e profissional também deve ser administrada, principalmente se levarmos em conta o contexto de constante mudança no qual vivemos atualmente. Já o termo gestão tem sido amplamente utilizado, principalmente a partir das últimas décadas do século XX. Vejamos alguns conceitos sobre esse termo. Carvalho (1999, p. 19) entende que, [...] quando falamos em gestão social, estamos nos referindo à gestão das ações sociais públicas. A gestão social é, na realidade, a gestão das demandas e das necessidades dos cidadãos. A política social, os progra- mas sociais, os projetos são canais e respostas a essas necessidades de demandas(grifo nosso). Bronzo e Veiga (2007), ao tratarem sobre o tema intersetorialidade e políti- cas de superação da pobreza, dão ênfase à necessidade de se repensar a ação de administrar os recursos e dinamizar a gestão dessas políticas. Em uma passa- gem, as autoras utilizam os dois termos, vejamos: “O resultado da combinação dos vários processos [...] é a profunda modificação do ambiente em que opera a administração pública, pressionando a sua gestão” ( BRONZO; VEIGA, 2007, p. 7, grifo nosso). Ao longo da análise das novas demandas para a gestão das políticas públicas de enfrentamento à pobreza, as autoras fazem menção ao termo gestão e gestão social por várias vezes, demonstrando a importância do termo. Uma visão estratégica da gestão social abandona o modelo hierárquico e reconhece a impossibilidade de programação completa, dado o caráter imprevisível, a turbulência e a complexidade do contexto da ação [...] esse novo modelo de gestão, flexível e adaptativo, apresenta um caráter estratégico ao buscar assegurar as políticas e programas respondam de forma adequada aos problemas colocados, o que demanda novos con- teúdos e novas ferramentas de gestão. No contexto de uma nova gestão social, que parte do reconhecimento da complexidade e da incerteza como elementos centrais, o suposto do planejamento racional, pautado pela neutralidade técnica e pela ilusão tecnocrática, não mais se susten- ta. Participação, flexibilização, integração e politização da gestão são elementos centrais que emergem na gestão pública contemporânea, e esses supostos são centrais em uma intervenção estratégica no campo Administração ou Gestão? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 57 do enfrentamento da pobreza e se ligam diretamente ao debate sobre intersetorialidade (BRONZO; VEIGA, 2007, p. 8, grifo nosso). Quero chamar a atenção para dois fatores. Primeiro, que gestão social é desig- nada para o campo da política pública de forma geral e, em específico, para as políticas sociais. Segundo, chamo a atenção para a utilização de termos e conceitos da admi- nistração aplicados ao campo da gestão pública e políticas sociais. Isso torna nítida a referência a uma das modalidades contemporâneas de administração, denominada de administração estratégica que, segundo Rizzo e Cunto (1998, p.12) pode ser definida como: [...] um processo contínuo e interativo que visa a manter uma organi- zação como um conjunto apropriadamente integrado ao seu ambiente [...] que permita a aplicação dos elementos básicos da administração nos setores da organização de forma eficiente e eficaz, integrando a mesma dentro dos seus ambientes e permitindo o alcance de seus obje- tivos num fluxo contínuo de operação. As razões da adoção dessa modalidade de administração são as mesmas no campo público, a incerteza dos cenários, tanto sociais como econômicos, leva as empre- sas se adaptarem com maior flexibilização para atender as novas demandas do mercado e buscar constantemente diferenciais competitivos. Essa abordagem fica mais clara na obra de Cohen e Franco (2007), em que o foco é apresentar a gestão social como ação que busca a eficiência das políticas públicas a partir da aplicação de conceitos, como de mercado e de técnicas de gestão da qualidade total e da reengenharia. Voltando ao termo gestão social, Silva (2007), sendo da área de Serviço Social, reflete minimamente sobre esse termo, aponta, em grande medida, o entendi- mento mais amplo do que seja gestão social: Referindo-se primordialmente ao âmbito de ação do Estado – a esfera pública – a expressão gestão social ganhou relevância, no entanto, pre- cisamente no contexto da reforma do Estado, sob a égide do pensamen- to neoliberal, o que equivale a dizer do deslocamento da gestão social da esfera público-estatal para esfera privada, seja pela redução da ação do Estado, pela gestão compartilhada na forma de parcerias, pela transferência de responsabilidades ou – no caso de empresas – pela privatização tout curt, como ocorreu na década de 1990 (SILVA, 2007, p. 31, grifo nosso). CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E58 Silva (2007) tem como objeto de estudo a questão da seguridade social no Brasil, com ênfase na gestão. É interessante notar a sua justificativa sobre o uso do termo gestão que, na primeira frase, sinaliza a preocupação em relação à diferença do uso dela no espaço público e privado e, principalmente, no caso empresarial. Sobretudo, por meio das políticas de responsabilidade social, o termo gestão social tem sido amplamente utilizado por corporações privadas. O que, a meu ver, se apresenta como uma evidência nítida da fusão do uso desse conceito com a prática que, historicamente, sempre foi utilizada em organizações empresariais para fins lucrativos e agora amplamente apropriada tanto por organizações do terceiro setor para fins não lucrativos quanto por órgãos governamentais como sinalizado. Silva (2007, p. 34-35) ainda reforça a questão mais ideológica do termo ges- tão quando afirma que entende: [...] gestão social como um conjunto de estratégias voltadas à repro- dução da vida social no âmbito privilegiado dos serviços – embora não se limite a eles – na esfera do consumo social, não se submetendo à lógica mercantil. [...] a gestão social constitui campo de docência, de pesquisa, de intervenção profissional e de intensa militância organi- zativo-representativa da categoria profissional dos assistentes sociais em interlocução e colaboração com profissionais de outras áreas [...] gestão social, na perspectiva desta pesquisa, não se confunde com a noção de good governance pela qual se postula a eficiência dos gover- nos na criação de condições favoráveis à revitalização e consolidação da economia de mercado (grifo nosso). Acredito que as expressões destacadas na citação sinalizam, em certo ponto, o que se entende, hoje, no Serviço Social, como gestão. A meu ver, aqui reside um grande problema, pois, mesmo que seja reconhecida a sua importância, é nítido o pouco aprofundamento do uso dos elementos fundamentais da administração (planejamento, organização, direção e controle). Esses termos são tidos como funcionais positivistas e, muitas vezes, relegados a um segundo plano, logo não recebem nenhuma atenção maior quanto à sua operacionalização e base con- ceitual aplicada ao campo social. Um bom exemplo é a declaração de uma colega, assistente social, no Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, em 2007, em Foz do Iguaçu. Quando tratava sobre a questão de Recursos Humanos (RH) no Sistema Único de Assistência Administração ou Gestão? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 59 Social (SUAS), ela afirmou que não existem elementos técnicos, conceituais e metodológicos para se trabalhar nessa área e reforçou, de forma taxativa, que o que existe é só para o mercado e as empresas privadas e não é adequado para o campo público e social. Essa declaração incorre em uma nítida visão ideologi- zada que beira ao preconceito, pois as propostas e os conceitos, tanto da área de RH como de gestão, estão sendo aplicados com as devidas adaptações no campo público, como gestão do conhecimento, gerenciamento da qualidade, entre outros. Nesse sentido, no Serviço Social perde-se muito tempo sobre a diferença ideológica e o apelo para se distanciar da lógica de mercado e das ideias do neo- liberalismo, mas não se coloca nada que seja diferente dos fundamentos e das funções básicas da administração e gestão (planejamento, organização, direção e controle), ou seja, é uma questão muito mais semântica e ideológica do que prática, pois, no final das contas, salvo melhor conhecimento,até os dias de hoje não se apresentou outra forma de gerir recursos e efetivar ações para se alcan- çar determinados objetivos. Nota-se que esse debate não está restrito ao campo da gestão pública ou ges- tão social, mas essa variação é encontrada no campo privado, como pode ser observado com o uso do termo “recursos humanos e gestão de pessoas”. O primeiro denota a noção de que o ser humano é mais um recurso, junto com outros tipos de recursos, como o financeiro e material. Já o segundo denota uma dimensão mais humana, menos impessoal. No campo público, principal- mente na elaboração e na organização de políticas públicas, o termo gestão tem sido amplamente utilizado. Nesse sentido, podemos indagar qual o termo mais adequado: administra- ção ou gestão? E qual a diferença efetiva entre um em outro? A ideia não é aprofundar essa temática, mas apresentar minimamente o entendimento que tenho tido a partir de ações práticas, de diálogo com outros profissionais e de pesquisa nesse campo. A partir desse entendimento, apresento o seguinte resumo. ■ Administração: disciplina que está inserida na categoria de ciência social aplicada. ■ Gestão: ações e aplicação dos fundamentos da administração em uma visão gerencial. CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E60 ■ Gerenciar: é “[...] a ação de estabelecer ou interpretar objetivos e de alocar recursos para atingir uma finalidade previamente determinada” (TENÓRIO, 1997, p. 17), ou seja, é a aplicação da gerência numa visão mais ampla, estratégica e não meramente organizativa. É possível aplicar o termo gestão na execução de várias atividades que, necessa- riamente, não são executadas por um administrador formado em administração, mas que tem domínio mínimo das funções de administração, como planejamento, organização, direção e controle. A gestão social pode ser entendida como um processo aplicado na gestão/administração seja de organizações públicas, polí- ticas e/ou ações, programas, projetos e serviços sociais, ou de atividades e ações planejadas, com fins ou sem fins lucrativos, ou da vida em sociedade. No campo social, de forma geral, e no Serviço Social, de forma específica, o termo gestão social ganha novos contornos, pois a questão vai além de dominar concei- tos críticos, mas saber operacionalizar e, sobretudo, criar uma ação de intervenção social a partir da potencialização e da legitimação dos sujeitos. Logo, a questão não é só a gestão social, mas a gestão do social como procuro melhor explicitar a seguir. GESTÃO SOCIAL OU GESTÃO DO SOCIAL? Caro(a) Aluno(a), vimos anteriormente que uma série de fatores, ocorrida na metade da década de 1990, alterou substancialmente o entendimento de ges- tão social. Essa alteração se deu, principalmente, pela inserção das empresas e do crescimento do conceito de empreendedorismo social, que, em sua essên- cia, trabalha na perspectiva de criar a setorialização de ações de intervenção na realidade social e da inovação social por meio do desenvolvimento de novas tec- nologias sociais para a sustentabilidade (OLIVEIRA, 2004). Logo, pensar em gestão social é pensar além da gestão de políticas públicas, é estabelecer as articulações entre ações de intervenção e de transformação do campo social, em uma visão ampliada que não se restringe à esfera público-governamental. Gestão Social ou Gestão do Social? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 61 Segundo Dowbor (2001), tomando como referência a experiência de paí- ses escandinavos, o papel de gestor do social não é só dos profissionais, mas de todo cidadão que, tendo consciência de sua importância, participa ativamente dos processos organizacionais. Nesse sentido, a noção de gestão perpassa pela priorização e pela expectativa de que todos sejamos gestores sociais. A gestão é, sem nenhum exagero e sem dúvida, uma das competências de maior importância, afinal, nenhum profissional e nenhuma organização podem prescindir dessa noção. Assim, a gestão seria uma prática social, ou seja, todo ato de gestão tem sua dimensão social, por requerer de todos os profissionais a pos- tura gestora. Chiavenato (2003), ao fazer um levantamento junto aos principais líderes empresariais, constata que, apesar de estarem na liderança de gestão de suas respectivas organizações, tomando-se um grupo das 100 melhores empre- sas, somente 22% são administradores. Conclui que não há um preparo desses gestores que têm de se especializar para poder adquirir condições de condução de suas tarefas. Drucker (1989, p. 168) reforça que “[...] a administração passa a ser uma fun- ção social fundamental, e as equipes administrativas se transformam no órgão determinante e diferencial da sociedade”. Em outros termos, pensar a adminis- tração ou a gestão é pensar não mais de forma restrita uma atividade meio, mas fim, pois, sem o devido planejamento, organização, direção e controle, em um mundo cada vez mais volátil, dificilmente se podem conseguir alcançar resulta- dos organizacionais, sociais e pessoais efetivos. Nessa linha e de forma mais ousada, Nóbrega (2007) defende a gestão como sendo uma ciência que está relacionada aos novos desafios da sociedade do século XXI. Nesse sentido, “a ciência da gestão tem tudo a ver com aprendizado, é na ver- dade, uma ciência de aprender a entender as circunstâncias e agir de acordo com elas” (NÓBREGA, 2007, p. 41). O autor defende que a gestão deve girar recur- sos, processos e valores, pois são esses elementos que fazem o agir de pessoas e organizações serem significativos e produtivos. Logo, gestão, de forma geral, é uma ciência que deve permear todos os setores de nossa vida, tanto pessoal, pro- fissional como política e, portanto, de ser acessível e compreensível para todos. Nesse sentido, a proposta aqui é que se utilize o termo gestão para desig- nar um conjunto de ações que privilegia as funções básicas da administração CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E62 (planejamento, organização, direção e controle) com a finalidade de alcançar o sucesso na busca de objetivos que envolvam pessoas, organizações e sociedade, o que é materializado por meio dos planos, programas, projetos e serviços sociais, principalmente na prática do assistente social. No campo social, gestão social é entendida como a ação de aplicação das funções da administração para maior eficiência, eficácia e efetividade da intervenção social. Intervir é entendido como ação que visa alterar a realidade humano-social por meio de ações planejadas com vistas ao exercício da cidadania e melhoria contínua da qualidade de vida em sociedade, o que pode e deve ser materiali- zado por meio de políticas, programas e projetos sociais de organizações tanto do primeiro, do segundo e do terceiro setor. Potencializa os sujeitos envolvidos no processo, não se restringe a mero fator técnico e muito menos a mera análise da realidade, mesmo que pretensamente crítica, estrategicamente privilegia a integração de ideia e esforços na busca de soluções efetivas e não paliativas. O que pode ser feito com o devido enten- dimento das funções básica da administração aplicada à gestão social, como veremos a seguir. O que você acha que pode ocorrer se você, em sua pratica profissional co- tidiana, desenvolver somente um discurso político e ideológico, enquanto que suas ações práticas e seus resultados não condizem com esse discurso? Elementos Básicos e Funções da Gestão Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 63 ELEMENTOS BÁSICOS E FUNÇÕES DA GESTÃO Na Figura 1, épossível observar o processo de aplicação das funções básicas da administração de forma circular e não linear, pois entendo que é um processo dinâmico e que deve ser flexível para poder dar conta das constantes mudanças que sofremos em nosso cotidiano, tanto pessoal, social como organizacional. 1. Planejamento 2. Organização 3. Direção4. Controle Figura 1 - Fluxo das funções da administração Fonte: o autor. De forma resumida, podemos destacar que cada uma dessas funções tem finali- dades específicas que se integram ao longo do processo. Então, observe. ■ Planejamento: determina a finalidade, os objetivos, as atividades, os recursos e os meios. ■ Organização: agrupa pessoas, define papéis/responsabilidades, normas, procedimentos e estruturas. ■ Direção: está relacionada ao processo de conduzir, dar direção, motiva- ção e ação/dinâmica. ■ Controle: registra resultados, análise e correlacionam dados, permite ava- liar e corrigir rumos, ações e estratégias. CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E64 Esse processo não é linear, como você deve ter visto na Figura 1, é um processo sistêmico e circular, contínuo, conectivo. Ele passa por revisão contínua quanto à sua formulação e à aplicação. Bem, até aqui nada de novo, com certeza você já deve ter lido e visto essas funções. Mas, uma pergunta boa seria: para que usar essas funções? O que ganha- mos com isso? Uma boa resposta é que a aplicação desse processo deve ter uma finalidade, uma razão de ser. Basicamente, existem três grandes finalidades para o processo de administração. São elas: ■ Eficiência: melhor forma de fazer algo com os recursos disponíveis. ■ Eficácia: fazer o que deve ser feito, cumprir o objetivo determinado. ■ Efetividade: é a capacidade de atender às expectativas da sociedade/ cliente/usuário. É importante ressaltar a importância dessas finalidades, pois muitas atividades são iniciadas sem uma formulação precisa de sua razão maior, ou seja, ninguém em sã consciência, seja de esquerda ou de direita, empresa, governo, organiza- ções sem fins lucrativos ou pessoas, quer realizar alguma atividade para não ser bem sucedido ou ter resultados que sejam favoráveis às suas expectativas e necessidades. E isso serve tanto para atividades no campo governamental como empre- sarial, como da sociedade civil e, principalmente, para a gestão dos serviços e da intervenção do Serviço Social, sem gestão. Logo, à aplicação dessas funções e suas finalidades de maior importância, não há muito sentido planejar, organi- zar, dar direção e muito menos, controlar. Mas é importante ressaltar que essa busca de resultados deve, também, ter claro que esse processo se passa dentro de um tipo de organização, como já vimos, e é importante destacar mais uma vez, pois elas são classificadas em três tipos expostos a seguir: ■ Empresariais: primeiro setor. ■ Governamentais (federal, estadual e municipal): segundo setor. ■ ONG, fundações, filantropia etc.: terceiro setor. Elementos Básicos e Funções da Gestão Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 65 Considerando a atual configuração teórica hegemônica do Serviço Social, sendo marxista, é bom deixar claro que, nessa hora, pouco tem validade, pois quem emprega quem é atendido, pouco se importa com qual seja o seu time de fute- bol, sua religião, ou seu partido político ou ideológico. O que quer, de fato, é resultados efetivos quanto à finalidade em que a organização que você vai tra- balhar está exigindo. Um exemplo sobre esse ponto foi há uns anos atrás, mais ou menos em 2005, quando eu estava em uma atividade de supervisão de estágio para uma aluna de quarto ano, ela apresentou, na sessão de supervisão, um problema que ela estava vivendo no campo de estágio. A supervisora do estágio de campo, na área hos- pitalar, passou uma tarefa para a estagiária, a qual consistia em estudar o fluxo do atendimento do hospital para fazer mudanças e melhorias da qualidade do atendimento. Depois de várias tentativas, com o objetivo de fazê-la pensar por si só, sem que eu indicasse o que fazer, ela desistiu e disse que não sabia como proceder. Então, sugeri que, primeiro, ela aplicasse a técnica de análise de fluxo- grama do processo existente, para depois, então, olhar e analisar o que poderia ser mudado para melhorar o processo. No que ela me faz uma revelação surpreen- dente: “professor, se o senhor me pedir alguma coisa de Marx, se não souber de cor, sei onde encontrar na biblioteca e lhe mostro, mas não sei o que é fluxograma”. Perceba como isso é complicado para o campo da gestão, que em si é muito básico e elementar, mas de máxima importância para ser observado e ter a nossa atenção. Imagine você, formado(a), seu superior lhe solicita isso que a supervisora fez, mas você não tem um supervisor camarada como eu para lhe dizer o que fazer. É, creio que você já visualizou o que poderia acontecer. Além da vergonha, possivelmente lhe questionariam a sua capacidade técnica operativa. E nessas horas, o caro Karl Marx pouco ou nada pode lhe ajudar. Talvez as autoras histó- ricas, como Balbina Ottoni Vieira, possam ajudar mais. Pois, no Brasil, entre as décadas de 1970 e 1980, quando ainda não se tinha nenhuma produção nacio- nal, só livros estrangeiros, ela produziu e contribui, a partir de prática e pesquisa, em várias áreas, como: metodologia (VIEIRA, 1985; 1989), técnicas, supervisão de estágio (VIEIRA, 1979b), administração, política pública (VIEIRA, 1979a), entre outros temas. CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E66 Bem, voltemos nossa reflexão, sobre os objetivos e sentidos da administra- ção e gestão, pois cada organização procura executar objetivos diferentes, mas a forma de buscar os objetivos, cada vez mais, é parecida, ou seja, não há como abrir mão do planejamento, da organização, da direção e do controle para que se possa fazer uma gestão efetiva das ações que se pretende empreender. E aqui é preciso destacar outro fator de máxima importância, ou seja, essas orga- nizações, apesar de suas diferenças, apresentam três níveis organizacionais que, via de regra, podem ser resumidos conforme exposto na Figura 2. Estratégico: decisão/institucional a longo prazo Tático: decisão/gerencial a médio prazo Operacional: execução a curto prazo Figura 2 - Níveis organizacionais Fonte: o autor. Esses níveis estão relacionados aos níveis de aplicação das funções de planeja- mento, organização e direção. Nesse sentido, é necessário ter compreensão das ações de cada nível, pois cada um deles envolve finalidades e pessoas diferentes, mas que requer uma mesma direção para que haja, dessa forma, uma melhor maximização e otimização de ações e recursos. Dê uma olhada nos sites de prefeituras, secretarias de estado e órgãos fe- derais e procure notar se você encontra neles as dimensões estratégicas, táticas e operacionais. Uma sugestão é entrar no site do Ministério de Pla- nejamento, Desenvolvimento e Gestão do Governo Federal Brasileiro, no link: . Fonte: BRASIL (on-line, 2015).2 Elementos Básicos e Funções da Gestão Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 67 Essa lógica está presente em nosso cotidiano profissional mais do que; mui- tas vezes, imaginamos. Um bom exemplo é a estrutura do antigo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Lula e Dilma de 2004 até agosto de 2016, em que o mesmo apresenta uma estrutura organizacional que tem os três níveis organizativos,como se pode ver na Figura 3. Organograma MDSOrganograma MDS MDS Gabinete do Ministro Secretaria Nacional de Renda de Cidadania Secretaria Nacional de Assistência Social Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional Secretaria executiva Secretaria Nacional de Articulação Institucional e Parcerias MDS Gabinete do Ministro Secretaria Nacional de Renda de Cidadania Secretaria Nacional de Assistência Social Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional Secretaria Nacional de Avaliação e Gestão da Informação Secretaria Nacional deSecretaria Nacional deSecretaria Nacional de Avaliação e Gestão daAvaliação e Gestão daAvaliação e Gestão da fInformaçãoInformaçãoInformação Secretaria Nacional de Avaliação e Gestão da Informação Secretaria Nacional de Avaliação e Gestão da Informação Secretaria Nacional de Articulação Institucional e Parcerias Secretaria executiva Figura 3 - Estrutura organizativa do MDS Fonte: Quiroga, (2010, on-line).3 Note que o gabinete do Ministro está no nível estratégico, a secretária executiva no nível tático e as secretarias no nível operacional. O mesmo segue em grande medida nos níveis de Estado e de Município. E por que esse detalhe é importante para ser observado? Por conta de uma série de fatores, creio que posso desta- car um, que se desdobra em quatro: planejar, organizar, dar direção e controlar, sem essa lógica não tem como dar andamento às políticas, principalmente se considerar o tamanho do Brasil e sua complexidade gerencial. Viu como a ges- tão está tão presente em nosso cotidiano profissional? CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E68 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) Aluno(a), nesta unidade vimos, com maior ampliação, conceitos, princí- pios e funções fundamentais da administração e da gestão. Sendo a primeira uma disciplina e a segunda uma atividade que aplica as funções básicas da primeira, a saber: planejamento, organização, direção e controle, que, por sua vez, está materializada nas finalidades da gestão: a) eficiência; b) eficácia e c) efetividade. Também destaquei que esses elementos podem ser visto em várias áreas que os assistentes sociais estão envolvidos cotidianamente. Um exemplo claro são as organizações que nos contratam, entre elas a área da assistência social, como mostrei no exemplo do MDS e sua estrutura organizacional. Mostrei também que é de máxima importância esse conhecimento para os assistentes sociais, não só para a gestão dos programas e projetos sociais, que é o foco desta disciplina, mas também e, principalmente, por estamos inseridos em organizações e contextos complexos que requerem de cada profissional seu melhor, o que passa pelo domínio dessas competências, habilidades e posturas no campo da gestão e da gestão social e muito menos de questões ideológicas que de nada acrescentam na hora da prática efetiva. Como podemos afirmar que o Serviço Social não tem nada a ver com a ad- ministração e gestão? Muito pelo contrário, temos hoje, na era dos servi- ços, uma das tarefas mais importantes; fazer uma gestão social inovadora e transformadora. Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 69 Também vimos que essa vinculação do Serviço Social com a gestão está relacionada, principalmente, com as evidências no campo da prática do Serviço Social, bem como com a propícia regulamentação da profissão, o que leva a crer que é mais do necessário o aprimoramento desse conhecimento. Principalmente se levarmos em conta, como foi destacado, em que o atual contexto em que vivemos é caracterizado pelo campo da era dos serviços e, principalmente, de serviços na área social. O que, no final das contas, visa, sobretudo, aprimorar a nossa prática pro- fissional de gestores de serviços sociais, e isso vai além do campo institucional, podendo perpassar até outras atividades, tal como no campo da assessoria e consultoria como profissionais autônomos, o que reforça a importância e domí- nio desse conhecimento. Isso será mais bem aprofundado na próxima unidade. 70 1. Entre em, pelo menos, dois sites, um público e outro do terceiro setor, e veja a estrutura organizacional, procure identificar os níveis de gestão e os elementos básicos de planejamento, organização, direção e controle. 2. Relate qual a importância de aplicação das funções da administração no proces- so de gestão social. 3. Quais são os principais aspectos das funções da administração e sua importância para a prática do assistente social? 4. Quais são as três principais finalidades da gestão? 5. Qual importância da gestão para a prática profissional? 71 A REINVENÇÃO DE COISAS ANTIGAS COM NOVOS OLHARES: O EXEMPLO DO CIR- QUE DU SOLEIL Gostaria de sugerir como leitura complementar, o livro Cirque Du Soleil a Reinvenção do Espetáculo, de John U. Bacon e Lyn Hewarde, (BACON; HERWARDE, 2006). Passo a apre- sentar, em linhas gerais, o seu conteúdo e a sua importância como complemento de nosso estudo. É um relato muito rico de como a gestão tem sua importância, em qualquer contexto ou tipo de organização e como a noção de inovação pode ser ampliada e aplicada. No caso do Cirque Du Soleil, houve uma verdadeira revolução no mundo do entretenimento. E isso tem um bom motivo e necessidade, pois o circo, na sua forma clássica, entrou em decadência, mas foi reinventando por seus criadores, de modo que aliou várias linguagens juntas, ou seja, tanto a arte circense como a da ginástica, do cinema, do teatro, da dança, entre outros. E tudo com princípios, organização e ações planejadas e devidamente avaliadas, mo- mento a momento. Um exemplo de que a inovação, necessariamente, deve ser algo inédito no sentido de nunca ter existido, mas de inovar a partir do que existe, só que de forma diferente, portanto, inovadora, como é o caso do circo como forma tradicional de entretenimento. E o resultado final é o sucesso de um empreendimento que vem encantado muitas pessoas e sendo exemplo para muitas organizações, não só do mundo dos negócios, mas também da cultura, do terceiro setor e, por que não, de organizações públicas. Pois inovar principalmente a partir do que já existe, requer sempre um esforço maior de ver além do que está posto, visualizar possibilidades de forma criativa, objetiva, clara e so- bretudo, diferente. Aqui reside o que quero chamar a atenção em relação ao nosso estudo. Essa mesma lógica pode e deve estar a serviço da gestão pública, da gestão das organizações do terceiro setor, ou seja, a inovação deve estar a serviço do bem comum, de uma finalida- de maior que não é só o resultado pelo resultado, mas, sobretudo, com resultados. Pois muito discurso sem efetivação e congruência do que se diz e do resultado do que se faz pode gerar apenas frustração, desanimo e empobrecimento de uma ação profissional eficiente, eficaz e efetiva. Como deve ser o Serviço Social, principalmente no campo da gestão. Fonte: o autor. MATERIAL COMPLEMENTAR A Ciência da Gestão: marketing, inovação e estratégia Clemente Nóbrega Editora: Senac Sinopse: o livro trata do tema gestão como uma ciência que é de grande importância para o processo de inovação. O autor tem uma característica interessante. Ele não é formado nem em Administração e nem em Serviço Social, e sim é um físico, e físico nuclear. O que isso tem de importante? Simples, se um físico dá a importância a disciplina gestão e ainda a defende como uma das ciências mais importantes da vida humana. É sinal que, como assistentes sociais, devemos ainda mais dar o devido valor. Leia, tenho certeza que você gostará e aprenderá ainda mais. O Homem que mudou o jogo Ano: 2011 Sinopse: Brad Pitt faz o papel de um treinador de segunda divisão de beisebol. Sem recursos, tanto materiais,fi nanceiros e conseguintemente humanos, o técnico utiliza a estatística e uma forma inusitada de selecionar jogadores que, aparentemente, são dispensáveis aos grandes times, seja por algum defeito físico, pela idade, entre outros fatores. Mas os resultados, a efi ciência e efetividade desses jogadores vão fazer a diferença, ao ponto de surpreender a todos com resultados signifi cativos. Uma história real e que rendeu ao senhor Pitt uma indicação ao Oscar. Comentário: essa história mostra claramente a importância da aplicação das funções da administração na gestão que envolve as confi gurações de contexto, pessoas e organizações. Divertir aprendendo. Simples, se um físico dá a importância a disciplina gestão e ainda a defende como uma das ciências mais importantes da vida humana. É sinal que, como assistentes sociais, devemos ainda mais dar o devido valor. Leia, tenho certeza . Sem recursos, tanto materiais, fi nanceiros e conseguintemente humanos, o técnico utiliza a estatística e uma forma inusitada de selecionar jogadores que, aparentemente, são dispensáveis aos grandes times, seja por algum defeito físico, pela idade, entre outros fatores. Mas os resultados, a efi ciência e efetividade desses jogadores vão fazer a diferença, ao ponto de surpreender a todos com resultados signifi cativos. Uma história essa história mostra claramente a importância da aplicação das funções da administração na gestão que envolve as confi gurações de contexto, pessoas e REFERÊNCIAS AURÉLIO, B. de H. Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva, 2004. BACON, J. U.; HEWARDE, L. Cirque Du Soleiel: a Reinvenção do Espetáculo. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2006. BRONZO, C.; VEIGA, L. da. Intersetorialidade e políticas de superação da pobreza: de- safios para a prática. Revista Serviço Social e Sociedade, n. 92. São Paulo: Cortez, nov. 2007. CARVALHO, M. do C. B. de. Gestão Social: alguns apontamentos para o debate. In: MELO, R.; RAICHELES, R. (Org.). Gestão Social: uma questão em debate. São Paulo: Cortez, 1999. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangen- te da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. COHEN, E.; FRANCO, R. Gestão social: como obter eficiência e impacto nas políticas sociais? Brasília: Enap, 2007. DOWBOR, L. Gestão social e transformação da sociedade. In: CANÔAS, J. W. et al. (Coord.). Agenda 21 – sustentável: subsídios técnicos para construção da agenda 21 de Franca e Região. Franca: Unesp-FHDSS, 2001. DRUCKER, P. F. As fronteiras da administração: onde as decisões do amanhã estão sendo determinadas hoje. Trad. de Antonio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Pioneira, 1989. HAMPTON, D. Administração contemporânea. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1992. KARSCH, Ú. M. S. O Serviço Social na era do serviços. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1986. NOBREGA, C. 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Supervisão em Serviço Social: Rio de Janeiro: Ed. Agir, 1979b. REFERÊNCIAS ON-LINE: 1 - Em: . Acesso em: 07 nov. 2016. 2 - Em: . Acesso em: 19 out. 2016. 3 - Em: . Acesso em: 26 out. 2016. REFERÊNCIAS 75 GABARITO 1. Deverá visualizar os elementos básicos da gestão: planejamento, organização, direção e controle. 2. Está relacionada principalmente na possibilidade de melhor organizar e maximi- zar os recursos para se alcançar resultados efetivos das ações planejadas. 3. Tanto a organização e propósitos da profissão como as muitas atividades reali- zadas pelo profissional necessitam ser: planejadas, organizadas, direcionadas e controladas para obter melhores resultado de suas práticas, principalmente em se tratando de gestão de programas e projetos sociais. 4. São eficiência, eficácia e efetividade. A primeira, aplicar o que foi planejado e apresentar resultados, que esses resultados sejam alcançados dentro das condi- ções possíveis e com os recursos disponíveis, e o terceiro, que atendeu a deman- da a exigência do planejamento e das ações elaboradas. 5. A principal importância que foi destaca no texto e na aula é que a forma de materializar as ações e intervenção do assistente social é por meio de ações que sejam bem elaboradas, executadas e avaliadas. E o campo da elaboração e ges- tão de programas, projetos e serviços sociais é de máxima importância para essa finalidade de materialização das ações. U N ID A D E III Professor Dr. Edson Marques Oliveira INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL Objetivos de Aprendizagem ■ Analisar a importância dos conceitos e modelos de inovação social. ■ Apreender e referenciar esses modelos como forma de ampliação de possibilidades de intervenção social. ■ Identificar possibilidades de estruturas para elaboração de projetos sociais na perspectiva e lógica do empreendedorismo social. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Inovação social ■ Influência da lógica do empreendedorismo social como inovação social ■ Mudança na lógica de elaboração e gestão de projetos na perspectiva do empreendedorismo social ■ Um modelo de gestão social integral e integrado INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Nas demais unidades, estudamos os fatores e configura- ções que influenciam tanto direta quanto indiretamente na tarefa de gestão de programas e projetos. Também chamei a atenção de certas particularidades que a nossa profissão tem em relação ao olhar crítico da realidade, especialmente em relação à necessidade de sermos proativos e propositivos. Nesta unidade, quero apresentar algo que está em curso, que são mudanças na lógica de elaboração e gestão de projetos no campo social. Quero salientar, que a inovação no campo privado tem sido uma temática constante e profun- damente desenvolvida, o que não ocorre no campo social. Entretanto, as demandas e os desafios cada vez maiores da gestão de polí- ticas publicam e premência no enfrentamento das expressões da questão social e suas múltiplas faces e complexidade de tratamento têm levado um grande número de atores e setores a se moverem em busca de alternativas que sejam efetivas no enfrentamento, principalmente, da exclusão social e da geração de trabalho e renda. Entre estas abordagens, tenho defendido como processo de inovação social o empreendedorismo social (OLIVEIRA, 2008). Que, inicialmente, se apresen- tou como uma relação muito estreita entre o terceiro (ONGs) e o primeiro setor (empresas). No entanto, alguns casos têm mostrado que essa relação da inova- ção social empreendedora também tem atingindo o campo público. E essa aproximação, mesmo que não intencional, está fazendo surgir um novo estilo e lógica de gestão social e, consequentemente, de projetos sociais. É o que denomino de Gestão Social Integrada, Sustentávele Solidária, que sinalizo mais detalhadamente no último tópico dessa unidade. Na sequência, procuro apresen- tar os elementos que mais evidenciam essa mudança de lógica empreendedora e a importância do pensar sobre inovação social no curso de Serviço Social e na disciplina que trata da gestão de projetos sociais. Bons estudos! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 79 INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E80 INOVAÇÃO SOCIAL No final da década de 1990, vários fatores colaboraram para o surgimento de alternativas de enfrentamento à pobreza. Entre eles, as parcerias entre as organi- zações do terceiro setor e as empresas. Fator paradoxal, pois culmina no mesmo contexto do crescimento da política neoliberal, que tem, em seu bojo e como principal característica, a redução de participação do Estado na economia e enxugamento dos gastos públicos, principalmente, o investimento na área social. As organizações do terceiro setor, por sua vez, viram-se obrigadas a reorde- nar sua forma de gestão, tendo como principal ponto as estratégias de captação de recursos, os quais, cada vez mais, se tornam escassos. Com o crescimento do movimento da responsabilidade social empresarial, essas organizações começam a alterar sua rotina e a gerar elementos diferenciadores em sua dinâmica orga- nizacional. Você percebeu que esses elementos são os mesmos que mostrei na primeira unidade, configuração contexto, pessoas e organizações? Entre essas mudanças, nota-se o crescimento do chamado empreendedo- rismo social, ou seja, um misto da lógica de mercado (empresas) aplicada à lógica social (estatal e civil), em outros termos, são pessoas (empreendedores sociais) que criam novos arranjos institucionais para intervir na realidade de modo a gerar resultados com poucos recursos, altos impactos, tendo as ferramentas e princípios da gestão de organizações do primeiro setor como referência de ação operacional. No estudo de Oliveira (2004a), há a identificação de um padrão de gestão na perspectiva do empreendedorismo social, em que a lógica empreendedora pri- vada é colocada a serviço no campo social, só que gerando resultados coletivos e não só privativos. Logo, considerando que o setor privado inova visando garantir os seus interesses, ou seja, o lucro, percebe-se que esse “espírito” vem a reboque no processo de empreendedorismo social, mas de forma diferenciada. Isso é, o lucro não só em valores financeiros, mas sobretudo de bens e de inclusão social, o que traz grandes benefícios ao campo social, que, por muito tempo, foi um saco sem fundo, em que só se investia sem, contudo, trazer resultados efetivos. Inovação Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 81 É nesse ponto que o conceito de inovação, no sentido de renovar as estra- tégias de enfrentamento das grandes demandas sociais de nosso país, já não é uma questão que se apresenta só em alguns setores, mas em toda a sociedade. Com isso, percebe-se que emergem vários modelos de gestão social híbrida, em que os vários órgãos públicos, em suas três esferas, as empresas e as organiza- ções sociais, unem-se para enfrentar, de forma diversa, as grandes demandas das expressões da questão social, em específico, o enfrentamento à pobreza e da inclusão social, via geração de trabalho e renda, ou, como alguns denominam, os negócios sociais inclusivos, que são um misto de empresa com intenção de gerar lucro, mas em uma área de necessidade social. Esse esforço, principalmente permeado pela lógica do empreendedorismo social, mesmo que muitas vezes não intencionalmente explicitado, está fazendo emergir uma nova lógica e modo de gestão social, bem como de elaborar e gerir projetos sociais. Lembrando que os assistentes sociais são profissionais que estão inseridos nessas organizações e que via de regra são desafiados, também, a inovar. Assim, saber apreender e perceber esse movimento de inovação social não é só uma questão de estar informado, mas, sobretudo, de sobrevivência profissional. E sabe por que isso? Porque estão vindo novos profissionais no mercado de trabalho, muitos com formação mais objetiva, principalmente no campo da gestão. Um exemplo é o curso de graduação da USP, em São Paulo, que forma bacharéis em Gestão Pública. Então, fique atento(a) com as próximas infor- mações e faço uso adequado de conhecimento para o aprimoramento de suas habilidades, competências e posturas frente à inovação social. É o que veremos, a seguir, de forma mais detalhada nessa unidade. ©shutterstock INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E82 INFLUÊNCIA DA LÓGICA DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL COMO INOVAÇÃO SOCIAL A palavra inovação pode ser entendida de diversas formas. No campo privado, por exemplo, tem uma conotação produtiva. Um bom exemplo é expresso em um documento de discussão da 4ª Conferência Nacional de C&T, em 2010, em que se explicita o entendimento do que seja inovação, vejamos: [...] o grande motor do aumento da produtividade e o centro da agen- da de política industrial dos países mais desenvolvidos [...] inovação envolve novos produtos e processo, formas novas de comercializar, de transformar o relacionamento com clientes e fornecedores, de organi- zar a produção e de novos serviços que agregam valor (MINISTÉRIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2010, p. 9, grifo nosso). Nesse sentido, inovação está relacionada à capacidade de criar, de aprimorar, descobrir, sonhar e pôr em prática as ideias e sonhos. Será que isso também não pode ser reali- zado no campo público de forma geral e em específico na gestão social? É claro que sim. Segundo um especialista nessa área, Kelley, “todos temos um lado criativo, que pode florescer se você gerar uma cultura que o estimule [...]” (KELLEY, 2001, p. 29). Além do que, mesmo no campo privado, nota-se que os países que são mais inovadores estão no topo dos países desenvolvidos e, entre eles, são percebidos elementos como: o fator confiança, conhecimento (educação), infraestrutura, tecnologia de ponta, riqueza, competitividade, entre outros. O que chama a aten- ção nesses itens é que tudo está necessitando do fator humano. Nóbrega (2007) lembra com propriedade que existem dois tipos de tecnologia que impulsionam Influência da Lógica do Empreendedorismo Social como Inovação Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 83 a inovação e o desenvolvimento de um país. O primeiro seria as tecnologias físi- cas: foguetes, trens, microchips etc. E o segundo tipo são as tecnologias sociais, que, segundo o autor, seriam “[...] maneiras de se organizar pessoas para cola- borar em empreendimentos comuns.” E afirma: Eis o segredo, então: no mundo global/internacionalizado/digital, as tecnologias sociais são mais importantes para a inovação (geração de riqueza) do que as físicas. Sem tecnologias sociais o país tem de ficar na dependência de gênios para inventar artefatos que, eventualmente (um dia, talvez, quem sabe), serão usadas para gerar riqueza” (NÓBRE- GA, 2007, p. 81, grifo nosso). Com essa pequena introdução, é possível perceber que no campo privado, prin- cipalmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, inovação é sinônimo de produtividade e já sabemos que o resultado dessa produtividade, apesar do crescimento da classe C e diminuição da pobreza no país em alguns momentos históricos, ainda está concentrada nas mãos de poucos, o que reforça um cír- culo vicioso, como explicita Dowbor.além disso. Isso é, intervir e modificá-la juntamente com os atores que, dessa realidade, fazem parte. Por isso, veremos cinco unidades. Na Unidade I, faremos uma análise a partir de três configurações, a saber: contexto, organizações e pessoas. O objetivo dessa análise con- figurativa é perceber que o ato e processo de gestão de programas e projetos sociais envolvem vários fatores, que são advindos dos mais diversos setores e dimensões da vida em sociedade. Isso é, fatores culturais, políticos, organizacionais, em que as ações estão inseridas. Além disso, os fatores comportamentais, interesses e modos de opera- cionalização ligados ao estilo de liderança, de recursos, entre outros elementos que in- fluenciam o processo da gestão social, de modo geral e dos planos, programas, projetos e serviços de modo específicos. Na Unidade II, apresento os principais elementos conceituais e as principais caracterís- ticas do processo de Gestão Social e suas derivações, principalmente no tocante aos conceitos que se diferenciam, como administração e gestão, bem como as diferenças e semelhanças de processo nos tipos e esferas de organizações e de poder, notadamente, primeiro, segundo e terceiro setor. Na Unidade III, veremos os elementos de inovação social e os modelos de projetos so- ciais que se apresentam na atualidade, bem como destacar como a lógica do empreen- dedorismo social vem influenciando o processo de elaboração de gestão de projetos na área social, tanto pública, privada e na sociedade civil organizada. APRESENTAÇÃO GESTÃO EM PROGRAMAS E PROJETOS SOCIAIS Na Unidade IV, considerando os demais tópicos vistos, apresento a configuração da gestão e estruturação para elaboração de planos, programas, projetos e serviços so- ciais, detalhando aspectos que vão desde seu planejamento até sua avaliação, nas dimensões tanto, políticas, econômicas como técnicas. Também saliento a lógica de organicidade necessárias para a boa gestão desta atividade. E finalizando, na Unidade V, fechamos essa disciplina com uma reflexão e uma pro- posição. A reflexão é relacionada aos desafios da intersetorialidade que, devido aos processos de descentralização de ações e as novas configurações organizacionais, bem como os elementos que interferem no campo da gestão social, precisam ser observados. Também apresento um exemplo prático de projeto em forma de estu- do de caso para que se tenha um modelo real que foi elaborado e executado por assistentes sociais e serve como referência real do que pode ser feito em uma visão e perspectiva socioempreendedora. E a proposição é, em linhas gerais, olhar a prática do assistente social no campo da gestão de programas e projetos sociais como um artífice do design social, ou seja, assim como um artífice, construir sua arte, usando a cabeça e o corpo. Assim, também devemos ancorar o trabalho de desenhar, exe- cutar e avaliar programas e projetos, pois cada projeto é único e digno de atenção e esforço específico, como vamos mostrar ao longo das aulas. Com isso, espero que esse conteúdo e a forma como ele está sendo apresentado, possa contribuir não só para uma formação técnica consistente, mas também de uma visão humana integral e integrada e profundamente crítica e, sobretudo, pro- positiva, frente à complexidade e desafios do campo social no cenário da sociedade do século XXI. Ótimos estudos! APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO DA GESTÃO SOCIAL 15 Introdução 16 Por uma Visão e um Pensar mais Dialógico do que Dialético 17 O Paradigma Predominante no Campo da Gestão e Análise de Configurações: Pragmático, Sistêmico e Crítico 23 Configuração Contexto: Eixos de Contextualizadores que Influenciam no Processo de Gestão na Atualidade 32 Configuração Pessoas: Elementos que Minam o Bom Pensar e a Gestão de Planos, Programas, Projetos e Serviços no Campo Social 36 Configuração Organizações: Velhos e Novos Arranjos Sócio-Organizacionais 39 Considerações Finais 44 Referências 46 Gabarito UNIDADE II CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL 49 Introdução 50 Importância e Consonância da Área e Atividade Administrativa no Serviço Social 51 Administração ou Gestão? 60 Gestão Social ou Gestão do Social? SUMÁRIO 10 63 Elementos Básicos e Funções da Gestão 68 Considerações Finais 73 Referências 75 Gabarito UNIDADE III INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL 79 Introdução 80 Inovação Social 82 Influência da Lógica do Empreendedorismo Social como Inovação Social 84 Mudança na Lógica de Elaboração e Gestão de Projetos na Perspectiva do Empreendedorismo Social 99 Um Modelo de Gestão Social Integral e Integrado 102 Considerações Finais 108 Referências 110 Gabarito UNIDADE IV GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS 113 Introdução 114 Plano Conceitual da Estrutura de Projetos SUMÁRIO 11 123 Modelos de Estrutura de Projetos 133 Estratégia Básica para Elaboração e Gestão de Projetos e sua Aplicação na Prática do Assistente Social 138 Considerações Finais 143 Referências 144 Gabarito UNIDADE V DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO DE PROJETOS SOCIAIS NO SERVIÇO SOCIAL E A FILOSOFIA DO ARTÍFICE 147 Introdução 148 A Gestão de Projetos, Intersetorialidade e os Desafios para a Prática do Serviço Social 154 Desafios da Gestão de Projetos: um Estudo de Caso 165 A Filosofia do Artífice para o Assistente Social Junto ao Campo de Gestão de Projetos 172 Considerações Finais 178 Referências 179 Gabarito 180 CONCLUSÃO U N ID A D E I Professor Dr. Edson Marques Oliveira CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO DA GESTÃO SOCIAL Objetivos de Aprendizagem ■ Captar os principais eixos contextualizadores que marcam o cenário do século XXI. ■ Compreender como esses eixos contextualizadores podem interferir no campo da gestão social, de forma geral e na elaboração dos planos, programas, projetos e serviços na área social. ■ Ampliar e saber estabelecer uma visão reflexiva e crítica, mas também propositiva, quanto a um olhar profissional do Serviço Social, frente aos cuidados que deve ter ao lidar com os processos e os elementos básicos que caracterizam a gestão social. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Por uma visão e um pensar mais dialógico do que dialético ■ O paradigma predominante no campo da gestão e análise de configurações: pragmático, sistêmico e crítico ■ Configuração contexto: eixos de contextualizadores que influenciam no processo de gestão na atualidade ■ Configuração pessoas: elementos que minam o bom pensar e a gestão de planos, programas, projetos e serviços no campo social ■ Configuração organizações: velhos e novos arranjos sócio- organizacionais INTRODUÇÃO Caro(a) Aluno(a), nesta primeira unidade, o objetivo é alertar você, futuro(a) profissional do Serviço Social, de alguns elementos que, muitas vezes, não são destacados nos livros, artigos e manuais de elaboração de projetos e, infelizmente, em grande parte da literatura do Serviço Social Brasileiro. Explico melhor: você já tentou organizar uma atividade, simples que seja? Vamos imaginar uma festa junina para arrecadar fundos para uma Organização Não Governamental (ONG) em que você faz parte. Digamos que essa ONG seja de defesa e proteção de animais. Você tem esse compromisso e sensibili- dade por essa causa, mas existem pessoas que, além de não serem simpáticas, podem ser hostis, alegando, por exemplo, que a crise está muito grande e que devemos priorizar as pessoas e não os animais. Nesse sentido, você não encon- trará unanimidade para realizar a sua festa junina, bem como terá dificuldades para alcançar sua finalidade que é arrecadar fundos para a[...] um sistema que sabe produzir, mas não sabe distribuir, simples- mente não é suficiente. Sobretudo se, ainda por cima, joga milhões no desemprego, dilapida o meio-ambiente e remunera mais os especula- dores do que os produtores. E a construção de alternativas envolve um leque de alianças sociais evidentemente mais amplo do que o conceito de classes redentoras, burguesa para uns, proletária para outros, que dominou o século XX. O debate sobre quem tinha razão continuará sem dúvida a alimentar as nossas discussões, mas a realidade é que a própria realidade mudou (DOWBOR, 1999, p. 5). A partir dessas questões, é possível, e necessário, indagar: o que pode ser consi- derado inovação social? Nesse sentido, e para os fins aqui propostos, inovação social pode ser como um conjunto de princípios, processos e articulações que criam no bojo e cerne de seu desenvolvimento ações de melhorar o que já existe, fazendo com que, de fato, funcione e dê resultados sociais significativos (efici- ência, eficácia e efetividade) e criação de novas estratégias que, concretamente, (carne e osso) gerem transformação social nas estruturas da sociedade por meio do empoderamento dos sujeitos como protagonistas na geração de novas políti- cas públicas e não meros consumidores ou usuários de produtos e serviços. Nessa lógica, os assistentes sociais competentes podem contribuir significativamente. INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E84 Com isso, se pode fazer outra indagação: isso é possível? E se é possível como isso pode ser feito? Considerando a minha experiência profissional, ouso dizer que sim, é possível e necessário que o empreendedorismo social, como para- digma de gestão social, indutor de novos arranjos e empreendimentos sociais e, portanto, de inovação social, possa contribuir para criação de novas tecno- logias sociais, e consequentemente, dar uma nova dinâmica e estilo de gestão, principalmente no emergir do que apresentei na Unidade II de Gestão Social Integrada, Sustentável e Solidária. MUDANÇA NA LÓGICA DE ELABORAÇÃO E GESTÃO DE PROJETOS NA PERSPECTIVA DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL A partir da experiência como professor, pesquisador e consultor em Serviço Social há 25 anos, tenho constatado o quanto a questão do desenvolvimento tem nos remetido a compreensão de que não cabe mais, na atual conjuntura e contexto, falarmos puramente e reduzidamente de desenvolvimento como uma questão meramente econômica, ou aceitarmos as falácias que vem permeado, por décadas, as desculpas mais infundadas de que todos devem fazer o bolo cres- cer para depois dividir. O bolo cresceu e não houve divisão, e sim o aumento das diferenças e disparidades sociais e concentração de riquezas. O que requer pensar um desen- volvimento não mais no viés conformista e desenvolvimentista dos anos 70, que tinha mais uma função de manutenção do que de emancipação. A questão posta é buscar uma nova racionalidade quanto à gestão da vida em sociedade. Desta forma, surgem inúmeras ações que buscam dar uma alternativa aos rumos da atual globalização. O social, nessa década assume um papel decisivo quanto a um modelo de gestão social e de desenvolvimento, em que as ações devem ser vistas integradas e não desarticuladas. Surge, nessa perspectiva, uma Mudança na Lógica de Elaboração e Gestão de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 85 ação e/ou um paradigma que vem unindo ferramentas do campo empresarial e de uma perspectiva empreendedora que, sendo aplicada em organizações do Terceiro Setor e em órgãos governamentais, vem disseminando uma nova pers- pectiva de um desenvolvimento sustentável e efetivamente mais humano e digno para todos os envolvidos. Nesse sentido, a seguir mostro, em linhas mais gerais, as principais carac- terísticas desse novo paradigma, o empreendedorismo social e como ele está influenciando o processo de desenvolvimento social e contribuindo para a gera- ção da inovação social de forma sustentável, emancipatória e solidária. Elementos de máxima importância para os futuros assistentes sociais comprometidos com um trabalho eficiente, efetivo e ético de mudança da realidade vivencial de seus clientes e usuários e da sociedade como um todo. DO EMPREENDEDORISMO CLÁSSICO AO EMPREENDEDORISMO SOCIAL – AS NOVAS RELAÇÕES ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL A partir da literatura disponível, e que temos tido acesso, verificamos que a gênesis do empreendedorismo social tem forte influência do empreendedorismo clássico, ou seja, empresarial (OLIVEIRA, 2008). O empreendedorismo empresarial, por sua vez, é fortemente influenciado pelo pensamento de Jean-Baptiste Say (1767- 1832), Joseph Schumpeter (1883-1950), Peter Drucker (1909-2005) e David McClelland (1917-1998). Segundo Leite (2002), o pensamento empreendedor, na contemporaneidade é marcado pela trilogia do pensamento empreendedor destes teóricos, ressaltando que: Um estudo acerca do espírito empreendedor (empreendedorismo), pode ser elaborado sob várias perspectivas. Numa perspectiva eco- nômica, como fez Schumpeter, com seus trabalhos sobre a destrui- ção criativa, baseada na perspectiva psicológica, estilo de McClelland, através de sua teoria de necessidades (afiliação, poder e realização) e, na perspectiva do management [gerenciamento] na visão de Drucker (LEITE, 2002, p. 43). INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E86 Logo, o empreendedorismo não é só uma questão de abrir novos negócios, mas implica a mudança de valores, visão de mundo e ações efetivas de transforma- ção com impacto econômico. Em linhas gerais, empreendedor seria “aquele que assume riscos e começa algo novo” (DORNELAS, 2002, p. 26) ou ainda: [...] empreendedor é alguém capaz de desenvolver uma visão, mas não só. Deve saber persuadir terceiros, sócios, colaboradores, investidores, convencê-los de que sua visão poderá levar todos a uma situação con- fortável no futuro [...] é alguém que acredita que pode colocar a sorte a seu favor, por entender que ela é produto do trabalho duro [...] o empreendedor deve conduzir ao desenvolvimento econômico, geran- do e distribuindo riquezas e benefícios para a sociedade (DOLABELA, 1999, p. 44-45). A compreensão do que seja empreendedorismo social passa por várias verten- tes. Em Portugal e Europa, por exemplo, os especialistas sinalizam que existem quatro escolas de pensamento que dão forma e entendimento a esse conceito. Nessa linha, segundo a pesquisadora Parente (2014, on-line)1, da Universidade do Porto, em Portugal, essas escolas seriam: Escola América, Escola da Comunidade Europeia, Escola Francesa e Escola Anglo-saxônica. Cada uma apresentando modos diferentes de visão quanto à inovação social e peculiaridades sobre o empreendedorismo social. Um exemplo claro e diferente do que ocorre no Brasil, é que Portugal, influenciado pela Escola Anglo-saxônica e da União Europeia, a qual é membro, considera que as organizações do terceiro setor seja a mesma coisa que economia social e solidária. Aqui no Brasil, pelo menos até o fim do governo Lula-Dilma, isso não acontece, pois só é considerado economia solidá- ria as cooperativas populares e associações de trabalhadores. No caso do terceiro setor, existem literaturas no Serviço Social que nem consideram sua existência. Logo, aqui reside uma grande complexidade tanto ideológica como teórica e que não vamos aprofundar, mas só sinalizar que essas discussões podem e têm influenciando o modo de gestão dos programas e pro- jetos sociais, de forma geral e de no Serviço Social de forma específica. Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al eL ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 87 O que é importante ressaltar nessa reflexão é que no mundo se discute a importância do empreendedorismo social e sua vinculação com a inovação social, sendo hoje de máxima importância para o enfrentamento histórico e paradoxal de tantos problemas ou das chamadas expressões da questão social. O que é perceptível e que vocês, futuros(as) profissionais de Serviço Social precisam ficar atentos(as), é que em grande proporção, o empreendedorismo social tem recebido forte influência dessa lógica do empreendedorismo empresa- rial, bem como a aplicação de muitos métodos e técnicas de gestão. No entanto, existem diferenças substanciais de um e outro tipo de empreendedorismo. Neto e Froes (2002) estabelecem as seguintes diferenças, como mostra o quadro a seguir. Quadro 1 - Diferença entre empreendedorismo empresarial e empreendedorismo social EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL EMPREENDEDORISMO SOCIAL 1. É individual. 1. É coletivo. 2. Produz bens e serviços. 2. Produz bens e serviços para a comu- nidade. 3. Tem o foco no mercado. 3. Tem o foco na busca de soluções para os problemas sociais. 4. Sua medida de desempenho é o lucro. 4. Sua medida de desempenho é o im- pacto social. 5. Visa satisfazer necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio. 5. Visa respeitar pessoas da situação de risco social e promovê-las. Fonte: adaptado de Melo Neto e Froes (2002, p. 11). Também é possível perceber que a relação do empreendedorismo empresarial com o empreendedorismo social não é uma mera relação de transposição de conceitos e de técnicas de gestão. Nota-se que a sua aplicação tem potenciali- zado a mudança de atitudes e visão de mundo e modo de produção das relações locais, como é dado vários exemplos desse processo por Roure e Pádua (2001). Essa influência e especificidade leva, a alguns autores, a distinguir entre as orga- nizações sociais que são: tradicionais e empreendedoras. No quadro a seguir, selecionamos algumas características dessa diferenciação a título de ilustração. Mudança na Lógica de Elaboração e Gestão de Projetos INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E88 Quadro 2 - Organizações sociais tradicionais e empreendedoras TRADICIONAIS EMPREENDEDORAS 1. Hierarquia. 1. Time/trabalho orientado. 2. Controle centralizado. 2. Descentralização/empowermet. 3. Foco no que é melhor para a organização. 3. Foco no que é melhor para o cliente. 4. Ênfase nos programas. 4. Ênfase no centro de competências. 5. Dependente de recursos. 5. Financeiramente autossuficiente. 6. Tentar ser todas as coisas para todas as pessoas. 6. Nicho orientado. Fonte: adaptado de Thalhuber (2003, on-line).2 Nesta perspectiva, Neto e Froes entendem o empreendedorismo social como um novo paradigma, “o processo de empreendedorismo social exige principal- mente o redesenho de relações entre comunidade, governo e setor privado, que se baseia no modelo de parcerias” (MELO NETO; FROES, 2002 p. 31), tendo como principal objetivo “retirar pessoas da situação de risco social e [...] o foco é nos problemas sociais, e o objetivo a ser alcançado é a solução a curto, médio e longo prazos destas questões [...] buscando propiciar-lhes plena inclusão social”(- MELO NETO; FROES, 2002, p. 11-12). Nota-se, também, que o empreendedorismo social contribui significativa- mente para o crescimento do capital social, que, por sua vez, é entendido por Kliksberk, como sendo: “[...] o grau de confiança existente entre os atores sociais de uma sociedade as normas de comportamento cívico praticadas e o nível de associatividade que caracteriza” (KLIKSBERG, 2001, p. 116). A importância do capital social está na sua capacidade de produzir mudanças significativas na comunidade. Logo, podemos verificar que o empreendedorismo social é um processo que pode produzir capital social e desencadear um processo continuo de desenvol- vimento sustentável, principalmente quanto à questão regional e local de uma determinada região. Isso é reforçado por Neto e Froes, “a ideia de empreen- dedorismo social evolui a partir da necessidade de integrar ambas as metades – econômico e social – em benefício do bem-estar da sociedade" (MELO NETO; FROES, 2002, p. 81). Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 89 O EMPREENDEDORISMO SOCIAL COMO INDUTOR DE INOVAÇÃO SOCIAL Talvez, a primeira indagação que podemos fazer ao ler o título deste tópico é: como o empreendedorismo social pode induzir ou provocar o aceleramento da inovação no campo social? E também indagar: e o que isso tem a ver com a nossa disciplina e o com o Serviço Social? Tendo como princípio o que vimos até o momento e os estudos que tenho feito (OLIVEIRA, 2008) entendo o empreende- dorismo social como um processo de cooperação, solidariedade, e principalmente, de empoderamento dos sujeitos envolvidos no processo de gestão social. Dessa forma, a primeira compreensão que devemos ter é de nos deparar- mos com um tema novo, pelo menos em sua atual configuração, mas, na sua essência, já existe a muito tempo. Alguns especialistas apontam Martin Luther King Jr., Gandhi, Cristo, entre outros como empreendedores sociais históricos. Isso decorrente à sua capacidade de liderança e inovação quanto às mudanças no campo social e público e que provocaram alterações na sociedade, indicando que esse tipo de ação poderia ser aplicada em larga escala. Em nossa pesquisa sobre empreendedorismo social no Brasil (OLIVEIRA, 2004a), uma das primeiras constatações foi a pouca bibliografia sobre o assunto, tanto aqui no Brasil como no exterior. O que demonstra que o tema é novo, mas já tem uma produção teó- rica e exemplos práticos exitosos e muitos ainda por virem e serem desenvolvidos. Essa constatação, levou-me a investigar mais a fundo o tema, chegando a conclusão de que isso, gera muita confusão. Para melhorar clarear esse ponto, vamos destacar um exemplo típico dessa modalidade. É a experiência exem- plar do Comitê de Democratização da Informática (CDI), criado pelo brasileiro Rodrigo Baggio, no Rio de Janeiro. Mudança na Lógica de Elaboração e Gestão de Projetos INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E90 Desde 1994, Rodrigo Baggio teve o entendimento de que a tecnologia da infor- mática poderia ser uma grande ferramenta para lutar contra a exclusão social. Uma das estratégias foi unir todos os jovens de todas as classes sociais por meio da informática e das redes sociais disponíveis na época. Em sua pesquisa, detectou que o acesso aos conteúdo da informática só era acessível para quem tivesse um computador, por isso criou uma rede de Escolas de Informática e Cidadania (EIC), de forma autônoma e autossustentáveis, que tiveram início no Rio de Janeiro, mas, em pouco tempo, se espalharam por vários lugares do Brasil e até no exterior. O modelo de empreendedorismo social do CDI mantém uma vasta rede de parceiros, o que dá condições para sua sustentabilidade e possibilidade única de fácil reaplicação em outras localidades. É importante ressaltar que esse exemplo, e muitos outros, fazem parte de um movimento que busca enfrentar os problemas a partir da criatividade e procu- rando inovar em vários campos de maior necessidade humana, como a cultura, a família e a comunidade (KLIKSBERG, 2001). Mostrando, assim, que o empreen- dedorismo social, a partir do exemplo do CDI, se mostra de grande importância para o enfrentamento das questões socais de nosso tempo. Devido a essa impor- tância, é necessário destacar o que, em outros trabalhos (OLIVEIRA, 2004b), tenho enfatizado: primeiro, o que não é empreendedorismo social e,depois, o que é empreendedorismo social. Rodrigo Baggio foi um dos primeiros brasileiros a fazer parte do grupo de associados da Ashoka, uma ONG internacional que financia novos empre- endimentos sociais. Sua história é um grande exemplo de inovação e cora- gem no campo social. Veja mais, no link da Ashoka, a história desse grande empreendedor social Brasileiro, que, em 2004, foi considerado entre os 40 projetos sociais de maior importância do mundo. Para saber mais acesse: . Fonte: adaptado de Ashoka (2001). Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 91 a. Empreendedorismo social – considerações sobre o que não é. Primeiro, empreendedorismo social não é Responsabilidade Social Empresarial (RSE), pois a primeira tem parâmetros técnicos específi- cos determinados por outros organismo internacionais como a série ISO 26.0000. Segundo, empreendedorismo social não pode ser confundido com eco- nomia solidária, pois esse conceito e modalidade de empreendimento social apresenta, principalmente no Brasil, um teor mais político ideo- lógico relacionado com movimentos revolucionários dos operários do século XIX e o empreendedorismo social mais aberto e plural, e com uma lógica mais objetiva, concreta. Terceiro, não se caracteriza como sendo uma profissão, por não apresentar os requisitos necessários para se considerar, tanto legal como socialmente uma disciplina, como é o caso do Serviço Social. Quarto, não deve se confundir com o fato de uma organização ser da área social e, só por isso, já pode ser considerada como empreendedora, é pre- ciso muito mais do que só sua constituição jurídica para essa finalidade. Desta forma, a investigação realizada sobre o assunto (OLIVEIRA, 2004a, p. 447) destaca o que pode ser tipicamente característico do empreen- dedorismo social: a) é um novo paradigma; b) é um processo; c) é uma ciência e uma arte; d) é um indutor de auto-organização social e e) uma nova tecnologia de gestão social. Esses elementos podem ser identifi- cados no caso apresentando do CDI, como será ressaltado em seguida. b. Empreendedorismo social: considerações sobre o que é. Primeiramente, surge com forte influência do empreendedorismo pri- vado, mas se difere principalmente quanto aos objetivos, o privado visa lucro para poucos, o social visa lucro social para mais pessoas. Mudança na Lógica de Elaboração e Gestão de Projetos INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E92 Segundo, chama a atenção de ser um novo paradigma, pois apresenta parâmetros teóricos e fundamentos próprios nessa perspectiva. É, tam- bém, uma ação inovadora voltada para o campo social e nesse sentido, também pode ser considerado um inovador de processos. No caso do empreendedorismo social, destaca Oliveira (2004a), o processo tem iní- cio com a observação de um problema, o que leva a elaboração de uma proposta, sua execução e avaliação. O que se percebe é que, desse modo, o empreendedorismo social leva a busca de ideias inovadoras, o que o conduz a um entendimento desse processo ser considerado, por Oliveira (2004a), como sendo uma Ciên- cia, por apresentar elementos sistematizados de estudo e ação, mas uma arte, porque pode ser aplicado de formas diferentes por pessoas diferen- tes e resultados diferentes. Nos estudo efetuados por Oliveira (2004a; 2004b), verificamos que exis- tem sete características que distinguem o processo de empreendedorismo social de outras abordagens, como salientado anteriormente, como eco- nomia solidária e responsabilidade social. Veja no quadro quais são essas características e suas especificidades. Quadro 3 - Características do que é empreendedorismo social CARACTERÍSTICAS DESCRIÇÃO 1º) É uma ideia inovadora, ninguém havia realizado tal ação. A partir da observação de um problema, via de regra, local, procura-se uma forma diferente de resolver tal problema. 2º) Uma ideia que foi realizada. Às vezes as ideias são inéditas, mas às vezes são mudanças criativas que geram resultados mais satisfatórios. 3º) Se tornou autossustentável. A ação coloca em prática e, mesmo antes na sua elaboração, já é pensado uma forma de continuação. 4º) Envolveu várias pessoas e segmentos da sociedade (principal- mente a população atendida). Procura romper com o assistencialismo, envolvendo as pessoas que são alvo das ações, o que também contribuir, para a sua sustentabilidade e continuação inovadora. Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 93 5º) Provocou impacto social, local e global e que podem ser avaliados os seus resultados e retorno do investi- mento aplicado. É uma ação que colocada em prática, existe congruência entre discurso e resul- tados e que podem ser mensurados pela sua praticidade e objetividade de gestão, evidenciando os impactos e resultados do investimento. 6º) Foi multiplicada e aplicada em outras regiões e até em outros países. Como no caso do CDI a ação, quando é típica de empreendedorismo social, tem como principal plausibilidade a capaci- dade de ser reaplicada, se multiplicar em outras regiões e contextos. 7º) Se transformou em exemplo na elaboração de políticas públicas em vários Estados. Uma das maiores contribuições é essa característica, a de ser modelo, testado e aprovado no campo social e que pode, como tem feito, servir de modelo para po- líticas públicas, a exemplo do Banco dos Pobres na Índia, na década de 1970, hoje é conhecido como microcrédito, fomen- tado principalmente por política públicas de microcrédito. Fonte: adaptado de Oliveira (2004a). Esses elementos e a perspectiva de integração e inovação social fazem emergir outra grande característica do empreendedorismo social, do mesmo ser conside- rado um indutor de auto-organização social e de inovação social, o que parte do entendimento um processo de autopoiese, no dizer de Maturana (1997), em que um dos principais fatores é a capacidade de conservação da espécie humana e preservação do meio ambiente, o que só pode ocorrer quanto se tiver amor entre os seres vivos dentro de um sistema social, ou seja: A mudança social é uma mudança na configuração de ações coordena- das que define e a identidade particular de um sistema social particular. E isso porque a mudança social só acontece quando o comportamento dos sistemas vivos individuais que compõem o sistema social se trans- formam de maneira a dar origem a uma nova configuração de ações coordenadas que define uma nova identidade para o sistema social (MATURANA,1997, p. 190). Mudança na Lógica de Elaboração e Gestão de Projetos INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E94 É importante salientar que outras abordagens de intervenção social, tais como a economia social e solidária têm apresentado outros entendimentos, pois estão, via de regra, atrelados a uma ideologia político-partidária e que nem sempre apresentam congruência entre o discurso e suas práticas (OLIVEIRA, 2014). O mais importante a ser destacado é que o empreendedorismo social tem influen- ciado significativamente o modo de elaborar e gerir os projetos no campo social. Como mostro nos próximos tópicos. MUDANÇA NA LÓGICA DE ELABORAÇÃO E GESTÃO DE PROJETOS NA PERSPECTIVA DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL Anteriormente, sinalizei que as bases do empreendedorismo social podem gerar mudanças, partido do espaço local e atingindo os espaços mais amplos da socie- dade. Essa minha visão tem base na experiência que venho desenvolvendo, tanto em pesquisa, como é o caso de minha tese de doutorado (OLIVEIRA,2004a) como de experimentos práticos no campo da extensão e assessoria e consultoria (OLIVEIRA, 2008). Ambos foram colocadas em prática por meio de um projeto de extensão que culminou em várias ações. Quero destacar uma delas. A criação de uma cooperativa de mulheres, denominada de Coopermesa e formada por mulheres em risco e vulnerabilidade social. Como exemplo, é possível destacar o que estou defendendo como sendo um processo de inovação social por meio do empreendedorismo social e feito por assistentes sociais (OLIVEIRA, 2008). O projeto que me refiro foi denominado de Projeto Casulo Sócio-Tecnológico, dentro dele e por meio dele surge o segundo, que é a Coopermesa. Esse projeto teve início com uma pesquisa feita com uma aluna do curso de Serviço Social que detectou que mais de 60% dos alunos faziam parte de famílias monoparen- tais, ou seja, famílias que são chefiadas por mulheres. Ela procurou o projeto Casulo Sócio-Tecnológico, coordenado por nós, que buscou parcerias signifi- cativas à época, entre elas: Fundação Banco do Brasil, Receita Federal e uma em específico, a Associação Comercial e Empresarial de Toledo (ACIT). Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 95 Essa parceria seria decisiva no tocante a criação da cooperativa, pois, após formar um grupo de mulheres, com o perfil citado, houve um processo de trei- namento e elaboração de um empreendimento, que deveria ser e surgir a partir da vontade e desejo das mulheres. Esse processo teve três fases: 1. Capacitação de conhecimentos de gestão de empreendimentos e elabora- ção de plano de negócio social. 2. Territorialização e mapeamento de oportunidades no bairro onde elas mora- vam e elaboração de um mapa inteligente que mostrava os empreendimen- tos existentes e as possíveis oportunidades. 3. Escolha da forma de institucionalização e plano de negócio social e sua execução. Observe como a visão sistêmica-pragmática-crítica está presente nessa ação prá- tica de Serviço Social, como apresentei na primeira unidade. Decorrente à experiência da maioria do grupo, optou-se por costura e o sistema de cooperativa de trabalho. Então, foi constituída a Coopermesa – Cooperativa de Mulheres Empreendedoras Sociais em Ação. Para a sua criação tivemos o envolvimento da Associação Comercial e Industrial de Toledo-PR (ACIT), representando o empresariado da cidade, a prefeitura municipal, asso- ciação de moradores, as mulheres do projeto e voluntários de escolas e ONGs, como o Rotary Club. Por reivindicação das mulheres, sob nossa orientação, o prefeito da cidade cedeu uma área de 500 metros e a reforma de um galpão de cerca de 200 metros, onde, hoje, é a sede da cooperativa. Com o trabalho em andamento, foram gera- das várias outras parcerias, entre elas, com os Correios que doa, semestralmente, lotes de malotes de lona que seriam descartados. Com essa lona, as mulheres fazem bolsas de eventos para as faculdades e um dos maiores e melhores clientes foi a Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu. Outras empresas de confecção doa- vam restos de tecidos e o Correio doava malotes e camisetas usadas de carteiros. Com esses retalhos e materiais, elas confeccionam estopas, que são vendidas para oficinas e empresas que precisam desse material para limpar as mãos, e bolsas personalizadas com material reciclado. Mudança na Lógica de Elaboração e Gestão de Projetos INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E96 Durante um período de cinco anos, a cooperativa caminhou com suas pró- prias pernas e foi referência regional. Entretanto, em 2012, encerrou as atividades, e veja que paradoxo, não foi por falta de mercado, de clientes e de visibilidade. Ao contrário, teve tudo isso e mais um pouco, mas faltou gente para trabalhar. De um grupo de 32 mulheres ficaram apenas 3, cansadas e exauridas, e não con- seguindo dar conta da demanda de pedidos, com muitos problemas familiares, resolveram encerrar as atividades. Esse fenômeno me levou a estudar a fundo as causas desse “fracasso”, o que culminou em meu estudo de pós-doutoramento (OLIVEIRA, 2016) em que detectei como principal motivo a existência de benefícios sociais tal que bolsa família como preferência e justificativa de sair da cooperativa, ou seja, era melhor só receber o benefício social do que ter que produzir e se comprometer com um empreendimento. Outra causa que levou ao “fracasso” foi a falta de conheci- mento, competência, habilidade e postura adequada para a gestão e ao trabalho cooperativo e solidário. Veja a importância de nossa temática, não basta só saber mecanicamente os projetos, é preciso ver essas dimensões. Mas essa experiência trouxe muitos bons frutos também. Um deles foi a inclusão de uma senhora, vamos chamá-la de Dona Maria, que antes da coope- rativa ficava em casa, doente, pois tinha uma deficiência que a impedia de andar, já era idosa e sem nenhum alento. Quando soube da cooperativa, quis trabalhar, renovou o ânimo, conseguimos uma cadeira de rodas, ela se tornou a vice-presi- dente da cooperativa e até os vizinhos dela ficaram impressionados, antes disso, alguns achavam que ela havia até morrido. Mas não, ela estava muito viva. Um dia, cheguei à oficina de costura da cooperativa e ela estava fazendo “fuxico” (um pedaço de retalho costurado formando um tipo de peça que é encai- xado com outras até formar um tecido completo, tipo de um mosaico de pano), ela me disse com um sorriso maroto: “É professor Edson, aqui a gente faz fuxico e fuxica também”. Como me alegrei em ver que uma ação feita por assistentes sociais, por uma universidade pública em parceria com organizações da socie- dade civil, empresas, moradores e as mulheres pudessem gerar momentos como esses. Isso faz crer, e se orgulhar, de ser assistente social. O que você acha disso? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 97 E outras alegrias foram produzidas. Uma deles foi que Sra. Geni, presidente da Cooperativa, e uma grande lutadora, em 2010 recebeu o segundo lugar do Prêmio Nacional Sebrae Mulher Empreendedora. Também o projeto Casulo Sócio- Tecnológico, por meio da parceria com a Associação Comercial e Empresarial de Toledo, recebeu em, 2007, o Prêmio Ethos/Valor de Responsabilidade Social Empresarial e Sustentabilidade, mostrando a força e a inovação no processo de gestão social integrada, sustentável e solidária, induzida pelo empreendedorismo social. Além, é claro, de impactar vidas, tanto das mulheres como de outros pro- fissionais e estudantes de Serviço Social que vivenciaram esse momento. Essa experiência leva a crer que está havendo uma mudança na lógica de fazer projetos sociais e que experiências como essas podem aprimorar tanto ações sociais em empresas com os programas de Responsabilidade Social, como em melhorar e aprimorar as políticas públicas e potencializar as ações das organiza- ções da sociedade civil. E tendo como principal ator desse processo o assistente social e o Serviço Social como disciplina socioempreendedora. A MUDANÇA DA LÓGICA DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS Desde os primeiros estudos sobre o tema em 2003, já havia evidenciado uma mudança na lógica de elaboração de projetos sociais. No caso do empreen- dedorismo social, essa lógica é mais profunda, pois evocam outros conceitos, estruturas e exigências no tocante a propor um novo empreendimento. A isso se tem chamado de Plano de Negócio Social, tendo como referência história o Plano de Negócio da área empresarial, esse documento e processo de elabora- ção de proposta têm os seguintes objetivos: a) planejar as atividades, sistematizar a produção; b) apresentar uma referência e ser uma fonte de consulta e análise das ideias e dosprojetos da organização; c) auxiliar a apresentar propostas de captação de recursos e a dialogar com outros futuros parceiros e investidores. A Ashoka (2001) pode ser considerada umas das organizações que melhor difundiu esse conceito no Brasil, ela apresenta a seguinte estrutura: sumário executivo, organização, produto/serviço, mercado, marketing, equipe geren- cial, planejamento financeiro, riscos e oportunidades e plano de implementação. Mudança na Lógica de Elaboração e Gestão de Projetos INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E98 Também é possível ver essa lógica em editais de grandes organizações, exemplo: Fundação Banco do Brasil, Petrobras e do próprio Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em que elementos como sustentabilidade, impacto (resultados qualitativos e quantitativos) e possível repli- cação estão em evidência nesses processos. Mostrando que essa lógica passa não só para organizações do terceiro setor, mas também no primeiro e no segundo setor, alterando significativamente a lógica de elaboração de propostas e proje- tos sociais. Mas como isso está ocorrendo? A EXIGÊNCIA E NECESSIDADE DOS PROJETOS SEREM SUSTENTÁVEIS, DE IMPACTO E REPLICÁVEIS Uma das grandes evidências é a configuração não mais de simples projetos sociais, mas da elaboração de um Plano de Negócio Social. A partir do exemplo tanto do CDI como da Coopermesa,fica claro que um projeto, na perspectiva do empre- endedorismo social, deva apresentar outros três elementos fundamentais ao elaborar projetos sociais na perspectiva do empreendedorismo social e da ino- vação social, a saber: a) ter impacto social; b) ser sustentável e c) ser replicado. Esses fatores alteram significativamente a lógica de projetos sociais convencio- nais, principalmente no setor público, que via, de regra, não era cobrado/exigido resultados. Era como se fosse um saco sem fundo de captação de dinheiro público que não alterava nada. Nisso reside a necessidade de uma visão integral e inte- grada do processo de gestão de projetos sociais. A NECESSIDADE DE INTEGRAÇÃO E SOLIDARIEDADE ENTRE PESSOAS E ORGANIZAÇÕES Por fim, outro fator que evidência essa lógica é a capacidade e necessidade de se realizar parcerias, e parcerias com todas as organizações e seguimentos da socie- dade, percebe-se que não é mais possível setorizarmos as responsabilidades. Não é mais possível ficar culpando esse ou aquele pelas mazelas da humanidade. É Um Modelo de Gestão Social Integral e Integrado Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 99 preciso integrar recursos, esforços, desejos, sonhos para que o todo possa ser de benefício geral da sociedade e nisso o Serviço Social e os(as) assistente sociais têm um papel vital, o de ser um mediar de processos e interligar pessoas, seto- res e sabres para os fins de intervenção social e transformação social. Assim, podemos afirmar que é preciso, a exemplo do CDI e da Coopermesa, em específico, reafirmar a necessidade de integração dos esforços e otimização dos recursos, tanto públicos como privados. O problema é complexo, não pode ser tratado com simplismos e banalizações e, muito menos, com visões puramente ideológicas, românticas e sentimentalistas. É preciso ter muito profissionalismo e competência em gestão, lógica e objetividade (visão sistêmica-pragmática- -crítica). Essa lógica tem denominado de Gestão Social Integrada, Sustentável e Solidária, como procuro melhor explicitar. UM MODELO DE GESTÃO SOCIAL INTEGRAL E INTEGRADO Nas muitas ações que venho desenvolvendo no campo do empreendedorismo social com assistente social, por meio da extensão universitária, teve um exemplo que ilustra muito bem essa questão que hora quero ressaltar, da Gestão Social, Integral e Integrada, Sustentável e Solidária. Pobreza não será carência dada, natural, mas aquela produzida, mantida, cultivada por conta do conflito subjacente em torno do acesso a vantagens sociais, sempre escassas na sociedade. Ser pobre não é apenas não ter, mas, sobretudo ser impedido de ter, o que aponta muito mais para uma questão de ser, do que de ter. [...] a miséria é transformada em estratégia de acumulação de vantagens, mantendo o pobre como massa de mano- bra, objeto de manipulação. Fonte: Demo (1993, p. 2, grifo nosso). INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E100 Conheci um prefeito de uma cidade do norte do Paraná. Antes de ser pre- feito, sempre foi um empresário da cidade e bem-sucedido. A cidade fica numa área de declive a beira de uma rodovia. O prefeito empresário resolveu integrar esforços e recursos de várias áreas, tanto pública, privada como da sociedade civil para criar um tipo de parada de estrada em que se integrou um posto de gasolina. Até aqui nada novo, mas o diferencial da iniciativa foi a disponibiliza- ção de vários espaços para pequenas lojas, que seriam dos artesãos e pequenos comerciantes da cidade para gerar trabalho e renda. Além disso, no mesmo espaço, havia uma oficina de circo para crianças e adolescentes, que também servia de atividade de contraturno e educação artís- tica e cultural e de atração, bem como ponto turismo para atrair os transeuntes da estrada, que abasteciam no posto e compravam os produtos artesanais e ali- mentos típicos da região. Em um só espaço, integrou assistência social, geração de trabalho e renda, atração e captação de receitas para o município por meio do turismo e da exposição da cidade, o que também levou a captar recursos dos três setores e de secretarias diferentes. Esse exemplo mostra a lógica que estou chamando a atenção. É um modelo integrado, pois é preciso perceber que, em determinadas ações, exemplo dessa prefeitura do prefeito empresário, a geração de trabalho e renda, como um caso de ação especifica, não deve ficar só para a assistência social, ou pior, a Assistência Social só realizar ações pontuais e paliativas, tipo entregar cesta básica, cadastro para o Bolsa Família ou atos similares. A Assistência Social também tem que estar interligada aos demais setores da gestão pública, tais como: do comércio, do trabalho, da saúde, assim como as universidades e seus vários cursos têm que sair dos muros das escolas e ir para o campo, ir aonde o povo está, ver o que, de fato, estão precisando, conhecer a realidade, aprimorar as ações de intervenção (inovar), buscar na conexão entre sabedoria popular e conhecimento técnico e científico as possíveis soluções para os problemas que afligem a todos e acelerar um tipo de desenvolvimento que seja integrado, amoroso e sustentável. Um Modelo de Gestão Social Integral e Integrado Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 101 É integral, pois vê o ser humano em sua totalidade, seja na cultura, na reli- gião, em sua sexualidade, valores, hábitos, costumes, prioridades e não só como seres carentes só de consumo e manipulados pelo sistema capitalista, não com simples vítimas do sistema, mas como possível e necessários agentes constru- toras de sua história. E também é sustentável, pois os esforços da comunidade e integração com outros setores pode gerar a continuação do processo de auto-organização social com participação e comprometimento direto da população alvo das ações sociais. Por isso é solidaria, pois vê além de suas próprias necessidades e limitações, mas se une em prol do bem comum. Sem dúvida isso é inovação social e empreen- dedorismo social. A marca e a diferença maior entre um empreendimento dito de empreende- dorismo social e outro residem exatamente neste ponto em que a inovação,a criatividade dão vazão ao novo ou, pelo menos, uma forma diferente de fazer o que outros não conseguiram mudar. INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E102 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) Aluno(a), ao longo dessa unidade, apresentei dados, experiências, con- ceitos e considerações, procurando dar ênfase na importância do entendimento da inovação social e do no surgimento e caracterização do empreendedorismo social como um processo que vem crescendo e influenciando a lógica de fazer ações de intervenção social, principalmente no tocante a exigência de susten- tabilidade, reaplicabilidade e ideias inovadores, de alto impacto, qualitativo e quantitativo. Algo que, principalmente para as políticas públicas e sociais em específico, trazem, sem dúvida, um processo de inovação social. Essa inovação social faz emergir uma lógica do processo de empreendedo- rismo social, um estilo diferenciado de gestão social, denominado de Gestão Social Integrada, Sustentável e Solidária, forão apresentandos três exemplos, o do CDI, da Coopermesa e de uma prefeitura. E como vemos a diferença entre inovação social e inovação privada/empresarial, a primeira como sendo coope- rativa, sendo realizada com a outra para outros e com sentido de solidariedade que liberta, que emancipa por meio de novos arranjos e empreendimentos e tecnologias sociais, e a segunda para fins produtivos, acumulação privada, exclu- dente e sectária, que destrói o meio ambiente, separa as pessoas pela competição excessiva e predatória. Destaquei que essas informações e percepção interferem tanto na gestão social como na gestão dos projetos sociais e também na gestão do trabalho dos(as) assistentes sociais. Isso porque, como profissionais inseridos diretamente no enfrentamento das expressões da questão social em nosso tempo, não podemos abrir mão da inovação social, muito menos da lógica do empreendedorismo social como indutor e gerador de ideias e ações inovadoras de transformação social. Fator esse que permite integrar pessoas, organizações e, sobretudo, saberes que materializa nosso fazer profissional com congruência, ética, criticidade e , acima de tudo, respeito às pessoas. 103 1. Faça uma pesquisa na internet e procure um exemplo de inovação social, veja como o Serviço Social pode contribuir e se apropriar dessa inovação e aplicá-lo- aem seu cotidiano. 2. Qual a diferença entre inovação no sentido empresarial e no sentido social? 3. O que é empreendedorismo social e qual a importância do mesmo para a prática do Serviço Social? 4. No Serviço Social, e com base no que vimos nessa unidade, o que seria ter uma visão e gestão integral e integrada? 5. Considerando a proposta de empreendedorismo social de Oliveira (2008), usan- do a metáfora da metamorfose da borboleta, quais seriam as três fases? E qual sua opinião sobre a possibilidade de se colocar essa proposta em prática? 104 SOLIDARIEDADE QUE PRENDE E SOLIDARIEDADE QUE LIBERTA, QUAL É A SUA? Introdução Com o objetivo de contribuir com a ampliação do conhecimento dessa unidade, com- partilho um texto que escrevi para a Semana Nacional da Cidadania e Solidariedade, que ocorreu de 9 a 15 de Agosto de 2004. Na ocasião, essa reflexão foi proferida para empresários da Associação Comercial e Industrial de Toledo, ACIT. Aqui, fiz algumas adaptações para melhor entendimento e propósito de nossa reflexão, fazemos algu- mas colocações sobre o sentido de solidariedade e finalizando com algumas sugestões quanto à busca de uma solidariedade que liberta, sendo esse sentido e conceito aplica- do, também, na prática profissional do assistente social numa perspectiva de empreen- dedorismos social. Solidariedade uma palavra de muitas faces e efeitos A palavra solidariedade tem estado em destaque, principalmente em se tratando do enfrentamento à pobreza. O professor Dr. Pedro Demo, em seu livro Solidariedade como efeito de poder, ressalta, entre outros aspectos, que o termo solidariedade é ambivalente, ou seja, pode ter vários entendimentos e sentidos e efeitos opostos. Com base em estudos recentes da Biologia, destaca que solidariedade se aproxima de outras concepções, entre elas a da cooperação, do altruísmo. Citando os estudos de Wri- gth, enfatiza que o ser humano geneticamente apresenta, mesmo nos atos de bondade e solidariedade, formas egoístas de ser, o faz, na maioria das vezes, para poder sobrevi- ver ou se beneficiar. Principalmente quando as ações não ultrapassam o mero assisten- cialismo, a caridade e filantropia. Desta forma, há uma solidariedade antiga, muito próxima da caridade e da filantropia, que mais se preocupa somente em “dar”, em “ajudar”, no sentido de aliviar mais a consci- ência de quem “ajuda”, do que, efetivamente, resolver o problema do “ajudado”. Isso não só ocorre entre empresários que fazem doações e filantropia, pessoas ricas que fazem caridade, mas também com políticas públicas que são assistencialistas, reguladoras e mantenedoras do status quo. O resultado é uma solidariedade que prende, ou seja, que não resolve, que não eman- cipa, se muito, alivia, como foi no caso da borboleta. Esses exemplos fazem com que só se dê o peixe, ai o ajudado tem que voltar. Existe outra solidariedade, a que liberta que emancipa, essa requer que o “ajudador” saiba entrar em cena, mas, principalmente, saiba sair de cena, e o “ajudado” saiba que a solidariedade é um momento de apoio, mas que ele precisa saber dispensar a ajuda e ser autônomo, ser construtor de sua própria história para não ficar escravo e devedor de ninguém. 105 Essa solidariedade remete ao entendimento atual do que Maturana tem ressaltado so- bre o processo de preservação dos sistemas vivos, em que o principal elemento é o amor biológico, que se materializa nas ações coordenadas de preservar o ser da mesma espécie, sem amor, cuidado, o sistema social e seus componentes, em geral, e o sistema social humano em específico, acaba. “Se não há amor não há socialização genuína e os seres humanos se separam. Uma sociedade, na qual se acaba o amor entre seus mem- bros, se desintegra. [...] Ser social envolve sempre ir com o outro, e só se vai livremente com quem se ama”. Neste sentido, é preciso entender que os problemas que enfrentamos e que hoje, mais do que em qualquer momento de nossa história, nos convoca à solidariedade e requer que deixemos bem claro que tipo de solidariedade estamos falando e fazendo, pois os problemas que ai estão não são frutos da “indolência” ou “acomodação” dos pobres, mas da injustiça, falta de oportunidade, da desigualdade e de uma “solidariedade” esmolada, que mais aplaca a consciência de alguns. Precisamos exercitar uma solidariedade que liberta e emancipa. Neste sentido, qual tem sido a sua prática de solidariedade, a que liberta e emancipa ou a que prende e escraviza e não “ajuda” o “ajudado” e só minimiza sua consciência? Enfim, qual é a sua? Oito sugestões para realizar uma solidariedade que liberta Um bom exemplo dessa lógica foram as metas do milênio lançada no Fórum Econômico Mundial em 31 de Janeiro de 1999, pelo secretário geral da ONU Kofi Annan e que se caracteriza por ser “... uma iniciativa voluntária de cidadania empresarial, e como tal, não é um instrumento regulador – não “polícia” nem gera obrigações de comportamento ou de ações das empresas" (Manual do Global Compacta, p. 4), foram estabelecidos oito pontos como uma meta a ser alcançada até 2015 e que os 191 países da ONU, inclusive o Brasil, se comprometeram a realizar em parceria com empresas, governo e sociedade civil, alcançar as seguintes metas: 1. Acabar com a fome e a miséria. 2. Educação básica de qualidade para todos. 3. Igualdade entre os sexos e valorização da mulher. 4. Reduzir a mortalidade infantil. 5. Melhorar a saúde das gestantes. 6. Combater a AIDS, a malária e outras doenças. 7. Qualidadede vida e respeito ao meio ambiente. 8. Todo mundo trabalhando para pelo desenvolvimento. 106 É preciso que desenvolvamos uma solidariedade que liberta e isso se inicia não com grandes ações, mas com pequenas ações, a começar pelo entendimento adequado de que algumas ações, mesmo que de boa vontade, mais prendem do que libertam, mais prejudicam do que ajudam. Seja empresário ou empresária, patrão ou empregado, o importante é fazer a sua parte da melhor maneira possível e tudo passa pela capacidade de vermos, em cada um, outro amigo, solidário e fraterno, como nos ensina Salomão, que diz, “Ama o amigo em todo o tempo, e na angustia nascerá um irmão" (Provérbios de Salomão, 17;17) e que assim possamos optar por uma solidariedade que liberta e contribuir na construção de um mundo melhor e mais digno de se viver para todos. Fonte: adaptado de Oliveira (2004c, on-line)3. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Empreendedorismo Social: da teoria à prática, do sonho à realidade Edson Marques Oliveira Editora: Quality mark Ano: 2008 Sinopse: nesse livro o autor, que é assistente social, mostra como, mesmo em condições desfavoráveis, é possível sair da teoria e ir para a prática, de sair do mero sonho para a materialização de uma realidade, e isso, aplicando os princípios e estratégias do empreendedorismo social como fator de geração de inovação no campo social. É uma mistura de teoria produzido na tese de doutoramento do autor e de aplicação prática por meio de uma ação de extensão universitária que reunião grupos de pessoas e organizações tanto governamentais como comunitárias e empresas de uma localidade. Mostrando que é possível e necessário inovar as ações de intervenção social, fugir do mero discurso revolucionário para uma ação profi ssional efetiva e transformadora e não ser assistencialista, mas propositivo e, de afeto, intervir criticamente e criativamente na realidade como participação da população e envolvendo processo como de inovação social, participação e gestão íntegrada, integra, sustentável e solidária. Música do Coração Ano: 2011 Sinopse: nesse fi lme, estrelado pela fantástica atriz Meryl Streep, no qual sua personagem Roberta, que é deixada pelo marido, sai de uma pequena cidade e vai morar num grande centro de East Harlem, nos EUA. Na busca de fazer algum sentido e signifi cado para sua vida e para seus fi lhos, vai dar aulas de violino em uma escola pública. O objetivo era dar, para essas crianças da periferia, mais esperança, orgulho e poder para fazer algo por elas mesmas por meio de aulas de violino. Após 10 anos de ensino, a escola decide por cancelar suas aulas. Apoiada por seus amigos e pela comunidade local, ela decide lutar para manter o curso em funcionamento. Comentário: temos um bom exemplo do poder da lógica empreendedora e da necessária interação entre pessoas, organizações e, principalmente, de ativar em nós, seres humanos, o maior poder que temos: sonhar, lutar e materializar esses sonhos. Isso, em grande medida, é empreendedorismo social, pois empreender nada mais é do que sonhar e realizar, e se isso for junto, em comunhão, cooperação e solidariedade é ainda melhor. nesse livro o autor, que é assistente social, mostra como, mesmo em condições desfavoráveis, é possível sair da teoria e ir para a prática, de sair do mero sonho para a materialização de uma realidade, e isso, aplicando os princípios e estratégias do empreendedorismo social como fator de geração tanto governamentais como comunitárias e empresas de uma localidade. Mostrando que é possível e necessário inovar as ações de intervenção social, nesse fi lme, estrelado pela fantástica atriz Meryl Streep, no qual sua personagem Roberta, que é deixada pelo marido, sai de uma pequena cidade e vai morar num grande centro de East Harlem, nos EUA. Na busca de fazer algum sentido e signifi cado para sua vida e para seus fi lhos, vai dar aulas de violino em uma escola pública. O objetivo era dar, para essas crianças da periferia, mais esperança, orgulho e poder para fazer algo por elas mesmas por meio de aulas de violino. Após 10 anos de ensino, a escola decide por cancelar suas aulas. Apoiada por seus amigos e pela REFERÊNCIASREFERÊNCIAS ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS. Empreendimentos sociais sustentáveis. São Paulo: Petrópolis, 2001. DEMO, P. Pobreza política. São Paulo: Fundação Konrad-Adenauer – Stiffung, 1993. DOLABELA, F. Oficina do Empreendedor: a metodologia de ensino que ajuda a transformar conhecimento em riqueza. 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Destacar que se mostra como um processo de inovação social e dinamizador de transformações sociais pela via de novos arranjos sócio técnicos e ético-políticos e que, para o Serviço Social, faz todo o sentido, pois está no cerne de sua natu- reza interventiva, críticae propositiva, realizar ações dessa natureza e pretensão. 4. Destacar que não se pode ter uma visão reducionista, tanto da sociedade como, e principalmente, das pessoas, pois nem tudo se resume à economia e nem tudo e todos são vítimas. 5. As três fases são: lagarta, representando a ideia inovadora; o casulo, que seria o momento de testagem e aprimoramento da ideia; e a borboleta, significando a aplicabilidade e ampliação da ideia. A ideia em si pode ser reproduzida, pois se mostra simples, barata e de fácil reaplicação com possibilidade de desencadear alto impacto. U N ID A D E IV Professor Dr. Edson Marques Oliveira GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Objetivos de Aprendizagem ■ Identificar os principais pontos da gestão de projetos sociais. ■ Analisar os modelos de estruturação de projetos e o uso de indicadores sociais. ■ Saber utilizar esses conhecimentos e sua aplicabilidade na prática profissional do assistente social. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Plano conceitual da estrutura de projetos ■ Modelos de estrutura de projetos ■ Estratégia básica para elaboração e gestão de projetos e sua aplicação na prática do assistente social INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! No cotidiano profissional é muito comum vermos alguns pedidos aos profissionais que são complicados, mas inevitáveis. Um exemplo quase que clássico é um superior chegar e pedir ao assistente social: “veja, está saindo um edital e precisamos fazer um projetinho para captar recursos. Faça um.” Isso torna nossa prática profissional mais emocionante e desafiadora, pois você sempre tem que ir à luta para conquistar seu espaço, e a melhor forma disso é mostrar e não só ficar falando. Mostrar ações concretas, bem elaboradas e resultados significativos. E aqui reside a diferença entre profissionais e projetos convencionais e projetos e profissionais empreendedores, do nada fazer surgir algo, como dei o exemplo do Projeto Casulo Sócio-tecnológico, que chegou, em 2007, a receber um dos reconhecimentos mais significativos, o Prêmio Ethos- Valor de Responsabilidade Social Empresarial e Sustentabilidade, e fora outras questões como os resultados efetivos de inclusão social de pessoas, como a Dona Maria a qualrelatei na Unidade III. Cito esse exemplo real para ilustrar que no campo da gestão social e, principal- mente, de projetos, é preciso ter conhecimento, e saber lidar com as adversidades, que não são poucas, mas que podem e devem ser superadas uma a uma. O que ajuda a fazer isso é, sem dúvida, o conhecimento de alternativas e estratégias na gestão e elaboração de projetos sociais. É o que veremos a seguir. Primeiro, pontuaremos alguns conceitos básicos da estruturação de projetos, em seguida veremos alguns modelos e formatação de projetos, que podem servir de referência para a elaboração de futuros projetos, bem como sinalizar a forma- tação de projetos inovadores. Então, apresentaremos um exemplo prático de um roteiro de elaboração de projeto e como que esse conhecimento pode ser apli- cado no campo da prática profissional do Serviço Social. Vamos lá. Bons estudos! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 113 ©shutterstock GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E114 PLANO CONCEITUAL DA ESTRUTURA DE PROJETOS Caro(a) aluno(a), você lembra que na Unidade I contei a história do diálogo entre um futuro e provável paciente e um psiquiatra? Uma das maiores lições foi que não podemos só focar os problemas, mas sim nas possíveis soluções. Pois bem, um das lições que havia sinalizado é que, muitas vezes, damos mais atenção aos problemas do que pensar e focar em buscar as soluções, tais como cerrar o pé da cama ao invés de gastar mais de 30 mil e perder dois anos de sua vida para resolver algo com menos tempo e menor custo. E é nessa questão que reside a importância de ter clareza dos conceitos e dos elementos que permeiam esse processo, tanto de gestão quanto de elaboração de projetos no campo social e, principalmente, realizado por assistentes sociais numa perspectiva de empreendedorismo social. Muito bem, agora cabe lembrar algo que a nossa fundadora da profissão Serviço Social, Mary Richmond, nos ensinou há 100 anos: que nós somos pri- meiramente profissionais e cientistas sociais aplicados. O que isso significa? Que, ao pensar na elaboração de um projeto social, o nosso ver, planejar e agir deve ser diferente de outros profissionais e de outras disciplinas. E qual seria essa diferença? Seria pensar e ver o processo em sua totalidade de forma crítica construtiva, propositiva e empreendedora. Plano Conceitual da Estrutura de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 115 Com razão você já está se perguntando: como fazer isso, professor? Primeiro, não buscar receitas prontas e nem mágicas, mas é possível e necessário ter parâ- metros e referências concretas. Na Unidade III, já fiz algumas indicações e aqui farei mais algumas, mas a principal, é ter uma visão profissional, investigativa, o que passa pelo uso do método científico como principal parâmetro técnico. E o que é o método científico? De forma simples, seria a relação operacional de definir um problema, uma hipótese (para confirmar ou não o problema definido), forma de verificação (ins- trumentos de coleta de dados, tipos de pesquisa, estratégia de coleta e tratamento de dados) e conclusões (confirmação ou não das hipóteses e possíveis achados, analisando os dados que foram coletados frente ao problema estabelecido). Não tenho dúvida que você já vai pensar, “mas professor, isso eu vi na aula de pesquisa, agora estou na aula de projetos sociais, o que isso tem haver?” É simples, o primeiro processo para realização de um projeto é que você só faz pro- jetos para resolver problemas ou melhorar as coisas, logo, a primeira pergunta é: o que será o alvo do projeto? Para isso, é preciso ter uma postura investiga- tiva, pois só se faz pesquisa bem, como projetos, quando queremos fazer algo. Então, quando apresento esse esquema básico do pensamento do método científico, não estou dizendo que você vai aplicá-lo tal como se faz na disciplina de pesquisa ou na construção do TCC. Estou, assim, sinalizando que a forma, postura e sistematização do produzir conhecimento devem ser o mesmo. Isso é, seja, a forma de pensar deve ser preservada, com clareza, objetividade, coerên- cia e credibilidade, tanto no modo de produzir conhecimento como no modo que se expressa o pensar, o agir e, por fim, o modo de desenvolver o seu traba- lho de intervenção como assistente social. Aqui, entra em jogo a importância do assistente social apresentar o seu estilo e modo de trabalhar. Qual seria esse modo, método de trabalho? Na literatura atual e corrente da categoria Serviço Social, pelo menos aqui o Brasil, isso não fica muito claro. Por exemplo, existe quem diga que o Serviço Social não tem metodologia específica e que ela se constrói no processo, o que deixa a gente numa situação do faz como pode. Aí, vão perguntar: por que, então, fazer um curso de quatro anos? GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E116 Há também outros que defendem que o método do Serviço Social é o mate- rialismo histórico dialético em Karl Marx (TÜRCK, 2008). Seja lá o que isso significar, é, no mínimo, um disparate, pois nem Marx deixou isso claro e há, na comunidade científica mundial e na literatura especializada, quem duvide dacientificidade ou de que seja, de fato, o materialismo histórico dialético em Marx, um método científico (MÜLLER, 1983). É estranho uma profissão, que tem uma história e precursores com uma identidade própria, como da proposta de Mary Richmond, adotar um “método” que seja de uma outra disciplina, sendo que é notório que a proposta marxista que foi formulada mais para servir de um programa político-partidário-ideológico do movimento revolucionário e dos sin- dicatos dos trabalhadores do século XIX (BOBBIO, 1999) do que, propriamente, um método que poderia ser utilizado para outras abordagens, principalmente em uma profissão que é historicamente de intervenção, que não pode se dar ao luxo de só ficar refletindo sobre as expressões da questão social ou dos parado- xos do sistema capitalista etc. Mas isso, é outra história. O que interessa neste momento, e para a reflexão presente, é que venho defen- dendo, há um bom tempo e com base em pesquisas, experimentos e experiência vivencial e quero compartilhar com você. O Serviço Social não tem um método como as ciências sociais, a sociologia, a psicologia e a antropologia. Entretanto, por sermos uma ciência social aplicada, temos sim uma metodologia própria e histórica de se trabalhar. Resumido, isso pode ser exemplificado da seguinte forma: primeiro, desde as primeiras obras de sistematização da profissão como é o caso de Diagnóstico Social, em 1917 e O que é Serviço Social de Caso, de 1922, ambos de Mary Richmond, sempre se teve a preocupação de ter uma abordagem científica, e lógica, para se diferenciar de outras formas de ação humana, tais como assistencialismo, cari- dade, filantropia, sindicalismo, movimentos sociais, ONGs ativistas, partidos políticos, entre outros. É importante reforçar que em outras áreas do conhecimento a referência que se tem é o método científico (LAVILLE; DIONNE, 1999) e o que deu origem à profissão foi essa lógica, nesse sentido, os assistentes sociais não podem fugir a essas tendências com o risco de não conseguir dialogar com outras áreas do saber humano e não ser coerente com seu discurso e como sua prática. Plano Conceitual da Estrutura de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 117 Assim, é importante recordar que, historicamente, o Serviço Social, em mea- dos 1920, surge com o chamado método de estudo de caso, e depois, por volta de 1940, surge o método de grupo, e pem torno do ano de 1950 o método de desenvolvimento de comunidade. Sendo que, nos anos vindouros, desde 1960 até final de 1980, surgem vários trabalhos defendendo um método único ou geral, ou ainda muito conhecido como método genérico do Serviço Social (VIEIRA, 1982), que seriam as três abordagens: caso, grupo e comunidade, por se entender que havia semelhança quanto ao desenvolvimento de ação. Tal método teve várias versões, mas, de forma sintética, poderia ser entendido e composto de duas fases e suas respec- tivas ações operacionais, que seriam: Quadro 1 - Esquema do método único do Serviço Social FASE AÇÕES OPERACIONAIS DETALHAMENTO DIMENSÃO 1 - Investigação 1.1 Diagnóstico Estudo do problema a ser tratado, en- frentado, resolvido. Micro: Indivi- dual. Messo: Grupal, Organizações e Instituições. Macro: Comunidades e sociedades, Políticas e go- vernabilidade. 1.2 Planejamento Forma organizativa que será enfrentada as questões diag- nosticadas. 2 - Intervenção 2.1 Execução Colar em prática o que foi planejado. 2.2 Monitoramento Acompanhar e re- direcionar, quando for o caso, as ações planejadas. 2.3 Avaliação Avaliar o planeja- mento, o impacto e realimentação do processo. Fonte: adaptado de Vieira (1982). Note que essa forma de trabalho metodológico profissional é, ao mesmo tempo, um modo científico, o que dá, ao Serviço Social, um caráter de ciência social aplicada, pois investigamos a realidade para intervir nela. Dessa maneira, é uma forma peculiar de captação de dados e informações da realidade que se quer GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E118 intervir, seja ela de âmbito micro, com indivíduos: messo (mediano) com gru- pos ou macro (comunidade local, regional ou nacional sociedade como um todo) e portanto de leitura crítica da realidade e também de elaboração de ações que sejam concretas e congruentes de intervenção. Isso porque construir conheci- mento no Serviço Social é uma ação praxiológica. Praxiológico é a mistura de duas palavras: Práxis do grego, significa ações pensadas e refletidas e de lógia, que significa ação de conhecer. Então, agora fica mais fácil entender essa palavra estranha, praxiologia, que seria o mesmo que dizer que o conhecimento é produzido a partir da prática cotidiana, no caso do Serviço Social. Seria o mesmo que afirmar que o conhecimento que dará dire- ção às suas ações vem da realidade da prática cotidiana em que o profissional está inserido. Você pode estar se perguntando: muito bem, e aí professor em que isso se encaixa nessa questão da gestão e na laboração de projetos? É preciso, aqui, relembrar que vimos que existem, na lógica de gestão, alguns elementos de maior importância. Destaque, primeiro, a compreensão dos níveis de gestão. Lembrando, são eles: a. Estratégico: pensar a longo prazo com menos detalhes. b. Tático: pensar em médio prazo, com um pouco mais de detalhamento. c. Operacional: pensar a curto prazo e com maior detalhamento. É aqui que entra a formatação dentro desses níveis à forma de gestão que são traduzidos como vimos em suas funções basilares: a) planejamento, b) organi- zação, c) direção e d) controle. Vamos fazer um exercício de como essas funções se aplicam ao método de trabalho do Serviço Social, proposta anteriormente, em que isso tudo se encaixa com a elaboração e gestão de projetos. Na primeira função, planejamento, é o momento em que se pensa como o profissional agirá no campo no qual pretende atuar. No quadro em que mostrei o esquema do método único do Serviço Social, vemos que essa fase corresponde ao diagnóstico que ajuda a elaborar o planejamento, já que o como fazer requer, antes de tudo, saber o que se quer trabalhar, por isso que a investigação e o Plano Conceitual da Estrutura de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 119 planejamento de qualquer ação devem ser feitos no nível micro, messo ou macro. E como, de forma material e concreta, essas ações planejadas são materializadas? O planejamento no nível hierárquico de gestão, é considerado estratégico, ou seja, permite pensar a longo prazo e de forma mais geral e ampla, e a forma de materialização de planejar é por meio da elaboração de PROGRAMAS, que terá um nível e detalhamento maior, mas ainda num nível de gestão tático. Dentro desses programas, e para sua execução efetiva, é que se encontram os PROJETOS, os quais estão no nível operacional de curto prazo e com maior detalhamento de ações. Notou o quanto é importante tudo que vimos anteriormente? Pois veja como isso tem implicações complexas, seja no diagnóstico, seja na forma de planejar as ações que, por sua vez, estão inseridas em um contexto cercado de questões que podem impedir os seus sonhos. Sendo assim um dos modelos de planeja- mento mais usais é o planejamento estratégico, o que é outra história, e você verá em outras disciplinas. A função organização é traduzida de forma a explicitar a maneira organiza- tiva e estruturante que se dará as ações planejadas, as quais serão feitas as ações programas, projetos e serviços, com base no diagnóstico e no planejamento efe- tuado. Aqui dependerá do espaço em que você estiver atuando, seja uma ONG, Prefeitura, Empresa, setor ou emuma força tarefa, ou seja, um grupo de traba- lho para elaboração de uma proposta e assim por diante. Entretanto, a lógica poderá ser a mesma. A função direção está relacionada ao rumo que será dado às pessoas e ao próprio profissional quanto às ações que serão colocadas em prática. Aqui, entra em ação a segunda fase metodologica do Serviço Social, a intervenção, que será efetuada. Na gestão, quando se pensa direção, a mesma é expressa na formula- ção da missão (razão de ser do seu trabalho) e nos valores (prioridades) e como se quer ser reconhecido, fatores esses que vão permear as suas ações e moti- var os envolvidos, dar uma identidade própria e necessária à sua forma de agir. O que segue a aplicação da próxima função de gestão, que é o controle, está relacionado a ações operacionais do método de trabalho do Serviço Social, o monitoramento e a avaliação. Em síntese, seria saber se o que foi diagnosti- cado, elaborado e planejado como ações de intervenção e que foram executadas GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E120 e planejadas chegaram às suas finalidades. Lembra quais são? Eficiência, Eficácia e Efetividade. Como você já percebeu, estamos juntando tudo de forma sistema- tizada e organizada, em que ao mesmo tempo você pode pensar cientificamente e profissionalmente o agir profissional e localizar o modo de gestão de proje- tos sociais. Controlar é, antes de tudo, saber o que está acontecendo e porque está acon- tecendo, o que permite, numa visão sistêmica-pragmática-critica, vislumbrar a detecção de erros e acertos e do que é preciso melhorar. É importante salientar que, ao fazer esse processo, você estará trabalhando com outras variáveis que a gestão tem como objeto e objetivo de sua ação, e que no caso da elaboração e gestão de programas, projetos e serviços sociais são vitais, são eles: a) tarefas; b) estrutura; c) ambiente; d) tecnologia; e) pessoas; f) leis; g) pro- cessos e com isso, alcançar as finalidades da gestão. Veja uma síntese do que acabei de apresentar considerando os seguintes fatores: a. Serviço Social, que tem como Metodologia de trabalho profissional e cien- tífico, em uma perspectiva de gestão socioempreendedora em que realiza as seguintes operacionalizações. b. Fase 1 - Investigação: diagnóstico e planejamento; c. Fase 2 - Intervenção: execução, monitoramento e avaliação, e que se pro- cessa conforme os elementos do quadro a seguir: Plano Conceitual da Estrutura de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 121 Quadro 2 - Fluxo de elementos de gestão do trabalho do assistente social na gestão de seu trabalho e de ações planejadas. MACRO MESSO MICRO TIPO DE ORGANIZAÇÃO: Governamental, empresarial e ONGS PÚBLICO ATENDIDO: Indivíduos Grupos Comunidades Recursos: material, �nanceiro e humano GESTÃO: Planejamento, organização, direção e controle Plano, programa, projeto e serviços Estratégia Tático Operacional Fonte: o autor. Note que no quadro estão próximos a identificação de elementos que se comple- mentam. Exemplo: junto às organizações do primeiro, segundo e terceiro setor, que têm como público indivíduos, grupos e comunidades, tendo que lidar com recursos, materiais, financeiros e humanos por meio das funções gerenciais, pla- nejamento, organização, direção e controle, os quais estão inseridos nos níveis, estratégico, tático e operacional e que por sua vez são materializados por meio de planos (longo prazo, estratégico), programas (médio prazo e tático) e pro- jetos e serviços (curto prazo e no nível operacional), a que são direcionadas a nível macro (Sociedade, Estado e Políticas) messo (grupos, comunidades, insti- tuições) e micro (indivíduos e famílias). Nesse sentido é possível perceber em que lugar está o projeto, sua condi- ção com a gestão mais ampla. Reforçando o que se viu nessa primeira parte da Unidade IV, o que seria plano, programa, projeto? Alguns conceitos: GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E122 Plano = “[...]é a soma de programas que procuram objetivos comuns, ordena os objetivos gerais e os desagrega em objetivos específicos, que constituíram por sua vez, os objetivos gerais dos programas [...]”(COHEN; FRANCO, 1993, p. 6), ou seja, conjunto de programas que visam a solução de problemas e satisfação de necessidades. Programa = “[...] é o conjunto de projetos que perseguem os mesmos obje- tivos[...]” (COHEN; FRANCO, 1993 p. 85) e, também, conjunto de projetos que têm as mesmas finalidades do plano. Projeto = “[...] é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas para alcançar objetivos especí- ficos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo e dados” (COHEN; FRANCO, 1993 p. 85), unidade mais operativa do planejamento. Então, agora fica mais claro que se, depois de formado(a), alguém chegar e pedir “faz um projetinho aí”, você deve tomar todo o cuidado de ver em que esse projeto, e não “projetinho”, será inserido, pois você não pode criar um projeto que não seja conectado e coerente a um programa, e esse programa conectado a um plano e esse plano deve estar relacionado e congruente a um desenho de gestão organizacional em que o planejamento, a organização a, direção e o con- trole fazem parte desse processo e devem ser considerados em toda sua dinâmica, como procurei mostrar no quadro anterior. Esse conhecimento, que agora você tem, tanto lhe será útil para a elaboração e gestão de projetos como da gestão do seu trabalho profissional que, no final das contas, será o seu maior projeto de vida depois de formado ou até antes. Já pensou nisso? Afinal, sua prática nessa área não pode ser como no velho ditado popular: “Casa de ferreiro espeto é de pau”. O melhor exercício de saber fazer projetos é projetar os seus próprios projetos, então, mãos à obra. E só reforçando mais uma coisa, isso que foi apresentado também pode ser destacado como uma forma necessária de pensar e agir cientificamente e também profissionalmente, que deve ser permeado por valores, como ética, participa- ção, transparência, democracia e, sobretudo qualidade, tanto técnica (que fazer) como política (porque e para quem fazer). Desafios esses que ficam ainda claros e interessantes quando vemos que não existe uma única forma de fazer isso, é o que apresento no próximo tópico dessa unidade. Modelos de Estrutura de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 123 MODELOS DE ESTRUTURA DE PROJETOS Você deve lembrar que no início de nossa disciplina, na Unidade I, disse que sem- pre que encontro um(a) aluno(a) recém-formado e que recentemente ingressou em alguma atividade da área no Serviço Social, geralmente prefeituras muni- cipais, pergunto o que mais foi exigido quando da entrevista de seleção. Quase todos(as) dizem a mesma coisa, a primeira pergunta que fazem aos recém-for- mados é: “você sabe elaborar projetos?” aqui, reside uma questão importante: por que e para quem elaborar um projeto? Sem dúvida, decorrente do cenário em que vivemos, grande parte das intenções para elaborar um projeto é levantar recursos para sua realização e manutenção. Existem, também, outros objetivos e intenções, como melhorar ações, inovar produtos, ampliar intervenção etc. Mas, no tocante ao Serviço Social, a elaboração de projetos ou de serviços é uma questão de sobrevivência. Você vai se deparar, como eu e muitos colegas da prática e da academia se deparam, que, muitas vezes, não, há recursos e con- dições efetivas de ação. Então,ONG e garantir uma melhor condição de cuidados e proteção aos animais. Observe as palavras que, propositadamente, deixei em negrito: Organizar, atividade, arrecadar, priorizar, compromisso, entre outros. Fiz isso para chamar a sua atenção em três aspectos. Primeiro, que qualquer atividade que envolva a gestão de um projeto, você terá: a) um contexto, no nosso exemplo uma crise que leva as pessoas a darem outras prioridades; b) organizações, no caso, uma ONG de proteção a animais que tem objetivos, metas, necessidades para sua sobrevivência e estratégias para alcançar seus objetivos, no caso arrecadar fun- dos financeiros para suas atividades e, por fim, c) pessoas, que são motivadas ou desmotivadas, são comprometidas ou descomprometidas. O fato é que em tudo que você for realizar nessa área de gestão de projetos, essas três configu- rações: contexto, organizações e pessoas irão influenciar profundamente. Com isso, espero que você aguce sua visão crítica desse processo. Bom estudo! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 POR UMA VISÃO E UM PENSAR MAIS DIALÓGICO DO QUE DIALÉTICO Como afirma Maturama (2001, p. 14),“Tudo é dito por um observador”, o que significa que o explicar, seja cientificamente ou não, está relacionado aos limites de que temos como observadores na convivência de nossas relações e da expe- riência do viver em sociedade. Nessa perspectiva, quero fazer um convite para exercermos um olhar e o modo diferente de reflexão que denomino como dia- lógico e não dialético. O pensar dialético sempre leva, necessariamente, a uma síntese (tese, antese e síntese) o que, via de regra, significa que uma ideia deva prevalecer sobre outra, na medida em que a argumentação seja mais “convincente”. Na perspectiva dialógica, não há necessidade de uma prevalência de uma ideia sobre outra, parte-se do princípio que tudo é aprendizado e que uma ideia pode conter elementos que podem ser importantes tanto quanto outras ideias. O importante é que as ideias sejam claras, congruentes e tenham sentido e sig- nificado quanto a sua formulação e o resultado que sua aplicação proporciona. Veremos isso de forma mais detalhada nos próximos tópicos. ©shutterstock O Paradigma Predominante no Campo da Gestão e Análise de Configurações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 O PARADIGMA PREDOMINANTE NO CAMPO DA GESTÃO E ANÁLISE DE CONFIGURAÇÕES: PRAGMÁTICO, SISTÊMICO E CRÍTICO A palavra paradigma significa visão e teoria predominante de uma determinada época histórica e, na atualidade, em praticamente todas as áreas do conhecimento humano, no século XXI, é do pensamento sistêmico (VASCONCELOS, 2015). O campo da gestão não foge à regra (CHIAVENATO, 2003). Isso é de máxima importância, pois o Serviço Social tem como grande desafio criar condições inova- doras de intervenção na realidade, o que passa pela elaboração de planos, programas, proje- tos e serviços sociais. Mas o fazer não está destituído do pensar. É nessa perspectiva e constatação que acredito que possa surgir a inovação e formas alternativas, críti- cas e criativas de exercer a profissão na área do Serviço Social. Com isso, a área pode se destacar de forma geral e na questão da gestão social. Tal destaque é fundamen- tal, uma vez que o campo de trabalho de Serviço social vem exigindo a aplicação da intersetorialidade e a da interdisciplinariedade, pois temos que conviver com outros saberes e profissionais e precisamos, além de um discurso bem alinhado, mostrar de forma prática o que podemos e devemos fazer. É o que reforço na unidade cinco. Entretanto, nesse momento da unidade, é preciso ter uma visão e paradigma predominante no campo da gestão. Isso é formulado a partir de duas matrizes que se interligam. Refiro-me a perspectiva do pragmatismo e da abordagem sis- têmica, o qual aqui dou um novo sentido e um olhar dialógico que chamo de perspectiva pragmática-sistêmica-crítica. Pragmática com base nos clássicos desse método de pensamento, principal- mente em Charles S. Peirce (1998) e em autores contemporâneos, como Richard Sennett (2004; 2012) tendo como principal base e preocupação a busca de con- gruência entre o que se propõe, sua aplicação e seus resultados e impactos na vida humano-social. CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Sistêmica porque dialogando com os clássicos dessa corrente de pensamento, como os trabalhos de Ludwig Von Bertalanffy (1995) e do entendimento de sis- tema como elementos que estão interligados entre si e como sistema aberto, que tanto influencia quanto é influenciado pelo meio ambiente em que está inserido. Porém, entendendo também e de forma mais contemporânea, a existência de sistemas complexos e autopoéticos, como é o caso da abordagem sistêmica em Maturana (1997) que permite ampliar os horizontes do processo de construção do conhecimento da realidade com vistas à intervenção. A perspectiva também pode ser considera como crítica, pois ambas as matrizes permitem ir a raiz dos problemas na ordem temporal da vida e da história da huma- nidade. Isso é, o ser humano e sua interação e relações sociais em um meio ambiente complexo e paradoxal como o que se apresenta no atual século XXI. O que, em se tratando de gestão, é um fator de máxima importância a ser dar a devida atenção. Tanto que sua teoria e seus estudos foram realizados no meio acadêmico mais progressista da América do Norte, em sua época, ou seja, na escola de Chicago, junto com intelectuais como John Dewey (1859-1952) e George Hebert Mead (1863-1931) (ARANDA, 2013). Foi o ponto de partida para a construção, na década de 1930 do século XX, do que hoje tem sido identificado como uma visão e uma aborda- gem interacionista simbólica, utilizada por vários pensadores tidos pós-modernos, como Michel Foucault (1926-1984), Jacques Derrida (1930-2004), entre outros. Nesse sentido, e já parafraseado um princípio da Biologia do conhecido de Maturana, (2001, p. 14) “tudo é dito por um observador”, logo, eu como obser- vador estou me dirigindo a outros observadores, vocês, juntos fazemos parte do que podemos chamar de comunidade profissional, em que procuramos compar- tilhar conhecimentos tanto do mundo acadêmico como do mundo da prática, de modo que um e outro estejam em sintonia. Essa perspectiva nos ajuda a ter uma visão em que se pode focar mais na solução do que só ficar focando o problema, que, a meu ver, é típico da relação dialética e do pensamento hegemônico atual no Serviço Social. Algo que para o campo da academia até certo ponto é interessante, mas em se tratando de uma profissão interventiva, cuja maior exigência da própria realidade em que está inserido é dar respostas às demandas cotidianas, isso se torna limitador. Isso é, ficar só na análise do problema sem dar a solução congruente e efetiva. Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Podemos ilustrar isso com uma anedota (TADEU, 2012, p.129): Um paciente diz ao psiquiatra: —Toda vez que estou na cama, acho que tem alguém embaixo. Ai eu vou embaixo da cama e acho que tem alguém em cima... Pra baixo, pra cima, pra baixo, pra cima... Estou ficando maluco! Psiquiatra: — Deixe-me tratar de você durante dois anos. Venha três vezes por semana e eu curo esse problema – diz o psiquiatra. Paciente: — E quanto o senhor cobra? Psiquiatra: — R$120,00 por sessão. Paciente: —é preciso usar a maior ferramenta que temos: a imaginação, criatividade, criticidade e mão na massa. E aqui vai uma dica importante: quando você quer elaborar um projeto para conseguir recursos, você vai se deparar com uma constelação enorme de normas e regras para apresentar o seu projeto, seja em forma de editais governamentais, ou, regulamento de concursos ou políticas de investimento social. É impressio- nante, mas cada organização vai exigir que você siga um roteiro para apresentar o seu projeto à sua solicitação. Via de regra, você terá que apresentar um documento que explicite de forma clara, objetiva e honesta algumas questões chaves que qualquer investidor ou financeiro, seja órgão governamental, empresarial ou fundação, quer saber. O que você que fazer? Quem será objeto de sua ação? Quais serão os objetivos e metas a serem atingidos? Quanto isso custará? Em quanto tempo isso será rea- lizado? Poderá ser sustentável? E se der errado, o que será feito? E assim por diante, várias coisas precisarão ser explicitadas, além da descrição e identifica- ção de sua organização e de sua formação ou posição institucional. GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E124 Nesse sentido, uma primeira dica: você tem duas tarefas preliminares antes de sair batendo nas portas atrás de recursos. Primeiro, ter todas as informações possíveis e necessárias para apresentação de seu projeto, em outros termos você, tem que investigar, sistematizar as informações e ter clareza do que fazer, como será feito, em quanto tempo e quanto isso custará. O MODELO CONVENCIONAL E BÁSICO A segunda tarefa é materializar essas informações e, com isso, criar um tipo de banco de dados básicos que poderá ser acessado quando necessário. Nesse sen- tido e para ser estratégico, a minha sugestão é que se faça de imediato um projeto com uma estrutura que chamo de convencional ou básica. O que seria isso? Veja no Quadro 3 a síntese dessa primeira estrutura a ser apresentada. Quadro 3 - Estrutura e caracterização do modelo de projeto convencional. ESTRUTURA DESCRIÇÃO OBJETIVOS 1. Justificativa Você apresenta em linhas gerais com dados o porquê é importante obter o inves- timento necessário para realizar o presente projeto. Sensibilizar, informar e justifi- car a importância e relevância da realização do projeto. 2. Objetivos Alguns solicitam até obje- tivos gerais e específicos. De toda forma, os objetivos específicos são os desdobra- mentos dos objetivos gerais, que tem que deixar claro o que você quer fazer, em termos descritivos e qualita- tivos. Deixar claro o que você quer fazer e aonde quer chegar. Explicitar também os alvos. Exemplo: alcançar e retirar crianças e adolescentes das ruas. Modelos de Estrutura de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 125 3. Metas Às vezes é confundido com os objetivos. A melhor forma de diferenciar é ver o seguin- te: objetivos são intenções a serem alcançadas. Meta é a quantificação dessas inten- ções, ou seja, o que quantita- tivamente se quer alcançar. Mostrar em termos quantita- tivos o que você pode e quer alcançar. Exemplo, diminuir em 50% o número de crianças e adolescente de rua - em 24 meses na cidade de Toledo, PR. 4. Metodologia Os passos, as ações que serão realizadas para se alcançar os objetivos e metas propostos face ao problema a ser combatido e justificá- -los. Explicitar de forma qualitativa e quantitativa as ações em sua ação lógica que será realizada, explicitar o que você sabe e o que está fazendo ou, pelo menos, o que está querendo fazer. 5. Recursos Apresentar claramente quan- to custará e quais outros recursos, como tecnológicos, humanos; materiais que serão necessários para a realização do projeto. Demonstrar o quanto custará e o que será necessário para execução da ação proposta. 6. Cronograma Demonstrar em um plano temporal as ações quanti- tativas e qualitativas que serão realizadas ao longo do processo de execução do projeto. Explicitar, ao longo do tempo determinado, o que será feito, mostrando organização, lógica e coerência quanto à ideia e sua execução. 7. Avaliação Ações básicas de monitorar e analisar os impactos, o que será necessário criar indicadores qualitativos e quantitativos para medir os resultados durante e após a execução do projeto. Explicitar que se sabe o que se quer alcançar tanto durante como após a execução do projeto, bem como garantir a honestidade do processo de gestão do projeto e seus reais impactos. Fonte: o autor. GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E126 Com isso, já apresentamos o primeiro modelo que pode ser utilizado para apresen- tações e captação de recursos, principalmente quando, às vezes, uma organização não tem uma norma ou modelo de apresentação de projetos e ou de propostas, mas também serve de base de dados para o preenchimento de outras propostas. A experiência mostra que se você tiver, pelo, menos essas informações básicas, terá cerca de 70% do que é necessário para o preenchimento de outros mode- los. Isso fica claro conhecendo alternativas, modelos e estratégias de estrutura de projetos. Lembrando sempre que terá duas tarefas: a) levantamento de dados e informações e b) elaboração do documento e, talvez, uma terceira tarefa, c) eventualmente a apresentação e “defesa”, “venda” do projeto por meio de apre- sentação direta e verbal, o que requer outro preparo e cuidado. MODELOS ALTERNATIVOS Cohen e Franco (1993) apresentam uma proposta que foi utilizada e ainda é usual em muitos órgãos internacionais e da América Latina, entre elas a ONU. Não é intenção aqui trabalhar detalhadamente cada ponto, mas tão somente lhe mos- trar que existem outras estruturas de formulação de projetos. Veja no quadro a seguir a relação dessa estrutura. Modelos de Estrutura de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 127 Quadro 4 - Modelo Internacional de Projeto DESCRIÇÃO & DETALHAMENTO MODELO INTERNACIONAL 1. Identificar o problema. 2. Realizar o diagnóstico. 3. Realizar o estudo de mercado. 4. Estabelecer os objetivos de impacto. 5. Selecionar as alternativas do projeto. 6. Estabelecer os objetivos de produto. 7. Selecionar indicadores. 8. Estabelecer metas a alcançar. 9. Especificar as premissas. 10. Elaborar as matrizes de alternativas. 11. Avaliação ex-ante: Calcular os custos de cada alternativa. 12. Avaliação ex-ante: Realizar a análise de impacto de cada alternativa. 13. Avaliação ex-ante: Calcular a relação custo/impacto. 14. Programação e avaliação ex-post: construir matriz programação. 15. Programação e avaliação ex-post: Realizar o plano de operação. 16. Programação e avaliação ex-post: Realizar a avaliação ex-post. Fonte: adaptado de Cohen e Franco (1993). Quero chamar a sua atenção para dois aspectos interessantes e diferentes dessa proposta. A primeira quanto a avaliação, os termos ex-ante e ex-post são muitos usuais em exigências de apresentação de projetos e o que isso significa? Ex-ante, ou melhor, durante (monitoramento) é qual tipo de avaliação será feita antes da execução do projeto e ex-post o que será e como será avaliado após. Note, tam- bém, uma grande preocupação quanto, a saber, quais são os pressupostos, ou seja, os valores, ideias, conceitos que permeiam o projeto e sua execução, bem como se destaca a importância dada à explicitação de indicadores, tanto quali- tativos quanto quantitativos, seja para a avaliação em geral como para medir os impactos. Veja queesse modelo também contém várias das informações que o modelo convencional apresenta. GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E128 a. Modelo Fundação Banco do Brasil É interessante, também, apresentar um modelo de uma organização que é gover- namental, e está estritamente em parceria com organizações da sociedade civil organizada (terceiro setor). Seria o modelo da Fundação Banco do Brasil. Todas as informações que vou apresentar sobre esse modelo, você pode ter acesso entrando no site da Fundação Banco do Brasil ([2016], on-line)1 e ver as informações que per- mitem verificar a disponibilidade para o acesso e encaminhamento da solicitação de recursos, informação útil para quando você estiver fazendo estágio ou mesmo quando já estiver formado e não somente para o presente estudo nesse disciplina. Em 2004, quando voltei do doutorado e elaborei o Projeto Casulo Sócio- Tecnológico, como apresentei na Unidade III, não havia recursos, lembra? A frase que ouvia era “Aprovado desde que não traga custos para a universidade”, então, uma das fontes de captação de recurso, e a melhor que tive, foi da Fundação Banco do Brasil. Na ocasião, todo projeto deveria ser encaminhado pela agência do Banco do Brasil local e depois enviada para a sede da Fundação em Brasília. Veja você como são as coisas quando você trabalha na gestão social e de projetos. Como eu havia estudado o empreendedorismo social no Brasil e a Fundação Banco do Brasil (FBB) tem uma tradição no apoio a tecnologias sociais e iniciativas empreendedoras, sábia dessa formatação que vou lhe apresentar. Mas a gerente do banco local veio com uma conversa para lá de desanimadora. Segundo ela, outros professores já haviam solicitado recursos e foram nega- dos, me mostrou, na gaveta, uma série de cartas de negação e me aconselhou a não mandar, seria perda de tempo, porém não sei se o dela ou do meu. Por fim, não desisti. Com essa narrativa prática, quero mostrar, também, que não basta ser assistente social, também devemos ser “insistentes sociais”. Nesse caso, após as justificativas negativas para enviar o projeto, argumentei que havia estudado e que, no mínimo, eles iriam avaliar, pois eu tinha certeza que a proposta estava alinhada aos objetivos da FBB. A argumentação foi técnica e com elementos concretos, nada de sentimen- talismo, romantismo ou ideologia barata, que não contribui em nada numa situação real e prática como essa. e que você futuro(a), profissional, pode passar. Modelos de Estrutura de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 129 Por isso, discursos e palavras de ordem político-ideológico, como: vamos “garantir direitos” não são convincentes no campo da captação de recursos e muito menos, na gestão de projetos, o que vale mesmo, é o conhecimento cien- tifico e técnico. Bem, encurtando a história que iniciei, consegui convencê-la a enviar a pro- posta, e, por fim, ela mandou o projeto para a Fundação Bando do Brasil (FBB). Mas, após um período de quase nove meses, ela mesma me ligou, dizendo que o projeto havia sido aprovado. Isso permitiu ter equipamentos e estruturas mais adequadas e fluir melhor com as ações do Projeto Casulo. Agora, vamos dar uma olhada na estrutura que a FBB solicita que você preencha para que eles possam analisar sua proposta e, talvez, aprovar, como aconteceu no meu caso. ■ Projeto (identificação). ■ Proponente. ■ Agência. ■ Introdução. ■ Apresentação (quem somos?). ■ Objetivos (para quê?). ■ Geral. ■ Específico. ■ Justificativa (por quê?) . ■ Público alvo (quem). ■ Número de beneficiários (quantos?). ■ Metas (o que? Quando? Quanto? Onde?). ■ Resultados esperados (o que se espera?). ■ Prazo de execução (período?). GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E130 ■ Operacionalização (como funcionará? Quem implementará? Quem custeará?). ■ Entidade executora (quem executará). Novamente quero chamar a sua atenção para o fato de que, em grande parte, temos a maioria dos elementos do chamado modelo convencional, mas há outros que se assemelham ao modelo da ONU, porém apresentam outros elementos, com destaque para os seguintes: identificação, tanto de quem propõe de quanto quem executa, de quem será beneficiado e em que tempo será realizado. Outro ponto bastante complexo e que não está suficientemente explícito nesse roteiro é a avaliação. A FBB e outras organizações são rigorosas nesse procedimento e aqui entra em cena a função controle, que deve ser preocupação desde o início da formula- ção, pois é preciso que se comprove a realização e execução do plano operacional, não só físico, mas, principalmente financeiro. Para tanto, é solicitado uma rigo- rosa prestação de contas, notas fiscais, recibos, lista de presença dos participantes, avaliações de qualidade e de opinião e impacto, fotos, reportagens em jornais locais, entre outras formas de controle e avaliação, o que foi organizado por meio da elaboração de relatório, primeiro de forma parcial, que deve ser entregue na metade do prazo de execução do projeto e um relatório final, bem detalhado sobre o desenvolvimento e, finalmente, a finalização do projeto em conformi- dade ao projeto aprovado. MODELO PLANO DE NEGÓCIO SOCIAL, PROPOSTA DA ASHOKA Na sequência, vamos conhecer o último modelo que gostaria de apresentar, sendo que o mesmo está vinculado à lógica do empreendedorismo social, mas como já sinalizei anteriormente, é possível ver essa lógica, também, em outros modelos de editais. Mesmo que não estejam de forma explicitada adotando essa lógica, mas em grande medida se está exigindo três características fundamentais do empreendedorismo social, a saber: a) inovação; b) baixo custo e alto impacto e c) sustentabilidade e reaplicabilidade da ideia. Essa estrutura tem recebido duas abordagens, uma denominada de Plano de Negócio Social, de origem mais expressiva da proposta da Ashoka. Modelos de Estrutura de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 131 Uma ONG norte-americana, que, desde a década de 1980, vem disseminando o conceito e prática do empreendedorismo social, no mundo e aqui no Brasil, com dois escritórios, um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. A forma de incentivar o aprimoramento dos projetos de empreendedorismo social é moti- var pessoas possíveis empreendedores, a apresentarem suas ideias para serem premiadas. Os melhores projetos recebem um auxílio financeiro durante três anos, com a finalidade de permitir que o empreendedor tenha sustento por um período suficiente para gerar sustentabilidade de seu empreendimento, o que também é ajudado com a participação de uma rede nacional e internacional de empreen- dedores sociais e organizações de fomento e financiamento social. Mas vamos ver, agora, a estrutura do Plano de Negócio Social, acompanhe no quadro a seguir: Quadro 5 - Modelo de projeto social Plano de Negócio Social Ashoka ITEM NÚMERO DE PÁGINAS DESCRIÇÃO Sumário executivo 3 Apresentação geral, mas comple- ta do projeto. Organização 3 Histórico e características da orga- nização proponente. Produto/serviço 5 O que está sendo proposto. Mercado 5 O espaço onde está sendo realiza- do o projeto. Marketing 5 A forma como será divulgado. Equipe gerencial 2 Quem irá gerenciar o projeto. Planejamento financeiro 6 Como os recursos financeiros serão aplicados. Riscos e oportunidades 4 Problemas e soluções possíveis para realização do projeto. Plano de implementação 1 A forma como será executado o projeto. Totalde pág. 34 Fonte: adaptado de Ashoka (2001). GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E132 Você deve ter observado que esse modelo, comparado com o primeiro modelo, o convencional, é bem diferente, não é mesmo? Mas é possível perceber que algu- mas questões e informações estão contidas, em ambos os modelos, mas de forma diferenciada. Por exemplo, onde no convencional tem justificativa, aqui vamos ter o sumário executivo. Dessa forma, existe uma diferença grande entre os dois. Enquanto as justificativas abrangem dados que justifiquem e sensibilizem quem quer liberar os recursos e investimento necessários, o sumário executivo tem o desafio de apresentar, de forma resumida, todo o projeto, de modo que, ao ler essa síntese, o leitor queira dar continuidade e na leitura ter um impacto e ímpeto de aprovar o projeto. Outro aspecto diferenciador, como pode ser observado, é o rigor quanto à quantidade de páginas e sua lógica estruturante, requisito necessário para ser sucinto, objetivo, claro, mas competente. Também a necessidade de deixar claro quem vai fazer o que e quando, e os riscos e oportunidades e alternativas, bem como clareza e transparência quanto à execução do projeto e, principalmente, da aplicação dos recursos e dos resulta- dos esperado, e, é lógico, a possibilidade de reaplicação, baixo custo e fácil gestão do projeto. São esses os pontos de maior importância e que, sem dúvida, fazem diferença, pois tudo isso faz com que, antes mesmo de você escrever o projeto, já deva ter um levantamento e uma adequação organizacional que seja coerente com o solicitado. Essas questões são tão importantes que, muitas vezes, as organizações que querem solicitar recursos estão tão desorganizadas e sem o mínimo de pla- nejamento desistem até de solicitar ajuda ou apoio financeiro. Isso aconteceu certa vez em que solicitado os meus serviços de consultoria para uma ONG, no seguimento do meio ambiente, eles queriam solicitar ajuda para uma ONG internacional, porém quando viram o manual de orientação para fazer a solici- tação não entenderam nada. Após analisar o manual e verificar as exigências da ONG e de analisar a rea- lidade da que me solicitou consultoria, verifiquei que ela teria que se reestruturar primeiro par depois tentar elaborar com mais clareza a solicitação. O interessante desse manual é que ele solicitava a explicitação desde a forma organizativa,, das Estratégia Básica para Elaboração e Gestão de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 133 ações e de resultados, ou seja, uma gestão de fato, com planejamento, organiza- ção, direção e controle. Essa ONG não tinha nada disso, as pessoas simplesmente um dia acharam legal abrir uma ONG de ações voltadas para o meio ambiente e começaram a fazer algumas ações, mas nunca se procuraram fazer um planejamento estra- tégico, definir missão, visão e valores, elaborar programas, projetos e serviços, muito menos, registrar as ações e avaliar as mesmas. Enfim, ela teria que pela exigência do manual, se reestruturar e depois de um bom tempo e com as devidas exigências, então, mandar a sua proposta, pois sem essa organização não seria analisada a proposta. ESTRATÉGIA BÁSICA PARA ELABORAÇÃO E GESTÃO DE PROJETOS E SUA APLICAÇÃO NA PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL Finalizando e, com base em tudo que já foi apresentado, gostaria, ainda, de deixar como referência uma sugestão de modelo de elaboração de projeto. Lembrando que, antes da estruturação desse roteiro, você deve ter feito a lição de casa, ou seja, pesquisado e sistematizado os dados e informações necessários para formular um projeto, considerando o escopo de gestão e demais elementos fundamentais. Cabe, ainda, ressaltar que a elaboração e gestão de projetos apresentam uma circularidade, ou seja, não é um processo linear em constante renovação. Nesse sentido, é importante perceber que esse conhecimento e noção mais ampla da elaboração de projetos se inserem em uma das atividades de maior importância para os profissionais de Serviço Social. E em que momento ou momentos isso é importante? Vejamos isso, destacando três momentos impa- res da ação profissional. A primeira em situação em que você pode ser cobrado(a) por uma orga- nização, seja governamental, privada ou sociedade civil que ainda não tenha o setor e a atividade de Serviço Social. Logo, você tem que apresentar uma pro- posta ou um projeto de implantação. Veja que, muitas vezes, uso o termo projeto, GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E134 mas na verdade, aqui, tenho de pensar de forma mais ampla, seguindo a loja de gestão, que seria, então, propor um plano que tem programas, projetos e servi- ços. Isso é muito usual no meio profissional não só do Serviço Social, mas em outras áreas, usar o termo projeto, mas sendo que está se referindo a uma ação mais complexa, muitas vezes até se referido a um plano e um programa. Sem dúvida, nesse primeiro caso, você deve usar a lógica do método único de Serviço Social para elaborar a sua proposta de implantação do setor e atividade profis- sional do Serviço Social. Uma segunda situação provável seria você entrar em uma organização que já tem a atividade e setor de Serviço Social. Nesse caso, você deve fazer uma pesquisa e investigação de como as coisas estão sendo desenvolvidas e, então, verificar o que pode ser melhorado e se essas melhoras precisam ser apresenta- das de forma sistematiza. Deverá, então, apresentar uma proposta de trabalho, que, no fundo, é um projeto no qual você propõe o que pode ser feito, como e quando e para quem. E uma terceira situação, muito comum, é a necessidade de elaborar um projeto ou proposta para captar recursos ou ampliar as condições e melhorias de trabalho e atendimento aos seus clientes e usuários. Novamente, terá que recorrer à lógica de gestão e elaboração de projetos, tal qual estamos aqui refletindo. Aqui, reside a importância de você usar essa competência e habilidade e postura de gestão tão importante, não só para elaboração e gestão de projetos, mas também para a qualidade de sua ação científica e profissional. Com isso, ter maior chance e possibilidade concreta de intervir na realidade e conquistar o respeito de seus clientes, usuários e pares. Outro ponto a destacar é que não existem receitas prontas, mas é preciso ter parâmetros, e parâmetros concretos para que você, quando iniciar a sua car- reira, possa ter um norte mínimo, o que permitirá você ao navegar nas águas turvas da experiência prática com maior segurança e, depois, criar o seu próprio estilo e modo de trabalhar. Por isso que nossa prática profissional no Serviço Social é uma arte e uma ciência. Pois, como ciência, basta estudar e seguir os parâmetros técnicos que você poderia dominar com a experiência e dedicação de estudo e prática. Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 135 É também uma arte, pois, como um artista ou um artesão, cada um tem o seu talento, o seu toque especial único e singular. É por isso que há quase 100 anos Mary Ellen Richmond (em 1922, data de publicação) no livro, “O que Serviço Social de Caso” nos compara a um profissional artífice das relações sociais, O escritor que aspira a ser um artista em sua profissão, e o trabalhador social animado por uma ambição semelhante, têm pelo menos isto em comum: trabalham sobre materiais que são a cadeia e a trama da vida quotidiana. Um é artífice da palavra, o outro [assistente social] é o artífice das relações sociais (RICHMOND, 1974, p. 37, grifonosso). Em outros termos, a gestão, de forma geral, e a elaboração de projetos é uma ver- dadeira atividade artesanal, repleta de minúcias, detalhes e, acima de tudo, do talento de cada um para dar um toque especial no modo de defender as ideias, na criatividade de inovar e na atitude ética e humana de desenhar ações para o bem comum e para a construção de uma sociedade melhor por meio das ações de pessoas, da maximização de recursos e do alcance das ações. A partir desse entendimento, finalizo a Unidade IV com apresentação de um roteiro básico na linha e lógica do empreendedorismo social, como vimos ao longo dessa unidade. Lembre-se, é só um modelo, ou seja, uma referência téc- nica que deve ser adaptada conforme a necessidade que você for direcionar. Pois, como sinalizado anteriormente, e principalmente na captação de recursos, cada instituição que você for solicitar terá um roteiro diferente. Apesar de que, em grande medida, o roteiro que estou apresentando se aproxima em vários aspec- tos, necessitando, talvez, de alguns ajustes. Mas, é certo que você terá um bom parâmetro para se nortear. Estratégia Básica para Elaboração e Gestão de Projetos GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E136 ROTEIRO PARA CRIAÇÃO DE UM PROJETO SOCIOEMPREEENDEDOR Eu apresento esse roteiro em um quadro para facilitar a visualização, tanto de cada tópico quanto de seus conteúdos, ressaltando que é um roteiro referencial, não é uma receita de bolo que deve ser seguido à risca. Cada organização tem necessidades específicas e precisam ser sanadas da melhor maneira possível. Eis aí o seu toque artístico de um profissional assistente social artífice. Outra dica importante: existem certos dados e conteúdos nos projetos que, muitas vezes, fogem a competência técnica dos assistentes sociais, por exem- plo, se você fica responsável de elaborar um projeto para enviar ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) para implantação de uma Cozinha Social no município em que você trabalha, os aspectos técnicos de espaço (construção), de equipamentos e itens de segurança alimentar farão você precisar de outros especialistas. Aqui, reside a importância de uma boa rede de contatos e um ambiente cordial, amistoso e ético entre os demais profissionais. Sempre precisamos dos outros, não esqueça isso, pois precisamos exercer a arte da diplomacia e empatia profissional para que os projetos saiam da cabeça, vão para o papel e se mate- rializem na realidade. Leia com atenção esse roteiro e tenha ele como um referencial que ajude sua navegação no processo e, aventura, e arte, e ciência de gerir e elaborar projetos. A fascinação do intelectual com o pensamento ideológico é que ele prome- te eliminar as diferenças entre o individual e o social, o privado e o coletivo, dando assim uma solução fictícia, ideológica, no nível das ideias, a uma di- ficuldade real. Essa solução ilusória não permite ver que é exatamente na tensão entre os dois planos que se dá o espaço para a criatividade, a trans- cendência e atividade politicamente relevante, no sentido melhor desta pa- lavra. As consequências são extremamente sérias. Fonte: Schwartzman (2008, on-line)2. Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 137 Quadro 6 - Roteiro de elaboração de Projeto ITEM DESCRIÇÃO Capa Autores, título do projeto, local, data de publicação. Folha de Identificação Instituição, equipe responsável, endereço e contato, outras informações Índice Listando todos os tópicos do documento. Sumário Executivo Mais do que um resumo, é a apresentação de todo o projeto de forma sucinta, mas consistente. Apresentação da organi- zação Descrição da organização que está solicitando os recursos. Justificativa do projeto Ideias principais, razões e motivos para se propor o projeto. Objetivos O que se quer alcançar de forma descritiva e quali- tativa. Metas O que se quer alcançar só que de forma temporal e qualitativa. Público de interesse Quem irá participar e ser os beneficiários do projeto. Impacto esperado Tanto qualitativo como quantitativo. Plano de aplicação ope- racional Como no cronograma, mas com mais detalhes. Plano de aplicação físico financeiro/orçamentário A forma e proporção de aplicação dos recursos financeiros, valores com as respectivas destinações, seguindo o plano operacional. Potencial de replicação Descrição das características que marcam a possibili- dade inovadora do projeto em ser reaplicado, o que determina precisão em mostrar – facilidade, custo baixo e possível alto impacto. Capacidade de autossus- tentabilidade Condições estratégicas e efetivas de se manter e continuar as ações. Indicadores e sistema de avaliação Explicitar indicadores de avaliação e monitoramento do projeto tanto qualitativo como quantitativo. Considerações finais e recomendações Informações que sejam relevantes para a análise do projeto. Bibliografia Fontes que, ao longo do projeto, foram citadas. Anexos Se necessário, anexar documentos, fotos, reporta- gens de jornais ou o que for necessário para melho- rar a apresentação do projeto. Fonte: o autor. Estratégia Básica para Elaboração e Gestão de Projetos GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS SOCIAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E138 CONSIDERAÇÕES FINAIS Aluno(a), finalizamos esta unidade. Vimos que os elementos que compõem a estrutura de projetos, aprofundamos o modo específico do trabalho do Serviço Social e seu olhar e fazer a gestão de projetos. Neste ponto, cabe ressaltar a rela- ção lógica quanto à proposta de uma postura profissional e científica, necessárias para desenvolver, de forma diferenciada, essa atividade. Mostrei que o Serviço Social tem uma metodologia própria que mescla abor- dagem científica, no que diz respeito à investigação e profissional no tocante à proposta de conhecer e elaborar ações de intervenção. Nesse sentido, a meto- dologia única ou genérica do Serviço Social seria na 1ª fase, investigação, ações operacionais: diagnóstico e planejamento e, na 2ª fase, a intervenção, ações ope- racionais seriam: execução, monitoramento e avaliação. Com isso, é possível verificar que dentro do planejamento da gestão é que se materializam as ações estratégicas materializadas em programas, o qual composto de projetos e que se desdobra em serviços. Os planos são desenhos de ações a longo prazo, sendo estratégicos, os programas são de médio prazo e se configuram como sendo táticos e os projetos e serviços são de curto prazo, considerados operacionais. A estrutura de elaboração de projetos apresenta uma grande variedade, sendo que na perspectiva do empreendedorismo social se destaca o Plano de Negócio Social, o que requer, desde o início, uma lógica diferenciada de três fatores: a) inova- ção; b) baixo custo e alto impacto e c) sustentabilidade e fácil reaplicação do projeto. Apresentei um modelo de roteiro para elaboração de projeto na perspectiva do empreendedorismo social, reforçando que essa atividade se assemelha muito à arte e à ciência. Ciência por apresentar conhecimentos que podem ser aprendi- dos, e arte na capacidade única que cada um pode apresentar em sua aplicação, o que nos torna, em grande medida, um artífice das relações sociais. O trabalho de elaborar e gerenciar projetos sociais, não se limita a preencher dados e descrever situações que justifiquem a captação de recursos, mas ao contrário, requer habilidade de negociação, persistência e muito amor pelo que faz. 139 1. Faça uma pesquisa em um site de alguma organização que afirma realizar ações de empreendedorismo social. Veja se o que elas apresenta tem as mesmas carac- terísticas que apresentei sobre o queé empreendedorismo social. 2. Quais são as fases e ações operacionais do método único em Serviço Social? 3. Quais eram os métodos anteriores usados no Serviço Social clássico? 4. Explique quais são os principais elementos do modelo de projeto convencional e qual a importância para a organização do trabalho do assistente social? 5. Quais são as três características fundamentais de um projeto na perceptiva do empreendedorismo social? 140 PROPOSTA DE PLANO DE NEGÓCIOS PARA EMPREENDIMENTOS SOCIAIS O presente artigo tem por objetivo propor um modelo de plano de negócios para or- ganizações sociais sem fins de lucro, ou seja, as organizações incluídas no que se define como Terceiro Setor. Diante da crescente demanda por uma gestão profissional nestas organizações, e a necessidade de estruturar-se para receber financiamentos altos dispo- níveis através de diversas empresas e fundações, o plano de negócios é uma ferramenta extremamente importante e útil. O plano de negócios é fundamental também para as organizações que desenvolvem projetos para atingir sua sustentabilidade, objetivo de grande parte delas hoje, exigido muitas vezes pelos próprios financiadores. No entanto, é preciso definir que informações devem constar deste plano de negócios. O que é importante incluir neste documento dadas as especificidades destas organiza- ções. Ao longo do trabalho, listaremos os tópicos que devem estar incluídos num mode- lo de plano de negócios para organizações sem fins de lucro. Metodologia de trabalho O presente trabalho foi desenvolvido com base em levantamento bibliográfico, além de derivar da experiência prática da própria autora como consultora de organizações do Ter- ceiro Setor. A autora tem um livro publicado sobre elaboração de planos de negócios, além de trabalhar há quatro anos vinculada à Coordenação de Empreendedorismo da PUC-Rio, onde assessora alunos na elaboração de seus planos de negócios. Além disso, atualmente ministra na PUC-Rio as disciplinas Planejamento de Empreendimentos Culturais e Gestão de Pequenas Empresas, e a disciplina Planejamento de Empreendimentos Sociais, voltada ex- clusivamente à elaboração de planos de negócios para empreendimentos na área social. Na Fundação Getúlio Vargas, ministra a disciplina Planejamento de Negócios em nível de Pós- -Graduação, onde orienta gestores de cooperativas na elaboração de planos de negócios. Ao longo da carreira, já orientou mais de quinhentos planos, dos quais pelo menos cem na área social, e ministrou consultoria em diversas cidades brasileiras. O presente trabalho traz muito de sua experiência de trabalho como consultora e em sala de aula. Conceitos utilizados A seguir, definiremos nosso entendimento sobre conceitos que serão utilizados ao lon- go do trabalho. Plano de Negócios - Ramal, Ramal, Hochman e Salim (2001) definem plano de negócios como um documento que contém a caracterização de um negócio, sua forma de operar, suas estratégias, seu plano para conquistar uma fatia do mercado, a projeção de receitas, despesas e resultados financeiros. Entendemos o plano de ne- gócios como um documento que atravessa todas as dimensões de um negócio, fazen- do um exercício para entender como cada setor da organização poderia trabalhar com mais eficácia no futuro próximo, obtendo os melhores resultados com seu trabalho. O plano de negócios, assim, é tanto um exercício de definição de cenários futuros como de análise de viabilidade e rentabilidade. 141 Terceiro Setor - O primeiro setor é formado pelo Governo e o conjunto das instituições públicas. O segundo setor é formado por todas as empresas com fins lucrativos. Classifi- caria-se, portanto, como terceiro setor, todo o universo de organizações sem fins lucra- tivos. O problema é que, desta forma, o Terceiro Setor abrange um conjunto de organi- zações muito pouco semelhantes entre si, onde o único ponto comum está em não ter fins de lucro. No entanto, os fins, os objetivos sociais, as motivações, o tipo de trabalho, os interesses podem ser completamente diferentes e muitas vezes até antagônicos, tor- nando impossível encontrar uma definição simples e clara e mesmo alguns traços de semelhança que possam permitir uma identidade no conjunto das organizações que hoje formam o Terceiro Setor. Segundo Peyon (2004), não há, ainda, definição legal para Terceiro Setor. Assim, a classi- ficação destas organizações é relativa, e depende da interpretação de cada autor. Empreendimentos Sociais - No presente trabalho definimos empreendimentos sociais como aqueles que trabalham visando algum tipo de mudança social, e cujos objetivos são o bem público de maneira geral, sem restringir-se aos interesses individuais ou de determinado grupo da sociedade. Para isso tomamos como base a caracterização de Wolf (1999), que define que as organizações sociais devem ter cinco características: ■ Ter uma missão de serviço e interesse público; ■ Estar organizadas dentro de algum modelo de organização sem fins de lucro definido pela legislação; ■ Ter estruturas de governança que excluam de antemão qualquer possibilida- de de trabalhar por interesses privados ou de obter qualquer ganho financei- ro individual; ■ Estar isentas de tributos; ■ Possuir status legal que garanta isenções tributárias às pessoas físicas ou jurí- dicas que fizerem qualquer contribuição financeira à organização. Ficam excluídas desta classificação, portanto, organizações empresariais, sindicatos, ir- mandades, clubes, e outras organizações sem fins de lucro que não têm um fim de mu- dança social ou de interesse público, assim como as organizações informais que desen- volvem qualquer trabalho comunitário, mas que não estão legalmente regularizadas. Fonte: Ramal ([2016], on-line)3. MATERIAL COMPLEMENTAR Avaliação de Serviços e Programas Sociais Autores: Maria José Aguilar e Ezequiel Ander-Egg Editora: Vozes Sinopse: o livro exemplifi ca os processos de elaboração de projetos, bem como de estratégias de avaliação,, e apresenta as abordagens teóricas e técnicas que podem ser usadas para esse processo. Aprofunda aspectos importantes, como questão de custos e as múltiplas dimensões dessa ação tão importante para o assistente social no campo da gestão social. Comentário: um livro que é muito didático e com profundidade, é quase um manual. Um livro para ler, fazer e ter sempre em mãos. O Último Samurai Ano: 2004 Sinopse: o fi lme conta a história de Nathan Algren, um capitão do Exército dos Estados Unidos, interpretado pelo ator Tom Cruise, que tem sérios problemas de alcoolismo devido aos traumas da guerra civil norte Americana. Foi contratado para treinar um exército no Japão do século XIX que passava do feudalismo imperial regido pelas leis dos samurais e agora rumando para a modernidade e, com isso, encontrando resistência dos conservadores liderados por um dos últimos samurais o General Katsumoto, interpretado pelo ator Ken Watanabe. Na trama, em um dado momento de luta, Nathan se transforma em prisioneiro do General Katsumoto, esse período e em contato com a cultura japonesa, mudam radicalmente sua visão e postura em relação ao inimigo que se transforma em amigo numa luta quase que perdida, mas que mostra como a estratégia, sentimentos e valores podem determinar o processo de decisões e ações planejadas. Comentário: pode parecer estranho indicar um fi lme de ação para uma atividade didática, mas ao ver esse fi lme, preste bem atenção nos elementos que compõem o planejamento e a gestão de ações e sua importância, principalmente nas situações desfavoráveis. Também veja como o fi lme mostra a inter-relação entre as três confi gurações: contexto, pessoas e organizações e como o pensar estratégico é importante e, principalmente, com se mescla em vários saberes (científi co, popular, artístico) nas ações e decisões das pessoas. Pois a beleza e o paradoxo estão nas relações sociais e humanas, matéria-prima do assistente social. o livro exemplifi ca os processosde elaboração de projetos, bem como de estratégias de avaliação,, e apresenta as abordagens teóricas e técnicas que podem ser usadas para esse processo. Aprofunda aspectos importantes, como questão de custos e as múltiplas dimensões dessa ação tão importante para o assistente social no campo da gestão social. um livro que é muito didático e com profundidade, é quase Exército dos Estados Unidos, interpretado pelo ator Tom Cruise, que tem sérios problemas de alcoolismo devido aos traumas da guerra civil norte Americana. Foi contratado para treinar um exército no Japão do século XIX que passava do feudalismo imperial regido pelas leis dos samurais e agora rumando para a modernidade e, com isso, encontrando resistência dos conservadores liderados por um dos últimos samurais o General Katsumoto, interpretado pelo ator Ken Watanabe. Na trama, em um dado momento de luta, Nathan se transforma em prisioneiro do General Katsumoto, esse período e em contato com a cultura japonesa, mudam radicalmente sua visão e postura em relação ao inimigo que se transforma REFERÊNCIAS ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS; MACKISEY E CIA. INC. Empreendimentos so- ciais sustentáveis. São Paulo: Petrópolis, 2001. BOBBIO, N. As ideologias e o poder em crise. 4 ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. p. 107 e 108. LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. MÜLLER, M. L. Exposição e Método Dialético em “O Capital”. Boletim SEAF-MG, Belo Horizonte, v. 2, 1983, p.17-41. RICHMOND, M. E. Caso Social Individual. Prólogo de Natalio Kisnerman. Buenos Aires: Humanitas, 1977. ______. O que é o Serviço Social de Caso? Trad. de Regina Rangel Rios. Rio de Janeiro: CBCISS, Coleção Temas Sociais, 1974. ______. What is social case work? An introduction description. New York: Russell Sage Foundation, 1922. SILVA, I. L. R. da. Mary Richmond: um olhar sobre os fundamentos do Serviço Social. Rio de Janeiro: CBCISS, 2004. TÜRCKE C. Sociedade excitada – filosofia da sensação. Campinas-SP: Unicamp, 2010. VIEIRA, B. O. Serviço Social: visão internacional (1928-1978). São Paulo: Cortez, 1982. REFERÊNCIAS ON-LINE: 1Em: . Acesso em 20 out. 2016. 2Em . Acesso em: 20 out. 2016. 3Em:. Acesso em: 26 out. 2016. 143 GABARITO 1. Deverá encontrar ou não, pelo menos três características: inovação, fácil aplica- ção e possibilidade de sustentabilidade e reaplicabilidade. 2. As fases são: 1) investigação, diagnóstico e planejamento e 2) intervenção, exe- cução, monitoramento e avaliação. 3. Os métodos anteriores eram caso, grupo e comunidade. 4. São justificativa, objetivo, metas, recursos, metodologia e avaliação. Contribui para melhor organizar as informações do trabalho sistematizado da gestão de projetos, o que facilita a organização de projetos para captação de recursos. 5. Deve, pelo menos citar, os principais pontos: inovador, baixo custo, fácil reapli- cação e alto impacto. U N ID A D E V Professor Dr. Edson Marques Oliveira DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO DE PROJETOS SOCIAIS NO SERVIÇO SOCIAL E A FILOSOFIA DO ARTÍFICE Objetivos de Aprendizagem ■ Conectar os demais conteúdos referentes à gestão de projetos e sua relação com as atividades de intersetorialidade. ■ Apreender a importância do aprimoramento das ações no campo de gestão de projetos com especificidades do Serviço Social. ■ Compreender a importância da filosofia do artífice em Richard Sennett como alternativa teórica de gestão social e de projetos. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A gestão de projetos, intersetorialidade e os desafios para a prática do Serviço Social ■ Desafios da gestão de projetos: um estudo de caso ■ A filosofia do artífice para o assistente social junto ao campo de gestão de projetos INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Muito bem, estamos chegando ao final de nossa jornada de conhecimento sobre a gestão de programas e projetos sociais para os(as) futu- ros(as) profissionais de Serviço Social. Pretendo que nesta última unidade você sintetize os demais conhecimentos apresentados e estudados nas outras unidades. Nesta última unidade, veremos um dos fatores mais desafiadores para o Serviço Social de forma geral e na gestão, e elaboração e execução de projetos, de forma específica, referindo-me à intersetorialidade e, consequentemente, à interdisciplinaridade. Por isso, vamos refletir essa questão explicitando questões que são pertinen- tes ao Serviço Social. Na sequência, para fechar esse estudo e melhor prepara você, futuro(a) profissional, nessa área da gestão de programas e projetos, obje- tivo principal da disciplina, apresento um modelo real de elaboração e gestão da atividade que vimos teoricamente, é um estudo de caso de um Projeto Social, da criação de uma estratégia de geração de trabalho e renda para mulheres, o caso da Coopermesa – Cooperativa de Mulheres Empreendedoras Sociais em Ação, que foi uma das ações que surgiram do Casulo Tecnológico, já sinalizado anteriormente. A intenção é apresentar, de forma sistematizada, um exemplo prático e con- creto, para que sirva de referência e/ou modelo e prática (e não receita de bolo), servindo de exemplo do que nós, como assistentes sociais, podemos fazer em nossa profissão de forma inovadora e empreendedora. Finalizo fazendo uma proposta de pensar e agir como um profissional artí- fice do design social, que está pautada na percepção que Mary Richmond teve a mais de 100 anos e que hoje é renovada a partir da filosofia do artífice apresentada pelo sociólogo Richard Sennett, que tem o objetivo de estimular a criatividade e inovação no campo de atuação do assistente social e, mais em específico, no campo da gestão de projetos. Com isso, espero que essa quinta unidade reforce o aprendizado até aqui compartilhado. Vamos em frente. Bons estudos! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 147 DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E148 A GESTÃO DE PROJETOS, INTERSETORIALIDADE E OS DESAFIOS PARA A PRÁTICA DO SERVIÇO SOCIAL O tema intersetorialidade é relativamente recente. Fruto, acima de tudo, de um processo de descentralização das políticas públicas e sociais e da proliferação de novas atividades profissionais, principalmente após o ano de 1980. Em linhas gerais, podemos afirmar que intersetorialidade seria a relação de múltiplos sabe- res, com finalidades unificadas e esforços considerados para maximizar recursos e ampliar resultados. O que envolve setores, profissionais e saberes diferentes para fins únicos, que não é nada fácil. Também é possível destacar outros ele- mentos da caracterização desse processo, a saber: ■ As principais publicações sobre intersetorialidade são oriundas das áreas de Administração Pública e Saúde Coletiva. ■ Planejamento de ações tem lugar central em todos os trabalhos que tra- tam do assunto. ■ Considera a negociação de interesses a chave para a construção de siner- gias entre diferentes atores e áreas de política. ■ Tradução da articulação entre saberes e práticas setoriais, deve se concreti- zar como síntese de conhecimentos diversos. ■ A necessidade de estabelecer foco, objetivos, objetos e território e interes- ses comuns. Na Figura 01, temos uma ideia clássica do que seja na prática, tanto do Serviço Social como de outras disciplinas, esse processo da intersetorialidade. A Gestão de Projetos, Intersetorialidade e os Desafios para a Prática do Serviço Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Códi go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 149 Saúde Abrigo EmpregoJustiça CRAS Centro de Referência de Assistência Figura 1 – Processo de Intersetorialidade Fonte: o autor. Desse processo, é possível depreender que suscita outras dimensões e temas tão ou mais importantes para o processo de intervenção social e, principalmente, no processo de gestão de programas e projetos sociais, tais como: interdiscipli- nariedade (entre) e/ou mesmo a transdisciplinariedade (intra) o que eleva os desafios de cada setor, profissão e profissionais definirem melhor o seu saber e suas competências, habilidades e posturas profissionais de forma mais especí- fica, levando-nos a pensar em outras dimensões, como cultura profissional, ética, valores, histórica, formação e práticas. A Figura 2 mostra esse esquema analítico. DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E150 OUTROS OUTROS O QUE COMO POR QUÊ MÉTODOS TÉCNICAS ÉTICA ESPECIFICIDADE FONTES PRODUÇÃO ESTOQUE DISTRIBUIÇÃO UTILIZAÇÃO ACADÊMICO PRÁTICO POLÍTICO INTERDISCIPLINARIEDADE PRÁTICAS SABERES HISTÓRIA TEORIA SERVIÇO SOCIAL FORMAÇÃO INTERVENÇÃO GARANTIA DE DIREITOS... INTERSETORIALIDADE TRANSDISCIPLINARIEDADE ENTRE INTRA FORMAÇÃO OUTROS OUTROS O QUE COMO POR QUÊ MÉTODOS TÉCNICAS ÉTICA ESPECIFICIDADE FONTES PRODUÇÃO ESTOQUE DISTRIBUIÇÃO UTILIZAÇÃO ACADÊMICO PRÁTICO POLÍTICO INTERDISCIPLINARIEDADE PRÁTICAS SABERES HISTÓRIA TEORIA SERVIÇO SOCIAL FORMAÇÃO INTERVENÇÃO GARANTIA DE DIREITOS... INTERSETORIALIDADE TRANSDISCIPLINARIEDADE ENTRE INTRA Figura 2 - Múltiplas temáticas da Intersetorialidade Fonte: o autor. É possível, também, resumir na literatura sobre intersetorialidade, quais práticas e quais saberes mais exigidas, a saber: empatia, network (rede de contatos), escuta ativa, conhecimento das políticas públicas e sociais, conhecimento dos disposi- tivos legais – legislação, conhecimento do ser humano que está sendo atendido, confiança entre os usuários e profissionais e com outros profissionais, conhecer o território, conhecer a rede socioassistencial, trabalho em equipe, espírito de liderança, clareza dos objetivos, objeto e técnicas de intervenção social. Gestão: planejamento, organização, direção e controle e sobretudo, conhecer e ter cla- reza de seu papel e sua função em relação aos demais. É importante salientar que quando pensamos o Serviço Social como pro- fissão de carne e osso, ou seja, de forma concreta que, portanto, tem limitações efetivas, principalmente quanto aos espaços sócios organizacionais, o desafio do trabalho intersetorial fica ainda mais complexo e desafiador. Pois a cada dimen- são requer uma maior precisão quanto à sua clareza. A Gestão de Projetos, Intersetorialidade e os Desafios para a Prática do Serviço Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 151 Como no caso da dimensão prática, é preciso dizer com clareza e objetivi- dade o que se faz, como se faz, o que remete à explicitação de questões concretas, como métodos, técnicas e, também e fundamentalmente, a postura ética frente a essas questões. No que diz respeito aos saberes, no caso do Serviço Social, considerando sua histórica, origem e natureza interventiva, não há como negar que se trata de um saber que se alimenta da realidade, o que leva a um modo específico de produzir conhecimento, como já refletimos na Unidade IV, em que destaquei a especifici- dade de produzir conhecimento por meio de uma praxiologia. Lembra-se dessa palavrinha? Pois é, o conhecimento crítico da realidade é feito com o objetivo específico de intervir na realidade, em outros termos, não adianta nada ler cri- ticamente e ficar só na crítica pela crítica, isso não produz ação nenhuma. Ou seja, conhecer somente não é suficiente, é preciso intervir. É por isso que dois mundos precisam estar sempre em diálogo (dialógico, preferencialmente): o mundo da academia e o mundo do mercado ou da prática profissional. Quando o primeiro quer ser dono da verdade e se apropria de uma única forma de pen- sar e ver o mundo e forma os profissionais nessa cosmovisão (visão de mundo), podemos correr o risco de tomar uma direção enquanto a prática e as exigên- cias e demandas da sociedade correm em outra. Principalmente pela falta de clareza e objetividade junto aos demais setores, saberes e profissionais no campo de intersetorialidade. Vejamos melhor essa questão. Primeiro, é importante resgatar a histó- ria e origem do Serviço Social que teve, há mais de 100 anos, o seu primeiro marco científico e profissional registrado na proposta de Mary Ellen Richmond (RICHMOND, 1917; 1922) nos livros Diagnóstico Social, em 1917 e O que é Serviço Social de Casos, em 1922. Não é o propósito e nem teríamos espaço para apresentar a arquitetura dessa proposta. Basta afirmar e lembrar que esses traba- lhos foram fruto de um contexto que requeria uma ação mais profissional e mais científica do trato com a pobreza e as pessoas em situação de marginalização. Um contexto no qual, nos Estados Unidos da América, no início da década de 20 do século XX, ainda não tinha uma maior participação na economia global, em que a miséria e pobreza assolavam as sociedade em crescimento industrial e que movimentos sociais buscavam gerar reformas na sociedade. DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E152 Um bom exemplo do movimento foi o feminista a favor do sufrágio uni- versal, em que assistentes sociais pioneiras, como Mary Ellen Richmond e Jane Adams tiveram participação efetiva. A participação foi tão efetiva que Jane Adams recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 1931, além de ser autora e inovadora de projetos, como os Centros Comunitários e a Residência Social e, como Mary Ellen Richmond, criadora de uma das primeiras escolas de formação de profissionais. A proposta, principalmente de Richmond (1917), foi pautada em experiên- cia profissional efetiva, ela entrevistou e analisou mais de 2.800 casos e não foi só uma observadora, ou uma “intelectual” que formula teorias e que as práticas ficam a cabo dos profissionais de campo, como acontece atualmente no Brasil com grande parte da produção teórica do Serviço Social, muita teoria e ideolo- gia, e pouca prática e instrumentalidade. Logo, o processo de intersetorialidade nos dá uma desvantagem muito grande, pois outros profissionais e saberes têm tido essa preocupação, a qual, ao que parece, o Serviço Social do século XXI se esqueceu. Portanto, é necessário que se recupere essa capacidade de pulsar conforme o contexto e as demandas exigidas por essa profissão dinâmica. Verifica-se que não houve mudança de significado, mas apenas de enuncia- do, de maneira de se expressar [...]. Ora se o significado não mudou, admi- te-se a existência de uma essência, essência esta que se revela na realidade do momento por aspectos e por linguagem diferentes; pode, portanto, ser considerada como uma verdade universal o que o Serviço Social persegue – a realização do Homem. Fonte: Vieira (1982, p. 209). A Gestão de Projetos, Intersetorialidade e os Desafios para a Prática do Serviço Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 153 É nessa perspectiva que é necessário resgatar as nossas origens e compreender que somos profissionais e também cientistas sociais, com metodologia própria e um foco muito específico, as relações humanas e o bem-estar das pessoas que atendemos. Pensar o passado, não é uma questão meramente de saudosismo. É, antes de tudo, percebermos com maior precisão de ondeviemos, quais os percursos que fizemos, considerando os erros e êxitos, entendermos onde estamos e visu- alizarmos as possibilidades do futuro. Não vamos trabalhar esse ponto, pois o foco da disciplina é outro, mas reco- mendo uma leitura interessante do livro da professora Ilda Lopes Rodrigues da Silva, Mary Richmond: um olhar sobre os fundamentos do Serviço Social. (SILVA, 2004), em que faz um resgate brilhante do pensamento de nossa pioneira. Outro livro interessante é o de Richard Sennett (2004), com o título: Respeito: a formação do caráter em um mundo desigual, que trabalha brilhantemente o conceito de Estado de Bem-estar desde suas origens, mostrando traços históri- cos da assistência social, em que conta a história e apresenta o pensamento de Jane Addams, contemporânea de Richmond e pensadora arguta das ações no campo social e nos lembra do brilhantismo que nossas pioneiras tiveram quanto ao aprimoramento do trabalho social. Em síntese, a intersetorialidade aquece o desafio do trabalho de gestão de programas e projetos sociais, visto, que além do profissional de Serviço Social, existe, nessa perspectiva cada vez mais comum, o exercício da pluralidade de atividades, setores, e principalmente, de saberes. O que requer de nós maior cla- reza quanto ao que fazemos e por que fazemos, e isso sem discursos ideológicos panfletários, que nada dizem ou contribuem para um pensar e agir congruente. Na sequência, quero apresentar para você um exemplo prático da apresenta- ção de um projeto social, em que é possível detectar todos os elementos até aqui estudados. Essa apresentação é um projeto de criação de uma cooperativa vol- tada para mulheres e risco e vulnerabilidade social e que fiz por meio do Projeto Casulo, atividade de extensão. DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E154 É importante ressaltar e lembrar, que esse projeto foi aprovado na instituição em que trabalho, mas, lembre-se, “desde que não traga ônus para a universidade”. Então, essa apresentação que foi construída em 2004, sendo aperfeiçoada, mas foi com ela que consegui parcerias muito significativas, como Fundação Banco do Brasil, Receita Federal, Itaipu Binacional, entre outros, que viabilizaram as ações que foram idealizadas, executadas e nacionalmente reconhecidas com o Prêmio/Ethos Valor, em 2007. Destaco isso não como presunção, ou autopromoção, mas para motivar e dizer que sim, com uma visão e um desejo empreendedor (sonhar e querer fazer acontecer) você, futuro(a) profissional, assistente social, pode, também, fazer coisas diferentes, inovadoras e significativas para a nossa profissão e, principal- mente, para a nossa sociedade. DESAFIOS DA GESTÃO DE PROJETOS: UM ESTUDO DE CASO Em grande medida, esse estudo de caso seguirá a mesma estrutura apresentada na Unidade IV, só que com algumas alterações. Por que isso? Como afirmei ante- riormente, cada projeto é único, assim como uma peça de arte ou um artefato e o que determina a inclusão ou exclusão de alguns dados ou informações. No estudo de caso sobre a Coopermesa, que resultou de uma ação de extensão do Projeto Casulo Sócio-Tecnológico, se segue é um exemplo. Esse exemplo foi elaborado com a finalidade de ser apresentado para vários possíveis parceiros, nesse sen- tido, muitos dados não foram alterados ao longo do tempo, mas sim ajustados e que foram úteis e bem aceitos. São essas informações que a seguir apresento para você, seguindo o roteiro: a) Capa e b) Corpo do trabalho. Desafi os da Gestão de Projetos: um Estudo de Caso Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 155 a) CAPA Logomarca do projeto e da instituição, isso é muito importante, pois você cria uma identidade e reconhecimento de sua marca. Para se ter uma ideia, até hoje, passados quase 12 anos, muitas pessoas na cidade ainda me cumprimentam e lembram do projeto. Na capa, também, deve ser identifi cado o tema central do projeto. Título do projeto: MULHERES EMPREENDEDORAS SOCIAIS EM AÇÃO Identifi cação do responsável Coordenação Prof. Dr. Edson Marques Oliveira Assistente social/consultor Cress 11ª Região PR Forma de Contato Contato: e-mail = empreendedorsocial03@yahoo.com.br mailto:empreendedorsocial03@yahoo.com.br Telefone (45) 2774603 Local e data da entrega do projeto Toledo-PR, Março de 2005. DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E156 b) CORPO DO PROJETO O presente projeto faz parte de uma das ações programadas do Projeto Casulo Sócio-Tecnológico, que se caracteriza por uma atividade de extensão da Unioeste, curso de Serviço Social, campus de Toledo-PR, sob a coordenação do Prof. Dr. Edson Marques Oliveira, que procura por meio deste projeto colocar em prática a sua investigação realizada no doutorado, sob o título: Empreendedorismo social no Brasil: fundamentos e estratégias. O objetivo maior do Projeto Casulo é dis- seminar os princípios e técnicas do processo de empreendedorismo social, com vista a gerar ações de empoderamento, capital social, inclusão social e desen- volvimento sustentável. Desde março de 2004, o Projeto vem sendo desenvolvido. Atualmente, conta com o apoio de organizações, como: Fundação Banco do Brasil, ACIT, SICCOB, RECEITA FEDERAL, entre outros, mostrando a credibilidade e importância do mesmo para a comunidade. Para a realização do Projeto Casulo foram desenhadas algumas ações, a qual denominamos de células, entre elas a célula incubadora de tecnologia social, que tem o objetivo de apoiar e estimular a melhoria de programas e projetos sociais já existentes, bem como estimular a criação de novos arranjos que unem inova- ção tecnológica para inclusão social. E é nessa célula que está inserido o Projeto Mulheres Empreendedoras Sociais em Ação. A seguir, apresentamos um breve histórico de seu surgimento e o resumo executivo do mesmo. 1. Origem do projeto mulheres empreendedoras sociais em ação No segundo semestre de 2004, no curso de Serviço Social, na disciplina Oficina de formação Profissionalizante, que tem o objetivo de estimular as habilidades e competências na gestão social e na elaboração de programas, projetos e servi- ços sociais, procuramos estimular os princípios do empreendedorismo social, e desafiamos os alunos a criarem, a partir de dados reais e por eles distorcidos, e se apresentasse uma proposta de criação de uma ONG. Desafios da Gestão de Projetos: um Estudo de Caso Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 157 Entre os vários projetos, uma aluna, que também fazia parte do grupo de voluntariados do Projeto Casulo e recebeu a capacitação sobre o desenvolvimento do processo de empreendedorismo social, elaborou, nesta disciplina, uma pro- posta de trabalho com famílias monoparentais de uma Escola Pública do bairro Coopagro na cidade de Toledo. Após um levantamento junto ao cadastro e alunos da escola e por evidên- cias empíricas expressadas pela diretora do colégio, constatou-se que havia uma concentração de mães que chefiavam suas famílias; entre alunos da quinta e oita- va-série, cerca de 66 mães. Dessas, 54% não estavam trabalhando e apresentavam um perfil de famílias monoparentais, ou seja, mulheres que chefiam suas famí- lias com a ausência do pai/marido. Constata-se, com isso, que as mesmas enfrentavam problemas quanto à gestão da vida e educação dos filhos. A aluna inicialmente elaborou uma proposta, inti- tulada “Mães em Ação”, com o objetivo de criar um grupo de mulheres para serem treinadas e apoiá-las na solução de alternativas de geração de trabalho e renda. Finalizando o ano de 2004,a aluna Josiane nos procurou com o desejo de colocar em prática o seu projeto de modo a fazer um experimento piloto. Já havia conversado com a diretora e a mesma mostrou interesse e disposição para dar apoio. Analisando o projeto, verificamos que ele tinha um grande potencial e resol- vemos incluir o projeto na Incubadora de Tecnologia Social. Foram efetuadas algumas alterações e adequação à formatação na perspectiva do processo de empreendedorismo social, que consistente em gerar tecnologias sociais1 que sejam executáveis, de grande impacto e inclusão social, e sejam posteriormente replicáveis. É nessa perspectiva que, a seguir, apresentamos o Projeto Mulheres Empreendedoras Sociais em Ação em sua integra. 1 Tecnologias sociais são: Tecnologia Social compreende produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social. Disponível em: . Acesso em: 24 out. 2016. DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E158 2. Justificativa Com as recentes transformações produtivas e tecnológicas, constatamos inú- meras mudanças relacionadas ao campo da família, do mercado e das relações de gênero. Em específico, a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho, e o agravamento das novas composições familiares, em especial, quando a mulher está com os filhos e sem o marido, o que se tem denominado de famí- lias monoparentais. Ests fenômeno, segundo Kliksberg (2001, p. 58), é também chamado de “feminilização da pobreza”, pois a maior parte dos países da América Latina, apresentam índices de 20% de famílias chefiadas por mulheres, o que agrava a situação caótica das famílias pobres, o que acentuam uma série de fatores de vulnerabilidades sociais, tanto de geração de renda e sustento como do desen- volvimento afetivo, emocional e parental. No estudo de Bruschini et al. (2008), numa pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas, se destaca que após 1970 até 2002 e nos tempos atuais, este cres- cimento vem apresentando espantoso progresso. Em 1970, apenas 18% das mulheres brasileiras trabalhavam, e em 2002 temos metade delas em atividade. Chama atenção a relação das mulheres e a maternidade, em 2002, a taxa de atividade das mulheres com filhos com idade de até 2 anos foi de 51,9%, e entre as que têm filhos maiores de 7 anos é ainda maior, 69,1%. Outra constatação é que a permanência das mulheres no mercado de tra- balho tem se prolongado, em 1970, apenas 19% e 15% das mulheres com idade entre 40 e 49 anos e 50 e 59 anos, respectivamente, estavam ativas. Em 2002, as taxas de atividades nas mesmas faixas etárias eram, respectivamente, 66,7% e 50%. Estes dados são acompanhados da constatação de agravamentos, entre eles a disparidade de salários entre homens e mulheres e de cor da pele (raça e etnia) e escolaridade. Mas, chama maior atenção a constatação do crescimento de mulheres como chefes de famílias. Em 1980, as famílias chefiadas por mulheres represen- tavam 43,3% e os homens 88,2%. Já em 2002, as mulheres representam 56,5% e os homens 85,8%, ou seja, houve um crescimento da ordem de 29,3% entre as mulheres e uma diminuição de 2,4% entre os homens (BRUSCHINI, 2008, p. 47). Desafios da Gestão de Projetos: um Estudo de Caso Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 159 O maior índice foi encontrado na região norte com 28,7% e a menor no Sul com 32,8%, o perfil destes grupos tem, como predominância, as mulheres pretas e pardas, os rendimentos mensais destas mulheres são menores do que os ren- dimentos de famílias chefiadas por homens. Em 2002, 53% das chefes de família contavam com um rendimento domiciliar mensal de até 3 salários mínimos e apenas 45% dos chefes do sexo masculino. Tais dados nos apontam um agravamento acentuado entre este grupo, além de outros desdobramentos, tais como a baixa autoestima, violência doméstica, entre outros. É com esse objetivo que ora apresentamos o presente projeto para que o mesmo seja uma experiência do aprender a aprender, saber pensar e ser um exemplo replicável em outras regiões em que se encontra tal problemática. 3. Objetivos Promover a capacitação interativa e o empoderamento para autossustentabili- dade de mulheres chefes de famílias monoparentais por meio da geração de renda e trabalho, inclusão social, autoestima, valorização e potencialização humana. 4. Público de interesse Mães de alunos do Colégio Estadual Novo Horizonte, localizado no bairro Coopagro, na cidade de Toledo, estimam-se cerca de 60 mulheres ou mais. 5. Metas ■ Em 10 meses, capacitar cerca de 60 mulheres. ■ Gerar uma ou mais estratégias de negócios sociais para geração de renda e trabalho desse grupo de mulheres e de outros grupos sociais do bairro. ■ Que essa ou essas estratégias sejam sustentáveis e auto-gestionáveis pelas próprias mulheres e comunidade local. ■ Beneficiar diretamente cerca de 60 mulheres e uma população de cerca de 4700, pessoas, e indiretamente mais de 8000 pessoas, considerando toda a família deste, bairro. DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E160 ■ Aprimorar uma metodologia de territorialização e visualização de oportu- nidade de negócios e de aprendizado que poderá ser utilizado, em grande escala, e em outros bairros da cidade e em outras localidades da região. ■ Aprimorar a metodologia Oficina de Empreendedorismo social. ■ Gerar uma nova tecnologia social que poderá ser implementada, dupli- cada em outras localidades em que essa questão tem maior necessidade. 6. Metodologia Fase – 1: reconhecimento e estruturação do local de trabalho (já realizado). Fase – 2: preparo e adequação da infraestrutura e reconhecimento do perfil da população a ser trabalhada (já realizado). Fase – 3: divulgação, seleção e cadastramento das participantes do projeto (já realizado). Fase – 4: início da capacitação Oficina de Empreendedorismo social, que segue a seguinte programação básica: (em andamento). Modulo I – Sensibilização e apresentação da Proposta de trabalho ■ A questão de gênero e os desafios da mulher no trabalho, na sociedade e na gestão da vida familiar. ■ A proposta do empreendedorismo social e do Projeto Casulo. ■ O projeto Mulheres empreendedoras sociais em ação. Modulo II - Territorialização e visualização de oportunidades ■ Planejamento de Pesquisa de campo no bairro, equipe e participantes do curso. ■ Noções da criação de novos empreendimentos. ■ Empreendimentos sociais e solidários. ■ A técnica de territorialização e visualização de oportunidades.2 2 Esta parte será realizado uma pesquisa de campo em que as participantes editaram sendo treinadas para fazer um levantamento minucioso de seu bairro, além de levantar os principais problemas e soluções, a ideia é que as pessoas percebam as oportunidades que possam existir em seu próprio espaço vivencial. Serão analisados as seguintes variáveis: capital social, equipamentos sociais, infraestrutura, nível de qualidade de vida, problemas sociais, nível de exclusão social, diagnostico de mercado, resíduos, entre outros. Desafios da Gestão de Projetos: um Estudo de Caso Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 161 ■ Elaboração mapa inteligente de oportunidades de negócios. Modulo III – Elaboração do Plano de Negócio Social e criação de redes de consumo solidário. Modulo IV – Criação de unidades de negócio e rede de consumo solidário no bairro Coopagro. Modulo V – Avaliação de impacto e implementação das ações e unidades de negóciosocial 7. Recursos Necessários [PARÁGRAFO INTRODUTÓRIO] MATERIAL Sala, mesas, cadeiras, lousa, material de consumo (*) Ficha cadastral, Formulário de pesquisa Cartaz, Folheto Pranchetas Papel A4 (**) Cartucho de tinta preta Apostila (xerox) (***) Cartucho de tinta colorida Crachás identificação Combustível/Carro Alimentação Transporte Câmara fotográfica digital Filmadora Camiseta identificação HUMANOS 4 estagiários 2 especialistas/consultores (direito e gênero) 1 Coordenador 1 Supervisor de campo DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E162 FINANCEIROS ITEM QUANTIDADE VALOR UNIT. TOTAL Cartaz 20 10,00 200,00 Folheto 100 3,00 300,00 Pranchetas 100 10,00 1.000,00 Papel A4 10 resmas (**) 18,00 180,00 Cartucho de tinta preta 10 55,00 550,00 Cartucho de tinta colorida 10 75,00 750,00 Apostila (xerox) (***) 70 15,00 1.050,00 Camiseta identificação 150 15,00 2.250,00 Crachás identificação 150 5,00 750,00 Combustível/Carro 600 litros 2,20 1.320,00 Alimentação 100 refeições 10 meses 7,00 700,00 Transporte 300 passes ônibus 1,50 450,00 Bolsa estagiária 4 para os 10 meses 300,00 12.000,00 Bolsa auxílio especia- lista 2 por 5 meses 800,00 8.000,00 Bolsa auxílio Coorde- nador 1 para 10 meses 800,00 8.000,00 Bolsa auxílio Supervisor 1 para 10 meses 500,00 5.000,00 Caderno Especial publi- cação da experiência 500 5,00 2.500,00 Filmadora 1 1.200,00 1.200,00 Máquina Fot. Dig. 1 900,00 900,00 Bolsa auxílio para as mulheres empreende- doras durante os 10 meses 60 100,00 60.000,00 Total 113.100,00 (*) A sala será disponibilizada pela Escola, funcionará no laboratório de informática da Escola, que está desativado. (**) Resmas 500 x 10= 5000, (***) 70 apostilas de 80 páginas cada = 5.600 p. Desafios da Gestão de Projetos: um Estudo de Caso Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 163 8. Resultados esperados ■ Capacitação interativa e emancipadora de cerca de 60 mulheres chefes de família. ■ Envolvimento no reconhecimento de potencialidades e oportunidades de negócios em seu próprio local de vivência. ■ Elaboração de uma estratégia coletiva de geração de renda e trabalho (cooperativa, associação, outras). ■ Envolvimento da comunidade escolar e comunitária no levantamento de dados que foram utilizados para visualizar oportunidades de reconhecer necessidades da comunidade local. ■ Fazer um mapeamento de necessidades locais do bairro e potencialida- des de solução. ■ Aumento do estoque de capital social, incentivo e valorização de solu- ções solidárias, comunitárias e associativistas. ■ Autoestima da mulher trabalhadora e chefe de família. 9. Potencial de Reaplicabilidade Simplificar o processo e sistematizar a experiência de modo a ser utilizada em outros bairros, municípios, estados e até países. Envolver a parceria entre universidade, órgãos públicos, comunidade e empresas, elementos esses que têm em outros lugares. Busca de simplificação do processo de levantamento, análise e utilização dos dados, tanto pelos participantes como pela comunidade e o poder público, pos- sibilitando a criação de ações e políticas públicas. DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E164 10. Avaliação Serão realizadas reuniões periódicas, tanto com os usuários do projeto como pela equipe técnica, que será registrada. Aplicação de questionários avaliativos. Elaboração de relatório de atividades. 11. Responsável Técnico Coordenação Geral: Prof. Dr. Edson Marques Oliveira, assistente social cress 11ª 2767, professor Serviço Social Unioeste, campus de Toledo. 12. Bibliografia BRUSCHINI, M. C. et al. Articulação Trabalho e família: famílias urbanas de baixa renda e políticas de apoio às trabalhadoras. São Paulo: Fundação Carlos Chagas/ DPE, 2008. KLIKSBERG, B. Falácias e mitos do desenvolvimento social. São Paulo: Cortez, 2001. MANCE, E. A. (org.) Como organizar redes solidárias. Rio de Janeiro: DP&A: Fase, 2002. SALLES, R. H. Plano de Negócios para cooperativas e associações. Rio de Janeiro: DP&A: Fase, 2001. A Filosofia do Artífice para o Assistente Social Junto ao Campo de Gestão de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 165 A FILOSOFIA DO ARTÍFICE PARA O ASSISTENTE SOCIAL JUNTO AO CAMPO DE GESTÃO DE PROJETOS Caro(a) Aluno(a), como havia sinalizado, para fechar a nossa disciplina, queria compartilhar uma ideia e visão sobre a profissão e os profissionais de Serviço Social que em muito pode contribuir para se ter uma visão e uma perspectiva de ação mais condizente as demandas do século XXI. Isso é, que os assistentes sociais assumam o papel de artífices do design social. Explico melhor essa ideia. Primeiramente, o conceito de design pode ser considerado como um tipo de configuração, concepção, elaboração e especificação de um artefato, leva a pensar em uma atividade técnica e criativa, normalmente orientada por uma intenção ou objetivo ou para a solução de um problema. Simplificando, pode-se dizer que design é um projeto, um modo efetivo de criar ações criativas ee no nosso caso, com e junto às pessoas que atendemos e trabalhamos. Note, não é isso que vimos até o momento em relação à gestão de programas e projetos sociais? Já a ideia de ver o assistente social como um artífice social veio a partir dos estudos de Mary Ellen Richmond, como já citado anteriormente. Principalmente no livro O que é Serviço Social de Casos, de 1922, em que Richmond entende que os trabalhadores sociais de sua época eram artífices das relações sociais. Procuro ressignificar essa ideia no contexto atual e tomo como referência o trabalho de Richard Sennett, sociólogo americano, que apresenta um fato curioso em sua biografia. Sua mãe era uma assistente social (formada pela Escola de Serviço Social de Boston nos anos 1930, nos EUA) e relata no livro, Respeito (SENNETT, 2004), que já indiquei para leitura, a experiência de uma assistente social que ganhou o Prêmio Nobel da Paz, o nome dela era, Jane Addams, contemporânea de Mary Richmond. Use essa experiência como mote para aprofundar a análise das desigual- dades e o desfio de buscar alternativas efetivas para esse processo. Além dessa obra, essa vivência e experiência como músico são usadas para falar de temas como respeito, corrosão do caráter, globalização, cooperação, dialética, dialó- gica, entre outros. DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E166 A proposta da filosofia do artífice em sua base argumentativa está na obra, O artífice (SENNETT, 2009), mas é na obra, Juntos (SENNETT, 2012) que essa ideia é melhor explicitada, pois o autor defende o entendimento de uma coope- ração dialógica entre os seres humanos, o que está intrinsecamente relacionada à atividade desenvolvida pelo artífice expresso na lógica do trabalho artesanal, que não se limita a ser pensada só como coisa do passado ou só para artesão no modelo clássico, mas que pode ser pensado e experimentado no presente por diversas atividades humanas. Busca, como exemplo e referência, as oficinas arte- sanais e as guildas na Idade Média. O autor aponta que no trabalho artesanal, ou a arte do trabalho manual, os artesãos não separavam o ato de pensar com o fazer, ao contrário, as uniam. Em outros termos: O artífice explora essas dimensões de habilidade, empenho e avaliação de um jeito específico. FocalizaBem, eu vou pensar – conclui o sujeito. Passados seis meses, eles se encontram na rua. Psiquiatria: — Por que você não me procurou mais? Paciente: — A R$ 120,00, 3x por semana durante 2 anos, daria R$ 37.440,00, ia ficar muito caro. Aí um sujeito me curou por 10,00 reais. Psiquiatra: —Ah é? Como? Paciente: — Por 10,00 reais ele cortou os pés da cama!!! Moral da história: é preciso dar mais atenção às soluções do que gastar esforço e tempo só no problema. Com isso, já sinalizo uma forma diferente de pensarmos o Serviço Social de forma geral e de forma específica. Principalmente a sua inserção no campo da gestão de projetos sociais. É preciso, aqui, exercitar o que chamo de uma con- versa e reflexão do tipo carne e osso, o que só pode ser feito em uma perspectiva dialógica e pragmática-sistêmica-crítica. Explico melhor. Por conversas e reflexões de carne e osso, me inspiro na proposta exitosa do filósofo espanhol Miguel de Unamuno, principalmente em sua obra, Do sentimento trágico da vida (UNAMUNO, 2013). Unamuno é considerado um pragmático existencialista ou transcendental, devido a sua forte influência teórica em Sören Kierkegaard (1813-1855) e dos pragmáticos clássicos William James(1842-1910) e John Dewey (1859-1952). Defende que filosofar não é uma questão de filóso- fos, somente, mas de todo ser humano (o que inclui os assistentes sociais, que O Paradigma Predominante no Campo da Gestão e Análise de Configurações CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 também são pessoas que trabalham com pessoas) e que devemos fazer uma filo- sofia e uma reflexão no estilo “carne e osso”, que tem a seguinte compreensão: Também não é estranho para mim o humano nem a humanidade, nem o adjetivo simples, nem o adjetivo substantivo, mas o substantivo concreto: o homem [...] o homem de carne e osso, aquele que come e bebe e joga e dorme e pensa e deseja, o homem que é visto e ouvido, [...] homem de carne e osso; eu, você, meu leitor; aquele de lá, todos que pisam a terra (UNAMUNO, 2013, p. 19, grifo nosso). Nesse sentido, pensar o Serviço Social frente à questão da gestão social e de projetos, requer, antes de tudo, pensar objetivamente, de forma concreta (prag- mática) e com uma visão de fato e não de conversa, de totalidade (sistêmica), por tanto, de carne e osso. O que difere da proposta hegemônica, que leva a pensar um ideário de sociedade (socialismo e comunismo) que é imposto à população atendida pelos profissionais e que expressa o desejo de um grupo e não de uma população que, via de regra, nem quer saber disso, e, sim, de ter suas necessi- dades atendidas. O que denota nitidamente vários dos males tóxicos do bom pensar, de forma geral e pior ainda para a gestão social e de programas e projetos. Pensar a prática profissional no campo da gestão na perspectiva carne e osso, é, antes de tudo, encarar com maturidade as limitações que temos como pro- fissão e profissionais. Isso porque estamos prestando serviços para outros seres humanos, nunca devemos esquecer isso. Em outros termos: Todo o conhecimento tem uma finalidade. Saber por saber é apenas, digam o que digam, uma tétrica petição de principio [...] Mas, assim como um conhecimento científico visa a outros conhecimentos, a fi- losofia que formos abraçar tem outra finalidade extrínseca, refere- -se a todo nosso destino, a nossa atitude perante a vida e o universo (UNAMUNO, 2013, p. 30, grifo nosso). Logo, é preciso que certas “verdades” absolutas, que têm sido reproduzidas no Serviço Social, sejam revistas à luz dessa análise de carne e osso. “Verdades” que mais dificultam do que facilitam a inserção do profissional no campo da ges- tão social e de projetos, entre elas, a expressão mais sentimentalista, romântica e politicamente correta do que uma fusão profissional, está a declaração quase que messiânica: “garantia de direitos”. Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 Em outros termos, defender esse tipo de ideia como sendo uma finalidade de uma profissão é, no mínimo, inadequada e pensando no estilo carne e osso (de forma concreta e objetiva) e, acima de tudo, com honestidade, muitas vezes nós não conseguimos garantir os nossos direitos, quanto mais nos responsabi- lizarmos por querer garantir os direitos de outros cidadãos. Outro ponto muito importante a ser observado em nossa realidade profis- sional, é a discussão sobre o objeto de nossa profissão. Ouso discordar que seja “as expressões da questão social”, seja lá o que de fato isso significar. Mas qual- quer estudo sério de sociologia da profissão mostra claramente que o objeto de uma profissão de uma disciplina científica é aquilo que ela trabalha diretamente. Ora, as expressões da questão social são, em última instância, o resultado dos processos contraditórios de uma sociedade em constate movimento e com correlação de forças que produzem a concentração de renda e a desigualdade, que não se restringe à questão econômica, mas cultural, religiosa, emocional etc. O que requer uma visão mais ampla do problema. Lembra a história no iní- cio da unidade? Precisamos focar mais nas soluções do que só nos problemas. Em outros termos, precisamos descobrir como inovar, melhorar e aprimorar os programas, projetos e serviços sociais, por meio de um agir profissional pau- tado em pesquisar e propor novas alternativas de enfrentamento a essa realidade complexa e paradoxal. Nesse sentido, o que é, sempre foi e, a meu ver, sempre será o objetivo da prá- tica profissional do Serviço Social? É o ser humano, seja ele de qual for o estrato social, mas sem dúvida e com prioridade os que estão em situação de risco e vulnerabilidade social, tanto quanto nós, profissionais que fazemos esse atendi- mento. Isso é pensar carne e osso, são pessoas, seres humanos trabalhando para seres humanos. Como vimos a partir da afirmação de Unamuno em relação à filosofia, que deve ser concreta e que também serve para o Serviço Social. “O problema mais trágico da filosofia [Serviço Social] é conciliar as necessidades afetivas e voli- tivas [...] Não basta pensar, devemos sentir o nosso destino" (UNAMUNO, 2013, p. 31, grifo nosso). O Paradigma Predominante no Campo da Gestão e Análise de Configurações CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 Com isso, quero dizer que devemos pensar o Serviço Social como uma profissão (não um partido político ideológico, nem um movimento socialista, nem um sindicato, nem um movimento libertário revolucionário) que se ocupa do cotidiano, em que as relações sociais e humanas são realizadas e ações são pensadas para melhorar a sua qualidade de vida, o que é feito por pessoas para pessoas, visando o bem-estar comum, justo e digno. O que é diferente do atual pensamento hegemônico que vê a profissão como um meio de militância para consecução de uma ideologia específica (socialismo e comunismo), em que o profissional deve defender um projeto ético-político profissional, ideológico e partidário, que mais representa um programa político e tem pouca ou nenhuma aplicabilidade congruente com uma profissão que, via de regra, enfrenta as limitações dos espaços sócio-ocupacionais e o desafio de materialização e justificativa de sua participação na divisão social do trabalho. O que fica ainda mais desafiador quando pensamos na atuação no campo da gestão social e de projetos, que requer mais objetividade do que ideologia como mostro mais à frente nas demais unidades. Nos mais de 20 anos de carreira como professor em Serviço Social, sempre que encontro um(a) aluno(a) pergunto qual a principal exigência das organiza- ções que o contrata.a relação íntima entre mão e a cabeça (…) sustenta o diálogo entre práticas concretas e ideias […] criam um ritmo entre a solução de problemas e a detecção de problemas (SENNETT, 2009, p. 20) [grifo nosso]. Essa é a primeira característica importante que acredito estar relacionada ao Serviço Social como disciplina e a prática cotidiana do assistente social, princi- palmente ao considerarmos as especificidades de seu trabalho de intervenção no campo humano-social e sua aproximação ao conceito do trabalho do artífice. Pois identificar o quanto existe dessa relação, do pensar e do fazer, e quanto isso, nos dias atuais, apresenta grandes barreiras para serem superadas, pelo menos, a meu ver, no caso brasileiro. Outra característica dessa proposta que se alinha com o trabalho do assis- tente social seria que o artífice centra sua ação e desenvolvimento na habilidade artesanal, ou seja, “[...] um impulso humano básico e permanente, o desejo de um trabalho benéfico por sim mesmo" (SENNETT, 2009, p. 19). Destaca, dessa forma, que para exercer essas habilidades do trabalho prático, é necessário um conjunto de habilidades e competências específicas. Segundo Sennett (2012), essas habilidades e competências levam o traba- lhador artífice a buscar soluções para os problemas com os quais se depara no cotidiano. Esse esforço faz com que o mesmo reafirme a vinculação entre o agir A Filosofia do Artífice para o Assistente Social Junto ao Campo de Gestão de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 167 e o pensar de forma congruente, o que pode ocorrer tanto com um artesão como com um regente de uma orquestra e por que não com um assistente social? A principal característica do artífice é o que o autor chama de condição humana específica, ou seja, o engajamento. Não é essa uma das maiores características de nossa profissão? E que, histo- ricamente têm sido uma das marcas registradas na busca de intervenção social? Lógico que uma ressalva deve ser feita. Esse engajamento que Sennett coloca, não pode ser um engajamento para uma única “classe” ou grupo social, a meu ver, e ainda continuo a acreditar, que nosso foco é o ser humano em sua totalidade, seja ele quem for ou precisar de nossa inversão, delimitar e centrar esforços e compromissos e engajamentos ideológicos, políticos e sectários é função e papel de militantes e não de profissionais. Nisso, o engajamento proposto pelo artí- fice é com o seu trabalho e, é claro, pautado em princípios éticos profissionais e humanos adequados, mas limitado à sua função profissional e não misturando com ideologia, político-partidária. Voltando à proposta de Sennett (2012), ele defende que o processo de ins- trução/capacitação é vital para gerar o perfil do artífice, mas que deve ser feito com clareza e não separar o que se diz com o que se faz, ou seja, “mostre em vez de dizer”. Eis aqui, a meu ver, outro grande problema do Serviço Social do Brasil na atualidade, o que se ensina na faculdade é o que se aplica na prática? Quando formados e se veem numa equipe de profissionais de outras áreas no campo social, essa formação ajuda a responder a que viemos? O que fazemos profissionalmente de específico para revolucionar a sociedade? Para criar uma sociedade comunista e socialista, ou qualquer que seja? Isso são responsabilida- des e obrigações de uma profissão e profissionais fazerem? Ou, ainda pior, isso é uma perspectiva profissional? Ou é da ordem de uma ideologia, movimento social, partido político, sindicato? Ou não seria papel de um tipo de movimento religioso que tem princípios de salvação e único caminho? Questões urgentes para se pensar, não é mesmo? Ouso afirmar que a verdadeira revolução não está na superestrutura, Marx estava errado, a revolução está na estrutura em que estão as pessoas que fazem do seu viver social o espaço de convivência e aceitação mútua, é onde essas pessoas decidem participar e desejar, construir, desenhar e viver (design humano-social). DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E168 Uma sociedade justa, digna e fraterna no respeito e na capacidade de aceitação, na convivência efetiva e não só discursiva (superficial e ilusório) com a diversidade e pluralidade necessária. Não um projeto de sociedade imposta e reducionista e pré determinada que se esconda atrás de uma ditadura coletivista com ares de sabedoria onipotente como se fosse uma seita que não pode mudar e nem ser questionada. É nesse espaço e relações que o assistente social do século XXI está inserido. E isso passa pela elaboração de programas e projetos sociais, que res- peitem essas questões. Nesse sentido, Sennett (2012) extrai essa noção do artífice a partir da ori- gem das Oficinas da Idade Média, em que o mestre, além de dizer o que fazer, mostrava na prática os procedimentos (métodos e técnicas) que deveriam ser usados e a perícia de sua aplicação, depois, o aprendiz vai elaborar e reelaborar o que aprendeu, e o bom aprendiz criará suas próprias estratégias e se transfor- mará num mestre também. Por isso, Sennett (2012) critica os manuais atuais que não usam uma lingua- gem que estimule o pensar e o agir juntos e das formações que não estimulam a relação com a prática vivencial. O que está diretamente relacionado com o Serviço Social, exemplos dessa disparidade não faltam. Sendo assim, o Serviço Social Brasileiro precisa não mais de uma Reconceituação, mas sim de uma Reforma, em que se preserve o que de bom foi conquistado e eliminemos o que tem impedido o crescimento de uma construção social mais efetiva das vidas com que trabalhamos cotidianamente. Finalizando essa pequena reflexão e proposição, gostaria, ainda, de reforçar que, segundo Sennett (2012), o aprimoramento das habilidades do artífice, passa pelo desejo de fazer uma coisa, e fazê-lo bem feito. Essa marca essencial da filo- sofia do artífice requer a constituição do desejo que, antes de tudo, é pessoal, mas não está desvinculado do processo social mais amplo e, portanto, dos proces- sos de interação entre os sujeitos, ou seja, do anseio coletivo expresso nas ações que impactam para o bem-comum e não de ideologias ou grupos específicos. A Filosofia do Artífice para o Assistente Social Junto ao Campo de Gestão de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 169 Procurei mostrar ao longo dessa disciplina que a elaboração e gestão de pro- gramas e projetos sociais é mais do que a organização de dados e informações, e acomodação e maximização de recursos. É preciso pensar, como nos ensina Unamuno (2013, p.19), “carne e osso”, ou seja, são pessoas construindo e elaborando proje- tos para outras pessoas, outros seres humanos como nós. Não podemos perder esse horizonte, pois o trabalho coletivo é necessário para gestão tanto de programas e projetos como das ações planejadas do Serviço Social, o qual não é imposto, mas voluntário, espontâneo, consciente, ou seja, não é forçado de cima para baixo, ou por uma noção de “ditadura do coletivo”, ou ainda, como sinaliza Sennett (2012), uma solidariedade de cima para baixo e uma lógica do “nós contra os outros” que gera subserviência a um coletivo que não respeita a diversidade e nem a inovação. O que pode ser constatado no Serviço Social na medida em que livros, artigos e eventos sempre expressam mais do mesmo, sem abrir a possi- bilidade para efetivação da diversidade e da pluralidade, a qual é materializada em outras visões, outras práticas e outros resultados. Nesse sentido e considerando o desafio do trabalho no campo do processo intersetorial e da elaboração e gestão de programas e projetos sociais, vendo o assistente social comoum artífice do design social requer as seguintes habilida- des e competências: 1. Potencializar ações comunitárias a partir da informalidade e espontaneidade. 2. Compromisso & cooperação (dialógica e empática). 3. Cortesia, diplomacia e concerto. 4. Gestão de conflitos e intermediação. 5. Equilibrar competição & cooperação. 6. Potencializar o individual para garantir o bem comum coletivo. 7. Potencializar ritmo e hábito; potencializar o como fazer - focando no como fazer melhor e como fazer sempre - por meio do aprimoramento, hábito, geração de valores integrativos e prioridades profissionais. 8. Ter uma cosmovisão integral e integrada, considerar todas as dimensões do viver e do ser humano e as habilidades do atendimento direto como a escuta dialógica, aprender a aprender-, saber pensar sempre e, sobre tudo, ter ações a partir da postura de pesquisar para intervir de forma plural e dialógica. DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E170 PRINCIPAIS CONCLUSÕES E APRENDIZADOS DA REFLEXÃO PROPOSTA Em linhas gerais, podemos destacar os seguintes pontos de maior relevância e aprendizado na presente reflexão. 1. Ver o Serviço Social como uma profissão, não como uma ação militante e político-ideológica. 2. Considerar como objeto de ação profissional o ser humano e o seu bem-es- tar e, principalmente, os que estão em estado de vulnerabilidade. 3. Considerar como objetivo profissional a contribuição para a realização, bem-estar e felicidade das pessoas e com a construção de uma sociedade mais justa, equânime e digna, principalmente junto as populações mais fragilizadas e injustiçadas. 4. Metodologicamente: 1) investigação: conhecer e diagnosticar a realidade a ser trabalhada; 2) intervenção: planejamento, execução, monitoramento e avaliação por meio de planos, programas, projetos e serviços sociais. 5. Teorias múltiplas, interdisplinariedade, transdisciplinariedade e plurali- dade de fato e não de fachada. 6. Papel e função profissional: ser um gestor social e informacional e um artífice do design e das relações sociais. 7. Compromisso ético com os clientes, outros profissionais e entre os profis- sionais, e não com um projeto e programa político-ideológico e partidário. 8. Valores altruístas: bem comum, respeito à diversidade, diversidade e aceita- ção do diferente e da possibilidade da inovação mesmo frente aos desafios e paradoxos da sociedade complexa do século XXI, dignidade humana. 9. Gerir a informação e conhecimento socialmente relevante para promo- ver a cidadania, qualidade de vida e sustentabilidade humana, com vistas a uma sociedade democrática, justa e digna para todos. 10. Dialogar com outros saberes e abrir espaço para sua disseminação e compartilhamento na categoria, ou seja, efetivar uma ecologia de saberes. A Filosofia do Artífice para o Assistente Social Junto ao Campo de Gestão de Projetos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 171 11. Interligar permanentemente o mundo da academia com o mundo do mercado profissional e fazer da formação uma peregrinação do conhe- cer para transformar. 12. O maior desafio do Serviço Social frente ao campo da intersetoriali- dade e da gestão de programas e projetos sociais não é garantir direitos ou defender um projeto ético-político profissional, isso é focar o problema de forma ideológica e sentimentalista. 13. É preciso sim dar visibilidade, credibilidade e ter reconhecimento de sua prática e modo especifica de intervenção e contribuição na realidade humano-social. 14. É preciso saber articular a demanda entre formação, de forma que atenda às necessidades e tendências da sociedade (contextualização) apoiando e capacitando coerentemente à prática e intervenção dos profissionais da prática de forma adequada e congruente. 15. Ter uma prática profissional que faça sentido, tinha significado, diferença e seja congruente (teoria x prática e práxis + pragma = peoísis= transforma- ção social). 16. Ter e demonstrar um saber específico, saber influenciar e não só ser influenciado, o que só pode ser feito com boas práticas e menos discurso. Por fim, e como mensagem final, quero chamar a atenção para mais um ponto que vem sido disseminado no Serviço Social devido à influência do pensamento hegemônico. Chamo esse ponto de cultura da luta, essa lógica da luta, sempre levando tudo para o campo político ideológico, induz a um processo sinalizado como elemento tóxico do bem pensar, que é o ressentimento e a impossibilidade de olhar para o outro e ver que, apesar de diferente, é preciso saber conviver e que tudo fica resumido na lógica do nós contra os outros (que não pensam como a gente, os iluminados e salvadores do mundo). Nisso, as palavras de Humberto Maturana são mais do que sábias: As conversações de luta não pertencem à democracia. A luta constitui o inimigo porque necessita dele e obscurece as condições que lhe dão origem. Na luta há vencedores e derrotados, não o desaparecimen- to de inimigos. O derrotado tolera o vencedor esperando uma opor- tunidade de revanche. A tolerância é uma negação do outro suspensa temporariamente. As vitórias que exterminam o inimigo preparam a guerra seguinte (MATURANA, 2001, p. 93) [grifo nosso]. DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE GESTÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E172 Tal constatação cabe bem como alerta no processo de intersetorialidade e da ges- tão de programas e projetos sociais, que requer sabedoria, negociação e definição precisa do que se faz, como faz e por que faz. O que requer grande congruência. Logo, para o Serviço Social Brasileiro no século XXI, precisamos mais de método e metodologia e menos doutrinação e ideologia, não precisamos de mais uma reconceituação, mas de uma reforma. Por fim, precisamos saber aprender de forma pragmática-sistêmica-crítica e de carne e osso, focar mais na solução do que no problema e, assim, nos tornamos socialmente uma profissão relevante e profissionais éticos e politicamente coerentes. Para você desejo sucesso e força, faça diferente e faça diferença. CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) Aluno(a), chegamos ao final desta unidade. Procurei sintetizar os demais conteúdos, de modo a reforçar o aprendizado no que diz respeito à gestão de programas e projetos sociais. Para isso, apresentei três pontos nesta quinta uni- dade. O primeiro foi uma reflexão sobre a questão do trabalho interdisciplinar, fator de máxima importância nesse campo, pois traz o grande desafio do traba- lhar junto com outros setores, outros saberes e, principalmente, com objetivos comuns. A elaboração e gestão de programas e projetos sociais não fogem à regra. “Não se deixe enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá.” (Apóstolo Paulo, Bíblia Sagrada, livro Gálatas, cap. 6, versículo 7). Isso é, você pode até escolher o que plantar, mas não tem como escolher o que vai colher, então plante desafios e colha oportunidades. Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 173 No segundo ponto, e para reforçar essa noção, apresentei um estudo de caso de um projeto social que realizei na prática. Foi o caso da Coopermesa que nas- ceu dentro de uma atividade de extensão universitária a partir do Projeto Casulo Sócio-Tecnológico, que envolveu profissionais e estudantes de Serviço Social. Finalizando, apresentei um modo diferente de ver o papel dos profissionais de Serviço Social no século XXI, e principalmente, quanto à gestão de programas e projetos sociais que, em si, requer dos profissionais um trabalho típico arte- sanal, pois carece pensarcom a cabeça, mas trabalhar com o corpo e junto com outras pessoas. Lembrando que tanto os exemplos como o estudo de caso apresentados não são receitas prontas como de um bolo, mas parâmetros concretos que podem dar uma direção. Claro que você pode adaptar à sua realidade e, assim, ir criando o seu próprio estilo e tendo suas próprias experiências, pois o que existe de mais empolgante em nossa profissão é isso, a aventura do desconhecido, a possibili- dade de um sonho idealizado se transformar em algo concreto e tangível, “carne e osso”. Isso é ser um artífice do design social e um empreendedor social, em que palavras não são jogadas ao vento como panfletos de uma campanha polí- tica, mas são transformados em ações concretas e resultados efetivos, que, assim, você possa ousar ser e fazer. Sucesso! 174 1. Veja o estudo de caso da Coopermesa e identifique três características que defi- nem esse projeto como tendo uma lógica de empreendedorismo social. 2. Uma das principais características do artífice, apresentado por Sennett (2009), pode ser resumido em uma palavra, veja as alternativas abaixo e assinale a resposta corretamente: a. Empreendedorismo social. b. Engajamento. c. Felicidade. d. Alegria. 3. Sobre a intersetorialidade, qual é o maior desafio para os assistentes sociais, con- siderando a elaboração e gestão de programas e projetos? 4. A escolha e justificativa da população alvo, mulheres em risco e vulnerabilidade social por meio do projeto Coopermesa foi decorrente a qual fenômeno social detectado? 5. O conceito de artífice do design social, sendo apresentado para o Serviço Social, tem qual justificativa? 175 EMPREENDEDORISMO SOCIAL SOLIDÁRIO: QUALIDADE FORMAL E POLÍTICA NO COMBATE À NOVA POBREZA GLOBALIZADA A presente reflexão faz parte da pesquisa realizada no período do doutoramento em Serviço Social (2002 a 2004) na Unesp-Franca-SP, tendo como objeto, o empreendedo- rismo social, partindo da hipótese que o mesmo, face a conjuntura atual, se apresen- ta como uma alternativa emergente de desenvolvimento humano e de emancipação social frente às ações de combate à pobreza, expressão mais nítida das múltiplas di- mensões da questão social. Como escopo de análise, propomos uma reflexão frente aos inúmeros impactos da atual globalização. Destacamos o surgimento de um novo tipo de pobreza, além da estrutural e política. A pobreza perceptiva, que é gerada pelos meios de comunicação e informação em massa, produzindo um grau elevado de alienação que impede a transformação social através da discussão e resolução das questões públicas e coletivas. Surgem várias alternativas para combater estes impactos e dimensões da nova pobreza globalizada. O empreendedo- rismo social emerge como uma destas alternativas. Mas o mesmo apresenta limitações, que se encontram na relação da qualidade política e qualidade formal de sua ação. Estas limitações precisam ser superadas. Desta forma, é que propomos o desenvolvimento do Empreendedorismo Social Solidário como uma alternativa e perspectiva crítica, criativa e integradora para o desenvolvimento humano e para a efetiva emancipação social. Existe um velho dito popular que afirma: “de boas intenções o inferno está cheio”, e na ver- dade é o que estamos constatando em relação ao crescimento de ações voltadas para a área social, que ao mesmo tempo, é benéfica e preocupante. Benéfica, pois cresce a cada dia mais de pessoas e organizações que, emprenhadas em ajudar a resolver os problemas sociais que atingem a todos nós. Preocupante, pois a experiência e a história nos mostram que não basta ter boas intenções, é preciso saber fazer e refletir o porquê que estamos fazendo, ou seja, mais do que trabalhar para com- bater a pobreza, é preciso que se pergunte, e se tenha claro algumas questões. Por exemplo. Por que existem pobres? Por que determinados grupos de pessoas, apesar de serem ajudadas, ainda continuam pobres? Qual a melhor forma de ajudar para que haja autonomia, independência (emancipação) e não manutenção social da pobreza? Todos os esforços para resolver este mal são bem vindos, mas é preciso termos clareza que a nossa ação deve privilegiar um processo de emancipação, libertação, mudança de fato e de verdade, que as pessoas possam desenvolver suas potencialidades humanas para se tornarem autônomas e influírem nos rumos de suas próprias vidas. E não ações paliativas, que mais “ajudam” os doadores, do que os pretensamente ajudados. Muitas são as ações com este propósito. Destacamos, o empreendedorismo social como uma destas ações emergentes. 176 O mesmo apresenta princípios e estratégias que vem mudando o cenário tradicional de combate à pobreza. No entanto, apesar do processo de inovação, e a partir do enten- dimento histórico e crítico quanto ao surgimento e forma de tratamento da pobreza, o empreendedorismo apresenta algumas limitações. Estas limitações podem ser observa- das, se analisarmos, como propõe Demo (1994), estão relacionadas a qualidade formal e política do fazer do empreendedorismo social. A qualidade formal está relacionada a questão das técnicas e do saber fazer, o que sem dúvidas o empreendedorismo social tem contribuído. A qualidade política está relacionada ao “por quê deste fazer”, ou seja, um visão crítica da realidade, sabendo que o fazer tem intencionalidades e estará a serviço de determina- dos interesses, principalmente quando se trata de combate à pobreza. Uma análise aproximativa do empreendedorismo social, face as dimensões do trata- mento histórico das questões sociais, nos revelam que a sua maior limitação está na qualidade política, pois a origem do empreendedorismo social vem da lógica empresa- rial, ou melhor, da Responsabilidade Social Empresarial, que vem somar com os esforços de resolução dos problemas sociais, mas de maneira particularizada/privativa, sem con- siderar e participar de espaços públicos e, portanto, gerando um grau de despolitização coletiva das questões públicas. Fato este, que em muito pode prejudicar o seu desempenho em relação ao desenvolvi- mento humano e a emancipação social. Verificamos então a necessidade de uma outra alternativa e entendimento, ou seja, desenvolvermos um Empreendedorismo Social So- lidário, onde a qualidade formal e política estejam em simetria, produzindo ações que são críticas, criativas e integrais, produzindo emancipação social e desenvolvimento hu- mano. Fonte: adaptado de Oliveira (2002). Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Coaching & Sustentabilidade Humana: a arte e a ciência de ser feliz Edson Marques Oliveira Editora: Appris Sinopse: nesse livro, Oliveira apresenta de forma direta, clara, mas com boa fundamentação, os conceitos de coaching, sustentabilidade humana e um modo diferente de refl etir sobre felicidade que é um tema de máxima importância para a vida e existência humana, mas que pela lógica de consumo e superfi cialidade da vida no século XXI, está renegado a refl exões banais de autoajuda barata. O autor procura mostrar que para além do conceito, também badalado na atualidade de sustentabilidade ambiental, é preciso pensar a sustentabilidade humana. Enquanto a sustentabilidade ambiental, defende que devemos pensar hoje que planeta vamos deixar para a gerações futuras, a sustentabilidade humana inverte essa questão, que tipo de ser humano teremos hoje para um possível planeta. Por isso, felicidade é entendida pelo autor como algo que deve ser conquistado, não é nada dado e nem algo que tenha base em questões superfi ciais, como o ter coisas, consumir coisas e buscar não sofrer, não ter dor, mas, antes de tudo, ter sabedoria de saber passar por privações, por medos, ter autocontrole de suas emoções, pensar além de si mesmo, saber passar pela dor e sofrimento e ainda sair fortalecido, mostrando que no fundo o que todos buscamos. Comentário: essa leitura se apresenta de máxima importância, pois no século XXI um grande desafi o para os assistentessociais é exatamente intervir de forma signifi cativa no campo do desenvolvimento da sustentabilidade humana e, porque não dizer, de contribuir para a felicidade das pessoas. A Ashoka é uma ONG que mais tem disseminado o conceito e as práticas de empreendedorismo social. É muito interessante conhecê-la e ter inspirações de inovação no campo social. Acesse e confi ra! Acesse o link disponível em: . Coworking é um conceito de espaço colaborativo, inicialmente voltado para o empreendedorismo privado, mas hoje com exemplos interessantes no campo social, dê uma olhada nessa proposta do Iguassu. Acesse o link disponível em: . nesse livro, Oliveira apresenta de forma direta, clara, sustentabilidade humana e um modo diferente de refl etir sobre felicidade que é um tema de máxima importância para a vida e existência humana, mas que pela lógica de consumo refl exões banais de autoajuda barata. O autor procura mostrar que para além do conceito, também badalado na atualidade de sustentabilidade ambiental, é preciso pensar a sustentabilidade humana. Enquanto a sustentabilidade ambiental, defende que devemos pensar hoje que planeta vamos deixar para a gerações futuras, a sustentabilidade humana inverte essa questão, que tipo de ser humano teremos hoje para um possível planeta. Por isso, felicidade é entendida pelo autor como algo que deve ser conquistado, não é nada dado e nem algo que tenha base em questões superfi ciais, como o ter coisas, consumir coisas e buscar não sofrer, não ter dor, mas, BRUSCHINI, M. C. A.; LOMBARDI, M. R.; UNBEHAUM, S.; RICOLDI, A. M; MERCADO, C. M. Articulação Trabalho e família: famílias urbanas de baixa renda e políticas de apoio às trabalhadoras. São Paulo: Fundação Carlos Chagas/DPE, 2008. DEMO, P. Educação e Qualidade. São Paulo: Papirus, 1994. KLIKSBERG, B. Falácias e Mitos do desenvolvimento social. São Paulo: Cortez/ Unesco, 2001. MANCE, E. A. A revolução das redes: a colaboração solidária como uma alternativa pós-capitalista à globalização atual. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. ______. Como organizar redes solidárias. Rio de Janeiro: DP&A: Fase, 2002. MATURANA, H. Cognição, ciência e vida cotidiana. Trad. de Cristina Magro e Victor Parentes. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2001. OLIVEIRA, E. M. Empreendedorismo social solidário: qualidade formal e política no combate à nova pobreza globalizada. In: Anais IV Encontro Nacional de Empreende- dores. Anais. Florianópolis - Universidade Federal de Santa Catarina, 2012.. RICHMOND, M. E. Caso Social Individual (s.t) Prólogo de Natalio Kisnerman. Buenos Aires: Humanitas, 1977. ______. O que é o Serviço Social de Caso? Trad. de Regina Rangel Rios. Coleção Temas Sociais. n. 85. Rio de Janeiro: CBCISS, 1974. ______. Social Diagnostics. New York – EUA: Russel Sage Fundetion, 1917. ______. What is social case work? an introduction description. New York: Russell Sage Fundetion, 1922. SALLES, R. H. Plano de Negócios para cooperativas e associações. Rio de Janeiro: DP&A: Fase, 2001 SENNETT, R. Autoridade. Rio de Janeiro: Record, 2001. ______. O artífice. Trad. de Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2009. ______. Juntos: os rituais, os prazeres e a política da cooperação. Rio de Janeiro: Record, 2012. ______. Respeito: a formação do caráter em um mundo desigual. Rio de Janeiro: Record, 2004. SILVA, I. L. R. da Mary Richmond: um olhar sobre os fundamentos do Serviço Social. Rio de Janeiro: CBCISS, 2004. UNAMUNO, M. de. Sentimento Trágico da vida. São Paulo: Ed. Hedra, 2013. VIEIRA, B. O. Serviço Social: visão internacional (1928-1978). São Paulo: Cortez, 1982. REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS 179 GABARITO 1. Destacar, pelo menos, dois aspectos, inovação quanto à costura de material reci- clável, ser um grupo de mulheres, contribuir com o meio ambiente e por ser um trabalho solidário que pode ser reproduzido em qualquer lugar. 2. A resposta correta é a letra b. Engajamento, pois o artífice se empenha em fazer bem feito o que se propõe a fazer. 3. Destacar principalmente o desafio de dizer o que, de específico, o Serviço Social faz e como essa especificidade pode somar aos esforços de outras áreas, setores e saberes de outros profissionais. 4. O principal conceito e fenômeno é da constatação de um grupo de mulheres chefes de família, ou família monoparentais. 5. Por conta da origem do Serviço Social em que Mary Ellen Richmond comparou os primeiros assistentes sociais com artífices das relações sociais, hoje, de forma atualizada, o conceito de design, ou projeto, serve como forma de atualização dessa visão. CONCLUSÃO Caro(a) aluno(a), chegamos ao final dessa disciplina. Espero que você tenha gostado e aprendido muito sobre as diferenças entre plano, programa, projeto e serviços e como esses elementos se inserem num processo mais amplo, a saber a gestão e a gestão social. Ressaltei que o trabalho de elaborar e gerenciar programas e projetos sociais, é uma atividade e prerrogativa profissional do assistente social, além de uma estratégia de sobrevivência, visto que hoje, principalmente no campo governamental, existe essa exigência. Pode também ser visto como uma oportunidade de novos espaços de trabalho, junto a organizações empresariais e da sociedade civil que também necessita cada vez mais de profissionais competentes que saibam elaborar e geren- ciar programas e projetos sociais inteligente, criativos e inovadores, podendo ser realizado na modalidade de assessoria e consultoria. Apresentei modelos de projetos e um exemplo prático para melhor visualização de como é possível colocar em prática tudo que você viu ao longo das cinco unidades. Seja por meio do estudo de caso da Coopermesa e das ações do Projeto Casulo Sócio-Tecnológico, que foram ações realizadas por profissionais da área, de forma congruente entre os conceitos aqui apresentados e resultados significativos. Mostrando, com isso, que no Serviço Social é possível realizar de forma empreende- dora e inovadora ações que, de fato, interferem positivamente na vida das pessoas e contribui na formação de profissionais que podem criar e inovar no campo social. O que fica ainda mais efetivo com a ideia do assistente social como um artífice do design social. Espero ter contribuído para sua formação e estimulado, e aguçado, sua capacidade empreendedora, criativa e crítica, desejo que você seja ousado(a) em fazer diferente e fazer diferença seja onde você estiver atuando. Um grande abraço, sucesso, força e muita paz. CONCLUSÃOA resposta é quase sempre a mesma, “elaborar projetos”. Por isso que é necessário, e é esse o meu convite a todos(as), de termos uma disposi- ção mental e epistemológica diferenciada. Mas para exercitarmos essa reflexão mais dialógica do que dialética e em uma perspectiva pragmática-sistêmica- -crítica, é preciso eliminar alguns males que têm impedido a nossa reflexão e, consequentemente, uma visão mais ampla do Serviço Social como profissão, de forma geral e no campo da gestão social de forma específica. Como veremos no próximo tópico. ©shutterstock Eixos de Contextualizadores que Influenciam no Processo de Gestão na Atualidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 CONFIGURAÇÃO CONTEXTO: EIXOS DE CONTEXTUALIZADORES QUE INFLUENCIAM NO PROCESSO DE GESTÃO NA ATUALIDADE É importante salientar que quando pensamos o Serviço Social como profissão de carne e osso, ou seja, de forma concreta, deparamos- -nos tanto com avanços como também com limitações efetivas, principalmente quanto aos espaços sócio-organizacionais. Por exemplo, quanto ao desafio do trabalho intersetorial, em que fica ainda mais complexo e desafia- dor a atuação dos profissionais. Pois a cada dimensão da atuação profissional, requer uma maior precisão quanto a sua clareza e propó- sito profissional frente às demais disciplinas e demais profissionais. Nesse sentido, é preciso dizer com clareza, objetividade o que se faz, como se faz e por que se faz. O que remete a explicitação de questões concretas, como métodos, técnicas, e também, e fundamentalmente, a postura ética frente a essas questões. Da mesma forma os saberes que, no caso do Serviço Social, considerando sua histórica, origem e natureza interventiva, não há como negar que o seu saber é um saber que se alimenta da realidade, o que leva a um modo específico de pro- duzir conhecimento. No caso, um tipo de praxiologia (práxis =prática pensada) + logia (estudo) = estudo da prática pensada), ou seja, conhecimento crítico da rea- lidade para um objetivo específico, intervir na realidade. E a forma mais concreta dessa intervenção é por meio dos planos, programas, projetos e serviços sociais. Por isso, conhecer somente não é suficiente, é preciso intervir. Diante disso, os dois mundos precisam estar sempre em diálogo (dialógico preferencialmente): o mundo da academia e o mundo do mercado ou da prática profissional. Quando o primeiro quer ser dono da verdade e se apropria de uma única forma de pen- sar e ver o mundo e formar os profissionais em uma única cosmovisão, podemos CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 correr o risco de, teoricamente, estarmos indo em uma direção, enquanto a prá- tica e as exigências e demandas sociais da sociedade correm em outra. E isso ocorre principalmente pela falta de clareza e objetividade junto aos demais seto- res, saberes e profissionais no campo da gestão social. Vejamos melhor essa questão. Primeiro é importante resgatar a história e origem do Serviço Social que teve, há mais de 100 anos, o seu primeiro marco científico e profissional registrado na proposta de Mary Richmond nos livros Diagnóstico Social, em 1917 e O que é Serviço Social de Casos, em 1922. Não é o propósito e nem teríamos espaço e tempo para apresentar a arqui- tetura dessa proposta. Basta afirmar e lembrar que esses trabalhos foram fruto de um contexto que requeria uma ação mais profissional e mais científica do trato com a pobreza e as pessoas em situação de marginalização. Um contexto em que o Estado ainda não tinha uma maior participação, em que a miséria e pobreza assolavam as sociedades em crescimento industrial e que movimentos sociais buscavam gerar reformas na sociedade. Exemplo do movimento feminista a favor do sufrágio universal, no qual assistentes sociais pioneiras, como Mary Richmond e Jane Adams tiveram par- ticipação efetiva. Jane inclusive recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1931, além de projetos, como os Centros Comunitários e a Residência Social e as primeiras escolas de formação de profissionais. A proposta, principalmente de Richmond, foi pautada em experiência profissional efetiva. Ela entrevistou e analisou mais de 2.800 casos,e não foi só uma observadora, ou uma “intelectual” que formula teorias e que as práticas ficam a cabo dos profissionais de campo, como acontece atualmente no Brasil, principalmente em relação à produção do Serviço Social, muita teoria e ideologia e pouca prática e instrumentalidade. O que, no processo de intersetorialidade, nos dá uma desvantagem muito grande, pois outros profissionais e saberes têm tido essa preocupação, a qual, ao que parece, o Serviço Social do século XXI se esqueceu. Por isso é importante que se recupere essa capacidade de pulsar conforme o contexto e as demandas exigem dessa profissão dinâmica. É nessa perspectiva que é necessário, mesmo que brevemente, destacar o que chamo de eixos contextualizadores do século XXI, que, em grande medida, afetam o fazer profissional e, consequentemente, no processo de gestão social. Esses eixos seriam: Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 a. Males da modernidade: esse primeiro eixo é defendido por Charles Taylor, principalmente em suas obras, Ética da Autenticidade (2009), Imaginários Sociais (2004) e Fontes do Self (2013). Esse autor considera que não passa- mos para uma pós-modernidade, pois ainda não esgotamos os impactos da passagem da idade média para a modernidade, desta o que ele deno- mina de principais males da modernidade, são três: 1. Individualismo: vivemos uma época de niilismo radical, relativista centrada no ego, no eu, o que ressalta o narcisismo exacerbado e leva a perda do interesse pelas outras pessoas e pela sociedade de forma geral, ou seja, perde-se o horizonte de uma visão de vida em sociedade e busca pelo bem-comum. 2. Razão instrumental: avanço das novas tecnologias e da lógica de acumulação de capital, a centralidade está na busca de resultados por resultados, do uso dos meios somente para fins, sem se preocupar como os processos. 3. Despotismo e fragilidade do espaço público: cada pessoa está cen- trada em si mesma ou grupos que lutam por seus próprios interesses, que se concentram em garantir as suas reivindicações, busca de reco- nhecimento e autorrealização, sem se importar com os outros de seu entorno, gerando uma identidade do EU DESENGAJADO, pois a for- mação das identidades na modernidade não se dá isoladamente, mas a partir das relações e convivência como seu meio e seus pares. b. Sociedade do Hiperconsumo: esse eixo é de máxima importância na atualidade, pois segundo Lipovetsky (2007), principalmente em sua obra A felicidade paradoxal, o consumo deixa de ser uma questão de status para ser uma necessidade emocional, o que altera profundamente o modo de conduta social das pessoas, ou seja: De um consumidor sujeito às coerções sociais da posição, passou-se a um hiperconsumidor à espreita de experiências emocionais e de maior bem-estar, de qualidade de vida e de saúde, de marcas e de autentici- dade, de imediatismo e de comunicação (LIPOVETSKY, 2007, p. 27). Essa constatação faz com que as pessoas que tenham recursos, atendam a esses apelos de consumo. Mas, e as pessoas que não têm recursos para saciar esse desejo de consumo, o que fazem? Eixos de Contextualizadores que Influenciam no Processo de Gestão na Atualidade ©shutterstock CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 Em grande medida explica a busca por alternativas, como o crime, as drogase os meios ilícitos para apla- car o desejo de consumo de reconhecimento, mesmo que com o risco de ser preso e de perder a vida. O que também desafia as políticas sociais. Por exemplo, enquanto programas sociais ofe- recem bolsas auxílio para jovens saírem do crime, cujos valores são ínfimos, muitos preferem voltar ao crime, ao tráfico, pois em pouco tempo ganham mais e têm acesso mais rápido aos bens de consumo que atendem às necessidades geradas pela cultura do hiperconsumo, levando a um vazio profundo existencial (LIPOVETSKY, 2010) e uma cultura-mundo (conceito de mundialização do consumo), sem identidade própria, mas uma identidade forjada, superficial e performática (LIPOVETSKY, 2013). Essa constatação eleva o desafio de pensar intersetorialmente, em que saberes diferentes têm que negociar leituras e formas alternativas. Isso porque se tiver- mos uma visão única e limitada a só críticas à política econômica, não teremos como contribuir com processos interventivos de impacto. O que leva a refletir sobre outro eixo de contextualização. c. Nova cultura do capitalismo: essa nova cultura está muito atrelada ao eixo do hiperconsumo, que também é destacado por Sennett (2006) no livro A nova cultura do Capitalismo. O autor destaca que os processos recentes da globalização do capital pro- duziram vários impactos, entre eles a fragmentação das instituições que desafiam os valores e práticas que sejam capazes de manter as pessoas uni- das, integradas, solidárias. E para enfrentar essa complexidade, os seres humanos têm que enfrentar três grandes desafios, a saber: 1º- tempo: como fazer mais, em menos tempo? 2º - talento: como criar novas capa- cidades num mundo em que tudo fica rapidamente obsoleto? 3º - deixar o passado para trás, viver na incerteza. Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 E esses desafios, levam as pessoas a viverem de forma desfavorável, pois percebe-se que um dos elementos de maior importância e natural do ser humano, o ato ou a habilidade social de cooperar e de estar junto, vem se perdendo. Em seu lugar reina um processo de cooperação fraca e solida- riedade fingida (SENNETT, 2012) e um processo crescente de desrespeito, principalmente por meio das políticas sociais (SENNETT, 2004). d. Sociedade do cansaço: expressão utilizada pelo filósofo coreano e natu- ralizado alemão Byung-Chul Han na obra A Sociedade do Cansaço (HAN, 2014). Tendo como referência a distinção entre a negatividade e positi- vidade em Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770- 1831), ou seja, entre a oposição de uma relação baseada na alteridade e uma relação centrada na permissividade do idêntico, Han (2014) faz uma aguda crítica às impli- cações das transformações culturais, destacando os meios e tecnologias comunicacionais do nosso tempo e principalmente em relação às novas configurações do trabalho, da atenção e da doença mental. Han (2014) destaca que a hipercomunicação é, no contexto do século XXI, uma modalidade de violência da sociedade positiva (por oposição à sociedade negativa). Está ligada a vários excessos, particularmente a uma sobrecarga da produtividade e dos estímulos midiáticos e da busca de resultados só positivos, do sucesso pelo sucesso ou ainda da ditadura da felicidade. Reforçando esse entendimento e impacto da sociedade do cansaço e con- forme a reflexão do autor apresentado anteriormente, podemos verificar que enquanto o século XX foi considerado como uma era viral, o século XXI é caracterizado como uma era neural. Ou seja: “de um ponto de vista patológico, não é o princípio bacteriano nem o viral que caracterizam a entrada no século XXI, mas, sim, o prin- cípio neural” (HAN, 2014, p. 9). Ainda nessa direção, o autor destaca: A violência neural não parte de uma negatividade alheia ao sistema, mas é, sim, uma violência sistemática, ou seja, imanente ao sistema. Tanto a depressão como o TDAH ou a SB apontam para um excesso de positividade (HAN, 2014, p. 17). Eixos de Contextualizadores que Influenciam no Processo de Gestão na Atualidade CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Isso faz com que as doenças mentais, sejam de déficit de atenção, TOC, doen- ças degenerativas, se mostrem como a marca do desgaste mental do cidadão do século XXI, em que a imagem, potencializadas pelas mídias e redes sociais, gere tipos alterados de relações sociais, tanto para o bem (mobilização social e transparência da informação) como para o mal (superficialidade e distorção do conhecer mais profundo). Isso faz com que o modo de se trabalhar com as pessoas e, consequentemente, junto às políticas públicas e sociais, seja cada vez mais desafiador. Cada profissão e profissional deve saber qual a sua contribuição frente a esse eixo e demandas que são encaminhados e que exigem respostas a sua efetividade, o que vai além de mera “leitura crítica da realidade” ou da pretensão de “garantir direitos”. e. Capitalismo afetivo e terapêutico: corroborando com os demais eixos destacados, a contribuição da socióloga Israelense Illouz, no traba- lho O amor nos tempos do capitalismo (ILLOUZ, 2011), nos alerta quanto a essa dimensão extremamente potencializa pelos impactos da moder- nidade, principalmente a apontada por Taylor, sobre o individualismo, em que o sentimentalismo deixa de ser uma questão aparentemente só da psicologia ou das ciências do comportamento e se apresentem como objeto de máxima importância para o campo social. Como destaca a autora sobre o assunto. O afeto é uma entidade psicológica, sem dúvida, mas é também, e tal- vez até mais, uma entidade cultural e social: através dos afetos nós po- mos em prática as definições culturais da individualidade, tal como se expressam em relações concretas e imediatas, mas sempre definidas em termos cultuais e sociais (ILLOUZ, 2011, p. 10). No tocante à gestão social e, principalmente, o pensar do agir em con- junto com outros saberes (intersetorialidade e interdisciplinaridade), essa constatação é vital, pois explica, em grande parte, porque muitas ações não recebem o apoio e adesão das populações alvo dessas políticas, pois os sentimentos, segundo Illouz, “[...] organizam-se hierarquicamente, e esse tipo de hierarquia afetiva, por sua vez, organiza implicitamente os arranjos morais e sociais.” (ILLOUZ, 2011, p. 11). Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 Um exemplo real desse fator. Em minha cidade, Toledo-PR, há algum tempo, um vereador, para mostrar serviço à comunidade que o elegeu, conseguiu construir uma praça num bairro. Praça dá visibilidade, logo, ele achou que garantiria os votos para a próxima eleição. Foi realizada a obra, feito a inauguração com toda divulgação possível. Em outro ponto da cidade, um grupo de moradores de um bairro reivindicou, a Prefei- tura, a urbanização de um espaço público que estava ocioso e servindo de ponto de marginais e no local construir uma praça, sendo que a comuni- dade teria o compromisso de dar manutenção à praça solicitada. E assim, foi atendido a reivindicação da população desse outro bairro. O que aconteceu: a primeira praça, pouco tempo depois da inauguração, o espaço já está quase destruída pelos próprios moradores. Já a outra praça existe até os dias atuais em plena conservação. Veja como sentimentos, intenções e valores são importantes, principalmente para projetos no campo social e, sobretudo, com o dinheiro público. Esse fator afeta substancialmente a construção do imaginário social (visão de vida e de mundo que as pessoas têm) da população. Eu fiz essa cons- tatação num estudo que realizei no pós-doutoramento, em que fiz um estudo de caso específico do fracassoda gestão dos empreendimentos de economia solidária (OLIVEIRA, 2014). Veja, estou gastando um tempo maior dando ênfase a essa questão, por ela ser vital. No referido estudo sobre os empreendimentos sociais solidários, por exemplo, constatei que os sentimentos e imaginário social dos militantes e gestores sobre o ideal da economia solidaria é um, e dos trabalhado- res é outro. O que faz com que se desperdíce recursos, tempo e não se alcance os resultados desejados por uma política pública e social que, de fato, faça diferença. Isso também pode ser um fracasso no campo da ges- tão social, dos planos, programas, projetos e serviços sociais. Eixos de Contextualizadores que Influenciam no Processo de Gestão na Atualidade CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 Além de que, essa questão do afeto, da emoção, do sentimentalismo leva a outra constatação: o surgimento de um tipo de política-afetiva, em que o uso dos recursos das políticas públicas e sociais, se observarmos com maior criticidade e objetividade, no fundo, estão mais a serviço dos interes- ses de movimentos e grupos sociais e ideológicos específicos, que buscam muito mais a sua autenticidade e o reconhecimento do que o bem-comum ou o direito e justiça para todos, ou seja “o Capitalismo afetivo reali- nhou as culturas dos sentimentos, tornando emocional o eu econômico e fazendo os afetos se atrelarem mais estreitamente à ação instrumen- tal” (ILLOUZ, 2011, p. 39, grifo nosso). A mesma autora acrescenta que: [...] a narrativa terapêutica surge do fato de o indivíduo ter se inseri- do na cultura impregnada pela ideia dos direitos. Indivíduos e grupos têm reivindicado cada vez mais seu “reconhecimento”, ou seja, exigin- do que seu sofrimento seja reconhecido e remediado pelas institui- ções. (ILLOUZ, 2011, p. 82, grifo nosso). Essa constatação é muito importante, principalmente para o Serviço Social, pois nos faz repensar, com maior profundidade e concretude (carne e osso), sobre o papel e função de “garantir direto”, um discurso muito comum e recorrente na categoria, fortemente influenciada pelo pensamento hegemônico (predominante, que é o marxismo). Pois, corre o risco de estarmos alimentado um sentimentalismo irrealista que mais contribui para fugirmos de nossos reais e efetivos desafios na construção da cidadania plena em nossos dias. Isso porque se pensarmos em carne e osso, muitas vezes não garantimos os nossos direitos, quanto mais que- rermos garantir os direitos dos outros. Além do que, há os promotores públicos para fazer isso, não é mesmo? f. Sociedade Excitada: por fim, reforçando a corroboração dessa constata- ção e em outra matriz teórica, é possível constatar o desafio do viver e de trabalhar no campo da intersetorialidade, a partir da análise de Christoph Türcke no livro Sociedade excitada –filosofia da sensação (TÜRCKE, 2010). O autor, a partir da junção e diálogo entre a matriz freudiana e marxista e em uma visão crítica, apresenta um tipo de arqueologia da sensação como um diagnóstico e caracterização do mundo contemporâneo. Destaca a força do “espetáculo” com a fisiologia da sensação, em outras palavras: Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 [...] o mais notável é que, justamente, a alta pressão noticiosa do pre- sente, que quase automaticamente associa ‘sensação’ a ‘causar sensação’, não apenas se sobrepõe ao sentido fisiológico antigo de sensação, mas também o movimenta de uma nova maneira. Ou seja, se tudo o que não está em condições de causar uma sensação tende a desaparecer sob o fluxo de informações, praticamente não sendo mais percebido, então isso quer dizer, inversamente, que o rumo vai na direção de que apenas o que causa sensação é percebido (TÜRCKE, 2010, p. 20, grifo nosso). Nesse sentido e com esse eixo, quero destacar que o autor corrobora com a ideia de que o cenário do século XXI é mais emocional do que racional, é uma “Sociedade da sensação”, em que o que mais as pessoas querem é o espe- tacular, o sensacional. Basta vermos o crescimento das chamadas palestras “espetáculos”, em que as pessoas riem de piadas e palavras pré-fabricadas de jargões motivacionais e são apresentados como “capacitação” para os funcioná- rios. Passados alguns minutos, as pessoas nem sabem qual foi o tema tratado. Isso é, as pessoas querem mais entretenimento do que conhecimento, o que pode ser visto no crescimento da literatura de autoajuda. O que, decorrente à potencialização dos meios da tecnologia, gera um tipo de vício da exci- tação, o que leva, conforme destaca Türcke (2010), a surgir uma sociedade distraída, em que questões de maior importância e de maior impacto coletivo deixam de ser percebidos, pois exist,e hoje, uma intensificação dos estímulos. Nisso, se políticas e ações de intervenção social, seja de qual for a área ou disciplina, não se preocuparem com esse efeito e talvez até não desen- volverem ações que gerem essa “excitação”, é bem provável que teremos sérios problemas com a adesão da população às atividades, principal- mente intersetoriais. Até aqui, vimos como pensar a intersetorialidade leva, inevitavelmente, a outras temáticas que estão entrelaçadas e que as disciplinas e setores são afetados por esses eixos que, resumidamente, foram aqui sinalizados. Partindo do pressuposto, de que o Serviço Social é uma disciplina que vem sendo renovada e buscando sempre estar atendendo as demandas do contexto em que está inserida, a questão é, hoje, mais do que nunca, refletir sobre o que e como o Serviço Social se apresenta. É o que pre- tendo mostrar no próximo tópico. Eixos de Contextualizadores que Influenciam no Processo de Gestão na Atualidade CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 CONFIGURAÇÃO PESSOAS: ELEMENTOS QUE MINAM O BOM PENSAR E A GESTÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS NO CAMPO SOCIAL Como futuros profissionais em Serviço Social e considerando, ainda, a influên- cia do pensamento hegemônico como sendo, para muitos, a base e parâmetro teórico-metodológico, é importante ressaltar que no campo da gestão social e entre outros profissionais e outras disciplinas, a visão é outra. Como mostrei acima, é predominantemente pragmática e sistêmica, o que requer dos(as) assis- tentes sociais um esforço maior para se apropriarem dessa cultura e linguagem própria da gestão. Como nos ensina um grande teórico italiano Bobbio (1999), não basta só repetir o mantra marxista “é preciso transformar o mundo” sem dizer como e quando, ou seja: Por isso mesmo não tem nenhum sentido dizer, como faz o revolu- cionário repetindo o mote de Marx, que é necessário transformar o mundo, se não se diz, repito, quais os resultados que se pretende alcançar e quais os meios a utilizar para isso (BOBBIO, 1999, p. 108, grifo nosso). Você sabia que o pensamento de Mary Ellen Richmond (1861-1928), pionei- ra do Serviço Social, principalmente apresentado no trabalho Diagnóstico Social lançado em abril de 1917, nos E.U.A, e que em 2017 completará 100 anos, tem sido alvo de muitos estudos que revelam a sua importância his- tórica, mas também e principalmente sua pertinência na atualidade? Como exemplo, ver o estudo de Dellavalle (2011) sobre a atualidade do pensamen- to de Richmond, na Itália, e de Aranda (2003), na Espanha, e que mostra, de forma contundente, a história desse pensamento e sua vinculação com o pragmatismo e o interacionemos simbólico. E ainda o trabalho de Silva (2004), professora da PUC-RJ, que mostra como o pensamento de Mary Ri- chmond aqui no Brasil é importante para os fundamentos da profissão e seu modo peculiar de produzir conhecimento.Fonte: o autor. Configuração Pessoas: Elementos que Minam o Bom Pensar e a Gestão de Planos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Esses eixos contextualizadores afetam principalmente os profissionais da área social. No entanto, existe o que chamo de males que minam o bom pensar, de forma geral e de forma específica no Serviço Social, tanto na comunidade aca- dêmica como em sociedade de forma geral, chamo de “problemas tóxicos do bom pensar”. Seriam eles: a. Praga do Politicamente “correto”. E o que seria isso? Em linhas gerais, seria falar o que agrada a maioria e no fundo não ter opinião própria. O que leva as pessoas a falarem mais do mesmo só pra agradar e serem aceitos no grupo, na categoria, receber aplausos, elogios, o que gera um pensa- mento do tipo manada. Como muito bem explicado por Dalrymple sobre o termo politicamente correto, ou seja, “o politicamente correto é muitas vezes a tentativa de tornar o sentimentalismo socialmente obrigatório ou aplicável por lei” (DALRYMPLE, 2015 p. 33). Esse tipo de postura tem feito com que o debate no Serviço Social não saia da mesmice. Quando uma pessoa sai da “caixinha”, no caso do atual pensamento hegemônico, marxista, é rotulado e estigmatizado como neoliberal, favorável ao sis- tema capitalista, funcionalista, positivista, conservador, liberal como se essa coisas fossem as mais horríveis do mundo e, portanto, politicamente incorretos e que devem ser combatidos. Isso é uma postura dialética e não dialógica. E precisa mudar, pois se só falarmos mais do mesmo, só tere- mos os mesmos resultados, não há crescimento, inovação e sem isso, no mundo atual, corremos o risco de morrermos. b. Maniqueísmo. Como consequência do pensamento do “politicamente correto”, vemos, no Serviço Social brasileiro e na atualidade (2016), uma cultura marcada pelo discurso e pensamento maniqueísta, mesmo que não admitido explicitamente. A palavra e expressão maniqueísmo vêm da existência de um movimento dualista religioso e sincretista que se origi- nou na Pérsia e foi amplamente difundido no Império Romano entre os séculos III d.C. e IV d.C. A principal característica desse movimento era uma doutrina que consistia basicamente em afirmar a existência de um conflito cósmico entre o reino da luz (o Bem) e o das sombras (o Mal), em outros termos ou as pessoas eram desse movimento e eram do reino da luz portanto do eixo do bem ou estando fora desse grupo automatica- mente faz parte do reino das trevas e, portanto do eixo do mal. Semelhante à lógica de Guerra nas Estrelas, “lado escuro da força”. Isso, no campo das ideias, só faz com que se perca a oportunidade de aprendermos uns CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 com os outros, e isso no Serviço Social no Brasil e na atualidade, é muito claro, pois as rotulações quando você não é politicamente correto, por- tanto, marxista e do eixo do bem, automaticamente você é do eixo do mal, é conservador e, logo, defensor do capitalismo, da burguesia, a favor da injustiça, da exploração etc. Para o campo da gestão social, isso não é relevante e, portanto, pouco produtivo ter uma visão e discurso manique- ísta, pois precisamos saber nos relacionar com outras vertentes e campos e disciplinas do conhecer humano. c. Gripto-identidade ou identidade forjada. Essas duas posturas anteriores levam a um terceiro elemento tóxico. Como as pessoas do eixo do bem e politicamente corretos são austeros na defesa de seus projetos, de suas crenças e de seus fundamentos levam as pessoas que não têm coragem de pensar por si mesmas ou fora da caixinha a criarem uma gripto-identi- dade ou uma identidade forjada, falsa. Gripto no sentido de griptografia como sendo um código, uma forma secreta de se esconder a verdadeira identidade ou forma de pensar da pessoa, em outros termos, fala uma coisa e vive outra. Muito semelhante do que aconteceu com os Judeus na época da inquisição. Muitos se “converteram” ao Cristianismo pra sobre- viver, mas de uma maneira culpada e secreta continuavam a cultivar suas crenças. Na frente dos outros uma coisa, no privado outra. Igual ao que ocorre no Serviço Social de forma geral, muitos não dizem o que real- mente pensam, com medo de serem reprimidos, corrigidos, rotulados, levando a serem politicamente corretos e maniqueístas. d. Sentimentalismo, romantismo e irracionalidade. Esses elementos per- meados pelo ressentimento são característicos de outro elemento tóxico do bom pensar, que é o sentimentalismo, o romantismo e a irracionali- dade do debate acadêmico e filosófico, que se torna mais ideológico do que lógica e racional. Theodore Dalrymple, um autor inglês, no livro, Podres de mimados: as consequências do sentimentalismo tóxico (DALRYMPLE, 2015), destaca que o sentimentalismo é a expressão da emoção sem jul- gamento. E ressalta: Talvez ela (sentimentalismo) seja pior do que isso: é a expressão sem reconhecimento de que o julgamento deveria fazer parte de como de- vemos reagir ao que vemos e ouvimos [...] O sentimentalismo é, por- tanto, infantil (porque são as crianças que vivem em um mundo tão facilmente dicotomizável) e redutor de nossa humanidade (DALRYM- PLE, 2015, p. 87). Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 Outra estudiosa do assunto, Eva Illouz, socióloga Israelense, no livro, O amor nos tempos do capitalismo, destaca: “[...] os sentimentos, portanto, organizam-se hierarquicamente, e esse tipo de hierarquia afetiva, por sua vez, organiza impli- citamente os arranjos morais e sociais” (ILLOUZ, 2011, p. 11) e ainda, conclui: O afeto é uma entidade psicológica, sem dúvida, mas é também, e talvez até mais, uma entidade cultural e social: através dos afetos nós pomos em prática as definições culturais da individualidade, tal como se expressam em relações concretas e imediatas, mas sempre definidas em termos cultuais e sociais (ILLOUZ, 2011, p. 10, grifo nosso). Nesse sentido, toda e qualquer discussão que leva mais para o lado do sentimen- talismo do que da razão e da lógica se apresenta como sendo romântica, que fica só com base nos sentimentos e não nos fatos, o que leva a uma visão de mundo aparentemente com algum sentido, mas totalmente irracional. Imagine você, quando estiver discutindo estratégias para elaboração de um plano de progra- mas, projetos e serviços com essa característica? No caso do Serviço Social, um dos exemplos mais expressivos desse roman- tismo, sentimentalismo e irracionalidade é a defesa quase que religiosa do “projeto ético político profissional”. Por exemplo, é muito comum em eventos da catego- ria, em que os principais palestrantes soltam frases de efeito do tipo: “temos que defender o projeto ético político profissional a todo custo, mesmo que signifique a nossa demissão”. Sim, temos que defender e ter parâmetros éticos profissio- nais, mas como qualquer outra profissão, ao darmos essa conotação e ter como principal eixo desse projeto a consolidação de uma nova ordem sociedade (vide socialismo e comunismo), deixamos de ser uma profissão para sermos qualquer coisa, movimento social, sindical etc., mas não uma profissão. Isso é sentimen- talismo, romantismo e irracionalidade, levar esse tipo de mentalidade para o processo de gestão social é, no mínimo, limitante e limitador. O que reforça a tese do capital afetivo de Illouz, em que: “o Capitalismo afe- tivo realinhou as culturas dos sentimentos, tornando emocional o eu econômico e fazendo os afetos se atrelarem mais estreitamente à ação instrumental” (ILLOUZ, 2011, p. 39). No campo da gestão, esses elementos podem fazer a diferença, tanto no campo privado, público como da sociedadecivil, e principalmente, quando hoje se dá uma grande importância ao trabalho intersetorial e interdisciplinar, Configuração Pessoas: Elementos que Minam o Bom Pensar e a Gestão de Planos CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 em que clareza, objetividade e determinação são fundamentais, o que certas ide- ologias limitam. Isso gera outro problema, que veremos a seguir. Finalizando essa parte de nosso estudo, quero sugerir o antídoto para essas patologias intelectuais tóxicas para o bom pensar no Serviço Social e que afe- tam diretamente o processo de gestão, a saber: 1. Ousar em ter e construir opinião própria e com fundamentação. 2. Ser valente, corajoso e autêntico e ser o que realmente é. 3. Uma visão mais ampla do ser humano e da sociedade de forma mais clara, objetiva e menos sentimentalista e romanizada. 4. Maturidade, humildade e honestidade intelectual. 5. Vigilância epistemológica que permite ver, ler e intervir na realidade humano-social de fato e de verdade e não só de forma ilusória e fictícia. 6. Relações e debates dialógicos e não dialéticos e fortalecer a pluralidade de fato e de verdade e não mera tolerância e subordinação passiva e inferioridade de uma hegemonia com base em uma ideologia ultrapas- sada e de pouca aplicabilidade prática e profissional. Agora vamos à última configuração, que enfatiza a questão das organizações. CONFIGURAÇÃO ORGANIZAÇÕES: VELHOS E NOVOS ARRANJOS SÓCIO-ORGANIZACIONAIS Um dos maiores intelectuais no campo da gestão é, sem dúvida, Peter Drucker. Em um livro do final da década de 1980 e quase que em uma visão profética, Drucker enfatiza que a marca do século XX, e consequentemente, do século XXI, é que vivemos e dependemos das organizações e, assim, a função de administra- ção adquire uma dimensão social, ou seja: Numa esmagadora maioria, as pessoas nas sociedades desenvolvi- das são empregadas de alguma organização; ganham a vida graças à renda coletiva de uma organização, encaram suas oportunidades de carreira e sucesso basicamente como oportunidades dentro de uma or- ganização [...] e cada uma dessas organizações, por sua vez, depende Configuração Organizações: Velhos e Novos Arranjos Sócio-Organizacionais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 da administração o que de outro modo seria uma massa [...] Numa sociedade de organizações, a administração passa a ser uma função social fundamental, e as equipes administrativas se transformam no órgão determinante e diferencial da sociedade (DRUCKER, 1986, p. 168, grifo nosso). Note você a importância que esse grande mestre da administração, já no final da década de 1980, sinalizava o que outros autores na atualidade vêm aprofundando, ou seja, que vivemos em uma era regida por organizações e que elas, dada a sua importância, veem na administração, ou seja, na gestão, um elemento vital. E é importante salientar que é por meio das organizações que planos, programas, projetos e serviços sociais são materializados. Reforçando a importância dessa configuração, é possível, e necessário, des- tacar a proposta dos estudos de desenho das organizações eficazes. Refiro-me ao trabalho de Henry Mintzber, principalmente em sua obra prima sobre o tema, Criando Organizações eficazes: estruturas em cinco configurações (MINTZBER, 2012), em que defende a ideia de que as organizações, conforme é estruturada, pode definir seu sucesso ou fracasso, bem como determinar seu ritmo e coexis- tência com o ambiente em que está inserida. O autor supracitado defende uma configuração de cinco pontos, a saber: 1) cúpula estratégica; 2) Tecnoestrutura; 3) Assessoria de apoio; 4) Linha intermediária e 5) núcleo operacional. O autor explica que a estrutura de uma organização pode ser definida a partir da maneira como as atividades são divididas e a forma como são coordenadas as tarefas. Quanto mais a organização cresce, mais ela fica com- plexa, exigindo um maior saber administrativo, gerando elementos e estilos de gestão, tanto formal quanto informais que devem ser observados e levados em consideração. Um bom exemplo disso, percebi quando trabalhei como assistente social na área de Recursos Humanos em uma empresa multinacional alemã de autopeças. Era uma estrutura de fábrica gigantesca, com mais de 2.000 funcionários e em uma formatação clássica, olhando de maneira formal. Mas havia um fenômeno informal chamado “radio pião” que em si seria entendido como “fofoca” ,que gerava muitos falatório. Mas também mexia com o comportamento dos funcio- nários, principalmente se a rádio pião sinalizava cortes e desemprego, isso gerava um clima muito ruim. Isso é, mesmo sendo informal essa estrutura de comuni- cação influenciava o comportamento humano dentro da organização. CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 Em outros termos, é preciso que no processo de gestão social, se analise essa configuração, organização, pois ela pode determinar a qualidade desse processo, pois: “[...] uma estrutura eficaz requer a criação de uma nova configuração, uma combinação original, embora consistente, dos parâmetros de design e dos fato- res situacionais” (MINTZBER, 2012, p. 327). Para ilustrar essa perspectiva, ao final desse livro, Mintzber (2012) relata o momento muito interessante da mudança não só de nome, mas também de missão e de configuração de uma organização antiga. A presidente estava se encaminhando para o último ato antes de sua aposentadoria. Então, ocorreu um acidente quando se dirigia para uma cerimônia da pedra fundamental de uma fábrica que seria a maior na área da produção de cerâmica. Ela tropeçou em uma pá e caiu em uma poça de lama, sujando o seu vestido. Nesse momento, houve um misto de indig- nação e de nostalgia, pois ao cair na lama, teve um contato direto com a terra, que a fez lembrar-se de seus primeiros passos rumo ao que se tornou uma grande empresa. Percebeu e confirmou que o mais importante do que ganhar dinheiro com vasos, é fazer vasos funcionais, úteis e importantes para a vida das pessoas. Como último ato, mudou o nome da empresa, passando a se chamar de Vasos da Terra, o que deu nova configuração, sentido e significado à empresa e aos seus funcionários, alterando, assim, os seus planos, programas, projetos e serviços. Se isso ocorre em empresas privadas, o que se pode dizer de organizações públicas e da sociedade civil? Será diferente? Claro que não! E muito ao contrário, as organizações públicas e da sociedade civil são geridas e envolvidas por valores que são muito mais subjetivos e que tornam sua gestão ainda mais complexas e, consequentemente, ainda mais desafiador o fazer na gestão de programas e projetos. Como um discurso ideológico pode sustentar uma prática concreta que requer a elaboração de planos, programas, projetos e serviços sociais que colocados em prática produzem efeitos efetivos? Como manter a coerência e a relação entre teoria e prática? Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS Aluno(a), chegamos ao final dessa primeira unidade. Procurei mostrar a impor- tância de darmos atenção a alguns fatores e elementos que, muitas vezes, não são destacados na literatura especializada, de forma geral e no Serviço Social de forma específica. Mostrei isso por meio de três configurações: a) contexto, b) pessoas e c) organizações. Esses elementos e configurações são relacionados ao bom pensar, ter um paradigma mais adequado, no caso, apontamos como predominantemente hoje na área de gestão, o