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NARRATIVAS 
JORNALÍSTICAS 
DIGITAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Reconhecer a importância da instantaneidade no mundo digital.
 > Relacionar a instantaneidade com a narrativa jornalística digital.
 > Descrever a importância das lives para as narrativas digitais jornalísticas.  
Introdução
O jornalismo viveu, nas últimas décadas, tempos de mudanças e adaptações à 
realidade do mundo digital. Graças à popularização da internet e posteriormente 
dos dispositivos móveis, surgiram novas possibilidades de comunicação e de 
disseminação da notícia. A propagação rápida e imediata da mensagem é uma 
dessas possibilidades, gerando transformações no modo de se fazer jornalismo. 
Os jornalistas souberam se apropriar das oportunidades proporcionadas por 
novos recursos digitais e criaram um novo modelo de jornalismo marcado 
essencialmente pela instantaneidade na disseminação da informação e pela 
construção de novas narrativas para contar um fato.
Neste capítulo, você vai compreender como o contexto digital interfere na 
prática jornalística e na divulgação da notícia, tendo como foco central a questão 
da instantaneidade. Você vai estudar, assim, o impacto da velocidade característica 
do mundo digital na apuração e na construção do texto jornalístico. Você também 
vai verificar como ocorre o fortalecimento de novas narrativas no jornalismo, 
A instantaneidade 
das narrativas no 
mundo digital
Clarisse de Mendonça e Almeida
como a transmídia e o storytelling. Por fim, você vai aprender sobre o universo 
particular das redes sociais e das lives, consideradas como ferramentas relevantes 
no mundo atual para o compartilhamento de notícias em tempo real. 
A instantaneidade no consumo de notícias
Utilizar a internet para a pesquisa e a leitura de notícias se tornou um hábito 
para grande parte dos indivíduos. Uma vez ao dia, ou várias vezes ao longo 
do dia, nos pegamos acessando sites de jornalismo e redes sociais em busca 
das informações mais recentes, principalmente utilizando o celular. O que se 
vê hoje são inúmeras plataformas, com notícias dos mais variados interesses, 
transmitidas em tempo real, de modo hábil e rápido.
Canais de televisão, emissoras de rádio e jornais impressos se adaptaram 
e se integraram a esse novo conceito de disseminação da informação pela 
internet e por meio de plataformas digitais. Todas essas oportunidades 
de disseminação da informação trazem em si uma mesma característica: 
a instantaneidade na disponibilização das notícias. Mas o que isso significa? 
E que impacto tem sobre nós leitores e sobre os jornalistas?
A instantaneidade diz respeito não apenas à disponibilização rápida da 
notícia ou a uma transmissão ao vivo de um fato — isso o jornalismo já realiza 
há décadas. Mas diz respeito também ao rápido compartilhamento e disse-
minação da notícia. Isso porque, em um ato sustentado por redes sociais e 
sites, a informação é repassada de um usuário a outro, sem limites para isso, 
de modo instantâneo — como o próprio nome diz — e muitas vezes no decorrer 
do fato. As lives, populares no ano de 2020, são outro exemplo de disseminação 
imediata de uma informação, na medida em que é possível transmitir um 
evento direto de onde ele acontece e sem limites para o compartilhamento 
com outras pessoas.
O tema da instantaneidade passa ainda pela possibilidade — nunca an-
tes vivida — de alimentar a notícia, revisá-la e republicá-la em questão de 
minutos. O público — quando testemunha de um fato, por exemplo — tem 
papel fundamental nesse momento, ao trazer mais dados à notícia e agilizar 
o trabalho de apuração. 
As bases que sustentam esse cenário do jornalismo via on-line se en-
contram naquilo que conceituamos como webjornalismo. A instantaneidade 
na transmissão de notícias é uma das características deste, assim como a 
hipertextualidade — a possibilidade se ligar a outros conteúdos on-line por 
A instantaneidade das narrativas no mundo digital2
meio de links — e a interatividade — a possibilidade de se comunicar com os 
autores e com outros leitores das notícias. Assim, conteúdos são atualizados 
a todo momento e notícias já publicadas são editadas e revistas a cada nova 
informação que chega às redações. Há a possibilidade de se compartilhar 
a reportagem por meio das redes sociais, contribuindo ainda mais com a 
disseminação de um fato. 
Na era do jornalismo digital, a convergência de mídias é outro ponto em 
destaque. Uma mesma informação pode ser publicada em diferentes supor-
tes digitais — Instagram, Facebook, TikTok, etc. Além disso, nesse formato, 
os leitores são estimulados a contribuir, compartilhar e opinar sobre aquilo 
que leem — quase atuando como coautores da notícia. Os jornalistas, nesse 
contexto, também participam ativamente e se expõem mais, tanto no campo 
profissional quanto pessoal, comentando e trazendo mais dados aos relatos 
jornalísticos. 
O webjornalismo se diferencia dos demais formatos pela possibili-
dade de se narrarem os fatos por meio da união de texto, imagem 
e som e pelo uso de plataformas e suportes digitais no momento da disponi-
bilização da notícia. Há outros traços marcantes nesse formato de jornalismo. 
Um deles diz respeito à interatividade, ou seja, a intensa comunicação entre 
repórteres, editores, leitores e fontes de informação proporcionada por essas 
plataformas e esses suportes (PALACIOS, 1999). 
A velocidade na apuração e na publicação de um fato sempre foi algo 
intrínseco à prática jornalística. Isso porque uma das premissas do bom 
jornalismo consiste em informar o mais rápido possível os leitores sobre 
o que acontece. A diferença no fazer jornalismo em tempos digitais está 
justamente na maior oferta de recursos para a disponibilização das notícias 
e no alcance global que elas possuem. A audiência de um jornal ou revista, 
por exemplo, não se restringe mais apenas ao público de uma determinada 
localidade que assiste a um determinado canal ou que adquire o periódico 
nas bancas. Pessoas em qualquer lugar do mundo podem acessar publicações 
em sites e em redes sociais e acompanhar o que acontece em qualquer lugar 
do mundo — independentemente de onde estejam.
A instantaneidade das narrativas no mundo digital 3
A instantaneidade associada ao jornalismo da era digital está mais di-
retamente relacionada às rotinas produtivas nas redações do que à dispo-
nibilização da informação. Isso porque a transmissão da notícia em tempo 
real não é novidade. Emissoras de televisão e de rádio já atuam há muitos 
anos em coberturas ao vivo dos acontecimentos relevantes. O diferencial no 
contexto atual está na pressão de se diminuir o tempo entre o acontecimento 
e a sua publicação em diferentes meios digitais, mesmo que isso resulte em 
textos curtos e menos aprofundados em termos de apuração ou de número 
de entrevistados — desde que não se comprometa a veracidade da notícia. 
Nesse contexto, novas práticas foram incorporadas ao trabalho jornalístico 
e à rotina nas redações.
Não podemos dizer que o jornalismo tradicional acabou. Na verdade, 
ele se adaptou a essa nova realidade comunicacional do mundo 
digital. Por exemplo, jornais que antes se dedicavam apenas às versões impressas 
entraram na era da convergência digital, criaram sites e adotaram outros suportes 
— como as redes sociais —, mantendo atualizações em tempo real. Ainda, por 
meio dessas ferramentas digitais, repórteres e até leitores, de qualquer lugar 
do mundo, podem enviar materiais diretamente às redações, desde que tenham 
conexão eficiente de internet. Assim, ganha-se maior rapidez e instantaneidade 
no fazer jornalismo (SILVA, 2019).
As possibilidades do jornalismo on-line vão além da criação de sites pró-
prios para cada veículo. O jornalismo se apropriou ainda das redes sociais, 
apostando na presença maciça de espectadores nesses canais. Facebook, 
Instagram, Twitter, YouTube e, mais recentemente, TikTok estão entre as redes 
sociais mais usadas para o compartilhamento de informações principalmente 
em tempo real. O que seespera é que as notícias sejam atualizadas a cada 
minuto, trazendo ao leitor textos rápidos, curtos, objetivos, mas altamente 
informativos. 
Além da instantaneidade, a interatividade é um traço marcante nessas 
ferramentas. Nesse contexto, quem edita os conteúdos mantém intensa 
comunicação e troca com o público, o que também contribui para a apuração 
das informações. Por exemplo, ao ser testemunha de um acidente, é o leitor 
que fotografa, faz vídeos e áudios e envia para as redações por meio das redes 
sociais. Diversos veículos já mantêm um WhatsApp visando à colaboração do 
leitor com as reportagens.
A instantaneidade das narrativas no mundo digital4
Além de nas redes sociais estarem presentes redes e veículos já se-
dimentados no mercado, há também amplo espaço para o jornalismo 
independente, o que contribui para a efervescência desse meio digital para a 
imprensa. A Agência Pública é um exemplo disso. O grupo, formado inicialmente 
por jornalistas mulheres, apresenta reportagens focadas nos direitos humanos 
e está presente nas diversas redes sociais. 
O Mídia Ninja, com foco no ativismo social, é outro exemplo que ganhou 
destaque ao cobrir protestos e movimentos sociais de esquerda. 
Nos últimos anos, o Facebook conquistou um lugar de destaque entre 
as redes sociais de maior alcance do público para o compartilhamento de 
mensagens. De olho no potencial de compartilhamentos e no amplo acesso 
diário à plataforma, os principais veículos de comunicação criaram páginas 
e adotaram práticas específicas para atender a esse cenário. Ao possibilitar 
unir texto, imagem e vídeo em um mesmo post, o Facebook se mostrou um 
campo propício para a disseminação de notícias e para leitores se atualizarem 
sobre os últimos acontecimentos.
O Twitter é uma das redes sociais mais utilizadas pelo jornalismo nos dias 
de hoje. Não apenas a imprensa, mas também os canais oficiais do governo 
e até mesmo os próprios governantes se utilizam desse meio para divulgar 
informações “em primeira mão” aos seus seguidores. Nele, o usuário publica 
textos de no máximo 280 caracteres respondendo à pergunta: “o que está 
acontecendo?”. Há uma forte competitividade pela publicação mais rápida 
de notícias e por uma maior interatividade entre quem publica os tweets e 
o público.
A instantaneidade das narrativas no mundo digital 5
Para os jornalistas, o Twitter acabou por se tornar um importante 
recurso no momento da apuração, uma vez que ali se encontram 
presentes fontes importantes de informação, como agentes do governo, em-
presas, celebridades, etc. Por meio dessa plataforma, os profissionais publicam 
informações, interagem com o público e com as fontes e ainda acompanham o 
desempenho dos conteúdos que publicam. É frequente os jornalistas manterem 
páginas pessoais no Twitter, onde interagem com o público e publicam curiosida-
des sobre a profissão e sobre os veículos para os quais trabalham. O jornalista 
e editor do Jornal Nacional, da Rede Globo, William Bonner (@realwbonner), por 
exemplo, é um dos campeões em seguidores no Twitter. Em seu perfil, Bonner 
antecipa notícias, comenta aspectos da vida pessoal e profissional e interage 
com quem o segue. 
O YouTube se popularizou no campo do jornalismo, inicialmente, ao fun-
cionar como um repositório de vídeos exibidos nos telejornais, visando a 
alcançar um público fortemente presente nas redes sociais. Passou ainda a 
transmitir ao vivo os telejornais das principais emissoras de televisão. Jorna-
listas independentes costumam destacar entre as grandes vantagens de se 
manter um canal no YouTube a autonomia e a independência da ferramenta 
e a possibilidade de você ser dono do próprio conteúdo que posta. 
Em 2009, a Folha de São Paulo foi uns dos veículos pioneiros ao utilizar o 
YouTube como mais uma possibilidade de aproximação com o público, como 
um canal direto entre redação e leitores. Mais recentemente, jornalistas, 
investindo na proposta de uma atuação mais independente, deixaram as 
redações de consagrados veículos e montaram seus próprios canais no You-
Tube. Ali, decidem a pauta, entrevistam convidados e interagem diretamente 
com o público (ALBERTINI; PEREIRA, 2018).
Mais recentemente, o TikTok também se mostrou como uma ferramenta 
potente para o campo do jornalismo. Popular entre os mais jovens, essa 
rede se destaca pelo compartilhamento de vídeos curtos, o que traz para o 
repórter o desafio de produzir conteúdos breves, informativos e concisos. 
A Rede Record, por exemplo, foi uma das emissoras de televisão que aderiram 
à plataforma, compartilhando materiais informativos, depoimentos de quem 
faz a notícia e os bastidores do telejornalismo. 
A instantaneidade das narrativas no mundo digital6
A instantaneidade e as narrativas 
no jornalismo
Se, por um lado, a internet abriu novas possibilidades de se fazer e comparti-
lhar notícias, por outro, exigiu que jornalistas adquirissem novas competências 
e se adaptassem aos novos formatos e suportes da era digital. Não basta 
mais ao jornalista se dedicar à apuração e à redação do texto. Espera-se 
desse profissional que acompanhe as tendências e novidades tecnológicas e 
se mantenha presente e atuante nas redes sociais. É preciso ainda perceber 
que esses recursos digitais (Facebook, TikTok, Twitter, etc.) trazem em si uma 
nova narrativa para a construção da notícia. Isso porque a mesma informa-
ção — apresentada de diversas formas — pode ser transmitida por diferentes 
plataformas, sempre tendo como prerrogativa a rapidez e a instantaneidade. 
Vamos falar mais sobre isso nesta seção.
Você já deve ter percebido que cada suporte digital carrega em si pe-
culiaridades e características próprias. No Twitter, por exemplo, somente 
são permitidos textos rápidos e curtos com no máximo 280 caracteres 
e/ou o compartilhamento de links. O Instagram, inicialmente criado para o 
compartilhamento de imagens, há poucos anos passou a permitir a publi-
cação de vídeos curtos. Partindo da compreensão de que cada um desses 
formatos digitais é único e carrega características próprias, vemos que uma 
das tendências no jornalismo atual é o da narrativa transmídia. Mas como 
se define esse conceito?
De acordo com Gosciola (2012, p. 11):
A narrativa transmídia é basicamente uma história, mas o que a diferencia de 
outras histórias é que ela é dividida em partes que são veiculadas por diferentes 
meios de comunicação, cada qual definido pelo seu maior potencial de explorar 
aquela parte da história. A história principal deve ter a dosagem certa de ações 
que permitam à audiência compreendê-la, mas não deve contar tudo. Sendo assim, 
o jogo entre as narrativas, ou as partes da história, deve despertar a curiosidade 
do seu público em saber maiores detalhes da história principal. 
O conceito aborda a questão da adequação de uma narrativa ao formato e à 
linguagem de cada plataforma digital. Mas, o que isso quer dizer exatamente? 
Quer dizer que uma mesma história, uma mesma notícia, precisa ser contada de 
uma forma única, de acordo com o formato e a linguagem de uma plataforma. 
Por exemplo, um usuário, ao ler uma informação no celular, precisa de um 
conteúdo adequado a essa ferramenta. Geralmente, um conteúdo transmídia 
combina fotos, vídeos, animações, infográficos, etc., com o objetivo de reter 
e engajar o leitor. Trata-se de conectar o leitor ao conteúdo.
A instantaneidade das narrativas no mundo digital 7
O jornal The New York Times, ao abordar os resultados positivos dos 
testes de covid-19 do presidente dos Estados Unidos Donald Trump 
e de sua esposa Melania Trump, na edição de 2 de outubro de 2020, trouxe em 
destaque no Instagram uma foto do presidente seguida de um texto. O jornal 
indicava ao leitor que atualizações sobre o tema estariam disponíveis no recurso 
dos stories do Instagram.
Fonte: The New York Times (2020a, documento on-line).
O mesmo tema era abordado no Twitter com outra imagem, além do tweet e do 
link para a reportagem completa no site do periódico, conformeaqui apresentado.
Fonte: The New York Times (2020a, documento on-line).
A instantaneidade das narrativas no mundo digital8
O jornalismo transmídia, além de focar nas multiplataformas no momento 
da divulgação da informação, abrange ainda a interatividade e a adequação aos 
dispositivos móveis. Tudo isso sem deixar de lado a participação do público, 
incrementando, comentando e compartilhando a notícia.
Jornalismo transmídia é uma forma de linguagem jornalística que inclui, ao mes-
mo tempo, diferentes mídias, com diversas linguagens e narrativas de diferentes 
mídias e para diferentes usuários. Recursos audiovisuais, de comunicação móvel 
e de interatividade são adotados para a disseminação do conteúdo, incluindo a 
blogosfera e as redes sociais, os quais incrementam significantemente a circulação 
do conteúdo (RENÓ, 2014, p. 6).
Outra questão relativa às narrativas jornalísticas atuais diz respeito à 
crescente tendência de se produzir textos na perspectiva do storytelling. 
Assim como na narrativa transmídia, no storytelling o intuito é contar uma 
história e envolver emocionalmente o leitor. O jornalismo vem se utilizando da 
técnica para criar histórias mais instigantes e atraentes (SOUSA; RIOS, 2017). 
Comumente se define o storytelling como uma técnica que apresenta 
uma história — real ou ficcionada — de modo sequenciado e com 
o uso de recursos que apelam para a emoção. Para tal, utilizam-se diversos 
suportes, de modo a despertar sentimentos e, ao mesmo tempo, informar — 
no caso do jornalismo. De acordo com Sousa e Rios (2017), o storytelling permite 
ainda transmitir informações para a audiência de maneira inteligível, seguindo 
um roteiro narrativo lógico, com eventos temporalmente ordenados, ao mesmo 
tempo que estimula a imaginação.
Mas, qual é a relação entre o storytelling e o jornalismo dos dias atuais? 
O webjornalismo, por trazer em si o teor da inovação, apropriou-se dessa 
técnica para, entre outros pontos, causar maior engajamento por parte do 
público. Se o objetivo maior do jornalismo on-line é engajar o público de 
modo a mantê-lo fiel e seguidor dos canais digitais, por que não incorporar 
as estratégias do storytelling? O homem sempre contou histórias como forma 
de transmitir tradições e informações. Esse recurso é bastante usado no 
jornalismo atual, especialmente para contar histórias relacionadas à condição 
e aos conflitos humanos que possam gerar emoção ou identificação (SOUSA; 
RIOS, 2017). No storytelling, os personagens são seres possíveis, do cotidiano. 
A instantaneidade das narrativas no mundo digital 9
Um exemplo reconhecido de storytelling no jornalismo é o caso da 
reportagem “As Quatro Estações de Iracema e Dirceu”, publicada 
no Diário Catarinense. Nela, a jornalista Ângela Bastos conta a história de um 
casal de agricultores e seus 14 filhos, que moram em Timbó Grande, no Planalto 
Norte, diante do desafio de enfrentar o mês com R$ 54 por pessoa. O resul-
tado, após longo período de apuração (dois anos e sete meses), é um trabalho 
diferenciado, primoroso, com belas imagens, trilha sonora e recursos gráficos, 
que emociona o público.
 Outro elemento importante da narrativa jornalística que ganhou destaque 
nos últimos tempos é o lead. Embora seja um conceito aprendido nas redações 
e nas faculdades de jornalismo, o lead perdeu força nos textos estruturados 
no jornalismo literário ou investigativo. No mundo digital, de textos curtos 
e objetivos, o lead se tornou mais relevante do que nunca. Diante do grande 
volume de informações disponíveis na rede, não podemos esperar que o leitor 
clique em algum link e leia a matéria em formato mais extenso — ele precisa 
ser capaz de compreender o texto e a mensagem de modo rápido e ágil.
No Twitter, por exemplo, em que o texto a ser publicado não pode 
ultrapassar a marca de 280 caracteres, a estruturação da informação 
em lead se tornou ainda mais relevante. O jornalista, ao redigir o tweet, precisa 
ser capaz de responder às seis perguntas que estruturam o lead: quem, o quê, 
onde, como, quando e por quê. Na imagem aqui apresentada, o texto conciso 
traz as informações necessárias para o público compreender a reportagem.
A instantaneidade das narrativas no mundo digital10
Fonte: CBN Rio (2020, documento on-line).
Outro ponto importante que marca a narrativa jornalística atual é a questão 
da hipertextualidade, que dá ao leitor a possibilidade de maior aprofunda-
mento sobre um fato. O foco central é a matéria principal, mas o recurso 
do hipertexto permite a navegação por outros conteúdos complementares 
— caso o leitor deseje. Os hiperlinks geralmente são destacados em negrito 
ou sublinhado, e o usuário só tem acesso ao conteúdo ao clicar neles. Eles 
podem se apresentar no formato de textos, imagens, áudios, etc. O objetivo 
é oferecer mais informação e mais interatividade ao público, aumentando 
também o engajamento. 
Nesse contexto, cabe ao editor não apenas se preocupar com o texto 
central, mas também com possíveis elementos que possam incrementar a 
história contada. Essas “partes” podem ainda remeter a outros hipertextos, 
fazendo com que cada leitor trilhe um caminho que, de certa forma, é único. 
A reportagem, assim, deixa de ter início, meio e fim. Nesse sentido, ao cons-
truir o caminho de leitura que lhe convier, o leitor assume também a figura 
de coautor ou de autoria colaborativa nessa narrativa (MIELNICZUK, 2000). 
A instantaneidade das narrativas no mundo digital 11
O universo das lives no jornalismo
Não são apenas os sites e as redes sociais que trouxeram mudanças significa-
tivas para o campo do jornalismo. O universo das lives extrapolou o cenário 
inicial demarcado e focado em conteúdos gamers, religiosos e musicais e 
alcançou a prática jornalística.
Chamamos de live a incorporação de transmissões ao vivo aos am-
bientes de redes sociais. O uso de telefones celulares para a captura 
e a transmissão é outra marca das lives. Isso significa que “qualquer pessoa, 
em qualquer lugar, pode se tornar uma emissora de vídeo ao vivo, desde que 
tenha um smartphone capaz, e isso representa uma mudança significativa nas 
barreiras à entrada ao vivo” (STEWART; LITTAU, 2018, p. 316 apud SILVA, 2019, p. 83). 
Os aplicativos de live streaming — como são chamados — ganharam popularidade 
justamente ao atingir um público habituado às redes sociais, aos dispositivos 
móveis e às multiplataformas.
As lives se configuram como um momento de transmissão ao vivo de 
eventos — mas não representam apenas isso. A televisão e o rádio realizam 
há tempos a cobertura em tempo real de acontecimentos. A novidade agora 
é contar com a infraestrutura e o suporte das redes sociais para a realização 
e a distribuição das lives. Para Silva (2019, p. 66),
Observamos que não há elementos inerentemente novos sobre as tecnologias de 
transmissão ao vivo. O que é diferente agora é a facilidade de acesso e a recente ascen-
são das mídias sociais como espaço e linguagem para apropriação dessa tecnologia.
Outro elemento que potencializou a realização das lives foi a possibilidade 
de realizá-las por meio de dispositivos móveis. Qualquer pessoa com conta em 
rede social (Instagram, YouTube, Facebook, etc.) pode, a qualquer momento 
— desde que tenha conexão eficiente de internet —, transmitir algo ao vivo. 
Na dinâmica das lives, os usuários se conectam a outros em uma transmissão ao 
vivo a que todos assistem simultaneamente, podendo ainda reagir e interagir. 
Embora não seja comumente usada para as chamadas hard news, de 
maior apelo popular, as lives se especializaram em promover debates e em 
transmitir eventos e entretenimento para o seu público. Há ainda espaço para 
um jornalismo mais analítico, com colunistas e especialistas tratando sobre 
política, arte, economia, etc.
A instantaneidade das narrativas no mundo digital12
A Veja Rio apostou em um nicho de público restrito e segmentado 
para transmitir uma série de lives: os adoradores de vinho. A revista 
trouxe uma sequência delives com jornalistas e especialistas em vinho. 
Fonte: Agenda do vinho (2020, documento on-line).
Porém, não são apenas veículos sedimentados no mercado que investem 
nesse recurso. Jornalistas veem nas lives a oportunidade de atuar de modo 
independente. O jornalista esportivo Mauro Naves, por exemplo, promove lives 
pelo Instagram com atletas renomados e especialistas no tema.
Fonte: Naves (2020, documento on-line). 
A instantaneidade das narrativas no mundo digital 13
Um dos veículos pioneiros no uso de lives é o jornal Estado de São Paulo, 
que hoje está presente no site, no aplicativo e nas diversas redes sociais. 
O jornal, inaugurado em 1875 — muito antes do advento da internet — soube 
se atualizar e se adaptar aos tempos de convergência digital. No Facebook 
Live, o veículo transmite lives em que reúne jornalistas e especialistas em 
diversos assuntos para comentar os temas em destaque no dia. Há ainda a 
transmissão ao vivo de eventos relevantes e de apelo popular, como protestos, 
sessões políticas, etc. 
Silva (2019) destaca as dinâmicas mais adotadas por quem realiza lives 
no jornalismo:
[...] discutir assuntos em destaque no cenário nacional e internacional;
apresentar notícias de última hora;
responder às perguntas dos seguidores durante uma transmissão ao vivo;
entrevistar amigos, colegas ou especialistas; 
comentar uma apresentação ao vivo; 
apresentar os bastidores de uma reportagem, um evento, um show, um programa 
etc.;
promover um painel de discussão.
As lives trouxeram novas possibilidades de aproximação e interação com 
o público para além da chamada mídia tradicional. No telejornalismo, por 
exemplo, os apresentadores interagem com quem assiste de modo mais 
informal do que no momento da exibição pela televisão. O espaço para maior 
informalidade é um dos traços predominantes nas redes sociais e assim se 
mantém em grande parte das lives com jornalistas. É comum estes mostrarem 
os bastidores das redações, apresentarem outros colegas e comentarem suas 
rotinas, indo além da simples transmissão de uma notícia.
A participação do público também é um dos pontos altos de uma live. 
Ao longo da transmissão, os espectadores comentam, fazem perguntas e 
agregam mais informações — tudo por meio do chat. Esse ponto difere to-
talmente das transmissões televisivas ou da leitura dos jornais e revistas, 
em que não há possibilidade de uma comunicação síncrona, em tempo real, 
entre o produtor da notícia e o receptor. 
É preciso reconhecer que não se trata da obsolência dos veículos de co-
municação e de como eles se mostravam estruturados, mas, sim, de uma 
incorporação de novas possibilidades de comunicação, para atingir leitores 
conectados fulltime. Para tal, no esforço de acompanhar essas mudanças, 
rotinas foram revistas e práticas foram repensadas, assim como a atuação 
do jornalista. 
A instantaneidade das narrativas no mundo digital14
Referências
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-MHFPz/. Acesso em: 20 out. 2020.
A instantaneidade das narrativas no mundo digital 15
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A instantaneidade das narrativas no mundo digital16

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