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¹ Discente de História – Universidade Federal da Paraíba 
FOMOS SEIS! A REPRESENTAÇÃO DAS EX-ESPOSAS DE HENRIQUE VIII NO 
MUSICAL SIX 
 
Ana Luiza Romão Braz¹ 
 
Resumo: 
Com o passar dos anos, a História vem sendo contada de forma a se adaptar aos diferentes 
formatos de mídia, sendo elas livros, filmes ou músicas. Considerando isso, o objetivo do 
presente estudo é analisar o musical SIX, que conta história das ex-esposas de Henrique VIII, 
de acordo com a literatura histórica acerca do tema. No musical, cada uma das seis esposas 
possui sua própria canção, que descreve um pouco sua história e os conflitos que as rodeiam 
durante sua vivência ao lado do líder inglês; por esse motivo, a análise seguiu essa lógica, no 
qual cada tópico focou em uma das mulheres. Observou-se, contanto, um tema em comum entre 
todas as músicas: a insatisfação, demonstrada de várias maneiras, com a vida na corte de 
Henrique VIII. Conclui-se que apesar do musical incorporar elementos modernos, ele consegue 
retratar de maneira consideravelmente verossímil as questões históricas dessa época. 
 
Palavras-chave: Henrique VIII; Mídia; Rainha; Esposa. 
 
Introdução: 
 O que podemos observar sobre os antecedentes de Henrique VIII? A historiografia 
Tudor vem desde o conflito histórico conhecido como “Guerra das Rosas”, pelo controle do 
território inglês. Henrique VIII ascendeu ao trono inglês devido a morte de seu pai, Henrique 
VII, época onde ocorreu seu primeiro casamento com a viúva de seu falecido irmão, Catarina 
de Aragão. Mas como nos é apresentado na narrativa da História, o então nomeado rei obteve 
a mão de mais cinco mulheres com o passar dos anos e de acontecimentos que tiveram uma 
grande marca durante seu reinado e história, tal como uma das maiores mudanças ocorridas na 
história da Inglaterra: a Reforma Anglicana. 
Mas o que podemos observar sobre essa questão, indo além das fontes clássicas? A 
mídia audiovisual como outro meio, que se tornou um meio essencial para a reprodução de 
períodos históricos, como podem ser observados em diversos meios, sejam eles filmes, 
seriados, músicas e musicais. Mas também com isso, é possível ver uma grande construção de 
estereótipos sobre determinadas época e figuras históricas. Nesse meio podemos inserir o 
musical SIX, que possui como protagonistas as ex-esposas do rei inglês, Henrique VIII. 
 SIX é um musical britânico escrito por Toby Marlow, compositor e co-roteirista, e 
também por Lucy Moss, roteirista e diretora, durante o final de seus cursos na faculdade e 
estreou como produção estudantil na orla de Edimburgo. O musical mostra o ressurgimento 
das ex-esposas do antigo líder inglês da família Tudor, Henrique VIII, onde as seis formam 
um grupo musical e competem para decidir quem será a líder do grupo. Essa competição é 
baseada na regra de que quem teve a pior vida durante o casamento será a vencedora. No fim 
da narrativa, as seis mulheres concluem que é necessário parar de focar suas histórias em 
torno de um homem que as prejudicou, levando a um relacionamento melhor entre o grupo. 
O musical é composto por um total de nove canções, onde seis focam diretamente na 
história das rainhas, mostrando em comum, a insatisfação de suas uniões com o líder Tudor. 
As músicas restantes são: “Ex-Wives”, introdução do musical e apresentação de todas em 
modo geral; “Haus of Holbein”, dita como uma viagem relacionada ao pintor Hans Holbein e 
sua importância para escolha da quarta esposa e os preparativos necessários para ser 
“legítima” de um retrato feito por tal, mostrado de forma sátira; e por fim “Six” que é a 
música que encerra toda a história. Além disso, também existem interlúdios que servem para 
complementar o roteiro. O musical foi aclamado não só pelo público britânico, já contando 
com produções na Austrália e na Broadway. 
 
Divórcio por troca de coração: Catharina de Aragão 
“Você deve pensar que sou louca 
Você quer me substituir querido” 
 
Catharina de Aragão, filha de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, foi uma das 
mais conhecidas esposas de Henrique VIII, tanto por ser a primeira das seis quanto por seu 
papel em torno da relação de Ana Bolena com o rei. Antes falar sobre sua relação com o líder 
inglês, é importante tratar um pouco de seu primeiro casamento com Artur, príncipe de Gales, 
o irmão de Henrique VIII. Essa união de Catharina com Arthur de Gales não teve muita 
duração, pois o mesmo faleceu poucos meses após o casamento, a deixando viúva cedo. 
Com isso, foram tempos até que Henrique VIII, agora com a posse do trono de seu 
falecido pai, então casasse com Catarina. Foi um longo casamento e cheio de ocorridos, tais 
quais a própria canção, “No Way”, apontam. Um dos mais marcantes, que aparece no começo 
da música, é mostrado sobre caso que o rei teve com outra mulher, o que gerou um filho 
ilegítimo. Entrando na historiografia, essa mulher chamava-se Elizabeth Blount, dama de 
companhia da rainha e nisso vem “Henry Fitzroy, que morre muito jovem em 1536” 
(RAMOS, 2014). 
Outra questão importante que é mostrada na música é ainda a questão de herdeiros, 
pois no decorrer do casamento de Catarina e Henrique, ocorreram inúmeras gravidezes, mas 
apenas uma levou a concepção, no caso, daquela que ficaria conhecida futuramente como 
Maria I. Contudo, nesse período Henrique já estava envolvido com Ana Bolena e planejando 
em como conquistá-la. Por esse motivo, o rei tanto entrou em contato com a Igreja e o Papa 
para poder conseguir a anulação que foi negada, utilizando o Levítico 20:21 que aponta “se 
um homem tomar a mulher de seu irmão (...) eles não terão filhos”, deixando de lado a 
existência de sua filha (o que é apontado pela música). 
A principal presença na música é o refrão, no qual aparentemente o rei define Catarina 
como uma pessoa louca, pois mesmo com todos os escândalos, ela aponta firmemente que 
será trocada e se revolta com isso. Principalmente no último refrão da música qual aponta que 
“você me fez sua esposa, então serei rainha até o fim de minha vida” mostra tanto a revolta 
dela perante a troca, como também a presença da Igreja ao lado dela, pois o clérigo se negava 
a deixar Henrique se divorciar de Catarina, um longo processo, que ao fim levou o rei a ser 
excomungado (WEIR, 1973). A história de Catarina continua na canção que protagoniza Ana 
Bolena, que será abordada no tópico seguinte e complementando a canção. 
 
Ana Bolena e seu lugar ao lado de Henrique VIII 
“Me desculpe, sem me desculpar pelo que disse 
Não perca sua cabeça!” 
 
 Os primeiros sinais da presença de Ana Bolena na vida de Henrique VIII surgiu ainda 
quando o líder inglês era casado com Catharina de Aragão. É importante destacar inicialmente 
a grande problemática existente na música que a representa, Don’t Lose Your Head (Não 
perca a cabeça), pois a letra passa a impressão de que a segunda esposa era uma mulher vista 
como “promíscua” em suas ações, sendo que segundo a própria historiografia, esse não era o 
caso, mesmo considerando seu envolvimento com o rei. Claro que isso pode ser afirmada com 
visão atual, pois Alison Weir aponta em sua obra que Ana teve atração por outros homens, 
mas diferentemente sobre o futuro que a aguardava (WEIR, 1976). 
 Ana Bolena foi a esposa que teve um dos processos mais demorados para união, pois 
envolveu a separação do rei da Igreja e a criação da Igreja Anglicana. Ainda casado com 
Catharina de Aragão, Henrique VIII mandava cartas e presentes para a futura rainha, 
demonstrava desejo pela mulher, que inicialmente o rejeitava por não desejar ser uma amante 
(WEIR, 1973). Para conseguir o divórcio, o rei recorreu ao Papa, enviando-lhe cartas e 
utilizando como dito anteriormente, do Levítico 20:21 para causar efeito, mas foi negado, 
principalmente por pessoas ao lado de Catharina sobre o casamento, também estarem em 
contato com o Papa. Mas comoé sabido, ao fim o divórcio ocorreu devido a fundação da 
Igreja Anglicana e o líder se casou com Bolena. 
 A letra da canção para Ana, carrega problemáticas historiográficas, principalmente 
quando diz “...então flertarei com um cara ou três, apenas para lhe fazer ciúmes...”, pois 
Alison Weir em sua obra “As Seis Esposas de Henrique VIII”, aponta que devido ao fato da 
rainha não ter tido herdeiros, assim como a esposa anterior, foi acusada de adultério e incesto 
com seu irmão, George Bolena (WEIR, 1976). É relevante mencionar que Ana teria 
engravidado anteriormente e daria luz a um garoto, mas por preocupação de Henrique ir à 
guerra, ocorreu um aborto espontâneo. Assim, ela teve apenas uma filha, que seria 
futuramente conhecida como Elizabeth I, mas assim como Maria, filha de Catharina, não teve 
grande importância para o rei. 
 A acusação de adultério e incesto, causou tanto a prisão da rainha, quanto ao dos 
“envolvidos” no crime. A música aponta sobre a ideia de a esposa estar sendo perseguida para 
a ser presa e executada e também de ser chamada de bruxa, pois tanto antes como depois de 
sua morte, ela foi vista como feiticeira, pois seduziu o líder, causando o divórcio e a atração 
por ela. O mais interessante em relação a canção, é o modo qual se reproduz, como 
inicialmente dito, a ideia de a rainha ter sido uma “dama promíscua” que complementa a 
batida da música e também a letra, mas devido a isso, equívocos são causados e isso pode 
também causar certa problemática sobre como apresentar a história da segunda esposa do rei 
inglês, trazendo dessa maneira uma imagem errônea. 
 
A vida pelo herdeiro: Jane Seymour 
“Mas eu sei, que sem meu filho 
seu amor poderia desaparecer” 
 
A terceira esposa de Henrique é também dita por alguns historiadores como a favorita 
do rei, Jane Seymour. Com o tema de canção melancólica, Heart Of Stone (Coração de 
Rocha) define Jane Seymour e seu casamento com o líder Tudor. Antes que adentrarmos 
diretamente na letra e sua breve comparação com a historiografia, é importante apontar que os 
Seymours já eram uma família que possuía ligação com os Tudor desde a época de Henrique 
VII, onde John Seymour (pai de Jane) “tinha sido cavaleiro de Henrique VII na batalha de 
Blackheath, que rebelião encerrada em 1497. A partir desse início promissor, ele passou a 
desfrutar de favores reais durante o reinado sucessor. ” (FRASER, 1993). 
Devido essa “união” entre as famílias, a terceira esposa sempre esteve perto, foi dama 
de companhia tanto de Catarina de Aragão como de Ana Bolena. Outro ponto importante 
sobre ela é o como trouxe atenção ao rei, e Alison Weir aponta sobre o fato dela ser o oposto 
de Ana Bolena (WEIR, 1976), ou seja, uma mulher calma e tímida. Interessante nessa fala de 
Weir em relação a música de Seymour no musical, é que ambos trazer uma concordância 
sobre ela ter sido uma mulher tranquila, pois apesar da canção que a representa, ela também é 
cantada tranquilamente e com muita emoção . 
Apesar da carga emocional da música, ela também aponta sobre a constante mudança 
de coração de Henrique, uma fala que tem uma grande relação as ex-esposas, Catharina e 
Ana, sendo que quando ela e Henrique estavam planejando o casamento, Ana Bolena estava 
presa para a execução, acusada de adultério e incesto e além disso, diversos ditos como “anti-
Bolena”, avançavam para apoiar a causa do casamento de Henrique com Jane. (FRASER, 
1993). Assim, se por um lado na música Seymour parece estar satisfeita com o casamento, ela 
também reconhece as preocupantes falhas do homem que declara ser apaixonada. 
Com a morte de Ana Bolena e a união com o rei, Jane engravidou e essa gravidez era 
o que mudaria o destino da então atual rainha, pois diferentemente das esposas anteriores, a 
gestação trouxe destino a um garoto, que se tornou conhecido como Eduardo VI. Mas devido 
a complicações durante o parto, Jane não sobreviveu por muitos dias, falecendo de infecção 
no útero, enquanto o filho manteve vivo, se tornando herdeiro do rei. Foram grandes as 
comemorações pelo herdeiro antes da mulher morrer. Na canção ao ser falado sobre o filho a 
personagem do musical aponta que o amor de Henrique poderia sumir se não fosse pelo 
garoto, ou seja, isso mostra principalmente a importância do nascimento de uma criança do 
sexo masculino, o que diferencia bastante em relação às suas outras filhas, Maria I e 
Elizabeth, filhas das esposas anteriores, quais foram retiradas da linhagem pelo mesmo. 
O grande sentimento presente da música, vem principalmente pela própria atriz cantar 
em nome de Jane sobre ter um coração de pedra, pois mesmo com Henrique tendo sua 
personalidade ou então a exigindo, não era algo que a abalava. Até mesmo quando se fala 
sobre a decisão entre deixar Jane viva ou então o filho, o rei decide sobre o filho, pois “caso 
não pudesse manter ambos vivos, que deixasse o filho, pois esposa poderia ser encontrada 
facilmente” (Lancellot, 1858) e dessa maneira se encerra o lugar de rainha por Jane Seymour. 
 
A “Falsa Imagem”: O Divórcio com Ana de Cleves 
“...você disse que eu te enganei 
 Porque eu não parecia com a minha foto de perfil” 
 
Conhecida como quarta esposa de Henrique VIII, Ana de Cleves foi um dos 
casamentos mais curtos comparado as outras esposas do líder. A mulher se tornou de interesse 
do rei devido a imagem construída em torno da mesma e também poderia trazer uma grande e 
importante aliança com seu irmão William, o duque de Cleves. 
Após a morte da antiga rainha Jane Seymour, se passaram dois anos até a escolha de 
sua próxima esposa. Thomas Cromwell, conselheiro do líder, foi o responsável por apontar as 
primeiras impressões sobre a mulher vinda da família Cleves. Fez uma grande "propaganda" 
em cartas direcionadas ao rei em relação a beleza e a admiração que trazia as pessoas 
(THATE, 2017). Nisso, o popular pintor Hans Holbein, responsável por obras retratando o rei 
e também outras esposas, foi enviado às terras da família alemã para poder retratar Anna e 
assim, enviá-la para Henrique. 
O resultado da pintura de Holbein fez a figura de Anna possuir uma neutra face (não 
vista com falta de beleza) e o vestido bastante detalhado. Ao citar a pintura de Holbein e a 
visão aparentemente positiva criada por ele, o musical SIX além de apresentar a música, 
também traz uma “introdução” que complementa o início dela. Nessa introdução, “opções” 
para quarta esposa de Henrique VIII são apresentadas, e nisso, elogios sobre as mesmas são 
dutos, incluindo a de Anne de Cleves, a escolhida para matrimônio. 
A letra de Get Down, canção de Anna, aparenta mostrar uma situação pós divórcio, 
mas que aponta com sua letra uma percepção bastante teor de independência, pois a ex-rainha 
é mostrada sozinha no palácio de Richmond, cedido por Henrique no trato do divórcio. É 
importante também destacar que o refrão para a música diz exatamente o motivo (do divórcio) 
apontado pela grande maioria no imaginário relacionado a Anna de Cleves: que a sua 
aparência não era a mesma do retrato qual Henrique VIII havia visto (o que não deixou de ser 
invenção para adquirir o divórcio), assim achando-a horrenda e futuramente divorciando da 
mesma, razão do matrimônio ter durado pouco. 
 
A Jovem dama Catharina Howard 
“Não há tempo para “quando” e “como” 
Porque você precisa me ter agora” 
 
Catharina Howard é a quinta esposa e a mais nova a ser envolvida ao lado do rei, pois 
tinha apenas 15 anos de idade quando se uniu com Henrique em matrimônio. A música que 
foca na personagem, “All You Wanna Do” (Tudo que você quer), fala sobre as “relações” que 
teve durante sua vida e como essas não passaram de um interesse puramente sexual de 
homens mais velhos. É importante salientar que Howard um grande histórico bibliográfico 
acerca da sua história, fazendo com que detalhes da sua vida antes e depois do casamentonão 
sejam muito claros. 
Antonia Fraser em sua obra “The Wives of Henry VIII”, aponta Manox (primeiro 
envolvimento citado na música) como o vizinho que deu aulas de músicas para Katherine 
Howard e que tentou seduzir a jovem garota entre as lições de virginal e lute. Também é 
importante destacar em relação ao tutor da dama, o fato do mesmo já possuir laços 
matrimoniais com alguém e se envolvendo com a jovem (CLARK, 2019), o que torna essa 
“relação” ainda mais problemática. Também é estranho notar que a idade varia em relação a 
Catharina, já que enquanto na canção é dito sobre a garota ter treze anos de idade, é bastante 
dito em obras o fato da garota ter quinze anos quando ocorreu essa “relação” (FRASER, 
1993). 
Enquanto isso no segundo relacionamento da garota, foi envolvido com Francis 
Dereham, a canção aponta como algo profundo e “sensual”. Na historiografia mostrava que 
ambos se denominavam como “marido” e “esposa” entre eles, além dos próprios empregados 
do local em que Catharina esteve na época (como dama de honra), sabiam sobre tal fato 
(FRASER, 1993), além de também poder ter sido de maior conhecimento do que com Manox. 
A relação terminou com Howard tendo participação na corte de Ana de Cleves (CLARK, 
2019). 
O terceiro envolvimento iniciou com Thomas Culpeper, onde tiveram um breve 
envolvimento, ou “trocas de olhares”, mas com a separação de Ana de Cleves e Henrique, o 
rei demonstrou interesse por Catharina e nisso, ambos se casaram, mesmo a jovem tendo 
quinze anos de idade e o inglês quarenta e nova. Foram diversos presentes dados a Howard, 
além de traçar grande caminho para o conhecimento da família Howard, melhorando a 
imagem do rei. Mas assim como a infelicidade das antigas rainhas, Catharina não conviveu 
por tanto com o líder, tendo Francis Dereham, seu antigo amante, envolvido em seu destino. 
A queda da rainha envolveu a acusação de adultério e seus antigos casos. Dereham 
ajudou nisso, mas o mesmo foi condenado, pois um dos principais pontos para Howard ser 
condenada, foi uma carta de amor encontrada, dela para Francis, o que mostrou seu 
envolvimento sexual antes do casamento com Henrique, além do “adultério” envolvendo 
Culpeper, ou seja, o último amante de Catharina. Francis e Thomas foram presos e 
executados, tendo suas cabeças expostas na Torre de Londres. Nisso foi questão de tempo 
para a execução da jovem dama ocorrer, em fevereiro de 1542, em frente a ambos supostos 
amantes (FRASER, 1993) sendo assim considerada a mais jovem esposa do líder inglês e a 
ser executada. 
A situação da história de Catharina Howard, é bastante apontada como uma das mais 
polêmicas, devido tanto sua idade, quando aos relacionamentos que se envolveu com em 
pouco tempo. Apesar de no musical inicialmente ela ser representada como alguém bastante 
orgulhosa de sua capacidade de encantar os homens, o fim de sua própria canção, onde sua 
frustração e tristeza com a objetificação por parte dos homens que considerou interesses 
românticos cresce cada vez mais (como no trecho “Eu pensei que você seria diferente… Mas 
nunca é diferente; Porque tudo que você quer é me tocar, quando “já chega” vai ser o 
bastante?; Tudo que você quer é me ter, não se importa se eu não gostar”), mostra uma 
profundidade a mais da personagem. 
A última esposa: a sobrevivente Catherine Parr 
“Me casei com o rei 
e tornei-me aquela que sobreviveu” 
 
 Uma ótima definição acerca de Catarina Parr pode ser expressa por “não era de 
surpreender que Catherine Parr se mostrasse uma mulher notável. ” (FRASER, 1993). Mesmo 
com o pouco que se aponta na bibliografia sobre a última esposa de Henrique VIII e sua 
relação, é bastante exposto sobre o que se tem registrado sobre os impactos que ela pôde 
trazer para o período, que também é apontado no próprio musical de SIX em sua canção “I 
Don’t Need Your Love”. 
 A música que relata sobre parte da vida de Parr, é iniciada com uma possível carta que 
ela escreve ao homem que amava, no caso, Tomás Seymour (irmão da terceira esposa do rei 
Tudor), pois antes de sua paixão por Tomás, ela teve envolvimento e casou-se com Edward 
Borough aos quinze anos, mas pouco durou, pois o homem pôs-se a falecer, logo após uniu-se 
matrimonialmente com Lord Latimer, no período qual Ana Bolena estava sendo coroada 
rainha ao lado de Henrique VIII, ficando com a herança do falecido. Nisso, pela canção deixa 
claro que a antiga rainha tinha forte paixão por Seymour e segundo Antonia Fraser, ambos 
tiveram envolvimento, tomando parte do planejamento de um futuro matrimônio, mas com a 
proposta de casamento vindo de Henrique VIII (FRASER, 1992), ela teve de deixar de lado a 
casar-se com o rei, pois o status que possuía não era tão grande quanto o dele, mas também é 
apontado sobre ser “a convicção de Katherine que a palavra de Deus estava dizendo para ela 
se casar com Henrique VIII” (OFFE, 2015). 
 A canção escrita para Catarina Parr no musical, também mostra grande infelicidade 
dela estar ao lado do rei como esposa, pois com isso impediria de realizar matrimônio com 
quem realmente amava. Como o musical é algo atual e também “ressurreição” das esposas, é 
o momento da rainha apontar o que aparentemente gostaria de falar ao rei na época, como se 
fosse o pensamento da mesma no período, sendo que ao fim de tais palavras Parr fala que 
“não poderia falar isso ao rei” e se despede na carta para o amado. 
 Um ponto essencialmente importante na letra é sobre os impactos comentados 
anteriormente, qual a rainha aponta sobre a carreira de escritora, que escreveu “livros, salmos 
e meditações”, uma grande imagem perante a educação feminina na Inglaterra, onde sua união 
com o rei contribuiu para que isso torna-se possível e trouxesse maior reconhecimento. No 
meio desse aprendizado “Katherine incentivou suas damas de companhia a ler orações e livros 
religiosos. ” (OFFE, 2015), na canção é apontado como um grande marco da independência 
feminina, principalmente por causa que no período em que se passou sua vida, pois 
"representou um verdadeiro avanço em uma época em que apenas as mulheres mais 
privilegiadas tiveram a sorte de receber uma educação" (WEIR, 2007). 
Outro ponto necessário a ser apontado na canção é a ideia de memória da rainha, pois 
é apontado que tanto as histórias delas apenas se tornam conhecidas devido a posição que 
ocuparam ao lado do rei em sua conturbada vida amorosa. Contudo, interrompendo o final 
dramático (e de certa forma condizente com a realidade) as outras rainhas se juntam a música, 
ressaltando que não precisam de Henrique para construírem suas histórias a partir daquele 
momento. 
 
O que as outras canções têm a nos dizer das ex-esposas? 
 Os tópicos anteriormente citados, tiveram o destaque nas músicas focadas cada uma 
em diferentes esposas e sobre o que seria contado de suas histórias, sejam elas apenas dentro 
do reinado de Henrique VIII ou então antes e acompanhada do rei e até mesmo após sua 
convivência com o mesmo, como dito anteriormente, todas apontam a insatisfação de terem 
ficado ao lado do líder inglês. Na canção que abre o musical, é uma apresentação geral de 
todas as rainhas e as maneiras quais suas relações com o rei terminaram, ou então Henrique 
VIII se torna o protagonista nesse momento histórico e as mesmas são desvalorizadas e 
muitas vezes apagadas da história, trazendo a importância delas para esses anos sobre os 
ocorridos na história da Inglaterra. A grande importância dessa música é a imagem inicial que 
forma sobre as mulheres, sua apresentação ao público mostra aquilo que aparentemente elas 
deveriam ser. 
 Já “Haus of Holbein” (Casa de Holbein) é basicamente a canção para inserir a 
personagem de Ana de Cleves no musical de maneira indireta, mas a letra da música 
representa muito mais do que isso, já que Hans Holbein foi um importante pintor no período e 
que esteve aparte de gravar as pinturas das esposas de Henrique e também do próprio rei. 
Mas voltando para a letra da canção, ela aponta de modo geral o como as mulheres tinham de 
fazer para parecerem mais belas tanto para a vida como para ser parte de uma pintura de 
Holbein, apontando muitas coisas bizarras que eram feitos na época para espairecer a beleza. 
Por fim, A música Six traz uma releitura da vida das rainhas adaptada para a realidade 
contemporânea, onde todas com exceção de Jane rejeitaram um envolvimento com o rei, e as 
seis mulheres se reencontraram através da última rainha para formar o grupo musical. 
 Apesar do musical apresentar inúmeros pontos bastante coerentes com a história, as 
canções também cometem alguns equívocos quando se tratam das rainhas. Os maiores 
exemplos são Ana Bolena, qual o historiador Alis Weir aponta que foi Henrique que a culpou 
de um adultério que não ocorreu de verdade para assim poder executá-la e também seis 
homens inocentes acusados de se envolverem com a mesma; E Ana de Cleves e o único foco 
em sua aparência e a ideia de mulher independente criada em seu redor, sendo que Courtney 
Thate aponta em seu artigo “Anne of Cleves, Enigmatic Queen” as diversas visões tidas sobre 
a mesma. 
Conclusão: 
 A partir da breve análise das canções do musical SIX, é possível concluir como dito 
inicialmente a ideia de insatisfação das rainhas presente nas letras, enquanto historicamente 
falando não são canções totalmente próximas aos registros e fontes presente sobre as mesmas. 
Todas as músicas seguem batidas que representariam o modo como se passou os 
acontecimentos apresentados nas canções, ao exemplo da música de Jane Seymour ser calma 
e melancólica para acompanhar a tristeza da morte dela. 
 É importante por fim ressaltar a relevância dos meios midiáticos como maneira de 
apresentar a história, pois assim como o musical SIX, é um meio que chama mais a atenção 
das pessoas, e com isso, pode ser também uma forma para o interesse no estudo e leitura e 
pesquisa sobre a história aumente, se tornando também um dos primeiros contatos com a 
história, além dos meios escolares e segue a frente aos mesmos. Desse modo, estudos futuros 
podem vir a explorar como a música e o teatro podem ser utilizados como ferramenta para 
trabalhar a história tanto num contexto pedagógico quanto de apresentação ao público geral. 
 
Bibliografia: 
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OFFE, Alison. Katherina Parr, Protestant Scholar and Role Model. ResearchGate, 2019. 
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RAMOS, Joyce de Freitas. A Obrigação de Gerar Herdeiros e a Infertilidade das Rainhas na 
Longe Duração do Imaginário Popular Ocidental: A exemplos do Rei Arthur e Henrique VIII. 
Cadernos de Clio, Curitiba, v. 1, n. 5, p. 97-112, dez. 2014. 
RIDGWAY, C. Jane Seymour: The Meek and Mild One? The Anne Boleyn Files, 2011. 
THATE, Courtney. Anne of Cleves: Enigmatic Queen. 2016. 47 f. TCC (Graduação) - Curso 
de History, Abilene Christian University, Abilene, 2017. 
WEIR, Alison. The Six Wives of Henry VIII. England: Grove Press, 1976.

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