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1 
 
RECURSOS NO PROCESSO PENAL 
 
EMENTA: Os recursos: fundamento, conceito, 
natureza jurídica, pressupostos e requisitos dos 
recursos. Impetração, tempestividade, legitimidade, 
interesse e sucumbência. Classificação. Juízo de 
admissibilidade. Fungibilidade. Desistência. Efeitos. 
Extinção. Espécies: recurso em sentido estrito, 
apelação, embargos infringentes e de nulidades, carta 
testemunhável, correição parcial, recurso 
extraordinário, recurso especial, agravo no processo 
penal, recurso ordinário-constitucional, habeas corpus, 
revisão criminal e reclamação. Aspectos práticos da 
advocacia. 
 
1. Introito: 
 
O processo penal é o instrumento necessário para 
alcançarmos a imposição de uma pena em desfavor de alguém que violou um 
valor social fundamental. Logo, o objetivo do processo é imprimir uma sanção 
em face de um agente que cometeu uma conduta socialmente insuportável. 
 
E, para aplicarmos essa pena, é preciso respeitarmos 
as regras do jogo. Como sempre nos fala o eminente professor Aury Lopes Jr., 
é preciso garantir para punir e punir garantindo. 
 
Significa que, por estarmos diante de um confronto 
entre a preservação do valor liberdade e a necessidade de o Estado restringir 
esta garantia, a conduta perpetrada pelo agente deve ser tão gravosa ao ponto 
de autorizar o manejo da violência estatal em detrimento do indivíduo. E é por 
isso mesmo que, neste contexto, exsurge o processo penal, como mecanismo 
inerente à legítima imposição de temporária privação de liberdade. E esta pena 
somente será legítima quando observar todas as regras processuais. 
 
2 
 
Vejam, como é certo, o ser humano é falho. Eis a 
razão de termos os recursos processuais penais: a imperativa possibilidade de 
revisão de decisão judicial, decorrente da falibilidade humana. 
 
Então, significa que somente os recursos podem 
guerrear contra decisões judiciais? Não! Existem também as ações 
impugnativas, que inauguram uma nova relação processual – justamente aqui a 
diferença entre as medidas de irresignação diante da decisão –, mas, de igual 
sorte, se insurgem contra decisões judiciais. 
 
Então, deste contexto, emerge o estudo da teoria 
geral dos recursos. Vamos a isto. 
 
2. Fundamento dos recursos: 
 
Os recursos podem ostentar fundamento sob 
diversos vieses. Primeiro, o fundamento psicológico, que advém da natureza do 
ser humano, que não gosta de perder. Temos também o fundamento político, 
que marcha no sentido de não permitir um poder cogente absoluto e imutável, 
permitindo com que as decisões judiciais, que, sim, são ato de poder e devem 
ser obedecidas, possam ser reexaminadas. O que mais nos importa, neste nível 
de discussão, é o fundamento jurídico. 
 
E, de plano, vos digo que o fundamento jurídico dos 
recursos reside no princípio do duplo grau de jurisdição, que salvaguarda o 
direito à reapreciação das decisões por órgão jurisdicional distinto daquele que 
prolatou a decisão, e que possui um grau hierárquico superior. 
 
Vejam, esse é o fundamento jurídico dos recursos. 
Não significa, entretanto, que todo e qualquer recurso deva ser julgado por um 
órgão judicante distinto. Há aqueles, como os famosos embargos de declaração, 
onde não há a devolução da matéria a órgão superior. 
 
3 
 
Num recurso onde não há a submissão de reexame 
da questão de fundo a órgão judicial superior, temos a consagração da ampla 
defesa, permitindo o aprimoramento do decisum. E isso é plenamente harmônico 
com um sistema processual que procura se amoldar à constitucionalização do 
Direito, ao chamado princípio da juridicidade, que amplia o entender da 
legalidade para a busca de um sistema consentâneo com os direitos e garantias 
constitucionais e com a preservação dos valores axiológicos desenhados na 
CRFB. 
 
Como diz o professor Badaró, “um sistema 
processual poderia sobreviver sem os embargos de declaração, ou mesmo como 
ocorre, desde 2008, sem protesto por novo júri. Todavia, não seria viável 
conceber uma sentença que não fosse recorrível. E, mais que isso, o recurso 
contra uma sentença de mérito deve ser julgado por um órgão jurisdicional 
hierarquicamente superior ao que a proferiu” p. 41. 
 
É claro, caros. Porque o ser humano é falho. E, em 
tratando de um dos bens jurídicos mais caros à humanidade, qual seja a 
liberdade, é certo que devemos garantir aos atores processuais a 
possibilidade de reexame meritório. 
 
Reparem, o duplo grau de jurisdição faz valer um 
único reexame. Em nossa organização judiciária, é certo que o STJ e o STF 
podem funcionar como terceiro e quarto graus, entretanto, também é certo que 
a interposição de REsp e RE não são concretização de duplo grau. 
 
Por quê? Porque não há reapreciação de 
circunstâncias fáticas que se prendem com o pano de fundo da quaestio. Não há 
um reexame de provas – reparem, discutir prova é diferente de discutir o regime 
de legalidade da prova (o que as cortes superiores podem fazer) – e mérito. As 
cortes superiores, caros, somente apreciam questões de Direito. 
 
Vejam, em síntese, o duplo grau significa que, 
excepcionados os casos de competência originária dos Tribunais, a contenda 
4 
 
criminal deve ser apreciada no primeiro grau, e reexaminada no segundo grau, 
a partir do recurso manejado. 
 
Mas então, professor, como fica a questão da ação 
penal originária?! Vamos lá. 
 
Tratamos dos famosos casos de foro por prerrogativa 
de função. Eu, aqui no escritório, defendo diversos agentes políticos, prefeitos, 
com foro “privilegiado”, sendo caso de ação penal originária no TJ. A lei de 
regência é a 8.038, que trata das ações penais originárias nas cortes superiores, 
e se aplica aos TJs e TRFs. 
 
No caso, as ações, conforme o nome sugere, são 
aforadas diretamente no TJ. Aí, como fica a consagração do duplo grau de 
jurisdição? Não fica! Não há. O agente somente pode interpor REsp e RE, sem 
fruir de reexame de mérito, lhe cabendo tão somente a discussão de Direito. 
 
O professor Aury Lopes Jr. indica que “há um 
completo esvaziamento da garantia do duplo grau de jurisdição em benefício da 
prerrogativa funcional e do julgamento originário por um órgão colegiado” p. 971. 
 
Mas, isso é constitucional, professor? Bom, há 
muito prevalece a tese de que o princípio do duplo grau é implícito na CRFB e, 
de outro lado, a Carta Maior consagra expressamente os casos de 
processamento originário pelos Tribunais. Como, no nosso sistema, o duplo grau 
advém de regra expressa na CADH, e esta ostenta um caráter de norma 
supralegal, internalizada ao sistema jurídico, porém num degrau abaixo da 
CRFB, há a justificação da prevalência da irrecorribilidade nos casos de ação 
penal originária, por regra de cariz constitucional. 
 
Superada esta questão, é de se dizer que o que 
fundamenta o recurso, grosso modo, é a garantia da possibilidade de redução 
das chances de equívoco. Como diz Carnelutti, é um “julgamento sobre o 
julgamento, e, dessa maneira, um julgamento à segunda potência”. O recurso 
5 
 
parte de um entendimento judicial cristalizado no piso, e revolve a matéria de 
fato e de direito, minimizando a possibilidade de chancela de injustiça. 
 
No recurso, nós temos uma nova guerra dialética, por 
intermédio do oferecimento das razões e contrarrazões recursais, o que 
catapulta a depuração do conteúdo do processo, catalisando a intelecção 
jurisdicional, pelos Tribunais. 
 
Então, o fundamento do recurso reside, nas palavras 
do Aury, na “falibilidade humana” e na “inconformidade do prejudicado”. O duplo 
grau é que concretiza tais fundamentos, viabilizado pela possibilidade de 
interposição recursal. 
 
Também, ainda no que importa com o fundamento 
dos recursos, é importante salientar que, em regra, a contenda criminal é julgada 
monocraticamente no primeiro grau, e por um colegiado no segundo. 
 
Isso minimizaria a chance de erro, já que,Público a 
41 
 
condenar o réu, já que a sentença condenatória é título passível de ser 
executado na esfera cível (art. 63 do CPP). 
 
Tal entendimento, porém, não mais prevalece, 
compreendendo a maioria da jurisprudência que o interesse do assistente 
de acusação não é unicamente a busca de indenização, podendo sim 
recorrer para aumentar a pena do réu, mesmo porque algumas violações jamais 
poderão ser reparadas ou compensadas mediante indenização pecuniária, por 
exemplo, a morte de um filho, a perda de um membro do corpo. 
 
3. Interesse do Ministério Público em apelar da 
sentença absolutória proferida na ação penal exclusivamente privada 
quando o querelante não recorre: neste caso, predomina o entendimento de 
que não há esse interesse. É que, se o querelante pode dispor da ação penal, 
dela desistindo, perdoando o querelado e ainda renunciando ao prazo recursal, 
a não utilização do recurso contra a decisão absolutória importa em evidente 
desistência da ação, não podendo o promotor de justiça, nesse caso, insistir em 
seu prosseguimento, recorrendo da sentença. 
 
Nada impede, contudo, que recorra o Ministério 
Público da sentença condenatória proferida na ação penal privada, mesmo na 
inércia do querelante, visando ao aumento da pena atribuída. Observe-se que 
este entendimento não tem aplicação às ações penais privadas subsidiárias da 
pública, ou seja, aquelas ajuizadas pelo particular na inércia do Ministério Público 
em oferecer denúncia no prazo legal. Nesse caso, ainda que não recorra o 
assistente do decisum absolutório, nada impede venha o Parquet a interpor a 
apelação. 
 
4. Interesse do Ministério Público em recorrer da 
sentença absolutória quando, em debates orais, memoriais ou alegações 
escritas, o próprio Ministério Público requereu essa absolvição: tratando-
se do mesmo promotor, evidentemente não há esse interesse. Todavia, quando 
o promotor que postulou a absolvição e o promotor intimado da sentença são 
distintos, há duas posições: 
42 
 
 
Primeira orientação: O Ministério Público é regido 
pelo princípio da unidade. Assim, se houve pedido de absolvição por um 
promotor, não poderá outro membro voltar-se contra a sentença absolutória, pois 
ambos representam o mesmo Ministério Público. Além disso, a sucumbência da 
acusação é definida pelo pedido realizado nas alegações que antecedem a 
sentença. Se o pedido das alegações coincide com o que foi deferido na decisão 
judicial, não há essa sucumbência capaz de produzir interesse em recorrer. 
 
Segunda orientação (majoritária): Os membros do 
Ministério Público possuem independência funcional, sendo possível que um 
promotor de justiça, discordando do pedido de absolvição formulado por seu 
antecessor, recorra da sentença absolutória buscando a condenação. Ademais, 
a sucumbência do Ministério Público é fixada pelo pedido incorporado à denúncia 
– pedido de condenação. Havendo absolvição, haverá dissonância entre o que 
foi pedido na inicial e o que foi deferido na sentença, não afastando essa 
sucumbência o pleito de absolvição realizado nas alegações que se seguem ao 
encerramento da instrução. É a nossa posição, na esteira de expressiva 
jurisprudência. 
 
5. Interesse do Estado em recorrer da sentença 
penal que, no âmbito de sentença absolutória, o condena ao pagamento de 
custas processuais: proferindo sentença absolutória, é comum determinar o 
juiz, no ato sentencial, que o pagamento das custas processuais fique a cargo 
do Estado. Neste caso, possui o Ente Público interesse em recorrer? Muitos 
afirmam que não há esse interesse, tendo em vista não ser o Estado parte no 
processo criminal em que foi condenado ao pagamento de custas. 
 
O professor Avena discorda, reputando ser 
inequívoco o interesse estatal em recorrer diante da sucumbência sofrida nos 
autos da ação criminal. Afinal, ainda que, por não ser parte explícita no processo, 
não se considere o Estado um sucumbente direto, é inegável que, no mínimo, 
ocorre, na vertente, a chamada sucumbência reflexa, assim compreendida 
aquela que alcança pessoas que, mesmo fora da relação processual, são 
43 
 
atingidas por seus efeitos. E tal sucumbência reflexa seria capaz de gerar 
interesse para a propositura do recurso cabível em relação à sentença que a 
produzir. 
 
OBS.: EFEITO EXTENSIVO DOS RECURSOS 
 
Previsto no art. 580 do CPP, o efeito 
extensivo consiste na possibilidade de estender o resultado favorável do 
recurso interposto por um dos réus a outros acusados que não tenham 
recorrido. Apesar de disciplinado pelo Código no capítulo dos recursos, é 
aplicável também a outras vias impugnativas, como o habeas corpus e a 
correição parcial, que não possuem natureza recursal. 
 
Registre-se que a extensão determinada pelo art. 580 
não é irrestrita, apenas sendo possível em hipóteses nas quais o recurso 
interposto tenha sido provido por razões não pessoais do recorrente, por 
exemplo, a atipicidade ou a inexistência material do fato. Tratando-se de 
absolvição fundada em razões pessoais, ex, a ausência de provas de que o 
recorrente concorreu para o crime, não haverá essa extensão. 
 
Exemplo: 
 
Considere-se que Paulo Meyer e Pedro estejam 
condenados pela prática de estelionato em concurso de agentes, e que, da 
sentença, apenas o primeiro tenha recorrido. No julgamento da apelação de 
João, suponha-se que o Tribunal absolva-o sob a motivação de que o fato 
consistiu em mero ilícito civil, sem reflexos penais (motivação ligada ao fato e 
não à pessoa de João). 
 
Neste caso, caberá ao Tribunal estender esse 
resultado também a Pedro. Se, contudo, tivesse Paulo Meyer sido absolvido pelo 
Tribunal sob o fundamento da ausência de provas de que concorreu ele para o 
crime, a extensão restaria inviabilizada, dada à pessoalidade do motivo da 
absolvição. 
44 
 
 
Outro aspecto importante é o de que, para efeitos da 
extensão, não basta que todos os réus tenham sido acusados no mesmo 
processo, sendo necessário que a eles tenha sido imputado o mesmo crime, 
em concurso de agentes (autoria ou participação). 
 
Exemplo: Imagine-se que, Paulo, Mário e Miguel 
tenham sido denunciados conjuntamente, em face da conexão entre seus crimes 
– Paulo, acusado de furto de um carro; Mário, acusado de receptação dolosa, 
por ter comprado esse veículo de Paulo sabendo tratar-se de objeto furtado; e, 
Miguel, acusado de receptação culposa, já que adquiriu o mesmo carro de Mário 
sem as devidas cautelas. Considere-se que, sendo todos condenados, apenas 
Paulo tenha recorrido, sendo sua apelação provida sob o fundamento de que o 
fato a ele imputado foi atípico. 
 
Nesse caso, a absolvição de Paulo não será 
estendida a Mário e Miguel, que continuarão condenados, só lhes 
restando ingressar com revisão criminal para anular as respectivas 
condenações. É que, apesar de terem figurado como réus em um só processo, 
não responderam pelo mesmo crime em concurso de agentes, mas a crimes 
diversos, não incidindo, então, o art. 580 do CPP. 
 
Quanto ao fundamento de sua previsão, decorre o 
efeito extensivo da necessidade de que haja isonomia entre os indivíduos que, 
acusados da prática de um mesmo crime, encontrem-se em idêntica situação 
jurídica. 
 
Entendendo ser hipótese que autoriza a 
extensão, compete ao próprio Tribunal que julgar o recurso do corréu 
recorrente pronunciar-se no sentido de estender o efeito benéfico que dele advir 
ao condenado remanescente. Não o fazendo, poderá este último opor embargos 
declaratórios no sentido de provocar a deliberação do Tribunal, ou, se preferir, 
desde logo ingressar com habeas corpus (se o crime imputado for punido com 
prisão) ou mandado de segurança (caso o delito não seja punido com pena 
45 
 
privativa da liberdade) junto à instância superior competente visando obter a 
aludida extensão. 
 
DESISTÊNCIA DO RECURSO 
 
É a manifestação de vontade do recorrente, depoisde 
ter interposto seu recurso, no sentido do desinteresse no seguimento, 
processamento e julgamento. 
 
Classifica-se como um fato extintivo do recurso. 
 
A desistência é retratável dentro do prazo recursal. 
Considerando, por exemplo, um prazo com fluência entre os dias 2 e 6 de março, 
uma vez operada e homologada a desistência, nada impede que dela se retrate 
a defesa, desde que o faça antes do dia correspondente ao término do prazo 
recursal. 
 
RENÚNCIA AO DIREITO DE RECORRER 
 
A renúncia do direito à interposição recursal consiste 
na manifestação de vontade da parte, realizada antes da interposição do recurso, 
no sentido de abrir mão desta faculdade, antecipando o trânsito em julgado da 
decisão judicial. 
 
Classifica-se como um fato impeditivo do direito de 
recorrer. 
 
A renúncia é irretratável, constituindo causa de 
preclusão consumativa no processo penal. Assim, contemplando-se um prazo 
com fluência entre 2 e 6 de março, caso venha a defesa a renunciar ao direito 
de recorrer nos primeiros dias do prazo recursal, sendo essa renúncia 
homologada pelo juiz, não poderá, mais tarde, ainda que antes do dia 6, voltar 
atrás nessa providência e interpor o recurso, pois o prazo consumou-se, vale 
dizer, esgotou-se definitiva e antecipadamente. 
46 
 
 
Quem pode desistir do direito de recorrer e renunciar ao direito de interpor 
o recurso? 
 
O Ministério Público, por disposição legal expressa 
no art. 576 do CPP, não poderá desistir do recurso que haja interposto. Embora 
a lei seja omissa, entende-se que, se não lhe é facultado desistir de recursos, 
também não pode renunciar ao direito de fazê-lo, pois o fundamento é o mesmo: 
indisponibilidade da ação penal pública. 
 
A única forma de renúncia ao direito de recorrer que 
se permite ao Ministério Público é aquela que decorre do seu não exercício no 
prazo legal, pois, evidentemente, não está o promotor de justiça obrigado a 
recorrer em qualquer caso, podendo, perfeitamente, deixar de fazê-lo se estiver 
convencido do acerto da decisão judicial. 
 
No tocante ao querelante e ao assistente de 
acusação, que são acusadores particulares, possuindo os respectivos 
advogados procuração com poderes especiais para tanto, vigora o princípio da 
disponibilidade plena, razão pela qual nada obsta a que procedam à desistência 
de impugnações oportunamente interpostas ou à renúncia ao direito de 
promovê-las. 
 
Em relação à defesa, considera-se possível a 
desistência, condicionada esta a que não haja oposição do advogado e do 
próprio réu. Assim, se o advogado, mesmo que lhe tenha sido outorgada 
procuração com poderes especiais neste sentido, desistir do recurso interposto 
ou renunciar ao direito de recorrer, deverá o magistrado determinar a intimação 
pessoal do réu, fixando-lhe prazo para que se manifeste caso não concorde com 
o procedimento do defensor. Por outro lado, efetivada a desistência ou a 
renúncia pelo próprio réu, seu advogado deverá ser intimado quanto a esta 
atitude do acusado. 
 
47 
 
Na oposição de um ou outro, prevalecerá a vontade 
de quem deseja prosseguir ou intentar o recurso, até mesmo porque o tribunal, 
vedada a reformatio in pejus, não poderá agravar a situação do condenado 
diante de recurso exclusivo da defesa. A este propósito, vejam a Súmula 705 do 
STF: “a renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência 
do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta”. 
Embora se refira o enunciado à renúncia (fato impeditivo dos recursos), é clara 
a sua aplicação, igualmente, às hipóteses de desistência. 
 
Atenção: estas limitações quanto à desistência do 
recurso interposto ou à renúncia do direito de recorrer não significam, em 
absoluto, que exista, para qualquer dos envolvidos na relação processual, a 
obrigação de recorrer. Mesmo em relação à Defensoria Pública, o art. 18 da Lei 
Complementar 80/1994 (Lei Orgânica) estabelece como dever funcional “interpor 
recurso para qualquer grau de jurisdição e promover revisão criminal, quando 
cabível”. E se, mesmo cabível, for desidioso o advogado, deixando de recorrer, 
nem por isto se poderá falar na ocorrência de nulidade, tampouco cogitar de 
devolução do prazo recursal. 
 
Fosse o contrário, todo e qualquer processo em que 
se olvidasse de recorrer o advogado deveria ser tachado de nulo, situação esta 
que atenta contra a lógica e o bom senso. A propósito do tema, muito 
acertadamente diz Renato Brasileiro de Lima que, “mesmo nas hipóteses de 
atuação de defensor público ou dativo, prevalece o princípio da voluntariedade 
dos recursos, o que leva à conclusão de que a falta de interposição de apelo em 
ataque à decisão contrária aos interesses do acusado, por si só, não acarretaria 
nulidade”. 
 
1. EFEITOS DOS RECURSOS 
 
Efeito devolutivo 
 
48 
 
Todo recurso possui efeito devolutivo, significando 
que, com a sua apreciação, devolve-se ao Poder Judiciário, por intermédio do 
juízo ad quem, o poder de revisar a decisão proferida no juízo a quo. 
 
O professor Badaró vai nos dizer que, na realidade, 
temos um efeito atributivo, e não devolutivo, já que estamos atribuindo a matéria 
ao conhecimento do Tribunal, que dela aprecia pela primeira vez, e não, na 
literalidade, devolvendo. 
 
Ou, como prefere o argentino Eduardo Couture, não 
há propriamente revisão, mas envio para revisão. 
 
Entretanto, fato é que, caros, que prevalece a 
nomenclatura “devolutivo”. 
 
A extensão dessa devolução, porém, é questão que 
depende de quem seja o recorrente. Vejam: 
 
1. Recurso da acusação e a extensão da 
devolução: 
 
1.1 Extensão do efeito devolutivo visando agravar 
a situação jurídica do réu condenado: o recurso da acusação, seja do 
Ministério Público, do assistente de acusação ou do querelante, possui efeito 
devolutivo bastante limitado quando se trata de agravar a condição do réu 
condenado ou absolvido com imposição de medida de segurança. Por 
conseguinte, não pode o Segundo Grau, no julgamento desta espécie de 
insurgência, reconhecer contra o réu mais do que estiver expresso no recurso 
acusatório. 
 
Tanto é que a Súmula 160 do STF é explícita no 
sentido de que é nulo o acórdão que reconhece contra o réu nulidade não 
arguida no recurso da acusação, excetuados os casos de reexame necessário 
(nas hipóteses de reexame necessário, a devolução é sempre integral). 
49 
 
 
Não importa, inclusive, se a nulidade é absoluta ou 
relativa. Implicando o reconhecimento da nulidade em decisão contrária aos 
interesses do acusado (ex, pelo fato de ter sido ele absolvido) e não tendo sido 
a mácula invocada em recurso da acusação, veda-se à Segunda Instância 
declará-la de ofício. 
 
1.2 O efeito devolutivo do recurso da acusação em 
face da reformatio in mellius: Ocorre a reformatio in mellius quando o juízo ad 
quem, julgando recurso exclusivo da acusação para agravar a situação do réu 
condenado, atenua a pena, desclassifica a infração penal para outra menos 
grave ou o absolve da imputação pela qual condenado. 
 
Pois bem, embora exista posição doutrinária contrária 
à sua aplicação, na atualidade é consolidado o entendimento dos Tribunais no 
sentido de sua possibilidade, em face da inexistência de vedação legal. No STJ, 
tem-se decidido, reiteradamente, no sentido de que “é admitida a reformatio in 
mellius em sede de recurso exclusivo da acusação, sendo vedada somente 
a reformatio in pejus”. 
 
2. Recurso da defesa e a extensão da devolução: 
 
2.1 Extensão do efeito devolutivo visando 
beneficiar o réu condenado (absolvendo-o, reduzindo-lhe a pena, anulando 
o processo etc.): Neste caso, a devolução que se opera pelo recurso defensivo 
é, em regra, integral, podendo ser decididos em seu favor, no juízo ad quem, 
temas não enfrentados na impugnação. 
 
Mas atenção: o enfrentamento pelo órgão recursal 
de questões não abordadas no recurso defensivoconstitui uma faculdade e não 
uma obrigatoriedade. Enfim, embora possa fazê-lo, não está o tribunal obrigado 
à análise de todos os elementos, provas e teses incorporadas ao processo 
quando não suscitadas no recurso. 
 
50 
 
Isto ocorre porque o sistema recursal brasileiro é 
regido pelo princípio da dialeticidade, segundo o qual ao recorrente (seja 
acusação, seja defesa) assiste o ônus de demonstrar, com zelo e precisão, as 
razões de seu inconformismo, ou seja, os motivos pelos quais entende injusta e 
equivocada a decisão recorrida. 
 
Em termos práticos, isto significa que pode o juízo ad 
quem, simplesmente, deixar de conhecer de recursos genéricos, assim 
compreendidos aqueles que não se insurgem claramente contra os termos da 
decisão combatida, impedindo a outra parte de exercer o contraditório e 
desrespeitando, em consequência, o postulado do devido processo legal. 
 
Outra questão a que se deve atentar e que também 
ressalva o efeito devolutivo integral da apelação defensiva relaciona-se à 
Súmula 713 do STF, preceituando que “o efeito devolutivo da apelação contra 
decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição”. 
 
Assim, caso interposta a apelação com base no art. 
593, III, a, do CPP, não poderá o apelante, por ocasião das razões, ampliar a 
interposição para nela inserir o fundamento da alínea d. Note-se que o referido 
verbete do Excelso Pretório não distingue a condição do apelante – acusação ou 
defesa –, aplicando-se, pelo menos em tese, de forma universal no processo 
penal. 
 
2.2 O efeito devolutivo do recurso da defesa em 
face da reformatio in pejus: Por reformatio in pejus compreende-se o 
agravamento da situação jurídica do réu em face de recurso interposto 
exclusivamente pela defesa. Sobre este instituto, é necessário diferenciar duas 
situações – a reformatio in pejus direta e a reformatio in pejus indireta, ambas, 
em tese, igualmente proibidas: 
 
Reformatio in pejus direta: Corresponde ao 
agravamento da situação do réu pelo tribunal ao julgar recurso exclusivo da 
defesa. É sempre proibida, conforme se infere do art. 617, 2.ª parte, do CPP. 
51 
 
 
Exemplo: O réu, condenado a oito anos de reclusão, 
apela para ver-se absolvido ou para ter reduzida a sua pena. Por ocasião do 
julgamento da apelação, o Tribunal, mesmo não havendo recurso da acusação, 
indefere as pretensões da defesa e, ainda, aumenta a pena do réu para dez anos 
de reclusão. Este julgamento, obviamente, é nulo, pois agravou a pena imposta 
ao réu sem que tenha havido recurso do Ministério Público, importando 
em reformatio in pejus direta. 
 
Questão discutida é saber se a proibição à reformatio 
in pejus direta refere-se apenas ao total da pena fixada (pena definitiva) ou se 
alcança o quantum estabelecido em cada uma das etapas anteriores do cálculo 
da pena (pena-base e pena provisória). Para ilustrar, imagine-se que o réu tenha 
sido condenado pelo juiz singular pela prática de furto qualificado à pena de 3 
anos de reclusão nos seguintes termos: 
 
–Pena-base de 2 anos e 6 meses (aumento de 6 
meses sobre o mínimo legal, em face da culpabilidade, dos motivos 
determinantes e das consequências do crime); 
 
–Pena provisória de 3 anos (aumento de 6 meses 
sobre a pena-base em face da reincidência); 
 
–Pena definitiva de 3 anos, isto é, o 
mesmo quantum da pena-base por não existirem minorantes ou majorantes. 
 
Considere-se, porém, que, ao julgar apelação 
interposta exclusivamente pela defesa, buscando a redução da pena, constate o 
tribunal que não houve reincidência, eis que a condenação considerada pelo juiz 
na sentença deu-se em relação a fato praticado posteriormente ao furto 
qualificado em julgamento. Não obstante, entende o tribunal que tal 
circunstância, aliada aos diversos inquéritos policiais e ações penais que 
responde o agente, revela a sua personalidade deturpada, voltada à prática de 
52 
 
crimes contra o patrimônio, o que interfere nas circunstâncias judiciais que 
compõem a pena-base. Em razão disto, fixa a pena nos seguintes patamares: 
 
–Pena-base de 2 anos e 8 meses (aumento de 8 
meses sobre o mínimo legal em face das consequências do crime, dos motivos 
determinantes, das consequências do crime e da personalidade desfavorável); 
 
–Pena provisória de 2 anos e 8 meses, isto é, o 
próprio quantum da pena-base em face da ausência de agravantes ou 
atenuantes; 
 
–Pena definitiva de 2 anos e 8 meses, ou seja, o 
mesmo da pena provisória, por não existirem minorantes ou majorantes. 
 
Como se vê, no julgamento da apelação, a pena 
definitiva foi fixada em 2 anos e 8 meses, portanto inferior aos 3 anos que haviam 
sido fixados na sentença. Todavia, a par dessa redução final, percebe-se que 
houve, pelo tribunal, a elevação da pena em uma das etapas da dosimetria (a 
etapa da pena-base). E neste cenário é que se indaga: é possível tal 
exasperação? 
 
Ora, como se tratava de recurso exclusivo da defesa 
(o Ministério Público não recorreu visando ao aumento de pena), o professor 
Avena entende que não poderia o tribunal aumentar a pena-base. Cumpria-lhe, 
simplesmente, afastar a reincidência. 
 
Logo, mesmo reduzindo a pena final imposta ao 
agente, conforme parte da doutrina, o acórdão incorreu em reformatio in pejus, 
pois elevou a pena-base. Evidentemente, houvesse recurso interposto pelo 
Ministério Público visando ao aumento da pena imposta, não haveria óbice 
algum à elevação da reprimenda em qualquer das etapas do respectivo cálculo. 
 
Atenção, porém: a despeito deste entendimento, 
reiteramos que há impasse na jurisprudência. O próprio STJ, inclusive, já decidiu 
53 
 
a respeito do tema que, para fins de verificação acerca da ocorrência ou não 
de reformatio in pejus, deve-se levar em conta, como parâmetro de aplicação, 
o quantum final de pena fixada, o que implica em facultar ao juízo ad 
quem revisar os fundamentos que embasam da dosimetria penal em cada uma 
das fases do cálculo da pena que antecedem à sua estipulação definitiva. 
 
Outra situação: imagine-se a hipótese em que o juiz, 
ao condenar o réu pelo crime do art. 33 da Lei 11.343/2006 – tráfico de drogas 
–, tenha fixado a pena-base em 5 anos e 3 meses (acima do mínimo legal, 
portanto), fazendo-o por considerar, dentre as vetoriais do art. 59 do Código 
Penal, negativa a culpabilidade. 
 
Apelando ele ao Tribunal, compreende esse 
colegiado que a pena-base deve permanecer afastada do mínimo, mas não em 
face da culpabilidade e sim em razão da personalidade do agente. Ora, nesse 
caso, assim como no anterior, vislumbramos a ocorrência de reformatio in pejus, 
tendo em vista a negativação, pelo Tribunal, de vetor que, na sentença, havia 
sido considerado neutro pelo Juiz. 
 
Questão também relevante concerne à possibilidade 
de o Tribunal, no julgamento de recurso exclusivo da defesa, proceder, de ofício, 
em prejuízo do condenado, à correção de erro material existente na sentença 
condenatória. Não há esta possibilidade. A jurisprudência pátria é no sentido de 
que a correção ex officio de erro material na sentença condenatória, em prejuízo 
do condenado, a partir de recurso exclusivo da defesa, implica reformatio in 
pejus, sendo, portanto, inadmissível. 
 
Reformatio in pejus indireta: Ocorre na hipótese 
em que, anulada a sentença por força de recurso exclusivo da defesa, outra vem 
a ser prolatada, agora impondo pena superior, ou fixando regime mais rigoroso, 
ou condenando por crime mais grave, ou qualquer outra circunstância que a 
torne, de qualquer modo, mais gravosa ao acusado. 
 
54 
 
Exemplo: O réu, condenado a oito anos de reclusão, 
recorre invocando nulidade do processo. O Ministério Público não apela da 
decisão para aumentar a pena. Ao julgar o recurso, o tribunal acolhe o 
inconformismo da defesa e determina a renovação dos atos processuais na 
origem. Neste caso, não poderá a nova sentença, em tese,agravar a situação 
em que já se encontrava o réu (condenando-o a dez anos de prisão, por 
exemplo), sob pena de incorrer em reformatio in pejus indireta. 
 
Isso é o chamado efeito prodrômico da sentença 
penal condenatória inicialmente prolatada e que restou anulada, impedindo que 
recurso exclusivo da defesa resulte, mesmo que de forma indireta, no 
agravamento da situação jurídica do condenado. 
 
Mas cuidado: a despeito da regra que impede 
a reformatio in pejus indireta, duas questões, que por muito tempo flexibilizaram 
a proibição, precisam ser enfrentadas: a primeira refere-se aos julgamentos 
pelo júri e, a segunda, à nulidade decorrente da incompetência absoluta do 
juízo. 
 
Peculiaridade 1. Julgamentos pelo júri: Anulado o 
julgamento levado a efeito pelo Tribunal do Júri em face de apelação exclusiva 
da defesa (art. 593, III, a, do CPP), pode ocorrer, por exemplo, de, no novo 
julgamento, serem reconhecidas pelos jurados qualificadoras não aceitas no 
primeiro júri. Nessa hipótese, parte da jurisprudência sustenta que nada impede 
seja a pena fixada em patamar superior à anteriormente atribuída, o que se 
justifica na soberania dos veredictos do júri. 
 
Outros, ao contrário, entendem que, mesmo nesse 
caso, é inviável o agravamento da pena, sob o fundamento de que a estabilidade 
das relações jurídicas impede que o réu seja prejudicado a partir de recurso por 
ele interposto. 
 
Nos Tribunais Superiores, apesar de o tema não ser 
inteiramente pacificado, tem compreendido a maioria dos Ministros que, 
55 
 
efetivamente, não pode o acusado, na renovação do julgamento, ser condenado 
a pena maior do que a imposta na decisão anulada, ainda que com base em 
circunstância não reconhecida no julgamento anterior. 
 
Outro importante argumento aos que defendem a 
possibilidade de um agravamento da situação do agente submetido ao novo júri 
após anulado o primeiro júri, é que não há como impedir o novo Conselho de 
Sentença de conhecer todos os aspectos da acusação e da defesa e de 
pronunciar-se livremente sobre cada um deles, porque a vedação à reformatio 
in pejus decorre de preceito infraconstitucional (art. 617 do CPP), ao passo que 
a soberania do Tribunal do Júri assenta-se em norma incorporada à Constituição 
Federal (art. 5.º, XXXVIII). 
 
Logo, dentro dessa soberania, pode ocorrer que 
venham os jurados a agravar a situação jurídica do réu, daí decorrendo, como 
consectário lógico, o aumento da pena em relação ao júri anterior. É o caso, por 
exemplo, de reconhecerem os jurados, no segundo júri, a qualificadora da 
traição, que não foi admitida no primeiro. Nessa hipótese, não estaríamos diante 
de reformatio in pejus indireta, uma vez que a nova pena mais gravosa foi 
decorrência natural do referido reconhecimento. 
 
OBS.: independentemente da nova decisão do 
Conselho de Sentença, é certo que ficará proibido ao juiz responsável pela 
dosimetria da pena aumentá-la em relação à anteriormente fixada. 
 
Peculiaridade 2. Incompetência absoluta do juízo 
(ratione materiae e ratione personae): Por muito tempo, entendeu-se que a 
nulidade por incompetência absoluta do juízo era uma exceção admissível 
de reformatio in pejus indireta, pois a pena fixada por juízo absolutamente 
incompetente não poderia limitar a jurisdição do juízo competente. 
 
Entretanto, na atualidade, a orientação firmada nos 
tribunais é a de que não há como o Juiz competente impor ao réu uma nova 
sentença mais gravosa do que a anteriormente anulada, mesmo que esta 
56 
 
anulação tenha ocorrido em face de incompetência absoluta, sob pena 
de reformatio in pejus indireta. 
 
A título de exemplo, considere-se a seguinte hipótese: 
Determinado réu é condenado pela Justiça Militar a pena de três anos de 
reclusão. Não obstante, a partir de apelação exclusiva da defesa, referido 
processo é integralmente anulado, em face da incompetência absoluta do Juízo 
Militar (incompetência ratione materiae). Renovada a acusação na Justiça 
Comum, a nova sentença não poderá fixar pena superior a três anos, tendo em 
vista que este é o teto estabelecido por força da primeira condenação. Se o fizer, 
estará incidindo em reformatio in pejus indireta. 
 
Agora, outro caso: suponha-se que o réu tenha sido 
condenado na Justiça Federal à pena de cinco anos de reclusão e que, desta 
sentença, tenha apelado o Ministério Público, postulando o aumento da pena 
imposta, e também a defesa, alegando a nulidade do processo por 
incompetência absoluta do Juízo Federal. Considere-se que, ao deliberar sobre 
estes recursos, tenha o Tribunal reconhecido a incompetência absoluta da 
Justiça Federal, anulando o processo desde o seu início e, com isto, julgando 
prejudicado o recurso do Ministério Público. 
 
Nesta hipótese, renovado o processo na Justiça 
Estadual, poderá ser imposta na nova sentença pena superior aos cinco anos 
anteriormente fixados, sem que incorra em reformatio in pejus indireta. Isto 
porque, muito embora a anulação do processo tenha ocorrido a partir de recurso 
da defesa, tal recurso não foi exclusivo, havendo, também, recurso da 
acusação buscando aumento de pena. Destarte, não houve, para o réu, em 
nenhum momento, a segurança jurídica de que sua situação não poderia ser 
agravada. Em outras palavras, a pena não chegou a transitar em julgado para a 
acusação, podendo então a sentença proferida no novo processo estabelecer 
apenamento superior. 
 
Efeito suspensivo 
 
57 
 
Em determinadas situações, a interposição do 
recurso suspende a execução da decisão atacada. Diz-se, nestes casos, que o 
recurso possui efeito suspensivo. Em verdade, tudo depende do recurso e da 
hipótese concreta. Em alguns casos, a lei é explícita quanto à existência ou não 
deste efeito. 
 
Quando, porém, é silente, parte da doutrina entende 
que, por analogia à lei processual civil, deve-se interpretar como presente o 
efeito suspensivo. Outros, compreendem que a omissão legal importa na 
conclusão de que o recurso não suspende a decisão atacada, tanto que, em tais 
casos, para que se obtenha o efeito, é necessário pronunciamento judicial 
atribuindo-o ao recurso interposto. 
 
a) Exemplos de recursos que possuem efeito 
suspensivo: 
 
• Recurso em sentido estrito da decisão que julgar 
perdido o valor da fiança e daquela que denegar a apelação ou julgá-la deserta 
(art. 584, caput, do CPP); 
 
• Recurso em sentido estrito contra a decisão de 
pronúncia: este recurso suspenderá o julgamento pelo júri (art. 584, § 2.º, do 
CPP), muito embora não suspenda eventual prisão preventiva ou outra medida 
cautelar restritiva que tenha sido determinada naquela decisão; 
 
• Recurso em sentido estrito contra a decisão que 
julgar quebrado o valor da fiança: o recurso, aqui, suspenderá a perda da metade 
do valor da fiança paga (art. 584, § 3.º, do CPP), não suspendendo, entretanto, 
a prisão do agente ou a imposição, a ele, de outra medida cautelar diversa da 
prisão; 
 
• Apelação da sentença condenatória (art. 597 do 
CPP): esta apelação possui, em regra, efeito suspensivo, o que implica dizer 
que, salvo hipótese de decretação ou de manutenção da prisão preventiva por 
58 
 
ocasião da sentença condenatória, sua interposição contra a sentença 
condenatória impede a execução provisória da pena fixada. 
 
Diz-se “em regra” porque, de acordo com o § 4º do 
art. 492 do CPP, incluído pela L. 13.964/2019, “a apelação interposta contra 
decisão condenatória do Tribunal do Júri, quando fixada pena igual ou superior 
a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito suspensivo”, sem embargo da 
possibilidade de o tribunal competente para seu julgamento (Tribunal de Justiça 
ou Tribunal Regional Federal), em determinadas condições, ter a faculdade de 
atribuir tal efeito, consoante dispõe o § 5º, incisos I e II, daquele artigo. 
 
b) Exemplos de recursos que não possuem efeito 
suspensivo: 
 
• Hipótesesde recurso em sentido estrito não 
elencadas no art. 584, caput, e §§ 2.º e 3.º, do CPP; 
 
• Apelação da sentença absolutória (art. 596 do CPP); 
 
• Agravo em execução (art. 197 da Lei 7.210/1984); 
 
• Recursos especial e extraordinário (art. 321, § 4.º, 
do RISTF; art. 255, caput, do RISTJ e art. 1.029, § 5.º, do CPC/2015, este último 
utilizado por analogia em face da revogação expressa do art. 27, § 2.º, da Lei 
8.038/1990 pelo art. 1.072, IV, da Lei 13.105/2015). Sem embargo desta regra – 
a de que os recursos especial e extraordinário não possuem efeito suspensivo, 
deve-se atentar que podem eles produzir tal efeito, de forma indireta, nas 
hipóteses em que a lei condicionar a execução da decisão recorrida ao 
respectivo trânsito em julgado. 
 
É o que ocorre na hipótese de seus manejos contra 
acórdão penal condenatório, caso em que esses recursos, indiretamente, 
impedirão (suspenderão) a execução da pena. Diz-se indiretamente porque, 
nesse caso, a não execução da pena imposta não decorre de aspectos 
59 
 
relacionados a eventual efeito suspensivo dos recursos especial e extraordinário 
(que, como dissemos, não o possuem), mas, sim, da circunstância de que o art. 
283 do CPP, ressalvando as hipóteses de prisões cautelares (preventiva e 
temporária), condiciona a execução da pena privativa de liberdade ao trânsito 
em julgado da decisão. 
 
Ora, se há recursos especial e extraordinários 
interpostos e pendentes de julgamento, não se tem como operado o trânsito em 
julgado e, sem esse trânsito, a pena não pode ser executada, consoante, aliás, 
sedimentado pelo Plenário do STF no julgamento das famosas ADCs 43, 44 e 
54, ocorrido em 07.11.2019. 
 
Vejam, todos sabemos que o STF, no julgamento do 
Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 946.246/SP, em regime de 
repercussão geral, sob a Relatoria do Ministro Teori Zavascki, de 10.11.2016, 
fixou a tese seguinte: “a execução de provisória de acórdão penal condenatório 
proferido em grau recursal, ainda sujeito a recurso especial ou extraordinário, , 
não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência, afirmado 
no art. 5º, LVII, da CF”. 
 
Esta tese á completamente inaceitável, caros. A 
CRFB é literal ao dizer que o marco temporal para a flexibilização da presunção 
de inocência, garantia individual, é o trânsito em julgado! Assim, em matéria 
penal, a partir da matriz constitucional desenhada ao processo penal, é 
certo que os recursos especial e extraordinário gozam de efeito 
suspensivo. 
 
Por isso mesmo é que o próprio STF, revisitando o 
absurdo posicionamento, em 07/11/2019, voltou a reafirmar a aplicação da 
presunção de inocência até o trânsito em julgado da condenação penal (STF, 
ADC 43/DF e 44/DF, Relatoria Min. Marco Aurélio. 
 
 
60 
 
Questão relevante respeita à presença ou não do 
referido efeito suspensivo indireto na hipótese em que tiverem os recursos 
especial e extraordinário sido manejados contra a decisão de pronúncia. 
 
Exemplo: determinado indivíduo, denunciado por 
homicídio, após instrução do processo criminal é pronunciado pelo Juiz. Desta 
pronúncia, interpõe a defesa recurso no sentido estrito (art. 581, IV, do CPP). 
Julgado este recurso, a pronúncia é mantida pelo tribunal. Inconformada, deduz 
a defesa recurso especial para o STJ. 
 
Ora, pelas regras legais mencionadas, tal 
insurgência, que não possui efeito suspensivo previsto em lei, não deveria 
impedir o prosseguimento do processo, tampouco o julgamento pelo Júri. 
Ocorre, porém, que o art. 421 do CPP condiciona a realização desse julgamento 
à preclusão da pronúncia. 
 
Neste caso, pergunta-se: analisada a regra da 
ausência de efeito suspensivo nos recursos especial e extraordinário com a 
exigência de que esteja preclusa a pronúncia para que o processo tenha 
prosseguimento, será possível ou não, na hipótese ilustrada, a continuidade do 
rito e a consequente realização do julgamento pelo Júri antes do julgamento do 
recurso especial interposto? Há duas posições aqui: 
 
– Primeira: enquanto não for julgado o recurso 
especial e esgotadas todas as vias impugnativas possíveis, o processo 
permanecerá suspenso, não sendo encaminhado à deliberação dos jurados. 
Portanto, de forma indireta, o manejo do recurso especial, no exemplo, 
suspenderá (efeito suspensivo) a execução da decisão inicialmente atacada (a 
pronúncia). E o mesmo raciocínio teria lugar na hipótese de eventual recurso 
extraordinário, caso tivesse sido interposto no caso narrado. 
 
– Segunda: o art. 421 do CPP, ao condicionar o 
julgamento pelo júri à preclusão da pronúncia, refere-se, unicamente, aos 
recursos ordinários – recurso em sentido estrito interposto contra a pronúncia, 
61 
 
apelação interposta contra a impronúncia ou absolvição sumária, embargos 
infringentes e embargos declaratórios. 
 
Este, aliás, foi o entendimento do Ministro Gilmar 
Mendes ao julgar no Habeas Corpus 134.900/RS, quando, fazendo remissão a 
outro habeas corpus (HC 119.314), observou que “o art. 421 do Código de 
Processo Penal, no que condiciona a realização do Júri à preclusão da decisão 
de pronúncia, deve ser interpretado como significando o esgotamento dos 
recursos ordinários”. A posição, embora por maioria de votos, foi acolhida pela 
2.ª Turma do STF (j. 11.10.2016). 
 
Mais recentemente, tornou o Excelso Pretório a 
reafirmar essa orientação, deliberando que “a legislação processual não prevê 
efeito suspensivo a recurso especial (artigos 421 e 637 do CPP), e, portanto, a 
preclusão a que se refere o art. 421 do CPP diz respeito apenas às decisões 
com recursos previstos para as instâncias ordinárias, razão pela qual a 
pendência de recursos de natureza extraordinária não impede a realização do 
júri” (HC 129694 Agr/SP, 1.ª Turma, DJ 16.10.2018). Aplicando-se esta 
orientação ao exemplo, tem-se que a interposição do recurso especial não 
impedirá o prosseguimento do processo e a submissão do réu a julgamento pelo 
Tribunal do Júri. 
 
Outra situação em que o recurso especial (art. 
255, caput, do RISTJ) possui efeito suspensivo ocorre quando interposto da 
decisão que julgar o mérito de incidente de resolução de demandas repetitivas. 
Idêntico regramento pode ser aplicado ao recurso extraordinário, por força da 
disciplina trazida aos arts. 1.029 e 1.036 a 1.041, todos do CPC/2015. 
 
Efeito regressivo 
 
Presente em alguns recursos, o efeito regressivo é 
aquele que permite ao prolator da decisão impugnada dela retratar-se antes do 
encaminhamento da insurgência ao juízo ad quem. 
 
62 
 
Entre os recursos criminais ordinários, possuem este 
efeito o recurso em sentido estrito (art. 589 do CPP), a carta 
testemunhável (art. 643 do CPP) e o agravo em execução (este porque, 
segundo a doutrina e jurisprudência consolidadas, segue o rito do primeiro). 
 
Ainda, poderão estar sujeitos ao efeito regressivo 
os recursos extraordinário e especial, consoante regramento dos arts. 1.040, 
II, e 1.041, caput e § 1.º, do CPC/2015. Embora os dispositivos mencionados 
integrem a lei processual cível, é inequívoca a sua aplicação também à esfera 
penal, já que têm por objetivo reduzir a “sobrecarga” de serviço nos Tribunais 
Superiores. Perceba-se que tanto no recurso extraordinário quanto no especial 
o efeito regressivo não estará presente em qualquer situação, mas tão somente 
em hipóteses de múltiplos recursos repetitivos em relação à mesma 
controvérsia. 
 
Nesses casos, conforme prevê o art. 1.036, § 1.º, do 
CPC/2015, caberá ao Tribunal de origem escolher dois ou mais entre os vários 
recursos interpostos e submetê-los ao crivo do Tribunal Superior respectivo, 
sobrestando o andamento dos demais. 
 
Caso o STF ou o STJ, conhecendo dos recursos 
representativos, dar-lhes provimento, deverá o Tribunal de origem reapreciar os 
acórdãos que geraram os recursos que estão sobrestados. Neste momento, 
poderá manter a decisãooriginal (caso em que os recursos suspensos terão 
examinada sua admissibilidade e, se presentes os requisitos, serão 
encaminhados ao STF ou STJ, conforme o caso) ou dela se retratar (hipótese 
na qual os recursos sobrestados serão considerados automaticamente 
inadmitidos, nos termos dos mencionados arts. 1.040, II, e 1.041, caput e § 1.º, 
do CPC/2015). 
 
Efeito translativo 
 
Consiste na devolução ao órgão ad quem de toda a 
matéria não atingida pela preclusão. Em outras palavras, possui efeito translativo 
63 
 
o recurso que, uma vez interposto, confere ao tribunal julgador o poder de decidir 
qualquer matéria, em favor ou contra qualquer das partes. 
 
Possui esse efeito, por exemplo, o recurso ex officio, 
pois este viabiliza ao tribunal competente decidir tanto em prol da acusação 
como da defesa, sem estar atrelado aos limites impostos pela proibição 
da reformatio in pejus. 
Para melhor ilustrar, considerem-se as seguintes 
hipóteses: 
 
a) Diante de sentença condenatória a pena de 
oito anos de reclusão por um crime de roubo, 
insurge-se a defesa postulando a absolvição e, 
como teses sucessivas, a anulação do 
processo e a redução da pena imposta. A 
acusação, por sua vez, não recorre. Neste caso, 
ao julgar o apelo defensivo, não poderá o Tribunal, 
por exemplo, aumentar a pena imposta. Isso 
porque o recurso da defesa não devolve ao 
Tribunal o conhecimento de toda a matéria 
discutida nos autos, mas unicamente a faculdade 
de decidir em favor do réu ou de manter a decisão 
recorrida. Aumentar a pena imposta 
implicaria reformatio in pejus, o que é 
expressamente vedado pelo art. 617 do CPP. 
Conclui-se, então, que o recurso da defesa não 
possui efeito translativo. 
 
b) Diante de sentença que absolve o réu de crime 
de furto, recorre o Ministério Público 
postulando apenas a condenação do réu, sem 
mencionar a ocorrência de nulidade absoluta 
havida no curso do processo e que causou 
grave prejuízo à acusação. Nesta hipótese, o 
64 
 
Tribunal, ao julgar o recurso acusatório, estará 
restrito, no aspecto que contrariar os interesses do 
réu, ao pedido realizado pelo promotor: a 
condenação. Assim, ou condena o réu ou deixa-o 
absolvido, não podendo reconhecer, 
oficiosamente, a nulidade não arguida pela 
acusação, ainda que ela seja absoluta, em face 
dos termos da Súmula 160 do STF. Portanto, 
também o recurso da acusação não possui efeito 
translativo. 
 
c) Ao sentenciar processo por crime contra 
economia popular, decide o juiz por absolver o 
réu. Desta decisão não recorre o Ministério 
Público. Tendo em vista que se trata de 
decisão sujeita a reexame necessário (art. 7.º 
da Lei 1.521/1951), o juiz, ex officio, determina o 
seu encaminhamento ao Tribunal de Justiça, 
para confirmação ou reforma. Neste caso, por 
ocasião do julgamento do recurso de ofício, 
poderá o Tribunal tanto manter a decisão 
absolutória como reformá-la e, em consequência, 
condenar o réu. Poderá, também, reconhecer 
nulidades, mesmo que isso venha contra os 
interesses do réu, conforme autoriza a Súmula 
160 do STF, in fine. Depreende-se daí que o 
recurso ex officio possui efeito translativo, pois 
devolve ao Tribunal o poder de manifestar-se 
sobre qualquer matéria, não levando em conta se 
isto importa em beneficiar a acusação ou a defesa. 
 
POLÊMICA DOUTRINÁRIA: 
65 
 
A QUESTÃO DA VOLUNTARIEDADE E O 
REEXAME NECESSÁRIO (RECURSO EX 
OFFICIO) 
 
O art. 574 do CPP estabelece a voluntariedade como 
regra geral dos recursos. Isto significa que a decisão judicial, uma vez prolatada, 
poderá ser revista apenas quando a parte sucumbente tomar a iniciativa de 
recorrer. Essa regra, porém, não é absoluta, encontrando exceção no próprio 
texto do artigo mencionado, o qual prevê situações de reexame necessário, 
vale dizer, hipóteses nas quais, ainda que não haja o recurso voluntário, 
obrigatoriamente deverá a decisão ser encaminhada pelo juiz prolator ao tribunal 
competente para a revisão. 
 
O recurso ex officio fundamenta-se na presunção de 
que determinadas decisões, expressamente previstas, pela sua natureza, 
causam prejuízo potencial à sociedade, impondo-se, pois, a submissão 
obrigatória ao duplo grau de jurisdição como condição para que transitem em 
julgado (ex vi da Súmula 423 do STF). 
 
Note-se que o cabimento do reexame necessário 
justifica-se, apenas, contra decisões de juiz singular, não sendo possível contra 
decisões colegiadas (câmaras, turmas), ainda que em processos de 
competência originária dos tribunais. 
 
Constitucionalidade do reexame necessário 
 
Embora minoritária, existe posição contrária ao 
recurso de ofício, sob o argumento da inconstitucionalidade dessa 
providência, já que, em primeiro lugar, importaria em deslocar o magistrado de 
sua inércia natural e, em segundo, porque o próprio art. 129, I, da Constituição 
Federal teria banido o reexame necessário do ordenamento jurídico brasileiro ao 
estabelecer o Ministério Público como titular da ação penal pública. 
 
66 
 
Ainda, o recurso de ofício não teria sido recepcionado 
pela ordem constitucional por violação à imparcialidade do órgão julgador, pelo 
que incumbe ao juízo tão somente aguardar a preclusão temporal da decisão 
mencionada no 574 do CPP. Defendentes desta corrente temos os professores 
André Nicolitt, Aury Lopes Jr., Badaró e Alexandre Rosa. 
 
A doutrina prevalente discorda desse entendimento, 
pois o reexame necessário não se constitui, propriamente, em um recurso na 
acepção legal do termo, mas sim em uma providência acauteladora, aquilo que 
denominam “condição de eficácia da sentença”, prevista na lei para que 
determinadas decisões, potencialmente prejudiciais aos legítimos interesses da 
sociedade, sejam revistas pelos tribunais. Além disso, essa medida não importa 
em violação à imparcialidade do juiz, sustenta esta corrente, já que este, ao 
submeter uma decisão sua ao 2.º Grau, não está agindo voluntariamente contra 
os interesses do investigado ou acusado, mas, simplesmente, cumprindo 
expressa disposição legal que assim determina. 
 
Dizem os professores Antônio Scarance Fernandes e 
Mirabete que não há, nas hipóteses legais de recurso de ofício, nova acusação 
ou, mesmo, alteração daquela originariamente oferecida pelo Ministério Público 
na denúncia, pois o reexame necessário pelo tribunal, assim como ocorre com o 
recurso voluntário, somente instaura uma nova fase procedimental e não outro 
processo. Fosse, aliás, inconstitucional o reexame necessário, o próprio 
Supremo Tribunal Federal, a quem compete zelar pela aplicação da Constituição 
Federal, teria revogado as Súmulas 160 e 423, que a ele fazem referência. No 
mesmo sentido – da constitucionalidade – é, também, a posição dominante 
nos Tribunais Superiores. 
 
Previsões legais de reexame necessário 
 
Três são as hipóteses nas quais está previsto 
o reexame necessário na sistemática do Código de Processo Penal: 
 
67 
 
• Decisão concessiva de habeas corpus (art. 574, 
I): Embora se trate de orientação minoritária, parte da doutrina considera 
prejudicada esta modalidade de recurso de ofício, sob o argumento de que este 
se justificava apenas à época da edição do Código, quando se entendia não ser 
facultado ao Ministério Público recorrer dessa espécie de decisão. Neste sentido, 
Ada Pellegrini Grinover e Guilherme de Souza Nucci. Na esteira do entendimento 
do STJ (RHC 17.143/SC, j. 17.12.2007), temos a rejeição desta posição. Logo, 
prevalece que ainda está em vigor o reexame necessário contra a decisão que 
conceder o habeas corpus. 
 
• Decisão que absolve sumariamente o réu nos 
termos do art. 411 (art. 574, II): Esta modalidade de recurso oficial 
está revogada, pois o art. 574, II, do CPP, que o contempla, é específico em 
relação aos casos do art. 411. Ocorre que tal dispositivo não mais se refere à 
absolvição sumária, que, agora, está prevista no art.415. Além disso, o precitado 
art. 411, antecipando-se ao art. 574, II, mencionava o reexame obrigatório da 
decisão que absolvesse sumariamente o réu, referência esta que não se repetiu 
no atual regramento do art. 415. 
 
• Decisão que defere a reabilitação criminal (art. 
746): Nesta hipótese, inexistem controvérsias, sendo aceito o reexame 
necessário em relação à concessão da reabilitação: “O art. 746 do CPP, porque 
é norma de aplicação pelo juízo da condenação, não foi revogado pela Lei de 
Execuções Penais, subsistindo, pois, o recurso de ofício da sentença concessiva 
de reabilitação (STJ, REsp 157415/SP, DJ 13.10.1998)”. 
 
Além das previsões existentes no âmbito do Código 
de Processo Penal (concessão do habeas corpus, absolvição sumária e 
deferimento de reabilitação criminal), o reexame necessário também está 
contemplado na legislação especial, nas seguintes hipóteses: 
 
• Decisão judicial que ordena, a pedido do 
Ministério Público, o arquivamento de inquérito policial que tenha 
68 
 
investigado crimes contra economia popular ou saúde pública (art. 7.º da 
Lei 1.521/1951). 
 
• Sentença absolutória em processo criminal que 
tenha apurado crimes contra economia popular ou saúde pública (art. 7.º 
da Lei 1.521/1951). 
 
• Sentença que conceder a segurança (art. 14, § 
1.º, da Lei 12.016/2009): Trata-se de hipótese prevista na Lei 12.016/2009, 
reproduzindo a regra existente no art. 12, parágrafo único, da revogada Lei 
1.533/1951. 
 
No entender de Nucci, dois outros casos também 
ensejariam reexame necessário: o indeferimento liminar da revisão criminal pelo 
relator a que distribuída no órgão competente para seu julgamento (art. 625, § 
3.º); e o indeferimento liminar da petição de habeas corpus pelo Presidente do 
Tribunal (art. 663). 
 
A doutrina diverge. Prevalece que referidos casos não 
ensejam reexame necessário. É que ambas as hipóteses citadas tratam de 
decisões desfavoráveis ao acusado e, por isso mesmo, incompatíveis com o 
motivo que conduziu o legislador ao estabelecimento de casos de revisão 
obrigatória da decisão judicial, qual seja a presunção de prejuízo à sociedade 
gerada por determinadas decisões. 
 
Vejam, na hipótese do art. 625, § 3.º, do CPP, a 
expressão “dando recurso” deve ser considerada não como um recurso de ofício, 
mas, sim, como um “facultando recurso” a um Órgão Superior Colegiado, o qual 
deverá ser o agravo interno (também chamado de agravo regimental) previsto 
no art. 39 da Lei 8.038/1990 e no art. 1.021 do CPC/2015. E idêntica situação 
ocorre em relação ao art. 663, possibilitando este ao Presidente do Tribunal (ou 
ao Relator, ou à autoridade judiciária competente, segundo dispuser o 
Regimento Interno) entender no sentido do indeferimento liminar da petição 
de habeas corpus, decisão esta igualmente agravável. 
69 
 
 
Coexistência do recurso de ofício com o recurso 
voluntário: 
 
Nas hipóteses previstas em lei, a revisão da decisão 
pela segunda instância em razão do recurso de ofício é obrigatória, ainda que 
tenha a parte, voluntariamente, interposto seu próprio recurso. 
 
Isto ocorre pelo fato de que o reexame necessário 
devolve ao tribunal o conhecimento integral da matéria discutida no processo, ao 
contrário do que ocorre com o recurso da acusação, cuja devolução, no aspecto 
que visa piorar a situação do réu, é limitada às questões versadas na 
interposição. 
 
Esta amplitude que se confere ao recurso de ofício é 
adotada pelo Supremo Tribunal Federal, implicitamente, na Súmula 160, 
sendo proibido ao Tribunal reconhecer contra o réu nulidades, ainda que 
absolutas, não arguidas no recurso da acusação, salvo nos casos de recurso de 
ofício. 
 
Ora, se em casos de reexame necessário é lícito ao 
Tribunal declarar, mesmo em prejuízo do réu, nulidades não arguidas em recurso 
do Ministério Público, é intuitivo que o recurso de ofício é obrigatório nas 
situações em que a lei o estabelece, não ficando prejudicado pelo ingresso do 
recurso voluntário. Por isso, segundo o professor Avena, absolutamente 
equivocada a prática adotada por muitos juízes quando, diante de situação que 
enseja reexame necessário, expressam em suas decisões que, “não havendo 
recurso voluntário, subam os autos de ofício ao tribunal”. 
 
Para melhor ilustrar, considerem-se as seguintes 
situações, ambas com interposição de recurso voluntário pelo sucumbente: 
 
Hipótese “A”: Acusado de crime de roubo é absolvido 
pelo juiz singular. Inconformado, recorre o Ministério Público sem arguir uma 
70 
 
determinada nulidade absoluta que tenha ocorrido no curso do processo. Pela 
vedação imposta na Súmula 160 do STF, não poderá o Tribunal, julgando a 
apelação, declarar a nulidade do processo, pois, não se tratando de hipótese de 
reexame necessário, estaria reconhecendo contra o réu (que está absolvido) 
vício que não foi alegado na impugnação ministerial. 
 
Hipótese “B”: Considere-se, agora, que outro réu, a 
quem se atribui a prática de crime contra a economia popular, vem, igualmente, 
a ser absolvido pelo magistrado. Irresignado, também aqui recorre o Ministério 
Público, requerendo, unicamente, a condenação do acusado e nada aduzindo 
quanto à nulidade absoluta ocorrida no curso da instrução. Nesse caso, 
considerando tratar-se de hipótese de recurso de ofício (art. 7.º da Lei 
1.521/1951), poderá o Tribunal declarar a nulidade, ainda que esta não tenha 
sido levantada pelo Ministério Público. É que, em decorrência do reexame 
necessário, terá ocorrido a devolução integral da matéria ao Tribunal, que 
poderá, mesmo contra o réu, decidir questões não versadas no recurso 
ministerial. 
 
Assim, caros, encerramos a teoria geral dos recursos. 
 
 
2. RECURSOS EM ESPÉCIE: 
 
1. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO: 
 
O recurso em sentido estrito está destinado a 
impugnar determinadas decisões interlocutórias proferidas ao longo do processo 
penal, sendo uma figura desconhecida no direito comparado especialmente no 
que tange à peculiar designação. Inclusive, se aprovado o Projeto de Lei n. 
4.206/2001, o recurso em sentido estrito será substituído pela figura do agravo, 
que poderá ser retido ou de instrumento. 
 
Quanto à adequação, vista como a compatibilidade 
entre a decisão proferida e a impugnação eleita pela parte, o recurso em 
71 
 
sentido estrito somente pode ser interposto nos casos taxativamente 
previstos no art. 581 do CPP, ou, excepcionalmente, em leis especiais. Na 
sistemática do CPP, o recurso em sentido estrito está limitado à impugnação das 
decisões previstas no art. 581, não se admitindo em outros casos, até porque a 
apelação do art. 593, II, é residual ao prever que caberá apelação das 
“decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz 
singular nos casos não previstos no Capítulo anterior”, ou seja, nos casos 
em que não couber recurso em sentido estrito. 
 
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da 
decisão, despacho ou sentença: 
 
Explicação: O recurso em sentido estrito é, por 
excelência, um meio de impugnação das decisões interlocutórias, ou seja, das 
“decisões”, cabendo excepcionalmente em relação às “sentenças” (como a que 
concede ou denega o habeas corpus). Contudo, é absolutamente inadequada a 
expressão despacho, contida no caput do art. 581, na medida em que os 
despachos são irrecorríveis. 
 
I – que não receber a denúncia ou a queixa; 
 
Explicação: A decisão que recebe a denúncia ou 
queixa é, como regra, irrecorrível (mas cabe habeas corpus, como se verá), mas 
diferente é a situação da decisão que “não receber” a denúncia ou queixa. Melhor 
teria andado o legislador se tivesse estabelecido a seguinte redação para esse 
inciso: “que rejeitar a denúncia ou queixa”; 
 
Assim, caberá recurso em sentido estrito da decisão 
que rejeitar a denúncia ou queixa, nos termos do art. 395 do CPP, ou seja, 
quando a denúncia ou queixa: 
 
I –for manifestamente inepta; 
II – faltar pressuposto processual ou condição para o 
exercício da ação penal; ou 
72 
 
III – faltar justa causa para o exercício da ação penal. 
 
II – que concluir pela incompetência do juízo; 
 
Explicação: A decisão que concluir pela 
incompetência do juízo, proferida pelo próprio juiz, exceto nos autos da exceção 
de incompetência, ou mesmo a qualquer momento do procedimento, pelo juiz, 
de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, será recorrível em sentido 
estrito (veja-se o disposto nos arts. 108 e 109 do CPP). Contudo, quando a 
decisão for proferida nos autos da exceção de incompetência, o fundamento 
legal do recurso em sentido estrito é o (próximo) inciso III, e não o presente. 
 
Também adequado o recurso em sentido estrito, 
fundado nesse inciso, para impugnar a decisão de desclassificação, proferida na 
primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri, pelo juiz presidente. Trata-se 
de uma decisão que indiretamente conclui pela “incompetência do júri”, 
subtraindo a matéria do seu julgamento. Cabível, assim, o recurso em sentido 
estrito. 
 
III – que julgar procedentes as exceções, salvo a de 
suspeição; 
 
Explicação: Caso algumas das exceções abaixo 
sejam julgadas procedentes, é cabível o Recurso em Sentido Estrito, exceto, 
como expressamente prevê o inciso, a de suspeição (que será irrecorrível). 
Lembrando que estamos tratando de decisões de primeiro grau e não de 
exceções opostas junto ao Tribunal de Justiça; 
 
Art. 95. Poderão ser opostas as exceções de: 
I - suspeição; 
II - incompetência de juízo; 
III - litispendência; 
IV - ilegitimidade de parte; 
V - coisa julgada. 
73 
 
 
IV – que pronunciar o réu; 
 
Explicação: Até a reforma de 2008, o recurso em 
sentido estrito era utilizado para impugnar as decisões de pronúncia, 
impronúncia e absolvição sumária. Após o advento da Lei n. 11.689/2008, caberá 
recurso em sentido estrito apenas da decisão de pronúncia, proferida nos termos 
do art. 413 do CPP, isto é, quando o juiz admite a acusação porque convencido 
da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria, 
encaminhando o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri. 
 
Já a decisão de impronúncia (art. 414 do CPP) é 
terminativa, encerrando o processo sem julgamento de mérito e impugnável pela 
via da apelação, art. 593, II, do CPP. 
 
A absolvição sumária (art. 415 do CPP) deixou, com 
a reforma de 2008, de ser impugnável pelo recurso em sentido estrito, estando 
revogado o inciso VI do art. 581 que a previa no rol de casos em que poderia ser 
utilizado esse recurso. E andou bem o legislador, pois a absolvição sumária 
é uma verdadeira sentença, com análise de mérito, e que inadequadamente 
estava sendo tratada como interlocutória mista. Com isso, passou a ser 
impugnada pela via da apelação. 
 
V – que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar 
inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão 
preventiva ou revogá-la, conceder liberdade 
provisória ou relaxar a prisão em flagrante; 
 
Explicação: Trata-se, em todas as situações 
dispostas no inciso, de decisões interlocutórias simples, proferidas pelo juiz de 
primeiro grau, ao decidir sobre o status libertatis do imputado. A Lei n. 12.403 
revigorou o instituto da fiança, agora com amplo espaço de utilização e plena 
aplicabilidade prática. 
 
74 
 
Em geral, essa via de impugnação tem sido utilizada 
pelo Ministério Público para atacar a decisão que denega o pedido de prisão 
preventiva, revoga, concede liberdade provisória ou relaxa a prisão em flagrante. 
 
Para a defesa, as decisões que negam, cassam ou 
julgam inidônea a fiança, em geral, são atacadas por habeas corpus, não apenas 
porque costumam implicar na prisão cautelar do acusado, mas principalmente 
pela celeridade e a possibilidade de concessão de medida liminar que somente 
o habeas corpus possui. 
 
VI – que absolver o réu, nos casos do art. 411; 
 
VII – que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu 
valor; 
 
Explicação: A decisão proferida pelo juiz de primeiro 
grau que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor é impugnável pelo 
recurso em sentido estrito, ainda que, na prática, a via do habeas corpus seja a 
escolhida, pois mais célere e eficaz. 
 
Hipóteses de quebra de fiança: 
 
Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o 
afiançado a comparecer perante a autoridade, todas 
as vezes que for intimado para atos do inquérito e da 
instrução criminal e para o julgamento. Quando o réu 
não comparecer, a fiança será havida como 
quebrada. 
 
Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o 
acusado: 
I - regularmente intimado para ato do processo, deixar 
de comparecer, sem motivo justo; 
II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao 
75 
 
andamento do processo; 
III - descumprir medida cautelar imposta 
cumulativamente com a fiança; 
IV - resistir injustificadamente a ordem judicial; 
V - praticar nova infração penal dolosa. 
 
Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o 
valor da fiança, se, condenado, o acusado não se 
apresentar para o início do cumprimento da pena 
definitivamente imposta. 
 
VIII – que decretar a prescrição ou julgar, por outro 
modo, extinta a punibilidade; 
 
Explicação: Trata-se de verdadeira decisão 
declaratória de extinção da punibilidade, cujos casos de ocorrência estão 
previstos no art. 107 do Código Penal (e também em leis esparsas). Como regra, 
esse recurso será utilizado pelo Ministério Público ou pelo assistente da 
acusação, pois considera-se que não há, para a defesa, um gravame (interesse) 
que legitime sua utilização. 
 
A absolvição sumária do art. 397 do CPP merece 
uma análise em separado, pois, como regra, é atacável pelo recurso de 
apelação, previsto no art. 593, I, do CPP. Contudo, há uma importante 
ressalva: a decisão que “absolve sumariamente” por estar extinta a 
punibilidade é impugnável pela via do Recurso em Sentido Estrito, art. 581, 
VIII, do CPP. 
 
IX – que indeferir o pedido de reconhecimento da 
prescrição ou de outra causa extintiva da 
punibilidade; 
 
Explicação: É uma situação oposta à anterior, na 
medida em que, geralmente, é a defesa que postula o reconhecimento da 
76 
 
prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade, que não é reconhecida 
pelo juiz de primeiro grau. Dessa decisão, é o recurso em sentido estrito o meio 
adequado para a impugnação. 
 
X – que conceder ou negar a ordem de habeas 
corpus; 
 
Explicação: Compreenda-se que, nesse caso, o 
habeas corpus foi impetrado em primeiro grau, geralmente para atacar ato coator 
emanado de autoridade policial (mas outros casos são possíveis, como se 
explicará na continuação, quando abordarmos o writ), e foi concedido ou negado. 
No primeiro caso, caberá ao Ministério Público manejar o recurso em sentido 
estrito, pois único interessado na reforma da decisão. 
 
Já na denegação da ordem, poderá o interessado 
recorrer em sentido estrito ou, o que normalmente se faz, impetrar novo habeas 
corpus, agora para o órgão de segundo grau competente, tendo por base o ato 
coator emanado do juiz a quo. 
 
XI – que conceder, negar ou revogar a suspensão 
condicional da pena; 
 
Explicação: Perdeu a eficácia, já que se decretada 
em decisão condenatória, é cabível Apelação e na execução penal, é cabível 
agravo em execução; 
 
XII – que conceder, negar ou revogar livramento 
condicional; 
 
Explicação: Substituída pelo agravo em execução; 
 
XIII – que anular o processo da instrução criminal, no 
todo ou em parte; 
 
77 
 
Explicação: cabe para defeito insanável, quando não 
havendo nada mais a ser feito para restabelecer a regularidade do processo, 
sendo a decretação da nulidade, com a respectiva ineficácia e o 
desentranhamento das peças, o único caminho possível. 
 
A mera constatação da prática de um ato defeituoso, 
com a determinaçãode repetição – saneamento –, não é passível de recurso em 
sentido estrito. 
 
Por outro lado, é irrecorrível a decisão que não acolhe 
o pedido de decretação da nulidade ou mesmo de repetição do ato defeituoso. 
 
Nestes casos, duas opções se abrem ao interessado: 
 
a) buscar, pela via do habeas corpus, o 
reconhecimento da nulidade pretendida no tribunal ad quem; 
 
b) alegá-la, novamente, em sede de debates orais (ou 
memoriais) e, em caso de não acolhimento na sentença, suscitar a questão em 
preliminar do recurso de apelação. 
 
XIV – que incluir jurado na lista geral ou desta o 
excluir; 
 
O alistamento dos jurados está previsto nos arts. 425 
e 426 do CPP, sendo que a lista geral será publicada pela imprensa até o dia 10 
de outubro de cada ano, e poderá ser alterada de ofício ou mediante reclamação 
de qualquer do povo ao juiz presidente até o dia 10 de novembro; 
 
XV – que denegar a apelação ou a julgar deserta; 
 
a) Decisão que denegar a apelação: nesse caso, o 
juiz a quo não permitiu que a apelação subisse para o tribunal, ou seja, no juízo 
de admissibilidade feito em primeiro grau, entendeu o juiz ser a apelação 
78 
 
descabida, inadequada, intempestiva, haver ilegitimidade da parte recorrente ou 
inexistir gravame. 
 
b) Decisão que julgar deserta a apelação: com a 
revogação do art. 595 do CPP, a deserção ficou restrita a ausência de preparo 
(pagamento das custas recursais). 
 
XVI – que ordenar a suspensão do processo, em 
virtude de questão prejudicial; 
 
Explicação: aqui, a explicação remete para a leitura 
da norma: 
 
Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração 
depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o 
estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo 
cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem 
prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de 
natureza urgente. 
 
Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o 
Ministério Público, quando necessário, promoverá a ação civil ou prosseguirá na 
que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados. 
 
Art. 93. Se o reconhecimento da existência da 
infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo 
anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação 
para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil 
solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso 
do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas 
de natureza urgente. 
 
§ 1o O juiz marcará o prazo da suspensão, que 
poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora não for imputável à parte. 
79 
 
Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal 
fará prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver, de fato e 
de direito, toda a matéria da acusação ou da defesa. 
 
§ 2o Do despacho que denegar a suspensão não 
caberá recurso. 
 
§ 3o Suspenso o processo, e tratando-se de crime de 
ação pública, incumbirá ao Ministério Público intervir imediatamente na causa 
cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento. 
 
Art. 94. A suspensão do curso da ação penal, nos 
casos dos artigos anteriores, será decretada pelo juiz, de ofício ou a 
requerimento das partes. 
 
XVII – que decidir sobre a unificação de penas; 
 
Explicação: Substituído pelo agravo em execução; 
 
XVIII – que decidir o incidente de falsidade; 
 
Art. 145. Argüida, por escrito, a falsidade de 
documento constante dos autos, o juiz observará o seguinte processo: 
I - mandará autuar em apartado a impugnação, e em 
seguida ouvirá a parte contrária, que, no prazo de 48 horas, oferecerá resposta; 
II - assinará o prazo de três dias, sucessivamente, a 
cada uma das partes, para prova de suas alegações; 
III - conclusos os autos, poderá ordenar as diligências 
que entender necessárias; 
IV - se reconhecida a falsidade por decisão 
irrecorrível, mandará desentranhar o documento e remetê-lo, com os autos do 
processo incidente, ao Ministério Público. 
Art. 146. A argüição de falsidade, feita por 
procurador, exige poderes especiais. 
80 
 
Art. 147. O juiz poderá, de ofício, proceder à 
verificação da falsidade. 
Art. 148. Qualquer que seja a decisão, não fará coisa 
julgada em prejuízo de ulterior processo penal ou civil. 
 
XIX – que decretar medida de segurança, depois de 
transitar a sentença em julgado; 
XX – que impuser medida de segurança por 
transgressão de outra; 
XXI – que mantiver ou substituir a medida de 
segurança, nos casos 
do art. 774; 
XXII – que revogar a medida de segurança; 
XXIII – que deixar de revogar a medida de segurança, 
nos casos em que a lei admita a revogação; 
XXIV – que converter a multa em detenção ou em 
prisão simples. 
 
Explicação: Substituídos pelo agravo em execução. 
 
XXV – que recusar homologação à proposta de 
acordo de não persecução penal, previsto no art. 28-
A. 
 
Explicação: A situação passível de recurso, tanto por 
parte do Ministério Público como também da defesa é aquele que recusa a 
homologação de um acordo de não persecução penal firmado pelas partes e 
submetida ao controle judicial de legalidade para homologação. 
 
Prazo e forma de interposição 
 
Como regra geral, o RESE deverá ser interposto 
no prazo de cinco dias (art. 586 do CPP). Esse prazo, entretanto, é ressalvado 
em duas situações: 
81 
 
 
•Hipótese do art. 581, XIV: Refere-se ao recurso da 
lista geral de jurados, que deverá ser protocolado no prazo de 20 dias, contados 
da publicação da lista definitiva (art. 586, parágrafo único); 
 
•Recurso do assistente de acusação não previamente 
habilitado em relação à extinção da punibilidade do réu, a ser deduzido no prazo 
de 15 dias, contados a partir do final do prazo do Ministério Público (art. 584, § 
1.º, c/c o art. 598, parágrafo único). 
 
Quanto à forma, o recurso poderá ser interposto 
tanto por petição como por termo nos autos. Basta ver que o art. 587 do CPP, 
ao disciplinar a indicação de peças para traslado, refere-se ao “respectivo termo” 
e ao “requerimento avulso” (petição). 
 
Tratando-se de recurso em que as razões não 
precisam, necessariamente, estar acostadas à interposição, poderá o recorrente 
relegar a respectiva apresentação para momento posterior. Nesse caso, o 
prazo para apresentação será de dois dias, nos termos do art. 588 do CPP. 
Muito embora esse dispositivo sugira que o referido prazo deva correr de forma 
automática após a interposição do recurso ou a extração do traslado pelo 
escrivão, é entendimento consolidado no sentido de que sua fluência tem 
início apenas após a notificação do recorrente para esse fim. 
 
Efeitos 
 
O recurso em sentido estrito possui os seguintes 
efeitos: 
 
a) Efeito devolutivo: como ocorre com todos os 
recursos, o RSE possui efeito devolutivo, o que significa a restituição ao Poder 
Judiciário da possibilidade de revisar decisão atacada. 
 
82 
 
b) Efeito regressivo: possui, ainda, efeito 
regressivo, eis que permite ao próprio juiz prolator retratar-se da decisão 
recorrida antes da remessa ao juízo ad quem. A previsão legal deste efeito 
encontra-se no art. 589 do CPP, dispondo que “com a resposta do recorrido ou 
sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de 2 (dois) dias, reformará 
ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados 
que lhe parecerem necessários”. 
 
c) Efeito suspensivo: quanto a este efeito, como 
regra, o recurso em sentido estrito não o possui. 
 
Por fim, importante ainda, nesta temática, a Súmula 
707 do STF, “constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer 
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a 
nomeação de defensor dativo”. 
 
Trata-sede exigência da maior importância, na 
medida em que somente assim irá se assegurar a eficácia do contraditório. 
 
2. APELAÇÃO: 
 
É um meio de impugnação ordinário por 
excelência (podendo ser total ou parcial), que autoriza um órgão 
jurisdicional de grau superior a revisar, de forma crítica, o julgamento 
realizado em primeiro grau. 
 
O “revisar de forma crítica” deve ser compreendido na 
mesma perspectiva de CARNELUTTI, de que os recursos são “la crítica a la 
decisión”, posto que, etimologicamente, criticar não significa outra coisa que 
julgar, e o uso deste vocábulo tende a significar aquele juízo particular que tem 
por objeto outro juízo, isto é, o juízo sobre o juízo e, dessa maneira, um juízo 
elevado à segunda potência. 
 
83 
 
Essa ideia de “juicio sobre el juicio” é muito 
interessante, pois quando o autor emprega a expressão juízo (juicio) o faz no 
sentido amplo de julgamento, ou seja, do conjunto de atos que integram o 
processo e o julgamento (sentido estrito), e não apenas na dimensão deste 
último. Assim, juízo não significa ato decisório, senão toda a matéria trazida ao 
processo e que compõe o “julgamento”. 
 
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
I – das sentenças definitivas de condenação ou 
absolvição proferidas por juiz singular; 
 
COMENTÁRIO: 
 
O recurso de apelação é uma forma de impugnação 
das decisões de primeiro grau, que poderão ser proferidas pelo juiz singular ou 
pelo juiz presidente do Tribunal do Júri. O inciso I dirige-se às sentenças de 
condenação, absolvição, absolvição imprópria (que absolve e aplica medida de 
segurança) e absolvição sumária do rito do Tribunal do Júri (art. 415 do CPP). 
 
II – das decisões definitivas, ou com força de 
definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não 
previstos no Capítulo anterior; 
 
Neste inciso II abre-se a cláusula geral da apelação, 
fazendo com que os casos de recurso em sentido estrito sejam taxativos, e, 
aquilo que lá não estiver previsto, encontra abrigo neste inciso II do art. 593. A 
peculiar estrutura legislativa brasileira fez com que a apelação acabasse se 
transformando num recurso residual em relação ao recurso em sentido estrito, 
na medida em que expressamente estabelece que caberá apelação “nos casos 
não previstos no Capítulo anterior”. 
 
III – das decisões do Tribunal do Júri, quando: 
 
84 
 
A apelação às decisões proferidas pelo Tribunal do 
Júri é “vinculada”, ou seja, deve a parte indicar, já na petição de interposição, 
qual é o fundamento legal do recurso, ou seja, em que alínea ou alíneas se funda 
o recurso. Esse critério também irá definir o efeito devolutivo da apelação, ou 
seja, o tantum devolutum quantum appellatum. 
 
Nesse tema, é importante o disposto na Súmula 713 
do STF”: O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos 
fundamentos da sua interposição.” 
 
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; 
 
O apelo fundado nesta alínea “a” tem por base os atos 
defeituosos praticados após a preclusão da decisão de pronúncia e, mais 
comumente, em plenário. Considerando que a segunda fase se resume à 
preparação do julgamento e ao plenário, o principal campo de incidência das 
nulidades acaba sendo o momento do julgamento em plenário. 
 
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei 
expressa ou à decisão dos jurados; 
 
Há que se compreender que no rito dos crimes de 
competência do Tribunal do Júri o julgamento é feito pelos jurados, que decidem 
o caso penal, cabendo ao juiz, apenas, realizar a dosimetria da pena em caso 
de condenação. 
 
Neste momento, pode a sentença do juiz-presidente 
incorrer em dois tipos de error in judicando: 
 
• decidir contra lei expressa; 
• ou decidir de forma contrária à decisão dos jurados. 
 
O decidir contra lei expressa deve ser compreendido 
numa dimensão, de erro grave e primário na aplicação da lei penal ou processual 
85 
 
penal (nos casos de desclassificação) ao caso penal. Situa-se no campo do 
decisionismo ilegítimo, da decisão arbitrária. 
 
No segundo caso, a sentença do juiz-presidente está 
em conflito com a decisão proferida pelos jurados, ou seja, não observa os limites 
dados pela decisão dos jurados ao responderem os quesitos. É uma peculiar 
espécie de incongruência. 
 
Situação completamente distinta sucede quando em 
plenário ocorre uma desclassificação própria, anteriormente explicada, em que 
os jurados negam a competência do júri para realizar o julgamento, passando 
todo o poder decisório para o juiz-presidente. Igual situação, ainda que com 
reflexos distintos em relação ao crime conexo, também se opera na 
desclassificação imprópria. Em ambos os casos, a decisão é proferida pelo juiz-
presidente e o recurso cabível será a apelação do art. 593, I, e não a deste inciso 
III, pois estamos diante de uma sentença condenatória ou absolutória proferida 
por juiz singular. 
 
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação 
da pena ou da medida de segurança; 
 
Nesta alínea, o campo do apelo está circunscrito aos 
defeitos na aplicação da pena ou da medida de segurança. A sentença é 
congruente, mas existe um defeito na dosimetria da pena. 
 
d) for a decisão dos jurados manifestamente 
contrária à prova dos autos. 
 
Revogação, para o caso de votação favorável ao 
quesito “O Jurado absolve o acusado?” 
 
Já há quem sustente a inaplicabilidade do art. 593, III, 
“d”, diante da nova sistemática do júri, sob o argumento de que esse quesito 
genérico permite que o jurado, mais do que antes, exerça uma plena e livre 
86 
 
convicção no ato de julgar, podendo absolver por qualquer motivo, tal como 
piedade ou compaixão. Trata-se de permitir-lhe absolver por suas próprias 
razões, mesmo que elas não encontrem amparo na prova objetivamente 
produzida nos autos. 
 
Isso porque, com a inserção do quesito genérico da 
absolvição, o réu pode ser legitimamente absolvido por qualquer motivo, 
inclusive metajurídico. Portanto, uma vez absolvido, não poderia ser conhecido 
o recurso do MP com base na letra “d”, na medida em que está autorizada a 
absolvição “manifestamente contra a prova dos autos”. Como dito, com o quesito 
genérico da absolvição, os jurados podem decidir com base em qualquer 
elemento ou critério. 
 
Contudo, segue com plena aplicação o recurso 
fundado na letra “d” quando a sentença é condenatória. Isso porque não existe 
um “quesito genérico da condenação” (nem poderia existir, por elementar). Para 
condenar, estão os jurados adstritos e vinculados à prova dos autos, de modo 
que a condenação “manifestamente contrária à prova dos autos” pode e deve 
ser impugnada com base no art. 593, III, “d”. É regra elementar do devido 
processo penal. Sublinhe-se: o que a reforma de 2008 inseriu foi um quesito 
genérico para absolver por qualquer motivo, não para condenar. Portanto, a 
sentença condenatória somente pode ser admitida quando amparada pela 
prova. 
Outros aspectos; 
 
Trata-se do fundamento que permite a impugnação 
das decisões absolutórias do Tribunal do Júri, estabelecendo a discussão sobre 
a (in)adequação da decisão em relação ao contexto probatório. 
 
Mas um novo problema surge: o dogma da soberania 
das decisões do júri. Isso faz com que o espaço decisório do tribunal ad quem 
seja reduzido, a ponto de a jurisprudência brasileira pautar-se pela manutenção 
do resultado do julgamento, somente acolhendo o apelo quando a decisão for 
absolutamente dissociada da prova, sem a menor base probatória. 
87 
 
 
Pode-se argumentar, ainda, que o legislador 
empregou a expressão (decisão) manifestamente contrária à prova dos autos 
para definir o nível de ilegitimidade exigido para que a decisão do júri seja 
desconstituída. Não basta que a decisão seja “apenas” contrária à prova dos 
autos; ela deve ser, evidentemente, inequivocamente contrária à prova. 
 
Mas se o recurso interposto comquando há 
uma decisão monocrática, há injustiça promovida por um julgador. No colegiado, 
quando há injustiça por um julgador, há um voto errado, que somente consagrará 
injustiça se chancelado pelos demais. Esta seria a vantagem da colegialidade, 
percebem? 
 
Pontes de Miranda vai nos ensinar que a 
colegialidade garante diversos exames simultâneos, o que traz superioridade 
sempre que se deseja maior certeza. O que, de fato, é muito lógico. 
 
Entretanto, lhes deixo com uma provocação. Olhem 
como é nosso sistema processual: nós temos juízes novos, inexperientes, que 
saíram da graduação e se dedicaram muito à aprovação no concurso público, 
certo? Essa é a regra. 
 
Aí, nós jogamos este jovem magistrado, muito 
estudado, porém sem experiência, para julgar sozinho, isoladamente, 
6 
 
cumulando todas as matérias do Direito. Todas! A primeira entrância costuma 
ser Vara Judicial. O sujeito julga uma ação penal, um inventário, e uma 
possessória. Aí, no segundo grau, depois de longos anos de judicatura, sentindo 
os conflitos humanos de perto, o magistrado é alçado ao Tribunal, e passa a 
julgar em colegiado, com outros Desembargadores, em uma unidade 
jurisdicional especializada. A Câmara criminal, só julga crimes, certo? 
 
Vocês não acham que isso deveria ser ao contrário? 
Ora, quando o sujeito é inexperiente, seria mais prudente iniciar em uma unidade 
especializada, e julgar com outros colegas, a fim de minimizar o erro? No meu 
humilde sentir, é totalmente ilógica a nossa sistemática. Na Espanha, por 
exemplo, as ações penais que envolvem casos graves são julgadas desde o 
primeiro grau em colegiado. 
 
Bom. Em jeito de conclusão, como ensina o professor 
Badaró, quanto ao fundamento do recurso, temos o princípio do duplo grau 
de jurisdição, que consagra um modelo de sistema judiciário onde o teor 
das decisões de mérito podem ser objeto de duas apreciações sucessivas, 
por órgãos diversos, em que prevalece a última. 
 
3. Conceito: 
 
Mas, qual o conceito de recurso? Recorrer, significa 
retomar o curso. Segundo a professora Ada Pellegrini Grinover, recurso é “o 
meio voluntário de impugnação de decisões, utilizado antes da preclusão e na 
mesma relação jurídica processual, apto a propiciar a reforma, a invalidação, o 
esclarecimento ou a integração da decisão” p. 33. 
 
Assim, caros, eles são anteriores à coisa julgada, não 
ensejam nova relação jurídica, e são voluntários. 
 
4. Natureza jurídica: 
 
7 
 
Quanto à natureza jurídica dos recursos, refere Hélio 
Tornarghi (p. 319-320) que pode ser vista de diferentes modos: 
 
a) como desdobramento do direito de ação que vinha 
sendo exercido até o momento em que proferida a 
decisão; 
 
b) como nova ação dentro do mesmo processo; e, 
 
c) simplesmente, como um meio destinado a obter a 
reforma da decisão, não importando se provocado 
pelas partes ou se determinado ex officio pelo juiz nas 
hipóteses em que a lei o obriga a esta providência 
(v.g., art. 574, I e II, do CPP). 
 
Aury vai dizer que quanto à natureza jurídica dos 
recursos, deve‐se ter presente a distinção entre eles e as ações autônomas 
de impugnação (revisão criminal, habeas corpus e mandado de 
segurança), pois, ao contrário delas, os recursos não são “ações 
processuais penais”, não instaurando uma nova situação jurídica 
processual. Os recursos são uma continuidade da pretensão acusatória ou 
da resistência defensiva, conforme a titularidade de quem o exerça. 
 
 Assim, o recurso interposto pelo Ministério Público 
não instaura uma nova situação jurídica processual, um novo processo, senão 
que constitui uma continuidade do exercício da pretensão acusatória. Quanto à 
defesa, o recurso é um importante instrumento de resistência, na busca de uma 
sentença favorável. 
 
Isso porque é o processo um instrumento de 
satisfação jurídica de pretensões e resistências, de modo que, enquanto não 
houver o provimento jurisdicional definitivo (o trânsito em julgado), o que se tem 
é a utilização de instrumentos legais para obtenção da sentença favorável 
pretendida por cada uma das partes (pretensão acusatória e resistência). 
8 
 
 
O professor André Nicolitt indica que como os 
recursos são desdobramentos do direito de ação e de defesa, a natureza jurídica 
é de um direito subjetivo processual que decorre deste direito de ação e de 
defesa. 
 
 
5. Juízo de admissibilidade dos recursos: a 
prelibação 
 
a) juízo de admissibilidade ou de prelibação: em 
que se analisam os requisitos objetivos e subjetivos dos recursos, ou seja, o 
atendimento às exigências legais para que o recurso seja conhecido ou não 
conhecido, significa, admitido ou não, sem análise, neste momento, do mérito; 
 
b) juízo de mérito recursal: uma vez admitido o 
recurso, logo, pressupõe o conhecimento (admissão) no momento anterior, 
passa o tribunal ad quem para a análise do seu objeto, ou seja, do mérito do 
recurso, em que poderá dar provimento ou negar provimento ao (pedido no) 
recurso. Nada mais natural que o julgador, ao apreciar o recurso interposto, 
primeiro analise algumas questões prévias e referentes ao procedimento e ao 
direito de impugnar, para, somente depois, julgar o mérito do recurso. 
 
Assim, um recurso pode ser conhecido ou não 
conhecido e, somente se conhecido, provido ou desprovido (no todo ou 
em parte). 
 
Essa distinção é ainda relevante para definir qual 
decisão irá valer a partir desse momento, a do juízo a quo ou o acórdão do 
tribunal ad quem? Quando o recurso não é conhecido, a decisão impugnada 
(proferida pelo juízo a quo) segue com plena eficácia; 
 
Já quando o recurso é conhecido, essa nova decisão 
irá substituir a anterior. Ainda que desprovido o recurso, é a nova decisão 
9 
 
proferida pelo juízo ad quem que passa a ter eficácia, definindo‐se como marco 
para as próximas impugnações. Inclusive, em sede de posterior habeas corpus, 
a decisão proferida pelo juízo ad quem, que conheceu e proveu ou não o recurso, 
pautará a questão da competência. 
 
Nenhuma dúvida existe de que o juízo de mérito é 
feito pelo tribunal ad quem, mas e o juízo de admissibilidade, onde é feito? 
Inicialmente, no juízo a quo, onde é interposto o recurso. Mas esse é um juízo 
(de admissibilidade) extremamente superficial e que não vincula o tribunal ad 
quem, ou seja, mesmo que o juízo a quo não conheça do recurso, poderá o 
tribunal conhecer e prover. 
 
Em sentido inverso, a admissão pelo juízo a quo não 
assegura que o recurso será conhecido pelo tribunal ad quem. Como regra, 
deverá o juízo a quo, especialmente quando de primeiro grau, admitir e 
determinar a subida do recurso interposto. 
 
Excepcionalmente, quando o recurso for 
manifestamente: 
 
a) incabível ou inadequado, como, por exemplo, o 
recurso que impugne um despacho de mero expediente ou uma decisão 
interlocutória simples irrecorrível; 
 
b) ou intempestivo, como a apelação interposta no 6o 
dia após a última intimação; 
 
c) ou for caso de deserção, pois, devidamente 
intimado, o recorrente não recolheu as custas necessárias (preparo, na ação 
penal de iniciativa privada); 
 
d) ou interposto por parte ilegítima, como um terceiro 
que pretenda ingressar como assistente da acusação sem demonstrar o vínculo 
exigido pelo art. 268 do CPP; 
10 
 
 
e) ou for manifesta a falta de interesse recursal pela 
ausência de gravame. 
 
A prelibação, assim, é um juízo superficial em 
torno dos requisitos objetivos (cabimento, adequação, tempestividade e 
preparo) e subjetivos (legitimidade e gravame/sucumbência). Havendo 
dúvida sobre essas situações, deverá o juiz determinar a subida do recurso, 
cabendo ao tribunal ad quem reexaminá‐las, para conhecer ou não do recurso. 
Em nenhum caso poderá o juízo a quo fazer a análise e valoração do mérito do 
recurso. O juízo de mérito é exclusivo do tribunal ad quem. 
 
Segundo o Aury, situação completamentebase na letra “d” for 
provido, qual será a consequência? 
 
A resposta vem dada pelo art. 593, § 3º, do CPP. 
Portanto, provido o recurso com esse fundamento, será desconstituída a 
decisão, determinando-se a realização de um novo julgamento pelo Tribunal do 
Júri, com outros jurados, é óbvio. 
 
Neste sentido, é acertado o enunciado contido na 
Súmula 206 do STF: É nulo o julgamento ulterior pelo júri com a participação de 
jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo processo. Nesse novo 
júri, nenhum dos jurados anteriores poderá novamente compor o conselho de 
sentença, pois se pretende a máxima originalidade do julgamento e 
imparcialidade dos julgadores. 
 
O prazo para interposição da apelação é de 5 dias, 
sem esquecer a Lei n. 7.871/89, que concede prazo em dobro para os membros 
da Defensoria Pública dos Estados. 
 
Recordemos, ainda, a figura do assistente da 
acusação, cuja legitimidade para recorrer está consagrada no art. 598 do CPP, 
que pode ser: 
 
• habilitado nos autos: quando então será intimado de 
todos os atos e poderá recorrer, caso não o faça o Ministério Público, no prazo 
de 5 dias; 
88 
 
• não habilitado: situação em que, por não participar 
do processo, não será intimado das decisões, tendo por isso o prazo de 15 dias 
para apelar (art. 598, parágrafo único, do CPP). 
 
E como se faz a contagem desse prazo do 
assistente? 
 
Nos termos da Súmula 448 do STF, que determina o 
seguinte: o prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr 
imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público. 
 
Art. 600. Assinado o termo de apelação, o apelante 
e, depois dele, o apelado terão o prazo de oito dias 
cada um para oferecer razões, salvo nos processos 
de contravenção, em que o prazo será de três dias. 
§ 1o Se houver assistente, este arrazoará, no prazo 
de três dias, após o Ministério Público. 
§ 2o Se a ação penal for movida pela parte ofendida, 
o Ministério Público terá vista dos autos, no prazo do 
parágrafo anterior. 
§ 3o Quando forem dois ou mais os apelantes ou 
apelados, os prazos serão comuns. 
§ 4o Se o apelante declarar, na petição ou no termo, 
ao interpor a apelação, que deseja arrazoar na 
superior instância serão os autos remetidos ao 
tribunal ad quem onde será aberta vista às partes, 
observados os prazos legais, notificadas as partes 
pela publicação oficial. 
 
Por fim, uma dúvida que pode surgir é: podem ser 
juntados documentos novos nas razões e/ou contrarazões? 
 
Sim, até porque o art. 616 do CPP permite alguns 
poderes instrutórios ao tribunal ad quem. Contudo, deve haver a estrita 
89 
 
observância do contraditório e advertimos para o grave risco de supressão de 
instância, pois é inegável que a juntada de novas provas após a sentença 
constitui uma subtração de elementos probatórios do juiz a quo. 
 
 
3. EMBARGOS INFRIGENTES E DE NULIDADE 
 
Embargos Infringentes: o voto vencido tem por 
objeto da divergência uma questão de fundo, de mérito, que poderá levar à 
absolvição, redução da pena, substituição por outra pena etc.; 
 
Embargos de Nulidade: o voto vencido diverge em 
relação a questões exclusivamente processuais, ou seja, às condições da ação, 
ou mesmo às nulidades processuais, tendo como consequência, se acolhidos, a 
nulidade da sentença ou mesmo de todo o processo. 
 
REQUISITOS OBJETIVOS: 
 
→ Cabimento: contra decisão não unânime proferida 
por tribunal no julgamento de apelação, RESE ou agravo em execução. É 
recurso exclusivo da defesa. Está limitado ao objeto da divergência, 
demarcado pelos limites do voto vencido. 
 
→ Adequação: deve ser interposto por petição 
acompanhada das razões, circunscritas ao objeto da divergência. 
 
→ Tempestividade: prazo de 10 dias, único para 
interposição e razões. 
 
→ Preparo: predomina entendimento de que não é 
necessário, nem mesmo nas ações penais privadas, bastando o preparo feito 
para a apelação. 
 
90 
 
REQUISITOS SUBJETIVOS: é um recurso exclusivo 
da defesa. Quanto ao gravame, deve haver um voto divergente favorável à 
defesa que represente uma vantagem jurídica, se acolhido. 
 
EFEITOS: 
 
→ Devolutivo: devolve a discussão nos limites do voto 
vencido. 
 
→ Suspensivo: Na pendência do julgamento dos 
embargos ainda não terá ocorrido o esgotamento da jurisdição de segundo grau, 
sendo inviável a decretação da prisão. 
 
 
4. EMBARGOS DECLARATÓRIOS: 
 
REQUISITOS OBJETIVOS: 
 
→ Cabimento: Podem ser utilizados em relação a 
qualquer decisão, inclusive interlocutória ou despacho, desde que contenha 
omissão, obscuridade, contradição ou ambiguidade. 
 
Arts. 382 (decisões de 1º grau), 619 e 620 (decisões 
de tribunais). 
 
Excepcionalmente podem ter efeitos modificativos, 
corrigindo um erro judicial, e podem ser utilizados para fins de 
prequestionamento nos recursos especial e extraordinário. 
 
→ Adequação: interpostos por petição contendo as 
razões. 
 
→ Tempestividade: 2 dias. No JECrim: 5 dias (art. 83 
da Lei n. 9.099/95). 
91 
 
 
→ Preparo: não se exige. 
 
REQUISITOS SUBJETIVOS: estão legitimadas as 
partes ativa, passiva e assistente da acusação. O interesse recursal vincula-se 
à (in)eficácia da garantia da motivação das decisões. 
 
EFEITOS: possuem efeito regressivo (devolvendo 
para o mesmo órgão prolator). Excepcionalmente poderão ter efeitos 
modificativos ou infringentes. 
 
Como regra, interrompem o prazo para interposição 
de outros recursos (art. 1.026 do CPC). 
 
Advertência: JECrim, ver art. 1.066 do novo CPC. 
 
Assim: conforme ‘determina o CPC, há interrupção do 
prazo para novos recursos. 
 
Destacamos que a Lei n. 13.964/2019 alterou a 
redação do art. 116 do CP, que disciplina as causas impeditivas da prescrição. 
Portanto, a prescrição não corre na pendência de embargos de declaração ou 
de recursos aos tribunais superiores (recurso especial, extraordinário, 
respectivos agravos, agravo regimental, embargos de divergência, etc.), “quando 
inadmissíveis”. 
 
5. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL 
 
Previsão na LEP: 
 
“Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá 
recurso de agravo, sem efeito suspensivo.” 
 
Segue o mesmo procedimento e requisitos do RSE. 
92 
 
 
REQUISITOS OBJETIVOS: 
 
→ Cabimento: decisões interlocutórias tomadas no 
curso da execução criminal. 
 
→ Adequação: pode ser interposto por petição ou 
termo nos autos. 
 
→ Tempestividade: 5 dias para interposição e 2 dias 
para razões. 
 
→ Preparo: não se exige. 
 
REQUISITOS SUBJETIVOS: estão legitimados o MP, 
defensor ou réu. O gravame decorre do prejuízo pela concessão ou denegação 
do pedido feito na execução penal. 
 
EFEITOS: efeito devolutivo misto (regressivo e depois 
reiterativo ou devolutivo propriamente dito). Não possui efeito suspensivo. 
 
O fato de o agravo não ter efeito suspensivo faz com 
que, muitas vezes, seja impetrado habeas corpus, para evitar ou sanar a grave 
coação ilegal que o apenado sofre ou pode vir a sofrer. Isso porque, em geral, 
os incidentes da execução giram em torno da possibilidade ou não de 
progressão, regressão, livramento condicional, obtenção de indulto, comutação, 
unificação de penas etc., ou seja, questões diretamente ligadas ao estado de 
liberdade (ou ausência de) do apenado, cuja urgência não é compatível com um 
recurso despido de efeito suspensivo. 
 
Mas alguns tribunais, muitas vezes alheios à 
realidade medieval do sistema carcerário brasileiro, adotando uma postura 
formalista e burocrática, não conhecem do habeas corpus diante da 
existência de recurso específico (agravo). Daí por que especialmente a 
93 
 
defesa se vê compelida a lançar mão dos dois instrumentos, de forma 
simultânea: habeas corpus e agravo em execução. Se o primeiro for conhecido, 
e quem sabe até a liminar concedida, esvazia o objeto do segundo. Do contrário, 
em não sendo conhecido o writ, oagravo já está tramitando, diminuindo o tempo 
de espera do apenado por uma decisão. 
 
6. CARTA TESTEMUNHÁVEL: 
 
A carta testemunhável remonta ao tempo do Império 
e servia para evitar que os juízes se ocultassem para não receber os recursos 
ou determinassem ao escrivão que não lhes desse andamento. 
 
A carta testemunhável é um recurso cabível contra a 
decisão que não recebe um recurso interposto. Tem caráter subsidiário. 
Também é cabível contra uma decisão que obstou o seguimento à instância 
superior de um recurso que já havia sido recebido. 
 
→ Cabimento: impugnar a decisão que denegou o 
prosseguimento a recurso em sentido estrito ou agravo em execução, ou 
obstaculizou sua subida. 
 
→ Adequação: recurso interposto por petição. 
 
→ Tempestividade: 2 dias. 
 
→ Preparo: não se exige. 
 
REQUISITOS SUBJETIVOS: legitimidade vinculada 
àquela necessária para interposição do recurso originário a que foi denegado o 
prosseguimento. Interesse: gravame pelo não prosseguimento do recurso. 
 
EFEITOS: devolutivo misto. 
 
7. RECURSO ESPECIAL: 
94 
 
 
Previsão constitucional: 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, 
em única ou última instância, pelos Tribunais 
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, 
do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão 
recorrida: 
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes 
vigência; 
b) julgar válido ato de governo local contestado em 
face de lei federal; 
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe 
haja atribuído outro tribunal.” 
 
Súmula 13 do STJ:” A divergência entre julgados do 
mesmo Tribunal não enseja recurso especial.” 
 
Súmula 83 do STJ:” Não se conhece do recurso 
especial pela divergência quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo 
sentido da decisão recorrida”. 
 
Objeto: Tutela da Legislação Infraconstitucional. 
 
Regramento Legal: Arts. 1.029 a 1.041 do CPC e 
Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. 
 
Prazo de interposição: 15 dias – art. 1.030 do CPC. 
 
Prequestionamento: Há decisões aceitando o 
prequestionamento implícito. 
 
“Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os 
95 
 
elementos que o embargante suscitou, para fins de 
pré-questionamento, ainda que os embargos de 
declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o 
tribunal superior considere existentes erro, omissão, 
contradição ou obscuridade.” 
 
Repercussão Geral: não é exigida. 
 
Possibilidade de reexame de fato ou prova? Não é 
permitido. Súmula 7 do STJ. Problemática diferenciação entre questões de 
fato e de direito. 
 
“A pretensão de simples reexame de prova não 
enseja recurso especial.” 
 
JECRIM: Súmula 203 do STJ: “Não cabe recurso 
especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados 
Especiais.” 
 
Exaurimento da via recursal ordinária? Devem ser 
esgotados os recursos ordinários. 
 
Juízo de admissibilidade: Permanece o sistema de 
dupla filtragem, primeiramente no tribunal de origem (a quo) e, se admitido o 
recurso, novo exame é feito no STJ. 
 
Legitimidade: Ministério Público, assistente da 
acusação, querelante e o réu. 
 
Preparo Exige-se preparo. Súmula 187 do STJ: 
 
“É deserto o recurso interposto para o Superior 
Tribunal de Justiça, quando o recorrente não recolhe, na origem, a importância 
das despesas de remessa e retorno dos autos.” 
96 
 
 
Efeitos: Devolutivo propriamente dito. Ausência de 
efeito suspensivo: Art 1.029 do CPC autoriza pedido de concessão de efeito 
suspensivo por simples petição (pensamos que é cabível HC quando for para 
assegurar o direito de recorrer em liberdade). 
 
“Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso 
especial, nos casos previstos na Constituição 
Federal, serão interpostos perante o presidente ou o 
vice-presidente do tribunal recorrido, em petições 
distintas que conterão: 
 
§ 5º O pedido de concessão de efeito suspensivo 
a recurso extraordinário ou a recurso especial 
poderá ser formulado por requerimento dirigido: 
 
I – ao tribunal superior respectivo, no período 
compreendido entre a publicação da decisão de 
admissão do recurso e sua distribuição, ficando o 
relator designado para seu exame prevento para 
julgá-lo; 
 
II - ao relator, se já distribuído o recurso; 
 
III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal 
recorrido, no período compreendido entre a 
interposição do recurso e a publicação da decisão de 
admissão do recurso, assim como no caso de o 
recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 
1.037 .” 
 
Recurso contra a decisão que nega seguimento: 
Agravo em Recurso Especial (art 1.042 do CPC). 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
97 
 
“Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do 
presidente ou do vice-presidente do tribunal 
recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou 
recurso especial, salvo quando fundada na 
aplicação de entendimento firmado em regime de 
repercussão geral ou em julgamento de recursos 
repetitivos.” 
 
Prazo: 15 dias. Na prática: sugestão: 5 dias até que a 
Súmula 699 (STF) seja revogada. 
 
Súmula 699: 
 
“O prazo para interposição de agravo, em processo 
penal, é de cinco dias, de acordo com a Lei 8.038/1990, não se aplicando o 
disposto a respeito nas alterações da Lei 8.950/1994 ao Código de Processo 
Civil.” 
 
8. RECURSO EXTRAORDINÁRIO: 
 
Regramento constitucional: 
 
“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, 
precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-
lhe: 
 
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas 
decididas em única ou última instância, quando a 
decisão recorrida: 
 
a) contrariar dispositivo desta Constituição; 
 
Um obstáculo ao conhecimento do recurso 
extraordinário é o fato de o Supremo Tribunal Federal ter posição firmada no 
98 
 
sentido de que a contrariedade ao dispositivo constitucional deve ser clara, 
uma ofensa direta e frontal, não ensejando o recurso extraordinário uma 
contrariedade reflexa. 
 
Se, antes de se violar uma norma constitucional, 
há o descumprimento direto de um dispositivo infraconstitucional, a 
tendência é a discussão encerrar-se em sede de recurso especial, 
principalmente quando a ofensa à Constituição é reflexa ou decorre da 
interpretação de princípio constitucional. 
 
Por esse motivo, muitos recursos extraordinários 
fundados na alegação de nulidade por violação de princípio constitucional 
(contraditório, ampla defesa etc.) sequer são conhecidos, pois antes da violação 
constitucional opera-se o descumprimento (ou não) de uma norma 
infraconstitucional, como o Código de Processo Penal, por exemplo. A discussão 
acaba por esgotar-se no âmbito do recurso especial, sem que sequer tenha 
seguimento o recurso extraordinário. Outro exemplo é a discussão sobre prova 
ilícita. 
 
Mas o que é uma ofensa direta e frontal à 
Constituição? Quando uma decisão é contrária à Constituição? 
 
Pode-se escrever um tratado de hermenêutica 
constitucional sobre essa questão, mas em se tratando de recurso extraordinário 
devemos ser mais pragmáticos (ou realistas, se preferirem). Quando há um 
Tribunal Constitucional, e a ele se pretende ascender pela via recursal, o que 
realmente importa são os “cases”, a jurisprudência construída por aquele tribunal 
na interpretação da Constituição e na definição de seus limites de incidência. Em 
última análise, conscientes do aparente reducionismo (e da tristeza) que isso 
possa conter, a Constituição diz o que o Supremo Tribunal Federal disser que 
ela diz... 
 
Mas o novo CPC trouxe uma inovação 
importantíssima no seu art. 1.033: se o Supremo Tribunal Federal considerar 
99 
 
como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por 
pressupor a revisãoda interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao 
Superior Tribunal de Justiça para julgamento como recurso especial. 
 
Por fim, aqui deve ser retomada a discussão sobre o 
recurso cabível em caso de decisão que viola tratado internacional de direitos 
humanos, especialmente a Convenção Americana de Direitos Humanos. 
 
A decisão que viola a CADH deve ser impugnada 
pelo recurso extraordinário, e não pelo recurso especial, pois diante do 
disposto nos §§ 2º e 3º do art. 5º da Constituição tem natureza 
materialmente constitucional, embora formalmente suas normas não sejam 
constitucionais, por não terem sido aprovadas pelo quorum previsto para 
as emendas constitucionais. 
 
De qualquer forma, do ponto de vista do conflito de 
normas, é de se destacar que toda e qualquer norma infraconstitucional que está 
em confronto com a CADH não terá eficácia, já que inconstitucional. Mesmo que 
se entenda que os tratados estão acima da legislação infraconstitucional, mas 
não gozam de status de norma constitucional (supralegal), parece evidente que 
o controle não pode mais ser feito pelo STJ através de recurso especial, mas 
apenas pelo Supremo Tribunal Federal. 
 
Portanto, sustentamos que a decisão que viole 
normas e princípios contidos na Convenção Americana de Direitos Humanos 
deve ser impugnada através do recurso extraordinário. 
 
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei 
federal; 
 
Havendo a declaração de inconstitucionalidade de lei 
ou tratado, pelos tribunais, nos termos do art. 97 da CF, caberá recurso 
extraordinário; quando um órgão fracionado negar vigência à lei federal, sem 
100 
 
observar a reserva de plenário do art. 97 da CF, caberá Reclamação, art. 102, I, 
“l”, da Constituição, diretamente ao STF. 
 
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado 
em face desta Constituição. 
 
d) julgar válida lei local contestada em face de lei 
federal.” 
 
Objeto: Tutela da Constituição. Violação da 
CADH; 
 
Disciplina Legal: Arts. 1.029 a 1.041 do CPC e 
Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. 
 
Prazo de interposição 15 dias – art. 1.030 do CPC. 
 
Prequestionamento: É exigido prequestionamento 
explícito, como regra (Súmula 211, STJ). Vejam o art 1.025 do CPC. 
 
 “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, 
a despeito da oposição de embargos declaratórios, 
não foi apreciada pelo Tribunal a quo.” 
 
Repercussão Geral: É exigida a demonstração 
através de preliminar formal (art. 102, § 3º, da CF c/c art 1.035 do CPC). 
 
 “§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá 
demonstrar a repercussão geral das questões 
constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, 
a fim de que o Tribunal examine a admissão do 
recurso, somente podendo recusá-lo pela 
manifestação de dois terços de seus membros” 
 
101 
 
 “Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão 
irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário 
quando a questão constitucional nele versada não 
tiver repercussão geral, nos termos deste artigo. 
 
 § 1º Para efeito de repercussão geral, será 
considerada a existência ou não de questões 
relevantes do ponto de vista econômico, político, 
social ou jurídico que ultrapassem os interesses 
subjetivos do processo. 
 
 § 2º O recorrente deverá demonstrar a existência de 
repercussão geral para apreciação exclusiva pelo 
Supremo Tribunal Federal. 
 
 § 3º Haverá repercussão geral sempre que o recurso 
impugnar acórdão que: 
 
 I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do 
Supremo Tribunal Federal; 
 
 III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de 
tratado ou de lei federal, nos termos do art. 97 da 
Constituição Federal .” 
 
Possibilidade de reexame de fato ou prova? Não é 
permitido. Súmula 279 do STF: “Para simples reexame de prova não cabe 
recurso extraordinário.” Problemática diferenciação entre questões de fato e 
de direito. 
 
JECRIM: súmula 640 do STF dispõe que é cabível 
recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas 
causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
102 
 
Exaurimento da via recursal ordinária? Devem ser 
esgotados os recursos ordinários. 
 
Juízo de admissibilidade: Permanece o sistema de 
dupla filtragem, primeiramente no tribunal de origem (a quo) e, se admitido o 
recurso, novo exame é feito no STF. 
 
Preparo? Exige-se preparo. 
 
Efeitos: Devolutivo propriamente dito. Ausência de 
efeito suspensivo: Art 1.029 do CPC autoriza pedido de concessão de efeito 
suspensivo por simples petição (pensamos que é cabível HC quando for para 
assegurar o direito de recorrer em liberdade). 
 
 “Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso 
especial, nos casos previstos na Constituição Federal , 
serão interpostos perante o presidente ou o vice-
presidente do tribunal recorrido, em petições distintas 
que conterão: 
 
 § 5º O pedido de concessão de efeito suspensivo a 
recurso extraordinário ou a recurso especial poderá 
ser formulado por requerimento dirigido: 
 I – ao tribunal superior respectivo, no período 
compreendido entre a publicação da decisão de 
admissão do recurso e sua distribuição, ficando o 
relator designado para seu exame prevento para 
julgá-lo; 
 
 II - ao relator, se já distribuído o recurso; 
 
 III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal 
recorrido, no período compreendido entre a 
interposição do recurso e a publicação da decisão de 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
103 
 
admissão do recurso, assim como no caso de o 
recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037 .” 
 
Recurso contra a decisão que nega seguimento? 
 
Agravo em Recurso Especial (art. 1.042 do CPC). 
 
 “Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do 
presidente ou do vice-presidente do tribunal 
recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou 
recurso especial, salvo quando fundada na 
aplicação de entendimento firmado em regime de 
repercussão geral ou em julgamento de recursos 
repetitivos.” 
 
Prazo: 15 dias, Sugestão: 5 dias até que a Súmula 
699 (STF) seja revogada. 
 
Súmula 699: “O prazo para interposição de agravo, 
em processo penal, é de cinco dias, de acordo com a Lei 8.038/1990, não se 
aplicando o disposto a respeito nas alterações da Lei 8.950/1994 ao Código de 
Processo Civil.” 
 
9. CORREIÇÃO PARCIAL: 
 
Embora já se tenha discutido muito sobre o assunto, 
atualmente entende-se que a correição parcial tem natureza jurídica de 
recurso (e não de correição administrativa) com a finalidade de reformar 
decisão que tenha causado tumulto ao regular desenvolvimento do 
processo e, consequentemente, gravame à parte. 
 
Originariamente, estava prevista no Decreto nº 
9.623/1911, que tratava da organização judiciária do Distrito Federal, mas 
atualmente encontra-se em quase todas as leis de organização judiciária 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
104 
 
estaduais (em São Paulo, está prevista no Código Judiciário do Estado de São 
Paulo – Decreto-lei Complementar nº 3, de 1969) e nos regimentos internos dos 
Tribunais, bem como encontra fundamento legal na Lei nº 5.010/66, que 
reorganizou a Justiça Federal. 
 
Cabimento 
 
Trata-se de um recurso subsidiário, ou seja, somente 
será cabível se não for possível a interposição de nenhum outro recurso. 
 
É preciso, para que seja possível a interposição da 
correição parcial, que o ato atacável caracterize erro ou abuso por parte do 
magistrado, que implique em “inversão tumultuária dos atos e fórmulas da ordem 
legal do processo”. 
 
Busca, portanto, corrigir somente error in 
procedendo e jamais error in judicando. 
 
Em alguns diplomas legaisencontraremos a 
possibilidade de interposição da correição parcial nos casos de paralisação 
injustificada do processo ou dilação abusiva dos prazos. 
 
Discute-se se a correição parcial seria possível 
somente em primeiro grau ou também contra atos de integrantes dos tribunais. 
Parece-nos que não seria possível a correição parcial contra ato de órgão 
colegiado, mas nada impede a interposição contra decisões monocráticas dos 
desembargadores, desde que preenchidos os outros requisitos. 
 
Tempestividade 
 
Cada legislação específica prevê um prazo para 
interposição da correição parcial. No Estado de São Paulo, por exemplo, o prazo 
é de 10 (dez) dias, vez que se aplica o procedimento do agravo de instrumento. 
 
105 
 
Procedimento: 
 
O procedimento também dependerá de cada 
legislação específica, que detalhará a matéria. Conforme já dissemos, no Estado 
de São Paulo, o procedimento aplicável é o mesmo do agravo de instrumento. 
 
O julgamento seguirá o regimento interno dos 
tribunais competentes para analisar o recurso. 
 
Efeitos: 
 
A correição parcial tem efeito devolutivo, já que a 
questão é remetida para análise da instância superior. 
 
Por regra, não há efeito suspensivo, mas tratando-se 
de ato que ponha em risco a liberdade do acusado é possível a interposição 
do habeas corpus, que certamente será mais rápido e eficaz que a correição 
parcial. 
 
10. RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL: 
 
O Recurso Ordinário Constitucional está previsto 
na Constituição Federal de 1988 e caracteriza hipótese de recurso dirigido 
diretamente às Cortes Superiores. Com tal nomenclatura surge na 
Constituição de 1934, mas já possuía previsão desde a Constituição de 1891, 
chamado de apelação. 
 
As Cortes Superiores não têm apenas competência 
originária, mas também competência recursal. O STF tem sua competência 
originária definida no inciso I do art. 102 da CF/88, enquanto sua competência 
recursal está nos incisos II (Recurso Ordinário Constitucional) e III 
(Recurso Extraordinário). O mesmo ocorre com o STJ, que no inciso I do art. 
105 da CF/88 tem a definição de sua competência originária e nos incisos II 
106 
 
(Recurso Ordinário Constitucional) e III (Recurso Especial) a definição da 
competência recursal. 
 
No âmbito do Recurso Ordinário Constitucional a 
matéria remetida ao STJ e ao STF é a mais ampla possível, isto é, pode-se 
fazer tanto uma análise de fato quanto de direito, pois nessa hipótese as 
Cortes Superiores funcionam como órgãos de segundo grau. 
 
O Recurso Ordinário Constitucional, no âmbito 
criminal, como se verificará, somente é cabível contra decisões denegatórias 
em ações de habeas corpus ou mandado de segurança (CPC, art. 1.027, I e 
II). 
 
Deve-se dar à expressão “decisão denegatória” uma 
interpretação ampla, isto é, considerar como tal não só as decisões que negam 
provimento, mas também as que não conhecem da impetração ou que as julgam 
prejudicada. Porém, jamais será cabível esse recurso quando houver concessão 
da ordem. 
 
Cabimento 
 
O Recurso Ordinário Constitucional pode ser de 
competência do STF ou do STJ, dependendo do órgão prolator da decisão da 
qual se recorre e, por vezes, da qualidade da decisão que foi dada (p. ex., às 
vezes caberá apenas decisão denegatória). 
 
Vejam que o STF mantém entendimento de que 
somente caberá o recurso se a decisão for colegiada. Em casos nos quais a 
denegação das ordens tenha sido proferida em decisão monocrática, o 
interessado deverá antes interpor um agravo regimental para submeter o 
julgamento ao colegiado (princípio da colegialidade), e somente depois interpor 
o Recurso Ordinário Constitucional (AgRg na MC 19.774/SP; RMS 2.848/SP). 
 
Analisemos as hipóteses de cada um deles. 
107 
 
 
Recurso Ordinário Constitucional no STF 
 
Nos termos do art. 102, II, da CF/88, compete ao STF 
julgar em Recurso Ordinário: 
 
a) o habeas-corpus, o mandado de segurança, 
o habeas-data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos 
Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; 
 
b) o crime político; [...]. (grifo nosso) 
 
Desse modo, no que se refere ao âmbito criminal, 
serão passíveis de Recurso Ordinário Constitucional as decisões 
denegatórias em sede de habeas corpus e mandado de 
segurança decididos em única instância (originariamente) pelos seguintes 
órgãos do Poder Judiciário: Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, b, 
c e h, da CF/88), Tribunal Superior Eleitoral (art. 121, § 3º, da CF/88) e 
Superior Tribunal Militar (art. 124, parágrafo único, da CF/88). 
 
É preciso destacar que para ser cabível o Recurso 
Ordinário Constitucional o Tribunal Superior (STJ; TSE e STM) tem que ter 
analisado a questão originariamente, isto é, o habeas corpus ou mandado de 
segurança tem que ter sido impetrado diretamente em um desses tribunais. 
 
Assim, não será cabível o Recurso Ordinário 
Constitucional, por exemplo, se houver a impetração de um habeas corpus (ou 
mandado de segurança) no Tribunal de Justiça Estadual (ou Tribunal Regional 
Federal) e diante da decisão denegatória deste houver a interposição de 
outro habeas corpus (ou mandado de segurança) no STJ (ou TSE ou STM). 
Nessa hipótese o julgamento do habeas corpus (ou mandado de segurança) 
pelo tribunal superior (STJ, TSE ou STM) não seria originário, pois já foi 
analisado pelo Tribunal de Justiça Estadual ou Regional Federal. 
 
108 
 
Na vigência da Constituição Federal de 1988 nunca 
houve a definição legal do que seriam os crimes políticos. Costumeiramente 
entende-se por “crimes políticos” aqueles previstos na Lei de Segurança 
Nacional (Lei nº 7.170/83) que são de competência da Justiça Federal, nos 
termos do art. 109, IV, CF/88. Contudo, mantemos entendimento de que tal lei 
não foi recepcionada pela nova ordem constitucional e, portanto, não possui mais 
aplicação. O ideal seria que o STF formalmente a considerasse como tal, mas 
até o momento não houve manifestação oficial. 
 
Desse modo, quando tratar-se de “crimes políticos” (a 
nosso ver, ainda a serem definidos), o STF pode funcionar tanto como um órgão 
de terceiro grau, quanto como órgão de segundo grau. Explica-se: sendo os 
crimes políticos de competência da Justiça Federal, antes de chegar ao STF por 
meio de um Recurso Ordinário Constitucional, os fatos já têm que ter sido 
julgados por um juiz federal e reexaminados pelo Tribunal Regional Federal, 
hipótese em que o STF atua como órgão de terceiro grau. Entretanto, se o crime 
político for julgado originariamente pelo Tribunal Regional Federal (foro por 
prerrogativa de função, por exemplo) o STF funcionará como órgão de segundo 
grau, acessível por meio do Recurso Ordinário Constitucional. 
 
Recurso Ordinário Constitucional no STJ 
 
Nos termos do art. 105, II, da CF/88, compete ao STJ 
julgar em Recurso Ordinário: 
 
a) os “habeas corpus” decididos em única ou última 
instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos 
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; 
 
b) os mandados de segurança decididos em única 
instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do 
Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; [...]. (grifos nossos) 
 
109 
 
Importante destacar que em relação ao habeas 
corpus (letra a) a competência do STJ é mais ampla que a do STF, pois 
enquanto ao STF somente é possível a interposição do Recurso Ordinário 
Constitucional quando as decisões denegatórias forem proferidas pelos 
Tribunais Superiores em ações originárias, ao STJ é possível interpor o Recurso 
Ordinário Constitucional tanto quando os Tribunais Estaduais e os Tribunais 
Regionais Federais atuarem em virtude da competência originária (“única 
instância”) ou em grau recursal (“última instância”). 
 
Em única instância seriam os habeas 
corpus impetrados diretamente nos tribunaisestaduais e regionais federais. 
Em última instância seriam as decisões que denegassem ou mantivessem 
denegação em julgamentos de recurso de ofício (art. 574, I, do CPP) 
e Recurso em Sentido Estrito (art. 581 do CPP), pois em sentido contrário 
jamais haveria um Recurso Ordinário Constitucional de “última instância”. 
 
Procedimento 
 
Liminar 
 
Embora sem expressa previsão legal, nos casos em 
que o Recurso Ordinário Constitucional for interposto por denegação de ordem 
de habeas corpus tem-se admitido o pedido liminar (RHC 040.998; RHC 
041.194; RHC 041.280), que com mais razão ainda deverá ser admitido em 
casos de réu preso. 
 
Essa jurisprudência consolidou-se de há muito nos 
casos de impetração direta de habeas corpus, e, ao que parece, apenas está 
sendo trasladada ao Recurso Ordinário Constitucional que atua no mesmo 
terreno processual. 
 
No mínimo, é entendimento consolidado no STJ ser 
possível, “em circunstâncias específicas e excepcionais, a concessão de efeito 
suspensivo a recurso ordinário cautelar de efeito ativo, desde que utilizada, pelo 
110 
 
interessado, a competente medida cautelar inominada (arts. 34, inciso V, e 288, 
do RISTJ)”. 
 
Legitimidade passiva para interposição 
 
Nos casos em que o Recurso Ordinário for interposto 
por denegação de habeas corpus surge uma polêmica sobre a exigência ou não 
de capacidade postulatória do recorrente. O assunto é pouco tratado pela 
doutrina, mas acompanhamos o entendimento de Mossin sobre a necessidade 
de interpretação ampla e utilização do art. 654 do CPP, não se exigindo 
capacidade postulatória do recorrente como não se exige do que impetra habeas 
corpus, inclusive sendo essa a posição adotada pelo STF (HC 86.307). 
Complementando o citado autor, colacionamos o disposto no art. 7º, 6 do Pacto 
de São José da Costa Rica que impede a restrição do recurso que tenha por 
base questionar a ilegalidade da prisão, o que é a tônica do remédio 
constitucional. 
 
Já para os casos de Mandado de Segurança, não há 
motivos para que se dispense a capacidade postulatória, já que é conditio da 
impetração do mandamus. 
 
Procedimento no STJ 
 
O procedimento para processamento e julgamento de 
Recurso Ordinário Constitucional de competência do STJ (art. 105, II, da CF/88) 
está disciplinado tanto pela Lei nº 8.038/90, que neste ponto não foi revogada, 
quanto pelo Regimento Interno do STJ (RISTJ). 
 
No que se refere ao Recurso Ordinário contra decisão 
denegatória de habeas corpus, o procedimento encontra-se previsto nos arts. 30 
a 32 da referida lei, bem como nos arts. 244 a 246 do RISTJ. O prazo para 
interposição do recurso é de 5 dias, devendo este ser interposto por petição nos 
próprios autos, estar acompanhado das razões de reforma que ataquem 
111 
 
diretamente os motivos da decisão e ser dirigido ao presidente do tribunal que 
denegou a ordem de habeas corpus. 
 
Ao presidente do tribunal a quo caberá apenas 
encaminhar os autos de habeas corpus com o respectivo recurso ao STJ, sem 
mais, ou seja, sempre entendemos (com Tourinho) que não cabia, nesse 
momento, qualquer juízo de admissibilidade ou sequer contrarrazões por 
parte do Ministério Público (quando o HC denegado atacava ação penal pública) 
ou do querelante (quando o HC denegado atacava ação penal privada). 
Explicamos. 
 
Com relação às contrarrazões, além da ausência de 
previsão legal, também não haveria como se falar em parte contrária e, conforme 
previsão do art. 31 da Lei nº 8.038/90, a manifestação do Ministério Público será 
exarada pelo Procurador Regional que atua perante o STJ. Não desconhecemos 
que em muitos casos os autos chegam ao STJ munidos de contrarrazões e 
mesmo de manifestação de admissibilidade (p. ex., RHC 037.518). 
 
Mas parece-nos que muito mais por inércia do órgão 
ministerial, já que não há determinação ou sequer previsão legal possibilita que 
em muitos outros casos não sejam apresentadas contrarrazões ou, o que é pior, 
que o Ministério Público ofereça contrarrazões em caso de Recurso Ordinário 
Constitucional que denega habeas corpus com pedido de trancamento de ação 
penal privada (RHC 014.941/RO), situação na qual tal órgão não tem nenhum 
remoto interesse. Nem mesmo em Recurso Ordinário Constitucional que 
contesta decisão em mandado de segurança sempre estão presentes as 
contrarrazões, situação que faria até mais sentido por adoção do rito semelhante 
ao da apelação (RMS 029.450). 
 
E no tocante ao juízo de admissibilidade, o art. 34 da 
Lei nº 8.038/90 fez menção apenas a tal procedimento nos casos de Recurso 
Ordinário Constitucional em Mandado de Segurança, e remeteu à matéria do 
CPC. Por isso, até o STJ (Agravo Regimental 1.422.409/PR, EDcl no Ag 
1.075.509/MT) reconheceu que nos termos do revogado art. 544 do CPC caberia 
112 
 
agravo de instrumento da decisão de tribunal que negar seguimento do Recurso 
Ordinário Constitucional. 
 
Contudo, não há previsão semelhante para os casos 
de habeas corpus na Lei nº 8.038/90. E se a finalidade da lei fosse essa, deveria 
haver disposição expressa ou no mínimo a referência também ao habeas 
corpus de adoção de algum procedimento análogo do CPP, o que não houve. 
 
Ainda, a corroborar nosso entendimento, trata-se de 
um recurso contra denegação de um remédio constitucional que lida com a 
liberdade, como é o caso de habeas corpus. A fundamentar tal posição está toda 
a previsão legal de celeridade ao habeas corpus e do próprio recurso (p. ex., 
submissão imediata à pauta) e a previsão do supracitado art. 7º, 6 do Pacto de 
São José da Costa Rica, que repudia qualquer tipo de restrição. 
 
Existem posições em contrário, que mencionam a 
elaboração de contrarrazões (Nucci) ou de juízo de admissibilidade (Bonfim, 
Lopes Jr., Mossin), mas sem justificar, discutir ou fundamentar legalmente a 
posição. 
 
No Estado de São Paulo era comum que o Ministério 
Público ofertasse contrarrazões, provavelmente porque o antigo Regimento 
Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo possuía todo um procedimento sobre 
o Recurso Ordinário Constitucional e que previa, além de contrarrazões, um juízo 
de admissibilidade. Tal previsão não mais existe no atual regimento. 
 
Chegando o Recurso Ordinário Constitucional ao 
STJ, será distribuído a um relator que fará o juízo de admissibilidade. Conhecido 
o recurso, será dada vista ao Ministério Público Federal por 2 dias. Após a 
manifestação do MP, os autos irão à conclusão, devendo o relator incluir o 
recurso a julgamento na primeira sessão. 
 
Quando se tratar de Recurso Ordinário contra decisão 
denegatória de Mandado de Segurança, o procedimento é o fixado nos arts. 33 
113 
 
a 35 da Lei nº 8.038/90 e pelos arts. 247 e 248 do RISTJ, sendo semelhante ao 
procedimento referente à decisão denegatória de habeas corpus, exceto nos 
seguintes pontos: o prazo de interposição é de 15 dias e de vista do MP de 5 
dias; no que se refere à admissibilidade do Recurso e ao procedimento no 
tribunal recorrido, aplicam-se as regras da apelação (art. 1.013 do CPC). Essa 
diferença procedimental dá-se em virtude da natureza de ação civil do mandado 
de segurança, ainda quando utilizado para fins criminais. 
 
Procedimento no STF 
 
O procedimento para o processamento e julgamento 
de Recurso Ordinário Constitucional dirigido ao STF foi regulamentado pelo 
próprio Regimento Interno da Suprema Corte, especificamente nos arts. 310 a 
312 (no que se refere às decisões sobre habeas corpus e mandado de 
segurança) e nos arts. 307 a 309 (no que se refere às decisões sobre “crimes 
políticos”). 
 
Quando se tratar de Recurso Ordinário dirigido ao 
STF em virtude de decisão denegatória de habeas corpus, o prazo para 
interposição do recurso será de 5 dias. O recurso será interposto, juntamente 
com as razões de reforma, nos próprios autos em que foi prolatada a decisão e 
será dirigido ao presidente do tribunalque negou a ordem. Distribuído o recurso 
ao STF, a secretaria dará vista ao Procurador-Geral da República pelo prazo de 
2 dias. 
 
Conclusos ao Relator, este submeterá o feito ao 
julgamento do Plenário ou da Turma, conforme o caso, e caberá, se houver 
interesse, sustentação oral. 
 
No que se refere ao processamento do Recurso 
Ordinário contra decisão denegatória de mandado de segurança, por ausência 
de previsão legal no RISTF, utiliza-se analogicamente o aplicável ao recurso 
endereçado ao STJ, na mesma hipótese. 
 
114 
 
Por fim, no que se refere aos crimes políticos, o 
recurso deve ser interposto no prazo de 5 dias, aplicando-se, analogicamente o 
art. 586 do CPP, com vista às partes por 5 dias, sucessivamente, para 
apresentação das razões. Distribuído o recurso e apresentado parecer do 
Procurador-Geral da República, o relator pedirá data para o julgamento. 
 
Efeitos 
 
Quanto aos efeitos, trata-se de um recurso em 
sentido amplo, o que significa dizer que os tribunais superiores poderão abordar 
toda a matéria devolvida. Também, nos termos do art. 1.027, § 2º, do CPC, o 
efeito suspensivo poderá ser concedido nos moldes do que se concede aos 
recursos especial e extraordinário (art. 1.029, § 5º, do CPC). 
 
Denegação 
 
Se o Recurso Ordinário Constitucional for denegado 
pelo tribunal a quo ou não for processado e encaminhado ao tribunal superior, 
concordamos com Tourinho Filho que entende que caberá Reclamação (art. 988, 
I, do CPC) para “preservar a competência do tribunal”, no caso, do STJ ou STF. 
 
Recurso Ordinário Constitucional × Habeas 
Corpus Substitutivo 
 
A jurisprudência do STJ e do STF há muito se 
encontrava pacificada no sentido de aceitar o habeas corpus como substituto do 
Recurso Ordinário Constitucional. Assim, nas hipóteses analisadas, quando 
houvesse denegação de um habeas corpus impetrado nos Tribunais Estaduais 
ou nos Tribunais Federais Regionais, a defesa, ao invés de interpor um Recurso 
Ordinário Constitucional (art. 105, II, da CF/88), apresentava diretamente outra 
ação de habeas corpus ao STJ, com fundamento no art. 5º, LXVIII, CF/88 (“con-
ceder-se-á ‘habeas-corpus’ sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de 
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou 
115 
 
abuso de poder”). Nessas hipóteses chama-se esse writ de “habeas 
corpus substitutivo de Recurso Ordinário Constitucional”. 
 
Entretanto, confirmando uma infeliz tendência 
jurisprudencial de tentativa de limitação do acesso aos Tribunais Superiores 
(entre as medidas nesse sentido podem-se citar a Súmula 691 do STF, as 
súmulas vinculantes, a necessidade de prequestionamento e repercussão geral 
para os Recursos Extraordinário e Especial etc.), em agosto de 2012, o STF, no 
julgamento do HC 109.956/PR, mudou seu entendimento há tempos pacificado 
e passou a não mais admitir o “habeas corpus” substitutivo de Recurso Ordinário 
Constitucional em Habeas Corpus (ROCHC), no que foi prontamente seguido 
pelo STJ (5ª Turma, HC 251.303/SP, DJe 03.12.2012; 5ª 
Turma, HC 169.556/RJ, DJe 23-11-2012 etc.). 
 
Para demonstrar os argumentos utilizados pelo STF 
para não admitir o “habeas corpus substitutivo” podem-se destacar do referido 
acórdão os seguintes trechos: 
 
“tanto o Supremo quanto o Superior Tribunal de 
Justiça estão às voltas com um grande número de habeas corpus – este Tribunal 
recebeu, no primeiro semestre de 2012, 2.181 habeas e 108 recursos ordinários 
e aquele, 16.372 habeas e 1.475 recursos ordinários”; “O habeas 
corpus substitutivo do recurso ordinário, além de não estar abrangido pela 
garantia constante do inciso LXVIII do art. 5º do Diploma Maior, não existindo 
sequer previsão legal, enfraquece este último documento, tornando-o 
desnecessário...”; “Entre duas possibilidades contempladas na Lei Fundamental, 
de modo exaustivo, não simplesmente exemplificativo, não há lugar para uma 
terceira – na espécie, o inexistente, normativamente, habeas corpus substitutivo 
do recurso ordinário, que, ante a prática admitida até aqui, caiu em desuso, 
tornando quase letra morta os preceitos constitucionais que o versam”; “É 
cômodo não interpor o recurso ordinário quando se pode, a qualquer momento 
e considerado o estágio do processo-crime, buscar-se infirmar decisão há muito 
proferida, mediante o denominado habeas corpus substitutivo, alcançando-se, 
com isso, a passagem do tempo, a desaguar, por vezes, na prescrição.” 
116 
 
 
Assim, de forma bem sucinta, pode-se dizer que o 
STF fundamentou sua mudança de posicionamento nos seguintes argumentos: 
(1) excesso de habeas corpus nos Tribunais Superiores; (2) “ausência de 
previsão legal e constitucional do ‘habeas corpus substitutivo’”; (3) comodidade 
de se interpor o “habeas corpus substitutivo” a qualquer tempo. 
 
Ousamos, entretanto, discordar do posicionamento 
adotado pela Suprema Corte. 
 
O excesso de ações na Suprema Corte não pode 
servir como justificativa para limitação do acesso ao habeas corpus, pois se trata 
de uma garantia constitucional que, nos termos do art. 5º da Constituição, 
sempre será cabível quando alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer 
coação em sua liberdade de locomoção, e quando essa ameaça decorrer de 
decisões dos Tribunais Superiores não há outra possibilidade que não recorrer 
ao STF. 
 
Ademais, o habeas corpus substitutivo não precisa 
ter previsão legal específica, pois se trata de um simples habeas corpus, previsto 
no art. 5º da CF/88. Por fim, não há que se falar em “comodidade” quando houver 
coação ou abuso de poder que ameaça o direito fundamental de ir e vir, mas sim 
de um imperativo democrático de permitir que se afastem essas ilegalidades da 
forma mais rápida possível. 
 
11. RECLAMAÇÃO: 
 
O instituto da reclamação está previsto, de modo 
genérico, nos arts. 102, I, l, e 105, I, f, da Constituição Federal, conforme 
dirigidas ao Supremo Tribunal Federal ou Superior Tribunal de Justiça, 
respectivamente. A previsão legal, por sua vez, vem inscrita nos arts. 988 a 993 
do CPC/2015, aplicáveis ao âmbito criminal por analogia, em face da revogação 
expressa dos arts. 13 a 18 da Lei 8.038/1990, que antes disciplinavam a matéria. 
 
117 
 
Trata-se de medida utilizada em casos 
excepcionais, visando à preservação da competência do tribunal ou 
assegurar a autoridade de suas decisões. 
 
Exemplo: considere-se que, inconformado com a 
decisão proferida em incidente de restituição, apele o acusado ao Tribunal de 
Justiça postulando que lhe seja devolvido o veículo apreendido. Negado 
provimento à apelação, ingressa ele com recurso especial, logrando obter do 
Superior Tribunal de Justiça o resultado desejado. Sendo provido o recurso 
especial e transitando em julgado a decisão que autoriza a restituição, mesmo 
assim o juiz de 1.º grau nega-se a cumpri-la. Neste caso, caberá reclamação ao 
Superior Tribunal de Justiça objetivando assegurar a autoridade da decisão 
então adotada por ocasião do julgamento do recurso especial. 
 
Hipótese importante que autoriza o manejo da 
reclamação encontra-se no art. 103-A, § 3.º, da CF, estabelecendo a sua 
pertinência para a hipótese de descumprimento de súmula vinculante. 
Preceitua, pois, o dispositivo que do ato administrativo ou decisão judicial que 
contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar caberá reclamação ao 
Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou 
cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou 
sem a aplicação da súmula. 
 
A teor do art. 988, § 5.º, I e II, do CPC/2015, são 
inadmissíveis: a reclamação proposta após o trânsito em julgado da decisão 
reclamada; e a reclamação proposta para garantir a observância de acórdão de 
recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão 
proferido em julgamento de recursos extraordinárioou especial repetitivos, 
quando não esgotadas as instâncias ordinárias. 
 
Questionava-se a possibilidade de ser a reclamação 
ajuizada para garantir a autoridade das decisões dos tribunais de justiça. Sem 
embargo, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 2212, que 
discutia a possibilidade de o Tribunal de Justiça do Ceará criar o instituto para 
118 
 
preservar o respeito às suas decisões, decidiu o Plenário do STF no sentido de 
que não fica obstada a previsão da reclamação na esfera estadual e sua 
utilização pelos tribunais de justiça no âmbito de sua atuação. 
 
Essa orientação, em nível legislativo, restou 
consolidada por meio do art. 988, § 1.º, do CPC/2015, dispondo este que “a 
reclamação pode ser proposta perante qualquer tribunal, e seu julgamento 
compete ao órgão jurisdicional cuja competência se busca preservar ou cuja 
autoridade se pretenda garantir”. 
 
Não é pacífica a natureza jurídica da reclamação. 
Predomina, porém, o entendimento de que se trata de uma ação 
impugnativa, tendo em vista que se destina a atacar um ato que ofende a 
competência do tribunal ou ignora a autoridade de sua decisão. 
 
Tendo em vista a finalidade do instituto, a dedução da 
reclamação pressupõe a existência de um procedimento, relativamente ao 
qual tenha ocorrido a ofensa à decisão ou à autoridade de Tribunal. 
 
Importante destacar, ainda, que, se o seu objetivo é a 
preservação da competência dos tribunais ou garantir a autoridade de suas 
decisões, poderá a reclamação ter como objeto não apenas um ato do Poder 
Judiciário (v.g., juiz que descumpre determinação constante de acórdão ao 
prover recurso da parte), como também atos do Poder Legislativo e Executivo, 
quando promoverem atos de usurpação ou insubordinação às decisões judiciais 
– desde, é claro, que seja incabível outra medida. Isto, aliás, fica bem evidente 
na análise do precitado art. 103-A, § 3.º, da CF, e, também, do art. 7.º da Lei 
11.417/2006, que regulamenta a edição, revisão e cancelamento de súmula 
vinculante. 
 
De acordo com o art. 988, caput, do CPC/2015, que 
reproduz o disposto no revogado art. 13 da Lei 8.038/1990, 
possuem legitimidade ativa para a reclamação a parte interessada e o Ministério 
Público. Discute-se o alcance da expressão parte interessada prevista no 
119 
 
dispositivo. Entretanto, ainda na vigência do mencionado art. 13, já se vinha 
entendendo possível o uso de interpretação extensiva nesse conceito, podendo 
abranger qualquer terceiro juridicamente interessado, a exemplo do assistente 
de acusação, mesmo que ainda não habilitado formalmente no processo 
criminal. 
 
No que tange à legitimidade passiva, é tratada no 
art. 990 do CPC/2015, estabelecendo que qualquer interessado poderá impugnar o 
pedido do reclamante. Frise-se que o próprio STF, em tempos pretéritos, já 
considerou legitimada toda pessoa que possua interesse jurídico na causa, 
independentemente de ter ocorrido um chamamento formal para ingressar no 
processo da reclamação. Asseverou-se, porém, que, ao ingressarem na causa, 
tais interessados a receberão no estado em que estiver. 
 
Prazo: 
 
Não existe previsão legal de prazo para a propositura 
da reclamação. Assim, deduz-se que pode ser intentada a qualquer tempo. 
 
Repisa-se, contudo, que não é cabível ajuizar a 
reclamação em data posterior ao trânsito em julgado da decisão reclamada, 
vedação esta que restou estabelecida, em nível legislativo, pelo art. 988, par. 5.º, 
inc. I, do CPC/2015 e que, mesmo antes disso, já estava inserida na Súmula 734 
do STF ao preceituar que não cabe reclamação quando já houver transitado em 
julgado o ato judicial que se alega ter desrespeitado decisão do Supremo 
Tribunal Federal. 
 
Forma 
 
A reclamação deve ser confeccionada por petição, já 
acompanhada das respectivas razões e instruída com prova documental (art. 
988, § 2.º, do CPC/2015). 
 
Procedimento 
120 
 
 
Seguem-se as regras dispostas nos arts. 988 a 993 
do CPC/2015, bem como disposições regimentais dos tribunais, sendo 
endereçada ao Presidente do Tribunal cuja decisão ou autoridade foi 
desrespeitada. Frise que não é admitida, na sua tramitação, a produção de 
provas, razão pela qual esta deve estar pré-constituída por ocasião do 
ajuizamento (art. 988, § 2.º). 
 
Autuada a reclamação e distribuída, sempre que 
possível, ao Relator do processo principal (art. 988, § 3.º), este poderá ordenar 
a suspensão do processo ou do ato impugnado, se isto for necessário para evitar 
dano irreparável. Contemporaneamente, requisitará ele informações da 
autoridade a quem for imputada a prática do ato impugnado, que as deverá 
prestar em dez dias, e, também, determinará a citação do beneficiário da decisão 
impugnada, que terá prazo de quinze dias para apresentar sua contestação (art. 
989, I, II e III do CPC/2015). 
 
Repisa-se que qualquer interessado pode impugnar o 
pedido (art. 990). 
 
Após o decurso do prazo para informações e para o 
oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato impugnado, não sendo o 
autor da reclamação, o Ministério Público terá vista dos autos pelo prazo de cinco 
dias, para parecer. 
 
Por fim, é a medida submetida a julgamento pelo 
órgão competente. 
 
Julgada procedente a reclamação, procederá o 
tribunal à cassação da decisão exorbitante de seu julgado ou determinará a 
medida adequada à solução da controvérsia. Essas determinações serão 
cumpridas imediatamente, sendo o acórdão decorrente do julgamento da 
reclamação lavrado posteriormente. 
 
121 
 
Órgão julgador 
 
Se o Tribunal, cuja autoridade tiver sido afrontada, for 
o Supremo Tribunal Federal, dispõe o art. 9.º, I, c, do seu Regimento Interno 
(modificado pela Emenda Regimental 49/2014) que cabe às Turmas processar 
e julgar originariamente todas as reclamações que visem a preservar a 
competência da Corte ou a garantir a autoridade de suas decisões ou Súmulas 
Vinculantes. 
 
Já no caso do Superior Tribunal de Justiça, 
estabelece o art. 11, X, do respectivo Regimento Interno que compete à Corte 
Especial processar e julgar as reclamações para a preservação de sua 
competência e garantia de suas decisões. Na sequência, dispõe o art. 12, III, do 
mesmo Regimento que cabe às Seções processar e julgar as reclamações para 
a preservação de suas competências e garantia da autoridade de suas decisões 
e das Turmas. 
 
 
AÇÕES IMPUGNATIVAS: 
 
12. Habeas corpus 
 
I. Natureza jurídica 
 
O habeas corpus tem como natureza jurídica de ação 
autônoma de impugnação. 
 
Segundo o art. 5º, LVII, CF, conceder-se-á habeas 
corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou 
coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. 
 
Segundo o STF, é desnecessária a prévia discussão 
acerca de matéria objeto de habeas corpus impetrado originariamente no STJ, 
quando a coação ilegal ou o abuso de poder advierem de ato de TRF no exercício 
122 
 
de sua competência penal originária. Ao fazer essa exigência, o STJ está 
impondo para o habeas corpus o requisito do “prequestionamento”, que somente 
é aplicável nos casos de recurso especial ou recurso extraordinário (Inf. 778). 
 
 
II. Espécies 
 
O habeas corpus se classifica em 3 espécies: 
 
Habeas corpus repressivo (liberatório): ocorre na 
hipótese em que já tenha sido consumado o constrangimento ilegal ou o abuso 
de poder em relação à liberdade de locomoção. Neste caso, concede-se a ordem 
e expede-se alvará de soltura. 
 
Habeas corpus preventivo: o constrangimento ainda 
não ocorreu, mas há um fundado receio de que este constrangimento ilegal ou 
o abuso de poder em relação à liberdade de locomoção ocorra. Há uma ameaça 
de prisão que justifica a concessão da ordem, devendo ser séria e concreta. 
Neste caso, ao conceder a ordem, expede-se salvo conduto. 
 
Habeas corpus profilático: destinado a suspender 
atosprocessuais, ou a impugnar medidas que possam importar em um 
prisão futura com aparência de legalidade. No entanto, esta decisão futura 
já está contaminada por uma ilegalidade anterior. 
 
Percebam que há uma ilegalidade na origem que 
justifica a necessidade de uma medida, visto que esta medida, no futuro, poderá 
implicar a prisão de alguém. Trata-se de um constrangimento ilegal potencial, no 
futuro. 
 
Ex.: impetração de HC para trancamento da ação 
penal, eis que poderá implicar uma ilegalidade no futuro. 
 
123 
 
Ex.: para que haja crime tributário material, é 
indispensável que haja no futuro a constituição definitiva do crédito tributário por 
processo administrativo fiscal. 
 
Caso o MP ofereça denúncia antes da constituição 
definitiva e o juiz receba a denúncia, poderá o réu impetrar HC profilático para 
trancar a ação penal. Outro exemplo é a impetração de HC profilático em caso 
de suspensão de um processo em caso de questão prejudicial externa 
obrigatório, que é o caso da questão prejudicial que verse sobre o estado de 
pessoas. 
 
III. O constrangimento ilegal 
 
O art. 648 do CPP traz as hipóteses em que se 
considera existir um constrangimento ilegal: 
 
Quando não houver justa causa: 
 
Justa causa para uma coação é quando estiver 
prevista em lei ou tiver observados os requisitos. Portanto, se não há justa causa 
para condenação, pois a hipótese não se enquadra a um permissivo legal ou 
porque não estão presentes os requisitos legais, está ausente a justa causa, 
havendo um constrangimento ilegal. 
 
Quando alguém estiver preso por mais tempo do que 
determina a lei: 
 
A prisão temporária tem prazo. Vencido o prazo, o 
sujeito deverá ser posto imediatamente em liberdade. Caso não seja posto, 
caberá HC para que não fique preso por mais tempo do que determina a lei. 
 
Ex.: sujeito está preso por mais tempo do que deveria. 
Este excesso retira a razoabilidade da prisão, devendo ser caso de relaxamento. 
Por exemplo, o MP deve oferecer denúncia em 5 dias caso o réu esteja preso. 
124 
 
Caso o MP não ofereça em 5 dias, e o réu continue preso, poderá o sujeito 
impetrar HC. 
 
 Quando quem ordenar a coação não tiver 
competência para fazê-lo: 
 
Falta competência para o ordenador da prisão, sendo 
passível de habeas corpus. Ex.: promotor de justiça sendo preso por ordem do 
juiz de direito, quando deveria se dar por ordem do Tribunal. 
 
Quando houver cessado o motivo que autorizou a 
coação: 
 
Aqui acabou o motivo, devendo ser posto em 
liberdade. Caso não o seja, caberá HC. 
 
Ex.: prisão preventiva decretada para conveniência 
da instrução criminal. Prolatada a sentença, não há mais instrução criminal. 
Cessado o motivo, deverá a prisão ser cessada, por meio de revogação. 
 
Quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos 
casos em que a lei a autoriza: 
 
Basicamente, todos os crimes admitem fiança, salvo 
os crimes inafiançáveis ou se o sujeito quebrou a fiança anteriormente. Ex.: 
racismo, ação de grupos armadas, terrorismo, tortura e tráfico de drogas, bem 
como os crimes hediondos. 
 
Caso o crime coubesse fiança, mas o juiz não admitiu 
que fosse fixada a fiança, ainda que a lei autorizasse. A impetração do HC não 
é para liberar o sujeito, e sim para o arbitramento da fiança. 
 
Quando o processo for manifestamente nulo: 
 
125 
 
A impetração do HC não tem por finalidade colocar o 
sujeito em liberdade. Na verdade, essa modalidade de HC tem por objetivo a 
anulação do processo, podendo ser total ou parcial. 
 
Quando extinta a punibilidade: 
 
A punibilidade pode se extinguir pela prescrição, 
decadência, perempção, abolitio criminis, etc. O objetivo do HC, neste caso, é o 
reconhecimento de que esta punibilidade está extinta. Consequentemente o 
processo deve ser arquivado, ou se estivermos em fase extraprocessual, o 
inquérito policial deverá ser arquivado. 
 
IV. Sujeitos do habeas corpus 
 
São 3 basicamente os sujeitos: 
 
Paciente: é quem sofre ou quem está ameaçado de 
sofrer o constrangimento ilegal ou abusivo. Apenas pessoas físicas podem ser 
pacientes de habeas corpus, pois aqui se trata da liberdade de locomoção. 
 
Coator: é quem determina ou executa o 
constrangimento ilegal ou abusivo. Poderá ser coator tanto uma autoridade 
pública como um particular. Sendo o constrangimento decorrente de abuso de 
poder, é forçoso convir que se estará diante de uma responsabilidade de 
autoridade. 
 
Em matéria de ilegalidade, qualquer particular poderá 
exercer. Ex.: médico que não libera paciente, mesmo que comprovado a 
recuperação da saúde mental. Norberto Avena ainda aduz que a manutenção do 
indivíduo sadio numa clínica particular justifica o HC, sem prejuízo de 
configuração de cárcere privado (art. 148, CP). 
 
 Impetrante: é quem impetra o HC. Poderá ser 
qualquer pessoa do povo, ou até mesmo o próprio paciente. Não se exige a 
126 
 
presença de advogado para impetração de HC. Há uma divergência acerca da 
exigência ou não de capacidade postulatória para recorrer de decisão que 
denegou o HC. Há julgados nos dois sentidos nos Tribunais Superiores, 
prevalecendo o entendimento de que se exige capacidade postulatória em caso 
de recurso decorrente de habeas corpus. 
 
Para impetração de HC também não se exige 
capacidade civil, podendo inclusive um menor impetrar habeas corpus. Desde 
que alguém assine a seu rogo, o analfabeto poderá impetrar HC. Pessoa jurídica 
também poderá impetrar HC. O MP também poderá impetrar HC em favor do 
réu. O juiz pode “expedir de ofício ordem de habeas corpus”, mas ele não impetra 
o habeas corpus. Ele, identificando por si mesmo ilegalidade da prisão, 
simplesmente o concede de ofício. O delegado também poderá impetrar habeas 
corpus em favor do paciente. 
 
V. Petição de habeas corpus 
 
O art. 654 traz os requisitos da petição de habeas 
corpus: 
 
Identificação do paciente: nome da pessoa que 
sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação. 
 
Identificação da autoridade coatora ou particular: 
nome de quem exerce a violência, coação ou ameaça; 
 
Declaração da espécie de constrangimento ou, 
em caso de ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor: deverá 
dizer qual é o fato, demonstrando a ilegalidade do constrangimento. 
 
Assinatura do impetrante: não se admite habeas 
corpus apócrifo, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder 
escrever, e a designação das respectivas residências. 
 
127 
 
VI. Habeas corpus e punição disciplinar militar 
 
O art. 142, §2º, CF diz que não cabe habeas corpus 
em relação a punições disciplinares militares. 
 
Essa impossibilidade não é absoluta. Na verdade, 
não cabe habeas corpus para questionar o mérito de uma punição disciplinar 
militar. Mas nada impede a impetração de habeas corpus para questionar a 
forma e vícios formais. 
 
Ex.: houve cerceamento de defesa numa punição 
militar. Também caberá quando a decisão militar aplicou a punição X, quando na 
verdade cabe a punição Y para aquela infração. 
 
VII. Habeas corpus e estado excepcional (sítio) 
 
O art. 139 da CF diz que na vigência do estado de 
sítio pode ser tomada contra as pessoas as seguintes medidas: 
 
1. obrigação de permanência em localidade 
determinada; 
2. detenção em edifício não destinado a acusado ou 
condenados por crimes comuns; 
3. busca e apreensão em domicílio; 
 
Em razão dessa previsão, em tese, seria descabido 
habeas corpus contra uma situação permitida na Constituição. 
 
Todavia, essa vedação ou impossibilidade do habeas 
corpus se restringe à impugnação do mérito, mas poderá questionar eventual 
vício de natureza formal, ou então aquela prisão se mostrou absolutamente 
ilegal. O que se ressalta aqui é que na verdade, excepcionalmente, será admitido 
o habeas corpus por ter havido uma teratologia nas medidas tomadas. 
 
128VIII. Possibilidade de liminar em habeas corpus 
 
Não existe previsão legal de liminar em habeas 
corpus. Apesar de não existir previsão, a doutrina e a jurisprudência são sólidas 
no sentido de que cabe liminar em habeas corpus, desde que presentes o fumus 
comissi delicti e o periculum libertatis. 
 
Não se admite habeas corpus contra decisão 
denegatória de liminar. O sujeito impetra um habeas corpus, sendo distribuído a 
um Relator. Esse Relator nega a liminar do HC, não sendo julgado o HC. Dessa 
decisão denegatória não caberá habeas corpus. 
 
Seria possível habeas corpus se a decisão do Relator 
fosse teratológica, despida de qualquer razoabilidade, ainda que fosse 
denegatória de liminar. 
 
A admissão de habeas corpus contra decisão liminar 
de Relator implicaria em supressão de instância, pois o órgão colegiado na 
instância inferior ainda não julgou o HC efetivamente. 
 
IX. Competência para o habeas corpus 
 
Em razão da competência de habeas corpus, 
percebe-se que juiz ou colegiado de Tribunal tem competência em relação à 
violência ou coação proveniente de autoridade ou de órgão de inferior hierarquia. 
 
Juiz tem competência para julgar habeas corpus em 
relação a constrangimento de autoridades vinculadas a outros poderes. 
 
Ex.: sendo autoridade coatora o servidor ou 
autoridade do ministério da fazenda poderá o habeas corpus ser julgado pelo 
juiz de primeira instância. Além disso, também terá competência para julgar 
habeas corpus de ato de particular. 
 
129 
 
E se o habeas corpus for impetrado contra ato 
proveniente de juizado especial criminal? O entendimento pacificado é de que 
cabe à Turma Recursal para julgar o habeas corpus proveniente de ato do 
JECRIM. 
 
E se o habeas corpus for impetrado contra ato 
proveniente da Turma Recursal? Neste caso, apesar da divergência, entende-
se que competência para julgar o habeas corpus será do TJ ou do TRF. 
 
a) Competência do STF para julgar habeas corpus 
 
O STF tem competência para julgar habeas corpus 
sendo paciente: 
 
1. presidente ou vice-presidente da república 
2. membro do congresso nacional 
3. membro de tribunal superior 
4. procurador-geral da república 
5. ministro de estado 
6. comandante das forças armadas 
7. ministro do TCU 
8. chefe de missão diplomática em caráter permanente 
 
O STF terá competência quando forem coatores ou 
pacientes: 
 
1. Tribunais Superiores 
2. autoridades ou funcionários, cujos atos estejam 
diretamente submetidos à jurisdição do STF: ex.: presidente 
da república, quando for coator ou paciente, no HC, haverá 
julgamento pelo Supremo. O mesmo ocorre em relação aos 
deputados federais. 
130 
 
3. crimes sujeitos à jurisdição do STF numa única 
instância: se o crime será julgado pelo STF, eventual HC a 
ser apreciado, será julgado pelo Supremo. 
 
b) Competência do STJ para julgar habeas corpus 
 
Com relação ao STJ, a competência será do STJ 
quando for coator ou paciente: 
 
1. Governador do Estado ou do DF 
2. Desembargador, 
3. membros do Tribunal de Contas dos Estados e do 
Distrito Federal 
4. membros do Ministério Público da União que oficiem 
perante os Tribunais 
5. membros dos Conselhos ou Tribunais de contas do 
Município 
6. membros dos TRF’s, dos TRE's e dos TRT’s 
7. quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição 
do STJ 
8. coator for Ministro de Estado 
9. coator for Comandante da Marinha, do Exército ou da 
Aeronáutica 
 
Veja quando o paciente for ministro de estado será 
julgado pelo Supremo, assim como o caso do Comandante da Marinha, do 
Exército ou da Aeronáutica. 
 
Em todos os casos fica ressalvada a competência da 
Justiça Eleitoral. 
 
X. Habeas corpus substitutivo de via ordinária 
recursal 
 
131 
 
Considerando as seguintes hipóteses: uma pessoa 
impetra habeas corpus perante um juiz (primeira instância), contra um ato de um 
delegado de polícia, mas a ordem foi denegada. Qual seria o recurso cabível? 
Seria caso de RESE. 
 
Uma outra pessoa impetrou habeas corpus perante o 
TJ, contra o ato do juiz de direito. Houve uma denegação do habeas corpus pela 
câmara julgadora. Poderá o impetrante recorrer? Aqui caberá recurso ordinário 
constitucional para o STJ. 
 
O que é o habeas corpus substitutivo da via ordinária 
recursal? 
 
Basicamente é, ao invés de recorrer em sentido 
estrito (RESE) ou de recurso ordinário constitucional, o impetrante impetra HC 
na instância superior. Trata-se de uma faculdade outorgada ao interessado no 
sentido de optar, ao invés de recurso, por habeas corpus substitutivo. 
 
Os Tribunais Superiores passaram a entender pelo 
não cabimento do habeas corpus substitutivo. 
 
No entanto, sendo o caso teratológico, os Tribunais 
Superiores vem agindo da seguinte forma: não conhecem do habeas corpus 
substitutivo, mas conhecem do habeas corpus de ofício. 
 
XI. Processamento do habeas corpus impetrado 
perante o juiz de direito 
 
O juiz recebe a petição, examina a possibilidade de 
concessão de liminar. O deferimento da liminar não se condiciona da existência 
de um requerimento expresso, podendo o juiz conceder ainda que não tenha 
esse pedido de liminar. 
 
132 
 
Caso não haja a concessão da liminar e o paciente 
estiver preso, poderá o juiz determinar que a ele sendo apresentado, procedendo 
o seu interrogatório. Esta apresentação do preso ao juiz é pouco utilizada. 
 
O que há, para fins de substituição da apresentação 
do preso, é a requisição de informações ao coator, a fim de que ele esclareça o 
porquê o sujeito está preso. 
 
Tendo sido apresentadas as informações 
requisitadas à autoridade, o juiz então decidirá no prazo de 24 horas sobre a 
concessão ou não da ordem. 
 
XII. Processamento do habeas corpus impetrado 
perante o Tribunal de Justiça e os Tribunais Regionais Federais 
 
A petição de habeas corpus é protocolada, sendo 
dirigida ao presidente do Tribunal ou ao Relator. 
 
Poderá o Relator indeferir liminarmente o HC. Neste 
caso, sendo indeferida liminarmente, deverá ser levada ao órgão colegiado para 
deliberação, tendo em vista o indeferimento liminar da ordem. 
 
Na atualidade, o indeferimento liminar do habeas 
corpus tem-se esgotado no julgamento monocrático do Relator. 
 
Isso porque o Novo CPC dispõe que o Relator negará 
seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado 
ou em confronto com súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal, do STF 
ou de Tribunal Superior. Então, a partir dessa leitura, se a jurisprudência 
dominante ou a súmula já prejudica o habeas corpus, não haverá necessidade 
de se levar o habeas corpus ao órgão colegiado, apesar da existência de 
previsão legal. 
 
133 
 
Supondo que não haja o indeferimento imediato, a 
autoridade deverá apreciar a possibilidade de concessão da liminar do HC. 
 
Sendo deferida ou não essa liminar, serão 
requisitadas informações ao coator. O coator prestará informações, as quais 
serão recebidas pelo desembargador Relator e aí o HC será julgado pelo 
colegiado competente. 
 
Se houver empate, o presidente, caso não tenha 
participado, apresentará seu voto, que é o voto de minerva. Todavia, caso o 
presidente tenha participado, e ainda assim houver empate, prevalecerá a 
decisão mais favorável ao réu. 
 
XIII. Processamento do habeas corpus impetrado 
perante os Tribunais Superiores 
 
Neste caso, serão aplicadas as normas estabelecidas 
no CPP aos Tribunais de Justiça e aos Tribunais Regionais Federais, além do 
que estiver previsto no regimento interno do Tribunal Superior. 
 
XIV. Impugnação das decisões no habeas corpus 
 
Vindo a decisão de um juiz denegatória de um habeas 
corpus, e a decisão é do juiz de primeiro grau. Sendo concessiva ou denegatória, 
caberá RESE. 
 
Ainda que tendo sido concessiva, e não tendo sido 
interposto o RESE,o caso será de reexame necessário, devendo o juiz enviar 
os autos ao Tribunal. 
 
Se o acórdão foi proferido por Tribunal em habeas 
corpus, qual seria o recurso cabível? 
 
134 
 
Sendo denegatório o acórdão, caberá recurso 
ordinário constitucional ao STJ. Sendo concessiva a ordem, caberá recurso 
especial ou recurso extraordinário, a depender do caso. 
 
Se for uma decisão sobre habeas corpus no âmbito 
STJ, TSE, TST, STM? 
 
Neste caso, sendo denegatória, caberá recurso 
ordinário constitucional ao STF. Sendo concessiva, caberá no máximo um 
recurso extraordinário, visto que foi o próprio STF quem julgou. 
 
13. Revisão criminal 
 
I. Conceito 
 
Revisão criminal é uma ação autônoma de 
impugnação, tendo como finalidade desconstituir uma decisão judicial 
condenatória transitada em julgada. 
 
Poderá a revisão criminal ser deduzida inclusive após 
a morte do réu. 
 
II. Pressupostos 
 
São pressupostos de uma revisão criminal: 
 
1. Decisão judicial condenatória 
2. Decisão transitada em julgado 
 
Portanto, não se admite revisão criminal para 
desconstituição de sentença absolutória. Uma exceção é a absolvição imprópria, 
visto que teria objetivo de desconstituir a medida de segurança imposta. 
 
135 
 
Provocação: cabe revisão criminal de uma decisão do 
Tribunal do Júri? 
 
Apesar de alguma divergência, o entendimento que 
prevalece é o de que é possível revisão criminal de decisão prolatada pelo 
Tribunal do Júri. 
 
O art. 625, §1º, CPP diz que o requerimento de 
revisão criminal deve ser instruído com a certidão de que houve o trânsito em 
julgado da sentença condenatória. Trata-se de requisito formal. 
 
III. Cabimento 
 
Em que hipóteses a revisão criminal vai ter 
cabimento? 
 
O art. 621 do CPP traz um rol taxativo: 
 
Quando a sentença condenatória for contrária ao 
texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos: 
 
Este inciso traz duas hipóteses: 
 
1. sentença contrária ao texto expresso de lei 
 
2. sentença contrária à evidência dos autos 
 
Atenção! Se for um dispositivo legal que permita duas 
ou mais interpretações e o juiz adotou uma delas, não se tem uma decisão 
contrária ao texto expresso de lei. E, portanto, não estaríamos diante de um caso 
que justifica a revisão criminal. 
 
136 
 
Da mesma forma, com relação à sentença contrária à 
evidência dos autos, não caberá revisão criminal se o juiz entendeu que as 
evidências não seriam suficientes para absolver o réu. 
 
Quando a sentença condenatória se fundar em 
depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos: 
 
Não é que havia documento falso no processo. 
Significa que a sentença se fundou no documento falso. O sujeito foi condenado 
em razão daquele documento falso, ou seja, é preciso que este elemento tenho 
sido uma das principais bases daquela sentença condenatória. 
 
Não se admite dilação probatória em revisão criminal. 
Portanto, a prova da falsidade deve ingressar anexada à petição inicial da 
revisão criminal, sob pena de indeferimento liminar. Não se pode requerer que 
seja demonstrada a falsidade da prova no curso da ação de revisão criminal, 
visto que esta ação não possui fase instrutória. 
 
Quando, após a sentença, se descobrirem novas 
provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou 
autorize diminuição especial da pena: 
 
Houve uma descoberta de uma nova prova que 
implica absolvição, como por exemplo um vídeo que faz a prova de que o 
condenado estaria caminhando no dia do crime em um shopping center, mas o 
crime foi cometido em outra cidade. Este vídeo prova que não foi o culpado. 
 
IV. Dilação probatória 
 
A revisão criminal não comporta contraditório, pois 
não tem fase instrutória, tampouco fase voltada à produção de prova. 
 
137 
 
O art. 625, §1º, diz que o requerimento será instruído 
com a certidão de trânsito em julgado da sentença condenatória e com as peças 
necessárias à comprovação dos fatos arguidos. 
 
Mas e se a prova foi um depoimento falso que 
necessitará de produção probatória num processo, a fim de demonstrar que o 
documento foi falso? Neste caso, o indivíduo deverá requerer ao juízo de 1º 
grau a realização de uma audiência de justificação prévia. O sujeito 
ingressará com uma ação cautelar de justificação prévia, produzindo a prova no 
primeiro grau. Após, ingressa com revisão criminal no Tribunal, a fim de que o 
Tribunal perceba o erro cometido. 
 
V. Legitimidade perante o ajuizamento 
 
Quem pode propor a revisão criminal? 
 
O art. 623 vai dizer: o réu, o procurador legalmente 
habilitado. No caso de morte do réu, o CADI (cônjuge, ascendente, descendente 
ou irmão). 
 
Apesar de alguma divergência, prevalece o 
entendimento de que é necessário para o ajuizamento de revisão criminal por 
meio de advogado. 
 
O MP pode ajuizar revisão criminal em favor do réu? 
 
Há divergência doutrinária. Norberto Avena entende 
que sim, mas há parcela que entende que não. 
 
VI. Ausência de prazo para o ingresso 
 
Não há prazo para ingresso de revisão criminal. 
 
138 
 
A revisão criminal poderá ser ajuizada mesmo depois 
de cumprida a pena, extinta a pena ou morte do réu. Portanto não há prazo para 
ingresso. 
 
VII. Competência para julgamento da revisão 
criminal 
 
A revisão criminal é uma ação de competência 
originária dos Tribunais. 
 
STF e o STJ serão competentes para as revisões 
criminais decorrente das próprias decisões. 
 
TJ e TRF serão competentes para julgamento de 
revisões criminais decorrente das próprias decisões e também revisões criminais 
decorrentes de decisões de juízo de primeiro grau, a eles vinculados. 
 
VIII. Revisão criminal e o reconhecimento de 
nulidades 
 
As hipóteses do art. 621 comportam revisão criminal. 
Inclusive essas hipóteses são taxativas. 
 
Não há no art. 621 a previsão de ingresso de revisão 
criminal contra decisão que tenha incidido em nulidade durante a marcha 
processual. 
 
O STJ apresentou um entendimento no sentido de 
que a revisão criminal ajuizada pela defesa não pode se fundar em nulidade da 
marcha processual. Para o STJ, neste caso, caberia à defesa impetrar um 
habeas corpus contra a sentença transitada em julgado condenatória que tenha 
incidido em nulidade absoluta. 
 
139 
 
Portanto, não seria cabível revisão criminal contra a 
decisão que esteja eivada de nulidade absoluta. O tema não é absolutamente 
pacífico, tendo o professor Norberto Avena se posicionado a favor da revisão 
criminal. 
 
IX. Procedimento da revisão criminal 
 
A petição da ação de revisão criminal será distribuída 
no órgão competente. 
 
Um Relator irá verificar se estão presentes os 
requisitos ou não da revisão criminal, devendo trazer todos os elementos de 
convicção para julgamento. 
 
O relator vai apreciar se os elementos são 
necessários e suficientes para julgamento. Se o pedido estiver regular, o juiz 
determinará que seja aberta vista ao MP, o qual dará o parecer e após serão os 
autos conclusos para julgamento. 
 
A segunda opção que poderá ocorrer é o relator 
entender que a petição está insuficientemente instruída, podendo fazer: 
 
1. indeferir liminarmente a petição inicial da revisão 
criminal 
 
2. determinar o apensamento da revisão criminal aos 
autos original da ação criminal 
 
Após, abrir-se-á vista ao MP, o qual dará parecer. 
Após, os autos serão conclusos para julgamento. 
 
X. Consequências jurídicas da procedência da 
revisão criminal 
 
140 
 
O art. 626 traz soluções possíveis, dizendo que 
julgada procedente a revisão, o tribunal pode: 
 
1. alterar a classificação da infração 
2. absolver o réu 
3. modificar a pena 
4. anular o processo 
 
Cabe ressaltar que, segundo o parágrafo único, de 
qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista. 
Veja, nãodiversa, na 
qual o juízo de admissibilidade feito no tribunal a quo é extremamente rígido, 
encontramos nos recursos especial e extraordinário, em que, como regra, os 
Tribunais de Justiça dos estados e os Tribunais Regionais Federais fazem uma 
poderosa filtragem, dificultando ao máximo a subida dos recursos. 
 
Trata‐se, para além das questões teóricas, de uma 
medida de política judiciária em que, em matéria penal, a regra é dificultar ao 
máximo o prosseguimento desses recursos, um verdadeiro filtro, diante da 
sobrecarga dos tribunais superiores. Mais interessante ainda é que muitas vezes 
existe uma clara preocupação em decidir sem prequestionar a matéria, para 
evitar‐se o acesso aos Tribunais Superiores, e o mesmo tribunal que decide com 
essa preocupação é o que, a seguir, irá novamente colocar empecilho ao 
prosseguimento do recurso especial/extraordinário quando do juízo de 
(in)admissibilidade. 
 
Infelizmente, ao invés de aumentar‐se a capacidade 
desses tribunais para dar conta da demanda, limita‐se o acesso a eles. Daí por 
que, atualmente, especialmente no que tange aos recursos da defesa (o 
tratamento é completamente diverso em se tratando de recurso do Ministério 
Público, basta pesquisar para constatar), a regra é o não prosseguimento. 
 
11 
 
Pois bem, quanto aos pressupostos recursais, 
classificam-se em duas ordens: pressupostos recursais objetivos e 
pressupostos recursais subjetivos – o professor Badaró vai chamar de positivos 
e negativos. 
 
Numa posição mais moderna, o professor André 
Nicollit (p. 1022-1023) vai dizer que, em razão de estarmos diante de um direito 
subjetivo que advém do direito de ação e de defesa, não cabe mais falar-se em 
requisitos objetivos e subjetivos, e, sim, condições recursais e pressupostos 
recursais. 
 
Nessa catalogação, as condições recursais seriam a 
legitimidade, o interesse em recorrer (prejuízo gerado pela decisão atacada – 
adequação, necessidade e utilidade) e possibilidade jurídica do pedido 
(cabimento – previsão legal da via recursal); e os pressupostos recursais seriam 
competência adequada, capacidade recursal, regularidade formal, 
tempestividade e inexistência de fatos extintivos (deserção e desistência) e 
impeditivos (preclusão). 
 
Ainda, em âmbito de concurso público e na maioria 
da doutrina, prevalece a divisão clássica entre pressupostos objetivos e 
subjetivos. 
 
São os seguintes os pressupostos objetivos, 
conforme a maioria da doutrina: 
 
•Cabimento do recurso; 
•Tempestividade da interposição; 
•Forma legal; 
•Preparo. 
 
Por sua vez, os pressupostos subjetivos consistem: 
 
•Legitimidade para recorrer; 
12 
 
•Interesse na interposição – prejuízo da parte. 
 
Apenas quando presentes todos estes requisitos é 
que o recurso interposto tem possibilidade de ser recebido e conhecido. 
 
Vejam que, ao definirmos prelibação como o juízo de 
admissibilidade, tratamos dessa expressão, exclusivamente, em matéria de 
recursos criminais. 
 
Contudo, o termo também possui outro significado, 
referindo-se, nesta segunda acepção, àquelas decisões que realizam um exame 
superficial do mérito, sem demandarem aprofundamento no caderno probatório. 
É o caso, por exemplo, do recebimento da denúncia, deliberação esta que não 
exige maior fundamentação, não se subsumindo à disciplina do art. 93, IX, da 
CF; e, também, da decisão de pronúncia, que se restringe à abordagem 
superficial da prova angariada aos autos para não interferir no convencimento 
dos jurados. 
 
OBS.: Prelibação não se confunde 
com delibação. Esta última, em matéria recursal, constitui a fase em que a 
questão debatida no recurso será enfrentada pelo órgão recursal. Logo, é certo 
referir que o juízo de prelibação (juízo de admissibilidade do recurso) antecede, 
cronológica e logicamente, o juízo de delibação (juízo de mérito do recurso). 
 
PRESSUPOSTOS RECURSAIS OBJETIVOS 
 
Cabimento: 
 
É preciso que o recurso seja cabível para atacar a 
decisão em relação à qual tenha sido interposto. O cabimento envolve a 
conjugação de duas condições: a recorribilidade e a adequação. 
 
A recorribilidade significa que a decisão impugnada 
deve estar sujeita a recursos. Deve-se ter atenção a esse aspecto, eis que 
13 
 
existem diversas situações de irrecorribilidade no processo penal, como o 
indeferimento da suspensão do processo em virtude de questão prejudicial 
facultativa (art. 93, § 2.º, do CPP); a admissão ou não do assistente de acusação 
(art. 273 do CPP); a decisão na exceção de suspeição de perito ou serventuário 
da justiça (art. 105 do CPP): a decisão que conclui pela inexistência de 
repercussão geral no recurso extraordinário (art. 326 do Regimento Interno do 
STF) etc. 
 
A adequação, por sua vez, traduz-se como a 
necessidade de que o recorrente utilize a via impugnativa correta para atacar a 
decisão, entre as previstas em lei. Não é a adequação, entretanto, uma condição 
inflexível, pois a própria lei processual prevê no art. 579 uma exceção 
denominada princípio da fungibilidade, que possibilita ao juízo a quo receber 
e ao juízo ad quem conhecer do recurso errado como se fosse o recurso certo. 
 
“Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será 
prejudicada pela interposição de um recurso por outro. 
 
Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a 
impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará 
processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível.” 
 
Da leitura desse dispositivo observa-se que, 
conquanto o princípio da fungibilidade possa socorrer o recorrente na hipótese 
de interposições equivocadas, sua aplicação não é absoluta, encontrando-se 
sujeita à observância de determinadas condições, que consistem: 
 
a) Inexistência de má-fé do recorrente: é 
necessário que não seja constatado o equívoco deliberado do insurgente, com 
o objetivo de extrair de seu lapso alguma vantagem de ordem processual. Esta 
má-fé é presumida jure et jure (não admite prova em contrário) quando 
ocorrerem duas situações: 
 
14 
 
•Não for observado o prazo previsto em lei para o 
recurso adequado: isto significa que, embora possa o insurgente equivocar-se 
quanto ao recurso cabível, não é aceito que erre quanto ao prazo correto de 
interposição. Presume-se que obrou de má-fé quando intentou o recurso errado 
fora do prazo previsto em lei para o recurso certo. 
 
Exemplo: Em 1.º de março, a defesa é intimada da 
sentença condenatória, que enseja apelação em cinco dias. Em 16 de março, 
ingressa o advogado, contra aquela decisão, com recurso especial, que tem 
prazo de 15 dias para sua interposição. Evidentemente, este recurso não será 
recebido, pois ultrapassado o prazo do recurso correto (a apelação), precluindo, 
em consequência, a decisão condenatória. 
 
•O erro na interposição for considerado grosseiro: 
sendo a lei expressa quanto ao recurso cabível e inexistindo qualquer 
divergência sobre tal aspecto, o equívoco na interposição do recurso será 
considerado erro grosseiro, afastando completamente a aplicação da 
fungibilidade. É preciso, então, que haja dúvidas quanto ao recurso correto, pois, 
na atual concepção, a fungibilidade não visa proteger a parte do erro do 
profissional, mas sim a evitar que a oscilação da jurisprudência quanto ao 
recurso correto cause prejuízo ao recorrente. 
 
b) Adequação do recurso equivocadamente 
interposto ao procedimento do recurso correto: o princípio da fungibilidade 
não pode importar em supressão de etapa procedimental do recurso adequado. 
 
Em outras palavras, é necessário, por ocasião de sua 
aplicação, que sejam respeitadas todas as fases da via impugnativa correta, 
independentemente da instância que venha a reconhecer a impropriedade da via 
eleita. 
 
 Afinal, se reconhecido o desacerto do recurso 
pelo juiz, estabelece o art. 579, parágrafo único, do CPP que deve este “mandar 
processá-lo de acordo com o rito dose admite revisão criminal pró-societate. 
 
XI. Reconhecimento ao direito de indenização na 
decisão que julgar procedente a revisão criminal 
 
O art. 630 do CPP diz que o Tribunal, se o interessado 
o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa indenização pelos prejuízos 
sofridos. 
 
No entanto, essa indenização será liquidada no juízo 
cível. Ou seja, a decisão na revisão criminal somente reconhece a indenização, 
cabendo ao juízo cível liquidar. 
 
Impende frisar que se a condenação tiver sido 
proferida pela justiça do Distrito Federal ou de Território responderá a União por 
esta indenização. Ou, sendo pela justiça estadual, a responsabilidade será do 
Estado. 
 
Apesar de procedente a revisão, existem situações 
em que será obstada a indenização: 
 
1. se o erro ou a injustiça da condenação ter vindo de 
ato ou falta imputável ao próprio impetrante, como a 
confissão ou a ocultação de prova em seu poder: ex.: pai 
141 
 
confessou o crime praticado pelo filho, a fim de isentar o 
filho. Veja, ele deu causa à revisão, apesar de cabível. 
Como a ocultação de prova em seu poder foi o próprio 
impetrante que deu causa ao erro, não poderá receber 
justa indenização. 
 
2. se a acusação houver sido meramente privada: se a 
acusação tiver sido meramente privada, não caberá 
indenização. Doutrina sustenta ser não recepcionada, visto 
que a CF não traz essa diferença. 
 
XII. Revisão criminal no âmbito dos juizados 
especiais criminais 
 
O julgamento da revisão criminal dos juizados 
especiais criminais é das Turmas Recursais dos juizados especiais criminais. 
Esta é a posição majoritária. 
 
XIII. Impugnação das decisões em revisão 
criminal 
 
Em verdade, não há regramento específico de como 
serão impugnadas as decisões em revisão criminal. 
 
Excepcionalmente, uma decisão em revisão criminal 
poderá comportar recurso extraordinário e recurso especial, não podendo 
discutir fatos, mas apenas direito. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS: 
 
142 
 
 
AVENA, Norberto. Processo penal – 12. ed., – Rio de Janeiro: Forense; São 
Paulo: MÉTODO, 2020. 
 
BADARÓ, Gustavo Henrique. Manual dos recursos penais – 4ª ed. – São Paulo: 
Revista dos Tribunais. 
 
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal, 11. ed. — São Paulo : 
Saraiva, 2016. 
 
BRITO, Alexis de, FABRETTI, Humberto Barrionuevo, LIMA, Marco 
Ferreira. Processo Penal Brasileiro, 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. 
 
LOPES Jr., Aury. Direito processual penal – 18. ed. – São Paulo: Saraiva 
Educação, 2021. 
 
MARCÃO, Renato. Curso de Processo Penal – 6. ed. – São Paulo : Saraiva 
Educação, 2020. 
 
NICOLITT, André. Manual de Processo Penal. 9ª ed – Belo Horizonte: D´Plácido, 
2019. 
 
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal – 2. ed. – Rio de 
Janeiro: Forense, 2021.recurso cabível”, nada mais lógico do que 
15 
 
entender que a regra da adequação procedimental também deva ser aplicada 
pelo juízo ad quem quando somente lá for reconhecida a impropriedade do 
recurso proposto. 
 
Exemplo: interposta apelação (art. 593, II, do CPP) 
contra determinada decisão, vem esta a ser recebida pelo juiz e encaminhada 
ao tribunal para julgamento. Entendendo a Câmara Recursal tratar-se de 
hipótese que enseja recurso em sentido estrito, não poderá, simplesmente, 
transformar a apelação nesse recurso e conhecê-la como tal, pois estaria 
suprimindo fase importante do rito do RESE, qual seja, o juízo de retratação, que 
não existe na apelação. Nesse caso, cumprirá ao Tribunal determinar a baixa da 
apelação fungibilizada em recurso em sentido estrito ao 1.º grau, facultando ao 
julgador monocrático a retratação. Apenas depois disso é que o recurso, 
retornando ao tribunal, poderá ser julgado. 
 
Atenção: o princípio da fungibilidade não se 
confunde com o fenômeno da convolação. Neste último caso, o recurso 
interposto está correto, sendo, entretanto, conhecido como se fosse outro. 
 
Justifica-se a convolação em duas circunstâncias 
distintas: primeira, o intuito de beneficiar o acusado, convolando-se a via 
impugnativa deduzida em outra que, processualmente, seja-lhe mais vantajosa; 
segunda, evitar prejuízo ao recorrente quando, embora tenha sido ingressado o 
recurso correto, estiverem ausentes outros pressupostos recursais, a exemplo 
da tempestividade. 
 
Exemplo: contra acórdão do Tribunal de Justiça que, 
por maioria de votos, reformou sentença absolutória e condenou o réu, opõe, a 
defesa, embargos declaratórios, objetivando sanar suposta omissão nos votos 
vencedores (tese defensiva não apreciada) e, com isso, obter a modificação da 
decisão da câmara, com a manutenção da absolvição realizada pelo juízo de 1.º 
Grau. Ao examinar os embargos de declaração, porém, constata o 
desembargador-relator a sua intempestividade, já que opostos no quarto dia 
16 
 
contado da intimação do acórdão embargado (o prazo dos embargos de 
declaração é de dois dias, consoante art. 619, do CPP). 
 
Em casos como este, poderá o relator, em vez de não 
conhecer ditos embargos declaratórios, recebê-los como embargos infringentes, 
cujo prazo para oposição é de dez dias – mesmo porque, nos declaratórios, 
estava o embargante buscando a modificação do acórdão e não apenas o 
esclarecimento da omissão apontada. 
 
Com tal providência, o relator não apenas evitará a 
preclusão da matéria controvertida (sendo intempestivos, os embargos 
declaratórios não seriam conhecidos), como também permitirá ao réu maior 
vantagem processual, já que nos embargos infringentes o tema embargado é 
reexaminado por número maior de julgadores (cinco ou mais) do que ocorre nos 
embargos de declaração opostos contra acórdão da câmara (deliberados por 
três desembargadores). 
 
Outro aspecto a atentar refere-se 
à unirrecorribilidade (singularidade ou unicidade) recursal. De acordo com 
este postulado, existirá apenas um recurso para atacar cada decisão, conquanto 
se ressalvem dessa regra os recursos extraordinário e especial, que devem ser 
interpostos no mesmo prazo, como condição para suas admissibilidades, na 
hipótese de a decisão atacada assentar-se, respectivamente, em bases 
constitucionais e infraconstitucionais, consoante Súmula 283, do STF, e Súmula 
126, do STJ. 
 
Percebam que a unirrecorribilidade tem em vista 
razão de segurança jurídica, evitando-se que, se interposta mais de uma 
irresignação contra a mesma decisão, delas resultem decisões contraditórias. 
No âmbito legislativo, o princípio justifica a norma do art. 593, § 4.º, do CPP, 
segundo a qual “quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em 
sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra”. 
 
17 
 
É com base na unirrecorribilidade, também, que 
muitos entendem consubstanciada a preclusão consumativa de novas razões 
de recurso, oferecidas em complementação às primeiras já apresentadas, ainda 
que não vencido o prazo para arrazoar. Em outras palavras, se oferecidas duas 
razões recursais contra a mesma decisão, a segunda peça deve ser 
desconsiderada. 
 
Em homenagem ao mesmo postulado, tem-se 
entendido, igualmente, que, se da decisão condenatória foi interposto e 
arrazoado recurso pela defesa, não se devem conhecer de novo recurso e novas 
razões apresentadas por novo advogado constituído pelo réu dentro do prazo 
recursal. 
 
Tempestividade: 
 
Os prazos recursais são fatais, contínuos e 
peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado, nos 
termos do art. 798 do CPP. 
 
Não obstante esta regra seja inequívoca, há algumas 
questões que, pela importância, devem ser analisadas. Vejamos: 
 
1ª) Férias forenses: A questão relativa à fluência ou 
não de prazos no período de férias forenses encontra-se, de certo modo, 
prejudicada, em face do que dispõe o art. 93, XII, da Constituição Federal, 
introduzido pela EC 45 de 2004, e que exclui essa forma de paralisação das 
atividades, quando determina que seja ininterrupta a atividade jurisdicional; e, 
ainda, quando obriga, como consequência desse regramento, que haja juízes 
em plantão permanente mesmo nos dias em que não haja expediente forense 
normal. 
 
Atente-se que a extinção das férias coletivas pela 
citada emenda constitucional não atingiu os recessos, períodos nos quais os 
prazos, efetivamente, ficam suspensos. É o que ocorre, por exemplo, no 
18 
 
âmbito do Poder Judiciário da União, determinando a Lei 5.010/1966 o seu 
funcionamento apenas em regime de plantão no período compreendido entre 20 
de dezembro e 6 de janeiro. 
 
Tendo em vista a previsão de tais recessos na esfera 
da Justiça Federal e ausência de idêntico sistema na Justiça dos Estados, o 
Conselho Nacional de Justiça, levando em conta que a existência de critérios 
conflitantes entre estas duas esferas quanto à suspensão do expediente forense 
é fator que “gera incerteza e insegurança entre os usuários da Justiça, podendo 
inclusive prejudicar o direito de defesa e a produção de provas”, deliberou por 
meio da Resolução 244/2016 que poderão os Tribunais de Justiça Estaduais 
suspender o expediente forense no período de 20 de dezembro a 6 de 
janeiro, desde que garantido o atendimento aos casos urgentes, novos ou 
em curso, por meio de sistema de plantões. 
 
Ora, implementada essa prática, ficam suspensos 
todos os prazos processuais, o que abrange, evidentemente, os prazos para 
interposição de recursos. 
 
Com isso, vemos que, apesar de os permissivos 
instituídos pela Lei 5.010/1966 e pela Resolução 244/2016 do CNJ não 
significarem, na ótica dos tribunais pátrios, em previsão de férias coletivas, e sim 
de um recesso facultado em determinado período, a verdade é que, na prática, 
não há qualquer distinção entre precitados institutos (férias coletivas e 
recesso), pois de qualquer modo ocorre a suspensão dos prazos 
processuais, sendo atendidas, unicamente, as hipóteses de urgência, em 
regime de plantão. 
 
2ª) Prazo recursal para a defesa em relação à 
sentença condenatória: O prazo flui a partir da intimação ou da prática de ato 
que revele ciência inequívoca dos termos da sentença (carga dos autos, por 
exemplo). 
 
19 
 
No tocante ao defensor, caso se trate de procurador 
constituído, deverá ser intimado mediante publicação no órgão oficial (art. 370, 
§ 1.º, do CPP), escrito ou eletrônico (Lei 11.419/2006), a ele assegurado o prazo 
recursal previsto em lei. 
 
No caso do defensor dativo, a sua intimação deverá 
ser pessoal (art. 370, § 4.º, do CPP), contando-se, também, o prazo de forma 
normal (está consolidada a orientação de que não há prazo em dobro aqui). Já 
para o defensor público, além de ser intimado pessoalmente, tem assegurado o 
prazo em dobro (art. 44, I, da Lei Complementar80/1994). 
 
Tratando-se do réu, sua intimação deverá ser feita 
pessoalmente. Não localizado, deverá ser intimado por edital, e, nesse caso, o 
prazo recursal somente correrá após o término do fixado no edital – 90 dias se 
for o caso de condenação a pena igual ou superior a um ano de prisão, e 60 
dias se for o caso de condenação a outra pena (art. 392, §§ 1.º e 2.º, do CPP). 
 
Por muito tempo, compreendeu-se que, se tanto o 
defensor quanto o próprio réu, pessoalmente, possuem legitimidade para a 
interposição de recursos (art. 577, caput, do CPP), impunha-se a intimação de 
ambos em qualquer caso, não sendo suficiente a intimação de apenas um deles. 
Tal entendimento, na atualidade, não subsiste na sua plenitude, posicionando-
se a jurisprudência no sentido de que o réu preso, de fato, deve ser intimado da 
sentença condenatória, pessoalmente. 
 
Agora, quanto ao réu solto, se assistido 
por advogado constituído, bastará a intimação deste último. Se, por outro lado, 
estiver sendo patrocinado por defensor público ou dativo, aí sim será preciso, 
assim como ocorre em relação ao preso, a sua intimação pessoal ou, se não 
localizado, por edital. 
 
E se, encontrando-se em liberdade o réu, ainda assim 
determinar o juiz a sua intimação da sentença, em que pese já tenha sido 
20 
 
intimado seu advogado constituído? Não há qualquer irregularidade 
nesse excesso de zelo do julgador. 
 
Na verdade, divide-se a jurisprudência quanto ao 
marco inicial do prazo para o ingresso do recurso cabível. Para uns, com 
efeito, na medida em que era desnecessária a intimação do réu, o prazo recursal 
terá início a contar da intimação do advogado constituído, sendo irrelevante a 
circunstância de o próprio réu, eventualmente, ter sido intimado em momento 
posterior a ele. 
 
Considere-se, por exemplo, que, da sentença 
condenatória, tenha sido o advogado do réu intimado no dia 1.º.03 (terça-feira), 
deixando de apelar no prazo legal (que se escoou no dia 07.03 – segunda-feira). 
De acordo com a orientação em exame, em caso como este, mesmo que venha 
o acusado a ser intimado da condenação posteriormente (de 08.03 em diante), 
não se reabrirá o prazo para a defesa técnica apelar da sentença. Se o fizer, tal 
apelação será intempestiva. 
 
Outra corrente, todavia, inclina-se em sentido 
oposto, compreendendo que o prazo recursal deve ser considerado a partir 
da última intimação, seja do advogado, seja do réu. 
 
Embora não se desconheça a existência de decisões 
monocráticas aderindo à primeira orientação citada, a verdade é que, em nível 
de colegiado, é a segunda corrente que prevalece na jurisprudência 
nacional, inclusive no STJ, sendo recorrentes os julgamentos dessa Corte 
no sentido de, se efetivada dupla intimação dos termos da sentença 
condenatória, vale dizer, não só do advogado, mas também do 
sentenciado, deverá prevalecer a data da última para início do prazo 
recursal. 
 
E se, aportando ao tribunal apelação interposta pelo 
advogado, constatar o órgão colegiado competente para o julgamento que não 
foi realizada a intimação do réu preso quanto à sentença condenatória? 
21 
 
 
Neste caso, a providência normalmente adotada no 
âmbito dos tribunais é a determinação de baixa do processo à vara de origem 
para que seja realizada a intimação do acusado, retornando, após, ao juízo ad 
quem para julgamento do recurso. 
 
E se, mesmo não ocorrendo a intimação pessoal do 
réu preso em relação à sentença condenatória, o tribunal realizar o julgamento 
do recurso interposto pelo advogado? 
 
Essa hipótese releva muito especialmente no caso de 
tomar ciência o réu da condenação após o julgamento do recurso interposto pelo 
advogado. Pois bem, sobre o tema, muitos entendem que o julgamento do 
recurso, na situação narrada, produz nulidade relativa, possibilitando às 
Instâncias Superiores (STJ e STF) a anulação daquele julgamento, desde que, 
evidentemente, ocorra a efetiva demonstração do prejuízo sofrido pelo réu em 
face da ausência de sua intimação pessoal, ou, ao menos, da grande 
probabilidade de ter ocorrido esse prejuízo (por ex., a situação em que o 
advogado, diante de condenação do réu pela prática de crime que negou ter 
praticado na fase do processo de conhecimento, recorrer unicamente da pena 
imposta). 
 
Outros, por uma questão de economia processual, 
reputam válido o julgamento realizado, conquanto se deva oportunizar ao réu, 
no prazo de cinco dias contados de sua intimação pessoal, interpor novo recurso 
a fim de impugnar questões eventualmente não tratadas na apelação anterior. E 
há quem defenda que nem o julgamento é nulo nem se deve facultar nova 
interposição recursal. Para estes, a deliberação, pelo tribunal, sobre o recurso 
interposto pelo advogado, ainda que à revelia da intimação pessoal do réu, 
produz preclusão consumativa. 
 
Existe alguma relevância jurídica no tocante à ordem 
cronológica de intimação do advogado e do réu quanto à sentença 
condenatória? 
22 
 
 
Existe linha de pensamento compreendendo que a 
intimação do defensor sempre deveria ser posterior à intimação do réu, sob pena 
de nulidade. Esse entendimento, contudo, é minoritário e absolutamente 
refutado pelos Tribunais Superiores, sendo reiteradas as decisões do STJ e do 
STF no sentido de que é indiferente qual deles for intimado em primeiro lugar. 
 
O professor Norberto Avena refere que a necessidade 
de intimação do réu preso e de seu defensor deve ser aplicada à intimação 
de acórdãos proferidos em sede de foro privilegiado (prerrogativa de 
função), pois nesses casos o Tribunal porta-se como 1.º grau, e não como 2.º 
grau de jurisdição, já que delibera sobre ação penal originária, e não sobre 
recurso da parte vencida. 
 
Tratando-se, contudo, de acórdão exarado a partir 
do julgamento de um recurso (caso em que o Tribunal estará agindo como 2.º 
grau), não se aplica esta regra, bastando a intimação do advogado pela imprensa 
oficial, ou pessoalmente quando se cuidar de defensor público e defensor dativo. 
 
3ª) Prazo recursal para o Ministério 
Público: Vejam, independentemente do teor do art. 800, § 2º, do CPP, o 
Superior Tribunal de Justiça, no julgamento, em 23.08.2017, do Recurso 
Especial 1.349.935/SE (submetido ao rito dos recursos repetitivos), ao 
discutir se a intimação do Ministério Público, realizada em audiência, determina 
o início do prazo para recorrer ou se o lapso recursal somente se inicia com a 
remessa dos autos com vista à instituição, fixou a tese no sentido de que “o 
termo inicial da contagem do prazo para impugnar decisão judicial é, para 
o Ministério Público, a data da entrega dos autos na repartição 
administrativa do órgão, sendo irrelevante que a intimação pessoal tenha 
se dado em audiência, em cartório ou por mandado”. 
 
Compreendeu o Tribunal, na oportunidade, que, 
embora seja natural, nos casos em que haja decisão proferida em audiência, as 
partes presentes (defesa e acusação) dela tomarem conhecimento, “essa 
23 
 
ciência do ato não permite ao membro do Ministério Público (e também ao 
integrante da Defensoria Pública) o exercício pleno do contraditório, seja porque 
o órgão Ministerial não poderá levar consigo os autos, seja porque não 
necessariamente será o mesmo membro que esteve presente ao ato a ter 
atribuição para eventualmente impugná-lo”. 
 
Diante dessa remodelação de entendimento pelo 
STJ, infere-se que, na atualidade, a despeito da literalidade do art. 800, § 2º, do 
CPP, os prazos para o Ministério Público, seja para manifestações no curso do 
processo (apresentação de memoriais, por exemplo), seja para interposição de 
recursos, sempre terão sua fluência a partir da data, certificada pelo cartório, de 
entrada do processo nos serviços administrativos do Ministério Público, sendo 
irrelevante, portanto, se a intimação do ato decisório ocorreu ou não em 
audiência. 
 
 Percebam que tal orientaçãonão colide com a 
compreensão do STF sobre o mesmo tema, como ilustramos a partir do seguinte 
excerto: “o termo inicial da contagem do prazo recursal começa a contar do 
recebimento dos autos na secretaria ou no órgão administrativo do Ministério 
Público” (HC 171793 AGR, DJ 16.08.2019 Relatora: MIN. CÁRMEN LÚCIA). 
 
Interessante mencionar, inclusive, que, conforme 
referido no precitado aresto do STJ em alusão à posição do Excelso Pretório em 
torno do assunto, “o Ministro Roberto Barroso, ao analisar a Rcl. N. 17.694/RS 
(Dje 7/10/2014), destacou que há, em relação ao Ministério Público, uma 
prerrogativa de ser intimado pessoalmente e com vista dos autos, para qualquer 
finalidade”. Neste cenário, é possível afirmar que, tanto em nível de STJ quanto 
de STF a matéria está sedimentada nos mesmos termos. 
 
Vejam, por fim, que o Ministério Público não possui 
prazo em dobro para recorrer na esfera do processo penal, ao contrário do que 
ocorre no processo civil. 
 
24 
 
4ª) Prazo recursal e intimação por mandado ou 
precatória: Trata-se de questão sumulada pelo Supremo Tribunal Federal, 
dispondo o Enunciado 710, em decisão de 24.09.2003, que, “no processo penal, 
contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do 
mandado ou da carta precatória ou de ordem”. 
 
5ª) Prazo recursal e intimação por meio eletrônico 
(Lei 11.419/2006): A Lei 11.419/2006 permitiu a informatização de todos os 
processos judiciais, aplicando-se às esferas civil, penal e trabalhista, inclusive 
possibilitando, como regra, a comunicação de atos processuais – citações, 
intimações, notificações – por meio eletrônico (art. 1.º, caput e § 1.º). 
 
Mas atenção: no processo criminal, bem como nos 
feitos envolvendo a prática de ato infracional por adolescente, a citação fica 
afastada do permissivo legal (art. 6.º), não se admitindo seja feita on-line, o que 
se compreende em virtude da finalidade primordial desse ato de cientificar a 
acusação. 
 
Em seu art. 4.º, a Lei 11.419/2006 prevê a criação de 
um Diário de Justiça eletrônico, a ser disponibilizado pela internet, considerando-
se oficiais as publicações nele constantes, com dispensa de quaisquer outras 
publicações, ressalvados, evidentemente, os casos em que a lei exigir vista ou 
intimação pessoal (Ministério Público, Defensor Público, Defensor Dativo e, em 
determinados casos, o próprio réu). 
 
Nos termos estabelecidos pela lei em exame, as 
publicações efetuadas na página oficial eletrônica serão consideradas 
como realizadas no primeiro dia útil seguinte ao da sua disponibilização no 
diário eletrônico, iniciando-se, portanto, a fluência dos prazos processuais no 
primeiro dia útil que se seguir (art. 4.º, §§ 3.º e 4.º). 
 
Agora, vamos tratar da regularidade formal na 
interposição. 
 
25 
 
Forma quanto à interposição: 
 
O art. 578 do CPP estabelece que os recursos serão 
interpostos por petição ou por termo nos autos. Importante lembrar que, 
diferentemente do que ocorre na esfera cível, no âmbito penal alguns recursos 
têm a sua interposição propriamente dita realizada em momento distinto daquele 
em que devem ser oferecidas as razões. 
 
Portanto, quando refere o citado artigo do Código de 
Processo Penal que a interposição será feita por petição ou por termo, não está 
se referindo às razões, mas tão somente ao ato da parte, manifestando, a quem 
de direito, seu desejo de ver reexaminada a decisão recorrida por um órgão 
jurisdicional superior. 
 
Logo: 
 
•Petição: é a manifestação escrita quanto à vontade 
de recorrer, ou seja, aquela realizada sob a forma de um requerimento, 
vulgarmente conhecida como a “folha de rosto” do recurso. 
 
•Termo: é a manifestação oral de irresignação, 
reduzida a escrito por quem tenha fé pública (p. ex, escrivão e oficial de justiça) 
ou presunção de autenticidade (como é o caso do juiz). 
 
Exemplo: Ao ser intimado da sentença condenatória 
pelo oficial de justiça, manifesta o réu sua vontade de recorrer. Neste contexto, 
exara o OJ certidão nos seguintes termos: “Certifico e dou fé que intimei o réu 
da sentença condenatória, entregando-lhe cópia dessa decisão bem como a 
contrafé. Na oportunidade, referiu ele sua vontade em recorrer da decisão”. 
 
É possível a interposição de recurso por e-mail? Não, 
segundo entendimento firmado no STF. Conforme esta Corte, muito embora a 
Lei 9.800/1999, como exceção à interposição direta de recurso, tenha permitido 
a utilização da transmissão de dados e imagens por meio de fac-símile ou outro 
26 
 
similar (condicionando-se a validade da interposição à posterior apresentação 
do original), tal previsão não confere respaldo à sua dedução por e-mail. 
 
Embora o art. 578 do CPP seja genérico, permitindo 
o entendimento de que qualquer recurso possa ser interposto, tanto por petição 
como por termo nos autos – até porque localizado esse dispositivo dentro do 
Capítulo I do Título II do Livro III do Código de Processo Penal, que trata das 
“disposições gerais” e dos “recursos em geral” –, a verdade é que, apesar de 
qualquer recurso poder ser interposto por petição, somente alguns podem 
ser deduzidos também por termo. 
 
Assim, podem ser interpostos por petição e por termo 
os recursos que, no ato da interposição, não precisam estar acompanhados das 
respectivas razões, sendo os seguintes: 
 
•Recurso em sentido estrito: interposição em cinco 
dias e posterior intimação para a apresentação das razões em dois dias (art. 586 
c/c o art. 588 do CPP); 
 
•Apelação: interposição em cinco dias e posterior 
intimação para a apresentação das razões em oito dias (art. 593 c/c o art. 600 
do CPP). Ressalve-se, aqui, a apelação em sede de Juizado Especial Criminal, 
pois, neste caso, o art. 82 da Lei 9.099/1995 prevê expressamente que a 
interposição deva ser feita, unicamente, por petição escrita, sendo que as razões 
já devem ser apresentadas no mesmo ato; 
 
•Agravo em execução: interposição em cinco dias e 
posterior intimação para a apresentação das razões em dois dias (por analogia 
ao recurso em sentido estrito, já que a Lei de Execução Penal não prevê forma 
e rito autônomos para esse recurso); 
 
•Carta testemunhável: requerimento em 48 horas e 
posterior intimação para a apresentação das razões no mesmo prazo das razões 
27 
 
do recurso denegado ou não encaminhado à instância superior (art. 640 c/c o 
art. 643 do CPP). 
 
Por fim, cabe mencionar a possibilidade de oposição, 
por escrito ou oralmente, dos embargos declaratórios previstos na Lei 
9.099/1995. É que, neste caso, embora as razões devam acompanhar a 
manifestação inicial, a interposição por termo é autorizada expressamente pelo 
art. 83 da citada lei. 
 
Lembrem que tais embargos possuem prazo de cinco 
dias para serem opostos. Se não forem deduzidos oralmente na própria 
audiência, deverão ser apresentados em cartório, facultando-se, igualmente, a 
forma escrita ou oral. Neste último caso, entende a doutrina que deverá limitar-
se o escrivão a consignar em termo, resumida e objetivamente, qual a 
insurgência da parte, não sendo razoável exigir-lhe que escreva texto sob ditado 
da parte, a título de razões de embargos. 
 
No tocante às demais hipóteses recursais, na medida 
em que exigem a apresentação de razões no mesmo ato da interposição e 
considerando que não há previsão legal autorizando a dedução oral, devem ser 
interpostas, unicamente, por petição escrita. 
 
É o caso, por exemplo, dos embargos declaratórios 
regulamentados pelo Código de Processo Penal, dos embargos infringentes, do 
recurso ordinário constitucional, do recurso especial, do recurso extraordinário, 
entre outros. 
 
Forma quanto às razões: 
 
No tocante às razões dos recursos, especialmente 
quando podem ser apresentadas em momento posterior ao da interposição, 
surgem as seguintes questões: 
 
28 
 
• Intempestividade das razões: o oferecimento 
tardiodas razões recursais traduz-se como mera irregularidade, não 
inviabilizando o pleno conhecimento do recurso. Nesse sentido o entendimento 
consolidado no Superior Tribunal de Justiça de que “a apresentação tardia das 
razões do recurso de apelação constitui mera irregularidade, não configurando 
intempestividade”. 
 
• Ausência de razões no recurso do Ministério 
Público: a motivação é uma das formalidades essenciais do recurso e se 
externa pela apresentação das razões. No caso de o Ministério Público deixar 
de arrazoar, há divergências. 
 
Para uns, a ausência de razões pelo parquet importa 
em nulidade, conduzindo ao não conhecimento da insurgência. A nulidade, sob 
essa ótica, decorre da aplicação do princípio da indisponibilidade da ação penal 
pública, sendo que a não apresentação de razões constitui uma forma de 
desistência tácita. Além disso, como o Ministério Público é obrigado a atuar em 
todos os termos da ação penal, não pode se recusar à prática de ato de ofício 
(no caso, a apresentação de razões). 
 
Por fim, devolvendo o recurso ministerial ao órgão ad 
quem o conhecimento apenas das matérias nele versadas, a ausência de razões 
impede que se detecte, exatamente, o objeto da interposição, além de dificultar 
a apresentação de contrarrazões pela defesa. Nestas condições, o recurso sem 
motivação equivale a uma impugnação inepta, não podendo ser conhecido. 
 
Outra posição, é no sentido de que a ausência de 
razões ao recurso ministerial não pode, de per si, importar desistência tácita, 
pois ao Ministério Público é vedada essa postura (art. 576 do CPP). Ademais, o 
art. 601 do CPP, tratando da apelação, é expresso em dispor que, “findos os 
prazos legais, os autos subirão ao Tribunal com as razões ou sem elas”, não 
especificando a condição do apelante. 
 
29 
 
Assim, a única condição que se deveria exigir para o 
conhecimento e julgamento do recurso acusatório desarrazoado é que tenha 
sido delimitado, na interposição, o objeto da insurgência, pois, caso contrário, 
não haveria, efetivamente, como o Tribunal conhecer da irresignação (pela 
inépcia, não pela desistência), em vista, como já se disse, do efeito devolutivo 
restrito que lhe é inerente. 
 
• Não oferecimento, pela defesa, de razões ao seu 
próprio recurso ou de contrarrazões ao recurso do Ministério 
Público: parcela da jurisprudência considera possível o conhecimento do 
recurso da defesa, ainda que sem as competentes razões, assim como do 
recurso da acusação sem que tenha o advogado constituído pelo réu 
apresentado contrarrazões – desde que tenha ocorrido, evidentemente, a 
intimação válida do causídico para essas finalidades. Neste sentido já se 
pronunciou o STF em diversas oportunidades. 
 
Outros reputam obrigatória a apresentação de 
mencionadas razões e contrarrazões, de modo que, aportando ao tribunal 
recurso sem estas peças, deverão os autos retornar à instância inferior para que 
seja o defensor novamente instado à sua apresentação. Não o fazendo, deveria 
ser intimado o réu para que constitua outro advogado e, se mesmo assim não 
forem apresentadas sobreditas razões e contrarrazões, proceda o juiz à 
nomeação de outro profissional exclusivamente para esses fins. No STJ, tem 
sido adotada esta última posição. Aqui, no TJPA, também. 
 
• Razões dissociadas dos fundamentos da 
decisão impugnada: trata-se da hipótese em que a parte sucumbente, nas 
razões recursais, não realiza impugnação específica sobre os fundamentos 
apontados na decisão judicial alvo do recurso, violando, com isso, o princípio 
da dialeticidade – princípio segundo o qual o recorrente tem o dever de indicar 
os motivos de sua contrariedade com a decisão recorrida e as razões pelas quais 
pretende seu reexame. 
 
30 
 
Em se tratando da defesa, tem sido bastante 
discutida a possibilidade de o tribunal deixar de conhecer recurso com razões 
dissociadas dos termos da decisão recorrida, em face da regra do efeito 
devolutivo integral dos recursos do réu, sendo prevalente a orientação no 
sentido de que não deve ficar prejudicado o exame da impugnação pelo 
Colegiado, salvo, por óbvio, nas hipóteses de insurgências absolutamente 
genéricas, que impeçam a outra parte de exercer o contraditório e desrespeitem, 
em consequência, o postulado do devido processo legal. 
 
Todavia, sendo o caso de recurso da acusação, são 
frequentes as decisões em sentido oposto, vale dizer, de que, encontrando-se 
as razões recursais dissociadas dos termos da decisão recorrida, deve-se 
reconhecer a inépcia da peça recursal, já que “as razões recursais e a sua 
correlação com os fundamentos que embasaram a decisão recorrida são 
elementos imprescindíveis para a certificação de regularidade da peça de 
interposição do recurso”. 
 
Mas atenção: todos concordam que, quer para a 
acusação, quer para a defesa, a violação ao princípio da dialeticidade impede o 
conhecimento dos recursos em duas hipóteses: uma, quando se trata de 
recursos extraordinário e especial, tendo em vista os termos da Súmula 284, do 
STF, (relativa ao recurso extraordinário, mas aplicada, por analogia, também ao 
recurso especial), dispondo que “é inadmissível o recurso extraordinário, quando 
a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da 
controvérsia”; e, outra, quando é o caso de recurso contra decisões proferidas 
no âmbito do Tribunal do Júri, situação que é explícita na Súmula 713, do STF, 
ao apontar que “o efeito devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito 
aos fundamentos de sua interposição”. 
 
Preparo: 
 
O art. 806, § 2.º, do CPP estabelece que a ausência 
de preparo importa em deserção do recurso. 
 
31 
 
Esta regra aplica-se apenas aos casos de ação 
penal privada e destina-se, única e exclusivamente, ao querelante, não se 
aplicando aos demais legitimados recursais. Afinal, em primeiro lugar, quanto 
ao Ministério Público, obviamente, este não está sujeito a pagamento de 
custas em nenhuma das esferas perante as quais atua (cível, criminal, infância 
e juventude etc.). No que tange ao assistente de acusação, a despeito de 
existirem controvérsias, a verdade é que não existe previsão legal de preparo. 
 
Por outro lado, quanto ao recurso da defesa, chegou 
a ser discutida a necessidade de preparo. Não obstante, na atualidade, a posição 
majoritária é a de que o réu apenas deverá ser intimado para o pagamento das 
custas após o trânsito em julgado da sentença condenatória. 
 
Ainda a respeito do preparo pelo réu, Guilherme de 
Souza Nucci entende que, tratando-se de crime de ação penal privada, ao 
querelado, sendo pessoa bem provida financeiramente, também assiste a 
obrigação de efetuar o preparo do recurso sob pena de deserção. O professor 
Avena, discorda. Isso porque não há razão para distinção entre o réu na ação 
pública e o réu na ação privada, a ponto de, neste último caso, poder-lhe ser 
exigido o pagamento de custas como condição para recorrer. 
 
Além do mais, como seria feita a constatação da boa 
ou má situação econômica do querelado para decidir o magistrado no sentido da 
exigência ou não de preparo? Haveria, nesse caso, mais um incidente 
processual, sujeito à tramitação e à interposição de recursos, retardando ainda 
mais o julgamento do recurso e o consequente trânsito em julgado da decisão. 
 
Por fim, não se pode ignorar que, encontrando-se em 
jogo a liberdade do réu, mostra-se temerária a exigência de pagamento de 
custas como condição do recurso, já que eventual má apreciação do juiz quanto 
à condição econômica do condenado poderia redundar em lhe obstar a dedução 
da competente via recursal, impedindo-se, destarte, o acesso ao duplo grau, 
conforme facultado pela Constituição Federal. 
 
32 
 
Nesse contexto, conclui-se que apenas 
ao querelante, na ação penal privada, assiste a obrigação de preparo dos 
recursos, sob pena de deserção. Dúvida há se tal obrigatoriedadeexiste tanto 
na ação penal privada exclusiva quanto na subsidiária. Concordamos com a 
posição de que o dever existe apenas na ação penal privada exclusiva. Isso 
porque, na subsidiária, considerando que atua o querelante em lugar do 
Ministério Público, não pode ser submetido ao pagamento de custas ou outras 
despesas, uma vez que o interesse que está em discussão, em última análise, é 
o público e não o privado. 
 
PRESSUPOSTOS RECURSAIS SUBJETIVOS: 
 
Vamos agora analisar a legitimidade/legitimação e interesse/existência de 
um gravame. 
 
 
Legitimidade para a interposição do recurso 
 
O art. 577, caput, do CPP estabelece que são 
legitimados para a dedução recursal, no polo ativo, o Ministério Público e 
querelante, e, no polo passivo, o réu (pessoalmente), seu procurador ou seu 
defensor. Evidentemente, esse artigo trata apenas da legitimidade para 
manifestar a vontade em recorrer, pois, no tocante às razões, não poderá 
apresenta-las, por exemplo, o réu que não seja advogado. 
 
Do comando do dispositivo, dois aspectos 
importantes sobressaem: primeiro, a questão da legitimação pessoal do réu para 
recorrer; e, segundo, a ausência do assistente de acusação no rol de legitimados 
recursais. Analisemos: 
 
1. Faculdade outorgada ao réu de, pessoalmente, 
interpor recursos: trata-se de previsão restrita à manifestação de vontade em 
recorrer, e, ainda assim, aplicável unicamente aos casos em que a lei permite a 
apresentação de razões em momento posterior à interposição. 
33 
 
 
O art. 577, caput, do CPP, com efeito, não confere ao 
réu sem capacidade postulatória o poder de arrazoar recursos, pois isto constitui 
ato privativo de advogado. Tanto é que, em se tratando de impugnações que 
exijam razões contemporâneas à interposição, inexiste a possibilidade de o 
acusado impugnar pessoalmente a decisão judicial. 
 
Exemplos: 
 
• Faculta-se ao réu, quando intimado pelo oficial de 
justiça em relação à decisão de pronúncia, manifestar a ele seu desejo em 
recorrer. Certificada essa vontade pelo OJ, considera-se interposto o 
recurso em sentido estrito, bastando ao juiz intimar a defesa técnica para 
apresentar as respectivas razões. Isso porque o RESE é modalidade 
impugnativa que contempla duas fases na sua dedução: uma, a interposição, em 
cinco dias (art. 586 do CPP); outra, a apresentação de razões em dois dias (art. 
588 do CPP). 
 
• Não será lícito ao réu, porém, ingressar, 
pessoalmente (salvo se detiver capacidade postulatória), com recurso especial 
contra acórdão proveniente de tribunal de justiça, pois se trata esse recurso de 
insurgência que, obrigatoriamente, deve ser interposta já com as razões, ex 
vi dos arts. 321 do RISTF, 255 do RISTJ e 1.029 a 1.041 do CPC/2015 (estes 
últimos aplicáveis à esfera criminal por analogia, em face da revogação expressa 
do art. 26 da Lei 8.038/1990 pelo art. 1.072, IV, da Lei 13.105/2015). E, para 
razões, exige-se subscrição de advogado regularmente inscrito nos quadros da 
OAB. 
 
2. Ausência do assistente de acusação no rol de 
legitimados do art. 577 do CPP: Essa omissão não decorreu de impropriedade 
legislativa tampouco de um descuido do legislador. 
 
Em verdade, o assistente de acusação não está 
previsto no referido dispositivo como legitimado recursal, porque nele estão 
34 
 
arrolados os sujeitos processuais que podem ingressar com qualquer recurso 
entre os previstos em lei. São os chamados legitimados gerais, nos quais não se 
enquadra o assistente do Ministério Público, cuja legitimidade 
é restrita e subsidiária (supletiva). 
 
2.1 Legitimação restrita: Diz-se restrita a 
legitimação do assistente, porque, em tese, somente poderá ele recorrer nos 
casos expressamente previstos em lei, quais sejam: 
 
a) Apelar da sentença, com fundamento no art. 598 
do CPP; 
 
b) Apelar da decisão de impronúncia, com 
fundamento no art. 584, § 1.º, c/c os arts. 416 e 
598 do CPP; 
 
c) Recorrer em sentido estrito da decisão que julgar 
extinta a punibilidade pela prescrição ou outra 
causa, com base no art. 584, § 1.º, c/c o art. 598 
do CPP. 
 
Há, ainda, súmula estabelecendo o cabimento do 
recurso do assistente de acusação em relação ao recurso extraordinário, mas 
unicamente naqueles casos em que poderia ele recorrer das decisões do juiz 
singular, acima citados. 
 
Trata-se da Súmula 210 do STF, dispondo que “o 
assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusive extraordinariamente, na 
ação penal, nos casos dos arts. 584, § 1.º, e 598 do CPP”. Vejam que a citada 
súmula, hoje, deve ser interpretada extensivamente ao recurso especial, que 
nela não está previsto, unicamente, porque à época de sua edição não existia 
esse recurso, introduzido a partir da Constituição Federal de 1988. 
 
35 
 
Embora não haja expressa previsão legal, o professor 
Norberto Avena entende que é preciso facultar legitimação recursal ao 
assistente, também, na hipótese de absolvição sumária prevista nos arts. 397 
e 415 do CPP. Porque, se pode o assistente se insurgir contra a decisão de 
impronúncia, que não impede o oferecimento de nova ação penal contra o réu 
se outras provas surgirem, não há razão para que não possa se voltar, também, 
contra a absolvição sumária, que se reveste de caráter definitivo e, uma vez 
transitada em julgado, é imodificável mesmo diante de novos elementos. 
 
Particularmente, entendo equivocada a posição 
do Avena, forte no princípio da legalidade, e no brocardo hermenêutico a 
maiori, ad minus. Ora, se a hipótese fosse inversa, e houvesse previsão de 
que pode o assistente recorrer da decisão de absolvição sumária, aí, sim, 
justificada a legitimidade recursal do assistente para recorrer da 
impronúncia, já que, como é certo, quem pode o mais, pode o menos. 
 
E quanto à decisão do juiz que, no procedimento do 
júri, desclassifica a infração penal imputada para outra não dolosa contra a 
vida, nos termos do art. 419, do CPP? De fato, nem o art. 598 nem o art. 584, § 
1.º, do CPP, contemplam faculdade recursal ao assistente para insurgir-se em 
relação à desclassificação operada na fase da pronúncia. 
 
Apesar disso, a jurisprudência majoritária, 
inclusive o STJ, tem compreendido no sentido de que o assistente pode, 
sim, recorrer nessa hipótese, justificando esta orientação no argumento de que 
a desclassificação se equipara à decisão de impronúncia, decisão esta que 
comporta recurso do assistente. 
 
O professor Avena assevera que também deve ser 
admitida a legitimação do assistente ministerial para usar dos recursos 
cabíveis na hipótese de o recurso que a lei lhe faculta não ser recebido pelo 
juiz. Do contrário, ficaria o assistente à mercê da vontade do magistrado, pois, 
eventualmente denegada sua impugnação, nada poderia opor. 
 
36 
 
Assim, não recebida, por exemplo, a apelação contra 
a sentença que absolveu o réu, faculta-se ao assistente atacar essa decisão por 
meio de recurso em sentido estrito lastreado no art. 581, XV, do CPP. Denegado 
que venha a ser esse recurso, nada lhe obsta a utilização de carta testemunhável 
(art. 639, I, do CPP) para insurgir-se contra essa decisão, pois a carta é o recurso 
cabível contra a decisão do juiz que não recebe o RESE. 
 
Por fim, vejam o teor da Súmula 208 do STF, no 
sentido de que “o assistente do Ministério Público não pode recorrer, 
extraordinariamente, da decisão concessiva de habeas corpus”. 
 
2.2 Legitimação subsidiária ou supletiva: Diz-
se subsidiária ou supletiva a legitimidade recursal do assistente porque, mesmo 
nas hipóteses em que pode se insurgir, fica ele condicionado a que não tenha o 
Ministério Público recorrido da respectiva decisão. E se o Ministério Público 
interpuser recurso contra a decisão judicial? Neste caso, é necessário distinguir 
duas situações: 
 
a) Sendo parcial o recurso do Ministério Público, 
poderá o assistente insurgir-se em relação à parte 
da decisãonão abrangida pela impugnação do 
Promotor de Justiça. 
 
b) Abrangendo o recurso ministerial toda a decisão 
recorrida, apenas poderá o assistente arrazoar tal 
insurgência. Neste caso, o recurso do Ministério 
Público terá duas razões recursais: as oferecidas 
pelo próprio promotor de justiça recorrente e 
aquelas deduzidas pelo assistente. Isto se extrai 
da parte final do art. 271 do CPP, quando refere 
que o assistente poderá “arrazoar os recursos 
interpostos pelo Ministério Público, ou por ele 
próprio, nos casos dos arts. 584, § 1.º, e 598”. A 
exegese deste artigo permite concluir que o 
37 
 
assistente de acusação poderá arrazoar todo e 
qualquer recurso interposto pelo Ministério 
Público, mas, quanto aos por ele próprio 
interpostos, apenas poderá oferecer razões nas 
hipóteses dos arts. 584, § 1.º, e 598, porque, 
simplesmente, apenas nestes casos é que pode 
ele recorrer. 
 
Vejam a existência de orientação jurisprudencial no 
sentido de que a legitimação supletiva do assistente para recorrer condiciona-se 
não apenas à inércia do Promotor de Justiça (ou Procurador da República) diante 
de sentença absolutória, de decisão de impronúncia ou de decisão extintiva da 
punibilidade, mas também ao fato de que não tenha ele (Ministério 
Público) buscado estas soluções em suas manifestações no processo. 
 
Segundo esta orientação, se o Ministério Público, por 
exemplo, inclinou-se, em razões finais, pela absolvição do réu e foi este, de fato, 
absolvido pelo Juiz, descabe recurso do assistente. 
 
O exercício da legitimidade recursal do assistente 
exige que esteja ele previamente habilitado nos autos por decisão judicial? A 
regra geral é a de que, para a prática de qualquer ato no processo, entre os 
elencados no art. 271 do CPP, necessita o assistente de acusação requerer 
previamente ao juiz a sua habilitação, comprovando sua legitimidade. 
 
Entretanto, para recorrer, nas hipóteses em que 
isto lhe é facultado, não é necessária essa habilitação prévia, valendo a 
própria interposição como pedido implícito de habilitação. Evidentemente, nessa 
hipótese, o recurso deverá estar instruído com a prova de que se trata o 
recorrente de uma das pessoas arroladas no art. 268 do CPP, ou seja, aquelas 
que podem figurar como assistente do Ministério Público na ação penal pública. 
 
Qual o prazo de que dispõe o assistente para interpor 
apelação e recurso em sentido estrito nos casos em que a lei lhe faculta esses 
38 
 
recursos? Embora o Código de Processo Penal tenha previsto que o prazo do 
recurso do assistente será de 15 dias e que este começará a fluir a partir do dia 
em que terminado o prazo do Ministério Público (art. 598, parágrafo único), o 
entendimento consolidado na jurisprudência é o de que tal prazo somente 
correrá nesses termos quando se tratar de assistente não previamente 
habilitado. 
 
Tratando-se de assistente habilitado, tem-se 
compreendido que o prazo recursal será de cinco dias, o que corresponde 
ao prazo normal da apelação e do recurso em sentido estrito. Considera-se que, 
sendo habilitado, é o assistente intimado formalmente da decisão judicial, não 
havendo motivo, portanto, para a concessão de prazo três vezes maior do que 
terá, por exemplo, o Ministério Público para recorrer da mesma decisão. O 
próprio defensor público possui prazo em dobro, e não em triplo. 
 
Por outro lado, em relação às demais impugnações 
facultadas ao assistente por força da interpretação da Súmula 210 do STF, o 
prazo recursal será o normal, vale dizer, aquele ordinariamente previsto para os 
respectivos recursos, haja vista a falta de disposição legal contemplando lapso 
maior para interposição. Atentem para o início da contagem, que sempre 
ocorrerá após o término do prazo do Ministério Público. 
 
Interesse em recorrer 
 
O interesse está previsto no art. 577, parágrafo único, 
do CPP, dispondo que não se admitirá recurso da parte que não tiver interesse 
na reforma ou modificação da decisão. É preciso, em síntese, que haja 
sucumbência, ou seja, disparidade entre o que foi postulado pela parte e o que 
foi deferido pelo juiz. 
 
Embora não haja maiores dificuldades na verificação 
desse pressuposto, existem algumas questões que merecem destaque. São 
elas: 
39 
 
 
1. Interesse do réu em recorrer da sentença 
absolutória: o tema é consolidado no sentido de que o réu, mesmo absolvido, 
poderá apelar da sentença absolutória em duas situações: 
 
a) Quando pretender modificar o fundamento da 
absolvição com o objetivo de afastar eventual responsabilidade civil. 
 
Com efeito, apesar da regra inscrita no art. 935, 1.ª 
parte, do Código Civil, dispondo que a responsabilidade civil é independente da 
criminal, existem situações de absolvição penal que vinculam o juízo civil, 
afastando, definitivamente, a obrigação de indenizar. São elas: 
 
• Absolvição com base no art. 386, I, do CPP (estar 
provada a inexistência do fato), que faz coisa julgada no juízo cível por força do 
art. 935, 2.ª parte, do CC; 
 
• Absolvição com base no art. 386, IV, do CPP (estar 
provado que o réu não concorreu para a infração), que produz coisa julgada no 
juízo cível também em razão do art. 935, 2.ª parte, do CC; 
 
• Absolvição com base no art. 386, VI, 1.ª parte, do 
CPP (prova da ocorrência de causa que exclua o crime), que afasta a obrigação 
de indenizar em razão do art. 65 do CPP. 
 
Logo, se for o réu absolvido por qualquer outra razão 
que não uma destas (p. ex. art. 386, II, que se refere à absolvição em face da 
ausência de provas da existência do fato), poderá apelar da sentença para 
modificar a motivação da decisão judicial, visando, assim, eximir-se de uma 
eventual demanda judicial de reparação de danos de parte do ofendido. 
 
E se o crime pelo qual absolvido o réu, no contexto 
em que praticado, não tiver produzido dano indenizável? Ilustra-se: determinado 
indivíduo é processado criminalmente pelo crime de embriaguez ao volante, 
40 
 
tipificado no art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, sendo absolvido com base 
no art. 386, VII, do CPP (ausência de provas suficientes para a condenação – 
fundamento que não gera coisa julgada cível). 
 
Neste cenário, em que pese nenhum dano cível tenha 
resultado do fato (p. ex., acidente de trânsito, com danos materiais) recorre a 
defesa requerendo seja mantida sua absolvição, porém com fulcro no art. 386, I, 
do Código de Processo Penal (comprovada a inexistência do fato – fundamento 
que produz coisa julgada cível). Este recurso não deverá ser conhecido em face 
da ausência de interesse em recorrer. 
 
Isto porque, embora tenha sido o acusado absolvido 
por motivo diverso dos que geram coisa julgada cível (art. 386, I, IV e VI, 1.ª 
parte, do CPP), não estará ele sujeito, na hipótese, a responsabilização na esfera 
cível, dado à inexistência de dano a ser reparado. Logo, não há razão para 
buscar a modificação do fundamento da sentença absolutória. 
 
b) Quando tiver sido o réu absolvido impropriamente, 
vale dizer, com a imposição de medida de segurança. 
 
Nesta hipótese, poderá o acusado insurgir-se contra 
a sentença absolutória visando retirar a medida de segurança imposta. Cabe 
lembrar que tal modalidade de absolvição (imprópria) apenas é admitida ao 
indivíduo que era, ao tempo do fato, totalmente incapaz de compreender o 
caráter ilícito de suas ações e de se autodeterminar de acordo com este 
entendimento (art. 26, caput, do CP), assim reconhecido em incidente de 
insanidade mental instaurado no curso do inquérito policial ou do processo 
criminal. 
 
2. Interesse do assistente de acusação em 
recorrer para aumentar a pena do réu em caso de sentença 
condenatória: por muito tempo vigorou nos tribunais pátrios a posição de que 
não haveria esse interesse. Considerava-se, pois, que o objetivo do assistente, 
na ação penal pública, seria, unicamente, o de auxiliar o Ministério

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