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Conteudista: Prof. Esp. Jorge Feitosa
Revisão Textual: Esp. Camila Colombo dos Santos
 
Objetivos da Unidade:
Entender a importância do figurino como signo dentro das narrativas criadas e
apresentadas nas produções e manifestações sociais e culturais;
Promover a capacidade da leitura de cena a partir do figurino apresentado por
ela;
Distinguir os conceitos de indumentária, traje de cena, figurino e moda a partir
de suas origens e identificar suas correlações;
Promover a percepção sobre a diversidade do vestir em diversas épocas e
culturas levando em consideração a sua significação;
Relacionar a função e a disfunção do figurino a partir de seu propósito em cena;
Promover o pensamento criativo sobre o estudo de um figurino levando em
consideração sua adequação à cena.
˨ Material Teórico
Signos
˨ Material Complementar
˨ Referências
A Linguagem de Cena
Cada tipo de expressão artística ou cultural traduz e realiza a cena de modo específico e
particular. Nesses movimentos, é generalizada a ideia de que a cena carrega em si o propósito da
comunicação por meio dos mecanismos de linguagem utilizados na realização desse momento.
E tudo isso acontece no espaço cênico, que não se limita a um lugar físico, mas que, na verdade,
é muito mais ligado ao imaginário idealizado inicialmente pelo(a) autor(a) ou pelos autores do
texto a ser encenado e cocriado pelos(as) artistas e profissionais que desenvolvem a narrativa
da cena.
Glossário 
Cena: ce·na s.f. 
 
1 / 3
˨ Material Teórico
Teatro: tablado, geralmente de madeira, que contém os cenários, onde atores,
bailarinos, cantores, mágicos, etc. Se apresentam para o público, palco;
1
Teatro: cada uma das unidades de ação de uma peça, cuja divisão é feita conforme a
entrada e saída dos atores no palco, cena francesa;
2
Cinema, teatro, televisão, literatura: cada uma das situações ou passagens de um
filme, peça, novela, romance, etc.;
3
A arte de representar ou do espetáculo;
4
Figura 1 – Cena de um bailarino e uma bailarina envoltos
em tecidos vermelhos esvoaçantes 
Fonte: Freepik
A linguagem de cena não se encontra pronta no texto ou roteiro, apesar de esses elementos
serem muito importantes, pois são a origem do processo, mas são apenas proposições, por
exemplo, manuais com indicações e pistas de como a narrativa se dará. Essa linguagem é
Cinema, televisão: parte de um filme que localiza certa situação em que tomam parte
as mesmas personagens, podendo abranger diversos planos ou tomadas. 
 
Etimologia: Grego skēnē, espanhol escena.
5
formatada a cada leitura, estudo, análise e, substancialmente, a partir das percepções de cada
profissional e artista envolvido no desenvolvimento dessa pesquisa.
O Signo em Cena
Como espectadores, é fácil nos depararmos com personagens que parecem familiares, isso pode
ocorrer no teatro, no cinema, num comercial, numa propaganda ou, ainda mais comumente, em
alguma série ou novela. E, por mais que essas personagens não sejam nitidamente
reconhecíveis por nós, elas sempre deixam a impressão de que as conhecemos de algum lugar.
Talvez por elas representarem tipos de pessoas que fazem parte, de alguma forma, do nosso
cotidiano: em nosso meio familiar, grupos de amigos ou mesmo tipos por quem costumamos
cruzar nas ruas. Quanto mais cumplicidade e/ou intimidade se tem com um desses tipos
expostos em cena, mais fácil fica reconhecê-lo (BARTHES, 2005). Esse é o poder do signo, o de
proporcionar a possibilidade da comunicação. Como explica Morris:
Para o espectador de uma cena, o signo exposto pode ser, ou não, interessante, importante. Isso
dependerá de sua conexão com o que está sendo comunicado. E, na maioria das vezes, essa
conexão não precisa estar ligada intimamente com quem participa dessa leitura. Na verdade, na
maioria das vezes, a correspondência que fazemos com o que está à nossa volta e com o que está
em cena como sendo familiar parte da ideia de um conhecimento pressuposto. O signo, como
- MORRIS, 1973, p. 13
“O processo pelo qual algo funciona como signo pode ser chamado semiose. Esse
processo, numa tradição que remonta aos gregos, tem sido comumente
considerado como envolvendo três (ou quatro) fatores: aquilo que funciona como
signo, aquilo a que o signo se refere, e o efeito sobre um intérprete em virtude do
qual a coisa em questão é um signo para este.”
parte do processo de comunicação, apresenta elementos referenciais capazes de estimular o
entendimento sobre si, mas, para que a leitura aconteça de modo satisfatório ou a linguagem
seja entendida, o espectador precisa ter, em algum nível, uma bagagem, um repertório, mesmo
que mínimo, sobre esses referenciais.
A partir do entendimento de que a cena é um momento criado para e por manifestações
artísticas e culturais como instrumento de comunicação, seja verbal, seja gestual, seja
imagética, percebe-se que ela pode ser construída com determinadas e específicas funções
dependendo do tipo de apresentação para o qual essa cena será montada, além dos signos
específicos ou genéricos que serão utilizados em cada uma dessas construções, sejam elas
artísticas, sejam culturais.
Aqui, apontamos alguns dos principais segmentos que se utilizam da cena como meio
importante para a realização da comunicação e da validação da mensagem artística ou cultural.
Cinema: é responsável pela produção de filmes de curta, média e longa duração,
gera um conteúdo a partir do audiovisual, assim como pode retratar infinitos tipos
de ambiente, de cena, sejam eles reais, sejam virtuais;
Circo: nele, são realizados espetáculos focados em esquetes e apresentações em
grupo ou individuais de vários tipos de artistas, como palhaços, mágicos,
malabaristas, entre outros. Eles podem acontecer ao ar livre ou sob tendas circenses
específicas. A cena acontece ao vivo;
Dança: apresentada em espetáculos individuais ou em grupo, pode acontecer em
locais fechados ou ao ar livre; possui o corpo como principal elemento de cena;
Internet: utilizada para a realização de diversos tipos de produções por meio das
mais diversas formas de apresentação de uma cena artística ou cultural;
Performance: acontece em diferentes locais, dos mais tradicionais aos mais
inusitados, e pode ser individual ou em grupo; usa o corpo do(a) artista como
suporte, e a cena criada pode ser registrada de diversas maneiras, mediante
diferentes recursos.
Figura 2 – Rest Energy (1980), famosa performance de
Marina Abramović e Ulay 
Fonte: moma.org
A Cena Teatral
Embora, atualmente, possamos classificar as produções artísticas e culturais em diversos
segmentos e tipos de apresentação, todas que estão relacionadas com a cena, de alguma forma,
têm como fundamento o teatro não no sentido de pertencer a um espaço físico, mas de
Você Sabia? 
Origem da performance na arte: no universo das artes, esse tipo de fazer
artístico surgiu a partir da segunda metade do Século XX em
decorrência de desdobramentos da Pop Art e da Arte Conceitual nos
anos 1960 e 1970.
Teatro: a mais celebrada e antiga forma de utilização da cena e é onde acontecem
desde pequenos até grandiosos espetáculos, que podem ocorrer em locais fechados
ou ao ar livre;
Televisão: também se utiliza do audiovisual, assim como o cinema e a internet. É
responsável pela produção de diversos tipos de programas, principalmente os
ligados ao entretenimento e ao jornalismo.
desenvolvimento da linguagem teatral, da representação, da significação, da comunicação, da
apresentação em si. Essa linguagem, que parte do teatro visto e lido como expressão artística, é
diversa, ampla, e podemos observar isso diretamente nos mecanismos próprios do teatro e de
sua linguagem, que pode apresentar-se como uma encenação coletiva com várias atrizes ou
atores em cena, ou traduzida apenas por uma única atriz ou ator, que concentra em si todas as
possibilidades significantes do que está sendo executado. Ela pode ser um grande conceito
perpetuado por intermédio da produção textual teatral, mas também pode estar
viva em curtos
momentos, refeitos, repensados e reencenados a cada nova apresentação do mesmo espetáculo.
Em vários desses segmentos, quando ocorre a realização dessas expressões artísticas e
culturais, as cenas são compostas de Informações apresentadas mediante diversos signos,
como a luz, o posicionamento das personagens, os gestos, os sons, a fala, o texto, o traje, o
cenário, entre outros diversos objetos. A cena acontece justamente pela junção, ou melhor, pelas
interposições de todos esses signos em combinações variáveis provocadas por um pensamento
em busca da comunicação de ideias e conceitos, que se utilizando desses signos, símbolos e
imagens de modo antropofágico, recriando novos signos, símbolos e imagens a partir do
resultado da cena.
A Persona, o Traje, o Espaço e o Tempo
Vimos que a cena é composta de diversos elementos, que, combinados por meio de uma
narrativa, contam uma história. A partir disso, é muito importante entendermos que todos os
componentes de uma cena possuem a mesma importância como signo individual e como objeto
constituinte do signo expresso pelo coletivo das informações ali expostas. Mesmo que alguns
desses elementos cênicos possam ser dispensados em determinadas montagens, espetáculos,
quando há a utilização deles em um projeto, todos têm a mesma importância entre os tipos de
signos ali apresentados.
Figura 3 – Todos os elementos presentes numa cena
precisam estar alinhados com a narrativa do texto
Fonte: Getty Images
As manifestações artísticas e culturais, como vimos, dependem muito de diversos signos para a
constituição da cena como expressão, como comunicação, sejam eles apresentados de forma
coletiva, em grupos, sejam, mesmo que raramente, expostos de modo solo ou isolado. Essas
manifestações geralmente fazem uso do resultado combinatório persuasivo, dos diversos
elementos significantes que compõem a cena. Esses signos ou elementos de cena, numa
tentativa de organização sistemática, foram classificados em treze tipos diferentes pelo Kowzan
(1975 apud CAÑIZAL, 1993, p. 19), como visto na Tabela a seguir.
Tabela 1 – Sistema de Signos
Fonte: Adaptada de KOWZAN, 1975 apud CAÑIZAL, 1993, p. 19
Na Tabela dos signos apresentado por Tadeusz Kowzan, nós temos um ordenado entendimento
sobre os elementos de comunicação que podem formar uma cena, mas, a partir daqui, sem
desmerecer qualquer um deles, daremos atenção a quatro principais signos que colaboram
diretamente para o desenvolvimento do nosso principal objeto de estudo, que é o figurino. São
eles: a persona, o traje, o espaço e o tempo.
A Persona
As primeiras perguntas que fazemos ao pensar no figurino é: para quem é ou quem vestirá esse
traje? Isso ocorre, porque a relação entre a persona e suas vestes é muito intrínseca. Até mesmo
quando uma personagem, em meio à encenação, aparece sem roupa, a ideia da vestimenta se faz
presente justamente pela falta, ou seja, pela ausência física dela.
As personagens existem a partir do mundo da fantasia, são tipos que foram gerados pela
imaginação de seus autores e, mesmo vivendo várias histórias, morando em diversos lugares e
às vezes até possuindo nome, elas são resultado da leitura e da interpretação da atriz ou do ator e
também de todos os profissionais e artistas que dão suporte ao surgimento imagético dessa
figura. Em determinado ponto da trajetória do desenvolvimento dela, passa a acontecer a sua
materialização, mediante o artista, as possibilidades de expressão dele e do elemento figurino
como suporte e adequação à narrativa.
O Traje
É um elemento importante na construção da personagem a ser desenvolvida pelo ator ou pela
atriz em cena; e, como parte dela, o traje de cena carrega consigo toda a ideia da representação
social de um determinado grupo, localidade, cidade, estado ou região específica. Mas, em
princípio, o traje atende à necessidade de representação, de entendimento da persona que o
veste. Para Viana e Velloso (2018), mesmo sem fazer parte do campo da moda por definição, o
traje de cena é concebido a partir dele única e exclusivamente com a intenção de ser inserido
num conjunto cênico, isto é, o traje de cena é um produto que serve à ficção, à representação, e o
valor dele nesse universo está justamente dentro do conjunto de elementos de cena. 
De certo modo, dentro da perspectiva da representação e da simbologia, o figurino, mesmo
servindo diretamente ao inusitado, à fantasia e ao universo imagético das manifestações
artísticas e culturais, alimenta a atual cadeia de criação, desenvolvimento e produção em moda,
que se alimenta diretamente da subjetividade do signo, utilizando-se principalmente de grandes
artistas pop por meio dos signos midiáticos para impulsionar ainda mais a sua própria cadeia. E
esse movimento gera uma espécie de retroalimentação, pois por vezes a produção do traje de
cena também busca a sua inspiração na moda e no traje social.
O Espaço
Assim como a personagem é um referencial importante usado no direcionamento da feitura do
figurino em um projeto cênico, os espaços físico e imagético da cena são extremamente
essenciais para a sua construção. Enquanto o espaço, que se refere ao tipo de edificação ou lugar,
dará parâmetros e recursos técnicos para o desenvolvimento do traje de cena (por exemplo: se a
cena acontece em local fechado, aberto, com cobertura, descoberto, cheio de outros elementos
de cena, vazio), o estudo sobre o espaço poético e simbólico são imprescindíveis para o processo
criativo desse figurino, pois é a partir deles que todas as questões relacionadas à intenção
artística da narrativa serão captadas pelo(a) profissional figurinista a fim de traduzir essas
informações na ideia de compor uma atmosfera vinculada ao imaginário criado a princípio pelo
autor ou atora, mas que se complementa com a percepção dos demais artistas e profissionais
envolvidos no projeto.
No entanto, a construção desse espaço cênico vai muito além das indicações do(a) autor(a) no
texto, ou do que aponta a cenografia. Ele é resultado do cruzamento e do atravessamento das
sensações, das ideias e das ações de todos que fazem parte da equipe de construção do projeto,
desde a primeira leitura do texto, passando pelo ator ou pela atriz, pelo entendimento da
persona, pelo estudo e pela realização do figurino, pela afinação da luz, do som, pela definição
do cenário, entre tantas outras necessidades técnicas. Entende-se, assim, que, para chegar à
realização física de cada item desses, é necessário passar pela etapa do estudo e do
entendimento da narrativa da cena.
O Tempo
Vimos um pouco sobre a relação dos elementos persona, traje e espaço com a constituição de
uma narrativa para a formação da linguagem cênica, mas há outro elemento muito relevante,
que se faz complementar nesse processo de construção da linguagem de cena: o tempo. Ele é
muito importante como pressuposto no processo criativo e de desenvolvimento da cena, além
de ser parte do conjunto de signos que se faz presente, constituindo o todo ou interferindo
separadamente no diálogo de estruturação de alguns dos outros elementos de cena. E, como
todos eles, o tempo cênico tem origem no imaginário, no lúdico, ele surge do texto e
compromete-se apenas com a intenção que essa escrita traz, com a informação que está sendo
transmitida e, portanto, é completamente diferente do tempo cronológico, mas, dentro de um
panorama de espaço-tempo numa apresentação, podem surgir pistas e símbolos que remetam o
espectador a determinadas épocas temporais ou tempos cronológicos. Por isso, a percepção
sobre o tempo no texto, na intenção, quando transmitidos para o desenvolvimento do projeto de
figurino, deve ser muito bem estudada e analisada com o propósito de dosar corretamente o que
se pretende com a narrativa. Esse é um direcionamento importante, saber definir o tempo do
traje como atemporal, atual ou de época colabora infinitamente para o sucesso a partir do
entendimento da cena.
A Indumentária, o Traje de Cena,
o
Figurino e a Moda
Chegamos ao assunto principal desta disciplina: o figurino. A partir de agora, nós nos
debruçaremos sobre esse tema de forma a explorarmos suas possibilidades!
Grande parte dos estudos sobre as manifestações artísticas e culturais se baseia na trajetória e
no desenvolvimento das Artes Cênicas, partindo, principalmente, da história do teatro, que
nasce nas encenações ritualísticas, comuns às civilizações de todas as épocas. Alguns desses
estudos são realizados diretamente sobre a indumentária, o traje de cena, o figurino, a moda e
suas relações com a narrativa da cena. Eles apontam que cada um desses termos surgiu (de
forma cronológica, como nessa ordem aqui exposta) com base em ideias distintas e, por isso,
possuem conceitos diferentes mesmo que comumente possamos encontrar pessoas ou
definições que, de alguma forma, relativizam tais termos justamente pela correlação entre eles.
Glossário 
Indumentária: in·du·men·tá·ri·a s.f.
História do vestuário;1
Arte relativa ao vestuário;2
Sistema do vestuário em relação a certas épocas ou povos;3
Conjunto de roupas que uma pessoa veste; indumento, induto.
Etimologia: feminino de indumentário.
4
Traje: tra·je s.m.1
Figurino: fi·gu·ri·no s.m.
Cinema, teatro e televisão: conjunto de roupas que são usadas por atores e atrizes num trabalho;
guarda-roupa: “Na última novela, o figurino de época estava perfeito”. 
 
Etimologia: italiano, figurino.
A Indumentária
Tudo o que existiu e existe como produção ou conjunto de vestimentas desde os primórdios da
civilização humana diz respeito à indumentária e ao seu campo de estudo, principalmente
quando analisado pelo ponto de vista de um período histórico em que, de alguma forma, houve
uma permanência ou a capacidade de se estabelecer a indicação de uma padronização no modo
de se vestir em delineada época por um determinado grupo.
Vestuário habitual;1
Vestuário próprio de uma profissão. 
 
Etimologia: Derivado, derivação do português antigo, antiguado trager.
2
Figura 4 – Amostragem da indumentária de povos das eras
antiga e medieval
Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons
Traje de Cena
O conceito de traje de cena aparece juntamente da evolução do teatro ocidental, inspirado na
ideia dos trajes e das vestimentas cerimoniais religiosas. Ao longo da história, ele foi se valendo
dos trajes do cotidiano, justamente com o intuito de representar o que acontecia na sociedade,
no mundo real, dentro do espaço imagético da cena. Em um projeto para um espetáculo, o traje
de cena é concebido a partir da escrita do texto, e sua realização física se dá pelo uso das técnicas
e dos instrumentos do campo da moda.
Figura 5 – Bailarina saltando com vestido esvoaçante
Fonte: Freepik
Sem dúvida, no decorrer do processo de sua feitura, desde a sua indicação textual até a sua
finalização, o traje de cena vai sendo elaborado, a princípio, no terreno do imaginário, da
idealização, indo sempre ao encontro da solicitação cênica – o que a cena exige? Mesmo sendo
construído para o exercício e a realização da narrativa, a realização do traje de cena engloba e
carrega no processo muito mais complexidade do que apenas essa intenção. Não se pode
categorizá-lo apenas como mais um simples elemento na função do comunicar.
É certo que Barthes não propõe um sistema do traje de cena, não de uma maneira completa,
como fez com o sistema da moda. Fazendo uma breve análise sobre o processo de
desenvolvimento desses trajes, podemos elencar alguns e importantes aspectos, para além dos
imagéticos, a serem observados na construção de um projeto, por exemplo, o tamanho, a
dimensão, a forma, o volume, o peso, o relevo, o ajuste, o movimento, a maleabilidade e a
transparência. Enfim, todos esses elementos físicos que encontram no ator ou na atriz, sejam
eles reais, sejam virtuais, sejam inanimados, o suporte para a experimentação e a sua
construção, e só isso demonstra a complexidade desse elemento de cena.
Figurino
Juntamente à idealização do traje de cena para a montagem de um espetáculo, inicia-se a feitura
do figurino, sendo esse o conjunto das vestimentas utilizadas pelos artistas em cena, ele é
constituído individualmente por todos os elementos ornamentais no âmbito do traje, sejam
roupas, sejam calçados, sejam acessórios. Mais que um conjunto de peças ou trajes, o figurino é
a materialização da ideia e do conceito da narrativa na forma física. Esse conceito precede ao
início da era cristã, juntamente à idealização do teatro ocidental.
Figura 6 – Grupo de personagens com trajes prata
alcançando a lua
Fonte: Getty Images
Entretanto, até meados do século passado, o termo figurino também era muito usado para
designar as ilustrações dos trajes do dia a dia, principalmente nos manuais ou nas revistas que
procuravam indicar boas maneiras, comportamentos e o modo de vestir-se para a moça que
pretendia ser bem-vista em sociedade. Seria o equivalente, atualmente, ao termo look, usado
constantemente para apontar o traje do cotidiano, termo que se popularizou com a
disseminação da moda.
Moda
Já o conceito de moda e o seu termo são mais recentes dentre os apresentados até aqui, por isso
a ideia de que o figurino é derivado da moda é, de alguma forma, falsa.
Figura 7 – Um jovem casal descolado, vestindo roupas
amarelas e grandes óculos escuros, andando de scooter em
uma rua da cidade, olhando para a câmera, sorrindo
Fonte: Getty Images
A ideia de moda foi difundida no início da era moderna no Ocidente (Século XV), a partir do
momento em que as negociações mercantis estimularam a produção em série de vários itens,
inclusive os itens indumentários. O que acontece na prática relacionada à criação de um figurino
nos dias de hoje, é que o processo de desenvolvimento dos trajes de cena, se confunde com o
projetar na moda. E como ela constitui um mercado que abrange infinitos seguimentos, o
figurino acaba por ser entendido como um deles. Mas na verdade a moda que aprendeu de certo
modo, se utilizar da ideia de signos, símbolos e narrativas da cena artística para se desenvolver.
Segundo Viana e Velloso:
Figura 8 – Linha do tempo do surgimento da
indumentária, do traje de cena, do figurino e da moda
Fonte: Adaptada de VIANA; VELLOSO, 2018
O figurino de uma produção pode ser pensado a partir da moda, mas esta não se sobrepõe ao
processo de construção dele e muito menos o look de moda substituirá a ideia do traje de cena. A
grande relação de similaridade entre esses elementos, indumentária, traje de cena, figurino e
- VIANA; VELLOSO, 2018, p. 9
“Traje de cena não é moda, ainda que possa representá-la quando necessário.
Quando a moda sobe ao palco teatral, torna-se traje de cena. Quando o traje de cena
sai às ruas em uso social, há nitidamente uma inversão dos seus valores
ritualísticos e artísticos. Seu status muda e seu estudo talvez devesse passar a ser
feito por uma equipe multidisciplinar que deveria incluir um psicólogo ou
psiquiatra, se houver a assunção de uma persona social que não raro pode ser
tratada como psicopata − para colocar de forma simplista.”
moda, está nas técnicas de desenvolvimento e produção em comum, pois todos eles se utilizam
da pesquisa, da criatividade, do planejamento, da projeção e da produção (modelagem, corte,
costura, acabamento), mas suas derivações e funções são distintas.
Complementado por vários outros elementos, com o intuito da realização da narrativa pela
comunicação em um espetáculo, como a caracterização (beleza, cabelo e maquiagem), os
acessórios, os adereços, a iluminação, o figurino contribui muito para a construção das
intenções na cena, principalmente no que diz respeito à personagem e à sua constituição, sejam
elas no campo do sentimento, sejam no campo físico. Determinados trajes exigem deliberadas
posturas, visto que intencionalmente eles possuem consigo o estigma do signo, da simbologia,
o que acaba guiando o trabalho do ator ou da atriz em função do desenvolvimento da
personagem, mas isso também acontece
fisicamente, pois alguns figurinos naturalmente
orientam e contribuem diretamente com o gestual, com a movimentação, ou não, da
personagem e com a maneira de conduzir o corpo em cena.
Ao criarmos um figurino, estamos concentrando o nosso estudo e a nossa percepção imagética
sobre o traje a partir da história a ser contada, canalizando, assim, toda a energia criativa que
temos para a organização dos símbolos ali expostos, que se transmutam em facilitadores do
entendimento sobre a narrativa apresentada no teatro, na dança, no cinema, no show de artistas
musicais ou em qualquer tipo de cena artística e cultural. Todo esse processo gera um
movimento no qual uma peça do vestuário sai da simples condição de roupa, de traje do
cotidiano e transforma-se em traje de cena, absorvendo e incorporando a possibilidade de
diálogo por meio da comunicação e da expansão da informação em si. De acordo com Viana e
Velloso (2018, p. 13), “Quando o traje se despede da escrevência, da ‘finalidade para’, quando a
roupa não mais só agasalha ou protege, mas encena-se, nasce assim uma essência
metalinguística do traje: o figurino”.
Funções e Disfunções do Figurino
Como já vimos, de modo sintético, o figurino tem a função de comunicar algo, mas como prever
a adequação ou não dele, ainda durante o estudo preliminar, na cena pretendida? Segundo
Barthes (1955 apud  VIANA; VELLOSO, 2018, p. 26), “o figurino pode ser classificado como bom
ou ruim” (o que aqui classificaremos como adequado ou não adequado, tendo como
pressuposto a ideia de todo o estudo e pesquisa que fazemos para que haja a construção do
figurino; sendo assim, não reduziremos essa feitura a uma simplista disputa do gosto pessoal,
que tende a ser superficial, sobre o bom e o ruim ou o bem e o mal). De acordo com o autor, “há
algumas características que são inerentes ao traje de cena para que o papel dele seja cumprido.
Desse modo, esses atributos devem ser observados e tidos como guias para sua realização desde
as pesquisas iniciais sobre o figurino”. A seguir, temos duas listas com as orientações de
Barthes (1955 apud VIANA; VELLOSO, 2018, p. 28) sobre as funções e disfunções do traje de cena
a partir da observação dele durante a execução, isto é, a realização de uma cena.
O Traje da Cena deve:
O Traje da Cena não deve:
Fazendo uma breve análise, essas indicações poderiam servir como parâmetro de avaliação para
todos os outros elementos cênicos que compõem um espetáculo, pois tudo o que está em cena
nele deve estar conectado entre si, funcionando como elementos complementares. É muito
importante conhecer e entender perfeitamente esse ponto (o conceito de complementariedade),
Guardar seu valor de pura função, sem estrangular ou encher a peça;
Servir ao espetáculo;
Servir à peça um certo número de serviços: se um desses serviços é
exageradamente prestado, se o servidor se torna mais importante que o amo, então
o traje está doente.
Ser um álibi, um ponto visual que distraia o público da realidade essencial do
espetáculo;
Ser uma espécie de desculpa para compensar a pobreza da peça;
Substituir a significação do ato teatral por valores independentes. O fim de um traje
de cena em si o condena.
já que, por mais que se reconheça a importância que todos os elementos cênicos possuem, o
resultado dessa junção não pode ser medida de forma quantitativa, mas sim de modo qualitativo.
Devemos observar a composição e a projeção dos elementos em cena pela perspectiva do todo,
do coletivo, à procura do equilíbrio, tanto emotivo quanto visual. Sempre buscando a harmonia
da cena, que dependerá da organização pela perspectiva da narrativa mostrada no conjunto dos
elementos que ali estão.
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ACESSE
Figurino Inadequado
Ao analisarem Barthes, Viana e Velloso (2018) destacam três principais situações em que o
estudioso aponta para a inadequação do figurino e, consequentemente, do traje em relação à
cena. Nesses apontamentos, fica nítida a problemática, segundo Barthes, de questões
envolvendo algum tipo de excesso, o qual, de formas semelhantes, acaba por corromper a
narrativa da cena.
Leitura 
Os Melhores Figurinos da História do Oscar
Excesso Histórico: o excesso ocorre quando o texto exige precisão histórica e essa
demanda é levada muito a sério pela equipe de figurino, transformando os trajes de
cena em verdadeiros exemplares da época a qual representam, mas isso se dá de
https://bit.ly/3dfGprR
Figurino Adequado
Ainda seguindo o pensamento de Barthes (VIANA; VELLOSO, 2018) sobre a funcionalidade do
figurino em relação à cena, apresentamos aqui duas diretrizes do autor colocadas como
qualidades fundamentais do figurino e individualmente inerentes ao que ele chama de “bom
traje de cena”.
O Argumento do Traje de Cena
O traje de cena, pensado por intermédio do processo de feitura do figurino, constitui-se como
signo. Esse referencial exposto no traje de cena pode estar alinhado diretamente ao texto, como
também ao momento contemporâneo do próprio espetáculo, e isso ajudará muito a sua leitura.
Muitas vezes esse signo apresentado foi perpetuado pelo seu cultivo social, ou seja, pela cultura,
por meio dos costumes transmitidos de geração em geração, mas a manutenção dele também
pode se dar pela convenção criada nos próprios espetáculos de origem teatral, devido à sua
tradição secular. Aí é que reside a importância argumentativa desenvolvida no estudo do
figurino, pois, desse modo, a narrativa presente em cena poderá, tranquilamente, sugerir novos
uma forma tão exagerada que o que era para convencer, como um complemento ao
espetáculo, faz com que a veracidade da cena e do próprio traje não aconteça e
prejudique a narrativa, a qual, notadamente, fica comprometida pelo exagero da
função histórica colocada sobre o figurino;
Excesso Estético: quando o traje de cena é constituído de exageros em sua
confecção e produção de tal modo a desviar a atenção para si, como se o figurino
fosse elaborado justamente para compensar uma má atuação ou qualquer outro
desfalque no texto ou em qualquer outro elemento do espetáculo. Como se o
figurino estivesse ali não pela narrativa, pois ele não conta nada, mas apenas como
objeto decorativo;
Excesso de Suntuoso: parecido com os exageros anteriores, esse se caracteriza
quando um figurino se mostra demasiadamente luxuoso e rico, ou pelo menos
aparenta ser dessa forma. Assim, mais uma vez, a narrativa da cena como um todo é
prejudicada.
signos a partir de novos argumentos ou reforçar os já existentes. Assim, o entendimento sobre
esses símbolos acontecerá de modo dinâmico. A importância, a relevância e a adequação do traje
de cena devem estar intrínsecas à função da comunicação, possibilitando que narrativa da cena
aconteça naturalmente. O espetáculo como um todo jamais deve sofrer em detrimento de um
traje mal-intencionado ou mal pensado. O processo do figurino existe para que essa
comunicação aconteça.
A Humanidade do Traje de Cena
O desenvolvimento do figurino deve considerar irrestritamente o corpo do ator ou da atriz não
pensando só em sua mobilidade, se assim a ação em cena solicitar, mas enaltecendo a sua
humanidade, entendendo-a como parte do traje de cena, como se o corpo do ator e o traje
fossem uníssonos. Certamente, nos casos em que se exige uma abstração da forma ou uma
ultracaracterização do personagem, essa humanidade não se fará presente, porém o que não
pode faltar nesse processo é a conexão entre o ator ou a atriz, o personagem e o traje para que a
leitura da cena aconteça.
A Ausência do Figurino
Parece contraditório falarmos sobre o nu em cena quando, na verdade, o nosso assunto
principal é justamente o figurino, o traje de cena, elementos que cobrem o corpo, mas esse
apontamento é justamente para discorrer sobre o nu a partir do ponto de vista de que ele existe
pela ausência da roupa, e não propriamente pela inexistência dela. Para Barthes (VIANA;
VELLOSO, 2018), uma cena de strip-tease está muito
mais relacionada aos signos retirados de
cima de si, por quem o faz, do que propriamente ao ficar nu.
Por essa perspectiva, percebemos que a narrativa do nu em cena pode fazer-se necessária, forte
e presente pelo signo que o ato do despir carrega, seja com própria personagem se despindo,
seja com ela sendo despida por outra personagem, de modo carinhoso, de modo abrupto; enfim,
realmente são muitas possibilidades. Nesse sentido, o que deve conter em tal contexto é
significado para que a narrativa não se enfraqueça desvalorizando a leitura da ação cênica.
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
  Site  
Casa Juisi 
Acervo Figurino e História da Moda.
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ACESSE
  Livro  
História do Vestuário 
KOHLER, C. História do Vestuário. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
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˨ Material Complementar
https://bit.ly/3ElIVZu
  Filme  
Documentário – Ocupação Giramundo (2014) 
O documentário retrata o processo criativo do grupo Giramundo e conta com depoimentos dos
diretores: Beatriz Apocalypse, Marcos Malafaia e Ulisses Tavares.
  Leitura  
Figurino: A Emoção nas Roupas
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ACESSE
Documentário - Ocupação Giramundo (2014)
https://bit.ly/36xPNqv
https://www.youtube.com/watch?v=ascTmQYaWWM
AIDAR, L. Performance na Arte. Toda Matéria, 23/10/2020. Disponível em:
. Acesso em: 23/08/2021.
CAÑIZAL, E. P. Do Significante Ausente no Teatro. Itinerários, Araraquara, n. 5, p. 15-47, 1993.
Disponível em: . Acesso
em: 11/08/2021.
CENA. Michaelis, c2021. Disponível em: . Acesso em: 10/08/2021. 
 
DÓRIA, L. M. F. T. Linguagem do Teatro. Curitiba: Intersaberes, 2012. (Coleção metodologia do
Ensino de Artes, v. 7). 
 
FIGURINO. Michaelis, c2021. Disponível em: . Acesso em: 10/08/2021.
INDUMENTÁRIA. Michaelis, c2021. Disponível em: . Acesso em: 10/08/2021. 
 
KOWZAN, T. Littérature et Spectale. Varsóvia: Mouton, 1975. 
 
LOBO, R. N.; LIMEIRA, E. T. N. P.; MARQUES, R. N. História e Sociologia da Moda: Evolução e
Fenômenos Culturais. 1. ed. São Paulo: Érika, 2014. 
 
MORRIS, C. W. Fundamentos da Teoria dos Signos. Trad. Paulo Alcoforado, Milton José pinto.
Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca; São Paulo: Edusp, 1976.
3 / 3
˨ Referências
RODRIGUES, S. Existe ‘O Personagem’ ou apenas ‘A Personagem’?. Veja Brasil, São Paulo,
08/01/2015, atual. 31/07/2020. Disponível em: . Acesso em: 07/08/2021.
SOUZA, A. L.; FERRAZ, W. O Trabalho do Figurinista: Projeto, Pesquisa e Criação. Porto Alegre:
INDEPIn, 2013. 
STYLIGHT. Os Melhores Figurinos da História do Oscar. [2021?]. Disponível em:
. Acesso em:
25/08/2021.
TRAJE. Michaelis, c2021. Disponível em: . Acesso em: 10/08/2021.
VIANA, F. R. P.; VELLOSO, I. M. Roland Barthes e o Traje de Cena. São Paulo: ECA-USP, 2018.
Disponível em:
.
Acesso em: 07/08/2021.

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