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13 2. CAMPO ELÉTRICO 2.1. INTRODUÇÃO A todo ponto do espaço nas vizinhanças da Terra associamos um vetor intensidade de cam- po gravitacional g. Esse vetor representa a ace- leração gravitacional à qual fica sujeito um corpo de prova abandonado nesse ponto. Sendo m a massa do corpo e F a força gravitacional que sobre ele atua, tem-se m F g (2.1.1) Este é um exemplo de um campo vetorial. Nos pontos pertos da superfície da Terra este campo é freqüentemente considerado uniforme, isto é, g é o mesmo em todos os pontos da regi- ão considerada. O escoamento da água de um rio nos dá ou- tro exemplo de campo vetorial, chamado campo de velocidade. A todo ponto na água associa-se uma grandeza vetorial, a velocidade v com que a água passa pelo ponto. Se g e v não variam com o tempo, os campos correspondentes são denominados estacionários.. No caso do rio, note-se que, apesar da água estar em movimen- to, o vetor v, em qualquer ponto, não varia com o tempo nas condições de regime estacionário. Quando uma carga é colocada perto de um bastão carregado, uma força eletrostática atuará sobre a carga, dizendo-se, então, que existe um campo elétrico nessa região. Analogamente, diz- se que existe um campo magnético na região em torno de um ímã. Quando se trata de campos elétricos asso- ciados a cargas e encarados de um referencial no qual se encontrem em repouso, está se estu- dando a Eletrostática. Antes de Faraday, acreditava-se que a força entre partículas carregadas era uma interação direta e instantânea entre cada par de partículas. Este conceito de ação à distância aplicava-se também às forças magnéticas e gravitacionais. Ao invés de ação à distância, é preferível considerar que: i) A carga q1, na figura 2.1.1, produz um campo elétrico no espaço a sua volta. ii) O campo atua sobre a carga q2; isso é percebido pela ação de F sobre q2. O campo desempenha um papel de trans- missão da interação entre as cargas. Campo elétrico carga q1 (central) Carga q2 F Fig 2.1.1. Campo elétrico criado pela carga central q1 e força sobre a carga de prova q2. Surgem, então duas questões a serem tra- tadas: 1a: Cálculo do campo produzido por distri- buições de cargas conhecidas. 2a: Cálculo das forças que um dado campo exerce sobre as cargas nele colocadas. A interação deve ser entendida em termos de carga campo carga e não sob o ponto de vista de ação à distân- cia, em termos de carga carga Na figura 2.1.1 pode-se aceitar que a carga q2 produz um campo, e que esse campo atua sobre a carga q1, que será submetida a ação de uma força – F, em conformidade com a terceira lei de Newton. A situação é completamente si- métrica, cada uma das cargas estando sob a influência do campo associada à outra. Se a única situação a ser analisada no Ele- tromagnetismo fosse o estudo de forças entre cargas em repouso, as duas formas de análise seriam equivalentes. Supondo, entretanto que a carga q1 da figura 2.1.1 acelere subitamente para a direita. Após quanto tempo q2 “sentirá” que q1 se moveu e que a força que nela (q2) atua deve aumentar? A teoria eletromagnética diz que q2 “tomará conhecimento” do movimento de q1 através de uma perturbação do campo que se origina em q1, perturbação essa que se propaga com a velocidade da luz. O ponto de vista de ação à distância exige que a informação sobre a aceleração de q1 seja transmitida instantaneamente a q2, o que contra- 14 diz os resultados experimentais. Os elétrons acelerados em uma antena transmissora de rádio só influenciam os elétrons de uma antena receptora, colocada a uma distância d, depois de um tempo d/v, onde v é a velocidade da luz no meio entre as antenas. “Diz-se que existe um campo elétrico num dado ponto, se uma força de origem elétrica atuar sobre um corpo carregado (carga de pro- va) colocado nesse ponto”. 2.2. DEFINIÇÃO DE CAMPO ELÉTRICO Seja uma distribuição de cargas elétricas puntiformes em vários pontos do espaço e uma carga de prova qo colocada num ponto P do espaço. A força exercida sobre essa carga de prova será a soma vetorial das forças exercidas pelas cargas individuais. Como cada uma destas forças é proporcional à carga qo, a força resul- tante é proporcional à qo. “O campo elétrico E no ponto P é definido como a razão entre essa for- ça resultante e a carga de prova qo colocada no ponto P”. o q F E (2.2.1) Na expressão anterior, E é um vetor que tem o mesmo sentido de F se qo > 0 e contrário ao de F se qoquando se admite que o campo não se propaga instantaneamente. Assim a força exercida sobre a carga qo, colocada num ponto P, é a força exercida pelo campo e não pelas cargas. O campo elétrico no ponto P é produzido pelas outras cargas, mas não se instala instan- taneamente. Seja uma carga puntiforme q1 colocada no ponto 1 e uma carga de prova qo no ponto 0. O vetor posição de q1 é r1 e de qo é ro, o vetor distância entre as cargas é r10 = ro – r1. A lei de Coulomb (eq. 1.8.1) permite encontrar a força elétrica trocada entre as duas cargas: 10 ˆ 2 10 1 10 r r o qq kF (2.3.1) que pode ser reescrita da forma 10 ˆ 2 10 110 r r q k o q F e como o q F E 10 1 antão 10 ˆ 2 10 1 1 r r q kE (2.3.2) onde: 1 E : é o campo elétrico produzido pela carga q1 no ponto 0. 2 10 r : é o módulo do vetor distância da carga q1 até a carga qo. 10 10 10 ˆ r r r : é o versor na direção do vetor distância entre as cargas. O campo elétrico num ponto P, devido a um sistema de cargas puntiformes pode ser calcula- do, também, pela lei de Coulomb. Seja i rr i r 00 o vetor distância da i-ésima carga até o ponto P onde se encontra a carga qo. A força sobre a carga de prova qo em P, é dada por: ... 0 ˆ 2 0 0 ... 20 ˆ 2 20 02 10 ˆ 2 10 01 i r i r q i kq r r qkq r r qkq F i i r i r i kq qF 0 ˆ 2 0 0 i i r i r i kq q F 0 ˆ 2 0 0 mas o q F E portanto, o campo elétrico no ponto P, é da- do por: i i r i r i kq q F E 0 ˆ 2 0 0 (2.3.3) A equação 2.3.3 pode ser reescrita como: i i E o q F E (2.3.4) 16 Onde i E é o campo da i-ésima carga no ponto. Escrevendo o módulo do vetor distância da carga q1 até a carga q0 como d e a carga q1, criadora do campo, como Q, a intensidade do campo elétrico no ponto P, descrito na equação 2.3.2, pode ser escrita como: 2 d Q kE (2.3.5) Nessa forma de interpretar o problema a di- reção do vetor campo elétrico é a direção da reta que passa pela carga central e pelo ponto P e o sentido será de afastamento da carga central, se a carga central for positiva e de aproximação da carga central se a carga central for positiva. EXEMPLOS 01) Seja uma carga central de 4C e um ponto P a 30cm da carga central, no vácuo. Determi- ne a intensidade do campo elétrico no ponto P. Solução: Q = 4C = 4x10-6C; d = 30cm = 3x10-1m 2 d Q kE 21 103 6 1049 109 E E = 4x105 N/C 02) Seja uma carga central de 6C, no vácuo. Construa o gráfico da intensidade do campo elétrico num ponto P, em função da distância do ponto à carga central. Solução: Calculando o campo elétrico nos pontos: X (x10-1m) E (x105N/C) 3 6 6 1,5 12 0,375 E (x105 N/C) 6 3 2 1 0 3 6 12 x (x10-1m) 03) Duas cargas puntiformes de 3C e 4C são colocados nos vértices de um triângulo re- tângulo e isósceles, conforme a figura. De- termine a intensidade do campo elétrico re- sultante da ação das duas cargas no outro vértice. q1 = 4C = 4x10-6C 30cm 30cm q2=3C Solução: Cada carga produz um capo no ponto consi- derado e esses vetores forma um ângulo de 90o entre si. Inicialmente, calcula-se cada um dos campos, para em seguida obter o campo resultante. A figura a seguir, mostra essa situação. q1 = 4C = 4x10-6C 30cm E2 30cm q2=3C E1 E Calculando E1: 17 2 1 1 1 d q kE 21 103 6 1049 109 1 E CNE / 5 104 1 Calculando E2: 2 2 2 2 d q kE 21 103 6 1039 109 1 E CNE / 5 103 2 Calculando o campo resultante: 2 2 2 1 2 EEE 25 103 2 5 104 2 E Portanto E = 5 x 105 N/C 04) Uma carga de 2,5C está fixada no ponto A(-3, 7)dm. Determine o vetor campo elétrico produzido por essa carga no ponto B(1, 4)dm Solução: qA =2,5C = 2,5x10-6C O vetor distância entre de A até B é: )3;4()7;3()4;1( AB r rAB = 4i – 3j O módulo do vetor distância será: 2 )3( 2 4 2 AB r rAB = 5dm=0,5m Cálculo do versor na direção do vetor distân- cia: AB r AB r AB r ˆ 5 34 ˆ ji AB r ji AB r 6,08,0ˆ Cálculo do campo (Eq 2.3.2): AB r AB r A q k A E ˆ 2 . )6,08,0( 2 5,0 6 105,29 109 ji A E )6,08,0.( 4 109 ji A E Portanto: ji A E 4 104,5 4 102,7 05) Tem-se três cargas puntiformes qA=4C, qB=-6C e qC=8C, fixadas nos pontos A(-1, 0)dm, B(2, 4)dm e C(3,-2)dm. Determine o vetor campo elétrico resultante produzido por essas três cargas no ponto P(0, 2)dm. Solução: i) Vetores distâncias de cada carga a P rAP=(0, 2) – (-1, 0) rAB = i +2j rBP=(0, 2) – (2, 4) rBP = -2i -2j rCP=(0, 2) – (3, -2) rCP = -3i +4j ii) Módulos das distâncias: 2 2 2 1 2 AP r 5 AP r dm=0,1 5 m 2 )2( 2 )2( 2 BP r 22 BP r dm 22,0 BP r m 2 4 2 )3( 2 CP r mdmCPr 5,05 iii) Versores de cada direção ji ji AP r 894,0447,0 5 2 ˆ ji ji BP r 707,0707,0 22 22 ˆ ji ji CP r 8,06,0 5 43 ˆ iv) Vetores campos elétricos de uma das cargas: )894,0447,0( 2 5.1,0 6 1049 109 ji A E ji A E 5 104368,6 5 10128,3 )707,0707,0( 2 2.2,0 6 1069 109 ji B E ji B E 5 1077225,4 5 1077225,4 18 )8,06,0( 2 5,0 6 1089 109 ji C E ji C E 5 10304,2 5 10728,1 v) Campo resultante Aplicando a equação 2.3.4: C E B E A EE Então: jiE 6 1035131,1 5 1017225,6 06) Uma carga positiva q1 está na origem, e uma segunda carga positiva q2 está sobre o eixo dos x, em x=a, sendo a>0. Determinar o campo elétrico nos pontos sobre o eixo x. Solução: A figura a seguir, mostra a situação: 0 a i) se x>a, então r1=xi, r1=x e ir 1 ˆ r2=(x-a)i, r2=x-a e ir 2 ˆ 2 ˆ 2 2 2 1 ˆ 2 1 1 r r kq r r kq E i ax q x q kE 2 )( 2 2 1 ii) Se 02 2 1 iii) Se x 0. Solução: r1 = yj, r1 = y e jr 1 ˆ r2=-ai + yj, 22 2 yar e 222 ˆ ya jyia r iajy yaya q j y q kE 22 . 22 2 2 1 08)Uma carga puntiforme q1=+q está na origem e uma outra carga q2=-q, está no eixo x a uma pequena distância, em x=-a, conforme a figura a seguir. Determinar o campo elétri- co nos pontos do eixo x, afastados da ori- gem, sendo x>0. -q q a x ixr 1 r1 = x ir 1 ˆ iaxr )( 2 r2=x+a ir 2 ˆ 21 EEE i axx kqi ax qk i x kq E 2 )( 1 2 1 2 )( )( 2 i x a x x a ax kqE 2 1. .4 2 1.2 como x>>a, então 0 2 x a e 0 x a 3 2 x kqa E 19 Um sistema constituído por duas cargas elé- tricas de mesmo módulo mas opostas, separa- das por uma pequena distância, é um dipolo elétrico. Um vetor, da carga negativa para a carga elétrica positiva, com módulo qa, é o vetor momento de dipolo p. Em termos do momento de dipolo, o campo elétrico sobre o eixo de dipo- lo é dado por: 3 2 x pk x E (2.3.6) EXERCÍCIO 01) Calcule a intensidade do campo elétrico num ponto situado a 40cm de uma carga central de 4C, no vácuo. R: 2,25x105N/C 02) Seja uma carga central de 6C. Determine a que distância da carga central, o campo terá intensidade de 6x104N/C. R: 3cm 03) A 50cm de uma carga central, o campo elé- trico tem intensidade de 9x105N/C. Determi- ne o módulo da carga central. R: 25C. 04) Uma carga central de 20C está fixada no ponto (2, -3)dm. Determine o vetor campo elétrico no ponto (8, 5)dm. R: E = 1,08x105i + 1,44x105j 05) Considerando o anterior, se carga central for de -8C, qual é o vetor campo elétrico no mesmo ponto? R: E = -4,32x104i – 5,76x104j 06) Duas cargas puntiformes q1 = 6C e q2 = 8C são fixadas em dois vértices de um tri- ângulo eqüilátero de 60cm de lado. Determi- ne a intensidade do vetor campo elétrico no terceiro vértice do triângulo. R: 3,041x105 N/C 07) Duas cargas puntiformes e iguais a 4,8C cada, são fixadas nas extremidades da hipo- tenusa de um triângulo retângulo. Se a hipo- tenusa do triângulo medir 100cm e um dos catetos medir 80cm, determine a intensidade do vetor campo elétrico no vértice em ângulo reto desse triângulo. R: 1,377x105 N/C 08) Uma carga puntiforme qA=12C está fixada no ponto A(-6, 4)dm e uma carga puntiforme qB = -8C está fixada no ponto (4, 6)dm. De- termine o vetor campo elétrico no ponto (2, - 2)dm. R: E = 8,894x104i – 5,462x104j 09) Sejam três cargas puntiformes qA=3,6C, qB=-6C e qC=4C, estão fixadas no pontos A(-2, 6, 0), B(0, -4, 2) e C(6, 0, 4). Determine o vetor campo elétrico no ponto (0, 2, -2). R: 2,249x104i + 1,857x105j –4,484x104k 10) Uma carga de prova q1 está fixada no ponto (0, 2) e uma carga de prova q2 está fixada no ponto (0, -2). Determine o vetor campo elé- trico nos pontos do eixo x, em função da constante eletrostática k, das cargas q1, q2 e de x. R: jqqixqq xx k E 12 .2 21 4 2 .4 2 11) O que é dipolo? Como se calcula o campo produzido por um dipolo? 2..4. LINHAS DE FORÇA O conceito de linhas de força foi introduzido por Michael Faraday (1791 – 1867), para ajudar a visualizar os campos elétricos e magnéticos. Uma linha de força (em um campo elétrico) é uma linha imaginária traçada de tal maneira que sua direção e sentido em qualquer ponto (isto é, a direção e o sentido de sua tangente) são os mesmos que os do campo elétrico nesse ponto, conforme mostra a figura 2.4.1, a seguir. EA EB B A Linha de força Fig 2.4.1. Linha de Força Como, em geral, a orientação de um campo varia de ponto para ponto, as linhas de força são quase sempre curvas. Faraday as chamou de linhas de força, mas o termo “linhas de campo” é mais indicado. 20 É conveniente representar o campo elétrico mediante linhas de campo que indicam a direção do campo em qualquer ponto. O vetor campo elétrico E é tangente à linha que passa pelo ponto e indica a direção e sentido da força elétri- ca sobre uma carga de prova positiva colocada no ponto. Em virtude de ser infinito o número de pontos no espaço por onde traçar uma linha, escolhe-se apenas algumas poucas, representa- tivas, para serem desenhadas Em qualquer ponto nas vizinhanças de uma carga positiva , uma carga de prova positiva é repelida pela carga; as linhas de campo, por isso, divergem de um ponto ocupado por uma carga positiva.. Analogamente, as linhas conver- gem para um ponto ocupado por uma carga negativa. É costume, porém, e também conveni- ente, traçar as linhas continuamente, principian- do numa carga positiva e terminando numa ne- gativa. A figura 2.4.2 mostra as linhas de força de uma carga positiva e de uma carga negativa. + _ Fig 2.4.2. Linhas de força em cargas “isoladas” A figura 2.4.2 mostra as linhas de força, ou as linhas do campo elétrico, de uma única carga, positiva ou negativa. Considerando uma superfí- cie esférica de raio r, com centro na carga. Sen- do fixo o número de linhas que emergem da carga, o número de linhas por unidade de área da esfera é inversamente proporcional à área da esfera, 4r2. Então, a densidade das linhas de- cresce com a distância segundo 1/r2, exatamen- te como decresce o módulo do campo elétrico. Se adotarmos a convenção de traçar um número fixo de linhas a partir de uma carga puntiforme, número este proporcional ao valor da carga, e se desenharmos as linhas simetricamente em torno da carga puntiforme, a intensidade do campo fica indicada pela densidade das linhas. Tendo mais de uma carga puntiforme, pode- se indicar a intensidade do campo mediante uma escolha em que os números de linhas que diver- gem das cargas positivas ou que convergem para as cargas negativas sejam proporcionais ao valor de cada carga. A figura 2.4.3 mostra as linhas de campo de duas cargas idênticas e positivas. + + Fig 2.4.3. Linhas de força de campo formado por duas cargas puntiformes positivas e idênticas. Na figura 2.4.4 são mostradas as linhas de força de um campo formado por duas cargas puntiformes, idênticas e negativas: Na figura 2.4.5 são mostradas as linhas de força do campo criado por duas cargas puntifor- mes de mesmo módulo mas de sinais opostos, ou seja de um dipolo elétrico. Nas vizinhanças estreitas da carga positiva as linhas são dirigidas radialmente para fora. Nas vizinhanças estreitas da carga negativa, as linhas são radiais para dentro. Como as cargas tem mesmo módulo, o número de linhas que principiam na carga positi- va é igual ao número de linhas que terminam ma negativa. - - Fig 2.4.4. Linhas de força de campo formado por duas cargas puntiformes negativas e idênticas. 21 - + Fig 2.4.5.Linhas de força de campo formado por duas cargas puntiformes de mesmo mó- dulo mas de sinais opostos (dipolo elé- trico). Numa esfera de raio muito pequeno (r >a as li- nhas de campo são mais ou menos igualmente espaçadas. Pode-se perceber pelas figuras 2.4.3 e 2.4.4 que o campo elétrico na região entre as cargas é fraco, em virtude de existirem poucas linhas de campo nessa região. Isso pode ser verificado pelo cálculo direto. O raciocínio anterior pode ser aplicado para qualquer sistema de cargas puntiformes. Nas proximidades estreitas de cada carga as linhas de campo são igualmente espaçadas e saem da carga ou nela entram, dependendo do respectivo sinal da carga. Muito longe de todas as cargas, a estrutura particular do sistema pode não ser importante, e as linhas de campo coincidem com as de uma única carga puntiforme igual à soma de todas as cargas do sistema. Para desenhar linhas de campo elétrico, de- ve-se respeitar as seguintes regras: 1. O número de linhas que saem de uma carga puntiforme positiva, ou que entram numa carga puntiforme negativa, é propor- cional ao valor da carga. 2. As linhas que entram ou que saem de uma carga puntiforme são esferossimétri- cas. 3. As linhas principiam, ou terminam, exclu- sivamente em cargas. 4. A densidade de linhas (número por unida- de de área perpendicular às linhas) é pro- porcional à grandeza do campo. 5. Duas linhas de campo não podem se in- terceptar. A figura 2.4.6 mostra as linhas do campo elétrico produzido por duas cargas puntiformes de valores +2q e –q. +2q -q Fig 2.4.6.: linhas de força do campo produzido por duas puntiformes de valores +2q e –q.. Na figura 2.4.6 pode-se notar que o número de linhas de campo que saem da carga +2q é o dobro do número de linhas de campo que en- tram na carga –q. A grandes distâncias das car- gas as linhas de força são as mesmas que as de uma carga +q. 2.5. CAMPO ELÉTRICO DE UMA ESFERA Considerando o campo elétrico devido a uma casca esferossimétrica de cargas, com raio R e espessura desprezível. Seja Q a carga total na casca, admitida positiva. (Esta distribuição de cargas, pode ser realizada, na prática, mediante a colocação de carga num condutor esférico e essa carga irá se distribuir uniformemente pela superfície da casca). Escolhendo a origem do sistema de coorde- nadas no centro da esfera. Em virtude da sime- tria da casca esférica, a única direção possível para as linhas de campo elétrica é ao longo dos raios, seja no sentido da origem, seja no sentido para longe da origem. A distâncias grandes em comparação com o raio da casca R, o campo deve ser muito parecido com o de uma única carga puntiforme Q. Então, as linhas são radiais, para fora e igualmente espaçadas longe da cas- ca. As linhas de força desse sistema são mos- tradas na figura 2.5.1, a seguir: 22 Fig 2.5.1: linhas de força numa casca esférica eletrizada positivamente e em equilíbrio eletrostático. Fora da casca esférica as linhas de força são exatamente as mesmas que as de uma car- ga puntiforme Q. Então o campo elétrico provo- cado no exterior da casca tem direção radial e módulo dado por: 2 r Q kE r > R (2.5.1) As linhas devem principiar na carga sobre a casca. Não pode haver linhas de campo no inte- rior da casca, pois se existissem divergiriam do centro da casca, na origem, ou para ele conver- giriam. Disso se conclui que uma distribuição esferossimétrica de carga não provocar campo elétrico no seu interior, ou seja no interior de uma casca esférica em equilíbrio eletrostático, o campo elétrico é nulo: E = 0 rcargas, sim- plesmente se somam (vetorialmente) ou se su- perpõe independentemente. O Princípio da Su- perposição é aplicado igualmente a campos gravitacionais e magnéticos.. Se a distribuição de cargas for contínua, o campo produzido num ponto P pode ser calcula- do dividindo-se a carga total em elementos infini- tesimais de carga dq. Calcula-se, então, o cam- po dE, no ponto P, produzido por cada um des- ses elementos, sendo estes tratados como car- gas puntiformes. O módulo de dE é dado por: 2 . r dqk dE (2.6.4) onde r é a distância do elemento de carga ao ponto P. O campo resultante neste ponto é calculado somando (isto é, integrando) as con- tribuições de todos os elementos de carga, ou seja, EdE (2.6.5) Esta integração é uma operação vetorial. EXEMPLOS 01) determinar o campo elétrico devido a um anel circular uniforme de cargas elétricas, sobre o eixo do anel. Solução: Seja q a carga positiva total, distribuída uni- formemente num anel de raio ª Quer-se cal- cular o campo num ponto sobre o eixo do anel, a uma distância x do centro do anel. A figura 2.6.1,a seguir, mostra um esquema da situação. q a r Ex C x E E Fig 2.6.1. Anel de raio a carregado com carga q e o campo resultante no ponto a uma dis- tância x do centro C do anel. Na figura 2.6.1 vê-se uma parte do campo elétrico E no ponto a uma distância x do centro do anel é devido à porção de carga q. Esta parte tem componente Ex sobre o eixo do anel e uma componente E per- pendicular ao eixo. A simetria da figura mos- tra que o campo resultante, devido ao anel completo, deve estar na direção do eixo do anel, isto é, as componentes perpendicula- res terão soma nula. Em particular, a com- ponente perpendicular que aparece na figura 2.6.1 será cancelada por outra componente devida a uma outra parte da carga que está 24 em posição simétrica à que aparece na figu- ra. A parte do campo no ponto E tem módulo dado por: 2 . r qk E A componente axial devida à parte da carga que aparece na figura é: cos.E x E ou cos 2 . r qk x E mas r x cos e 222 axr então 2222 . ax x ax qk x E logo 322 .. ax xqk x E Desde que a distância do ponto de onde se está calculando o campo a todas as partes da distribuição de cargas é a mesma, e uma vez que o ângulo é o mesmo para todas as partes da carga, o campo devido a todo o anel de carga é: 3 22 .. ax xqk x E x E q ax xk x E 322 . mas qq portanto, o módulo do campo elétrico em qualquer ponto a uma distância x do centro do anel será dado por: 322 .. ax xqk x E 02) Resolver o mesmo problema anterior, consi- derando o campo resultante no ponto como uma soma dos campos gerados pelas infini- tas partes da distribuição de cargas de com- primento ds, como mostra a figura 2.6.2, a seguir: ds dq a r dEx C x dE dE Fig 2.6.2. Anel de raio a carregado com carga q e o campo resultante no ponto a uma dis- tância x do centro C do anel. Seja um elemento do anel de comprimento ds, conforme figura 2.6.2. A carga nesse pe- daço do anel é : a ds qdq 2 . onde a é o raio do anel. Essa carga produz um campo elétrico elementar dE, no ponto considerado. O campo elétrico resultante E, nesse ponto, é calculado somando-se (integrando-se) os campos produzidos por todos os elementos de carga que constituem o anel. Por sime- tria, esse campo resultante está orientado ao longo do eixo do anel; logo, apenas a com- ponente de dE paralela ao este eixo contri- bui para o resultado final. A componente perpendicular ao eixo será cancelada pela componente de mesmo módulo e sentido contrário, produzida pelo elemento de carga diametralmente oposto no anel. O campo elétrico será dado pela equação 2.6.5 EdE que é uma integral vetorial, mas que pelas considerações anteriores, pode se tornar uma integral escalar da forma: cos.dEE onde 25 2 . r dqk dE , 22 cos ax x , 222 axr e a ds qdq 2 . então: 22 ...2 .. axa dsqk dE Substituindo, fica: 2222 ...2 .. ax x axa dsqk E Para um dado ponto P, x é constante para todos os elementos da distribuição de carga no anel, então: ds ax x axa qk E 2222 ...2 . onde ads ..2 , portanto simplificando, o módulo do campo no ponto a uma distância x do centro do anel, é dado por: 322 .. ax xqk E Observações: - para x=0 E = 0. - para x >> a pode-se desprezar o valor de a no denominador e a expressão fica: 2 . x q kE que é um resultado coerente pois, para pontos muito distantes, o anel se compor- tará como uma carga puntiforme q. 03) Calcular o campo elétrico sobre a mediatriz de uma reta uniformemente carregada. Seja a densidade linear de carga. Num ponto sobre a mediatriz o campo E não terá componente paralela à reta carregada. Solução: A figura 2.6.3 mostra a situação: y E Ey Ex P o y r q L/2 x ++++++++++++++++++++++++++ 0 x Fig 2.6.3: Reta carregada. Parte do campo no ponto P, produzida pela parte da reta com carga q.. Na figura 2.6.3 o sistema de coordenadas é escolhido de modo que a origem esteja no centro do segmento de reta carregado, e es- te ao longo do eixo dos x. O campo está so- bre o eixo y no ponto P. O módulo do campo provocado por um elemento de carga xq . é: 2 .. 2 . r xk r qk E A componente perpendicular ao segmento de reta carregado (neste caso, a componen- te y) é: cos.E y E cos 2 .. r xk y E onde r y cos então r y r xk y E 2 .. (2.6.7) Calcula-se o campo total Ey efetuando a so- ma de todos os campos produzidos pelos elementos x da reta carregada. Nesse caso pode-se efetuar a soma (integrar) desde x=0 até x= L/2 e multiplicar o resultado por 2, em virtude da simetria, pois cada metade da reta carregada contribui com uma mesma parce- la para o módulo de Ey. A integração é mais simples se for efetuada a troca de variável, de x para e integrara a expressão de =0 até =o.: 26 y L o tg 2 e y x tg ou x = y.tg dx = y.sec2.d d y r ydx . 2 . Sendo x suficientemente pequeno, pode-se fazer Ey=dEy, x=dx, então a equação 2.6.7 pode ser reescrita como: d y r y r yk dx r yk y dE 2 2 3 .. 3 .. d y k d r y y k y dE cos .. A componente y total do campo é igual ao dobro da integraldesta forma, desde =0 até =o: o d y ko y dE y E 0 .cos ..2 0 2 oy k y E sen ..2 onde 2 2 2 2 sen y L L o Para obter o campo provocado por uma reta carregada, de comprimento infinito, deve-se fazer o=90o . Então: y k y E ..2 04) Calcular o campo elétrico sobre o eixo de um disco uniformemente carregado. Solução: Seja R o raio do disco e a carga uniforme por unidade de área. O campo elétrico no ei- xo do disco será paralelo ao eixo. Pode-se calcular este campo tratando o disco como um conjunto de anéis concêntricos de car- gas e usando o resultado do exemplo 01. Seja um anel de raio r e largura dr, como mostra a figura 2.6.4. r dr R x Fig. 2.6.4: Disco com uma densidade su- perficial de carga uniforme A área do anel mostrado na figura anterior é 2rdr, e a sua carga é dq=2rdr. O campo provocado por este anel é dado pela solução do exemplo 01 substituindo q por 2rdr e a por r. Então 322 ....2.. rx drrxk x dE O campo total, provocado pelo disco encon- tra-se mediante a integração de dEx de r=0 até r=R: R rx drrxk R x dE x E 0 3 22 ....2.. 0 R rx drr xk x E 0 3 22 ..2 ... x Rx kx x E 1 22 1 .2 portanto 22 1.2 Rx x k x E Observação: - Para o caso de um campo nas vizinhanças de um plano infinito de carga, pode ser ob- tido a partir do resultado anterior, fazendo- se R tender para o infinito ou x tender para zero. Então 27 Ex = 2k Assim, o campo devido a uma distribuição de carga, plana e infinita, é uniforme, isto é, o campo não depende de x. 05) Calcular o campo elétrico devido a uma casca esférica de carga. Solução: Seja um ponto P fora da casca. A geometria é mostrada na figura 2.6.5. Por simetria o campo deve ser radial. Podemos considerar a casca esférica como um conjunto de ele- mentos anelares e usar o resultado do exemplo 01. escolhendo, então, como ele- mento de carga a faixa assinalada na figura, cuja circunferência é 2Rsen e a largura é Rd. A área dessa faixa é dA=2R2send, e a carga é: Fig 2.6.5. Casca esférica de raio R, com uma carga superficial uniforme. uma distância r do centro da esfera é calculado medi- ante o cálculo do campo de um anel de largura Rd e raio R.sen seguido pela integração sobre todos os anéis, de =0 até =. O campo resultante, com r>R, coincide com o campo que existiria se todas as cargas estivessem na origem. Quando o ponto P está no interior da casca, o campo devido a casca é nulo. dRdAdq .sen. 2 ..2.. A componente radial do campo devido a es- se anel é: cos 2 . s dqk r dE cos 2 sen. 2 ..2. s dRk r dE (1) Antes de se integrar sobre a distribuição de carga, deve-se eliminar duas entre as três variá- veis relacionadas s, e . È conveniente escre- ver tudo em função de s, que varia desde s = r – R em =0 até s = r+R em =. Pela lei dos cos- senos, tem-se que: cos...2 222 RrRrs (2) diferenciando ambos os membros, fica: dRrdss .sen..2.2 ou Rr dss d . . .sen (3) Uma expressão para cos também pode ser obtida a partir da lei dos cossenos aplicadas ao mesmo triângulo. Tem-se: cos...2 222 rsrsR ou rs Rrs ..2 222 cos (4) substituindo esses valores na equação (1), fica: rs Rrs Rr dss s Rk r dE ..2 222 . . 2 2 ..2.. ds s Rr r Rk r dE 2 22 1 2 ... (5) O campo devido à carga da casca inteira, encontra-se pela integração de s=r-R (=0) até s=r+R (=): Rr Rr r dEE Rr Rr ds s Rr r Rk r E 2 22 1 2 ... Rr Rr ds s Rr r Rk r E 2 22 1 2 ... 28 Rr Rr s Rr s r Rk r E 22 2 ... 2 2 .4.. r Rk r E (6) como a carga total da carga pode ser dada por: 2 ..4. Rq então: 2 r q k r E Que é um resultado esperado, pois quando r>R a casca se comporta como uma carga puntiforme colocada na origem Observação: Considerando um ponto no interior da casca esférica, o cálculo é idêntico, exceto que, neste caso, s varia de R-r ata r+R, ou seja: Rr rR s Rr s r Rk r E 22 2 ... portanto: 0 r E que também é um resultado esperado pelo estudo das linhas de força dessa distribuição de carga. 06) Calcular o campo elétrico devido a uma esfe- ra maciça de densidade de carga =Q/V, onde V=4R3/3 é o volume da esfera de car- ga. Solução: Considerando a esfera como um conjunto de cascas esféricas concêntricas e usando o resultado obtido no exemplo 05, ou seja, que o campo provocado por uma casca é nulo no interior da casca e kq/r2 no exterior da casca, onde q é a carga da casca. Nos pontos ex- ternos à esfera maciça de carga, cada casca provoca um campo idêntico ao de uma carga puntiforme no centro da esfera, e com r>R temos: 2 r Q k r E Considerando agora, um ponto P no interior da esfera, r |q|. As duas cargas estão separadas pela distância d. Determine o ponto sobre o eixo que une as cargas para o qual a campo elétrico é nu- lo. R: d qQ qQQ . , mais próximo da carga q 02) Uma carga de 0,5C está uniformemente distribuída num anel de 3cm de raio. Calcu- lar o campo elétrico sobre o eixo do anel a uma distância: a) de 1cm, b) de 2cm c) de 3cm e d) de 600cm do centro do anel. R: 1,423 x 106i N/C, 1,920 x 106i N/C, 1,768x106i N/C 125i N/C03) Um segmento de reta uniformemente carre- gado tem a densidade linear de carga e está sobre o eixo dos x desde x=-a até x=b. Calcular a expressão da componente y do campo elétrico num ponto sobre o eixo dos y. R: 2222 . by b ay a y k y E 04) Uma reta carregada tem a densidade linear = 2C/m e o comprimento de 6m. Calcular o campo elétrico sobre a mediatriz do segmen- to, nas distâncias de 2cm e de 60m. R: 1,79996x106N/C e 29,96N/C 05) Um disco, de raio 6cm, tem uma densidade superficial de carga elétrica constante de 30C/m2. Calcular o campo elétrico sobre o eixo do disco a distâncias de : a) 0,01cm b) 0,02cm c) 0,03cm d) 500cm. R: a) 1,694x106N/C b) 1,691x106N/C c) 1,688x106N/C d) 122,13N/C 06) Uma casca esférica de raio 10cm tem uma carga de 2C, uniformemente distribuída so- bre a sua superfície. Calcular o campo elé- trico nas seguintes distâncias: a) 5cm b) 9,99cm c) 10,01cm d) 20cm e) 40cm R: a) 0 b) 0 c) 1,796x106N/C d) 4,5x105N/C e) 1,125x105N/C 2.7. CAMPO ENTRE DUAS PLACAS PLANAS PARALELAS COM CARGAS DE SINAIS OPOSTOS Sejam as duas placas condutoras planas e paralelas, tendo o espaçamento mostrados na figura 2.7.1, a seguir: Fig. 2.7.1. Campo elétrico entre duas placas pla- nas paralelas e carregadas com car- gas opostas. Se as placas da figura 2.7.1 receberem car- gas iguais mas de sinais opostos, o campo entre elas e nas suas proximidades será aproximada- mente igual ao mostrado na figura 2.7.1a. Embo- ra a maior parte das cargas se acumulem sobre as faces internas opostas das placas e o campo seja essencialmente uniforme no espaço entre elas, existe uma pequena quantidade de cargas sobre as superfícies externas, resultando uma certa dispersão ou um “franjamento” do campo nas bordas das placas. Quanto maiores as placas e quanto menor a distância entre elas, menor se torna a influência relativa do efeito de franjas das bordas. Este tipo 30 de configuração, com um par de placas com cargas de sinais opostos e separados por uma distância pequena, em relação às suas dimen- sões lineares, é encontrado em muitos compo- nentes de equipamentos elétricos, notadamente nos capacitores. Em muitos casos, o efeito de bordas é completamente desprezível e mesmo quando não o é, é normalmente desprezado para maior simplicidade de cálculo. Pode-se, então, supor que o campo elétrico entre duas placas carregadas opostamente é uniforme, como na figura 2.7.1b e que as cargas são dis- tribuída uniformemente sobre as faces internas. O campo elétrico, em qualquer ponto, pode ser considerado como a resultante dos campos devidos às duas camadas de cargas de sinais opostos. Assim, nos pontos a e c da figura 2.7.1b, as componentes E1 e E2 têm a mesma intensidade, 2..k. (ver exemplo 04 da seção 2.6), mas direções opostas, dando resultante nula.. Em qualquer ponto b entre as placas, as componentes têm a mesma direção e sentido, e, a sua resultante será: E = 4..k. (2.7.1) A equação 2.7.1 fornece o campo elétrico em qualquer ponto entre as placas. 2.7.1. MOVIMENTO DE CARGAS PUNTIFOR- MES NOS CAMPOS ELÉTRICOS Quando se coloca uma carga q num campo elétrico E, a carga sofre uma força qE. Se ape- nas esta força agir sobre a carga, a partícula terá uma aceleração qE/m, onde m é a massa da partícula. Se o campo elétrico for conhecido, a razão entre a carga e a massa da partícula (carga específica) pode ser determinada a partir da aceleração medida. Por exemplo, num campo elétrico uniforme no espaço e constante no tem- po (estático) a trajetória da partícula é parabóli- ca, semelhante à de um projétil num campo gra- vitacional uniforme. A medição da deflexão dos elétrons num campo elétrico uniforme foi usada por J. J. Tho- mson em 1897 para demonstrar a existência de elétrons e medir a respectiva carga específica. EXEMPLOS 01) Um elétron foi projetado num campo elétrico uniforme E = 1000N/C com a velocidade de 2x106m/s paralela ao campo e no mesmo sentido das linhas de campo. Qual é a dis- tância percorrida pelo elétron até ficar mo- mentaneamente em repouso? Solução: vo = 2x106m/s; v = 0; E = 1000N/C; 9,11x10- 31kg; x=? Como campo é uniforme, a força sobre o elétron é constante e, como a força é cons- tante, a aceleração também é constante, portanto, o movimento descrito pelo elétrons é um movimento uniformemente uniforme. Então, a partir da equação de Torricelli: V2 = vo 2 + 2.a.x onde m Eq a . Ou seja: x m Eq o vv . 2 22 ou Eq v o vm x ..2 22 . Substituindo os valores, fica: 1000. 19 106,1.2 0 6 102. 31 1011,9 x Portanto: mx 2 10139,1 02) Um elétron é projetado num campo elétrico uniforme E = 2000N/C com velocidade inicial de 106m/s, perpendicular ao campo. Compa- rar o peso do elétron à força elétrica que atua sobre ele. Qual a deflexão do elétron depois de percorrer 1cm? Solução: m=9,11x10-31kg; E=2000N/C; vo=106m/s; q=e=1,6x10-19C, x=1cm=1x10-2m, F/P=?; y=? A razão entre a força elétrica e o peso é: 13 10584,3 8,9 31 1011,9 2000 19 106,1 . . gm Eq P F Para calcular a deflexão do elétron, antes deve-se encontrar o tempo gasto pelo elé- tron para percorrer 1cm, perpendicularmente ao campo. Na direção perpendicular às li- nhas de campo, a força é nula, a aceleração é nula e o movimento é uniforme, então, o tempo gasto é: 31 s o v x t 8 10 6 10 2 101 Na direção paralela às linhas de campo, a aceleração é constante e o movimento é uni- formemente variado, com velocidade inicial igual a zero e posição inicial igual a zero, en- tão: 2 2 1 ta y o v o yy , com m Eq a . ou seja: 2. 2 1 t m Eq y Substituindo os valores, fica: 28 10 31 1011,9 2000 19 106,1 2 1 y Portanto: y = 1,756 x 10-2m y = 1,756cm EXERCÍCIO 01) Um campo elétrico uniforme tem intensidade de 4000N/C. Uma partícula com carga de 2C e massa de 0,5g é abandonada no inte- rior desse campo. Determine a aceleração adquirida pela partícula. R: 40m/s2 02) Numa região do espaço existe um campo elétrico uniforme de intensidade de 200000N/C. Uma partícula de massa 0,4g e carga de 3C é lançada paralelamente às linhas de campo e em sentido contrário ao das linhas de campo, com uma velocidade de 4x103 m/s. Considerando que a força elé- trica é a única força que atua sobre a partí- cula, determine o máximo afastamento que a partícula sofre, em relação ao ponto de lan- çamento e quanto tempo ela leva para voltar ao ponto de lançamento. 5,33m e 0,005333s 2.8. DIPOLOS ELÉTRICOS EM CAMPOS ELÉ- TRICOS Embora os átomos e as moléculas sejam eletricamente neutros, ambos são afetados pe- los campos elétricos, pois contêm cargas positi- vas e negativas. Em algumas moléculas o centro de carga positiva não coincide com o centro de carga negativa. Estas moléculas polares têm um momento de dipolo elétrico permanente. Quando uma destas moléculas é colocada num campo elétrico uniforme, não há uma força líquida sobre elas, mas há um torque, que tende a fazer a molécula girar. Num campo elétrico não uniforme a molécula sofre uma força resultante, pois o campo no centro das cargas positivas é diferente do que existe no centro das cargas negativas. Um exemplo de molécula polar é CO, uma com- binação de um átomo de carbono, com seis elé- trons, com um de oxigênio, com oito elétrons. Os átomos e as moléculas em que os cen- tros de cargas positivas e negativas coincidem tambémsão afetados por um campo elétrico. Em virtude de a força elétrica sobre uma carga posi- tiva estar no sentido oposto ao da carga negati- va, o campo elétrico tende a separar, ou a pola- rizar estas cargas. Estes sistemas então tem um momento de dipolo induzido quando estão num campo elétrico, e também experimentam uma força resultante num campo elétrico não unifor- me. A força provocada por um campo elétrico não uniforme sobre um sistema de cargas eletri- camente neutro é a responsável pela atração de pequenos pedaços de papel, eletricamente des- carregados, por um pente eletricamente carre- gado. A figura 2.8.1 mostra um esquema de uma molécula polar, com a posição dos centros de cargas positiva e negativa: - + L Fig. 2.8.1: Esquema de uma molécula polar. Os centros das cargas positiva e negativa estão separados por uma distância L. A molécula comporta-se como um di- polo elétrico de momento p=qL, onde q é o módulo da carga total positiva ou negativa. O centro de carga define-se de maneira aná- loga ao centro de massa, com a massa substitu- ída pela carga. O comportamento dessas molé- culas pode ser descrito por um vetor p, denomi- nado momento de dipolo. Seja q a carga positiva total da molécula e –q a carga total negativa. O momento de dipolo da molécula define-se como o produto da carga q pelo vetor deslocamento L, 32 que vai do centro das cargas negativas para o centro das cargas positivas, ou seja, p = q.L (2.8.1) Onde: p é o momento; q é a carga elétrica; L vetor com origem no centro das cargas positivas e extremidade no centro das cargas negativa. Uma unidade conveniente para os momen- tos de dipolo elétrico dos átomos e moléculas é o produto da carga elementar e pela distância 1nm. Por exemplo, o momento de dipolo do NaCl, nestas unidades, tem o valor aproximado de 0,2e.nm. O diâmetro de uma molécula é da ordem de 10-10m = 0,1nm. As vezes, é possível simplificar a descrição do comportamento de uma molécula polar num campo elétrico, mediante a substituição da com- plicada distribuição de carga da molécula por um simples momento elétrico, constituído por duas cargas q e –q separadas pela distância L, e ten- do o mesmo momento de dipolo que a molécula. Na figura 2.8.2 é mostrado um dipolo sim- ples cujo momento de dipolo forma um ângulo com um campo elétrico uniforme E. E +q F1 L F2 -q Figura 2.8.2: Dipolo elétrico num campo elétri- co uniforme. A força resultante so- bre o dipolo é nula, porém, existe um torque resultante L x F1 = qL x E = p x E. Na figura 2.8.2 as forças que atuam sobre o dipolo são: F1 = qE e F2 = –qE (2.8.2) Essas forças tem a mesma direção mas sen- tidos opostos e módulos iguais, pois o campo elétrico é uniforme. A força elétrica resultante sobre o dipolo é nula. No entanto, as duas forças provocam um torque que tende a girar o dipolo de modo que ele aponta no sentido do campo elétrico. Sabe-se que o torque produzido por duas forças iguais e opostas, um conjugado ou par, é o mesmo em qualquer ponto do espaço. Observando a figura 2.8.2 vê-se que em tor- no da carga negativa tem o módulo p1 = F1Lsen = qELsen = pEsen (2.8.3) A direção do torque dado pela equação 2.8.3 para a figura 2.8.2, é perpendicular à página e com sentido de entrada no plano. Esse torque faz com que o momento de dipolo p gire na direção de alinhamento com o campo elétrico E. Este torque pode ser escrito, convenientemente, como o produto vetorial do momento de dipolo p pelo campo elétrico E: p E (2.8.4) Onde: é o torque sobre o dipolo p é o momento de dipolo E é o campo elétrico Se um dipolo elétrico for colocado num cam- po elétrico uniforme de modo a formar um ângu- lo com o campo, sofrerá um torque de módulo pEsen que tende a girar o dipolo no sentido da sua posição de equilíbrio = 0. Se o dipolo for livre, o torque provocará sua rotação, de modo que o verto p oscila em torno da posição de equilíbrio = 0 até que a sua energia seja dissipada. Pode-se calcular a ener- gia potencial de um dipolo num campo elétrico uniforme mediante o cálculo do trabalho que se deve fazer para aumentar o ângulo . Se for aplicado um torque de módulo pEsen e o dipolo for girado de um ângulo d, o trabalho efetuado será igual ao aumento da energia potencial, dado por: dU pEsen d (2.8.5) Integrando, ambos os membros da equação 2.8.5, encontra-se: 0cosU pE U (2.8.6) A equação 2.8.6 fornece a energia potencial de um dipolo num campo elétrico uniforme. Essa 33 energia depende de um valor Uo. Tomando usu- almente, como sendo nula a energia potencial quando o dipolo está perpendicular ao campo elétrico, isto é, U = 0 quando = 90º. Dessa forma: Uo = 0, e, a equação 2.8.6 fica: cosU pE (2.8.7) Lembrando da definição de produto interno de dois vetores, a equação 2.8.7, se transforma em: U p E (2.8.8) Se o dipolo elétrico for colocado num campo elétrico não uniforme, como mostrado na figura 2.8.3, a seguir: +q F1 F2 -q Figura 2.8.3: Para a orientação geral de um di- polo elétrico num campo elétrico não- uniforme há um torque resultante, que ten- de a alinhar o dipolo com o campo e uma força resultante sobre o dipolo. Neste ca- so,a força resultante tem uma componente paralela a E e uma pequena componente para baixo. O seu módulo depende do momento de dipolo p, da sua orientação e da taxa de modificação do campo no es- paço. Na figura 2.8.3, vê-se que a força resultante sobre o dipolo tem uma componente para baixo e uma outra na direção dos campos crescentes. A força resultante depende da orientação do diplo no campo, do momento de dipolo e da taxa de variação do campo no espaço. Dessa manei- ra, então, além do torque que tende a alinhar o dipolo com o campo, existe uma força resultante sobre ele. A maioria das moléculas, e todos os átomos, são apolares, isto é, têm coincidentes os centros das cargas elétricas positivas e negativas e não há momento de dipolo elétrico permanente. No entanto, um campo elétrico externo provoca a separação da distribuição das cargas positivas e negativas, o que induz um momento de dipolo, como mostra a figura 2.8.4, a seguir: E (a) (b) Figura 2.8.4: Esquema de uma molécula apolar. Em (a), a molécula está na ausência de um campo elétrico externo, o centro das cargas positivas coincide com o das car- gas negativas e, não há momento de di- polo. Em (b) existe um campo elétrico externo e, os centros das cargas elétri- cas positivas e negativas são desloca- dos, provocando-se um momento de di- polo paralelo ao campo externo. O mó- dulo do momento de dipolo depende do módulo do campo elétrico E. Desde que a carga positiva se desloca no sentido do campo e a negativa se desloca em sentido oposto, o momento de dipolo induzido está sempre na direção do campo elétrico exter- no. Dessa formanão há torque, pois o ângulo entre o momento de dipolo p e o campo elétrico E é nulo. Se o campo elétrico não for uniforme, haverá uma força externa atuando sobre o dipolo. Na figura 2.8.5, observa-se uma molécula apolar no campo elétrico de uma carga puntiforme Q. Nes- sa figura, observa-se que o momento de dipolo induzido é paralelo ao campo elétrico E, na dire- ção radial da carga puntiforme Q. Em virtude de o campo elétrico ser mais intenso na carga ne- gativa, a força sobre o dipolo tem sentido para a carga puntiforme Q e o dipolo é atraído para a carga puntiforme Q. Se a carga puntiforme Q fosse negativa, o dipolo induzido teria sentido oposto, e o dipolo seria novamente atraído pela carga elétrica puntiforme Q. Diante o que foi exposto, pode-se elaborar a seguinte questão: uma pequena esfera conduto- ra, leve e sem carga elétrica, está pendurada por um fio isolante e leve. Quando dela se aproxima uma carga positiva, a esfera é atraída; Por quê? 34 Se a esfera fosse feita de um material isolante, continuaria a ser atraída; Por quê? A situação seria diferente se a carga aproximada fosse negativa em vez de positiva? F2 p F1 Q Figura 2.8.5: Molécula apolar no campo elétrico de uma carga puntiforme positiva. O momento de dipolo induzido é paralelo ao campo E. Como a carga puntiforme Q está mais próxima do centro de cargas negativas que do centro de cargas posi- tivas, o dipolo é atraído para a carga puntiforme Q. EXERCÍCIO 01) Duas cargas elétricas puntiformes q1 = 2pC e q2 = -2pC estão separadas por uma distân- cia de 4m. Considerando que q2 está sobre a origem do plano cartesiano e que q1 está sobre o eixo x, qual é o momento de dipolo desse par de cargas? R: p = 8x10-18iCm 02) Um dipolo, com momento 0,5enm, está colo- cado num campo elétrico uniforme de inten- sidade4x104N/C. Qual é o valor do torque sobre o dipolo quando: a) O dipolo está paralelo ao campo elétrico? R: zero b) O dipolo está perpendicular ao campo elétrico? R: 3,2x10-24Nm c) O dipolo forma um ângulo de 30º com a direção das linhas do campo elétrico. R: 1,6x10-24Nm 03) Um dipolo elétrico é constituído por duas cargas +q e –q separadas por uma distância muito pequena 2a. O seu centro está sobre o eixo dos x em x = x1 e aponta ao longo do eixo dos x para os x positivos. O dipolo está imerso num campo elétrico não uniforme, que também tem a direção do eixo dos x, dado por E = Cxi, onde C é uma constante. a) Calcular a força sobre a carga positiva e sobre a carga negativa e mostrar que a força resultante sobre o dipolo é Cpi. b) Mostrar que, em geral, se o momento do dipolo p está orientado ao longo do eixo x, num campo elétrico de direção x, a força resultante sobre o dipolo é dada aproxi- madamente por ( )x d F E pi dx . 04) Um dipolo elétrico é formado por duas car- gas q1 = - 6nC e q2 = 6nC, colocadas nos pontos (2, 3)mm e (6, 6)mm, respectivamen- te. Sabendo que, nessa região, existe um campo elétrico uniforme de intensidade 5x105N/C, de direção paralela ao eixo x e sentido coincidindo com o do eixo x, deter- mine: a) O vetor L, distância entre os pontos. R: L = (4i + 3j)mm b) O momento de dipolo desse par de car- gas. R: p = (4i + 3j)x10-12Cm c) O torque sobre o dipolo. (1,5x10-6)kNm