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1.0 A colonização da América: Capitão John Smith América como conceito O que é "América"? Antes de investigar as sementes históricas, sociais e culturais que geraram o que conhecemos hoje como a literatura dos Estados Unidos, é importante discutir brevemente a "América" por trás do que é entendido como "literatura americana". Os Estados Unidos da América são um país cujo nome - no plural - já constitui uma natureza múltipla e variada, um indicador de que seu povo e sua identidade foram construídos através do alinhamento de objetivos comuns e da superação de diferenças. No entanto, várias pessoas, especialmente aquelas nascidas nos EUA, tendem a se referir ao país como "América", e, portanto, seus cidadãos são conhecidos como americanos. O fato de que um único país venha a ser reconhecido como América é, no mínimo, impreciso e, no máximo, simplesmente errado. Afinal, a América é um continente, e os habitantes de outros países da América do Norte, América Central e América do Sul também podem ser considerados "americanos". Por outro lado, quando os EUA se referem a si mesmos como América, mais do que uma compreensão geográfica está em jogo. "A 'América' torna-se uma ideia: uma personificação da democracia, das liberdades individuais e da oportunidade." É um lugar onde indivíduos determinados que trabalham duro podem se esforçar para ter sucesso. Esta "América" como conceito, mais do que um lugar, pode ser tão real quanto pode ser fictícia. Mas nem sempre foi assim. A colonização do "Novo Mundo" Os primeiros americanos O lugar que hoje chamamos de Estados Unidos era um território ricamente diverso antes da chegada dos primeiros europeus. Vastas regiões da América do Norte eram habitadas por populações indígenas, mais comumente chamadas hoje de "Primeiras Nações" ou Nativos Americanos. Eles viviam lá há pelo menos 50.000 anos antes da chegada dos colonos brancos. As populações indígenas faziam parte de muitos grupos diferentes, com culturas, línguas e práticas variadas. Enquanto alguns eram caçadores-coletores, outros já conheciam a agricultura; enquanto alguns valorizavam a paz, outros pertenciam a comunidades guerreiras. Grupos importantes - ou "nações" - como os Apache, os Sioux e os Iroquois, entre outros, dominavam a terra em grande número. Embora esses grupos tivessem um nível diferente de organização social em comparação com outras populações indígenas das Américas, como os Maias e os Astecas, eles estabeleceram uma cultura de aldeia próspera. Algumas práticas e características dos nativos americanos tornaram-se símbolos deste período inicial dos Estados Unidos. Uma delas é a utilização do búfalo para a sobrevivência das comunidades. Como o animal era uma fonte de alimento, roupas e até abrigo para várias pessoas (especialmente os Sioux), as populações indígenas das planícies centrais da América do Norte eram altamente dependentes dos rebanhos. Atenção! É também importante destacar que vários grupos de nativos americanos tinham uma tradição significativa de contar histórias que era passada de geração em geração. Um tipo típico de narrativa envolvia mitos de criação. Embora nunca tenham sido escritas, essas histórias concebem diferentes perspectivas sobre o mundo e as formas de vida nele. Os Iroquois, os Pima e os Sioux estão entre as nações que desenvolveram mitos altamente complexos (ou poderíamos até chamá-los de "histórias") sobre a criação do mundo, normalmente estabelecendo a relevância dos laços entre as pessoas e a natureza. Colonização e o papel da Inglaterra A chegada dos europeus à América é cercada de lendas, controvérsias e diferentes versões. Em termos de evidências arqueológicas reais, é possível dizer que os vikings haviam se estabelecido brevemente no continente por volta do século IX. No entanto, a ocupação duradoura da América só foi realizada após a chegada de Cristóvão Colombo em 1492. Nos anos seguintes, os "conquistadores" espanhóis chegariam ao continente em busca de riquezas, como ouro e prata. As consequências foram o saque de cidades, a destruição de civilizações inteiras (como os astecas e os incas) e um nível sem precedentes de genocídio. No início, a Inglaterra desempenhou um papel secundário na colonização do "Novo Mundo", como era chamado pelos europeus. Como a maioria dos territórios nas Américas estava ocupada pelos espanhóis (e mais tarde pelos portugueses), a Coroa Inglesa tentou apoderar-se das riquezas encontradas nessas novas terras patrocinando secretamente piratas e bucaneros, que saqueavam navios em busca de minerais preciosos. Em 1497, o rei Henrique VII contrata um marinheiro chamado João Caboto para encontrar uma passagem para a Ásia, e ele consegue alcançar a costa da América do Norte, mas não consegue se estabelecer lá. Quase um século depois, os ingleses fizeram uma tentativa mais séria de colonizar o novo mundo. Em 1584, a Rainha Elizabeth I financiou várias expedições do famoso explorador Walter Raleigh à América do Norte. Ele nomeou o território de "Virginia" como uma homenagem à monarca inglesa, que era conhecida como "a Rainha Virgem". No entanto, uma mistura de falta de preparação e situações extremas enfrentadas por esses colonos (doenças, fome, ataques dos nativos) pôs fim a esse empreendimento inglês. Uma nova tentativa de colonização Jamestown No início do século XVII, a Inglaterra estava sob o governo de um novo monarca - o Rei James I - e pronta para fazer outra tentativa de colonização do Novo Mundo. A estratégia, no entanto, era muito diferente da implementada por Elizabeth I. Em vez de apoiar exploradores individuais, esses novos colonos representavam empresas inglesas pertencentes a ricos investidores londrinos, como a Companhia da Virgínia e a Companhia de Plymouth. Comentário Sob essa forma quase capitalista de exploração da terra, as empresas foram autorizadas pela Coroa Inglesa a lucrar com o processo de colonização. Assim, a colonização inglesa apresentou uma diferença marcante quando comparada à estabelecida pela Espanha: é uma empreitada conduzida pelo setor privado, e não pelo Estado. A primeira colônia inglesa sob este novo modelo de colonização foi Jamestown, estabelecida na Virgínia em 1607. Esses colonos, que eram, até certo ponto, empregados da Companhia da Virgínia, foram enviados à América para encontrar ouro e proporcionar lucro aos seus financiadores. A maioria deles não conhecia técnicas agrícolas ou não havia realizado nenhum tipo de trabalho manual anteriormente - eram ou cidadãos ou simplesmente pessoas em busca de riquezas. Além de procurar ouro, esses colonos também eram homens em busca de terras. Uma das razões mais atraentes para fazer a difícil jornada para o Novo Mundo era que, na América, ao contrário da Europa, todos teriam o direito a um pedaço de terra. Isso nem sempre se provou correto, especialmente quando a Companhia da Virgínia, vendo que o ouro não era abundante na região, decidiu investir em plantações de tabaco. Os colonos, então, tornaram-se 'servos contratados', ou seja, pessoas que tinham que trabalhar por anos para pagar à companhia pela comida, roupas e a viagem para a América. Crianças sem-teto e prisioneiros ingleses também foram enviados para Jamestown, junto com mulheres que eram leiloadas na praça pública para serem esposas dos colonos. Exterior de edifícios e algumas armaduras na histórica Jamestown, Virgínia, local da primeira colônia inglesa. A vida em Jamestown era árdua e desafiadora. Como a maioria dos colonos tinha pouco conhecimento de caça, agricultura e marcenaria, vários morreram de fome e doenças. Por algum tempo, também houve conflitos com as populações indígenas que levaram vidas de ambos os lados. Mais tarde, no entanto, o comércio com os povos nativos foi essencial para a sobrevivência da colônia. No seu ponto mais baixo, Jamestown tinha apenas sessenta pessoas em março de 1610, de um número de 500 apenas cinco meses antes. Em vários desses tempos tumultuados na colônia, um homem desempenhou um papel central: o Capitão John Smith. O fato de queo modelo de colonização realizado pelos ingleses dependesse de empresas privadas não significava que figuras aventureiras desaparecessem completamente da empreitada de assentamento. Uma das figuras mais notórias do período foi o Capitão John Smith, um homem cujo nome ganharia qualidades quase míticas. Antes de chegar ao Novo Mundo, Smith já tinha tido uma vida cheia de aventuras: ele lutou nos Países Baixos, juntou-se ao exército austríaco contra os turcos, foi capturado e vendido como escravo, e finalmente assassinou seus captores para retornar à Inglaterra. Atravessar o Atlântico para chegar à América foi apenas mais uma de suas grandes aventuras, mas uma que o tornaria parte da história e da literatura americana. Após alguns confrontos com outros colonos, Smith assumiu alguns cargos oficiais em Jamestown e foi eleito presidente do conselho (um papel semelhante ao de governador). Comentário Ele foi uma figura de destaque na exploração da terra e na organização do trabalho, tornando-se conhecedor dos costumes da colônia e mantendo os colonos unidos. Smith também desenvolveu uma relação peculiar com as populações indígenas, um fato que contribuiria para sua fama posterior. Em 1609, Smith deixou Jamestown após ser gravemente ferido por uma explosão de pólvora e voltou para a Inglaterra. Ele retornou à América em 1614 mais uma vez em busca de riquezas, e a região que ele explorou (que hoje corresponderia aos estados do Maine e Massachusetts) foi nomeada por ele de "Nova Inglaterra". Smith então dedicou-se a produzir uma série de textos narrando suas experiências na América que moldaram a maneira como os futuros colonos veriam o novo continente. Além disso, as obras de Smith serviriam como a base da literatura americana e consolidariam seu nome como uma das figuras centrais da história americana. Uma Descrição da Nova Inglaterra (1616) Após retornar à Inglaterra, John Smith escreveu uma série de obras que consistiam em narrativas e descrições de sua experiência na América. Dentre essas publicações, uma das mais notáveis é A Description of New England, publicada em 1616. Nesta obra, assim como em outros escritos, Smith adotou uma posição quase publicitária, visando convencer possíveis futuros colonos a se estabelecerem no Novo Mundo. Muitas passagens de A Description of New England descrevem: A natureza abundante A diversidade da fauna As variadas características geográficas da América Por outro lado, ele indica o quão desafiador pode ser recomeçar naquela terra, lidando com um novo território que exigia um novo conjunto de habilidades e até mesmo uma nova perspectiva de vida. O ponto era destacar como apenas aqueles que persistiram e foram capazes de realmente aproveitar as oportunidades puderam alcançar algo extraordinário. Uma das principais ideias do texto era a conexão estabelecida entre o desenvolvimento da América e o aprimoramento das qualidades individuais: Quem pode desejar mais contentamento, tendo poucos recursos; ou apenas seu mérito para avançar sua fortuna, do que pisar e plantar aquele terreno que adquiriu à custa do risco de sua vida? (…) o que para tal mente pode ser mais agradável do que plantar e construir uma fundação para sua posteridade, obtida da terra rude, pela bênção de Deus e seu próprio esforço, sem prejuízo para ninguém? (…) o que realmente se adequa à honra e à honestidade, senão descobrir coisas desconhecidas? erigir cidades, povoar países, informar os ignorantes, reformar as coisas injustas, ensinar virtude e ganho ao nosso país natal um reino para atendê-la. (BAYM, 2008, p. 54) Nesta passagem, Smith afirma que a melhor maneira para o homem comum (aquele “que tem poucos recursos”) alcançar o sucesso financeiro (“avançar sua fortuna”) é trabalhar na nova terra que recebeu (“pisar e plantar aquele solo”). No entanto, é importante destacar que essa terra foi concedida não sem mérito: uma pessoa tinha que correr riscos e enfrentar dificuldades (“o risco de sua vida”) para ter sucesso. Além disso, são apenas aqueles que trabalham duro (“indústria”) e possuem verdadeiro “honor” e “honestidade” que podem construir uma nova colônia (“erigir cidades”, etc.) que trará riquezas para a Inglaterra (“ganhar para nosso país natal um reino”). Assim, em A Description of New England, John Smith apresentou uma visão da América que persistiu ao longo da história e influenciou vários outros escritores: A de uma "terra de oportunidades", onde se é recompensado com sucesso individual se estiver disposto a lutar também pelo sucesso do país. Ao fazer isso, Smith desempenhou um papel central em atrair potenciais colonos para o território que se tornaria os Estados Unidos. A História Geral da Virgínia (1624) Publicado anos depois de Smith ter deixado Jamestown, A História Geral da Virgínia é um relato dos eventos que aconteceram na colônia e em outras áreas enquanto (e depois que) Smith esteve lá. É neste livro que ocorreu a história mais famosa envolvendo John Smith, uma que o tornaria uma lenda americana: um conto sobre sua conexão com a "princesa" nativa americana, Pocahontas. No livro, Smith narra um episódio em que foi capturado e aprisionado por Powhatan, chefe da comunidade indígena da Baía de Chesapeake. No momento em que ele ia ser executado, a filha do chefe, Pocahontas, colocou-se entre ele e seu povo, salvando a vida de Smith. Este momento é apresentado da seguinte maneira: (…) duas grandes pedras foram trazidas diante de Powhatan; então, quantos puderam, puseram as mãos sobre ele, arrastaram-no até elas, e ali colocaram sua cabeça e, prontos com seus porretes para esmagar seus cérebros, Pocahontas, a filha mais querida do Rei, quando nenhuma súplica pôde prevalecer, pegou sua cabeça em seus braços e colocou a dela sobre a dele para salvá-lo da morte. (BAYM, 2008, p. 54) Baseado nessas poucas linhas, a história de John Smith e Pocahontas entrou para o mito americano, resultando em inúmeros livros, canções e filmes. A compreensão geral era que esses dois personagens compunham uma história perfeita de amor proibido na selva americana. Além disso, essa perspectiva romântica também ajudou a articular uma versão pacífica e idílica do Novo Mundo, na qual o amor poderia florescer em meio a uma natureza indomável. Em termos de prova histórica, no entanto, não há evidências de que o episódio realmente tenha acontecido, ou pelo menos ocorrido da maneira como Smith descreve. Em primeiro lugar, é curioso que Smith tenha contado essa história quinze anos depois de deixar Jamestown, mas também sete anos após a morte de Pocahontas. Naquela altura, ela havia aceitado a fé cristã, mudado seu nome para Rebecca e se casado com um agricultor de tabaco chamado John Rolfe. Ela morreu na Inglaterra, em 1617, enquanto fazia a viagem de volta para a América. Ilha Smith na Baía de Chesapeake. Também não está claro que Smith estivesse em perigo real quando estava entre os nativos americanos. Como ele não conhecia a língua e os costumes da comunidade da Baía de Chesapeake, ele poderia ter sido parte de uma cerimônia de adoção, especialmente porque Powhatan já havia tentado usar Smith como seu tenente em guerras com outros grupos. Portanto, a história do relacionamento entre John Smith e Pocahontas pode ser pelo menos um conto exagerado, e no máximo uma total invenção. No final, a colonização da América do Norte foi uma empreitada complexa, envolvendo não apenas as populações nativas que já habitavam aquelas terras, mas também as expectativas dos europeus que visavam se estabelecer e encontrar novas riquezas. Foi uma experiência problemática e difícil, mas que ajudaria a estabelecer algumas das noções-chave que permeiam a literatura americana até hoje. 2.0 Os Puritanos - perspectivas sociais e literárias: William Bradford, Anne Bradstreet, Michael Wigglesworth A Terra Prometida Os Pais Peregrinos As razões para os ingleses empreenderem a perigosa jornada pelo Atlântico para chegar à América eram variadas. Uma delas foi a perseguição religiosa. Desde 1534, durante o reinado do Rei HenriqueVIII, a Inglaterra tinha o anglicanismo como sua religião oficial. A criação da Igreja Anglicana acendeu uma relação conflituosa entre diferentes grupos religiosos - especialmente os puritanos - e a Coroa Inglesa. No início do século XVII, exercer um tipo de fé que não se conformasse ao anglicanismo resultava em opressão por parte do Estado, sendo punível até com a morte. Um grupo de puritanos, então, partiu em busca de um território onde a liberdade religiosa fosse respeitada. Após uma tentativa fracassada de assentamento na República Holandesa, eles decidiram navegar para o Novo Mundo. O Mayflower - o navio que transportava o primeiro grupo de colonos protestantes para a América - chegou ao porto de Plymouth, em Massachusetts, em 1620. Essas pessoas ficaram historicamente conhecidas como 'Peregrinos', ou até mesmo Pais Peregrinos. Como um peregrino é uma pessoa que faz uma jornada por motivos religiosos, é apropriado que esses homens e mulheres sejam chamados assim, pois se dirigiram à América em busca de liberdade religiosa. Além disso, esses peregrinos estavam determinados a fazer da América a Terra Prometida - um novo começo para sua história e sua religião. Eles eram os ministros, professores e empreendedores que iriam construir a base dos Estados Unidos. Os Pais Peregrinos tiveram um começo difícil. Eles chegaram à América no meio de um inverno rigoroso. Com o solo congelado e um frio cortante, era difícil plantar e construir casas. A consequência foi que quase metade dos cem colonos iniciais pereceram. Os colonos restantes, no entanto, persistiram e conseguiram iniciar uma pequena comunidade. Um episódio central do período ocorreu no ano seguinte, em 1621, logo antes do inverno. Curiosamente, Os peregrinos decidiram organizar uma celebração de "Ação de Graças" para marcar sua primeira colheita de milho. Pessoas indígenas amigáveis participaram do evento, trazendo uma ave nativa: o peru. Desde então, o Dia de Ação de Graças se tornou um importante feriado americano, imerso no folclore e no mito da irmandade entre os Peregrinos e os Nativos Americanos. Nas décadas seguintes, mais pessoas chegaram à América. O maior grupo era conhecido como "Puritanos" e também estava fugindo da crescente perseguição religiosa na Inglaterra. Juntamente com os Puritanos, outras pessoas pertencentes a várias crenças se estabeleceram no território, como os Quakers e os Católicos. Com o passar dos anos, divergências nas formas de organização política levaram várias pessoas a fundar novas colônias no território americano. Em última análise, isso deu origem às 13 colônias originais, que representaram o início dos Estados Unidos que conhecemos hoje. Aquelas primeiras colônias - Massachusetts, Rhode Island, Pensilvânia e outras - viriam, no futuro, a se tornar estados. Crenças Religiosas Puritanismo O puritanismo foi uma das muitas religiões que surgiram da Reforma Protestante inaugurada por Martinho Lutero no século XVI. Os puritanos seguiram a doutrina de Lutero de que o cristianismo deveria ser baseado apenas na fé e nas escrituras, sem a imposição de leis por figuras religiosas como o Papa ou bispos. Eles acreditavam em uma forma de religião mais simples e "pura", rejeitando várias práticas e símbolos do catolicismo (como a confissão, as indulgências e os santos). Em nenhum lugar essa pureza era mais clara do que no serviço religioso puritano: ele acontecia em um edifício simples, sem imagens e ornamentos, e focava principalmente no ministro e suas leituras da Bíblia. A maioria dos puritanos que foram para a América do Norte eram protestantes calvinistas, ou seja, seguiam as ideias do teólogo francês João Calvino. Uma das noções fundamentais do Calvinismo era que o pecado original (quando Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden) manchou toda a existência humana, e por causa disso a humanidade era naturalmente má e sujeita à corrupção. Os puritanos também acreditavam que o sacrifício feito por Jesus na cruz garantia o perdão de Deus, mas tal absolvição não é estendida a todos - apenas algumas "eleitas" pessoas a receberiam. Além disso, os puritanos acreditavam que Deus escolheu, desde o início dos tempos, aqueles que seriam salvos e aqueles que seriam condenados eternamente. Detalhe de um panfleto de propaganda contra o Calvinismo durante a Guerra dos Trinta Anos—Calvinistas e o diabo tentam derrubar um castelo católico e ortodoxo; xilogravura, cerca de 1625. O puritanismo difere do catolicismo ao enfatizar evidências terrenas das bênçãos de Deus através do trabalho e da prosperidade, em vez de se concentrar na vida após a morte. Catolicismo Tende a ver o trabalho como punição por deixar o Jardim do Éden (“Com o suor do teu rosto comerás o teu pão”) e vê a riqueza de forma negativa. Puritanismo Acredita que bons cristãos vivem bem com os frutos do seu trabalho e são capazes de estabelecer meios de conforto e subsistência através de seus esforços e méritos. Essas crenças calvinistas estavam presentes nos estágios iniciais da colonização americana. Os puritanos construíram suas comunidades convencidos de que, através de seu trabalho, estavam cumprindo o desejo de Deus de criar um novo paraíso, onde as pessoas poderiam viver de acordo com os preceitos cristãos. Portanto, o próprio governo tinha o dever de fazer os colonos obedecerem ao imperativo divino. Havia leis, por exemplo, que obrigavam as pessoas a irem à igreja ou puniam os adúlteros. Essa união entre Igreja e Estado, especialmente relevante na colônia de Massachusetts, seria uma razão importante para os dissidentes fundarem outras colônias. A figura central nesta ilustração do tribunal de 1876 é geralmente identificada como Mary Walcott. Essa estreita conexão entre religião e governo foi uma das coisas que possibilitou, por exemplo, um dos episódios mais trágicos e vergonhosos da história dos Estados Unidos: os julgamentos das bruxas de Salem. Na cidade de Salem, Massachusetts, uma série de julgamentos ocorreu após vários colonos serem acusados de feitiçaria. Muitos foram considerados culpados e dezenove foram executados por enforcamento. Além de se tornarem conhecidos como um dos casos mais notórios de histeria em massa, os julgamentos das bruxas de Salem também evidenciaram as terríveis consequências da presença irrestrita da fé puritana na administração das colônias. Escrevendo o novo mundo Escrita puritana É principalmente através de várias formas de escrita que os novos puritanos definiriam sua versão da América. As colônias tornaram-se o lugar onde não apenas a fé puritana foi testada, mas também novas narrativas e até mesmo a própria língua inglesa. Com seus textos, esses primeiros escritores americanos tentaram entender e descobrir os propósitos do mundo que lhes era apresentado. A imaginação puritana foi essencial para moldar uma noção fundamental que serve para definir os Estados Unidos: o "sonho americano". Em termos gerais, o sonho americano representa a ideia de que todos, independentemente de sua origem ou condição social, podem ter sucesso. Essa noção passaria por mudanças em períodos posteriores da história americana, mas são os puritanos - com seu senso de maravilha e uma ideia de promessa na nova terra - que a trazem à existência na consciência americana. Em termos de produção escrita, os puritanos produziram uma variedade de textos que transmitiam sua fé, experiências e pontos de vista: diários, histórias, sermões, poemas, entre outros. Dentre esses, o mais significativo e sempre presente era o sermão. Embora hoje em dia tendamos a ler sermões e estudá-los em termos de qualidade literária, nos tempos puritanos eles eram basicamente um tipo de expressão oral com intenção religiosa fundamental. Além disso, o sermão compunha um evento central do serviço religioso, unindo a congregação em um momento em que a comunicação com Deus estava sendo possibilitada. Atenção! Uma característica central não apenas dos sermões, mas da escrita puritana como um todo, ficou conhecida como "o estilo simples". Em resumo, isso significaque os textos puritanos eram escritos em um estilo direto, quase sem forma, sem linguagem "decorativa" ou exagerada. A escrita deve ser austera em vez de cerimonial, e dessa forma revelaria os caminhos do Senhor. Assim, o estilo do texto, assim como sua mensagem, poderia retratar a simples verdade da fé puritana. Outro gênero literário essencial associado à América Puritana é o diário. Através do registro de suas vidas individuais, os puritanos acreditavam que podiam associar sua fé na predestinação com eventos que precisavam ser enfrentados regularmente. Nesse sentido, “para cada colono piedoso, a vida pessoal era um teatro para um drama interior comparável à história da comunidade como um todo” (RULAND & BRADBURY, 1991, p. 17). Um tema recorrente dos diários é a busca por sinais divinos em eventos cotidianos. Até mesmo o episódio mais trivial poderia ser visto como evidência da vontade de Deus, indicando a salvação ou a condenação de uma pessoa. Com sua forte fé em serem predestinados a construir, nas palavras do famoso ministro John Winthrop, “uma cidade sobre uma colina”, um lugar ideal que serviria de modelo para outras nações copiarem (uma noção que permanece forte nos Estados Unidos até hoje), os puritanos conseguiram se estabelecer com sucesso na América e criar comunidades prósperas. Essa experiência é melhor retratada nas obras de três escritores que capturam perfeitamente o espírito das colônias puritanas: William Bradford, Anne Bradstreet e Michael Wigglesworth. William Bradford foi uma das figuras definidoras do assentamento dos "Peregrinos" - um nome que ele provavelmente cunhou - na América. Enquanto estava na Inglaterra, Bradford fazia parte de um grupo de puritanos conhecidos como "Separatistas", pois não acreditavam na reforma da Igreja da Inglaterra e defendiam a necessidade de os protestantes calvinistas exercerem sua fé livremente. Bradford estava a bordo do Mayflower quando ele chegou a Plymouth, Massachusetts, em 1620, e ele foi fundamental na formulação de um dos documentos definidores do período: O Pacto do Mayflower. Os escritos mais importantes de Bradford foram seus diários e histórias. Ele mantinha diários que misturavam perspectivas profundamente pessoais com os desafios cotidianos que os colonos tinham que enfrentar ao estabelecer sua comunidade, como a difícil relação com as populações indígenas e os problemas agrícolas. Alguns autores afirmam que seus escritos podem ser vistos como uma "jeremiada" - um tipo típico de texto associado ao Protestantismo Calvinista no qual o autor se concentra nos problemas e falhas de uma pessoa ou grupo, narrando suas dificuldades enquanto deseja restaurar um ideal de pureza passada. O melhor exemplo desse tipo de escrita é Of Plymouth Plantation, de Bradford. Da Plantação de Plymouth Bradford começou a escrever Of Plymouth Plantation em 1630, dez anos após a chegada do Mayflower e enquanto ele era o governador da colônia de Plymouth. Esta obra pode ser vista como um diário, ou uma história, na qual Bradford narra a história dos Peregrinos desde a tentativa inicial de permanecer na República Holandesa, passando pela viagem à América em 1620, até o ano de 1647. Of Plymouth Plantation claramente adota o "estilo simples" da escrita puritana, visando retratar a verdade simples e a pureza de todas as coisas. Ao escrever sobre as dificuldades que os Peregrinos tiveram de enfrentar no Novo Mundo, o texto destaca o afeto que os primeiros colonos tinham uns pelos outros, bem como seu senso de dever e coragem. Por outro lado, Bradford também retrata a crescente ganância e fraquezas que, segundo ele, acabariam por dominar a comunidade. Um bom exemplo da desilusão de Bradford no final do processo de colonização devido ao materialismo excessivo é a passagem abaixo: O milho e o gado subiram de preço, com o que muitos se enriqueceram bastante e as mercadorias se tornaram abundantes. E, no entanto, em outros aspectos, esse benefício se voltou contra eles, e essa acumulação de força se transformou em fraqueza. Pois agora, à medida que seus rebanhos aumentavam e o aumento se tornava vendável, não havia mais como mantê-los juntos, mas agora eles precisavam, por necessidade, ir para seus grandes lotes. Não podiam de outra forma manter seu gado, e tendo bois crescidos, precisavam de terras para arar e cultivar. E nenhum homem agora pensava que poderia viver a menos que tivesse gado e uma grande quantidade de terra para mantê-los, todos se esforçando para aumentar seus rebanhos. (BRADFORD citado em RULAND & BRADBURY, 1991, p.12) Neste trecho, Of Plymouth Plantation ilustra como as crescentes riquezas dos colonos - através das colheitas, do gado e do uso da terra - servem para enfraquecer os laços da comunidade. De acordo com Bradford, o crescente foco no sucesso material afasta os puritanos de Deus e prejudica significativamente o sonho de construir um paraíso religioso na América. Poesia puritana Anne Bradstreet Considerada por muitos a primeira grande poetisa da língua inglesa, Anne Bradstreet é um raro exemplo de expressão literária feminina entre os puritanos. Ela foi para a América, ainda jovem, no Arbella, como parte do grupo liderado pelo ministro John Winthrop em 1630, junto com seu pai e marido. Bradstreet tinha saúde frágil e as dificuldades iniciais da vida colonial a fizeram ver a América de forma desfavorável. No entanto, seu zelo religioso e senso de dever para com o casamento e a comunidade fizeram da poeta uma figura literária central na literatura americana primitiva. Em seus escritos, Bradstreet foi inspirada pela poesia do Renascimento inglês, como as obras de Philip Sidney e Edmund Spenser, mas não demorou muito para que ela construísse uma voz poética própria. Atenção! Como outros escritores puritanos, ela explora eventos da vida cotidiana em busca de sinais da existência de Deus. É de particular importância o uso que ela faz de símbolos naturais, que servem como expressões da glória e salvação de Deus. Os poemas de Bradstreet mostram não apenas uma submissão à doutrina puritana, mas também a vida doméstica. Afinal, ela era uma esposa com oito filhos e cujo marido frequentemente estava fora em deveres de escritório. Em geral, as obras de Bradstreet podem ser divididas em duas categorias. A primeira é mais metafísica, com referências eruditas e temas cósmicos. Esses poemas tendem a ter uma qualidade monumental, fazendo referências à Bíblia ou a características naturais. Um bom exemplo é o longo poema Contemplações, no qual a voz lírica questiona o papel da humanidade na majestosa natureza criada por Deus. A 20ª estrofe, por exemplo, aborda diretamente este ponto: Devo então louvar os céus, as árvores, a terra porque sua beleza e sua força duram mais? Devo desejar lá, ou nunca ter nascido, Porque eles são maiores, e seus corpos mais fortes? Não, eles escurecerão, perecerão, desvanecerão e morrerão, e quando desfeitos, assim permanecerão para sempre, mas o homem foi feito para a imortalidade eterna. (BRADSTREET, 2008, p. 103) Este trecho questiona se os símbolos naturais têm um valor intrínseco maior do que a humanidade, já que são grandiosos e belos. A resposta, no entanto, é negativa, pois esses elementos da natureza eventualmente expiram, enquanto o homem é considerado imortal. A outra categoria dos poemas de Bradstreet se enquadra em um estilo mais doméstico, narrando a vida familiar e retratando seus sentimentos pessoais em relação à comunidade puritana. Estas são obras escritas com grande sensibilidade, às vezes com intensa intimidade, às vezes com humor e ironia. Esses poemas têm uma qualidade quase secular, com referências esparsas à religião, o que talvez justifique a maior popularidade desses poemas em comparação com a primeira categoria. O melhor exemplo do tom doméstico e pessoal dessas obras é o poema Para Meu Querido e Amado Marido: Se algum dia dois foram um, então certamente nós. se algum homem foi amado por sua esposa, então tu; se alguma esposa foi feliz em um homem, comparem-me, ó mulheres, sepuderem. Eu valorizo teu amor mais do que minas inteiras de ouro, ou todas as riquezas que o oriente possui. meu amor é tal que rios não podem apagar, nem outra coisa senão o amor de ti dar recompensa. teu amor é tal que não posso de forma alguma retribuir; que os céus te recompensem em múltiplas formas, eu imploro. então, enquanto vivemos, perseveremos no amor, para que quando não vivermos mais, possamos viver eternamente. (BRADSTREET, 2008, p.108) Neste poema, a voz lírica feminina expressa seu amor pelo marido em termos de símbolos terrenos (“amor mais do que minas inteiras de ouro”), enquanto louva a dimensão metafísica desse mesmo amor (“quando não vivermos mais, poderemos viver para sempre”). Assim, Bradstreet une poeticamente a faceta íntima do amor na vida conjugal com um tipo monumental de amor - aquele que torna a vida eterna possível. Michael Wigglesworth. Como muitos dos primeiros colonos puritanos, Michael Wigglesworth nasceu na Inglaterra e foi para a América ainda criança, em 1638. Como adulto, ele se tornou um ministro influente em Massachusetts, chegando a servir como conselheiro durante os julgamentos das bruxas de Salem. No entanto, são seus escritos que serviram para colocar seu nome entre as maiores figuras do puritanismo na América. As obras mais reconhecidas de Wigglesworth são seus diários, que apresentam pontos de vista profundamente pessoais junto com detalhes da vida puritana, e seus poemas, que são algumas das representações literárias mais impactantes do protestantismo calvinista. Apesar de ter sido casado três vezes, suas entradas de diário estão repletas de trechos que descrevem as lutas que teve com sua sexualidade, especialmente em relação à atração que sentia por alunos durante o período em que trabalhou como tutor. No entanto, é como poeta que a proeminência literária de Wigglesworth é mais valorizada. Seus trabalhos poéticos tendem a enfatizar ideias de pecado, predestinação, condenação e salvação que eram uma parte constante da vida puritana. Além disso, seus poemas também tinham uma qualidade instrucional, lembrando os puritanos dos dogmas que eles tinham que aceitar e seguir. De todas as suas obras, a mais importante é O Dia do Juízo (1662). O Dia do Juízo (1662) O poema mais popular do século XVII, The Day of Doom é uma obra religiosa em verso que, como um todo, descreve o Dia do Juízo bíblico, quando Deus sentencia as pessoas ao céu ou ao inferno. Embora o poema possa ser lido apenas como mera doutrina puritana, a intensidade dramática empregada cria um efeito impactante de terror e espanto. Um dos pontos centrais de The Day of Doom é lembrar os puritanos da estrita adesão aos preceitos protestantes calvinistas se quisessem evitar a condenação no Dia do Juízo. Portanto, afastar-se das regras de Deus é a principal razão para ser excluído da salvação. A estrofe a seguir exemplifica isso: Cristo prontamente faz esta resposta: "Eu não vos condeno porque sois rejeitados ou não eleitos, mas porque quebrastes as minhas leis: é em vão que vossos engenhos se esforçam para separar o fim e os meios: os homens tolos tentam separar ou quebrar o que Deus uniu." (WIGGLESWORTH, 1662) Esta passagem afirma claramente o dogma puritano: A rejeição das leis divinas leva inexoravelmente à condenação. Este é o tipo de entendimento que incutiu medo nas mentes dos puritanos, mas também serviu para lembrá-los das intenções originais dos Pais Peregrinos quando chegaram ao Novo Mundo: formar uma comunidade que obedecesse à autoridade de Deus. 3.0 Influências do Iluminismo: Jonathan Edwards, Thomas Paine e Benjamin Franklin Um tempo de transformação incrível A vida colonial no século XVIII O século XVIII foi um período de transformação incrível nas 13 colônias originais. O número de colonos ingleses, composto por aproximadamente 2.000 pessoas em 1625, atingiu 250.000 em 1700, dobrando a cada vinte e cinco anos ao longo do século. As famílias cresceram, pois as crianças também ajudavam a trabalhar na terra. Embora a religião continuasse a ser significativa na vida comunitária, outros valores contribuíram para o avanço social, político e literário dessa fase dos Estados Unidos. As colônias eram habitadas não apenas pelos puritanos, mas também por outros grupos religiosos que estavam fugindo da perseguição religiosa na Europa e em busca de uma vida melhor no Novo Mundo, como os quakers (que viviam na Pensilvânia) e os católicos (que povoavam principalmente Maryland). Como um todo, as colônias podiam ser divididas em três grupos: O grupo de Nova Inglaterra Os do extremo norte centrados em Massachusetts, compostos por pequenos agricultores e artesãos. As Colônias do Meio As colônias ao sul da Nova Inglaterra, como Nova York e Pensilvânia, formadas não apenas por imigrantes ingleses, mas também por alemães e holandeses. As Colônias do Sul Virgínia, as Carolinas e a Geórgia, onde os proprietários de terras cultivavam grandes plantações com trabalho escravo. As primeiras pessoas escravizadas chegaram da África em 1619 para trabalhar em Jamestown. À medida que a agricultura se estabeleceu no continente americano, especialmente através das plantações de tabaco nas colônias do Sul, mais africanos foram escravizados e enviados para o Novo Mundo. Em meados do século XVIII, acredita-se que mais de 20% das pessoas nos Estados Unidos eram afro-americanas. Eles foram forçados a uma vida de cativeiro, trabalho árduo e eram tratados como propriedade. Apesar de algumas rebeliões organizadas, mais de 400.000 pessoas foram capturadas na África e enviadas para as colônias britânicas para trabalhar como escravas. A realidade do trabalho escravo no Sul contrastava com as perspectivas sociais idealizadas nas colônias do Norte. Para os puritanos na Nova Inglaterra, a educação era uma questão central para o desenvolvimento da sociedade. Considerando que os dogmas luteranos e calvinistas se originaram em interpretações pessoais da Bíblia, a leitura através da escolaridade formal (especialmente de textos religiosos) tornou-se uma habilidade fundamental para essas comunidades em crescimento. Em 1647, por exemplo, uma lei em Massachusetts decretou que cada vila com mais de cinquenta famílias deveria ter um professor. Algumas das universidades americanas mais prestigiadas foram fundadas no período colonial, como Harvard em 1636 e Yale em 1701. Até 1764, já havia sete universidades nas 13 colônias. A Idade da Razão O Iluminismo No século XVIII, as universidades americanas em crescimento foram amplamente influenciadas pelo movimento intelectual e filosófico mais importante do período: o Iluminismo. Considerado um momento crucial no pensamento ocidental, o Iluminismo, em termos gerais, afirma que toda a experiência humana pode ser explicada através da razão. Foi uma época em que grandes pensadores começaram a questionar o dogma religioso e as formas tradicionais de governo para tentar interpretar o mundo de uma maneira científica. Os mistérios e milagres da Igreja foram substituídos pelas explicações racionais de Newton e Descartes; as organizações sociais e políticas de longa data deram lugar a novas estruturas governamentais, cujos princípios básicos eram a liberdade e as liberdades individuais. O mundo era visto, portanto, como governado por "leis naturais", como o trecho abaixo deixa claro: Por analogia com a visão de Newton do mundo como uma máquina, poderia-se raciocinar que as leis naturais governavam todas as coisas - as órbitas dos planetas e também as órbitas das relações humanas: política, economia e sociedade. A razão poderia fazer as pessoas perceberem, por exemplo, que a lei natural da oferta e da demanda governava a economia ou que os direitos naturais à vida, liberdade e propriedade determinavam os limites e funções do governo. (TINDALL & SHI, 1989, p.63) Também conhecida como A Idade da Razão, a Ilustração é caracterizada pela busca de ordem e estabilidade através do empirismo - a ideia de que o conhecimento surge da experiência. Assim, o que antes era visto como inexplicável, obscuro,começa a ser investigado, já que se acredita que o mundo pode ser interpretado através de evidências, experimentação, observação e do método científico. Um dos filósofos mais influentes do Iluminismo foi John Locke. Suas importantes teorias sobre formas de governo, sociedade e a noção de propriedade privada tiveram um impacto profundo nos futuros revolucionários americanos que levariam o país à sua independência. Um conceito fundamental idealizado por Locke, e também por outros pensadores do Iluminismo, é o do contrato social. De acordo com este princípio, há um acordo implícito entre o governo e o povo para manter a ordem social e garantir a estabilidade de uma nação. Assim, espera-se que a população siga uma série de leis e renuncie a algumas liberdades, enquanto se espera que o Estado utilize a estrutura governamental sem abusar de seu poder. É possível dizer, portanto, que a autoridade do Estado depende do consentimento dos governados. Esta é uma das razões que os futuros revolucionários dariam para declarar a independência dos Estados Unidos da Inglaterra. Quando o contrato social é respeitado, as pessoas podem desfrutar de seus direitos naturais, como a liberdade e a felicidade. Neste caso, há uma clara distinção em relação ao pensamento calvinista dos puritanos: Se, segundo os protestantes calvinistas, o homem nasce malvado devido ao pecado original, segundo o ponto de vista iluminista de Locke, o homem nasce como uma tabula rasa (uma folha de papel em branco). Portanto, é a experiência de vida de cada um que define se se tornará bom ou mau. Apesar das perspectivas contrastantes entre o Puritanismo e o Iluminismo, foi exatamente um ministro puritano extremamente inteligente e bem-educado que conseguiu construir uma ponte entre essas duas visões filosóficas nas primeiras décadas do século XVIII: Jonathan Edwards. Uma ponte entre o Protestantismo e o Iluminismo Jonathan Edwards e o Grande Despertamento Com o crescimento populacional e econômico das colônias, o século XVIII na América viu uma diminuição da importância das práticas puritanas na vida cotidiana. À medida que novas gerações de americanos nasciam e pessoas de outras regiões da Europa chegavam ao continente, a crença protestante de ver os sinais de Deus nos eventos cotidianos foi substituída por uma abordagem mais prática da vida comunitária. Além disso, a disseminação das ideias do Iluminismo, priorizando a experiência secular, ajudou a diminuir a influência do pensamento puritano. Notando essa mudança na realidade das colônias, os ministros puritanos tentaram recuperar o sentido original de fé e predestinação que sentiam estar se perdendo. Isso resultou no Grande Despertar, um avivamento evangélico que ocorreu na década de 1730, com o objetivo de renovar a devoção religiosa entre os americanos. A figura mais importante associada ao Grande Despertar foi o ministro Jonathan Edwards (1703-1758). Além de ser um homem piedoso, Edwards também era teólogo e erudito. Ele estudou e mais tarde se tornou reitor de Yale, mas suas obras mais significativas foram escritas durante seu mandato como ministro em Northampton, Massachusetts. Edwards era um leitor de John Locke e, embora pareça haver pouco em comum entre o puritanismo e o Iluminismo, ele conseguiu associar brilhantemente alguns aspectos de ambas as linhas de pensamento para reviver um senso de divindade nas colônias. Afinal, “muito do pensamento iluminista poderia ser reconciliado com as crenças estabelecidas - a ideia de lei natural existia na teologia cristã, e as pessoas religiosas podiam raciocinar que a visão de mundo de Copérnico e Newton simplesmente mostrava a glória de Deus” (TINDALL &; SHI, 1989, p. 63). O fervor religioso idealizado pelo Grande Despertar - envolvendo não apenas Edwards, mas vários pregadores em diferentes paróquias - foi bem-sucedido pelo menos até a década de 1750, quando alguns excessos em sua doutrinação levaram alguns ministros a serem dispensados de suas igrejas, incluindo Edwards. Ainda assim, alguns de seus textos tornaram-se poderosos símbolos da potência das crenças puritanas. Um ótimo exemplo é um dos sermões mais conhecidos de sua época: "Pecadores nas Mãos de um Deus Irado". Pecadores nas mãos de um Deus irado (1741) O sermão estava sempre no centro do serviço religioso dos puritanos, e especialmente durante o período do Grande Despertar, era muito comum o uso de "sermões imprecatórios", ou seja, tipos de textos religiosos que enfatizam o fogo do inferno e a condenação. Também conhecidos como sermões de "fogo e enxofre", eles despertavam os medos mais profundos na congregação, fazendo os fiéis questionarem sua fé. Sinners in the Hands of an Angry God de Jonathan Edwards é talvez o sermão imprecatório mais famoso em inglês. O texto, fortemente aderente ao Antigo Testamento, vê Deus como um juiz onipotente que está regularmente furioso com as falhas e pecados da humanidade. Segundo Edwards, os esforços humanos para alcançar a salvação são fúteis, e Deus está constantemente observando, capaz de condenar qualquer um, a qualquer momento, às chamas eternas do inferno. Pecadores nas mãos de um Deus irado segue a estrutura tradicional do sermão puritano. Texto Uma passagem bíblica que resume o tema do sermão. Doutrina Uma lição a ser aprendida com essa passagem. Razões Uma discussão sobre as provas da veracidade da lição. Usos Como a doutrina pode ser aplicada pelos membros da congregação. O sermão de Edwards começa com a citação bíblica "O pé deles escorregará a seu tempo", que o autor usa para destacar o ponto de que os homens podem cair a qualquer momento nas profundezas do inferno. Um trecho marcante do sermão é quando Edwards apresenta imagens muito vívidas para ilustrar o contraste entre o mal da humanidade e a pureza de Deus: O Deus que te segura sobre o abismo do inferno, assim como se segura uma aranha ou algum inseto repugnante sobre o fogo, te abomina e está terrivelmente provocado: sua ira contra ti queima como fogo; ele te considera digno de nada mais do que ser lançado ao fogo; ele é de olhos mais puros do que para suportar ter-te à sua vista; tu és dez mil vezes mais abominável aos seus olhos do que a serpente venenosa mais odiosa é aos nossos. (…) E não há outra razão a ser dada, por que você não caiu no inferno desde que se levantou pela manhã, senão que a mão de Deus o sustentou. Não há outra razão a ser dada para que você não tenha ido para o inferno, desde que você se sentou aqui na casa de Deus, provocando seus olhos puros com sua maneira pecaminosa e ímpia de participar de seu culto solene. Sim, não há outra razão a ser dada para explicar por que você não está agora mesmo caindo no inferno. (EDWARDS, 1989, pp. 318-319) Esta passagem destaca um dos aspectos centrais do puritanismo: o poder de Deus está em eterna oposição com a depravação humana. Essa tensão ocorre como resultado do pecado original e é a maior causa da culpa que atormenta os puritanos. Por outro lado, é essa mesma culpa - juntamente com o medo da condenação - que leva as pessoas a buscar redenção através da restauração da fé evangélica. Espírito rebelde da época O período revolucionário Em 1760, a América estava em uma situação muito diferente em comparação com o período da chegada dos Pais Peregrinos em 1620. Mais de um milhão e meio de pessoas viviam nas 13 colônias, e grandes cidades, como Nova York e Filadélfia, eram uma realidade. As colônias também estavam organizadas sob uma forma de governo bastante autônoma, estabelecendo uma estrutura política autônoma. Em termos de economia, eles tinham um forte mercado interno (com manufaturas e oficinas), enquanto também exportavam produtos como peles e tabaco. Essa situação começou a mudar após o fim da Guerra dos Sete Anos entre a Inglaterra e a França. Após a vitória da Inglaterra, uma grande parte do território norte-americano que antes pertencia à França caiu em mãos inglesas. A maioria dos colonos expressou o desejo de explorar essas novas regiões que se estendiam até o rio Mississippi, mas foramproibidos pelos ingleses, que queriam garantir o controle administrativo dessas terras desconhecidas. Além disso, várias tropas britânicas permaneceram nas colônias após o fim da guerra, o que serviu para intimidar os colonos. A batalha da Baía de Quiberon, 1759. No quarto ano da Guerra dos Sete Anos, estabeleceu a Grã-Bretanha como a potência naval dominante do mundo e mudou o curso da história da América do Norte. As grandes dívidas após o fim do conflito, juntamente com a rápida expansão industrial da Inglaterra, levaram a Coroa Britânica a aumentar os impostos nas 13 colônias, aumentando a natureza exploratória da colonização americana. Atenção! Um momento crucial nas crescentes tensões entre a Inglaterra e a América foi a criação da Lei do Selo, em 1765, que declarava que os colonos tinham que pagar por selos especiais a serem anexados a jornais e documentos legais. Depois disso, as colônias começaram a se organizar contra o que viam como abusos de poder da Inglaterra, promovendo protestos e boicotando produtos ingleses. As tensões atingiram um clímax após o Boston Tea Party, quando um grupo de homens jogou centenas de caixas de chá no mar, em resposta ao aumento crescente do produto. Como resposta, a Coroa Britânica aprovou uma série de leis que restringiam a autonomia das colônias, conhecidas como os "Atos Intoleráveis". Entre esses atos, estavam o fechamento do porto de Boston, a proibição de assembleias gerais e a considerável expansão no número de tropas britânicas. Após uma série de reuniões e a resistência de alguns setores da sociedade americana, as 13 colônias declararam guerra contra a Grã-Bretanha e, em 4 de julho de 1776, emitiram a Declaração de Independência, um texto fortemente influenciado pelos ideais iluministas, como o contrato social. As batalhas com as tropas inglesas se intensificaram, mas os Estados Unidos tinham seu próprio exército, sob a liderança de George Washington, que mais tarde se tornaria o primeiro presidente da nova nação. No entanto, uma das armas centrais do exército americano era um texto que servia para unir a sociedade civil contra o domínio britânico. Esse texto chamava-se "Common Sense" e seu autor, ironicamente, era um inglês chamado Thomas Paine. Thomas Paine e O Sentido Comum Apesar de ter nascido na Inglaterra, Thomas Paine foi um dos principais apoiadores da causa americana pela independência. Ele chegou à América em 1774, em um momento em que o Período Revolucionário estava começando, com a Coroa Britânica endurecendo seu controle político e econômico sobre as colônias. Dominado pelo espírito rebelde da época, Paine publicou, em janeiro de 1776, um panfleto de 50 páginas intitulado Common Sense. Lançado enquanto os colonos ainda discutiam maneiras de responder às leis autoritárias da Inglaterra, Common Sense propôs abertamente uma separação política entre as 13 colônias e a Inglaterra. O título refere-se à ideia central de Paine: Se alguém usasse o bom senso, ficaria claro que a união entre a América e a Grã-Bretanha só trouxe desvantagens para a primeira. Paine articula em Common Sense várias razões pelas quais o relacionamento com a Inglaterra, em vez de proporcionar paz e proteção, foi extremamente prejudicial para a América. Um dos aspectos mais importantes considerados pelo autor é que até Deus deseja que a conexão entre as colônias e a Inglaterra seja rompida: O sangue dos mortos, a voz chorosa da natureza clama, 'é hora de partir'. Até mesmo a distância em que o Todo-Poderoso colocou a Inglaterra e a América é uma prova forte e natural de que a autoridade de uma sobre a outra nunca foi o desígnio do Céu. O tempo em que o continente foi descoberto também acrescenta peso ao argumento, e a maneira como foi povoado aumenta sua força. A reforma foi precedida pela descoberta da América, como se o Todo-Poderoso quisesse graciosamente abrir um santuário para os perseguidos nos anos futuros, quando o lar não oferecesse nem amizade nem segurança. (PAINE, 1776) Assim, Paine associa aos sinais divinos o fato de que a Inglaterra e a América estão geograficamente separadas por um oceano e o advento da Reforma Protestante. Assim, Paine associa aos sinais divinos o fato de que a Inglaterra e a América estão geograficamente separadas por um oceano e o advento da Reforma Protestante antes da descoberta do Novo Mundo. Esses aspectos devem, portanto, ser lidos como indicações de que a América não deveria permanecer uma colônia por mais tempo. Escrito com uma linguagem simples e um estilo direto, Common Sense foi um texto extremamente popular durante o Período Revolucionário. Sabe-se que partes dele foram lidas para as tropas americanas antes de irem para a batalha, tamanha era a força de sua mensagem. De certa forma, o texto de Paine traduziu o ideal americano de liberdade em uma verdadeira luta pela independência. Os Pais Fundadores Benjamin Franklin e os Pais Fundadores O período revolucionário dos Estados Unidos, que garantiu a independência do país, serviu para solidificar um vínculo comum entre todas as 13 colônias, que se tornaram estados. Esses territórios agora faziam parte de uma única nação, formada por ideais compartilhados como liberdade e direitos iguais. No entanto, era importante criar uma identidade que fosse capaz de unir todas essas pessoas sob a mesma nacionalidade americana. Um grupo de figuras históricas importantes, essenciais para a consolidação da independência americana, serviu para alcançar esse propósito: os Pais Fundadores. Os Pais Fundadores foram um grupo de homens que atuaram como líderes revolucionários contra a Inglaterra, assinaram a Declaração de Independência em 1776, ou foram responsáveis pela redação da Constituição em 1787. Eram militares, proprietários de terras, cientistas - todos com o objetivo de lançar as bases de um país baseado em ideais republicanos. O Comitê dos Cinco. Alguns dos notáveis Pais Fundadores - que, não por acaso, acabaram se tornando presidentes dos Estados Unidos - são George Washington, Thomas Jefferson e John Adams. Uma das figuras mais significativas desse grupo, no entanto, foi um homem de inteligência notável que contribuiu enormemente para este momento da história e literatura americana: Benjamin Franklin (1706-1790). Jornalista, filósofo, comerciante, inventor, diplomata, político - Benjamin Franklin era o epítome de uma versatilidade notável. Nascido em uma família pobre de Boston em 1706, ele começou a trabalhar como ensaísta e gradualmente se tornou o editor americano de maior sucesso do século XVIII. Franklin também desempenhou um papel significativo no processo revolucionário, representando os interesses das colônias na Inglaterra e, posteriormente, na França (onde obteve apoio político para a independência). Além disso, ele foi reconhecido como um cientista e inventor prolífico, sendo responsável pela criação dos para-raios, lentes bifocais, além de fundar a primeira biblioteca pública e o primeiro Corpo de Bombeiros no estado da Pensilvânia. Franklin também teve uma vasta carreira literária. Especialmente após comprar e revitalizar o jornal Pennsylvania Gazette, ele começou a escrever uma série de textos extremamente populares sob pseudônimos. Associando preocupações práticas do público americano com uma verve satírica e crítica, essas obras consolidaram Franklin como um sábio de seu tempo, um indivíduo com sabedoria, mas que também estava ciente das dificuldades do homem comum. Dentre essas obras, talvez a mais conhecida seja o Almanaque de Pobre Richard. Almanaque de Pobre Ricardo (1732) O almanaque era um dos tipos de publicações mais populares na América no século XVIII. Franklin decidiu criar o seu próprio, chamado Poor Richard’s Almanac, em 1732, e ele imediatamente se tornou o almanaque mais vendido nas colônias. Em geral, um almanaque é um compêndio anual que inclui vários tipos de informações, como previsões meteorológicas, receitas e anedotas morais. Franklin, escrevendo sob o nome de Richard Saunders, usou o almanaque para expressar seu grande humor elições perspicazes. Uma das características centrais do Almanaque do Pobre Ricardo é a presença de provérbios divertidos, que entraram na tradição do pensamento americano. Curiosamente, Máximas famosas como "tempo é dinheiro" e "se você tem algo a fazer amanhã, faça hoje" tornaram-se clássicas e simbolizam a visão de mundo de Franklin: o sucesso está estritamente ligado ao ganho material gerado através do trabalho árduo. Essa perspectiva provaria ser essencial para a nova nação. Em 1758, o último ano de publicação do Almanaque de Pobre Ricardo, Franklin escreveu um prefácio para essa edição especial, no qual ele reuniu a maioria dos máximas que havia incluído nos vinte e cinco almanaques anteriores. Esse prefácio recebeu o título "O Caminho para a Riqueza", e nele o autor apresenta a chave para uma vida bem-sucedida: Indústria A necessidade de trabalhar duro. Prudência A necessidade de economizar dinheiro. Frugalidade A necessidade de ser econômico e gastar pouco. Em uma passagem central de "O Caminho para a Riqueza", o autor afirma: Então, já que, como ele diz, o tomador é escravo do credor, e o devedor do credor, despreze a corrente, preserve sua liberdade; e mantenha sua independência: seja industrioso e livre; seja frugal e livre. (FRANKLIN, 1989, p. 34) Portanto, trabalhando duro e não desperdiçando dinheiro ou tempo, os americanos poderão alcançar o objetivo final por trás da criação da República: a liberdade. A Autobiografia de Benjamin Franklin (1791) A própria vida de Benjamin Franklin serviu de material para um dos primeiros grandes livros da literatura americana: A Autobiografia de Benjamin Franklin. Nesta obra, o autor faz mais do que apenas contar a história de sua vida: ele usa sua narrativa pessoal para personificar as ideias que formariam o bom cidadão americano. Atenção! Um conceito central para entender a autobiografia é o do “homem feito por si mesmo”, ou seja, o homem que triunfa devido à sua própria vontade e esforço. No livro de Franklin, essa noção é mais do que um tema - é também uma contribuição do espírito americano para o mundo ocidental, transformando a história do menino pobre que se tornou rico e bem-sucedido em um mito mundial. Portanto, é possível ler a vida de Franklin como uma espécie de alegoria de toda a cultura americana. A autobiografia também continua sendo um dos primeiros exemplos de texto autobiográfico em toda a literatura em inglês. Até hoje, é considerado um modelo narrativo para todas as outras autobiografias - destacando os momentos mais interessantes e omitindo aspectos que o autor considera irrelevantes (ou até contraditórios). Além disso, A Autobiografia de Benjamin Franklin também pode ser lida como um documento histórico, não apenas porque foi escrita por um dos principais pensadores dos Estados Unidos, mas também porque retrata precisamente os hábitos, as visões de mundo e o estilo de vida do século XVIII no país.