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DIREITO TRIBUTÁRIO PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS SUMÁRIO 1. CONCEITO..........................................................................................................................................................3 2. NATUREZA JURÍDICA.........................................................................................................................................3 2.1. CONSEQUÊNCIAS DA NATUREZA DE GARANTIA FUNDAMENTAL E DE LIMITAÇÃO AO PODER DE TRIBUTAR.........................................................................................................................................................3 3. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE...............................................................................................................................4 3.1. TIPO DE LEI EXIGIDO PARA TRATAR DE MATÉRIA TRIBUTÁRIA...............................................................5 3.2. CASOS DE NÃO APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE...................................................................6 3.3. EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE...............................................................................................7 3.4. MEDIDAS PROVISÓRIAS EM DIREITO TRIBUTÁRIO..................................................................................9 4. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE TRIBUTÁRIA:................................................................................................10 4.1. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ANUAL.................................................................................................11 4.2. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGESIMAL....................................................................................12 4.3. EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE......................................................................................12 4.4. ANTERIORIDADE E REVOGAÇÃO DE BENEFÍCIOS FISCAIS......................................................................14 4.5. REDUÇÃO DE DESCONTO OU ALTERAÇÃO NO PRAZO LEGAL PARA RECOLHIMENTO DO TRIBUTO.....15 5. PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE.................................................................................................................16 5.1. EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE.................................................................................17 6. PRINCÍPIO DA ISONOMIA TRIBUTÁRIA...........................................................................................................18 6.1. IRRELEVÂNCIA DA CAPACIDADE CIVIL PARA FINS TRIBUTÁRIOS (ART. 126, I, DO CTN).......................21 6.2. PRINCÍPIO DO NON OLET (ART. 118, I, DO CTN).....................................................................................21 6.3. O PRINCÍPIO DA ISONOMIA E A CAPACIDADE CONTRIBUTIVA..............................................................22 7. PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO........................................................................................................................24 7.1. PERSPECTIVAS DINÂMICA E ESTÁTICA DA TRIBUTAÇÃO DO PATRIMÔNIO..........................................27 8. PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA................................................................................................27 8.1. ISONOMIA NA TRIBUTAÇÃO DE RENDA.................................................................................................28 8.2. VEDAÇÃO A CONCESSÃO DE ISENÇÕES HETERÔNOMAS.......................................................................28 8.3. ZONAS DE INCENTIVO FISCAL.................................................................................................................29 9. PRINCÍPIO DA NÃO LIMITAÇÃO AO TRÁFEGO DE PESSOAS E BENS...............................................................30 10. PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO COM BASE NA PROCEDÊNCIA OU DESTINO.....................................31 11. PRINCÍPIO DA NÃO CUMULATIVIDADE........................................................................................................32 RESUMO..............................................................................................................................................................33 DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO.....................................................................................................34 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA...................................................................................................................................34 ATUALIZADO EM 11/03/20231 PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS2 1. Conceito Princípio tributários são preceitos fundamentais de observância obrigatória pelo legislador e pelo Fisco, cujo descumprimento causa a nulidade do tributo ou de sua cobrança. 2. Natureza jurídica A Constituição Federal de 1988 define duas espécies de limitações constitucionais ao poder de tributar: a) princípios; b) imunidades. Assim, verifica-se inicialmente que, junto com as imunidades, os princípios são normas constitucionais que restringem a atividade tributante. Princípios são preceitos instituídos em favor do contribuinte e contra o Fisco, nunca o contrário. No mesmo sentido, o art. 150 da Constituição Federal trata dos princípios como verdadeiras “garantias fundamentais do contribuinte”. O referido dispositivo afirma que: “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios...”. Assim, conclui-se que a Constituição Federal de 1988 confere aos princípios tributários uma natureza dúplice sendo, a um só tempo, do ponto de vista do Fisco, limitações ao poder de tributar, e representando para o contribuinte verdadeiras garantias fundamentais. Por outro lado, as imunidades protegem determinadas pessoas, bens ou situações da incidência tributária e acabam funcionando como uma proteção à incidência de tributos. 2.1. Consequências da natureza de garantia fundamental e de limitação ao poder de tributar 1 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. 2 Por Tássia Neumann Hammes. Como os princípios são garantias fundamentais do contribuinte e, ao mesmo tempo, limitações constitucionais ao poder de tributar, decorrem dessa natureza dúplice as seguintes consequências: a) Constituem cláusulas pétreas: isso porque nos termos do art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal, “não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV – direitos e garantias fundamentais”. Segundo Alexandre Mazza, os princípios fazem parte do núcleo imodificável da Constituição Federal, não podendo ser suprimidos ou ter seu alcance reduzido por emenda constitucional. Registre-se, todavia, o entendimento do Supremo Tribunal Federal no sentido de que os princípios tributários que não constam do art. 150 da Constituição Federal não são cláusulas pétreas, pois estariam fora da lista que o caput do referido dispositivo constitucional denomina de “garantias asseguradas ao contribuinte”, tais como os princípios da seletividade e da não cumulatividade. #DEOLHONAJURIS: “A criação de imunidade tributária é matéria típica do texto constitucional enquanto a de isenção é versada na lei ordinária; não há, pois, invasão da área reservada à emenda constitucional quando a lei ordinária cria isenção. O poder público tem legitimidade para isentar contribuições por ele instituídas, nosDisposições Constitucionais Transitórias. A Zona Franca de Manaus, segundo a jurisprudência do STF, fundamenta-se constitucionalmente em verdadeira imunidade tributária. #DEOLHONAJURIS: Não há cogitar de inconstitucionalidade indireta, por violação de normas interpostas, na espécie vertente: a questão está na definição do alcance do art. 40 do ADCT, a saber, se esta norma de vigência temporária teria permitido a recepção do elenco pré-constitucional de incentivos à Zona Franca de Manaus, ainda que incompatíveis com o sistema constitucional do ICMS instituído desde 1988, no qual se insere a competência das unidades federativas para, mediante convênio, dispor sobre isenção e incentivos fiscais do novo tributo (art. 155, § 2º, XII, g, da Constituição da República). O quadro normativo pré- constitucional de incentivo fiscal à Zona Franca de Manaus constitucionalizou-se pelo art. 40 do ADCT, adquirindo, por força dessa regra transitória, natureza de imunidade tributária, persistindo vigente a equiparação procedida pelo art. 4º do DL 288/1967, cujo propósito foi atrair a não incidência do ICMS estipulada no art. 23, II, § 7º, da Carta pretérita, desonerando, assim, a saída de mercadorias do território nacional para consumo ou industrialização na Zona Franca de Manaus. A determinação expressa de manutenção do conjunto de incentivos fiscais referentes à Zona Franca de Manaus, extraídos, obviamente, da legislação pré-constitucional, exige a não incidência do ICMS sobre as operações de saída de mercadorias para aquela área de livre comércio, sob pena de se proceder a uma redução do quadro fiscal expressamente mantido por dispositivo constitucional específico e transitório. ADI 310, rel. min. Cármen Lúcia, j. 19-2-2014, P, DJE de 9-9-2014. 9. Princípio da não limitação ao tráfego de pessoas e bens O princípio da não limitação ao tráfego impede que o tributo seja utilizado para restringir o trânsito de pessoas e bens no território nacional. Assim, o art. 150, V, da CF, atua como norma jurídica de reforço da liberdade constitucional de ir, vir e permanecer (art. 5º, XV, da CF), vedando que a tributação crie barreiras para a livre locomoção de pessoas e bens. Ex: é inconstitucional, por violar tal princípio, a taxa de estacionamento cobrada para restringir o acesso de turistas a determinada praia. #SELIGA: E quanto ao pedágio? *O art. 150, V, da Constituição Federal estabelece importante exceção ao princípio da não limitação admitindo a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público. Para a doutrina, o pedágio terá natureza de tarifa/preço público sempre que a concessão da administração e exploração de rodovias for feita por terceiros (particulares). A celeuma existe no que tange à conservação de rodovias pelo Poder Público, pois, nesse caso, havia uma divergência quanto à natureza - se tarifa ou taxa. Havia, ainda, uma terceira corrente, que fazia a seguinte diferenciação: - se houver via alternativa: tarifa; - se não houver via alternativa: taxa. Contudo, para o STF, a existência de via alternativa é irrelevante para a definição da natureza jurídica do pedágio. Isso porque essa condição não está estabelecida na CF/88.Assim, a utilização da via com pedágio continua sendo facultativa. Isso porque a pessoa tem a possibilidade de simplesmente não dirigir o seu veículo, ir a pé, de bicicleta, de ônibus, de avião et. Adotou-se, portanto, o entendimento de que o pedágio tem natureza de tarifa (espécie de preço público) em razão de não ser cobrado compulsoriamente de quem não utilizar a rodovia; ou seja, é uma retribuição facultativa paga apenas mediante o uso voluntário do serviço. Nesse sentido: #DEOLHONAJURIS: O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias conservadas pelo poder público, cuja cobrança está autorizada pelo inciso V, parte final, do art. 150 da Constituição de 1988, não tem natureza jurídica de taxa, mas sim de preço público, não estando a sua instituição, consequentemente, sujeita ao princípio da legalidade estrita. ADI 800, rel. min. Teori Zavascki, j. 11-6-2014, P, DJE de 1º-7-2014 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: V – estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público. 10. Princípio da não discriminação com base na procedência ou destino O art. 152 da Constituição Federal proíbe tratamento diferenciado em razão da procedência ou destino de bens ou serviços. Ex: vedação da cobrança de IPVA diferenciado para veículo importado (precedentes do STF) na medida em que isso constitui discriminação quanto à procedência do produto. Trata-se de princípio aplicável exclusivamente aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino. #PEGADINHA #DERRUBANDOOCANDIDATO: De acordo com expressa disposição constitucional, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino. ERRADO! #OUSESABER: A antecipação de pagamento do imposto referente a mercadoria que se destina a outro Estado configura a adoção de diferença tributária em razão do destino e procedência dos bens. CERTO OU ERRADO? ERRADO. Com efeito, a CF veda que os entes políticos estabeleçam indevida distinção tributária em decorrência da procedência ou destino dos bens e serviços sujeitos à tributação: Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino. Todavia, entende-se que a antecipação de pagamento do imposto, quando a mercadoria se destina a outro Estado, NÃO configura a adoção de diferença tributária, em razão do destino e procedência dos bens, caracterizando mero mecanismo de política fiscal. A antecipação de pagamento do imposto, quando a mercadoria se destina a outro Estado, não configura a adoção de diferença tributária, em razão do destino e procedência dos bens. [RE 167.034 AgR, voto do rel. min. Néri da Silveira, j. 14-12-1999, 2ª T, DJ de 25-2-2000]. 11. Princípio da não cumulatividade A não cumulatividade é uma técnica que tem por objetivo limitar a incidência tributária nas cadeias de produção e circulação mais extensas, fazendo com que, a cada etapa da cadeia, o imposto somente incida sobre o valor adicionado nessa etapa. Assim, ao final da cadeia, o tributo cobrado jamais será maior que o valor da maior alíquota, multiplicado pelo valor final da mercadoria. Em termos práticos, quando determinado item ingressa no estabelecimento o valor do tributo recolhido gera um crédito (operação de creditamento), que será descontado do montante devido no valor do mesmo tributo incidente sobre a operação de saída do item. A Constituição explica as operações de creditamento e débito afirmando que tais tributos não cumulativos são pagos “compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores”. Ex: se uma caixa de chocolates entra no estabelecimento atacadista X pelo valor de R$ 10,00 com recolhimento de R$ 1,00 de ICMS (suponha uma alíquota hipotética de 10%), esse valor (R$ 1,00) gera um crédito em favor de X. Quando X revende a mercadoria por R$ 15,00, o R$1,50 que seria devido de ICMS terá desconto do crédito de R$ 1,00 na entrada, gerando um valor final de R$ 0,50 a ser pago. Esse recolhimentonão cumulativo evita que o ICMS crie um efeito “bola de neve” aumentando excessivamente o valor dos itens de modo a prejudicar o consumidor final. A incidência da regra da não cumulatividade só tem sentido nos tributos plurifásicos. Submetem-se à não cumulatividade: a) IPI (art. 153, § 3º, II, da CF); b) ICMS (art. 155, § 2º, I, da CF); c) impostos residuais (art. 154, I, da CF); d) novas fontes de custeio da Seguridade Social (art. 195, § 4º, da CF); e) COFINS/PIS (art. 1º da Lei n. 10.833/2003). Art. 153, CF. Compete à União instituir impostos sobre: IV - produtos industrializados; § 3º O imposto previsto no inciso IV: II - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores; Art. 155, CF. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: I - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal; Art. 49, CTN. O imposto é não cumulativo, dispondo a lei de forma que o montante devido resulte da diferença a maior, em determinado período, entre o imposto referente aos produtos saídos do estabelecimento e o pago relativamente aos produtos nele entrados. #DEOLHONAJURIS: A mora injustificada ou irrazoável do fisco em restituir o valor devido ao contribuinte caracteriza a “resistência ilegítima” autorizadora da incidência da correção monetária. RE 299.605 AgR-ED-EDv, rel. min. Edson Fachin, j. 6-4-2016, P, DJE de 20-6-2016. Em adequação ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, é devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS pago a mais no regime de substituição tributária para frente se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida . STJ. 1ª Turma. REsp 687113-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, por unanimidade, julgado em 05/04/2018 (Info 623). RESUMO É importante rememorar que algumas das limitações se aplicam apenas no âmbito da União, outras nos Estados e Municípios, ao passo em que outras se aplicam a todos os entes. Todos os entes Somente União Somente Estados, DF e Mun. - Legalidade (art. 150, I); - Isonomia (art. 150, II); - Capacidade Contributiva (art. 150, II); - Anterioridade anual (art. 150, III, a); - Anterioridade nonagesimal (art. 150, III, c); - Uniformidade Geográfica (art. 151, I) – destaca-se que, por simetria, a mesma vedação é extensiva a Estados, Distrito Federal e Municípios. - Isonomia na tributação da renda (151, II); - Não discriminação baseada em procedência ou destino (art. 152). - Vedação ao confisco (art. 150, IV); - Não limitação ao tráfego de pessoas e bens (art. 150, V); - Imunidades (art. 150, VI) - Vedação a isenção heterônoma (151, III). DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO DIPLOMA DISPOSITIVO Constituição Federal Art. 150 a 152 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA Manual de Direito Tributário – Alexandre Mazza (2018). Manual de Direito Tributário – Ricardo Alexandre (2017). Direito Tributário Essencial – Eduardo Sabbag (2018). Cavalcante, Márcio André Lopes, Informativos esquematizados do Dizer o Direito. 1. Conceito 2. Natureza jurídica 2.1. Consequências da natureza de garantia fundamental e de limitação ao poder de tributar 3. Princípio da legalidade 3.1. Tipo de lei exigido para tratar de matéria tributária 3.2. Casos de não aplicação do princípio da legalidade 3.3. Exceções ao princípio da legalidade 3.4. Medidas provisórias em Direito Tributário 4. Princípio da anterioridade tributária: 4.1. Princípio da anterioridade anual 4.2. Princípio da anterioridade nonagesimal 4.3. Exceções ao princípio da anterioridade 4.4. Anterioridade e revogação de benefícios fiscais 4.5. Redução de desconto ou alteração no prazo legal para recolhimento do tributo 5. Princípio da irretroatividade 5.1. Exceções ao princípio da irretroatividade 6. Princípio da isonomia tributária 6.1. Irrelevância da capacidade civil para fins tributários (art. 126, I, do CTN) 6.2. Princípio do non olet (art. 118, I, do CTN) 6.3. O princípio da isonomia e a capacidade contributiva 7. Princípio do não confisco 7.1. Perspectivas dinâmica e estática da tributação do patrimônio 8. Princípio da uniformidade geográfica 8.1. Isonomia na tributação de renda 8.2. Vedação a concessão de isenções heterônomas 8.3. Zonas de incentivo fiscal 9. Princípio da não limitação ao tráfego de pessoas e bens 10. Princípio da não discriminação com base na procedência ou destino 11. Princípio da não cumulatividade RESUMO DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA UTILIZADAlimites das suas atribuições (art. 149 da Constituição).” ADI 2.006 MC, rel. min. Maurício Corrêa, j. 1º-7-1999, P, DJ de 24-9-1999. b) Sua regulamentação infraconstitucional, se necessária, exige lei complementar: nos termos do art. 146, II, da CF, “cabe à lei complementar: II – regular as limitações constitucionais ao poder de tributar”. Desse modo, tornando-se necessária a promulgação de lei com o objetivo de viabilizar a aplicação concreta de qualquer princípio tributário, tal lei deve ser de natureza complementar, vedada a edição de medida provisória para esse fim (art. 62, § 1º, III, da CF). c) Devem receber interpretação ampliativa: como toda norma consagradora de garantias fundamentais, os princípios devem ser interpretados ampliativamente. 3. Princípio da legalidade A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, II, estabeleceu que "ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei''. Como o tributo é uma prestação pecuniária compulsória, obrigando ao pagamento independentemente da vontade do sujeito passivo, o dispositivo constitucional transcrito bastaria para que a criação ou aumento de tributo estivesse sob os domínios do princípio da legalidade. Contudo, referindo-se especificamente à matéria tributária, o art. 150, I, da Magna Carta proíbe os entes federados de "exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça''. Além disso, recorde-se que o tributo, por definição legal (CTN, art. 3º), é prestação "instituída em lei''. Assim, analisando conjuntamente os preceitos contidas na Constituição Federal e no Código Tributário Nacional, verifica-se que o princípio da legalidade tributária tem o seguinte conteúdo: a INSTITUIÇÃO, MAJORAÇÃO, REDUÇÃO ou EXTINÇÃO DE TRIBUTO sempre DEPENDEM DE LEI. #DEOLHONAJURIS: Segundo orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, o art. 97 contempla um rol taxativo dos temas sob reserva de lei no Direito Tributário brasileiro (RE 172.394). #OLHAOGANCHO: A instituição dos emolumentos cartorários pelo tribunal de justiça afronta o princípio da reserva legal. Somente a lei pode criar, majorar ou reduzir os valores das taxas judiciárias. ADI 1.709, rel. min. Maurício Corrêa, j. 10-2-2000, P, DJ de 31-3-2000. Art. 150, CF: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; Art. 9.º, CTN: É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – instituir ou majorar tributos sem que a lei o estabeleça, ressalvado, quanto à majoração, o disposto nos artigos 21, 26 e 65; Art. 97, CTN: Somente a lei pode estabelecer: I – a instituição de tributos, ou a sua extinção; II – a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V – a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas. 3.1. Tipo de lei exigido para tratar de matéria tributária Em regra, a lei exigida pelo ordenamento jurídico brasileiro para instituir, majorar, reduzir ou extinguir tributo é a lei ordinária emanada da entidade federativa competente para a respectiva exação. Assim, por exemplo, sendo o Imposto Territorial Rural (ITR) um tributo federal, a lei utilizada para sua instituição deve ser uma lei ordinária federal. #OLHAOGANCHO: Importante destacar que SOMENTE QUATRO TRIBUTOS são instituídos por meio de LEI COMPLEMENTAR. Tais exceções à regra da lei ordinária justificam-se por uma simples “vontade política” do constituinte, que preferiu sujeitar a instituição de tais exações ao quórum mais rigoroso para aprovação de uma lei complementar (maioria absoluta) se comparado ao que se exige para se aprovar a lei ordinária (maioria simples). Os quatro únicos tributos submetidos à reserva de lei complementar quanto à sua instituição são: 1) EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS (art. 148); 2) IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS (art. 153, VII); 3) IMPOSTOS RESIDUAIS (art. 154, I); 4) NOVAS FONTES DE CUSTEIO DA SEGURIDADE (art. 195, § 4º). 3.2. Casos de não aplicação do princípio da legalidade a) Atualização monetária da base de cálculo: aqui não há majoração de tributo, apenas recomposição do valor histórico da moeda. #DEOLHONASÚMULA: Súmula 160, STJ: é defeso, ao município, atualizar o IPTU mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária. #DEOLHONAJURIS: Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita ao ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual superior aos índices de correção monetária legalmente previstos. RE 838.284, voto do rel. min. Dias Toffoli, j. 19-10- 2016, P, DJE de 22-9-2017, Tema 829. Art. 97- CTN - Somente a lei pode estabelecer: § 2º - Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo. b) Prazo de recolhimento de tributo: não é matéria reservada à lei. Esse prazo não precisa estar previsto em lei, mas se estiver, somente a lei poderá modificar o prazo (em razão da regra de simetria das formas). Art. 160 - Quando a legislação tributária não fixar o tempo do Pagamento, o vencimento do crédito ocorre 30 (trinta) dias depois da data em que se considera o sujeito passivo notificado do lançamento. #DEOLHONASÚMULA: Súmula Vinculante 50: norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade. c) Obrigações Acessórias: são deveres formais, instrumentais, que são impostos para atender ao interesse da fiscalização e/ou arrecadação de tributos. Art. 113 - A obrigação tributária é principal ou acessória. §2º - A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. 3.3. Exceções ao princípio da legalidade As exceções ao princípio da legalidade não se confundem com os casos de não aplicação do princípio. Em casos de não-aplicação, não teríamos nem a instituição nem aumento de tributo. Nas exceções, há relação com majoração ou instituição de tributos, que deveriam ser feitos via lei, mas a CF autoriza que sejam feitos via ato normativo infralegal. São exceções parciais ao princípio da legalidade, pois a CF, observados os limites e condições estabelecidos em lei, autoriza o Poder Executivo a alterar o aspecto quantitativo. a) A Constituição de 1988 prevê seis tributos cujas ALÍQUOTAS podem ser MODIFICADAS por meio de ATO DO PODER EXECUTIVO. Como nesses casos a alteração na matéria tributária não é promovida por lei, convencionou-se chamar esse conjunto de hipóteses de “exceções ao princípio da legalidade”. Os tributos que podem ter alíquotas alteradas por ato do Executivo são: I) IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO (II); II) IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO (IE); III) IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS (IOF); IV) IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI); V) ICMS/combustíveis; VI) CIDE/combustíveis. II IE IOF IPI Cide/Comb. ICMS/Comb. Alcance da alteração alteração alteração alteração redução e redução e alteração de alíquota de alíquota de alíquota de alíquota restabelecimento restabelecimento #ATENÇÃO: Em todos os casos a alteração por ato do Executivo diz respeito somente às alíquotas (art. 153, § 1º, da CF), nunca às bases de cálculo. Base de cálculo é tema que, como regra, somente pode ser disciplinado por meio de lei (art. 97, IV, do CTN). #ATENÇÃO2: A competência do Poder Executivo é para “alterar/modificar” as alíquotas, enão para instituir as alíquotas. A instituição de alíquotas é tema reservado exclusivamente ao legislador. A competência para “alterar/modificar” dada ao Poder Executivo pressupõe que as alíquotas já tenham sido instituídas em seus patamares mínimo e máximo pelo legislador. É isso que o art. 153, § 1º, da CF quer dizer ao prescrever que: “É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V”. #DEOLHONAJURIS: Respeita o princípio da legalidade a lei que disciplina os elementos essenciais determinantes para o reconhecimento da contribuição de interesse de categoria econômica como tal e deixa um espaço de complementação para o regulamento. A lei autorizadora, em todo caso, deve ser legitimamente justificada, e o diálogo com o regulamento deve-se dar em termos de subordinação, desenvolvimento e complementariedade. A Lei 11.000/2004, que autoriza os conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas a fixar as anuidades devidas por pessoas físicas ou jurídicas, não estabeleceu expectativas, criando uma situação de instabilidade institucional ao deixar ao puro arbítrio do administrador o estabelecimento do valor da exação – afinal, não há previsão legal de qualquer limite máximo para a fixação do valor da anuidade. O grau de indeterminação com que os dispositivos da Lei 11.000/2004 operaram provocou a degradação da reserva legal (art. 150, I, da CF/1988). Isso porque a remessa ao ato infralegal não pode resultar em desapoderamento do legislador para tratar de elementos tributários essenciais. Para o respeito do princípio da legalidade, seria essencial que a lei (em sentido estrito) prescrevesse o limite máximo do valor da exação, ou os critérios para encontrá-lo, o que não ocorreu. Não cabe aos conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas realizar atualização monetária em patamares superiores aos permitidos em lei, sob pena de ofensa ao art. 150, I, da CF/1988. É inconstitucional, por ofensa ao princípio da legalidade tributária, lei que delega aos conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas a competência de fixar ou majorar, sem parâmetro legal, o valor das contribuições de interesse das categorias profissionais e econômicas, usualmente cobradas sob o título de anuidades, vedada, ademais, a atualização desse valor pelos conselhos em percentual superior aos índices legalmente previstos. RE 704.292, rel. min. Dias Toffoli, j. 19-10-2016, P, DJE de 3-8-2017, Tema 540. #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O Decreto nº 8.426/2015, que restabeleceu as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre receitas financeiras, conforme limites previstos no art. 27, § 2º, da Lei nº 10.865/2004, não ofende o princípio da legalidade. STJ. 1ª Turma. REsp 1.586.950-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, julgado em 19/09/2017 (Info 613) b) ICMS Monofásico incidente sobre combustíveis: a EC 35/01 diz que a lei complementar irá prever determinados combustíveis sobre os quais incidirá um ICMS uma única vez, chamado pela doutrina de ICMS monofásico. A alíquota, nesse caso, será determinada por meio de deliberação dos Estados federados. Assim, os Estados se reúnem no âmbito do CONFAZ para deliberarem o valor da alíquota que será cobrada, para que assim exista uma única alíquota (essa regra visa, sobretudo, evitar a chamada “guerra fiscal” entre os Estados). c) Resolução do Senado Federal para fixar alíquota do ICMS nas operações interestaduais. Art. 155 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: § 2º - O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de exportação; EM SÍNTESE: Não Aplicação do Princípio da Legalidade (não instituem ou aumentam tributo) Exceções ao Princípio da Legalidade (instituem ou aumentam tributo) Atualização monetária da base de cálculo II, IE, IPI e IOF Prazo para recolhimento do tributo Reduzir ou Restabelecer as alíquotas do CIDE combustível Obrigações Acessórias ICMS monofásico incidente sobre combustíveis Resolução do Senado Federal para fixar alíquota do ICMS nas operações interestaduais 3.4. Medidas provisórias em Direito Tributário A utilização de medida provisória em matéria tributária já foi objeto de várias discussões em sede doutrinária. Alegavam alguns autores que o Direito Tributário e o Direito Penal eram ramos do Direito em que o princípio da legalidade se mostrava mais rígido, de forma que a instituição de tributos e a tipificação de crimes e contravenções só poderiam ser feitas por lei em sentido estrito. Contudo, o STF decidiu que, em se tratando de matéria tributária, o uso da medida provisória era plenamente possível, desde que observados os seus requisitos constitucionais (relevância e urgência). Com o advento da Emenda Constitucional 32/2001, a Constituição Federal passou a prever que, ressalvados o II, o IE, o IPI, o IOF e o imposto extraordinário de guerra, a medida provisória que implique majoração de impostos só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se for convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada (CF, art. 62, § 2º). Assim, estabelecidos os requisitos para o uso da medida provisória em matéria tributária, fica claro que a utilização é lícita. #ATENÇÃO: É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria reservada a lei complementar! 4. Princípio da anterioridade tributária: Também chamado de princípio da não surpresa ou da eficácia diferida, o princípio da anterioridade tributária estabelece um intervalo mínimo entre a PUBLICAÇÃO da lei que cria ou majora o tributo e a DATA DE SUA EFETIVA EXIGÊNCIA. Trata-se, em última análise, de um desdobramento do imperativo da segurança jurídica. É por essa razão que o art. 150, III, da Constituição Federal deixa claro que o intervalo da anterioridade só se aplica para criação e aumento do tributo, mas não quando o tributo é reduzido ou extinto . Leis que REDUZEM ou EXTINGUEM tributos, embora muito raras no Brasil, TÊM APLICAÇÃO IMEDIATA, não se sujeitando a qualquer intervalo de anterioridade na medida em que são mais benéficas ao contribuinte, inexistindo lógica na invocação de uma garantia (regra da anterioridade) contra o interesse de seu titular (contribuinte). O conteúdo do princípio da anterioridade é composto por duas partes: a) anterioridade anual: adia a cobrança para o exercício seguinte (art. 150, III, b, da CF); b) anterioridade nonagesimal: estabelece um intervalo de mínimo 90 dias entre a publicação da lei e a exigência do tributo (art. 150, III, c, da CF). #SELIGA: Não confunda o princípio da anterioridade com o antigo princípio da anualidade tributária! Previsto na Constituição de 1946 e na Carta de 1967, o princípio da anualidade exigia que a cobrança do tributo em um ano deveria estar autorizada na legislação orçamentária do ano anterior. A anualidade era uma garantia adicional assegurada ao contribuinte, mas não foi mantida no Texto Constitucional de 1988. Assim, atualmente o contribuinte brasileiro tem direito à observância da anterioridade, mas não à anualidade tributária. Assim, a regra geral para a maioria dos tributos passou a ser o funcionamento combinado das duas anterioridades, anual e nonagesimal, aplicando-se a REGRA DA ANTERIORIDADE MAIS BENÉFICA PARA O CONTRIBUINTE. #CASCADEBANANA: A CF afirma que a anterioridade se posiciona entre “publicação” da lei e a “cobrança” do tributo. Ao contrário do que muitos pensam, a anterioridadenão impede que a lei tributária entre em vigor na data de sua publicação. “Entrar em vigor na data de sua publicação” é o fenômeno da vigência, o que não significa necessariamente que o tributo seja efetivamente cobrado com base na lei nova. Inexiste qualquer relação entre anterioridade e vigência. Assim, mesmo que a lei, instituindo ou majorando tributo, seja publicada e entre em vigor na mesma data, não haverá afronta ao princípio da anterioridade, desde que qualquer exigência somente seja realizada no exercício seguinte (anterioridade anual), observado o intervalo mínimo de noventa dias (anterioridade nonagesimal). Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III – cobrar tributos: b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b. 4.1. Princípio da anterioridade anual O Princípio da Anterioridade Anual determina que os entes tributantes (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) não podem cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que tenha sido publicada a lei que majora ou institui o tributo. A expressão “exercício financeiro” deve ser assimilada como ano fiscal, que, no Brasil, coincidentemente, representa o ano civil (período entre 1º de janeiro e 31 de dezembro). Em outras palavras, o legislador constituinte sinaliza a possibilidade de se criar ou aumentar o tributo a qualquer tempo, todavia impõe que a eficácia da lei criadora ou majoradora fique suspensa até o início do ano posterior, quando deverá incidir. Exemplos: a) Tributo criado ou majorado em março de 2002: incidência em 1º de janeiro de 2003; b) Tributo criado ou majorado em novembro de 2003: incidência em 1º de janeiro de 2004. 4.2. Princípio da anterioridade nonagesimal A terminologia “anterioridade nonagesimal”, “anterioridade mitigada”, “anterioridade reduzida” ou “noventena” corresponde ao preceito específico que empurra a cobrança para noventa dias após a data da publicação da lei que houver criado ou majorado o tributo. 4.3. Exceções ao princípio da anterioridade A Emenda 42/2003 alterou a redação do § 1º do art. 150 da Constituição Federal definindo um conjunto de três grupos de exceções ao princípio da anterioridade: a) Tributos de cobrança imediata (podem ser cobrados no dia seguinte): nesse primeiro grupo estão os tributos que não se sujeitam nem à anterioridade anual, nem à nonagesimal. São eles: I – Alteração nas alíquotas do Imposto de Importação, Imposto de Exportação, Imposto sobre Operações Financeiras; II – Criação e majoração do Imposto Extraordinário de Guerra e do Empréstimo Compulsório nos casos de calamidade pública ou guerra externa; b) Tributos que respeitam apenas a anterioridade nonagesimal (podem ser cobrados no mesmo exercício): são os tributos que, embora submetidos à anterioridade nonagesimal, não cumprem a anual, razão pela qual podem ser exigidos noventa dias após a PUBLICAÇÃO do ato normativo que os houver instituído ou majorado, ainda que a cobrança ocorra no mesmo ano. São eles: instituição ou majoração do Imposto sobre Produtos Industrializados, Contribuições Sociais (art. 195 da CF) Cide/Combustíveis e ICMS/Combustíveis (art. 155, § 4º, IV, c, e § 5º da CF); c) Tributos que respeitam apenas a anterioridade anual (não se sujeitam ao intervalo mínimo de 90 dias): são os tributos que se submetem somente à anterioridade anual, mas não à nonagesimal. Tais tributos podem ser cobrados sempre em 1º de janeiro do ano seguinte ao da PUBLICAÇÃO do ato normativo que os tiver instituído ao majorado, independentemente do intervalo mínimo de noventa dias. São eles: I – Imposto de Renda; II – As alterações na base de cálculo do IPTU (mudança na planta genérica de valores que implique aumento real no imposto) e na base de cálculo do IPVA (modificação na tabela oficial de valores de veículos resultando em majoração efetiva no valor do carro). De modo geral, são exceções à anterioridade: *#OUSESABER: A anterioridade tributária é uma regra ou um princípio? Não obstante seja comumente utilizada a expressão “princípio” para se referir à anterioridade tributária, parcela da doutrina indaga acerca da sua real natureza, considerando que não seria propriamente um princípio, mas sim uma regra. De acordo com tradicional lição doutrinária, as normas jurídicas podem ser subdivididas em duas espécies: regras e princípios. As primeiras seriam normas que se aplicam na base do “tudo ou nada”, contendo determinações, sendo sempre satisfeitas ou não satisfeitas. Os últimos, por sua vez, seriam normas passíveis de satisfação em variados graus. A anterioridade tributária (presente no art. 150, III, “b” e “c”, da CF) é norma que protege o contribuinte contra a imediata aplicação de normas que AUMENTEM a carga tributária (criação ou majoração de tributo), ADIANDO A EFICÁCIA da lei majoradora ou instituidora de tributo. Pois bem, segundo parte da doutrina, o princípio da anterioridade seria um exemplo de princípio tributário que, em verdade, teria natureza de REGRA, tendo em vista NÃO ser passível de ponderação, sendo APLICÁVEL OU NÃO a determinado caso concreto. Em sentido oposto, a isonomia tributária, por exemplo, consistiria verdadeiramente em um princípio, na medida em que permitiria a realização de um juízo de ponderação em sua aplicação. Art. 150. (...) § 1º. A vedação do inciso III, “b”, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; (...) 4.4. Anterioridade e revogação de benefícios fiscais Como visto, o princípio da anterioridade protege o contribuinte contra os efeitos imediatos de agravamento (majoração) da carga tributária a que está sujeito. Assim, quando determinado contribuinte é beneficiado por isenção legalmente concedida, há uma diminuição da carga tributária a que está sujeito, não havendo que se falar em qualquer prazo para que o benefício possa gerar efeitos concretos. Por outro lado, no caso de revogação de uma isenção concedida, a situação é oposta, pois, indiscutivelmente, a mudança legislativa tem como consequência um acréscimo no sacrifício financeiro realizado pelo contribuinte. #JURISPRUDÊNCIA #POLÊMICO: A revogação de benefício fiscal deverá obedecer ao princípio da anterioridade tributária? • SIM. O ato normativo que revoga um benefício fiscal anteriormente concedido configura aumento indireto do tributo e, portanto, está sujeito ao princípio da anterioridade tributária. A jurisprudência do STF concebe que não apenas a majoração direta de tributos atrai a eficácia da anterioridade nonagesimal, mas também a majoração indireta decorrente de revogação de benefícios fiscais. Assim, a alteração em programa fiscal, quando acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal. É a posição que prevalece. STF. 1ª Turma. RE 1053254 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 26/10/2018. STF. 1ª Turma. RE 983821 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 03/04/2018. STF. 2ª Turma. RE 1091378 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 31/08/2018. • NÃO. Existe um julgado da 2ª Turma do STF no qual se afirmou que a revisão ou revogação de benefício fiscal, por se tratar de questão vinculada à política econômica, pode ser revista pelo Estado a qualquer momento, e não está adstrita à observância das regras de anterioridade tributária. É, atualmente, posição minoritária. STF. 2ª Turma. RE 617389 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 08/05/2012. Obs: a redução ou a extinção de desconto para pagamento de tributo sob determinadas condições previstas em lei, como o pagamento antecipado em parcela única,não pode ser equiparada à majoração do tributo (STF. Plenário. ADI 4016 MC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/08/2008). #ATENÇÃO #ENTENDIMENTOMAISRECENTE: *(Atualizado em 07.07.2020): Aplica-se o princípio da anterioridade tributária, geral e nonagesimal, nas hipóteses de redução ou de supressão de benefícios ou de incentivos fiscais, haja vista que tais situações configuram majoração indireta de tributos (STF. Plenário. RE 564225 AgR-EDv-AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2019). Reintegra é um programa econômico instituído pelo governo federal com o objetivo de incentivar as exportações. A redução ou supressão das vantagens decorrentes do REINTEGRA precisam respeitar o princípio da anterioridade? SIM. A redução ou supressão de benefícios ou incentivos fiscais decorrentes do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para Empresas Exportadoras (REINTEGRA) se sujeita à incidência dos princípios da anterioridade tributária geral e da anterioridade nonagesimal, previstos no art. 150, III, “b” e “c”, da Constituição Federal. A alteração no programa fiscal REINTEGRA, por acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve respeitar o princípio da anterioridade. STF. 1ª Turma. RE 1253706 AgR/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/5/2020 (Info 978). STF. 2ª Turma. RE 1091378 AgR, Rel. Edson Fachin, julgado em 31/08/2018. 4.5. Redução de desconto ou alteração no prazo legal para recolhimento do tributo A anterioridade aplica-se especificamente sobre a norma que cria ou majora tributo. Contudo, havendo redução de desconto no pagamento ou alteração no prazo legal para recolhimento do tributo, não incide o princípio da anterioridade. Nesses casos, inexiste criação ou majoração do tributo, por isso a lei produz efeito imediatamente, sem qualquer intervalo mínimo. #CEREJADOBOLO #AQUIÉCICLOS: Aluno Ciclos, procure memorizar as seguintes informações: I) Tributos exigidos imediatamente, caso aumentados ou instituídos, ou seja, exceções concomitantes às anterioridades anual e nonagesimal: II, IE, IOF, IEG e Empréstimo Compulsório (Calamidade Pública ou Guerra); II) Tributos exigidos 90 dias após o aumento, ou seja, exceções à anterioridade anual, porém “regras” à anterioridade nonagesimal: IPI, CIDE-Combustível e ICMS-Combustível; III) Tributos exigidos a partir de 1º de janeiro do exercício financeiro seguinte, independentemente da data do aumento ou da instituição, ou seja, exceções à anterioridade nonagesimal, porém “regras” à anterioridade anual: IR e alterações na base de cálculo do IPVA e IPTU; IV) Tributos que são exceções concomitantes aos princípios da legalidade, da anterioridade anual e da anterioridade nonagesimal: II, IE e IOF; V) A contribuição para a seguridade social (PIS, COFINS etc.) poderá ser cobrada 90 dias após a publicação da lei que a instituiu ou modificou. 5. Princípio da irretroatividade O princípio da irretroatividade é um desdobramento da garantia da segurança jurídica e veda aos entes tributantes cobrar tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da VIGÊNCIA da lei que os houver instituído ou aumentado. Desse modo, a lei publicada hoje vale para o presente (fatos pendentes) e o futuro (fatos futuros), mas não atinge os fatos geradores já ocorridos. O marco temporal significativo é a entrada em vigor da lei que majora ou cria um tributo. A nova lei não pode alcançar fatos ocorridos no passado, antes da sua entrada em vigor. Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; Art. 150, CF. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III – cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado - irretroatividade; b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Vide Emenda Constitucional nº 3, de 1993) – anterioridade anual c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b – anterioridade nonagesimal Art. 105, CTN. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos do artigo 116. 5.1. Exceções ao princípio da irretroatividade a) Lei interpretativa: lei interpretativa (art. 106, I, do CTN), em qualquer caso, que é aquela que se limita a explicar o entendimento conferido à outra norma jurídica. É conhecida por interpretação autêntica, legal ou legislativa. Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I – em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; b) Lei mais benéfica (art. 106, II, do CTN), no âmbito do direito tributário penal, desde que o ato não esteja definitivamente julgado, ou seja, já decidido na órbita administrativa e/ou judicial, conforme a orientação do STJ (REsp 189.094/SP-1999 e REsp 187.051/SP-1998). #SELIGA: A lei deve tratar de infração tributária, multa, penalidade ou temas afins, excluída a retroatividade se a lei versar sobre pagamento do tributo. Ex: a) lei que deixa de definir certa conduta como infracional (abolição de infração); b) lei que reduz multa tributária; c) lei que comina penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo de sua prática. Assim, lei que reduz ou extingue tributo NÃO retroage na medida em que trata do tributo em si, e não de multas, penalidades ou infrações. Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: II – tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. #OBS: Fatos geradores pendentes: são aqueles cujo início já ocorreu, mas ainda não foram consumados em sua totalidade à data da entrada em vigor da nova lei. Quanto aos fatos pendentes, existe dúvida sobre a retroatividade da lei, formando-se os seguintes entendimentos: - 1ª corrente: fato gerador pendente seria igual ao fato gerador futuro. Ex.: negócio jurídico sujeito à condição suspensiva. Assim, o fato gerador pendente só vai se concretizar quando algo acontecer no futuro, não havendo problema em se aplicar a nova lei tributária. - 2ª corrente: há problemas quando temos o fato gerador complexivo, representando os tributos para os quais se deve considerar um certo período de tempo. Fato gerador complexivo ou periódico Leva em consideração uma série de acontecimentos em dado espaço de tempo. Ex.: CSLL e IRPF. Ao contrário da circulação da mercadoria ou transferência de bem imóvel, não é possível apurar com exatidão, auferir se há lucro ou não em determinado período de tempo. É necessário fazer um recorte no tempo e espaço para realizar um cálculo. Fato gerador instantâneo É possível verificar no tempo e no espaço o momento da ocorrência do fato gerador. Incide sobre compras e vendas, doações, etc. Fato gerador continuado Como a propriedade não é uma ocorrência, mas um status, não há um momento crucial para sua identificação, tal como ocorre nos fatos instantâneos. É algo que se protrai no tempo. *#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF Não há pagamentode juros, pela SELIC, quando se verifica que a soma dos recolhimentos por estimativa realizados ao longo do ano é maior do que o valor devido Não viola a isonomia a ausência de previsão do pagamento de juros, pela taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC), quando se verifica que a soma dos recolhimentos por estimativa realizados ao longo do ano é maior do que o valor devido, com base em efetiva apuração anual do lucro real, pois não existe mora da Fazenda Nacional. STF. 1ª Turma. RE 479956/SC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 22/10/2019 (Info 957). (*Atualizado em 11.03.2023) #DEOLHONAJURIS 1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo. RE 955.227/BA, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento finalizado em 8.2.2023. RE 949.297/CE, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento finalizado em 8.2.2023. (Temas 885 e 881 - Repercussão Geral). (Info 1082 - STF) 6. Princípio da isonomia tributária O princípio da isonomia tributária, constante do inciso II do art. 150 da CF, veda o tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação de equivalência. Tal princípio possui duas acepções: a) Igualdade na lei: é um dever que se volta ao legislador na medida em que exige um tratamento paritário conferido pela legislação aos contribuintes. b) Igualdade perante a lei: constitui imperativo destinado a quem exerce as atividades de fiscalização e arrecadação de tributos, isto é, aplica-se ao Fisco, que não pode desigualar, no exercício de suas atribuições, contribuintes que se encontrem em situação equivalente. #SELIGA: É lícito afirmar que, havendo desigualdade relevante, a Constituição não apenas permite a diferenciação como também a exige. Isso porque o que a Constituição veda é a discriminação injustificada! #DEOLHONAJURIS: A respeito da aplicação do princípio da igualdade, o STF decidiu pela inconstitucionalidade de lei do Estado do Amapá que concedia isenção do IPVA os proprietários de veículos destinados ao transporte escolar, mas restringia o benefício apenas aos condutores cujos carros estivessem devidamente regularizados junto à cooperativa de transportes escolares do Município de Macapá, limitação esta considerada atentatória à isonomia (ADIMC 1.655). Em outra oportunidade o STF também considerou inconstitucional a proibição, imposta pelo Ministério da Fazenda, de importação de automóveis usados, medida contrária à isonomia porque a restrição não se estendia à importação de carros novos (RE 203.954). #AJUDAMARCINHO #OLHAOGANCHO #SIMPLESNACIONAL É constitucional a lei que veda o Simples Nacional para empresas em débito com a Fazenda Pública O Simples Nacional é um regime unificado de arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos aplicável às microempresas e empresas de pequeno porte. O art. 17, V, da LC 123/2006 afirma que a microempresa ou empresa de pequeno porte que possua débito com o INSS, ou com a Fazenda Pública (cuja exigibilidade não esteja suspensa), não poderá recolher os tributos na forma do Simples. O Plenário do STF decidiu que essa vedação é CONSTITUCIONAL. O que é o Simples Nacional? O Simples Nacional é um regime unificado de arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos aplicável às microempresas e empresas de pequeno porte, estando previsto na Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006. A empresa que aderir ao Simples desfruta da vantagem de recolher quase todos os tributos mediante um único pagamento, calculado sobre um percentual de sua receita bruta. O objetivo do Simples é fazer com que as microempresas e empresas de pequeno porte tenham um regime jurídico simplificado e favorecido, com menos burocracia e menor carga tributária. Todas as microempresas e empresas de pequeno porte poderão recolher seus tributos na forma do Simples? NÃO. O art. 17 da LC 123/2006 traz uma lista de situações nas quais a microempresa ou a empresa de pequeno porte não poderá recolher os impostos e contribuições na forma do Simples Nacional. O Plenário do STF decidiu que é CONSTITUCIONAL a exigência contida no art. 17, V, da LC 123/2006. O STF afirmou que é possível que sejam estabelecidas exclusões do regime simplificado com base em critérios subjetivos. Dessa forma, não há óbice para que o legislador crie restrições de ordem subjetiva para a adesão ao Simples. Afirmou-se que não seria razoável favorecer aqueles em débito com o Fisco, que participariam do mercado com vantagem competitiva em relação aos adimplentes. Ponderou-se que admitir o ingresso no programa daquele que não possui regularidade fiscal, e que sequer pretende parcelar o débito ou suspender seu pagamento, significaria comunicar ao adimplente que o dever de pagar seus tributos seria inconveniente, pois receberia o mesmo tratamento dado ao inadimplente. Assim, o art. 17, V, não viola o princípio da isonomia, mas ao contrário, confirma-o, pois o adimplente e o inadimplente não estão na mesma situação jurídica. (Processo STF. Plenário. RE 627543/RS, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/10/2013). #DEOLHONAJURIS: Concessão de isenção à operação de aquisição de automóveis por oficiais de justiça estaduais. (...) A isonomia tributária (CF, art. 150, II) torna inválidas as distinções entre contribuintes ‘em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida’, máxime nas hipóteses nas quais, sem qualquer base axiológica no postulado da razoabilidade, engendra-se tratamento discriminatório em benefício da categoria dos oficiais de justiça estaduais. (ADI 4.276, rel. min. Luiz Fux, julgamento em 20-8-2014, Plenário, DJE de 18-9-2014.) A lei complementar estadual que isenta os membros do Ministério Público do pagamento de custas judiciais, notariais, cartorárias e quaisquer taxas ou emolumentos fere o disposto no art. 150, II, da Constituição do Brasil. O texto constitucional consagra o princípio da igualdade de tratamento aos contribuintes. Precedentes. Ação direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 271 da Lei Orgânica e Estatuto do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte – LC 141/1996. ( ADI 3.260, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 29-3-2007, Plenário, DJ de 29-6-2007.) No mesmo sentido: ADI 3.334, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 17-3-2011, Plenário, DJE de 5-4-2011. Lei que restringe os contribuintes da Cosip aos consumidores de energia elétrica do município não ofende o princípio da isonomia, ante a impossibilidade de se identificar e tributar todos os beneficiários do serviço de iluminação pública. A progressividade da alíquota, que resulta do rateio do custo da iluminação pública entre os consumidores de energia elétrica, não afronta o princípio da capacidade contributiva. Tributo de caráter sui generis, que não se confunde com um imposto, porque sua receita se destina a finalidade específica, nem com uma taxa, por não exigir a contraprestação individualizada de um serviço ao contribuinte. Exação que, ademais, se amolda aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade." (RE 573.675, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 25-3-2009, Plenário, DJE de 22-5- 2009, com repercussão geral.) No mesmo sentido: RE 642.938-AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 29-5-2012, Primeira Turma, DJE de 21-6-2012;AC 3.087-MC-QO, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 27-3-2012, Segunda Turma, DJE de 21-6-2012; RE 635.001, Rel. Min. Joaquim Barbosa, decisão monocrática, julgamento em 23-3-2012, DJE de 3-4-2012. Não ofende o art. 173, § 1º, II da Constituição Federal a escolha legislativa de reputar não equivalente a situação das empresas privadas com relação às sociedades de economia mista às empresas públicas e suas respectivas subsidiárias exploradoras de atividade econômica para fins de submissão ao regime tributário das contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) à luz dos princípios da igualdade tributária e da seletividade no financiamento da Seguridade Social. STF. Plenário. RE 577494/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/12/2018 (repercussão geral) (Info 927). Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; 6.1. Irrelevância da capacidade civil para fins tributários (art. 126, I, do CTN) O primeiro desdobramento do princípio da isonomia tributária é a regra segundo a qual a incapacidade civil é irrelevante para o Direito Tributário. Ex: criança de 1 ano que receber de herança um imóvel urbano é contribuinte do IPTU. Nesse sentido dispõe o art. 126, I, CTN: Art. 126. A capacidade tributária passiva independe: I – da capacidade civil das pessoas naturais; II – de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios; III – de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional. 6.2. Princípio do non olet (art. 118, I, do CTN) A expressão latina non olet, que em português pode ser traduzida como “sem cheiro”, deriva do provérbio pecunia non olet (“o dinheiro não tem cheiro”). Assim, o tributo deve incidir sobre as atividades lícitas e, de igual modo, sobre o resultado aquelas consideradas ilícitas ou imorais. Por exemplo, traficantes, “bicheiros” ou mafiosos também devem Imposto de Renda. A venda de madeira de corte proibido e a comercialização de animais silvestres sujeitam-se à incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se: I – da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos; II – dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos. #DEOLHONAJURIS: Sonegação fiscal de lucro advindo de atividade criminosa: non olet. Drogas: tráfico de drogas, envolvendo sociedades comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à contabilização regular das empresas e subtraídos à declaração de rendimentos: caracterização, em tese, de crime de sonegação fiscal, a acarretar a competência da Justiça Federal e atrair, pela conexão, o tráfico de entorpecentes: irrelevância da origem ilícita, mesmo quando criminal, da renda subtraída à tributação. A exoneração tributária dos resultados econômicos de fato criminoso – antes de ser corolário do princípio da moralidade – constitui violação do princípio de isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética . HC 77.530, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 25-8-1998, 1ª T, DJ de 18-9-1998. 6.3. O princípio da isonomia e a capacidade contributiva O princípio da capacidade contributiva é um comando dirigido ao legislador obrigando que todos os tributos sejam graduados conforme a capacidade econômica do contribuinte. Embora do dispositivo faça referência somente a impostos, no julgamento do RE 406.955/2010 o STF firmou o entendimento no sentido de que a capacidade contributiva é aplicável a todos os tributos. Trata-se de um desdobramento do princípio da isonomia na medida em que o ideal almejado pela capacidade contributiva é tributar os contribuintes na proporção de suas riquezas, observando a fórmula clássica de tratar “igualmente os iguais e desigualmente os desiguais” em matéria de tributação. Art. 145. (...) § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. #DEOLHONAJURIS: Não ofende o art. 173, § 1º, II, da Constituição Federal a escolha legislativa de reputar não equivalente a situação das empresas privadas com relação às sociedades de economia mista, às empresas públicas e suas respectivas subsidiárias exploradoras de atividade econômica, para fins de submissão ao regime tributário das contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP), à luz dos princípios da igualdade tributária e da seletividade no financiamento da Seguridade Social. STF. Plenário. RE 577494/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/12/2018 (repercussão geral) (Info 927). Nesse cenário, há a necessidade de visualizarmos os meios de exteriorização ou possibilidades de concretização da capacidade contributiva: a) Progressividade: técnica de incidência de alíquotas variadas, cujo aumento se dá na medida em que se majora a base de cálculo do gravame. O critério refere-se ao aspecto quantitativo, do qual decorre a progressividade fiscal e a extrafiscal. A primeira refere-se à situação em que “quanto mais se ganha, mais se paga”, de finalidade meramente arrecadatória, que admite onerar mais gravosamente a riqueza tributável maior. Já a segunda atua na determinação de parâmetros de condutas, no interesse regulatório. Conforme previsão explícita na CF, exsurgem 3 (três) impostos progressivos: I – Imposto de Renda (art. 153, § 2.º, I, da CF); II – IPTU (art. 156, § 1.º, I e II, da CF c/c art. 182, § 4.º, II, da CF); III – ITR (art. 153, § 4.º, I, da CF – EC n.º 42/2003). #IMPORTANTE: É constitucional a progressividade das alíquotas do ITR previstas na Lei nº 9.393/96 e que leva em consideração, de maneira conjugada, o grau de utilização (GU) e a área do imóvel. Essa progressividade é compatível com o art. 153, § 4º, I, da CF/88, seja na sua redação atual, seja na redação originária, ou seja, antes da EC 42/2003. Mesmo no período anterior à EC 42/2003, era possível a instituição da progressividade em relação às alíquotas do ITR. STF. 1ª Turma. RE 1038357 AgR/ SP, Rel. Min Dias Tóffoli, julgado em 6/2/2018 (Info 890). #APROFUNDAMENTO #EVOLUÇÃOJURISPRUDENCIAL O STF, durante muito tempo, adotou uma tese segundo a qual os impostos pessoais poderiam ser progressivos, mas os impostos reais não, ficando entendido que a progressividade deveria estar presente na CRFB e que os impostos reais (IPTU e ITBI) não estariam sujeitos à progressividade. De acordo com o entendimento antigo do STF: 1. (i) A progressividade tem que estar autorizada pela Constituição (exemplo: IR) 2. (ii) Os impostos reais não comportariam progressividade (IPTU e ITBI). A regra é que impostos reais não seriam progressivos, salvo se autorizados pela CRFB. Com base nesse raciocínio, seria vedado também no caso do ITCMD. Contudo, no caso do ITCMD, O STF mudou o entendimento e passou a aceitar que a progressividadepudesse existir na capacidade contributiva. De acordo com o entendimento atual do STF: (i) todos os impostos estariam sujeitos ao princípio da capacidade contributiva; (ii) Não haveria necessidade de emenda constitucional para que o ITCMD fosse progressivo.3 Súmula 656, STF – É inconstitucional a lei que estabelece alíquotas progressivas para o imposto de transmissão inter vivos de bens imóveis - ITBI com base no valor venal do imóvel. b) Proporcionalidade: mostra-se pela técnica de incidência de alíquotas fixas, em razão de bases de cálculo variáveis. Dessa forma, qualquer que seja a base de cálculo, a alíquota sobre ela terá o mesmo percentual. Frise-se que a proporcionalidade se dá nos impostos chamados “reais”, cujos fatos geradores acontecem sobre elementos econômicos do bem, como propriedade de bem, circulação de bem etc., desprezando-se qualquer consideração relativa à situação pessoal do contribuinte. A proporcionalidade atinge, da mesma maneira, os impostos chamados indiretos, conceituados constitucionalmente como aqueles gravames que admitem a transferência do ônus tributário, e terminam por tributar o consumidor final do produto, no contexto da regressividade. c) Seletividade: técnica de incidência de alíquotas que variam na razão inversa da essencialidade do bem. Vale dizer, a técnica permite gravar-se com uma maior alíquota o bem mais não essencial, ou seja, na razão direta da superfluidade do bem. Os impostos que detêm seletividade são o ICMS (art. 155, § 2º, III, CF) e o IPI (art. 153, § 3º, I, CF). É de natureza facultativa a seletividade para o ICMS, portanto “pode” ser ele seletivo; a seletividade para o IPI é de natureza obrigatória, portanto “deve” ser ele seletivo. 7. Princípio do não confisco O princípio da vedação ao efeito confiscatório também poderia ser chamado de princípio da razoabilidade ou proporcionalidade da carga tributária. A ideia é que o legislador, ao se utilizar do poder de tributar que a Constituição lhe confere, deve fazê-lo de forma razoável e moderada, sem que a tributação tenha por efeito impedir o exercício de atividades 3 Na primeira fase da PGE AMAZONAS, organizada pelo CESPE, considerou-se incorreta a seguinte assertiva: “É inconstitucional a fixação de alíquota progressiva para o ITCMD”. lícitas pelo contribuinte, dificultar o suprimento de suas necessidades vitais básicas ou comprometer seu direito a uma existência digna. #DEOLHONAJURIS: O Poder Público, especialmente em sede de tributação, não pode agir imoderadamente, pois a atividade estatal acha-se essencialmente condicionada pelo princípio da razoabilidade, que traduz limitação material à ação normativa do Poder Legislativo. O Estado não pode legislar abusivamente. A atividade legislativa está necessariamente sujeita à rígida observância de diretriz fundamental, que, encontrando suporte teórico no princípio da proporcionalidade, veda os excessos normativos e as prescrições irrazoáveis do Poder Público. O princípio da proporcionalidade, nesse contexto, acha-se vocacionado a inibir e a neutralizar os abusos do Poder Público no exercício de suas funções, qualificando-se como parâmetro de aferição da própria constitucionalidade material dos atos estatais. A prerrogativa institucional de tributar, que o ordenamento positivo reconhece ao Estado, não lhe outorga o poder de suprimir (ou de inviabilizar) direitos de caráter fundamental constitucionalmente assegurados ao contribuinte. É que este dispõe, nos termos da própria Carta Política, de um sistema de proteção destinado a ampará-lo contra eventuais excessos cometidos pelo poder tributante ou, ainda, contra exigências irrazoáveis veiculadas em diplomas normativos editados pelo Estado. STF. ADIn 2.551-MC-QO, rel. Min. Celso de Mello, j. 2-4-2003, Plenário, DJ 20-4-2006. É cabível, em sede de controle normativo abstrato, a possibilidade de o STF examinar se determinado tributo ofende, ou não, o princípio constitucional da não confiscatoriedade consagrado no art. 150, IV, da CF. Hipótese que versa o exame de diploma legislativo (Lei 8.846/1994, art. 3º e seu parágrafo único) que instituiu multa fiscal de 300%. A proibição constitucional do confisco em matéria tributária – ainda que se trate de multa fiscal resultante do inadimplemento, pelo contribuinte, de suas obrigações tributárias – nada mais representa senão a interdição, pela Carta Política, de qualquer pretensão governamental que possa conduzir, no campo da fiscalidade, à injusta apropriação estatal, no todo ou em parte, do patrimônio ou dos rendimentos dos contribuintes, comprometendo-lhes, pela insuportabilidade da carga tributária, o exercício do direito a uma existência digna, ou a prática de atividade profissional lícita ou, ainda, a regular satisfação de suas necessidades vitais básicas. O poder público, especialmente em sede de tributação (mesmo tratando-se da definição do quantum pertinente ao valor das multas fiscais), não pode agir imoderadamente, pois a atividade governamental acha-se essencialmente condicionada pelo princípio da razoabilidade que se qualifica como verdadeiro parâmetro de aferição da constitucionalidade material dos atos estatais. ADI 1.075 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 17-6-1998, P, DJ de 24-11-2006. #DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO: O Estado não pode adotar sanções políticas para constranger o contribuinte ao pagamento de tributos em atraso. STJ. 1ª Turma. RMS 53.989-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 17/04/2018 (Info 626). #SELIGANASÚMULA: Súmula 69 STF: A Constituição Estadual não pode estabelecer limite para o aumento de tributos municipais. #APROFUNDAMENTO - Vedação ao confisco e caráter dinâmico ou estático dos tributos (@CURSOCEI): A perspectiva estática de tributação do patrimônio implica uma análise da tributação levando em conta o bem em si mesmo, sem considerar as eventuais valorizações ou mesmo os frutos renováveis que esse bem pode gerar (os aluguéis de um imóvel, por exemplo). Por outro lado, a análise da tributação sob uma perspectiva dinâmica leva em conta as potenciais riquezas que o bem tributado pode gerar. Assim, analisando o IPTU sob a perspectiva estática, conclui-se que como o seu fato gerador “é único e a riqueza tributada não é renovável, a repetição ano a ano da cobrança resultaria em confisco, pois, a cada incidência, parcela da riqueza do contribuinte estaria sendo entregue ao Estado, num lento (às vezes nem tanto) processo confiscatório” (ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado, Editora Método, 8ª Ed., 2014, p. 127). No entanto, ao analisar a incidência do mesmo imposto sob uma perspectiva dinâmica, verifica-se não haver, em regra, efeito confiscatório, uma vez que o valor da exação cobrado anualmente costuma ser inferior aos acréscimos patrimoniais que o bem tributado pode gerar, como os decorrentes de valorização imobiliária ou aluguéis, por exemplo. Assim, não há diminuição gradativa da riqueza em decorrência da cobrança do imposto. Nessa linha, tendo em vista que a Constituição vedou a instituição de tributos com efeito de confisco, mas autorizou a tributação do patrimônio, conclui-se que pode ser considerada a perspectiva dinâmica para a análise da eventual violação ao princípio do não confisco. #OUSESABER: Emenda Constitucional pode alterar a norma magna que prevê tributação com efeito de confisco? O STF já reconheceu expressamente o caráter de garantia individual a diversas limitações constitucionais ao poder de tributar, a exemplo do Princípio da Anterioridade Tributária, previsto no artigo 150, III, “b”, CF/88 (STF, Tribunal Pleno, ADI 939-2/DF, Rel. Min. Sidney Sanches, j. 15.12.1993, DJ 18.03.1994, p. 5.165). Sobre referido princípio, aponta EduardoSabbag: “(...) o princípio da anterioridade da lei tributária representa um dos direitos fundamentais mais relevantes outorgados ao universo dos contribuintes pelo texto constitucional, além de traduzir, na concreção de seu alcance, uma expressiva limitação ao poder impositivo do Estado.” Vale ressaltar que o comando constitucional que enuncia as cláusulas pétreas (Art. 60, § 4º, CF) não veda de modo absoluto a edição de emendas sobre tais matérias, proibindo apenas as modificações tendentes a abolir (restringir, limitar) o que ali está disposto. Importante mencionar que o princípio da vedação ao confisco não se aplica, em tese, aos tributos extrafiscais. A jurisprudência admite alíquotas confiscatórias nesses tipos de impostos. Ademais, a mesma lógica tem sido aplicada aos casos de progressividade extrafiscal, aceitando-se a exacerbação na cobrança de IPTU e de ITR, quando ligados ao cumprimento da função social da propriedade. Frise-se, ainda, que o referido princípio não é aplicável aos impostos seletivos (IPI e ICMS), uma vez que a seletividade é técnica de incidência de alíquotas cuja variação será em função da essencialidade do bem. Dessa maneira, é incabível verberar o confisco na tributação de cigarros ou bebidas, posto que o excesso se mostra justificável. #SELIGA: Segundo entendimento pacificado na jurisprudência, a vedação do confisco também se aplica a multas tributárias proibindo penalidades pecuniárias com alíquotas exageradas em relação ao valor do tributo devido. #DEOLHONAJURIS: O entendimento desta Corte é no sentido de que a abusividade da multa punitiva apenas se revela naquelas arbitradas acima do montante de 100% do valor do tributo. AI 851.038 AgR, rel. min. Roberto Barroso, j. 10-2-2015, 1ª T, DJE de 12-3-2015. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: IV – utilizar tributo com efeito de confisco. 7.1. Perspectivas dinâmica e estática da tributação do patrimônio a) Perspectiva estática: o patrimônio é analisado de forma imobilizada, sendo confiscatória a tributação que o suprimisse integralmente. b) Perspectiva dinâmica: haveria efeito confiscatório sob a perspectiva dinâmica se um imposto incidisse sobre grandeza superior aos acréscimos patrimoniais agregados e/ou produzidos pelo bem em determinado período. Assim, por exemplo, se o total de benefícios patrimoniais produzidos pelo imóvel durante o ano foi de 4% de seu valor venal, qualquer imposto sobre ele incidente cuja alíquota superasse tal patamar seria confiscatório. 8. Princípio da uniformidade geográfica O princípio da uniformidade geográfica obriga a União a aplicar a mesma alíquota para os seus tributos em todo o território nacional, sem qualquer distinção entre Estados, Regiões ou Municípios. Trata-se de um desdobramento do princípio da isonomia na relação entre a União e as demais entidades federativas, proibindo favoritismos ou discriminações negativas no modo como os tributos federais são cobrados nos outros entes políticos. #SELIGA: Embora o art. 151, I, da Constituição Federal faça referência somente aos tributos da União, deve- se concluir que, por simetria, a mesma vedação é extensiva a Estados, Distrito Federal e Municípios, que não poderão instituir tributo diferenciado nos seus respectivos territórios, desigualando as alíquotas de acordo com a região, cidade, bairro ou localidade onde ocorrer o fato gerador, sob pena de frontal violação ao princípio da uniformidade geográfica. #DEOLHONAJURIS: A Constituição, na parte final do art. 151, I, admite a “concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do país”. A concessão de isenção é ato discricionário, por meio do qual o Poder Executivo, fundado em juízo de conveniência e oportunidade, implementa suas políticas fiscais e econômicas e, portanto, a análise de seu mérito escapa ao controle do Poder Judiciário. Precedentes: RE 149.659 e AI 138.344 AgR. Não é possível ao Poder Judiciário estender isenção a contribuintes não contemplados pela lei, a título de isonomia (RE 159.026). Art. 151. É vedado à União: I – instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País 8.1. Isonomia na tributação de renda Ex: União não poderia estabelecer uma alíquota de IR de 10% para o servidor público federal e de 25% para o servidor público estadual. Art. 151. É vedado à União: II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes; 8.2. Vedação a concessão de isenções heterônomas Refere-se à situação em que um ente federativo concede isenção de tributo da competência de outro ente. Desta forma, se a competência para instituir o tributo pertence ao Estado-membro, não pode a União conceder qualquer isenção relativa a ele. A competência tributária conferida a cada ente engloba a possibilidade de instituir e cobrar tributo, bem como a prerrogativa de não instituí-lo e de conceder isenções. #PERGUNTADEPROVA: Tratados e Convenções Internacionais. A União pode conceder isenção de tributo estadual/municipal através de um tratado internacional? No direito internacional, apenas a República Federativa do Brasil tem a competência para firmar tratados, dela não dispondo a União, os Estados-membros e os municípios. *O Presidente da República não subscreve tratados como Chefe de Governo, mas como Chefe de Estado, o que descaracteriza a existência de uma isenção heterônoma, vedada pelo art. 151, III da Constituição. #DEOLHONAJURIS: A cláusula de vedação inscrita no art. 151, III, da Constituição – que proíbe a concessão de isenções tributárias heterônomas – é inoponível ao Estado Federal brasileiro vale dizer, à República Federativa do Brasil), incidindo, unicamente, no plano das relações institucionais domésticas que se estabelecem entre as pessoas políticas de direito público interno (...). Nada impede, portanto, que o Estado Federal brasileiro celebre tratados internacionais que veiculem cláusulas de exoneração tributária em matéria de tributos locais (como o ISS, p. ex.), pois a República Federativa do Brasil, ao exercer o seu treaty-making power, estará praticando ato legítimo que se inclui na esfera de suas prerrogativas como pessoa jurídica de direito internacional público, que detém – em face das unidades meramente federadas – o monopólio da soberania e da personalidade internacional. RE 543.943 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 30-11-2010, 2ª T, DJE de 15-2- 2011. Art. 151. É vedado à União: III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. 8.3. Zonas de incentivo fiscal O art. 151, I, da Constituição Federal prevê importante exceção ao princípio da uniformidade geográfica na medida em que autoriza a concessão de incentivos fiscais destinados a “promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País”. As denominadas “zonas de incentivo fiscal” são áreas legalmente definidas dentro das quais fica constitucionalmente autorizada a outorga de vantagens tributárias e não tributárias visando fomentar o desenvolvimento regional. Ex: Zona Franca de Manaus, prevista nos arts. 40 e 92 do Ato das