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QUÍMICA MEDICINAL: INTRODUÇÃO, PRINCÍPIOS E ASPECTOS GERAIS DA AÇÃO DOS FÁRMACOS Dr. Wagner André Vieira da Silva 2023 • Ilíada (Homero), escrito entre 750 a.C. e 725 a.C. Ciência médica com caráter puramente evocativo do espírito • Homero, o Príncipe de Tesália “ A saúde do ser humano pode ser restaurada através da medicina horacular”. Sangue, muco (fleuma), bile amarela e a negra = balanceadores da saúde de uma pessoa Observação individualizada da pessoa Galeno (131 a 200 d.c) Seções púplicas de dissecação de animais 15 séculos de equívocos Museum Gustavianum Uppsala- Suécia Paracelsus (1493 – 1541) • Cada doença tem sua própria etiologia • Uso de substâncias químicas com finalidade terapêutica. • Fundador da Química medicinal (iatroquímica) • Nomeava as doenças de acordo com o remédio que usava. • Pai da farmacologia 1498 = publicado em florença o “Reciptario” = primeira farmacopéia Quimioterapia uso de agentes químicos para combater um organismo invasor sem prejudicar o hospedeiro”. Pioneiros de correlação entre estrutura e atividade farmacológica Química Medicinal Missão: o planejamento, descoberta, invenção, identificação e preparação de compostos biologicamente ativos; o estudo do metabolismo, interpretação do mecanismo de ação a nível molecular; a construção das relações entre estrutura química e a atividade farmacológica. IUPAC : http://www.chem.qmul.ac.uk/iupac/medchem/ É uma disciplina baseada na Química, envolvendo aspectos das ciências biológica, médica e farmacêutica (IUPAC). Segundo a IUPAC: As fases do desenvolvimento de fármacos são: •Descoberta – estabelecimento do protótipo Molécula alvo •Otimização •Desenvolvimento Fármaco remédio IUPAC : http://www.chem.qmul.ac.uk/iupac/medchem/ InterdisciplinaridadeDesenvolvimento Inovação Trabalho em Equipe QUÍMICA MEDICINAL MODERNA: DESAFIOS E CONTRIBUIÇÃO BRASILEIRA Lídia M. Lima Quim. Nova, Vol. 30, No. 6, 1456-1468, 2007 ~90 artigos 1960-2007 (Local onde o fármaco deve chegar) 20 AFINIDADE, EFICÁCIA E POTÊNCIA Afinidade: medida da força de ligação de uma droga com o seu receptor; Eficácia: medida do efeito biológico máximo que uma droga pode produzir como resultado da ligação ao receptor; Potência: quantidade requerida para que uma droga alcance um determinado efeito biológico. 27 Antiviral Saquinavir interagindo com aminoácidos do sítio ativo da protease do HIV-1 Ligação de Hidrogênio 36 37 Ligação Covalente Ação = bloqueio da biossintese de prostaglandinas inflamatogênicas e pró analgésicas devido a inibição da enzima Prostaglandina Endoperóxido Sintetase (PGHS). 44 Fatores estereoquímicos e conformacionais envolvidos no reconhecimento molecular: Ligante/sítio receptor Apesar do modelo chave-fechadura ser útil na compreensão dos eventos envolvidos no reconhecimento molecular ligante-receptor, caracteriza-se como uma representação parcial da realidade, uma vez que as interações entre a biomacromolécula (receptor) e a micromolécula (fármaco) apresentam características tridimensionais dinâmicas. Dessa forma, o volume molecular do ligante, as distâncias interatômicas e o arranjo espacial entre os grupamentos farmacofóricos compõem aspectos fundamentais na compreensão das diferenças na interação fármaco-receptor. *Redução do colesterol 59 Flexibilidade conformacional de proteínas e ligantes: Teoria de encaixe induzido Propõe que o acomodamento conformacional recíproco no sítio de interação constitui aspecto fundamental na compreensão de diferenças na interação fármaco-receptor (aspectos dinâmicos governam o reconhecimento molecular). * 1° fármaco aprovado contra o Mal de Alzheimer *Inibidores da acetilcolinesterase 61 Configuração absoluta e atividade biológica Configuração absoluta e atividade biológica 62 Eutômero Distômero Anomalias de formação causadas pelo enantiômero (S)-Talidomida. Daniel R. F. Ferreira, nascido em 04/04/1990 Obra: O velho Xico “Pintores com as bocas e os pés” www.apbp.com.br 64 Exemplos de fármacos comercializados opticamente puros. Fármaco Nome na farmácia Classe terapêutica Vendas mundiais (milhões, US$) Amoxicilina Amoxil®, Novocilin® antibiótico 2000 Ampicilina Binotal® antibiótico 1800 Captopril Capoten® controle de pressão 1520 Enalapril Renitec® controle de pressão 1500 Ibuprofeno Motrin® antiinflamatório 1400 Naproxen Naprosyn® antiinflamatório 950 Cefalexina Keflex® antibiótico 900 65 Importância da configuração relativa – isômeros 67 Importância da configuração relativa – isômeros Importância da configuração relativa – isômeros cis/trans 68 Importância da configuração relativa – isômeros cis/trans Conformação e atividade biológica Conformação e atividade biológica *(1980) Último recurso terapêutico para tratamento de infecções por bactérias resistentes a penicilina. *Utilizadas no tratamento de úlceras Propriedades Físico-Químicas 76 77 79 Lipofilicidade ou coeficiente de partição 80 *Utilizado no tratamento de insuficiência cardíaca congestiva *Cálculo teórico x experimental: Uso da equação de Hansch 83 Constante de ionização PKa 84 86 *Indicado para o tratamento de hipertensão arterial Metabolismo de Fármacos 91 Metabolismo de Fármacos O metabolismo dos fármacos compreende os processos enzimaticamente catalisados capazes de produzir modificações estruturais no fármaco. Williams (1959), denominou biotransformação a 1º fase do metabolismo de um fármaco na biofase e a fase 2 do metabolismo compreende a etapa de conjugação. Mais recentemente, foi incluída nessa classificação o metabolismo de fase 3, representado por proteínas transportadoras de efluxo 2 (p. ex., glicoproteína-P; proteínas associadas à resistência a multifármacos e polipeptídeo transportador de ânions orgânicos), que auxiliam no processo de detoxificação, exportando ou transferindo para circulação sistêmica fármacos e seus metabólitos para posterior eliminação renal ou biliar (Figura 2.2). Metabolismo de Fármacos Um fármaco tem sua utilidade terapêutica medida em função da ação benéfica que exerce sobre um dado sistema biológico. Esta, por sua vez, depende da quantidade do fármaco administrado capaz de atingir, na concentração necessária, o sítio de ação desejado. Portanto, o estudo do metabolismo dos fármacos se torna essencial para o completo conhecimento de fatores farmacocinéticos relevantes ao seu uso adequado e seguro. Metabolismo de Fármacos Metabolismo dos fármacos/destino de um fármaco Fármaco inativo (pró-fármaco) Metabólito ativo (bioativação) Fármaco ativo Metabólito ativo (estrutura similar, mesma atividade ou não) (toxicidade) Fármaco ativo Metabólito inativo (bioinativação) Metabolismo de Fármacos Metabolismo dos xenobióticos (fármacos) 96 97 Biotransformação Conjugação 100 Citoplasma Citocromo P450 101 O principal sistema enzimático envolvido no metabolismo de fármacos é o sistema das enzimas microssomais hepáticas que compreende o citocromo P450 e uma flavoproteína NADPH- citocromo-C redutase, que associada a lipídeos, formam o sistema de oxidades de função mista MFO. 102 A primeira etapa do metabolismo de medicamentos – fase 1 – caracteriza-se por envolver reações redox ou hidrolíticas, responsáveis pela conversão do fármaco lipofílico em um primeiro metabólito mais polar. Na maioria das vezes essa etapa envolve o CYP450 hepático e compreende, basicamente, a inserção de um átomo de oxigênio, originário de uma molécula de O2 em sua estrutura. Exemplos de Fármacos metabolizados pelo conjunto de enzimas do CYP450 Exemplos de Fármacos metabolizados pelo conjunto de enzimas do CYP450 105 106 *Enzimas não microssomais (álcool desidrogenase, monoaminoxidase- MAO, aldeído desidrogenase). 107 A biotransformação oxidativa da cafeína é mediada por diferentes isoformas de CYP450 (CYP 1A2 e 3A). A isoforma 1A2 é responsável pela formação da paraxantina (2), enquanto a isoforma 3A está envolvida com a oxidação da posição 8, levando a formação do ácido 1,3,7-trimetil-telúrico (3). 108 Prostaglandinas: São produzidas por quase todas as células, geralmente em locais de dano tecidual ou infecção, pois estão envolvidos em lidar com lesões e doenças. Elas controlam os processos, tais como a inflamação, o fluxo de sangue, a formação de coágulos de sangue e a indução do trabalho de parto. 109 FASE 2 - Conjugação De maneira geral, os metabólitos da fase 1 apresentam um coeficiente de partição (P) inferior ao do fármaco original, dependendo do nível de variação estrutural do fármaco, inclusive quanto ao peso molecular. Entretanto, a maior polaridade desses metabólitos da fase 1 não é suficiente para assegurar sua eliminação pela via principal de excreção dos fármacos, a renal. Portanto, esses metabólitos sofrem reações enzimáticas subsequentes, chamadas de conjugação, formando conjugados mais hidrossolúveis, que são excretados na urina, preferencialmente, ou na bile. FASE 2 - Conjugação 111 A figura 14 ilustra as principais reações de conjugação envolvidas no metabolismo dos fármacos FASE 2 - Conjugação O estudo do metabolismo das acetanilidas analgésicas e antipiréticas, tais como o paracetamol, ilustra a importância do conhecimento das etapas de biotransformação que um fármaco sofre na biofase, em relação aos efeitos adversos que pode causar. O paracetamol causa agudas e graves necroses ao tecido hepático, detectadas desde 1966, e integra a fórmula de cerca de 11 formulações farmacêuticas no Brasil. A principal razão da toxicidade hepática do paracetamol reside no estresse causado em relação aos hepatócitos, conduzindo a um significativo aumento das reações de peroxidação lipídica e alteração da homeostase de ions Ca++ . Foi observado ainda, que algumas enzimas envolvidas na regulação da concentração de Ca++ intracelular pode reagir com a iminoquinona (30), formando adutos irreversíveis que agravam a toxicidade deste fármaco. 113 A importância terapêutica do estudo do metabolismo dos fármacos O estudo do metabolismo dos fármacos evidenciou que podem ocorrer certos desvios metabólitos devido às variações diversas da função dentre os indivíduos, dependendo do estado de saúde de cada paciente. Dessa forma, em determinadas infecções ou infestações que causam comprometimento da função hepática, o uso de quimioterápicos com baixo índice terapêutico deve ser feito criteriosamente, de forma a prevenir o agravamento do comprometimento da função hepática do paciente. A importância terapêutica do estudo do metabolismo dos fármacos Por outro lado, o emprego continuado de medicamentos, estratégia terapêutica comum no controle de diversos quadros patológicos crônicos, pode induzir alterações da função hepática de determinado paciente, resultando em respostas de indução enzimática, em que a atividade metabólica torna-se exacerbada, ou, contrariamente, de inibição da função enzimática hepática. Ambas as possibilidades resultam em efeitos indesejáveis, visto que alterarem a fisiologia hepática, podendo modificar a capacidade de produção de hormônios estereoidais. A importância terapêutica do estudo do metabolismo dos fármacos O estudo do metabolismo dos fármacos é parte essencial à completa compreensão das razões moleculares de suas ações. Segundo a concepção mais atual da Química Medicinal, a chave para o sucesso no desenvolvimento de um novo fármaco consiste em minimizar os fatores imprevisíveis desta molécula, tentando predizer seu comportamento ao longo da biofase, incluindo interações com outros xenobióticos que eventualmente possam coexistir durante o emprego terapêutico. A importância terapêutica do estudo do metabolismo dos fármacos Nesse âmbito, cresce a necessidade de se investigar as propriedades ADMET nas etapas mais iniciais do processo de descoberta e caracterização do perfil farmacológico de um novo protótipo candidato a fármaco, de modo a antecipar eventuais limitações de cunho farmacocinético e de toxicidade e aumentar a previsibilidade de seu futuro emprego terapêutico. 119 Fenilbutirolactona, responsável pela intoxicação de pacientes pelo uso continuado do fenobarbital. Fármaco anticonvulsivo (epilepsia) O ópio é obtido a partir da planta Papaver somniferum, sendo composto por mais de 20 alcalóides. Os principais alcalóides são a morfina, codeína, papaverina e a tebaína. A heroína é sintetizada a partir da morfina. ÓPIO Planta em uso há mais de 6.000 anos. Algumas drogas Drogas opiácias Apresentam efeito sobre o SNC. • Analgesia (dor associada ao cancer, cólicas renais,...) • Sedação (pré-medicamento antes de anestésicos e cirugias) • Depressão respiratória (edema pulmonar agudo) • Supressão da tosse MORFINA A base moderna da farmacologia foi estabelecida por Sertümer, que isolou em 1803 a morfina da papoula. Morfina: homenagem a Morfeu, o deus dos sonhos na mitologia grega. Analgésico, hipnótico e antitussígeno. http://www.geocities.com/eilatan9uk/morphine.pdb http://www.geocities.com/eilatan9uk/morphine.pdb CODEÍNA Antitussígeno (xaropes). CH3 http://www.geocities.com/eilatan9uk/morphine.pdb http://www.geocities.com/eilatan9uk/morphine.pdb HEROÍNA Sintetizada a partir da morfina (1989). (3,6 diacetil morfina) Atravessa a barreira hematoencefálica muito mais rapidamente que a morfina. LIPOFILICIDADE ÁCIDO ACETIL SALICÍLICO • A maior parte dos fármacos são ácidos ou bases fracas. Felix Hoffmann - 1897 "Uma mistura preparada com 50 partes de ácido salicílico e 75 partes de anidrido acético é aquecida por cerca de 2 horas a cerca de 500 oC num balão de refluxo. Um líquido claro é obtido do qual, quando resfriado, é extraído uma massa cristalina, que é o ácido acetilsalicílico. O excesso deanidrido acético é extraído por pressão e o ác. acetilsalicílico é recristalizado em clorofórmio seco." Estima-se que já tenha sido consumido 1 x 1012 tabletes de aspirina. Antiinflamatório, analgésico, antipirético AAS ÁCIDO ACETIL SALICÍLICO Ácido orgânico fraco, pKa 3,5 Rapidamente absorvido no estômago. Eliminado na forma de saliciliato. Alcalinização da urina aumenta a eliminação de salicilato. HASac + H2O = ASac- + H3O + Inibe a biossíntese das prostaglandinas Fármacos básicos Anestésicos locais pKa em torno de 8 a 9 Bloqueiam de modo reversível a condução de impulsos ao longo dos axônios dos nervos e outras membranas excitáveis que utilizam canais de sódio com principal meio de geração de potenciais de ação. Xilocaína http://www.m-ww.de/krankheiten/zahnerkrankungen/index.html?gfx=0 http://www.m-ww.de/krankheiten/zahnerkrankungen/index.html?gfx=0 Anestésicos locais São bases fracas e são apresentados geralmente na forma de sais, por razões de estabilidade e solubilidade. Apresentam pKa em torno de 8 a 9. No pH fisiológico há uma fração maior da forma catiônica presente nos líquidos corporais. A forma catiônica é que tem atividade no local receptor, embora a forma não ionizada é muito importante para a penetração rápida de membranas biológicas. Os receptores situam-se no lado interno da membrana. Tecidos infectados baixo pH extracelular pouco efeito. Cocaína Foi isolada por Nieman em 1860 e introduzida no uso clínico em 1884 por Koller. 1905 - procaína cocaína H2N - (CH2)2 – N – (C2H5)2 Stevia - Natural 6º Exemplo Referências Livro: Química Medicinal – As bases moleculares da ação dos fármacos, Eliezer J. Barreiro; Carlos Alberto Manssour Fraga, 2° edição, Porto Alegre, 2008. Artigo: QUÍMICA MEDICINAL MODERNA: DESAFIOS E CONTRIBUIÇÃO BRASILEIRA, Lídia M. Lima, UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, Quim. Nova, Vol. 30, No. 6, 1456-1468, 2007. Artigo: A evolução da química medicinal no brasil: avanços nos 40 anos da sociedade brasileira de química, Antonia Tavares do Amaral et al, Quim. Nova, Vol. 40, No. 6, 694-700, 2017. Aula em ppt: Ação de compostos químicos no organismo, Profa. Susane Rath, UNICAMP. Aula em ppt: Química Inorgânica Medicinal, UFPR. Aula em pdf: Aspectos Químicos da Interação Fármaco-Receptor, Laís Flávia. Fim!