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A1 HISTÓRIA, ARTE E CULTURA Primeiramente, leia atentamente os dois parágrafos iniciais da Introdução do clássico livro A História da Arte, de E. H. Gombrich: “Nada existe realmente a que se possa dar o nome Arte. Existem somente artistas. Outrora, eram homens que apanhavam um punhado de terra colorida e com ela modelavam toscamente as formas de um bisão na parede de uma caverna; hoje, alguns compram suas tintas e desenham cartazes para tapumes; eles faziam e fazem muitas outras coisas. Não prejudica ninguém dar o nome de arte a todas essas atividades, desde que se conserve em mente que tal palavra pode significar coisas muito diversas, em tempos e lugares diferentes, e que Arte com A maiúsculo não existe. Na verdade, Arte com A maiúsculo passou a ser algo como um bicho-papão, como um fetiche. Podemos esmagar um artista dizendo-lhe que o que ele acaba de fazer pode ser excelente a seu modo, só que não é “Arte”. E podemos desconcertar qualquer pessoa que esteja contemplando com deleite uma tela, declarando que aquilo que ela tanto aprecia não é Arte, mas uma coisa muito diferente. Na realidade, não penso que existam quaisquer razões erradas para se gostar de uma estátua ou de uma tela. Alguém pode gostar de certa paisagem porque esta lhe recorda a terra natal ou de um retrato porque lhe lembra um amigo. Nada há de errado nisso. Todos nós, quando vemos um quadro, somos fatalmente levados a recordar mil e uma coisas que influenciam o nosso agrado ou desagrado. Na medida em que essas lembranças nos ajudam a fruir do que vemos, não temos por que nos preocupar. Só quando alguma recordação irrelevante nos torna preconceituosos, quando instintivamente voltamos as costas a um quadro magnífico de uma cena alpina porque não gostamos de praticar o alpinismo, é que devemos sondar o nosso íntimo para desvendar as razões para a aversão que estragam um prazer que, de outro modo, poderíamos ter tido. Existem razões erradas para não se gostar de uma obra de arte.” Gombrich, em seu texto introdutório à história da arte, traz o problema do valor e do sentido da arte, segundo diferentes perspectivas que podem estar relacionadas ao contexto coletivo, sociocultural da época em que cada obra foi realizada, seja qual for o tipo de expressão artística, mas também à perspectiva de cada indivíduo, com base no seu repertório próprio, nas suas referências, na sua acuidade perceptiva. Apresentamos, a seguir, duas obras que o próprio Gombrich utiliza em sua introdução, de autores bem diferentes, de épocas bem diferentes, ambas representações de animais. A partir desse texto, destas duas imagens e das considerações aqui acrescidas, propomos que você reflita sobre a relação entre o mundo físico visível e palpável – o mundo das coisas de verdade – as diferentes formas da sua representação – incluindo a literatura, o cinema, o teatro, a dança, o design, a arquitetura, a música – e os limites disciplinares de cada uma dessas áreas de conhecimento e atividade, incluindo seus códigos, seus materiais de representação, seus canais de comunicação. Elabore a sua compreensão desses fenômenos, articulando os conceitos aqui apresentados sobre a natureza do fato artístico, o seu valor e a sua multidisciplinaridade. RESPOSTA: Para Gombrich, nada existe realmente a que se possa chamar de arte, ela pode ser muitas coisas, tempos e lugares diferentes. Logo, a arte busca representar, interpretar ou até transcender a realidade sensível, transformando o que é físico e tangível em uma experiência simbólica, subjetiva e, muitas vezes, profunda. Ainda, segundo o autor, quando nos deparamos com alguma obra de arte do qual rejeitamos, há motivos inadequados para não a apreciar, e, nestes casos é fundamental explorar nosso interior para descobrir os motivos que transformam um prazer em repulsa. Sobre o mundo das coisas de verdade, ele é o universo físico, algo que podemos ver e tocar, e estabelecemos uma conexão direta e prática, onde são percebidos através dos sentidos e, moldado pela interação com os elementos. Todavia, a percepção desse universo sofre influência de nossa consciência, cultura, emoções e, linguagem. Esse mundo vai além do que é visível, do subjetivo, simbólico e conceitual, ele ultrapassa a materialidade, compreendem ideias, sentimentos, significados, simbologias e verdades filosóficas ou espirituais que nos guiam e nos definem. Portanto, a arte pode ser entendida como um vínculo que une a experiência sensorial e os significados. As diferentes formas de representação, apesar de cada área possuir sua própria forma de simular a realidade e, de utilizar diferentes materiais e canais de comunicação, manifestando pensamentos, ideias, conflitos e emoções humanas, existem algumas fronteiras que são desafiadoras para a comunicação destas formas, e elas que podem estar relacionados com questões linguísticas, culturais, acessíveis, tendências e outros. - A literatura, faz uso das palavras para construir mundos e realidades paralelas, através de narrativas e o emprego de metáforas e simbologias. - O cinema combina elementos visuais, sonoros e narrativos para criar uma experiência sensorial mais direta e envolvente. - O Teatro busca representar a realidade, mas com elementos únicos e envolve a representação da vida no palco. - A dança utiliza o corpo em movimento como linguagem e explora a expressão humana através do ritmo, da forma e da energia, proporcionando assim uma representação mais profundo do mundo. - O design opera nos itens do dia a dia e produtos para expressar ideias e resolver problemas, a área dedicada à funcionalidade, interagindo com o usuário, transmitindo valores culturais, sociais e estéticos. - A arquitetura possui uma conexão singular com a realidade material, pois ela não é só uma representação, é a moldagem do espaço que ocupamos, envolvendo escolhas respeitando os indivíduos e ambiente. - A música atua no comando de sons e ritmos, refletindo o mundo e trazendo emoção, algumas vezes de forma direta sem a necessidade de palavras ou imagens, utilizando se de melodia e harmonia para comunicar. Cada uma dessas áreas de expressão artística possui seus próprios símbolos e materiais de representação que possibilitam muitas expressões criativas, embora existam algumas limitações, mas que oportunizam inovar. Assim, podemos citar a literatura, tem palavras, mas suas representações podem ir além do verbal, gráfico ou multifacetado. O cinema combina imagem e som, mas pode usar a linguagem de outras mídias para explorar temas e ideias, como texto, fotografia ou artes visuais. O teatro e a dança se baseiem na performance física e ao vivo, não estão isentos à influência de outras artes e incluem elementos visuais, musicais e até literários. Portanto, podemos dizer que o valor da arte está na capacidade de ver o mundo de outro ângulo, sob outra natureza, possibilitando mudar nossa perspectiva sobre as coisas, a vida e o mundo, que está relacionada ao contexto coletivo e sociocultural, sob a perspectiva de cada individuo. A arte é a forma de explorar emoções, pensamentos e os limites da experiência humana, é o ato de se comunicar, transmitir algo, onde o real e o imaginário se funde. E, num cenário artístico enriquecido pela multidisciplinaridade das diversas formas de comunicação e linguagem, que se completam e transcendem, aberto a interpretações, reflexões e expansão, que a arte não deve ser vista como um reflexo de algo ou do mundo, ela é muito além, é a amplificação, o engrandecimento de experiências e sua compreensão. É neste ambiente entre as diversas formas de arte e seus limitantes, que a arte tem o seu poder, pois ela consegue unir e ampliar os conhecimentos e emoções. Por fim, ao falar em multidisciplinariedade, é pensar em inter-relações, em reunir diversas formas de arte, é não haver fronteiras, ou seja, um campo de enigmas. E, cada meio de expressão oferece uma forma única de comunicação com o mundo das coisas de verdade. .