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Colocação Pronominal GR0121 - (Enem) A colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se referem. São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos. Esses pronomes podem assumir três posições na oração em relação ao verbo. Próclise, quando o pronome é colocado antes do verbo, devido a par�culas atra�vas, como o pronome rela�vo. Ênclise, quando o pronome é colocado depois do verbo, o que acontece quando este es�ver no impera�vo afirma�vo ou no infini�vo impessoal regido da preposição “a” ou quando o verbo es�ver no gerúndio. Mesóclise, usada quando o verbo es�ver flexionado no futuro do presente ou no futuro do pretérito. A mesóclise é um �po de colocação pronominal raro no uso coloquial da língua portuguesa. No entanto, ainda é encontrada em contextos mais formais, como se observa em: a) Não lhe negou que era um improviso. b) Faz muito tempo que lhe falei essas coisas. c) Nunca um homem se achou em mais apertado lance. d) Referia-se à D. Evarista ou tê-la-ia encontrado em algum outro autor? e) Acabou de chegar dizendo-lhe que precisava retornar ao serviço imediatamente. GR0269 - (Unesp) Cons�tuem exemplos de linguagem formal e de linguagem coloquial, respec�vamente, as seguintes falas: a) “Ah, estou morrendo de pena...” e “Ainda vou trabalhar a noite inteira no Iraque, meu rapaz.” b) “Me adianta essa, vai...” e “É cedo para mim.” c) “O importante é trabalhar com o que a gente gosta.” e “Posso lhe dar um emprego bem melhor...” d) “É cedo para mim.” e “Posso lhe dar um emprego bem melhor...” e) “Posso lhe dar um emprego bem melhor...” e “Me adianta essa, vai...” GR0542 - (Esc. Naval) Laivos de memória “... e quando �verem chegado, vitoriosamente, ao fim dessa primeira etapa, mais ainda se convencerão de que 1@professorferretto @prof_ferretto abraçaram uma carreira di�cil, árdua, cheia de sacri�cios, mas ú�l, nobre e, sobretudo bela.” (NOSSA VOGA, Escola Naval, Ilha de Villegagnon, 1964) Há quase 50 anos, experimentei um misto de angús�a, tristeza e ansiedade que meu jovem coração de adolescente soube suportar com bravura. Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de infância e da família e deixava para trás bucólica cidadezinha da região serrana fluminense. A mo�vação que me levava a abandonar gentes e coisas tão caras era, naquele momento, suficientemente forte para respaldar a decisão tomada de dar novos rumos à minha vida. Meu mundo de então se tornara pequeno demais para as minhas aspirações. Meus desejos e sonhos projetavam horizontes que iam muito além das montanhas que circundam minha terra natal. Como resis�r à sedução e ao fascínio que a vida no mar desperta nos corações dos jovens? Havia, portanto, uma convicção: aquelas despedidas, ainda que dolorosas – e despedidas são sempre dolorosas – não seriam certamente em vão. Não �nha dúvidas de que os sonhos que acalentavam meu coração pouco a pouco iriam se converter em realidade. (...) Inúmeros foram também os portos e cidades visitadas, não só no Brasil como no exterior, o que sempre nos proporciona ines�máveis e valiosos conhecimentos, principalmente graças ao contato com povos diferentes e até mesmo de culturas exó�cas e hábitos às vezes totalmente diversos dos nossos, como os ribeirinhos amazonenses ou os criadores de serpentes da an�ga Taprobana, ex-Ceilão e hoje Sri Lanka. Como foi fascinante e delicioso navegar por todos esses cantos. Cada novo mar percorrido, cada nova enseada, estreito ou porto visitado �nha sempre um gosto especial de descoberta... Sim, pois, como dizia Câmara Cascudo, “o mar não guarda os ves�gios das quilhas que o atravessam. Cada marinheiro tem a ilusão cordial do descobrimento”. (CÉSAR, CMG (RM1) William Carmo. Laivos de memória. In: Revista de Villegagnon, Ano IV, nº 4, 2009. p. 42-50. Texto adaptado) Assinale a opção em que o uso da ênclise se dá pelo mesmo mo�vo observado em: “Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de infância e da família (...)” (2º parágrafo) a) Os Aspirantes sen�am-se orgulhosos de suas conquistas acadêmicas. b) Aqui, instalaram-se comodamente os atletas brasileiros, durante os Jogos Olímpicos. c) A mãe da jovem Aspirante �nha-lhe observado a importância da escolha profissional. d) Relatou-nos, com detalhes, as aventuras e desventuras de sua úl�ma viagem de barco. e) Os alunos não estavam gostando do livro, mas con�nuavam a lê-lo. GR0386 - (Enem) Papos – Me disseram... – Disseram-me. – Hein? – O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”. – Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”? – O quê? – Digo-te que você... – O “te” e o “você” não combinam. – Lhe digo? – Também não. O que você ia me dizer? – Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. [...] – Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu... – O quê? – O mato. – Que mato? – Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem? Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é eli�smo! – Se você prefere falar errado... – Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me? VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Obje�va, 2001 (adaptado). Nesse texto, o uso da norma-padrão defendido por um dos personagens torna-se inadequado em razão do(a) a) falta de compreensão causada pelo choque entre gerações. b) contexto de comunicação em que a conversa se dá. c) grau de polidez dis�nto entre os interlocutores. d) diferença de escolaridade entre os falantes. e) nível social dos par�cipantes da situação. GR0402 - (Unesp) Leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980). 2@professorferretto @prof_ferretto Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernáculo1 e aplicador de su�lezas grama�cais, seu Afredo estava sozinho. Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguís�ca perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2 quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular: – Onde vais assim tão elegante? Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedan�smos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fa�gante ramerrão4 do trabalho domés�co. Seu Afredo virou-se para ela e disse: – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão. De outra feita, minha �a Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca �nha visto minha �a mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe: – Cantas? Minha �a, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo: – É, canto às vezes, de brincadeira... Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador: – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramá�ca. Conta ela que seu Afredo, mal viu minha �a sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou: – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro! E, a seguir, ponderou: – Agora, piano é diferente. Pianista ela é! E acrescentou: – Eximinista pianista! (Para uma menina com uma flor, 2009.) 1 vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.2 ressabiado: desconfiado. 3 lide: trabalho penoso, labuta. 4 ramerrão: ro�na. Observa-se no texto um desvio quanto às normas grama�cais referentes à colocação pronominal em: a) “Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro.” (1º parágrafo) b) “Seu Afredo [...] tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador.” (1º parágrafo) c) “Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguís�ca perturbava às vezes a colocação pronominal.” (2º parágrafo) d) “[...] seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular [...].” (2º parágrafo) e) “Seu Afredo virou-se para ela e disse: [...].” (4º parágrafo) GR0125 - (Eear) Em qual alterna�va o pronome oblíquo átono está corretamente colocado? a) Me indicaram ao cargo, mas não sou o melhor candidato. b) Nós havíamos indicado-lhe vários candidatos merecedores do cargo. c) Não lhe dariam o cargo se não fosse competente para exercer tal função. d) Em tratando-se de eficiência, ele deu provas suficientes para merecer o cargo. GR0122 - (Fgvsp) O sertanejo, assoberbado de reveses, dobra-se, afinal. Passa, certo dia, à sua porta, a primeira turma de “re�rantes”. Vê-a, assombrado, atravessar o terreiro, miseranda, desaparecendo adiante numa nuvem de poeira, na curva do caminho... No outro dia, outra. E outras. É o sertão que se esvazia. Não resiste mais. Amatula-se num daqueles bandos, que lá se vão caminho em fora, debruando de ossadas as veredas, e lá se vai ele no êxodo penosíssimo para a costa, para as serras distantes, para quaisquer lugares onde o não mate o elemento primordial da vida. A�nge-os. Salva-se. Passam-se meses. Acaba-se o flagelo. Ei-lo de volta. Vence-o saudade do sertão. Remigra. E torna feliz, revigorado, cantando; esquecido de infortúnios, 3@professorferretto @prof_ferretto buscando as mesmas horas passageiras da ventura perdidiça e instável, os mesmos dias longos de transes e provações demoradas. (Euclides da Cunha. Os Sertões) Assinale a alterna�va que atende à norma-padrão de colocação pronominal. a) Vai-se o sertanejo no êxodo para a costa, para as serras distantes – esvazia-se o sertão, ainda que a saudade acompanhe o re�rante. b) Quando acaba-se o flagelo, é como se todos os problemas fossem esquecidos, e tudo se reestabelecesse como antes. c) Por fim, o sertanejo se dobra e, depois de tantos re�rantes à sua porta, rapidamente amatula-se em um daqueles bandos. d) Ainda que o flagelo tenha ameaçado-o, o sertanejo volta ao sertão, movido pela saudade por estar meses longe de sua casa. e) Se vê, com assombro, a primeira turma de re�rantes atravessar o terreiro, e depois outras seguem-se nos dias posteriores. GR0126 - (Fuvest) U�lize o conteúdo a seguir para responder à questão. No enunciado “Mesmo porque onde colocam, ninguém �ra.”, os complementos dos verbos “colocam” e “�ra” não são expressos lexicalmente. Se expressos por pronomes e seguindo a norma padrão da língua portuguesa, o resultado seria: a) “... onde colocam-no, ninguém o �ra.” b) “... onde o colocam, ninguém �ra-o.” c) “... onde lhe colocam, ninguém lhe �ra.” d) “... onde o colocam, ninguém o �ra.” e) “... onde colocam-lhe, ninguém �ra-lhe.” GR0543 - (Esc. Naval) Minha amiga me pergunta: por que você fala sempre nas coisas que acontecem a primeira vez e, sobretudo, as comparar com a primeira vez que você viu o mar? Me lembro dessa cena: um adolescente chegando ao Rio e o irmão lhe prevenindo: “Amanhã vou te apresentar o mar.” Isto soava assim: amanhã vou te levar ao outro lado do mundo, amanhã te ofereço a Lua. Amanhã você já não será o mesmo homem. E a cena con�nuou: resguardado pelo irmão mais velho, que se assentou no banco do calçadão, o adolescente, ousado e indefeso, caminha na areia para o primeiro encontro com o mar. Ele não pisava na areia. Era um oásis a caminhar. Ele não estava mais em Minas, mas andava num campo de tulipas na Holanda. O mar a primeira vez não é um rito que deixe um homem impune. Algo nele vai-se aprofundar. E o irmão lá atrás, respeitoso, era a sen�nela, o sacerdote que deixa o iniciante no limiar do sagrado, sabendo que dali para a frente o outro terá que, sozinho, enfrentar o dragão. E o dragão lá vinha soltando pelas narinas as ondas verdes de verão. E o pequeno cavaleiro, destemido e in�midado, tomou de uma espada ou pedaço de pau qualquer para enfrentar a hidra que ondeava mil cabeças, e convertendo a arma em caneta ou lápis começou a escrever na areia um texto que não terminará jamais. Que é assim o ato de escrever: mais que um modo de se postar diante do mar, é uma forma de domar as vagas do presente convertendo-o num cristal passado. Não, não enchi a garrafinha de água salgada para mostrar aos vizinhos �midos re�dos nas montanhas, e fiz mal, porque muitos morreram sem jamais terem visto o mar que eu lhes trazia. Mas levei as conchas, é verdade, que na mesa interior marulhavam lembranças de um luminoso encontro de amor com o mar. Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li urna crônica onde um leitor de Goiás pedia à cronista que lhe explicasse, enfim, o que era o mar. Fiquei perplexo. Não sabia que o mar fosse algo que se explicasse. Nem me lembro da descrição. Me lembro apenas da pergunta. Evidentemente eu não estava pronto para a resposta. A resposta era o mar. E o mar eu conheci, quando pela primeira vez aprendi que a vida não é a arte de responder, mas a possibilidade de perguntar. Os cariocas vão achar estranho, mas eu devo lhes revelar: o carioca, com esse modo natural de ir à praia, desvaloriza o mar. Ele vai ao mar com a sem-cerimônia 4@professorferretto @prof_ferretto que o mineiro vai ao quintal. E o mar é mais que horta e quintal. É quando atrás do verde-azul do instante o desejo se alucina num cardume de flores no jardim. O mar é isso: é quando os vagalhões da noite se arrebentam na aurora do sim. Ver o mar a primeira vez, lhes digo, é quando Guimarães Rosa pela vez primeira, por nós, viu o sertão. Ver o mar a primeira vez é quase abrir o primeiro consultório, fazer a primeira operação. Ver o mar a primeira vez é comprar pela primeira vez uma casa nas montanhas: que surpresas ondearão entre a lareira e a mesa de vinhos e queijos! O mar é o mestre da primeira vez e não para de ondear suas lições. Nenhuma onda é a mesma onda. Nenhum peixe o mesmo peixe. Nenhuma tarde a mesma tarde. O mar é um morrer sucessivo e um viver permanente. Ele se desfolha em ondas e não para de brotar. A contemplá-lo ao mesmo tempo sou jovem e envelheço. O mar é recomeço. (SANT’ANNA, Affonso Romano de. O mar, a primeira vez. In:_____. Fizemos bem em resis�r: crônicas selecionadas. Rio de Janeiro: Rocco,1994, p.50-52. Texto adaptado) Em que opção o verbo destacado permite apenas o uso da próclise, de acordo com a norma-padrão? a) “Me lembro dessa cena: um adolescente [...].” (1º parágrafo). b) “[...], que se assentou no banco do calçadão, [...].” (2º parágrafo). c) “[...], mas eu devo lhes revelar: [...].” (6º parágrafo). d) “Ver o mar a primeira vez, lhes digo, [...].” (7º parágrafo). e) “Ele se desfolha em ondas e não para de brotar.” (8º parágrafo). GR0128 - (Fgvsp) U�lize o conteúdo a seguir para responder à questão. Pela tarde apareceu o Capitão Vitorino. Vinha numa burra velha, de chapéu de palha muito alvo, com a fita verde-amarela na lapela do paletó. O mestre José Amaro estava sentado na tenda, sem trabalhar. E quando viu o compadre alegrou-se. Agora as visitas de Vitorino faziam-lhe bem. Desde aquele dia em que vira o compadre sair com a filha para o Recife, fazendo tudo com tão boa vontade, que Vitorino não lhe era mais o homem infeliz, o pobre bobo, o sem-vergonha, o vagabundo que tanto lhe desagradava. Vitorino apeou-se para falar do ataque ao Pilar. Não era amigo de Quinca Napoleão, achava que aquele bicho vivia de roubar o povo, masnão aprovava o que o capitão fizera com a D. Inês. — Meu compadre, uma mulher como a D. Inês é para ser respeitada. — E o capitão desrespeitou a velha, compadre? — Eu não estava lá. Mas me disseram que botou o rifle em cima dela, para fazer medo, para ver se D. Inês lhe dava a chave do cofre. Ela não deu. José Medeiros, que é homem, borrou-se todo quando lhe entrou um cangaceiro no estabelecimento. Me disseram que o safado chorava como bezerro desmamado. Este cachorro anda agora com o fogo da força da polícia fazendo o diabo com o povo. (José Lins do Rego, Fogo Morto) A colocação do pronome está adequada à situação comunica�va da narra�va literária, mas está em desacordo com a norma-padrão, na seguinte passagem do texto: a) E quando viu o compadre alegrou-se. b) Agora as visitas de Vitorino faziam-lhe bem. c) ... Vitorino não lhe era mais o homem infeliz, o pobre bobo... d) ... para ver se D. Inês lhe dava a chave do cofre. e) Me disseram que o safado chorava como bezerro desmamado. GR0130 - (Efomm) O médico e o monstro Paulo Mendes Campos Avental branco, pincenê vermelho, bigodes azuis, ei-lo, grave, aplicando sobre o peito descoberto duma criancinha um estetoscópio, e depois a injeção que a enfermeira lhe passa. O avental na verdade é uma camisa de homem adulto a bater-lhe pelos joelhos; os bigodes foram pintados por sua irmã, a enfermeira; a criancinha é uma boneca de olhos cerúleos, mas já meio careca, que atende pelo nome de Rosinha; os instrumentos para exame e cirurgia saem duma caixinha de brinquedos. Ela, seis anos e meio; o doutor tem cinco. Enquanto trabalham, a enfermeira presta informações: — Esta menina é boba mesmo, não gosta de injeção, nem de vitamina, mas a irmãzinha dela adora. O médico segura o microscópio, focaliza-o dentro da boca de Rosinha, pede uma colher, manda a paciente dizer aaá. Rosinha diz aaá pelos lábios da enfermeira. O médico apanha o pincenê, que escorreu de seu nariz, rabisca uma receita, enquanto a enfermeira con�nua: — O senhor pode dar injeção que eu faço ela tomar de qualquer jeito, porque é claro que se ela não quiser, né, vai ficar muito magrinha que até o vento carrega. O médico, no entanto, prefere enrolar uma gaze em torno do pescoço da boneca, diagnos�cando: 5@professorferretto @prof_ferretto — Mordida de leão. — Mordida de leão? — pergunta, desapontada, a enfermeira, para logo aceitar este faz de conta dentro do outro faz de conta; eu já disse tanto, meu Deus, para essa garota não ir na floresta brincar com Chapeuzinho Vermelho... Novos clientes desfilam pela clínica: uma baiana de acarajé, um urso muito resfriado, porque só gostava de neve, um cachorro atropelado por lotação, outras bonecas de vários tamanhos, um Papai Noel, uma bola de borracha e até mesmo o pai e a mãe do médico e da enfermeira. De repente, o médico diz que está com sede e corre para a cozinha, apertando o pincenê contra o rosto. A mãe se aproveita disso para dar um beijo violento no seu amor de filho e também para preparar-lhe um copázio de vitaminas: tomate, cenoura, maçã, banana, limão, laranja e aveia. O famoso pediatra, com um esgar colérico, recusa a formidável droga. — Tem de tomar, senão quem acaba no médico é você mesmo, doutor. Ele implora em vão por uma bebida mais inócua. O copo é levado com energia aos seus lábios, a beberagem é provada com uma careta. Em seguida, propõe um trato: — Só se você depois me der um sorvete. A terrível mistura é sorvida com dificuldade e repugnância, seus olhos se alteram nas órbitas, um engasgo devolve o res�nho. A operação durou um quarto de hora. A mãe recolhe o copo vazio com a alegria da vitória e aplica no menino uma palmadinha carinhosa, revidada com a ameaça dum chute. Já estamos a essa altura, como não podia deixar de ser, presenciado a metamorfose do médico em monstro. Ao passar zunindo pela sala, o pincenê e o avental são a�rados sobre o tapete com um gesto desabrido. Do an�go médico resta um lindo bigode azul. De máscara preta e espada, Mr. Hyde penetra no quarto, onde a doce enfermeira con�nua a brincar, e desfaz com uma espadeirada todo o consultório: microscópio, estetoscópio, remédios, seringa, termômetro, tesoura, gaze, esparadrapo, bonecas, tudo se derrama pelo chão. A enfermeira dá um grito de horror e começa a chorar nervosamente. O monstro, exultante, espeta-lhe a espada na barriga e brada: — Eu sou o Demônio do Deserto! Ainda sob o efeito das vitaminas, preso na solidão escura do mal, desatento a qualquer autoridade materna ou paterna, com o diabo no corpo, o monstro vai espalhando o terror a seu redor: é a televisão ligada ao máximo, é o divã massacrado sob os seus pés, é um cometa indo �nir no ouvido da cozinheira, um vaso quebrado, uma cor�na que se despenca, um grito, um uivo, um rugido animal, é o doce derramado, a torneira inundando o banheiro, a revista nova dilacerada, é, enfim, o flagelo à solta no sexto andar dum apartamento carioca. Subitamente, o monstro se acalma. Suado e ofegante, senta-se sobre os joelhos do pai, pedindo com doçura que conte uma história ou lhe compre um carneirinho de verdade. E a paz e a ternura de novo abrem suas asas num lar ameaçado pelas forças do mal. OBS.: O texto foi adaptado às regras no Novo Acordo Ortográfico. Paulo Mendes Campos. O médico e o monstro. In: Fernando Sabino e outros. Crônicas 2. 19. ed. São Paulo: Á�ca, 2003. p. 20-22. É possível o deslocamento do pronome átono na opção: a) (...) e depois a injeção que a enfermeira lhe passa. b) (...) gaze, esparadrapo, bonecas, tudo se derrama pelo chão. c) O médico segura o microscópio, focaliza-o dentro da boca (...). d) Suado e ofegante, senta-se sobre os joelhos do pai, pedindo (...). e) A mãe se aproveita disso para dar um beijo violento (...). GR0127 - (Fgvsp) U�lize o conteúdo a seguir para responder à questão. O velho Lima O velho Lima, que era empregado — empregado an�go — numa das nossas repar�ções públicas, e morava no Engenho de Dentro, caiu de cama, seriamente enfermo, no dia 14 de novembro de 1889, isto é, na véspera da Proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil. O doente não considerou a molés�a coisa de cuidado, e tanto assim foi que não quis médico. Entretanto, o velho Lima esteve de molho oito dias. O nosso homem �nha o hábito de não ler jornais e, como em casa nada lhe dissessem (porque nada sabiam), ele ignorava completamente que o Império se transformara em República. No dia 23, restabelecido e pronto para outra, comprou um bilhete, segundo o seu costume, e tomou lugar no trem, ao lado do comendador Vidal, que o recebeu com estas palavras: — Bom dia, cidadão. O velho Lima estranhou o cidadão, mas de si para si pensou que o comendador dissera aquilo como poderia ter dito ilustre, e não deu maior importância ao cumprimento, limitando-se a responder: — Bom dia, comendador. — Qual comendador! Chama-me Vidal! Já não há mais comendadores! 6@professorferretto @prof_ferretto — Ora essa! Então por quê? — A República deu cabo de todas as comendas! Acabaram-se! O velho Lima encarou o comendador e calou-se, receoso de não ter compreendido a pilhéria. Ao entrar na sua seção, o velho Lima sentou-se e viu que �nham �rado da parede uma velha litografia representando D. Pedro de Alcântara. Como na ocasião passasse um con�nuo, perguntou-lhe: — Por que �raram da parede o retrato de Sua Majestade? O con�nuo respondeu num tom lentamente desdenhoso: — Ora, cidadão, que fazia ali a figura do Pedro Banana? — Pedro Banana! — repe�u raivoso o velho Lima. — Não dou três anos para que isso seja República! (Arthur Azevedo. Seleção de contos, 2014) Assinale a alterna�va em que a passagem está reescrita, de acordo os sen�dos do original e com a norma-padrão de emprego e colocação de pronomes. a) O nosso homem �nha o hábito de não ler jornais e, como em casa nada lhe dissessem... (3° parágrafo) = O nosso homem desconhecia o hábito de não ler jornais e, como em casa nada falou-se a ele... b) ... ele ignorava completamente que o Império se transformaraem República. (3° parágrafo) = ... ele ignorava completamente que o Império �nha transformado-se em República. c) ... e tomou lugar no trem, ao lado do comendador Vidal, que o recebeu com estas palavras... (4° parágrafo) = ... e tomou lugar no trem, ao lado do comendador Vidal, que acolheu-lhe com estas palavras... d) O velho Lima estranhou o cidadão, mas de si para si pensou que o comendador dissera aquilo como poderia ter dito ilustre... (6° parágrafo) = Espantou-se o velho Lima com o cidadão, mas pensou com seus botões que lhe dissera aquilo o comendador como poderia ter dito ilustre... e) — Qual comendador! Chama-me Vidal! Já não há mais comendadores! (8° parágrafo) = — Qual comendador! Me chama de Vidal! Agora não tem-se mais comendadores! GR0123 - (Uems) Infinito Par�cular 1 - Eis o melhor e o pior de mim O meu termômetro, o meu quilate Vem, cara, me retrate Não é impossível 5 - Eu não sou di�cil de ler Faça sua parte Eu sou daqui e não sou de Marte Vem, cara, me repara Não vê, tá na cara, sou porta-bandeira de mim 10 - Só não se perca ao entrar No meu infinito par�cular Em alguns instantes Sou pequenina e também gigante Vem, cara, se declara 15 - O mundo é portá�l Pra quem não tem nada a esconder Olha minha cara É só mistério, não tem segredo Vem cá, não tenha medo 20 - A água é potável Daqui você pode beber Só não se perca ao entrar No meu infinito par�cular Assinale a alterna�va em que ocorrem simultaneamente uma colocação pronominal e um vocábulo inaceitáveis do ponto de vista do padrão grama�cal culto: a) Eis o melhor e o pior de mim. b) Faça sua parte. c) Só não se perca ao entrar. d) Eu sou daqui e não sou de Marte. e) Vem, cara, me retrate. GR0131 - (Fgvsp) Sua excelência [O ministro] vinha absorvido e tangido por uma chusma de sen�mentos a�nentes a si mesmo que quase lhe falavam a um tempo na consciência: orgulho, força, valor, sa�sfação própria etc. etc. Não havia um nega�vo, não havia nele uma dúvida; todo ele estava embriagado de certeza de seu valor intrínseco, das suas qualidades extraordinárias e excepcionais de condutor dos povos. A respeitosa a�tude de todos e a deferência universal que o cercavam, reafirmadas tão eloquentemente naquele banquete, eram nada mais, nada menos que o sinal da convicção dos povos de ser ele o resumo do país, vendo nele o solucionador das suas dificuldades presentes e o agente eficaz do seu futuro e constante progresso. Na sua ação repousavam as pequenas esperanças dos humildes e as desmarcadas ambições dos ricos. Era tal o seu inebriamento que chegou a esquecer as coisas feias do seu o�cio... Ele se julgava, e só o que lhe parecia grande entrava nesse julgamento. 7@professorferretto @prof_ferretto As obscuras determinações das coisas, acertadamente, haviam-no erguido até ali, e mais alto levá-lo-iam, visto que, só ele, ele só e unicamente, seria capaz de fazer o país chegar ao des�no que os antecedentes dele impunham. (Lima Barreto. Os bruzundangas. Porto Alegre: L&PM, 1998, pp. 15-6) Assinale a alterna�va em que a nova posição dos pronomes átonos, na frase reescrita, está de acordo com a norma-padrão do português escrito. a) A respeitosa a�tude de todos e a deferência universal que cercavam-no. b) As obscuras determinações das coisas acertadamente o haviam erguido até ali. c) Ele julgava-se e só o que parecia-lhe grande entrava nesse julgamento. d) ... uma chusma de sen�mentos a�nentes a si mesmo que quase falavam-lhe. e) As obscuras determinações das coisas, acertadamente, mais alto levariam-no. GR0133 - (Epcar) O ídolo Em um belo dia, a deusa dos ventos beija o pé do homem, o maltratado, desprezado pé, e, desse beijo, nasce o ídolo do futebol. Nasce em berço de palha e barraco de lata e vem ao mundo abraçado a uma bola. Desde que aprende a andar, sabe jogar. Quando criança, alegra os descampados e os baldios, joga e joga e joga nos ermos dos subúrbios até que a noite cai e ninguém mais consegue ver a bola, e, quando jovem, voa e faz voar nos estádios. Suas artes de malabarista convocam mul�dões, domingo após domingo, de vitória em vitória, de ovação em ovação. A bola o procura, o reconhece, precisa dele. No peito de seu pé, ela descansa e se embala. Ele lhe dá brilho e a faz falar, e neste diálogo entre os dois, milhões de mudos conversam. Os Zé Ninguém, os condenados a serem para sempre ninguém, podem sen�r-se alguém por um momento, por obra e graça desses passes devolvidos num toque, essas fintas que desenham os zês na grama, esses golaços de calcanhar ou de bicicleta: quando ele joga o �me tem doze jogadores. – Doze? Tem quinze! Vinte! A bola ri, radiante, no ar. Ele a amortece, a adormece, diz galanteios, dança com ela, e vendo essas coisas nunca vistas, seus adoradores sentem piedade por seus netos ainda não nascidos, que não estão vendo o que acontece. Mas o ídolo é ídolo apenas por um momento, humana eternidade, coisa de nada; e quando chega a hora do azar para o pé de ouro, a estrela conclui sua viagem do resplendor à escuridão. Esse corpo está com mais remendos que roupa de palhaço, o acrobata virou paralí�co, o ar�sta é uma besta: – Com a ferradura, não! A fonte da felicidade pública se transforma no para-raios do rancor público: – Múmia! Às vezes, o ídolo não cai inteiro. E, às vezes, quando se quebra, a mul�dão o devora aos pedaços. (Eduardo Galeano. Futebol, ao sol e à sombra.) Leia o trecho abaixo. “Os Zé Ninguém, os condenados a serem para sempre ninguém, podem sen�r-se alguém por um momento, por obra e graça desses passes devolvidos num toque, essas fintas que desenham os zês na grama...” (9) De acordo com a análise morfossintá�ca dos termos destacados abaixo, pode-se concluir que está INCORRETA a afirma�va: a) Em Zé Ninguém, há uma derivação imprópria, já que foi u�lizado um pronome indefinido como substan�vo próprio. b) Em “A fonte da felicidade pública se transforma no para-raios do rancor público”, (7), a expressão destacada qualifica o sujeito. c) O substan�vo destacado em “...esses golaços de calcanhar ou de bicicleta...” foi formado a par�r de sufixação. d) Caso antes da locução “... podem sen�r-se alguém...”, houvesse uma palavra nega�va, o pronome se teria que, obrigatoriamente, vir antes do verbo poder. GR0134 - (Efomm) A úl�ma crônica A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspec�va me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no co�diano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente domés�co, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu úl�mo poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um úl�mo olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica. 8@professorferretto @prof_ferretto Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das úl�mas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no ves�do pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a ins�tuição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome. Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente re�rou do bolso, aborda o garçom, inclinando- se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhandoimóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. Ao meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pra�nho — um bolo simples, amarelo- escuro, apenas uma pequena fa�a triangular. A negrinha, con�da na sua expecta�va, olha a garrafa de Coca-Cola e o pra�nho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa a um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plás�co preto e brilhante, re�ra qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim. São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fa�a do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns pra você. . .“ Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá- las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fi�nha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo, O pai corre os olhos pelo botequim, sa�sfeito, como a se convencer in�mamente do sucesso da celebração. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. Assim eu quereria a minha úl�ma crônica: que fosse pura como esse sorriso. SABINO, Fernando. A companheira de viagem. Rio de Janeiro: Record, 1972. Considerando-se a colocação pronominal, assinale a opção que apresenta a possibilidade de deslocamento do pronome átono. a) “O homem atrás do balcão apanha a porção de bolo com a mão, larga-o no pra�nho (...)”. b) “O pai se mune de uma caixa de fósforos (...)”. c) “(...) Quer nas palavras de uma criança ou num acidente domés�co, torno-me simples espectador (...)”. d) “Vejo, porém, que se preparam para algo mais (...)”. e) “Ninguém os observa além de mim”. GR0392 - (Fuvest) O OPERÁRIO NO MAR Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso polí�co, a dor do operário está na blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio e alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma san�dade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. 9@professorferretto @prof_ferretto Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei? (Carlos Drummond de Andrade, Sen�mento do Mundo.) Dentre estas propostas de subs�tuição para diferentes trechos do texto, a única que NÃO está correta do ponto de vista da norma-padrão é: a) “Para onde vai ele, (…)?” = Aonde vai ele, (…)? b) “O operário não lhe sobra tempo de perceber” = Ao operário não lhe sobra tempo de perceber. c) “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão” = Teria vergonha de chamá-lo de meu irmão. d) “Tenho vergonha e vontade de encará-lo” = Tenho vergonha e vontade de o encarar. e) “Quem sabe se um dia o compreenderei” = quem sabe um dia compreenderei-o. GR0129 - (Efomm) Um quarto de rapaz Elsie Lessa Abro as venezianas na alegria do sol desta manhã e só não ponho a mão na cabeça porque, afinal das contas, o correr dos anos nos dá uma certa filosofia. Essa rapaziada parece que é mesmo toda assim. Quem sai para uma prova de matemá�ca não há mesmo de ter deixado a cama feita, tanto mais quando ficou lendo Carlos Drummond de Andrade até às tantas, como prova este Poesia até agora, rubro de vergonha de ter sido largado no chão junto a este cinzeiro transbordante e às meias azuis de náilon. E dizer que desde que esse menino nasceu tento provar-lhe que já não estamos — hélas! — no tempo da escravidão e que somos nós mesmos, brancos, pretos ou amarelos, intelectuais ou estudantes em provas, que devemos encaminhar ao des�no conveniente as roupas da véspera. Qual, ele não se convence. Também uma manta escocesa, de suaves lãs macias, que a mãe da gente trouxe embaixo do braço da Inglaterra até aqui, para que nos aqueça nas noites de inverno, não devia ser largada no chão, nem mesmo na companhia de um livro de versos. E quem é que está ligando para tudo isso? Ó mocidade inquieta, só mesmo o que está em ordem dentro deste quarto são os montes de discos. E estes livros, meu Deus? Como é que gente que gosta de ler pode deixar os próprios livros numa bagunça dessas? Coitado do Pablo Neruda, olha onde foi parar! E o Dom Quixote de la Mancha, Virgem San�ssima! Há três gerações que os antepassados desse menino não fazem outra coisa senão escrever livros, e ele os trata assim! — Livro é pra ler! Não é para enfeitar estante! — Está certo! Que não enfeite, mas também não precisam ser empurrados desse jeito, lá para o fundo, com esse monte de revistas de jazz em cima! E custava, criatura, custava você pendurar essas calças nesse guarda-roupa que é para você, sozinho, que é provido de cabides, que não têm outro des�no senão abrigar as suas calças? — Mania de ordem é complexo de culpa, já te avisei! Meu quarto está ó�mo, está formidável. E não gosto que mexa, hein, senão depois não acho as minhas coisas! E pensar que esse menino um dia casa e vai levar essas noções de arrumação para a infeliz da esposa, e que juízo, que juízo vai fazer essa moça de mim, meu Deus do céu! Há bem uns quinze anos que esse problema me atormenta, tenho trocado confidências com amigas e há várias opiniões a respeito. Umas acham que um dia dá um estalo de Padre Vieira na cabeça desses moleques e passam a pendurar a roupa, �rar pó de livro, desamarrar o sapato antes de �rar do pé. Pode ser. Deus permita! Mas que agonia, enquanto isso não acontece. Dizer que peregrinei por an�quários para descobrir nobres jacarandás, de boa es�rpe,que o rodeassem em todas as suas horas, que lhe infundissem o gosto das coisas belas. Qual! Pendurei a balada do “If” (^1) em cima de todos esses discos de jazz, e sobre a vitrola, já nem sei por quê, esse belo retrato de Napoleão, em esmalte, vindo das margens do Sena! E ele está se importando? O violão está sem cordas, e em cima do meu retrato, radioso retrato da minha juventude, ele já pôs o Billy Ecks�ne, a Sarah Vaughan, a Ava Gardner de biquíni e duas namoradas ora descartadas! E não �ra um, antes de colocar o outro! Vai empurrando por cima e já a moldura estoura com essa variedade de predileções! São Sebas�ão, na sua peanha dourada, está de olhos erguidos para o alto e, felizmente, não vê a desordem que anda cá por baixo. Vejo eu, olho em roda para saber por onde começar. Custava ele despejar esses cinzeiros? Onde já se viu fumar na cama e fazer furos nos meus lençóis? E, em tempos de provas, é hora de ficar folheando livros de versos, até tarde da noite, desse jeito? O caderno de �sica está assim de poesias e letras de fox e caricaturas de colegas, não sei também se de algum professor! E para que seis caixas de fósforo em cima dessa vitrola? E onde já se viu misturar na mesma mesa esse nunca assaz manuseado Manuel Bandeira, e El son entero, de Nicolás Guillén, e os poemas de Mário de Andrade, e os Pássaros Perdidos de Tagore, e Fernando Pessoa, e esse pocket book policial? Quer ler Graham Greene, e fazer versos, e fumar feito um desesperado, e não perder praia no Arpoador, nem broto na vizinhança, nem filme na 10@professorferretto @prof_ferretto semana e passar nas provas. E em que mundo isso é possível? Guardo os chinelos, que ficam sempre emborcados. Já lhe disse que isso é atraso de vida. E ele morre de rir. E ponho as cobertas em cima da cama. E abro as janelas, para sair esse cheiro de fumo. E deixo só uma caixa de fósforos. Mas não faço mais nada, porque abri um caderno, de letra muito ruim, até a metade com os seus versos. (^1)Poema célebre do escritor indiano Rudyard Kipling (18651936), Prêmio Nobel de Literatura de 1907. OBS.: O texto foi adaptado às regras do novo acordo ortográfico. Assinale a opção em que, quanto à sintaxe de colocação dos pronomes átonos, é INDIFERENTE a sua posição no período. a) (...) Afinal das contas, o correr dos anos nos dá uma certa filosofia. b) Já lhe disse que isso é atraso de vida. c) Qual, ele não se convence. d) Mania de ordem é complexo de culpa, já te avisei! e) (...) Da Inglaterra até aqui, para que nos aqueça nas noites de inverno (...) GR0120 - (Pucmg) A importância do ato de ler Con�nuando neste esforço de “re-ler” momentos fundamentais de experiências de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crí�ca da importância do ato de ler se veio em mim cons�tuindo através de sua prá�ca, retomo o tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção crí�ca dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então professor de língua portuguesa. Não eram, porém, aqueles momentos puros exercícios de que resultasse um simples dar-nos conta de uma página escrita diante de nós que devesse ser cadenciada, mecânica e enfadonhamente “soletrada” e realmente lida. Não eram aqueles momentos “lições de leitura”, no sen�do tradicional desta expressão. Eram momentos em que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura, incluindo a do então jovem professor José Pessoa. Algum tempo depois, como professor também de português, nos meus vinte anos, vivi intensamente a importância de ler e de escrever, no fundo indicotomizáveis, com os alunos das primeiras séries do então chamado curso ginasial. A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sincli�smo pronominal, nada disso era reduzido por mim a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pelos estudantes. Tudo isso, pelo contrário, era proposto à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no corpo mesmo de textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, como objetos a serem desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse. Os alunos não �nham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda. Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se cons�tui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sen�do de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes “leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou estudadas. [...] A insistência na quan�dade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando iden�fica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quan�dade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia. Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, sublinhar que a minha crí�ca à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prá�ca enquanto professores e estudantes. Paulo Freire Atente para o excerto dado: Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se cons�tui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sen�do de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. 11@professorferretto @prof_ferretto Se observarmos as prescrições da gramá�ca norma�va, é CORRETO afirmar: a) Em “não se cons�tui” há uma faculta�vidade na colocação pronominal – estaria igualmente correta a forma “não cons�tui-se”. b) Em “objeto de que o texto fala”, o item lexical “que” é um pronome demonstra�vo e retoma, anaforicamente, o sintagma “o objeto”. c) Em “por isso, de memorizá-la” há um desvio, pois a preposição “de” atrai o oblíquo e demanda próclise – deveria ser “de a memorizar”. d) Em “Só apreendendo-a” deveria haver próclise, pois o advérbio (palavra que denota exclusão) atrai o oblíquo. GR0132 - (Fuvest) Há uma língua sendo gestada no Brasil que não se pretende correta, autên�ca ou mesmo eficiente. É apenas novidadeira - ”trendy" ou ”fashion", como ela própria se definiria. Nessa nova língua, não se diz mais que tal ou qual coisa é an�ga, vinda do passado. Diz-se que é ”vintage" - embora “vintage” (ao pé da letra, “vindima”) se aplique, em inglês, ao que pertence a uma dada safra, ao que vem auten�camente de uma época. Mas é sempre assim, não? Por leveza ou ligeireza dos usuários, certas palavras, ao serem transplantadas à força de uma língua para outra, podem ter o seu sen�do original alterado. Daí que, na nova língua que se pra�ca aqui, e mais ainda no mundo da moda, algo corriqueiro, vulgar, normal, que não se afasta dos padrões estabelecidos, é agora chamado de “mainstream”. Em inglês, “mainstream" é o curso d’água ou corrente principal e se referea um rio, mas pode se aplicar também a um es�lo dominante na literatura, na música, no cinema. Entre nós, meio que vem subs�tuir o que, até há pouco, costumava se chamar de - como era mesmo? - ”básico". A secretária de um médico acaba de me telefonar marcando um “apontamento” para a semana. Isso era algo que, no passado, dizíamos de farra: “Vou te dar um anel para marcar um apontamento”. Quis rir, mas me con�ve a tempo. A moça estava falando a sério. (Ruy Castro, Folha de S.Paulo, 09/10/2010. Adaptado) O trecho em que a opção pela próclise tornou-se obrigatória a despeito do tempo do verbo com que o pronome se ar�cula, é: a) “como ela própria se definiria”. (L. 3 e 4) b) “Diz-se que é ‘vintage’”. (L. 6) c) “costumava se chamar”. (L. 22) d) “Vou te dar um anel”. (L. 26 e 27) e) “mas me con�ve a tempo”. (L. 27 e 28) GR0608 - (Enem PPL) Proclamação do amor an�gramá�ca “Dá-me um beijo”, ela me disse, E eu nunca mais voltei lá. Quem fala “dá-me” não ama, Quem ama fala “me dá” “Dá-me um beijo” é que é correto, É linguagem de doutor, Mas “me dá” tem mais afeto, Beijo me-dado é melhor. A gramá�ca foi feita Por um velho professor, Por isso é tão má receita Pra dizer coisas de amor. O mestre pune com zero Quem não diz “amo-te”. Aposto Que em casa ele é mais sincero E diz pra mulher: “te gosto” Delírio dos olhos meus, Estás ficando an�pá�ca. Pelo diabo ou por deus Manda às favas a gramá�ca. Fala, meu cheiro de rosa, Do jeito que estou pedindo: “Hoje estou menas formosa, Com licença, vou se indo”. Comete miles de erros, Mistura tu com você, E eu proclamarei aos berros: “Vós és o meu bem querer”. LAGO, M. Disponível em: www.mariolago.com.br. Acesso em: 30 out. 2021. Nesse poema, o eu lírico defende o uso de algumas estruturas consideradas inadequadas na norma-padrão da língua. Esse uso, exemplificado por “me dá” e “te gosto”, é legi�mado 12@professorferretto @prof_ferretto a) pelo contexto de situação discu�do ao longo do poema. b) pelas caracterís�cas enuncia�vas requeridas pelo gênero poema. c) pela interlocução construída entre o eu lírico e os leitores do poema. d) pela mobilização da função poé�ca da linguagem na composição do texto. e) pelo reconhecimento do valor social da variedade de pres�gio em textos escritos. GR0615 - (Uff) TEXTO I Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha Muitos deles ou quase a maior parte dos que andavam ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços (7). E alguns, que andavam sem eles, �nham os beiços furados (12) e nos buracos uns espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha (8); outros traziam três daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos cabos (13). Aí andavam outros, quartejados de cores, a saber, metade deles da sua própria cor, e metade de �ntura preta, a modos de azulada; e outros quartejados de escaques. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gen�s, com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não �nhamos nenhuma vergonha. Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos (2) até a outra ponta que contra o norte vem (3), de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa (4). Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras (6), delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos (5). De ponta a ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande (1), porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa (9). Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos (10). Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Douro e Minho (14), porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá (15). Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem (11). Carta de Pero Vaz de Caminha in: PEREIRA, Paulo Roberto (org.) Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999, p. 39-40. Vocabulário: 1 “espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha”: associação de imagem com a tampa de um vasilhame de couro, para transportar água ou vinho, que recebia o nome de “espelho” por ser feita de madeira polida. 2 “�ntura preta, a modos de azulada”: é uma �ntura feita com o sumo do fruto jenipapo. 3 “escaques”: quadrados de cores alternadas como os do tabuleiro de xadrez. 4 “parma”: lisa como a palma da mão. 5 “chã”: terreno plano, planície. Assinale a opção em que a reformulação da frase abaixo apresenta um emprego de pronome não compa�vel com o uso formal da língua: “E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.” (11) a) E em tal maneira é graciosa que, se a quisermos aproveitar, dar-se-á nela tudo por causa das águas que tem. b) E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá- la, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. c) E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, tudo nela se dará, por causa das águas que tem. d) E em tal maneira é graciosa que, ao querer-se aproveitá-la, tudo se dará nela, por bem das águas que tem. e) E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitar ela, tudo dar-se-á por bem das águas que tem. GR0950 - (Unifesp) 13@professorferretto @prof_ferretto Explicitando-se os complementos dos verbos em “Eu cuido, eu respeito.”, obtém-se, em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa: a) Eu a cuido, eu respeito-lhe. b) Eu cuido dela, eu lhe respeito. c) Eu cuido dela, eu a respeito. d) Eu lhe cuido e respeito. e) Eu cuido e respeito-a. GR0951 - (Ufal) A respeito da colocação do pronome pessoal oblíquo que se encontra no 1º quadrinho, infere-se que a) obedece à variedade padrão por se tratar de uma forma mais agradável de dizer e ouvir, já que o princípio da eufonia é o principal critério para a colocação dos pronomes. b) obedece à variedade padrão, porque a exclamação situada antes do verbo é fator de próclise. c) a forma verbal que está no impera�vo exige o pronome oblíquo proclí�co. d) o voca�vo que aparece antes da exclamação exerce função de sujeito, por isso que o pronome oblíquo encontra-se proclí�co. e) está em desacordo com a variedade padrão, uma vez que antes do verbo não há palavras que exerçam atração sobre o pronome. GR0952 - (Pucpr) 14@professorferretto @prof_ferretto A fala da garota na �rinha explica-se porque o a) menino não usou a colocação pronominal prescrita pela norma culta em “Nunca deixe-me”. b) pronome “me” não poderia estar depois das formas verbais “Abrace” e “Beije”, de acordo com as normas da gramá�ca tradicional. c) uso de “me” em “Beije-me” fere a prescrição grama�cal, que recomenda o uso de “eu” nesse caso. d) menino ora usa o pronome “me” depois do verbo, ora antes dele, o que não mantém a uniformidade pronominal. e) emprego do pronome de primeira pessoa “me” não pode ocorrer junto de uma forma verbal no impera�vo. GR0953 - (Ifsp) Bene�cio para a carreira Enfrentar as dificuldades do dia a dia e solucionar os grandes problemas da companhia não são funções descritas em nenhum cargo, mas são importantes para quem deseja prosperar na carreira. O profissional que resolve problemas e ajuda as empresas a a�ngir resultados destaca-se, ganha reconhecimento e larga em vantagem na disputa por uma promoção. [...] Não adianta ser um profissional com superpoderes que quer resolver tudo. Quem faz isso acaba sobrecarregado e entrega resultados inferiores ao desejado. Numa empresa, essa sobrecarga de tarefas poderia fazer com que clientes, uma hora, parassem de comprar os produtos. Na vida profissional, poderia resultar em uma demissão. Assim como as organizações buscam soluções inovadoras, o profissional também pode encontrarcaminhos para resolver problemas com maior facilidade. Não é um processo fácil. Muitas vezes é dolorido. Exige empenho por meio das conversas, a fim de entender os diferentes pontos de vista e enfrentamentos que acontecem. No entanto, sem esse embate, sem a disposição para a comunicação, é impossível resolver um problema. (Lucas Rossi. Você S/A, adição 179, abril/2013. Adaptado) Subs�tuindo-se a informação destacada no trecho “... as organizações buscam soluções inovadoras...” por um pronome correspondente, o resultado grama�calmente correto é o seguinte: a) buscam-lhas. b) buscam-lhe. c) buscam-nas. d) buscam-las. e) buscam-as. GR0954 - (Ufrgs) André Devinne procura cul�var a ingenuidade — uma defesa contra tudo o que entende. Pressente: há alguma coisa irresolvida que está em parte alguma, mas os nervos sentem-_____1. Quem sabe seja uma espécie de vergonha. Quem sabe o medo enigmá�co dos quarenta anos. Certamente não é a angús�a de se ver lavando o carro numa tarde de sábado, um homem de sua posição. É até com delicadeza que se entrega ao sol das três da tarde, agachado, sem camisa, esfregando o pano sujo no pneu, num ritual disfarçado em que evita formular seu tranquilo desespero. Assim: ele está numa guerra, mas por acaso; de onde está, submerso na ingenuidade, à qual se agarra sem saber, não consegue ver o inimigo. Talvez não haja nenhum. — Filha, não fique aí no sol sem camisa. A menina recuou até a sombra. Agachou-se, olhos negros no pai. — Você vai pra praia hoje? André Devinne contemplou o pneu lavado: um bom trabalho. — Não sei. Falou com a mãe? — Ela está pintando. A filha tem o mesmo olhar da mãe, quando Laura, da janela do ateliê, observa o mar da Barra, transformando aquela estreita faixa de azul acima da Lagoa, numa outra faixa, de outra cor, mas igualmente suave, na tela em branco. Um olhar que inves�ga sem ferir — que parece, de fato, ver o que está lá. Devinne — espreguiçou-se es�cando as pernas. Largou o pano imundo no balde, Sentou-se e olhou o céu, o horizonte, as duas faixas de mar, o azul da Lagoa, vivendo momentaneamente o prazer de proprietário. Lembrou-se da lição de inglês — It's a nice day, isn't it? — e tentou _____2 de imediato, mas era tarde: o corpo 15@professorferretto @prof_ferretto inteiro se povoou de lembrança e ansiedade, exigindo explicações. Estava indo bem, a professora era uma mulher competente, agradável, independente. Talvez justo por isso, ele tenha come�do aquela estupidez. Sem pensar, voltou a cabeça e acenou para Laura, que do janelão do ateliê respondeu-_____3 com um gesto. A filha insis�u: — Pai, você vai pra praia? Mudar todos os assuntos. — Julinha, o que é, o que é? Vive casando e está sempre solteiro? Ela riu. — Ah, pai. Essa é fácil. O padre! TEZZA, C. O fantasma da infância. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2007. p. 9-10. Assinale a alterna�va que preenche corretamente as lacunas das referências 1, 2 e 3, nessa ordem. a) lhe – esquecê-la – lhe b) na – esquecer-lhe – lhe c) na – esquecê-la – o d) lhe – esquecer-lhe – o e) na – esquecê-la – lhe GR0955 - (Ufc) Na frase: “Me delegam responsabilidades que deveriam ser da escola” ocorre: a) ênclise indevida, de acordo com a norma culta. b) próclise indevida, de acordo com a norma culta. c) próclise obrigatória. d) ênclise obrigatória. e) mesóclise. GR0956 - (Ufc) Assinale a alterna�va que completa corretamente a frase: Os inconsequentes não ............................... com o que venha acontecer ............................... mesmos. a) se importarão, conosco. b) se importarão, com nós. c) importa-se-ão, com nós. d) importa-se-ão, conosco. e) importarão-se, conosco. GR0957 - (Pucmg) A importância do ato de ler Paulo Freire Con�nuando neste esforço de “re-ler” momentos fundamentais de experiências de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crí�ca da importância do ato de ler se veio em mim cons�tuindo através de sua prá�ca, retomo o tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção crí�ca dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então professor de língua portuguesa. Não eram, porém, aqueles momentos puros exercícios de que resultasse um simples dar-nos conta de uma página escrita diante de nós que devesse ser cadenciada, mecânica e enfadonhamente “soletrada” e realmente lida. Não eram aqueles momentos “lições de leitura”, no sen�do tradicional desta expressão. Eram momentos em que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura, incluindo a do então jovem professor José Pessoa. Algum tempo depois, como professor também de português, nos meus vinte anos, vivi intensamente a importância de ler e de escrever, no fundo indicotomizáveis, com os alunos das primeiras séries do então chamado curso ginasial. A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sincli�smo pronominal, nada disso era reduzido por mim a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pelos estudantes. Tudo isso, pelo contrário, era proposto à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no corpo mesmo de textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, como objetos a serem desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse. Os alunos não �nham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda. Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se cons�tui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sen�do de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes “leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou estudadas. [...] A insistência na quan�dade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando iden�fica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quan�dade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que 16@professorferretto @prof_ferretto dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia... Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, sublinhar que a minha crí�ca à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prá�ca enquanto professores e estudantes. Atente para o excerto dado: “Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se cons�tui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sen�do de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala.” Se observarmos as prescrições da gramá�ca norma�va, é CORRETO afirmar: a) Em “não se cons�tui” há uma faculta�vidade na colocação pronominal – estaria igualmente correta a forma “não cons�tui-se”. b) Em “objeto de que o texto fala”, o item lexical “que” é um pronome demonstra�vo e retoma, anaforicamente, o sintagma “o objeto”. c) Em “por isso, de memorizá-la”há um desvio, pois a preposição “de” atrai o oblíquo e demanda próclise – deveria ser “de a memorizar”. d) Em “Só apreendendo-a” deveria haver próclise, pois o advérbio (palavra que denota exclusão) atrai o oblíquo. 17@professorferretto @prof_ferretto