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ISBN: 8 5-89128-07-5 
 
 
 
SÉRIE MONOGRAFIAS, 6 
 
Sociedade dos Amigos do Museu Nacional - SAMN 
 
Diretor do Museu Nacional - UFRJ 
 
Prof. Dr. Alerx Kugland de Azevedo 
 
 
 
© Direitos Autorais - Antonio Brancaglion Junior 
 
 
 
Brancaglion Junior, Antonio 
 
 Manual de Arte e Arqueologia do Egito Antigo II/ Antonio 
Brancaglion Junior. - Rio de Janeiro: Sociedade dos Amigos do 
Museu Nacional, 2004. 
 
157p. Il. (Série Monografias, 6) 
 
ISBN: 8 5-89128-07-5 
 
1. Religião - História - Egito. 2. Arqueologia - Egito. Série. II. 
Título 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Os textos fazem parte da série de monografias da Sociedade Amigos do 
Museu Nacional (SAMN) inseridos num projeto de cursos de egiptologia, 
iniciado em 2003, e ministrados no próprio Museu Nacional. 
Esta monografia reúne trabalhos já publicados e outros inéditos que 
foram adaptados com a finalidade de formar a segunda parte de um Manual de 
Arte e Arqueologia do Egito Antigo. 
Foram utilizadas nesta monografia abreviaturas de uso corrente em 
trabalhos de egiptologia: 
PT - “Textos das Pirâmides” 
CT - “Textos dos Caixões” 
LdM - “Livro dos Mortos” 
N. - nome de um indivíduo que deve ser pronunciado junto com as 
fórmulas 
KV - Tumbas reais do Vale dos Reis 
TT - Tumbas da elite tebana 
QV - Tumbas do Vale das Rainhas 
 
Prof. Dr. Antonio Brancaglion Junior 
Rio de Janeiro 
Maio/2004 
 II
INTRODUÇÃO 
 
Talvez não tenha existido nenhuma outra cultura que tenha dedicado 
tantos esforços à morte e à esperança em uma outra vida como os egípcios. 
Buscando de todas as maneiras assegurar uma existência em um Outro 
Mundo. 
A idéia de uma outra vida inspirou-os desde a Pré-história por meio da 
representação simbólica da viagem do Sol, que nasce todas as manhãs, 
atravessando a imensidão do céu azul sobre os campos e o Nilo até alcançar, 
velho e cansado, no fim do dia o deserto ocidental para encontrar a morte. O 
seu renascimento no oriente sugere a ressurreição e um percurso em um 
mundo misterioso e obscuro para além da vida. Na morte, primeiro o rei e 
depois os nobres e por fim todos desejavam, como o sol, percorrer o mesmo 
caminho e alcançar o mesmo destino: uma gloriosa ressurreição. 
Ao longo do tempo os teólogos elaboraram representações do Outro 
Mundo cheio de obstáculos e de perigos, de espíritos malignos e de guardiões. 
Para superá-los era necessário conhecer a topografia do Além por meio de 
verdadeiros guias do Outro Mundo e possuir as fórmulas que dariam o poder 
de vencer as dificuldades e os inimigos. Era igualmente indispensável 
conhecer os nomes de uma multidão de divindades e de gênios para fazer essa 
viagem sem perigos. 
Os egípcios que amavam profundamente a vida buscavam prolongá-la 
depois da morte. Os mitos de Osíris e da viagem noturna de Rê são a base dos 
grandes textos religiosos ilustrados por vinhetas - As Grandes Compilações da 
literatura funerária. 
Segundo as crenças egípcias os indivíduos estão destinados à 
eternidade e à ressurreição no Outro Mundo como Osíris, para isso as suas 
imagens deveriam permanecer intactas garantidas pela mumificação e por 
suas representações em estátuas, pinturas e relevos. As suas múmias 
protegidas dentro de seus esquifes e sarcófagos são guardadas no interior de 
suas tumbas junto aos seus bens mais valiosos e queridos. 
Enquanto o seu espírito glorificado habitava os campos do Outro 
Mundo, viajava com o Sol em sua barca e habitava as suas imagens revendo 
 III
os seus parentes nos dias de festa quando vinham trazer oferendas. Todos 
necessitavam, na outra vida, de alimentos renovados ritualmente todos os 
dias por meio de cerimônias e das cenas pintadas nas capelas das tumbas. Os 
egípcios imaginavam um Outro Mundo com campos verdejantes que 
assegurariam eternamente a sua subsistência, campos que deveriam ser 
trabalhados por servidores funerários. 
As práticas funerárias dos antigos egípcios, expressas por normas e 
costumes, definem-se pelas relações de ordem técnica e ritual que utilizando 
uma linguagem simbólica elaborada que respondia, coletivamente, contra a 
ameaça do desaparecimento dos membros de sua sociedade. O sepultamento 
era parte de um funeral e este parte de um conjunto de rituais pelos quais os 
vivos relacionam-se com a morte. 
 IV
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO I 
INTRODUÇÃO II 
SUMÁRIO IV 
ASPECTOS DA RELIGIÃO FUNERÁRIA EGÍPCIA 1 
I. A VISÃO DA MORTE 1 
II. ELEMENTOS NECESSÁRIOS AO PÓS-VIDA 15 
III. O EUFEMISMO DA MORTE NO ANTIGO EGITO 37 
IV. OS TEXTOS FUNERÁRIOS E OS SEUS SIGNIFICADOS 48 
IV.1. TEXTOS DAS PIRÂMIDES 49 
IV.2. TEXTOS DOS CAIXÕES 53 
IV.3. LIVRO DOS MORTOS 55 
A. O Tribunal de Osíris e o Julgamento do Morto 59 
IV.4. LITANIA DE RÊ 68 
IV. 5. LIVRO DO AMDUAT 69 
IV. 6. LIVRO DOS PORTÕES 71 
IV.7. LIVRO DOS CÉUS 74 
IV.8. LIVRO DA VACA DIVINA TAMBÉM CHAMADO LIVRO DA 
VACA CELESTE 
75 
IV.9. LIVRO DAS CAVERNAS 76 
IV.10. LIVRO DA TERRA OU LIVRO DE AKHER 77 
IV.11. LIVRO DAS RESPIRAÇÕES 78 
V. O TÚMULO: A MORADA ETERNA 79 
V.1. AS TUMBAS REAIS 80 
V.2. AS TUMBAS PARTICULARES OU PRIVADAS 86 
 V
V.3. EVOLUÇÃO DAS TUMBAS PARTICULARES 87 
VI. MÚMIAS: MENSAGEIRAS SILENCIOSAS DE UM PASSADO 
PERDIDO 
95 
VI.1. A ATENÇÃO DESPERTADA PELAS MÚMIAS 99 
VI.2. UM HISTÓRICO DO ESTUDO DAS MÚMIAS EGÍPCIAS 101 
VII. VASOS CANOPOS 106 
VIII. AMULETOS 107 
IX. SARCÓFAGOS, ESQUIFES E CARTONAGENS 109 
X. ESTELAS 117 
XI. SHABTI 120 
XII. GLOSSÁRIO GERAL 122 
XIII. GLOSSÁRIO DE DIVINDADES 137 
XIV. GLOSSÁRIO TOPOGRÁFICO 141 
XV. CRONOLOGIA 146 
XVI. BIBLIOGRAFIA 148 
MAPA DO EGITO 152 
 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 1
ASPECTOS DA RELIGIÃO FUNERÁRIA EGÍPCIA 
 
I. A VISÃO DA MORTE 
 
Considerando-se as fontes materiais disponíveis em todo o mundo sobre 
a civilização egípcia, mesmo ao se tratar de acervos heteróclitos como o do 
MAE, vemos a preocupação com a morte como sendo essencial à religião 
egípcia. Isto‚ o resultado de como se tem orientado a pesquisa arqueológica em 
um país, onde as habitações estão sob metros de limo do Nilo depositados 
durante milênios e ao nível do lençol freático, hoje em dia muito elevado. A 
este testemunho pouco acessível da vida contrapõe-se a condição particular 
das necrópoles, localizadas no deserto fora da zona inundável, em uma 
condição climática que permite a sobrevivência quase intacta de todo material. 
Não se trata somente de um acaso, a diferença na escolha dos materiais 
e dos locais das construções profanas, funerárias e sagradas foi mantida 
durante milênios. Os egípcios organizaram as construções profanas em função 
de suas necessidades da vida cotidiana utilizando palha, fibras vegetais e 
adobe como matéria prima, por‚m erigiam as construções consagradas aos 
deuses e aos mortos em rocha, a fim de eternizá-las. 
Embora esta vocação funerária da egiptologia seja marcante na 
elaboração de uma visão que temos de sua civilização, não podemos, de forma 
alguma, negar o papel capital que as crenças referentes à morte ocuparam no 
seio do pensamento religioso egípcio. 
De modo geral, tem-se escrito menos sobre a morte no pensamento 
egípcio do que sobre os mortos, os ritos funerários e as concepções da vida 
além-túmulo. Isto se deve ao fato de que dispomos de maiores conhecimentos 
sobre as atividades dos antigos egípcios com relação aos seus mortos do que 
sobre a consciência egípcia da morte. No entanto são nestes costumes 
funerários que devemos buscar uma reflexão sobre esta consciência, através 
da crença de que cada indivíduo passaria da sociedade dos vivos para a 
sociedade dos mortos, seguindo uma continuidade social que o levava da 
infância à maioridade, para em seguida tornar-se um ancião e finalmente, 
após a morte, um ancestral. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 2
Os egípcios, no curso de sua história, souberam elaborar um sistema 
orgânico de crenças e de práticas relativas à morte que lhes são específicasem seguida repartidas segundo uma ordem de importância sobre as mesas de 
oferendas das diferentes mastabas. 
Os beneficiários desta fundação real eram admitidos por um decreto 
cujo texto era gravado sobre as paredes da capela e da câmara funerária das 
mastabas e também sobre as mesas de oferendas e onde diz: “Oferendas-que-o-
rei-dá a um tal ou tal deus e ao ká de N. nascido de N.”, seguido de uma longa 
enumeração de alimentos e produtos variados, normalmente designados como 
“todas as coisas boas e puras”. 
Este sistema de fundação funerária só pode subsistir enquanto o poder 
real era estável e muito rico e enquanto o número de beneficiários era 
relativamente pequeno. 
Com o declínio do poder central, no final do Antigo Império, que 
culminou com a descentralização administrativa e o empobrecimento da 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 31
monarquia e ao mesmo tempo favorece a evolução social das classes, até então 
desprestigiadas da população. 
Isto fez com que aqueles que asseguravam o seu culto funerário graças a 
um favor real buscassem, segundo os seus próprios recursos cumprir os ritos 
funerários. É evidente que se o ritual de oferendas regulares era facilmente 
realizável em pequena escala pelos descendentes diretos do morto, o mesmo 
não aconteceu quando a multiplicação dos cultos, geração após geração, 
tornou o ritual demasiado dispendioso. Surgem então as fundações funerárias 
semelhantes à “Casa da Eternidade” que destinava ao culto de um morto um 
patrimônio cuja receita fosse suficiente, a fim de garantir tanto o culto ao 
morto e a manutenção da tumba quanto o sustento de um sacerdote 
funerário, o “servidor do ká”, responsável pela execução dos ritos. 
A concepção da fórmula de oferendas muda, a velha fórmula é 
substituída por: “Oferendas-que-o-rei-dá a Osíris (ou Anúbis) para que este dê 
oferendas ao ká de N.”. O rei no lugar de fazer uma oferenda ao morto 
conjuntamente com alguma divindade, faz oferendas ao deus, a fim de que 
este possa transferir uma parte em favor do morto, transformando-o em um 
comensal do deus. 
Todavia a denominação nswt di Htp, que se lê Htp di nswt, é traduzida 
tanto “Oferendas-que-o-rei-dá” como “oferendas reais para”. Esta fórmula era 
também empregada nos templos em benefício aos deuses e continuou a ser 
aplicada às oferendas e transcritas nas paredes das tumbas e no mobiliário 
funerário, mesmo se elas fossem ofertadas exclusivamente pelas pessoas cujo 
dever incumbiu-as de fazê-lo, ou seja os familiares, cuja obrigação mais 
sagrada era a de cuidar da tumba e de manter vivo o nome de seus mortos 
através da recitação regular da fórmula de oferendas e pela deposição regular 
de oferendas: aniversário da morte, ano novo, dias santos e festivais da 
necrópole. Inicialmente o deus portador das graças reais era Anúbis, o grande 
deus das necrópoles, eventualmente acompanhado pelo deus da necrópole 
local onde o morto estava sepultado. Com o crescimento do culto de Osíris, 
este passou finalmente a ocupar o lugar de Anúbis na fórmula de oferendas. 
Com o Médio Império este sistema de fundação modifica-se para uma 
espécie de pecúlio funerário a fim de garantir a perpetuação do culto. Para 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 32
tanto é criada uma disposição contratual entre o proprietário da tumba e o seu 
futuro “servidor do ká” na qual fica estabelecido que, quando da morte do 
sacerdote somente um de seus filhos assumiria o seu lugar de sacerdote 
funerário. Esta disposição buscava evitar os gastos dispendiosos e o 
progressivo abandono do culto dividindo-se as obrigações sacerdotais entre 
seus herdeiros. 
Estes sacerdotes funerários pertenciam ao clero de um dos deuses 
funerários, Anúbis e Osíris, e na maior parte do tempo eram independentes 
dos santuários, formando uma espécie de confraria profissional 
completamente desvinculada do culto dos deuses e das atividades externas 
aos templos desempenhadas pelos outros sacerdotes. 
Paralelamente passou-se a ser permitido, a quem pudesse arcar com as 
despesas, instalar sua própria estátua nos templos e consagrar diante dela 
uma mesa de oferendas e com isto beneficiar-se de parte das oferendas 
cotidianas feitas ao deus. 
Neste período cresce a idéia, segundo a qual, a aparência do rito era 
suficiente para se recriar a realidade dos objetos evocados e aumentar a 
importância das cenas que decoram as tumbas. Desta forma surgem as 
miniaturas de servidores e as shabtis que trabalharão nos campos do “Mundo 
Inferior” a fim de alimentar os deuses e o morto. 
Estas crenças permanecem praticamente inalteradas durante o Novo 
Império. 
A partir do Médio Império surge a “invocação de oferendas” pert kheru 
(prt-xrw) # que consistia na leitura de uma lista de oferendas, o que era 
suficiente para que elas, magicamente, viessem a existir. 
Com a Baixa Época as últimas ilusões dos mortos em buscar a 
solicitude de seus descendentes recaem sobre a própria fórmula de oferendas, 
embora ainda sejam feitas oferendas em espécie, crescem os apelos aos 
visitantes da necrópole para que pronunciem a fórmula e façam uma simples 
libação de água invocando o nome do morto. 
A instalação do equipamento funerário e a deposição das oferendas na 
tumba foram, em todos os períodos, acompanhadas por certos ritos, cujos 
detalhes seriam demasiadamente complexos para serem tratados aqui. De 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 33
modo geral estes rituais se localizavam na parte pública da tumba, isto é‚ no 
lado externo. Nosso conhecimento destes ritos é essencialmente do Novo 
Império, pela decoração das tumbas reais e civis da necrópole tebana e os ritos 
são apresentados sob a forma de cenas acompanhadas de legendas 
explicativas. 
Uma descrição do cortejo fúnebre e das cerimônias que precedem o 
sepultamento foi-nos transmitida por meio de uma inscrição da tumba de 
Amenemhat, em Beni Hassan, da XII dinastia: 
“Um belo funeral chegava em paz, seus setenta dias tendo 
sido completados em seu local de embalsamamento, sendo 
colocado em seu trenó...e sendo puxado por jovens touros, o 
caminho sendo aberto com leite até você alcançar a porta de 
sua tumba. 
Os filhos de seus filhos, unidos harmoniosamente, choram 
com os corações cheios de amor. Sua boca é aberta pelo 
sacerdote leitor e sua purificação é feita pelo sacerdote Sem. 
Hórus restabelece-lhe sua boca e abre-lhe os olhos e os 
ouvidos, sua carne e seus ossos estão completos em tudo que 
lhe pertence. Fórmulas mágicas e glorificações são recitadas 
para você. É feita a você uma oferenda-que-o-rei-dá, seu 
próprio coração sendo verdadeiro com você, seu coração de 
sua existência terrena, você tendo chegado a sua forma como 
no dia em que você nasceu. É trazido para você o Filho-que-
você-ama, os cortesãos fazendo homenagens [você] entra em 
uma terra dada pelo rei, no sepulcro do oeste” 
 (Texto extraído da tumba de Amenemhat) 
Parte do texto acima se refere à cerimônia que ocorria à entrada da 
tumba conhecida por ritual de “Abertura da Boca” (wpi-r). O propósito deste 
ritual era o de restaurar ao morto os poderes da fala, da visão e da audição e 
de tornar cada um dos órgãos do morto capaz de retomar as suas funções e ele 
mesmo retornar à vida para a sua existência póstuma. 
As suas origens remontam ao início do Período Dinástico, quando não 
possui nenhuma ligação com as práticas funerárias. Seu propósito era o de 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 34
consagrar as estátuas dos reis e dos deuses, animando-as magicamente a fim 
de serem estabelecidas nos locais de culto apropriados. Este rito era praticado 
pelos sacerdotes associados ao culto de Ptah e de Sokar em Mênfis. Esta 
“Abertura da Boca” mágica permaneceu em prática durante toda a história 
egípcia. Paralelamente no Período Tinita, uma “Abertura da Boca” funerária foi 
introduzida nos rituais funerários reais com o propósitode restituir-lhes suas 
faculdades vitais. 
Com a difusão dos ritos funerários do domínio real para o privado, 
passou a ser realizado também nos sepultamentos particulares, combinando a 
cerimônia de oferendas do culto funerário real com a do culto divino cotidiano. 
Inicialmente realizado em uma estátua do morto, passou durante o Novo 
Império a ser realizado na própria múmia. O corpo em seu estojo 
antropomórfico era seguro em pé diante da entrada da tumba por um 
sacerdote com uma máscara de chacal personificando o deus Anúbis. A 
adoção dos caixões antropomórficos a partir do Novo Império teria justamente 
como objetivo retratar o morto e permitir que o corpo mumificado fosse 
mantido ereto durante esta cerimônia. 
Dois outros sacerdotes, conhecidos como sacerdote-Sem e o “Filho-que-
ele-ama” (sA-mri=f), tocavam a boca da múmia com vários instrumentos rituais 
restaurando os sentidos do morto; em seguida era simbolicamente ungido, 
vestido e maquilado, uma recordação da antiga cerimônia em que a imagem do 
rei era vestida. 
Ao lado destes dois aparecem esporadicamente outros sacerdotes e um 
certo número de figurantes. Na Baixa Época a responsabilidade em oficiar o 
ritual de oferendas é transferida do “Chefe-indicador-de-oferendas” (Hr-wDb) 
para o “Sacerdote-leitor” (Xr-Hbt), o que indicaria o predomínio da palavra 
sobre o ritual. Isto é‚ a mudança de um estado no ritual onde nomear os 
alimentos seria suficiente para o morto. 
Finalmente, após diversos incensamentos e fumigações acompanhados 
por preces, o oficiante preparava a primeira refeição funerária. As oferendas 
eram purificadas e os animais consagrados e abatidos. Eram lidas então 
glorificações ao morto enquanto era feita uma libação e um convite para que 
este viesse consumir as oferendas. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 35
A confirmação do rito era obtida por uma recapitulação de todo o ritual 
simbolizado pelo gesto do sacerdote Sem, tocando uma última vez a boca da 
múmia. 
A cerimônia termina com a descida da múmia à câmara funerária e com 
a tumba sendo selada. O morto que até então encarnava as funções passivas 
ligadas à morte passava, pelos ritos a uma nova existência, com suas funções 
vitais restabelecidas. O morto tendo recuperado seus meios conscientes, 
graças aos ritos de auto-reconstituição, poderá tomar a frente de sua nova 
existência, restituído de suas faculdades momentaneamente perdidas no 
instante em que o “sopro da vida” lhe foi retirado. 
De fato nem todas as etapas do ritual eram realizadas, em muitos casos, 
a cerimônia teria sido simplificada devido ao seu alto custo e também porque 
as próprias cenas que a representavam no interior da tumba poderiam agir 
magicamente como substitutas do ritual. 
Esta “Abertura da Boca”, que no início não tinha nenhuma relação com 
culto de Osíris, foi durante o Médio Império como tudo o mais que dizia 
respeito ao mundo dos mortos, incorporada pelo seu mito passando a ser 
considerada como o ritual que Hórus realizou para seu pai Osíris. Hórus foi 
conectado com o título sacerdotal de “Filho-que-ele-ama”, tornando-se o 
sacerdote uma representação de Hórus como o filho herdeiro de seu pai morto. 
O mito de Osíris conferiu ao ritual de “Abertura da Boca” e ao serviço de 
oferendas uma noção de piedade filial e de legitimidade dos herdeiros perante 
a sociedade. Os egípcios acreditavam que o responsável pela realização dos 
ritos funerários fosse o primogênito do morto, não tendo esta possibilidade a 
filha mais velha ou o seu parente mais próximo, e em último caso o seu 
melhor amigo, que assim estabeleceria os seus direitos de herança, desde que 
assumisse o papel de Hórus. 
É claro que, ao delegar a responsabilidade dos ritos a um sacerdote, o 
filho não perderia os seus direitos, desde que providenciasse os recursos 
necessários para a sua realização. 
Pelos ritos funerários, os egípcios buscavam não somente uma 
comunhão entre os deuses e os homens mas também entre eles próprios. Os 
rituais funerários eram o elo entre as gerações. O pai morto tornava-se o 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 36
recém-nascido e o filho herdeiro um novo pai para a família. A morte reverte os 
papéis, muda o protagonista das gerações que se ligam graças à solidariedade 
dos ritos. Se o pai engendrou fisicamente o filho, este por sua vez, oficiando os 
ritos abre a seu pai as portas de uma nova vida espiritual, o filho tornando-se 
o pai espiritual. Se o pai completa-se por meio de seu filho e este se completa 
em seu pai, o rito ativa o ciclo de solidariedade entre as gerações. 
Como vimos, a morte é uma etapa que conduz o indivíduo a assumir 
uma forma diferente de existência que difere da vida pelo fato de ser mais 
efetiva. Portanto, a solidariedade em torno do morto no momento dos funerais 
assim como após o sepultamento faz-se pelo fato de que no Egito os mortos 
dependem dos vivos mais do que estes dos mortos. 
Esta solidariedade ativa só se interrompe pela falta de memória, isto é, 
quando o ontem não existe mais. A memória expressa no túmulo, no nome e 
nos rituais funerários mantém o presente ligado ao passado, sem ela só 
haveria um eterno hoje e o mundo social dissolver-se-ia, pois para os egípcios 
a morte era menos uma morte biológica efetiva do que a extinção do ser social 
com a perda individual e grupal da memória. Neste sentido a morte social era 
para um egípcio fonte de preocupações maiores do que a extinção do suporte 
físico da memória. 
A memória social, assim como a individual, se desintegra quando o 
passado é esquecido, “a trama da solidariedade desintegra-se também e o 
mundo torna-se um campo de batalha onde um combate o outro”. Ela é a ligação 
que engloba o “ontem” unido ao “hoje” dando uma conseqüência à ação. 
A morte definitiva, escatológica, é, sobretudo, a morte social (memória 
coletiva) transcrita em termos metafísicos como uma segunda morte. 
“Veja, batemo-nos sobre o campo de batalha, pois o ontem foi esquecido. 
Nada triunfa para aquele que não conhece mais aquilo que conhecia” 
(“Ensinamentos de Amenemhat”). 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 37
III. O EUFEMISMO DA MORTE NO ANTIGO EGITO 
 
Dentre todas as civilizações a egípcia talvez seja a que mais tenha nos 
legado testemunhos da presença da morte em sua sociedade. As tumbas, as 
múmias, o material funerário e a grande abundância de textos nos revelam a 
importância de sua crença em uma vida póstuma. 
Para nós que vivemos em uma sociedade que se preocupa em ocultar os 
sinais da morte, afastando-a da melhor maneira possível do nosso convívio, os 
egípcios sempre nos fascinaram por sua necrolatria. Assim, desde que a 
egiptologia existe, antes mesmo de tornar-se uma ciência, os estudos a 
respeito de suas crenças referentes à morte sempre foram uma prioridade. 
O grande interesse por parte dos egiptólogos no estudo das crenças 
funerárias egípcias reside no fato de que os restos materiais são em sua 
grande maioria provenientes das necrópoles, e, por estas localizarem-se 
invariavelmente na zona desértica, este material conservou-se melhor que os 
outros vestígios. 
Entretanto, tem-se estudado muito mais as práticas funerárias egípcias 
que uma antropologia da morte. Ainda estamos tentando estabelecer quais as 
relações entre suas concepções e suas práticas, qual o papel destas práticas 
no domínio público e no privado e entender como os egípcios antigos 
concebiam a noção de morte. 
Tentando-se esclarecer algumas destas questões estaremos diante de 
uma cultura e uma civilização habitada por vivos, que buscavam 
ambiciosamente uma existência após a morte, e não apenas de um povo com 
túmulos e múmias. 
No curso de sua história, os egípcios souberam elaborar um sistema 
orgânico de crenças e de práticas relativas à morte cujo objetivo essencial era 
minimizar o impacto da morte sobre a sua sociedade, limitando-a a um 
fenômeno que interrompe provisoriamentea existência dos indivíduos, 
incidindo somente sobre a sua aparência, isto é, no seu receptáculo físico 
(carnal). Em torno desta concepção central crenças distintas uniram-se em um 
imaginário capaz de aceitar a morte, neutralizando e ordenando-a com rituais 
e símbolos, a fim de transcendê-la. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 38
É impossível determinar em que momento os egípcios elaboraram suas 
crenças funerárias; contudo é evidente que a partir do momento que os mortos 
são sepultados, há um culto funerário, e que este supunha uma existência 
post-mortem, uma segunda vida concebida segundo os moldes de sua 
existência terrena, como testemunham os alimentos e os objetos depositados 
junto ao corpo. 
Os egípcios não possuíam divindades que personificassem a morte, 
normalmente, ela é descrita como sendo enviada pelos “mensageiros de 
Sekhmet” que trazem o “sopro da morte” em oposição ao “sopro da vida”. 
A morte é um evento caracterizado por diferentes fatos: estar morto é em 
primeiro lugar e de maneira absoluta o estado de privação do “sopro da vida”; 
para os egípcios o ritmo cardíaco, embora conhecido, não era tido como um 
princípio vital. O coração (ib ou haty) era antes de tudo o centro da 
compreensão e do discernimento, o órgão da vontade que o colocava em 
sincronia com as forças cósmicas (maat). Em seguida, estar morto, era estar 
privado do uso de seus membros, tornar-se imóvel. 
Um dos desejos mais freqüentes expresso no “Livro dos Mortos” é a 
faculdade de ir e vir do morto segundo a sua própria vontade, o que pode nos 
parecer paradoxal já que o morto era cuidadosamente enfaixado antes do 
sepultamento. As bandagens que envolvem as múmias eram chamadas de “os 
limites da morte” ou “os limites de Seth”, o deus que assassinou seu irmão 
Osíris. 
Todavia, o que mais os egípcios identificavam com a destruição do 
indivíduo, o fim de suas funções vitais, era a decomposição do corpo. 
Desde os “Textos das Pirâmides” a visão da putrefação era a mais 
abominável. No capítulo 154 do LdM o morto dirige-se ao deus Osíris em uma 
prece para que seu corpo não se decomponha: 
“...Não se torne meu corpo em vermes, mas liberta-me como tu te 
libertaste. Rogo-te, não me deixes cair na podridão, como permite 
a cada deus, a cada deusa, a cada animal e a cada réptil ver a 
corrupção depois que a alma os abandona após a morte. E 
quando a alma se vai, o homem vê a corrupção e os ossos do seu 
corpo apodrecerem, mudam-se num mau cheiro, os membros 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 39
deterioram-se um após o outro, os ossos desfazem-se, 
transformados em massa inerte, a carne se transforma em líquido 
fétido, ele se torna um irmão na decadência que o salteia, 
converte-se em multidões de vermes, desfaz-se totalmente em 
vermes...” 
Os egípcios nunca tiveram um único termo que designasse a morte de 
uma forma completa e total, sempre preferiram expressões eufemísticas ao se 
referirem a ela, era comparada ao sono, à noite, às idéias ligadas ao silêncio, 
ao sofrimento, às doenças e à guerra. 
De todas as formas de referência à morte a mais freqüente e a mais 
antiga é a concepção de que a morte é um instante de passagem no qual o 
morto parte desta vida para outra, não como um cadáver errante, mas como 
um ser vivo que se desloca segundo a sua vontade e seu senso de orientação. 
Nos “Textos das Pirâmides” é dito ao morto: “Tu não partiste como um morto, tu 
partiste como um vivo” (PT 833a), a fim de atenuar o fato de que a morte é a 
partida para uma jornada em que se interrompera o contato com o mundo dos 
vivos, é dito ao morto: “tu partiste, tu retornarás”, “a partida é como o retorno e 
vice-versa” (CT 6, 91m). 
Uma das expressões mais utilizadas em relação à morte é aquela que 
emprega o verbo meni, que designa o ato de amarrar o barco em uma estaca 
fincada na margem. Estas estacas eram identificadas às deusas Ísis e Néftis, 
divindades que possuíam um papel protetor para com o morto nos rituais 
funerários, principalmente durante a mumificação. Parece-nos que esta 
expressão designa que a boa travessia do morto termina com a acostagem no 
mundo dos mortos. 
A morte ligada a um vocabulário marítimo poderia significar não 
somente o transporte da múmia por barco até a margem ocidental do Nilo, 
onde se localizava a necrópole, mas que a morte era a chegada ao porto após 
haver atravessado a vida. Meni seria uma alusão à renovação da vida e da 
ordem quando da viagem do sol durante a noite, através do reino dos mortos, 
dispersando o caos e a obscuridade. Na mitologia funerária egípcia o deus-sol 
Rê navega em um Nilo subterrâneo levando em sua barca, chamada “Barca de 
Milhões”, as almas dos mortos. Outros termos ligados ao movimento eram 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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igualmente empregados para designar a morte: shem “ir” ou khepy “passar”, 
presente na expressão “passar para o seu ká”, que significa morrer. 
O morto é também designado bagiu “o cansado”, uma alusão ao deus 
Osíris também chamado de “o de coração cansado”. Temos também o verbo 
mut, homófono do substantivo que significa mãe, de cuja raiz foram tirados 
substantivos que designavam as mortes violentas e sangrentas. O termo hepet 
era utilizado para designar o estado inânime do corpo. 
Segundo os textos funerários, os mortos não pertencem à humanidade, 
mas formam uma coletividade própria, denominada desde os “Textos das 
Pirâmides” por akhu, que designa um estado ao qual o morto desejava atingir, 
um estado inicialmente exclusivo do faraó que desfrutava de uma existência 
póstuma junto às estrelas. Mais tarde com a “democratização” das crenças 
funerárias, ocorrida durante o final do Primeiro Período Intermediário e o início 
do Médio Império, os simples mortais puderam beneficiar-se desta 
imortalidade ao lado dos deuses. Democratização é um termo muitas vezes 
aplicado ao fenômeno político-ideológico que ocorreu no campo religioso e que 
possibilitou o acesso das classes sociais mais baixas aos ritos funerários, 
antes exclusivos do faraó. 
Os akhu, isto é, os “glorificados” atingem esta condição não 
simplesmente por estarem mortos, mas por serem socialmente reconhecidos 
como mortos que desfrutam de uma existência póstuma ao lado dos deuses. 
A palavra akh, cujo plural é akhu, possui ramificações que cobrem uma 
série de referências, entre elas akhet “horizonte” que pode significar “ser eficaz” 
e “ser alguém”, mas o significado central encerra o conceito de luz, o morto no 
estado de akh teria o seu espírito transfigurado sakhu pela luz, seria aquele 
que escapou da escuridão. O oposto de akh é mut, a pessoa que morreu e não 
foi transfigurada pela luz do deus Rê no Mundo Inferior estes são os espíritos 
maléficos e mal intencionados denominados mut nas “cartas aos mortos”. Uma 
das formas de comunicação com os mortos era a de escrever uma carta em um 
recipiente para oferendas e depositá-lo na tumba. 
Outras formas eufemísticas são utilizadas para designar o morto, ele é 
“aquele que descansa”, “aquele que está em paz” ou “aquele que foi para o seu 
pai”, isto é, para o túmulo da família. Os mortos são chamados de “os 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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perfeitos”, e o mais comum de todos “os ocidentais”, uma evocação do local de 
descanso dos mortos; o ocidente designa ao mesmo tempo as necrópoles e o 
local metafórico do outro mundo. Um dos epítetos de Osíris é o de 
Khentamentiu, isto é “O Primeiro dos Ocidentais”. 
Nos textos autobiográficos, nas estelas funerárias, nos textos 
invocadores de oferendas e nos apelos aos vivos o morto jamais se refere como 
tal. Ele simplesmente descreve a sua situação social, os seus títulos e os 
cargos que possuiu em vida. Somente dois epítetos, que acompanham o nome, 
designam o indivíduo como estando morto. O primeiro é imakhu, traduzido 
normalmente por “venerável”, um título exclusivo aos mortos, para tanto eram 
necessários umaaprovação pública que lhe conferisse uma memória social, 
uma progênie encarregada do culto funerário legalmente testamentada e o 
morto deveria ter promovido em vida um acúmulo de bens suficientes para 
viabilizar a criação deste verdadeiro fundo de pensão funerário. 
O outro título ligado ao nome do morto em todos os textos e objetos 
depositados em sua tumba é maatkheru, diz respeito mais ao desejo de 
imortalidade do morto que a busca de uma memória social. Normalmente 
traduzido por “justificado” o termo significa literalmente “justo de língua” e 
surge pela primeira vez sob o reinado de Mentuhotep III e designa o morto que 
passou pelo julgamento dos mortos. 
A imagem deste julgamento é amplamente conhecida, a pesagem do 
coração que algumas vezes é chamada de psicostasia, diante do tribunal dos 
quarenta e dois deuses, presidido por Osíris e mais raramente por Rê, na 
presença do deus Thot, o escriba divino que registra o veredicto. O indivíduo é 
introduzido por Anúbis psicopompo na sala do julgamento que é, ao mesmo 
tempo, a entrada dos domínios imortais de Osíris. Seu coração que deve 
representar a pureza de seus atos é pesado contra Maat, frequentemente 
simbolizada por uma pluma. Paralelamente, o morto pronuncia a dupla 
declaração de inocência, atestando que não cometeu nenhuma falta que 
contrarie as exigências de Maat. Este texto qualificado de “confissão negativa” 
nada tem em comum com a concepção cristã de pecado como muitos desejam 
crer. Após ser declarado “justificado” pelo tribunal, o morto pode entrar no 
“Belo Ocidente” e iniciar a sua vida post-mortem. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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Não sabemos em que momento o morto era reconhecido pelos vivos 
como sendo um “justificado”, todavia um texto de Diodoro Sículo é digno de 
consideração. Nele o autor descreve um julgamento do morto antes do 
sepultamento, realizado na margem oposta à necrópole. Este julgamento era 
previamente anunciado pela família do morto e no dia marcado um grupo de 
quarenta e duas pessoas dispunha-se em semicírculo ao redor do corpo 
representando os juízes, que aguardavam alguma acusação contra o morto. 
Caso não houvesse nenhuma acusação ou estas fossem consideradas 
caluniosas, a cerimônia de sepultamento poderia prosseguir; entretanto se 
alguma culpa fosse declarada contra o morto este não seria sepultado segundo 
o ritual (Diodoro Sículo I, 92 (1-6) e I, 72). 
A existência de um julgamento como parte do ritual de sepultamento 
não é atestada em nenhuma outra parte, contudo, na última frase do capítulo 
86 do LdM, o morto declara: “meu corpo foi sepultado”, isto é, recebeu o 
sepultamento ritual. No capítulo 1, um parágrafo complementar é algumas 
vezes adicionado e nele o morto declara: “fui examinado por numerosos 
inquisidores...minha alma foi a eles confrontada...e que minha boca foi correta 
sobre a terra”. No final do capítulo 125 o morto diz: “eu me livrei das calúnias 
dos que estavam em serviço”. 
No campo das imagens os egípcios tratavam a morte também 
eufemisticamente. Uma das características da civilização egípcia é sem dúvida 
a proliferação de imagens, todavia, a enorme proporção de monumentos de 
uso funerário que sobreviveu até os nossos dias pouco ou quase nada 
retratam a morte. Então como os mortos ou a morte eram representados? 
Os egípcios jamais adotaram uma figura que representasse a morte, pelo 
menos não como a figura do esqueleto com a foice, adotada pelo ocidente 
desde a Idade Média. Não existem representações de esqueletos na arte 
faraônica, são raras as imagens de mortos com seus corpos ressecados pela 
mumificação. Uma destas representações encontra-se no sarcófago de 
Hildesheim datado entre 600 e 300 a.C., uma outra está na vinheta que ilustra 
o capítulo 89 do LdM de Tehena. Em ambas as cenas o corpo é representado 
nu, todo preto, com os membros extremamente finos e as juntas muito 
proeminentes. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 43
No caso do mais ilustre de todos os mortais, o faraó, é sempre 
representado com seus atributos reais exercendo as suas funções como em 
vida. Se, a partir do Novo Império, as cenas dos templos representam a 
teogamia ou o nascimento divino do rei, o mesmo não ocorre com a morte do 
faraó, nenhuma cena dos funerais reais é retratada, somente as shabtis 
retratam o faraó sob a forma de uma múmia, uma das inúmeras formas de 
identificá-lo ao deus Osíris. A única exceção é a cena da parede leste da 
câmara funerária de Tutankhamon, nela o sarcófago real aparece deitado 
sobre o catafalco que é puxado por cinco grupos de homens, membros de sua 
corte. Outra cena excepcional é a que representa a morte da princesa 
Meketaten, na qual o corpo da princesa aparece estendido sobre o seu leito 
próximo do qual os seus pais, o faraó Akhenaton e a rainha Nefertiti, 
lamentam-se. 
Os particulares, além das shabtis, são retratados nas paredes das 
capelas funerárias do Novo Império, durante os rituais funerários, mas sempre 
sob a forma de uma múmia ou de um sarcófago antropomórfico. Estas 
imagens da múmia são utilizadas em cenas estritamente funerárias, em todas 
as outras representações, o morto, assim como os membros de sua família, 
são representados como vivos, sempre jovens, belos e fortes, conforme o ideal 
autobiográfico dos egípcios. Os egípcios não acalentavam a idéia de nudez 
paradisíaca. Não somente comida e bebida eram ofertados aos mortos, mas 
também roupas de linho. 
O grande temor dos egípcios não estava na perda das funções físicas, 
pois como vimos eles acreditavam na permanência da personalidade individual 
após a morte; o que lhes aguardava do outro lado da vida era o que os 
preocupavam. 
Foi com o objetivo de responder a este mistério inevitável que os seus 
mitos funerários foram elaborados, uma doutrina formada por diversos 
elementos complexos e com forte suporte simbólico. Contudo duas idéias 
básicas sobre o destino póstumo dos mortos estiveram sempre presentes 
desde os tempos mais remotos: de um lado a vida além túmulo foi considerada 
como um prolongamento da vida terrestre, um verdadeiro espelho da vida às 
margens do Nilo; de outro a crença de que esta nova existência só seria 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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possível após ser percorrida uma longa jornada repleta de perigos. Ambas as 
crenças levaram à elaboração de um riquíssimo repertório textual e 
iconográfico. 
Nestes textos a morte é apresentada como sendo não apenas o fim da 
vida, mas também como a entrada para um novo modo de ser. Os egípcios 
acreditavam que embora a vida fosse transitória, ela poderia ser preservada 
através da renovação. Nos rituais esta verdade mítica era invertida, e a vida 
renovada pela preservação. A idéia presente em todos os mitos funerários 
egípcios era a de que a vida só poderia existir e ser renovada através da morte. 
Não somente os seres humanos, mas também os deuses eram mortais. 
A renovação dava-se fora do mundo criado, na escuridão das águas 
primevas (Num) que circundava o universo criado e era mantido fora dele, 
circulado por uma serpente que morde a ponta de sua cauda. No “Livro do 
Am-Duat”, na última hora da noite, o deus-sol e os mortos eleitos penetram 
como velhos, abatidos pelo cansaço da vida, no corpo de uma serpente 
gigantesca chamada “A que envolve o Mundo” e ao saírem de dentro dela 
surgem rejuvenescidos como crianças, e o deus-sol é chamado “o jovem”. 
Esta mitologia funerária tem início com os “Textos das Pirâmides”, um 
apanhado de fórmulas gravadas nas câmaras funerárias das pirâmides da V e 
VI dinastias. Este conjunto que não foi organizado de forma sistemática foi 
inteiramente composto para fornecer os meios que permitissem uma existência 
póstuma ao faraó, de modo que este evitasse os perigos e as ameaças da outra 
vida. O destino do rei morto era celeste, por diversos meios ele chegaria ao 
céu, adotando diferentes formas animais, com a ajuda de diferentesobjetos, 
para lá desfrutar de uma existência junto às estrelas e navegar diariamente na 
barca do deus-sol Rê. 
Este destino imortal estritamente reservado ao faraó foi, às custas de 
grandes mudanças ideológicas e políticas, transformado nos “Textos dos 
Sarcófagos” de forma a permitir que os simples mortais pudessem se 
beneficiar de uma existência ao lado dos deuses. Este conjunto de textos 
recebeu este nome pelo simples fato de terem sido escritos à tinta, no interior 
de sarcófagos de madeira, durante o Médio Império, particularmente nas 
necrópoles de Beni Hassan e El-Berschec. Foram inspirados diretamente nos 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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“Textos das Pirâmides”, aos quais se adicionou um grande número de 
capítulos suplementares e rubricas, a fim de dar uma forma mais coerente ao 
texto. Essencialmente trata-se da viagem do morto no Outro Mundo celeste 
junto com Rê e os meios mágicos necessários para evitar o ataque de inimigos. 
Sobre os sarcófagos da necrópole de El-Berschec, datando do início do 
Médio Império, surge uma outra composição funerária conhecida por “O Livro 
dos Dois Caminhos”, acompanhada de uma vinheta. Este nada mais é que um 
mapa do mundo dos mortos, com os dois caminhos que conduzem ao Re-Stau, 
um lugar mítico onde Osíris é o senhor e que é habitado por terríveis 
monstros. Este livro é o ancestral das grandes cosmografias do Novo Império. 
No Novo Império enquanto os rituais funerários eram fixados em textos e 
codificados, como foi o caso do “Ritual de Abertura da Boca”, novas 
composições funerárias foram compiladas, reproduzidas em papiro para os 
particulares e gravadas sobre as paredes das tumbas reais no Vale dos Reis. 
Estes textos tornaram-se cada vez mais indispensáveis ao morto em sua 
viagem ao Mundo dos Mortos. 
O mais conhecido de todos os textos funerários egípcios é sem dúvida o 
“Livro dos Mortos” cujo título correto é “Encantamentos para Sair da Tumba à 
Luz do Dia”. Substituto dos “Textos dos Sarcófagos”, de onde ele retirou muitos 
de seus capítulos, ele é principalmente escrito sobre o papiro que era 
depositado entre as pernas das múmias, entre as bandagens ou dentro de 
uma imagem em madeira do deus Osíris-Seker. A mais acessível de todas as 
composições funerárias, o “Livro dos Mortos”, poderia ser adquirida nos 
templos em versões com vinhetas ricamente decoradas ou em compêndios 
mais modestos conforme o poder aquisitivo. O seu texto é dividido em rubricas 
e cada capítulo possui uma vinheta com mais de cento e noventa capítulos. O 
“Livro dos Mortos” passou por uma série de ampliações, chamadas recensões, 
e modificações a partir do Terceiro Período Intermediário até o Período 
Ptolomaico. 
Enquanto as tumbas de particulares eram ornamentadas com 
representações da vida cotidiana, as quais eram cenas estritamente religiosas, 
as tumbas reais fizeram nascer um outro gênero literário que teve a sua 
origem no “Livro dos Dois Caminhos”. As sepulturas dos faraós eram 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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desprovidas de cenas da vida cotidiana e suas ilustrações eram retiradas das 
grandes obras cosmográficas do Novo Império. 
O primeiro livro do Mundo Inferior foi chamado de “Livro do Amduat” 
embora seu título original fosse “O que está no Mundo Inferior” ou como 
consta em algumas tumbas “Texto da Câmara Oculta”. Este foi o tema 
predominante em todas as tumbas reais de Thutmés III a Akhenaton 
descrevendo a jornada do deus-sol em sua barca pelas doze horas da noite 
para nascer na última hora através do corpo de uma serpente para uma nova 
vida ao amanhecer. 
Durante o reinado de Horemheb surge uma nova composição ainda sem 
título na época, mas que atualmente é conhecida como “Livro dos Portões”, 
pois cada uma das doze divisões da noite está representada separada por um 
portão. Embora a idéia das doze horas noturnas permaneça, o “Livro dos 
Portões” adiciona a sala do tribunal de Osíris na última hora antes do 
nascimento do sol. Em comparação ao “Livro do Amduat” reduziram-se em 
muito as características do Mundo Inferior e o número de seres que nele 
habita. 
Permaneceu em uso até o reinado de Merneptah que teve o corredor de 
acesso ao seu cenotáfio inscrito com a primeira cópia conhecida do “Livro das 
Cavernas”, cujo nome antigo nos é desconhecido. Este descreve o Mundo 
Inferior dividido em duas metades com o disco solar ao invés da Barca Solar 
percorrendo cada hora e traz, com maiores detalhes, a tortura dos danados. 
Esta composição aparece nas tumbas de Ramessés IV, VI, VII e IX. 
Nas últimas tumbas reais ramessidas, incluindo a da rainha Twosret, 
um novo conjunto de elaboradas cenas que retratam a jornada do sol sob a 
terra durante a noite e no céu diurno foi chamado “Livro da Terra”, por 
concentrar-se no aspecto ctônico da ressurreição solar junto com os deuses 
Geb, Aker e Tatunen. 
Estas cosmografias permaneceram em uso, juntamente com o “Livro dos 
Mortos”, até a época Ptolomaica quando surge então o “Livro das Respirações” 
que permaneceu em uso até o segundo século da nossa era. Conhecemo-los 
unicamente em papiros provenientes da região tebana, atribuídos a Ísis e a 
Thoth, eram utilizados como uma espécie de documento ou “passaporte” que 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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permitiria ao morto receber o sopro da vida no Outro Mundo bem como o 
poder de preservar o seu nome: uma lembrança com temas dos “Textos das 
Pirâmides” mesclada com elementos do “Livro dos Mortos”. 
Em todos estes textos o deus-sol Rê divide o domínio do Mundo dos 
Mortos com o deus Osíris, é a combinação de uma existência celeste com uma 
ctônica, dividindo um espaço misterioso localizado no poente sob a terra onde 
o deus Osíris é o Senhor. Para que a vida seja renovada é preciso que Rê a 
percorra todas as noites, passando por suas doze seções ou horas, navegando 
em sua barca de oriente a ocidente levando luz a este mundo de trevas. Porém, 
o tempo no outro mundo é diferente do terreno, uma hora no Duat era 
equivalente a uma vida. Tão logo a Barca Solar se aproximasse de um dos 
portões que dividem as horas do Mundo Inferior este se abriria 
automaticamente. 
Quando o deus-sol brilha na escuridão e, diz o verbo criador, os 
sarcófagos e as capelas são abertos e os espíritos saem das múmias acordando 
do sono da morte. Eles saem das bandagens que os protegiam e então o 
ressurrecto poderia viver a sua segunda vida, cultivando os campos, pescando 
e caçando, jogando e participando de banquetes com seus familiares. 
Repetindo a sua vida graças ao brilho do sol, e acreditando que na outra vida 
teria a possibilidade de realizar feitos não conseguidos em vida, as mulheres 
estéreis poderiam ter seus filhos, os famintos seriam alimentados e os 
injustiçados seriam recompensados. Em algumas tumbas de mulheres 
solteiras são encontradas figuras da morta com uma criança, representando o 
desejo desta em ter um filho na sua vida póstuma. 
No mesmo espaço e ao mesmo tempo, os inimigos dos deuses, aqueles 
que foram contra Maat em vida, seriam punidos. Não havia uma divisão 
espacial definida entre “céu” e “inferno” nos textos funerários egípcios, neste 
mundo o sol que dá a luz e a vida aos “justificados”, dá o calor calcinante e o 
fogo que queima os inimigos. No “Livro dos Portões” o deus Rê diz: 
“Ó deuses (os mortos) que estão no Mundo Inferior, 
Que estão junto do Governador do Oeste (Osíris), 
Que estão estirados a seu lado, 
Que estão dormindo em seus suportes, 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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ergam sua carne, 
juntem os seus ossos, 
reúnam seus membros, 
unam a sua carne. 
Pode haver fresca brisa para suas narinas. 
Livrando-se de suas bandagens. 
Possam tirar suas máscaras. 
Possa haver luz para seus divinos olhos, 
para que possam ver a luz por eles. 
Levantem-se de seu cansaço”. 
 
IV. OS TEXTOS FUNERÁRIOS E OS SEUS SIGNIFICADOS 
 
Os teólogos egípcios elaboraram representaçõesdo Outro Mundo repleto 
de obstáculos e perigos com espíritos malignos e guardiões. Para vencer estes 
perigos era necessário conhecer a topografia do Outro Mundo, possuir um guia 
e fórmulas mágicas capazes de vencer as dificuldades desta jornada no Outro 
Mundo. Era preciso conhecer os nomes das divindades e dos guardiões 
funerários. 
Os textos, fórmulas e liturgias funerárias que os egípcios nos deixaram 
são de uma quantidade extraordinária, maior que qualquer outra cultura. Em 
nenhuma outra a utilização da palavra e do texto foi tão amplamente 
importante no culto funerário quanto no Egito Antigo. Isto porque estas 
fórmulas e textos eram um meio mais importante para alcançar o Pós-vida. 
Sua função era equipar o morto com um repertório de textos necessários 
a sua sobrevivência póstuma. Conhecer as fórmulas era possuir um poder 
mágico substituindo a memória neural do morto por uma artificial. 
Temos duas formas básicas de textos funerários: 
Liturgia Funerária - formavam textos destinados a serem recitados no 
culto aos mortos (recitações). Faziam parte dos rituais executados durante a 
mumificação e realizados na capela da tumba pelos vivos em favor do morto. 
Literatura Funerária - Textos que o morto levava para o tumba para o 
seu proveito no Outro Mundo. Estes textos localizavam-se em locais 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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inacessíveis, nas paredes das câmaras funerárias, nos caixões e nos papiros 
colocados junto às múmias. A literatura funerária é um fenômeno único e 
exclusivo da cultura egípcia. 
Ambas as formas estão junto ao local onde deveriam agir, próximas ao 
morto: na sua tumba, nas bandagens das múmias, em estelas, estatuetas 
funerárias, mesas de oferendas e amuletos. 
Independente da época, da forma e do conteúdo estes textos têm como 
função fornecer uma proteção ao morto através de encantamentos e rituais 
que deveriam ser realizados pelos vivos em benefício ao morto (liturgia) ou 
realizados pelo próprio morto na outra vida (literatura). 
Ambos têm por finalidade “fazer as mudanças”, isto é, fazer com que o 
morto atinja o estado de glorificado, fazendo uma transição com sucesso junto 
aos deuses no Outro Mundo, ou como são chamados nos “Textos das 
Pirâmides” “akhu que se tornaram divinos” (PT 969b). Todo propósito da 
Literatura Funerária egípcia é, portanto, auxiliar o morto a tornar-se um akh 
evitando a segunda morte. 
Em egípcio o termo genérico para todos os textos funerários era sakhu, 
isto é, “o que faz um akh”. 
 
IV. 1. TEXTOS DAS PIRÂMIDES 
 
Os textos funerários mais antigos e, provavelmente, os mais 
cuidadosamente estruturados da literatura funerária egípcia, compostos 
provavelmente em Heliópolis, são os “Textos das Pirâmides”, inscritos nas 
câmaras subterrâneas dos reis da V e VI dinastias e de algumas de suas 
rainhas, num total de 9 pirâmides. Aparece pela primeira vez na pirâmide de 
Unas, em Saqqara, o último faraó da V dinastia. 
É um conjunto que chega a 759 fórmulas, cujo número varia conforme o 
tamanho da pirâmide. A de Unas contém 227 fórmulas. A pirâmide de Pépi II, 
na VI dinastia, tem a coleção mais completa com 675 fórmulas. Os textos são 
esculpidos em colunas cujas fórmulas ou falas variam de tamanho, podendo 
ser traduzidas por uma curta sentença até várias páginas. Estas fórmulas 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 50
começam com a palavra “recitar” e terminam com uma linha divisória ou com 
o final hieroglífico que significa “fechar”. 
 Por suas características estes textos parecem datar de um século antes. 
Tradições mais antigas são perceptíveis no próprio texto, como por exemplo 
quando os corpos eram sepultados na terra ou em túmulos feitos em tijolos de 
barro, anteriores às pirâmides: 
“Levanta-te, remova a terra, saia do pó”. (PT 747b) 
 
“Derrube a sua mastaba. Esmigalhe os tijolos” (PT 1942c) 
 
Uma possível referência à antiguidade destes textos é o chamado “Hino 
Canibal” (PT 273-4) que descreve o rei comendo a magia e os espíritos dos 
deuses, após a sua chegada ao céu. Embora possa ser um conceito metafórico 
esta passagem poderia ser uma referência a sacrifícios humanos realizados em 
tempos Pré-históricos. 
Eles não são uma coletânea aleatória de textos, podemos distinguir três 
gêneros distintos, cada um com uma função específica e cada um relacionado 
à arquitetura da pirâmide: 
Na câmara funerária os textos são ditos por um locutor anônimo 
(sacerdote) que fala sobre o rei morto. 
Na parede oeste, sobre o sarcófago, estão Fórmulas de Proteção contra 
criaturas maléficas formando um conjunto mais antigo com frases impossíveis 
de serem traduzidas. Estes textos complementam a própria função protetora 
da pirâmide: “Cuspa parede. Vomite tijolo. Aquilo que sai de sua boca vire-se 
contra você” (PT 246a-b). Aparecem também voltadas em direção ao serdab 
onde estavam as estátuas do faraó. 
Na parede norte da câmara funerária estão as Fórmulas de Alimentação 
e a Lista de Oferendas, mais curtas, acompanhando a apresentação de 
alimentos e outras oferendas ao morto. 
Cada oferenda é chamada “Olho de Hórus”, muitas fórmulas apresentam 
trocadilhos: 
“Osíris N., receba o Olho de Hórus. 
Ele não pode ser retirado de você. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 51
Dois pedaços de pão” (PT 87a-b) 
 
Além das fórmulas existem também indicações de como e quantas vezes 
recitá-las. O ritual de oferendas acompanha, também, a purificação e a 
cerimônia de “Abertura da Boca” com a finalidade de restaurar as faculdades 
do morto. Então, segue a apresentação dos alimentos e das bebidas, além de 
objetos de uso do morto. O texto termina com o ritual de “Quebra dos Vasos”. 
Na parede sul estão as Fórmulas de Glorificação ou Ressurreição do 
faraó. Uma seqüência longa de fórmulas cujo tema é a partida do rei deste 
mundo para o outro. O ritual começa com as palavras “Você não parte como 
um morto, você vai como vivo” (PT 134a) e terminam com “O seu nome durará 
entre os homens assim como estará entre os deuses” (PT 256d). 
O destino do morto nestes textos é as estrelas onde o rei se apresenta 
com uma cabeça de chacal. Estas fórmulas permaneceram em uso em 
períodos posteriores. 
Na antecâmara as fórmulas são ditas pelo próprio morto, na primeira 
pessoa ou em alguns casos é invocado na terceira pessoa. Estas fórmulas 
“personalizadas” formam o maior e mais variado grupo, aparecendo também 
no corredor que leva para fora da pirâmide. 
Diferente dos textos rituais estas fórmulas não possuem uma seqüência 
fixa, variam de pirâmide para pirâmide e utilizam metáforas referindo-se ao 
deslocamento do morto, como escadas para o céu e travessia de canais. 
Tratam também do surgimento do rei no mundo divino e a sua chegada sob 
diferentes formas: babuíno, crocodilo, serpente, touro e estrela. 
Faz parte deste grupo as fórmulas que não são nem descritivas nem 
narrativas, mas “apelativas”, uma evocação ao rei: 
“Erga-te ó rei 
Tome a tua cabeça, 
Reúna os teus ossos 
recolha os teus membros, 
sacuda a terra de tuas carnes. 
Receba teu pão que não apodrecerá, 
Tua cerveja que não azedará. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 52
Tu te apresentarás à porta que afasta os ímpios, 
e Khentimenutef sairá para te receber, 
ele pegará a tua mão e te conduzirá ao céu 
ao lado de teu pai Geb 
Ele (Geb) se alegrará com a tua presença 
e te estenderá os braços. 
Ele te abraçará e te alimentará 
Ele te colocará à frente dos espíritos glorificados, 
as estrelas imperecíveis. 
Aqueles dos locais ocultos te renderão homenagens, 
os grandes se juntarão a ti, 
os vigias se levantarão diante de ti 
eu cortei para ti a cevada 
e ceifei para ti o trigo, 
para poder celebrar as festas mensais, 
para poder celebrar a tua festa do 15º dia, 
como foi ordenado pelo teu pai Geb 
erga-te, Osíris N., 
tu não estás morto” (PT 664a, 665b) 
 
Embora os “Textos das Pirâmides” sejam todos de uso darealeza é 
possível que algumas de suas fórmulas, como a de oferendas, possam ter sido 
usadas por membros da elite. Estes textos eram, provavelmente, escritos em 
uma “cópia mestre” em papiro guardado em um templo em Heliópolis. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 53
 
 
IV. 2. TEXTOS DOS CAIXÕES 
 
O primeiro uso de textos funerários por particulares data do Primeiro 
Período Intermediário e Médio Império. São conhecidos como “Textos dos 
Caixões” ou “Textos dos Sarcófagos”, pois são muitas vezes, encontrados nos 
caixões em madeira, embora, também apareçam em papiros e nas paredes de 
algumas tumbas. 
Durante o Antigo Império o Outro Mundo era no céu e era o destino do 
faraó morto. Assim, o tema da ascensão celeste é um dos principais temas dos 
“Textos das Pirâmides”. O rei deixa este mundo indo para o céu, enquanto os 
homens continuam, após a morte, em uma existência terrena. Os simples 
Esquema das fórmulas na câmara interna e anexo da Pirâmide de Unas 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 54
mortais cumpriam, até então, uma passagem horizontal, isto é, até a 
necrópole, o Belo Ocidente, enquanto o rei fazia uma ascensão vertical rumo 
aos céus. Os “Textos dos Caixões” rompem a fronteira entre o destino do rei e 
a sorte dos homens, um reflexo da crise política do final do Antigo Império. 
O costume de cercar o morto por textos continua, mas agora não mais 
uma exclusividade de reis e rainhas. Não é fruto somente de mudanças da 
concepção dos direitos póstumos, mas também uma transformação da 
cosmografia. O Outro Mundo não era mais exclusivamente localizado no céu, 
mas também no Mundo Inferior (Duat) onde eram os domínios de Osíris, onde 
perigos e dificuldades deveriam ser transpostos e onde as fórmulas mágicas 
eram indispensáveis ao morto. 
Cada caixão é tratado como uma versão, em escala reduzida, das 
câmaras das pirâmides do Antigo Império, e como anteriormente esses textos 
eram inscritos nessas câmaras agora são escritos a tinta nesses caixões. 
Reproduzem os textos rituais dos “Textos das Pirâmides” principalmente o 
Ritual de Ressurreição, que aparece completo. As fórmulas de oferendas são, 
geralmente, substituídas por uma lista de oferendas ou pinturas 
reproduzindo-as. 
Esses textos, influenciados pelas práticas burocráticas, utilizam a tina 
de cor preta dos textos e das fórmulas e a vermelha para o “cabeçalho” ou 
“rubrica” utilizadas para dar informações sobre a finalidade do texto, os efeitos 
desejados e as indicações de uso. As formas típicas dessas rubricas são os 
títulos das fórmulas, como por exemplo “Não morrer uma segunda vez”, “Não 
comer excrementos no Reino dos Mortos”, “Não andar de cabeça para baixo”, 
“Dispor de ar e água”, “Justificar um homem”, “Transformar-se em...”, entre 
outras. 
Esta inovação mostra que o objetivo principal dos “Textos dos Caixões” 
não é o de registrar eternamente as preces para o morto, substituindo a voz do 
sacerdote leitor, como acontecia nos “Textos das Pirâmides” mas sim o de 
eternizar um saber mágico tornando-o disponível para que o próprio morto o 
utilizasse, isto é, não tinha mais a função de substituir as preces, mas sim a 
de criar uma memória artificial para o morto equipando-o de um repertório de 
fórmulas que o libertariam do Mundo dos Mortos tornando-o um espírito-akh. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 55
Mapa do Outro Mundo representado 
nas laterais internas do caixão de 
Gewa, el-Bersha, British Museum 
A maior parte dos “Textos dos Caixões” são fórmulas “pessoais” vindas 
diretamente daquelas encontradas na antecâmara e no corredor de acesso das 
pirâmides reais. São cerca de 1185 fórmulas distribuídas de forma variada em 
cerca de 200 caixões já encontrados. Em alguns casos a fórmula é idêntica aos 
dos “Textos das Pirâmides” ou uma versão 
adaptada delas, outras formam uma série nova 
de textos funerários, como o “Guia para a 
Outra Vida”, uma série de fórmulas 
acompanhadas por um “mapa” descrevendo os 
obstáculos do Outro Mundo e fornecendo 
instruções para uma viagem segura ao morto. 
O mais importante desses guias é o 
“Livro dos Dois Caminhos” um guia do Mundo 
Inferior pintado no fundo das cubas dos 
caixões. Nele uma rota pintada em preto, 
chamada de “Caminho Inferior”, e outra em 
azul, o “Caminho Superior”, margeando um lago 
de fogo. 
O morto, ameaçado por vários perigos, é 
ajudado pelas fórmulas mágicas a superar os 
obstáculos. Estes textos unem a concepção solar da viagem do faraó na Barca 
Solar com uma visão osiríaca dos Campos de Oferendas. 
 
IV. 3. LIVRO DOS MORTOS 
 
A denominação “Livro dos Mortos” foi dada pelo egiptólogo alemão Karl 
Richard Lepsius (1810-1884) após a sua publicação de uma grande versão 
ptolomaica do Museu de Turim, o Papiro de Iufankh, embora essa 
denominação ainda esteja em uso para definir o mais célebre livro funerário do 
Egito Antigo nada tem a ver com o título original em egípcio “Livro para Sair à 
Luz do Dia”, título da primeira fórmula ou capítulo “Aqui começam os capítulos 
para sair à luz do dia, e dos cânticos em louvor e glorificação e do sair glorioso 
no Belo Amentet e que nele entrar, que devem ser recitados no dia do 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 56
sepultamento e pelo qual o morto entrará depois de haver saído” que resume a 
finalidade geral da obra, assegurar ao morto a inteira liberdade de movimento 
e de ação fora da tumba. Essa busca pelo “sair à luz do dia” já está presente 
nos “Textos dos Caixões”. 
Surgido no Novo Império o “Livro dos Mortos” marca um momento 
decisivo na história da literatura funerária egípcia. A partir da XVIII dinastia 
tornou-se um texto de referência permanecendo em uso até o Período Romano 
como principal texto funerário. Possuindo uma grande influência das fórmulas 
presente nos “Textos dos Caixões” ele é caracterizado por varias inovações, 
tanto do ponto de vista material como a distribuição de fórmulas ao longo do 
texto. O suporte material é uma das características do “Livro dos Mortos”, o 
papiro, raramente utilizado antes por ser um material caro porém prático. 
Banalizou-se para a redação desse novo texto formando rolos que eram 
colocados próximo à múmia. Esse novo material permitia concentrar em uma 
superfície reduzida um grande número de preces e encantamentos além de 
vinhetas ilustrativas que garantiriam a proteção do morto. 
Durante o Período Saíta atinge a versão canônica sendo estruturada em 
165 fórmulas ou capítulos dispostos em uma ordem regular é conhecida como 
Recensão Saíta. Permaneceu em uso até o Período Ptolomaico quando atinge a 
sua forma completa com 192 capítulos. Sessenta por cento desses são 
fórmulas cuja origem estão nos “Textos das Pirâmides” e “Textos dos Caixões”. 
Esses rolos de papiro possuem uma altura geralmente entre 30 a 40cm e 
o comprimento que varia de versões resumidas com 1 a 2m até as versões 
completas com 15 a 25m. Algumas fórmulas eram gravadas, também, em 
outros suportes, como o capítulo 6: “Fórmula para fazer uma Shabti trabalhar 
pelo morto na necrópole”, escrito nas estatuetas funerárias ou o capítulo 30 
“Fórmula de como não deixar que o coração do morto seja arrebatado no 
Mundo Inferior”, escrito em escaravelhos. 
O número e as seqüências das fórmulas ou capítulos variam de papiro 
para papiro. Praticamente todas as fórmulas são “pessoais” e muitas possuem 
títulos e instruções para uso: 
 “Fórmula de um amuleto-Tit, em jaspe vermelho, colocado no pescoço do 
morto. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 57
A ser dito por N.: 
Você tem o seu sangue, Ísis 
Você tem o seu poder, Ísis 
Você tem a sua magia, Ísis 
Este amuleto é a proteção desta grande (deusa) 
Guardando-o contra aquele que poderia causar-lhe mal. 
 
Esta fórmula deve ser recitada sobre o amuleto-Tit, em jaspe vermelho, 
umedecido em água de flores e amarrado com fibras de sicômoro e 
colocado no pescoço do morto”. 
 
O papironão foi, todavia, suporte exclusivo para o “Livro dos Mortos”, 
podendo estar presente também em paredes de tumbas, sarcófagos, caixões, 
bandagens de múmia e estelas com pequenos extratos. 
Escrito em hieróglifo cursivo ou hierático, mais tardiamente em 
demótico, ele se impôs como um texto funerário principal do Egito Antigo. 
O “Livro dos Mortos” tem como função dar ao morto os meios de obter 
três condições básicas para a sua sobrevivência no Mundo dos Mortos: as 
preces dedicadas às grandes divindades, a identificação do morto com os 
deuses e as forças divinas e o domínio dessas forças por meio do 
conhecimento de seus nomes secretos. 
Dessa forma o morto seria capaz de sair à luz do dia, de leste para oeste 
como o sol, continuando a sua existência, podendo rever a sua casa, proteger 
os seus familiares e amigos, vingar-se de seus inimigos, consumir as 
oferendas, adorar o deus-sol e receber as bênçãos dos deuses. Obtendo a 
liberdade de locomoção e de alimentação tendo: “a felicidade no céu, a riqueza 
na terra e a vitória no Mundo Inferior”. 
Dois grandes temas estão presentes no “Livro dos Mortos”: o primeiro é a 
vitória do morto no tribunal de Osíris (capítulo 125), onde após provar a sua 
inocência, ele é declarado “justificado” ou “justo de voz”, esse epíteto significa 
que o morto satisfez as condições de Maat. O outro grande tema presente nos 
capítulos 100 a 102 e 129 a 136 reconhecem o morto como um beatificado 
diante do deus Rê tornando-o capacitado, assim como os deuses, a viajar na 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 58
Barca Solar e a desfrutar dos Campos de Oferendas, esses capítulos possuem 
os títulos de fórmulas e não de livros sugerindo que eram recitados durante os 
rituais funerários e festividades aos mortos nesses o morto passa a ter o 
epíteto “glorificado”. 
Desde os primeiros exemplares, surgidos na região tebana, esse novo 
conjunto de textos aparece como uma compilação de fórmulas, mais ou menos 
longas, divididas em capítulos em uma sucessão que pode ser variável e esses 
precedidos por um título específico escrito em vermelho, enquanto o texto é 
escrito em preto. No final de cada texto pode vir um suplemento, escrito 
também em vermelho, que especifica o modo de utilização do capítulo, além de 
um texto que garante a sua eficácia: “funciona verdadeiramente, um milhão de 
vezes”. 
A presença desses títulos introdutórios a cada capítulo é uma das 
características do “Livro dos Mortos” era desconhecido nos “Textos das 
Pirâmides” e praticamente inexistente nos “Textos dos Caixões”, essa 
distribuição em capítulos dá uma certa autonomia suscetível de uma evolução 
e modificação de cada capítulo individualmente. 
Outra novidade são as ilustrações ou vinhetas que acompanham os 
textos cujos primeiros exemplares aparecem nos sarcófagos dos reis tebanos 
da XVIII dinastia. Pouco numerosas no início essas ilustrações multiplicam-se 
chegando a uma por capítulo. 
Algumas vinhetas possuem um destaque no “Livro dos Mortos” 
ocupando a altura total da folha, como a do capítulo 16 “Hino em Louvor ao 
deus Rê”, do capítulo 110 “Os trabalhos nos Campos de Juncos”, do capítulo 
125 “A Pesagem da Alma” e do capítulo 148 “As Vacas Sagradas”. 
A sua função não é meramente decorativa e muitas vezes, ou pela falta 
de espaço ou para encurtar o tamanho do livro, algumas vinhetas substituem 
completamente o texto fazendo com que muitos exemplares do “Livro dos 
Mortos” sejam quase que exclusivamente constituídos por ilustrações. 
 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 59
A. O Tribunal de Osíris e o Julgamento do Morto 
 
Para um pós-vida satisfatório além do funeral, da mumificação e do 
mobiliário funerário era essencial que o morto provasse ser possuidor de um 
caráter e de condutas adequadas durante a sua vida terrena. 
Muitas tumbas, desde o Antigo Império, apresentavam inscrições 
biográficas com a finalidade de mostrar a conduta correta e as boas ações do 
morto durante a sua vida. Essa conduta deveria estar em conformidade com a 
ordem moral e cósmica denominada pelos egípcios como Maat, que abrangia 
as noções de “verdade”, “justiça”, “equilíbrio” e “ordem”, personificada como 
uma deusa, filha do deus-sol. 
Para o correto funcionamento do universo era essencial a manutenção 
de Maat, sem a qual ocorreria o caos e a destruição da sociedade e da 
hierarquia. Era a obrigação principal dos faraós e de todos os indivíduos da 
sociedade manter e viver conforme esse princípio seguindo os códigos éticos e 
morais da sociedade. 
O cumprimento de Maat teria como recompensa um pós-vida no Mundo 
dos Mortos e uma existência póstuma plena. O conceito de um julgamento dos 
mortos já está presente no Antigo Império, onde inscrições referem-se a um 
Tribunal dos Deuses. Essa idéia desenvolveu-se posteriormente durante o 
Segundo Período Intermediário quando um julgamento do morto garantiria a 
sua passagem para a outra vida, mas foi a partir do início do Novo Império que 
o julgamento no Tribunal de Osíris ganhou importância, sendo inevitável ao 
morto escapar desse julgamento para poder alcançar a ressurreição e onde 
não era possível qualquer tipo de conciliação. 
Os modelos míticos desse julgamento aparecem nas disputas entre 
Osíris e Seth, e posteriormente entre Hórus e Seth, pelo trono do Egito. A idéia 
de um julgamento é o ponto principal do “Livro dos Mortos”, descrito no 
capítulo 125, entretanto, encontramos um julgamento do morto já nos 
capítulos 18 a 20 no qual ele é defendido por Thoth triunfando sobre os seus 
inimigos, mortos ou vivos, diante de um júri formado pelos deuses das 
principais cidades do Egito e recebendo a “Coroa da Justificação”. Os capítulos 
22, 64, 65 e 83 do “Livro dos Mortos” também tratam do julgamento do morto 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 60
em um tribunal, mas é no capítulo 125, com a sua grande vinheta da 
“Pesagem do Coração” que essa idéia de um tribunal foi mais desenvolvida. 
O julgamento ocorria após a chegada do morto na “Sala das Duas Maat”, 
filhas do sol e da lua, onde o morto era conduzido por Anúbis, responsável 
pela sua mumificação. Para poder entrar nessa sala o morto deveria conhecer 
os nomes dos guardiões das portas e de todas as partes que compunham as 
portas de entrada da “Sala de Julgamento” e saudar os 42 deuses assessores. 
Era presidido por Osíris, o modelo de juiz, acompanhado por Ísis e Néftis 
e os Quatro Filhos de Hórus. Os 42 deuses atuavam como assessores diante 
dos quais o morto teria que negar os 42 pecados específicos que não cometera 
em vida. Essa lista de crimes, transgressões de convenções sociais e proibições 
religiosas é conhecida como “Confissão Negativa”: 
 
1. “Salve Ó tu, Aquele Que Marcha Com Grandes Pernas (Rê), que vens de 
Heliópolis, não cometi inequidades”; 
2. “Salve Ó tu, Aquele Que É Abraçado Pela Chama (Atum), que vens de Kher-
Aha, não roubei”; 
3. “Salve Ó tu, Aquele Que Tem O Nariz Longo (Thoth), que vens de Khemenu, 
não fui ávido”; 
4. “Salve Ó tu, O Devorador De Sombras, que vens da Caverna, não roubei”; 
5. “Salve Ó tu, O Terrível De Rosto, que vens de Re-stau, não matei ninguém”; 
6. “Salve Ó tu, Ruty (Atum), que vens do Céu, não diminuí o alqueire”; 
7. “Salve Ó tu, Aquele Cujos Olhos São De Sílex (Hórus), que vens de Letópolis, 
não cometi fraude”; 
8. “Salve Ó tu, O Incandescente, que vens de Khetkhet, não furtei as coisas que 
pertencem ao deus”; 
9. “Salve Ó tu, O Esmagador de Ossos, que vens de Heracleópolis, não proferi 
falsidades”; 
10. “Salve Ó tu, Aquele Que Atiça A Chama, que vens de Mênfis, não roubei a 
comida dos famintos”; 
11. “Salve Ó tu, O Troglodita, que vens do Ocidente, não proferi palavras más”; 
12. “Salve Ó tu, Aquele Que Tem Os Dentes Brancos (Sobek), que vens do 
Fayum, não ataquei ninguém”; 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 61
13. “Salve Ó tu, Que Te Alimentas de Sangue, que vens do Local de Abate, não 
mateios animais sagrados”; 
14. “Salve Ó tu, O Devorador de Entranhas, que vens do Local dos Trinta, não 
fraudei o grão”; 
15. “Salve Ó tu, O Senhor da Retidão, que vens da Dupla Maat, não roubei as 
rações de pão”; 
16. “Salve Ó tu, O Errante, que vens de Bubástis, nunca me intrometi nos 
assuntos alheios”; 
17. “Salve Ó tu, O Pálido (Rê), que vens de Heliópolis, não falei demais”; 
18. “Salve Ó tu, Aquele Que É Duplamente Mau, que vens de Andjty, lutei 
somente pelas coisas que eram minhas”; 
19. “Salve Ó tu, Serpente Uamemty (O Queimador), que vens do Local do 
Julgamento, não cometi adultério”; 
20. “Salve Ó tu, Que Guardas Sobre O Que É Trazido Para Ele, que vens do 
Templo de Min, não cometi fornicação”; 
21. “Salve Ó tu, Chefe Dos Grandes, que vens de Imu, não despertei o medo”; 
22. “Salve Ó tu, O Destruidor, que vens de Huy, não cometi transgressões aos 
Locais Sagrados”; 
23. “Salve Ó tu, O Causador De Problemas (Seth), que vens do Local Santo, não 
fui violento”; 
24. “Salve Ó tu, O Infante, que vens de Heqa-adj (Heliópolis), não me fiz surdo 
às palavras da justiça”; 
25. “Salve Ó tu, Aquele Que Anuncia A Decisão, que vens de Unsy, não fui 
insolente”; 
26. “Salve Ó tu, Basty, que vens do Relicário, não provoquei lágrimas”; 
27. “Salve Ó tu, Aquele Cujo Rosto Está Para Trás, que vens da Tumba, não fui 
depravado nem pederasta”; 
28. “Salve Ó tu, Aquele De Perna Em Chama, que vens das Regiões 
Crepusculares, não comi meu coração”; 
29. “Salve Ó tu, O Tenebroso, que vens das Trevas, não insultei ninguém”; 
30. “Salve Ó tu, Aquele Que Traz As Suas Oferendas, que vens de Sais, não agi 
com violência”; 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 62
31. “Salve Ó tu, O Possuidor De Muitos Rostos, que vens de Nedjefet (Assiut), 
não fui leviano”; 
32. “Salve Ó tu, O Acusador, que vens de Utjenet (This), não me voltei contra 
deus”; 
33. “Salve Ó tu, O Senhor Dos Dois Cornos, que vens de Assiut, não multipliquei 
minha fala em demasia”; 
34. “Salve Ó tu, Nefertum, que vens de Mênfis, não cometi o mal”; 
35. “Salve Ó tu, Aquele Que Não Deixa Nada Subsistir (Tem-sep), que vens de 
Busíris, não insultei o rei”; 
36. “Salve Ó tu, Aquele Que Age Segundo O Seu Coração, que vens de Tjebu 
(Antaeópolis), não sujei as águas de outro”; 
37. “Salve Ó tu, O Fluído, que vens Nun, não agi com soberba”; 
38. “Salve Ó tu, O Comandante Dos Homens, que vens de Sais (?), não 
blasfemei contra deus”; 
39. “Salve Ó tu, Aquele Que Procura O Bem, que vens de Huy, não fui 
presunçoso”; 
40. “Salve Ó tu, Aquele Que Reúne Os Kás (Neheb-kau), que vens da Sua 
Cidade, não excedi em meu favor”; 
41. “Salve Ó tu, Aquele Cuja Cabeça É Prestigiosa, que vens da Tumba, não 
aumentei a minha riqueza a não ser com as coisas que são minhas”; 
42. “Salve Ó tu, Aquele Cujo Braço É Conquistador In-dief, que vens da 
Necrópole, não caluniei o deus da minha cidade”. 
 
Tendo feitos essas declarações o morto colocava-se diante da balança 
conduzido ou pela deusa Maat (ver papiro de Nesmim e Neferibre) ou pela 
deusa Amentet ou Hórus (ver papiro de Anhay). O seu coração era colocado em 
um dos pratos da balança para ser pesado contra a imagem de Maat 
personificada como uma deusa usando uma pluma de avestruz em sua cabeça 
(ver papiro de Anhay e Neferibre) ou somente por uma pluma de avestruz (ver 
papiro de Ani e Nesmim). O coração, como sede da memória, continha os 
registros de todas as ações do morto em vida. A pesagem estava sob os 
cuidados de Anúbis e Hórus e revelava a natureza. O veredicto do julgamento 
era registrado pelo deus Thoth, o escriba dos deuses. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 63
Papiro de Anhay - Novo Império - Museu Britânico 
 
5 deuses mumiformes "Senhores da Necrópole" sentos diante de uma mesa de oferendas 
6 deuses mumiformes "Senores do Ocidente" sentos diante de uma mesa de oferendas 
Ammut com cabeça 
de crocodilo, patas 
dianteiras de leão e 
patas traseiras de 
hipopótamo 
Thoth “Senhor das 
Palavras Sagradas 
Escriba dos deuses” 
segura a sua paleta 
de escriba 
Anúbis 
verificando o 
prumo da 
balança 
Anhay justificada, 
adornada e segurando 
plumas de Maat é 
conduzida por Amentet a 
deusa do Ocidente até 
Osíris. 
Shay e 
Renenutet 
como tijolos 
com cabeça 
humana. 
Representam 
o Destino do 
Morto 
Hórus conduz Anhay 
pelo braço até o local 
do julgamento 
Maat 
“Filha de 
Rê” 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 64
 
Papiro de Neferibre - Período Ptolomaico - Museu do Louvre 
 
Sala da Dupla Maat, sustentada por colunas. 
42 deuses mumiformes com plumas em suas cabeças. 
 
Osíris “Chefe do 
Ocidente, Grande Deus 
Senhor de Abidos, 
Senhor da Eternidade” 
no interior de um 
tabernáculo usando a 
coroa atef com cornos, o 
açoite e o cajado 
Mesa de Oferendas 
Ammut 
“A Devoradora” 
Thot o escriba dos 
deuses segurando a 
paleta de escriba 
Anúbis 
“O Senhor da 
Balança” 
Hórus verificando o 
prumo da balança 
 
Neferibre conduzido por 
Maat à presença de 
Osíris 
 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 65
Papiro de Ani - Novo Império - Museu Britânico 
 
12 deuses diante de uma mesa de oferendas (da esquerda para a direita): 
Rê Horakhty, Atum, Shu, Tefnut, Geb, Nut, Ísis e Néftis, Hórus, Háthor, Hu e Sia 
 
Ani e sua esposa Tutu entram na sala 
do julgamento, curvados em sinal de 
respeito 
Renenutet e 
Meskhenet 
as deusas do 
nascimento 
O pássaro 
Bá de Ani 
Shay 
“o Destino” 
Anúbis “Aquele da Sala de 
Embalsamamento” 
Thot registra o 
veredicto em sua 
paleta de escriba 
Ammut 
Hórus conduz 
Ani a Osíris 
Ani "justificado" ajoelha-se e faz oferendas 
a Osíris 
Osíris dentro de um quiosque é 
assistido por Ísis e Néftis, tendo a 
sua frente sobre um lótus os 
Quatro Filhos de Hórus 
 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 66
Papiro de Nesmin - Período Ptolomaico - Coleção Particular 
 
Sala da Dupla Maat sustentada por colunas 
Duas fileiras com 41 deuses mumiformes agachados segurando plumas 
 
 
Osíris com corpo mumificado 
usando a coroa-atef com 
cornos e segurando o açoite 
e o cajado 
Os Quatro filhos de Hórus 
sobre um Lótus 
Thot “Senhor das Palavras 
Sagradas"” 
Ammut 
Hórus verificando o 
prato com o coração 
Anúbis verificando o 
prumo da balança 
Nesmin segurando as 
plumas de Mat 
 
Maat apresenta o morto a 
Osíris 
 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 67
Durante essa pesagem, o coração, estava temporariamente fora do controle do 
morto o que causava o temor que ele poderia revelar aos deuses algo que 
pudesse prejudicar a obtenção de um pós-vida ao morto. Para prevenir que o 
coração o caluniasse uma fórmula, retirada do capítulo 30B do “Livro dos 
Mortos”, era inscrita em um amuleto chamado “escaravelho coração”, que era 
colocado no peito da múmia sobre o coração, onde se lia: 
 
“Ó meu coração que recebi de minha mãe 
Ó meu coração que recebi de minha mãe 
Ó coração que me acompanhou em minhas diferentes idades 
Não se levante como testemunha contra mim 
Não se oponha a mim no tribunal 
Não seja hostil a mim na presença do Juiz da Balança” 
 
A passagem com sucesso pelo julgamento permitirá ao morto ser 
conduzido por Hórus ou Maat ou Amentet perante Osíris, na condição de 
“justificado” ou “verdadeiro de voz”, o que lhe assegurava uma sobrevivência 
eterna. O morto é representado em pose de júbilo, com os braços elevados, e 
adornado com plumas de avestruz simbolizando a sua harmonia com Maat 
(ver papiro de Anhay e Nesmim). 
Caso seu coração pesasse mais que Maat acusando a maldade e a não 
conformidade com a ordem o morto era entregue a Ammut, “a Devoradora”, 
uma criatura híbrida representada com cabeça de crocodilo, patas dianteiras 
de leão ou leopardo e as patas traseiras de hipopótamo. Essa figura é 
normalmente representada agachada, próxima à balança, pronta a engolir o 
coração dos culpados, o que causaria a morte definitiva e a não existência do 
morto. 
 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 68
IV. 4. LITANIADE RÊ 
 
Uma série de textos que aclamam o deus-sol Rê em 75 formas 
diferentes. Ao recitá-las o soberano morto identifica-se progressivamente com 
o deus-sol e a união deste com o faraó e outras 
divindades. 
Aparece em pilares de câmaras funerárias e 
entradas de tumbas da XVIII dinastia. A partir da 
XXI dinastia suas cenas aparecem em caixões e 
papiros da elite. 
Existiam duas versões, uma curta e outra 
longa. A partir de Séthi I aparece nas entradas e 
nos corredores das tumbas ramessidas. 
O seu nome egípcio era “Livro para Adorar 
Rê no Ocidente”. A vinheta de introdução deste 
texto é dividida em três partes: ao centro um 
homem com cabeça de carneiro, representando o 
deus-sol noturno, acompanhado por um 
escaravelho que representa o estado visível e ativo da força primordial do 
criador (o sol). Os dois outros registros representam uma serpente e um 
crocodilo, imagens das forças ocultas. 
As forças do demiurgo solar devem dispersar-se para dar início à 
criação. Isso deve ocorrer cotidianamente, a dispersão e depois a sua reunião. 
Esse ,mesmo fenômeno está presente no mito de Osíris, onde o corpo 
esquartejado é reunido e mumificado. 
A recomposição do cadáver divino permite que o deus fique novamente 
ativo. A semelhança desses dois destinos (Osíris e Rê) facilitou a fusão desses 
dois deuses como símbolos da renovação permanente da criação. 
 
Litania de 
Rê, tumba 
de Séthi II 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 69
IV. 5. LIVRO DO AMDUAT 
 
Os “Textos dos Caixões” e mais especificamente os “Guias para o Mundo 
Inferior” nele contidos deram origem, durante o Novo Império, a um Mundo 
Inferior, domínio de Osíris e Sokar, visitado pelo sol todas as noites, buscando 
o renascimento. Este local era denominado pelos egípcios como Amduat. 
A mais antiga descrição da viagem noturna do deus-sol. Conhecido em 
egípcio como “O Livro da Sala Oculta” ou “O que está no Mundo Inferior” 
designa as moradas subterrâneas onde ocorriam as metamorfoses divinas, 
principalmente aquelas de Osíris. 
O egiptólogo francês, Gaston Maspero, nomeou-a a partir do termo 
egípcio para Mundo Inferior, Duat. O texto aparece pela primeira vez na tumba 
de Useramon, vizir de Hatshepsut e Thutmés III. 
Durante o Novo Império são encontrados somente nas tumbas reais do 
Vale dos Reis. A partir da XXI dinastia aparecem em papiros e sarcófagos dos 
sacerdotes de Ámon de Karnak. 
Na tumba de Thutmés III e Amenhotep II o “Livro da Sala a Oculta”, ou 
AmDuat, encontra-se completo. Assemelha-se a um gigantesco papiro 
desenrolado sobre as paredes da câmara funerária expondo a viagem do deus-
sol através das doze horas da noite. 
Ao longo desta jornada o deus recobra as suas forças. Diferentes 
divindades ajudam-no distribuídas sobre as margens de um rio imaginário. 
Algumas delas possuem corpos mumificados como Osíris outras trazem cetros, 
cajados e coroas reais simbolizando o processo que permite ao deus-sol 
regenerar-se como um soberano morto. O sol, no momento em que entra no 
Mundo Inferior, confunde-se com Osíris, integrando-se ao ciclo de renovação 
perpétua da vida. 
Várias sessões marcam momentos cruciais desta jornada. Na quarta 
hora o cortejo solar chega às regiões mais profundas do Outro Mundo. O 
domínio mais secreto do Duat pertence ao deus Sokar, que representa os 
processos do renascimento real desde a antiguidade. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 70
5ª Hora do Amduat, 
tumba de Thutmés III 
O espaço consagrado a este momento chave é dividido por uma barreira 
que atravessa os três registros. No registro médio está uma porta cujo batente 
aberto permite à barca sagrada penetrar nas profundezas da terra. 
Na quinta divisão (hora) do Duat uma colina abriga o deus do Supremo 
Mistério. O texto nos diz que chegamos ao extremo do mundo criado, o local 
onde reinam as profundas trevas do caos. A colina evoca a tumba e a terra 
primitiva da qual o mundo foi criado. Nestes dois casos a vida surge deste 
monte, que está no registro inferior da parede. 
 
Uma forma ovalada serve de receptáculo à vida que surgirá, ladeada por 
duas partes dianteiras de um leão, que representam o deus Akher, “Aquele que 
governa as profundezas da Terra”. A cabeça que emerge indica que este espaço 
personificado representa o corpo de Osíris e que Sokar é um de seus aspectos. 
No registro superior, um escaravelho anuncia a última transformação que 
permitirá, no final da vigem, que o deus-sol recobre a sua aparência visível e 
sua força. No alto o monte de areia é a tumba de Osíris e dois pássaros 
ladeando este monte são Ísis e Néftis realizando os ritos funerários para seu 
irmão. 
Uma vez passado este ponto extremo a Barca Solar inicia uma lenta 
subida até o horizonte. Na sétima hora as forças do caos são afastadas. No 
registro superior estão imagens dos inimigos do Egito subjugados 
representado o poder do faraó e a dominação da Ordem Divina Universal sobre 
o caos. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 71
No registro médio também está representada a destruição de todas as 
forças que possam perturbar os ciclos de renovação da vida. Os inimigos reais 
do Egito são bem conhecidos e suas imagens utilizadas nas práticas mágicas 
de conjuração. A interrupção do percurso solar é considerada um sinônimo de 
destruição do mundo. As obscuras forças que ameaçavam a criação são 
representadas por uma serpente chamada Apópis (Apóphis), cujas ondulações 
de seu corpo simbolizavam os bancos de areia que ameaçavam a navegação da 
Barca Solar. 
Esta serpente maléfica é aniquilada com a ajuda dos deuses, inclusive 
por seus homólogos positivos, todavia esta foça do caos era somente 
momentaneamente afastada. O triunfo do sol renascendo ocorre na décima 
segunda hora do Duat. 
Ao fim de sua jornada de regeneração, o astro criador toma uma 
aparência visível para sua manifestação no mundo. Ele virá a existir e esta 
passagem de seu estado passível e invisível para a sua gloriosa aparição é 
representada por Khépri, o escaravelho. 
Mais tarde quando os faraós, do final da XVIII dinastia, farão a 
decoração de suas tumbas com outras composições teológicas (Livros), o “Livro 
do Amduat” não será abandonado, e as horas principais, aquelas que 
descrevem a chegado ao reino de Sokar, terão um local de destaque nos 
corredores das tumbas dos Vale dos Reis. 
 
IV. 6. LIVRO DOS PORTÕES 
 
Uma composição referente aos doze portões que dividem as horas da 
noite percorridas pela barca de Rê. 
Inscrito na câmara funerária e em pilares na entrada das tumbas do 
Vale dos Reis, na tumba de Horemheb, último faraó da XVIII dinastia, e em 
seguida na de Ramessés I, o primeiro soberano da XIX dinastia. A versão 
completa está na tumba de Ramessés VI, no sarcófago de Séthi I e no corredor 
do Osireion em Abidos. 
Lembra o “Livro do AmDuat” formando uma espécie de composições 
paralelas e complementares. Como o “Livro do AmDuat” o “Livro dos Portões” é 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 72
dividido em sessões que descrevem a viagem noturna do deus-sol em sua 
barca, em painéis com três registros. O que é novo é a aparição de uma cena 
de julgamento e a utilização de criptogramas. 
O Duat compreende onze divisões. Duas cenas que servem de prólogo e 
conclusão à jornada do sol são também originais. 
A característica maior do “Livro dos Portões” é a presença de doze portas 
que materializam as horas da noite. Gigantescos portões que marcam as 
diferentes etapas da jornada da Barca Solar são semelhantes às portas 
utilizadas nos templos e nos palácios reais que conduzem o viajante em 
direção ao interior do edifício. 
As vinhetas do início e do final do “Livro dos Portões” representam os 
dois horizontes. O sol avança de leste para oeste, como se fosse o percurso 
daquele que entrasse no santuário Ámon de Karnak, assim como os 
sacerdotes passavam por várias portas antes de chegar ao naos, o local dee 
que fazem parte fundamental de sua cultura, o que constitui uma fonte de 
estudo particularmente complexa, pois nada temos em comum nem do ponto 
de vista conceitual nem do ponto de vista simbólico, com esta cultura. 
Os egípcios souberam reduzir ao mínimo o impacto da morte sobre sua 
sociedade, limitando-a a um fenômeno que interrompe provisoriamente a 
existência dos indivíduos, incidindo somente sobre a sua aparência, isto é, o 
seu invólucro carnal. Para tanto, crenças distintas uniram-se em um 
imaginário capaz de aceitar a morte, ordenando-a com rituais e símbolos 
buscando transcendê-la. 
No entanto, as incertezas do pós vida e os perigos de uma aniquilação 
completa do ser constituía um temor para os egípcios. 
“Se tu sonhas com a tumba, é pelo amargor do coração. 
É o que o faz chegar às lágrimas, 
É o que acaba com o homem. 
É o que arranca o homem de sua casa, e o abandona no 
cemitério. 
Tu não sairás mais ao dia para ver o sol. 
Aqueles que construíram a pirâmide com belas salas estão 
agora mortos. 
Suas mesas de oferendas estão vazias. 
Eles são como míseros mortos lançados sobre as margens, 
sob o ardor do sol, e com as águas decompondo-os, enquanto 
os peixes retalham os seus restos. 
Escuta, privando-se da alegria e das coisas belas da vida os 
homens esqueceram-se da felicidade e todo o resto são 
ilusões no caminho que leva ao túmulo”. 
 (Papiro Berlim 3024, XII dinastia) 
Um costume que parece ter sido comum durante a Baixa Época era o de 
se fazer circular entre os convidados de uma festa uma estatueta de madeira 
de uma múmia em seu caixão feita com o maior realismo, com o intuito de 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 3
lembrar a todos a brevidade da vida e para que bebam e se divirtam pois este é 
o fim de todos. 
Longe de ser ocultada, a morte era concebida como uma continuidade 
da vida. Unidas de tal forma que a vida e a morte explicavam-se uma pela 
outra. Assim, numa passagem do “Livro dos Mortos” ela é descrita nos 
seguintes termos: 
“...Não se torne meu corpo em vermes, mas liberta-me como 
tu te libertaste (Osíris). Rogo-te, não me deixes cair na 
podridão, como permites a cada deus, a cada deusa, a cada 
animal e a cada réptil ver a corrupção depois que a alma os 
abandona após a morte. E quando a alma se vai, o homem vê 
a corrupção e os ossos do seu corpo apodrecerem, mudam-se 
num mau cheiro total, os membros deterioram-se um após o 
outro, os ossos desfazem-se, transformados em massa inerte, 
a carne transforma-se em líquido fétido, ele torna-se um 
irmão na decadência que o salteia, converte-se em multidões 
e vermes, desfaz-se totalmente em vermes, dá-se cabo dele, e 
ele perece à vista do deus Shu como perecem todos os deuses 
e todas as deusas e todos os pássaros e todos os peixes, e 
todas as coisas que rastejam e todos os répteis... Que a vida 
venha da sua morte”. 
(LdM 154) 
A morte não era um fim mas um meio de passagem para um outro 
plano, ela é um momento da existência. O mundo antes da criação é descrito 
como um estado em que “ainda não existia o céu, ainda não existia a Terra, 
ainda não existia os homens, ainda não existiam os deuses, ainda não existia a 
morte” (PT 1466b-d). 
A idéia que os egípcios faziam do ser humano é de fundamental 
importância para compreendermos a sua concepção da morte e 
consequentemente as suas crenças funerárias. Além do corpo, eles atribuíam 
ao homem alguns elementos mais ou menos espirituais e independentes da 
matéria, cujos principais eram o bá e o ká. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 4
T4
É importante destacar que estas noções são definidas de forma 
esquematizada por uma necessidade de exposição, entretanto, elas são 
infinitamente mais sutis em sua elaboração, formando conceitos que se 
interpenetram de tal forma que uma análise esquemática torna-se sempre 
artificial. 
Uma das noções mais difíceis de definir é aquela do ká. O ká (kA) 
era uma manifestação das energias vitais individuais com a função criadora e 
conservadora da vida, era uma força invisível emanada das grandes reservas 
energéticas dispersas no universo, que nasce com o homem e acompanha-o 
durante a vida e apesar de abandoná-lo no momento da morte, continua a 
representar a personalidade do ser com o qual coexistiu: “passar a seu ká” 
significa morrer. 
O ká era também a força vital de um indivíduo que, após a morte. 
Continuava a ”viver” necessitando de alimento e ar que lhe eram transmitidos 
pelas as oferendas, pelas fórmulas mágicas e pelas cenas nas capelas 
funerárias. O ká incarnava nas estátuas do morto colocadas na tumba. É do 
ká que provém toda a vida e é para ele que ela retorna após a morte. A tumba 
e o sacerdote funerário são chamados a casa e o servidor do ká, 
respectivamente. Alguns vêm no ká um reflexo imaterial do corpo ou “duplo”, 
como em algumas culturas africanas. 
O conceito de “duplo” foi formulado pela primeira pelo egiptólogo francês 
Gaston Maspero em 1878, para ele o ká era uma projeção astral, viva e 
colorida do corpo humano, formada por uma matéria tênue que não podia ser, 
normalmente, vista nem tocada e que era incorporada ao homem no momento 
do nascimento. 
Uma espécie de gênio protetor, o ká era o guardião do morto que, 
incorporando-se a qualquer imagem dele esculpida ou pintada, impedia a 
destruição do indivíduo após a morte: até mesmo as ushabtis serviam de 
receptáculo para o ká, o que explica a preocupação com a exatidão fisionômica 
de algumas ushabtis. 
As divindades também possuíam um ká, como o deus-sol Rê que 
possuía quatorze deles como sendo as suas qualidades inerentes: brilho, força, 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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manifestação do deus, em direção ao oriente, o local do nascimento do sol. 
No “Livro dos Portões” as portas servem para fechar as sessões do Duat 
só abrindo para o cortejo divino fechando-se hermeticamente interditando a 
passagem de intrusos. 
Estas portas são representadas nas paredes dos corredores que levam à 
câmara dos sarcófagos. Como se a própria tumba fosse o Duat. 
A tumba, os seus anexos e corredores eram uma espécie de hieróglifo 
tridimensional que reproduzia o Outro Mundo. Uma evocação imaginária da 
geografia do Mundo dos Mortos onde a jornada do rei morto em direção ao 
renascimento era semelhante ao do deus-sol. 
A vinheta de introdução representa a entrada do Duat. A Barca Solar 
passa entre duas montanhas que representam o sinal hieroglífico para 
“horizonte”. 
 A primeira porta é considerada como um guarda do Outro Mundo, 
localizada no deserto ocidental. 
O batente é guardado por uma imensa serpente que tem por missão 
deixar passar o deus-sol. Uma grande diferença com o “Livro do Amduat” é o 
grande número de personagens deste livro, mais de 900. Reunidos em grupos 
e agindo coletivamente, estes grupos são, muitas vezes, referências a números 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 73
11ª divisão do “Livro dos 
Portões” 
simbólicos. Por exemplo, o doze é referente ao número das horas e aos meses 
do ano, o nove é uma referência à enéade divina ou o 
quatro que é relacionado aos quatro cantos do mundo 
criado. 
Uma simplificação aparece na tripulação da Barca 
Solar. O sol noturno é agora acompanhado somente por 
Hu, o verbo criador, e Sia, o conhecimento divino, 
auxiliares do criador na renovação cotidiana do cosmos. 
Atrás da quinta porta abre-se a Sala do Tribunal de 
Osíris. Esta cena de julgamento não é freqüente na 
iconografia de tumbas reais, mas ao ritual destinado aos 
simples mortais (Capítulo 125 LdM). 
O significado por trás do “Livro dos Portões” é que 
todos aqueles, seres humanos ou deuses, conhecem a 
degradação. Esta corrupção é inerente ao universo material 
onde os ataques do caos são perceptíveis. 
A última imagem do “Livro dos Portões” descreve o nascimento do deus-
sol. Uma vez fechados os batentes da décima segunda hora, o sol nasce. Ísis e 
Néftis, sob a forma de cobras, relembram a dimensão osiríaca das 
metamorfoses pelas quais o sol passou. Assim como Atum, o deus criador, 
distingue-se do Nun, o meio líquido primordial, para criar o universo a última 
etapa da viagem do sol noturno passa pelas águas do rejuvenescimento. A 
transformação do deus em uma entidade visível é representada pelo 
escaravelho. 
 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 74
Deuses Nut, Geb e Shu 
IV. 7. LIVRO DOS CÉUS 
 
Conhecido também em outras duas composições distintas como o 
“Livro do Dia” e o “Livro da Noite”. 
Aparece nos tetos dos corredores e em algumas salas de tumbas da 
época ramessida. 
Já com Séthi I encontramos, pintado sobre seu sarcófago, uma 
descrição mitológica do Céu Noturno e as estrelas formando constelações e as 
imagens de muitas divindades protetoras. 
No “Livro do Céu” é privilegiado 
um conceito de “gestação”. O espaço 
celeste é personificado pela deusa Nut, 
que engole o sol ao entardecer, 
guardando no interior de seu corpo 
durante a noite e dando-lhe à luz todas 
as manhãs. 
O mesmo fenômeno ocorre com 
os astros noturnos, que circulam no 
interior do corpo desta Mãe Divina, 
durante o dia. 
Nos tetos das tumbas a imagem da deusa é duplicada representando 
estes dois ciclos. De um lado discos solares ao longo de seu corpo e no outro 
as estrelas. Junto com a imagem da deusa aparecem os decanos e as 
divindades que ajudam a progressão do sol e dos astros noturnos. 
Complementando os “Textos do Amduat” e dos “Livro dos Portões” estes 
textos evocam o céu e destacam a renovação permanente do tempo através da 
viagem cíclica do sol e das estrelas. 
 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 75
 Vaca Celeste, tumba de Séthi I 
IV. 8. LIVRO DA VACA DIVINA TAMBÉM CHAMADO LIVRO DA VACA 
CELESTE 
 
O conteúdo deste texto difere um pouco das composições tradicionais 
que descrevem a viagem noturna do sol. Estando relacionado com a Criação do 
Mundo. 
Ele é representado por uma imagem em grande escala da Grande Vaca 
Celeste que simboliza a matriz criadora do Universo e que coloca 
cotidianamente o astro divino no mundo e também os mortos “justificados” 
que o acompanham. 
Aparece pela primeira vez em na primeira capela de Tutankhamon, mas 
a sua versão mais conhecida está na tumba de Séthi I, no Vale dos Reis. Esse 
relato mitológico descreve duas etapas essenciais da criação. Quando os 
deuses ainda habitavam a Terra, Rê era o soberano de todas as criaturas. Uma 
parte da humanidade revolta-se e foge para o deserto. O deus-sol, então, 
decide enviar a sua filha Háthor, sob a temida forma da deusa leoa Sekhmet, 
para perseguir os revoltosos. 
A deusa passa a encarnar os raios do sol que destroem implacavelmente 
os perturbadores da ordem divina. Uma vez aniquilados os rebeldes torna-se 
impossível apaziguar Sekhmet, que passa a ser uma ameaça à humanidade. 
Os deuses decidem acalmar a deusa embriagando-a, com uma bebida de cor 
vermelha, que é confundida com o sangue. 
Após ordenar que este evento fosse celebrado sob a forma de rituais 
pelos homens, Rê deixa a Terra retirando-
se para o céu nas costas da deusa Nut que 
toma a forma de uma vaca e oito 
divindades, divididas aos pares, sustentam 
as suas patas erguendo-a aos céus. 
As atribulações de Sekhmet e o seu 
apaziguamento criam uma espécie de 
pacto que une os homens aos deuses 
celebrados nos rituais, que exaltam a 
clemência do deus-sol soberano e com a 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 76
partida de Rê, os mortais têm os seus destinos, assim como o do Egito, 
colocados nas mãos do faraó, o representante dos deuses na Terra. 
 
IV. 9. LIVRO DAS CAVERNAS 
 
 Aparece na parte superior das paredes das tumbas do final da XIX e XX 
dinastias. A sua primeira versão completa aparece no cenotáfio de Séthi I em 
Abidos em seguida em um dos corredores da tumba de Merenptah. A cena 
final aparece nas tumbas de Tausert e Ramessés III. Em seguida foi 
parcialmente recopiado nas tumbas reais da XX dinastia, mas uma versão 
completa aparece na tumba de Ramessés VI pela última vez. 
A partir do Terceiro Período Intermediário certas passagens do “Livro das 
Cavernas” aparecem em papiros e caixões de funcionários da elite. 
O nome egípcio desse texto é desconhecido. Seu nome atual vem da 
divisão do Duat em duas partes, cada uma com três sessões, consideradas 
como representações de caverna ou grutas. Em cada registro aparece um 
grande número de divindades. 
Os registros inferiores representam, normalmente os inimigos do deus-
sol. 
O conteúdo mitológico do texto ressalta as transformações do deus-sol 
ocorridas no Mundo Subterrâneo onde aparecem dois deuses da Terra: Geb e 
Akher. Este ocupa o centro do registro médio (caverna) em sua forma de 
esfinge dupla. Nessa composição a barca do deus-sol só aparece no final. 
A sucessão de 
horas dos Livros do 
Amduat e das Portas 
desaparece e a 
“viagem” do sol é 
representada por 
uma sucessão de 
metamorfoses do sol 
Caverna de Fogo no Mundo Inferior, tumba de 
Séthi I, XIX dinastia 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 77
ocorridas durante a noite. O sol é representado em sua forma tradicional no 
Mundo Inferior, como um homem com cabeça de carneiro. Na cena final, 
entretanto, ele aparece sob a sua forma de escaravelho, anunciando o seu 
nascimento próximo, recobrando a sua forma visível e ativa e sob a forma de 
uma criança, simbolizando o vigor do recém nascido. 
 
IV. 10. LIVRO DA TERRA OU LIVRO DE AKHER 
 
O último e o mais sofisticado dos textos funerários. São composições 
religiosas que descrevem em quatro partes a jornada noturna do sol no Mundo 
dos Mortos. Aparecemnas câmaras funerárias do Vale dos Reis e em 
sarcófagos da XX dinastia. Presente em sua totalidade somente na tumba de 
Ramessés VI. 
O seu primeiro editor, Piankoff, publicou-a com o título de “Criação do 
Disco Solar” devido às imagens que representam os múltiplos aspectos da 
renovação do deus-sol. 
O título “Livro da Terra” é uma referência à gestação do deus-sol sob três 
personificações: Geb - o solo fértil; Tatunem - a terra em movimento que se 
eleva das águas da criação e onde os grãos germinam e Akher - as regiões 
profundas do Duat. 
Este texto desenvolve aspectos já presentes em outras composições. 
Aparece pela primeira vez com Merenptah e foi contemporâneo de e outros 
textos; 
Os teólogos utilizaram neste texto metáforas sobre as transformações 
noturnas do sol mais do que descrevê-lo em suas travessias pelas horas 
noturnas. 
Na tumba de Ramessés VI, no Vale dos Reis, ele aparece em quatro 
grandes cenas, sem seguir sessões distintas. Os dois conjuntos maiores, nas 
paredes mais importantes da câmara do sarcófago, tratam do mesmo tema 
Forma noturna do deus-sol 
navegando através de Akher 
com cabeça humana, “Livro 
da Terra”, papiro do Novo 
Império 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 78
mas de forma diferente do processo de gestação do deus-sol. As cenas são 
lidas de baixo para cima. No primeiro aparece a imagem do deus Akher como 
um leão com duas partes dianteiras. No registro médio temos dois braços que 
sustentam o disco solar e no último aparece, novamente, o deus Akher como 
uma esfinge dupla, considerado como o horizonte que sustenta a Barca Solar. 
Os adversários da ordem cósmica são representados subjugados: 
amarrados ou cortados em pedaços, magicamente incapazes de impedir a 
vinda do deus-sol. 
No caso da tumba de Ramessés VI, junto com o Livro da Terra, temos o 
Livro do Céu no teto da câmara funerária com o corpo da deusa Nut, 
formando, assim, a imagem do cosmos conferindo ao rei, em seu sarcófago, a 
eterna presença na criação e o seu próprio renascimento. Integrando-o no 
processo de renovação das forças do deus-sol. 
 
IV. 11. LIVRO DAS RESPIRAÇÕES 
 
Surgido em Tebas, no Período Ptolomaico, utilizou a escrita hierática e 
algumas vezes eram ilustrados com vinhetas na parte superior, é dividido em 
duas partes: o Livro Primeiro das Respirações (mH I) e o Livro Segundo das 
Respirações (mH II). O primeiro é inspirado nos textos e fórmulas religiosas 
mais antigas das estelas e das tumbas; enquanto o segundo é uma reutilização 
dos capítulos mais importantes do “Livro dos Mortos”. Como a Confissão 
Negativa elas são recitadas ao morto, em sua forma de Osíris, por sua irmã e 
esposa Ísis: 
“Para fazer o seu bá viver, 
para fazer o seu corpo viver, 
para reunir cada um de seus membros, 
assim ele pode unir-se ao seu pai, o sol”. 
A maior parte das fórmulas são “pessoais” e inclui uma litania para a 
preservação do nome do morto. A sua função era dar ao morto a possibilidade 
de receber do deus Amon “o sopro vital” reanimando a múmia, fechada em seu 
caixão, assegurando ao “justificado” os benefícios eternos do ar e da respiração 
dados pelo “Rei dos Deuses”. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 79
V. O TÚMULO: A MORADA ETERNA 
 
O túmulo é o local final para o eterno pós vida do morto, fornecendo dois 
requisitos essenciais: é o local permanente para a proteção e abrigo do corpo 
contra as violações e degradações; é o local de culto, onde os rituais em favor 
do morto são realizados e que garantirão a sua existência póstuma. 
A tumba como local de descanso eterno e morada final está refletido na 
sua denominação egípcia de “Casa da Eternidade” (pr n nHH). 
As tumbas egípcias expressam na sua arquitetura, reconhecível mesmo 
nas tumbas mais antigas (cerca de 3000 a.C.) e nas mais simples, uma 
dualidade funcional: a câmara funerária, selada após o funeral guarda o corpo 
e o equipamento funerário essencial. Localiza-se sempre abaixo do solo e o seu 
acesso é feito por meio de um poço ou corredor descendente. A exceção das 
pirâmides reais da IV dinastia onde a câmara funerária localiza-se no corpo da 
pirâmide. 
A capela funerária ou câmara de culto localiza-se na superestrutura 
acessível aos familiares e sacerdotes que a visitam nos momentos em que se 
realizam as cerimônias em favor do morto. 
De certa forma as tumbas, assim como os templos, são os locais de 
práticas cultuais e dos rituais de oferendas, destinados a garantir o 
renascimento e o funcionamento do cosmos, no caso da tumba focados no 
morto e nos templos as divindades. 
Este significado cosmogônico da tumba pode ser percebido pela 
preocupação com a sua orientação desde os tempos Pré-históricos, onde 
seguindo o eixo norte-sul (o eixo do Nilo) e o corpo no seu interior, com o rosto 
voltado para o leste ou oeste (o eixo solar). No início do Período Dinástico os 
corpos passam a ser orientados com a face voltada para o leste, sinal da 
importância das crenças solares no pós-vida surgidas nesta época. 
Os cemitérios estabelecem-se na franja desértica que margeia as terras 
agrícolas, não penetrando nas terras cultivadas, mas permanecendo no limite 
entre a zona agrícola do vale fértil do Nilo (a vida) e o deserto (a morte). Esta 
proximidade dos cemitérios facilitava o contato entre os vivos e os mortos 
mantendo unidos os membros de uma mesma comunidade. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 80
O posicionamento das tumbas reflete também a hierarquia social 
egípcia. Pessoas de status elevado e que formavam a corte eram enterrados 
próximas ao faraó, principalmente, no início do Período Dinástico, no Antigo 
Império e na XII dinastia. As outras pessoas da sociedade eram sepultadas 
próximas ao local onde viviam e trabalhavam. 
Podemos dividir as tumbas egípcias em duas categorias principais: as 
tumbas reais e as particulares ou privadas. Com o passar dos séculos as suas 
formas evoluíram embora mantivessem, essencialmente, a dualidade da 
câmara funerária para o sepultamento e a capela funerária para o culto. 
 
V. 1. AS TUMBAS REAIS 
 
As sepulturas reais do final do Período Pré-dinástico e das I e II dinastias 
localizavam-se próximas à falésia de Ábidos, em uma área atualmente 
chamada Umn el-Qa’ab (“Mãe dos Potes”). 
Eram constituídas por uma câmara funerária subterrânea cercada por 
câmaras de estocagem de oferendas. Sobre a sepultura era erigida uma 
superestrutura feita em tijolos crus que simbolizava o monte primordial do 
qual emergiu o deus criador e sobre o qual o rei morto renasceria. O edifício 
era circundado por um muro em tijolos recobertos por uma grossa camada de 
estuque reproduzindo os contrafortes da fachada do palácio real (serekh), este 
complexo era identificado por um par de estelas em rocha nas quais eram 
inscritos os nomes do rei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Visão axonométrica da tumba com “Fachada de Palácio” da rainha Merneith, 
I dinastia, Saqqara 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 81
 
No final da II dinastia a superestrutura dos túmulos reais tornou-se 
retangular e, em alguns casos, formando dois níveis. No reinado de Djoser, na 
III dinastia, ocorreu uma grande mudança 
no formato da tumba real. Pela primeira 
vez, este complexo funerário construído em 
Saqqara, foi erigido em rocha talhada 
reproduzindo as características 
arquitetônicas dos “Palácios Funerários” 
feitos em tijolos da I e II dinastias. 
A superestrutura retangular dos 
edifícios funerários da II dinastia 
desenvolveu-se em uma série de “mastabas” 
sobrepostas formando a primeira pirâmide 
em degraus, uma “escadaria para o céu”, 
que simbolicamente conduziria o espírito do faraó aos céus. 
O corpo era sepultado sob a pirâmide e o imenso recinto circundante era 
o local para o culto funerário e para as cerimônias do “jubileu” (Heb-Sed), um 
ritual onde os poderes do faraó eram eternamente renovados. 
Um desenvolvimento posterior deste edifíciode Djoser produziu a 
“Pirâmide Verdadeira” com os lados em ângulo inclinado e as faces lisas 
construídas com blocos maciços de rocha. Fazendo parte de um complexo 
funerário que consistia de um templo do lado leste da pirâmide, também 
chamado de Templo Alto ou Templo da Pirâmide, que servia para o culto do 
faraó morto; e um Templo do Vale ou Templo Baixo próximo ao Nilo, onde, 
entre outras cerimônias, era realizada a mumificação do faraó. Estas unidades 
de culto eram unidas por um corredor ou calçada pavimentada coberta. As 
câmaras funerárias eram, geralmente, dentro do corpo da pirâmide ou, em 
alguns casos, sob ela. 
Este complexo funerário, cuja pirâmide era o centro, foi desenvolvido no 
reinado de Snefru, na IV dinastia, atingindo o seu ponto máximo na 
construção das três pirâmides de Giza. 
Esquema das fases de construção da 
Pirâmide de Djoser. 1. Mastaba original; 
2. Poço funerário; 3. Primeira ampliação da 
mastaba; 4. Ampliação leste da mastaba; 
5. Pirâmide inicial com quatro degraus; 
6. Pirâmide final com seis degraus; 7. Poço 
com galeria funerária 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 82
Devido à crença tradicional de que o rei morto ascenderia às estrelas 
circumpolares a entrada da pirâmide era situada na face norte, mas o 
alinhamento leste-oeste dos templos e edifícios de culto enfatizavam a 
presença do simbolismo e crenças solares que se tornaram cada vez mais 
importantes a partir da IV dinastia nos funerais reais. 
Isto estava refletido na própria forma da pirâmide verdadeira que, 
embora ainda simbolizasse o monte primevo e uma escadaria para o céu, 
também era de forma estilizada uma representação do Benben, a rocha 
sagrada mantida no templo do deus-sol Rê, em Heliópolis, cuja forma 
piramidal representava os raios solares petrificados. 
O espírito do faraó poderia, então, subir aos céus pelas faces lisas da 
pirâmide como uma rampa e para ajudá-lo em sua jornada celeste a cada 
amanhecer. Barcas sagradas eram enterradas em câmaras ao lado da 
pirâmide para ajudar o soberano morto em sua viagem pelo céu com o deus-
sol Rê. 
A forma da pirâmide, com os seus templos anexos, foi utilizada para a 
maioria dos sepultamentos reais das IV, V e VI dinastias, embora as 
dimensões destes monumentos decaíssem após o reinado de Miquerinos, no 
final da IV dinastia. 
A maior inovação, contudo, foi a inclusão de inscrições hieroglíficas nas 
paredes das câmaras das pirâmides do final da V e VI dinastias formando o 
mais antigo corpus religioso egípcio chamado de “Textos das Pirâmides”. 
Os obscuros reis do Primeiro Período Intermediário também parecem ter 
sido sepultados em pirâmides, a julgar pelos restos sobreviventes que indicam 
terem sido sepultados em pirâmides muito simples e, em alguns casos, tendo 
retornado ao uso do tijolo cru para algumas partes dos edifícios. 
O faraó Mentuhotep II, da XI dinastia, reunificou o Egito e erigiu em 
Tebas um túmulo de formato inovador. Localizado no grande circo rochoso 
natural de Deir el-Bahari, era formado por um grande edifício de culto (Templo 
Funerário) dedicado não somente ao faraó, morto mas também aos deuses 
Amon-Rê e Montu-Rê. Com o formato de uma plataforma em rocha, 
reproduzindo uma tenda divina estilizada, sobre a qual estaria um edifício 
retangular que simbolizaria o monte primevo. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 83
Uma passagem descendente levava da parte posterior do edifício até uma 
câmara funerária abobadada escavada sob as encostas da montanha. O seu 
sucessor Mentuhotep III pode ter seguido a mesma forma de monumento 
funerário, mas a sua tumba ainda não foi localizada. 
Amenemhat I, fundador da XII dinastia, provavelmente iniciou a 
construção de seu túmulo em Tebas, seguindo o estilo do monumento 
funerário de Mentuhotep II, mas com a transferência da corte para o Alto 
Egito. O projeto de sua tumba tebana foi abandonado e construiu uma 
pirâmide com um complexo de templo em Lisht, no estilo dos monumentos do 
final do Antigo Império. 
Os seus sucessores da XII e XIII dinastias também foram sepultados em 
pirâmides, construídas em diferentes necrópoles próximas ao Fayum: 
Dahshur, Lisht, Saqqara, Lahun e Hawara. 
Estas pirâmides eram menores em tamanho, de construção inferior e 
sem inscrições, entretanto várias delas possuíam câmaras internas complexas 
com passagens que buscavam dificultar o acesso aos ladrões de túmulos. 
As tumbas dos reis hicsos, da XV dinastia, que controlavam o Delta do 
Egito, durante o Segundo Período Intermediário, ainda não foram encontradas. 
Provavelmente foram sepultados em tumbas do tipo cananeu, algumas delas 
não-reais foram encontradas em Avaris (Tell el-Daba). 
Os governantes egípcios da XIII dinastia, contemporâneos aos hicsos, 
foram sepultados em Tebas em tumbas escavadas na rocha com pequenas 
pirâmides em tijolos, construídas na área de Dra Abu el-Naga. O que parece 
ser a subestrutura de algumas destas tumbas forma uma câmara funerária e 
uma sala com pilares precedida por um pátio. 
Corte do templo funerário e tumba de Mentuhotep II, Deir el-Bahari 
 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 84
Corte axonométrico da tumba de Séthi I, KV17, 
XIX dinastia 
Os faraós do Novo Império foram sepultados em tumbas de um novo 
estilo, escavadas no “Vale dos Reis” (“Biban el-Moluk”), na margem oeste de 
Tebas. As tumbas eram constituídas por uma série de passagens, corredores e 
câmaras escavadas na rocha (hipogeu), sem a existência de uma 
superestrutura. Provavelmente, este vale foi escolhido pelo formato 
proeminente do pico de el-Qurn, que dominava o vale e assemelhava-se a uma 
pirâmide natural Era considerado como uma “superestrutura” coletiva para 
todas as tumbas localizadas no vale abaixo. 
Os templos funerários 
que serviam para o culto dos 
faraós estavam fisicamente 
separados das tumbas. 
Estavam localizados na planície 
do lado externo das encostas do 
vale próximos à zona fértil do 
vale do Nilo voltados para 
leste.A disposição interna das 
tumbas, no ”Vale dos Reis”, 
Tumbas Reais do “Vale dos Reis”, XVIII-XX dinastia: 
KV? Amenhotep I; KV38 Thuthmés I; KV20 Hatshepsut; KV34 Thuthmés III; 
KV35 Amenhotep II; KV 43 Thuthmés IV; KV22 Amenhotep III; KV62 
Tutankhamon; KV57 Horemheb; KV17 Séthi I; KV8 Merneptah; KV11 Ramessés III 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 85
Reconstituição das tumbas reais em el-Kurru 
reproduz um Mundo Inferior através do qual o deus-sol percorre em sua 
jornada noturna. A decoração das paredes ilustra e descreve as etapas desta 
jornada no qual o deus-sol e por conseqüência o faraó morto, por assimilação, 
percorre as doze horas da noite em direção a um novo amanhecer e ao 
rejuvenescimento e a uma nova vida. 
A única exceção a este modelo de tumba real do Novo Império foi a de 
Akhentaton, que promoveu uma “revolução religiosa” na qual o disco solar 
Aton foi elevado ao status de deus único. 
Não somente a crença de Akhenaton negava a existência de múltiplas 
divindades mas também as crenças tradicionais no pós-vida baseado nos 
ciclos mitológicos de Rê e Osíris. Desta forma a tumba de Akhenaton situava-
se nas encostas da montanha a leste de sua nova cidade Akhetaton (el-
Amarna), localizada longe daquelas de seus predecessores ortodoxos e com 
uma decoração que renegava todos os elementos iconográficos tradicionais, 
destacando o contato da família real banhado pelos raios vivificantes de Aton. 
Sob Tutankhamon a religião ortodoxa foi restaurada e a prática de 
sepultamento no “Vale dos Reis” foi retomada até o final da XX dinastia, 
quando o Delta do Nilo tornou-se o centro político dos faraós da XXI e XXI 
dinastias, tornando o local escolhido para as sepulturas reais em Tânis, a nova 
capital e o centro principal de culto do deus Amon no norte do Egito. 
As tumbas eram constituídas por câmaras funerárias subterrâneas 
construídas em rocha, provavelmente, com capelas de culto formandouma 
superestrutura, atualmente destruídas. Estas tumbas situavam-se dentro do 
recinto murado do templo de Amon. A 
localização de tumbas dentro do recinto dos 
templos tornou-se uma prática comum aos 
sepultamentos dos parentes dos reis e de 
altos oficiais. O costume foi interrompido 
durante a XXV dinastia, formada por reis 
núbios, que embora residindo no Egito e 
egipcianizados, construíram as suas tumbas 
em el-Kurru e Nuri, na Núbia. Suas tumbas 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 86
reviveram as tradições egípcias do passado distante com pequenas 
superestruturas piramidais e templos funerários anexos. 
As tumbas da XXV dinastia são as últimas identificáveis dos reis 
egípcios. Evidências textuais indicam que os governantes da XXVI dinastia 
retomaram a prática de construir as suas tumbas dentro do recinto de um 
templo de culto, neste caso o da deusa Neith, em Sais. Entretanto, nenhuma 
evidência arqueológica foi ainda encontrada. Talvez esta tradição nos 
sepultamentos reais tenha continuado, mas não existem provas e as suas 
tumbas ainda permanecem desconhecidas. 
 
V.2. AS TUMBAS PARTICULARES OU PRIVADAS 
 
Nas tumbas dos particulares o mobiliário funerário, os objetos pessoais 
e as estátuas, são distribuídos conforme a sua função em uma das duas 
partes que as compõem: a capela acessível aos vivos, acima do solo 
(superestrutura) e a câmara funerária no subsolo (subestrutura). 
Na capela eram colocados os objetos destinados ao culto funerário. As 
estátuas eram esculpidas muitas vezes na rocha que formava a tumba ou 
confeccionadas separadamente nas oficinas e colocadas em um nicho. 
O ponto focal do culto é a estela ou a estela porta-falsa onde a imagem 
do morto, frequentemente acompanhado por sua esposa, diante dela era 
colocada uma mesa de oferendas em rocha sobre a qual os familiares ou 
sacerdotes depositavam os alimentos acompanhados por preces e hinos. Esta 
estela era considerada o local de passagem entre o mundo dos vivos e o dos 
mortos. 
Nas mastabas o ritual de oferendas poderia ser realizado diante da 
estátua do morto que estava colocada em uma capela ou em uma câmara 
selada adjacente (serdab). 
Caso o ritual regular de oferendas fosse negligenciado ele poderia ser 
substituído, magicamente, pelas cenas que decoravam as paredes da capela 
funerária e pelo equipamento funerário como um método alternativo que 
garantiria o fornecimento de alimento para o morto. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 87
Outra forma de garantir este fornecimento de alimentos ao morto para 
toda a eternidade são as cenas representadas nas paredes da capela onde tudo 
o que era necessário para o seu conforto estava representado. 
O corpo era depositado na câmara funerária subterrânea selada e 
inacessível. A comunicação entre esta e a capela dava-se de forma mágica por 
meio da estela porta-falsa que permitia ao morto o contato com o mundo dos 
vivos. 
O acesso à câmara funerária era, normalmente, feito por meio de um 
poço, algumas vezes ligado a um corredor; ou por uma passagem descendente. 
As paredes da câmara funerária e as de seu acesso não eram decoradas, a não 
ser em raras exceções. Todas as decorações concentravam-se na capela. 
No dia do sepultamento, o corpo em seu esquife era baixado até a 
câmara subterrânea e colocado em seu sarcófago tendo próximo os vasos 
canopos e as shabti (ushabti) que eram selados no interior da câmara por um 
bloco de rocha, ou por tijolos de barro nas tumbas mais simples, e o poço e a 
passagem preenchidos com entulhos, cascalho e areia. Ninguém tinha acesso 
ao seu interior exceto o Bá do morto que transitava entre o mundo dos vivos e 
o dos mortos. 
 
V. 3. EVOLUÇÃO DAS TUMBAS PARTICULARES 
 
As tumbas particulares mais antigas, datadas da I e da II dinastias, 
inspiraram-se nas tumbas reais feitas em tijolos com uma superestrutura de 
formato retangular. 
Como as tumbas Pré-dinásticas em tijolos estas também tinham uma 
superestrutura de formato retangular, mas com as paredes externas 
inclinadas para dentro, surgidas inicialmente em Giza, Abusir, Saqqara e 
Meidum. Esta forma recebeu, no Século XIX, o nome árabe de mastaba - 
“banco”. 
Na III dinastia, algumas vezes tinham as faces externas recobertas com 
placas de calcário principalmente, em Saqqara, Naqada e Abidos, formando as 
primeiras necrópoles. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 88
Corte de uma 
mastaba típica da 
IV dinastia 
As tumbas reais desenvolveram para o formato da pirâmide, tornando-se 
uma prerrogativa dos faraós do Antigo e Médio Impérios enquanto as 
mastabas serão utilizadas como tumbas privadas próprias das pessoas 
importantes da sociedade. 
A subestrutura destas tumbas compreende uma única câmara funerária 
de grandes dimensões cujo acesso era através de um poço vertical. Na 
superestrutura as primeiras mastabas possuíam dois nichos nas paredes 
externas, um a norte e outro a sul, que serviam como local às preces e 
oferendas. Com o passar do tempo, estes nichos desenvolveram-se formando 
uma capela de culto. 
Na IV dinastia, a rocha torna-se um material regularmente utilizado na 
construção das tumbas da elite. O acesso à câmara funerária era através de 
um poço aberto no topo da mastaba que atravessava a superestrutura e 
penetrava a rocha abaixo do solo. 
Após o sepultamento, a câmara 
funerária, muitas vezes revestida por 
blocos de calcário, era lacrada com 
uma parede de tijolos ou blocos de 
rocha, ou algumas vezes por uma 
grande laje em rocha que era 
abaixada sobre a entrada como uma 
porta de alçapão (porticullis). O poço 
era preenchido com cascalho e areia. 
Em algumas mastabas a estrutura da face externa foi alongada 
formando um corredor colocando o nicho no interior da superestrutura. A 
porta-falsa era o ponto focal da capela, embora o seu plano variasse: algumas 
eram cruciformes, outras retangulares ou no formato de um L. O número de 
câmaras nas mastabas multiplica-se. Nas V e VI dinastias algumas mastabas 
possuem uma série complexa de câmaras, depósitos e serdabs ocupando todo 
o interior da superestrutura. Os depósitos das mastabas continham, além dos 
alimentos, os equipamentos rituais usados pelos sacerdotes no culto aos 
mortos. O acesso à câmara funerária, em muitos casos, era feito por meio de 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 89
Corte de uma mastaba 
típica das V-VI dinastias 
um poço inclinado que mais se assemelhava a uma rampa como a dos 
corredores internos das pirâmides. 
A introdução das câmaras internas e a progressiva expansão de suas 
dimensões criaram superfícies capazes de serem decoradas. As primeiras 
decorações, na III 
dinastia, consistiam de 
imagens do morto 
diante da mesa de 
oferendas cercadas por 
objetos e bens 
desejados e necessários 
no Outro Mundo. Com 
a IV dinastia cenas agrícolas, de caça e de atividades produtivas são adicionais 
ao antigo repertório. 
No final da IV dinastia as cenas internas representam as atividades 
realizadas por trabalhadores e servos, portadores de oferendas, cenas com 
açougueiros, trabalhos agrícolas e pesca. Todas realizadas diante da imagem 
do proprietário da tumba representado sempre em escala gigantesca. Estas 
cenas tinham a função mágica de suprir as necessidades e proporcionar a 
subsistência do morto em sua vida póstuma além de confirmar o seu status 
social. Com raras exceções não são representadas cenas dos funerais. 
Nas V e VI dinastias as cenas em alto relevo policromado representavam 
o banquete funerário com o morto diante das oferendas, músicos e 
dançarinas; cenas agrícolas distribuídas segundo as estações do ano, a 
preparação dos alimentos e a criação dos rebanhos; trabalhos artísticos e 
artesanais, joalheiros, escultores e carpinteiros; e a caça nos pântanos e nos 
desertos. O morto é representado junto com a sua esposa e filhos 
supervisionando todas essas atividades. 
No final do Antigo Império surgeuma alternativa às mastabas, nas 
províncias “nomos” do Alto Egito; eram tumbas escavadas na rocha nos 
penhascos e falésias ao longo do Vale do Nilo, onde a área era insuficiente para 
a construção de uma superestrutura como as mastabas. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 90
Reconstituição de uma tumba em 
Beni Hassan 
Assim, as tumbas eram cortadas na montanha com as entradas voltadas 
em direção ao Nilo. Embora existam exemplos datados da IV dinastia 
tornaram-se mais freqüentes no final da V dinastia. Todavia diferentes em sua 
forma possuem a mesma função das mastabas. Foram mantidos uma capela 
para oferendas e culto funerário além de um poço que levava a uma câmara 
funerária. 
As capelas destas tumbas eram muito largas adaptando elementos 
arquitetônicos como colunas, pilares e arquitraves. Nelas existia uma porta-
falsa e um serdab para as estátuas, algumas ocupando uma sala anexa onde 
as estátuas eram escavadas na própria rocha que formava a câmara. 
O enfraquecimento do poder central, com o colapso do Antigo Império, 
repercutiu na forma da tumba. 
Desaparecem as superestruturas elaboradas e as tumbas escavadas com 
capelas amplas. As tumbas da elite tornam-se muito inferiores em qualidade. 
Há um predomínio das tumbas rupestres escavadas nas falésias com 
capelas não decoradas, exceto por pequenas estelas colocadas diante da 
passagem ou poço que levava à câmara funerária. Em muitas destas tumbas 
modelos em madeira servem como substitutos para as cenas que antes 
decoravam as paredes das capelas. 
Com o restabelecimento do poder central, no início do Médio Império, 
foram estabelecidas as condições para que os oficiais e os administradores 
locais utilizassem a mão de obra de artistas e 
artesãos na construção de suas tumbas. 
Grandes tumbas escavadas na rocha 
com pórticos e pilares na capela e poços que 
levam à câmara funerária, surgem na XII 
dinastia, em Beni Hassan, Deir el-Bersha, 
Assiut, Meir e Assuã testemunhando o 
desenvolvimento de uma elite que são 
sepultados em sua cidades natal e não mais 
junto ao faraó na sua capital. 
Em El-Tarif, em Tebas ocidental, na XI 
dinastia, desenvolveu-se uma forma de tumba composta por um pátio 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 91
Corte axonométrico de uma tumba 
saff: 
1. pátio; 2. entrada; 3. sala 
transversal; 4. porta-falsa; 5. poço; 
6. câmara com esquife; 7. sala 
axial; 8. nicho com estátuas de 
culto. 
escavada na colina diante de uma fachada sustentada por pilares com um 
corredor que conduzia a uma pequena capela ou nicho e uma passagem ou 
poço que levava a uma câmara funerária, esta forma denominada saff que em 
árabe significa “em linha” ou “fila”. 
Embora as tumbas escavadas nas encostas rochosas predominem no 
Médio Império, mastabas ainda eram construídas para os cortesãos que eram 
sepultados próximos às pirâmides reais em El-Lisht. 
Tumbas rupestres, muitas vezes pouco 
decoradas, continuaram a ser feitas durante o 
Segundo Período Intermediário, entretanto, 
importantes inovações ocorreram no Novo 
Império. No início da XVIII dinastia tumbas da 
necrópole tebana desenvolveram-se tendo como 
modelo as tumbas saff; as primeiras tumbas 
do Médio Império foram, na verdade, tumbas 
saff deixadas inacabadas ou adaptadas e 
reutilizadas. 
A forma desenvolveu-se transformando o 
longo corredor, entre a fachada e a câmara 
interna, em uma sala transversal que tomou a 
forma tradicional das tumbas privadas da XVIII 
dinastia em um formato de um T invertido. 
As paredes eram decoradas com pinturas e mais raramente relevos. A 
sala transversal possui, normalmente, cenas que retratam o ambiente social 
do morto: cenas agrícolas, caça e pesca, banquete funerário e a carreira 
funcional do proprietário. 
Estas cenas “cotidianas” fornecem um testemunho muito valioso dos 
hábitos, costumes e valores da sociedade da época. Mas além dessas 
informações as cenas também guardam uma linguagem simbólica que coloca o 
morto frente a um combate contra as forças do caos como aliado das 
divindades e junto com o faraó mantendo a ordem cósmica 
A sala axial possui uma decoração, normalmente, representando temas 
funerários como os rituais e o culto ao morto. Esta sala, na forma de um 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 92
corredor, termina na estela porta-falsa ou em um nicho com a estátua do 
morto diante do qual se realizavam os rituais de oferendas. 
A câmara funerária subterrânea era ligada a um poço ou uma passagem 
inclinada e não era decorada, somente em casos muito excepcionais ela 
possuía textos e cenas funerárias. 
Na XIX dinastia o conceito das tumbas particulares muda. Ela passa a 
ter uma função “comemorativa” com uma decoração que confirma o status do 
morto e a sua condição social dando ênfase ao papel religioso da tumba, 
colocando-o em um contexto divino, em uma feliz existência póstuma, no 
Mundo dos Mortos, junto aos deuses. 
A tumba passa a ser uma espécie de templo, um local sagrado onde o 
morto adora os deuses, como já anunciava, muito discretamente, algumas 
tumbas do Médio Império. 
Esse desenvolvimento é manifestado, principalmente, na decoração das 
paredes da capela e na arquitetura das tumbas. 
As capelas das tumbas da XVIII dinastia eram caracterizadas pela 
concentração de um único tema o cena por parede, demarcado pelos cantos da 
câmara, pelas entradas, passagens e outros elementos arquitetônicos. 
A organização interna dos elementos dentro das cenas era feita usando-
se os registros. Isso foi substituído por uma “tira de imagens” na qual os temas 
são dispostos sequencialmente em uma faixa pictórica horizontal, que poderia 
estender-se de uma parede à outra adjacente. A distinção de duas dessas 
faixas em uma parede dava ao pintor a oportunidade de realizar um 
paralelismo conceitual. Cenas de culto funerário ocupam, geralmente, a parte 
inferior e aquelas relacionadas ao Pós-vida e ao Mundo dos Deuses ocupam o 
superior. Este paralelismo entre as faixas deriva da decoração das estelas 
funerárias da XVIII dinastia que mostra a adoração aos deuses, no topo da 
estela, e o culto ao morto na parte inferior. 
As tumbas ramessidas compõem-se por cinco partes distintas: a parte 
externa, com uma pirâmide em tijolos e um pátio murado, as vezes com um 
jardim arborizado; e as partes internas com a capela, a passagem em declive e 
a câmara funerária. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 93
Reconstituição das 
tumbas de Deir el-
Medina, Tebas 
Cortes de tumbas de 
Deir el-Medina: 1. 
pilono; 2.pátio; 
3. entrada com 
pirâmide; 
4. capela; 5. sala axial; 
6. nicho; 7. poço; 
8. antecâmara; 
9. câmara funerária 
O pátio e a capela tinham uma forte ligação com a arquitetura dos 
templos, enfatizando o paralelismo entre o culto aos deuses e o culto ao morto. 
Isso se torna mais evidente no Período Pós-Amarna nas tumbas de Tebas e 
Mênfis que possuíam uma entrada com o 
formato de um pilono e o pátio com colunas. 
Na mesma época, a pirâmide já havia sido 
abandonada como forma exclusiva para as 
tumbas reais, passando a ser usada pelos 
particulares em uma escala muito menor na 
construção da superestrutura de suas tumbas 
em Mênfis e Tebas. 
Na arquitetura das tumbas ramessidas 
manifestam-se três níveis conceituais: 
A câmara funerária e a passagem 
inclinada era uma associação ao Mundo 
Subterrâneo e aos Domínios de Osíris, isto é, a 
topografia do Mundo Inferior e o local de 
sepultamento do deus ao qual o morto era identificado. 
A superestrutura tinha associações solares sendo representada por uma 
pequena pirâmide com um nicho para conter uma estela escrita com hinos ao 
deus-sol. Esta parte da tumba 
era, geralmente, construída com 
tijolos em barro e poucas 
sobreviveram, mas fragmentos e 
representações em pinturas 
ajudam a compreender a sua 
forma original. No topo da 
pirâmide um piramidion, feito em 
rocha, geralmente mostra o morto 
em adoração aodeus-sol Rê-Harakhti. 
A capela e as suas salas internas e o pátio eram 
inspirados pela arquitetura do templo. Este era o local de 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 94
culto onde os deuses eram adorados junto com os ritos funerários ao morto. 
Este esquema representa um desenvolvimento posterior da função 
conceitual da tumba. É uma reflexão monumental do papel do morto, colocado 
como participante da jornada do deus-sol identificando-o com Rê e com Osíris. 
A construção de novas tumbas particulares declinou com o final do Novo 
Império e durante o Terceiro Período Intermediário foram construídas, 
relativamente, poucas tumbas, ao invés disso as tumbas antigas foram 
reutilizadas, muitas vezes, sem qualquer alteração na decoração e houve uma 
tendência crescente de sepultamentos coletivos. Entretanto, algumas 
estruturas funerárias foram construídas, a maior parte eram formadas por 
modestas capelas em tijolos com poços que levam à pequenas câmaras 
funerárias não decoradas. Há inúmeros exemplos, principalmente em Tebas 
próximo ao Ramesseum dentro do recinto de culto, o que será uma 
característica deste período. 
Embora algumas capelas fossem decoradas com blocos com relevos 
pintados, s esquifes e papiros é que se tornaram os principais veículos para a 
tradição dos textos e imagens funerários, em particular os esquifes que 
atuavam como uma tumba em miniatura. 
As XXV e XXVI dinastias testemunharam o renascimento das primeiras 
tradições artísticas, na arquitetura e nas práticas religiosas. Essa tendência 
também é evidente nas tumbas que aproveitando o ressurgimento da 
construção arquitetônica, promovido pelo governo centralizado, favoreceu a 
construção de tumbas para altos oficiais em Tebas e Mênfis. 
Em Tebas, as grandes tumbas dos oficiais, das Divinas Adoradoras de 
Amon e sacerdotes foram construídas ao longo do caminho processional do 
templo de Hatshepsut que, provavelmente, adquiriu uma importância 
renovada como foco da revivida “Bela Festa do Vale”. 
Essas enormes “tumbas palácios” pertenceram à mesma tradição das 
tumbas ramessidas. 
Em Saqqara e Giza os altos oficiais eram sepultados em “Tumbas Poços” 
com as suas múmias protegidas por enormes sarcófagos antropomórficos. 
Pessoas de status inferior continuaram a reutilizar as tumbas antigas e a 
serem sepultados coletivamente. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 95
Reconstituição da câmara 
abobadada com o sarcófago de 
uma “Tumba Poço”, XXVI 
dinastia 
A tendência da capela funerária de imitar 
um templo de culto culminou no IV ao III Século 
a.C., com a criação de tumbas como as de Tuna 
el-Gebel, no restante do Egito o modo como o 
morto era sepultado variava. Catacumbas foram 
usadas em Alexandria, na necrópole de Kom el-
Shugafa, decoradas com relevos e pinturas nas 
quais a iconografia egípcia foi mesclada a elementos 
greco-romanos. No Fayum e nos oásis, as múmias 
eram enterradas em grandes covas, talvez como um 
armazenamento temporário. Em Kom Abu Billo 
havia tumbas em tijolos com tetos abobadados e um nicho na extremidade 
leste que continha uma estela em calcário. 
Com a chegada do cristianismo os sepultamentos tornaram-se cada vez 
mais simplificados, muitas vezes, nada além de uma cova como as sepulturas 
dos mais humildes do Período Faraônico. 
 
VI. MÚMIAS: MENSAGEIRAS SILENCIOSAS DE UM PASSADO PERDIDO 
 
A idéia de uma vida após a morte no Egito remonta aproximadamente ao 
Paleolítico Médio. É nessa época que aparecem os primeiros objetos utilitários 
colocados nas sepulturas, junto ao corpo, para que o morto os utilize em uma 
nova existência. 
A vontade de conservar os corpos, em sua integridade física, a fim de 
que o morto possa viver em um Outro Mundo parece datar das primeiras 
dinastias. Ela tem a sua origem nas areias do deserto de onde surgiam, 
algumas vezes, corpos em um estado de conservação que impressionaram 
esses primeiros egípcios. 
Seu fundamento religioso tem na concepção da individualidade, que 
para os egípcios era constituída por sete princípios diferentes, que coexistiam 
uns com os outros: o Corpo, o Coração, o Nome, a Sombra, o Bá, o Ká, e o 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 96
Variação da posição da incisão da 
evisceração conforme a época: 
A. vertical no abdômen no início do 
reinado de Thutmés III; B. diagonal 
paralela a coxa durante e após o reinado 
de Thutmés III. 
C. diagonal da cintura até a virilha nas 
múmias de menor qualidade e mais 
recentes. 
Akh. Nenhum indivíduo poderia existir sem um desses princípios, seja sobre a 
Terra como no Outro Mundo. 
O corpo, que servia de receptáculo a todos os outros elementos, deveria 
ser preservado após a morte para reunir, todos os princípios que formavam o 
indivíduo. 
A palavra múmia deriva do persa mum, que significava “cera” ou 
“betume” passando para o árabe mummia. No copta mum significa “cera”. A 
origem desse nome, para designar os corpos embalsamados dos egípcios 
antigos, baseia-se no engano provocado pela aparência enegrecida de algumas 
múmias, semelhante à coloração do betume ou do piche mineral, substância 
que ocorre naturalmente na região do Mar Morto e que muito esporadicamente 
era usado no processo de mumificação durante o Novo Império. Na verdade a 
coloração preta é o resultado do uso de resinas vegetais que se alteraram com 
o tempo. 
As primeiras tentativas de mumificação 
eram um processo de conservação muito 
simples e pouco eficazes. O corpo do morto era 
coberto por gesso para evitar a sua 
decomposição, o que resultava em uma espécie 
de “casca” preservando somente a aparência 
externa do corpo. Foi apenas com a descoberta 
da desidratação artificial, com a ajuda do 
natrão, que a mumificação teve um progresso 
real no Antigo Império. 
Os corpos eram cobertos por cristais de 
natrão que retirava os líquidos dos tecidos. 
Essa técnica de conservação foi completada, 
durante o Antigo Império, pelo processo de 
evisceração abdominal e escerebração. A 
primeira técnica consistia na retirada do intestino, do fígado, dos pulmões e do 
estômago para que a sua decomposição não se espalhasse para o restante do 
corpo. As vísceras eram limpas - com vinho de palmeira - desidratadas, 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 97
enfaixadas e guardadas dentro de vasos canopos. O coração, que para os 
egípcios antigos era o centro do pensamento, era deixado no lugar. 
A segunda técnica consistia em retirar o cérebro, na maior parte das 
vezes pelas narinas, quebrando o osso etmóide com a ajuda de um gancho, e a 
cavidade craniana preenchida com resinas. Após a evisceração e escerebração 
o corpo do morto era lavado e recoberto com natrão durante 70 dias sendo 
depois limpo, entretanto o tempo decorrido poderia ser maior, como o ocorrido 
na mumificação da rainha Meresankh que levou 272 dias ou Tutankhamon 
que teria levado 8 meses, é provável que o tempo de mumificação, nesses 
casos, estaria somado a preparação do equipamento funerário, como os 
caixões, sarcófagos e a conclusão da própria tumba. A cavidade abdominal 
poderia ser preenchida com goma de cedro, mirra, diversos ungüentos junto 
com mechas de linho, ou na mais simples com serragem, dando ao corpo a 
sua forma original antes de ser enfaixado com tiras de linho impregnadas com 
goma arábica. Em seguida uma série de faixas em tecido, mais largas, eram 
colocadas para proteger o corpo todo e por último um sudário era amarrado ao 
corpo por faixas horizontais. 
Paralelamente a essa técnica de conservação, os egípcios antigos, 
desenvolveram uma teologia da mumificação por meio do mito de Osíris. Ele 
foi o primeiro homem-deus a vencer a morte. Assassinado pelo seu irmão Seth 
o seu corpo, despedaçado, foi reunido e mumificado por sua esposa Ísis e por 
Anúbis criando a primeira múmia. 
A mumificação era praticada por sacerdotes especializados, os 
embalsamadores. Inicialmente feita sob a “Tenda da Purificação”,na entrada 
da necrópole ou próximo à tumba, na Baixa Época era feita em um edifício 
chamado “Local Puro”. A classe de embalsamadores é conhecida desde a VI 
Dinastia seguindo uma hierarquia: o “Controlador dos Mistérios” 
supervisionava as operações realizadas por um embalsamador chefe o 
“Chanceler do Deus” e pelos “Sacerdotes Leitores”. Os sacerdotes que 
celebravam os rituais usavam uma máscara do deus Anúbis. Existia ainda um 
pessoal subalterno que participava dos rituais fúnebres, durante o processo de 
mumificação, e artesãos especializados na preparação do natrão, dos 
ungüentos, das resinas e das bandagens. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 98
A mumificação fazia parte de um ritual funerário muito complexo onde 
numerosos rituais religiosos eram realizados durante as diferentes etapas da 
preparação do corpo. Os embalsamadores colocavam numerosos amuletos 
entre as bandagens e recitavam inúmeras fórmulas mágicas, escritas em rolos 
de papiros, que eram lidas pelo “Sacerdote Leitor”. 
Uma vez pronta a múmia realizava-se o “Ritual de Abertura da Boca” que 
permitia ao morto recuperar as suas faculdades físicas e mentais. O morto, 
assim preparado, poderia renascer para uma nova vida pela identificação com 
o deus Osíris tornando-se, ele mesmo, um Osíris (um ser divino). A múmia 
recebia, em seguida, a máscara funerária e era colocada dentro de esquifes e 
sarcófagos para ser transportada até a sua tumba. 
A mumificação foi inicialmente um privilégio real. Somente o faraó 
poderia tornar-se um Osíris. Com o final do Antigo Império esse privilégio foi 
estendido aos nobres e, pouco a pouco, ao povo. Três categorias de 
mumificação eram praticadas segundo os recursos materiais da família, ela 
poderia ser completa ou mais ou menos simplificada. Os sacerdotes eram 
pagos, pelas famílias, em espécie ou em prata após a Baixa Época. 
 
Esquema de enfaixamento de uma múmia. Existem várias formas de se enfaixar o corpo, 
podendo começar pelas extremidades dos membros, terminando na cabeça. O corpo era 
envolto em uma mortalha que era fixada com faixas. Sobre a cabeça era colocada a máscara 
mortuária. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 99
Ela não era exclusivamente reservada aos humanos. Na religião egípcia 
uma grande parte dos deuses poderia se manifestar pelos animais e um 
grande número de espécies era mumificado. Certas espécies de animais, como 
os gatos e as íbis, eram criadas com o objetivo de serem mumificadas para 
serem vendidas aos peregrinos que as utilizavam como oferendas às 
divindades. O mais famoso de todos os animais mumificados foi o touro Ápis 
que, a partir do Novo Império até o final da Baixa Época, era mumificado e 
sepultado em imensos sarcófagos em granito no Serapeum, em Mênfis. 
 
VI. 1.A ATENÇÃO DESPERTADA PELAS MÚMIAS 
 
O interesse sobre as múmias teve início com a própria egiptologia. 
Objeto de curiosidade despertou o interesse dos primeiros viajantes europeus 
que chegaram ao Egito junto com a campanha militar de Bonaparte, em 1798. 
Desde esta época as múmias começaram a ser levadas como objetos 
ornamentais para os “gabinetes de curiosidades” dos colecionadores, na sua 
maioria membros das cortes ou da burguesia européia. Este modismo chegou 
à corte portuguesa, no Brasil, onde D. Pedro I adquiriu a coleção de Fiengo, 
que mais tarde seria base da coleção egípcia do Museu Nacional. Seu filho, D. 
Pedro II, deu prosseguimento a esse interesse pela terra dos faraós tornando-
se um egiptólogo amador. 
Esse interesse por objetos egípcios fez com que numerosas múmias 
pertencentes a colecionadores particulares terminassem mais tarde nos 
museus, o que as preservou mas sem nenhuma outra informação quanto à 
procedência desses objetos. 
Muitas das múmias que permaneceram no Egito tiveram um fim menos 
digno, foram destruídas por diversas razões. A pilhagem foi a principal causa 
da sua destruição. Na busca por jóias e amuletos os corpos eram 
despedaçados e seus restos abandonados ou queimados, ainda no interior de 
suas sepulturas. 
Durante a Idade Média um manual em árabe ensinava como saquear as 
tumbas, “O Livro dos Tesouros Enterrados” como era chamado, fez tanto 
sucesso que foi reproduzido durante séculos. Nele os saqueadores aprendiam 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 100
com precisão como encontrar as tumbas e as múmias e de como se proteger 
magicamente da vingança dos espíritos perturbados. 
Outra causa de destruição muito freqüente era a moagem dos corpos 
mumificados par a obtenção de um pó considerado como possuidor de 
propriedades curativas devido ao betume contido nos corpos. 
Esta prática mencionada pelo médico árabe Ibn Sina (Avicenna) escrita 
no Século 11 e presente no trabalho de outro médico árabe Abd el Latif 
tratavam das propriedades do pó de múmia que misturado à água era 
aquecido para que vapores fossem inalados ou dissolvidos para ingestão com a 
finalidade de curar abcessos, fraturas, paralisias, náuseas, úlceras e epilepsia. 
O pó de múmia aparece nas listas de substâncias medicinais na maioria dos 
textos médicos latinos, foi tão comum que é mencionado mesmo em textos 
literários, como em “Romeu e Julieta” de Shakespeare, sendo usado até o 
Século 19. Quando a rainha Vitória adoeceu recebeu do rei da pérsia um 
frasco contendo pó de múmia para ajudar em seu tratamento de saúde. 
O pó de múmia foi amplamente utilizado no Século 19 e início do Século 
20 também na fabricação de pigmentos utilizados na pintura, por ser 
considerado como um conservante das cores e com o mesmo pó obtinha-se 
uma cor chamada “marrom múmia”. 
Os tecidos das bandagens também foram utilizados na fabricação de 
papel. Enquanto as múmias de animais, principalmente as de gato, eram 
exportadas para a Inglaterra a um custo de aproximadamente 3 dólares a 
tonelada para servir como fertilizante agrícola. Além disso muitas múmias 
tiveram o seu fim nas fornalhas das locomotivas a vapor no Egito usadas como 
combustível no lugar do carvão. 
Esses diferentes usos mantiveram durante séculos o comércio de corpos 
mumificados contribuindo para a sua destruição e promovendo os saques nas 
tumbas. 
 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 101
VI. 2. UM HISTÓRICO DO ESTUDO DAS MÚMIAS EGÍPCIAS 
 
Com a descoberta do raio-X, em 1895, por W. C. Röntgen um novo 
campo de estudo abriu-se para as múmias egípcias permitindo uma 
exploração não destrutiva. W. Flinders Petrie pede que as múmias por ele 
descobertas no Egito sejam radiografadas em 1896, mas a pouca potência dos 
aparelhos da época só permitiram a exploração das extremidades dos 
membros. 
Nos anos que se seguiram, a radiologia foi tornando-se cada vez mais 
um instrumento que veio a contribuir nos estudos sobre a mumificação 
egípcia. Em 1897 foi realizada pelo Dr. Bloch, em Viena, a primeira radiografia 
completa de uma múmia egípcia. 
- 1903 a múmia do faraó Thutmés IV (cerca de 1499-1386 a.C.) foi 
desenfaixada em uma cerimônia solene no Museu do Cairo por Gaston 
Maspero, Emile Brugsch e Georges Daressy na presença de uma platéia de 
egiptólogos e médicos. No mesmo ano essa múmia foi conduzida em um táxi 
para o primeiro hospital do Cairo que dispunha de um aparelho radiográfico 
para ser examinada pelo Dr. Khayat. A chapa permitiu determinar a idade do 
rei mostrando ser mais jovem do que se pensava baseado nos documentos 
históricos. 
- 1912 G. Elliot Smith publicou a primeira descrição completa das 
múmias reais do Museu do Cairo por meio da radiografia. Ainda a pouca 
potência dos equipamentos não permitia uma visualização das partes dos 
corpos que estavam sob grossas camadas de resina. 
- Entre 1903 e 1909 os naturalistas, Louis Lorte e Claude Gaillard, 
publicaram um estudo sobre a fauna mumificada do Egito Antigo onde gatos, 
cães, roedores, bovídeos, ovídeos, pássaros, répteis e peixes foram 
radiografados. A despeito da utilização cada vez maior da radiografiaem 
análises não destrutivas ainda eram freqüentes as sessões de desenfaixar as 
múmias que resultavam na destruição dos corpos, como as realizadas em 
Manchester pela egiptóloga Margaret Murray, que em 1907 "autopsiou" as 
múmias dos dois "irmãos" datados do Médio Império (cerca de 2061-1784 a.C). 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 102
- 1910 o patologista inglês, Marc Armand Ruffer, desenvolveu uma 
técnica de reidratação dos tecidos mumificados permitindo a histologia, a 
anatomopatologia e a parasitologia dos tecidos humanos mumificados 
identificando a presença de ovos do chistosoma haematobium responsável pela 
bilharziose em duas múmias da XX dinastia (cerca de 1185-1070 a.C). Nesse 
mesmo ano G. Elliot Smith identifica um caso de lepra em uma múmia copta. 
- 1913 o químico, Marcellin Bertoletti, descreveu a primeira anomalia 
vertebral, uma fusão anormal das vértebras lombares com o sacro, em 
radiografias de uma múmia da XI dinastia (cerca de 2061-1991 a.C). 
- 1925 Douglas E. Derry autopsiou a múmia de Tutankhamon mas não 
a radiografou gerando críticas a esse seu trabalho. 
- 1926 no Museu Guimet, em Paris, foi realizada a primeira radiografia 
de uma múmia na França. O equipamento operado por M. Bonin resultou em 
chapas interpretadas pelo egiptólogo Alexandre Moret, nessa época ainda 
enfrentava-se dificuldades em transpor massas resinosas que cobriam ou 
preenchiam partes do corpo. 
- 1931 o patologista, Roy L. Moodie, radiografou uma série de 17 
múmias, onde 7 eram de crianças, todas de épocas diferentes revelando sinais 
de artrose, arterioesclerose e desgastes dentários. De grande qualidade essas 
radiografias permitiram ver as estrias de crescimento em duas crianças do 
Período Romano. Moodie estudou também vários animais mumificados pelos 
egípcios antigos. 
- 1933 W. C. Boyd e L. G. Boyd seguidos por L. C. Wyman 
desenvolveram a primeira técnica de determinação de grupos sangüíneos das 
múmias a partir dos restos musculares de uma série de 131 múmias egípcias. 
- 1936 P. B. Candela desenvolveu uma outra técnica utilizando 
fragmentos de ossos pulverizados, seu estudo foi feito sobre 30 múmias de 
mulheres egípcias da XXI dinastia (cerca de 1070-946 a.C). 
- 1942 F. J. Onckheere publicou um estudo completo, tanto radiológico 
como da autópsia, da múmia do escriba real Butehamon. 
- 1955 A. T. Sandison desenvolveu uma técnica de reidratação de tecidos 
que pouco variou até hoje. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 103
- 1960 o Dr. Roberval Bezerra de Menezes radiografou a múmia feminina 
romana (nº. 158) do Museu Nacional encontrando sinais de ósteo-artrite, mas 
infelizmente as radiografias estão atualmente desaparecidas. 
- 1963 George Harrison radiografou os restos mumificados encontrados 
na tumba real nº. 55 que foram identificados como sendo, provavelmente, do 
faraó Akhenaton e mais tarde comparando-se as radiografias mostrou ser um 
parente próximo a Tutankhamon. 
- 1966 Peter Hugh Ker Gray radiografou e publicou as múmias do 
Museu de Leyden das quais 3 delas fazem parte do pequeno grupo de múmias 
(nº. 7, 15 e 16) ao qual pertence a múmia romana feminina (nº 158) do Museu 
Nacional. 
- 1968 Peter Hugh Ker Gray e Warren Royal Dawson publicaram o 
catálogo de múmias e restos humanos do Museu Britânico, combinando o 
estudo arqueológico com as análises das radiografias de 133 múmias, dentre 
elas a de nº. 6704, esta faz parte do pequeno grupo ao qual pertence múmia 
feminina (nº. 158) do Museu Nacional. 
Nesse mesmo ano George Harrison radiografou pela primeira vez a 
múmia de Tutankhamon com um equipamento portátil no interior da tumba 
desse faraó. Nesse mesmo ano fez as radiografias de um dos fetos encontrados 
nessa mesma tumba. 
- 1973 J. E. Harris e E. F. Wente publicaram um estudo das múmias 
reais do Museu do Cairo mostrando incompatibilidades entre as identificações 
clássicas e as filiações genéticas prováveis, mas comprovando em vários casos 
a idade da morte de alguns faraós obtida por fontes históricas. 
- 1976 a múmia de Ramessés II foi levada para Paris para ser restaurada 
e estudada por uma equipe dirigida por Lionel Balout e C. Roubet, utilizando 
vários exames não invasivos, entre eles a radiografia, e análises de fungos e de 
restos vegetais encontrados na múmia. Ao final dos exames a múmia foi 
esterilizada por raios gama e colocada em uma vitrine de plexiglas preenchida 
por uma atmosfera estéril. 
- 1979 A. Rosalie David e sua equipe publicaram um estudo de 17 
múmias do Museu de Manchester datadas desde o Novo Império (cerca de 
1570-1070 a.C.) ao Período Romano (332 a.C.-395 AD) e de restos humanos 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 104
fragmentados. Foram igualmente estudadas múmias de 31 animais que se 
encontravam no museu. 
Nesse mesmo ano Eugen Strouhal e L. Vyhnànek estudaram 24 corpos e 
restos de múmias egípcias em museus e coleções particulares da 
Tchecoslováquia, muitas delas provenientes da necrópole de Deir el-Medina 
encontradas nas escavações de Bernard Bruyère, bem como 69 múmias de 
animais. 
- 1980 Aidan Cockburn e sua equipe publicaram o estudo sobre 4 
múmias da Universidade da Pensilvania em um projeto chamado PUM I-IV. 
- 1981 R. Grilletto publicou os resultados dos estudos antropológicos 
das múmias descobertas nas escavações na necrópole de Antinoe e com E. 
Delorenzi o estudo das múmias egípcias do Museu de Turim. 
- 1982 C. Roubet e Roger Lichtenberg desenvolveram um projeto 
inovador de estudo a partir de radiografias de 17 múmias feitas no próprio 
campo de escavação na necrópole de Dush, no Oásis de Kharga, datado do 
Período Ptolomaico ao Romano (332 a.C.-395 AD). Esse trabalho prosseguiu 
até 1974 com Françoise Dunand e Roger Lichtenberg. 
De 1986 a 1988 I. Morimoto, Y. Naiato, K. Hirata e T. Wakebe 
publicaram um estudo dos restos de 166 múmias provenientes da necrópolede 
Gurna, em Tebas, datadas da XVIII dinastia ao Período Ptolomaico (cerca de 
1570-31 a.C.) 
- 1987 Patrice Josset e Jean-Claude Goyon autopsiaram, após um 
minucioso radiológico e com o auxílio de tomógrafo, uma múmia do Museu 
Guimet de História Natural de Lyon o que resultou na criação de dois 
documentários de grande sucesso da TV Francesa, um sobre a autópsia e 
outro sobre a análise dos materiais coletados durante os trabalhos (tecidos 
humanos e vegetais e pólen). 
- 1992 a Organização Egípcia de Antiguidades promoveu um estudo 
radiológico de 59 múmias do Período Romano (30 a.C.-395 AD) da necrópole 
de Aïn Labakha, no Oásis de Kharga. 
- 1992 a toxicóloga Svetla Balabanova do Instituto de Medicina Forense 
de Ulm ao examinar as amostras de cabelo das múmias do Museu de Munique 
divulgou resultados ainda controversos da presença de cocaína e nicotina. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 105
Atualmente no Museu de Manchester sob a supervisão de Rosalie David 
organiza um banco de dados de DNA de múmias egípcias iniciada com a 
coleção do Museu Britânico e vem recebendo amostras de outros museus pelo 
mundo; e ainda Salima Ikram, da Universidade Americana do Cairo, vem 
estudando as múmias reais do Museu do Cairo e desenvolvendo um projeto de 
“adoção” de múmias de animais cujo estudo radiológico é patrocinado por 
cotas adquiridas por particulares. 
Estudos das múmias do Período Romano descobertas nas tumbas do 
Vale das Rainhas e no Ramesseum, em Tebas Ocidental, estão atualmente em 
curso feitos por A. Macke e C. Macke-Ribet da equipe de Christian Leblanc. 
Atualmente todos os meios científicos modernos são colocados à 
contribuição do estudo das múmias humanas e animais nos grandes centros 
internacionais. Normalmente as pesquisas desenvolvem-se no âmbito dos 
museus e universidades associadas ou auxiliadas por hospitais em grupos 
multidisciplinares formados por especialistas que permitem um estudo de 
todos os aspectos científicos possíveis: histológicos, anatomopatológicos, 
radiológicos,palinológicos, entomológicos e têxteis, além da datação por 
radiocarbono e as reconstituições faciais a partir das características 
cranianas. Os progressos incessantes nas técnicas não destrutivas de análise 
médica, como os scanners e tomógrafos, com a sua análise de grande definição 
de imagens que permite a eliminação da superposição de diferentes estruturas 
e contrastes o que possibilita uma melhor visualização vem sendo cada vez 
mais aplicado. 
Podemos então dizer que as múmias egípcias nunca foram tão 
estudadas como atualmente fornecendo um conhecimento cada vez mais 
preciso das condições de vida no Egito Antigo, das doenças e dos processos de 
mumificação, permitindo confrontar e especificar os dados arqueológicos. 
 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 106
VII. Vasos Canopos 
 
Os egípcios compreenderam, desde muito cedo, que a decomposição do 
corpo começava pelas vísceras e decidiram, portanto, retirá-las através de uma 
incisão do lado esquerdo do abdômen. 
Entretanto, preocupados em manter a integridade do morto, não se 
desfaziam desses órgãos, mas secavam e individualmente enfaixavam-nos em 
linho sepultando-os, na tumba, próximos à múmia em vasos denominados 
“Canopos”, termo criado no século XIX pelos antiquários os mais antigos 
datando da IV Dinastia, e sempre em número de quatro. 
Os egípcios não tinham um termo específico usado para designar estes 
vasos, sendo chamados genericamente de “jarros de embalsamação” (qbw n-
wt). 
Estes vasos eram feitos, mais frequentemente, em alabastro (calcita), 
calcário ou faiança e colocados sob a proteção dos Quatro Filhos de Hórus, 
que eram associados a um ponto cardeal. 
A partir do Médio Império passam a ter as suas tampas representando o 
rosto do morto e mais tarde, durante a XIX dinastia, passaram a ter o rosto 
dos Quatro Filhos de Hórus, e cada um estava também sob a proteção de uma 
deusa. 
Na Baixa Época as vísceras mumificadas tinham a forma de pacotes que 
eram colocados no interior da múmia e, frequentemente, um conjunto de 
Vasos Canopos “falsos” eram colocados na tumba. 
 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 107
Disposição dos amuletos em 
uma múmia da Baixa Época 
DEUS TAMPA ÓRGÃO DEUSA LOCAL 
Hapy babuíno pulmões Néftis norte 
Duamutef ou 
Tuamutef 
chacal estômago Neith leste 
Amset ou 
Mesta 
homem fígado Ísis sul 
Qebehsenuef falcão intestinos Serket oeste 
 
VIII. AMULETOS 
 
Os amuletos têm um papel importante na vida dos egípcios antigos que 
atribuíam a eles uma função protetora contra todos os males, conhecidos ou 
imaginados, transferindo-lhes as suas virtudes mágicas. Eram usados em 
colares, pulseiras, como pingentes ou anéis. 
Segundo as suas crenças, esta proteção, estendia-se também aos 
mortos; as múmias eram providas de amuletos destinados a proteger o morto 
em sua vida no Outro Mundo. Ao longo da história egípcia os amuletos 
multiplicaram-se em uma grande variedade de formas 
chegando, na Baixa Época, a aproximadamente 300 
tipos diferentes. Cada um possuía poderes particulares e 
eram colocados em locais definidos sobre a múmia. 
Quanto mais alta a posição social do morto os 
amuletos eram mais numerosos e feitos em materiais 
mais preciosos. O material era escolhido, muitas vezes, 
por suas propriedades mágicas. A grande maioria era 
feita em faiança azul esverdeada, cor que simbolizava a 
regeneração, alguns eram feitos em pedras 
semipreciosas ou em ouro. 
Podemos dividir os amuletos em grandes 
categorias. A mais numerosa é aquela em que os 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 108
pilar-
djed 
nó-
tyt feixe de papiro 
wadj 
olho-udjat 
escaravelho 
coração-ib 
coroa 
branca 
coroa 
vermelha 
peitoral com 
Anubis 
cabeça de cobra 
deus Thoth 
ibicéfalo 
amuletos têm a forma de animais, entre os quais o escaravelho ocupa um 
lugar de destaque. 
Outra categoria de amuletos muito freqüente são as pequenas imagens 
de divindades. Estas atribuíam os poderes da divindade à pessoa que as 
carregassem. 
Existiam também amuletos que representavam sinais sagrados ou 
símbolos de divindades, tais como o pilar-djed, símbolo de Osíris, o nó-tyt, 
símbolo de Ísis, e o Olho de Hórus (udjat). 
Havia ainda amuletos que representavam partes do corpo humano para 
proteção ou, no caso dos mortos, também a substituição, o mais freqüente 
sendo o coração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 109
IX. SARCÓFAGOS, ESQUIFES E CARTONAGENS 
 
O “naos” é para o templo o núcleo do edifício, a morada do deus, o santo 
dos santos, assim como o sarcófago para a tumba, pois aquele é a parte 
essencial, a morada do morto, por conseguinte a razão de ser da sepultura. 
Como o “naos”, o sarcófago ocupa um lugar definitivo na tumba, não podendo 
ser considerado nem como um objeto mobiliar nem como um ornamento. 
As primeiras tentativas feitas pelos egípcios neolíticos de proteger os 
corpos sepultados foram a de depositá-los em covas envoltos em cestas, peles 
de animais, ou coloca-los dentro de potes de barro de formato redondo ou oval, 
às vezes com um outro pote emborcado como tampa. 
Deste modesto início desenvolveu-se uma progressiva série dos mais 
elaborados caixões, variando em estilo e decoração nos diferentes períodos. O 
desenvolvimento dos sarcófagos e caixões como o último receptáculo do corpo 
físico foi grandemente afetado pela crença religiosa e em breve adquiriram seu 
próprio simbolismo. 
Estes receptáculos estavam destinados a conter o khat, isto é o corpo 
sem vida, que era passível de corrupção e que só poderia ser preservado pela 
mumificação. 
Ao lado da significação mística do sarcófago, bem caracterizado pelo seu 
nome egípcio “senhor da vida”, este importante objeto possui uma função que 
podemos qualificar de arquitetônica, pois constitui uma verdadeira casa para o 
Sepultamento com corpo fletido sobre um “caixão-
esteira”, I dinastia, British Museum Esqueleto sepultado em um 
pote cerâmico, I-II dinastia, 
Museu Petrie 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 110
morto. Esta noção aparece de uma maneira 
precisa durante o Antigo Império, quando os 
sarcófagos e caixões, vêm substituir as 
simples covas Pré-dinásticas. Eram grandes 
caixas retangulares com paredes espessas, 
sua decoração era usualmente simples com 
entalhes verticais que representavam a 
fachada de uma casa de tijolos, chamada 
frequentemente de serekh ou “fachada de 
palácio”, pois acredita-se terem sidos 
inspiradas nas fachadas dos primeiros 
palácios reais Pré-dinásticos, além de possuírem representações de portas ao 
longo de painéis de decorram o seu exterior são fechados por uma tampa 
abobadada.. 
Este tipo de sarcófago desenvolveu-se segundo uma idéia relativa à 
condição do homem após a morte: o morto continuaria a viver sob a terra, 
deveria então ser abrigado da mesma forma que fora em vida. 
Durante o Médio Império a forma e a decoração dos sarcófagos, 
inspiradas no período anterior, sofreram modificações conforme as crenças 
funerárias da época; os textos funerários anteriormente reservados às paredes 
da câmara funerária real, passam a ser escritos nos sarcófagos de 
particulares. 
O material utilizado é a madeira e a decoração era então pintada ainda 
com motivo de “fachada de palácio”, mas compostos como uma série de estelas 
separadas por uma coluna vertical de textos que traz os nomes e títulos do 
morto. Os olhos-udjats são pintados ou esculpidos ao nível da face da múmia 
incorporados, às vezes, a uma representação de uma “porta-falsa”. Este 
mesmo motivo aparece frequentemente, no mesmo ponto, no interior do 
caixão. 
O corpo era colocado dentro do caixão sobre o seu lado esquerdo com a 
face voltada para o nascer do sol, a eterna fonte de vida, com o objetivo de 
transferir ao morto a revigorante energia do sol. 
Caixão “Casa” em madeira para um 
corpo fletido, II-III dinastias, Mênfis.ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 111
 Este tipo de caixão, chamado também de “sarcófago heliopolitano”, era 
colocado sob a proteção de divindades relacionadas as suas partes 
componentes. Assim os lados menores eram guardados por Shu - Tefnut - Geb 
- Nut; os ângulos dos lados maiores pelos “Quatro Filhos de Hórus”: Amset - 
Hapy - Duamutef - Qebehsenuef; a tampa era relacionada com Nut. O caixão 
passa a ser alinhado no interior da câmara funerária, segundo um eixo norte-
sul, isto é segundo as cidades sagradas de Buto e Hieracômpolis e guardado 
por quatro deusas - Néftis - Neith ao sul e Ísis - Selkit ao norte. Usualmente 
esta forma é reduzida, tendo as figuras de Néftis na cabeça e a de Ísis nos pés, 
desta forma o morto tornar-se-ia Osíris protegido por sua família. No interior 
são comuns as representações de oferendas alimentares e objetos do 
mobiliário cotidiano. 
A parte inferior da tampa é decorada com estrelas e outros motivos 
astronômicos, o fundo é decorado com cenas do “Texto dos Dois Caminhos”, 
uma espécie de mapa do Mundo Inferior. 
 
As teorias relativas à vida após a morte transformam-se na polarização 
de duas doutrinas: a osiríaca e a solar, que dão ao morto os “Campos Elísios” e 
o “Céu”. É o momento de transição do Médio para o Novo Império quando o 
tipo de caixão retangular, com motivo de “fachada de palácio”, dá lugar aos 
esquifes antropomórficos e às máscaras mortuárias em cartonagem. Esta 
técnica limitava-se a uma máscara que envolvia toda a cabeça e ombros da 
múmia. 
Caixão de Pepi-seneb, IX Dinastia, madeira estucada. Museum of Fine Arts Boston 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 112
Máscara funerária de 
Nakhti, XII dinastia, 
Assiut, Louvre 
Decoração interna do sarcófago da rainha 
Hatshepsut com a deusa Nut, XVIII dinastia, 
Museu do Cairo 
Surgidas durante a XII dinastia, estas 
máscaras eram feitas de linho fortalecido com 
goma, o que permitia a moldagem tridimensional 
antes da aplicação do gesso, proporcionando uma 
cuidadosa modelagem da face. 
Ao esquife antropomórfico são dadas duas 
significações mágicas: o poder simbólico inerente a 
sua forma de múmia osiríaca e a sua decoração 
com cenas e textos especificamente religiosos. Em 
muitos casos o rosto do esquife era coberto por 
uma camada de ouro, como alusão à pele dos 
deuses, e por ser uma matéria incorruptível, 
segundo o pensamento egípcio. Em outros 
exemplares o rosto era pintado em verde, como uma 
identificação com Osíris como deus da vegetação. 
Esta combinação faria do sarcófago uma armadura mágica que, em 
torno da múmia, realizaria os efeitos desejados. Devido à natureza peculiar do 
pensamento religioso egípcio, muitas vezes cenas de diferentes fontes 
mitológicas podem ser 
encontradas lado a lado em um 
mesmo esquife. 
Desde do Antigo Império, 
os caixões foram identificados 
com o corpo de Nut, a deusa-
celeste, protetora do morto. Suas 
associações funerárias são duas: 
Nut era a mãe de Osíris na 
cosmogonia heliopolitana e era ao 
mesmo tempo o símbolo do céu , 
a mãe do deus-sol Rê, como 
descrito na câmara funerária de 
Ramessés VI “Eu sou tua mãe 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 113
Nut. Eu me estendo sobre ti em meu nome de céu. Tendo entrado em minha 
boca, tu sais entre minhas coxas, como Rê, todas as manhãs”. O corpo de Nut 
era então o sarcófago, o esquife ou o estojo que envolvia o cadáver, que deste 
modo atingiria o estágio inicial de uma nova vida. 
Nut é a “Mãe Bondosa”, “Senhora da Vida” e da “Respiração”, a mãe 
protetora que atende às preces daquele que é duas vezes seu filho, o morto 
identificado a Osíris-Rê. Em oposição à mãe terrestre, que traz o seu filho ao 
mundo, Nut, a mãe celeste, guardaria eternamente o corpo que 
lhe foi confiado, assegurando-lhe uma vida sem limite de tempo. 
“Ó minha mãe Nut, estende-te sobre mim, e que eu possa ser 
colocado entre as imperecíveis estrelas e nunca morre”. Versões 
desta passagem dos “Textos das Pirâmides” eram 
frequentemente escritas em caixões, principalmente durante o 
Novo Império. “Eu nunca te enviarei de volta ao mundo” diz Nut 
ao morto nos textos do “Ritual Funerário”. 
Os sarcófagos e esquifes egípcios traziam a figura da 
deusa Nut na face externa de suas tampas, ou no interior da 
caixa que recebia o corpo mumificado, fazendo daquele que ela 
recobria seu filho Osíris. Nos textos do Antigo Império a palavra 
usada para designar o peito de um sarcófago era mwt (mãe). 
A caixa dos esquifes e sarcófagos era muitas vezes 
identificada a Geb, o deus-terra, era o irmão-esposo de Nut. 
O morto é Osíris, que se encontra no seio da terra, sujeito aos ataques de Seth 
(a decomposição). Quando a tampa é descida sobre o sarcófago, o céu se une à 
terra. O simbolismo baseia-se num mito, segundo o qual, originariamente, o 
céu e a terra estavam unidos e quando foram separados o tempo passou a 
existir. Deste modo o morto em seu caixão estaria fora do mundo temporal, o 
caixão é o ponto de partida para a viagem que o morto fará no Outro Mundo. 
Ao que parece, durante o Médio Império, o sarcófago era assimilado a 
um barco, símbolo de um meio dinâmico de conduzir o morto no mundo 
celeste. Nesta época a prancha dianteira era identificada com o estibordo de 
um barco e a prancha das costas com o bombordo. A propósito disto Nut é 
Deusa Nut pintada no 
interior de um esquife, 
XXII dinastia 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 114
 
Cartonagem de Nakhtefmut, 
 XXI dinastia, Fitzwilliam 
Museum 
também o nome dado à vela e à cabine dos barcos nos “Textos dos 
Sarcófagos”. 
 Assim como a tumba, o caixão, não é um espaço fechado e inerte mas 
uma matriz geradora de mutações e de vida, onde o bá poderia vir visitar o 
antigo corpo que um dia ele habitou, utilizando os olhos dos caixões como 
portas por onde a alma poderia entrar e sair do “Mundo dos Mortos”, esta 
função aparece pela primeira vez nas representações das “portas-falsas” nos 
sarcófagos do Médio Império. 
O corpo de Nut, por onde o deus-sol navega 
todas as noites, é o meio regenerador do sol e do 
morto. Os sarcófagos e esquifes se apresentam 
então como um microcosmos. 
Sob a influência deste simbolismo complexo, 
o caixão antropomórfico, primitivamente simples, 
toma pouco a pouco proporções monumentais. 
Quer seja em madeira (esquife ou caixão), quer seja 
em rocha (sarcófago), como o dos soberanos, o 
caixão antropomórfico permanecerá em uso até o 
seu desaparecimento no Período Romano. 
A partir do final do Novo Império o uso de 
cartonagem para caixões internos passa a ser mais 
freqüente. Essa técnica, surgida no I Período 
Intermediário, consistia de camadas de linho 
coladas e prensadas sobre a qual era aplicada uma 
camada de estuque de espessura variada, que após 
estar seca proporcionava uma excelente base para 
a decoração com cenas e textos funerários 
semelhantes aos aplicados nos esquifes 
satisfazendo as necessidades estéticas que a 
religião exigia. 
No Período Ptolomaico o linho poderia ser substituído por folhas de 
papiro velhas que também poderiam ser usadas para se produzir uma massa 
semelhante ao papel machê. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 115
Esquema de encaixe de esquifes 
antropóides em um caixão 
retangular, Baixa Época 
Conforme a época a cartonagem poderia ser dourada ou ter a adição de 
apliques em relevo para as coroas, cabelos, adornos e incrustações de pedras 
semipreciosas e pasta de vidro. 
Surge então uma maior predileção por caixões em cartonagem, feitos em 
duas metades, como os de madeira, ligados por de orifícios ao longo dos lados. 
Os pés eram geralmente reforçados com uma base de madeira. 
A decoração tende a uma divisão em registros horizontais cobrindo do 
peito aos pés, com cenas mitológicas ou do “Livro dos Mortos”. 
Outro tipo de caixão, surgido na Baixa Época, consistia num estojo feito 
de várias camadas de linho, sendo a maisBRANCAGLION JUNIOR 
 
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4A “sombra” shut (Swt) era uma espécie de irradiação móvel e 
silenciosa do corpo. Após a morte adquiria uma independência, com uma 
existência à parte do corpo, com o poder de locomover-se. Seu papel ainda não 
é muito claro, está intimamente associado ao bá, ambos possuíam a faculdade 
de visitar a múmia no interior da tumba. Era associado às capacidades físicas, 
como a força física, comer, beber e as atividades sexuais. Aparece pela 
primeira vez nos “Textos dos Caixões”, do Primeiro Período Intermediário. 
O akh (Ax) é frequentemente traduzido como glória ou espírito 
luminoso é o resultado da união do bá com o ká. É um elemento 
imortal, transcendente e perfeito e não um estado como o ká ou uma 
faculdade como o bá. Era comum a todos as divindades. 
O “nome” ren (rn) é pelo nome que um ser passava a existir. Através 
dele o homem situava- se no Universo, possuía uma 
personalidade, uma individualidade e um destino. O poder da magia atuava 
para o bem ou para o mal através do nome. Apagar o nome de uma pessoa era 
o mesmo que suprimir a sua lembrança neste mundo, como privá-la de uma 
existência além túmulo. 
O “coração” ib (ib) é a sede da emoção e do pensamento. Órgão no qual 
atuavam os deuses. Sede do intelecto e da concepção física e 
intelectual. Um homem sem coração era antes de tudo um imbecil. Era a sede 
da consciência, do bem e do mal, e por isso era mantido no corpo mumificado 
e seria pesado numa balança diante do Tribunal de Osíris. 
É impossível determinar em que momento de sua história os egípcios 
elaboraram estes princípios espirituais, contudo, é evidente que a partir do 
momento que os mortos são sepultados, há um culto funerário, e que este 
supunha uma existência, nos moldes de uma segunda vida, como provam os 
alimentos e os objetos depositados junto aos corpos. A posição fletida dos 
corpos, nos primeiros sepultamentos neolíticos, seria aquela do dormir, uma 
indicação de que a morte seria um longo sono. Esta posição “fetal” poderia ser 
um indício de que o morto encontraria na terra um meio materno do qual 
nasceria para uma nova vida. 
Tudo indica que os egípcios nunca conceberam a morte como sendo um 
fim, eles jamais admitiram a possibilidade de um desaparecimento completo 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 7
da personalidade de um indivíduo pela simples perda de seu corpo físico. Se é 
verdade que os egípcios não viam a morte como um fim são igualmente certas 
a dúvida e o desconforto frente ao misterioso mundo dos mortos. O medo 
estava não na morte, vista como um estágio a ser seguido, mas na nova 
existência. 
É principalmente a fim de responder a este mistério inevitável que as 
crenças funerárias foram elaboradas, uma doutrina de salvação formada por 
diversos elementos complexos e com forte suporte simbólico. Todavia duas 
idéias foram básicas, presentes desde a mais alta antiguidade: de um lado a 
vida além-túmulo foi concebida como um prolongamento da vida terrestre, nos 
moldes da vida às margens do Nilo; de outro a crença de que esta nova 
existência só seria possível após ser percorrido um longo caminho repleto de 
perigos, crenças que originaram as shabtis e os amuletos. 
Deparamo-nos inevitavelmente com a questão da localização do mundo 
dos mortos, a qual os egípcios nunca estabeleceram com muita precisão, ela 
varia segundo a época e o texto. Contudo duas doutrinas, embora opostas, 
foram seguidas: 
A primeira, e talvez a mais primitiva, tem a terra como a morada eterna 
decorrente do fato de que ela guardaria a parte visível do homem, o seu corpo. 
Nada mais natural, portanto, que colocar o mundo dos mortos no 
interior da terra e considerar o túmulo como sendo a entrada deste mundo. A 
esta concepção foi rapidamente associado o mito de Osíris, um deus agrário 
identificado ao grão e que adquiriu o status de rei dos mortos. Entretanto nos 
sepultamentos das primeiras dinastias nada comprova, com certeza, a 
existência de um “Mundo Inferior” ligado a Osíris, mas este fato não impede 
que seu culto já existisse neste momento. Desde a sua aparição, nos “Textos 
das Pirâmides”, Osíris é o Senhor do Mundo dos Mortos, descrito e 
representado como um rei, aspecto inseparável de seu mito e de seu culto. 
Fruto de uma sociedade agrícola, estabilizada às margens do Nilo, Osíris 
é descrito como um herói deus civilizador que ensinou aos homens a 
agricultura, as instituições essenciais como a família monogâmica e a noção 
de lei e proibiu a antropofagia, retirando-os assim da barbárie. 
 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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O seu reino era denominado Am-Duat ou Duat (DwAt) isto 
é, “Mundo Inferior”, o local que era percorrido pelo sol 
noturno e onde os mortos descansavam. Sua entrada era pelo Re-stau (R-st3w) 
ou “Porto das Passagens” domínio do deus-ctônico Sokar, 
termo que originalmente designava a necrópole de Saqqara. 
A segunda doutrina era a de um mundo celeste, a princípio uma 
doutrina estelar onde o mundo dos mortos era considerado como o mundo das 
estrelas, chamado Duat ou Dat (DAt), escrito por uma estrela dentro de um 
círculo 5. Significava a “zona crepuscular” e o “céu noturno”, segundo a qual 
haveria um céu inferior, identificado ao “Oceano Primordial”, onde as almas 
dos mortos refugiavam-se após a morte, compartilhando com as estrelas de 
uma vida eterna. Nesta crença estelar destacam-
se as chamadas “imperecíveis” (ixmw-sk) 
localizadas no céu norte. As estrelas circumpolares, assim denominadas por 
nunca desaparecerem do céu, um símbolo ideal para a vida eterna. 
Outro grupo de estrelas destacadas nesta doutrina eram as “infatigáveis 
(ixmw-rwD) localizadas no céu sul, assim chamadas 
por seguirem incansavelmente a trajetória do sol. As almas dos reis mortos 
estariam associadas às “imperecíveis” enquanto as almas dos eleitos seriam as 
“infatigáveis”. 
Algumas estrelas isoladas tinham um papel de destaque nesta crença: 
Órion (PT 819-821 e 925) (s3H) era considerado o bá de Osíris que reinava 
sobre as estrelas (almas) dos mortos; Sóthis (Sírius) (PT 822) (spdt) era a mãe e 
irmã do morto, identificada portanto a Ísis e Néftis; Háthor era a guia dos 
caminhos do céu e a “estrela da manhã” seria Hórus (PT 1719 e 200). As 
demais estrelas anônimas seriam as almas dos mortos, que acompanhariam 
no céu os reis e os deuses como haviam feito em vida. 
Esta concepção estelar de uma existência após a morte estabeleceu pela 
primeira vez uma distinção entre a parte material do homem, abandonada à 
terra e sua parte espiritual, que deixava a matéria para desfrutar, com as 
estrelas, de uma existência eterna. Embora esta crença estelar tenha 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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desaparecido muito cedo, traços dela são ainda perceptíveis durante o Novo 
Império, por exemplo, as entradas das tumbas eram orientadas pelas estrelas. 
Num momento impossível de ser determinado, esta crença estelar foi 
absorvida por uma doutrina puramente solar, exposta na forma de inscrições, 
encontradas em sua maioria nas câmaras funerárias reais do final da V e VI 
dinastias. Esta não foi uma obra popular, mas uma obra de salvação da alma 
do rei, baseada em conhecimentos mágicos que permitiriam ao rei morto 
ascender ao céu e empreender a viagem cósmica junto a Rê. Constituía-se 
num verdadeiro sacramento que possibilitaria a alma do rei derrotar os 
inimigos e os perigos e serem aceitos pelas forças divinas. 
As duas doutrinas, estelar e solar, não se opunham essencialmente, 
ambas tratavam do destino póstumo do rei, e afinal as estrelas e o sol 
movimentam-se no mesmo espaço, assim sendo o rei seria o único a desfrutar 
de uma existência junto a Rê, enquanto os outros mortos glorificados 
formariam a sua corte (as estrelas) que o acompanharia para servi-lo. 
Assim como não háexterna estucada e decorada. 
Quando a múmia era colocada dentro deste “envelope” as bordas das folhas de 
linho, que formavam o estojo, eram costuradas ou atadas às costas. O estojo 
era então tratado como um esquife, com sua decoração e textos usuais. 
Estes estojos, assim como as 
cartonagens, poderiam ser depositados dentro 
de um caixão externo em madeira. 
A partir da XXVI dinastia e 
principalmente no Período Ptolomaico o estojo 
de múmia passou a predominar, tomando-se 
usual prover o morto com uma máscara com 
a face pintada e um peitoral que continha o 
seu nome e títulos junto à prece de oferendas. 
Algumas múmias tinham ainda um estojo para 
os pés. 
Cada painel ao longo do corpo era pesadamente decorado com motivos 
mágicos, tais como: o colar-usekh, símbolo da Eneida Heliopolitana, e a partir 
da XXVI dinastia transformou-se também em um amuleto que se destinava a 
dar ao morto o poder de livrar-se das bandagens que impediam a sua 
mobilidade.; os olhos-udjats; as deusas Ísis e Nut pteróforas com suas asas 
abertas protegendo o morto; os “Filhos de Hórus” e os chacais de Anúbis, que 
protegiam o morto contra os ataques de seus inimigos e guardariam os órgãos 
embalsamados, que neste período eram depositados no interior da múmia; 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 116
Cartonagem do Período 
Romano, I século A.D., British 
Museum. 
além de representações de vários amuletos e símbolos solares como o disco 
solar envolto por serpentes e os escaravelhos. 
A popularidade deste tipo de “container” deveu-se, em parte, ao seu 
preço relativamente baixo e seu fechamento conveniente em torno da múmia. 
A superfície branca estucada proporcionava uma 
excelente base para a decoração, o que satisfazia as 
necessidades estéticas que a religião exigia. 
Esta forma de se apresentar a múmia foi uma 
decorrência do próprio pensamento religioso da época, 
em que a aparência externa do morto era tão importante 
quanto a sua conservação para a perpetuação de uma 
vida além-túmulo. Esta “visão fictícia” criada pelo 
pensamento religioso egípcio tardio está muito presente 
na cultura material, o importante não é que as coisas 
existam verdadeiramente, mas que tenhamos a idéia de 
que existiam. 
Além disso, os gastos com esta técnica eram 
muito menores do que com uma mumificação de boa 
qualidade ou com os caros esquifes de madeira. 
Estes estojos funerários eram muitas vezes 
mantidos em estoque nas oficinas que os 
produziam. Completamente decorados, reservavam 
apenas o espaço para o nome e os títulos do 
proprietário. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 117
Estela porta-falsa de Neferyu 
calcário policromado. VIII dinastia 
Metropolitan Museum, NY 
X. ESTELAS 
 
As estelas são lajes em rocha ou madeira, e mais raramente em faiança, 
que poderiam conter cenas e inscrições referentes a decretos e registros 
históricos de realizações reais, demarcações de fronteira, e hinos e preces a 
divindades. Contudo, em sua maior parte, são de caráter funerário sendo o 
ponto focal o culto ao morto e portanto colocada sempre em um local de livre 
acesso na capela funerária. 
Desde o Antigo Império as estelas são destinadas a assegurar a 
perpetuidade das oferendas funerárias, pela representação dos mortos diante 
de uma mesa de oferendas e pela inscrição de invocações de fórmulas de 
oferendas. Elas frequentemente representam vários membros de uma mesma 
família, sejam como beneficiários das oferendas, sejam como oficiantes dos 
rituais, pois o culto aos mortos era executado pelos parentes e seus 
descendentes. 
Elas provém, em grande parte, das 
capelas funerárias, estruturas construídas 
sobre as câmaras funerárias, frequentemente 
familiar ou provenientes de capelas votivas 
construídas próximas aos grandes templos, 
principalmente, do Templo de Osíris, o grande 
deus dos mortos, em Abidos. 
Na sua origem, no Período Thinita, as 
estelas eram um privilégio real. Eram altas e 
representavam episódios históricos ou extratos 
do protocolo real gravados na parte superior 
enquanto que a parte inferior era lisa para 
facilitar a sua fixação no solo. 
No decorrer do Antigo Império surge a 
estela “porta-falsa”, chamada “a boca da 
casa” (r-pr), feitas em rocha e mais 
raramente em madeira, que reproduz uma porta com a imagem do morto 
diante de uma mesa de oferendas e um texto com as invocações de oferendas. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 118
Reconstituição de uma Capela Cenotáfio do Médio Império 
em Abidos: 
1 - Murro do recinto; 2 - Pátio ou jardim; 
3 - Capela; 4 - Mesa de Oferendas; 5 - Estelas 
Era localizada, normalmente, sobre o poço ligado à câmara funerária do lado 
oeste da tumba, esta porta permitiria ao morto comunicar-se com os vivos e 
ter acesso às oferendas que eram depositadas diante dela. 
No Médio Império as estelas “porta-falsa” continuam a existir, mas 
simplificadas a um formato retangular e normalmente decorada com um friso 
e no topo folhas de palmeira. Paralelamente desenvolveu-se uma forma de 
estela com o topo arredondado trazendo o nome e os títulos do morto e seus 
familiares. 
Nesta época surge também as estelas votivas ou estelas de capelas, 
destinadas a prover ao morto e a sua família o benefício das cerimônias 
realizadas nos santuários próximos dos grandes templos ou nos locais 
sagrados. 
Colocadas em capelas simples construídas em tijolos ou em cenotáfios 
em rocha, um grande número de estelas votivas provém de Abidos, a oeste do 
recinto do templo de Osíris. Colocadas ao longo do caminho processional que 
levava ao templo elas eternizavam a peregrinação ao túmulo de Osíris. 
 
Pouco a pouco, a partir do início do Novo Império, a estela toma a sua 
forma “clássica” com o topo arredondado e dividido em dois registros, 
principalmente, e algumas vezes três. O registro superior mostra, 
frequentemente, o morto, algumas vezes acompanhado por sua esposa diante 
de divindades. No registro inferior, o morto e sua esposa, segurando flores de 
lótus, sentados diante de uma mesa de oferendas trazidas por seus familiares 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 119
Estela em calcário de Paser, 
final da XVIII dinastia, 
British Museum 
dispostos como participantes de um ritual de oferenda. É nesta época, 
também, que aparecem as estelas com representações do morto diante de 
divindades. 
Convém, entretanto, não se prender a fórmulas 
esquematizadas com respeito aos temas tratados nas 
estelas. Na realidade as formas e o conteúdo variam 
conforme a época e os destinatários. 
Devemos lembrar que o faraó era, por excelência, o 
proprietário de todas as riquezas do Egito e o 
intermediário entre os deuses e os homens. Somente ele 
estava habilitado a dar as oferendas necessárias às 
divindades. Assim, a maior parte das estelas começa por 
uma fórmula de invocação de oferendas feita pelo faraó 
endereçada, principalmente, a uma divindade funerária 
(Anúbis e Osíris) que irá reverter em favor do morto: 
“Oferendas que o rei faz para...” (Htp-di-nsw), seguida de 
uma lista de alimentos indispensáveis e pelo nome e 
títulos do morto e a sua filiação terminada pelo termo 
justificado (mAa-xrw), que significa que morto foi reconhecido como justo e puro 
após o seu julgamento no tribunal de Osíris. 
 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 120
Ferramentas, utensílios e símbolos das 
Shabtis/Ushabti 
A. Enxadas 
B. Picaretas 
C. Cestos - Novo Império 
D. Cestos - III Período Intermediário 
E. Cestos - Baixa Época 
F. Canga com potes e cestos 
G. Moldes de tijólos 
H. Símbolos: 1 ankh; 2 djed; 3 was; 4 vaso-hés; 
5 nó-tyt; 
6 escaravelho; 7 pássaro-Ba 
XI. SHABTI 
 
 As estatuetas funerárias Shabti (Shauabti) ou Ushabti são figuras 
mumiformes colocadas na tumba para cumprir tarefas que o morto poderia vir 
a ser convocado a realizar no outro mundo. Essas figuras servis foram 
idealizadas para evitar que o morto trabalhasse, cultivando os camposou 
limpando os canais, no Outro Mundo. No início do Médio Império, cada morto 
possuía, em seu túmulo, apenas uma shabti com pequenas ferramentas para 
realizar estes trabalhos. 
 
Com o passar do tempo, no Novo Império (XVIII-XIX dinastias), durante 
o reinado de Séthi I e Ramessés II, as shabti passaram a ser colocados em 
maior número (até 700 peças) formando verdadeiras equipes de trabalho, 
sendo guardados em caixas. É desta época que data o aparecimento dos 
“supervisores”, isto é, figuras não mumificadas vestidas como os vivos cuja 
função seria a de comandar grupos de dez shabtis. 
Estas estatuetas poderiam ser feitas em pedra, madeira, bronze ou mais 
frequentemente em faiança azul (Novo Império) ou verde (Baixa Época). As 
ferramentas, especialmente a enxada e a picareta nas mãos e um cesto nas 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 121
Shabti em faiança de 
Sheshonq, Mênfis, XXII 
dinastia 
Shabti em rocha 
com roupas de 
oficial “supervisor”, 
XIX dinastia 
costas, eram pintadas ou moldadas na própria figura. A partir da Baixa Época 
estes servidores funerários tiveram outra interpretação, passaram a ser 
chamadas de Ushabti que significa “Respondente”, pois deveriam responder 
em lugar do morto quando este fosse chamado a desempenhar as tarefas nos 
Campos de Osíris. Como aparece no Capítulo VI do LdM, que já aparecia 
escrito em shabtis desde o Novo Império. 
Capitulo VI do LdM: fórmula para fazer com que uma shabti execute os 
trabalhos para alguém no Mundo dos Mortos 
 
“Ó Shabti, se eu for chamado e designado a 
fazer todos os trabalhos que são realizados no 
Mundo dos Mortos, esses que os espíritos dos 
mortos são obrigados a fazer no além, coloca-te em 
meu lugar a semear os campos, a encher de água 
os canais, a transportar areia do Leste para 
Oeste... 
A estatueta responde: Eis me aqui”. 
 
 
 
 
 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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XII. GLOSSÁRIO GERAL 
 
Este glossário geral foi concebido como um instrumento de uso mais amplo que a 
simples explicação das noções abordadas nesta apostila 
 
Ábaco - bloco quadrado no alto do capitel de uma coluna ou pilar sobre o qual 
apoiava-se a arquitrave. No Novo Império traz gravado os cartuchos reais. 
Abertura da Boca - ritual originado no Antigo Império, com a finalidade de dar ou 
restabelecer a vida, realizado sobre as estátuas, os sarcófagos ou as múmias por 
sacerdotes com objetos e vestimentas especiais. 
Adobe - em árabe “muna”. Mistura de barro e palha utilizada na fabricação de tijolos 
crus e como material de revestimento. 
Afnet - toucado com a forma de uma bolsa que, no Período Amarniano, era um 
atributo real chamado khat. 
Afresco/Destêmpera - processo técnico de pintura, típico das tumbas egípcias, onde 
os pigmentos minerais moídos são adicionados a uma goma (têmpera) e diluídos 
em água. 
Akh - um dos componentes espirituais do homem, resultado da união do Bá e do Ká. 
Seu significado: “Ser Luminoso”, “Eficaz”, “Glorioso”, “Transfigurado”. É um 
elemento espiritual que habita os céus e é o responsável pelas metamorfoses do 
morto. 
Akh iker n Re (“O Perfeito Espírito de Rê”) - nome do culto aos ancestrais muito 
popular entre os trabalhadores de Deir el-Medina. 
Akhet - Estação da Inundação que inicia na segunda metade de julho e termina na 
primeira metade de novembro. 
Alabastro (calcita) - de coloração branca ou amarelada semitransparente foi utilizada 
principalmente na produção de objetos rituais como vasos canopos e vasos para 
ungüentos. Tinha uma conotação de purificação. As suas jazidas estavam 
principalmente no Médio Egito e no Sinai. 
Altar Khat - suporte de formato cilíndrico sobre o qual era praticado um sacrifício ou 
oferenda. Era móvel ou fixo, utilizado em espaços abertos ou nos túmulos. 
Muitas vezes servia como suporte para a mesa de oferendas. 
Alto relevo - cenas e inscrições esculpidas em rocha ou madeira, pintadas ou não, 
onde a luz ressalta os contornos da figura. 
Amarniano - nome que designa o período da “revolução” religiosa promovida pelo 
faraó Amenhotep IV (Akhenaton). É uma referência ao sítio de Tell el-Amarna. 
Amazonita (feldspato) - silicato de potássio, cálcio e alumínio opaco de cor 
esverdeada. De coloração verde assumia os mesmos valores simbólicos da 
turquesa, sendo indicado para a confecção de amuletos com a forma de papiros 
e era considerado, juntamente com o lápis-lazúli e a turquesa, um dos materiais 
mais preciosos. As suas jazidas ocorrem no Deserto Oriental. 
AmDuat ou Duat - local percorrido pelo sol noturno onde descansam os mortos. 
Amenti - o "Ocidente", onde os egípcios situavam a Terra dos Mortos. Era o reino de 
Osíris visitado pelo deus-sol em sua viagem noturna após o entardecer, quando 
o sol desaparece nas montanhas do oeste. 
Ametista - variedade de quartzo transparente de coloração violeta a rosa claro. 
Utilizado no Médio Império para a produção de amuletos e escaravelhos. As suas 
jazidas ocorrem em Assuã e no Deserto Arábico. 
Amratense - nome do primeiro período da cultura Pré-histórica de Naqada, que leva o 
nome do sítio arqueológico el-Amra, ao sul de Abidos. 
Amuleto - pequeno objeto com poderes mágicos que protegia os vivos e os mortos das 
forças nefastas e dos inimigos. O objeto poderia representar deuses ou sinais 
hieroglíficos favoráveis. O material em que estes objetos eram confeccionados 
possuía um valor simbólico. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 123
Ankh - sinal hieroglífico que significa vida, conhecido também como cruz ansata ou 
alçada. É um atributo dos deuses que dá a vida aos homens. Utilizado como 
amuleto ou motivo decorativo. Ignoramos o que representa exatamente este 
sinal. 
Anubeion - santuário consagrado ao culto de Anúbis, situado em Saqqara. 
Apotropaico - que tem o papel de afastar os seres nocivos e o mal. 
Arquitrave - viga mestra retangular, em pedra, assentada horizontalmente sobre 
colunas ou pilares para vencer o vão entre elas. Parte do entablamento que 
repousa nos ábacos dos capitéis das colunas (epistílio). Quando em janelas ou 
portas é decorada. 
Asclepeion - santuário consagrado ao culto de Imhotep, identificado a Asclépio. 
Asheru - lago sagrado com a forma de um crescente. Característico dos templos das 
deusas identificadas com a "Deusa Distante", como o templo de Mut em Karnak. 
Aspectiva - neologismo de origem alemã para designar a maneira egípcia de 
representar, por oposição, a perspectiva. Na aspectiva não há pontos oblíquos 
nem de fuga. Cada objeto é visto de maneira perfeitamente ortogonal, sem 
deformação, segundo um plano mais favorável. O eixo do olhar é perpendicular 
ao plano. Vários desses planos podem ser justapostos a fim de dar uma idéia 
mais completa dos seres e dos objetos. Conhecido também como Frontalidade. 
Átrio - pátio interno ladeado por colunas. 
Auriflama - mastro em madeira de grandes dimensões fixado no pilono dos templos e 
no qual estava a bandeira do deus. 
Bá - um dos componentes espirituais do homem, dos deuses e dos animais. 
Responsável pela individualidade é um elemento ativo e dinâmico que se separa 
do corpo após a morte. É representado sob a forma de um pássaro com cabeça 
humana, algumas vezes munido de braços. É o responsável pela passagem do 
morto ao Mundo dos Vivos. Erroneamente traduzido por “alma”. 
Badariense - cultura neolítica do Médio Egito que leva o nome do sítio arqueológico 
el-Badari. 
Baixo relevo - cenas e inscrições esculpidas em rocha ou madeira, pintadas ou não, 
onde a luz penetrava nos sulcos destacando a figura. 
Bakhu ou Bakh - as montanhas ocidentais por onde o deus-sol sai após a sua 
viagem noturna pelas 12 horas do Mundo dos Mortos regenerado sob a forma de 
um escaravelho. 
Barba divina (Khebesut) - barba postiça, longa e trançada com a ponta curvada para 
frente. Símbolo de força e virilidade. Usada pelo faraó morto e por divindades 
funerárias como associação ao deus Osíris. 
Barca Mandjet - a "Barca do Dia" utilizada pelo deus-solem sua viagem diurna após 
sair do Mundo Inferior. 
Barca Meseket - a "Barca da Noite" utilizada pelo deus-sol em sua viagem noturna 
pelo céu inferior. 
Barca sagrada - barca sobre a qual a estátua de uma divindade ou do faraó 
divinizado efetuava sua viagem sobre o Nilo. As imagens eram frequentemente 
transportadas em modelos reduzidos de barcos durante as procissões. 
Basalto - rocha preta e opaca utilizada para a construção de sarcófagos, pavimentos 
de templos, estátuas e pequenos objetos. Tinha uma associação natural com o 
Mundo Inferior e com o conceito de renovação. As suas jazidas concentravam-se 
principalmente no Fayum, Abu Roash, Sinai e Assuã. 
Bekhen - basalto ou grauvaca, utilizado na confecção de estátuas reais e divinas, 
extraído das pedreiras de Wadi Hammamat cujo nome significa "Pedra 
Maravilhosa". No Antigo Testamento é chamado de Eben Bochan e pelos 
romanos Lápis Niger ou Lápis Thebaicos. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 124
Benben - pedra erguida em Heliópolis que recebia os raios do sol nascente. É a 
manifestação do deus primordial Atum. Talvez a origem da forma do obelisco e 
da pirâmide. 
Brecha - uma matriz vermelha escura ou verde acinzentada de material heterogêneo 
com inclusões de calcário bege utilizada na produção de vasos e estatuária. As 
suas jazidas encontram-se ao longo de todo o Vale do Nilo. 
Bubasteion - templo consagrado à deusa Bastet, situado em Saqqara. 
Cabeça Reserva - cabeça humana em calcário, com as orelhas quebradas ou não 
representadas, esculpida em tamanho natural cortada na altura do pescoço 
formando uma superfície plana. Os 34 exemplares conhecidos são originários da 
IV Dinastia no cemitério oeste da pirâmide de Khufu (Quefrem), era colocada 
entre o fundo do poço funerário e a câmara funerária, em uma época onde as 
estátuas particulares estavam proibidas. Provavelmente substituíam a cabeça do 
morto ou eram destinados a um ritual mágico contra a decapitação. 
Cachette/Favissa - termo que designa uma série de esconderijos antigos que 
guardavam as múmias ou as estátuas. 
Calçada ou Rampa - termo que designa, nos complexos funerários das pirâmides, o 
corredor coberto que leva do Templo Baixo ao Templo da Pirâmide. Era 
iluminado por pequenas janelas ou clarabóias e decorado com relevos. Por ele 
era transportada a múmia real a caminho de sua tumba. 
Calcário - carbonato de cálcio opaco com impurezas que fazem com que a sua 
qualidade varie. De coloração do branco ao amarelo ou do rosa ao preto. 
Facilmente trabalhável foi utilizado em praticamente toda a produção artística, 
como monumentos, estatuária, objetos rituais. As suas jazidas ocorrem ao longo 
de todo o Vale do Nilo. 
Calcedônia (ágata ou ônix) - variedade micro cristalina de quartzo branco azulado. 
Utilizado para a produção de amuletos e escaravelhos a partir do Médio Império. 
As suas jazidas ocorrem no Deserto Ocidental. 
Campos de Iaru ou Campo dos Juncos - campos paradisíacos do “Mundo Inferior” 
de origem solar situados, a leste, eram um local de passagem. Enquanto os 
Campos de Oferendas, a oeste, eram os locais de descanso dos mortos. Desde o 
Antigo Império eram confundidos formando os Domínios de Osíris, onde o morto 
plantava e colhia o seu alimento. Aparece no Capítulo 110 e 145 do “Livro dos 
Mortos”. 
Caneluras - Sulcos verticais colocados como ornamentação de pilares e fustes de 
coluna. 
Capela períptera - edifício cercado por uma única linha de colunas ou pilares. 
Capitel - parte superior de uma coluna, geralmente esculpida. 
Capitel Hathórico - capitel ornado com o rosto da deusa Háthor com orelhas de vaca. 
Cartucho - nome que designa o anel ovalado, originalmente representava uma corda 
amarrada, que simboliza a eternidade (shen) e que envolve protegendo 
magicamente os dois últimos dos cinco nomes do faraó, o nome de trono e o 
nome de nascimento. 
Casa da Alma - designa uma forma particular de mesa de oferendas em terracota que 
reproduz um miniatura de uma habitação verdadeira. Característica das VII a 
XII Dinastias. 
Cataratas - antes da construção das barragens o Nilo possuía seis cataratas 
principais entre Cartum (Sudão) e Assuã. Desde os tempos mais antigos a 
primeira catarata, em Assuã, formava a fronteira natural entre o Egito e a Núbia. 
Cavernas - tradução aproximada do termo egípcio qereret que designa a região do 
Duat. No singular "A Caverna" designa uma região do Mundo Inferior em 
Heliópolis. É usado também para designar a origem do Nilo. 
Caveto - ou toro. Moldura circular colocada nos ângulos de um monumento de forma 
a ocultar os cantos vivos (anta), tanto horizontais como verticais. Usados 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 125
também como moldura para painéis com cenas decorativas tanto na arquitetura 
como no mobiliário. Normalmente encimados pelas cornijas. Algumas vezes 
lisos, mas frequentemente decorados com sulcos e linhas que reproduzem as 
tiras de amarração usadas nos feixes de plantas, uma lembrança de quando 
esses elementos vegetais eram utilizados na arquitetura dos tempos Pré-
Dinásticos. A sua função era puramente decorativa. 
Cenotáfio - termo que designa uma tumba vazia. Os reis possuíam duas tumbas: 
uma na qual o seu corpo era sepultado e outra que servia como local de culto 
funerário. Este termo aplica-se não somente às tumbas fictícias como também 
para todo o monumento dedicado à comemoração de um morto. 
Cetro-Heqa ou Heqat - uma das duas insígnias reais egípcias. Derivado do bastão do 
pastor, em forma de gancho, é o símbolo da realeza e do deus Osíris. 
Cetro-Nekhakha - uma das duas insígnias reais egípcias. Derivado de um 
instrumento agrícola, o flagelo, é o símbolo de autoridade associado ao deus 
Osíris, igualmente carregado pelo deus Min. 
Cetro-Sekhem - simboliza a manifestação do poder divino. É um símbolo de 
autoridade carregado pelos oficiais e administradores do faraó. É um emblema 
conectado com os deuses Osíris e Anúbis. 
Cetro-Uadj - cetro em forma de papiro característico das divindades femininas. 
Cetro-Was - consiste de uma vara terminada em forquilha tendo em seu topo a 
cabeça de um animal (provavelmente um canídeo). Característico das divindades 
masculinas. Simbolizava estabilidade, poder e domínio. 
Cimo Tebano (El-Qurn) - cume sagrado em forma de uma pirâmide natural que 
domina as necrópoles e templos de Tebas Ocidental. Identificado com a deusa 
Merytseger. 
Colossos de Memnon ou Amenophiun - duas estátuas colossais de Amenhotep III 
que flanqueavam o acesso de seu templo funerário em Tebas Ocidental. 
Coluna - existe um grande número de tipos de colunas na arquitetura egípcia 
classificadas de acordo com a forma do capitel: protodórica, palmiforme 
(palmeira), lotiforme (lótus), papiriforme (papiro) e Hathórica. 
Complexo da Pirâmide - conjunto de edifícios ligados à sepultura do faraó e 
necessários ao culto funerário. Composto pelo Templo Baixo, a calçada, o 
Templo Alto e a pirâmide. 
Cone funerário - cone em terracota fixado nas entradas das tumbas da XI à XXVI 
Dinastias e trazendo o nome e os títulos do morto. Típicos da região de Tebas. 
Cone de ungüento ou Cone de incenso - cone frequentemente representado nas 
cenas de banquete funerário sobre a peruca ou cabeça dos participantes. Este 
objeto enigmático poderia ser um cone de ungüento perfumado que se derreteria 
com o tempo perfumando os cabelos ou protegendo contra o sol, seria um 
símbolo hieroglífico para exprimir o perfume e teria conotações eróticas ligadas 
ao renascimento e à procriação. 
Cornalina - uma variedade de quartzo do grupo das calcedônias, translúcida de 
coloração vermelha ou alaranjada. É considerada preciosa como a prata, o lápis-
lazúli e a turquesa. Simbolicamente representava as forças ligadas à cor 
vermelha, como o sangue, a energia vingadora, o dinamismo e o poder do sol, 
mas também o temperamento maléfico de Seth, o deus da desordem, das 
tormentas e da aridez. Muito utilizado na confecção de amuletos desde o Período 
Pré-dinástico.Na baixa Época o seu nome (Hrst) significava “tristeza”. As suas 
jazidas encontram-se no Deserto Oriental. 
Cornija - moldura côncava e saliente sobreposta no alto das paredes, nos 
enquadramento das portas, nas estelas retangulares e em algumas formas 
mobiliares. Inspirada em folhas de palmeira são, frequentemente, gravadas e 
pintadas na curvatura. O conjunto é sobreposto por um filete. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 126
Coroa-Atef - coroa do deus Osíris e do deus Herishef em forma de mitra ladeada por 
plumas de avestruz e algumas vezes com o disco solar em seu topo. Pode possuir 
também dois cornos de carneiro e o uraeus. 
Coroa-Azul (Khepresh) - coroa real do Novo Império que simboliza o renascimento e 
o triunfo do faraó. Geralmente azul com discos amarelos. Erroneamente 
considerada como capacete ou coroa de guerra. 
Coroa-Branca (Hedjet) - mitra que simbolizava o poder do Alto Egito. É protegida pela 
deusa Nekhbet. 
Coroa-Dupla (Pschent) - formada pela união das Coroas Vermelha e Branca. 
Simboliza a união e o poder do Alto e Baixo Egito. 
Coroa-Hemhemet ou Hemhem - coroa composta por três coroas-Atef juntas sobre 
cornos de carneiro, usada pelo rei morto e pelo deus-criança Harpócrates. 
Coroa-Theni - formada por cornos de carneiro horizontais, duas plumas com o topo 
arredondado e curvo que envolvem o disco solar. 
Coroa-Vermelha (Desheret) - coroa anelada que simbolizava o poder do Baixo Egito. 
É protegida pela deusa Uadjet. 
Corregência - período onde dois faraós, normalmente o rei e um de seus filhos, 
exercem conjuntamente o poder. 
Cosmogonia - mitos referentes à Origem do Universo e à Criação do Mundo que têm 
como princípio comum o “Oceano Primordial” ou “Nun”. 
Côvado ou cúbito - unidade de medida dos antigos egípcios equivalente a 52,5cm 
subdividido em 7 palmos ou 28 dedos para o côvado real, na XXI Dinastia, o 
côvado pequeno era de 44,9cm subdividido em 6 palmos; durante o Período 
Persa o côvado real passou a 64,2cm. 
Crioesfinge ou Esfinge criocéfala - esfinge com cabeça de carneiro que guardava 
exclusivamente as vias de acesso aos santuários. 
Cripta - salas ou corredores secretos reservados desde o Novo Império. Mas 
principalmente na Baixa Época eram feitas nas paredes e fundações dos templos 
seja para conter estátuas ou objetos sagrados, seja como elemento cultual ligado 
ao funcionamento do templo. 
Culto Ancestral - realizado em um busto idealizado de um homem, ou mulher ou 
muito raramente de um casal, ou para uma estela com a imagem de um familiar 
morto sentado diante de uma mesa de oferendas cheirando uma flor de lótus. 
Essas imagens incarnavam os seus ancestrais mortos, admirados por suas 
virtudes e qualidades chamados Akh-iqer-en-Rê “Espírito Excelente de Rê”, eram 
os intermediários que levavam os apelos dos vivos aos deuses. Muito popular 
durante o Novo Império, principalmente, entre os moradores da vila de Deir el-
Medina. 
Deben - unidade de peso equivalente a 13,6g de ouro ou 27,2g de prata, no Novo 
Império corresponde a 91g de prata. Subdividido em 10 kites de 9,1g. 
Demótico - do grego “(Escrita) Popular”. É uma escrita cursiva, derivada do hierático, 
em linhas horizontais e da direita para a esquerda. Somente após o Período 
Ptolomaico passou a ser usado em obras literárias e religiosas. O último 
testemunho é um grafito em Philae de 394 d.C. 
Depósito de fundação - grupo de modelos reduzidos formado por placas, de 
materiais variados, gravadas com o nome do faraó, miniaturas de ferramentas, 
vasos e oferendas enterradas nas fundações dos edifícios, principalmente os 
templos. 
Dáide - par de estátuas esculpida em um mesmo bloco. 
Dinastia - divisão da realeza egípcia criada pelo sacerdote egípcio Maneto a pedido de 
Ptolomeu II, na primeira metade do Século III a.C. Ela era essencialmente 
definida pela capital da época e por laços que nem sempre eram consangüíneos. 
Dintel/Lintel - peça em pedra ou em madeira que se põe horizontalmente sobre 
ombreiras de portas ou de janelas. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 127
Diorito (gabro ou granito preto) - rochas heterogêneas escuras, pretas ou pretas 
esverdeadas, utilizadas na produção da grande estatuária, vasos, tigelas e 
objetos finos. As suas jazidas encontram-se ao sul de Assuã. 
Dikeras - termo grego que designa o "Duplo Corno da Abundância" seguro nas mãos 
das estátuas das divindades e dos soberanos ptolomaicos. 
Divina Adoradora ou Esposa do Deus - título da filha do primeiro sacerdote de 
Amon, no reinado de Hatshepsut. No Novo Império foi um título usado pelas 
rainhas e princesas. Durante o III Período Intermediário designava a chefe 
espiritual dos domínios de Amon em Tebas. Esta função era exercida por virgens 
da família real e transmitida por adoção. 
Djed ou Pilar-Djed - objeto enigmático identificado com a coluna vertebral de Osíris, 
mas também associado a Ptah e Sokar. A sua existência remonta ao Período Pré-
dinástico. A cerimônia de “Ereção do Pilar-Djed”, simbolizando a ressurreição do 
deus era um ponto importante dos festivais de Abidos. Simboliza a estabilidade e 
a permanência. Usado como amuleto e motivo decorativo. 
Djet (Corpo Físico) - o corpo físico era o mais corruptível dos elementos que 
compunham o homem e por isso era mumificado. 
Dromos - via de acesso, em eixo, à entrada de um templo, ou entre dois templos, 
ladeada por esfinges ou calçada. 
Electro - designa um ouro branco ou uma liga de ouro e prata. 
Encáustica - um método de pintura popular no Período Greco-Romano. Consiste na 
aplicação de pigmentos fixados com cera de abelhas. Aplicado sobre madeira 
e/ou tecido. 
Enéade - grupo ideal de três vezes três divindades tendo sempre um deus principal. O 
nove, para os egípcios, representava um plural indefinido fazendo com que a 
enéade egípcia não tenha, necessariamente, nove deuses. As mais conhecidas 
são a de Heliópolis, Mênfis, Abidos e Tebas, esta última com quinze deuses. 
Epagômeno - cinco dias suplementares dedicados a Osíris, Hórus, Seth, Ísis e Néftis. 
Acrescentados ao calendário solar para obter o ano de 365 dias. 
Escaravelho - coleóptero sagrado que simboliza o sol levante e a idéia de nascimento. 
Reproduzido em grande número como amuletos e jóias. 
Escriba - função essencial da administração egípcia que possuía a tarefa de ler e 
escrever. 
Esfinge - do egípcio shespankh “Imagem Viva”. Designa um ser híbrido, mais 
frequentemente, um corpo de leão com cabeça humana real usando um nemés e 
representa a encarnação do poder real e divino. Numerosas variantes existem: o 
nemés pode ser substituído pela juba do leão; a cabeça pode ser a de um 
carneiro ou falcão; algumas vezes a esfinge pode ter o corpo de carneiro ou de 
crocodilo. A partir do Médio Império podem ter a cabeça da rainha. 
Estátua cubo ou bloco - categoria de estátua que aparece no início do Médio Império 
e que permaneceu em uso até o Período Romano. O morto sentado com os 
joelhos junto ao peito, frequentemente envolto em um manto dando o formato de 
cubo ao corpo, onde somente a cabeça se ergue, talvez, como uma referência ao 
sol nascente e à ressurreição. A sua origem provável estaria na representação do 
guardião que se sentava na porta do templo. 
Esteatita - aglomerado compacto de cristais de talco de coloração do branco ao cinza. 
Sobre ela era aplicada uma camada vitrificada de coloração verde azulada para a 
confecção de amuletos e ushabtis, principalmente na Baixa Época. As suas 
jazidas ocorrem no Deserto Arábico. 
Estela - placa em pedra, madeira ou faiança egípcia destinada a conter inscrições, 
relevos ou pinturas com aplicações funerárias ou de propaganda política. É 
atestada desde os tempos mais antigos como uma pedra comemorativa ou 
demarcatória do túmulo. Traz o nome e os títulos do proprietário da tumba e de 
seus familiares. Pode ser independente da tumba ou integrar a sua arquitetura. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 128
Estratigrafia - superposição de diferentes camadas arqueológicas fixandosua 
sucessão cronológica e, portanto, suas datas relativas. 
Eternidade - para os egípcios havia dois tipos possíveis de eternidade. A neheh 
identificada ao deus-sol Rê como sendo uma eterna regeneração cíclica; e a djet 
identificada a Osíris, linear e ligada à idéia de perpetuidade. 
Ex-voto - inscrição, objeto ou animal mumificado colocado em uma santuário como 
agradecimento a uma graça atendida. 
Faiança egípcia - material vitrificado obtido pela mistura de sílica com gipsita ou 
argila e óxidos de cobre. Geralmente de cor verde ou azul. 
Faraó (Per-âa) - do egípcio “A Grande Casa”. Usada para designar o palácio real. Foi 
utilizado a partir da XVIII Dinastia para designar o rei e na XXII Dinastia passou 
a fazer parte da titulatura real. 
Festa do Vale ou Bela Festa do Vale - procissão anual dos deuses tebanos Amon, 
Mut e Khonsu em suas barcas entre Karnak e Deir el-Bahari. No Novo Império a 
barca de Amon visitava também os outros templos funerários. 
Festival de Opet - festa tebana durante 27 dias cujo ponto máximo era a procissão 
das barcas sagradas e reais entre os templos de Karnak e Luxor. Representando 
a união de Amon, de Karnak, e Opet, de Luxor. 
Festival do Jubileu (Heb Sed) - festa jubilar celebrada pelo faraó destinada a 
regenerar o seu vigor físico e seu poder mágico. Geralmente celebrada após 30 
anos de reinado e repetida a cada 3 anos. O rei refazia os ritos de coroamento 
usando um manto curto particular. 
Flabelo - leque com cabo longo guarnecido com plumas de avestruz. 
Galeria - em oposição aos poços são corredores inclinados que permitem o acesso às 
câmaras das pirâmides ou das tumbas privadas. 
Gerzense - nome do segundo período da cultura neolítica de Naqada, que leva o nome 
do sítio arqueológico El-Gerze, próximo a Meidum. 
Gesto Henu - também chamado Gesto de Júbilo ou "Recitação das Glorificações". 
Aparece frequentemente nas cenas de adoração a Osíris e Rê e feito pelas almas 
(bás) de Pe e Nekhem, onde são representados com um dos joelhos no chão, a 
mão esquerda fechada apoiada sobre o peito, o braço direito erguido em ângulo 
reto com a mão fechada. Esta aclamação rítmica poderia ser acompanhado por 
gritos. 
Gesto Nini - gesto de saudação e veneração que consistia em derramar um pouco de 
água com as mãos diante de uma pessoa que se queria honrar. Frequentemente 
feito entre as divindades ou entre um faraó e uma divindade. 
Glorificado - do egípcio Imakhu. É um epíteto aplicado aos mortos após terem sido 
absolvidos no Julgamento da Alma. Ele indica um estado de beatificação em 
relação ao deus Osíris capacitando o morto a seguir o sol em sua jornada. 
Granito - rocha ígnea de composição cristalina de quartzo, feldspato e mica de 
coloração rósea, cinza e preta. Foi amplamente utilizada em todos os períodos na 
construção de edifícios, sarcófagos e estatuária. As suas jazidas encontram-se 
em Assuã e Wadi Hammamat. 
Grauvaca (xisto) - rocha homogênea e dura de cor esverdeada. Utilizada desde os 
tempos Proto-dinásticos para a confecção das paletas votivas e amuletos. Foi 
utilizada também para a confecção de vasos e recipientes, escaravelho coração e 
também na estatuária. As suas jazidas ocorrem no Deserto Arábico. 
Heka - uma energia transformadora e criadora ao mesmo tempo coletiva e individual, 
traduzida muitas vezes como magia. 
Hemispeo - templo rupestre onde a parte posterior é escavada na rocha e a anterior é 
construída. 
Hicsos - versão grega do egípcio heqa khasut ("Príncipes dos Países Estrangeiros" 
também traduzido como "Reis Pastores"). Este termo não designa raça nem 
origem, usado durante o Antigo e Médio Impérios para as populações núbias e 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 129
asiáticas, mas que caracteriza as populações originárias da Palestina, em sua 
maioria amoritas e cananeus, que ocuparam o Egito criando a XV Dinastia com 
a capital em Aváris, no Delta Oriental. 
Hierático - do grego “Escrita Sacerdotal”. É o nome dado à escrita cursiva não 
monumental, originada da simplificação dos sinais hieroglíficos, utilizada para 
escrever sobre papiro ou óstraco com pincel e tinta. Utilizada desde o Período 
Thinita paralelamente à escrita monumental hieroglífica, foi substituída no 
Século VII a.C. pelo demótico. 
Hieróglifo - do grego “As Letras Sagradas Esculpidas”. Conjunto de sinais 
(fonogramas, ideogramas e determinativos) que compunham a escrita egípcia e 
também a que persistiu por mais tempo. Aparece no final do Período Pré-
dinástico (cerca de 3100 a.C.) estendendo-se até 394 d.C. Após o aparecimento 
das suas versões cursivas (hierático e demótico) confinou-se a contextos 
religiosos e monumentais. 
Hin - unidade de volume que corresponde aproximadamente a 0,48l. 
Hipogeu - do grego “sob a terra”. Tumba rupestre subterrânea que com a pirâmide e 
a mastaba representa a terceira forma essencial das tumbas egípcias que eram 
escavadas nas encostas das montanhas e das falésias ao longo do Nilo. 
Hipostila - sala do templo onde o teto é sustentado por uma série de colunas 
dispostas em filas paralelas. 
Hu - o verbo criador. Som que se espalhou pelo Universo no momento da Criação. Era 
também representado como uma divindade. 
Ib (Coração) - sede da vida, do conhecimento e da inteligência. 
Íbis - pássaro sagrado do deus Thot. 
Iseum - necrópole das “Mães dos Touros Ápis” consagrada à Ísis, mãe de Ápis, em 
Mênfis. 
Ished - arbusto do deserto (Balanites aegyptiaca) que fornece um fruto açucarado, às 
vezes, identificado à Persea. Está relacionado ao nascimento do deus-sol, 
aparecendo junto com o gato de Heliópolis, símbolo da vitória do sol sobre 
Apópis. 
Isocefálico - equalização do tamanho entre duas ou mais figuras, numa composição, 
pelo ajuste da escala ou do posicionamento deixando as cabeças das 
representações no mesmo nível. 
Janela da Aparição - janela ou balcão do palácio real onde o faraó recompensava os 
seus funcionários. Durante o Novo Império, no templo funerário, era o local onde 
o rei assistia as cerimônias religiosas. 
Jaspe - variedade de quartzo duro e brilhante de grãos finos e de coloração 
homogênea amarela, vermelha e verde. A variedade vermelha possuía as 
conotações positivas de dinamismo e poder do sol e era utilizada na confecção de 
amuletos, principalmente o nó de Ísis. A verde foi utilizada desde os tempos Pré-
dinásticos na confecção de amuletos, principalmente os escaravelhos coração no 
Período Faraônico. As suas jazidas ocorrem no Deserto Arábico. 
Justificado ou Justo de Voz - do egípcio "Maakheru". Epíteto colocado após o nome 
próprio que qualifica o morto como tendo passado com sucesso pelo julgamento 
no Tribunal de Osíris, cumprindo as condições de Maat. 
Ká - um dos componentes espirituais do homem e dos deuses. Criado ao mesmo 
tempo em que o ser físico é algumas vezes chamado de “duplo”. É o símbolo da 
força vital conservadora e alimentadora do ser. Encarna na estátua do morto 
depositada na tumba. 
Kalathos - palavra grega que designa o módius. É um instrumento de medida de 
cereais usado como coroa pelo deus Serápis. 
Kemet - “A terra negra”. Nome que designava o Egito como referência ao limo escuro 
depositado pelo Nilo fertilizando os campos. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 130
Kemyt - coletânea de textos literários, surgido no Médio Império, utilizado como 
manual na formação dos escribas. 
Khekeru - “ornamentos” decorativos estilizados formando frisos no alto das pinturas 
e relevos. Provavelmente inspirados em feixes de plantas no alto das paredes de 
tijolos crus das casas primitivas. 
Khepesh - cimitarra com a lâmina no formato do crescente, originária do Oriente 
Próximo, trazida ao Egito pelos hicsos. 
Khool - pintura para os olhos, à base de galena, que não somente ornava mas 
também protegia os olhos contra algumas doenças. 
Kom - palavra árabe que designa um monte de escombros aplicado às colinas com 
restos antigos. Sinônimo de Tell. 
Lágida - dinastia fundada pelo general macedônico Ptolomeu, Filhode Lagos, após a 
morte de Alexandre o Grande. Reinaram entre 305 a 30 a.C., até a dominação 
romana. 
Lago Sagrado - lago retangular que reproduzia simbolicamente, nos templos, o 
oceano primordial (Nun). 
Lápis-lazúli - mineral azul escuro e opaco muitas vezes com manchas brancas e 
impurezas de ouro com uma aparência lustrosa quando polido. Foi a pedra 
semipreciosa mais valorizada pelos egípcios. Simbolizava o céu noturno e o 
oceano primordial, muito utilizado na produção de amuletos e jóias da elite. O 
seu nome (xsbd), na Baixa Época, foi um sinônimo para “deleite” e “prazer”. Foi 
importado desde os tempos Pré-dinásticos do Afeganistão. 
Litania de Rê - uma série de textos que aclamam o deus-sol Rê em 75 formas 
diferentes e a união deste com o faraó e outras divindades. Aparece em pilares 
de câmaras funerárias e entradas de tumbas da XVIII Dinastia. Existiam duas 
versões, uma curta e outra longa, a partir de Séthi I aparece nas entradas e nos 
corredores das tumbas ramessidas. 
Livro da Terra ou Livro de Akher - composições religiosas que descrevem em quatro 
partes a jornada noturna do sol no Mundo dos Mortos. Aparecem nas câmaras 
funerárias e em sarcófagos da XX Dinastia. 
Livro das Cavernas - textos que descrevem o “Mundo Inferior” em uma série de 
cavernas ou poços por onde o deus-sol passa, e onde as almas e os inimigos do 
deus são punidos. Aparece na parte superior das paredes das tumbas do final 
da XIX e XX Dinastias, no cenotáfio de Séthi I em Abidos e uma versão completa 
na tumba de Ramessés VI. 
Livro das Respirações - surgido na região tebana, no Período Ptolomaico, é dividido 
em duas categorias: o Primeiro Livro das Respirações e o Segundo Livro das 
Respirações. O primeiro é inspirado nos textos e fórmulas religiosas das estelas 
e das tumbas; enquanto o segundo é uma reutilização dos capítulos mais 
importante do “Livro dos Mortos”. A sua função era dar ao morto a possibilidade 
de respirar associando-o indiretamente ao deus Amon, considerado como o 
sopro da vida e o de assegurar a conservação de seu nome. 
Livro do AmDuat - do egípcio “Aquilo que há no Mundo Inferior” ou “O Livro da Sala 
Oculta”. Nome de uma série de textos que descreve o percurso subterrâneo do 
sol durante as doze horas da noite e que foi representado nas paredes de 
algumas tumbas reais da XVIII Dinastia. A versão completa encontra-se nas 
tumbas de Thutmés III, Amenhotep III e do vizir User. 
Livro dos Céus - textos que descrevem a passagem do deus-sol nos Céus. Dividido 
em três partes: Livro do Dia, Livro da Noite e Livro da Vaca Divina. Aparecem 
nas câmaras funerárias e nas passagens das tumbas da XIX e XX Dinastias. O 
Livro do Dia e o da Noite, compostos no final do Novo Império, descreve o céu e a 
criação do sol, aparece em diversas tumbas reais ramessidas; o Livro da Vaca 
Divina ou Celeste conta o mito da deusa Háthor embriagada e a partida de Rê 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 131
em direção ao céu nas costas da deusa Nut, provavelmente foi composto no 
Período Amarniano. 
Livro dos Mortos - do egípcio “Livro para sair à luz do dia”. Coletânea de 
aproximadamente 192 capítulos, na sua forma mais completa e mais tardia, 
derivada dos Textos das Pirâmides e Textos dos Sarcófagos. É uma espécie de 
manual do Outro Mundo para uso dos mortos. Extratos deste decoram as 
tumbas e sarcófagos ramessidas. 
Livro dos Portões - uma composição referente aos doze portões que dividem as horas 
da noite percorridos pela barca de Rê. Inscrito na câmara funerária e em pilares 
na entrada das tumbas do Vale dos Reis e em alguns sarcófagos de faraós. 
Surgiu no final da XVIII Dinastia. A versão completa está na tumba de Ramessés 
VI, no sarcófago de Séthi I e no corredor do Osireion em Abidos. 
Lótus - lírio aquático que simbolizava o surgimento da luz e do mundo. Era a planta 
heráldica do Alto Egito. 
Maat - palavra que designa vários conceitos como ordem, equilíbrio, verdade e 
justiça. É também representada como uma divindade. 
Mammisi - do copta “Local do Nascimento”, termo inventado por Champollion. Termo 
utilizado para designar os pequenos templos anexos da Baixa Época, mas 
essencialmente Ptolomaicos, onde se celebravam o nascimento do deus-criança 
Manu - designa as montanhas líbias identificada pelos egípcios como local onde o sol 
penetra no Mundo dos Mortos em sua viagem noturna, em oposição ao Bakhu. 
Mastaba - do árabe “Banco”. Designa uma tumba civil composta por dois elementos: 
uma superestrutura retangular com faces inclinadas, feita com tijolos ou pedra, 
reservada ao culto funerário onde se encontravam as câmaras decoradas: a sala 
de oferendas, a porta-falsa, a mesa de oferendas e o serdab. E uma parte 
subterrânea, escavada na rocha, com a câmara funerária cujo acesso era 
geralmente por um poço. Datada essencialmente do Novo Império. 
Medjay ou Madjai - termo que designava, durante o Antigo Império, as populações da 
Baixa Núbia e os nômades do Deserto Oriental e que passou a designar as 
pessoas recrutadas para o policiamento das necrópoles e das fronteiras do 
deserto. 
Menat - palavra egípcia que designa um objeto simbólico em forma de colar formado 
por várias fileiras de contas unidas a um contrapeso. Este objeto era mais 
frequentemente carregado nas mãos que no pescoço. É um dos atributos que 
designa o poder da deusa Háthor com valor de fecundidade. Durante algumas 
cerimônias era usado como um chocalho. 
Meroítico - nome referente ao sítio de Meroi próximo à quinta catarata do Nilo. 
Designa o período da história sudanesa (Kushita) durante o qual esta cidade foi 
o centro de toda a atividade (após o III século a.C. até o IV século d.C.). 
Mesa de Oferendas - placa em pedra ou terracota onde vários tipos de oferendas para 
o morto eram pintadas ou em relevo, sendo assim disponíveis eternamente. 
Estas placas eram depositadas na capela funerária, aos pés da porta-falsa, sobre 
a qual eram depositadas as oferendas alimentares. 
Métopa/Tríglifo - faixa ou tira com intervalos retangulares de dimensões variáveis e 
pintadas com cores diferentes ou esculpidas em friso na parede ou em qualquer 
superfície plana. 
Modelo ou maquete - figuras em rocha ou mais frequentemente em madeira pintada 
que individualmente ou em grupos representavam as mais variadas cenas da 
vida cotidiana destinadas a substituir as decorações das paredes da capela 
funerária. Características do Médio Império. 
Modius - palavra latina que designa um recipiente cilíndrico de medida de capacidade 
usado pelos romanos. No vocabulário egiptológico designa, por semelhança a 
sua forma, um elemento circular que serve de base para certas coroas divinas. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 132
Múmia - do árabe “Mumiyah” (betume). Corpo embalsamado, eviscerado e 
desidratado; e envolto em bandagens. 
Naoforme ou naofore - tipo de estátua, geralmente masculina, ajoelhada, em pé ou 
sentada que traz ou apresenta um naos abrigando uma estátua ou um emblema 
divino. 
Naos - do grego “Templo”. Na egiptologia refere-se a um tabernáculo em pedra 
contendo um relicário em madeira no qual era colocado uma estátua de culto, 
por extensão era o nome dado à sala do tabernáculo. 
Natrão - sal natural composto pela mistura de carbonato de sódio, cloreto de sódio e 
sulfato de sódio, extraído principalmente de Wadi Natrun, no Baixo Egito. Era 
principalmente utilizado para a desidratação dos corpos no processo de 
mumificação e para a purificação, fumigação das cerimônias religiosas e ao 
preparo de sabão para banho. 
Necrópole - do grego “Cidade dos Mortos”. Designa os grandes cemitérios que se 
estendem no limite do deserto ocidental. 
Nefer - do egípcio “Bom” ou “Belo”. Usado como motivo decorativo, jóias, amuletos e 
mobiliário. 
Nemés - toucado faraônico feito em tecido estriado que envolvia a cabeça, com duas 
abas que caíam sobre o peito e era amarrado à nuca em uma espécie de trança. 
Nilômetro - instalação provida de um poço e uma escala que permitia a medida da 
cheiado Nilo. 
Nomarca - nome dos governantes dos nomos. Nobres hereditários ou simplesmente 
governadores, segundo a época. 
Nomo - palavra de origem grega usada para indicar as províncias administrativas do 
Egito Antigo, cujo número variava de 32 no Antigo Império a 42 na Baixa Época 
(22 no Alto Egito e 20 no Baixo Egito). Cada nomo era representado por uma 
insígnia da divindade local sobre um estandarte. 
"Nove Arcos" - na ideologia real faraônica os países estrangeiros submissos ao faraó 
são representados por nove arcos sob os pés do soberano. 
Obelisco - do grego “Espeto”. Bloco monolítico com sessão quadrada e o topo em 
forma de pirâmide. Símbolo solar, raio do sol petrificado, aparecendo geralmente 
aos pares na entrada dos templos, diante do pilono, ou de certas tumbas. 
Obsidiana - rocha magmática vitrificada preta brilhante e translúcida. Utilizada na 
confecção de amuletos específicos na Baixa Época e lâminas usadas nas 
cerimônias de mumificação. Era importada da Etiópia. 
Ogdoade - grupo de quatro casais de deuses primordiais da cosmogonia de 
Hermópolis: Nu, Naunet; Heh, Hauhet; Kek, Kauket; Amun, Amaunet, criados 
pelo verbo representado pelo deus Thot. Os deuses são representados por sapos 
e as deusas por serpentes. Estas forças primordiais depositaram o “ovo cósmico” 
sobre a terra que emergiu do Nun, de onde surgiu o sol criador do mundo. Em 
uma outra versão os deuses fecundaram um lótus de onde surgiu o sol. 
Óstraco - fragmento de pedra ou de cerâmica utilizado como suporte para escrever 
(cálculos, cartas, exercícios e contratos) e desenhar (modelos, esboços e 
projetos). 
Ouro - metal considerado como a carne dos deuses, usado para recobrir as suas 
imagens e as máscaras funerárias conferindo ao morto um estado divino. A 
deusa Háthor possuía o epíteto "A Dourada" ou "O Ouro Feminino". 
Paleta - placa em pedra utilizada para misturar cosméticos. Usada como suporte para 
decoração em relevo durante o Pré-Dinástico. 
Papiro - suas fibras unidas em folhas formavam longos rolos que eram suporte para 
os textos e de onde deriva o nosso nome “papel”. Planta aquática que 
simbolizava a fertilidade e a força criadora. Era a planta heráldica do Baixo 
Egito. 
Per-nu - nome do santuário Pré-dinástico de Buto que representava o Baixo Egito. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 133
Per-ur (A Grande Casa) - nome do santuário Pré-dinástico de Nekhen (Hieracômpolis) 
que representava o Alto Egito. 
Peret - Estação da Germinação (Inverno) que inicia na segunda metade de novembro 
e termina na primeira metade de março. 
Período Intermediário - nome dado aos períodos em que o Egito foi dividido e 
governado por vários soberanos simultâneos. 
Peristilo - pátio rodeado por colunas. 
Peruca ou Toucado tripartite - peruca repartida em três mechas de cabelo, duas 
caindo de cada lado do rosto, sobre o peito, e a terceira sobre o ombro e costas. 
Pilar ou Colosso Osiríaco - pilar ao qual está fixada uma estátua real geralmente 
mumiforme ou com os pés juntos e os braços cruzados sobre o peito, como o 
deus Osíris. É a representação funerária ou jubilar do faraó, não tem funções 
arquitetônicas. 
Pilone/Pilono - entrada monumental com a forma de dois maciços trapezoidais 
ladeando a porta de entrada dos templos, simbolizando as montanhas do 
horizonte entre as quais se ergue o sol. Diante ele erguem-se as auriflamas, 
obeliscos e as estátuas colossais dos faraós. 
Pirâmide - do grego “Bolo de Sésamo”. Monumento funerário que continha a tumba 
do faraó. Representa, simbolicamente, a escadaria que o conduziria ao céu e 
também os raios do sol que tocavam a terra. 
Piramidion - pedra em forma de pirâmide que se encontrava nas pontas dos 
obeliscos ou de pirâmides, simbolizando o sol, podendo ter um revestimento em 
electrum ou ouro. Este termo designa no Novo Império uma pequena pirâmide 
colocada sobre a entrada da tumba. 
Porfírio - rocha violácea com a presença de cristais, principalmente brancos e pretos. 
Utilizada na confecção de estatuária e elementos arquitetônicos, desde o Antigo 
Império, mas principalmente na Baixa Época, onde também foi utilizada na 
confecção de amuletos. Tornou-se muito apreciada pelos imperadores romanos 
que a elegeram como uma rocha imperial para as suas imagens e na decoração 
de seus palácios. As suas jazidas ocorrem próximas ao Mar Vermelho. 
Porta-falsa, Porta de Aparição ou estela porta-falsa - nas tumbas era uma imagem 
construída em relevo ou pintada, em pedra ou madeira, de uma porta pela qual 
o morto ou o seu Ká poderia sair do Outro Mundo para receber as oferendas 
depositadas pelos vivos sobre a Mesa de Oferendas. No Antigo Império possuía, 
geralmente, representações do morto diante de uma mesa. 
Porticullis - bloco de calcário ou mais frequentemente de granito colocado para 
bloquear a entrada ou um corredor de uma câmara funerária após o 
sepultamento. 
Posição de Marcha - na estatuária, no baixo relevo ou na pintura as figuras, 
principalmente as masculinas, são representadas com o pé esquerdo à frente. 
Uma postura dinâmica em oposição aos pés juntos das mulheres e dos mortos. 
Pré-dinástico - nome dado ao período que precede a primeira dinastia histórica e que 
engloba todo o período chamado Eneolítico ou Calcolítico durante o qual as 
tradições neolíticas do trabalho em pedra e os metais (cobre) surgem. É o 
período que se inicia com o Badariense. 
Pronaos - sala que precede o santuário, seja imediatamente seja a alguma distância, 
segundo o plano do templo. Palavra algumas vezes empregada para designar a 
sala hipostila (Edfu e Dendera). Desenvolveu-se nas XVIII e XIX Dinastias 
tornando-se no Período Ptolomaico e Romano um elemento essencial dos 
templos. 
Psicostasia - do grego “Pesagem da Alma”. Designa a pesagem do coração do morto 
na “Sala da Dupla Verdade” ou “Sala das Duas Maat”, sob a presidência de 
Osíris, o juiz, auxiliado por 42 divindades, por Thoth, o escriba, Anúbis, o 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 134
verificador e pelo monstro Amam, a grande devoradora. A cena ilustra o capítulo 
1265 do “Livro dos Mortos”. 
Quartzito - uma forma dura e cristalina do arenito (grés) de coloração homogênea 
avermelhada ou bege amarelada. Foi utilizada em edifícios, sarcófagos reais e 
monumentos desde o Antigo Império. Inúmeros reis foram retratados com este 
tipo de rocha devido a sua conotação solar, principalmente nos reinados de 
Amenhotep III, Akhenaton e Ramessés II. As suas jazidas encontram-se em 
Assuã. 
Quiosque - pequeno edifício aberto em todos os lados servindo de embarcadouro e/ou 
tribuna nas cerimônias festivas. O mesmo termo designa também os edifícios 
semelhantes sobre os tetos dos templos ou ainda os repositórios. Um pavilhão 
que abrigava o rei ou o morto. 
 
Re-stau ou Ro-setau "Porto das Passagens" - nome que originalmente designava a 
Necrópole de Mênfis onde se localizava a entrada do Mundo Inferior domínios do 
deus Sokar e por designação passou para todas as necrópoles como os Domínios 
de Osíris. 
Registro - subdivisão horizontal de uma parede decorada em tumbas, em templos ou 
em objetos e estelas. 
Rekh - habilidade e uma técnica utilizada pelo homem na arte e na escrita. 
Ren (Nome) - era um sinal de individualidade que expressa a essência do ser e uma 
qualidade. Era através do nome que se realizava alguns atos mágicos e a sua 
permanência significava a sobrevivência do ser. 
Ritual de embalsamamento - manual composto por parágrafos dispostos 
sequencialmente as operações de embalsamamento. Cada parágrafo indica ao 
manipulador as suas ações. Uma outra parte dá o conteúdo religioso dos atos. 
Saff - do árabe “fila”. Tumba do rei Antef em Tebas ocidental (El Tarif) escavada na 
rocha com uma fachada com pórtico com pilares ligada a um corredor que leva à 
câmara funerária. Esta forma deu origem a tumbas privadas, principalmente em 
Gebelein e Dendera. 
Saiote-Shendyt - saiote de origem Pré-histórica usado pelo faraó e algumas 
divindades. Consiste de duas peçasde tecido amarradas na frente de onde 
pende uma peça horizontal estriada e sobre este era colocado um cinturão de 
onde pendia um tecido em forma de uma cauda de touro. 
Sarcófago - do grego “Pedra Devoradora de Carnes”. De formato retangular, em 
pedra, continha o caixão em madeira ou pedra (antropomórfico), múltiplos ou 
não, com o corpo mumificado e que ocupava o lugar mais importante da 
sepultura egípcia. Considerado a morada do morto. 
Sekhet - designa os campos férteis às margens do Nilo. É frequentemente 
representado por figuras femininas que simbolizam os distritos do Egito (nomos) 
que trazem nas mãos a abundância das colheitas. 
Sem - sacerdote cuja característica é vestir uma pele de pantera e, muitas vezes, usar 
a madeixa da infância. Ocupa um lugar de destaque nos rituais egípcios, 
principalmente, aquele da "Abertura da Boca". 
Sematawy - do egípcio “União das Duas Terras”. Escrito em hieróglifos monumentais 
nas laterais dos tronos reais. Algumas vezes associado com os “Gênios do Nilo”. 
Simbolizando as plantas heráldicas do norte (papiro) e do sul (lótus ou lírio), 
amarradas ao hieróglifo “unir”, representando a união do Baixo e do Alto Egito. 
Senet - jogo de tabuleiro, semelhante ao nosso jogo de damas, com três fileiras de dez 
casas. No Capítulo 17 do "Livro dos Mortos" a partida de Senet simboliza a 
jornada do morto no Outro Mundo. 
Serapeun - cidade-santuário consagrado ao culto do touro Ápis. 
Serdab - do persa “Depósito”. Câmara completamente fechada contendo, nas 
mastabas ou templos funerários do Antigo Império, as estátuas Ká do morto. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 135
Uma fenda na altura dos olhos, na parede que separa o serdab do local de 
oferendas, estabelecia o contato entre estas estátuas e os vivos que praticavam o 
culto. 
Serekh - do egípcio “Fachada de Palácio”. É uma representação da fachada e do muro 
que cercava os primeiros palácios egípcios. Utilizado como motivo decorativo e 
na composição do primeiro nome real ou “Nome de Hórus”, colocado sob um 
falcão. 
Serpentina (esteatita) - rocha composta por um silicato hidratado natural de 
magnésio esverdeado. Utilizada principalmente no Período Pré-dinástico para a 
produção de estelas e amuletos profiláticos contra picadas de serpentes e 
escorpiões. 
"Servidor no Local da Verdade" - tradução do termo Sedjem ash em Set Maat cujo 
significado literal é "Aquele que escuta o apelo no Local da Verdade" e que 
designa os artistas e artesãos que trabalhavam nas tumbas e templos funerários 
tebanos e que moravam na vila de Deir el-Medina durante o Novo Império. O 
"Local da Verdade" ou "Local de Maat" é uma metáfora que para a necrópole 
tebana, especificamente a tumba real. Durante a XVIII dinastia também era 
denominado de "Grande Local". 
Shabti ou Ushabti - pequenas estatuetas que representavam os servidores 
funerários, frequentemente mumiformes, feitas em diferentes materiais, 
colocadas na tumba para substituir magicamente o morto na execução de 
trabalhos que seria chamado a realizar no Outro Mundo. Frequëntemente tem 
nas mãos instrumentos agrícolas e possuem ao longo do corpo inscrições 
contendo o capítulo VI do "Livro dos Mortos" ou simplesmente o nome e títulos 
do morto. Outra forma para o seu nome era Shauabti. 
Shaduf - dispositivo elevatório pendular de água que aparece na XIX Dinastia e ainda 
utilizado no Egito. 
Shebiu ou “Ouro da Recompensa” - colar composto por anéis em ouro dado pelo rei 
para recompensar seus melhores oficiais e funcionários. 
Shemu - Estação da Colheita (Verão) inicia na segunda metade de março e termina 
na primeira metade de julho. 
Shut (Sombra) - seu significado ainda não está bem claro. É associada com a Bá e 
possui uma existência própria ligada à sexualidade do morto. A sua presença é 
revelada pela luz do sol. 
Sia - conjunto de conhecimentos utilizados na Criação do Universo. É também 
representado como uma divindade. 
Sicômoro - variedade da figueira egípcia. Árvore sagrada das deusas Háthor e Nut. 
Madeira dura e escura usada na confecção de mobiliário, sarcófagos, estátuas e 
outros acessórios funerários. 
Sílex - aparece incluso em camadas de calcário, foi utilizada principalmente nos 
Período Pré-histórico para a produção de lâminas e manteve-se em uso, no 
período faraônico, na produção de objetos rituais. 
Sistro - espécie de matraca utilizada nas cerimônias litúrgicas, em especial ligado ao 
culto das deusas Háthor e Bastet. 
Sistrophore - “estátua portadora de sistro”. 
Speos - do grego “Gruta”. Designa os templos ou tumbas rupestres, isto é, talhadas 
completamente na rocha. 
Stelophore - estatueta de uma pessoa ajoelhada em posição de oração, que põe as 
suas mãos erguidas sobre uma estela diante de si. Normalmente escrita com um 
hino ao deus-sol. Surgidas após a XVIII Dinastia poderiam ser colocadas nos 
nichos das pequenas pirâmides privadas. 
Talatat - do árabe que indica uma largura de três palmos. Designa os blocos de 
pedra decorados, de pequenas dimensões, utilizados nas construções dos 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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templos do Período Amarniano em Luxor e Tell el-Amarna, e reutilizados em 
Hermópolis. 
Têmenos - palavra grega que designa o conjunto dos domínios sagrados de um 
templo no interior de um recinto cercado por um muro que separa o mundo 
profano daquele sagrado isto é o santuário, a propriedade do deus. 
Templo Alto ou Templo Funerário ou Templo da Pirâmide - termo que designa, no 
complexo funerário das pirâmides, o templo funerário construído junto à face 
leste das pirâmides. Local onde se praticava o ritual funerário e o serviço de 
oferendas para o faraó morto. Composto por uma parte pública e outra privada. 
Abrigada as estátuas do faraó. 
Templo Baixo ou Templo do Vale - termo que designa, no complexo funerário das 
pirâmides, o templo que possuía um embarcadouro próximo ao Nilo e que era 
ligado ao Templo Alto por uma calçada pavimentada. Era o local da Tenda da 
Purificação onde os sacerdotes executavam o ritual de “Abertura da Boca” na 
múmia do faraó. 
Templo de Milhões de Anos - termo egípcio que designa os templos funerários 
consagrados ao rei morto, mas que possuía também a função de “Templo 
Memorial”, servindo ao culto ancestral, como repositório da Barca Sagrada e 
Templo Divino. Os principais encontram-se em Tebas Ocidental. 
Tenda da Purificação - tenda ritual onde os sacerdotes faziam a purificação do 
cadáver e o secava com natrão. Após a mumificação a tenda servia aos rituais 
funerários como o da “Abertura da Boca”. No Antigo Império o Templo Baixo era 
utilizado para esta finalidade. 
Teogamia - do grego “Casamento Divino”. Doutrina religiosa que proclamava a origem 
divina do faraó, representada pela união carnal de sua mãe com um deus. 
Teophore - “portador da divindade”. Designa as estátuas de particulares de trazia a 
escultura de um deus. É também aplicado às pessoas que possuíam o nome de 
uma divindade. 
Textos das Pirâmides - conjunto de mais de 800 fórmulas gravadas nas paredes das 
câmaras funerárias das pirâmides a partir de Unas, na V Dinastia. A pirâmide 
de Pépi II, na VI Dinastia, tem a coleção mais completa com 675 fórmulas 
compostas, provavelmente em Heliópolis, os textos além do ritual funerário 
proclama a ressurreição do faraó junto com o deus-sol e permitindo ao faraó 
reinar no Outro Mundo. 
Textos dos Sarcófagos - conjunto com mais de mil fórmulas escritas nos caixões do I 
Período Intermediário e Médio Império. Derivado dos Textos das Pirâmides. 
Estas fórmulas garantiriam a sobrevivência do morto no Outro Mundo. 
Tríade - grupo de três divindades formando uma família ou grupo de três estátuas 
esculpidas em um mesmo bloco. 
Turquesa - mineral azul esverdeado opaco. Era apreciado por sua coloração 
esverdeada associada pelos egípcios com a renovação da vida e a ressurreição. 
Usada na produção de amuletos e incrustações ornamentais desde o Período 
Pré-dinástico. As suas jazidas ocorrem no Sinai. 
Tyt (Nó de Ísis)- amuleto normalmente de cor avermelhada utilizado também em 
motivos funerários. Simbolizava o sangue de Ísis. Surgiu no Antigo Império. 
Associado ao pilar-djed a partir do Novo Império. 
Udjat - olho sagrado do deus-falcão Hórus usado como sinal de proteção em 
amuletos e motivos decorativos. Simboliza a integridade física e o vigor. 
Uraeus - forma latina da palavra grega derivada do egípcio “Aquela que se Ergue”. 
Designa a cobra protetora, símbolo da realeza e do poder divino, que aparece na 
fronte dos faraós e das divindades. Filha de Rê que atacava os inimigos do rei e 
dos deuses. 
Usekh - colar largo formado por várias fileiras de contas que cobre o peito e os 
ombros dos deuses e dos mortos. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 137
Vasos canopos - quatro recipientes nos quais eram colocadas as vísceras extraídas 
do corpo durante a mumificação. Cada um era colocado sob a proteção de um 
dos Filhos de Hórus representados nas tampas dos vasos: Imset, com cabeça 
humana; Hapy, com cabeça de babuíno; Duamutef, com cabeça de chacal; e 
Qebehsenuef, com cabeça de falcão, a partir do Novo Império. 
Vinhetas - ilustrações características dos diferentes capítulos do “Livro dos Mortos”. 
Vizir - do árabe “O Chefe do Poder Executivo” (Primeiro Ministro). Possuía as mais 
altas responsabilidades administrativas em nome do faraó. Organizava a mão de 
obra, administrava o domínio real, incluindo o palácio e os territórios ocupados, 
supervisionava e registrava os atos jurídicos, recolhia os impostos e tributos, 
nomeava os altos funcionários e dirigia os arquivos reais. 
 
XIII. GLOSSÁRIO DE DIVINDADES 
 
Akher - Personificação do mundo subterrâneo sob a forma de dois leões, unidos em 
um só corpo, que guardam a entrada do Mundo Inferior. 
Amon - Cultuado em Tebas. Em sua forma antropomórfica é coroado por um barrete 
com duas plumas altas. Seu nome significa “O Oculto”. Pouco conhecido 
durante o Antigo Império sua importância começa na XII dinastia como patrono 
da monarquia tebana. Seu prestígio atinge o máximo no Novo Império quando é 
considerado um deus primordial e universal, é considerado como demiurgo e 
integrado, tardiamente, na Ogdoade de Hermópolis. Ele foi assimilado a 
numerosas divindades como Rê e Min. Forma uma família com a deusa Mut e 
como filho o deus Khonsu, constituindo a família divina tebana. Foi 
transformado, pelos teólogos tebanos, como um deus único, eterno, misterioso e 
desconhecido. Sob a forma animal aparece sob a forma de um carneiro ou 
ganso. Sua contraparte feminina era Amonet. 
Amonet - “A Oculta”, contraparte feminina de Ámon na Ogdoade de Hermópolis. 
Anúbis - Cultuado no 17º Nomo do Alto Egito (Cinópolis). Representado com o corpo 
de homem e cabeça de chacal ou como um chacal. Considerado como filho de 
Néftis e Osíris ou de Ísis, Sekhmet ou da vaca celeste Hesat. Era o deus da 
mumificação e dos embalsamadores, teria confeccionado a primeira múmia: 
aquela do deus Osíris. Juntamente com Toth e Hórus possuía um importante 
papel ligado à ressurreição e à psicostasia e condutor das almas, era o guardião 
da necrópole e quem verificava o prumo da balança no julgamento dos mortos. 
Era associado à lua. 
Anukis - Cultuada na 1ª catarata da Ilha de Sehel, onde era identificada a Deusa 
Distante ou Olho de Rê. Deusa antropomórfica coroada por um barrete cercado 
de plumas. Filha do deus Khnum e da deusa Satis. Representa o início da 
inundação e os alimentos originados da cheia do Nilo. Sob forma animal era 
identificada a uma gazela. 
Ápis - Cultuado em Mênfis. Representado como um touro branco com um disco solar 
entre os chifres. Manifestação dos deuses Ptah e Osíris é o deus da fecundidade 
e do renascimento. A partir do Novo Império estes touros eram mumificados e 
sepultados no Serapeum junto ao mobiliário funerário digno ao de um faraó. Na 
Época Greco-Romana foi associado ao deus Serápis. 
Apophis ou Apópis - Grande serpente celeste inimiga da barca solar constituindo o 
elemento desarmônico no Universo. Representante das forças negativas que 
ameaçam a Criação. 
Áton - Nome do disco solar que, no Período Amarniano, torna-se a expressão única 
do Criador. Seus principais centros de culto foram Akhetaton (Tell el Amarna) e 
Tebas. Inicialmente cultuado sob a forma de um homem com cabeça de falcão 
(hieracocéfalo) passou, na Época Amarniana, a ser representado pelo disco solar 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 138
cujos raios terminavam em mãos que seguravam o ankh, símbolo da vida, e o 
was, símbolo do poder. Divindade cultuada pelo casal real, Akhenaton e 
Nefertiti, os intercessores privilegiados entre Áton e a humanidade. Seu culto 
desaparece com a morte de Akhenaton. 
Astarte - Divindade fenícia cujo culto desenvolveu-se em Mênfis a partir do Novo 
Império. Era a deusa da lua, da fecundidade e da guerra. Os egípcios tornaram-
na filha do deus sol Rê e esposa de Seth. 
Atum - Cultuado em Heliópolis (Cairo). Deus antropomórfico que usa a coroa dupla. 
Seu nome significa “A Totalidade”. Assimilado ao sol da noite é considerado a 
forma do demiurgo e o chefe da Enéade Heliopolitana. Por sua criadora e sua 
vontade ele emergiu do Nun criando o primeiro casal divino, Shu e Tefnut. 
Segundo a teologia Heliopolitana ela coexistiu cm o deus Rê. Os animais 
atribuídos a ele são a enguia e o mangusto. 
Baal - Deus fenício cultuado em Mênfis pelos cananeus e era identificado aos deuses 
Seth e Montu. 
Bastet - Cultuada em Bubástis no Baixo Egito. De origem arcaica era representada 
por uma mulher com cabeça de gata ou por uma gata. Era a personificação do 
caráter sereno e do aspecto benéfico do poder solar e associada à perigosa deusa 
leoa Sekhmet. No Período Tardio formou uma tríade com o deus Atum, como 
esposo, e o deus Mahés, como filho. Era a deusa da alegria, da música e da 
família. Muitas festas eram dedicadas a ela estatuetas de gato em bronze e gatos 
mumificados eram colocados nas necrópoles de Bubástis e Saqqara, como ex-
voto à deusa. 
Bés - Anão grotesco e barbudo vestindo uma pele de felino. Era um deus protetor 
muito popular que afastava o mal e as doenças e protegia o sono e as 
parturientes. 
Filhos de Hórus - Quatro deuses responsáveis pela proteção dos órgãos internos 
embalsamados durante a mumificação. Eram identificados aos quatro cantos do 
mundo e cada um guardado por uma deusa funerária tutelar. Imset - sul - 
cabeça humana - fígado - Ísis; Hapy - norte - babuíno - pulmão - Néftis; 
Duamutef ou Tuamutef - leste - chacal - estômago - Neith e Qebehsenuef - oeste 
- falcão - intestino - Serket, todos têm corpo humano mumificado. 
Geb - Deus da Enéade Heliopolitana, filho de Shu e irmão de Nut. Representado como 
um homem nu deitado e algumas vezes com um ganso na cabeça. Representava 
a Terra. algumas era considerado como o pai de Rê e era quem legitimava a 
realeza. Os animais atribuídos a ele são o crocodilo e o ganso. 
Hapi - Personificação da inundação. Representado como uma figura andrógina. 
Portador de alimentos e riquezas dos campos. 
Harpócrates - Representado como uma criança com o dedo na boca. Filho de Ísis e 
Osíris. Era um deus protetor das crianças e da família. 
Háthor - Cultuada em Dendera, mas popular em todo o Egito. Representada como 
uma mulher com chifres de novilha e o disco solar e algumas vezes como uma 
vaca. Era uma divindade maternal, Mãe do Sol, ligada ao nascimento dos mortos 
e sua protetora. Foi bastante popular também como deusa da beleza, da alegria, 
do amor, da dança e da música. Identificada ao olho de Rê. 
Hórus - Cultuado em Hieracômpolis. Identificado a várias divindades por 
todo o Egito. Deus antropomórfico com cabeça de falcão ou como um falcão. 
Originariamente era um deus do céu que reinava sobre os astros, tornou-se 
deus dos soberanos. Foi um deus real, protetor do faraó, filho de Ísis e Osíris 
e adversário de Seth. 
Ísis - Deusa antropomórfica cujo culto se espalhou por todo o Egito e na 
Época Romana por todo o Império. Irmã e esposa de Osíris,mãe de Hórus. 
Identificada a várias outras deusas. Era a deusa da magia e da ressurreição. 
 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 139
Khepri - Cultuado em Heliópolis (Cairo). Deus antropomórfico com cabeça de 
escaravelho ou como um escaravelho. Era o símbolo do sol e do renascimento 
cotidiano de Rê. 
Khnum - Cultuado em Esna e na Ilha de Elefantina. Deus antropomórfico com 
cabeça de carneiro. Era o oleiro divino que modelava toda a humanidade em seu 
torno. Era um dos patronos dos artistas. 
Khonsu - Cultuado em Tebas. Filho de Ámon e Mut. Aparece sob a forma de um 
jovem mumificado com um disco lunar sobre a cabeça. Identificado com as 
forças noturnas e com o brilho da Lua. 
Maat - Deusa antropomórfica coroada com uma pluma de avestruz. 
Representava uma concepção teológica ligada à justiça, à ordem e ao equilíbrio. 
Representava a ética segundo a qual a humanidade deveria agir em 
concordância com uma consciência universal. 
Min - Cultuado em Coptos. Deus antropomórfico, com o corpo mumificado, e 
com o falo em ereção. Coroado com um barrete com duas plumas. Seu braço 
direito ergue-se sustentando o flagelo. Deus da criação e da reprodução. 
Identificado a Amon. 
Montu - Cultuado em Tebas. Deus antropomórfico com cabeça de falcão com 
dois Uraeus. A partir da XI dinastia tornou-se o deus da guerra. 
Mut - Representada por um abutre ou por uma mulher coroada com a cabeça e as 
penas de um abutre. Esposa de Ámon e mãe de Khonsu na Tríade Tebana. Seu 
nome significava “A Mãe”. 
Nefertun - Deus representado pelo lótus ou por um homem coroado por uma flor de 
lótus. Simbolizava a origem dos tempos, o sol primordial. Era o deus dos 
perfumes. 
Néftis - Representada por uma mulher. Esposa e irmã de Seth e irmã de Ísis. Ajudou 
a sua irmã a recompor o corpo de Osíris tornando-se uma das deusas da 
ressurreição. 
Neith - Cultuada em Sais. Deusa guerreira e caçadora. Representada como uma 
mulher com a coroa vermelha do Baixo Egito. Era uma deusa primordial e 
criadora que não era associada a nenhum deus, pois era possuidora de uma 
bissexualidade original. 
Nekhbet - Cultuada em Nekheb ao sul de Luxor. Representada por um abutre 
branco. Era protetora do faraó e da coroa branca do Alto Egito. 
Num - O Oceano Primordial que existia antes da Criação e que circunda a periferia do 
mundo criado. 
Nut - Cultuada em Heliópolis (Cairo). Representada por uma 
mulher. Era a deusa do Céu e da Abóbada Celeste que todas 
as noites engolia o sol para dar à luz todas as manhãs a um 
novo. 
Osíris - Originário de Busíris (Delta). Foi uma das divindades 
mais populares em todo o Egito e em todos os tempos. Deus 
antropomórfico representado com o corpo envolto em 
bandagens usando a coroa-Atef e segurando nas mãos os 
cetros da realeza. Deus da vegetação era tido como o primeiro rei sobre a 
terra. Foi assassinado por seu irmão Seth e revivido por sua esposa e irmã 
Ísis que o ressuscitou através de seus conhecimentos mágicos com a ajuda 
de Toth e Anúbis quando, então, Osíris passa a reinar no Mundo dos Mortos 
como um juiz que pesa as ações dos mortos. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 140
 
Ptah - Cultuado em Mênfis. Era representado como uma múmia humana com 
um gorro justo na cabeça e com uma grande barba postiça. Deus criador, 
protetor dos artistas e artesãos, forma com Sekhemet, sua esposa, e Nefertun, 
seu filho, a Tríade Menfita. 
Rê - Cultuado em Heliópolis (Cairo). Seu culto estendeu-se por todo o Egito. 
Era representado com o corpo humano e uma cabeça de falcão sobre a qual 
estava o disco solar que era circundado por uma serpente. Era o demiurgo, 
criador da Enéade e do Universo. Todos os grandes deuses eram associados a 
ele, principalmente Ámon, com o qual tornou-se a grande divindade dinástica 
do Novo Império. Grandes “livros” teológicos descreviam a viagem de Rê em 
uma barca que durante a noite percorria o Mundo dos Mortos até a sua 
ressurreição ao amanhecer sob a forma do escaravelho Khepri. 
Renunet - Representada como uma mulher com cabeça de serpente ou como 
uma serpente. Era deusa das colheitas e a senhora dos grãos. 
Sekhmet - Cultuada em Mênfis. Representada como uma mulher com cabeça 
de leoa ou uma leoa. Divindade guerreira que representava o aspecto 
destruidor do sol. Seus emissários traziam a morte e as doenças. Era temida 
por representar o poder mágico dos deuses. 
Selkis/Selkit - Representada como uma mulher com um escorpião sobre a 
cabeça. Era a protetora dos mortos e possuía um papel profilático contra os 
venenos. 
Serápis - Criado no Período Ptolomaico como deus da corte correspondia às 
antigas divindades funerárias menfitas. Associado a Osíris e Ísis. 
Seshat - Representada como uma mulher vestida com uma pele de leopardo e 
coroada com uma estrela de sete pontas. Era deusa da escrita, da 
agrimensura e arquitetura. Era a companheira de Toth. 
Seth - Originário do Fayum. Era um deus híbrido formado por partes de 
diversos animais. Irmão e assassino de Osíris representava a ignorância e as 
influências nefastas presentes no Mundo. 
Shu - Deus antropomórfico coroado com uma pluma que simboliza seu nome. 
Deus do espaço aéreo que separa a Terra (Geb) do Céu (Nut). Sua esposa e 
irmã é Tefnut. 
Sobek - Originário do Fayum. Representado com o corpo humano com cabeça 
de crocodilo ou um crocodilo. Era um deus criador ligado às forças do Nilo. 
Sokáris - Cultuado em Mênfis. Representado como um homem com cabeça 
de falcão ou por um falcão mumificado. Deus funerário associado a Ptah e 
Osíris. Era o patrono dos artesãos. 
Tefnut - Cultuada em Heliópolis (Cairo). Representada como uma mulher 
com cabeça de leoa. Simbolizava a umidade na teologia Heliopolitana. É irmã 
e esposa de Shu. 
Toth - Originário de Hermópolis. Representado como um homem com cabeça 
de Íbis e também sob a forma de um babuíno. Era o deus das operações 
intelectuais, da escrita, das línguas e da sabedoria. Era o protetor dos 
escribas e dos mágicos. 
Toueris/Taueret - Deusa híbrida parte hipopótamo, leão e crocodilo. Divindade que 
aparece no Novo Império muito popular por ser a protetora das parturientes, dos 
recém-nascidos e das crianças. 
Uadjet - Cultuada em Buto (Delta). Representada como uma mulher com cabeça de 
cobra ou uma cobra. Simboliza o Baixo Egito. É a protetora da coroa vermelha e 
junto com Nekhbet protege o faraó e a realeza. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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XIV. GLOSSÁRIO TOPOGRÁFICO 
 
Abidos ou Ábidos - centro religioso do Alto Egito na margem oeste do Nilo a 168km 
ao norte de Luxor cujo deus principal era Osíris. Sua origem remonta aos 
Períodos Pré-dinásticos e seu principal templo foi construído por Séthi I e 
Ramessés II. 
Abu Gurob - localidade situada ao norte de Saqqara onde se encontram os templos 
solares da V dinastia, em particular aquele de Niuserrê. 
Abu Roash - localidade a 9km de Giza e que fazia parte da antiga necrópole onde se 
encontra a pirâmide de Djedefre da IV dinastia. 
Abu Simbel - nome de uma antiga vila situada a 280km ao sul de Assuã, na margem 
oeste, e onde se encontra o mais importante templo rupestre construído por 
Ramessés II em honra do deus sol e o templo da rainha Nefertari dedicado à 
deusa Háthor. 
Abuquir (Canopo) - localidade do Período Ptolomaico localizada a 45km de Alexandria 
às margens do Mediterrâneo e onde se encontrava um dos célebres Serapeum. 
Abusir (Taposíris Magna) - localizada entre Giza e a norte de Saqqara. Designa a 
necrópole real e os templos solares da V dinastia. 
Akhetaton - ver Tell el-Amarna. 
Akhimim (Chemmis, Panópolis) - cidade situada na margem leste do Nilo 
aproximadamente a 200 km ao norte de Luxor. Foi a capital do 9º Nomo do Alto 
Egito cujo deus era Min. 
Alexandria - cidade às margens do Mediterrâneo, fundada por Alexandre, o Grande, 
em 332 a.C., capital e residência dos Ptolomeus. Célebre pelo farol e por sua 
biblioteca. 
Amada (Hamadah) - localizada na Núbia, na margem ocidental do Nilo, cerca de 
50km ao norte de Aniba, onde o faraó Thutmés IIIalém de um único rei, parece neste momento não 
haver além de um único morto, seu corpo deve ser protegido por um complexo 
funerário e a sua existência assegurada por toda a eternidade. Com a sua 
morte confundem-se o destino de toda a sociedade, uma luta contra a morte e 
a desordem social. 
A concepção de um mundo dos mortos localizado em um céu inferior foi 
mantida. A princípio, o sol após ter percorrido o céu superior, mergulhava ao 
ocidente no mundo subterrâneo que iluminava durante a noite. Ele utilizava 
cotidianamente duas barcas na realização de seu périplo: a barca mandjet 
(manDt) pela manhã, cujo nome significa algo como “estar em 
boa saúde”, “estar intacto” ou ainda “aquela que pertence à luz do dia” e a 
barca meseket (mskt ou msktt) à noite que significa 
“desaparecer pouco a pouco”, uma alusão à luz crepuscular. 
Se fora fácil adaptar a concepção estelar à doutrina solar, o mesmo não 
ocorreu a Osíris, cuja origem era completamente estranha ao mundo solar. 
Esta conciliação somente foi possível por razões políticas que tiveram, sem 
dúvida, um papel maior que as afinidades teológicas. Osíris tornara-se tão 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 10
construiu um templo em 
honra a Ámon-Rê e Rê-Horakhty, concluído por Séthi I. 
Aniba - cidade da Baixa Núbia entre a 1ª e a 2ª Catarata. Local de importância 
comercial e militar desde o Antigo Império, a cidade foi fortificada durante o 
Médio Império. 
Antinópolis (Antinoe, Sheikh Aibada) - cidade do Médio Egito fundada pelo 
imperador romano Adriano em 30 de outubro de 130 e que possuía um teatro, 
um hipódromo e ruas luxuosas. 
Armant (Ermant, Hermonthes) - cidade que se encontra na margem oeste do Nilo a 
20km ao sul de Luxor. De origem Pré-histórica onde foi cultuado o deus Montu. 
Assassif - nome dado a uma das regiões da necrópole tebana. Próxima ao templo de 
Deir el-Bahri com tumbas do Período Ramessida, da XXV e XXVI dinastias. 
Assiut (Licópolis) - cidade na margem oeste do Nilo a 407km ao sul do Cairo. Capital 
do 13º Nomo do Alto Egito onde era cultuado o deus Up-Uaut e de onde partiam 
as caravanas para os oásis. Onde se encontram as tumbas da IX, X, XII e XIX 
dinastias. 
Assuã (Siena) - cidade na margem leste do Nilo próxima à 1ª catarata. Foi a capital do 
1º Nomo do Alto Egito onde eram cultuados os deuses Khnum e Satis. 
Athribis (Benha, Tell Atrib) - capital do 10º Nomo do Baixo Egito na margem direita 
do braço Damieta do Delta do Nilo onde era cultuado um deus falcão 
identificado a Hórus. 
Avaris ou Aváris (Tell ed-Daba) - capital dos reis hicsos no Delta oriental do Nilo. 
Babilônia - nome de uma fortificação romana atualmente no Cairo Velho. 
Baharia - oásis do deserto líbio a oeste do Nilo ocupado desde o Período Paleolítico, 
tornando-se famoso ela produção de vinho, a partir do Médio Império, 
principalmente durante o Período Romano. 
Beni Hassan - cidade do Médio Egito na margem leste do Nilo onde se encontra a 
necrópole dos príncipes do 16º Nomo do Alto Egito, da XI e XII dinastias. 
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 142
Bubástis (Tell Basta) - cidade do Delta do Nilo capital do 18º Nomo do Baixo Egito 
onde era cultuada a deusa gata Bastet e foi a capital dinástica da XXII e XXIII 
dinastias. 
Buhen - antiga cidade fortificada que faz fronteira à 2ª catarata, próxima a Wadi 
Halfa, onde se encontrava uma grande fortaleza da XII dinastia. Hoje submersa. 
Busíris - cidade ao sul do braço Damieta do Delta do Nilo capital do 9º Nomo do 
Baixo Egito onde havia um santuário ao deus Osíris. 
Buto (Tell el-Farain) - cidade a noroeste do Delta do Nilo onde era cultuada a deusa 
serpente Uadjet símbolo do Baixo Egito. 
Cairo - capital do Egito fundada pelos árabes em 641. 
Cinópolis - capital do nomo de época Ptolomaica. 
Coptos (Quft, Iseun) - cidade localizada na margem leste aproximadamente a 40km 
ao norte de Luxor. Foi a capital do 5º Nomo do Alto Egito e ocupou uma posição 
de destaque como ponto de partida para caravanas e expedições em direção ao 
Mar Vermelho. Era a sede de culto do deus Min. 
Crocodilópolis - antiga capital do oásis fundada no Médio Império onde foi cultuado 
o deus Sobek e durante o Período Ptolomaico a rainha Arsinoe. 
Dahshur - cidade situada aproximadamente a 26km ao sul de Giza e que dá o nome a 
uma parte da necrópole ao sul de Saqqara. Possui túmulos da IV e XII dinastias 
destacando a pirâmide romboidal e a pirâmide vermelha do faraó Snefru e as 
pirâmides de Amenemhat III e Senusret III. 
Dakhla - oásis do deserto ocidental aproximadamente na altura de Luxor a 200km a 
oeste de Kharga. Possui vestígios de ocupação desde o paleolítico e 
principalmente do Período Ptolomaico. 
Deir el-Medina - região mais meridional da necrópole tebana que compreende as 
tumbas, as capelas e uma vila de operários responsáveis pela escavação e 
decoração das tumbas reais da XVIII a XX dinastias. 
Deir el-Bahari - nome de uma parte da necrópole tebana onde se encontram os 
templos funerários de Mentuhotep Nebhepetre, Hatshepsut e Thutmés III, além 
de um grande número de tumbas particulares da XVIII dinastia. 
Deir el-Ballas - localidade próximo a Coptos no 5º Nomo do Alto Egito, vizinho a 
Naqada, que contém cemitérios Pré-históricos, monumentos do Médio Império e 
vestígios importantes de palácios do Médio Império. 
Dendera (Tentyris) - cidade do Alto Egito na margem oeste do Nilo capital do 6º 
Nomo do Alto Egito. Famosa pelo templo bem conservado, de época Greco-
Romana, da deusa Háthor. 
Dra Abu el-Naga - parte setentrional da necrópole tebana com importantes tumbas 
decoradas de funcionários do Médio Império. 
Edfu - capital do 2º Nomo do Alto Egito onde se encontra um templo, de época Greco-
Romana, bem conservado dedicado ao deus Hórus. 
El-Amra - cidade situada a 9km ao sul de Abidos onde foram encontradas duas 
necrópoles Pré-históricas cujas sepulturas datam do Naqada I ao Período Proto-
dinástico. 
El-Ashimunin - ver Hermópolis. 
El-Badari - cidade do Alto Egito na margem leste do Nilo ao sul de Assiut onde foram 
encontradas importantes sepulturas Pré-históricas de uma cultura neolítica. 
Elefantina - ilha localizada diante da cidade de Assuã. Ocupada desde a época Pré-
dinástica possuía um templo consagrado aos deuses Khnum e Satis. 
El-Kab (Nekheb) - capital do 3º Nomo do Alto Egito de grande importância religiosa 
desde a Pré-história até a época Bizantina. Era o local de culto da deusa abutre 
Nekhbet, símbolo do Alto Egito. 
El-Khokha - necrópole em Tebas ocidental a sudoeste de Deir el-Bahari com tumbas 
decoradas datadas da XVIII e XIX dinastias. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 143
El-Lisht (Lisht) - na margem esquerda do Nilo onde está a necrópole da capital da XII 
dinastia. Destacando-se as pirâmides de Amenemhat I, Senusret I e de seus 
familiares. 
El-Tarif - necrópole em Tebas ocidental na extremidade norte onde as tumbas de 
particulares pertencem, em sua maioria, a XI dinastia. 
Esna (Latópolis) - cidade situada na margem oeste do Nilo a 60km ao sul de Luxor. 
Possui vestígios de um templo Greco-Romano dedicado a Khnum. 
Farafra (Farafre) - oásis do deserto líbio, ocupado desde Paleolítico Superior, aparece 
citado no Período Histórico em documentos da V dinastia. No Período Romano 
foi o local de uma necrópole rupestre. 
Fayum - depressão no deserto a sudoeste do Cairo, habitualmente considerado como 
um oásis, ligado ao Nilo por braço fluvial. 
Gebel Barkal - montanha sagrada localizada na Alta Núbia, ao sul da 3ª Catarata do 
Nilo, próximo à Napata. É uma grande formação rochosa com o topo plano nos 
pés do qual foi construído um grande templo a Ámon, na XVIII dinastia. 
Gebel Silsilah - pedreiras de grés situadas ao norte de Kom Ombo. 
Gebelein - ver Crocodilópolis. 
Gerf Hussein - localizado na Núbia onde Ramessés II construiu um templo em honra 
a Ptah. 
Giza - parte da necrópole de Mênfis atualmente um bairro a oeste do Cairo. 
Caracterizada pelas grandes pirâmides da IV dinastia e a grande esfinge. 
Gurna - designação geral dada à necrópole tebana, às tumbas e sepulturas datadas 
do final do Antigo Império até a Época Romana. 
Gurnet Murai - nome da colina que se encontra ao sul da necrópole tebana, situada 
acima de Deir el-Medina, contendo um pequeno número de tumbas decoradas 
do Novo Império. 
Hawara - sítio a sudoeste do Fayum onde se encontra a pirâmide de Amenemhat III e 
uma necrópole do Médio Império, da Baixa Época e do Período Greco-Romano. 
Heliópolis (On, Iunu) - a nordeste do Cairo era a capital do 13º Nomo do Baixo Egito 
e um dos grandes centros espirituais do país. 
Heracleópolis Magna (Ahnas el-Medina) - capital do 20º Nomo do Alto Egito a 15km 
a oeste de Beni Husef. 
Hermontis - a 20km ao sul de Luxor na margem esquerda do Nilo capital do 4º Nomo 
do Alto Egito até a XVIII dinastia. Era o local de culto do deus Montu. 
Hermópolis Magna (El-Ashmuneim) - capital do 15º Nomo do Alto Egito cuja 
principal divindade era o deus Thoth. 
Hermópolis Parva - capital do 15º Nomo do Baixo Egito no Delta do Nilo com 
vestígios de um templo de Thoth da Baixa Época. 
Hieracômpolis (Nekhen, Kom el-Hamar) - a 20km ao norte de Edfu na margem 
oestedo Nilo de frente para El-Kab. Foi uma das mais antigas capitais do Egito 
(Nekhem). 
Illahun (El-Lahun, Khaun) - cidade da margem oeste do Nilo no mesmo nível que o 
Fayum, onde se destacam as pirâmides de Senusret II e Senusret III. 
Kalabsh (Talmis) - um dos centros mais importantes da Baixa Núbia. Possuía um 
templo dedicado ao deus Mandulis, construído pelo imperador Augusto. 
Karnak - sítio localizado a 2km ao norte de Luxor. Famoso pelo maior complexo de 
templos de todo o Egito dedicado a Ámon, Amut, Khonsu e Montu. 
Kharga - oásis do deserto ocidental aproximadamente na mesma altura que Luxor 
cujo principal monumento é o templo oracular de Ámon. 
Kom-Ombo - sítio na margem direita do Nilo a 45km ao norte de Assuã. Célebre pelo 
templo duplo do Período Ptolomaico e Romano consagrado a Sobek e Hórus. 
Kush - região da Alta Núbia que se estende do sul da 2ª até a 4ª catarata. Foi uma 
colônia egípcia durante o Médio Império e sede de um vice-reino durante o Novo 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 144
Império. De sua capital, Kherma, saíram os reis que conquistaram o Egito 
fundando a XXV dinastia. 
Luxor - cidade do Alto Egito a 729km ao sul do Cairo situada na região tebana onde 
se destaca o templo construído por Amenhotep III. 
Malqata (Malgatta) - na margem ocidental de Tebas onde se localizava o palácio 
residencial de Amenhotep III e de sua esposa, a rainha Tiy. 
Medinet Habu - nome moderno que designa o templo funerário de Ramessés III na 
margem ocidental de Tebas. 
Meidum - cidade a 75km ao sul do Cairo na margem oeste do Nilo onde se encontra a 
necrópole do final da III e IV dinastias célebre pela pirâmide inacabada de Huni 
concluída por Snefru. 
Meir (Cusae, Khis, Qis) - capital do 14º Nomo do Alto Egito, na margem ocidental do 
Nilo ao sul de Tuna el-Gebel e ao norte de Assiut. Necrópoles da VI e da XII 
dinastias. 
Mendes (Djedet, Tell er-Ruba) - cidade do Delta Oriental habitada desde o Período 
Pré-histórico até o Período Ptolomaico. Era o local de culto de um carneiro 
sagrado. 
Mênfis - localizada a 20km ao sul do Cairo. Foi a capital do 1º Nomo do 
Alto Egito e a capital do país durante o Antigo Império, mantendo em seguida a 
posição de capital administrativa do Egito. Possui uma grande necrópole que se 
estende de Abu Roash a Dahshur englobando a necrópole de Saqqara. 
Meroi - capital dos reis de Kush entre a 5ª e 6ª cataratas a nordeste de Cartum. 
Mirgissa - localizado na Alta Núbia, na 2ª catarata do Nilo, na margem ocidental, foi o 
local de uma fortaleza construída na XII dinastia que controlava as rotas 
comerciais que ligavam o Egito à Núbia. 
Napata - localizada na Alta Núbia, antiga capital do reino de Kush, próxima da 4ª 
catarata do Nilo. Conquistada por Thutmés III possuiu um papel preponderante 
no comércio até o Período Romano. Os reis locais assimilaram os costumes 
faraônicos e deuses egípcios, principalmente Ámon. 
Naqada - vila ao norte de Luxor que dá nome a uma necrópole e uma cultura Pré-
histórica. 
Náucratis ou Naucrátis (Kom Gaif) - cidade do Delta do Nilo fundada por gregos no 
VI século a.C. com santuários dedicados a Apolo, Hera, Atenas e Afrodite. 
Núbia - região que se encontra ao sul da 1ª catarata de Assuã se estendendo ao sul 
até Dongola. Atualmente sua parte setentrional pertence ao Egito e o restante do 
seu território ao Sudão. 
Oxyrhynchos (Per-Medjeb, el-Bahnasa) - cidade do Médio Egito, na margem 
ocidental do Bahryussuf, capital do 19º Nomo do Alto Egito. 
Pelusi (Tell el-Farama) - a 20km a leste do Canal de Suez às margens do 
Mediterrâneo. Importante cidade comercial. 
Pharus - ilha diante de Alexandria célebre pelo seu farol. 
Philae - ilha que se encontra ao sul de Assuã e da 1ª catarata com um santuário 
dedicado à Ísis do Período Ptolomaico e Romano. 
Pi-Ramessés (Qantir, Kantir) - residência dos reis ramessidas a noroeste do Delta do 
Nilo. 
Punti - território provavelmente situado ao norte da Eritréia e a leste do Sudão que 
mantinha o comércio de ouro, marfim, ébano além de outras variedades de 
madeira, macacos, babuínos, girafas, cães, panteras e pigmeus com o Egito. 
Ramesseum - templo memorial ou funerário de Ramessés II situado na Necrópole 
Tebana. 
Sais (Sa el-Hagar) - a nordeste do Delta do Nilo, próximo a Roseta, capital do Egito 
durante a XXVI dinastia. Local de culto da deusa Neith. 
Saqqara - local da imensa necrópole de Mênfis na margem oeste do Nilo ao sul do 
Cairo utilizada durante toda a antigüidade. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 145
Sebennytos (Samanhud, Behbeit el-Hagar) - cidade do Delta, capital da XXX 
dinastia onde eram cultuados os deuses Onúris e sua esposa Tefnut e Ísis. 
Sedeinga - cidade da Núbia, na margem ocidental do Nilo, entre a 2ª e a 3ª catarata 
ao norte de Soleb. Local de uma necrópole meroítica e de um templo construído 
por Amenhotep III, consagrado a sua esposa Tiy. 
Sehel - ilha a 6km ao sul de Elefantina onde estão centenas de grafitos de várias 
épocas da história egípcia. 
Semna - localizada na Núbia, na margem ocidental do Nilo, próxima a 2ª catarata 
onde o faraó Senusret III construiu uma importante fortaleza que controlava a 
fronteira do Egito e as rotas comerciais. 
Serabid el-Khadim - a 160km a sudoeste do Canal de Suez na península do Sinai. 
Local de importantes minas de cobre, turquesa e malaquita além de um templo 
dedicado a Háthor. 
Serapeum - região da necrópole de Saqqara consagrado, originalmente, para o 
sepultamento dos touros Ápis consagrados a Ptah e Osíris. 
Sheikh Abd el Gurna - parte central da necrópole tebana que se estende da falésia 
até a planície com tumbas da metade e do final da XVIII dinastia. 
Sinai - península ocupada pelos egípcios desde a III dinastia, explorada por missões 
mineradoras para extração de cobre, malaquita e turquesa. Onde foi construído 
o templo de Serabid el-Khadim. 
Siuah (Siwa) - o mais ocidental dos oásis do Egito a 600km de Alexandria. Ocupado 
desde o Paleolítico, destacou-se na XXVI dinastia com a construção do templo 
com o oráculo de Zeus-Ámon. 
Soleb - localizado na Núbia, na margem ocidental do Nilo, entre a 2ª e a 3ª catarata, 
era o local de uma grande necrópole do Novo Império e de um templo construído 
por Amenhotep III. 
Tânis (Sam el-Hagar) - situado a 20km a sudoeste do Delta oriental do Nilo. Foi a 
capital do Egito durante a XXI e XXII dinastias e onde foram descobertos os 
túmulos de Psusennes I, Osorkon III e Sheshonq III. 
Tebas (Dióspolis Magna) - capital religiosa do Egito a partir do Novo Império. O nome 
designa a região que se estende nas duas margens do Nilo onde se encontram os 
templos de Luxor e Karnak (na margem direita) e os templos funerários, o Vale 
dos Reis, o Vale das Rainhas e as tumbas particulares (na margem esquerda). 
Tell el-Amarna - cidade construída pelo faraó Akhenaton para sua capital na margem 
oriental do Nilo, no Médio Egito, cujo nome antigo era Akhet-Aton e o significado 
era “Horizonte de Aton”. 
This (Thinis, Naga ed-Deir) - cidade do Alto Egito capital provável do 8º Nomo, na 
margem oriental do Nilo, diante de Abidos. Capital da I e II dinastias. 
Tôd (Djerty, Tuphiun) - cidade na margem oriental do Nilo a 20km ao sul de Luxor. 
Ocupada desde a I dinastia ficou famosa pelo "tesouro" encontrado nas 
fundações do Templo de Montu, datado do Médio Império. 
Tuna el-Gebel - cidade localizada na entrada do deserto a oeste de Hermópolis 
tornando-se a sua necrópole na XVIII dinastia. 
Tura - pedreiras de calcário na margem leste do Nilo ao sul do Cairo que forneceu os 
materiais para a edificação das melhores construções funerárias de Mênfis. 
Vale das Rainhas (Biban el-Harim) - em Tebas ocidental ao sul de Deir el Medina 
onde se encontram as sepulturas das rainhas e dos príncipes da XIX e XX 
dinastias. 
Vale dos Reis (Biban el-Moluk) - em Tebas ocidental onde se encontram 64 
sepulturas da XVIII a XX dinastias. 
Wadi es-Sebua - localizado na Baixa Núbia onde Ramessés II construiu um templo 
em honraa Ámon-Rê e Rê-Harmakhis. 
Wadi Hammamat - importante via de comunicação com o Mar Vermelho e local de 
exploração de pedreiras desde o Antigo Império até o Período Romano. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 146
Wadi Maghara - localizado no Sinai onde era extraída a turquesa, desde o Antigo 
Império, em minas subterrâneas e onde existia uma cidade. 
Wadi Natrun - depressão desértica entre o Cairo e Alexandria de onde era extraído o 
natrão para o embalsamamento dos corpos. 
Xois (Chois, Sakha) - cidade do Delta setentrional. Até o Médio Império foi uma 
cidade de menor importância, tornando-se durante a XIV dinastia capital de um 
reino independente no 6º Nomo do Baixo Egito. 
 
XV. CRONOLOGIA 
Todas as datas anteriores à XXVI dinastia são incertas 
 
PALEOLÍTICO - 500.000-5500 a.C. 
PALEOLÍTICO INFERIOR - 500.000 a.C. 
PALEOLÍTICO MÉDIO - 100.000 a.C. 
PALEOLÍTICO SUPERIOR - 30.000 a.C. 
EPI-PALEOLÍTICO - 10.000-5500 a.C. 
 
PRÉ-DINÁSTICO - 5500-3050 a.C. 
Pré-dinástico Inicial 
Alto Egito: Badariense - 5500-4200 a.C. 
Baixo Egito: Fayum A/Merimda 
Pré-dinástico Médio 
Alto Egito: Amratense (Naqada I) - 4200-3700 a.C. 
Baixo Egito: Omari A(?) 
Pré-dinástico Tardio 
Alto Egito: Gerzense Primitivo (Naqada II) - 3700-3250 a.C. 
Baixo Egito: Omari B(?) 
Protodinástico 
Gerzense Tardio (Naqada III) - 3250-3100 a.C. 
Dinastia “0” (Naqada IIIC)- 3150-3050 a.C. 
 
DINÁSTICO INICIAL (THINITA ou ARCAICO) 
I dinastia - 2920-2770 a.C. 
II dinastia -2770-2649 a.C. 
 
ANTIGO IMPÉRIO (IMPÉRIO MENFITA) - 2575-2134 a.C. 
III dinastia - 2649-2575 a.C. 
IV dinastia - 2575-2465 a.C. 
V dinastia - 2465-2323 a.C. 
VI dinastia - 2323-2150 a.C. 
 
PRIMEIRO PERÍODO INTERMEDIÁRIO - 2134-2040 a.C. 
VII e VIII dinastias - 2150-2134 a.C. 
IX e X dinastias (Heracleopolitanas)- 2134-2040 a.C. 
XI dinastia (início) - 2134-2040 a.C. 
 
MÉDIO IMPÉRIO (I IMPÉRIO TEBANO) - 2040-1640 a.C. 
XI dinastia (final) - 2061-1991 a.C. 
XII dinastia - 1991-1783 a.C. 
 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 147
SEGUNDO PERÍODO INTERMEDIÁRIO - 1640-1532 a.C. 
XIII dinastia - 1784-1650 a.C. 
XIV dinastia - 1720-1665 a.C. 
XV dinastia (Hicsos) - 1668-1560 a.C. 
XVI dinastia (Hicsos) - 1665-1565 a.C. 
XVII dinastia - 1640-1550 a.C. 
 
NOVO IMPÉRIO (II IMPÉRIO TEBANO) -1550-1070 a.C. 
XVIII dinastia - 1550-1307 a.C. 
XIX dinastia - 1307-1196 a.C. 
XX dinastia - 1196-1070 a.C. 
 
TERCEIRO PERÍODO INTERMEDIÁRIO - 1070-712 a.C. 
Reis-Sacerdotes Tebanos - 1080-945 a.C. 
XXI dinastia (Tanita) -1070-946 a.C. 
XXII dinastia (Tanita/Bubástida/Líbia)-946-712 a.C. 
XXIII dinastia (Líbios) - ca. 828-665 a.C. 
XXIV dinastia (Saíta) - 718-685 a.C. 
XXV dinastia (Núbios e Kushitas) - 767-656 a.C. 
 
PERÍODO SAÍTA - 664-525 a.C. 
XXVI dinastia - 664-525 a.C. 
 
PERÍODO TARDIO (BAIXA ÉPOCA) - 525-332 a.C. 
XXVII dinastia (I Período Persa) - 525-404 a.C. 
XXVIII dinastia - 404-399 a.C. 
XXIX dinastia - 399-380 a.C. 
XXX dinastia - 380-343 a.C. 
 
RECONQUISTA PERSA 
(II Período Persa) - 343-332 a.C. 
 
PERÍODO GRECO-ROMANO - 332 a.C.- 395 A.D. 
REIS MACEDÔNIOS - 332-305 a.C. 
PERÍODO PTOLOMAICO - 305-31 a.C. 
PERÍODO ROMANO - 30 a.C.-395 
 
PERÍODO BIZANTINO - 395-640 
 
PERÍODO ISLÂMICO - 640-1250 
Conquista do Egito por aAmr ibn al-aAss - 640-642 
Fundação do Cairo - 641 
Califado Omíada (Umayya) - 661 
Califado Abássida (al-Abbas) - 750 
Dinastia Tulunida (Ibn Tulun) - 868-905 
Retomada Abássida - 905 
Dinastia Ikhshidida - 935-969 
Dinastia Fatimida - 969-1171 
Saladino - 1164 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 148
Dinastia Ayyubida - 1171-1250 
 
PERÍODO MAMELUCO - 1250-1497 
Dinastia Mameluca Bahrita - 1250-1390 
Dinastia Mameluca Buída - 1382-1517 
 
PERÍODO OTOMANO - 1517-1805 
Expedição Napoleônica - 1798-1801 
 
PERÍODO MODERNO - 1805-até o presente 
Reinado de Muhammad Ali - 1805-1848 
D. Pedro I compra coleção egípcia para Museu Real - 1826 
Inauguração do Canal de Suez - 1869 
D. Pedro II visita o Egito - 1876/77 
Ocupação Britânica - 1882 
Palácio da Quinta da Boa Vista torna-se Museu Nacional - 1892 
Independência Egípcia - 1952 
 
XVI. SUGESTÕES: LIVROS, VÍDEOS E INTERNET 
 
ARTE E ARQUITETURA 
DONADONI, S. Museu Egípcio do Cairo. São Paulo: Melhoramentos, 1969. 
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MACAULAY, D. Construção de uma Pirâmide. São Paulo: Martins Fontes, 
1988. 
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(Col. Povos do Passado) 
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MILLARD, A. Os Egípcios. São Paulo: Melhoramentos, 1992. (Col. Povos do 
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na História) 
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Dentro) 
 
VIDEOS 
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Channel Video, Videos Abril, 1998. 
Cairo o Fascínio das Pirâmides, Col. Video Travel 17, Abril Coleções, 1997. 
Egito em Busca da Imortalidade, Col. Civilizações Perdidas, Time Life Video, 
Abril Coleções, 1997. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 151
Nilo o Rio dos Deuses, Discovery Channel, Mickinnon Films, Abril Video, 
1994. 
O Egito em Busca da Eternidade, National Geographic Society, WQED, Abril 
Video, 1982. 
 
INTERNET 
Devido à extraordinária mobilidade da internet, é difícil afirmar com 
segurança que as indicações abaixo já não estarão obsoletas no mesmo 
instante que esta lista for concluída. 
A classificação aqui presente é puramente subjetiva, já que muitos dos 
endereços possuem “links” que os interligam. 
 
 INSTITUTOS E ASSOCIAÇÕES 
Instituto Francês de Arqueologia Oriental - Cairo 
http://www.ifao.egnet.net 
 
Sociedade de Exploração Egípcia - Londres 
http://www.ees.ac.uk 
 
Conselho Supremo de Antiguidades - Cairo 
http://www.sca.gov.eg/index.html 
 
Griffith Institute - Londres 
http://www.ashmol.ox.ac.uk 
 
Theban Mapping Project 
http://www.thebanmappingproject.com/ 
 
Associação dos Estudantes de Egiptologia - França 
http://perso.club-internet.fr/thot_web/ 
 
MUSEUS 
Metropolitan Museum of Art - Nova York 
http://www.metmuseum.org 
 
Museé du Louvre - Paris 
http://cartelfr.louvre.fr 
 
Petrie Museum - Londres 
http://www.petrie.ucl.ac.uk 
 
British Museum - Londres 
http://www.thebritishmuseum.ac.uk/ 
 
OUTROS 
http://www.egiptologia.com/index.htm 
http://www.ancientegypt.co.uk/home.html 
http://www.wepwawet.nl/films/recorrera a um formalismo que conduzira à religião. 
A partir do Novo Império, um desenvolvimento da magia pela qual os 
homens buscaram determinar a vontade dos deuses, eles próprios: “Mortos são 
somente os que não conhecem as fórmulas mágicas, os outros vivem de 
eternidade em eternidade, como seu pai Rê no céu” (El Papiro Funerario de 
Khonsu-Thot). 
O símbolo torna-se uma proteção para o homem, exatamente como o 
conhecimento da verdade que ele recobre. Por conseguinte os amuletos e as 
figuras mágicas possuem um valor em si, expõem ou representam o símbolo 
equivalente da verdade que ele dissimula. 
Vemos então que se quisermos exprimir o que seria a morte para um 
egípcio seria necessário o uso da forma negativa, isto é‚ a não-vida ou a não-
existência, já que um homem morto não estaria, na concepção egípcia, 
verdadeiramente morto: “Eles (os mortos) não vão como mortos, eles vão como 
vivos” (PT 134). O que não é simples de ser entendido pela nossa mentalidade 
ocidental. O temor maior dizia respeito justamente a esta não-existência que 
se apresenta como uma segunda morte. O Cap. 175 do LdM intitula-se “de 
como não morrer uma segunda vez”, idéia presente ainda nos capítulos 44, 64, 
115, 136A, 127A e no CT 47b. 
Esta segunda morte era causada pela condenação da alma pelo tribunal 
divino diante de Osíris, pela incapacidade do morto em mover-se no Outro 
Mundo e pela perda do nome (memória). Portanto a segunda morte reporta-se 
à falta de condições que permitam à alma sobreviver, pois o corpo já se 
encontrava inanimado pela primeira morte. 
A morte em si não é capaz de colocar fim ou abreviar a existência a não 
ser de maneira parcial, a morte do corpo físico. Ela era acompanhada sempre 
de um grande perigo, o de extinguir a existência da alma, esta eventualidade 
deveria ser afastada com precauções na forma de fórmulas mágicas, amuletos 
e ritos bem determinados pelo Corpus Religioso. Os esforços depreendidos 
pelos egípcios na mumificação, no sepultamento e no mobiliário funerário são 
o testemunho deste temor da não-existência. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
 14
A morte física é sinônimo de rejuvenescimento, de renovação do que 
existe, é o caminho que conduz a uma nova existência. O morto é “um deus 
rejuvenescido que engendra o ‘Belo Ocidente’” (CT I, 88b). 
No “Livro do Amduat” na última hora da noite o deus-sol, acompanhado 
pelos mortos eleitos penetram como velhos, abatidos pela idade, no corpo de 
uma serpente gigantesca chamada “A que envolve o Mundo” e saem 
rejuvenescidos como crianças. Ao sair do Reino dos Mortos o deus-sol Rê é 
chamado “a criança”. 
 A Criação somente foi possível pela existência da morte, o Criador do 
mundo é responsável não somente pela existência de todos os seres vivos, mas 
também pelo fim deles (LdM Cap. 17). Os deuses, o rei, os homens e tudo o 
que pertence ao universo são dependentes de uma renovação perpétua 
somente possível através da morte, não se trata de uma simples realidade, 
mas de uma visão positiva essencial para a estrutura social egípcia. 
Segundo este conceito cada ser deve morrer a fim de poder regenerar-se, 
somente o não-existente estaria morto de maneira definitiva e permanente. A 
não-existência significava, de modo geral, o que é informe, inarticulado, 
ilimitado e não diferenciado. Em contra partida o existente é claramente 
definido, articulado e limitado, a existência pode ser ordenada, experimentada 
e renovada. Os termos utilizados para designar a não-existência são muitos: 
tm-wnn e mn-wn negações do verbo ser, iwty e iwtt literalmente “o que não é” 
ou “o que não existe”, nsd mt=f literalmente “quando não era (existia) ainda” 
utilizado para uma situação anterior à criação. 
 Do mundo criado, isto é, ordenado, fazem parte os mortos justificados, 
ao passo que aqueles que sofrem uma segunda morte são condenados a uma 
região completamente profunda, totalmente escura, infinita, um abismo 
aquoso onde as trevas indicam o estado anterior à Criação tornando-se um 
“não-existente” (LdM Cap. 175). 
Para este abismo devem ir Apópi, inimigo de Rê, e os inimigos do Egito 
pois não basta a sua morte, já que uma nova vida emerge da morte, é preciso 
expulsá-los do mundo existente. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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Portanto dentro deste “otimismo cósmico” das crenças religiosas egípcias 
a morte não é anárquica, pois possui modelos: o funeral real e os ritos 
osiríacos. 
No rico imaginário religioso egípcio a morte aparece como um 
acontecimento natural e desta forma alimenta uma visão otimista de perpétuo 
retorno e rejuvenescimento como o ciclo solar, o ciclo da vegetação, o ciclo da 
lua e o ciclo do Nilo. 
Este eterno retorno é o valor maior das crenças funerárias, presente 
desde os tempos mais antigos: “Vá para que tu retornes! Dorme para que tu 
despertes! Morra para que tu vivas” (PT 1975). 
 
II. ELEMENTOS NECESSÁRIOS AO PÓS-VIDA 
 
Desde os tempos mais remotos a sociedade egípcia estabeleceu práticas 
funerárias que visavam marcar a permanência da personalidade do indivíduo 
sem insistir em sua mudança de estado; para tanto uma “indústria” e uma 
técnica até certo ponto inigualáveis até os nossos dias, desenvolveu-se com o 
único propósito de tratar do cadáver e dos aspectos que envolvem a 
decomposição do ser biológico (mumificação, bandagens, sarcófagos etc.), mas 
também com a firme intenção de afirmar o ser social (túmulo, culto aos 
mortos, ritos funerários etc.) com o objetivo de perpetuar as relações sociais do 
morto (família, comunidade e Estado). 
Três elementos destacam-se como gerenciadores desta coesão social, 
mantenedores da personalidade do morto e de um valor metafísico 
indispensável à existência póstuma: o túmulo, habitação do morto e local de 
contato entre os vivos e o morto; e o nome, elemento de perpetuação da 
memória individual e coletiva e o ritual de oferendas, através do qual mantém-
se o contato entre vivos e mortos e entre gerações. 
O papel preponderante da tumba egípcia ‚ o de ser o local de contato 
entre o mundo terrestre e o Outro Mundo, entre os mortos e os vivos. A 
chegada do morto à tumba consagrava a sua entrada na eternidade. Desde os 
primeiros tempos, as tumbas aparecem como o local de um novo nascimento e 
a ruptura dos níveis de existência. Esta ruptura estaria simbolizada na 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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imagem do poço que liga e, ao mesmo tempo separa, os mortos dos vivos. No 
fundo do poço, os princípios espirituais constitutivos do homem falecido 
poderiam sobreviver próximo ao corpo imóvel e conhecer uma existência mais 
ou menos feliz segundo a sinceridade e a forma das manifestações do culto 
que os vivos devotavam aos mortos. Através deste verdadeiro “poço das almas”, 
estabeleciam-se as relações imaginárias entre mortos e vivos. 
Com a grave crise do Primeiro Período Intermediário, com o ampliar da 
base social da qual o Egito recrutava a própria classe dirigente, o túmulo 
passou a não mais constituir o objeto de uma concessão real, tornando-se a 
expressão da riqueza individual e símbolo da vontade de seu proprietário em 
“investir” no próprio destino póstumo, que até então era uma prerrogativa da 
aristocracia. 
O túmulo dos não privilegiados manteve-se praticamente inalterado 
desde os tempos pré-históricos. Trata-se de uma simples cova na zona 
desértica, muito semelhante àquelas que se encontram ainda hoje nos 
cemitérios muçulmanos mais pobres pelo interior do Egito; nos casos melhores 
o corpo era colocado no interior de um sarcófago de madeira de baixa 
qualidade e acompanhado por alguns objetos de uso pessoal e um punhado de 
amuletos. Sobre a mumificação não é o caso de se falar. Como bem informou-
nos Heródoto, existiam vários tipos de embalsamamentos segundo a 
possibilidade econômica da família do morto. O pobre poderia esperar somente 
a ação da natureza; envolto em um sudário, o corpo ressecava e se conservavagraças à proteção da areia quente e seca do deserto. 
Contudo, ao que se refere às tumbas dos mais afortunados e poderosos 
socialmente vemos que a forma do túmulo varia muito segundo a época, com 
características diversas de região para região em uma mesma época, segundo 
a natureza do solo na qual a tumba deveria ser escavada e naturalmente 
segundo a posição social de seu proprietário. 
Todas as tumbas egípcias compõem-se em duas partes mais ou menos 
independentes uma da outra, a câmara subterrânea e o maciço da 
superestrutura; este último não era, todavia, absolutamente indispensável ao 
descanso da alma do morto. A origem destes dois elementos não é a mesma, 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 17
i
B
correspondendo a dogmas funerários diferentes e seu desenvolvimento 
progressivo, ao longo dos séculos, ocorreu independentemente. 
A grande distinção não está na localização destas duas partes de todas 
as tumbas egípcias de alguma importância, uma no subsolo (a câmara) e outra 
acima do solo (a capela), pois existem tumbas, muito numerosas, que são 
inteiramente escavadas no solo (hipogeus). Os dois elementos arquitetônicos 
constituintes das sepulturas distinguem-se sobretudo pelo seu propósito, que 
não é a mesma. 
A câmara subterrânea tem por missão abrigar o corpo do morto, 
enquanto a capela é o local de encontro dos vivos com o morto, o local onde se 
desenvolvem os ritos ligados ao que chamamos de cultos funerários. A câmara, 
salvo raras exceções, é subterrânea, e em princípio inacessível aos vivos; a 
capela ao contrário, deve por definição ser acessível, mas pode ser construída, 
ou em um edifício sobre o solo acima da câmara, ou diante deste edifício, ou 
ainda à frente da câmara mortuária. É na capela que encontram-se as estelas 
funerárias, diante da qual se desenvolvem os ritos em memória do morto. 
A estela funerária é o suporte material da personalidade do morto, 
possui um valor evocador e assegura o contato entre o morto e os vivos, bem 
como sinal demarcatório de propriedade do túmulo que traz a identidade e a 
biografia do morto junto à fórmula de oferenda. A tumba é portanto o 
prolongamento e a promotora da integração da vida e da memória social para 
além da morte. Por sua monumentalidade e sua visibilidade a tumba é o meio 
com o qual o morto permanece presente na vida social. Como nas casas 
orientais o túmulo possui um local público (diwân), onde se desenvolve a vida 
social à qual se contrapõe um local privado (harîn) acessível somente ao 
proprietário. 
Para ascender ao status de proprietário de uma tumba e desfrutar de 
todos os ritos funerários o egípcio deveria possuir uma posição social 
denominada imakhu (im3xw ) cuja tradução pode ser “venerável”. Foi um 
epíteto aplicado aos deuses, aos reis e aos nobres, no caso dos mortos era 
aplicado aos bem aventurados, àqueles que foram considerados em vida justos 
e éticos, e após a morte tinham a sua memória reverenciada e eram honrados 
com oferendas funerárias. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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 Para tanto três requisitos eram necessários: 
- exercer uma função que lhe desse acesso ao artesanato, que no Egito 
faraônico era monopólio do estado, e aos meios necessários para pagar os 
artesãos e os operários responsáveis pela construção e decoração de sua 
tumba. 
- uma progenitura que se encarrega do culto funerário, o que 
demandaria bens suficientes para se fazer um legado testamentário capaz de 
suprir e realizar todas as cerimônias e rituais funerários. 
- possuir uma aprovação pública, um lugar bem assegurado na memória 
e na apreciação social. 
Qualquer que seja o seu título honorífico, todos os que possuem o título 
de imakhu tem, por definição, o status de um proprietário de um túmulo 
aprovado pelo reconhecimento público e com um lugar assegurado na 
memória social. O túmulo era, portanto, uma propriedade e o substrato 
material e visível da individualidade e ao mesmo tempo uma instituição social. 
A função do túmulo como local de contato entre os vivos e os mortos 
torna-se evidente quando nos defrontamos com uma categoria de objetos 
denominada “Cartas aos Mortos”. Criadas com o propósito de comunicar-se 
com os mortos, estas cartas remontam à VI dinastia e permaneceram em uso 
até a Baixa Época. Escritas sobre os recipientes cerâmicos destinados a conter 
as oferendas alimentares, para textos mais longos eram utilizados o papiro e 
tecidos, mas a grande maioria era escrita em tigelas para alimentos, eram 
depositadas diante da estela funerária sobre a mesa de oferendas Nestas 
cartas os vivos que se sentiam ameaçados por alguma pessoa já morta, 
escreviam a este rogando-lhe que cessem as hostilidades. Se não fosse possível 
um contato direto com os espíritos maléficos, pedia-se a algum parente 
falecido para intervir contra o culpado diante de um tribunal do Outro Mundo, 
para que a injustiça fosse reparada. Está claro então que a idéia de que os 
mortos poderiam agir sobre os eventos ou as situações terrenas era tida como 
um fato, e que uma injustiça cometida neste mundo poderia ser pleiteada 
diante de um tribunal dos mortos. Um outro exemplo de que o túmulo era tido 
como local de encontro entre estes dois planos de existência (vida/morte) está 
no conjunto de textos designados genericamente por “literatura funerária”, 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
 19
formada por inscrições tumulares surgidas na IV dinastia. Uma parte destas 
inscrições endereçam-se aos visitantes do túmulo e são expostas sob a forma 
de ameaça: 
“A todo homem que fizer aqui qualquer coisa de mal, que me 
prenda a esta terra, que destrua uma pedra ou um tijolo 
desta tumba que apagaria as inscrições, que faça qualquer 
coisa contra meus filhos, eu serei julgado com ele por isso 
pelo grande deus, senhor do julgamento, diante do tribunal. 
Todo homem que penetrar nesta tumba não estando 
purificado, que entrar após ter comido o que é execrável eu 
me apoderarei (dele) como se fosse um pássaro”. 
Vários delitos são mencionados: Entrar na tumba em estado de 
impureza, apagar as inscrições as quais não devem somente dar informações 
sobre o morto mas também ter por sua simples existência uma ação eficaz, 
neste caso inclui-se principalmente a supressão do nome do morto; levar os 
elementos da tumba a fim de usá-los como material de construção. 
Os profanadores são ameaçados por um processo diante do tribunal dos 
mortos com penas que podem ser executadas tanto neste mundo quanto no 
outro. 
Igualmente os votos ilustram esta mesma idéia: 
“Todo homem que penetrar no interior (da tumba) e glorificar o 
deus (o morto), o mesmo ser feito em seu favor”. 
“à vós viventes sobre a terra que passam diante deste túmulo 
descendo ou subindo o rio, dizei: milhares de pães e de 
tigelas de cerveja para o proprietário desta tumba, e eu 
intercederei em seu favor no Mundo Inferior”. 
Ao nível da organização simbólica da arquitetura egípcia, nada distingue 
a casa do deus (templo) da residência dos vivos e dos mortos (túmulo). Templo, 
casa e túmulo encarnam, cada um a sua maneira a imagem tripartite do 
universo egípcio: céu, terra e mundo subterrâneo. Todo edifício, qualquer que 
fosse a sua utilização, deveria, para ser eficaz, reproduzir a organização do 
mundo. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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Neste caso os túmulos expressariam três partes essenciais a religião 
funerária: a solarização do morto realizada no recinto aberto diante da entrada 
do túmulo onde ocorria o ritual de “Abertura da boca”, a fim de reanimar as 
faculdades momentaneamente interrompidas pela morte. A função seguinte 
seriam as oferendas “horusianas” realizadas na capela funerária ou no 
corredor de acesso, reproduziam as oferendas feitas por Hórus a seu pai Osíris 
no dia de seu sepultamento. A terceira era a osiríaca, cujo objetivo era a 
regeneração do morto associado ao nascimento no Outro Mundo, representadapelo poço e pela câmara funerária onde repousavam o sarcófago com a múmia. 
Assim o túmulo exprime os três níveis da existência, simbolizados pelas 
três divindades: Rê o céu, Hórus sobre a terra e Osíris no mundo subterrâneo. 
Em adição à simbologia da câmara mortuária, em alguns casos ela 
poderia representar o cosmos inteiro: o teto representando o céu e o solo a 
terra, enquanto que o sarcófago representaria a elevação original surgida do 
oceano primordial. Considerado de grande importância para a mitologia 
egípcia, devido ao aparecimento espontâneo de vida sobre a elevação original 
nos mitos da criação. 
A contradição entre a tumba, que deve ser hermeticamente fechada, e a 
necessidade de locomoção do morto ‚ somente aparente. A tumba é o meio 
onde se prepara a libertação da “alma” (bá), suas portas abrir-se-ão para o 
morto. Assim como o sol sai das trevas, o morto libertar-se da obscuridade da 
tumba. 
Um fator importante no desenvolvimento das tumbas egípcias foi a 
necessidade de prover um espaço de estocagem para os itens do equipamento 
funerário, que eram considerados essenciais para o uso do morto no pós-vida. 
Em pequenas covas das culturas Pré-dinásticas não teria sido um grande 
problema a estocagem dos artefatos funerários, já que estes eram limitados e 
consistiam primariamente de vasos de cerâmica, junto com poucos objetos 
pequenos tais como ferramentas de sílex e paletas de cosmético em ardósia. 
Estes objetos podiam ser facilmente acomodados dentro de uma cova de 
dimensões modestas, agrupados em volta do corpo fletido, em uma única 
câmara. Porém com o acúmulo de riquezas de algumas camadas da 
população, ocorrido principalmente após a unificação do Egito, levou a um 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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crescimento correspondente na quantidade do material incluído no 
equipamento funerário, o que levou ao desenvolvimento de tumbas maiores 
com câmaras de estocagem na superestrutura, no caso das mastabas, 
(principalmente após a V dinastia) e posteriormente em câmaras anexas nos 
hipogeus. 
A tumba era o local onde o ká do morto habitava, ou mais precisamente, 
no corpo mumificado, na sua efígie, na estela funerária e nas estátuas do 
morto depositadas na tumba, isto é, as formas em que o morto recebia suas 
oferendas. A usual fórmula de oferendas reflete isto: “...oferendas de bois, aves 
e todas as coisas boas e belas para o ká de (nome do morto)”. 
A capela funerária era algumas vezes chamada "a casa do ká”. O túmulo 
também era de vital importância para o bá principalmente a câmara mortuária 
para onde ela retornava todas as noites a fim de coabitar com a múmia. 
O funcionamento eficiente de qualquer tipo de capela funerária dependia 
dos parentes do morto ou de um sacerdote encarregado dos ritos corretos e 
regulares, como veremos mais adiante. Todavia nenhum culto funerário 
poderia continuar indefinidamente, como seria o desejo para o bem estar do 
morto; salva guardas eram necessárias a fim de suprir a possível interrupção 
no fornecimento de oferendas alimentares. Já vimos como uma estátua era 
acreditada poder substituir o corpo mumiforme, tornando-se o local de 
descanso do ká, este tipo de crença, porém, foi estendido também às oferendas 
representadas em relevos e pinturas nas paredes da capela e sobre as estelas 
funerárias, pois as cenas poderiam, magicamente, tornar-se substitutas a fim 
de prover todo o necessário para o morto. 
Esta é a razão pela qual muitas das decorações de tumbas consistem de 
repetidas cenas mostrando procissões de pessoas trazendo comida e o 
proprietário da tumba sentado diante de uma suntuosa refeição. As muitas 
representações de tais imagens nas paredes atuavam como um substituto 
para os eventos representados e asseguravam a continuidade da vida do morto 
para quem fora preparada a tumba. 
Esta visão “utilitária” da arte fez com que não somente as provisões 
fossem retratadas, mas também os estágios de preparação da comida, 
incluindo a semeadura e a colheita dos cereais, a criação e o abate dos 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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rebanhos. O poder das cenas e o prover as necessidades do morto poderia 
sobreviver enquanto durassem as mesmas, o que era uma garantia de um 
fornecimento regular de oferendas, mesmo com o fim do culto funerário. 
Durante o Médio Império era costumeira a representação de oferendas 
alimentícias entre as pinturas nos caixões junto com ilustrações de outros 
itens do equipamento funerário. Normalmente o conteúdo preciso das cenas 
era especificado por inscrições rotulando os vários objetos. 
A natureza funcional das pinturas e relevos egípcios tem um profundo 
efeito sobre as convenções que governavam a reprodução de imagens. Seres 
vivos e objetos não eram retratados como apareciam, mas pela forma a mais 
reconhecível e completa possível, sem perspectivas enganadoras ou sombras 
que pudessem levar a uma representação incompleta, tornando-a sem função 
para o morto, isto é, para a crença funerária um objeto não visto era um objeto 
que não existia. 
Uma clara demonstração desta crença na substituição das oferendas por 
relevos e pinturas é dada pelo grande número de mesas de oferendas 
conhecidas por hetep (Htp). 
Além da mesa hetep os egípcios também faziam as suas oferendas aos 
mortos colocando-as sobre um pedestal com quatro pernas ou uma mesa 
circular apoiada sobre um único suporte central, ambos eram chamados khaut 
(xAwt), isto é, altar. A mesa com um único suporte sobreviveu tanto no Egito 
quanto na Síria, até os dias de hoje chamada khuwân, bem como a mesa com 
quatro pernas que se transformou no altar das igrejas coptas. 
Desde tempos Pré-históricos oferendas aos mortos eram feitas sobre 
pequenas esteiras de juncos entrelaçados colocados sobre as sepulturas. 
Ainda no Pré-dinástico as esteiras foram substituídas por lajes em pedra no 
mesmo formato, uma prancha retangular feita usualmente de calcário, basalto 
ou granito, com uma projeção em cada lado que ‚ muitas vezes chanfrada, que 
servia como um tipo de calha. A palavra que designa desde os tempos mais 
remotos estas mesas de oferendas é hetep e as oferendas postas sobre elas 
hetepet. O significado para hetep era o de “oferenda para altar” e também 
“paz”, “satisfação” e “felicidade”. Estas mesas hetep trazem gravadas sobre a 
face figuras das coisas ofertadas: bolos, pães, gansos, carnes, frutas etc., e 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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normalmente possuem inscrições nas bordas das mesas em que Anúbis e 
Osíris são invocados a prover o sustento do ká do morto. No Novo Império 
também os vasos hés (Hs) usados na purificação das oferendas passam a ser 
gravados nas mesas. A maioria das estelas retratam a utilização da mesa hetep 
e a purificação das oferendas alimentares por um personagem que verte um 
líquido, provavelmente água com natrão, de um vaso hés sobre a mesa. 
Como uma alternativa ou um suplemento para a provisão de relevos e 
pinturas, o fornecimento de oferendas poderia ser garantido por modelos que 
eram considerados tão úteis à vida Além Túmulo quanto os próprios objetos 
reais. 
Os primeiros tipos de modelos a serem usados eram pequenas cópias em 
pedra e simulacros de vasos cerâmicos, já comuns em tumbas da I dinastia. 
Seu uso foi grandemente estendido no Antigo Império, onde modelos eram 
colocados nas capelas das mastabas no lugar de seus equivalentes maiores. 
Porém, o Médio Império foi o período em que foi feito o maior uso de modelos 
funerários, não somente como cópias de objetos individuais (vasos, 
ferramentas, embarcações, alimentos etc.) mas também para representar 
atividades da vida diária. Esses modelos funcionavam magicamente como 
sustento do morto, da mesma forma como as pinturas tumulares. A maioria 
eram feitos em madeira ou rocha estucada e pintada ilustrando episódios da 
preparação de comida e bebida e o cultivo e estocagem de grãos. 
Estes modelosminiaturísticos permaneceram em uso até o final do 
período faraônico, são deles que provém uma grande parte de nosso 
conhecimento da vida cotidiana egípcia. 
A partir do Novo Império a responsabilidade das tarefas em favor do 
morto foi transferida dos modelos para as shabtis que passaram a trazer 
ferramentas agrícolas, cestos, vasos e outros equipamentos necessários à 
produção de alimentos para o morto no outro mundo. 
Embora a preparação de um túmulo e de equipamento funerário fosse 
objeto de uma atenção especial durante a vida de um egípcio, nada mais era 
do que um meio de perpetuar o nome do morto pelo maior tempo possível. 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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O nome é uma das “manifestações” espirituais mais características da 
cultura egípcia, é através dele que se exterioriza um conceito mental, que é 
criado materialmente, dando-lhe uma existência visível (escrita) e audível (voz). 
Formar o nome de alguém ou de algo é equivalente a confeccionar uma 
imagem que toma vida no momento que a boca a pronuncia. O nome é uma 
imagem que se confunde com seu objeto, torna-se o próprio objeto, adaptado 
ao uso do pensamento. Ele era para um egípcio uma realidade concreta e uma 
das formas do pensamento. 
Por isto na mitologia egípcia, o poder criador do Demiurgo era expresso 
pelo “verbo criador”, que nomeou todas as coisas dando-lhes existência. A 
semelhança do Gênesis I (hexaemeron) e II 19-20 expresso em João I, 1, “No 
princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. O 
pensamento criador era formado no coração de deus enquanto que o 
instrumento da criação era a sua língua. Todo o verbo era primeiro um 
conceito do coração para depois tomar forma e se realizar através da palavra. 
Desta forma a Divina Assembléia de Heliópolis era descrita como sendo parte 
integrante de deus “como seus dentes e lábios, que correspondem ao sêmen e 
às mãos de Atum”. Esta associação entre dentes e lábios com o sêmen e as 
mãos, refere-se ao mito em que o mundo foi criado pela masturbação do 
demiurgo. 
O nome, portanto, era para os egípcios a própria criação, sem nomes o 
mundo material tornar-se-ia um mar de matéria incontrolada. No momento do 
nascimento, quando sua mãe atribuía-lhe um nome, estava dando-lhe a sua 
própria natureza e marcando o seu destino, cada vez que fosse pronunciado. 
Este conceito está explícito em nomes pessoais como: Renseneb “Possa 
meu nome ser bom”; Renefankh “Possa meu nome viver”; Nakht “Força”; 
Nedjmt “Doce”. 
Como já foi dito, todo aquele que de alguma maneira cria ou copia uma 
imagem, cria também um novo ser e se a esta imagem ‚ adicionado um nome, 
ela passa a evocar ao mesmo tempo uma parte da alma original. Uma 
conseqüência desta crença em um nome-imagem é a importância social do 
artista-artesão, revelada pela terminologia que define a sua profissão seankh 
“aquele que faz reviver”. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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Da mesma forma que dar um nome a uma pessoa era dar-lhe uma 
existência, apagar o nome de um indivíduo equivaleria à sua destruição. Sem 
nome ninguém poderia ser identificado pelos deuses e assim, como o homem 
só passava a existir neste mundo após ter o seu nome pronunciado, da mesma 
forma a sua existência futura só seria possível com a sua perpetuação. A obra 
do artista egípcio é análoga àquela do demiurgo. Em cada imagem que ele 
confecciona é refeito o ato inicial da criação. 
Esta crença no poder criador, aniquilador, constrangedor e enfeitiçador 
da palavra determinou todo o comportamento dos egípcios em face à morte: 
nomear uma pessoa era fazê-la existir após o seu desaparecimento físico, e 
quanto mais numerosas fossem os sinais de reconhecimento de seu nome 
mais segura estaria a sua existência no mundo dos mortos. Um provérbio 
egípcio diz: “seja de quem for o nome pronunciado, então ele vive”. É por isto 
que a capela funerária e todo local de culto ao morto em geral agrupavam o 
máximo de indicações, as mais explícitas possíveis sobre o morto. 
Não só a permanência do nome do morto entre os vivos era 
indispensável mas a garantia de que o próprio morto não se esqueceria de seu 
nome, de modo que o seu ká e o seu bá pudessem reencontrar e reconhecer-se 
como pertencentes ao mesmo indivíduo. O ká e o nome (ren) eram de tal modo 
inseparáveis que durante o Período Ptolomaico ambas serviam para designar 
as mesmas idéias. Assim o equipamento funerário depositado no interior da 
tumba era preenchido com o nome e títulos do morto. Esta preocupação é 
expressa no “Livro dos Mortos” por um capítulo exclusivo intitulado “Fórmula 
para fazer com que o morto lembre-se de seu nome no Reino dos Mortos”, em 
versões mais recentes datadas do Período Ptolomaico, são conhecidas por 
“Livro das Respirações” e a litania “Para conservação do nome” torna-se um 
elemento central. 
A preocupação com uma segunda morte causada pelo esquecimento do 
nome seria um fenômeno que se intensificou com o passar do tempo. Se 
compararmos o “Livro dos Mortos”, datado do Novo Império, com o “Livro das 
Respirações”, do Período Ptolomaico, apenas o capítulo XXV do “Livro dos 
Mortos” é dedicado a este tema enquanto que no “Livro Segundo das 
Respirações” a preservação do nome toma todo o texto IV. No entanto, já nos 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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“Textos das Pirâmides” o tema da preservação do nome tinha destaque nas 
fórmulas 601, 1650 a 1653 e 1660 a 1671. 
O nome passou a ter um valor capital no culto funerário a partir da 
Baixa Época, quando o custoso de um serviço regular de oferendas 
alimentares foi substituído por um processo verbal, mágico, onde era 
suficiente recitar a antiga fórmula de oferendas e introduzir evidentemente o 
nome do morto aos quais estariam assegurados todos os bens alimentares 
enumerados na oração: “a vós viventes sobre a terra que vêm a esta necrópole. 
Cada um de vós que vêm para fazer oferenda nesta necrópole, cite o meu nome 
no momento da libação de água. Pois eu sou um homem que deve ter o seu nome 
pronunciado”, texto extraído da tumba de Petosíris em Tuna el-Gebel. Assim no 
momento final da cerimônia de oferendas quando a libação de água purificava 
as oferendas e o local o nome do morto deveria ser dito. 
O culto funerário irá também associar o nome do morto àqueles das 
maiores divindades do Egito, permitindo a sua alma desfrutar todos os dias 
das oferendas regulares feitas nos templos: “Que meu nome seja durável em 
Tebas e nos nomos todos os dias e para sempre como é durável o nome de...”, 
(Texto extraído da tumba de Petosíris em Tuna el-Gebel) segue o nome de 
trinta divindades e seus respectivos nomos. As grandes divindades eram 
possuidoras de vários nomes, um sinal de seu poder, por exemplo, Ísis era tida 
como possuidora de mil nomes. Assim o morto chamado de Osíris teria as 
qualidades regenerativas do deus e compartilharia das oferendas dedicadas a 
ele. São vários os exemplos que ilustram esta ligação entre o nome do morto 
com o de Osíris, particularmente nas shabtis (ushabtis). A fórmula gravada 
nas shabtis além de uma forma de perpetuar o nome do morto (memória), os 
títulos (condição social) e sua ascendência (nome dos pais), também a 
determinação de conferir-lhe uma substância, isto é‚ o texto pela simples 
enunciação de que a figura responderia ao chamado do morto, assegurava o 
seu funcionamento desejado. 
Verbo e magia conjugam-se de uma maneira natural no espírito egípcio 
para criar fórmulas e textos que darão ao morto poderes eficazes contra as 
forças hostis que possam impedi-lo em sua jornada ao Outro Mundo. 
ARTE E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO II 
 
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O acesso ao “Mundo Inferior” só é permitido àquele que conhece os 
nomes das sete portas e de seus respectivos guardiões que conduzem aos 
domínios de Osíris (LdM Cap. 119, 142a e 144), os nomes das vinte e uma 
portas dos “Campos dos Juncos” (LdM Cap. 145-146) e das almas de 
Heliópolis, Buto, Hieracômpolise Hermópolis (LdM Cap. 94, 97 e 111-116). A 
“Sala da Dupla Maat” só seria permitida ao morto que soubesse os nomes de 
todos os elementos que compunham o portão de entrada - ferrolhos, lintel, 
tranca, encaixes, portas, ombreiras e as pranchas do chão - (LdM Cap. 125). O 
próprio julgamento da alma do morto era descrito como “o julgamento das 
palavras” (wDa mdw) isto é‚ a pesagem das ações e dos atos, já que mdw 
significava tanto a ação quanto a palavra. 
O epíteto ligado aos mortos mais freqüente nos objetos funerários é 
“justificado” (mAa-xrw), isto é‚ “verdadeiro de palavra” uma forma de tornar o 
morto conhecedor de todos os nomes necessários (deuses e demônios) e das 
“palavras de poder”, isto é, os encantamentos e fórmulas mágicas a fim de que 
possa remover de seu caminho qualquer obstáculo. 
Verbo e magia conjugam-se de maneira natural no espírito egípcio a fim 
de criar fórmulas e textos que dão ao morto poderes eficazes como vimos no 
caso dos trigramas, afinal os próprios amuletos em grande parte devem o seu 
poder mágico ao fato de serem hieróglifos “petrificados” que prolongam e 
mantêm para a eternidade a magia do verbo. 
Pela atribuição de um nome o homem torna-se um indivíduo 
diferenciado, possuidor de uma personalidade, uma identidade reconhecível e 
um destino que deverão ser mantidos para além da morte: “(...) pronunciem 
meu nome, evoquem minha titulatura, louvem a minha imagem ... coloquem meu 
nome na boca de vossos servidores e a memória de mim junto a seus filhos...” 
(texto extraído da estela de Thutmés I, atualmente no Museu do Cairo). 
Posto que a vida não pode ser concebida sem os alimentos que a 
mantém, os egípcios não poderiam deixar de evocar a propósito da morte os 
alimentos, juntamente com outras categorias de oferendas, que constituíam 
um meio simbólico de transcendê-la. 
Vida, morte e alimento unem-se estreitamente no pensamento dos 
egípcios antigos. De fato morre-se por inanição, por falta de força e de 
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alimento, tanto neste mundo quanto no próximo: “...Ergue-te ó Rei, toma tua 
cabeça, junta teus ossos, reúne teus membros, sacode a poeira de tua carne! 
Toma teu pão que não é pouco e tua cerveja que não azedar” (PT 373). Um dos 
maiores temores dos egípcios era a possibilidade de não dispor de qualquer 
alimento no mundo dos mortos, sendo obrigado a comer o que lhe abominava: 
encontramos no “Livro dos Mortos” a “fórmula para não comer excrementos e 
não beber urina no Reino dos Mortos” (LdM Cap. 53 que possui um equivalente 
no CT 213), pela qual o morto teria a sua disposição os alimentos dos deuses. 
O morto procurava identificar-se com o deus Hetep, das oferendas alimentares 
(LdM 110). O próprio rei buscava escapar da fome e da sede compartilhando o 
alimento com os deuses: 
“Ó fome não venha até Téti...Téti não tem fome, graças ao 
pão de Hórus que ele comeu... Téti não tem sede, como o deus 
Shu também não tem”. (PT 551-552) 
Uma parte importante do material destinado a acompanhar o morto 
tomava a forma de oferendas alimentares, necessárias a sua sobrevivência. 
Um dos tipos mais freqüentes de oferendas alimentares, desde os primeiros 
sepultamentos, consistia em depositar no túmulo uma porção de comida e 
bebida junto ao corpo. Durante o Antigo Império a sofisticação na 
armazenagem das oferendas chegou ao ponto em que silos e armazéns eram 
conectados com as câmaras funerárias dos grandes túmulos. 
A partir da II dinastia, o suprimento de comida e bebida tomou a forma 
de uma refeição completa, a maneira servida aos vivos, colocada na tumba em 
pratos de pedra ou cerâmica, diante da “porta falsa”. 
Tais refeições poderiam ser desfrutadas perpetuamente ou até que 
fossem removidas ou destruídas. O fato de que as provisões nunca fossem 
consumidas significaria que estariam sempre à disposição do morto e que este 
obteria o seu sustento necessário alimentando-se do ká das oferendas. 
Os animais sacrificados como oferendas aos mortos eram empilhados 
sobre os altares, de preferência, as partes consideradas nobres de um touro: 
cabeça, pata dianteira esquerda, fígado, coração; bem como patos e gansos e 
também gazelas e órix. Sendo proibida aos mortos e aos deuses a oferta de 
peixes, lebres. 
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Todos os animais abatidos eram associados ritualmente com os inimigos 
do morto e dos deuses: “Eu abati para ti aquele que te ofendeu” (PT 1544-
1550.). 
Durante a Baixa Época o touro sacrificado era de cor avermelhada, isto 
segundo Plutarco seria uma identificação com o deus Seth, pois ele mesmo 
teria esta cor. Outra atribuição “sethiana” dos touros era o fato de que desde o 
Antigo Império acreditava-se que Osíris (Népri) era a cevada que era debulhada 
pelo pisoteio de touros da mesma forma como Seth havia cortado o deus em 
pedaços. Desta forma ao sacrificar o animal estaria também sendo garantida a 
destruição das forças contrárias à ressurreição do morto. O touro era tido 
desde os “Textos das Pirâmides” como uma das formas de deslocamento do 
morto, que o conduz sobre as costas pelo céu do norte (PT 2047c e 2136b), 
esta crença é representada em cenas pintadas nos pés de caixões e 
cartonagens da Baixa Época onde a figura de um touro a galope é mostrada 
com uma múmia presa às costas. Este touro chamado Nega nos “Textos das 
Pirâmides” foi identificado posteriormente com Ápis que possuía uma estreita 
ligação com Osíris. 
Normalmente inacessível à maior parte da população a oferenda de 
animais sacrificados limitava-se à cabeça e à pata dianteira de um touro e à 
cabeça de um ganso, que eram deixados sobre a mesa de oferendas ou 
colocados em um fosso externo ao túmulo. 
A presença do morto como indivíduo que habita na tumba comporta 
uma outra forma de consumo de bens: aquela que conhecemos como provisões 
funerárias, isto é, as oferendas que não tomaram a forma de gêneros 
alimentícios, que poderiam ou ser feitos especialmente, destinados somente ao 
uso funerário, ou poderiam ser as posses de uso diário que o proprietário 
desejava levar consigo ao outro mundo como caixas, cadeiras, camas e 
similares além de equipamentos para cosmético, brinquedos, instrumentos 
musicais, ferramentas e armas. 
A obrigação de se ofertar alimentos ao morto no dia de seu funeral não 
era aceita pelos egípcios como sendo suficiente para a sua sobrevivência, a 
regularidade na deposição das oferendas na tumba teve início no Período 
Tinita, inicialmente em benefício exclusivo do rei morto. Como foi dito 
ANTONIO BRANCAGLION JUNIOR 
 
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anteriormente houve um período da história egípcia que somente o rei era 
possuidor de uma alma imortal o que o tornava o centro de um culto funerário 
específico. 
Durante a III dinastia um serviço regular de oferendas alimentares foi 
estabelecido tendo como centro a “Casa da Eternidade” (pr-Dt), um órgão 
administrador do culto real ligado ao palácio que tinha por função oficiar 
diariamente o serviço de oferendas no templo funerário em benefício dos reis 
mortos. Tal organismo funcionava em um sistema de fundação que mantinha 
o corpo sacerdotal, o templo funerário e tudo o que fosse necessário ao culto. 
O cargo principal desta fundação era o de “Chefe das Oferendas” (Hr Htpw) 
ocupado por um dos grandes personagens da corte ou por um dos filhos do 
rei. 
Assim como o rei em vida protegera e alimentara os seus fiéis servidores 
(imakhu) também na morte continuaria a fazê-lo. 
O rei, no Egito, era o único proprietário do solo e de seus recursos 
portanto o único que poderia autorizar a construção de uma tumba, utilizando 
para tanto os recursos materiais do Estado, que eram então postos a serviço 
de seus protegidos. Por extensão deste favor os cortesãos mortos também se 
beneficiaram das oferendas previstas para o culto real. Estas oferendas eram 
consagradas juntas em um mesmo local no templo funerário da necrópole e

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