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620 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. O PROCESSO DE DESLOCAMENTO DA SEXUALIDADE NA REFLEXÃO DE MICHEL FOUCAULT* ELISMAR ALVES DOS SANTOS** * Recebido em: 05.10.2021. Aprovado em: 08.11.2021. ** Pós-Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Doutor em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutor em Teologia Moral pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte. Mestre em Teologia Moral pela Accademia Alfonsiana/ Pontificia Università Lateranense (Roma-Itália). Mestre e Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Licenciado em Filosofia. Professor de Psicologia e Teologia na Pontifícia Universidade Católica de Goiás e no Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás (IFITEG). E-mail: elismar01@yahoo.com.br DOI 10.18224/frag.v31i3.8843 ARTIGO Resumo: neste artigo, o autor reflete sobre alguns pontos levantados por Michel Foucault em sua História da Sexualidade 1 com o intuito de compreender como a sexualidade foi assimilada em alguns períodos da história, especialmente, na sociedade vitoriana. O Regime Vitoriano contribuiu para o “sequestro” da sexualidade e seu confinamento quase exclusivamente ao modelo matrimonial. Além disso, a sexualidade se tornou um tabu. Isso significou a não permissão de abordá-la ou de vivê-la de maneira mais humana. Ocorreu, ainda, a ligação da sexualidade com o prazer. Uma vez que o prazer era da ordem do pecado, tornou-se inconcebível sua associação com a sexualidade. Palavras-chave: Sexualidade. Poder pastoral. Confissão. Regularidades sexuais. O artigo faz uma breve análise da sexualidade a partir de uma obra de Foucault (1985): História da Sexualidade 1. Para isso, encontra-se dividido em quatro partes: a repressão da sexualidade; sexualidade, poder pastoral e confissão; regularidades sexuais e, por último, corpo, poder e discurso científico da sexualidade. Na primeira parte, o artigo mostra que a Era Vitoriana (1837-1901), proporcionou o fechamento em relação à reflexão e vivência da sexualidade. Na segunda parte, mostra-se que, da relação entre peca- do e sexo, resulta uma série de medidas para “dar conta” da sexualidade. O sacramento da confissão será um desses mecanismos. Na terceira, aparecem os códigos para estabelecer a regularidade da sexualidade. Na quarta parte, o artigo explica que o corpo será identifica- 621FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. do como realidade que proporciona prazer. O discurso científico, no século XIX, procura desvendar o mistério da sexualidade. A REPRESSÃO DA SEXUALIDADE O artigo não tem a pretensão de esgotar e responder a todas as questões colocadas por Foucault no âmbito da sexualidade. Para tanto, seria necessário fazer um longo percurso, ao menos nos outros dois volumes da História da Sexualidade: História da Sexualidade 2: o uso dos prazeres (2009) e História da Sexualidade 3: o cuidado de si (1985). Justifica-se, desse modo, como já ressaltado, o motivo de ter priorizado mais a História da Sexualidade 1 (1985). O que levou Foucault a escrever uma História da Sexualidade? Por que escrever uma história da sexualidade? Para mim, isso significava o seguinte: uma coisa me havia surpreendido: é que Freud, a psicanálise tiveram como ponto histórico de partida, como o seu ponto de partida, um fenômeno que, no fim do século XIX, tinha grande importância na psiquiatria e mesmo, de modo geral, na sociedade, e podemos dizer, na cultura ocidental. Esse fenômeno singular – quase marginal – fascinou os mé- dicos, fascinou de maneira geral, digamos, os pesquisadores, aqueles que se interessavam de uma forma ou de outra pelos problemas muito amplos da psicologia. Esse fenômeno era a histeria (FOUCAULT, 2004, p. 57-58). Em História da Sexualidade 1, Foucault (1985) ressalta que houve, no Ocidente, um período negativo relacionado ao modo de conceber a sexualidade, em decorrência do Regime Vitoriano, ainda presente no século XX. “Parece que, por muito tempo, teríamos suportado um regime vitoriano e ale nos sujeitaríamos ainda hoje. A pudicícia imperial figu- raria no brasão de nossa sexualidade contida, muda, hipócrita” (FOUCAULT, 1985, p. 9). De acordo com a análise do filósofo, tudo indica que houve, na história do Ocidente, um retrocesso na forma de lidar com a sexualidade. No início do século XVII, vigorava, mesmo de forma não muito expressiva, uma liberdade na maneira de viver e conceber a sexualidade. Diz-se que no início do século XVII ainda vigorava uma certa franqueza. As práticas não procuravam os segredos; as palavras eram ditas sem reticência excessiva e, as coisas, sem demasiado disfarce; tinha-se com o ilícito uma tolerante familiaridade. Eram frouxos os códigos de grosseria, da obscenidade, da decência, se comparados com os do século XIX (FOUCAULT, 1985, p. 9). A sexualidade passa a ser tema e prática restrita à família conjugal. Sua finalidade seria somente a reprodução. “A sexualidade é, então, cuidadosamente encerrada. Muda-se para dentro da casa. A família conjugal a confisca. E observa-se, inteiramente, na seriedade da função de reproduzir. Em torno do sexo, se cala” (FOUCAULT, 1985, p. 9-10). A sexua- lidade é concebida, nesse contexto, na ordem da repressão. “A repressão funciona, decerto, como condenação ao desaparecimento, mas também como injunção ao silêncio, afirmação de inexistência e, consequentemente, constatação de que, em tudo isso, não há, nada para dizer, nem para ver, nem para saber” (FOUCAULT, 1985, p. 10). Em decorrência desta realidade de institucionalização da sexualidade, restrita somente ao universo matrimonial, 622 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. Foucault (1985) explica que foi necessário criar um espaço, onde se pudesse fazer do sexo um comportamento, ou experiência normal e comum, sem o controle dos “olhos” da sociedade Vitoriana. A isso, o filósofo chama de “sexo selvagem”, se referindo às casas de prostituição, o rendez-vous, e a casa de saúde. Assim escreve: “Somente aí o sexo selvagem teria direito a algumas das formas do real, mas bem insularizadas, e a tipos de discurso clandestinos cir- cunscritos, codificados. Fora desses lugares, o puritanismo moderno teria imposto seu tríplice decreto de interdição, inexistência e mutismo” (FOUCAULT, 1985, p. 10). A repressão seria, desde a época clássica, “o modo fundamental de ligação entre po- der, saber e sexualidade, só se pode liberar a um preço considerável: seria necessário nada menos que uma transgressão das leis, uma suspensão das interdições, uma irrupção da palavra” (FOU- CAULT, 1985, p.11). Nas reflexões do autor em estudo, transparece que o sexo se tornou uma proibição clara e evidente, pois o termo “sexo” não possui “relevância” e “significado” merecido no campo científico do século XIX. Foucault (1985) recorda que a psiquiatria do século XIX, ao abordar esse assunto, desculpava-se por tratar-se de um tema de baixo calão. “Os psiquiatras do século XIX, quando tinham que evocá-lo, acreditavam que deveriam pedir desculpas por reter a atenção de seus leitores em assuntos tão baixos e tão fúteis” (FOUCAULT, 1985, p. 12). Há, assim, uma forma velada tanto da sociedade como das áreas do saber, a exemplo da psi- quiatria, na repressão da sexualidade. É proibido por ser “insignificante”. Desse modo, falar de sexo passa a ser um ato de transgressão. Ora, “se o sexo é reprimido, isto é, fadado à proibição, à inexistência e ao mutismo, o simples fato de falar dele e de sua repressão possui como que um ar de transgressão deliberada” (FOUCAULT, 1985, p. 12). Portanto, quem se atrevesse a falar de sexo, nesse contexto, era classificado pela sociedade como subversivo. Por que se tornou tabu o tema da sexualidade? Acredita-se numa intuição derivada da longa produção de Foucault (1985): falar de sexo significava trazer à baila a dimensão do prazere do gozo. Em outras palavras: [...] empregar um discurso onde confluem o ardor do saber, a vontade de mudar a lei e o esperado jardim das delícias – eis o que, sem dúvida, sustenta em nós a obstinação em falar do sexo em termos de repressão; eis também, o que explica, talvez, o valor mercantil que se atribui não somente a tudo o que dela se diz como, também, ao simples fato de dar atenção àqueles que querem suprimir seus efeitos (FOUCAULT, 1985, p. 13). A sexualidade, em suas diversas formas, foi uma realidade marginalizada em decor- rência de sua má compreensão, isto é, a pretensão de seu “controle”. Ao concluir esse primeiro ponto, gostaria de ressaltar que “a constituição da sexualidade como experiência histórica e singular foi compreendida por Foucault, desde a Antiguidade greco-romana, passando pela tradição cristã, até chegar ao século XIX, na sociedade ocidental moderna” (WINTER, 2010, p. 27). Percebe-se, portanto, que o filósofo francês fez uma longa reflexão sobre a temática da sexualidade, em alguns períodos da história da humanidade. SEXUALIDADE, PODER PASTORAL E CONFISSÃO Na longa história da sexualidade, em que a mesma é vista sob diversos ângulos, há uma constatação que não pode escapar aos olhos da criticidade: trata-se da relação entre sexo e pecado. A que se deve essa aproximação? 623FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. Seria legítimo, certamente, perguntar por que, durante tanto tempo, associou-se o sexo ao pecado – e, ainda, seria preciso ver de que maneira se fez essa associação e evitar dizer de forma global e precipitada que o sexo era “condenado” – mas seria, também, preciso perguntar por que hoje em dia nos culpamos tanto por ter outrora feito dele um pecado? Através de que caminhos acabamos ficando “em falta”, com respeito ao nosso sexo? (FOUCAULT, 1985, p. 14). Em decorrência da associação entre pecado e sexo, a consequência não poderia ser outra: a repressão. Esta, por sua vez, seria o motivo do discurso negativo da sexualidade, pois “essa repressão está profundamente firmada, possui raízes e razões sólidas, pesa sobre o sexo de maneira tão rigorosa, que uma única denúncia seria capaz de libertar-nos; o trabalho só pode ser longo” (FOUCAULT, 1985, p. 15). Na análise do filósofo, desde a Idade Moderna, a sociedade passou a associar alguns elementos negativos ao sexo. Enumera ao menos quatro: proibições, recusa, censura e nega- ções (FOUCAULT, 1985, p. 17). Dessa forma, o mecanismo do comportamento repressivo tem como lema central dizer não para o sexo. O século XVII, como já assinalado, é marcado pelo início de uma época pautada na repressão, sobretudo, em decorrência do advento das “sociedades chamadas burguesas, e da qual talvez ainda não estivéssemos completamente li- berados” (FOUCAULT, 1985, p. 21). É nesse contexto que surge o pudor moderno que proporciona a não possibilidade de até mesmo falar de sexualidade, ou de sexo. Assim, com início no século XVIII, acelerou-se uma multiplicação dos chamados discursos “ilícitos” sobre o sexo. Seria em decorrência da ideia de pecado? Em contrapartida, o fato de haver proibição gerou um mecanismo contrário ao que se esperava: passou-se a falar mais sobre o assunto. O proibido despertou, ainda mais, o interesse das pessoas, ao menos em falar sobre essa temática, principalmente, nos confessionários católicos. [...] o cerceamento das regras de decência provocou, provavelmente, como contra-efeito, uma valorização e uma intensificação do discurso indecente. Mas o essencial é a multi- plicação dos discursos sobre o sexo no próprio campo do exercício do poder: incitação institucional a falar do sexo e a falar dele cada vez mais; obstinação das instâncias do poder a ouvir falar e a fazê-lo falar ele próprio sobre a forma da articulação explícita e do detalhe infinitamente acumulado (FOUCAULT, 1985, p. 22). Através da evolução da pastoral católica e também da prática do sacramento da confissão, sobretudo, após o Concílio de Trento (1545-1563), passa a existir “todo um exame minucioso do ato sexual em sua própria execução” (FOUCAULT, 1985, p. 22). Quando a matéria do pecado se acentua na dimensão da pureza, pede-se, ainda mais do confessor, uma postura mais seria, porque se trata de um pecado que “mancha e suja” (FOUCAULT, 1985, p. 22). O bom exame de consciência não pode deixar de evocar a temática sexual. Entretanto, o filósofo em estudo adverte que todos os pecados que fazem referência à carne precisam fazer parte da confissão. São eles: “pensamentos, desejos, imaginações voluptuosas, movimentos simultâneos da alma e do corpo, tudo isso deve entrar, agora, em detalhe, no jogo da confissão e da direção espiritual” (FOUCAULT, 1985, p. 23). Winter (2010, p. 52) lembra que, para Foucault, “em Vontade de Saber, a confissão é um ritual de discurso, no qual o sujeito que fala coincide com o sujeito do enunciado. É 624 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. também, um ritual que se desenrola numa relação de poder, pois não se confessa sem a pre- sença.” Porém, onde se encontra o foco do pecado? Eis a resposta: Uma dupla evolução tende a fazer, da carne, a origem de todos os pecados e a deslocar o momento mais importante do ato em si para a inquietação do desejo, tão difícil de perceber e formular; pois que é um mal que atinge todo o homem e sob as mais secretas formas (FOUCAULT, 1985, p. 23). Como já pontuado, percebe-se, por exemplo, que o penitente precisa confessar os peca- dos relacionados ao sexo. Por uma questão de obrigação, se essa não for sua vontade. “Coloca-se um imperativo: não somente confessar os atos contrários à lei, mas procurar fazer de seu desejo, de todo o seu desejo, um discurso” (FOUCAULT, 1985, p. 24). Em História da Sexualidade I, Foucault (1985) recorre a um dos mais expressivos moralistas da história da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787), para ressaltar como ele orientava os confessores a lidar com o tema da sexua- lidade na confissão na época da Moral Casuística (séc. XVII-XX). Nas palavras de Foucault (1985, p.24), dizia Santo Afonso: “Não somente os atos consumados como também os toques sensuais, todos os olhares impuros, todas as palavras obscenas [...], todos os pensamentos consentidos”. E, particularmente, sobre o papel da teologia moral relacionado a essa discussão, muito lentamente “o sólido vínculo que vinculava a teologia moral da concupiscência à obri- gação da confissão (o discurso teórico sobre o sexo e sua formulação na primeira pessoa), foi rompido ou, pelo menos, distendido e diversificado” (FOUCAULT, 1985, p. 35). Dito de outro modo: “O homem, no Ocidente, tornou-se um animal confidente” (FOUCAULT, 1985, p. 59). A que se deve essa associação entre sexo e confissão? “Ora, desde a penitência cristã até nossos dias, o sexo tem sido a matéria privilegiada de confissão. É o que é escondi- do, dizem” (FOUCAULT, 1985, p. 60). O poder pastoral, para os estudiosos de Foucault, significa “os novos mecanismos de poder que o Cristianismo introduziu no mundo romano, Foucault identifica como pastorado, a saber, um conjunto de pastores que desempenhavam, na sociedade cristã, o papel de condutores, em relação aos outros indivíduos tidos como suas ovelhas ou como seu rebanho” (WINTER, 2010, p. 64). Sobre o poder pastoral, vale lembrar que “a relação pastoral, em sua forma plena e em sua forma positiva, é, portanto, essencial- mente, a relação entre Deus e os homens” (FOUCAULT, 2008, p. 167). Ou ainda: “No pastorado, tinha que haver, primeiro, uma verdade ensinada” (FOUCAULT, 2008, p. 364). Da relação entre sexualidade e confissão, ou do motivo dessa junção, encontra-se a tentativa de ligar o sexo à verdade, pois “é preciso descobrir a verdade, ser esclarecido pela verdade, dizer a verdade. E outras tantas imposições que são consideradas importantes, quer para a constituição, quer para a transformação de si” (FOUCAULT, 2004, p. 95). De formamais específica ainda: “Por que existe uma ligação tão fundamental entre a sexualidade, a subjetividade e a obrigação de verdade?” (FOUCAULT, 2004, p. 97). Uma confissão verda- deira precisava priorizar a demanda sexual, por se tratar de um segredo pessoal. “Para nós, é na confissão que se ligam a verdade e o sexo, pela expressão obrigatória e exaustiva de um segredo individual” (FOUCAULT, 1985, p. 61). Porém, o filósofo francês lembra que o Cristianismo, por ser uma confissão de fé, propõe, independentemente da confissão, a busca pela verdade. O cristianismo, como sabemos, é uma confissão. Isto significa que o cristianismo pertence a um tipo bem particular de religiões: aquelas impõem aos que as praticam obrigações de 625FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. verdade. No cristianismo, essas obrigações são numerosas. Há, por exemplo, a obrigação de sustentar como verdadeiras um conjunto de proposições que constituem o dogma, a obrigação de considerar certos livros como fonte permanente de verdade, e a de aceitar as decisões de certas autoridades em matéria de verdade. Porém o cristianismo exige ainda outra forma de obrigação de verdade. Cada cristão deve se sondar para verificar quem ele é, o que se passa em seu próprio interior, as faltas cometidas, as tentações às quais ele se expõe. E, além disso, cada um deve dizer essas coisas a outros, testemunhando assim contra ele próprio (FOUCAULT, 2004, p. 95-96). Segundo Foucault, o código de ética cristã aplicado à sexualidade não surgiu pro- priamente com o Cristianismo. “Efetivamente os filósofos pagãos dos séculos que precede- ram e se seguiram à morte de Cristo propuseram uma ética sexual que, embora fosse em parte nova, era, no entanto, bastante semelhante ao que é tido como ética cristã” (FOUCAULT, 2004, p. 97). Entretanto, “devemos admitir que o cristianismo não inventou esse código de comportamento sexual. Ele o adotou, reforçou, deu-lhe um vigor e um alcance bem superio- res aos que ele tinha anteriormente. Porém a pretensa moral cristã não passa de um fragmento da ética pagã introduzida no cristianismo” (FOUCAULT, 2004, p. 98). De acordo com Foucault (2004, p. 99), Santo Agostinho, em Cidade de Deus, “faz uma descrição quase aterrorizante do ato sexual. Para ele, o ato sexual é uma espécie de convulsão. Todo o corpo, diz Santo Agostinho, é atingido por terríveis tremores. O homem perde completamente o controle de si mesmo”. Qual o contexto dessa descrição na obra de Santo Agostinho? “Essa descri- ção – isto mereceria ser enfatizado – não é uma invenção de Santo Agostinho: nós a encontramos nos escritos médicos e pagãos do século precedente. Além disso, o texto de Santo Agostinho é a transcrição quase literal de um trecho escrito pelo filósofo pagão Cícero, no Hortensius” (FOU- CAULT, 2004, p. 99). Porém, o pensador francês não deixa de criticar a demasiada preocupação de Santo Agostinho em relação ao sexo. “Seria preciso dizer que, após Santo Agostinho, é com a cabeça que experimentamos a coisa sexual? Digamos pelo menos que a análise de Santo Agostinho introduz uma verdadeira libidinização do sexo” (FOUCAULT, 2004, p. 99). O estímulo à confissão, transformando-a em uma obrigação, possibilitou à pastoral cristã a construção de uma “máquina” na qual a extração da confissão se torna a busca pelo conhecimento de si, enquanto confessor, e do outro, aquele que confessa e que, talvez, deva ser julgado/condenado. A prática da confissão permitiu que a pastoral cristã pudesse analisar o que os sujeitos tinham a dizer sobre o sexo e a sexualidade, sobre os desejos de seus corpos. O estímulo da confissão acerca da sexualidade permitiu que a prática sexual pudesse ser analisada enquanto discurso, verdades que advêm do desejo, da falha dos aparelhos de estado na vigia dos corpos. Isso, por outro lado, permitiu, também, a elaboração de novas formas de economia dos corpos, atuando de forma mais suave e, ao mesmo tempo, mais precisa (NASCIMENTO, 2013, p. 61). REGULARIDADES SEXUAIS O discurso científico procurou dar “conta” da sexualidade. É aí que surgem, por exemplo, as intervenções terapêuticas ou de normalização: “Um campo de significações a decifrar; um lugar de processos ocultos por mecanismos específicos, um foco de relações 626 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. causais infinitas, uma palavra obscura que é preciso, ao mesmo tempo, desencavar e escutar” (FOUCAULT, 1985, p. 67). Já no século XVIII, começa a surgir uma nova forma de abordar a questão da se- xualidade humana. Iniciam-se as pesquisas “quantitativas ou causais” (FOUCAULT, 1985, p. 27). O assunto “sexo” e “sexualidade” começa a não fazer parte mais somente do discurso da moral. “Levar ‘em conta’ o sexo, formular sobre ele um discurso que não seja unicamente da moral, mas da racionalidade, eis uma necessidade suficientemente nova para, no início, sur- preender-se consigo mesma e procurar desculpar-se” (FOUCAULT, 1985, p. 27). O desafio se encontra no aspecto de não fazer do sexo um tribunal de julgamento, pois “o sexo não se julga apenas, administra-se” (FOUCAULT, 1985, p. 27). Essa regulação do sexo, por sua vez, é compreendida na ótica da “polícia do sexo”. Continua o filósofo, “isto é, necessidade de regular o sexo por meio de discursos úteis e públicos e não pelo rigor de uma proibição” (FOUCAULT, 1985, p. 28). O filósofo lembra que os colégios do século XVIII não falavam sobre sexo. Recorda que se faz necessário discutir essa temática. Ora através de uma profunda reflexão, ora de forma simples, mas sempre trazendo ao campo reflexivo tal realidade que abarca todos os seres humanos. Se, nos séculos XVII e XVIII, o sacramento da confissão exigiu uma prática confessional detalhada, que priorizou o pecado sexual, posteriormente, em decorrência dos diversos discursos, multiplicaram-se, por exemplo, as condenações jurídicas. Em outras pa- lavras, “anexou-se a irregularidade sexual à doença mental: da infância à velhice foi definida uma norma do desenvolvimento sexual” (FOUCAULT, 1985, p. 37). O século XIX e XX foram, “antes de mais nada, a idade da multiplicação: uma dispersão de sexualidades, um reforço de suas formas absurdas, uma implantação múltipla das ‘perversões’. Nossa época foi iniciadora de heterogeneidades sexuais” (FOUCAULT, 1985, p. 38). Assim, Foucault (1985, p. 38) identifica os códigos responsáveis pelas chamadas regularidades sexuais: “Até o final do século XVIII, três grandes códigos explícitos – além das re- gularidades devidas aos costumes e das pressões de opinião – regiam as práticas sexuais: o direito canônico, a pastoral cristã, e a lei civil. Eles fixavam, cada qual à sua maneira, a linha divisória entre o lícito e o ilícito”. Até mesmo as pessoas casadas não escapavam das exigências assinaladas pelos có- digos de comportamento sexual, sobretudo, quanto aos desvios em relação à genitalidade. “Romper as leis do casamento ou procurar prazeres estranhos mereceriam de qualquer modo, condenação” (FOUCAULT, 1985, p. 38). Nota-se, portanto, que, ao longo da história, vão- -se instalando os “tribunais” responsáveis em estabelecer a condenação aos que não correspon- diam aos padrões exigidos pela sociedade, no tocante à sexualidade. “Quanto aos tribunais, podiam condenar tanto a homossexualidade quanto a infidelidade, o casamento sem consen- timento dos pais ou a bestialidade” (FOUCAULT, 1985, p. 39). As proibições relativas ao sexo eram, fundamentalmente, de natureza jurídica. Há, por outro lado, até mesmo uma “aproximação” entre doenças mentais e com- portamento sexual. “Incontável família dos perversos que se avizinha dos delinquentes e se aparenta com os loucos. No decorrer do século eles carregaram sucessivamente o estigma da ‘loucura moral’, da ‘neurose genital’, da ‘aberração do sentido genésico’, da ‘degenerescência’ ou do ‘desiquilíbrio psíquico’” (FOUCAULT, 1985, p. 41). Por causa disso, ocorre a incor- poraçãodas perversões à sexualidade e às pessoas. Essa regularidade da sexualidade seria a expressão, ou a tentativa de estabelecer o poder sobre ela. “Trata-se, antes de mais nada, do 627FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. tipo de poder que exerceu sobre o corpo e o sexo, um poder que, juntamente, não tem a forma da lei nem os efeitos da interdição: ao contrário, que procede mediante a redução das sexualidades singulares” (FOUCAULT, 1985, p. 47). Foucault (2009, p. 4), na obra Segurança, Território, População, apresenta a seguinte definição de poder: "É um conjunto de mecanismos e de procedimentos que tem como papel ou função e tema manter – mesmo que não o consiga – justamente o poder”. E, identifica, ainda, o poder que transparece nas relações sexuais: “[...] não haveria relações sexuais que tivessem, a mais, ao lado, acima, mecanismos de poder” (FOUCAULT, 2009, p.4). Como visto na definição acima, esse poder se exerce mediante a noção de corpo, em cujo escopo manifesta-se a sexualidade, compreendida não somente através dos órgãos genitais, pois o corpo é mais que isso. CORPO, PODER E DISCURSO CIENTÍFICO DA SEXUALIDADE O regime proposto para os prazeres sexuais parece estar centrado inteiramente sobre o corpo: seu estado, seus equilíbrios, suas afecções, as disposições gerais ou passageiras em que se encontra aparecem como as variáveis principais que devem determinar as condutas. De certa forma, é o corpo que faz a lei para o corpo. Contudo, a alma tem o seu papel a desempenhar, e os médicos fazem intervir: pois é ela que se arrisca a levar o corpo além de sua mecânica própria e de suas necessidades elementares (FOUCAULT, 1985, p.136). O corpo, na visão de Foucault (1985), é concebido, entre tantas outras formas de entendimento, como realidade física que proporciona o prazer. Além disso, seria um “modo de especificação dos indivíduos” (FOUCAULT, 1985, p. 47). Assim, “não procura esquivá-la, atrai suas variedades com espirais onde prazer e poder se reforçam” (FOUCAULT, 1985, p. 47). Na exploração da sexualidade, o corpo é visto como objeto. Objeto que proporciona prazer, por tornar-se receptáculo de prazer. Ao seguir essa lógica, o filósofo ressalta que o corpo se tornou a forma mais expressiva de medir a relação entre poder e prazer. “É através do isolamento, da intensificação e da consolidação das sexualidades periféricas que as relações do poder com o sexo e o prazer se ramificam e multiplicam, medem o corpo e penetram nas condutas” (FOUCAULT, 1985, p. 48). Não seria incorreto afirmar que, na sociedade moderna, ocorreu uma “explosão vi- sível das sexualidades”, uma vez que o corpo passa a ser visto como “objeto” que proporciona o poder e o prazer. Com isso, há, certamente, uma proliferação de sexualidades. Não somente assistimos a uma explosão visível das sexualidades heréticas mas, sobre- tudo – e é esse o ponto importante – a um dispositivo bem diferente da lei: mesmo que se apoie localmente em procedimentos de interdição, ele assegura, através de uma rede de mecanismos entrecruzados, a proliferação de prazeres específicos e a multiplicação de sexualidades disparatadas (FOUCAULT, 1985, p. 48). Os responsáveis pela moralização da conduta das pessoas utilizavam um discurso em favor do bem viver. Este, por sua vez, estava associado à ideia, por exemplo, de se viver a chamada “pureza moral”. Era essa uma das preocupações da sociedade Vitoriana: “Pretendia assegurar o vigor físico e a pureza moral do corpo social, prometia eliminar os portadores 628 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. de taras, os degenerados e as populações abastadas” (FOUCAULT, 1985, p. 54). O discurso científico que perpassa, sobretudo, o século XIX emerge numa postura de “recusa de ver e ouvir” falar da sexualidade humana. “É inegável que o discurso científico sobre o sexo, no século XIX, era transpassado de credulidades imemoráveis e também de ofuscações sistemá- ticas: recusa de ver e ouvir; mas – e, sem dúvida, nisso está o ponto essencial – recusa que se solicitava imperiosamente” (FOUCAULT, 1985, p. 55). Da ligação do poder com a sexualidade, o resultado não seria outro, senão negativo, pois “com respeito ao sexo, o poder jamais estabelece relação que não seja de modo negativo: rejeição, exclusão, recusa, barragem ou, ainda, ocultação e mascaramento” (FOUCAULT, 1985, p. 81). O poder, nesse contexto, “seria, essencialmente, aquilo que dita a lei, no que diz respeito ao sexo. O que significa, em primeiro lugar, que o sexo fica reduzido, por ele, a regime binário: lícito e ilícito, permitido e proibido” (FOUCAULT, 1985, p. 81). Existe, então, uma representação jurídica que, no dizer do filósofo, permanece atuante sobre as rela- ções entre poder e sexo. Lembrando que o lícito, ou normal, da ciência está vinculado ao não pecado e o ilícito, o anormal, ao pecado. Com o término da “dominação” da confissão sobre a sexualidade, entra em cena a psicanálise. Para o filósofo, ocorreu uma institucionalização da sexualidade ao menos em dois modos: em primeiro lugar, através da Igreja Católica, como ficou demonstrado da relação en- tre confissão e sexualidade. Em segundo, por intermédio da psicanálise que “assumiu o lugar da Igreja”, ao focar como tema chave de sua base epistemológica a sexualidade. E a posição singular da psicanálise no fim do século XIX não seria bem compreendida se desconhecêssemos a ruptura que operou relativamente ao grande sistema de degeneres- cência: ela retomou o projeto de uma tecnologia média própria do instinto sexual, mas procurou libertá-la de suas correlações com a hereditariedade e, portanto , com todos os racismos e os eugenismos (FOUCAULT, 1985, p. 112-113). Coube à psicanálise lembrar de forma enfática que “nossa sexualidade está submeti- da a um regime de repressão” (FOUCAULT, 1985, p. 121). Ou ainda: colocar em discussão a relação entre “a lei e o desejo e, ao mesmo tempo, técnica para eliminar os efeitos da interdi- ção lá onde seu rigor a torne patogênica. Em sua emergência histórica, a psicanálise não pode se dissociar da generalização do dispositivo de sexualidade e dos mecanismos secundários de diferenciação que nele se produziram” (FOUCAULT, 1985, p. 121). Um dos méritos de Freud (1996, p. 119-231), recorda Foucault (1985, p. 149), foi o de colocar em discussão a sexualidade. O pai da psicanálise reconheceu que essa demanda por abarcar todos os seres humanos precisa ser mais bem aprofundada cientificamente. Eis o que fez a psicanálise. Entretanto, o filósofo lembra de maneira crítica em relação à psicanálise, o que aliás é confirmado por Winter (2010), que esta, por sua vez, tomou para si o baluarte da sexuali- dade como o fio condutor responsável pelos maiores dramas da condição humana: concebida na ótica da repressão. Freud (1996) dizia, por exemplo, que a sexualidade não realizada tem o poder de levar o sujeito ao sofrimento psíquico. As doenças dos “nervos” (histeria), como eram conhecidas em seu tempo, seriam consequências, até certo ponto, de uma sexualidade reprimida e não realizada. É isso que Foucault (2004) tem dificuldade de aceitar. Em seu dizer, concebida dessa forma, a sexualidade não passaria de um dispositivo causador de pato- logias. Porém, uma das contribuições de Freud (1996), diz Foucault (2004, p.58), consistiu 629FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. em mostrar “que esse desconhecimento do sujeito por ele próprio era o ponto de ancoragem da psicanálise, que ele era, de fato, não um desconhecimento geral pelo sujeito de si mesmo, mas sim um desconhecimento de seu desejo, ou de sua sexualidade, para empregar uma pala- vra que talvez não seja muito adequada”. CONSIDERAÇÕES FINAIS Procurou-se mostrar como a sexualidade foi se constituindo através de um processo de deslocamento no pensamento de Michel Foucault. Primeiramente, abordaram-se os mo- tivos que levaram à repressão da sexualidade.Para isso, fez-se uma análise de uma das obras de Foucault (1985): História da Sexualidade 1. Para o filósofo estudado, o Regime Vitoriano contribuiu para o “sequestro” da sexualidade e seu confinamento quase que exclusivamente ao modelo matrimonial. Além disso, a sexualidade se tornou um tabu. Isso significou a não permissão de abordá-la ou de vivê-la de maneira mais humana. Ocorreu, ainda, a associação da sexualidade com o prazer. E, uma vez que o prazer era da ordem do pecado, tonou-se in- concebível sua associação com a sexualidade. Num segundo momento, descreveu-se o significado do poder pastoral por meio da confissão. Explicou-se, portanto, que ocorreu uma ligação entre sexualidade e pecado. Por causa disso, justifica o interesse do poder pastoral em levar o penitente a se confessar, pois uma “boa” confissão seria aquela que explorasse o drama da sexualidade na vida dos fiéis. Isso ocorreu devido a relação entre “verdade” e “sexo”. A verdadeira confissão não poderia deixar de analisar os pecados do sexo. Na terceira parte, explorou-se a questão das regularidades sexuais. De certa forma, uma espécie de continuidade do poder pastoral. Surgiram, por exemplo, os códigos de controle da sexualidade: o direito canônico, a pastoral cristã e a lei civil. Tais códigos tinham por finalidade dizer o que era e o que não era permitido no âmbito da sexualidade. Por fim, a quarta parte deteve-se no discurso científico da sexualidade. Se, no sécu- lo XVII, o poder pastoral detinha o “controle” da sexualidade por meio da confissão, agora esse controle se dará pela psicanálise. Freud (1996) lembrou que a sexualidade está associada à repressão. Foucault discordará do pai da psicanálise quanto a essa afirmação, pois, para o filósofo, a sexualidade não pode ser reduzida às psicopatologias. Foucault (1985; 2007) compreende a sexualidade como uma forma de vida saudável. Por mais que haja dificuldades nessa área, a sexualidade precisa ser vivida na ordem do saudável e não no seu reducionismo ao psicopatológico. Faz-se necessário lembrar que Foucault (2007) não concebe a psicanálise somente pela ótica negativa. De forma geral, “a psicanálise, interroga não o próprio homem tal como pode aparecer nas ciências humanas, mas a região que torna possível, em geral, um saber sobre o homem” (FOUCAULT, 2007, p. 524). THE DISPLACEMENT PROCESS OF SEXUALITY IN MICHEL FOUCAULT’S REFLEXION Abstract: in this article, the author reflects on some points raised by Michel Foucault in his History of Sexuality 1 in order to understand how sexuality was assimilated in some periods of history, especially in Victorian society. The Victorian Regime contributed to the “kidnapping” of sexuality and its confinement almost exclusively to the marriage model. Furthermore, sexuality became a 630 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 31, n. 3, p. 620-630, 2021. taboo. This meant that sexuality was not allowed to be approached or lived in a more humane way. There was also the association of sexuality with pleasure. Once the pleasure was the order of sin, it became inconceivable its association with sexuality. Keywords: Sexuality. Pastoral power. Confession. Sexual regularities. Referências FOUCAULT, M. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1985. FOUCAULT, M. História da sexualidade 2: uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Graal, 2009. FOUCAULT, M. História da sexualidade 3: o cuidado de si. Rio de Janeiro: Graal, 1985. FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitário, 2004. FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2007. FOUCAULT, M. Segurança, território, população. São Paulo: Martins Fontes, 2008. FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. VII. p.119-231. (Texto original publicado em 1905). NASCIMENTO, D. I. O corpo político: sexualidades e regularidades acerca do prazer, dever, castigo e liberdade. Saberes Interdisciplinares, São João Del-Rei, v. 6, n. 12, p. 53-68, jul./dez. 2013. WINTER, C. A. F. C. Confissão e cura: uma interlocução entre Foucault e a psicanálise freudiano-lacaniana. Curitiba: Juruá, 2010.