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1 
 
 
GEOGRAFIA REGIONAL DO BRASIL 
1 
 
 
 
Sumário 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................................... 2 
1. O CONCEITO DE REGIÃO .............................................................................. 3 
1.1-A região na história do pensamento geográfico .............................................. 3 
1.2Construindo um quadro-síntese ...................................................................... 10 
1.3 A região na contemporaneidade .................................................................... 14 
2. PLANEJAMENTO REGIONAL ....................................................................... 15 
2.1 A região como escala de planejamento ......................................................... 16 
2.2-Planejamento regional e desenvolvimento econômico no Brasil ................... 19 
2.3 O planejamento regional brasileiro para além das superintendências ........... 29 
3. O ESTADO E A ESCALA REGIONAL ........................................................... 31 
3.1-Estado e poder por meio do conceito de território ......................................... 31 
3.2-Ordenamento territorial e planejamento regional no Brasil ............................ 33 
4. REFERÊNCIAS: ............................................................................................. 35 
 
 
 
2 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em 
atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com 
isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em 
nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no 
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de 
promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem 
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras 
normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável 
e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. 
Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de 
cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do 
serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
1. O CONCEITO DE REGIÃO 
 
O conceito de região é uma das principais ferramentas analíticas da geografia, sua 
história está diretamente ligada à formação da geografia como ciência moderna, sendo 
considerado por vezes o próprio saber geográfico. 
No passado, dominar esse conceito era dominar o conhecimento geográfico. Sua 
posição central em discussões da geografia fez com que sua interpretação fosse modificada 
ao longo dos séculos. Desse modo, neste capítulo não apresentamos uma definição 
fechada e acabada do que significa região, mas sim uma reflexão sobre esse conceito ainda 
tão presente em trabalhos e no discurso da geografia. 
 
1.1-A região na história do pensamento geográfico 
 
O uso de um termo que busque explicar eventos ou fenômenos da realidade reflete 
o momento histórico e os personagens envolvidos na geração desse conhecimento - e com 
o conceito de região não poderia ser diferente. Assim, no decorrer desta seção vamos 
conhecer a origem desse conceito e como ele foi modificado. 
No Império Romano, o termo região emergiu como um conceito importante. 
Originado do latim regere, estava relacionado, além das noções de localização e extensão, 
à centralização do poder em uma porção do espaço de alta diversidade social, cultural e 
espacial. 
No auge de suas conquistas, o Império Romano foi um exemplo perfeito do 
surgimento do poder centralizado e, com isso, das complexas relações entre o poder 
político e administrativo, áreas sujeitas a essa hegemonia. Com seu declínio, houve a 
fragmentação de seu território. Assim, as antigas regiões foram subdivididas e deram forma 
ao poder autônomo dos feudos, que predominaram na Idade Média. 
 
 
 
4 
 
 
Mapa 1 – Divisão do Império Romano em regiões no ano 117 d. C. 
 
Figura: 1 
 
Contudo, as questões sobre essa noção persistiram e não desapareceram com o 
tempo. Assim, desde o surgimento desse conceito, é possível estabelecer relações entre a 
sua etimologia e a noção de um espaço delimitado e organizado por um governo local. 
Percebe-se que sua origem é relacionada à necessidade de um momento histórico, cuja 
principal característica era a centralização do poder (GOMES, 1995). 
Com a formação dos Estados modernos, novamente surgiu à necessidade de 
relacionar o poder centralizado às diversas unidades administrativas. Assim, a mesma 
questão da Antiguidade Clássica ressurgiu. Gomes (1995) elenca três importantes 
consequências da origem do conceito de região nesse contexto. A primeira se deu na esfera 
do debate político sobre a formação e dinâmica do Estado, por meio da organização cultural 
e da diversidade espacial das unidades administrativas. A segunda consistiu no modo como 
a região representava, nesse momento, as projeções de soberania, direito e autonomia e 
atribuía um componente espacial inquestionável ao conceito. Por fim, a terceira 
5 
 
 
consequência acarretou a eminência da formação da geografia como ciência moderna, 
tornando a região um de seus conceitos-chave. 
Na linguagem cotidiana do senso comum, podemos verificar a palavra região em 
expressões vagas, incertas, em que não existe a necessidade de estabelecer um limite 
para sua abrangência. Nesse sentido, reflexões são deixadas de lado, apenas um impulso 
momentâneo indica as diretrizes de sua utilização. Assim, os princípios de localização e de 
extensão são os únicos condicionantes do emprego da palavra. Não há uma especificação, 
fato que impossibilita o discernimento na diferenciação entre região, local, espaço e 
território, por vezes tratados como a sinônimos. 
Na metade do século XIX, as ciências passaram por um momento de consolidação. 
Com base nas ideias de Immanuel Kant (1724-1804), segundo o qual o conhecimento 
verdadeiro seria aquele verificável e seu princípio básico seria a causalidade, vários 
estudiosos qualificaram os métodos e os objetivos de suas respectivas ciências. No caso 
da geografia, Karl Ritter (1779-1859) foi o responsável por essa consolidação. Por meio de 
sua obra Geografia comparada, os objetivos e os métodos geográficos tornaram-se mais 
concisos. Nesse contexto, a região estava fortemente relacionada com a discussão das 
influências do meio natural na sociedade, uma corrente que se baseava em um domínio do 
ambiente sobre a orientação do desenvolvimento social. 
Foi também nesse momento que surgiram dois importantes autores da geografia 
moderna: Friedrich Ratzel (1844-1904), com o conceito de espaço vital – por vezes 
interpretado, de maneira equívoca, como sinônimo de região –; e Paul Vidal De La Blache 
(1845-1918), com o conceito de região natural, discutido em sua obra Tableau de la 
géographie de la France (1903). Em ambos os autores, o ambiente atua como limitante na 
continuidade regional. E apenas pelos meios técnicos o homem poderia superar as 
barreiras do ambiente. A vida social seria construída pela possibilidade do homem de atuar 
como agente de organização espacial das sociedades. 
No entanto, os pontos de vista desses dois autores eram opostos. Ratzel era rotulado 
como determinista, enquanto Vidal de La Blache era considerado possibilista. Na 
perspectiva possibilista, a região seria o produto das atividades humanas sobre o ambiente 
físico. Entretanto, o nome possibilismo foi dado por Lucien Febvre (1878-1956), como 
verificamos no texto de Mercier (2009, p. 7): 
 
6Tal oposição provém, em larga medida, do comentário partidário de Lucien Febvre 
(1922) que, para melhor condenar os presumidos erros de Ratzel, caricaturou seu 
pensamento confinando-o a algumas sentenças lapidares revestidas sob o pejorativo 
título de “determinismo”. Inversamente, para garantir o triunfo de Vidal sobre Ratzel, 
atribui ao francês a paternidade de uma doutrina – o “possibilismo” – cuja principal 
qualidade era, justamente, invalidar o falacioso determinismo. 
 
A categoria de região natural – que representava um produto, uma porção do espaço 
delimitada por aspectos relacionados à geografia física, com forte influência da geologia –, 
ajudou na delimitação das regiões por bacias hidrográficas, consideradas demarcadores 
naturais (CLAVAL, 1976). 
Uma das construções práticas e teóricas que permanecem até hoje sobre essa 
categoria foi postulada por Andrew John Herbertson (1865-1915). Em sua proposta de 
regionalização da Terra, ele a dividiu em: polar, temperada fria, temperada quente, tropical, 
montanhosa subtropical, terras baixas e úmidas equatoriais. O IBGE, fortemente 
influenciado por essa noção, delimitou as macrorregiões naturais também desse modo. 
Trabalharemos mais sobre essa questão nos próximos capítulos. 
Com a emergência do pensamento possibilista, o conceito de região passou a ser 
trabalhado como região humana, e com a escola francesa, o gênero vida passou a fazer 
parte dos conceitos vinculados à região. Essa seria uma região de enfoque cultural, mas 
que teria como subsídio a base física e natural, elevada pela ação do homem em sua 
organização por meio da técnica. Nesse sentido, região e paisagem por vezes se tornam 
sinônimos. Essa união de aspectos físicos e humanos a fazem um produto e ao mesmo 
tempo uma síntese do saber geográfico. Desse modo, surgiu então a região geográfica: 
 
A região geográfica abrange uma paisagem e sua extensão territorial, onde se 
entrelaçam de modo harmonioso componentes humano e natureza. A ideia de 
harmonia, de equilíbrio, evidente analogia organicista que Vidal de La Blache adota, 
constitui o resultado de um longo processo de evolução, de maturação da região, 
onde muitas obras do homem fixaram-se, ao mesmo tempo com grande força de 
permanência e incorporadas sem contradições ao quadro final da ação humana sobre 
a natureza. (CORRÊA, 2000, p. 28) 
 
A região geográfica passou a ser o produto-síntese da geografia, que condensaria 
as ações transformadoras da sociedade sobre o ambiente. Podemos observar que apesar 
da mudança de enfoque, o conceito de região ainda é considerado um produto, uma 
7 
 
 
realidade concreta e física. Assim, o papel da geografia não estava necessariamente na 
delimitação de regiões, mas sim na busca de uma personalidade, uma assinatura que a 
diferenciasse das demais e a tornasse particular. 
Vidal de La Blache (1921) ressurgiu como expoente quando armou que apenas a 
descrição do espaço permitiria compreender a complexa estrutura dinâmica do espaço. 
Nesse período, a criação de monografias regionais foram um dos principais objetivos da 
geografia. Eram quase como receitas de bolo, que iniciavam com a descrição das 
características físicas (como geologia, vegetação e clima), passavam pela descrição 
estatística da população e, por m, suas atividades econômicas. Para tal, o trabalho de 
campo se tornou parte fundamental, tanto para aproximação do pesquisador na área quanto 
para o levantamento detalhado de informações para essas monografias. 
Essas características de estudo ficaram conhecidas como Escola Francesa de 
Geografia, que permaneceu no auge do cenário acadêmico europeu por cerca de 50 anos 
e foi amplamente incorporado por outros países, entre eles o Brasil. 
No método regional, trabalhado especialmente por Hartshorne (1978, p. 138), “a 
região é uma área de localização específica, de certo modo distinta de outras áreas, 
estendendo-se até onde alcance essa distinção”. Hartshorne foi discípulo de Hettner, um 
dos mais importantes geógrafos alemães do século XX. 
A revolução teorética-quantitativa da década de 1950, conhecida também como nova 
geografia, impôs uma lógica matemática e formal às ciências sociais – entre elas a 
geografia. Nessa transição (da geografia como ciência), a região deixou de ser um produto-
síntese para um meio e uma maneira de demonstrar hipóteses. Regionalizar se tornou um 
método de dividir o espaço com base em critérios, hipóteses e teorias previamente 
estabelecidas e orientadas pelas indicações de cada pesquisador (GRIGG, 1967). Para 
Corrêa (1986, p. 32), região tornou-se “um conjunto de lugares onde as diferenças internas 
entre esses lugares são menores que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro 
conjunto de lugares”. 
Desse modo, na análise regional, a região passou a ser uma classe especial, cuja 
delimitação se deu pela classificação por critérios e variáveis arbitrárias estabelecidas pela 
retórica científica. Por vezes ela era limitada a métodos e técnicas estatísticas descritivas, 
o que tornava o uso de planilhas, cartogramas e pesquisas em gabinete mais importantes 
do que o trabalho de campo. 
8 
 
 
Ao contrário do paradigma possibilista e da geografia hartshorniana, a nova procura 
leis ou regularidades empíricas sob a forma de padrões espaciais. O emprego de 
técnicas estatísticas, dotadas de maior ou menor grau de sofisticação – média, 
desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise fatorial, cadeia de Markov etc. –, a 
utilização da geometria, exemplificada com a teoria dos grafos, o uso de modelos 
normativos, a adoção de certas analogias com as ciências da natureza e o emprego 
de princípios da economia burguesa caracterizam o arsenal de regras e princípios 
adotados por ela. (CORRÊA, 2000, p. 18) 
 
Foi nesse momento que surgiram importantes autores, como Walter Christaller 
(1893-1969) e sua teoria das localidades centrais, John Friedmann (1926-2017) com a 
teoria do centro-periferia e François Perroux (1903- -1987) com a Teoria dos Pólos de 
Crescimento. 
Foi nessa perspectiva que surgiu o termo regiões homogênea. Essas eram 
subdivididas em regiões funcionais (relacionadas ao dinamismo do espaço e seus diversos 
fluxos, diretamente relacionadas à noção de rede) e tinham características fixas e 
homogêneas determinadas estatisticamente, especialmente para fins de planejamento 
territorial e compreensão do uso e ocupação do solo. 
E foi com base nas regiões funcionais que foi criada a escola geográfica das regiões 
polarizadas. Essa escola considerava a cidade como o comando de organização do espaço 
e tinha Pierre George (1909-2006) como um importante teórico (GOMES, 1995). As regiões 
polarizadas valorizavam a vida econômica das cidades e buscavam estabelecer 
organizações espaciais embasadas em teorias macroeconômicas de inspiração 
neoclássica, especialmente na obra de Perroux. 
Em contraposição a esse movimento, surgiu a geografia crítica ou radical, 
especialmente após os anos 1970, quando o materialismo histórico-dialético adentrou as 
Ciências Humanas. Para essa vertente, as regiões polarizadas naturalizavam o capitalismo 
e causavam a desigualdade também na esfera espacial. Assim, o espaço seria diferenciado 
devido à divisão territorial do trabalho e o processo de acumulação de capital. No Brasil, 
Milton Santos (1926-2001) trouxe à tona a ideia de região como uma totalidade 
socioespacial, em que as sociedades produziriam seus espaços de maneira dialética, 
influenciando e sendo influenciados ao mesmo tempo pelo espaço. De acordo com o 
teórico, “a região é, pois, nesta perspectiva a síntese concreta e histórica desta instância 
espacial ontológica dos processos sociais, produto e meio de produção e reprodução de 
toda a vida social” (SANTOS apud GOMES, 1995, p. 66). 
9 
 
 
Para a geografia crítica, a região não é apenas o resultado das diferentes formas de 
reprodução do capitalismo na sociedade eno espaço, mas também elucida o papel político 
da análise regional. Nas palavras de Corrêa (1986, p. 45), ela é “o resultado da lei do 
desenvolvimento desigual e combinado, caracterizada pela sua inserção na divisão 
nacional e internacional do trabalho e pela associação de relações de produção distintas”. 
Contrária à geografia crítica, temos a geografia humanística e a geografia cultural. 
Essas linhas concebem a região novamente como um produto. Elas existem tanto como 
um quadro de referência na consciência coletiva da sociedade quanto definidoras de um 
código social comum com base no território. Para os humanistas, a região deve ser vivida, 
e, com base nessa concepção, os trabalhos em campo voltaram à cena acadêmica com 
força. Isso fica claro na obra A região, espaço vivido, de Armand Frémont (1976). 
A geografia humanística buscava uma visão holística para a conceituação e o 
enriquecimento da organização espacial, logo, também para o conceito de região. Essa 
vertente tentou definir esse conceito pela sua multi-interpretação, ou seja, tentou explicá-lo 
de modo subjetivo, embasado na avaliação da identidade de determinado grupo social e 
sua espacialidade, o que ocasionou uma alta dependência da fenomenologia. 
A geografia cultural – de caráter mais filosófico e com concepções de gênero de vida 
e paisagem – baseou-se no estudo de paisagem. Nessa vertente, o conceito de região 
assumiu outra interpretação, como um somatório de inter-relações, comportamentos, 
decisões, apreensões e valorações. Com isso, esse conceito é caracterizado como 
intersubjetivo, uma vez que possui um código próprio (e por isso não pode ter um único 
modelo regional), que ultrapassa o pessoal e recebe sentido coletivo. A cultura é 
fundamental para a interpretação desse espaço. 
Como alternativa à geografia crítica, temos a geografia do poder, que contou com as 
contribuições de Michel Foucault (1926-1984) e têm nomes como Yves Lacoste (1929-), 
Paul Claval (1932-) e Claude Raffestin (1936-). Esses teóricos pensam na construção de 
redes de poder e políticas que transformam o espaço e constroem conexões regionais. 
Essas conexões não se explicariam apenas por relações econômicas, mas também pelas 
relações de poder, centralizadas no papel do Estado ou em tramas mais sutis, como o poder 
exercido por milícias e/ou grupos de poder político e sociedades organizadas. 
Especialmente na obra de Lacoste, a região adquire um papel político e demonstra as 
contradições do Estado-nação. Em suas palavras: 
10 
 
 
Enquanto seria politicamente mais sadio e mais eficaz considerar a região como uma 
forma espacial de organização política (etimologicamente, região vem de regere, isto 
é, dominar, reger), os geógrafos acreditam na ideia de que a região é um dado quase 
eterno, produto da geologia e da história. Os geógrafos, de algum modo, acabaram 
por naturalizar a ideias de região. [...] eles utilizam a noção de região, que é 
fundamentalmente política, para designar todas as espécies de conjuntos espaciais. 
(LACOSTE, 2005, p. 36) 
 
. 
1.2Construindo um quadro-síntese 
 
No item anterior, observamos que o conceito de região foi ressignificado em diversos 
momentos. Ele sempre foi um tópico central das discussões geográficas e sofreu 
modificações de aporte teórico e metodológico. Porém, de modo geral, os estudos 
relacionados a esse conceito tinham como premissa o fenômeno espacial, que refletia as 
maneiras como as sociedades organizavam e materializavam suas relações sociais e com 
o meio natural. 
Nesse sentido, nossa intenção não é criar uma forma reducionista ou linear de 
compreender essa concepção ou estabelecer juízos de valor sobre as diferentes 
abordagens. Nosso objetivo é, com base em um quadro-síntese, evidenciar os aspectos 
mais relevantes sobre esse conceito na geografia. Esta seção visa justamente corroborar 
o conceito de região no quais novas e antigas definições coexistam e atribuem novos 
significados constantemente para construir um abrangente e complexo cenário científico 
para a geografia. 
Nas discussões sobre as definições de região natural e região geográfica, está em 
evidência o modo como a diversidade social é interpretada e sua relação com o meio 
natural. Assim, a importância dada às condições naturais na organização das sociedades 
e na sua espacialização dominam o discurso da delimitação da região. Nesse momento, a 
geografia se rearma como a ciência responsável por refletir a relação homem-natureza, 
mesmo com variações de elementos na formulação de fenômenos espaciais. Sua análise 
busca relacionar esses elementos em um mesmo quadro analítico. 
Especialmente após a década de 1950, houve discordâncias em considerar 
elementos humanos e físicos como conjuntos estruturantes do espaço geográfico 
11 
 
 
(GOUROU, 1973) e a região deixam de assumir seu papel de síntese. Gomes (1995, p. 69) 
resume esse processo: 
Em outras palavras, a lógica que preside a divisão regional sob o ângulo de uma 
ordem natural não pode ser enxertada à ordem social e vice-versa, o que resulta em uma 
renúncia da geografia moderna em ver a região como um objeto sintético que poderia 
resolver o velho problema dicotômico entre a geografia física e a geografia humana. 
Outro modificador do conceito de região é a compreensão de ciência. Como 
consequência dessa modificação, está o importante debate entre geografia geral ou 
sistemática e geografia regional, que é o foco de nosso livro. 
A Geografia geral, baseada na concepção de ciência geral, vê a região como um 
resultado obtido por meio de um sistema explicativo e critérios analíticos de extensão 
espacial (GRIGG, 1967). Ela é fundamentada em um modelo sintético de ciência do 
singular, no qual uma categoria é embasada em um determinado fenômeno. Para a 
geografia geral, esse fenômeno não pode ser desmembrado e sua totalidade deve ser 
compreendida como caso concreto. Nessa perspectiva, a região é uma realidade auto 
evidente e sua delimitação está ligada a um quadro de referência que não é 
necessariamente lógico, mas sim relacionado ao sentimento de pertencimento e de 
identidade (FRÉMONT, 1976). Gomes (1995) exemplifica muito bem essa relação: 
 
Existem, pois duas abordagens diferentes da realidade geográfica, uma que se 
aproxima da ecologia e, consequentemente, incorpora antes de mais nada os dados 
das ciências naturais e da sociologia; a outra está ligada sobretudo ao funcionamento 
do espaço territorial e dá destaque aos dados da economia política [...] Longe de 
excluírem uma a outra, estas duas abordagens se esclarecem mutuamente, mas 
somente a segunda permitirá talvez ultrapassar a enfermidade congênita da 
geografia: sua inaptidão para a generalização. (JUILLARD, 1974 apud GOMES, 1995, 
p. 70) 
 
Por fim, ainda podemos compreender esse conceito à luz de sua uniformidade ou 
sua capacidade de mutação. Assim, região pode ser um fenômeno espacial – derivado da 
classificação, uniformidade e hierarquização de um sistema espacial submetido às mesmas 
variáveis – ou uma relativização de variáveis que pertencem a dado fenômeno e atribui um 
caráter demonstrativo. 
12 
 
 
Embora tenham ocorrido todas essas transformações, o conceito de região e a 
regionalização ainda representam em si o sentido do saber geográfico. Como diz Haesbaert 
(1999), esse conceito permite à geografia se aproximar de sua maior vocação: de realizar 
sínteses baseadas na realidade espacial, nas quais a relação sociedade-natureza se 
apresenta nas mais complexas materializações. Ser capaz de se apropriar dessa 
concepção e de suas possibilidades teórico-metodológicas é essencial para o geógrafo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
A Figura a seguir demostra nossa síntese do conceito de região 
 
 
Figura: 2 
 
 
14 
 
 
 
1.3 A região na contemporaneidade 
 
Com o desenvolvimento do sistema capitalista e especialmenteo processo de 
globalização, houve autores que levantaram a possibilidade de “morte“ do conceito de 
região. A homogeneização e a uniformidade dos espaços e das relações sociais 
ocasionadas pela globalização marcariam o fim desse conceito (LIPIETZ, 1977). Com base 
nesse ponto de vista, os movimentos regionais seriam instâncias de resistência a esse 
processo. 
No entanto, uma outra vertente indicaria justamente o contrário. A região, por meio 
da globalização, poderia emergir como escala para a interpretação de conflitos e problemas 
na relação global/local. Segundo Santos (1999), a complexidade pertinente à região na 
contemporaneidade é única e parte inerente dos processos de globalização e fragmentação 
de maneira concomitante. Sobre essa dualidade, Santos ainda destacou: “não pensamos 
que a região haja desaparecido. O que esmaeceu foi a nossa capacidade de reinterpretar 
e de reconhecer o espaço em suas divisões e recortes atuais, desafiando-nos a exercer 
plenamente aquela tarefa permanente dos intelectuais, isto é, a atualização dos conceitos” 
(1994, p. 102). 
Desse modo, em uma perspectiva ampliada, o conceito de região pode se dar pela 
complexa rede de fenômenos multiescalares, isto é, que ultrapassam uma única escala 
geográfica do mundo contemporâneo. Seu resgate e sua ressignificação, com a ideia de 
região rede, podem ser estabelecidos por meio das relações sociais e do modo de produção 
capitalista. Além disso, o conceito pode perpassar as construções simbólicas de identidade 
regional, criar teias de relações espacialmente expressas e chegar até a necessidade do 
uso de região natural e regionalizações baseadas em aspectos físicos da paisagem 
(NOBREGA, 2015). 
Desse modo, essa concepção passa a ser fenômeno espacial da realidade, mas que 
existe como fenômeno geográfico. Assim, assume-se, concomitantemente, uma dualidade 
em seu uso como ferramenta analítica da geografia no aspecto concreto de território, na 
questão escalar, na pós-modernidade e na fenomenologia. 
15 
 
 
Sem nos limitarmos, mas pensando em bases para as reflexões propostas nesta 
obra, nos principais estudos de geografia regional da atualidade e, especialmente, no 
enfoque aqui dado em relação à divisão regional brasileira e ao planejamento regional, 
ainda podemos buscar um caminho teórico. 
Para Gomes (1995, p. 73), de qualquer forma, se a região é um conceito que funda 
uma reflexão política de base territorial, se ela coloca em jogo comunidades de interesse 
identificadas a certa área e, finalmente, se ela é sempre uma discussão entre os limites da 
autonomia em face de um poder central, parece que estes elementos devem fazer parte 
dessa nova definição em lugar de assumirmos de imediato uma solidariedade total com o 
senso comum que, neste caso da região, pode obscurecer um dado essencial: o 
fundamento político, de controle e gestão de um território. Assim, a materialidade desse 
conceito é relevada por mecanismos mais flexíveis e ele deixa de estar vinculado 
diretamente, por exemplo, à continuidade espacial, estabelecendo relações com ajustes 
nas escalas global e local no contexto de globalização. 
 
2. PLANEJAMENTO REGIONAL 
 
Como vimos no primeiro capítulo, o ato de regionalizar é em si um ato político que 
evidencia, sobretudo do ponto de vista territorial e do Estado, como a representação no 
espaço se dá por meio das relações de poder. Assim, neste capítulo sustentamos que o 
planejamento e o desenvolvimento econômico são idealizados e realizados na escala 
regional, principalmente em economias emergentes e periféricas, como é o caso do Brasil. 
Além de relacionarmos conceitos, fazemos um breve levantamento histórico do 
planejamento regional brasileiro. Por fim, abordamos também a influência do Banco 
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é até hoje o principal 
órgão de referência para o planejamento regional no Brasil. 
 
 
 
16 
 
 
2.1 A região como escala de planejamento 
 
 O Planejamento é a ação de planejar, de estabelecer metas e diretrizes que 
pretendem manter ou modificar as ações sobre uma determinada situação. Quando 
referimo-nos ao planejamento regional, mais do que uma delimitação de escala (nesse caso 
a região), referimo-nos a um planejamento econômico e territorial, especialmente no caso 
do Brasil, de base capitalista. Assim, é interessante relembrarmos de qual conceito de 
região estamos nos referindo. Como já vimos, esse conceito pode ser aprendido e utilizado 
de diferentes maneiras. Aqui, ele será trabalhado com base na definição de Gomes (1995), 
que relaciona a região a aspectos sociais, de fundamentação política, de controle e gestão 
de um território. 
Podemos dizer que o planejamento regional pode ser entendido de duas maneiras. 
A primeira se dá quando esse planejamento objetiva o desenvolvimento ligado ao capital. 
Para atingir essa finalidade, suas ações são focadas na redução de incertezas do processo 
capitalista em determinada área do espaço. Assim, essa ação estará centrada na 
diminuição das disparidades causadas pelo desenvolvimento econômico na distribuição 
espacial dos polos econômicos. A segunda possibilidade ocorre quando o planejamento 
regional busca garantir interesses ligados às populações afetadas por ele. Nesse caso, 
haverá um enfoque no controle do capital e no modo de extração de recursos da natureza, 
além de aspectos sociais e econômicos da população (THEIS, 2016). 
Segundo Bomfim (2007), a geografia como ciência adotou de maneira ampla 
diversas bases teóricas para refletir o ato de planejar o espaço. Nessa perspectiva, a região 
se aproximaria de uma área programada, na qual a divisão teria como premissa a 
maximização da eficiência de um programa de desenvolvimento territorial. Para tanto, a 
regionalização seria parte desse processo, no qual suas delimitações estariam fortemente 
relacionadas às intenções e pretensões do planejamento regional. 
A expressão planejamento regional surgiu com o urbanista irlandês Patrick Geddes 
(1854-1932). Com forte influência da definição de região estabelecida por Vidal de La 
Blache, as monografias regionais e seus levantamentos sobre a região natural deram 
subsídios para a compreensão e elaboração de metas de desenvolvimento do espaço. 
Entretanto, a primeira experiência de planejamento regional teve origem nos Estados 
Unidos, como parte do programa New Deal durante o governo Roosevelt. Esse programa 
17 
 
 
tinha como objetivo a recuperação da economia norte-americana após a crise de 1929. 
Para tanto, foram adotadas medidas de combate ao desemprego, recuperação da 
agricultura por meio da criação de agências de crédito e fomento para agricultores, controle 
de preços para impulsionar a indústria, além de legislações que controlassem de maneira 
enfática o setor financeiro e tributário. 
O vale do Rio Tennessee (afluente dos rios Ohio e Mississipi), que tinha sua 
economia voltada para agricultura, era considerada umas regiões menos industrializadas 
dos EUA na década de 1930. Para suprir essa questão, foi criada a Tennessee Valley 
Autorithy (TVA), uma autarquia de planejamento econômico e territorial que existe até hoje. 
Baseada em uma política econômica do keynesianismo, foram realizadas nesse rio obras 
de navegabilidade, usinas hidrelétricas, pontes e rodovias, bem como o gerenciamento de 
recursos hídricos e o desenvolvimento de energia nuclear. A TVA não influenciou apenas 
o modo como orientamos o planejamento regional brasileiro, mas também nossa matriz 
energética e a criação de grandes empreendimentos, principalmente pela política 
econômica dos governos de Getúlio Vargas (1882-1954) e Roosevelt, como verificaremos 
adiante. 
Figura – Barragem de Guntersville (cidade do estado do Alabama, nos EUA) no Rio 
Tennessee. 
 
Figura: 3 
 
 
18 
 
 
Outro exemplo de planejamento regional é a Cassa per il Mezzogiorno, organização 
do governoitaliano baseada no exemplo da TVA para o desenvolvimento da Região Sul da 
Itália. O sul italiano é considerado a região menos desenvolvida economicamente do país. 
Entretanto, apesar da transferência de recursos, melhorias de infraestruturas e incentivos 
fiscais para a instalação de indústrias, essa ainda é uma região fortemente agrícola. 
Aspectos relacionados à corrupção e à máfia são entraves para seu desenvolvimento, fato 
que ocasiona, inclusive, o fechamento de importantes fábricas, como da Fiat. 
Podemos observar que as teorias e dinâmicas envolvidas na ação de planejar estão 
implicitamente ligadas às teorias e políticas econômicas. Teoricamente, no capitalismo, o 
espaço é compreendido de maneira integrada e articulada – é daí que surge, por exemplo, 
a definição de globalização. Assim, a regionalização é sempre entendida como um corte 
arbitrário e está relacionada com a interação entre pontos do espaço sob uma ótica 
capitalista. 
A dinâmica regional, desse modo, estaria relacionada aos movimentos de capital 
entre diferentes pontos do espaço. A direção e a motivação seriam elementos para a 
formulação de teorias. 
Entre os principais autores dessa concepção estão François Perroux, Jacques 
Boudeville (1919-1975) e Douglas North (1920-2015). Destes, Perroux foi o mais importante 
para a compreensão e delimitação de políticas para o planejamento regional no Brasil. Autor 
da expressão polos de desenvolvimento, sua teoria se baseou na industrialização como 
processo gerador de polos de aglomeração econômica. Com forte influência da revolução 
teorética quantitativa, para Perroux, o espaço era abstrato, euclidiano e poderia ser 
compreendido pela matemática e estatística. Para ele, as relações que ocorriam no espaço 
econômico não eram refletidas completamente no território nação, mas sim no domínio de 
alcance dos planos econômicos de governo e dos indivíduos, especialmente instituições 
econômicas. Além disso, os complexos industriais viabilizariam o crescimento econômico 
por meio de polos de desenvolvimento. Na busca de uma aproximação com a interpretação 
geográfica , podemos encontrar em Santos (1996, p. 63) um modo de compreender a 
organização espacial: 
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório 
de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas 
como o quadro único no qual a história se dá. [...] 
Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os sistemas de 
objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro, o sistema de ações 
19 
 
 
leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim 
que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma. 
 
Para o autor, o espaço era formado pela interação entre sistemas de objetos e 
sistemas de ações. Dessa forma, podemos perceber que – especialmente no caso 
brasileiro – o planejamento e a formulação de mudanças nos sistemas de objetos tinham 
como essência as transformações do sistema de ações no âmbito econômico e de 
desenvolvimento. Esse desenvolvimento deve ser aqui compreendido com base nas 
premissas do sistema capitalista. 
 
 
2.2-Planejamento regional e desenvolvimento econômico no Brasil 
 
O planejamento regional e o desenvolvimento econômico no Brasil estão 
intimamente relacionados. Eles derivam dos processos de acumulação de capital de 
economias emergentes, que resultam em contrastes e dependências da concentração 
geográfica do capital, ou seja, acarretam o desenvolvimento regional desigual (OLIVEIRA, 
1981). Nesse sentido, verificamos que parte considerável das experiências de 
planejamento regional realizadas no Brasil buscou a manutenção dos processos de 
concentração capitalista. Essas visavam corrigir desigualdades de distribuição de capital, 
mas não corrigiam necessariamente a mitigação de desigualdades sócias espaciais 
relacionadas à extração desenfreada de recursos naturais e humanos. 
Assim, essas regiões não permaneceram dependentes e periféricas apenas 
daquelas mais desenvolvidas economicamente, mas também continuaram dependentes de 
economias centrais, em escala global. 
Antes de analisarmos detalhadamente os projetos existentes no Brasil, devemos 
compreender quais paradigmas foi absorvidos pelas políticas regionais e pelo ordenamento 
territorial e como esse processo incidiu sobre a ocupação territorial brasileira. 
Um dos primeiros paradigmas do planejamento regional brasileiro foi a política 
econômica conhecida como keynesianismo, que compreendia que o Estado deveria 
assumir um papel intervencionista, isto é, que controlasse e ordenasse a economia. Esse 
20 
 
 
pensamento perdurou dos anos 1950 até meados dos anos 1990, quando o neoliberalismo 
passou a dominar as políticas de governo. 
No neoliberalismo, o Estado deveria atuar de maneira restrita – como Estado mínimo 
–, no qual o mercado se autorregularia. Assim, caberia ao Estado apenas funções 
reguladoras sociais e assistencialistas (COSTA, 2008; CARDOSO JÚNIOR, 2011). Essa 
doutrina esteve muito presente no governo de Fernando Henrique Cardoso (1931-), 
caracterizado por políticas de privatização. Essa mudança refletiu também no modo de 
compreender o desenvolvimento durante o período keynesiano. 
Nessa época, ele foi atrelado ao Estado, especialmente na criação de polos 
industriais, no projeto conhecido como nacional desenvolvimentista. Durante o 
neoliberalismo, o enfoque foi modificado. Depois dos anos 2000, com os governos de 
centro-esquerda de Luís Inácio Lula da Silva (1945-), foi retomada uma ação mais ativa do 
Estado, que estabeleceu um neo desenvolvimentismo. 
Antes da Constituição Federal de 1988, o desenvolvimento e crescimento eram 
considerados apenas do ponto de vista econômico. A infraestrutura ou sistema de objetos 
era voltado apenas para a melhoria de aspectos dessa ordem. Com instrumentos de 
preservação do meio ambiente, bem-estar social e cultural, a Constituição foi um agente 
modificador das políticas de planejamento regional. 
Os anos de 1980 também foram decisivos para a agricultura mundial. Após a 
Revolução Verde, a industrialização e mecanização da agricultura, a emergência do 
mercado financeiro, a venda de commodities e os planejamentos regionais com enfoque no 
meio rural adquiriram novas facetas. Inicialmente, com o objetivo de criar novas fronteiras 
agrícolas e ocupar “vazios territoriais” (principalmente durante o Regime Militar, com o 
desmatamento de grandes áreas e a expansão da extração mineral), o agronegócio passou 
a ser visto como um motor da economia brasileira, especialmente pelo superávit da balança 
comercial, gerado pela venda de commodities (SIQUEIRA, 2013). 
Essa importância dada ao meio rural brasileiro sempre esteve presente nos projetos 
de planejamento regional, seja por obras de irrigação e créditos de financiamento a 
produtores, seja como agente dos processos migratórios, pelo êxodo rural e a migração de 
regiões menos desenvolvidas para aquelas com maior industrialização. Especialmente nos 
últimos anos, a visão sobre o meio urbano e a qualidade da infraestrutura social e cultural 
mudaram as necessidades em relação às cidades e às dinâmicas populacionais. 
21 
 
 
Os anos 1990 também foram um marco temporal para as relações estabelecidas 
pelas economias mundiais. Antes, a relação centro-periferia refletia a 
assimetria/desigualdade das relações econômicas. Após a globalização, em meados dos 
anos 1980, essas relações se tornaram muito mais complexas e diversificadas (UDERMAN, 
2008). 
A Constituição Federal de 1988 incluiu ainda dois importantes pontos focais nos 
debates regionais: a importância da preservação do meio ambiente e das comunidades 
tradicionais e como o turismo poderia atuar como agente modificador de economias e 
regiões periféricas. A necessidade de incluir no planejamento a opinião da população, por 
meio de audiênciaspúblicas e planejamentos participativos, trouxe uma nova visão para os 
objetivos esperados do planejamento regional. Caberia muito mais controlar o capital do 
que apenas a criação de novos pólos de desenvolvimento econômico. 
Esses paradigmas foram absorvidos de diferentes modos pelas políticas de 
planejamento regional viabilizada por meio da criação de agências de desenvolvimento 
regional. A maioria foi criada na década de 1950, extintas durante a década de 1990 e 
recriadas na década de 2000 especialmente com a Política Nacional de Desenvolvimento 
Regional (PNDR), no ano de 2007. Antes voltadas à criação de pólos de desenvolvimento, 
essas políticas nos últimos anos têm incentivado a criação de distritos industriais, 
incubadoras para empresas de desenvolvimento e parques tecnológicos. Financiamentos 
e fundos de crédito ainda são mecanismos utilizados, e um dos principais agentes desse 
processo é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sobre o 
qual trataremos no próximo capítulo. 
Entretanto, apesar das tentativas, os resultados ainda estão longe dos esperados. 
Como poderíamos explicar o baixo alcance das metas de planejamento regional? Algumas 
das explicações estão fundamentadas em problema políticos de superposição de órgãos, 
guerras fiscais entre estados, municípios e governo federal, o peso dado à criação de 
centros de desenvolvimento fortemente ligados à industrialização (sem analisar se o 
mercado econômico estava favorável ou disposto a se relacionar com esses pólos), além 
de fraudes e corrupções. Atualmente, uns dos grandes entraves para a geração de políticas 
de planejamento regional estão também na falta de metodologias eficientes de participação 
popular nos processos decisórios e avaliativos. 
22 
 
 
De maneira resumida, podemos verificar que as inseguranças políticas e 
democráticas pelas quais o nosso país passou ao longo do tempo ocasionaram a 
burocratização das instituições e as sobreposições de interesses e ações. Baseado 
especialmente na criação de agências, superintendências e adoção de planos plurianuais, 
o planejamento regional brasileiro pouco evoluiu nas projeções que se propunha. Notamos 
que ele ainda é fortemente influenciado pela concentração de renda e pela economia 
dependente das oscilações do mercado internacional. Ainda neste capítulo, veremos como 
se deu o surgimento dessas agências e superintendências, e posteriormente analisaremos 
os planos plurianuais. 
 
Quadro 1 – Linha do tempo dos principais planos, agências e superintendências 
relacionadas ao planejamento regional brasileiro. 
 
 
QUADRO 1 
23 
 
 
 
 
 
24 
 
 
 O Nordeste brasileiro sempre esteve no centro das políticas de desenvolvimento 
econômico e no planejamento regional. Muito dessa questão está relacionada às 
especificidades físicas, como grandes estiagens, solos salinos e déficit hídrico. Esses 
aspectos dificultaram o desenvolvimento econômico, baseado especialmente na agricultura 
convencional, fato que ocasionou o empobrecimento da população e movimentos 
migratórios de êxodo. Desse modo, criou-se o imaginário de “região problema” já nos 
primeiros governos republicanos. 
Em 1909, no governo de Nilo Peçanha, foi criada a Inspetoria de Obras Contra as 
Secas (IOCS), com o objetivo de coletar dados referentes aos aspectos físicos, 
principalmente meteorológicos e geológicos, que dessem os subsídios necessários para 
obras governamentais. Entretanto, essa ainda não pôde ser considerada uma proposta de 
planejamento regional, tendo em vista o enfoque paliativo das consequências das 
estiagens, e não necessariamente um plano de desenvolvimento regional. 
Foi somente após o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945), com a adoção 
do modelo de Estado intervencionista na ditadura do Estado Novo, que foi incorporada a 
ideia de planificação da política econômica governamental. Emergiu daí a concepção de 
política pública, que tornou a administração pública complexa, planejada, regular e 
duradoura (PESSOA, 2006). É nesse contexto político-econômico brasileiro que houve a 
criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fundamental para a 
implementação de políticas em escala regional e início do planejamento regional brasileiro. 
Surgiu também nesse momento o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas 
(DNOCS), em 1942. 
No entanto, foi apenas no final do Estado Novo e com a Constituição dos Estados 
Unidos do Brasil de 1946 que o planejamento regional brasileiro sofreu sua grande 
transformação. Na Constituição estava presente uma série de designações ao 
desenvolvimento regional. Uma delas era o art. 29, que tratava do vale do São Francisco e 
teve como desdobramento a Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), em 1948, 
empresa pública com autonomia administrativa e financeira diretamente ligada à 
presidência da república. 
Seu objetivo consistia na criação de planos de aproveitamento para regulamentação 
dos recursos hídricos e fomento econômico, principalmente com indústrias e irrigação para 
a agricultura. O início dos anos de 1950 foram marcados pela criação do Banco de Crédito 
25 
 
 
da Amazônia, em 1950, e o Banco do Nordeste Brasileiro (BNB), em 1952. No segundo 
governo de Getúlio Vargas, foi criada a Superintendência de Valorização Econômica da 
Amazônia (SPVEA), no ano de 1953. 
Durante o governo de Juscelino Kubitschek, foi criada, em 1956, a Superintendência 
do Desenvolvimento da Fronteira Sudoeste (SPVESUD) e, em 1959, a Superintendência 
do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Dentre as atribuições destacavam-se estudar 
e propor diretrizes para o planejamento e o desenvolvimento regional. Para tanto eram 
criados projetos e programas de assistência técnica. 
Durante a ditadura militar, houve o fortalecimento dos órgãos de planejamento 
econômico. Em 1966, foi criada a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia 
(Sudam), destinada ao planejamento e desenvolvimento da então chamada Amazônia 
Legal. Em 1967, foram criadas a Superintendência do Vale do São Francisco (SUVALE), a 
Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e a Superintendência do 
Desenvolvimento da Região Sul (Sudesul). Em 1974 foram criados o Conselho de 
Desenvolvimento Econômico e a Secretaria de Planejamento da Presidência da República 
(SEPLAN). Nesse ano também foi criada a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São 
Francisco (Codevasf), que além de gerir o aproveitamento dos recursos hídricos e do uso 
do solo, tinha por atribuição a promoção do desenvolvimento integrado da economia e a 
implantação de distritos agroindustriais. 
 Após inúmeras críticas ao modo de organização dessas agências, casos de 
corrupção e ineficiência dos projetos, foram extintas no ano de 1990 a Sudeco e a Sudesul. 
A Sudene também foi extinta e substituída pela Agência de Desenvolvimento do Nordeste 
(Adene) e a Sudam foi sucedida pela Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA), 
desdobramento das políticas neoliberais do governo de Fernando Henrique Cardoso. Em 
2000, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco alterou sua razão social 
para Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba 
(Codevasf). 
Em 2010 sua área de atuação foi ampliada e a Companhia é até hoje um importante 
agente no processo de transposição do Rio São Francisco. A retomada de uma visão 
neodesenvolvimentista durante os governos de Luís Inácio Lula da Silva fez com que 
antigas superintendências fossem recriadas: a Sudam e a SUDENE, no ano de 2007, e a 
Sudeco, em 2009. Nos mapas a seguir podemos verificar as sobreposições de órgãos de 
26 
 
 
desenvolvimento e sua variabilidade espaço-temporal na história do planejamento regional 
brasileiro: 
 
Mapa 1 – Delimitação da área de atuação do IOCS (1909), antecedente dos planos 
de planejamento regional brasileiro. 
 
 
Figura: 4 
Fonte:com base em Silva, 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
Mapa 2 – áreas de atuação atual da Codevasf 
 
Figura: 5 
Fonte: com base em Silva, 2014 
 
Mapa 3 – área de atuação da Sudene 
 
Figura: 6 
 
 
28 
 
 
Mapa 4- Áreas de atuação da Sudam. 
 
Figura: 7 
 
Nos três primeiros mapas (1, 2 e 3), podemos compreender como foram alteradas 
as áreas de atuação das diferentes agências governamentais criadas para a atual região 
Nordeste, sempre com o objetivo de combater os efeitos climáticos da seca sob a economia 
e a sociedade. É interessante destacar a modificação da Codevasf, não apenas com a 
inclusão da bacia do Rio Parnaíba, mas também com as áreas influenciadas pela 
transposição do Rio São Francisco. Com relação ao Mapa 4 da Sudam, verificamos que 
nos dias atuais sua abrangência ultrapassa os limites da regionalização oficial do IBGE por 
estados brasileiros. A atual área de abrangência da Amazônia Legal, corresponde em sua 
totalidade os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima 
e Tocantins e parcialmente, o estado do Maranhão (a oeste do meridiano de 44º de 
longitude oeste), perfazendo um superfície de aproximadamente 5.217.423 km² 
correspondente a cerca de 61% do território brasileiro. 
A atuação da SUDAM obedece aos fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos 
da Política de Desenvolvimento Nacional Integrada e do Plano de Desenvolvimento da 
Amazônia e é efetuada em articulação com o Conselho Deliberativo para o 
Desenvolvimento da Amazônia, órgãos e entidades públicas dos Governos federal, 
estaduais e municipais que atuam na Região e a sociedade civil organizada. 
29 
 
 
2.3 O planejamento regional brasileiro para além das superintendências 
 
Nos itens anteriores, verificamos que o planejamento regional brasileiro sempre foi 
marcado por um enfoque economista de desenvolvimento. Essa questão foi fortemente 
influenciada por mudanças políticas – especialmente crises democráticas, como o golpe 
militar de 1964. Desse modo, o Brasil estabeleceu uma correlação direta com a economia 
internacional, porém permaneceu como uma economia periférica. Nesta seção, analisamos 
as políticas de desenvolvimento, seus desdobramentos e outras espacializações do 
planejamento regional do país. 
Apesar de terem existido outros planos, foi o governo de Juscelino Kubitschek, com 
seu o Plano de Metas, o primeiro a estipular objetivo para o setor privado e estimular 
estudos relacionados ao diagnóstico da economia brasileira. Com forte influência da criação 
do BNDES, Kubitschek criou um programa de governo baseado na frase “50 anos em 5”. 
O Plano de Metas foi um conjunto de objetivos – 31 no total – que os setores-chaves da 
economia deveriam alcançar. 
Já no governo seguinte, de João Goular (1918-1976), em que o cenário econômico 
apresentava dificuldades, foi necessária a elaboração de outro plano econômico, o Plano 
Trienal, que tinha como premissa o combate à inação baseado na controle do déficit 
público. Esse plano foi interrompido pelo Golpe de 1964. Apesar da intervenção, esse foi 
um importante marco para a ampliação da visão dos planos de desenvolvimento e agregou 
uma visão global da economia. 
O primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) – elaborado em 1970 com 
base na ideologia política de segurança e desenvolvimento – criou um modelo de 
organização que consistiu em moldar as instituições por meio do poder do Estado. Esse 
plano objetivava a implementação da teoria de polos de crescimento e compreendia que a 
industrialização seria o meio ideal para alcançar o desenvolvimento econômico. Por meio 
da teoria de Perroux, os governos militares se aproximaram da relação entre o paradigma 
da industrialização como polo de desenvolvimento e a presença de um Estado 
desenvolvimentista. 
No I PND houve um forte estímulo para a instalação de indústrias de bens duráveis, 
em especial automobilística. Até hoje encontramos reflexos desse momento, como a forte 
influência das rodovias e do sistema rodoviário de transporte de cargas no modal brasileiro. 
30 
 
 
Além da instalação de indústrias, houve grande investimento na criação e ampliação do 
sistema rodoviário nacional. No II PND (1975-1979) ocorreu a mudança no enfoque das 
indústrias instaladas (siderúrgicas, de eletrônica pesada e de fertilizantes) – foram 
priorizadas as relacionadas aos bens de capitais – e a manutenção das altas taxas de 
crescimento econômico alcançado no I PND (na ordem de 10% ao ano). 
Apesar do aumento da inserção brasileira na divisão internacional do trabalho 
(FURTADO, 1981), a inconsistência financeira do BNDES naquele momento não garantiu 
a estabilidade de financiamentos necessários, bem como a crise política com o m do 
período da ditadura militar. 
O Programa Avança Brasil (2000-2003) foi marcado pelo termo custo Brasil, que 
consistiu em um conjunto de ineficiências e distorções que atingiram a competitividade do 
país em relação a outras nações. Fatores como sistema tributário desproporcional e injusto, 
malha rodoviária em más condições, administração pública corrupta, os altos encargos 
trabalhistas, elevadas taxas de juros, altos índices de violência, inadimplência e burocracia 
estatal eram aspectos a serem combatidos. Desse modo, buscou-se a otimização de 
resultados, sempre com vistas à redução de prazos e custos federais. 
 Com forte caráter economicista e um modelo gerencial de planejamento econômico 
nacional, esse período foi marcado pela guerra fiscal entre estados e municípios, com o 
objetivo de arrecadar mais impostos e centralizar investimentos públicos. Como resultado 
desses anos de tentativas de planejamento regional voltado ao desenvolvimento 
econômico obteve muitas mudanças nos sistemas de objetos com grandes obras de 
engenharia, mudanças no uso e ocupação do solo, reorganização demográfica e conflitos 
pela terra cada vez mais violentos. 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
3. O ESTADO E A ESCALA REGIONAL 
 
Nos capítulos anteriores, observamos a intrínseca relação entre o conceito de região 
e território. Verificamos também que regionalizar e planejar regionalmente são atividades 
historicamente atribuídas ao Estado, e este exerce seu poder territorial e econômico por 
meio desses mecanismos. Neste capítulo, aprofundamos as discussões referentes a 
Estado, território e ordenamento territorial. Além disso, vamos conhecer melhor o Banco 
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), importante agente do Estado 
no ordenamento territorial. 
 
3.1-Estado e poder por meio do conceito de território 
 
Ao longo dos dois primeiros capítulos, verificamos que o conceito de região se 
modificou ao longo do tempo e do espaço. Além disso, na atualidade, essa concepção é 
em parte compreendida – quando nos referimos ao planejamento regional e à 
regionalização para esse fim – com um enfoque territorial. Depois, analisamos os processos 
de planejamento regional, principalmente no Brasil, e constatamos que a instabilidade 
democrática e a política econômica de cada governo influenciaram diretamente esse 
processo. Assim, a noção de Estado e como ele exerce seu poder perante o planejamento 
regional faz parte do objeto de pesquisa da geografia regional. Agora, vamos aprofundar 
nossos conhecimentos em relação ao Estado e o poder e verificar como eles estão 
relacionados ao conceito de território e, consequentemente, ao conceito de região. 
Quando falamos de Estado, referimo-nos à definição de Estado-nação ou à unidade 
político-territorial do sistema capitalista em que Estado e território se impõem de maneira 
soberana. A sociedade politicamente organizada, na qual destino e história são 
compartilhados, é o âmbito da nação. O Estado é, assim, uma organização soberana e uma 
ordem jurídica (BRESSER-PEREIRA, 2017). Esquematizamos essa definição a seguir: 
 
 
 
32 
 
 
Figura 8– componentes de nação e estado-nação.Figura: 8 
 
Estado-nação e base territorial são os conceitos importantes abordados pela 
geografia do poder. Na Figura 8, verificamos seus componentes e podemos nos afastar do 
senso comum. 
Território é um conceito também absorvido por outras ciências, como sociologia, 
psicologia e biologia. Na geografia, ele é abordado principalmente na geografia humana. 
Castro (1992) traz a dimensão territorial como objeto social, em que seus limites são 
estabelecidos pela sociedade nele inserida. Para Raffestin (1993), o território se define 
primeiramente pelo poder. Assim, quando buscamos esse conceito em nossa narrativa, 
exaltamos as relações de poder que se estabelecem em uma dada porção do espaço. 
Raffestin (1993) ainda diferencia os termos Poder e poder. O Poder (com P 
maiúsculo) é fenômeno visível, concreto e identificável, em que o território é delimitado por 
complexos processos de controle de recursos e fluxos demográficos e de bens. No entanto, 
o poder (com p minúsculo) é fruto das relações, das trocas e das comunicações. Ele é muito 
mais sutil e estabelece teias que, por vezes, podem se sobrepuser às relações de poder 
institucionais. 
Assim, o território é compreendido como apropriação e domínio de um espaço 
socialmente compartilhado. Na apropriação, são exaltados aspectos simbólicos, enquanto 
33 
 
 
no domínio há um enfoque político-econômico concreto. Os indivíduos, o Estado e as 
organizações (público-privadas) são agentes de produção dos territórios, por meio das 
redes de circulação e comunicação, das relações de poder e das ações políticas, das 
atividades produtivas e das representações simbólicas. No entanto, não devemos cair na 
tentação de compreender a apropriação e o domínio como um palco para ações de poder 
institucionalizado, pois território é em si um elemento das relações sociais e econômicas 
em diferentes escalas. 
 
3.2-Ordenamento territorial e planejamento regional no Brasil 
 
A natureza institucional com a qual o ordenamento territorial e o planejamento 
regional vêm sendo compreendidos no Brasil acaba gerando definições e aplicações 
vinculadas com a prática e a operacionalidade desses processos. Contudo, como 
geógrafos, podemos e devemos “pensar fora da caixa”. 
Nesse sentido, precisamos ser capazes de compreender as noções empregadas 
pelas instituições, mas também problematizá-las e aplicá-las. Desse modo, separamos esta 
seção em dois momentos: o primeiro aborda o tema com base na concretude das 
instituições; o segundo pelo ponto de vista científico. 
O ordenamento territorial é um instrumento de ação do poder público, que busca – 
por meio da articulação transetorial e interinstitucional – alcançar um planejamento 
integrado. Essa articulação viabiliza a ação conjunta das políticas de forma compatível com 
seus resultados na organização espacial. 
Não devemos, porém, confundir ordenamento territorial com regulamentação do uso 
e ocupação do solo. Esses são processos que ocorrem em diferentes escalas espaciais e 
de ações, com competências executivas e legislativas distintas. Cabe ao ordenamento 
territorial uma visão macro do espaço e uma escala de planejamento que compreende 
integridade do território nacional, com biomas, macrorregiões, redes de cidades, zonas de 
fronteira, reservas indígenas, instalações militares etc. Ele tem um caráter mais amplo, 
proporcionando ao planejamento dados como a densidade da ocupação, as redes 
instaladas e os sistemas de engenharia (MORAES, 2005). 
34 
 
 
Com base em diagnósticos regionais, a especificação desses territórios, suas 
demandas e potencialidades são levantadas. O planejamento ou ordenamento ocorre pela 
valorização dos espaços e a compreensão dos fluxos demográficos bens de capital e de 
produtos. Ordenar o território consiste no controle regular da organização instituída na base 
espacial dos movimentos globais da sociedade. Nas palavras de Moreira (2007, p. 77): “o 
ordenamento não é, pois, a estrutura, mas a forma como a estrutura espacial 
territorialmente se autorregula no todo das contradições da sociedade, de modo a manter 
a sociedade funcionando segundo sua realidade societária”. 
Moreira (2007) destaca ainda a noção de que toda proposta de organização e 
ordenamento do território busca na realidade a expressão da ação centralizadora do Estado 
por meio do poder. Para nortear estratégias de ações planejadoras, cabe ao Estado o 
decisivo papel de organizar e implementar iniciativas de desenvolvimento. No Brasil, essas 
ações são explicitadas no Estudo da Dimensão Territorial para o Planejamento (BRASIL, 
2008), que propõe, entre outras coisas, a organização de novos arranjos para políticas 
públicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
4. REFERÊNCIAS: 
 
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