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FORMAÇÃO DE TERRITÓRIOS CULTURAIS E POLÍTICOS 
1 
 
 
 
Sumário 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................................... 2 
1. A NATUREZA DO ENFOQUE TERRITORIAL ................................................. 3 
1.1-De objetos a sujeitos da política ...................................................................... 7 
1.2-O desafio territorial da economia ..................................................................... 8 
2. DA DIVERSIDADE CULTURAL À INTERCULTURALIDADE ........................ 10 
2.1-Diferenciação cultural .................................................................................... 10 
2.2-Heterogeneidade-diferenciação ..................................................................... 11 
2.3-Das estratégias diferenciadas às autonomias ............................................... 12 
2.4-O território emergente ................................................................................... 13 
3. EM BUSCA DA INTEGRAÇÃO TERRITORIAL ............................................. 15 
4. DESIGUALDADE E TERRITÓRIO ................................................................. 19 
5. REFERÊNCIAS: ............................................................................................. 28 
 
 
 
2 
 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em 
atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com 
isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em 
nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no 
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de 
promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem 
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras 
normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável 
e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. 
Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de 
cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do 
serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
1. A NATUREZA DO ENFOQUE TERRITORIAL 
 
Hoje, empreendem-se diversos caminhos em busca de melhorar a qualidade do 
gasto público, um deles associa-se a estratégias da política para o desenvolvimento rural, 
em meio à transição para nova geração de políticas, programas e de estruturas 
institucionais a serem implantados. Mas esse processo depende de tentativas em longa 
caminhada e de experimentos em múltiplas opções e adaptações das decisões políticas, 
conforme tendências de mudanças em termos econômicos e políticos. 
No âmbito do desenvolvimento rural e da agricultura familiar vêm acumulando-se 
inúmeras experiências e diferentes tentativas, muitas com resultados decepcionantes que 
não refletem os esforços dispensados às expectativas e aos investimentos realizados. 
Hoje, a América Latina vivencia uma crise de resultados – expressa nas estratégias 
de desenvolvimento rural – face ao quadro que mantém as reivindicações do enorme 
segmento populacional rural, submetido à contradição de viver em condições de pobreza, 
em meio a um dos mais ricos universos rurais do planeta. 
Não constitui rompimento. A reconstrução permanente do processo de ajustes das 
estratégias de desenvolvimento é, em si, complexa, e abrange os marcos ideológicos, 
conceituais e metodológicos nos quais se baseia. 
Essa tentativa constitui necessidade para a identificação e a compreensão dos 
componentes que alimentam a nova estratégia de desenvolvimento rural e territorial que 
vem emergindo como parte da institucionalidade do continente. 
4 
 
 
 
Figura: 1 
O Brasil, em especial, vem sendo ativo e inovador na criação de estratégias e 
caminhos do desenvolvimento, representando referência obrigatória aos países da região 
para o implemento de estruturas políticas que proporcionem a integração de estratégias a 
partir de lições já vivenciadas e aprendidas. 
 
Para novo objeto das políticas. 
 Há um ponto em comum na criação dessas novas estratégias: a tendência que vem 
se impondo nas políticas públicas, nos enfoques interpretativos e nas concepções de 
desenvolvimento. Trata-se da tendência de deslocar o objeto das políticas da perspectiva 
setorial para outras – transetoriais, transversais e integradoras. Transição que vem 
refletindo-se nos instrumentos de gestão e planejamento do desenvolvimento rural, como 
é possível apreender nas políticas públicas protagonistas das últimas décadas nos países 
da região. 
O redescobrimento do território enquanto categoria política adequada para nortear 
as estratégias públicas tem diversas origens conceituais e, sem dúvida, a natureza de sua 
inserção nos discursos e decisões dos formuladores das políticas reflete os contextos 
históricos e políticos, e abrange, em especial, as forças sociais que empurram à 
transformação dos mecanismos de intervenção pública e de gestão social. 
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 Mas há forças socioeconômicas que emergem do desenvolvimento das tendências 
ou de forças maiores que movem e demandam novas formas de conceber e construir o 
desenvolvimento. 
 
Espaço, identidade, território e territorialidade. 
 
Figura: 2 
 
O território como eixo central de política pública de desenvolvimento traz em seu bojo 
vários conceitos que ajudam na compreensão da natureza de seu objeto de trabalho. 
Apesar de essa questão ser aprofundada mais adiante, é necessário recordar as 
interpretações afins feitas neste capítulo como ponto de partida para reflexão que terá de 
conduzir às respostas e perguntas instrumentais, que devem mostrar as exigências e as 
possibilidades que esse enfoque pode trazer às estratégias do desenvolvimento rural. 
É necessário, em primeiro lugar, estar ciente de que partimos do espaço enquanto 
conjunto de elementos e dimensões que o compõem – suas relações ou fluxos, incluindo a 
base material natural ou construída; as atividades econômicas que são empreendidas; as 
estruturas sociais que são geradas e suas inter-relações; as instituições construídas e a 
regras do jogo; os valores; e os códigos adotados. 
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No espaço, são gerados – como o produto dos processos históricos que determinam 
sua construção – processos de inserção da população, definindo distintas características e 
a expressão destas em seus próprios espaços, resultando na manifestação que 
denominamos identidade. Esta aparece com o caráter que expressa os atributos – étnicos 
culturais econômicos ou políticos – apropriados pelas pessoas em seus espaços. 
Nesse sentido, estamos restringindo o tema da identidade à sua natureza espacial – 
sabendo que não é possível desconhecer que a identidade abrange, e é aplicada, a outras 
dimensões e expressões não espaciais, a exemplo das características diferenciadas nas 
preferências religiosas, políticas, estéticas e sexuais que compõem também as 
características de identidade, que nem sempre se manifestam restritas a um espaço. 
Entendemos, por território, a dimensão política do espaço – quando este é referido 
reconhecido e identificado – enquanto unidade da gestão política que o distingue e o atribui 
existência, de certa forma institucionalizada. Nem sempre o território constitui-se numa 
entidade territorial, a exemplo de município, província, departamento ou estado. É suficiente 
ser reconhecido como unidade que pode controlar ou interagir enquanto a institucionalidade 
que expressa – pode ser a bacia de um rio, a união de organizações territoriais, um espaço 
com nítidascaracterísticas étnicas ou um espaço definido por redes econômicas bem 
caracterizadas. 
Dessa forma, o território pode, inclusive, chegar a constituir-se num espaço 
descontínuo. O elemento central da reflexão que nos ocupa é o fato de a identidade – como 
expressão de traços diferenciadores e distintivos da população pertencente a um espaço – 
converter-se no espírito essencial, básico e estruturante do território. Além de descrever e 
caracterizar o território, o mais importante é que a identidade orienta e ordena as estratégias 
de desenvolvimento ao definir e dar suporte ao caráter das forças motoras que possibilitam 
avançar na conquista do bem estar. 
A identidade, quando associada ao território no contexto político institucional, se 
expressa como territorialidade que denota o sentimento político, a energia social e a 
vontade coletiva, que resultam em sentimentos – nacionalista, patriótico, regionalista, amor 
pela terra e diversas manifestações da força social objetiva. E o reconhecimento e 
compreensão desses sentimentos promovem a afirmação de muitas estratégias de 
desenvolvimento. 
 
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1.1-De objetos a sujeitos da política 
 
A democracia territorial. 
Observa-se na América Latina um contínuo processo de construção de uma 
democracia incipiente, que constitui uma das mais importantes conquistas nas três últimas 
décadas (após a presença generalizada de ditaduras militares no continente). A democracia 
tem sido difícil, dolorosa e cheia de entusiasmos, que logo se convertem em frustrações. 
Esse processo de construção de modernas instituições políticas aponta para uma 
característica distinta, que vem se tornando comum em todos os países: a nova forma de 
enfrentar a antiga e mal resolvida disputa entre os modelos do poder centralizado com as 
regiões, os locais e espaços rurais, que lutam por maior autonomia, maior participação e 
autogestão de seus próprios destinos. Não se trata de uma nova luta, mas de novos 
elementos no cenário atual. 
Outra sociedade rural. O primeiro elemento está expresso em novas sociedades – 
locais, regionais e rurais – com maior capacidade de discernir, participar, pressionar e 
reivindicar. 
Evidencia-se que essas tensões não são exclusivas, como antes, do interesses de 
poucos (os grandes proprietários rurais caracterizados por visões e propostas políticas 
retrógradas e defensoras de privilégios). Emergem e ganham espaço os interesses das 
comunidades, dos pequenos proprietários e das sociedades locais e rurais com discursos 
progressistas e democratizantes. 
As profundas transformações que vêm sendo obtidos nos últimos cinquenta anos 
expressam uma sociedade rural em processo de superação das estruturas concentradas e 
determinadas pelo poder político. Isso é radicalmente diferente da sociedade anterior, 
caracterizada por bucólicas paisagens com populações analfabetas, isoladas, 
incomunicáveis, desarticuladas de vínculos importantes com o mercado, com grande 
deficiência de acesso aos serviços públicos e sem possibilidades de participar nos 
processos políticos. 
Embora o panorama esteja muito distante do idealizado, são evidentes os 
importantes avanços em todo continente em termos de integração, informação, educação 
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e acesso à comunicação. Isso vem se refletindo em toda região, na redução dos indicadores 
sobre necessidades básicas insatisfeitas. 
 
1.2-O desafio territorial da economia 
 
Outra economia rural. Ao acompanhar o universo rural, observa-se que vêm 
ocorrendo outras mudanças na economia dos territórios. A integração dos espaços, na 
maior parte dos territórios da região, vem resultando num processo de desprimarização da 
economia rural, de forma que mais da metade da atual renda das populações rurais 
depende de atividades não agropecuárias. Essas economias refletem maior diversificação 
da atividade econômica, do investimento e do consumo, que são resultantes de diferentes 
formas de integração econômica e de articulação de cadeias produtivas que favorecem a 
agregação de valor. 
A terra, enquanto fator determinante dos modelos de desenvolvimento local e rural, 
vem cedendo espaço a outras demandas por recursos produtivos, por parte de sistemas 
produtivos rurais que esboçam novo patamar de eficiência socioeconômica, como ocorre 
nas sociedades mais desenvolvidas. Mas, na maioria de nossos países, os sistemas mais 
eficientes convivem com outros em condições adversas, inerentes aos problemas não 
resolvidos de concentração, de ineficiência e de terra improdutiva, além de outras restrições 
quanto ao acesso de outros recursos produtivos. Isso envolve profundas consequências 
políticas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Mudanças nos mercados agroalimentares. 
 
Figura: 3 
 
Em paralelo, têm ocorrido significativas mudanças nos desafios para as economias 
agrícolas e primárias em consequência de novas dinâmicas dos mercados, abrangendo os 
sistemas de produção e, em especial, a distribuição e o consumo. 
A revolução tecnológica – de biotecnologia, informática e telecomunicação – esboça 
um novo parâmetro para a produção, parâmetro em que o conhecimento entra como fator 
cada vez mais determinante das possibilidades e diferenciais de produtividade e 
competitividade. 
Quanto à distribuição, observam-se drásticas mudanças nas últimas décadas, em 
especial nos processos de comercialização de alimentos via esquemas de contratos para 
integrar a agricultura (adotados pelas redes de hipermercados), que resultam em forte 
impacto para o setor em termos de adoção de sistemas de abastecimento e de mudanças 
referidas à inovação tecnológica de significativas repercussões. 
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Na dimensão do consumo ocorreram também rápidas e profundas mudanças, com 
destaque para novas preferências, aumento da demanda por bens diferenciados e 
valorização dos atributos como inocuidade e da qualidade – elementos que definem nichos 
e novos perfis do mercado e representam impacto para as estruturas precedentes, 
baseadas na especialização da produção e em vantagens comparativas. Os desafios 
mudaram, mas as estratégias para enfrentá-los deixam a desejar. 
 
2. DA DIVERSIDADE CULTURAL À INTERCULTURALIDADE 
 
 
Figura: 4 
 
 
2.1-Diferenciação cultural 
 
O território, por ser uma construção histórica que incorpora as dimensões ambiental, 
econômica, social, institucional e política, expressa identidade e caráter. Por isso, também, 
ele abrange valores, significados, visões compartilhadas, códigos, ícones, tradições e o 
folclore. 
Sem dúvida, há outros elementos-chave associados ao desenvolvimento e que 
também diferenciam os territórios. São as estruturas econômicas, as redes sociais e as 
instituições, que refletem, delineiam ou descrevem com maior nitidez o caráter do território. 
11 
 
 
Diferentes concepções visualizam sistemas produtivos característicos – de 
determinado território – diferenciados de outros, mesmo quando dispõe de iguais condições 
quanto ao aporte de recursos, acesso aos mercados e nível tecnológico. 
Em sua totalidade, a cultura envolve a complexidade que compõe o espaço. Por isso, 
constitui-se numa dimensão que prepondera na determinação do tipo de desenvolvimento 
de cada território. A cultura, além de determinar em grande proporção os processos de 
desenvolvimento, determina os mecanismos da organização social, os incentivos para 
inserção política, as motivações e as possíveis explicações para que as condições 
subjetivas do desenvolvimento convertam-se em fundamentos de determinada estratégia 
política. 
É reconhecido que as características concepções homogeneizantes – que levam a 
grandes dificuldades quanto à apropriação, sustentabilidade e resultado do 
desenvolvimento – estão entre os maiores obstáculos de muitas estratégias de 
desenvolvimento empreendidas pelos nossos países. Em essência, discute-se que a falta 
de reconhecimento da cultura e da diferenciação é arazão das verdadeiras catástrofes do 
gasto público. 
 
2.2-Heterogeneidade-diferenciação 
 
Nas diversas estratégias de política pública, identificam-se diferenças em relação 
aos objetos e beneficiários que se refletem nos mecanismos de execução. Seria injusto 
dizer que essas execuções estão distantes de corresponder às reais especificidades 
culturais. 
A constatação da heterogeneidade baseia-se na ideia de que os diferentes atores 
dispõem de condições objetivas que os distinguem. As categorias ou tipos de beneficiários 
das políticas pautadas nos critérios de tamanho – setor produtivo, posse da terra, condições 
étnicas, posição frente aos mercados ou capacidades exigidas e políticas diferenciadas 
para fazer face à heterogeneidade – são entendidos enquanto princípios de aplicação que 
norteiam a execução de determinada política – tecnológica, por exemplo – conforme as 
capacidades desenvolvidas pelos beneficiários da estratégia. 
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O instrumento técnico gerado para esse fim é centrado em esquemas de focalização, 
incluindo a identificação e individualização dos beneficiários elegíveis para determinado 
programa ou para participar de projetos. Esses modelos de focalização têm sido muito 
utilizados e incorporados aos regulamentos operacionais da maior parte das políticas de 
desenvolvimento rural de nossos países. 
As políticas de discriminação positivas constituem uma das mais notáveis aplicações 
desses princípios de diferenciação e focalização. Elas consistem na aplicação de critérios 
progressivos, centrados em objetivos para corrigir-compensar as condições de 
discriminação ou para superar brechas entre atores sociais, a exemplo das estratégias de 
gênero ou de atenção às populações marginalizadas. 
 
2.3-Das estratégias diferenciadas às autonomias 
 
A incorporação da dimensão cultural como um dos fundamentos para definir políticas 
públicas conduz a um desafio realmente novo no cenário das decisões de políticas públicas. 
A dimensão cultural, apesar de muitas vezes identificada e delineada, continua 
sendo encarada como critério externo, de entorno, constituindo-se, na maioria das vezes, 
em dificuldade e impedimento para o sucesso das estratégias. 
É lugar comum, não apenas de opiniões triviais, mas das bases profundas dos 
sistemas de planejamento, considerar como grandes inimigos da América Latina a sua 
pobre e marginalizada cultura, seu fraco espírito empreendedor e a falta de capacidade de 
sacrifício, esforço ou seriedade. Há, inclusive, diversos exemplos de estratégias aplicadas 
para mudar a cultura ou melhorá-la, sob a justificativa de tratar-se de uma cultura atrasada, 
uma cultura da malandragem, da violência, da pobreza. Por causa dessa postura foi 
necessário adotar sistemas de formação-qualificação, no intuito de implantar processos de 
reeducação ou de aculturação. As estratégias que procuram criar capacidades de gestão e 
de planejamento sempre são formuladas a partir desses parâmetros, para fazer mudanças 
na cultura, ajustando-a aos propósitos da política. 
Como contrapontos surgem enfoques sugerindo que a heterogeneidade e a 
diversidade não podem ser trabalhadas a partir de estratégias de diferenciação e 
focalização. Sugere-se a necessidade de dar passos definitivos na construção de 
13 
 
 
processos autônomos, onde os graus de liberdade para a integração e o diálogo entre a 
cultura e a política sejam amplos, abertos, realistas e propositivos. 
 
2.4-O território emergente 
 
Outra implicação das mudanças mundiais nas estruturas institucionais é o 
reordenamento das competências e responsabilidades públicas e dos resultados em 
relação às escalas territoriais onde atua. A característica preponderante do nível nacional 
em nossa história, desde os processos de independência – com exceção de algumas 
tentativas federalistas e localistas que nunca chegaram a prevalecer –, se faz presente 
enquanto responsável onipresente nas estratégias públicas mais importantes. E de repente 
passamos ao cenário onde se relega o nacional, que perde capacidade de resposta, cede 
responsabilidades e rearranja sua agenda. 
Despontam novos níveis territoriais que adquirem ou recebem essas 
responsabilidades (cedidas ou buscadas) em meio a um processo de direção dupla (para 
o local e para o global). A direção do local passa pelos níveis regionais, mostrando um novo 
cenário caracterizado pela universalização do modelo de eleição e representação das 
autoridades territoriais, com eleições dos prefeitos e governadores. Autoridades que 
deixam de ser representantes do estado nacional nos territórios para se converter em 
representantes dos territórios perante a nação. A federalização, a municipalização e a 
regionalização são a face do processo de descentralização em expansão, que tem 
redirecionado competências, funções, responsabilidades e recursos para processos cheios 
de conflitos, tensões, debilidades e tarefas inconclusas, mas irreversíveis. 
Aconteceu o mesmo em nível internacional, e isso ficou evidenciado em dois claros 
processos: a integração regional e a globalização. Esses processos são caracterizados por 
ignorar a discricionariedade nacional e pela independência nas decisões sobre temas-
chave, que são transferidos às instâncias territoriais supranacionais. Embora essa 
tendência seja marcada, em especial, por aspectos dos mercados, onde a política comercial 
nacional é diluída na política comercial regional (em nível de blocos como o Mercosul ou 
em nível global, como a OMC, entre outros), há outros assuntos cruciais incluídos, como o 
meio ambiente e a justiça. 
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O Brasil é um país subdesenvolvido industrializado. Isso significa que o país possui 
um sistema político-econômico vinculado ao capitalismo. Esse processo promove a 
apresentação, no país, da maioria das empresas da iniciativa privada, que têm como 
principal finalidade a busca incessante de lucros. Dessa forma, o conjunto de atividades 
econômicas influencia diretamente na configuração da economia nacional. 
A sociedade brasileira, como a maioria dos outros países capitalistas, é dividida em 
dois grupos distintos. De um lado, a burguesia, conjunto de pessoas que detêm os meios 
de produção (indústrias, empresas, fazendas, bancos etc.) e que acumulam capitais a partir 
dos lucros arrecadados em suas propriedades produtivas. Do outro lado fica a classe 
trabalhadora ou proletária, pessoas que vendem sua força de trabalho em troca de salário. 
O Brasil, apesar de ser um país industrializado e capitalista, não se apresenta no 
centro do capitalismo mundial, pois se enquadra como uma economia dependente e 
periférica. No entanto, o país pode ser classificado como semiperiferia. 
Essas características são provenientes do alto grau de dependência tecnológica e 
econômica, fragilidade comercial em relação às grandes potências, dívida externa, grande 
quantidade de empresas multinacionais, restrita elaboração de novas tecnologias e grande 
reprodução de técnicas e tecnologias criadas em países centrais e uma enorme disparidade 
social. 
O Brasil apresenta economia dependente, apesar disso possui um alto índice de 
industrialização, com economia diversificada. Isso significa que a produção não se limita à 
produção agropecuária e à extração de minérios, existe também um complexo e completo 
parque industrial que produz aviões, automóveis, softwares e muito outros equipamentos 
modernos. 
O Brasil não faz parte do grupo de países com pequenas economias e 
industrialização modesta, no qual se integram Uganda, Costa do Marfim, Paquistão, 
Bangladesh, Etiópia, Niger, Mali, Zaire, Bolívia, Haiti, entre outros. Já países como 
Argentina, México, África do Sul, Tigres asiáticos, Coreia do Sul, Taiwam, Malásia, Hong 
Kong, Indonésia, Índia e especialmente a China, são prováveis potências mundiais. 
 
 
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3. EM BUSCA DA INTEGRAÇÃO TERRITORIAL 
 
A perspectiva da política públicaremete aos antecedentes das estratégias de 
desenvolvimento que priorizaram a integração regional e a intercomunicação. Elementos 
propositivos destacáveis no final da primeira metade do século passado, quando se 
considerava a urgente necessidade de superar a fragmentação do território, o isolamento, 
a inexistência de mercados regionais e a precária integração nacional. 
Os modelos modernizantes inerentes à substituição de importações das décadas de 
1950 a 1970 pressionaram com propostas de estruturação regional, sob a ótica dos centros 
urbanos regionais e de modelos territorial secundários, onde o rural entrava como parte de 
modelos regionais centrados na lógica do modelo de desenvolvimento ―para dentro – base 
da construção das sociedades industrializadas. 
A partir de então, vieram os nítidos modelos de desenvolvimento regional, que se 
tornaram comuns em quase todos os países da região e influenciaram bastante as 
estratégias para o espaço rural, conforme os modelos do Desenvolvimento Rural Integrado 
(DRI). O conteúdo modernizante e integrador desses modelos tem uma característica 
notável enquanto prioridade para incorporação dos territórios à sociedade maior, ao 
desenvolvimento, aos mercados, à rede urbana e à industrialização. Espaços antes 
isolados passam a se integrar via fornecimento de matérias-primas e mão-de-obra ao se 
abrir aos mercados da indústria crescente. É necessário reconhecer que esses modelos 
obtiveram a incorporação de extensas áreas e, em muitos países, consolidaram a fronteira 
agrícola e redes urbanas hierarquizadas e integradas, que estruturam o mapa regional, 
servindo de arcabouço aos espaços rurais. 
 
Integração e brechas regionais 
Os processos de integração territorial, por diferentes razões, ocorreram em meio a 
enormes desigualdades regionais, devido aos desequilíbrios e privilégios ancestrais. 
As diferenças em termos de desenvolvimento relativo deram forma a um mapa de 
extremos entre regiões muito ricas e outras com profunda pobreza. As distâncias entre o 
desenvolvimento do Sul do Brasil e o Nordeste; ou entre o Norte e Sul do México são 
similares às disparidades que há entre os países mais desenvolvidos da Europa e os países 
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mais pobres da América. Essas diferenças têm norteado diversas políticas com objetivos 
diferenciados em relação à integração, abrindo-se à incorporação de objetivos sobre 
coesão territorial e inclusão. 
A especialização e a diferenciação territorial têm mostrado resultados por diversas 
razões – as condições naturais básicas, em termos de potencial produtivo, como nos 
ecossistemas árido e semiárido do Nordeste; os processos de apropriação de terras, a partir 
de modelos de fazenda e plantação excludentes e espoliadores, como no caso do Norte da 
Colômbia – devido à exclusão e padrões culturais que nunca são reconhecidos nos 
modelos de desenvolvimento dominantes, como nos casos dos quilombolas no Brasil, dos 
indígenas Maias na Guatemala e dos Quechuas e Aymaras na Bolívia. 
Produzem-se também as mesmas estratégias de desenvolvimento com duplas 
visões para áreas econômicas desiguais, o que gera efeitos polarizados. Mesmo assim, 
são apreciáveis devido à clara localização no território. Um exemplo é a política destinada 
ao desenvolvimento de setores prósperos e de encadeamentos agrícolas, orientados aos 
prósperos mercados de exportação. Em contraste, observam-se as precárias políticas de 
desenvolvimento para produtores em situação precária com vistas aos precários mercados 
do território. E as políticas pautadas em subsídios e executadas na agricultura vêm 
determinando uma estrutura regional e territorial com grande impacto nos mercados de 
terra, devido a pressão sobre os preços e as preferências produtivas. 
 
O território Brasileiro 
 O território brasileiro inicialmente área de domínio e apropriação por parte de grupos 
dominantes europeus, entre o final do século XIX e início do XX já apresentava a sua vasta 
extensão atual. Expedições, acordos e conquistas na direção oeste e norte do continente 
sul americano romperam com o quanto determinado no Tratado de Tordesilhas. Porém, 
atender a todos os espaços brasileiros de forma igualitária era tarefa muito árdua para os 
governantes nacionais, em razão dos parcos meios de transporte e comunicação do 
período. 
A localização do centro do poder brasileiro também contribuía para ampliar as 
disparidades de atuação governamental. A capital do país era o Rio de Janeiro, cidade 
localizada na parte sudeste do litoral, demasiado distante da Amazônia, por exemplo. A 
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Constituição Republicana de 1891 já determinava a mudança da capital para o Planalto 
Central, mas “dificuldades de transporte para a área e os interesses contrários à 
transferência [...] fizeram com que o dispositivo constitucional não se efetivasse por mais 
de cinquenta anos” (ANDRADE, 1995, p. 42,). 
Esses fatos demonstram que o território era legalmente de domínio governamental, 
porém, transformar essa apropriação em controle e direcionamento, na prática, era deveras 
complicado no período antes citado. 
O desejo de ampliar o poder governamental frente à extensão territorial brasileira 
reforçou a atuação e constituição do Estado que, com caráter moderno, teve suas origens 
no século XV e XVI no Velho Mundo (COSTA, 1992, p. 266), mas que no Brasil vai florescer 
no início do século XIX. 
O Estado surge como um “poder, nascido da sociedade, mas posto acima dela [vai] 
se distanciando cada vez mais” (ENGELS, 1975 apud Ibidem) da população tornando-se a 
estrutura de controle e domínio do território. Além de seguir, inicialmente, o interesse da 
coletividade, o Estado acaba por corresponder também por sua unificação, conforme 
sintetizou Laski (1973 apud Idem, p. 268), pois, ao atender aos anseios daqueles que 
representa, o Estado passa a ter um papel ideológico sobre os mesmos, podendo utilizá-
los de maneira positiva ou negativa. 
De fato, o Estado era o gestor principal e essencial no início do século XX dos 
espaços brasileiros. Representava os interesses dos cidadãos a partir da Constituição de 
1891, passando a ter interesses diversos frente ao território que habitavam. Isso gerava 
conflitos e, consequentemente, necessidade de uma regulação. 
O Brasil no inicio do século passado era uma recém-formada República com forte 
apelo militar. Nossa economia era levada a reboque pelas principais nações da época como 
Inglaterra e os Estados Unidos. Ambas eram praticantes do laissez-faire, em que o próprio 
criador deste termo, o Marquês d‟Argenson, enfatizava que o Estado “para governar melhor 
é preciso governar menos” (COSTA, op.cit., p. 280). Quando da quebra da Bolsa de Valores 
de Nova Iorque em 1929, várias nações que dependiam do seu capital, como o Brasil, 
sofreram um duro impacto em suas economias, gerando uma grave crise também no 
aspecto político. 
18 
 
 
Foi nesse cenário que Vargas assumiu o Estado brasileiro e, seguindo a cartilha 
keynesiano promoveu transformações profundas no país, acelerando a industrialização, 
regulando as atividades que envolvem capitais e o gerenciamento da estrutura populacional 
e territorial. 
A Nação, no caso brasileiro, vem a ser o produto dessa formação territorial e 
constitucional do Estado, sendo a junção histórica de elementos culturais, sociais, políticos 
e econômicos da população em torno da área que habita. No Brasil, a construção da 
unidade de nação não partiu da inclusão aleatória das classes sociais na geração de uma 
consciência nacional para a formação de uma nacionalidade, mas de uma “força interior”, 
ou seja, uma ação política organizada com a intenção de forjar uma atitude, um 
comportamento, para o povo que direcionou no período 1930-1945, ao pensamento único 
do interesse do Estado visando ser de interesse coletivo, semelhante ao que ocorreu na 
Alemanha, conforme assinalou Jacques Droz (apud Idem, p. 301).Wainberg (2003, p. 54) afirma que “a angústia por identidade levaria [...] Vargas a 
tornar o Estado um ator mediador decisivo na empreitada da construção do homem 
brasileiro”. Getúlio, inspirado pelo Modernismo de 1922, quando intelectuais brasileiros 
fizeram o Brasil olhar para si, com a intenção de encontrar as suas mais profundas raízes, 
forçou a propagação dessa cultura que adquiriu o status de oficial no pais, como ferramenta 
para a integração nacional. 
A Chateau coube à responsabilidade através dos Diários de difundir essa cultura, 
sendo essa a sua contribuição à nacionalidade brasileira, o que se tornou fundamental para 
a integração dos espaços aos quais passou a alcançar a partir de 1930. “A obra [...] 
realizada por Assis Chateaubriand expressou, a sua época, o Brasil que se fazia que se 
quisesse nação e que buscava sua identidade” (Idem, p. 277). 
 
 
 
 
 
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4. DESIGUALDADE E TERRITÓRIO 
 
O “capital necessita estabelecer-se em toda a parte, explorar em toda a parte, criar 
vínculos em toda parte” (MARX & ENGELS, 1982, p. 97). Esta “lei fundamental” torna 
evidente o caráter expansionista e incorporador do modo de produção capitalista, pois a 
busca da valorização dilui as fronteiras e homogeneíza as relações a partir da destruição 
das formas de organização que bloqueiam o avanço do capital, ao mesmo tempo em que 
novas relações são criadas para viabilizar o modo de produção dominante. 
Tal movimento não está presente na harmonia dos modelos liberais. Os teóricos 
“dualistas”, que vêem na suplantação das atividades “atrasadas pelas modernas o processo 
natural” de modernização econômica através do aumento da produtividade, proporcionando 
às populações residentes nos espaços arcaicos a oportunidade de usufruir os benefícios 
oriundos da disponibilidade de bens e serviços com o máximo aproveitamento 
custo/benefício, não consideram a complexidade e os paradoxos inerentes à dinâmica de 
expansão do capital. 
O capital não evolui através de uma sucessão de fases nas quais as atividades 
arcaicas são substituídas pelas modernas num movimento de equalização dos níveis de 
produtividade (ROSTOW, 1971), nem, tampouco, tal movimento assegura a disseminação 
da tecnologia derivada da pressão competitiva das firmas modernas (e das atividades de 
ponta) sobre os espaços protegidos e ineficientes (OHMAE, 2001). 
Movido pela lógica da valorização, o capital destrói, cria e recria espaços numa 
dinâmica marcada por avanços e retrocessos que refletem o ambiente competitivo e 
contraditório que é próprio da natureza do sistema. O resultado desse processo é a 
“combinação” de relações produção e de espaços cujo único elemento em comum (além 
de partilharem da órbita do capital) é a subordinação perante o centro dominante. 
A força e a forma como o capital se apropria das áreas dominadas foi descrita em 
detalhes por Marx em sua análise dos efeitos da expansão inglesa na Índia. Nesse trabalho, 
o autor mostra que a produção (artesanal) indiana de tecidos estava assentada numa 
estrutura político-administrativa que dotava as aldeias indianas de elevada autonomia. Tal 
organização permitiu que o país (e a sua estrutura de produção) pudesse sobreviver à 
dominação dos diferentes povos que invadiram a Índia antes dos ingleses. 
20 
 
 
Por mais importantes que tivessem sido as mudanças políticas experimentadas pela 
Índia, no passado, as suas condições sociais permaneceram intactas desde os 
tempos mais remotos até o primeiro decênio no século XIX. O tear manual e a roca 
de fiar, origem de um exército incontável de tecelões e fiandeiros, eram os eixos 
centrais da estrutura social da Índia (MARX, 1853). 
 
Esses pequenos organismos sociais foram destruídos não apenas pela força militar 
e de arrecadação dos ingleses, mas, principalmente, pela constituição da Companhia 
Inglesa das Índias Orientais que monopolizou o comércio indiano. Ao desmantelar a 
indústria doméstica dessas comunidades, os ingleses dissolveram as organizações sociais 
que sustentavam o equilíbrio daquela sociedade. Para Marx, essa foi a primeira e real 
revolução social assistida naquele país até então. Longe de representar uma atitude 
consciente de alteração da estrutura social (marcada por profundas injustiças, na visão do 
autor), tais transformações foram o resultado dos impulsos mesquinhos presentes na 
própria essência do capital. 
Entretanto, as relações de conflito presentes no sistema capitalista não estão 
circunscritas ao embate entre as atividades norteadas pela lógica do capital e os arranjos 
não capitalistas. Diferentes frações do capital travam uma luta permanente pela valorização 
de ativos e pela manutenção do processo de acumulação. Dentre os teóricos que trataram 
do assunto, vale mencionar os estudos desenvolvidos por David Harvey. 
Harvey (1990) mostra que o processo de acumulação requer a contínua inovação 
dos processos produtivos de forma a reduzir a taxa de salário e o tempo de realização do 
capital. Os capitalistas individualmente são compelidos pela acumulação a buscar novos 
processos tecnológicos e, com isso, alcançar lucros extraordinários. No entanto, tal 
movimento implica no crescimento assimétrico da economia, comprometendo o processo 
de acumulação e desestabilizando o sistema como um todo. 
A razão para isto está na diferenciação (ou desigualdade) do “tempo de realização” 
das atividades produtoras de bens e serviços que geram, desta forma, uma multiplicidade 
de taxas lucro de acordo com o produto e com o conjunto das técnicas empregadas. A 
busca pelo barateamento dos componentes do capital está relacionada com a origem e a 
reprodução dos desequilíbrios espaciais, pois é imperativo para o capital mover-se em 
direção às áreas que permitam a máxima exploração do capital e do trabalho. Em suma: 
diferentes mercadorias são produzidas em espaços diversos; contudo, todas elas 
21 
 
 
necessitam do mercado para que a realização da mais-valia seja efetivada, daí a 
necessidade do intercâmbio e da integração espacial. 
Esse movimento gera contradições no desenvolvimento capitalista, pois os 
produtores veem-se obrigados à criação permanente de novos mercados ao mesmo tempo 
em que buscam beneficiar-se da concentração geográfica dos capitais constante e variável. 
No curto prazo, a procura por condições ótimas de reprodução da acumulação produz 
configurações espaciais voltadas para suas necessidades. O sobre lucro, viabilizado pela 
utilização de espaços privilegiados (localização) e pelos avanços tecnológicos, coloca a 
possibilidade de desvalorização de alguns espaços em detrimento a outros. A competição 
surge, então, da necessidade dos capitalistas “passarem adiante” o ônus dessas 
desvalorizações. O autor enfatiza que a competição tenderá a reduzir os níveis de 
lucratividade e, em consequência, o ritmo de acumulação em razão do aumento da 
“composição orgânica do capital” e da incapacidade de “realização”10 do ciclo de 
valorização do capital. 
Harvey pondera, entretanto, sobre a existência de mecanismos capazes de 
minimizar ou mesmo superar o impasse colocado pelo declínio do ritmo de acumulação 
capitalista: 
I) A esterilização de parte do estoque de capital através de desvalorizações 
periódicas; 
II) A articulação de políticas macroeconômicas que coordenem o ritmo de 
acumulação e os setores afetados e, 
III) “a absorção da superacumulação através do deslocamento temporal e 
espacial”. 
Essa absorção ocorreria através da criação de oportunidades de valorização da 
riqueza por meio do desvio de capitais das necessidades atuais para exploração de usos 
futuros e em novos espaços de acumulação. A solução para isso vem das inovações 
tecnológicas que buscam reduzir custos e encurtar o tempo rotação do capital, daí a ideia 
da “aniquilação do espaço pelo tempo”. 
A extensão e a qualidade das estruturas de transporte são essenciais para a 
viabilidade daintegração espacial, pois contribuem para a determinação do valor da força 
de trabalho e da composição do valor da capital. Para Harvey, a conexão entre o sistema 
de transporte e o valor da força de trabalho é decisiva nas decisões de investimento. A 
22 
 
 
localização das unidades produtivas depende do transporte confiável, eficiente e de baixo 
custo para a redução dos custos de circulação. As locações bem servidas com 
infraestrutura favorecerão a apropriação de mais-valia pelos capitalistas ali instalados. 
Entretanto, os investimentos em transportes (capital fixo) têm caráter locacional específico 
e tendem a desvalorizar aportes realizados em outros espaços. 
Aí reside o caráter contraditório da expansão do capital no espaço. A despeito da 
necessidade de mover mercadorias, a promoção da integração espacial pode exigir a 
desvalorização do capital investido em infraestrutura de transportes (que são onerosas e 
imóveis) em outras localidades. 
Se o capital físico e o trabalho requerem circulação desimpedida e no menor tempo 
possível para viabilizar o processo de acumulação, o mesmo deve ocorrer com os valores 
monetários. Quanto mais livre for a circulação do dinheiro, melhores serão as relações de 
intercâmbio. A despeito da relativa facilidade de circulação da mercadoria dinheiro, esta 
também está sujeita a barreiras e contradições, daí o papel estratégico desempenhado pelo 
Estado como formulador das instituições que garantirão tal mobilidade. 
Mesmo assim, tais circunstâncias não impedem que nos momentos de crise a 
instabilidade do valor relativo entre as diferentes moedas nacionais sirva de obstáculo para 
a mobilidade da mercadoria-dinheiro. Tal situação traz consequências diretas não apenas 
sobre a circulação da riqueza na forma de dinheiro, mas, também, sobre as demais faces 
da produção e da realização no interior do sistema capitalista. 
Ao lado da mobilidade de capital-físico (infraestrutura), do trabalho e do dinheiro 
concorrem outros elementos que podem levar à rigidez do capital num espaço específico. 
Para Harvey, trata-se da cristalização de “infraestruturas sociais” e de “instituições” que 
asseguram o processo produtivo, além de desempenhar outras funções como a regulação 
de contratos, a circulação de crédito e de dinheiro, as condições de trabalho, etc. 
Harvey defende que a circulação de capital tem como resultado a transformação, a 
criação, a sustentação ou recriação de infraestruturas sociais em lugares específicos em 
detrimento de outros, daí o caráter contraditório do processo. No entanto, a circulação de 
valores através das infraestruturas sociais é apenas um momento da dinâmica de 
acumulação. O capital despendido para a formação dessas infraestruturas não é perdido, 
mas volta-se na forma de ampliação do mercado para seus produtos no barateamento dos 
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processos produtivos ou ainda na configuração de ambientes favoráveis para a ampliação 
das taxas de mais-valia. 
Tal movimento explica os motivos da diferenciação entre os espaços. O capital 
produz e reproduz uma série de mediações que se materializam nos ambientes físicos e 
sociais. Assim, a “geografia social” não é apenas um reflexo das necessidades do capital, 
pois seu interior reúne contradições poderosas e potencialmente desestabilizadoras. Por 
isso, a reestruturação periódica da geografia das infraestruturas sociais ocorre usualmente 
em períodos de crise do sistema capitalista. 
A mobilidade de capital de uma fração dos capitalistas pode constituir ameaça para 
outra, sobretudo em contexto de crise. Quando o processo de desvalorização é colocado 
em marcha, os capitalistas de segmentos específicos buscarão transferir o ônus da 
desvalorização para outrem. E aí, novamente, o Estado ocupa papel fundamental para a 
manutenção do sistema, na medida em que a ele será atribuído o papel de mediador das 
tensões do aparato social. 
Em suma, as ideias de unidade e de contradição estão presentes na produção e na 
realização do capital e se constituem no centro da análise marxista da crise. O trabalho de 
Harvey buscou mostrar os mecanismos de criação e de superação das barreiras que 
restringem a mobilidade do capital em diferentes aspectos (infraestrutura, trabalho, moeda, 
etc.) e, a partir disso, explicar como se processa o conflito intercapitalista, para concluir que 
as forças que levam à crise são as mesmas que criam a materialidade exigida para sua 
superação. 
A despeito dos avanços que os trabalhos de Harvey trouxeram ao entendimento das 
relações entre capital e espaço, outros teóricos buscaram mostrar que a dimensão espacial 
ocuparia posição ainda mais importante na dinâmica do sistema capitalista. Entre estes, 
destacam-se os trabalhos produzidos por Henri Lefebvre. 
Sua teoria está apoiada na ideia que o espaço não pode ser reduzido apenas a uma 
localização ou às relações sociais de posse da propriedade, posto que encerrem no seu 
interior múltiplas propriedades num plano estrutural. Para Lefebvre, o design espacial deve 
ser considerado como força produtiva, ao lado do capital e do trabalho. 
O autor defende que o espaço pode atuar como agente controlador das contradições 
inerentes ao capitalismo em benefício dos grupos dominantes. Em certa medida, os 
24 
 
 
capitalistas utilizaram o espaço como instrumento de manutenção do processo de 
acumulação e das relações capital/trabalho. Diante de um posicionamento revolucionário, 
o controle sobre as relações e o design espacial teria importância igualmente estratégica 
que o domínio dos meios de produção, “porque tanto as relações de posse quanto as de 
exteriorização material – isto é, a produção do espaço – está unida nas relações de 
propriedade que formam a essência do modo capitalista de produção” (GOTTDIENER, 
1985, p. 129). 
O espaço não é apenas um dos elementos constitutivos das forças de produção, 
mas produto dessas mesmas relações. O “design espacial” pode ser entendido também 
como “objeto” a ser consumido. 
As relações sócias espaciais estariam impregnadas em meio as relações de 
produção capitalista a partir de um movimento no qual os papéis de produtor e de produto 
fundem-se e extrapolam os limites do embate entre as classes ou os territórios. O Estado 
ocuparia posição estratégica como instrumento do capital ao utilizar suas prerrogativas para 
assegurar o controle dos lugares, suas hierarquias e a capacidade de segregação em prol 
dos interesses da acumulação. Tal poder seria garantido pelos instrumentos de 
fiscalização, controle e repressão à disposição do governo. 
Lefebvre admitia a existência de uma contradição fundamental do espaço capitalista 
derivada do contraponto entre a fragmentação das relações sociais da propriedade privada 
e a capacidade científica e técnica de tratar o espaço como abstração. O Estado e a 
economia teriam transformado o espaço numa abstração, ainda que fragmentada. Contudo, 
em resposta a essa fragmentação fictícia do espaço reafirmam-se as singularidades do 
espaço personalizado e surgem conceitos orgânicos de integração espacial, como o espaço 
social, o residencial, etc. 
Essa explosão de distinções espaciais “coladas” a grupos de interesses está no 
cerne dos conflitos sócio espaciais e é resultado das diferenças concretas entre pessoas 
que, por sua vez, refletem o poder de dominação dos espaços abstratos. Assim, esses 
antagonismos espaciais atravessariam as linhas de classe porque não resultam apenas 
das relações de produção. 
 
 
25 
 
 
A principal contradição espacial da sociedade é a confrontação entre espaço abstrato, 
ou a exteriorização de práticas econômicas e políticas que se originam com a classe 
capitalista e com o Estado, e espaço social, ou o espaço de valores de uso produzidos 
pela complexa interação de todas classes na vivência diária (LEFEBVRE apud 
GOTTDIENER, 1985, p. 131). 
 
A hegemonia da classe capitalista seria mantida graçasao controle do espaço e de 
sua capacidade de segregação, cuja viabilidade depende da ação reguladora (e repressora) 
do Estado. Para Lefebvre, o conflito interclasses se estabelece através do antagonismo 
entre a produção de um espaço social de usos e a expropriação baseada num espaço 
abstrato. 
Mesmo levando em conta as diferenças existentes entre as interpretações de Harvey 
e as de Lefebvre, é fácil perceber a complexidade das mediações presentes em seus 
trabalhos na tentativa de relacionar a dinâmica do modo de produção capitalista à 
configuração do espaço. Transpassados pela matriz marxista, esses estudos mostram uma 
trajetória marcada por contradições, avanços e retrocessos que são inerentes à dinâmica 
capitalista, definitivamente em oposição à harmonia prevalecente nos modelos 
conservadores de cunho liberal. 
O interesse em torno de arranjos espaciais localizados ganhou força principalmente 
a partir dos anos 1980, com os trabalhos pioneiros produzidos por Arnaldo Bagnasco, Carlo 
Trigilia e Sebastiano Brusco sobre a “Terceira Itália”. Tais estudos destacaram as 
características sociais e a formação de cooperativas, qualidades que dotavam algumas 
regiões italianas dos pré-requisitos necessários ao seu engajamento no mercado mundial, 
remetendo a discussão ao conceito de “distrito industrial marshalliano” (BENKO, 1996). 
As vantagens dos distritos não estavam restritas ao melhor aproveitamento da 
infraestrutura disponível e dos ganhos de escala dos participantes. Há também um intenso 
processo de troca de informações entre produtores e fornecedores que é facilitado pela 
proximidade física, o que, naturalmente, associa este comportamento ao próprio processo 
de inovação. 
Para Benko, os trabalhos de Michel Piore e os de Charles Sabel, ainda no início da 
década de 1980, interpretaram o sucesso dos distritos industriais como um caso particular 
dentro de uma tendência mais geral na qual a rigidez da organização fordista seria 
substituída pela “especialização flexível”. Paralelamente, nos EUA, a partir das 
26 
 
 
experiências observada no Vale do Silício e no Orange Country, os trabalhos dos geógrafos 
Allen Scott, Michel Storper e Richard Walker apontariam para conclusões semelhantes. 
Nos anos 1990, a corrente localista ganhou impulso com o estreitamento das 
relações entre os países, sobretudo a partir da intensificação dos fluxos financeiros. Esse 
contexto abriu caminho para a disseminação da ideia que a escala nacional era insuficiente 
para responder aos requisitos exigidos pela “nova economia”. Dentre os autores que 
defendem o regional e o local como escalas privilegiadas para o crescimento econômico, 
os trabalhos de Ohmae (2001) destacaram-se, menos pelo rigor da construção teórica e 
mais pela popularidade alcançada e pela radicalização de suas ideias. 
É impossível pensar o desenvolvimento econômico e, em decorrência, a melhoria 
das condições de vida das populações através da ótica de um mundo (econômico) fechado, 
segundo o autor. Daí o papel estratégico desempenhado pelas economias regionais como 
“portas de entrada” dos “Estados-Nação” na economia global. Por muito tempo, defende 
ele, a guerra fria justificou a existência do poder nacional, mas com a queda do muro de 
Berlim, o aumento da importância do regional e do local materializou-se na expansão dos 
conflitos regionais. 
Ao invés de disseminar os benefícios produzidos pelo crescimento econômico, a 
transferência de excedentes das áreas competitivas para as menos-competitivas acabaria 
servindo como instrumento de manutenção de privilégios de grupos incrustados no poder. 
A questão fundamental estaria, portanto, na maneira de “integrar” as regiões à economia 
global. 
A redistribuição regional do excedente econômico criaria vícios, desestimulando o 
engajamento das economias regionais atrasadas na economia global, e 
consequentemente, seu desenvolvimento econômico. Tomando como exemplo a Malásia, 
Ohmae sugere ser possível oferecer certo grau de autonomia para as regiões sem o 
abandono do controle das instâncias nacionais. 
A autonomia econômica das regiões competitivas libertaria, enfim, as amarras que 
as prendem as áreas ineficientes (ou atrasadas economicamente), cuja sobrevivência 
dependeria dos subsídios oferecidos pelo governo nacional. O autor esclarece que tais 
mudanças requerem tempo para a sua efetivação e de um governo nacional estável para 
conduzi-las, lembrando que o governo central da Malásia permaneceu 12 anos no poder e 
que isso foi fator fundamental para a consolidação dessas políticas. 
27 
 
 
Com a consolidação do processo de integração torna-se praticamente impossível a 
formação, no âmbito de uma região isolada, de uma matriz produtiva densa e integrada, ou 
seja, regionalmente “completa”. Assim, resta aos espaços conquistados a inserção 
especializada e complementar nas cadeias produtivas constitutivas da “matriz produtiva 
nacional” comandada pelo “polo dinâmico” da acumulação, enquadrando-se à hierarquia e 
às decisões que definirão o papel e o ritmo de crescimento de cada espaço. 
Uma vez realizada a integração, a natureza e os limites do pólo dinâmico devem ser 
analisados. O movimento de polarização deriva da própria natureza desigual e combinada 
do desenvolvimento capitalista que gera estruturas de dominação fundadas na assimetria 
e na irreversibilidade, que serão reforçadas pela inércia dos investimentos em capital fixo e 
nos efeitos de aglomeração. Em suma, a polarização reflete os processos de concentração 
e de centralização do capital e suas repercussões no espaço. 
Isso não significa, entretanto, que os pólos dinâmicos sejam imutáveis, pois o 
desenvolvimento do capital leva ao redesenho permanente da “configuração do espaço” 
construindo e “desconstruindo” escalas, pontos nodais e as próprias forças de polarização. 
Para Brandão, as relações entre as regiões dominantes e as subordinadas têm se 
transformado no período recente em razão do aperfeiçoamento dos instrumentos técnicos 
e organizacionais que permitiram o avanço da seletividade geográfica do capital. Dessa 
forma, a noção de polarização não pode ser mais pensada em termos de “indústria motriz” 
e associada à ideia de distância. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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