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FÍSICO-QUÍMICA Sandra Miceli Sicchierolli Cintra , 2 SUMÁRIO 1 ESTUDOS DE GASES ................................................................................. 3 2 MISTURAS GASOSAS .............................................................................. 16 3 CINÉTICA QUÍMICA ................................................................................ 25 4 PROPRIEDADES COLIGATIVAS ................................................................ 41 5 TERMODINÂMICA QUÍMICA I ................................................................ 51 6 TERMODINÂMICA QUÍMICA II ............................................................... 60 , 3 1 ESTUDOS DE GASES Apresentação A Físico-química é o ramo da química que estuda a relação entre as propriedades e o comportamento das partículas das quais a matéria é constituída. A estrutura da matéria e suas transformações também serão estudadas. Neste bloco estudaremos o comportamento físico dos gases baseados nas variáveis de estado. 1.1 Variáveis de estado de um gás A matéria pode ser encontrada em três estados físicos: sólido, líquido e gasoso. A matéria no estado sólido possui as partículas organizadas, tem forma e volume definidos. No estado líquido a matéria apresenta suas partículas um pouco desorganizadas, possui volume definido e a forma depende do recipiente que a contém. Já a matéria no estado gasoso possui suas partículas desorganizadas, não possui forma nem volumes definidos e ocupa todo o espaço disponível. São as interações entre as partículas que definem o estado físico da matéria. No estado gasoso as partículas estão muito afastadas, em contínuo movimento, de forma tão rápida e aleatória que a interação entre elas é muito fraca. Podemos resumir que um gás possui as seguintes propriedades: Não têm volume próprio; Não têm forma própria; Apresentam elevada compressibilidade e expansibilidade. Para explicar as propriedades dos gases foi elaborada a teoria cinética dos gases que define que: a) As moléculas de um gás estão em contínuo movimento e separadas entre si por grandes espaços vazios em relação ao tamanho das moléculas. , 4 b) O movimento das moléculas se dá inteiramente ao acaso e em todas as direções e sentidos. c) As moléculas colidem continuamente contra as paredes do recipiente onde estão contidas, resultando dessas colisões o que se chama de pressão do gás. d) As colisões das moléculas contra as paredes do recipiente, bem como as colisões intermoleculares, são perfeitamente elásticas, isto é, ocorrem sem perda de energia. e) As moléculas são completamente livres em seu movimento, isto é, não há forças de atração entre elas e nem entre elas e as paredes do recipiente onde estão contidas. As variáveis de estado de um gás são as condições de volume, pressão e temperatura nas quais um gás se encontra. Pressão: Depende do número de colisões das partículas do gás com as paredes do recipiente, portanto, a pressão (P) é a razão entre a força (F) e a área (A) sobre a qual a força é exercida (Atkins, p5). P= F/A O físico italiano Evangelista Torricelli (1608-1647) determinou, em 1643, a pressão do ar atmosférico. Ele utilizou uma coluna de mercúrio, emborcou esta coluna em uma cuba também com mercúrio e verificou que, ao nível do mar, a altura da coluna era de 76 cm ou 760 mm. No sistema internacional (SI) a unidade utilizada é o pascal (Pa). Ao nível do mar a pressão de 1 atm equivale a pressão exercida por uma coluna de mercúrio com altura de 760 mm. A medida da pressão de um gás é feita por meio de um aparelho chamado manômetro: 1 atm = 76 cm Hg = 760 mmHg = 105 Pa = 102 kPa , 5 No manômetro aberto a pressão é considerada a atmosférica. Considere as situações abaixo: Situação 1: A pressão exercida pelo gás é maior do que a pressão atmosférica. Neste caso a pressão do gás é calculada somando-se a pressão atmosférica mais a altura da coluna representada por ΔH. A figura abaixo ilustra esta situação. Fonte: Elaborado pelo autor Situação 2: A pressão atmosférica é maior do que a pressão do gás, neste caso, a pressão do gás é calculada pela pressão atmosférica menos a altura da coluna representada por ΔH. A figura abaixo ilustra esta situação. Fonte: Elaborado pelo autor. , 6 Temperatura: é um reflexo do grau de agitação das moléculas, e é a propriedade que determina o fluxo da energia, sendo que esta sempre flui do objeto de temperatura mais alta para o objeto de temperatura mais baixa. Na físico-química utilizamos a temperatura na escala Kelvin, chamada de temperatura termodinâmica. Nesta escala a temperatura absoluta (T = 0 K) é considerada a menor temperatura possível. A conversão entre a temperatura na escala Celsius para a escala Kelvin é dada pela expressão: T (K) = t (°C) + 273 Volume: para substâncias gasosas o volume é definido pelo recipiente que o contém. As conversões entre as unidades de medida de volume são: 1 m3 = 1000 L 1 L = 1 dm3 1 L = 1000 mL = 1000 cm3 = 1 dm3 1.2 LEI DE BOYLE E MARIOTTE O químico irlandês Robert Boyle (1627-1691) estudou o comportamento dos gases e verificou a relação entre a pressão e o volume de um gás, quando este é mantido à temperatura constante (transformação isotérmica). De acordo com os estudos de Boyle para uma massa fixa de gás, mantida a temperatura constante, o volume ocupado pelo gás é inversamente proporcional à pressão aplicada, ou seja, quanto maior a pressão menor o volume. Podemos verificar esta relação por meio da figura e do gráfico abaixo: , 7 Colocando os dados do gráfico em uma tabela temos: Estado Pressão Volume P.V 1 P V P.V 2 2P 2 V P.V 2 V 2P. 3 4P 4 V P.V 4 V 4P. Portanto a expressão matemática será: P1.V1 = P2.V2 , considerando a temperatura constante. , 8 1.3 - 1ª e 2ª LEI DE CHARLES E GAY-LUSSAC 1ª Lei de Charles e Gay-Lussac. Os cientistas Jacques Alexandre Cesar Charles e Joseph Louis Gay-Lussac estudaram o comportamento físico dos gases quando a pressão era mantida constante (transformação isobárica). Eles observaram que, quando um gás era mantido em um recipiente à pressão constante, o aumento do volume provocava um aumento proporcional da temperatura absoluta do gás. Portanto volume e temperatura eram grandezas diretamente proporcionais. Matematicamente podemos expressar essa lei com a equação: V1 = V2 T1 T2 Onde: V1 = Volume inicial V2 = Volume final T1 = Temperatura absoluta inicial T2 = Temperatura absoluta final , 9 Usando os dados da tabela abaixo podemos construir um gráfico que expressa o comportamento de um gás, quando mantido à pressão constante, quando temperatura e volume variam. T e V são grandezas diretamente proporcionais: Estado Temperatura Volume T V 1 T V 2 2T 2V 2T 2V = 3 4T 4V 4T 4V = T V T V T V , 10 2T 2V 1T 1V P constante 2ª Lei de Charles e Gay-Lussac. Banho de gelo Gay-Lussac também estabeleceu a relação entre a pressão e a temperatura absoluta quando o volume era mantido constante (transformação isocórica ou isovolumétrica). Nesta transformação, com o aumento da temperatura, temos um aumento proporcional da pressão, uma vez que, com o aumento da temperatura, temos um aumento do grau de agitação das moléculas e, consequentemente, um aumento na quantidade de choques das partículas com as paredes do recipiente, aumentando a pressão. Para uma massa fixa de gás a volume constante, a pressão exercida pelo gás é diretamente proporcional à temperatura absoluta. Estado Temperatura Pressão T P 1 T P T P 2 2T 2P 2T 2P = 3 4T 4P 4T 4P = T P T P , 11 T e P são grandezas diretamente proporcionais:corpo de temperatura mais alta. Tendo como consequência que o sentido natural do fluxo de calor é da temperatura mais alta para a mais baixa, e que, para que o fluxo seja inverso, é necessário que um agente externo realize um trabalho sobre este sistema. A representação matemática da entropia é: Onde: ∆S é a variação da entropia; Q (Joule) é a quantidade de calor trocado pelo sistema; T (Kelvin) a temperatura absoluta do sistema. , 65 6.4 Energia Livre de Gibbs 6.4.1 Energia livre de Gibbs A energia livre de Gibbs (ΔG) é uma grandeza utilizada para prever a espontaneidade de uma reação química. Até o ano de 1883, os cientistas consideravam que a espontaneidade de uma reação era determinada pela variação da entalpia e da entropia de tal maneira que: ΔH 0: o sistema reacional possui grande desorganização atômica Mas Gibbs demonstrou que, durante a ocorrência de uma reação espontânea, parte da energia liberada era utilizada para reorganizar os átomos e esta energia dependia da temperatura e da entropia. Desta forma a entalpia, a entropia e a temperatura são fatores que determinam a espontaneidade de uma reação química. A expressão matemática que representa esta relação é: ΔG = ΔH – T. ΔS Observações sobre a Energia Livre de Gibbs Uma reação só é espontânea se o resultado do ΔG for menor que 0; A expressão da energia livre de Gibbs só é válida se a reação for realizada sobre pressão e temperatura constantes; A temperatura, no cálculo da energia livre de Gibbs, sempre deve estar na unidade Kelvin; As variações de entalpia (ΔH) e entropia (ΔS) precisar estar na mesma unidade de medida. , 66 6.4.2 Espontaneidade de uma reação Uma reação será espontânea somente se uma das condições abaixo forem satisfeitas: a) Quando o ΔH for positivo e o ΔS for negativo: ΔH =+x ΔS = -y Ao substituir essas grandezas na expressão matemática temos: ΔG = ΔH – T. ΔS ΔG = x - T.(-y) ΔG = x + T.y O resultado do ΔG será positivo e, com isso, a reação não será espontânea. b) Quando o ΔH for positivo e o ΔS for positivo: ΔH =+x ΔS = +y Ao substituir essas grandezas na expressão matemática temos: ΔG = ΔH – T. ΔS ΔG = x - T.(+y) ΔG = x - T.y O resultado do ΔG será somente dependente da temperatura. O processo só será espontâneo se o resultado da multiplicação da temperatura pela entropia for maior que o da entalpia, o que pode ocorrer em altas temperaturas. , 67 c) Quando o ΔH for negativo e o ΔS for positivo ΔH =-x ΔS = +y Ao substituir essas grandezas na expressão matemática temos: ΔG = ΔH – T. ΔS ΔG = -x - T.(+y) ΔG = -x - T.y O resultado do ΔG será negativo e, com isso, a reação será espontânea. d) Quando o ΔH for negativo e o ΔS for negativo: ΔH =-x ΔS = -y Ao substituir essas grandezas na expressão matemática temos: ΔG = ΔH – T. ΔS ΔG = -x - T.(-y) ΔG = -x + T.y O resultado do ΔG será dependente da temperatura. O processo só será espontâneo se o resultado da multiplicação da temperatura pela entropia for maior que o da entalpia, o que pode ocorrer em altas temperaturas. 6.5 Aplicações da 2ª Lei da Termodinâmica 6.5.1 Máquinas térmicas Uma aplicação da segunda lei da termodinâmica acontece nas máquinas térmicas onde temos, em geral, dois reservatórios, um com alta temperatura e outro com baixa temperatura, e uma máquina não converte todo o calor em calor, temos que parte do calor flui do reservatório de maior temperatura para o de menor temperatura. Um exemplo prático ocorre em máquinas à vapor nas quais o calor do vapor é convertido em trabalho e o calor não utilizado acaba sendo liberado para o ambiente. , 68 6.5.2 Ciclo de Carnot Este ciclo é constituído por quatro processos reversíveis sucessivos que estão representados na figura abaixo: 1. Representa uma expansão isotérmica reversível de A até B. 2. Representa uma expansão adiabática reversível de B até C. 3. Representa uma compressão isotérmica reversível de C até D. 4. Representa a compressão adiabática reversível de D até A. A variação total de entropia ao longo do ciclo é a soma das variações em cada um desses passos. ATKINS, 2012. Conclusão Neste bloco você aprendeu a determinar a entalpia de uma reação por meio da aplicação da lei de Hess e do conceito de energia de ligação. Também estudou a segunda lei da termodinâmica e, dentre suas aplicações, temos a construção de máquinas térmicas, muito utilizadas na indústria, pois esta lei trata do rendimento das máquinas térmicas. , 69 REFERÊNCIAS ATKINS, J. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. CHANG, R. Química geral. 4. ed. São Paulo: MacGraw-Hill, 2010. RUSSEL, J. B. Química geral. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 2012. FVAN WYLEN, G. J.; SONNTAG, R. E.; BORGNAKKE, C. Fundamentos da termodinâmica. 6ª ed., São Paulo: Edgar Blücher, 2003.2T 2P 1T 1P P constante , 12 1.4 Equação Geral dos Gases Perfeitos Um gás perfeito ou também chamado de gás ideal, é um gás teórico que seguiria as leis de Boyle, Charles e Gay-Lussac com exatidão matemática. Se tivermos uma quantidade fixa de gás e quisermos fazer com que ele passe de um estado inicial em que suas variáveis de estado são P1, V1 e T1 para um estado final em que suas variáveis de estado são P2, V2 e T2 , temos a situação esquematizada abaixo na qual, entre o estado 1 e o 2, temos um estado intermediário. Entre o estado 1 e o estado intermediário temos uma transformação isotérmica e entre o estado intermediário e o estado 2 temos uma transformação isobárica. Isolando a variável V e igualando as equações resultantes temos uma expressão matemática chamada de Equação Geral dos Gases Perfeitos. A partir da Equação Geral dos Gases é possível verificar as três leis estudadas. , 13 1.5 Equação de Estado de um Gás Para deduzirmos a equação de estado de um gás vamos considerar que temos 1 mol de um gás qualquer, que inicialmente se encontra no estado 1 e que sofrerá uma variação para o estado 2, conforme mostra a tabela abaixo: Estado 1 Estado 2 CNTP V1 = V V2 = 22,4 L P1 = P P2 = 1 atm = 760 mmHg = 101325 Pa = 101,325 kPa T1 = T T2 = 0ºC = 273 K Aplicando os dados acima na equação geral de um gás perfeito temos: Para P = 1 atm K atm.L 0,082 K 273 L 22,4 . atm 1 T V . P , 14 Ou para P = 760mmHg K mmHg.L 62,3 K 273 L 22,4 . mmHg 760 T V . P Ou para P = 101,325 kPa K L kPa. 8,31 K 273 L 22,4 . kPa 101,325 T V . P Se tivermos n mols de um gás qualquer: mol n . K atm.L 0,082 mol n . K.mol 273 L 22,4 . atm 1 T V . P Constante mol n . K mmHg.L 62,3 mol n . K 273 L 22,4 . mmHg 760 T V . P Constante mol n . K L kPa. 8,31 mol n . K 273 L 22,4 . kPa 101,325 T V . P Constante mol n constante. T V . P ou n R. T V . P T. R . n V . P EQUAÇÃO DE ESTADO DE UM GÁS P – Pressão do gás V – Volume ocupado pelo gás (L) T – Temperatura (K) n – Quantidade de matéria (mol) R – Constante universal dos gases , 15 Essa fórmula pode ser usada para resolver vários exercícios que envolvam as variáveis de estado dos gases. Mas lembre-se de verificar as unidades. Se no enunciado da questão aparecer a pressão em atm e o volume em L, você poderá usar o valor da constante universal dado acima R = 0,082 atm . L . K-1. mol-1, pois as unidades são as mesmas. No entanto, se forem usadas outras unidades, você deverá usar outro valor de R que for dado com as mesmas unidades. Conclusão Neste bloco você aprendeu a identificar as variáveis de estado de um gás e a inter- relação entre elas. Além disso, a partir das leis estudadas definimos a equação geral dos gases e a equação de estado de um gás. A aplicação destes conceitos na indústria é de fundamental importância, pois permite o controle de processos que envolvem o aquecimento ou resfriamento de produtos. Além disso, a lei geral dos gases explica como a variação da pressão, do volume ou da temperatura afetam os processos mecânicos. O conhecimento das variáveis de estado nos permite, por exemplo, armazenar gases sob altas pressões em cilindros com segurança. Estes gases armazenados em cilindros, como o oxigênio, são utilizados nos hospitais. A lei geral dos gases pode ser utilizada para explicar a mecânica de processos que são afetados pela pressão, temperatura e volume. REFERÊNCIAS AGAS, A. P. Termodinâmica Química. Campinas: Editora da Unicamp, 1999. ATKINS, P. W. Físico-Química. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2004. ATKINS, P. W. Físico-Química: Fundamentos. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2003. CASTELLAN, G. W. Fundamentos de Físico-Química. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1986. MOORE W. J. Físico-Química. 4. ed. Rio de Janeiro: Edgard Blücher, 2000. VAN WYLEN, G. J.; SONNTAG, R. E.; BORGNAKKE, C. Fundamentos da termodinâmica. 6ª ed., São Paulo: Edgar Blücher, 2003. , 16 2. Misturas Gasosas Apresentação No nosso dia a dia os gases, de maneira geral, aparecem como misturas gasosas. Como toda mistura gasosa é homogênea, é difícil diferenciar um gás isolado de uma mistura. O exemplo mais comum de uma mistura gasosa é o ar atmosférico que é composto por 78% do volume em massa de gás nitrogênio (N2), 21% de gás oxigênio (O2) e 1% de outros gases. 2.1 Pressão Parcial de um Gás Considere a mistura dos gases hidrogênio e hélio representada na figura abaixo: P1 é a pressão exercida pelo gás hidrogênio P2 é a pressão exercida pelo gás hélio Para calcularmos a pressão total da mistura (Ptotal) basta somarmos a pressão do gás hidrogênio com a pressão do gás hélio. Ptotal = P1 + P2 , 17 A pressão parcial de um gás (Lei de Dalton) é definida como a pressão que o gás exerceria se estivesse ocupando o volume da mistura na temperatura da mistura. Por esse motivo, a pressão total é diretamente proporcional ao número total de mol de gás: V T. R .totalnP Observação: A fração molar é uma relação entre um valor parcial e um valor total, por isso, a soma das frações molares será sempre igual à unidade. Vejamos uma outra situação: Considerando uma certa massa de dois gases diferentes, A e B, ambos em recipientes separados, interligados por um tubo de comunicação de volume desprezível e munido de uma torneira, inicialmente fechada, à mesma temperatura. , 18 Ao abrirmos a torneira os dois gases irão se misturar: A pressão da mistura será a soma das pressões parciais dos gases componentes da mistura: P = pA + pB .VBT .TB.VBP .VAT .TA.VAP P )( BT B.VBP AT A.VAP V T P BT B.VBP AT A.VAP T P.V , 19 2.2 Volume Parcial de um Gás Volume parcial (lei de Amagat) Em uma mistura gasosa, podemos considerar que cada um dos gases seria responsável por uma parte do volume total ou, ainda, por certa porcentagem do volume total. Vamos considerar uma mistura contendo dois gases A e B. 2.3 Lei de Dalton Nesta lei temos a relação das pressões parciais dos gases em misturas gasosas. Pela lei de Dalton, a pressão total de uma mistura gasosa é a soma das pressões parciais de todos os gases que a compõem. , 20 Portanto matematicamente temos: Ptotal = p1 + p2 + p3 + p4 + ... Considere a formação de uma mistura gasosa de gás A e gás B. Inicialmente esses dois gases estão em recipientes separados, possuindo cada gás o seu próprio volume, sua própria pressão e sua própria temperatura. Então, volumes iguais desses gases são misturados em um único recipiente, sendo mantidos na mesma temperatura. Sendo gases ideais, eles não irão reagir entre si, sendo que a mistura se comportará como se fosse um gás único e a pressão de cada componente será independente da pressão dos demais. Portanto, a pressão dessa mistura será igual à soma das pressões exercidas por cada um de seus componentes na mistura, ou seja: Ptotal = PA + PB É importante ressaltar que a pressão parcial de cada gás é a pressão que ele exerceria se estivesse sozinho, ocupando o volume total da mistura e na mesma temperatura em que a mistura se encontra, ou seja, é sua pressão dentro da mistura. 2.4 Difusão e Efusão Gasosa Para entender os conceitos relacionados à difusão e efusão de um gás precisamos, inicialmente, compreender os conceitos de densidade absoluta e densidade relativa para gases. Para calcular a densidade absoluta de umgás devemos partir da Equação de Estado de um gás: T. R . n V . P Se conhecermos a massa do gás (m) e a massa molar do mesmo (M) podemos calcular o número de mols deste gás: 1 mol gás ----------- M g n mol gás ----------- m g , 21 M m n Substituindo na fórmula acima o número de mols (n) por m/M a equação fica: .R.T M m P.V Como V m d vamos reorganizar a fórmula: .R.T V m P.M d.R.TP.M R.T P.M d No caso, a unidade da densidade absoluta será dada em g/L. A densidade relativa é calculada a partir da relação matemática representada abaixo: Temos dois gases A e B. Cada um possui uma determinada densidade. Como queremos calcular a densidade relativa de A por B, devemos dividir suas densidades absolutas. A partir dessa relação, pode-se concluir, em termos comparativos, que, quanto maior for a massa molar de um gás, maior será sua densidade. É comum comparar a densidade dos gases com a do ar. Para que essa comparação possa ser feita, deve-se conhecer a massa molar do ar. Como o ar é uma mistura de gases (N2, O2, Ar), sua massa molar corresponde a uma média ponderada que relaciona a porcentagem em volume de cada componente, ou seja, sua fração molar (X), com sua massa molar. Essa média ponderada é denominada massa molar aparente: Map = xN2.MN2 + xO2.MO2 + xAr. MAr , 22 A composição do ar, em volume, nas regiões próximas à superfície terrestre é aproximadamente: N2 78% em volume xN2 = 0,78 O2 21% em volume xO2 = 0,21 Ar 1% em volume xAr = 0,01 Substituindo os valores, temos: Map = (0,78. 28) + (0,21.32) + (0,01.40) Þ Map do ar = 28,96 g/mol 2.4.1 Difusão e Efusão Gasosa Os fenômenos de difusão e efusão gasosa estão relacionados ao movimento cinético das partículas do gás. O fenômeno de difusão ocorre quando as partículas de um gás se espalham de maneira uniforme pelo ambiente em meio às partículas de outro gás. Um exemplo deste tipo de fenômeno ocorre quando borrifamos um perfume no ambiente e seu odor pode ser sentido em outro ponto do local. Já o fenômeno da efusão ocorre quando as partículas de um gás se movimentam através de orifícios localizados nas paredes do recipiente, ou seja, é um movimento de saída do gás pelas paredes do objeto que o contém. Um exemplo de efusão gasosa pode ser observado quando enchemos um balão de aniversário com gás e, no dia seguinte, ele está murcho. Neste caso ocorreu a saída do gás pelos poros da borracha do balão. O físico inglês Graham, em 1828, por meio de resultados experimentais, estabeleceu uma relação matemática e enunciou a seguinte lei: Lei de Graham: a velocidade de difusão e de efusão de um gás é inversamente proporcional à raiz quadrada de sua densidade (LEVINE, p 437). Se a temperatura dos gases é a mesma, então a energia cinética deles também é igual: Gás 1 Gás 2 T1 = T2 E1 = E2 , 23 A energia cinética é dada pela fórmula: m. v2/2. Então, temos: Gás 1 Gás 2 m1. v1 2 = m2. v2 2 2 2 m1. v1 2 = m2. v2 2 v1 2 = m2 v2 2 m1 Considerando que “m” é a massa molecular ou molar (M) de cada gás, teremos: 1M 2M 2v 1v ou 1d 2d 2v 1v Isso nos mostra que a massa molar do gás também interfere na sua velocidade, pois quanto menor for essa massa, mais fácil será para o gás realizar a difusão ou efusão. 2.5 Volume Molar Segundo a Hipótese de Avogadro: "Volumes iguais de gases quaisquer, medidos nas mesmas condições de pressão e temperatura, contêm o mesmo número de moléculas." (LEVINE, p14) Podemos então concluir que, se o número de moléculas de qualquer gás for igual ou se o número de mols de moléculas de qualquer gás for igual, o volume ocupado por tal número também o será (LEVINE, P21). Volume molar de um gás qualquer é o volume ocupado por um mol do gás em determinadas condições de pressão e temperatura. Se o gás estiver nas condições normais de temperatura e pressão (CNTP): P = 1 atm = 76 cm Hg = 760 mmHg 105 Pa = 102 kPa T = 0ºC = 273 K , 24 Verifica-se experimentalmente que o volume ocupado por 1 mol de qualquer gás é de 22,4L. Este valor só é valido para as chamadas condições normais de temperatura e pressão descritas acima. Para outras condições devemos determinar o valor do volume molar. Conclusão Neste bloco estudamos as misturas gasosas e os conceitos de difusão e efusão. Também determinamos o volume molar de um gás nas chamadas condições normais de temperatura e pressão (CNTP). Estes conceitos são importantes, pois permitem diversas aplicações na indústria a até mesmo no cotidiano das pessoas. Exemplos de misturas gasosas são: o ar atmosférico, o gás de cozinha (mistura de gás propano e butano) e os cilindros usados para mergulho (nitrogênio e oxigênio). REFERÊNCIAS AGAS, A. P. Termodinâmica Química. Campinas: Editora da Unicamp, 1999. ATKINS, P. Físico-Química. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2004. ATKINS, P.W. Físico-Química: Fundamentos. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2003. CASTELLAN; G. W. Fundamentos de Físico-Química. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1986. Levine, I. N. Físico-química. 6° ED. 2012. , 25 3 CINÉTICA QUÍMICA Neste bloco você irá estudar os conceitos relacionados à cinética química, área da química que estuda a velocidade das reações. Vamos estudar os equilíbrios químicos, o significado da constante de equilíbrio e os fatores que podem perturbar o equilíbrio de um sistema. 3.1 Velocidade de uma reação Cinética Química é a área da Química que estuda as velocidades das reações. O progresso de uma reação química pode ser medido pela diminuição da concentração dos reagentes ou pelo aumento da concentração dos produtos. E, de maneira simplificada, pode ser representado por: Reagentes → produtos Em geral, é mais conveniente exprimir a velocidade de uma reação em termos da variação da concentração com o tempo (Chang). Assim, para a reação A → B, representamos a velocidade como: Velocidade= -Δ[A]/Δt ou Velocidade= Δ[B]/Δt Onde Δ[A] e Δ[B] representam as variações das concentrações em mol por litro e Δt é o intervalo de tempo. Ao calcularmos o Δ[A], observe o sinal negativo da fórmula, notamos que ele representa um valor negativo, uma vez que o reagente é consumido, para não trabalharmos com valores negativos. Existem várias formas experimentais de se determinar a velocidade de uma reação, para as soluções aquosas, as concentrações são medidas com espectrógrafos, para as reações que envolvem íons, usam-se medidas de condutibilidade elétrica e para gases usam-se medidas de pressão. , 26 Observe a tabela abaixo que mostra os dados experimentais referentes a reação de decomposição de um composto genérico A se transformando nos produtos B e C 2A(aq) → 2B(l) + 1 C(g) tempo (min) [ ] mol/L [ ] mol/L [ ] mol/L 0 0,8 0 0 10 0,5 0,3 0,15 20 0,3 0,5 0,25 30 0,2 0,6 0,3 Utilizando os dados da tabela e a fórmula para cálculo da velocidade média temos: a. Para o intervalo entre 0 e 10 minutos Vm = - (0,5-0,8)/10-0 Vm = 0,03 mol.L-1.min-1 b. Para o intervalo entre 10 e 20 minutos Vm = - (0,3-0,5)/20-10 Vm =0,02 mol.L-1.min-1 c. Para o intervalo entre 20 e 30 minutos Vm = - (0,25-0,3)/30-20 Vm =0,01mol.L-1.min-1 Ao analisarmos os valores das velocidades médias de consumo de A, percebemos que elas não são constantes e que o valor máximo é encontrado no início da reação. , 27 Em um mesmo intervalo de tempo, por exemplo, entre 0 e 10 minutos, podemos calcular a velocidade média das três substâncias envolvidas na reação: Velocidade de consumo de A Vm = - (0,5-0,8)/10-0 Vm = 0,03 mol.L-1.min-1 Velocidade de formação de B Vm = -(0,3-0)/10-0 Vm = 0,03 mol.L-1.min-1 Velocidade de formação de C Vm = - (0,15-0)/10-0 Vm =0,015 mol.L-1.min-1 Estes valores obedecem à proporção estequiométrica da reação: 2:2:1. Para calcular a velocidade média da reação basta dividir os valores das velocidades médias pelos respectivos coeficientes estequiométricos: Vmreação = VmA/2 = VmB/2 = VmC/1 = 0,015 mol.L-1.min-1 De maneira geral, para a reação: aA + bB → cC Vm reação = VmA/a = VmB/b = VmC/c As leis de velocidade são determinadas experimentalmente. A partir da concentração dos reagentes e das velocidades iniciais da reação, determinamos a ordem de reação e, portanto, a constante de velocidade da reação. A ordem de reação é sempre definida em função das concentrações dos reagentes. , 28 A ordem de um reagente não está ́ relacionada com o coeficiente estequiométrico do reagente na equação global balanceada. Para uma reação genérica aA + bB → cC, temos a seguinte expressão da lei da velocidade: v= k[A]x.[B]y Onde v = velocidade da reação; K = constante da velocidade; [A] e [B] = concentrações em mol/L dos reagentes; X e y = expoentes determinados experimentalmente, denominados ordem da reação. Quando a reação ocorre em uma única etapa, dizemos que se trata de uma reação elementar, nesse caso, os expoentes x e y correspondem aos coeficientes estequiométricos da reação. No entanto, a grande maioria das reações não ocorrem em uma única etapa, ou seja, não são elementares. O conjunto de etapas por meio das quais ocorre uma reação é denominado mecanismo de uma reação. 3.2 Mecanismos de uma reação O mecanismo da reação representa a sequência de etapas elementares para que ocorra a transformação de reagentes em produtos. Considere a reação: 2A + B → A2B O mecanismo desta reação é dado por: Etapa lenta: A + A → A2 Etapa rápida: A2 + B → A2B Neste tipo de reação, a equação da velocidade é determinada pela etapa lenta da reação, logo, a equação da velocidade será: v= k[A].[A] ou v= [A]2 , 29 3.2.1 Teoria das Colisões As reações químicas ocorrem devido às colisões entre as moléculas dos reagentes. Em termos da teoria das colisões da cinética química, a velocidade de reação é diretamente proporcional ao número de colisões moleculares por segundo. Quando colocamos os reagentes em contato, as partículas que os compõem irão colidir umas com as outras, e parte dessas colisões poderá originar produtos. Os choques que resultam em quebra e formação de novas ligações são denominados eficazes ou efetivos. No momento em que ocorre o choque em uma posição favorável, forma-se uma estrutura intermediária entre os reagentes e os produtos chamada de complexo ativado. Ele é formado quando é fornecido ao sistema uma energia mínima para a ocorrência da reação química, chamada de energia de ativação. Podemos considerar a energia de ativação uma barreira que impede as moléculas de menor energia de reagirem. Fonte: CHANG, 2010. A Figura acima mostra dois perfis de energia potencial para a reação. A+B→ AB‡→ C+D Onde AB‡ representa um complexo ativado formado pela colisão entre A e B. , 30 A reação será́ acompanhada por uma liberação de calor se os produtos forem mais estáveis que os reagentes; neste caso, a reação será́ exotérmica figura (a). Pelo contrário, se os produtos forem menos estáveis que os reagentes, a mistura reacional absorverá calor a partir do meio circundante e a reação será́ endotérmica figura (b). Experimentalmente, reações diferentes apresentam energias de ativação diferentes, e as reações que exigem menor energia de ativação ocorrem mais rapidamente. Para reações mais complexas, é necessário considerar, também, um “fator de orientação”, ou seja, a orientação relativa das moléculas reagentes. A reação entre os átomos de potássio (K) e o iodeto de metila (CH3I) para dar origem ao iodeto de potássio (KI) e ao radical metil (CH3) ilustra esse aspecto: K + CH3I KI + CH3 A configuração mais favorável para a ocorrência dessa reação corresponde a uma colisão frontal do átomo de K com o átomo de I do CH3I. Caso contrário, a formação de produtos será ́menor ou a reação poderá́ mesmo não ocorrer. Fonte: CHANG, 2010. 3.3 Fatores que afetam a velocidade de uma reação A velocidade de uma reação química pode ser afetada se alguns fatores forem alterados. Dentre estes fatores destacam-se a temperatura, a concentração dos reagentes, a superfície de contato e o uso de catalisadores. , 31 3.3.1 Variação da temperatura Com o aumento da temperatura, a energia cinética das moléculas é maior, o que causa um aumento no número de colisões efetivas entre as moléculas, acelerando a velocidade da reação. Um exemplo prático desta condição acontece quando colocamos os alimentos na geladeira para evitar que eles se deteriorem rapidamente. Ao colocar na geladeira, diminuímos a temperatura da reação de degradação dos alimentos. 3.3.2 Concentração dos reagentes Quanto maior a quantidade de partículas ou moléculas disponíveis para a ocorrência de uma reação, maior será a quantidade de choques efetivos, portanto maior será a velocidade da reação. Portanto quanto maior a quantidade de reagentes, maior a velocidade da reação. , 32 3.3.3 Superfície de contato Como já estudamos, para que ocorra uma reação química é necessário que ocorra um choque efetivo entre as partículas dos reagentes, portanto quanto maior a superfície de contato, maior será a probabilidade da ocorrência dos choques efetivos e consequentemente maior a velocidade da reação. Um exemplo prático pode ser observado durante a oxidação do ferro, formação da ferrugem, sabemos que uma placa de ferro se oxida ao ser exposta ao ar e umidade, mas esta reação pode demorar muitos anos para ocorrer. A mesma reação pode ser rapidamente observada se deixarmos uma palha de aço sobre a pia, em algumas horas ela estará enferrujada. Isso acontece devido a maior superfície de contato exposta ao ar e a umidade. 3.3.4 Catalisadores Catalisadores são substâncias que abaixam a energia de ativação das reações químicas, esta é a energia mínima necessária para a ocorrência da reação. Quanto maior for a energia de ativação, mais tempo demora para a reação ocorrer. Portanto, seu uso acelera a velocidade das reações. O uso de catalisadores é fundamental nas indústrias e nos laboratórios, pois tornam economicamente viável alguns processos que demorariam muito tempo para ocorrer sem seu uso. 3.4 Equilíbrios Químicos Existem sistemas em que as reações diretas e inversa ocorrem simultaneamente. Esses sistemas são denominados reversíveis e são representados por uma dupla seta (⇆). Dizemos que o sistema atingiu o equilíbrio químico, quando a velocidade da reação direta se iguala à velocidade da reação inversa. Assim as concentrações dos participantes da reação não se alteram. É uma situação de equilíbrio dinâmico (RUSSEL, 2012). , 33 3.4.1 Constante de Equilíbrio em função das Concentrações Molares (KC) Observe o gráfico abaixo que representa a velocidade da reação em função do tempo. Onde VD = velocidade da reação direta VI = velocidade da reação inversa Matematicamente para a reação genérica abaixo, tem-se: a A + b B ⇆ c C + d D vD = kD.[A]a . [B]b e vI = kI.[C]c . [D]d no equilíbrio Portanto tem-se: kD.[A]a . [B]b = kI.[C]c . [D]d kD [C]c . [D]d = kI [A]a . [B]b kD/kI = kC , 34 Algumas Considerações Importantes: A constante de equilíbrio será um número adimensional, ou seja, sem unidade. Quanto maior for o valor de Kc, maior será a extensão da reação direta e quanto menor o valor deKc maior será a extensão da reação inversa. Kp e Kc só variam com a temperatura. Atenção: Em equilíbrios em que existam participantes sólidos, eles não devem ser representados na expressão da constante de equilíbrio (KC), pois suas concentrações são sempre constantes. Exemplo: C(s) + O2(g) ⇄ CO2(g) KC = [CO2]/[O2] Observe que, até agora, a expressão da constante de equilíbrio (Kc) foi dada em termos de concentração (mol/L), mas nos equilíbrios químicos onde pelo menos um dos participantes da reação é gás, a constante de equilíbrio pode ser expressa em termos de pressões parciais (Kp). 3.4.2 - Constante de Equilíbrio em função da Pressões/ Parciais (Kp) Matematicamente, para a reação genérica abaixo, tem-se: a A(g) + b B(g) ⇄ c C(g) + d D(g) p = (pC)c. (pD)d / (pA)a. (pB)b Exemplo: C(s) + O2(g) ⇄ CO2(g) Kp = pCO2/pO2 Obs: A constante de equilíbrio em função das pressões parciais (Kp) não é determinada, caso nenhum participante da reação esteja no estado gasoso (g) ou (v). É importante salientar que existe uma relação matemática entre as constantes de equilíbrio Kc e Kp, dada por: Kp=Kc(RT)Δn Onde ∆n = (c + d) - (a + b) , 35 Os químicos utilizam uma grandeza química denominada grau de equilíbrio, que expressa o rendimento da reação. O grau de equilíbrio é um número entre 0 e 1, ou seja, entre 0% e 100 %. Sua expressão matemática é dada por: α = número de mol que reagiu até atingir o equilíbrio/número de mol inicial dos reagentes. 3.5 Fatores Que Afetam o Equilíbrio Químico I 3.5.1 Deslocamento de Equilíbrio (Princípio de Le Chatelier) Pode-se alterar um equilíbrio químico por meio de ações externas chamadas perturbações do equilíbrio. Se, sobre o equilíbrio químico for exercido uma ação externa, este tende a reagir de maneira a minimizar os efeitos dessa ação. Assim, pelo princípio de Le Chatelier: ”Quando se aplica uma ação em um sistema em equilíbrio, ele tende a se reajustar no sentido de diminuir os efeitos dessa ação”. Obs: Sabe-se que a constante de equilíbrio não se altera com variações de concentração, volume e pressão dos participantes da reação. Estudaremos a influência dos fatores que podem afetar a condição de equilíbrio: Concentração dos participantes da reação; Pressão do sistema. 3.5.2. Variação da Concentração dos Participantes da Reação: Para a reação química: N2O4 ⇄ 2 NO2 Um aluno realizou uma experiência: Colocou 1 mol de N2O4 em um recipiente de 1L a uma dada temperatura e observou que no equilíbrio havia as seguintes concentrações dos participantes da reação. N2O4 ⇄ 2 NO2 No equilíbrio: 0,74 mol/L 0,52 mol/L [NO2]2 , 36 Se calcularmos a constante de equilíbrio Kc = ____________, obteremos o valor de Kc =0,36. [N2O4] Se esse aluno adicionasse ao equilíbrio em questão 1 mol de N2O4, observaria que, instantaneamente, a concentração de N2O4 passaria ser 1,74 mol/L, ao passo que a concentração de NO2 permaneceria 0,52 mol/L, mostrando uma perturbação no equilíbrio químico (observe que o valor de Kc não seria mais 0,36). Porém, nos instantes seguintes, haverá consumo de N2O4 e produção de NO2 estabelecendo-se um novo equilíbrio químico: N2O4 ⇄ 2 NO2 Novo equilíbrio: 1,62 mol/L 0,76 mol/L Se calcularmos novamente a constante de equilíbrio, obteremos novamente o valor de Kc =0,36. Assim: um aumento de concentração de um participante da reação, desloca o equilíbrio no sentido de consumir este participante. 3.5.3 - Variação da Pressão do Sistema Quando aumentamos a pressão sobre um equilíbrio gasoso, à temperatura constante, ele se desloca no sentido da reação capaz de diminuir esse aumento de pressão, ou seja, ele se desloca no sentido da reação onde há menos mol gasosos (pressionam menos). Assim, se tivermos o equilíbrio: , 37 2 SO2 (g) + O2 (g) ⇄ 2 SO3 (g) 2 mol 1 mol 2 mol 3 mol gasosos 2 mol gasosos Nas mesmas 3 volumes gasosos (3v) 2 volumes gasosos (2v) Condições de T e P Se aumentarmos a pressão sobre esse sistema, o equilíbrio irá se deslocar para a direita (no sentido da reação direta), favorecendo a formação do SO3, porque, nesse sentido, há a diminuição do número de mol de gás, e assim há a diminuição da pressão. Assim: Obs1: Há equilíbrios químicos que não são afetados pela pressão, ou seja, nos equilíbrios onde o volume gasoso é igual em ambos os lados da equação: H2 (g) + I2 (g) ⇄ 2 HI (g) 2 v 2v Obs2: Essas conclusões são válidas para todos os equilíbrios onde participem gases na reação. Sólidos e líquidos devem ser ignorados desse tipo de análise: , 38 CaCO3 (s) ⇄ CaO (s) + CO2 (g) 0 v 0 v 1v Ou seja: 0 v 1v Portanto, se aumentarmos a pressão sobre esse sistema, o equilíbrio irá se deslocar para a esquerda, favorecendo a formação de CaCO3. 3.5.4 - Fatores Que Afetam o Equilíbrio Químico II Estudaremos a influência dos fatores que podem afetar a condição de equilíbrio: Variação da temperatura; Catalisador. 3.5.5 - Variação da Temperatura do Sistema A temperatura é a única responsável por alterar a constante de equilíbrio (Kc), além de provocar um deslocamento do equilíbrio. Quando se aumenta a temperatura, se favorece a reação que ocorre com absorção de calor, ou seja, endotérmica. Mas quais são as principais formas de se representar uma reação endo ou exotérmica? Como vimos anteriormente, uma reação endotérmica possui o valor de ∆H positivo (∆H > 0), ao passo que uma reação exotérmica possui ∆HNeste bloco você aprendeu a determinar a velocidade das reações químicas e a calcular as constantes de equilíbrio de uma reação química, assim como quais são os fatores que afetam este equilíbrio. Nos processos químicos é importante o controle das variáveis que podem afetar a produção e comprometer o rendimento de um processo. Uma aplicação prática dos conceitos estudados acontece quando aquecemos um alimento para que ele cozinhe mais rápido ou quando colocamos um alimento na geladeira para que ele não se estrague tão rápido. Referências ATKINS, J. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. CHANG, R. Química geral. 4. ed. São Paulo: MacGraw-Hill, 2010. RUSSEL, J. B. Química geral. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 2012. , 41 4 PROPRIEDADES COLIGATIVAS Apresentação A temperatura e a pressão são fatores importantíssimos na definição dos estados físicos das substâncias e de algumas de suas propriedades. Considere um líquido não volátil como a água, mantido à 25ºC e 1 atm de pressão, polar, inodoro, insípido, com densidade igual a aproximadamente 1g/mL. Se alterarmos a temperatura e/ou pressão, ocorrerão mudanças na interação das moléculas, levando-as até a solidificação, ebulição e, em casos extremos, a alteração das ligações entre seus átomos, decompondo-as devido às mudanças na estrutura interna dessas moléculas. Um exemplo de decomposição de moléculas ocorreu durante o acidente nuclear em Fukushima, no Japão, após o terremoto, que foi seguido por um tsunami, o sistema de resfriamento dos reatores foi danificado e ocorreu um superaquecimento da água com formação de vapor de alta temperatura com liberação de gás hidrogênio, que é altamente inflamável e causou várias explosões. Neste bloco vamos estudar as propriedades coligativas das soluções. Estas são propriedades físicas que dependem única e exclusivamente do número de partículas de soluto em um solvente e não dependem da sua natureza. 4.1 TONOSCOPIA 4.1.1 diagrama de fases Para entender melhor as propriedades coligativas vamos rever alguns conceitos relacionados às propriedades físicas das substâncias. A temperatura na qual ocorre a mudança de estado físico de uma substância pode ser usada para caracterizá-la e, durante a mudança estado físico, ocorre um equilíbrio entre as fases envolvidas e a temperatura permanece constante. Se variarmos a pressão, a mudança de estado físico pode ocorrer em diferentes temperaturas. Observe o diagrama de fases representado abaixo. , 42 Diagrama de fases As curvas do diagrama de fases indicam as condições de temperatura e pressão nas quais duas fases estão em equilíbrio. O ponto de intersecção das três linhas é chamado ponto triplo e ele indica a condição de pressão e temperatura na qual as três fases estão em equilíbrio. Outro dado importante que pode ser obtido por meio de um diagrama de fases é o chamado ponto crítico. Para valores acima deste ponto, de pressão e temperatura, não há mais os estados líquido e vapor, e sim uma única fase que ocupa todo o recipiente: a do gás. Na forma gasosa a matéria não pode ser liquefeita somente por um aumento da pressão ou uma diminuição da temperatura. 4.1.2 Pressão máxima de vapor Observe a figura abaixo na qual está representado o processo de vaporização de um solvente. No equilíbrio as velocidades de vaporização e condensação são iguais. Cada solvente apresenta uma velocidade de vaporização diferente, esta variação influencia na volatilidade da substância. , 43 Em um sistema em equilíbrio à temperatura constante, a concentração das moléculas de vapor não varia com o tempo e a pressão exercida pelo vapor sobre o líquido é constante. Denominamos pressão máxima de vapor, a pressão exercida pelo vapor sobre o líquido em equilíbrio. Líquidos diferentes, à uma mesma temperatura, apresentam pressões máximas de vapor, também diferentes, uma vez que esta propriedade depende das forças intermoleculares da substância no estado líquido. , 44 A tabela abaixo mostra os valores das pressões de vapor da água, do álcool etílico e do éter. Pressão máxima de vapor a 20°C Água (l) ⇆ água (v) 17,5 mmHg Álcool (l) ⇆ álcool (v) 44 mmHg Éter (l) ⇆ éter (v) 442 mmHg Se compararmos os valores das pressões de vapor da água, do álcool etílico e do éter podemos deduzir que, no éter, as interações entre suas moléculas são mais fracas, portanto, este é o líquido mais volátil e que apresenta uma maior pressão de vapor. Já na água, como as interações moleculares são mais intensas, ela é a substância menos volátil e com menor pressão de vapor. O gráfico a seguir representa um experimento realizado em sistema fechado provido de um manômetro, para se determinar a pressão interna do recipiente em uma determinada temperatura. As pressões representadas no gráfico correspondem àquelas exercidas pelos vapores em função da temperatura. Esses dados demonstram que, quanto maior a temperatura, maior é a pressão de vapor do líquido. , 45 4.1.3 Definição de tonoscopia As propriedades coligativas provêm da diminuição do potencial químico do solvente líquido provocado pela presença de um soluto (Atkins, p.5.B2). A solução obtida após a adição de um solvente não volátil apresenta propriedades diferentes das do solvente puro. As propriedades coligativas dependem unicamente da quantidade de soluto presente na solução e na interação dessas particulas com o solvente. Quanto maior a quantidade de soluto, maior será a dificuldade para o solvente passar para o estado de vapor. A tonoscopia ou tonometria estuda a diminuição da pressão máxima de vapor de um solvente, quando se adiciona um solvente não volátil. A pressão de vapor de um líquido depende somente da quantidade de solvente na fase de vapor. Portanto a pressão de vapor da água pura é maior se comparada com uma solução de sacarose, já que as partículas dissolvidas de sacarose impedem a evaporação do solvente. Quanto maior a quantidade de soluto dissolvido menor será a pressão de vapor uma vez que, na superfície do líquido, teremos menos partículas de solvente disponíveis para passar para o estado de vapor. 4.2 Ebuliometria Temperatura de Ebulição de um Líquido A temperatura de ebulição depende da pressão exercida sobre o líquido. Nesta temperatura a pressão de vapor do líquido se iguala à pressão que atua sobre a sua superfície. Quando o recipiente estiver aberto, ao atingir a temperatura de ebulição a pressão máxima de vapor do líquido (PMV) se iguala à pressão atmosférica do local, ou seja, PMV= Patmosférica. , 46 Em cidades localizadas ao nível do mar, como Rio de Janeiro, Salvador e Recife a temperatura de ebulição da água é 100ºC, porém, em cidades acima do nível do mar, a água entra em ebulição a uma temperatura mais baixa. Fonte: DUTRA, S.D. Ebuliometria é a propriedade coligativa que estuda a elevação da temperatura de ebulição do solvente em uma solução, quando a ele é adicionado um soluto não volátil. Quando dissolvemos uma substância não volátil em um líquido dificultamos a sua vaporização, pois, devido as interações entre as partículas, a pressão máxima de vapor do líquido diminui, alterando as temperaturas de fusão e de ebulição. Portanto, a dissolução de um soluto não volátil em um solvente irá provocar um aumento da temperatura de ebulição do solvente chamado de efeito ebulioscópico. 4.3 Crioscopia É a propriedade coligativa que estuda o abaixamento da temperatura de congelação do solvente em uma solução, quando a ele é adicionado um soluto não volátil. Quando dissolvemos uma substância não volátil em um líquido dificultamos a sua solidificação, pois, com as interações entre as partículas, a pressão máxima de vapor do líquido diminui, alterando a temperatura defusão. Portanto, a dissolução de um soluto não volátil em um solvente irá provocar um abaixamento da temperatura de solidificação do solvente chamado de efeito crioscópico. , 47 4.4 Osmose Osmose é a passagem de solvente para uma solução através de uma membrana semipermeável ou a passagem de solvente de uma solução mais diluída para uma solução mais concentrada através de uma membrana semipermeável. A osmose é um processo de fundamental importância para diversos processos biológicos, as paredes das células do nosso organismo funcionam como membranas semipermeáveis e a pressão osmótca também é responsável pelo transporte de água das raízes até as folhas das árvores. 4.4.1 Pressão Osmótica (π) É a pressão externa que deve ser aplicada a uma solução para evitar sua diluição (osmose). 4.4.2 Osmose Reversa Sabemos que os oceanos cobrem dois terços do nosso planeta e que sua água apresenta 3,5% em massa de sais dissolvidos, não sendo, portanto, considerada uma água própria para consumo. Em regiões onde o suprimento de água é insuficiente, uma alternativa é a dessalinização da água do mar. Este processo ocorre devido a chamada osmose reversa, processo no qual é exercido sobre a solução uma pressão maior que a pressão osmótica, o que provoca a passagem do solvente da solução mais concentrada para a mais diluída. 4.4.3 Efeitos Coligativos Correspondem aos efeitos provocados pela adição de um soluto não volátil a um solvente e dependem apenas do número de partículas dispersas na solução, sendo independente da natureza do soluto. Para calcular o número de partículas de soluto dispersas na solução devemos verificar a natureza das partículas dispersas: , 48 a) Solução molecular: as partículas dispersas são moléculas provenientes da dissolução de um soluto molecular que não sofre ionização durante a sua dissolução. Exemplo: açúcar dissolvido em água. C12H22O11 (s) C12H22O11 (aq) 20 mol moléculas 20 mol de partículas dispersas b) Solução iônica: as partículas dispersas são íons provenientes da dissolução de um soluto iônico que, ao ser dissolvido, sofre dissociação iônica ou moléculas e íons, provenientes da dissolução de um soluto molecular que sofre ionização durante a sua dissolução. No cálculo do número total de partículas dispersas, consideram-se os íons e as moléculas (ou conjuntos iônicos) não ionizadas (ou não dissociados). Exemplo: cloreto de sódio dissolvido em água. NaCl (s) Na+ (aq) + Cl- (aq) 20 mol 20 mol 20mol 40 mol de partículas No exemplo acima consideramos todas as partículas dissociadas (α =100%), porém quando o grau de dissociação ou de ionização (α) é diferente de 100%, devemos usar um fator de correção, denominado: Fator de Van't Hoff (i): i= 1+ α (q-1) água água , 49 Em que: q é o número total de íons presentes na fórmula α= grau de dissociação ou ionização Quanto maior o número de partículas dispersas, maior o efeito coligativo, portanto, quanto maior o número de partículas dispersas: Maior a temperatura de ebulição; Menor a pressão máxima de vapor; Menor a temperatura de congelamento; Maior a pressão osmótica. 4.5 Lei de raoult O físico e químico francês François Marie Raoult (1930-1901) concluiu, ao estudar o efeito tonométrico das soluções (abaixamento da pressão de vapor de um solvente pela adição de um soluto não volátil), que a pressão máxima de vapor de uma solução (Psolução) será igual ao produto da fração molar do solvente x solvente) com a pressão máxima de vapor do solvente puro (Psolvente puro). Matematicamente podemos expressar esta lei pela fórmula: ΔPsolução = x solvente . Psolvente puro Um exemplo da aplicação da Lei de Raoult é quando temos uma solução aquosa diluída que foi preparada dissolvendo-se 200 g de um soluto molecular A (massa molar 180g/mol) em 1000 g de água. Sabendo que a pressão máxima de vapor da água no local é igual a 700 mmHg a uma dada temperatura, calcule o abaixamento absoluto da pressão máxima de vapor que ocorreu com a adição do soluto A. , 50 Utilizando a Lei de Raoult, temos: ∆P = x1 . P2 ∆P= x1 . 700 mmHg x1 = _____n 1_____________ n solvente + nsoluto x1 = 0,02 ∆P= 0,02 . 700 mmHg ∆P= 14 mmHg Esta lei vale somente para soluções moleculares diluídas e para solutos não voláteis. Conclusão Neste bloco aprendemos sobre as propriedades coligativas, elas estão presentes no nosso dia a dia e muitas vezes não percebemos. Por exemplo em países de clima frio costuma-se adicionar nos radiadores dos carros um aditivo para impedir que a água congele, esta é uma aplicação de uma das propriedades coligativas, a crioscopia. Desta forma ocorre um abaixamento da temperatura de congelamento. Outra aplicação de uma propriedade coligativa você já deve ter observado quando cozinha macarrão. Ao adicionar sal na água fervendo esta para de ferver, devido a adição de sal, agora a solução resultante vai ferver numa temperatura mais alta. Portanto as propriedades coligativas apresentam muitas aplicações no cotidiano e na indústria. REFERÊNCIAS ATKINS, J. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. CHANG, R. Química geral. 4. ed. São Paulo: MacGraw-Hill, 2010. DUTRA, N. L. Propriedades Coligativas. Globo Educação, S.D. Disponível em: . Acesso em: 5 nov. 2020. RUSSEL, J. B. Química geral. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 2012. , 51 5 TERMODINÂMICA QUÍMICA I Apresentação Neste bloco vamos estudar a termodinâmica química e suas aplicações. A termodinâmica estuda a transformação da energia e suas aplicações. As transferências de energia estão associadas às transformações químicas e às mudanças de estado físico. 5.1. Trabalho e Calor 5.1.1. Trabalho e Calor O trabalho é a propriedade física fundamental da termodinâmica e é definido como movimento contra uma força que se opõe ao deslocamento (ATKINS,2A). Existem vários exemplos que representam a realização de um trabalho, como levantar um peso e a expansão de um gás. A energia de um sistema é a sua capacidade de efetuar trabalho (ATKINS,2012). Experimentos mostram que podemos modificar a energia de um sistema sem realizar trabalho. Quando a energia é alterada devido à variação da temperatura dizemos que esta transferência se dá na forma de calor. Sistemas que permitem a transferência de energia na forma de calor são chamados de diatérmicos e os que não permitem são os adiabáticos. Calor, portanto, é uma forma de transferência de energia pela fronteira de um sistema para outro que apresenta menor temperatura, o calor sempre flui de um sistema de temperatura maior para outro de temperatura menor, portanto o calor só pode ser identificado quando ele atravessa a fronteira entre dois sistemas. 5.1.2 Processos endotérmicos e Processos exotérmicos Nestes dois processos temos a troca de energia na forma de calor. Os processos endotérmicos são aqueles que ocorrem com absorção de calor, eles podem ser representados genericamente por: , 52 A + calor B Um exemplo de processo endotérmico é o da evaporação da água. Para evaporar a água absorve calor proveniente da energia solar. Os processos exotérmicos são aqueles que ocorrem com liberação de calor, eles são genericamente representados por: A B + calor Todas as reações de combustão são processos exotémicos, pois liberam calor para o meio. A unidade de calor, no Sistema Internacional (SI) é o joule. 5.2 Sistema e Vizinhança Para nosso estudo precisaremos entender o conceito de sistema e vizinhança. Sistema é definido como uma quantidadede matéria de massa e identidade fixas (Wylen, 1995). E a vizinhança ou meio, é tudo o que se encontra fora do sistema. O sistema e a vizinhança são separados pelas fronteiras que podem se fixas ou móveis. Os sistemas podem ser classificados como aberto, fechado e isolado. O sistema aberto é aquele que consegue trocar energia ou matéria com a vizinhança. Exemplos de sistemas abertos são um recipiente com água destampado sobre uma mesa, uma lata de refrigerante aberta etc. O sistema fechado não consegue trocar matéria com a vizinhança somente energia. Exemplos de sistemas fechados são uma lata de refrigerante fechada ou uma bolsa térmica utilizada para tratar dores. Um sistema é considerado isolado quando é aquele que não recebe influência do meio, por exemplo o calor não atravessa as fronteiras do sistema. Este tipo de sistema só existe na teoria, pois, na prática, só temos sistemas que mantém condições próximas a de um sistema fechado como acontece em uma garrafa térmica. , 53 5.3 - 1ª Lei da Termodinâmica A primeira Lei da Termodinâmica se refere ao princípio da conservação da energia. Pelo princípio da conservação da energia, um sistema não pode criar ou consumir energia, mas apenas armazená-la ou transferi-la para o meio no qual se encontra, como trabalho ( ). Desta maneira, ao receber uma certa quantidade de Calor (Q), um sistema pode realizar um trabalho ( ) e, com isso, sua energia interna do sistema aumenta (ΔU). A expressão matemática que representa essa relação é: Todas as unidades medidas são em Joule (J). Para cada grandeza apresentada podemos observar um comportamento. Se o sistema recebe calor, ele realiza trabalho, sua energia interna aumenta. Se o sistema perde calor ele recebe trabalho e a energia interna diminui. Se o sistema não troca calor com meio, ele não realiza nem recebe trabalho e sua energia interna não varia. Portanto, em relação ao calor podemos concluir que, se o calor trocado com o meio for maior que zero, isso significa que o sistema recebe calor. Se o calor trocado com o meio for menor que zero, temos que o sistema perde calor. Se não há troca de calor, ou seja, igual a zero, o sistema não perde nem recebe calor. Quanto ao trabalho, se ele for maior do que zero, temos a expansão do volume de algo exposto à sua variação. De maneira contrária, se o trabalho for menor do que zero, temos a redução do volume de algo exposto à sua variação. Caso o trabalho seja igual a zero o volume é constante. Quanto a energia interna, se ela for maior que zero temos um aumento de temperatura; se ela for menor do que zero ocorre a diminuição da temperatura; e se for igual a zero, a temperatura é constante. Desta maneira temos que a temperatura de um sistema pode ser aumentada com calor ou com trabalho. , 54 5.4 Aplicações da 1ª Lei Como a primeira Lei da termodinâmica se refere à conservação da energia, um exemplo que podemos observar é quando um sistema recebe calor. Neste caso, a energia interna pode variar e/ou realizar trabalho. Como a energia total do sistema se conserva ao usarmos como exemplo um recipiente contendo um certo gás sobre uma chama, a temperatura aumenta, o gás irá se expandir realizando trabalho, portanto temos o aumento da energia interna. Parte do calor recebido é usado para realizar o trabalho e outra parte é utilizado para transformar a energia interna, a somatória dessas parcelas é igual ao calor recebido, pois a energia não pode ser criada ou destruída. Outros exemplos de aplicações da 1ª Lei são processo adiabático; processo isovolumétrico ou isocórico (volume constante); processo isobárico (pressão constante); e processo isotérmico (temperatura constante). Em um processo adiabático não ocorre transferência de calor, portanto, Q=0. Neste caso temos que ΔU = - . Na expansão adiabática de um sistema o trabalho realizado é positivo e a energia interna diminui. Na compressão adiabática, o trabalho realizado é negativo e a energia interna aumenta. Observamos na prática um processo adiabático quando uma rolha estoura em uma garrafa, pois a expansão do gás é tão rápida que não há troca de calor com o ambiente. O processo isovolumétrico é aquele que ocorre a volume constante e, nesse caso, o sistema não realiza trabalho ( =0), portanto todo o calor permanece no sistema o que contribui para o aumento da energia interna do sistema. Este tipo de processo pode ser observado na prática se aquecermos latas de aerossol. A explosão ocorre devido ao aumento da energia interna, provocado pelo aumento da temperatura em um sistema cujo volume foi mantido constante. , 55 O processo isobárico é aquele que ocorre à pressão constante, portanto nenhuma das grandezas será nula. O uso de uma panela de pressão para ferver água é um exemplo de um processo isobárico. O processo isotérmico é aquele que ocorre à temperatura constante e isso ocorre quando a transferência de calor é lenta. A energia interna é constante, portanto, ΔU = 0 o calor trocado será numericamente igual ao trabalho realizado (Q= ). 5.5 Entalpia Toda substância apresenta um certo conteúdo de energia, denominado Entalpia e representado pela letra H. Essa entalpia depende da substância, do estado físico, da temperatura, etc. Como nas reações há formação de novas substâncias, haverá, também, uma variação no nível de energia do sistema, ou seja, na sua entalpia. Reação endotérmica É aquela que ocorre com absorção de calor, ou seja, as substâncias formadas apresentam maior entalpia que as substâncias reagentes (Hp > Hr). Graficamente tem-se: Reação exotérmica É aquela que ocorre com liberação espontânea de calor, ou seja, as substâncias formadas apresentam menor entalpia que as substâncias reagentes (Hp 0) durante o processo em determinadas condições de temperatura e pressão. Exemplos: C (grafite) + O2(g) à CO2(g) ∆H = -94,1 kcal/mol de CO2(g) C (diamante) + O2(g) à CO2(g) ∆H = -94,5 kcal/mol de CO2(g) Observe que, ao mudarmos a forma alotrópica de carbono, o calor envolvido no processo mudou. H2 (g) + ½ O2(g) H2O(ℓ) ∆H = -286 kJ/mol de H2O(ℓ) H2(g) + ½ O2(g) H2O(g) ∆H = -242 kJ/mol de H2O(g) Observe que o calor liberado na formação de água na forma líquida é diferente do liberado na formação da água no estado gasoso. Podemos concluir que o calor envolvido em uma transformação química depende do estado físico em que se encontram os participantes da mesma e, também da forma alotrópica, caso apresente essa característica. , 57 Entalpia padrão (h°) Devido à impossibilidade de determinarmos a entalpia das substâncias trabalhamos com a variação da entalpia (∆H). As entalpias serão sempre avaliadas em relação a uma mesma condição (estado padrão). Por convenção: Toda substância simples no estado padrão e na sua forma alotrópica mais estável (mais comum) apresenta entalpia igual a zero. Entalpia padrão = zero (Hº=0) Entalpia padrão ≠ zero (Hº≠0) O2(g) O3(g) C(grafite) C(diamante) e C(fulereno) S(rômbico) S(monoclínico) Fe(s) Fe(ℓ) H2(g) H2(ℓ) Observação: o estado padrão de uma substância corresponde à sua forma pura a 1 atm e a 25ºC. Entalpia ou calor de formação Corresponde ao calor liberado ou absorvido durante a formação de 1 mol da substância, a partir das substâncias simples, na forma alotrópica mais estável, dos elementos que a constituem no estado padrão. Exemplo 1: Equação 1) C(grafite) + O2(g) CO2(g) ∆H = -94,1kcal/mol de CO2(g) Equação 2) C(diamante) + O2(g) CO2(g) ∆H = -94,5 kcal/mol de CO2(g) , 58 Conclusão: apenas o calor envolvido na equação 1 é denominado calor de formação do gás carbônico, pois, na equação 2, o carbono utilizado não está na forma alotrópica mais estável. Exemplo 2: Equação 1) H2(g) + ½ O2(g) H2O(ℓ) ∆H = -286kJ/mol de H2O(ℓ) Equação 2) H2(g) + ½ O2(g) H2O(g) ∆H = -242kJ/mol de H2O(g) Conclusão: apenas o calor envolvido na equação 1 é denominado calor de formação da água, pois, na equação 2, a água formada não está o estado físico em que se apresenta na condição padrão. Exemplo 3: Equação 1) H2(g) + ½ O2(g) à H2O(ℓ) ∆H = -286 kJ/mol de H2O Equação 2) 2 H2(g) + O2(g) à 2 H2O(ℓ) ∆H = - 572 kJ Conclusão: apenas o calor envolvido na equação 1 é denominado calor de formação da água, pois, na equação 2, ocorreu a formação de 2 mol de água. Observe que, se dividirmos toda a equação termoquímica por 2, chegaremos ao calor de formação da água. Calculando a variação de entalpia (ΔH) das reações Quando o exercício de termoquímica informar os calores de formação dos participantes da transformação efetue: ∆H = ∑H produtos - ∑ H reagentes Entalpia ou calor de combustão Corresponde ao calor liberado durante a combustão completa de 1 mol de qualquer substância no estado padrão. , 59 Exemplo: C6H6(ℓ) + 15/2 O2(g) 6 CO2(g) + 3 H2O ℓ) ∆H = - 3267 kJ/mol de C6H6(ℓ) (Calor de combustão do C6H6(ℓ)) C(grafite) + O2 (g) CO2 (g) ∆H = -94,1 kcal/mol de C(grafite) (Calor de combustão do C(grafite)) Atenção: quando os combustíveis são formados por carbono e hidrogênio ou carbono, hidrogênio e oxigênio, os produtos da combustão completa serão sempre CO2(g) e H2O(ℓ). Conclusão Neste bloco você aprendeu um pouco sobre a termodinâmica química, suas definições, a primeira lei e suas aplicações. Definimos também o conceito de entalpia e sua variação. O estudo da termodinâmica permite explicar o funcionamento da geladeira, do ar condicionado e de outras máquinas que usamos todos os dias. REFERÊNCIAS WYLEN, G. V. Fundamentos da termodinâmica clássica. 4ª edição, 1995. ATKINS, J. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. CHANG, R. Química geral. 4. ed. São Paulo: MacGraw-Hill, 2010. RUSSEL, J. B. Química geral. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 2012. , 60 6 TERMODINÂMICA QUÍMICA II Apresentação Neste bloco vamos definir a segunda lei da termodinâmica e suas aplicações. Vamos também aplicar a lei de Hess e o conceito de energia de ligação para calcular a variação da entalpia das reações químicas e demonstrar o conceito da energia livre de Gibbs. 6.1 Lei de Hess O químico e médico Germain Henry Hess (1802-1850) desenvolveu importantes trabalhos na área de Termoquímica. A Lei de Hess é uma lei experimental e estabelece que a variação de entalpia de uma reação química depende apenas dos estados inicial e final da reação. Há muitos processos nos quais a verificação experimental do ΔH, por meio de um calorímetro, é imprecisa ou impossível. É justamente nesses casos que os valores são determinados pela Lei de Hess. A Lei de Hess é uma forma de calcular a variação de entalpia por meio dos calores das reações intermediárias, portanto, quando o exercício fornecer diversas equações termoquímicas, você deve manipulá-las de modo que, ao somá-las, você obtenha a equação desejada. A soma dos valores de ∆H das equações corresponderá à variação de entalpia da transformação estudada. , 61 Exemplo 1: Como calcular o valor da variação de entalpia da reação a seguir? C (grafite) + O2(g) à CO2(g) ΔH =? Dados (equações intermediárias): C(grafite) + ½ O2(g) à CO(g) ΔH1 = -110,3 kJ/mol CO(g) + ½ O2(g) à CO2(g) ΔH2 = -283,0 kJ/mol C (grafite) + O2(g) à CO2(g) ΔH = - 393,3kJ/mol Para calcular o valor da variação da entalpia devemos combinar as reações dadas de maneira a se obter a reação cujo valor de entalpia queremos calcular. Isso é feito neste caso, somando-se as duas equações e obtendo-se a reação global. Observe que a ΔH1 e ΔH2 são somadas, obtendo-se o valor da variação de entalpia. Exemplo 2: Neste segundo exemplo, para calcular a variação de entalpia da seguinte reação pela Lei de Hess, devemos combinar as equações dadas para encontrar a reação global. Para isso vamos manter da forma que estão as equações I e II e vamos inverter a reação III. Ao inverter uma reação, o sinal do ΔH inverte também. A equação II deve ser multiplicada por 2 para que as moléculas de água e de oxigênio possam ser eliminadas: , 62 6.2 Energia De Ligação A energia de ligação corresponde à energia absorvida para quebrar 1 mol de ligações químicas entre dois átomos, no estado gasoso. Exemplo: H ― H (g) 2 H ∆H = + 436kJ Se, ao quebrar 1mol de ligações ocorre absorção de energia, ao formar 1 mol de ligações há liberação de energia. Desta forma, quando o exercício fornecer as energias de ligação, o saldo energético entre a energia absorvida (∆H > 0) ao quebrar as ligações que formavam as moléculas dos reagentes e a energia liberada (∆H 0. Se a entropia permanecer constante no processo (∆S = 0), esse pode ser revertido sem violar a segunda lei. Muito naturalmente, processos como esse são ditos reversíveis. Segundo Clausius, o calor não pode fluir, de forma espontânea, de um corpo de temperatura menor para um outro