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Bases moleculares e bioquímicas da patologia Processos Saúde-Doença Licenciatura em Enfermagem Licenciatura em Biologia Humana 2024/2025 Ana Rodrigues Costa Departamento de Ciências Médicas e da Saúde, Escola de Saúde e Desenvolvimento Humano 1. Proteínas e funções que desempenham 2. Relembrar a síntese de proteínas • Transcrição/ tradução 3. Relembrar processos de maturação de proteínas • Folding • Tráfego intracelular • Modificações pós-traducionais 4. Disfunções/ patologias associadas Proteínas e funções que desempenham Função de proteínas Ex. Catalítica Muitas proteínas catalisam (aceleram) reações – enzimas. Amilase Transporte Muitas substâncias têm que ser transportadas para dentro ou para fora de células, para dentro ou para fora de organelos, ou através dos organismos. Hemoglobina (transporte de O2 e CO2); Transportadores de membrana (ex. GLUT) Armazenamento Algumas proteínas armazenam componentes celulares. Ferritina (armazena ferro) Motilidade O movimentos nos organismos vivos deve-se à interação entre agragados organizados de proteínas. Miosina e actina. Estrutural Algumas proteínas fornecem suporte mecânico a células e tecidos. O citoesqueleto confere às células uma determinada forma. A elasticidade do tecido conjuntivo deve-se ainda a proteínas. Tubulina (citosqueleto). Colagénio e elastina (tecidos conjuntivo). Defesa Nesta categoria estão os anticorpos, que reconhecem e neutralizam substâncias e células estranhas, protegendo-nos de invasores. Anticorpos Mensagem Os organismos multicelulares necessitam de comunicação entre células para se garantir uma ação conjunta. Algumas das substâncias que desempenham este papel – hormonas – são de natureza proteica Insulina e glucagina Recetores Os receptores ligam moléculas de sinalização (proteicas ou não). A ligação de um ligando ao seu receptor induz alterações conformacionais no mesmo, sendo desencadeado um processo de sinalização intracelular. Recetor da insulina Outras funções regulatórias Fatores de regulação genética Os 20 aminoácidos “standard” Grupos R não polares e alifáticos Grupos R polares sem carga Grupos R aromáticos Grupos R carregados positivamente Grupos R carregados negativamente Glicina Alanina Valina Leucina Metionina Isoleucina Serina Treonina Cisteína Prolina Asparagina Glutamina Fenilalanina Tirosina Triptofano Lisina Arginina Histidina Aspartato Glutamato 6 Estrutura secundária Folha -pregueada paralela Folha -pregueada antiparalela Hélice 7 Padrões estruturais repetidos: • Hélice • Folha (paralela e antiparalela) aminotransferase AspB (NP_207418.1) from HELICOBACTER PYLORI Estrutura secundária sobreposta na sequência primária Diagrama topológico da estrutura secundária Estrutura terciária Estrutura quaternária (dímero) 8 Tipos de ligações e interações que estabilizam as estruturas secundárias/terciárias das proteínas. Ligação persulfureto (covalente) Ligação iónica Ligação por hidrogénio Interacão hidrófoba Esqueleto polipeptídico Forças de Van der Waals Forças de atração electrostáticas transientes e fracas. A núvem electrónica de um átomo pode flutuar, originando um dipolo eléctrico temporário. Este dipolo transiente pode induzir um dipolo complementar noutro átomo que esteja próximo. Ligação por hidrogénio 9 Uma só cadeia polipeptídica Mais do que uma cadeia polipeptídica citoplasmáticas Associadas a membranas Proteína funcional Transcrição A l Tradução Enrolamento + junção de subunidades + adição de componentes não proteicos + modificações pos-traducionais Prior studies showed that AHSP (shown in red) inhibits ROS production and precipitation from excess αHb that accumulates in β thalassemia. The current study demonstrates that AHSP (shown in blue) acts as a molecular chaperone to promote native folding and stability of apo-α-globin and αHb en route to HbA synthesis. The brown circle indicates oxidized αHb. AHSP stabilizes multiple forms of α-globin at different stages of HbA synthesis and homeostasis. https://doi.org/10.1172/JCI31664 https://doi.org/10.1172/JCI31664 Processamento de proteínas no Retículo Endoplasmático • clivagem proteolítica • “folding” • “assembly” • formações de ligações persulfureto • passos iniciais de glicosilação • adição de âncoras glicolipídicas Aproximadamente 1/3 das proteínas descodificadas entra para o Retículo Endoplasmático, o que demonstra a importância deste organelo na maturação de proteínas. Vias de tráfego intracelular proteíco Proteínas destinadas a ser incorporadas na membrana plasmática ou nas membranas do RE, Golgi ou lisossomas, são inicialmente inseridas na membrana do RE. A partir da membrana do RE, seguem até ao seu destino final por uma via comum à via de secreção: ER → Golgi → membrana plasmática ou lisossoma Estas preoteínas são transportadas nesta via como componentes da membrana, e não como proteínas solúveis. NOTA: O lúmen do RE é topologicamente equivalente ao exterior da célula ER → Golgi Tanto proteínas como lípidos são transportados pela via secretora em vesículas de transporte, que se formam num organelo e fundem no seguinte. Assim, as vesículas formadas no RE fundem inicialmente com o compartimento intermediário entre o RE e o Golgi (ERGIC). Ocorre subsequentemente transporte vesicular entre os vários compartimentos. As proteínas que no RE estão expostas no lado citosólico, mantêm-se com a mesma exposição no Golgi e vice-versa Enquanto que muitas proteínas viajam do ER para o Golgi, outras há que ficam retidas no RE, por exemplo, aquelas cujo local de acção é o próprio RE (ex. Peptidases sinal, proteína dissulfito isomerase, etc.). Tem que existir então triagem (“sorting”) , não só no RE, mas em todas as etapas subsequentes da via secretora. Triagem (“sorting”) ER / Golgi Proteínas destinadas a permanecer no lúmen do RE são marcadas pela sequência Lys-Asp-Glu-Leu (KDEL) no C-terminal. A retenção de algumas proteínas de membrana no RE é, de forma similar, ditada pela existência de uma sequência no C-terminal que contém dois resíduos de Lys (KKXX). Estas proteínas podem ainda ser exportadas para o Golgi, no fluxo não selectivo RE → Golgi, mas são reconhecidas por um receptor no ERGIC ou no Golgi, sendo selectivamente enviadas no sentido inverso ao da via secretora (via de reciclagem). Vias de secreção: - constitutiva (existe em todas as células) - regulada (existe apenas nalgumas células) - lisossomal Processos patológicos relacionados com tráfego de proteínas doi: 10.1242/dmm.043448 https://doi.org/10.1242%2Fdmm.043448 Processos patológicos relacionados com enrolamento incorreto Figure 1 Protein chains populate a range of interconvertible conformations during initial folding and throughout their lifetime in the cell. Molecular chaperones are key players in the cellular proteostasis network and serve to maintain proteome balance. They promote the folding of newly synthesized proteins, maintain proteins in their native conformations, and prevent the formation of toxic aggregates. Chaperones also cooperate with protein degradation machineries (the proteasome system and autophagy) in removing misfolded and aggregated proteins. https://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev-biochem-061516-044518 https://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev-biochem-061516-044518 Proteínas que sofrem um enrolamento incorreto, que se propaga infinitamente formando agregados moleculares de elevada massa molecular são uma característica de várias patologias, aparentemente não relacionadas: - Doença de Parkinson - Doença de Huntington - Doença de Alzheimer - Doença priónicas Patologia Exemplos de estruturas formadas por depósitos amiloides. Doença de Alzheimer Depósitos de fibrilhas (placas amiloides) e emaranhados neurofibrilares (neurofibrillary tangles ) Doença de Parkinson Corpos de Lewy Doença deHuntington Inclusões nucleares FIGURE: (A) Schematic view of the aggregation Aβ process. Only the main steps of the process are shown. Intensities of the fluorescence dye used as a probe of β-sheet content are shown by the yellow stars for the species formed. Several species are in equilibrium between each primary step: (B) monomeric conformers, (C) oligomers, and (D) fibrillary architectures. DOI: 10.4103/0972-2327.144284 Doença priónica – Ex. Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) (encefalopatia espongiforme subaguda) A partícula infetante: prião é definido como sendo a mais pequena partícula infetante conhecida, descrita em 1982, desprovida de ADN e RNA. Estas partículas são resistentes à radiação, que por definição modifica os ácidos nucleicos, e aos processos celulares normais de degradação possuindo também capacidade de modificar outras proteínas, tornando-as cópias da proteína anormal. Todas as formas conhecidas de Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (TSE) (infeciosa, esporádica e hereditária) podem ser explicadas desta forma: Infecciosas: PrPSc exógeno chega ao cérebro e actua como um modelo para promover a conversão do PrP* em PrPSc; Esporádicas: A acumulação de PrP* leva à acumulação de PrPSc suficiente para desencadear o processo patológico; Hereditárias: Mutações do gene PRNP levam a que seja herdada uma forma de PrPc menos estável com uma taxa superior de formação de PrP* e consequentemente mais PrPSc. Processos patológicos relacionados com modificação pós-traducional de proteínas (PTM) As modificações pós-traducionais de proteínas (PTMs) • referem-se à quebra ou geração de ligações covalentes na cadeia principal ou cadeias laterais de aminoácidos de proteínas; • Permitem expandir a diversidade de proteínas, o que fornece a base para o surgimento de maior complexidade nos organismo. • Até à data, mais de 650 tipos de modificações de proteínas estão descritos: • fosforilação – a mais conhecida, • ubiquitinação, • glicosilação, • metilação, • SUMOilação, • modificações da acilação de cadeia curta e de cadeia longa; • modificações redox • Modificações irreversíveis • ….. Ao alterar a conformação proteica, a localização, atividade, estabilidade, cargas e interações com outras biomoléculas, as PTMs em última análise alteram os fenótipos e processos biológicos das células. Tipos de MPTs 1. Modificadores Podem acontecer pela a adição de pequenas substâncias químicas e biomoléculas complexas às cadeias laterais de aminoácido, como pequenos produtos químicos (grupos fosfato, açúcar, metilo e acetilo) são geralmente eletrofílicos. As cadeias laterais de aminoácidos que recebem os modificadores são geralmente ricos em eletrões e atuam como nucleófilos durante o processo de modificação, como é o caso das cadeias laterais de lisina e cisteína. 2. Alterações químicas Podem ocorrer alterações químicas nos aminoácidos que lhes afectam as propriedades, tais como desaminação, desamidação, citrulinação e oxidação. Modificações redox podem ainda acontecer pela ligação de pequenas substâncias químicas na cadeia lateral da cisteína, tais como: S-nitrosilação (SNO) e S-glutationilação. 3. Clivagem proteolítica A clivagem da cadeia polipeptídica pode ocorrer por catálise enzimática ou por autocatálise proteica. O processo de clivagem controla a localização da proteína dentro ou ao redor da célula, a atividade proteica e o turnover proteico. A maioria dos PTMs são dinamicamente reversíveis e a adição e remoção destes PTMs são regulados enzimaticamente. As proteínas podem ser modificadas imediatamente após a síntese, para que resulte uma proteína funcionalmente ativa, mas podem também ser modificadas por estímulos regulatórios, desencadeados ou bloqueados por vias de transdução de sinal. Alterando a conformação, atividade, carga e estabilidade proteicas, bem como interações com DNA, RNA e com outras proteínas, dentro e entre células, os PTMs acabam por alterar fenótipos e funções biológicas das células e participam na regulação de inúmeros processos celulares: - ciclo celular, - diferenciação celular, - regulação transcricional - metabolismo celular, - imunidade, - transdução de sinal, - autofagia. fosforilação transdução do sinal celular ciclo celular acetilação e metilação regulação transcricional metabolismo celular glicosilação enrolamento proteico adesão celular ubiquitinação degradação e localização proteica Hiperfosforilação da proteína Tau (tubulin-associated unit), originando oligomerização e agregação. doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer Baixa palmitoilação da huntingtina mutante (HTT) no sistema nervoso resulta em aumento neurotoxicidade e maior suscetibilidade à formação de agregados doença de Huntington A ubiquitinação contínua de proteínas supressoras tumorais causam degradação proteica e perda funcional desenvolvimento de vários tumores Mau funcionamento de enzimas chave causado por malonilação desregulação do metabolismo da glicose e lípidos na diabetes mellitus tipo 2 (DMT2) Exemplos de patologias associadas a MPTs de proteínas A. The percentage of different PTM super types that are associated with diseases. In PTMD, 23 types of PTMs were classified into 9 supertypes. B. The percentage of different super-types of diseases in PTMD. In total, 275 types of diseases are classified into 26 super-types based on the tissue information. C. The number of disease associations within each type of disease- associated PTMs. D. The number of disease associations within each type of PDAs for each PTM super-type. Blocks with different colors represent different types of PDAs, while the block length represents the number of PDAs for each PTMs. U and D indicate that the PTM level is upregulated and downregulated in diseases, respectively; P and A indicate that the presence and absence of a PTM event is associated with disease progression, respectively. C indicates that a mutation event (single amino acid or indel mutations) creates one or multiple PTM sites or increases the protein PTM level in diseases, whereas N indicates that a mutation event disrupts one or multiple PTM sites or reduces the protein PTM levels in diseases. PTM, posttranslational modification; PDA, PTM–disease association. The data in the PTMD database https://doi.org/10.1016/j.gpb.2018.06.004 https://doi.org/10.1016/j.gpb.2018.06.004 Distúrbios Genéticos Mutações em praticamente todas as classes funcionais de proteínas podem levar a distúrbios genéticos. Exemplos das classes de proteínas associadas a doenças com um forte componente genético (a maioria é monogênica), e a parte da célula em que as referidas proteínas funcionam normalmente. CFTR- regulador transmembranar da fibrose cística; FMRP - proteína do retardo mental X frágil; HLA - antígeno leucocitário humano; LDL, lipoproteína de baixa densidade; MELAS - encefalomiopatia mitocondrial com acidose lática e episódios semelhantes a derrames; PKU - fenilcetonúria. Relembrar diferentes tipos de mutação genética … Duas classes gerais com base no padrão de expressão de proteínas: ❑ proteínas de manutenção - estão presentes em praticamente todas as células e têm papéis fundamentais na manutenção da estrutura e função celulares; ❑ proteínas tecido-específicas - são produzidas em apenas um tipo celular ou em um número limitado de tipos celulares e têm funções únicas que contribuem para a individualidade das células em que são expressas. A maioria dos tipos celulares em humanos expressa de 10.000 a 15.000 genes codificantes de proteínas. O conhecimento sobre os tecidos em que uma proteína é expressa, particularmente em níveis elevados, é muitas vezes útil para a compreensão da patogénese de uma doença. Sobre a relação entre o local de expressão de uma proteína e o local da doença • Uma mutação numa proteína tecido-específica frequentemente produz uma doença restritaa este tecido; • Pode haver efeitos secundários sobre outros tecidos; • Nalguns casos, mutações em proteínas tecido-específicas podem causar anomalias essencialmente em órgãos que não expressam a proteína de qualquer modo; ironicamente, o tecido que expressa a proteína mutante pode não ser acometido pelo processo patológico. Ex. Fenilcetonúria A fenilcetonúria é causada pela ausência de atividade da fenilalanina hidroxilase (PAH) no fígado, mas é o cérebro (que expressa muito pouco dessa enzima), e não o fígado, que é danificado pelos níveis sanguíneos elevados de fenilalanina resultantes da falta de PAH hepática. • Por conseguinte, não se pode inferir que a doença num órgão necessariamente resulta de uma mutação em um gene expresso principal ou exclusivamente neste órgão, ou neste órgão de qualquer modo. • Embora as proteínas de manutenção sejam expressas na maioria ou em todos os tecidos, os efeitos clínicos de mutações nas proteínas de manutenção são frequentemente limitados a um ou a poucos tecidos, por pelo menos duas razões. • Na maioria de tais casos, um único ou poucos tecidos podem ser afetados, pois a proteína de manutenção em questão é normalmente expressa abundantemente lá e possui uma função especial nesse tecido. ex. Doença de Tay-Sachs, A enzima mutante nesse distúrbio é a hexosaminidase A, que é expressa em praticamente todas as células, mas a sua ausência leva a uma neurodegeneração fatal, deixando os tipos de células não neuronais ilesos. • Noutros casos, outra proteína com atividade biológica sobreposta pode também ser expressa no tecido não afetado, diminuindo assim o impacto da perda de função do gene mutante, uma situação conhecida como redundância genética. • Inesperadamente, mesmo mutações em genes que podem ser considerados como essenciais para todas as células, tais como o da actina, podem resultar em descendência viável. Enzimopatias • O genoma humano contém mais de 5.000 genes que codificam enzimas, e há centenas de doenças humanas associadas a enzimas – enzimopatias. Ex. Fenilcetonúria (PKU) Deficiência no enzima fenilalanina hidroxilase (PAH) que leva a um aumento do nível sanguíneo de fenilalanina; Faz parte das Hiperfenilalaninémias. BH4 - tetrahidrobiopterina; 4αOHBH4 - 4 α–hidroxitetrahidrobiopterina; qBH 2 – dihidrobiopterina quinonoide (o produto oxidado das reações de hidroxilação, que é reduzido a BH4 pela dihidropteridina redutase (DHPR); PCD - pterina 4αcarbinolamina desidratase; fen - fenilalanina; Tir - tirosina; Trp - triptofano; GTP - trifosfato de guanosina; DHNP - trifosfato de dihidroneopterina; 6PT – 6 piruvoiltetrahidropterina; Ldopa - Ldihidroxifenilalanina; NE - norepinefrina; E - epinefrina; 5OH Trp – 5 hidroxitriptofano. Vias bioquímicas afetadas nas hiperfenilalaninemias. A descoberta da fenilcetonúria (PKU) em 1934 marcou a primeira demonstração de uma alteração genética causadora de deficiência intelectual. Uma vez que os pacientes com PKU não podem degradar a fenilalanina, ela acumula-se em fluidos corporais e danifica o sistema nervoso central em desenvolvimento na primeira infância. Uma pequena fração de fenilalanina é metabolizada para produzir quantidades aumentadas de ácido fenilpirúvico, o cetoácido responsável pelo nome da doença. Ironicamente, embora o defeito enzimático seja conhecido há muitas décadas, o(s) mecanismo(s) patogénico(s) preciso(s), pelo(s) qual(ais) o aumento da fenilalanina danifica o cérebro é(são) ainda incerto(s). É importante salientar que o dano neurológico é evitado através da redução da ingestão de fenilalanina na dieta. O controle da PKU é um paradigma do tratamento de muitas doenças metabólicas, cujo efeito pode ser melhorado pela prevenção da acumulação do substrato da enzima e de seus derivados BH4 - Tetrahidrobiopterina; DHPR - dihidropteridina redutase; GTPCH - trifosfato de guanosina ciclohidrolase; 5HT - 5hidroxitriptofano; PAH – fenilalanina hidroxilase; PCD - pterina 4α- carbinolamina desidratase; PKU - fenilcetonúria; 6PTS – 6 piruvoiltetrahidropterina sintase. A suplementação de BH4 pode aumentar a atividade da PAH de alguns pacientes em cada um desses três grupos. Heterogeneidade de Locus nas Hiperfenilalaninemias Fenilcetonúria (PKU) Os seguintes conceitos são fundamentais para a compreensão e tratamento das enzimopatias: 1. Padrões de herança cromossómica ✓ As enzimopatias são quase sempre recessivas ou ligadas ao X. ✓ A maioria das enzimas é produzida em quantidades significativamente além das necessidades bioquímicas mínimas, de modo que os indivíduos heterozigóticos (normalmente com cerca de 50% de atividade residual) são clinicamente normais. ✓ Muitas enzimas podem manter os níveis normais de substrato e de produtos com atividades de menos de 10%, um ponto relevante para o delineamento de estratégias terapêuticas (p. ex., homocistinúria devido à deficiência de cistationina sintase). ✓ As enzimas da síntese da porfirina são exceções. 2. Acumulação de substrato ou deficiência de produto Uma vez que a função de uma enzima é a de converter um substrato num produto, todas as consequências fisiopatológicas das enzimopatias podem ser atribuídas à acumulação do substrato (como na PKU), ou à deficiência do produto (como na deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase, ou a alguma combinação dos dois processos. Uma via metabólica modelo mostrando que os efeitos potenciais de uma deficiência de enzima incluem a acumulação de substrato (S), ou derivados do mesmo (S1, S2, S3) ou a deficiência do produto (P) ou compostos produzidos a partir dele (P1, P2). Em alguns casos, os derivados do substrato são pequenos metabolitos que podem ser formados a taxas aumentadas quando o substrato se acumula (p. ex., fenilpiruvato na fenilcetonúria). 3. Substratos difundíveis versus macromoleculares Uma importante distinção pode ser feita entre os defeitos enzimáticos em que o substrato é uma molécula pequena (tal como a fenilalanina, que pode ser prontamente distribuída por todos os fluidos do corpo por difusão ou transporte), e defeitos nos quais o substrato é uma macromolécula (tal como um mucopolissacarídeo, que permanece preso no seu organelo ou célula). A alteração patológica das doenças macromoleculares, tais como a doença de Tay-Sachs, está confinada ao tecido em que o substrato se acumula. Em contraste, o local da doença nos distúrbios das moléculas pequenas é muitas vezes imprevisível, porque o substrato não metabolizado ou os seus derivados podem mover-se livremente ao longo do corpo, danificando células que podem normalmente não ter nenhuma relação com a enzima afetada, como na PKU. 4. Perda de múltiplas atividades enzimáticas Um paciente com um defeito monogénico pode ter uma perda de função em mais de uma enzima. Existem vários mecanismos possíveis: a) as enzimas podem utilizar o mesmo cofator (p. ex., deficiência de BH4); b) as enzimas podem compartilhar uma subunidade comum ou uma proteína ativadora, de processamento, ou de estabilização (p. ex., as gangliosidoses GM2); c) as enzimas podem ser todas processadas por uma enzima modificadora comum, e na sua ausência, podem ser inativadas, ou a sua absorção num organelo pode estar diminuída (p. ex., doença de células I, na qual a falha ao adicionar a manose 6-fosfato a muitas enzimas ribossómicas anula a capacidade das células em reconhecer e importar as enzimas); d) um grupo de enzimas pode estar ausente ou ineficiente se o organelo em que ele é encontrado normalmente não é formado ou é anormal (p. ex., síndrome de Zellweger, um distúrbio da biogénese do peroxissoma). 5. Homologia fenotípica As características patológicas e clínicas resultantes de um defeito enzimático são frequentemente partilhadas por doenças, devido a deficiências de outras enzimas que funcionam na mesma área do metabolismo (p. ex., as mucopolissacaridoses), bem como pelos diferentes fenótipos que podem resultar de defeitosparciais versus completos de uma enzima. Defeitos parciais geralmente apresentam anormalidades clínicas que são um subconjunto daqueles encontrados com a deficiência completa, embora a relação etiológica entre as duas doenças possa não ser imediatamente óbvia. Por exemplo, a deficiência parcial da enzima purina hipoxantina guanina fosforibosiltransferase provoca apenas hiperuricemia, ao passo que uma deficiência completa provoca hiperuricemia, assim como uma doença neurológica severa, a síndrome de Lesch-Nyhan, que se assemelha à paralisia cerebral. Cancro • Os tumores podem ser classificados como: • Esporádicos – decorrem de alterações somáticas, durante a replicação do DNA na mitose num tecido e afeta consequentemente todas as células descendentes, não sendo transmitida à descendência, • Hereditários – as alterações estão presentes em células germinativas; ocorreram durante a replicação do DNA na meiose, afetando os gâmetas e todas as células deles descendentes. Proto-oncogenes e genes supressores tumorais Oncogenes Estes codificam proteínas que controlam a proliferação celular ou a apoptose. Estas proteínas classificam-se em seis tipos: fatores de transcrição, proteínas remodeladoras da estrutura da cromatina, fatores de crescimento, recetores de fatores de crescimento, transdutores de sinais (proteínas cinases) e reguladores da apoptose (ou morte celular programada) Proto-oncogenes Codificam proteínas que regulam processos biológicos essenciais ao funcionarem como fatores de crescimento, transdutores de sinais celulares e fatores de transcrição nuclear, controlando dessa forma a diferenciação celular normal e a proliferação. Quando alterados - por translocações cromossómicas, amplificação génica (aumento do número de cópias), mutações pontuais ou inserções virais –, podem converter-se em oncogenes. Genes supressores tumorais São responsáveis pela inibição da proliferação celular e regulação da diferenciação celular, servindo como interruptores concebidos para induzir as células a cometer morte celular programada (apoptose) quando o DNA é alterado ou existe hipoxia. Os mecanismos possíveis para a sua mutação (e a consequente perda de função) são as mutações pontuais em ambos os alelos, a perda por deleção de uma cópia do gene, seguida de inativação de outra cópia por outro mecanismo. Assim, a perda de função dos genes supressores tumorais exige a perda de ambos os alelos normais: um alelo mutante herdado acompanha- se obrigatoriamente de um segundo alelo inativado por um evento somático para que ocorra perda significativa de função. São exemplos de genes supressores tumorais os BRCA1/2 no cancro da mama e ovário – mulheres portadoras de mutação germinal 23 no BRCA1 têm até 80% de probabilidade de desenvolver cancro da mama e 60% de cancro do ovário. BRCA1 BRCA2 https://doi.org/10.1038/nrc3181 Os genes BRCA 1 e 2 codificam proteínas nucleares que participam na reparação de DNAs que, no processo de replicação, tenham sido modificados. https://doi.org/10.1038/nrc3181 Slide 1: Bases moleculares e bioquímicas da patologia Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17 Slide 18: Vias de tráfego intracelular proteíco Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27 Slide 28 Slide 29 Slide 30 Slide 31 Slide 32 Slide 33 Slide 34 Slide 35 Slide 36 Slide 37 Slide 38 Slide 39 Slide 40 Slide 41 Slide 42 Slide 43 Slide 44 Slide 45 Slide 46 Slide 47 Slide 48 Slide 49 Slide 50 Slide 51 Slide 52 Slide 53 Slide 54 Slide 55 Slide 56 Slide 57 Slide 58 Slide 59 Slide 60 Slide 61 Slide 62 Slide 63 Slide 64 Slide 65