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E-book 2
DESENVOLVIMENTO 
HUMANO E SOCIAL 
Íris Nery do Carmo
Neste E-Book:
INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3
A RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE E 
TRABALHO ����������������������������������������������������������������4
OS MODOS DE PRODUÇÃO ��������������������������������� 7
O modo de produção primitivo ������������������������������������������������7
O modo de produção escravista ����������������������������������������������8
O modo de produção feudal �����������������������������������������������������9
O modo de produção capitalista��������������������������������������������10
O modo de produção comunista �������������������������������������������11
CAPITALISMO E A SOCIEDADE MODERNA ���13
O taylorismo e o fordismo ������������������������������������������������������16
TRANSFORMAÇÕES DO TRABALHO NA 
ATUALIDADE ������������������������������������������������������������19
Neoliberalismo e a reestruturação produtiva ������������������������22
A precarização do trabalho ����������������������������������������������������24
A “uberização” do trabalho �����������������������������������������������������28
O trabalho no contexto brasileiro�������������������������������������������32
CONSIDERAÇÕES FINAIS �����������������������������������37
SÍNTESE ��������������������������������������������������������������������38
2
INTRODUÇÃO
Neste módulo você aprenderá sobre o trabalho hu-
mano e as relações sociais nele envolvidas� Será 
abordada a relação entre sociedade e trabalho, ao 
longo da história, evidenciando as transformações 
do trabalho em diferentes formações sociais e his-
tóricas, passando pelos diferentes modos de produ-
ção. Ademais, você vai conhecer as configurações 
atuais do trabalho nas sociedades contemporâneas, 
incluindo fenômenos como a chamada “uberização”�
Em linhas gerais, este módulo busca responder às 
seguintes questões: O que é o trabalho? Trabalho é 
igual a emprego? Como são formatadas as relações 
de trabalho no capitalismo? O que mudou do início 
da Revolução Industrial até o século 21? Quais são 
os outros modos de produção existentes? Qual é a 
relação entre trabalho e desigualdade social?
3
A RELAÇÃO ENTRE 
SOCIEDADE E TRABALHO
Neste tópico, você conhecerá um pouco da aborda-
gem sociológica sobre o trabalho – essa atividade 
humana fundamental, que tem assumido diversas 
configurações ao longo da história e que faz parte da 
nossa identidade social, moldando quem nós somos�
O que é o trabalho? Quando pensamos nessa palavra, 
geralmente associamos o termo à realização de uma 
atividade maçante, da qual procuramos escapar ou 
mesmo minimizar� Não obstante, ao perder o em-
prego, é comum que as pessoas desempregadas se 
sintam desnorteadas e confusas� Como estudaremos 
abaixo, nas sociedades modernas, ter um emprego é 
um elemento muito importante da nossa identidade 
(GIDDENS, 2005)�
Mesmo quando as condições de trabalho não são 
ideais, não é raro que o trabalho represente um ele-
mento estruturador na vida social das pessoas� Isso 
ocorre em função de uma série de fatores – sobre o 
qual nos debruçaremos a seguir�
O salário é um desses fatores� Muitas pessoas de-
pendem dele para satisfazer as suas necessidades� 
A ausência de renda faz com que as ansiedades em 
relação ao dia a dia sejam multiplicadas�
Outro fator diz respeito ao conhecimento adquirido 
para a realização da atividade laboral� O trabalho ofe-
4
rece uma base para o desenvolvimento e o exercício 
de habilidades e aptidões� Sem ele as oportunidades 
para desempenhar essas aptidões são reduzidas�
O trabalho também representa um contexto que con-
trasta com o âmbito doméstico� Ou seja, o ambiente 
de trabalho possibilita certa variedade nas tarefas re-
alizadas que são diferentes dos afazeres domésticos� 
Mesmo quando o trabalho é monótono, ele pode tornar 
as atividades laborais mais interessantes ao sujeito�
Outro elemento está relacionado à estrutura temporal� 
Isto é, normalmente organizamos o dia em volta do 
ritmo de trabalho, e isso fornece um senso de direção 
na vida cotidiana� Por conta desse fator, o sujeito que 
não tem emprego normalmente alimenta um senso de 
apatia em relação ao tempo (GIDDENS, 2005)�
Os contatos sociais constituem outro importante 
aspecto� No ambiente de trabalho, temos oportuni-
dade de fazer amizades e participar de atividades 
com outras pessoas� Para um indivíduo desprovido 
de trabalho as possibilidades em termos de contatos 
sociais são mais restritas�
Por fim, devemos considerar o fator da identidade 
pessoal. Isso significa que a nossa autoimagem está, 
muitas vezes, intimamente atrelada ao trabalho – o 
qual fornece uma identidade social estável�
Os fatores acima listados ajudam a entendermos as 
razões pelas quais a falta de emprego pode levar o 
indivíduo a duvidar do seu valor social, enfraquecen-
do a sua autoconfiança.
5
O senso comum predominante em nossa sociedade 
costuma relacionar o trabalho ao emprego remune-
rado� Para a sociologia essa é uma visão bastante 
estreita, que exclui tarefas muito comuns – como 
o trabalho doméstico –, além de uma série de ou-
tras atividades exercidas na economia informal 
(GIDDENS, 2015)�
Os afazeres domésticos são atividades essenciais 
para a reprodução social – isto é, para a manutenção 
da vida, por intermédio de tarefas como cozinhar, 
limpar e cuidar das crianças� São também atividades 
majoritariamente executadas por mulheres de forma 
não remunerada� Não obstante, não deixa de ser um 
trabalho (geralmente pesado e extenuante)�
Os elementos analisados acima mostram porque ter 
um emprego remunerado é socialmente importante� 
Contudo, a categoria trabalho é mais ampla� Dito 
isso, podemos entender o trabalho como a realização 
de tarefas que demandam o dispêndio de esforço 
físico e mental, visando à produção de mercadorias 
ou serviços que atendam as necessidades humanas�
6
OS MODOS DE PRODUÇÃO
Neste tópico, você conhecerá um pouco sobre os 
diferentes modos de produção observados ao longo 
da história humana e as suas principais característi-
cas� Desse modo, será possível entrever as diversas 
formas de produzir e se relacionar com a natureza 
(seja para subsistência, seja para comercialização)�
O trabalho não é uma ação do indivíduo isolado� Antes, 
trata-se de uma atividade de caráter social, que envol-
ve as relações dos seres humanos entre si, visando a 
modificar o seu ambiente. Sendo uma atividade emi-
nentemente social, o trabalho possui uma história que 
pode ser contada por meio dos diferentes modos de 
produção observados ao longo do tempo�
O modo de produção primitivo
Houve um tempo em que o ser humano precisava de 
alimento, abrigo e proteção contra outros animais� 
Nesse contexto, o trabalho era uma ferramenta in-
dispensável para garantir recursos necessários à 
manutenção da vida� 
O trabalho era realizado de forma comunal, e os 
meios de produção eram comunitários. Isso signifi-
ca que todos os membros da sociedade usufruíam 
igualmente dos meios de produção; a produção era 
distribuída de acordo com as necessidades das pes-
soas, e o excedente produzido não era propriedade 
de ninguém em particular (SANTOS, 2012)�
7
No entanto, ao longo do tempo, esse modo de pro-
dução começou a entrar em declínio� Fatores como 
o desenvolvimento da agricultura, da fabricação de 
instrumentos e ferramentas de metal, assim como 
a domesticação de animais levaram a uma grande 
transformação das forças produtivas�
Assim, tem início a troca de produtos entre as tribos e 
no interior das comunidades� A família passa a ser uma 
unidade social central para a nova organização social, 
e tem origem a propriedade privada (SANTOS, 2012)�
O modo de produção escravista
Ao passo que o modo de produção primitivo se 
modificava, tinha início outro sistema: o modo de 
produção escravista� O escravismo é um sistema 
observado em diversas sociedades ao longo da his-
tória humana� Estima-se que ele surgiu por volta de 
3000 a�C� naMesopotâmia e no Egito�
As civilizações gregas e romanas foram povos cujo 
principal sistema de trabalho e produção baseava-se 
no escravismo. Isso significa que o senhor detinha 
a propriedade tanto dos meios de produção como 
dos trabalhadores (escravos)� Portanto, aquilo que 
fosse produzido pelo escravo pertencia ao senhor� 
Nesse modo de produção, observamos que o traba-
lho físico é olhado com desprezo pela sociedade, 
sendo entendido como indigno para homens livres�
8
Em linhas gerais, a derrocada do Império Romano (476 
d�C�) provocou o esgotamento do escravismo, dando 
lugar ao modo de produção feudal (SANTOS, 2012)�
O modo de produção feudal
O feudalismo consistiu em um novo modelo de orga-
nização social, econômica e política que predominou 
durante a Idade Média, tendo como base o regime 
de servidão�
No modo de produção feudal, os meios de produção 
(como a terra) são propriedade dos senhores feudais� 
Em um sistema político baseado na monarquia, cabia 
ao rei distribuir as terras entre os senhores em troca 
de apoio militar (SANTOS, 2012)�
Sendo assim, os camponeses eram dependentes 
dos senhores feudais, com os quais mantinham uma 
relação de servidão� Diferentemente do sistema es-
cravista, os servos eram semilivres, pois não eram 
propriedade a ser vendida ou comprada pelos se-
nhores� No entanto, eles estavam obrigados a viver 
na propriedade do senhor feudal�
Cabia aos servos trabalhar na terra do senhor, rece-
bendo em troca um pequeno roçado, no qual podia 
trabalhar de forma autônoma, desde que pagasse 
impostos e taxas ao senhor�
Ao longo dos séculos, os camponeses se levantaram 
progressivamente contra esse sistema e a opressão 
feudal� Eles lutaram por igualdade e pelo direito de 
9
usufruir do produto do seu trabalho livremente� No 
final da Idade Média, o crescimento das cidades e 
do comércio impulsiona o surgimento do trabalho 
assalariado� Além disso, a descoberta de novas ro-
tas comerciais transatlânticas, o desenvolvimento 
científico e a colonização da América foram fatores 
essenciais para o surgimento do modo de produção 
capitalista (SANTOS, 2012)�
O modo de produção capitalista
A eclosão do capitalismo só foi possível com a con-
solidação de uma nova classe dominante: a burgue-
sia� Ao longo do século 18, a classe burguesa, com-
posta pelos proprietários dos meios de produção, 
protagonizou as chamadas revoluções burguesas 
(SANTOS, 2012)�
A Revolução Industrial aumentou a produção material 
e estimulou a urbanização das cidades europeias� 
Contudo, isso não significou uma melhora na quali-
dade de vida da população� Pelo contrário: a riqueza 
produzida foi acumulada nas mãos de uma minoria (a 
burguesia), ao passo que a massa de trabalhadores 
enfrentava jornadas de até 18 horas diárias�
Destituído dos meios de produção, o trabalhador 
assalariado vende a sua força de trabalho para sobre-
viver� Sendo assim, a força de trabalho se torna uma 
mercadoria, vendida em troca de salário� Na visão 
de Karl Marx (um dos principais estudiosos críticos 
do capitalismo), o trabalho se torna uma obrigação, 
10
algo vivenciado como coação e sacrifício, sendo uma 
atividade destituída de sentido criativo�
SAIBA MAIS
O filme Germinal (1993) é imperdível para quem se 
interessa por conhecer as contradições do capita-
lismo e a luta de classes� A obra retrata a França 
do século 19, enfatizando os movimentos grevistas 
de operários da mineração e a reação violenta por 
parte das autoridades naquele tempo histórico�
O modo de produção comunista
De acordo com a teoria marxista, a história humana 
se desenrola em fases sucessivas, caracterizadas 
por diferentes estruturas de classes sociais e rela-
ções de trabalho� Em linhas gerais, de acordo com 
esse esquema, a superação do capitalismo levaria 
ao comunismo, tendo o socialismo como fase inter-
mediária (SANTOS, 2012)�
O modo de produção comunista tem como pilar prin-
cipal a propriedade coletiva dos meios de produção 
e a inexistência da divisão de classe� Ele é diferente, 
contudo, do modo de produção primitivo, pois dispõe 
de um maior desenvolvimento das forças produtivas, 
em termos tecnológicos�
Cabe notar que o sistema comunista (ou mesmo o 
sistema socialista), tal como idealizado pelo marxis-
mo, nunca existiu de fato e permanece sendo uma 
11
utopia� Essa é a razão pela qual alguns autores uti-
lizam dois termos para fazer essa diferenciação: 
socialismo ideal (tal como teorizado por autores mar-
xistas) e socialismo real (tal como observado histo-
ricamente em episódios como a Revolução Russa)� 
A queda do Muro de Berlim, em 1989, é vista como 
um marco do fim do socialismo real (SANTOS, 2012).
12
CAPITALISMO E A 
SOCIEDADE MODERNA
Neste tópico, você conhecerá um pouco sobre o sur-
gimento do capitalismo, que, por sua vez, levou à 
formação da sociedade moderna tal como a conhe-
cemos hoje� Ademais, serão expostas as principais 
formas de organização do trabalho durante o século 
20: o fordismo e o taylorismo�
O trabalho fornece a base da economia de uma 
sociedade, transformando-se conforme a própria 
sociedade é historicamente transformada� As so-
ciedades modernas caracterizam-se pela produção 
industrial, o que torna as sociedades em que vivemos 
diferentes das sociedades pré-modernas� Os siste-
mas pré-modernos de produção têm como principal 
pilar a agricultura, com a maior parte das pessoas 
trabalhando nos campos� Em comparação, nas socie-
dades modernas uma pequena parcela da população 
trabalha no campo, e a própria agricultura passou 
por um processo de automação e industrialização 
(GIDDENS, 2005)�
A indústria moderna passa por uma frequente mu-
dança tecnológica, visando a uma maior eficiência 
produtiva� Ao longo do século 20, o tipo de trabalho 
realizado pelos indivíduos sofreu diversas transfor-
mações, sendo afetado por influências sociais e 
econômicas mais amplas� Quando olhamos para o 
sistema ocupacional, observamos que, no começo 
13
do século 20, o mercado de trabalho era predomi-
nantemente ocupado pelos empregos de produção 
da manufatura; ao longo do século, ocorreu a predo-
minância dos cargos no setor de serviços�
Nas Ciências Sociais como um todo, tem sido realiza-
da uma série de debates e pesquisas, a fim de expli-
car tal mudança� Giddens (2005) aponta dois motivos 
que ajudam a entender as mudanças nas relações de 
trabalho na sociedade moderna contemporânea: um 
deles é a introdução de novas tecnologias e maqui-
nários capazes de realizar tarefas em curto espaço 
de tempo; o outro motivo reside no deslocamento 
da indústria manufatureira para países do Ocidente 
(regiões como o Oriente Médio) que têm custos de 
mão de obra mais baratos�
Alguns pesquisadores alegam que estamos em 
transição para um novo modelo de sociedade, para 
além da era industrial� Esses autores têm cunhado 
uma variedade de termos, por exemplo: sociedade 
da informação, sociedade pós-industrial, economia 
da informação, entre outros�
Outra característica marcante do sistema econômi-
co das sociedades modernas é a complexa divisão 
do trabalho, produzindo um grande número de dife-
rentes ocupações e especializações� Em contraste, 
no sistema econômico pré-moderno – isto é, nas 
sociedades tradicionais –, a organização do traba-
lho não agrário se dava por meio do domínio de um 
ofício� Nesse modelo, o trabalhador dominava todos 
os aspectos da produção, do início ao fim. A eclosão 
14
do capitalismo levou ao fim dos ofícios tradicionais 
e as habilidades passaram a ser desenvolvidas em 
relação a processos de produção de maior escala 
(GIDDENS, 2005)�
Também houve uma mudança em termos da locali-
zação do trabalho, de modo que a Modernidade con-
solidou a divisão dualista entre os âmbitos público e 
privado� No período pré-industrialização, grande parte 
do trabalho era realizado coletivamente no âmbito 
doméstico, contando com a participação de todos 
os membros da família� A invenção da máquina a 
vapor no século 17 contribuiu para a separação entre 
casa etrabalho, levando ao surgimento das fábricas�
Assim, com o desenvolvimento industrial teve início 
a produção em massa de mercadorias – a despeito 
do trabalho de cunho artesanal realizado em pequena 
escala no âmbito doméstico� Na fábrica, o trabalha-
dor era treinado para se especializar em uma tare-
fa específica, seu desempenho era supervisionado 
por gerentes que, por sua vez, buscavam implantar 
técnicas de aumento da produtividade e de discipli-
narização dos empregados�
A emergência do modo de produção capitalista sus-
citou inúmeras questões entre autores clássicos da 
sociologia que observavam o fenômeno nascente na 
Europa, como Karl Marx� Para ele, a transição para 
a industrialização e o trabalho assalariado produziu 
uma alienação crescente entre os trabalhadores, pois, 
uma vez empregados nas fábricas, perderiam todo o 
controle sobre o seu próprio trabalho� Na perspectiva 
15
do autor, esse processo acabou por despojar o traba-
lho do seu valor criativo, levando os assalariados a 
desempenhar tarefas monótonas e desgastantes� O 
trabalho é assim desprovido de sentido, e encarado 
pelo trabalhador como nada mais do que uma ma-
neira de sobreviver� Karl Marx nomeou esse processo 
de alienação do trabalho (GIDDENS, 2005)�
O taylorismo e o fordismo
Frederick Winslow Taylor (1856-1915) foi um consultor 
gerencial estadunidense que desenvolveu o chamado 
“gerenciamento científico” do trabalho, em meados do 
século 19� Suas ideias pregavam o estudo minucio-
so dos processos industriais visando a dividi-los em 
operações mais simples que pudessem ser cronome-
tradas e executadas com precisão� Seu objetivo era 
desenvolver um meio de aumentar a produtividade 
através da organização do trabalho e a supressão do 
tempo dispendido em cada tarefa (GIDDENS, 2005)�
O gerenciamento científico ficou conhecido como 
taylorismo e teve grande impacto sobre a organização 
da produção industrial em fábricas de diversos países� 
As técnicas do taylorismo buscavam monitorar de 
forma minuciosa os movimentos dos trabalhadores, 
a fim de controlar a eficiência e produzir mais lucro:
Os empregados eram monitorados de perto 
pela gerência para assegurar a conclusão rá-
pida e precisa do trabalho, seguindo as especi-
ficações exatas transmitidas pelos superiores. 
16
Com o intuito de estimular a eficiência no traba-
lho, introduziu-se um sistema de pagamento de 
incentivos por meio do qual os ordenados dos 
trabalhadores correspondiam aos seus índices 
de produtividade (GIDDENS, 2005, p. 312).
Posteriormente, no começo do século 20, as ideias de 
Frederick Taylor foram aprimoradas por Henry Ford� 
Ford percebeu uma lacuna no sistema taylorista: a 
produção em massa requer mercados de massa� 
Ou seja, não é suficiente apenas aprimorar a efici-
ência industrial, é preciso também desenvolver um 
mercado consumidor de massa� Assim, o fordismo 
pode ser entendido como um desenvolvimento dos 
princípios do gerenciamento científico (taylorismo).
Em 1908, Henry Ford projetou a sua primeira fábri-
ca de automóveis no estado do Michigan (Estados 
Unidos)� O projeto era voltado à fabricação de apenas 
um produto, o Ford Modelo T, fazendo com que o 
maquinário e as ferramentas fossem especializados� 
Esse conjunto de fatores visava à previsão, velocida-
de e simplificação da operação fabril em um sistema 
de produção contínua�
Cabe destacar uma das principais inovações de Henry 
Ford: o desenvolvimento de uma linha de produção com 
esteira rolante� Na linha de montagem fordista, cada 
empregado passava a se especializar em uma tarefa 
(por exemplo, encaixar a maçaneta da porta do lado 
direito), enquanto as carrocerias dos carros deslizavam 
ao longo da linha de montagem (GIDDENS, 2005)�
17
SAIBA MAIS
De título icônico, o filme Tempos Modernos (1936) 
fornece um cenário bastante interessante para a 
reflexão sobre o fordismo e o taylorismo. Trata-
se de um filme mudo, protagonizado por Charlie 
Chaplin, no qual o personagem Little Tramp tenta 
sobreviver na sociedade moderna industrializada� 
O filme retrata uma linha de montagem e aborda 
os maus tratos a que estavam submetidos os tra-
balhadores naquele contexto histórico�
Posteriormente, o taylorismo e o fordismo mostraram 
suas limitações� A implantação de linhas de produ-
ção mecanizadas é algo bastante custoso e, uma 
vez que se instala um sistema como esse (fordista), 
é difícil alterar a mercadoria produzida. Isso signifi-
ca que esse sistema é bastante engessado, pois é 
necessário um grande reinvestimento para alterar o 
produto a ser fabricado�
Além disso, é geralmente alto o nível de insatisfa-
ção dos trabalhadores em sistemas como esse, no 
qual os empregados são constantemente vigiados 
e monitorados, a fim de assegurar a disciplina e os 
padrões de qualidade na produção� Isso tem como 
consequência um desgaste no compromisso dos 
trabalhadores, que possuem pouca autonomia no 
modo de executar as tarefas� Como resultado, soci-
ólogos têm classificado o taylorismo e o fordismo 
como sistemas de baixa confiança (GIDDENS, 2005).
18
TRANSFORMAÇÕES 
DO TRABALHO NA 
ATUALIDADE
Neste tópico, você conhecerá um pouco sobre as 
transformações do trabalho no século 21, consideran-
do o contexto social, político e econômico marcado 
pelo neoliberalismo e pela globalização�
A partir da década de 1970, empresas na Europa, 
Japão e Estados Unidos testaram e elaboraram no-
vas experiências como alternativas ao fordismo, 
cujas técnicas eram vistas como limitantes, uma 
vez que se trata de um sistema mais adequado para 
a fabricação de quantidades maciças de mercadorias 
padronizadas (GIDDENS, 2005)�
Ao mesmo tempo, ocorriam importantes transforma-
ções nos padrões de consumo: observou-se um des-
locamento dos mercados de massa (que levaram ao 
sucesso do fordismo) para os “mercados de nicho”, 
isto é, mercados distintos voltados a mercadorias 
inovadoras� Nessa conjuntura, as técnicas fordistas 
mostraram-se demasiadamente rígidas para respon-
der à rápida dinâmica das demandas de mercado�
Durante as quatro últimas décadas, foram imple-
mentadas práticas flexíveis nas relações de produ-
ção como parte das estratégias desenvolvidas pelas 
empresas que buscavam se reestruturar no novo 
cenário mundial�
19
A expressão “pós-fordismo” tem sido empregada 
para definir um novo momento da produção capi-
talista, que tem a inovação e a flexibilidade como 
características marcantes na busca por satisfazer 
as novas demandas do mercado por produtos di-
versificados conforme os gostos dos consumidores 
(GIDDENS, 2005)�
A ideia da “produção flexível” é um dos pilares dessa 
reestruturação produtiva, que emerge a partir dos anos 
1970� O termo diz respeito a técnicas de produção e 
de organização do trabalho baseadas em novas tec-
nologias, que buscam produzir mercadorias em menor 
escala, ou seja, mercadorias mais individualizadas 
(em contraste com a produção massificada fordista).
Na produção flexível, as mudanças em termos de 
design, atributos e opções de mercadorias podem 
ser implementadas com maior frequência e rapidez� 
Isso faz com que as empresas possam diversificar 
sua linha de produtos buscando atender às novas 
necessidades� O mercado de automóveis fornece um 
bom exemplo: o aumento do contingente de mulheres 
e jovens comprando carros impulsionou diversas 
empresas a produzirem automóveis direcionados 
a esses segmentos de mercado� Assim, foram de-
senvolvidos modelos com design mais compacto, 
modelos mais acessíveis e com alto aproveitamento 
de combustível, entre outras características�
Com relação à mão de obra, é valorizado o desenvol-
vimento de “habilidades múltiplas”, de modo que os 
empregados participem de uma variedade de tarefas 
20
por meio do trabalho em equipe (ao invés da reali-
zação de uma mesma tarefa de forma repetitiva)�
Não podemos também deixar de pontuar a centralida-
de do papel desempenhado pelas novas tecnologias 
de informação e comunicação (TIC’s) nas relações 
produtivas� A internet, o e-mail, ocomércio eletrônico, 
as videochamadas estão transformando o modo de 
atuação das empresas, afetando também a rotina 
dos trabalhadores� Anthony Giddens sublinha a de-
sigualdade social presente nessa expansão do uso 
das novas tecnologias: de um lado, temos a geração 
de oportunidades criativas e instigantes para alguns 
segmentos da força de trabalho, como no campo 
da publicidade, mídia e design; de outro lado, há mi-
lhares de trabalhadores mal remunerados e pouco 
qualificados, que atuam em centrais de telemarketing 
(por exemplo), sendo constantemente monitorados, 
exercendo funções maçantes e sem nenhum espaço 
para liberdade de ação�
É digno de nota que a expressão “pós-fordismo” tam-
bém tem sido alvo de críticas� Seus críticos argumen-
tam que existe um dimensionamento exagerado acer-
ca do abandono de práticas fordistas� Segundo eles, o 
que ocorre é uma integração de algumas abordagens e 
técnicas ao modelo fordista� Ou seja, não haveria uma 
transição linear do modelo fordista para o pós-fordista� 
Esses autores lembram que as técnicas de produção 
massificada de mercadorias ainda são majoritárias 
em muitas indústrias (GIDDENS, 2005)�
21
FIQUE ATENTO
A obsolescência programada é uma característica-
-chave da sociedade de consumo� Ela consiste 
em uma estratégia que foi inicialmente pensada 
como uma solução para a crise de 1929� O princí-
pio da obsolescência programada foi primeiramen-
te utilizado na lâmpada elétrica: nos anos 1920, 
os produtores de lâmpadas perceberam que as 
lâmpadas duravam tempo demais, de modo que 
era um objeto que os indivíduos não precisavam 
comprar com frequência e isso, ao seu ver, dificul-
tava o ritmo das vendas� Então esses produtores 
se reuniram em um cartel e decidiram encurtar a 
vida útil das lâmpadas (PADILHA, 2016)�
Neoliberalismo e a 
reestruturação produtiva
O capitalismo passou por uma crise estrutural nos 
anos 1970 que conduziu à crise do fordismo� Esse 
colapso pode ser caracterizado por meio de três fa-
tores principais: 1) houve uma queda significativa 
na taxa de lucro acarretada pelo aumento do preço 
da força de trabalho (uma conquista das lutas ope-
rárias dos anos 1960); 2) muitos postos de trabalho 
foram substituídos por novas tecnologias, levando 
a um alto índice de desemprego estrutural e, conse-
quentemente, à retração do consumo; 3) a crise do 
Estado de bem-estar social�
22
Esse processo de reorganização do capitalismo levou 
ao surgimento do neoliberalismo� O termo designa 
um modelo político-econômico que prega a não inter-
venção do Estado na economia, e a redução radical 
dos setores de serviços públicos, como saúde e se-
guridade social� O ideário neoliberal foi inicialmente 
colocado em prática nos Estados Unidos e na Grã-
Bretanha na década de 1980, sendo propagado pelo 
mundo nas décadas seguintes�
De modo geral, as políticas neoliberais agem em três 
direções principais: 
a) privatização de empresas estatais (em muitos 
países, incluindo o Brasil, ocorreu a privatização de 
empresas nos ramos de telecomunicações, minera-
ção, correios, entre outros); 
b) desregulamentação dos direitos trabalhistas (em 
muitos países esses direitos vem sendo restringi-
dos ou abolidos em prol da liberdade econômica do 
empregador); 
c) reestruturação produtiva (que consiste na imple-
mentação do modelo flexível de produção).
É nessa conjuntura que surge o toyotismo – um novo 
modelo organizacional que teve origem nas fábricas 
japonesas, na década de 1970 (mais especificamen-
te, nas fábricas de automóveis da empresa Toyota)�
Como exposto acima, o toyotismo surgiu como 
resposta à crise do fordismo� O discurso toyotista 
baseia-se na valorização do trabalho em equipe, da 
multifuncionalidade, da flexibilização da produção 
23
etc. No entanto, isso não significa o fim da explo-
ração – pelo contrário, a reestruturação produtiva 
neoliberal intensificou a exploração por meio da pre-
carização do trabalho�
SAIBA MAIS
O documentário intitulado Estou me guardando 
para quando o carnaval chegar (2019) aborda a 
produção massiva de calças jeans na cidade de 
Toritama, interior do estado de Pernambuco� O 
filme traz uma visão crítica sobre o processo de 
urbanização daquela cidade, que no passado tinha 
uma economia baseada na agricultura e pecuária� 
Ele mostra a rotina e os desejos dos trabalhado-
res autônomos que produzem jeans o ano todo, 
exceto no carnaval, quando descansam em praias 
paradisíacas�
A precarização do trabalho
Há pelo menos quatro décadas, o trabalho assumiu 
uma configuração que se tornou mundialmente he-
gemônica� A era atual se apoia em um projeto eco-
nômico e político de caráter neoliberal, concretizado 
mediante a reestruturação da produção e do trabalho� 
Nessa nova fase, “o capitalismo do século 19 não é 
o mesmo do século 20, e muito menos o do século 
21” (DRUCK, 2011, p� 41)�
24
No capitalismo contemporâneo, coexistem velhas 
e novas formas de trabalho no interior de uma dinâ-
mica de precarização social do trabalho� O modelo 
econômico atual se caracteriza pela acumulação 
flexível que emerge como forma de superar a crise 
de um padrão de desenvolvimento anterior, isto é, 
a crise do paradigma fordista, acompanhado por 
um regime de regulação e pelo Estado de bem-estar 
social (DRUCK, 2011)�
Nos países que passaram pela experiência do Estado 
de bem-estar social e das políticas de pleno emprego, 
o fordismo significou um ambiente socioeconômi-
co no qual amplos segmentos da sociedade foram 
beneficiados pelo crescimento econômico. Naquele 
contexto, as condições de trabalho e emprego per-
mitiam vínculos de longo prazo, de modo que era 
possível planejar o futuro das novas gerações�
As análises acerca da crise do fordismo apontam 
para uma saturação da produção massificada, acom-
panhada de queda no ritmo da produtividade e dimi-
nuição da lucratividade�
A emergência da acumulação flexível e a ruptura com 
o modelo fordista trouxeram diversas transforma-
ções, produzindo outro modo de vida (e de trabalho), 
baseado na precarização� Segundo Druck (2011), 
esse processo respondeu às exigências da financei-
rização da economia que permitiu a mundialização 
do capital em uma escala nunca antes vista� A autora 
sintetiza tal transformação da seguinte forma:
25
Houve uma evolução da esfera financeira, que 
passou a determinar todos os demais empre-
endimentos do capital, subordinando a esfera 
produtiva e contaminando todas as práticas 
produtivas e os modos de gestão do trabalho, 
apoiada centralmente numa nova configuração 
do Estado, que passa a desempenhar um papel 
cada vez mais de “gestor dos negócios da bur-
guesia”, já que ele age agora em defesa da des-
regulamentação dos mercados, especialmente o 
financeiro e o de trabalho (DRUCK, 2011, p. 42).
Portanto, observamos que o cenário atual é marcado 
por uma hegemonia do setor financeiro. Isso significa 
que ele atua para além do âmbito estritamente eco-
nômico do mercado, contaminando todas as esferas 
da vida social� Como resultado, temos um novo modo 
de vida baseado na efemeridade e descartabilidade 
desenfreada tanto daquilo que se produz como da-
queles que produzem�
Em outras palavras, a lógica da flexibilidade anda 
de mãos dadas com a precarização� Assim como é 
incentivada a crescente inovação tecnológica e dos 
produtos, também a força de trabalho é encarada sob 
o mesmo prisma� Desse modo, o trabalhador é rapi-
damente transformado em obsoleto e descartável, 
devendo ser substituído por uma força de trabalho 
mais “nova” e “moderna”� Nesse sentido, prevalecem 
os empregos temporários, o desemprego e os con-
tratos de curto prazo, caracterizando a precarização 
do trabalho�
26
 A precarização do trabalho está no centro dessa 
nova dinâmica do capitalismo contemporâneo e é 
responsável por gerar uma nova condição de vul-
nerabilidade social, na medida em que rompe com 
a possibilidade de uma inserção estável no empre-
go, produzindo inseguranças e desfiliação social. 
(DRUCK, 2011)
Nesse sistema, a ameaçaconstante do desemprego 
faz com que seja mais fácil para o trabalhador aceitar 
as condições de trabalho precárias, gerando uma 
intensa concorrência e cisões entre os próprios tra-
balhadores� Portanto, se trata não só de um regime 
econômico, como também político�
SAIBA MAIS
Surplus: terrorismo de consumo (2003) é um do-
cumentário que revela as mazelas impostas pela 
globalização neoliberal e a sociedade de consumo 
em diversos países ao redor do globo, como Índia, 
Estados Unidos e Cuba. O filme ganhou destaque 
ao retratar o movimento antiglobalização do co-
meço dos anos 2000, enfatizando os protestos 
durante as reuniões de organizações transnacio-
nais, como o G8�
27
A “uberização” do trabalho
Em todo o mundo, é crescente o número de pes-
soas que têm como fonte de renda o trabalho por 
aplicativo� Esse fenômeno tem provocado diversas 
reflexões, levando pesquisadores a cunharem termos 
como “uberização do trabalho” ou “plataformização 
do trabalho” para caracterizar esse tipo de relação de 
trabalho mediada por plataformas digitais (ABÍLIO, 
2020)�
Nas grandes metrópoles, observamos a multidão de 
motoristas de empresas como Uber, além de entre-
gadores em motocicletas, bicicletas ou patinetes� 
Entregadores em bicicletas, por exemplo, chegam a 
pedalar mais de 50 km por dia, em uma jornada de 
trabalho de dez horas diárias, sete dias por semana, 
em um trânsito que não apresenta condições míni-
mas de segurança para o ciclista�
No entanto, a chamada uberização não se restringe 
aos entregadores, compreendendo diversas ocu-
pações em todo o mercado de trabalho, no tempo 
presente e, muito possivelmente, ganhando ainda 
mais espaço no futuro próximo�
No Brasil, as pesquisas realizadas nos últimos anos 
indicam um grande contingente de trabalhadores cuja 
renda provém do trabalho por aplicativo� Segundo 
os números da Pesquisa Nacional por Amostra de 
Domicílios (PNAD) de 2019, esse contingente abarca 
28
cerca de 3,8 milhões de brasileiros� Outra pesquisa, 
realizada pelo Instituto Locomotiva, indicou que cerca 
de 17 milhões de pessoas obtêm rendimentos por 
meio do trabalho por aplicativo (ABÍLIO, 2020)�
O termo uberização é derivado do tipo de trabalho 
da empresa Uber e diz respeito a processos que não 
estão limitados a essa empresa, nem tiveram início 
com ela� Pelo contrário, trata-se de uma tendência em 
curso e que atinge diferentes setores da economia, 
diferentes tipos de ocupação e níveis de qualificação.
Segundo Abílio (2020), o conceito de uberização diz 
respeito a um processo de informalização do traba-
lho, responsável por redefinir a própria concepção de 
trabalho informal, dando mais um passo em direção 
à flexibilização do trabalho (vide figura abaixo).
29
Figura 1: Informalidade no mundo hoje. Fonte: Abril
30
No que diz respeito à atuação do Estado, faz parte 
desse fenômeno a eliminação de direitos e regula-
ções estatais, isto é, a eliminação das barreiras legais 
à exploração do trabalho� Como resultado, ocorre 
uma transferência de custos e riscos ao trabalhador�
Envolvendo inovações tecnológicas, a uberização se 
traduz em uma nova tendência de gestão do trabalho 
que atua por meio da imbricação entre vigilância, con-
trole e gerenciamento do trabalho� Frequentemente, 
isso abrange a possibilidade de extração, processa-
mento e gerenciamento de dados em dimensões 
colossais, permitindo o mapeamento (e vigilância) 
integral do processo produtivo�
Abílio (2020) sintetiza o conceito de uberização em 
quatro elementos-chave:
1. Trata-se de uma “tendência global de transfor-
mação do trabalhador em trabalhador autônomo, 
permanentemente disponível ao trabalho, reduzido a 
um autogerente subordinado” (ABÍLIO, 2020, p� 114);
2. As empresas são detentoras dos meios tecno-
lógicos, e assumem a posição de mediadoras para 
promover e organizar o encontro entre oferta e de-
manda, produzindo novas formas de subordinação 
e controle do trabalho;
3. Surge a figura da multidão de trabalhadores dis-
poníveis. Parte da fiscalização e do gerenciamento 
sobre o trabalho é transferida para os consumidores;
4. Os elementos acima abarcam também mudanças 
na identidade profissional do trabalho, que é desloca-
31
da para a categoria de trabalho amador – necessária 
a esse processo de informalização do trabalho� 
Franco e Ferraz (2019) lembram que a massificação 
da internet e dos computadores impulsionou trans-
formações não só nas relações de trabalho, como 
também em toda a sociabilidade humana� Sendo 
assim, o processo que levou à uberização só foi pos-
sível por intermédio de um duplo movimento: de um 
lado, a adoção da tecnologia da conectividade pelas 
forças produtivas e, de outro lado, a oferta dessa 
mesma tecnologia para um grande contingente da 
população�
Podcast 1 
O trabalho no contexto brasileiro
Como estudado acima, as diversas formas de tra-
balho sofrem transformações ao longo do tempo� 
Tais mudanças são moldadas pelo contexto no qual 
se desenrolam� No Brasil, a precarização do traba-
lho é um traço marcante e persistente das relações 
de trabalho e da produção de valor, desde séculos 
passados�
De acordo com Flávia Uchôa-de-Oliveira (2020), a 
precarização está posta, ao menos, desde o pós-
-abolição, perdurando na Constituição de 1891 e nos 
próximos trinta anos – período durante o qual a lei 
32
considerava empregados e patrões como sujeitos “li-
vres” e “iguais”� Por isso, nesse momento, a organiza-
ção e a luta dos trabalhadores eram criminalizadas�
A década de 1930 trouxe a Era Vargas, na qual teve 
início o acesso à cidadania por parte dos trabalha-
dores. O governo Vargas definiu as regras de acesso 
ao emprego e à cidadania, ao mesmo tempo em que 
buscou regular os movimentos dos trabalhadores� O 
emprego passou a significar uma chave com a qual 
era possível acessar a cidadania� Durante a ditadura 
civil-militar, essa estrutura permaneceu�
Ao final da década de 1980, o modelo nacional-de-
senvolvimentista entrou em crise, levando grandes 
contingentes à informalidade e à miséria� Entrando na 
era neoliberal, toma força o discurso do empreende-
dorismo, segundo o qual o trabalhador deve aprender 
a ser um empreendedor, o que significa que deve ele 
mesmo assumir todos os riscos do seu trabalho�
Na atualidade, o crescimento do setor de serviços é 
marcado pelo fenômeno global de uberização, que 
consiste em uma nova forma de organizar, gerir e 
controlar o trabalho� Para completar o cenário, o 
país assiste a uma perda progressiva dos direitos 
trabalhistas e sociais (UCHÔA-DE-OLIVEIRA, 2020)�
 De acordo com a autora, a uberização no contexto 
brasileiro combina o novo e o velho: ou seja, o novo 
é representado pelo emprego das novas tecnologias 
(plataformas digitais), que são articuladas a formas 
antigas de inserção econômica dos trabalhadores 
brasileiros (os bicos, o trabalho “por conta”, o free-
33
lance, entre outras denominações), controlando e 
mediando as interações entre consumidores e pres-
tadores de serviços�
A uberização do trabalho agrava as desigualdades 
sociais e contribui para a disseminação da precari-
zação� Isso ocorre devido a uma tendência mundial 
do capitalismo neoliberal de eliminação das garan-
tias e direitos trabalhistas que estavam atreladas ao 
emprego no mercado de trabalho formal�
Baseado em pesquisa do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE), o gráfico abaixo indica 
a tendência de crescimento vertiginoso do número 
de trabalhadores informais, isto é, trabalhadores sem 
carteira assinada ou por conta própria (autônomos), 
no Brasil�
34
Figura 2: Informalidade no Brasil. Fonte: Globo
35
Pesquisas mais recentes confirmam essa tendência 
e mostram o agravamento da situação face à atual 
crise mundial decorrente da pandemia do novo coro-
navírus� De acordo com dados do Cadastro Geral de 
Empregados e Desempregados (CAGED), o mercado 
de trabalho brasileiro perdeu 1,1 milhão de vagas 
de carteira assinada somente entre março e abril 
de 2020�
Podcast2 
36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para concluir, cabe retomar os argumentos principais 
desenvolvidos ao longo deste capítulo, que abordou 
os principais debates acerca do trabalho, a partir de 
um olhar sociológico� Esse olhar possibilitou uma 
visão crítica sobre a relação dos seres humanos com 
o trabalho ao longo da história e, principalmente, nas 
sociedades modernas capitalistas�
Estudamos que o trabalho tal como o conhecemos 
hoje é um produto social e histórico da Modernidade 
Ocidental, que se consolidou historicamente a partir 
do século 18, com o surgimento da propriedade pri-
vada dos meios de produção por parte da burguesia� 
Contudo, o modelo capitalista em vigor hoje, não 
é o mesmo do século 18, tampouco o mesmo do 
século 20�
Sendo assim, nós assistimos atualmente a uma 
reconfiguração das relações de trabalho dentro de 
um novo paradigma (neoliberal), caracterizado pela 
precarização, redução dos direitos trabalhistas e 
pela transferência de custos para os trabalhadores� 
Nesse contexto, os fluxos globais do capital finan-
ceiro, aliados ao crescimento do setor de serviços 
e tecnologias, produzem o que chamamos de uberi-
zação do trabalho�
37
SÍNTESE
• O modo de produção primitivo
• O modo de produção escravista
• O modo de produção feudal
• O modo de produção capitalista
• O modo de produção comunista
• O taylorismo e o fordismo 
 
DESENVOLVIMENTO 
HUMANO E SOCIAL
A relação entre sociedade e trabalho
Os modos de produção
Capitalismo e a sociedade moderna
• Neoliberalismo e a reestruturação produtiva 
• A precarização do trabalho 
• A “uberização” do trabalho 
• O trabalho no contexto brasileiro
Transformações do trabalho na atualidade
• Trabalho X Emprego
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