Prévia do material em texto
E-book 2 DESENVOLVIMENTO HUMANO E SOCIAL Íris Nery do Carmo Neste E-Book: INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3 A RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE E TRABALHO ����������������������������������������������������������������4 OS MODOS DE PRODUÇÃO ��������������������������������� 7 O modo de produção primitivo ������������������������������������������������7 O modo de produção escravista ����������������������������������������������8 O modo de produção feudal �����������������������������������������������������9 O modo de produção capitalista��������������������������������������������10 O modo de produção comunista �������������������������������������������11 CAPITALISMO E A SOCIEDADE MODERNA ���13 O taylorismo e o fordismo ������������������������������������������������������16 TRANSFORMAÇÕES DO TRABALHO NA ATUALIDADE ������������������������������������������������������������19 Neoliberalismo e a reestruturação produtiva ������������������������22 A precarização do trabalho ����������������������������������������������������24 A “uberização” do trabalho �����������������������������������������������������28 O trabalho no contexto brasileiro�������������������������������������������32 CONSIDERAÇÕES FINAIS �����������������������������������37 SÍNTESE ��������������������������������������������������������������������38 2 INTRODUÇÃO Neste módulo você aprenderá sobre o trabalho hu- mano e as relações sociais nele envolvidas� Será abordada a relação entre sociedade e trabalho, ao longo da história, evidenciando as transformações do trabalho em diferentes formações sociais e his- tóricas, passando pelos diferentes modos de produ- ção. Ademais, você vai conhecer as configurações atuais do trabalho nas sociedades contemporâneas, incluindo fenômenos como a chamada “uberização”� Em linhas gerais, este módulo busca responder às seguintes questões: O que é o trabalho? Trabalho é igual a emprego? Como são formatadas as relações de trabalho no capitalismo? O que mudou do início da Revolução Industrial até o século 21? Quais são os outros modos de produção existentes? Qual é a relação entre trabalho e desigualdade social? 3 A RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE E TRABALHO Neste tópico, você conhecerá um pouco da aborda- gem sociológica sobre o trabalho – essa atividade humana fundamental, que tem assumido diversas configurações ao longo da história e que faz parte da nossa identidade social, moldando quem nós somos� O que é o trabalho? Quando pensamos nessa palavra, geralmente associamos o termo à realização de uma atividade maçante, da qual procuramos escapar ou mesmo minimizar� Não obstante, ao perder o em- prego, é comum que as pessoas desempregadas se sintam desnorteadas e confusas� Como estudaremos abaixo, nas sociedades modernas, ter um emprego é um elemento muito importante da nossa identidade (GIDDENS, 2005)� Mesmo quando as condições de trabalho não são ideais, não é raro que o trabalho represente um ele- mento estruturador na vida social das pessoas� Isso ocorre em função de uma série de fatores – sobre o qual nos debruçaremos a seguir� O salário é um desses fatores� Muitas pessoas de- pendem dele para satisfazer as suas necessidades� A ausência de renda faz com que as ansiedades em relação ao dia a dia sejam multiplicadas� Outro fator diz respeito ao conhecimento adquirido para a realização da atividade laboral� O trabalho ofe- 4 rece uma base para o desenvolvimento e o exercício de habilidades e aptidões� Sem ele as oportunidades para desempenhar essas aptidões são reduzidas� O trabalho também representa um contexto que con- trasta com o âmbito doméstico� Ou seja, o ambiente de trabalho possibilita certa variedade nas tarefas re- alizadas que são diferentes dos afazeres domésticos� Mesmo quando o trabalho é monótono, ele pode tornar as atividades laborais mais interessantes ao sujeito� Outro elemento está relacionado à estrutura temporal� Isto é, normalmente organizamos o dia em volta do ritmo de trabalho, e isso fornece um senso de direção na vida cotidiana� Por conta desse fator, o sujeito que não tem emprego normalmente alimenta um senso de apatia em relação ao tempo (GIDDENS, 2005)� Os contatos sociais constituem outro importante aspecto� No ambiente de trabalho, temos oportuni- dade de fazer amizades e participar de atividades com outras pessoas� Para um indivíduo desprovido de trabalho as possibilidades em termos de contatos sociais são mais restritas� Por fim, devemos considerar o fator da identidade pessoal. Isso significa que a nossa autoimagem está, muitas vezes, intimamente atrelada ao trabalho – o qual fornece uma identidade social estável� Os fatores acima listados ajudam a entendermos as razões pelas quais a falta de emprego pode levar o indivíduo a duvidar do seu valor social, enfraquecen- do a sua autoconfiança. 5 O senso comum predominante em nossa sociedade costuma relacionar o trabalho ao emprego remune- rado� Para a sociologia essa é uma visão bastante estreita, que exclui tarefas muito comuns – como o trabalho doméstico –, além de uma série de ou- tras atividades exercidas na economia informal (GIDDENS, 2015)� Os afazeres domésticos são atividades essenciais para a reprodução social – isto é, para a manutenção da vida, por intermédio de tarefas como cozinhar, limpar e cuidar das crianças� São também atividades majoritariamente executadas por mulheres de forma não remunerada� Não obstante, não deixa de ser um trabalho (geralmente pesado e extenuante)� Os elementos analisados acima mostram porque ter um emprego remunerado é socialmente importante� Contudo, a categoria trabalho é mais ampla� Dito isso, podemos entender o trabalho como a realização de tarefas que demandam o dispêndio de esforço físico e mental, visando à produção de mercadorias ou serviços que atendam as necessidades humanas� 6 OS MODOS DE PRODUÇÃO Neste tópico, você conhecerá um pouco sobre os diferentes modos de produção observados ao longo da história humana e as suas principais característi- cas� Desse modo, será possível entrever as diversas formas de produzir e se relacionar com a natureza (seja para subsistência, seja para comercialização)� O trabalho não é uma ação do indivíduo isolado� Antes, trata-se de uma atividade de caráter social, que envol- ve as relações dos seres humanos entre si, visando a modificar o seu ambiente. Sendo uma atividade emi- nentemente social, o trabalho possui uma história que pode ser contada por meio dos diferentes modos de produção observados ao longo do tempo� O modo de produção primitivo Houve um tempo em que o ser humano precisava de alimento, abrigo e proteção contra outros animais� Nesse contexto, o trabalho era uma ferramenta in- dispensável para garantir recursos necessários à manutenção da vida� O trabalho era realizado de forma comunal, e os meios de produção eram comunitários. Isso signifi- ca que todos os membros da sociedade usufruíam igualmente dos meios de produção; a produção era distribuída de acordo com as necessidades das pes- soas, e o excedente produzido não era propriedade de ninguém em particular (SANTOS, 2012)� 7 No entanto, ao longo do tempo, esse modo de pro- dução começou a entrar em declínio� Fatores como o desenvolvimento da agricultura, da fabricação de instrumentos e ferramentas de metal, assim como a domesticação de animais levaram a uma grande transformação das forças produtivas� Assim, tem início a troca de produtos entre as tribos e no interior das comunidades� A família passa a ser uma unidade social central para a nova organização social, e tem origem a propriedade privada (SANTOS, 2012)� O modo de produção escravista Ao passo que o modo de produção primitivo se modificava, tinha início outro sistema: o modo de produção escravista� O escravismo é um sistema observado em diversas sociedades ao longo da his- tória humana� Estima-se que ele surgiu por volta de 3000 a�C� naMesopotâmia e no Egito� As civilizações gregas e romanas foram povos cujo principal sistema de trabalho e produção baseava-se no escravismo. Isso significa que o senhor detinha a propriedade tanto dos meios de produção como dos trabalhadores (escravos)� Portanto, aquilo que fosse produzido pelo escravo pertencia ao senhor� Nesse modo de produção, observamos que o traba- lho físico é olhado com desprezo pela sociedade, sendo entendido como indigno para homens livres� 8 Em linhas gerais, a derrocada do Império Romano (476 d�C�) provocou o esgotamento do escravismo, dando lugar ao modo de produção feudal (SANTOS, 2012)� O modo de produção feudal O feudalismo consistiu em um novo modelo de orga- nização social, econômica e política que predominou durante a Idade Média, tendo como base o regime de servidão� No modo de produção feudal, os meios de produção (como a terra) são propriedade dos senhores feudais� Em um sistema político baseado na monarquia, cabia ao rei distribuir as terras entre os senhores em troca de apoio militar (SANTOS, 2012)� Sendo assim, os camponeses eram dependentes dos senhores feudais, com os quais mantinham uma relação de servidão� Diferentemente do sistema es- cravista, os servos eram semilivres, pois não eram propriedade a ser vendida ou comprada pelos se- nhores� No entanto, eles estavam obrigados a viver na propriedade do senhor feudal� Cabia aos servos trabalhar na terra do senhor, rece- bendo em troca um pequeno roçado, no qual podia trabalhar de forma autônoma, desde que pagasse impostos e taxas ao senhor� Ao longo dos séculos, os camponeses se levantaram progressivamente contra esse sistema e a opressão feudal� Eles lutaram por igualdade e pelo direito de 9 usufruir do produto do seu trabalho livremente� No final da Idade Média, o crescimento das cidades e do comércio impulsiona o surgimento do trabalho assalariado� Além disso, a descoberta de novas ro- tas comerciais transatlânticas, o desenvolvimento científico e a colonização da América foram fatores essenciais para o surgimento do modo de produção capitalista (SANTOS, 2012)� O modo de produção capitalista A eclosão do capitalismo só foi possível com a con- solidação de uma nova classe dominante: a burgue- sia� Ao longo do século 18, a classe burguesa, com- posta pelos proprietários dos meios de produção, protagonizou as chamadas revoluções burguesas (SANTOS, 2012)� A Revolução Industrial aumentou a produção material e estimulou a urbanização das cidades europeias� Contudo, isso não significou uma melhora na quali- dade de vida da população� Pelo contrário: a riqueza produzida foi acumulada nas mãos de uma minoria (a burguesia), ao passo que a massa de trabalhadores enfrentava jornadas de até 18 horas diárias� Destituído dos meios de produção, o trabalhador assalariado vende a sua força de trabalho para sobre- viver� Sendo assim, a força de trabalho se torna uma mercadoria, vendida em troca de salário� Na visão de Karl Marx (um dos principais estudiosos críticos do capitalismo), o trabalho se torna uma obrigação, 10 algo vivenciado como coação e sacrifício, sendo uma atividade destituída de sentido criativo� SAIBA MAIS O filme Germinal (1993) é imperdível para quem se interessa por conhecer as contradições do capita- lismo e a luta de classes� A obra retrata a França do século 19, enfatizando os movimentos grevistas de operários da mineração e a reação violenta por parte das autoridades naquele tempo histórico� O modo de produção comunista De acordo com a teoria marxista, a história humana se desenrola em fases sucessivas, caracterizadas por diferentes estruturas de classes sociais e rela- ções de trabalho� Em linhas gerais, de acordo com esse esquema, a superação do capitalismo levaria ao comunismo, tendo o socialismo como fase inter- mediária (SANTOS, 2012)� O modo de produção comunista tem como pilar prin- cipal a propriedade coletiva dos meios de produção e a inexistência da divisão de classe� Ele é diferente, contudo, do modo de produção primitivo, pois dispõe de um maior desenvolvimento das forças produtivas, em termos tecnológicos� Cabe notar que o sistema comunista (ou mesmo o sistema socialista), tal como idealizado pelo marxis- mo, nunca existiu de fato e permanece sendo uma 11 utopia� Essa é a razão pela qual alguns autores uti- lizam dois termos para fazer essa diferenciação: socialismo ideal (tal como teorizado por autores mar- xistas) e socialismo real (tal como observado histo- ricamente em episódios como a Revolução Russa)� A queda do Muro de Berlim, em 1989, é vista como um marco do fim do socialismo real (SANTOS, 2012). 12 CAPITALISMO E A SOCIEDADE MODERNA Neste tópico, você conhecerá um pouco sobre o sur- gimento do capitalismo, que, por sua vez, levou à formação da sociedade moderna tal como a conhe- cemos hoje� Ademais, serão expostas as principais formas de organização do trabalho durante o século 20: o fordismo e o taylorismo� O trabalho fornece a base da economia de uma sociedade, transformando-se conforme a própria sociedade é historicamente transformada� As so- ciedades modernas caracterizam-se pela produção industrial, o que torna as sociedades em que vivemos diferentes das sociedades pré-modernas� Os siste- mas pré-modernos de produção têm como principal pilar a agricultura, com a maior parte das pessoas trabalhando nos campos� Em comparação, nas socie- dades modernas uma pequena parcela da população trabalha no campo, e a própria agricultura passou por um processo de automação e industrialização (GIDDENS, 2005)� A indústria moderna passa por uma frequente mu- dança tecnológica, visando a uma maior eficiência produtiva� Ao longo do século 20, o tipo de trabalho realizado pelos indivíduos sofreu diversas transfor- mações, sendo afetado por influências sociais e econômicas mais amplas� Quando olhamos para o sistema ocupacional, observamos que, no começo 13 do século 20, o mercado de trabalho era predomi- nantemente ocupado pelos empregos de produção da manufatura; ao longo do século, ocorreu a predo- minância dos cargos no setor de serviços� Nas Ciências Sociais como um todo, tem sido realiza- da uma série de debates e pesquisas, a fim de expli- car tal mudança� Giddens (2005) aponta dois motivos que ajudam a entender as mudanças nas relações de trabalho na sociedade moderna contemporânea: um deles é a introdução de novas tecnologias e maqui- nários capazes de realizar tarefas em curto espaço de tempo; o outro motivo reside no deslocamento da indústria manufatureira para países do Ocidente (regiões como o Oriente Médio) que têm custos de mão de obra mais baratos� Alguns pesquisadores alegam que estamos em transição para um novo modelo de sociedade, para além da era industrial� Esses autores têm cunhado uma variedade de termos, por exemplo: sociedade da informação, sociedade pós-industrial, economia da informação, entre outros� Outra característica marcante do sistema econômi- co das sociedades modernas é a complexa divisão do trabalho, produzindo um grande número de dife- rentes ocupações e especializações� Em contraste, no sistema econômico pré-moderno – isto é, nas sociedades tradicionais –, a organização do traba- lho não agrário se dava por meio do domínio de um ofício� Nesse modelo, o trabalhador dominava todos os aspectos da produção, do início ao fim. A eclosão 14 do capitalismo levou ao fim dos ofícios tradicionais e as habilidades passaram a ser desenvolvidas em relação a processos de produção de maior escala (GIDDENS, 2005)� Também houve uma mudança em termos da locali- zação do trabalho, de modo que a Modernidade con- solidou a divisão dualista entre os âmbitos público e privado� No período pré-industrialização, grande parte do trabalho era realizado coletivamente no âmbito doméstico, contando com a participação de todos os membros da família� A invenção da máquina a vapor no século 17 contribuiu para a separação entre casa etrabalho, levando ao surgimento das fábricas� Assim, com o desenvolvimento industrial teve início a produção em massa de mercadorias – a despeito do trabalho de cunho artesanal realizado em pequena escala no âmbito doméstico� Na fábrica, o trabalha- dor era treinado para se especializar em uma tare- fa específica, seu desempenho era supervisionado por gerentes que, por sua vez, buscavam implantar técnicas de aumento da produtividade e de discipli- narização dos empregados� A emergência do modo de produção capitalista sus- citou inúmeras questões entre autores clássicos da sociologia que observavam o fenômeno nascente na Europa, como Karl Marx� Para ele, a transição para a industrialização e o trabalho assalariado produziu uma alienação crescente entre os trabalhadores, pois, uma vez empregados nas fábricas, perderiam todo o controle sobre o seu próprio trabalho� Na perspectiva 15 do autor, esse processo acabou por despojar o traba- lho do seu valor criativo, levando os assalariados a desempenhar tarefas monótonas e desgastantes� O trabalho é assim desprovido de sentido, e encarado pelo trabalhador como nada mais do que uma ma- neira de sobreviver� Karl Marx nomeou esse processo de alienação do trabalho (GIDDENS, 2005)� O taylorismo e o fordismo Frederick Winslow Taylor (1856-1915) foi um consultor gerencial estadunidense que desenvolveu o chamado “gerenciamento científico” do trabalho, em meados do século 19� Suas ideias pregavam o estudo minucio- so dos processos industriais visando a dividi-los em operações mais simples que pudessem ser cronome- tradas e executadas com precisão� Seu objetivo era desenvolver um meio de aumentar a produtividade através da organização do trabalho e a supressão do tempo dispendido em cada tarefa (GIDDENS, 2005)� O gerenciamento científico ficou conhecido como taylorismo e teve grande impacto sobre a organização da produção industrial em fábricas de diversos países� As técnicas do taylorismo buscavam monitorar de forma minuciosa os movimentos dos trabalhadores, a fim de controlar a eficiência e produzir mais lucro: Os empregados eram monitorados de perto pela gerência para assegurar a conclusão rá- pida e precisa do trabalho, seguindo as especi- ficações exatas transmitidas pelos superiores. 16 Com o intuito de estimular a eficiência no traba- lho, introduziu-se um sistema de pagamento de incentivos por meio do qual os ordenados dos trabalhadores correspondiam aos seus índices de produtividade (GIDDENS, 2005, p. 312). Posteriormente, no começo do século 20, as ideias de Frederick Taylor foram aprimoradas por Henry Ford� Ford percebeu uma lacuna no sistema taylorista: a produção em massa requer mercados de massa� Ou seja, não é suficiente apenas aprimorar a efici- ência industrial, é preciso também desenvolver um mercado consumidor de massa� Assim, o fordismo pode ser entendido como um desenvolvimento dos princípios do gerenciamento científico (taylorismo). Em 1908, Henry Ford projetou a sua primeira fábri- ca de automóveis no estado do Michigan (Estados Unidos)� O projeto era voltado à fabricação de apenas um produto, o Ford Modelo T, fazendo com que o maquinário e as ferramentas fossem especializados� Esse conjunto de fatores visava à previsão, velocida- de e simplificação da operação fabril em um sistema de produção contínua� Cabe destacar uma das principais inovações de Henry Ford: o desenvolvimento de uma linha de produção com esteira rolante� Na linha de montagem fordista, cada empregado passava a se especializar em uma tarefa (por exemplo, encaixar a maçaneta da porta do lado direito), enquanto as carrocerias dos carros deslizavam ao longo da linha de montagem (GIDDENS, 2005)� 17 SAIBA MAIS De título icônico, o filme Tempos Modernos (1936) fornece um cenário bastante interessante para a reflexão sobre o fordismo e o taylorismo. Trata- se de um filme mudo, protagonizado por Charlie Chaplin, no qual o personagem Little Tramp tenta sobreviver na sociedade moderna industrializada� O filme retrata uma linha de montagem e aborda os maus tratos a que estavam submetidos os tra- balhadores naquele contexto histórico� Posteriormente, o taylorismo e o fordismo mostraram suas limitações� A implantação de linhas de produ- ção mecanizadas é algo bastante custoso e, uma vez que se instala um sistema como esse (fordista), é difícil alterar a mercadoria produzida. Isso signifi- ca que esse sistema é bastante engessado, pois é necessário um grande reinvestimento para alterar o produto a ser fabricado� Além disso, é geralmente alto o nível de insatisfa- ção dos trabalhadores em sistemas como esse, no qual os empregados são constantemente vigiados e monitorados, a fim de assegurar a disciplina e os padrões de qualidade na produção� Isso tem como consequência um desgaste no compromisso dos trabalhadores, que possuem pouca autonomia no modo de executar as tarefas� Como resultado, soci- ólogos têm classificado o taylorismo e o fordismo como sistemas de baixa confiança (GIDDENS, 2005). 18 TRANSFORMAÇÕES DO TRABALHO NA ATUALIDADE Neste tópico, você conhecerá um pouco sobre as transformações do trabalho no século 21, consideran- do o contexto social, político e econômico marcado pelo neoliberalismo e pela globalização� A partir da década de 1970, empresas na Europa, Japão e Estados Unidos testaram e elaboraram no- vas experiências como alternativas ao fordismo, cujas técnicas eram vistas como limitantes, uma vez que se trata de um sistema mais adequado para a fabricação de quantidades maciças de mercadorias padronizadas (GIDDENS, 2005)� Ao mesmo tempo, ocorriam importantes transforma- ções nos padrões de consumo: observou-se um des- locamento dos mercados de massa (que levaram ao sucesso do fordismo) para os “mercados de nicho”, isto é, mercados distintos voltados a mercadorias inovadoras� Nessa conjuntura, as técnicas fordistas mostraram-se demasiadamente rígidas para respon- der à rápida dinâmica das demandas de mercado� Durante as quatro últimas décadas, foram imple- mentadas práticas flexíveis nas relações de produ- ção como parte das estratégias desenvolvidas pelas empresas que buscavam se reestruturar no novo cenário mundial� 19 A expressão “pós-fordismo” tem sido empregada para definir um novo momento da produção capi- talista, que tem a inovação e a flexibilidade como características marcantes na busca por satisfazer as novas demandas do mercado por produtos di- versificados conforme os gostos dos consumidores (GIDDENS, 2005)� A ideia da “produção flexível” é um dos pilares dessa reestruturação produtiva, que emerge a partir dos anos 1970� O termo diz respeito a técnicas de produção e de organização do trabalho baseadas em novas tec- nologias, que buscam produzir mercadorias em menor escala, ou seja, mercadorias mais individualizadas (em contraste com a produção massificada fordista). Na produção flexível, as mudanças em termos de design, atributos e opções de mercadorias podem ser implementadas com maior frequência e rapidez� Isso faz com que as empresas possam diversificar sua linha de produtos buscando atender às novas necessidades� O mercado de automóveis fornece um bom exemplo: o aumento do contingente de mulheres e jovens comprando carros impulsionou diversas empresas a produzirem automóveis direcionados a esses segmentos de mercado� Assim, foram de- senvolvidos modelos com design mais compacto, modelos mais acessíveis e com alto aproveitamento de combustível, entre outras características� Com relação à mão de obra, é valorizado o desenvol- vimento de “habilidades múltiplas”, de modo que os empregados participem de uma variedade de tarefas 20 por meio do trabalho em equipe (ao invés da reali- zação de uma mesma tarefa de forma repetitiva)� Não podemos também deixar de pontuar a centralida- de do papel desempenhado pelas novas tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) nas relações produtivas� A internet, o e-mail, ocomércio eletrônico, as videochamadas estão transformando o modo de atuação das empresas, afetando também a rotina dos trabalhadores� Anthony Giddens sublinha a de- sigualdade social presente nessa expansão do uso das novas tecnologias: de um lado, temos a geração de oportunidades criativas e instigantes para alguns segmentos da força de trabalho, como no campo da publicidade, mídia e design; de outro lado, há mi- lhares de trabalhadores mal remunerados e pouco qualificados, que atuam em centrais de telemarketing (por exemplo), sendo constantemente monitorados, exercendo funções maçantes e sem nenhum espaço para liberdade de ação� É digno de nota que a expressão “pós-fordismo” tam- bém tem sido alvo de críticas� Seus críticos argumen- tam que existe um dimensionamento exagerado acer- ca do abandono de práticas fordistas� Segundo eles, o que ocorre é uma integração de algumas abordagens e técnicas ao modelo fordista� Ou seja, não haveria uma transição linear do modelo fordista para o pós-fordista� Esses autores lembram que as técnicas de produção massificada de mercadorias ainda são majoritárias em muitas indústrias (GIDDENS, 2005)� 21 FIQUE ATENTO A obsolescência programada é uma característica- -chave da sociedade de consumo� Ela consiste em uma estratégia que foi inicialmente pensada como uma solução para a crise de 1929� O princí- pio da obsolescência programada foi primeiramen- te utilizado na lâmpada elétrica: nos anos 1920, os produtores de lâmpadas perceberam que as lâmpadas duravam tempo demais, de modo que era um objeto que os indivíduos não precisavam comprar com frequência e isso, ao seu ver, dificul- tava o ritmo das vendas� Então esses produtores se reuniram em um cartel e decidiram encurtar a vida útil das lâmpadas (PADILHA, 2016)� Neoliberalismo e a reestruturação produtiva O capitalismo passou por uma crise estrutural nos anos 1970 que conduziu à crise do fordismo� Esse colapso pode ser caracterizado por meio de três fa- tores principais: 1) houve uma queda significativa na taxa de lucro acarretada pelo aumento do preço da força de trabalho (uma conquista das lutas ope- rárias dos anos 1960); 2) muitos postos de trabalho foram substituídos por novas tecnologias, levando a um alto índice de desemprego estrutural e, conse- quentemente, à retração do consumo; 3) a crise do Estado de bem-estar social� 22 Esse processo de reorganização do capitalismo levou ao surgimento do neoliberalismo� O termo designa um modelo político-econômico que prega a não inter- venção do Estado na economia, e a redução radical dos setores de serviços públicos, como saúde e se- guridade social� O ideário neoliberal foi inicialmente colocado em prática nos Estados Unidos e na Grã- Bretanha na década de 1980, sendo propagado pelo mundo nas décadas seguintes� De modo geral, as políticas neoliberais agem em três direções principais: a) privatização de empresas estatais (em muitos países, incluindo o Brasil, ocorreu a privatização de empresas nos ramos de telecomunicações, minera- ção, correios, entre outros); b) desregulamentação dos direitos trabalhistas (em muitos países esses direitos vem sendo restringi- dos ou abolidos em prol da liberdade econômica do empregador); c) reestruturação produtiva (que consiste na imple- mentação do modelo flexível de produção). É nessa conjuntura que surge o toyotismo – um novo modelo organizacional que teve origem nas fábricas japonesas, na década de 1970 (mais especificamen- te, nas fábricas de automóveis da empresa Toyota)� Como exposto acima, o toyotismo surgiu como resposta à crise do fordismo� O discurso toyotista baseia-se na valorização do trabalho em equipe, da multifuncionalidade, da flexibilização da produção 23 etc. No entanto, isso não significa o fim da explo- ração – pelo contrário, a reestruturação produtiva neoliberal intensificou a exploração por meio da pre- carização do trabalho� SAIBA MAIS O documentário intitulado Estou me guardando para quando o carnaval chegar (2019) aborda a produção massiva de calças jeans na cidade de Toritama, interior do estado de Pernambuco� O filme traz uma visão crítica sobre o processo de urbanização daquela cidade, que no passado tinha uma economia baseada na agricultura e pecuária� Ele mostra a rotina e os desejos dos trabalhado- res autônomos que produzem jeans o ano todo, exceto no carnaval, quando descansam em praias paradisíacas� A precarização do trabalho Há pelo menos quatro décadas, o trabalho assumiu uma configuração que se tornou mundialmente he- gemônica� A era atual se apoia em um projeto eco- nômico e político de caráter neoliberal, concretizado mediante a reestruturação da produção e do trabalho� Nessa nova fase, “o capitalismo do século 19 não é o mesmo do século 20, e muito menos o do século 21” (DRUCK, 2011, p� 41)� 24 No capitalismo contemporâneo, coexistem velhas e novas formas de trabalho no interior de uma dinâ- mica de precarização social do trabalho� O modelo econômico atual se caracteriza pela acumulação flexível que emerge como forma de superar a crise de um padrão de desenvolvimento anterior, isto é, a crise do paradigma fordista, acompanhado por um regime de regulação e pelo Estado de bem-estar social (DRUCK, 2011)� Nos países que passaram pela experiência do Estado de bem-estar social e das políticas de pleno emprego, o fordismo significou um ambiente socioeconômi- co no qual amplos segmentos da sociedade foram beneficiados pelo crescimento econômico. Naquele contexto, as condições de trabalho e emprego per- mitiam vínculos de longo prazo, de modo que era possível planejar o futuro das novas gerações� As análises acerca da crise do fordismo apontam para uma saturação da produção massificada, acom- panhada de queda no ritmo da produtividade e dimi- nuição da lucratividade� A emergência da acumulação flexível e a ruptura com o modelo fordista trouxeram diversas transforma- ções, produzindo outro modo de vida (e de trabalho), baseado na precarização� Segundo Druck (2011), esse processo respondeu às exigências da financei- rização da economia que permitiu a mundialização do capital em uma escala nunca antes vista� A autora sintetiza tal transformação da seguinte forma: 25 Houve uma evolução da esfera financeira, que passou a determinar todos os demais empre- endimentos do capital, subordinando a esfera produtiva e contaminando todas as práticas produtivas e os modos de gestão do trabalho, apoiada centralmente numa nova configuração do Estado, que passa a desempenhar um papel cada vez mais de “gestor dos negócios da bur- guesia”, já que ele age agora em defesa da des- regulamentação dos mercados, especialmente o financeiro e o de trabalho (DRUCK, 2011, p. 42). Portanto, observamos que o cenário atual é marcado por uma hegemonia do setor financeiro. Isso significa que ele atua para além do âmbito estritamente eco- nômico do mercado, contaminando todas as esferas da vida social� Como resultado, temos um novo modo de vida baseado na efemeridade e descartabilidade desenfreada tanto daquilo que se produz como da- queles que produzem� Em outras palavras, a lógica da flexibilidade anda de mãos dadas com a precarização� Assim como é incentivada a crescente inovação tecnológica e dos produtos, também a força de trabalho é encarada sob o mesmo prisma� Desse modo, o trabalhador é rapi- damente transformado em obsoleto e descartável, devendo ser substituído por uma força de trabalho mais “nova” e “moderna”� Nesse sentido, prevalecem os empregos temporários, o desemprego e os con- tratos de curto prazo, caracterizando a precarização do trabalho� 26 A precarização do trabalho está no centro dessa nova dinâmica do capitalismo contemporâneo e é responsável por gerar uma nova condição de vul- nerabilidade social, na medida em que rompe com a possibilidade de uma inserção estável no empre- go, produzindo inseguranças e desfiliação social. (DRUCK, 2011) Nesse sistema, a ameaçaconstante do desemprego faz com que seja mais fácil para o trabalhador aceitar as condições de trabalho precárias, gerando uma intensa concorrência e cisões entre os próprios tra- balhadores� Portanto, se trata não só de um regime econômico, como também político� SAIBA MAIS Surplus: terrorismo de consumo (2003) é um do- cumentário que revela as mazelas impostas pela globalização neoliberal e a sociedade de consumo em diversos países ao redor do globo, como Índia, Estados Unidos e Cuba. O filme ganhou destaque ao retratar o movimento antiglobalização do co- meço dos anos 2000, enfatizando os protestos durante as reuniões de organizações transnacio- nais, como o G8� 27 A “uberização” do trabalho Em todo o mundo, é crescente o número de pes- soas que têm como fonte de renda o trabalho por aplicativo� Esse fenômeno tem provocado diversas reflexões, levando pesquisadores a cunharem termos como “uberização do trabalho” ou “plataformização do trabalho” para caracterizar esse tipo de relação de trabalho mediada por plataformas digitais (ABÍLIO, 2020)� Nas grandes metrópoles, observamos a multidão de motoristas de empresas como Uber, além de entre- gadores em motocicletas, bicicletas ou patinetes� Entregadores em bicicletas, por exemplo, chegam a pedalar mais de 50 km por dia, em uma jornada de trabalho de dez horas diárias, sete dias por semana, em um trânsito que não apresenta condições míni- mas de segurança para o ciclista� No entanto, a chamada uberização não se restringe aos entregadores, compreendendo diversas ocu- pações em todo o mercado de trabalho, no tempo presente e, muito possivelmente, ganhando ainda mais espaço no futuro próximo� No Brasil, as pesquisas realizadas nos últimos anos indicam um grande contingente de trabalhadores cuja renda provém do trabalho por aplicativo� Segundo os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, esse contingente abarca 28 cerca de 3,8 milhões de brasileiros� Outra pesquisa, realizada pelo Instituto Locomotiva, indicou que cerca de 17 milhões de pessoas obtêm rendimentos por meio do trabalho por aplicativo (ABÍLIO, 2020)� O termo uberização é derivado do tipo de trabalho da empresa Uber e diz respeito a processos que não estão limitados a essa empresa, nem tiveram início com ela� Pelo contrário, trata-se de uma tendência em curso e que atinge diferentes setores da economia, diferentes tipos de ocupação e níveis de qualificação. Segundo Abílio (2020), o conceito de uberização diz respeito a um processo de informalização do traba- lho, responsável por redefinir a própria concepção de trabalho informal, dando mais um passo em direção à flexibilização do trabalho (vide figura abaixo). 29 Figura 1: Informalidade no mundo hoje. Fonte: Abril 30 No que diz respeito à atuação do Estado, faz parte desse fenômeno a eliminação de direitos e regula- ções estatais, isto é, a eliminação das barreiras legais à exploração do trabalho� Como resultado, ocorre uma transferência de custos e riscos ao trabalhador� Envolvendo inovações tecnológicas, a uberização se traduz em uma nova tendência de gestão do trabalho que atua por meio da imbricação entre vigilância, con- trole e gerenciamento do trabalho� Frequentemente, isso abrange a possibilidade de extração, processa- mento e gerenciamento de dados em dimensões colossais, permitindo o mapeamento (e vigilância) integral do processo produtivo� Abílio (2020) sintetiza o conceito de uberização em quatro elementos-chave: 1. Trata-se de uma “tendência global de transfor- mação do trabalhador em trabalhador autônomo, permanentemente disponível ao trabalho, reduzido a um autogerente subordinado” (ABÍLIO, 2020, p� 114); 2. As empresas são detentoras dos meios tecno- lógicos, e assumem a posição de mediadoras para promover e organizar o encontro entre oferta e de- manda, produzindo novas formas de subordinação e controle do trabalho; 3. Surge a figura da multidão de trabalhadores dis- poníveis. Parte da fiscalização e do gerenciamento sobre o trabalho é transferida para os consumidores; 4. Os elementos acima abarcam também mudanças na identidade profissional do trabalho, que é desloca- 31 da para a categoria de trabalho amador – necessária a esse processo de informalização do trabalho� Franco e Ferraz (2019) lembram que a massificação da internet e dos computadores impulsionou trans- formações não só nas relações de trabalho, como também em toda a sociabilidade humana� Sendo assim, o processo que levou à uberização só foi pos- sível por intermédio de um duplo movimento: de um lado, a adoção da tecnologia da conectividade pelas forças produtivas e, de outro lado, a oferta dessa mesma tecnologia para um grande contingente da população� Podcast 1 O trabalho no contexto brasileiro Como estudado acima, as diversas formas de tra- balho sofrem transformações ao longo do tempo� Tais mudanças são moldadas pelo contexto no qual se desenrolam� No Brasil, a precarização do traba- lho é um traço marcante e persistente das relações de trabalho e da produção de valor, desde séculos passados� De acordo com Flávia Uchôa-de-Oliveira (2020), a precarização está posta, ao menos, desde o pós- -abolição, perdurando na Constituição de 1891 e nos próximos trinta anos – período durante o qual a lei 32 considerava empregados e patrões como sujeitos “li- vres” e “iguais”� Por isso, nesse momento, a organiza- ção e a luta dos trabalhadores eram criminalizadas� A década de 1930 trouxe a Era Vargas, na qual teve início o acesso à cidadania por parte dos trabalha- dores. O governo Vargas definiu as regras de acesso ao emprego e à cidadania, ao mesmo tempo em que buscou regular os movimentos dos trabalhadores� O emprego passou a significar uma chave com a qual era possível acessar a cidadania� Durante a ditadura civil-militar, essa estrutura permaneceu� Ao final da década de 1980, o modelo nacional-de- senvolvimentista entrou em crise, levando grandes contingentes à informalidade e à miséria� Entrando na era neoliberal, toma força o discurso do empreende- dorismo, segundo o qual o trabalhador deve aprender a ser um empreendedor, o que significa que deve ele mesmo assumir todos os riscos do seu trabalho� Na atualidade, o crescimento do setor de serviços é marcado pelo fenômeno global de uberização, que consiste em uma nova forma de organizar, gerir e controlar o trabalho� Para completar o cenário, o país assiste a uma perda progressiva dos direitos trabalhistas e sociais (UCHÔA-DE-OLIVEIRA, 2020)� De acordo com a autora, a uberização no contexto brasileiro combina o novo e o velho: ou seja, o novo é representado pelo emprego das novas tecnologias (plataformas digitais), que são articuladas a formas antigas de inserção econômica dos trabalhadores brasileiros (os bicos, o trabalho “por conta”, o free- 33 lance, entre outras denominações), controlando e mediando as interações entre consumidores e pres- tadores de serviços� A uberização do trabalho agrava as desigualdades sociais e contribui para a disseminação da precari- zação� Isso ocorre devido a uma tendência mundial do capitalismo neoliberal de eliminação das garan- tias e direitos trabalhistas que estavam atreladas ao emprego no mercado de trabalho formal� Baseado em pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o gráfico abaixo indica a tendência de crescimento vertiginoso do número de trabalhadores informais, isto é, trabalhadores sem carteira assinada ou por conta própria (autônomos), no Brasil� 34 Figura 2: Informalidade no Brasil. Fonte: Globo 35 Pesquisas mais recentes confirmam essa tendência e mostram o agravamento da situação face à atual crise mundial decorrente da pandemia do novo coro- navírus� De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o mercado de trabalho brasileiro perdeu 1,1 milhão de vagas de carteira assinada somente entre março e abril de 2020� Podcast2 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS Para concluir, cabe retomar os argumentos principais desenvolvidos ao longo deste capítulo, que abordou os principais debates acerca do trabalho, a partir de um olhar sociológico� Esse olhar possibilitou uma visão crítica sobre a relação dos seres humanos com o trabalho ao longo da história e, principalmente, nas sociedades modernas capitalistas� Estudamos que o trabalho tal como o conhecemos hoje é um produto social e histórico da Modernidade Ocidental, que se consolidou historicamente a partir do século 18, com o surgimento da propriedade pri- vada dos meios de produção por parte da burguesia� Contudo, o modelo capitalista em vigor hoje, não é o mesmo do século 18, tampouco o mesmo do século 20� Sendo assim, nós assistimos atualmente a uma reconfiguração das relações de trabalho dentro de um novo paradigma (neoliberal), caracterizado pela precarização, redução dos direitos trabalhistas e pela transferência de custos para os trabalhadores� Nesse contexto, os fluxos globais do capital finan- ceiro, aliados ao crescimento do setor de serviços e tecnologias, produzem o que chamamos de uberi- zação do trabalho� 37 SÍNTESE • O modo de produção primitivo • O modo de produção escravista • O modo de produção feudal • O modo de produção capitalista • O modo de produção comunista • O taylorismo e o fordismo DESENVOLVIMENTO HUMANO E SOCIAL A relação entre sociedade e trabalho Os modos de produção Capitalismo e a sociedade moderna • Neoliberalismo e a reestruturação produtiva • A precarização do trabalho • A “uberização” do trabalho • O trabalho no contexto brasileiro Transformações do trabalho na atualidade • Trabalho X Emprego Referências Bibliográficas & Consultadas ABÍLIO, L� C� Uberização: a era do trabalhador just- -in-time? Estudos avançados� São Paulo, v� 34, n� 98, pp� 111-126, 2020� ANGELONI, M� T� (Org�); MÜLBERT, A� L� et al� Organizações do conhecimento: infraestrutura, pessoas e tecnologia� 2� ed� São Paulo: Saraiva, 2008� [Minha Biblioteca] BARROSO, P� F�; BONETE, W� J�; QUEIROZ, R� Q� M� Antropologia e cultura� Porto Alegre: SAGAH, 2017� [Minha Biblioteca] BAUMAN, Z�; MAY, T� Aprendendo a pensar com a sociologia� Rio de Janeiro: Zahar, 2010� [Minha Biblioteca] BAUMAN, Z� Globalização: as consequências humanas� Rio de Janeiro: Zahar, 1980� [Minha Biblioteca] BOCK, A� M� B�; FURTADO, O�; TEIXEIRA, M� L� T� Psicologias: uma introdução ao estudo de psico- logia� 15� ed� São Paulo: Saraiva Educação, 2018� [Minha Biblioteca] BURKE, P� Uma história social do conhecimento� v�1: de Gutenberg a Diderot� Rio de Janeiro: Zahar, 2003� [Minha Biblioteca] CASTELLS, M� A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade� Rio de Janeiro: Zahar, 2003� [Minha Biblioteca] DRUCK, G� Trabalho, precarização e resistências: novos e velhos desafios? Cad. CRH, Salvador, v� 24, n� 1, pp� 37-57, 2011� FERRÉOL, G�; NORECK, J� P� Introdução à sociolo- gia� São Paulo: Ática, 2007� [Biblioteca Virtual] FRANCO, D� S�; FERRAZ, D� Uberização do trabalho e acumulação capitalista� Cad. EBAPE.BR, Rio de Janeiro , v� 17, n� spe, pp� 844-856, Nov� 2019� GIDDENS, A� Sociologia� Porto Alegre: Artmed, 2005� PADILHA, V� Desejar, comprar e descartar: da per- suasão publicitária à obsolescência programada� Cienc. Cult., São Paulo, v� 68, n� 4, pp� 46-49, 2016� PAIVA, M� J� G�; LIMA, M� M� F�; PINHEIRO, V� F�; TEIXEIRA, F� J� S� Capitalismo, trabalho e política social� São Paulo: Blucher, 2017� [Minha Biblioteca] PAPALIA, D� E�; FELDMAN, R� D� Desenvolvimento humano� 12� ed� Porto Alegre: Artmed, 2013� Livro digital� [Minha Biblioteca] PRADO JÚNIOR, C� A questão agrária no Brasil� 4 ed� São Paulo: Brasiliense, 1987� SANTOS, L� Sociologia do trabalho. Inhumas: IFG Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2012� SMITH, A� A riqueza das nações� São Paulo: Nova Cultural, 1996� SOUZA, O� T� et al� Diálogos contemporâneos acerca da questão agrária e agricultura familiar no Brasil e na França� Porto Alegre: EdiPUC-RS, 2019� [Biblioteca Virtual] UCHÔA-DE-OLIVEIRA, F� M� Saúde do trabalhador e o aprofundamento da uberização do trabalho em tempos de pandemia� Rev. bras. saúde ocup�, São Paulo , v� 45, 2020� VELHO, G� Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea� Rio de Janeiro: Zahar, 1980� [Minha Biblioteca]