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Material Teórico - Temas Transversais - Cruzeiro do Sul

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Lucas Machado

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Prévia do material em texto

Conteudista: Prof. Me. Paulo Celso Sanvito
Revisão Textual: Prof.ª M.ª Magnólia Gonçalves Mangolini
Objetivo da Unidade:
Discutir a origem do conceito de direitos humanos, sua trajetória histórica, com
especial ênfase à Declaração Universal dos Direitos Humanos e suas relações com
as seguintes temáticas: tolerância; minorias; crianças e adolescentes; mulheres;
casamento e constituição das famílias; povos indígenas, afrodescendentes; pessoas
com deficiência; trabalho escravo e práticas análogas e proteção contra tortura e
maus tratos.
✌ Contextualização
� Material Teórico
📚 Material Complementar
☕ Referências
Unidade 1:
Direitos Humanos e 
Questão da Diversidade
Videoaula
Veja, no vídeo a seguir, os assuntos abordados nesta unidade. Atente-se, pois, ao longo dele,
você terá algumas questões reflexivas.
1 / 4
✌ Contextualização
 Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo online para que
você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do
conteúdo. 
Clique no botão para conferir o vídeo indicado.
ASSISTA
- Alexandre de Moraes
Vídeo
O que são Direitos Humanos?
Assista ao vídeo “O que são Direitos Humanos” e conheça um pouco
mais acerca desses direitos universais.
“Direitos Humanos é o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser
humano que tem por finalidade básica o respeito à sua dignidade, por meio de sua
proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas
de vida e desenvolvimento da personalidade humana.”
https://bit.ly/3or7Zb9
Introdução
No entanto, é certo que a história da humanidade está marcada justamente pela reação ao
diferente que, em geral, consiste no desejo de eliminação daquele que não se enquadra nos
padrões socialmente estabelecidos.
Aliás, é exatamente como elemento dessa realidade social que a diversidade se faz presente nas
raças, etnias, culturas, valores, crenças, enfim, nas peculiaridades que distinguem e
individualizam cada um de nós.
Ocorre que, não raro, a essas particularidades é atribuído um caráter depreciativo que, além de
gerar intolerância e exclusões sociais, impõe a ideia segundo a qual o diferente é sempre inferior
ao igual.
2 / 4
� Material Teórico
- COMPARATO
“Todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que
os distinguem entre si, merecem igual respeito, como único sentes no mundo
capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza. [...]”
Por isso, em respeito à dignidade humana, se faz necessário o desenvolvimento da tolerância,
como forma de aceitação das diferenças, pois somente o diálogo será capaz de despertar a
capacidade de compreensão do outro, em seus direitos e acima de tudo, em suas diferenças.
Analisemos, então, como se dá a relação entre os direitos inerentes a cada ser humano e
atemática da diversidade, em seus aspectos mais relevantes.
Direitos Humanos
Conceito
O conceito de Direitos Humanos pode ser considerado sob dois ângulos (SORONDO
- HERKENHOFF
Constituindo um ideal comum para todos os povos e para todas as nações, seria
então um sistema de valores;
Este sistema de valores, enquanto produto de ação da coletividade humana,
acompanha e reflete sua constante evolução e acolhe o clamor de justiça dos povos.
Por conseguinte, os Direitos Humanos possuem uma dimensão histórica.
“Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos aqueles
direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria
natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam
de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade
política tem o dever de consagrar e garantir.”
A doutrina ressalta algumas características próprias desses direitos (KUMPEL; SOUZA
A Evolução dos Direitos Humanos
É certo que o conceito de Direitos Humanos é resultado da evolução do pensamento filosófico,
jurídico e político, da qual podemos destacar três ápices: o Iluminismo, a Revolução Francesa e o
término da Segunda Guerra Mundial.
Pois bem, com o Iluminismo (período havido entre a Revolução Inglesa de 1688 e a Revolução
Francesa de 1789 foram ressaltados o espírito crítico, a razão e a fé na ciência, com o fim de
atingir a compreensão acerca das origens da humanidade e da ciência das pessoas e das coisas.
O princípio da igualdade foi estabelecido sob o prisma de que todo homem tem direitos
resultantes de sua própria natureza.
Já a Revolução Francesa deu origem aos ideais representativos dos direitos humanos, a
liberdade, a igualdade e a fraternidade: os homens tinham plena liberdade, eram iguais, ao menos
em relação à lei e deveriam ser fraternos, auxiliando uns aos outros.
Por outro lado, com o fim da Segunda Grande Guerra, os homens se conscientizaram da
necessidade de não permitir que aquelas atrocidades ocorressem novamente, o que culminou na
criação da Organização das Nações Unidas e na declaração de inúmeros Tratados Internacionais
universalidade: todo ser humano é sujeito desses direitos;
inviolabilidade: esses direitos não podem ser violados por pessoas ou autoridades;
indisponibilidade: são direitos que não podem ser renunciados;
imprescritibilidade: têm caráter eterno;
complementariedade: inexiste hierarquia entre esses direitos, que devem ser
interpretados em conjunto.
de Direitos Humanos, dentre os quais se destaca a “Declaração Universal dos Direitos do
Homem”, analisada a seguir.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos
Proclamada em 10 de dezembro de 1948, pela Assembleia Geral da Organização das Nações
Unidas (ONU, em Paris, a Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece a dignidade
humana inerente às pessoas, titulares de direitos iguais e inalienáveis, servindo de base da luta
universal contra a opressão e a discriminação.
De acordo com Kumpel, tal documento relaciona em seu texto, direitos civis e políticos (que são
chamados de direitos de primeira geração e traduzem o valor da liberdade), como direitos sociais,
econômicos e culturais (que são denominados direitos de segunda geração e traduzem o valor
da igualdade) e contempla, ainda, a fraternidade como valor universal (contempla, pois, os
chamados direitos de terceira geração, que compreendem o direito à paz, ao meio ambiente, ao
desenvolvimento, à comunicação, etc.).
Desde sua adoção, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi traduzida em mais de360
idiomas – o documento mais traduzido do mundo – e inspirou as constituições de muitos Estados
e democracias recentes.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em conjunto com o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais (sobre procedimento de queixa e
sobre pena de morte) e com o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e
seu Protocolo Opcional, formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos (ONU.
É inegável que esse documento “... significou um divisor de águas na história da evolução e
efetivação dos direitos e das garantias fundamentais da pessoa humana, porque a partir dela
estabeleceu-se a concepção dos direitos humanos sob o enfoque da especialização dos direitos
e dos sujeitos a que se destinam.” SOARES FILHO.
Diversidade e Tolerância
Ora, todos sabemos que o Brasil é o país da diversidade e por isso seria natural que, em nosso
território, a tolerância fosse prática constante, o que, infelizmente, não ocorre.
- BROTTO
“É possível demarcar a diversidade como um fenômeno concreto, objetivado e
subjetivado no cotidiano das relações e da vida social, cuja (re)produção aponta para o
processo de interação entre os indivíduos. É possível entendê-la como o conjunto de
peculiaridades e diferenças entre os indivíduos, impossíveis de serem padronizadas
devido às características singulares de cada ser.”
       FIGURA 1
Fonte: Thinkstock.com
#ParaTodosVerem Foto de 4 pessoas. Imagem focaliza as mãos e os
antebraços. A mão da primeira pessoado estoque aqueles mais adequados aos seus
propósitos, e comprando os escravos na mesmíssima maneira como se compra gado
ou cavalos num mercado. Mas, se num carregamento não houver o tipo de escravo
adequado às necessidades e desejos dos compradores, encomenda-se ao Capitão,
especificando os tipos exigidos, que serão trazidos na próxima vez em que o navio
vier ao porto. Há uma grande quantidade de pessoas que fazem um verdadeiro
negócio dessa compra e venda de carne humana e que só fazem isso para se manter,
dependendo inteiramente desse tipo de tráfico.”
        FIGURA 6  |   Mercado de escravos, Rugendas
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: Litografia do artista alemão Johann Moritz Rugendas, século
19. Mostra um local de compra e venda de escravos. Ao fundo mostra uma
paisagem tropical de uma praia, com montanhas, palmeiras e a torre de uma
igreja ao longe. Dentro do mercado, em uma estrutura com três arcos, há várias
pessoas. Do lado esquerdo há um grupo de negros, todos do sexo masculino,
sem vestimentas na parte de cima, sentados em uma esteira de palha. Três deles
estão de pé, um deles está apoiado no parapeito e olha a praia. Em frente há um
homem branco que os olha, está com vestimentas elegantes, típicas da época,
de cor azul, usa também uma cartola de cor bege e está olhando para o grupo de
negros.  Do lado direito ao fundo há um grupo de crianças negras, um deles
recebendo algo de comer uma mulher negra sentada com uma cesta de frutas;
ao lado dele há um homem negro, usando chapéu e roupas de cor clara, indica
que é um capitão do mato que está negociando com um homem branco, de
cabelos pretos e roupa de cor verde e alaranjada, a mão direita do homem está
queixo de um negro que está de pé, tem compleição física forte e veste apenas
um short cor de rosa. À frente há um grupo de mulheres negras, com os seios à
mostra, sentadas em esteiras de palha em volta de uma panela que está em cima
de uma fogueira. Uma delas segura um bebê no colo. Fim da descrição.
As mudanças nas estruturas econômicas internacionais alteram os interesses da coroa britânica
nas questões relativas ao tráfico negro e, a partir do Bill Aberdden, a marinha inglesa passou a
perseguir os navios negreiros, o que dificultou a entrada de africanos no país.
Em 1850, a Lei Eusébio de Queiroz proibiu o tráfico vindo da África, mas a escravidão ainda
permanecia como uma estrutura importante, seja pelo contrabando ou pelo comércio
interprovincial.
Os homens e mulheres expostos a este comércio sofreram o mesmo desenraizamento dos que
foram trazidos da África para o Brasil. Eles também foram arrancados de suas regiões de
nascimento e das suas famílias.
Em Costas Negras...
A maior parte da riqueza produzida no Brasil foi, por mais de trezentos anos, resultado do
trabalho escravo.
A principal e mais importante mão de obra nos grandes latifúndios, produtores de cana e depois
café, era a escrava africana. Com a descoberta dos metais preciosos e do minério, os escravos
foram introduzidos nas zonas de mineração, uma vez que em várias regiões da África a forja de
metal era atividade há muito conhecida. O cultivo de pequenas hortas também era atividade
destinada a escravos – herdando a tradição africana, ficavam aos cuidados das mulheres - e os
gêneros produzidos, assim como a criação de pequenos animais domésticos, enriqueciam o
cardápio da casa-grande e, em menor proporção a ração dos cativos também.
“Quando se desembarca na Bahia, o povo que se movimenta nas ruas corresponde
perfeitamente à confusão das casas e vielas. De feito, poucas cidades pode haver tão
originalmente povoadas como a Bahia. Se não se soubesse que ela fica no Brasil,
A escravidão era uma prática disseminada na sociedade brasileira, além dos grandes
proprietários, a maioria da população, militares, funcionários públicos, e mesmo ex-escravos
tinham escravos. Nas áreas urbanas, aliás, a maioria dos escravos estava concentrada em
pequenos grupos de até dois cativos.
A relação entre os senhores e seus escravos era marcada pela coação, e os escravos tinham
poucas formas de defesa contra o seu proprietário, apesar da lei proibir atos de crueldade contra
estas pessoas.
As denúncias de maus tratos eram poucas e, geralmente, o responsável era “perdoado”mediante
o pagamento de multa. Contudo, os escravos nunca foram figuras passivas, e procuravam resistir
à dominação, através de estratégias que subvertiam a ordem estabelecida e por atos de
resistência, como fugas, que levam os senhores a repensar suas práticas, procuram um equilíbrio
entre coação e convencimento.
- AVELALLEMANT, 1961
poder-se-ia tomá-la sem muita imaginação, por uma capital africana, residência de
poderoso príncipe negro, na qual passa inteiramente despercebida uma população de
forasteiros brancos puros. Tudo parece negro: negros na praia, negros na cidade,
negros na parte baixa, negros nos bairros altos. Tudo que corre, grita, trabalha, tudo
que transporta e carrega é negro; até os cavalos dos carros na Bahiasão negros.”
“Meu Senhor, nós queremos paz e não queremos guerra; se meu senhor também
quiser nossa paz há de ser nessa conformidade, se quiser estar pelo que nós
quisermos a saber. Em cada semana nos há de dar os dias de sexta-feira e de sábado
para trabalharmos para nós não tirando um destes dias por causa de dia santo...
As condições de vida dos escravos no Brasil eram muito ruins, seja nas áreas urbanas ou rurais.
A moradia mais comum era a senzala, que podia assumir diversos formatos. Geralmente, a
senzala era um grande barracão com uma única entrada e que era fechada durante a noite.
Algumas vezes, podiam ser construídos barracões para homens e outro para mulheres e, além
disso, as senzalas podiam conter compartimentos para casais com filhos. Em outros locais, as
moradias eram barracos construídos pelos próprios escravos, seguindo suas tradições culturais,
contudo, isso não significa que estes trabalhadores eram menos vigiados que os que viviam em
outras condições.
- REIS, 1996
Poderemos plantar nosso arroz onde quisermos, e em qualquer brejo, sem que para
isso peçamos licença, e poderemos cada um tirar jacarandás ou qualquer pau sem
darmos parte para isso. A estar por todos os artigos acima, e conceder-nos estar
sempre de posse da ferramenta, estamos prontos para o servirmos como dantes,
porque não queremos seguir os maus costumes dos mais Engenhos. Poderemos
brincar, folgar, e cantar em todos os tempos que quisermos sem que nos impeça e
nem seja preciso licença.”
        FIGURA 7  |   Casa de escravos – Rugendas
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem. Pintura do artista alemão Johann Moritz Rugendas, século 19
“Habitação de negros”. Retrata uma aldeia com moradias de pessoas negras. Do
lado esquerdo há uma casa pequena de pau a pique com cores claras, o telhado
é de palha seca. Na frente da casa há: 6 adultos e três crianças negras: uma
mulher usa um turbante e um colar branco e uma saia comprida de cor clara, os
seios estão à mostra e carrega um bebê negro nu. Ao lado dela há um homem
sentado que está fumando um cachimbo que está sendo acendido por outra
mulher, que usa um turbante e uma saia de cor vermelha, os seios também à
mostra. Ao lado, há outra mulher, sentada em uma esteira de palha no chão, usa
uma saia amarela e os seios estão à mostra, segura uma tesoura e conversa com
uma criança negra nua que está de pé ao lado de outra também nua
engatinhando no chão. Na frente, um homem descansa deitado em uma esteira
de palha enquanto outro confecciona uma dessas esteiras. Ao fundo da casa há
uma bananeira e outra pequena casa. Ao fundo do lado direito, uma mulher
negra vestida com saia clara e blusa vermelha, leva um recipiente em cima da
cabeça, apoiando-o na mão direita. A mão esquerda está apoiada nas costas de
uma criança negra e nua que leva um objeto redondo nas mãos. Fim da
descrição.
Nas regiões de mineração, os escravos viviam em moradias, chamadas de ranchos, que podiam
ser desmontadas para acompanharas mudanças na área a ser explorada.
Além de viver em condições terríveis, as vestimentas usadas pelos escravos eram ainda mais
precárias. Aliás, a vestimenta era uma forma de diferenciar os escravos; os domésticos usavam
roupas de melhor qualidade porque acompanhavam seus senhores em suas atividades cotidianas
e muitas vezes os escravos que agradavam o seu senhor, como aqueles que descobriam pedras
preciosas na área de mineração, recebiam roupas como forma de premiação.
        FIGURA 8  |   Escravos trabalhando em um engenho –
Debret
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: Pintura do artista Debret. Mostra quatro escravos negros
trabalhando em um engenho. Dois deles estão de pé, com peitos nus e giram
uma estrutura de madeira que faz também girar 3 cilindros no centro na
estrutura. Há dois outros negros sentados inserindo as canas de açúcar nos
cilindros que as esmagam e tiram o líquido, que cai em um recipiente no chão.
Fim da descrição. 
Todos os observadores eram unânimes em dizer que os escravos no Brasil eram mal alimentados,
e isso tinha um grande peso na pequena perspectiva de vida deste grupo. Em muitos casos, os
senhores permitiam que os escravos completassem sua parca alimentação através da caça de
pequenos animais, da pesca e, em muitas fazendas, recebiam a permissão para iniciar pequenas
lavouras.
Estas lavouras eram interessantes tanto para os senhores, que transferiam a responsabilidade da
alimentação para os próprios cativos, quanto para os escravos que tinham acesso a melhores
alimentos e a maior diversidade de produtos.
Nas cidades, os escravos realizam as mais diversas atividades. Ao tratar do “levante dos Malês”
ocorrido na cidade de Salvador em 1835, Reis menciona a presença de carregadores de água e
de pessoas, pedreiros, sapateiros, ferreiros entre as profissões exercidas por negros libertos – e
alguns escravos –, entre os revoltosos.
        FIGURA 9  |   Negras de Tabuleiro – Debret
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: Pintura do artista Debret, “As negras do tabuleiro”. Mostram
três mulheres negras em uma escadaria de pedra. No fundo à esquerda, há uma
mulher begra usando uma blusa com listras alaranjadas e saia, leva na cabeça,
sobre o turbante azul e branco, uma cesta com algumas frutas. Apara equilibrar,
ela segura a cesta com o braço direito, enquanto no braço esquerdo segura uma
galinha pelas patas e mostra a outra mulher que está sentada na frente. No
primeiro plano da pintura há uma mulher negra sentada na escadaria, usa saia
azul, blusa branca mostrando os ombros, tem a face pintada com uma pintura de
cor amarelada nas bochechas nariz, queixo e testa. Usa um turbante de cor
alaranjada. Está com o braço direito dobrado e a mão apoiada no queixo, está
com um semblante entediado. Na sua frente no chão há um recipiente grande de
palha com muitos cajus. Fim da descrição.
Às mulheres cabiam os ofícios relacionados à vida doméstica, como costureiras, cozinheiras ou
pajens. Por isso, era comum ver negras com seus tabuleiros ajustados aos torsos da cabeça
vendendo – ou mercando – pelas ruas das cidades, os seus quitutes. Em muitas culturas
africanas, a arte de mercar/negociar é feminina e tal característica foi mantida entre as africanas
que sobreviveram em terras brasileiras. Juntando o parco lucro que obtinham com seu trabalho
(depois de dar ao senhor/a a parte que lhes cabia), essas mulheres foram responsáveis pelo
sustento de seus filhos e conseguiam, em algumas ocasiões, comprar a liberdade deles e
também ade seus maridos/companheiros.
        FIGURA 10  |   Negros carregadores – Debret
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: Pintura do artista Debret, “Negros carregadores.” Retrata 8
homens negros. Todos usam roupas coloridas, colares coloridos e chapéus.
Alguns chapéus com penas e adereços chamativos. Quatro deles estão frente e
quatro atrás, no meio carregam um grande barril de madeira que está suspenso
por cordas e por varas de madeira. Eles o carregam levantando as varas e
apoiando nos ombros. Fim da descrição. 
Nas áreas urbanas, os escravos passavam uma boa parte de seu tempo longe dos olhos de seus
senhores, contudo isso não significa que estavam livres do controle de seus senhores. Deve-se
observar entre tanto, que a relativa autonomia dos escravos urbanos era real, principalmente no
caso dos chamados escravos de ganho.
Ter um escravo, não só para explorar, mas também como sinal de poder econômico e desejo de
ascensão social era algo almejado por pequenos comerciantes, burgueses e, até mesmo,
libertos. Segundo Reis (2003, p. 32 “era grande o número de baianos sustentados por um, dois
ou três escravos que possuíam”. E ainda, citando o comerciante inglês James Wetherell, informa
que “em muitos casos, aposse e o uso de escravos são o único meio de subsistência” na colônia.
Todos os escravos urbanos eram proibidos de circular nas cidades depois de anoitecer e não
podiam portar nenhum tipo de arma, e isso se deve ao medo de um possível levante contra os
senhores ou os outros moradores.
Apesar de todas estas medidas, os escravos continuavam circulando, trabalhando e participando
da vida das cidades, durante o dia e durante a noite.
O espaço do trabalho, seja para os escravos urbanos ou para os rurais, era o local de forjar
solidariedades, de aprender ofícios ou de aprender a língua. Estas alianças obedeciam muitas
lógicas diferentes; os escravos podiam se agrupar devido à sua origem, profissão ou pelo fato de
pertencerem ao mesmo senhor. Observe que estes grupos podiam ser antagonistas, devido às
questões tribais ou rivalidades profissionais e, muitas vezes, os senhores procuravam agravar
estas diferenças para melhor controlar a situação.
A Família e a Comunidade
As comunidades escravas no Brasil foram resultado do tráfico, que tinha como elemento central
o processo de desenraizamento do indivíduo, e esta característica fez que outros elementos,
como o trabalho, a religiosidade ou os grupos de convívio, sedimentassem os sentidos de família
e de comunidade.
Os primeiros contatos entre os senhores e os escravos eram organizados para marcar a relação
de propriedade/dominação entre eles; ou seja, o senhor pretendia reafirmar sua autoridade ao
escravo.
Esta estrutura social tinha como apoio a ação da Igreja Católica que procurava incutir paciência e
obediência nos escravos.
A escravidão dificultava a formação de relações familiares, uma vez que existia um grande
desequilíbrio entre homens e mulheres nas senzalas, entre outros problemas. Contudo, os
estudos mais recentes apontam que os escravos procuravam manter relações conjugais estáveis
e estabeleciam famílias extensas, além de outras estruturas de convivência muito importantes,
como o compadrio.
        FIGURA 11  |   Casamento de negros, provavelmente
ligados a famílias de elite – Debret
Fonte: ufpr.br
#ParaTodosVerem: Pintura do artista Debret, casamento de negros,
provavelmente ligados a famílias de elite. Há 8 pessoas na imagem. O ambiente
parece ser uma casa de pessoas rica, as paredes são claras. No centro da
imagem, há um padre branco, com vestimenta religiosa, de cor branca, preta e
amarela. Os noivos estão de frente um pro outro de mãos dadas e as mãos do
padre sobre a deles. O noivo veste calça branca, sapato preto, camisa colorida. A
noiva veste um vestido branco com detalhes azuis, um adereço branco na
cabeça e colar e brincos de cor clara. Do lado esquerdo da imagem há dois
homens negros, de pé observando, ambo estão de calças brancas, um está de
camisa de tom marrom e o outro de tom azul, ambos seguram os chapéus nas
mãos. Do lado direito há duas mulheres negras, uma delas com vestido amarelo e
uma com vestido branco, ambas levam adereços na cabeça, colares e brincos de
cores claras. Do lado direito, ao lado das mulheres, há um homem negro, usando
camisa e calça de cor escura, segurando o chapéu nas mãos e também
observando o casamento. Fim da descrição. 
Os dois grupos de africanos trazidos para o Brasil trouxeramconsigo suas práticas religiosas que,
se por um lado foram mescladas entre si, por outro se recriaram e se adaptaram à nova realidade.
Os africanos já conheciam e praticavam tanto o Cristianismo como o Islamismo, além das outras
religiões tradicionais de cada nação, clã ou país. Dentre os aspectos preservados e re-criados
cabe destacar: o respeito pelos ancestrais, a existência de forças do bem e do mal, a fé nos
espíritos, a importância dos curandeiros, a existência de um deus supremo e a oralidade na
transmissão das tradições.
O catolicismo era a religião obrigatória do país, e muitos escravos, todos batizados por ocasião
do desembarque, participavam ativamente de seus ritos, reuniões e festas. Tais eventos festivos
eram esperados e vivenciados com alegria, pois permitiam alguns momentos de paz no inferno
cotidiano a que estavam submetidos.
As festas religiosas na Colônia irão colaborar para o surgimento de Irmandades para agregar
negros por parte da Igreja Católica, e tal fato ajudará na difusão e na permanência de estruturas
africanas dentro do catolicismo brasileiro. Organizadas, podiam reproduzir as várias etnias
africanas em seu interior, como os jejês, os nagôs, angolas e crioulos em irmandades distintas ou
ainda, as que acolhiamnegros das mais distintas origens como a Irmandade do Rosário das Portas
doCarmo que desde 1685  fundada por angolanos – agregava crioulos, jejês etc. Emesmo
podendo potencializar as rivalidades entre os grupos/nações, as confrariase irmandades serão
verdadeiros focos de resistência e manutenção de tradições deorigens africanas.
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ASSISTA
Vídeos
 Ep.8| Boa Morte – Cachoeira/BA 
Para conhecer a história de uma das mais importantes e antigas
irmandades da região do Recôncavo Baiano, veja o vídeo sobre a
Irmandade da Boa Morte de Cachoeira formada, ainda hoje,
exclusivamente por mulheres descendentes diretas de africanos:
https://youtu.be/k9epS1_g0z4
        FIGURA 12  |   Festa de irmandade negra – Rugendas
Fonte: bibliotecavirtual.sp.gov.br
#ParaTodosVerem. Pintura do artista Rugendas, Festa de Nossa Senhora do
Rosário, padroeira dos negros.  Representa uma festa religiosa da irmandade do
Rosário. Há mais de 30 pessoas negras na imagem, há mulheres e homens,
todos com roupas coloridas nos tons de amarelo, vermelho, laranja e azul.
Carregam três estandartes: um azul com um sol amarelo no centro, o outro
amarelo com figuras de várias bananas e um terceiro estandart vermelho e
amarelo. No centro do quadro, entre as pessoas, há duas figuras notórias, o rei
e a rainha do Congo, eleitos nessa comemoração. O rei usa uma roupa vermelha
e ornamentada com detalhes amarelos, na cabeça leva uma coroa amarela. A
rainha, ao lado do rei, usa um vestido de cor clara, ornamentado com outro
tecido azul. Na cabeça leva um ornamento vermelho. Ao fundo da imagem há
uma paisagem tropical, com arvores, bananeiras e casas e igreja ao longe. Fim da
descrição. 
Além das festas, novenas e outras práticas religiosas, as irmandades promoviam proteção para
seus membros, sendo responsáveis por compras de alforrias e, sobretudo, por garantir um
enterro digno ao irmão/ã falecido por meio do cumprimento de rígidos rituais fúnebres de sua
nação de origem. Para aprofundar o estudo sobre esse tema, veja a obra “A morte é uma festa”
de João José Reis).
        FIGURA 13  |   Festa de irmandade negra – Rugendas
Fonte: bdlb.bn.gov.br
#ParaTodosVerem: Reprodução de um cartaz de 1854, fixado no Rio de Janeiro
para alertar sobre a fuga de um escravo. Na parte superior, no centro em letras
grandes há a frase “Crioulo fugido”, embaixo da frase há um desenho de um
homem negro, correndo, carregando uma trouxa de roupa amarrada em uma vara
de madeira e apoiada no ombro. Do lado esquerdo da imagem está escrito o
valor de 50 mil réis. Do lado direito da imagem, está escrito “De Alviçaras”. Abaixo
da imagem há um texto que diz: Ainda fugido, desde o dia 18 de outubro de
1854, o escravo crioulo de nome Fortunato, de 20 e tantos anos de idade, com
falta de dentes na frente, com pouco ou nenhuma barba, baixo, reforçado e
picado de bexigas que teve há poucos anos, é muito pachola, mal encarado, fala
apressado e com a boca cheia olhando para o chão: costuma às vezes andar
calçado intitulando-se forro e dizendo chamar-se Fortunato Lopes da Silva. Sabe
cozinhar, trabalhar de encadernador e entende de plantação da roça, donde é
natural. Quem o prender, entregar à prisão e avisar na corte ao seu senhor
Eduardo Laemmert, rua da Quitanda, número 77, receberá 50 mil réis de
gratificação. Fim da descrição. 
Lutas e Resistências
Durante muito tempo, estudos apontavam para a passividade e pouca resistência do negro para
justificar a permanência e crueldade da escravidão. Entretanto, pesquisas recentes atestam que
a presença dos escravos no Brasil foi acompanhada pela rebeldia e pelas mais variadas formas de
resistência que tiveram início junto como tráfico negreiro e que, após a abolição da escravatura
em 1888, não cessaram e apenas adaptaram suas estratégias de luta para a nova realidade.
Algumas vezes, os escravos fugiam de seus senhores com o objetivo de atingir alguma
reivindicação imediata, como a substituição de um feitor. Estas são o que chamamos de fugas
reivindicatórias, que apontam as estratégias dos escravos para alterar condições de trabalhos ou
de vida, e evidenciam os limites da dominação.
Contudo, a maior parte dos escravos pretendia obter sua liberdade com o ato da fuga. Deve-se
observar que fugir era perigoso, difícil e o sucesso dependia diretamente da solidariedade dos
que podiam facilitar a fuga, fornecer abrigo ou alimento.
Muitos escravos procuravam abrigo em comunidades formadas por negros fugidos, que eram
conhecidas como Quilombos. Estes grupos não eram formados exclusivamente por escravos, e
podiam reunir índios, libertos e outros excluídos. Além disso, muitos quilombos ficavam próximos
a cidades e participavam das atividades econômicas. Os vários estudos, como os de Clóvis Moura
e João José dos Reis, apresentam as lutas dos escravos e ao citaram a localização de quilombos
apontam para a existência destes em todas as regiões do Brasil.
Apesar disso, os quilombos representavam um grande perigo para a estrutura escravista e foram
destruídos, como aconteceu com Palmares ou o Quilombo Buraco do Tatu, que ficava próximo à
cidade de Salvador.
Saiba Mais
Para conhecer mais sobre a história dos quilombos no Brasil, pesquise a
extensa obra de Clóvis Moura, em especial: “Quilombos – Resistência ao
Escravismo”, “Os Quilombos e a Rebelião Negra” e “Rebeliões da Senzala”.
Será enriquecedor!
        FIGURA 14  |   Planta do Quilombo do Tatu, destruído em
2 de setembro de 1763
Fonte: vermelho.org
#ParaTodosVerem: Reprodução de uma planta do Quilombo do Tatu. A planta
bastante antiga mostra os setores de organização do Quilombo demarcados
pelas letras A, B, C, D, E, H, L, V e Z, compreendendo uma grande área em
formato de um semi-círculo. Há uma descrição no final da página, escrita à mão
em português antigo, porém não está legível. Fim da descrição. 
Os escravos também organizaram levantes e rebeliões que tinham alcances variados, desde a
desorganização da produção em uma única propriedade até levantes formalmente organizados,
como o Levante dos Males que aconteceu em1835 na cidade de Salvador. Este e outros levantes
ocorridos ao longo do país aumentaram a necessidade da elite em manter o controle da
população escrava.
É importante lembrar, que estas não eram as únicas formas de resistência deste grupo. Os
escravos resistiam cotidianamente: podia sabotar a produção do senhor, fingir estar doente para
diminuir sua jornada de trabalho, envenenar as pessoas da casa-grande, desobedecer
sistematicamente e toda uma série de comportamentos que lhes davam controle sobre sua vida,
mesmo no ambiente da escravidão.
O Fim da Escravidão e o Pós-Abolição
As mudanças acontecidas nas formas de produção levoua pressões pelo final da escravidão.
A Inglaterra, berço da Revolução Industrial, tomou uma série de medidas para dificultar o tráfico
e, em 1845, o governo inglês aprovou uma lei que permitia o apressamento e confisco de navios
envolvidos neste tipo de atividade. Esta lei ficou conhecida como Bill Aberdeen, em homenagem
a seu criador Lord George Aberdeen.
As relações diplomáticas entre o Brasil e a Inglaterra ficaram estremecidas, já que o governo
imperial não tomou nenhuma providência para conter a entrada e circulação de escravos no país.
Somente em 1850, os deputados brasileiros aprovaram a Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o
tráfico de escravos no país.
Esta proibição fez o preço do escravo disparar e aumentou o tráfico interprovincial, entre 1873 e
1881, especialmente por causa das demandas do café.
Várias medidas foram discutidas e aprovadas, entre elas destacam-se:
        TABELA 1  |   Leis Abolicionistas
1871  Lei do Ventre
livre
Liberta as crianças nascidas a partir da data
de publicação da lei
1885  Lei do
Sexagenário
Liberta os escravos com mais de 60 anos
1888  Lei Áurea Liberta todos os escravos
A abolição não significou o final dos preconceitos contra os negros e das práticas autoritárias da
elite nacional, e a situação concreta dos ex-escravos não fazia parte das preocupações do
estado.
Diante destas circunstâncias, estas pessoas constroem trajetórias de luta que marcaram
gerações e que permitiram afirmar a importância dos negros na constituição da cultura nacional.
Samba, Carnaval, Capoeira, Candomblé, Culinária... E
Não Só!
A formação da identidade nacional é resultado da mescla e amalgama das várias culturas
indígenas (tupis, tupinambás, tapuias etc.), europeias (portugueses, espanhóis, franceses,
holandeses...) e africanas (nagôs, jejês, berberes, mandigas, haussás, entre outras). Muitos
elementos dessas tradições foram incorporados, transformados e considerados genuinamente
brasileiros.
Da contribuição africana recebemos ritmos musicais que deram origem a lundus, polcas e o mais
popular, reconhecido como parte da identidade brasileira e verdadeiro cartão postal do país, o
samba. Os tambores africanos soaram nos terreiros, nas matas e nas minas, tanto para
registrarem os lamentos e as dores dos escravos como para manifestar a alegria e o louvor aos
santos e orixás nas festas religiosas. Destes festejos herdamos os cordões, os ranchos e, por
último, o carnaval. Nas várias regiões do Brasil, existem inúmeras manifestações culturais que
têm origens africanas como as Congadas e Reisados, o Maracatu, o Samba de Roda (o de
Cachoeira/BA é considerado patrimônio imaterial do Brasil), o Tambor de Crioula...
        FIGURA 15  |   Roda de samba
Fonte: brasil.gov
#ParaTodosVerem: Foto de uma roda de samba. Na imagem, há mais de 10
pessoas reunidas formando um semi-círculo.  À esquerda, há duas mulheres
negras de pé, batendo palmas: uma delas veste um vestido de cor alaranjado
com lantejoulas aplicadas à peça conferindo brilho, na cabeça, tem um lenço
branco amarrado em forma de turbante; a outra mulher, um pouco mais baixa,
vetse uma saia comprida florida, blusa branca e também tem um lenço amarrado
na cabeça como turbante. No centro da roda, um pouco à frente, uma mulher
negra dança, está com um pé na frente do outro e os braços semi flexionados,
dando impressão de movimento, veste uma saia comprida branca, blusa
vermelha, usa colar de conta branca e está de sandálias. Do lado direito, há dois
homens negros sentados tocando tambor, as mãos estão espalmadas sobre os
tambores de cores vermelha e marrom. Ao lado deles há outras pessoas
sentadas batendo palmas e no canto direito há um homem negro, de pé tocando
um atabaque maior de cor branda, suas mãos estão espalmadas sobre o
atabaque e uma mulher negra ao seu lado, vestida com saia azul de tecido
brilhante, blusa branca e lenço branco amarrado à cabeça, usa também colares
de contas, segura um objeto branco nas mãos com efeito de percussão. Fim da
descrição.
Aos escravos quase nenhum descanso era permitido e nos momentos livres, de vadiagem,
reunidos em círculo, os negros se agitavam em plásticos movimentos, em giros sobre o próprio
corpo, fazendo acrobacias ao som de instrumentos musicais e de palmas ritmadas. Repetiam
refrões entoados por um dos negros da roda e realizavam uma verdadeira dança. Esses mesmos
movimentos, essa mesma plasticidade e ritmos permitiam ao praticantes a autodefesa e aos
fujões se livrarem dos seus perseguidores por meio da luta: era a capoeira.
A prática da capoeira foi proibida no Brasil até a década de 30, quando Getúlio Vargas afirmou
que a capoeira era “o único esporte verdadeiramente nacional”.
        FIGURA 16  |   Capoeira ou a dança de guerra – Rugendas,
1835
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: Pintura do artista Rugendas, “Capoeira ou dança de guerra”.
Na imagem, há 12 pessoas negras, todas descalças e a maioria está de pé,
formando um semi-círculo. No fundo da imagem, há uma sequência de casas de
paredes claras e telhado de telhas marrom, indicando ser casa de pessoas ricas.
As pessoas negras estão reunidas no fundo dessas casas, em área aberta, há
um coqueiro e pode-se ver as montanhas ao fundo. À esquerda há um homem
de vestimenta azul, leva uma faca amarrada à cintura e bate palmas, ao seu lado
há outro home negro, usa calça azul, camisa verde e usa um chapéu bege, está
com ambos os braços levantados. No centro da figura, dois homens lutam
capoeira: um deles veste calça vermelha e camisa amarela, está de lado as
pernas abertas, com a perna esquerda à frente, o corpo está um pouco curvado
para frente, os punhos fechados e os braços à frente do corpo, como em
posição de luta. O outro lutador veste apenas calça amarela e um cinto vermelho,
está de frente, a perna direita flexionada e a perna esquerda ereta, o braço
esquerdo está flexionado de maneira que a mão está em frente ao peito; o braço
direito está também flexionado ao lado do corpo, ambos os punhos fechados
também em posição de luta, olhando seu oponente.  Do lado direito da imagem,
há um homem negro, vestindo calça verde-clara, está com braço erguido e
segura uma vara de bambu, ao seu lado há três mulheres de pé assistindo, uma
delas está com uma cesta de abacaxis apoiada na cabeça e leva um charuto à
boca. Ainda do lado direito, há um homem negro sentado em uma pedra, entre
as pernas ele segura um tambor, as palmas das mãos estão em frente ao tambor,
indicando que ele está tocando. No segundo plano da imagem, há uma mulher
negra, usando saia comprida azul e blusa clara, aberta nos seios, deixando-os à
mostra, está em frente a uma panela sobre uma fogueira no chão, ela está
ajoelhada e oferece um prato a um homem negro que está de pé, tem uma
aparência de mais idade. Ele agradece à mulher, com o chapéu na mão e o braço
flexionado. Fim da descrição. 
Outra grande contribuição africana à cultura nacional, trazida pelas mãos das mulheres negras
que eram destinadas aos trabalhos domésticos e ao cultivo das hortas, está na culinária. Pratos
como o vatapá, acarajé, caruru, mungunzá, sarapatel, baba de moça, cocada, bala de coco e
muitos outros foram criados entre os escravos e ganharam o gosto popular. O uso de ervas para
a cura dos males, do corpo após a chibata, para os chás que acalmam e o bebê ou para os
problemas femininos também foi herança da sabedoria africana. Porém, sem dúvidas, o mais
famoso dos preparos culinários é a feijoada, que hoje é uma das maiores referências da cozinha
nacional.
Alguns autores defendem que as origens da feijoada estão nas senzalas, onde as escravas
juntavam ao feijão preto as partes do porco que não eram consumidas pelo senhor, como a
orelha e o rabo.
Cabe acrescentar, ainda, a influência africana na língua portuguesa falada no Brasil. Os africanos
espalharam a língua dos portugueses, misturadas a termose expressões de suas línguas de
origem e aos idiomas dos indígenas por onde passaram. Daí os inúmeros vocábulos de origem
bantu(quiabo, farofa, quitanda, moleque, caxumba, dengo, jiló...), das línguas como o Quicongo,
o Umbundo e basicamente o Quimbundo, que acabaram por superar a ascendência de línguas
sudanesas, como o Nagô ou mesmo o português de Portugal (como exemplo, falamos: “cochilar”
e não “dormitar”, “caçula” no lugar de “benjamim” para designar o filho mais novo). Segundo
Lopes (2011, p. 196ss), os vocábulos nagôs ficaram restritos às praticas e tradições ligadas aos
orixás, bem como a música, a descrição dos trajes e a culinária afro-baiana.
Saiba Mais
Para conhecer mais sobre a contribuição linguística dos povos africanos
à língua falada noBrasil, pesquise a obra de Nei Lopes!
        FIGURA 17  |   Candomblé (representação do Orixá
Omulu/ Obaluaê)
Fonte: geledes.org
#ParaTodosVerem: Foto de uma pessoa negra representando o Orixá
Omulu/Obaluaê. Usa uma vestimenta feita inteiramente de palha: saia comprida
de palha, adereços do tipo bracelete também de palha na parte superior dos
braços. Na cabeça, usa uma espécie de chapéu feito com palha e contas de
búzios, a palha do adereço da cabeça se estende até os joelhos, tampando o
rosto da pessoa que a veste. Nas mãos, segura um outro adereço de palha
parecido com uma corda. O corpo está em uma posição um pouco arqueada para
frente e a cabeça virada para o lado direito. Fim da descrição.
No campo religioso, as culturas africanas procuraram recriar não só suas visões de mundo e
sociedade, mas também resgatar suas tradições e manter os cultos aos seus orixás e
antepassados. O Candomblé foi o espaço encontrado para, sob a liderança feminina das
yalorixás, manter vivos e atualizados seus valores religiosos.
No Candomblé resgatado e vivenciado no Brasil não faltaram os elementos característicos e
fundamentais da religiosidade africana: o lugar ocupado pela natureza, a interação entre a vida
individual e o grupo social, o papel dos antepassados. A vivência nos candomblés propiciou aos
escravos a construção de laços destruídos pelo tráfico, homens e mulheres de nações
diferentes, arrancados de suas famílias e terras agora eram filhos e filhas de um mesmo orixá sob
a proteção de uma única Mãe, a zeladora do Santo – a Yalorixá. Ali era possível ouvir seus cantos
(transmitidos oralmente e em yorubá!, recordar e transmitir seus mitos e lendas, tocar seus
tambores, comer suas comidas e celebrar o fato de ainda estarem vivos, à despeito de todos os
sofrimentos. Os espaços sagrados foram locais privilegiados para a manutenção e recriação de
muitas das tradições culturais e religiosas de origem africanas no Brasil.
Às tradições religiosas yorubás foram reunidos ora elementos do catolicismo, ora elementos
indígenas dando origem a uma religiosidade popular carregada de elementos sincréticos. Novas
religiões, com uma mesma matriz africana, se desenvolveram: a Umbanda, o Xangô de Recife, o
Tambor de Mina e em todas elas foram preservadas a riqueza e diversidade cultural africanas.
A Questão do Racismo
A Constituição de 1988 afirma que todos as pessoas nascem iguais e são portadoras de direitos
inerentes a condição de ser humano. Esta lei vale para todos e é proibido discriminar as pessoas,
seja qual for a razão.
O direito da igualdade de tratamento é acompanhada pelo direito a diferença. Este direito é a
possibilidade de ser e viver de acordo com sua cultura e suas características pessoais sem sofrer
nenhum tipo de discriminação por este motivo.
O direito a igualdade e o direito à diferença garantem a existência de uma sociedade plural, que
respeita todas as tradições culturais e escolhas pessoais, para que todos sejam tratados com
igualdade.
Racismo é tratar alguém de forma diferente e inferior por causa de cor, raça, etnia, religião ou
procedência nacional, segundo o artigo 1 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define os
crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, que foi alterado pela Lei 9459 de 13 de
maio de 1997. A legislação brasileira também prevê como crime a discriminação por práticas
religiosas, quaisquer que sejam.
A formação de uma sociedade plural é um processo de construção e o papel de todos nos é
ajudar a erradicar estas práticas, por isso: DENUNCIE!
        TABELA 2  |   Mecanismos legais que podem ser utilizados em caso de Racismo
Código Penal -
Decreto Lei nº 2.848
de 07 de Dezembro
de 1940
Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a
dignidade ou o decoro:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou
multa.
§ 3º. Se a injúria consiste na utilização de
elementos referentes a raça, cor, etnia,
religião, origem ou a condição de pessoa
idosa ou portadora de deficiência: (Redação
dada pela Lei nº 10.741, de 2003
Pena - reclusão de um a três anos e multa.
Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997
Lei nº 7716 de 5 de
janeiro de 1989
Define os crimes resultantes de preconceito
de raça ou de cor.
Convenção
internacional sobre a
eliminação de todas
as formas de
discriminação racial
Ratificada pelo Decreto 65810 de 1969.
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
  Livros  
Porque a Diversidade Faz Bem
AMARAL, R. Porque a diversidade faz bem. Os Urbanitas – Revista de Antropologia Urbana. Ano
5, v. 5, n. 7, 2008.
Coleção História Geral da África
7 Volumes.
 Filmes 
A Negação do Brasil
Direção: Joel Zito Araújo | Ano de Lançamento: 2000.
3 / 4
📚 Material Complementar
O documentário analisa o papel atribuído aos atores negros, que sempre representam
personagens mais estereotipados e negativos, na TV.
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ASSISTA
Quanto Vale ou é Por Quilo?
Direção: Sergio Bianchi | Ano de Lançamento: 2005.
O filme questiona não apenas o racismo, mas também as maneiras ineficazes de combatê-lo hoje
em dia.
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ASSISTA
 Leitura 
Anotações Sobre o Universal e a Diversidade
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
https://youtu.be/EvNPhyS863o
https://youtu.be/xvZyZfaR-MI
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/qdpcZ4LyvRBC8ycLhGYgKjg/?format=pdf&lang=pt
Antropologia e Direitos Humanos: Alteridade e Ética no
Movimento de Expansão dos Direitos Fundamentais
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
Gênese, Evolução e Universalidade dos Direitos Humanos
frente à Diversidade de Culturas
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
Superando o Racismo
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
https://goo.gl/N51zqn
https://goo.gl/TvnBxN
http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/racismo_escola.pdf
ALBUQUERQUE, W. R. FRAGA FILHO, W. UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL. Salvador: Centro
de Estudos Afro Orientais, 2007. Disponível em:
.
AVÉLALLEMANT, R. Viagens pelo norte do Brasil no ano de 1859. Tradução de Eduardo de Lima
Castro. Rio de Janeiro: INL/Ministério da Educação e Cultura, 1961.
BARROS, Z. dos S. Educação e relações étnico-raciais. Salvador: Centro de Estudos Afro
Orientais, 2011. Disponível em: .
MONTEIRO, J. M. NEGROS DA TERRA  Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São
Paulo: Cia das Letras, 1999.
NASCIMENTO, E. L. (org.). Cultura em movimento. Matrizes africanas e ativismo negro no Brasil.
São Paulo: Selo Negro, 2008.
LOPES, N. Bantos, Malês e identidade negra. 3. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.
HOLANDA, S. B. História Geral da Civilização Brasileira  A época colonial. Tomo I  Volume 2
Administração, economia, sociedade. 10. Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
REIS, J. J. Rebelião Escrava no Brasil – A história do Levante dos Malêsem 1835. 3. Edição
revista e ampliada. São Paulo: Cia das Letras, 2003.
4 / 4
☕ Referências
________. A morte é uma festa. Ritos fúnebres e revolta popular no Brasil noséculo XIX. São Paulo:
Cia das Letras, 1991.
________; GOMES, F. dos S. (org.). Liberdade por um fio. História dos Quilombos no Brasil. São
Paulo: Cia das Letras, 1996.
VIEIRA, A. Essencial Padre Antônio Vieira.Organização e Introdução de Alfredo Bosi. São Paulo:
Penguin Classics Companhia das Letras, 2011.
Conteudista: Prof.ª M.ª Carla Caprara Parisi
Revisão Textual: Prof.ª M.ª Magnólia Gonçalves Mangolini
Objetivos da Unidade:
Abordar o tema “A Questão Ambiental e a Sustentabilidade”;
Tratar de aspectos relacionados a preservação do meio ambiente e como o cidadão e
as empresas podem colaborar para esta preservação.
👍 Contextualização
🌎 Material Teórico
📚 Material Complementar
☕ Referências
Unidade 3
A Questão Ambiental 
e a Sustentabilidade
Conteudista: Prof.ª Dr.ª Eliane Ganev 
Revisão Textual: Prof.ª M.ª Magnólia Gonçalves Mangolini
Objetivo da Unidade:
Se tem disposição de ampliar sua qualificação para lidar adequadamente com
situações desse tipo no ambiente profissional, encontrará nesta Unidade conteúdos
básicos relacionados aos aspectos sócio-culturais, às políticas públicas e à
prevenção do uso, abuso e dependência de drogas (e outras formas de
dependência). 
✋ Contextualização
🚭 Material Teórico
📚 Material Complementar
☕ Referências
Unidade 4:
Prevenção ao Uso Indevido 
de Drogas e Álcool
Videoaula
Veja, no vídeo a seguir, os assuntos abordados nesta unidade. Atente-se, pois, ao longo dele,
você terá algumas questões reflexivas. 
Acreditamos que, de algum modo, você já refletiu sobre o grave problema das dependências de
drogas e de certos hábitos no mundo atual. Sua reflexão pode ter sido provocada por um caso
familiar, por algum hábito que você tenha, ligado ao uso de uma substância psicoativa, ou pelo
que você lê, ouve e vê diariamente na mídia e nas redes sociais.
Agora, nós o(a) convidamos a se perguntar: como este problema incide no campo de atuação
profissional ligado ao curso que você está fazendo? Quais conhecimentos teóricos e técnicos
você consideraria importantes em sua própria formação, para qualificar sua atuação profissional
1 / 4
✋ Contextualização
 Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo online para que
você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do
conteúdo.
de modo a lhe conferir segurança para tratar adequadamente eventuais situações em que a
dependência de drogas venha a afetar seu cotidiano de trabalho?
Na presente Unidade, tentaremos oferecer elementos que consideramos fundamentais para
você formar uma base inicial de conhecimentos para além do senso comum — que neste
assunto parece especialmente carregado de falsas crenças/opiniões, preconceitos, estereótipos
e, consequentemente, ações inadequadas e não raro ainda mais danosas para os dependentes
de drogas e para a sociedade como um todo.
Veja em detalhes os conteúdos de cada um dos três tópicos desta Unidade:
Aspectos socioculturais dos usos de álcool e outras drogas: onde discutimos este
conceito fundamental; procuramos resgatar a origem do fenômeno do uso de drogas
e também do problema da dependência destas substâncias, contextualizando-os ao
longo da própria história da humanidade; discutimos as implicações destes
fenômenos relacionadas aos modos de vida e de produção social da vida,
acrescentando informações importantes sobre os critérios diagnósticos que
atualmente permitem caracterizar a dependência de drogas como um problema de
saúde, que demanda tratamento e estratégias de reinserção social dos indivíduos
que chegaram a desenvolvê-la;
Políticas Públicas sobre álcool e outras drogas no Brasil: onde apresentamos os
paradigmas filosóficos, teóricos e políticos que nortearam a implantação das políticas
sobre drogas no país; discutimos a magnitude de algumas dependências de
substâncias legais e ilegais em nossa sociedade, e também algumas das principais
abordagens e propostas vigentes e em discussão atualmente, apreciando
criticamente seus avanços e desafios; e indicamos os principais marcos legais que
hoje norteiam as políticas públicas nesse campo;
Prevenção – novas formas de pensar e enfrentar o problema: onde procuramos
fundamentar, teórica e tecnicamente, o conceito de prevenção, tal como está
atualmente configurado na legislação e nos serviços de atenção a usuários de
drogas, existentes hoje em nosso país. 
Então, você concorda que se trata de informações elementares, mas essenciais a qualquer área
profissional (e também para a sua formação pessoal)?
Pois é, esperamos ter motivado você o suficiente para virar esta página e debruçar-se sobre a
Unidade, apropriando-se criticamente do que lhe oferecemos, com base em sua bagagem prévia
de conhecimentos e vivências, mas também nos demais elementos da postura investigativa:
método, rigor, abertura, criatividade, aprofundamento e atualização permanentes. 
Aspectos Socioculturais dos Usos de Álcool e outras
Drogas
Neste estudo, quando falarmos “drogas” estaremos nos referindo a substâncias psicoativas –
aquelas que afetam as dimensões da nossa consciência, emoções, comportamento motor,
pensamentos, percepções, memória, inteligências, juízos e insights. Em síntese, afetam o
funcionamento do nosso Sistema Nervoso Central ou SNC. E também de substâncias
psicotrópicas: aquelas com potencial de gerar dependência, por parte dos respectivos usuários.
Ambos os conceitos parecem nos ajudar a esclarecer melhor nossas dúvidas, por exemplo: 
2 / 4
🚭 Material Teórico
Uma vez que substâncias psicoativas afetam o funcionamento do SNC, isto significa
que afetam nosso ser em sua totalidade bio-psico-social-espiritual; e como não
vivemos isolados, mas em sociedade, os modos como usamos substâncias
psicoativas ou desenvolvemos certos hábitos pessoais, podem afetar diretamente
(às vezes, negativamente) a nossa rede de relações, vínculos e pertencimentos
sociais, assim como nossos projetos de vida; 
Além disso, estes conceitos nos propiciam compreender que diferentes substâncias
psicoativas são potencialmente psicotrópicas em diferentes graus: é sabido que o
processo pelo qual um indivíduo se torna dependente de crack é, em geral, muito
mais rápido do que o processo de instalação da dependência de álcool; 
Ainda, a partir destes conceitos, podemos pensar no problema da dependência não
só em relação a substâncias, mas em termos de hábitos (com efeitos) psicoativos
e/ou psicotrópicos; por exemplo, no caso das dependências de Internet, jogo,
compras, sexo ou comida. Os quais não são propriamente substâncias, mas incluem
objetos, produtos e práticas específicas, capazes de produzir, junto ao SNC dos
praticantes, efeitos bioquímicos similares àqueles dados pelas substâncias
psicoativas e/ou psicotrópicas (levando eventualmente aos mesmos
desdobramentos psíquicos, sociais, comportamentais e espirituais próprios daquelas
dependências); 
Saiba Mais
O termo substância é utilizado no campo da química, para designar
produtos de origem vegetal ou mineral, e/ou sintéticos, que possuem
princípios ativos dotados de propriedades específicas em relação a
como interagem com o corpo humano. Distintos campos do saber se
ocupam do estudo dos princípios ativos das substâncias existentes na
natureza, assim como tentam reproduzi-los sinteticamente (em
laboratório), visando a diferentes finalidades; eis outra dificuldade, pois,
junto a cada finalidade socialmente legítima (cura de doenças, produção
de prazeres sensoriais, desenvolvimento tecnológico) amiúde está
imbricada, como finalidade genérica, a obtenção de lucro mediante
acumulação privada de capital.
Por fim, podemos pensar que, como nem toda dependência é imediata ou
visivelmente danosa ao indivíduo, aos seus círculos sociais e/ou à sociedade, nem
toda dependência é socialmente reconhecida como tal, seja pela população, pelos
seus protagonistas ou usuários, pelos governos e pelos cientistas de distintos
Então, até aqui, apenas para melhor conceituar o termo “droga” e melhor entender o fenômeno
da “dependência de drogas”, fomos levados a perceber que se trata de conceitos e fenômenos
que vão muito além do problema da eventual autodestruição individual pelo uso abusivo de
determinadas substâncias,ou pela prática abusiva de determinados hábitos. Tais conceitos e
fenômenos nos obrigam considerar um leque imensamente amplo de hábitos e costumes,
inscritos em certo modo de vida social historicamente produzido, induzido e reproduzido sem
outro critério efetivo a não ser o desenvolvimento da acumulação privada de capital.
Em outras palavras, nosso esforço de estudar conceitos e fenômenos para além do senso
comum, nos levou a contextualizá-los, a observá-los dentro de uma totalidade maior, na qual
estabelecem relações e dinâmicas com outros fenômenos, cuja compreensão exige a
consideração de outros conceitos. Ao contextualizar o fenômeno da dependência de drogas ou
hábitos, vemos que ele representa mais do que um (real) problema de saúde pública que
demanda a elaboração e implantação de políticas públicas (como veremos adiante): trata-se de
um fenômeno com raízes, origens e implicações culturais, econômicas e políticas, cuja análise é
imprescindível para superarmos as visões e soluções estreitas (que não consideram a totalidade
campos do saber. Em outras palavras, os modos como determinada sociedade
concebe e concretiza os usos de tal ou qual substância (ou hábitos relacionados a
objetos ou práticas sociais), afetam diretamente as possibilidades de
reconhecimento público de tais usos como dependências – você diria, por exemplo,
que vivemos em sociedades dependentes de açúcar? No entanto, adicionam-se
açúcares (sob diferentes formas e nomes) aos mais diversos produtos destinados ao
consumo humano (higiene e limpeza, perfumaria, alimentos industrializados em geral
– inclusive salgados); paralelamente, a indústria e o mercado de medicamentos e
tratamentos para diabetes estão se preparando, neste século XXI, para altas taxas
de crescimento e lucro com a explosão de diabetes já prevista para ocorrer, a curto
prazo, em território chinês — cuja população vem rapidamente abandonando seus
hábitos culturais seculares, fundados no consumo de produtos naturais, auto-
sustentáveis e saudáveis, em favor da adesão ao mundo açucarado do fa(s)t-food.
Além disso, a eliminação completa e brusca da ingestão de açúcares pode
eventualmente produzir, num indivíduo, sintomas físicos similares aos da chamada
síndrome de abstinência, típica dos quadros de dependência de drogas. No
entanto, mesmo tendo crescido o reconhecimento público quanto aos efeitos
danosos da ingestão excessiva de açúcares, via de regra, não há menção ou trato
deste fenômeno como dependência de açúcar.
da vida social, portanto, são incapazes de apreender as perspectivas e tendências de evolução
do mesmo fenômeno, e de resto nada solucionam). 
Desse modo, vamos agora aprofundar nosso exercício de contextualização, buscando o
fenômeno em seu nascedouro. Veremos que o uso de substâncias psicoativas e/ou
psicotrópicas remonta à própria constituição do gênero humano! 
Até onde os antropólogos, arqueólogos, historiadores e sociólogos conseguiram recuar no
tempo humano, ou seja, nos processos de constituição do ser social, tal como ocorreram nas
várias regiões do planeta, sempre se depararam – já – com diferentes formas de uso de
substâncias psicoativas e/ou psicotrópicas.
Nunca existiram sociedades sem drogas, mas sim sociedades
sem dependência de drogas.
Saiba Mais
Ser Social: conceito do campo das ciências sociais. Diz respeito à
própria formação do gênero humano, através do trabalho enquanto
atividade criadora que provoca, a um só tempo, a objetivação
(materialização de novos de objetos e relações sociais), e a subjetivação
(incorporação de novas habilidades e capacidades humanas), fazendo
emergir um ser distinto dos seres naturais inorgânicos ou orgânicos: o
Nas sociedades tribais, os chamados usos primitivos de tais substâncias estiveram, contudo,
integrados à vida social, configurados dentro de rituais significativos para seus protagonistas
diretos e para as tribos ou comunidades como um todo. Tais usos não levavam à autodestruição
dos usuários, nem à desestruturação de seus pertencimentos e vínculos, nem a consequências
consideradas indesejáveis pelas respectivas sociedades. Isto é, os usos ancestrais estiveram
desvinculados da produção de danos, típica do atual fenômeno da dependência de drogas.
Podemos concluir então, que, se nunca tivemos sociedades sem drogas, tivemos sim sociedades
livres do problema das dependências em geral.
Surge então outra pergunta fundamental: quando e como o fenômeno dos usos de psicoativos
integrados à vida social se desenvolveu e se transformou no fenômeno dos usos desintegrativos
da vida social, típicos do nosso tempo: viciosos, autodestrutivos, danosos de várias maneiras à
coletividade humana?
Localizamos esta transformação no contexto dos desenvolvimentos dos meios de transporte/
comunicação do mercantilismo pré-capitalista, visando à ampliação do comércio entre regiões
longínquas, sobretudo por meio da navegação, que propiciou as “descobertas” e a colonização
ser social. De fato, ao buscar coletivamente criar seus meios de
subsistência (e posteriormente de realização), os sujeitos prefiguram
idealmente a finalidade do que estão fazendo, as condições objetivas
postas na realidade e as que consideram necessárias (ainda não
existentes); e ainda, precisam transmitir a outrem suas representações
mentais, por meio de sistemas de comunicação envolvendo distintas
linguagens. Assim, o ser social é “dotado de uma complexidade de novo
tipo e exponencialmente maior que a verificável na natureza” – para
maior aprofundamento, ver Netto e Braz (2006, p. 3043. 
de territórios (lugares e riquezas naturais, povos e riquezas culturais) até então inacessíveis.
Resta observar os muitos protagonistas desta História, para verificar o papel ou lugar (de poder)
que cada qual teve e tem na produção (e reprodução) do fenômeno das dependências de
drogas.
De um lado estavam as sociedades tribais, entregues a seu modo de vida baseado num
comunismo primitivo, no qual as necessidades básicas de todos eram providas, apesar da
escassez predominante de bens de subsistência. Estratégias fundadas no bem comum e no
usufruto coletivo dos recursos naturais e das criações, artefatos, processos e técnicas
inventados/descobertos e desenvolvidos, permitiam um estilo de vida que privilegiava a
celebração dos ciclos naturais e vitais. Nele, todas as etapas da vida humana – nascimento,
infância, puberdade, juventude, fase adulta, maturidade e morte – recebiam os mais altos
investimentos coletivos. É conhecida a diversidade destes povos nos continentes terrestres, no
que se refere, por exemplo, ao grau de desenvolvimento técnico e cultural, ao acúmulo de
conhecimentos empíricos e suas aplicações à vida social. Um aspecto comum, dentro do nosso
foco de estudos, era dado pelos usos (integrados, como dissemos) de substâncias psicoativas
(p. ex.: folhas de coca na América Latina, tabaco nas Américas).
De outro lado, os “descobridores” eram basicamente europeus comerciantes, exploradores,
piratas e saqueadores, a serviço ou não das respectivas monarquias (posteriormente repúblicas).
Marx descreveu o processo de acumulação primitiva do capital, feita à base da força bruta das
armas, da colonização seguida de escravização (local e “importada”), do saque das riquezas
naturais das colônias e da destruição das antigas sociedades locais (também pela propagação de
pestes e doenças que já grassavam no nascente capitalismo europeu, lá erguido igualmente com
sangue, rupturas, expropriações, tortura e execuções sumárias).
Livros
O Capital
No bojo destes colonialismos, os navegadores e suas comitivas conheceram substâncias
psicoativas e seus usos locais, experimentaram-nas e sentiram seus efeitos (de forma já
descontextualizada, pois vivenciada a partir de sua própria cultura, visão de mundo e finalidades
pessoais e políticas); atribuíram a estas substâncias supostas propriedades curativas para seus
próprios males e doenças; estes, por sua vez, eram já produtos de outro fenômeno:a pobreza,
advinda não mais da escassez e do frio europeus em si mesmos, mas também e cada vez mais
como um produto da exploração e expropriação da força de trabalho assalariada.
Ao mesmo tempo, os novos cientistas do Iluminismo dedicaram-se ao estudo daquelas
substâncias, descobrindo e isolando seus princípios ativos, e manipulando-os em laboratório
(posteriormente alterando os teores e concentrações de cada princípio ativo em novos
Para aprofundar conhecimentos sobre o surgimento do capitalismo, leia
o tópico sobre Acumulação Primitiva, na principal obra de Karl Marx.
MARX, K. O Capital, Volume I. 1ª ed., 1867.
História da Riqueza do Homem do Feudalismo ao Século XXI
História da Riqueza dos EUA Nós, o Povo)
Para aprofundar conhecimentos sobre o surgimento do capitalismo, leia
o tópico sobre Acumulação Primitiva, na principal obra de Karl Marx. Ou,
se preferir uma abordagem mais literária a científica, ver as obras de Leo
Hubermman.
HUBERMMAN, L. História da Riqueza do Homem do Feudalismo ao Século
XXI. Editora: LTC; 22ª ed., 1986.
________. História da Riqueza dos EUA Nós, o Povo). Editora: Genérico. 3ª
ed., 1983.
produtos). Isto, com o intuito de não mais depender apenas da natureza para a sua produção em
escala, voltada ao lucro a ser obtido com o comércio de “miraculosos” remédios para as mais
variadas doenças, como também produtos requintados para o deleite das aristocracias europeias.
Os formadores de opinião da época – viajantes, comerciantes, médicos, cientistas – tratavam de
alardear os fantásticos efeitos das novas drogas, ampliando o raio do comércio e lucros das
novas mercadorias, mas assim ampliando também o espectro dos seus usos, agora
recontextualizados e ressignificados.
Desse modo, os antigos usos integrados à vida social foram literalmente transplantados e afinal
transformados para usos em escala, sustentados com propaganda –necessariamente enganosa,
porquanto ainda ignorante acerca da totalidade dos efeitos de cada substância, mas, sobretudo,
absolutamente ignorante acerca das consequências das novas formas de uso: disseminado, em
massa, utilitário, continuado e virtualmente ilimitado.
Saiba Mais
Movimento filosófico do século XVIII, sintonizado com o
desenvolvimento capitalista e caracterizado pela confiança no
progresso e na razão, em busca de superação da visão mágica e divina
do mundo, em favor do nascimento e desenvolvimento das ciências e do
método científico para a explicação dos fenômenos do mundo e do
cosmo.
Tais novas formas de uso passaram a apresentar efeitos e consequências adversos e
indesejados também em escala: adoecimentos físicos e psíquicos vários, problemas de
comportamento, danos ao indivíduo e ao seu círculo de relações, problemas laborais
(absenteísmos, acidentes, queda da produtividade) e danos ao (neo-sagrado) patrimônio.
Em decorrência, as sociedades ocidentais, até então levadas a desejar ardentemente o consumo
de tais iguarias e medicamentos supostamente eficazes, passaram a assistir ao aparecimento de
proibições e sanções associadas à produção, comércio e uso de determinadas substâncias,
enquanto outros psicoativos/psicotrópicos receberam as bênçãos da legalidade, sob critérios
sempre hegemonicamente comerciais. Desde então, ocasionalmente uma substância até então
aprovada pela cultura, pela ciência e pela lei, passa ao campo da ilegalidade e posteriormente é
reabilitada nos campos social, médico e/ou jurídico. 
Vamos a alguns exemplos. As folhas de coca eram mascadas pelos povos habitantes dos Andes,
na América Latina, há 1.500 anos. Seu uso era hierarquizado e visava (já) aumentar a
produtividade do trabalho, em sociedades de um tipo distinto de outras então existentes no
continente, visto que apresentavam avanços notáveis nos campos da agricultura e da produção
de conhecimentos (matemática, astronomia). No século XVII ocorre o isolamento do alcaloide
cocaína nos Estados Unidos, e suas supostas “virtudes” são exaltadas por cientistas e artistas.
Esta passa a ser prescrita como medicamento, adicionada a vinhos e (a partir de 1886 à Coca-
Cola (em cuja fórmula, mais tarde, foi substituída por cafeína); já no século XIX apareceram os
relatos de dependência e de mortes por overdose ou circunstâncias associadas ao uso abusivo,
levando ao declínio da sua aprovação social e jurídica, até chegar às legislações proibitivas e
repressivas. O contexto proibicionista levou antigos e novos interessados à organização dos
negócios ilegais (produção, tráfico, varejo clandestino), como também levou à criminalização e
desqualificação social dos usuários, que passaram a ser vistos e tratados como marginais e
depois bandidos. Nos anos 1970, todavia, a cocaína recuperou status como “droga de elite” e nos
anos 1990 chegou ao mercado a sua versão “popular e barata”, o crack, com tal potencial
destrutivo que os donos do negócio chegaram a proibir seu uso nos presídios, por provocar
muitas baixas no próprio corpo de trabalhadores do tráfico.
Outro exemplo deste movimento cíclico de aprovação/reprovação pública, cultural e legal de uma
mesma substância pode ser visualizado na história do tabaco. Também originário das Américas,
teve seu nome associado à Ilha de Tobago, descoberta por Colombo em 1492 e cuja população
nativa o utilizava ritualmente. Foi levado à Europa, considerado pelos colonizadores como “santo
remédio” para mais de 60 doenças e passou a ser fumado sob a forma de rolos de folhas secas,
cachimbos, piteiras, aspirado como rapé e, já no século XIX, tragado como cigarro de papel (com
adição posterior de centenas, depois milhares de outras substâncias químicas). Ainda em 1691
fez-se a descoberta de que duas gotas de nicotina pura provocam a morte humana. O tabaco
passou então a ser alvo de crescentes proibições, seu uso chegou a ser penalizado com
castigos físicos (amputações, torturas, castrações e decapitações). Todavia, no século XX, o
american way of life levou à “ressurreição” do tabaco (disseminada principalmente pelo cinema
hollywodiano) e ao auge da indústria tabagista, com a decorrente explosão global de doenças
cardiorrespiratórias associadas a altos índices de mortalidade e a gastos substanciais dos
sistemas de saúde. No mesmo século, pesquisas acadêmicas associaram este adoecimento
massivo ao uso continuado e dependente dos cigarros de papel. Desse modo, ainda no final do
século XX o tabaco, sua publicidade e seus usos sofreram nova e vigorosa onda de restrições,
proibições e sanções, com forte declínio da aceitação social.
E há o exemplo da Lei Seca que vigorou nos Estados Unidos, no início do século XX, proibindo a
produção e comercialização de bebidas alcoólicas em face da generalização do alcoolismo num
período de grave crise econômica. Derivou daí a modalidade mais “moderna” de crime organizado,
que desafia o Estado de Direito impondo regras próprias para garantir, pela violência, a
funcionalidade e rentabilidade do mercado ilícito; além da prática de adulterar produtos (além do
seu manuseio sem qualquer critério de higiene e segurança) com a finalidade de barateamento
de custos, com desdobramentos trágicos sobre a saúde e a própria vida dos usuários finais.
Verificamos então que, num plano macroeconômico e social, os ciclos de aceitação/repressão
das substâncias psicoativas em contexto capitalista produzem sempre, de um lado, o tráfico, com
a consequente demanda por incremento da produção e comércio (legal e ilegal) de armas, e por
“mão de obra” para movimentar robustos mercados ilícitos; e, de outro lado, tais ciclos
produziram os mercados de tratamentos das dependências e de enfrentamento de suas
consequências sociais, envolvendo campos diversos das ciências e serviços de saúde,
segurança, assistência, direito, comunicação etc. Fecha-se assim o ciclo da acumulação de
riquezas do lado minoritário, e da acumulação de problemas e misérias do lado majoritário,
ampliando e agravando as expressões da questão social.
Mas, e com respeito àquelasoutras dependências, não relacionadas a substâncias? Neste
terreno, é preciso ponderar que os desenvolvimentos do capitalismo agravaram um estilo de vida
profundamente contraditório (além de insustentável), fundado no binômio
individualismo/consumismo: ao mesmo tempo em que a publicidade bombardeia supostos
resultados e efeitos inimagináveis de infinitos produtos e serviços (e sucessivas “novas
versões”), a exploração e expropriação sistemáticas da força de trabalho proíbem o acesso a tais
bens e serviços para a maior parte da população mundial; que, no entanto, aspira por respostas e
soluções tão imediatas e mágicas quanto as que são prometidas pela publicidade.
As necessidades jamais atendidas, desde o útero até a morte, e desde as mais imprescindíveis –
como água e alimentos – até as mais sofisticadas – como o desenvolvimento de talentos, a
Saiba Mais
Questão Social: conceito do campo do Serviço Social, utilizado para se
referir à contradição fundamental do capitalismo, pela qual o processo
de produção de riquezas é social (cooperativo e interdependente),
enquanto o processo de apropriação de riquezas é privado (vinculado à
propriedade dos meios de produção). Tal contradição fundamental – e
insuperável dentro do próprio capitalismo – produz, por sua vez,
infinitas expressões ou resultados: pobreza, desigualdade social,
privações materiais e imateriais que geram ainda outras condições de
risco e processos subsequentes de vulnerabilidade e exclusão social.
Para maior aprofundamento, ver Behring e Santos (in CFESS/ABEPSS,
2009. 
satisfação de desejos ou a realização de projetos de vida, agravam uma condição
intrinsecamente humana e prévia a qualquer estilo de vida: a busca de felicidade, de
transcendência, prazer, realização, auto superação, desenvolvimento de potencialidades e de
talentos, pois impõem, para todos quantos são assim privados, a perda de si mesmos como
ponto de partida, a destruição de potenciais, o desvio de trajetórias, a tal ponto que nada (nem
ninguém) pode prover tais satisfações – estas só poderiam resultar de um conjunto de
condições e circunstâncias prévias jamais vivenciadas. É nesse contexto de insatisfações
viscerais, crônicas e agudas (psíquicas e materiais), sequer identificadas precisamente, que a
simples comida, o trabalho, o sexo, jogo, compras, Internet, redes sociais e outras práticas
podem eventualmente funcionar como drogas, levando a situações de dependência tão ou mais
danosas do que as decorrentes do uso abusivo de substâncias psicoativas e/ou psicotrópicas.
Deste tópico, queremos ressaltar que nossos assuntos centrais: as dependências de drogas, ou
de hábitos; as políticas públicas nesse campo e especificamente a prevenção — são temas que
não podem ser corretamente compreendidos e equacionados sem que compreendamos – e
questionemos – a natureza do modelo societário sob o qual vivemos na atualidade. A partir daqui,
vamos ao próximo passo nesse estudo, que consiste em melhor conceituar a própria
dependência de drogas – o que faremos a seguir.
Dependências & Modos de Vida
As referências de que dispomos para discutir o conceito de dependências (de drogas, de
hábitos) vêm quase sempre do campo das ciências da saúde. Nesta área, convencionou-se
entender que, em se tratando de substâncias psicoativas, o processo de instalação da
dependência é um continuum de difícil visualização; mas que, via de regra, inicia com a
experimentação ou uso episódico, que a partir de algum momento, e em função de variáveis
diversas (biótipo, história e circunstâncias atuais da vida pessoal e familiar, facilidade de acesso à
substância ou prática etc.), torna-se uso recreativo ou ocasional, comumente solitário. Daí,
poderá se tornar (ou não, também a depender de variáveis culturais, sociais, legais etc.) uso
social, em geral já coletivo e auto justificado, tendo forte apelo questões de afirmação de
identidade e aceitação pelos grupos de pertencimento. Então, será talvez imperceptível para o
usuário o fato de que seu uso ou prática já se tornou habitual, regular, impregnando seu
cotidiano e, muito sutilmente, tornando-se mais importante em face de interesses e hábitos que
anteriormente tinham mais significado e centralidade na vida pessoal do usuário.
A partir daí, as formas de uso podem ganhar o qualificativo de abusivas, sempre que trazem
consequências adversas ao usuário; aqui já pisamos em areia movediça, pois os usuários
contumazes de substâncias psicoativas e/ou psicotrópicas, tanto lícitas quanto ilícitas, tendem a
pôr o foco nas vantagens do uso, negando ou minimizando eventuais desvantagens,
especialmente quando estas últimas não se mostram explicitamente danosas; por exemplo, um
crescente isolamento social, que poderá ser justificado como opcional ou como exercício da
liberdade individual, mesmo nos casos em que, de fato, já está carregado com sentimentos de
solidão, culpa, vergonha ou prejuízos de outras ordens. Por fim, o uso dependente pode ser
definido como a perda da liberdade de escolha quanto a usar ou não determinada substância (ou
quanto a praticar ou não tal ou qual hábito); por exemplo, quando o usuário insiste em que
apenas deseja usar, mesmo sofrendo consequências extremamente danosas (acidentes, ruptura
de vínculos familiares, perdas profissionais, queda geral da qualidade de vida e da saúde física e
psíquica).
Em razão da complexidade de estabelecer clinicamente as situações de dependência,
instituições de referência tais como a Organização Mundial de Saúde (OMS e a Associação
Médica Americana (AMAM orientam os profissionais da área a adotar um rol de critérios
diagnósticos da dependência de drogas.
Até recentemente, por exemplo, foi travada uma polêmica entre o que se chamava de
dependência química (ou químico-física) e dependência psíquica (ou psicológica), sendo que
cada vertente prescrevia estratégias bem distintas de tratamento; mais tarde, essa dicotomia foi
relativamente superada, reconhecendo-se que ambas as dimensões (física e psíquica) estão
presentes, ativas e interligadas nas situações de dependência de drogas. Além disso, ainda hoje
não há consenso entre os estudiosos de diversas especialidades médicas (clínica geral,
psiquiatria, psicologia) e também de outras áreas (antropologia, sociologia, serviço social) quanto
à dependência de drogas/hábitos constituir ou não uma doença ou transtorno de saúde mental:
algumas teorias sustentam que se trata sempre e apenas de um sintoma de outras doenças ou
transtornos, como depressão ou ansiedade, os quais, se devidamente tratados, levariam a uma
natural superação do uso ou prática abusivo; outras focalizam somente os aspectos éticos
individuais do problema, sustentando que cada indivíduo é rigorosamente livre para, inclusive,
autodestruir-se, se assim entender que deve ou quer proceder. Trata-se de uma discussão
problemática, quando lembramos que uma das características da dependência de drogas é
precisamente a crescente perda dos pressupostos da liberdade para fazer escolhas, não só
relativamente às drogas ou hábitos, mas em todos os assuntos da vida pessoal.
Desse modo, o Código Internacional de Doenças (CID, da OMS e o DSM (espécie de Manual da
Psiquiatria, da AMAM consideram que está caracterizada a dependência de determinada
substância quando ocorrem três ou mais dos fatores a seguir, num período de doze meses da
vida do usuário: 
A mensuração destes critérios é igualmente complexa, pois não se trata de aspectos
matematicamente verificáveis. Seu levantamento depende, em grande parte, das percepções,
crenças e pontos de vista do próprio usuário (os quais estão precisamente afetados pelo uso
Compulsão (fissura, necessidade imperiosa de ingerir a substância, maior do que a
vontade própria, força de vontade ou racionalidade); 
Dificuldade de controlar o consumo (sempre consome mais do que queria); 
Síndrome de abstinência (sintomas físicos de mal-estar pela falta de uso);
Tolerância (precisa consumir cadavez mais para obter os mesmos efeitos);
Abandono de interesses (a vida ficou centrada no uso da substância);
Persistência do uso apesar dos danos (perda da liberdade de escolha);
O tempo pessoal é quase que inteiramente ocupado para obtenção da substância,
viabilização de condições para usá-la, ingestão e recuperação dos efeitos e
consequências do uso (AMAM.
regular e abusivo); como também dos conhecimentos específicos dos profissionais encarregados
do diagnóstico – os quais têm também seus pontos de vista, crenças e eventualmente hábitos
de uso, em relação à mesma ou a outras substâncias, sendo que este conjunto de circunstâncias
acrescenta dificuldades para definir um diagnóstico do modo mais rigoroso e realista possível.
Ainda, trata-se de critérios que apresentam limites difíceis de contornar: por exemplo, sabemos
que o ciclo da dependência alcoólica masculina leva eventualmente muitos anos para se instalar,
enquanto os critérios para o diagnóstico observam apenas os doze meses mais recentes na vida
do usuário – ora, se este for um jovem na casa dos vinte anos de idade, é bem possível que
muitos itens acima não sejam observados; será preciso, então, deixar que os anos passem e os
problemas se agravem para só então diagnosticar e tratar? Além disso, o questionário aplicado
para observar os critérios diagnósticos teria respostas discrepantes e mesmo opostas, se o
respondente fosse o próprio usuário ou um familiar, por exemplo – pois a percepção de quem
convive cotidianamente com um indivíduo dependente de drogas (ou hábitos) costuma ser
substancialmente distinta da percepção dos próprios usuários. Vale lembrar, por fim, que
períodos de abstinência da substância ou hábito de escolha, com meses ou anos de duração,
ocorrem com alguma frequência (inclusive para supostamente provar a si mesmo, à família ou a
empregadores, que não se trata de dependência); assim, a estrita observação dos doze meses
mais recentes pode mostrar-se insuficiente. 
Isto porque sua vida, vagarosa ou repentinamente (no caso, por exemplo, do crack), torna-se
muito diferente, de muitas formas: ocorrem alterações importantes ligadas à identidade pessoal,
aos vínculos e pertencimentos (familiares, profissionais, comunitários e outros), às rotinas.
Emergem características tais como inconstância, imediatismo, egocentrismo, excessiva
sensibilidade em face de contrariedades ou imprevistos, perda do autocontrole, perda ou
substituição de interesses, adesão a práticas ilícitas, apenas para citar alguns exemplos. 
Tais alterações, por sua vez, afetam o cotidiano e os relacionamentos, desde os mais íntimos e
próximos, até os mais indiretos, tal como a pedra jogada num lago, que emite ondas cuja
intensidade volume e velocidade vão diminuindo à medida que ficam mais distantes do seu
centro irradiador. Ainda, é comum que os usuários abusivos e/ou dependentes apresentem
“desejo” de isolamento, confusão mental (torna-se difícil distinguir o real do imaginado, sustentar
simulações, manipulações e mentiras de forma coerente e plausível ao longo do tempo).
Decididamente, nada, na vida dos indivíduos dependentes de drogas ou hábitos, escapa ou fica
fora das dinâmicas da própria dependência. 
Podemos então pensar que as dependências impõem a suas vítimas, um modo de vida
específico, como resposta de fato não desejada à sua ávida busca por um modo de vida mais
significativo que por diferentes razões nunca foi assim reconhecido em seu universo cotidiano.
Chega a ser irônico que, ao buscarem fugir da mesmice; do individualismo; da competição; do
consumismo materialista (ou da privação material); de maus tratos em casa; do desemprego; da
depressão, solidão, violência cotidiana; do tédio, da falta de oportunidades e/ou perspectivas, os
indivíduos dependentes formem hoje um segmento duplamente penalizado, porque, além de não
escapar a tudo isto, encontra-se de fato em piores condições que os demais mortais para fazer
frente a tantas necessárias transformações em nosso modo de vida predominante.
De todo modo, diante do que estudamos até aqui, não há como negar a magnitude do problema
das dependências em nossas sociedades. Assim, no próximo tópico vamos deter nosso olhar no
campo das políticas públicas brasileiras de prevenção e tratamento das dependências de drogas,
no nosso passado recente e nos dias atuais.
Políticas Públicas sobre Álcool e
Outras Drogas no Brasil
Para discutir, mesmo que de forma restrita face ao que vimos até aqui, como a nossa sociedade
atualmente concebe e enfrenta especificamente as dependências de substâncias psicoativas
e/ou psicotrópicas, entendemos ser importante abordar aspectos históricos e epidemiológicos.
Isto é, deveríamos voltar às origens das atuais políticas públicas por um lado, e verificar as
dimensões atuais do consumo de cada uma das principais substâncias que circulam em nossos
territórios e entre a nossa gente. Comecemos pela história, ainda que apenas a história recente.
Velhos & Novos Paradigmas no Campo da Dependência de Drogas
No Brasil, a existência de legislações sobre drogas pode ser observada a partir dos anos 1940,
no contexto de disciplinamento da força de trabalho que caracterizou o primeiro governo de
Getúlio Vargas e já marcada, desse modo, por um viés moralista e repressivo, que foi
essencialmente mantido até os anos finais da ditadura militar implantada em 1964. Na prática,
cabia aos “bêbados inveterados” passar algumas horas ou dias numa cadeia pública, ou ainda, ser
confinados, juntamente com “outros loucos”, nos manicômios e hospitais psiquiátricos de longa
existência no país. 
Mais tarde, nos assim chamados anos de chumbo, a Doutrina de Segurança Nacional (então
hegemônica em todos os campos da vida social) se fez presente na área da segurança pública
interna, à luz dos interesses norte-americanos nas demais Américas; em torno de tais
interesses, o conceito de “guerra às drogas” serviu como pretexto para o ataque a movimentos
sociais explícita ou potencialmente contrários às finalidades do capitalismo .
Desse modo, na mesma época em que o mundo conheceu variados movimentos e
transformações culturais, econômicas e políticas: feminismo, movimento negro, movimento
hippie, rock’n roll, movimentos populistas de libertação nacional, revoluções de caráter socialista
— os generais brasileiros de plantão importaram o espírito repressivo das políticas norte-
americanas, através da antiga Lei 6.368, de 21/10/1976. 
Dentre outras disposições, essa lei impunha penas de privação da liberdade para usuários de
substâncias consideradas ilegais no país. Estes foram então e desde logo postos à margem da
vida social; concebidos como marginais e tratados como tal. Isto porque, dentro do paradigma
repressivo, a dependência de drogas não era (e não é) concebida como um problema de saúde,
mas sim como problema moral cuja solução estaria limitada ao campo das escolhas pessoais:
bastaria “bom senso” e “força de vontade” para “voltar à razão” e, para tal, nada melhor do que o
“castigo”.
Vídeo
Em Nome da Razão
A psiquiatria tradicional, aqui como no mundo, incluía: internações
involuntárias, inoculação maciça e compulsória de medicamentos,
Clique no botão para conferir o vídeo indicado.
ASSISTA
Este paradigma só começou a ser questionado no decorrer dos anos 1980, no contexto da
Reforma Psiquiátrica que correu mundo e chegou ao nosso país, questionando as práticas da
psiquiatria tradicional e trazendo, no campo específico da dependência de drogas, a
disseminação e a incorporação de novos paradigmas: o paradigma médico, advindo em especial
da Europa, a partir dos acúmulos de estudos centralizados junto à OMS e que concebe a
dependência de drogas como doença ou transtorno bio-psico-social. E também o paradigma
relacionado ao respeito aos direitos humanos, o qual inclui a valorização do respeito às
liberdades individuais e ao protagonismo dos usuários na condução das estratégias de superação
das dependências; a adoção desegura o pulso da segunda pessoa, a
segunda segura o pulso da terceira e a terceira segura o pulso da quarta e a
quarta segura o pulso da primeira, formando um elo em círculo. As cores das
peles das pessoas são variadas, há duas com tons mais claros, uma com tom
moreno um pouco mais escuro e uma pessoa com a pele negra. Fim da
descrição.
Mas, afinal, o que é tolerância? Pois bem, o artigo1° da Declaração de Princípios sobre a
Tolerância, aprovada pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO, em 16 de novembro de 1995, descreve seus diferentes
significados:
Como se vê, em que pese a tolerância ser um dever de ordem ética e uma necessidade política e
jurídica, ainda assim as violações aos direitos fundamentais, por meio da violência gerada pela
- UNESCO | Fonte: https://bit.ly/3ON2KNP
“1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das
culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de
exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a
abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e
de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. [...];
1.2 A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes
de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da
pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. [...];
1.3 A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo(inclusive o
pluralismo cultural), da democracia e do Estado de Direito.[...];
1.4 Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a tolerância não
significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer
concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre
escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade.
Significa aceitar o fato de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente
pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-
se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser
tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.”
https://bit.ly/3ON2KNP
discriminação e preconceito são rotineiras, mas devem ser enfrentadas tanto pelo Estado quanto
à sociedade, como forma de garantia da dignidade da pessoa humana.
Os Direitos Humanos e as Minorias
E são justamente esses elementos que constituem a base do IDH  Índice de Desenvolvimento
Humano, que restou desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbud Ul Haq auxiliado pelo
economista indiano Amartya Sen, sendo utilizado, desde 1993, pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD. Atualmente o IDH é composto por três importantes áreas do
desenvolvimento humano, a saber:
- PNUD
Vida longa e saudável (longevidade), medida pela expectativa de vida;
O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de educação
de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos durante a vida
por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para
crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de
escolaridade que uma criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber
“O conceito de desenvolvimento humano nasceu definido como um processo de
ampliação das escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e
oportunidades para serem aquilo que desejam ser. Diferentemente da perspectiva do
crescimento econômico, que vê o bem-estar de uma sociedade apenas pelos
recursos ou pela renda que ela pode gerar, a abordagem de desenvolvimento humano
procura olhar diretamente para as pessoas, suas oportunidades e capacidades.”
Em 2013, “a primeira colocação no ranking mundial permanece com a Noruega (0,955, seguida
por Austrália (0,938 e Estados Unidos (0,937. Os três piores colocados são Moçambique
(0,327, Congo (0,304 e Niger (0,304. Conforme abaixo evidenciado, o Brasil registrou melhora
no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH em relação ao ano anterior, mas manteve-se
ocupando o 85º lugar no ranking mundial. O país apresentou progresso em renda, educação e
saúde nos últimos 20 anos e [...] está entre os 15 países que mais reduziram a diferença, desde
1990, entre o patamar do IDH e o máximo verificado pela ONU.” G1.
       FIGURA 2  |  IDH no Brasil
Fonte: Reprodução
#ParaTodosVerem Imagem de um infográfico. Na parte superior há um quadro
com as seguintes informações acerca do IDH no Brasil: Posição – 84ª, IDH 
se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade
permanecerem os mesmos durante a vida da criança;
O padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB per capita
expressa em poder de paridade de compra (PPP constante, em dólar, tendo 2005
como ano de referência.
0,718, Esperança de vida – 73,5 anos, média de anos de escolaridade – 7,2 anos,
anos de escolaridade esperados – 13,8 anos, renda nacional bruta per capita
(PPC em dólar americano) – 10,162. Abaixo há um gráfico que mostra os dados de
IDH no Brasil por décadas: em 1980  0,549, em 1990  0,6, em 2000  0,665, em
2009  0,708, em 2010  0,715 e em 2011  0,718. À direita há um quadro que
explica o índice de pobreza multidimensional (IPM e porcentagem desses
índices no Brasil em 2011 População em pobreza multidimensional – 5,075
milhões, população vulnerável à pobreza – 7%, população em pobreza grave –
0,2%, população multidimensionalmente pobre sem água potável – 1%, população
pobre sem saneamento melhorado – 1,1% e população abaixo do limiar da
pobreza do rendimento de 1 dólar e 25 centavos por dia – 3,8%. Fim da
descrição. 
O Brasil foi um dos países pioneiros ao adaptar e calcular o IDH para todos os municípios
brasileiros, criando o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM, em 1998. O IDHM
ajusta o IDH para a realidade dos municípios e reflete as especificidades e desafios regionais no
alcance do desenvolvimento humano no Brasil.
O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 é uma plataforma de consulta ao Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM  de 5.565 municípios brasileiros, e a mais de 180
indicadores de população, educação, habitação, saúde, trabalho, renda e vulnerabilidade, com
dados extraídos dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 PNUD
       FIGURA 3  |  IDHM melhores e piores cidades do Brasil
Fonte: Reprodução
#ParaTodosVerem: Imagem de um mapa. À esquerda, na parte superior há o
título IDHM Melhores e piores cidades do Brasil. À direita há um mapa do Brasil
mostrando 10 cidades espalhadas por todas as regiões do país. 5 delas estão
escritas em azul e as outras 5 em vermelho. À esquerda, ao lado do mapa, há um
quadro que explica as cidades mostradas no mapa: Melhores IDHM No Brasil:
São Caetano do Sul (SP 0,862, Região Norte: Palmas (TO 0,788, Região
Nordeste: Fernando de Noronha 0,788, Região centro-oeste: Brasília (DF 0,824,
região sudeste: São Caetano do Sul (SP 0,862 e região sul: Florianópolis (SC
0,847. Abaixo há um quadro que explica os piores IDHM das cidades mostradas
no mapa: Brasil: Melgaço (PA 0,418, região Norte: Melgaço (PA 0,418, região
nordeste: Fernando Falcão (MA 0,443, Região centro-oeste: Japorã (MS 0,526,
Região Sudeste: São João das Missões (MG 0,529 e região Sul: Doutor Ulysses
(PR 0,546. Fim da descrição. 
Por fim vale mencionar que os dados obtidos por meio do dessa forma de monitoramento são de
suma importância para a elaboração de políticas públicas que respeitem os direitos e atendam às
necessidades de todos, façam estes parte da maioria ou não.
Mas, então, o que são minorias? Apesar de inúmeras tentativas, até hoje não foi possível
estabelecer um conceito satisfatório acerca dessa expressão, justamente em razão da
diversidade de situações em que estas se colocam.
Algumas minorias apresentamabordagens de redução de danos e de descriminalização,
despenalização e/ou legalização do uso de drogas (detalhados mais à frente). 
Ou seja, apenas no final do século XX ocorre em nosso país o chamado realinhamento das
políticas sobre drogas, que alcançou uma revisão (parcial e problemática, mas significativa) dos
marcos legais brasileiros sobre o tema: a concepção genérica anti-drogas começou a ser
aplicação de castigos físicos e choques elétricos, e realização de
lobotomias (intervenções cirúrgicas no cérebro), terminando
invariavelmente na destruição da individualidade e no confinamento até
a morte. Mereceu amplo questionamento a partir dos anos 1980, por
suas práticas abusivas, autoritárias, segregacionistas, discriminatórias
e desumanizante. Para uma visão do seu modus operandi, ver, dentre
outros, o documentário intitulado a seguir.
https://youtu.be/cvjyjwI4G9c
substituída por políticas “sobre” drogas; além disso, atualmente não se recomenda mais a
aplicação de penas de prisão para usuários de substâncias ilícitas, mas ainda, penas de prestação
de serviços comunitários e/ou frequência compulsória em programas de tratamento e reinserção
social.
Assim, dos novos paradigmas decorreu o desenvolvimento de novas abordagens em saúde
(geral e mental) e posteriormente em assistência social, passando-se a considerar os indivíduos
dependentes de drogas como demandantes de atenções variadas e específicas: desintoxicação,
técnicas de substituição de substâncias, ressocialização, oferecimento de condições materiais e
imateriais de reinserção social (emprego, moradia, estudo, relações familiares), construção de
redes de apoio e serviços de atenção. 
Assim, nos últimos 15 anos tem havido um esforço multidirecional (junto aos poderes legislativo,
executivo e judiciário nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal) e multidisciplinar
(envolvendo não só as ciências e serviços de saúde, mas também do direito, da educação, da
comunicação social e outros campos), visando a desenvolver e aprimorar os conceitos e as
práticas, como também as próprias políticas e marcos regulatórios sintonizados com as novas
compreensões. 
A ideia de despenalização se refere basicamente ao objetivo de minimizar a intensidade das
penalizações aos usuários (eliminando-se gradativamente as penas de prisão e substituindo-as
por penas alternativas e educativas). Já o conceito de descriminalização é mais amplo, visto que
tende para não considerar como crime o uso de drogas. A ideia de legalização é ainda mais ampla
e problemática, remetendo à possibilidade de tornar legal a produção, o comércio e o uso
indiscriminado de substâncias psicoativas/psicotrópicas, com base em argumentos relacionados a
uma possível redução da criminalidade e da violência urbanas associadas ao tráfico. 
Restam aqui desafios jurídicos e culturais, por exemplo, como tratar o uso abusivo com
rebatimentos criminais, o cometimento de infrações dolosas ou culposas (com ou sem intenção);
ou ainda, o problema da posse de drogas, que tem originado tratos judiciais eventualmente
diferenciados à luz de um recorte classista: indivíduos apanhados com pequenas quantidades de
drogas são enquadrados, ora como “traficantes” que recebem penas de prisão (amiúde, oriundos
de famílias de baixa renda), ora como “usuários” que recebem penas alternativas (inclusos os
advindos de famílias de renda alta ou média). 
Por fim, a ideia de redução de danos (RD se refere a um conjunto de práticas isoladas e
pontuais, que vem sendo adotadas para tentar reduzir ou evitar eventuais resultados negativos
do uso de drogas, sem a necessidade de interromper tal uso. Alguns exemplos destas práticas
incluem: a indicação de não fumar tabaco com “baixos teores” porque isto levaria a fumar um
maior número de cigarros; a criação de serviços comerciais de transporte de pessoas que
ingeriram álcool e não podem dirigir veículos automotivos; o fornecimento de seringas
descartáveis para usuários de drogas injetáveis; a oferta de locais supostamente mais seguros
para concretizar o uso de drogas. O conceito de RD foi comprovadamente bem sucedido no
combate à epidemia de AIDS nos anos 80, reduzindo significativamente a contaminação através
do compartilhamento de seringas, nas situações de uso coletivo de drogas injetáveis. Porém,
quando aplicadas mecanicamente ao problema das dependências de drogas, algumas práticas de
RD acabam resgatando o paradigma moral, embora na direção contrária: enquanto o velho
moralismo conservador apela à força de vontade dos sujeitos para não usar drogas, a ética
emancipatória da RD apela à liberdade de escolha dos sujeitos para usar drogas (ou não); ambas
as vertentes ignoram as dimensões bio-psico-sociais que fazem das dependências, transtornos
de saúde marcados pela perda crescente da liberdade de escolha.
Outro dos muitos questionamentos feitos às práticas de RD é até que ponto, a título de reduzir
danos para alguns indivíduos, não servem efetivamente como mecanismos de facilitação e
estímulo ao uso de drogas pela população em geral.
Vemos então que, juntamente com o reconhecimento da necessidade imperiosa de respeito aos
direitos humanos (dos usuários de drogas, como de resto de toda a população), faz-se urgente
o aprofundamento da discussão e da pesquisa em torno das novas concepções e práticas.
E aqui concluímos nossa breve viagem à história das políticas sobre drogas no Brasil. Antes de
conhecer as principais normas vigentes em nosso país, resta apenas apresentar alguns dados
epidemiológicos que nos ajudarão a dimensionar a realidade do consumo e da incidência de
dependência das substâncias mais utilizadas pela população.
Dados epidemiológicos e um pouco de matemática, vamos direto à apreciação da Tabela 1 a
seguir:
       TABELA 1  |   Percentual de usuários e de dependentes por substância, no Brasil
Substância % Uso na
vida* 
%
Dependência* 
N°
Dependentes** 
Álcool 74,6% 12,3% 24,6 milhões
Tabaco 44% 10,1% 20,2 milhões
Maconha 8,8% 1,2% 2,4 milhões
Saiba Mais
Para um aprofundamento em torno destes novos conceitos e práticas,
ver Laranjeira e outros (2011. 
Para um estudo mais detalhado, ver Garcia, Leal e Abreu (2008 .
Substância
% Uso na
vida* 
%
Dependência* 
N°
Dependentes** 
Cocaína 2,9% NC –
Crack 0,7% NC –
(* CEBRID 2005, p. 33 o uso na vida refere-se a pelo menos uma utilização, em
qualquer fase da vida; (** Cálculo com base na estimativa de 200 milhões de
brasileiros (IBGE, 2013***).
(*** 201 milhões é o número total de habitantes no Brasil, segundo a projeção oficial do
IBGE, divulgada na quinta-feira 29. Pela primeira vez a marca de 200 milhões foi
superada.” Nota publicada na Revista Carta Capital n° 764 de 04/09/2013, p. 24.
Para o campo da saúde pública, mas, principalmente, para as decisões norteadoras das políticas
públicas em saúde e prevenção da dependência de drogas, os números mais impactantes
mostrados acima (encontrados no II Levantamento Domiciliar Nacional realizado pelo Centro
Brasileiro de Informações sobre Drogas – CEBRID, em parceria com a Secretaria Nacional de
Políticas sobre Drogas – SENAD, e projetados para a população brasileira em 2013 se referem,
precisamente, às duas principais substâncias lícitas no Brasil: tabaco e álcool, com uma
prevalência dez vezes maior que a estimativa de dependentes de maconha e ainda maior em
relação ao uso na vida de cocaína e crack. O número bruto de indivíduos alcoolistas mostra-se
particularmente grave se pensarmos que, para cada dependente ativo, em média quatro pessoas
não-alcoolistas sofrem danos associados, impactando os sistemas de saúde, penal e laboral,
dentre outros.
Por fim, cabe pontuar que o estudo pormenorizado do referido Levantamento do CEBRID, assim
como outros (poucos) realizados nos últimos anos, traz informações imprescindíveis, não só para
tratar os já dependentes, mas principalmente para prevenir (evitar) as dependências. Por
exemplo, estudando-se o perfildos usuários de cada substância (idade, renda, traços culturais e
outros), para orientar adequadamente campanhas de educação, definir medidas restritivas de
publicidade ou diretrizes de formação profissional de todos quantos possam vir a estar, de algum
modo, envolvidos nos campos da prevenção, tratamento e/ou reinserção social de indivíduos
dependentes de drogas.
A partir destas rápidas indicações em torno da história das políticas sobre drogas no Brasil e
também das dimensões atuais da prevalência de algumas dependências de drogas em nosso
país, apresentamos a seguir, uma listagem parcial de Leis, Resoluções e outros instrumentos
jurídicos, os quais fornecem um panorama das atuais políticas sobre álcool e outras drogas no
Brasil. Sugerimos que, na medida do seu interesse, você aprofunde seus conhecimentos e
análise crítica. Acreditamos que um bom exercício será refletir sobre os conteúdos de cada
regulamentação tendo como referência os paradigmas, heranças históricas e problemas
contemporâneos discutidos anteriormente. 
Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a usuários de álcool e
outras drogas 2004; 
Política Nacional sobre Drogas PNAD, 2005; 
Lei Federal 11.343/2006 e complementos, que criaram o Sistema Nacional de
Políticas Sobre Drogas (SISNAD; 
Política Nacional sobre o Álcool PNA, 2007;
MP n° 415/2008 e Decretos 6.488 e 89/2008, Lei Federal 11.705/2008, com
alterações no Código Nacional de Trânsito, relativas ao beber-e-dirigir;
Decreto 7.179/2010, contendo o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e
outras Drogas;
Resolução RDC/ANVISA n° 29/2011, que atualiza a RRDC n° 101/2001 quanto aos
requisitos de segurança sanitária e demais condições de funcionamento das
chamadas Comunidades Terapêuticas.
A título de comentário geral em torno desse conjunto de marcos regulatórios tão recente em
termos históricos, podemos dizer que procuram normatizar o funcionamento de aspectos
estruturais interligados, tais como: reordenamentos institucionais, construção da rede
intersetorial de serviços de atenção, institucionalização de fontes de financiamento e custeio.
Além do fato de serem ainda pouco articulados entre si, pontuamos algumas outras
características que se colocam como desafios a serem enfrentados no aprimoramento das
políticas brasileiras sobre drogas: 
Fragmentação, inconsistências e inadequações teóricas, perceptíveis no trato
confuso dado às estratégias de redução de danos, as quais ganham status
incompatível com o (parco) acúmulo de evidências de efetividade;
Insuficiências materiais (de orçamentos, de recursos humanos devidamente
qualificados; de instalações, equipamentos e redes de serviços);
Refletem até certo ponto, como também se voltam a interesses conflitantes ou
mesmo antagônicos no campo das dependências de drogas e hábitos, visto que
envolvem a existência de mercados (lícitos e ilícitos) e relações cujo trato ou
enfrentamento demandam políticas em outros campos; 
Tendem a minimizar a responsabilidade e a presença do Estado na oferta de serviços
de atenção públicos, universais e gratuitos, em razão da orientação neoliberal que
afetou a maior parte dos novos marcos regulatórios recentes no Brasil. Tal
orientação tende a transformar os próprios eixos da prevenção, tratamento e
reinserção social dos dependentes de drogas em novos nichos de mercado, em
detrimento do bem-estar social.
Site
Para uma apreciação mais completa e atualizada das regulamentações
Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID
ACESSE
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD
ACESSE
Independentemente dos desafios em torno dos marcos regulatórios e das políticas atuais até
aqui pontuados, percebe-se que a prevenção da dependência de drogas é, ao mesmo tempo,
um objetivo e um elemento constitutivo de tais políticas. Falta dizer que é também um conceito
da mais alta relevância, cuja adequada compreensão pede algum aprofundamento. É o que
faremos no próximo tópico. 
Políticas Públicas sobre Álcool e Outras Drogas no Brasil
Prevenir significa, essencialmente, antecipar-se a algo, no sentido de evitar algo; acautelar-se,
precaver-se face a uma ocorrência futura, eventual ou provável. Em nível do senso comum,
dizemos frequentemente que “prevenir é melhor que remediar”, com isto querendo enfatizar que
evitar um problema é uma estratégia mais eficiente, eficaz e efetiva do que lidar com as
consequências da sua ocorrência. Assim, em cada área da vida social, a prevenção estará sempre
no âmbito das políticas sobre drogas e, especificamente, dos eixos da
prevenção, tratamento e reinserção social de indivíduos dependentes
de drogas.
http://www.obid.senad.gov.br/
http://portal.mj.gov.br/senad
referida a problemas próprios desta área, por exemplo: a segurança pública (mas não apenas
esta área específica) deveria prevenir a violência e a criminalidade; a saúde (e igualmente, não
apenas esta área) deveria prevenir a ocorrência de doenças, e assim por diante. O mesmo se
pode dizer da prevenção da dependência de drogas.
Contudo, e em face da questão social e suas expressões em nossas sociedades, sabemos que
os problemas sociais já estão presentes e em proporções crescentes. Por conta dessa realidade,
no campo específico das políticas sobre drogas (como da saúde em geral), o eixo da prevenção
se desdobra em níveis:
Pode-se prevenir o consumo de drogas (com políticas que incidam sobre a
produção, taxação, comércio, circulação, preços, enfim, sobre a oferta de
substâncias psicoativas, e/ou políticas dirigidas à contenção da demanda por drogas:
diretrizes educacionais, recreativas, esportivas, de oferta de trabalho e renda,
dentre outras). Neste caso, fala-se em prevenção primária, no sentido de evitar os
pressupostos da dependência de drogas: reduzindo-se o consumo global, reduz-se
necessariamente o percentual de incidência das dependências. Fala-se também em
prevenção universal, pois neste nível, as políticas tendem a ser dirigidas à população
em geral;
Por outro lado, sabemos que estes manejos macroeconômicos e políticos, dado o
caráter capitalista das relações sociais, provocam desdobramentos e
redirecionamentos no sentido de recriar/multiplicar dependências, seja sob outras
formas de uso ou outras substâncias. Assim, diante do fato do consumo de drogas,
fala-se em políticas de prevenção secundária: dirigida para evitar consequências
adversas dos usos existentes. Também se fala em prevenção seletiva, visto que
neste nível as políticas, tendem a ser direcionadas para os segmentos de usuários
de drogas, visando a evitar que os usos se tornem abusivos e se configurem como
dependências;
Por fim, dado que já temos dependências endêmicas e epidêmicas, um nível ainda
mais específico da prevenção é o terciário, que busca alcançar algum grau de
redução de danos decorrentes da(s) dependência(s) de drogas (e hábitos); neste
nível, fala-se também em prevenção indicada, isto é, restrita ao segmento de
indivíduos dependentes, buscando alertá-los quanto a riscos, manejos mais seguros
Cabe indicar ainda que, atualmente, fala-se em domínios de prevenção, isto é, em políticas e
programas preventivos relacionados a certos domínios da vida social: o individual, o familiar, o
escolar, comunitário, empresarial, político, de saúde e outros. Em cada um destes domínios,
procura-se identificar fatores de risco e fatores de proteção capazes de prevenir, seja o uso,
seja o abuso e/ou a dependência de substâncias ou hábitos. De todo modo, tem sido
evidenciado que, assim como no âmbito do tratamento e da reinserção social, também no da
prevenção se faz necessária à ação articulada e multifatorial entre os diversos domínios, visto
que a atuação limitada a um campo mostra-se em geral ineficaz, ou mesmo inviável. 
e atitudes mais saudáveis, em substituição às práticas reconhecidamente mais
perigosas e danosas.
Saiba Mais
Expressões próprias do campo da saúde (eventualmente utilizadas em
sentido figurado parareferir-se à abrangência de problemas em outras
áreas da vida social): considera-se endêmica uma doença que incide de
forma localizada e peculiar a uma região e/ou segmento de população; o
caráter epidêmico corresponde ao seu agravamento, sob a forma de
generalização para outras localidades e populações 
Por fim, a partir de um estudo específico, a OMS compôs uma lista de dez melhores práticas
preventivas com “evidência de efetividade, existência de suporte científico, possibilidade de
transposição para diferentes culturas, custos de implementação e sustentação”, relacionadas ao
álcool: definição e fiscalização de idade mínima legal para compra; monopólio governamental das
vendas no varejo; restrição de horários ou dias de venda; restrições de densidade e localização
dos pontos de venda; criação de impostos; redução dos limites de concentração alcoólica no
sangue permitida para dirigir; suspensão administrativa da licença de motoristas que dirigem
alcoolizados; definição de postos de fiscalização de sobriedade; política de “tolerância zero”
quanto a dirigir alcoolizado, por vários anos, no licenciamento para motoristas novatos; e
implementar processos terapêuticos do tipo intervenção breve para bebedores pesados
(DUAILIBI; VIEIRA; LARANJEIRA, in LARANJEIRA e orgs., 2011, p. 500501. 
Saiba Mais
Fatores de risco e fatores de proteção: São características ou
combinações delas, existentes em pessoas, grupos, comunidades,
territórios ou instituições, capazes de fortalecer de diversos modos as
pessoas e prevenir o uso, o abuso, a dependência de drogas; ou, pelo
contrário, são fatores capazes de aumentar as probabilidades do
envolvimento com drogas (para maior detalhamento, ver CAMPOS;
FIGLIE, in LARANJEIRA e orgs., 2011, p. 483.
Em Síntese
Nos últimos anos, como decorrência positiva do processo de
realinhamento e mudança de paradigmas no campo das políticas sobre
drogas no Brasil, tem havido intensas discussões – pontuais e
momentâneas – sobre aspectos tais como: as abordagens de rua nas
“cracolândias” de todo o país; a pertinência ou não das internações
involuntárias e compulsórias como recursos possíveis no campo do
tratamento; a possibilidade de legalizar formas específicas de uso de
determinadas substâncias, com base na experiência recente de outros
países (por exemplo, o uso medicinal de maconha por pacientes com
câncer; ou seu uso na indústria têxtil); a urgência de descriminalizar (e
não só despenalizar) o uso de drogas.
Entendemos que as discussões pontuais são legítimas e necessárias,
porém, em face do que refletimos nesta Unidade, acreditamos que um
enfrentamento efetivo do problema das dependências de drogas e
hábitos, na perspectiva da sua superação, exige que o nosso olhar e a
nossa atenção se voltem à totalidade das políticas que regem a vida
social em nosso país: precisamos repensar nossas políticas
econômicas; nossos conceitos sobre propriedade, acesso e usufruto de
bens, equipamentos, recursos, conhecimentos e tecnologias
fundamentais ao desenvolvimento social e humano; nossas políticas
relativas a como organizar os serviços de educação, habitação, cultura,
esporte, lazer, alimentação e saúde; nossas políticas relacionadas à
oferta de trabalho e renda; precisamos, enfim, revisar em totalidade este
modelo societário que produz privações e dependências em
abundância, em favor de outro modelo, no qual a abundância de
riquezas materiais e imateriais seja organizada e distribuída de um
modo tal, que a necessária interdependência de todos(as) implique a
garantia da emancipação e do melhor desenvolvimento de cada um(a). 
E assim chegamos ao final desse estudo – o que você diz? Considera
que as informações e reflexões aqui contidas serão úteis quando você
estiver trabalhando na profissão ou ofício propiciados por este curso?
Considera-as úteis em sua vida, como cidadão ou cidadã com vínculos
familiares, de amizade, afetivos, sociais? De nossa parte, esperamos
que você se sinta motivado(a) não só a seguir ampliando e
aprofundando seus conhecimentos, mas se disponha a multiplicá-los
em seus círculos e pertencimentos, fortalecendo uma corrente de
pensamento crítico, de ação coletiva e participação em movimentos e
processos de mudança e transformação, seja no campo específico da
dependência de drogas, seja na vida em sociedade. 
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
  Leitura  
Álcool, drogas e crime
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
Efeitos do uso do álcool e das drogas ilícitas no
comportamento de adolescentes de risco: uma revisão das
publicações científicas entre 1997 e 2007
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
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📚 Material Complementar
https://www.scielo.br/j/rbp/a/HmNhYbJn3WVmGBrXnfgs8Rm/?format=pdf&lang=pt
https://www.scielo.br/j/rpc/a/RSRHCf8Gjnc8sGGvJGVrCff/?format=pdf&lang=pt
A implicação da família no uso abusivo de drogas: uma revisão
crítica
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
https://www.scielo.br/j/csc/a/NXNWcBqBzgk6HrdZhPhGj5f/?format=pdf&lang=pt
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VAILLANT, G. E. A história natural do alcoolismo revisitada. Porto Alegre, Artmed, 1999. 
Videoaula
Veja, no vídeo a seguir, os assuntos abordados nesta unidade. Atente-se, pois, ao longo dele,
você terá algumas questões reflexivas. 
O Tema proposto – “A questão Ambiental e a Sustentabilidade” – tem o objetivo de fazer despertar 
em você o interesse e a conscientização da responsabilidade como cidadão, em relação aos 
processos de mudanças socioambientais, que um Desenvolvimento Sustentável exige.
A visão clássica de desenvolvimentonão atende mais as necessidades de uma sociedade que se 
fortalece devido à conscientização de que corremos risco de esgotamento de recursos naturais. É 
uma questão de sobrevivência do Planeta. Uma visão Sustentável deve ser incorporada a qualquer 
setor, para tanto, é necessário que as pessoas estejam capacitadas para enfrentar a dinâmica das 
transformações socioambientais presentes e futuras.
1 / 4
👍 Contextualização
 Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo online para que
você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do
conteúdo.
Introdução
Vamos começar nossa Unidade pautada na afirmação de Almeida (2008, apud PEREIRA, SILVA,
CARBONARI, 2011 “A demanda por água, alimentos e energia para atender uma população
crescente representa um custo além do suportável para os ecossistemas [...]”.
Apesar de uma das principais causas do desequilíbrio ambiental ser o aumento significativo da
população, esse não pode ser considerado o único motivo do dilema ambiental. Outros eventos
contribuíram, como as transições: tecnológica, industrial, cultural, demográfica e a globalização. O
século XX foi considerado pelo historiador Eric Hobsbawn “A era dos Extremos”, desafios e
conflitos se tornaram mais evidentes nesse século (HOBSBAWN, 1994, apud HOGAN;
MARANDOLA JR; OJIMA, 2010.
A ONU corrobora com esta ideia quando afirma que a partir de meados do século XX o homem
modificou de forma rápida e intensa os ecossistemas em um nível jamais visto em outros
períodos da humanidade, decerto para atender as demandas crescentes como água doce,
energia, etc. PEREIRA, SILVA, CARBONARI, 2011.
Naturalmente esta demanda crescente não foi somente para atender as necessidades básicas,
mas também em razão de um novo estilo de vida da população que se sente atraída pela oferta
de produtos, equipamentos, aparelhos cada vez mais sofisticados. Os desejos da sociedade são
ininterruptos e ilimitados, gerando uma extração de recursos e/ou geração de dejetos maior que
a capacidade do ecossistema de reproduzi-los ou reciclá-los.
2 / 4
🌎 Material Teórico
A utilização de recursos naturais confunde-se com a própria história da humanidade. Seu
desenvolvimento está ligado à sua habilidade em detectar, manipular e aperfeiçoar os materiais
disponíveis para atender suas necessidades de manutenção, abrigo e religiosidade (ISAIA, 2010.
Porém, foi somente nas últimas décadas do século passado que as discussões voltou-se para a
preservação do meio ambiente, por conta da disseminação de ideias de sociedades mais
evoluídas e a consequente conscientização progressiva dada às crianças e aos jovens, que vem
se fortalecendo a cada dia.
O desenvolvimento das sociedades, em sua maioria, quer seja urbana quer seja rural, ocorreu
sem planejamento, portanto de forma desordenada, implicando em níveis crescentes de poluição
e degradação ambiental.
Recursos Naturais
Recurso Natural é qualquer insumo de que os organismos, as populações e os ecossistemas
necessitam para sua manutenção (ISAIA, 2010.
Em Síntese
Grosso modo, podemos inferir que o nível de qualidade do nosso Planeta
depende da quantidade de pessoas, dos Recursos Naturais disponíveis,
do Grau de poluição gerado durante os Processos utilizados, e
principalmente da capacitação para geri-los.
Podem ser divididos em dois grupos:
Observação: É importante ressaltar que mesmo sendo renováveis podem não
ser suficientes e/ou estarem inadequados para uso;
Minerais Energéticos: Combustíveis Fósseis (carvão mineral, petróleo e urânio);
Minerais Não-Energéticos: Ferro, Calcário, Argilas em geral. Grande parte pode
ser reutilizada ou reciclada, mas não pode ser reconstituída conforme suas
condições originais.
Para assegurar a vida, os ecossistemas devem estar equilibrados, porém estudos demonstram
que esse equilíbrio está ameaçado, podendo gerar escassez dos recursos naturais, colocando
em risco a vida humana na Terra (PEREIRA, SILVA E CARBONARI, 2011.
Ecossistema?
Recursos Renováveis: aqueles que, depois de serem utilizados, ficam disponíveis
novamente devido aos ciclos naturais. Exemplos: água, ar, biomassa, energia eólica.
Recursos Não-Renováveis: aqueles que uma vez utilizados, não se renovam por
meios naturais, e que podem ser subdivididos em:
“[...] é a unidade principal de estudo da ecologia e pode ser definido como um sistema
composto pelos seres vivos (meio biótico) e o local onde elesvivem (meio abiótico,
Poluição
É uma alteração prejudicial à saúde, e ao bem-estar do ser humano e de outras espécies que
ocorre com as propriedades do meio ambiente, resultado da utilização dos recursos naturais pela
população.
Os efeitos da poluição podem ser globais, regionais ou localizados. O Efeito Estufa e a Redução
da Camada de Ozônio, efeitos que trazem um desequilíbrio para o Planeta, são exemplos de
efeitos globais.
Alguns efeitos poluidores podem advir de fenômenos naturais, não podendo ser evitados, como
é o caso da erupção vulcânica (BRAGA et al., 2005.
Água
É uma alteração prejudicial à saúde, e ao bem-estar do ser humano e de outras espécies que
ocorre com as propriedades do meio ambiente, resultado da utilização dos recursos naturais pela
população.
Os efeitos da poluição podem ser globais, regionais ou localizados. O Efeito Estufa e a Redução
da Camada de Ozônio, efeitos que trazem um desequilíbrio para o Planeta, são exemplos de
efeitos globais.
- INFOESCOLA, 2013
onde estão inseridos todos os componentes não vivosdo ecossistema como os
minerais, as pedras, o clima, a própria luz solar, etc.)e todas as relações destes com o
meio e entre si.”
Alguns efeitos poluidores podem advir de fenômenos naturais, não podendo ser evitados, como
é o caso da erupção vulcânica (BRAGA et al., 2005.
Solo
A poluição do solo em zonas rurais ocorre fundamentalmente pela utilização de fertilizantes e
defensivos agrícolas, e mesmo que sejam aplicados utilizando-se da melhor técnica, há sempre
um excedente que passa para o solo (BRAGA et al., 2005.
O emprego de fertilizantes sintéticos e defensivos para atender uma população crescente
parece inevitável, apesar dos riscos envolvidos.
Se temos que conviver com a utilização de fertilizantes e defensivos, o mais sensato seria utilizá-
los na medida certa, evitando os desperdícios que geram resíduos poluidores que se acumulam e
propagam-se para a cadeia alimentar, enfim é necessário aprimorar as técnicas de aplicação
(BRAGA et al., 2005.
A poluição do solo urbano é proveniente dos resíduos gerados pela dinâmica das cidades, quer
seja pelas indústrias, pelos comércios, pelas residências etc. e são mais conhecidos como“lixo”,
ou ainda classificados em resíduos mais perigosos advindos de processos industriais e de
atividades médico-hospitalares (BRAGA et al., 2005.
Ar
Conforme Braga et al. 2005, os poluentes podem ser àqueles lançados diretamente no ar ou
aqueles advindos de reações químicas formadas na atmosfera.
Alguns poluentes lançados na atmosfera são:
Dióxido de carbono em grandes quantidades é prejudicial ao Planeta de modo geral,
pois é responsável pelo efeito estufa e consequentemente pelo aquecimento global.
Se inalado pode provocar irritações nas vias aéreas, ou morte por asfixia;
Degradação Ambiental
Degradação Ambiental é um processo que provoca alterações na fauna e flora natural,
degenerando o meio ambiente, eventualmente provocando perdas à variedade de vida no
planeta. Em geral, é associado à Poluição provocada pela ação do homem.
O Quadro a seguir mostra as atividades de maior impacto ambiental negativo associado ao tipo de
degradação provocada.
       QUADRO 1
Atividades de
maior potencial
de impacto
ambiental
Tipo de degradação
Garimpo de ouro
Assoreamento e erosão de cursos d’água.
Formação de núcleos populacionais com grandes
problemas sociais.
Mineração
Industrial: bauxita,
ferro, manganês,
cobre, etc.
Esterilização de grandes áreas.
Degradação da paisagem, impactos
socioeconômicos.Óxidos de enxofre reagem com o vapor de água produzindo o ácido sulfídrico, que
origina a chuva ácida;
Hidrocarbonetos como o benzeno são cancerígenos e mutagênicos.
Atividades de
maior potencial
de impacto
ambiental
Tipo de degradação
Agricultura e
pecuária
extensivas
(grandes projetos)
Queimadas, destruição da fauna e da flora.
Contaminação de Cursos d’ água por
agrotóxicos, erosão e assoreamento de rios.
Grandes usinas
hidroelétricas
Inundação de áreas florestais e agrícolas,
impacto sobre flora, fauna e ecossistemas
adjacentes, impacto socioeconômico.
Pólos Industriais
e/ou grandes
indústrias
Poluição do ar, água e solo, geração de resíduos
sólidos, conflitos com o meio ambiente.
Papel e Celulose
Agressão aos micro-organismos e aos
mananciais, ar carregado proveniente de
descargas atmosféricas, disposição e resíduos
sólidos.
Cana-de-açúcar
Uso de queimadas com contaminação do ar
(cinzas resultantes poluem residências no
entorno), incidência de problemas respiratórios
para a população devido à fuligem.
Atividades de
maior potencial
de impacto
ambiental
Tipo de degradação
Produção de Cal
Contaminação do meio ambiente através de
dioxinas (substância tóxica), uso de mercúrio
(afeta o sistema nervoso central dos indivíduos).
Siderurgia
Degradação da qualidade da água, emissões de
poluição das usinas, lançamento de óleos e
graxas no meio ambiente.
Indústria
Petrolífera
Emissões e geração de resíduos, riscos de
vazamentos, derramento de óleo.
Caça e Pesca
predatórias
Extinção de mamíferos aquáticos e diminuição
de peixes, drástica redução de animais de
valores econômico e ecológico.
Indústrias de
alumínio
Poluição atmosférica, poluição marinha e dos
rios, impactos indiretos pela enorme demanda
de energia elétrica.
Crescimento
Populacional
Vertiginoso
Ocupação desordenada do solo com sérias
consequências sobre os recursos naturais,
Atividades de
maior potencial
de impacto
ambiental
Tipo de degradação
(migração interna
e problemas
sociais
adjacentes)
problemas sociais graves com a falta de
habitação e serviços de infraestrutura básica.
Fonte: Adaptado de TINOCO, 2004, apud ALBUQUERQUE et al. 2010
Recuperação Ambiental
O Meio ambiente tem a capacidade de tornar-se puro novamente desempenhando função
depuradora, porém, quando se apresenta sobrecarregado, essa recuperação não ocorre mais de
forma espontânea, pelo menos a curto ou médio prazo, sendo necessário intervenções de
ordem corretiva.
A recuperação de áreas degradadas requer uma intervenção planejada, cujo objetivo é tornar a
área, produtiva novamente e sustentável.
Segundo Moura (2003, apud ALBUQUERQUE et al., 2009, já ultrapassamos em 20% a
capacidade regenerativa dos ecossistemas.
Aspectos Legais e Institucionais
Quando exploramos a ideia de degradação do meio ambiente e todos os efeitos perversos que
isto nos causa, percebemos que o que esta em jogo é a nossa sobrevivência no Planeta.
A conscientização com as questões ambientais associadas às denúncias sobre contaminação
evoluiu muito a partir do século XX. Foi a partir daí que nasceram as normas, regulamentos e
Órgãos responsáveis pelo acompanhamento de Instrumentos legais e eficazes como a
AIAAvaliação de Impacto Ambiental), aplicado como prevenção ao dano ambiental e de promoção
do desenvolvimento sustentável. E por parte da sociedade surgiram as Organizações não
governamentais (ONGs) (ALBUQUERQUE et al., 2009.
A sistematização da AIA como atividade obrigatória foi formalizada pelos Estados Unidos por
intermédio de uma lei aprovada pelo Congresso Americano, em 1969, vigorando a partir de 1970.
Em 1981, o Brasil definiu a Política Nacional do Meio Ambiente por meio da Lei Federal no 6.938,
de 31.08.1981. E em 1986 o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), por meio da
Resolução no 001/86 definiu como deve ser feita a avaliação de Impactos ambientais, criando
dois instrumentos novos, o Estudo de Impactos Ambientais (EIA e o Relatório de Impacto
Ambiental (Rima).
Nos dias de hoje é extensa a legislação que trata sobre a proteção ambiental e de gestão de
recursos ambientais, o que não quer dizer que seja suficiente para assegurar preservação ou
manejo sustentável (BRAGA et al., 2005.
No Brasil, as normas obedecem a três níveis hierárquicos (MACHADO, 1992, apud BRAGA et al.,
2005
Lembrando que os municípios e estados, embora tenham suas particularidades, não podem
desrespeitar as normas estabelecidas pela União, ela é soberana, apenas devem ser
complementadas com particularidades do local.
A União cabe o estabelecimento de normas gerais válidas em todo território nacional;
Aos Estados o estabelecimento de normas que respeitem as suas particularidades;
Aos Municípios cabe o estabelecimento de normas que atendam aos interesses
locais.
Segundo Braga et al. 2005, a introdução do tema ambiental na Lei maior brasileira foi um marco
histórico de grande valor, pois as Constituições que a antecederam se quer mencionaram a
palavra “meio ambiente”.
A seguir é mostrado parcialmente a Constituição da República Federativa do Brasil (BRAGA et al.,
2005.
Constituição da República Federativa do Brasil:
“Título VIII
Da Ordem Social
Capítulo VI
Do Meio Ambiente
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I  preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II  preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar
as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III  definir, em todas as Unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV  exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
V  controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade devida ao meio ambiente;
VI  promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente;
VII  proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais à crueldade;
§ 2º. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
§ 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão aos
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º. A Floresta Amazônica Brasileira, a mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e a sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
Vale destacar que a partir da Constituição Federal, instituída em 1988, abriu-se caminho para
atuação dos municípios, em relação à criação de instrumentos que possibilitam e controlam o uso
e propriedade privada à função social por meio dos planos diretores, plano obrigatório em áreas
urbanas com mais de 20 mil habitantes (BRAGA et al., 2005.
As legislações federais promulgadas na década de 60 foram de grande importância e estão
relacionadasabaixo, conforme Braga et al. 2005
- BRAGA et al. 2005
Lei no 4.504/64  Estatuto da Terra: alterada pela Lei 6.476/79 com dispositivos
referentes à conservação dos recursos naturais renováveis. Alterada a redação dos
artigos 95 e 96 pela Lei no 11.443/2007;
Lei 4.771/65  institui o Código Florestal: alterada pela Lei no 7.803/89. Revogada
pela lei no 12.651/12 com alterações feitas pela Lei 12.797/12;
Decreto-lei no 221/67 estabeleceu o Código de Pesca. Lei nº 11.959, de 29 de
junho de 2009 que dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável
da Aquicultura e da Pesca, regula as atividades pesqueiras, revoga a Lei no 7.679, de
23 de novembro de 1988, e dispositivos do Decreto-Lei no 221, de 28 de fevereiro
de 1967, e dá outras providências;
Decreto-Lei no 227/67  instituiu o Código de Mineração, mais tarde regulamentado
pelo Decreto-Lei no 62.934/68. Projeto do novo Código de Mineração (PLs 37/11
e5807/13;
§ 5º. São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º. As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.”
E posteriormente foram criadas:
Lei no 5.197/67  Lei de Proteção à Fauna. Já revogados e/ou substituídos alguns
artigos e parágrafos.
Lei no 6.902/81  dispôs sobre a criação de estações ecológicas e áreas de
proteção ambiental: regulamentada pelo Decreto no 99.274/90;
Lei Federal no 6.938/81  estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente,
fixando princípios, objetivos e instrumentos. Estabeleceu o Sistema Nacional do
Meio Ambiente (Sisnama) e criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Sofreu alteração pela Lei 7.804/89, a qual previu o crime ecológico, e pela Lei no
8.028/90 e ainda pela lei no 12.651/12, que por sua vez sofreu alterações pela Lei
12.797/12;
Lei nº 9.795/99 Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional
deEducação Ambiental e dá outras providências.
“Art. 9º. Entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no
âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando:
I  educação básica:
a) educação infantil;
b) ensino fundamental; e
c) ensino médio.
II  educação superior;
III  educação especial;
IV  educação profissional;
V  educação de jovens e adultos.
Art. 10. A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa
integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal.
Art. 13. Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas
educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à
sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.
Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal,
incentivará:
I  a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços
nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas
relacionados ao meio ambiente;
II  a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-
governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à
educação ambiental não-formal;
III  a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de
programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as
organizações não-governamentais;
IV  a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação;
V  a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de
conservação;
VI  a sensibilização ambiental dos agricultores;
Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente
Conforme Lei Federal no 9.938/81 e posteriores alterações pela Lei no 7.804 e Lei no 8.028/90, a
seguir é mostrado os Instrumentos da Política Nacional do meio Ambiente.
Lei nº 9.984/00 que dispôs sobre a criação da Agência Nacional de Água – ANA,
entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de
coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
Lei nº 9985/00 Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição
Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá
outras providências;
Lei nº 10.257/01 Regulamenta os artigos. 182 e 183 da Constituição Federal,
estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Instituiu o
Estatuto da Cidade, condicionando seu crescimento ao bem estar de seus
habitantes.
VII  o ecoturismo.”
“I  Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II  O zoneamento ambiental;
III  A avaliação de impactos ambientais;
IV  O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;
Sistema Nacional do Meio Ambiente
O Sisnama – Sistema Nacional do Meio Ambiente- tem sua estrutura descrita a seguir, conforme
Braga et al. 2005
- BRAGA et al. 2005
V  Os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção
de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
VI  A criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público
Federal, Estadual e Municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante
interesse ecológico e reservas extrativistas;
VII  O sistema Nacional de informações sobre o meio ambiente;
VIII  O cadastro Técnico Federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental;
IX  As penalidades disciplinares ou compensatórias ao não-cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental;
X  A Instituição do relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado
anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama);
XI  A garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se
o Poder Público a produzi-las, quando existentes;
XII  O cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou
utilizadoras dos recursos ambientais.”
Órgão Superior: Conselho do Governo;
Órgão Consultivo e Deliberativo: Conselho Nacional do meio Ambiente (Conama);
Órgão Central: Ministério do Meio Ambiente;
Órgão Executor: Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA. Possui 14 objetivos:
Reduzir os efeitos prejudiciais e prevenir acidentes decorrentes da utilização de
agentes e produtos agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como seus
resíduos;
1
Promover a adoção de medidas de controle de produção, utilização, comercialização,
movimentação e destinação de substâncias químicas e resíduos potencialmente
perigosos;
2
Executar o controle e a fiscalização ambiental nos âmbitos regional e nacional;3
Intervir nos processos de desenvolvimento geradores de significativo impacto
ambiental, nos âmbitos regional e nacional;
4
Monitorar as transformações do meio ambiente e dos recursos naturais;5
Executar ações de gestão, proteção e controle da qualidade dos recursos hídricos;6
Manter a integridade das áreas de preservação permanentes e das reservas legais;7
Ordenar o uso dos recursos pesqueiros em águas sob domínio da União;8
Ordenar o uso dos recursos florestais nacionais;9
Ex. COSEMA  Conselho Estadual de Meio Ambiente e GAMA  Gerência Adjunta
do Meio Ambiente;
Existem ainda as normas específicas para os Municípios e Estados em relação à
Proteção do meio ambiente. São Paulo foi um dos estados pioneiros no
desenvolvimento de instrumentos voltados a esta área.
A Evolução da Conscientização da Importância 
do Meio Ambiente
Monitorar o status da conservação dos ecossistemas, das espécies e do patrimônio
genético natural, visando à ampliação da representação ecológica;
10
Executar ações de proteção e de manejo de espécies da fauna e da flora brasileira;11
Promover a pesquisa, a difusão e o desenvolvimento técnico- científico voltados
para a gestão ambiental;
12
Promovero acesso e o uso sustentado dos recursos naturais; e13
Desenvolver estudos analíticos, prospectivos e situacionais verificando tendências e
cenários, com vistas ao planejamento ambiental.
14
Órgãos Seccionais: Órgãos ou entidades da Administração Pública Federal Direta e
Indireta, as fundações instituídas pelo poder público cujas atividade estejam ligadas a
proteção ambiental, etc.
Órgãos Locais: do Município responsáveis pelo controle e fiscalização das atividades
referidas nas suas respectivas jurisdições.
Hoje, mais do que nunca, as metrópoles, tendo em vista as concentrações urbanas, são, e 
provavelmente continuarão sendo, uma das grandes preocupações dos governos e da 
sociedade, dada as crescentes necessidades por recursos naturais.
Bem, como manter um sistema produtivo, ainda que isso conduza a um efeito perverso?Esse
questionamento leva a sociedade a constantes discussões em relação às definições dos
mecanismos e das melhores práticas de ações que minimizem impactos ambientais presentes e
futuros (AGOPYAN; JOHN, 2011.
Sem dúvida a Educação e conscientização da Sociedade são bens preciosos para encontrar
soluções sobre o nosso dilema ambiental, porém é necessário ir além, com a conquista da
capacitação para lidar com estes problemas e a criação de normas e leis que permitam a
interação entre o homem e o meio ambiente de uma forma mais saudável.
Um dos frutos desta conscientização e amadurecimento foi a ideia de Consumo Sustentável, ou
seja, como produzir de forma sustentável e responsável.
Reflita
E Agora? Como manter um sistema produtivo se este processo nos
conduz a um efeitoperverso ao meio ambiente?
Albuquerque et al.2009 sugerem para Consumo Sustentável/Responsável:
Alguns princípios de Sustentabilidade citados por Albuquerque et al. 2009 são:
Agopyan e John (2011 adotam o conceito de Sustentabilidade como sendo a conciliação entre
os aspectos ambientais, econômicos, sociais e culturais, e ainda consideram em sua obra que a
Sustentabilidade é suportada pelo tripé ambiente-economia-sociedade, considerados de forma
integrada. O grande desafio sem dúvida é fazer com que a economia evolua, atendendo às
expectativas da sociedade e mantendo o ambiente saudável para as gerações futuras.
Pereira, Silva e Carbonari (2011 afirmam que cada dimensão do tripé descrito acima deve receber
a mesma atenção, e examina-os separadamente:
Uso racional de Recursos Naturais e menor desperdício;
Respeito à capacidade depuradora de nosso sistema;
Compromisso com as gerações futuras.
Prevenção: Prevenir a degradação para evitar prejuízos;
Precaução: Avaliar as consequências dos atos;
Participação: Divulgação das implicações das decisões para fomentar a participação;
Compromisso com melhorias contínuas: compromisso com a sustentabilidade;
Princípio do poluidor pagador: o responsável pelo dano deve arcar com os custos.
A Perspectiva Social: Enfatiza a presença do ser humano, tendo como principal
preocupação o bem-estar e a qualidade de vida;
Uma Organização Sustentável é aquela que promove suas ações mantendo o equilíbrio entre as
dimensões Econômica, Social e Ambiental que lhe são específicas, buscando atingir
simultaneamente critérios que atendam a equidade social, prudência ecológica e eficiência
econômica (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012.
A seguir vamos discorrer um pouco mais sobre a Perspectiva social abordando o tema
responsabilidade social. Quanto a Perspectiva Econômica é uma área que demanda um estudo
mais aplicado a um determinado setor, não iremos explorar este aspecto neste material.
Responsabilidade Social
A preocupação com a responsabilidade social começa associada à questão da Pobreza na Idade
Moderna, época em que surgiram as Empresas, diferentemente da Idade Média, onde as
iniciativas para aliviar o sofrimento dos pobres eram feitas por caridade cristã (BARBIERI,
CAJAZEIRA, 2012.
Na linha do tempo, a responsabilidade social empresarial passou por vários estágios. Nos
Estados Unidos e na Europa no início do século XX grandes empresas construíam escolas,
bibliotecas e igrejas, incorrendo em melhoria da qualidade de vida (PEREIRA, SILVA, CARBONARI,
2011.
Já nas décadas de 1930 e 1940 a responsabilidade voltou-se para dentro das empresas, as
preocupações se voltaram para os direitos trabalhistas, como redução de jornada, melhoria das
condições de trabalho, aspectos ainda de extrema relevância nos dias de hoje (PEREIRA, SILVA,
CARBONARI, 2011.
A Perspectiva Econômica: Dois são os enfoques a serem considerados, um deles e
a alocação e a gestão mais eficiente dos recursos e o outro um fluxo regular do
investimento público e privado. No âmbito empresarial. A empresa, além de a
organização ser ambientalmente correta e socialmente justa, deve ser competitiva;
A Perspectiva Ambiental: A principal preocupação é com os impactos negativos das
atividades humanas sobre o meio ambiente.
Em 1960 inicia-se também o movimento ambientalista, e em 1970 e 1980 se intensificamos
movimentos sociais em favor dos direitos das mulheres, homossexuais, minorias raciais e
religiosas, pessoas com necessidades especiais, estudantes, consumidores e idosos (PEREIRA,
SILVA, CARBONARI, 2011.
Enfim ao longo dos anos as preocupações aglutinaram-se e encorparam as discussões voltadas a
Responsabilidade Social, como o respeito à diversidade humana, o combate a corrupção, a
promoção da qualidade de vida, e no trabalho, a preocupação e o cuidado com o meio ambiente
(BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012.
As iniciativas são locais, regionais e empresariais nas formas de diretrizes, normas voluntárias, ou
mesmo de instrumentos que viabilizem a gestão e operacionalização das expectativas deste
movimento (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012.
Princípios Diretivos
São exemplos de princípios diretivos que impulsionaram a criação de normas de gestão e outras
ferramentas e instrumentos para as práticas de gestão da responsabilidade social (BARBIERI,
CAJAZEIRA, 2012
Declaração Universal dos direitos do homem (1948 Importante fonte para orientar a concepção
de políticas de responsabilidade social quer seja para uma entidade pública ou privada;
Agenda 21 realizada no Rio de janeiro em 1992 é um plano de ação para alcançar objetivos do
desenvolvimento sustentável;
Carta da Terra: foi concluída em 2000, surgiu para incluir questões que não foram tratadas na
Declaração de 1992 no Rio de Janeiro, procurando sanar as deficiências existentes, cujos temas
básicos são:
Respeitar e cuidar da comunidade da vida;
Metas do Milênio: Aprovada em 2001 pelas Nações Unidas, cujo objetivo é reforçar o
compromisso entre as Nações dos pactos celebrados anteriormente, são eles:
Pacto Global: Fórum aberto à participação de empresas e outras organizações. Para se engajar é
necessário expressar seu apoio ao Pacto, cujos princípios são:
Princípios de direitos Humanos:
Integridade Ecológica;
Justiça Econômica e Social;
Democracia, não violência e paz.
Erradicar a extrema pobreza e a fome;
Atingir o ensino básico fundamental;
Promover igualdade entre os sexos e autonomia das mulheres;
Reduzir a mortalidade infantil;
Combater a aids, a malária e outras doenças;
Melhorar a saúde das gestantes;
Garantir a sustentabilidade do Planeta;
Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
Princípios de direitos do Trabalho:
Princípios de Proteção Ambiental:
Princípio contra a Corrupção:
Respeitar e proteger os direitos humanos;
Impedir violações de direitos humanos.
Apoiar a liberdade de associação no trabalho;
Abolir o trabalho forçado;
Abolir o trabalho Infantil;
Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho.
Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais;
Promover a responsabilidade ambiental;
Encorajar tecnologias que não agridam o meio ambiente.
Combater a Corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina.
Códigos e Regulamentos
São exemplos de Códigos e Regulamentos (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012
Processos e Normas
Para operacionalizaros princípios estabelecidos nos Acordos e Convenções são necessários
instrumentos gerenciais.
O processo de Normalização internacional se intensifica com a criação da International
Organization for Standardization (ISO) em 1947, recebendo propositadamente essa sigla ISO, que
significa em grego Igualdade, por desenvolver trabalhos de normalização técnica que represente
o consenso de seus membros.
O Brasil, representado pela ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas), participa das
decisões e estratégias da ISO ISAIA, 2010.
Séries de normas ISO é um conjunto de normas cujo objetivo é fornecer informações,
estabelecer requisitos e auxiliar na sua implementação (ISAIA, 2010.
Convenções da OIT Organização Internacional do trabalho criada em 1919, cujas
convenções e recomendações são voltadas para as relações de trabalho e envolve
empregadores, empregados e governos;
Diretrizes da OCDE para as Multinacionais: Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico, elaborou entre outras ações, a Convenção Contra o
Suborno de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Internacionais de
1997, incluída na Legislação Brasileira;
Convenção Contra a Corrupção: é fundamental para qualquer gestão de
responsabilidade social empresarial. A Transparency International (TI) define a
corrupção como sendo o abuso do poder cujo objetivo é obter ganhos privados
ilegítimos.
São Exemplos de Normas:
Segundo estudiosos da área da Qualidade (apud Barbieri e Cajazeira, 2012, todo movimento
voltado a esta área contribui para impulsionar e fortalecer o movimento voltado a
responsabilidade social “a organização que melhora continuamente a qualidade terá adotado ao
final um estilo de gestão mais social”.
ISO 9001 é a mais conhecida da série 9000, ela especifica requisitos de um
sistemade gestão da qualidade.
Reflita
Qualidade? Porque falar sobre qualidade agora?
ISO 14000 Esta série estabelece diretrizes para um sistema de gestão ambiental;
OSHAS 18001 entrou em vigor em 1999 foi concebida pela recusa da ISO em criar
normas sobre saúde e segurança do trabalho, portanto esta norma trata de um
sistema de gestão de segurança e da saúde ocupacional. É um compromisso de
redução dos riscos decorrentes do trabalho, recaindo em um processo dinâmico de
melhoria contínua. Foi criada a partir de um grupo de certificadores do Reino Unido,
Irlanda, Austrália, África do Sul, Espanha e Malásia (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012;
NBR 16001 Norma Brasileira de Responsabilidade Social, estabelece requisitos
mínimos permitindo que a organização crie e implemente um sistema de gestão da
Esta norma apresenta-se compatível com as estruturas das normas ISO 9001, ISO
14001 e OHSAS 18001, o que facilita a integração das mesmas (BARBIERI,
CAJAZEIRA, 2012.
Os sistemas de gestão podem receber certificações, para fazê-lo devem
submeter esse sistema a um Organismo externo, no caso da NBR 16001 é
denominado de Organismo de Certificação de Sistema de Gestão da
Responsabilidade Social (OCR, que por sua vez é acreditado pelo Instituto
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) (BARBIERI,
CAJAZEIRA, 2012;
A Responsabilidade Social das Organizações consiste em responsabilizar-se
pelos impactos causados por conta dos processos decisórios perante a
responsabilidade social, segundo ABNT 2013 levando em conta: responsabilização,
transparência, comportamento ético, respeito pelos interesses das partes
interessadas, atendimento aos requisitos legais, respeito as normas internacionais
de comportamento, respeito aos direitos humanos a promoção do desenvolvimento
sustentável (CATÁLOGODE NORMAS, 2013.
AA 1000 Origem Reino Unido – define melhores práticas para prestação de contas a
fim de assegurar a qualidade da contabilidade, auditoria e relato social ético de todos
os tipos de organizações;
AS 8000 é uma norma internacional de avaliação da responsabilidade social e parte
do princípio que as empresas devem cumprir as leis relativas aos empregados e
terceirizados adotando as disposições das convenções da Organização Internacional
do Trabalho (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012;
A Norma Internacional ISO 26.000 foi publicada em novembro de 2010 e lançada a
versão em português em dezembro de 2010  ABNT NBR ISO 26.000 a qual concede
Diretrizes sobre Responsabilidade Social.
sociedade e meio ambiente. O que implica em um comportamento ético e
transparente que contribui para o desenvolvimento sustentável, compatíveis com
as leis aplicáveis e as normas internacionais de comportamento.
A ISO 26.0002010 não tem a finalidade de certificação é uma norma de diretrizes
e de uso voluntário.
Em Síntese
Já vivemos duas grandes revoluções no passado, a Agrícola e a
Industrial e agora no presente vivemos a Revolução da Sustentabilidade
(MIHELCIC, ZIMMERMAN, 2012. Tudo indica que os consumidores estão
começando a levar em consideração alguns critérios ambientais e
sociais na escolha por um produto ou processo, devido a
conscientização e educação que cresce.
As empresas, sem dúvida, detêm marcas que apresentam ativos
intangíveis (bens e direitos que não apresentam forma física) que são
preciosos e que demandam tempo e dinheiro para serem construídos. A
transparência, a ética, enfim a responsabilidade socioambiental passa
credibilidade, é, certamente, uma forma de gestão estratégica, mas vai
muito além de estratégia e obrigação, é um compromisso permanente
que a organização deve selar para tornar a sociedade mais justa, e
contribuir com o desenvolvimento sustentável.
A percepção de que temos vivido em um mundo onde as pessoas, por
conta do apelo desenfreado à competitividade, se tornaram muito
individualistas, fez com que Sociedades mais conscientes percebessem
que seguindo este modelo, a convivência entre os seres ficaria
insuportável, as conferências internacionais as quais tratamos neste
conteúdo e muitas outras são exemplos de preocupações em discutir
questões de interesse coletivo, para assim tornar o mundo mais
sustentável.
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
  Livros  
Porque a Diversidade Faz Bem
ALBUQUERQUE, J. L. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social. São Paulo: Editora Atlas,
2009.
Coleção História Geral da África
BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social em
empresarial e empresa sustentável – da teoria à prática. São Paulo:
Saraiva, 2012.
3 / 4
📚 Material Complementar
AGOPYAN, V.; JOHN V. M. O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil. Série
Sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2011.
ALBUQUERQUE, J. L. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social. São Paulo: Editora Atlas,
2009
BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social em empresarial e empresa
sustentável – da teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2012.
BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental: O desafio do desenvolvimento Sustentável.
São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
ABNT. Catálogo de Normas. Disponível em: . Acesso em:
22/01/2013.
FERNADES, ANGELA. Responsabilidade Social. Disponível em: . Acesso em: 21/08/2013.
HOGAN D. J.; MARANDOLA JR. E.; OJIMA R. População e Ambiente: Desafios e Sustentabilidade.
São Paulo: Blucher, 2010.
INFOESCOLA. Ecossistema. Disponível em: .
Acesso em: 21/08/2013.
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☕ Referências
ISAIA, G. C. et al. Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de
Materiais. São Paulo: IBRACON, 2010.
MIHELCIC J. R. e ZIMMERMAN J. B. Engenharia Ambiental: Fundamentos, Sustentabilidade e
Projetos. Rio de Janeiro: LTC, 2012.
PEREIRA, A. C.; SILVA, G. Z. CARBONARI, M. E. E. Sustentabilidade, responsabilidadesocial e
meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2011.
SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de
Textos, 2008.
SANTOS, R. F. PlanejamentoAmbiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.certo grau de autonomia e em outras ocorre justamente o inverso;
algumas têm um forte sentido de identidade coletiva, ao passo que em outras essa situação não
se verifica; umas podem ser localizadas em áreas definidas, separadas da parte dominante da
população, enquanto que outras se encontram dispersas.
Vale lembrar que nem mesmo a Organização das Nações Unidas logrou êxito em estabelecer um
conceito universal de minoria, tendo em vista que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos de 1966 estabeleceu apenas que “nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas
ou linguísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não poderão ser privadas do direito
deter, conjuntamente com outros membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar
e praticar sua própria religião e usar sua própria língua" PIDCP ONU, 1966.
Não obstante tais diferenças, podemos entender por minoria um “grupo não dominante de
indivíduos que partilham certas características nacionais, étnicas, religiosas ou linguísticas,
diferentes das características da maioria da população” GDDC n.º 18, 2008.
Já o conjunto de pessoas que por questões ligadas a gênero, idade, condição social, deficiência
e orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à violação de seus direitos é conhecido como
grupo vulnerável (SENASP, 2009.
Nesse sentido, a doutrina aponta os seguintes elementos caracterizadores das minorias e
grupos vulneráveis (SÉGUIN apud. BRITO
Tabela 1
Minorias Grupos Vulneráveis
Numérico.
Por vezes, se apresentam como
grande contingente, como as
mulheres, as crianças, os idosos.
Não dominância. São destituídos de poder.
Cidadania. Cidadania.
Solidariedade entre seus
membros, tudo com vistas à
preservação de sua cultura,
tradições, religião e idioma.
Acima de tudo, não têm
consciência de que estão sendo
vítimas de discriminação e
desrespeito; não sabem que têm
direitos.
De qualquer forma, minoria ou grupo vulnerável, não importa, o fato é que esses conjuntos
específicos de pessoas devem ser protegidos, pois seus direitos são mais suscetíveis de serem
violados. Assim, vejamos:
Crianças e Adolescentes
É certo que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, acima mencionada, põe a salvo os
direitos desses grupos específicos ora tratados, ao estabelecer que: “A maternidade e a infância
têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do
matrimônio, gozarão da mesma proteção social” (inciso 2 do artigo XXV.
Nesse mesmo sentido, a Constituição Federal de 1988, antecipando-se à Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas, que em 1989 realizou a Convenção Internacional dos Direitos da
Criança, reconhece: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à saúde, à alimentação, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (artigo 227.
Na esfera infraconstitucional, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8069/90
reconhece que esses grupos específicos de pessoas gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana e assegura-lhes oportunidades e facilidades com o fim de alcançar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de
dignidade.
Não obstante essas disposições legais, a violência contra a criança e os adolescentes tornou-se
um preocupante fenômeno mundial, a Youth for Human Rights International alerta sobre as
violações à dignidade e à vida, das crianças e adolescentes, alvos fáceis dessas práticas:
Abuso infantil: 40 milhões de crianças com menos de 15 anos sofrem de abusos
e negligência. Fundação das Nações Unidas para a Infância, 2008;
Violência de Gangs: 100% das cidades com população igual ou superior a 250 mil
relatam a atividade de gangs. Ministério da Justiça dos EUA;
Trabalho infantil: 246 milhões de crianças, uma em cada seis crianças com
idades entre 5 a 17 anos, estão envolvidas em trabalho infantil. Organização
Internacional do Trabalho, 2002;
Crianças-soldados: A UNICEF estima que mais de 300 mil crianças menores de
18 anos estão atualmente a ser exploradas em mais de 30 conflitos armados em
todo o mundo. A maioria das crianças-soldados tem entre 15 e 18 anos, alguns
são tão jovens quanto 7 ou 8 anos de idade. Departamento de Estado dos EUA,
2005;
Tráfico de seres humanos: estima–se que existem 27 milhões de pessoas no
mundo que estão escravizadas. Anualmente entre 600 mil e 800 mil pessoas são
Mulheres
Certamente, em razão das diferenças biológicas havidas entre homens e mulheres, esta foi a
primeira diversidade percebida entre os seres humanos. Vale mencionar que, ao longo dos
séculos as mulheres têm sido privadas do exercício dos direitos humanos, sendo submetidas à
violência, sob as mais diversas formas – física, sexual, psicológica e econômica.
Sensível a essa situação, a Organização das Nações Unidas (ONU declarou o período havido
entre 1976 e 1985, como a “Década da Mulher”, sendo certo que ao longo desse lapso temporal
foram elaboradas propostas com o fim de tutelar os direitos humanos das mulheres, dentre as
quais se destaca a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher (Convenção da Mulher), instrumento legal de padrões internacionais que articula direitos
iguais de homens e mulheres.
Nesse sentido, alerta a Organização das Nações Unidas:
- YHRI | Fonte: https://bit.ly/3b9WFNl
Cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua
vida: As mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência
doméstica do que de câncer, acidentes de carro, guerra e malária, de acordo com
dados do Banco Mundial;
Violência praticada pelo parceiro íntimo: Diversas pesquisas mundiais apontam que
metade de todas as mulheres vítimas de homicídio é morta pelo marido ou parceiro,
atual ou anterior. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS realizado em
11 países constatou que a porcentagem de mulheres submetidas à violência sexual
por um parceiro íntimo varia de 6% no Japão a 59% na Etiópia;
Violência sexual: Calcula-se que, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres se
tornará uma vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da vida. A prática
traficadas através das fronteiras internacionais. Relatório de Tráfico de Pessoas
do Departamento de Estado dos EUA, 2006.
https://bit.ly/3b9WFNl
No âmbito do direito pátrio, importante avanço foi conquistado pelas mulheres, com a edição da
Lei n° 11.340/06, conhecida como “Lei Maria da Penha que“... cria mecanismos para coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher em conformidade com a Convenção Interamericana
do matrimônio precoce – uma forma de violência sexual – é comum em todo o
mundo, especialmente na África e no Sul da Ásia. As meninas são muitas vezes
forçadas a se casar e a manter relações sexuais, o que acarreta riscos para a saúde,
inclusive a exposição ao HIV/AIDS e a limitação da frequência à escola. Um dos
efeitos do abuso sexual é a fístula traumática ginecológica: uma lesão resultante do
rompimento severo dos tecidos vaginais, deixando a mulher incontinente e
indesejável socialmente;
Violência sexual em conflitos: Trata-se, com frequência, de uma estratégia
deliberada empregada em larga escala por grupos armados a fim de humilhar os
oponentes, aterrorizar as pessoas e destruir as sociedades. Mulheres e meninas
também podem ser submetidas à exploração sexual por aqueles que têm a obrigação
de protegê-las;
“Homicídio em defesa da honra”: Em muitas sociedades, vítimas de estupro,
mulheres suspeitas de praticar sexo pré-matrimonial e mulheres acusadas de
adultério têm sido assassinadas por seus parentes, porque a violação da castidade
da mulher é considerada uma afronta à honra da família. O Fundo de Populaçãodas
Nações Unidas (UNFPA estima que o número anual mundial do chamado “homicídio
em defesa da honra” pode chegar a 5 mil mulheres;
Tráfico de pessoas: Entre 500 mil e 2 milhões de pessoas são traficadas anualmente
em situações incluindo prostituição, mão de obra forçada, escravidão ou servidão,
segundo estimativas. Mulheres e meninas respondem por cerca de 80% das vítimas
detectadas;
Discriminação e violência: Muitas mulheres enfrentam múltiplas formas de
discriminação e um risco cada vez maior de violência física, em comparação a um
terço das mulheres sem deficiência. A violência contra as mulheres detidas pela
polícia é comum e inclui violência sexual, vigilância inadequada, revistas com
desnudamento realizadas por homens e exigência de atos sexuais em troca de
privilégios ou necessidades básicas (ONU.
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (“Convenção de Belém do Pará”).
Amplia o conceito de violência contra a mulher, compreendendo tal violência como “qualquer
ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial”, que ocorra no âmbito da unidade doméstica, no âmbito
da família ou em qualquer relação íntima de afeto” PIOVESAN, 2012.
Casamento e Constituição da Família
Em razão da influência exercida pela Igreja, por muito tempo o Brasil teve como base da formação
da família o casamento religioso.
Vale mencionar que esses laços começaram a se afrouxar com o advento da Lei n° 6.515/77 que
instituiu a dissolubilidade do vínculo matrimonial, pelo divórcio.
No entanto, foi a Constituição Federal de 1988 que produziu importantes inovações ao
reconhecer como entidade familiar, tanto a união estável entre o homem e a mulher (§ 3°, art.
226, quanto a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, sendo todas
merecedoras de especial proteção do Estado (§ 4°, art. 226.
“Nessa esteira, observa-se que a entidade familiar ultrapassa os limites da previsão jurídica
(casamento, união estável e família monoparental) para abarcar todo e qualquer agrupamento de
pessoas onde permeie o elemento afeto (affectio familiae). Em outras palavras, o ordenamento
jurídico deverá sempre reconhecer como família todo e qualquer grupo no qual os seus membros
enxergam uns aos outros como seu familiar” ALVES, 2006, ainda que se trate de união, por
vínculo de afeto, entre pessoas do mesmo sexo.
Acerca da união homoafetiva é necessário mencionar que o Colendo Supremo Tribunal Federal já
reconheceu a inconstitucionalidade de distinção de tratamento legal às uniões estáveis
constituídas por pessoas de mesmo sexo (ADPF 132/RJ e da ADI 4277/DF, tendo seguido
idêntica orientação, o Superior Tribunal de Justiça, ao decidir acerca da inexistência de óbices
legais à celebração de casamento entre pessoas de mesmo sexo (RESP 1.183.378/RS.
Tais julgados, por sua vez, embasam a Resolução 175, de 14 de maio de 2013, do Conselho
Nacional de Justiça, que determina ser “... vedada às autoridades competentes a recusa de
habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre
pessoas de mesmo sexo” CNJ, 2013.
Ora, ainda que essas decisões não tenham caráter vinculativo e que a constitucionalidade da
referida resolução esteja sendo questionada, não se pode negar que elas representam um
caminho à efetiva proteção “do direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da
“dignidade da pessoa humana”: direito a autoestima no mais elevado ponto da consciência do
indivíduo. Direito à busca da felicidade” ADPF 132/RJ.
Povos Indígenas
É certo que na esfera internacional, vários diplomas tratam dos direitos dos povos indígenas,
sendo o mais importante a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU, em 13 de setembro de 2007.
       FIGURA 4
Fonte: Adaptada de Getty Images
#ParaTodosVerem: Foto montagem com 5 indígenas. À esquerda, imagem de um
indígena, aparenta ser idoso, usa grandes alargadores brancos nas orelhas que
pendem até o seu ombro. Utiliza também variados colares em tom bege,
vermelho e preto. No centro, na parte superior, imagem de uma menina indígena,
olhando para baixo, aparenta ser adolescente, tem cabelo liso e preto na altura
dos ombros, pele bronzeada e apresenta uma pintura indígena em tom preto ao
redor da boca e nas bochechas. No centro, na parte inferior, um homem indígena
com a cabeça erguida, aparenta ser jovem adulto, está usando na cabeça um
cocar com penas azuis e amarelas; o rosto está pintado de vermelho. À direita,
na parte superior, imagem de um homem indígena, aparenta ser adulto e está de
perfil; utilizar um cocar na cabeça com penas azuis e vermelhas; o rosto está
pintado de preto e vermelho. À esquerda na parte inferior, há uma imagem de
uma menina indígena, aparenta pouca idade. O rosto está virado para frente e os
olhos virados para a esquerda; usa na cabeça um acessório de penas amarelas,
pretas e vermelhas. O rosto está pintado de vermelho nas bochechas. Fim da
descrição.
Nos mesmos moldes da Declaração Universal dos Direitos Humanos, esse documento reconhece
que os povos indígenas são iguais a todos os demais povos e detém o direito de serem
diferentes e a serem respeitados em suas diferenças. Afirma, ainda, que todos os povos
contribuem para a diversidade e a riqueza das civilizações e culturas, que constituem patrimônio
comum da humanidade.
No âmbito da legislação pátria, o Estatuto do Índio (Lei n° 6.001/1973, estende aos povos e as
comunidades indígenas, a proteção das leis do país, nos mesmos termos em que se aplicam aos
demais brasileiros, resguardados os usos, costumes e tradições indígenas.
O Brasil tem 896,9 mil indígenas em todo o território nacional, somando a população residente
tanto em terras indígenas (63,8% quanto em cidades (36,2%, de acordo com o Censo 2010, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE. O país tem, ainda, 505 terras indígenas,
que representam 12,5% do território brasileiro (106,7 milhões de hectares), onde residem 517,4
mil indígenas (57,7%, dos quais 251,9 mil (48,7% estão na região Norte. Apenas seis terras têm
mais de 10 mil indígenas; 107 têm entre mais de 1 mil e 10 mil; 291 têm entre mais de cem e 1 mil,
e em 83 residem até cem indígenas. A terra com maior população indígena é Yanomami, no
Amazonas e em Roraima, com 25,7 mil indígenas (BRASIL, 2013.
Vale esclarecer que a ocorrência de atos violentos contra os índios brasileiros, como
assassinatos (e tentativas), ameaças de morte, lesões corporais e estupros, cresceram 237% em
2012, segundo o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas, divulgado pelo Conselho
Indigenista Missionário (ÉPOCA, 2013. O aumento da violência, em grande parte, se deu em
razão dos conflitos fundiários envolvendo produtores rurais e grupos indígenas.
Afrodescendentes
É inegável que a Declaração Universal dos Direitos Humanos refletiu a necessidade de proteção
específica de certas populações, grupos e indivíduos que ao longo dos tempos foram violados
em seus direitos, sendo este justamente o caso dos afrodescendentes, usualmente, vítimas de
preconceito e racismo.
Aliás, nesse sentido surgiu a Convenção sobre a Eliminação de Todas das Formas de
Discriminação Racial adotada pela Organização das Nações Unidas em 21 de dezembro de 1965 e
ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968, a qual integra o denominado sistema especial de
proteção dos direitos humanos que, ao contrário do sistema geral, é endereçado a um sujeito de
direito concreto, visto em sua especificidade e na concreticidade de suas diversas relações. Daí
apontar-se não mais ao indivíduo genérica e abstratamente considerado, mas ao indivíduo
especificado, considerando-se categorizações relativas ao gênero, idade, etnia, raça [...]
PIOVESAN.
Assim, visando eliminar e combater doutrinas e práticas racistas, a Convenção estabelece que,
pordiscriminação racial entende-se qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência,
baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que têm por objetivo ou
efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em
igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida pública (ICERD, art. 1º).
Por outro lado, a Constituição Federal de 1988, reafirma que um dos objetivos principais da
República Federativa do Brasil é combater o preconceito e qualquer forma de discriminação
(inciso IV do artigo 3°), devendo ser punida qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais (inciso XLI do artigo 5°), em especial a prática do racismo, crime
inafiançável e imprescritível (inciso XLII do artigo 5°).
Nessa esteira merecem destaque na legislação infraconstitucional pátria:
Eis um retrato da demografia racial no Brasil:
Lei 7716/89 define os diversos crimes resultantes de preconceito de raça e de cor,
o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/10 que visa garantir à população negra
a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos
individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de
intolerância étnica;
§3° do artigo 140 do Código Penal: define o crime de injúria racial – "Se a injúria
consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou
a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
Pena – reclusão de um a três anos e multa".
Lei 12.711/12 e Decreto 7.824/12 A chamada “Lei de Cotas” garante percentuais
mínimos de vagas nas universidades federais e nas instituições federais de ensino
técnico e de nível médio para estudantes pretos, pardos, indígenas e também para
aqueles de famílias de rendas menores egressos das escolas públicas.
Figura 5
Fonte: CONEPIR
#ParaTodosVerem: Imagem de um infográfico. Na parte superior à esquerda há o
título Demografia Racial no Brasil. Há 6 gráficos com informações diversas. O
primeiro é sobre o número da população brasileira em milhões por décadas: em
2000, a população de brancos era de 91 milhões; e a de negros, 76 milhões. Em
2010, a população de brancos era de 91 milhões; e a de negros, 97 milhões. Ao
lado direito, há duas informações: mulheres brancas que criavam seus filhos
sozinhas – 14,3%, e mulheres negras que criavam seus filhos sozinhas – 17,7%.
No centro da imagem, na imagem à esquerda o gráfico informa óbitos masculinos
por causas externas: Homens brancos: em 2001  homicídios: 36,2%, em 2007 
30%; acidentes de trânsito: em 2001  50%, em 2007  35,3%. Homens negros:
em 2001  homicídios: 50%, em 2007 48%. Acidentes de trânsito: em 2001 
20%, em 2007 24%. No centro à direita, há um gráfico que informa a
contribuição das mulheres para a renda: em 1999 brancas – 32,3, negras –
24,3%; em 2009 brancas – 36,1% e negras - 285%. Na parte inferior à
esquerda, há um gráfico de taxa de fecundidade: em 1999, pessoas negras
tinham taxa de fecundidade de 2,7, enquanto pessoas brancas de 2,2. Em 2009,
pessoas negras tem taxa de 2,1 enquanto pessoas brancas tem taxa de 1,6. Na
parte inferior à direita, há um gráfico que mostra horas semanais dedicadas ao
trabalho doméstico: brancos – 20,3 horas; negros – 22 horas. Fim da descrição
Pessoas com Deficiência
“Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou
sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade com as demais pessoas” NOGUEIRA, 2008. Ora, pode parecer óbvio, mas
é importante lembrar que essas pessoas são seres humanos e por isso seus direitos
fundamentais já são resguardados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.
No entanto, em que pese tal proteção, é fato que as pessoas com deficiência estão mais
vulneráveis a situações de violência, razão pela qual a Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU aprovou, em 13 de dezembro de 2006, a Convenção sobre os Direitos da
Pessoa com Deficiência.
O referido tratado foi assinado pelo Brasil em 30 de março de 2007 e entrou em vigor,
juntamente com seu protocolo Facultativo, em 3 de maio de 2008, valendo mencionar que a
Convenção não cria direitos, sendo um facilitador para a concretização de todos os direitos da
pessoa com deficiência, sejam os universais, sejam os referentes à grupos específicos.
Cerca de 10% da população mundial, aproximadamente 650 milhões de pessoas, vivem com uma
deficiência. São a maior minoria do mundo, e cerca de 80% dessas pessoas vivem em países em
desenvolvimento. Entre as pessoas mais pobres do mundo, 20% têm algum tipo de deficiência.
Mulheres e meninas com deficiência são particularmente vulneráveis a abusos. Pessoas com
deficiência são mais propensas a serem vítimas de violência ou estupro, e têm menor
probabilidade de obter ajuda da polícia, a proteção jurídica ou cuidados preventivos. Cerca de
30% dos meninos ou meninas de rua têm algum tipo de deficiência, e nos países em
desenvolvimento, 90% das crianças com deficiência não frequentam a escola (ONU.
No Brasil, de acordo com o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE,
quase ¼ da população (23,9% apresenta algum tipo de deficiência, o que significa cerca de 45,6
milhões de pessoas, sendo 26,5% mulheres e 21,2% homens, apresentando deficiência visual
(35.774.392, auditiva (9.717.318, motora (13.265.599, mental e intelectual (IBGE.
Trabalho Escravo e Práticas Análogas
Pode parecer incrível, mas em pleno século XXI essa prática tão vergonhosa e merecedora de
repúdio ainda persiste no mundo inteiro, especialmente nos países em desenvolvimento.
Aliás, em 1926 a Convenção sobre a Escravatura da Organização das Nações Unidas (ONU já
alertava sobre os perigos da escravidão, entendida esta como o estado e a condição de um
indivíduo sobre o qual se exercem, total ou parcialmente, alguns ou todos os atributos do direito
de propriedade.
- Art. 4º. DUDH ONU, 1948
“Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráficode
escravos serão proibidos em todas as suas formas.”
Por outro lado, Organização Internacional do Trabalho (OIT, agência das Nações Unidas que tem
por missão promover o acesso a um trabalho decente e produtivo, estabelece que a expressão
trabalho forçado ou obrigatório, designa todo trabalho ou serviço exigido de um indivíduo, sob
ameaça de qualquer qualidade, e para o qual ele não se ofereceu de espontânea vontade (OIT
art. 2º, 1930.
A Organização Internacional do Trabalho apresenta o triste retrato mundial, acerca dessa
repugnante prática:
No Brasil, onde é utilizada a expressão “trabalho escravo”, proíbe-se o tratamento desumano ou
degradante, por meio do livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, do direito à
relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, direito ao salário
mínimo, fundo de garantia do tempo de serviço; irredutibilidade salarial, décimo terceiro salário
Quase 21 milhões de pessoas são vítimas de trabalho forçado: 11,4 milhões de
mulheres e meninas e 9,5 milhões de homens e meninos;
Os menores de 18 anos representam 26% 5,5 milhões) de todas as vítimas de
trabalho forçado;
Cerca de 19 milhões de vítimas são exploradas por indivíduos ou empresas privadas
e mais de 2 milhões pelo Estado ou grupos rebeldes;
Daqueles que são explorados por indivíduos ou empresas, 4,5 milhões são vítimas de
exploração sexual forçada;
Os que impõem ou promovem o trabalho forçado conseguem enormes ganhos
ilegais;
O trabalho doméstico, a agricultura, a construção, a indústria e o entretenimento se
encontram entre os setores mais afetados;
Os trabalhadores migrantes e os povos indígenas são especialmente vulneráveis ao
trabalho forçado (OIT.
redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas desaúde, higiene e segurança,
entre outros.
Nesse contexto, o Código Penal brasileiro traz inúmeras disposições referentes aos crimes
ligados à organização do trabalho, merecendo especial destaque o artigo 149 que repudia a
prática do trabalho escravo, ao considerar como crime a conduta de “reduzir alguém a condição
análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer
sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua
locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”, incorrendo nas mesmas
penas de reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência, aquele
que cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo
no local de trabalho; mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de
documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
Nestes casos a pena é aumentada de metade, se o crime é cometido contra criança ou
adolescente ou por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
Proteção Contra Tortura e Maus Tratos
Pode-se afirmar que a tortura e os maus tratos acompanham a história das civilizações, como
práticas destinadas à submissão pelo uso do poder e da força física por meio de diferentes
formas de violência.
Por constituir uma grave violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, a tortura
é vedada em todo o mundo sendo certo que “a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(Artigo 5º), o Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos (Artigo 7º), a Convenção contra a
Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,a Convenção
Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais (Artigo 3º), a
Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Artigo 5º), a Carta Africana sobre os Direitos
Humanos e dos Povos (Artigo 5º) e a Carta Árabe sobre os Direitos Humanos (Artigo 8º), todas
contêm disposições sobre essa proibição” CICV.
No Brasil, a Constituição Federal dá conta de que ninguém será submetido à tortura nem ao
tratamento desumano ou degradante (inciso III art. 5º), sendo a tortura crime inafiançável e
insuscetível de graça ou anistia (inciso XLIII artigo 5°), além de constituir crime expressamente
previsto na Lei 9445/97, a saber:
“Art. 1º. Constitui crime de tortura:
I  constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe
sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira
pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa.
II  submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
§ 1º. Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita amedida de
segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
em lei ou não resultante de medida legal.
§ 2º. Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las
ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
A prática de maus tratos também é considerada crime no artigo 136 do Código Penal, que assim
estabelece:
§ 3º. Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão
de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.”
“Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa.”
Cabe esclarecer que essas formas de violências podem ser dirigidas a todos, sendo mais
comumente verificada quando praticada contra mulheres, crianças, idosos e presos, em que
pese a existência de legislação específica que os protege (Lei 11.3400/06; Lei 8069/90; Lei
10.741/03.
Segundo a Anistia Internacional foi constatado que em 159 países e territórios a prática de
tortura está presente em 112 deles, equivalente a 70% do total. O aludido órgão a aponta
repressão do direito à liberdade de expressão em 101 deles (64%; julgamentos injustos, em 80
(50%; em 57 países (36%, prisioneiros de consciência (pessoa detida devido à sua crença
religiosa, posicionamento político, origem étnica, sexo, cor, língua, situação econômica e social e
orientação sexual); e em 21 13%, execuções. O levantamento constatou ainda que forças de
segurança cometeram homicídios ilegais em 50 países (31% e remoções forçadas ocorreram em
36 23% UOL.
Diante desse lamentável quadro, atenção especial tem sido destinada à população carcerária,
que sofre graves violações em seus direitos, justamente em razão da crença de que os presos
não os detêm.
Importante avanço foi trazido pela Lei 12.847 de 2 de agosto de 2013, que institui o Sistema
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura; cria o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à
- MACHADO, Lei 9455/97
“A distinção entre os crimes de maus tratos e de tortura deve ser encontrada não só
no resultado provocado na vítima, como no elemento volitivo do agente; assim, se
[alguém] abusa do direito de corrigir para fins de educação, ensino, tratamento e
custódia, haverá maus tratos, ao passo que caracterizará tortura quando a conduta é
praticada como forma de castigo pessoal, objetivando fazer sofrer, por prazer, por
ódio ou qualquer outro sentimento vil.”
Tortura e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura.
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
  Vídeos  
Povos indígenas falam sobre seu futuro
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ASSISTA
  Filmes  
Taxi to the Dark Side
Um taxista afegão, preso por líderes militares locais, morre 4 dias depois na Base Aérea de
Bagram, por consequência dos ferimentos causados por soldados norte-americanos. Meses de
investigação levam uma jornalista do New York Times até a vila remota da vítima. Lá, encontra o
atestado de óbito em inglês, entregue pelo Exército Americano para a família da vítima, que só
3 / 4
📚 Material Complementar
https://youtu.be/qVIbZgpyD_0
fala Pashtu. Causa oficial da morte: homicídio. Documentos oficiais revelam como o exército
norte-americano e o FBI gastaram meses de pesquisa aperfeiçoando seus métodos para “dobrar”
os prisioneiros.
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ASSISTA
A Rota do Escravo – A Alma da Resistência
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ASSISTA
O Enigma: ONU Contra a Homofobia
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ASSISTA
Homem de Verdade não Bate em Mulher
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ASSISTA
https://youtu.be/WX0MPcN08Zc
https://youtu.be/HbreAbZhN4Q
https://youtu.be/lpNE7D5avXo
https://youtu.be/z85kvYGXLhE
ALVES, L. B. M. O reconhecimento legal do conceito moderno de família: o art. 5º, II e parágrafo
único, da Lei nº 11.340/2006 Lei Maria da Penha). JusNavigandi, Teresina, ano 11, n. 1225, 8 nov.
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Adolescente), Lei 10.741/03 Estatuto do Idoso).
BROTTO, M. E. Diversidade: Na busca pela garantia da Cidadania e de Direitos Humanos. Este
artigo é fruto dasreflexões desenvolvidas e apresentadas na disciplina “Cidadania e Direitos.
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YHRI. Violações dos Direitos Humanos. Disponível em:
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Conteudista: Prof.ª Dr.ª Andrea Borelli | Prof.ª M.ª Elisabete Guilherme
Revisão Textual: Prof.ª M.ª Magnólia Gonçalves Mangolini
Objetivo da Unidade:
Apresentar alguns aspectos das tensões e contribuições das comunidades nativas e
afro-brasileiras para a formação da cultura nacional.
✊ Contextualização
📜 Material Teórico
📚 Material Complementar
☕ Referências
Unidade 2:
Formação em História 
e Cultura Afro-Brasileira 
e Africana
Videoaula
Veja, no vídeo a seguir, os assuntos abordados nesta unidade. Atente-se, pois, ao longo dele,
você terá algumas questões reflexivas. 
1 / 4
✊ Contextualização
 Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo online para que
você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do
conteúdo.
As Comunidades Nativas
No momento em que os portugueses chegaram ao Brasil, o seu contato mais direto foi com os
índios da nação tupi, que dominavam a região que se estende do litoral do Ceará a São Paulo, e
os povos guaranis, que ocupavam o litoral Sul.
Além destes grupos, existiam outras nações indígenas, falantes de outras línguas, que os tupis
chamavam de tapuias. Há registros dos modos de vida destes índios em viajantes como Hans
Staden, Jean de Lery e mesmo na Carta de Pêro Vaz de Caminha.
2 / 4
📜 Material Teórico
O interesse dos portugueses para o país se deu por motivos político-econômicos, uma vez que a
madeira chamada de pau-brasil será amplamente valorizada pelo seu valor na tintura de tecidos.
Nesse período, segundo Holanda (2003, p. 38 “o corte do pau-brasil se organizará à base do
aproveitamento da mão de obra indígena livre; esta retirava da floresta e transportava os troncos
de madeira preciosa em troca de machados e quinquilharias europeias”.
A prática do escambo de pau-brasil marcou as primeiras décadas de contato entre os índios e os
europeus, visto que, além dos portugueses, nossas praias eram visitadas por franceses que
também cobiçavam o pau-brasil.
- Carta de Pêro Vaz de Caminha a D. Manuel.
“A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos, bons
narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de
encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar
o rosto. ... traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e
verdadeiros, do comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão,
agudos na ponta como furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte
que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrês, ali encaixado de
tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.”
        FIGURA 1 
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: Foto de uma árvore pau brasil, vista da perspectiva de baixo
para cima. O tronco é marrom avermelhado e apresenta cascas e textura
características dessa árvore, as folhas verdes são abundantes, denotando ser
uma árvore saudável. Fim da descrição. 
O desenvolvimentoda cultura açucareira modificou esta relação, pois os índios passaram a ser
vistos como um obstáculo para a posse da terra e como mão de obra para os engenhos.
As relações tornaram-se conflituosas e os colonizadores conseguiram empurrar os grupos
indígenas para o interior, além de lucrar com o comércio de escravos indígenas.
Sobre este tema é importante notar que a resistência dos índios em trabalhar estava
fundamentada no fato de que o trabalho nas aldeias não era regulado e sistemático, como na
agricultura açucareira. Este é o motivo que levou os índios a resistirem ao trabalho agrícola e não
resistiu a trabalhar na extração do pau-brasil.
        FIGURA 2  |   Índios escravizados – Debret
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: Reprodução de uma pintura do pintor Jean Baptiste Debret
intitulada “Soldados índios da província de Curitiba escoltando selvagens”, de
1834. A pintura mostra cinco adultos e 4 crianças. Estão andando uma trás do
outro em fila, sobre um tronco grosso de uma árvore caída. O primeiro da fila é
um homem, veste uma calça branca, uma blusa branca de manga comprida e um
colete cor laranja e verde, usa um chapéu na mesma cor do colete, carrega na
mão esquerda uma espingarda apontada para frente. A segunda pessoa da fila é
uma mulher, tem cabelo preto liso, está nua, os seios à mostra e os braços
cruzados nas costas amarrados por uma corda fina, atrás da mulher há uma
criança, também nua, está abraçada à perna esquerda da mulher. A terceira
pessoa da fila é um homem, está nu, as mãos unidas na frente do peito e presas
nos punhos pela outra ponta da corda que também prende a mulher à frente. O
homem carrega nos ombros uma criança nua e outras duas crianças, também
nuas, o seguem atrás, todos abraçados uns aos outros. A quarta pessoa da fila é
um homem, usa calça e blusa de manga comprida branca, colete azul e amarelo e
um chapéu com as mesmas cores, carrega uma espingarda apoiada no antebraço
esquerdo, com o cano virado para trás. O último da fila é um homem, veste calça
e blusa de manga comprida branca, um colete vermelho e amarelo, com chapéu
nas mesmas cores, carrega um pássaro morto na mão esquerda e segura, na
mão direita, uma espingarda apoiada no ombro direito e com o cano virado para
trás, carrega nas costas um saco volumoso de cor branca. Fim da descrição.
O tema da escravidão traz outra questão: a ação dos missionários jesuítas. Os jesuítas
organizaram grandes ações de catequização, que contribuíram para a destruição da cultura
tradicional. Contudo, os jesuítas tentaram impedir a escravização dos indígenas, através de
sermões contra este processo.
        FIGURA 3  |   Aldeia de índios cristãos - Rugendas
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: Reprodução de uma pintura do pintor Johann Rugendas,
intitulada “Aldeia de índios Tapuios cristãos”, de 1820. A pintura mostra um
povoado simples, com algumas casas. Ao fundo há uma paisagem com
montanhas e árvores de várias espécies, algumas casinhas brancas com telhados
- VIEIRA, 2011
“que os índios sejam pagos de seu trabalho; nenhum índio irá servir a morador algum,
nem ainda nas obras públicas...”
de cor marrom aparecem na paisagem atrás. No segundo plano, à esquerda, há
um grupo de 10 indígenas de pé, reunidas em volta de um padre, parecem estar
conversando à vontade: um deles acaricia um cachorro malhado. A maioria dos
indígenas está retratada sem vestimentas, mas uma criança está vestindo uma
calça cor laranja e um chapéu com a mesma cor, o peito está descoberto e ela
está descalça. O padre está representado por uma batina de cor preta, chapéu
com aba reta também de cor preta, os cabelos são grisalhos e usa um sapato de
cor marrom. Apoia-se a uma bengala na mão esquerda; e a mão direita está
espalmada, indicado que ele está explicando algo para o indígena que está à sua
direita. O indígena à direita do padre está nu e olha atentamente para o rosto do
padre, apoiando o queixo na mão direita. Ao lado dele há uma mulher indígena
vestida com calça e blusa de cor amarela, está descalça. À direita da imagem
aparecem duas mulheres conversando, uma delas está sentada em um carro de
boi, que está parado em frente a uma casa, usa uma saia amarela e uma blusa
cor de rosa; e a outra mulher está de pé ao seu lado, usando saia a blusa azul-
claro. No primeiro plano, mais ao centro da imagem, há dois homens usando
calças cor esverdeadas e sem camisa, estão trabalhando na terra, um deles usa
uma picareta e o outro segura uma outra ferramenta com cabo comprido de
madeira que toca o chão. Fim da descrição. 
Além da igreja que ocupava um papel assistencialista, coube ao governo nacional mediar às
relações entre os indígenas e colonos, e esta situação se manteve durante o império e a
república.
Diversas tribos procuraram mudar para o interior para evitar os contatos com os brancos, e esta
estratégia funcionou durante muito tempo. Um exemplo é a expedição dos irmãos Villas Boas.
Os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Boas foram parte da expedição que contatou os
Xavantes, que na década de 40 ainda eram uma tribo hostil. Além disso, eles estabeleceram
contatos com 14 povos do alto Xingu, que tinham uma grande diversidade cultural.
Durante a década de 70, os diversos grupos indígenas começaram a se organizar, e este
movimento teve grande repercussão, e no final da década estes movimentos se organizaram na
União Nacional das Nações, o que teve um grande impacto sobre a sociedade brasileira e
colocou o tema dos indígenas em discussão.
As discussões sobre o movimento indígena refletiram nas medidas criadas pela Constituição de
1988, que alterou a relação entre os índios e o estado, e reconheceu o direito a manter sua
organização social e cultural, além de determinar que os grupos tivessem direito as terras que
tradicionalmente ocupavam.
Esta constituição inovou quando reconheceu o direito originário dos índios a terra, ou seja, este
direito é anterior ao surgimento do estado, existindo de forma independente e sem a
necessidade de reconhecimento formal.
- Marcos Terena
- Constituição Federal de 1988
“Até o momento, os brancos definiram que comportamentos e leis nós deveríamos
seguir. Agora, com a nossa agenda, queremos redefinir essas regras (... Na verdade,
estamos iniciando um processo de luta, abrindo estradas para o futuro.”
“Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus
bens.”
Lei determina o que são as terras indígenas, no parágrafo 1 do artigo 231
A Constituição previa que as terras indígenas deveriam ser demarcadas em um prazo de cinco
anos, contudo, isso nunca aconteceu e vários grupos ainda não tem este direito regularizado.
O Negro no Brasil
Chegando ao Brasil
A partir de 1.530, aproximadamente, Portugal utilizou a ocupação do território recém-descoberto
como meio de protegê-lo da invasão de outras nações para a extração e transporte do pau-
brasil. Portanto, até meados de 1.550 os poucos africanos moradores da colônia eram aqueles
vindos do Reino trazidos entre os pertences pessoais dos colonizadores, como trastes de uso
individual e doméstico (Holanda, 2003, p. 208ss).
O crescente e frutífero cultivo de cana-de-açúcar em terras brasileiras, a partir das experiências
bem sucedidas na América Central, Antilhas e Ilhas da Madeira e Cabo Verde, justificou o
aumento da demanda por mão de obra tanto para o trabalho na lavoura, no corte, transporte
como no beneficiamento da cana nos engenhos de açúcar. E, diante dos obstáculos para a
utilização da mão de obra indígena(resistência ao trabalho agrícola, proteção dos religiosos –
- Constituição Federal de 1988
“São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessáriosa seu bem estar e as necessárias a
sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.”
como frei Bartolomeu de Las Casas e padre Antônio Vieira, e de algumas legislações da época), a
Coroa lançou mão do recurso que se mostrou como uma das atividades mais lucrativas da
colônia: o aprisionamento, transporte e a escravização de africanos.
Essa nova modalidade de comércio – de seres humanos!  com o deslocamento forcado de
aproximadamente 4 milhões de pessoas por quase trezentos anos, marcou profundamente a
sociedade brasileira, e moldou as nossas relações econômicas, comercias, culturais e afetivas
com o continente africano e com os afro-brasileiros descendentes dele.
Antes de investir na escravidão africana, os portugueses apostaram na escravização das
populações locais, que eram chamados de negros da terra em oposição aos africanos, que
inicialmente, eram conhecidos por negros da guine.
Por volta do século XVI, a oferta de escravos indígenas diminuiu e o governo português passou a
estimular o tráfico africano, que era mais lucrativo e interessante para a metrópole. Contudo,
cabe destacar que em muitas regiões pobres da colônia, a escravidão dos índios continuou a ser
praticada, afinal, o escravo indígena era mais barato que o africano.
No século XVIII, o tráfico tinha se consolidado como uma das atividades mais lucrativas da
colônia, e os traficantes eram pessoas ricas e poderosas que participavam da vida política, social
e religiosa da colônia.
Os portugueses trouxeram pessoas de todas as regiões do continente africano e esta medida
objetivava impedir a concentração de indivíduos com mesma língua e cultura. Deve-se destacar
que este ideal nem sempre era alcançado, pois os traficantes muitas vezes agrupavam as
pessoas para facilitar o apresamento.
Ao observar a imagem abaixo, é possível notar os dois principais grupos étnicos de africanos
trazidos para o Brasil: os bantos e os nagôs-yorubás (também chamados de sudaneses).
        FIGURA 4  |   Mapa com as rotas de tráfico
Fonte: Adaptada de Getty Images
#ParaTodosVerem: Figura de um mapa mostrando o continente americano, o
africano e parte do asiático. Há linhas azuis que indicam as rotas do tráfico de
escravos para as Américas a partir da África: da cidade de Cabo Verde saiam
rotas para as Antilhas (América central), Olinda e São Luís, no Brasil. Da cidade
de São Jorge de Mina saíam rotas para Olinda e Salvador, no Brasil; da cicdade de
Luanda saíam rotas para América do Norte e Havana, na América Central; da
cidade de Benguela a rota era para Salvador e Rio de Janeiro; de Mombaça e
Moçambique, as rotas iam até Rio de Janeiro e Buenos Aires. Já as setas
vermelhas indicam o tráfico da África para o Oriente e o Mediterrâneo: da cidade
de Tombuctu as rotas iam até Marrakech, Angel e Tripoli; setas indicam que
sudaneses eram traficados para o Cairo, para Meca e Constantinopla; da cidade
de Mombaça, saia rota para Mascate e outras partes da Ásia. Fim da descrição. 
As pessoas apresadas no interior da África eram transportadas para os portos de saída e muitos
morriam já neste trajeto, devido aos maus tratos e as doenças, causados pela desidratação,
desinterias bacilares e amebianas, anorexia e apatia – tipo de banzo (negreiros ingleses
chamavam de mortal melancholy), além de surtos de escorbuto. A situação não era melhor nas
áreas portuárias, onde eram colocados em barracões ou cercados e, segundo os dados 40% dos
aprisionados morriam ainda nas feiras no interior de Angola, de 10% a 12% faleciam durante o
mês de espera ainda no porto e 9% durante a travessia atlântica. Após 04 anos de trabalho na
América Portuguesa, apenas um individuo em cinco dos desembarcados vivos conseguia
sobreviver.
- BAQUAQUA, 1854
Leitura
 Biografia de Mahommah G. Baquaqua 
Sobre a experiência de Mahommah G. Baquaqua no Brasil, você pode ler
o texto da historiadora Silvia Hunold Lara.
“Quando estávamos prontos para embarcar, fomos acorrentados uns aos outros e
amarrados com cordas pelo pescoço e assim arrastados para abeira do mar. O navio
estava a alguma distância da praia. Nunca havia visto um navio antes e pensei que
fosse algum objeto de adoração do homem branco. Imaginei que seríamos todos
massacrados e que estávamos sendo conduzidos para lá com essa intenção. Temia
por minha segurança e o desalento se apossou quase inteiramente de mim... Não
sabia do meu destino. Feliz de mim que não sabia. Sabia apenas que era um escravo,
acorrentado pelo pescoço, e devia submeter-me prontamente e de boa vontade,
acontecesse o que acontecesse. Isso era tudo quanto eu achava que tinha o direito de
saber.”
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ACESSE
Os escravos eram alojados nos porões dos navios negreiros, também chamados de tumbeiros.
Nestes navios, além da superlotação, eles passavam por todos os tipos de privação, recebiam
pouca água e quase nenhum alimento, o que ampliava o número de mortes – daí o nome de
tumbeiros, pois os corpos dos mortos eram deixados por dias ao lado dos que ainda
permaneciam vivos. Os relatos de motins em navios negreiros são raros, contudo eles
aconteciam e para evitar problemas, os escravos mais inquietos eram acorrentados as paredes
ou ao chão do barco.
https://goo.gl/xFdf1e
        FIGURA 5  |   Tumbeiros
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: Figura de uma antiga planta de um navio negreiro inglês. A
planta demonstra que uma grande quantidade de escravos era transportada em
pequenos espaços. Fim da descrição. 
Os africanos trazidos para o Brasil eram majoritariamente homens jovens, entre 10 e 30 anos,
pois era levado em consideração o pouco tempo de vida útil de um escravo em jornada de
trabalho que nos períodos do auge da indústria de açúcar poderiam chegar a 20 horas de
trabalho nas lavouras e nos grandes engenhos instalado em Pernambuco e na Bahia. Com a
descoberta do ouro e o trabalho nas minas, essa situação não foi alterado. O número de
mulheres e crianças era pequeno por, ao menos, dois motivos: os brasileiros preferiam escravos
que pudessem iniciar imediatamente as tarefas para os quais foram adquiridos, e as mulheres e
crianças pequenas eram vendidas na própria África pelas tribos que controlavam o tráfico.
No momento em que chegavam ao Brasil, os escravos eram vacinados, desembarcados,
batizados, contados e os traficantes deviam pagar os impostos devidos à coroa. Uma vez
vendidos, os africanos – agora escravos – eram destinados as mais diversas tarefas. Sobretudo,
serão os engenhos em grandes latifúndios destinados ao cultivo da cana e produção de açúcar,
assim como mais tarde as minas para a extração de minérios e metais preciosos, seus novos
lares.
- BAQUAQUA, 1854
“Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de um lado e as
mulheres do outro. O porão era baixo que não podíamos ficar em pé, éramos
obrigados a nos agachar ou a sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono
nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos. Ficamos desesperados
com o sofrimento e a fadiga. Oh! A repugnância e a imundície daquele lugar horrível
nunca serão apagadas de minha memória. Não: enquanto a memória mantiver seu
posto nesse cérebro distraído, lembrarei daquilo. Meu coração até hoje adoece ao
pensar nisto.”
- BAQUAQUA, 1854
“Quando desembarquei, senti-me grato à Providência por ter me permitido respirar ar
puro novamente, pensamento este que absorvia quase todos os outros. Pouco me
importava, então, de ser um escravo, havia me safado do navio e era apenas nisso que
eu pensava... Permaneci nesse mercado de escravos apenas um dia ou dois, antes de
ser vendido a outro traficante na cidade que, por sua vez, me revendeu a um homem
do interior, que era padeiro e residia num lugar não muito distante de Pernambuco.
Quando um navio negreiro aporta, a notícia espalha-se como um rastilho de pólvora.
Acorrem, então, todos os interessados na chegada da embarcação com sua carga de
mercadoria viva, selecionando

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