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Conteudista: Prof. Me. Paulo Celso Sanvito Revisão Textual: Prof.ª M.ª Magnólia Gonçalves Mangolini Objetivo da Unidade: Discutir a origem do conceito de direitos humanos, sua trajetória histórica, com especial ênfase à Declaração Universal dos Direitos Humanos e suas relações com as seguintes temáticas: tolerância; minorias; crianças e adolescentes; mulheres; casamento e constituição das famílias; povos indígenas, afrodescendentes; pessoas com deficiência; trabalho escravo e práticas análogas e proteção contra tortura e maus tratos. ✌ Contextualização � Material Teórico 📚 Material Complementar ☕ Referências Unidade 1: Direitos Humanos e Questão da Diversidade Videoaula Veja, no vídeo a seguir, os assuntos abordados nesta unidade. Atente-se, pois, ao longo dele, você terá algumas questões reflexivas. 1 / 4 ✌ Contextualização Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo online para que você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do conteúdo. Clique no botão para conferir o vídeo indicado. ASSISTA - Alexandre de Moraes Vídeo O que são Direitos Humanos? Assista ao vídeo “O que são Direitos Humanos” e conheça um pouco mais acerca desses direitos universais. “Direitos Humanos é o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito à sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana.” https://bit.ly/3or7Zb9 Introdução No entanto, é certo que a história da humanidade está marcada justamente pela reação ao diferente que, em geral, consiste no desejo de eliminação daquele que não se enquadra nos padrões socialmente estabelecidos. Aliás, é exatamente como elemento dessa realidade social que a diversidade se faz presente nas raças, etnias, culturas, valores, crenças, enfim, nas peculiaridades que distinguem e individualizam cada um de nós. Ocorre que, não raro, a essas particularidades é atribuído um caráter depreciativo que, além de gerar intolerância e exclusões sociais, impõe a ideia segundo a qual o diferente é sempre inferior ao igual. 2 / 4 � Material Teórico - COMPARATO “Todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que os distinguem entre si, merecem igual respeito, como único sentes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza. [...]” Por isso, em respeito à dignidade humana, se faz necessário o desenvolvimento da tolerância, como forma de aceitação das diferenças, pois somente o diálogo será capaz de despertar a capacidade de compreensão do outro, em seus direitos e acima de tudo, em suas diferenças. Analisemos, então, como se dá a relação entre os direitos inerentes a cada ser humano e atemática da diversidade, em seus aspectos mais relevantes. Direitos Humanos Conceito O conceito de Direitos Humanos pode ser considerado sob dois ângulos (SORONDO - HERKENHOFF Constituindo um ideal comum para todos os povos e para todas as nações, seria então um sistema de valores; Este sistema de valores, enquanto produto de ação da coletividade humana, acompanha e reflete sua constante evolução e acolhe o clamor de justiça dos povos. Por conseguinte, os Direitos Humanos possuem uma dimensão histórica. “Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir.” A doutrina ressalta algumas características próprias desses direitos (KUMPEL; SOUZA A Evolução dos Direitos Humanos É certo que o conceito de Direitos Humanos é resultado da evolução do pensamento filosófico, jurídico e político, da qual podemos destacar três ápices: o Iluminismo, a Revolução Francesa e o término da Segunda Guerra Mundial. Pois bem, com o Iluminismo (período havido entre a Revolução Inglesa de 1688 e a Revolução Francesa de 1789 foram ressaltados o espírito crítico, a razão e a fé na ciência, com o fim de atingir a compreensão acerca das origens da humanidade e da ciência das pessoas e das coisas. O princípio da igualdade foi estabelecido sob o prisma de que todo homem tem direitos resultantes de sua própria natureza. Já a Revolução Francesa deu origem aos ideais representativos dos direitos humanos, a liberdade, a igualdade e a fraternidade: os homens tinham plena liberdade, eram iguais, ao menos em relação à lei e deveriam ser fraternos, auxiliando uns aos outros. Por outro lado, com o fim da Segunda Grande Guerra, os homens se conscientizaram da necessidade de não permitir que aquelas atrocidades ocorressem novamente, o que culminou na criação da Organização das Nações Unidas e na declaração de inúmeros Tratados Internacionais universalidade: todo ser humano é sujeito desses direitos; inviolabilidade: esses direitos não podem ser violados por pessoas ou autoridades; indisponibilidade: são direitos que não podem ser renunciados; imprescritibilidade: têm caráter eterno; complementariedade: inexiste hierarquia entre esses direitos, que devem ser interpretados em conjunto. de Direitos Humanos, dentre os quais se destaca a “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, analisada a seguir. A Declaração Universal dos Direitos Humanos Proclamada em 10 de dezembro de 1948, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU, em Paris, a Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece a dignidade humana inerente às pessoas, titulares de direitos iguais e inalienáveis, servindo de base da luta universal contra a opressão e a discriminação. De acordo com Kumpel, tal documento relaciona em seu texto, direitos civis e políticos (que são chamados de direitos de primeira geração e traduzem o valor da liberdade), como direitos sociais, econômicos e culturais (que são denominados direitos de segunda geração e traduzem o valor da igualdade) e contempla, ainda, a fraternidade como valor universal (contempla, pois, os chamados direitos de terceira geração, que compreendem o direito à paz, ao meio ambiente, ao desenvolvimento, à comunicação, etc.). Desde sua adoção, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi traduzida em mais de360 idiomas – o documento mais traduzido do mundo – e inspirou as constituições de muitos Estados e democracias recentes. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em conjunto com o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais (sobre procedimento de queixa e sobre pena de morte) e com o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu Protocolo Opcional, formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos (ONU. É inegável que esse documento “... significou um divisor de águas na história da evolução e efetivação dos direitos e das garantias fundamentais da pessoa humana, porque a partir dela estabeleceu-se a concepção dos direitos humanos sob o enfoque da especialização dos direitos e dos sujeitos a que se destinam.” SOARES FILHO. Diversidade e Tolerância Ora, todos sabemos que o Brasil é o país da diversidade e por isso seria natural que, em nosso território, a tolerância fosse prática constante, o que, infelizmente, não ocorre. - BROTTO “É possível demarcar a diversidade como um fenômeno concreto, objetivado e subjetivado no cotidiano das relações e da vida social, cuja (re)produção aponta para o processo de interação entre os indivíduos. É possível entendê-la como o conjunto de peculiaridades e diferenças entre os indivíduos, impossíveis de serem padronizadas devido às características singulares de cada ser.” FIGURA 1 Fonte: Thinkstock.com #ParaTodosVerem Foto de 4 pessoas. Imagem focaliza as mãos e os antebraços. A mão da primeira pessoado estoque aqueles mais adequados aos seus propósitos, e comprando os escravos na mesmíssima maneira como se compra gado ou cavalos num mercado. Mas, se num carregamento não houver o tipo de escravo adequado às necessidades e desejos dos compradores, encomenda-se ao Capitão, especificando os tipos exigidos, que serão trazidos na próxima vez em que o navio vier ao porto. Há uma grande quantidade de pessoas que fazem um verdadeiro negócio dessa compra e venda de carne humana e que só fazem isso para se manter, dependendo inteiramente desse tipo de tráfico.” FIGURA 6 | Mercado de escravos, Rugendas Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Litografia do artista alemão Johann Moritz Rugendas, século 19. Mostra um local de compra e venda de escravos. Ao fundo mostra uma paisagem tropical de uma praia, com montanhas, palmeiras e a torre de uma igreja ao longe. Dentro do mercado, em uma estrutura com três arcos, há várias pessoas. Do lado esquerdo há um grupo de negros, todos do sexo masculino, sem vestimentas na parte de cima, sentados em uma esteira de palha. Três deles estão de pé, um deles está apoiado no parapeito e olha a praia. Em frente há um homem branco que os olha, está com vestimentas elegantes, típicas da época, de cor azul, usa também uma cartola de cor bege e está olhando para o grupo de negros. Do lado direito ao fundo há um grupo de crianças negras, um deles recebendo algo de comer uma mulher negra sentada com uma cesta de frutas; ao lado dele há um homem negro, usando chapéu e roupas de cor clara, indica que é um capitão do mato que está negociando com um homem branco, de cabelos pretos e roupa de cor verde e alaranjada, a mão direita do homem está queixo de um negro que está de pé, tem compleição física forte e veste apenas um short cor de rosa. À frente há um grupo de mulheres negras, com os seios à mostra, sentadas em esteiras de palha em volta de uma panela que está em cima de uma fogueira. Uma delas segura um bebê no colo. Fim da descrição. As mudanças nas estruturas econômicas internacionais alteram os interesses da coroa britânica nas questões relativas ao tráfico negro e, a partir do Bill Aberdden, a marinha inglesa passou a perseguir os navios negreiros, o que dificultou a entrada de africanos no país. Em 1850, a Lei Eusébio de Queiroz proibiu o tráfico vindo da África, mas a escravidão ainda permanecia como uma estrutura importante, seja pelo contrabando ou pelo comércio interprovincial. Os homens e mulheres expostos a este comércio sofreram o mesmo desenraizamento dos que foram trazidos da África para o Brasil. Eles também foram arrancados de suas regiões de nascimento e das suas famílias. Em Costas Negras... A maior parte da riqueza produzida no Brasil foi, por mais de trezentos anos, resultado do trabalho escravo. A principal e mais importante mão de obra nos grandes latifúndios, produtores de cana e depois café, era a escrava africana. Com a descoberta dos metais preciosos e do minério, os escravos foram introduzidos nas zonas de mineração, uma vez que em várias regiões da África a forja de metal era atividade há muito conhecida. O cultivo de pequenas hortas também era atividade destinada a escravos – herdando a tradição africana, ficavam aos cuidados das mulheres - e os gêneros produzidos, assim como a criação de pequenos animais domésticos, enriqueciam o cardápio da casa-grande e, em menor proporção a ração dos cativos também. “Quando se desembarca na Bahia, o povo que se movimenta nas ruas corresponde perfeitamente à confusão das casas e vielas. De feito, poucas cidades pode haver tão originalmente povoadas como a Bahia. Se não se soubesse que ela fica no Brasil, A escravidão era uma prática disseminada na sociedade brasileira, além dos grandes proprietários, a maioria da população, militares, funcionários públicos, e mesmo ex-escravos tinham escravos. Nas áreas urbanas, aliás, a maioria dos escravos estava concentrada em pequenos grupos de até dois cativos. A relação entre os senhores e seus escravos era marcada pela coação, e os escravos tinham poucas formas de defesa contra o seu proprietário, apesar da lei proibir atos de crueldade contra estas pessoas. As denúncias de maus tratos eram poucas e, geralmente, o responsável era “perdoado”mediante o pagamento de multa. Contudo, os escravos nunca foram figuras passivas, e procuravam resistir à dominação, através de estratégias que subvertiam a ordem estabelecida e por atos de resistência, como fugas, que levam os senhores a repensar suas práticas, procuram um equilíbrio entre coação e convencimento. - AVELALLEMANT, 1961 poder-se-ia tomá-la sem muita imaginação, por uma capital africana, residência de poderoso príncipe negro, na qual passa inteiramente despercebida uma população de forasteiros brancos puros. Tudo parece negro: negros na praia, negros na cidade, negros na parte baixa, negros nos bairros altos. Tudo que corre, grita, trabalha, tudo que transporta e carrega é negro; até os cavalos dos carros na Bahiasão negros.” “Meu Senhor, nós queremos paz e não queremos guerra; se meu senhor também quiser nossa paz há de ser nessa conformidade, se quiser estar pelo que nós quisermos a saber. Em cada semana nos há de dar os dias de sexta-feira e de sábado para trabalharmos para nós não tirando um destes dias por causa de dia santo... As condições de vida dos escravos no Brasil eram muito ruins, seja nas áreas urbanas ou rurais. A moradia mais comum era a senzala, que podia assumir diversos formatos. Geralmente, a senzala era um grande barracão com uma única entrada e que era fechada durante a noite. Algumas vezes, podiam ser construídos barracões para homens e outro para mulheres e, além disso, as senzalas podiam conter compartimentos para casais com filhos. Em outros locais, as moradias eram barracos construídos pelos próprios escravos, seguindo suas tradições culturais, contudo, isso não significa que estes trabalhadores eram menos vigiados que os que viviam em outras condições. - REIS, 1996 Poderemos plantar nosso arroz onde quisermos, e em qualquer brejo, sem que para isso peçamos licença, e poderemos cada um tirar jacarandás ou qualquer pau sem darmos parte para isso. A estar por todos os artigos acima, e conceder-nos estar sempre de posse da ferramenta, estamos prontos para o servirmos como dantes, porque não queremos seguir os maus costumes dos mais Engenhos. Poderemos brincar, folgar, e cantar em todos os tempos que quisermos sem que nos impeça e nem seja preciso licença.” FIGURA 7 | Casa de escravos – Rugendas Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem. Pintura do artista alemão Johann Moritz Rugendas, século 19 “Habitação de negros”. Retrata uma aldeia com moradias de pessoas negras. Do lado esquerdo há uma casa pequena de pau a pique com cores claras, o telhado é de palha seca. Na frente da casa há: 6 adultos e três crianças negras: uma mulher usa um turbante e um colar branco e uma saia comprida de cor clara, os seios estão à mostra e carrega um bebê negro nu. Ao lado dela há um homem sentado que está fumando um cachimbo que está sendo acendido por outra mulher, que usa um turbante e uma saia de cor vermelha, os seios também à mostra. Ao lado, há outra mulher, sentada em uma esteira de palha no chão, usa uma saia amarela e os seios estão à mostra, segura uma tesoura e conversa com uma criança negra nua que está de pé ao lado de outra também nua engatinhando no chão. Na frente, um homem descansa deitado em uma esteira de palha enquanto outro confecciona uma dessas esteiras. Ao fundo da casa há uma bananeira e outra pequena casa. Ao fundo do lado direito, uma mulher negra vestida com saia clara e blusa vermelha, leva um recipiente em cima da cabeça, apoiando-o na mão direita. A mão esquerda está apoiada nas costas de uma criança negra e nua que leva um objeto redondo nas mãos. Fim da descrição. Nas regiões de mineração, os escravos viviam em moradias, chamadas de ranchos, que podiam ser desmontadas para acompanharas mudanças na área a ser explorada. Além de viver em condições terríveis, as vestimentas usadas pelos escravos eram ainda mais precárias. Aliás, a vestimenta era uma forma de diferenciar os escravos; os domésticos usavam roupas de melhor qualidade porque acompanhavam seus senhores em suas atividades cotidianas e muitas vezes os escravos que agradavam o seu senhor, como aqueles que descobriam pedras preciosas na área de mineração, recebiam roupas como forma de premiação. FIGURA 8 | Escravos trabalhando em um engenho – Debret Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Pintura do artista Debret. Mostra quatro escravos negros trabalhando em um engenho. Dois deles estão de pé, com peitos nus e giram uma estrutura de madeira que faz também girar 3 cilindros no centro na estrutura. Há dois outros negros sentados inserindo as canas de açúcar nos cilindros que as esmagam e tiram o líquido, que cai em um recipiente no chão. Fim da descrição. Todos os observadores eram unânimes em dizer que os escravos no Brasil eram mal alimentados, e isso tinha um grande peso na pequena perspectiva de vida deste grupo. Em muitos casos, os senhores permitiam que os escravos completassem sua parca alimentação através da caça de pequenos animais, da pesca e, em muitas fazendas, recebiam a permissão para iniciar pequenas lavouras. Estas lavouras eram interessantes tanto para os senhores, que transferiam a responsabilidade da alimentação para os próprios cativos, quanto para os escravos que tinham acesso a melhores alimentos e a maior diversidade de produtos. Nas cidades, os escravos realizam as mais diversas atividades. Ao tratar do “levante dos Malês” ocorrido na cidade de Salvador em 1835, Reis menciona a presença de carregadores de água e de pessoas, pedreiros, sapateiros, ferreiros entre as profissões exercidas por negros libertos – e alguns escravos –, entre os revoltosos. FIGURA 9 | Negras de Tabuleiro – Debret Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Pintura do artista Debret, “As negras do tabuleiro”. Mostram três mulheres negras em uma escadaria de pedra. No fundo à esquerda, há uma mulher begra usando uma blusa com listras alaranjadas e saia, leva na cabeça, sobre o turbante azul e branco, uma cesta com algumas frutas. Apara equilibrar, ela segura a cesta com o braço direito, enquanto no braço esquerdo segura uma galinha pelas patas e mostra a outra mulher que está sentada na frente. No primeiro plano da pintura há uma mulher negra sentada na escadaria, usa saia azul, blusa branca mostrando os ombros, tem a face pintada com uma pintura de cor amarelada nas bochechas nariz, queixo e testa. Usa um turbante de cor alaranjada. Está com o braço direito dobrado e a mão apoiada no queixo, está com um semblante entediado. Na sua frente no chão há um recipiente grande de palha com muitos cajus. Fim da descrição. Às mulheres cabiam os ofícios relacionados à vida doméstica, como costureiras, cozinheiras ou pajens. Por isso, era comum ver negras com seus tabuleiros ajustados aos torsos da cabeça vendendo – ou mercando – pelas ruas das cidades, os seus quitutes. Em muitas culturas africanas, a arte de mercar/negociar é feminina e tal característica foi mantida entre as africanas que sobreviveram em terras brasileiras. Juntando o parco lucro que obtinham com seu trabalho (depois de dar ao senhor/a a parte que lhes cabia), essas mulheres foram responsáveis pelo sustento de seus filhos e conseguiam, em algumas ocasiões, comprar a liberdade deles e também ade seus maridos/companheiros. FIGURA 10 | Negros carregadores – Debret Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Pintura do artista Debret, “Negros carregadores.” Retrata 8 homens negros. Todos usam roupas coloridas, colares coloridos e chapéus. Alguns chapéus com penas e adereços chamativos. Quatro deles estão frente e quatro atrás, no meio carregam um grande barril de madeira que está suspenso por cordas e por varas de madeira. Eles o carregam levantando as varas e apoiando nos ombros. Fim da descrição. Nas áreas urbanas, os escravos passavam uma boa parte de seu tempo longe dos olhos de seus senhores, contudo isso não significa que estavam livres do controle de seus senhores. Deve-se observar entre tanto, que a relativa autonomia dos escravos urbanos era real, principalmente no caso dos chamados escravos de ganho. Ter um escravo, não só para explorar, mas também como sinal de poder econômico e desejo de ascensão social era algo almejado por pequenos comerciantes, burgueses e, até mesmo, libertos. Segundo Reis (2003, p. 32 “era grande o número de baianos sustentados por um, dois ou três escravos que possuíam”. E ainda, citando o comerciante inglês James Wetherell, informa que “em muitos casos, aposse e o uso de escravos são o único meio de subsistência” na colônia. Todos os escravos urbanos eram proibidos de circular nas cidades depois de anoitecer e não podiam portar nenhum tipo de arma, e isso se deve ao medo de um possível levante contra os senhores ou os outros moradores. Apesar de todas estas medidas, os escravos continuavam circulando, trabalhando e participando da vida das cidades, durante o dia e durante a noite. O espaço do trabalho, seja para os escravos urbanos ou para os rurais, era o local de forjar solidariedades, de aprender ofícios ou de aprender a língua. Estas alianças obedeciam muitas lógicas diferentes; os escravos podiam se agrupar devido à sua origem, profissão ou pelo fato de pertencerem ao mesmo senhor. Observe que estes grupos podiam ser antagonistas, devido às questões tribais ou rivalidades profissionais e, muitas vezes, os senhores procuravam agravar estas diferenças para melhor controlar a situação. A Família e a Comunidade As comunidades escravas no Brasil foram resultado do tráfico, que tinha como elemento central o processo de desenraizamento do indivíduo, e esta característica fez que outros elementos, como o trabalho, a religiosidade ou os grupos de convívio, sedimentassem os sentidos de família e de comunidade. Os primeiros contatos entre os senhores e os escravos eram organizados para marcar a relação de propriedade/dominação entre eles; ou seja, o senhor pretendia reafirmar sua autoridade ao escravo. Esta estrutura social tinha como apoio a ação da Igreja Católica que procurava incutir paciência e obediência nos escravos. A escravidão dificultava a formação de relações familiares, uma vez que existia um grande desequilíbrio entre homens e mulheres nas senzalas, entre outros problemas. Contudo, os estudos mais recentes apontam que os escravos procuravam manter relações conjugais estáveis e estabeleciam famílias extensas, além de outras estruturas de convivência muito importantes, como o compadrio. FIGURA 11 | Casamento de negros, provavelmente ligados a famílias de elite – Debret Fonte: ufpr.br #ParaTodosVerem: Pintura do artista Debret, casamento de negros, provavelmente ligados a famílias de elite. Há 8 pessoas na imagem. O ambiente parece ser uma casa de pessoas rica, as paredes são claras. No centro da imagem, há um padre branco, com vestimenta religiosa, de cor branca, preta e amarela. Os noivos estão de frente um pro outro de mãos dadas e as mãos do padre sobre a deles. O noivo veste calça branca, sapato preto, camisa colorida. A noiva veste um vestido branco com detalhes azuis, um adereço branco na cabeça e colar e brincos de cor clara. Do lado esquerdo da imagem há dois homens negros, de pé observando, ambo estão de calças brancas, um está de camisa de tom marrom e o outro de tom azul, ambos seguram os chapéus nas mãos. Do lado direito há duas mulheres negras, uma delas com vestido amarelo e uma com vestido branco, ambas levam adereços na cabeça, colares e brincos de cores claras. Do lado direito, ao lado das mulheres, há um homem negro, usando camisa e calça de cor escura, segurando o chapéu nas mãos e também observando o casamento. Fim da descrição. Os dois grupos de africanos trazidos para o Brasil trouxeramconsigo suas práticas religiosas que, se por um lado foram mescladas entre si, por outro se recriaram e se adaptaram à nova realidade. Os africanos já conheciam e praticavam tanto o Cristianismo como o Islamismo, além das outras religiões tradicionais de cada nação, clã ou país. Dentre os aspectos preservados e re-criados cabe destacar: o respeito pelos ancestrais, a existência de forças do bem e do mal, a fé nos espíritos, a importância dos curandeiros, a existência de um deus supremo e a oralidade na transmissão das tradições. O catolicismo era a religião obrigatória do país, e muitos escravos, todos batizados por ocasião do desembarque, participavam ativamente de seus ritos, reuniões e festas. Tais eventos festivos eram esperados e vivenciados com alegria, pois permitiam alguns momentos de paz no inferno cotidiano a que estavam submetidos. As festas religiosas na Colônia irão colaborar para o surgimento de Irmandades para agregar negros por parte da Igreja Católica, e tal fato ajudará na difusão e na permanência de estruturas africanas dentro do catolicismo brasileiro. Organizadas, podiam reproduzir as várias etnias africanas em seu interior, como os jejês, os nagôs, angolas e crioulos em irmandades distintas ou ainda, as que acolhiamnegros das mais distintas origens como a Irmandade do Rosário das Portas doCarmo que desde 1685 fundada por angolanos – agregava crioulos, jejês etc. Emesmo podendo potencializar as rivalidades entre os grupos/nações, as confrariase irmandades serão verdadeiros focos de resistência e manutenção de tradições deorigens africanas. Clique no botão para conferir o conteúdo. ASSISTA Vídeos Ep.8| Boa Morte – Cachoeira/BA Para conhecer a história de uma das mais importantes e antigas irmandades da região do Recôncavo Baiano, veja o vídeo sobre a Irmandade da Boa Morte de Cachoeira formada, ainda hoje, exclusivamente por mulheres descendentes diretas de africanos: https://youtu.be/k9epS1_g0z4 FIGURA 12 | Festa de irmandade negra – Rugendas Fonte: bibliotecavirtual.sp.gov.br #ParaTodosVerem. Pintura do artista Rugendas, Festa de Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros. Representa uma festa religiosa da irmandade do Rosário. Há mais de 30 pessoas negras na imagem, há mulheres e homens, todos com roupas coloridas nos tons de amarelo, vermelho, laranja e azul. Carregam três estandartes: um azul com um sol amarelo no centro, o outro amarelo com figuras de várias bananas e um terceiro estandart vermelho e amarelo. No centro do quadro, entre as pessoas, há duas figuras notórias, o rei e a rainha do Congo, eleitos nessa comemoração. O rei usa uma roupa vermelha e ornamentada com detalhes amarelos, na cabeça leva uma coroa amarela. A rainha, ao lado do rei, usa um vestido de cor clara, ornamentado com outro tecido azul. Na cabeça leva um ornamento vermelho. Ao fundo da imagem há uma paisagem tropical, com arvores, bananeiras e casas e igreja ao longe. Fim da descrição. Além das festas, novenas e outras práticas religiosas, as irmandades promoviam proteção para seus membros, sendo responsáveis por compras de alforrias e, sobretudo, por garantir um enterro digno ao irmão/ã falecido por meio do cumprimento de rígidos rituais fúnebres de sua nação de origem. Para aprofundar o estudo sobre esse tema, veja a obra “A morte é uma festa” de João José Reis). FIGURA 13 | Festa de irmandade negra – Rugendas Fonte: bdlb.bn.gov.br #ParaTodosVerem: Reprodução de um cartaz de 1854, fixado no Rio de Janeiro para alertar sobre a fuga de um escravo. Na parte superior, no centro em letras grandes há a frase “Crioulo fugido”, embaixo da frase há um desenho de um homem negro, correndo, carregando uma trouxa de roupa amarrada em uma vara de madeira e apoiada no ombro. Do lado esquerdo da imagem está escrito o valor de 50 mil réis. Do lado direito da imagem, está escrito “De Alviçaras”. Abaixo da imagem há um texto que diz: Ainda fugido, desde o dia 18 de outubro de 1854, o escravo crioulo de nome Fortunato, de 20 e tantos anos de idade, com falta de dentes na frente, com pouco ou nenhuma barba, baixo, reforçado e picado de bexigas que teve há poucos anos, é muito pachola, mal encarado, fala apressado e com a boca cheia olhando para o chão: costuma às vezes andar calçado intitulando-se forro e dizendo chamar-se Fortunato Lopes da Silva. Sabe cozinhar, trabalhar de encadernador e entende de plantação da roça, donde é natural. Quem o prender, entregar à prisão e avisar na corte ao seu senhor Eduardo Laemmert, rua da Quitanda, número 77, receberá 50 mil réis de gratificação. Fim da descrição. Lutas e Resistências Durante muito tempo, estudos apontavam para a passividade e pouca resistência do negro para justificar a permanência e crueldade da escravidão. Entretanto, pesquisas recentes atestam que a presença dos escravos no Brasil foi acompanhada pela rebeldia e pelas mais variadas formas de resistência que tiveram início junto como tráfico negreiro e que, após a abolição da escravatura em 1888, não cessaram e apenas adaptaram suas estratégias de luta para a nova realidade. Algumas vezes, os escravos fugiam de seus senhores com o objetivo de atingir alguma reivindicação imediata, como a substituição de um feitor. Estas são o que chamamos de fugas reivindicatórias, que apontam as estratégias dos escravos para alterar condições de trabalhos ou de vida, e evidenciam os limites da dominação. Contudo, a maior parte dos escravos pretendia obter sua liberdade com o ato da fuga. Deve-se observar que fugir era perigoso, difícil e o sucesso dependia diretamente da solidariedade dos que podiam facilitar a fuga, fornecer abrigo ou alimento. Muitos escravos procuravam abrigo em comunidades formadas por negros fugidos, que eram conhecidas como Quilombos. Estes grupos não eram formados exclusivamente por escravos, e podiam reunir índios, libertos e outros excluídos. Além disso, muitos quilombos ficavam próximos a cidades e participavam das atividades econômicas. Os vários estudos, como os de Clóvis Moura e João José dos Reis, apresentam as lutas dos escravos e ao citaram a localização de quilombos apontam para a existência destes em todas as regiões do Brasil. Apesar disso, os quilombos representavam um grande perigo para a estrutura escravista e foram destruídos, como aconteceu com Palmares ou o Quilombo Buraco do Tatu, que ficava próximo à cidade de Salvador. Saiba Mais Para conhecer mais sobre a história dos quilombos no Brasil, pesquise a extensa obra de Clóvis Moura, em especial: “Quilombos – Resistência ao Escravismo”, “Os Quilombos e a Rebelião Negra” e “Rebeliões da Senzala”. Será enriquecedor! FIGURA 14 | Planta do Quilombo do Tatu, destruído em 2 de setembro de 1763 Fonte: vermelho.org #ParaTodosVerem: Reprodução de uma planta do Quilombo do Tatu. A planta bastante antiga mostra os setores de organização do Quilombo demarcados pelas letras A, B, C, D, E, H, L, V e Z, compreendendo uma grande área em formato de um semi-círculo. Há uma descrição no final da página, escrita à mão em português antigo, porém não está legível. Fim da descrição. Os escravos também organizaram levantes e rebeliões que tinham alcances variados, desde a desorganização da produção em uma única propriedade até levantes formalmente organizados, como o Levante dos Males que aconteceu em1835 na cidade de Salvador. Este e outros levantes ocorridos ao longo do país aumentaram a necessidade da elite em manter o controle da população escrava. É importante lembrar, que estas não eram as únicas formas de resistência deste grupo. Os escravos resistiam cotidianamente: podia sabotar a produção do senhor, fingir estar doente para diminuir sua jornada de trabalho, envenenar as pessoas da casa-grande, desobedecer sistematicamente e toda uma série de comportamentos que lhes davam controle sobre sua vida, mesmo no ambiente da escravidão. O Fim da Escravidão e o Pós-Abolição As mudanças acontecidas nas formas de produção levoua pressões pelo final da escravidão. A Inglaterra, berço da Revolução Industrial, tomou uma série de medidas para dificultar o tráfico e, em 1845, o governo inglês aprovou uma lei que permitia o apressamento e confisco de navios envolvidos neste tipo de atividade. Esta lei ficou conhecida como Bill Aberdeen, em homenagem a seu criador Lord George Aberdeen. As relações diplomáticas entre o Brasil e a Inglaterra ficaram estremecidas, já que o governo imperial não tomou nenhuma providência para conter a entrada e circulação de escravos no país. Somente em 1850, os deputados brasileiros aprovaram a Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico de escravos no país. Esta proibição fez o preço do escravo disparar e aumentou o tráfico interprovincial, entre 1873 e 1881, especialmente por causa das demandas do café. Várias medidas foram discutidas e aprovadas, entre elas destacam-se: TABELA 1 | Leis Abolicionistas 1871 Lei do Ventre livre Liberta as crianças nascidas a partir da data de publicação da lei 1885 Lei do Sexagenário Liberta os escravos com mais de 60 anos 1888 Lei Áurea Liberta todos os escravos A abolição não significou o final dos preconceitos contra os negros e das práticas autoritárias da elite nacional, e a situação concreta dos ex-escravos não fazia parte das preocupações do estado. Diante destas circunstâncias, estas pessoas constroem trajetórias de luta que marcaram gerações e que permitiram afirmar a importância dos negros na constituição da cultura nacional. Samba, Carnaval, Capoeira, Candomblé, Culinária... E Não Só! A formação da identidade nacional é resultado da mescla e amalgama das várias culturas indígenas (tupis, tupinambás, tapuias etc.), europeias (portugueses, espanhóis, franceses, holandeses...) e africanas (nagôs, jejês, berberes, mandigas, haussás, entre outras). Muitos elementos dessas tradições foram incorporados, transformados e considerados genuinamente brasileiros. Da contribuição africana recebemos ritmos musicais que deram origem a lundus, polcas e o mais popular, reconhecido como parte da identidade brasileira e verdadeiro cartão postal do país, o samba. Os tambores africanos soaram nos terreiros, nas matas e nas minas, tanto para registrarem os lamentos e as dores dos escravos como para manifestar a alegria e o louvor aos santos e orixás nas festas religiosas. Destes festejos herdamos os cordões, os ranchos e, por último, o carnaval. Nas várias regiões do Brasil, existem inúmeras manifestações culturais que têm origens africanas como as Congadas e Reisados, o Maracatu, o Samba de Roda (o de Cachoeira/BA é considerado patrimônio imaterial do Brasil), o Tambor de Crioula... FIGURA 15 | Roda de samba Fonte: brasil.gov #ParaTodosVerem: Foto de uma roda de samba. Na imagem, há mais de 10 pessoas reunidas formando um semi-círculo. À esquerda, há duas mulheres negras de pé, batendo palmas: uma delas veste um vestido de cor alaranjado com lantejoulas aplicadas à peça conferindo brilho, na cabeça, tem um lenço branco amarrado em forma de turbante; a outra mulher, um pouco mais baixa, vetse uma saia comprida florida, blusa branca e também tem um lenço amarrado na cabeça como turbante. No centro da roda, um pouco à frente, uma mulher negra dança, está com um pé na frente do outro e os braços semi flexionados, dando impressão de movimento, veste uma saia comprida branca, blusa vermelha, usa colar de conta branca e está de sandálias. Do lado direito, há dois homens negros sentados tocando tambor, as mãos estão espalmadas sobre os tambores de cores vermelha e marrom. Ao lado deles há outras pessoas sentadas batendo palmas e no canto direito há um homem negro, de pé tocando um atabaque maior de cor branda, suas mãos estão espalmadas sobre o atabaque e uma mulher negra ao seu lado, vestida com saia azul de tecido brilhante, blusa branca e lenço branco amarrado à cabeça, usa também colares de contas, segura um objeto branco nas mãos com efeito de percussão. Fim da descrição. Aos escravos quase nenhum descanso era permitido e nos momentos livres, de vadiagem, reunidos em círculo, os negros se agitavam em plásticos movimentos, em giros sobre o próprio corpo, fazendo acrobacias ao som de instrumentos musicais e de palmas ritmadas. Repetiam refrões entoados por um dos negros da roda e realizavam uma verdadeira dança. Esses mesmos movimentos, essa mesma plasticidade e ritmos permitiam ao praticantes a autodefesa e aos fujões se livrarem dos seus perseguidores por meio da luta: era a capoeira. A prática da capoeira foi proibida no Brasil até a década de 30, quando Getúlio Vargas afirmou que a capoeira era “o único esporte verdadeiramente nacional”. FIGURA 16 | Capoeira ou a dança de guerra – Rugendas, 1835 Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Pintura do artista Rugendas, “Capoeira ou dança de guerra”. Na imagem, há 12 pessoas negras, todas descalças e a maioria está de pé, formando um semi-círculo. No fundo da imagem, há uma sequência de casas de paredes claras e telhado de telhas marrom, indicando ser casa de pessoas ricas. As pessoas negras estão reunidas no fundo dessas casas, em área aberta, há um coqueiro e pode-se ver as montanhas ao fundo. À esquerda há um homem de vestimenta azul, leva uma faca amarrada à cintura e bate palmas, ao seu lado há outro home negro, usa calça azul, camisa verde e usa um chapéu bege, está com ambos os braços levantados. No centro da figura, dois homens lutam capoeira: um deles veste calça vermelha e camisa amarela, está de lado as pernas abertas, com a perna esquerda à frente, o corpo está um pouco curvado para frente, os punhos fechados e os braços à frente do corpo, como em posição de luta. O outro lutador veste apenas calça amarela e um cinto vermelho, está de frente, a perna direita flexionada e a perna esquerda ereta, o braço esquerdo está flexionado de maneira que a mão está em frente ao peito; o braço direito está também flexionado ao lado do corpo, ambos os punhos fechados também em posição de luta, olhando seu oponente. Do lado direito da imagem, há um homem negro, vestindo calça verde-clara, está com braço erguido e segura uma vara de bambu, ao seu lado há três mulheres de pé assistindo, uma delas está com uma cesta de abacaxis apoiada na cabeça e leva um charuto à boca. Ainda do lado direito, há um homem negro sentado em uma pedra, entre as pernas ele segura um tambor, as palmas das mãos estão em frente ao tambor, indicando que ele está tocando. No segundo plano da imagem, há uma mulher negra, usando saia comprida azul e blusa clara, aberta nos seios, deixando-os à mostra, está em frente a uma panela sobre uma fogueira no chão, ela está ajoelhada e oferece um prato a um homem negro que está de pé, tem uma aparência de mais idade. Ele agradece à mulher, com o chapéu na mão e o braço flexionado. Fim da descrição. Outra grande contribuição africana à cultura nacional, trazida pelas mãos das mulheres negras que eram destinadas aos trabalhos domésticos e ao cultivo das hortas, está na culinária. Pratos como o vatapá, acarajé, caruru, mungunzá, sarapatel, baba de moça, cocada, bala de coco e muitos outros foram criados entre os escravos e ganharam o gosto popular. O uso de ervas para a cura dos males, do corpo após a chibata, para os chás que acalmam e o bebê ou para os problemas femininos também foi herança da sabedoria africana. Porém, sem dúvidas, o mais famoso dos preparos culinários é a feijoada, que hoje é uma das maiores referências da cozinha nacional. Alguns autores defendem que as origens da feijoada estão nas senzalas, onde as escravas juntavam ao feijão preto as partes do porco que não eram consumidas pelo senhor, como a orelha e o rabo. Cabe acrescentar, ainda, a influência africana na língua portuguesa falada no Brasil. Os africanos espalharam a língua dos portugueses, misturadas a termose expressões de suas línguas de origem e aos idiomas dos indígenas por onde passaram. Daí os inúmeros vocábulos de origem bantu(quiabo, farofa, quitanda, moleque, caxumba, dengo, jiló...), das línguas como o Quicongo, o Umbundo e basicamente o Quimbundo, que acabaram por superar a ascendência de línguas sudanesas, como o Nagô ou mesmo o português de Portugal (como exemplo, falamos: “cochilar” e não “dormitar”, “caçula” no lugar de “benjamim” para designar o filho mais novo). Segundo Lopes (2011, p. 196ss), os vocábulos nagôs ficaram restritos às praticas e tradições ligadas aos orixás, bem como a música, a descrição dos trajes e a culinária afro-baiana. Saiba Mais Para conhecer mais sobre a contribuição linguística dos povos africanos à língua falada noBrasil, pesquise a obra de Nei Lopes! FIGURA 17 | Candomblé (representação do Orixá Omulu/ Obaluaê) Fonte: geledes.org #ParaTodosVerem: Foto de uma pessoa negra representando o Orixá Omulu/Obaluaê. Usa uma vestimenta feita inteiramente de palha: saia comprida de palha, adereços do tipo bracelete também de palha na parte superior dos braços. Na cabeça, usa uma espécie de chapéu feito com palha e contas de búzios, a palha do adereço da cabeça se estende até os joelhos, tampando o rosto da pessoa que a veste. Nas mãos, segura um outro adereço de palha parecido com uma corda. O corpo está em uma posição um pouco arqueada para frente e a cabeça virada para o lado direito. Fim da descrição. No campo religioso, as culturas africanas procuraram recriar não só suas visões de mundo e sociedade, mas também resgatar suas tradições e manter os cultos aos seus orixás e antepassados. O Candomblé foi o espaço encontrado para, sob a liderança feminina das yalorixás, manter vivos e atualizados seus valores religiosos. No Candomblé resgatado e vivenciado no Brasil não faltaram os elementos característicos e fundamentais da religiosidade africana: o lugar ocupado pela natureza, a interação entre a vida individual e o grupo social, o papel dos antepassados. A vivência nos candomblés propiciou aos escravos a construção de laços destruídos pelo tráfico, homens e mulheres de nações diferentes, arrancados de suas famílias e terras agora eram filhos e filhas de um mesmo orixá sob a proteção de uma única Mãe, a zeladora do Santo – a Yalorixá. Ali era possível ouvir seus cantos (transmitidos oralmente e em yorubá!, recordar e transmitir seus mitos e lendas, tocar seus tambores, comer suas comidas e celebrar o fato de ainda estarem vivos, à despeito de todos os sofrimentos. Os espaços sagrados foram locais privilegiados para a manutenção e recriação de muitas das tradições culturais e religiosas de origem africanas no Brasil. Às tradições religiosas yorubás foram reunidos ora elementos do catolicismo, ora elementos indígenas dando origem a uma religiosidade popular carregada de elementos sincréticos. Novas religiões, com uma mesma matriz africana, se desenvolveram: a Umbanda, o Xangô de Recife, o Tambor de Mina e em todas elas foram preservadas a riqueza e diversidade cultural africanas. A Questão do Racismo A Constituição de 1988 afirma que todos as pessoas nascem iguais e são portadoras de direitos inerentes a condição de ser humano. Esta lei vale para todos e é proibido discriminar as pessoas, seja qual for a razão. O direito da igualdade de tratamento é acompanhada pelo direito a diferença. Este direito é a possibilidade de ser e viver de acordo com sua cultura e suas características pessoais sem sofrer nenhum tipo de discriminação por este motivo. O direito a igualdade e o direito à diferença garantem a existência de uma sociedade plural, que respeita todas as tradições culturais e escolhas pessoais, para que todos sejam tratados com igualdade. Racismo é tratar alguém de forma diferente e inferior por causa de cor, raça, etnia, religião ou procedência nacional, segundo o artigo 1 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, que foi alterado pela Lei 9459 de 13 de maio de 1997. A legislação brasileira também prevê como crime a discriminação por práticas religiosas, quaisquer que sejam. A formação de uma sociedade plural é um processo de construção e o papel de todos nos é ajudar a erradicar estas práticas, por isso: DENUNCIE! TABELA 2 | Mecanismos legais que podem ser utilizados em caso de Racismo Código Penal - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. § 3º. Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003 Pena - reclusão de um a três anos e multa. Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997 Lei nº 7716 de 5 de janeiro de 1989 Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial Ratificada pelo Decreto 65810 de 1969. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Porque a Diversidade Faz Bem AMARAL, R. Porque a diversidade faz bem. Os Urbanitas – Revista de Antropologia Urbana. Ano 5, v. 5, n. 7, 2008. Coleção História Geral da África 7 Volumes. Filmes A Negação do Brasil Direção: Joel Zito Araújo | Ano de Lançamento: 2000. 3 / 4 📚 Material Complementar O documentário analisa o papel atribuído aos atores negros, que sempre representam personagens mais estereotipados e negativos, na TV. Clique no botão para conferir o conteúdo. ASSISTA Quanto Vale ou é Por Quilo? Direção: Sergio Bianchi | Ano de Lançamento: 2005. O filme questiona não apenas o racismo, mas também as maneiras ineficazes de combatê-lo hoje em dia. Clique no botão para conferir o conteúdo. ASSISTA Leitura Anotações Sobre o Universal e a Diversidade Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE https://youtu.be/EvNPhyS863o https://youtu.be/xvZyZfaR-MI https://www.scielo.br/j/rbedu/a/qdpcZ4LyvRBC8ycLhGYgKjg/?format=pdf&lang=pt Antropologia e Direitos Humanos: Alteridade e Ética no Movimento de Expansão dos Direitos Fundamentais Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Gênese, Evolução e Universalidade dos Direitos Humanos frente à Diversidade de Culturas Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Superando o Racismo Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE https://goo.gl/N51zqn https://goo.gl/TvnBxN http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/racismo_escola.pdf ALBUQUERQUE, W. R. FRAGA FILHO, W. UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL. Salvador: Centro de Estudos Afro Orientais, 2007. Disponível em: . AVÉLALLEMANT, R. Viagens pelo norte do Brasil no ano de 1859. Tradução de Eduardo de Lima Castro. Rio de Janeiro: INL/Ministério da Educação e Cultura, 1961. BARROS, Z. dos S. Educação e relações étnico-raciais. Salvador: Centro de Estudos Afro Orientais, 2011. Disponível em: . MONTEIRO, J. M. NEGROS DA TERRA Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Cia das Letras, 1999. NASCIMENTO, E. L. (org.). Cultura em movimento. Matrizes africanas e ativismo negro no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2008. LOPES, N. Bantos, Malês e identidade negra. 3. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. HOLANDA, S. B. História Geral da Civilização Brasileira A época colonial. Tomo I Volume 2 Administração, economia, sociedade. 10. Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. REIS, J. J. Rebelião Escrava no Brasil – A história do Levante dos Malêsem 1835. 3. Edição revista e ampliada. São Paulo: Cia das Letras, 2003. 4 / 4 ☕ Referências ________. A morte é uma festa. Ritos fúnebres e revolta popular no Brasil noséculo XIX. São Paulo: Cia das Letras, 1991. ________; GOMES, F. dos S. (org.). Liberdade por um fio. História dos Quilombos no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1996. VIEIRA, A. Essencial Padre Antônio Vieira.Organização e Introdução de Alfredo Bosi. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2011. Conteudista: Prof.ª M.ª Carla Caprara Parisi Revisão Textual: Prof.ª M.ª Magnólia Gonçalves Mangolini Objetivos da Unidade: Abordar o tema “A Questão Ambiental e a Sustentabilidade”; Tratar de aspectos relacionados a preservação do meio ambiente e como o cidadão e as empresas podem colaborar para esta preservação. 👍 Contextualização 🌎 Material Teórico 📚 Material Complementar ☕ Referências Unidade 3 A Questão Ambiental e a Sustentabilidade Conteudista: Prof.ª Dr.ª Eliane Ganev Revisão Textual: Prof.ª M.ª Magnólia Gonçalves Mangolini Objetivo da Unidade: Se tem disposição de ampliar sua qualificação para lidar adequadamente com situações desse tipo no ambiente profissional, encontrará nesta Unidade conteúdos básicos relacionados aos aspectos sócio-culturais, às políticas públicas e à prevenção do uso, abuso e dependência de drogas (e outras formas de dependência). ✋ Contextualização 🚭 Material Teórico 📚 Material Complementar ☕ Referências Unidade 4: Prevenção ao Uso Indevido de Drogas e Álcool Videoaula Veja, no vídeo a seguir, os assuntos abordados nesta unidade. Atente-se, pois, ao longo dele, você terá algumas questões reflexivas. Acreditamos que, de algum modo, você já refletiu sobre o grave problema das dependências de drogas e de certos hábitos no mundo atual. Sua reflexão pode ter sido provocada por um caso familiar, por algum hábito que você tenha, ligado ao uso de uma substância psicoativa, ou pelo que você lê, ouve e vê diariamente na mídia e nas redes sociais. Agora, nós o(a) convidamos a se perguntar: como este problema incide no campo de atuação profissional ligado ao curso que você está fazendo? Quais conhecimentos teóricos e técnicos você consideraria importantes em sua própria formação, para qualificar sua atuação profissional 1 / 4 ✋ Contextualização Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo online para que você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do conteúdo. de modo a lhe conferir segurança para tratar adequadamente eventuais situações em que a dependência de drogas venha a afetar seu cotidiano de trabalho? Na presente Unidade, tentaremos oferecer elementos que consideramos fundamentais para você formar uma base inicial de conhecimentos para além do senso comum — que neste assunto parece especialmente carregado de falsas crenças/opiniões, preconceitos, estereótipos e, consequentemente, ações inadequadas e não raro ainda mais danosas para os dependentes de drogas e para a sociedade como um todo. Veja em detalhes os conteúdos de cada um dos três tópicos desta Unidade: Aspectos socioculturais dos usos de álcool e outras drogas: onde discutimos este conceito fundamental; procuramos resgatar a origem do fenômeno do uso de drogas e também do problema da dependência destas substâncias, contextualizando-os ao longo da própria história da humanidade; discutimos as implicações destes fenômenos relacionadas aos modos de vida e de produção social da vida, acrescentando informações importantes sobre os critérios diagnósticos que atualmente permitem caracterizar a dependência de drogas como um problema de saúde, que demanda tratamento e estratégias de reinserção social dos indivíduos que chegaram a desenvolvê-la; Políticas Públicas sobre álcool e outras drogas no Brasil: onde apresentamos os paradigmas filosóficos, teóricos e políticos que nortearam a implantação das políticas sobre drogas no país; discutimos a magnitude de algumas dependências de substâncias legais e ilegais em nossa sociedade, e também algumas das principais abordagens e propostas vigentes e em discussão atualmente, apreciando criticamente seus avanços e desafios; e indicamos os principais marcos legais que hoje norteiam as políticas públicas nesse campo; Prevenção – novas formas de pensar e enfrentar o problema: onde procuramos fundamentar, teórica e tecnicamente, o conceito de prevenção, tal como está atualmente configurado na legislação e nos serviços de atenção a usuários de drogas, existentes hoje em nosso país. Então, você concorda que se trata de informações elementares, mas essenciais a qualquer área profissional (e também para a sua formação pessoal)? Pois é, esperamos ter motivado você o suficiente para virar esta página e debruçar-se sobre a Unidade, apropriando-se criticamente do que lhe oferecemos, com base em sua bagagem prévia de conhecimentos e vivências, mas também nos demais elementos da postura investigativa: método, rigor, abertura, criatividade, aprofundamento e atualização permanentes. Aspectos Socioculturais dos Usos de Álcool e outras Drogas Neste estudo, quando falarmos “drogas” estaremos nos referindo a substâncias psicoativas – aquelas que afetam as dimensões da nossa consciência, emoções, comportamento motor, pensamentos, percepções, memória, inteligências, juízos e insights. Em síntese, afetam o funcionamento do nosso Sistema Nervoso Central ou SNC. E também de substâncias psicotrópicas: aquelas com potencial de gerar dependência, por parte dos respectivos usuários. Ambos os conceitos parecem nos ajudar a esclarecer melhor nossas dúvidas, por exemplo: 2 / 4 🚭 Material Teórico Uma vez que substâncias psicoativas afetam o funcionamento do SNC, isto significa que afetam nosso ser em sua totalidade bio-psico-social-espiritual; e como não vivemos isolados, mas em sociedade, os modos como usamos substâncias psicoativas ou desenvolvemos certos hábitos pessoais, podem afetar diretamente (às vezes, negativamente) a nossa rede de relações, vínculos e pertencimentos sociais, assim como nossos projetos de vida; Além disso, estes conceitos nos propiciam compreender que diferentes substâncias psicoativas são potencialmente psicotrópicas em diferentes graus: é sabido que o processo pelo qual um indivíduo se torna dependente de crack é, em geral, muito mais rápido do que o processo de instalação da dependência de álcool; Ainda, a partir destes conceitos, podemos pensar no problema da dependência não só em relação a substâncias, mas em termos de hábitos (com efeitos) psicoativos e/ou psicotrópicos; por exemplo, no caso das dependências de Internet, jogo, compras, sexo ou comida. Os quais não são propriamente substâncias, mas incluem objetos, produtos e práticas específicas, capazes de produzir, junto ao SNC dos praticantes, efeitos bioquímicos similares àqueles dados pelas substâncias psicoativas e/ou psicotrópicas (levando eventualmente aos mesmos desdobramentos psíquicos, sociais, comportamentais e espirituais próprios daquelas dependências); Saiba Mais O termo substância é utilizado no campo da química, para designar produtos de origem vegetal ou mineral, e/ou sintéticos, que possuem princípios ativos dotados de propriedades específicas em relação a como interagem com o corpo humano. Distintos campos do saber se ocupam do estudo dos princípios ativos das substâncias existentes na natureza, assim como tentam reproduzi-los sinteticamente (em laboratório), visando a diferentes finalidades; eis outra dificuldade, pois, junto a cada finalidade socialmente legítima (cura de doenças, produção de prazeres sensoriais, desenvolvimento tecnológico) amiúde está imbricada, como finalidade genérica, a obtenção de lucro mediante acumulação privada de capital. Por fim, podemos pensar que, como nem toda dependência é imediata ou visivelmente danosa ao indivíduo, aos seus círculos sociais e/ou à sociedade, nem toda dependência é socialmente reconhecida como tal, seja pela população, pelos seus protagonistas ou usuários, pelos governos e pelos cientistas de distintos Então, até aqui, apenas para melhor conceituar o termo “droga” e melhor entender o fenômeno da “dependência de drogas”, fomos levados a perceber que se trata de conceitos e fenômenos que vão muito além do problema da eventual autodestruição individual pelo uso abusivo de determinadas substâncias,ou pela prática abusiva de determinados hábitos. Tais conceitos e fenômenos nos obrigam considerar um leque imensamente amplo de hábitos e costumes, inscritos em certo modo de vida social historicamente produzido, induzido e reproduzido sem outro critério efetivo a não ser o desenvolvimento da acumulação privada de capital. Em outras palavras, nosso esforço de estudar conceitos e fenômenos para além do senso comum, nos levou a contextualizá-los, a observá-los dentro de uma totalidade maior, na qual estabelecem relações e dinâmicas com outros fenômenos, cuja compreensão exige a consideração de outros conceitos. Ao contextualizar o fenômeno da dependência de drogas ou hábitos, vemos que ele representa mais do que um (real) problema de saúde pública que demanda a elaboração e implantação de políticas públicas (como veremos adiante): trata-se de um fenômeno com raízes, origens e implicações culturais, econômicas e políticas, cuja análise é imprescindível para superarmos as visões e soluções estreitas (que não consideram a totalidade campos do saber. Em outras palavras, os modos como determinada sociedade concebe e concretiza os usos de tal ou qual substância (ou hábitos relacionados a objetos ou práticas sociais), afetam diretamente as possibilidades de reconhecimento público de tais usos como dependências – você diria, por exemplo, que vivemos em sociedades dependentes de açúcar? No entanto, adicionam-se açúcares (sob diferentes formas e nomes) aos mais diversos produtos destinados ao consumo humano (higiene e limpeza, perfumaria, alimentos industrializados em geral – inclusive salgados); paralelamente, a indústria e o mercado de medicamentos e tratamentos para diabetes estão se preparando, neste século XXI, para altas taxas de crescimento e lucro com a explosão de diabetes já prevista para ocorrer, a curto prazo, em território chinês — cuja população vem rapidamente abandonando seus hábitos culturais seculares, fundados no consumo de produtos naturais, auto- sustentáveis e saudáveis, em favor da adesão ao mundo açucarado do fa(s)t-food. Além disso, a eliminação completa e brusca da ingestão de açúcares pode eventualmente produzir, num indivíduo, sintomas físicos similares aos da chamada síndrome de abstinência, típica dos quadros de dependência de drogas. No entanto, mesmo tendo crescido o reconhecimento público quanto aos efeitos danosos da ingestão excessiva de açúcares, via de regra, não há menção ou trato deste fenômeno como dependência de açúcar. da vida social, portanto, são incapazes de apreender as perspectivas e tendências de evolução do mesmo fenômeno, e de resto nada solucionam). Desse modo, vamos agora aprofundar nosso exercício de contextualização, buscando o fenômeno em seu nascedouro. Veremos que o uso de substâncias psicoativas e/ou psicotrópicas remonta à própria constituição do gênero humano! Até onde os antropólogos, arqueólogos, historiadores e sociólogos conseguiram recuar no tempo humano, ou seja, nos processos de constituição do ser social, tal como ocorreram nas várias regiões do planeta, sempre se depararam – já – com diferentes formas de uso de substâncias psicoativas e/ou psicotrópicas. Nunca existiram sociedades sem drogas, mas sim sociedades sem dependência de drogas. Saiba Mais Ser Social: conceito do campo das ciências sociais. Diz respeito à própria formação do gênero humano, através do trabalho enquanto atividade criadora que provoca, a um só tempo, a objetivação (materialização de novos de objetos e relações sociais), e a subjetivação (incorporação de novas habilidades e capacidades humanas), fazendo emergir um ser distinto dos seres naturais inorgânicos ou orgânicos: o Nas sociedades tribais, os chamados usos primitivos de tais substâncias estiveram, contudo, integrados à vida social, configurados dentro de rituais significativos para seus protagonistas diretos e para as tribos ou comunidades como um todo. Tais usos não levavam à autodestruição dos usuários, nem à desestruturação de seus pertencimentos e vínculos, nem a consequências consideradas indesejáveis pelas respectivas sociedades. Isto é, os usos ancestrais estiveram desvinculados da produção de danos, típica do atual fenômeno da dependência de drogas. Podemos concluir então, que, se nunca tivemos sociedades sem drogas, tivemos sim sociedades livres do problema das dependências em geral. Surge então outra pergunta fundamental: quando e como o fenômeno dos usos de psicoativos integrados à vida social se desenvolveu e se transformou no fenômeno dos usos desintegrativos da vida social, típicos do nosso tempo: viciosos, autodestrutivos, danosos de várias maneiras à coletividade humana? Localizamos esta transformação no contexto dos desenvolvimentos dos meios de transporte/ comunicação do mercantilismo pré-capitalista, visando à ampliação do comércio entre regiões longínquas, sobretudo por meio da navegação, que propiciou as “descobertas” e a colonização ser social. De fato, ao buscar coletivamente criar seus meios de subsistência (e posteriormente de realização), os sujeitos prefiguram idealmente a finalidade do que estão fazendo, as condições objetivas postas na realidade e as que consideram necessárias (ainda não existentes); e ainda, precisam transmitir a outrem suas representações mentais, por meio de sistemas de comunicação envolvendo distintas linguagens. Assim, o ser social é “dotado de uma complexidade de novo tipo e exponencialmente maior que a verificável na natureza” – para maior aprofundamento, ver Netto e Braz (2006, p. 3043. de territórios (lugares e riquezas naturais, povos e riquezas culturais) até então inacessíveis. Resta observar os muitos protagonistas desta História, para verificar o papel ou lugar (de poder) que cada qual teve e tem na produção (e reprodução) do fenômeno das dependências de drogas. De um lado estavam as sociedades tribais, entregues a seu modo de vida baseado num comunismo primitivo, no qual as necessidades básicas de todos eram providas, apesar da escassez predominante de bens de subsistência. Estratégias fundadas no bem comum e no usufruto coletivo dos recursos naturais e das criações, artefatos, processos e técnicas inventados/descobertos e desenvolvidos, permitiam um estilo de vida que privilegiava a celebração dos ciclos naturais e vitais. Nele, todas as etapas da vida humana – nascimento, infância, puberdade, juventude, fase adulta, maturidade e morte – recebiam os mais altos investimentos coletivos. É conhecida a diversidade destes povos nos continentes terrestres, no que se refere, por exemplo, ao grau de desenvolvimento técnico e cultural, ao acúmulo de conhecimentos empíricos e suas aplicações à vida social. Um aspecto comum, dentro do nosso foco de estudos, era dado pelos usos (integrados, como dissemos) de substâncias psicoativas (p. ex.: folhas de coca na América Latina, tabaco nas Américas). De outro lado, os “descobridores” eram basicamente europeus comerciantes, exploradores, piratas e saqueadores, a serviço ou não das respectivas monarquias (posteriormente repúblicas). Marx descreveu o processo de acumulação primitiva do capital, feita à base da força bruta das armas, da colonização seguida de escravização (local e “importada”), do saque das riquezas naturais das colônias e da destruição das antigas sociedades locais (também pela propagação de pestes e doenças que já grassavam no nascente capitalismo europeu, lá erguido igualmente com sangue, rupturas, expropriações, tortura e execuções sumárias). Livros O Capital No bojo destes colonialismos, os navegadores e suas comitivas conheceram substâncias psicoativas e seus usos locais, experimentaram-nas e sentiram seus efeitos (de forma já descontextualizada, pois vivenciada a partir de sua própria cultura, visão de mundo e finalidades pessoais e políticas); atribuíram a estas substâncias supostas propriedades curativas para seus próprios males e doenças; estes, por sua vez, eram já produtos de outro fenômeno:a pobreza, advinda não mais da escassez e do frio europeus em si mesmos, mas também e cada vez mais como um produto da exploração e expropriação da força de trabalho assalariada. Ao mesmo tempo, os novos cientistas do Iluminismo dedicaram-se ao estudo daquelas substâncias, descobrindo e isolando seus princípios ativos, e manipulando-os em laboratório (posteriormente alterando os teores e concentrações de cada princípio ativo em novos Para aprofundar conhecimentos sobre o surgimento do capitalismo, leia o tópico sobre Acumulação Primitiva, na principal obra de Karl Marx. MARX, K. O Capital, Volume I. 1ª ed., 1867. História da Riqueza do Homem do Feudalismo ao Século XXI História da Riqueza dos EUA Nós, o Povo) Para aprofundar conhecimentos sobre o surgimento do capitalismo, leia o tópico sobre Acumulação Primitiva, na principal obra de Karl Marx. Ou, se preferir uma abordagem mais literária a científica, ver as obras de Leo Hubermman. HUBERMMAN, L. História da Riqueza do Homem do Feudalismo ao Século XXI. Editora: LTC; 22ª ed., 1986. ________. História da Riqueza dos EUA Nós, o Povo). Editora: Genérico. 3ª ed., 1983. produtos). Isto, com o intuito de não mais depender apenas da natureza para a sua produção em escala, voltada ao lucro a ser obtido com o comércio de “miraculosos” remédios para as mais variadas doenças, como também produtos requintados para o deleite das aristocracias europeias. Os formadores de opinião da época – viajantes, comerciantes, médicos, cientistas – tratavam de alardear os fantásticos efeitos das novas drogas, ampliando o raio do comércio e lucros das novas mercadorias, mas assim ampliando também o espectro dos seus usos, agora recontextualizados e ressignificados. Desse modo, os antigos usos integrados à vida social foram literalmente transplantados e afinal transformados para usos em escala, sustentados com propaganda –necessariamente enganosa, porquanto ainda ignorante acerca da totalidade dos efeitos de cada substância, mas, sobretudo, absolutamente ignorante acerca das consequências das novas formas de uso: disseminado, em massa, utilitário, continuado e virtualmente ilimitado. Saiba Mais Movimento filosófico do século XVIII, sintonizado com o desenvolvimento capitalista e caracterizado pela confiança no progresso e na razão, em busca de superação da visão mágica e divina do mundo, em favor do nascimento e desenvolvimento das ciências e do método científico para a explicação dos fenômenos do mundo e do cosmo. Tais novas formas de uso passaram a apresentar efeitos e consequências adversos e indesejados também em escala: adoecimentos físicos e psíquicos vários, problemas de comportamento, danos ao indivíduo e ao seu círculo de relações, problemas laborais (absenteísmos, acidentes, queda da produtividade) e danos ao (neo-sagrado) patrimônio. Em decorrência, as sociedades ocidentais, até então levadas a desejar ardentemente o consumo de tais iguarias e medicamentos supostamente eficazes, passaram a assistir ao aparecimento de proibições e sanções associadas à produção, comércio e uso de determinadas substâncias, enquanto outros psicoativos/psicotrópicos receberam as bênçãos da legalidade, sob critérios sempre hegemonicamente comerciais. Desde então, ocasionalmente uma substância até então aprovada pela cultura, pela ciência e pela lei, passa ao campo da ilegalidade e posteriormente é reabilitada nos campos social, médico e/ou jurídico. Vamos a alguns exemplos. As folhas de coca eram mascadas pelos povos habitantes dos Andes, na América Latina, há 1.500 anos. Seu uso era hierarquizado e visava (já) aumentar a produtividade do trabalho, em sociedades de um tipo distinto de outras então existentes no continente, visto que apresentavam avanços notáveis nos campos da agricultura e da produção de conhecimentos (matemática, astronomia). No século XVII ocorre o isolamento do alcaloide cocaína nos Estados Unidos, e suas supostas “virtudes” são exaltadas por cientistas e artistas. Esta passa a ser prescrita como medicamento, adicionada a vinhos e (a partir de 1886 à Coca- Cola (em cuja fórmula, mais tarde, foi substituída por cafeína); já no século XIX apareceram os relatos de dependência e de mortes por overdose ou circunstâncias associadas ao uso abusivo, levando ao declínio da sua aprovação social e jurídica, até chegar às legislações proibitivas e repressivas. O contexto proibicionista levou antigos e novos interessados à organização dos negócios ilegais (produção, tráfico, varejo clandestino), como também levou à criminalização e desqualificação social dos usuários, que passaram a ser vistos e tratados como marginais e depois bandidos. Nos anos 1970, todavia, a cocaína recuperou status como “droga de elite” e nos anos 1990 chegou ao mercado a sua versão “popular e barata”, o crack, com tal potencial destrutivo que os donos do negócio chegaram a proibir seu uso nos presídios, por provocar muitas baixas no próprio corpo de trabalhadores do tráfico. Outro exemplo deste movimento cíclico de aprovação/reprovação pública, cultural e legal de uma mesma substância pode ser visualizado na história do tabaco. Também originário das Américas, teve seu nome associado à Ilha de Tobago, descoberta por Colombo em 1492 e cuja população nativa o utilizava ritualmente. Foi levado à Europa, considerado pelos colonizadores como “santo remédio” para mais de 60 doenças e passou a ser fumado sob a forma de rolos de folhas secas, cachimbos, piteiras, aspirado como rapé e, já no século XIX, tragado como cigarro de papel (com adição posterior de centenas, depois milhares de outras substâncias químicas). Ainda em 1691 fez-se a descoberta de que duas gotas de nicotina pura provocam a morte humana. O tabaco passou então a ser alvo de crescentes proibições, seu uso chegou a ser penalizado com castigos físicos (amputações, torturas, castrações e decapitações). Todavia, no século XX, o american way of life levou à “ressurreição” do tabaco (disseminada principalmente pelo cinema hollywodiano) e ao auge da indústria tabagista, com a decorrente explosão global de doenças cardiorrespiratórias associadas a altos índices de mortalidade e a gastos substanciais dos sistemas de saúde. No mesmo século, pesquisas acadêmicas associaram este adoecimento massivo ao uso continuado e dependente dos cigarros de papel. Desse modo, ainda no final do século XX o tabaco, sua publicidade e seus usos sofreram nova e vigorosa onda de restrições, proibições e sanções, com forte declínio da aceitação social. E há o exemplo da Lei Seca que vigorou nos Estados Unidos, no início do século XX, proibindo a produção e comercialização de bebidas alcoólicas em face da generalização do alcoolismo num período de grave crise econômica. Derivou daí a modalidade mais “moderna” de crime organizado, que desafia o Estado de Direito impondo regras próprias para garantir, pela violência, a funcionalidade e rentabilidade do mercado ilícito; além da prática de adulterar produtos (além do seu manuseio sem qualquer critério de higiene e segurança) com a finalidade de barateamento de custos, com desdobramentos trágicos sobre a saúde e a própria vida dos usuários finais. Verificamos então que, num plano macroeconômico e social, os ciclos de aceitação/repressão das substâncias psicoativas em contexto capitalista produzem sempre, de um lado, o tráfico, com a consequente demanda por incremento da produção e comércio (legal e ilegal) de armas, e por “mão de obra” para movimentar robustos mercados ilícitos; e, de outro lado, tais ciclos produziram os mercados de tratamentos das dependências e de enfrentamento de suas consequências sociais, envolvendo campos diversos das ciências e serviços de saúde, segurança, assistência, direito, comunicação etc. Fecha-se assim o ciclo da acumulação de riquezas do lado minoritário, e da acumulação de problemas e misérias do lado majoritário, ampliando e agravando as expressões da questão social. Mas, e com respeito àquelasoutras dependências, não relacionadas a substâncias? Neste terreno, é preciso ponderar que os desenvolvimentos do capitalismo agravaram um estilo de vida profundamente contraditório (além de insustentável), fundado no binômio individualismo/consumismo: ao mesmo tempo em que a publicidade bombardeia supostos resultados e efeitos inimagináveis de infinitos produtos e serviços (e sucessivas “novas versões”), a exploração e expropriação sistemáticas da força de trabalho proíbem o acesso a tais bens e serviços para a maior parte da população mundial; que, no entanto, aspira por respostas e soluções tão imediatas e mágicas quanto as que são prometidas pela publicidade. As necessidades jamais atendidas, desde o útero até a morte, e desde as mais imprescindíveis – como água e alimentos – até as mais sofisticadas – como o desenvolvimento de talentos, a Saiba Mais Questão Social: conceito do campo do Serviço Social, utilizado para se referir à contradição fundamental do capitalismo, pela qual o processo de produção de riquezas é social (cooperativo e interdependente), enquanto o processo de apropriação de riquezas é privado (vinculado à propriedade dos meios de produção). Tal contradição fundamental – e insuperável dentro do próprio capitalismo – produz, por sua vez, infinitas expressões ou resultados: pobreza, desigualdade social, privações materiais e imateriais que geram ainda outras condições de risco e processos subsequentes de vulnerabilidade e exclusão social. Para maior aprofundamento, ver Behring e Santos (in CFESS/ABEPSS, 2009. satisfação de desejos ou a realização de projetos de vida, agravam uma condição intrinsecamente humana e prévia a qualquer estilo de vida: a busca de felicidade, de transcendência, prazer, realização, auto superação, desenvolvimento de potencialidades e de talentos, pois impõem, para todos quantos são assim privados, a perda de si mesmos como ponto de partida, a destruição de potenciais, o desvio de trajetórias, a tal ponto que nada (nem ninguém) pode prover tais satisfações – estas só poderiam resultar de um conjunto de condições e circunstâncias prévias jamais vivenciadas. É nesse contexto de insatisfações viscerais, crônicas e agudas (psíquicas e materiais), sequer identificadas precisamente, que a simples comida, o trabalho, o sexo, jogo, compras, Internet, redes sociais e outras práticas podem eventualmente funcionar como drogas, levando a situações de dependência tão ou mais danosas do que as decorrentes do uso abusivo de substâncias psicoativas e/ou psicotrópicas. Deste tópico, queremos ressaltar que nossos assuntos centrais: as dependências de drogas, ou de hábitos; as políticas públicas nesse campo e especificamente a prevenção — são temas que não podem ser corretamente compreendidos e equacionados sem que compreendamos – e questionemos – a natureza do modelo societário sob o qual vivemos na atualidade. A partir daqui, vamos ao próximo passo nesse estudo, que consiste em melhor conceituar a própria dependência de drogas – o que faremos a seguir. Dependências & Modos de Vida As referências de que dispomos para discutir o conceito de dependências (de drogas, de hábitos) vêm quase sempre do campo das ciências da saúde. Nesta área, convencionou-se entender que, em se tratando de substâncias psicoativas, o processo de instalação da dependência é um continuum de difícil visualização; mas que, via de regra, inicia com a experimentação ou uso episódico, que a partir de algum momento, e em função de variáveis diversas (biótipo, história e circunstâncias atuais da vida pessoal e familiar, facilidade de acesso à substância ou prática etc.), torna-se uso recreativo ou ocasional, comumente solitário. Daí, poderá se tornar (ou não, também a depender de variáveis culturais, sociais, legais etc.) uso social, em geral já coletivo e auto justificado, tendo forte apelo questões de afirmação de identidade e aceitação pelos grupos de pertencimento. Então, será talvez imperceptível para o usuário o fato de que seu uso ou prática já se tornou habitual, regular, impregnando seu cotidiano e, muito sutilmente, tornando-se mais importante em face de interesses e hábitos que anteriormente tinham mais significado e centralidade na vida pessoal do usuário. A partir daí, as formas de uso podem ganhar o qualificativo de abusivas, sempre que trazem consequências adversas ao usuário; aqui já pisamos em areia movediça, pois os usuários contumazes de substâncias psicoativas e/ou psicotrópicas, tanto lícitas quanto ilícitas, tendem a pôr o foco nas vantagens do uso, negando ou minimizando eventuais desvantagens, especialmente quando estas últimas não se mostram explicitamente danosas; por exemplo, um crescente isolamento social, que poderá ser justificado como opcional ou como exercício da liberdade individual, mesmo nos casos em que, de fato, já está carregado com sentimentos de solidão, culpa, vergonha ou prejuízos de outras ordens. Por fim, o uso dependente pode ser definido como a perda da liberdade de escolha quanto a usar ou não determinada substância (ou quanto a praticar ou não tal ou qual hábito); por exemplo, quando o usuário insiste em que apenas deseja usar, mesmo sofrendo consequências extremamente danosas (acidentes, ruptura de vínculos familiares, perdas profissionais, queda geral da qualidade de vida e da saúde física e psíquica). Em razão da complexidade de estabelecer clinicamente as situações de dependência, instituições de referência tais como a Organização Mundial de Saúde (OMS e a Associação Médica Americana (AMAM orientam os profissionais da área a adotar um rol de critérios diagnósticos da dependência de drogas. Até recentemente, por exemplo, foi travada uma polêmica entre o que se chamava de dependência química (ou químico-física) e dependência psíquica (ou psicológica), sendo que cada vertente prescrevia estratégias bem distintas de tratamento; mais tarde, essa dicotomia foi relativamente superada, reconhecendo-se que ambas as dimensões (física e psíquica) estão presentes, ativas e interligadas nas situações de dependência de drogas. Além disso, ainda hoje não há consenso entre os estudiosos de diversas especialidades médicas (clínica geral, psiquiatria, psicologia) e também de outras áreas (antropologia, sociologia, serviço social) quanto à dependência de drogas/hábitos constituir ou não uma doença ou transtorno de saúde mental: algumas teorias sustentam que se trata sempre e apenas de um sintoma de outras doenças ou transtornos, como depressão ou ansiedade, os quais, se devidamente tratados, levariam a uma natural superação do uso ou prática abusivo; outras focalizam somente os aspectos éticos individuais do problema, sustentando que cada indivíduo é rigorosamente livre para, inclusive, autodestruir-se, se assim entender que deve ou quer proceder. Trata-se de uma discussão problemática, quando lembramos que uma das características da dependência de drogas é precisamente a crescente perda dos pressupostos da liberdade para fazer escolhas, não só relativamente às drogas ou hábitos, mas em todos os assuntos da vida pessoal. Desse modo, o Código Internacional de Doenças (CID, da OMS e o DSM (espécie de Manual da Psiquiatria, da AMAM consideram que está caracterizada a dependência de determinada substância quando ocorrem três ou mais dos fatores a seguir, num período de doze meses da vida do usuário: A mensuração destes critérios é igualmente complexa, pois não se trata de aspectos matematicamente verificáveis. Seu levantamento depende, em grande parte, das percepções, crenças e pontos de vista do próprio usuário (os quais estão precisamente afetados pelo uso Compulsão (fissura, necessidade imperiosa de ingerir a substância, maior do que a vontade própria, força de vontade ou racionalidade); Dificuldade de controlar o consumo (sempre consome mais do que queria); Síndrome de abstinência (sintomas físicos de mal-estar pela falta de uso); Tolerância (precisa consumir cadavez mais para obter os mesmos efeitos); Abandono de interesses (a vida ficou centrada no uso da substância); Persistência do uso apesar dos danos (perda da liberdade de escolha); O tempo pessoal é quase que inteiramente ocupado para obtenção da substância, viabilização de condições para usá-la, ingestão e recuperação dos efeitos e consequências do uso (AMAM. regular e abusivo); como também dos conhecimentos específicos dos profissionais encarregados do diagnóstico – os quais têm também seus pontos de vista, crenças e eventualmente hábitos de uso, em relação à mesma ou a outras substâncias, sendo que este conjunto de circunstâncias acrescenta dificuldades para definir um diagnóstico do modo mais rigoroso e realista possível. Ainda, trata-se de critérios que apresentam limites difíceis de contornar: por exemplo, sabemos que o ciclo da dependência alcoólica masculina leva eventualmente muitos anos para se instalar, enquanto os critérios para o diagnóstico observam apenas os doze meses mais recentes na vida do usuário – ora, se este for um jovem na casa dos vinte anos de idade, é bem possível que muitos itens acima não sejam observados; será preciso, então, deixar que os anos passem e os problemas se agravem para só então diagnosticar e tratar? Além disso, o questionário aplicado para observar os critérios diagnósticos teria respostas discrepantes e mesmo opostas, se o respondente fosse o próprio usuário ou um familiar, por exemplo – pois a percepção de quem convive cotidianamente com um indivíduo dependente de drogas (ou hábitos) costuma ser substancialmente distinta da percepção dos próprios usuários. Vale lembrar, por fim, que períodos de abstinência da substância ou hábito de escolha, com meses ou anos de duração, ocorrem com alguma frequência (inclusive para supostamente provar a si mesmo, à família ou a empregadores, que não se trata de dependência); assim, a estrita observação dos doze meses mais recentes pode mostrar-se insuficiente. Isto porque sua vida, vagarosa ou repentinamente (no caso, por exemplo, do crack), torna-se muito diferente, de muitas formas: ocorrem alterações importantes ligadas à identidade pessoal, aos vínculos e pertencimentos (familiares, profissionais, comunitários e outros), às rotinas. Emergem características tais como inconstância, imediatismo, egocentrismo, excessiva sensibilidade em face de contrariedades ou imprevistos, perda do autocontrole, perda ou substituição de interesses, adesão a práticas ilícitas, apenas para citar alguns exemplos. Tais alterações, por sua vez, afetam o cotidiano e os relacionamentos, desde os mais íntimos e próximos, até os mais indiretos, tal como a pedra jogada num lago, que emite ondas cuja intensidade volume e velocidade vão diminuindo à medida que ficam mais distantes do seu centro irradiador. Ainda, é comum que os usuários abusivos e/ou dependentes apresentem “desejo” de isolamento, confusão mental (torna-se difícil distinguir o real do imaginado, sustentar simulações, manipulações e mentiras de forma coerente e plausível ao longo do tempo). Decididamente, nada, na vida dos indivíduos dependentes de drogas ou hábitos, escapa ou fica fora das dinâmicas da própria dependência. Podemos então pensar que as dependências impõem a suas vítimas, um modo de vida específico, como resposta de fato não desejada à sua ávida busca por um modo de vida mais significativo que por diferentes razões nunca foi assim reconhecido em seu universo cotidiano. Chega a ser irônico que, ao buscarem fugir da mesmice; do individualismo; da competição; do consumismo materialista (ou da privação material); de maus tratos em casa; do desemprego; da depressão, solidão, violência cotidiana; do tédio, da falta de oportunidades e/ou perspectivas, os indivíduos dependentes formem hoje um segmento duplamente penalizado, porque, além de não escapar a tudo isto, encontra-se de fato em piores condições que os demais mortais para fazer frente a tantas necessárias transformações em nosso modo de vida predominante. De todo modo, diante do que estudamos até aqui, não há como negar a magnitude do problema das dependências em nossas sociedades. Assim, no próximo tópico vamos deter nosso olhar no campo das políticas públicas brasileiras de prevenção e tratamento das dependências de drogas, no nosso passado recente e nos dias atuais. Políticas Públicas sobre Álcool e Outras Drogas no Brasil Para discutir, mesmo que de forma restrita face ao que vimos até aqui, como a nossa sociedade atualmente concebe e enfrenta especificamente as dependências de substâncias psicoativas e/ou psicotrópicas, entendemos ser importante abordar aspectos históricos e epidemiológicos. Isto é, deveríamos voltar às origens das atuais políticas públicas por um lado, e verificar as dimensões atuais do consumo de cada uma das principais substâncias que circulam em nossos territórios e entre a nossa gente. Comecemos pela história, ainda que apenas a história recente. Velhos & Novos Paradigmas no Campo da Dependência de Drogas No Brasil, a existência de legislações sobre drogas pode ser observada a partir dos anos 1940, no contexto de disciplinamento da força de trabalho que caracterizou o primeiro governo de Getúlio Vargas e já marcada, desse modo, por um viés moralista e repressivo, que foi essencialmente mantido até os anos finais da ditadura militar implantada em 1964. Na prática, cabia aos “bêbados inveterados” passar algumas horas ou dias numa cadeia pública, ou ainda, ser confinados, juntamente com “outros loucos”, nos manicômios e hospitais psiquiátricos de longa existência no país. Mais tarde, nos assim chamados anos de chumbo, a Doutrina de Segurança Nacional (então hegemônica em todos os campos da vida social) se fez presente na área da segurança pública interna, à luz dos interesses norte-americanos nas demais Américas; em torno de tais interesses, o conceito de “guerra às drogas” serviu como pretexto para o ataque a movimentos sociais explícita ou potencialmente contrários às finalidades do capitalismo . Desse modo, na mesma época em que o mundo conheceu variados movimentos e transformações culturais, econômicas e políticas: feminismo, movimento negro, movimento hippie, rock’n roll, movimentos populistas de libertação nacional, revoluções de caráter socialista — os generais brasileiros de plantão importaram o espírito repressivo das políticas norte- americanas, através da antiga Lei 6.368, de 21/10/1976. Dentre outras disposições, essa lei impunha penas de privação da liberdade para usuários de substâncias consideradas ilegais no país. Estes foram então e desde logo postos à margem da vida social; concebidos como marginais e tratados como tal. Isto porque, dentro do paradigma repressivo, a dependência de drogas não era (e não é) concebida como um problema de saúde, mas sim como problema moral cuja solução estaria limitada ao campo das escolhas pessoais: bastaria “bom senso” e “força de vontade” para “voltar à razão” e, para tal, nada melhor do que o “castigo”. Vídeo Em Nome da Razão A psiquiatria tradicional, aqui como no mundo, incluía: internações involuntárias, inoculação maciça e compulsória de medicamentos, Clique no botão para conferir o vídeo indicado. ASSISTA Este paradigma só começou a ser questionado no decorrer dos anos 1980, no contexto da Reforma Psiquiátrica que correu mundo e chegou ao nosso país, questionando as práticas da psiquiatria tradicional e trazendo, no campo específico da dependência de drogas, a disseminação e a incorporação de novos paradigmas: o paradigma médico, advindo em especial da Europa, a partir dos acúmulos de estudos centralizados junto à OMS e que concebe a dependência de drogas como doença ou transtorno bio-psico-social. E também o paradigma relacionado ao respeito aos direitos humanos, o qual inclui a valorização do respeito às liberdades individuais e ao protagonismo dos usuários na condução das estratégias de superação das dependências; a adoção desegura o pulso da segunda pessoa, a segunda segura o pulso da terceira e a terceira segura o pulso da quarta e a quarta segura o pulso da primeira, formando um elo em círculo. As cores das peles das pessoas são variadas, há duas com tons mais claros, uma com tom moreno um pouco mais escuro e uma pessoa com a pele negra. Fim da descrição. Mas, afinal, o que é tolerância? Pois bem, o artigo1° da Declaração de Princípios sobre a Tolerância, aprovada pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, em 16 de novembro de 1995, descreve seus diferentes significados: Como se vê, em que pese a tolerância ser um dever de ordem ética e uma necessidade política e jurídica, ainda assim as violações aos direitos fundamentais, por meio da violência gerada pela - UNESCO | Fonte: https://bit.ly/3ON2KNP “1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. [...]; 1.2 A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. [...]; 1.3 A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo(inclusive o pluralismo cultural), da democracia e do Estado de Direito.[...]; 1.4 Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a tolerância não significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade. Significa aceitar o fato de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar- se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.” https://bit.ly/3ON2KNP discriminação e preconceito são rotineiras, mas devem ser enfrentadas tanto pelo Estado quanto à sociedade, como forma de garantia da dignidade da pessoa humana. Os Direitos Humanos e as Minorias E são justamente esses elementos que constituem a base do IDH Índice de Desenvolvimento Humano, que restou desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbud Ul Haq auxiliado pelo economista indiano Amartya Sen, sendo utilizado, desde 1993, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD. Atualmente o IDH é composto por três importantes áreas do desenvolvimento humano, a saber: - PNUD Vida longa e saudável (longevidade), medida pela expectativa de vida; O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de educação de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade que uma criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber “O conceito de desenvolvimento humano nasceu definido como um processo de ampliação das escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e oportunidades para serem aquilo que desejam ser. Diferentemente da perspectiva do crescimento econômico, que vê o bem-estar de uma sociedade apenas pelos recursos ou pela renda que ela pode gerar, a abordagem de desenvolvimento humano procura olhar diretamente para as pessoas, suas oportunidades e capacidades.” Em 2013, “a primeira colocação no ranking mundial permanece com a Noruega (0,955, seguida por Austrália (0,938 e Estados Unidos (0,937. Os três piores colocados são Moçambique (0,327, Congo (0,304 e Niger (0,304. Conforme abaixo evidenciado, o Brasil registrou melhora no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH em relação ao ano anterior, mas manteve-se ocupando o 85º lugar no ranking mundial. O país apresentou progresso em renda, educação e saúde nos últimos 20 anos e [...] está entre os 15 países que mais reduziram a diferença, desde 1990, entre o patamar do IDH e o máximo verificado pela ONU.” G1. FIGURA 2 | IDH no Brasil Fonte: Reprodução #ParaTodosVerem Imagem de um infográfico. Na parte superior há um quadro com as seguintes informações acerca do IDH no Brasil: Posição – 84ª, IDH se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criança; O padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB per capita expressa em poder de paridade de compra (PPP constante, em dólar, tendo 2005 como ano de referência. 0,718, Esperança de vida – 73,5 anos, média de anos de escolaridade – 7,2 anos, anos de escolaridade esperados – 13,8 anos, renda nacional bruta per capita (PPC em dólar americano) – 10,162. Abaixo há um gráfico que mostra os dados de IDH no Brasil por décadas: em 1980 0,549, em 1990 0,6, em 2000 0,665, em 2009 0,708, em 2010 0,715 e em 2011 0,718. À direita há um quadro que explica o índice de pobreza multidimensional (IPM e porcentagem desses índices no Brasil em 2011 População em pobreza multidimensional – 5,075 milhões, população vulnerável à pobreza – 7%, população em pobreza grave – 0,2%, população multidimensionalmente pobre sem água potável – 1%, população pobre sem saneamento melhorado – 1,1% e população abaixo do limiar da pobreza do rendimento de 1 dólar e 25 centavos por dia – 3,8%. Fim da descrição. O Brasil foi um dos países pioneiros ao adaptar e calcular o IDH para todos os municípios brasileiros, criando o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM, em 1998. O IDHM ajusta o IDH para a realidade dos municípios e reflete as especificidades e desafios regionais no alcance do desenvolvimento humano no Brasil. O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 é uma plataforma de consulta ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM de 5.565 municípios brasileiros, e a mais de 180 indicadores de população, educação, habitação, saúde, trabalho, renda e vulnerabilidade, com dados extraídos dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 PNUD FIGURA 3 | IDHM melhores e piores cidades do Brasil Fonte: Reprodução #ParaTodosVerem: Imagem de um mapa. À esquerda, na parte superior há o título IDHM Melhores e piores cidades do Brasil. À direita há um mapa do Brasil mostrando 10 cidades espalhadas por todas as regiões do país. 5 delas estão escritas em azul e as outras 5 em vermelho. À esquerda, ao lado do mapa, há um quadro que explica as cidades mostradas no mapa: Melhores IDHM No Brasil: São Caetano do Sul (SP 0,862, Região Norte: Palmas (TO 0,788, Região Nordeste: Fernando de Noronha 0,788, Região centro-oeste: Brasília (DF 0,824, região sudeste: São Caetano do Sul (SP 0,862 e região sul: Florianópolis (SC 0,847. Abaixo há um quadro que explica os piores IDHM das cidades mostradas no mapa: Brasil: Melgaço (PA 0,418, região Norte: Melgaço (PA 0,418, região nordeste: Fernando Falcão (MA 0,443, Região centro-oeste: Japorã (MS 0,526, Região Sudeste: São João das Missões (MG 0,529 e região Sul: Doutor Ulysses (PR 0,546. Fim da descrição. Por fim vale mencionar que os dados obtidos por meio do dessa forma de monitoramento são de suma importância para a elaboração de políticas públicas que respeitem os direitos e atendam às necessidades de todos, façam estes parte da maioria ou não. Mas, então, o que são minorias? Apesar de inúmeras tentativas, até hoje não foi possível estabelecer um conceito satisfatório acerca dessa expressão, justamente em razão da diversidade de situações em que estas se colocam. Algumas minorias apresentamabordagens de redução de danos e de descriminalização, despenalização e/ou legalização do uso de drogas (detalhados mais à frente). Ou seja, apenas no final do século XX ocorre em nosso país o chamado realinhamento das políticas sobre drogas, que alcançou uma revisão (parcial e problemática, mas significativa) dos marcos legais brasileiros sobre o tema: a concepção genérica anti-drogas começou a ser aplicação de castigos físicos e choques elétricos, e realização de lobotomias (intervenções cirúrgicas no cérebro), terminando invariavelmente na destruição da individualidade e no confinamento até a morte. Mereceu amplo questionamento a partir dos anos 1980, por suas práticas abusivas, autoritárias, segregacionistas, discriminatórias e desumanizante. Para uma visão do seu modus operandi, ver, dentre outros, o documentário intitulado a seguir. https://youtu.be/cvjyjwI4G9c substituída por políticas “sobre” drogas; além disso, atualmente não se recomenda mais a aplicação de penas de prisão para usuários de substâncias ilícitas, mas ainda, penas de prestação de serviços comunitários e/ou frequência compulsória em programas de tratamento e reinserção social. Assim, dos novos paradigmas decorreu o desenvolvimento de novas abordagens em saúde (geral e mental) e posteriormente em assistência social, passando-se a considerar os indivíduos dependentes de drogas como demandantes de atenções variadas e específicas: desintoxicação, técnicas de substituição de substâncias, ressocialização, oferecimento de condições materiais e imateriais de reinserção social (emprego, moradia, estudo, relações familiares), construção de redes de apoio e serviços de atenção. Assim, nos últimos 15 anos tem havido um esforço multidirecional (junto aos poderes legislativo, executivo e judiciário nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal) e multidisciplinar (envolvendo não só as ciências e serviços de saúde, mas também do direito, da educação, da comunicação social e outros campos), visando a desenvolver e aprimorar os conceitos e as práticas, como também as próprias políticas e marcos regulatórios sintonizados com as novas compreensões. A ideia de despenalização se refere basicamente ao objetivo de minimizar a intensidade das penalizações aos usuários (eliminando-se gradativamente as penas de prisão e substituindo-as por penas alternativas e educativas). Já o conceito de descriminalização é mais amplo, visto que tende para não considerar como crime o uso de drogas. A ideia de legalização é ainda mais ampla e problemática, remetendo à possibilidade de tornar legal a produção, o comércio e o uso indiscriminado de substâncias psicoativas/psicotrópicas, com base em argumentos relacionados a uma possível redução da criminalidade e da violência urbanas associadas ao tráfico. Restam aqui desafios jurídicos e culturais, por exemplo, como tratar o uso abusivo com rebatimentos criminais, o cometimento de infrações dolosas ou culposas (com ou sem intenção); ou ainda, o problema da posse de drogas, que tem originado tratos judiciais eventualmente diferenciados à luz de um recorte classista: indivíduos apanhados com pequenas quantidades de drogas são enquadrados, ora como “traficantes” que recebem penas de prisão (amiúde, oriundos de famílias de baixa renda), ora como “usuários” que recebem penas alternativas (inclusos os advindos de famílias de renda alta ou média). Por fim, a ideia de redução de danos (RD se refere a um conjunto de práticas isoladas e pontuais, que vem sendo adotadas para tentar reduzir ou evitar eventuais resultados negativos do uso de drogas, sem a necessidade de interromper tal uso. Alguns exemplos destas práticas incluem: a indicação de não fumar tabaco com “baixos teores” porque isto levaria a fumar um maior número de cigarros; a criação de serviços comerciais de transporte de pessoas que ingeriram álcool e não podem dirigir veículos automotivos; o fornecimento de seringas descartáveis para usuários de drogas injetáveis; a oferta de locais supostamente mais seguros para concretizar o uso de drogas. O conceito de RD foi comprovadamente bem sucedido no combate à epidemia de AIDS nos anos 80, reduzindo significativamente a contaminação através do compartilhamento de seringas, nas situações de uso coletivo de drogas injetáveis. Porém, quando aplicadas mecanicamente ao problema das dependências de drogas, algumas práticas de RD acabam resgatando o paradigma moral, embora na direção contrária: enquanto o velho moralismo conservador apela à força de vontade dos sujeitos para não usar drogas, a ética emancipatória da RD apela à liberdade de escolha dos sujeitos para usar drogas (ou não); ambas as vertentes ignoram as dimensões bio-psico-sociais que fazem das dependências, transtornos de saúde marcados pela perda crescente da liberdade de escolha. Outro dos muitos questionamentos feitos às práticas de RD é até que ponto, a título de reduzir danos para alguns indivíduos, não servem efetivamente como mecanismos de facilitação e estímulo ao uso de drogas pela população em geral. Vemos então que, juntamente com o reconhecimento da necessidade imperiosa de respeito aos direitos humanos (dos usuários de drogas, como de resto de toda a população), faz-se urgente o aprofundamento da discussão e da pesquisa em torno das novas concepções e práticas. E aqui concluímos nossa breve viagem à história das políticas sobre drogas no Brasil. Antes de conhecer as principais normas vigentes em nosso país, resta apenas apresentar alguns dados epidemiológicos que nos ajudarão a dimensionar a realidade do consumo e da incidência de dependência das substâncias mais utilizadas pela população. Dados epidemiológicos e um pouco de matemática, vamos direto à apreciação da Tabela 1 a seguir: TABELA 1 | Percentual de usuários e de dependentes por substância, no Brasil Substância % Uso na vida* % Dependência* N° Dependentes** Álcool 74,6% 12,3% 24,6 milhões Tabaco 44% 10,1% 20,2 milhões Maconha 8,8% 1,2% 2,4 milhões Saiba Mais Para um aprofundamento em torno destes novos conceitos e práticas, ver Laranjeira e outros (2011. Para um estudo mais detalhado, ver Garcia, Leal e Abreu (2008 . Substância % Uso na vida* % Dependência* N° Dependentes** Cocaína 2,9% NC – Crack 0,7% NC – (* CEBRID 2005, p. 33 o uso na vida refere-se a pelo menos uma utilização, em qualquer fase da vida; (** Cálculo com base na estimativa de 200 milhões de brasileiros (IBGE, 2013***). (*** 201 milhões é o número total de habitantes no Brasil, segundo a projeção oficial do IBGE, divulgada na quinta-feira 29. Pela primeira vez a marca de 200 milhões foi superada.” Nota publicada na Revista Carta Capital n° 764 de 04/09/2013, p. 24. Para o campo da saúde pública, mas, principalmente, para as decisões norteadoras das políticas públicas em saúde e prevenção da dependência de drogas, os números mais impactantes mostrados acima (encontrados no II Levantamento Domiciliar Nacional realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas – CEBRID, em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, e projetados para a população brasileira em 2013 se referem, precisamente, às duas principais substâncias lícitas no Brasil: tabaco e álcool, com uma prevalência dez vezes maior que a estimativa de dependentes de maconha e ainda maior em relação ao uso na vida de cocaína e crack. O número bruto de indivíduos alcoolistas mostra-se particularmente grave se pensarmos que, para cada dependente ativo, em média quatro pessoas não-alcoolistas sofrem danos associados, impactando os sistemas de saúde, penal e laboral, dentre outros. Por fim, cabe pontuar que o estudo pormenorizado do referido Levantamento do CEBRID, assim como outros (poucos) realizados nos últimos anos, traz informações imprescindíveis, não só para tratar os já dependentes, mas principalmente para prevenir (evitar) as dependências. Por exemplo, estudando-se o perfildos usuários de cada substância (idade, renda, traços culturais e outros), para orientar adequadamente campanhas de educação, definir medidas restritivas de publicidade ou diretrizes de formação profissional de todos quantos possam vir a estar, de algum modo, envolvidos nos campos da prevenção, tratamento e/ou reinserção social de indivíduos dependentes de drogas. A partir destas rápidas indicações em torno da história das políticas sobre drogas no Brasil e também das dimensões atuais da prevalência de algumas dependências de drogas em nosso país, apresentamos a seguir, uma listagem parcial de Leis, Resoluções e outros instrumentos jurídicos, os quais fornecem um panorama das atuais políticas sobre álcool e outras drogas no Brasil. Sugerimos que, na medida do seu interesse, você aprofunde seus conhecimentos e análise crítica. Acreditamos que um bom exercício será refletir sobre os conteúdos de cada regulamentação tendo como referência os paradigmas, heranças históricas e problemas contemporâneos discutidos anteriormente. Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a usuários de álcool e outras drogas 2004; Política Nacional sobre Drogas PNAD, 2005; Lei Federal 11.343/2006 e complementos, que criaram o Sistema Nacional de Políticas Sobre Drogas (SISNAD; Política Nacional sobre o Álcool PNA, 2007; MP n° 415/2008 e Decretos 6.488 e 89/2008, Lei Federal 11.705/2008, com alterações no Código Nacional de Trânsito, relativas ao beber-e-dirigir; Decreto 7.179/2010, contendo o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas; Resolução RDC/ANVISA n° 29/2011, que atualiza a RRDC n° 101/2001 quanto aos requisitos de segurança sanitária e demais condições de funcionamento das chamadas Comunidades Terapêuticas. A título de comentário geral em torno desse conjunto de marcos regulatórios tão recente em termos históricos, podemos dizer que procuram normatizar o funcionamento de aspectos estruturais interligados, tais como: reordenamentos institucionais, construção da rede intersetorial de serviços de atenção, institucionalização de fontes de financiamento e custeio. Além do fato de serem ainda pouco articulados entre si, pontuamos algumas outras características que se colocam como desafios a serem enfrentados no aprimoramento das políticas brasileiras sobre drogas: Fragmentação, inconsistências e inadequações teóricas, perceptíveis no trato confuso dado às estratégias de redução de danos, as quais ganham status incompatível com o (parco) acúmulo de evidências de efetividade; Insuficiências materiais (de orçamentos, de recursos humanos devidamente qualificados; de instalações, equipamentos e redes de serviços); Refletem até certo ponto, como também se voltam a interesses conflitantes ou mesmo antagônicos no campo das dependências de drogas e hábitos, visto que envolvem a existência de mercados (lícitos e ilícitos) e relações cujo trato ou enfrentamento demandam políticas em outros campos; Tendem a minimizar a responsabilidade e a presença do Estado na oferta de serviços de atenção públicos, universais e gratuitos, em razão da orientação neoliberal que afetou a maior parte dos novos marcos regulatórios recentes no Brasil. Tal orientação tende a transformar os próprios eixos da prevenção, tratamento e reinserção social dos dependentes de drogas em novos nichos de mercado, em detrimento do bem-estar social. Site Para uma apreciação mais completa e atualizada das regulamentações Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID ACESSE Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD ACESSE Independentemente dos desafios em torno dos marcos regulatórios e das políticas atuais até aqui pontuados, percebe-se que a prevenção da dependência de drogas é, ao mesmo tempo, um objetivo e um elemento constitutivo de tais políticas. Falta dizer que é também um conceito da mais alta relevância, cuja adequada compreensão pede algum aprofundamento. É o que faremos no próximo tópico. Políticas Públicas sobre Álcool e Outras Drogas no Brasil Prevenir significa, essencialmente, antecipar-se a algo, no sentido de evitar algo; acautelar-se, precaver-se face a uma ocorrência futura, eventual ou provável. Em nível do senso comum, dizemos frequentemente que “prevenir é melhor que remediar”, com isto querendo enfatizar que evitar um problema é uma estratégia mais eficiente, eficaz e efetiva do que lidar com as consequências da sua ocorrência. Assim, em cada área da vida social, a prevenção estará sempre no âmbito das políticas sobre drogas e, especificamente, dos eixos da prevenção, tratamento e reinserção social de indivíduos dependentes de drogas. http://www.obid.senad.gov.br/ http://portal.mj.gov.br/senad referida a problemas próprios desta área, por exemplo: a segurança pública (mas não apenas esta área específica) deveria prevenir a violência e a criminalidade; a saúde (e igualmente, não apenas esta área) deveria prevenir a ocorrência de doenças, e assim por diante. O mesmo se pode dizer da prevenção da dependência de drogas. Contudo, e em face da questão social e suas expressões em nossas sociedades, sabemos que os problemas sociais já estão presentes e em proporções crescentes. Por conta dessa realidade, no campo específico das políticas sobre drogas (como da saúde em geral), o eixo da prevenção se desdobra em níveis: Pode-se prevenir o consumo de drogas (com políticas que incidam sobre a produção, taxação, comércio, circulação, preços, enfim, sobre a oferta de substâncias psicoativas, e/ou políticas dirigidas à contenção da demanda por drogas: diretrizes educacionais, recreativas, esportivas, de oferta de trabalho e renda, dentre outras). Neste caso, fala-se em prevenção primária, no sentido de evitar os pressupostos da dependência de drogas: reduzindo-se o consumo global, reduz-se necessariamente o percentual de incidência das dependências. Fala-se também em prevenção universal, pois neste nível, as políticas tendem a ser dirigidas à população em geral; Por outro lado, sabemos que estes manejos macroeconômicos e políticos, dado o caráter capitalista das relações sociais, provocam desdobramentos e redirecionamentos no sentido de recriar/multiplicar dependências, seja sob outras formas de uso ou outras substâncias. Assim, diante do fato do consumo de drogas, fala-se em políticas de prevenção secundária: dirigida para evitar consequências adversas dos usos existentes. Também se fala em prevenção seletiva, visto que neste nível as políticas, tendem a ser direcionadas para os segmentos de usuários de drogas, visando a evitar que os usos se tornem abusivos e se configurem como dependências; Por fim, dado que já temos dependências endêmicas e epidêmicas, um nível ainda mais específico da prevenção é o terciário, que busca alcançar algum grau de redução de danos decorrentes da(s) dependência(s) de drogas (e hábitos); neste nível, fala-se também em prevenção indicada, isto é, restrita ao segmento de indivíduos dependentes, buscando alertá-los quanto a riscos, manejos mais seguros Cabe indicar ainda que, atualmente, fala-se em domínios de prevenção, isto é, em políticas e programas preventivos relacionados a certos domínios da vida social: o individual, o familiar, o escolar, comunitário, empresarial, político, de saúde e outros. Em cada um destes domínios, procura-se identificar fatores de risco e fatores de proteção capazes de prevenir, seja o uso, seja o abuso e/ou a dependência de substâncias ou hábitos. De todo modo, tem sido evidenciado que, assim como no âmbito do tratamento e da reinserção social, também no da prevenção se faz necessária à ação articulada e multifatorial entre os diversos domínios, visto que a atuação limitada a um campo mostra-se em geral ineficaz, ou mesmo inviável. e atitudes mais saudáveis, em substituição às práticas reconhecidamente mais perigosas e danosas. Saiba Mais Expressões próprias do campo da saúde (eventualmente utilizadas em sentido figurado parareferir-se à abrangência de problemas em outras áreas da vida social): considera-se endêmica uma doença que incide de forma localizada e peculiar a uma região e/ou segmento de população; o caráter epidêmico corresponde ao seu agravamento, sob a forma de generalização para outras localidades e populações Por fim, a partir de um estudo específico, a OMS compôs uma lista de dez melhores práticas preventivas com “evidência de efetividade, existência de suporte científico, possibilidade de transposição para diferentes culturas, custos de implementação e sustentação”, relacionadas ao álcool: definição e fiscalização de idade mínima legal para compra; monopólio governamental das vendas no varejo; restrição de horários ou dias de venda; restrições de densidade e localização dos pontos de venda; criação de impostos; redução dos limites de concentração alcoólica no sangue permitida para dirigir; suspensão administrativa da licença de motoristas que dirigem alcoolizados; definição de postos de fiscalização de sobriedade; política de “tolerância zero” quanto a dirigir alcoolizado, por vários anos, no licenciamento para motoristas novatos; e implementar processos terapêuticos do tipo intervenção breve para bebedores pesados (DUAILIBI; VIEIRA; LARANJEIRA, in LARANJEIRA e orgs., 2011, p. 500501. Saiba Mais Fatores de risco e fatores de proteção: São características ou combinações delas, existentes em pessoas, grupos, comunidades, territórios ou instituições, capazes de fortalecer de diversos modos as pessoas e prevenir o uso, o abuso, a dependência de drogas; ou, pelo contrário, são fatores capazes de aumentar as probabilidades do envolvimento com drogas (para maior detalhamento, ver CAMPOS; FIGLIE, in LARANJEIRA e orgs., 2011, p. 483. Em Síntese Nos últimos anos, como decorrência positiva do processo de realinhamento e mudança de paradigmas no campo das políticas sobre drogas no Brasil, tem havido intensas discussões – pontuais e momentâneas – sobre aspectos tais como: as abordagens de rua nas “cracolândias” de todo o país; a pertinência ou não das internações involuntárias e compulsórias como recursos possíveis no campo do tratamento; a possibilidade de legalizar formas específicas de uso de determinadas substâncias, com base na experiência recente de outros países (por exemplo, o uso medicinal de maconha por pacientes com câncer; ou seu uso na indústria têxtil); a urgência de descriminalizar (e não só despenalizar) o uso de drogas. Entendemos que as discussões pontuais são legítimas e necessárias, porém, em face do que refletimos nesta Unidade, acreditamos que um enfrentamento efetivo do problema das dependências de drogas e hábitos, na perspectiva da sua superação, exige que o nosso olhar e a nossa atenção se voltem à totalidade das políticas que regem a vida social em nosso país: precisamos repensar nossas políticas econômicas; nossos conceitos sobre propriedade, acesso e usufruto de bens, equipamentos, recursos, conhecimentos e tecnologias fundamentais ao desenvolvimento social e humano; nossas políticas relativas a como organizar os serviços de educação, habitação, cultura, esporte, lazer, alimentação e saúde; nossas políticas relacionadas à oferta de trabalho e renda; precisamos, enfim, revisar em totalidade este modelo societário que produz privações e dependências em abundância, em favor de outro modelo, no qual a abundância de riquezas materiais e imateriais seja organizada e distribuída de um modo tal, que a necessária interdependência de todos(as) implique a garantia da emancipação e do melhor desenvolvimento de cada um(a). E assim chegamos ao final desse estudo – o que você diz? Considera que as informações e reflexões aqui contidas serão úteis quando você estiver trabalhando na profissão ou ofício propiciados por este curso? Considera-as úteis em sua vida, como cidadão ou cidadã com vínculos familiares, de amizade, afetivos, sociais? De nossa parte, esperamos que você se sinta motivado(a) não só a seguir ampliando e aprofundando seus conhecimentos, mas se disponha a multiplicá-los em seus círculos e pertencimentos, fortalecendo uma corrente de pensamento crítico, de ação coletiva e participação em movimentos e processos de mudança e transformação, seja no campo específico da dependência de drogas, seja na vida em sociedade. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Álcool, drogas e crime Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Efeitos do uso do álcool e das drogas ilícitas no comportamento de adolescentes de risco: uma revisão das publicações científicas entre 1997 e 2007 Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE 3 / 4 📚 Material Complementar https://www.scielo.br/j/rbp/a/HmNhYbJn3WVmGBrXnfgs8Rm/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/rpc/a/RSRHCf8Gjnc8sGGvJGVrCff/?format=pdf&lang=pt A implicação da família no uso abusivo de drogas: uma revisão crítica Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE https://www.scielo.br/j/csc/a/NXNWcBqBzgk6HrdZhPhGj5f/?format=pdf&lang=pt BEHRING, E. R.; SANTOS, S. M. M. Questão social e direitos. In ABEPSS/CFESS. Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília, DF, 2009, pp. 267284. CARTER, B.; McGOLDRICK, M. As mudanças no ciclo de vida familiar. Cap. 20, pp. 415434. CATARDO, L. A. M. O olhar de alunos de 8ª série sobre prevenção do uso de drogas numa escola de São Paulo/SP. 2009. 191 f. Dissertação (Mestrado em Políticas Sociais) – Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2009. CEBRID/UNIFESP/SEAD. I e II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil. SP, 2001, 2005. DIEHL, A., CORDEIRO, D. C.; LARANJEIRA, R. (orgs.) Dependência Química Prevenção, Tratamento e Políticas Públicas. São Paulo, Artmed, 2011. GANEV, E. Dize-me como andas e saberei quem és. O método de Alcoólicos Anônimos à luz da comunicação social no contexto latino americano. Brasil e Uruguai. SP, Tese de Doutorado, mímeo, 2002. ________. Regulações Institucionais e Integração Cultural: um binômio viável. In: Cadernos PROLAM/ USP, São Paulo, ano 2, vol. 2, 2003, pp. 4577. GANEV, E.; LIMA, W. L. Reinserção Social: processo que implica continuidade e cooperação. In: Revista Serviço Social & Saúde, ano 10, n° 11, p. 113129. Campinas, UNICAMP, julho de 2011. 4 / 4 ☕ Referências GARCIA, M. L. T., LEAL F. X.; ABREU, C.C. A Política Antidrogas Brasileira: velhos dilemas. 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Porto Alegre, Artmed, 1999. Videoaula Veja, no vídeo a seguir, os assuntos abordados nesta unidade. Atente-se, pois, ao longo dele, você terá algumas questões reflexivas. O Tema proposto – “A questão Ambiental e a Sustentabilidade” – tem o objetivo de fazer despertar em você o interesse e a conscientização da responsabilidade como cidadão, em relação aos processos de mudanças socioambientais, que um Desenvolvimento Sustentável exige. A visão clássica de desenvolvimentonão atende mais as necessidades de uma sociedade que se fortalece devido à conscientização de que corremos risco de esgotamento de recursos naturais. É uma questão de sobrevivência do Planeta. Uma visão Sustentável deve ser incorporada a qualquer setor, para tanto, é necessário que as pessoas estejam capacitadas para enfrentar a dinâmica das transformações socioambientais presentes e futuras. 1 / 4 👍 Contextualização Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo online para que você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do conteúdo. Introdução Vamos começar nossa Unidade pautada na afirmação de Almeida (2008, apud PEREIRA, SILVA, CARBONARI, 2011 “A demanda por água, alimentos e energia para atender uma população crescente representa um custo além do suportável para os ecossistemas [...]”. Apesar de uma das principais causas do desequilíbrio ambiental ser o aumento significativo da população, esse não pode ser considerado o único motivo do dilema ambiental. Outros eventos contribuíram, como as transições: tecnológica, industrial, cultural, demográfica e a globalização. O século XX foi considerado pelo historiador Eric Hobsbawn “A era dos Extremos”, desafios e conflitos se tornaram mais evidentes nesse século (HOBSBAWN, 1994, apud HOGAN; MARANDOLA JR; OJIMA, 2010. A ONU corrobora com esta ideia quando afirma que a partir de meados do século XX o homem modificou de forma rápida e intensa os ecossistemas em um nível jamais visto em outros períodos da humanidade, decerto para atender as demandas crescentes como água doce, energia, etc. PEREIRA, SILVA, CARBONARI, 2011. Naturalmente esta demanda crescente não foi somente para atender as necessidades básicas, mas também em razão de um novo estilo de vida da população que se sente atraída pela oferta de produtos, equipamentos, aparelhos cada vez mais sofisticados. Os desejos da sociedade são ininterruptos e ilimitados, gerando uma extração de recursos e/ou geração de dejetos maior que a capacidade do ecossistema de reproduzi-los ou reciclá-los. 2 / 4 🌎 Material Teórico A utilização de recursos naturais confunde-se com a própria história da humanidade. Seu desenvolvimento está ligado à sua habilidade em detectar, manipular e aperfeiçoar os materiais disponíveis para atender suas necessidades de manutenção, abrigo e religiosidade (ISAIA, 2010. Porém, foi somente nas últimas décadas do século passado que as discussões voltou-se para a preservação do meio ambiente, por conta da disseminação de ideias de sociedades mais evoluídas e a consequente conscientização progressiva dada às crianças e aos jovens, que vem se fortalecendo a cada dia. O desenvolvimento das sociedades, em sua maioria, quer seja urbana quer seja rural, ocorreu sem planejamento, portanto de forma desordenada, implicando em níveis crescentes de poluição e degradação ambiental. Recursos Naturais Recurso Natural é qualquer insumo de que os organismos, as populações e os ecossistemas necessitam para sua manutenção (ISAIA, 2010. Em Síntese Grosso modo, podemos inferir que o nível de qualidade do nosso Planeta depende da quantidade de pessoas, dos Recursos Naturais disponíveis, do Grau de poluição gerado durante os Processos utilizados, e principalmente da capacitação para geri-los. Podem ser divididos em dois grupos: Observação: É importante ressaltar que mesmo sendo renováveis podem não ser suficientes e/ou estarem inadequados para uso; Minerais Energéticos: Combustíveis Fósseis (carvão mineral, petróleo e urânio); Minerais Não-Energéticos: Ferro, Calcário, Argilas em geral. Grande parte pode ser reutilizada ou reciclada, mas não pode ser reconstituída conforme suas condições originais. Para assegurar a vida, os ecossistemas devem estar equilibrados, porém estudos demonstram que esse equilíbrio está ameaçado, podendo gerar escassez dos recursos naturais, colocando em risco a vida humana na Terra (PEREIRA, SILVA E CARBONARI, 2011. Ecossistema? Recursos Renováveis: aqueles que, depois de serem utilizados, ficam disponíveis novamente devido aos ciclos naturais. Exemplos: água, ar, biomassa, energia eólica. Recursos Não-Renováveis: aqueles que uma vez utilizados, não se renovam por meios naturais, e que podem ser subdivididos em: “[...] é a unidade principal de estudo da ecologia e pode ser definido como um sistema composto pelos seres vivos (meio biótico) e o local onde elesvivem (meio abiótico, Poluição É uma alteração prejudicial à saúde, e ao bem-estar do ser humano e de outras espécies que ocorre com as propriedades do meio ambiente, resultado da utilização dos recursos naturais pela população. Os efeitos da poluição podem ser globais, regionais ou localizados. O Efeito Estufa e a Redução da Camada de Ozônio, efeitos que trazem um desequilíbrio para o Planeta, são exemplos de efeitos globais. Alguns efeitos poluidores podem advir de fenômenos naturais, não podendo ser evitados, como é o caso da erupção vulcânica (BRAGA et al., 2005. Água É uma alteração prejudicial à saúde, e ao bem-estar do ser humano e de outras espécies que ocorre com as propriedades do meio ambiente, resultado da utilização dos recursos naturais pela população. Os efeitos da poluição podem ser globais, regionais ou localizados. O Efeito Estufa e a Redução da Camada de Ozônio, efeitos que trazem um desequilíbrio para o Planeta, são exemplos de efeitos globais. - INFOESCOLA, 2013 onde estão inseridos todos os componentes não vivosdo ecossistema como os minerais, as pedras, o clima, a própria luz solar, etc.)e todas as relações destes com o meio e entre si.” Alguns efeitos poluidores podem advir de fenômenos naturais, não podendo ser evitados, como é o caso da erupção vulcânica (BRAGA et al., 2005. Solo A poluição do solo em zonas rurais ocorre fundamentalmente pela utilização de fertilizantes e defensivos agrícolas, e mesmo que sejam aplicados utilizando-se da melhor técnica, há sempre um excedente que passa para o solo (BRAGA et al., 2005. O emprego de fertilizantes sintéticos e defensivos para atender uma população crescente parece inevitável, apesar dos riscos envolvidos. Se temos que conviver com a utilização de fertilizantes e defensivos, o mais sensato seria utilizá- los na medida certa, evitando os desperdícios que geram resíduos poluidores que se acumulam e propagam-se para a cadeia alimentar, enfim é necessário aprimorar as técnicas de aplicação (BRAGA et al., 2005. A poluição do solo urbano é proveniente dos resíduos gerados pela dinâmica das cidades, quer seja pelas indústrias, pelos comércios, pelas residências etc. e são mais conhecidos como“lixo”, ou ainda classificados em resíduos mais perigosos advindos de processos industriais e de atividades médico-hospitalares (BRAGA et al., 2005. Ar Conforme Braga et al. 2005, os poluentes podem ser àqueles lançados diretamente no ar ou aqueles advindos de reações químicas formadas na atmosfera. Alguns poluentes lançados na atmosfera são: Dióxido de carbono em grandes quantidades é prejudicial ao Planeta de modo geral, pois é responsável pelo efeito estufa e consequentemente pelo aquecimento global. Se inalado pode provocar irritações nas vias aéreas, ou morte por asfixia; Degradação Ambiental Degradação Ambiental é um processo que provoca alterações na fauna e flora natural, degenerando o meio ambiente, eventualmente provocando perdas à variedade de vida no planeta. Em geral, é associado à Poluição provocada pela ação do homem. O Quadro a seguir mostra as atividades de maior impacto ambiental negativo associado ao tipo de degradação provocada. QUADRO 1 Atividades de maior potencial de impacto ambiental Tipo de degradação Garimpo de ouro Assoreamento e erosão de cursos d’água. Formação de núcleos populacionais com grandes problemas sociais. Mineração Industrial: bauxita, ferro, manganês, cobre, etc. Esterilização de grandes áreas. Degradação da paisagem, impactos socioeconômicos.Óxidos de enxofre reagem com o vapor de água produzindo o ácido sulfídrico, que origina a chuva ácida; Hidrocarbonetos como o benzeno são cancerígenos e mutagênicos. Atividades de maior potencial de impacto ambiental Tipo de degradação Agricultura e pecuária extensivas (grandes projetos) Queimadas, destruição da fauna e da flora. Contaminação de Cursos d’ água por agrotóxicos, erosão e assoreamento de rios. Grandes usinas hidroelétricas Inundação de áreas florestais e agrícolas, impacto sobre flora, fauna e ecossistemas adjacentes, impacto socioeconômico. Pólos Industriais e/ou grandes indústrias Poluição do ar, água e solo, geração de resíduos sólidos, conflitos com o meio ambiente. Papel e Celulose Agressão aos micro-organismos e aos mananciais, ar carregado proveniente de descargas atmosféricas, disposição e resíduos sólidos. Cana-de-açúcar Uso de queimadas com contaminação do ar (cinzas resultantes poluem residências no entorno), incidência de problemas respiratórios para a população devido à fuligem. Atividades de maior potencial de impacto ambiental Tipo de degradação Produção de Cal Contaminação do meio ambiente através de dioxinas (substância tóxica), uso de mercúrio (afeta o sistema nervoso central dos indivíduos). Siderurgia Degradação da qualidade da água, emissões de poluição das usinas, lançamento de óleos e graxas no meio ambiente. Indústria Petrolífera Emissões e geração de resíduos, riscos de vazamentos, derramento de óleo. Caça e Pesca predatórias Extinção de mamíferos aquáticos e diminuição de peixes, drástica redução de animais de valores econômico e ecológico. Indústrias de alumínio Poluição atmosférica, poluição marinha e dos rios, impactos indiretos pela enorme demanda de energia elétrica. Crescimento Populacional Vertiginoso Ocupação desordenada do solo com sérias consequências sobre os recursos naturais, Atividades de maior potencial de impacto ambiental Tipo de degradação (migração interna e problemas sociais adjacentes) problemas sociais graves com a falta de habitação e serviços de infraestrutura básica. Fonte: Adaptado de TINOCO, 2004, apud ALBUQUERQUE et al. 2010 Recuperação Ambiental O Meio ambiente tem a capacidade de tornar-se puro novamente desempenhando função depuradora, porém, quando se apresenta sobrecarregado, essa recuperação não ocorre mais de forma espontânea, pelo menos a curto ou médio prazo, sendo necessário intervenções de ordem corretiva. A recuperação de áreas degradadas requer uma intervenção planejada, cujo objetivo é tornar a área, produtiva novamente e sustentável. Segundo Moura (2003, apud ALBUQUERQUE et al., 2009, já ultrapassamos em 20% a capacidade regenerativa dos ecossistemas. Aspectos Legais e Institucionais Quando exploramos a ideia de degradação do meio ambiente e todos os efeitos perversos que isto nos causa, percebemos que o que esta em jogo é a nossa sobrevivência no Planeta. A conscientização com as questões ambientais associadas às denúncias sobre contaminação evoluiu muito a partir do século XX. Foi a partir daí que nasceram as normas, regulamentos e Órgãos responsáveis pelo acompanhamento de Instrumentos legais e eficazes como a AIAAvaliação de Impacto Ambiental), aplicado como prevenção ao dano ambiental e de promoção do desenvolvimento sustentável. E por parte da sociedade surgiram as Organizações não governamentais (ONGs) (ALBUQUERQUE et al., 2009. A sistematização da AIA como atividade obrigatória foi formalizada pelos Estados Unidos por intermédio de uma lei aprovada pelo Congresso Americano, em 1969, vigorando a partir de 1970. Em 1981, o Brasil definiu a Política Nacional do Meio Ambiente por meio da Lei Federal no 6.938, de 31.08.1981. E em 1986 o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), por meio da Resolução no 001/86 definiu como deve ser feita a avaliação de Impactos ambientais, criando dois instrumentos novos, o Estudo de Impactos Ambientais (EIA e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima). Nos dias de hoje é extensa a legislação que trata sobre a proteção ambiental e de gestão de recursos ambientais, o que não quer dizer que seja suficiente para assegurar preservação ou manejo sustentável (BRAGA et al., 2005. No Brasil, as normas obedecem a três níveis hierárquicos (MACHADO, 1992, apud BRAGA et al., 2005 Lembrando que os municípios e estados, embora tenham suas particularidades, não podem desrespeitar as normas estabelecidas pela União, ela é soberana, apenas devem ser complementadas com particularidades do local. A União cabe o estabelecimento de normas gerais válidas em todo território nacional; Aos Estados o estabelecimento de normas que respeitem as suas particularidades; Aos Municípios cabe o estabelecimento de normas que atendam aos interesses locais. Segundo Braga et al. 2005, a introdução do tema ambiental na Lei maior brasileira foi um marco histórico de grande valor, pois as Constituições que a antecederam se quer mencionaram a palavra “meio ambiente”. A seguir é mostrado parcialmente a Constituição da República Federativa do Brasil (BRAGA et al., 2005. Constituição da República Federativa do Brasil: “Título VIII Da Ordem Social Capítulo VI Do Meio Ambiente Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III definir, em todas as Unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade devida ao meio ambiente; VI promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade; § 2º. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão aos infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º. A Floresta Amazônica Brasileira, a mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e a sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. Vale destacar que a partir da Constituição Federal, instituída em 1988, abriu-se caminho para atuação dos municípios, em relação à criação de instrumentos que possibilitam e controlam o uso e propriedade privada à função social por meio dos planos diretores, plano obrigatório em áreas urbanas com mais de 20 mil habitantes (BRAGA et al., 2005. As legislações federais promulgadas na década de 60 foram de grande importância e estão relacionadasabaixo, conforme Braga et al. 2005 - BRAGA et al. 2005 Lei no 4.504/64 Estatuto da Terra: alterada pela Lei 6.476/79 com dispositivos referentes à conservação dos recursos naturais renováveis. Alterada a redação dos artigos 95 e 96 pela Lei no 11.443/2007; Lei 4.771/65 institui o Código Florestal: alterada pela Lei no 7.803/89. Revogada pela lei no 12.651/12 com alterações feitas pela Lei 12.797/12; Decreto-lei no 221/67 estabeleceu o Código de Pesca. Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009 que dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca, regula as atividades pesqueiras, revoga a Lei no 7.679, de 23 de novembro de 1988, e dispositivos do Decreto-Lei no 221, de 28 de fevereiro de 1967, e dá outras providências; Decreto-Lei no 227/67 instituiu o Código de Mineração, mais tarde regulamentado pelo Decreto-Lei no 62.934/68. Projeto do novo Código de Mineração (PLs 37/11 e5807/13; § 5º. São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º. As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.” E posteriormente foram criadas: Lei no 5.197/67 Lei de Proteção à Fauna. Já revogados e/ou substituídos alguns artigos e parágrafos. Lei no 6.902/81 dispôs sobre a criação de estações ecológicas e áreas de proteção ambiental: regulamentada pelo Decreto no 99.274/90; Lei Federal no 6.938/81 estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, fixando princípios, objetivos e instrumentos. Estabeleceu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Sofreu alteração pela Lei 7.804/89, a qual previu o crime ecológico, e pela Lei no 8.028/90 e ainda pela lei no 12.651/12, que por sua vez sofreu alterações pela Lei 12.797/12; Lei nº 9.795/99 Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional deEducação Ambiental e dá outras providências. “Art. 9º. Entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando: I educação básica: a) educação infantil; b) ensino fundamental; e c) ensino médio. II educação superior; III educação especial; IV educação profissional; V educação de jovens e adultos. Art. 10. A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. Art. 13. Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará: I a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente; II a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não- governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não-formal; III a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações não-governamentais; IV a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação; V a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de conservação; VI a sensibilização ambiental dos agricultores; Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente Conforme Lei Federal no 9.938/81 e posteriores alterações pela Lei no 7.804 e Lei no 8.028/90, a seguir é mostrado os Instrumentos da Política Nacional do meio Ambiente. Lei nº 9.984/00 que dispôs sobre a criação da Agência Nacional de Água – ANA, entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; Lei nº 9985/00 Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências; Lei nº 10.257/01 Regulamenta os artigos. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Instituiu o Estatuto da Cidade, condicionando seu crescimento ao bem estar de seus habitantes. VII o ecoturismo.” “I Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II O zoneamento ambiental; III A avaliação de impactos ambientais; IV O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; Sistema Nacional do Meio Ambiente O Sisnama – Sistema Nacional do Meio Ambiente- tem sua estrutura descrita a seguir, conforme Braga et al. 2005 - BRAGA et al. 2005 V Os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI A criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII O sistema Nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII O cadastro Técnico Federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental; IX As penalidades disciplinares ou compensatórias ao não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental; X A Instituição do relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); XI A garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando existentes; XII O cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.” Órgão Superior: Conselho do Governo; Órgão Consultivo e Deliberativo: Conselho Nacional do meio Ambiente (Conama); Órgão Central: Ministério do Meio Ambiente; Órgão Executor: Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA. Possui 14 objetivos: Reduzir os efeitos prejudiciais e prevenir acidentes decorrentes da utilização de agentes e produtos agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como seus resíduos; 1 Promover a adoção de medidas de controle de produção, utilização, comercialização, movimentação e destinação de substâncias químicas e resíduos potencialmente perigosos; 2 Executar o controle e a fiscalização ambiental nos âmbitos regional e nacional;3 Intervir nos processos de desenvolvimento geradores de significativo impacto ambiental, nos âmbitos regional e nacional; 4 Monitorar as transformações do meio ambiente e dos recursos naturais;5 Executar ações de gestão, proteção e controle da qualidade dos recursos hídricos;6 Manter a integridade das áreas de preservação permanentes e das reservas legais;7 Ordenar o uso dos recursos pesqueiros em águas sob domínio da União;8 Ordenar o uso dos recursos florestais nacionais;9 Ex. COSEMA Conselho Estadual de Meio Ambiente e GAMA Gerência Adjunta do Meio Ambiente; Existem ainda as normas específicas para os Municípios e Estados em relação à Proteção do meio ambiente. São Paulo foi um dos estados pioneiros no desenvolvimento de instrumentos voltados a esta área. A Evolução da Conscientização da Importância do Meio Ambiente Monitorar o status da conservação dos ecossistemas, das espécies e do patrimônio genético natural, visando à ampliação da representação ecológica; 10 Executar ações de proteção e de manejo de espécies da fauna e da flora brasileira;11 Promover a pesquisa, a difusão e o desenvolvimento técnico- científico voltados para a gestão ambiental; 12 Promovero acesso e o uso sustentado dos recursos naturais; e13 Desenvolver estudos analíticos, prospectivos e situacionais verificando tendências e cenários, com vistas ao planejamento ambiental. 14 Órgãos Seccionais: Órgãos ou entidades da Administração Pública Federal Direta e Indireta, as fundações instituídas pelo poder público cujas atividade estejam ligadas a proteção ambiental, etc. Órgãos Locais: do Município responsáveis pelo controle e fiscalização das atividades referidas nas suas respectivas jurisdições. Hoje, mais do que nunca, as metrópoles, tendo em vista as concentrações urbanas, são, e provavelmente continuarão sendo, uma das grandes preocupações dos governos e da sociedade, dada as crescentes necessidades por recursos naturais. Bem, como manter um sistema produtivo, ainda que isso conduza a um efeito perverso?Esse questionamento leva a sociedade a constantes discussões em relação às definições dos mecanismos e das melhores práticas de ações que minimizem impactos ambientais presentes e futuros (AGOPYAN; JOHN, 2011. Sem dúvida a Educação e conscientização da Sociedade são bens preciosos para encontrar soluções sobre o nosso dilema ambiental, porém é necessário ir além, com a conquista da capacitação para lidar com estes problemas e a criação de normas e leis que permitam a interação entre o homem e o meio ambiente de uma forma mais saudável. Um dos frutos desta conscientização e amadurecimento foi a ideia de Consumo Sustentável, ou seja, como produzir de forma sustentável e responsável. Reflita E Agora? Como manter um sistema produtivo se este processo nos conduz a um efeitoperverso ao meio ambiente? Albuquerque et al.2009 sugerem para Consumo Sustentável/Responsável: Alguns princípios de Sustentabilidade citados por Albuquerque et al. 2009 são: Agopyan e John (2011 adotam o conceito de Sustentabilidade como sendo a conciliação entre os aspectos ambientais, econômicos, sociais e culturais, e ainda consideram em sua obra que a Sustentabilidade é suportada pelo tripé ambiente-economia-sociedade, considerados de forma integrada. O grande desafio sem dúvida é fazer com que a economia evolua, atendendo às expectativas da sociedade e mantendo o ambiente saudável para as gerações futuras. Pereira, Silva e Carbonari (2011 afirmam que cada dimensão do tripé descrito acima deve receber a mesma atenção, e examina-os separadamente: Uso racional de Recursos Naturais e menor desperdício; Respeito à capacidade depuradora de nosso sistema; Compromisso com as gerações futuras. Prevenção: Prevenir a degradação para evitar prejuízos; Precaução: Avaliar as consequências dos atos; Participação: Divulgação das implicações das decisões para fomentar a participação; Compromisso com melhorias contínuas: compromisso com a sustentabilidade; Princípio do poluidor pagador: o responsável pelo dano deve arcar com os custos. A Perspectiva Social: Enfatiza a presença do ser humano, tendo como principal preocupação o bem-estar e a qualidade de vida; Uma Organização Sustentável é aquela que promove suas ações mantendo o equilíbrio entre as dimensões Econômica, Social e Ambiental que lhe são específicas, buscando atingir simultaneamente critérios que atendam a equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012. A seguir vamos discorrer um pouco mais sobre a Perspectiva social abordando o tema responsabilidade social. Quanto a Perspectiva Econômica é uma área que demanda um estudo mais aplicado a um determinado setor, não iremos explorar este aspecto neste material. Responsabilidade Social A preocupação com a responsabilidade social começa associada à questão da Pobreza na Idade Moderna, época em que surgiram as Empresas, diferentemente da Idade Média, onde as iniciativas para aliviar o sofrimento dos pobres eram feitas por caridade cristã (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012. Na linha do tempo, a responsabilidade social empresarial passou por vários estágios. Nos Estados Unidos e na Europa no início do século XX grandes empresas construíam escolas, bibliotecas e igrejas, incorrendo em melhoria da qualidade de vida (PEREIRA, SILVA, CARBONARI, 2011. Já nas décadas de 1930 e 1940 a responsabilidade voltou-se para dentro das empresas, as preocupações se voltaram para os direitos trabalhistas, como redução de jornada, melhoria das condições de trabalho, aspectos ainda de extrema relevância nos dias de hoje (PEREIRA, SILVA, CARBONARI, 2011. A Perspectiva Econômica: Dois são os enfoques a serem considerados, um deles e a alocação e a gestão mais eficiente dos recursos e o outro um fluxo regular do investimento público e privado. No âmbito empresarial. A empresa, além de a organização ser ambientalmente correta e socialmente justa, deve ser competitiva; A Perspectiva Ambiental: A principal preocupação é com os impactos negativos das atividades humanas sobre o meio ambiente. Em 1960 inicia-se também o movimento ambientalista, e em 1970 e 1980 se intensificamos movimentos sociais em favor dos direitos das mulheres, homossexuais, minorias raciais e religiosas, pessoas com necessidades especiais, estudantes, consumidores e idosos (PEREIRA, SILVA, CARBONARI, 2011. Enfim ao longo dos anos as preocupações aglutinaram-se e encorparam as discussões voltadas a Responsabilidade Social, como o respeito à diversidade humana, o combate a corrupção, a promoção da qualidade de vida, e no trabalho, a preocupação e o cuidado com o meio ambiente (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012. As iniciativas são locais, regionais e empresariais nas formas de diretrizes, normas voluntárias, ou mesmo de instrumentos que viabilizem a gestão e operacionalização das expectativas deste movimento (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012. Princípios Diretivos São exemplos de princípios diretivos que impulsionaram a criação de normas de gestão e outras ferramentas e instrumentos para as práticas de gestão da responsabilidade social (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012 Declaração Universal dos direitos do homem (1948 Importante fonte para orientar a concepção de políticas de responsabilidade social quer seja para uma entidade pública ou privada; Agenda 21 realizada no Rio de janeiro em 1992 é um plano de ação para alcançar objetivos do desenvolvimento sustentável; Carta da Terra: foi concluída em 2000, surgiu para incluir questões que não foram tratadas na Declaração de 1992 no Rio de Janeiro, procurando sanar as deficiências existentes, cujos temas básicos são: Respeitar e cuidar da comunidade da vida; Metas do Milênio: Aprovada em 2001 pelas Nações Unidas, cujo objetivo é reforçar o compromisso entre as Nações dos pactos celebrados anteriormente, são eles: Pacto Global: Fórum aberto à participação de empresas e outras organizações. Para se engajar é necessário expressar seu apoio ao Pacto, cujos princípios são: Princípios de direitos Humanos: Integridade Ecológica; Justiça Econômica e Social; Democracia, não violência e paz. Erradicar a extrema pobreza e a fome; Atingir o ensino básico fundamental; Promover igualdade entre os sexos e autonomia das mulheres; Reduzir a mortalidade infantil; Combater a aids, a malária e outras doenças; Melhorar a saúde das gestantes; Garantir a sustentabilidade do Planeta; Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. Princípios de direitos do Trabalho: Princípios de Proteção Ambiental: Princípio contra a Corrupção: Respeitar e proteger os direitos humanos; Impedir violações de direitos humanos. Apoiar a liberdade de associação no trabalho; Abolir o trabalho forçado; Abolir o trabalho Infantil; Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho. Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; Promover a responsabilidade ambiental; Encorajar tecnologias que não agridam o meio ambiente. Combater a Corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina. Códigos e Regulamentos São exemplos de Códigos e Regulamentos (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012 Processos e Normas Para operacionalizaros princípios estabelecidos nos Acordos e Convenções são necessários instrumentos gerenciais. O processo de Normalização internacional se intensifica com a criação da International Organization for Standardization (ISO) em 1947, recebendo propositadamente essa sigla ISO, que significa em grego Igualdade, por desenvolver trabalhos de normalização técnica que represente o consenso de seus membros. O Brasil, representado pela ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas), participa das decisões e estratégias da ISO ISAIA, 2010. Séries de normas ISO é um conjunto de normas cujo objetivo é fornecer informações, estabelecer requisitos e auxiliar na sua implementação (ISAIA, 2010. Convenções da OIT Organização Internacional do trabalho criada em 1919, cujas convenções e recomendações são voltadas para as relações de trabalho e envolve empregadores, empregados e governos; Diretrizes da OCDE para as Multinacionais: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, elaborou entre outras ações, a Convenção Contra o Suborno de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Internacionais de 1997, incluída na Legislação Brasileira; Convenção Contra a Corrupção: é fundamental para qualquer gestão de responsabilidade social empresarial. A Transparency International (TI) define a corrupção como sendo o abuso do poder cujo objetivo é obter ganhos privados ilegítimos. São Exemplos de Normas: Segundo estudiosos da área da Qualidade (apud Barbieri e Cajazeira, 2012, todo movimento voltado a esta área contribui para impulsionar e fortalecer o movimento voltado a responsabilidade social “a organização que melhora continuamente a qualidade terá adotado ao final um estilo de gestão mais social”. ISO 9001 é a mais conhecida da série 9000, ela especifica requisitos de um sistemade gestão da qualidade. Reflita Qualidade? Porque falar sobre qualidade agora? ISO 14000 Esta série estabelece diretrizes para um sistema de gestão ambiental; OSHAS 18001 entrou em vigor em 1999 foi concebida pela recusa da ISO em criar normas sobre saúde e segurança do trabalho, portanto esta norma trata de um sistema de gestão de segurança e da saúde ocupacional. É um compromisso de redução dos riscos decorrentes do trabalho, recaindo em um processo dinâmico de melhoria contínua. Foi criada a partir de um grupo de certificadores do Reino Unido, Irlanda, Austrália, África do Sul, Espanha e Malásia (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012; NBR 16001 Norma Brasileira de Responsabilidade Social, estabelece requisitos mínimos permitindo que a organização crie e implemente um sistema de gestão da Esta norma apresenta-se compatível com as estruturas das normas ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001, o que facilita a integração das mesmas (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012. Os sistemas de gestão podem receber certificações, para fazê-lo devem submeter esse sistema a um Organismo externo, no caso da NBR 16001 é denominado de Organismo de Certificação de Sistema de Gestão da Responsabilidade Social (OCR, que por sua vez é acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012; A Responsabilidade Social das Organizações consiste em responsabilizar-se pelos impactos causados por conta dos processos decisórios perante a responsabilidade social, segundo ABNT 2013 levando em conta: responsabilização, transparência, comportamento ético, respeito pelos interesses das partes interessadas, atendimento aos requisitos legais, respeito as normas internacionais de comportamento, respeito aos direitos humanos a promoção do desenvolvimento sustentável (CATÁLOGODE NORMAS, 2013. AA 1000 Origem Reino Unido – define melhores práticas para prestação de contas a fim de assegurar a qualidade da contabilidade, auditoria e relato social ético de todos os tipos de organizações; AS 8000 é uma norma internacional de avaliação da responsabilidade social e parte do princípio que as empresas devem cumprir as leis relativas aos empregados e terceirizados adotando as disposições das convenções da Organização Internacional do Trabalho (BARBIERI, CAJAZEIRA, 2012; A Norma Internacional ISO 26.000 foi publicada em novembro de 2010 e lançada a versão em português em dezembro de 2010 ABNT NBR ISO 26.000 a qual concede Diretrizes sobre Responsabilidade Social. sociedade e meio ambiente. O que implica em um comportamento ético e transparente que contribui para o desenvolvimento sustentável, compatíveis com as leis aplicáveis e as normas internacionais de comportamento. A ISO 26.0002010 não tem a finalidade de certificação é uma norma de diretrizes e de uso voluntário. Em Síntese Já vivemos duas grandes revoluções no passado, a Agrícola e a Industrial e agora no presente vivemos a Revolução da Sustentabilidade (MIHELCIC, ZIMMERMAN, 2012. Tudo indica que os consumidores estão começando a levar em consideração alguns critérios ambientais e sociais na escolha por um produto ou processo, devido a conscientização e educação que cresce. As empresas, sem dúvida, detêm marcas que apresentam ativos intangíveis (bens e direitos que não apresentam forma física) que são preciosos e que demandam tempo e dinheiro para serem construídos. A transparência, a ética, enfim a responsabilidade socioambiental passa credibilidade, é, certamente, uma forma de gestão estratégica, mas vai muito além de estratégia e obrigação, é um compromisso permanente que a organização deve selar para tornar a sociedade mais justa, e contribuir com o desenvolvimento sustentável. A percepção de que temos vivido em um mundo onde as pessoas, por conta do apelo desenfreado à competitividade, se tornaram muito individualistas, fez com que Sociedades mais conscientes percebessem que seguindo este modelo, a convivência entre os seres ficaria insuportável, as conferências internacionais as quais tratamos neste conteúdo e muitas outras são exemplos de preocupações em discutir questões de interesse coletivo, para assim tornar o mundo mais sustentável. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Porque a Diversidade Faz Bem ALBUQUERQUE, J. L. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social. São Paulo: Editora Atlas, 2009. Coleção História Geral da África BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social em empresarial e empresa sustentável – da teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2012. 3 / 4 📚 Material Complementar AGOPYAN, V.; JOHN V. M. O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil. Série Sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2011. ALBUQUERQUE, J. L. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social. São Paulo: Editora Atlas, 2009 BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social em empresarial e empresa sustentável – da teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2012. BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental: O desafio do desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. ABNT. Catálogo de Normas. Disponível em: . Acesso em: 22/01/2013. FERNADES, ANGELA. Responsabilidade Social. Disponível em: . Acesso em: 21/08/2013. HOGAN D. J.; MARANDOLA JR. E.; OJIMA R. População e Ambiente: Desafios e Sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2010. INFOESCOLA. Ecossistema. Disponível em: . Acesso em: 21/08/2013. 4 / 4 ☕ Referências ISAIA, G. C. et al. Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais. São Paulo: IBRACON, 2010. MIHELCIC J. R. e ZIMMERMAN J. B. Engenharia Ambiental: Fundamentos, Sustentabilidade e Projetos. Rio de Janeiro: LTC, 2012. PEREIRA, A. C.; SILVA, G. Z. CARBONARI, M. E. E. Sustentabilidade, responsabilidadesocial e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2011. SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. SANTOS, R. F. PlanejamentoAmbiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.certo grau de autonomia e em outras ocorre justamente o inverso; algumas têm um forte sentido de identidade coletiva, ao passo que em outras essa situação não se verifica; umas podem ser localizadas em áreas definidas, separadas da parte dominante da população, enquanto que outras se encontram dispersas. Vale lembrar que nem mesmo a Organização das Nações Unidas logrou êxito em estabelecer um conceito universal de minoria, tendo em vista que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966 estabeleceu apenas que “nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não poderão ser privadas do direito deter, conjuntamente com outros membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião e usar sua própria língua" PIDCP ONU, 1966. Não obstante tais diferenças, podemos entender por minoria um “grupo não dominante de indivíduos que partilham certas características nacionais, étnicas, religiosas ou linguísticas, diferentes das características da maioria da população” GDDC n.º 18, 2008. Já o conjunto de pessoas que por questões ligadas a gênero, idade, condição social, deficiência e orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à violação de seus direitos é conhecido como grupo vulnerável (SENASP, 2009. Nesse sentido, a doutrina aponta os seguintes elementos caracterizadores das minorias e grupos vulneráveis (SÉGUIN apud. BRITO Tabela 1 Minorias Grupos Vulneráveis Numérico. Por vezes, se apresentam como grande contingente, como as mulheres, as crianças, os idosos. Não dominância. São destituídos de poder. Cidadania. Cidadania. Solidariedade entre seus membros, tudo com vistas à preservação de sua cultura, tradições, religião e idioma. Acima de tudo, não têm consciência de que estão sendo vítimas de discriminação e desrespeito; não sabem que têm direitos. De qualquer forma, minoria ou grupo vulnerável, não importa, o fato é que esses conjuntos específicos de pessoas devem ser protegidos, pois seus direitos são mais suscetíveis de serem violados. Assim, vejamos: Crianças e Adolescentes É certo que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, acima mencionada, põe a salvo os direitos desses grupos específicos ora tratados, ao estabelecer que: “A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social” (inciso 2 do artigo XXV. Nesse mesmo sentido, a Constituição Federal de 1988, antecipando-se à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, que em 1989 realizou a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, reconhece: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à saúde, à alimentação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (artigo 227. Na esfera infraconstitucional, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8069/90 reconhece que esses grupos específicos de pessoas gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana e assegura-lhes oportunidades e facilidades com o fim de alcançar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Não obstante essas disposições legais, a violência contra a criança e os adolescentes tornou-se um preocupante fenômeno mundial, a Youth for Human Rights International alerta sobre as violações à dignidade e à vida, das crianças e adolescentes, alvos fáceis dessas práticas: Abuso infantil: 40 milhões de crianças com menos de 15 anos sofrem de abusos e negligência. Fundação das Nações Unidas para a Infância, 2008; Violência de Gangs: 100% das cidades com população igual ou superior a 250 mil relatam a atividade de gangs. Ministério da Justiça dos EUA; Trabalho infantil: 246 milhões de crianças, uma em cada seis crianças com idades entre 5 a 17 anos, estão envolvidas em trabalho infantil. Organização Internacional do Trabalho, 2002; Crianças-soldados: A UNICEF estima que mais de 300 mil crianças menores de 18 anos estão atualmente a ser exploradas em mais de 30 conflitos armados em todo o mundo. A maioria das crianças-soldados tem entre 15 e 18 anos, alguns são tão jovens quanto 7 ou 8 anos de idade. Departamento de Estado dos EUA, 2005; Tráfico de seres humanos: estima–se que existem 27 milhões de pessoas no mundo que estão escravizadas. Anualmente entre 600 mil e 800 mil pessoas são Mulheres Certamente, em razão das diferenças biológicas havidas entre homens e mulheres, esta foi a primeira diversidade percebida entre os seres humanos. Vale mencionar que, ao longo dos séculos as mulheres têm sido privadas do exercício dos direitos humanos, sendo submetidas à violência, sob as mais diversas formas – física, sexual, psicológica e econômica. Sensível a essa situação, a Organização das Nações Unidas (ONU declarou o período havido entre 1976 e 1985, como a “Década da Mulher”, sendo certo que ao longo desse lapso temporal foram elaboradas propostas com o fim de tutelar os direitos humanos das mulheres, dentre as quais se destaca a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (Convenção da Mulher), instrumento legal de padrões internacionais que articula direitos iguais de homens e mulheres. Nesse sentido, alerta a Organização das Nações Unidas: - YHRI | Fonte: https://bit.ly/3b9WFNl Cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida: As mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência doméstica do que de câncer, acidentes de carro, guerra e malária, de acordo com dados do Banco Mundial; Violência praticada pelo parceiro íntimo: Diversas pesquisas mundiais apontam que metade de todas as mulheres vítimas de homicídio é morta pelo marido ou parceiro, atual ou anterior. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS realizado em 11 países constatou que a porcentagem de mulheres submetidas à violência sexual por um parceiro íntimo varia de 6% no Japão a 59% na Etiópia; Violência sexual: Calcula-se que, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres se tornará uma vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da vida. A prática traficadas através das fronteiras internacionais. Relatório de Tráfico de Pessoas do Departamento de Estado dos EUA, 2006. https://bit.ly/3b9WFNl No âmbito do direito pátrio, importante avanço foi conquistado pelas mulheres, com a edição da Lei n° 11.340/06, conhecida como “Lei Maria da Penha que“... cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher em conformidade com a Convenção Interamericana do matrimônio precoce – uma forma de violência sexual – é comum em todo o mundo, especialmente na África e no Sul da Ásia. As meninas são muitas vezes forçadas a se casar e a manter relações sexuais, o que acarreta riscos para a saúde, inclusive a exposição ao HIV/AIDS e a limitação da frequência à escola. Um dos efeitos do abuso sexual é a fístula traumática ginecológica: uma lesão resultante do rompimento severo dos tecidos vaginais, deixando a mulher incontinente e indesejável socialmente; Violência sexual em conflitos: Trata-se, com frequência, de uma estratégia deliberada empregada em larga escala por grupos armados a fim de humilhar os oponentes, aterrorizar as pessoas e destruir as sociedades. Mulheres e meninas também podem ser submetidas à exploração sexual por aqueles que têm a obrigação de protegê-las; “Homicídio em defesa da honra”: Em muitas sociedades, vítimas de estupro, mulheres suspeitas de praticar sexo pré-matrimonial e mulheres acusadas de adultério têm sido assassinadas por seus parentes, porque a violação da castidade da mulher é considerada uma afronta à honra da família. O Fundo de Populaçãodas Nações Unidas (UNFPA estima que o número anual mundial do chamado “homicídio em defesa da honra” pode chegar a 5 mil mulheres; Tráfico de pessoas: Entre 500 mil e 2 milhões de pessoas são traficadas anualmente em situações incluindo prostituição, mão de obra forçada, escravidão ou servidão, segundo estimativas. Mulheres e meninas respondem por cerca de 80% das vítimas detectadas; Discriminação e violência: Muitas mulheres enfrentam múltiplas formas de discriminação e um risco cada vez maior de violência física, em comparação a um terço das mulheres sem deficiência. A violência contra as mulheres detidas pela polícia é comum e inclui violência sexual, vigilância inadequada, revistas com desnudamento realizadas por homens e exigência de atos sexuais em troca de privilégios ou necessidades básicas (ONU. para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (“Convenção de Belém do Pará”). Amplia o conceito de violência contra a mulher, compreendendo tal violência como “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”, que ocorra no âmbito da unidade doméstica, no âmbito da família ou em qualquer relação íntima de afeto” PIOVESAN, 2012. Casamento e Constituição da Família Em razão da influência exercida pela Igreja, por muito tempo o Brasil teve como base da formação da família o casamento religioso. Vale mencionar que esses laços começaram a se afrouxar com o advento da Lei n° 6.515/77 que instituiu a dissolubilidade do vínculo matrimonial, pelo divórcio. No entanto, foi a Constituição Federal de 1988 que produziu importantes inovações ao reconhecer como entidade familiar, tanto a união estável entre o homem e a mulher (§ 3°, art. 226, quanto a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, sendo todas merecedoras de especial proteção do Estado (§ 4°, art. 226. “Nessa esteira, observa-se que a entidade familiar ultrapassa os limites da previsão jurídica (casamento, união estável e família monoparental) para abarcar todo e qualquer agrupamento de pessoas onde permeie o elemento afeto (affectio familiae). Em outras palavras, o ordenamento jurídico deverá sempre reconhecer como família todo e qualquer grupo no qual os seus membros enxergam uns aos outros como seu familiar” ALVES, 2006, ainda que se trate de união, por vínculo de afeto, entre pessoas do mesmo sexo. Acerca da união homoafetiva é necessário mencionar que o Colendo Supremo Tribunal Federal já reconheceu a inconstitucionalidade de distinção de tratamento legal às uniões estáveis constituídas por pessoas de mesmo sexo (ADPF 132/RJ e da ADI 4277/DF, tendo seguido idêntica orientação, o Superior Tribunal de Justiça, ao decidir acerca da inexistência de óbices legais à celebração de casamento entre pessoas de mesmo sexo (RESP 1.183.378/RS. Tais julgados, por sua vez, embasam a Resolução 175, de 14 de maio de 2013, do Conselho Nacional de Justiça, que determina ser “... vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo” CNJ, 2013. Ora, ainda que essas decisões não tenham caráter vinculativo e que a constitucionalidade da referida resolução esteja sendo questionada, não se pode negar que elas representam um caminho à efetiva proteção “do direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da “dignidade da pessoa humana”: direito a autoestima no mais elevado ponto da consciência do indivíduo. Direito à busca da felicidade” ADPF 132/RJ. Povos Indígenas É certo que na esfera internacional, vários diplomas tratam dos direitos dos povos indígenas, sendo o mais importante a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU, em 13 de setembro de 2007. FIGURA 4 Fonte: Adaptada de Getty Images #ParaTodosVerem: Foto montagem com 5 indígenas. À esquerda, imagem de um indígena, aparenta ser idoso, usa grandes alargadores brancos nas orelhas que pendem até o seu ombro. Utiliza também variados colares em tom bege, vermelho e preto. No centro, na parte superior, imagem de uma menina indígena, olhando para baixo, aparenta ser adolescente, tem cabelo liso e preto na altura dos ombros, pele bronzeada e apresenta uma pintura indígena em tom preto ao redor da boca e nas bochechas. No centro, na parte inferior, um homem indígena com a cabeça erguida, aparenta ser jovem adulto, está usando na cabeça um cocar com penas azuis e amarelas; o rosto está pintado de vermelho. À direita, na parte superior, imagem de um homem indígena, aparenta ser adulto e está de perfil; utilizar um cocar na cabeça com penas azuis e vermelhas; o rosto está pintado de preto e vermelho. À esquerda na parte inferior, há uma imagem de uma menina indígena, aparenta pouca idade. O rosto está virado para frente e os olhos virados para a esquerda; usa na cabeça um acessório de penas amarelas, pretas e vermelhas. O rosto está pintado de vermelho nas bochechas. Fim da descrição. Nos mesmos moldes da Declaração Universal dos Direitos Humanos, esse documento reconhece que os povos indígenas são iguais a todos os demais povos e detém o direito de serem diferentes e a serem respeitados em suas diferenças. Afirma, ainda, que todos os povos contribuem para a diversidade e a riqueza das civilizações e culturas, que constituem patrimônio comum da humanidade. No âmbito da legislação pátria, o Estatuto do Índio (Lei n° 6.001/1973, estende aos povos e as comunidades indígenas, a proteção das leis do país, nos mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros, resguardados os usos, costumes e tradições indígenas. O Brasil tem 896,9 mil indígenas em todo o território nacional, somando a população residente tanto em terras indígenas (63,8% quanto em cidades (36,2%, de acordo com o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE. O país tem, ainda, 505 terras indígenas, que representam 12,5% do território brasileiro (106,7 milhões de hectares), onde residem 517,4 mil indígenas (57,7%, dos quais 251,9 mil (48,7% estão na região Norte. Apenas seis terras têm mais de 10 mil indígenas; 107 têm entre mais de 1 mil e 10 mil; 291 têm entre mais de cem e 1 mil, e em 83 residem até cem indígenas. A terra com maior população indígena é Yanomami, no Amazonas e em Roraima, com 25,7 mil indígenas (BRASIL, 2013. Vale esclarecer que a ocorrência de atos violentos contra os índios brasileiros, como assassinatos (e tentativas), ameaças de morte, lesões corporais e estupros, cresceram 237% em 2012, segundo o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas, divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário (ÉPOCA, 2013. O aumento da violência, em grande parte, se deu em razão dos conflitos fundiários envolvendo produtores rurais e grupos indígenas. Afrodescendentes É inegável que a Declaração Universal dos Direitos Humanos refletiu a necessidade de proteção específica de certas populações, grupos e indivíduos que ao longo dos tempos foram violados em seus direitos, sendo este justamente o caso dos afrodescendentes, usualmente, vítimas de preconceito e racismo. Aliás, nesse sentido surgiu a Convenção sobre a Eliminação de Todas das Formas de Discriminação Racial adotada pela Organização das Nações Unidas em 21 de dezembro de 1965 e ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968, a qual integra o denominado sistema especial de proteção dos direitos humanos que, ao contrário do sistema geral, é endereçado a um sujeito de direito concreto, visto em sua especificidade e na concreticidade de suas diversas relações. Daí apontar-se não mais ao indivíduo genérica e abstratamente considerado, mas ao indivíduo especificado, considerando-se categorizações relativas ao gênero, idade, etnia, raça [...] PIOVESAN. Assim, visando eliminar e combater doutrinas e práticas racistas, a Convenção estabelece que, pordiscriminação racial entende-se qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência, baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que têm por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida pública (ICERD, art. 1º). Por outro lado, a Constituição Federal de 1988, reafirma que um dos objetivos principais da República Federativa do Brasil é combater o preconceito e qualquer forma de discriminação (inciso IV do artigo 3°), devendo ser punida qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais (inciso XLI do artigo 5°), em especial a prática do racismo, crime inafiançável e imprescritível (inciso XLII do artigo 5°). Nessa esteira merecem destaque na legislação infraconstitucional pátria: Eis um retrato da demografia racial no Brasil: Lei 7716/89 define os diversos crimes resultantes de preconceito de raça e de cor, o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/10 que visa garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica; §3° do artigo 140 do Código Penal: define o crime de injúria racial – "Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Pena – reclusão de um a três anos e multa". Lei 12.711/12 e Decreto 7.824/12 A chamada “Lei de Cotas” garante percentuais mínimos de vagas nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico e de nível médio para estudantes pretos, pardos, indígenas e também para aqueles de famílias de rendas menores egressos das escolas públicas. Figura 5 Fonte: CONEPIR #ParaTodosVerem: Imagem de um infográfico. Na parte superior à esquerda há o título Demografia Racial no Brasil. Há 6 gráficos com informações diversas. O primeiro é sobre o número da população brasileira em milhões por décadas: em 2000, a população de brancos era de 91 milhões; e a de negros, 76 milhões. Em 2010, a população de brancos era de 91 milhões; e a de negros, 97 milhões. Ao lado direito, há duas informações: mulheres brancas que criavam seus filhos sozinhas – 14,3%, e mulheres negras que criavam seus filhos sozinhas – 17,7%. No centro da imagem, na imagem à esquerda o gráfico informa óbitos masculinos por causas externas: Homens brancos: em 2001 homicídios: 36,2%, em 2007 30%; acidentes de trânsito: em 2001 50%, em 2007 35,3%. Homens negros: em 2001 homicídios: 50%, em 2007 48%. Acidentes de trânsito: em 2001 20%, em 2007 24%. No centro à direita, há um gráfico que informa a contribuição das mulheres para a renda: em 1999 brancas – 32,3, negras – 24,3%; em 2009 brancas – 36,1% e negras - 285%. Na parte inferior à esquerda, há um gráfico de taxa de fecundidade: em 1999, pessoas negras tinham taxa de fecundidade de 2,7, enquanto pessoas brancas de 2,2. Em 2009, pessoas negras tem taxa de 2,1 enquanto pessoas brancas tem taxa de 1,6. Na parte inferior à direita, há um gráfico que mostra horas semanais dedicadas ao trabalho doméstico: brancos – 20,3 horas; negros – 22 horas. Fim da descrição Pessoas com Deficiência “Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas” NOGUEIRA, 2008. Ora, pode parecer óbvio, mas é importante lembrar que essas pessoas são seres humanos e por isso seus direitos fundamentais já são resguardados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. No entanto, em que pese tal proteção, é fato que as pessoas com deficiência estão mais vulneráveis a situações de violência, razão pela qual a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU aprovou, em 13 de dezembro de 2006, a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência. O referido tratado foi assinado pelo Brasil em 30 de março de 2007 e entrou em vigor, juntamente com seu protocolo Facultativo, em 3 de maio de 2008, valendo mencionar que a Convenção não cria direitos, sendo um facilitador para a concretização de todos os direitos da pessoa com deficiência, sejam os universais, sejam os referentes à grupos específicos. Cerca de 10% da população mundial, aproximadamente 650 milhões de pessoas, vivem com uma deficiência. São a maior minoria do mundo, e cerca de 80% dessas pessoas vivem em países em desenvolvimento. Entre as pessoas mais pobres do mundo, 20% têm algum tipo de deficiência. Mulheres e meninas com deficiência são particularmente vulneráveis a abusos. Pessoas com deficiência são mais propensas a serem vítimas de violência ou estupro, e têm menor probabilidade de obter ajuda da polícia, a proteção jurídica ou cuidados preventivos. Cerca de 30% dos meninos ou meninas de rua têm algum tipo de deficiência, e nos países em desenvolvimento, 90% das crianças com deficiência não frequentam a escola (ONU. No Brasil, de acordo com o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE, quase ¼ da população (23,9% apresenta algum tipo de deficiência, o que significa cerca de 45,6 milhões de pessoas, sendo 26,5% mulheres e 21,2% homens, apresentando deficiência visual (35.774.392, auditiva (9.717.318, motora (13.265.599, mental e intelectual (IBGE. Trabalho Escravo e Práticas Análogas Pode parecer incrível, mas em pleno século XXI essa prática tão vergonhosa e merecedora de repúdio ainda persiste no mundo inteiro, especialmente nos países em desenvolvimento. Aliás, em 1926 a Convenção sobre a Escravatura da Organização das Nações Unidas (ONU já alertava sobre os perigos da escravidão, entendida esta como o estado e a condição de um indivíduo sobre o qual se exercem, total ou parcialmente, alguns ou todos os atributos do direito de propriedade. - Art. 4º. DUDH ONU, 1948 “Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráficode escravos serão proibidos em todas as suas formas.” Por outro lado, Organização Internacional do Trabalho (OIT, agência das Nações Unidas que tem por missão promover o acesso a um trabalho decente e produtivo, estabelece que a expressão trabalho forçado ou obrigatório, designa todo trabalho ou serviço exigido de um indivíduo, sob ameaça de qualquer qualidade, e para o qual ele não se ofereceu de espontânea vontade (OIT art. 2º, 1930. A Organização Internacional do Trabalho apresenta o triste retrato mundial, acerca dessa repugnante prática: No Brasil, onde é utilizada a expressão “trabalho escravo”, proíbe-se o tratamento desumano ou degradante, por meio do livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, do direito à relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, direito ao salário mínimo, fundo de garantia do tempo de serviço; irredutibilidade salarial, décimo terceiro salário Quase 21 milhões de pessoas são vítimas de trabalho forçado: 11,4 milhões de mulheres e meninas e 9,5 milhões de homens e meninos; Os menores de 18 anos representam 26% 5,5 milhões) de todas as vítimas de trabalho forçado; Cerca de 19 milhões de vítimas são exploradas por indivíduos ou empresas privadas e mais de 2 milhões pelo Estado ou grupos rebeldes; Daqueles que são explorados por indivíduos ou empresas, 4,5 milhões são vítimas de exploração sexual forçada; Os que impõem ou promovem o trabalho forçado conseguem enormes ganhos ilegais; O trabalho doméstico, a agricultura, a construção, a indústria e o entretenimento se encontram entre os setores mais afetados; Os trabalhadores migrantes e os povos indígenas são especialmente vulneráveis ao trabalho forçado (OIT. redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas desaúde, higiene e segurança, entre outros. Nesse contexto, o Código Penal brasileiro traz inúmeras disposições referentes aos crimes ligados à organização do trabalho, merecendo especial destaque o artigo 149 que repudia a prática do trabalho escravo, ao considerar como crime a conduta de “reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”, incorrendo nas mesmas penas de reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência, aquele que cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. Nestes casos a pena é aumentada de metade, se o crime é cometido contra criança ou adolescente ou por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. Proteção Contra Tortura e Maus Tratos Pode-se afirmar que a tortura e os maus tratos acompanham a história das civilizações, como práticas destinadas à submissão pelo uso do poder e da força física por meio de diferentes formas de violência. Por constituir uma grave violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, a tortura é vedada em todo o mundo sendo certo que “a Declaração Universal dos Direitos Humanos (Artigo 5º), o Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos (Artigo 7º), a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,a Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais (Artigo 3º), a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Artigo 5º), a Carta Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos (Artigo 5º) e a Carta Árabe sobre os Direitos Humanos (Artigo 8º), todas contêm disposições sobre essa proibição” CICV. No Brasil, a Constituição Federal dá conta de que ninguém será submetido à tortura nem ao tratamento desumano ou degradante (inciso III art. 5º), sendo a tortura crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia (inciso XLIII artigo 5°), além de constituir crime expressamente previsto na Lei 9445/97, a saber: “Art. 1º. Constitui crime de tortura: I constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa. II submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena – reclusão, de dois a oito anos. § 1º. Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita amedida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. § 2º. Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. A prática de maus tratos também é considerada crime no artigo 136 do Código Penal, que assim estabelece: § 3º. Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.” “Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa.” Cabe esclarecer que essas formas de violências podem ser dirigidas a todos, sendo mais comumente verificada quando praticada contra mulheres, crianças, idosos e presos, em que pese a existência de legislação específica que os protege (Lei 11.3400/06; Lei 8069/90; Lei 10.741/03. Segundo a Anistia Internacional foi constatado que em 159 países e territórios a prática de tortura está presente em 112 deles, equivalente a 70% do total. O aludido órgão a aponta repressão do direito à liberdade de expressão em 101 deles (64%; julgamentos injustos, em 80 (50%; em 57 países (36%, prisioneiros de consciência (pessoa detida devido à sua crença religiosa, posicionamento político, origem étnica, sexo, cor, língua, situação econômica e social e orientação sexual); e em 21 13%, execuções. O levantamento constatou ainda que forças de segurança cometeram homicídios ilegais em 50 países (31% e remoções forçadas ocorreram em 36 23% UOL. Diante desse lamentável quadro, atenção especial tem sido destinada à população carcerária, que sofre graves violações em seus direitos, justamente em razão da crença de que os presos não os detêm. Importante avanço foi trazido pela Lei 12.847 de 2 de agosto de 2013, que institui o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura; cria o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à - MACHADO, Lei 9455/97 “A distinção entre os crimes de maus tratos e de tortura deve ser encontrada não só no resultado provocado na vítima, como no elemento volitivo do agente; assim, se [alguém] abusa do direito de corrigir para fins de educação, ensino, tratamento e custódia, haverá maus tratos, ao passo que caracterizará tortura quando a conduta é praticada como forma de castigo pessoal, objetivando fazer sofrer, por prazer, por ódio ou qualquer outro sentimento vil.” Tortura e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Povos indígenas falam sobre seu futuro Clique no botão para conferir o conteúdo. ASSISTA Filmes Taxi to the Dark Side Um taxista afegão, preso por líderes militares locais, morre 4 dias depois na Base Aérea de Bagram, por consequência dos ferimentos causados por soldados norte-americanos. Meses de investigação levam uma jornalista do New York Times até a vila remota da vítima. Lá, encontra o atestado de óbito em inglês, entregue pelo Exército Americano para a família da vítima, que só 3 / 4 📚 Material Complementar https://youtu.be/qVIbZgpyD_0 fala Pashtu. Causa oficial da morte: homicídio. Documentos oficiais revelam como o exército norte-americano e o FBI gastaram meses de pesquisa aperfeiçoando seus métodos para “dobrar” os prisioneiros. Clique no botão para conferir o conteúdo. ASSISTA A Rota do Escravo – A Alma da Resistência Clique no botão para conferir o conteúdo. ASSISTA O Enigma: ONU Contra a Homofobia Clique no botão para conferir o conteúdo. ASSISTA Homem de Verdade não Bate em Mulher Clique no botão para conferir o conteúdo. ASSISTA https://youtu.be/WX0MPcN08Zc https://youtu.be/HbreAbZhN4Q https://youtu.be/lpNE7D5avXo https://youtu.be/z85kvYGXLhE ALVES, L. B. M. O reconhecimento legal do conceito moderno de família: o art. 5º, II e parágrafo único, da Lei nº 11.340/2006 Lei Maria da Penha). JusNavigandi, Teresina, ano 11, n. 1225, 8 nov. 2006. BRASIL. Brasil tem quase 900 milindios de 305 etnias e 274 idiomas. Disponível em: . ________. Artigo 1° da Convenção sobre a Eliminação de Todas das Formas de Discriminação Racial. ________. Lei 11.3400/06 Lei Maria da Penha), Lei 8069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente), Lei 10.741/03 Estatuto do Idoso). BROTTO, M. E. Diversidade: Na busca pela garantia da Cidadania e de Direitos Humanos. Este artigo é fruto dasreflexões desenvolvidas e apresentadas na disciplina “Cidadania e Direitos. CICV. O que o Direitofala sobre tortura?. Disponível em: . COMPARATO, F. K. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 2. ed. São Paulo: Saraiva. p. 1. CNJ. 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Atuação Policial Frente Grupos Vulneráveis. 2009. Disponível em: . SOARES FILHO, A. de S. Estudo da Legislação Penal de Combate ao Racismo. Disponível em: . SORONDO, F. Os Direitos Humanos através da História. Disponível em: . UNESCO. Declaração de princípios sobre a tolerância. Disponível em: . UOL. Notícias. Disponível em: . ________. Anistia Internacional Pública Relatório com Dados Sobre Tortura e Violencia no Mundo. Disponível em: . ________. São Caetano do Sul (SP mantém 1ª posição no ranking do IDH. Disponível em: . YHRI. Violações dos Direitos Humanos. Disponível em: . Conteudista: Prof.ª Dr.ª Andrea Borelli | Prof.ª M.ª Elisabete Guilherme Revisão Textual: Prof.ª M.ª Magnólia Gonçalves Mangolini Objetivo da Unidade: Apresentar alguns aspectos das tensões e contribuições das comunidades nativas e afro-brasileiras para a formação da cultura nacional. ✊ Contextualização 📜 Material Teórico 📚 Material Complementar ☕ Referências Unidade 2: Formação em História e Cultura Afro-Brasileira e Africana Videoaula Veja, no vídeo a seguir, os assuntos abordados nesta unidade. Atente-se, pois, ao longo dele, você terá algumas questões reflexivas. 1 / 4 ✊ Contextualização Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo online para que você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do conteúdo. As Comunidades Nativas No momento em que os portugueses chegaram ao Brasil, o seu contato mais direto foi com os índios da nação tupi, que dominavam a região que se estende do litoral do Ceará a São Paulo, e os povos guaranis, que ocupavam o litoral Sul. Além destes grupos, existiam outras nações indígenas, falantes de outras línguas, que os tupis chamavam de tapuias. Há registros dos modos de vida destes índios em viajantes como Hans Staden, Jean de Lery e mesmo na Carta de Pêro Vaz de Caminha. 2 / 4 📜 Material Teórico O interesse dos portugueses para o país se deu por motivos político-econômicos, uma vez que a madeira chamada de pau-brasil será amplamente valorizada pelo seu valor na tintura de tecidos. Nesse período, segundo Holanda (2003, p. 38 “o corte do pau-brasil se organizará à base do aproveitamento da mão de obra indígena livre; esta retirava da floresta e transportava os troncos de madeira preciosa em troca de machados e quinquilharias europeias”. A prática do escambo de pau-brasil marcou as primeiras décadas de contato entre os índios e os europeus, visto que, além dos portugueses, nossas praias eram visitadas por franceses que também cobiçavam o pau-brasil. - Carta de Pêro Vaz de Caminha a D. Manuel. “A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos, bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. ... traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, do comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrês, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.” FIGURA 1 Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Foto de uma árvore pau brasil, vista da perspectiva de baixo para cima. O tronco é marrom avermelhado e apresenta cascas e textura características dessa árvore, as folhas verdes são abundantes, denotando ser uma árvore saudável. Fim da descrição. O desenvolvimentoda cultura açucareira modificou esta relação, pois os índios passaram a ser vistos como um obstáculo para a posse da terra e como mão de obra para os engenhos. As relações tornaram-se conflituosas e os colonizadores conseguiram empurrar os grupos indígenas para o interior, além de lucrar com o comércio de escravos indígenas. Sobre este tema é importante notar que a resistência dos índios em trabalhar estava fundamentada no fato de que o trabalho nas aldeias não era regulado e sistemático, como na agricultura açucareira. Este é o motivo que levou os índios a resistirem ao trabalho agrícola e não resistiu a trabalhar na extração do pau-brasil. FIGURA 2 | Índios escravizados – Debret Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Reprodução de uma pintura do pintor Jean Baptiste Debret intitulada “Soldados índios da província de Curitiba escoltando selvagens”, de 1834. A pintura mostra cinco adultos e 4 crianças. Estão andando uma trás do outro em fila, sobre um tronco grosso de uma árvore caída. O primeiro da fila é um homem, veste uma calça branca, uma blusa branca de manga comprida e um colete cor laranja e verde, usa um chapéu na mesma cor do colete, carrega na mão esquerda uma espingarda apontada para frente. A segunda pessoa da fila é uma mulher, tem cabelo preto liso, está nua, os seios à mostra e os braços cruzados nas costas amarrados por uma corda fina, atrás da mulher há uma criança, também nua, está abraçada à perna esquerda da mulher. A terceira pessoa da fila é um homem, está nu, as mãos unidas na frente do peito e presas nos punhos pela outra ponta da corda que também prende a mulher à frente. O homem carrega nos ombros uma criança nua e outras duas crianças, também nuas, o seguem atrás, todos abraçados uns aos outros. A quarta pessoa da fila é um homem, usa calça e blusa de manga comprida branca, colete azul e amarelo e um chapéu com as mesmas cores, carrega uma espingarda apoiada no antebraço esquerdo, com o cano virado para trás. O último da fila é um homem, veste calça e blusa de manga comprida branca, um colete vermelho e amarelo, com chapéu nas mesmas cores, carrega um pássaro morto na mão esquerda e segura, na mão direita, uma espingarda apoiada no ombro direito e com o cano virado para trás, carrega nas costas um saco volumoso de cor branca. Fim da descrição. O tema da escravidão traz outra questão: a ação dos missionários jesuítas. Os jesuítas organizaram grandes ações de catequização, que contribuíram para a destruição da cultura tradicional. Contudo, os jesuítas tentaram impedir a escravização dos indígenas, através de sermões contra este processo. FIGURA 3 | Aldeia de índios cristãos - Rugendas Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Reprodução de uma pintura do pintor Johann Rugendas, intitulada “Aldeia de índios Tapuios cristãos”, de 1820. A pintura mostra um povoado simples, com algumas casas. Ao fundo há uma paisagem com montanhas e árvores de várias espécies, algumas casinhas brancas com telhados - VIEIRA, 2011 “que os índios sejam pagos de seu trabalho; nenhum índio irá servir a morador algum, nem ainda nas obras públicas...” de cor marrom aparecem na paisagem atrás. No segundo plano, à esquerda, há um grupo de 10 indígenas de pé, reunidas em volta de um padre, parecem estar conversando à vontade: um deles acaricia um cachorro malhado. A maioria dos indígenas está retratada sem vestimentas, mas uma criança está vestindo uma calça cor laranja e um chapéu com a mesma cor, o peito está descoberto e ela está descalça. O padre está representado por uma batina de cor preta, chapéu com aba reta também de cor preta, os cabelos são grisalhos e usa um sapato de cor marrom. Apoia-se a uma bengala na mão esquerda; e a mão direita está espalmada, indicado que ele está explicando algo para o indígena que está à sua direita. O indígena à direita do padre está nu e olha atentamente para o rosto do padre, apoiando o queixo na mão direita. Ao lado dele há uma mulher indígena vestida com calça e blusa de cor amarela, está descalça. À direita da imagem aparecem duas mulheres conversando, uma delas está sentada em um carro de boi, que está parado em frente a uma casa, usa uma saia amarela e uma blusa cor de rosa; e a outra mulher está de pé ao seu lado, usando saia a blusa azul- claro. No primeiro plano, mais ao centro da imagem, há dois homens usando calças cor esverdeadas e sem camisa, estão trabalhando na terra, um deles usa uma picareta e o outro segura uma outra ferramenta com cabo comprido de madeira que toca o chão. Fim da descrição. Além da igreja que ocupava um papel assistencialista, coube ao governo nacional mediar às relações entre os indígenas e colonos, e esta situação se manteve durante o império e a república. Diversas tribos procuraram mudar para o interior para evitar os contatos com os brancos, e esta estratégia funcionou durante muito tempo. Um exemplo é a expedição dos irmãos Villas Boas. Os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Boas foram parte da expedição que contatou os Xavantes, que na década de 40 ainda eram uma tribo hostil. Além disso, eles estabeleceram contatos com 14 povos do alto Xingu, que tinham uma grande diversidade cultural. Durante a década de 70, os diversos grupos indígenas começaram a se organizar, e este movimento teve grande repercussão, e no final da década estes movimentos se organizaram na União Nacional das Nações, o que teve um grande impacto sobre a sociedade brasileira e colocou o tema dos indígenas em discussão. As discussões sobre o movimento indígena refletiram nas medidas criadas pela Constituição de 1988, que alterou a relação entre os índios e o estado, e reconheceu o direito a manter sua organização social e cultural, além de determinar que os grupos tivessem direito as terras que tradicionalmente ocupavam. Esta constituição inovou quando reconheceu o direito originário dos índios a terra, ou seja, este direito é anterior ao surgimento do estado, existindo de forma independente e sem a necessidade de reconhecimento formal. - Marcos Terena - Constituição Federal de 1988 “Até o momento, os brancos definiram que comportamentos e leis nós deveríamos seguir. Agora, com a nossa agenda, queremos redefinir essas regras (... Na verdade, estamos iniciando um processo de luta, abrindo estradas para o futuro.” “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.” Lei determina o que são as terras indígenas, no parágrafo 1 do artigo 231 A Constituição previa que as terras indígenas deveriam ser demarcadas em um prazo de cinco anos, contudo, isso nunca aconteceu e vários grupos ainda não tem este direito regularizado. O Negro no Brasil Chegando ao Brasil A partir de 1.530, aproximadamente, Portugal utilizou a ocupação do território recém-descoberto como meio de protegê-lo da invasão de outras nações para a extração e transporte do pau- brasil. Portanto, até meados de 1.550 os poucos africanos moradores da colônia eram aqueles vindos do Reino trazidos entre os pertences pessoais dos colonizadores, como trastes de uso individual e doméstico (Holanda, 2003, p. 208ss). O crescente e frutífero cultivo de cana-de-açúcar em terras brasileiras, a partir das experiências bem sucedidas na América Central, Antilhas e Ilhas da Madeira e Cabo Verde, justificou o aumento da demanda por mão de obra tanto para o trabalho na lavoura, no corte, transporte como no beneficiamento da cana nos engenhos de açúcar. E, diante dos obstáculos para a utilização da mão de obra indígena(resistência ao trabalho agrícola, proteção dos religiosos – - Constituição Federal de 1988 “São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessáriosa seu bem estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.” como frei Bartolomeu de Las Casas e padre Antônio Vieira, e de algumas legislações da época), a Coroa lançou mão do recurso que se mostrou como uma das atividades mais lucrativas da colônia: o aprisionamento, transporte e a escravização de africanos. Essa nova modalidade de comércio – de seres humanos! com o deslocamento forcado de aproximadamente 4 milhões de pessoas por quase trezentos anos, marcou profundamente a sociedade brasileira, e moldou as nossas relações econômicas, comercias, culturais e afetivas com o continente africano e com os afro-brasileiros descendentes dele. Antes de investir na escravidão africana, os portugueses apostaram na escravização das populações locais, que eram chamados de negros da terra em oposição aos africanos, que inicialmente, eram conhecidos por negros da guine. Por volta do século XVI, a oferta de escravos indígenas diminuiu e o governo português passou a estimular o tráfico africano, que era mais lucrativo e interessante para a metrópole. Contudo, cabe destacar que em muitas regiões pobres da colônia, a escravidão dos índios continuou a ser praticada, afinal, o escravo indígena era mais barato que o africano. No século XVIII, o tráfico tinha se consolidado como uma das atividades mais lucrativas da colônia, e os traficantes eram pessoas ricas e poderosas que participavam da vida política, social e religiosa da colônia. Os portugueses trouxeram pessoas de todas as regiões do continente africano e esta medida objetivava impedir a concentração de indivíduos com mesma língua e cultura. Deve-se destacar que este ideal nem sempre era alcançado, pois os traficantes muitas vezes agrupavam as pessoas para facilitar o apresamento. Ao observar a imagem abaixo, é possível notar os dois principais grupos étnicos de africanos trazidos para o Brasil: os bantos e os nagôs-yorubás (também chamados de sudaneses). FIGURA 4 | Mapa com as rotas de tráfico Fonte: Adaptada de Getty Images #ParaTodosVerem: Figura de um mapa mostrando o continente americano, o africano e parte do asiático. Há linhas azuis que indicam as rotas do tráfico de escravos para as Américas a partir da África: da cidade de Cabo Verde saiam rotas para as Antilhas (América central), Olinda e São Luís, no Brasil. Da cidade de São Jorge de Mina saíam rotas para Olinda e Salvador, no Brasil; da cicdade de Luanda saíam rotas para América do Norte e Havana, na América Central; da cidade de Benguela a rota era para Salvador e Rio de Janeiro; de Mombaça e Moçambique, as rotas iam até Rio de Janeiro e Buenos Aires. Já as setas vermelhas indicam o tráfico da África para o Oriente e o Mediterrâneo: da cidade de Tombuctu as rotas iam até Marrakech, Angel e Tripoli; setas indicam que sudaneses eram traficados para o Cairo, para Meca e Constantinopla; da cidade de Mombaça, saia rota para Mascate e outras partes da Ásia. Fim da descrição. As pessoas apresadas no interior da África eram transportadas para os portos de saída e muitos morriam já neste trajeto, devido aos maus tratos e as doenças, causados pela desidratação, desinterias bacilares e amebianas, anorexia e apatia – tipo de banzo (negreiros ingleses chamavam de mortal melancholy), além de surtos de escorbuto. A situação não era melhor nas áreas portuárias, onde eram colocados em barracões ou cercados e, segundo os dados 40% dos aprisionados morriam ainda nas feiras no interior de Angola, de 10% a 12% faleciam durante o mês de espera ainda no porto e 9% durante a travessia atlântica. Após 04 anos de trabalho na América Portuguesa, apenas um individuo em cinco dos desembarcados vivos conseguia sobreviver. - BAQUAQUA, 1854 Leitura Biografia de Mahommah G. Baquaqua Sobre a experiência de Mahommah G. Baquaqua no Brasil, você pode ler o texto da historiadora Silvia Hunold Lara. “Quando estávamos prontos para embarcar, fomos acorrentados uns aos outros e amarrados com cordas pelo pescoço e assim arrastados para abeira do mar. O navio estava a alguma distância da praia. Nunca havia visto um navio antes e pensei que fosse algum objeto de adoração do homem branco. Imaginei que seríamos todos massacrados e que estávamos sendo conduzidos para lá com essa intenção. Temia por minha segurança e o desalento se apossou quase inteiramente de mim... Não sabia do meu destino. Feliz de mim que não sabia. Sabia apenas que era um escravo, acorrentado pelo pescoço, e devia submeter-me prontamente e de boa vontade, acontecesse o que acontecesse. Isso era tudo quanto eu achava que tinha o direito de saber.” Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Os escravos eram alojados nos porões dos navios negreiros, também chamados de tumbeiros. Nestes navios, além da superlotação, eles passavam por todos os tipos de privação, recebiam pouca água e quase nenhum alimento, o que ampliava o número de mortes – daí o nome de tumbeiros, pois os corpos dos mortos eram deixados por dias ao lado dos que ainda permaneciam vivos. Os relatos de motins em navios negreiros são raros, contudo eles aconteciam e para evitar problemas, os escravos mais inquietos eram acorrentados as paredes ou ao chão do barco. https://goo.gl/xFdf1e FIGURA 5 | Tumbeiros Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Figura de uma antiga planta de um navio negreiro inglês. A planta demonstra que uma grande quantidade de escravos era transportada em pequenos espaços. Fim da descrição. Os africanos trazidos para o Brasil eram majoritariamente homens jovens, entre 10 e 30 anos, pois era levado em consideração o pouco tempo de vida útil de um escravo em jornada de trabalho que nos períodos do auge da indústria de açúcar poderiam chegar a 20 horas de trabalho nas lavouras e nos grandes engenhos instalado em Pernambuco e na Bahia. Com a descoberta do ouro e o trabalho nas minas, essa situação não foi alterado. O número de mulheres e crianças era pequeno por, ao menos, dois motivos: os brasileiros preferiam escravos que pudessem iniciar imediatamente as tarefas para os quais foram adquiridos, e as mulheres e crianças pequenas eram vendidas na própria África pelas tribos que controlavam o tráfico. No momento em que chegavam ao Brasil, os escravos eram vacinados, desembarcados, batizados, contados e os traficantes deviam pagar os impostos devidos à coroa. Uma vez vendidos, os africanos – agora escravos – eram destinados as mais diversas tarefas. Sobretudo, serão os engenhos em grandes latifúndios destinados ao cultivo da cana e produção de açúcar, assim como mais tarde as minas para a extração de minérios e metais preciosos, seus novos lares. - BAQUAQUA, 1854 “Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de um lado e as mulheres do outro. O porão era baixo que não podíamos ficar em pé, éramos obrigados a nos agachar ou a sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos. Ficamos desesperados com o sofrimento e a fadiga. Oh! A repugnância e a imundície daquele lugar horrível nunca serão apagadas de minha memória. Não: enquanto a memória mantiver seu posto nesse cérebro distraído, lembrarei daquilo. Meu coração até hoje adoece ao pensar nisto.” - BAQUAQUA, 1854 “Quando desembarquei, senti-me grato à Providência por ter me permitido respirar ar puro novamente, pensamento este que absorvia quase todos os outros. Pouco me importava, então, de ser um escravo, havia me safado do navio e era apenas nisso que eu pensava... Permaneci nesse mercado de escravos apenas um dia ou dois, antes de ser vendido a outro traficante na cidade que, por sua vez, me revendeu a um homem do interior, que era padeiro e residia num lugar não muito distante de Pernambuco. Quando um navio negreiro aporta, a notícia espalha-se como um rastilho de pólvora. Acorrem, então, todos os interessados na chegada da embarcação com sua carga de mercadoria viva, selecionando