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Estruturalismos_Linguisticos_1_

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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
LICENCIATURA PLENA EM LETRAS PORTUGUÊS
FUESPI
2011
OS ESTRUTURALISMOS LINGUÍSTICOS: QUASE UM SÉCULO
DEPOIS DE SAUSSURE
Silvana da Silva Ribeiro
Ribeiro, Silvana da Silva.
 Os estruturalismos linguísticos: quase um século depois
de Saussure / Silvana da Silva Ribeiro. – Teresina: UAB/
FUESPI/NEAD, 2011.
 137 p.
ISBN: 978-85-61946-27-2
1. Saussure – estudos científicos da linguagem.
2.Linguística – Escola de Praga . I. Silvana da Silva Ribeiro.
II. Título.
 CDD: 410
C837l
Presidente da República
Dilma Vana Rousseff
Vice-presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky
Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC
Celso José da Costa
Governador do Piauí
Wilson Nunes Martins
Secretário Estadual de Educação e Cultura do Piauí
Átila de Freitas Lira
Reitor da FUESPI – Fundação Universidade Estadual do Piauí
Carlos Alberto Pereira da Silva
Vice-reitor da FUESPI
Nouga Cardoso Batista
Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREG
Marcelo de Sousa Neto
Coordenadora da UAB-FUESPI
Márcia Percília Moura Parente
Coordenador Adjunto da UAB-FUESPI
Raimundo Isídio de Sousa
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP
Isânio Vasconcelos de Mesquita
Pró-reitora de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX
Francisca Lúcia de Lima
Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD
Acelino Vieira de Oliveira
Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN
Raimundo da Paz Sobrinho
Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Letras Português – EAD
Alima do Nascimento Silva
Edição
UAB - FNDE - CAPES
FUESPI/NEAD
Diretora do NEAD
Márcia Percília Moura Parente
Diretor Adjunto do NEAD
Raimundo Isídio de Sousa
Coordenadora do Curso de Licenciatura
Plena em Letras – Português
Alima do Nascimento Silva
Coordenadora de Tutoria
Maria do Socorro Rios Magalhães
Coordenadora de Produção de Material
Didático
Cândida Helena de Alencar Andrade
Autora do Livro
Silvana da Silva Ribeiro
Revisão
Teresinha de Jesus Ferreira
Diagramação
Jeydson Jonys Barros Batista
Luiz Paulo de Araújo Freitas
Capa
Luiz Paulo de Araújo Freitas
Fonte da imagem:
MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/FUESPI
UAB/FUESPI/NEAD
Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá),
NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro
Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150,
Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182
Web: ead.uespi.br
E-mail:eaduespi@hotmail.com
SUMÁRIO
UNIDADE 1
UM SAUSSURE POUCO CONHECIDO ................................................ 11
1 Saussure depois de quase um século: entre reflexões e lúcidos
esclarecimentos ....................................................................................... 14
2 Pressupostos recentes sobre Linguística Geral ..................................... 21
3 A ideologia positivista na linguagem...................................................... 33
Atividade complementar .......................................................................... 39
Leituras complementares ......................................................................... 40
Atividades de aprendizagem ................................................................... 41
Resumindo............................................................................................... 42
UNIDADE 2
A LINGUÍSTICA E SUA CIENTIFICIDADE ............................................. 47
2 O que é ciência ..................................................................................... 49
2.1 A Linguística enquanto ciência e sua cientificidade ............................ 53
2.1.1 Acerca das noções de Língua e Fala ............................................... 55
Glossário ................................................................................................. 60
Atividades complementar......................................................................... 61
Atividades de aprendizagem ................................................................... 62
Resumindo............................................................................................... 63
UNIDADE 3
OS ESTUDOS DA LINGUAGEM ............................................................ 67
3 Os estudos da linguagem anteriores a Saussure................................... 69
3.1 Estruturalismo Europeu ...................................................................... 75
3.2 Estruturalismos Americanos ............................................................... 96
3.3 Funcionalismo .................................................................................. 101
3.4 O Círculo Linguístico de Praga - CLP ............................................... 104
3.5 O Formalismo .................................................................................. 108
Resumindo............................................................................................. 118
Atividades de aprendizagem ................................................................. 123
Atividade Complementar ....................................................................... 124
Considerações Finais ............................................................................ 125
REFERÊNCIAS .................................................................................... 127
PARA COMEÇAR...
Pensando a minha vivência de 11 anos como docente da Universidade
Estadual do Piauí, volto-me um pouco ao tempo em que eu era estudante
desta Instituição de Ensino Superior e também me fazia uma pergunta que já
ouvi inúmeras vezes nessa década de trabalho apaixonado: “Ora se nós vamos
dar aulas de Português, de Gramática ou até de Literatura, para que é mesmo
que nós temos tantas disciplinas dessa tal Linguística?”
Na condição de aluna, aprendi a entender para que nos servia “a tal
linguística”, ao ponto de querer seguir a carreira de linguista. Entretanto,
confesso que na condição de professora, atualmente surpreendo-me com as
discussões que estão ocorrendo no mundo inteiro acerca dos estudos da
Linguística perpassados por outras ciências. Esses estudos, muitas vezes,
vêm até mesmo descaracterizá-la enquanto ciência, bem como sobre os
postulados saussurianos, a sua importância e as heranças deixadas pelo
mestre genebrino. E é por essa coincidência cronológica que decidimos dar
o título do livro, que não é original, mas inspirado no maravilhoso capítulo 3, do
volume I, de Benveniste (1995), que explica em nota de rodapé que muitas
das ideias constantes deste capítulo foram veiculadas numa conferência feita
em Genebra para comemorar o cinquentenário da morte de Ferdinand de
Saussure, em fevereiro de 1963. Exporemos algumas ideias que julgamos
necessárias para o aluno, que muitas vezes ouve falar de um movimento
somente através de resumos que não lhe dão a dimensão da profundidade
dos estudos que foram empreendidos para que se construísse aquela teoria
que ele está estudando (muitas vezes ficando somente no campo da história)
sem compreensão, apenas para ser decorado para prova, sem uma visão
mais crítica ou até mesmo mais humanista.
Esta obra pretende mostrar algumas das afirmações presentes nessas
discussões. Chamamos-lhe a atenção para a necessidade de uma leitura bem
atenta , pois os estudos da Linguística nos cursos de Licenciatura Plena em
Letras com habilitação em Português, Espanhol ou Inglês contemplam o estudo
de uma ou mais linguísticas. Se teremos que fazê-lo, pois então que o façamos
com o gosto de adquirir conhecimento para uma compreensão crítica,
aprofundada, acurada. Convido-lhesa mergulhar nos estudos linguísticos a
partir da seguinte proposta de trajetória. Veremos na Unidade 1, uma exposição
mais humana, biográfica e esclarecedora acerca da vida de Saussure intitulada
– Em homenagem ao capítulo 3, parte da obra, vol. I, de Benveniste (1995) -
Saussure depois de quase um século: entre reflexões e lúcidos
esclarecimentos, que versará em primeiro, sobre a exposição de algumas
reflexões feitas por Benveniste (1995, vol I) a respeito dos postulados de
Saussure, das injustiças cometidas contra o mestre genebrino e sobre as
incompreensões, que este, como quase todos os gênios, sofreu durante sua
época. Na unidade 2, trataremos sobre algumas reflexões acerca da ciência,
bem como de alguns aspectos que contribuem para definir a cientificidade de
algo, de definir, determinar o que é e o que não é ciência, para chegarmos ao
tratamento da ciência linguística. E por fim, na unidade 3, será trazido, de
forma mais substancial, um jeito mais simples e quiçá até mais adequado de
entendimento do estudo das correntes linguísticas, em especial dos
Estruturalismos Linguísticos, que é uma das disciplinas do Curso Licenciatura
Plena em Letras – Português.
OBJETIVOS
• Esclarecer pontos relevantes da história de estudos históricos da
linguagem na vida de Saussure para dar base teórica para os
estudos das correntes linguísticas.
• Aprofundar os fatos históricos que estiveram subjacentes à
configuração da corrente de estudos linguísticos, denominada
estruturalismo.
UNIDADE 1
Saussure depois de quase um século: entre reflexões e
lúcidos esclarecimentos
13
FUESPI/NEAD Letras Português
Para começar
Caro aluno, faremos uma pequena incursão na vida de Saussure,
observando-o sob uma ótica mais humana, com o objetivo de
compreendermos as aflições do homem que levou sob os seus ombros o
peso da construção de uma ciência, bem como a sua preocupação com a
organização metodológica de seus estudos, a intensidade em sua produção
e alguns momentos em que seu silêncio conseguia também alcançar a
expressividade de estudos a que se propusera. A principal função desta
unidade é mostrar a existência do elaborador do Estruturalismo, numa
perspectiva em que este nunca fora visto, que é a da dificuldade que ele teve
em levar os estudiosos de sua época a entenderem que não estavam
conduzindo de forma adequada os estudos da linguagem, a fim de que fique
claro um pouco do momento histórico em que viveu o mestre genebrino.
Observemos uma foto de Ferdinand de Saussure ainda jovem, para
que, de certo modo pelo menos , nos aproximemos um pouco mais da imagem
da pessoa, do gênio, que tanto lutou em defesa da linguística, buscando sua
consideração como ciência e mais ainda, como ciência independente,
autônoma.
Ferdinand de Saussure http://simbolize.blogspot.com/2009_04_01_archive.html
14
Estruturalismos Linguísticos
1 Saussure depois de quase um século: entre reflexões e lúcidos
esclarecimentos
Os estudos da linguísticos sofrem, atualmente, algumas críticas. Alguns
dizem que a Linguística já não mais se configura como ciência, outros discutem
as ramificações da Linguística, que se originaram da própria Linguística, se
dizendo ocupar também o status de ciência, acabaram, talvez ofuscando a
ciência da qual se originaram. Como ocorre, por exemplo, com a Linguística
Aplicada, a Pragmática e outras ciências profícuas e com muita produção e
no âmbito da pesquisa científica para corroborar a sua cientificidade. Ou por
outro lado, como ocorre com outras áreas que tiveram que redimensionar seus
estudos para sustentar-se enquanto ciência, a exemplo do que ocorre com os
estudos de Análise do Discurso, que atualmente apresenta em seu campo
mais uma corrente de estudo linguístico denominada Análise do Discurso
Crítica1- ADC. As críticas estão sempre presentes nos campos de estudos ou
de produção científica e as entendemos como salutares ao processo de
conferência da cientificidade, visto que, a crítica, as reflexões são um processo
natural de aprimoramento de qualquer objeto de estudos. E quando se trata
de um objeto tão dinâmico e tão passível de mudanças e variações advindas
tanto do sujeito que a produz quanto das condições de produção das quais
este sujeito dispõe e ainda, dos ambientes de sua ocorrência, produção – a
Língua – objeto de estudo da Linguística, mais compreensível e necessário
torna-se a crítica sempre, o repensar, o refletir do percurso percorrido por
esta ciência, mas isto são cenas para os próximos capítulos.
Por agora, deter-nos-emos, conforme prometido, na abordagem mais
detalhada e humanista da vida paralela a de estudioso da linguistica - a vida
pessoal de Ferdinand de Saussure em meio aos estudos linguísticos que tanto
1 Análise do Discurso Crítica hoje é uma corrente de estudo que se difere das análises de discurso ou do discurso que se fazia anteriormente. Para aprofundar-
se sobre essa nova área de pesquisa ler Introdução: Análise de Discurso Crítica, de MAGALHÃES, Izabel, disponível em http://www.scielo.br/pdf/delta/v21nspe/
29248.pdf.
15
FUESPI/NEAD Letras Português
lhe afligiram quanto, com certeza, também lhe deram prazer, quando havia
espaço para isso.
Benveniste (1995, p. 34) tratando sobre uma conferência que estaria
sendo realizada em Genebra, no dia 22 de fevereiro de 1963, para comemorar
o cinquentenário de morte de Saussure, a convite da própria Universidade de
Genebra, comparando a data de ocorrência da conferência (22.02.1963) à
data de morte 22.02.1913, reportando-se ainda, à curiosidade de tal evento
estar acontecendo na sua cidade e na sua universidade, traz-nos algumas de
suas relevantes reflexões sobre o mestre genebrino:
O autor ainda afirma que o modo como Saussure estava sendo visto
naquela época era totalmente diferente da forma como o viam seus
contemporâneos, advertindo que boa parte das contribuições do linguista só
pôde mesmo ser contemplada após a sua morte. Benveniste (1995, p. 35)
descreve o sofrimento do mestre genebrino de forma que talvez dê ao nosso
aluno uma visão mais próxima da realidade da pessoa que, por trás da criação
do genial método estruturalista e do estudo científico da Linguística, sofria as
dores da incompreensão que todo gênio talvez tenha sentido em sua época:
Essa figura assume agora os seus traços autênticos, aparece-
nos na sua verdadeira grandeza. Não há um só linguista hoje que
não lhe deva algo.
Não há uma só teoria geral que não mencione o seu nome. Algum
mistério envolve a sua vida humana, que cedo se retirou para o
silêncio. É da obra que trataremos. A uma tal obra apenas convém
o elogio que a explica na sua gênese e faz compreender o seu
brilho.
Há em todo criador uma certa exigência, escondida, permanente,
que o sustenta e o devora, que lhe guia os pensamentos, lhe
designa a sua tarefa, estimula-o nas suas fraquezas e não lhe dá
trégua quando tenta escapar-lhe. Nem sempre é fácil reconhecê-
la nas diversas operações, às vezes vacilantes, a que se entrega
a reflexão de Saussure. Mas uma vez percebida, ilumina o sentido
do seu esforço e o coloca frente a frente com os seus precursores,
como em relação a nós.
16
Estruturalismos Linguísticos
As citações destas impressões de Benveniste (1995) são de uma
impressão quase fotográfica se é que podemos referir uma demonstração e
análise tão pessoal e de caráter tão defensivo e subjetivo a algo que talvez
registre um momento, mas que talvez jamais possa relembrar a emoção desse
momento, como ocorre com uma fotografia.
No entanto, Benveniste (1995) não mostra apenas o lado pessoal de
Saussure, o seu sofrimento, as incompreensões a ele lançadas. O autor mostra
o modo de fazer Linguística do Mestre Genebrino, a sua forma metódica e
profunda, como defende Benveniste (1995, p. 35):
Benveniste (1995, p. 35) resolve a segunda questão colocada na
citação anterior sugerindo a sua redução a dois problemas que poderiamser
postos no centro da doutrina saussureana: “1º Quais são os dados de base
sobre os quais a Linguística se fundará, e como podemos atingi-los? 2º De
que natureza são as noções da linguagem e por que tipo de relação se
articulam?”
E podemos qualificar como fantástica a sacada de Benveniste (1995),
visto que este autor mesmo defende que foi com a sua obra Mémoire sur le
système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes, obra
publicada por Saussure quando este tinha apenas vinte e um anos, que marcou
a sua entrada na ciência, e nesta já eram trazidas as duas preocupações aqui
expostas em forma de problemas. O linguista faz uma exposição um pouco
longa sobre os estudos que Saussure fizera nesta obra na qual se propusera,
Saussure é em primeiro lugar e sempre o homem dos fundamentos.
Vai por instinto aos caracteres primordiais, que governaram a
diversidade dos dados empíricos. Naquilo que pertence à língua,
pressente certas propriedades que não se encontram em nenhum
outro lugar a não ser aí. Com o que quer que a comparemos a
língua aparece sempre como algo de diferente. Mas em que é
diferente? Considerando essa atividade, a linguagem na qual tantos
fatores estão associados, biológicos, físicos e psíquicos, individuais
e sociais, históricos, estéticos, pragmáticos, ele se pergunta: a
qual deles pertence a língua?
17
FUESPI/NEAD Letras Português
conforme se comprova através da leitura de seu prefácio, que o seu objetivo
era somente centrar-se no estudo das múltiplas formas do a indo-europeu , o
que não ocorreu porque este se viu impelido a investigar o sistema das vogais
no seu conjunto, o que o levou a tratar de vários problemas de fonética e de
morfologia e ainda de questões que talvez até 1963 nem tivessem sido tocadas
ainda, como afirma Benveniste (1995), que conclui que suas impressões sobre
o Mémoire e sobre o trabalho de Saussure afirmando que ele sempre estava,
em seus estudos dos dados elementares, muitas vezes desviando-se pouco
a pouco da ciência do seu tempo, na qual somente vê arbitrariedade e
incerteza quando, por outro lado, a linguística indo-europeia tinha como única
preocupação continuar crescendo no método comparativo.
Vejamos uma imagem da obra, para nos aproximar um pouco mais
de 1873, à época de sua publicação, cronologicamente tão distante de nós.
Capa de Mémoire sur le système primitif des voyelles dans
les langues indo-européennes http://openlibrary.org/works/
OL2139803WMémoire_sur_le_système_primitif_des_voyelles
_dans_les_langues_indo-européennes
2 Sobre o indo-europeu ler o artigo Contribuição do método comparativo para a determinação da existência do indo-europeu, de João Bittencourt de Oliveira.
Disponível em: http://www.filologia.org.br/revista/artigo/3(9)41-52.html.
18
Estruturalismos Linguísticos
E mais uma vez, Benveniste (1995, p. 38) desvenda o mistério que
Saussure descobrira no que concerne aos estudos dos a, do indo-europeu.
O autor ressalta que foram necessários mais vinte e cinco anos para
que esse estudo se impusesse novamente. E declara que, em 1927, M.
Kuylowicz encontrou na linguística histórica, o hitita, unidade decifrada a partir
do som escrito h – que cinquenta anos antes fora definido por Saussure como
um coeficiente sonântico, hoje é definida como fonema não único, que
representa uma classe inteira de fonemas, desigualmente representado nas
línguas históricas – os laríngeos. O que Benveniste (1950) destaca de forma
mais veemente é que ano após ano as interpretações acerca desse fonema
aumentaram e que esse problema está no centro da teoria do indo-europeu,
apaixonando os diacronistas e os descritivistas. O autor fecha a sua linha de
raciocínio responsável pela defesa da genialidade de Saussure com o
seguinte texto: “Até mesmo os linguistas de hoje que não leram o Mémoire lhe
são devedores” (BENVENISTE, 1995, p.39).
Embora Saussure mais tarde seja convidado para a École de Hautes
Études, na qual encontra discípulos fiéis tais como Bréal, que lhe dá, na
instituição o cargo de Secretário Adjunto, e nessa fase boa de sua vida, o
mestre tenha publicado artigos fundamentais sobre a entonação báltica, que
mostraram a profundidade de sua análise; após essa profícua fase, vem a
sua volta para Genebra e com ela a diminuição de sua produção, chegando
ao seu silenciar por completo.
Saussure havia percebido que o sistema vocálico do indo-europeu
continha várias aa. À luz do conhecimento puro, os diferentes aa
do indo-europeu são objetos tão importantes quanto as partículas
fundamentais em física nuclear [.aa.] é coeficiente sonântico,
isto é, é susceptível de desempenhar o mesmo papel duplo,
vocálico e consonântico, das nasais ou líquidas, e se combina
com vogais[..aa.]
Saussure fala dele como de um fonema e não como de um som
ou de uma articulação [aa] ele chamará mais tarde de uma entidade
distintiva e opositiva.
19
FUESPI/NEAD Letras Português
Benveniste (1995) explica tal silenciamento do mestre em função do
drama que Saussure experimentava verificando que a linguagem e seu estudo
deveria ser contemplado nos estudos linguísticos, embora os linguistas da
época não percebessem essa necessidade que angustiava Saussure. A época
privilegiava os estudos lógicos, a investigação histórica no emprego dos
materiais de comparação e na elaboração de repertórios etimológicos. A
solidão de Saussure centrava-se em suas preocupações não estarem no foco
de atenção de outros linguistas da época. E ele próprio definia o que queria
realmente fazer que era conforme Benveniste (1995, p. 43):
O linguista chama a atenção de forma enfática para a preocupação
central de Saussure em considerar que a substância de determinado objeto
estava no ponto de vista sobre o qual o observamos, o investigamos. Além
disso, uma preocupação que também o afligia, nessa perspectiva, é que o estudo
da língua não era para estar sendo feito como se a língua fosse um organismo
vivo, como uma coisa ou matéria ou ainda como criação livre e incessante da
imaginação humana. Talvez aí se anunciasse as ideias que nunca foram publicada
sobre a discordância da forma como a linguística foi estudada.
E quanto ao Cours, a novidade no que concerne aos estudos atuais é
que Saussure mesmo definiu a tarefa do linguista como está em definir o que
torna a linguística um conjunto especial no conjunto dos fatos semiológicos.
“...Para nós o problema linguístico é antes de tudo semiológico” (SAUSSURE,
1916, p.34-35).
Como últimas palavras de Benveniste (1995, p. 48) gostaríamos de
trazer, a título de esclarecimento avaliativo não só do estudioso atordoado
[...]Mostrar ao linguista o que ele faz. Queria fazer compreender o
erro em que se envolveu a linguística desde que estuda a linguagem
como uma coisa, como um organismo vivo ou como matéria que
se analisa por uma técnica instrumental, ou ainda como uma
criação livre e incessante da imaginação humana. É preciso voltar
aos fundamentos, descobrir esse objeto que é a linguagem, a que
nada pode ser comparado.
20
Estruturalismos Linguísticos
pela lealdade a seus princípios, à ciência à qual representava, mas também
ao movimento pelo qual Saussure trabalhava:
O que se percebe de tudo o que fora exposto sobre a vida e a obra do
mestre genebrino, isso desde o começo até o fim de suas publicações é que
tanto os fundamentos da Linguística como a própria linguística renovada tem
suas origens em Saussure. Isso é inegável e os próprios estudiosos da
contemporaneidade, reconhecem isso, inclusive percebendo que muito do
que, nos estudos realizados por Saussure, pode ter sido chamado limitação,
na realidade se configurava, à época como ainda hoje como delimitação.
Algo mesmo, como o fato de ter se negado a estudar a fala. Ele estaria apenas
delimitando seu campo e seu objeto de estudo, até mesmo porque na época
não dispunha de recursos materiais para fazê-lo. E já nesse momento ele aentende como discurso, por isso a sua preocupação em mostrar aos linguistas
que continuaram seu estudo em se voltarem para o estudo da linguagem.
Ele, no desenvolver de seu trabalho, havia percebido isso. E talvez, por isso
mesmo esta questão lhe tenha afligido tanto.
Passaremos a seguir, a observar alguns dos postulados recentes
sobre linguística geral, que também tem suas relações com Saussure, mas
desta vez não para mostrá-lo de forma tão defensiva, visto que serão tecidas
críticas não à pessoa de Saussure, mas sobre os estudos de linguagem, sobre
a forma como foram desenvolvidos e de quem foram, de fato, muitas das
contribuições atribuídas erroneamente a Saussure.
Pode-se pensar durante muito tempo sobre esse contraste: a vida
temporal de Saussure comparada com o destino das suas ideias.
Um homem sozinho dentro do seu pensamento durante quase
toda a vida, não podendo consentir em ensinar aquilo que julga
falso ou ilusório, sentindo que é preciso refundir tudo, cada vez
menos tentado a fazê-lo e, finalmente, após muitos desvios que
não podem arrancá-lo ao tormento da sua verdade pessoal,
comunicando a alguns ouvintes, sobre a natureza da linguagem,
ideias que não lhe pareciam jamais suficientemente amadurecidas
para serem publicadas.
21
FUESPI/NEAD Letras Português
2 Pressupostos recentes sobre a Linguística Geral
Se nos basearmos em Lyons (1981) para observarmos os mais recentes
pressupostos acerca da Linguística Geral, veremos que o autor parte para
definição de lingua(gem), concepção problematizada, conforme descrito abaixo:
O autor ressalta que se a pergunta é feita de forma a colocar o artigo
antecedendo a palavra linguagem, deixando esta no singular, as interpretações
acerca desse fenômeno modificam-se. Principalmente se tomarmos tal termo
como sinônimo de idioma, posicionamento ao qual o autor distingue e esmiúça
desde a observação deste termo com base em diferentes idiomas até o ponto
em que lingua(gem) também pode referir-se a “língua(gem) natural” a quaisquer
outros sistemas de notação, cálculo, sobre o qual, segundo o autor se possa
discutir. E a partir de algumas ponderações o autor fecha a questão de forma
muito habilidosa, revelando inclusive a matéria de estudo da linguística Geral:
Lyons (1981) defende que em geral, o linguista lida com as línguas
naturais, mas ressalta que se deve atentar para o que de fato, é a linguagem
um questionamento que nos trará a pressuposição de que cada uma das
milhares de línguas naturais reconhecidamente distintas, faladas em todo o
mundo, representam um caso específico de algo mais geral. Em seu
entendimento, o que o linguista quer saber é se as línguas naturais, todas,
possuem em comum algo que não pertença a outros sistemas de
comunicação, humano ou não humano, de tal forma que seja correto aplicar a
cada uma destas a palavra “língua”, negando-se a aplicação deste termo a
outros sistemas de comunicação – exceto na medida em que, assim como o
esperanto, eles sejam baseados em línguas naturais preexistentes.
A Linguística é o estudo científico da língua(gem). À primeira vista,
esta definição - que se encontra na maior parte dos livros e
tratamentos gerais do assunto – é suficientemente direta. Porém
qual o significado exato da “língua(gem)” e de científico? Poderá a
linguística, tal como é praticada atualmente, ser corretamente
descrita como uma ciência? (LYONS, 1981, p. 15)
22
Estruturalismos Linguísticos
Lyons (1981) constrói sua exposição trazendo algumas definições de
linguagem para dar algumas indicações preliminares sobre as propriedades
que ao menos linguistas tendem a considerar essenciais à língua(gem). Ele
apresenta a visão de Sapir revelando que esta apresenta defeitos, refutando
alguns termos usados por este último quando Sapir (1929, p.8) defende que
“a linguagem é método puramente humano e não instintivo de se comunicarem
ideias, emoções e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos”.
Lyons critica a vagueza que representam os termos ideia, emoção e desejo,
bem como ressalta que a expressão símbolos voluntariamente produzidos é
vaga demais e pode referir-se a inúmeros tipos de símbolos. Ele até apresenta
outras noções, concepções acerca da linguagem, mas antes de tudo, faz de
forma muito oportuna as seguintes asserções:
Outra definição trabalhada por Lyons (1981) baseia-se em Outline of
Linguistic Analysis, de Bloch e Trager (1942, p. 5): “Uma língua é um sistema
de símbolos vocais arbitrários por meio dos quais um grupo social co-opera”.
A esta, o linguista critica pela ausência da referência à função comunicativa
da linguagem, pela ênfase colocada na função social, além de apresentar
uma visão bastante restrita do papel da língua(gem) na sociedade; e ainda,
comparando-a com a definição de Sapir defende que aquela difere desta na
medida em que salienta a arbitrariedade e explicitamente restringe a linguagem
à língua falada. Esta observação consecute num importante posicionamento
de Lyons (1987, p. 18):
Por exemplo, matemáticos, lógicos e engenheiros de sistemas
frequentemente elaboram, por motivos específicos, sistemas de
notação que, legitimamente ou ilegitimamente, chamados de
linguagens, são artificiais, e não naturais. É o que acontece, embora
seja baseado em línguas naturais preexistentes e seja
inequivocamente uma língua, ao esperanto, inventado no final do
século XIX, para servir à comunicação internacional....O linguista
a princípio lida com linguas naturais (LYONS, 1987, p. 16 -17).
23
FUESPI/NEAD Letras Português
Considera-se esta uma pista da opinião aferida pelo linguista no
momento de colher as concepções de Língua.
Lyons (1987, p. 87) apresenta ainda, a definição de lingua(gem)
conforme Hall (1968, p. 158), em seu Essay on language,: “a instituição pela
qual os humanos se comunicam e interagem uns com os outros por meio de
símbolos arbitrários orais-auditivos habitualmente utilizados”. E suas críticas a
esta definição são destinadas em primeiro aos pontos que o linguista considera
importante destacar que são a introdução dos fatores de comunicação e interação
(esta sendo entendida como mais ampla) e a este respeito ser um termo mais
adequado do que co-operação, e em segundo, o fato de que o termo “oral-auditivo”
pode ser tomado, grosso modo, como equivalente a “vocal”. Sua visão comparativa
entre as definições anteriores é bem lúcida:
Dentre as suas considerações sobre a definição de língua(gem)
cunhada por Hall (1968) o linguista ainda defende que o emprego do termo
“habitualmente utilizados” explicita-se como herança do behaviorismo que
influenciou a Linguística e a Psicologia, que o termo “símbolos” linguísticos
aparentemente refere-se a sinais vocais transmitidos do emissor para o
receptor no processo de comunicação e interação. E se põe de forma
totalmente contrária à afirmação de que um enunciado linguístico seja um
hábito, ao que o autor refuta veementemente com a seguinte afirmação: “a
linguagem é independente de estímulo”. (LYONS, 1987, p. 18) (grifo do autor)
No entanto, dado que a língua é logicamente independente da
fala, há boas razões para se dizer que, nas línguas naturais tais
como as conhecemos, a fala é historicamente, e talvez
biologicamente, anterior à escrita. E esta é a posição da maior
parte dos linguistas.
Hall, como Sapir, trata a linguagem como instituição puramente
humana; e o termo “instituição” explicita a visão de que a língua
que é usada por uma determinada sociedade é determinada é
parte da cultura daquela sociedade. (LYONS, 1987, p. 18)
24
Estruturalismos Linguísticos
Outras concepções que são trazidas à baila, tais como as de Robins
(1979a, p. 9- apud Lyons, 1987, p.19) que não define a linguagem, mas que
salienta alguns fatos que devem ser estudados em qualquer teoria da
linguagem; e a de Chomsky (1957, p.13, apud Lyons, 1987, p. 20): “Doravante
considerarei uma língua(gem) como um conjunto(finito ou infinito) de sentenças,
cada uma finita em comprimento e constituída a partir de elementos”. A respeito
desta última definição Lyons (1981) assume tê-la trazido apenas pelo contraste
que estabelece com as outras, tanto no estilo quanto no que se refere ao
conteúdo e defende que embora esta não se reporte à função comunicativa
das línguas, naturais ou não, nem mencione nada sobre a natureza simbólica
dos elementos ou de suas sequências; tem como maior contribuição o fato de
ter atribuído ênfase especial ao que chama de dependência estrutural dos
processos pelos quais se constroem as sentenças nas línguas naturais e ter
formulado uma teoria geral da gramática.
O linguista finaliza suas análises acerca das definições de linguagem
demonstrando que a demonstração das definições cumpre sua função de
explicitar algumas das propriedades que alguns linguistas consideraram
essenciais das línguas tais como as conhecemos. Como podemos perceber
nesta exígua exposição, a definição de língua(gem) é um dos pontos relevantes
a ser tratados dentre os pressupostos mais antigos da Linguística.
Em se tratando da Linguística Moderna, Coseriu (1980, p.1) importante
Saussuriano, traz algumas reflexões bastante significativas acerca da trajetória
dos estudos linguísticos, o que o autor italiano justifica, como se pode
corroborar em suas próprias palavras:
Para oferecer uma ideia panorâmica da Linguística moderna torna-
se necessário, antes de tudo, colocá-la no seu contexto histórico,
tanto mediato quanto imediato, e após ter procurado quais os
motivos e intuições do passado que servem de base a teorias e
orientações atuais, apresentar destas uma síntese orgânica, que
permita formular uma série de propostas satisfatórias a respeito
do problema fundamental: “Que se entende hoje, por linguagem?”
25
FUESPI/NEAD Letras Português
O linguista saussuriano chama-nos a atenção para duas questões
importantes no estudo do que se chama de Linguística Moderna. A primeira
questão refere-se ao fato de que a suposta sensação de novidade desses
estudos é apenas aparente, e a segunda, diz respeito à impossibilidade de
se poder perceber em uma linha divisória clara entre os estudos da Linguística
Tradicional e os da Linguística Moderna. Esclarecendo essas questões Coseriu
(1980) defende que a procura dessa trajetória feita de modo cronológico não
será encontrada nem mesmo nos manuais introdutórios da disciplina.
Em se tratando da Linguística Moderna, o linguista italiano alerta:
Se analisarmos esse excerto de Coseriu (1980) perceberemos em
suas palavras uma espécie de crítica com relação à linguística, mas essa é
apenas a primeira impressão, porque o que esse brilhante defensor da
linguística faz é uma reflexão muito lúcida sobre os aspectos que devem ser
considerados para se considerar qualquer ciência que seja com uma
roupagem ou uma abordagem moderna. Ele ressalta que modernos são os
tempos nos quais esta ciência linguística ainda se instaura, mas o mesmo
não se pode dizer das questões e objetos de pesquisa e preocupação desta
ciência. Um posicionamento muito lúcido, sério e científico é aqui demonstrado
por este magnífico autor.
Para oferecer uma ideia panorâmica da Linguística moderna torna-
se necessário, antes de tudo, colocá-la no seu contexto histórico,
tanto mediato quanto imediato, e após ter procurado quais os
motivos e intuições do passado que servem de base a teorias e
orientações atuais, apresentar destas uma síntese orgânica, que
permita formular uma série de propostas satisfatórias a respeito
do problema fundamental: “Que se entende hoje, por linguagem?”
Primeiramente foi assinalado o caráter de aparente novidade, próprio
da Linguística moderna. Ora é oportuno distinguir entre novidade
efetiva e desenvolvimento com roupagem moderna, de temas já
conhecidos. Isto posto, não há dúvidas de que a Linguística
moderna encara, de um lado, problemas sobre a natureza e a
estrutura da linguagem que a Linguística tradicional havia
26
Estruturalismos Linguísticos
A segurança com que formula a crítica e a embasa de forma histórica
e científica rebate qualquer contraposição às ideias de Coseriu. Do autor não
se percebem simples posicionamentos, mas posicionamentos científicos
embasados em conhecimento e análise da realidade das passagens da
ciência linguística.
Cosériu (1980, p. 2) organiza uma espécie de esquema cronológico,
constante das alíneas a) a e), que explicita a sucessão dos interesses
linguísticos através dos tempos conforme será descrito no quadro a seguir,
que montamos, tomando-lhe como base, para tentar didatizar um pouco mais
a teorização aqui exposta:
desprezado; por outro lado, ela não se ocupa absolutamente com
indagações históricas; ou então, procura justificar a história
(desenvolvimento) partindo da descrição (estrutura). Entretanto, é
evidente, antes de tudo, que, dado o caráter abstrato e quase
filosófico dessas preocupações, a Linguística atual deve reelaborar
e desenvolver a seu modo tais temas e problemas que,
constituindo-se em interesses culturais particulares, caducaram
e não forma considerados como objetos de ciência, principalmente
na segunda metade do século XIX (COSERIU, 1980, p 2).
Alíneas Época/Movimento Estudos linguísticos realizados
Predominância de problemas de definição.
Ex.: essência da linguagem e as categorias
das línguas.Problemas de descrição.Síntese:
Teorização sobre a Linguagem e descrição
da Língua.
Predominância da Linguística Histórico-
comparativa.Ex.: comparação de línguas
diversas, comparação de frases históricas
de uma mesma língua – indagação sobre a
transformação do latim em italiano, francês
e espanhol.
Retomada de problemas antigos - Teoria e
Descrição.Ex.: Gramática Geral e Descrição
das Línguas Modernas
Da Antiguidade Clássica ao
Renascimento
Renascimento
Século XVII
a)
b)
c)
27
FUESPI/NEAD Letras Português
O linguista italiano defende uma posição que consiste em uma espécie
de divisão de acordo com o ponto de referência dos estudos linguísticos, em
se tratando da Linguística Moderna que ele denomina de teórica, descritiva e
sincrônica se pensarmos numa determinada fase de uma língua e da não-
diacronia no que concerne ao estudo da língua através do tempo. Desse modo,
o autor chama a atenção, em especial, para a Linguística imediatamente
precedente, que pode ser considerada como uma espécie de hiato no
desenvolvimento dos problemas linguísticos, que desde quando estes foram
estudados no mundo ocidental, época que ele define, cronologicamente, como
Antiguidade – fora omitida em nossa cultura ocidental, isto é, a Gramática do
hindus antigos, em especial a de Pãnini, talvez isso tenha ocorrido em função
de sua insignificante repercussão.
Cosériu (1980) defende mais um de seus bem fundamentados
posicionamentos quando ressalta que o Historicismo e a Linguística histórica
prevaleceram no Renascimento e no século XIX do mesmo modo que a
Linguística Moderna é representada por estudos de natureza teórica e
descritiva, com estudos de questões não absolutamente novas, mas de retorno
as suas tradições mais antigas. Isso de fato, tem ocorrido não somente na
Retorno à problemática do Renascimento
com interesse voltado especialmente para a
Comparação e História.
Este século não marcou o início da
Linguística Moderna, como alguns pensam.
Tal pensamento só se justifica pelo
posicionamento preconceituoso de que à
época nasceu um método histórico-crítico.
Domínio de questões tais como diversidade
de teorias e orientações; o problema da
descrição e da aplicação.
Proposta de questões práticas no âmbito da
Linguística Histórica.
Século XIX
Linguística atual
d)
e)
28
Estruturalismos Linguísticos
Linguística, mas em ciências outras, quiçá, como forma de aperfeiçoamento
dos estudos, conferindo-lhes mais cientificidade.
Em se tratandodo estudo dos fatos linguísticos, Cosériu (1980, p. 4)
nos traz informações bastante novas no que diz respeito à autoria atribuída a
alguns fenômenos estudados, o que em alguns momentos pode parecer com
uma forma de criticar Saussure, mas vale ressaltar que este autor é um
estruturalista saussuriano e que a sua busca é mesmo por comprovar a sua
tese já enunciada aqui à qual retomaremos mais tarde.
Outra novidade trazida pelo linguista italiano refere-se à distinção que
segundo ao autor nos parece recentíssima, que é a que se estabelece entre
linguagem – que tem por objeto realidades extralinguísticas e a que tem por
objeto a própria linguagem ou “metalinguagem”. A esse respeito Cosériu (1980,
p.5) esclarece: “Também esta distinção entre uso primário das palavras e uso
“reflexivo” (aplicado às próprias palavras) não é nova, pois aparece, já em
forma explícita no De Magistro de Santo Agostinho...” O autor esclarece ainda,
que esta distinção ainda aparecerá outras vezes, na história das reflexões sobre
linguagem, como por exemplo, na Lógica Medieval, distinguindo-se concepções
como hipótese formal ou funcional de hipótese material. A preocupação do autor
neste esclarecimento tanto se direciona à atribuição da autoria quanto à cronologia
atribuída, de forma equivocada, às ideias supracitadas.
Em nosso entendimento, o autor italiano quer e consegue fundamentar
seu posicionamento a respeito dos fatos linguísticos estudados pela Linguística
Moderna: “Trata-se ainda de um retorno a questões já existentes; isto nos
A distinção entre “significante” e “significado” (isto é, a parte
material do signo linguístico) e “significado” (ou seja, o conteúdo
mental do próprio signo linguístico) é atribuída, a maior parte das
vezes, a Ferdinand de Saussure, que todavia definia o “significante”
como “imagem acústica”, de natureza psíquica e não física. Mas
tal distinção é muito antiga: ela já aparece, com outras palavras,
no De Interpretacione, de Aristóteles... Só se explica que esta
distinção seja atribuída a Saussure porque se interrompeu alinha
teórica no decorrer dos séculos (COSÉRIU, 1980, p. 4).
29
FUESPI/NEAD Letras Português
deveria convencer de que muitos motivos e problemas da linguística atual3
não são “novos” mas, retomados e redescobertos no curso da história voltam
hoje a ser postos à luz” (COSERIU, 1980, p. 5).
Outra vez o autor se posiciona, só que desta, ele se refere tanto aos
fatos linguísticos estudados quanto à atribuição da autoria de seus estudos a
Saussure. O fato linguístico ao qual o linguista se refere, de forma bastante
esclarecedora no que concerne aos estudos linguísticos da distinção entre
sincronia que fora atribuída a Saussure e na realidade, já havia sido tratado,
em 1751, na obra de J. Harris, Hermes or a Philosophical Inquiry Concerning
Language and Universal Grammar (Hermes ou a Pesquisa Filosófica sobre
a Linguagem e a Gramática Universal, publicada em Londres. Como se
percebe todas as críticas do linguista italiano são fundamentadas e
comprovações não lhe faltam para fazê-lo.
No que concerne à atribuição do estudo dos fatos linguísticos a
Saussure, Coseriu (1980, p. 5), como que para corroborar a afirmação anterior
destaca com riqueza de detalhes:
E mais detalhes acerca dos fatos linguísticos e da atribuição de seus
estudos, Coseriu (1980, p. 5) estabelece uma comparação contundente entre
Saussure e Gabelentz:
3 Estamos usando em nosso texto o termo Linguística Moderna e não linguística atual como está na obra citada, por acreditarmos que esta terminologia possa
ser resultante da tradução e considerarmos a terminologia que estamos usando mais adequada aos estudos em voga, no momento.
Esta distinção aflora também no século XIX, num autor muito
interessante a que Saussure deve muitíssimo: Georg Von der
Gabelentz, autor da densa obra Die Sprachwiissenschaft, The
Augfabe, Methoden und bisherigen Ergebnisse (A Linguística, seus
objetivos, métodos e recentes resultados), editada em 1891 e,
após a morte do autor, ocorrida em 1893, reeditada em 1901, com
reelaboração de A. von der Schulenberg, sobre a qual se reproduz
a edição de 1969.
Gabelentz distingue explicitamente entre fatos simultâneos
(gleichzeitig “contemporâneos, sincrônicos”) e fatos que se
sucedem um depois do utro, sucessivos (aufeinanderfolgerd
30
Estruturalismos Linguísticos
Gabelentz distingue explicitamente entre fatos simultâneos (gleichzeitig
“contemporâneos, sincrônicos”) e fatos que se sucedem um depois do utro,
sucessivos (aufeinanderfolgerd “sucessivos, diacrônicos”, e Saussure, na obra
Cours de Linguistique Génerale (Curso de Linguística Geral), publicação
póstuma de 1916 retoma estas definições e as traduz por faits synchroniques
e terms successifs. E depois de Gabelentz, Dittrich, em uma obra de 1904
sobre a psicologia da linguagem, faz distinção entre as duas formas de
Linguística, que chama respectivamente sinchronistich e metachronistich.
O autor traz na citação anterior duas notas de rodapé, a de número 3,
no ano de publicação da obra saurriana, 1916, a que sugere a leitura da
tradução italiana de sua obra aqui citada, na qual há amplo comentário de
Tulio de Mauro; e a nota de número 4, que traz o título da obra de Dittrich,
Gründzug der Sprachpsychologie [Fundamentos de psicologia da linguagem],
bem como o objetivo da obra que consistia segundo o linguista italiano em
entender a língua tal qual um produto humano ... no seu condicionamento através
da organização psicofísica e da atividade da coletividade linguística.
Outro esclarecimento no que concerne à atribuição do estudo de fatos
linguísticos, Coseriu (1980) faz referência a uma distinção que segundo ele
vem desde a Antiguidade e está sendo tratada na Modernidade, às vezes, até
com a mesma roupagem. O linguista dessa vez se reporta às noções de língua
tomada como saber, como técnica de falar, que é tomada como realização da
técnica linguística concreta, bem como a atribuição dos estudos, concepções
estas que são tratadas, respectivamente, nas terminologias Saussuriana, como
(langue e parole) e Chomskyana, como (competência e desempenho).
“sucessivos, diacrônicos”, e Saussure, na obra Cours de
Linguistique Génerale (Curso de Linguística Geral), publicação
póstuma de 1916 retoma estas definições e as traduz por faits
synchroniques e terms successifs. E depois de Gabelentz, Dittrich,
em uma obra de 1904 sobre a psicologia da linguagem, faz
distinção entre as duas formas de Linguística, que chama
respectivamente sinchronistich e metachronistich.
31
FUESPI/NEAD Letras Português
E mais fenômenos cuja atribuição de estudos era conferida a
Saussure tiveram sua atribuição conferida a Gabelentz por parte de Coseriu
(1980, p.6):
Na citação o autor se refere ao estudo da língua, que já havia sido
enunciado anteriormente, quando compara os estudos realizados por Saussure
e por Chomsky. Entretanto, agora a distinção que ele apresentará será uma
comparação entre os estudos desse fenômeno referido na citação anterior
por parte de Saussure e Gabelentz, autor já mencionado anteriormente pelo
linguista italiano:
Gabelentz distingue na “linguagem” (Sprach) o falar (Rede), a
“língua” (Einzels prach) e a “faculdade da linguagem”
(Sprachvermögem); no curso de Linguística Geral, de Saussure,
acham-se através de conceitos praticamente análogos a estes,
os termos parole, langue e faculte de langage (COSERIU, 1980,
p. 6).
Ainda a esse respeito, o linguista italiano defende que Gabelentz
entende a distinção apresentada na citação anterior como uma espécie de
fundamento de outra, ou seja, a de que as disciplinas linguísticas deveriam
ser subdividas em linguística descritiva – que deveria explicar o falar e por
Na realidade, esta distinção, também atribuída correntemente a
Saussure, está implícita em toda a gramática desde que existe
uma disciplina gramatical, porque nenhuma gramática jamaisdescreveu o falar, o desempenho, mas sempre pretendeu descrever
a língua, o saber lingüístico, a langue, a competência. Isto,
naturalmente, de modo implícito. Depois, de modo explícito, a
distinção aparece na Enciclopédia das ciências filosóficas de Hegel,
parágrafo 459, dedicado à linguagem. A fórmula de Hegel é
muitíssimo simples: “Die Rede und ihr System, die Sprach”, ‘o
falar e seu sistema, a língua’. O cursivo é do próprio Hegel e parece
indicar um uso técnico para esses termos, ainda correntes com o
mesmo valor na língua alemã. Entretanto, na obra de Gabelentz...
essa distinção não é apenas formulada, mas também discutida e
tomada como fundamento de uma distinção correspondente entre
disciplinas Linguísticas, descritivas e históricas.
32
Estruturalismos Linguísticos
isso, descreveria o sistema que o regulasse; linguística histórico-
comparativa – que deveria procurar explicar historicamente a língua e;
linguística geral – que teria como objeto de estudo a linguagem em geral.
Coseriu (1980) faz mais uma negação dos estudos realizados por
Saussure dessa vez, referindo-se à teoria da arbitrariedade do signo linguístico,
que por sua vez, é atribuída pelo linguista a Aristóteles e também a Boécio e
ainda, à tradição da filosofia escolástica. O linguista italiano ainda lembra que
o termo também fora cunhado na antiguidade, por Aulo Gélio, na Idade
Medieval, por Júlio César Escalígero, bem como retomado por muitos autores
como Hobbes, em 1658 e por Schotel, em 1663. O autor é exaustivo no que
diz respeito à comprovação de sua tese de que a Linguística Moderna pouco
tem de modernidade, mas apenas retoma objetos, fatos linguísticos para
estudos em novas abordagens.
A tese da teoria das pessoas gramaticais também, conforme o autor,
mesmo sendo tratada na linguística moderna já se encontra numa obra de
Harris, de 1751, na qual o autor defende, inclusive, encampando a tese de
Apolônio Díscolo, que somente existem a primeira e a segunda pessoa, porque
a terceira é a não pessoa.
Em face da exaustiva postura de negação de atribuição, de nova
atribuição de estudo de fenômenos linguísticos o linguista italiano comprova o
que, intuitivamente tínhamos afirmado sobre seu posicionamento teórico. Sua
tese era mesmo demonstrar que a linguística moderna não estuda fenômenos
novos, apenas, mas também estuda os fenômenos antigos, com nova
roupagem talvez, até mesmo, como forma de continuidade.
E quanto aos estudos linguísticos na linguística moderna Coseriu
(1980, p. 7 - 8) esclarece:
Tudo o que dissemos não pretende diminuir os méritos da
linguística moderna, mas mostrar que ela não está fora da tradição,
como se ouve dizer seguidamente, e que ao contrário, retoma
posições teóricas sobre a linguagem existentes desde a
antigüidade: o abismo e a ruptura, portanto, dizem respeito apenas
33
FUESPI/NEAD Letras Português
à Linguística imediatamente precedente, e em particular, à
Linguística dos últimos decênios do século XIX. Se porém, em
certo sentido, a Linguística moderna é antiga no que concerne
aos temas e é, por isso mesmo, tradicional, isto não significa que
o seja também em seu desenvolvimento.
O que o linguista faz questão de enfatizar é que a linguistica moderna
estuda os fatos antigos, mas isso não lhe tira o mérito científico, visto que o
fenômeno não tem seu estudo repetido, mas sim aprofundado, observado
sob outros ângulos, ou novas abordagens. E, além disso, embora a linguistica
moderna tenha como objetivo a teoria e a descrição, ela não prescinde de
estudos e investigações históricas, que, muitas vezes, fazem-se essenciais
para a própria descrição.
O linguista ainda esclarece um pouco mais a construção de seu
discurso exaustivo, mas bastante esclarecedor quando afirma que os temas
teóricos e descritivos da linguística moderna recuam à Idade Média, e ao
século XVIII, em especial, assim como os históricos e comparativos podem
ser atribuídos a linguística do Renascimento e do século XIX. Isso pode ser
afirmado tomando o contexto histórico geral da linguística moderna, porque
no que concerne ao contexto imediato, esta constitui uma reação à linguística
imediatamente precedente, que representa o Positivismo, com o qual
entraremos em contato a seguir na ótica de Coseriu (1980).
3 A ideologia positivista na Linguística
O que se percebe numa observação mais acurada é que a Linguistica
Moderna volta a sua atenção para estudos anteriores (históricos), mas essa
volta se direciona apenas àqueles estudos que não foram realizados ou para
os que mesmo tendo sido realizados, deixaram sem resolução alguma questão
ou então porque se percebe uma falta de continuidade no que concerne ao
aspecto cronológico, se observarmos desde a Linguística na Antiguidade até
agora, ao momento em que temos a Linguistica Moderna.
34
Estruturalismos Linguísticos
Coseriu (1980, p. 10) cita como exemplo desta situação a diferença
entre sincronia e diacronia que ele defende que “aparece em François Thurot,
no final do século XVIII, depois no prefácio da Gramática espanhola de Andrés
Belo e também no prefácio à gramática alemã de K. Heyse”. O autor defende
por meio deste exemplo que alguns linguistas não se preocupam com uma
visão histórica de sua disciplina, tão pouco, com laços históricos que estão
na tradição no que concerne aos seus estudos.
Em se tratando da Linguistica Moderna o linguista italiano nos traz
mais considerações que nos serão úteis:
A Linguística como ciência com um método próprio de indagação
surgiu nos primeiros anos de 1800 como Linguística comparada e
histórica, sem obviamente nenhuma ideologia positivista, que ainda
não existia como tal, emprestada de ima ideologia romântica que
apenas em parte é conservada e continuada pelo Positivismo. A
Linguística comparada e histórica se afirma sobretudo como
Linguística indo-européia, gramática comparada da línguas indo-
européias, e principalmente, das línguas clássicas, românicas e
germânicas (COSÉRIU, 1980, p.12).
O autor nos mostra, de certo modo, uma visão sobre o início dos
estudos linguísticos e a natureza destes estudos. Ele ainda ressalta que por
volta de 1870 por meio da influência do grande linguista alemão, August
Schleicher, surgiu a escola dos neogramáticos, que teve como primeiros
representantes Karl Brugmann, Berthold Delbrück, Herman Osthoff e August
Leskien.
Em se tratando de método e de ideologia, o francês Antonio Meillet,
foi um estudioso neogramático, assim como o fora também Saussure, no início
de sua carreira, tendo estudado em Leipzig, um centro de linguística dos
neogramáticos.
Coseriu (1980) para justificar os reflexos da ideologia neogramática
em várias ciências dentre estas a Linguística, defendeu que se tratava apenas
de um reflexo que dominou não apenas as várias formas da cultura, mas as
diversas disciplinas humanísticas.
35
FUESPI/NEAD Letras Português
A respeito da ideologia positivista o linguista italiano esclareceu:
...Ideologia não significa necessariamente filosofia positivista, até
porque esta última, muito longe de ser unitária, é formada de várias
concepções filosóficas. Entendo por ideologia o modo pelo qual
uma filosofia forma e determina uma disciplina particular, como
por exemplo, a psicologia, a ciência da literatura, a história literária
ou a linguística. Ora, o positivismo, enquanto ideologia e
metodologia das ciências se caracteriza por quatro princípios: a)
princípio do indivíduo, do fato individual; b) princípio da substância;
c) princípio do evolucionismo; princípio do naturalismo. (COSERIU,
1980, p. 13)
O linguista ressalta que a importância dos princípios
supramencionados está no fato de que a linguistica moderna opõe a cada
um deles um princípio exatamente contrário. Mas o que nos chama a atenção
em relação a esses princípios é o significado que cada um deles tem na leitura
de Coseriu (1980, p. 12-13).
No que concerne ao princípiodo indivíduo, considera-se que a atenção
do cientista se concentra no fato singular e que a universalidade do fato é
considerada como o resultado de uma operação de generalização e de
abstração.
Com relação ao princípio da substância, tem-se que os fatos singulares
são considerados por aquilo que são enquanto substância e elementos
materiais e não pelo que estes são do ponto de vista de sua função.
Já de acordo com o principio do evolucionismo, os fatos singulares
são considerados duas vezes; uma, em que são considerados em si próprios
e outra, em sua evolução.
E por último, em se tratando do princípio do naturalismo, os fatos são
reduzidos à classe dos fatos naturais. Desse modo, considera-se que os fatos
estão sujeitos às leis da causalidade e da necessidade, como na natureza.
O que se pode afirmar, de acordo com o estudo destes princípios é
que uma ciência somente chegará à maturidade na medida em que é capaz
de prever o desenvolvimento a que estes fatos chegaram.
36
Estruturalismos Linguísticos
Esses mesmos fatos no tocante aos estudos linguísticos também
podem ser vistos em Coseriu (1980). E a esse respeito, o fato que consiste
na atenção ser voltada ao indivíduo, isto é, no âmbito da linguística, tem-se o
privilégio do fato linguístico. A exemplo desse tipo de observação pode-se
citar a fonética experimental, que tendo se desenvolvido na época positivista,
concentrou-se, sobretudo, no simples fato fônico, e sustentou que na realidade,
não subsiste nenhuma unidade entre os diversos indivíduos. Essa afirmação
levaria a outra, que revelaria bem o posicionamento teórico-metodológico
desta ciência, a de que não existem duas vogais “a” iguais na pronúncia de
dois indivíduos e nem na pronúncia de um mesmo indivíduo. Coseriu (1980)
alerta-nos para o fato de que uma afirmação desse tipo extrapola os limites
da linguística positivista. O estudo empírico antes da teoria é típico da maior
parte dos linguistas positivistas, que não se propunham a problemas teóricos,
e que estudavam os fatos, independentemente, de qualquer filosofia.
O princípio da substância em linguística significa que os fatos podem
ser considerados em sua substancialidade, isto é, se estes forem estudados
em sua substância, será observada a sua substancialidade, mas por outro
lado, se a sua materialidade estiver sendo observada, serão observados
aspectos materiais desses fatos.
De acordo com o princípio do evolucionismo, afirma-se que o objeto
principal da linguística (positivista) somente pode ser a história da língua,
compreendida também no sentido positivista, ou seja, nesta perspectiva, o
desenvolvimento é considerado antes do modo de ser das línguas.
Desse modo, a linguística enquanto ciência positivista somente pode
ser compreendida por meio da linguística histórica ou gramática histórica.
Assim, a linguística é quase exclusivamente história, pois até o estudo
descritivo depende do histórico.
Por fim, o naturalismo em linguística propunha que as línguas deveriam
ser consideradas como organismos naturais, dotadas de desenvolvimento
próprio. A própria história linguistica deveria ser estudada dessa forma, isto
37
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é, registrando apenas os fatos sem se centrar na explicação de seu
desenvolvimento. Coseriu (1980) esclarece que os desenvolvimentos atribuídos
conforme a linguística positivista às leis análogas às naturais são classificados
como “leis fonéticas”.
Entretanto, embora pela afirmação supramencionada se considere a
linguística como uma ciência madura, Meillet não a considera dessa forma,
nem a considera como uma ciência natural como as ciências naturais porque,
segundo ele, a linguistica inda não tinha condições de fornecer previsões.
O que nos é perceptível a partir da exposição é que a linguística
enquanto ciência sofrera críticas tanto em função dos posicionamentos teóricos
de alguns de seus estudiosos e de práticas de pesquisa desenvolvidas em
desconformidade com a orientação em voga no momento da pesquisa,
entretanto, todo o panorama de problematizações aqui exposto é
compreensível dada à falta de proporcionalidade entre a dimensão do objeto,
com suas multifacetas, de natureza tão ampla e heterogênea. Assim, a ciência,
embora já tenha passado por ampliações, com suas diversas ramificações
ainda não é correspondente ao seu objeto.
SAIBA MAIS:
Convencionou-se denominar indo-europeu, indo-germânico ou ariano,
a língua pré-histórica, falada com relativa unidade, há cerca de três mil anos
antes de Cristo, numa região incerta da Europa Oriental, mas que a grande
parte dos linguistas concorda tratar-se da região meridional da atual Rússia.
Não obstante as divergências da origem e o emprego de termos diferentes
para designar o povo que falava essa língua, o certo é que ela realmente existiu.
Atestam-no as línguas desprendidas da protolíngua (pelo método comparativo),
o estudo das religiões comparadas, a geografia linguística e a Antropologia.
38
Estruturalismos Linguísticos
FONTE:
OLIVEIRA, João Bittencourt de. Contribuição do método comparativo para a
determinação da existência do indo-europeu. Disponível em: http://
www.filologia.org.br/revista/artigo/3(9)41-52.html. Acesso em 13.05.2010.
Saiba mais: notas complementares sobre Linguística Aplicada, consultar:
BRITTO DUQUE, Alíria de. Linguística Aplicada. Disponível em: http://
recantodasletras.uol.com.br/gramatica/2626962.
Sobre Pragmática, consultar:
SIILVA, Jorge da. e SILVA, Vera Lucia T. INTRODUÇÃO AO PRAGMATISMO
LINGUÍSTICO. Disponível em: http://www.filologia.org.br/soletras/1/07.htm
Sobre Linguística Descritiva, ler: Princípios de Linguística Descritiva: introdução
ao pensamento gramatical, de Mário Perini.
Sobre linguística histórico-comparativa, consultar:
SOUSA, Maria Clara Paixão de. Introdução às ciências da linguagem:
linguagem, história e conhecimento. Disponível em: http://
www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/pesquisa/caps/PAIXAODESOUZA_MC-
2006a.pdf
39
FUESPI/NEAD Letras Português
Atividade complementar
Pesquise sites ou blogs que apresentem artigos ou que contenham
resenhas, resumos sobre as teorias/correntes de estudos da linguagem e em
seguida, crie um blog com um grupo de no máximo quatro componentes.
Escolha dentre os temas a seguir: Estruturalismo Europeu, Estruturalismo
Americano, Formalismo e Funcionalismo. No blog você e seus colegas de
grupo poderão incluir estudos, resumos, questões pelas quais vocês se
interessam e trabalhos de pesquisa vinculados à disciplina. Conte com seu
tutor para fazer isso. Esta é uma excelente maneira de você estudar e dar a
oportunidade a outras pessoas de estudarem também, lendo as informações
presentes no seu blog. Ah, e como essas informações serão públicas, uma
vez que ficarão publicadas no seu blog não se esqueçam de eleger um
conselho editorial que pode corrigir, desde as informações que serão postadas,
até os aspectos como o nível de linguagem e a correção ortográfica, ou seja,
escrevam o texto numa linguagem clara, objetiva e correta.
40
Estruturalismos Linguísticos
Leituras complementares:
BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos estudos lingüísticos. 12ª. ed.
Campinas, SP: Pontes, 1998.
FARACO, Carlos Alberto. Estudos pré-saussurianos. IN: MUSSALIM, Fernanda
e BENTES, Ana Christina (orgs.). Introdução à Linguística III: fundamentos
epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2004.
Sugiro a leitura mais atenta dos 4 primeiros capítulos do livro de Emile
Benveniste, Princípios de Linguística Geral, Volume I.
41
FUESPI/NEAD Letras Português
Atividades de aprendizagem
1 Faça um resumo das ideias principais desta primeira unidade e desenvolva
um texto do gênero dissertativo-opinativo, posicionando-se a respeito da
contribuição de Saussure para os estudos da linguagem. Assim, você já vem
construindo o fichamento que fará no final da leitura deste livro.42
Estruturalismos Linguísticos
Resumindo...
Na unidade 1, tratamos em primeiro das impressões de Benveniste
(1995) sobre algumas das preocupações que afligiram Saussure, como se
percebe na citação a seguir:
...mostrar ao linguista o que ele faz. Queria fazer compreender o
erro em que se envolveu a linguística desde que estuda a linguagem
como uma coisa, como um organismo vivo ou como matéria que
se analisa por uma técnica instrumental, ou ainda como uma
criação livre e incessante da imaginação humana. É preciso voltar
aos fundamentos, descobrir esse objeto que é a linguagem, a que
nada pode ser comparado.
O linguista chama a atenção, de forma enfática, para a preocupação
central de Saussure em considerar que a substância de determinado objeto
estava no ponto de vista sobre o qual se observa a este. Além disso, afligia-
lhe o fato de o estudo da língua não estar sendo realizado da forma como
deveria.
Em segundo lugar tratamos sobre os pressupostos recentes sobre a
linguística geral com base em Lyons (1981) que traz algumas definições de
linguagem que problematiza, tocando em seus pontos críticos e depois finaliza
seu posicionamento destacando que as definições demonstram que algumas
das propriedades que alguns linguistas consideraram essenciais nas línguas
tal como as conhecemos.
Na segunda parte da Unidade 1, em se tratando da Linguística
Moderna, Coseriu (1980, p.1), importante saussuriano, traz reflexões bastante
significativas acerca da trajetória dos estudos linguísticos, o que o autor italiano
justifica, com a finalidade de oferecer uma ideia panorâmica da Linguística
moderna, colocando-a no seu contexto histórico, tanto mediato quanto imediato.
O linguista saussuriano chama-nos a atenção para duas questões
importantes no estudo do que se chama de Linguística Moderna. A primeira
questão refere-se ao fato de que a suposta sensação de novidade desses
43
FUESPI/NEAD Letras Português
estudos é apenas aparente, e a segunda, diz respeito à impossibilidade de
se poder perceber em uma linha divisória clara entre os estudos da Linguística
Tradicional e os da Linguística Moderna.
Cosériu (1980, p. 2) organiza uma espécie de esquema cronológico,
constante das alíneas a) a e), que explicita a sucessão dos interesses
linguísticos através dos tempos conforme será descrito no quadro resumitivo
a seguir, que montamos, tomando-lhe como base, para tentar didatizar um
pouco mais a teorização aqui exposta:
ESTUDOS LINGUÍSTICOS REALIZADOS
d) Século XIX
Retorno à problemática do
Renascimento com interesse voltado
especialmente para a Comparação
e História.
Este século não marcou o início da
Linguística Moderna, como alguns
pensam. Tal pensamento só se
justifica pelo posicionamento
preconceituoso de que à época
nasceu um método histórico-crítico.
e) Linguística atual
Domínio de questões tais como
diversidade de teorias e orientações;
o problema da descrição e da
aplicação.
Proposta de questões práticas no
âmbito da Linguística Histórica.
a) Da Antiguidade Clássica ao
Renascimento
Predominância de problemas de
definição. Ex.: essência da linguagem
e as categorias das línguas.
Problemas de descrição.
Síntese: Teorização sobre a
Linguagem e descrição da Língua.
b) Renascimento
Predominância da Linguística
Histórico-comparativa.
Ex.: comparação de línguas diversas,
comparação de frases históricas de
uma mesma língua – indagação sobre
a transformação do latim em italiano,
francês e espanhol.
c) Século XVII
Retomada de problemas antigos -
Teoria e Descrição.
Ex.: Gramática Geral e Descrição das
Líguas Modernas
44
Estruturalismos Linguísticos
O que o linguista faz questão de enfatizar é que a linguistica moderna
estuda os fatos antigos, mas isso não lhe tira o mérito científico, visto que o
fenômeno não tem seu estudo repetido, mas sim aprofundado, observado
sob outros ângulos, ou novas abordagens. E, além disso, embora a linguistica
moderna tenha como objetivo a teoria e a descrição, ela não prescinde de
estudos e investigações históricas, que muitas vezes se fazem essenciais
para a própria descrição.
Na 3ª. parte desta unidade 1, o que se percebe, numa observação
mais acurada, é que a Linguistica Moderna volta a sua atenção para estudos
anteriores (históricos), mas essa volta se direciona apenas àqueles estudos
que não foram realizados ou para os que mesmo tendo sido realizados,
deixaram sem resolução alguma questão ou então porque se percebe uma
falta de continuidade no que concerne ao aspecto cronológico se observarmos
desde a Linguística na Antiguidade até agora, ao momento em que temos a
Linguistica Moderna.
O autor nos mostra, de certo modo, uma visão sobre o início dos
estudos linguísticos e a natureza destes estudos. Ele ainda ressalta que por,
volta de 1870, por meio da influência do grande linguista alemão, August
Schleicher, surgiu a escola dos neogramáticos, que teve como primeiros
representantes Karl Brugmann, Berthold Delbrück, Herman Osthoff e August
Leskien.
Coseriu (1980) para justificar os reflexos da ideologia neogramática
em várias ciências, dentre elas a Linguística, defendeu que se tratava apenas
de um reflexo que dominou não apenas as várias formas da cultura, mas as
diversas disciplinas humanísticas.
A respeito da ideologia positivista, o linguista italiano esclareceu que
ideologia não significa necessariamente filosofia positivista, até porque esta
última, muito longe de ser unitária, é formada de várias concepções filosóficas.
O autor explica o positivismo, enquanto ideologia e metodologia das ciências,
se caracterizando por quatro princípios: a) princípio do indivíduo, do fato
45
FUESPI/NEAD Letras Português
individual; b) princípio da substância; c) princípio do evolucionismo; d) princípio
do naturalismo.
O que nos é perceptível a partir da exposição é que a linguística
enquanto ciência sofrera críticas tanto em função dos posicionamentos teóricos
de alguns de seus estudiosos quanto de práticas de pesquisa desenvolvidas
em desconformidade com a orientação em voga no momento da pesquisa.
Entretanto, todo o panorama de problematizações aqui exposto é
compreensível dada à falta de proporcionalidade entre a dimensão do objeto,
com suas multifacetas, de natureza tão ampla e heterogênea. Assim, a ciência,
embora já tenha passado por ampliações com suas diversas ramificações,
ainda não é correspondente ao seu objeto.
OBJETIVOS
• Identificar as concepções de ciência, bem como as característi-
cas que conferem cientificidade a um determinado objeto.
• Destacar características que conferem cientificidade à linguística.
UNIDADE 2
A linguística e sua cientificidade
49
FUESPI/NEAD Letras Português
2 O que é ciência4?
Não é novidade para nenhum estudante universitário que, no meio
acadêmico, o que mais se persegue além de alcançar o melhor nível de
profundidade nos estudos é a cientificidade. Os trabalhos que são realizados
para as disciplinas acadêmicas seguem a padrões de cientificidade que estão
inclusive normaliizados por diversas NBR – Norma Brasileira de Registros,
constantes da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. As
pesquisas que são desenvolvidas na academia seguem a um rigor científico.
E assim, quanto mais nos aproximamos do mundo acadêmico mais nos
inteiramos da relevância da ciência que norteia os estudos e as pesquisas
em qualquer área.
Marconi e Lakatos (2010, p. 20 – 22) citam alguns conceitos que em
seu entendimento são incompletos, aos quais não nos deteremos pela sua
incompletude, e se referem a dois outros que se complementam. O primeiro
a ser elencado é o de Ander-Egg (1978, p.15) no qual se define que: “A ciência
é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos
metodicamente sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos
de mesma natureza.”
Como uma espécie de esclarecimentosobre cada um dos princípios
elencados na definição de ciência supracitada, as autoras definem cada um
destes conforme descrito a seguir:
a) conhecimento racional – isto é que tem exigências
de método e está constituído por uma série de
elementos básicos, tais como sistema conceitual,
hipóteses, definições; diferencia-se das sensações ou
imagens que se refletem em um estado de ânimo, como
o conhecimento poético, e da compreensão imediata,
4 Sobre ciência e método científico, consulte: a artigo de: DIAS, Cláudia e FERNANDES, Denise. Pesquisa e métodos científicos. Disponível em: http://
www.reocities.com/claudiaad/pesquisacientifica.pdf. Acesso em 23 de abril de 2010.
50
Estruturalismos Linguísticos
sem que se busquem os fundamentos, como é o caso
do conhecimento intuitivo;
b) certo ou provável – já que não se pode atribuir à
ciência a certeza indiscutível de todo o saber que a
compõe. Ao lado dos conhecimentos certos, é grande
a quantidade dos prováveis. Antes de tudo, toda lei
indutiva é meramente provável, por mais elevada que
seja a sua probabilidade;
c) obtidos metodicamente – pois não se os adquire ao
acaso ou na vida cotidiana, mas mediante regras
lógicas e procedimentos técnicos;
d)sistematizadores – isto é, não se trata de
conhecimentos dispersos e desconexos, mas de um
saber ordenado logicamente, constituindo um sistema
de ideias (teoria);
e) verificáveis – pelo fato de que as afirmações, que
não podem ser comprovadas ou que não passam pelo
exame da experiência, não fazem parte do âmbito da
ciência, que necessita, para incorporá-las, de
afirmações comprovadas pela observação;
f) relativos a objetos de mesma natureza – ou seja,
objetos pertencentes a determinada realidade, que
guardam entre si certos caracteres de homogeneidade
(MARCONI e LAKATOS, 2010, p. 22).
E após a exaustiva enumeração, as autoras apresentam o segundo
conceito, que definem ainda como mais completo, que é o de Trujillo (1974, p.
8) no qual a ciência é definida como “... todo um conjunto de atitudes
atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto
limitado, capaz de ser submetido à verificação”.
51
FUESPI/NEAD Letras Português
Para o desenvolvimento dos estudos de uma ciência, há que se obe-
decer a alguns critérios, que são denominados critérios de cientificidade.
Dias e Fernandes (2000, p. 1-2) definem os critérios de cientificidade,
normalmente citados na literatura científica que são relevantes para que
compreendamos também os critérios aos quais qualquer ciência que queira
obter respeitabilidade no meio científico deve submeter-se:
a) objeto de estudo bem definido e de natureza
empírica: delimitação e descrição objetiva e eficiente
de realidade empiricamente observável, isto é, daquilo
que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar
por meio de métodos empíricos1;
b) objetivação: tentativa de conhecer a realidade tal
como é, evitando contaminá-la com ideologia, valores,
opiniões ou preconceitos do pesquisador;
c) observação controlada dos fenômenos: preocupação
em controlar a qualidade do dado e o processo utilizado
para sua obtenção;
d) originalidade: trabalho criativo, original;
e) coerência: argumentação lógica, bem estruturada,
sem contradições;
f) consistência: base sólida, resistente a argumentações
contrárias;
g) linguagem precisa: sentido exato das palavras,
restringindo ao máximo o uso de adjetivos;
h) intersubjetividade: opinião dominante da comunidade
científica de determinada época e lugar.
Se pensarmos na linguística de Saussure, era esse o caráter que o
mestre genebrino buscava para a ciência da linguagem, pois mais do que
responsável pelo estudo da ciência, ele fora o elaborador da forma mais cien-
52
Estruturalismos Linguísticos
tífica de realizar os estudos desta ciência, o estruturalismo. E não poupou
esforços para tornar os estudos da linguagem os mais científicos possíveis, o
que é desnecessário explicitar em função da contribuição de estudos tão sig-
nificativos como o desenvolvido pelo linguista suíço desde os estudos históri-
cos e comparativos até os estruturalistas.
Dias e Fernandes (2000, p. 1-2) defendem que
Para proteger a ciência, e o próprio pesquisador, de erros e
precipitações, utiliza-se um conjunto de regras, denominado método
científico, que, com maior segurança e economia, norteia a
investigação científica até seu objetivo final na obtenção de
conhecimentos válidos e verdadeiros a respeito do fenômeno em
estudo.
Como podemos perceber, para que uma disciplina se instaure, isto
é, seja aceita na comunidade científica enquanto ciência, ela precisa estar
em conformidade com a concepção de ciência, com os critérios de
cientificidade. Em se tratando da ciência lingüística, as formalidades foram
cumpridas pelos estudiosos que se propuseram a estudá-la enquanto
disciplina. E Saussure foi o principal responsável por este cumprimento. Ele
pensou o objeto (a língua), pensando-o, pensou o método mais adequado
para seu estudo (o sincrônico), pensou-lhe ainda a sua instrumentação,
dividindo o estudo do objeto em partes (as dicotomias). A respeito destas,
estabeleceu-lhes as conceituações e talvez por isso ele tenha sido considerado
o pai da linguística moderna, embora haja quem defenda que outros estudiosos
já haviam feito os estudos que foram atribuídos a Saussure.
Bom, mas voltando-nos ao reconhecimento da linguística enquanto
ciência pode-se afirmar que esta já uma questão mais tranquila, como veremos
a seguir.
53
FUESPI/NEAD Letras Português
2.1 A Linguística enquanto ciência e sua cientificidade
A linguística é o estudo científico da linguagem. E tratando sobre essa
questão, Lyons (1981) estabelece algumas distinções entre as concepções
de linguagem alertando para a tradução do termo language para referí-lo,
especificamente, à faculdade de comunicação humana. O autor defende que
não se pode possuir ou usar a linguagem natural sem antes fazê-lo com uma
língua natural específica. Ex.: A linguagem computacional (artificial) é criada
com base na língua natural de seu criador.
O linguista, a princípio lida com línguas naturais. E ele quer saber se
as línguas naturais, todas, possuem em comum algo que não pertença a outros
sistemas de comunicação, humano ou não, de tal forma que seja correto aplicar
a cada uma delas a palavra “língua”, negando-se a aplicação deste termo a
outros sistemas de comunicação.
Vejamos algumas definições de língua para que possamos vislumbrar
o objeto de estudo da língua nessa atmosfera científica.
“A linguagem é um método puramente humano e não instintivo de se
comunicarem ideias, emoções e desejos por meio de símbolos
voluntariamente produzidos”. (SAPIR, 1929, p. 8). Nesta definição, os pontos
falhos, cf. Lyons(1987) estão nas expressões destacadas.
Se pensarmos bem sobre as expressões em destaque na citação
anterior é muito restritivo afirmarmos que “a linguagem é um método
puramente humano e não instintivo de se comunicarem ideias, emoções
e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos”. Ora,
vejamos, a linguagem não é um texto com um roteiro previamente programado.
Inúmeros são os fatores externos e internos que podem influenciar o
processo comunicativo, a linguagem oral, tanto quanto a e escrita.
Outra definição que é trazida aqui é a de Bloch e Trager (1942): “Uma
língua é um sistema de símbolos vocais arbitrários por meio dos quais um
grupo social co-opera”. Para Lyons(1987), essa definição enfatiza a função
54
Estruturalismos Linguísticos
social sem considerar a função comunicativa da linguagem, restringindo a
comunicação apenas à língua falada.
O autor destaca sobre a definição de Hall (1968, p. 158) de que a
língua: “é a instituição pela qual os humanos se comunicam e interagem uns
com os outros por meio de símbolos arbitrários orais auditivos, habitualmente
utilizados”; o vínculo queessa teoria tinha com o behaviorismo, por utilizar a
expressão “habitualmente utilizados” e ressaltar que não havia em geral, na
linguagem, qualquer conexão entre as palavras e as situações de utilização, a
ponto de possibilitar a previsibilidade de um determinado vocábulo como um
comportamento habitual.
Já a definição de Chomsky (1957, p. 13): ”...um conjunto finito ou infinito
de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um
conjunto finito de elementos” é defendida por Lyons. Segundo o qual esta pode
abranger mais do que as línguas naturais e a citou pelo contraste com as
demais e ainda porque chama a atenção para as propriedades puramente
estruturais da linguagem podendo ser investigada numa perspectiva
matematicamente precisa.
Lyons destaca que para Chomsky (1957) o que os linguistas
descrevem ao investigar uma dada língua não é o desempenho como tal
(comportamento), mas a competência dos falantes. Nessa perspectiva, a
competência linguística de um indivíduo é seu conhecimento de uma
determinada língua. Lyons (1981) alerta que dizer-se que o linguista se
interessa pela língua significa que ele está interessado na estrutura dos
sistemas linguísticos. Cabe considerar-se aqui que nessa perspectiva,
podem estar contemplados, os aspectos fonológicos, morfológicos, sintáticos,
semânticos e estilísticos.
Muitas vezes, de determinadas pessoas esperamos no mínimo uma
produção de linguagem razoável. Ex.: Se alguém está falando em público e
comete erros de concordância nominal, verbal, ou pronúncia de algumas
palavras, julgamos que em público não se pode falar de tal modo.
55
FUESPI/NEAD Letras Português
Na escrita, tem-se o recurso da revisão, mas aos desavisados que
escrevem sem se preocupar com detalhes não são dispensadas as críticas.
E estas são ainda mais enfáticas porque em função do registro a análise
pode sempre ser mais severa.
Além do que escrever é algo que já é, pela própria natureza da
produção, mais passível de revisão e por isso mesmo analisado de forma
mais rigorosa.
2.1.1 Acerca das noções de Língua e Fala
Um dos princípios fundamentais da linguística moderna é o de que a
língua falada é mais básica do que a escrita, mas isto não significa que a
língua deva ser identificada com a fala. Não se sabe de nenhuma sociedade
que exista ou tenha existido sem a capacidade de fala.
A potencialidade de combinação entre os sons utilizados em uma
língua específica depende em parte das propriedades do meio (certas
combinações sonoras são impronunciáveis ou de difícil produção) e em parte
das distribuições mais específicas aplicáveis somente àquela língua.
A prioridade funcional das línguas está no aspecto de que a língua
falada está numa gama mais ampla de situações e a escrita serve apenas na
situação em que a primeira é impossível, inafiançável ou ineficiente, e a escrita
originou-se para atender às necessidades de tais situações.
Quanto à prioridade biológica, tem-se que a linguagem humana
desenvolveu-se, em algum ponto da evolução da espécie, a partir de um
sistema de comunicação gestual, e não vocal. A linguagem tem, em grande
escala, a propriedade de se transferir de um meio para outro. Ex.:A linguagem
oral e escrita no meio virtual. Assim, quando se chega ao problema de
descrever determinadas línguas há mais coerência em considerar as línguas
faladas e escrita como mais ou menos isomórficas, ao invés de absolutamente
isomórficas. Este é um dos problemas que mais afligiu os estudiosos da
linguagem.
56
Estruturalismos Linguísticos
Por falar em estudiosos da linguagem, depois dessa rápida passa-
gem por questões cruciais sobre as linguas, passemos agora a nos deter
sobre a linguística propriamente dita e sobre a forma como essa ciência está
sendo percebida atualmente.
A linguística como outras ciências sofreu críticas no que concerne a
sua cientificidade. Isso não é nenhuma novidade. E na obra Conversa com
linguistas: virtudes e controvérsias, organizada por Antônio Carlos Xavier e
Susana Cortez, tem-se inclusive uma amostra das opiniões de linguistas acerca
de questões bastante interessantes para a Linguística. As perguntas feitas
aos linguistas foram as seguintes:
Que é língua?
Qual a relação entre língua, linguagem e sociedade?
Há vínculos necessários entre língua, pensamento e cultura?
A linguagem tem sujeito?
Que é linguística?
A linguística é ciência? Para que serve a linguística?
A linguística teria algum compromisso necessário com a educação?
Entretanto, em função do nosso objetivo nesta obra, centraremos nossa
atenção nas questões que tratam sobre o que é linguística, sobre o fato de a
linguística ser ou não uma ciência.
As entrevistas constantes da obra concentram-se na própria linguística
e na diversidade de definições para os mesmos fenômenos. Ao aceitarem
responder sempre às mesmas perguntas, linguistas de várias áreas dos
estudos da linguagem e filiados às mais diferentes correntes e escolas
linguísticas fazem um produtivo debate assíncrono, uma espécie de variação
sobre o mesmo tema, que permitirá aos leitores compreender melhor a
linguística no Brasil.
Em relação à questão sobre o fato de a linguistica ser uma ciência e
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FUESPI/NEAD Letras Português
sobre o que é linguística, focaremos na opinião de alguns linguistas a respeito
dos quais já tenhamos ouvido falar, ou já lemos algo. Pois bem, vamos ao que
nos interessa, às opiniões desses linguistas.
Faraco (2003, P. 66) definiu a linguística em sentido amplo e restrito.
Em sentido amplo, o linguista define a linguística como “o conjunto de atividades
científicas que os que se designam linguistas desenvolvem no contexto
universitário” e em sentido restrito, o linguista defende que “o termo linguística
estaria abrangendo, com certeza, as teorias fonológicas e sintáticas, e talvez
(isso a discutir com quem faz) as teorias semânticas e aquelas que nós
chamamos de semântico-pragmáticas (FARACO, 2003, p. 66).”
O linguista da área da Linguística Aplicada, Gomes de Matos (2003,
p. 96) define também, a linguística, em sentido amplo e em sentido restrito.
No primeiro sentido, o linguista a define como a “ciência que se ocupa do
processo da linguagem em suas múltiplas representações, principalmente a
linguagem escrita, a linguagem falada e a linguagem gestual e que também
se ocupa das descrições das origens, das estruturas e do funcionamento e
dos efeitos dos usos nos usuários”; e no sentido restrito “A linguística como
ciência da linguagem e das línguas também interessa a dimensões que
transcendem propriamente o estudo linguístico. A linguística é um campo com
dupla face: teórica e aplicada”.
Marcuschi define a linguística em sentido amplo e restrito. E o faz
“puxando brasa para sua sardinha”, como podemos verificar. Em sentido amplo,
“a linguística pode ser mais ampla e envolve inclusive Linguística de Texto e
Análise do Discurso e Análise da Conversação, por exemplo, isto é, envolve
processos, atividades e outras coisas mais.” O linguista esclarece que é nesse
sentido amplo que ele considera e toma a linguística. E adverte: “Ela envolve
muito mais do que apenas o estudo das formas, dos usos e das atividades
linguísticas, aí podemos estudar os textos, os gêneros, os discursos, a
aquisição, a interação, e por que não, também a sintaxe e a fonologia?”.
(MARCUSCHI, 2003, p. 136)
58
Estruturalismos Linguísticos
Já Barros define a linguística apenas em sentido restrito. Em sentido
restrito, é a ciência que constrói um objeto, que a partir de Saussure,
considerou-se como sendo a língua; com Chomsky, como sendo a
competência, enfim que constrói um objeto e que trata desse objeto de uma
certa perspectiva teórica e metodológica (BARROS, 2003, p.153). A linguista
ainda esclarece que a caracterização da linguística é o fato de ela ser descritiva
e explicativa.
Abaurre (2003) se declara mais confortável com uma descriçãomais
ampla da linguística e defende que a vê como um amplo campo de investigação
sobre as questões da linguagem e por isso não aceita uma definição simplista
da linguística como “ciência da linguagem. E a respeito da primeira fase da
disciplina, a linguista ressalta a busca de um caráter científico para os estudos
linguísticos, o que ela define como relevante para a marcação da disciplina no
âmbito das demais reconhecidas como legítimos campos de investigação.
Segundo a lingüista, se voltarmos ao início do século XX, é indubitável o
reconhecimento da importância de Saussure para a contribuição da linguística
“exatamente porque foi naquele momento que se chegou com clareza à
definição de um objeto e à definição de métodos de abordagem desse estudo”.
Ela ainda complementa: “Vejo a linguística, portanto, como um campo de
estudos que acomoda os mais variados temas a respeito de linguagem e das
línguas naturais” (ABAURRE, 2003, p.16).
No entanto, Borges Neto (2003) definiu linguística sem tocar nos pontos
denominados como amplo e restrito de definição da ciência.
“Eu pessoalmente acho que a linguística feita no quadro da
Gramática Gerativa5 é ciência para um dado tipo de definição do
que é ciência. Outro tipo de linguística mais na linha da análise do
discurso, por exemplo, não é ciência, dado um tipo de definição de
ciência que é adotado nas ciências duras. Mas, se definisse ciência
5 Para aprofundamento dessa concepção, sugere-se a leitura de Weedwood (2002, p. 132-135).
59
FUESPI/NEAD Letras Português
como um historiador define ciência - eu não estou querendo falar
em ciências humanas, mas no fundo é isso - a análise do discurso
passa a ser considerada uma ciência. A Semântica Formal, por
exemplo, assume métodos e procedimentos da Lógica e da
Matemática, e pode ser considerada uma ciência formal. Então,
na verdade, a resposta a essa questão é complicada” (BORGES
NETO, 2003, p. 45 – 46).
Castilho (2003) também não se reporta à linguística considerando os
termos amplo e restrito. Entretanto, sua resposta detalhada revela a
preocupação sobre o que é ciência. “Bom se você está entendendo por ciência
a capacidade de problematizar as coisas, fazer perguntas, identificar um objeto
de preocupações, criar hipóteses prévias sobre esse objeto e verificar nos
dados se essas suas hipóteses encontram guarida, e se depois você reformula
suas hipóteses numa dialética (debate entre teoria e empirismo – experiência,
conflito) constante entre teoria e empiria, até o momento em que você vê certa
estabilidade nos seus achados, escrevendo ou falando sobre sua descoberta
bem, então você está fazendo ciência, e a linguística é uma ciência. Todos
esses passos são necessários para o trabalho linguístico.
Bagno6 em uma resenha sobre esta obra defende que esta traz
depoimentos que oferecem um panorama muito atual da diversidade e da
dinamicidade da ciência linguística no país. Entretanto nos alerta para um fato
muito relevante que é o de os 18 linguistas entrevistados se filiarem às mais
diferentes áreas específicas de atuação (fonética e fonologia, análise do
discurso, semântica, sintaxe, sociolinguística, linguística aplicada etc.) e
também a distintas escolas teóricas (formalistas, funcionalistas,
sociocognitivistas), sem que, no entanto, isso signifique que a multiplicidade
de filiações teóricas não corresponde a uma multiplicidade de filiações
institucionais. E Bagno esclarece:
6 BAGNO, M. A pluralidade viva da linguistica brasileira. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-24782003000300017&script=sci_arttext
60
Estruturalismos Linguísticos
Os 18 entrevistados se distribuem num total de apenas seis uni-
versidades, sendo que metade dos linguistas tem vínculos com
a UNICAMP. As outras universidades são a USP (2), a UFPR (2), a
UFPE (2), a UFRJ (1) e a UFJF (1). Se é verdade que a UNICAMP
representa hoje, no Brasil, o pólo mais ativo da pesquisa Linguística,
causa estranheza a ausência de nomes importantes vinculados a
outras instituições - como a UNESP, a PUC, a UFRGS, a UFMG,
a UFBA, a UnB, entre outras -, onde também se tem desenvolvido
uma Linguística teórica e aplicada de alta qualidade. Essas
ausências podem ser explicadas pelas vicissitudes inerentes à
organização de uma obra coletiva como essa.
O linguista finaliza sua asserção reivindicando a continuidade da
publicação de outros volumes que sejam uma sequência a essa oportuna
iniciativa, desejo que cremos é presente em todos os interessados nos estudos
de linguagem. E reforçando o comentário do linguista talvez seja realmente
uma demonstração de que em nossa área, infelizmente nem todos os seus
representantes, mesmo que ligados a uma instituição de ensino superior ainda
não consiga ultrapassar o bloqueio de publicação de suas ideias.
Glossário
O termo língua natural é usado para distinguir as línguas faladas por
seres humanos e usadas como instrumento de comunicação daquelas que
são linguagens formais construídas. Entre estas últimas contam-se as
linguagens de programação de computadores e as linguagens usadas pela
lógica formal ou lógica matemática. Na filosofia da linguagem de tradição anglo-
saxónica, o termo língua ordinária é por vezes usado como sinônimo da
língua natural. As linguas naturais são estudadas pela linguística e pela
inteligência artificial, entre outra disciplinas.
Fonte: http://pt.conlang.wikia.com/wiki/L%C3%ADngua_natural
61
FUESPI/NEAD Letras Português
A Competência Linguística - Na ótica de Chomsky é a capacidade
que o falante tem de a partir de um número finito de regras, produzir um núme-
ro infinito de frases. A Linguística textual, que ganhou projeção na Europa a
partir dos anos 70, teve inicialmente por preocupação descrever os fenôme-
nos sintáticos semânticos que ocorriam entre enunciados ou sequências de
enunciados. Na época de 90, muitas teorias do texto ganham força, variando
entre si pelo enfoque predominante de certos aspectos textuais, tais como:
critérios de textualidade e de processamento cognitivo do texto (BeauGrande
e Dressler), macrossintaxe do discurso (Weinricch), superestruturas e
macroestruturas textuais (Van Dijk), relacionamento entre a estrutura do texto
e a interpretação extensional do mundo que é textualizado em um texto (Petoffi).
Fonte: http://pt.shvoong.com/books/1745583-compet%C3%AAncia-lingu%C3%ADstica/#ixzz1NhFo2POz
Atividade Complementar
Faça uma pesquisa aprofundada que lhe permita montar uma rela-
ção de ramificações e subdivisões da linguística e liste os principais estudio-
sos de cada uma dessas áreas e faça um resumo indicando nestas subdivi-
sões ou ramificações da linguística, os principais estudiosos, os focos de
estudo, os países em que tais estudos estão sendo desenvolvidos e mais
algumas informações que você julgue importante e produza um texto em for-
ma de um ensaio. Peça a seu tutor, para que ele oriente a produção desse
texto e vá guardando elementos para o fichamento no final do livro, fazendo
assim você chegará ao final da disciplina com esse trabalho quase finalizado,
necessitando apenas de uma revisão e um pouco mais de aprofundamento
(do nível de maturidade) que será alcançado com as leituras que estão sendo
desenvolvidas por você. Vá em frente e sucesso!
62
Estruturalismos Linguísticos
Atividades de Aprendizagem
1) Faça um breve comentário a respeito de cada tópico enunciado a seguir,
tomando como base os seus estudos na unidade 2. E depois organize um
pequeno resumo da unidade que já irá servir para a tarefinha de montar um
fichamento no final de seu livro.
• Conhecimento racional;
• Conhecimento provável;
• Conhecimentos obtidos metodicamente;
• Conhecimentos sistematizadores;
• Conhecimentos verificáveis;
• Conhecimentos relativos a objetos;
• Conhecimentos de mesma natureza.
• Conceito de ciência para Trujillo.
• Os principais critérios de cientificidade;
• Um dos princípiosfundamentais da linguística moderna:
• A propriedade funcional das línguas está nas ...
• A linguística como outras ciências...
• Que linguistas definiram a linguística em sentido amplo e restrito e
quais as definições que eles apresentaram para a linguística?
• Como Marcuschi fez menção à contribuição de Chomsky?
63
FUESPI/NEAD Letras Português
Resumindo...
Nesta unidade, tratamos sobre o que é ciência. Nessa perspectiva,
Marconi e Lakatos (2010, p. 20 – 22) citam alguns conceitos que em seu
entendimento são incompletos, aos quais não nos deteremos pela sua
incompletude, e se referem a dois outros que se complementam. O primeiro a
ser elencado é o de Ander-Egg (1978, p.15) no qual se define que: “A ciência
é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos
metodicamente sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos
de mesma natureza.”
Como uma espécie de esclarecimento sobre cada um dos princípios
elencados na definição de ciência supracitada, as autoras definem cada um
deles conforme as alíneas de a a f.
E após a exaustiva enumeração, as autoras apresentam o segundo
conceito, que definem ainda como mais completo, que é o de Trujillo (1974, p.
8) no qual a ciência é definida como “... todo um conjunto de atitudes ativida-
des racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado,
capaz de ser submetido à verificação”.
As autoras deixam claro que para o desenvolvimento dos estudos de
uma ciência há que se obedecer a alguns critérios, que são denominados
critérios de cientificidade.
E assim, Dias e Fernandes (2000, p. 1-2) definem os critérios de
cientificidade, normalmente citados na literatura científica que são relevantes
para que compreendamos também os critérios aos quais qualquer ciência,
que queira obter respeitabilidade no meio científico, deve submeter-se das
alíneas a) à h).
Como podemos perceber, para que uma disciplina se instaure, isto
é, seja aceita na comunidade científica enquanto ciência, ela precisa estar
em conformidade com a concepção de ciência, com os critérios de
cientificidade.
64
Estruturalismos Linguísticos
Na segunda parte da unidade 2, tratamos sobre a Linguística enquanto
ciência e sua cientificidade, na qual, tratando sobre essa questão, Lyons (1981)
estabelece algumas distinções entre as concepções de linguagem alertando
para a tradução do termo language para referí-lo, especificamente, à faculdade
de comunicação humana. Este autor apresenta algumas definições de
linguagem, criticando-as. O autor destaca que para Chomsky (1957), o que
os linguistas descrevem ao investigar uma dada língua não é o desempenho
como tal (comportamento), mas a competência dos falantes. Nessa
perspectiva, a competência linguística de um indivíduo é seu conhecimento
de uma determinada língua. Lyons (1981) alerta que dizer-se que o linguista
se interessa pela língua significa que ele está interessado na estrutura dos
sistemas linguísticos, aqui podem estar contemplados, os aspectos
fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos e estilísticos.
Na terceira parte, tratamos sobre as noções de Língua e Fala,
destacamos como um dos princípios fundamentais da linguística moderna o
fato de a língua falada ser mais básica do que a escrita, mas isto não significa
que a língua deva ser identificada com a fala.
E por fim, para tratar sobre a linguistica e sua definição nos sentidos
amplo e restrito, faz-se um resumo da obra Conversa com linguistas: virtudes
e controvérsias, organizada por Antônio Carlos Xavier e Susana Cortez, na
qual tem-se inclusive uma amostra das opiniões de linguistas acerca de
questões bastante interessantes para a Linguística. Várias perguntas foram
feitas aos lingüistas, mas nos centramos apenas na questão que se referia à
definição de linguistica em sentido amplo e restrito.
As entrevistas constantes da obra concentram-se na própria linguística
e na diversidade de definições para os mesmos fenômenos. Ao aceitarem
responder sempre às mesmas perguntas, linguistas de várias áreas dos
estudos da linguagem e filiados às mais diferentes correntes e escolas
linguísticas fazem um produtivo debate assíncrono, uma espécie de variação
sobre o mesmo tema, que permitirá aos leitores compreender melhor a
65
FUESPI/NEAD Letras Português
linguística no Brasil.
Bagno em uma resenha sobre esta obra defende que esta traz
depoimentos que oferecem um panorama muito atual da diversidade e da
dinamicidade da ciência linguística no país. Entretanto nos alerta para um fato
muito relevante que é o de os 18 linguistas entrevistados se filiarem às mais
diferentes áreas específicas de atuação (fonética e fonologia, análise do
discurso, semântica, sintaxe, sociolinguística, linguística aplicada etc.) e
também a distintas escolas teóricas (formalistas, funcionalistas,
sociocognitivistas), sem que, no entanto, isso signifique que a multiplicidade
de filiações teóricas corresponda a uma multiplicidade de filiações
institucionais. E Bagno faz importantes considerações acerca da obra, bem
como da necessidade de sua continuidade.
OBJETIVOS
• Identificar os estudos linguísticos anteriores aos estudos
saussurianos.
• Identificar os pontos de contato e os pontos de distanciamento
entre as fases e movimentos de estudos linguísticos.
• Destacar as afinidades e as distinções entre os estruturalismos.
UNIDADE 3
Estudos da linguagem
69
FUESPI/NEAD Letras Português
3 Os estudos da linguagem anteriores a Saussure
O historicismo é considerado normalmente como característico de
um período anterior ao pensamento linguístico. Sua importância nesse contexto
é a de ter preparado o campo para o estruturalismo. Em 1922 Otto Jespersen
escreveu a obra A característica distintiva da ciência da linguagem. Esta obra
preparou o terreno para o estruturalismo. Bloomfield criticou esta obra pelo
seu historicismo, mentalismo e pela substituição da generalização indutiva,
com base no estudo descritivo da linguagem e pelo que denominou
“pseudoexplicações filosóficas e psicológicas”.
O descritivismo bloomfieldiano foi considerado uma versão
peculiarmente americana do estruturalismo, que forneceu ambiente para o
Gerativismo Chomskyano, contra o qual este reagiu.
O estruturalismo europeu, conforme Lyons (1981) tem origem múltipla,
mas é conveniente dar como marco de seu surgimento a publicação do Cours
de Linguistique Générale, de Saussure, em 1916.
Os neogramáticos defendiam que a linguística sendo científica e
explicativa tinha também que ser histórica. A esse respeito, a posição de
Saussure era de que os modelos de explicação sincrônica e diacrônica eram
complementares e que este último era dependente daquele do ponto de vista
lógico.
Saussure esclareceu que não se pode conceber uma língua como
uma nomenclatura, isto é, como um conjunto de nomes ou rótulos, para
conceitos preexistentes ou significados. Isso significava dizer que as coisas
não existem antes dos nomes.
O ponto de vista de Saussure tem vínculo com a tese da relatividade
linguística, segundo a qual toda língua é uma lei em si mesma. Os
estruturalismos do século XX têm mantido essa tradição relativista. Somente
Chomsky e seus seguidores se opuseram ao relativismo filosófico e ao
metodológico.
70
Estruturalismos Linguísticos
O estruturalismo é um movimento interdisciplinar e o estruturalismo
saussuriano tem sido uma força poderosa no desenvolvimento de uma
abordagem francesa da semiótica e na sua aplicação à crítica literária, por
um lado e à análise da sociedade e da cultura, por outro.
Há uma afinidade natural entre o estruturalismo e a matemática e uma
das críticas mais comumente feitas ao estruturalismo é que ele exagera a
organização, a elegância e a generalidade dos padrões relacionais dos dados
que investiga.
Uma importante contribuição de Faraco (2004, p. 27) acerca dos
estudos da linguagemtrata-se da elucidação que este brilhante autor faz
quando destaca que: “Os manuais de história da linguística, entendendo por
linguística moderna os estudos sincrônicos praticados intensamente durante
o século XX em contraste com os estudos históricos, que predominaram no
século anterior”.
O autor realmente chama-nos a atenção para a confusão que é
estabelecida entre a vinculação da linguística moderna e as ideias de Saussure.
Nesse caso, o que devemos observar é que o início dos estudos tributados à
linguistica moderna, os estudos sincrônicos, somente tiveram impacto com a
publicação do Curso de Linguística Geral, que somente fora publicado em
1916, três anos após a morte de Saussure. Algumas vezes percebemos
historiadores fazendo certo esforço para organizarem, didaticamente, seus
estudos e muitas vezes, desejando alocar o desenvolvimento do historicismo
em um século, e o sincronismo em outro século, o que consiste num equívoco,
pois nem a bem da didaticidade de um determinado estudo podemos falsear
os fatos. E quanto aos estudos da linguagem, ao contrário do que se possa
ilustrar, esses estudos não ocorreram tão harmoniosamente como alguns
manuais de história da linguística.
Para enfatizar a cronologização dos estudos da linguagem, cabe-nos
trazer o relato em que Faraco (2004) ainda nos traz um alerta quando defende
que as ideias saussurianas somente se publicizaram em teses de inspiração
71
FUESPI/NEAD Letras Português
saussuriana a partir de eventos tais como o Primeiro Congresso Internacional
de Linguística, (Haia, 1928); a Primeira Reunião Fonológica Internacional
(Praga, 1930).
E mais interessante ainda é a forma como Faraco alude à continuidade
do modo de fazer linguística do século XIX, presente nos estudos saussurianos,
no que tange ao posicionamento de mostrar que a língua deveria ser tratada
exclusivamente como forma, sem preocupação com a sua substância.
Devemos compreender que isso não era um desprezo pela substância, mas
uma escolha metodológica para a observação e a investigação do objeto de
estudo. Quando Saussure fez essa, escolha ele não estava negando a
relevância dos estudos da substância, mas apenas, restringindo o estudo da
forma, que por si já era bastante extenso e complexo para a linguística nos
moldes em que pensara o estudo da então ciência linguística, que à época
talvez nem se imaginasse fosse ter tantas e profícuas ramificações como as
têm atualmente.
Faz-se importante também ressaltar conforme Faraco (2004), a
relevância dos estudos de A. Scheleicher (1821-1867) dos quais Saussure
era simpatizante, no que se refere a sua forte formulação naturalista, recebida
de W. Whitney (1827-1894), cuja transcrição está na própria obra póstuma e
nos manuscritos de suas aulas, no tocante à ideia da língua como instituição
social.
O desenvolvimento dos estudos da linguagem deve ser visto não
somente na perspectiva cronológica, mas também na perspectiva
metodológica. Isso significa que os estudos linguísticos evoluíram do século
XIX para o século XX, não somente de um tempo para o outro, mas de uma
metodologia para outra (diacrônica para a sincrônica), de forma gradual, sem
abandonar abruptamente um método, mas adquirindo um outro método,
conforme a necessidade de evolução, a fim de abarcar os fenômenos
estudados. E se você ainda lembra um pouquinho do que leu no primeiro
capítulo, Cosériu (1980) destacou muito bem que os mesmos fatos linguísticos
72
Estruturalismos Linguísticos
foram estudados muitas vezes, e muitos deles ainda o são, até hoje, porque
este é um dos aspectos obrigatórios da ciência, isto é, ser exaustiva, no sentido
de estudar um fenômeno até que as questões acerca deste estejam esgotadas,
ou pelo menos se tenha chegado próximo disso. Assim, devemos, mais do
que nos preocupar com rótulos, atentarmos para os fenômenos estudados.
A respeito da evolução que tratamos no parágrafo anterior e da ideia
saussuriana de que a língua é um sistema de signos independente , é relevante
que leiamos a tese de Faraco (2004, p. 28 – 29) em suas próprias palavras:
Nossa tese aqui é, portanto, que a possibilidade dessa formulação
de um sistema de signos independente resultou basicamente do
senso de sistema e das características do trabalho empírico
realizado desde o manifesto de William Jones (1746-1794) em 1786,
o marco simbólico do início da linguística como ciência.
O autor se reportava à antiga tradição dos estudos da linguagem
serem tratados em projetos que sempre relacionavam a língua com outros
interesses, aos quais o autor exemplifica citando a retórica, a lógica e a poética
dentre outras áreas. E o faz para ressaltar que foi a partir da linguística
comparativa e da histórica que se estudou a língua como Saussure pretendia,
a língua estudada “em si e por si mesma”. Este ainda refere-se a William
Jones (1746-1794) para salientar sua importante contribuição em se tratando
da apresentação de sua comunicação à Sociedade Asiática de Bengala, que
destacava as inúmeras semelhanças entre o sânscrito, o latim, o grego, o
céltico, o gótico e o persa antigo, às quais o autor da comunicação atribuía
uma origem comum, um parentesco. A partir da apresentação dessa
comunicação, inúmeros foram os trabalhos surgidos acerca do sânscrito.
O método comparativo nasce a partir dessa primeira tese de
parentesco das linguas indo-europeias que foi marcante nos estudos da
linguística histórica. E trabalhos como o de Bopp, de Jacob Grimm (1785-
1863) e de Friedrich Diez (1794-1876) muito contribuíram para o
desenvolvimento de tais estudos.
73
FUESPI/NEAD Letras Português
Inaugurando uma postura mais naturalista nos estudos histórico-
comparativos, A. Schleicher (1821-1867) propôs uma tipologia das línguas e
uma “árvore genealógica” das línguas indo-europeias, propondo a reconstrução
da língua original indo-europeia, que atualmente é designada como proto-indo-
europeu e ainda conseguiu o importante feito de ter sido o primeiro a estudar
uma língua indo-europeia (lituano) a partir da fala e não de textos escritos,
ponto de suma relevância para a metodologia dos estudos de linguística em
geral.
A partir dos fins do século XIX, surge uma importante escola no cenário
dos estudos linguísticos: os neogramáticos, que representavam uma geração
de linguistas oriundos da Universidade de Leipzig, que questionava os
pressupostos tradicionais da prática histórico-comparativa e propunha uma
orientação que buscava a interpretação da mudança linguística a partir de um
conjunto de pressupostos metodológicos.
Dentre os neogramáticos com trabalhos de maior relevância tem-se,
conforme Faraco (2004): Herman Osthoff (1847-1909) e Karl Brugmann (1849-
1919), responsáveis pela fundação da revista Morphologiscen Untersuchungen
(Investigações Morfológicas), que introduziu uma orientação psicológica
subjetivista na interpretação dos fenômenos da mudança linguística e Herman
Paul (1846-1921), que publicou o manual do pensamento neogramático que
fora publicado em 1880, e republicado inúmeras vezes com revisões e
ampliações, tendo sido texto de referência para a formação de linguistas nas
primeiras décadas do século XX; dentre outros.
É relevante destacar o posicionamento de Faraco (2004, p. 38) ao se
referir aos estudos realizados pelos neogramáticos:
Por último, cabe questionar o psicologismo e o subjetivismo que
estava na concepção dos neogramáticos. Essa redução da língua
à psique individual simplifica as questões que estão envolvidas na
constituição e funcionamento da psique, em especial, a tensão
entre o social e o individual.
74
Estruturalismos Linguísticos
O autor ressalta um ponto de considerável relevância para os estudos
da ciência linguística que é a redução da língua à psique individual. Esse foi
um problema não somente experimentado pelos neogramáticos, mas por
outros grupos de estudiosos da linguagem que restringiam o desenvolvimentoda linguagem a um ambiente interno (mental) da linguagem como se esta se
realizasse apenas na esfera mental, desprezando a sua realização no âmbito
social. E o mais grave de uma postura como essa seria considerar a língua
como se a sua realização não recebesse influência de fatores externos desde
os sociais até os físicos.
Faraco (2004) ainda se reporta a Whitney e Humboldt para
complementar sua relação sobre as principais contribuições quanto aos
estudos da linguagem no século XX. A Whitney (1827-1894) são atribuídas
características como o fato de ser um dos primeiros linguistas a se ocupar
dos estudos de linguística geral, bem como das línguas indígenas da América
do Norte e ainda, o argumento de que se pode perceber uma espécie de
diálogo entre Saussure (o do Curso e o dos manuscritos) Whitney. Para
comprovar isso, o autor cita alguns trechos do CLG e dos manuscritos de
Saussure e de alguns trabalhos de Whitney, que tratou sobre a arbitrariedade
dos signos da linguagem ainda em 1875, em seu livro The life and growth of
language antes de Saussure. A respeito da questão da arbitrariedade da
linguagem Saussure (1916, p. 90) elogia o tratamento da linguagem como
arbitrária, mas complementa a posição de Withney, destacando que ele não
percebera que esta característica “separa radicalmente a língua de todas as
outras instituições”. E a Wilhelm Von Humboldt (1767-1835) é atribuído o
tratamento da língua da maneira mais diferente que já havia sido feito em toda
a história dos estudos da linguagem, isto é, como energeia (atividade), ou
seja, o trabalho mental de elaborar a expressão da linguagem. A diferença
básica na concepção de língua de Humboldt estava no seu posicionamento
de que a língua era composta de forma, mas não a forma gramatical presente
na parte das concepções de língua.
75
FUESPI/NEAD Letras Português
Vejamos no próximo tópico um pouco mais de estudos da linguagem,
só que agora sob a ótica do Estruturalismo Europeu.
3.1 Estruturalismo Europeu
É praticamente impossível pensar-se em estruturalismo sem pensar-
se em Saussure. Este fora um dos mais importantes métodos de estudo da
linguagem enquanto ciência, além de ter sido um objetivo muito caro e sofrido
para o linguista suíço Loius Ferdinand de Saussure.
Denominamos sofrido porque não distintamente do que ocorre com
aqueles que buscam fazer ciência foi assim que o linguista suíço conseguiu
instaurar o signo da linguística moderna. Weedwood (2002, p. 125) apresenta
um pouco do conflito que geraria esse sofrimento, quando defende que no
século XX poderá ser percebida a mesma tensão ocorrida em épocas
anteriores entre os focos de estudo da linguagem denominados de foco
“particularista” e “universalista”. A autora ainda ressalta que a referida tensão
aparece explicitamente nas dicotomias langue/parole; significado/ significante,
de Saussure e competência/desempenho; estrutura profunda/estrutura de
superfície, de Chomsky. E isso também se justifica quiçá pelo fato de em ambos
os autores o objeto da linguística ser visto sob o viés do elemento “abstrato”,
“universalista”, “sistêmico” e “formal” (langue, para Saussure e competência,
para Chomsky).
O estruturalismo aqui será pensado na ótica dos estudos linguísticos
no que se reporta ao estruturalismo europeu e ao americano, dois contextos
que, com certeza, influenciam em muito os estudos linguísticos desenvolvidos
em seus contextos específicos.
Weedwood (2002, p. 125) esclarece que, embora seja comum a
afirmação de que a linguística estrutural tenha início em 1916 com a publicação
póstuma do Curso de Linguística Geral de Saussure, já se havia visto muito
do que hoje é atribuído a Saussure em trabalhos anteriores a 1916, da autoria
76
Estruturalismos Linguísticos
de Humboldt. E, além disso, os trabalhos que Saussure desenvolveu no âmbi-
to da linguística sincrônica já haviam também sido aplicados pelo próprio
Saussure, em um trabalho que ele desenvolvera para a reconstrução do
sistema vocálico indo-europeu, obra publicada em 1879, da qual já tratamos
no 1º capítulo deste livro, que não fora considerada à época em função do
foco para o qual os estudiosos em linguística estariam voltados naquele
momento.
Pode-se resumir o estruturalismo de Saussure em duas dicotomias.
A primeira dicotomia langue em oposição a parole e a segunda, forma em
oposição à substância. A langue em Saussure, conforme Weedwood (2002)
significa língua em geral, mas este termo fica mais bem traduzido por “sistema
linguístico”, designando a totalidade de regularidades e padrões de formação
que subjazem aos enunciados de uma língua enquanto que o termo parole,
nesta perspectiva pode ser traduzido por comportamento linguístico,
designando os enunciados reais. Pode-se afirmar a partir disso que na visão
de Saussure, a interpretação de uma peça musical por duas orquestras
diferentes, em ocasiões diferentes vão diferir em uma série de detalhes
embora, contudo sejam identificáveis como interpretações da mesma peça
assim como dois enunciados vão diferir de várias maneiras, embora também
possam ser reconhecidos como ilustrações do mesmo enunciado. O que há
de ponto comum entre ambos os objetos utilizados por Saussure para construir
tal comparação, é a identidade de forma, que em princípio é independente da
substância ou matéria bruta sobre a qual é imposta.
Ilari (2004) trata de forma muito didática sobre o estruturalismo,
afirmando que o referido movimento teve um impacto muito grande sobre os
estudos da linguagem no Brasil, cujo advento coincide com o período do
reconhecimento da linguística como disciplina autônoma. Ao tratar sobre a
influência do estruturalismo no Brasil, o linguista destaca que:
[...] muitos professores e pesquisadores que, naquela altura, já
tinham uma larga experiência de investigação, foram atraídos pela
77
FUESPI/NEAD Letras Português
nova orientação e a utilizaram para sistematizar suas doutrinas (o
caso mais célebre é o de Mattoso Câmara Jr.); muitos jovens que
se interessavam por literatura e haviam sido ensinados a encarar a
linguística como uma disciplina auxiliar no estudo da poesia e da
prosa literária inverteram suas prioridades, e passaram a encarar a
descrição linguística como um objetivo autônomo; e muitos
estudantes que chegavam então à universidade tiveram a ilusão
(compreensível) de que os estudos da linguagem sempre haviam
sido objeto de uma disciplina chamada linguística, identificada pura
e simplesmente como a linguística estrutural. (ILARI, 2004, p. 53)
É imprescindível que reflitamos que quando se fala em Brasil e em
Mattoso Câmara Jr, a impressão é de que todas as universidades viveram a
mesma realidade retratada por Ilari (2004). Infelizmente, esta não é uma
realidade para aqueles que estudaram e trabalharam naquela época nas
universidades do Nordeste, mais especificamente, no Piauí. As informações
chegam um pouco mais lentamente fora do eixo Rio/São Paulo. Desse modo,
para muitos de nós, professores e alunos, a essência dessas teorias já nos
vieram em forma de estudo e não de vivência. E talvez, por isso mesmo ainda
nos identifiquemos com estudos de cunho mais estruturalista ou pelo menos
com alguma influência deste movimento. Embora se afirme atualmente que
poucos são os estudiosos da linguagem que se identifiquem como
estruturalistas.
Mattoso Câmara Jr.
Fonte: http://www.filologia.org.br/xicnlf/homenageado-g.jpg
78
Estruturalismos Linguísticos
Ilari (2004, p. 54) corrobora nossa reflexão acerca da lentidão que as
informações chegam ao eixo Rio/ São Paulo. E quando lermos as palavras
deste lúcido semanticista ressaltando que a adesão ao estruturalismo não
fora tão harmoniosa como pode parecer quando estudamos os movimentos
obedecendo a uma cronologia, perceberemos que muitas vezes este eixo
(norte/nordeste) nem sequer parece existir.
Repetindo uma história que é bastante comum no desenvolvimento
dasciências, o estruturalismo linguístico se impôs no Brasil
vencendo as resistências de outras tradições de análises, e acabou
ele próprio, sendo superado pelas novas tendências de uma
disciplina que tinha contribuído para consolidar. Nessas
circunstâncias, isto é, em contraste com as orientações que se
opuseram historicamente a ele, tendemos a pensar no estruturalismo
linguístico como um movimento uniforme e coeso, mas no que
concerne ao Brasil é preciso considerar dois focos de irradiação
distintos, localizados respectivamente no Rio de Janeiro e em São
Paulo.
Como não podemos ver a evolução do estruturalismo nem mesmo de
forma regional, vamos voltar a percebê-la na esfera nacional, mas reflitamos
que, exatamente em função da nossa condição geográfica devemos estar,
nós professores e alunos das regiões norte e nordeste, muito mais ávidos por
pesquisar e ler muito, inclusive, ler em outros idiomas para que não fiquemos
à margem das informações da evolução dos estudos que nos propomos a
acompanhar.
No Rio de Janeiro, o linguista citado para marcar os estudos é Mattoso
Câmara Jr, que atuou desde a década de 1930, sendo destacado por Ilari
(op.cit) por ter estudado e lecionado na América do Norte num momento em
que a universidade brasileira vivia sob a influência da ciência europeia; por
ter sido ainda um profundo conhecedor da linguística produzida nos dois
continentes, no período entre as duas guerras. E ainda por ter praticado a
fonologia na linha do estruturalismo de Praga, tendo sido até o fim de sua vida
um discípulo dessa orientação, mas nem por isso deixando de divulgar as
79
FUESPI/NEAD Letras Português
ideias dos linguistas americanos, em especial de Edward Sapir (um dos prin-
cipais precursores do estruturalismo americano) e de Roman Jakobson.
Já em São Paulo, o destaque ficou para os cursos de graduação e
pós-graduação da USP, onde atuaram, no final da década de 1960, dentre
outros Eni Orlandi, Izidoro Blikstein e Cidmar Teodoro Paes, representantes
de uma geração de professores formada por antigos bolsistas retornados da
França, que criaram condições para a leitura de autores como Hjelmslev, André
Martinet, Bernard Potier, Roland Barthes e Greimas, além, do mestre de todos
estes referidos, Ferdinand de Saussure.
Mais relevante ainda do que todos os nomes que agora cremos ficar
mais claro para você, caro aluno, agora guardar na sua mente e que estão
ligados ao estruturalismo americano são as distinções com que Ilari (2004)
nos presenteia e que buscaremos trazê-las da forma mais adequada para a
sua compreensão.
Uma contribuição que o supracitado autor nos traz é aquela celeuma
de que o Curso de Linguística – CLG não representava o verdadeiro
pensamento do mestre genebrino, e com o propósito de relatar, como o faz
de forma imparcial, traz os nomes dos autores e respectivos títulos das obras
que tratavam sobre esse assunto, aos quais não nos deteremos aqui por falta
de espaço e de tempo. Nesta perspectiva, apenas nos limitaremos a concordar
com Ilari ao destacar a importância da obra, das críticas e contribuições com
que fomos presenteados ao longo do tempo em que vários autores se
esforçaram para mostrar as verdadeiras ideias do mestre genebrino, o que
só serviu para conferir mais magnitude às ideias saussurianas.
Significativo para nosso estudo é acompanharmos o raciocínio de
Ilari (2004, p. 57-67) para apresentar o tópico de seu artigo intitulado o
saussurianismo, que organizamos de modo que lhes fique mais didática a
leitura e mais sistemática a compreensão.
O mestre genebrino elegeu uma noção central para a compreensão
do fenômeno linguístico, que foi a noção de valor que fora apresentado numa
80
Estruturalismos Linguísticos
de suas últimas aulas, o que segue um raciocínio bastante lógico que se
constrói, gradualmente, de forma modular, no sentido de que cada conceito
trabalhado pelo mestre auxilia a compreensão e o trabalho com os conceitos
vindouros. E é a partir da compreensão dos conceitos, das distinções já
trabalhados em sua teoria, as famosas dicotomias: língua x fala; forma x
substância; a noção de pertinência; e as noções de significante, significado e
signo que a noção de valor será então compreendida.
Para tratar sobre a distinção língua x fala Saussure chegou refletindo
sobre várias situações do dia a dia, uma das quais foi o jogo de xadrez, no
sentido de que esta é uma situação organizada por regras, como a linguagem
também o é, tanto no ponto de vista da produção de linguagem quanto no
ponto de vista da organização mental dessa produção. A ideia de que no jogo
de xadrez são possíveis certas jogadas, mas não outras, conduz à valorização
daquilo que não se observa, “a regra do jogo” ao conjunto sempre limitado de
jogadas que efetivamente se realizam quando o jogo acontece. Esse raciocínio
nos leva a mais fundamental das oposições saussurianas, a que se estabelece
entre língua e fala, ou seja, entre o sistema e os possíveis usos do sistema.
Além disso, restringiu-se aqui que a regra do jogo, ou o sistema é que deveria
ser o objeto específico de estudo da pesquisa linguística e não as mensagens
do referido sistema. Talvez, por isso mesmo não se trabalham exemplos, mas
poderíamos pensar em exemplos de jogadas possíveis e impossíveis (ou não
usuais) na língua portuguesa. Jogando somente com o critério sintático, por
exemplo, podemos pensar que a estrutura da oração na língua portuguesa é
representada por SN - sujeito + SV predicado + Objeto direto/indireto
complementos. Nesse raciocínio, não se usa na língua portuguesa uma oração
ou sentença estruturada na seguinte ordem: gosta Maria de chocolate biscoito
e, quando o que se quer expressar é: Maria gosta de chocolate. E, apesar de
não existir em nenhuma parte de nossas gramáticas uma seção destinada ao
modo como se deve estruturar uma oração, que determine esta última
organização, existem regras implícitas, (talvez em estrutura profunda da
81
FUESPI/NEAD Letras Português
linguagem) que não permite que nenhum usuário seja ele com alto nível de
escolaridade, baixo ou sem nenhum nível de escolaridade realize uma
construção agramatical como em: chocolate de Maria a. Por cada uma das
inúmeras e específicas regras correspondente a cada um dos critérios que
norteiam a estrutura da língua portuguesa, especificamente, no caso ao que
estamos nos referindo: o critério morfológico, o sintático, o semântico. Mas
se pensarmos em outras línguas como o inglês ou latim, as regras já se
modificam e as situações também. É importante ressaltar que Saussure opôs
claramente o sistema entendido como entidade abstrata e os episódios
comunicativos historicamente realizados.
A delimitação do objeto de pesquisas linguísticas feita por Saussure
foi considerada uma decisão muito radical para a época, trazendo, inclusive
muitas consequências, pois aquela era um postura totalmente oposta ao que
era usual na época como também se opunha à forma de pesquisa de Saussure
durante toda a sua vida. Para explicar melhor as consequências da decisão
do mestre genebrino, que era um grande professor de filologia germânica e
de história das línguas européias, Ilari (2004, p. 58) distingue as figuras de um
filólogo e um linguista:
Simplificando muito, o filólogo vale-se de quaisquer conhecimentos
pertinentes (inclusive os linguísticos) para colocar à nossa
disposição a melhor explicação possível sobre a forma original de
um texto antigo e sobre a interpretação que o autor esperava para
ele no momento em que foi escrito. Já o linguista, quando dirige
sua atenção para textos específicos, tende sobretudo a usá-los
como evidência de que, no momento em que forma produzidos, o
sistema linguístico oferecia aos usuários da língua determinadas
possibilidades (sintáticas, semânticas, fonéticas, ortográficas), e
de que esse modo de ser do sistema é que permitiu dar às
mensagens determinadas formas e interpretações.As palavras citadas podem corroborar a novidade proposta por
Saussure, inclusive para o próprio mestre que se adequaria em ambas as
funções de filólogo e de linguista como já se elucidara. Sua proposta é que os
82
Estruturalismos Linguísticos
estudos, as pesquisas deveriam restringir-se ao sistema e não às realiza-
ções que neste fossem possíveis. A exemplo do posicionamento de Saussure
pode-se citar ainda o de Chomsky, que mesmo se opondo ao saussurianismo,
quando propôs a teoria linguística gerativa, restringiu também o estudo da
competência e não do desempenho.
A oposição entre os atos linguísticos concretos e o sistema que lhe
serve de suporte ficou conhecida como a oposição língua/fala (ou oposição
langue/parole). E é com base nessa oposição que Saussure qualificou a
língua como um fenômeno social e caracterizou a linguística como um ramo
da psicologia social. Nesta perspectiva, em seu entendimento, os indivíduos
utilizavam a linguagem por iniciativa pessoal, mas suas ações verbais só
tinham os efeitos que tinham devido à existência de um sistema que o usuário
compartilha com os outros usuários da comunidade linguística de que fazia
parte.
Como contribuição mais marcante da instauração da distinção língua/
fala, tivemos a consequente forma de focar especialmente a separação entre
a dimensão individual e a dimensão social do funcionamento da linguagem. E
assim, os linguistas estruturalistas entenderam que seria necessário tratar
separadamente do comportamento linguístico das pessoas e das regras a
que esse comportamento obedece, mas ainda entenderam que o uso individual
da linguagem (a parole) não poderia ser objeto de um estudo realmente
científico, chegando-se ao extremo de dar total atenção às regras do jogo, ou
seja, ao sistema, relegando os episódios do uso desse sistema a uma divisão
dos estudos linguísticos em mais uma das ramificações da linguística, aqui
colocada como uma divisão secundária, a disciplina linguística da fala, ou
“estilística” à qual coube a tarefa qualificada como “menos nobre” de legislar
sobre fatos sujeitos a uma realidade precária.
Para referir-se à metáfora do jogo e do conceito de valor o autor explica
a correlação entre o jogo e a linguagem alertando para a possibilidade de
substituição de uma peça do tabuleiro de xadrez que tenha sido extraviada
83
FUESPI/NEAD Letras Português
por qualquer objeto e continuar-se jogando sem problemas, devendo apenas
para isso, ser convencionado que a peça improvisada (um botão, uma pedra,
uma tampa) representará a que se extraviou. Essa possibilidade ilustra de
forma significativa a importância do regulamento do jogo, que por sua vez,
enfatiza mais do que o material de que são feitas as peças com que se jogue
o importante mesmo é a função atribuída a essas peças. Em analogia, pode-
se inferir que o raciocínio e as conclusões dele advindas levaram Saussure a
mais uma de suas relevantes teses sobre os estudos linguísticos, isto é, que a
descrição de um sistema linguístico não é a descrição física de seus
elementos, e sim a descrição de sua funcionalidade e pertinência. Os
fonólogos fizeram, conforme Ilari (2004), um uso exemplar desse princípio e
centraram seus estudos com base na compreensão de que o levantamento
das unidades fonológicas de uma língua precisa ser feito distinguindo em
primeiro lugar as diferenças de pronúncia que são apenas físicas
(articulatórias ou sonoras) daquelas que significam uma diferença de função.
Para exemplificar tal tese, é citado o caso de diferenças de pronúncia que
podem ser desprezadas, visto que não representam mudança funcional, como
é o caso da pronúncia da palavra rato, que na pronúncia típica de um gaúcho,
a consoante inicial vibrante apicoalveolar produzida pela vibração da ponta
da língua junto à parte interna dos dentes; na fala de um paulista ou de um
carioca, o r é ao contrário uma consoante velar. Do ponto de vista da fonologia,
essas duas produções distintas não interessam, porque levarão as mesmas
unidades linguísticas, sem nenhuma alteração de função. Mas cabe atentar-
se para o fato de que quando as produções alterarem elementos que vão
fazer a distinção não somente do som, mas também do significado, aí se
deve levar em conta a distinção porque há contextos em que a mesma
propriedade física (+ sonoro/ - sonoro) pode ter função linguística a depender
do contexto em que está sendo realizada. Como exemplo dessa distinção, é
citado o caso das palavras enviar e enfiar (/v/ # /f/). Nesse caso a troca das
consoantes altera o significado das palavras, pois se têm respectivamente os
84
Estruturalismos Linguísticos
significados de “despachar, remeter, mandar” e “introduzir num orifício”. E,se
quisermos nos aprofundar nas exemplificações, tem-se que uma mesma
diferença física pode não ser portadora de distinção em uma língua e não o
ser em outra. Acerca do que fora exposto, cabe-nos observar que tal raciocínio
leva-nos à noção de relevância ou pertinência nos estudos linguísticos.
A noção de pertinência estabelecida por Saussure explica a
popularidade que gozou na linguística estruturalista o procedimento de análise
conhecido como teste do par mínimo, que consiste, em última análise, em
apontar um contexto ou ambiente linguístico mínimo em que uma diferença de
forma é correspondente a uma diferença de função, como é o caso das palavras
citadas no parágrafo anterior enviar e enfiar, nas quais o (/v/ # /f/) representam
um par mínimo.
A assimilação da noção de pertinência leva-o à tomada de decisão
de excluir do campo de estudos linguísticos algumas informações que a
tradição gramatical tratara com bastante atenção. Acerca dessa tomada de
decisão, Ilari (2004) ressalta aquela que fora operacionalizada por parte do
linguista dinamarquês Hjelmslev, que elaborou a distinção feita anteriormente
por Saussure entre forma e substância. Esse linguista conseguiu operacionalizar
a intuição saussuriana com relevantes acréscimos e chamou de forma tudo
aquilo que uma determinada língua institui como unidades através da oposição.
Ele opôs a forma à substância definida como suporte físico da forma que tem
existência perceptiva, mas não necessariamente linguística. Para ilustrar,
podem-se elencar as diferenças nas palavras caro e carro, que apresentam
diferença de substância e de forma, mas entre as duas pronúncias possíveis
em português do Brasil para carro (velar ou apical) há apenas uma diferença
que de substância. O acréscimo feito por Hjelmslev nessa teoria foi o das
noções de plano da expressão e plano do conteúdo, através do qual conseguiu
chegar a um mapa por meio do qual é possível delimitar com muita clareza a
definição de língua com a qual os estruturalistas trabalharam.
Ainda, acerca da noção de pertinência, ou mais especificamente, das
85
FUESPI/NEAD Letras Português
consequências de seu emprego nos estudos linguísticos, Ilari (2004, p. 61)
defende de forma muito feliz a relevância desta noção:
Uma vez assinalada a ideia de pertinência, chega-se naturalmente
à decisão de querer considerar como objetos de análise apenas
aqueles elementos da fala que podem ser considerados como
pertinentes, no sentido que acaba de ser caracterizado. Falar em
pertinência, no caso, significava excluir como não linguísticas uma
série de informações que a tradição gramatical, a linguística histórica
de inspiração neogramática e a fonética experimental do século
XIX (representada por autores como Abad Rousselot) tinham
considerado com bastante atenção. A maneira mais feliz de formular
essa exclusão foi a representação a que chegou o linguista
dinamarquês Luis Hjelmslev, elaborando a distinção feita
anteriormente por Saussure entre forma e substância. (grifos
nossos)
Os grifos que fizemos na citação anterior são propositais, porque estas
palavras destacadas enunciam conceitos saussurianos que se modificaram,
tornando-se mais compreensíveis na leiturade Hjelmslev, que por sua vez
acrescentou à distinção saussuriana forma x substância as distinções que
formulou de forma genial, entre expressão e conteúdo, entrecruzando-as de
tal forma que elaborou um mapeamento da definição de língua com que
trabalharam os estruturalistas. Assim tanto a forma quanto a substância
passaram a ter representados os seus planos da expressão e plano do
conteúdo. Transcrevo novamente as próprias palavras de Ilari (2004, p. 61) e
o mapa, por meio do qual ele explicou muito bem essa operação feita por
Hjelmslev.
Fonte: Ilari (2004, p. 61) in: Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos, volume 3
Expressão
Conteúdo
Forma
Forma da Expressão
Forma do Conteúdo
(1)
(3)
Substância da expressão
Substância do conteúdo
(2)
(4)
Substância
86
Estruturalismos Linguísticos
Para o linguista estruturalista, os quatro campos identificados como
(1), (2), (3) e (4) sempre existem quando há linguagem; mas apenas
a parte cinza tem interesse linguístico, por exemplo, a substância
da expressão identificada com os sons da fala é encarada sem
hesitação como o assunto de uma disciplina não-linguística – a
fonética – à qual se atribui, no máximo, um caráter auxiliar. Por
sua vez, a substância do conteúdo, identificada com o pensamento,
é deixada aos cuidados de várias disciplinas científicas ou
filosóficas, que tratarão de estudar a realidade empírica e a maneira
como é conceitualizada; esse trabalho de conceitualização sempre
existe, mas se torna “visível” para o linguista quando se traduz em
diferenças que possam ser capturadas em testes de pertinência
(ILARI, 2004, p. 61).
A distinção plano da expressão e plano do conteúdo acrescentada
por Hjelmslev à distinção saussuriana forma x substância, além de esclarecer
a relação entre a forma e a substância a que Saussure se refere ao tratar das
dicotomias é bastante elucidativa porque complementa de forma muito lúcida
dois conceitos que não ficam muito claros quando lemos somente na ótica
saussuriana. E nós, professores, quantas vezes nos vimos na dificuldade de
tornar essas noções mais didáticas e fazer com que nossos alunos
apreendessem e relacionassem tais conceitos com os estudos sobre a língua.
Hjelmslev cumpriu muito bem a tarefa de clarear essa correlação que não se
fazia tão fácil sem o acréscimo por ele proposto. E ao tratar da questão
supramencionada, recaímos novamente na questão da pertinência, que Ilari
(2004) ilustra com alguns exemplos aos quais não nos reportaremos mais por
entendermos que a pertinência já fora aqui tratada de forma satisfatória.
Apenas citamos os exemplos sobre a pertinência porque percebemos que,
quando o autor se dedica a explicá-los, ele reflete e fecha seu raciocínio de
forma bastante elucidativa sobre a relevância dos conceitos saussurianos de
significante, significado e signo, que ainda queremos tratar aqui.
Ilari (2004) conclui que o significante confere legitimidade
linguística ao significado quando se distingue de outros significantes e é o
significado que confere a mesma legitimidade ao significante, quando se
distingue de outros significados. A tese trabalhada nesse raciocínio saussuriano
87
FUESPI/NEAD Letras Português
nos remete à preocupação em salientar, enfatizar a necessidade da adequada
compreensão das relações explicitadas para a apreensão de um entendimento
de língua que fosse mais do que puramente o estudo de uma nomenclatura. A
explicitação dessa preocupação saussuriana está muito clara em Pietroforte
(2004). Uma distinção bastante interessante a ser percebida na obra em tela,
é a advertência para que não se confunda signo com palavra, esclarecendo-
se aqui as dimensões palavra e morfema. Definindo este último termo também
como signo, visto que também comporta em si um significado com relação
aos demais elementos que formam a sua significação. Para focar-se no estudo
desta última dicotomia - significante x significado, o referido autor pede mais
atenção afirmando que a princípio a definição de signo parece simples. E o
verbo parecer já nos remete aos capítulos desta novela. O fato é que o
estudioso da teoria saussuriana pretende nos mostrar o perigo de
confundirmos a relação entre significante e significado com a relação entre
palavra e coisa. E alerta, que conforme a definição dada por Saussure a signo,
é perceptível que esta última relação está equivocada (a relação que Saussure
estabeleceu em sua teoria jamais fora esta relação entre palavra e coisa),
pois a relação entre significante e significado está para imagem acústica e
conceito e não para palavra e coisa, como alguns estudiosos inferem. E a
principal implicação a partir disso é a de que a língua não é uma nomenclatura,
mas um princípio da classificação. A consequência que surge da adoção dessa
concepção equivocada é a de considerarmos a língua como uma coleção de
nomes, o que não corresponde à verdade, pois Saussure esclarece muito
bem essa questão quando afirma que “um significante e um significado” (1969,
p.81) formam um signo que é definido dentro de um sistema. E assim, cada
signo tem seu valor baseado na relação que estabelece com os outros. Isso
quer dizer que o significado advém das relações que os signos estabelecem
uns com os outros e não das palavras e das coisas do mundo. Esse
pressuposto construído por Saussure nem sequer passa ou já passou algum
dia na cabeça daqueles que criticaram, por exemplo, a escolha do livro Por
88
Estruturalismos Linguísticos
uma vida melhor, distribuído pelo PNLD do MEC. O que gerou alguns
posicionamentos de crítica, fazendo-se necessário a ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE LINGUÍSTICA, ABRALIN, vir a público manifestar-se a
respeito, para explicar algo que nem políticos, nem jornalistas mal informados
jamais entenderão, porque construíram suas criticas no terreno da falta de
conhecimento teórico acerca do assunto, por razões que nem perderemos
tempo aqui tentando entender o que leva um leigo em um determinado assunto
a se posicionar publicamente em meios de comunicação de larga abrangência
como se fosse um especialista, com um discurso embasada apenas em
clichês e frases feitas. A própria ABRALIN destacou que os críticos não tiveram
sequer o cuidado de analisar o livro mais atentamente, tendo se pautado nas
cinco ou seis linhas citadas pela imprensa e embora o livro acate as orientações
dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) já em andamento há mais de
uma década; e outros livros didáticos também englobem a discussão da
variação linguística para ressaltar o papel e a importância da norma culta no
mundo letrado. Podemos então, a partir de tal esclarecimento, afirmar que é a
partir de uma língua que se veem as coisas do mundo e não o contrário. O que
tem papel de destaque na tese saussuriana no que diz respeito à teoria do
signo é a relação estabelecida entre os signos. Entretanto, vá explicar uma
coisa dessas para os críticos supramencionados!
Vejamos aqui uma síntese dos trechos que estão expostos no referido
livro, que acreditamos não ter sido lido pelos críticos, o que justificaria a crítica
tão contumaz a algo tão bem elaborado e fundamentado cientificamente.
Confira trechos do livro Por uma Vida Melhor que tratam da chamada
“norma popular”
19/05/2011 - 8h49
Educação
Amanda Cieglinski“
Repórter da Agência Brasil
89
FUESPI/NEAD Letras Português
Brasília - O livro Por uma Vida Melhor foi distribuído pelo Ministério da
Educação (MEC) para turmas de educação de jovens e adultos (EJA) em
todo o Brasil. A publicação causou polêmica ao incluir frases com erro de
concordância em uma lição que apresentava a diferença da norma culta e a
falada.
Confira abaixo trechos do livro sobre o assunto:
 
“É importante saber o seguinte: as duas variantes [norma culta e popular] são
eficientes como meios de comunicação. A classe dominante utiliza a norma
culta principalmente por ter maior acesso àescolaridade e por seu uso ser
um sinal de prestígio. Nesse sentido, é comum que se atribua um preconceito
social em relação à variante popular, usada pela maioria dos brasileiros”
 
“'Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado'. Você pode estar se
perguntando: ‘Mas eu posso falar ‘os livro?’.’ Claro que pode. Mas fique atento
porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de
preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve
falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como
padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem
de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”
 
“Na variedade popular, contudo, é comum a concordância funcionar de outra
forma. Há ocorrências como:
Nós pega o peixe.
nós - 1ª pessoa, plural
pega - 3ª pessoa, singular
Os menino pega o peixe.
menino - 3ª pessoa, ideia de plural (por causa do “os”)
pega - 3ª pessoa, singular
90
Estruturalismos Linguísticos
Nos dois exemplos, apesar de o verbo estar no singular, quem ouve a frase
sabe que há mais de uma pessoa envolvida na ação de pegar o peixe. Mais
uma vez, é importante que o falante de português domine as duas variedades
e escolha a que julgar adequada à sua situação de fala.”
 
“É comum que se atribua um preconceito social em relação à variante popular,
usada pela maioria dos brasileiros. Esse preconceito não é de razão linguística,
mas social. Por isso, um falante deve dominar as diversas variantes porque
cada uma tem seu lugar na comunicação cotidiana.”
 
“A norma culta existe tanto na linguagem escrita como na linguagem
oral, ou seja, quando escrevemos um bilhete a um amigo, podemos
ser informais, porém, quando escrevemos um requerimento, por
exemplo, devemos ser formais, utilizando a norma culta. Algo
semelhante ocorre quando falamos: conversar com uma autoridade
exige uma fala formal, enquanto é natural conversarmos com as
pessoas de nossa família de maneira espontânea, informal.”
Edição: Lílian Beraldo
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/
Apreciemos agora a argumentação bastante lúcida esclarecedora da
ABRALIN, a qual trago na íntegra, porque considero que este é um marco
para uma guinada nos estudos da linguagem, pois daqui a uns dez anos,
quando as escolas não serão mais tão formalistas, num tempo em que
jornalistas e gramatiqueiros não mais se intrometerão no ensino de línguas,
porque a eles não lhes compete a mencionada tarefa, esta carta servirá como
lembrança do primeiro documento de libertação dos estudos da linguagem.
Em nota oficial, a Abralin defende o posicionamento da linguística
frente à questão da dicotomia certo/errado
Língua e Ignorância
91
FUESPI/NEAD Letras Português
O Brasil tem acompanhado a polêmica a respeito do livro Por uma Vida
Melhor, distribuído pelo PNLD do MEC. Diante de posicionamentos virulentos
e alguns até histéricos, a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LINGUÍSTICA,
ABRALIN, vem a público manifestar-se a respeito.
O fato que chamou a atenção foi que os críticos não tiveram sequer o cuidado
de analisar o livro mais atentamente. Pautaram-se sempre nas cinco ou seis
linhas citadas. O livro acata orientações dos PCN (Parâmetros Curriculares
Nacionais) já em andamento há mais de uma década. Outros livros didáticos
também englobam a discussão da variação linguística para ressaltar o papel
e a importância da norma culta no mundo letrado. Portanto, nunca houve a
defesa de que a norma culta não deva ser ensinada. Ao contrário, entende-se
que esse é o papel da escola, garantir o domínio da norma para o acesso
efetivo aos bens culturais e para o pleno exercício da cidadania. Esta é a
única razão que justifica a existência da disciplina de Língua Portuguesa para
falantes nativos de português.
A linguística surgiu como ciência há mais de um século. Como qualquer outra
ciência, não trabalha com a dicotomia certo/errado. Esse é o posicionamento
científico, que permitiu aos linguistas elaborar outras constatações que
constituem hoje material essencial para a descrição e explicação de qualquer
língua humana.
Uma constatação é o fato de que as línguas mudam no tempo,
independentemente do nível de letramento de seus falantes, do avanço
econômico e tecnológico ou do poder mais ou menos repressivo das
Instituições. Formas linguísticas podem surgir, desaparecer, perder ou ganhar
prestígio. Isso sempre foi assim. Muitos dos usos hoje tão cultuados pelos
puristas originaram-se do modo de falar de uma forma alegadamente inferior
do latim.
Outra constatação é o fato de que as línguas variam num mesmo tempo:
qualquer língua apresenta variedades deflagradas por fatores, como diferenças
geográficas, sociais, etárias, dentre outras. Por manter um posicionamento
92
Estruturalismos Linguísticos
científico, a linguística não faz juízos de valor acerca dessas variedades, sim-
plesmente as descreve. No entanto, os lingüistas constatam que essas varie-
dades podem ter maior ou menor prestígio, que está sempre relacionado ao
prestígio que têm seus falantes no meio social. Por esse motivo, o desconhe-
cimento da norma de prestígio pode limitar a ascensão social e isso funda-
menta o posicionamento da linguística sobre o ensino da língua.
Não há caos linguístico, nenhuma língua já foi ou pode ser corrompida ou
assassinada, ou fica ameaçada quando faz empréstimos. Independentemente
da variedade que usa, o falante fala segundo regras gramaticais estritas. Os
falantes do português brasileiro fazem o plural de “o livro” de duas maneiras:
uma formal: os livros; outra informal: os livro. Mas certamente não se ouve “o
livros”. Assim também, não se pronuncia mais o “r” final de verbos no infinitivo,
mas não se deixa de pronunciar (não de forma generalizada, pelo menos) o
“r” final de substantivos. Qualquer falante, culto ou não, pode dizer (e diz)
“comprá” para “comprar”, mas apenas algumas variedades diriam “dô” para
“dor”. Estas últimas são estigmatizadas socialmente, porque remetem a
falantes de baixa extração social. Falamos obedecendo a regras. E a escola
precisa ensinar que, apesar de falarmos “comprá” precisamos escrever
“comprar”. Assim, o trabalho da linguística tem repercussão no ensino.
Por outro lado, entendemos que o ensino de língua materna não tem sido bem
sucedido, mas isso não se deve às questões apontadas. Esse tópico
demandaria discussão mais profunda, que não cabe aqui.
Por fim, é importante esclarecer que o uso de formas linguísticas de menor
prestígio não é indício de ignorância ou de outro atributo que queiramos impingir
aos que falam desse ou daquele modo. A ignorância não está ligada às formas
de falar ou ao nível de letramento. Aliás, pudemos comprovar isso por meio
desse debate que se instaurou em relação ao ensino de língua e à variedade
linguística.
Associação Brasileira de Linguística – Diretoria biênio 2009-2011
93
FUESPI/NEAD Letras Português
Para continuar a exposição sobre os conceitos trabalhados por
Saussure a noção de valor é trazida em Ilari (2004, p. 63) nos seguintes termos:
No início da seção 2.1 eu disse que toda teoria científica inovadora
se caracteriza por propor um novo enfoque sobre o objeto estudado
e que no caso do saussurianismo esse novo enfoque é dado pela
noção de valor. Tendo exposto as noções de pertinência e de signo
linguístico, podemos finalmente comentar esta última noção. Falar
em valor linguístico a propósito de Saussure é antes de mais nada,
ressaltar a natureza opositiva do signo. O que fundamenta a
especificidade de cada signo linguístico não é (como na história de
Adão) o fato de que ele se aplica certos objetos do mundo, e não a
outros; é a maneira como uma diferença muito grande entre a teoria
saussuriana do valor e a maneira tradicional de entender as
unidades linguísticas, uma diferença que fica evidente tão logo se
tenta caracterizar as mesmas realidadesobjetivas usando línguas
diferentes.
O autor usa diversos exemplos com línguas diferentes e, a partir dis-
so, fica-nos compreensível a preocupação do mestre genebrino em mais uma
vez alertar o estudioso da língua para a necessidade de estar sempre atento
ao trabalho com as oposições dos signos em todos os âmbitos em que se
possa realizar tais oposições, a fim de que se esvaziem todas as possibilida-
des de inadequação das análises de elementos linguísticos que fazem parte
de um sistema e fora deste jamais devem ser trabalhados, sob pena de incor-
rer-se no erro ou equívoco em seu estudo. Na opinião do autor, esse
posicionamento de Saussure é fruto de uma visão de linguística imanentista,
que procura minimizar as relações entre a língua e o mundo.
E finalizando, a exposição dos conceitos saussurianos Ilari (2004)
explicita a aspectos relevantes sobre a concepção de arbitrariedade das lín-
guas trabalhada por Saussure, bem como as suas inter-relações com outros
conceitos como as noções de sincronia e diacronia. Quanto à arbitrariedade,
o autor ressaltou dois sentidos diferentes nos termos de Saussure; em pri-
meiro aquele que as pessoas usam quando especulam sobre a forma e a
história de certas palavras, perguntando se entre os sons e objetos significa-
94
Estruturalismos Linguísticos
dos há algum tipo de semelhança e que nesta perspectiva se opõe a motiva-
do. E em segundo, um que é mais radical e se refere à afirmação de que a
forma adotada para realizar a articulação entre sons e sentidos varia de uma
língua historicamente dada, para outra. E ressaltou, ainda, importantes ques-
tões quanto as posições de outros linguistas acerca do pensamento do mes-
tre genebrino, como as seguintes: i) que essa noção tem tudo a ver com a
noção de valor linguístico; ii) que nem todos os estruturalistas assimilaram a
concepção de arbitrariedade presente no Curso de linguística geral e aque-
les que o fizeram tiveram sérias dificuldades com as traduções, problema
encarado de forma mais profícua pelo russo Jakobson; iii) e por fim, que a
decisão de Saussure de proceder o estudo das línguas mediante cortes
sincrônicos foi aceita por muitos outros linguistas, influenciando as linguísticas
estruturais.
Weedwood (2002, p. 128) definindo o estruturalismo europeu:
Estruturalismo, no sentido europeu, então é um termo que se refere
à visão de que existe uma estrutura relacional abstrata que é
subjacente e deve ser distinguida dos enunciados reais – um
sistema que subjaz ao comportamento real – e de que, ela é o
objeto primordial de estudo da linguística.
Saussure além de preocupar-se com os estudos linguísticos era tam-
bém muito mais preocupado com a forma de condução deste trabalho, de tal
forma a fazê-lo em uma natureza e forma científica, que viesse a caracterizá-
la como ciência autônoma. E o estruturalismo que ele fundou tem este cunho
metodológico, que além de corrente de estudo, confundia-se, muitas vezes,
com o próprio método de estudo. Isso se comprova se observarmos a forma
com a qual este linguista organizou o estudo da linguística desde as dicotomias
até a própria definição do objeto de estudo da linguística.
Weedwood (2002) chama-nos a atenção para dois pontos que so-
bressaem da definição de estruturalismo europeu:
95
FUESPI/NEAD Letras Português
 “... primeiro, que a abordagem estrutural não fica, em princípio,
restrita à linguística sincrônica; segundo, que o estudo do
significado, tanto quanto o estudo da fonologia e da sintaxe, podem
ter uma orientação estrutural. Em ambos os casos, “estruturalismo”
se opõe a “atomismo” na literatura europeia.
Weedwood (2002) defende que, contraditoriamente ao exposto,
Saussure orientou que a linguística sincrônica deveria lidar com a estrutura do
sistema de uma língua num ponto específico do tempo e a linguística diacrônica
deveria se preocupar com o desenvolvimento histórico de elementos isola-
dos - devendo ser nesta perspectiva, atomística. E que, entretanto essa posi-
ção paradoxal adotada pelo linguista suíço, que, por sua vez, traçara a distin-
ção terminológica entre linguística sincrônica e diacrônica no Curso não fora
aceita pelos estudiosos da linguagem, que, apesar da orientação de Saussure,
aplicaram os conceitos estruturais ao estudo diacrônico das línguas.
A autora mostra uma relação dos nomes ligados às mais importantes
escolas de linguística estrutural, surgidas na Europa, na primeira metade do
século XX, que organizamos nessa pequena tabela apenas para tornar a in-
formação mais visual para você que sabe como é importante, para nós que
estudamos memorizar nomes, associando-os corretamente aos campos de
estudos aos quais estes se afiliaram:
Estruturalismos Europeus - século XX
Escolas Representantes notáveis/Época
Escola de Praga
Escola de Copenhague (Glossemática)
Escola de Londres
Nikolai Sergeievitch Trubtzkoy (1890-1938)
Roman Jakobson (1896-1982)
Louis Hjelmslev (1899-1965)
Jonh Rupert Firth (1890-1960)
96
Estruturalismos Linguísticos
É importante ressaltar que o termo Estruturalismo está grafado no
plural porque o contexto no qual ele se encontrava inserido influenciava bas-
tante a forma como era desenvolvido, além, é óbvio, da influência dos estudi-
osos que conseguiam destacar-se em seus estudos em cada época e lugar
nos quais desenvolviam suas pesquisas. Passemos agora a outra face do
estruturalismo, aquela desenvolvida na América.
3.2 Estruturalismos Americanos
Embora o estruturalismo americano e o europeu tenham compartilhado
um bom número de características Weedwood (2002) defende que tanto os
linguistas europeus quanto os americanos, por insistirem em tratar cada língua
como um sistema mais ou menos coerente e integrado, enfatizaram,
exageraram mesmo, a incomparabilidade estrutural das línguas individuais,
embora houvesse justificativa para tal postura. Isso se deu devido à forma
como a linguística americana se desenvolveu a partir do final do século XIX,
ou seja, como havia centenas de línguas americanas, muitas delas faladas
apenas por um punhado de falantes que nunca tinham sido descritas que
poderiam ficar inacessíveis, caso não fossem descritas.
Dentre os mais importantes estruturalistas americanos, pode-se citar
Franz Boas (1858 -1942). E este, como a maior parte dos estudiosos da
linguagem estava muito mais preocupado com a prescrição de princípios
metodológicos para a análise de línguas muito particulares. Essa preocupação
se justificava ainda pelo receio de que a descrição dessas línguas fosse
influenciada pelas categorias derivadas da análise das línguas indo-europeias
mais familiares.
Depois de Boas, dentre os mais importantes linguistas americanos
estavam Edward Sapir (1884-1939) e Leonard Bloomfield (1887-1949). Tanto
Boas quanto Sapir estavam perfeitamente à vontade na antropologia e na
linguística, a junção destas duas áreas é uma postura que tem perdurado em
97
FUESPI/NEAD Letras Português
algumas universidades americanas, ate os dias de hoje. Os estruturalistas
americanos Boas e Sapir foram fortemente influenciados pela visão
humboldtiana da relação entre linguagem e pensamento.
Um dos discípulos de Sapir, Benjamin Lee Whorf (1897-1941)
apresentou a referida relação de forma bastante desafiadora para atrair a
atenção geral do mundo intelectual, que deu origem à hipótese de Sapir-Whorf,
que consistiu na tese de que a linguagem determina a percepção e o
pensamento.
No entanto, fora Bloomfield que iniciou um novo modo de fazer o
estruturalismo americano, bastante influenciado pela psicologia da linguagem
de Wundt, quando publicou seu primeiro livro em 1914, que fora republicado
após uma relevante revisão e ampliação publicada sob o título Language, em
1933. Esta obra dominou os estudos da área nos trinta seguintes à publicação
e marcou a adoção por parte de Bloomfield à abordagem behaviorista da
semântica do estudoda língua por eliminar qualquer referência a categorias
mentais ou conceituais, o que teve amplas consequências, tornando o completo
desprezo pela semântica um dos aspectos mais característicos do
estruturalismo americano.
Outro aspecto mais característico e muito criticado por Chomsky foi a
tentativa de criar o que foi denominado de procedimentos de descoberta que
aplicados a textos supunha-se possibilitadores de uma descrição fonológica
e sintática apropriada da língua dos textos. E é nesta perspectiva restritiva do
termo estruturalista que estão publicadas as obras mais importantes, nos
Estados Unidos na década de 60, conforme Weedwood (2002).
Ilari (2004, p. 76) traz um tópico bastante interessante em seu artigo
intitulado O Estruturalismo Linguístico: alguns caminhos que trata sobre o
estruturalismo fora da linguística no qual ele apresenta algumas reflexões sobre
o momento histórico que serviu como pano de fundo para esse movimento:
[...] convém chamar a atenção para o fato de que na Europa e na
98
Estruturalismos Linguísticos
América do Sul, o apogeu do estruturalismo coincidiu com um
momento da história das ideias em que a linguística foi encarada
como a matriz possível de toda a atividade científica, ou pelo menos
de todas as ciências que se propõem a analisar algum tipo de
comunicação.
O semanticista ainda relaciona as disciplinas que reformularam suas
tarefas tomando como modelo a linguística como, por exemplo, antropologia
(Lévi-Strauss), a sociologia, a estética, o estudo da moda (Barthes) e a teoria
literária, e a fonologia (Troubetzkoy e Martinet). O seu raciocínio é arrematado
defendendo que o estruturalismo realmente projetou a linguística, que
conseguiu fornecer a outras ciências modelos estruturais de análises, que
durante algum tempo possibilitaram um intenso intercâmbio cultural.
Somente a partir da exposição de tal reflexão, é que Ilari passa a
tratar sobre o estruturalismo americano propriamente dito. E inicia justificando-
se pelo modo de tratar reportando-se, cremos ao pouco espaço de que se
dispõe para apresentar um artigo que é incompatível com alguns temas que,
por sua notabilidade científica, requerem que se faça justiça apresentando os
seus autores, seus trabalhos de análise e suas ideias. Assim, Ilari (2004, p
77) esclarece:
Entre os interesses que marcaram o estruturalismo americano,
costuma-se incluir o projeto dos linguistas desse período de
descrever exaustivamente as línguas indígenas do continente –
uma tarefa de grande urgência que já vinha sendo objeto de
preocupação desde a década de 1920 (por parte de autores como
Franz Boas e Edward Sapir), e que às vezes se confundiu com o
plano de desenvolver métodos para o estudo de todas as línguas
ágrafas – um objetivo que sempre esteve na ordem do dia das
instituições interessadas em catequese religiosa.
A preocupação com a descrição das línguas indígenas embasava-se
na crença de que cada língua tinha uma gramática, reforçada na década de
1950 em função da simpatia com as teses relativistas de Benjamin Lee Whorf,
que consistia em afirmar que as diferenças linguísticas determinam diferenças
no modo como as várias culturas representam a realidade.
99
FUESPI/NEAD Letras Português
O posicionamento de Ilari (2004) é bastante elucidativo quanto à qua-
lificação “estruturalismo americano” ao comentar a preocupação dos linguistas
americanos em que as categorias gramaticais fossem extraídas dos dados,
termo que pode ser interpretado como extraído do sistema. Nos termos de
Saussure, a referência ao princípio da arbitrariedade é clara, entretanto es-
ses estruturalistas não tributaram suas bases teóricas em nenhum momento a
Saussure, preferindo identificarem-se como tributários de Leonard Bloomfield.
Este por sua vez, ao chegar à conclusão de que o sentido sendo mental, e
fazendo parte da psicologia individual, não poderia ser estudado cientifica-
mente acabou por fazer uma recomendação que teve consequências tão ra-
dicais que, por algumas décadas, o estruturalismo americano colocou-se como
totalmente avesso ao estudo do sentido e o desenvolvimento da semântica
nos Estados Unidos marcou passo.
A orientação proposta por Bloomfield foi seguida à risca e por alguns
linguistas de forma muito radical. A exemplo dessa postura, pode-se elencar
o trabalho de Zellig Harris (1951) que em desenvolvimento de seu trabalho de
análise de um corpus convertia (se é que esta expressão não seria inadequa-
da comparando-a com o seu emprego atualmente no contexto digital) a reali-
zação do corpus em sequências discretas de unidades, o que em outras pa-
lavras significava substituir aleatoriamente trechos do corpus com duração
determinada (em milissegundos) por outros trechos do corpus que tivessem a
mesma duração, controlando mediante a avaliação de um falante nativo, a
fim de verificar se a alteração teria modificado o trecho inicialmente dado.
Uma das crenças que fundamentava os estudos dos estruturalistas
americanos era a de que a propriedade que melhor define uma unidade
linguística é a técnica da distribuição, que teve um papel central na linguística
descritiva americana, tendo sido usada para dar resposta a problemas anti-
gos como, por exemplo, o problema de distribuir as palavras em “partes do
discurso”, ou o problema de definir a sinonímia (o substantivo, o adjetivo, o
verbo etc.) dentre outros.
100
Estruturalismos Linguísticos
A técnica da distribuição fora útil para se chegar ao modelo de sen-
tença mais prestigiado na escola norte americana, o modelo de constituintes
imediatos, que levou à representação da sentença através de árvores
sintagmáticas.
Havia, na opinião de Ilari (2004), muitas características do
estruturalismo americano que denotariam pontos em comum com o
estruturalismo europeu, a respeito dos quais o autor destaca que uma
compreensão mais profunda das semelhanças e diferenças exigiria um enorme
trabalho de recuperação. Entretanto, apresenta alguns que ficam a título de
amostra para que você caro aluno, quem sabe, continue esse trabalho de
recuperação:
√ confiança nos dados do corpus;
√ representação do trabalho do linguista como uma construção
indutiva que se faz por etapas;
√ atenção prioritária à distribuição;
√ valorização da singularidade das línguas;
√ estudos linguísticos construídos com base profundamente
imanentista.
A impressão mais forte que pode nos restar de tal exposição é que o
estruturalismo americano longe de ser distinto do estruturalismo europeu como
se supunha talvez possa distanciar-se deste apenas no âmbito geográfico.
Fizemos uma espécie de quadro-resumo com alguns dos elementos
que destacamos como mais relevantes a respeito do estruturalismo
saussuriano. Esperamos que ele possa ajudá-lo em seus estudos e quem
sabe até possa servir para que você faça-lhe uma ampliação.
Estruturalismo - Ferdinand de Saussure- CLG
Objeto de estudo: a língua em si e por si mesma.
Dicotomias: langue/parole; Sincronia/Diacronia; Sintagma/Paradigma
Signo: significado/significante – Princípios: imutabilidade, arbitrariedade, valor
101
FUESPI/NEAD Letras Português
Contribuições: autonomia da linguística enquanto ciência.
Língua como objeto de estudo em si mesma – sistema.
Perspectiva descritiva e não normativa.
Críticas recebidas:
Em função da exclusão da fala de sua teoria, esta teoria fora acusada de anti-
humanista e anti-historicista, eliminação do sujeito (Benveniste), da variação
(Coseriu) e história, ideologia (Pêcheux).
Passamos a seguir, a contemplar os estudos da linguagem sob a
ótica da corrente de estudo denominada Funcionalismo.
3.3 Funcionalismo
Os termos funcionalismo7 e estruturalismo são frequentemente
utilizados em antropologia e sociologia para se referirem a teorias ou métodos
de análises contrastantes. Entretanto, na linguística, o funcionalismo é visto
como um movimento particular dentro do estruturalismo.Seus representantes
mais conhecidos são os membros da Escola de Praga, cuja origem é
proveniente do Círculo Linguístico de Praga, fundado em 1926, particularmente
influente na linguística européia no período que precedeu a segunda guerra
mundial.
Nem todos os seus membros estavam sediados em Praga, tampouco
eram todos tchecos. Roman Jakobson e Nikolag Trubetzkoy eram emigrantes
russos e foram seus representantes mais influentes. A Escola de Praga causou
seu maior impacto em fonologia, distinguindo-a da fonética e criando o conceito
de traços distintivos (Trubtzkoy).
Outra contribuição desta escola foi a criação dos conceitos de função
demarcadora – dos traços que não são distintivos entre si - e de função
7 Para ler sobre algumas noções mais recentes sobre o funcionalismo, visitar o blog http://www.linguaeliberdade.com.br.
102
Estruturalismos Linguísticos
expressiva – que se refere à indicação dos sentimentos ou da atitude do fa-
lante. Os funcionalistas influenciaram em outras áreas tais como no
intelectualismo da tradição filosófica ocidental.
Na prática, não apenas os linguistas da escola de Praga, mas outros
que se consideraram funcionalistas enfatizaram a multifuncionalidade da
linguagem e a relevância das funções expressiva, social e conativa, em
contraste com, ou além de sua função descritiva.
Um interesse duradouro da Escola de Praga, no que concerne à
estrutura gramatical das línguas refere-se à perspectiva funcional da sentença.
Os funcionalistas consideraram que a estrutura dos enunciados é determinada
pelo uso que lhes é dado e pelo contexto comunicativo em que ocorrem.
O funcionalismo em linguística tendeu a enfatizar o caráter instrumental
da linguagem. E assim, há uma afinidade entre o ponto de vista funcionalista
e o do sociolinguista ou dos filósofos da linguagem que incluíram o
comportamento linguístico na noção mais ampla de interação social. Este
movimento, nesta perspectiva é firmemente oposto ao gerativismo.
O funcionalismo quanto à gramática é insustentável ao defender que
a estrutura dos sistemas linguísticos é parcialmente, embora não totalmente,
determinada pela função.
Ilari (2004) esclarece que, de todos os países europeus, a França foi
aquele no qual o estruturalismo teve maior ressonância, fenômeno muito mais
forte no final dos anos 60. O funcionalismo surgiu como uma forma de
identificação da França com o Estruturalismo, uma orientação que foi
deliberada por André Martinet, um linguista que tinha mantido fortes contatos
com os Círculos de Praga e Copenhague. O termo que dá nome a esta escola
foi empregado. O que se percebe é que na opinião do semanticista o que se
percebe é uma falha no rigor teórico de construção dos conceitos criticados
pelo semanticista como é perceptível no trecho seguinte:
[...]o termo que dá nome à escola, “função”, foi usado pelos
103
FUESPI/NEAD Letras Português
martinetianos para dar cobertura a conceitos tão disparatados como
(i) o caráter próprio da fala de ser um instrumento de comunicação
entre as pessoas, (ii) a possibilidade de fazer referência a objetos
diferentes, por meio de unidades linguísticas diferentes; (iii) o tipo
de relação gramatical liga uma unidade sintática (por exemplo,
um adjunto adverbial) ao contexto sintático maior de que faz parte
(por exemplo, a sentença); essa ambiguidade não chegou a
incomodar Martinet e os martinetianos, e não os impediu de
desenvolver um conjunto de análises que, em determinado momento,
puderam ser consideradas de vanguarda.
Realmente há que se falar em uma inadequação dos temas aos quais
o funcionalismo se dedicou justamente em virtude da natureza de estudo que
esta escola se propôs a desenvolver, mas entendemos que o fato de ter
restringido o estudo apenas na ótica da função, desprezando elementos
importantes para os estudos linguísticos, talvez até mesmo porque o tipo de
estudo intencionado por essa escola fosse mesmo mais adequado ao núcleo
duro das línguas.
Ilari (2004) ainda ressalta a importante contribuição de Martinet no
que se refere aos estudos de fonologia diacrônica, mais especificamente por
ocasião dos estudos de evolução fonológica de um dialeto românico da região
dos Alpes franceses por meio do qual Martinet mostrou que a evolução era
regulada por um princípio de economia, raciocínio bastante acertado porque
assim o linguista evidenciou que o que de fato evolui na língua não são
elementos isolados, mas sim as estruturas. E seu raciocínio mostrou ainda
que é possível esperar e predizer a evolução da estrutura, analisando as
propriedades que ela apresenta, quando descrita em termos rigorosamente
sincrônicos, mais do que um raciocínio estruturalista tinha-se aqui uma
descoberta que representava um passo enorme em relação à concepção de
linguística diacrônica.
3.4 O Círculo linguístico de Praga – CLP
O Círculo linguístico de Praga teve a sua relevância para o funciona-
104
Estruturalismos Linguísticos
lismo especialmente pelos estudos que possibilitou e pelas teses defendi-
das, que por sua vez tinham uma relação com o estruturalismo e o funcionalis-
mo. Foram defendidas nove teses versando sobre linguística e literatura, den-
tre as quais nos reportaremos a apenas três, com base na apresentação de
um seminário sobre o Círculo linguístico de Praga – CLP, elaborada e conduzida
pelos doutorandos Beatriz Furtado, Germana da Cruz, Cláudia Girraud e
Germana Cruz, em uma aula da disciplina Teorias Linguísticas, ministrada
pelo Prof. Ricardo Leite. Os doutorandos conduziram sua apresentação mos-
trando, inicialmente as teses elaboradas no CLP e suas respectivas relação
entre a visão funcional da língua e o estruturalismo linguístico, dando ênfase
também para alguns pontos que consideraram relevantes como: o lugar do
CLP na história da linguística, o CLP e o pensamento saussuriano e o CLP e
a glossemática de Hjelmslev.
Acerca das teses, temos a apresentação da tese 01, que discute sobre
os problemas do método que são decorrentes da consideração da concep-
ção de língua como sistema funcional e importância da referida concepção
para as línguas eslavas. Nesta perspectiva, a língua é considerada como um
sistema funcional, e assim há uma finalidade para a língua. Assim a língua é
tomada como um sistema de meios de expressão adequados a um objetivo.
E em consequência disso, a língua é considerada como sistemática, o que
impede a referência a um fato linguístico sem referência ao sistema ao qual
este fato pertence.
Desse modo, o fato de o estabelecimento de valor de um fato linguístico
estar condicionado a sua relação com o sistema no qual está inserido, confi-
gura-se como a primeira relação entre a visão funcional da língua e o estrutu-
ralismo linguístico do CLP.
Outra afirmação decorrente da primeira tese é que o estudo sincrônico
da língua é o único que oferecerá materiais completos para uma percepção
direta do sistema em si.
105
FUESPI/NEAD Letras Português
A outra afirmação decorrente da primeira tese está na admissão dos
métodos diacrônico e sincrônico, em cooperação, a fim de que com isso se
conseguisse encontrar a língua tronco da qual, talvez as línguas atuais tives-
sem se desmembrado, entendendo também processos de evolução das lín-
guas, percebidos como padrão para todas as línguas. O que foi percebido a
partir desse princípio é que nos estudos atuais da linguística funcional, foram
priorizados os estudos de gramaticalização ou estabilização de alguns
fenômenos linguísticos. Desse modo, o uso do método comparativo não teria
como único objetivo buscar a gênese das línguas, mas também para a
construção de uma tipologia geral de todas as línguas, começando pelas
línguas eslavas, para se chegar ao entendimento da forma que se dá o
processo de estabilização do sistema para atender à necessidade de
comunicação a que ele responde por sua própria natureza de existir. E a partir
dessa ideia, Trubetzkoypropôs o agrupamento das línguas em dois tipos: o
primeiro composto pelas famílias – que apresentassem fundo gramatical e
lexical comum, e o segundo, o grupo das alianças, que seria composto pelas
línguas que representassem semelhanças notáveis em suas estruturas
sintática, morfológica e fonológica.
Quanto à tese 02, que se voltou para tarefas do sistema linguístico
(do eslavo, em particular), encontraram-se as bases da fonologia do CLP, que
representavam uma teoria da palavra e uma teoria da sintaxe. Nesta
perspectiva, percebe-se uma preocupação com o aspecto fônico da língua,
dando especial atenção ao aspecto fônico, focando a acústica, mas sem
desprezar a articulação; preocupação com a necessidade de distinguir o som
como fato físico, objetivo, como representação e como elemento do sistema
funcional, com a autonomia da palavra, ponto da tese que recebeu críticas,
como se percebe em Toledo (1978), que definia que a linguística que analisava
a linguagem como um fato, quase sempre mecânico, muitas vezes negou a
existência da palavra. Outro ponto que foi defendido nesta tese é que o ato
106
Estruturalismos Linguísticos
sintagmático fundamental era a predicação.
Quanto à tese 03, que consistia em problemas da investigação sobre
as linguas de diversas funções, houve distinção entre a linguagem interna e a
linguagem manifesta, enfatizando que a linguagem interna era única e
generalizável, diferentemente do que ocorria com a linguagem manifesta. Os
redatores da tese consideravam que a linguagem intelectual manifesta tinha,
sobretudo, uma destinação social e que a linguagem emocional tinha
igualmente uma destinação social, quando ela se propunha a suscitar algumas
emoções no ouvinte, ou então quando é uma descarga emotiva, operada sem
relação com o ouvinte. Uma das contribuições dessa tese consiste na
simplificação da distinção entre as funções emotiva e poética que é tão difícil
em sala de aula (e muitas vezes, essa dificuldade de distinção não é só do
aluno, é do professor também). Aqui, conforme Toledo (1978), a distinção
consiste no fato de que a função emotiva a comunicação é dirigida para um
significado e, na poética, ela é dirigida para o próprio signo.
Sobre o ponto que mostra o lugar do CLP na história da lingüística, os
seminaristas destacaram que quando os historiadores da linguística
examinaram as realizações do CLP foram destacados três pontos principais:
a abordagem sincrônica dos fatos da língua; a ênfase dada ao caráter
sistêmico da língua; a insistência sobre a função que a língua desempenha
numa dada comunidade linguística. E com base nisso, como eles próprios
assumem, com o intuito de mostrar a importância dos elementos dos estudos
de Praga, eles buscaram relacionar seus estudos com os de Saussure, de
Hjelmslev e de Chomsky.
Relacionando o CLP com o pensamento saussuriano os seminaristas
apresentam os linguistas de Praga como herdeiros do pensamento de
Saussure que em acréscimo ao pensamento do mestre genebrino, têm o mérito
da prática de sues pressupostos, isto é, fundaram teses, mas também as
puseram em prática. No nível das idéias, apresentam algumas divergências
107
FUESPI/NEAD Letras Português
quanto às concepções de sistema, das dicotomias língua/fala e sincronia/
diacronia.
Com relação ao primeiro conceito, o de sistema, defende-se que
ambas as escolas defenderam a língua como sistema, ou seja, como um
conjunto de elementos que dependem um do outro e formam uma rede de
relações. A diferença básica entre os pontos de vista está no fato de que para
o CLP, o sistema é uma entidade dinâmica em constante interação com o uso
que os falantes fazem dele.
No que se refere ao segundo ponto de distinção entre o CLP e
Saussure, tem-se que ambos concordam que o estudo da linguagem deve
comportar tanto a língua quanto a fala. Entretanto, como para o mestre de
genebra, a fala teria um caráter secundário, os praguenses, contrariamente a
esse comportamento, consideraram que a fala e a língua deviam ser estudadas,
uma vez que em sua visão seria impossível descrevê-las separadamente.
Em relação ao terceiro ponto, há que se admitir que o CLP interpretou
de forma equivocada o principio saussuriano acerca dos métodos sincrônico
e diacrônico, quando afirmou na primeira tese elaborada que não se pode
erguer barreiras intransponíveis entre o método sincrônico e diacrônico como
faz a escola de Genebra. Na realidade, Saussure afirmara, no Curso de
Linguística Geral, que nenhum dos métodos excluiria o outro.
Os seminaristas, analisando as relações entre o CLP e a glossemática
de Hjelmslev , defendem que a teoria hjelmsleviana, definida como uma
radicalização lógica do pensamento de Saussure, se contrapõe à tendência
funcionalista do grupo de Praga, isto é, enquanto Hjelmslev não reconhece
qualquer intervenção exterior ao sistema, os praguenses trabalham a ideia
exatamente de forma contrária, eles pretendiam trabalhar com materiais
concretos, para aprofundar e pormenorizar a teoria.
Já observando as relações entre as ideias dos praguenses e as ideias
chomskyanas, os seminaristas destacam a crítica de Chomsky de que nem
108
Estruturalismos Linguísticos
os estruturalistas nem os praguenses conseguiram fazer fonologia gerativa,
mas alertam para o fato de que a maior contribuição da escola de Praga foi
de fato, a Fonologia.
As contribuições da escola de Praga foram inquestionáveis e o estudo
realizado pelo grupo que denominamos seminaristas foi de extrema relevância,
assim deixamo-lhe o blog no qual você, caro aluno poderá aprofundar-se um
pouco mais nos estudos que foram feitos de forma bastante cuidadosa e
interessante.
Fica a título de organização de seus estudos uma tabela com os
principais pontos de estudos dos funcionalistas, conforme nossa compreensão
a partir de seus estudos na disciplina Teorias Linguísticas já enunciada aqui,
e que foi de extremo auxílio na montagem desta obra. Claro que a
responsabilidade por algum equívoco nas interpretações, nos links entre um
conhecimento e em outros aspectos ficam somente a cargo de sua autora.
Funcionalismo - Roman Jakobson
Objeto: a língua como instrumento de comunicação, concreta, não-
autônoma, contextual.
Buscava-se analisar a língua em uso: entonação, semântica,
discurso, gramática de uso.
Contribuições: as funções da linguagem, e com isso a instituição
de um sujeito enunciador e co-enunciadobr.
Principal nome: Roman Jakobson, Martinet, dentre outros.
Vejamos agora um pouco mais de estudos linguísticos, só que agora
na ótica formalista.
3.5 O Formalismo
O representante desta corrente de estudo da linguagem foi o linguista
109
FUESPI/NEAD Letras Português
Avram Noam Chomsky, A sua teoria serve até hoje como ponto de referência
para os estudos posteriores aos desenvolvidos por este linguista.
Essa teoria foi desenvolvida nos últimos 20 anos por Chomsky e seus
seguidores. Esse movimento teve uma influência enorme, não apenas em
Linguística, mas em Filosofia, Psicologia e outras disciplinas preocupadas
com a linguagem.
O gerativismo carrega em si um compromisso com a utilidade e a
viabilidade de descrever as línguas humanas por meio de gramáticas gerativas
de um tipo ou de outro. Esta teoria é geralmente apresentada como tendo se
desenvolvido da, ou como reação à, escola anteriormente dominante do
descritivismo americano pós-bloomfieldiano: uma versão particular do
estruturalismo.
Lyons (1981) entende que este ponto de vista pode até ser defendido,
mas esclarece que o próprio Chomsky percebeu mais tarde que havia muitos
aspectos dentre os quais estava o de que o gerativismo fazia um retrocesso a
perspectivas mais antigas e tradicionais da linguagem. Existem outros
aspectos sobre os quais o gerativismo simplesmente assume, sem a devida
crítica, características do estruturalismo pós-bloomfieldiano que jamais
encontraram muito eco em outras escolas de linguística.Recusando-se a tomar
partido a respeito de tais críticas, o autor limita-se a apresentar alguns
componentes reconhecidamente chomskyanos, como o da recursividade, que
o próprio Lyons (1981) considera como válido. Esta propriedade significa que
o conjunto de enunciados potenciais em qualquer língua dada é literalmente
numericamente infinito.
E Lyons (1987, p. 212) nos alerta sobre isso, como se vê no excerto
seguinte: “Chomsky chamou atenção para este fato, logo no início de sua obra,
em sua crítica à opinião generalizada de que as crianças aprendem a sua
língua nativa reproduzindo, completa ou parcialmente, os enunciados dos
falantes adultos”. Nesse sentido, percebemos mais uma defesa do
posicionamento gerativista.
110
Estruturalismos Linguísticos
Lyons (1987, p. 212) defende mais uma vez o ponto de vista
chomskyano declarando que “não há dúvidas de que as crianças não
aprendem enunciados linguísticos decorando, para depois reproduzi-los como
resposta a estímulos do ambiente”.
Como o próprio Bloomfield chegou a aceitar os princípios do
behaviorismo e defendeu-os explicitamente como uma base para o estudo
científico da linguagem em seu livro clássico (1935) esses princípios foram
amplamente aceitos na América, não apenas por psicólogos, mas também
por linguistas, por todo o período conhecido como pós-bloomfieldiano.
Entretanto, Chomsky empenhou-se em demonstrar a esterilidade da teoria
behaviorista da linguagem e revelou que a recusa do behaviorismo em admitir
a existência de algo além de objetos e processos físicos observáveis
baseavam-se num preconceito pseudocientífico ultrapassado. Ele afirmou
corretamente que a linguagem é independente de estímulo. É exatamente isso
o que este autor quer dizer quando fala em criatividade, ou seja, o enunciado
que se profere em dada ocasião é, em princípio, não predizível, e não pode
ser descrito apropriadamente, no sentido técnico desses termos, como uma
resposta a algum estímulo identificável, linguístico ou não-linguístico. A
qualidade(não seria melhor habilidade ou capacidade?) é atribuída por
Chomsky aos seres humanos, que inclusive, nos distingue das máquinas. O
linguista usa o termo criatividade para representar a gramática gerativa
propriamente e acredita “que as regras que determinam a produtividade das
línguas humanas têm as propriedades formais que têm em virtude da estrutura
da mente humana.
Lyons (1987, p. 213) defende que “existe muito menos diferença entre
as opiniões de Bloomfield e de Chomsky quanto à natureza e ao escopo da
linguística do que se poderia esperar”. O linguista ainda esclarece que há
diferenças significativas entre o gerativismo chomskiano e o estruturalismo
bloomfieldiano e pós-bloomfieldiano. Uma delas tem a ver com as atitudes
dos dois linguistas em relação aos universais linguísticos.
111
FUESPI/NEAD Letras Português
Enquanto Bloomfield e seus seguidores enfatizaram a diversidade
estrutural das línguas (como os estruturalistas pós-saussurianos) os gerativistas
se centraram no que as línguas têm em comum, o que significa uma volta à
antiga tradição da gramática universal.
Uma diferença nos estudos desenvolvidos por Chomsky, é que ele
atribui maior importância às propriedades formais das línguas e à natureza
das regras exigidas para sua descrição do que às relações entre a linguagem
e o mundo, até para corroborar a sua hipótese de que a faculdade humana da
linguagem é inata e específica da espécie.
Outra diferença entre o gerativismo e o estruturalismo bloomfieldiano
e pós- bloomfieldiano tem relação com a distinção entre competência e
desempenho. A Competência linguística de um falante é a porção de seu
conhecimento do sistema linguístico como tal, que lhe permite produzir um
número infinito de sentenças (língua, na visão de Chomsky). Desempenho é
comportamento linguístico e é determinado não apenas pela competência
linguística do falante, mas também por uma variedade de fatores não
linguísticos, que incluem de convenções sociais, crenças, atitudes emocionais
do falante até, por outro lado, o funcionamento dos mecanismos psicológicos
e fisiológicos acionados na produção dos enunciados.
Lyons destaca que o gerativismo chomskiano constitui um avanço
diante do estruturalismo saussuriano porque este último movimento não
contempla em sua teoria informações sobre as regras necessárias para gerar
sentenças enquanto que aquele teve esta preocupação de tratar sobre a
questão desde o início do movimento.
Os aspectos mais controvertidos do gerativismo chomskiano, na
opinião de Lyons (1987), estão na sua associação com o mentalismo e a sua
reafirmação da doutrina filosófica do conhecimento inato.
O gerativismo chomskyano está mais próximo do estruturalismo
saussuriano e pós-saussuriano, no que diz respeito à necessidade de distinguir
entre o sistema linguístico e o uso desse sistema em determinados contextos
112
Estruturalismos Linguísticos
de enunciação e está, também, mais próximo do estruturalismo saussuriano
e de alguns dos desenvolvimentos europeus desta escola em relação à
semântica.
Pode-se afirmar que o gerativismo baseou-se consideravelmente nas
noções de Fonologia da Escola de Praga, sem aceitar os princípios do
funcionalismo.
É relativamente pequeno, conforme Lyons (1987, p. 211), o número
de linguistas que se impressionaram com as vantagens técnicas e com o valor
heurístico do sistema chomskyano de gramática gerativo-transformacional.
A publicação da obra Syntactics Structures por Chomsky, em 1957,
tornou-se um divisor de águas para a linguística do século XX. Nesta obra e
em publicações posteriores o linguista desenvolveu o conceito de uma
gramática gerativo-transformacional, lançando as concepções de estrutura
profunda – EP e estrutura superficial – ES, que seriam decisivas para um
estudo mais formal e mais completo dos estudos da linguagem, levando em
conta as diferenças entre os níveis superficial e profundo das sentenças. Este
linguista procurou abstrair as especificidades, buscando criar uma teoria que
conseguisse analisar qualquer forma linguística produzida no nível sintático,
pretendo visualizar desde o momento da geração (construção, reconstrução,
transformação cognitiva) dessas sentenças até o momento de sua
apresentação, momento no qual estariam presentes as estruturas superficiais.
Weedwood (2002, p. 132) apresenta a distinção fundamental traçada
para atingir os objetivos de análise de sua teoria, semelhante à dicotomia
langue-parole, de Saussure entre o conhecimento que uma pessoa tem das
regras de uma língua – a competência, e o uso efetivo desta língua em situações
reais – o desempenho. Assim Chomsky considerava o estudo da competência
prioritário para a lingüística que, em sua opinião, não deveria restringir-se ao
estudo do desempenho. Como o objetivo mais importante de sua teoria era
descrever as regras que governavam a estrutura da competência o ponto
complicado dessa teoria seria exatamente a apreensão do material que
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FUESPI/NEAD Letras Português
pretendia investigar, que estava num nível mais subjacente (mental) à produção.
Com essa postura, a linguistica então fora considerada como uma disciplina
mentalista, o que em si representava um contraste contra o viés behaviorista
da linguística feita na primeira metade do século XX. Defendia-se, ainda nesta
perspectiva, que o objetivo era mais amplo e ia desde oferecer uma gramática
capaz de avaliar a adequação de diferentes níveis de competência e ir além
dos estudos dos idiomas para chegar à natureza da linguagem humana como
um todo (pela descoberta dos “universais linguísticos”). A essência dessa
abordagem foi desenvolvida na obra publicada em 1986 Knowledge of
Language que serviu como reposta à questão seguinte: “Como é possível
que os seres humanos, cujos contatos com o mundo são breves, pessoais e
limitados, sejam ainda assim capazes de conhecer tanto quanto conhecem”?Nessa perspectiva Chomsky fundamentava a sua tese de que os seres
humanos já trazem em sua mente uma gramática interna.
Chomsky criou uma teoria embasada em tanta elaboração mental
que teve o mérito de elaborar um aparato técnico que objetivava explicitar a
noção de competência, um sistema de regras e símbolos, baseados numa
lógica quase matemática que se destinava a prever e regular na perspectiva
formal da estrutura sintática e fonológica dos enunciados. Este sistema não
se voltava nem para a Morfologia, nem para a Semântica, por razões óbvias,
dado o grau de formalismo da teoria em tela. Embora daí tenha-se inclusive,
surgido a morfologia derivacional, em face do estudo do léxico e da
descoberta de estruturas que anteriormente à teoria Chomskyana não haviam
sido pensadas.
A partir da década de 50, uma parte considerável dos estudiosos da
linguística, influenciada pela teoria que receberia o nome de gramática
transformacional, dedicou-se a desenvolver a forma das gramáticas gerativas,
e a teoria original já foi reformulada diversas vezes, exatamente, respondendo
às críticas e acolhendo as contribuições que recebera ao longo de seu
desenvolvimento.
114
Estruturalismos Linguísticos
Mas para voltarmos à análise do formalismo, enquanto movimento de
estudos linguístico, vejamos algumas importantes contribuições de Oliveira
(2003) em seu artigo intitulado Formalismo e Funcionalismo: fatias de uma
mesma torta. O autor traz uma contribuição muito oportuna acerca dos estudos
dessas duas correntes linguísticas: o formalismo e o funcionalismo. O estudo
da questão da aquisição da linguagem é controverso e polarizado, de um
lado no behaviorismo, e de outro, no inatismo.
Outra questão que tem gerado discussão entre os linguistas está
centrada na disputa teórica comum entre os adeptos de ambas as correntes
na busca de mostrar o melhor paradigma teórico para lidar com os estudos
da linguagem.
O formalismo se desenvolve como estudo das formas linguísticas e
considera a língua como um sistema autônomo. Enquanto no funcionalismo a
função das formas linguísticas tem papel essencial, no formalismo, o que é
mais relevante é a análise das formas linguísticas em face dos interesses
funcionais que tem importância secundária. Ou seja, enquanto o primeiro como
a sua própria denominação já diz, prioriza a função das formas, o segundo
prioriza justamente a análise dessas formas.
No que concerne aos estudos da linguagem, os funcionalistas se
opõem aos formalistas por entenderem que nesta corrente a língua é estudada
como um objeto descontextualizado, desvinculado de seus falantes-ouvintes,
de suas circunstâncias de uso. Para os funcionalistas a língua na pode ser
desvinculada de suas relações com as diversas maneiras de interação social.
Votre e Naro (1989) apud Oliveira (2003, p. 93) defendem que a forma
da língua surge, origina-se no próprio uso da língua, da comunicação na
situação social. Esses autores ressaltam que “a estrutura é uma mera ilusão
criada e recriada pelas regularidades da comunicação humana” justamente
devido ao fato de não existência própria. Sem tomar partido de uma ou de
outra corrente por acreditar veementemente na complementaridade de ambas,
chamamos-lhes a atenção para o argumento dos funcionalistas de que “a
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FUESPI/NEAD Letras Português
estrutura é uma mera ilusão criada e recriada pelas regularidades da
comunicação humana” defendo que podemos pegar o mote “regularidade”
exatamente para fundamentar nossa reflexão acerca de tal posicionamento.
De que forma se torna mais evidente a regularidade de um determinado
fenômeno se não na sua estrutura?
E é com base nessa reflexão que afirmamos que ambas as teorias
são muito profícuas se empregadas de forma complementar para os estudos
da linguagem.
Voltando às críticas dos adeptos dessas teorias, temos em Oliveira
(2003) a afirmação de que os formalistas criticam os funcionalistas pela
inclusão de fenômenos psicológicos e sociológicos, postura que fere o princípio
da autonomia linguística em relação às demais ciências. Para estes, os
fenômenos psicológicos e sociológicos devem ser estudados
respectivamente, pela Psicologia e Sociologia.
Há um ranço de purismo, de positivismo em tal postura que ainda
prevalece em nossa sociedade. Um exemplo recente são as críticas quanto
às pesquisas realizadas em linguística aplicada que vão beber na fonte de
outras ciências ou disciplinas e são criticadas sob a acusação de não estarem
fazendo ciência, ou de não estarem fazendo linguística aplicada. E tal
posicionamento é tão reprovável quanto o dos formalistas, pois a ciência, a
linguagem, o conhecimento científico tudo isso se inter-relaciona, nada ocorre
de forma isolada. Em nosso entendimento, não pode haver mal algum em se
fazer ciência baseando-se esse fazer em (outra(s)) ciência(s), isso somente
enriquece as teorias, as pesquisas e os estudos. Mais importante do que nos
preocuparmos com o entrelaçamento de ciências e saberes é nos atermos
ao rigor científico na área, na ciência, na pesquisa em que nos empenhamos.
Agora, para essa “ciência-ilha”, e esses “cientistas-ilhas” a única justificativa
para essa preocupação em isolar e desenvolver os estudos isoladamente
seria o fato de querer perpetuar a postura autoritária do saber restrito a um
pequeno grupo, fragmentado, isolado que legitima os monstros sagrados de
116
Estruturalismos Linguísticos
uma ciência, de um saber. Postura esta, completamente inadequada e
injustificável para o momento em que estamos vivendo no qual as ciências
dialogam e se complementam, reconhecendo a necessidade de busca de
auxílio em outros campos de saber, bem como se instaura a postura de que a
transdisciplinaridade e de que o cruzamento das ciências não é sinal de falta
de autonomia, mas de busca pela completude.
Oliveira (2003) traz uma lúcida e elogiável reflexão acerca das correntes
funcionalista e formalista:
Observa-se, a partir desse quadro, que tanto o funcionalismo como
o formalismo tratam do mesmo fenômeno: a língua. Contudo, a
forma como vêem esse fenômeno é distinta, o que implica o uso
de metodologias distintas no estudo desse fenômeno. Por essa
razão, afirmar que um paradigma é melhor que o outro não faz
sentido: apesar de o objeto observacional de ambos ser o mesmo
i.e., funcionalismo e formalismo não podem ser comparados nem
vistos como alternativos.
O autor fecha sua avaliação em relação ao emprego de ambas as
correntes de forma bastante lúcida, defendendo que o trabalho conjunto
realizado entre funcionalistas e formalista pode proporcionar uma sinergia
bastante salutar para os estudos linguísticos. Afinal, os estudos de aspectos
diferentes do mesmo fenômeno podem dar uma contribuição muito importante
para o entendimento de questões linguísticas no sentido de tais estudos serem
complementares um ao outro. O autor ainda propõe a junção de ambas as
correntes de estudo a bem dos estudos linguísticos, postura que julgamos
bastante adequada. E como exemplo de complementaridade teórica sugere
a atenção para o ensino do inglês que também ocorre sob a disputa e debate
acerca da postura mais adequada quanto ao ensino das formas e das funções
como auxiliares no desempenho do ato comunicativo. Não nos deteremos na
exposição acerca do exemplo por não ser este o nosso foco.
O que se pode perceber a partir do que foi exposto é que o
Estruturalismo embora tenha sido um movimento muito criticado fora também
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muito profícuo em se tratando de ideias para o desenvolvimento dos estudos
da linguagem, dando inclusive terreno para os estudiosos que se consideravam
seus adeptos como para aqueles que escolhiam o posicionamento da crítica
e/ou do polo que se entendia como oposto, pois para se assemelhar ou se
distinguir todos os estudiosos da linguagem partiram do estruturalismo. Vale
ressaltar que alguns movimentos nem chegarama partir do estruturalismo,
mas apenas se centraram no mesmo objeto de estudo dessa corrente,
observando o objeto sob outro ponto de vista, pois no início e no final de tudo,
o que se tem é a estrutura que pode ser encarada sob a ótica formal ou
funcional, será sempre estrutura. Reconhecemos as limitações desta corrente
de estudos, mas entendemos que as limitações também foram úteis para a
elaboração de outras correntes. Fica, a título de auxílio para os seus estudos,
caro aluno, o quadro resumitivo acerca do formalismo.
Formalismo – Loius Hjelmslev
Objeto de estudo: a língua em seu estado formal, abstrato,
autônomo.
Característica: busca pelas unidades da língua: fonema, morfema
e sintagma.
Preocupação: funcionamento da língua enquanto sistema.
Contribuição: a complementação das noções de forma e substância
criadas por Saussure com criação dos planos da expressão e do
conteúdo para entrecruzar estes conceitos. Criação de uma teoria
que estudava qualquer linguagem fosse ela verbal ou não verbal,
apenas abstraindo o significado e focando a forma.
Para aprofundar melhor seus conhecimentos sobre o formalismo e o
funcionalismo linguístico, leia Formalismo e Funcionalismo linguísticos.
Disponível em http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=43783&cat=Artigos&vinda=S
118
Estruturalismos Linguísticos
Resumindo...
Vimos nesta unidade, em primeiro, os estudos da linguagem anteriores
a Saussure, dentre os quais: O historicismo, O descritivismo bloomfieldiano,
a contribuição dos neogramáticos.
Em seguida, tivemos contato com ideias bastante elucidativas a
respeito dos estudos da linguagem como as que se seguem:
O ponto de vista de Saussure tem vínculo com a tese da relatividade
linguística.
A confusão que é estabelecida entre a vinculação da linguística
moderna e as ideias de Saussure.
Estudamos ainda o método comparativo.
E vimos ainda que, inaugurando uma postura mais naturalista nos
estudos histórico-comparativos, A. Schleicher (1821-1867) propôs uma
tipologia das línguas e uma “árvore genealógica” das línguas indo-europeias,
propondo a reconstrução da língua original indo-europeia.
Tivemos contato também como o Estruturalismo Europeu, sobre o
qual vimos que a delimitação do objeto de pesquisas linguísticas feita por
Saussure foi considerada uma decisão muito radical para a época, trazendo,
inclusive muitas consequências, pois aquela era um postura totalmente oposta
ao que era usual na época como também se opunha à forma de pesquisa de
Saussure durante toda a sua vida.
No que diz respeito aos Estruturalismos Americanos, vimos que
embora o estruturalismo americano e o europeu tenham compartilhado um
bom número de características Weedwood (2002) defende que tanto os
linguistas europeus quanto os americanos, por insistirem em tratar cada língua
como um sistema mais ou menos coerente e integrado, enfatizaram,
exageraram mesmo, a incomparabilidade estrutural das línguas individuais,
embora houvesse justificativa para tal postura.
A justificativa disso pode estar ligada à forma como a linguística
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FUESPI/NEAD Letras Português
americana se desenvolveu a partir do final do século XIX, ou seja, como havia
centenas de línguas americanas, muitas delas faladas apenas por um punhado
de falantes que nunca tinham sido descritas que poderiam ficar inacessíveis
caso não fossem descritas.
Vimos também que dentre os mais importantes estruturalistas
americanos pode-se citar Franz Boas (1858 -1942). Depois de Boas, dentre
os mais importantes linguistas americanos estavam Edward Sapir (1884-
1939) e Leonard Bloomfield (1887-1949). Tanto Boas quanto Sapir estavam
perfeitamente à vontade na antropologia e na linguística, a junção destas duas
áreas é uma postura que tem perdurado em algumas universidades
americanas, ate os dias de hoje. Os estruturalistas americanos Boas e Sapir
foram fortemente influenciados pela visão humboldtiana da relação entre
linguagem e pensamento.
Conforme Ilari (2004), os linguistas americanos pretendiam que as
categorias gramaticais fossem extraídas dos dados, termo que pode ser
interpretado como extraído do sistema, nos termos de Saussure, a referência
ao princípio da arbitrariedade é clara, entretanto estes estruturalistas não
tributaram suas bases teóricas em nenhum momento a Saussure, preferindo
identificarem-se como tributários de Leonard Bloomfield.
Havia na opinião de Ilari (204) muitas características do estruturalismo
americano que denotariam pontos em comum com o estruturalismo europeu,
dentre estas:
• confiança nos dados do corpus;
• representação do trabalho do linguista como uma construção
indutiva que se faz por etapas;
• atenção prioritária à distribuição;
• valorização da singularidade das línguas;
• estudos linguísticos construídos com base profundamente
imanentista.
A impressão mais forte que pode nos restar de tal exposição é que o
120
Estruturalismos Linguísticos
estruturalismo americano longe de ser distinto do estruturalismo europeu como
se supunha talvez possa distanciar-se deste apenas no âmbito geográfico.
Os termos funcionalismo e estruturalismo são frequentemente
utilizados em antropologia e sociologia para se referirem a teorias ou a
métodos de análises contrastantes. Entretanto, na linguística, o funcionalismo
é visto como um movimento particular dentro do estruturalismo.
Seus representantes mais conhecidos são os membros da Escola
de Praga, cuja origem é proveniente do Círculo Linguístico de Praga, nem
todos os seus membros estavam sediados em Praga, tampouco eram todos
tchecos. Roman Jakobson e Nikolag Trubetzkoy eram emigrantes russos e
foram seus representantes mais influentes. A Escola de Praga causou seu
maior impacto em fonologia, distinguindo-a da fonética e criando o conceito
de traços distintivos (Trubetzkoy).
Outra contribuição desta escola foi a criação dos conceitos de função
demarcadora – dos traços que não são distintivos entre si - e de função
expressiva – que se refere à indicação dos sentimentos ou da atitude do falante.
Os funcionalistas influenciaram em outras áreas tais como no intelectualismo
da tradição filosófica ocidental.
Um interesse duradouro da Escola de Praga, no que concerne à
estrutura gramatical das línguas refere-se à perspectiva funcional da sentença.
Os funcionalistas consideraram que a estrutura dos enunciados é determinada
pelo uso que lhes é dado e pelo contexto comunicativo em que ocorrem.
O funcionalismo, quanto à gramática, é insustentável ao defender que
a estrutura dos sistemas linguísticos é parcialmente, embora não determinada
pela função, visto que não somente a função é que influencia, por exemplo a
categorização gramatical, a sintaxe das orações porque no desenvolvimento
de tais categorizações há fenômenos linguísticos que não estão apenas no
âmbito das funções, tais como o contexto de produção das sentenças, dos
textos, a semanticidade, a pragmática e todos estes fatores devem ser levados
em consideração pelo funcionalismo.
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FUESPI/NEAD Letras Português
O funcionalismo surgiu como uma forma de identificação da França
com o estruturalismo, uma orientação que foi deliberada por André Martinet,
linguista que tinha mantido fortes contatos com os Círculos de Praga e
Copenhague.
Realmente há que se falar em uma inadequação dos temas aos quais
o funcionalismo se dedicou, justamente em virtude da natureza de estudo que
esta escola se propôs a desenvolver, mas entendemos que o fato de ter
restringido o estudo apenas na ótica da função, desprezando elementos
importantes para os estudos linguísticos, talvez até mesmo porque o tipo de
estudo intencionado por essa escola fosse mesmo mais adequado ao núcleo
duro das línguas.
Ilari (2004) ainda ressalta a importante contribuição de Martinet no
que se refere aos estudos de fonologia diacrônica, mais especificamente por
ocasião dos estudos de evolução fonológicade um dialeto românico da região
dos Alpes franceses por meio do qual Martinet mostrou que a evolução era
regulada por um princípio de economia
Tivemos contato com algumas das teses propostas no Círculo
linguístico de Praga – CLP e pudemos perceber que o Círculo linguístico de
Praga teve a sua relevância para o funcionalismo especialmente pelos estudos
que possibilitou e pelas teses defendidas, que por sua vez tinham uma relação
com o estruturalismo e o funcionalismo. Foram defendidas nove teses, tratando
de linguística e literatura. Dentre as quais vimos três referentes à linguística.
Desse modo, percebemos ainda que as contribuições da escola de
Praga foram inquestionáveis e o estudo realizado pelo grupo que denominamos
seminaristas foi de extrema relevância, assim deixamos-lhe o blog no qual
você, caro aluno, poderá aprofundar-se um pouco mais nos estudos que foram
feitos de forma bastante cuidadosa e interessante.
E por último, tivemos contato como o Formalismo, cujo representante
maior foi o linguista Avram Noam Chomsky. A sua teoria serve até hoje como
122
Estruturalismos Linguísticos
ponto de referência para os estudos posteriores aos desenvolvidos por este
linguista. Sobre essa teoria é importante ressaltar que uma diferença nos
estudos desenvolvidos por Chomsky, é que ele atribui maior importância às
propriedades formais das línguas e à natureza das regras exigidas para sua
descrição do que às relações entre a linguagem e o mundo, até para corroborar
a sua hipótese de que a faculdade humana da linguagem é inata e específica
da espécie.
Outra diferença entre o gerativismo e o estruturalismo bloomfieldiano
e pós- bloomfieldiano tem relação com a distinção entre competência e
desempenho.
Vimos assim, que os aspectos mais controvertidos do gerativismo
chomskiano, na opinião de Lyons (1987), estão na sua associação com o
mentalismo e a sua reafirmação da doutrina filosófica do conhecimento inato.
Nessa perspectiva, a publicação da obra Syntactics Structures por
Chomsky, em 1957 tornou-se um divisor de águas para a linguística do século
XX. Nesta obra e em publicações posteriores o linguista desenvolveu o conceito
de uma gramática gerativo-transformacional, lançando as concepções de
estrutura profunda – EP e estrutura superficial – ES, que seriam decisivas
para um estudo mais formal e mais completo dos estudos da linguagem,
levando em conta as diferenças entre os níveis superficial e profundo das
sentenças.
O formalismo se desenvolve como estudo das formas linguísticas e
considera a língua como um sistema autônomo.
O que se pode perceber a partir do que foi exposto é que o
estruturalismo, embora tenha sido um movimento muito criticado, fora também
muito profícuo em se tratando de ideias para o desenvolvimento dos estudos
da linguagem, dando tanto, inclusive, terreno para os estudiosos que se
consideravam seus adeptos quanto para aqueles que escolhiam o
posicionamento da crítica e/ou do polo que se entendia como oposto, pois
para se assemelhar ou se distinguir todos os estudiosos da linguagem partiram
do estruturalismo.
123
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Atividades de Aprendizagem
1) Elabore um resumo sobre o Estruturalismo, citando os seus principais
representantes e suas respectivas contribuições.
2) Distinga o Estruturalismo europeu do americano, citando os seus principais
representantes e suas respectivas contribuições.
3) Elabore um resumo sobre o Funcionalismo, citando os seus principais
representantes e suas respectivas contribuições.
4) Discorra sobre a afirmação de que o Funcionalismo é um movimento à
parte do estruturalismo. Cite fatos que corroborem seu posicionamento, seja
ele favorável ou desfavorável.
5) Elabore um resumo sobre o Formalismo, citando os seus principais
representantes e suas respectivas contribuições.
6) Escreva um texto do gênero dissertativo-opinativo no qual você se mostre
favorável ou desfavorável à inclusão do formalismo no estruturalismo. Busque
fatos que corroborem a sua opinião, seja ela favorável ou desfavorável à
referida inclusão.
7) Organize os resumos que vimos lhe pedindo que produzisse durante todo o
livro e agora produza o fichamento que lhe é solicitado no final do livro. Aproveite
para rever alguns pontos que podem não ter ficado bem fixados em sua
memória e bons estudos. Sucesso!
124
Estruturalismos Linguísticos
Atividade Complementar
Elabore uma Proposta de ensino voltada para o trabalho com um determinado
tema que seja de seu interesse. Pode abordar o trabalho com a gramática da
língua espanhola. Você pode pedir auxílio de seu professor/tutor. O nome
Proposta de Ensino pode parecer meio complexo, mas o trabalho é bem
simples, pois se trata de um pequeno projeto que você poderá desenvolver
sozinho, em grupo e quem sabe até com a ajuda de algum professor que
possa orientá-lo. Não tenha receio de errar, enfrente o desafio e aventure-se
nos caminhos da pesquisa. Inspire-se em nossos linguistas. Pesquisar tornará
seus estudos muito mais gostosos. Sucesso!!
125
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Considerações Finais
Uma obra como esta nos permite um momento prazeroso de estudo,
para o qual fizemos uma síntese de alguns trabalhos relevantes para a
constituição do movimento denominado estruturalismo, que, em seu projeto
teórico, acabou por abrigar outros movimentos e outras correntes de estudos.
Sentimos que o estruturalismo mesmo quando foi criticado também
foi útil, pois entendemos que toda a ciência se desenvolveu nesse movimento
intelectual evolutivo de elaborar, acrescentar sobre o que já estava posto como
estudo real, sendo assim útil ao que em um determinado momento era apenas
potencial.
Entendemos as limitações que este movimento realmente mostrou
em seu desenvolvimento como método de estudos linguísticos.
Compreendemos que muitas dessas limitações são justificáveis em função
do momento histórico em que seus estudiosos estavam inseridos, bem como
da limitação de aparato técnico que possibilitasse pesquisas mais
aprofundadas que teriam contribuído para a ampliação de tais estudos.
E como a nós é inerente a imperfeição, a parcialidade e a
incompletude, nos solidarizamos com o movimento estruturalista, porque “em
parte, conhecemos e, em parte, profetizamos” (1 Coríntios, 13: 9). Só a Deus
cabe a onipotência, a onisciência e a onipresença.
Esperamos que este livro tenha sido útil aos seus estudos, pois o
elaboramos com muito cuidado e atenção. Ansiosos por contemplar tudo aquilo
que nos surgiu como dúvida com relação ao tema estruturalismo, por não
cometer injustiças no sentido de não citar algum estudioso que para com esses
estudos tenha colaborado e por fim, para que este lhe fosse útil em seus
estudos, fomos ajustando-o para estas expectativas fossem atendidas.
Você encerra aqui, caro aluno, mais uma disciplina. Entretanto, o
encerramento não deve ser encarado como o fim de um processo, mas o
início de mais um momento em que você deve se sentir mais ávido por
descobrir, conhecer e estudar mais ainda. Bons estudos e sucesso!!
127
FUESPI/NEAD Letras Português
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AVALIAÇÃO DO LIVRO
Prezado(a) cursista:
Visando melhorar a qualidade do material didático, gostaríamos que
respondesse aos questionamentos abaixo, com presteza e discernimento.
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Unidade:____________ Município: _________________
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clara e atraente
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2. Quanto ao conteúdo, está coerente, contextualizado à sua prática de
estudos
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estudados e compreensíveis para possíveis respostas.
( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM
4. Coloque abaixo suas sugestões para melhorar a qualidade deste e de
outros materiais.
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