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Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Cirurgia Geral CIRURGIA GERAL TUMORES CABEÇA E PESCOÇO Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço ÍNDICE 5 7 7 9 18 19 19 23 25 28 30 30 31 33 INTRODUÇÃO MASSAS CERVICAIS - AVALIAÇÃO CLÍNICA - MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS - TUMOR PRIMÁRIO OCULTO ESVAZIAMENTOS CERVICAIS - TIPOS DE ESVAZIAMENTO CERVICAL - INDICAÇÕES E SÍTIOS DE DRENAGEM - ESTADIAMENTO DE METÁSTASES LINFONODAIS - TÉCNICA CIRÚRGICA E COMPLICAÇÕES CAVIDADE ORAL - INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA - ANATOMIA - QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO CIR 2 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço 37 38 40 41 42 43 47 50 50 51 54 61 63 65 66 68 - ESTADIAMENTO - TRATAMENTO FARINGE - ANATOMIA - NASOFARINGE - OROFARINGE - HIPOFARINGE LARINGE - INTRODUÇÃO - ANATOMIA - TUMORES DA LARINGE - REABILITAÇÃO E ASPECTOS DA LARINGECTOMIA TOTAL GLÂNDULAS SALIVARES - ANATOMIA - PATOLOGIAS NÃO NEOPLÁSICAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES - PRINCIPAIS NEOPLASIAS BENIGNAS CIR 3 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço 70 72 76 76 79 - PRINCIPAIS NEOPLASIAS MALIGNAS - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE LESÕES MALIGNAS E BENIGNAS - TRATAMENTO - COMPLICAÇÕES Bibliografia CIR 4 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço INTRODUÇÃO A cirurgia de cabeça e pescoço é uma área pouco explorada durante a graduação e até mesmo em boa parte dos serviços de residência de cirurgia geral, porém, ela é importante tanto do ponto de vista médico quanto para as provas. Estima-se que sejam diagnosticados 200.000 casos novos de tumores de cabeça e pescoço ao ano no mundo, sendo as neoplasias de cabeça e pescoço o 6° tipo de câncer mais comum globalmente com alta morbidade e mortalidade. Os tratamentos envolvem equipe multidisciplinar e cirurgias extremamente diversas e complexas, e o tema tem sido muito explorado nos concursos das principais instituições do país, frequentemente, abordando 5 a 10 questões da cada prova. Apesar de não ser um tema tão constante, representa uma porção significativa da prova que pode ser o diferencial para a aprovação e que muitos candidatos normalmente não possuem domínio. Nesta apostila, serão discutidos os esvaziamentos cervicais, as neoplasias da laringe, as neoplasias da cavidade oral e orofaringe, as neoplasias de glândulas salivares, as massas cervicais benignas e malignas. Vale lembrar que as afecções de Tireoide, Paratireoides e Tumores dermatológicos são vistos separadamente. Nas próximas páginas, vamos garantir da forma mais simples possível que você tenha o conhecimento que fará a diferença para as áreas e instituições mais concorridas. A maioria dos cânceres de cabeça e pescoço envolvendo as vias aéreas superiores possuem como desencadeador a exposição ao tabaco e álcool. O risco de desenvolvimento de câncer possui um fator dose- CIR 5 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço dependente, porém, mesmo com baixa carga tabágica e etílica ele pode se desenvolver. O álcool e tabaco possuem ainda um efeito sinérgico, estimando-se um risco entre 10 e 20 vezes maior de desenvolvimento de neoplasia das vias aéreas superiores quando comparado a pacientes não tabagistas e não etilistas. O surgimento de uma neoplasia das vias aéreas superiores relacionadas ao tabaco leva a um risco de até 10% de surgimento de um segundo tumor primário em outro órgão também exposto à fumaça, o que é chamado de "campo de cancerização". O tipo histológico mais comum é o carcinoma espinocelular. Atualmente está bem estabelecida a relação do HPV, em especial o HPV-16 e 18, com cânceres de orofaringe, sendo a principal causa de câncer de orofaringe em pacientes não tabagistas. Dos tumores causados pelo HPV, o carcinoma de orofaringe ocupa a segunda posição em frequência, atrás do tumor de colo de útero e à frente das neoplasias de reto e ânus. Outros fatores reconhecidos incluem a exposição à radiação, especialmente significativa para tumores de tireóide. A exposição ao vírus Epstein-Barr (EBV) e a exposição ocupacional ao formaldeído e substâncias da indústria petroquímica frequentemente estão associados aos tumores de nasofaringe. A exposição solar é o fator mais importante para os tumores de pele da cabeça e pescoço e do lábio. A epidemiologia é bastante heterogênea quanto à distribuição geográfica. Tumores da cavidade oral e hipofaringe tendem a ser mais frequentes em países em desenvolvimento e com alto consumo de álcool e tabaco. Em países desenvolvidos, houve um aumento de casos de câncer de laringe relacionados ao HPV. O tratamento, historicamente cirúrgico, atualmente conta com diversas modalidades e tecnologias capazes de modificar positivamente a morbidade dos pacientes. Dentre as possibilidades, além da cirurgia CIR 6 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço aberta convencional, inclui-se quimioterapia e radioterapia, cirurgias minimamente invasivas por via endoscópica com auxílio de laser ou robótica e encontra-se em investigação o uso de imunobiológicos com alguns resultados promissores. MASSAS CERVICAIS A região cervical contém diversas estruturas que podem levar à formação de massas de etiologia infecciosa, congênita, neoplasias benignas ou malignas. O diagnóstico diferencial depende de uma boa anamnese e exame físico, sendo possível com frequência inferir o diagnóstico sem nenhum outro exame, especialmente nos casos de malformações, presentes com mais frequência nas crianças. Este capítulo inclui também a investigação das neoplasias que se manifestam unicamente como metástases cervicais, chamados tumores primários ocultos, frequentes na prática clínica e muito cobrados nas provas. AVALIAÇÃO CLÍNICA Lesões com surgimento a menos de 30 dias, com aspecto fibroelástico, acompanhadas de sintomas como rash cutâneo, febre, tosse ou linfonodomegalia dolorosa frequentemente representam um quadro de linfonodomegalia reacional decorrente de processo infeccioso. A avaliação clínica deve incluir o exame físico cervical e a oroscopia. CIR 7 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Para linfonodomegalias persistentes em pacientes jovens, sem fatores de risco e sem linfonodo de características neoplásicas (endurado, aderido a planos profundos, indolor, coalescente), deve-se prosseguir a investigação infecciosa, incluindo sorologias para toxoplasmose, rubéola, EBV/CMV, HIV/sífilis, tuberculose. Caso não seja realizado o diagnóstico ou caso haja suspeita de lesão neoplásica, deve-se proceder com exames de imagem, podendo incluir ultrassonografia ou tomografia computadorizada e PAAF. Sempre que não puder ser descartada a suspeita de metástase de carcinoma espinocelular deve-se evitar a biópsia aberta, visto que ela pode mudar o estadiamento da lesão por ruptura das barreiras anatômicas naturais. A biópsia aberta é reservada para casos em que há alta suspeição de linfoma (pacientes com linfonodomegalia difusa, jovens, sem fatores de risco, na presença de sintomas B ou em pacientes com antecedentes de linfoma) ou para os casos de linfonodomegalia em que não foi possível o diagnóstico nem pela PAAF nem por punção com agulha grossa (core biopsy). Há também algumas massas que estão presentes desde o nascimento, manifestando-se apenas mais tarde durante a infância ou em adultos jovens, frequentemente notados durante um episódio de piora secundária a uma infecção, que constituem as malformações congênitas. CIR 8 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS Malformações branquiais: representam cerca de 20% das massas cervicais na região lateral do pescoço, situando-se próximo à bordanão serão discutidas individualmente. • • CIR 71 https://www.semanticscholar.org/paper/Tumor-mucoepidermoide-de-la-gl%C3%A1ndula-par%C3%B3tida.-de-Sarmiento-Ramos/0093375b8735e08572c60a918e727e9a79ef5d3c/figure/0 https://www.semanticscholar.org/paper/Tumor-mucoepidermoide-de-la-gl%C3%A1ndula-par%C3%B3tida.-de-Sarmiento-Ramos/0093375b8735e08572c60a918e727e9a79ef5d3c/figure/0 https://www.semanticscholar.org/paper/Tumor-mucoepidermoide-de-la-gl%C3%A1ndula-par%C3%B3tida.-de-Sarmiento-Ramos/0093375b8735e08572c60a918e727e9a79ef5d3c/figure/0 https://www.semanticscholar.org/paper/Tumor-mucoepidermoide-de-la-gl%C3%A1ndula-par%C3%B3tida.-de-Sarmiento-Ramos/0093375b8735e08572c60a918e727e9a79ef5d3c/figure/0 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE LESÕES MALIGNAS E BENIGNAS CIR 72 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Os tumores de glândulas salivares com frequência se manifestam apenas como uma massa de crescimento lento e progressivo. A consistência do nódulo é inespecífica e quadros clínicos mais drásticos como ulceração para a pele, otalgia reflexa e metástases linfonodais são incomuns. Para tumores da parótida, a grande característica que deve levar à alta suspeição de uma neoplasia maligna é o acometimento do nervo facial, que ocorre exclusivamente nos tumores malignos. Parte essencial do exame clínico durante a investigação de tumores da parótida é a investigação da funcionalidade do nervo facial (VII par), incluindo a mobilidade da região frontal, oclusão ocular e mobilidade da boca. CIR 73 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Paralisia do nervo facial periférica à esquerda devido a carcinoma adenoide cístico. Fonte: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17973031/ CIR 74 https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17973031/ https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17973031/ Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Sinais de lesão do nervo facial. Fonte: Shutterstock. A ultrassonografia com frequência é utilizada para a avaliação inicial dos tumores de glândulas salivares, além de ser utilizada para guiar a PAAF. Lesões maiores requerem a realização de imagem mais complexa, sendo o mais comum a utilização da tomografia computadorizada. Com ela, é possível avaliar a real dimensão da lesão, bem como sua relação com as demais estruturas, sendo essencial para o planejamento cirúrgico de lesões maiores. A presença de invasão de estruturas adjacentes também é sinal identificado apenas nos casos de tumores malignos. A realização de PAAF deve sempre ser realizada antes da abordagem cirúrgica. Em alguns casos ela será capaz de fornecer o diagnóstico, porém, com frequência, devido à grande variedade histológica dos tumores de glândulas salivares, o diagnóstico será apenas sugerido, sendo confirmado após a excisão cirúrgica completa da lesão. A biópsia aberta nunca deve ser realizada, pois além de haver risco de lesão do nervo facial, no caso de neoplasias malignas ela mudará o estadiamento da lesão pela ruptura das barreiras anatômicas naturais. CIR 75 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço TRATAMENTO O tratamento das neoplasias de glândulas salivares é quase sempre cirúrgico. Para a glândula submandibular, é habitualmente realizada a submandibulectomia. Já a abordagem da glândula parótida dependerá da patologia suspeita no pré-operatório. Para lesões benignas, é preconizada a realização de uma parotidectomia parcial, com preservação do nervo facial. Especialmente no caso de adenoma pleomórfico, deve-se garantir uma margem ampla da lesão, devido à alta taxa de recidiva pela emissão de pseudópodes característica desse tumor. Já para os tumores malignos, a cirurgia preconizada é a parotidectomia total. Sempre que não houver sinais clínicos de acometimento do nervo facial ou lesão volumosa englobando o nervo, deve- se tentar a preservação do mesmo. Para tumores de alto grau, deve-se realizar o esvaziamento cervical profilático supra-omo-hióideo (ECSOH, níveis I a III) ipsilateral. Na presença de metástases clinicamente detectáveis, deve-se realizar ao menos o esvaziamento cervical funcional ipsilateral (níveis I a V). O tratamento adjuvante é reservado para tumores de alto grau avançados, metástase linfonodal com extravasamento extranodal, invasão perineural ou angiolinfática ou margens comprometidas. COMPLICAÇÕES CIR 76 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço As principais complicações relacionadas à parotidectomia parcial ou total são a lesão do nervo facial e a sudorese gustatória, ou síndrome de Frey. Acredita-se que essa síndrome ocorre por conta de uma anastomose não intencional entre os ramos do sistema nervoso autônomo presente no parênquima glandular e ramos das glândulas sudoríparas da pele. Dessa forma, sempre que há estímulo à salivação, pode ocorrer também uma sudorese significativa da região facial (hiperidrose) e hiperemia local. A melhor forma de evitar essa síndrome consiste na interposição de tecido local com fáscia ou músculo ainda no ato operatório, visto que a abordagem posterior é de alto risco para lesão do nervo facial. O tratamento pós-operatório envolve uso de desodorantes e, nos casos mais intensos, pode-se realizar a aplicação de toxina botulínica. As principais complicações relacionadas à submandibulectomia decorrem da lesão dos diversos nervos que estão próximos à glândula, incluindo o ramo marginal da mandíbula, o nervo hipoglosso e o nervo lingual. CONCLUSÃO Bom, galera, aqui concluímos a nossa apostila sobre cirurgia de cabeça e pescoço. Sabemos que essa não é uma leitura fácil e que há muitos itens de decoreba, mas com esse material vocês estarão preparados para a maioria das questões da área. Tenham em mente que nem sempre é necessário conhecer todos os detalhes dos esvaziamentos cervicais ou do estadiamento de todas as lesões de cada região da cabeça e pescoço. Se vocês conseguirem absorver parte desse conteúdo e das dicas fornecidas por aqui, durante as questões da prova verão que os conteúdos se complementam e boa parte das questões poderão ser resolvidas por CIR 77 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço eliminação. Ainda assim, não deixem de estudar o tema com carinho, pois ele tem se tornado cada vez mais frequente em grandes instituições. Bom estudo e vamos pra cima! CIR 78 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Bibliografia REFERÊNCIAS Differential diagnosis of a neck mass - uptodate Overview of thoracic outlet syndromes - uptodate Infantile hemangiomas: Evaluation and diagnosis - uptodate Diagnostic approach to and treatment of thyroid nodules - uptodate Overview of the diagnosis and staging of head and neck cancer - uptodate Epidemiology and risk factors for head and neck cancer - uptodate Head and neck squamous cell carcinogenesis: Molecular and genetic alterations - uptodate Differential diagnosis of a neck mass - uptodate https://cipe.org.br/novo/nota-tecnica-linfangioma/ https://www.scielo.br/j/rcbc/a/fBXCpfWKBvC4YpMwKDTSR3z/? lang=pt 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. CIR 79 https://cipe.org.br/novo/nota-tecnica-linfangioma/ https://www.scielo.br/j/rcbc/a/fBXCpfWKBvC4YpMwKDTSR3z/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rcbc/a/fBXCpfWKBvC4YpMwKDTSR3z/?lang=pt Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço https://www.scielo.br/j/rboto/a/bzH86XdPbtCHqJLNgCdDndH/? lang=pt http://www.rvacbo.com.br/ojs/index.php/ojs/article/view/251/309 https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/adenoma- pleomorfico Salivary gland stones - uptodate Peraza A, Gomez R, Beltran J, Amarista FJ, Mucoepidermoid ´ Carcinoma. An Update and Review of the Literature, Journal of Stomatology oral and Maxillofacial Surgery (2020), doi: https:// doi.org/10.1016/j.jormas.2020.06.003Dantas AN, de Morais EF, Macedo RA, Tinôco JM, Morais ML. Clinicopathological characteristics and perineural invasion in adenoid cystic carcinoma: a systematic review. Braz J Otorhinolaryngol. 2015;81:329-35. Paragangliomas: Epidemiology, clinical presentation, diagnosis, and histology https://www.scielo.br/j/jvb/a/pJF95yNgF6JwRQJnjFpPDnF/?lang=pt https://www.liebertpub.com/doi/full/10.1089/thy.2015.0020 Jatin Shah's Head and Neck surgery and oncology, fifth edition 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. CIR 80 https://www.scielo.br/j/rboto/a/bzH86XdPbtCHqJLNgCdDndH/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rboto/a/bzH86XdPbtCHqJLNgCdDndH/?lang=pt http://www.rvacbo.com.br/ojs/index.php/ojs/article/view/251/309 https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/adenoma-pleomorfico https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/adenoma-pleomorfico https://doi.org/10.1016/j.jormas.2020.06.003 https://doi.org/10.1016/j.jormas.2020.06.003 https://www.scielo.br/j/jvb/a/pJF95yNgF6JwRQJnjFpPDnF/?lang=pt https://www.liebertpub.com/doi/full/10.1089/thy.2015.0020 https://www.liebertpub.com/doi/full/10.1089/thy.2015.0020 Sobre a Medway O único preparatório 100% focado em São Paulo A Medway é o único curso preparatório para a residência médica 100% focado nas instituições de São Paulo. Preparamos nosso material com didática padrão-ouro vinda de nossos professores especialistas que já foram residentes onde você quer passar. Nosso maior objetivo é ajudar nossos alunos a conquistarem a residência dos sonhos. E para isso, nos certificamos de estarmos juntos até o final. juntos até o final! Você em 1º lugar na residência dos seus sonhos! A sua aprovação pode ser a próxima a aparecer aqui! Seu nome na lista de aprovados Henrique Bosso 2º lugar na Unifesp em Oftalmologia Beatriz Aveiro 1º lugar no HIAE em Medicina Intensiva Raphaela Bastos 3º lugar na USP-RP em Dermatologia REFERÊNCIASanterior do músculo esternocleidomastóideo. São originados da não oclusão das fendas branquiais presentes no desenvolvimento embriológico. Podem manifestar- se na forma de cistos (75% dos casos), fístulas incompletas ou sinus, quando há comunicação com a pele ou fístulas completas, quando há comunicação entre a pele e a faringe. São mais frequentemente originadas em defeitos do 2° arco branquial, sendo as de 1°, 3° e 4° arcos raras. Os cistos apresentam- se como massas fibroelásticas indolores, que podem crescer e apresentar dor durante episódios de IVAS. O tratamento requer a excisão cirúrgica completa do cisto e, caso presente, seu trajeto, que pode estar próximo da artéria carótida e nervo acessório (X par), devendo-se atentar para essas estruturas. Apesar de manifestar-se mais frequentemente em crianças e adultos jovens, pode ser notada em pacientes mais velhos, caso em que é ainda mais indispensável a realização de PAAF para o diagnóstico diferencial com neoplasias. O achado clássico da PAAF é a presença de cristais de colesterol. • CIR 9 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Localização mais comum do cisto branquial. Fonte: Ibrahim, M., Hammoud, K., Maheshwari, M., & Pandya, A. (2011). Congenital cystic lesions of the head and neck. Neuroimaging Clinics of North America, 21(3), 621–639. CIR 10 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Lesão cística na borda anterior do músculo esternocleidomastoideo. Fonte: http://www.walbertosouza.com.br/2019/06/28/cistos-e-fistulas-branquiais Cisto do ducto tireoglosso: desenvolve-se a partir de remanescentes do ducto tireoglosso após a migração da tireóide do forame cego para para a região cervical durante o desenvolvimento embriológico. Manifesta-se como uma massa na região cervical anterior, próxima à linha média, em qualquer altura do trajeto do ducto, mais frequente na altura do osso hióide. Ao exame físico, a protrusão da língua provoca elevação da massa, o que é chamado de sinal de Sistrunk. É mais frequente em jovens, mas 40% são • CIR 11 http://www.walbertosouza.com.br/2019/06/28/cistos-e-fistulas-branquiais Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço diagnosticados após os 20 anos. O USG pode revelar um nódulo anecóico e a PAAF apresenta conteúdo cístico com epitélio pseudo estratificado. O tratamento consiste na cirurgia de Sistrunk, que envolve a ressecção do cisto e de todo o seu trajeto, incluindo a ressecção da parte central do osso hióide. Legenda: Cisto do ducto tireoglosso na linha média. Fonte: https://healthjade.net/ thyroglossal-cyst/ CIR 12 https://healthjade.net/thyroglossal-cyst/ https://healthjade.net/thyroglossal-cyst/ https://healthjade.net/thyroglossal-cyst/ https://healthjade.net/thyroglossal-cyst/ Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Trajeto do ducto tireoglosso que se estende do forame ceco na base da língua até a glândula tireoide. Os cistos do ducto tireoglosso podem se desenvolver em qualquer localização nesse trajeto. Fonte: https://link.springer.com/article/10.1007/s00276-013-1115-3 Hemangioma: são malformações vasculares com surgimento em geral nos primeiros meses de vida, com crescimento até um ano de idade. Apresentam aspecto vinhoso e são mais frequentes na pele e mucosa. Geralmente regridem espontaneamente até 7 a 10 anos. O tratamento é em geral conservador, com uso de betabloqueadores, que impedem sua progressão. Para casos com importante desconforto estético que não apresentarem regressão ou com sintomas compressivos está indicado o tratamento cirúrgico. • CIR 13 https://link.springer.com/article/10.1007/s00276-013-1115-3 https://link.springer.com/article/10.1007/s00276-013-1115-3 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Hemangioma em neonato. Fonte: https://www.diggefa.de/vascular-tumor.html Linfangioma ou higroma cístico: são massas indolores e de aspecto cístico, presentes desde o nascimento. Ao exame físico o teste de transiluminação é positivo. Costumam ser multiloculadas e podem causar grande desconforto estético. O tratamento preferencial consiste em escleroterapia com bleomicina ou OK- 432. O tratamento cirúrgico é uma opção, porém devido ao caráter multiloculado e infiltrativo da lesão, há alto risco de lesão de estruturas nobres e a recidiva é alta. • CIR 14 https://www.diggefa.de/vascular-tumor.html Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Pacientes com linfangioma macrocístico antes do tratamento com ok-432. Fonte: https://www.scielo.br/j/jped/a/9MTMsJjqScgtb4KCzn886DL/?lang=pt#ModalFigfig1 Costela cervical: presença de costela extra numerária junto à 7ª vértebra cervical que pode levar à compressão do plexo braquial e/ ou artéria subclávia. O diagnóstico pode ser feito por tomografia computadorizada ou radiografia simples. Para pacientes com sintomas leves o tratamento pode ser conservador, com fisioterapia, porém em casos com sintomas graves ou alterações funcionais, é necessária a exérese cirúrgica. • CIR 15 https://www.scielo.br/j/jped/a/9MTMsJjqScgtb4KCzn886DL/?lang=pt#ModalFigfig1 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Exame físico de paciente com costela cervical. Fonte: ttp:// www.cirurgiacp.ufc.br/files/aulas_residentes/ SINDROME%20DA%20COSTELA%20CERVICAL.pdf Paraganglioma: são tumores do sistema nervoso autônomo localizados próximo ao bulbo carotídeo ou região jugulo-timpânica. Manifestam-se como massa cervical na altura do bulbo, pulsátil, com movimento antero- posterior, mas sem movimento crânio- caudal (sinal de Fontaine). Raramente são funcionantes, porém, quando são, podem causar sintomas adrenérgicos. Há um risco de • CIR 16 http://www.cirurgiacp.ufc.br/files/aulas_residentes/SINDROME%20DA%20COSTELA%20CERVICAL.pdf http://www.cirurgiacp.ufc.br/files/aulas_residentes/SINDROME%20DA%20COSTELA%20CERVICAL.pdf http://www.cirurgiacp.ufc.br/files/aulas_residentes/SINDROME%20DA%20COSTELA%20CERVICAL.pdf http://www.cirurgiacp.ufc.br/files/aulas_residentes/SINDROME%20DA%20COSTELA%20CERVICAL.pdf http://www.cirurgiacp.ufc.br/files/aulas_residentes/SINDROME%20DA%20COSTELA%20CERVICAL.pdf http://www.cirurgiacp.ufc.br/files/aulas_residentes/SINDROME%20DA%20COSTELA%20CERVICAL.pdf Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço malignização, sendo a sua remoção cirúrgica recomendada, porém, de alta complexidade devido à proximidade com a carótida e ao risco de ruptura. Legenda: Presença de lesões tumorais, bilateralmente, em região topográfica correspondente aos vasos carotídeos. Fonte: https://www.scielo.br/j/jvb/a/ t6sLcsy8CSyGP73TkhWjTKb/?lang=pt# CIR 17 https://www.scielo.br/j/jvb/a/t6sLcsy8CSyGP73TkhWjTKb/?lang=pt https://www.scielo.br/j/jvb/a/t6sLcsy8CSyGP73TkhWjTKb/?lang=pt Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço TUMOR PRIMÁRIO OCULTO Todo tumor de cabeça e pescoço que, após a investigação completa continua sem possibilidade de determinação de seu sítio primário, sendo identificado apenas por sua metástase cervical é chamado de tumor primário oculto. Cerca de 10% dos pacientes com metástase cervical podem não apresentar diagnóstico do sítio primário na avaliação inicial. Os sítios primários mais frequentemente associados são a orofaringe e a nasofaringe. Geralmente o paciente apresenta com clínica de uma massa cervical indolor, com crescimento progressivo, podendo ser coalescente, endurada e aderida. A investigação inicial deve incluir a anamnese e exame físico completo, nasofibroscopia, PAAF, endoscopia digestiva alta e tomografia computadorizada com contraste de face, pescoço e tórax. A tomografia de abdome também será necessária quando a metástase for localizada nos níveis cervicais mais baixos (IV e V na sua porção inferior) e uma broncoscopia poderáser solicitada caso haja suspeita de neoplasia das vias aéreas inferiores. A PAAF deve incluir a pesquisa de p16, que quando positiva, é fortemente sugestiva de tumores de orofaringe e pesquisa de EBV, associada aos tumores de nasofaringe. O PET-CT, embora pouco disponível, pode identificar o sítio primário em uma pequena porcentagem de pacientes sem diagnóstico pelos demais exames. O tratamento consiste no esvaziamento cervical funcional do lado da lesão. A amigdalectomia bilateral deve ser considerada, principalmente em pacientes com PAAF P16 positiva, visto que a amígdala é um sítio CIR 18 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço frequente nesse contexto. A prática de biópsias aleatórias de base de língua, utilizadas no passado, tem sido desencorajada. Caso após o tratamento cirúrgico o sítio primário continue não definido ou caso haja critérios de risco para persistência ou recidiva (invasão angiolinfática ou perineural, extravasamento extracapsular) o tratamento deverá ser complementado com radioterapia e quimioterapia adjuvante envolvendo toda a região da cabeça e pescoço, na tentativa de tratamento também do sítio primário. ESVAZIAMENTOS CERVICAIS TIPOS DE ESVAZIAMENTO CERVICAL A presença de metástase cervical consiste em um dos principais fatores prognósticos para pacientes com carcinoma espinocelular (CEC) do trato aerodigestivo alto, excetuando-se as neoplasias de orofaringe associadas ao HPV e as neoplasias de nasofaringe. A drenagem linfática da pele da cabeça e pescoço e da mucosa do trato aerodigestivo alto, seios paranasais, glândulas salivares e tireoide são bem definidas e ocorrem de forma previsível. Dessa forma, é essencial o conhecimento dos padrões de drenagem para cada sítio primário e o adequado manejo dos linfonodos cervicais para o tratamento oncológico em cabeça e pescoço. O esvaziamento cervical é o procedimento cirúrgico que consiste em retirar todo o tecido fibroconjuntivo da região de uma determinada CIR 19 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço cadeia linfonodal. Sua primeira descrição foi em 1888, porém foi Crille, em 1905, quem realizou e difundiu uma série de esvaziamentos cervicais baseados na ressecção "em bloco" em uma cirurgia que consiste não só na remoção das cadeias linfonodais cervicais, como também o músculo esternocleidomastóideo (MECM), o nervo acessório (NC XI) e a veia jugular interna, procedimento denominado hoje de esvaziamento cervical radical à Crille. Posteriormente, observou-se que o sacrifício de estruturas não linfáticas, quando não acometidas diretamente pelas metástases, não influenciava na sobrevida dos pacientes, acarretando ainda maior morbidade, sendo proposto o esvaziamento cervical radical modificado, quando uma a três das estruturas não linfáticas retiradas no esvaziamento cervical radical clássico era preservada. Em 1930, foi proposto o primeiro sistema de classificação de regiões de linfonodos cervicais pelo serviço de Cabeça e Pescoço do Memorial Sloan Kettering Cancer Center de Nova York, utilizado até hoje. O sistema dividia o pescoço em compartimento lateral, lateralmente às artérias carótidas e compartimento central, medial às artérias carótidas. O compartimento lateral foi dividido em cinco níveis (I a V), o compartimento central compreendia o nível VI e o mediastino antero- superior compreendia o nível VII. Adiante, a Academia Americana de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço dividiu os níveis I, II e V entre A e B. Os limites de cada nível são assim definidos: CIR 20 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço CIR 21 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Níveis cervicais. Fonte: AJCC, 7a edição. Tanto o esvaziamento cervical radical quanto o esvaziamento cervical radical modificado ou “funcional” incluem o esvaziamento dos níveis I a V. Foi a partir do século XX que evidenciou-se que nem todos os pacientes necessitavam de esvaziamento cervical de todos os níveis. Para pacientes submetidos a esvaziamentos cervicais profiláticos, ou seja, aqueles que não apresentam à avaliação clínica e por imagem linfonodos suspeitos para metástase cervical, seria suficiente a realização do esvaziamento de apenas alguns níveis, em geral, os três primeiros níveis de drenagem para cada sítio do tumor primário. Surgiram assim os esvaziamentos seletivos. CIR 22 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Dessa forma, os esvaziamentos cervicais passaram a ser classificados conforme sua extensão, da seguinte forma: INDICAÇÕES E SÍTIOS DE DRENAGEM O risco de metástases para linfonodos cervicais depende tanto do sítio primário quanto do estadiamento (TNM) da neoplasia e suas características histológicas. De forma geral, para tumores do trato aerodigestivo alto, considerando-se o estadiamento T, que avalia a doença CIR 23 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço local, o risco de metástase tende a ser inferior a 15% para tumores T1; de 15% a 30% para tumores T2; de 30 a 50% para tumores T3; e de mais de 75% para tumores T4. Assim, a indicação do esvaziamento cervical pode se enquadrar em uma das seguintes situações: Esvaziamento cervical terapêutico: realizado na presença de metástase cervical diagnosticada antes do tratamento. Com exceção dos casos de carcinoma papilífero de tireóide, a serem discutidos em outro capítulo, esse esvaziamento inclui os níveis I a V. Esvaziamento cervical de resgate: realizado quando há persistência de metástase cervical após o tratamento com outra modalidade não cirúrgica. Esvaziamento cervical profilático: realizado quando não há evidência de metástase cervical antes do tratamento, porém sabe- se, devido ao estadiamento inicial, sítio e características do tumor, que há um alto risco de metástase oculta. Esvaziamento cervical de oportunidade: realizado sem a finalidade inicial de tratamento ou profilaxia, mas sim para facilitar o acesso a alguma localização ou estrutura do pescoço. De acordo com o sítio primário é possível não apenas estimar o risco de metástase oculta como também é possível determinar quais são os níveis cervicais com maior risco de metástase oculta (níveis cervicais de primeiro escalão). Assim, se determina também qual o tipo de esvaziamento cervical seletivo mais indicado para cada sítio primário. • • • • CIR 24 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço O esvaziamento cervical profilático deve ser realizado do mesmo lado em que se encontra a lesão primária e deve ser realizado bilateralmente quando a lesão ultrapassa a linha média. ESTADIAMENTO DE METÁSTASES LINFONODAIS CIR 25 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Com exceção de tumores da tireóide, nasofaringe e orofaringe HPV positivos, os carcinomas espinocelulares de cabeça e pescoço apresentam uma classificação N comum: CIR 26 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço CIR 27 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço TÉCNICA CIRÚRGICA E COMPLICAÇÕES Quando realizado o esvaziamento cervical em conjunto com a exérese da lesão primária e quando houver contato entre o tecido conjuntivo do esvaziamento e a lesão, sempre que possível deve-se tentar a exérese da lesão primária e esvaziamento em bloco. A técnica cirúrgica correta visa a proteção das estruturas nobres (nervos e vasos), que devem ser preservadas. A seguir, encontram-se resumidos os principais nervos, sua localidade e consequências das lesões: CIR 28 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço O esvaziamento cervical é um procedimento complexo, porém, essencial para o adequado tratamento de neoplasias de cabeça e pescoço. A presença de metástasescervicais clinicamente detectáveis é um dos principais fatores de mau prognóstico e seu manejo cirúrgico envolve a dissecção dos níveis cervicais de I a V. Atualmente, as demais estruturas cervicais são preservadas sempre que possível, a menos que haja sinais de acometimento pela lesão. Mesmo na ausência de metástases clinicamente detectáveis, estão indicados os esvaziamentos seletivos profiláticos, visto que a depender do sítio CIR 29 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço primário e estadiamento T o risco de metástase oculta pode variar de 15 a 75%. CAVIDADE ORAL INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA A cavidade oral é a entrada para as vias aerodigestivas superiores. Suas estruturas podem ser facilmente examinadas através de inspeção e palpação, porém, apesar disso, com frequência sua investigação adequada é deixada de lado no contexto de clínica geral por falta de familiaridade. O diagnóstico precoce, que se inicia pelo exame físico, é capaz de evitar cirurgias de grande porte, substituídas por procedimentos, às vezes, possíveis de serem realizados até mesmo com anestesia local, e reduz significativamente a morbidade e mortalidade. Infelizmente, tanto por falta de conscientização da população quanto pela falta da avaliação adequada, quase 50% dos cânceres da cavidade oral são diagnosticados em estádios clínicos avançados. Cerca de 90% dos cânceres da cavidade oral são carcinomas espinocelulares (CEC), sendo o restante constituído por tumores das glândulas salivares menores e outras neoplasias raras. O principal fator de risco é o tabagismo, seguido do etilismo. Esses dois fatores de risco possuem efeito sinérgico para o desenvolvimento de CEC. CIR 30 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Outros fatores incluem má higiene oral, o trauma repetitivo da mucosa oral, frequentemente associado ao uso de próteses dentárias mal adaptadas e o hábito de mascar tabaco. Diferente da orofaringe, a relação entre o HPV e tumores da cavidade oral não é bem estabelecida. A maioria das lesões surge na borda lateral da língua ou no assoalho da boca. Estimam-se cerca de 15.190 casos novos ao ano no Brasil (INCA - 2020), sendo mais de dois terços dos casos em homens, com cerca de 6.605 óbitos por ano (Atlas de mortalidade por Câncer - SIM - 2019). É o quarto tumor mais frequente no sexo masculino na região sudeste e o 7° mais frequente na população geral no Brasil. A idade com maior prevalência é entre a 4ª e 5ª décadas de vida. ANATOMIA A cavidade oral compreende desde a mucosa labial, anteriormente, até os pilares amigdalianos anteriores e sua junção com o palato, superiormente. Os 2 terços anteriores da língua fazem parte da cavidade oral, enquanto o terço posterior é parte da orofaringe. A cavidade oral compreende a arcada dentária inferior, inserida na mandíbula, e superior, inserida na maxila. Superiormente, ela é delimitada pelo palato dividido em duro, na parte óssea, e mole, constituído por mucosa e musculatura com participação no fechamento da nasofaringe durante a deglutição. Posterior aos dentes molares e a frente da parte ascendente do ramo da mandíbula, localiza-se o trígono retromolar. A mucosa da cavidade oral é revestida por epitélio não queratinizado e inclui centenas de glândulas salivares menores. As glândulas salivares CIR 31 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço maiores secretam saliva por meio dos ductos de Stensen, no caso das parótidas, que desembocam na altura dos segundos molares superiores bilateralmente, dos ductos de Warthon, no caso das submandibulares, que desembocam mediamente no assoalho anterior da boca e de diversos ductos sublinguais, que desembocam também na linha média do assoalho anterior. A vascularização da cavidade oral ocorre predominantemente por ramos da artéria carótida externa, incluindo a artéria facial, maxilar, esfenopalatina, palatinas maiores e menores, faríngea ascendente e lingual. A inervação sensitiva ocorre por ramos do nervo trigêmio (V par), incluindo o nervo maxilar (V2), infraorbital (continuação de V2), mandibular (V3), mentual e lingual (ambos continuação de V3). Destacam-se o nervo mentual por sua função sensitiva do mento, lábio inferior e gengiva inferior importantes para a continência da cavidade oral; e o nervo lingual por sua função sensitiva dos dois terços anteriores da língua. A unidade móvel da cavidade oral, a língua, tem sua inervação motora pelo nervo hipoglosso (XII par). A lesão desse nervo leva à inclinação da língua para o lado da lesão. A irrigação linfática da cavidade oral é extremamente rica, sendo o nível I o primeiro sítio de drenagem, seguido pelos níveis II e III. Por essa razão, pode haver metástase oculta (não detectável clínica ou radiologicamente) em até 36% dos casos de tumores de boca. CIR 32 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Estruturas da cavidade oral. Fonte: Shutterstock. A importância do conhecimento anatômico dessa região decorre tanto da necessidade de identificação e correta descrição das lesões da cavidade oral, quanto do tratamento cirúrgico que deve evitar, sempre que possível, a lesão das diversas estruturas presentes na cavidade oral. QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO O quadro clínico mais comum para tumores da cavidade oral é de uma lesão que não cicatriza. Toda lesão que não apresentar regressão em até 3 semanas deve ser investigada. CIR 33 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Algumas dessas lesões podem não representar neoplasias invasivas, porém, já apresentarem graus variados de displasia. São as chamadas lesões pré malignas, que se dividem em leucoplasias e eritroplasias. As leucoplasias são lesões esbranquiçadas, de bordas irregulares, superficiais, que apresentam um risco de 5% a 7% de transformação para carcinoma. Já as eritroplasias são lesões avermelhadas a róseas, superficiais, que apresentam risco de malignização de até 30%. Há também as lesões associadas ao HPV, de aspecto papilomatoso. As neoplasias invasivas costumam apresentar lesões bordas irregulares, às vezes elevadas, com lesão ulcerada ou vegetante, endurecida à palpação, podendo ser mais profunda e friável. A queixa de dor é frequente e pode ocorrer sangramento. Em estágios mais avançados pode haver fixação da língua ou do assoalho da boca, disfagia, linfonodomegalias e perda de peso. CIR 34 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Leucoplasia. Fonte: https://quizlet.com/br/435419000/lesoes-potencialmente- malignas-flash-cards/ Legenda: Leucoeritroplasia. Fonte: Acervo Medway. CIR 35 https://quizlet.com/br/435419000/lesoes-potencialmente-malignas-flash-cards/ https://quizlet.com/br/435419000/lesoes-potencialmente-malignas-flash-cards/ Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: CEC de língua. Fonte: http://oldfiles.bjorl.org/triologico2007/anais/artigos/ 4347.htm O diagnóstico é clínico, porém, deverá sempre ser confirmado por biópsia. Em lesões com aspecto de leucoplasia, eritroplasia e lesões T1 de fácil acesso, pode-se realizar uma biópsia excisional, confirmando o diagnóstico e ao mesmo tempo realizando o tratamento. Para as demais lesões, além da confirmação por biópsia é essencial a complementação com exames de imagem, sendo utilizada principalmente a tomografia computadorizada com contraste da face, pescoço e tórax, de forma a investigar não só a extensão da lesão primária como a presença de metástases cervicais e à distância. CIR 36 http://oldfiles.bjorl.org/triologico2007/anais/artigos/4347.htm http://oldfiles.bjorl.org/triologico2007/anais/artigos/4347.htm Cirurgia Geral Tumores Cabeça e PescoçoLegenda: Neoplasia de língua à esquerda (área com captação de contraste). Fonte: https://radiopaedia.org/articles/squamous-cell-carcinoma-tongue?lang=gb ESTADIAMENTO O estadiamento segue o sistema TNM. O estadiamento N é o mesmo para a maioria dos tumores de cabeça e pescoço, excetuando-se nasofaringe, orofaringe P16+ e tireóide, já descrito no capítulo de esvaziamentos cervicais. CIR 37 https://radiopaedia.org/articles/squamous-cell-carcinoma-tongue?lang=gb Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço TRATAMENTO As lesões pré malignas (leucoplasias e eritroplasias) devem ser tratadas pela excisão cirúrgica com margens mínimas. Para pacientes que possuem lesões em grande quantidade por toda a mucosa da cavidade oral é possível realizar o tratamento com cauterização, especialmente, com o advento do laser, entretanto, há a desvantagem de que com a cauterização não é possível obter uma biópsia comprovando o grau de displasia e as margens. CIR 38 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço O tratamento de primeira linha para tumores da cavidade oral envolve sempre a ressecção cirúrgica com margens, idealmente de pelo menos 1 cm. O acesso deve ser realizado da forma menos invasiva possível. Sempre que possível, deve-se optar pela ressecção transoral. Para lesões maiores, o acesso adequado para a ressecção completa com margens pode exigir uma mandibulotomia de acesso, em que a mandíbula é seccionada e, após a excisão da lesão, reposicionada e fixada com placas de titânio. Para tumores do assoalho da boca, pode-se realizar uma abordagem cervical por “Pull-Through”, em que a lesão é acessada pelo mesmo acesso do esvaziamento cervical e puxada para baixo. Sempre que houver contato íntimo da lesão com o osso da mandíbula, deve-se realizar uma mandibulectomia marginal para garantia de margens, em que é retirada uma camada do osso da mandíbula, geralmente, incluindo o rebordo alveolar. Quando houver invasão do osso da mandíbula, deverá ser realizada uma mandibulectomia segmentar para a retirada de um segmento completo do osso. O esvaziamento cervical deverá sempre ser realizado a partir de lesões T2, devido ao alto risco de metástases ocultas. Quando não houver lesão clínica ou radiologicamente detectável, deve-se realizar o esvaziamento cervical profilático supra-omo-hióideo (ECSOH, níveis I a III) do mesmo lado da lesão. Se a lesão ultrapassar a linha média, deve-se realizar o esvaziamento profilático bilateralmente. Sempre que houver lesão clínica ou radiologicamente detectável, o tratamento cervical exigirá ao menos um esvaziamento cervical funcional, também chamado de esvaziamento cervical radical modificado tipo III (níveis I a V) do lado onde há metástase. Lesões maiores podem exigir reconstruções com retalhos para o adequado fechamento da cavidade oral. Esses podem incluir o retalho locoregional de músculo peitoral, retalhos de musculatura pré-tireoidiana, CIR 39 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço retalhos supraclaviculares ou retalhos livres por microcirurgia. Quando houver necessidade de mandibulectomia, a reconstrução poderá ser realizada apenas com placa de titânio e retalho miocutâneo e/ou enxerto ósseo para defeitos menores e, em condições ideais, deverá ser realizada por microcirurgia com retalho livre de fíbula para defeitos ósseos maiores que 5 cm. O tratamento adjuvante é uma importante ferramenta para reduzir o risco de persistência de doença ou recidivas e, idealmente, deve incluir quimioterapia (QTX) e radioterapia (RTX). Para pacientes em que a quimioterapia é contra-indicada devido às comorbidades ou condições clínicas, pode-se realizar a adjuvância apenas com radioterapia. FARINGE INTRODUÇÃO A faringe é a parte intermediária do trato aerodigestivo superior constituído por um tubo fibromuscular que se comunica superiormente com a cavidade nasal e a cavidade oral na sua porção intermediária e CIR 40 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço com a laringe e o esôfago na sua extremidade inferior. Ela é classicamente dividida em nasofaringe, orofaringe e hipofaringe, sendo que cada uma dessas sub-regiões possuem características distintas quanto sua anatomia, fisiologia e fatores de risco específicos para o desenvolvimento de neoplasias. ANATOMIA A nasofaringe se inicia nas coanas da cavidade nasal e termina na borda livre do palato mole. Na sua parede lateral se encontram as fossetas de Rosenmuller e o tórus tubário (abertura das trompas de Eustáquio). A orofaringe se inicia anteriormente nos pilares amigdalianos anteriores, sendo limitada superiormente pelo palato mole e inferiormente ao nível da valécula e epiglote. Inclui ainda as amígdalas, pilares amigdalianos, base da língua e valécula. A hipofaringe se estende da epiglote e valéculas até a borda inferior da cartilagem cricóide, incluindo os recessos piriformes e a região retrocricóide. A drenagem linfática da faringe é extremamente rica, sendo os sítios primários de drenagem os níveis cervicais II, III e IV. CIR 41 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Faringe e suas subdivisões. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/ 159666749264811062/ - original: Netter, atlas de anatomia A seguir, as afecções de cada parte da faringe serão discutidas individualmente. NASOFARINGE A nasofaringe é uma região mais raramente acometida pelas neoplasias em comparação à orofaringe e à hipofaringe. A maioria dos casos são carcinomas espinocelulares e, mais raramente, tumores de glândulas salivares, de tecidos moles, cordomas ou linfomas que se manifestam nessa região graças à rica irrigação linfática. Há uma forte associação entre o carcinoma de nasofaringe e o Epstein-Barr (EBV). CIR 42 https://br.pinterest.com/pin/159666749264811062/ https://br.pinterest.com/pin/159666749264811062/ https://br.pinterest.com/pin/159666749264811062/ https://br.pinterest.com/pin/159666749264811062/ Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço O sintoma inicial mais frequente das neoplasias de nasofaringe é o surgimento de linfonodomegalias cervicais. Devido ao espaço da cavidade, sintomas como obstrução nasal, epistaxe e alterações auditivas decorrentes da obstrução da tuba auditiva surgem mais tardiamente. Esse tumor acomete pacientes mais jovens em comparação aos demais tumores de cabeça e pescoço e é mais frequente em homens e não possui associação tão forte com o tabagismo. O tratamento de escolha para tumores da nasofaringe é com quimioterapia e radioterapia definitivos. A resposta tende a ser boa, sendo a cirurgia, que consiste na exérese da lesão primária por acesso transnasal ou aberto com esvaziamento cervical profilático lateral bilateral (T2 ou superior) ou esvaziamento funcional dos lados com linfonodo acometido, reservada para casos em que não houve resposta à radioterapia e para persistência de metástases linfonodais. OROFARINGE CIR 43 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço O carcinoma epidermóide representa cerca de 90% dos casos de câncer de orofaringe. A primeira localidade mais afetada é a amígdala seguida da base da língua. Existem dois fatores de risco com importante associação ao desenvolvimento de CEC nessa região: o tabagismo e a infecção por HPV. Atualmente, em países desenvolvidos e com a redução do tabagismo, o CEC de orofaringe HPV+ tem se tornado cada vez mais predominante. O CEC de orofaringe HPV+ possui características próprias e prognóstico melhor quando comparado ao CEC HPV-. Essa diferenciação já é tão reconhecida que desde a última atualização do TNM há uma classificação diferente para tumores HPV+ e tumores HPV-.Diagnóstico e estadiamento O CEC de orofaringe pode ser pouco sintomático em estágios iniciais. Com a progressão da lesão, pode haver dor, desconforto cervical, odinofagia, disfagia, sangramento, otalgia reflexa e trismo em lesões avançadas. Linfonodomegalia com frequência pode ser o sintoma inicial, porém, com menos frequência do que nos tumores de nasofaringe. A lesão pode ser identificada no exame físico. O diagnóstico requer a realização de biópsia. Para toda lesão de orofaringe, sempre deverá ser solicitada a pesquisa da proteína p16 por imuno-histoquímica, que possui alta sensibilidade para identificação do HPV, sendo o principal exame para diferenciação entre CEC HPV+ e HPV-. Exames de imagem são essenciais para completar o estadiamento e, em geral, incluem tomografia computadorizada de pescoço e tórax com contraste. CIR 44 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço CIR 45 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Tratamento CIR 46 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço O tratamento do CEC de orofaringe já foi predominantemente cirúrgico, porém devido à alta morbidade desses procedimentos e à boa resposta à radioterapia e quimioterapia principalmente no CEC HPV+. O tratamento com quimioterapia e radioterapia definitivos tem ganhado mais espaço. O tratamento cirúrgico pode ser preferível para lesões de fácil acesso pela via transoral, como os tumores iniciais de amígdala e é a única opção terapêutica efetiva para casos que não obtiveram boa resposta à radioterapia. O esvaziamento cervical profilático lateral (níveis II, III e IV) deverá sempre ser realizado para tumores a partir de T2 e a presença de linfonodopatia clinicamente detectável exige a realização de pelo menos o esvaziamento cervical funcional (níveis I a V) do lado da metástase linfonodal. HIPOFARINGE Assim como nas demais regiões, o CEC representa cerca de 90% dos tumores de hipofaringe e o principal fator de risco é o tabagismo e etilismo. Os tumores de hipofaringe apresentam pior prognóstico quando comparados à nasofaringe e orofaringe. Isso ocorre devido à drenagem linfática extremamente rica dessa região associada ao fato de a maioria das lesões serem assintomáticas ou oligossintomáticas em estágios iniciais. Graças ao espaço livre da orofaringe, sintomas como odinofagia e disfagia surgem mais tardiamente e podem estar presentes também sangramentos, disfonia e otalgia reflexa. A linfonodomegalia frequentemente se apresenta como sintoma inicial. Há uma tríade CIR 47 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço clássica de tumores de orofaringe composta por massa cervical, otalgia reflexa e odinofagia presente apenas em casos já avançados. Diagnóstico e estadiamento A avaliação clínica e anamnese são essenciais para o diagnóstico e a avaliação da lesão necessitará da realização de uma laringoscopia indireta por meio de nasofibroscopia ou laringoscopia rígida. A confirmação diagnóstica será feita com a biópsia que pode ser realizada com anestesia local e guiada pela nasofibroscopia nas lesões de mais fácil acesso e em pacientes com boa tolerância. Para lesões de difícil acesso e em pacientes com menor tolerância poderá ser necessária a realização de uma laringoscopia direta por laringoscopia de suspensão, sob anestesia geral, permitindo a biópsia e a adequada avaliação da lesão. Figura 8. Tumor de recesso piriforme direito. Fonte: https://bmcsurg.biomedcentral.com/ articles/10.1186/s12893-021-01223-1 CIR 48 https://bmcsurg.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12893-021-01223-1 https://bmcsurg.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12893-021-01223-1 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Para concluir o estadiamento será necessária a tomografia de pescoço e tórax. Todos os pacientes deverão realizar também uma endoscopia digestiva alta para investigação de 2° tumor primário presente em cerca de um quinto dos casos. O estadiamento N é semelhante aos demais tumores de cabeça e pescoço. O estadiamento M se limita a Mx (não pode ser avaliado), M0 (ausência de metástase à distância) e M1 (metástase à distância). Tratamento O tratamento cirúrgico para tumores de hipofaringe apresenta a melhor resposta, principalmente quando combinado com o tratamento adjuvante para tumores avançados. Apesar disso, o tratamento definitivo com quimioterapia e radioterapia têm ganhado espaço devido à alta CIR 49 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço morbidade dessas cirurgias, que nos casos mais avançados envolve a realização de uma faringolaringectomia total. As opções terapêuticas deverão ser decididas em conjunto com o paciente, expondo-se riscos e benefícios. O tratamento cirúrgico é a única opção para tumores que não responderam à radioterapia. O esvaziamento cervical profilático lateral (níveis II, III e IV) deverá sempre ser realizado para tumores a partir de T2 e a presença de linfonodopatia clinicamente detectável exige a realização de pelo menos o esvaziamento cervical funcional (níveis I a V) do lado da metástase linfonodal. LARINGE INTRODUÇÃO A laringe é um órgão complexo com participação central nas funções de respiração, fala e deglutição. Ela faz parte das vias aéreas superiores e contém as pregas vocais, cuja vibração durante a expiração permite a fonação em conjunto com as demais estruturas da própria laringe, faringe, cavidade oral e cavidade nasal. Durante a deglutição, a laringe se eleva e ocorre o fechamento da epiglote, guiando o bolo alimentar para o esôfago. CIR 50 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço A laringe é o segundo local mais frequente de acometimento por carcinoma espinocelular da cabeça e pescoço e sua principal causa é a exposição ao tabaco e álcool que possuem ação sinérgica. A região mais frequentemente acometida é a glote. Nessa região, a maioria dos pacientes apresenta diagnóstico em estágios mais precoces da doença, pois pequenas alterações na superfície das pregas vocais já causam alterações clínicas como rouquidão. Em contraste, tumores da supraglote são, na maioria das vezes, diagnosticados em estágios mais avançados, pois há necessidade de uma lesão volumosa para provocar sintomas. ANATOMIA A laringe é composta por 9 cartilagens, sendo 3 únicas e 3 em pares: Epiglote: delimita o limite superior da laringe, sendo uma importante referência anatômica durante a intubação. Possui função na deglutição, fechando o ádito da laringe durante a passagem do bolo alimentar. Cartilagem tireóide: a maior delas, possui formato de escudo e contém as estruturas da laringe. Sua proeminência pode ser facilmente identificada no exame físico, principalmente em homens popularmente chamada de “pomo de Adão”. É uma cartilagem incompleta, ou seja, sua parte posterior é aberta. Cricóide: delimita o limite inferior da laringe. É a única cartilagem completa do órgão, ou seja, forma um anel completo de cartilagem. Dessa forma, mantém a via aérea pérvia e forma a base para a • • • CIR 51 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço articulação das aritenóides. Aritenóides: par de cartilagens fixo à cartilagem cricóide e formam a unidade móvel da laringe. O ligamento vocal se insere nas aritenóides no processo vocal e o movimento das aritenóides realizada a abdução e adução das pregas vocais. Corniculadas: par de cartilagens localizadas acima das aritenóides, rudimentares sem aparente função. Cuneiformes: par de cartilagens acima das corniculadas também sem aparente função. A irrigação da laringe ocorre pela artéria laríngea superior, ramo da artéria tireóidea superior que penetra a laringe pela membranatireo- hióidea lateralmente e pela artéria laríngea inferior, ramo da artéria tireóidea inferior que segue profundamente ao músculo constritor inferior da faringe. A inervação da laringe é realizada pelo nervo vago (décimo par craniano), por meio do nervo laríngeo superior e pelo nervo laríngeo recorrente. O nervo laríngeo superior se divide no ramo interno, que penetra a laringe pela porção lateral da membrana tireo-hióidea e realiza a inervação sensitiva da laringe e hipofaringe, e ramo externo, que realiza a inervação motora do músculo cricotireóideo. Já o nervo laríngeo recorrente possui trajeto ascendente, sendo que no lado direito o nervo contorna a artéria subclávia direita, apresentando trajeto mais inclinado, enquanto do lado esquerdo ele dá a volta ao redor da artéria aorta com trajeto mais retilíneo, subindo pelo sulco tráqueo-esofágico até penetrar a laringe na altura da membrana cricotireóidea lateralmente. O nervo laríngeo recorrente é responsável pela inervação motora de todos os demais músculos da laringe, sendo o principal nervo da fonação. A lesão do nervo • • • CIR 52 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço laríngeo superior leva a fadiga vocal e déficit para sons mais agudos, enquanto a lesão do nervo laríngeo recorrente leva à paralisia da prega vocal ipsilateral à lesão. Legenda: Estruturas da laringe. Fonte: Shutterstock. CIR 53 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Estruturas da laringe. Fonte: https://anatomiaonline.com/laringe A laringe é dividida entre três porções: supraglote, que se estende da ponta da epiglote até os ventrículos, a glote, que compreende as pregas vocais e a subglote, que se estende da borda inferior das pregas vocais até a borda inferior da cartilagem cricóide. Essa divisão é baseada no desenvolvimento embriológico e sua principal implicação clínica está na drenagem linfática. Enquanto a supraglote e a subglote apresentam rica drenagem linfática bilateral, a drenagem linfática da glote extremamente pobre, sendo raro o surgimento de metástases linfonodais em tumores restritos à glote. TUMORES DA LARINGE O carcinoma espinocelular (CEC) representa cerca de 90 a 95% das neoplasias malignas da laringe. Os pacientes apresentam normalmente queixas de rouquidão, disfagia, odinofagia, dispneia, desconforto ou CIR 54 https://anatomiaonline.com/laringe Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço sensação de corpo estranho na garganta, hemoptise e, ocasionalmente, dor na orelha ipsilateral. A avaliação clínica inicial requer uma boa anamnese, exame físico e indispensavelmente uma laringoscopia indireta, que pode ser realizada por meio de um nasofibroscópio flexível ou de uma ótica rígida de 70°. A laringoscopia rígida é de tamanha importância que pode ser considerada parte do exame físico da laringe e sua realização permite determinar a extensão da lesão, acometimento de estruturas adjacentes e avaliar melhor o comprometimento funcional da deglutição e a perviedade das vias aéreas superiores. Com exceção de lesões superficiais e restritas às pregas vocais, a investigação e estadiamento requerem a realização de exames de imagem, sendo o mais comum a realização de uma tomografia de pescoço para avaliação da lesão primária e metástases cervicais e uma tomografia de tórax para avaliação de metástases à distância. A investigação inicial também deve incluir uma endoscopia digestiva alta para pesquisa de tumores sincrônicos, visto que até 10% dos pacientes com tumores de laringe poderão apresentar um segundo tumor primário nas vias aéreas altas e esôfago. A confirmação diagnóstica depende da realização da biópsia. Em casos selecionados de tumores de supraglote ela pode ser realizada no próprio ambulatório, guiada pela nasofibroscopia e com anestesia tópica, porém, a maioria dos casos requer idealmente a realização de biópsia com anestesia geral, por meio de uma laringoscopia de suspensão. CIR 55 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Laringoscopia rígida com ótica de 70° e imagem de laringoscopia rígida evidenciando lesão de aspecto neoplásico da prega vocal direita. Fonte: Shutterstock e https://laryngopedia.com/cancer/ Legenda: Laringoscopia direta por laringo- suspensão e visão da laringoscopia direta evidenciando leucoplasia da prega vocal esquerda. Fonte: http://www.fcecon.am.gov.br/ fcecon-realiza-primeira-cirurgia-laser-para-o-tratamento-do-cancer-de-laringe/https:// www.researchgate.net/figure/Images-of-the-vocal-cords-at-microlaryngoscopy-pre-left- and-post-right-excision-of_fig1_265556495 A apresentação clínica, evolução e tratamento apresentam grandes diferenças quanto ao subsítio primário. A seguir, serão descritas as particularidades, estadiamento e tratamento para os tumores de glote e supraglote. CIR 56 https://laryngopedia.com/cancer/ http://www.fcecon.am.gov.br/fcecon-realiza-primeira-cirurgia-laser-para-o-tratamento-do-cancer-de-laringe/ http://www.fcecon.am.gov.br/fcecon-realiza-primeira-cirurgia-laser-para-o-tratamento-do-cancer-de-laringe/ http://www.fcecon.am.gov.br/fcecon-realiza-primeira-cirurgia-laser-para-o-tratamento-do-cancer-de-laringe/ http://www.fcecon.am.gov.br/fcecon-realiza-primeira-cirurgia-laser-para-o-tratamento-do-cancer-de-laringe/ Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Glote A queixa de rouquidão tende a surgir primeiro e favorece o diagnóstico precoce, visto que pequenas alterações na superfície das pregas vocais já podem causar sintomas. Com a progressão da lesão, pode ocorrer obstrução da via aérea, com necessidade de traqueostomia. O estadiamento não leva em consideração o tamanho da lesão e sim o grau de acometimento das pregas vocais. O tratamento de tumores da glote pode envolver uma única modalidade em tumores mais iniciais, sendo elas a microcirurgia de laringe (cordectomia) ou a quimioterapia e radioterapia. Para tumores mais avançados, pode haver necessidade de múltiplas modalidades e de laringectomia total. O tratamento deve não apenas objetivar a exérese CIR 57 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço com margens livres da neoplasia como também a preservação e reabilitação adequadas da fonação, deglutição e respiração. Para tumores T1 e T2, tanto a cordectomia quanto a quimioterapia e radioterapia possuem taxas equivalentes de cura e boa reabilitação vocal, desde que com suporte adequado da fonoterapia. Cada possibilidade de tratamento deve ser discutida com o paciente individualmente, levando em consideração preferências pessoais, duração de tratamento e questões sociais. Do ponto de vista técnico, tumores in situ, tumores T1a (acometimento de apenas uma prega vocal) e tumores T2 selecionados que não comprometam a mobilidade da prega vocal após ressecção são ideais para o tratamento endoscópico com microcirurgia de laringe. Já tumores T1b (acometimento bilateral) e T2 com comprometimento significativo da mobilidade da prega vocal devem ser tratados preferencialmente com quimioterapia e radioterapia. Existem também as laringectomias parciais fronto-lateral, que envolve a abertura da cartilagem tireóide (laringofissura) para a excisão de uma prega vocal, podendo se estender para comissura anterior e até a aritenóide ipsilateral e a laringectomia parcial horizontal supracricóide, onde se preserva apenas a cartilagem cricóide, ao menos uma aritenóide e se possível, a epiglote, com pexia da cricóide ao osso hióide. Essas modalidades ainda possuem suas indicações, porém, têm perdido espaço para os tratamentos endoscópicos e quimio-radioterápicos, sendo geralmente reservados para tumores mais extensos e não passíveis de ressecção endoscópicae pacientes já irradiados. Para tumores T3 e T4, o tratamento cirúrgico geralmente requer uma laringectomia total. Alguns casos de tumores T3 selecionados podem ser tratados com quimioterapia e radioterapia, com o chamado “protocolo de preservação de orgãos”. A boa indicação desse tratamento requer que o paciente tenha preservadas as suas funções de fonação, deglutição e respiração. Caso essas funções não estejam preservadas, há grande CIR 58 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço chance de que continuem comprometidas após o tratamento com quimioterapia e radioterapia, podendo inclusive apresentar piora. Por isso, quando há comprometimento dessas funções a laringectomia total é mais indicada, visto que permitirá melhor reabilitação, já que o órgão a ser preservado não está funcional. Já tumores T4 serão idealmente tratados sempre com laringectomia total. Para tumores restritos à glote, raramente será necessária a realização de esvaziamento cervical, visto que a drenagem linfática dessa região é baixa e apenas cerca de 6% dos casos evoluirão metástase cervical. O esvaziamento será realizado na presença de metástases clinicamente ou radiologicamente detectáveis e para tumores T3 e T4 com acometimento por contiguidade da supraglote ou infraglote, onde deve ser realizado o esvaziamento cervical profilático lateral (níveis II, III e IV) bilateral. Supraglote Nos tumores da supraglote, a queixa de disfagia e odinofagia são os sintomas iniciais mais frequentes. Visto que a maioria dos casos são diagnosticados em estágios mais avançados e que há rica drenagem linfática nesta região, com frequência são identificadas linfonodomegalias na avaliação inicial. Assim como nos tumores de glote é essencial a realização de uma laringoscopia indireta, a realização de tomografias de pescoço e tórax para todos os casos, a endoscopia digestiva alta e a biópsia da lesão. O estadiamento leva em consideração aspectos funcionais da laringe e extensão para sub-regiões e estruturas adjacentes. CIR 59 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço O tratamento dos tumores da supraglote pode ser endoscópico, por meio de microcirurgia de laringe, especialmente com o advento do laser, em especial o laser de CO2, que facilita a ressecção de lesões iniciais T1 e casos selecionados de T2. Há possibilidade de tratamento com quimioterapia e radioterapia, porém, com efetividade menor em comparação aos tumores de glote devido à maior drenagem linfática. Para tumores que não acometem estruturas adjacentes à laringe e não acometem a glote até T2, pode ser realizada uma laringectomia parcial horizontal supraglótica, onde são preservadas as pregas vocais, ao menos uma aritenóide e, se possível, a epiglote. Essa modalidade permite boa reabilitação, desde que realizada fonoterapia adequadamente no pós operatório. As laringectomias horizontais parciais não são indicadas para pacientes com doença pulmonar de base importante, visto que é previsto um grau de broncoaspiração, mesmo em pacientes reabilitados. CIR 60 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Para tumores T3 e T4, o tratamento cirúrgico envolve geralmente uma laringectomia total. Exceto para tumores muito iniciais, deve- se sempre realizar o esvaziamento cervical profilático lateral ipsilateral à lesão ou bilateral, caso a mesma ultrapasse a linha média. REABILITAÇÃO E ASPECTOS DA LARINGECTOMIA TOTAL Sempre que houver manipulação da glote, desde a mais simples cordectomia até as laringectomias parciais e totais e inclusive após radioterapia é necessária a fonoterapia para a adequada reabilitação da voz. Nos casos de laringectomias parciais, a fonoterapia não só tem o objetivo de reabilitação vocal, mas também de reabilitação da deglutição e respiração, pois é frequente a broncoaspiração. Pacientes submetidos a laringectomia total apresentam mudanças anatômicas significativas e definitivas, porém, para casos de tumores avançados, frequentemente podem ser melhor reabilitados do que com o tratamento não cirúrgico. A alimentação deve ser mantida exclusivamente por sonda nasoenteral no período pós-operatório. Caso não haja deiscências, após 5 a 7 dias pode ser reiniciada a dieta com líquidos e após cerca de 14 dias o paciente pode se alimentar com as demais consistências, sendo retirada a sonda nasoenteral. Não há risco de broncoaspiração, visto que após uma laringectomia total não há mais comunicação entre a cavidade oral e a traquéia, que tem sua extremidade suturada na região cervical anterior (maturação do traqueostoma). CIR 61 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço A respiração passa a ser pelo traqueostoma, que em situações normais não requer a aplicação de nenhum tipo de cânula. Há filtros disponíveis no mercado que podem ser aplicados sobre o traqueostoma para melhor umidificação do ar, evitando a formação de crostas, desconforto ou complicações pulmonares. A reabilitação vocal pode ser realizada de 3 maneiras: A primeira e mais simples é a voz esofágica, em que o paciente por meio de técnica treinada em fonoterapia irá deglutir o ar e, ao expelí-lo, produzirá os sons com movimentos da boca. O segundo método, atualmente disponibilizado pelo SUS, é a laringe eletrônica, equipamento que é encostado à face ou região cervical durante a articulação das palavras com a boca, produzindo um som metálico, porém satisfatório para a comunicação. O terceiro método é a prótese fonatória, aplicada de forma cirúrgica à parede posterior do traqueostoma. A prótese possui uma válvula unidirecional que permite a passagem de ar da traqueia para o esôgafo ao ocluir-se o traqueostoma, produzindo uma voz bastante satisfatória em conjunto com a articulação das palavras na cavidade oral. Esse método é mais caro e normalmente não disponível pelo SUS, além de requerer troca de prótese em média a cada 12 meses. CIR 62 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Laringe eletrônica. Fonte:https://www.hospinet.com.br/laringe-eletronica- thervoz-cm11/p/ http://www.fcecon.am.gov.br/pacientes-da-fcecon-recebem-doacao-de- aparelho-que-permite-retorno-da-fala/ Legenda: Prótese fonatória. Fonte: https://www.atosmedical.com.br/suporte/proteses- vocais/chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.onco.news/ wp-content/uploads/2019/03/81-art.pdf GLÂNDULAS SALIVARES As glândulas salivares são divididas em dois grupos: glândulas salivares maiores, que incluem as glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais e as glândulas salivares menores que se distribuem pela submucosa de todo o trato aerodigestivo, desde a nasofaringe superiormente, lábios anteriormente e traqueia e esôfago inferiormente. As neoplasias das glândulas salivares são raras e correspondem a apenas cerca de 3% a 6% de todos os tumores de cabeça e pescoço. O risco de malignidade difere entre as glândulas salivares menores e maiores. De forma geral, quanto maior a glândula, menor o risco de CIR 63 https://www.hospinet.com.br/laringe-eletronica-thervoz-cm11/p https://www.hospinet.com.br/laringe-eletronica-thervoz-cm11/p https://www.hospinet.com.br/laringe-eletronica-thervoz-cm11/p https://www.hospinet.com.br/laringe-eletronica-thervoz-cm11/p http://www.fcecon.am.gov.br/pacientes-da-fcecon-recebem-doacao-de-aparelho-que-permite-retorno-da-fala/ http://www.fcecon.am.gov.br/pacientes-da-fcecon-recebem-doacao-de-aparelho-que-permite-retorno-da-fala/ https://www.atosmedical.com.br/suporte/proteses-vocais/ https://www.atosmedical.com.br/suporte/proteses-vocais/ https://www.atosmedical.com.br/suporte/proteses-vocais/ https://www.atosmedical.com.br/suporte/proteses-vocais/Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço neoplasia maligna. Apesar disso, a maioria dos tumores malignos de glândulas salivares são da parótida, visto que o total de neoplasias (benignas ou malignas) é muito maior nessa glândula. Para as neoplasias malignas das glândulas salivares menores, a frequência também muda de acordo com a topografia. Quase 40% dos tumores malignos de glândulas salivares menores se situam no palato, seguido pela língua, mucosa jugal e lábio, cavidade nasal e demais regiões. Há dezenas de tipos histológicos diferentes para tumores de glândulas salivares, benignos ou malignos. Embora a punção por agulha fina (PAAF) CIR 64 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço seja parte essencial da investigação dessas neoplasias, com frequência o diagnóstico de certeza só será obtido após a excisão cirúrgica da lesão. ANATOMIA As glândulas parótidas são as maiores glândulas salivares do corpo. Elas fazem parte do contorno da face, podendo ser mais proeminentes em pacientes etilistas. São divididas entre porção superficial, que corresponde a cerca de 80% da glândula, e porção profunda. A divisão entre as duas porções se dá pelo nervo facial (VII par), responsável pela inervação motora de grande parte da face. Ele emerge do forame estilomastóideo e cruza toda a glândula, se bifurcando em 5 ramos principais: temporal, zigomático, bucal, marginal e facial. A drenagem da glândula parótida ocorre pelo ducto de Stensen que desemboca na altura do segundo molar superior. As glândulas submandibulares são as segundas maiores, situadas no nível cervical IB, entre o ventre anterior e posterior do digástrico e imediatamente abaixo do corpo da mandíbula. Essas glândulas são circundadas pela artéria e veia facial, além de apresentarem grande proximidade com os nervos marginal da mandíbula, hipoglosso e lingual. A drenagem ocorre pelo ducto de Wharton, que desemboca no assoalho anterior da boca, próximo à linha média. As menores das glândulas salivares maiores são as sublinguais, localizadas no assoalho anterior da boca, acima do músculo milo-hióideo. Sua drenagem ocorre por meio de dezenas de ductos próximos à linha média do assoalho anterior. CIR 65 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: Parotidectomia superficial - Identifica-se o nervo facial e seus ramos no meio da glândula, dividindo a porção superficial da porção profunda. Fonte: Shutterstock. PATOLOGIAS NÃO NEOPLÁSICAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES Sialoadenite: consiste na inflamação da glândula salivar, podendo ocorrer nas glândulas submandibulares e parótidas. Ocorre edema e dor no local da glândula, que geralmente piora com a ingestão de alimentos ácidos por estimulação da salivação. A etiologia pode ser viral, idiopática ou calculosa. Os episódios podem ser únicos ou recorrentes, sendo mais frequentes durante a infância, • CIR 66 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço possivelmente devido a inadequações anatômicas dos ductos das glândulas salivares. A conduta é em geral conservadora, com tratamento com analgésicos, anti-inflamatórios, aumento da ingestão hídrica e massagem da região da glândula. Para casos de sialoadenite recorrente da glândula submandibular pode ser indicada a excisão cirúrgica da glândula (submandibulectomia). Sialolitíase: consiste na presença de cálculos nos ductos salivares. Pode ocorrer tanto na glândula parótida quanto na glândula submandibular, porém, é muito mais frequente na glândula submandibular, devido à característica mais viscosa da saliva dessa glândula, além da drenagem contra a gravidade, favorecendo a estase. O diagnóstico é clínico, porém, a confirmação pode requerer a realização de exame de imagem, que pode ser um USG ou tomografia computadorizada, sendo este último mais sensível. Com frequência os cálculos podem ser expelidos espontaneamente. Cálculos de até 1 cm únicos e mais distais ao ducto podem ser tratados por extração por sialoendoscopia ou por marsupialização da glândula com anestesia local. Cálculos maiores ou mais distais, quando sintomáticos, devem ser tratados pela submandibulectomia. Rânula: consiste em um pseudocisto originado no ducto salivar, por trauma ou obstrução, levando a um abaulamento visível geralmente no assoalho da boca. Em alguns casos, a rânula pode ser mergulhante, passando pelo músculo milo- hióideo e provocando abaulamento cervical. O tratamento envolve a marsupialização da glândula para as rânulas limitadas ao assoalho oral e excisão cirúrgica por cervicotomia nas rânulas mergulhantes. • • CIR 67 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço PRINCIPAIS NEOPLASIAS BENIGNAS Adenoma pleomórfico: é o tumor mais frequente da glândula parótida, correspondendo a cerca de dois terços dos tumores benignos das glândulas salivares maiores. Possui histologia mista e extremamente variada. Manifesta-se geralmente como um abaulamento ou nodulação na topografia da parótida, com frequência totalmente assintomático e de crescimento progressivo. É essencial a excisão cirúrgica com margens, pois esse tumor emite pseudópodes, sendo frequente a recorrência quando realizada excisão cirúrgica rente à lesão. • CIR 68 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legenda: A: Vista frontal do paciente mostrando aumento de volume em região pré- auricular esquerda. B: Vista em perfil evidenciando o aspecto da lesão. C: RNM em corte coronal com janela para tecido mole mostrando massa firme em lóbulo superficial de glândula parótida esquerda. D: Ultrassonografia em doppler colorido da glândula parótida esquerda mostrando degenerações císticas, septações e reforço acústico. Fonte: http:// revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-52102014000200003 Tumor de Warthin: é o segundo tumor benigno mais comum das glândulas salivares, também chamado de cistoadenoma papilífero linfomatoso. É quase exclusivo da glândula parótida e pode ser bilateral em cerca de 10% dos casos. Acomete principalmente pacientes tabagistas, entre 50 e 70 anos de idade. Possui como • CIR 69 http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-52102014000200003 http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-52102014000200003 Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço particularidade alta capacidade de captação de tecnécio durante uma cintilografia, sendo também chamado de “nódulo quente da parótida”. É rara a malignização e a recidiva. Legenda: Tumor de Warthin bilateral. Fonte: https://healthjade.net/warthin-tumor. PRINCIPAIS NEOPLASIAS MALIGNAS Carcinoma mucoepidermóide: neoplasia maligna mais comum das glândulas salivares, mais frequente na parótida. Dividem-se entre baixo grau, cujo comportamento é muito semelhante ao do adenoma, correspondendo à maioria dos casos, e de alto grau, de comportamento mais agressivo. • CIR 70 https://healthjade.net/warthin-tumor Cirurgia Geral Tumores Cabeça e Pescoço Legendas: Carcinoma mucoepidermoide em parótida esquerda. Fonte: https:// www.semanticscholar.org/paper/Tumor-mucoepidermoide-de-la-gl%C3%A1ndula- par%C3%B3tida.-de-Sarmiento-Ramos/0093375b8735e08572c60a918e727e9a79ef5d3c/ figure/0 Carcinoma adenóide cístico: segunda neoplasia maligna mais comum das glândulas salivares, possui como principais características a progressão lenta, porém invasiva e o importante tropismo neural. Carcinoma ex-adenoma: neoplasia maligna mais frequentemente associada a transformação do adenoma pleomórfico, identificada após diversas recidivas pós tratamento cirúrgico. As demais neoplasias de glândulas salivares estão listadas na tabela a seguir e devido à sua raridade,