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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI POLÍTICAS EDUCACIONAIS GUARULHOS – SP 2 1 SUMÁRIO 2 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3 3 A RELAÇÃO DO ESTADO COM A EDUCAÇÃO ................................................. 5 4 AS TRÊS PRINCIPAIS TAREFAS DO ESTADO EM SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO ............................................................................................................ 8 5 ANÁLISE DO ESTADO PARA COMPREENSÃO DA EDUCAÇÃO ................... 11 6 AS FASES DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO.................................. 13 7 CONCEITOS BÁSICOS PARA O ESTUDO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS ................................................................................................... 18 8 O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO NA ATUALIDADE ......................... 23 9 O CAMPO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCACIONAIS ............................ 27 10 OS PRINCIPAIS CONCEITOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS.....................................................................................................31 11 AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS EM SEU DESDOBRAMENTO HISTÓRICO-SOCIAL .......................................................... 33 11.1 Contexto das políticas públicas educacionais do século XXI ........................ 39 11.2 Políticas públicas educacionais contemporâneas ......................................... 44 12 AS TRÊS ESFERAS ADMINISTRATIVAS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ...... 50 12.1 As políticas públicas educacionais pertinentes a cada esfera pública administrativa..........................................................................................................55 13 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL ................................ 64 13.1 Histórico das políticas públicas na educação infantil ..................................... 65 13.2 Políticas públicas e financiamento para a educação infantil .......................... 69 14 PROGRAMAS FEDERAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL ........................... 73 14.1 Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Pro infância) .................................... 74 3 14.2 Programa Brasil Carinhoso ........................................................................... 75 14.3 Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) .................................... 75 14.4 Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE) .................................... 76 14.5 Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e PNBE Professor ........... 76 14.6 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) ................................................ 76 14.7 Política Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Infantil.....................................................................................................................76 15 ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR ....................................................................................................... 77 16 AS POLÍTICAS PÚBLICAS E A IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ... 80 16.1 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional .......................................... 81 16.2 Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica .......... 82 16.3 Plano de Desenvolvimento da Educação ...................................................... 83 17 OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ...................................................... 83 18 DIRETRIZES E NORMAS PARA A IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS EDUCACIONAIS INCLUSIVOS ............................................................................ 85 19 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 88 19.1 Bibliografia Básica ......................................................................................... 88 19.2 Bibliografia Complementar ............................................................................ 88 4 2 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 3 A RELAÇÃO DO ESTADO COM A EDUCAÇÃO As relações do Estado com a educação tiveram diferentes fases ao longo de nossa trajetória educacional. Estabeleceram-se por meio de legislações que dispõem sobre as atribuições governamentais. Além disso, a intervenção do Estado na educação dá-se por meio da formulação de políticas públicas, dos meios de acompanhamento dos resultados de desempenho e das diferentes propostas de organização do sistema de ensino nacional. (LIMA, 2019) Ao observarmos o nosso desenvolvimento como nação, veremos que as configurações do Estado, a partir das políticas educacionais, não deram conta de superar problemas que atravessam gerações. Enquanto em outros países já havia, no século XIX um sistema educacional de abrangência nacional consolidado (ARAÚJO, 2011), no Brasil encontramos problemas graves em pleno século XXI, tais como a evasão escolar, índice considerável de analfabetismo e distorção idade/série. Tivemos, em meados da década de 1980, um período em que o Estado voltou-se para a criação de um sistema de proteção de caráter assistencialista, buscando uma reconfiguração enquanto instituição. Nesse período, buscou-se uma reformulação econômica e uma centralização das tomadas de decisão (FAGNANI, 1997). Nesse cenário, a Constituição Federal em 1988 é formulada, buscando avanços sociais e investimentos em políticas, que denotam maior responsabilidade estatal em suas formulações, regulações e implementações (DRAIBE, 1989). É importante destacar que foi a partir do século XX que a concepção de educação como um meio de condições de igualdade de oportunidades passa a informar as ações do Estado: a educação passa a ser considerada um direito. Documentos, tais como a Constituição Federal em 1988, dispõem sobre esses aspectos (BRASIL, 1988, documento on-line): Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 6 II - Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; [...] A reunião desses princípios, assegurados1991 no Instituto de Estudos Avançados da USP, Mello sintetizou as ideias do período de redemocratização brasileira. Era um momento em que a educação era vista como uma política pública. Acreditava-se que seria propício vê-la no conjunto das ordenações e intervenções do Estado e olhar com atenção especial para a educação básica, aprofundando o olhar para o ensino fundamental. (FREITAS, 2018) O documento trata da educação e da cidadania enquanto itens para uma agenda pós-ditadura militar. A educação era encarada como componente estruturante para o desenvolvimento. Nesse contexto, países como o Brasil, integrantes do chamado Terceiro Mundo, precisariam adequar suas estratégias de desenvolvimento às seguintes situações conjunturais: [...] políticas de ajuste econômico de curto prazo que dificultam consensos em torno de objetivos de longo alcance, como são os da educação; instabilidade e fragilidade da experiência democrática, em função de longos períodos de governos autoritários, que prejudicam a articulação entre as instituições políticas e os atores sociais; crescimento desigual, que faz conviver setores avançados tecnicamente com outros de mão de obra intensiva e ainda necessários à integração de grandes contingentes marginalizados da produção e do consumo; grandes desigualdades na distribuição de renda, e ineficiência e desigualdade na oferta de serviços educacionais [...] (MELLO, 1991, p. 4). Noma (2011) comenta que muitos países da América Latina, na década de 1980, enfrentavam intensas crises econômicas, retrações nas produções industriais e desaceleração econômica. Nesse período, os efeitos das ditaduras latino- americanas começavam a cessar e as eleições diretas voltavam a acontecer em países como o Brasil. Veja: O período de vigência do PPE, final do século XX, foi marcado por transformações intensas que decorreram da resposta do capitalismo mundial às crises de rentabilidade e de valorização que se tornaram mais evidentes a partir da década de 1970. A superação da crise mundial ocorreu com uma nova configuração e uma nova dinâmica da produção e 38 da acumulação do capital. Houve um processo de reorganização do capital e do correspondente sistema ideológico e político de dominação cujos contornos mais evidentes foram o advento do neoliberalismo e de suas políticas econômicas e sociais (NOMA, 2011, p. 109). O século XXI começa na América Latina com o aparecimento de governos oriundos das lutas sociais em embate contra o neoliberalismo. Foram os anos de governos democrático-populares, progressistas, pós ou neoliberais. Apontaram, nesse momento, experiências distintas, mas semelhantes na preocupação com a ampliação de direitos e a melhora da qualidade de vida dos setores populares mais empobrecidos da América Latina. Tais políticas sociais e educacionais foram frutos de muitos investimentos nos anos 2000. (FREITAS, 2018) Esses investimentos, na América Latina, trouxeram ampliação do direito à educação, dívida histórica do Estado brasileiro. É desse momento (2008) a declaração final do Congresso Regional de Educação Superior, em Cartagena, reconhecendo que a educação superior é um bem público social, direito humano e universal e um dever do Estado. Alguns países ampliaram os anos de obrigatoriedade, criaram mais escolas e universidades públicas e incluíram setores populares historicamente excluídos. Um caso particular brasileiro são as cotas para afro-brasileiros e indígenas no ensino superior, via Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e os financiamentos, via Sistema de Seleção Unificada (Sisu). (FREITAS, 2018) O PPE (Projeto Principal de Educação para a América Latina e o Caribe) foi proposto para acontecer entre os anos 1980 e 2000. Após longo período de estabilidade econômica mundial (do pós-Segunda Guerra Mundial, em 1945, até a década de 1970), surge intensa crise política e econômica. Simultaneamente, o Brasil estava saindo daquilo que os governos militares chamavam de “fase de ouro do modelo desenvolvimentista brasileiro”, que durou de 1968 a 1973. Esse período foi marcado pela elevação na taxa de crescimento econômico sob a batuta do regime militar. Ao mesmo tempo em que o período foi considerado o auge do milagre econômico brasileiro, as contradições desse crescimento econômico tornaram-se mais evidentes. (FREITAS, 2018) 39 11.1 Contexto das políticas públicas educacionais do século XXI O sistema educacional brasileiro tem sido organizado, orientado e regulado a partir das políticas públicas educacionais que são produzidas pelo Ministério da Educação e os seus órgãos de apoio. Essas políticas, por sua vez, são diretamente impactadas pelo contexto em que se encontra o país. Por essa razão, tendem a modificar-se historicamente, acompanhando as reconfigurações da sociedade. Para que possamos analisar as políticas públicas educacionais que se fazem presentes no século XXI, precisamos compreender quais aspectos determinaram a sua elaboração e implementação. (BES, 2019) O Brasil vivenciou um importante momento de redemocratização, com o fim da ditadura militar e a eleição indireta de um presidente civil, em 1985. Com a Constituição de 1988, o contexto histórico se alterou significativamente, e as políticas educacionais acompanharam esse momento, sendo acrescidos os conceitos de cidadania, democracia, inclusão, entre outros. Isso inaugurou uma nova agenda sobre “[...] as questões sobre organização institucional, em termos de: 40 descentralização, participação, transparência e redefinição da relação público- privado nas políticas” (LEMES, 2016, p. 1.619). No final dos anos 1990, o mundo presenciou a expansão máxima do capitalismo e o advento da globalização, que, impulsionada pelas tecnologias de informação e comunicação digitais, acabou alterando as formas como as pessoas vivem, interagem e relacionam-se entre si e com o mundo do trabalho. Segundo Libâneo, Oliveira e Toschi (2012), nessa mesma época, o mundo entrou na fase do capitalismo concorrencial global, caracterizada pela Terceira Revolução Industrial e pela ascensão do neoliberalismo de mercado. A Terceira Revolução Industrial é caracterizada pelas inovações tecnológicas que propiciaram grandes avanços nas comunicações e no compartilhamento de informações em rede. Fazem parte dos inventos dessa era os satélites, os computadores pessoais, a internet, os jogos eletrônicos e demais aparelhos que fazem parte da tecnologia digital, como smartphones, tablets, GPS, entre outros. Com essa revolução, ocorreu também a compressão do espaço-tempo, que caracteriza a época pós-moderna: o mundo se tornou plano, pois hoje podemos nos comunicar em tempo real com qualquer lugar do planeta, sem precisarmos nos deslocar no espaço. Antes da tecnologia de comunicação digital, precisaríamos nos deslocar durante certo tempo e percorrer as distâncias físicas existentes para conseguir executar essa mesma ação. (BES, 2019) Aranha (2004, p. 234) acrescenta que “[...] no âmbito dos negócios, essas facilidades desencadeiam a globalização da economia. O fortalecimento das multinacionais, por sua vez, paulatinamente enfraquece a capacidade de os Estados nacionais interferirem na gestão dos negócios”. Com a globalização, os Estados se veem obrigados a diminuir as suas regulações, permitindo que o capitalismo se expanda e possa projetar-se ao seu máximo, buscando construir a sua aldeia global. 41 A educação no século XXI serve como base para diferenciar as pessoas, permitindo que aqueles que possuam melhor formação tenham vantagens no mercado de trabalho, concorrendo a um maior número de vagas e tendo a possibilidade de alavancar maiores salários. Porém, as mazelas sociais desse mesmo período fazem com que essa educação, embora represente ajuda significativa nesses aspectos, não garanta um emprego fixo ou umsalário aceitável. Todavia, dentro da lógica empresarial e concorrencial que pauta o pensamento neoliberal, ter qualificação profissional se traduz em diferencial competitivo. (BES, 2019) Os aspectos econômicos também afetam diretamente a elaboração e implementação das políticas públicas. Partindo da premissa da economia de que os recursos são escassos, cabe ao gestor público planejar como serão financiadas as ações e os programas educacionais — muitas vezes é necessário fazer escolhas em termos de focalização para esse setor. A educação no século XXI tem sido associada diretamente ao desenvolvimento econômico das nações, o que destaca a importância e o caráter prospectivo das políticas públicas educacionais para o país. (BES, 2019) O Brasil segue na atualidade a busca pelo cumprimento dos compromissos assumidos a partir da década de 1990. Acompanhando a tendência mundial, o país participou nesse período da Conferência Mundial da Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, demonstrando preocupação em modernizar o seu sistema educacional. A Declaração de Jomtien (1990) reforçou a importância do 42 investimento na Educação Básica, buscando a sobrevivência, o desenvolvimento pleno das capacidades, vida e trabalho dignos, a melhoria na qualidade de vida, a possibilidade de tomar decisões informadas e a possibilidade de continuar aprendendo ao longo da vida. Essas ideias se encontram muito presentes nas políticas públicas educacionais contemporâneas. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional organizou e promoveu a Educação Básica e Superior. Na década de 1990, surgiram também os Parâmetros Curriculares Nacionais, visando orientar a formulação dos currículos brasileiros extensivos a todas as escolas do sistema educacional. Mais recentemente, neste século XXI, tivemos a construção da Base Nacional Comum Curricular, com a finalidade de desenvolver as competências essenciais necessárias para que todos possam ter acesso aos mesmos conhecimentos científicos na escola e, dessa forma, às mesmas condições de concorrer no mercado de trabalho. (BES, 2019) O contexto político que se faz presente nas políticas públicas educacionais no século XXI envolve embates entre os posicionamentos ideológicos que compõem os movimentos políticos presentes no país e no mundo. Percebemos que houve uma grande colisão entre as ideias liberais e progressistas, que se fizeram muito presentes na educação brasileira e que produziram teorias pedagógicas e inspiraram normas e legislações para a organização do sistema de ensino brasileiro. Desse choque, as ideias neoliberais acabaram prevalecendo na atualidade, evidenciando ainda mais um modelo de escola que tende a desconectar-se um pouco mais das discussões acerca do social e das obrigações do Estado para a lógica do investimento na educação como capital humano. Ao se referir ao contexto econômico atual, Lemes (2016, p. 1.623) comenta: Hoje o Brasil vive um momento de grande dificuldade econômica e política, salvo análise com maior profundidade de argumentação, por conta dos conflitos políticos institucionais, partidários e programáticos, originários nas matrizes cognitivas e normativas existentes no âmbito da sociedade brasileira e da estrutura partidária que compõe o poder político. Essa situação notadamente fragilizou esse poder político nos diferentes níveis da estrutura federalizada do país, afetando de maneira significativa a interlocução local enquanto instrumentos de regulação nesse segmento. 43 Cabe esclarecer que, quando comentamos sobre o contexto político, entendemos que ele vai além das questões político-partidárias, pois envolve os movimentos sociais de grupos organizados na luta por direitos comuns. Nas políticas educacionais, temos vários exemplos dessa ordem, uma vez que houve grupos organizados com o objetivo de construir políticas públicas educacionais inclusivas (negros, índios, pessoas com deficiência) em ambos os níveis da educação. (BES, 2019) Os aspectos culturais também merecem destaque nas políticas públicas educacionais do século XXI. Percebemos uma luta de forças entre grupos que pretendem representar o aspecto da cultura hegemônica da sociedade, representando o poder de algum grupo específico que, a partir de sua articulação, consegue impor o seu modelo educacional, e grupos que entendem que todas as culturas são importantes e devem ser contempladas em busca de equidade e justiça social. O Brasil, anteriormente à Constituição de 1988, acabou por reproduzir uma ideia de cultura eurocêntrica (branca, heterossexual, masculina e cristã). Após o período de democratização brasileira, começaram a ser discutidas as primeiras políticas em busca de reconhecimento cultural de alguns grupos historicamente segregados; a partir de então, as políticas educacionais começaram a envolver os conceitos de multiculturalismo e diversidade cultural. (BES, 2019) Como você pode perceber, as políticas públicas educacionais acabam sendo perpassadas pelos aspectos históricos, econômicos, políticos e culturais. Cabe a nós, como profissionais da educação, nos engajarmos em grupos que se alinhem com a nossa maneira de pensar e defender as nossas ideias pedagógicas, para que a educação possa continuar tendo a força de modificar a vida das pessoas a partir do desenvolvimento da sua capacidade crítica e da sua autonomia. (BES, 2019) 44 11.2 Políticas públicas educacionais contemporâneas As políticas públicas educacionais contemporâneas foram incrementadas a partir do período de redemocratização brasileira, na década de 1980, e principalmente impulsionadas após a Constituição Federal de 1988. A Constituição Federal, no art. 205, determina que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualifi cação para o trabalho”. Para cumprir com os objetivos constitucionais propostos para a educação e ainda contemplar as exigências internacionais em prol da satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, da universalização do acesso e da melhoria de qualidade na aprendizagem, o Brasil entrou numa nova fase ao constituir as suas políticas educacionais contemporâneas. Essas políticas públicas educacionais tanto vão se dedicar à organização e normatização curricular quanto ao planejamento geral do sistema educacional, ou ainda ao seu processo de avaliação e fi nanciamento da educação. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são normas que têm caráter obrigatório para a educação básica e visam orientar a forma como o currículo das escolas deve ser planejado em todo o sistema educacional brasileiro. Fixadas pelo Conselho Nacional de Educação, atendem ao que determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, que cita em seu art. 9, inciso IV, ser de incumbência da União “[...] estabelecer, em colaboração com os Estados, Distrito Federal e os Municípios, competências e Diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e os seus 45 conteúdos mínimos de modo a assegurar a formação básica comum” (BRASIL, 1996, documento on-line). Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) tiveram a sua escrita iniciada pelo Ministério da Educação em 1995, sendo concluídos em 1997. Procuraram focar as quatro primeiras séries do ensino fundamental da época, constituindo-se como referências à equipe pedagógica das escolas para a elaboração dos currículos e projetos pedagógicos das instituições, não tendo caráter obrigatório e normativo. Durante o processo de elaboração dos PCNs, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 foi homologada, passando a organizar o sistema educacional brasileiro desde então. OsPCNs foram organizados a partir de áreas de conhecimento, apresentando objetivos para elas, seguidos da apresentação dos blocos de conteúdo, dos critérios de avaliação e finalizando com as “[...] orientações didáticas, que são subsídios à reflexão sobre como ensinar” (BRASIL, 1997, p. 61). É importante esclarecer que os PCNs na atualidade deixaram de cumprir a sua função, uma vez que somente apresentavam sugestões e foram substituídos pelas prescrições obrigatórias da Base Nacional Comum Curricular. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) se propõe, segundo as suas palavras introdutórias, a ser “[...] um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.” (BRASIL, 2018a, p. 7). Em essência, ela norteia aquilo que será ensinado aos alunos na educação básica. A BNCC, de caráter normativo para a educação escolar, vem ao encontro do que é requerido no Plano Nacional de Educação 2014– 2024 (PNE) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. O PNE tem caráter decenal e, com a Emenda Constitucional nº 59/2009, deixou de ser uma disposição transitória da LDB e passou a ser uma exigência constitucional. Esse Plano é o segundo a ser realizado no formato decenal — o primeiro teve vigência de 2001 a 2010. O PNE atual apresenta 20 metas que envolvem todos os níveis e modalidades educacionais, estratégias a serem implementadas para atingir tais metas e recursos que deverão ser utilizados. Ambos 46 contaram com o envolvimento da sociedade na sua construção e monitoramento. (BES, 2019) Esse instrumento vem a articular o sistema nacional de educação, apresentando inclusive o percentual do produto interno bruto (PIB) para o financiamento das suas ações em busca do atendimento das suas 20 metas. Estas envolvem a garantia do direito a educação básica de qualidade, redução das desigualdades e valorização da diversidade, bem como valorização dos profissionais da educação e desenvolvimento da educação superior. (BES, 2019) As políticas públicas educacionais voltadas para a avaliação foram construídas para que o Ministério da Educação possa monitorar, analisar e avaliar as políticas educacionais que se encontram implementadas. Para medir com maior eficiência o rendimento escolar, essas políticas avaliativas costumam considerar três esferas: a aprendizagem dos estudantes, as instituições de ensino e o próprio sistema escolar. Para isso, o Ministério da Educação vale- -se das ações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que aplica a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), a Prova Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), bem como o Exame Nacional da Avaliação do Estudante (ENADE) para a educação superior. Sobre a importância da avaliação, o Ministério da Educação destaca: [...] o desafio não está somente em desenvolver metodologias de avaliação para a educação básica e para o ensino médio em particular, mas como se podem tornar coerentes objetivos e metodologias. Afinal de contas, a avaliação do desempenho do aluno contribui para a política educacional constituindo-se em um componente da avaliação dos sistemas de ensino (BRASIL, 2018b, documento on-line). As políticas públicas educacionais de financiamento são as responsáveis pelo repasse de recursos para que a educação possa ser implementada e, assim, venha a atender os objetivos do sistema educacional brasileiro. Encarrega-se de tais políticas de financiamento “[...] o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia federal criada pela Lei nº 5.537, de 21 de novembro de 1968, e alterada pelo Decreto–Lei nº 872, de 15 de setembro de 1969, [que] é 47 responsável pela execução de políticas educacionais do Ministério da Educação (MEC) ” (BRASIL, 2017, documento on-line). Para administrar o financiamento da educação, o FNDE possui atualmente três políticas públicas principais: o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e o Salário-Educação. Por meio dessas políticas públicas de financiamento da educação, os recursos financeiros necessários às instituições do sistema de ensino brasileiro permitem que essas instituições persigam as suas metas em busca de uma educação de qualidade para todos os estudantes. Existem inúmeras políticas públicas educacionais vigentes na atualidade, voltadas para a educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e para educação superior, conforme mostra o Quadro 1. (BES, 2019) 48 49 É importante esclarecer que os programas de governo que implementam as políticas públicas sofrem alteração quando há mudanças de governo — como as apresentadas no Quadro 1. Assim, algumas são substituídas, outras alteradas e algumas incluídas sempre que se inicia uma nova gestão. (BES, 2019) 50 Por meio da elaboração das políticas públicas educacionais, podemos perceber o empenho do governo no planejamento, na direção, na organização e no controle das áreas pertinentes à educação. Busca-se assim a melhoria dos índices educacionais para acompanhar as tendências internacionais de países desenvolvidos e atingir as finalidades da educação escolar brasileira. (BES, 2019) 12 AS TRÊS ESFERAS ADMINISTRATIVAS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA A organização da educação no Brasil é proposta na Constituição Federal de 1988, que entende que essa organização será realizada a partir da colaboração entre as três esferas administrativas que compõem o País — ou entre os entes federativos que constituem as instâncias de governo no Brasil. Conforme o texto constitucional: Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular (BRASIL, 1988, documento on-line). O artigo constitucional apresenta pontos importantes para que possamos conhecer o conceito de regime de colaboração entre as esferas que se encarregam de administrar a educação nacional. Dessa forma, ainda que em cada esfera administrativa haja prioridades na área de atuação, União, estados, Distrito Federal e municípios devem atuar em colaboração. É importante destacar ainda a função redistributiva e supletiva da União, por exemplo, por meio do repasse de recursos 51 às instâncias estaduais ou municipais. No tópico seguinte, você verá algumas políticas públicas de responsabilidade de cada uma delas. (BES, 2019) A organização da educação brasileira apoia-se em atribuições específicas da União (art. 9º da LDB), conforme mostra abaixo. Elaborar o PNE, em colaboração com os estados, o Distrito Federal e os municípios. Organizar, manter e desenvolver os órgãos e as instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos territórios. Prestar assistência técnica e financeira aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios para o desenvolvimento dos seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo a sua função redistributiva e supletiva. Estabelecer, em colaboração com os estados, o Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e os seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar uma formação básica comum. Estabelecer, em colaboração com os estados, o Distrito Federal e os municípios, diretrizes e procedimentos para a identificação, o cadastramento e atendimento de alunos com altas habilidades ou superdotação na educação básica e na educação superior. Coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação. Assegurar um processo nacional de avaliação do rendimento escolar nos ensinos fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino. Baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-graduação. Assegurar um processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre esse nível de ensino. 52 Autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. Como você pode ver, as atribuições da União são essenciais para o planejamento e a condução do sistema nacional de educação, destacando a importância do PNE (2014–2024) e a projeção das 20 metas a serem perseguidas pelos sistemas de ensino federal, estaduais e municipais ao longo desse decênio. Da mesma forma, a União assume a função de prestar assistência técnica e financeira para que os estados, o Distrito Federal e os municípios possam desenvolver os seus sistemas de ensino, buscando proporcionar uma educação de qualidade durante todo o período de escolarização obrigatória. É importante destacar que essa qualidade na educação é acompanhada por um processo de avaliação periódica em todos os níveis educacionais, tanto na educação básica quanto na educação superior. A LDB ainda propõe que exista um CNE, com função normativa e de supervisão permanente. O CNE é um órgão de Estado composto pelas Câmaras da Educação Superior (CESs) e pela Câmara da Educação Básica (CEB). Esse órgão foi criado pela Lei nº. 9.131, de 24 de novembro de 1995, com a finalidade inicial de colaborar na construção do PNE da época. Segundo o site do MEC, “[...] o CNE tem por missão a busca democrática de alternativas e mecanismos institucionais que possibilitem, no âmbito de sua esfera de competência, assegurar a participação da sociedade no desenvolvimento, aprimoramento e consolidação da educação nacional de qualidade” (BRASIL, [2018b]). São três as principais esferas de responsabilidade do CNE: normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro da Educação. A LDB também esclarece que as atribuições relativas à educação superior poderão ser delegadas aos estados (e Distrito Federal) que possuírem instituições de educação superior. Aos estados, de acordo com o art. 10 da LDB, são atribuídas as incumbências descritas abaixo. 53 Organizar, manter e desenvolver os órgãos e as instituições oficiais dos seus sistemas de ensino. Definir, com os municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público. Elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e os planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus municípios. Autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. Baixar normas complementares para o seu sistema de ensino. Assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio a todos os que o demandarem, respeitando o que é disposto no art. 38 da LDB. Assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. Da mesma forma como a União é responsável pela organização, manutenção e pelo desenvolvimento do sistema federal de ensino, cabe aos estados realizar essas ações em relação às instituições de ensino e aos órgãos que atuam na educação no sistema estadual de ensino. O estado deve se articular junto aos municípios que o compõem para que possam ser elaboradas e executadas as políticas públicas educacionais pertinentes — sempre com o cuidado de manter a concordância com as diretrizes do Ministério da Educação e do próprio PNE. Os estados produziram os seus planos estaduais de educação a partir do PNE vigente, promovendo assim a busca pelas metas propostas no seu território de atuação. Inclusive, cabe aos estados assegurar que o ensino fundamental seja ofertado, mas a sua prioridade é o ensino médio. É importante esclarecer que, no caso do Distrito 54 Federal, aplicam-se tanto as incumbências relativas aos estados quanto aos municípios. (BES, 2019) Os municípios, por sua vez, têm as suas atribuições especificadas no art. 11 da LDB: I — Organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; II — Exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; III — baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; IV — Autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino; V — Oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino. VI — Assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal (BRASIL, 1996, documento on-line). Seguindo a lógica de sistemas de ensino interdependentes e que operem de forma complementar e subsidiária, você pode perceber que as atribuições municipais se relacionam com a organização, a manutenção e o desenvolvimento das instituições de ensino e dos órgãos educacionais existentes dentro do seu território. (BES, 2019) Além das escolas, compõem esse sistema municipal a Secretaria de Educação, o Conselho Municipal de Educação e os demais órgãos encarregados da condução das questões educacionais municipais. Também é incumbência dos municípios o planejamento das suas ações para que estas possam apoiar o alcance das metas do PNE — o que é feito a partir da construção dos planos municipais de educação. (BES, 2019) Os municípios têm como prioridade de oferta o ensino fundamental e são os grandes responsáveis pelo atendimento na educação infantil no sistema nacional de educação, seja nas creches (0 a 3 anos) ou na pré-escola (4 e 5 anos). Também cabe aos municípios a responsabilidade pelo transporte escolar dos seus alunos. (BES, 2019) 55 Assim, as atribuições das esferas administrativas federal, estaduais e municipais apresentam-se de forma complementar e interdependente. Porém, apresentam uma relação de hierarquia e ordenamento que faz com que os municípios precisem atentar para a Legislação e as normatizações estaduais e federais ao proporem as suas políticas públicas educacionais. (BES, 2019) 12.1 As políticas públicas educacionais pertinentes a cada esfera pública administrativa As políticas públicas educacionais são elaboradaspara que as questões que envolvem a educação sejam organizadas, estruturadas e executadas por todos os sistemas de ensino que compõem o sistema educacional brasileiro. Isso signifi ca entender que essas políticas atingiram os seus objetivos quando cada esfera administrativa (União, estados e Distrito Federal e municípios) se dispuser a fazer a sua parte, cumprindo com as suas atribuições e atuando de acordo com o regime de colaboração. É a partir da atuação colaborativa e integrada dos sistemas de ensino municipais, estaduais e federal que as políticas públicas educacionais são construídas, implementadas e monitoradas. (BES, 2019) Vamos agora analisar como as esferas administrativas atuam em relação a algumas políticas públicas educacionais. Utilizaremos para essa análise inicial o PNE (2014–2024) e as suas metas, para perceber como o alcance destas depende fundamentalmente dos esforços de todos os entes da federação que organizam publicamente a educação. O PNE (2014–2024) (BRASIL, 2014) foi construído a partir de muitas discussões e deliberações junto ao Congresso Nacional, proporcionando que a participação popular fosse realizada nos âmbitos municipais, regionais, estaduais e nacionais, perseguindo a construção democrática de tal documento. A construção do PNE, por estes motivos, foi realizada durante o período aproximado de três anos e meio, promovendo a participação de muitos atores da rede pública e privada de educação e da sociedade como um todo. Segundo Britto (2015, p. 37), com a Lei nº. 13.005, de 25 de junho de 2014, conclui-se “[...] o longo e complexo processo de construção de uma bússola para 56 as políticas educacionais brasileiras, com metas ambiciosas e abrangentes, que requerem uma bem-sucedida coordenação federativa para serem atingidas”. Essa coordenação citada pela autora deve ocorrer no interior de cada sistema de ensino, seja ele municipal, estadual, distrital ou federal. Ao fazer a leitura das 20 metas que compõem o PNE, é possível imaginar que, para que elas possam ser atingidas, será necessário um apoio mútuo entre os sistemas municipais, estaduais e federal. Reveja essas metas: Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches, de forma a atender no mínimo 50% das crianças de até 3 anos até o final da vigência do PNE. Meta 2: universalizar o ensino fundamental de 9 anos para toda a população de 6 a 14 anos e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada até o último ano de vigência do PNE. Meta 3: universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até o final do período de vigência do PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%. Meta 4: universalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de um sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados. Meta 5: alfabetizar todas as crianças até no máximo o final do 3º ano do ensino fundamental. Meta 6: oferecer educação em tempo integral em no mínimo 50% das escolas públicas, de forma a atender pelo menos 25% dos(as) alunos(as) da educação básica. 57 Meta 7: fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb: 6,0 nos anos iniciais do ensino fundamental; 5,5 nos anos finais do ensino fundamental; 5,2 no ensino médio. Meta 8: elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar no mínimo 12 anos de estudo no último ano de vigência do plano, para as populações do campo, da região de menor escolaridade no País e dos 25% mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final da vigência do PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. Meta 10: oferecer no mínimo 25% das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional. Meta 11: triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% da expansão no segmento público. Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para pelo menos 40% das novas matrículas no segmento público. Meta 13: elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior para 75%, sendo, do total, no mínimo 35% doutores. 58 Meta 14: elevar gradualmente o número de matrículas na pós- graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 mestres e 25.000 doutores. Meta 15: garantir, em regime de colaboração entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, no prazo de um ano de vigência do PNE, uma política nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurando que todos os professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da educação básica, até o último ano de vigência do PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais da educação básica formação continuada na sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino. Meta 17: valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica, de forma a equiparar o seu rendimento médio ao dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência do PNE. Meta 18: assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os(as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de carreira dos(as) profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido conforme o inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal. Meta 19: assegurar condições, no prazo de dois anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto. 59 Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir no mínimo o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do País no 5º ano de vigência do PNE, e no mínimo o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio. A construção do PNE é uma atribuição da União, em parceria com os estados, o Distrito Federal e os municípios, e serve de base para que tanto os estados (e o Distrito Federal) quanto os municípios possam realizar os seus planejamentos em cada um dos níveis. Dessa forma, para alcançar as 20 metas propostas, é preciso o envolvimento de todas as esferas administrativas. Por exemplo, a Meta 1 trata da ampliação do atendimento na educação infantil,tanto para as pré-escolas (4 e 5 anos) quanto para as creches (0 a 3 anos). O alcance dessa meta está diretamente relacionado com os esforços municipais, uma vez que cabe aos municípios, de acordo com a Constituição Federal de 1988 e a LDB, atender prioritariamente o ensino fundamental e a educação infantil. Para que as metas relativas à educação infantil possam ser atingidas, os municípios contam com os programas de financiamento educacional disponibilizados pelo Estado, pois cabe a ele, segundo a LDB, assegurar as condições financeiras para esse fim. (BES, 2019) A Meta 5 do PNE, que trata da alfabetização de todas as crianças até o final do terceiro ano, é outro exemplo que suscita a necessidade de outras políticas públicas educacionais importantes. Entre elas, vale citar a avaliação, de modo que seja realizado o seu monitoramento, por meio das avaliações de larga escala aplicadas aos alunos concluintes do terceiro ano, via Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Essa avaliação visa conhecer os índices de proficiência dos alunos em leitura, escrita e matemática. É importante explicar que a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) mede as habilidades de leitura, escrita e matemática por níveis de domínio, estruturando-se em níveis de proficiência. O nível 1 é aquele em que as crianças não atingiram o mínimo necessário; progressivamente, os demais níveis vão mensurando e definindo o quanto as crianças já apresentam de autonomia nas áreas avaliadas. Dessa forma, os níveis 60 mais altos são relativos a alunos que já dominam de forma satisfatória e plena as habilidades medidas. (BES, 2019) Os resultados de avaliações externas (como a ANA) possibilitaram novas políticas públicas com vistas à superação das dificuldades em leitura, escrita e matemática. Um exemplo é o Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), que a partir de 2013 buscou intervir na formação de professores alfabetizadores e ofereceu materiais de apoio para as classes de alfabetização. (BES, 2019) Para melhorar esses indicadores, também é necessário que as esferas administrativas e os respectivos sistemas de ensino se organizem e operem de forma coordenada, visando a melhoria dos índices atuais. Os indicadores apresentados na Figura 2 evidenciam que a alfabetização das crianças ainda não atingiu o nível de qualidade proposto na Meta 5 do PNE. (BES, 2019) São considerados proficientes em leitura os alunos que se enquadram nos níveis 3 e 4, que correspondem a em torno de 45% dos concluintes do terceiro ano 61 durante o período avaliado. A proficiência em escrita, por sua vez, apresenta o resultado de 66,2%. A proficiência em matemática também apresenta resultados críticos: somente 45,5 % dos alunos alcançaram o índice desejado, conforme a Figura 3. (BES, 2019) A Meta 7 do PNE propõe a melhoria no Ideb relativo aos anos iniciais e finais do ensino fundamental e ao ensino médio — essa tarefa envolve os sistemas de ensino federal, estadual e municipal. Veja no Quadro 5 o que foi estipulado como meta e o resultado já percebido até o momento. (BES, 2019) Como você pode observar em relação a essa meta, os dados mais alarmantes do Ideb dizem respeito ao ensino médio, que deve ser o foco de ações pontuais por parte dos estados e do Distrito Federal, principalmente por ser destes a prioridade na oferta do ensino médio. (BES, 2019) 62 Da mesma forma, as metas referentes à política de valorização do magistério (17 e 18) somente poderão ser atingidas se houver grande empenho dos agentes executivos municipais, estaduais e federais em direção à construção de planos de carreira apropriados, que atribuam valor justo ao salário dos professores, condizente com outras carreiras que no mercado as quais possuam o mesmo tempo de escolarização. Também cabe destacar a necessidade da oferta de formação continuada para que os professores possam continuar progredindo nas suas áreas de formação. (BES, 2019) Podemos citar como exemplo de políticas públicas que foram criadas para atender a essa finalidade da valorização do magistério o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). Esse programa oferece bolsas de iniciação à docência aos alunos de cursos presenciais que se dediquem ao estágio nas escolas públicas, com o objetivo de antecipar as experiências desses futuros professores com a sala de aula. Dessa forma, “[...] o Pibid faz uma articulação entre a educação superior (por meio das licenciaturas), a escola e os sistemas estaduais e municipais” (BRASIL, [2018d], documento on-line). Da mesma forma, o Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) é outra ação que tem o objetivo de promover a oferta da educação superior gratuita e de qualidade para profissionais do magistério que estejam no exercício da docência na rede pública de educação básica e que ainda não possuem essa formação específica na área em que atuam em sala de aula. (BES, 2019) Outra política pública educacional recente e que foi construída pelo Ministério da Educação em colaboração com as demais esferas administrativas estaduais e municipais é a Base Nacional Comum Curricular da educação básica e do ensino médio. Trata-se de uma política pública educacional curricular, de caráter obrigatório, que deve ser aplicada por todas as escolas de todos os sistemas de ensino que compõem o sistema educacional brasileiro. Em resumo, todos os estabelecimentos de ensino que ofertam a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio — sejam eles públicos ou privados — devem compor os seus currículos a partir do ensino das competências essenciais que esse documento 63 propõe. Veja que, nesse caso, uma política pública educacional da esfera da União regula, a partir da BNCC, os conteúdos que deverão ser ensinados nas demais esferas. (BES, 2019) O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) é uma política pública de financiamento da educação que pode ser tomada como um bom exemplo de funcionamento da articulação entre as esferas administrativas que organizam a educação pública nacional. O Fundeb é um fundo contábil que cada estado possui, sendo composto pela arrecadação vinculada dos seguintes impostos estaduais: Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Fundo de Participação dos Estados (FPE), Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCD) e Desoneração das Exportações Estaduais (LC 87). Somam-se ainda os seguintes impostos municipais: Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), na cota parte relativa aos municípios; Fundo de Participação Municipal (FPM); valores referentes à dívida ativa, juros e multas que incidam sobre esse rol de impostos estaduais e municipais. Dessa forma, os impostos arrecadados na esfera estadual e municipal representam uma parcela significativa dos investimentos realizados na educação brasileira, pois ela se baseia nesse mecanismo de arrecadação tributária para o seu custeio. Os recursos do Fundeb são ainda complementados pelo Governo Federal sempre que se fizer necessário. (BES, 2019) Para a distribuição dos recursos do Fundeb, considera-se o número de alunos devidamente matriculados na educação básica (pré-escolar, fundamental e médio), de acordo com os dados do ano anterior do censo escolar da instituição de ensino. Isso pode fazer com que municípios que tenham um número menor de alunos, mesmo que atendam plenamente as suas demandas educacionais, recebam um repasse financeiro menor do que municípios com uma população maior de estudantes, o que é equacionado a partir da redistribuição e/ou suplementação financeira realizada pela União. (BES, 2019) Dessa forma, podemos perceber queo “regime de colaboração e a integração dos sistemas [...] é, indiscutivelmente, importante para dar dinamismo e 64 sinergia à organização da educação nacional” (CARNEIRO, 2006, p. 61). Ainda analisando as políticas públicas de financiamento da educação, focando especificamente no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), De Costa (2010, documento on-line) acrescenta que “[...] o PDDE se constitui num programa que concretiza a ação supletiva da União na educação, [...] uma forma legal de exercício do regime de colaboração. Esse programa é um exemplo da função que a União assume no que tange à educação básica, considerando especificamente a característica supletiva da transferência de recursos”. Analisando algumas das inúmeras políticas públicas educacionais existentes na atualidade e a sua articulação com as esferas federal, estadual e municipal, podemos perceber que a organização pública da educação nacional se reconfigurou de um modelo descentralizado proposto pelas políticas anteriores “[...] para um modelo mais compacto, pelo mecanismo de dependência que cria entre os sistemas de ensino de Estados, Distrito Federal e Municípios” (CARNEIRO, 2006, p. 61). Um ponto crítico a analisar, no entanto, é que a própria ideia de sistemas que atualmente organiza a nossa educação no Brasil é complexa, uma vez que, no momento em que qualquer parte desse sistema se encontrar comprometida ou inoperante, todas as demais serão afetadas nos seus resultados. 13 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL As políticas públicas de educação direcionam os investimentos para essa área. Tais políticas mostram quais são as prioridades no âmbito de formação da 65 educação básica. No caso da educação infantil, têm se destacado políticas públicas que privilegiam aspectos como: saúde, alimentação, nutrição, convivência familiar e comunitária, assistência social, cultura, lazer, espaço, meio ambiente e proteção. A formulação de políticas públicas de educação, como você vai ver, envolve diversas lutas, movimentos e discussões da sociedade. (BIERWAGEN, 2019) 13.1 Histórico das políticas públicas na educação infantil Você sabe o que são políticas públicas? Políticas públicas são um conjunto de ações, programas e atividades realizadas pelo Estado, direta ou indiretamente, com a participação dos entes públicos ou privados, que têm o objetivo de equacionar os problemas sociais e políticos conforme as demandas da sociedade civil (SECCHI, 2013). As políticas públicas para a educação infantil são aquelas voltadas para equacionar os problemas sociais e políticos relacionados ao público infantil e suas famílias. É importante você notar que a formulação de políticas públicas não é uma tarefa simples. Além disso, ela sempre está atrelada ao cenário político, econômico e social internacional e nacional. Mas como as políticas públicas para a educação infantil foram construídas ao longo da história brasileira? No século XIX, período em que a população se centralizava na área rural, as mulheres eram responsáveis por cuidar das crianças, enquanto os homens trabalhavam. Havia poucas instituições especializadas em cuidados infantis. No geral, existiam apenas orfanatos e internatos para crianças órfãs e delinquentes. Nas primeiras décadas do século XX, a história da educação infantil foi marcada por uma dicotomia: havia um atendimento específico para crianças das famílias das classes trabalhadoras, realizado pelas creches, e instituições voltadas para alunos de classes sociais mais favorecidas, chamadas de jardins de infância (ROMANELLI, 2012; SOUZA; GARCIA, 2015). Contudo, em ambos os períodos citados, não havia desenvolvimento de políticas públicas específicas para a educação infantil, apenas algumas iniciativas da sociedade civil. Por volta das décadas de 1970 e 1980, como você sabe, ocorreram mudanças sociais e econômicas, além de modificações na estrutura familiar. As 66 mulheres começaram a trabalhar fora e houve várias alterações no cenário nacional e internacional, inclusive relacionadas à concepção da infância. Nas universidades e em setores da sociedade civil, por exemplo, surgiram discussões sobre se a educação infantil deveria ter caráter assistencialista ou educacional (ROMANELLI, 2012; SOUZA; GARCIA, 2015). Nesse período, Kuhlmann (2007) destaca que as políticas públicas de educação infantil adquiriram força. Isso ocorreu especialmente devido à promulgação da Constituição Federal de 1988, que reconheceu a necessidade de proteção à infância e o direito das crianças ao atendimento em creches e pré-escolas. Inicialmente, a proposta de concepção de educação da infância estava relacionada a suprir as “carências culturais” das crianças das classes desfavorecidas, oferecendo a elas serviços e cuidados assistenciais (KUHLMANN, 2007; SOUZA; GARCIA, 2015). As políticas educacionais elaboradas na década de 1990 tiveram por objetivo favorecer interesses econômicos e contribuir com uma mundialização financeira. As agências multilaterais, entre elas o Banco Mundial, forçaram as políticas sociais a priorizar um processo de “desenvolvimento humano”. O Estado passou a ser promotor de serviços sociais básicos, em especial para a população mais pobre. As políticas educacionais de atendimento da primeira infância foram marcadas por discursos de prioridade do desenvolvimento sustentável dos países, especialmente dos que estavam em desenvolvimento (ABUCHAIM, 2018). A partir de 1990, esse tema tornou-se recorrente e teve como foco a educação e o cuidado infantil. Segundo Abuchaim (2018), na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien (Tailândia), cerca de 183 países (inclusive o Brasil) assumiram o compromisso de, até 2000, suprir as necessidades básicas de crianças, jovens e adultos, erradicando o analfabetismo e universalizando o acesso à escola para as crianças. Na Declaração de Jomtien, reconheceu-se que a aprendizagem inicia-se com o nascimento, implicando “[...] cuidados básicos e educação infantil na infância, proporcionados por famílias, comunidades ou programas institucionais [...]” (WORLD CONFERENCE ON EDUCATION FOR ALL, 1990, art. 5º, documento on-line). 67 Em 2000, com a realização do Fórum Mundial de Educação para Todos em Dakar (Senegal), fixou-se que uma das metas para a educação seria “[...] expandir e melhorar o cuidado e educação da criança pequena, especialmente para as crianças pequenas mais vulneráveis e em maior desvantagem [...]” (UNESCO, 2000, p. 2). Conforme Moreira e Lara (2012), alguns documentos sobre a concepção de infância, a educação infantil e o cuidado com a criança orientaram o Ministério da Educação Cultura (MEC), nos períodos de 2000 a 2005, a implementar diretrizes para a educação infantil. São eles (MOREIRA; LARA, 2012): Marco de Ação Dakar, da Unesco em 2000; Os serviços para a criança de zero a seis anos no Brasil, da Unesco em 2003; Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial, do Banco Mundial nos anos de 1990, 1995 e 1996; Romper o ciclo da pobreza: investir na infância, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em 1999; Sobre a CEPAL, da Comissão Econômica para a América Latina em 2005. Moreira e Lara (2012, p. 159) destacam que as principais categorias de recomendações políticas desses organismos para a educação infantil foram: UNESCO: direito humano; qualidade; aprender a aprender, a fazer, a conviver; educação para o trabalho; desenvolvimento sustentável; expansão e melhoria; focalização à educação básica primária, às meninas, aos pobres; equidade. CEPAL: equidade; transformação produtiva; desenvolvimento sustentável, focalização à pobreza; educação para a competitividade. BANCO MUNDIAL: desenvolvimento sustentável; focalização à pobreza; capital humano; qualidade; descentralização. BANCO DE DESENVOLVIMENTO INTERAMERICANO:focalização à pobreza; cuidado infantil; desenvolvimento sustentável; focalização à educação básica; qualidade; descentralização; aumento produtivo. 68 Momma-Bardela e Passone (2015) apontam que a Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 reforçaram os direitos das crianças e indicaram a importância da educação infantil como direito assegurado, devendo ser oferecido pelo poder público. A Lei de Diretrizes e Bases apontou a educação infantil como primeira etapa da educação básica. No entanto, tais legislações não indicaram como ela deveria funcionar no âmbito das instituições escolares. Posteriormente, o Ministério da Educação e da Cultura introduziu os documentos e Referenciais Curriculares para a Educação Infantil (RCNEI), em 1998. Eles consistem em um conjunto de referências e orientações pedagógicas para os docentes. Em 2001, foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE) para 2001 a 2011, por meio da Lei nº 10.172/2001. Esse plano estabeleceu metas para a educação infantil tendo como base as recomendações mundiais e a legislação brasileira. Ele determinou a corresponsabilidade de municípios, estados e União e da família, indicando o regime de colaboração para garantir a educação infantil (MOREIRA; LARA, 2012). O PNE estabeleceu um conjunto de 26 objetivos e metas para a educação infantil. Entre eles, estão: [...] a ampliação da oferta de creches e pré-escolas; a elaboração de padrões mínimos de qualidade e infraestrutura para o funcionamento adequado das instituições de educação infantil; a autorização de funcionamento dessas instituições; a formação dos profissionais da área; a garantia da alimentação escolar para as crianças atendidas nos estabelecimentos públicos e conveniados; o fornecimento de materiais adequados às faixas etárias; o estabelecimento de padrões de qualidade como referência para a supervisão; o controle, avaliação e aperfeiçoamento da educação infantil [...] (MOREIRA; LARA, 2012, p. 141) As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) de 1999 e 2009 definiram os princípios para as propostas pedagógicas das instituições de educação infantil. Elas promoveram o reconhecimento pessoal de todos envolvidos, provendo conteúdos básicos para a constituição de conhecimentos e valores, organizando as estratégias de avaliação por meio do acompanhamento e de registros e valorizando um ambiente de gestão democrática e participativa, com profissionais formados como professores (MOREIRA; LARA, 2012). 69 Por meio da Lei nº 13.005, de 2014, foi aprovado o Plano Nacional de Educação para 2014 a 2024, que inclui, direta ou indiretamente, as seguintes metas para a educação infantil: Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE. Meta 4: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados (ABUCHAIM, 2018, documento on-line) Em 2016, o Marco Legal da Primeira Infância ressaltou a importância de políticas públicas que privilegiassem saúde, alimentação, nutrição, educação infantil, convivência familiar e comunitária, assistência social, cultura, brincadeiras, lazer, espaço, meio ambiente e proteção (ABUCHAIM, 2018). 13.2 Políticas públicas e financiamento para a educação infantil Você sabe como se financia a educação infantil? A partir da década de 1990, alguns órgãos internacionais, por meio de suas instituições, estimularam políticas externas e internas de financiamento para a expansão econômica e a inserção de países em desenvolvimento no mercado global. Como você sabe, o Brasil é um desses países. Tais órgãos influenciaram as políticas públicas de educação e financiamento naqueles anos e nos anos posteriores. Como exemplos desses órgãos, você pode considerar o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Comissão Econômica para a América Latina. (BIERWAGEN, 2019) Moreira e Lara (2012) apontam que órgãos como o Banco Mundial, que financiavam projetos e ações educativas por meio de suas instituições, estabeleceram a noção de que para o crescimento de países em desenvolvimento era necessário investir em capital humano. Isso deveria ocorrer por meio de 70 educação básica. Assim, seria possível obter crescimento econômico e produtividade. O Banco Interamericano de Desenvolvimento buscou desenvolver a América Latina e o Caribe financiando programas e projetos que tivessem como prioridade a redução da pobreza e o incentivo à equidade social. De acordo com Moreira e Lara (2012, p. 111), um discurso que perpassava as orientações políticas do BID era “[...] o de que o investimento na infância contribuía para minimizar ou eliminar a pobreza dos países em desenvolvimento [...]”. A Comissão Econômica para a América Latina é uma agência criada com o objetivo de auxiliar no crescimento econômico dos países da América Latina, coordenando ações dos países dessa região com os demais países do mundo. Ela propôs programas e projetos que promoviam a transformação produtiva com equidade (MOREIRA; LARA, 2012). A partir da influência desses órgãos na produção de políticas públicas e financiamento, chega-se à Constituição Federal brasileira de 1988, que determinou a aplicação na educação de no mínimo 25% das receitas de tributos estaduais, municipais e do Distrito Federal e de 18% dos impostos federais (BRASIL, 1988, art. 212º, documento on-line). Os recursos dos municípios são orientados às etapas que são suas atribuições — educação infantil e ensino fundamental, especialmente os anos iniciais. Os estados concentram suas despesas nos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. Já a União realiza a oferta, o acompanhamento e a regulação do ensino superior. No Quadro 1, a seguir, você pode ver a organização da educação no Brasil. 71 A Constituição prevê o salário-educação como fonte adicional ao financiamento da educação. O salário-educação é uma contribuição social aplicada ao financiamento de programas voltados para a educação básica. É um valor recolhido das empresas a partir da remuneração dos funcionários (ABUCHAIM, 2018). Do montante arrecadado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), retém-se 1% de taxa de administração e retiram-se as despesas com o sistema de manutenção do ensino. Desse valor, 90% é dividido para: (1) Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que aplica esses recursos em programas federais de educação básica; (2) estados e municípios, que aplicam os recursos na educação básica. Os 10% restantes do montante da arrecadação do salário- educação são também direcionados ao FNDE (ABUCHAIM, 2018). 72 Além disso, ainda em 1996, o Ministério da Educação criou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) para auxiliar com recursos o ensino fundamental e os profissionais dessa etapa. Em 2007, o FUNDEF foi substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), cuja regulamentação está na Lei nº 11.494/2007 e que passou a beneficiar todas as etapas da educação básica. (BIERWAGEN, 2019) O FUNDEB é um fundo estadual para o qual cada estado e seus municípios contribuem com 20% da arrecadaçãode impostos e transferências definidos por lei. A redistribuição dos recursos é calculada de acordo com o número de alunos matriculados por etapa da educação básica, com as modalidades e os tipos de estabelecimento de ensino. Os valores atribuídos a esses itens são definidos por representante do MEC, dirigentes municipais de educação e secretários de educação. O FUNDEB tem vigência de 2007 a 2020 (ABUCHAIM, 2018). Como você pode imaginar, esse fundo é muito importante para que haja menos desigualdade nas redes de ensino. Além disso, ele ajuda os sistemas de ensino a se organizarem melhor no atendimento escolar de toda a educação básica, garantindo segurança financeira aos municípios e estados para expandirem seu número de matrículas e orientando-os no cumprimento de suas responsabilidades com a educação. Em 2007, buscando relacionar a questão do financiamento com a qualidade de atendimento, foi lançado um estudo sobre o Custo Aluno Qualidade Inicial (CAQi). Esse é um dispositivo que integra em seu cálculo o trabalho educacional de qualidade, a remuneração dos professores e da equipe técnica, a infraestrutura, o número de alunos por turma e o professor. O FNDE é responsável por calcular o valor anual mínimo por aluno. A União é responsável por repassar o valor complementar aos municípios e aos estados caso não seja atingido tal valor. No Quadro 2, a seguir, você pode ver o custo mínimo por aluno. (BIERWAGEN, 2019) 73 O valor investido na educação infantil em todos esses anos é menor do que o investido no ensino fundamental, no ensino superior e no ensino médio. Além disso, há grande desigualdade de investimento por aluno nas diferentes regiões do País (ABUCHAIM, 2018). Há problemas no que diz respeito à infraestrutura das instituições, às propostas pedagógicas, à capacitação de profissionais e à remuneração. Nesse sentido, surgiram programas, patrocinados pela União, que investem na educação infantil. No tópico a seguir, você vai conhecer alguns desses programas. 14 PROGRAMAS FEDERAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL A União dispõe de recursos para a educação infantil que são aplicados por meio de programas federais, conduzidos pelo orçamento do Ministério da Educação. A seguir, você vai conhecer alguns deles. (BIERWAGEN, 2019) 74 14.1 Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Pro infância) Foi criado pelo Governo Federal e instituído pela Resolução nº 06, de 24 de abril de 2007. Tem o objetivo de ampliar a rede de educação infantil, prestando assistência técnica e financeira à construção de novas unidades e à aquisição de equipamentos e materiais. Conforme Flores e Mello (2012, p. 1), “[...] trata-se de uma política pública cujo objetivo é ampliar ofertas de vagas na primeira etapa da Educação Básica, a partir do repasse de recursos federais destinados à construção de prédios para o funcionamento de estabelecimentos de Educação Infantil [...]”. De modo geral, as construções são feitas com base em projetos arquitetônicos disponibilizados pelo FNDE. As escolas construídas obedecem a padrões e ambientes, como: sanitários, fraldários, salas de aula, sala multiuso, recreio coberto, parque e refeitório. A ideia é que possam ser feitas atividades pedagógicas, recreativas, esportivas e de alimentação. Além disso, há espaços administrativos e de serviços. O programa também disponibiliza auxílio para aquisição de mobílias e equipamentos como geladeiras, fogões, bebedouros, cadeiras e berços (FLORES; MELLO, 2012). Para a solicitação dos recursos do Pro infância, os municípios precisam fazer um cadastro em um período predeterminado via Sistema Integrado de Planejamento, Orçamento e Finanças do Ministério da Educação no Brasil (SIMEC). Os pré-requisitos para que o município se cadastre no programa são: disponibilidade de terreno em localização adequada; condições de acesso e características técnicas do terreno adequadas para a implantação das unidades, segundo as exigências dos projetos padronizados, oferecidos pelo FNDE (tipos A, B e C); compromisso com a gestão, o funcionamento e a manutenção das unidades; demanda mínima de vagas na educação infantil (FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO, 2018). O Ministério da Educação assessora municípios participantes do programa tanto técnica quanto pedagogicamente. Para isso, oferece (ABUCHAIM, 2018): 75 Consultorias especializadas em propor processos de planejamento técnico- -pedagógico e de gestão/avaliação da política de educação infantil; Propostas de utilização dos espaços internos e externos das unidades de educação infantil; Formação continuada de professores nessa etapa de ensino; Análise das propostas pedagógicas dos municípios; Desenvolvimento de material em prol da diversidade da educação infantil; Cooperação com a educação infantil integral; Cooperação com a educação infantil no campo; Proposição de indicadores de avaliação da educação infantil; Proposição de formulação de literatura na educação infantil; Rede técnica-pedagógica. 14.2 Programa Brasil Carinhoso Tem como foco a superação da extrema pobreza, a melhoria e a ampliação do acesso à creche, à pré-escola e à saúde. Esse programa possui duas frentes. A primeira consiste na transferência automática de recursos financeiros aos municípios com base no número de matrículas de crianças de 0 a 48 meses que sejam membros de famílias do Bolsa Família. A segunda frente refere-se à antecipação de recursos pelo MEC para custear as novas turmas de alunos da educação infantil ainda não contempladas pelo FUNDEB. (BIERWAGEN, 2019) 14.3 Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) É um programa que, em caráter suplementar desde a década de 1950, financia a alimentação escolar. O FNDE repassa recursos diretamente aos estados 76 e aos municípios com base no número de alunos informado no censo escolar realizado no ano anterior ao do atendimento. (BIERWAGEN, 2019) 14.4 Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE) Consiste na transferência automática de recursos financeiros, sem necessidade de convênio, para custear despesas relacionadas à manutenção do veículo ou da embarcação utilizada para o transporte de alunos da educação básica pública residentes em área rural. (BIERWAGEN, 2019) 14.5 Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e PNBE Professor Fornecem às bibliotecas de escolas obras literárias e demais materiais de apoio à prática da educação básica. Desde 2008, têm distribuído títulos para a educação infantil. (BIERWAGEN, 2019) 14.6 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) É um programa que funciona em diversas modalidades. Por meio dele, repassa- -se dinheiro diretamente às escolas com vistas à melhoria da infraestrutura física e pedagógica e ao reforço da autogestão escolar. Passou a atender a educação infantil a partir de 2009. (BIERWAGEN, 2019) 14.7 Política Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Infantil É uma política nacional de fomento de cursos de especialização em docência na educação infantil em parcerias com instituições públicas de ensino superior e secretarias municipais de educação. (BIERWAGEN, 2019) 77 15 ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR O ensino fundamental é a etapa mais longa da educação básica. Para que tenha a atenção necessária quanto à organização curricular das atividades desenvolvidas dentro das escolas do sistema de ensino brasileiro, foi instituída a BNCC do ensino fundamental em 2017, que, junto com as DCNs para o ensino fundamental de nove anos (Resolução CNE/CEB nº. 7/2010), encarregam-se dessa tarefa. (BES, 2019) A BNCC do Ensino Fundamental — Anos Iniciais aponta alguns aspectos importantes a serem considerados nos primeiros anos de escolarizaçãodessa etapa da educação básica: ludicidade; educação infantil; novas formas de relação; interesse das crianças; alfabetização; aprendizagem. As situações lúdicas de aprendizagem devem se fazer presentes nos anos iniciais do ensino fundamental, colaborando para auxiliar na transição dos alunos provenientes da educação infantil. As experiências da educação infantil devem ser consideradas e articuladas nessa próxima etapa educacional. As crianças, no início do ensino fundamental, estão passando por mudanças significativas “[...] em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo” (BRASIL, 2014, documento on-line). Ao serem pensados os currículos escolares, também devem ser considerados os interesses das crianças, partindo das suas experiências mais imediatas para que se consolidem e aprimorem novos conhecimentos e se 78 constituam novas experiências educativas. Já a alfabetização se apresenta como o objetivo central dos anos iniciais, uma vez que: Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização, a fim de garantir amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de letramentos (BRASIL, 2014, documento on-line). Ressaltamos a importância do processo de alfabetização, do letramento — que deve ser perseguido tornando os alunos capazes de fazer bom uso da leitura —, da escrita e da alfabetização matemática. Em relação à aprendizagem, fica evidente que esta deva seguir um fluxo contínuo entre as duas fases do ensino fundamental (anos iniciais e finais), procurando evitar rupturas bruscas no processo de aprendizagem, sobretudo, na passagem dos professores generalistas, da uni docência dos anos iniciais, para os professores das áreas correspondentes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. (BES, 2019) Para contemplar essas mudanças, a importância de fortalecer a autonomia desses jovens precisa ser considerada pela escola, desenvolvendo sua criticidade. Também se faz necessário reconhecer seus aspectos geracionais e que produzem sua identidade, incluindo aí as questões da cultura digital amplamente utilizada por essa faixa etária. Além disso, a BNCC do Ensino Fundamental — Anos Finais reforça que é compromisso da escola: [...] propiciar uma formação integral, balizada pelos direitos humanos e princípios democráticos, é preciso considerar a necessidade de 79 desnaturalizar qualquer forma de violência nas sociedades contemporâneas, incluindo a violência simbólica de grupos sociais que impõem normas, valores e conhecimentos tidos como universais e que não estabelecem diálogo entre as diferentes culturas presentes na comunidade e na escola (BRASIL, 2014, documento on-line). A busca por uma cultura de paz deve ser fomentada dentro da escola, coibindo qualquer forma de violência, mesmo que simbólica, e propondo uma educação eficiente também nesse aspecto. A BNCC do Ensino Fundamental — Anos Finais propõe as áreas de conhecimento e seus respectivos componentes curriculares conforme Quadro 2. A BNCC do Ensino Fundamental — Anos Finais propõe competências específicas gerais para cada área de conhecimento e, dentro de cada componente curricular, também existem competências específicas propostas. Para que se atinjam essas competências específicas, “[...] cada componente curricular apresenta um conjunto de habilidades. Essas habilidades estão relacionadas a diferentes objetos de conhecimento — aqui entendidos como conteúdos, conceitos e processos —, que, por sua vez, são organizados em unidades temáticas” (BRASIL, 2014, documento on-line). 80 Dessa forma, percebemos que a BNCC do ensino fundamental se apresenta de fácil manejo e possibilita que rapidamente os professores possam se apropriar dos objetos de conhecimento necessários a serem desenvolvidos junto aos seus alunos em cada componente curricular das áreas de conhecimento onde atuem, contribuindo para “[...] a promoção de uma educação integral voltada ao acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno de todos os estudantes, com respeito às diferenças e enfrentamento à discriminação e ao preconceito” (BRASIL, 2014, documento on-line). Dessa forma, a BNCC do Ensino Fundamental — Anos Finais precisa ser aplicada a todas as redes de ensino e instituições escolares do Brasil para que possam, de fato, promover a qualidade e a equidade das aprendizagens dos estudantes que ali se encontram matriculados exercendo seu direito constitucional à educação. (BES, 2019) 16 AS POLÍTICAS PÚBLICAS E A IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A educação inclusiva no Brasil vem passando por uma trajetória de avanços e conquistas, com a promulgação de leis que orientam a sua implantação em nível nacional. É importante destacar que as políticas no Brasil são fortemente influenciadas por eventos e documentos internacionais, como a Conferência Mundial sobre Educação para Todos (Conferência de Jomtien, 1990), o Relatório Delors (1993–1996), a V Reunião do Comitê Regional Intergovernamental do Projeto Principal de Educação para a América Latina e Caribe (1993) e a Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais (Declaração de Salamanca, 1994). Todos esses eventos, de uma forma ou de outra, contribuíram fortemente para as políticas de inclusão no Brasil, inclusive para a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. (NUNES, 2020) A partir da Constituição Federal de 1988 e da Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), os sujeitos com deficiência 81 passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos, inclusive no que se refere à educação (BRASIL, 1988; 1990). Nesse sentido, podemos afirmar que, a partir dos anos 1990, houve uma mudança importante no cenário da educação, principalmente no que se refere à regularização da situação educacional das pessoas com deficiência. Ou seja, o movimento pela educação especial ganhou força. Várias políticas importantes foram implementadas, no sentido de garantir a entrada e a permanência dos sujeitos da educação especial no ensino regular. A seguir, veremos algumas das principais políticas. 16.1 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional No ano de 1996, mais especificamente em 20 de dezembro de 1996, foi estabelecida a Lei nº. 9.394, denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). No Capítulo V, “Da Educação Especial”, art. 58, essa Lei estabelece que: “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais” (BRASIL, 1996, documento on-line). Caso a escola regular não possua condições de atender esses alunos, “O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular” (BRASIL, 1996, documento on-line). Cabe destacar que, após a LDBEN, a educação especial passou de um sistema à parte para uma modalidade educacional transversal. A partir dela, as normativas foram se tornando cada vez mais detalhadas e direcionadas ao público- alvo da educação especial. Salienta-se que a LDBEN apontou algumas mudanças significativas em prol da educação escolar das pessoas com deficiência, porém, tratou a educação especial como “[...] a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidadespor lei como um dever do Estado, relaciona-se com a oferta de uma educação pública gratuita a todos os cidadãos, a responsabilidade de ofertar um ensino de qualidade, o compromisso com a autonomia e a democratização das instituições de ensino. (LIMA, 2019) A partir da década de 1990, as ressignificações dos papéis do Estado intensificaram-se, sendo influenciadas pela globalização, pelas relações com outros países e pelas novas tendências econômicas. Além disso, o cenário de crise afetava os mais variados setores. A partir desses desdobramentos, em 1995, o presidente Fernando Henrique Cardoso formula uma reforma por meio de um Plano Diretor da Reforma do Estado (BRASIL, 1995). Com isso, passa-se a considerar que o Estado não é mais o responsável direto pelo desenvolvimento do país, passando a exercer atribuições de promoção e regulação do avanço econômico e social. O mesmo documento estabelece as seguintes relações entre Estado e educação: O Estado reduz seu papel de executor ou prestador direto de serviços, mantendo-se entretanto no papel de regulador e provedor ou promotor destes, principalmente dos serviços sociais como educação e saúde, que são essenciais para o desenvolvimento, na medida em que envolvem investimento em capital humano; para a democracia, na medida em que promovem cidadãos; e para uma distribuição de renda mais justa, que o mercado é incapaz de garantir, dada a oferta muito superior à demanda de mão-de-obra não-especializada. Como promotor desses serviços o Estado continuará a subsidiá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle social direto e a participação da sociedade (BRASIL, 1955, p. 13). Esse plano traça objetivos tais como a instituição de um programa denominado “publicização”, que passa as fundações públicas para entidades de direito privado, incentivando os processos de privatização e terceirização (BRASIL, 1995). Todas essas propostas foram vistas por alguns especialistas como contraditórias, já que o Estado, a partir de tal plano, passa por um fortalecimento em suas funções de regular e coordenar por meio da esfera federal. Entretanto, “[...] ao passar o controle político-ideológico para as organizações públicas não-estatais, 7 apenas financiando-as, [o Estado] transfere também a coordenação e a regulação dessas organizações para o mercado” (PERONI, 2000, p. 10). Outra entidade que influencia as relações entre o Estado e a educação é o Banco Mundial, que, nos anos de 1990, teve uma atuação estratégica como investidor de políticas educacionais, considerando a educação como uma ferramenta de ascensão econômica. A partir dos estudos de Arruda (1998), o pacote de propostas educativas formuladas pelo Banco Mundial teve como objetivos focalizar investimentos na educação básica, desenvolver ações para a melhoria da qualidade do ensino, priorizar elementos financeiros e educativos no campo educacional, por meio de reestruturação de ministérios e instituições, assim como realizar ações para fortalecer os sistemas de ensino. Descentralizou-se e ampliou- se a autonomia das instituições, para que se responsabilizassem por seus resultados e garantissem uma maior adesão dos pais e da comunidade escolar nas decisões das instituições educativas. No período de 1996 a 2000, verificamos a instituição da nova LDB nº. 9.394/96 (BRASIL, 1996), que reafirma disposições da Constituição Federal de 1988, demarcando o papel do Estado na educação. Nesse mesmo período, movimentações marcaram a descentralização educacional por meio da criação do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, que propõe novas formas de financiamento do ensino, articulando diferentes esferas governamentais. Em 2007, tivemos outra ação importante do Estado com a criação do FUNDEB, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, que substitui o FUNDEF para ampliar o fundo para toda educação básica (LOPES, 2008). Em 2014, foi promulgado o mais atualizado Plano Nacional de Educação, por meio da Lei nº. 13.005 (BRASIL, 2014). Com prazo de vigência até o ano de 2024, o documento apresenta uma série de 20 metas, com suas devidas estratégias voltadas à oferta de uma educação de qualidade para todos os cidadãos. (LIMA, 2019) Ações como essas, assim como as demais políticas educacionais que se seguiram em diferentes governos, tiveram como objetivo organizar ações de 8 desenvolvimento, por meio de um sistema capitalista efetivamente articulado ao setor privado, propondo, por meio de documentos legisladores, políticas de inclusão, de aumento de oportunidades e de enfrentamento aos problemas causados pela desigualdade social. Busca-se uma educação democratizante, tal como rege, as leis que nos amparam. (LIMA, 2019) Assim, identificamos que cabe ao Estado a oferta de uma educação básica de qualidade e gratuita que atente às necessidades de todos os cidadãos por meio de diferentes modalidade e níveis, estabelecendo os objetivos de cada um deles e assegurando as condições necessárias não só para o ingresso de alunos no sistema de ensino, mas também sua permanência. (LIMA, 2019) 4 AS TRÊS PRINCIPAIS TAREFAS DO ESTADO EM SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO Sabemos que a educação é um direito de todos os cidadãos, assegurado por lei em nosso país. O Estado brasileiro é dividido em níveis federal, estadual e municipal, que se articulam para viabilizar meios de ofertar o que lhes foi atribuído por documentos constitucionais e outros. (LIMA, 2019) Compreendemos que toda lei representa uma forma de gestão que reflete a política vigente e uma disputa de interesses sobre o tema tratado (GRACINDO, 1998). Assim, ainda que estejamos falando sobre a educação, não podemos dissociá-la da política (Estado). Vimos que, a partir das reconfigurações dos papéis do Estado decorrentes da globalização e de suas relações com o capital, aquele passou a exercer um papel de regulação, de provisão e de promoção de políticas sociais e educacionais. Essa regulação surge com o objetivo de intervir nas políticas públicas, visando a modernizar a administração e superar alguns controles que tornavam os processos mais burocráticos e atrasavam o progresso dos trabalhos desenvolvidos, interferindo na qualidade do que se almejava avançar. No campo educacional, busca-se a promoção de instituições educacionais com mais autonomia e responsabilidade sobre seus resultados. A respeito dessas novas relações, de acordo com Lessard, Brassard e Lusignan (2002, p. 35): 9 O Estado não se retira da educação. Ele adopta um novo papel, o do Estado regulador e avaliador que define as grandes orientações e os alvos a atingir, ao mesmo tempo que monta um sistema de monitorização e de avaliação para saber se os resultados desejados foram, ou não, alcançados. Se, por um lado, ele continua a investir uma parte considerável do seu orçamento em educação, por outro, ele abandona parcialmente a organização e a gestão quotidiana, funções que transfere para os níveis intermediários e locais, em parceria e concorrência com atores privados desejosos de assumirem uma parte significativa do “mercado” educativo. Desse modo, podemos identificar, em nossa Lei de Diretrizes e Bases nº. 9.394/96, algumas disposições que denotam o papel regulador do Estado quanto à educação: Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, documento on-line). Como podemos observar, esses princípios e fins articulam-se diretamente com o artigo 205 da Constituição Federal de 1988, reafirmando esses deveres em um documento especificamente elaborado para organizarespeciais” (BRASIL, 1996, documento on-line). O termo 82 “preferencialmente” gerou algumas brechas na lei, permitindo que algumas instituições negassem a matrícula para os sujeitos da educação especial. Rech (2015) chama a atenção de que, embora a Lei não tenha se referido à educação inclusiva, nela ficou perceptível a intenção de abrir espaços para a ideia de educação para todos, tendo como base a proposta de manter, na escola especial, apenas os alunos que não tiverem condições de serem integrados na escola regular. A partir desse momento, a matrícula para alunos com deficiência passou a ser obrigatória na escola regular. Porém, até esse momento, pelo menos nas políticas públicas, não se falava no conceito de inclusão na perspectiva da integração escolar. 16.2 Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica Conforme leciona Rech (2015, p. 160-161), o MEC organizou, em 2001, as “Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica”; esse documento começou a circular pelas escolas, “[...] juntamente com um maior aporte teórico sobre a inserção da Educação Especial na escola regular”. Esse material “[...] trouxe também, informações mais completas a respeito dos serviços de apoio pedagógico especializado, nomenclatura adotada no Documento”, ainda conforme Rech (2015, p. 160-161). Rech (2015, p. 160-161) afirma que, conforme o documento: [...] o atendimento educacional especializado (AEE), poderia ser realizado nas classes comuns de ensino, mediante parcerias entre os professores da Educação Especial e do ensino regular; nas salas de recursos pelo professor da Educação Especial e, também, fora da escola em classes hospitalares e em ambientes domiciliares. Esse documento é bastante importante, já que nele aparece pela primeira vez o termo inclusão, em substituição ao termo integração. Rech (2015) aponta ainda três aspectos importantes a considerar a partir dessas diretrizes: 1. a utilização do termo “alunos com necessidades especiais”, referindo- se aos alunos que necessitavam ser incluídos; 83 2. responsabilização do governo em assumir a proposta da inclusão como uma das metas das políticas educacionais; 3. responsabilização do governo pelo sucesso da inclusão. 16.3 Plano de Desenvolvimento da Educação Outra política importante direcionada para a inclusão das pessoas com deficiência no ensino regular foi a criação do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). De acordo com Rech (2015), o PDE foi lançado oficialmente a partir do Decreto nº. 6.094, de 24 de abril de 2007 (BRASIL, 2007), que tratou do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação. A autora destaca duas ações importantes no sentido de combater a exclusão escolar: o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais (2005) e o Programa Incluir: Acessibilidade na Educação Superior (2005). Essas ações foram importantes, no sentido de trabalharem formas ou criarem experiências para fortificar o movimento pela inclusão, ainda conforme Rech (2015). Esses são alguns exemplos de políticas que, aos poucos, foram sendo criadas e implementadas no sentido de criar condições para que, no ano de 2008, fosse criada a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. É importante destacar que, após a implementação dessa Política, várias outras políticas foram criadas, dando prosseguimento às ações desenvolvidas até então. Dentre elas, podemos citar: Resolução nº. 4 do Conselho Nacional de Educação, de 02 de outubro de 2009; Nota técnica nº. 11 da SEESP, de 07 de maio de 2010; Decreto nº. 7.611, de 17 de novembro de 2011; Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº. 13.146, de 06 de julho de 2015). 17 OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA O documento orientador para a implementação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, publicado em 2008, tem 84 como diretriz principal a instrução para que os estados e municípios organizem as suas ações, no sentido de transformarem seus sistemas educacionais em sistemas educacionais inclusivos. O documento tem como objetivo principal o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com defi ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares. Ele orienta os sistemas de ensino a promoverem respostas às necessidades educacionais especiais, garantindo os aspectos descritos a seguir (BRASIL, 2008). Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior. O atendimento especializado deve ser oferecido em todos os níveis, não substituindo o ensino regular, mas auxiliando o aluno nas suas dificuldades de aprendizagem. Atendimento Educacional Especializado (AEE). É o conjunto de atividades e recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente. Ele é prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. Pode ser organizado dentro do mesmo estabelecimento escolar ou oferecido em outros espaços, como escolas especiais. Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino. Devem ser oferecidas oportunidades àqueles alunos que tenham interesse e estejam aptos a ingressarem nos níveis mais elevados, como o ensino superior e as suas modalidades posteriores. Formação de professores para o atendimento educacional especializado e dos demais profissionais da educação para a inclusão escolar. O MEC, em parceria com a SEESP, deverá oferecer programas de formação inicial e continuada para os professores da rede regular de ensino, com o objetivo de melhor preparar os profissionais envolvidos no processo de inclusão. Participação da família e da comunidade. É de responsabilidade do MEC a criação de iniciativas de conscientização das famílias e da sociedade em geral, no sentido de uma maior participação e 85 acompanhamento das crianças, perfazendo uma troca de experiências e uma parceria família- -escola, o que pode contribuir para a melhoria do sistema como um todo. Acessibilidade urbanística e arquitetônica nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e na informação. Os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação, para que favoreçam a promoção da aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender às necessidades educacionais de todos os estudantes. Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. Para assegurar a intersetorialidade na implementação das políticas públicas, a formação deve contemplar conhecimentos de gestão de sistema educacional inclusivo. Assim, deve ter em vista o desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas, visando à acessibilidade arquitetônica, aos atendimentos de saúde e à promoção de ações de assistência social, trabalho e justiça. 18 DIRETRIZES E NORMAS PARA A IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS EDUCACIONAIS INCLUSIVOS A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva estabelece as normas e diretrizes para a implantação, a implementação e a manutenção da inclusão nos estabelecimentos de ensino da rede regular 86 (BRASIL, 2008). Você verá, aqui, algumas delas, consideradas de caráter essencial. Mas, para um maior aprofundamento sobre o assunto, você deve fazer a leitura do documento orientador na íntegra. A educação especial é uma modalidade de ensino que deve perpassar todos os níveis, etapas e modalidades. Ela engloba realizar o atendimento educacional especializado, disponibilizar os recursos e serviços e orientar quanto à sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. O atendimento educacional especializado tem como função identificar,elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado se diferenciam daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização e complementando a formação dos estudantes. (NUNES, 2020) O acesso à educação tem início na educação infantil, na qual se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e o desenvolvimento global do aluno. Na modalidade de educação de jovens e adultos e educação profissional, as ações da educação especial possibilitam a ampliação de oportunidades de escolarização, a formação para o ingresso no mercado de trabalho e a efetiva participação social. (NUNES, 2020) Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos estudantes. Essas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação e 87 nos materiais didáticos e pedagógicos que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão. (NUNES, 2020) A avaliação pedagógica deve considerar tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto as possibilidades de aprendizagem futura. Assim, deve configurar uma ação pedagógica processual e formativa, que analisa o desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual. Na avaliação, deve-se destacar os aspectos qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do professor. Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. (NUNES, 2020) 88 19 BIBLIOGRAFIA 19.1 Bibliografia Básica DEMO, P. Política social, educação e cidadania. São Paulo: Papirus. 2017. A nova LDB: ranços e avanços. 23 ed. Campinas: Papirus, 2015. GROSSI, Esther Pillar. LDB: lei de diretrizes e bases da educação lei 9.394/96. 3 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. SABATOVSKI, E.; FONTOURA, I. P. LDB: lei 9.394/96. Lei De Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 4 ed. Paraná: Juruá editora, 2015. 19.2 Bibliografia Complementar ARAÚJO, G. C. 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Em continuidade à LDB nº. 9.394/96, temos as disposições sobre o direito à educação e o dever de educar, que apresentam mais uma tarefa do Estado: Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I – Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II – Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III – atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; IV – Atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade; V – Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII – oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo- se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; 10 VIII – atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; IX – Padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem (BRASIL, 1996, documento on-line). A partir dessas especificações, a LDB apresenta as incumbências dos diferentes níveis que formam o Estado para o atendimento e a oferta de todas essas etapas e modalidades educacionais que visam a atender a população de todas as idades. (LIMA, 2019) Em 2006, foi promulgada uma lei alterando alguns capítulos da LDB nº. 9.394/96. A Lei nº. 11.274 (BRASIL, 2006), que tornou obrigatória a matrícula para as crianças a partir dos seis anos de idade, dispõe que o Estado, em diferentes esferas, deve assegurar a obrigatoriedade do ensino fundamental em até dez anos após sua promulgação. Outro documento que evidencia as formas de atuação estatal é o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº. 13.005/14 (BRASIL, 2014), com prazo de vigência de 2014 até 2024. O PNE apresenta metas que devem ser definidas por meio da articulação e colaboração entre Estado, união, distrito federal e municípios e trata de questões tais como a ampliação do acesso à educação a todos os cidadãos, as formas de financiamento e as propostas de valorização dos profissionais de educação. O PNE tem, no total, 20 metas e suas respectivas estratégias e prazos de instituição ao longo desses dez anos. Apresenta, também, as seguintes diretrizes em seu Art. 2º: I - Erradicação do analfabetismo; II - Universalização do atendimento escolar; III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; IV - Melhoria da qualidade da educação; V - Formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; VI - Promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País; VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; IX - Valorização dos (as) profissionais da educação; 11 X - Promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental (BRASIL, 2014, documento on-line). Verificamos, por meio de diferentes documentos normativos, os desdobramentos das principais tarefas que são de incumbência do Estado, em colaboração entre as esferas federais, estaduais e municipais, para assegurar uma educação pública de qualidade, que promova a equidade, justiça social e desenvolvimento para o exercício da cidadania e para as relações profissionais. Por meio de políticas educacionais, são buscados meios de enfrentamento de problemas que são consequência de nossa trajetória educacional, marcada por desigualdade e luta de classes. (LIMA, 2019) 5 ANÁLISE DO ESTADO PARA COMPREENSÃO DA EDUCAÇÃO Para que possamos acompanhar o processo de alguma atribuição do Estado, é necessário identificar algumas de suas especificidades, ou seja, os elementos que a compõem, responsáveis por sua formulação, execução e implementação. Para tanto, podemos iniciar esse estudo a partir do conceito de Estado de Easton (1982) e Schwartzman (1982, apud CABERLON, 1997, p. 130): [...] a força do conceito de Estado é que ele se refere a um espectro muito concreto e generalizado das sociedades modernas - o desenvolvimento de grandes e complexas estruturas organizacionais que concentram o poder, tendem a manter o monopólio do uso da força, organizam-se em linhas burocráticas (e) têm um limite territorial definido (...). Além disso, o Estado não é uma simples 'função' dentro de um sistema político, uma vez que, de acordo com suas diferentes histórias, cada sociedade tem seu tipo peculiar [...]. Nesse sentido, se trouxermos o conceito de Estado para a realidade de governo brasileiro, estreitamente articulado ao modelo capitalista e ao fenômeno da globalização, veremos se desdobrarem movimentações a partir da tendência neoliberalista, redefinindo o papel do Estado e de suas relações com os setores sociais, políticos e educacionais. Pautas como a promoção da igualdade e da justiça perdem espaço para a ampliação da produtividade, da eficiência e da qualidade (CABERLON, 1997). 12 Reconhecer que nosso Estado se organiza como uma democracia nos leva a refletir sobre o termo “governabilidade”, que, nas palavras de Oliveira (1995, p. 61), significa a “[...] capacidade de governar apoiada em tendências muito concretas na sociedade e dirigida no sentido de um processo de liquidação das desigualdades sociais”. Assim, a atuação do governo compreende as discussões sobre as políticas atuais relacionadas ao nosso contexto histórico, social e econômico. Ao verificarmos que o Estado assumiu o papel de regulador de políticas educacionais, identificamos que essas atribuições se configuram a partir das seguintes circunstâncias, de acordo com Barroso (2005, p. 733–734): A regulação é um processo constitutivo de qualquer sistema e tem por principal função assegurar o equilíbrio, a coerência, mas também a transformação desse mesmo sistema. - O processo de regulação compreende, não só, a produção de regras (normas, injunções, constrangimentos etc.) que orientam o funcionamento do sistema, mas também o (re) ajustamento da diversidade de acções dos actores em função dessas mesmas regras. - Num sistema social complexo (como é o sistema educativo) existe uma pluralidade de fontes (centro/periferia, interno/externo (...), de finalidades e modalidades de regulação, em função da diversidade dos atores envolvidos, das suas posições, dos seus interesses e estratégias. - A regulação do sistema educativo não é um processo único, automático e previsível, mas sim um processo compósito que resulta mais da regulação das regulações, do que do controlo directo da aplicação de uma regra sobre acção dos “regulados”. Embora no quadro do sistema público de ensino o Estado constitua uma fonte essencial de regulação, ele não é a única, nem por vezes a mais decisiva nos resultados finais obtidos. A partir das considerações aqui feitas, observamos que os processos regulatórios são complexos e envolvem diferentes elementos que devem ser articulares para viabilizar a implementação de políticas educacionaisem contextos tão variados quanto os que compõe nosso país. (LIMA, 2019) 13 Hoje em dia, ao verificarmos como o cenário da educação se apresenta, identificamos o quanto estamos mal desenvolvidos no que tange ao nível educacional dos nossos cidadãos. Ações para o enfrentamento desse grave problema são fundamentais. De acordo com Buarque (1991), esse nível de desenvolvimento não se relaciona necessariamente aos processos naturais da modernização global, mas com o modo como o nosso país foi modernizado. Acima de tudo, essa modernização atrelada ao neoliberalismo nos impulsiona para caminhos educacionais que devem ser estudados com cautela para que se possa identificar se, de fato, estamos avançando e assegurando aos cidadãos o que lhes é de direito no que tange ao sistema de ensino. (LIMA, 2019) 6 AS FASES DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO Desde o início do século XX, já vinha sendo apontada pelos intelectuais da época a necessidade da criação de um plano nacional de educação, de um sistema 14 que organizasse essa questão educacional para todo o território brasileiro. Um exemplo é encontrado no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, em que são criticadas as iniciativas educacionais dos primeiros anos republicanos, uma vez que se apresentavam “[...] sem unidade de plano e sem espírito de continuidade, não lograram ainda criar um sistema de organização escolar, à altura das necessidades modernas e das necessidades do país” (1932, p. 188). As necessidades modernas citadas estavam relacionadas ao cenário de industrialização e urbanização que ocorria nas décadas de 40 e 50, que darão impulso para a criação da Lei nº 4.204/1961, conhecida como a primeira Lei de Diretrizes da Educação Nacional. Essa lei ficou em tramitação no Congresso Nacional desde 1948, devido a várias discordâncias sobre os objetivos do ensino e a finalidade da escola. Os principais pontos divergentes versavam sobre uma educação cristã nas escolas públicas e uma maior ou menor participação do Estado na regulação dos assuntos de âmbito escolar. O Brasil vivia neste período pré-LDB de 1961 uma adaptação a um sistema político democrático, posterior ao período ditatorial anteriormente vivido com Getúlio Vargas. A morosidade da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, segundo Montalvão (2010), também se relaciona com os riscos de se estender a regulamentação do ensino para os estados e, assim, reforçar as oligarquias estatais ou manter a regulamentação da educação plenamente atrelada ao Estado. Contudo, a LDB de 1961 apresenta forte inspiração nos princípios da solidariedade humana e da liberdade. Analisaremos, agora, a estrutura do sistema de ensino proposta pela Lei nº 4.204: Educação pré-primária (até 7 anos). Ensino primário (4 séries). Ensino médio: ginasial (4 séries) e colegial (3 séries ao menos). Ensino técnico (ginasial e colegial): industrial, agrícola e comercial. Curso de formação de professores (Normal). 15 Ensino superior (graduação, pós-graduação, especialização) (BRASIL, 1961). A educação pré-primária era ofertada em escolas maternais ou jardins de infância. O ensino primário era obrigatório a partir dos 7 anos. O ensino secundário era considerado como a soma do ginasial e do colegial. No ensino técnico, além de formar para as áreas industrial, agrícola e comercial, havia o Curso Normal, visando a formar professores para a docência na educação pré-primária e no ensino primário. No ensino superior, havia as graduações para concluintes do ensino médio, as pós-graduações para os concluintes das graduações e de especialização, aperfeiçoamento e extensão, de acordo com os requisitos exigidos pelas instituições de ensino. (BES, 2019) De acordo com Piletti (1996), a Lei nº 4.024/61 trouxe alterações na forma como o currículo escolar era constituído, deixando de ser tão rígido em termos de padronização e possibilitando aos estabelecimentos de ensino que definissem matérias optativas. Dessa forma, os currículos passaram a ser compostos por uma parte regional e uma parte própria dos estabelecimentos. Durante o período da ditadura militar, houve mudanças no sistema educacional brasileiro, proposta primeiramente pela Lei nº 5.540/1968, que propõe a Reforma Universitária, que, segundo Piletti (1996), institui o vestibular obrigatório, organiza a universidade em departamentos, organiza o ensino em semestres, estrutura a universidade em unidades (faculdades) e amplia as vagas nas escolas superiores particulares. A Lei nº 5.692/1971 também ficou conhecida como a Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus e impactou diretamente também o ensino superior ao tornar o 2º grau obrigatoriamente profissional. Dessa forma, a obtenção de um diploma técnico nesta etapa do ensino acabava por desviar alguns alunos da busca pela formação no ensino superior. Tanto a Reforma Universitária (Lei nº 5.540/68) quanto a Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus (Lei nº 5.692/71) tiveram a participação técnica e a cooperação financeira de um órgão norte-americano, a United StatesAgency for InternationalDevelopment (USAID), ficando conhecidas como os acordos MEC- 16 USAID. Segundo Aranha (2004, p. 213), “[...] a partir daí, desenvolve-se uma reforma autoritária, vertical, domesticadora, que visa atrelar o sistema educacional ao modelo econômico dependente, imposto pela política norte- -americana para a América Latina”. Foram três os pilares sobre os quais se assentaram às reformas propostas (ver Figura 1). A educação e o desenvolvimento se associam à necessidade de qualificação de mão de obra urgente para um país que se encontra em processo de expansão industrial, bem como se busca a formação de um cidadão com espírito cívico e consciente da importância da ordem para o país, o que é feito a partir da inserção das disciplinas de Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política do Brasil (OSPB) e Estudos de Problemas Brasileiros (EPB) nos currículos. (BES, 2019) De acordo com Aranha (2004), as principais mudanças advindas com a Lei nº 5.692/71 foram: A extensão da obrigatoriedade do 1º grau para 8 anos. Lembre-se de que, anteriormente, eram 4 anos obrigatórios. 17 Escola única: não existe mais separação entre o secundário e o técnico. Profissionalização em nível médio para todos. Integração geral do sistema educacional, possibilitando a continuidade do ensino primário ao superior. Cooperação das empresas na educação. Essas propostas de reforma educacional tiveram muitos problemas para sua execução, relacionados a estruturas necessárias e recursos, restringindo-se muito mais aos aspectos empresariais e tecnocráticos do que visavam ao mercado de trabalho e não aos aspectos pedagógicos. Aranha (2004, p. 216) acrescenta que neste período “[...] a relação entre a escola e a comunidade reduz-se a captar mão de obra para o mercado e à intenção de adaptar ao ensino o modelo da estrutura organizacional das empresas burocratizadas e hierarquizadas”. A intenção de transformar todas as escolas de ensino de 2º grau em escolas profissionalizantes também não se efetivou plenamente, uma vez que “[...] não havia recursos materiais, financeiros e humanos para tanto” (CLARK; NASCIMENTO; SILVA, 2006, p. 130). Dessa forma, permanece no período a dualidade entre o ensino médio profissionalizante e aquele propedêutico, visando à preparação para o ensino superior. Ainda em relação às décadas de 60 e 70, cabe comentar que tivemos inúmeros movimentos educacionais voltados para a educação de adultos, visando a alfabetizar todo um contingente populacional analfabeto. (BES, 2019) 18 7 CONCEITOS BÁSICOS PARA O ESTUDO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS O estudo das políticas públicas educacionais tem sido objeto de muitas pesquisas acadêmicas,dentro da compreensão de que estas, ao dirigirem as ações dos governos instituídos, apresentam-se perpassadas pelos contextos diversos que envolvem o país no momento em que foram concebidas. O Brasil, sobretudo após o período de redemocratização, com a Constituição Federal de 1988 e com as reformas impulsionadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, produziu uma profusão de políticas públicas educacionais como nunca antes vista na história da educação brasileira. Para analisar essas políticas, precisamos considerar que trazem consigo conceitos, representações e enunciam práticas discursivas e não discursivas, que merecem ser investigadas. Ao analisar os discursos que se encontram presentes nas políticas educacionais posteriores à LDB 9.394/1996, Shiroma, Campos e Garcia (2005, p. 428) comentam que: No início dos anos de 1990, predominaram os argumentos em prol da qualidade, competitividade, produtividade, eficiência e eficácia; ao final da década percebe-se uma guinada do viés explicitamente economicista para uma face mais humanitária na política educacional, sugerida pela crescente ênfase nos conceitos de justiça, equidade, coesão social, inclusão, empowerment, oportunidade e segurança. As autoras chamam a atenção para o campo discursivo utilizado na década de 90, que se alinha com a lógica internacional do advento da globalização da economia e ascensão do sistema de governo neoliberal, que se propaga a partir da 19 evolução do próprio capitalismo. Logo, ao tornar o mundo global, com o intuito de construir uma cultura comum onde os aspectos empresariais fossem evidenciados, busca-se a utilização dos termos amplamente utilizados nas teorias de gestão empresarial, elevando as instituições educacionais ao modelo das organizações empresariais. Já no início dos anos 2000, existe uma mudança no entendimento sobre a educação, passando a incluir outros enunciados com viés mais humanitário, enfocando inclusão, justiça e equidade social. Essa mudança de ênfase discursiva serve de exemplo para que percebamos como as questões internacionais, econômicas e políticas se fazem presentes nas políticas públicas educacionais de cada época. Dessa forma, “[...] alguns elementos da teoria do capital humano foram resgatados, mas alterados, pois, num contexto de globalização excludente, a educação tornara-se responsabilidade individual voltada para a empregabilidade” (EVANGELISTA; SHIROMA, 2006, p. 45). A teoria do capital humano foi desenvolvida na década de 70, visando a calcular o valor econômico da educação no desenvolvimento das nações, de onde derivam muitas das expressões utilizadas no senso comum até os dias de hoje, como “educação é a única coisa que não tiram de você”, ou ainda, “gastar com educação não é despesa, é investimento”, entre outras, que associam a educação formal com os benefícios que esta alavanca para o desenvolvimento econômico pessoal e do país. Essa teoria serviu muito bem aos propósitos de qualificação de mão de obra no Brasil, nas décadas de 70 e 80, período em que o capitalismo se consolidava. No entanto, com o advento da globalização e as transformações no mundo do trabalho, deslocou-se do Estado a preocupação única em investir na busca por melhores níveis de educação, transferindo a responsabilidade para os indivíduos. Assim, dentro do conceito de empregabilidade, existe a culpabilização do sujeito por não ter emprego, por exemplo, sendo comum vermos associado ao desemprego o fato de o sujeito não haver estudado ou se preparado para as mudanças globais. (BES, 2019) A formulação de políticas públicas educacionais procura também acompanhar a tendência internacional, reportando-se aos documentos da área da educação que foram produzidos por organismos multilaterais, como o Banco 20 Mundial, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Esses organismos, ao produzirem seus documentos, “[...] não apenas prescreviam as orientações a serem adotadas, mas também produziam o discurso ‘justificador’ das reformas que, preparadas em outros contextos, necessitavam erigir consensos locais para sua implementação” (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005, p. 430). Dessa forma, mesmo que as políticas públicas voltadas para a área educacional busquem seguir as orientações internacionais, precisam ser discutidas, analisadas para sua adequação às realidades do sistema educacional brasileiro, momento este onde existem embates teóricos, filosóficos e ideológicos para a produção dos textos que as irão compor e seus significados. Os autores Bowe e Ball (1992) apontam três contextos que podem ser utilizados para a análise de políticas educacionais: O contexto de influência representa o momento em que existe a luta pelas demandas sociais que serão inseridas na agenda de discussões políticas que poderão vir a ser implementadas. Segundo Bowe e Ball (1992, p. 19), “[...] é aqui que as partes interessadas disputam a definição e propósitos sociais da educação. Envolvem grupos que influenciam o governo, mas não são eles que determinam diretamente a política”. Fazer uma análise sobre o viés desse contexto é entender, mapear, esquadrinhar as movimentações sociais que possam ter gerado demandas, quais os grupos envolvidos, bem como quais os possíveis interesses almejados por eles. Mainardes (2006, p. 51) acrescenta ainda que “[...] atuam nesse contexto as redes sociais dentro e em torno de partidos políticos, do governo e do processo legislativo. É também nesse contexto que os conceitos adquirem legitimidade e formam um discurso de base para a política”. Precisamos reforçar a ideia de que este discurso de base que é construído no contexto de influência também tem participação 21 ativa nas proposições dos organismos multilaterais que se articulam em torno da esfera educacional, como o Banco Mundial, a ONU, a UNESCO, a OCDE e o PNUD, que comentamos anteriormente. O contexto da produção de textos se preocupa com a análise discursiva, com as narrativas que se encontram presentes nos documentos oficiais produzidos. Shiroma, Campos e Garcia (2005, p. 434) alertam que esses textos normalmente possuem características associadas “[...] à linguagem do público em geral. Sua narrativa caracteriza-se pelo populismo, senso comum e apelo à razão política”. Partindo dessa fala das autoras, podemos citar como exemplo as propagandas que estão sendo divulgadas na mídia nos últimos meses a respeito da Base Nacional Comum Curricular, as quais adotam linguajar simples, coloquial e, assim, se aproximam do entendimento do grande público. Contudo, “embora desejem, os autores não podem ter controle sobre os significados que serão atribuídos aos seus textos. Parte dos textos pode ser rejeitada, excluída, ignorada, deliberadamente mal-entendida. ” (BOWE; BALL, 1992, p. 22). Para contornar estes possíveis efeitos sobre a interpretação das políticas educacionais, normalmente após a escrita de um documento oficial, serão produzidos inúmeros outros textos que apoiam as ideias centrais do primeiro. Percebemos, por exemplo, pelas inúmeras resoluções realizadas a partir de cada alteração da LDB atual. O contexto da prática analisará como se dá a implementação da política educacional que foi primeiramente demandada, produzida nos aspectos textuais e que agora será, de fato, aplicada, abrindo a possibilidade para reinterpretações por parte daqueles aos quais a política educacional afeta. Muitas vezes, pode acontecer de uma política apresentar uma demanda legítima, um texto bem escrito, porém carregado de ideologias e abstrações que dificultam que este seja posto em prática. Algumas políticas educacionais brasileiras, 22 como a própriaLDB de 1971, por exemplo, incorreram nesse erro, pois, embora trouxessem em seu texto propostas importantes para serem implementadas, dissociaram-se da realidade estrutural e financeira necessária para que fossem implementadas na época. Mainardes (2006, p. 53) destaca o papel dos profissionais da educação dentro desse contexto da prática, uma vez que “[...] os professores e demais profissionais exercem um papel ativo no processo de interpretação e reinterpretação das políticas educacionais e, dessa forma, o que eles pensam e no que acreditam têm implicações para o processo de implementação das políticas”. Algumas vezes no senso comum você já deve ter escutado a expressão “essa lei não pegou”, pois bem, existem questões que, mesmo normatizadas, com documentos de referência e fundamentação, parecem não ser levadas a sério, não vindo a ser legitimadas, não é mesmo? Essa é uma análise possível de ser realizada a partir deste contexto da prática que estamos estudando. Podemos perceber que, para que possamos analisar as políticas públicas de forma geral, e mais em particular as relacionadas à área da educação, que nos diz respeito, precisamos adotar uma metodologia que não nos coloque à mercê de nossos simples “achismos”. Os contextos que aqui analisamos nos ajudam nessa tarefa, pois nos fazem entender que as políticas públicas educacionais são muito mais do que simples textos, visto que carregam em si discursos que produzem significados diversos, que se encontram carregados de disputas de poder e conflitos entre grupos e racionalidades. Hoje, ao ler uma legislação, uma norma, um documento, um plano ou mesmo um programa do Ministério da Educação, procure exercitar essa análise e, fazendo uso desta técnica, verá que muitas outras coisas poderão se apresentar a partir daí. (BES, 2019) 23 8 O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO NA ATUALIDADE Para entendermos como se organiza o sistema educacional brasileiro na atualidade, podemos partir do próprio conceito de sistema, que, segundo Bertalanff y (1968), refere-se a um conjunto de elementos que interagem e trocam informações entre si de forma interdependente para o alcance de resultados comuns. Para entendermos esse conceito proposto pelo autor, podemos observar o nosso próprio corpo, que é formado por inúmeros sistemas e que, quando um destes entra em colapso, nosso funcionamento fica prejudicado, não é mesmo? Referindo-se ao conceito de sistema educacional, Saviani et al. (1996, p. 80) argumenta que “[...] sistema é a unidade de vários elementos intencionalmente reunidos, de modo a formar um conjunto coerente e operante”. Para que a educação brasileira seja operante e atinja os objetivos propostos em nossa Constituição Federal de 1988, na nossa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, e nas metas do Plano Nacional de Educação (2014-2024), é essencial que exista um sistema nacional de educação. Este sistema educacional brasileiro é composto pelos sistemas de ensino federal, estaduais (e do Distrito Federal) e municipais (ver Figura 2). 24 Ao analisarmos a imagem acima, devemos imaginar que cada sistema representado contempla a existência das instituições de ensino e dos órgãos responsáveis por fazerem sua gestão, bem como seus respectivos conselhos. Segundo a LDB 9.394/1996, em seu Art. 16º, o Sistema Federal de Ensino compreende “[...] as instituições de ensino mantidas pela União; as instituições de educação superior criadas e mantidas pela iniciativa privada e os órgãos federais de educação” (BRASIL, 1996, documento on-line). Já os sistemas de ensino dos estados e do Distrito Federal, por sua vez, compreendem: [...] as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público municipal; as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela iniciativa privada; os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, respectivamente (BRASIL, 1996, documento on-line). Os sistemas de ensino municipais, conforme propõe o Art. 18º da LDBEN atual, compreendem “[...] as instituições do ensino fundamental, médio e de educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal; as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela iniciativa privada; os órgãos municipais de educação” (BRASIL, 1996, documento on-line). 25 Existem alguns elementos importantes para que o Sistema Educacional Brasileiro funcione e persiga seus objetivos, como a abrangência das instituições escolares que fazem parte deste, destacando que tanto as escolas públicas quanto as privadas constituem esse sistema. Outro aspecto de suma importância é a existência de órgãos de educação em cada ente da federação que se responsabilizem por conduzir as ações educacionais em sua esfera. (BES, 2019) A partir da LDB 9.394/1996, vigente na atualidade, a organização do ensino passa por mudanças. Fonte: Adaptado de Brasil (1996). Houve mudanças significativas na educação nacional a partir da LDB 9.394/1996, entre elas o regime de colaboração entre União, estados e municípios que passa a vigorar com o entendimento de que, para que se atinjam os ob-jetivos educacionais, deve haver o comprometimento desses diferentes entes federativos. São definidas como incumbência primordial: da União, o ensino superior; dos Estados e do Distrito Federal, o ensino médio; e dos municípios, o foco no ensino fundamental e na educação infantil prioritariamente. (BES, 2019) Também são propostas de avaliações de larga escala para mensurar o desempenho estudantil e, consequentemente, ter uma avaliação da qualidade das 26 escolas que compõe o sistema de ensino nacional. Estas medidas, hoje, são percebidas por meio do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e também do Censo Escolar. (BES, 2019) A LDB 9.394/1996 traz em seu texto, no Art. 59º, uma referência aos alunos com deficiências, propondo cuidados e adaptações em termos de currículos, técni- cas, avaliações, recursos e professores para atendimento especializado desse público em particular. É importante salientar que, atualmente, os assuntos de Educação Especial são tratados em uma perspectiva inclusiva. (BES, 2019) O Art. 67º da LDB 9.394/1996, cita que os professores devem ter “[...] V. período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho” (BRASIL, 1996, documento on-line). Ou seja, os sistemas de ensino tiveram que se adequar e propor tempos de planejamento para que os professores pudessem preparar melhor suas aulas dentro da carga horária de seus respectivos contratos de trabalho. Isso fez, inclusive, que alguns municípios optassem por ceder este tempo de planejamento para que pudesse ser realizado dentro ou fora da escola, a critério dos docentes. Outro ponto proposto pela LDB 9.394/1996, ao constituir os sistemas de ensino, é a busca e o reforço da gestão democrática no interior das escolas. Dessa forma, abrem-se espaços para que a comunidade escolar participe da vida escolar, seja na elaboração dos projetos políticos pedagógicos ou ainda em conselhos escolares ou associações de pais e mestres. Cury (2007, p. 489) enfatiza a importância da gestão democrática ao afirmar que “[...] é a forma dialogal, participativa com que a comunidade educacional se capacita para levar a termo um projeto pedagógico de qualidade e da qual nasçam ‘cidadãos ativos’ participantes da sociedade como profissionais compromissados”. Mais recentemente, o sistema educacional brasileiro recebeu um acréscimo importante na sua normatização curricular visando à construção comum dos conhecimentos nas instituições de ensino, que foi a elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que propõe, segundo o texto introdutório da BNCC da educação infantil e doensino fundamental, ser “[...] um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens 27 essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.” (BRASIL, 2017, p. 9). Ou seja, está norteando aquilo que será desenvolvido no currículo, o que será ensinado aos alunos na educação básica. A Base Nacional Comum Curricular vem ao encontro do que é requerido no Plano Nacional de Educação (2014-20124) e na LDB 9.394/1996. A BNCC tem como principal finalidade definir as “[...] aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver durante todas as etapas da educação básica” (BNCC, 2017, p. 7). Para que essas aprendizagens sejam desenvolvidas nos estudantes, a Base propõe o alcance de dez competências a todos os alunos da educação escolar nacional. Competências estas que reúnem os conhecimentos históricos e culturais a serem adquiridos, as habilidades que deverão ser desenvolvidas e as atitudes que se requerem dos estudantes como resultado deste processo educacional. Inúmeras foram as mudanças de ordem administrativa, operacional e pedagógica que se estabeleceram a partir da Lei nº 4.394/1996 e que vieram a nortear o sistema educacional brasileiro desde então. A partir desta LDB e do Plano Nacional de Educação (2014-2024) e, mais recentemente da BNCC, são propostas inúmeras políticas públicas educacionais no Brasil nas últimas décadas, visando a contemplar os objetivos educacionais e as metas ali existentes. (BES, 2019) 9 O CAMPO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCACIONAIS Qual você acha que deve ser o comportamento da sociedade contemporânea com relação às políticas públicas educacionais? É importante uma postura mais preocupada e participante? A sociedade deve se interessar em acompanhar as ações governamentais? Educadores e pais deveriam exigir melhorias na gestão pública? Ou você pensa que a única tarefa do cidadão é o voto, geralmente acompanhado da surpresa com resultados condenáveis e com o uso inadequado do dinheiro público destinado às políticas de educação? (FREITAS, 2018) Essas e outras perguntas mostram que as políticas públicas em educação afetam a vida escolar dos sujeitos e a realidade dos profissionais que trabalham 28 nesse setor. Isso deveria condicionar atenção maior, vigilância mais profunda e envio de proposições para novas políticas públicas. Além disso, deveria incentivar o acompanhamento das formulações, execuções/implementações e avaliações das políticas públicas da educação brasileira. (FREITAS, 2018) A expressão “políticas públicas” é extremamente difícil de se conceituar. Na busca de definições, a certeza é que as políticas sociais precisam ser vistas em suas particularidades. Porém, é possível afirmar que elas são aquele “[...] conjunto de expectativas dirigidas ao poder público a partir de conceitos, sentidos, ideologias e entendimentos distintos, mas nem sempre não explicitados [...]” (CHRISPINO; DUSI, 2008, p. 9). Na tentativa de conceituar o campo das políticas públicas educacionais, é interessante você lembrar-se da influência do Estado sobre a vida escolar dos sujeitos. Tal influência move gerenciamentos essenciais aos que trabalham com educação, nos mais diferentes âmbitos. Assim, é possível aceitar que o assunto implica pensar, sob a perspectiva da educação, nos “[...] programas de ação governamental visando a coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados [...]” (BUCCI, 2002, p. 241). Portanto, é fundamental que as escolas e seus atores estejam muito atentos para que tais objetivos originem uma realidade escolar enriquecedora, justa com a maioria da população empobrecida brasileira. Nesse sentido, é preciso pensar em termos da diversidade cultural, étnica, regional e social. Também é necessário considerar que os objetivos levem a ações reais e esperadas. A ideia é que a escola seja suficientemente potente para alcançar a meta de formação consistente dos alunos pelo vasto território nacional. As políticas públicas educacionais precisam ser focadas na realidade brasileira e devem ser definidas de acordo com os grupos sociais a que se destinam, bem como ao tipo de relação que têm com as demais políticas públicas. Esse tipo de política está condicionado [...] à política econômica básica, podendo ser congruente, se reflete as prioridades de ação de um determinado governo, complementar, se fornece elementos reforçadores dos objetivos e metas de determinado governo, e compensatório ou reparador, se atua sobre os danos ou consequências nefastas das políticas básicas com o objetivo de atenuá- 29 los, sem, portanto, apresentar um alto grau de efetividade social (ROCHA; CAVALCANTI, 2016, p. 29). Saviani (2008) sinaliza que a política educacional trata das decisões que o poder público, o Estado brasileiro, costuma tomar em relação à educação. Ela diz respeito às perspectivas e aos limites da política educacional brasileira. O autor assegura o seguinte: No que se refere aos limites da política educacional brasileira, haveria muitos aspectos a considerar. Penso, porém, que as várias limitações são, em última instância, tributárias de duas características estruturais que atravessam a ação do Estado brasileiro no campo da educação desde as origens até os dias atuais. Refiro-me à histórica resistência que as elites dirigentes opõem à manutenção da educação pública; e à descontinuidade, também histórica, das medidas educacionais acionadas pelo Estado. A primeira limitação materializa-se na tradicional escassez dos recursos financeiros destinados à educação; a segunda corporifica-se na sequência interminável de reformas, cada qual recomeçando da estaca zero e prometendo a solução definitiva dos problemas que se vão perpetuando indefinidamente (SAVIANI, 2008, p. 1). Assim, na formulação de políticas públicas educacionais, é muito importante ouvir o maior número possível de sujeitos diretamente relacionados com as políticas que serão oferecidas. Ao pensar no campo de estudo das políticas públicas e educacionais, é salutar considerar e respeitar “[...] as diferenciações de sociedades, de contextos sociais e de distintos elementos econômicos, políticos, culturais, tradições políticas e associativas [...]” (NOMA, 2011, p. 108). E como seria a realidade americana? Popkewitz (2008) declara que, no cenário educacional dos Estados Unidos, a reforma combina padrões da administração social com padrões de liberdade: Tais padrões são ordenados sobre a base de discursos de ciência e de políticas públicas que interiorizam a racionalização populacional e as noções liberais de responsabilidade individual e autonomia. O lugar da luta na administração social continua sendo a alma. Atualmente, nos Estados Unidos, fala-se de liberdade por meio de formas retóricas particulares que falam de “voz”, emancipação, capacitação e “conhecimento do professor” e participação da comunidade. Todavia, a liberdade implica um amálgama diferente de instituições, ideais e tecnologias em relação às do passado no que se refere aos padrões de administração e de liberdade (POPKEWITZ, 2008, p. 155). 30 Parente (2018) apresenta a questão das políticas públicas educacionais e destaca o modo como elas se apresentam hoje e suas consequências nas escolas e nas vidas dos professores. Ele argumenta que a reforma educacional, que ocorre por meio de políticas de ordem estrutural, se legitima com base em medidas relacionadas a três elementos inter-relacionados e interdependentes: o mercado, a capacidade de gestão e a performatividade. Essas tecnologias políticas são muito atrativas e ganham destaque no contexto de reformulação educacional. Nesse sentido, elas substituem o profissionalismo e a burocracia. A realidade nacionale internacional pode demonstrar que os educadores e o contexto sociocultural dos alunos precisam ser respeitados. Parente (2018) analisa o cenário na Espanha e na América Latina. Na Espanha, a causa do fracasso da reforma da educação foi o fato de não se levar em consideração o conjunto de tradições e regularidades historicamente construídas. Já nos países da América Latina, o cenário parece mais favorável do que nas décadas anteriores. Entretanto, os objetivos e as diretrizes consideradas nas reformas educacionais latino-americanas ainda estão longe de serem alcançados. Isso ocorre principalmente porque as reformas não dependem apenas de aspectos relacionados à educação. Estão em jogo problemas que têm mais a ver com as condições gerais em que se dão tais processos. Ainda de acordo com Parente (2018), os autores que discutem esse assunto concordam ao estabelecer uma relação entre a reforma da educação brasileira, por meio do desencadeamento de políticas públicas educacionais implementadas após a década de 1990, e a precarização das condições de trabalho docente ao longo desse mesmo período nas escolas públicas brasileiras. Assim, nas reformas educacionais, há tendência à regulação por meio de medidas como a centralidade da administração escolar, a vinculação aos financiamentos por quantidade de alunos, a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) e a ampliação de exames nacionais de avaliação. Como você viu, as políticas públicas em educação afetam profundamente os cenários educacionais e a vida de seus atores, sejam os educandos e suas famílias 31 ou os educadores e demais profissionais que atuam na educação. O entendimento do campo de estudo das políticas públicas na educação é importante para se lidar com as realidades, que são passíveis de mudança. A ideia é superar atrasos históricos que impedem transformações maiores no cotidiano das escolas e na atuação dos profissionais da educação. (FREITAS, 2018) 10 OS PRINCIPAIS CONCEITOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS Os principais conceitos para o estudo das políticas públicas educacionais envolvem o enfrentamento de uma palavra desgastada no cotidiano. Essa palavra afasta alguns ao ser enunciada, mas também aproxima outros. No contexto aqui estudado, ela tem um significado determinado: “A palavra política, em seu sentido específico, pode representar a administração do Estado pelas autoridades e especialistas governamentais, as ações da coletividade em relação a tal governo [...]” (PADILHA, 2005, p. 20, grifo nosso). Padilha (2005, p. 20-21) também lembra que Paulo Freire insistia [...] na necessidade de não dissociarmos política de educação, para evitar, por exemplo, que nossas crianças, jovens e adultos possam ser vitimadas por um processo educativo que acentue o preconceito, a violência, a intolerância, a ingenuidade, o individualismo, a não participação nos processos decisórios e até mesmo a desinformação e, enfim, aceitem uma sociedade desigual. Por isso, ele propõe uma educação política. Considerando as preocupações freirianas, você já pode identificar termos relacionados com a luta de classes, as contradições econômicas e sociais e as desigualdades de oportunidades educacionais entre os menos e mais favorecidos dos brasileiros. Há ainda as formas contraditórias como que pobres e ricos ocupam lugares nas relações sociais de produção. Freire defende que a política pode libertar os menos favorecidos, e é necessário admitir que, quando se está inserido em uma realidade que faz a todos seres políticos, esse entendimento é salutar. Afinal, a educação é um ato político. (FREITAS, 2018) Ainda com relação ao termo “política”, você deve considerar que a confusão entre diferentes percepções sobre o que é política é característica de países de 32 língua portuguesa. Nesse idioma, existe somente um substantivo que responde ao adjetivo “político”, ou seja, “política”. Isso acontece também no francês, no alemão e no sueco. Por outro lado, na língua inglesa existem três substantivos diferentes que separam a política em três dimensões. Essa divisão auxilia na compreensão dessa área tão complexa. É por isso que os termos em inglês passaram a ser utilizados por quem estuda política ou políticas públicas (GONÇALVES, 2017). Você pode ver os três termos a seguir. Polity: é a dimensão institucional do sistema político. Politics: é a dimensão dos processos políticos. Policy (ou, no plural, policies): é a dimensão dos conteúdos da política. Aydos (2017) considera que as políticas públicas estão nesse âmbito. Na tentativa de conceituar as políticas públicas, é interessante não afastar políticas educacionais de políticas sociais. Freitag (1987, p. 9) lembra que “[...] a política educacional não é senão um caso particular das políticas sociais [...]”. Assim, é preciso compreender que, na área da educação brasileira, [...] as políticas públicas em educação e o movimento contemporâneo de inclusão escolar no Brasil pressupõem que a educação é um direito de todos os indivíduos, com ou sem deficiência, contribuindo para a possibilidade de escolas democráticas e uma sociedade justa e humana [...] (TEIXEIRA, 2017, p. 73). Não se pode pensar nas políticas públicas educacionais como um campo alheio ao estudo da política. A vida, em todas as suas dimensões, é um ato político. Até mesmo sem querer, os sujeitos são seres políticos, mesmo que afirmando a despolitização. Os cidadãos elegem políticos guiados pela perspectiva de que suas futuras atitudes, enquanto eleitos, sejam planejar e implementar boas ações públicas em diversos setores, incluindo a educação. Os sujeitos delegam um lugar na condução das cidades e do país para terem melhores dias. Assim, “A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos 33 traduzem seus propósitos e plataformas eleitoreiras em programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real” (SOUZA, 2006, p. 26). O que ganharia um grande e diversificado país como o Brasil ao planejar, implementar, avaliar e tornar cada vez mais eficientes as suas políticas públicas educacionais? De acordo com Santomé (2013, p. 107): Os benefícios de ter cidadãos com um bom nível educativo, além dos efeitos positivos para cada pessoa considerada individualmente, geram vantagens para toda a coletividade; benefícios sociais como uma melhor integração social, comportamentos cívicos mais responsáveis e solidários, um clima social de maior satisfação e bem-estar, um ambiente social e cultural muito mais atrativo e estimulante, etc. (GIMENO, 2005). Além disso, bons cidadãos também promovem o progresso científico e social de toda a comunidade, dado que todos os campos do conhecimento se beneficiarão com cidadãos cultos que se sentem capacitados e estimulados para desfrutar de novos saberes e especializações, bem como se aprofundar neles; promove-se uma abertura mental que incita cada pessoa a seguir aprendendo ao longo de toda sua vida. Obviamente, isto também é motor de benefícios econômicos; mas é um erro contemplar a educação exclusivamente sob ópticas mercantilistas, ou seja, como capital cultural. Os conceitos principais no estudo das políticas públicas na área da educação colaboram na compreensão da natureza política da educação, no entendimento das tarefas que o Estado deve assumir, desprendendo daí as mobilizações necessárias e as lutas dos cidadãos e dos profissionais da educação. Não se pode esquecer que é dentro da dimensão dos conteúdos da política que são geridas as políticas públicas em geral. Assim, as políticas públicas educacionais podem ser repensadas, levando ao surgimento de outras, mais inovadoras. É preciso considerar as fases de elaborações, implementações e avaliações de políticas públicas educacionaispara que o futuro sonhado pelos cidadãos fique mais próximo. (FREITAS, 2018) 11 AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS EM SEU DESDOBRAMENTO HISTÓRICO-SOCIAL Tratando da história da educação brasileira, com foco na educação pública e nas políticas educacionais, Saviani (2008) aponta a gigantesca resistência para a 34 oferta e a manutenção da educação pública no Brasil. Isso indica intensas e persistentes lutas para o povo brasileiro ter acesso à educação. Tal realidade pode ser apreendida a partir da análise de algumas famílias brasileiras. Que tal fazer o exercício de perguntar aos mais velhos sobre quantas gerações anteriores de suas famílias passaram pela escola? Muitas? Poucas? É possível identificar o que impediu famílias menos favorecidas de terem acesso à escola nas gerações anteriores ou o que as levou a terem experiências educacionais incipientes? (FREITAS, 2018) As respostas a essas perguntas envolvem as políticas públicas educacionais, que deveriam ter sido pensadas e transformadas em ações pelo governo para garantir e colocar em prática todos os direitos previstos na Constituição e em outras leis. Como você sabe, a Constituição Federal de 1988 é conhecida como Constituição Cidadã. Refletir a respeito dela certamente levaria as pessoas a repensarem os seus votos. Os cidadãos devem sempre indagar se o plano de governo daqueles candidatos que escolhem para os representar no Legislativo e no Executivo sustenta políticas públicas educacionais realmente preocupadas com a realidade do ensino. (FREITAS, 2018) Saviani (2008) aponta que os regimentos de D. João III (uma reunião de regras estabelecidas para regulamentar o funcionamento educacional), datados de 1548, serviram para orientar ações iniciais do governador-geral do Brasil Tomé de Souza e dos padres e irmãos jesuítas, agrupados pelo célebre padre Manuel da Nóbrega. Os jesuítas iniciaram sua obra educativa focada na catequese e seguiram a risco os citados regimentos, já que estavam sendo orientados por um mandato do rei de Portugal. Da coroa portuguesa era esperado que mantivesse o ensino. Saviani (2008, p. 1) conta que o rei português [...] enviava verbas para a manutenção e a vestimenta dos jesuítas; não para construções. Então, como relata o padre Manuel da Nóbrega em carta de agosto de 1552, eles aplicavam os recursos no colégio da Bahia “e nós no vestido remediamo-nos com o que ainda do reino trouxemos, porque a mim ainda me serve a roupa com que embarquei... e no comer vivemos por esmolas. 35 Saviani (2008) também afirma que a história registra que, mal chegaram os portugueses, os recursos já eram escassos. Diz-se que os religiosos não engordavam fácil no Brasil. Em 1564, o rei de Portugal adotou um plano chamado de “redízima” e determinou que os impostos arrecadados da colônia brasileira fossem destinados à manutenção dos colégios jesuíticos. “A partir daí, iniciou-se uma fase de relativa prosperidade, dadas as condições materiais que se tornaram bem mais favoráveis [...]” (SAVIANI, 2008, p. 2). Eram os primórdios das políticas públicas educacionais brasileiras? É bem verdade que a educação era financiada com os recursos públicos nessa espécie de escola pública religiosa. Saviani (2008, p. 3) reflete que, se [...] o ensino então ministrado pelos jesuítas podia ser considerado como público por ser mantido com recursos públicos e pelo seu caráter de ensino coletivo, ele não preenchia os demais critérios, já que as condições tanto materiais como pedagógicas, isto é, os prédios assim como sua infraestrutura, os agentes, as diretrizes pedagógicas, os componentes curriculares, as normas disciplinares e os mecanismos de avaliação, encontravam-se sob controle da ordem dos jesuítas, portanto sob domínio privado. O resultado foi que, quando se deu a expulsão dos jesuítas em 1759, a soma dos alunos de todas as instituições jesuíticas não atingia 0,1% da população brasileira, pois delas estavam excluídas as mulheres (50% da população), os escravos (40%), os negros livres, os pardos, filhos ilegítimos e crianças abandonadas. Os tempos de Marquês de Pombal, entre 1759 e 1827, trouxeram as primeiras tentativas de se criar uma novidade, a escola pública estatal. Saviani (2008, p. 3) comenta que: Pelo Alvará de 28 de junho de 1759, determinou-se o fechamento dos colégios jesuítas, introduzindo-se as “aulas régias” a serem mantidas pela Coroa, para o que foi instituído, em 1772, o “subsídio literário”. As reformas pombalinas contrapõem-se ao predomínio das ideias religiosas e, com base nas ideias laicas inspiradas no Iluminismo, instituem o privilégio do Estado em matéria de instrução, surgindo, assim, a nossa versão da “educação pública estatal”. A partir dessa proposta, foi baixada a “Carta de Lei”, de 10 de novembro de 1772. É interessante notar que nas classes de latim de tais aulas régias, responsáveis pela oferta de ensino secundário, cabia ao Estado realizar o pagamento do salário do professor. O Estado também era responsável por estabelecer as diretrizes curriculares da matéria a ser ensinada. O professor, por 36 sua vez, provia o local de ensino, geralmente sua própria casa, e a infraestrutura necessária. Ele também se encarregava dos materiais pedagógicos. Essa situação era agravada pela insuficiência de recursos. Afinal, a Colônia não possuía uma estrutura arrecadadora suficiente para obter “subsídio literário” necessário para o financiamento das aulas régias (SAVIANI, 2008). Após a independência do Brasil e a instalação do Primeiro Império, governado por D. Pedro I, surgiu em 1827 a lei das escolas de primeiras letras. Então, difundiu-se a promessa de que nas cidades e vilas mais populosas haveria escolas de primeiras letras. Não aconteceu. Foi uma daquelas leis brasileiras que não surtiram efeito. O que se seguiu foi a promulgação, em 1884, de um ato adicional à Constituição do Império que determinou que o ensino primário fosse destinado à jurisdição das províncias. Assim, lamentavelmente, o Estado ficou livre de obrigações com esse nível de ensino. Levando-se em conta “[...] que as províncias não estavam equipadas nem financeira e nem tecnicamente para promover a difusão do ensino, o resultado foi que atravessamos o século XIX sem que a educação pública fosse incrementada [...]” (SAVIANI, 2008, p. 3). Fica sempre uma sensação, vasculhando a história, de que os direitos foram negligenciados. Até hoje, basta visitar escolas pelos bairros afastados das grandes cidades ou pequenas cidades no interior do País para perceber que ainda impera alguma negligência. Saviani (2008) comenta que foram 49 anos, de 1840 a 1888, com gastos com a educação beirando 1,80% do orçamento do governo imperial, destinando-se, para a instrução primária e secundária, a média de 0,47%. “O ano de menor investimento foi o de 1844, com 1,23% para o conjunto da educação e 0,11% para a instrução primária; e o ano de maior investimento foi o de 1888, com 2,55% para a educação e 0,73% para a instrução primária e secundária [...]” (SAVIANI, 2008, p. 4). Ao longo da Primeira República, a estagnação imperial foi mantida. O número de analfabetos foi conservado. Esse cenário não se difere daquele descrito na constituição do Regime Militar, de 1967 (e da emenda de 1969), em que se reafirmam exclusões, que são vinculadas à situação orçamentária. O orçamento da União para a educação foi reduzido de 9,6% em 1965 para 4,31% em 1975. Foi 37 uma queda brusca ao que já oferecia precariedade. Salto gigantesco em relação aos tempos republicanos foi a atual Constituição, promulgada em 1988. Ela fixa em 18% para a União e 25% para estados e municípios os percentuais mínimos de investimento relacionados às receitas resultantes de impostos (SAVIANI, 2008). Em um documento histórico, apresentado no seminário Políticas Públicas de Educação, realizado em