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DIREITO TRIBUTÁRIO E FINANCEIRO
GRAAL DA PROVA ORAL DO 30º CPR – 03/2023
Revisado e organizado por Lílian Farias
Sumário
1.	INTRODUÇÃO	4
1A. O Estado e o Poder de Tributar. Espécies Tributárias.	4
14B. Direito Tributário: Conceito, Fontes, Relações entre o Direito Tributário e o Direito Privado.	4
2.	TRIBUTO	4
2A. Competência Tributária. Tributos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Conflitos de Competência Tributária.	4
14A. Tributo.	4
3B. Contribuições de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas	4
4C. Empréstimo compulsório.	4
5C. Contribuições Sociais Gerais e de Seguridade Social	4
7C. Contribuições previdenciárias: contribuintes, fato gerador, salário de contribuição, alíquotas, responsabilidade pelo recolhimento, prescrição, decadência, isenção, compensação e restituição; disposições gerais da lei 8.212/91	4
9B. Imposto	4
3.	SISTEMA TRIBUTÁRIO CONSTITUCIONAL	4
4A. Princípio da Legalidade.	4
5A. Princípio da anterioridade.	4
6A. Princípios da igualdade, da uniformidade e da capacidade contributiva.	4
13A. Repartição da receita tributária.	4
16A. Princípio da não-cumulatividade e tributos brasileiros não cumulativos	4
17A. Limitações ao poder de tributar decorrentes do federalismo.	4
4.	IMUNIDADES	4
8A. Imunidade Tributária Recíproca	4
9A. Imunidade Tributária Recíproca: Autarquias e Empresas Públicas	4
10A. Imunidade Tributária de partidos políticos e entidades sindicais	4
11A. Imunidade Tributária de instituições de educação e de assistência social.	4
12A. Imunidade Tributária de livros, jornais, periódicos e de papel para impressão	4
5.	LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA	4
7A. Normas Gerais de Direito Tributário. Código Tributário Nacional.	4
18A. Norma Tributária: Interpretação e Integração. Tratados e Convenções Internacionais e Legislação Interna	4
18B. Tributação Internacional. Acordos para evitar a Dupla Tributação.	4
19A. Norma tributária: natureza, espécies, vigência e aplicação.	4
6.	OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA	4
1B. Obrigação Tributária: Conceito, Espécies.	4
2B. Fato Gerador: Definição, Hipótese de Incidência e Critérios Material, Temporal, Espacial, Pessoal e Quantitativo.	4
2C. Sujeito Ativo e Sujeito Passivo da Obrigação Tributária. Capacidade Tributária Ativa. Solidariedade. Domicílio Tributário.	4
15A. Fato gerador. Planejamento tributário abusivo. Elisão e evasão fiscal. Erosão de bases tributárias. Sonegação. Fraude. Conluio. Propósito negocial. Dissimulação. Paraísos fiscais. Omissão de receitas. Interpretação econômica do direito tributário.	4
7.	CRÉDITO TRIBUTÁRIA E CAUSAS DE SUSPENSÃO EXTINÇÃO E EXCLUSÃO	4
8C. Crédito Tributário: Constituição (Lançamento, Modalidades de Lançamento, Declaração e Confissão de Débitos Tributários).	4
10B. Suspensão do Crédito Tributário: Modalidades. Programa de Recuperação Fiscal (REFIS). Parcelamento Ordinário. Parcelamento Especial (PAES). Lei 11.941/2009 e Alterações.	4
11B. Extinção do Crédito Tributário: Modalidades. Programa de Recuperação Fiscal (REFIS). Parcelamento Ordinário. Parcelamento Especial (PAES). Lei 11.941/2009 e Alterações.	5
12B. Pagamento indevido. Repetição de indébito	6
13B. Decadência.	6
15B. Extinção do Crédito Tributário: Pagamento.	6
19B. Prescrição.	6
16B. Exclusão do Crédito Tributário: Isenção e Anistia. Programa de Recuperação Fiscal (REFIS). Parcelamento Ordinário. Parcelamento Especial (PAES). Lei 11.941/2009 e Alterações.	6
8.	RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA	6
4B. Responsabilidade tributária: responsabilidade por dívida própria e por dívida de outrem, solidariedade e sucessão. Responsabilidade pessoal e de terceiros. Responsabilidade supletiva. Substituição tributária “para trás” e “para frente”. Retenção na fonte. Responsabilidade por infrações.	6
9.	ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA	6
9C. Administração tributária: fiscalização, oposição de sigilos ao fisco, sigilo fiscal x direito à privacidade e publicidade. Certidões e cadastro. Lei Complementar nº 105/2001. A organização da Receita Federal.	6
10.	IMPOSTOS EM ESPÉCIE	6
13C. Impostos dos Municípios.	7
14C. Imposto sobre transmissão causa mortis e doação.	7
15C. Imposto sobre operações relativas à Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços (ICMS).	7
16C. Imposto sobre Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR)	7
17C. Imposto sobre Produtos Industrializados.	7
18C. Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural	7
19C. Imposto sobre operações financeiras (IOF). Repatriação de ativos.	7
20C. Tributos incidentes na importação e na exportação	7
11.	PROCESSO TRIBUTÁRIO	7
3C. Processo Administrativo Fiscal. Dívida Ativa: Inscrição e Cobrança. Certidão Negativa.	7
10C. Matéria Tributária em Juízo: medida cautelar fiscal, execução fiscal, ação declaratória de inexistência de relação jurídico tributária, ação anulatória de débito fiscal e mandado de segurança, ação de repetição de indébito.	7
12.	DIREITO FINANCEIRO	7
1C. Direito Financeiro: Conceito e Objeto.	7
3A. Receitas Públicas. Conceito e Classificação	7
5B - Despesas Públicas. Conceito e Espécies	7
6B. Interpretação das normas gerais de orçamento	7
6C. Contribuição de melhoria e de iluminação pública. Taxa. Preço público. Pedágio.	7
7B. Orçamento. Conceito. Proposta orçamentária. Exercício financeiro. Restos a pagar.	7
8B. Fiscalização e controle da execução orçamentária e financeira. O Tribunal de Contas no Brasil e suas atribuições.	7
11C. Crédito público: conceito e classificação	7
12C. Fundos. Instituição e funcionamento. Controle.	7
17B. Garantias e privilégios do crédito tributário.	7
20A. Tesouro Nacional. Orçamento e Gestão. Contas Públicas.	7
20B. Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF): aplicação e inovações (LC 101/00).	7
1. INTRODUÇÃO
1A. O Estado e o Poder de Tributar. Espécies Tributárias.
Rodrigo Augusto de Melo Souto: 19/03/23
A competência tributária é o poder de instituir o tributo mediante a utilização de Lei própria e de acordo com as limitações constitucionais de tributar, uma vez que o texto constitucional não cria tributos, mas apenas outorga competência tributária para que os entes federativos, em regra, possam exercê-la.
De acordo com Humberto Ávila, “O Sistema Tributário Nacional determina, no art. 153, CF e seguintes, quais tributos podem ser instituídos pela União, pelos Estados e pelos Municípios. O importante é que a Constituição não apenas define as hipóteses de incidência, mas também predetermina o conteúdo material para o exercício da competência”. (Sistema Constitucional Tributário, 2004, p. 110).
A atribuição constitucional de competência tributária compreende a competência legislativa plena (art. 6º, CTN). Nesse contexto há, em nossa ordem constitucional, coincidência da competência legislativa com a competência tributária. Todavia, deve-se notar que a competência tributária, como poder de instituição de tributo, não se confunde com a competência para legislar sobre Direito Tributário. Esta é genérica; aquela, específica. Tal competência para legislar é denominada concorrente, conforme o art. 24 da CF.
De acordo com a teoria pentapartida (majoritária – adotada pelo STF), a qual possui como defensores ilustríssimos doutrinadores como Ives Gandra Martins e Hugo de Brito Machado, com base nos preceitos normativos insculpidos na Constituição Federal, os tributos subdividem-se em 1) impostos, 2) taxas, 3) contribuições de melhoria), 4) Empréstimos Compulsórios e 5) contribuições.
Nestes termos, de acordo com o professor Hugo de Brito Machado, a subdivisão das 5 (cinco) espécies tributárias previstas na Constituição Federal se fundamenta:
· O imposto pela não vinculação do fato gerador a uma atividade estatal referida pelo contribuinte.
· A taxa é determinada pelo tributo com fato gerador uma atividade estatal de prestação de serviço público específico e divisível, de utilização efetiva ou potencial, ou do exercício do poder de polícia.
· A contribuição de melhoria tem como fato gerador a realização de uma obra que implique valorização no imóvel do contribuinte. Distingue-se do imposto pela atividade estatal específicainconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário". Portanto, não é decenal o prazo para decadência e prescrição das contribuições previdenciárias, diversamente do que pretendeu a lei. Após leading case do STF, editou-se o art 45-A: contribuinte individual que quiser contar como tempo de contribuição período alcançado pela decadência deverá indenizar INSS, mas tal indenização não tem caráter tributário, segundo STJ.
Compensação e Restituição (CTN). Tributo lançado por homologação. Tratando das peculiaridades: art. 89 Lei 8212 complementa disciplina geral do CTN: só pode haver compensação entre contribuições sociais da mesma espécie (previdenciárias com previdenciárias), em razão da destinação vinculada. Evitar crítica à Super Receita de que recursos previdenciários sejam desviados para outros fins. 
Compensação pode ser realizada pelo próprio contribuinte, mensalmente, quando do recolhimento, sem necessidade de requerimento. Valores corrigidos pela SELIC. Mas haverá fiscalização. Compensação indevida implica lançamento de ofício. Se declaração falsa, multa.
Quanto à restituição, aparentemente nenhuma particularidade. Apenas rememoro a superação da tese dos 5+5 pela LC 118/05 (STF): prazo de 5 anos quando a ação for ajuizada após a entrada em vigor da LC 118/05. prazo de 120 dias de vacatio legis suficiente para conhecer lei que, a pretexto de interpretativa, inovou na ordem jurídica.
Disposições gerais da Lei 8.212/91
É título da lei que trata, dentre outros aspectos, de regras sobre a execução fiscal, de previsão para que os órgãos competentes estabeleçam critérios para dispensa de constituição/exigência de créditos tributários inferiores ao custo da atividade administrativa.
Importante dispositivo me parece o Art. 56: “A inexistência de débitos em relação às contribuições devidas ao INSS, a partir da publicação desta Lei, é condição necessária para que os Estados/DF e Municípios recebam as transferências dos recursos dos Fundos FPE e FPM, celebrar acordos, contratos, convênios ou ajustes, bem como receber empréstimos, financiamentos, avais e subvenções em geral de órgãos ou entidades da administração direta e indireta da União”.
Isenção
CR 195 § 7º São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei. Por “isento” deve-se entender imune, por ter sede constitucional (STF). Por “lei”, entenda-se lei complementar.
É frequente a alegação da Fazenda Pública de que determinadas verbas devem compor o salário de contribuição pela ausência de previsão legal de isenção da verba. Contudo, STJ possui julgados com a importante distinção entre isenção e não inserção do fato na hipótese de incidência, o que torna desnecessária a lei de isenção (REsp 1.221.665/PR, 1ª Turma, Rel. Min. Zavascki, DJe de 23.2.2011).
Ex isenção no AgRg no AREsp 170.608-MG: As receitas resultantes da prática de atos cooperativos - que são aqueles que a cooperativa realiza com os seus cooperados ou com outras cooperativas (art. 79 da Lei n. 5.764/1971) - estão isentas do pagamento de tributos, inclusive de contribuições de natureza previdenciária. Por outro lado, estão submetidas à tributação aquelas decorrentes da prática de atos da cooperativa com não associados.
9B. Imposto
Rodrigo Augusto de Melo Souto: 19/03/23
"Imposto é o tributo cuja obrigação tenha por hipótese de incidência uma situação que não implica contraprestação direta por parte do Estado e é cobrado em face da ocorrência de fato de caráter econômico revelador da capacidade contributiva do indivíduo (ATALIBA). Encontra seu fundamento de validade na repartição de competências tributárias (CR, arts. 153, 155 e 156)" (ATALIBA). Justamente por incidirem sobre manifestações de riqueza do devedor, "o imposto se sustenta sobre a ideia de solidariedade social" (ALEXANDRE). 
Características: "Imposto é tributo não vinculado" (ATALIBA), isto é, desvinculado de qualquer atividade estatal específica. Conforme Ricardo Alexandre, "sua receita presta-se ao financiamento das atividades gerais do Estado, remunerando os serviços universais". As taxas e contribuições de melhoria têm caráter retributivo (contraprestacional) e os impostos, caráter contributivo. Portanto, são prestações pecuniárias desvinculadas de qualquer relação de troca ou utilidade. É o tipo de tributo que: 
I - tem por hipótese de incidência o comportamento de um contribuinte (ex.: ICMS, ISS, ITBI) ou uma situação jurídica na qual ele se encontra (ex.: IPTU, ITR, IPVA); 
II - a prestação patrimonial do contribuinte é unilateral e não sinalagmática (CARRAZA); 
III - advém de fatos regidos pelo direito privado com significado econômico (ex. adquirir imóvel - Direito Civil); 
IV - para alguns doutrinadores tem validade no poder de imperium; 
V - em regra, é instituído por lei ordinária, salvo duas exceções: IGF e Imposto Residual, cuja instituição depende de Lei Complementar, impossibilitando dessa forma o uso de MPs (CR, art. 62, §10, III).
A Constituição não cria tributos, apenas atribui competência para que os entes políticos o façam. No tocante aos impostos, exige que lei complementar de caráter nacional defina os respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes (art. 146, III, a). Para esta espécie tributária, a amplitude da autonomia legislativa desfrutada pelos entes tributantes é menor, visto que condicionada por legislação nacional. Tudo isso visa a assegurar a uniformidade da incidência tributária em todo o território nacional, de forma a dar concretude ao princípio da isonomia.
Os impostos e o princípio da capacidade contributiva (questão discursiva do 30º concurso): de acordo com o art. 145, § 1º, da CR, sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. 
Segundo Ricardo Alexandre, tecnicamente teria sido melhor o legislador constituinte ter se referido à capacidade contributiva e não à capacidade econômica do contribuinte. Isto porque quem manifesta riqueza demonstra capacidade econômica, mas às vezes tal riqueza não pode ser atingida pelo poder de tributar do Estado. São casos em que a capacidade econômica não coincide com a capacidade contributiva. A título de exemplo, o milionário turista americano que passa férias no Brasil possui capacidade econômica, mas não pode ter seus rendimentos tributados no país, não possuindo, por conseguinte, capacidade contributiva. 
Classificações: afirma Ricardo Alexandre que "o legislador constituinte, na redação do art. 145, §1º, da CR, adotou a classificação dos impostos como reais ou pessoais". Vejamos tal classificação: 
I – Impostos Reais: "são os impostos que, em sua incidência, não levam em consideração aspectos pessoais. Ou seja, incidem objetivamente sobre determinada base econômica, incidem sobre coisas" - ex. IPTU, IPVA; 
II – Impostos Pessoais: segundo o mesmo doutrinador, "são os impostos que incidem de forma subjetiva, considerando os aspectos pessoais do contribuinte" (incidência do princípio da capacidade econômica do contribuinte) - ex. IR. 
Os impostos podem, ainda, ser divididos em proporcionais e progressivos. 
I – Proporcionais: quando estabelecidos em porcentagem única incidente sobre o valor da matéria tributável, aumentando o valor do imposto apenas quando o valor básico para o cálculo sofra crescimento (ICMS, IPI e o ISS, quando incidente sobre a receita). 
II – Progressivos: quando suas alíquotas são fixadas em porcentagens variáveis e crescentes, conforme a elevação de valor da matéria tributável – ex. o IR das pessoas físicas. Além destas classificações, entre inúmeras outras, temos a sistematização dosimpostos em diretos e indiretos, ou seja, quanto à possibilidade de repercussão do encargo econômico-financeiro. De acordo com Ricardo Chimenti: I - Impostos Diretos ou "que não repercutem": são aqueles cuja carga econômica é suportada pelo próprio realizador do fato imponível" - ex. IR; II - Impostos Indiretos ou "que repercutem": são aqueles cuja carga econômica é suportada não pelo contribuinte (contribuinte de direito), mas por terceira pessoa, que não realizou o fato imponível (contribuinte de fato) - ex. ICMS. 
Segue a relação dos impostos ordinários (federais, estaduais e municipais) no quadro abaixo:
3. SISTEMA TRIBUTÁRIO CONSTITUCIONAL
4A. Princípio da Legalidade.
Pedro Leonardo Bastos Lima
Conceito: trata-se de limitação ao poder de tributar do Estado que obriga a instituição ou majoração (redução ou extinção também, pela leitura da CF e CTN) de tributo por lei (formal e material – STF, RE 632.265). Embora possa ser extraído implicitamente do art.5º, II, CF, é explicitamente fixado no art. 150, I, da CF (“é vedado à U/E/DF/M exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça”), estando também no conceito de tributo do artigo 3º do CTN (“instituída em lei”). Em regra, isso é feito por lei ordinária, mas há exceções que exigem lei complementar: Imposto sobre grandes fortunas (art. 153, VII, CF), Empréstimos Compulsórios (art. 148, CF), Impostos Residuais (art. 154, I, CF) e Contribuições previdenciárias Residuais (art. 195, § 4º, CF). 
Apesar de vigorar o princípio da estrita legalidade, deve-se adotar a posição de que é possível fazê-lo por Medida Provisória (pela literalidade do art. 62, § 2o, da CF, ela é meio idôneo para instituição e majoração de imposto; ademais, o STF permite isso (RE 138.284), salvo aos casos que exigem lei complementar). Com o advento da Emenda Constitucional 32/2001, a Constituição Federal passou a prever que, ressalvados o II, o IE, o IPI, o IOF e o imposto extraordinário de guerra, a medida provisória que implique majoração de impostos só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se for convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada (art. 62, § 2º, CF).
Tipicidade fechada/reserva legal ou estrita legalidade: A “Tipicidade Tributária”, que é a especialização da legalidade tributária, é o princípio que estipula que a lei de tributação deverá discriminar de forma clara e precisa TODOS os elementos da obrigação tributária: a) aspecto material (fato revelador de capacidade tributária objetiva); b) aspecto espacial (delimitação geográfica); c) aspecto temporal (marco temporal); d) aspecto quantitativo (alíquota e base de cálculo); e) aspecto subjetivo (sujeitos ativo e passivo). A doutrina majoritária não admite a tipicidade tributária aberta no Brasil, entendida como aquela em que a lei discrimina de forma ampla/indeterminada os elementos do fato gerador integral, possibilitando a administração tributária o preenchimento destes elementos frente ao caso concreto.
“Exceções” ao princípio da legalidade tributária (Observação: Questão abordada na prova oral do 26º Concurso: Para CARRAZA, o princípio da legalidade comporta apenas atenuação ou mitigação, e não exceções): a CF apenas permite que a lei delegue ao executivo a faculdade de fazer variar, observadas determinadas condições e dentro dos limites que ela estabelecer, as alíquotas, e não as bases de cálculo. Entende, ainda, que qualquer ato do Executivo que venha a alterar as alíquotas há de ser motivado por razões de interesse público, sob pena de invalidade): 
A) Pela CF, há 4 tributos cujas ALÍQUOTAS podem ser modificadas por meio de ATO DO PODER EXECUTIVO (II, IE, IOF e IPI), e 2 tributos que podem ser REDUZIDOS E REESTABELECIDOS por ATO DO PODER EXECUTIVO (ICMS/combustíveis – por convênio no âmbito do CONFAZ – e CIDE/combustíveis).
B) Resolução do Senado Federal para fixar alíquota do ICMS nas operações interestaduais (art. 155, § 2º, IV, CF)
C) Fixação das alíquotas máximas do ITCMD pelo Senado Federal, através de resolução (art. 155, §1°, IV, CF). 
D) Cabe ao Senado estabelecer as alíquotas mínimas (iniciativa de 1/3 e maioria absoluta para aprovação) e máximas (iniciativa da maioria absoluta e 2/3 para aprovação) do ICMS.
E) Fixação de alíquotas mínimas do IPVA, pelo Senado Federal, que poderão ser diferenciadas em razão da função, tipo e utilização (art. 155, §6°, CF). 
F) Prazo de recolhimento: O STF tem entendido que o poder executivo detém competência para expedir ato infralegal fixando o prazo de pagamento do tributo (STF, RE 546613, RE 140.660, RE 172.394/MG).
G) Atualização monetária da base de cálculo do tributo: A correção monetária, segundo os índices oficiais, não configura aumento do tributo, não estando sujeita à reserva legal (Súm. 160, STJ e art. 97, par 2o, CTN).
H) Obrigações acessórias: o STJ (RMS 17.940) entendeu que o Estado pode criar obrigação acessória, com o fim de exercer suas funções de controle e fiscalização, ainda que por mero ato administrativo, como é a portaria, já que o CTN se refere à legislação tributária, e não à lei.
Limitações ao princípio da legalidade: O princípio da legalidade encontra limites na proibição de ser editada norma individual e concreta, bem como nos direitos individuais e nas competências legislativas.
Legalidade e exonerações: segundo o art. 150, §6º, CF, só mediante lei se pode conceder isenção, remissão, anistia e outros benefícios de viés tributário. Entende-se que só o legislador pode avaliar os interesses coletivos da sociedade. A única exceção vem no art. 155, §2º, XII, g, que admite que convênios no CONFAZ tratem de benefícios de ICMS.
Teses do STF: 
1-Anotação de Responsabilidade Técnica, instituída pela Lei 6.496/1977, cobrada pelos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, tem natureza jurídica de taxa, sendo, portanto, necessária a observância do princípio da legalidade tributária.
2-É inconstitucional, por ofensa ao princípio da legalidade tributária, lei que delega aos conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas a competência de fixar ou majorar, sem parâmetro legal, o valor das contribuições de interesse das categorias profissionais e econômicas, usualmente cobradas sob o título de anuidades, vedada, ademais, a atualização desse valor pelos conselhos em percentual superior aos índices legalmente previstos.
3-A majoração do valor venal dos imóveis para efeito da cobrança de IPTU não prescinde da edição de lei em sentido formal, exigência que somente se pode afastar quando a atualização não excede os índices inflacionários anuais de correção monetária.
4-O Ministério Público não possui legitimidade ativa ad causam para, em ação civil pública, deduzir em juízo pretensão de natureza tributária em defesa dos contribuintes, que vise questionar a constitucionalidade/legalidade de tributo.
5-Inexiste, na Constituição Federal de 1988, reserva de iniciativa para leis de natureza tributária, inclusive para as que concedem renúncia fiscal.
6-Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual superior aos índices de correção monetária legalmente previstos. (Julgado de 2016. RE 838284 / SC).
7-É incompatível com a CF/88 o art. 3º do Decreto-Lei 1.437/75, que autorizava que o Fisco exigisse do contribuinte o ressarcimento pelo custo dos selos do IPI. Assim, o selo para controle de recolhimento de IPI não pode ser cobrado do contribuinte por meio de norma infralegal, sob pena de violação ao princípio da legalidade tributária (art. 150, I, da CF/88), uma vez que somente por meio de lei em sentido formal seria possível exigir das empresas o pagamento pelo selo. STF. Plenário. RE 662113/PR
8-A antecipação, sem substituição tributária, do pagamento do ICMS para momento anterior à ocorrência do fato gerador necessita de lei em sentido estrito. A substituição tributária progressivado ICMS reclama previsão em lei complementar federal. (STF. RE 598677/RS, Repercussão Geral – Tema 456)
Observação: Coisa Julgada Tributária (Dizer o Direito): Caso: “A questão jurídica enfrentada pelo STF (em 2023) foi a seguinte: existe uma decisão transitada em julgado dizendo que, em uma relação jurídica de trato sucessivo, o contribuinte não precisa pagar determinado tributo porque ele seria inconstitucional; posteriormente, o STF decide que esse tributo é constitucional; a partir dessa decisão do STF o Fisco poderá cobrar o tributo desse contribuinte em relação aos fatos geradores surgidos após a decisão da Corte?” Decisão do STF: Os efeitos temporais da coisa julgada nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo são imediatamente cessados quando o STF se manifestar em sentido oposto em julgamento de controle concentrado de constitucionalidade ou de recurso extraordinário com repercussão geral (não abarcando a decisão em controle incidental e difuso). (RE 955.227/BA e RE 949.297/CE – Repercussão Geral – Temas 881 e 885). Isso assegurou a observância dos princípios da isonomia tributária e da livre concorrência.
5A. Princípio da anterioridade.
Pedro Leonardo Bastos Lima 
Conceito. O STF entendeu que esse princípio (art. 150, III, “b” e “c”, da CF) constitui um direito individual fundamental, sendo cláusula pétrea pelo art. 60, § 4°, IV, da CF (ADI 939). Decorre do “princípio da não-surpresa do contribuinte” (juntamente com o p. da irretroatividade), visando proteger o sujeito passivo do ônus tributário imprevisto ou não planejado. Logo, ele se aplica para criação e aumento do tributo, mas não quando o tributo é reduzido ou extinto. (Em qualquer caso, não se aplicará às “mudanças que diminuam a carga tributária” (STJ - RMS 29568, DJ 30.8.2013)). Ele é composto de 2 partes:
· Anterioridade Anual (comum, simples ou de exercício): Previsto no art. 150, III, “b”, CF, ela veda a cobrança de tributos “no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou”.
· Anterioridade Nonagesimal (mitigada, especial, ou noventena): Prevista na alínea “c” do art. 150, III, CF (acrescido pela a EC 42/2003), ela veda a cobrança de tributos “antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b” (Logo, a noventena como regra se soma a anterioridade comum, uma vez que reforça a proteção ao contribuinte).
ATENÇÃO! A noventena já era prevista anteriormente à EC 42/2003 para as contribuições sociais para seguridade social (art. 195, § 6º: As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, “b”)
Peculiaridades em relação à aplicação da anterioridade (não incide o princípio): (1) prorrogação de alíquota vigente que já tenha sofrido reajuste (STF, RE 584100, j. em 25/11/2009: prazo nonagesimal somente deve ser utilizado nos casos de criação ou majoração de tributos, não na hipótese de simples prorrogação de alíquota já aplicada anteriormente); (2) alteração de data de pagamento e forma de correção monetária (Súmula Vinculante 50. “Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade”); (3) atualização monetária da base de cálculo (STF – não é majoração de tributo); (4) redução ou extinção de desconto previsto em lei (comum de ser previsto, p. ex., no pagamento antecipado do IPTU ou IPVA); (5) revogação de isenção – Há duas posições: (a) uns adotam a teoria da isenção como favor fiscal – dispensa legal de pagamento devido – identificam um caráter precário na sua natureza, alegando que, se o tributo já existia e apenas estava sendo dispensado (por razões de política econômica e fiscal), a lei revogadora não estaria aumentando ou instituindo tributo, apenas restaurando sua exigibilidade, e, assim, não agrediria o princípio da anterioridade (entendimento clássico do STF, RE 617389 AgR); (b) os que entendem a natureza do instituto como exceção à hipótese de incidência, qualquer lei revogadora desta benesse fiscal acaba realmente por agravar a situação do sujeito passivo (aumento indireto do tributo – a revogação de isenção se equipara a um aumento de alíquota, p. ex.), devendo assim respeitar a anterioridade, em respeito à não surpresa e à segurança jurídica (posição mais recente do STF, RE 564.225); 
Observação: O Reintegra é um programa econômico instituído pelo governo federal com o objetivo de incentivar as exportações. A alteração no programa fiscal REINTEGRA, por acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve respeitar o princípio da anterioridade. STF. 1ª Turma. RE 1253706 AgR/RS. STF, 2ª Turma, RE 1091378 AgR.
Exceções à anterioridade comum ou de exercício: i) II, IE, IPI, IOF, IEG (art. 154, II), ii) EC de guerra e calamidade (art. 148, I, CF), iii) contribuições de seguridade social (art. 195, § 6° - nesse caso só se observa a noventena). No caso do empréstimo compulsório de guerra e calamidade e do IEG (art. 154, II) não se observa a anterioridade comum em razão da urgência na instituição do tributo; no caso de II, IE, IPI e IOF, não ser observa em razão da finalidade predominante extrafiscal desses impostos.
E exclusivamente em relação à redução ou restabelecimento da alíquota: da i) CIDE-combustível (relativa à importação ou comercialização de petróleo e derivados, gás natural e derivados e álcool combustível – art. 177, § 4°, I, b, da CF) por ato do Poder Executivo; ii) de ICMS-monofásico (incidente em etapa única sobre combustíveis e lubrificantes mediante convênios celebrados no âmbito do CONFAZ – art. 155, § 4º, IV, c, da CF). Nesses casos, só se afasta a anterioridade no caso de restabelecimento de alíquota.
Exceções à noventena: i) II, IE, IR, IOF, IEG, ii) EC calamidade e guerra; iii) e exclusivamente em relação à fixação da base de cálculo do IPVA e do IPTU. Nesses casos, a exceção à noventena fundamentam-se no caráter extrafiscal destes tributos (II, IE, IOF). 
CUIDADO! O IPI (que se enquadra na exceção a anterioridade comum, como visto) NÃO é exceção à noventena. Por outro lado, o IR é exceção à noventena, mas não é excepcionado da anterioridade de exercício.
Aplicação conjunta das anterioridades (é a regra geral): O ITR não é exceção a quaisquer das anterioridades: seu FG considera-se ocorrido em 1º/Janeiro (critério temporal, cf. art. 1º, Lei 9.393), e se o tributo for majorado por lei publicada em 4/10/12, este aumento apenas poderia ser cobrado em 1º/01/14; há entendimento minoritário excluindo a aplicação da noventena.
Anualidade x Anterioridade. “o princípio da anualidade vigorava na CF/46 [...] Nenhum tributo poderia ser cobrado, em cada exercício, a não ser que estivesse previsto no orçamento respectivo. A previsão orçamentária se havia de renovar anualmente [...] Com a EC 18/1965, esse princípio foi abolido [...] A CF/67 [...] restaurou o princípio [...] EC 1/69 foi mais uma vez abolido [...] A CF/88 não consagrou [...] o princípio da anualidade” (Machado: 2007, p. 101). 
Medida Provisória e anterioridade (Cf. § 2º do art. 62 da CF): só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada, salvo o II, IE, IPI, IOF e IEG (exatamente em razão da extrafiscalidade ou urgência). 
MP e noventena. O Prazo será contado da publicação da MP, não da conversão em lei, salvo se houver “mudança substancial no texto da MP, no momento de sua conversão em lei, [caso em que] o prazo deveria ser contado da publicação da lei de conversão” (RE 169.740). STF: se a lei de conversão aumentou a alíquota prevista na MP, a regra da anterioridade nonagesimal será contada a partir da publicação da lei de conversão (Plenário. RE 568503/RS, j. 12/2/2014). OBS.: Essa questão é mais relevante para as contribuições sociais, em que somente se aplica a noventena (desde antes da EC 42/2003,cf. art. 195, § 6º) e especialmente em período anterior à EC 32/01 (as MP tinham prazo de 30 dias de vigência e poderiam ser reeditadas sucessivamente).
Súmulas sobre o princípio da anterioridade tributária: 1) Súmula Vinculante STF-50: Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade. 2) Súmula STF-669: Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.
6A. Princípios da igualdade, da uniformidade e da capacidade contributiva.
Pedro Leonardo Bastos Lima
I. Princípio da isonomia ou igualdade (art. 150, II, CR/88): veda a discriminação arbitrária, impondo que todos os que estejam numa mesma situação de fato recebam o mesmo tratamento jurídico (“Princípio da proibição dos privilégios odiosos”). Ademais, o legislador estipulou que a ocupação profissional ou função exercida pelo contribuinte não pode ser tomada como parâmetro para diferenciação.
Tratamento diferenciado há de ser justificado por razões de capacidade contributiva (progressividade do IRPF, p. ex.) ou, excepcionalmente, por razões extrafiscais (ex. IPTU e ITR e função social da propriedade, benefícios fiscais de incentivo regional, cooperativismo, tratamento diferenciado a ME e EPP ou em razão da atividade econômica e utilização de mão-de-obra e prerrogativas do Executivo relativas a certos tributos [II, IE, IPI, IOF, CIDE-combustíveis, propiciando controle da economia, do mercado, do comércio exterior e da moeda – PAULSEN). Faz-se mister anotar que há muito existe uma lei federal concessiva de isenção de IPI para taxistas e para deficientes na aquisição de veículos novos, sendo razoável o critério justificador da distinção.
Quando a lei viola o princípio da igualdade, o STF tem entendido que o judiciário não pode atuar como legislador positivo e estender o benefício ao prejudicado (STF ARAG-142348, RE 402.748-AgR e RE 418.994-AgR). A posição tem sido criticada pela doutrina, que tem defendido que é possível a declaração de nulidade do critério diferenciador inconstitucional, permitindo a inclusão de todos, em uma decisão negativa, dotada de “eficácia positiva indireta” (PAULSEN).
Desdobramentos: A) A incapacidade civil é irrelevante para o Direito Tributário (art. 126, I, CTN); B) Princípio do non olet (o tributo deve incidir sobre as atividades lícitas e, de igual modo, sobre o resultado aquelas consideradas ilícitas ou imorais – art. 118, I, do CTN); C) Ligação direta com o princípio da capacidade contributiva.
Julgados: A) Segundo o STF, é constitucional a lei que veda o Simples Nacional para empresas em débito com a Fazenda Pública, ou seja, não há que se falar em afronta ao princípio da isonomia; B) Entendeu o STF ser inconstitucional a incidência diferenciada de contribuição previdenciária entre servidores da União, Estados e Municípios (ADI 3.105); C) É inconstitucional lei estadual que concede isenção de ICMS para operações de aquisição de automóveis por oficiais de justiça estaduais, exatamente por violar a isonomia (além de ser formalmente inconstitucional por não observar regra do CONFAZ) (STF. ADI 4276/MT, Info 755); D) Inconstitucionalidade de lei estadual que concedia isenção de IPVA aos proprietários de veículos destinados a transporte escolar, devidamente regularizados perante uma cooperativa municipal específica (ADIMC 1655/AP); E) Inconstitucionalidade de lei municipal que pretendeu conceder isenção de IPTU em razão da qualidade de servidor estadual do contribuinte (AGRAG 157.871-9); F) Inconstitucionalidade de lei estadual que concedeu, indevidamente, isenção aos membros do Ministério Público de custas e emolumentos (ADI 3260/RN).
II. Princípio da capacidade contributiva (art. 145, § 1º: Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte…). É intrinsecamente ligado à igualdade e ajuda a realizar os ideais republicanos. Apesar de a CF ter previsto a sua aplicação apenas para os impostos, a jurisprudência do STF entende que nada impede a sua aplicação a outros tributos, observando-se as peculiaridades de cada espécie. Ele tem uma função dúplice: distribuir a carga tributária global entre os contribuintes de acordo com a aptidão de cada um de pagá-los E impedir que a carga tributária individual seja abusiva, assegurando o mínimo existencial (v. DUTRA). Há 4 formas principais pelas quais o princípio se materializa: imunidade, isenção, seletividade e progressividade.
(1) Tem-se neste princípio um ideal de justiça fiscal: deve pagar mais imposto quem pode pagar mais imposto (manifestada a riqueza, nasce a ideia de solidariedade social compulsoriamente imposta – deve-se contribuir com o bem comum de acordo com sua capacidade). O IR é o tributo que mais concretiza a capacidade contributiva, na medida em que existente a progressividade, com faixa de isenção, diversas alíquotas e previsão de dedução de gastos.
ATENÇÃO! Em que pese tradicionalmente a capacidade contributiva ser aplicada aos impostos pessoais (pois nestes se leva em conta os aspectos subjetivos da pessoa a sofrer a tributação), como prevê, a contrario sensu, a Súmula 656/STF (“É inconstitucional a lei que estabelece alíquotas progressivas para o imposto de transmissão inter vivos de bens imóveis com base no valor venal do imóvel”) e a Súmula 668/STF, atualmente é pacífico no STF que tal princípio também se aplica aos impostos reais (ITCMD, p. ex. – isso foi cobrado na questão n° 42 da prova objetiva do 28° CPR) (ADI 4697/DF e ADI 4762/DF). Essa mudança de posicionamento poderia, em tese, acarretar uma revisão ou cancelamento dos enunciados sumulares mencionados (por enquanto os verbetes sumulares se mantém válidas). OBS. MPF/27º: A capacidade contributiva, ao lado da propriedade, como princípio, fundamenta a vedação do confisco.
(2) Visando a aparelhar o Estado de instrumentos jurídicos aptos a capacitá-lo a efetivar o princípio, a CF facultou à administração tributária “identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”. Nesse ponto o constituinte ponderou a finalidade social do tributo e capacidade contributiva X intimidade do contribuinte e, aqui, se destaca a requisição de informações pelo Fisco diretamente à instituição financeira (LC 105/01), declarada constitucional pelo STF (ADIs 2390, 02386, 2397 e 2859). Ressalta-se que, além da ponderação acima mencionada, o STF já afirmou que não se trata de quebra do sigilo, mas somente da transferência de sigilo bancário para o sigilo fiscal, já que as informações não caem no domínio público (são acessadas somente pela Adm. Tributária, no âmbito do processo administrativo, submetida a rígida regulamentação infralegal).
A capacidade contributiva aproxima-se dos postulados da personalização, da proporcionalidade, progressividade e seletividade: a) personalização: adequação do gravame fiscal, sempre que possível, às condições pessoais de cada contribuinte; b) seletividade: alíquotas variam na razão inversa da essencialidade do bem (técnica de implementação da justiça fiscal) – ex. IPI e ICMS; c) proporcionalidade: a alíquota é constante/fixa e só a base de cálculo varia. O gravame fiscal deve ser diretamente proporcional à riqueza evidenciada em cada situação impositiva; d) progressividade: alíquotas variáveis, perante bases de cálculo igualmente variáveis; d.1) progressividade fiscal: estabelecida em razão da capacidade econômica; d.2) progressividade extrafiscal: estabelecida para desestimular a ocorrência ou a permanência de determinadas situações. 
III. Princípio da Uniformidade geográfica da tributação (art. 151, I, CF): Aplicável à União e sendo um desdobramento da isonomia, ele veda a instituição de tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique preferência em relação a Estado, ao DF ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promovero equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País, bem como a manutenção da Zona Franca de Manaus (art. 40 do ADCT), com suas características de área de livre comércio e incentivos fiscais.
O STF entende que a concessão de isenção constitui juízo de conveniência e oportunidade das autoridades públicas, não cabendo ao Judiciário imiscuir-se nessa análise, concedendo isenção a contribuintes não contemplados com base no princípio da isonomia. 
Outra manifestação da uniformidade está no art. 152 da CF que veda aos Estados, ao DF e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino. Isso consagra o princípio da não discriminação tributária, que possui o mesmo fundamento da exigência de uniformidade geográfica da tributação.
É, também, desdobramento do art. 19, inciso III, da CF (que proíbe qualquer pessoa política de “criar preferências entre si”, o que seria incompatível com a própria ideia de federação), harmonizando-se, ainda, com a limitação do art. 150, V, da CF (que veda o estabelecimento de restrições ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais).
13A. Repartição da receita tributária.
Lílian Farias de Queiroz Pierre – 03/2023
Fonte: Direito Tributário Esquematizado; ALEXANDRE, Ricardo; 15ª Edição.
1. Noções gerais
A necessidade de um sistema constitucional de repartição de rendas decorre diretamente da forma federativa de Estado, caracterizada primordialmente pela autonomia dos entes que o compõem.
No que concerne ao tema ora tratado, o legislador constituinte reconheceu o desequilíbrio na repartição de competência que fizera, pois há uma inegável concentração de renda nos cofres públicos federais em detrimento dos Estados e Municípios. Por tudo, se decidiu por determinar que os entes maiores entregassem parte da receita arrecadada aos entes menores. Aqui se tem o primeiro ponto de grande importância a ser enfatizado: a repartição sempre consiste na participação dos entes menores na arrecadação dos entes maiores, jamais ocorrendo no sentido inverso.
A repartição constitucional de receitas tributárias ocorre basicamente de duas formas: a direta e a indireta. São diretas as repartições em que o ente menor recebe diretamente uma parcela fixa do imposto arrecadado pelo ente maior (ex.: a CF atribui aos Municípios, diretamente, metade do IPVA arrecadado pelos Estados em virtude dos veículos licenciados em seus territórios – art. 158, III) e indiretas quando relativas aos fundos de participação (parte do imposto vai para o fundo e, após, será dividido com todos os entes) ou compensatórios (art. 159, II, CF).
Por consistirem numa contraprestação a uma atividade estatal diretamente relacionada ao contribuinte, os tributos vinculados (taxas e contribuições de melhoria) não estão sujeitos a repartição. Dada a sua vinculação constitucional, também os empréstimos compulsórios não se sujeitam a repartição.
Quanto às contribuições especiais previstas no art. 149 e à contribuição de iluminação pública do art. 149-A, a regra é também a inexistência de repartição. Todavia, com a EC 42/2003, passou a existir uma única contribuição sujeita à repartição: a CIDE-combustíveis (CF, art. 177, §4º).
Conclui-se, assim, que, no direito brasileiro, os únicos tributos sujeitos a repartição são os impostos e a CIDE-combustíveis.
Alguns impostos não possuem sua receita repartida, de forma que todo o produto da arrecadação pertence ao ente com competência para sua instituição. São eles: a) todos os impostos arrecadados pelos Municípios e pelo Distrito Federal (os estaduais, mesmo os sujeitos a repartição, se arrecadados pelo Distrito Federal, não serão repartidos, dada a impossibilidade de existência de Municípios no âmbito distrital); b) o imposto estadual sobre transmissão causa mortis e doações – ITCD; c) os impostos federais sobre importação, exportação, grandes fortunas e os extraordinários de guerra.
2. Casos de repartição direta previstos na CF/88: 
2.1. Impostos da União
	IR
(art. 157, I)
	ESTADOS/DF/MUNICIPIO: 100% sobre os rendimentos pagos pelo ente a seus servidores. 
OBS.: se o servidor estadual/municipal quiser contestar a própria retenção do IR, a competência será da justiça estadual, já que a discussão se dá entre Estado e servidor. Todavia, caso já retido o IR, a competência é da justiça federal, pois a análise anual do IR é feita pela União.*
	RESIDUAIS
(art. 157, II)
	ESTADOS/DF: 20% imposto que a União vier a instituir, desde que seja não cumulativo e não tenha fato gerador ou base de cálculo próprio dos discriminados na Constituição;
	IOF (OURO)
(art. 153, § 5º)
	ESTADOS: 30%, MUNICIPIO:70%, 
OBS.: DF: 100 % (não subdivisão em Municípios)
	ITR
(art. 158, II) 
	MUNICIPIO/DF: 50% do relativos aos imóveis do município (ressalvada a hipótese do art. 153, § 4º, III da CF em que os municípios poderão, por convênio com a UNIÃO, arrecadar 100% do ITR);
	IPI
	ESTADOS/DF: 10% proporcionalmente as exportações de produtos industrializados.
MUNICIPIO: 25% do que foi repassado ao estado, ou seja, 2,5% do IPI.
	CIDE-Combustível
	ESTADOS: 29%, MUNICIPIOS: 25% do que foi repassado ao estado, ou seja, 7,5% da CIDE.
Súmula 447, STJ: “Os Estados e o Distrito Federal são partes legítimas na ação de restituição de imposto de renda retido na fonte proposta por seus servidores”. Nesse caso, a competência é da Justiça Estadual, eis que ligada as retenções feitas pelo ente público pagador (E/DF/M).
2.2. Impostos dos Estados: 
i) IPVA: 50% para os Municípios; ii) ICMS: 25% para os Municípios. 
A CF, em seu artigo 158, parágrafo único, estatuiu que 65% do ICMS a ser repartido entre os Municípios seria creditado proporcionalmente ao valor adicionado nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviço realizados em seus territórios, prestigiando os Municípios que mais contribuíram com a arrecadação do tributo. 
Somente no que concerne a parcela de até 35%, os Estado têm autonomia, para, por lei própria, definir os critérios de repartição. Essa autonomia, contudo, é relativa. 
No tocante a pelo menos 10% (Estados podem aumentar esse percentual), o texto constitucional já define que a repartição será feita com base em indicadores de melhoria nos resultados de aprendizagem e de aumento da equidade, considerado o nível socioeconômico dos educandos (um verdadeiro ICMS educacional). 
Quanto aos 25% restantes da parcela de autonomia do Estado, há discricionariedade para definição do modo de repartição. Todavia, a discricionariedade estadual possui limites. Segundo o STF, é vedado à legislação estadual, a pretexto de resolver desigualdades sociais e regionais, alijar completamente um Município da repartição dos recursos em questão.
OBS.: Os valores a serem repassados pelos estados aos municípios, por força de determinação constitucional, pertencem a estes de pleno direito, sendo vedada aos estados a instituição de benefícios fiscais que tenham como consequência a redução ou a postergação dos repasses devidos aos municípios (RE 572. 762/SC, Rel. Min. Ricardo Lewandoswski, 2008).
3. Casos de repartição indireta previstos na CF/88
O sistema constitucional de repartição indireta se efetiva por intermédio de quatro fundos. 
Três deles são compostos por 50% da arrecadação total nacional do IPI e do IR (excluída deste, a parcela retida na fonte pelos Estados e DF do imposto incidente sobre rendimentos pagos). Os recursos são assim repartidos:
a)	FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS/DF (FPE): 21,5% (art. 159, I, a);
b)	FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS (FPM): 22,5% (art. 159, I, b) + 1% (159, I, d) + 1% (159, I, e) + 1% (159, I, f);
c)	FUNDOS CONSTITUCIONAIS DE FINANCIAMENTO DO NORTE (FNO), NORDESTE (FNE) E CENTRO- OESTE (FCO): 3% do total da arrecadação do IPI e do IR destinados ao desenvolvimento econômico e social através de programas de financiamento aos setores produtivos das regiões; 50% do FNE é destinado às atividades do semi-árido.
O quarto fundoé composto de 10% do IPI, e visa compensar as perdas que os Estados e Municípios sofrem com a desoneração das exportações (prevista no art. 155. §2º, X, a):
a)	FUNDO DE COMPENSAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES (FPEX ou IPI-Ex): recursos repartidos entre os Estados, proporcionalmente ao valor das exportações de produtos industrializados (CF, art. 159, II). Da parcela recebida, cada Estado repassa 25% aos Municípios situados em seu território. Para evitar que essa compensação se configurasse num instrumento de agravamento das desigualdades regionais (quem mais exporta são os Estados maios desenvolvidos), ficou estabelecido que a nenhuma entidade federada poderá ser destinada parcela superior a 20% do montante que compõe o fundo, devendo o eventual excedente ser distribuído aos demais participantes, mantido em relação a esses, o critério de partilha estabelecido.
OBS.: Ressalta-se que o TCU calcula o repasse para o DF, para cada Estado e para cada Município, e não o montante do IPI e do IR que a União deve entregar ao fundo.
4. Garantias de Repasse. 
Com vistas a garantir o pacto federativo e a autonomia dos entes, a CF, em seu artigo 160, veio impossibilitar, em regra, a retenção ou condicionamentos desses repasses. No parágrafo único, todavia, se estabelece possibilidade de condicionar a entrega ao pagamento de créditos devidos ao ente responsável pelo repasse, inclusive suas autarquias, bem como ao cumprimento dos percentuais mínimos de aplicação de recursos em ações e serviços públicos de saúde.
É imperioso destacar que não é permitido o condicionamento quando se tratar de cumprimento do percentual mínimo de despesas com educação (somente em relação à saúde). 
OBS.: Prova subjetiva, 29º CPR: “É constitucional a concessão regular de incentivos, benefícios e isenções fiscais relativos ao Imposto de Renda e Imposto sobre Produtos Industrializados por parte da União em relação ao Fundo de Participação de Municípios e respectivas quotas devidas às Municipalidades.” STF. Plenário. RE 705423/SE, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17/11/2016 (REPERCUSSÃO GERAL) (Info 847).
A discussão era a seguinte: a União concede benefícios fiscais do IR e/ou IPI (principalmente este em razão da extrafiscalidade), o que automaticamente provoca redução nos fundos (FPM, FPE, e de incentivo ao setor produtivo de N, NE, CO). Os entes prejudicados sustentavam que ao conceder os benefícios, a União afetaria a diminuição do montante repassado a esses fundos. Todavia, decidiu o STF que i) as regras de repartição não afastam as regras de competência tributária, e o poder de tributar se liga ao poder de isentar; ii) a base de cálculo da repartição é o “produto da arrecadação”, isto é, daquilo que foi efetivamente arrecadado.
16A. Princípio da não-cumulatividade e tributos brasileiros não cumulativos
Pedro Leonardo Bastos Lima
Princípio da não cumulatividade. A não cumulatividade é técnica que tem por objetivo limitar a incidência tributária nas cadeias de produção e circulação mais extensas, fazendo com que, a cada etapa da cadeia, o tributo só incida sobre o valor adicionado. Assim, ao final da cadeia, o tributo cobrado jamais será maior que o valor da maior alíquota, multiplicado pelo valor final da mercadoria. É justamente por isso que, na maioria dos países, o imposto é chamado de IVA (imposto sobre o valor agregado). No Brasil, numa atécnica tentativa de dividir renda, o IVA foi dividido em 3: o IPI federal, o ICMS estadual e o ISS municipal. Nos casos de incidência sobre circulação de bens (IPI e ICMS), a CF determinou a não cumulatividade. 
Ao IPI aplica-se o princípio da não cumulatividade (CF, art. 153, § 3º, II + CTN, art. 49). O ICMS também será não cumulativo (CF, art. 155, § 2º, I), compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado/DF. Dispõe o art. 155, § 2º, II, que a “isenção ou não incidência, salvo determinação em contrário da legislação: a) não implicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou prestações seguintes; b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações anteriores”. Em virtude das disposições restritivas, a existência de créditos nas operações enumeradas no dispositivo é excepcional, dependendo de disposição expressa da legislação.
A cada aquisição tributada de insumo (IPI) ou mercadoria (ICMS), o adquirente registra como crédito o valor do tributo incidente na operação. Tal valor é um “direito” do contribuinte, consistente na possibilidade de recuperar o valor incidente nas operações subsequentes (é o IPI ou ICMS a recuperar). A cada alienação tributada de produto, o alienante registra como débito o valor do tributo incidente na operação. Tal valor é uma obrigação do contribuinte, consistente no dever de recolher o valor devido aos cofres públicos federais e estaduais (ou distritais) ou compensá-lo com os créditos obtidos nas operações anteriores (IPI ou ICMS a recolher). Periodicamente, faz-se uma comparação entre os débitos e créditos. 
Se o insumo adquirido for isento, não tributável ou sujeito à alíquota zero, aparentemente não haveria direito a crédito do adquirente. Nessa situação, o benefício da isenção seria praticamente anulado. Entendendo dessa forma, o STF, inicialmente, decidia pela existência do direito a crédito do IPI, mesmo quando os insumos adquiridos tinham sido beneficiados por isenção ou alíquota zero. Entretanto, em 2007, houve mudança de entendimento e o STF decidiu pela impossibilidade de compensação de créditos de IPI relativos à aquisição de matéria-prima não tributada ou sujeita à alíquota zero. A questão relativa à aquisição de insumos isentos seguiu controvertida. Contudo, o STF seguiu a tendência e, na Súmula Vinculante 58 fixou que “inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade”.
Situação completamente distinta se verifica quando os insumos são adquiridos com cobrança de IPI, mas os produtos resultantes da industrialização de tais insumos são alienados sem a cobrança do tributo (não incidência, isenção ou alíquota zero). São casos de entradas oneradas com saídas desoneradas. Entendeu o STF que se deve cancelar o crédito relativo às operações anteriores para o IPI, do mesmo modo ao tratamento dado ao ICMS (CF, art. 155, § 2º, II, b), salvo se a legislação infraconstitucional conceder o direito à utilização de tal crédito de outra forma.
Ocorre que, atualmente, está em vigor o art. 11 da Lei 9.779/1999, autorizando a manutenção e utilização dos créditos de IPI mesmo diante de saídas desoneradas. Entretanto, é fundamental entender que tal beneficio somente se aplica àqueles insumos recebidos no estabelecimento industrial ou equiparado a partir de 1º de janeiro de 1999 (RE 475.551, STF).
A conjugação das decisões analisadas acima demonstra que para o IPI e o ICMS vale a tese da dupla incidência (ou dupla oneração), de forma que o direito a crédito decorrente da não cumulatividade destes tributos somente decorre diretamente da CF (independendo de previsão legal) quando houver entrada onerada e saída onerada. Se a entrada é desonerada, não há direito a crédito; se a saída é desonerada devem ser cancelados (estornados) os créditos relativos às operações ou prestações anteriores, salvo disposição legal em sentido contrário.
Registre-se que o STF tem entendido que, nos casos em que a lei concede ou mantém crédito da forma acima descrita, está presente o benefício do “crédito presumido”. A terminologia, por demais discutível, acaba por atrair a incidência do art. 150, § 6º, da CF, que exige lei específica para a concessão dos benefícios lá enumeradas, entre eles o “crédito presumido”. Este é mais um forte argumento para fundamentar a tese da dupla incidência, pois, reafirme-se, diante da ausência de lei específica em sentido contrário, não há crédito presumido do adquirente/alienante de insumos/produtos desonerados.
Por fim, é também entendimento doSTF que, tendo em vista a semelhança entre ICMS e IPI, aplica-se a este o precedente segundo o qual, diante da inexistência de previsão legal, não há direito à correção monetária dos créditos escriturais. Entretanto, no entender do STJ, há o direito à correção monetária quando legítimo direito ao creditamento é obstado em virtude da resistência oposta por ilegítimo ato administrativo ou normativo do Fisco, somente vindo a ser exercido mediante a submissão da matéria ao Judiciário (RE 299.605).
Frise-se, ainda, que os impostos da competência residual da União, uma vez instituídos por LC, deverão ser não-cumulativos, conforme art. 154 da CF. Quanto às contribuições (art. 149, §4° e art. 195, §4°), as Contribuições Sociais, fruto da competência originária, são cumulativas, ressalva feita à previsão em sentido contrário por lei ordinária (art. 149, §4°); já as Contribuições sociais de custeio da seguridade social, instituídas pelo poder tributário derivado da União, sempre serão não-cumulativas (ART. 195, §4°).
Observações: 1) A Zona Franca de Manaus é uma exceção à técnica da não cumulatividade (art. 153, § 3º, II); 2) Não viola o princípio da não cumulatividade a vedação, prevista em legislação estadual, de aproveitamento de crédito de ICMS decorrente de operação de exportação quando o contribuinte possuir débito superior ao crédito (REsp 1.505.296)
PIS e COFINS: Eles são consideradas contribuições sociais (art. 195, I, b, da CF), sendo tributos cujo fato gerador é a receita ou o faturamento obtido pela empresa através de suas atividades comerciais. Contudo, esse dispositivo constitucional possui eficácia limitada, necessitando de normas infraconstitucionais para regulamentá-lo, as quais já foram elaboradas (leis 10.637/2002 e 10.833/2003 – cabem leis ordinárias para isso). A instituição do PIS (LC 7/70) e da COFINS (LC 70/91) foi feita por Lei Complementar (LC), uma vez que a CF, no art. 146, determina que a instituição de tributos cabe à LC.
Cumulatividade e não-cumulatividade do PIS/COFINS. O que determina a cumulatividade ou não-cumulatividade do PIS/COFINS é a forma de regime de lucro adotado pelo contribuinte. Para que ocorra a cumulação do recolhimento do tributo, a empresa deve ter como regime de faturamento a sua presunção, assim como previsto na lei 9.718/98. Entretanto, no regime de faturamento real da empresa, se aplicará o regime da não cumulatividade, segundo as leis que regulam a não cumulatividade (para o COFINS a Lei 10.833/2003 e para o PIS a Lei 10.637/2002). Em se tratando da não cumulatividade no PIS e COFINS, deve-se observar a EC 42/03, que introduziu o §12 ao art. 195 da CF, o qual esclarece que a lei irá prever os setores nos quais incidirá o tributo não cumulativo. Em que pese a previsão constitucional, não se definiu o seu tratamento prático, necessitando-se de norma infraconstitucional para a operacionalização desse princípio. 
REsp 1.211.170 (Informativo 624): É ilegal a disciplina de creditamento prevista nas Instruções Normativas da SRF ns. 247/2002 e 404/2004, porquanto compromete a eficácia do sistema de não-cumulatividade da contribuição ao PIS e da COFINS, tal como definido nas Leis nº. 10.637/2002 e 10.833/2003 e o conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, ou seja, considerando-se a imprescindibilidade ou a importância de terminado item – bem ou serviço – para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo Contribuinte.
RE 570122/RS (Repercussão Geral – Tema 34): O STF já decidiu que é constitucional a previsão em lei ordinária que introduz a sistemática da não-cumulatividade para a COFINS, em nome dos princípios da legalidade, isonomia, capacidade contributiva global e não-confisco.
17A. Limitações ao poder de tributar decorrentes do federalismo.
Pedro Leonardo Bastos Lima
Pela CF/88, existem limitações constitucionais ao poder de tributar (que delimitam o campo da competência tributária, restringindo a atividade tributante), quais sejam os Princípios e as Imunidades. Elas se destinam, entre outras funções, à proteção da cláusula pétrea da forma federativa do Estado (art. 60, § 4º, I, da CF/88), sendo, portanto, garantias fundamentais, regulamentadas por lei complementar (art. 146, II, da CF/88). Assim, eles têm uma natureza dúplice, sendo limitações ao poder de tributar para o Fisco e garantias fundamentais para o contribuinte. OBS.: A decisão que reconhece a imunidade possui natureza declaratória (STJ, REsp 1596529/PR).
Frise-se que a imunidade, espécie de não incidência (gênero), de cunho constitucional, não se confunde com a não incidência pura e simples (situações em que um fato não é alcançado pela regra da tributação), a isenção (dispensa legal do pagamento do tributo) e a alíquota zero (a obrigação tributária, por uma questão de cálculo, é nula).
Quanto às imunidades, elas podem ser classificadas como: A) Subjetivas (quando o benefício constitucional for imediatamente dirigido à proteção de pessoas), Objetivas (afasta a incidência de impostos sobre certos produtos) ou Mistas (ocorre uma combinação entre os dois critérios anteriores); B) Gerais (afastam a incidência de mais de um tributo) ou Específicas (afastam a incidência de um só tributo); C) Tributárias (abrangência ultrapassa o âmbito específico dos impostos) ou Impositivas (excluem a incidência somente de impostos); D) Autoaplicáveis ou incondicionadas (aparelhadas para completa e imediata produção de efeitos) ou Não autoaplicáveis ou condicionadas (exigem o preenchimento de requisitos previstos em nível infraconstitucional); E) Ontológicas ou essenciais (consequências necessárias de certo princípio constitucional maior, especialmente a isonomia) ou Políticas ou incidentais (decorrentes de valores constitucionais específicos, mas não fundamentais para a ordem jurídica).
Serão analisados a seguir os princípios e imunidades não tratados em pontos do edital.
1. Princípio da liberdade de tráfego (art. 150, V, da CF/88). Proíbe os entes federados de estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvadas a cobrança de pedágio (que tem natureza jurídica de preço público para o STF) pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público e a cobrança do ICMS interestadual, que tem previsão constitucional. Ele busca evitar restrições indevidas ao direito de livre locomoção no território nacional. Impede a criação de barreiras aduaneiras e de pontos de imigração entre os Estados. 
2. Princípio da uniformidade da tributação da renda (art. 151, II, CF/88). É vedado à União, para evitar concorrência desleal e garantir a isonomia, tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do DF e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para as suas obrigações e para seus agentes. 
3. Princípio da vedação às isenções heterônomas (art. 151, III, CF/88). A isenção, forma de exclusão do crédito tributário, é um benefício fiscal, previsto em lei e, como regra, elaborado pelo ente competente para a criação do tributo. Assim, o poder de isentar decorre da competência tributária, preservando-se o pacto federativo. Exemplo disso é a Súmula 178 do STJ, que impede a União de conceder isenção de custas judiciais (taxas) relativas a processos que tramitem na justiça estadual. Contudo, há exceções: Há Isenções heterônomas constitucionalmente permitidas, relativas à exportação, que permitem que a União conceda, por lei complementar, isenção heterônoma do ICMS (art. 155, § 2º, XII, e) e do ISS (art. 156, § 3º, II). O dispositivo relativo ao ICMS perdeu utilidade com a EC 42/2003, que estabeleceu uma imunidade para as operações destinadas ao exterior. Ademais, para o STF, a isenção decorrente de tratado internacional seria uma terceira exceção permitida, já que o Presidente, nessas hipóteses, age como Chefe de Estado, em nome da soberana República Federativa do Brasil, e não da União (ex: GATT).
4. Princípio da nãodiscriminação baseada em procedência ou destino (art. 152, CF/88). Sendo aplicável só aos Estados, DF e Municípios (estando a União fora disso, podendo agir para diminuir desigualdades econômicas), ele estipula regra protetiva do pacto federativo, proibindo que os entes locais promovam um tratamento diferenciado em razão da procedência ou destino de bens ou serviços. Ademais, esse princípio se aplica apenas no âmbito interno, não impedindo o tratamento diferenciado quando o bem ou serviço é oriundo do exterior. Porém, não podem os Estados, por exemplo, estipularem alíquotas mais elevadas de IPVA para veículos importados, conforme a “cláusula do tratamento nacional” do GATT.
5. Princípio do não confisco (razoabilidade ou proporcionalidade da carga tributária) (art. 150, IV, CF/88). A ideia é que o legislador, ao se utilizar do poder de tributar que a Constituição lhe confere, deve fazê-lo de forma razoável e moderada, sem que a tributação tenha por efeito impedir o exercício de atividades lícitas pelo contribuinte, dificultar o suprimento de suas necessidades vitais básicas ou comprometer seu direito a uma existência digna. Observação: Ele não se aplica, em tese, aos tributos extrafiscais (a jurisprudência admite alíquotas confiscatórias nesses tipos de impostos) e ao impostos seletivos (a seletividade é técnica de incidência de alíquotas cuja variação será em função da essencialidade do bem). Contudo, ele é aplicável à multas tributárias (Para o STF, a abusividade da multa punitiva apenas se revela naquelas arbitradas acima do montante de 100% do valor do tributo – AI 851.038 AgR).
6. Princípio da Irretroatividade (arts. 5º, XXXVI, e 150, III, a, da CF + art. 105 do CTN). Ele, que é um desdobramento da garantia da segurança jurídica, veda aos entes tributantes cobrar tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado. Há exceções ao referido princípio: A) Leis interpretativas (art. 106, I, do CTN), que se limitam a explicar o entendimento conferido à outra norma jurídica; B) Lei mais benéfica (art. 106, II, do CTN), no âmbito do direito tributário penal, que são aplicadas desde que o ato não esteja definitivamente julgado, conforme a orientação do STJ (REsp 189.094/SP-1999 e REsp 187.051/SP-1998).
Quanto aos fatos geradores pendentes, que são aqueles cujo início já ocorreu, mas que ainda não foram consumados em sua totalidade à data da entrada em vigor da nova lei, há 2 correntes: Para a 1ª corrente, ele seria equivalente a fato gerador futuro, aplicando-se a nova lei; Para a 2ª corrente, há problemas quando temos o fato gerador complexivo, representando os tributos para os quais se deve considerar um certo período de tempo.
De acordo com a Súmula 584 do STF, seria aplicável ao IR incidente sobre os rendimentos apurados no ano-base a lei vigente no ano-exercício, em clara violação aos princípios da irretroatividade e da anterioridade anual. O STF a cancelou em 2020 (O IR não se sujeita ao princípio da noventena, mas deve observar o da anterioridade do exercício financeiro). 
7. Imunidade Religiosa (art. 150, VI, b, da CF). Ela supõe a intributabilidade das religiões, como um direito e garantia fundamental da pessoa, incidindo independentemente da dimensão da igreja ou do seu número de adeptos. Ela abarca não só os prédios dos cultos, mas também o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas. O legislador constituinte não vê óbices no exercício de atividades conexas pelo templo (art. 150, § 4º, da CF), havendo a imunidade, desde que (i) haja prova do reinvestimento integral do montante pecuniário advindo das atividades conexas na consecução dos objetivos institucionais da Igreja e (ii) haja a prova da inexistência de prejuízo à livre concorrência, impedindo-se o cunho empresarial na atividade financeira desempenhada (STF, RE 87.890). Aplica-se ao cemitérios, mas não vale para a maçonaria. A EC nº 116/22, que estendeu a imunidade religiosa, em relação ao IPTU, para os imóveis em que são exercidas as atividades de templos de qualquer culto, ainda que a entidade religiosa seja apenas locatária do bem (art. 156. § 1º-A). 
8. Imunidade para fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil e para seus suportes materiais ou arquivos digitais. (art. 150, VI, e, da CF). Ela visa desonerá-los dos impostos, favorecendo também os suportes materiais e arquivos digitais, sem alcançar o processo de replicação industrial, que permanece com a tributação. Não se aplica aos filmes.
9. Outras Imunidades: Há outras imunidades previstas na CF, como, por exemplo, a não cobrança de taxas para a obtenção de certidões e para o exercício do direito de petição (art. 5º, XXXIV), o não recolhimento de custas judiciais na ação popular, ressalvada a má-fé (art. 5º, LXXIII), e no HC e HD (art. 5º, LXXVII), a não cobrança de emolumentos para o registro civil de nascimento e óbito dos reconhecidamente pobres (art. 5º, LXXVI) e a imunidade dos tributos sobre o ouro como ativo financeiro, com exceção do IOF (art. 153, parágrafo 5º, da CF + art. 74, parágrafo 2º, do ADCT).
4. IMUNIDADES 
8A. Imunidade Tributária Recíproca
Bruno Luiz Avellar Silva
A doutrina das imunidades intergovernamentais surgiu na Suprema Corte Americana, em 1819, no famoso caso Mac Culloch v. Maryland, em que a Corte entendeu pela impossibilidade de o Estado de Maryland tributar filiais do Banco nacional. O juiz Marshall afirmou, na época, que existia na Constituição norte-americana uma previsão constitucional implícita que proibia “taxação” estadual em instrumentos federais. Conforme explicou o magistrado, se os Estados pudessem taxar instrumentos utilizados pelo Governo Federal, no exercício de suas atribuições, poderiam intervir no exercício de suas competências constitucionais. No referido julgamento, Marshall cunhou a famosa frase, citada internacionalmente, de que “o poder de tributar envolve o poder de destruir” (the power to tax involves the power to destroy), ao afirmar que “o direito de taxar, sem limite nem contraste, é, na sua essência, o direito e exterminar, ou de destruir; e, se uma instituição nacional pode ser assim destruída, todas as outras poderão, igualmente, ser destruídas”.
A Imunidade tributária recíproca, prevista no art. 150, VI, a da CRFB/88, busca a proteção da forma federativa de Estado. Tutela a igualdade entre os entes autônomos (ausência de hierarquia), evitando que os impostos sejam utilizados como instrumento de pressão de um ente sobre o outro. Cuida-se de comando com status de cláusula pétrea (art. 60, §4°, I da CRFB/88 – ADI 939). Dado que o julgamento de questões relacionadas a essa imunidade envolve potencial abalo ao pacto federativo, decidiu o STF ser de sua competência originária causas que envolvam a interpretação de normas relativas à imunidade tributária recíproca (art. 102, I, f da CRFB/88 - ACO 1098).
Proíbe o instituto que a União, Estados, Distrito Federal e Municípios instituam impostos sobre as rendas uns dos outros (não se aplica para taxas e contribuições), mas não veda a imposição de obrigações acessórias (ACO 1098). A despeito de o dispositivo constitucional estipular que os impostos não incidem sobre renda, patrimônio e serviços, entende o STF que a norma deve ser interpretada de forma ampla, abrangendo todos os impostos. 
Uma vez que se enquadre como imunidade subjetiva (incide para beneficiar uma pessoa), apenas se aplica às hipóteses em que os entes federativos figurem como contribuintes de direito, não valendo para situações em que figurem como contribuintes de fato (RE 608872 - rep geral).
Súmula 591 do STF- A imunidade ou a isenção tributária do comprador não se estende ao produtor, contribuinte do imposto sobre produtos industrializados.
*Entendimento de que se a entidade imune é a compradora, ela não é a contribuinte do imposto, mas sim o industrial ou produtor, que deve proceder ao pagamento, visto que a ele não se comunica a imunidade (RE 371243).
Nãose estende para imóvel público arrendado à empresa privada, quando ela seja exploradora de atividade econômica com fins lucrativos. Nesse caso, será possível a cobrança de IPTU (RE 594015 - rep geral). Entendimento contrário acabaria por conceder vantagem competitiva à empresa privada, em detrimento das demais. 
Também não afasta a responsabilidade tributária por sucessão, na hipótese em que o sujeito passivo era contribuinte regular do tributo devido (RE 599176 - rep geral). Caso em que a União sucedeu a RFFSA (sociedade de economia mista que desempenhava atividade econômica) em direitos e obrigações. Os débitos tributários transferidos devem ser pagos a despeito da imunidade de que goza a União.
	Bens e direitos que integram o patrimônio do fundo vinculado ao PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade recíproca (RE 928902 - rep geral). Aqui não há exploração de atividade econômica, mas sim a prestação de serviço público, uma vez que se trata de atividade constitucionalmente atribuída à União e cuja operacionalização foi delegada, por lei, a empresa pública federal (CEF), visando à consecução de direito fundamental. A CEF administra esse fundo, mas os bens e valores que o integram NÃO compõem o patrimônio da CEF. São bens e valores vinculados à execução do programa. É isso o que determina o art. 2º, §3º da Lei nº 10.188/2001. A CEF não teve aumento patrimonial nem se beneficiou do programa. Não houve confusão patrimonial e nem concorrência com o mercado privado.
	As pessoas que exercem atividade notarial não são imunes à tributação, porquanto a circunstância de desenvolverem os respectivos serviços com intuito lucrativo invoca a exceção prevista no art. 150, § 3º da Constituição. O recebimento de remuneração pela prestação dos serviços confirma, ainda, capacidade contributiva. A imunidade recíproca é uma garantia ou prerrogativa imediata de entidades políticas federativas, e não de particulares que executem, com inequívoco intuito lucrativo, serviços públicos mediante concessão ou delegação, devidamente remunerados. (ADI 3089).
	Não incide IPVA sobre veículo automotor adquirido, mediante alienação fiduciária, por pessoa jurídica de direito público (RE 727851 – rep geral). Neste caso, embora a propriedade, fato gerador do IPVA, seja do banco, o STF entendeu que o termo deve ser interpretado em sentido amplo, de maneira a alcançar a posse a qualquer título.
	Os estados estrangeiros gozam de imunidade tributária. Mas, a rigor, trata-se de isenção, porque o afastamento da tributação decorre das Convenções de Viena, incorporadas ao ordenamento interno por lei ordinária.
9A. Imunidade Tributária Recíproca: Autarquias e Empresas Públicas
Bruno Luiz Avellar Silva
O artigo 150, §2° da CRFB/88 afirma que a imunidade recíproca se aplica às autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes. Parte da doutrina denomina essa regra de imunidade tributária recíproca extensiva. Ocorre que essa extensão não confere às autarquias e fundações uma garantia de igual amplitude àquela conferida aos entes políticos. A diferença fundamental é que, nos precisos termos constitucionais, para gozar da imunidade, as autarquias e fundações precisam manter seu patrimônio, renda e serviços vinculados às suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes, restrição não aplicável aos entes políticos.
Conforme jurisprudência do STJ, existe presunção de que os bens das autarquias e fundações são utilizados em suas finalidades essenciais e deste modo, o ônus de provar o contrário para fins de tributação recai sobre o ente tributante. 
O STF entende que a imunidade alcança 	a autarquia que presta serviço público remunerado por meio de tarifas. Assim, o simples fato de haver a cobrança de tarifas não descaracteriza a regra imunizante (RE 741938 AgR).
Súmula 75 do STF- Sendo vendedora uma autarquia, a sua imunidade fiscal não compreende o imposto de transmissão inter vivos, que é encargo do comprador.
Súmula 336 do STF- A imunidade da autarquia financiadora, quanto ao contrato de financiamento, não se estende a compra e venda entre particulares, embora constantes os dois atos de um só instrumento.
	Súmula 583 do STF- Promitente comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é contribuinte do imposto predial territorial urbano.
Como regra, empresas públicas e sociedades de economia mista não desfrutam de imunidade recíproca, pois estas “não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado” (art. 173, §2° da CRFB/88). Ademais, há expressa menção no §3° do art. 150 da Constituição afirmando a inaplicabilidade do instituto ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados.
É possível a extensão da imunidade tributária recíproca às sociedades de economia mistas prestadoras de serviço público, desde que observados os seguintes parâmetros: (i) a imunidade tributária recíproca, quando reconhecida, se aplica apenas à propriedade, bens e serviços utilizados na satisfação dos objetivos institucionais imanentes do ente federado; (ii) atividades de exploração econômica destinadas primordialmente a aumentar o patrimônio do Estado ou de particulares devem ser submetidas à tributação, por se apresentarem como manifestações de riqueza e deixarem a salvo a autonomia política; e (iii) a desoneração não deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princípios da livre concorrência e do exercício de atividade profissional ou econômica lícita (RE 253472). 
Sociedade de Economia Mista cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que, inequivocamente, está voltada à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas, não está abrangida pela regra de imunidade tributária recíproca unicamente em razão das atividades desempenhadas (ainda que preste serviços públicos) (RE 600867 – rep geral). Por outro lado, empresas públicas e as sociedades de economia mista delegatárias de serviços públicos essenciais, que não distribuem lucros a acionistas privados nem ofereçam risco ao equilíbrio concorrencial, são beneficiárias da imunidade tributária recíproca, independentemente de cobrança de tarifa como contraprestação do serviço (RE 1320054 - rep geral).
	A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO), empresa pública federal, faz jus à imunidade recíproca. Isso porque desempenha atividade típica de Estado e presta serviço público com monopólio estatal (art. 21, XII, "c" - serviço de infra-estrutura aeroportuária) (ARE-RG 638.315 – rep geral).
	A ECT, mesmo quando realiza o serviço de transporte de bens e mercadorias, concorrendo com a iniciativa privada, goza de imunidade tributária recíproca, não devendo, portanto, incidir o ICMS (RE 627051). A imunidade também se estende à atividade de venda de títulos de capitalização pelos Correios (RE 601392). Conforme entendimento do STJ (REsp 1.642.250), por gozar de imunidade tributária recíproca, podem os Correios pleitear a repetição do indébito relativo ao ISS cobrado sobre os serviços postais. Para tanto, não precisam provar que assumiram o encargo pelo tributo nem precisam estar expressamente autorizados pelos tomadores dos serviços, de modo que inaplicável o art. 166 do CTN à presente situação. Presume-se que os Correios não repassaram o custo do ISS nas tarifas postais cobradas dos tomadores dos serviços. Isso porque a empresa pública sempre entendeu e defendeu que não estava sujeita ao pagamento desse imposto. Não havendo repasse do custo do ISS ao consumidor final, os Correios podem pleitear a restituição sem necessidade de autorização do tomador dos serviços.
	A imunidade tributária gozada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é da espécie recíproca, na medida em que ela desempenha atividades próprias de Estado (defesa da Constituição,da ordem jurídica, do Estado democrático de direito, dos direitos humanos e da justiça social, bem como seleção e controle disciplinar dos advogados) (RE 405267). A imunidade tributária em questão alcança apenas as finalidades essenciais da entidade protegida. No entendimento do STF, a OAB possui finalidades institucionais e corporativas, sendo a ambas aplicável o mesmo tratamento. Considerada a impossibilidade de concessão de regramento tributário diferenciado a órgãos da OAB — de acordo com as finalidades que lhe são atribuídas por lei —, as Caixas de Assistência de Advogados também se encontram tuteladas pela imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, “a”, da CF. Para a aplicação dessa espécie de imunidade, há de se constatar a presença de três pressupostos: 1) prestação de serviço público delegado; 2) a entidade que exerce o serviço é, em virtude de lei, pública; e 3) o serviço é prestado por ente público que não persegue finalidade econômica. Tais pressupostos são observados em relação às Caixas de Assistência dos Advogados, as quais prestam serviço público delegado, possuem “status” jurídico de ente público e não exploram atividades econômicas em sentido estrito com intuito lucrativo (RE 405267).
	Os consórcios públicos podem adotar personalidade jurídica de direito privado ou personalidade jurídica de direito público. Se público, será uma associação pública. As associações públicas possuem imunidade? Por presunção, sim. Até porque passam a integrar a administração indireta dos entes consorciados e se prestam a finalidades públicas, e não ao desenvolvimento de atividade lucrativa.
	As empresas concessionárias de serviço público não gozam de imunidade tributária recíproca, considerando que são empresas privadas que desempenham tais atividades em busca do lucro.
10A. Imunidade Tributária de partidos políticos e entidades sindicais
Bruno Luiz Avellar Silva
A imunidade dos partidos políticos e de entidades sindicais dos trabalhadores encontra-se expressamente prevista no art. 150, VI, “c”, CRFB/88. Quanto aos partidos políticos e suas fundações, a imunidade tributária conferida é corolário do Estado Democrático de Direito e assegura o pluralismo político (art. 1º, IV CRFB/88, ao evitar que o Estado use do poder de tributar como pretexto para subjugar partidos políticos cujas concepções contrariem aquelas adotadas por quem esteja no exercício do poder. Ao imunizar as entidades sindicais dos trabalhadores, o legislador quis proteger a liberdade de associação sindical (art. 8° da CRFB/88) daqueles que se encontram normalmente no lado mais fraco da relação trabalhista. Abarca as federações, confederações e as centrais sindicais, portanto, associações estaduais e nacionais. Ressalte-se aqui que não há previsão de imunidade para entidades sindicais dos empregadores, patronais (AResp 654401). 
Trata-se de uma imunidade subjetiva, e que, portanto, apenas se aplica ao sujeito na condição de contribuinte de direito (RE 608872 – rep geral). Somente compreende o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades referidas (art. 150, §4º da CRFB/88). A título de exemplo, o STF já afirmou que colônia de férias de sindicato não tem imunidade, porque o patrimônio não é ligado à atividade existencial do sindicato (RE 245093). Ressalte-se aqui que há presunção de que o patrimônio a renda e os serviços encontram-se vinculados a finalidades institucionais milita em favor da entidade, cabendo ao ente tributante demonstrar o desvio de finalidade para desconstituir tal presunção (RE 470520).
OBS: Dada a presunção de vinculação às atividades essenciais, a condição de um imóvel estar vago ou sem edificação não foi tida como suficiente pelo STF para afastar a imunidade (AgRg no AI 674339).
Súmula Vinculante 52- Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas. 
As expressões “patrimônio, renda ou serviços” devem ser interpretadas de forma ampla, e não restritiva, concedendo maior amplitude à imunidade, para defesa dos valores a que se propõe. Dentro desse escopo, o STF entendeu que a imunidade assegurada pelo art. 150, VI, “c” da Constituição alcança o IOF, inclusive o incidente sobre aplicações financeiras, desde que vinculadas às finalidades essenciais dessas instituições (RE 611510- rep geral). A tese sustentada pela União no caso era de que o IOF estaria fora do alcance da imunidade, posto que recai sobre “operações financeiras”, e não o patrimônio, a renda ou os serviços das instituições. Afirmou a Suprema Corte, entretanto, que os objetivos e valores perseguidos pela imunidade em foco sustentam o afastamento da incidência do IOF, pois a tributação das operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários das entidades ali referidas, terminaria por atingir seu patrimônio ou sua renda. 
	Para a consecução dessa imunidade, deve o partido político buscar o registro no Tribunal Superior Eleitoral (art. 17, § 2º, da CF). Além disso, devem tanto os partidos, quanto as entidades sindicais de trabalhadores preencher os “requisitos da lei” (lei complementar – art. 146, II da CRFB/88 - RE 566622). Ou seja, cuida-se de imunidade não autoaplicável, condicionada, e prevista em norma constitucional de eficácia limitada.
	O art. 14 do CTN estabelece os requisitos que devem ser preenchidos pelas entidades mencionadas, quais sejam: (i) não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título (não há proibição de resultados positivos, mas sim de distribuição de lucro. Exige-se, assim, que a aplicação dos resultados positivos reverta em beneficio da própria instituição); (ii) aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais (impede que haja remessa definitiva de divisas ao exterior ou que a entidade auxilie financeiramente outras congêneres no exterior); (iii) manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão (dever instrumental tributário – obrigação acessória, cujo objetivo é viabilizar a averiguação pelo Fisco do cumprimento dos outros dois requisitos já aludidos). Os serviços são exclusivamente os diretamente relacionados com os objetivos institucionais das entidades de que trata este artigo, previstos nos respectivos estatutos ou atos constitutivos. 
OBS – requisito I: A imunidade cai por terra quando, sob a aparência de remuneração, os funcionários, dirigentes, administradores e gestores dessas entidades vêm a ser alvo de verdadeiras distribuições de lucro, perdendo o caráter de mera contraprestação econômica pela atividade laboral realizada. 
OBS – requisito II: A imunidade permanece íntegra quando, para aumentarem seu patrimônio, tais entidades fazem investimentos que, eventualmente, levem a aplicações financeiras no exterior, bastando que os dividendos obtidos venham, na consecução de suas finalidades, investidos integralmente no país. 
OBS: Nenhum outro requisito além desses apontados por lei complementar pode ser criado para o pleno desfrute da imunidade, seja por lei ordinária da pessoa política tributante, seja por regulamento, portaria, parecer normativo ou mesmo ato administrativo fiscalizatório. Outras supostas condutas do sujeito passivo, ainda que infracionais, não podem acarretar a suspensão da imunidade, ensejando, quando muito, outro tipo de sanção. 
OBS: O art. 14 do CTN não indica que a gratuidade dos serviços prestados constitui requisito para o gozo da imunidade.
A imunidade não exclui a atribuição, por lei, às entidades referidas, da condição de responsáveis pelos tributos que lhes caiba reter na fonte, e não dispensa as mesmas da prática de atos, previstos em lei, assecuratórios do cumprimento de obrigações tributárias por terceiros (obrigações acessórias). Não(obra pública), e da taxa pela prestação da atividade que não é o exercício do poder de polícia e nem a prestação de um serviço público.
· As contribuições sociais são as que tem destinação específica do produto arrecadado e finalidade determinada, compreendendo: a) a contribuição de intervenção do domínio econômico, em que caracterizam pela finalidade da atividade de intervenção do Estado no domínio econômico e do produto arrecadado destinar-se ao financiamento dessa atividade de intervenção; b) contribuição de interesse de categorias profissionais ou econômicas, em que são instituídas com finalidade de atenderem as entidades profissionais dos seguimentos; e c) contribuição de seguridade social, em que a vinculação da arrecadação é para atender as atividades de seguridade social.
· O empréstimo compulsório é o tributo que tem como finalidade atender a um investimento de caráter urgente, com instituição por meio de lei complementar e a aplicação dos produtos arrecadados para a finalidade de sua instituição.
A teoria pentapartite é a adotada pelo Supremo Tribunal Federal, vez que, segundo sua jurisprudência, os empréstimos compulsórios (Recurso Extraordinário nº 111.954/PR, DJU 24/06/1988) e as contribuições especiais (AI-AgR 658576/RS, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, Julgamento em 27/11/2007; AI-AgR 679355/RS, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, Julgamento em 27/11/2007) são espécies tributárias autônomas, ostentando natureza jurídica própria que as distingue dos impostos, taxas e contribuições de melhoria.
A denominada teoria tripartida, a qual possui como defensores doutrinadores como Roque Antônio Carraza e Paulo de Barros Carvalho, utiliza como critério de classificação das espécies tributárias a vinculação ou não vinculação do tributo em relação a uma atividade estatal em conformidade com o fato descrito na hipótese de incidência. Nestes termos, a vinculação à atividade estatal pode se referir ao contribuinte diretamente, quando esta é diretamente aproveitada por este, ou indiretamente, quando a atividade do Estado é indiretamente relacionada ao mesmo.
Portanto, de acordo com o exposto, amparada pelos doutrinadores trazidos à baila, as espécies tributárias são 1) tributos, 2) taxas e 3) contribuições de melhoria. Art. 5º CTN “Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria.”
Pode-se dividir a competência tributária em competência legislativa plena e capacidade tributária ativa. Na primeira hipótese, a mesma é indelegável. Já no que tange à capacidade tributária ativa, o próprio artigo 7º, caput, do CTN, estatui que é passível de delegação. Sendo assim, torna-se passível de delegação as funções de arrecadação ou fiscalização de tributos, bem como de executar leis, serviços, etc, não sendo possível delegação da própria função de instituição de tributos. A CF/88 prevê a competência tributária, donde resulta não ser passível de alteração por LC ou LO, mas apenas por EC.
Em regra, o exercício do poder atribuído é faculdade e não uma imposição constitucional. Dessa forma, cada ente político de acordo com oportunidade e conveniência pública exercerá a competência tributária. Contudo, o art. 11, da Lei n. 101/2000, prevê que é requisito essencial da responsabilidade na gestão fiscal e instituição de todos os tributos previstos no texto constitucional, sob pena de que se proíbam a realização de transferências voluntárias.
Há dois conceitos importantes nesse âmbito que merece destaque: o bis in idem e a bitributação. No primeiro, há o mesmo ente tributante que edita leis com exigências diversas de mesmo fato gerador, o que é previsto, v.g., no art. 154, I, do texto constitucional por meio da instituição do imposto residual. Já no segundo, há entes federativos diversos (conflito de competência) que exigem do mesmo sujeito passivo imposto decorrente do mesmo fato gerador. Para Leandro Paulsen, inexiste uma garantia constitucional genérica contra os dois institutos, mas há varias restrições que podem ser extraídas da CF/88, v. g., em relação ao impostos, a CF/88 vedou expressamente os 2 institutos, exceto quanto ao imposto extraordinário de guerra ( art. 154, I). 
14B. Direito Tributário: Conceito, Fontes, Relações entre o Direito Tributário e o Direito Privado.
Elaborado por Fernando Brandão para prova oral do 30º CPR 13/03/2023
CONCEITO
Direito Tributário é parte do Direito Público e, tendo natureza obrigacional, refere-se à relação de crédito e débito entre os sujeitos da relação jurídica (Eduardo Sabbag).
Direito Tributário é o ramo do Direito Público, com princípios e institutos próprios e que tem como objeto de estudo a imposição e a arrecadação de tributos (Leandro Paulsen).
FONTES
Fontes formais é o conjunto das normas no Direito Tributário. Podem ser primárias ou secundárias. Doutrina e jurisprudência não são fontes formais em matéria tributária.
Fontes formais primárias (estão no art. 96 do CTN):
a) Leis em sentido amplo
a.1) CF: define a competência tributária dos entes, estabelece limitações ao poder de tributar e princípios tributários, bem como a repartição de receitas tributárias.
a.2) Emenda
a.3) Lei Complementar: exige-se LC para as seguintes matérias – art. 146 da CRFB/88 (CTN tem status de LC):
· conflitos de competência entre União, Estados, DF e Municípios, evitando que dois ou mais entes tributem a mesma situação (ex. art. 32, § 1º, do CTN);
· limitações do poder de tributar;
· normas gerais em matéria de legislação tributária (definição de tributos e de suas espécies; obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência etc.);
· definição do tratamento diferenciado e favorecido para microempresas e para empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados para o caso do ICMS, da contribuição previdenciária e ao PIS;
· critérios especiais de tributação a fim de prevenir desequilíbrios de concorrência (art. 146-A);
· instituir tributos que a Constituição Federal expressamente exige esse veículo normativo: empréstimos compulsórios (art. 148); IGF (art. 153, VII); impostos residuais (art. 154, I); e Contribuições Residuais para a Seguridade Social (art. 195, § 4º).
a.4) Lei Ordinária: utilizada para instituição de tributos, porém não há empecilhos a que tributos surjam por meio de LC (v.g., empréstimos compulsórios). Como regra, somente a lei pode estabelecer:
· instituição de tributos ou sua extinção;
· majoração de tributos ou sua redução;
· definição do fato gerador da obrigação tributária principal;
· fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo;
· cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos.
a.5) Lei Delegada: não há impedimento de que o Presidente legisle sobre matéria tributária por meio de lei delegada, desde que autorizado por Resolução do Congresso Nacional, sendo vedada a utilização de lei delegada para tratar de matéria reservada à lei complementar (mais fácil por MP).
a.6) Medida Provisória: possível para instituir ou aumentar tributos (EC 32/01). Mas não cabe MP em matéria reservada à LC (IGF, empréstimo compulsório, imposto residual e contribuição social previdenciária residual). Assim, MP também não pode regular conflitos de competência e limitações constitucionais ao poder de tributar (são matérias reservadas à LC).
a.7) Decreto Legislativo: meios corretos para a aprovação de tratados, acordos e atos internacionais.
a.8) Resolução: norma com força de lei, sendo resultante da deliberação do Congresso ou de uma de suas Casas. Em matéria tributária, Senado expedirá Resoluções nos seguintes casos:
· alíquotas de ICMS nas operações interestaduais e de exportação (a EC n. 42/2003 estabeleceu imunidade tributária com relação ao ICMS nas operações que destinem mercadorias ou serviços para o exterior – art. 155 § 2º, X);
· alíquotas máximas e mínimas de ICMS nas operações internas (art. 155, § 2º, V, “a” e “b”);
· alíquotas máximas de ITCMD (art. 155, §1º, IV);
· alíquotas mínimas do IPVA (art. 155, § 6º, I).
b) Tratados e convenções internacionais (comcumpridas essas exigências, assim como não cumpridas as obrigações na condição de responsáveis, a autoridade competente pode suspender a aplicação do benefício (art. 14, §1° do CTN). 
11A. Imunidade Tributária de instituições de educação e de assistência social.
Bruno Luiz Avellar Silva
Primeiramente, assento que é imprescindível a leitura do ponto 10A, posto que as observações gerais lá constantes se aplicam às instituições de educação e de assistência social, haja vista que sua imunidade está estampada no mesmo dispositivo (art. 150, VI “c” e §4º da CRFB/88). 
As instituições de educação e de assistência social são imunes aos impostos para fins de difusão da educação e do ensino e em benefício do direito à sobrevivência dos pobres e dos desassistidos. A justificativa da imunidade está em que não se pode cobrar imposto sobre atividade que substancialmente se equipara a própria ação estatal; tais imunidades constituem instrumento democrático e aberto para a escolha das ações filantrópicas por decisões não governamentais e para o aumento das possibilidades de atendimento, no espaço público, das demandas dos necessitados (Ricardo Lobo Torres). José Eduardo Soares de Melo afirma que o constituinte "objetivou preservar valores de relevante interesse nacional como a democracia, [...], a educação, a saúde, a previdência e a proteção dos carentes" (p. 357).
A expressão “Instituições de educação” não se limita apenas às de caráter estritamente didático, englobando também toda aquela que aproveita à educação e à cultura em geral, como o curso de idiomas, o museu, o centro de pesquisas, dentre outros (Aliomar Baleeiro). Abrange as escolas de ensino profissionalizantes mantidas pelos serviços sociais autônomos, como SENAC e SENAI (RE 235737), que integram o trabalhador ao mercado de trabalho. Por sua vez, discute-se na doutrina e na jurisprudência se o conceito de entidade de assistência social adotado pelo art. 150, VI, c, da CF seria o mesmo do art. 203 do Texto Maior, que insere no conceito de assistência social o caráter altruístico, ou seja, a prestação de serviços a quem deles necessitar, independentemente de qualquer contraprestação. Há quem entenda, contudo, ser entidade de assistência social qualquer pessoa jurídica que se dedique à saúde, previdência, e à assistência social, desde que sem fins lucrativos e cumpridos os requisitos previstos em lei. O STF já reconheceu a imunidade de hospitais que não prestam assistência gratuita e de colégios e faculdades que cobram mensalidades compatíveis com outras instituições privadas. 
OBS: Súmula 730 do STF: “A imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, "C", da Constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se não houver contribuição dos beneficiários”. Em não havendo contribuições dos beneficiários, ficaria nítido o caráter de entidade de assistência social da entidade fechada de previdência. Noutro giro, há que se ressaltar que as entidades abertas visam ao lucro e que as entidades fechadas contributivas não se enquadram no conceito de entidade de assistência social, razão pela qual não poderiam fruir da imunidade. Atente-se, ainda, que entidades de previdência privada que tiverem como patrocinadores entes políticos e entidades da administração indireta não serão beneficiadas pela imunidade tributária das entidades assistenciais, posto que se o patrocinador estatal não pode contribuir com um montante maior que aquele a cargo do beneficiário (art. 202, § 3º da CRFB/88), extrai-se como necessária a existência de contribuição por parte do beneficiário.
OBS: Entidades Religiosas podem se caracterizar como instituições de assistência social a fim de se beneficiarem da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, ‘c’, da Constituição, que abrangerá não só os impostos sobre o seu patrimônio, renda e serviços, mas também os impostos sobre a importação de bens a serem utilizados na consecução de seus objetivos estatutários (RE 630790 - rep geral). Isso porque é comum que organizações religiosas também possuam um componente social que, para além de colaborar com o Estado, muitas vezes substituem a ação estatal na assistência aos necessitados. 
OBS: “O STF confere sentido mais amplo ao termo ‘assistência social’ constante do art. 203 da CF, a concluir que, entre as formas de promover os objetivos revelados nos incisos desse preceito, estariam incluídos os serviços de saúde e educação. Toda pessoa jurídica a prestar esses serviços, sem fins lucrativos, com caráter assistencial, em favor da coletividade e, em especial, dos hipossuficientes, atua em conjunto com o Poder Público na satisfação de direitos fundamentais sociais. Essa é a razão de o constituinte ter assegurado a imunidade a essas pessoas em relação tanto aos impostos como às contribuições sociais, a partir da impossibilidade de tributar atividades típicas do Estado em favor da realização de direitos fundamentais no campo da assistência social” (RE 566622 - trecho do voto do Min. rel. Marco Aurélio).
OBS: Conforme assentado pelo STJ, a imunidade tributária de entidade beneficente de assistência social não a exonera do dever de, na condição de responsável por substituição, reter o imposto de renda sobre juros remetidos ao exterior na compra de bens a prazo, na forma do art. 11 do Decreto-Lei nº 401/1968. O art. 11 do Decreto-Lei nº 401/1968 prevê que “está sujeito ao desconto do imposto de renda na fonte o valor dos juros remetidos para o exterior devidos em razão da compra de bens a prazo.” Vale ressaltar que o contribuinte do imposto de renda previsto neste art. 11 é o vendedor (beneficiário dos valores residente no exterior). O remetente dos juros (e que deve pagar o imposto de renda retido na fonte - IRRF) é o sujeito passivo responsável por substituição, enquadrando-se nos conceitos previstos nos arts. 121, parágrafo único, II, e 128 do CTN. Importante esclarecer que, se o adquirente do bem (e que está remetendo o dinheiro para o exterior) for uma entidade imune, mesmo assim terá que fazer o recolhimento do IRRF. Ex: entidade beneficente de assistência social adquire, a prazo, uma máquina de uma empresa do exterior; ao remeter os valores para essa empresa, deverá reter, na fonte, o imposto de renda sobre os juros; mesmo esta entidade sendo imune, ela deverá pagar o imposto de renda retido na fonte na condição de responsável por substituição.
No que tange aos requisitos para gozo da imunidade que figuram no art. 14 do CTN, o STF flexibiliza a análise da aplicação do lucro às atividades institucionais. Nesse sentido, “não era alheia à finalidade filantrópica de entidade de assistência social a utilização de imóvel como clube para fins de recreação e lazer dos funcionários da instituição” (RE 236.174), de modo que há imunidade nesse caso. Ainda nesse sentido, o STF entendeu aplicável a imunidade nos casos de manutenção por entidade beneficente de uma livraria em imóvel de sua propriedade (RE 345830) e da venda realizada por serviço social autônomo (SESC) de ingressos de cinema ao público em geral (AI 155822-AgR).
	Conforme a jurisprudência do STJ, a decisão administrativa que reconhece o preenchimento dos requisitos legais para gozo da imunidade possui natureza declaratória e, por isso, produz efeitos retroativos (ex tunc), ficando a incidência de impostos vedada desde o momento em que efetivamente cumpridos os requisitos, e não somente após a decisão que reconhecer esse cumprimento. Nessa toada, a Súmula 612 do STJ: O certificado de entidade beneficente de assistência social (CEBAS), no prazo de sua validade, possui NATUREZA DECLARATÓRIA para fins tributários, retroagindo seus efeitos à data em que demonstrado o cumprimento dos requisitos estabelecidos por lei complementar para a fruição da imunidade. 
OBS: Mesmo que a entidade de assistência social não tenha o CEBAS, poderá fruir de imunidade se comprovar o preenchimento dos requisitos de outro modo, inclusive por prova pericial (AgRg no AREsp 187172).OBS: Súmula 352 do STJ: A obtenção ou a renovação do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas) não exime a entidade do cumprimento dos requisitos legais supervenientes. 
As entidades beneficentes de assistência social, além de detentoras de imunidade quanto aos impostos, também gozam de imunidade quanto às contribuições para a seguridade social, conforme art. 195, §7º, da CRFB/88. No ponto, em que pese o texto constitucional cite a expressão “isenção”, é pacífico tratar-se em verdade de imunidade. Essa imunidade abrange o PIS/COFINS.
OBS: De acordo com a jurisprudência do STF (RE 566622), a lei complementar é forma exigível para a definição do modo beneficente de atuação das entidades de assistência social contempladas pelo art. 195, § 7º, da CF, especialmente no que se refere à instituição de contrapartidas a serem por elas observadas. Interpretação conjunta do art. 195, §7° com o art. 146, II, ambos da CRFB/88. Contudo, nada obsta que o procedimento de habilitação dessas entidades positivado em lei ordinária. Aspectos meramente procedimentais referentes à certificação, à fiscalização e ao controle administrativo continuam passíveis de definição em lei ordinária.
OBS: Não é possível que o CEBAS seja negado em razão do descumprimento de requisitos que não estejam previstos em lei complementar (STF - RMS 24065).
OBS: Com a edição da Lei Complementar 187/21, a certificação das entidades beneficentes e os procedimentos referentes à imunidade de contribuições à seguridade social de que trata o § 7º do art. 195 da CRFB/88 passaram a ser disciplinados pela citada lei, e não mais pelo art. 14 do CTN. A concessão e a renovação do CEBAS, a partir de 17/12/2021, serão regidas pela LC 187/2021 (art. 40 da Lei).
o.
12A. Imunidade Tributária de livros, jornais, periódicos e de papel para impressão
Bruno Luiz Avellar Silva
A Imunidade Cultural ou de Imprensa veda a instituição de impostos sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão (art. 150, VI, “d”, CRFB/88). Esta imunidade foi prevista pelo legislador constituinte como uma forma de fomentar a difusão da cultura, do ensino e da liberdade de expressão, evitando que tais manifestações fossem impedidas ou dificultadas por força do pagamento de impostos. 
Cuida-se de hipótese de imunidade real ou objetiva, pois recai sobre bens (livros, jornais, periódicos e o papel), não abrangendo os impostos pessoais. Ex.: Quando o livro sai da gráfica, não paga IPI; quando é vendido não paga ICMS; quando é importado, não paga II. Contudo, a gráfica paga IPTU, uma vez que a imunidade não se refere à pessoa, mas aos bens elencados. Incide, assim, sobre os impostos ditos reais (II, IE, ICMS, IPI, ISS). 
No dito do Min. Dias Toffoli, “a aplicação da imunidade independe da pessoa que os produza ou que os comercialize; ou seja, não importa se se está diante de uma editora, uma livraria, uma banca de jornal, um fabricante de papel, um vendedor de livros, do autor ou de uma gráfica, pois o que importa à imunidade é o objeto e não a pessoa.” Pelo fato de a imunidade cultural não ser subjetiva, a gráfica, a livraria e o importador pagarão IR por conta da renda que obtiverem. Isso porque as pessoas (sujeitos) que trabalham com livros, jornais, periódicos etc. não gozam de imunidade. 
Sobre a extensão do conceito de livro, o STF entendia anteriormente que a imunidade apenas alcançava o livro impresso, em que pese já entendesse a expressão “livro” em sentido amplo, de modo a abarcar manuais técnicos e apostilas, por exemplo (RE 183403). Entretanto, em interpretação evolutiva e que confere máxima efetividade à norma imunizante, atentando à teleologia da imunidade (difusão da cultura, educação, ect), o STF passou a entender que a imunidade se estende ao livro eletrônico (“e-book”), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo (“e-reader”) (RE 330817 – rep geral). Em relação aos e-reader reconhece-se a imunidade mesmo que esse tenha uma função acessória, como a internet para downloads de livros. A imunidade também alcança componentes eletrônicos destinados, exclusivamente, a integrar unidade didática com fascículos (RE 595676).
OBS: Súmula vinculante 57: A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes exclusivamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que possuam funcionalidades acessórias.
OBS: e-readers (kindle) são suportes destinados exclusivamente à leitura dos livros digitais e, por isso, equivalem ao papel. Ao CD-Rom que contém o livro também se aplica essa interpretação. Já os tablets, smartphones, etc, possuem outras funcionalidades e, por isso, não gozam de imunidade cultural. 
O conteúdo do jornal, da revista ou do periódico não influencia no reconhecimento da imunidade. O Fisco não pode cobrar o imposto se a revista não tiver “conteúdo cultural”, pois a CRFB/88 não atribui condicionante à imunidade cultural. Assim, um livro sobre anedotas, um álbum de figurinhas, uma apostila, uma revista pornográfica ou até uma lista telefônica (RE 794285) gozam da mesma imunidade que um compêndio sobre Medicina ou História. Em suma, todo livro, revista ou periódico é imune, considerando que a Constituição não estabeleceu esta distinção, não podendo ela ser feita pelo intérprete (RE 221239).
OBS: Os jornais gozam de imunidade, mesmo que contenham publicidade em seu corpo (anúncios, classificados etc.), considerando que isso constitui fonte de renda necessária para continuar a difusão da cultura. Contudo, algumas vezes, junto com o jornal vêm alguns folhetos separados contendo publicidade de supermercados, lojas etc. Tais encartes publicitários não são parte integrante (indissociável) do jornal e não se destinam à difusão da cultura (possuem finalidade apenas comercial), razão pela qual NÃO gozam de imunidade. (RE 213094)
OBS: Súmula 657 do STF: “A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CF abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos”.
OBS: A imunidade cultural não abarca o maquinário (como as chapas de impressão) utilizado no processo de produção de livros, jornais e periódicos, mas apenas os materiais assimiláveis ao papel e a tinta especial para jornal (posição mais segura em prova, por ser mais recente e mais consolidada no STF - ARE 1100204). 
OBS: A distribuição de periódicos, revistas, publicações, jornais e livros não está abrangida pela imunidade tributária referida (RE 630462 AgR).
OBS: As empresas prestadoras de serviços de composição gráfica, que realizam serviços por encomenda de empresas jornalísticas ou editoras de livros, não estão abrangidas pela imunidade tributária de livros prevista no art. 150, VI, d, da CF. As empresas que fazem composição gráfica para editoras, jornais etc. são meras prestadoras de serviço e, por isso, a elas não se aplica a imunidade tributária (RE 434826 AgR).
5. LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
7A. Normas Gerais de Direito Tributário. Código Tributário Nacional.
Filipe Valente – março/2023 Legislação: art. 146 da CF e CTN. 
Trata-se de matéria de LC, cuja competência para edição é da União – art. 146, III, “a” a “d”, CR/88. O CTN, em grande parte (livro II), faz as vezes dessa Lei Complementar, sendo originalmente Lei Ordinária, mas recepcionado pela com status de LC em relação às normas que densificam as alíneas ‘a’ e ‘b’: alínea ‘a’ - definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes; alínea ‘b’ - obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários; alínea ‘c’ - é regulada apenas pela lei das cooperativas; alínea ‘d’ - é disciplinada pela LC 123/06 (Super-simples).
Segundo o STF o DL 406/68 (ISS) também foi recepcionado pelo atual ordenamento constitucional com status de lei complementar nacional, nos termos do art. 146, III, “a”, da CF/88 (STF.1ª Turma. RE 600192 AgR-segundo, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 15/03/2016). Por ser norma geral não há se falar em isenção heterônoma na previsão que contas nesse DL para as sociedades uniprofissionais.
Na ADI 6828/AL (Info. 1074, de 28/10/2022), o STF definiu que é inconstitucional norma estadual que discipline a cobrança do ITCMD nas doações e heranças instituídas no exterior (art. 155, §1º, III, da CF), considerando que ainda não existe a lei complementar nacional específica que regulamenta a matéria. 
Nesse julgado o STF explicou que, em matéria de legislação tributária, o art. 146 da CF/88 estatui, em síntese, caber à lei complementar “estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária”, e na ausência da lei de normas gerais definindo os fatos geradores, as bases de cálculo e os contribuintes, não há dúvidas de que os estados e o Distrito Federal, fazendo uso da competência aludida no art. 24, § 3º, da CF/88, podem legislar, de maneira plena, editando tanto normas de caráter geral quanto normas específicas: “§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades”. 
Também nesse sentido a autorização dada pelo art. 34, § 3º, do ADCT: Art. 34 (...) “§ 3º Promulgada a Constituição, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão editar as leis necessárias à aplicação do sistema tributário nacional nela previsto”. 
O CTN possui status de lei complementar desde a CF/67. Não há consenso acerca do conceito de “norma geral”. As normas gerais de direito tributário funcionam como “leis de leis”, condicionando as ordens jurídicas parciais (da União, dos estados e dos municípios). Normas sobre como fazer normas, destinadas aos legisladores. Lei complementar é o veículo legislativo e norma geral o conteúdo normativo. (SACHA CALMON). Às normas gerais em matéria tributária compete aumentar o grau de detalhamento dos modelos de tributação criados pela Constituição, adensando os traços gerais dos tributos, bem como padronizar o regramento básico da obrigação tributária (LUCIANO AMARO). Normas gerais = adensamento do modelo constitucional dos tributos + estrutura da obrigação tributária. O problema das normas gerais decorre do federalismo, em razão das competências concorrentes e a necessidade de uniformidade (mínima) da legislação. Repartição vertical de competência legislativa (normas gerais X normas específicas sobre a mesma matéria), como solução para competência concorrente. 
CARRAZA alude, acerca da alínea ‘a’ do art. 146, III, à natureza “declaratória” da LC, que funciona para com a CF como um regulamento para com uma lei, sendo dotada de eficácia de prevenir litígios e explicitar o texto constitucional. Não há hierarquia entre LC e LO, mas âmbitos materiais diferentes. 
Lei ordinária que disponha sobre matéria afeta à lei complementar é inconstitucional (vide Súmula Vinculante nº. 8 sobre prescrição e decadência tributárias: São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do decreto-lei nº 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário). Além disso, também merece atenção o fato de não existir norma geral da União tratando do IPVA (não há previsão no CTN), com isso, os Estados têm exercido competência legislativa plena – art. 24, §3°, CF (STF RE 191.703 AgR/SP). 
Acerca da estrutura da norma jurídica tributária, Paulo de Barros Carvalho afirma que, como em qualquer outra norma jurídica, na norma tributária padrão a regra-matriz se apresenta logicamente, isto é, sua forma é composta por uma proposição antecedente, também chamada de hipótese, prótase, suposto ou descritor e outra de consequente, apódose ou prescritor. A hipótese se configura como sendo a descrição abstrata de uma situação possível do mundo social, que seja composta pelos critérios material, temporal e espacial que, ocorrendo na forma prevista, terá o condão de fazer nascer uma relação jurídica, na forma expressa no consequente. (regra-matriz de incidência está no Subtópico 2B)
O critério material faz referência ao comportamento de pessoas. A estrutura do critério material se mostra sempre da mesma forma: um verbo pessoal acompanhado de um complemento, que apresente signos presuntivos de riqueza. Faz, portanto, referência a determinado comportamento de pessoa, seja ela física ou jurídica, que ocorrido, dará ensejo à criação do fato jurídico tributário.
Quanto ao critério temporal da hipótese – que fornece elementos que permitem identificar a condição que atua sobre determinado evento, subordinando-o no tempo - a doutrina construiu a classificação do critério temporal em instantâneos, continuados e complexivos: os acontecimentos previstos no critério material seriam instantâneos quando sua ocorrência se esgotasse numa determinada unidade de tempo, ensejando, cada ocorrência, uma nova relação jurídica; os continuados abrangeriam os fatos que constituíssem situações duradouras que se prolongassem no tempo; já os complexivos englobariam os fatos cujo processo de formação se desse com o decurso de unidades sucessivas de tempo, de forma que, pela integração de vários fatores, surgiria o fato final. (CEI. Reta Final.2017 – Rodada 2). 
QUESTÕES DE PROVA DO MPF:
CEI – MPF PROVA ORAL. 1. A Constituição Federal exige que normas gerais tributárias sejam previstas em Lei Complementar e, em relação aos impostos discriminados na Constituição Federal, por Lei Complementar devem ser definidos o fato gerador, base de cálculo e contribuintes. Não existe norma geral da União disciplinando fato gerador, base de cálculo e contribuintes do IPVA. Segundo STF, mesmo sem essa norma geral, é constitucional a cobrança do IPVA? Fundamente.
Resposta: É constitucional, já que, devido à ausência de norma geral editada pela União, cabe ao Estado o exercício da competência legislativa plena (art. 24, §3º, da CF).
CEI – MPF PROVA ORAL. 2. Matéria relacionada à prescrição e à decadência, em direito tributário, pode ser regulamentada por lei ordinária?
Resposta: Não (artigo 146, III, b, da CF/88). No caso, relevante a referência à Súmula vinculante 8: ”São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam da prescrição e decadência do crédito tributário.”
CEI – MPF PROVA ORAL. 3. Segundo STF, uma lei formalmente complementar, mas materialmente ordinária, pode ser modificada por lei ordinária? Exemplifique.
Sim é possível. Segundo STF, não há hierarquia entre LC e LO, mas apenas “distribuição material entre as espécies legais”. Ex: a revogação pelo art. 56 da Lei 9.430/96 da isenção concedida pelo art. 6º, II, da LC 70/91. PRECEDENTE DA REPERCUSSÃO GERAL NO RE Nº 377457: Contribuição social sobre o faturamento - COFINS (CF, art. 195, I). 2. Revogação pelo art. 56 da Lei 9.430/96 da isenção concedida às sociedades civis de profissão regulamentada pelo art. 6º, II, da LC 70/91. Legitimidade. 3. Inexistência de relação hierárquica entre LO e LC. Questão exclusivamente constitucional, relacionada à distribuição material entre as espécies legais. 4. A LC 70/91 é apenas formalmente complementar, mas materialmente ordinária, com relação aos dispositivos concernentes à contribuição social por ela instituída. ADC 1. (AI 702533 AgR).
18A. Norma Tributária: Interpretação e Integração. Tratados e Convenções Internacionais e Legislação Interna 
Filipe Valente – março/2023
INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA (ARTIGOS 107 A 112, DO CTN):
A expressão “legislação tributária” aglutina: (1) fontes formais primárias (leis, em sentido amplo, os tratados e convenções internacionais e os decretos) e (2) as fontes formais secundárias (normas complementares). 
Classificações da interpretação: 
1) QUANTO À FONTE DA LEI: I) interpretação autêntica ou legal: é o mecanismo de interpretação da lei por intermédio de outra lei (registre a crítica de CARRAZA no sentido de que lei interpretativa elaborada pelo Legislativo é inconstitucional,visto tratar-se de “desvio de poder” no exercício da função legislativa); II) interpretação jurisprudencial ou judicial: calcada no posicionamento reiterado dos tribunais; III) interpretação doutrinária: baseia-se nas conclusões dos estudiosos da disciplina jurídica;
2) QUANTO AOS MEIOS EMPREGADOS: I) gramatical: pauta-se na interpretação conforme o texto; II) LÓGICA: funda-se na interpretação conforme o contexto, analisando, de modo extrínseco, o que se quis dizer, e não o que está dito; III) HISTÓRICA: é o mecanismo de detecção das circunstâncias eventuais e contingentes que motivaram a edição da lei, sua razão de nascer e de ser; IV) TELEOLÓGICA: trata-se de processo investigativo que prima pela busca da finalidade da norma; V) SISTEMÁTICA: procede-se à comparação da lei interpretada com outras leis e com o ordenamento jurídico, como um todo; VI) EVOLUTIVA: método próprio para exegese das normas constitucionais, sendo que sua definição liga-se à sistemática informal da reforma do texto constitucional, “atribuição de novos conteúdos (..) sem modificação de seu teor literal” (BARROSO, Luís Roberto).
3) QUANTO AOS RESULTADOS: I) DECLARATIVA: procura-se tão somente declarar o pensamento do legislador; II) EXTENSIVA (AMPLIATIVA): conhecida como interpretação ampliativa, onde se busca ampliar o sentido do texto para abranger hipóteses semelhantes; III) RESTRITIVA (LITERAL): Contrapõe-se à extensiva. A incidência da lei, por esse método, não poderá ir além da fórmula ou hipótese expressa em seu texto, sendo afastados os critérios de integração previstos no artigo 108, do CTN (ex: analogia). Vide artigo 111, do CTN.
	UTILIZAÇÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PRIVADO: 
	CTN, art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários. Vide aprofundamentos no tópico 14.b.
	INTERPRETAÇÃO ECONÔMICA: 
	Admitida por alguns juristas no Brasil (ex: HUGO DE BRITO MACHADO), influenciados por doutrinadores alemães. Deve o intérprete considerar, acima de tudo, os efeitos econômicos dos fatos disciplinados pelas normas em questão. 
	
	INTERPRETAÇÃO LITERAL: 
	O artigo 111, do CTN busca mitigar as demais formas de interpretação. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre: I – suspensão (ex: moratória, parcelamento) ou exclusão (ex: anistia ou isenção) do crédito tributário; II - outorga de isenção; III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias (ex: dispensa a escrituração de livros). Segundo o STJ, a finalidade do artigo 111 não é impor apenas a interpretação literal (a rigor impossível), mas evitar a interpretação extensiva. Com base nesse art. 111 o STF decidiu que “Não é possível estender, pela via judicial, a isenção do imposto de renda prevista para pessoas com neoplasia maligna ou outras doenças graves aos trabalhadores em atividade” (ADI 6025 – Info. 983).
	INTERPRETAÇÃO BENIGNA: 
	Prevista no artigo 112 do CTN – seria um preceito tipicamente penal (in dubio pro reo), que se pauta na “presunção de inocência”. Portanto, na eventualidade de os textos legais não serem claros e incontroversos, o aplicador (fiscal ou juiz) deve preferir a posição mais favorável ao contribuinte.
INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA: 
	A integração se situa dentro da interpretação. É a segunda fase do processo interpretativo. Havendo lacuna, exercitará as formas previstas de integração. 1) HIERARQUIA: O artigo 108 do CTN, impões uma ordem na utilização dos meios integrativos: 1º) Analogia; 2º) Princípios Gerais de Direito Tributário; 3º) Princípios Gerais de Direito Público; 4º) Equidade. - Pela produção acadêmica do Examinador, verifica-se que tem grande predisposição por empregar os princípios como normas jurídicas de aplicação primária. 
	ESPÉCIES:
I) ANALOGIA: somente é possível “in favorem” no campo do direito tributário. Inexistindo regra específica para o caso, será aplicada a regra expressa de caso análogo. Não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei. SABBAG entende que penalidades não podem ser imposta em virtude de analogia (reserva legal - art. 97, V, do CTN); 
II) PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO TRIBUTÁRIO: subsidiários à analogia, poderão ser utilizados imediata e sucessivamente. Irradiam pelo subsistema das normas tributárias (ex: legalidade, anterioridade tributária, irretroatividade tributária, liberdade ao tráfego de pessoas e bens, proibição de confisco); 
III) PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO PÚBLICO: são máximas que se alojam na Constituição: a Constituição, quando quer os fins, concede igualmente os meios; Alguns princípios utilizados: ampla defesa, contraditório, moralidade administrativa, presunção de inocência e etc.; 
IV) EQUIDADE: é a mitigação do rigor da lei, seu abrandamento com o fito de adequá-la ao caso concreto, humanizando-se a aplicação da norma. Segundo AMARO, ela corrige as injustiças que a aplicação rigorosa e inflexível da lei escrita poderia levar. O emprego da equidade, no entanto, não pode resultar na dispensa do pagamento de tributo devido.
TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS E LEGISLAÇÃO INTERNA: 
	O primado dos tratados internacionais sobre a lei interna (artigo 98, do CTN): i) segundo o art. 98 do CTN: os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha. II) o sistema de prevalência e o sistema paritário: A concorrência entre tratados e leis internas pode ser resolvida de duas maneiras (MAZZUOLI): a) dando-se prevalência aos tratados; b) ou garantindo-se aos tratados apenas tratamento paritário, tomando como paradigma leis nacionais e outros diplomas de grau equivalente, ou seja, havendo conflito entre tratado e lei interna, a solução seria encontrada no critério cronológico; III) A evolução na compreensão do artigo 98 e a adesão ao princípio da especialidade (coexistência pacífica de normas + planos eficaciais distintos): Na origem, pretendeu-se dar uma prevalência aos tratados sobre a lei interna. Com o tempo, formou-se na doutrina o entendimento de que o tratado seria uma lei especial x lei interna (geral), sendo que a forma verbal “revogado” poderia ser mais bem interpretada por “modificada” ou “suspensa”, a fim de se ter um convívio harmônico. O conflito entre lei interna e tratado resolve-se a favor da norma especial (tratado), visto que possui um caráter específico. Assim, o ato internacional valerá com primazia, mas não se trata de “revogação” da legislação interna. 
ENTENDIMENTO DO STF SOBRE O TEMA: a) o artigo 98, do CTN, não versa sobre procedência hierárquico-normativa do tratado internacional em relação ao direito positivo interno, mas sobre a consagração do Princípio da Especialidade; b) os tratados internacionais comuns (à exceção dos TIDH) incorporam-se ao direito interno com o mesmo status das leis ordinárias (relação de paridade normativa – há mais de 20 anos o STF adota o sistema paritário); c) se uma lei interna de caráter meramente ordinário, posterior a um tratado comum, já internalizado, for com este incompatível, o tratado deixará de ser aplicado, prevalecendo a lei interna. Assim, o STF não admite que a lei ordinária superveniente seja considerada nula, ilegítima ou inaplicável naquilo que for incompatível com o tratado; No “Caso Volvo” - RE 460.320, o STF teve um empate sobre a prevalência ou não dos tratado sobre a legislação interna. 
O STF e STJ têm se manifestado pela isenção de imposto (ICMS) nos casos de mercadorias importadas de países signatários do GATT que concedem idêntico tratamento ao similar nacional: STJ, súmula 20: STJ, súmula 71; STF, súmula n. 575: À mercadoria importada de país signatário do GATT, ou membro da ALALC, estende-se a isenção do imposto sobre circulação de mercadorias concedida a similar nacional.
QUESTÕES:
1) CEI – MPF PROVA ORAL. 1. Segundo STJ, normas que outorgam isenção podem ser interpretadas de forma extensiva? Resposta:Sim. A interpretação literal não veda a interpretação extensiva só a interpretação analógica (vide REsp 1013060/RJ)
2) CEI – MPF PROVA ORAL. 2. Quais são os casos em que o CTN exige interpretação literal? Resposta: a) Suspensão ou exclusão do crédito tributário; b) outorga de isenção; c)dispensa de cumprimento de obrigação tributária acessória.
3) CEI – MPF PROVA ORAL. 3. Mesmo em caso de ausência de dúvida interpretativa, as normas tributárias que definem infrações devem ser interpretadas da maneira mais favorável ao acusado? Resposta: Não. Só quando houve dúvida. Segundo o STJ, não havendo divergência acerca da interpretação da lei tributária, o art. 112 do CTN não pode ser aplicado.
4) CEI – MPF PROVA ORAL. 4. Devido à unidade do direito, pode-se afirmar que a lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado? Resposta: Afirmação errada. Só não se pode alterar os conceitos de direito privado que foram utilizados pela Constituição para definição de competência tributária (artigo 110 do CTN) – para evitar uma ampliação indevida da competência tributária fixada na Constituição. Ressalvada essa hipótese, os conceitos de direito privado podem ser alterados pela lei tributária.
5) CEI – MPF PROVA ORAL. 5. Analogia pode resultar na exigência de tributo não previsto em lei:  Resposta: Não. (artigo 108, §1º, do CTN)
6) CEI – MPF PROVA ORAL. 6. O emprego da equidade pode resulta na dispensa do pagamento do tributo devido? Resposta: Não (artigo 108, §2º, do CTN).
18B. Tributação Internacional. Acordos para evitar a Dupla Tributação.
Lílian Farias de Queiroz Pierre – 03/2023 (revisão)
Artigo consultado: Uso de tratados sobre dupla tributação no 
planejamento tributário internaiconal: treaty shopping, Rhauá Hulek Linário Leal.
Ocorre a dupla tributação internacional quando, em razão de um mesmo fato gerador ocorrido em um determinado período de tempo, o contribuinte fica sujeito simultaneamente à soberania fiscal de dois Estados diferentes, o que lhe obriga ao duplo recolhimento de tributo (sem o correspondente aumento de sua capacidade contributiva).
A doutrina, em geral, ressalta quatro pressupostos para identificação da bitributação internacional (regra das quatro identidades): a) identidade de imposto (o mais adequado seria falar em similaridade e não em identidade); b) identidade de objeto; c) identidade de sujeito; e d) identidade do período tributário.
De fato, o problema exsurge quando os países adotam estruturas diversas no que concerne à tributação de rendimentos. E isso ocorre sobre duas formas de estruturas: a baseada no princípio da universalidade e a baseada no princípio da territorialidade.
Pelo princípio da territorialidade, o Estado tributa a renda produzida no seu território, independente da nacionalidade ou do enquadramento como residente. Pelo da universalidade, tributa-se a renda mundial do residente ou nacional do país, a depender do critério que se adote.
A partir de 1995, a incidência do Imposto de Renda passou a alcançar sujeitos passivos localizados no exterior (coligadas, controladas, filiais etc.), desde que domiciliados no Brasil (estabelecidos).
Segundo os princípios da justiça fiscal e da capacidade contributiva, a bitributação internacional é muito criticada, além de apresentar um obstáculo às relações internacionais do comércio e da cultura, interferindo no movimento de capitais e pessoas, prejudicando as transferências de tecnologia e intercâmbios de bens e serviços.
Tão importante quanto às consequências já apontadas, destaca-se a consequência natural da bitributação internacional: a elisão e sonegação fiscal internacional. É inegável que, diante de elevada carga tributária, muitos se valerão da condição de empresas transnacionais para a prática de elisão e de sonegação fiscal.
Com vistas a solucionar ou minorar os efeitos da dupla ou múltipla tributação internacional, à disposição dos Estados encontram-se medidas unilaterais ou soluções bilaterais (ou plurilaterais) – assinatura de tratados e convenções internacionais. 
No primeiro caso, as medidas são ordinariamente tomadas por aqueles Estados que adotam o princípio da universalidade, mediante leis nacionais com elementos capazes de atenuar os efeitos da bitributação internacional, como medidas de concessão de isenção, a aplicação do método da imputação, da redução da alíquota ou o da dedução na base de cálculo dos valores pagos no exterior a título de tributos.
Em razão da insuficiência unilateral, os tratados e as convenções bilaterais constituem, hodiernamente, a solução mais aplicada. Nesta perspectiva, por meio de tratados e de convenções internacionais, podem os Estados contratantes delimitar suas respectivas competências tributárias, enquanto Estados da fonte produtora dos rendimentos ou Estados da residência (da matriz). Logo, poderão limitar sua soberania tributária.
Foram desenvolvidos diferentes tipos de modelos de tratados sobre dupla tributação destinados a serem bases para negociações bilaterais destinadas a evitar a dupla tributação internacional e guiar a interpretação desses acordos. Podem ser citados os seguintes modelos: da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e dos Estados Unidos da América, por exemplo. O Brasil utiliza o modelo da OCDE.
Os tratados para evitar a dupla tributação procuram estabelecer regras de exclusividades e renúncias ou obrigação de eliminar ou amenizar a dupla tributação, através do emprego de diferentes métodos. Estabelece-se que certos rendimentos serão exclusivamente tributados por apenas um dos contratantes, renunciando o outro. Ou convenciona-se que determinados tipos de renda podem ser tributados por todos os Estados-partes, restando a um deles a incumbência de eliminar ou atenuar a dupla tributação. Esse abrandamento ou abolição podem se dar, dentre outros, pelos métodos da isenção ou da imputação, que são adotados pelos modelos da Organização das Nações Unidas e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
No método da isenção, as rendas da fonte estrangeira são isentas, o que implica admitir que somente o outro Estado-parte tribute tais rendas. No segundo método – o da imputação –, tributa-se a renda do residente, atribuindo-se um crédito, limitado ou não, pelo imposto pago no Estado da fonte.
Casuística STJ:
A jurisprudência do STJ orienta que as disposições dos Tratados Internacionais Tributários prevalecem sobre as normas de Direito Interno, em razão da sua especificidade. Inteligência do art. 98 do CTN. Precedente: (RESP 1.161.467-RS, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJe 01.06.2012).
REsp 1216610/RJ: Para haver uma dupla tributação internacional é indispensável que ocorra a identidade do elemento material do fato gerador. No presente caso, o típico fato gerador da CPMF é o lançamento a débito, por instituição financeira, em contas correntes de titularidade do contribuinte. Sendo assim, a tributação pela CPMF não se trata de tributação sobre a aquisição de lucro ou renda (tributação abrangida pelo acordo), mas sim tributação sobre a circulação, no caso, circulação escritural ou física de valores (tributação não abrangida pelo acordo). Desse modo, não tributando diretamente a renda, mas a movimentação em si, há diversos fatos geradores (elementos materiais diferentes), descabendo falar em bitributação ou dupla tributação internacional quando há a incidência do Imposto de Renda (Alemão), cujo fato gerador é a aquisição de renda, situação que, inclusive, ocorre em momento anterior ao envio do valor para o país de bandeira (no caso, Alemanha), muito embora possa ser tributada apenas posteriormente.
REsp 1325709/RJ, 2014: art. VII do Modelo de Acordo Tributário sobre a Renda e o Capital da OCDE utilizado pela maioria dos Países ocidentais, inclusive pelo Brasil (ex.: nos tratados com Bélgica e Luxemburgo) disciplina que os lucros de uma empresa de um Estado contratante só são tributáveis nesse mesmo Estado, a não ser que a empresaexerça sua atividade no outro Estado Contratante, por meio de um estabelecimento permanente ali situado (dependência, sucursal ou filial); ademais, impõe a Convenção de Viena que uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado (art. 27), em reverência ao princípio basilar da boa-fé.
NÃO BITRIBUTAÇÃO. IR. DIVIDENDOS. REMESSA AO EXTERIOR. A Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, entendeu que, pelo princípio da não-discriminação tributária previsto nas convenções internacionais e sua aplicação a partir do acordo existente entre Brasil e Suécia, não se aplica a dupla tributação de imposto de renda retido na fonte, bem como o recolhimento feito sobre dividendos enviados a sócio residente na Suécia (art. 98 do CTN; art. 2º da Lei n. 4.131/1962; art. 172 da CF/1988; art. 3º do GATT). REsp 426.945-PR, Rel. originário Min. Teori Albino Zavascki, Rel. para acórdão Min. José Delgado, julgado em 22/6/2004.
19A. Norma tributária: natureza, espécies, vigência e aplicação.
Filipe Valente - Legislação básica: art. 96 a 106 do CTN. Ver pontos 7.a. e 18.a.
Natureza. Todo ato normativo que verse sobre matéria tributária integra a denominada “legislação tributária”. Legislação tributária compreende todas as normas gerais e abstratas integrantes do ordenamento jurídico nacional que versem sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes. 
Espécies. Integram a legislação tributária desde a Constituição Federal até o mais subalternos dos atos normativos. Pelo art. 96 do CTN a expressão “legislação tributária” compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que constam, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes. Alguns assuntos somente podem ser estabelecidos por lei em sentido estrito, conforme art. 97 do CTN:  I - a instituição de tributos, ou a sua extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução; III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal; IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo; V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades. Havendo exceções ao princípio da legalidade que são estudadas no subtópico próprio.
Validade, vigência e eficácia. A lei que completou todo o seu ciclo de formação presume-se válida. A validade, portanto, está presente quando o processo de produção e formação da lei houver observado as diretrizes e os requisitos procedimentais previstos na CF (aspecto formal) e seu conteúdo não violar a CF (aspecto material). Para que a lei publicada efetivamente obrigue seus destinatários, é necessário que esteja em vigor. A norma vigente tem, em regra, total aptidão para produzir, em maior ou menor grau, efeitos jurídicos. A regra é que a norma vigente seja eficaz, porém isto nem sempre acontece. Ex: princípio da anterioridade, que proíbe aos entes federados cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Tal princípio não proíbe a vigência da lei que institui ou majora tributo no mesmo exercício de sua publicação, mas tão somente adia para o exercício subsequente a produção de efeitos (eficácia) dessa norma. Não se trata, aqui, de vacatio legis, pois nesse caso o descolamento ocorre entre vigência e eficácia e não entre publicação e vigência. Percebe-se, portanto, que a lei pode estar em vigor sem estar plenamente apta a produzir efeitos (vigente, mas não eficaz), mas jamais poderá produzir efeitos jurídicos sem estar em vigor.
Vigência da legislação tributária no CTN.  O CTN trata da vigência da legislação tributária em dois âmbitos, o espacial e o temporal. Vejamos as regras específicas. 
Vigência espacial. Regula o âmbito territorial em que a legislação tributária vigora. A regra fundamental aqui é a da territorialidade: normas expedidas por um ente federado só têm vigência dentro do seu respectivo território.  Comporta as exceções previstas no art. 102 do CTN: “A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios vigora, no País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios de que participem, ou do que disponham esta ou outras leis de normas gerais expedidas pela União.”; Exemplo: criação de novo ente político por desmembramento - a legislação tributária do antigo entre se aplicará até que entre em vigor a sua própria. 
Vigência temporal. Após a publicação da lei, segue-se a sua vigência, pode ser imediata ou após vacatio legis. O CTN possui regras diferenciadas de vigência prevista no art. 103 do CTN: a) os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas - na data da sua publicação; b) as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribuir eficácia normativa - 30 dias após a data da sua publicação; c) os convênios que entre si celebrarem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios entrarão em vigor - na data neles prevista.
O art. 104 do CTN e o princípio da anterioridade: Este impede que se cobrem tributos no mesmo exercício em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Trata-se de regra relativa à produção de efeitos, não disciplinando a vigência. O artigo 104 lida com vigência, enquanto o princípio da anterioridade é relacionado à eficácia. Veja-se o art. 104: “Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda (...). Para alguns, o CTN estaria disciplinando, de maneira atécnica, o instituto da anterioridade. Para outros, o dispositivo traz uma nova garantia referente à vigência. O melhor entendimento, contudo, é o que afirmar que os incisos I e II do art. 104 não foram recepcionados pela CF de 88, porém até aqui convivem de forma harmônica com a CF/88. 
Quanto ao inciso III, se a lei concede isenção, pode entrar em vigor imediatamente, pois trará surpresa positiva para o contribuinte. Se a lei revoga isenção devemos lembrar o art. 178 do CTN: “A isenção concedida por prazo certo e em função de determinadas condições”. O STF passou a entender que a anterioridade também se aplica para os casos de revogação de isenção ou benefícios tributários, pois gera indiretamente a majoração de tributos – Caso do REINTEGRA (STF. 1ª Turma. RE 1253706 19/5/2020 - Info 978). 
Aplicação da legislação tributária. O art. 105 do CTN trata do princípio da irretroatividade: “A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início, mas não esteja completa nos termos do artigo 116.”. Aqui é relevante a classificação dos fatos geradores dos tributos, que os divide em: fatos instantâneos: ocorrem em determinado momento no tempo (ex.: imposto de importação); fatos periódicos: aqueles fatos geradores definidos com base em situações que se protraem no tempo, que se completam num período de formação legalmente determinado (ex.: imposto de renda). Se dividem em simples e compostos (ou complexivos). Os simples tomam por base um único evento que se prolonga no tempo (Ex: IPTU e IPVA). Os compostos são fatos geradores compostos de diversos eventos que devem ser considerados de maneira global, dentro de um determinado período de tempo legalmente definido (Ex: IR e CSLL). 
Exceções legais ao princípio da irretroatividade: O art. 106 do CTN prevês retroatividade da norma, desde que não relacionadas à majoração ou instituição de tributo: A lei aplica-se ao ato ou fato pretérito quando: for expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados: a lei deve ser de fato interpretativa e não apenas anunciar que é interpretativa, mas seuconteúdo ser normativo (STJ - EREsp 644.736 - O art. 3º da LC 118/2005, a pretexto de interpretar os arts. 150, §1º, 168, I, do CTN, conferiu-lhes, na verdade, um sentido e um alcance diferente daquele dado pelo Judiciário - Portanto, o art. 3º da LC 118/2005 só pode ter eficácia prospectiva, incidindo apenas sobre situações que venham a ocorrer a partir da sua vigência).
A lei mais benéfica acerca das infrações e penalidades: Retroage, mas não alcança os atos definitivamente julgados, conforme inciso II do art. 106 do CTN:  “II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.”. Mesmo encerrada a esfera administrativa, enquanto não realizada a arrematação, adjudicação ou remição em execução, ainda não há julgamento definitivo, sendo possível a aplicação de nova legislação mais benigna (REsp 183.994/SP do STJ). Atente-se para o fato de que as três alíneas do art. 106, II, tratam exclusivamente de infrações e suas respectivas punições, de forma que não haverá retroatividade de lei que verse sobre tributo, seja a lei melhor ou pior.
6. OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA 
1B. Obrigação Tributária: Conceito, Espécies.
Filipe Valente – março/2023
A obrigação tributária pode ser dividida em duas espécies: 1) principal; 2) acessória. 
A obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária (necessariamente estará prevista em lei em sentido estrito). Ou seja, consiste no dever de pagar, seja tributo, seja penalidade. 
A obrigação acessória  acessória decorre da legislação tributária (ou seja, não está vinculada à legalidade estrita - inclui decretos, instruções normativas ou portarias) e tem por objeto prestações, positivas ou negativas, no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. A obrigação acessória se inobservada, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária (contudo, a multa tributária não é tributo, mas a obrigação de pagá-la tem natureza tributária).
Segundo Hugo de Brito Machado, poderíamos conceituar obrigação tributária como “a relação jurídica em virtude da qual o particular (sujeito passivo) tem o dever de prestar dinheiro ao Estado (sujeito ativo), ou de fazer, não tolerar ou tolerar algo no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos Tributos, e o Estado tem o direito de constituir contra o particular um crédito.”
Não há qualquer correlação, como a existente no direito civil, entre a obrigação principal e acessória no direito tributário - A denominada obrigação acessória, segundo muitos doutrinadores, trata-se de um equívoco, já que não segue a sorte da principal nem dela é dependente - há obrigações acessórias que são independentes, como é o caso do previsto no art. 14, III, do CTN, para o qual as entidades de assistência social sem fins lucrativos deverão respeitar obrigações instrumentais para gozar de imunidade tributária.. 
A obrigação principal é sempre patrimonial e equivale à obrigação de dar do direito privado: no caso, dar dinheiro. A obrigação acessória é sempre não patrimonial e constitui uma obrigação de fazer, como por exemplo, emitir nota fiscal, não fazer ou tolerar.
É possível a incidência de tributação sobre valores arrecadados ilicitamente, o que faz emergir a obrigação tributária conforme já teve a oportunidade de decidir o STF, ao abordar o princípio do “non olet”, previsto no art. 118, do Código Tributário Nacional.
Para alguns autores, como Sasha Calmon, não existem obrigações acessórias nesse ramo do direito; trata-se apenas de obrigações de fazer ou não fazer trazidas pela lei, como em qualquer outro ramo do direito. Paulo de Barros Carvalho entende que não são nem mesmo obrigações em sua definição literal, quiçá obrigação acessória. Muitos doutrinadores preferem a denominar de dever instrumental.
O dever do sujeito passivo, ou seja, a obrigação tributária, nasce em virtude da prática de um fato gerador. Isso significa dizer que o nascimento da obrigação tributária independe da vontade do sujeito passivo: a obrigação tributária é ex lege. 
Conforme aponta Hugo de Brito Machado, podemos simplificar definindo obrigação tributária como correspondendo à obrigação ilíquida do direito civil; crédito tributário corresponderia à aludida obrigação já liquidada. O lançamento poderia ser comparado ao processo de liquidação. Para ele: “É sabido que obrigação e crédito, no Direito privado, são dois aspectos da mesma relação. Não é assim, porém, no Direito Tributário brasileiro. O CTN distinguiu a obrigação (art. 113) do crédito (art. 139). A obrigação é um primeiro momento na relação tributária. Seu conteúdo não é ainda determinado e o seu sujeito passivo ainda não está formalmente identificado. Por isso mesmo a prestação respectiva ainda não é exigível. Já o crédito tributário é um segundo momento na relação de tributação. No dizer do CTN, ele decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta (art. 139). Surge com o lançamento, que confere à relação tributária liquidez e certeza.”
PALAVRAS-CHAVE: Obrigação principal e acessória. Diferenciação para o direito civil. Dever instrumental. Lei e legislação tributária.
JURISPRUDÊNCIA: Estados-membros, mesmo gozando de imunidade tributária recíproca, devem cumprir as obrigações tributárias acessórias - A imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da Constituição) impede que os entes públicos criem uns para os outros obrigações relacionadas à cobrança de impostos, mas não veda a imposição de obrigações acessórias. STF. Plenário. ACO 1098, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Info 980).
A apresentação anual de relatório circunstanciado das atividades exercidas por entidades beneficentes de assistência social ao INSS, prevista na segunda parte do art. 55 da Lei 8.212/91, não configurava requisito legal válido para a fruição da imunidade tributária prevista no art. 195, § 7º, da CF/88.  A segunda parte do inciso V do art. 55 da Lei 8.212/91 não era requisito legal para a fruição da imunidade, mas sim uma mera obrigação acessória com o fim de permitir a fiscalização do cumprimento da obrigação principal de aplicação integral dos recursos da entidade beneficente nos objetivos institucionais (art. 14, II, do CTN).  STJ. 1ª Turma. REsp 1345462-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 7/12/17 (Info 619). 
QUESTÕES
	CEI – MPF PROVA ORAL. 1. Defina obrigação tributária principal e obrigação tributária acessória.
Resposta objetiva: Obrigação tributária principal é a obrigação tributária de dar dinheiro, inclusive opagamento de multa (que, como cediço, não é tributo, mas a obrigação de pagar a multa é obrigação tributária principal). Obrigação tributária acessória tem por objeto as prestações, positivas ou negativas,previstas no interesse da arrecadação ou fiscalização dos tributos (artigo 113, §2º, do CTN).
	CEI – MPF PROVA ORAL. 2. Pode-se falar em obrigação tributária acessória sem existir obrigação tributária principal?
Resposta objetiva: Sim. Exemplo: artigo 14, III, do CTN. A obrigação de escriturar os livros (acessória) das entidades de assistência social sem fins lucrativos não corresponde a uma obrigação tributária principal no que se refere aos impostos sobre patrimônio, bens e serviços (artigo 150, VI, c).
	CEI – MPF PROVA ORAL. 3. Indique uma hipótese em que uma entidade imune pode ser sujeito de obrigação tributária principal.
Resposta objetiva: Descumprimento de obrigação acessória. Incidência de multa. Entidade passa a ser sujeito passivo de obrigação principal. (artigo 113, §3º, do CTN).
	CEI – MPF PROVA ORAL. 4. Sujeito passivo da obrigação tributária: diferencie contribuinte e responsável tributário. Resposta objetiva: contribuinte – sujeito passivo que possui relação diretae pessoal com o fato gerador;Responsável tributário - NÃO possui relação direta e pessoal com o fato gerador.
	CPR 27. Oral. Eduardo Gonçalves. Como nasce a obrigação tributária?
A principal, em homenagem ao postulado da igualdade, nasce da lei. Já as acessórias e instrumentais podem ser criadas por outros atos diversos da lei.
Mas o que faz nascer a obrigação? Nasce com o fato gerador, que é a concretização da hipótese de incidência.
Pode ser principal ou acessória também. É, conforme a natureza seja pecuniária ou não.
Qual o fato gerador do II? É o desembaraço aduaneiro.
Caso: uma empresa importa certo produto e faz na sua programação o valor desse tributo, adquirindo a mercadoria do exterior. Nesse ínterim, entre o embarque e a chegada ao Brasil, o governo aumento a alíquota. A que regime se submete essa operação?
Ao da legislação vigente no momento do desembaraço aduaneiro.
E se a mercadoria entrou no Brasil e ficou no porto de Santos, ocorrendo o desembaraço só 3 meses depois? Qual legislação se aplica?
A primeira legislação, senão o Estado geraria uma insegurança jurídica por sua própria desídia.
Concordo. O contribuinte não pode pagar pela desídia do Estado.
2B. Fato Gerador: Definição, Hipótese de Incidência e Critérios Material, Temporal, Espacial, Pessoal e Quantitativo.
Elaborado por Fernando Brandão para prova oral do 30º CPR 19/03/2023
1. Fato Gerador e hipótese de incidência
Hipótese de incidência (HI): é a descrição, por uma norma geral e abstrata, de um determinado comportamento ou estado, cuja realização concreta faz nascer a relação jurídica de direito tributário, a obrigação tributária (OT).
Fato gerador (FG): o termo tem sido utilizado em duas acepções distintas: a primeira como sinônimo de hipótese de incidência (é o antecedente da regra-matriz de incidência); numa segunda acepção é a própria realização concreta daquele comportamento previsto na norma tributária – é a materialização da hipótese de incidência. 
O CTN utiliza o termo fato gerador da obrigação principal para qualificar a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência (art. 114, CTN), quando se aproxima do conceito de hipótese de incidência. O termo também é utilizado pelo próprio CTN na segunda acepção acima mencionada, quando, em seu art. 113, § 1º, afirma que “a obrigação principal surge com o fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente”. 
Como forma de diferenciar, Geraldo Ataliba denomina de “hipótese de incidência” a descrição abstrata prevista na lei e de “fato imponível” a sua realização concreta.
 	Fato gerador da obrigação acessória: situação que, na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal (art. 115, CTN). Diferentemente da obrigação principal, que prevê uma obrigação de dar, a obrigação acessória se perfaz numa obrigação de fazer ou não fazer. 
HI (norma geral e abstrata) → FG (materialização da HI) → OT (obrigação tributária – relação jurídica entre credor e devedor tributário → Crédito Tributário (constituído, em regra, por meio do lançamento tributário) → Dívida Ativa (art. 201 do CTN) → Execução Fiscal
Conforme art. 116 do CTN considera-se ocorrido o fato gerador e existentes seus efeitos quando:
a) situação de fato: desde o momento em que se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza efeitos que normalmente lhe são próprios (ex. circulação de mercadorias);
b) situação jurídica: desde o momento em que esteja definitivamente constituída, nos termos do direito aplicável (ex. ITCMD) 
Atentar para a regra do art. 118 do CTN segundo a qual a definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se a validade jurídica dos atos efetivamente praticados por contribuintes, responsáveis ou terceiros, bem como a natureza do seu objeto e dos seus efeitos ou dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos. Esse dispositivo tem sido interpretado como uma concretização do princípio da interpretação objetiva do fato gerador segundo o qual se deve desconsiderar o caráter ilícito da conduta praticada pelo contribuinte (pecúnia non olet).
2. Critérios MATERIAL, ESPACIAL, TEMPORAL, PESSOAL E QUANTITATIVO (tópico atualizado com base na doutrina de Paulo de Barros Carvalho)
O autor parte do pressuposto de que na regra-matriz de incidência, por ele denominada de enunciado hipotético, é possível encontrar três critérios identificadores do fato gerador.
Critério material: descrição do cerne da hipótese de incidência – é o comportamento da pessoa representado pelo verbo e seu complemento. Ex. ser proprietário, auferir renda, etc. 
Critério temporal: momento em que ocorre o fato gerador, podendo ser classificados em instantâneos (imposto de importação – cada operação faz surgir uma obrigação, se esgotando em determinada unidade de tempo), complexivos ou periódicos (IRPF – formação ocorre ao longo de um espaço de tempo – unidades sucessivas de tempo que faz surgir o fato final) e continuados (IPTU – é aquele que descreve uma conduta que revela um estado de permanência – ser proprietário de imóvel urbano).
Critério espacial: local em que ocorre o fato gerador, podendo ser em local determinado para ocorrência do fato (repartições alfandegárias para II e IR), em áreas específicas (limites urbanos do Município para IPTU e ITR) ou ainda no âmbito da vigência territorial da lei (pode ocorrer em qualquer parte do território nacional, para os demais) 
Os três critérios somados formam o antecedente da regra-padrão (ou regra-matriz) da incidência fiscal, dando origem à relação jurídico-tributária (consequente). 
Conforme o autor, o consequente da regra-matriz fornece critérios para identificação desse vínculo jurídico que nasce, facultando-nos saber quem é o sujeito portador do direito subjetivo (critério pessoal); a quem foi cometido o dever jurídico de cumprir a prestação (critério pessoal); e seu objeto: o comportamento que a ordem jurídica espera do sujeito passivo (critério quantitativo). 
Em resumo:
	Critério pessoal: sujeitos ativo e passivo;
	Critério quantitativo: base de cálculo e alíquota.
	Antecedente: constitui a HI; e
	Consequente: constitui a relação jurídico-tributária.
Visualmente:
							Critério material (o que?)
	Regra-matriz	Antecedente			Critério temporal (quando?)
	de		(hipótese de incidência)		Critério espacial (onde?)
	incidência
	do tributo	Consequente			Critério pessoal (quem?)
			(relação jurídica-tributária)	Critério quantitativo (quanto?)
Assim, a hipótese de incidência (HI) prevê, antecipada e abstratamente, o que será tributado, quando e onde (critérios material, temporal e espacial). Ocorrida essa hipótese no mundo real, ou seja, ocorrido o fato gerador (FG), determina-se consequentemente quem irá pagar, a quem irá pagar e quanto (critérios pessoal e quantitativo). 
Exemplo: IPTU
Critério material: 	ser proprietário de imóvel
Critério temporal: 	no dia 1° de janeiro de cada exercício
Critério espacial: 	na zona urbana do município X
Critério pessoal: 	Suj. ativo – município X
			Suj. passivo – proprietário (contribuinte); responsável (não há)
			 (num caso específico, responsável poderia ser o antigo proprietário)
Critério quantitativo:	Base de cálculo – valor venal do imóvel
			Alíquota – ad valorem
2C. Sujeito Ativo e Sujeito Passivo da Obrigação Tributária. Capacidade Tributária Ativa. Solidariedade. Domicílio Tributário.
Elaborado por Fernando Brandão para prova oral do 30º CPR 13/03/2023
1. Elementos subjetivos da obrigação tributária (com base na doutrina de Ricardo Alexandre)
Falar dos elementos subjetivos da obrigação tributária é falar dos sujeitos que figuram nos polos ativo e passivo da relação jurídico-tributária, tendo a competência para exigir o seu adimplemento (sujeito ativo) ou o dever de adimplementá-la (sujeito passivo).
Competência tributária é o poder de instituir tributos, por meio da adequada espécie normativa, atribuído pela Constituição Federal à União, aos Estados,ao DF e aos Municípios. A Constituição Federal dispõe sobre os tributos da competência de cada ente federal (arts. 153, 155 e 156).
Sujeito ativo da obrigação tributária é a pessoa jurídica de direito público titular da competência para exigir o seu cumprimento (art. 119, CTN).
Sujeito passivo da obrigação tributária é a pessoa natural ou jurídica obrigada ao cumprimento da obrigação, seja ela consistente no pagamento de tributo ou penalidade pecuniária (obrigação principal) ou representada pela prestação positiva ou negativa (dar ou fazer) prevista na legislação tributária (obrigação acessória). 
	Contribuinte: pessoa, física ou jurídica, que tenha relação de natureza econômica, pessoal e direta com a situação que constitua o fato gerador.
· Contribuinte de direito: tem a obrigação legal de pagar o tributo (é o comerciante no caso do ICMS, aquele que mantém uma relação jurídico-tributária com o Estado tributante). 
· Contribuinte de fato é aquele que suporta o ônus financeiro do tributo tão somente porque lhe é repassado pelo contribuinte de direito, malgrado não participe da relação jurídica tributária. Não integra a relação econômica, mas sofre a incidência do tributo. Não tem obrigação legal de pagar o tributo, porém lhe é transferido o ônus econômico do tributo (é o caso do consumidor que adquire a mercadoria junto ao comerciante e arca com o custo do tributo embutido no preço). 
Contribuinte x Responsável Tributário (sobre o responsável, ver ponto 4b): são modalidades distintas de sujeito passivo da obrigação tributária principal (teoria dualista da obrigação tributária: dever e responsabilidade). Para diferenciá-los, deve-se responder à seguinte indagação: O sujeito passivo possui relação pessoal e direta com o fato gerador? Sendo a resposta positiva o sujeito passivo é contribuinte (sujeito passivo direto); sendo negativa é responsável (sujeito passivo indireto). Embora o responsável não possua relação pessoal e direta com o fato gerador, a responsabilidade não recai sobre pessoa absolutamente estranha ao fato, devendo necessariamente possuir um vínculo com a situação tipificada na lei como fato gerador do tributo, conforme se infere do art. 128 do CTN.
Para fixar, importante a leitura dos arts. 32 e 34 do CTN – sujeito passivo do IPTU é o contribuinte do imposto; arts. 43 e parágrafo único do art. 45 do CTN – em regra, o sujeito passivo do IRPF é o contribuinte, mas a lei pode atribuir responsabilidade à fonte pagadora a fim de facilitar a arrecadação do tributo.
Aspectos Gerais da Sujeição Passiva: a) convenções particulares, em regra, não são oponíveis à fazenda, só a lei pode excepcionar (art. 123 CTN); b) Art. 126 do CTN: a capacidade tributária passiva independe da capacidade civil da pessoa natural ou jurídica (regular constituição); c) Em regra, o pagamento, a isenção ou remissão e a interrupção da prescrição, em favor ou contra, afeta os demais devedores solidários. (Art. 125 do CTN). 
As conclusões acima podem ser extraídas dos seguintes dispositivos do CTN:
Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador;
II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei.
Art. 122. Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto.
	Sujeito passivo da obrigação tributária principal (obrigação de pagar)
	Contribuinte (sujeito passivo direito)
	
	Responsável (sujeito passivo indireto)
2. Capacidade tributária 
É a aptidão para integrar a relação jurídico-tributária no polo ativo, exigindo o tributo (capacidade tributária ativa: lançar e receber) ou no polo passivo, cumprindo a obrigação, pelo pagamento do tributo ou pela realização da prestação que constitua objeto da obrigação acessória (capacidade tributária passiva). 
Assim, o ente que detém competência pode coincidir ou não com o que tem capacidade. É possível que um tributo da competência da União ou de um Estado – qualquer deles, sujeito ativo da obrigação tributária – seja arrecadado, fiscalizado, administrado e cobrado por outra pessoa jurídica de direito público, os quais, nestas atividades, figuram como detentores de capacidade tributária ativa. É possível também que a lei, além de delegar as atividades citadas, ainda permita que aquele sobre o qual deverá recair a capacidade ativa possa apropriar-se do valor arrecadado, aplicando-o em suas próprias finalidades, fenômeno que se denomina parafiscalidade (v.g. conselhos profissionais).
No entender do STJ, a delegação da capacidade tributária ativa modifica o sujeito ativo do tributo, passando tal posição a ser ocupada pela pessoa quem houver sido delegada a atribuição (Resp 257.642-AgRg/SC). Assim, conclui-se que o sujeito ativo da obrigação tributária é o ente federado titular da competência para instituir a exação ou, nos casos de delegação da capacidade tributária ativa, a pessoa jurídica de direito público incumbida das funções de arrecadação e fiscalização do tributo e execução da legislação tributária.
Atente-se que a mera circunstância de o valor arrecadado com o tributo ser destinado a terceiro não transfere a este a posição de sujeito ativo nem a legitimidade ora estudada, tendo o STJ afirmado que os serviços sociais autônomos – pessoas jurídicas de direito privado mantidas com recursos repassados pela União com arrecadação de contribuições sociais – não podem figurar no polo passivo de ações judiciais em que se discute a repetição de indébito (conferir em ConJur - Sistema S não pode figurar em ação tributária da União, diz STJ). 
Delegação da capacidade tributária ativa à pessoa jurídica de direito privado: Essa possibilidade não encontra consenso na doutrina e jurisprudência, havendo previsão expressa no CTN acerca do tema, em seu art. 7º (A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos termos do § 3º do artigo 18 da Constituição.), no sentido de que a delegação somente pode recair sobre pessoa jurídica de direito público, sendo este o posicionamento mais seguro a nível de concurso público. 
STF RG (Tema 520): O sujeito ativo da obrigação tributária de ICMS incidente sobre mercadoria importada é o Estado-membro no qual está domiciliado ou estabelecido o destinatário legal da mercadora, com a transferência de domínio.
3. Solidariedade: 
Segundo o art. 264 do Código Civil, há solidariedade quando nas mesma obrigação concorre mais de um credor (solidariedade ativa) ou mais de um devedor (solidariedade passiva), cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. 
A rígida repartição de competências tributárias impede a existência de solidariedade ativa nesta relação jurídica. A ocorrência de solidariedade ativa, na hipótese, relacionar-se-ia com a figura da bitributação, conhecida como o exercício de competência tributária por mais de um ente, instituindo tributo, mediante a seleção de um mesma hipótese de incidência, o que, de regra, é rechaçado pelo ordenamento jurídico. 
Contudo, é possível a solidariedade passiva, quando expressamente prevista em lei. A solidariedade pode, assim, ocorrer entre contribuintes, entre responsáveis ou entre contribuinte e responsável. Na solidariedade, não há benefício de ordem entre os sujeitos passivos. Ou seja: o valor pode ser exigido de um ou de outro, indiscriminada e integralmente. Diferentemente da lei civil (art. 265), a solidariedade tributária resulta apenas da lei, não havendo solidariedade por vontade das partes.
3.1. Tipos de Solidariedade Tributária 
A partir do art. 124, é possível identificar dois tipos de solidariedade: 
Solidariedade de fato ou natural:Ocorre quando os dois devedores têm interesse comum na situação que constitui o fato gerador da obrigação principal. Esse tipo de solidariedade tem previsão no CTN (ex: dois proprietários de um mesmo bem, já que ambos realizam o fato gerador do IPTU e devem a integralidade do tributo, ainda que possuam quotas distintas e discrepantes). É necessário, portanto, que as pessoas obrigadas sejam sujeitos da relação jurídica que deu azo à tributação, sendo necessária a prática conjunta do fato gerador. STJ – Não tendo participado do fato gerador do tributo, a declaração conjunta de imposto de renda não torna o cônjuge corresponsável pela dívida tributária dos rendimentos recebidos pelo outro (ver info 662 do STJ)
Solidariedade de direito ou legal: Verifica-se nos casos em que a lei impõe a solidariedade. Não tem previsão no CTN, mas em leis tributárias específicas. Ex.: importação de bens: a transportadora é responsável solidária pela importação do produto (II, ICMS e IPI), embora não realize o fato gerador; a arrecadação das contribuições para a seguridade social é de responsabilidade solidária do proprietário, incorporador, dono da obra, condômino com o construtor, e este com a subempreiteira. 
Os efeitos da solidariedade estão previstos nos arts. 124, p. ún. e 125 do CTN: 1) ausência do benefício de ordem: esse é o efeito principal da solidariedade. Significa que a Administração pode escolher livremente de quem vai cobrar o tributo (não há uma ordem preestabelecida de cobrança); 2) o que acontece a um dos devedores, em regra, se aplica aos demais: i) o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais; ii) a isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se outorgada pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo saldo; iii) a interrupção da prescrição, em favor/contra um dos obrigados, favorece/lesa os demais.
3.2. Súmulas sobre responsabilidade tributária:
Súmula STJ-430: O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente. Aprovada em 24/03/2010.
Súmula STJ-435: Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente.
Súmula STJ-554: Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão
4. Domicílio Tributário
Em regra, a legislação tributária respeita o princípio da territorialidade e o domicílio do sujeito passivo determina qual autoridade administrativa terá atribuição para cobrar-lhe o tributo e em que ponto do território da entidade tributante tal sujeito deve ser procurado. Caso a autoridade administrativa encaminhe notificação fiscal para endereço indicado pelo contribuinte tal notificaçao será nula, caracterizando restrição ao direito de defesa (STJ).
A regra básica de domicílio é o local de eleição pelo contribuinte (art. 127, caput), sendo as demais regras do dispositivo supletivas e excepcionais. Embora a regra seja a livre escolha, pode a autoridade administrativa recusar o domicílio de eleição, caso impossibilite ou dificulte a arrecadaçao ou fiscalizaçao do tributo (art. 127, § 2º), caso em que será aplicado a regra do art. 127, I, II e III (a seguir estudadas), e, subsidiarimente, do § 1º do art. 127 (lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação).
Asssim, caso não haja eleição ou caso indicado pelo contribuinte e rejeitado pela administração o domicílio será:
I - quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua atividade;
II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais (empresários), o lugar da sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento (princípio da autonomia dos estabelecimentos);
III - quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no território da entidade tributante.
Caso não seja possível aplicar essas regras considera-se o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação (mesma regra aplicada no caso de recusa do domicílio eleito).
No caso do ITR não há liberdade de escolha do contribuinte por força do parágrafo único do art. 4º da Lei 9.393/96 (O domicílio tributário do contribuinte é o município de localização do imóvel, vedada a eleição de qualquer outro).
15A. Fato gerador. Planejamento tributário abusivo. Elisão e evasão fiscal. Erosão de bases tributárias. Sonegação. Fraude. Conluio. Propósito negocial. Dissimulação. Paraísos fiscais. Omissão de receitas. Interpretação econômica do direito tributário.
Elaborado por Fernando Brandão para prova oral do 30º CPR 19/03/2023
Fonte: Ricardo Alexandre, Direito Tributário. 
Fato gerador: Vide ponto 2B
Planejamento tributário abusivo. Elisão e Evasão fiscal. O planejamento tributário consiste na possibilidade de o contribuinte evitar a tributação ou torná-la menos onerosa. A licitude ou não da conduta adotada pelo contribuinte para fugir da tributação é o critério utilizado pela doutrina para classificar os meios utilizados, dando origem às seguintes classificações:
1) Elisão fiscal o contribuinte usa meios lícitos para fugir da tributação ou torná-la menos onerosa. Essa modalidade de conduta, em regra, é realizada antes da ocorrência do fato gerador. Excepcionalmente pode ocorrer posteriormente ao fato gerador, como na escolha do modelo de declaração de imposto de renda (completa ou simplificada), que ocorre no ano-calendário. 
2) Elusão fiscal (ou planejamento tributário abusivo) é o que a doutrina chama de “abuso de forma jurídica”. Não se trata, a rigor, de uma conduta ilícita, mas o contribuinte adota um formato artificioso, tendo por consequência a isenção, não incidência ou incidência menos onerosa do tributo, sendo denominada também de elisão ineficaz, já que possibilita ao Fisco lançar o tributo devido caso descubra a simulação. É conduta apenas “formalmente” lícita (ex.: compra e venda disfarçada de integralização de capital social para fins de não caracterizar fato gerador do ITBI).
3) Evasão fiscal é uma conduta ilícita em que o contribuinte, normalmente após a ocorrência do fato gerador, pratica atos que visam evitar o conhecimento do nascimento da obrigação tributária pela autoridade fiscal. É a conduta ilícita, realizada, em regra, posteriormente ao fato gerador, que visa ocultar parcial ou totalmente sua ocorrência com o fim de ludibriar a fiscalização (ex.: inserção de despesas médicas inexistentes na declaração de IR). 
NORMA GERAL ANTIELISIVA: Foi inserida no CTN através da LC 104/2001, acrescentando o parágrafo único do art. 116. Trata da possibilidade de a própria autoridade administrativa desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária. Embora o uso da expressão antielisiva tenha se consagrado na jurisprudência e doutrina, há uma parcela que aponta para a atecnia do termo, visto que não se pretende desconstituir meios lícitos de evitar a tributação, mas meios abusivos ou artificiosos, sendo mais correta a expressão antielusiva ou antievasiva. O parágrafo único do art. 116 do CTN prevê a observância da lei ordinária, não havendo, contudo, lei ordinária a regulamentar esse dispositivo e a MP n. 66/02, com tal finalidade, não foi aprovada no Congresso. Ainda assim, a norma é utilizada pela fiscalização tributária com os procedimentos administrativos já existentes.
CONSTITUCIONALIDADE DA NORMA GERAL ANTIELISVA: a constitucionalidade da norma geral antielisiva foi questionada no STF em ação direta ajuizada pela Confederação Nacional do Comércio Bens,base na doutrina de Ricardo Alexandre)
Objetivam evitar a dupla tributação, a evasão fiscal por meio de cooperação internacional e a redução ou exclusão de ônus tributários no comércio internacional, razão pela qual não se aplicam as regras relativas aos tratados de direitos humanos (procedimento de emenda e normas com status supralegal).
Conforme art. 98 do CTN os tratados revogam ou modificam a legislação tributária interna e serão observados pela que lhes sobrevenha. De acordo com a jurisprudência e a doutrina apontada, a leitura correta desse dispositivo é no sentido de que eventual conflito entre lei tributária e tratado internacional deve ser resolvido pelo critério da especialidade, não havendo relação de hierarquia. Os tratados apenas suspendem a eficácia da legislação interna naquilo que for incompatível, não a revogando (STF).
A tabela a seguir parte do entendimento do STJ acerca do art. 98 do CTN e sua aplicação em relação aos tratados-leis e tratados-contratos. 
	Tratado-lei (normativo)
	Tratado-contrato
	Contribui mais diretamente para a formação do Direito Internacional
(constitui fonte formal)
	Contribui pouco para a formação do
Direito Internacional
(não constitui fonte formal) 
	Multilateral (tem cláusula de adesão)
	Bilateral (não tem cláusula de adesão)
	Estabelece normas gerais e abstratas
	Estabelece compromissos / operações
	Aplica-se a restrição constante no art. 98 do CTN, não podendo
ser alterado pela legislação interna.
	Pode ser alterado pela legislação interna, n
não se aplicando a restrição constante do 
art. 98 do CTN
	Competência da JE
(qdo não há interesse direto da União na causa)
	Competência da JF (art. 109, III, da CF)
União pode conceder isenções por outros entes (isenções heterônomas)?
Internamente: não, em face do art. 151, III, da CF.
Externamente (tratados internacionais): República Federativa do Brasil (e não a União) pode sim.
Fontes formais secundárias:
a) Decretos (fundamento no art. 84, IV, da CF): lembrar que a alteração das alíquotas do II, IE, IPI e IOF, respeitadas as condições e os limites da lei, podem ser feitas por decreto. 
b) Regulamentos
c) Instruções Ministeriais: para a execução das leis, decretos e regulamentos, sendo hierarquicamente inferiores a estes.
d) Normas complementares (art. 100 do CTN): atos normativos das autoridades administrativas (pode ser por meio de instrução normativa, circulares, portarias, pareceres normativos, etc.); decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa (Conselho de Administrativo de Recursos Fiscais – CARF -, no âmbito da União e Tribunal de Impostos e Taxas – TIT -, no âmbito dos Estado; práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas (consagra o costume da administração como norma vinculante, admitindo-se apenas o costume interpretativo em matéria tributária); e convênios entre União, Estados, DF e Municípios.
e) Convênios. Podem ser de duas espécies:
· normas complementares entre diferentes pessoas políticas com vistas à fiscalização ou arrecadação de tributos, troca de informações, etc (são denominados de convênio de colaboração ou cooperação e possuem fundamento no art. 37, XII, da CF); e
· firmados entre Estados e DF e regulado por meio de lei complementar (art. 155, § 2°, XII, g, CF concessão e revogação de isenções, incentivos e benefícios fiscais relativos ao ICMS). São fontes formais primárias. 
RELAÇÕES ENTRE O DIREITO TRIBUTÁRIO E O DIREITO PRIVADO
O direito tributário guarda íntima relação com o direito privado:
a) Direito constitucional: condiciona possibilidades de tributação e modo de tributar. Sigilos bancários, direito de petição, direito a certidões e cláusulas pétreas repercutem na esfera tributária.
b) Direito civil: lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados pela CF, pelas Constituições Estaduais ou pelas Leis Orgânicas do DF ou dos Municípios na definição ou limitação de competência tributária (art. 110 do CTN). Mas, atenção! Se os institutos não são utilizados pela Constituição Federal, Constituição Estadual ou Leis Orgânicas do DF ou dos Municípios, então a lei tributária pode alterar sua definição, a exemplo do que acontece com as regras de transação e compensação. Todavia, deve-se atentar para entendimento adotado pelo STF em julgado de 2016 quando se analisou a possibilidade de incidência do ISS sobre a administração de planos de saúde, tendo o Supremo apontado que a prestação de serviço iria além da mera obrigação de fazer, conforme entendido no Direito Privado, para definir prestação de serviços como “o oferecimento de uma utilidade para outrem, a partir de um conjunto de atividades imateriais, prestado com habitualidade e intuito de lucro, podendo estar conjugado ou não à entrega de bens ao tomador”, atraindo, dessa forma, a incidência do ISS sobre a administração do plano de saúde. 
c) Direito comercial: elenca os tipos de sociedade, a responsabilidade dos sócios, dos representantes e dos adquirentes de fundo de comércio, a apuração do lucro, a função social da empresa, o intuito negocial, os diversos contratos, a falência e a recuperação judicial.
d) Direito internacional: influencia o Direito tributário em face dos tratados e convenções internacionais em matéria tributária, estabelecendo mercados comuns (como a União Europeia e o Mercosul) ou evitando a bitributação em matéria de imposto de renda (como a Convenção Brasil Suécia para evitar a dupla tributação), e da extraterritorialidade estabelecida para alguns tributos federais. Isso sem falar no acordo sobre subsídios e medidas compensatórias no âmbito da (OMC).
e) Direito processual civil: é instrumento tanto para a satisfação dos créditos do Fisco como para a proteção, defesa e ressarcimento dos contribuintes.
2. TRIBUTO
2A. Competência Tributária. Tributos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Conflitos de Competência Tributária.
Lílian Farias de Queiroz Pierre – 03/2023
Fontes: material do curso Ciclos / Direito Tributário Esquematizado; ALEXANDRE, Ricardo; 15ª Edição.
1. Competência tributária
Competência tributária é a aptidão para criar tributos. Todos os entes federativos têm, dentro de certos limites, o poder de criar determinados tributos e definir seu alcance, obedecidos os critérios de partilha de competência estabelecidos pela Constituição. A Constituição Federal não cria tributos; ela outorga competência tributária, ou seja, atribui aptidão para criar tributos.
O princípio do federalismo (art. 60, § 4.º, I, da CF) delimitou entre as pessoas políticas o poder de tributar. A atribuição da competência tributária às pessoas jurídicas de direito público está prevista nos arts. 153 a 156 da CF, dividindo-se, entre elas, o poder de instituir e cobrar tributos.
A competência tributária é indelegável. Ao seu destinatário é dado não exercê-la, ou fazê-lo parcialmente, mas não lhe é permitido transferir a competência. O princípio da indelegabilidade da competência tributária está previsto no art. 7º do CTN.
A titularidade da competência tributária é exclusiva de pessoas jurídicas de direito público integrantes da Administração Direta. Não se deve confundi-la, no entanto, com a capacidade tributária ativa, que corresponde à aptidão, de natureza administrativa, de cobrar ou arrecadar tributos aos cofres públicos.
Embora a competência tributária seja indelegável, nada impede a delegação legal da capacidade tributária ativa, e isso ocorre por meio da denominada parafiscalidade. A parafiscalidade é, pois, a delegação, por meio de lei, da capacidade tributária ativa. Exemplo típico é a arrecadação de contribuição pelos conselhos de fiscalização. Esse instituto, no entanto, não pode favorecer empresas privadas voltadas à obtenção de lucro, porque seria uma forma de violar a isonomia e a livre concorrência.
Além de indelegável, a competência tributária é:
a) Privativa: a competência atribuída a determinada entidade federativa exclui seu exercício pelasServiços e Turismo (ADI 2446), ao argumento de que “a norma em questão permitiria à autoridade fiscal tributar “fato gerador não ocorrido e previsto em lei”, além de introduzir a “interpretação econômica” no direito tributário brasileiro “ensejando tributação por analogia ” e, ainda, autorizaria o agente fiscal “a desarvorarse em legislador preenchendo as lacunas legais com a interpretação analógica”. Os argumentos da autora, contudo, foram afastados pelo voto vencedor da relatora, Ministra Cármen Lúcia (*adi-2446-voto-carmen-lucia1.pdf (conjur.com.br)), concluindo-se que o dispositivo visa conferir a máxima efetividade não apenas ao princípio da legalidade tributária mas também ao princípio da lealdade tributária. Restou assentado que “a norma não proíbe o contribuinte de buscar, pelas vias legítimas e comportamentos coerentes com a ordem jurídica, economia fiscal, realizando suas atividades de forma menos onerosa, e, assim, deixando de pagar tributos quando não configurado fato gerador cuja ocorrência tenha sido licitamente evitada”. O que se visa combater, portanto, é a elusão ou evasão fiscal, não havendo reflexos no planejamento tributário legítimo. 
Ricardo Alexandre atenta para o fato de que a limitação ao planejamento tributário abusivo é uma tendência internacional e o legislador pátrio absorveu as ideias gestadas nos sistemas jurídicos estrangeiros, destacando-se as seguintes teorias:
A – Teoria da consideração (ou consistência) econômica do fato gerador (Alemanha): os fatos não devem ser interpretados segundo a forma que se revestem, mas a partir dos efeitos econômicos efetivamente produzidos. Consagra a interpretação econômica que prestigia a substância do fato em detrimento da forma. 
B – Teoria do teste do propósito negocial (EUA e Suíça): investigação da finalidade pretendida pelo contribuinte com a celebração de certos atos e negócios jurídicos. Caso se verifique que o ato foi praticado com o único propósito de eliminar, reduzir ou postergar o tributo deve prevalecer a substância sobre a forma utilizada. 
Haveria assim, conforme o autor, uma legitimação da interpretação econômica do Direito Tributário em relação aos atos ou negócios com vistas a verificar se possuem fins meramente fiscais ou se há uma um efetivo propósito negocial, fundamentando-se ainda em posicionamento do STJ para quem, em matéria tributária, “a intepretação econômica se impõe, uma vez que a realidade econômica há de prevalecer sobre a simples forma jurídica”. Para aprofundar: :http://www.anima-opet.com.br/pdf/anima17/12-INTERPRETACAO-ECONOMICA-NO-DIREITO-TRIBUTARIO-GONTIJO.pdf 
Erosão de bases tributárias. BEPS é um acrônimo derivado do inglês base erosion and profit shifting, que significa em português erosão de base e transferência de lucros. A expressão erosão da base tributária pode ser entendida como o foco das grandes empresas na transferência de lucros para localidades que oferecem um tratamento fiscal mais favorável, a ponto de provocar “a erosão da base tributária”. É um termo técnico usado para designar esquemas de planejamento tributário agressivo praticados por empresas multinacionais ou grupos econômicos, que se aproveitam de lacunas normativas e assimetrias dos sistemas tributários nacionais para transferir, artificialmente ou não, lucros a países com tributação baixa ou inexistente. Essas lacunas muitas vezes decorrem das demandas das multinacionais junto aos países para não sofrerem a bitributação, sendo as mesmas empresas que em seguida se aproveitam para aumentarem os lucros através da erosão da base tributária. Assim, é possível que empresas e grupos econômicos mantenham unidades espalhadas territorialmente por vários países para se aproveitar dos diferentes regimes tributários característicos do atual cenário globalizado. Essa prática pode inclusive levar à ocorrência do fenômeno da “dupla não tributação”, quando o grupo empresarial episodicamente deixa de ser tributado em ambos os países em que estabelece relação negocial. Neste contexto, criou-se na organização internacional OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico o chamado plano BEPS, que objetiva a formulação de políticas e estratégias para combater a fuga de capitais para os chamados Paraísos Fiscais e o aumento da evasão fiscal em escala global.
Sonegação. Fraude. Conluio. São termos definidos na Lei 4.502/64 (disciplinou o IPI, ainda sob o título de “imposto de consumo”). Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: a) da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais ou b) das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente (art. 71). Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido, a evitar ou diferir o seu pagamento (art. 72). Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas visando quaisquer dos efeitos anteriores (sonegação ou fraude) (art. 73).
Dissimulação. A norma antielisiva brasileira (CTN, art. 116, p.u.) diz respeito a atos ou negócios jurídicos que tenham a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador ou dos elementos que constituem sua obrigação tributária. Dissimular é “ocultar ou encobrir com astúcia”. Simular é fingir o que não é; dissimular é encobrir o que é. 
Omissão de receitas. É uma modalidade de sonegação fiscal em que o contribuinte deixa de informar ao Fisco municipal, estadual ou federal, o valor da receita ou ganho auferido em qualquer operação, cuja legislação tributária, defina em lei, que esta receita seja base de cálculo de algum tributo. No âmbito tributário se caracteriza como modalidade de evasão fiscal, enquanto no campo criminal pode se configurar como hipótese de crimes contra a ordem tributária previstos nos arts. 1º e 2º da Lei 8.137/90, a depender do caso. 
Paraísos Fiscais. Também chamados de "tax haven" ("refúgio fiscal"), são Estados ou regiões autônomas que ostentam legislação mais favorável à aplicação de capitais estrangeiros, com alíquotas de tributação bastante baixas ou nulas, permitindo com que sejam abertas sociedades empresárias e contas bancárias (offshore), cujos capitais são de origem desconhecida, sendo protegida, ainda, a identidade dos proprietários desse dinheiro, com garantia de sigilo bancário absoluto. Para a Receita Federal os paraísos fiscais são assim classificados em função da baixa tributação ou da pouca transparência de empresas lá domiciliadas, entrando no grupo países com carga tributária menor do que 20%. A instrução Normativa RFB nº 1037, de 04 de junho de 2010, relaciona países ou dependências com tributação favorecida e regimes fiscais privilegiados.
Súmula STJ-448: A opção pelo Simples de estabelecimentos dedicados às atividades de creche, pré-escola e ensino fundamental é admitida somente a partir de 24/10/2000, data de vigência da Lei nº 10.034/2000. Aprovada em 28/04/2010.
7. CRÉDITO TRIBUTÁRIA E CAUSAS DE SUSPENSÃO EXTINÇÃO E EXCLUSÃO
8C. Crédito Tributário: Constituição (Lançamento, Modalidades de Lançamento, Declaração e Confissão de Débitos Tributários).
João Pedro Laurentino Gomes 20/03/2023
Do ponto de vista do Fisco, o crédito tributário é o objeto da obrigação tributária. Para o devedor (contribuinte ou responsável), o conteúdo da obrigação consiste numa ordem de pagar, fazer ou não fazer; para o credor (Fisco), trata-se do direito de exigir o cumprimento daquilo que é devido. Assim, crédito tributário é o direito que o Fisco tem de exigir do devedor o cumprimento da obrigação tributária. Vale lembrar que, não obstante a obrigação tributária surja com a ocorrência do fato gerador, somente com o lançamento é que ocorre a constituiçãodefinitiva do crédito tributário (art. 142 do CTN).
Lançamento tributário: Segundo a legislação correlata, o lançamento é procedimento administrativo, ou seja, uma sequência ordenada de atos administrativos voltados à obtenção de finalidade específica. Contudo, a maioria da doutrina tem outra visão, recusando a natureza de procedimento. O lançamento, para os tributaristas mais modernos, seria na verdade um ato administrativo unilateral privativo do Fisco. Ricardo Alexandre entende que o lançamento possui natureza jurídica mista, sendo constitutivo do crédito tributário (expresso no art. 142 do CTN) e declaratório da obrigação tributária (ao verificar formalmente que o fato gerador ocorreu).
Finalidades do lançamento: a) constituir o crédito tributário; b) verificar a ocorrência do fato gerador; c) determinar a matéria tributável; d) calcular o montante do tributo devido; e) identificar o sujeito passivo; f) propor a aplicação da penalidade cabível.
A competência para o lançamento é da autoridade administrativa. O CTN não define qual autoridade administrativa possui tal poder legal, deixando para a lei de cada ente político a incumbência de fazê-lo. A exclusividade da competência para a realização do lançamento vincula até mesmo o juiz, que não pode lançar, nem corrigir o lançamento realizado pela autoridade administrativa. Assim, no caso de reconhecer algum vício no lançamento realizado, deve o juiz proclamar-lhe a nulidade, cabendo à autoridade administrativa competente, se assim entender, novamente constituir o crédito. Como o tributo é cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada, e o lançamento é o ato que formaliza o valor do crédito, conferindo-lhe exigibilidade, há de se concluir que a atividade de lançar é vinculada, no sentido de que a ocorrência do fato gerador dá à autoridade fiscal não apenas o poder, mas também o dever de lançar, não havendo qualquer possibilidade de análise de conveniência e oportunidade para que se deflagre o procedimento. Salvo disposição de lei em contrário, quando o valor tributário esteja expresso em moeda estrangeira, no lançamento far-se-á sua conversão em moeda nacional ao câmbio do dia da ocorrência do fato gerador da obrigação. 
Legislação formal e material aplicável ao procedimento de lançamento (art. 144, CTN): Ao se referir genericamente à legislação aplicável ao lançamento, o CTN trata das regras materiais (legislação substantiva) relativas ao tributo correspondente, assim entendidas aquelas que definem fatos geradores, bases de cálculo, alíquotas, contribuintes etc. Contudo, para realizar o lançamento, a autoridade competente deve observar, também, as regras formais (legislação adjetiva) que disciplinam o seu agir durante o procedimento. Trata-se das normas que estipulam a competência para lançar, o modo de documentar o início do procedimento, os poderes que possuem as autoridades lançadoras, os prazos para a conclusão das atividades etc. Quando se trata do lançamento de tributo, a autoridade competente deve aplicar a legislação que estava em vigor no momento da ocorrência do respectivo fato gerador, mesmo que tal legislação já tenha sido modificada ou revogada. A modificação de uma norma procedimental (formal, adjetiva), porém, não muda a essência de qualquer obrigação já surgida, mas tão somente o modo de sua apuração. É justamente por isso que são aplicáveis ao lançamento as normas formais que estiverem em vigor na data da realização do próprio procedimento. Caso a obrigação tributária surgida seja referente à penalidade pecuniária (multa), aplica-se ao lançamento a lei mais favorável ao infrator.
Alteração do lançamento regularmente notificado (art. 145, CTN): após a realização do lançamento, a autoridade administrativa precisa comunicá-lo oficialmente ao sujeito passivo. Essa comunicação se dá por meio da notificação, que confere efeitos ao lançamento realizado. Com a notificação, o lançamento se presume definitivo e a regra passa a ser a sua inalterabilidade, salvo as exceções dispostas no art. 145, a saber: a) Impugnação pelo sujeito passivo*; b) Recurso de ofício e recurso voluntário; e c) Iniciativa de ofício da autoridade administrativa. 
O procedimento de lançamento pode ser dividido em duas fases: a) Oficiosa: que se encerra com a notificação; e b) Contenciosa: que pode ser instaurada com a impugnação por parte do sujeito passivo. É na segunda fase que se verifica o contraditório (diferido). Não há proibição de alteração para pior (reformatio in pejus) no processo administrativo fiscal, de modo que a impugnação pelo sujeito passivo pode resultar em agravamento da exigência contra ele formalizada se, por exemplo, em diligência ou perícia determinada pela autoridade julgadora, for verificada alguma incorreção ou omissão.
Modalidades de lançamento: De acordo com a intensidade da participação do sujeito passivo no lançamento. 
Lançamento direto ou de ofício: a participação do sujeito passivo na atividade privativa da autoridade fiscal é nula ou quase nula. Isso porque, nessa modalidade, a autoridade fiscal, como decorrência do poder-dever imposto por seu ofício, diretamente procede ao lançamento do tributo, sem colaboração relevante do devedor. Ex.: IPTU, IPVA, contribuição de melhoria e taxas. Lançamento por arbitramento: refere-se aos casos em que o valor que vai servir como base de cálculo na constituição do crédito tributário vai ser determinado com base numa prudente e razoável suposição da autoridade administrativa. Não se constitui numa quarta modalidade de lançamento, sendo apenas uma técnica para se definir a base de cálculo, para que se proceda a um lançamento de ofício.
Lançamento por declaração ou misto: efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade administrativa informações sobre matéria de fato indispensáveis à sua efetivação. Ex.: II, IE, ITCMD e ITBI. Retificação da declaração: Em se tratando de tributo sujeito a lançamento por declaração, após a entrega desta, deve haver a análise por parte do Fisco, que tomará as providências necessárias à constituição do crédito e à notificação ao sujeito passivo. Enquanto não concluídas essas etapas, o lançamento não estará completo ou ainda não gerará efeitos. 
Lançamento por homologação ou autolançamento: ao sujeito passivo a legislação atribui o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa. Ex.: IR, ITR, ICMS, ISS, IPI e COFINS. É com a homologação que a autoridade administrativa manifesta sua concordância com a atividade do sujeito passivo, atestando sua correção. Como decorrência, nos tributos sujeitos a tal modalidade de lançamento, não é com o pagamento, mas sim com a homologação, que se pode considerar o crédito tributário definitivamente extinto. Vale mencionar que o pagamento antecipado extingue o crédito sob condição resolutória da posterior aprovação do Fisco (§ 1º do art. 150 do CTN). Pode ser expressa ou tácita. Será expressa quando a autoridade administrativa editar ato em que formalmente afirme sua concordância com atividade do sujeito passivo, homologando-a. Será tácita quando a Administração Tributária deixar escoar o prazo legal para a homologação expressa. Se a lei não fixar prazo para a homologação, será ele de 5 anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.
Súmula STJ-436: A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco. Súmula STJ-555: Quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do CTN, nos casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exameda autoridade administrativa. Súmula STJ-622: A notificação do auto de infração faz cessar a contagem da decadência para a constituição do crédito tributário; exaurida a instância administrativa com o decurso do prazo para a impugnação ou com a notificação de seu julgamento definitivo e esgotado o prazo concedido pela Administração para o pagamento voluntário, inicia-se o prazo prescricional para a cobrança judicial. 
Outras formas de constituição do crédito tributário 
1) Declaração do contribuinte: É inteiramente equivocada a afirmação (...) de que o lançamento, feito pela autoridade fiscal, é instituto indispensável e sempre presente nos fenômenos tributários e que, ademais, é o único modo para efetivar a constituição do crédito tributário [...] não se atribui ao Fisco a exclusividade de constituir o crédito tributário, nem está erigindo o lançamento como única forma para a sua constituição. A exclusividade, a que se refere o dispositivo (art. 142, CTN), diz respeito apenas ao lançamento, mas não à constituição do crédito. [...] (REsp 962379/RS). 
2) Sentença trabalhista: Segundo o art. 114, VIII, CF, a Justiça do Trabalho deve promover a execução de ofício das contribuições sociais decorrentes das sentenças que proferir. Neste caso, a sentença trabalhista transitada em julgado constitui o crédito tributário.
3) Lançamento por homologação – contribuinte que efetua depósito do montante integral. STJ: o depósito judicial para suspender a exigibilidade do crédito tributário já o constitui, razão pela qual o lançamento fiscal em relação ao valor depositado é desnecessário. (EREsp 898.992-PR)
Confissão de Débitos Tributários: no âmbito tributário, a confissão da dívida ocorre quando o contribuinte declara o imposto com apuração do valor devido, mas não chega a efetuar o seu pagamento. Assim, constatando que não foi pago, o Fisco poderá cobrá-lo judicialmente em até cinco anos. Outra hipótese de confissão ocorre quando o contribuinte assina algum termo admitindo expressamente que deve determinado tributo. Geralmente, esse tipo de termo ou declaração é exigido para que o contribuinte possa aderir a programas de parcelamento ou pagamento de dívidas tributárias com descontos. “A confissão da dívida não inibe o questionamento judicial da obrigação tributária, no que se refere aos seus aspectos jurídicos. Quanto aos aspectos fáticos sobre os quais incide a norma tributária, a regra é que não se pode rever judicialmente a confissão de dívida efetuada com o escopo de obter parcelamento de débitos tributários. No entanto, como na situação presente, a matéria de fato constante de confissão de dívida pode ser invalidada quando ocorre defeito causador de nulidade do ato jurídico (v.g. erro, dolo, simulação e fraude).” STJ, REsp 11133027/SP, Tema Repetitivo 375.
 
10B. Suspensão do Crédito Tributário: Modalidades. Programa de Recuperação Fiscal (REFIS). Parcelamento Ordinário. Parcelamento Especial (PAES). Lei 11.941/2009 e Alterações.
João Pedro Laurentino Gomes 20/03/2023
Suspensão do Crédito Tributário. A exigibilidade do crédito tributário surge com o decurso do prazo legal para adimplir o tributo, ou seja, esgotado tal prazo, o crédito se torna exigível. As causas de suspensão do crédito tributário estão disciplinadas nos artigos 151 a 155-A do Código Tributário Nacional e possuem a função de interromper temporariamente o direito de o Fisco cobrar o devedor.
Hipóteses: As hipóteses de suspensão do crédito tributário estão previstas no artigo 151 do CTN (MO-DE-RE-CO-PA): I – moratória; II – o depósito do seu montante integral; III – as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV – a concessão de medida liminar em mandado de segurança; V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o parcelamento. Trata-se de rol exaustivo, pois o artigo 141 do CTN afirma que o crédito tributário regularmente constituído somente tem sua exigibilidade suspensa nos casos previstos no CTN, sendo reforçada pela interpretação literal determinada no artigo 111, I, do mesmo código. A suspensão do crédito tributário não impede o lançamento, podendo ser ele realizado normalmente, com a observação de que a exigibilidade está suspensa. Caso contrário, haveria o risco de se consumar o prazo decadencial em detrimento do Fisco. Sendo anterior ao lançamento, Ricardo Alexandre entende ser causa impeditiva da exigibilidade, por não se suspender o que não começou. Art. 151, parágrafo único do CTN: a suspensão não dispensa o cumprimento das obrigações assessórias dependentes da obrigação respectiva ou dela consequentes.
I - Moratória: dilatação legal do prazo de pagamento. É concedida por meio de lei ordinária, permitindo ao sujeito passivo que pague em cota única o tributo, porém com vencimento prorrogado. Pode ser: a) Geral: concedida direta e genericamente por lei, em razão de aspectos objetivos descritos na lei instituidora; b) Individual ou solene: concedida por ato administrativo declaratório (despacho oficial administrativo) do cumprimento dos requisitos previstos em lei, autorizada por lei, levando-se em consideração aspectos particulares (subjetivos) a serem analisados por cada sujeito passivo que a requeira; c) Autônoma: concedida pela pessoa jurídica de direito público competente para a instituição do tributo; d) Heterônoma: concedida pela União sobre tributo de competência alheia, quando simultaneamente concedida quanto aos tributos de competência federal e às obrigações de direito privado (art. 152, I, b, CTN – norma de constitucionalidade questionada, por possível violação ao pacto federativo; por outro lado, argumenta-se que é da essência da moratória a concessão em virtude de excepcionais situações naturais, econômicas ou sociais, que dificultem o normal adimplemento das obrigações tributárias, o que afastaria possível inconstitucionalidade); e) Total: totalidade do território da autoridade tributária; ou f) Parcial: concedida somente para parte do território. Créditos abrangidos pela moratória (artigo 154 do CTN): Somente créditos definitivamente constituídos à data da lei ou do despacho que a conceder, ou cujo lançamento já tenha sido iniciado àquela data por ato regularmente notificado ao sujeito passivo. Entretanto, é permitida disposição legal em contrário. O parágrafo único exclui do favor os casos de dolo, fraude ou simulação. Moratória individual e direito adquirido (artigo 155 do CTN): se o beneficiário não satisfaz as condições e requisitos instantâneos ou continuados ou deixou de satisfazer os continuados, o benefício deve ser extinto. 
	
II – Depósito do montante integral: direito subjetivo do contribuinte. Entende-se por “integral” o depósito realizado em dinheiro, que engloba o tributo acrescido de juros e multas (devendo sempre corresponder ao valor exigido pela Fazenda Pública, ainda que o contribuinte entenda ser outro o valor devido). Súmula 112 do STJ: O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro. Súmula vinculante 21: É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo. Assim, a realização de depósito integral é sempre uma faculdade em favor do contribuinte, nunca podendo constituir uma condição para recorrer ou acionar o Judiciário.
III – Reclamações e Recursos Administrativos: representam, em geral, o primeiro passo antes da via judicial, trazendo a vantagem de não imporem ao litigante a incidência das custas judiciais. Materializam o exercício do direito à ampla defesa e ao contraditório também na via administrativa, já que o contribuinte poderá impugnar o lançamento efetuado pela Fazenda Pública. Enquanto perdurar a lide no âmbito administrativo, a exigibilidade do crédito tributário permanecerá suspensa, e o contribuinte poderá obter uma certidão positiva com efeito de certidão negativa, conforme o art. 206 do CTN. Assim, pode-se afirmar que toda relação e todorecurso no âmbito do processo administrativo fiscal possuem efeito suspensivo e impedem que a Fazenda Pública cobre o crédito tributário do contribuinte, até que sobrevenha a decisão definitiva no processo. Essa regra visa impedir o chamado “pague e depois reclama” – ou cláusula SOLVE ET REPETE – segundo o qual, mesmo discordando de um valor, o contribuinte deve efetuar o pagamento e, somente depois, se insurgir contra a cobrança e requerer a devolução do valor pago. STJ. INF 532/2013 (REsp 1.389.892-SP, 2a. Turma): O pedido administrativo realizado pelo contribuinte de cancelamento de débito inscrito em dívida ativa não suspende a exigibilidade do crédito tributário, não impedindo o prosseguimento da execução fiscal e a manutenção do nome do devedor no CADIN. STJ. 2ª Turma. REsp 1372368-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 5/5/2015 (Info 561). A reclamação administrativa interposta contra ato de exclusão do contribuinte do parcelamento NÃO é capaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário, sendo inaplicável o disposto no art. 151, III, do CTN. Isso porque as reclamações e recursos previstos nesse dispositivo legal são aqueles que discutem o próprio lançamento tributário, ou seja, a exigibilidade do crédito tributário. Sendo a reclamação proposta contra o ato que exclui o contribuinte do parcelamento, essa reclamação está questionando a exclusão em si (e não o lançamento tributário). Logo, não suspende a exigibilidade do crédito.
IV – Concessão de liminar em Mandado de Segurança e de liminar ou tutela antecipada em outras espécies de ação judicial: a liminar em mandado de segurança está disciplinada no artigo 7º, III, da Lei n. 12.016/2009 (constitucionalidade reconhecida pelo STF na ADI 4296/DF, julgada em 2021), devendo ser demonstrado o “periculum in mora” (possibilidade de o tempo prejudicar a eficácia da medida, se ao final concedida) e o “fumus boni iuris” ou fumaça do bom direito (relevância do fundamento). Não é necessária a existência do crédito para que o mandado de segurança seja impetrado, em razão da inafastabilidade da jurisdição, devendo, contudo, ser comprovada, ao menos, a possibilidade de o impetrante vir a ter seus direitos violados, pois a Súmula 266 do STF dispõe que não cabe mandado de segurança contra lei em tese. A hipótese de suspensão via outras espécies de ação judicial foi acrescentada pela Lei Complementar n. 104/2001, pois nem sempre é possível a impetração de mandado de segurança em razão da ausência de direito líquido e certo ou do transcurso do prazo decadencial de 120 dias. Antes da previsão legal, a jurisprudência não aceitava a concessão de liminares e tutela antecipada em outras ações.
VI – Parcelamento: ato do contribuinte, após requerimento à autoridade administrativa, de conduzir recursos de forma não integral ao Fisco. Reveste-se da natureza de uma moratória, pois os pagamentos se dão após o vencimento dos créditos tributários, em geral de forma mensal durante longo período de tempo. Depende de lei específica da pessoa política competente para criar o tributo, lei esta que deverá estabelecer as condições de adesão, os prazos e o número máximo de parcelas em que a dívida pode ser dividida. É medida de política fiscal com a qual o Estado procura recuperar créditos e criar condições práticas para que os contribuintes em situação de inadimplência tenham a possibilidade de voltar à regularidade. Salvo disposição de lei em contrário, não exclui a incidência de juros e multa. Súmula 653-STJ: O pedido de parcelamento fiscal, ainda que indeferido, interrompe o prazo prescricional, pois caracteriza confissão extrajudicial do débito.
Programa de Recuperação Fiscal (REFIS). Parcelamento Ordinário. Parcelamento Especial (PAES). Lei 11.941/2009 e Alterações.
O art. 9º, caput, da lei 10.684/2003 (criou o plano de Recuperação Fiscal – REFIS -, também chamado de Parcelamento Especial – PAES), trouxe o instituto da suspensão da pretensão punitiva estatal, que se dá enquanto o agente estiver incluído no regime de parcelamento. Assim, enquanto estiver suspensa a pretensão punitiva, não pode haver o oferecimento de denúncia. Considerando que a lei não estabeleceu prazo para o agente aderir ao REFIS, entende-se que o agente poderá fazê-lo a qualquer tempo, mesmo que já haja sentença penal condenatória, desde que a adesão ao parcelamento tenha se dado antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. 
Registre-se, por fim, que a lei 12.383/2011 acresceu parágrafos ao artigo 83 da Lei n. 9.430/1996, estabelecendo que a concessão de parcelamento impede o encaminhamento ao Ministério Público de representação fiscal para fins penais relativas aos crimes contra a ordem tributária definidos nos arts. 1º e 2º da lei 8.137/1990. A proibição somente cessa se houver exclusão da pessoa física ou jurídica do parcelamento, ficando suspensa a pretensão punitiva e a prescrição criminal enquanto vigente o favor, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal. 
A 12.383/2011 é uma verdadeira novatio legis in pejus por restringir o limite temporal do pedido de parcelamento, pois impôs que este deve ser feito antes do recebimento da denúncia. Em virtude do art. 5º, XL da Constituição Federal c.c. art. 1º do CP (princípio da irretroatividade da lei penal mais severa), o novo marco temporal somente poderá ser aplicado aos delitos praticados após a vigência da lei 12.383/2011. 
Súmula do STJ nº. 437: A suspensão da exigibilidade do crédito tributário superior a quinhentos mil reais para opção pelo Refis pressupõe a homologação expressa do comitê gestor e a constituição de garantia por meio do arrolamento de bens. 
No Brasil, desde o ano 2000, foram quatro os programas de parcelamentos especiais. Em todos os casos parece haver uma junção do interesse do governo e das empresas na oferta de parcelamentos. Os governos acreditam que tem um ganho de arrecadação com o recebimento de parte das dívidas. Já as empresas percebem no parcelamento uma boa oportunidade de reduzir o seu passivo tributário a um custo mais baixo e buscam influenciar o legislativo e o executivo de forma que as condições ofertadas lhes sejam mais favoráveis. Por conta deste encontro de interesses, foram concedidos parcelamentos em 2000, 2003, 2006 e 2009. Alguns deles com condições muito benéficas para o devedor e outros nem tanto. 
O primeiro a ser ofertado foi instituído pela Lei n. 9.964 de abril de 2000 e foi chamado de REFIS – Programa de Recuperação Fiscal, no qual os contribuintes pessoa jurídica poderiam parcelar suas dívidas tributárias e previdenciárias vencidas até fevereiro de 2000. Logo em seguida, a Lei n. 10.684 de 2003 criou o PAES – Parcelamento Especial – cujo objetivo era oferecer novamente condições especiais de parcelamento para empresas com débitos tributários e previdenciários vencidos até agosto de 2003. Em 2006, a Medida Provisória n. 303 criou o PAEX – Parcelamento Extraordinário. Mais uma vez estavam abrangidos débitos previdenciários e tributários vencidos até fevereiro de 2003. Finalmente, a Lei n. 11.941 de 2009, instituiu o popularmente conhecido REFIS-CRISE, uma vez que tal programa foi criado no bojo das repercussões econômicas da grave crise econômica iniciada em 2008. Mais uma vez os contribuintes poderiam desistir dos parcelamentos anteriores e aderir a este novo programa. 
Todos estes parcelamentos apresentam um comportamento em comum. No momento em que são instituídos, há uma adesão em massa dos contribuintes, mas com o passar do tempo muitos deles são excluídos, seja por inadimplência ou por quitação da dívida ou ainda por adesão a um novo parcelamento. Com isso, logo após o terceiro ano a quantidade de contribuintes que permanecem nos programas cai substancialmente.
11B. Extinção do Crédito Tributário: Modalidades. Programa de Recuperação Fiscal (REFIS). Parcelamento Ordinário. Parcelamento Especial (PAES). Lei 11.941/2009 e Alterações.
João Pedro Laurentino Gomes 20/03/2023
Extinção do Crédito Tributário. A obrigaçãotributária principal mediante a qual o sujeito ativo (Fisco) pode exigir do sujeito passivo uma prestação pecuniária pode ser extinta. Em regra, a extinção da obrigação tributária se dá pelo pagamento. Porém, o art. 156 do CTN traz um rol de modalidades extintivas. A doutrina diverge se o art. 156 é taxativo ou exemplificativo. Quem defende a não taxatividade, argumenta que há hipóteses de extinção não previstas no art. 156 e admitidas pelo direito civil, como a confusão e a novação. O STF adota a tese de que o rol é taxativo (ADI 124/SC). As hipóteses de extinção do crédito tributário devem ser prevista em lei, em decorrência do princípio da legalidade e da indisponibilidade do interesse público - art. 141 CTN. A extinção fulmina, via de regra, o crédito já constituído (diferente da exclusão, que impede a constituição do crédito tributário).
Modalidades:
PAGAMENTO: É a modalidade direta de extinção do crédito tributário. Segundo o CTN, eventual sanção imposta ao contribuinte não possui caráter substitutivo do valor principal, passando a existir simultaneamente os deveres decorrentes da penalidade e o crédito tributário principal. OBS: ver ponto específico – “15.b Extinção do crédito tributário: pagamento.” 
COMPENSAÇÃO: representa uma forma indireta (por via de lei) de extinção do crédito tributário, realizada pelo encontro de contas de créditos e débitos. A compensação não pode ser realizada por mera iniciativa do contribuinte, pois depende de lei que a autorize. Mais especificamente, de uma autorização do Poder Executivo (com apoio naquela lei para sua aplicação). Súmula 213 STJ: O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à compensação tributária. Súmula 461 STJ: O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por compensação, o indébito tributário certificado por sentença declaratória transitada em julgado. Súmula 464 STJ: A regra de imputação de pagamentos estabelecida no art. 354 do CCB/2002 não se aplica às hipóteses de compensação tributária. 
TRANSAÇÃO: acordo ou concessões recíprocas que encerram um litígio instalado, com reciprocidade de ônus e vantagens. Diferentemente do direito civil, não tem natureza contratual, mas legal. Somente pode ser terminativa de litígio, não pode ser preventiva. A Lei nº 13.988/2020 estabeleceu os requisitos e as condições para que a União, as suas autarquias e fundações e os devedores ou as partes adversas realizem transação resolutiva de litígio, nos termos do art. 171 do CTN.
REMISSÃO: perdão da dívida pelo credor. Traduz-se na liberação graciosa (unilateral) da dívida pelo Fisco e depende da existência de lei para sua aplicação. Pode ser total ou parcial. Não gera direito adquirido.
DECADÊNCIA: perda do direito de constituir o crédito tributário – ou seja, de lançá-lo – pelo decurso de certo prazo (5 anos). Só pode ser regulada por lei complementar (art. 146, III. B. CF). Extinção do direito de a Fazenda constituir o crédito tributário. Impede o nascimento do crédito. OBS: ver ponto específico – “13.b Decadência.”
PRESCRIÇÃO: Feito o lançamento, passa-se a cogitar outro prazo (5 anos), que é o de prescrição da ação para cobrança do tributo lançado. Insere-se a prescrição no bojo do direito processual. Também só pode ser regulada por lei complementar. Corresponde à perda do direito do Fisco de ajuizar a execução fiscal. Termo inicial: constituição definitiva do crédito. Súmula 622-STJ: A notificação do auto de infração faz cessar a contagem da decadência para a constituição do crédito tributário; exaurida a instância administrativa com o decurso do prazo para a impugnação ou com a notificação de seu julgamento definitivo e esgotado o prazo concedido pela Administração para o pagamento voluntário, inicia-se o prazo prescricional para a cobrança judicial. OBS: ver ponto específico – “19.b Prescrição.”
CONVERSÃO DO DEPÓSITO EM RENDA: Após decisão definitiva em sede administrativa ou judicial, favorável ao sujeito ativo, o depósito integral efetuado nos autos será convertido em renda em seu favor, provocando a extinção do crédito tributário. Ao longo do processo, tutelado pelo depósito garantidor, o crédito tributário fica com a exigibilidade suspensa, nos termos do art. 151, II, do CTN. Todavia, encerrada a demanda de maneira favorável à Fazenda, ocorre a extinção do crédito tributário e sua conversão em renda.
PAGAMENTO ANTECIPADO e HOMOLOGAÇÃO DO LANÇAMENTO: Nos tributos sujeitos a lançamento por homologação, o pagamento antecipado feito pelo contribuinte, sendo aprovado pela autoridade administrativa, produz os mesmos efeitos do pagamento regular, tendo o efeito de extinguir o crédito.
CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO: é o instrumento hábil a garantir ao sujeito passivo o exercício de seu direito de recolher o tributo, diante das seguintes circunstâncias: recusa de recebimento, ou subordinação deste ao pagamento de outro tributo ou de penalidade, ou ao cumprimento de obrigação acessória; subordinação do recebimento ao cumprimento de exigências administrativas sem fundamento legal; exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito público, de tributo idêntico sobre um mesmo fato gerador (bitributação). Se improcedente, cobra-se o crédito acrescido de juros de mora e das penalidades cabíveis, não havendo extinção do crédito. 
	CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO
	DEPÓSITO DO MONTANTE INTEGRAL
	Depósito do valor que o sujeito entende devido
	Depósito do valor que o Estado está exigindo
	Julgada procedente, extingue o crédito
	Suspende a exigibilidade do crédito
DECISÃO ADMINISTRATIVA IRREFORMÁVEL: a que não pode mais ser objeto de ação anulatória. Ocorre quando a Administração Fiscal acolhe legitimamente a pretensão do contribuinte. Coisa julgada administrativa. A Fazenda só poderia recorrer a via judicial diante de vícios graves. (Parecer PGFN/CRJ 1.087/2004). 
DECISÃO JUDICIAL PASSADA EM JULGADO: somente extingue o crédito tributário se favorável ao sujeito passivo. 
DAÇÃO EM PAGAMENTO DE BENS IMÓVEIS: oferecimento de bem para extinção da dívida tributária. O CTN prevê a dação em pagamento como uma das formas de extinção do crédito tributário, apenas para o caso de bens imóveis. A dação em pagamento aqui representa modalidade indireta de extinção do crédito, por depender de lei autorizadora que a discipline.
Diferença entre remissão, anistia e isenção:
	Isenção
	Anistia
	Remissão
	Exige lei.
	Exige lei.
	Exige lei.
	Representa a dispensa legal de tributos.
	Dispensa legal de penalidades. 
	Dispensa legal de tributos e penalidades.
	Atinge fatos geradores futuros.
	Atinge fatos geradores passados.
	Atinge fatos geradores passados.
	Exclusão do crédito (que não está constituído).
	Exclusão do crédito (que não está constituído).
	Extinção do crédito já constituído. Por esse motivo, fala-se em perdão.
O crédito pode ter sido constituído pelo lançamento ou declaração do sujeito passivo.
Programa de Recuperação Fiscal (REFIS). Parcelamento Ordinário. Parcelamento Especial (PAES). Lei 11.941/2009 e Alterações.
Ver no ponto 10B (Suspensão do crédito tributário).
12B. Pagamento indevido. Repetição de indébito
Thiago Costa Pinheiro 26/03/2023
1. Conceito. “Alguém (o solvens), falsamente posicionado como sujeito passivo, paga um valor (sob o rótulo de tributo) a outrem (o accipiens), falsamente rotulado de sujeito ativo” (Luciano Amaro).
Leciona Hugo de Brito Machado que, de "acordo com o art. 165 do CTN, o sujeito passivo tem direito à restituição do tributo que houver pago indevidamente independentemente de tê-lo feito por erro ou não. Esse direito independe de prévio protesto [...]. No Direito Civil havia regra expressa dizendo que quem paga voluntariamente só terá direito à restituição se provar que o fez por erro (art. 877, CC). Assim, um contribuinte, mesmo sabendo que o tributo é indevido, se paga, tem direito à restituição. O que importa é a demonstração de que o tributo é realmente indevido. 
MPF/18º: Para a repetição do indébito por pagamento indevido em matéria tributária: sendo obrigação ex lege, é inexigívela prova do erro, bastando que o interessado evidencie que o pagamento foi ilegal.
2. Fundamento. Vedação ao enriquecimento sem causa, propriedade, devido processo legal, legalidade e moralidade. Sustenta Hugo de Brito Machado a Administração Pública tem "o dever jurídico de devolver o que foi pago indevidamente" em homenagem ao princípio da moralidade.
3. Hipóteses de Pagamento indevido. O art. 165 do CTN prevê três hipóteses de pagamento indevido: I) nos casos de cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador ocorrido; II) nos casos de erro na identificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota aplicável, no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência de qualquer documento relativo ao pagamento; III) nos casos de reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória.
4. Restituição do tributo indireto. O tributo é direto quando o respectivo ônus financeiro é suportado pelo próprio contribuinte e indireto quando esse ônus é transferido para terceiros (o encargo econômico-financeiro) (Hugo de Brito Machado). De acordo com o art. 166 do CTN, é necessário que as normas que disciplinam o tributo prevejam a possibilidade oficial de transferência do encargo (“Art. 166, CTN ...tributos que comportem, por sua natureza, transferência...”). Trata-se de repercussão jurídica e não apenas econômica. 
Assim, é possível a restituição do tributo indireto nas seguintes e exaustivas hipóteses: a) Quando o contribuinte de direito comprovar que não transferiu o encargo financeiro do tributo; b) Quando o contribuinte de direito estiver expressamente autorizado pelo contribuinte de fato a receber a restituição. Nesse sentido a Súmula 546 do STF: “Cabe a restituição do tributo pago indevidamente, quando reconhecido por decisão, que o contribuinte ‘de jure’ não recuperou do contribuinte ‘de facto’ o ‘quantum’ respectivo”.
ATENÇÃO! O STJ tem adotado a posição de que o contribuinte de fato, por formalmente não fazer parte da relação jurídico- tributária, não está autorizado a pleitear judicialmente a restituição do tributo pago pelo contribuinte de direito. Este sim teria legitimidade para tanto, desde que cumpridas as exigências do art. 166 do CTN (Nesse sentido REsp 903.394/AL, julgado no regime repetitivo).
OBS.: Excepcionalmente, o STJ entende que os consumidores finais tem legitimidade ativa para buscar a restituição de pagamentos indevidos feitos a título de ICMS incidente sobre o fornecimento de energia elétrica. Entendeu-se que diante da peculiar relação envolvendo o Estado-concedente, a concessionária e o consumidor, a legitimidade deste decorreria da inviabilidade de o contribuinte de direito (concessionária) pleitear a devolução sem agredir o contrato de concessão firmado com o Estado (concedente), evitando-se, assim, enriquecimento sem causa do último. (REsp 1.299.303)
Julgados interessantes recentes: 
· A ECT (Correios) pode pleitear à repetição do indébito relativo ao ISS cobrado sobre os serviços postais. Para isso, os Correios não precisam provar que assumiram o encargo pelo tributo nem precisam estar expressamente autorizados pelos tomadores dos serviços. Presume-se que os Correios não repassaram o custo do ISS nas tarifas postais cobradas dos tomadores dos serviços. Isso porque a empresa pública sempre entendeu e defendeu que não estava sujeita ao pagamento desse imposto. (STJ. 2ª Turma. REsp 1.642.250-SP) (Info 602). Além disso, o ISS é espécie tributária que pode se caracterizar como tributo direto ou indireto, sendo necessário avaliar, no caso concreto, se seu valor é repassado ou não ao preço cobrado pelo serviço. (REsp 1.131.476/RS).
· É possível assegurar, na via administrativa, o direito à restituição do indébito tributário reconhecido por decisão judicial em mandado de segurança. O direito de o contribuinte reaver os valores pagos indevidamente ou a maior, a título de tributos, encontra-se expressamente assegurado no art. 165 do CTN, podendo ocorrer de duas formas: a) pela restituição do valor recolhido, isto é, quando o contribuinte se dirige à autoridade administrativa e apresenta requerimento de ressarcimento do que foi pago indevidamente ou a maior; ou b) mediante compensação tributária. Assim, se o contribuinte impetra mandado de segurança pedindo para que fique declarada a inexigibilidade de determinada obrigação tributária, é possível que a decisão declare que esse contribuinte terá direito de obter a devolução a compensação tributária ou a restituição do indébito tributário na via administrativa. STJ. 1ª Turma. REsp 1951855-SC, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região), julgado em 08/11/2022 (Info 756).
· Não incidem IRPJ e CSLL sobre os juros decorrentes da mora na devolução de valores determinada em ação de repetição do indébito tributário. “É inconstitucional a incidência do IRPJ e da CSLL sobre os valores atinentes à taxa Selic recebidos em razão de repetição de indébito tributário”. STF. Plenário. RE 1063187/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/9/2021 (Repercussão Geral – Tema 962) (Info 1031). 
5. Termo inicial da correção monetária. Súmula 162 STJ: “Na repetição de indébito tributário, a correção monetária incide a partir do pagamento indevido” (MPF/15º).
6. STJ, taxa SELIC, juros moratórios: Súmula 188, STJ – “Os juros moratórios, na repetição do indébito tributário, são devidos a partir do trânsito em julgado da sentença”.
ATENÇÃO! Prazo constitucional para pagamento do precatório e a SV 17: “Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos”. Nesse sentido, i) a partir do trânsito, inicia-se a incidência dos juros moratórios (S. 188, STJ); ii) após a apresentação do precatório para pagamento até dia 2/4 até o fim do prazo constitucional que o ente público goza para pagar o precatório (31/12 do ano seguinte), não incide juros (SV. 17, STF); se não pago nesse prazo constitucional de 18 meses, voltam a incidir juros de mora.
OBS.: Com a vigência da SELIC (índice que cumula juros + correção), o STJ entende que se os pagamentos indevidos ocorreram após 1º.1.1996, incidirá somente a taxa Selic, desde os recolhimentos indevidos, não podendo ser cumulada com qualquer outro índice, seja de juros, seja de atualização monetária. (RESP 201001209513)
7. Prazo para pleitear a restituição de indébito no âmbito administrativo. O art. 168, do CTN prevê o prazo de 5 anos, contados:
I- da data em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou transitar em julgado decisão judicial que tiver reconhecido o direito à restituição, na hipótese do art. 165, III (reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória). Nos termos do REsp 1.110.578-SP (INF. 434 STJ), julgado na forma dos recursos repetitivos, “O trânsito em julgado da declaração do STF relativa à inconstitucionalidade da lei instituidora do tributo (controle concentrado) ou a publicação de resolução do Senado Federal que suspenda a execução da lei (declaração da inconstitucionalidade em controle difuso) não têm influência na contagem do prazo prescricional referente aos tributos sujeitos ao lançamento de ofício ou por homologação”.
II- da extinção do crédito tributário nas hipóteses do art. 165, I e II (em resumo, no caso de pagamento indevido). Nos lançamentos de ofício e por declaração o pagamento extingue imediatamente o crédito tributário. Nos lançamentos por homologação, para fins de restituição, a extinção ocorre no momento do pagamento antecipado, nos termos do art. 3º da LC 118/05 (essa regra só é aplicada para as ações ajuizadas partir da entrada em vigor da LC 118/05 – 09/06/2005, não tendo efeitos retroativos, conforme STF, RE 566621 – antes o STJ entendia que estaria extinto o crédito somente com a homologação do pagamento nesse caso, o que restou superado pela LC 118).
OBS.: Há discussão doutrinária se o prazoé decadencial ou prescricional. Luciano Amaro, entende que o prazo do art. 168 é decadencial (para pleitear a restituição) e o do art. 169 prescricional (para buscar no judiciário a anulação de decisão que indefira a restituição). 
8. Prazo para restituição na via judicial: Nos termos do art. 169 do CTN, prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão administrativa que denegar a restituição. De acordo com o parágrafo único do mesmo dispositivo, o prazo de prescrição é interrompido pelo início da ação judicial (ou seja, pela sua distribuição, desde que a citação seja feita nos prazos do art. 240 do CPC), recomeçando o seu curso, por metade, a partir da data da intimação (o termo correto seria citação) validamente feita ao representante judicial da Fazenda Pública interessada. Se a interrupção ocorrer na segunda metade do prazo de dois anos previsto no art. 169, o prazo voltará a fluir por mais um ano. Já se a interrupção ocorrer na primeira metade do prazo original, não poderá se imaginar que o prazo recomeçará seu curso pela metade, pois haveria prejuízo do interessado (Ex.: ajuíza ação 6 meses após a decisão que lhe denegou a restituição; o prazo voltará fluir pelo que ainda resta – 18 meses – e não por 1 ano).
Isso com base no genérico enunciado de Súmula 383, STF – “A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo”.
Súmula 625-STJ: O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN nem o da execução de título judicial contra a Fazenda Pública. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.
OBS.: Parte da doutrina tem criticado esse dispositivo por entender que ele destinou favorecido tratamento à Fazenda Pública, em detrimento do particular. Mas ele é aplicado normalmente e continua vigente. 
9. Tributo vinculado desafia repetição de indébito? O tributo vinculado é aquele subordinado a uma atividade estatal específica diretamente relacionada ao contribuinte. A fazenda pública argumenta que se o indivíduo teve a seu dispor o serviço de saúde, poderia ter usufruído dos serviços e por isso não seria possível a repetição. No entanto, o STJ, no REsp 1.294.775-RS, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 16/2/2012, 2ª T., entendeu que o tributo vinculado desafia repetição, na literalidade do art. 165 do CTN, pois o que define a possibilidade de repetição do indébito é a cobrança indevida do tributo. 
Súmula 523-STJ: A taxa de juros de mora incidente na repetição de indébito de tributos estaduais deve corresponder à utilizada para cobrança do tributo pago em atraso, sendo legítima a incidência da taxa Selic, em ambas as hipóteses, quando prevista na legislação local, vedada sua cumulação com quaisquer outros índices. 
10. Multa punitiva ou de ofício: “Art. 167. A restituição total ou parcial do tributo dá lugar à restituição, na mesma proporção, dos juros de mora e das penalidades pecuniárias, salvo os referentes a infrações de caráter formal não prejudicadas pela causa da restituição”. 
Nesse sentido, as multas punitivas são autônomas e não são restituídas caso seu fato gerador tenha ocorrido (multa por atraso na entrega da declaração, p. ex.). Portanto, pode ocorrer de ser restituído o valor a título de tributo/juros e correção/multa moratória, mas não a multa de caráter formal aplicada autonomamente.
QUADRO-RESUMO DA SITUAÇÃO ATUAL:
	JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA EM CONDENAÇÕES DA FAZENDA PÚBLICA
	Indébitos tributários
	• Se o ente tributante adotar a taxa SELIC para cobrança de seus tributos (ex: União): neste caso, será adotada também a SELIC para a repetição de indébitos tributários. Como a SELIC já engloba juros e correção monetária, com a sua incidência fica vedada a cumulação com quaisquer outros índices.
• Se o ente tributante adotar outro índice diferente da SELIC: este mesmo índice deverá ser utilizado quando esta Fazenda for condenada em matéria tributária.
• Se o ente tributante não tiver uma lei definindo a taxa de juros a ser aplicada na cobrança de tributos: nesta hipótese os juros de mora são calculados à taxa de 1% ao mês.
13B. Decadência.
Thiago Costa Pinheiro 26/03/2023
1. 	Conceito: É a perda do direito potestativo de lançar o crédito tributário, em razão do decurso do tempo. Com o lançamento, a obrigação é tornada liquida e certa, surgindo o crédito tributário. O prazo que a administração pública possui para, por meio de autoridade competente, promover o lançamento é decadencial, que não se confunde com o prazo para ajuizar a ação de execução fiscal, que é prescricional. 
Operada a decadência, tem-se por extinto o crédito tributário (CTN). Na verdade, como crítica, pode-se dizer que a decadência impede o nascimento do crédito (o que seria mais correto incluí-la dentre as hipóteses de exclusão do crédito tributário). Todavia, pelo CTN trata-se de causa de extinção do crédito tributário.
2.	Termo Inicial do prazo decadencial. O termo inicial do prazo decadencial não é exatamente a data da ocorrência do FG, mas uma data em torno deste momento (em regra o primeiro dia do exercício financeiro subsequente). No caso do lançamento por homologação, contudo, o termo inicial pode coincidir com precisão com a data do FG.
O prazo é de cinco anos. Sendo esse ponto o mais controverso e relevante sobre a matéria, passamos a analisar cada hipótese.
2.1.	Regra geral. A regra geral está prevista no artigo 173, inciso I do CTN, onde o direito da Fazenda constituir o crédito tributário se extingue após cinco anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte aquele em que o lançamento poderia ser efetuado. Ex: fato gerador ocorrido em 01/01/07 (e sujeito a lançamento de ofício), em tese, em 02/01/07 já seria possível efetuar o lançamento. Caso não o faça já em 2007, o direito da Fazenda em tomá-la extinguiu-se após cinco anos, contados de 01/01/08. Daí, a decadência estará consumada em 01/01/13, de forma que o lançamento só poderia ser efetuado até 31/12/12.
OBS.: Veja-se que a Administração Tributária (AT) acaba tendo mais de cinco anos para exercer seu direito. Parte da doutrina explica que o prazo para lançar começa a fluir em momento posterior ao direito de lançar, porque o CTN quis conferir um prazo razoável para que o fisco tomasse conhecimento da ocorrência do FG. Porém, esse raciocínio não é sempre aplicável, como no caso das taxas, por exemplo, onde o FG depende de uma atividade estatal, não sendo razoável imaginar que a administração não tome conhecimento imediato desse fato. Mas, a justificativa apresentada é de toda forma útil.
Obs.: O recolhimento do tributo a município diverso daquele a quem seria efetivamente devido não afasta a aplicação da regra da decadência prevista no art. 173, I do CTN. Para a aplicação da regra do art. 150, § 4º, do CTN seria necessário que a empresa tivesse recolhido, ainda que parcialmente, o imposto ao Município que lavrou o auto de infração. STJ. 1ª Turma. AREsp 1904780-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/12/2021 (Info 723).
2.2.	Regra da Antecipação de contagem. O parágrafo único do artigo 173 do CTN traz essa regra, em que os cinco anos são contados da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento.
Essa regra se aplica naqueles casos onde durante o lapso de tempo entre o FG e o início da fluência do prazo decadencial, a AT adota medida preparatória para o lançamento. Um exemplo é quando antes de chegar o primeiro dia do exercício seguinte aquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, a AT inicia procedimento de fiscalização relativo ao fato. Na data em que o sujeito passivo toma ciência do termo de início (meio de deflagração da fiscalização), e, portanto, do início da fiscalização, inicia-se o prazode decadência.
OBS.: Essa regra somente tem o condão de antecipar a contagem do prazo, não gerando efeito algum sobre a contagem de prazo que já teve sua fluência iniciada. Destarte, iniciada a contagem do prazo decadencial, nenhum fato posterior terá efeito sobre seu curso, com exceção da regra a seguir estudada.
2.3.	Regra da anulação de lançamento por vício formal. É a regra do artigo 173, II do CTN, onde os cinco anos para lançar são contados da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado por vício formal o lançamento anteriormente efetuado. Essa regra é criticada por parte da doutrina, pois premia o cometimento de ilegalidades, já que estabelece a AT que praticou o ato viciado a devolução do prazo para constituir o crédito.
ATENÇÃO! Vício material, NÃO! Somente se reinicia a contagem no caso de anulação por vício formal (p. ex., a autoridade lançadora era incompetente, tendo sido anulado o lançamento por essa razão).
2.4.	Regra do lançamento por homologação. Nos moldes do artigo 150, § 4º do CTN, temos que se a lei não fixar prazo à homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador (regra geral), exatamente porque a AT já pode verificar a correção do pagamento e o conhecimento do FG; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação, aplicando a regra do 173, I (1ª exceção).
Perceba-se que o que decai, na verdade, é o direito da AT lançar de ofício as diferenças apuradas, caso deixe de homologar. Todavia, como visto, passado o prazo sem qualquer providência, reputa-se efetuado o lançamento.
É justamente por isso, que o STJ (EResp. 101.407/SP) entende que essa regra do 150, §4 não é aplicável nos casos em que o contribuinte não faz até a data do vencimento, qualquer pagamento (2ª exceção), devendo nesse caso, o prazo decadencial ser contado nos termos do 173, I. 
OBS.: Se o contribuinte antecipou o pagamento dentro do prazo legal, mesmo que o valor recolhido seja ínfimo, a homologação tácita ocorrera em cinco anos contados do FG (150, § 4º ). Se, ao revés, ele não antecipou qualquer valor, o prazo começará a fluir a partir do primeiro dia do exercício subsequente (art. 173, I).
	Lançamento Por Homologação
	Houve Pagamento antecipado?
	Sim
	Com dolo, fraude, simulação?
	Sim. Art.173, I ., contado do 1º dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado
	
	
	
	
	Não. Art.150, § 4º. contar do fato gerador
	
	
	Não.
	Art.173, I.
OBS.: A tese dos “cinco mais cinco”. Foi um entendimento adotado pelo STJ a partir de 1995 (atualmente rechaçada), que possuía o efeito de ampliar o prazo para que a Fazenda constitua créditos tributários relativos a diferenças apuradas na sistemática do lançamento por homologação. Essa tese decorria do entendimento de que as regras relativas à decadência do direito de lançar eram exclusivamente aquelas constantes no art. 173 do CTN. Daí, a regra do art. 150, §4 deveria ser completada pela do art. 173, I. Nesse caso, a AT teria os 5 anos do art. 150, § 4º mais os 5 anos do art. 173 (a regra geral). 
2.5.	O entendimento atual do STJ. (a) Se o tributo não foi declarado e nem pago, o termo inicial do prazo decadencial é o do 173, I (só se faz sentido homologar se houve algo, pagamento e/ou declaração) – Súmula 555, STJ. (b) Se foi realizado pagamento, a Fazenda tem o prazo de cinco anos, contados da data do FG, para homologar o pgo expressamente ou realizar eventual lançamento suplementar (de ofício), caso contrário, ocorrerá homologação tácita e o crédito estará definitivamente extinto (aplicação do 150, § 4º). (c) Se o tributo foi declarado e não pago, não há que se falar em decadência, pois aqui o crédito estará constituído pela própria declaração de débito do contribuinte, de modo que já pode a Fazenda inscrever em dívida ativa e posteriormente ajuizar ação de execução fiscal, momento em que a preocupação será o prazo prescricional. – Súmula 436, STJ.
OBS.: Nesse último caso (c), tendo ocorrido a constituição definitiva do crédito, i) inicia-se já o prazo prescricional, ii) possível a inscrição em dívida ativa, iii) impossibilidade de gozar dos benefícios da denúncia espontânea e iv) impossibilidade de o declarante obter certidão negativa de débitos.
2.6.	Prazo decadencial e as contribuições para seguridade social. O artigo 45 da Lei 8212/91 estipulava prazo decadencial de dez anos para a realização do lançamento das contribuições para financiamento da seguridade social (dispositivo revogado). O STF, afirmou que esse dispositivo é formalmente inconstitucional, uma vez que a matéria relativa à prescrição e decadência tributárias se encontra sob reserva de lei complementar (art. 146, III, b da CF) (Súmula Vinculante 8). 
OBS.: O STF modulou os efeitos dessa declaração de inconstitucionalidade para afastar eventual repetição daqueles que já haviam pagos as contribuições sem contestar ou sem formular pedido de restituição anterior à decisão da Corte Suprema.
 
15B. Extinção do Crédito Tributário: Pagamento.
João Pedro Laurentino Gomes 20/03/2023
Conceito: O pagamento é modalidade direta de extinção do crédito tributário, prescindindo de autorização por lei. Em regra, deve ser realizado por pecúnia. No entanto, o próprio CTN prevê outros sucedâneos: cheque, vale-postal, estampilha, papel selado ou processo mecânico. Pode-se pagar o tributo com produtos agrícolas (laranja, soja etc.)? NÃO, pois é vedado o tributo in natura.
O pagamento parcial de um crédito tributário, diferentemente do que acontece no Direito Civil, não importa em presunção de pagamento das demais parcelas em que ele se decomponha (art. 158, I). Da mesma forma, o pagamento total de um crédito não resulta na presunção do pagamento de outros créditos, referentes a mesmo ou outro tributo (art. 158, inc. II).
	
Cumulatividade das multas. A multa é sempre cumulativa, jamais substituindo o pagamento do respectivo tributo.
Local e prazo para pagamento. Pela regra do CTN (art. 159), o pagamento é feito na repartição competente do domicílio do sujeito passivo (dívida quesível). O prazo para o pagamento dos tributos é definido na legislação própria de cada gravame, mas, salvo regra contrária, aplica-se o prazo de 30 dias, contados da data da notificação do lançamento ao contribuinte (referida regra não se aplica ao lançamento por homologação, uma vez que o pagamento deve ser antecipado, de forma que o prazo deve estar previsto na legislação).
Juros de mora, multa de mora e correção monetária. Em direito tributário, os efeitos da mora são automáticos (mora ex re), não sendo necessário ao credor tomar qualquer providência para “constituir em mora” o devedor. Somente se aplica a previsão de juros de 1% ao mês (art. 161, §1º, CTN), se não houver previsão expressa na legislação. No âmbito federal, a correção e os juros de mora estão reunidos em único índice (SELIC). Não se aplicam multa e juros de mora na pendência de consulta formulada pelo devedor (art. 161, §2º, CTN). Em caso de inadimplemento do crédito tributário, os juros de mora deverão incidir sobre a totalidade da dívida, ou seja, sobre o tributo e sobre a multa punitiva, a qual também integra o crédito tributário (AgRg no Resp 1.335.688/PR, 04/12/2012). Correção monetária é a atualização de um valor em face de um fenômeno inflacionário. Juro é o preço pelo uso do dinheiro alheio. Multa de mora é a sanção pelo atraso no adimplemento da obrigação.
Imputação em pagamento. Ocorre quando o sujeito passivo possui mais de um débito e oferece para pagamento montante insuficiente para quitação de tudo o que deve. A imputação pelo Fisco é reservada à falta de imputação pelo contribuinte. A ordem de preferência do pagamento é estipulada no art. 163, CTN:
I - primeiramente, aos débitos por obrigação própria, depois aos decorrentes de responsabilidade tributária;
II - primeiramente, às contribuições de melhoria, depois às taxas e por fimaos impostos;
III - na ordem crescente dos prazos de prescrição;
IV - na ordem decrescente dos montantes.
Se o pagamento é realizado no vencimento, há impossibilidade de imputação pelo Fisco a débito anterior. A imputação não se aplica a pagamentos no vencimento, mas apenas a pagamentos de tributos em atraso, quando existam 2 ou mais débitos vencidos.
Tributariamente, há uma imputação proporcional (abatem-se proporcionalmente débito, multa e juros), e não conforme o Código Civil (abatem-se primeiro os juros).
Pagamento antecipado e a homologação do lançamento. Observar que para os tributos sujeitos a lançamento por homologação, apesar de o CTN falar em extinção do crédito com o pagamento, referido efeito fica condicionado à homologação pelo fisco, ainda que tácita. Conforme o STJ, o termo inicial de decadência (5 anos) para o fisco lançar diferenças ou o próprio crédito não declarado inicia-se:
a) no 1º dia do exercício seguinte, quando não há sequer declaração por parte do contribuinte, ou quando o pagamento se dá com dolo, fraude ou simulação;
b) na data do fato gerador, quando há pagamento sem os vícios de fraude, dolo ou simulação.
Obs.: quando o contribuinte declara o valor devido, mas não paga, não há o que homologar, de modo que a partir do vencimento da obrigação já começa a correr o prazo prescricional de 5 anos para inscrição do débito em dívida ativa e cobrança judicial.
Dação em pagamento. Prevista nos arts. 356 a 359 do CC, o CTN admite, exclusivamente, a dação em pagamento em bens imóveis. Foi incluída pela LC 104/2001 e representa modalidade indireta de extinção do crédito tributário. A Lei 13.259/2016 estabeleceu as condições: 
a) prévia avaliação judicial, segundo critérios de mercado;
b) deve abranger totalidade dos débitos (atualização, juros, multa e encargos, sem desconto de qualquer natureza), assegurando-se ao devedor a possibilidade de complementação em dinheiro da diferença. 
A forma e as condições para a dação em pagamento poderiam ter sido fixadas por meio de lei ordinária (no caso, a Lei 13.259/2016)?
• 1ª corrente: NÃO, considerando que a CF exige que as normas gerais sobre crédito tributário sejam fixadas por meio de LC (art. 146, III, “b”, da CF/88). Eduardo Sabbag.
• 2ª corrente: SIM. CF exige que as normas gerais sobre crédito tributário sejam trazidas por LC. CTN (que tem status de LC) prevê essas normas gerais e, em seu art. 156, XI, autorizou que o detalhamento (normas específicas) da disciplina sobre a dação em pagamento fosse feito por meio de lei ordinária. Logo, não há inconstitucionalidade no art. 4º da Lei 13.259/2016. Márcio André Lopes Cavalcante.
Súmulas.
70 do STF: É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de tributo.
323 do STF: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos.
547 do STF: Não é lícito a autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais.
MPF/25º: Com o pagamento, no lançamento por homologação, pode ser considerado definitivamente extinto o crédito tributário. (FALSO!) Resposta: com a homologação é que será definitivamente extinto o crédito tributário (art. 150, §4º, do CTN).
MPF/18º: Tratando-se de tributo com lançamento por homologação, o pagamento antecipado extingue o crédito tributário sob condição suspensiva. (FALSO!) Extingue sob condição resolutória.
MPF/15º: O pagamento antecipado pelo obrigado extingue o crédito tributário: a) sob condição resolutória; b) sob condição suspensiva; c) sob condição resolutória em relação ao contribuinte, e sob condição suspensiva em relação à Fazenda Pública; d) não se submete a nenhuma condição. (resposta “a”)
 
19B. Prescrição.
Thiago Costa Pinheiro 26/03/2023
1. Decadência e prescrição: Ambas podem ser reconhecidas de ofício, mas ao contrário do direito civil, o prazo de prescrição não fulmina apenas a pretensão jurídica, mas o próprio direito (cf. art. 156, V, do CTN c/c o art. 165, I, do CTN), sendo incorreta a afirmação de o pagamento de débito tributário submetido ao prazo de prescrição não poder ser restituído. Referem-se a diferentes situações jurídicas: a decadência recai sobre o direito da Fazenda de constituir (ou segundo alguns “declarar”) o crédito tributário; já a prescrição refere-se ao prazo para o ajuizamento da ação de execução fiscal do débito já constituído. O prazo prescricional é de 5 anos (art. 174 do CTN), contado da constituição definitiva do crédito, que é interrompido nas hipóteses do p.ú. do art. 174.
Embora sejam regidas por regimes próprios, a prescrição e decadência aproveitam alguns raciocínios do direito civil, inclusive quanto ao caráter essencial da inércia para a contagem de prazos (teoria da “actio nata”), motivo pelo qual:
(1) a decadência não flui enquanto o particular promove sua defesa administrativa em face da do lançamento efetuado; (2) as suspensões de crédito tributário (art. 151 do CTN), inclusive o depósito integral do débito (inciso II) como caução em ação anulatória, inibe a prescrição (se inexigível o crédito em razão da suspensão – art. 151 CTN, moratória, liminar, parcelamento e etc. – a Fazenda não pode promover atos de cobrança); (3) seria aplicável o § 1º do art. 240 do CPC e (4) a Súm. 106-STJ.
2. Necessidade de lei complementar: Por serem normas gerais, a CF exige expressamente para prescrição e decadência LC (art. 146, III, b), por isto, tanto o STJ (REsp 616.348, j. em 15/10/2007) como o STF (súmula vinculante n. 8) declararam inconstitucionais os prazos de 10 anos para decadência e prescrição relativa ao lançamento de contribuições sociais (art. 45 e 46 da Lei 8.212/93, hoje já revogados).
É constitucional o art. 40 da Lei 6.830/80, que trata sobre a prescrição na execução fiscal; não era necessário que a prescrição intercorrente fosse disciplinada em lei complementar. 
É constitucional — por não afrontar a exigência de lei complementar para tratar da matéria (art. 146, III, “b”, CF/88) — o art. 40 da LEF — lei ordinária nacional — quanto à prescrição intercorrente tributária e ao prazo de um ano de suspensão da execução fiscal. Contudo, o § 4º do aludido dispositivo deve ser lido de modo que, após o decurso do prazo de um ano de suspensão da execução fiscal, a contagem do prazo de prescrição de cinco anos seja iniciada automaticamente.
Tese fixada pelo STF: É constitucional o art. 40 da Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal – LEF), tendo natureza processual o prazo de um ano de suspensão da execução fiscal. Após o decurso desse prazo, inicia-se automaticamente a contagem do prazo prescricional tributário de cinco anos. STF. Plenário. RE 636562/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Repercussão Geral – Tema 390) (Info 1083).
3. O prazo de decadência e a tese dos 5 + 5 pró-fisco: Ver subponto 13.b (decadência)
4. Causas de interrupção: Nesses casos (art. 174, p. ú., CTN) o prazo é integralmente devolvido à pessoa que seria prejudicada pela consumação desse prazo. Nos casos dos incisos de I a III trata-se de ato praticado na esfera judicial, ao passo que no inciso IV tem-se a possibilidade de ato extrajudicial e também nesse inciso aparece a única hipótese em que a iniciativa do próprio devedor acarreta a interrupção.
4.1. O despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal (I): Anteriormente à LC 118/05, somente a citação interrompia a prescrição, o que possibilitava ao devedor tributário fugir a citação a fim de não interromper o prazo. Em razão disso, a redação foi alterada pela LC 118 a fim de beneficiar a Fazenda Pública, além de o despacho retroagir à data de ajuizamento da execução fiscal (aplica-se o art. 240, § 1º, CPC). Observar também a S. 106/STJ.
ATENÇÃO! Antes da LC 118/05, havia distinção da interrupção em relação às dívidas tributárias e não tributárias. Isso porque naquelas demandaria a efetiva citação como visto, ao passo que nessas últimas, a Lei de Execução Fiscal (LEF - Lei 6830/80 - lei ordinária) possuíaregra que o despacho já seria suficiente para a interrupção (assim como a atual redação do art. 174, CTN). Para o STJ (AgRg REsp 323.442/SP), a regra do art. 8º, § 2º, da LEF, se restringiria - naquele momento (antes da LC 118/05) - às dívidas de natureza não tributária, já que nos casos de cobranças de tributos haveria necessidade de Lei complementar para tratar da matéria, em razão da reserva do art. 146 explicada no item 2 acima.
4.2. O protesto judicial e a constituição em mora (II e III): Somente o protesto judicial interrompe a prescrição, diferentemente da regra exposta no Código Civil (art. 202, CC/02). Da mesma forma, qualquer outro ato (judicial – notificação, interpelação e etc.) tendente a constituir em mora o devedor acarretará a interrupção do prazo prescricional. O inciso II, dessa forma, está incluído dentro da hipótese tratada no inciso III.
4.3. A confissão de dívida: Geralmente ocorre quando o devedor firma termo de parcelamento com a Administração Tributária ou em caso de compensação do débito. No caso do parcelamento, além da interrupção do prazo, enquanto há o parcelamento regular, a exigibilidade do crédito está suspensa (art. 151, CTN), o que em verdade também suspende o prazo prescricional. Neste caso, o prazo voltaria a correr quando o contribuinte i) é excluído do programa de parcelamento (REFIS, PAES dentre outros) ou ii) quando deixa de pagar as parcelas do acordo celebrado, o que acarretará o retorno da exigibilidade do crédito e consequentemente o início do prazo prescricional.
OBS.: Os efeitos acima decorrentes da exclusão do parcelamento ocorrem mesmo que o devedor continue a pagar por liberalidade as parcelas (REsp 1.493.115/SP), de modo que a Fazenda deve se atentar a contagem do prazo prescricional, pois nesse caso já se estaria correndo o prazo (já que na exclusão do programa de parcelamento já se reiniciaria o prazo).
5. Entendimento recente – “Mudança de jurisprudência e segurança jurídica”:
Caso concreto: “STF decidiu que determinada contribuição tributária era inconstitucional (sem modulação dos efeitos). Contribuinte ajuizou ação pedindo a repetição do indébito, ou seja, a restituição dos valores pagos. No momento em que o contribuinte ajuizou a ação, o entendimento do STJ era no sentido de que o prazo prescricional tinha início a partir da data da declaração de inconstitucionalidade da exação pelo STF no controle concentrado, ou de resolução do Senado Federal, no controle difuso. 
Ocorre que, durante o curso da ação, o STJ promoveu revisão abrupta de sua jurisprudência para considerar que, nos tributos sujeitos a lançamento por homologação, o transcurso do prazo prescricional ocorre a partir do recolhimento indevido, independentemente da data da decisão do STF ou da Resolução do SF (REsp 435.835/SC). 
Com a aplicação do novo entendimento do STJ, o contribuinte – que já estava com a sua ação em curso – teria seu pedido rejeitado por força da prescrição.” 
O STF, contudo, não concordou com a aplicação imediata do novo entendimento do STJ aos processos em curso. Para o Supremo, isso representa retroação da regra de contagem do prazo prescricional às pretensões já ajuizadas, em afronta ao princípio da segurança jurídica e aos postulados da lealdade, da boa-fé e da confiança legítima, sobre os quais se assenta o próprio Estado Democrático de Direito. 
A modificação na jurisprudência em matéria de prescrição não pode retroagir para considerar prescrita pretensão que não o era à época do ajuizamento da ação, em respeito ao posicionamento anteriormente consolidado. Toda inflexão jurisprudencial que importe restrição a direitos dos cidadãos deve observar certa regra de transição para produção de seus efeitos, levando em consideração os comportamentos então tidos como legítimos, porquanto praticados em conformidade com a orientação prevalecente, em homenagem aos valores e princípios constitucionais. 
STF. 2a Turma. ARE 951533/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. acórdão o Min. Dias Toffoli, julgado em 12/6/2018 (Info 906).
6. Suspensão do prazo prescricional: O CTN não prevê expressamente hipóteses de suspensão, mas pode se citar como causas suspensivas o previsto no art. 155, p. ú. (“No caso do inciso I [...caso de dolo ou simulação do beneficiado...] deste artigo, o tempo decorrido entre a concessão da moratória e sua revogação não se computa para efeito da prescrição do direito à cobrança do crédito; no caso do inciso II [demais casos] deste artigo, a revogação só pode ocorrer antes de prescrito o referido direito.”). Pode se citar também todas as causas de suspensão de exigibilidade do crédito (art. 151, CTN), como o parcelamento, a moratória, depósito e etc., pois não se poderia correr o prazo se o Poder Público está impedido de efetuar atos de cobrança.
OBS.: O art. 2º, § 3º, da LEF (Lei 6.830/80) prevê uma causa de suspensão (“a inscrição em dívida ativa suspenderá a prescrição, para todos os efeitos de direito, por 180 dias, ou até a distribuição da execução fiscal, se esta ocorrer antes de findo aquele prazo”.) Todavia, essa hipótese prevista na LEF (lei ordinária) não é aplicável as dívidas tributárias, pois para estas é necessária a previsão em Lei Complementar (art. 146, II, CF/88) (STJ, REsp 249.262).
O art. 40 da LEF também prevê hipótese de suspensão do prazo (“Art. 40. O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição.”). Uma crítica a esse dispositivo se dá no sentido de que a previsão dessa causa de suspensão e prescrição intercorrente está prevista em uma lei ordinária, mas o artigo é aplicado normalmente às dívidas tributárias e não tributárias. Interpretando o dispositivo legal o STJ: Súmula 314 – “Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição quinquenal intercorrente”.
	 
16B. Exclusão do Crédito Tributário: Isenção e Anistia. Programa de Recuperação Fiscal (REFIS). Parcelamento Ordinário. Parcelamento Especial (PAES). Lei 11.941/2009 e Alterações.
Thiago Costa Pinheiro 26/03/2023
Principais obras consultadas: Santo Graal; Resumos TRF 5; Eduardo Sabbag. Manual de Direito Tributário 
Leandro Paulsen. Direito Tributário. Constituição e CTN à luz da doutrina e da jurisprudência. 
Paulo de Barros Carvalho. Curso de Direito Tributário. 
Ricardo Alexandre. Direito Tributário Esquematizado.
Legislação básica: Art. 150, §6º da CF, Arts. 97, 111, inc. I, 155, 175 ao 181 do CTN.
Isenção e anistia são causas de exclusão do crédito tributário, previstas no art. 175 do CTN. Excluir o crédito tributário significa impedir a sua constituição. Trata-se de situações em que, não obstante a ocorrência do fato gerador e o consequente nascimento da obrigação tributária, não pode haver lançamento, de forma que não surgirá o próprio crédito tributário.
Isenção (art. 175, I, CTN). Representa a dispensa legal do pagamento de determinado tributo devido, com relação a fatos geradores futuros (irretroatividade da lei). Não se confunde com imunidade, não incidência e alíquota zero, consoante o que segue:
ISENÇÃO: Opera no exercício da competência tributária. Ou seja, o ente detém competência tributária, mas em função de alguma questão econômica opta por não exercer essa competência. Portanto, a isenção está sempre prevista em lei, pois atua no exercício legal de uma competência.
IMUNIDADE: Opera no âmbito da delimitação da competência tributária. A Constituição, ao definir a competência, excepciona determinadas situações que, não fosse a imunidade estariam dentro do campo de competência, mas por força da norma de imunidade, permanecem fora do alcance do poder de tributar. Portanto, as imunidades estarão sempre previstas na CF.
NÃO INCIDÊNCIA: Não há fato gerador, não há incidência e não surge, portanto, obrigação tributária.
ALÍQUOTA ZERO: A norma permanece intacta. Embora a lei de incidência mantenha-se intacta, um dos elementos quantitativosdemais pessoas políticas.
b) Facultativa: o legislador não está constitucionalmente obrigado a criar os tributos de sua competência. Em razão dessa característica, parte da doutrina defende a inconstitucionalidade do art. 11 da LC 101/2000, que veda a realização de transferências voluntárias ao ente que deixar arrecadar tributos de sua competência.
c) Irrenunciável: a entidade federativa não pode abrir mão definitivamente de sua competência tributária.
d) Imprescritível: a falta de uso não faz a competência tributária desaparecer nem ser transferida a outra entidade.
1.1 Modalidades
Competência privativa. Atribuída com exclusividade a determinado ente político. Exemplo: o Imposto de Importação é de competência privativa da União.
Competência comum. Atribuída a todos os entes políticos. Exemplo: taxas e contribuições de melhoria.
Competência extraordinária. Conferida à União, no caso de guerra externa ou sua iminência, para instituição de impostos extraordinários de guerra.
Competência cumulativa. A competência cumulativa ou múltipla (art. 147 da CF) diz respeito ao poder legiferante de instituição de impostos pela União, nos Territórios Federais, e pelo Distrito Federal, em sua base territorial. O dispositivo faz menção tão somente a impostos, porém é comando plenamente aplicável às demais espécies tributárias. Dessa maneira, a União pode instituir os impostos federais e estaduais nos Territórios em qualquer caso. Os impostos municipais, por seu turno, serão de competência da União, respeitada a inexistência de municípios no Território. Por outro lado, se nos Territórios houver municípios, serão de responsabilidade dos próprios municípios os impostos municipais respectivos.
Quanto ao Distrito Federal, o art. 147 da CF, em sua parte final, dispõe que a ele competem os impostos municipais. Sendo assim, competem ao Distrito Federal os impostos municipais e os estaduais (art. 155, caput, da CF), uma vez que o Distrito Federal não pode ser dividido em municípios (art. 32 da CF).
Competência especial. A competência especial é o poder de instituir os empréstimos compulsórios (art. 148 da CF) e as contribuições especiais (art. 149 da CF). 
Competência residual. Diz respeito ao poder de instituir o tributo diverso daqueles já existentes. O art. 154, I, da CF trata da competência residual para os impostos; o art. 195, § 4.º, da CF dispõe acerca dessa competência, no âmbito das contribuições para a seguridade social.
Ressalte-se que o STF tem entendido que a competência para a instituição de um tributo por meio de emenda constitucional não se enquadra no exercício da competência residual da União.
2. Tributos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
Nos termos do art. 153 da CF, compete à União instituir impostos sobre: I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; III - renda e proventos de qualquer natureza; IV - produtos industrializados; V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; VI - propriedade territorial rural; VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar.
Conforme art. 154, a União poderá, ainda, instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo 153, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados na Constituição; II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.
Quanto aos tributos estaduais, a CF estabelece, no art. 155, que compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; III - propriedade de veículos automotores.
Por fim, aos municípios, nos termos do art. 156, compete instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana; II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.
Não se entrará nas especificidades de cada tributo, eis que constam em outros pontos específicos.
3. Conflito de competência tributária
O art. 146, I, da CF prevê que cabe à lei complementar dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Segundo a doutrina, os conflitos de competência podem ocorrer entre entes homólogos (dois Estados-membros, por exemplo, em relação ao IPVA) ou heterólogos (entes que possuem estatura federativa diversa. Ex.: União e Município, em relação ao ITR e ao IPTU). 
Independentemente de o conflito se dar entre entes homólogos ou heterólogos, é imprescindível a previsão de critérios nacionalmente uniformes para a solução de eventuais controvérsias, por meio de lei complementar a ser editada pela União, que não cumpriu seu papel no tocante ao IPVA.
Em relação ao IPTU e ao ITR, o art. 32 do CTN define que o importante para que o imóvel esteja sujeito ao IPTU é, exclusivamente, estar localizado na área urbana do Município (sendo irrelevante a destinação). Por outro lado, o STJ decidiu que não incide IPTU, mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana do Município, desde que utilizado em exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial. Nesse caso, a Corte entendeu que o art. 15 do DL 57/66 (que adota o critério da destinação) foi recepcionado pela CF/88 (REsp 492.869/PR).
Em suma: se o imóvel não estiver localizado em área urbana, será tributado com ITR, independentemente da sua destinação. Por outro lado, se o imóvel estiver localizado em área urbana, poderá, ainda assim, ser tributado com o ITR, se a sua destinação for para a prática de atividades rurais.
14A. Tributo.
Rodrigo Augusto de Melo Souto: 19/03/23
O tributo é Instrumento do qual o Estado se vale para obter receitas, por ato de império. Luciano Amaro define tributo como “a prestação pecuniária não sancionatória de ato ilícito, instituída em lei e devida ao Estado ou a entidades não estatais de fins de interesses público”. Está disposto no art. 3°, do CTN.
Características: 
A) Compulsório, pois decorre diretamente da lei; 
B) A lei só pode obrigar o contribuinte a pagar o tributo em moeda corrente do País, razão pela qual a doutrina costuma afirmar que em regra nosso direito desconhece o tributo in natura (parte da mercadoria comercializada é entregue ao Fisco a título de pagamento do tributo) ou o tributo in labore (a cada mês o sujeito passivo destinaria alguns dias de seu trabalho à entidade tributante). Contudo, a partir do LC 104/2001, que acrescentou o inciso XI ao art. 156 do CTN, admite-se a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei (estudado no tópico 11B);
C) não constitui sanção a ato ilícito: quer dizer que não pode o Estado prever o fato tributável como ato ilícito, porquanto tributo não é castigo. Observa-se, porém, que situações como a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica de rendimentos são suficientes para o nascimento de obrigações tributárias como o imposto de renda (art. 43/CTN), ainda que tais rendimentos sejam provenientes de atividades ilícitas como o “jogo do bicho” ou renda oriunda do tráfico de drogas - princípio “pecunia non olet”. O tributo não tem finalidade sancionatória. 
D) instituída em lei: remete ao princípio da legalidade estrita; 
E) cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada: refere-se à vinculação da Adm. tributária à lei, não cabe a esta analisar conveniência e oportunidade de cobrá-lo.do fato gerador sofre nulificação - elemento alíquota. Elementos quantitativos do FG são a BC e a alíquota. Na alíquota zero o fato imponível se subsume à hipótese de incidência. Há encontro entre o fato gerador em concreto e o FG em abstrato, nasce uma obrigação tributária não quantificada porque a alíquota desceu a zero.
A isenção não é extensiva às taxas e às contribuições de melhoria, nem aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão, salvo disposição de lei em contrário (art. 177 do CTN).
A isenção pode ser concedida em caráter geral ou individual. Será de caráter geral quando atingir a generalidade dos sujeitos passivos sem necessidade de comprovação por parte destes de alguma característica pessoal especial. Ex. Isenção do IR incidente sobre os rendimentos da caderneta de poupança. Haverá a isenção de caráter individual quando a lei restringir a abrangência às pessoas que preencham determinados requisitos. Ex. isenção de imposto IPI e IOF concedida aos deficientes físicos para que adquiram veículos adaptados às suas necessidades. São aplicáveis à isenção de caráter individual as regras do art. 155 do CTN.
Segundo o parágrafo único do art. 176 do CTN, é possível que a isenção abranja determinada região do território da entidade tributante, em função das peculiaridades locais (isenção geográfica). Isso ocorre, justamente, para compensar as desigualdades entre os locais. Todavia, não se pode perder de vista o princípio da uniformidade geográfica insculpido no art. 151, inc. I, da CF nos casos em que a isenção seja concedida pela União.
É possível a revogação de isenção? Segundo estabelece o art. 178 do CTN, a isenção não onerosa pode ser revogada ou modificada a qualquer tempo por lei. No entanto, as isenções onerosas, definidas como aquelas que não trazem somente o bônus da dispensa, mas também algum ônus como condição para o seu gozo, não podem ser livremente suprimidas (Súmula 544 do STF). Portanto, nas isenções onerosas, ou seja, naquelas concedidas por prazo certo e em função de determinadas condições, quem cumpre os requisitos para o gozo do benefício durante a vigência da lei tem direito adquirido pelo prazo previsto na lei, mesmo que ela tenha sido revogada. O STF entendia que a revogação das isenções não onerosas pode ocorrer a qualquer tempo, sem a necessidade de respeitar o princípio da anterioridade, porém, recentemente se vislumbre precedentes em sentido contrário, em prestígio ao Princípio da Não Surpresa.
OBS: merece ser citado o art. 104, III, do CTN, tendo em vista a sua cobrança em prova anterior (ver logo a seguir): entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda, que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte. Ou seja, a revogação da isenção, segundo este artigo do CTN, deve seguir o princípio da anterioridade do exercício financeiro. ATENÇÃO: o artigo fala que respeitará a anterioridade apenas a revogação da isenção de tributos sobre o patrimôno ou sobre a renda. Essa é a disposição da lei. A jurisprudencia, contudo, entende de modo diverso: o STF possui entendimento de que a redução ou revogação de isenção não observa o princípio da anterioridade. 
Isenção Heterônoma é a concessão de isenção por ente que não detém a competência tributária correspondente. É expressamente vedada pelo art. 151, III, da CF. Isenções concedidas por tratados internacionais não constituem exemplos de isenção heterônoma, pois os tratados internacionais também se qualificam como normas nacionais; não são aprovados pela União, mas sim pela República Federativa do Brasil (RE 229.096).
Anistia (art. 175, II, CTN). É o perdão legal de infrações, tendo como consequência a proibição de que sejam lançadas as respectivas penalidades pecuniárias. Segundo o art. 180 do CTN, o benefício somente pode abranger as infrações cometidas anteriormente à vigência da lei que o concede. Não se pode perdoar infração futura, sob pena de se formalizar um incentivo legal à desobediência civil. Se o crédito tributário já tiver sido constituído, a dispensa só poderá ser realizada via remissão (instituto situado no âmbito da extinção do crédito tributário).
O CTN previu, ainda, a possibilidade de concessão de anistia em caráter geral ou limitado, estipulando, no art. 181, II, as restrições que podem ser aplicadas ao segundo caso.
A anistia não alcança os atos qualificados como crime, contravenção, dolo fraude ou simulação, e salvo disposição em contrário, aqueles praticados em conluio (art. 180 do CTN).
Aspectos comuns entre isenção e anistia: Tanto a isenção quanto a anistia consistem em causas de exclusão do crédito tributário, ou seja, dispensa legal de pagamento (de tributo ou de multa), mas não dispensa a obrigação de cumprir as obrigações acessórias da obrigação principal cujo crédito seja excluído (art. 175, parágrafo único, do CTN). Ambos dependem de lei específica para a concessão (art. 150, §6º, da CF) e são interpretados literalmente (art. 111, inc. I, do CTN), ou seja, os métodos integrativos da legislação tributária (v.g., a analogia) não podem ser utilizados.
Aspectos divergentes entre isenção e anistia: A isenção abrange os fatos geradores posteriores à lei, sendo “para frente”; já a anistia abrange fatos geradores anteriores à lei, ou seja, a lei de anistia alcança as situações pretéritas (para trás). Os motivos para a concessão de isenção normalmente possuem cunho socioeconômico ou sociopolítico, enquanto para a anistia é retirar a situação de impontualidade do inadimplente de obrigação. OBS vitaminada: a isenção é a dispensa legal do pagamento de determinado tributo devido; a anistia é o perdão legal de infrações.
Jurisprudência do STJ: INF 514/2013 (AgRg no AREsp 248.264-RS, 2aT): o Poder Judiciário não pode, por meio de uma decisão judicial, estender isenção fiscal a uma categoria não abrangida pelo benefício, mesmo que sob o argumento de que haveria na hipótese uma situação discriminatória e uma ofensa ao princípio da isonomia. A concessão de isenção fiscal é ato discricionário, fundado em juízo de conveniência e oportunidade do Poder Público, de forma que não pode o Poder Judiciário, sob o pretexto de tornar efetivo o princípio da isonomia, reconhecer situação discriminatória de categorias não abrangidas pela regra isentiva, estendendo, por via transversa, benefício fiscal sem que haja previsão legal específica. 
Parcelamentos etc (JÁ TRATADO NO 11.B)
8. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
4B. Responsabilidade tributária: responsabilidade por dívida própria e por dívida de outrem, solidariedade e sucessão. Responsabilidade pessoal e de terceiros. Responsabilidade supletiva. Substituição tributária “para trás” e “para frente”. Retenção na fonte. Responsabilidade por infrações.
Atualizado por Rodrigo Souto, em 26/03/2023
FONTES: Santo Graal 29CPR. ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado (15 ed, 2021).
Um dos elementos fundamentais para a constituição do crédito tributário e para a própria configuração do dever fundamental de pagar o tributo é a identificação do sujeito passivo, conforme o artigo 142 do CTN. Nesse sentido, nem sempre o sujeito passivo será aquele que possui relação pessoal e direta com o fato gerador que concretiza a hipótese de incidência abstratamente prevista em lei, ou seja, o contribuinte. Com efeito, o art. 128 do CN estabelece que a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade por esse crédito tributário a terceira pessoa, que não será o contribuinte, mas sim o responsável tributário. O fundamento teleológico para tanto é promover e facilitar a arrecadação, possibilitando que os valores sejam efetivamente recolhidos aos cofres públicos. Prevalece na doutrina que essa responsabilidade pode ser definida mediante lei ordinária, desde que observadas as balizas do CTN e demais leis complementares que definam regras gerais sobre tributos.
A doutrina elenca duas modalidades de responsabilizaçãode terceiro, de maneira um pouco diferente do que estabelecem os artigos 129 a 138 do CTN, quais sejam, a responsabilidade por transferência e a responsabilidade por substituição.
Enquanto na primeira a responsabilidade é inicialmente do contribuinte e depois é transferida ao terceiro em razão de uma disposição legal (a exemplo de débitos antigos de IPTU que são transferidos ao novo adquirente do imóvel após a venda), na segunda o responsável será uma pessoa que, apesar de diversa do contribuinte, possui relação com o próprio fato gerador da obrigação.
Quanto à responsabilidade por transferência, ressalte-se que o artigo 123 do CTN as convenções particulares relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos não podem ser opostas à Fazenda Pública para fins de modificação da definição legal do sujeito passivo. Assim, eventual contrato de aluguel prevendo a responsabilidade do locatário pelo pagamento de IPTU somente tem eficácia entre as próprias partes (e seu cumprimento pode ser exigido civilmente pelo locador), mas ele não é capaz de alterar a definição legal do devedor (proprietário do imóvel).
Por sua vez, na responsabilidade por substituição o momento da ocorrência do fato gerador implica duas espécies: 1) a regressiva (ou “para trás”), que é aquela na qual o fato gerador ocorre no passado, mas o recolhimento é diferido (postergado), a exemplo da venda de leite cru por pequenos produtores rurais a uma empresa beneficiadora de laticínios; 2) a progressiva (ou “para frente”), na qual o fato gerador ocorre em momento posterior, mas o recolhimento deve ser feito no presente (tal como previsto no artigo 150, § 7º, da CF), a exemplo do ICMS recolhido pela fábrica de refrigerantes em substituição aos revendedores varejistas.
A teor do parágrafo 7º, do art. 150, da CF (acima citado), somente nos casos de não realização do fato imponível presumido é que se permite a repetição dos valores recolhidos. Observe que o comando constitucional se atrela somente a impostos e a contribuições. O STF (Adin n. 1.851/02) havia decidido que, uma vez ocorrido o fato gerador, a base de cálculo utilizada seria considerada definitiva, havendo presunção absoluta de sua legitimidade, mesmo antes da EC 3/1993.
Esse entendimento foi parcialmente superado em 2016 (overriding). O STF passou a entender que é devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pago a mais, no regime de substituição tributária para a frente, se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida. (STF. Plenário. ADI 2675/PE e Plenário. RE 593849/MG)
Para o Min. Edson Fachin, a tributação não pode se transformar em uma ficção jurídica, em uma presunção absoluta (juris et de jure) na qual o fato gerador presumido assuma um caráter definitivo e sejam desprezadas as variações decorrentes do processo econômico. Não permitir a restituição nestes casos representaria injustiça fiscal inaceitável em um Estado Democrático de Direito, fundado em legítimas expectativas emanadas de uma relação de confiança e justeza entre Fisco e contribuinte. Desse modo, a restituição do excesso atende ao princípio que veda o enriquecimento sem causa, haja vista a não ocorrência da materialidade presumida do tributo.
Como houve essa mudança, o STF decidiu modular os efeitos do novo julgamento. Ficou definido o seguinte: 1) Este entendimento do STF permitindo direito à restituição vale: para todos os processos judiciais que já haviam sido ajuizados e que estavam aguardando o posicionamento do STF na repercussão ora decidida; e para as operações futuras, ou seja, para as situações em que, após a decisão do STF, houver pagamento a maior, surgindo o direito à restituição. 2) Por outro lado, este posicionamento do Supremo não se aplica: para situações ocorridas antes da decisão e que não tenham sido judicializadas; e para situações que foram judicializadas, mas o contribuinte perdeu (não teve direito à restituição) e houve trânsito em julgado. Segundo o Min. Edson Fachin, a modulação é necessária para se atender ao interesse público, evitando surpresas, como o ajuizamento de ações rescisórias e de novas ações sobre casos até agora não questionados.
A doutrina diferencia o substituto tributário do agente de retenção, pois este cumpriria uma obrigação tributária acessória determinada pela legislação tributária, tratando-se de dever instrumental daquele que tem acesso a um patrimônio do contribuinte (exemplo: bancos e empregadores). O agente de retenção não responde pela repetição de indébito nem tem legitimidade para impugnar o lançamento. Entretanto, a ele pode ser imputado o delito de apropriação indébita caso retenha e não repasse os valores ao fisco (exemplos: retenção na fonte do IR e contribuição ao RGPS).
Como dito acima, o CTN divide essa responsabilidade em três modalidades: dos sucessores (arts. 129 a 133), de terceiros (arts. 134 e 135) e por infrações (arts. 136 a 138).
Quanto à primeira modalidade, Ricardo Alexandre diz que o marco temporal para a transferência da responsabilidade é o momento previsto em lei como apto para gerar a sucessão, importando apenas a ocorrência do fato gerador, e não o efetivo lançamento. Ressalte-se a regra de que os impostos, taxas pela prestação de serviços (exceto de polícia) e contribuições de melhoria referentes a imóveis (sucessão inter vivos) são sub-rogados no adquirente, exceto se (i) se constar no título aquisitivo a prova de quitação ou (ii) se a aquisição for por arrematação em hasta pública, pois, nesse caso, há sub-rogação sobre o preço do bem.
Na sucessão causa mortis, a transmissão do ônus ocorre para os herdeiros, havendo sua responsabilidade pessoal (art. 131, II e III): (a) responde pessoalmente: o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos até a data da partilha/adjudicação; (b) responde pessoalmente: o espólio, pelos tributos devidos até a data da abertura da sucessão (morte).
Na sucessão empresarial, a premissa fundamental é que ela gera presunção tributária. Se: (a) por fusão, transformação ou incorporação (CTN, art. 132), além da cisão; (b) por extinção da PJ, quando a atividade for continuada pelo sócio remanescente ou espólio, independentemente da razão social ou firma: responde o sócio.
Quanto à segunda modalidade, há casos de “terceiros” que atuaram de modo regular e outros que atuaram de modo irregular.
No primeiro caso, trata-se de atribuição de responsabilidade em rol exaustivo (numeros clausus). Depende da presença de dois requisitos: impossibilidade de cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte – o CTN fala em “responder solidariamente”, mas acaba instituindo uma responsabilidade subsidiária (supletiva), em um verdadeiro benefício de ordem – e ação ou omissão imputável à pessoa designada como responsável. Exemplo de Ricardo Alexandre: quando o tabelião não exige certidão negativa de débitos tributários como condição para o registro da transferência da propriedade imóvel, ele passa a ser responsável solidário com o adquirente do imóvel, conforme resulta da combinação do dispositivo ora estudado com a regra constante do final do art. 130 do CTN. Atenção para a hipótese de responsabilização do sócio-gerente: O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária (Súmula 430 do STJ); presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para ele (Súmula 435 do STJ).
No segundo caso, a responsabilidade é pessoal e não apenas solidária. Perceba-se que os atos praticados não são necessariamente de conteúdo ilícito, mas a atuação do sujeito é irregular, pois ultrapassa o que ele estava autorizado a fazer.
Quanto à terceira modalidade, na falta de disposição expressa a responsabilidade por infrações da legislação tributária é objetiva, diferentemente do direito penal. Se o legislador quiser atribuir caráter subjetivo à responsabilidade eleprecisa expressamente disciplinar a necessidade de configuração de dolo ou culpa na lei que define a infração. O CTN disciplina, ainda, a responsabilidade pessoal do agente (artigo 137) pela multa punitiva decorrente de ilícitos praticados, permanecendo a pessoa jurídica na condição de sujeito passivo do tributo, mas não dessa multa.
Finalmente, sobre o instituto da denúncia espontânea, diga-se que esse instituto é uma medida de política fiscal que visa estimular as pessoas que se afastaram da legalidade a voltar a tal situação, desde que confessem os ilícitos eventualmente cometidos e paguem o tributo eventualmente devido. Para ser espontânea tem que ser antes do Estado formalizar qualquer medida tendente a lançamento, como, por exemplo, o início de uma fiscalização.
Segundo o STJ, a denúncia espontânea deve vir acompanhada do pagamento, não bastando o mero pedido de parcelamento. O Tribunal também entende que nas obrigações meramente formais (acessórias) não cabe denúncia espontânea. Assim, Se a pessoa não entregou a declaração do IR no prazo, vai pagar multa, mesmo que a entregue antes de qualquer providência do fisco.
Súmula STJ-554: Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão. Aprovada em 09/12/2015.
JURISPRUDÊNCIA:
· O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular da pessoa jurídica executada ou na presunção de sua ocorrência, pode ser autorizado contra o sócio ou o terceiro não sócio, com poderes de administração na data em que configurada ou presumida a dissolução irregular, ainda que não tenha exercido poderes de gerência quando ocorrido o fato gerador do tributo não adimplido, conforme art. 135, III, do CTN. STJ. 1ª Seção. REsp 1.645.333-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 25/05/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 981).
· Não é preciso instauração de Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica (art. 133 do CPC/2015) no processo executivo fiscal nos casos em que a Fazenda exequente pretende alcançar pessoa jurídica distinta daquela contra a qual, originalmente, foi ajuizada a execução, nas hipóteses em que o nome consta na Certidão de Dívida Ativa, após regular procedimento administrativo, ou, mesmo que o nome não esteja no título executivo, o fisco demonstre a responsabilidade, na qualidade de terceiro, em consonância com os artigos 134 e 135 do CTN (AgInt no AREsp 2156171 / RJ).
· O pedido de redirecionamento da execução fiscal amparado na responsabilidade tributária por sucessão prevista no art. 133 do CTN (aquisição de estabelecimento ou de fundo de comércio) dispensa a instauração de incidente de desconsideração de personalidade jurídica (AgInt no AREsp 2092285 / RJ).
· A jurisprudência desta Corte Superior possui orientação estabelecida no sentido de que a promessa de compra e venda de imóvel, independentemente da data em que tenha sido firmada, não tem o efeito de afastar a responsabilidade tributária solidária, no que concerne ao pagamento de IPTU, do promitente vendedor. (AgInt no REsp 1962707 / SP).
· Somente mediante lei estadual/distrital específica poderá ser atribuída ao alienante responsabilidade solidária pelo pagamento do IPVA do veículo alienado, na hipótese de ausência de comunicação da venda do bem ao órgão de trânsito competente (REsp 1937040 / RJ).
9. ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA
9C. Administração tributária: fiscalização, oposição de sigilos ao fisco, sigilo fiscal x direito à privacidade e publicidade. Certidões e cadastro. Lei Complementar nº 105/2001. A organização da Receita Federal.
Lílian Farias de Queiroz Pierre – 03/2023
Obra consultada: Direito Tributário Esquematizado; ALEXANDRE, Ricardo; 15ª Edição.
1. Fiscalização tributária. 
A fiscalização tributária, a cargo das autoridades fazendárias, consiste na verificação do cumprimento das obrigações de natureza tributária, de caráter principal ou acessório. Assim, mesmo as entidades imunes à determinada exação podem e devem ser alvos de fiscalização, seja para apurar as obrigações acessórias, seja para verificar se realmente fazem jus à imunidade[footnoteRef:3]. [3: Art. 194. Parágrafo único. A legislação a que se refere este artigo aplica-se às pessoas naturais ou jurídicas, contribuintes ou não, inclusive às que gozem de imunidade tributária ou de isenção de caráter pessoal.] 
2. Oposição de sigilo ao Fisco. 
Nos processos judiciais e administrativos, a regra é a publicidade, salvo as exceções previstas em lei (art. 93, IX, e art. 37, caput, da CF/88). Por outro lado, no caso dos dados e registros fiscais, a regra é o sigilo em seu acesso.
A própria Constituição Federal, todavia, autoriza a Administração Tributária a entrar na intimidade econômica dos particulares, mediante a identificação dos respectivos patrimônios, rendimentos e atividades econômicas (CF, art. 145, § l.°), o que dá efetividade ao princípio da capacidade contributiva. Nessa linha, o art. 195 do CTN afasta a aplicação de quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los.
2.1. O dever de manter sigilo e suas exceções
Atente-se para o que prescreve o art. 198 do CTN: “Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades”. 
De acordo com o §1º do art. 198, excetuam-se do disposto no caput os casos de i) requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça e ii) solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração Pública com o objetivo de investigar prática por infração administrativa. Nestes casos, a informação não deixa de ser sigilosa, apenas sendo transferida do âmbito da Administração Tributária para outra organização, mantendo-se, nesta, também o sigilo.
Já o §3º do art. 198 preceitua ser permitida a divulgação de informações relativas a: (i) representações fiscais para fins penais; (ii) inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública; (iii) parcelamento ou moratória; iv) incentivo, renúncia, benefício ou imunidade de natureza tributária cujo beneficiário seja pessoa jurídica (LC n. 187/2021). Em três dessas hipóteses, a informação deixa de ser sigilosa, podendo ser divulgada, inclusive pela imprensa (ressalvada a hipótese de representação fiscal para fins penais, conforme entendimento jurisprudencial, em que a informação é tratada como sigilosa no órgão de destino).
O CTN também atribui às autoridades fiscais o poder de requisitar de determinadas pessoas todas as informações de que disponham com relação aos bens, negócios ou atividades de terceiros. Trata-se de uma imposição de que a sociedade contribua com a atividade de fiscalização que, em última análise, é exercida em benefício de toda a coletividade. O rol de pessoas obrigadas a fornecer informações consta do art. 197 do CTN. A lista é composta por pessoas que, em virtude de suas atividades, têm acesso a informações que podem ser extremamente necessárias para o exercício da atividade de fiscalização. Por exemplo, os serventuários do cartório do registro de imóveis têm informações relativas a imóveis e atos jurídicos a eles concernentes, que podem configurar fatos geradores de vários tributos. Tal lista não é exaustiva e a obrigação prevista no artigo 197 não abrange a prestação de informações quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razão de cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão.
2.2. Sigilo fiscal x direito à privacidade e publicidade. Lei Complementar nº. 105/2001.
Historicamente sempre foi grande a controvérsia acercada possibilidade de a autoridade administrativa, por ato próprio, requisitar às instituições enumeradas no inciso II do art. 197 do CTN (bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais instituições financeiras) informações protegidas por sigilo bancário, sem necessidade de interveniência da autoridade judicial. Atualmente a possibilidade também encontra fundamento no art. 6º da Lei Complementar 105/2001.
Em 2016, o STF julgou improcedentes diversas ADIs (2930, 2386, 2397 e 2859) que contestavam a possibilidade de requisição direta, pelas autoridades fiscais, de dados protegidos por sigilo bancário. A Suprema Corte entendeu que o art. 6o da LC 105/2001, além de atentar à necessidade de ponderação entre a proteção ao sigilo e o dever geral de pagar impostos, também é sensível à repressão a crimes como narcotráfico, lavagem de dinheiro e terrorismo, cuja investigação é facilitada com a criação de instrumentos que propiciem ações mais eficazes da rede estatal de repressão (também integrada pelo Fisco).
Durante as discussões prevaleceu a tese de que a flexibilização do sigilo ocorre na medida do necessário à fiscalização estatal e que, malgrado denominada “quebra de sigilo”, a requisição consiste, na realidade, em uma “transferência de sigilo da órbita bancária para a fiscal”, ambas protegidas do conhecimento de terceiros.
Entendeu-se, ainda, que o art. 6º da LC 105/2001 é taxativo e razoável ao facultar o exame de documentos, livros e registros de instituições financeiras somente se houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente.
Vale ressaltar que, para que os Estados, DF e Municípios possam fazer uso dessa prerrogativa prevista no art. 6º da LC 105/2001, eles precisarão, antes, editar um ato normativo que regulamente e traga, com detalhes, todas as regras operacionais para aplicação do dispositivo legal. No caso da Receita Federal, esta regulamentação foi feita pelo Decreto n. 3.724/2001.
3. Certidões
As certidões são documentos aptos à comprovação de inexistência de débito de determinado contribuinte, de determinado tributo ou relativo a determinado período. A possibilidade de exigência de certidões está prevista no art. 205 do CTN. O prazo para sua expedição é de dez dias, contados do requerimento. Apesar da denominação “certidão negativa de débitos”, o STJ tem considerado válida a recusa de sua emissão quando o contribuinte descumpre obrigação acessória, desde que tal consequência esteja prevista em lei.
Existem situações em que, apesar da existência de débitos, é possível a expedição da certidão positiva com efeitos de negativa. Neste caso, débitos existem, mas o requerente está em situação regular, o que pode ocorrer quando o crédito não está vencido, quando está em curso de cobrança e tenha sido efetivada a penhora, ou quando o crédito está com exigibilidade suspensa (por parcelamento, por exemplo).
O art. 207 do CTN prevê a possibilidade de dispensa de prova de quitação de tributos quando se tratar de prática de ato indispensável para evitar a caducidade de direito.
4. A organização da Receita Federal. 
A Secretaria da Receita Federal do Brasil é um órgão específico, singular, subordinado ao Ministério da Fazenda, exercendo funções essenciais para que o Estado possa cumprir seus objetivos. É responsável pela administração dos tributos de competência da União, inclusive os previdenciários, e aqueles incidentes sobre o comércio exterior, abrangendo parte significativa das contribuições sociais do País. Também subsidia o Poder Executivo Federal na formulação da política tributária brasileira, previne e combate a sonegação fiscal, o contrabando, o descaminho, a pirataria, a fraude comercial, o tráfico de drogas e de animais em extinção e outros atos ilícitos relacionados ao comércio internacional. 
A criação da Secretaria da Receita Federal do Brasil (Perguntas da oral do 26º e 27º), na época chamada de Super-Receita, visava unificar a arrecadação de todos os tributos e contribuições federais, inclusive as previdenciárias. Ela foi o resultado da fusão da Secretaria da Receita Federal com a Secretaria da Receita Previdenciária, na época vinculada à Previdência Social. A decisão de reorganizar a administração fazendária federal baseou-se, sobretudo, no princípio constitucional da eficiência. A principal razão para esta unificação é a racionalização e consequente melhoria da atuação do Estado na fiscalização, arrecadação e administração de tributos.
5. Jurisprudência
· Não é lícito exigir uma nova certidão negativa de débitos (CND) para o desembaraço aduaneiro da importação, se a comprovação da quitação dos tributos já foi apresentada quando da concessão do benefício fiscal de drawback (STJ, Info 413).
· É admitido garantir obrigação tributária, após vencimento e antes da execução fiscal, e obter CPD-EN oferecendo fiança bancária. Apesar de não estar elencada no art. 151 do CTN, tem efeito de garantir o débito exequendo em equiparação ou antecipação à penhora (STJ, ArRg no Ag 1185481-DF, em 14/10/2013).
· Para o STJ "é possível a concessão de certidões negativas de débitos tributários às empresas filiais, ainda que conste débito em nome da matriz e vice-versa, em razão de cada empresa possuir CNPJ próprio, a denotar sua autonomia jurídico-administrativa" (AgRg no AREsp 657920/AM DJe 27/05/2015).
· Simples decreto não pode exigir certidão de regularidade fiscal para o exercício de atividade econômica (a exemplo de serviço de vigilância – Dec. 89058/83).
· O profissional de advocacia privada constituído por município por mandato com poderes expressos não tem direito líquido e certo para o cadastramento e acesso aos dados utilizados pelos Estados no cálculo do valor adicionado referente ao ICMS. STJ. 1ª Turma. RMS 68.647-GO, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, julgado em 08/11/2022 (Info 757).
· É legítimo que a Receita Federal compartilhe o procedimento fiscalizatório que ela realizou para apuração do débito tributário com os órgãos de persecução penal para fins criminais (Polícia Federal Ministério Público etc.), não sendo necessário, para isso, prévia autorização judicial. STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019 (Repercussão Geral – Tema 990) (Info 962).
· É ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo Ministério Público. STJ. 3ª Seção. RHC 83.233-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 09/02/2022 (Info 724). Segundo o STJ, a requisição ou requerimento direto por parte do Parquet não foi enfrentada no julgamento do RE 1.055.941/SP pelo STF. 
10. IMPOSTOS EM ESPÉCIE 
13C. Impostos dos Municípios.
Bruno Luiz Avellar Silva
IPTU: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE PREDIAL E TERRITORIAL URBANA (art. 156, I da CRFB/88).
Cuida-se de imposto real (incide sobre uma coisa), direto (o próprio contribuinte é quem suporta o encargo da tributação), predominantemente fiscal (há, excepcionalmente, a função extrafiscal no caso do art. 182, § 4º, II, CRFB/88, com o fito de assegurar a função social da propriedade).
Fato gerador: propriedade, domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física (art. 32 do CTN). Base de Cálculo: valor venal do imóvel (art. 33 do CTN). Diferentemente do ITR, que incide apenas sobre o imóvel por natureza, o IPTU incide sobre os bens imóveis por natureza e também sobre os imóveis por acessão física. Excluem- se, apenas, os bens móveis mantidos no imóvel. Contribuintes: proprietário, titular do domínio útil ou possuidor a qualquer título (art. 34 do CTN). Ainda, em conformidade com a súmula 399 do STJ, “Cabe à legislação municipal estabelecer o sujeito passivo do IPTU.” Lançamento de ofício (a simples remessa do carnê para pagamento do IPTU ao endereço do contribuinte configura notificação de lançamento – Súmula 397 do STJ). Sujeito à anterioridade. Sujeito à noventena, exceto em relação às alterações de base de cálculo (art. 150, §1° da CRFB/88). 
OBS: Súmula614 do STJ: “O locatário NÃO possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas referentes ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses tributos”. Isso porque o STJ entende que somente é contribuinte do IPTU o possuidor por direito real que exerce a posse com animus definitivo (REsp 325.489).
OBS: STJ- O credor fiduciário, antes da consolidação da propriedade e da imissão na posse no imóvel objeto da alienação fiduciária, NÃO pode ser considerado sujeito passivo do IPTU, uma vez que NÃO se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas no art. 34 do CTN. Além disso, o § 8º do art. 27 da Lei nº 9.514/97 afirma expressamente que o credor fiduciário só responde pelo pagamento dos impostos relacionados com o bem se houver a consolidação da propriedade e a imissão na posse (Info 720).
OBS: Súmula 626 do STJ: A incidência do IPTU sobre imóvel situado em área considerada pela lei local como urbanizável ou de expansão urbana NÃO está condicionada à existência dos melhoramentos elencados no art. 32, § 1º, do CTN.
OBS: Segundo decidiu o STJ, o fato de parte de um imóvel urbano ter sido declarada como Área de Preservação Permanente (APP) e, além disso, sofrer restrição administrativa consistente na proibição de construir (nota “non aedificandi”) não impede a incidência de IPTU sobre toda a área do imóvel (o FG – ser proprietário de imóvel urbano permanece íntegro). (Info 558). Em situação semelhante, o STJ decidiu ser inexigível o IPTU de proprietário de imóvel integralmente inserido em área qualificada como Estação Ecológica. A nota distintiva foi o reconhecimento de que o regime jurídico da Estação Ecológica implica um esvaziamento integral do direito de propriedade (EC é de posse e domínio públicos, sendo que áreas particulares nela incluídas serão desapropriadas – art. 9º da Lei 9.985/2000 - REsp 1.695340).
OBS: Súmula 160 do STJ – “É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária.” Nesse sentido, a atualização monetária dentro do percentual do índice oficial não demanda a observância da legalidade (art. 97, § 2º, CTN) e tampouco a anterioridade. 
OBS: Originalmente, a CRFB/88 somente admitia a progressividade extrafiscal do IPTU na hipótese do art. 182, § 4º, II (Súmula 668 do STF). Neste sentido, o STF entendeu que não era possível a progressividade em razão do valor do imóvel (RE 233332). Com a edição da EC 29/00, houve expressa autorização para a progressividade do IPTU em razão do valor do imóvel e da diferenciação de alíquotas de acordo com a localização e uso do imóvel (art. 156, §1º). 
OBS: No que tange ao uso e em respeito à isonomia, o STF mesmo antes da EC 29/00 entendeu ser possível à redução do IPTU sobre imóvel ocupado pela residência de proprietário que não possua outro (súmula 539).
OBS: Antes da EC 29/00, como visto, não era permitida a progressividade fiscal, mas várias leis municipais a previam com base no valor do imóvel. Por óbvio, eram consideradas inconstitucionais. Todavia, “declarada inconstitucional a progressividade de alíquota tributária, é devido o tributo calculado pela alíquota mínima correspondente, de acordo com a destinação do imóvel.” (Info 806 – rep geral). Se assim não o fosse, a inconstitucionalidade da lei acarretaria a ausência de cobrança do IPTU, o que seria absurdo.
OBS: Súmula 589 do STF: É inconstitucional a fixação de adicional progressivo do imposto predial e territorial urbano em função do número de imóveis do contribuinte.
OBS: São constitucionais as leis municipais anteriores à EC 29/00 que instituíram alíquotas diferenciadas de IPTU para imóveis edificados e não edificados, residenciais e não residenciais (RE 666156 – rep geral). A diferenciação de alíquotas, por estar ou não edificado o imóvel urbano, NÃO se confunde com a progressividade do IPTU; logo, não é inconstitucional mesmo que antes da EC 29/2000.
OBS: Súmula vinculante 52- Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.
ATENÇÃO: EC 116/22 que acrescentou o §1°-A ao art. 156 da CRFB/88, estabelecendo que o IPTU “não incide sobre templos de qualquer culto, ainda que as entidades abrangidas pela imunidade de que trata a alínea "b" do inciso VI do caput do art. 150 desta Constituição sejam apenas locatárias do bem imóvel.”
OBS: STF- Município resultante de desmembramento realizado em desacordo com o art. 18, § 4º, da CRFB/88 NÃO detém legitimidade ativa para a cobrança de IPTU de imóvel situado em território a ele acrescido (Info 1052).
OBS: STJ- Não incide IPTU, mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana do Município, desde que comprovadamente utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial (art. 15 do DL 57/66) (repetitivo).
OBS: STJ- O termo inicial do prazo prescricional da cobrança judicial do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU - inicia-se no dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação (Info 638 - repetitivo). Isso porque, a despeito de o art. 174 do CTN prever que o prazo de cinco anos para cobrança do crédito tributário inicia com sua constituição definitiva (que ocorre com a notificação do lançamento), fato é que o Fisco não pode efetuar cobrança judicial antes de passar a data do vencimento do tributo,vez que o contribuinte ainda nem pode ser considerado devedor.
	
ITBI: IMPOSTO SOBRE A TRANSMISSÃO INTER VIVOS DE BENS IMÓVEIS, POR ATO ONEROSO (art. 156, II da CRFB/88)
O CTN trata de um único imposto de transmissão, de competência estadual, incidente e exclusivamente sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a ele relativos (ART. 35 a 42). Entretanto, com a Constituição de 1988, foi prevista a criação de dois impostos de transmissão, um estadual (ITCMD) e outro municipal (ITBI). A atual atribuição constitucional de competência é precisa, de forma a evitar conflitos entre Estados e seus respectivos municípios. Assim, se a transmissão é causa mortis, incide o ITCMD; se a inter vivos, deve-se verificar se ocorreu por ato oneroso ou a título gratuito (doação). No primeiro caso, incide o ITBI; no segundo, o ITCMD. Em ambas as hipóteses, a tributação tem finalidade fiscal.
Competência: O ITBI é de competência do Município da situação do bem (art. 156, §2°, II da CRFB/88). Fato Gerador: transmissão inter vivos, por ato oneroso, de bens imóveis e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição. Goza de imunidade constitucional (art. 156, §2º, I) a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, bem como a transmissão de bens ou direitos decorrentes de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil. O art. 184, §5 da CF, apesar de expressar isenção, traz verdadeira imunidade quando desonera o processo de expropriação e, por conseguinte, a realização de reforma agrária do imposto em comento. Nesse caso, a imunidade não beneficia o terceiro adquirente dos títulos da dívida agrária, pois que este realiza ato mercantil estranho à reforma agrária (STF). O STJ entende que não se pode cobrar o tributo em apreço antes do registro do imóvel no Cartório de Imóveis (quando se perfectibiliza a transferência do bem imóvel). Base de Cálculo: é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos (CTN, art. 38). O ITBI incide sobre os bens imóveis por natureza e também sobre os imóveis por acessão física (exclui-se, portanto, os móveis e tudo que o proprietário mantiver no imóvel para aformoseamento ou comodidade).
OBS: STF e STJ- NÃO INCIDE ITBI na promessa de compra e venda. Mesmo que se realize a operação no respectivo cartório de registro de imóveis, NÃOocorrerá o fato gerador do ITBI, uma vez que se trata de contrato preliminar, que não trasmite imediatamente direitos reais nem configura cessão de direitos à aquisição, podendo ou não se concretizar em contrato definitivo (RP 1121 e AgRg no AI 603309).
OBS: O ITBI também NÃO incide sobre as transmissões originárias, como por usucapião, desapropriação ou acessão (art. 1.248 do CC).
OBS: STJ- Mesmo em caso de cisão de empresa, o fato gerador do ITBI é o registro no ofício competente da transmissão da propriedade do bem imóvel, em conformidade com a lei civil. Logo, não há como se considerar como fato gerador da referida exação a data de constituição das empresas pelo registro de Contrato Social na Junta Comercial, ocorrido em data anterior. Dessa forma, o fato gerador do ITBI ocorre, no seu aspecto material e temporal, com a efetiva transmissão, a qualquer título, da propriedade imobiliária, o que se perfectibiliza com a consumação do negócio jurídico hábil a transmitir a titularidade do bem, mediante o registro do título translativo no Cartório de Registro de Imóveis. Ainda sobre o tema: O fato gerador do imposto sobre transmissão inter vivos de bens imóveis (ITBI) somente ocorre com a efetiva transferência da propriedade imobiliária, que se dá mediante o registro (STF - rep geral – Tema 1124) (Info 734).
OBS: STJ- a) a base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em condições normais de mercado, NÃO estando vinculada à base de cálculo do IPTU, que nem sequer pode ser utilizada como piso de tributação; b) o valor da transação declarado pelo contribuinte goza da presunção de que é condizente com o valor de mercado, que somente pode ser afastada pelo fisco mediante a regular instauração de processo administrativo próprio (art. 148 do CTN); c) o Município NÃO pode arbitrar previamente a base de cálculo do ITBI com respaldo em valor de referência por ele estabelecido unilateralmente (Info 730 - repetitivo). O STJ também entende que se o imóvel foi adquirido em hasta pública, a base de cálculo será o valor da arrematação e não o valor da avaliação judicial. (REsp 1188655).
Alíquota: a alíquota do imposto de transmissão é fixada em lei ordinária do Município competente. O STF, em reiterada jurisprudência, tem afastado a possibilidade de adoção de alíquotas progressivas para o ITBI com base no valor venal do imóvel. (Súmula 656). Questão que surge, principalmente depois da previsão da progressividade da alíquota do IPTU e da possibilidade de progressividade sobre imposto real (ITCMD no caso julgado pelo STF), é saber se o ITBI também poderia ter as alíquotas progressivas. Ainda não há resposta, sendo certo que o enunciado sumular acima ainda não foi cancelado. Mas, a tendência, é uma revisão nessa súmula, já que o ITBI é imposto real assim como o ITCMD.
OBS.: O ITBI é lançado por declaração, já que a autoridade constitui o crédito com base em informações prestadas pelo próprio sujeito passivo ou por terceiro. Eventuais omissões do sujeito passivo no dever de prestar informações podem ensejar, respeitado o prazo decadencial, o lançamento de oficio (todo tributo pode, em tese, ser lançado de ofício). A função predominante do ITBI é a fiscal; está sujeito à legalidade, anterioridade, noventena. Contribuinte: qualquer das partes na operação tributada, como dispuser a lei (art. 42 do CTN). Nesse sentido, o legislador municipal tem liberdade para definir, o que geralmente recai sobre o adquirente do bem.
OBS: Súmula 75 do STF: Sendo vendedora uma autarquia, a sua imunidade fiscal não compreende o imposto de transmissão "inter vivos", que é encargo do comprador. 
OBS: Súmula 110 do STF: O imposto de transmissão "inter vivos" não incide sobre a construção, ou parte dela, realizada pelo adquirente, mas sobre o que tiver sido construído ao tempo da alienação do terreno. 
Súmula 470 do STF: O imposto de transmissão "inter vivos" não incide sobre a construção, ou parte dela, realizada, inequivocamente, pelo promitente comprador, mas sobre o valor do que tiver sido construído antes da promessa de venda. 
OBS: STJ- A nulidade de negócio jurídico de compra e venda de imóvel viabiliza a restituição do valor recolhido pelo contribuinte a título de ITBI. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.493.162-DF, julgado em 14/10/2020 (Info 682).
ISS: IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA (art. 156, III da CRFB/88)
Competência: Há jurisprudência tanto no sentido de que a competência para instituição do ISS é do Município onde se situa o estabelecimento prestador de serviço (art. 3º, LC 116/2003), como no sentido de que é o Município onde se dá a prestação dos serviços, conforme pacífica jurisprudência. Apesar disso, mesmo com a vigência da Lei Complementar, prepondera no STJ o entendimento de que a competência é do município onde é prestado o serviço (EDcl no AgRg no Resp 960.492/RS – 1ª Turma – DJU 25.06.2008 e REsp 753.360/MS – 2ª Turma – DJU 30.04.2007). Lei Complementar: Assevera a constituição a necessidade de edição de LC (LC 116/2003), mediante a qual se veiculará os i) serviços sobre os quais incidirá o ISS, ii) fixar-se-ão as alíquotas máximas, e iii) excluir-se-ão de sua incidência os serviços destinados ao exterior (art. 2º, I). Fato Gerador: depende de ser serviço (qualquer um), desde que fora da incidência do ICMS e previsto na LC 116/03 (lista anexa da lei). Assim, não sofrem a incidência deste tributo: a) os serviços compreendidos na competência tributária do ICMS (comunicação, transporte intermunicipal e transporte interestadual) e b) aqueles que não estiverem definidos em lei complementar, atualmente a LC 116/03. Como exceção, a LC 116/03 prevê a incidência cumulativa dos 2 impostos em alguns casos (art. 1º, § 2º). O STF e o STJ, majoritariamente, entendem que a lista é taxativa, admitindo, todavia, interpretação extensiva (Info 991 - rep geral).
OBS: Súmula Vinculante 31: “É inconstitucional a incidência do imposto sobre serviços de qualquer natureza - ISS sobre operações de locação de bens móveis.” Isso porque locação não consiste em obrigação de fazer e sim em obrigação de dar. Posteriormente, o STF alterou esse entendimento restrito quanto ao conceito de serviço, passando a conceituar a prestação de serviço como “o oferecimento de uma utilidade para outrem, a partir de um conjunto de atividades imateriais, prestado com habitualidade e intuito de lucro, podendo estar conjugado ou não à entrega de bens ao tomador” (RE 651703).
OBS: No 25º CPR, na prova subjetiva, perguntou-se se o técnico que realiza sobre encomenda serviço de efetuar programa de computadores estaria submetido a ISS. 
*STF- Incide apenas o ISS, e não o ICMS, nas operações envolvendo o fornecimento de programas de computador mediante contrato de licenciamento ou cessão do direito de uso, tanto para os “softwares” padronizados quanto para aqueles produzidos por encomenda e independentemente do meio utilizado para a transferência, seja por meio de “download” ou por acesso em nuvem (Info 1007 e 1024).
*STF- É CONSTITUCIONAL a incidência do ISS no licenciamento ou na cessão de direito de uso de programas de computação desenvolvidos para clientes de forma personalizada, mesmo quando o serviço seja proveniente do exterior ou sua prestação tenha se iniciado no exterior, nos termos do subitem 1.05 da lista anexa à LC 116/2003 (Info 1040 - rep geral).
OBS: STF- INCIDE ISS sobre as operações de venda de medicamentos preparados por farmácias de manipulação sob encomenda. INCIDE ICMS sobre as operações de venda de medicamentos por elas ofertados aos consumidores em prateleira (Info 994 - rep geral).
*A Corte resolve as ambiguidades entre o ISS e o ICMS com base em critério objetivo: incide apenas o primeiro se o serviço está definido por LC como tributável, ainda que sua prestação envolva a utilização ou o fornecimento de bens, ressalvadas as exceções previstas na lei; ou incide apenas o segundo se a operação de circulação de mercadorias envolver serviço não definido por aquela LC. O critério objetivo pode ser afastado se o legislador complementar definircomo tributáveis pelo ISS serviços que, ontologicamente, não são serviços ou sempre que o fornecimento de mercadorias seja de vulto significativo e com efeito cumulativo.
Base de Cálculo: é o preço do serviço (art. 7º, LC 116/2003). Alíquotas: Os Municípios gozam de autonomia para fixar as alíquotas do ISS, devendo, contudo, respeitar a alíquota máxima de 5% fixada na LC 116/2003 e mínima de 2% (dois por cento) em função do disposto no art. 8-A da LC (alíquota mínima já constava do art. 88 da ADCT) . Além disso, o art. 8-A, § 1º, LC 116/03 (previsão semelhante no antigo art. 88 dos ADCT) previu que o imposto não será objeto de concessão de isenções, incentivos ou benefícios tributários ou financeiros, inclusive de redução de base de cálculo ou de crédito presumido ou outorgado, ou sob qualquer outra forma que resulte, direta ou indiretamente, em carga tributária menor que a decorrente da aplicação da alíquota mínima estabelecida no caput, exceto para os serviços a que se referem os subitens 7.02, 7.05 e 16.01 da lista anexa a LC 116/03 (p. ex., reparação e conservação de edifícios e estradas estão dentre as exceções). Nessa visa-se impedir a guerra fiscal entre Municípios. 
OBS: A LC 157/16 acresceu o art. 10-A à Lei 8.429/92, tipificando como ato de improbidade administrativa qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1° do art. 8°-A da LC 116/03. Após as alterações sufragadas pela Lei 14.230/21, essa previsão passou a constar do art. 10, XXII da Lei 8.429/92.
Outras considerações: o contribuinte é o prestador do serviço; o lançamento se dá por homologação, pois é o próprio sujeito passivo que, a cada FG, calcula o montante do tributo devido e antecipa o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, cabendo a essa homologar, e caso precise, lançar de oficio eventuais diferenças. Assim, a função predominante dele é a fiscal. Submete-se a legalidade, anterioridade comum e noventena.
OBS: STJ- O recolhimento do tributo a município diverso daquele a quem seria efetivamente devido NÃO afasta a aplicação da regra da decadência prevista no art. 173, I do CTN. Para a aplicação da regra do art. 150, § 4º, do CTN seria necessário que a empresa tivesse recolhido, ainda que parcialmente, o imposto ao Município que lavrou o a uto de infração (Info 723).
14C. Imposto sobre transmissão causa mortis e doação.
Bruno Luiz Avellar Silva
Trata-se de imposto real, de competência estadual (art. 155, I da CRFB/88), que possui natureza eminentemente fiscal (arrecadatória). É disciplinado pelo CTN nos arts. 35 a 42 e deve ser interpretado à luz da atual Constituição, posto que a redação do Código cuida de um único imposto de transmissão, de competência estadual, incidente exclusivamente sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos. Com a CRFB/88, previu-se a instituição de dois impostos de transmissão, um estadual (ITCMD) e outro municipal (ITBI), sujeitando à incidência do primeiro as transmissões a título gratuito (causa mortis e doação) e do segundo as transmissões a título oneroso (Ricardo Alexandre). 
ATENÇÃO! EC 126/22- Art, 155, §1º, V – “não incidirá sobre as doações destinadas, no âmbito do Poder Executivo da União, a projetos socioambientais ou destinados a mitigar os efeitos das mudanças climáticas e às instituições federais de ensino”. 
FATO GERADOR: transmissão, causa mortis (aos herdeiros e legatários) e a doação, de quaisquer bens ou direitos; ou seja, transmissão gratuita sobre quaisquer bens e direitos. Não incide sobre as transmissões originárias, como por usucapião ou por acessão. Em se tratando de herança, incide o ITCMD se houver renúncia? Resposta: O imposto NÃO incidirá na renúncia pura e simples de eventual herança, pois se considera não efetivado o negócio jurídico. Na renúncia com encargo (aquela em que a parte renuncia mediante alguma contraprestação ou compensação), não haverá a incidência do imposto estadual, e sim, eventualmente, do imposto municipal, envolvendo bens imóveis. No caso de renúncia translativa (o renunciante determina em favor de quem a sua quota-parte deve ser destinada), haverá a incidência do tributo, na modalidade doação, em virtude da disposição patrimonial.
OBS: De acordo com art. 35, parágrafo único do CTN, nas transmissões causa mortis, ocorrem tantos fatos geradores distintos quantos sejam os herdeiros ou legatários.
Com relação à ALÍQUOTA, segundo a Súmula 112 do STF: “o imposto de transmissão causa mortis é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão” – morte do autor da herança, embora o cálculo do imposto venha a ser feito posteriormente com o inventário dos bens deixados (art. 1784 do CC disciplina que “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”).
Sobre os honorários do advogado contratado pelo inventariante, não incide o imposto de transmissão causa mortis (Súmula 115 do STF).
No que tange à doação de bens móveis, entende-se como fato gerador a TRADIÇÃO, sendo que, como regra, o pagamento ocorrerá no momento da celebração do contrato de doação. A doação de bens imóveis tem por fato gerador o registro do título no Registro de Imóveis (art. 1245, § 1º, CC).
Nas transmissões causa mortis ocorrem tantos fatos geradores distintos quanto sejam os herdeiros ou legatários.
OBS: No RE 562045, o STF já aceitou a progressividade do ITCMD, a despeito da ausência de previsão constitucional nesse sentido e do fato de se tratar de imposto real (O § 1º do art. 145 da CRFB/88 NÃO proíbe que os impostos reais sejam progressivos).
COMPETÊNCIA: a) sobre bens imóveis e seus direitos: compete ao Estado da situação do bem (ou ao DF); b) sobre bens móveis, títulos e créditos:
 “causa mortis”: compete ao Estado em que se processar o inventário ou o arrolamento;
 “doação”: compete ao Estado onde tiver domicílio o doador.
Pela transferência de ações, é devido ao Estado em que tem a sede a companhia (Súmula 435 do STF).
OBS: lei complementar disciplinará a competência se o doador tiver domicílio ou residência no exterior ou se o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado, ou teve o seu inventário processado no exterior. 
OBS: STF- É INCONSTITUCIONAL norma estadual que discipline a cobrança do ITCMD nas doações e heranças instituídas no exterior (art. 155, § 1º, III, da CF) considerando que ainda não existe a lei complementar nacional que regulamenta a matéria. Mesmo diante da omissão do legislador nacional acerca da matéria, os Estados-membros/DF NÃO podem editar leis instituindo a cobrança com base na competência legislativa concorrente. Devido ao elemento da extraterritorialidade, o legislador constituinte determinou ao Congresso Nacional que procedesse a um maior debate político sobre os critérios de fixação de normas gerais de competência tributária, com o intuito de evitar conflitos de competências geradores de bitributação entre os estados da Federação e entre países com os quais o Brasil possui acordos comerciais, mantendo uniforme o sistema de tributos (Info 1007 - rep geral e 1074).
	
PAGAMENTO DO TRIBUTO NA TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS: só ocorrerá após a avaliação dos bens do espólio, o cálculo do tributo e a homologação deste cálculo, sendo exigível, segundo a Súmula 114 do STF, somente após a homologação do cálculo.
BASE DE CÁLCULO: valor de mercado dos bens ou direitos transmitidos (o CTN, em seu art. 38, dispõe que a base de cálculo do imposto é o valor venal dos bens ou direitos); O cálculo deve ser feito sobre o valor dos bens na data da avaliação (Súmula 113 do STF), observada a alíquota vigente na data da abertura da sucessão (Sumula 112 do STF). Calcula-se o imposto de transmissão causa mortis sobre o saldo credor da promessa de compra e venda de imóvel, no momento da abertura da sucessão do promitente vendedor (Súmula 590 do STF).
OBS: De acordo com art. 40 do CTN, o montante do ITCMD é dedutível do devido à União, a título do imposto de renda, sobre o provento decorrenteda mesma transmissão.
ALÍQUOTAS: Sua alíquota máxima é fixada pelo Senado Federal (art. 155, § 1º, IV da CRFB/88). STF já decidiu que o Estado não pode editar lei afirmando genericamente que a alíquota do seu ITCMD é igual à alíquota máxima fixada pelo Senado (Resolução 09/1992 – alíquota máxima de 8%), de forma que se este alterar a alíquota máxima, imediatamente a alíquota estadual se tenha por alterada. Assim, se o Estado quer manter sua alíquota no limite máximo fixado pelo Senado, a cada alteração levada a cabo por este, deve editar nova lei estadual fixando especificamente a alíquota (RE 218086).
CONTRIBUINTES: ausência de determinação constitucional. Pode ser qualquer das partes na operação tributária, cabendo ao legislador estadual defini-lo. Em regra será: causa mortis, o herdeiro ou legatário, e doação, o doador ou donatário. Art. 42, CTN: Contribuinte do imposto é qualquer das partes na operação tributada, como dispuser a lei.
Sujeito à LANÇAMENTO POR DECLARAÇÃO (com base em informações prestadas pelo próprio sujeito passivo, quando este declara o valor do bem, ou por terceiro, podendo citar como exemplo a avaliação judicial).
OBS: STJ- No caso do ITCMD, referente à doação não oportunamente declarada pelo contribuinte ao fisco estadual, a contagem do prazo decadencial tem início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, observado o fato gerador, em conformidade com os arts. 144 e 173, I, do CTN (repetitivo – Tema 1048).
OBS: Súmula 331 do STF: É legítima a incidência do imposto de transmissão "causa mortis" no inventário por morte presumida. 
15C. Imposto sobre operações relativas à Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços (ICMS).
Bruno Luiz Avellar Silva
O ICMS é imposto estadual, previsto na CRFB/88 no art. 155, II e §2º a §5º e com disposição na LC 87/1996 (Lei Kandir,) que tem por fato gerador operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior. 
Principais características/considerações importantes: a) plurifásico: incide sobre o valor agregado, obedecendo-se ao princípio da não-cumulatividade; b) real: as condições da pessoa são irrelevantes; c) proporcional: não é progressivo; d) fiscal: tem como função principal a arrecadação; e) poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e serviços (aqui, a seletividade é facultativa, diversamente da seletividade do IPI, que é obrigatória); f) tributo de maior detalhamento constitucional e de maior arrecadação no Brasil; g) sujeito a lançamento por homologação; h) 25% do produto da arrecadação do ICMS pertence aos respectivos Municípios (art. 158, IV – atenção novas regras de repartição da Ec 108/20 – art. 158, parágrafo único da CRFB/88); i) antes da CRFB/88 era denominado de ICM, por incidir apenas sobre a circulação de mercadorias; j) a Constituição prevê as seguintes imunidades ao ICMS (art. 155, §2°, X): (i) operações que destinem mercadorias ou serviços para o exterior, (ii) operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis, líquidos e gasosos dele derivados e energia elétrica, (iii) sobre o ouro quando definido em lei como ativo financeiro e (iv) nas prestações de serviços de comunicação nas modalidades de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita; l) Operações são negócios jurídicos; circulação é transferência de titularidade, e não apenas movimentação física (deve ser jurídica, e não apenas fática); mercadorias são bens objeto de comércio; m) tributação de mercadorias fornecidas conjuntamente com serviços: i) serviço não previsto na LC 116/03: o ICMS incidirá sobre o valor total da operação; ii) serviço previsto na LC 116/03, sem ressalva de cobrança do ICMS: o ISS incide sobre o valor total da operação; iii) serviço previsto na LC 116/03, com ressalva de cobrança do ICMS: o ISS incide sobre o valor do serviço e o ICMS incide sobre o valor das mercadorias fornecidas; n) sua base de cálculo é o valor da operação; o) inovações legislativas recentes sobre a temática: i) LC 194/22 (acréscimo do art. 18-A ao CTN- essencialidade dos combustíveis, do gás natural, da energia elétrica, das comunicações e do transporte coletivo); ii) LC 190/22 (diversas alterações na Lei Kandir).
JURISPRUDÊNCIA
· SÚMULA VINCULANTE 48- Na entrada de mercadoria importada do exterior, é legítima a cobrança do ICMS por ocasião do desembaraço aduaneiro.
· STF- É INCONSTITUCIONAL norma distrital ou estadual que, mesmo adotando a técnica da seletividade, prevê alíquota de ICMS sobre energia elétrica e serviços de comunicação — os quais consistem sempre em itens essenciais — mais elevada do que a incidente sobre as operações em geral. A Constituição não obriga os entes competentes a adotarem a seletividade no ICMS. Entretanto, se houver essa adoção, caberá ao legislador realizar uma ponderação criteriosa das características intrínsecas do bem ou serviço em razão de sua essencialidade com outros elementos, como a capacidade econômica do consumidor final, a destinação do bem ou serviço, e a justiça fiscal, tendente à menor regressividade desse tributo indireto, tudo de forma a que não se atinja parcela de riqueza que corresponda ao mínimo existencial (Info 1060 e 1065).
· STF- A concessão unilateral de benefícios fiscais relativos ao ICMS sem a prévia celebração de convênio intergovernamental é considerada INCONSTITUCIONAL. O objetivo dessa vedação é o de evitar a chamada “guerra fiscal”. Art. 155, §2°, XII, g da CRFB/88.
· STF- O estorno proporcional de crédito de ICMS efetuado pelo Estado de destino, em razão de crédito fiscal presumido concedido pelo Estado de origem sem autorização do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), NÃO viola o princípio constitucional da não cumulatividade (Info 993 – rep geral).
· STF- É CONSTITUCIONAL a lei estadual ou distrital que, com amparo em convênio do CONFAZ, conceda remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais anteriormente julgados inconstitucionais (Info 1042 - rep geral).
· STF e STJ- É devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pago a mais, no regime de SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA PARA A FRENTE (progressiva), se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida (Info 844 – rep geral e Info 623 do STJ).
· STF- A antecipação, sem substituição tributária, do pagamento do ICMS para momento anterior à ocorrência do fato gerador necessita de lei em sentido estrito (aqui não se aplica o entendimento da SV 50, pois o decreto não se limitou a tratar sobre prazo para pagamento do tributo, determinando ainda o pagamento do ICMS antes de o fato gerador ter ocorrido). A substituição tributária progressiva do ICMS reclama previsão em lei complementar federal (art. 155, §2°, XII, b - LC 87/96) (Info 1011 - rep geral).
· STF- A imputação de responsabilidade tributária, na modalidade de substituição tributária progressiva, pelo Estado competente para a instituição do ICMS, NÃO exige lei complementar (Info 1073).
· A LC a que se faz referência na tese de julgamento firmada no Info 1011 é a LC 87/96, satisfazendo assim o comando do art. 155, § 2º, XII, “b”, da CRFB/88. Por outro lado, exige-se, por parte de cada um dos entes competentes para instituir o ICMS, lei própria no sentido de operacionalizar o que previsto em norma geral da legislação tributária, sendo esta referência a uma lei ordinária (Info 1073). É o que se depreende do art. 150, § 7º da CRFB/88, com a expressão “a lei”.
· STF- A antecipação do ICMS com substituição tributária deve se harmonizar com a lei complementar federal que dispõe sobre a matéria (arts. 6º e 9º da LC 87/96). É imprescindível, ademais, que a instituição dessa substituição tributária seja feita por meio de lei estadual em sentido estrito, com densidade normativa. Logo, não basta que o decreto estadual atribua às empresas geradorasde energia elétrica a responsabilidade por substituição tributária pelo recolhimento do ICMS. É indispensável que exista lei estadual. Mesmo que exista um convênio ICMS interestadual autorizando a substituição tributária, como a CRFB/88 exige a edição de lei estadual em sentido estrito, esse convênio deve ser submetido à apreciação da Assembleia Legislativa (Info 1024).
· STF- As vendas inadimplidas NÃO podem ser excluídas da base de cálculo do tributo, pois a inadimplência do consumidor final — por se tratar de evento posterior e alheio — NÃO obsta a ocorrência do fato gerador do ICMS-comunicação (Info 1017 - rep geral).
· STF- São INCONSTITUCIONAIS leis estaduais que preveem a incidência do ICMS sobre a operação de extração de petróleo e sobre a operação de circulação de petróleo desde os poços de extração até a empresa concessionária. Não há circulação de mercadoria; logo, não há fato gerador de ICMS (Info 1011).
· STF- O sujeito ativo da obrigação tributária de ICMS-importação é o Estado-membro no qual está domiciliado ou estabelecido o destinatário legal da operação que deu causa à circulação da mercadoria, com a transferência de domínio (Info 978 - rep geral). Isso porque às vezes o produto entra no país por um Estado (ex: onde localizado o porto), mas tem como destino outro Estado da Federação. 
· STF- I - Após a EC 33/01, é CONSTITUCIONAL a incidência de ICMS sobre operações de importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica, que não se dedica habitualmente ao comércio ou à prestação de serviços, devendo tal tributação estar prevista em lei complementar federal. II - As leis estaduais editadas após a EC 33/01 e antes da entrada em vigor da Lei Complementar 114/02, com o propósito de impor o ICMS sobre a referida operação, são válidas (é plena a competência legislativa estadual enquanto inexistir lei federal sobre norma geral, conforme art. 24, § 3º, da CRFB/88.), mas produzem efeitos somente a partir da vigência da LC 114/02 (É cediço que apenas LC federal pode dispor sobre contribuintes de imposto estadual na forma do art. 146, III, “a”, da CRFB/88, todavia não seria o caso de inconstitucionalidade formal ou material, mas, tão somente, de condição de eficácia daquele exercício após a superveniência da legislação necessária). (Info 987 – rep geral).
· STF- São INCONSTITUCIONAIS os seguintes dispositivos LC 87/96: • o art. 11, § 3º, II; • o trecho “ainda que para outro estabelecimento do mesmo titular” do art. 12, I; e • o art. 13, § 4º. Isso porque NÃO configura fato gerador de ICMS o mero deslocamento de mercadorias entre estabelecimentos do mesmo titular, estejam localizados na mesma unidade federativa ou em estados-membros diferentes (Info 1013).
· STF- “O ICMS NÃO compõe a base de cálculo para fins de incidência do PIS e da Cofins”. (Info 857 - rep geral). O texto constitucional define que o financiamento da seguridade social se dará, entre outras fontes, por meio de contribuições sociais sobre a receita ou o faturamento das empresas. Só pode ser considerado como receita o ingresso de dinheiro que passe a integrar definitivamente o patrimônio da empresa, o que não ocorre com o ICMS, que é integralmente repassado aos estados ou ao Distrito Federal.
· STF e STJ- É INDEVIDA a incidência do ICMS sobre o valor correspondente à demanda de potência elétrica contratada, mas não utilizada (Info 978 - rep geral, repetitivo e súmula 391 do STJ). A simples disponibilização da potência elétrica no ponto de entrega não constitui fato gerador do ICMS. O fato gerador se concretiza com o efetivo consumo da energia elétrica.
· STF- A imunidade do art. 155, § 2º, X, “a”, da CRFB/88 é restrita às operações de exportação de mercadorias, NÃO alcançando a saída de peças, partes, e componentes no mercado interno, ainda que, ao final, venha a compor o produto objeto de exportação (Info 994 - rep geral).
· STF- A imunidade do art. 155, § 2º, X, “b”, da CRFB/88 restringe-se ao Estado de origem, não abrangendo o Estado de destino da mercadoria. Segundo o dispositivo, cabe ao Estado de destino, em sua totalidade, o ICMS sobre a operação interestadual de fornecimento de energia elétrica a consumidor final, para emprego em processo de industrialização, não podendo o Estado de origem cobrar o imposto (Info 990 – rep geral). 
· STF- É INCONSTITUCIONAL lei estadual anterior à EC 87/15 que estabeleça a cobrança de ICMS pelo Estado de destino nas operações interestaduais de circulação de mercadorias realizadas de forma não presencial e destinadas a consumidor final não contribuinte desse imposto (Info 1006).
· STF- É necessária a edição de LC federal, disciplinando a EC 87/15, para que os estados-membros e o DF, na qualidade de destinatários de bens ou serviços, possam cobrar Diferencial de Alíquota do ICMS (Difal) na hipótese de operações e prestações interestaduais com consumidor final não contribuinte do Imposto. São válidas as leis estaduais ou distritais editadas após a EC 87/15, que preveem a cobrança do Difal nas operações e prestações interestaduais com consumidor final não contribuinte do imposto. No entanto, NÃO produzem efeitos enquanto não editada LC dispondo sobre o assunto (Info 1007 - rep geral). Essa LC atualmente já foi elaborada (LC 190/2022, que alterou a Lei Kandir).
· STF- A obrigação de transferência da quota pertencente aos municípios sobre o produto da arrecadação do ICMS, relativa à repartição constitucional das receitas tributárias, só ocorre quando há o efetivo recolhimento do tributo, isto é, quando configurada a receita pública por parte do estado-membro (julgado se refere a programas de incentivo tributário e que permitem recolhimento diferido/postergado) (Info 1080 – rep geral). Já no tema 42 de rep geral, o STF estabeleceu que se o Estado-membro decidir conceder isenção ICMS, os Municípios NÃO podem ser prejudicados na repartição constitucional do tributo (RE 572762). A questão do Info 1080 difere dessa decisão. No julgado envolvendo o Tema 42, o STF analisou constitucionalidade do Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense (PRODEC), que previa a retenção, pelo Estado de Santa Catarina, da parcela do produto de ICMS já arrecadado, a qual, à luz do art. 158, IV, da CRFB/88, seria devida aos Municípios. No caso do Tema 42, o ICMS já tinha sido efetivamente arrecadado e não foi repassado aos Municípios. 
· STF- É INCONSTITUCIONAL, por violação à cláusula constitucional da não afetação da receita oriunda de impostos e à autonomia municipal, norma estadual que determina a forma de aplicação dos recursos destinados ao município em razão da repartição constitucional de receitas (obriga os Municípios a aplicarem 50% do repasse do ICMS em áreas indígenas localizadas em seus territórios) (Info 1068).
· STJ- É CONSTITUCIONAL a inclusão do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS na base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB (Info 734 - repetitivo).
· STJ- O incentivo fiscal outorgado por Estado-membro por meio de desoneração relativa ao ICMS não integra a base de cálculo do IRPJ e CSLL. A tributação, pela União, dos valores correspondentes aos incentivos fiscais estimula uma competição indireta com o Estado-membro. A desoneração do ICMS possui um caráter extrafiscal, consistindo a medida em instrumento tributário para o atingimento de finalidade não arrecadatória, mas, sim, incentivadora de comportamento, com vista à realização de valores constitucionalmente contemplados. Se o propósito do incentivo era o de “aliviar” determinado segmento empresarial, é inegável que o ressurgimento do encargo, ainda que sob outro figurino (cobrado pela União), resultará no repasse dos custos adicionais às mercadorias, frustrando os objetivos buscados (Info 728).
16C. Imposto sobre Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR)
Pedro Leonardo Bastos Lima
O IR é da competência da União (arts. 43 a 45, CTN), tendo função fiscal, estando amparado nos princípios da universalidade (aspecto objetivo: toda a renda é tributável), generalidade (aspecto subjetivo:todas as pessoas podem ser contribuintes do IR) e progressividade (maiores alíquotas para os rendimentos e proventos mais elevados). Ademais, ele é exceção à anterioridade nonagesimal (art. 150, III, ‘c’ e §1º), observando, no entanto, a anterioridade anual (art. 150, III, ‘b’).
Fato gerador (FG): é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda e proventos de qualquer natureza, não sendo necessário que a renda se torne efetivamente disponível (disponibilidade financeira).
	Disponibilidade econômica: está relacionada com o simples acréscimo patrimonial, independentemente da existência de recursos financeiros. Algumas vezes, a disponibilidade econômica ocorre antes que a disponibilidade financeira (que ocorre quando a renda pode ser efetivamente utilizada, ou seja, quando o “dinheiro” está em “caixa”). A disponibilidade financeira define o momento do pagamento do IR, mas com a alíquota da época da disponibilidade econômica.
	Disponibilidade jurídica: é a obtenção de direitos de créditos não sujeitos à condição suspensiva, representados por títulos ou documentos de liquidez e certeza. Não há a necessidade de o rendimento ter sido efetivamente recebido pelo sujeito passivo, sendo suficiente que este tenha adquirido o direito de crédito sobre ele, ou seja, a disponibilidade jurídica (SABBAG).
	Renda: produto decorrente do capital, do trabalho ou da conjugação de ambos.
	Proventos de qualquer natureza: acréscimos não compreendidos no conceito de renda.
	“Acréscimo patrimonial” é o elemento comum e nuclear dos conceitos de renda e de proventos (art. 43, CTN). As verbas de natureza indenizatória, por servirem apenas para recompor o patrimônio, não estão sujeitas ao imposto. Súmula STJ 498 – Não incide IR sobre indenização por danos morais.
OBS.: limites e contornos do IR estão estabelecidos na CF, não podendo o legislador infraconstitucional dispor incondicionalmente sobre a materialidade da exação.
OBS.: Mera Expectativa de ganho futuro ou em potencial e a simples posse de numerário alheio não são FG do IR. Assim, se alguém está impedido de utilizar dinheiro de que tem aparentemente a posse, esse alguém carece da liberdade própria ao verdadeiro titular da disponibilidade econômica. A disponibilidade jurídica resta caracterizada, contudo, para o locador de imóvel, quando há o recebimento, pela imobiliária, do aluguel pago pelo locatário.
Regime do tributo: STJ disse que legislador ordinário tem liberdade para estipular regime do tributo. Não há direito adquirido ao regime legal pelo contribuinte. A fixação do regime de competência para a quantificação da base de cálculo e do regime de caixa para a dedução das despesas fiscais não implica majoração do tributo devido, inexistindo violação ao conceito de renda fixado na legislação federal.
	Regime de Competência
	Regime de Caixa
	Quando se adquire direito/dever de uma obrigação (independe do ingresso dos valores)
	Quando há efetivo ingresso de valores
	Ingresso jurídico
	Ingresso econômico
	IRPJ
	IRPF
FG do IR e irretroatividade tributária: Noção de que a lei que aumenta tributo deve ser anterior aos fatos geradores aos quais ela se refere. O STF sustentava que ao “IR calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplicava-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração” (Súmula 584). Contudo, em 2020, o STF mudou seu posicionamento, cancelando a referida súmula. Agora, valem as leis publicadas até o dia 31/12 do ano-base.
Base de cálculo (BC). O IR tem 3 modalidades: – apuração real: base de cálculo = rendimento bruto – deduções/compensações/exclusões previstas em lei; – apuração presumida: base de cálculo = percentual sobre a receita; – apuração arbitrada: em verdade, é um lançamento de ofício substitutivo.
Sujeito passivo: Pessoa física ou jurídica, titular de renda ou provento de qualquer natureza. A lei pode atribuir à fonte pagadora da renda a responsabilidade pela retenção e recolhimento do IR.
IRPJ: FG engloba, além das hipóteses tributadas exclusivamente na fonte, o lucro, sendo de periodicidade trimestral. O lucro da pessoa jurídica ou equiparada à jurídica pode ser obtido pelos critérios acima. 
Lançamento: por homologação.
IR e a tributação internacional (CTN, art. 43, §2º): “Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto referido neste artigo”. Como praxe, a renda é tributável no país de quem a aufere (país onde reside o contribuinte, salvo se tiver em outro país residência fixa ou comércio). Assim, rendimentos obtidos em qualquer parte do mundo são tributáveis no domicílio do contribuinte. Existem tratados internacionais com o fim de evitar a bitributação.
	
JURISPRUDÊNCIA:
STJ (dez/2015): Os proventos de aposentadoria ou reforma percebidos por portador de cegueira monocular também são isentos de IR. O art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88 fala apenas em cegueira, ou seja, não faz distinção entre cegueira binocular e monocular para efeito de isenção de imposto sobre a renda.
STJ (set/2017): A cessão de crédito de precatório não tem o condão de alterar a BC e a alíquota do IR, que deve considerar a origem do crédito e o próprio sujeito passivo originariamente favorecido pelo precatório. Fundamentos: A) FG surge no momento da expedição do precatório; B) É incabível opor ao Fisco as convenções e acordos particulares decorrentes da cessão de crédito (CTN, art. 123).
	
	Incide IR?
	Incide contribuição previdenciária?
	Férias gozadas
	Sim
	Sim
	Adicional de 1/3 férias gozadas
	Sim
	Sim (STF, Tema 985)
	Férias indenizadas e 1/3 férias indenizadas
	Não
	Não
STJ (set/2017): O art. 11 do DL 401/68 prevê que “está sujeito ao desconto do IRRF o valor dos juros remetidos para o exterior devidos em razão da compra de bens a prazo”. Vale ressaltar que o contribuinte do IR previsto neste art. 11 é o vendedor (beneficiário dos valores residente no exterior). O remetente dos juros (e que deve pagar o IRRF) é o sujeito passivo responsável por substituição, enquadrando-se nos conceitos previstos nos arts. 121, § único, II, e 128 do CTN. Importante esclarecer que, se o adquirente do bem (e que está remetendo o dinheiro para o exterior) for uma entidade imune, mesmo assim terá que fazer o recolhimento do IRRF.
Súmula STJ 590 (set/2017) – Constitui acréscimo patrimonial a atrair a incidência do IR, em caso de liquidação de entidade de previdência privada, a quantia que couber a cada participante, por rateio do patrimônio, superior ao valor das respectivas contribuições à entidade em liquidação, devidamente atualizadas e corrigidas.
Súmula STJ 598 (nov/2017) – É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o reconhecimento judicial da isenção do IR, desde que o magistrado entenda suficientemente demonstrada a doença grave por outros meios de prova. Fundamento: “livre convencimento motivado” do Juiz.
Súmula 627 do STJ – O contribuinte faz jus à concessão ou à manutenção da isenção do IR, não se lhe exigindo a demonstração da contemporaneidade dos sintomas da doença nem da recidiva da enfermidade.
STJ (nov/2017): Crédito presumido de ICMS não integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Caso contrário, haveria a possibilidade de a União retirar, por via oblíqua, o incentivo fiscal que o Estado-membro, no exercício de sua competência tributária, outorgou.
STJ (mar/2018): A isenção prevista no art. 39, § 2º, da Lei 11.196/2005, alcança as hipóteses nas quais o produto da venda de imóvel por pessoa física seja destinado, total ou parcialmente, à quitação ou amortização de financiamento de outro imóvel residencial que o alienante já possui. A restrição estabelecida no art. 2º, §11, I, da IN SRF 599/2005 é ilegal. Assim, se com o dinheiro da venda de um imóvel, tenho “ganho de capital”, mas utilizo para comprar outro imóvel ou quitar um anterior, haverá isenção do IR.
STJ, REsp 1.273.396-DF – Não tendo participado do fato gerador do tributo, a declaração conjunta de IRNatureza jurídica do tributo: 
CTN art. 4° e 5º: é determinada pelo fato gerador da obrigação. São irrelevantes: denominação e demais características formais adotadas pela lei + destinação legal do produto de sua arrecadação (vale para impostos). Segundo a análise do FG, para a corrente bipartida, só há 2 tipos de tributos a)Taxa: vinculado a contraprestação estatal ao contribuinte (considerando o CTN, teríamos aqui taxas e contribuições de melhoria); e b)Imposto: não vinculado (tributo que não goza de referibilidade).
Para a Constituição, determinam a natureza jurídica: fato gerador e base de cálculo (art. 145 §2° e art. 154, I). A corrente quinquipartite (abaixo), adotada pelo STF, supera essa posição (entendimento já adotado em prova objetiva do MPF).
OBS1: MPF/24º : Preconizam os arts. 4º e 5º do CTN: “Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: I - a denominação e demais características formais adotadas pela lei; II - a destinação legal do produto da sua arrecadação. Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria.” Segundo o Sistema Tributário Brasileiro, os transcritos artigos 4º e 5º, acima, são inteiramente aplicáveis quando consideram que: a) a natureza jurídica específica de um tributo pode ser determinada exclusivamente pelo exame do seu fato gerador; b) são 3 (três) as espécies tributárias: impostos, taxas e contribuições de melhoria; c) estar o produto de arrecadação afetado ou não a finalidades específicas é que define a natureza do tributo; d) os transcritos artigos 4º e 5º, sob exame, acham-se superados. OBS2.: Com o surgimento dos empréstimos compulsórios e das contribuições, são agora os critérios definidores da natureza jurídica do tributo: (a) vinculação ou não a uma atividade estatal; (b) restituição ou não do valor pago; e (c) destinação ou não do produto da arrecadação. Logo, o art. 4º do CTN, diante de toda essa modificação produzida pela Lei Maior, precisa ser entendido a partir dessa nova concepção da natureza jurídica tributária.
Quanto às espécies tributárias, estas são abordadas no tópico 1A. 
Classificação:
1.1. Quanto à função ou finalidade: 
a) fiscal: arrecadatória; 
b) extrafiscal: intervenção em atividade econômica ou questão social; 
c) parafiscal: quando objetivo é a arrecadação de recursos para o custeio de atividade que, em princípio, não integra funções próprias do Estado, mas este as desenvolve através de entidades especificas. Ex.: arrecadação de recursos para autarquias, fundações publicas, sociedades de economia mista, empresas publicas etc. Aqui, há atribuição da capacidade de arrecadação e disponibilidade a sujeito ativo diverso do ente competente para implementação de seus objetivos;
1.2. Quanto à qualidade (qualitativa): contributivo ou retributivo (comutativo – implica retribuição a uma atuação estatal);
1.3. Quanto à hipótese de incidência: tributos vinculados e tributos não vinculados;
1.4. Quanto à discriminação das rendas por competência: tributos federais, estaduais e municipais;
1.5.Quanto ao exercício da competência impositiva: privativos, comuns e residuais.
1.6. Quanto ao destino da arrecadação: arrecadação vinculada e arrecadação não-vinculada.
1.7. Quanto à repercussão do encargo econômico financeiro: diretos (suportados pelo contribuinte de direito) e indiretos (pelo contribuinte de fato).
1.8. Quanto aos aspectos objetivos e subjetivos da hipótese de incidência: reais e pessoais.
1.9. Classificação dos impostos no CTN quanto às bases econômicas de incidência: a) sobre o comércio exterior; b) sobre o patrimônio ou a renda; c) sobre a produção ou circulação; d) extraordinários. 
OBS1: essa classificação é importante, dentre outras hipóteses, em relação ao seguinte: o art. 104 do CTN afirma que: entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda: 
(i) que instituem ou majoram tais impostos; 
(ii) que definem novas hipóteses de incidência; 
(iii) que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte 
OBS2: a isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei a qualquer tempo. Ou seja, a revogação da isenção, segundo este artigo do CTN, deve seguir o princípio da anterioridade do exercício financeiro. 
OBS3: o artigo fala que respeitará a anterioridade apenas a revogação da isenção de tributos sobre o patrimônio ou sobre a renda. Essa é a disposição da lei. A jurisprudência mais recente do STF (1ª e 2ª Turma) é no sentido de que a redução ou supressão de benefícios ou incentivos fiscais decorrentes do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para Empresas Exportadoras (REINTEGRA) se sujeita à incidência dos princípios da anterioridade tributária geral e da anterioridade nonagesimal.
3B. Contribuições de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas
Thiago Costa Pinheiro. 19/03/23
Contribuições: tributos qualificados constitucionalmente por suas finalidades (CARRAZZA). São tributos vinculados, cuja hipótese de incidência consiste numa atuação estatal indireta e mediatamente (mediante uma circunstância intermediária) referida ao obrigado. Previstas no art. 149, da CRFB/88, dividem-se em três espécies: (i) contribuições sociais, (ii) contribuições de intervenção no domínio econômico (CIDE); e (iii) contribuições de interesse de categorias profissionais ou econômicas (corporativas). 
Contribuições de intervenção no domínio econômico (CIDE): representam um instrumento de atuação da União na área econômica. É o que se depreende da leitura do art. 149 da CR e, também, do art. 174, que comete ao Estado a função de regular, incentivar e planejar a economia. Consigne-se, porém, que a ação interventiva do poder público não pode implicar atentado ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV, CR). São tributos de competência privativa da União, não sujeitos a reserva de lei complementar. Criados com base no elemento teleológico, relacionam-se aos princípios norteadores da ordem econômica (art. 170, CR). Têm caráter extrafiscal: finalidade precípua não é carrear recursos aos cofres públicos, mas sim intervir numa situação social ou econômica. Entretanto, a técnica utilizada nas CIDE difere da extrafiscalidade observada nos demais tributos. Neles, a intervenção se dá pela diminuição/aumento da carga tributária sobre a atividade cujo estímulo/desestímulo se deseja. Já nas CIDE, a intervenção ocorre pela destinação do produto da arrecadação a uma determinada atividade, que, justamente por conta desse “reforço orçamentário”, tem-se por incentivada (ALEXANDRE). Requisitos para a instituição: a) intervenção seja com apoio em lei; b) que o setor da economia esteja sendo desenvolvido pela iniciativa privada; c) que as finalidades estejam em consonância com os princípios do art. 170 CF. Imunidade específica (art. 149, §2°, CR): não incidem sobre as receitas decorrentes de exportação. Incidem sobre a importação de produtos ou serviços estrangeiros. Podem ter alíquotas ad valorem ou específica (art. 149, §2°, III, CR).
Principais CIDE: (a) Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM); (b) Adicional de Tarifa Portuária (ATP), extinta pela Lei nº 9.309/96, (c)  Contribuição ao Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), controvérsia acerca de sua constitucionalidade. Não há pronunciamento da Corte Suprema a respeito, mas o STJ considerou devida essa contribuição na vigência da Carta Política de 1988 (Resp nº 23.750-0-AL, Rel. Min. Demócrito Reinaldo DJU de 5-9-94); (d) Contribuição ao Instituto Brasileiro do Café – IBC, a doutrina vem entendendo que essa contribuição é inconstitucional. Nesse sentido também é a jurisprudência do STF; (e) Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico destinada a financiar o Programa de Estímulonão torna o cônjuge corresponsável pela dívida tributária dos rendimentos percebidos pelo outro.
STJ, REsp 1.606.234-RJ – A dispensa do pagamento das taxas condominiais concedida ao síndico pelo trabalho por ele exercido não pode ser considerada como pró-labore, rendimento ou acréscimo patrimonial. Logo, não está sujeita à incidência do IR, sob pena de violar o princípio da capacidade contributiva.
STJ, REsp 1.808.546-DF – Portador de HIV, mesmo sem sintomas de Aids, goza da isenção do imposto de renda prevista no art. 6º, XIV, da Lei 7.713/88.
STJ, REsp 1.785.762-RJ – Não incide IR sobre o preço recebido em virtude de cessão com deságio de precatório. 
STJ, RMS 52.051-AP – Incide IR sobre verba paga como contraprestação de plantões médicos (pagamentos são habituais, comutativos e retributivos, não tendo natureza indenizatória).
STJ, REsp 1.854.404-SP – O valor recebido pelos trabalhadores a título de ajuda compensatória representa uma indenização do patrimônio desfalcado do trabalhador, e não um acréscimo patrimonial tido como fato gerador do imposto, motivo pelo qual não se sujeita à tributação pelo imposto de renda.
STF, RE 1063187/SC – Não incidem IRPJ e CSLL sobre os juros decorrentes da mora na devolução de valores determinada em ação de repetição do indébito tributário (Repercussão Geral – Tema 962).
STF, RE 607886/RJ – Estados são titulares do IR sobre rendimentos pagos diretamente por suas autarquias e fundações (Repercussão Geral – Tema 364).
STF, ADI 6025 – Não é possível estender, pela via judicial, a isenção prevista no art. 6º, XIV, da Lei 7.713/88 (isenção para pessoas com neoplasia maligna ou outras doenças graves) aos trabalhadores em atividade.
STF, ADI 5583/DF – Pessoa com deficiência pode ser enquadrada como dependente, mesmo que seja apta a trabalhar, mas desde que não receba remuneração que exceda as deduções legalmente autorizadas.
STF, ADI 5422/DF – É inconstitucional norma que prevê a incidência do IR sobre alimentos percebidos pelo alimentando (é apenas entrada de valor + seria bis in idem, pois já foi cobrado IR do alimentante).
STF, RE 585181 – É constitucional a cobrança, em face das entidades fechadas de previdência complementar não imunes, do IRRF e da CSLL.
STJ, REsp 1.421.590-RN – Os valores auferidos a título de “reembolso de materiais” adquiridos para a atividade de construção civil não devem ser deduzidos da base de cálculo do IRPJ e da CSLL pelo lucro presumido.
STJ, REsp. 1.192.556/PE e EREsp 1.596.978-RJ – incide Imposto de Renda sobre o Abono de Permanência desde de 2010, o qual deve ser aplicado sem modulação temporal de seus efeitos. 
STF, RE 855091 – Não incide imposto de renda sobre os juros de mora devidos pelo atraso no pagamento de remuneração por exercício de emprego, cargo ou função.
STF, RE 1063187/SC – É inconstitucional a incidência do IRPJ e da CSLL sobre os valores atinentes à taxa Selic recebidos em razão de repetição de indébito tributário. (Repercussão Geral – Tema 962)
17C. Imposto sobre Produtos Industrializados.
Pedro Leonardo Bastos Lima
O IPI (Lei 4502/1964) é de competência da União, sendo tributo indireto, com natureza eminentemente extrafiscal, razão pela qual pode ter suas alíquotas alteradas pelo Poder Executivo mediante Decreto, atendidas as condições exigidas pela lei. Ademais, o IPI não se sujeita à anterioridade de exercício, mas é sujeito à anterioridade nonagesimal (CF, art. 150, §1º), sendo obrigatoriamente seletivo (quanto às alíquotas e não quanto à BC – MPF/26º) em função da essencialidade do produto (CF, art. 153, §3º, I), diferentemente do ICMS, cuja seletividade é facultativa. 
A não-cumulatividade é característica constitucional do IPI, pela qual deve-se compensar, no que for devido em cada operação, o montante cobrado nas anteriores (créditos de IPI apropriados pelo contribuinte). Inicialmente o STF entendeu pela existência do direito a crédito de IPI ainda que os insumos adquiridos tivessem sido beneficiados por isenção ou alíquota zero (STF, 2ª T., REAgR 293.511/RS). Todavia, o STF alterou a posição e passou a entender que o crédito de IPI pressupõe recolhimento de tributo na operação anterior (RREE 353657/PR – 2008; 370682/SC – 2007 RE 398365 RG(2015) + Info 438). Esse entendimento foi consolidado na Súmula Vinculante 58 (“Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade”). 
Estão imunes de IPI as operações de exportação de produtos industrializados (CF, art. 153, §3º, III); os livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão (CF, art. 150, VI, d); o ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial (CF, art. 153, §5º), e, ainda, a energia elétrica, derivados de petróleo, combustíveis e minerais no País (CF, art. 155, §3º).
O fato gerador (FG) do IPI (art. 46, CTN) é o desembaraço aduaneiro do produto industrializado advindo do exterior (o importador apurará créditos no montante pago a título de IPI no desembaraço aduaneiro e poderá utilizá-los para compensar com IPI eventualmente incidente na saída do estabelecimento) e a saída do produto do estabelecimento. Embora prevista no CTN como FG do IPI, a arrematação do produto, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão, não tem aplicabilidade, pois “não encontra concretização na legislação ordinária nem no RIPI” (Leandro Paulsen). 
A saída do estabelecimento a que refere o art. 46, II, do CTN, que caracteriza o aspecto temporal da hipótese de incidência, pressupõe, logicamente, a mudança de titularidade do produto industrializado. Havendo mero deslocamento para outro estabelecimento ou para outra localidade, permanecendo o produto sob o domínio do contribuinte, não haverá incidência do IPI. (STJ. 1ª Turma. REsp 1.402.138-RS).
OBS.: Observe-se que o IPI não é um tributo cuja incidência é o valor agregado, não estando a sua incidência vinculada à agregação de valor ao produto. 
Nota-se que quanto ao IPI, a CF/88 coloca como base econômica a ser tributada os negócios jurídicos com produtos industrializados, mas não necessariamente negócios que impliquem a transferência do bem. Ademais, produto (bem destinado ao comércio, ao consumo ou a qualquer outra utilidade) não se confunde com mercadoria (bem destinado ao comércio). Industrializado é o produto sujeito a qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para o consumo, sendo exemplificativo o rol do art. 3º do Decreto 7.212/2010 (RIPI). Para a incidência do IPI, outrossim, o produto tem que ter sido industrializado por um dos contratantes da respectiva operação (STJ, 2ª T., REsp 435.575/SP). Curiosidade: O Decreto-Lei 666/69 condiciona o gozo de benefícios fiscais a produtos importados, limitando aos que tenham sido transportados por navio de bandeira brasileira (Obs. Isso não se aplica no âmbito do PADIS).
Jurisprudência do STF: INF 735/2014 (RE 662113/PR): É incompatível com a CF/88 o art. 3º do Decreto-Lei 1.437/75, que autorizava que o Fisco exigisse do contribuinte o ressarcimento pelo custo dos selos do IPI. Assim, o selo para controle de recolhimento de IPI não pode ser cobrado do contribuinte por meio de norma infralegal, sob pena de violação ao princípio da legalidade tributária, uma vez que somente por meio de lei em sentido formal seria possível exigir das empresas o pagamento pelo selo.
RE 577348: o crédito-prêmio de IPI foi considerado pelo STF como um incentivo fiscal de natureza setorial, submetendo-se ao disposto no art. 41 da ADCT (que determina a reavaliação de todos os incentivos fiscais de natureza setorial então em vigor, sob pena de se considerarem revogados após 2 anos aqueles que não fossem confirmados por lei). Como o benefício fiscal não foi confirmado por lei após 2 anos da vigência da CF/88, foi considerado revogado em 05/10/1990, não subsistindo atualmente. 
RE 723651 – 2016: possível a incidência de IPI na importaçãoà Interação Universidade-Empresa para o apoio à Inovação (CIDE-royalties), julgada constitucional pelo STF; 
(f) “Cide-combustíveis” (art. 177, §4°, CR): única com fatos geradores delineados na própria Constituição. Incide na importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível. Autorizada a adoção da técnica de diferenciação de alíquotas em função do produto ou uso. Pode ser reduzida e restabelecida por ato do Executivo. Sua arrecadação deve ser destinada a: a) pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, gás natural e seus derivados e derivados de petróleo; b) financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria de petróleo e do gás; c) financiamento de programas de infraestrutura e transportes.
A CIDE destinada ao Incra foi recepcionada pela CF, mesmo após o advento da Emenda Constitucional (EC) 33/2001. A inserção do § 2º, III, “a”, no art. 149 da Constituição não tem o alcance de derrogar todo o arcabouço normativo das contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico que incidiam sobre a folha de salários, quando da promulgação da referida emenda constitucional, instituídas com base no “caput” do art. 149. STF. Plenário. RE 630898/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 495) (Info 1012).
Contribuições de interesse das categorias profissionais (contribuições corporativas): são criadas pela União com o objetivo parafiscal de obter recursos destinados a financiar atividades de interesse de instituições representativas ou fiscalizatórias de categorias profissionais ou econômicas (corporações – fundamento no art. 5, XIII, CR[footnoteRef:1]). Contribuições parafiscais: União delega a capacidade tributária ativa às autarquias profissionais que realizam atividade de interesse público. Os exemplos mais relevantes de tais contribuições são a contribuição sindical e a destinada ao custeio das entidades de fiscalização do exercício de profissões regulamentadas. Há, porém, uma tendência no STJ no sentido de enquadrar como corporativas as contribuições para os serviços sociais autônomos, com a ressalva expressa para aquela destinada ao financiamento do SEBRAE (classificada como “geral”). (ALEXANDRE) [1:  “Art. 5º, XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;” ] 
STJ: as autarquias corporativas não podem efetuar a majoração de suas “anuidades” por meio de atos normativos (portarias, resoluções), pois, pela natureza tributária, sujeitam-se ao princípio da legalidade. (REsp. 625.554). 
STF: É inconstitucional, por ofensa ao princípio da legalidade tributária, lei que delega aos conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas a competência de fixar ou majorar, sem parâmetro legal, o valor das contribuições de interesse das categorias profissionais e econômicas, usualmente cobradas sob o título de anuidades, vedada, ademais, a atualização desse valor pelos conselhos em percentual superior aos índices legalmente previstos. STF. Plenário. RE 704292/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/10/2016 (REPERCUSSÃO GERAL) (Info 844).
O teto mínimo para ajuizamento de execução fiscal independe do valor estabelecido pelos Conselhos de fiscalização profissional, pois o legislador optou pelo valor fixo do art. 6º, I, da Lei nº 12.514/2011.
STJ. 2ª Turma. REsp 2043494-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/2/2023 (Info 764).
As anuidades devidas aos conselhos profissionais constituem contribuições de interesse das categorias profissionais e estão sujeitas a lançamento de ofício, o qual apenas se aperfeiçoa com a notificação do contribuinte para efetuar o pagamento do tributo e o esgotamento das instâncias administrativas, em caso de recurso, sendo necessária a comprovação da remessa da intimação. STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1689783/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 26/10/2020.
OAB – para o STF, trata-se de uma entidade prestadora de serviço público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes (ADI 3.026/DF); tem caráter sui generis (não se resume a defender interesses corporativos) e não se enquadra como Fazenda Pública. Assim, sua anuidade não tem natureza tributária e não deve ser cobrada por meio de execução fiscal, mas sim de acordo com o rito do CPC (EREsp. 463.258). 
Contribuição sindical: a Constituição prevê, no seu art. 8º, IV, a criação de duas contribuições sindicais: (i) contribuição fixada pela assembleia-geral para o custeio do sistema confederativo do respectivo sindicato, de caráter voluntário, só sendo paga pelos trabalhadores sindicalizados (SV nº 40)[footnoteRef:2], não ostentando natureza tributária; (ii) contribuição fixada em lei, cobrada de todos os trabalhadores. [2: Súmula Vinculante nº 40: “A contribuição confederativa de que trata o artigo 8º, IV, da Constituição Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo”
] 
A segunda exação foi instituída pela CLT com caráter compulsório para todos os que participassem de uma determinada categoria econômica ou profissional, em favor do sindicato representativo. Ocorre, porém, que, entre as recentes alterações introduzidas pela Lei nº 13.467/17 (Reforma Trabalhista), encontra-se a disposta nos artigos 578 e 579, da CLT, retirando a obrigatoriedade da contribuição sindical. Referida alteração foi questionada no STF, por meio da ADI 5794, da ADC 55 e de outras dezoito ADIs com o mesmo objeto. Em julgamento conjunto (junho/2018), a Suprema Corte, por maioria de votos (6x3), julgou improcedentes os pedidos formulados nas ADIs e procedente o pedido formulado na ADC. Prevaleceu o entendimento do ministro Luiz Fux, que defendeu que a contribuição sindical não é tributo, pois não contemplaria normas gerais de direito tributário e, desse modo, não precisa ser alterada por meio de lei complementar. Além disso, entre os argumentos expostos por ele e pelos ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Cármen Lúcia, está o de não poder admitir-se que a contribuição sindical seja imposta a trabalhadores e empregadores quando a Constituição determina que ninguém é obrigado a se filiar ou a se manter filiado a uma entidade sindical. O ministro Fux foi o primeiro a divergir do relator dos processos, ministro Edson Fachin, que votou pela inconstitucionalidade do fim contribuição sindical obrigatória. Entre os argumentos expostos por Fachin e pelos ministros Dias Toffoli e Rosa Weber, está o de que o fim da obrigatoriedade do tributo vai impedir os sindicatos de buscarem formas de organização mais eficazes para defender os direitos dos trabalhadores perante os interesses patronais. Para o ministro Luís Roberto Barroso, o princípio constitucional envolvido no caso é o da liberdade sindical, o direito de o trabalhador filiar-se ou não e de contribuir ou não a uma entidade. Nesse sentido, ele considera o modelo de contribuição compulsória ruim, porque não estimula a competitividade e a representatividade, levando a um verdadeiro “business” privado. “O sistema é bom para os sindicalistas, mas não é bom para os trabalhadores”.
4C. Empréstimo compulsório.
Thiago Costa Pinheiro. 19/03/23
1. Previsão constitucional	
Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência;
II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b".
Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.
2. Conceito
Os empréstimos compulsórios são empréstimos forçados, coativos, porém restituíveis. A obrigação de pagá-los não nasce de um contrato, de uma manifestação livre das partes, mas sim de determinação legal. Verificada a ocorrência do fato gerador, surgea obrigação de “emprestar” dinheiro ao Estado.
3. Natureza jurídica
A exação se enquadra com perfeição na definição de tributo do art. 3º do CTN, que não contempla nenhum requisito relativo à definitividade do ingresso da receita tributária nos cofres públicos. Ademais, o art. 148 da CR/88, fundamento constitucional da cobrança, está inserido na seção que trata dos princípios gerais do sistema tributário nacional. É um tributo com fisionomia própria, mas isso não descaracteriza a sua natureza jurídica. 
OBS: O Supremo Tribunal Federal, no RE 146.733-9, reconheceu a natureza de espécie tributária autônoma do empréstimo compulsório, adotando a teoria pentapartida dos tributos. Assim, está superado o entendimento consolidado na Súmula 418 do STF.
	
4. Competência
A competência para a criação de empréstimos compulsórios é exclusiva da União. Esta é uma regra sem exceções. Por mais urgente, grave ou relevante que seja a situação concreta, não é possível a instituição da exação por parte dos Estados, dos Municípios ou do DF. 
5. Forma de instituição
A instituição de empréstimos compulsórios só é possível por meio de lei complementar. 
OBS: Leis ordinárias e medidas provisórias não podem criar EC´s.
6. Hipóteses de instituição
a) Despesas extraordinárias (anormalidade fática não previsível, que dispensa a observância do princípio da anterioridade):
a.1) decorrentes de calamidade pública (premente necessidade de acudir as vítimas de calamidades públicas sérias, como incêndios, enchentes, terremoto);
a.2) decorrentes de guerra externa (deflagrada por nação estrangeira).
b) Investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional (exige a observância do princípio da anterioridade).
OBS: Esses pressupostos alternativos não se confundem com o fato gerador, eles apenas condicionam a aplicação do produto da arrecadação. O fato gerador é qualquer situação abstrata, prevista na lei complementar, como capaz de deflagrar a relação jurídico-tributária.
OBS2: O art. 15, III, do CTN prevê a instituição de EC em uma terceira situação, qual seja, a “conjuntura que exija a absorção temporária do poder aquisitivo”. No entanto, essa hipótese não foi recepcionada pela CR/88, de forma que os EC’s só podem ser instituídos nos casos constitucionalmente previstos. 
Segundo o STF, é inconstitucional norma estadual que dispõe sobre valores correspondentes a depósitos judiciais e extrajudiciais de terceiros, ou seja, em que o ente federado não é parte interessada. O tratamento legal impugnado ainda afronta o direito de propriedade dos jurisdicionados ─ pois configura expropriação de recursos a eles pertencentes ─; caracteriza empréstimo compulsório não previsto no art. 148 da CF/88; bem como cria endividamento fora das hipóteses de dívida pública permitidas pela Constituição (STF. Plenário. ADI 6660/PE, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 20/6/2022, Info 1060). 
7. Princípios constitucionais tributários
O legislador constituinte foi sensível ao fato de que, nos casos de guerra externa e sua iminência e de calamidade pública, há uma necessidade bem maior de celeridade, de rapidez na instituição e cobrança do tributo. Justamente por isso, nesses casos a exação pode ser criada e cobrada de imediato, sem necessidade de obediência aos princípios da anterioridade de exercício financeiro e da anterioridade nonagesimal. 
No caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, é preciso observar o princípio da anterioridade de exercício financeiro.
No mais, devem ser observados todos os princípios tributários, tais como os da legalidade, da isonomia, da capacidade contributiva, da irretroatividade e da vedação à utilização de tributo com efeito de confisco, entre outros.
8. Destinação da arrecadação
Os empréstimos compulsórios são tributos de arrecadação vinculada, como se extrai do parágrafo único do art. 148 da CR/88. O dispositivo visa a evitar que haja um desvirtuamento do tributo, pois se a Constituição previu quais as circunstâncias autorizam a criação do tributo, não faria sentido utilizar os recursos arrecadados em outras despesas.
 
9. Restituição
	O parágrafo único do art. 15 do CTN exige que a lei instituidora do empréstimo compulsório fixe o prazo e as condições de resgate. Assim, a tributação não será legítima sem a previsão de restituição.
Não seria nem necessária a previsão infraconstitucional para que se entendesse como exigível a fixação dos prazos e condições da restituição. A conclusão deve ocorrer do simples fato de o tributo ter sido denominado empréstimo, apesar de compulsório.
O STF tem entendimento firmado no sentido de que a restituição do valor arrecadado a título de empréstimo compulsório deve ser efetuada na mesma espécie em que recolhido (RE 175.385/CE). Como o tributo, por definição, é pago em dinheiro, a restituição deve ser efetivada também em dinheiro. 
O Ministério Público não possui legitimidade ativa ad causam para, em ação civil pública, deduzir em juízo pretensão de natureza tributária em defesa dos contribuintes, que vise questionar a constitucionalidade/legalidade de tributo (ARE 694294 RG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/04/2013. Repercussão Geral – Tema 645).
Com base na tese acima, o STJ reconheceu a ilegitimidade ativa do Ministério Público para ajuizar ação civil pública objetivando a restituição de valores indevidamente recolhidos a título de empréstimo compulsório sobre aquisição de automóveis de passeio e utilitários, nos termos do Decreto-Lei nº 2.288/1986. STJ. 1ª Turma. REsp 1709093-ES, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 29/03/2022 (Info 731)
5C. Contribuições Sociais Gerais e de Seguridade Social
Thiago Costa Pinheiro. 19/03/23
	CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS 
(pois não são Contribuições de Melhoria)
	Espécies
	Destinação dos recursos
	Competência
	Exemplos
	Contribuições sociais (art. 149, caput)
	De Seguridade Social (art. 195)
	Previdenciárias 
	Previdência 
	RPPS Federal: União 
RPPS demais entes: Estados/DF e Municípios 
	Contribuição patronal (empregado sobre folha de salários); contribuição do trabalhador sobre salário de contribuição
	
	
	Demais 
	Saúde e assistência social
	União 
	
	
	Gerais (art. 149, caput)
	Demais áreas sociais, exceto seguridade
	União 
	Salário Educação; Sistema “S”; Contribuição sobre demissão sem justa causa (LC 110/01)
	CIDE (art. 149, caput)
	Fomento de setor ou atividade econômica 
	União
	CIDE Combustíveis; AFRMM; CIDE Royalties
	Contribuição no interesse de categorias profissionais ou econômicas (art. 149, caput)
	Corporação da categoria
	União
	Contribuição sindical; Unidades dos Conselhos de Fiscalização (CREA, CRM, etc.)
	COSIP (art. 149-A)
	Iluminação Pública
	Municípios
	
Segundo o STF (RE 138.248), são três as espécies de contribuições sociais: (i) contribuições sociais gerais (salário-educação e sistema “S”), (ii) contribuições de seguridade social (art. 195, I a IV, CF), (iii) outras contribuições sociais (contribuições residuais do art. 195, §4º)
Contribuições sociais são aquelas que visam a beneficiar a ordem social.
Não contempladas na classificação clássica tripartite de tributos, presente na legislação financeira, as contribuições devem apenas obediência às regras gerais de Direito Tributário (RE 138.248). STF reconhece natureza tributária (classificação pentapartite). Submetem-se aos princípios tributários.  No tocante à anterioridade, há uma especificidade: somente anterioridade nonagesimal (art. 195, §6º, CF).
Legalidade. Comparação com impostos. Por meio de lei ordinária, se possuir como fato gerador um dos especificados no art. 195 da CF. Desnecessidade de que elementos (fato gerador, base de cálculo e contribuintes) estejam previstos em lei complementar, porque a exigência restringe-se aos impostos (art. 146, III, CF). STF: podem ter a mesma base de cálculo e fato gerador de impostos – RE 231.096) Ex: IRPJ e CSLL. Como exceção, as criadas com base na competência residual da União devem ser feitas por lei complementar (art. 195, §4º, CF).
Competência e capacidade tributária.União, ressalvado, quanto a contribuições previdenciárias, RPPS (onde houver) de servidores de Estados/DF e municípios. Com a criação da Super-Receita – Lei 11.457/07, toda a administração das Contribuições Seguridade passou à Receita Federal. Quanto à arrecadação, destaque-se a possibilidade de instituir substituição tributária (art. 150, §7º CF)
(i) Contribuições Sociais Gerais. Possuem as seguintes características comuns: (a) competência da União; (b) obediência ao regime jurídico do art. 149 da CF; (c) sujeição ao regime constitucional tributário; (d) instituição por lei ordinária; (e) sujeição à anterioridade comum; (f) destinação à ordem social diversa da Seguridade Social; (g) incidência somente sobre uma base econômica, por contribuinte.
O salário-educação está previsto no art. 212, §5º, da CF e é regulamentado pela Lei 11.494/2007. Trata-se de contribuição social cobrada da empresa, com o objetivo de financiar a educação básica pública. 
Já as contribuições para o sistema “S” (art. 240, CF) possuem natureza jurídica controvertida. Para PAULSEN, CIDE; para parcela da jurisprudência, são contribuições sociais gerais. Objetivo: fomentar o ensino fundamental profissionalizante e a prestação de serviços no âmbito social e econômico realizadas pelas entidades componentes do sistema “S”. Sujeito passivo: empregador. Base de cálculo: folha de pagamento das remunerações dos empregados e avulsos.  alíquota variável de acordo com o ramo de atuação da empresa.
(ii) Contribuições de Seguridade Social. São quatro as fontes de financiamento previstas pela CF e que, portanto, permitem a instituição por lei ordinária: (a) importador (art. 195, IV); (b) concurso de prognósticos (art. 195, III); (c) trabalhador (art. 195, II); (d) empregador (art. 195 I).
A CF estabelece duas regras de imunidade específicas: (i) entidades beneficentes de assistência social (art. 195, §7º, CF); e (ii) receitas decorrentes de exportação (art. 149, §2º, I, CF). É possível a incidência de contribuições em operações relativas a energia elétrica, derivados de petróleo, combustíveis e minerais (art. 155, §3º, CF e Súmula 659, STF: art. 155, § 3º:  À exceção ICMS, II e IE, nenhum outro imposto poderá incidir sobre operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País). Imunidade: “isenção” e “lei” devem ser entendidas como imunidade e lei complementar. Requisitos para fruição da imunidade devem ser disciplinados em LC (STF). 
(a) Contribuições de seguridade social do importador. Foram inseridas na CF pela EC 42/2003. Segundo a Lei nº 10.865/2004, são duas as contribuições: PIS/PASEP-IMPORTAÇÃO e COFINS-IMPORTAÇÃO. Os elementos desses tributos são: (i) FG: entrada de bens no território nacional ou o pagamento pelo serviço para pessoa no exterior; (ii) BC: valor do produto, acrescido do ICMS devido pelo desembaraço aduaneiro e das contribuições do importador, ou o valor pago pelo serviço, acrescido de ISS e contribuições do tomador do serviço; (iii) sujeito passivo: importador, contratante ou o beneficiário do serviço (quando o contratante também residir no exterior).
(b) Contribuições de seguridade social sobre a receita de loterias. Regulamentada pelo Dec. 3.048/99: (i) FG: a receita dos concursos de prognósticos; (ii) BC: pode ser tanto a receita líquida como a bruta; (iii) sujeito passivo: é a entidade que realiza o concurso.
(c) Contribuições de seguridade social do trabalhador. Regulamentada pelo Dec. 3.048/99: (i) FG: a remuneração do segurado, independentemente do título; (ii) BC: é o salário de contribuição; (iii) sujeito passivo: é o segurado empregado, incluindo o doméstico, e o trabalhador avulso. O art. 30 da Lei 8.212/91 estabelece que o empregador é o responsável por recolher essa contribuição, inclusive o empregador doméstico, a partir da LC 150/2015. Destaca-se que a EC 103/2019 possibilitou a adoção de alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição.
(d) Contribuições de seguridade social do empregador e da empresa. Podem ser incidentes sobre três FG diversos: (1) folha de pagamentos; (2) receita ou faturamento; (3) lucro. Como regra, essas contribuições podem ter alíquotas e BC variadas, o que representa aplicação dos princípios da capacidade contributiva e da progressividade (arts. 195, §9º, e 145, §1º, da CF). Além disso, não admitem remissão ou anistia (art. 195, §11, CF) e podem ser não cumulativos na forma da lei (art. 195, §13, CF). Por fim, a CF determina (art. 195, §13, CF) uma substituição gradual das contribuições sobre a folha de pagamentos sobre a receita ou faturamento, como forma de estimular a contratação formal.
(d.1) Contribuição social patronal.(i) FG: folha de pagamentos; (ii) BC: é o total das remunerações do segurado empregado, trabalhador avulso e do segurado contribuinte individual; (iii) sujeito passivo: é o empregador, empresa e o equiparado. Visa a custear o RGPS.
Os valores descontados dos empregados relativos à participação deles no custeio do vale-transporte e auxílio-alimentação não constam no rol das verbas que não integram o conceito de salário de contribuição, listadas no § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212/91, razão pela qual devem constituir a base de cálculo da contribuição previdenciária, de terceiros e do SAT/RAT a cargo da empresa.
STJ. 2ª Turma. REsp 2033904-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/2/2023 (Info 763).
(d.2) Contribuição ao PIS/PASEP. Originalmente distintas, essas contribuições foram unificadas em 1976 e visam a financiar o programa de seguro desemprego e o abono salarial (art. 239 da CF). A depender do sujeito passivo, terá FG e BC diferentes: (a) pessoa jurídica de direito privado e equiparados, FG: faturamento mensal/receita bruta e BC: o valor destes; (b) entidades sem fins lucrativos, FG: pagamento de salários e BC: folha de pagamento; (c) pessoa jurídicas de direito público interno, FG: arrecadação de receitas ou transferências correntes e receitas de capital e BC: o valor dessas arrecadações.
(d.3) Contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL). Regulamentada pela Lei 9.430/96: (a) FG: acréscimo patrimonial decorrente da atividade da empresa ou entidade equiparada; (b) BC: o lucro líquido; (c) sujeito passivo: a pessoa jurídica e a equiparada.
(d.4) Contribuição para financiamento da seguridade social (COFINS). Regulamentada pela Lei 10.833/2003: (a) FG: faturamento da empresa; (b) BC: faturamento mensal (receita bruta – totalidade das receitas auferidas, deduzidas as exclusões legais); (c) sujeito passivo: a pessoa jurídica de direito privado e as pessoas que lhes são equiparadas.
A receita decorrente da alienação dos bens objeto de operação de leasing na qual a instituição financeira figura como arrendadora é excluída da base de cálculo da contribuição ao PIS e COFINS. STJ. 1ª Turma. REsp 1747824-SP, Rel. Ministra Regina Helena Costa, julgado em 29/11/2022 (Info 759).
(iii) Outras contribuições sociais. São as contribuições criadas com base na competência residual da União e têm os seguintes parâmetros: instituição por lei complementar; competência exclusiva da União; respeito a não cumulatividade; impossibilidade de coincidência de fato gerador ou base de cálculo com o de outras contribuições.
Jurisprudência:
· CR estabelece que contribuições sociais I) do empregador, empresa ou equiparados incidirão, dentre outros, sobre receita ou faturamento (PIS e COFINS podem ter os dois como base de cálculo). 195, §12, DA CF - A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b (empresa receita e faturamento); e IV (importador de bens e serviços) do caput, SERÃO NÃO-CUMULATIVAS.
· É constitucional a majoração diferenciada de alíquotas em relação às contribuições sociais incidentes sobre o faturamento ou a receita de instituições financeiras ou de entidades a elas legalmente equiparáveis. STF. Plenário. RE 656089/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/6/2018 (repercussão geral) (Info 905).
· É constitucionala contribuição adicional de 2,5% (dois e meio por cento) sobre a folha de salários instituída para as instituições financeiras e assemelhadas pelo art. 3º, § 2º, da Lei nº 7.787/89, ainda que considerado o período anterior à EC 20/98. STF. Plenário. RE 599309/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 6/6/2018
· STF 2017. Não Incidência do ICMS na base de cálculo da contribuição para o PIS e COFINS, na contramão de anterior repetitivo de relatoria Campbell. ICMS Não é faturamento nem receita, mas mero ingresso no caixa das empresas (contabilmente escriturado). Em razão da não cumulatividade do ICMS, que é compensado por débitos e créditos na escrituração fiscal. repercussão geral) (Info 857). STJ. 1ª Turma. REsp 1100739-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 27/02/2018
· É constitucional a Lei nº 10.833/2003, resultante da conversão da MP 135/2003, que ampliou a base de cálculo e majorou a alíquota da COFINS. Não há vício formal na conversão da MP, nem ofensa ao art. 246 da CF/88 na hipótese de mera majoração de alíquotas de contribuições sociais.  Além disso, não era necessária a reserva de LC por não se tratar de novo tributo. Eventuais diferenças entre os regimes de lucro real ou de lucro presumido, inclusive a respeito do direito ao creditamento, não representam ofensa à isonomia ou à capacidade contributiva. A sujeição ao regime do lucro presumido é uma escolha do contribuinte, considerado seu planejamento tributário. STF. Plenário. RE 570122/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 24/5/2017 (Info 866)
· É constitucional o art. 22-A da Lei nº 8.212/1991, com a redação da Lei nº 10.256/2001, no que instituiu contribuição previdenciária incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção, em substituição ao regime anterior da contribuição incidente sobre a folha de salários.”. STF. Plenário. RE 611601/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 281) (Info 1080).
7C. Contribuições previdenciárias: contribuintes, fato gerador, salário de contribuição, alíquotas, responsabilidade pelo recolhimento, prescrição, decadência, isenção, compensação e restituição; disposições gerais da lei 8.212/91
Thiago Costa Pinheiro. 19/03/23.
OBS: RPPS (regulado por lei estatutária dos servidores) x RGPS (regulado pelas leis previdenciárias gerais, como 8212/91 e 8213/91).
Fato Gerador (F.G): Estabelece a Constituição que "os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei" (art. 201, § 11). Fato gerador é a remuneração paga devida ou creditada a qualquer título como retribuição pelo trabalho.
Contribuintes. SEGURADOS. 1)Contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso (20 c/c art 28 8212); 2) contribuinte individual e facultativo (arts 21 c/c 28, III e IV); 3) segurado especial (art 25 8212 e art 200 D3048). EMPREGADOR, EMPRESA E ENTIDADE EQUIPARADA E TRABALHADOR DOMÉSTICO (Pode ser ente federado se RPPS). UNIÃO (RPGS): é responsável pela cobertura de eventuais insuficiências financeiras da Seguridade Social, quando decorrentes do pagamento de benefícios de prestação continuada da Previdência Social, na forma da LOA (art. 16 Lei 8212)
Salário de contribuição (base de cálculo) é previsto no art. 28, I, da Lei 8.212/91 (com redação dada pela Lei 9.528/97). é composto por verbas destinadas a retribuir o trabalho prestado; a contrário sensu, se a verba não é destinada a retribuir o trabalho prestado, não há falar na incidência de contribuição previdenciária. Determinante é a natureza remuneratória ou indenizatória. Jurisprudência costuma se desalinhar no enquadramento de determinadas parcelas, como na recente controvérsia sobre auxílio de “quebra de caixa”. Campbell, vencido, afirmou ser indenizatória.
CASUÍSTICA SOBRE BASE DE CÁLCULO
“NÃO incide contribuição previdenciária a cargo da empresa sobre o valor pago a título de aviso prévio indenizado, dada natureza indenizatória”. STJ. 1ª Seção. REsp 1230957-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/2/2014 (recurso repetitivo) (Info 536).
O valor correspondente à participação do trabalhador no auxílio alimentação ou auxílio transporte, descontado do salário do trabalhador, integra a base de cálculo da contribuição previdenciária. STJ. 2ª Turma. REsp 2033904-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/2/2023 (Info 763).
STF 2017: Contribuição previdenciária alcança exercentes de mandato eletivo, porque EC 20/98 determinou a incidência da contribuição sobre qualquer segurado obrigatório da previdência, submetendo todos os ocupantes de cargos temporários ao RGPS  art. 195, I, “a” e II (2) e no art. 40, §13 
Incide contribuição previdenciária sobre as parcelas pagas pela empresa aos empregados a título de participação nos lucros? • SIM: entre a promulgação da CF/88 até a edição da MP 794/94. • NÃO: a partir da MP 794/94, que regulamentou o inciso XI do art. 7º da CF/88. STF. Plenário. RE 569441/RS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 30/10/2014 (repercussão geral) (Info 765)
“Auxílio quebra de caixa”. Uniformização Turmas STJ.  consubstancia-se no pagamento efetuado mês a mês ao empregado como uma forma de compensar os riscos assumidos pela função exercida que envolve guarda e conferência de dinheiro. Incide contribuição previdenciária sobre o auxílio quebra de caixa. O auxílio quebra de caixa tem nítida natureza salarial e integra a remuneração, razão pela qual incide contribuição previdenciária. STJ. 1ª Turma. EREsp 1467095-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. para acórdão Min. Og Fernandes, julgado em 10/5/2017 (Info 610).
STJ:  Lei n.º 8.620/93, em seu art. 7.º, § 2.º autorizou expressamente a incidência da contribuição previdenciária sobre o valor bruto do 13.º salário, sendo irrelevante que a aquisição do direito à gratificação pelos empregados se dê ao longo do ano, a cada mês. O fato gerador da contribuição previdenciária sobre o décimo terceiro salário ocorre uma única vez, no mês de dezembro de cada ano. Precedentes (REsp 462.986/RS; REsp 461.030/SC)
Estão sujeitas à incidência de contribuição previdenciária as parcelas pagas pelo empregador a título de: • horas extras e seu respectivo adicional • adicional noturno e • adicional de periculosidade. STJ. 1ª Seção. REsp 1358281-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 23/4/2014 (recurso repetitivo) (Info 540).
Alíquotas e responsabilidade pelo recolhimento
• Empregado, avulso, doméstico: aumentam proporcionalmente ao salário de contribuição (princípio equidade de participação). 8% a 11%. Recolhimento pelo empregador (a lei prestigia essa forma qd possível, para facilitar arrecadação); • individual: 11% se presta serviço para empresa/cooperativa. Se p/ pessoa física, 20%, mas o microempreendedor individual que presta p/ pessoa física paga 5%; recolhimento trimestral pelo contribuinte • Facultativo: 20% (regra). 11% no ambito familiar; 5% no ambito familiar de baixa renda; recolhimento igual ao anterior • segurado especial: 2,1%. Recolhimento anual. Salário de contribuição é o que excede à sua produção
Responsabilidade pelo recolhimento: 
• Competência da Justiça do Trabalho para constituição definitiva e para execução de ofício das contribuições (repercussão nos crimes fiscais – enunciado 2CCR)
Prescrição/decadência
Tributo sujeito a homologação (v. pontos específicos graal)
Particularidades. Ao longo do histórico normativo brasileiro, o prazo prescricional, no que tange às contribuições previdenciárias, foi sucessivamente modificado à medida em que as mesmas adquiriam ou perdiam sua natureza de tributo. A definição da natureza jurídica tem grande importância prática, pois prescrição e decadência tributárias são matérias reservadas pela CR a LC.
No cenário atual pós 88, consolidou-se a natureza tributária. Logo, a regulação da matéria deve ser buscada no CTN. Destaca-se, no tema, a SV 8 STF: "São

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