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Unidade 4 Legislação e marcos legais do mundo digital Direito Digital Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANAÏS EULÁLIO BRASILEIRO AUTORIA Anaïs Eulálio Brasileiro Sou formada em Direito, com especialização em Direito Penal e Processual Civil, Mestre em Direito Constitucional, na linha de Direito Internacional, e agora, Doutoranda em Direito. Sou advogada desde 2016, mas ganhei mais experiência no ano de 2019 ao trabalhar em um escritório com causas diversas. Posso dizer com certeza que sou apaixonada pela área do direito, principalmente a parte de estudar e pesquisar sobre os mais variados assuntos, transmitindo minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Lei dos crimes informáticos .................................................................... 10 Análise técnica da lei dos crimes informáticos ......................................................... 10 Identificação e aplicação da lei ............................................................................................. 16 O Marco Civil da Internet ......................................................................... 19 Compreendendo o marco civil da Internet .................................................................. 19 Modificações trazidas pelo marco civil ...........................................................................25 Código de Processo Civil de 2015 ........................................................28 O ciberespaço nos códigos de processo civil e penal antigos .....................28 O ciberespaço no código de processo civil de 2015 ............................................34 Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD ............................................ 37 Princípios e fundamentos da LGPD ...................................................................................37 Direitos dos titulares de dados..............................................................................................43 Obrigação e penalidades para empresas .....................................................................47 7 UNIDADE 04 Direito Digital 8 INTRODUÇÃO Vimos, ao longo das unidades, como o direito digital abrange um enorme universo, com características próprias e pensamentos específicos. Vimos como ele é tratado pelo direito internacional e as questões divergentes entre os sujeitos do direito internacional quanto à governança do ciberespaço. Entretanto, como o Brasil lida especificamente com o direito digital? Há uma norma específica sobre o assunto? Precisamos de lei? Como fica a persecução penal de crimes cibernéticos que acontecem por aqui? Precisamos conhecer o que temos de teoria quanto ao assunto do ciberespaço e como acontecem casos que envolvem o mundo cibernético e virtual. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar nessa nova perspectiva junto comigo! Preparado? Direito Digital 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Estudar a lei dos crimes informáticos do Brasil e suas tipificações; 2. Analisar o marco civil na Internet e todas suas modificações; 3. Compreender como o Código de Processo Civil de 2015 lida com o ciberespaço; 4. Verificar a Lei Geral de Proteção de Dados e suas particularidades. E então? Pronto para adentrar nesse novo conhecimento? Vamos lá! Direito Digital 10 Lei dos crimes informáticos OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender, a partir de um estudo sobre a lei de crimes informáticos do Brasil, como os crimes cibernéticos são compreendidos no Brasil e como se dá a sua identificação e aplicação. Isso será fundamental para a compreensão em uma ampla perspectiva do mundo digital. E então? Motivado para desenvolver esse aprendizado? Então vamos lá. Avante! Análise técnica da lei dos crimes informáticos Você deve se lembrar que uma das coisas que abordamos ao falar de crimes cibernéticos é a resposta dos governos de países soberanos. Entre elas, o que comumente se vê, além do desenvolvimento de tecnologias de vigilância, é a criação de leis nacionais que focam em situações típicas do ciberespaço. Apesar de normalmente a doutrina aceitar que normas gerais sejam aplicadas de forma análogas às situações do cibercrime, no âmbito criminal temos o pequeno detalhe da analogia não ser admitida caso ela não seja benéfica para o autor do crime – é o que chamamos de analogia in malam partem. Não admitimos a analogia in malam partem porque iria ferir o nosso princípio da legalidade, a partir do pressuposto que, no Brasil, só temos de fato crimes com leis que antes o definam. É o simples raciocínio de que para praticar conduta criminosa, os indivíduos precisam ter em mente que essa conduta é um crime. Admitir a analogia in malam partem seria prejudicar o réu de forma direta, que é um conceito o qual não somos favoráveis enquanto país soberano. Direito Digital 11 SAIBA MAIS: Você pode verificar mais detalhes sobre o assunto da analogia no direito penal do professor Douglas Silva, Clique aqui. Sabendo disso, bastou um caso polêmico envolvendo uma pessoa famosa para que o Brasil finalmente tivesse sua própria lei de crimes informáticos em 2012: O caso envolvendo a atriz Carolina Dieckmann, investigado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Internet (DRCI). O que foi divulgado pela mídia sobre o caso, foi que a atriz recebeu um e-mail com um link malicioso, que ao clicar, deu acesso aos hackers ao seu computador. Dentro do seu computador, a atriz mantinha algumas fotos íntimas, em situações igualmente íntimas, as quais os hackers tiveram acesso. Ao descobrir a identidade da vítima e imaginar que a atriz possui uma grande fortuna, os cibercriminosos tiverem a ideia de tentar extorqui- la, ameaçando-a de que divulgariam todas as suas fotos caso ela não pagasse a quantia de R$10.000,00 (dez mil reais). Até então, o Brasil não tinha nenhuma lei específica de invasão e roubo de dados, muito menos de extorsão cibernética. Com um caso desse nível, que tomou conta da mídia brasileira rapidamente, foram discutidas novas leis de caráter urgente sobre crimes no ciberespaço. Como Valle (2013) afirma, o caso de Carolina Dieckmann aconteceu em maio de 2012, e apenas seis meses depois tivemos a entrada da Lei nº 12.737 de 2012 em vigor. Como esperado, a lei ficoupopularmente conhecida como Lei Carolina Dieckmann. Mas o que temos nessa lei? O que podemos ver de novo? Ela é suficiente para o nosso país? Como fica essa aplicação? A Lei Carolina Dieckmann contém apenas quatro artigos, tratando especificamente sobre a tipificação de crimes cibernéticos, e ela teve o objetivo de acrescentar ao Código tradicional Penal de 1940 as partes específicas sobre delitos no ciberespaço. Direito Digital https://djus.com.br/analogia-in-malam-partem-direito-penal-dp63/ 12 Primeiramente, o art. 2º da Lei Carolina Dieckmann acrescenta uma tipificação e sua respectiva ação penal, tipificando o delito de invadir dispositivo informático no art. 154-A do Código Penal brasileiro e determinando-o como ação penal pública condicionada. O que isso quer dizer? EXPLICANDO MELHOR: O art. 154 do Código Penal trata sobre o crime de violação do segredo profissional. A lei Carolina Dieckmann achou por bem pegar esse artigo e acrescentar um novo crime a partir dele, o art. 154-A, que trata da invasão de dispositivo informático com a finalidade de obter dados, modificá-los ou destruí-los. Vejamos agora a análise técnica desse novo tipo penal mediante as características do direito penal. Figura 01: Análise do tipo penal do art. 154-A do Código Penal. Fonte: A Autora. Primeiramente, observamos o bem jurídico a ser protegido pelo artigo: a liberdade individual e pessoal, a privacidade. Ele foi acrescido no capítulo que prevê os crimes contra a inviolabilidade de segredos, tendo Eliezer e Garcia (2014, p. 71) afirmado que as proteções maiores são as relacionadas a intimidade e a vida privada. A letra da lei demonstra que o tipo penal é comum, formal e instantâneo – ou seja, é um crime comum porque pode ser praticado por qualquer pessoa, bem como a vítima pode ser qualquer pessoa. Inclusive, Direito Digital 13 a vítima pode até mesmo ser uma pessoa jurídica, uma empresa que tenha dados salvos em dispositivos informacionais. Sobre o assunto, é importante destacar que caso o invasor do dispositivo informático seja o próprio dono do dispositivo, isso não irá se configurar como crime. Você pode estar imaginando que esse fato é óbvio, mas complica a análise da situação quando temos uma situação do tipo: Exemplo: Temos um computador de uma empresa, mas só uma pessoa, que chamaremos de Maria, o utiliza. Maria está desenvolvendo um mecanismo próprio nesse computador para alguma atividade relacionada ao trabalho, e caso ela obtenha sucesso, ela pode ser promovida. Sabendo disso, alguém da administração da empresa não quer que ela seja promovida e acaba invadindo esse computador e alterando os dados, ou até deletando-os. Nesse caso, não há tecnicamente crime algum, pois o computador pertence à empresa. É um crime formal porque o tipo penal prevê que a ação em si já consiste como crime. Quer dizer, a pessoa que pratica o crime não precisa necessariamente obter sucesso e adquirir ou alterar os dados do sistema informático: o mero ato de invadir e instalar programas já se configura como crime. Por esse motivo, é também um crime instantâneo, pois não precisamos esperar um tempo para ter a consumação desse crime. Por ser um crime que já se considera consumado quando tem a prática dos verbos “invadir” e “instalar”, ele admite a sua forma tentada. Quer dizer que se temos uma pessoa que queira invadir o dispositivo de uma terceira pessoa, mas que por um acaso não consegue e é descoberto diante das medidas de segurança (por exemplo, o dispositivo barrou o acesso e tirou uma foto de quem estava tentando invadir), essa pessoa pode ser acusada de tentativa de violação de dispositivo informacional. Por ter dois núcleos, que são os vermos contidos no artigo, considera-se que esse crime é misto e alternativo, pois prevê uma OU mais ação. Caso, por exemplo, tenhamos uma pessoa que invade um sistema de uma terceira pessoa E instala um programa espião, para obter dados da mesma vítima, na mesma circunstância, a pessoa terá apenas praticado um crime, ainda que tenha realizado as duas ações previstas. Direito Digital 14 Além disso, é um crime de forma vinculada ou livre, pois não tem meios específicos para ser praticado. Entretanto, o artigo é claro ao dizer que a ação tem que ser através de violação de mecanismos de segurança, o que vincula o delito de certa forma a um tipo específico. Isso quer dizer que, caso você esteja em seu próprio computador e por descuido esquece de renovar o antivírus, ou o seu sistema não ter medidas de segurança própria, ou mesmo ausência de senhas, e a pessoa que invade não precisar violar nada do tipo... Então, não teremos um crime. Exemplo: É o caso, a título ilustrativo, de uma pessoa que não tem senha no computador. Alguém encontrar esse aparelho móvel e resolve ver o que tem dentro, encontrando diversas fotos comprometedoras. Sabendo que o aparelho não é seu, a pessoa divulga essas fotos. Isso não estaria previsto no artigo como conduta típica, pois não houve qualquer forma de violação de medidas de segurança – ou seja, não estaríamos diante de qualquer crime. Esse tipo de violação tem por elemento subjetivo o dolo, o que significa que a pessoa que invade ou instala o sistema, sabe o que está fazendo e quer que os efeitos dessas ações realmente aconteçam. Não admite, entretanto, a forma culposa, quando quem acaba invadindo não possui essa intenção de destruir, alterar, ou copiar os dados provenientes da invasão. Acerca dos elementos normativos, temos as expressões “alheio” e “sem autorização”, que dão ênfase a dois aspectos desse delito: como vimos anteriormente, o dispositivo tem que ser de outra pessoa, e essa pessoa não pode ter lhe dado permissão. É o caso, por exemplo, de uma pessoa que está consertando o seu computador e você deixou com ele as senhas e a autorização para acessar tudo. Essa situação não se configura como crime. Seguindo com a leitura do art. 154-A, em seus parágrafos, adquirimos ainda mais informações sobre o tipo penal. Observe: Direito Digital 15 Figura 02: Análise dos parágrafos do art. 154-A do Código Penal. Fonte: A Autora. A equiparação do tipo penal previsto no caput é a de ações em que pessoas realizam a produção, o oferecimento, a distribuição, a venda ou a difusão do dispositivo informático ou do programa que é instalado no computador da futura vítima. Esse parágrafo está diretamente interligado ao caput do artigo, pois aqui, temos pessoas que possuem o mesmo objetivo, seja ele de adquirir, destruir ou modificar os dados do dispositivo – ou seja, o dolo é sempre presente. No parágrafo segundo temos o que denominamos de majorante – ou seja, um aumento da previsão básica da pena de um sexto a um terço nos casos em que se obtenha um prejuízo econômico para a vítima. No caso da própria atriz Carolina Dieckmann, por exemplo, se ela tivesse tido que pagar a quantia que os hackers solicitaram, ela teria tido um grande prejuízo econômico e a pena dos cibercriminosos poderia recair nessa hipótese. Já a qualificação do crime, ou seja, quando o próprio artigo dá uma nova pena a uma nova hipótese, presente no parágrafo terceiro refere-se ao conteúdo final da conduta criminosa: ou seja, a natureza dos dados que foram acessados. Se eles se encaixarem em qualquer dessas possibilidades do parágrafo, os cibercriminosos terão uma pena maior. Direito Digital 16 Os parágrafos quarto e quinto também se referem às majorantes que podem atribuir uma pena maior caso a situação prevista neles se configure. O último parágrafo, entretanto, se refere apenas aos sujeitos passivos específicos do país, que possuem um certo tipo de proteção diferenciada por serem comumente alvos muito relevantes de condutas criminosas, como o Presidente da República. O art. 154-B se refere à conduta típica e ilícita trazida no artigo anterior, deixando claro que a ação penal sedá apenas mediante representação. O que isso quer dizer? Significa que nos casos que não afete os poderes da Federação do Brasil (ou seja, em casos normais), a vítima precisa dizer de forma expressa que quer seguir com a persecução criminal. Além desses dois novos artigos, a Lei Carolina Dieckmann acrescenta em seu artigo terceiro a previsão do ciberespaço nos casos dos artigos 266 e 298 do Código Penal, apresentando novas expressões como “interrupção ou perturbação de serviço informático” e “falsificação de cartão”. Identificação e aplicação da lei Ainda que tenhamos visto a necessidade de termos alguma lei no Brasil que previsse de forma legal os crimes cibernéticos, como já começamos a ver no tópico anterior, a redação apressada da lei Carolina Dieckmann pode apresentar algumas lacunas que propiciam em maior dificuldade na hora de sua aplicação. Além da questão de o dono do computador não poder ser o sujeito ativo do crime e além também do termo “violação de mecanismos de segurança”, temos outras questões que merecem ser destacadas, a começar do próprio título do crime: invasão de dispositivos informáticos. De acordo com Vieira (2013), “dispositivo informático” se refere apenas aos dispositivos ligados à informática, não incluindo, por exemplo, celulares ou tablets, ou até televisões. Segundo o autor, o ideal teria sido se o legislador tivesse se utilizado da expressão “dispositivo eletrônico”, pois abarcaria todas suas modalidades. Direito Digital 17 Vieira (2013) também aborda outra importante questão acerca da utilização do termo “violação de mecanismos de segurança”: e quanto às pessoas que não têm condições suficientes de comprar uma licença original de antivírus? A lei claramente não protege esses indivíduos que, como sabemos, existem no nosso país, revelando que ela pode ser também injusta, já que nesses casos não temos a configuração de crimes. Mas... e como funciona a aplicação dessa lei na prática? Ela é funcional e possível? Analise o caso e a consequente decisão. Exemplo: Três mulheres invadiram o dispositivo de uma menor de idade, sendo esse dispositivo a rede social Facebook, violando seu mecanismo de segurança, e conseguiram acesso de fotos impróprias da menor, encontradas em mensagens privadas. Um tempo depois, as autoras do crime publicaram essas fotos íntimas em outra rede social, o Instagram. Temos aqui um crime configurado? Segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, sim. Apesar de não ter sido invadido um dispositivo informático na letra fria da lei, houve invasão comprovada da rede social, ao qual os julgadores enquadraram como o art. 154-A do Código Penal, que é o crime previsto pela Lei Carolina Dieckmann. As provas foram colhidas a partir de depoimentos e verificou-se o nexo causal. É importante aqui destacar que, para as brechas oferecidas na Lei Carolina Dieckmann, o poder judiciário conseguiu encobri-la bem. Inclusive, no inteiro teor da decisão você pode ver que um dos argumentos das Apelantes foi justamente a invasão de uma rede social, e não de um computador, o que foi rechaçado de pronto pelos julgadores que admitem qualquer dispositivo e meio eletrônico. Direito Digital 18 RESUMINDO: E aí? Gostou da primeira parte do nosso material? Entendeu por que é importante estudar sobre as nossas próprias leis a partir do que estudamos de forma internacional? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que havia necessidade de termos leis específicas sobre crimes cibernéticos, tendo em vista o nosso não aceitamento de analogia in malem partem realizadas a partir de outras leis normais no mundo real. Além disso, vimos toda a análise técnica da lei, entendendo suas particularidades, para no fim, vermos sua aplicabilidade. Agora sim podemos dar continuidade ao nosso ordenamento jurídico e sua relação com o ciberespaço! Direito Digital 19 O Marco Civil da Internet OBJETIVO: Ao término desta competência, você poderá analisar o Marco Civil da Internet aqui no Brasil, entendendo suas particularidades, direitos e deveres, além das modificações trazidas por ele ao país. Vamos lá, seguir para esse universo do ciberespaço no Brasil? Compreendendo o marco civil da Internet Depois de entender a lei de crimes informáticos daqui do Brasil, é necessário estudar e analisar outra lei que veio um pouco depois da Lei Carolina Dieckmann e que foi amplamente discutida pelos juristas na época: A Lei nº 12.965/14, conhecida popularmente como o Marco Civil da Internet. Era compreensível, diante a necessidade de leis que versem sobre o ciberespaço, que a promulgação de apenas uma lei que tratasse especificamente sobre o mundo digital não seria suficiente, principalmente quando consideramos o tamanho da Lei Carolina Dieckmann e o pouco conteúdo que ela aborda. Assim, precisávamos de uma normatização maior que auxiliasse o comportamento nacional no ciberespaço: um conjunto de leis que pudesse apresentar os direitos e deveres de cada um no mundo digital, com princípios e garantias que respeitassem a Constituição Federal de 1988. Tendo seu processo inicializado em 2009 e seu projeto passado cinco anos em discussão no Congresso, admitindo participação da opinião popular, a Lei 12.965 possui 32 artigos no total e abarca principalmente os direitos deveres, princípios e garantias quando da utilização da Internet em território brasileiro, com cinco capítulos diferentes. Em razão dessa sua grande abrangência, a lei ficou conhecida como “marco civil da internet” a partir da ideia de funcionar como uma Direito Digital 20 grande base para o universo do ciberespaço no país, como se fosse uma constituição do mundo cibernético, delimitando o período em que o Brasil finalmente adquiriu normas específicas acerca do assunto. Além de resumir os seus objetivos no artigo primeiro, o marco civil da internet também afirma que contém as diretrizes de comportamento de competências para as unidades federativas do Brasil em relação ao ciberespaço. Logo nos artigos segundo e terceiro, o marco civil determina seus preceitos e princípios básicos que regem toda a interpretação de utilização da internet. Entre eles, a lei faz questão de enfatizar o respeito à liberdade de expressão e acrescenta como fundamentos o reconhecimento da internet em nível mundial, os direitos humanos, a pluralidade, a abertura, a livre iniciativa e a finalidade social da internet em seus incisos, sem, entretanto, ser mais específico quanto aos conceitos. Sobre os princípios trazidos pelo artigo terceiro, ele traz oito em destaque nos seus incisos. Ele repete a proteção da liberdade de expressão como princípio na utilização da internet, o que é de comum acordo tanto com o primeiro documento internacional do ciberespaço, como também com a própria Constituição Federal Brasileira. Sobre a liberdade de expressão, observe a figura abaixo. Figura 03: Liberdade de expressão e crimes. Fonte: A Autora Como você pode observar, liberdade de expressão no ciberespaço não quer dizer que você tem autonomia para falar o que quiser, como bem quiser, para qualquer pessoa sem esperar que seja responsabilizado legalmente na esfera penal em razão disso. Direito Digital 21 Aqui, devemos entender que crimes contra a honra envolve a calúnia (quando alguém diz que você praticou algum crime e quando isso for mentira, como “Fulano desviou o dinheiro inteiro da empresa para viajar a lazer”, de acordo com o art. 138 do Código Penal), difamação (quando alguém ofende sua reputação ao dizer que você fez algo, como “Fulano nunca paga suas dívidas”, de acordo com o art. 139 do Código Penal) e a injúria (quando alguém ofende sua dignidade, lhe chamando de alguma coisa como “Ela é uma ladra”, de acordo com o art. 140 do Código Penal). Além disso,devemos deixar claro que manifestações que incitem ódio, que sejam racistas e/ou xenofóbicas também não serão consideradas como liberdade de expressão, e, juntamente com os crimes contra a honra, devem fazer com quem pratique essas ações se responsabilize criminalmente. O marco civil traz o princípio da proteção da privacidade e dos dados pessoais, a neutralidade de rede, a estabilidade da rede por meio de medidas técnicas que sejam do mesmo nível do padrão internacional, estimulando sempre a boa prática, a responsabilização dos autores de más condutas na internet, a natureza participativa da rede e, por fim, a liberdade de realização de negócios na internet que não sejam proibidos por lei. Em outras oportunidades, a lei trabalha novamente com o princípio da privacidade, determinando, por exemplo, que as empresas não podem armazenar dados de sua clientela por um período maior do que um ano. Acerca da neutralidade da rede, um dos princípios que o artigo terceiro do marco civil traz, é interessante perceber que ele é mais direcionado aos provedores da internet do que aos usuários em si. Quer dizer, a partir desse princípio, os provedores da internet não podem limitar determinados usos de dados da internet em razão de eles consumirem mais. Exemplo: Imagine que você queira fazer uma maratona de séries em um serviço streaming, em casa, em um fim de semana. Se não fosse a neutralidade de rede, o provedor da sua internet poderia limitar a quantidade de episódios que você poderia assistir, ou até cobrar mais pela quantidade de dados que você consumisse. Direito Digital 22 IMPORTANTE: É necessário ressaltar que os princípios elencados no marco civil não são taxativos – ou seja, o parágrafo único afirma que podem existir outros princípios que sejam aplicados ao conteúdo do ciberespaço tanto na Constituição quanto em tratados que o Brasil seja signatário (casos que o Brasil seja parte). No artigo quarto, o marco civil traz os objetivos gerais da lei, como a promoção da internet para todos os cidadãos brasileiros, em conjunto com um maior acesso à informação, desenvolvimento de tecnologias e maior acessibilidade aos padrões tecnológicos com sistemas abertos – ou seja, instrumentos informacionais que sejam de livre acesso para todos. O artigo quinto é interessante por trazer os conceitos dos termos utilizados, provavelmente com a intenção de evitar a má interpretação pelos julgadores. Dessa forma, apesar de parecerem conceitos básicos, o marco civil define os termos como apresenta a figura abaixo: Figura 04: Definição de termos segundo o marco civil. Fonte: A Autora. O capítulo dois do marco civil traz os direitos e garantias das pessoas que utilizam a internet de acordo com os princípios e objetivos trazidos nos artigos anteriores, garantindo por exemplo a inviolabilidade da privacidade e do sigilo, bem como manutenção da internet, informações sobre o serviço e sobre o armazenamento de dados entre outros. Direito Digital 23 SAIBA MAIS: É interessante que você, estudante, leia atentamente os artigos 7º e 8º do marco civil, na íntegra, para maior compreensão do abordado, bem como uma leitura geral do texto normativo. Você pode realizar essa leitura, Clique aqui. O terceiro capítulo do marco civil é subdividido em seções e subseções que versam sobre o assunto dos provedores e a conexão e aplicações da internet que eles promovem. É o caso da neutralidade da rede, que é bem explicada no artigo nono, bem como acontece com a proteção aos dados e registros pessoais em conjunto com as respectivas comunicações privadas tratada no artigo 10. Aqui é necessário ressaltar que o marco civil garante no artigo 10 a proteção da vida privada em geral dos usuários da internet, não podendo o provedor dela divulgar registros e dados a não ser em razão de ordem judicial. Nesse caso, os provedores são obrigados a disponibilizar o que foi requerido pelas autoridades judiciais. O artigo 12 prevê as sanções nos casos de desrespeito à essa proteção de dados e registros da internet, incluindo as formas individual ou cumuladas da advertência, da multa até 10% do faturamento, suspensão de atividades, chegando até a mais grave sanção que é a proibição da atividade dos provedores da internet. Ao administrador do sistema autônomo, cabe o dever de manter o sigilo das conexões, previsto no artigo 13. Nesse sentido, o marco civil prevê que o registro dessas conexões deve permanecer com o administrador até um ano depois, e essa responsabilidade não pode ser nem transferida a terceiros, em virtude da proteção do registro de dados. Os artigos 18 a 21 do marco civil tratam especificamente das situações de danos decorrentes de conteúdos originados por terceiros e a responsabilidade existente, incluindo a previsão da não responsabilidade do provedor da internet nos casos que seus clientes gerem danos civis. Direito Digital http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm 24 Apesar da previsão dessa não responsabilidade do provedor da internet, o artigo 19 acrescenta a possibilidade de que, caso o provedor, dentro das suas habilidades e técnicas do serviço, não retirar conteúdo ofensivo “do ar” após ordem judicial expressa para o fazer, ele será responsabilizado. Em relação às requisições de registros vindas pelo órgão judiciário, o marco civil define em seu artigo 22 que é permitido a qualquer parte requerer à justiça registros para complementar ou formar documentos comprobatórios de processos judiciais, sejam cíveis ou penais. Entretanto, a requisição judicial, sendo essa a decisão favorável das autoridades judiciais, deverá conter os fundamentos de indícios e justificativas, além do período específico do que deverá ser buscado. Aos entes federativos do Brasil, o marco civil determina dez diretrizes para sua atuação, incluindo governança transparente e democrática, racionalização da gestão e publicidade e disseminação de dados públicos de acordo com os princípios gerais da administração pública, incluindo a prestação de serviços públicos online, oferecendo mais canais de apoio e acesso remoto. É ressaltado no marco civil, em seu artigo 26, que a capacitação a outras práticas educacionais como a utilização do ciberespaço com fins educativos, é uma das responsabilidades e deveres constitucionais para a União, Estados, Municípios e Distrito Federal, tendo em vista que a educação é um dos principais pilares da nossa democracia. Para isso, o poder público pode ter iniciativas próprias do ciberespaço, desenvolvendo ferramentas que promovam a inclusão digital a todos, a redução de desigualdades em relação ao acesso à tecnologia da informação e a fomentação de conteúdo nacional. Por fim, como disposições finais, o marco civil determina a previsão de controle parental dos terminais a partir da livre escolha dos pais, respeitando o Estatuto da Criança e do Adolescente (E.C.A). Além disso, deixa ressalvado aos indivíduos utilizadores da internet a opção de defender seus direitos fundamentados em todos os artigos de forma judicial. Direito Digital 25 Modificações trazidas pelo marco civil Bom, realizamos uma análise da lei do marco civil, indo quase de artigo por artigo e ressaltando os principais pontos. Mas qual foram as modificações efetivas que essa legislação trouxe? E o que o marco civil em si representa no ordenamento jurídico brasileiro no âmbito do ciberespaço? A primeira modificação que percebemos trazida pelo marco civil da internet é a obrigação de autoridades e decisões judiciais para a entrega de registros do que acontece no mundo cibernético. Antes do marco civil, esse pedido de dados e registros poderia ser realizado na esfera administrativa, ou seja, sem que ninguém precisasse pedir autorização a um juiz. Relacionado a esse fato, temos também os elementos comprobatórios eletrônicos advindos de dadose registros no ciberespaço que auxiliam, e muito, no momento de um processo tanto cível quanto criminal. EXPLICANDO MELHOR: Imagine que aconteceu uma situação muito desagradável com você no ciberespaço: você comprou um produto através do e-commerce, mas o produto nunca chegou em sua residência. Na verdade, o vendedor disse que não tinha registro de compra alguma. Se você escolher entrar com um processo contra o vendedor, caso o site não lhe dê amparos suficientes, você pode ter os registros e dados da internet como prova no processo, o que facilita o andamento. Além disso, a própria neutralidade da rede foi uma importante modificação trazida pelo marco civil, trazendo um sentimento de segurança aos utilizadores da internet muito maior do que o que era antes existente. O Brasil, inclusive, foi um dos primeiros países a adotar essa medida, enquanto outros países estão permitindo justamente o contrário. A mesma qualidade de acesso a todos com certeza reduz a desigualdade entre as pessoas, impedindo tarifas extras e manipulação de velocidade da internet. Direito Digital 26 Apesar do marco civil trazer essas modificações importantes para o nosso país, é importante destacar a opinião de autores como Tomasevicius Filho (2016, p. 276), que critica a lei principalmente no que tange a sua não efetividade na prática. O autor explica que o primeiro problema do marco civil é que a lei só se refere a problemas e situações que aconteçam dentro do território brasileiro. Porém, como vimos anteriormente em nossos estudos das unidades dessa disciplina, as situações do ciberespaço envolvem muito mais do que um só território soberano: as situações do mundo digital são transnacionais. Outro ponto criticado pelo autor é a própria neutralidade da rede, que, apesar de ser defendida pelo marco civil, apresenta contradições no próprio campo normativo. É o caso do artigo 9º e seu inciso I do primeiro parágrafo, que prevê a possibilidade de decreto do Presidente da República modificar o tráfego da rede para atender requisitos técnicos, ou até o inciso II do parágrafo seguinte que apresenta a possibilidade de modificações da rede, desde que obedeça os princípios da administração pública. E mais: o autor (p. 277) acrescenta que a neutralidade individual do Brasil não adianta no contexto internacional, em que os outros países não fazem o mesmo, pois o marco civil trata da rede brasileira sem levar em consideração que o tráfego internacional pode ser diferenciado. Segundo o estudioso, mais importante do que a neutralidade da rede, teria sido se o marco civil tivesse apresentado mais direitos fundamentais às pessoas que utilizam a internet, como o direito de ir e vir de qualquer endereço para qualquer outro, independentemente de ser pago ou gratuito. Direito Digital 27 REFLITA: No que diz respeito a neutralidade da rede, será que o marco civil da internet realmente prevê algo inútil, ou será que esse aspecto trouxe pontos positivos sim para a nossa realidade? Vale a pena pensar sobre o assunto. RESUMINDO: Será que já está dando para clarear mais sua mente sobre as leis que temos no Brasil no âmbito do ciberespaço? Espero que sim! Nesta segunda parte aprendemos os detalhes da lei do marco civil da internet de 2014, que teve a participação da população na discussão de seu projeto por cinco anos consecutivos. Vimos que a lei veio com novidades que modificaram o jeito tradicional da justiça brasileira no que tange o ciberespaço, como a maior ênfase às requisições de registros e dados apenas por meio de decisão de autoridades do órgão judiciário. Além disso, vimos também que há estudos críticos sobre a lei, o que deixa bem clara a situação de que sempre precisamos investir mais nessa área do ciberespaço. Mas e então? Vamos continuar essa caminhada pelo ordenamento jurídico brasileiro? Direito Digital 28 Código de Processo Civil de 2015 OBJETIVO: Ao término desta competência você compreenderá como era o ordenamento jurídico com o código de processo civil de 1973 e como é atualmente com o novo código, bem como poderá ter uma noção também do código penal – todos contextualizados no âmbito do ciberespaço. O ciberespaço nos códigos de processo civil e penal antigos Já sabemos que o ciberespaço envolve um mundo digital que se diferencia em muitos pontos com o mundo real. Questões que levamos anos para responder no mundo real, como a territorialidade, voltaram a levantar incertezas no mundo atual. Não só isso: hoje temos crimes cibernéticos no ciberespaço, guerras no mundo digital, ferramentas específicas de espionagem, um avanço impressionante de novas tecnologias informacionais que permitem novas espécies de realização de negócios como o próprio comércio online... Como até já discutimos nas unidades anteriores, o direito precisa acompanhar o fato social. O direito precisa se adequar à medida que a sociedade evolui e se modifica. Para isso, alguns países que possuem as normas codificadas, como é o caso do Brasil, tendem a sofrer um pouco mais para ter o direito adaptado às modificações sociais. O que isso quer dizer? O Código de Processo Civil que tínhamos antes do nosso atual foi datado de 1973, mas o seu texto passou 34 sendo discutido para ser aprovado e entrar em vigor. Depois de vinte anos, tendo que passar por modificações no meio do caminho, foi substituído pelo Novo Código de Processo Civil em 2015, projeto que já estava em tramitação há anos. Quando temos as nossas normas codificadas, a forma de modificá- las ou criar outras regulamentações tendem a ser mais burocráticas. O Direito Digital 29 efeito disso é que quando a norma é finalmente aprovada e entra em vigor, ela já está, em certos termos, atrasada. Mas... Se as leis brasileiras não estavam preparadas para o mundo digital até recentemente (e será que já estão preparadas?), como lidamos com situações que envolvia a sociedade da informação e as tecnologias? Comecemos pelo panorama criminal: temos dois códigos dessa esfera do direito, o Código Penal de 1940 e o Código de Processo Penal de 1941. É de se deduzir que na década de 40 ainda não tínhamos necessidade de prever em nossa legislação a possibilidade de situações no ciberespaço. Em razão disso, fomos adquirindo outros decretos ao longo dos anos em uma tentativa de atualização das normas, ainda que de forma sutil. Veja a figura abaixo. Figura 05: Alterações sobre o ciberespaço no âmbito criminal. Fonte: A Autora. Com o Código Penal, percebemos que ele possui leis que acrescentam ou modificam suas normas, como é o caso da própria lei Carolina Dieckmann estudada no primeiro capítulo. Além das alterações dessa lei, temos o caso também da Lei 13.968 de 2019, que atualiza o crime de instigação ao suicídio (art. 122), prevendo em seu parágrafo quarto, condutas realizadas no ciberespaço. O mesmo evento acontece com a Lei nº 11.719 de 2008, que incluiu o parágrafo primeiro do art. 405 do Código de Processo Penal, prevendo o registro digital ou técnica similar de depoimentos nos casos criminais, incluindo a opção de registros por meio de vídeo também. Direito Digital 30 Sobre o Código de Processo Penal, é interessante notarmos que quanto à questão de competência das situações que ocorrem no ciberespaço, o art. 70 determina que será prevento o juízo do local em que se consuma o delito ou quando a última conduta for praticada e o local que aconteceu no caso dos crimes em suas formas tentadas. No caso dos crimes plurilocais, ou seja, as ações criminosas que resultam em diferentes locais (independente se dentro ou fora do Brasil), o mesmo artigo ainda prevê em seus parágrafos as situações de: • Quando a ação criminosa for iniciada no Brasil, mas a consumação acontecer em outro país, considera-se a competência aqui no Brasil como o do local que a última conduta antes da consumação aconteceu; • Quando, entretanto,o último ato de execução acontece também fora do Brasil, a competência que é considerada é a do local que a ação criminosa produziu (ou deveria ter produzido no caso de tentativa) o resultado; • Quando o local da ação criminosa for incerto, ou seja, quando houver dúvida entre limites de territórios e jurisdições, a competência será firmada pela prevenção. É importante entender que apesar de na época o artigo não prever que os delitos pudessem acontecer em um mundo digital, o artigo cabe também no sentindo do ciberespaço, como é o caso dos crimes contra a honra vistos no capítulo anterior. Mas... como é que cabe em situações do ciberespaço, se não temos fronteiras palpáveis no mundo digital? Os autores que estudam sobre o assunto, como Conte (2008), afirmam que uma opção possível é de se considerar os envolvidos com base no artigo 70, ou ainda seguir o artigo 88 quando o resultado dos crimes acontecem fora do Brasil, que prevê a competência do local que o acusado tiver morado por último, ou no Distrito Federal no caso de o acusado nunca ter morado aqui. O autor chama atenção para o detalhe de saber se os crimes no contexto do ciberespaço são formais ou materiais. Ou seja, os crimes formais são crimes que não precisam nem produzir um resultado, Direito Digital 31 enquanto os materiais precisam de resultar em uma conduta específica para que a conduta seja considerada criminosa. De acordo com Conte (2008), alguns autores apontam os crimes relacionados ao ciberespaço como materiais e a sua competência seria o local desse resultado propriamente dito, enquanto outros estudiosos os crimes que ocorrem no campo do mundo digital são essencialmente formais. Além disso... Levando em consideração que não conseguimos ver as fronteiras no ciberespaço, e levando em consideração que cada país possui sua própria norma penal, o que acontece caso mais de um país acredite que a competência é sua? Como lidar com crimes que acontecem no domínio internacional público? São apenas questões que podem ser levantadas se soubermos identificar a parte autora e realizar a persecução penal também no âmbito do ciberespaço, através de ferramentas exclusivas desse mundo digital. Ou seja, pelo menos em termos criminais, como você pode ver, ainda caminhamos em passos bem lentos. IMPORTANTE: Caro Estudante, aqui chamamos sua atenção para relembrar um pouco da Convenção de Budapeste que trata sobre os crimes cibernéticos no ciberespaço, dedicando uma parte apenas para a competência que possa envolver diferentes países soberanos que reivindiquem a competência de determinado caso. O art. 22 determina que nos casos que crimes que aconteçam em território específico, ou dentro de um navio ou aeronave de determinado país, a competência deve ser determinada a partir da lei desse país, levando sempre em consideração a cooperação em nível internacional. No caso do Brasil, o nosso Código Penal prevê o que acontece nessas ocasiões nos artigos 5º ao 7º, determinando a competência do país nos casos de crimes que aconteçam aqui, em navios e aeronaves brasileiras que estiverem em serviço público, bem como os delitos que Direito Digital 32 acontecem em navios e aeronaves internacionais privadas que estiverem no território brasileiro ou no espaço aéreo correspondente. Em relação a extraterritorialidade, o Código Penal define em seu art. 7º a competência do Brasil em certos casos, independente de onde aconteça. Veja a figura abaixo: Figura 06: Extraterritorialidade. Crimes (contra) Crimes Vida/Liberdade do Presidente Patrimônio Público Administração Pública Genocídio (brasileiro ou domiciliado) Que o Brasil de obrigou a reprimir Praticados por brasileiros Em aeronaves /navios brasileiros em território internacional Contra brasileiro fora do país Fonte: A Autora. Desse dispositivo, é importante acrescentar que, nos casos em que o brasil se obrigou a reprimir, ainda que o autor do crime seja julgado em outro país, o Brasil ainda poderá aplicar sua lei, enquanto os crimes praticados por brasileiros envolvem o concurso das situações de estar no brasil, se o fato for crime no outro país também, se ao crime for permitida a extradição do agente, e se o autor não tiver sido perdoado pelo outro governo. Certo, agora que vimos o ciberespaço na esfera criminal das normas brasileiras... O que falar da esfera cível? Bom, você já sabe que temos um novo Código de Processo Civil, mas e o de 1973, como tratava sobre situações que pudessem envolver o ciberespaço? Assim como acontece com os códigos criminais, o antigo código de processo civil não tinha a menor condições de prever em 1973 que um universo tão grande como o ciberespaço iria afetar nossa realidade. Assim, até 2014, ano em que ainda estava em vigor, o código sofreu algumas alterações que acabaram atualizando um pouco suas normas, a partir principalmente da Lei 11.280 de 2006. Essa lei revoga um artigo do Código Civil de 2002 que versa sobre outros contextos, e altera os artigos 112, 114, 154, 219, 253, 305, Direito Digital 33 322, 338, 489 e 555 do Código de processo civil de 1973, que tratam em linhas resumidas de competência, prescrição, distribuição, revelia, carta precatória e rogatória, ação rescisória e meios eletrônicos – que é a parte que nos importa aqui, envolvendo o ciberespaço. O artigo que envolve o ciberespaço era o 154 em seu parágrafo único, alterado pelo art. 2º da lei. Segundo esse parágrafo, o código de processo civil deveria prever a prática e comunicação dos atos processuais por via eletrônica além dos meios tradicionais na época. Mais significante do que a lei mencionada, foi a lei. 11.419 do mesmo ano, que altera de fato o código de processo civil de 1973 com base aos novos costumes envolvendo o ciberespaço (observe que utilizamos o termo “novos costumes” com cautela, já que depois disso já tivemos outras atualizações). Observe as principais características da modificação trazida por essa lei na figura abaixo: Figura 07: Modificações do código de processo civil de 1973 pela lei 11.419/2006. Meio eletrônico (Armazenamento/ tráfego de documentos digitais) Tramitação de processos judiciais Portal próprio Assinatura digital (Certificado Digital) Diário da Justiça eletrônico Intimações e comunicações Armazenamento digital Fonte: A Autora. Com certeza, podemos afirmar que as modificações trazidas pela lei 11.419 de 2006 foram bem mais significativas do que as da esfera criminal e do que a da própria esfera cível, modificando de forma bem mais profunda o Código de 1973. Depois de sofrer essa reformulação e outras, muitos autores dizem que o Código foi perdendo sua identidade, justificando a necessidade de um novo. Direito Digital 34 Bem, da figura 07 podemos chegar à conclusão que a partir dessa data estávamos tendo oficialmente um portal eletrônico para lidar com processos judiciais, incluindo possibilidade de colocar as petições e assinar digitalmente a partir de certidões previamente cadastradas. As comunicações por via eletrônica incluem citações, intimações e notificações, apresentando já uma evolução no trâmite do processo. Além disso, é interessante que a lei apresenta alguns conceitos específicos, assim como o marco civil o faz, no artigo 1º, § 2º: o legislador define o que é o meio eletrônico, considerado como o armazenamento e o tráfego de arquivos digitais, trabalha o conceito de transmissão eletrônica como comunicação a distância a partir de redes da internet, e, por fim, a assinatura digital que deve respeitar certificado digital credenciado e cadastro no poder judiciário. Mas... E hoje em dia? Como o novo código de processo civil se comporta? Será que hoje, temos pelo menos um conjunto de normas mais adaptado e preparado para o ciberespaço? Vejamos. O ciberespaço no código de processo civil de 2015 Um dos preceitos fundamentais trazidospelo novo código de processo civil é celeridade do trâmite do processo judicial. Entendendo a celeridade como um processo mais ágil, mais acessível e menos burocrático, o novo código trouxe a visão da lei 11.419 do portal específico para o processo judicial, trazendo assim o Processo Judicial Eletrônico – o PJe. Determinando as mesmas opções da lei 11.419, incluindo comunicações eletrônicas, armazenamento digital e digitalização dos processos, o código de processo civil de 2015 traz ainda a previsão de depoimentos por videoconferência, bem como a possibilidade de sustentação oral por via eletrônica caso o advogado seja domiciliado em outro local. O código que antes previa apenas documentos datilografados, passou a se modernizar, incluindo dispositivos eletrônicos mais e mais. O novo código, por exemplo, prevê até o endereço de e-mail para facilitar Direito Digital 35 os atos de comunicação nas petições, no momento de identificação das partes. O mecanismo de incorporação do PJe auxilia não apenas o aspecto da celeridade processual, como também propicia um acesso à justiça muito maior: nos portais da justiça, qualquer pessoa pode acessar as novidades e até consultar processos de maneira genérica. Destacamos aqui o artigo 194 do novo código, que determina o respeito e a proteção aos princípios da publicidade, acesso e participação das partes no processo. Em consonância a esse preceito, o artigo seguinte prevê que o meio eletrônico envolvido deve ser através de um sistema aberto. Esse sistema aberto contribui para os princípios da autenticidade, integridade, temporalidade e o não repúdio de caso ou parte alguma, preservando sempre a conservação dos processos que demandem segredo de justiça, como os da espécie que envolvem menores de idade. Os artigos seguintes determinam previsões simples do que pode acontecer com a utilização contínua de um sistema eletrônico. É o caso, por exemplo, de as partes precisarem de dispositivos eletrônicos de maneira urgente, os prédios da Justiça devem conter aparelhos de forma gratuita para auxiliá-los, bem como devem dispor de serviço técnico especializado nos casos que os dispositivos ou a rede do prédio falhar. É importante que você entenda aqui, que o novo código de processo civil de 2015 apresenta muitas outras modificações nas outras esferas do direito, mas aqui abordamos apenas as consideradas mais importantes na esfera do ciberespaço. O que aparenta acontecer é que na esfera cível, o Brasil está mais preparado para abarcar o mundo digital de uma forma mais acessível, enquanto a esfera criminal ainda anda a passos lentos. SAIBA MAIS: É interessante perceber as diferenças entre os dois códigos de processo civil. Você pode fazer isso de forma simples e acessível no website oferecido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, Clique aqui. Direito Digital http://www.tjsp.jus.br/Download/SecaoDireitoPrivado/pdf/QuadroCorporativo/QuadroComparativo-CPC-1973-2015.pdf 36 RESUMINDO: E aí? O que você achou dessa terceira parte? Conseguiu captar a diferença entre normas brasileiras que abarcam o ciberespaço e as normas mais antigas que não conseguem prever nada do tipo? Vamos relembrar um pouco comigo! Começamos analisando a esfera criminal, com o código penal de 1940 e processo penal de 1941 e as leis que tentaram atualizar as normas, bem como analisamos o antigo código de processo civil e as leis que tentaram atualizá-lo. Compreendemos que as atualizações do código de processo civil de 1973 estavam em um número tão alto que, além da necessidade de complemento em outros assuntos, foi necessário ser editado um novo conjunto de normas. O novo código de 2015 traz uma abordagem muito mais direta e completa acerca da implementação do ciberespaço na realidade jurídica, contribuindo com diversas melhorias, acessibilidade e proteção aos princípios trazidos pelo próprio governo brasileiro. Direito Digital 37 Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como a Lei Geral de Proteção de Dados transformou o tratamento e a proteção de dados pessoais no Brasil. A compreensão profunda da LGPD é essencial para qualquer profissional do direito que deseja atuar com êxito na era digital, garantindo não só a conformidade legal, mas também promovendo a confiança e a segurança dos dados pessoais. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Princípios e fundamentos da LGPD A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), Lei n.º 13.709/2018 (redação lei 13.853/2019), representa um marco na legislação brasileira, estabelecendo um novo paradigma para o tratamento de dados pessoais no Brasil. Sua importância transcende o mero ato de regulamentação, refletindo um compromisso mais amplo com a proteção da privacidade e a autodeterminação informativa dos indivíduos. A LGPD se aplica a qualquer tratamento de dados pessoais, inclusive aqueles realizados por empresas privadas, órgãos públicos e entidades sem fins lucrativos, independentemente do meio utilizado (físico ou digital) (Peck, 2023). Os princípios da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) são a espinha dorsal que orienta a compreensão e aplicação da lei no tratamento de dados pessoais dentro do território brasileiro. Eles estabelecem as bases sobre as quais o tratamento de dados deve ser construído, visando proteger a privacidade e os direitos fundamentais de liberdade dos indivíduos. Vejamos os princípios que orientam a LGPD: • Princípio da finalidade: a finalidade é um princípio crucial que exige que todo tratamento de dados pessoais tenha um propósito legítimo, específico, e informado ao titular dos dados. Esse Direito Digital 38 princípio impõe limites estritos ao uso de dados, assegurando que sejam coletados apenas para finalidades concretas, claras e justificáveis, evitando-se o tratamento de dados de maneira arbitrária ou excessiva. • Princípio da adequação: o tratamento de dados deve ser adequado às finalidades informadas ao titular, respeitando o contexto em que os dados foram coletados. Esse princípio garante que os dados utilizados sejam pertinentes e não excedam o escopo necessário para alcançar os objetivos estabelecidos. • Princípio da necessidade: a necessidade restringe o tratamento ao mínimo indispensável para alcançar suas finalidades, abrangendo a quantidade de dados coletados, a extensão de seu tratamento, seu período de armazenamento e sua acessibilidade. Isso implica em uma abordagem de coleta de dados "por padrão", que promove a eficiência e reduz o risco de violação de dados. • Princípio do livre acesso: assegura que os titulares dos dados tenham facilidade e gratuidade no acesso às informações sobre o tratamento de seus dados, incluindo a clareza sobre a totalidade dos dados que estão sendo processados e o propósito específico desse tratamento. • Princípio da qualidade dos dados: a qualidade dos dados implica na necessidade de precisão, clareza, atualidade e relevância dos dados pessoais, garantindo que sejam adequados, completos e não excedam o necessário para a finalidade de seu tratamento. Isso é essencial para assegurar a confiança no processo de tratamento de dados. • Princípio da transparência: a transparência requer que as informações relacionadas ao tratamento de dados sejam acessíveis e compreensíveis, garantindo que os titulares estejam cientes do tratamento de seus dados e possam exercer seus direitos de maneira informada. • Princípio da segurança: enfatiza a importância de proteger os dados pessoais através da adoção de medidas técnicas e Direito Digital 39 administrativas capazes de protegê-los contra acessos não autorizados, bem como contra situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou qualquer forma de tratamento inadequado. • Princípio da prevenção: a prevenção orientaa necessidade de adoção de medidas proativas para evitar danos aos titulares dos dados, incluindo políticas e procedimentos eficazes que antecipem riscos no tratamento de dados pessoais. • Princípio da não discriminação: esse princípio proíbe expressa- mente o tratamento de dados para fins discriminatórios ilícitos ou abusivos, reforçando o compromisso da LGPD com a proteção contra práticas que possam violar direitos humanos e liberdades fundamentais. • Princípio da responsabilização e prestação de contas: a responsabilização e prestação de contas exige que o controlador dos dados não apenas cumpra com os princípios e regras estabelecidos pela LGPD, mas também seja capaz de demonstrar ativamente esse cumprimento, implementando práticas e políticas efetivas de proteção de dados. Esses princípios fundamentais da LGPD guiam a forma como os dados pessoais devem ser tratados, enfatizando a importância de proteger a privacidade e promover a transparência, a segurança e a responsabilidade no uso dessas informações. A adesão a esses princípios é essencial para garantir a conformidade. A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), definiu diretrizes claras para o tratamento desses dados por entidades privadas e públicas. O tratamento de dados pessoais sob a égide da LGPD é estruturado em torno de bases legais específicas que legitimam sua execução, garantindo a proteção da privacidade e dos direitos fundamentais dos titulares dos dados. O consentimento do titular dos dados é uma das principais bases legais para o tratamento de dados pessoais. De acordo com o Art. 7.º da LGPD, o consentimento deve ser livre, informado, inequívoco e para Direito Digital 40 finalidades específicas, permitindo que o titular concorde com o tratamento de seus dados para uma ou mais finalidades claramente definidas. O consentimento deve ser um ato voluntário do titular, demonstrando sua clara concordância com o tratamento de seus dados. O consentimento é livre quando o titular dos dados puder recusar seu consentimento sem sofrer qualquer tipo de prejuízo (Frazão, 2020). A LGPD permite o tratamento de dados pessoais quando necessário para que o controlador cumpra uma obrigação legal ou regulatória. Neste caso, o tratamento é justificado pela necessidade de observância às leis ou regulações aplicáveis ao controlador dos dados. Para órgãos públicos, o tratamento de dados pessoais pode ser realizado para a execução de políticas públicas previstas em leis ou regulamentos, ou em contratos, convênios ou instrumentos similares. A LGPD reconhece a importância do tratamento de dados para fins de pesquisa científica, permitindo essa atividade sob condições específicas que garantam a privacidade do titular dos dados. A anonimização dos dados é incentivada como medida de proteção. O tratamento de dados pessoais é também permitido quando necessário para a execução de contrato ou de procedimentos preliminares relacionados a contrato do qual seja parte o titular dos dados, a pedido do titular. Esta base legal permite o tratamento de dados pessoais necessário ao exercício regular de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral, assegurando a possibilidade de defesa dos interesses do controlador ou do titular dos dados em tais contextos. Em situações em que o tratamento de dados pessoais se faz necessário para proteger a vida ou a incolumidade física do titular dos dados ou de terceiros, a LGPD oferece uma base legal para tais operações, mesmo sem o consentimento do titular. Especificamente no contexto da tutela da saúde, o tratamento de dados pessoais por profissionais da saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária é permitido, desde que para fins de realizar procedimentos relacionados à saúde. Direito Digital 41 A LGPD introduz o legítimo interesse como uma base legal flexível para o tratamento de dados pessoais, permitindo tal atividade quando para atender aos interesses legítimos do controlador ou de terceiros, exceto quando os direitos e liberdades fundamentais do titular dos dados prevalecerem. Estas bases legais delineiam um arcabouço robusto que rege o tratamento de dados pessoais no Brasil, assegurando que tais atividades sejam realizadas de forma justa, transparente e com respeito aos direitos dos titulares dos dados. O entendimento e a aplicação adequada dessas bases são fundamentais para a conformidade com a LGPD e para a proteção efetiva da privacidade e dos dados pessoais. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) representa um pilar fundamental na estrutura de governança de proteção de dados no Brasil, estabelecida pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. Como órgão regulador, a ANPD desempenha um papel crítico na aplicação, interpretação e fiscalização da LGPD, assegurando que os direitos fundamentais de liberdade, de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural sejam protegidos. A ANPD foi concebida com uma ampla gama de competências e funções, abrangendo desde a fiscalização e aplicação da LGPD até a promoção de políticas públicas relacionadas à proteção de dados pessoais. Suas atribuições incluem: • Normatização e fiscalização: a ANPD tem a autoridade para normatizar e fiscalizar o cumprimento da LGPD, podendo estabelecer padrões e procedimentos para a proteção de dados pessoais. • Orientação e educação: uma das funções da ANPD é promover a educação e disseminar o conhecimento sobre a proteção de dados pessoais entre a população, as empresas e as entidades governamentais. • Regulamentação: a ANPD tem poderes para elaborar regulamentos e procedimentos necessários à implementação da LGPD, esclarecendo suas disposições e assegurando sua eficácia. Direito Digital 42 • Atendimento e proteção dos direitos do titular: a ANPD atua como mediadora entre os titulares de dados e os controladores, assegurando que os direitos dos titulares sejam respeitados, como o direito de acesso, correção e exclusão de dados. • Monitoramento e penalidades: a autoridade é responsável por monitorar a implementação da LGPD e aplicar penalidades em caso de não conformidade, que podem incluir advertências, multas, bloqueio dos dados pessoais até a regularização, e até mesmo a proibição parcial ou total do exercício de atividades relacionadas ao tratamento de dados. A ANPD desempenha um papel crucial na eficácia da LGPD, não apenas através da fiscalização e aplicação de penalidades, mas também promovendo a cultura de proteção de dados no país. Ela serve como um ponto de referência para organizações e indivíduos, fornecendo diretrizes claras e acessíveis sobre como a LGPD deve ser interpretada e aplicada. Além disso, a ANPD estimula a adoção de práticas de governança de dados que ultrapassam o mero cumprimento legal, incentivando uma mudança de cultura organizacional em direção à transparência e responsabilidade no tratamento de dados pessoais. EXEMPLO: a ANPD iniciou fiscalização contra a Telekall Infoservice após denúncias de que a empresa vendia contatos de WhatsApp de eleitores de Ubatuba/SP para campanhas eleitorais de 2020, sem base legal para o tratamento de dados. A empresa também não havia nomeado um encarregado de dados, falhando em comprovar a inexistência de tratamento de alto risco, o que é obrigatório mesmo para microempresas. Consequentemente, a ANPD lavrou um Auto de Infração, dando início a um Processo Administrativo Sancionador. A Telekall defendeu-se, mas a ANPD concluiu que houve violação dos artigos 7.º e 41 da LGPD e do artigo 5.º da Resolução CD/ANPD n.º 1/2021, aplicando multas e uma advertência. As multas, limitadas a 2% do faturamento bruto da Telekall devido ao seu porte de microempresa, somaram R$14.400,00. Direito Digital 43 A ANPD enfrenta o desafio de equilibrar a proteção dos direitos dos titulares de dados com a promoçãode um ambiente regulatório que não iniba inovações tecnológicas ou o desenvolvimento econômico. O sucesso da ANPD em estabelecer-se como uma autoridade efetiva e respeitada será fundamental para o futuro da proteção de dados pessoais no Brasil. Direitos dos titulares de dados A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), Lei n.º 13.709/2018, artigo 18, consolida um conjunto de direitos fundamentais para os titulares de dados pessoais, reforçando a autonomia e controle dos indivíduos sobre suas informações em um contexto digital crescentemente pervasivo. Esses direitos visam estabelecer um equilíbrio entre a necessidade de tratamento de dados para fins econômicos, tecnológicos e sociais e a proteção da privacidade e liberdade dos indivíduos. A seguir, detalhamos esses direitos e a importância de cada um dentro do arcabouço legal da LGPD. • Confirmação da existência de tratamento: permite que o titular dos dados solicite e receba a confirmação de que suas informações pessoais estão sendo tratadas. É fundamental para a transparência e para que o indivíduo esteja ciente do uso de seus dados. • Acesso aos dados: os titulares têm o direito de acessar seus dados pessoais que estão sendo tratados, podendo solicitar cópias das informações armazenadas pelos controladores. Este direito é essencial para que os indivíduos possam entender exatamente quais informações suas estão sendo processadas e como. • Correção de dados incompletos, inexatos ou desatualizados: caso os dados pessoais estejam incompletos, inexatos ou desatualizados, o titular pode requerer a sua correção. Isso assegura que as informações tratadas reflitam a realidade, garantindo a precisão e a fidedignidade dos dados. Direito Digital 44 • Anonimização, bloqueio ou eliminação de dados desnecessários, excessivos ou tratados em desconformidade: permite que os titulares solicitem a anonimização, bloqueio ou eliminação de dados que sejam desnecessários, excessivos ou que não estejam sendo tratados de acordo com a LGPD. Promove a minimização de dados e a conformidade com o princípio da necessidade. • Portabilidade dos dados: os titulares podem solicitar a portabilidade de seus dados a outro fornecedor de serviço ou produto, conforme regulamentação da autoridade nacional. Este direito facilita a mobilidade dos dados pessoais em um ambiente digital, potencializando a liberdade de escolha e fomentando a concorrência. • Eliminação dos dados pessoais: permite aos titulares solicitar a eliminação de seus dados pessoais tratados com o consentimento do titular, exceto em casos onde a lei autoriza a manutenção dos dados por outros motivos, como o cumprimento de obrigação legal ou estudo por órgão de pesquisa. • • Informação sobre o compartilhamento de dados: os titulares têm o direito de serem informados sobre com quais entidades públicas ou privadas o controlador compartilha seus dados. Isso reforça a transparência e permite que os titulares tenham conhecimento do fluxo de suas informações. • Informação sobre a possibilidade de não fornecer consentimento: assegura que os titulares sejam informados sobre as consequências de não fornecer consentimento para o tratamento de seus dados pessoais, possibilitando uma escolha informada e livre. • Revogação do consentimento: os titulares podem revogar seu consentimento a qualquer momento, de maneira fácil e gratuita, cessando o tratamento de seus dados pessoais baseado nesse consentimento, exceto nos casos em que a lei permite ou exige a manutenção do tratamento. Direito Digital 45 NOTA: O profissional controlador dos dados na LGPD é responsável por tomar as decisões referentes ao tratamento de dados pessoais, incluindo a finalidade e os meios de processamento. Este profissional define como os dados serão coletados, utilizados, armazenados e eliminados, garantindo a conformidade com a legislação, a proteção dos direitos dos titulares dos dados e a implementação de medidas de segurança adequadas para a proteção desses dados. A efetivação desses direitos pelos titulares de dados é fundamental para o exercício da autodeterminação informativa, uma expressão da liberdade individual no contexto da sociedade da informação. A LGPD atribui aos controladores a obrigação de adotar medidas que facilitem o exercício desses direitos, garantindo não apenas a proteção dos dados pessoais, mas também promovendo uma cultura de respeito à privacidade no Brasil. Para que esses direitos sejam efetivamente exercidos, a LGPD também impõe obrigações claras às empresas e organizações que tratam dados pessoais, estabelecendo mecanismos e procedimentos para a solicitação e atendimento de demandas dos titulares. Vejamos alguns dos principais mecanismos e procedimentos: • Solicitação de direitos: a LGPD permite que titulares de dados exerçam seus direitos diretamente junto ao controlador dos dados. Essa solicitação geralmente ocorre através de canais de comunicação estabelecidos pelas empresas, como endereços de e-mail específicos, portais dedicados na internet ou mesmo por correspondência física, quando aplicável. Os direitos incluem acesso, correção, exclusão, portabilidade, entre outros. • Resposta das empresas: as empresas, por sua vez, devem estabelecer procedimentos internos para atender essas solicitações de forma eficiente e dentro dos prazos estabelecidos pela LGPD, que é de 15 dias a partir da data da solicitação para Direito Digital 46 a maioria dos direitos. A resposta deve ser fornecida de maneira clara e completa, independentemente de ser favorável ou não à demanda do titular. • Canais de atendimento: a disponibilização de canais adequados e acessíveis para que os titulares de dados possam exercer seus direitos é uma obrigação das empresas. Estes canais devem ser seguros e garantir a identidade do titular dos dados, para evitar fraudes e vazamentos de informações. Além disso, devem ser projetados para simplificar o processo de solicitação e garantir que os titulares de dados possam exercer seus direitos de forma prática e sem custos. • Nomeação de encarregado: a LGPD exige que as empresas nomeiem um Encarregado pelo Tratamento de Dados Pessoais (também conhecido como Data Protection Officer - DPO), que atuará como canal de comunicação entre o controlador, os titulares dos dados e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). O encarregado tem entre suas atribuições receber as reclamações e comunicações dos titulares, prestar esclarecimentos e adotar providências. • Registros de operações de tratamento: as empresas devem manter registros das operações de tratamento de dados pessoais que realizam, incluindo informações sobre o propósito do tratamento, a descrição das categorias de dados tratados e dos titulares dos dados, bem como as medidas de segurança implementadas. Esses registros são fundamentais para demonstrar a conformidade com a LGPD e para responder adequadamente às solicitações dos titulares dos dados. • Transparência e educação: além de responder às solicitações dos titulares, as empresas devem atuar proativamente para garantir a transparência do tratamento de dados pessoais e promover a educação de clientes e usuários sobre seus direitos e sobre como exercê-los. Isso pode incluir a criação de seções específicas em websites corporativos, FAQs detalhadas sobre privacidade e proteção de dados, e campanhas de conscientização. Direito Digital 47 A LGPD garante aos titulares dos dados diversos direitos, como o direito de acessar seus dados, de solicitar sua correção ou exclusão, de cancelar seu consentimento para o tratamento e de pedir a portabilidade dos seus dados para outro controlador (Peck, 2023). O exercício dos direitos dos titulares de dados sob a LGPD é um elemento essencial para a proteção da privacidade e a promoção de uma cultura de respeito aos dadospessoais no Brasil. As empresas e organizações que tratam dados pessoais têm a responsabilidade de estabelecer mecanismos eficazes para atender às solicitações dos titulares, garantindo transparência, segurança e agilidade no processo. A adequada implementação desses mecanismos é vital para construir uma relação de confiança entre empresas e cidadãos, fortalecendo a proteção de dados pessoais como um valor na sociedade digital. Obrigação e penalidades para empresas A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais estabelece uma série de obrigações que empresas e organizações devem cumprir ao tratar dados pessoais, bem como as penalidades aplicáveis em caso de descumprimento dessas obrigações. O objetivo dessas normas é assegurar a proteção dos dados pessoais e garantir os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade. Princípios de proteção de dados: as empresas devem tratar os dados pessoais respeitando os princípios da finalidade, adequação, necessidade, livre acesso, qualidade dos dados, transparência, segurança, prevenção, não discriminação e responsabilização e prestação de contas. • Consentimento do titular: o tratamento de dados pessoais deve, em regra, ser realizado com o consentimento do titular, que deve ser livre, informado e inequívoco. Empresas precisam garantir e documentar que esse consentimento foi obtido de forma válida. • Direitos dos titulares: as empresas devem assegurar e facilitar o exercício dos direitos dos titulares, incluindo acesso, correção, anonimização, bloqueio ou eliminação de dados desnecessários ou tratados em desconformidade com a LGPD. Direito Digital 48 • Segurança dos dados: adoção de medidas técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas. • Notificação de incidentes: em caso de incidente de segurança que possa acarretar risco ou dano relevante aos titulares, as empresas devem comunicar o fato à Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e ao titular dos dados em prazo adequado. • Nomeação do encarregado: designação de um Encarregado pelo Tratamento de Dados Pessoais (Data Protection Officer - DPO), que atuará como canal de comunicação entre o controlador, os titulares dos dados e a ANPD. SAIBA MAIS: A comunicação de incidentes de segurança à ANPD deve ser feita pelo encarregado de proteção de dados ou por um representante do controlador, utilizando um formulário específico disponibilizado pela ANPD. Esse formulário é submetido eletronicamente através do sistema SUPER da ANPD, selecionando "processo novo" e o tipo "ANPD – Comunicados de Incidentes à Autoridade Nacional de Proteção de Dados" no menu. O formulário preenchido deve ser anexado como "documento principal", e documentos comprovatórios da representação legal, como procuração ou atos constitutivos, devem ser adicionados como "documentos complementares". O procedimento está disponível aqui. O descumprimento das obrigações estabelecidas pela LGPD pode levar à aplicação de penalidades administrativas pela ANPD, após processo administrativo que assegure o direito de defesa. As penalidades incluem: • Advertência: com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas. • Multa simples: de até 2% do faturamento da empresa, limitada a R$ 50 milhões por infração. Direito Digital https://www.gov.br/anpd/pt-br/canais_atendimento/agente-de-tratamento/comunicado-de-incidente-de-seguranca-cis 49 • Multa diária: acumulável com multas simples, observado o limite total. • Publicização da infração: após devidamente apurada e confirmada, a infração pode ser tornada pública. • Bloqueio dos dados pessoais a que se refere a infração: até a regularização da situação. • Eliminação dos dados pessoais a que se refere a infração: quando aplicável, essa medida pode ser determinada. Estas penalidades refletem a seriedade com que a legislação trata a proteção de dados pessoais, sublinhando a importância do cumprimento das normas de privacidade e proteção de dados pelas empresas. O regime de sanções estabelecido pela LGPD visa incentivar a conformidade e promover a adoção de práticas de governança de dados responsáveis. Para evitar tais penalidades, as organizações devem se esforçar para estabelecer e manter um programa eficaz de conformidade com a LGPD, que inclua a avaliação constante de riscos e a implementação de medidas de segurança e privacidade adequadas. A implementação de um plano de governança em privacidade é um requisito crucial para organizações que tratam dados pessoais, sobretudo à luz de legislações contemporâneas como a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais no Brasil. Este plano não somente assegura a conformidade com a lei, mas também fortalece a confiança entre as organizações e seus clientes, usuários ou parceiros. Um programa eficaz de governança em privacidade abrange medidas administrativas, técnicas e físicas para proteger os dados pessoais, além da implementação de políticas de privacidade claras e acessíveis. A primeira e mais óbvia razão para implementar um plano de governança em privacidade é a necessidade de conformidade legal. Leis de proteção de dados, como a LGPD, impõem obrigações específicas às organizações e preveem penalidades significativas em caso de não conformidade. Um plano de governança bem estruturado ajuda a evitar essas penalidades, assegurando que as práticas de tratamento de dados estejam em linha com as exigências legais. Direito Digital 50 As empresas devem adotar medidas de segurança para proteger os dados pessoais contra acessos não autorizados, destruição acidental ou perda (Maldonado, 2021). A privacidade dos dados é uma preocupação crescente entre consumidores e usuários de serviços digitais. Empresas que demonstram um compromisso autêntico com a proteção de dados pessoais podem construir uma base de confiança sólida com seus clientes, diferenciando- se no mercado. Atualmente, a reputação de uma organização está intrinsecamente ligada à sua capacidade de proteger a privacidade dos dados. Um plano de governança em privacidade ajuda as organizações a identificar, avaliar e mitigar riscos relacionados ao tratamento de dados pessoais. Além disso, um programa robusto inclui procedimentos claros para gestão de crises e incidentes de segurança, o que é fundamental para uma resposta rápida e eficaz em caso de violação de dados. Componentes de um Plano de Governança em Privacidade: 1. Medidas administrativas: as medidas administrativas são a espinha dorsal de um plano de governança em privacidade. Isso inclui a definição de políticas e procedimentos internos, a realização de treinamentos regulares de conscientização em privacidade e segurança da informação para os colaboradores e a nomeação de um Encarregado pelo Tratamento de Dados Pessoais (DPO). 2. Medidas técnicas: as medidas técnicas referem-se às ferramentas e soluções tecnológicas utilizadas para proteger os dados pessoais contra acesso não autorizado, perda ou vazamento. Isso inclui criptografia, controle de acesso, monitoramento de invasões, segurança em camadas e regularmente testes de penetração e auditorias de segurança. 3. Medidas físicas: embora o foco muitas vezes esteja na proteção de dados digitais, as medidas físicas de segurança são igualmente importantes. Isso pode incluir controle de acesso físico a edifícios e arquivos, segurança na destruição de documentos e proteção Direito Digital 51 contra desastres naturais ou acidentais que possam afetar os dados físicos. 4. Políticas de privacidade: as políticas de privacidade são documentos cruciais que informam aos titulares dos dados como suas informações são coletadas, usadas, armazenadas e protegidas pela organização. Uma política de privacidade clara, acessível e em conformidade com as leis aplicáveis não apenas cumpre uma obrigação legal,mas também serve como uma declaração de compromisso com a proteção da privacidade. A implementação de um plano de governança em privacidade é uma estratégia que requer um compromisso contínuo e a colaboração de diversos setores dentro de uma organização. Além de ser uma exigência legal, é um elemento crítico para a construção de uma relação de confiança com os titulares dos dados e para a gestão eficaz de riscos associados ao tratamento de dados pessoais. Direito Digital 52 RESUMINDO: O que você achou dessa nossa última seção? Ao con- cluirmos a análise do capítulo 4, focado na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e suas implicações para as organizações no Brasil, é evidente que a legislação re- presenta um marco significativo na forma como os dados pessoais são tratados. A LGPD não apenas estabelece direitos fundamentais para os titulares dos dados, mas também impõe uma série de obrigações detalhadas e penalidades rigorosas para as empresas que não cum- prirem com os padrões exigidos de proteção e privaci- dade de dados. A implementação de um plano de governança em pri- vacidade emerge como um elemento central neste con- texto, demandando um comprometimento contínuo e a colaboração entre os diversos setores de uma orga- nização. As medidas administrativas, técnicas e físicas para a proteção de dados, juntamente com políticas de privacidade claras e acessíveis, são vitais para construir uma relação de confiança com os titulares dos dados e para gerenciar eficazmente os riscos associados ao trata- mento de dados pessoais. As organizações que adotam um programa de governança em privacidade robusto e bem integrado posicionam-se de maneira vantajosa, não só para atender às exigências legais, mas também para fortalecer sua reputação no mercado. O diferencial com- petitivo obtido por meio de práticas de privacidade e se- gurança de dados demonstra um compromisso genuíno com a proteção da privacidade dos indivíduos, um valor cada vez mais reconhecido e valorizado pelos consumi- dores e pela sociedade em geral. Direito Digital 53 REFERÊNCIAS BRASIL. Congresso. Câmara dos Deputados. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Marco Civil da Internet. Brasília, DF, 23 abr. 2014. Disponível em: https://bit.ly/36inHeQ. Acesso em: 21 abr. 2020. BRASIL. Congresso. Senado. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Lgpd. Brasília, DF, 15 ago. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3buPwlZ. Acesso em: 24 abr. 2020. BRASIL. Congresso. Senado. Lei nº 13.853, de 08 de julho de 2019. 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Direito Digital Lei dos crimes informáticos Análise técnica da lei dos crimes informáticos Identificação e aplicação da lei O Marco Civil da Internet Compreendendo o marco civil da Internet Modificações trazidas pelo marco civil Código de Processo Civil de 2015 O ciberespaço nos códigos de processo civil e penal antigos O ciberespaço no código de processo civil de 2015 Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD Princípios e fundamentos da LGPD Direitos dos titulares de dados Obrigação e penalidades para empresas