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Entropia Apresentação Energia é um termo que faz parte da linguagem cotidiana. De forma básica, na termodinâmica, energia representa a capacidade de uma substância de produzir um trabalho, como, por exemplo, mover um objeto, deformá-lo ou fazê-lo ser percorrido por uma corrente elétrica. Como a Primeira Lei da Termodinâmica depende da entendimento da energia, a Segunda Lei da Termodinâmica depende de outra propriedade, a entropia. Assim como a energia, a entropia é um conceito abstrato, porém menos presente no cotiano das pessoas. A entropia surge como corolário da Segunda Lei da Termodinâmica e foi inicialmente proposta por Rudolph Clausius, em 1856. De forma global, na termodinâmica, a entropia é uma propriedade que quantifica a qualidade de determinada energia em gerar trabalho — por exemplo, 10 Joules de energia em estados de entropia diferentes podem gerar diferentes quantidades de trabalho. Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá o conceito de entropia de forma aprofundada, como caracterizar e estudar processos isentrópicos e como aplicar diagramas de entropia do estudo de ciclos e componentes termodinâmicos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir entropia.• Discutir processos isentrópicos.• Avaliar diagramas de propriedades envolvendo entropia.• Infográfico O esquema mostra as relações entre as propriedades de estado. Conteúdo do livro A Segunda Lei da Termodinâmica, juntamente com a Primeira Lei, estabelece os princípios básicos de funcionamento das máquinas térmicas e dos sistemas de refrigeração. Como consequência dos princípios estabelecidos pela Segunda Lei, a propriedade entropia foi definida no século XIX. Diferentemente do termo energia, associado à Primeira Lei, o termo entropia, que é associado à Segunda Lei, é um conceito menos presente no cotidiano das pessoas de forma direta, mas está totalmente relacionado com as eficiências de máquinas e seus dispositivos. No capítulo Entropia, do livro Termodinâmica, você encontrará os conceitos relacionados à entropia, como ela é quantificada e as características de processos em que a entropia se conserva. Além disso, verá como alguns diagramas que contêm entropia em um dos eixos podem ser usados na caracterização e na descrição de funcionamento de ciclos e processos termodinâmicos. Boa leitura. TERMODINÂMICA Germano Scarabeli Custódio Assunção Entropia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir entropia. � Discutir processos isentrópicos. � Avaliar diagramas de propriedades envolvendo entropia. Introdução A segunda lei da termodinâmica traz uma importante reflexão sobre a qualidade de energia, visto que a energia em um sistema pode ser conservada, mas não pode fluir em todas as direções, ou seja, ela tem um sentido definido por onde flui naturalmente. Para se definir esse sentido natural do fluxo energético, uma nova propriedade foi proposta em 1856 por Rudolph Clausius, a entropia. A entropia consiste em uma forma de quantificar a destruição de energia em processos irreversíveis, sendo uma propriedade abstrata. Ela é usualmente empregada em estudos para se saber a máxima energia que uma turbina poderia gerar ou o mínimo de trabalho necessário em uma bomba, servindo como uma referência, similar ao ciclo de Carnot para máquinas térmicas. Neste capítulo, você verá como definir a entropia, como calcular a variação de entropia em um processo termodinâmico e como essa propriedade se comporta. Além disso, você verá o que são processos isentrópicos e qual sua relação com processos reais. Finalmente, os diagra- mas que utilizam a entropia são apresentados, bem como suas aplicações interpretativas na termodinâmica. Definição de entropia Dentro do estudo da termodinâmica, há basicamente três leis que regem os princípios de funcionamentos básicos de máquinas térmicas e demais dispositivos. A chamada lei zero da termodinâmica trata diretamente do equilíbrio térmico entre os corpos e de forma indireta do conceito de tempe- ratura e de funcionamento dos termômetros, ao enunciar que, se dois corpos estão separadamente em equilíbrio térmico com um terceiro corpo, esses dois corpos necessariamente estão em equilíbrio térmico entre si. A primeira lei da termodinâmica trata da energia de forma quantitativa e de sua conserva- ção, tanto em sistemas fechados quanto em sistemas abertos, possibilitando o balanço energético envolvido em diferentes dispositivos. A segunda lei da termodinâmica, a última das três leis básicas da termodinâmica, trata da qualidade da energia envolvida em sistemas termodinâmicos, permitindo o cálculo das eficiências e dos desempenhos de ciclos e demais processos termodinâmicos. Embora os cálculos de eficiências e desempenhos de processos termodinâ- micos sejam obtidos de forma exata e quantitativa, o conceito de qualidade da energia, estudado pela segunda lei, é um tanto abstrato, sendo difícil descrever essa qualidade fisicamente sem levar em conta o estado microscópico do sistema (ÇENGEL; BOLES, 2013). Como forma de tentar quantificar essa qualidade da energia, uma nova propriedade termodinâmica é definida, a chamada entropia. A entropia é uma propriedade que basicamente define o sentido das transformações espontâ- neas, por exemplo: ao deixar uma xícara de café quente sobre uma mesa que se encontra em uma sala fria, esse café irá esfriar. Agora suponha que você pegue uma outra xícara de café, quente, na mesma temperatura inicial que o primeiro. Ao colocar essa xícara de café sobre a mesma mesa, na mesma sala, o que se espera é que esse café também esfrie. Entretanto, se considerarmos somente a primeira lei da termodinâmica, se o inverso acontece, ou seja, essa segunda xícara de café recebesse a energia na forma de calor liberada pela primeira xícara, a primeira lei da termodinâmica também seria satisfeita, já que a energia nesse sistema se conservou. Todavia, sabemos que isso jamais ocorrerá de forma espontânea. A entropia nesse sentido serve como uma seta, definindo o sentido que determinada troca energética irá ocorrer. Entropia2 Halliday, Resnick e Walker (2017) enuncia o postulado da entropia dizendo que todos os processos irreversíveis em um sistema fechado são acompanhados de aumento de entropia. A entropia pode ser entendida como uma medida quantitativa das irreversibilidades associadas a um processo. Considerando novamente o exemplo anterior, a energia perdida na forma de calor da primeira xícara de café, embora tenha se conservado e passado em sua totalidade para o ar da sala, teve sua entropia aumentada, não sendo possível que ela retorne ao seu estado original de forma espontânea. A quantificação da entropia foi feita por Rudolph Clausius, em 1865, a partir de seus estudos sobre a primeira e a segunda leis da termodinâmica. A entropia foi designada pelo símbolo S e foi definida por (equação 1): (1) Onde δQ representa a quantidade de calor transferido em uma parcela da fronteira do sistema e T representa a temperatura absoluta nessa parcela da fronteira. A unidade usual da entropia é o kJ/K. Observe que, assim como o calor, a entropia é uma propriedade extensiva. A entropia específica (ou seja, a entropia por unidade de massa), tem como símbolo o S e sua unidade usual é o kJ/K.kg. A equação 1 foi uma consequência de outra observação feita foi Clausius, a chamada desigualdade de Clausius, que estabelece (equação 2): (2) A equação 2 estabelece que a integral cíclica de δQ/T é sempre menor ou igual a zero. Esse enunciado é uma consequência direta da interpretação da segunda lei da termodinâmica do enunciado de Kelvin-Planck que diz que nenhum sistema pode produzir uma quantidade líquida de trabalho enquanto opera em ciclo e troca calor com um único reservatório de energia. A demons- tração da equação 2 pode ser analisada em detalhes em Moran et al. (2013). O símbolo∮ na equação 2 indica que a integral deve ser avaliada sobre todo o contorno da fronteira. 3Entropia Conforme explica Çengel e Boles (2013), a equação 2 é válida para todos os ciclos termodinâmicos, incluindo os ciclos de refrigeração, sendo que: Conforme afirmam Borgnakke e Soontag (2013), para um sistema, um processo re- versível é definido como aquele que, tendo ocorrido, pode ser invertido e depois de realizada essa inversão não se notará nenhuma modificação na vizinhança ou no sistema em si. O processo reversível seria aquele executado de forma perfeita, o que é pragmaticamente impossível, visto que temos diversas formas de dissipar energia que não retornará ao seu estado original. Os processos irreversíveis são os processos reais, em que ocorre dissipação de energia. Conforme afirmam Kross e Potter (2015), todos os processos termodinâmicos que utilizam reservatórios de calor são irreversíveis pelo fato de a transformação de energia ocorrer naturalmente somente em uma direção. Vários efeitos que geram irreversibilidades no processo podem ser observados na natureza, sendo os mais comuns: (1) transferência de calor, (2) expansão não resistida de um fluido, (3) mistura espontânea da matéria e (4) atrito. Variação de entropia A propriedade termodinâmica entropia desenvolvida anteriormente é impor- tante para definir que a entropia depende do estado termodinâmico, entretanto, na prática de engenharia, engenheiros estão usualmente interessados nas variações de entropia. Baseando-se na equação 1, a variação de entropia de um sistema durante um processo pode ser determinada pela seguinte equação 3: (3) Entropia4 É importante notar que a entropia é uma propriedade, assim, ela tem valores definidos para cada estado termodinâmico, não dependendo da trajetória. Seus valores podem ser obtidos nas tabelas termodinâmicas, de forma similar à energia interna, ao volume específico e à entalpia. Observe que os valores da entropia específica para líquido comprimido (sl) e vapor superaquecido (sg) podem ser obtidos diretamente das tabelas termodinâmica. Nas regiões de mistura saturada, esses valores podem ser determinados usando o título (X), conforme apresenta a equação 4: s = sl + X(sv – sl) (4) Sendo que, por definição, o título de uma substância, usualmente represen- tado pela letra X, é a percentagem de massa de vapor numa mistura líquido- -vapor. Sendo assim, se no sistema em estudo houver somente líquido, o título será 0; do contrário, se houver somente vapor, o título será 1. A entalpia (H) é uma propriedade termodinâmica que auxilia na análise de energia em sistemas termodinâmicos. Ela é defina a partir da seguinte equação 5: H = U + PV (5) Onde U é a energia interna, P é a pressão e V é o volume do fluido de trabalho, sendo a unidade usual o Joule (J). Os valores da entalpia específica podem ser obtidos por meio de tabelas termodinâmicas. Os valores da entalpia específica para líquido saturado (X = 0) e vapor saturado (X = 1) podem ser obtidos de forma direta. Para substâncias bifásicas líquido-vapor, o valor da entalpia específica pode ser determinado a partir da seguinte relação (equação 6): h = hl + X(hv – hl ) (6) Onde X representa o título, hl representa a entalpia de líquido saturado e hv representa a entalpia de vapor saturado. 5Entropia Princípio do aumento da entropia Note que pela desigualdade de Clausis (equação 2), a tendência da entropia em um processo é sempre aumentar. Para ilustrar essa situação, Çengel e Boles (2013) propõem um ciclo formado por dois processos: (1) processo 1-2, que pode ser tanto reversível como irreversível e (2) processo 2-1, que é reversível. A Figura 1a ilustra essa situação. Considerando a desigualdade de Clausius, pode-se escrever para esse ciclo que (equação 7): (7) Da definição de variação de entropia, conforme apresenta a equação 3, temos que a segunda integral pode ser escrita da seguinte maneira (equação 8): (8) A equação 8, pode, portanto, ser reescrita da seguinte maneira (equação 9): (9) Ou na forma diferencial (equação 10): (10) Assim, uma implicação direta das equações 9 e 10 é que, para sistemas isolados (fechado e adiabático), a entropia pode ser positiva (processos irre- versíveis) ou nula (processos reversíveis), mas nunca diminui. Caso houvesse a diminuição de entropia no sistema isolado, a desigualdade de Clausis seria violada e, consequentemente, as equações 9 e 10. Entretanto, é importante salientar que a variação de entropia de um sis- tema não isolado pode ser negativa durante um processo, mas a varia- ção de entropia líquida entre o sistema e a vizinhança não pode (ÇENGEL; Entropia6 BOLES, 2013). Nessa situação, você pode enxergar o conjunto sistema e vizinhança como um sistema isolado. Para exemplificar, observe a Figura 1b, que não representa um sistema isolado, pois há perda de calor do sistema para a vizinhança. Nessa situação, a variação de entropia do sistema é negativa (–2 kJ/K), mas a variação de entropia da vizinhança é positiva (3 kJ/K). De forma líquida, a variação de entropia líquida total do conjunto sistema/vizi- nhança é de 1 kJ/K. Se observarmos os planetas como sistema e o universo como vizinhança, podemos concluir, portanto, que a entropia do universo aumenta com o passar do tempo. Figura 1. (a) Ciclo teórico composto por um processo reversível e um processos arbitrário (pode ser tanto reversível quanto irreversível) e (b) variação de energia total em um sistema e vizinhança. Fonte: Adaptada de Çengel e Boles (2013). (a) (b) Processos isentrópicos Pode-se concluir, a partir da desigualdade de Clausis, que, em processos reais, a entropia não se conserva, diferentemente do que ocorre com a energia (primeira lei da termodinâmica). A tendência natural é que a entropia aumente durante todos os processos reais e se conserve apenas em processos reversíveis, que são idealizados. 7Entropia Os processos em que a entropia permanece constante são chamados de processos isentrópicos: S1 = S2. Embora os processos reversíveis não sejam recorrentes, dispositivos usualmente empregados em máquinas e equipamentos, tais como turbinas, compressores, bombas, bocais e difusores, têm melhor desempenho quando suas irreversibilidades são reduzidas. Dessa forma, o estudo de processos isentrópicos se faz importante, pois servem de base de resultado para processos reais. Esse conceito é similar ao usado para o ciclo de Carnot: embora sejam ciclos idealizados, o ciclo de Carnot é importante do ponto de vista prático, pois permite que engenheiros de desenvolvimento saibam qual a máxima eficiência que determinada máquina térmica poderá ter, dentro de uma faixa de temperatura, servindo de base para tentar melhorar as eficiências de ciclos reais. Da mesma forma, o uso de processos isentrópicos serve como modelo de processo ideal que baliza e quantifica o grau de degradação da energia nos dispositivos trabalhando em regime permanente. Assim, conforme explicam Çengel e Boles (2013), operando sob as mesmas condições de entrada e de saída (Figura 2), quanto mais próximo o processo real estiver do processo isentrópico, melhor será o desempenhos dos dispositivos. Conforme explicam Çengel e Boles (2013), um processo adiabático reversível é ne- cessariamente um processo isentrópico, entretanto um processo isentrópico não é necessariamente um processo adiabático reversível. Todavia, usualmente a expressão processo isentrópico é usada para definir um processo adiabático reversível. Para se medir essa proximidade, usualmente se utiliza o parâmetro co- nhecido como eficiência isentrópica. Para cada dispositivo termodinâmico é definida uma eficiência isentrópica, com foco na tarefa executada por cada dispositivo e no resultado que se espera dele. Entropia8 Figura 2. O processo ideal (isentrópico) serve como parâmetro para medir o grau de degradação de energia em processos reais. Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 368). Eficiência isentrópicaem turbinas Em uma turbina, por exemplo, operando em regime permanente, o processo isentrópico (ideal) é aquele que produz o maior trabalho possível, a partir de estados fixos de entrada do fluido de trabalho. Sua eficiência isentrópica é defina como a porcentagem de trabalho que pode ser realmente produzida a partir desse trabalho-base que poderia ser produzido. A equação 11 ilustra matematicamente esse parâmetro: (11) onde Wreal representa o trabalho de fato produzido pela turbina e Wisentrópico representa o trabalho máximo que poderia ser produzido. Em termos de entalpia, considerando o balanço de energia na turbina e assumindo que o processo isentrópico em estudo parte do princípio que a turbina (volume de controle) é adiabática, a eficiência isentrópica pode ser aproximada para a seguinte equação 12: (12) 9Entropia Sendo que os valores de entalpia podem ser obtidos a partir das tabelas termodinâmicas considerando o processo real e considerando o processo isentrópico. Em termos práticos, os valores da eficiência isentrópica de turbinas ficam entre 50 e 80%. Do balanço de energia para volume de controle (sistema aberto) em regime perma- nente, desprezando variações de energia cinética, potencial e troca de energia na forma de calor, o trabalho pode ser calculado em função somente da entalpia de entrada e de saída, conforme apresenta a equação 13 a seguir: W = (h)entrada – (h)saída . dEVC dt = Q – W + h + + gz entrada – h + + gz saída V 2 2 V 2 2 . . (13) Observe que, nessa situação, se considera que o volume de controle é um dispositivo que gera trabalho, como turbinas, assim, a entalpia na entrada é maior que a entalpia na saída e o valor do trabalho é positivo. Caso o volume de controle corresponda a dispositivos que consumam trabalho, como compressores e bombas, a entalpia da entrada será menor que a entalpia da saída e, portanto, por padronização, o trabalho será negativo. Uma forma alternativa nesses casos em que o trabalho é consumido consiste em apresentar essa equação de forma invertida (equação 14): W = (h)saída – (h)entrada . (14) Eficiência isentrópica em bombas e compressores Em bombas e compressores, o objetivo é gerar a máxima pressurização do fluido de trabalho consumindo o mínimo de trabalho possível. Assim, a efi- ciência isentrópica nesses equipamentos pode ser entendida de forma inversa à eficiência isentrópica das turbinas. Esses dispositivos operando de forma idealizada (processos isentrópicos) consomem a menor quantidade de trabalho Entropia10 e em processos reais consomem o maior trabalho. Assim, a eficiência para bombas e compressores pode ser obtida da seguinte maneira (equação 15): (15) Note que a eficiência isentrópica para esses dispositivos é definida com o trabalho isentrópico no numerado e o trabalho real no denominador, justamente por ser maior. Observe que se a equação 15 fosse escrita conforme a equação 11, a eficiência isentrópica seria maior que 100%, o que poderia ser entendido como se os compressores reais tivessem maior eficiência que os isentrópicos, o que é não verdade. Desprezando variações de energia cinética e energia potencial e conside- rando que o processo isentrópico estudado é adiabático, pode-se escrever a equação 15 em termos de entalpia da seguinte maneira (equação 16): (16) Note que como a bomba e os compressores adicionam energia ao sistema, as entalpias de saída são maiores que as entalpias de entrada. Por esse motivo, as variações de entalpia da equação 16 são invertidas em relação às variações de entalpia da equação 12. Em termos práticos, os valores da eficiência isentrópica das bombas e dos compressores bem projetados se encontram na faixa de 80 e 90%. Eficiência isentrópica em bocais Do ponto de vista termodinâmico, os bocais são dispositivos utilizados para aumentar a velocidade dos fluidos. Assim diferentemente de bombas, com- pressores e turbinas, a eficiência isentrópica de um bocal é quantificada pela energia cinética real aumentada pelo bocal e a energia cinética máxima que poderia ser aumentada (se o processo fosse feito isentropicamente) (equação 17): (17) 11Entropia Como a variação de energia cinética entre e a entrada e a saída do bocal é muito alta, usualmente na modelagem desses casos se considera que a energia cinética na entrada é desprezível em relação à energia cinética da saída. Considerando a modelagem usual em bocais, as variações de energia potencial também podem ser desprezadas, assim como trabalho e calor, já que esses dispositivos não consumiram nem geraram trabalho e, em razão da velocidade do escoamento, não há tempo suficiente para troca de energia por calor. Com essas considerações, a equação 17 pode ser escrita da seguinte forma (equação 18): (18) Em termos práticos, os valores da eficiência isentrópica dos bocais se encontram na faixa de 85 a 95%. Análise de entropia e demais propriedades por meio de diagramas Como a entropia é uma propriedade, seu valor em um sistema considerando um estado específico é fixo, independentemente do caminho percorrido para chegar em tal estado. Dessa forma, é usado um estado de referência e, por meio de experimentos e cálculos complexos, estabelecidos valores de entropia para cada estado. Tais valores são tabulados em relação à pressão e em relação à temperatura desses estados de referência. Além do uso de tabelas termodinâmicas, usualmente, nos estudos de ciclos termodinâmicos, são utilizados diagramas de temperatura-entropia (T-s) e entalpia-entropia (h-s), que facilitam a caracterização dos ciclos, além de possibilitar reconhecer de forma rápida o estado termodinâmico do fluido de trabalho. A Figura 3, por exemplo, estabelece a relação entre temperatura e entropia para a água. Por meio desse diagrama, é possível reconhecer um dos três pos- síveis estados que a água se encontra para determinada pressão e temperatura. Note que na região de mistura bifásica, a temperatura se mantém à temperatura constante para determinada pressão, visto que, ao se transformar de fase, toda energia consumida é na forma de calor latente, não possibilitando, assim, que ocorra mudança de temperatura. Entropia12 O calor latente é a energia liberada ou absorvida por uma substância durante um processo de mudança de fase, que ocorre em temperatura constante. Portanto, o calor latente pode ser entendido como a energia necessária para que uma substância mude de fase. Esse termo foi inicialmente proposto em 1762 pelo químico britânico Joseph Black. De forma complementar, o calor sensível representa a energia, na forma de calor, absorvida ou liberada por uma substância, para que ela tenha sua temperatura au- mentada ou diminuída, mas sem mudar de fase. Figura 3. Diagrama temperatura-entropia (T-s) – útil para a caracterização do estado que uma substância se encontra. Fonte: Adaptado de Çengel e Boles (2013, p. 340). 13Entropia A Figura 4 ilustra como o diagrama T-s pode auxiliar na visualização de diferentes processos que podem ocorrer em um ciclo. A Figura 4a mostra o estado inicial (3 MPa e 400 ºC) do vapor antes de entrar em uma turbina que produz 2 MW de trabalho. A Figura 4b mostra os diferentes estados finais que o vapor pode chegar. Em um processo isentrópico, por exemplo, a extração de energia é máxima, ao ponto de parte do vapor condensar e se transformar em água na pressão 50 kPa. No processo real, entretanto, em razão das irreversi- bilidades do sistema, ocorre um processo não isentrópico e, como esperado, a entropia aumenta do estado 1 para o estado 2. Figura 4. (a) Ilustração de um processo de expansão em uma turbina e (b) diferença entre os diferentes estados finais em uma expansão isentrópica (ideal) e uma expansão real. Fonte: Adaptada de Çengel e Boles (2013). (a) (b) Tanto a Figuras 3 quanto a Figura 4 são amplamente utilizadas na ilustra- ção de ciclos, pela fácil relação concreta que se tem com a temperatura dassubstâncias. Entretanto, conforme discutido anteriormente, quando se calcula o trabalho de dispositivos termodinâmicos, geralmente a propriedades de interesse é a entalpia, pois para fluxos em regime permanente, com variações de energia cinética, potencial e de calor desprezíveis, o trabalho produzido por uma turbina e o trabalho consumido por um compressor ou bomba são funções somente da entalpia. Assim, ao usar o diagrama entalpia-entropia, é possível observar de forma quantitativa a diferença entre os trabalhos no processo isentrópico e no processo real. Entropia14 A Figura 5a ilustra h-s para uma expansão em uma turbina. Note que pelo diagrama é possível ilustrar de forma quantitativa que o trabalho isentrópico é maior que o trabalho real em uma turbina. Além disso, no processo real ocorre o aumento de entropia (S2 > S1). De forma similar, a Figura 5b ilustra o processo de compressão em um compressor ou bomba. Observe que o processo isentrópico consome um traba- lho menor que o processo real e isso pode ser observado de forma rápida por meio do diagrama h-s, bastando observar que o tamanho das distâncias entre os dois estados no processo isentrópico 1-2s é menor que no processo real 1-2r. Desde 1923, após a Conferência de Termodinâmica ocorrida em Los An- geles, se padronizou chamar o diagrama h-s como diagrama de Mollier, em homenagem ao professor alemão Richard Mollier, que foi pioneiro do estudo desses diagramas no início do século XIX. A convenção envolve chamar qualquer diagrama que tenha entalpia em um dos eixos como diagrama de Mollier, tal como h-x (entalpia e título), entretanto, de forma prática, o digrama h-s é mais usual e, assim, recorrentemente se identifica o diagrama de Mollier como o diagrama h-s. Figura 5. Uso do diagrama entalpia-entropia para ilustrar a transformação em dispositivos termodinâmicos: (a) expansão em uma turbina e (b) compressão em uma bomba ou compressor. Fonte: Adaptada de Çengel e Boles (2013). (a) (b) 15Entropia BORGNAKKE, C.; SONNTAG, R. E. Fundamentos da termodinâmica. 8. ed. São Paulo: Blucher, 2013. (Série Van Wylen). ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. HALLIDAY D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: gravitação, ondas e ter- modinâmica. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. v. 2. MORAN, M. J. et al. Princípios de termodinâmica para engenheiros. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013. Leitura recomendada VAN WYLEN, G.; SONNTAG, R.; BORGNAKKE, C. Fundamentos da termodinâmica clássica. 4. ed. São Paulo: Bluncher, 1995. Entropia16 Dica do professor A entropia é uma forma de medir a qualidade que determinada energia apresenta; dessa forma, é uma propriedade que complementa a energia na caracterização de uma substância. Entretanto, ao pensar em termos objetivos, o que seria essa qualidade da energia? Veja, na Dica do Professor, como definir a entropia e como ela se relaciona com as leis da termodinâmica. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/a8d0aef4eee39e770737aec692fe0317 Exercícios 1) A Segunda Lei da Termodinâmica estabelece que as substâncias, além de terem energia, têm energia com certa qualidade. Para se quantificar essa qualidade, Clausius propôs, em 1856, a propriedade termodinâmica conhecida como entropia. Com base no conceito de entropia e nas consequências da Segunda Lei da Termodinâmica, quando ocorrem mudanças em um sistema isolado: A) a entropia do sistema diminui quando o processo é reversível e aumenta quando é irreversível. B) a entropia não varia nos processos irreversíveis e tende a aumentar nos processos reversíveis. C) a entropia sempre aumenta quando ocorrem processos irreversíveis ou se mantém constante em processos reversíveis. Assim, ela nunca pode diminuir. D) a entropia pode aumentar ou diminuir nos processos irreversíveis ou permanecer constante nos processos reversíveis. E) a entropia do sistema tende a diminuir, e a energia interna a aumentar, garantindo a reversibilidade da mudança no sistema. 2) No estudo de ciclos termodinâmicos, para melhor caracterizá-lo e ilustrá-lo, é comum apresentar-se as propriedades termodinâmicas do fluido de trabalho em diagramas de temperatura-entropia. Entretanto, há outro diagrama comumente usado nessa situação. Quais as propriedades que esse diagrama apresenta e qual seu nome? A) As propriedades são pressão-entropia, e seu nome é diagrama de Clausius. B) As propriedades são entalpia-entropia, e seu nome é diagrama de Clausius. C) As propriedades são entalpia-pressão, e seu nome é diagrama de Clausius. D) As propriedades são energia pressão-entropia, e seu nome é diagrama de Mollier. E) As propriedades são energia entalpia-entropia, e seu nome é diagrama de Mollier. Desde que foi enunciada, em 1856, a entropia tem papel fundamental nos estudos relacionados a sistemas termodinâmicos e no desenvolvimento de máquinas térmicas mais 3) eficientes. Sobre a propriedade entropia, analise as seguintes afirmativas: I – A variação da entropia de um sistema fechado é a mesma para todos os processos entre dois estados especificados. II – A variação de entropia de um sistema fechado deve ser maior que zero ou igual a zero. III – A geração de entropia em sistemas isolados se dá pela ocorrência de irreversibilidades no processo. Com base nessas afirmações, selecione a alternativa correta: A) Apenas a I está correta. B) Apenas a II está correta. C) Apenas a III está correta. D) Apenas I e II estão corretas. E) Apenas I e III estão corretas. 4) Considere determinada substância em um estado inicial 1, cuja entropia é S1. Essa substância para o estado 2, com entropia S2. Nesse processo, a substância ganha uma quantidade de calor Q da vizinhança, que está na temperatura T. Qual o valor da variação de entropia (ΔS) dessa substância devido a esse processo? A) ΔS S2 - S1. C) ΔS = S2 - S1. D) ΔS > S2 - S1 + Q/T. E) ΔS = S2 - S1 + Q/T. Em uma usina operando em ciclo Rankine, geralmente quatro componentes estão disponíveis: a caldeira (para gerar o vapor), a turbina (responsável por gerar trabalho), o 5) condensador (para condensar o vapor) e a bomba (para comprimir a água antes da entrada na caldeira). Considere que vapor de água é condensado à temperatura constante de 30ºC enquanto escoa pelo condensador de uma usina de potência, rejeitando calor a uma taxa de 55MW. A taxa de variação da entropia do vapor de água ao escoar pelo condensador é de: A) - 1,83MW/K. B) - 0,18MW/K. C) 0MW/K. D) 0,18MW/K. E) 1,83MW/K. Na prática O uso de ar comprimido tem diversas aplicações, tais como limpeza, operação de equipamentos pneumáticos ou refrigeração. Nesse contexto, a escolha exata do compressor responsável por gerar esse insumo é de grande importância prática, pois tem influência direta no valor despendido com energia elétrica, gerando preocupação não só financeira como também de cunho sustentável. Acompanhe, Na Prática, como Marina, engenheira que trabalha com o uso de ar comprimido, realiza os cálculos para escolha de um compressor, sendo que sua eficiência isentrópica influencia nessa escolha. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/ea31eed7-f6ad-4d1c-8a81-cab1d6994f16/b053cc2d-b651-434a-bb7c-26af1fd27b67.png