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PUC GOIÁS 
 
Profª Évelyn Cintra 
Araújo 
DPC 
Procedimento comum II e 
Procedimentos especiais 
 
2 
 
PARTE I – PROCEDIMENTO COMUM (continuação) 
 
1 FASE INSTRUTÓRIA 
 
1.1 Teoria Geral Das Provas 
 
a) Conceito e Classificação das Provas 
 
 No processo, a prova é todo meio destinado a convencer o juiz a respeito da verdade de uma situação 
de fato. 
 A doutrina costuma classificar as provas segundo vários critérios: 
 
- quanto ao objeto: 
➢ diretas => são as destinadas a demonstrar o próprio fato principal da demanda. Ex: depoimento de uma 
testemunha que assistiu a uma colisão envolvendo dois veículos. 
➢ indiretas => são as destinadas à demonstração de fatos secundários ou circunstâncias, dos quais se pode 
extrair a convicção da existência do fato principal. É a prova de indícios (indiciária). Ex: depoimento de uma 
testemunha que, embora não tenha visto a colisão, presenciou a situação dos veículos após a batida. 
 
- quanto ao sujeito de que emana: 
➢ pessoais => consistentes em revelação consciente de uma pessoa. Ex: depoimentos das partes e de 
testemunhas. 
➢ reais => consistentes no conhecimento dos fatos através da análise de objetos ou coisas. Ex: exame 
pericial. 
 
- quanto à preparação ou momento de produção: 
➢ casuais ou simples => aquelas produzidas no curso do processo. 
➢ pré-constituídas => produzidas antes do momento normal para instruir ação futura ou pendente (prova 
antecipada – art. 381, I, NCPC). 
 
b) Objeto da prova 
 
 O objeto da prova são os FATOS, nunca o direito, salvo, segundo o art. 376, se tratar de direito 
municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, podendo o juiz determinar que a parte a quem 
aproveite lhe faça a prova do teor e da vigência. 
 Mas não são todos os fatos que deverão ser provados, mas apenas fatos controversos, pertinentes 
(que dizem respeito à causa) e relevantes (capazes de influir na decisão da causa). 
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 Portanto, os fatos incontroversos (confessado, não contestado), impertinentes e irrelevantes não 
podem ser objetos de prova. 
 Igualmente não estão sujeitos à prova os fatos notórios, ou seja, aqueles que são do conhecimento 
geral, sobre o qual não há incerteza na sociedade; e os fatos em cujo favor milita presunção legal de existência 
ou de veracidade. Essa é a inteligência do art. 374 do NCPC. 
 
b.1 Presunções, indícios e máximas de experiência 
 
 O Código não tratou expressamente das presunções e indícios, dispondo apenas sobre as regras de 
experiências no art. 375, a saber: 
“Art. 375 – O juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e 
ainda as regras da experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial”. 
 
 Sabemos que a atividade probatória tem por finalidade convencer juiz sobre a existência ou 
inexistência de fatos dos quais a parte pretende extrair uma consequência jurídica e, portanto, uma sentença 
favorável. 
 Há, entretanto, uma distância muito grande entre a prova do indício e a convicção do fato 
principal. E a ponte que os liga resulta de uma norma legal chamada de presunção legal, que é a ilação 
(dedução, conclusão) que se tira de um fato certo para prova de um fato desconhecido, que, aliás, como visto, 
dispensa a produção de prova. 
 A presunção não é, portanto, um meio de prova, mas sim uma forma de raciocínio do juiz, o qual, 
de posse de um fato provado, conclui a existência de outro relevante para produzir a consequência 
pretendida. As presunções legais podem ser absolutas ou relativas. A presunção legal absoluta é aquela que não 
admite prova em contrário. Já as presunções relativas são as que admitem prova em contrário. 
 Mas nem sempre existe uma norma jurídica particular instituidora de presunção legal. Nesse caso, 
em não havendo presunção legal, o juiz chega ao fato principal por presunção humana (que alguns chamam de 
presunção judicial), que resulta da experiência comum ou da experiência técnica. 
 A experiência comum, como diz o artigo, é extraída da observação do que ordinariamente acontece 
em dado grupo social, em determinadas circunstâncias. Ex: gestação de 9 meses. E a experiência técnica é a 
resultante da aplicação ou atuação das leis da natureza e das ciências do homem que o juiz pode conhecer, 
excetuando o conhecimento proveniente de exame pericial. 
 As regras de experiência, comum ou técnica, não estão no plano dos fatos, e, portanto, do ônus da 
prova, podendo e devendo o juiz aplicá-las de ofício, podendo a parte desenvolver atividade argumentativa 
sobre tais regras, como faria juntando pareceres jurídicos sobre a interpretação do direito. 
 Portanto, as regras de experiência não se confundem com o fato notório. Este é um fato cuja prova 
se dispensa porque é do conhecimento geral; aquelas são regras que levam ao conhecimento do fato principal 
pelo conhecimento do fato circunstancial. Sendo assim, o erro quanto à máxima de experiência equivale à 
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violação da lei, porque, embora não sendo norma legal, faz parte da ‘premissa maior’ do silogismo da 
sentença. 
 Por fim, cumpre esclarecer que enquanto o valor da presunção legal é absoluto ou relativo, o das 
presunções humanas decorrentes da experiência é sempre relativo ao estágio atual de desenvolvimento 
científico. O que era, há alguns anos, dado como cientificamente certo, pode hoje não o ser mais. 
 
c) Provas ilícitas 
 
 Segundo o art. 369 do NCPC, “as partes tem o direito de empregar todos os meios legais, bem como os 
moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a 
defesa e influir eficazmente na convicção do juiz”. 
 Quando o artigo alude aos meios moralmente legítimos está a dizer que esses meios não estão 
tipificados na lei, tratando-se, dessa forma, das provas atípicas. Vige, portanto, no processo civil o princípio 
da atipicidade das provas, podendo as partes empregar qualquer meio de prova, típico1 ou atípico, desde que 
seja lícito. 
 Grande questão é a de saber se a ilicitude que impede a produção da prova é a ilicitude da obtenção 
do meio de prova ou de sua produção em juízo. A diferença é importante na medida em que a obtenção está 
ligada ao plano de direito material e a produção ao plano do direito processual. Assim, a prova testemunhal 
obtida mediante coação não seria confundida com uma prova produzida mediante violação ao contraditório. 
 A tendência moderna é no sentido de não se admitir a prova cuja obtenção tenha violado princípio ou 
norma de direito material, especialmente se a norma violada está inserida como garantia constitucional, por 
exemplo, a inviolabilidade do domicílio, do sigilo da correspondência ou de comunicação telefônica. Isso 
porque a violação de um direito material é mais grave que a violação de uma regra processual. 
 Todavia, se a violação for de uma norma processual que traduz num direito fundamental 
processual, como é o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa etc, tal prova será considerada 
tanto quanto ilícita, sem qualquer possibilidade de influir sobre o convencimento do juiz. 
 O inciso LVI do art. 5º da Constituição proíbe a utilização de prova obtida por meio ilícito, mas tal 
regra não é absoluta, porque pode haver necessidade de conciliar esta norma com outros direitos 
constitucionais fundamentais. Imagine a hipótese de uma associação de proteção ao meio ambiente que não 
tem outra alternativa para proteger o direito ambiental senão por meio de uma prova ilícita. 
 Portanto, o uso da prova ilícita poderá excepcionalmente admitido, por força do princípio da 
proporcionalidade, quando houver colisão entre o direito fundamental material que se deseja ver tutelado 
através do processo e(art. 523; a que 
correspondia no CPC de 73 o art. 475-J). 
 Transcorrido o mesmo prazo, ao invés de pagar, poderá o devedor apresentar impugnação ao 
cumprimento da sentença, ocasião em que o feito prosseguirá perpassando pela fase expropriatória até a 
satisfação do credor. 
 Vale lembrar que, havendo pedido de desfazimento de construção, a sentença de procedência será 
cumprida obedecendo ao disposto no art. 497 (a que correspondia o art. 461), que estabelece a tutela 
específica das obrigações de fazer. 
 Por fim, salienta-se que da sentença das ações possessórias caberá apelação em ambos os efeitos se 
for de improcedência, pois que, se de procedência, confirmando a liminar, obviamente se aplica a exceção do 
art. 1.012, V, segundo a qual a apelação será recebida apenas no efeito devolutivo se a sentença confirmar a 
tutela antecipada. 
 
 
7 Ações dúplices ou ambivalentes são aquelas onde autor e réu podem formular pretensões, e o deferimento do pedido de um 
implicará necessariamente no indeferimento do pedido do outro. 
8 Na verdade, reconvenção e pedido contraposto são demandas do réu contra o autor no mesmo processo, formuladas na mesma peça 
em que se apresenta a contestação, distinguindo-se, apenas, pela amplitude: no primeiro pode ser formulado qualquer pedido, desde 
que conexo com a ação principal ou com os fundamentos da defesa (art. 343); já o segundo limita-se ou a causa de pedir remota ou o 
pedido para algo tipificado. O pedido de proteção possessória, por exemplo, deve ser considerado como pedido contraposto porque o 
art. 556 limita-o ao pleito indenizatório. 
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2.2.4 INVENTÁRIO E PARTILHA (arts. 610 a 673, CPC) 
 
a) Noções gerais 
 Conforme art. 1784 do Código Civil, falecida a pessoa natural, a herança transmite-se, desde logo, 
aos sucessores. Entretanto, é necessário identificar quem são eles e, havendo mais de um, definir como será 
feita a divisão da herança. Para essa finalidade, existe o procedimento de inventário e partilha. 
 Inventário significa relacionar, catalogar, enumerar. No CPC, inventário consiste no procedimento 
especial de jurisdição contenciosa, pelo qual se procede à descrição e à avaliação do patrimônio (bens, 
direitos e obrigações) deixado por alguém em virtude de seu falecimento. 
 Já a partilha, por sua vez, constitui o segundo estágio do procedimento e vem a ser a atividade 
desenvolvida para dividir o acervo patrimonial entre os sucessores. Importante notar que não existe partilha 
sem inventário (até a partilha feita por testamento não dispensa futuro inventário), mas pode ocorrer 
inventário sem partilha (ex: inventário negativo ou quando houver apenas um herdeiro). 
 
b) Espécies de inventário (procedimento): 
- inventário judicial: que divide em inventário tradicional (ou solene) e arrolamento, que, por sua vez, pode ser 
sumário (art. 659 – independente do valor da herança, desde que todos os herdeiros sejam maiores, capazes e 
de acordo com a partilha amigável) ou comum (art. 664 – independente se capazes ou não os herdeiros, desde 
que o valor dos bens for igual ou inferior a 1.000 salários mínimos). O inventário tradicional ou solene tem 
aplicação residual (art. 610 – “havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial”). 
 
- inventário extrajudicial: se todos forem capazes e concordes quanto à partilha, procede-se ao inventário e à 
partilha, administrativamente, em Cartório, valendo a escritura pública como título hábil para qualquer ato 
de registro bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeira (art. 610, §1º). 
 Para Alexandre Câmara (2007, p. 480), este procedimento veio substituir o arrolamento sumário, 
vez que se trata das mesmas hipóteses (todavia, remanescerá o arrolamento sumário apenas quando houver 
um único herdeiro, dispensando obviamente partilha, e que este seja incapaz, circunstância que afasta a via 
extrajudicial). 
 Para parte da doutrina, não há opção aos interessados, carecendo-lhes de interesse processual pelo 
inventário judicial por ausência de necessidade (há quem discorde em defesa ao princípio da inafastabilidade 
jurisdicional). 
 O inventário extrajudicial deverá ser feito necessariamente por meio de advogado (ou por defensor 
público, se os interessados não tiverem condições financeiras), o qual redigirá a minuta, devendo constar a 
qualificação completa do autor da herança, dia e local do falecimento, a qual será levada ao Tabelionato de 
Notas. O tabelião poderá exigir, para lavrar a respectiva escritura, documentos tais como: certidão de óbito; 
documento de identificação de todas as partes; certidão comprobatória do vínculo de parentesco com o autor 
da herança; certidão de casamento do cônjuge sobrevivente; e documentos comprobatórios da propriedade 
dos bens e seu valor. 
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c) Inventário Judicial 
 
c.1) Petição Inicial 
 A petição inicial observará normalmente os requisitos do art. 319, com as peculiaridades próprias 
do procedimento do inventário, porém trata-se de uma petição bem menos burocratizada, não havendo 
necessidade de ampla exposição dos fatos e dos fundamentos jurídicos do pedido, do pedido com suas 
especificações e do protesto pela ampla produção de provas (MONTENEGRO FILHO, 2006, p. 449). Basta 
noticiar a morte do autor da herança (com a certidão de óbito em anexo à exordial), a existência de bens e 
herdeiros, sem necessariamente identificá-los (salvo no arrolamento sumário, que, pela celeridade própria do 
rito, impõe a apresentação do esboço de partilha já na petição inicial). 
 Entretanto, deve ser endereçada ao juízo competente, que, nesse caso, será definido por 2 
critérios: o territorial e o material. 
 Pelo critério territorial, previsto no art. 48 do NCPC, é competente para o processo de inventário e 
partilha o foro do domicílio do autor da herança. Todavia, o referido artigo estabelece foros subsidiários. Assim, se 
o autor da herança não tinha domicílio certo, será competente o foro da situação dos bens imóveis. Todavia, se o de 
cujus possuía bens imóveis em foros diferentes, será competente qualquer destes. Não havendo bens imóveis, a 
ação deverá ser ajuizada no foro do local de qualquer dos bens do espólio. 
 Pelo critério material, a ação será aforada na Vara Especializada em Sucessões, onde houver; do 
contrário, será competente a Vara Cível. 
 Vale lembrar que cabe à autoridade brasileira, com exclusividade, proceder ao inventário e à 
partilha de bens situados no Brasil, independentemente da nacionalidade ou domicílio do de cujus (art. 23, II, 
NCPC). 
 Quanto à legitimidade, a abertura do inventário deverá ser requerida, primeiramente, pelo 
administrador provisório no prazo de 2 meses após o falecimento do autor da herança. Duas observações 
merecem ser feitas quanto à eventual inércia dos interessados na abertura do processo de inventário: 
1ª) o NCPC não mais ressalva a hipótese da iniciativa de ofício do juiz (o art. 989 não tem um correspondente 
na nova lei processual); 
2ª) a multa pela inércia depende de previsão por lei estadual. Em Goiás, o Código Tributário Estadual – Lei 
nº 11.651/91 foi regulamentado pelo Decreto n. 4.852/97, passando a ser devida não em caso de atraso na 
abertura do inventário, e sim na entrega da declaração do ITCMD (a multa é de 10% do imposto devido, 
devida a partir do 121º dia de atraso ou de 20% a partir do 181º dia de atraso). 
 Mas, além do administrador provisório, o art. 616 do NCPC elenca os legitimados concorrentes, a 
saber: 
- o cônjuge ou companheiro supérstite: independentemente do regime de bens. 
- herdeiro 
- legatário (beneficiado pelo testamento) 
- testamenteiro 
- cessionário do herdeiro ou do legatário 
De cujus: a pessoa morta
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- credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança: seu crédito deve ser líquido e certo. 
- administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário ou do autor da herança ou do cônjugeou 
companheiro supérstite. 
- Ministério Público, se houver herdeiro incapaz e forem omissos os outros legitimados (é residual). Se a 
iniciativa não for do MP, este deverá, da mesma forma, ser intimado para intervir no feito como fiscal da lei se 
o herdeiro for incapaz ou ausente, ou houver testamento. 
- Fazenda Pública, por ter interesse em apurar e receber o ITCMD. 
 
c.2) Administração da herança (provisória e inventariança) 
 Iniciado o inventário e até que haja a partilha, o encargo de administrar a massa hereditária é do 
inventariante. 
 Entretanto, antes dele ser nomeado e prestar compromisso, esse encargo incumbe ao administrador 
provisório, que é aquele que está na posse e na administração dos bens do falecido, independente de 
nomeação pelo juiz. 
 Recebida a petição inicial, o juiz nomeará então o inventariante, que, segundo o art. 617 do NCPC, 
poderá ser (ordem relativa): 
- cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte 
deste; 
- o herdeiro que se achar na posse e administração do espólio; 
- qualquer herdeiro, quando nenhum estiver na posse ou administração do espólio; 
- o herdeiro menor, por seu representante legal (novidade do CPC); 
- o testamenteiro, se lhe foi confiada a administração do espólio ou se toda a herança estiver distribuída em 
legados; 
- o cessionário do herdeiro ou do legatário; 
- o inventariante judicial, se houver; 
- pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial. 
 Intimado da nomeação, o inventariante prestará em 5 dias o compromisso de bem e fielmente 
desempenhar a função (parágrafo único, art. 617). 
 Incumbe ao inventariante, além de representar judicial e extrajudicialmente o espólio até a 
partilha, as atribuições previstas nos arts. 618 e 619, NCPC (ex: administrar o espólio com diligência; prestar 
as primeiras e últimas declarações; trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente; alienar bens de 
qualquer espécie; pagar dívidas do espólio; fazer despesas para a conservação dos bens do espólio; etc), sob 
pena de remoção (art. 622), mediante incidente instaurado de ofício ou a requerimento de qualquer dos 
interessados, com observância ao contraditório, em autos apensos ao inventário, sem suspendê-lo, de cuja 
decisão caberá agravo (art. 1.015, parágrafo único). Removido que seja, o juiz nomeará outro, observada da 
ordem do art. 617. 
 
c.3) Primeiras declarações 
o juíz nomeia o inventariante 
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 De acordo com o art. 620, nomeado o inventariante, este, num prazo de até 20 dias após firmar 
compromisso, deverá prestar as primeiras declarações (também sob pena de remoção), consistentes em 
informações indispensáveis à realização do inventário, como: 
- a qualificação completa do de cujus; 
- a data e o lugar do óbito; 
- a qualificação completa dos herdeiros (incluindo e-mail), a qualidade e seu grau de parentesco com o 
falecido; 
- a qualificação completa do cônjuge ou companheiro supérstite e o regime de bens do casamento ou da 
união estável; 
- a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio, inclusive aqueles que devem ser 
conferidos à colação, e dos bens alheios que nele forem encontrados, fazendo uma descrição minuciosa dos 
bens imóveis, móveis, semoventes, dinheiro, jóias, títulos da dívida pública, ações, quotas, dívidas ativas e 
passivas, direitos e ações, e, por fim, o valor corrente de cada um dos bens. 
 Só se pode imputar sonegação de bens ao inventariante após este declarar por feita a descrição de 
todos os bens (art. 621). 
 
c.4) Citação e Impugnação às primeiras declarações 
 Feitas as primeiras declarações, cita-se o cônjuge/companheiro, os herdeiros e legatários, por 
correio ou por edital (se estiverem em lugar incerto ou desconhecido), e intima-se a Fazenda Pública, o 
Ministério Público, havendo herdeiro incapaz ou ausente, e o testamenteiro, se houver testamento. 
 O objetivo é para, num prazo comum de 15 dias, impugnar as primeiras declarações, cuja cópia lhes 
são entregues no momento da citação ou intimação (art. 626, §3º, §4º). 
 De acordo com o art. 627, a impugnação pode versar sobre: 
- erros, omissões e sonegação de bens: quando então o juiz mandará retificá-los (§1º, art. 627); 
- reclamação contra a nomeação do inventariante (não confundir com remoção): em razão da preterição na 
ordem do art. 617, quando então o juiz nomeará herdeiro mais bem situado na ordem preferencial (§2º, art. 
627); 
- a qualidade de quem foi incluído como herdeiro: o juiz, verificando a ausência de condição de herdeiro, 
determinará a sua exclusão do feito. 
 Por outro lado, aquele que, se julga herdeiro, não for contemplado nas primeiras declarações, 
deverá pleitear a sua inclusão antes da partilha. Nesse caso, ouvidas as partes em 15 dias, o juiz decidirá (art. 
628). 
 Em ambos os casos, se a disputa da qualidade de herdeiro demandar produção prova que não a 
documental, o juiz remeterá a parte para as vias ordinárias, sobrestando ou reservando, acautelatoriamente, o 
seu quinhão até decisão do litígio (§3º, at. 627 e §2º, art. 628). No caso do herdeiro preterido, tal medida 
perderá a sua eficácia se ele não promover, no prazo de 30 dias após a sua efetivação, a ação de petição de 
herança. 
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 Vale lembrar que o herdeiro descendente, que recebeu doação ou dote do ascendente, é obrigado, 
no prazo de que dispõe para impugnar as primeiras declarações, a fazer colação dos bens recebidos (à título 
gratuito), a fim de reconstituir o acervo hereditário, sob pena de ser considerado sonegador (a sonegação 
será arguida por meio de ação própria no prazo de 10 anos). A colação será feita conferindo os bens por termo 
aos autos, ou, se o herdeiro já os não possuir, trar-lhes-á o valor. Caso o herdeiro negue o recebimento da 
doação, abre-se vista às partes e, instaurada a controvérsia, remetem-se a via ordinária, não podendo o 
herdeiro receber o seu quinhão enquanto pender a demanda, salvo se prestar caução correspondente ao valor 
dos bens sujeitos à conferência (§2º, art. 641). 
 
c.5) Avaliação dos bens e últimas declarações 
 Após o prazo para a impugnação, não oferecida ou decidida se oferecida, o juiz nomeará perito, se 
não houver avaliador judicial, para avaliar os bens do espólio (inclusive quotas sociais e apuração de 
haveres), a fim de preparar a partilha e estimar a base de cálculo do imposto causa mortis. 
 A avaliação será dispensada se a Fazenda Pública e os herdeiros (é necessário que todos sejam 
capazes) concordarem com o valor atribuído nas primeiras declarações (art. 633). 
 Do contrário, será oferecido um laudo, do qual as partes poderão se manifestar no prazo de 15 dias 
(art. 635). Se impugnado, o juiz, acolhendo, determinará a retificação ou repetição da perícia. 
 Por outro lado, se aceito o laudo ou resolvidas as impugnações a seu respeito, será lavrado o termo 
das últimas declarações, que nada mais são do que o ato processual pelo qual se põe fim à fase do inventário 
dos bens (no qual o inventariante poderá emendar, aditar ou completar as primeiras), sobre as quais serão 
ouvidas as partes também num prazo de 15 dias, cabendo ao juiz decidir sobre eventuais impugnações (art. 
637). 
 Em seguida, não manifestando as partes, ou decidindo o juiz sobre as impugnações, procede-se ao 
cálculo do imposto causa mortis (ITCMD – a alíquota é progressiva9), sobre o qual também serão ouvidas 
todas as partes no prazo comum de 5 dias, e, em seguida, a Fazenda Pública, decidindo o juiz eventuais 
impugnações (art. 638). 
 
c.6) Pagamento das dívidas do autor da herança (art. 642 e ss) 
 Antes de se proceder à partilha, devem ser pagas as dívidas do falecido. Para tanto, o credor deverá 
se habilitar mediante petição acompanhada de prova literal da dívida, a qual será distribuída em 
dependência e autuada em apenso ao processo de inventário. 
 Se os herdeiros concordarem, o credor será habilitadoe os bens, suficientes à satisfação o crédito, 
separados para imediata alienação ou adjudicação, de acordo com as regras de expropriação previstas no 
código. 
 
9 De acordo com o art. 78 do Código Tributário Estadual, as alíquotas progressivas do ITCMD serão: 
• de 2% => quando a base de cálculo for igual ou inferior a R$ 25.000,00; 
• de 4% => base de cálculo exceder a R$ 25.000,00 até R$ 200.000,00; 
• de 6% => base de cálculo exceder a R$ 200.000,00 até R$ 600.000,00; e 
• de 8% => base de cálculo exceder a R$ 600.000,00. 
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 Mas, se surgir qualquer controvérsia, a habilitação deverá ser resolvida pelas vias ordinárias, 
resguardando eventual direito do credor pela reserva cautelar dos bens (art. 643, caput e parágrafo único). 
Contudo, passados 30 dias da efetivação de tal reserva, sem que o credor promova ação cabível (cobrança ou 
execução), a medida perderá eficácia. 
 Obs: credor de dívida líquida e certa, porém não vencida, poderá também requerer habilitação no 
inventário. Todavia, havendo concordância das partes, a reserva dos bens será feita para futuro pagamento. 
 
d) Partilha 
 Superadas todas as etapas anteriores, proceder-se-á a partilha, que poderá ser amigável ou judicial. 
 Se amigável, as partes, que deverão ser maiores e capazes, apresentarão negócio jurídico que será 
homologado pelo juiz por meio de sentença. Atenção: a partilha amigável, que ocorre no bojo do inventário 
judicial, não se confunde com a apresentada em Cartório de Notas no inventário extrajudicial, que dispensa 
homologação. 
 Não sendo amigável, dar-se-á vista às partes para que, no prazo comum de 15 dias, formulem o 
pedido de quinhão (cota parte que cabe a cada um), o qual será decidido pelo juiz, deliberando a partilha e 
designando os bens que deverão constituir o quinhão de cada herdeiro e legatário. Lembrando que, se houver 
um só sucessor, não haverá partilha, mas sim adjudicação. 
 O NCPC, no parágrafo único do art. 647, prevê, de forma inédita, a possibilidade de o juiz deferir 
antecipadamente a qualquer dos herdeiros o exercício dos direitos de usar e de fruir determinado bem, sob a 
condição de que, ao término do inventário, tal bem integre a cota desse herdeiro. 
 Também prevê a nova lei, no art. 649, que o bem não comporta cômoda divisão e que não couber na 
parte do cônjuge ou companheiro supérstite ou de um só herdeiro, será licitado entre interessados ou 
vendidos judicialmente, partilhando-se o valor apurado, salvo se houver acordo para que todos o 
adjudiquem. 
 Definidos os quinhões, o partidor, que é serventuário da justiça, elabora o esboço (plano) da 
partilha definitiva de acordo com a decisão judicial, onde se prevê o monte-mor, o abatimento das dívidas do 
espólio, bem como as despesas com funeral, os bens trazidos à colação, e, do resultado final, que é o monte 
partível, prevê a reserva da meação do cônjuge ou companheiro sobrevivente (se for o caso), dividindo a 
outra metade: em duas partes, a disponível e a legítima, se houver testamento; ou entre os herdeiros de 
acordo com a ordem de vocação hereditária (herdeiros necessários – cônjuge, descendentes e ascendentes; 
parentes colaterais) – art. 651. 
 Feito o esboço, as partes dele serão intimadas para, no prazo comum de 15 dias, se manifestarem 
(art. 652). Havendo impugnação, o juiz decidirá, o que, após, a partilha será lançada nos autos. 
 Comprovado o pagamento do imposto causa mortis e juntadas as certidões negativas de débitos 
fiscais (se houver dívida fiscal, é possível o julgamento da partilha se houver garantias – parágrafo único, art. 
654), o juiz profere sentença (de natureza constitutiva), homologando a partilha lançada nos autos. 
 Transitando em julgado a sentença de partilha, receberá o formal de partilha ou a carta de 
adjudicação (no caso de herdeiro único) para fins de registro. 
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 Lembrando que, de acordo com os arts. 657 e 658, caso haja vícios ou defeitos na partilha, caberá, 
no prazo de 1 ano, ação anulatória nos termos do art. 966, §4º, se tratar de partilha amigável, ou ação 
rescisória, consoante o art. 966, caput, no caso de partilha judicial (obs: em caso de investigação de 
paternidade post mortem, sendo a partilha já ultimada, tal situação não se sujeita ao prazo decadencial da 
rescisória, mas ao prazo prescricional de 10 anos para ajuizamento da respectiva ação de petição de herança, 
cf. Sumula 149 do STF). 
 Por fim, registra-se que, sendo descobertos bens sonegados ou surgindo novos bens, deverá se 
proceder à sobrepartilha (art. 669), aplicando-se as mesmas regras do processo de inventário e partilha, 
correndo nos mesmos autos. 
 
e) Arrolamento sumário do art. 659 do NCPC 
 Trata-se de um inventário simplificado, por serem os herdeiros maiores, capazes e concordes com a 
partilha, ou herdeiro único, independente dos valores dos bens, cujo procedimento é concentrado, 
suprimindo algumas fases e atos do inventário tradicional: 
- petição inicial: apresentada por todos os herdeiros, onde indicarão os dados do falecido, relação dos seus 
bens e o plano de partilha, além de já elegerem um inventariante; 
- o juiz recebe a petição e nomeia o inventariante indicado na inicial; 
- o juiz homologa a partilha, independentemente de recolher o tributo (o cálculo e o pagamento do imposto 
são feitos administrativamente, perante a secretaria da fazenda estadual). 
 
f) Arrolamento comum do art. 664 do NCPC 
 Cabível quando o valor dos bens deixados pelo falecido for igual ou inferior a 1.000 salários 
mínimos. Todavia, o procedimento já não é tão simplificado quanto o do sumário, senão vejamos: 
- petição inicial, instruída com a certidão de óbito; 
- nomeação do inventariante (segundo a ordem legal); 
- primeiras declarações, com atribuição de valores aos bens e plano de partilha; 
- citação dos herdeiros (intimação do MP, se houver herdeiros incapazes, ou testamento); 
- havendo acordo sobre a partilha e apresentadas as quitações fiscais, o juiz homologa; 
- havendo impugnação à avaliação feita pelo inventariante por qualquer das partes ou pelo MP, é necessária 
avaliação judicial, de cujo laudo serão ouvidas as partes; 
- impugnações serão decididas na audiência a ser designada, determinando o juiz o pagamento de eventuais 
dívidas; 
- pagamento do imposto; 
- juiz julga a partilha. 
 
 
 
 
37 
 
2.2.5 EMBARGOS DE TERCEIRO (arts. 674 a 680, CPC) 
 
a) Conceito: nos termos do art. 674, é o instrumento processual para aquele que, não sendo parte no 
processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito 
incompatível com o ato constritivo, requerer o seu desfazimento ou sua inibição. 
Vale lembrar que a regra é a responsabilidade patrimonial primária e, excepcionalmente, a secundária 
ou de terceiro (art. 790, CPC). Afora esses casos, se o terceiro sofrer penhora, poderá se defender pelos 
embargos de terceiro. 
 
b) Requisitos: 
- constrição ou ameaça de constrição judicial: ou seja, pressupõe um ato de constrição realizado, como 
penhora, depósito, arresto, sequestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha etc, 
ou ameaçado de ser praticado, ocasião em que os embargos serão preventivos. Ex: simples descrição, em 
inventário, do acervo patrimonial que irá compor o espólio; 
- ser o proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor do bem ou do direito apreendido ou ameaçado de 
apreensão (§1º art. 674): portanto, tem por finalidade a defesa não só da posse ou da propriedade de bens, mas 
também de qualquer direito (real ou pessoal) atingido ou ameaçado de ser atingido indevidamente por ato 
judicial de apreensão, como, por exemplo, quotas de sociedade, créditos e outros direitos patrimoniais, etc. 
Na verdade, os embargos de terceiro são um instrumento de proteção à posse, uma vez que o ato de 
constrição ou a sua ameaça não passam de um esbulho ou turbação, porém realizados por ato judicial. 
- qualidadede terceiro em relação ao processo do qual emanou a ordem judicial: ou seja, não ter participado 
de processo de conhecimento ou de execução, processo penal, trabalhista, ou falimentar. 
 
c) Legitimidade 
c.1) ativa (embargante): nos termos do at. 674, §1º, o embargante pode ser terceiro proprietário, inclusive 
fiduciário, ou o possuidor. Equipara-se a terceiro para ajuizamento dos embargos (§2º): 
I - o cônjuge ou companheiro quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação (Sum. 134, STJ). 
Importante lembrar que se o cônjuge é co-executado, ou seja, é responsável pela dívida porque foi contraída a 
bem da família (art. 73, §1º, III), deve utilizar os embargos à execução, pois não será terceiro, mas executado. 
II – o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada 
em fraude à execução: por meio dos embargos, o terceiro adquirente pode demonstrar que agiu de boa-fé, 
caso a presunção do conluio fraudulento for relativa, admitindo prova em contrário. Se tratar de fraude 
contra credores, não caberão embargos de terceiro, pois tal matéria deverá ser veiculada por ação própria, a 
saber, ação pauliana ou revocatória (Súmula 195 do STJ). 
III – quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de 
cujo incidente não fez parte. 
IV – o credor com garantia real para obstar expropriação judicial objeto de direito real de garantia, caso não 
tenha sido intimado, nos termos legais (art. 804), dos atos expropriatórios respectivos: isso porque, caso 
38 
 
tenha sido intimado, de acordo com o art. 799, então seria o caso de o credor com garantia real exercer o 
protesto pela preferência, ingressando na execução, e não embargar de terceiro. 
 
A doutrina e a jurisprudência também reconhecem que tem também legitimidade ativa: 
- o assistente que figura no processo, mas defende direito do assistido; 
- o adquirente que não registrou o compromisso de compra e venda (Sum. 84, STJ). Todavia terá que arcar com os ônus 
sucumbenciais por ter, face à ausência do registro, possibilitado a penhora do bem (Súm. 303, STJ - em 
embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios - 
princípio da causalidade); 
- cônjuge ou filhos do devedor para defender bem de família, na omissão deste; 
 
c.2) passiva (embargado): tanto aquele que se aproveita do ato de constrição quanto o seu adversário no 
processo principal caso a iniciativa pela constrição tenha sido deste (art. 677, §4º). Então, por exemplo, se, 
numa execução, quem indicou o bem à penhora foi o próprio executado, deverão figurar no pólo passivo dos 
embargos, em litisconsórcio necessário, tanto o exequente, que se beneficia da penhora, como o executado 
que indicou o bem. 
 
d) Prazo (art. 675) 
- se decorre de processo de conhecimento, os embargos podem ser opostos enquanto a sentença não tiver 
transitado em julgado. 
Todavia, com o advento da Lei 11.232/05, o trânsito em julgado não representa mais o fim do processo 
de conhecimento, vez ser possível o início da fase de cumprimento de sentença quando houver condenação 
em obrigação de pagar quantia. Dessa forma, deve-se admitir a oposição dos embargos de terceiro após o 
trânsito em julgado da sentença. 
- se decorre do cumprimento de sentença e de processo de execução: os embargos poderão ser opostos até 5 
dias da lavratura do auto de arrematação, adjudicação ou da alienação por iniciativa particular, mas sempre 
antes da assinatura da respectiva carta. 
Deve-se, na verdade, fazer uma interpretação extensiva a contar o prazo a partir da inequívoca ciência 
do terceiro acerca do ato de constrição judicial, que não necessariamente coincidirá com o dia da arrematação 
ou adjudicação. 
Aliás, o NCPC inova ao estabelecer, no art. 675, parágrafo único, a possibilidade de o juiz determinar 
a intimação pessoal do terceiro que seja identificado como titular do interesse em embargar o ato. 
 A não observância do prazo implicará apenas na perda da faculdade do terceiro se valer do 
procedimento especial, não o impedindo de buscar o direito material pela via ordinária. 
 
e) Competência: será competente para o procedimento especial dos embargos de terceiro o juízo que ordenou a 
constrição do bem (art. 676). Portanto, trata-se de competência funcional, logo, absoluta. Assim, serão 
39 
 
distribuídos por dependência aos autos do processo principal, que deu origem à constrição, mas 
formalizados em autos apartados. 
 Todavia, se os embargos forem opostos pela União, autarquias ou empresas públicas federais, a 
competência será da Justiça Federal, ainda que a ação principal tramite na Justiça Estadual, prevalecendo o 
critério pessoal previsto no art. 109, I, da CF. 
 Por outro lado, estando os autos do processo principal no segundo grau, ante a pendência de recurso, 
e a constrição decorrer da execução provisória da decisão, os embargos deverão ser ajuizados perante o juízo 
de primeiro grau. Só serão opostos diretamente no tribunal, se a ação principal for de sua competência 
originária. 
 Por fim, vale lembrar o disposto na Sumula 33 do extinto TRF quanto às execuções por carta: “o 
juízo deprecado, na execução por carta, é o competente para julgar os embargos de terceiro, salvo se o bem 
apreendido foi indicado pelo juízo deprecante” ou se já devolvida a carta. Este entendimento foi absorvido 
pelo NCPC que previu o parágrafo único no art. 676. 
 
f) Procedimento 
f.1) Petição inicial (art. 319 e art. 677, NCPC): 
- o pedido é para desfazer o ato constritivo (reintegrando na posse) ou inibir a sua prática (mantendo-se na 
posse); 
- deve estar instruída com a prova sumária da posse ou de seu domínio e da qualidade de terceiro no 
processo; 
- deve conter o rol de testemunhas (se for necessária a prova testemunhal); 
- valor da causa: em princípio, é o valor do bem apreendido. Segundo entendimento jurisprudencial, se o 
valor do bem for maior que o valor da execução, este último será o valor dos embargos de terceiro. 
 
f.2) Liminar: 
- provado o domínio ou a posse (basta verossimilhança), é possível a concessão de liminar possessória; 
- não havendo prova documental da posse é possível designação de audiência preliminar (art. 677, §1º). 
- consiste na suspensão das medidas constritivas sobre os bens litigiosos (se proprietário), bem como na 
expedição de mandado de manutenção ou de reintegração provisória da coisa, se o embargante tiver 
requerido (se possuidor) - art. 678, caput; 
- a ordem de manutenção ou reintegração poderá estar condicionada pelo juiz à prestação de caução, salvo se 
a parte for economicamente hipossuficiente (art. 678, parágrafo único). 
 
f.3) Citação: 
- nos termos do art. 677, §3º, NCPC, a citação nos embargos será pessoal, se o embargado não tiver advogado 
constituído na ação principal; do contrário, será citado na pessoa do advogado mediante publicação do 
despacho no órgão oficial. 
 
40 
 
f.4) Resposta do réu: citado, o embargado terá um prazo de 15 dias (art. 679, NCPC) para oferecer defesa 
(contestação), findo o qual seguirá o procedimento comum. 
 O embargado poderá deduzir qualquer matéria de defesa, salvo nos embargos opostos por credor 
com garantia real, cujas matérias limitam-se às previstas no art. 680 (só poderá alegar que o devedor comum 
é insolvente; que o título é nulo ou não obriga a terceiro; ou que outra é a coisa dada em garantia). 
 
f.5) Após o prazo da resposta, segue-se o procedimento comum: julgamento antecipado da lide em caso de 
revelia (com aplicação da presunção de veracidade). Caso contrário, contestando o embargado no prazo, o 
juiz designará audiência de instrução e julgamento, se houver necessidade de produção de provas orais. 
 
f.6) Sentença (art. 681): 
- acolhido o pedido principal, o ato de constrição é cancelado, com o reconhecimento do domínio, da 
manutenção daposse ou da reintegração definitiva do bem ou do direito ao embargante, liberando a caução 
eventualmente prestada; 
- da sentença caberá apelação, em ambos os efeitos (há quem faça analogia com o art. 1.012, III - apelação só 
no devolutivo se tratar de sentença de improcedência nos embargos à execução). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
2.2.6 AÇÃO MONITÓRIA (arts. 700 a 702, CPC/15). 
 
a) Noções gerais 
A ação monitória é considerada uma tutela diferenciada: para o legislador, pareceu injusto que o 
credor que tivesse prova escrita da obrigação tivesse que se submeter ao mesmo procedimento dos credores 
sem prova escrita. Por isto, criou o procedimento monitório, para permitir que o juiz pudesse, com cognição 
sumária formada a partir da prova escrita, determinar o cumprimento da obrigação antes da sentença final. 
 
b) Cabimento 
Segundo determina o art. 700 do NCPC, “a ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, 
com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter o direito de exigir do devedor capaz: 
I - pagamento de quantia em dinheiro; 
II – a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel; 
III – o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer”. 
 
b.1) prova escrita: a jurisprudência brasileira é bastante liberal quanto à admissão da prova escrita para fins 
de ação monitória. O que importa é que o documento ofertado pelo credor sinalize, de modo verossímil, a 
existência da obrigação, carecendo-lhe, no entanto, de força executiva. Exemplos: 
• contrato sem assinatura de duas testemunhas; 
• título de crédito prescrito (sum. 299 STJ); 
• documentos unilaterais emitidos pelo credor (sum. 384 STJ); 
• duplicata mercantil sem comprovante de entrega da mercadoria; 
• contrato de cartão de crédito. 
O novo CPC, no art. 700, §1º, amplia a possibilidade de a prova escrita consistir em prova oral 
documentada, produzida antecipadamente nos termos do art. 381 (por arrolamento de bens sem finalidade 
de apreensão, por produção antecipada de provas e por justificação). 
Portanto, nota-se que o cabimento da ação monitória está intimamente ligado à existência de prova 
escrita desprovida de eficácia de título executivo; pois, do contrário, caso não haja a prova, ou, havendo-a, for 
dotada de eficácia executiva, não seria o caso de monitória. 
No primeiro caso (ausência de qualquer documento), restar ao autor ajuizar ação de cobrança, pelo 
rito comum; no segundo caso (prova com eficácia de título executivo), o interesse do credor é pela via 
executiva, ou seja, pela ação de execução. Para esclarecer melhor tais diferenças, segue abaixo o quadro 
comparativo entre tais ações: 
 
 
 
 
 
42 
 
AÇÃO DE COBRANÇA AÇÃO MONITÓRIA EXECUÇÃO 
Cabível quando o credor não tem 
nenhuma prova escrita da 
obrigação. 
 
 
Cabível quando o credor possui prova 
escrita da obrigação, sem eficácia de título 
executivo. 
Cabível quanto o credor 
possui título executivo. 
Processo de conhecimento, pelo 
procedimento comum. 
Processo de conhecimento, por 
procedimento especial. 
Processo de execução. 
CUIDADO: o ajuizamento da ação monitória é uma faculdade do credor. Se ele 
quiser, pode ajuizar ação de cobrança. 
facultativo tbm (art. 785) 
 
c) Objeto 
 A ação monitória tem por objeto o cumprimento de qualquer obrigação, seja de dar quantia/pagar, 
seja de entregar coisa, móvel ou imóvel, fungível ou infungível, e até mesmo obrigação de fazer ou não fazer. 
 
d) Procedimento 
 
d.1) petição inicial: deve observar os requisitos genéricos dos arts. 319 e 320 do NCPC, ou seja, deve conter: 
- endereçamento (competência): foro do local do cumprimento da obrigação (art. 53, III, d, NCPC), salvo se 
houver cláusula de eleição de foro no documento firmado entre as partes. 
- legitimidade: ativa - o credor da obrigação; e passiva - o devedor da obrigação, desde que capaz, inclusive a 
Fazenda Pública (Sum. 339, STJ e art. 700, §6º, NCPC). 
- causa de pedir: além de narrar a lide, consistente na obrigação inadimplida, nos termos do §2º do art. 700, 
NCPC, o autor deverá explicitar: 
• a importância devida, instruindo-a com a memória de cálculo (o que já estava consagrado na doutrina), 
se tratar de obrigação da pagar; 
• o valor atual da coisa reclamada, em caso de obrigação de entrega de coisa; ou 
• o conteúdo patrimonial em discussão ou proveito econômico perseguido, no caso de obrigação de fazer 
ou não fazer. 
 
Obs: segundo o STJ, é desnecessário constar da petição inicial a origem da obrigação (causa debendi). Todavia, 
é obrigatório que a petição esteja acompanhada da prova escrita sem força executiva que prova a existência 
da obrigação, pois é por ela que o direito do autor restará evidenciado (cognição sumária do juiz para 
expedição do mandado monitório). 
 
- pedido: 
43 
 
• expedição do mandado monitório, consistente no pagamento, na entrega da coisa ou na execução de 
obrigação de fazer ou não fazer; 
• citação do réu para cumprir o mandado monitório, bem como pagar o valor de 5% sobre o valor da causa 
à título de honorários advocatícios, no prazo de 15 dias, ou oferecer embargos nos termos do art. 702, NCPC, 
sob pena de constituir-se de pleno direito o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em 
executivo e prosseguindo na forma dos artigos 513 e seguintes do Novo Código de Processo Civil; 
• produção de provas, em especial a juntada da prova escrita sem força executiva, que deverá instruir a 
inicial. 
 
- valor da causa: corresponderá ao valor da obrigação cujo adimplemento se busca (§3º, art. 700, NCPC). 
 
d.2) Juízo de admissibilidade: proposta a ação, o juiz proferirá um juízo de admissibilidade, verificando a 
existência ou não de prova escrita que evidencie o direito ao crédito, ocasião em que receberá ou indeferirá a 
petição inicial. 
Havendo dúvida quanto à idoneidade da prova documental, o juiz intimará o autor para emendar a 
inicial, adaptando-a ao rito comum (art. 700, §5º, NCPC), não obstante nada impede o juiz que determine a 
emenda por outro motivo (art. 321, NCPC). 
Caso o autor não emende a petição inicial ou não observe as regras do §2º (explicitação do valor da 
obrigação), o juiz indeferirá a petição inicial (§4º do art. 700). 
Mas, recebida que seja a petição inicial, o juiz, mediante cognição sumária, analisará se há ou não 
verossimilhança na alegação. Sendo evidente o direito, ele deferirá a expedição do mandado monitório, 
determinando a citação do réu. ATENÇÃO: a decisão do juiz que admite a monitória é irrecorrível, uma vez 
que o devedor poderá se defender na ocasião dos embargos à monitória. Ademais, o NCPC previu apenas o 
cabimento de ação rescisória como meio de impugnação contra tal decisão (art.701, §3º, NCPC). 
 
d.3) Citação 
Nos termos do §7º do art. 700 do NCPC, a citação do réu no procedimento monitório poderá ser por 
qualquer dos meios permitidos no rito comum (inclusive, por edital, conforme enunciava a Súmula 282 do 
STJ). 
Como já dito, o devedor é citado para, no prazo de 15 dias, cumprir a obrigação contida no mandado 
monitório, bem como pagar 5% sobre o valor da causa à título de honorários advocatícios, ou para oferecer 
embargos. 
 
d.4) Possíveis reações do devedor: 
 
- cumprimento da obrigação (art. 701, §1º): haverá sanção premial, com isenção somente das custas (no velho 
CPC, havia também isenção de honorários advocatícios), pondo fim ao procedimento; 
 
44 
 
- inércia (não cumprir a obrigação E não embargar- art. 701, §2º): conversão do mandado monitório em título 
executivo judicial, prosseguindo o processo em sua fase de cumprimento de sentença (arts. 513 e seguintes 
do NCPC), contra a qual caberá ação rescisória, e não recurso, como já dito anteriormente. 
 
- oferecimento de embargos: a ação prossegue pelo rito comum com a suspensão do mandado monitório até o 
julgamento final em 1º grau.d.5) Embargos à ação monitória (o art. 702 do NCPC apenas aperfeiçoou o lacunoso art. 1.102-C, CPC/73): 
- é o meio de defesa do devedor (não cabe contestação); 
- não há necessidade de garantia do juízo; 
- tem efeito suspensivo: fica suspensa a conversão do mandado monitório em título judicial até o julgamento 
dos embargos em primeiro grau (§4º); 
- a matéria de defesa é ampla (as mesmas do rito comum, ou seja, aplicam-se as mesmas regras dos embargos 
à execução – ex: excesso de execução – demonstrativo de débito, sob pena de rejeição liminar dos embargos 
se for o único fundamento de defesa; ou não examinados, caso haja outro fundamento -§3º); 
- são processados nos próprios autos (mas poderão, a critério do juiz, ser autuados em apartado se parciais - 
§7º, convertendo em título judicial em relação à parcela não embargada); 
- o autor será intimado para responder aos embargos em 15 dias (§5º); 
- como, no caso de oposição de embargos a ação monitória segue o procedimento comum, é cabível 
reconvenção (Sum. 292 do STJ; art.702, §6º, NCPC); 
- se rejeitados, também constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, seguindo as regras do 
cumprimento de sentença, no que for cabível; 
- cabe apelação da decisão que acolhe ou rejeita os embargos (§9º); 
- os §§10 e 11 do art. 702 prevêem a possibilidade de aplicação de multas ao autor que, de má-fé, valeu-se 
indevidamente da ação monitória ou ao réu que, de má-fé, tenha apresentado embargos. Tal multa é de 10% 
sobre o valor da causa, a qual reverterá a favor da parte contrária. 
Vale registrar que, estranhamente, o NCPC, que proibiu o direito ao parcelamento de dívida no 
cumprimento de sentença, o admite na monitória (art. 701, §5º). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
2.2.7 DEMAIS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA 
 
a) Ação de divisão e demarcação de terras particulares (arts. 569 a 598, CPC) 
 Dentre os poderes do proprietário, inclui-se o de forçar a demarcação de sua terra e de dividir o 
prédio comum, pois a incerteza quanto aos limites e a comunhão geram embaraços ao exercício do direito de 
propriedade. 
 A ação de demarcação é cabível para que o proprietário obrigue o confinante a estremar os 
respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou aviventando-se os já apagados. 
 Já a ação de divisão é cabível para que qualquer condômino obrigue os demais consortes a partilhar 
a coisa comum, intimando os demais para, querendo, intervir no feito. 
 Quanto à demarcação, o NCPC inova ao admitir a versão extrajudicial por escritura pública, desde 
que maiores, capazes e concordes todos os interessados. Outra novidade é a sentença que não se limita mais 
declarar a demarcação, mas pode também determinar a restituição da área invadida, se houver, declarando o 
domínio ou a posse do prejudicado. 
 Quanto à divisão, poucas também foram as novidades trazidas pela nova lei processual: 
desnecessidade de o perito, nomeado pelo juiz para proceder à divisão, prestar compromisso; pequenas 
alterações de prazos. 
 Lembrando, ainda, tanto num quanto noutro caso, eventual apelação continuará sendo recebida 
apenas no efeito devolutivo (cf. art. 1.012, §1º, I). 
 
b) Habilitação (arts. 687 a 692, CPC) 
 Procedimento através do qual os sucessores da parte que faleceu ingressam em juízo para recompor 
a relação processual afetada pela morte. 
 No NCPC a habilitação, em qualquer situação, dependerá de sentença, a ser proferida nos meus 
autos do processo principal, para tanto suspenso, cuja retomada está condicionada ao trânsito em julgado da 
mesma. 
 Uma outra novidade interessante é a possibilidade de sua autuação em apenso caso haja 
impugnação pelas partes e necessidade de dilação probatória, o que ensejará a obrigatoriedade de se levar aos 
autos principais cópia da sentença de habilitação. 
 
c) Restauração de autos (arts. 712 a 718, CPC) 
 Procedimento cabível quando os autos de um processo desaparecem, visando recompor os atos 
processuais. 
 Pela disciplina dada pelo NCPC, tal procedimento é cabível também quando se tratar de autos 
eletrônicos (trazer as cópias originais a juízo para recompor os autos), e a iniciativa cabe a qualquer das 
partes, ao Ministério Público, ou ao juiz, de ofício. 
 
Obs: Deixaram de existir com o NCPC as seguintes ações de rito especial: 
46 
 
- ação de depósito: agora a sua disciplina é encontrada no art. 311, III, CPC; 
- ação de anulação e substituição de títulos ao portador (arts. 907 a 913 CPC); 
- ação de nunciação de obra nova; 
- ação de usucapião (na verdade, esta ação apenas deixou de ser de rito especial, como já entendido pela 
doutrina, e passou a ser tratada como de rito comum); 
- venda a crédito com reserva de domínio. 
 Persistem dúvidas entre os operadores do direito, de como proceder, quanto à proteção dos direitos 
dos jurisdicionados, frente a uma nova situação, em que seria cabível uma ação judicial que em tese se 
aplicaria um destes procedimentos extintos. 
Certo é que os direitos protegidos pelas ações excluídas poderão ser resguardados ou protegidos por 
meio de ações que seguirão o procedimento comum previsto no Novo CPC, com a possibilidade de utilização 
das tutelas provisórias, cabíveis em cada caso concreto, para proteção de situações de urgência, em que se 
demonstre o risco de dano irreparável e de difícil reparação. 
Especificamente, quanto ao pedido de usucapião, merece destaque a possibilidade do mesmo ser 
requerido administrativamente, pelo meio extrajudicial, conforme a autorização do art. 1071, do Novo CPC, 
que alterou a Lei 6.015/73, que trata dos registros públicos, acrescentando-lhe o art. 216-A que assim dispõe: 
“Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que 
será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o 
imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruindo com……”. 
 
 Por outro lado, o CPC INOVA ao prever as seguintes ações: 
- ação de dissolução parcial de sociedade: prevista no artigo 599, e que tem por objeto a resolução da 
sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito 
de retirada ou recesso; a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada 
ou recesso; ou tão somente a resolução ou a apuração de haveres. 
- ação de oposição: prevista no artigo 682 do CPC como ação autônoma entre um terceiro e as partes de um 
processo em curso, deixando, portanto, de ser tratado como modalidade de intervenção de terceiro, 
conforme os artigos 56 a 61 do código processual revogado. 
- ações de família: ganham destaque especial no NCPC, a partir do artigo 693 e que têm por objeto os 
processos contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento e extinção de união estável, guarda, visitação 
e filiação. 
- ação da regulação de avaria grossa: com previsão nos artigos 707 a 711, e relacionada ao direito marítimo. 
- ação de homologação de penhor legal: está disciplinada no art. 703. Mas, anteriormente, sob a égide do CPC 
revogado, era tratada como medida cautelar típica, apesar de a doutrina sempre tê-la considerado uma 
medida satisfativa consistente em homologar penhor legal em favor de hoteleiros, fornecedores de 
alimentos/pouso e locadores de imóvel. Inova o CPC ao prever tal procedimento extrajudicialmente perante 
o cartório, mediante escritura pública. 
 
47 
 
2.2.8 PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA 
 
a) Considerações gerais 
 
A jurisdição voluntária, também conhecida como jurisdição graciosa ou administrativa, é aquela 
exercida inter volentes, isto é, entre pessoas que não estão litigando, mas que têm interesses comuns. 
Segundo a doutrina até pouco tempo majoritária, que se filia à teoria clássica ou administrativista 
(Frederico Marques), a jurisdiçãovoluntária não é jurisdição, mas apenas uma administração judicial de 
interesses privados, já que a autoridade judicial intervém não para compor um litígio, pois que este nem 
sequer existe, mas, sim, para dar validade, chancelar, homologar um ato ou negócio jurídico firmado pelas 
partes. 
Já a jurisdição contenciosa, ou jurisdição propriamente dita, pressupõe um litígio (contenda) a ser 
resolvido pelo Estado. 
Logo, é tradicional apontarem as seguintes diferenças entre jurisdição voluntária e contenciosa: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Todavia, convém notar que boa parte da parcela da doutrina (como Dinamarco, Ovídio Baptista, 
Leonardo Greco, Calmon de Passos, Didier Jr entre outros) filia-se a teoria revisionista, segundo a qual será 
considerada jurisdição sempre que o juiz aprecia um caso concreto, conflituoso ou não, decidindo-o 
(aplicando a lei) ou simplesmente homologando-o. 
 Partem de 7 premissas, que podem assim ser resumidas: 
1ª) A jurisdição voluntária não pressupõe lide => mas isso não significa dizer que não há lide na jurisdição 
voluntária (ex: interdição e retificação de assento civil, que normalmente dão ensejo a controvérsias; 
divergências entre pai e menor que queira se emancipar). 
2ª) A definição de jurisdição deve ser subjetiva => ou seja, a jurisdição é uma atividade exercida por juízes, 
com todas as garantias constitucionais da magistratura, façam ou não parte do Judiciário. E não há dúvidas 
de que a jurisdição voluntária é exercida por juízes. 
CONTENCIOSA VOLUNTÁRIA 
Lide Interesses comuns 
Ação Requerimento 
Partes Interessados 
Contraditório Sem contraditório 
Processo Procedimento 
Sentença Decisão homologatória 
Coisa julgada Sem Coisa julgada 
Atividade judicial de 
natureza jurisdicional 
Atividade judicial de 
natureza 
administrativa 
48 
 
3ª) O processo é um instrumento para produzir a norma jurídica => seja no processo legislativo, 
administrativo ou jurisdicional. Não se pode negar a existência de processo, como relação jurídica 
estabelecida entre os interessados e o juiz, na jurisdição voluntária, e, por consequência de todos os atos nele 
praticados, como petição inicial, citação (art. 721, CPC), sentença, apelação (art. 724, CPC) etc. Há 
contraditório em qualquer processo, inclusive no administrativo (art.5º, LV, CF). 
4ª) A jurisdição é sempre exercida por um terceiro imparcial => inclusive na jurisdição voluntária, ao 
contrário do que ocorre na atividade administrativa, que age em seu próprio interesse (do Estado - interesse 
público secundário) ou no interesse da coletividade (interesse público primário), e não no interesse dos 
particulares. 
5ª) Se há processo e jurisdição, há AÇÃO 
6ª) Há partes => não se pode confundir a parte em sentido substancial, que pertence à lide, com a parte em 
sentido processual, que é o sujeito parcial da relação jurídica processual. Surgido o processo, os interessados 
viram partes. 
7ª) Há coisa julgada => a decisão proferida em sede de jurisdição voluntária tem aptidão para formar coisa 
julgada, ou seja, tendem a se tornar indiscutíveis e imodificáveis quando não mais sujeita a recurso. Tanto é 
certo que o art. 724 do CPC prevê o cabimento do recurso de apelação contra a sentença proferida no âmbito 
da jurisdição voluntária. 
Ademais, a homologação judicial dada na jurisdição voluntária, e que é uma faculdade aos 
interessados quando estes preferem a solução pela via administrativa (como no caso do divórcio consensual 
em cartório; ou no caso do acordo extrajudicial), confere estabilidade maior ao ato, uma vez que só poderá 
ser desconstituído por ação anulatória (art. 966, §4º, CPC). 
Em que pese o STJ filiar-se à concepção administrativista da jurisdição voluntária, tem firmado 
entendimento de que “não é possível rever decisão em jurisdição voluntária, ressalvada a existência de fato 
superveniente”, como em qualquer decisão. 
Os procedimentos de jurisdição voluntária se subdividem em procedimento comum (arts. 719 a 725, 
CPC10) e especial (arts. 726 a 770, CPC) . 
São regras específicas do procedimento comum da jurisdição voluntária (arts. 720 a 724): 
- inicia-se por provocação do interessado ou do Ministério Público, ou da Defensoria Pública; 
- todos os interessados devem ser citados, 
- o MP só intervém nos casos em que deve atuar como fiscal da lei (art. 82 do CPC); 
- a Fazenda Pública será sempre ouvida nos casos em que tiver interesse; 
- o prazo para resposta é de 15 dias; 
 
10 Processar-se-ão no procedimento comum de jurisdição voluntária os pedidos de: 
I – emancipação; 
II – sub-rogação; 
III – alienação, arrendamento ou oneração de bens de crianças ou adolescentes, de órfãos e de interditos; 
IV – alienação, locação e administração de coisa comum; 
V – extinção de usufruto e de fideicomisso; 
VI – expedição de alvará judicial; 
VII – homologação de autocomposição extrajudicial. 
49 
 
- o juiz pode investigar livremente os fatos, ordenar de ofício as provas e decidir por critérios de equidade 
(art. 723, parágrafo único); 
- cabe apelação da sentença; 
- circunstâncias supervenientes possibilitam a modificação da sentença. 
 
b) Alienações judiciais (art.730, NCPC): cabível quando bens depositados judicialmente forem de fácil 
deterioração, estiverem avariados ou exigirem grandes despesas para a sua guarda, a fim de que sejam 
alienados em leilão. Para o NCPC, é suficiente para que haja alienação judicial a falta de acordo entre os 
interessados sobre o modo como ela deve ser realizada. 
 
c) Separação consensual (arts. 731 a 734, NCPC): em razão da EC 66/2010, que alterou o art. 226, § 6º, CF, 
prevalece que não há mais ação de separação, mas sim de divórcio. Este também é o entendimento mais 
recente do STF, fixado em tese de repercussão geral (Tema 1.053). 
 Embora o procedimento previsto no CPC trate de separação consensual, ele é utilizado para que o 
casal requeira o divórcio consensual. 
 Além do procedimento judicial, o art. 733 do CPC trata do divórcio por escritura pública 
(administrativo). São requisitos para a lavratura da escritura: 
- inexistência de filhos menores ou incapazes do casal, 
- acordo quanto aos termos do divórcio, 
- assistência por advogado. 
 O NCPC, nos arts. 731 a 734, amplia ao prever o divórcio e, principalmente, a extinção consensual 
de união estável, submetendo ambos ao mesmo procedimento. Outra inovação, mas que nada tem a ver com 
as demais figuras aqui descritas, é a possibilidade de pedido de alteração de regime de bens (art. 734), desde 
que não prejudique terceiros. 
 
d) Testamentos e codicilos (arts. 735 a 737, NCPC): procedimento anterior à execução do testamento/ 
codicilo, por meio do qual o juiz determina o seu cumprimento. 
 
e) Herança jacente (arts. 738 a 743, NCPC): herança jacente é a que não há herdeiros ou eles são 
desconhecidos ou os conhecidos renunciaram à herança. Trata-se de um procedimento cabível para a 
arrecadação dos bens do falecido, que não deixou herdeiros ou curador, para declará-la jacente, depois 
vacante, visando sua transferência ao poder público. 
 
f) Arrecadação de bens de ausente (arts. 744 e 745, NCPC): procedimento que tem por objetivo o 
reconhecimento da ausência de uma pessoa, a arrecadação e a destinação devida de seu patrimônio. 
 
g) Arrecadação das coisas vagas (arts. 746, NCPC): é o procedimento que tem por finalidade apurar o 
dono ou legítimo possuidor de coisas achadas. 
50 
 
h) Interdição e tutela (arts. 747 a 758, NCPC): por meio da ação de interdição, declara-se que uma pessoa 
com mais de 18 anos de idade é incapaz para a prática de atos da vida civil. Decretada a interdição, será 
nomeado um curador ao interditado. 
 
i) Organização e fiscalização das fundações (arts. 764 e 765, NCPC): procedimento cuja finalidade é 
permitir ao MP fiscalizar a formação e atuação das fundações. 
 
j) Notificação e interpelação (art. 726, NCPC): no CPC revogado era procedimentocautelar típico, porém 
apenas nominativo; já no Novo CPC passa a ser procedimento especial de jurisdição voluntária e tem por 
finalidade intimar alguém para constituí-lo em mora. 
 
k) Ratificação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis formado a bordo (art. 766 a 
770, NCPC): o objetivo é dar publicidade adequada ao Diário da Navegação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
2.2.9 JUIZADOS ESPECIAIS 
 
a) Normas aplicáveis: 
- art. 98, I, e § 1º, CF 
- Lei 9099/95 (juizados especiais cíveis e criminais – JEC), 
- Lei 10.259/01 (juizados especiais federais – JEF), 
- Lei 12.153/09 (juizados especiais das fazendas públicas – JEFP). 
 
b) Espécie de procedimento: 
- 1ª corrente: procedimento especial de legislação extravagante (procedimento sumaríssimo); 
- 2ª corrente: espécie de justiça especializada, assim como a justiça do trabalho e a justiça eleitoral (o 
procedimento adotado é o comum dos juizados especiais). 
 
c) Sistema dos juizados especiais: 
- os três juizados compõem um único sistema processual, uma vez que todos eles têm a mesma finalidade 
comum, qual seja, a de julgar as causas de menor complexidade. 
- entre eles, haverá aplicação integrativa dos diversos diplomas normativos (aplicação intercomunicante). 
Em caso de omissão, aplica-se o Novo Código de Processo Civil. 
- os Juizados não se vinculam à Justiça comum, tendo estrutura própria e diferenciada, ou seja, são 
compostos, além dos auxiliares da justiça, de: juiz togado (de direito); juiz leigo (bacharel em Direito com, 
no mínimo, 2 anos de prática na advocacia); conciliador (preferencialmente, bacharel em Direito, mas pode 
ser estudante); e turma recursal (3 juízes togados em exercício no 1º grau). 
 
d) Princípios informativos: oralidade (concentração dos atos em audiência, imediatidade entre o juiz e a 
fonte da prova oral, e identidade física do juiz); simplicidade; informalidade; economia processual; 
celeridade; e autocomposição (art. 2º Lei 9099/95). 
 
2.2.9.1 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS – Lei 9099/95 
 
a) Opção do autor pelos juizados especiais cíveis: pois as hipóteses coincidem com as de cabimento do rito 
sumário (Enunciado 1, FONAJE–Fórum Nacional dos Juizados Especiais). Apesar do fim do rito sumário no 
NCPC, continuará a ser opcional ao autor o Juizado, vez que o rito comum da Justiça comum encampa o rito 
sumaríssimo. 
 
b) Cabimento (art. 3º - rol taxativo/ Enunciado 30, FONAJE) 
- critério valorativo: processo de conhecimento e execução até 40 salários mínimos. Se o pedido for superior 
a 40 salários mínimos, há renúncia tácita ao excedente (art. 3º, § 3º). 
 
52 
 
- critério material: artigos 3o, II e III, e 3º, §1º, I, Lei 9099/95, ou seja, as hipóteses do art. 275, II, CPC 
(procedimento sumário) e no caso de despejo para uso próprio. Não há limite de valor (En. 58, FONAJE).. 
Portanto, não se pode falar que juizado só julga causa de valor de até 40 salários mínimos. 
 Todavia, o NCPC, em seu art. 1.063, prevê que, até a edição de lei específica que venha alterar a Lei n. 
9.099, os Juizados continuam competentes para o processamento e julgamento das causas previstas no art. 
275, II, o qual foi revogado no NCPC. 
 
- critério misto: artigo 3º, IV, 9099/95 - ações possessórias sobre imóveis de valor não excedente a 40 salários 
mínimos. 
 
c) Não cabimento (art. 3º, § 2º): 
- causas de natureza alimentar; 
- causas falimentares; 
- causas fiscais e de interesse da Fazenda Pública (cabíveis nos JEF e JEFP); 
- causas relativas a acidente de trabalho (competência da Justiça do Trabalho quando o réu é o empregador 
ou da Justiça Federal, quando o réu é o INSS); 
- causas relativas ao estado e capacidade das pessoas; 
- procedimentos especiais (En. 8, FONAJE), salvo as possessórias dentro da alçada prevista; e os embargos 
de terceiros têm sido admitido às pessoas excluídas pelo §1º do art. 8º (En. 155, FONAJE); 
- ações coletivas (En. 32, FONAJE); 
- causas de complexidade elevada (STF, RE 537.427; art. 3, caput): aquelas que precisam de perícia nos 
moldes tradicionais. Portanto, não cabe quando depender de perícia formal. Mas isso não significa não possa 
haver a realização de perícia, desde que seja, nos termos do art. 35, Lei 9099, perícia simplificada, ou seja, 
perícia informal, onde só há oitiva do perito, sem laudo técnico. 
 
d) Competência territorial (art. 4º): a ação pode ser proposta: 
- no domicílio do réu; 
- no lugar onde a obrigação deva ser satisfeita; 
- no domicílio do autor ou no local do ato ou fato, nas ações de indenização (dano de qualquer natureza – 
não se aplica o parágrafo único do art. 100, CPC). 
Nos termos do art. 51, III, da Lei 9.099, a incompetência territorial no sistema dos juizados (aplica-
se, portanto, a todos os Juizados) pode ser reconhecida de ofício e acarreta a extinção do processo sem 
julgamento do mérito. 
 
e) Partes (art. 8º,§1º ) 
e.1) Legitimidade ativa: 
- pessoa física e capaz, exceto os cessionários de direito de pessoas jurídicas; 
- microempresa e empresa de pequeno porte (En. 47 e 48, FONAJE); 
53 
 
- pessoa jurídica qualificada como OSCIP; 
- sociedade de crédito ao microempreendedor; 
 
e.2) Legitimidade passiva: quaisquer pessoas físicas ou jurídicos, excluídos os que a lei proíbe. 
 
OBS: Não podem ser parte – nem autor, nem réu (art. 8º, caput): 
- incapaz; 
- preso; 
- insolvente civil; 
- massa falida e entes despersonalizados em geral (sg. jurisprudência do STJ); 
- pessoa jurídica de direito público e empresa pública (só no JF ou JFP). 
 
f) Advogado (art. 9º): Nas causas de até 20 salários mínimos, as partes têm capacidade postulatória, não 
precisando de advogado. Na fase recursal, a assistência por advogado é obrigatória, ainda que a causa seja 
inferior a 20 salários mínimos(§2º do art. 41). 
 
g) Intervenção de terceiros (art. 10): não cabe (essa regra vale para todos os juizados), salvo o incidente de 
desconsideração da personalidade jurídica (art. 1.062, CPC). 
 
h) Procedimento: 
- Petição inicial (arts. 14 e 15): deve constar o nome e a qualificação das partes, os fatos e fundamentos 
jurídicos e o pedido e seu valor. Não é requisito da petição inicial dos juizados a indicação das testemunhas. 
 Os requisitos da petição inicial, previstos nos arts. 319 e 320 do NCPC, aplicam-se ao sistema dos 
Juizados naquilo que for compatível (Ex: qualificação completa é aplicável; mas, a opção pela realização ou 
não da audiência de conciliação ou mediação não é aplicável, pois que cabível apenas no procedimento 
comum). 
 
- Citação (art. 18): o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação. Não cabe citação por edital no 
juizado. 
 
- Ausência à audiência de conciliação (arts. 21 a 23): 
• se o ausente for o autor, o processo é extinto sem resolução do mérito, com condenação ao pagamento de 
custas (art. 51, I); 
• se o ausente for o réu, há revelia (art. 20). 
- Audiência de instrução e julgamento (art. 27): 
• nova tentativa de conciliação; 
• a ausência do réu à audiência de instrução e julgamento importa em revelia (julgamento antecipado da 
lide; dispensa de intimação, salvo se tiver procurador constituído nos autos); 
54 
 
• apresentação da defesa/contestação (pode ser oral ou escrita; cabe pedido contraposto fundado nos 
mesmos fatos que constituem objeto da controvérsia; não cabe reconvenção); 
• produção de provas (oitiva de até três testemunhas para cada parte; caso a parte queira que a testemunha 
seja previamente intimada, deverá solicitar em no mínimo cinco dias antes da audiência; o juiz pode realizar 
inspeção ou determinar que o faça pessoa de sua confiança); 
• sentença - sem relatório (art. 38). Pode ser proferida por juiz leigo (mas sua sentença deve ser 
imediatamente homologada pelo togado – art. 40). Deve ser sempre líquida (artigo 38, parágrafo único), 
ainda que o pedido seja genérico. Há isenção de sucumbênciaem 1º grau (arts. 54 e 55). No 2º grau, haverá 
condenação em sucumbência, se o recurso for improvido. 
 
- Recursos: 
a) Recurso inominado: artigo 41 – prazo de 10 dias. Precisa de preparo, advogado. Cabível de sentença. 
 
b) Embargos de declaração: artigo 50. Aqui os embargos acarretam também a interrupção do prazo para 
outros recursos. (arts. 1.064 e 1.065 do CPC). 
 
c) Recurso Extraordinário (Súmula nº 640 – STF; Enunciado 63, FONAJE) 
 
d) Agravo de Instrumento: por ser a Lei 9.099 omissa, mas prevalecer a regra da intercomunicabilidade das 
regras do microssistema dos Juizados, tem-se admitido o seu cabimento de decisões interlocutórias em 
medidas de urgência (cautelares e antecipação de tutela), em analogia às leis do JF e JFP. 
 
OBS: Não Cabe: Recurso Especial (Súmula 203, STJ - Não cabe recurso especial contra decisão proferida por 
órgão de segundo grau dos Juizados Especiais). Também não cabe ação rescisória – artigo 59, mas, no 
máximo, querela nullitatis em caso de nulidade de citação ou coisa julgada inconstitucional. 
 
i) Execução: aplica-se subsidiariamente o NCPC. Obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa – tutela 
específica/ arts. 497 e 498 (cominação de multa – pode ser em valor que supere a alçada); quantia certa em 
título judicial – cumprimento de sentença (art. 523); e em título extrajudicial, aplica-se o art. 53 da Lei dos 
Juizados. 
 
2.2.9.2 JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS – Lei 10.259/01 
 
a) Não há opção ao autor: na localidade em que os juizados especiais federais estiverem instalados, sua 
competência é absoluta; não há margem para escolha ao autor. 
 
b) Cabimento (art. 3º): 
55 
 
- critério valorativo: causas (inclusive execuções) de até 60 salários mínimos (não há renúncia tácita do 
excedente, só expressa); 
- critério pessoal: causas de competência da Justiça Federal. 
 
c) Não cabimento (art. 3º): 
- causas referidas no art. 109, II, III e XI, CF; 
- mandado de segurança (salvo Súmula 376, STJ – contra ato do juiz do próprio Juizado/MS é para a Turma 
Recursal; e Enunciado 88, FONAJEF – contra ato teratológico, que não caiba recurso); 
- desapropriação, divisão e demarcação (isso significa que as demais causas de rito especial são cabíveis); 
- ação popular, de improbidade administrativa e demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou 
individuais homogêneos (processo coletivo); 
- execução fiscal; 
- causas sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais; 
- anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo de natureza previdenciária e fiscal; 
- discussão sobre pena de demissão imposta a servidor público civil (todas as demais sanções podem) ou 
sobre sanção disciplinar aplicada a militar (não pode discutir nenhuma sanção); 
- causas de maior complexidade. 
 
d) Competência territorial 
- aplica-se o art. 109, § 2º, CF (seção judiciária do domicílio do autor; ou do lugar do ato ou fato que deu 
origem à demanda; ou onde esteja situada a coisa; ou no DF). 
- onde não houver vara federal, a causa poderá ser proposta no juizado especial federal mais próximo. 
 
e) Partes (art. 6º) 
e.1) Legitimidade ativa: as mesmas previstas na Lei n. 9.009/95 . 
 
e.2) Legitimidade passiva: União e suas autarquias (INSS, Ibama, Anac, Anatel), fundações e empresas 
públicas federais (Correios, CEF). 
 
f) Advogado (art. 9º): as partes têm capacidade postulatória em qualquer causa de competência do JEF, 
salvo na fase recursal, cuja assistência por advogado é obrigatória. 
 
g) Regras próprias dos JEFs: 
- Não há prazo diferenciado para a Fazenda Pública; 
- Tem que haver um prazo mínimo de 30 dias entre a citação e a audiência de conciliação (art. 9º); 
- O ente público deve fornecer ao Juizado, até a audiência de conciliação, a documentação de que disponha 
para o esclarecimento da causa; 
56 
 
- Exame técnico: o juiz nomeia uma pessoa habilitada, que apresenta o laudo até cinco dias antes da 
audiência (de conciliação ou de instrução). 
- Não há reexame necessário da sentença (o art. 496, §3º, I do CPC veda o seu cabimento quando a 
condenação for de até 1.000 salários mínimos contra a União). 
 
h) Recursos: mesmos previstos na Lei 9.099, mais agravo de instrumento contra decisão referente a medida 
de urgência. 
 
i) Execução (arts. 16 e 17): em se tratando de condenação em obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa, 
o juiz expedirá ofício à autoridade citada para causa, com cópia da sentença ou do acordo. Se tratar de 
obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em julgado da decisão, o pagamento será efetuado no prazo 
de 60 dias, contados da entrega da requisição, por ordem do juiz, à autoridade citada para a causa, na agência 
mais próxima da CEF ou do Banco do Brasil, independentemente de precatório. 
 
2.2.9.3 JUIZADOS ESPECIAIS DAS FAZENDAS PÚBLICAS – Lei 12.153/09 
 
a) Não há opção ao autor: na localidade em que os juizados especiais das fazendas públicas estiverem 
instalados, sua competência é absoluta. 
 
b) Cabimento (art. 2º): 
- critério valorativo: causas de até 60 salários mínimos (não há renúncia tácita do excedente). 
- critério pesssoal: causas em que estão envolvidas pessoas jurídicas de direito público dos Estados, DF, 
Territórios e Municípios. 
 
c) Não cabimento (art. 2º): 
- as mesmas que não cabem nos JF’s (mandado de segurança; desapropriação; divisão e demarcação; ação 
popular, de improbidade administrativa e demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou 
individuais homogêneos; execução fiscal; causas sobre bens imóveis dos Estados, DF, Territórios e 
Municípios, autarquias e fundações públicas; causas de maior complexidade; discussão sobre pena de 
demissão imposta a servidor público civil ou sobre sanção disciplinar aplicada a militar); e 
- limitação territorial, material ou por valor, feita pelo TJ, durante 5 anos (art. 23). 
 
d) Competência territorial: como a Lei 12.153/09 é omissa, aplica-se a regra da Lei 9099/95. 
 
e) Partes (art. 6º) 
e.1) Legitimidade ativa: as mesmas previstas na Lei n. 9.009/95. 
e.2) Legitimidade passiva: Estados, Distrito Federal, Territórios, Municípios, e suas respectivas autarquias, 
fundações e empresas públicas. 
57 
 
 
f) Advogado: as partes têm capacidade postulatória em qualquer causa de competência do JEFP, salvo na 
fase recursal, cuja assistência por advogado é obrigatória. 
 
g) Regras próprias dos JEFPs: as mesmas dos JEFs. 
 
h) Recursos: mesmos previstos na Lei 9.099, mais agravo de instrumento contra decisão referente a medida 
de urgência. 
 
i) Execução (arts. 12 e 17): idêntico aos JEF’s.o direito fundamental material violado pela prova ilícita, igualmente dignos de tutela. 
 
d) Ônus da prova 
 
 
1 São considerados meios de prova típicos no NCPC: 1) ata notarial; 2) depoimento pessoal das partes; 3) confissão; 4) exibição de 
documento ou coisa; 5) prova documental; 6) documentos eletrônicos; 7) prova testemunhal; 8) prova pericial; e 9) inspeção judicial. 
5 
 
 A questão sobre o ônus da prova está ligada à pessoa que deve provar, e à consequência para aquele 
que deveria provar e não o fez, pelo menos suficientemente. 
 As regras gerais básicas sobre o ônus da prova encontram-se no art. 373 do NCPC, que dispõe 
incumbir ao autor a prova do fato constitutivo de seu direito, e ao réu o fato impeditivo, modificado ou extintivo do 
direito do autor, o que não exclui o interesse deste fazer contraprova do fato constitutivo ou a prova de sua 
inexistência. 
 Se o autor não provar suficientemente o fato constitutivo de seu direito o juiz julgará o pedido 
improcedente. Na mesma medida, se o réu não provar a existência de fato impeditivo, modificativo ou 
extintivo do direito do autor, perderá ele a demanda. Não existe, no processo civil, o princípio geral do in 
dubio pro reo. Na dúvida, perde a demanda quem deveria provar e não conseguiu, seja o autor ou réu. 
 Todavia, tal distribuição do ônus da prova é estática, podendo ser dinamizada, ou seja, invertida 
seja por convenção entre as partes, seja por previsão legal. 
 De acordo com o §3º do art. 373, as partes poderão convencionar, antes ou durante o processo 
(§4º), a inversão do ônus da prova salvo quando recair sobre direito indisponível da parte ou quando se 
tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. 
 Já §1º do art. 373 do NCPC, de forma inédita, prevê a inversão LEGAL do ônus da prova quando: 
- a lei prever: é o caso CDC – art. 6º, VIII; 
- pelas peculiaridades da causa, for impossível ou excessivamente difícil de cumprir o encargo; ou 
- houver maior facilidade de obter a prova do fato contrário. 
 Em tais casos, se o juiz determinar a inversão deverá fazê-la mediante decisão fundamentada, 
dando antes à parte oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. 
 Por fim, vale registrar que o art. 371 do Novo Código consagra o princípio do ônus objetivo da prova, 
também chamado de princípio dá comunhão das provas, uma vez que o juiz deve levar em consideração toda a 
prova constante dos autos, independentemente de quem a tenha produzido, pois a prova pertence ao 
processo e não às partes. 
 
e) Momentos da prova 
 
 São os momentos da prova: 
 
a) momento do requerimento da prova: na petição inicial para o autor e na contestação para o réu, tendo o 
vista o princípio do dispositivo. 
E o juiz: pode produzir provas de ofício? Nos termos do art. 370, NCPC, SIM, é possível o juiz 
produzir provas de ofício, já que ele deve velar pelo bom andamento do processo e entregar a tutela 
jurisdicional mais efetiva possível. 
E as duas situações que assim lhe autoriza são: quando se tratar de direito indisponível ou estiver 
num estado de ‘perplexidade’ (quando o juiz se ver impossibilitado de formar o seu convencimento, mesmo 
6 
 
depois de esgotadas as vias probatórias possíveis; isso porque o juiz deve buscar sempre a verdade real, não 
se conformando com uma mera verdade formal). 
 
b) momento de deferimento ou exame de pertinência: é o do julgamento conforme o estado do processo, 
quando o juiz delimitará as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, deferindo as provas 
necessárias ao julgamento do mérito e, entre outras coisas, designando a audiência de instrução, se 
necessária. Ou seja, será no momento de proferir a decisão de saneamento e de organização do processo – art. 
357, NCPC. 
 
c) momento da produção: se tratar de provas documentais, o momento é do peticionamento, sob pena de 
preclusão, salvo se tratar de prova nova. Se tratar de provas orais, o momento é o da audiência de instrução e 
julgamento, salvo a prova produzida por precatória, o depoimento de pessoa enferma que pode ser ouvida no 
local mais apropriado por determinação do juiz, e a prova antecipada por meio de incidente no processo (art. 
381, I). 
 
d) momento da valoração: na sentença, que poderá ser proferida na audiência de instrução e julgamento, 
assim que encerrar os debates orais ou oferecidas as razões finais, OU no prazo de 30 dias, em gabinete (art. 
366). 
 
e.1 a apreciação ou valoração da prova 
 
 Pertence às partes a iniciativa de enunciar os fatos e de produzir as provas de suas alegações. Ao 
juiz cabe atribuir-lhe o valor, decidindo sobre a procedência ou improcedência do pedido. Por mais 
complexa que seja a situação de fato, não pode o juiz declinar da jurisdição. 
 Na avaliação das provas, é possível imaginar três sistemas que podem orientar a conclusão do juiz: 
o sistema da livre apreciação ou da convicção intima; o sistema da prova legal; e o sistema da persuasão 
racional. 
 Segundo o sistema da livre apreciação ou da convicção intima, tem o juiz ampla liberdade para decidir, 
convencendo-se da verdade dos fatos segundo critérios de valoração intima, independentemente do que 
consta dos autos ou de uma fundamentação de seu convencimento. Ex: Tribunal de Júri. 
 Segundo o sistema da prova legal, que é exatamente o oposto, cada prova tem seu peso e seu valor, 
ficando o juiz vinculado dosimetricamente às provas apresentadas, cabendo-lhe apenas computar o que foi 
apresentado. Este sistema limitava o convencimento do juiz. 
 Desses dois sistemas evoluiu-se para o moderno sistema da persuasão racional, que, ao mesmo tempo, 
em que mantém a liberdade de apreciação, vincula o convencimento do juiz ao material probatório constante 
nos autos, obrigando, o magistrado a fundamentar sua decisão. Está consagrado no art. 371 do NCPC: “o juiz 
apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da 
formação de seu convencimento”. 
7 
 
2 FASE DECISÓRIA 
 
2.1 Sentença 
 
a) Definição 
 
 A definição de sentença já passou por diversas alterações legislativas. A princípio, o art. 162, §1º do 
CPC/73 dizia que sentença era “o ato do juiz por meio se põe fim ao processo com ou sem resolução do mérito”. Ou seja, o 
legislador usava 2 critérios: o finalístico, pois era considerada sentença todo ato do juiz que punha fim ao 
processo; e o material, pois o conteúdo poderia ser de mérito ou processual, a depender se punha fim 
resolvendo ou não o mérito. 
 Todavia, em 2005, com o advento da Lei n. 11.232, o art. 162, §1º foi alterado, passando a ter a 
seguinte redação: “sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei”. Em 
outras palavras, o legislador abandonou o critério finalístico, mantendo apenas o material, pois já não entendia 
ser a sentença um ato que punha necessariamente fim ao processo. 
 Primeiro porque, na verdade, a sentença nunca extinguiu o processo diante da possibilidade de 
recurso, pois que recurso não é uma nova ação e, portanto, não inaugura nova relação jurídica processual, 
tratando de mera continuidade do processo, agora em nível de 2º grau. Já dizia, então, a doutrina que melhor 
era definir sentença como “o ato pelo qual o juiz põe terno ao procedimento de 1º grau, decidindo ou não 
mérito da causa”. 
 Segundo porque, agora, a execução de título judicial, ou seja, de sentença condenatória em 
obrigação da pagar quantia, faz-se dentro do processo de conhecimento através do chamado “cumprimento 
de sentença”. Portanto, nesse caso, a sentença porá fim apenas a uma fase do processo ou do procedimento, a 
saber, a fase cognitiva, sendo possível ainda haver a fase executiva. 
 No entanto, a última alteração foi empreendida pelo NCPC, paraquem, nos termos de seu art. 203, 
§1º, “sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do 
procedimento comum, bem como extingue a execução” 
 Vê-se que o legislador de 2015 voltou a adotar o critério finalístico, além do critério material. 
Entretanto, deixa bem claro que o que a sentença põe fim à fase cognitiva do procedimento, e não ao 
processo, em vista da possibilidade de continuidade do feito com o cumprimento da sentença. Lembra ainda 
que sentença, no processo de execução, pode sim pôr fim ao processo, mesmo porquê neste não há outras 
fases senão a executiva. 
 De mais a mais, o NCPC não ignora também o critério material porque confirma o fato de a 
sentença poder resolver ou não o mérito, ou seja, ter por fundamento no art. 485 ou 487. 
 
b) Classificação das sentenças 
 
 Convém lembrar que a doutrina classifica as sentenças de conhecimento da seguinte forma: 
8 
 
 
- Quanto ao conteúdo: 
➢ sentenças processuais ou terminativas => são aquelas que põe fim à fase cognitiva sem resolver o mérito. Faz 
coisa julgada apenas formal, ou seja, somente dentro do processo, podendo a pretensão ser renovada se 
corrigido o vício. São aquelas cujas hipóteses estão previstas no art. 485, NCPC. 
 
➢ sentenças de mérito ou definitivas => são aquelas que põe fim à fase cognitiva, resolvendo o mérito da causa. 
Podem ser típicas, quando a resolução do mérito se dá em virtude do acolhimento ou rejeição de pedido 
(inciso I do art. 487); ou atípicas, também conhecidas como sentenças de falso mérito, posto que são as 
partes que solucionam o mérito através, por exemplo, da renúncia, do reconhecimento do pedido, da 
transação etc (incisos II e III do art. 487), e não o Estado. Faz coisa julgada formal e material, impedindo a 
renovação da ação. 
 
- Quanto ao efeito que produzem: 
➢ sentenças declaratórias => é a regra geral; quase todas as sentenças operam este efeito, a par dos demais. Elas 
declaram a existência ou inexistência de relação jurídica controvertidas. Ex: investigação de paternidade; 
ADI. Excepcionalmente, tem-se admitido a declaração de mero fato, como, por exemplo, a ação declaratória 
de tempo de serviço. A sentença declaratória opera efeito ex tunc, retroagindo à data da ocorrência da relação 
jurídica declarada (declara-se o preexistente). 
 
➢ sentenças constitutivas/desconstitutivas => são as que criam, modificam ou extinguem relação jurídica. Ex: 
sentença que decreta o divórcio; que anula negócio jurídico feito com vício. As sentenças constitutivas, ao 
contrário das declaratórias, operam efeitos ex nunc, ou seja, não retroagem, valendo os seus efeitos p/o futuro. 
 
➢ sentenças condenatórias => são as que impõem ao réu o cumprimento de uma obrigação de dar quantia. Tais 
sentenças retroagem seus efeitos de condenação à data da constituição da mora. 
 
➢ sentenças mandamentais => são aquelas que condenam o réu à prestação de uma obrigação de fazer, não fazer 
ou dar coisa (diversa de dinheiro), ordenando-o ao seu cumprimento, mediante coerção indireta, como 
multa/astreintes (arts. 497 e 498, NCPC – “o juiz concederá tutela específica....). 
 
➢ sentenças executivas lato sensu => não contém uma ordem p/ o réu cumprir, mas sim uma autorização para o 
órgão judicial satisfazer o direito no lugar do réu que, condenado, não cumprir espontaneamente a prestação, 
mediante medidas de coerção direta, ou seja, medidas de subrogação2, como busca e apreensão, remoção de 
 
2 Significa substituição, à semelhança do que ocorre na execução stricto sensu, onde há substituição do réu pelo Estado no 
cumprimento da obrigação, mediante a constrição, a penhora dos bens e sua respectiva alienação e satisfação do credor. 
9 
 
pessoas ou coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva etc (art. 497 – “o juiz determinará 
providências que assegurem o resultado prático equivalente...). Ex: despejo. 
 
c) Natureza jurídica 
 
 Parte da doutrina atribui à sentença natureza de ato de inteligência. A formação da sentença 
resulta de um trabalho lógico do juiz, estruturando-se em forma de silogismo, onde há uma premissa maior, 
que é a regra de direito; a premissa menor, que é a situação de fato; e daí se extrai a conclusão, aplicando-se a 
norma legal ao caso concreto, o que se denomina de concreção ou subsunção. 
 A doutrina dominante, contudo, é no sentido de que a sentença contém, além de um ato de 
inteligência, um ATO DE VONTADE. A conclusão é uma ordem, uma decisão, um comando, sob pena de a 
sentença ser um mero parecer. 
 
d) Elementos essenciais da sentença 
 
 Afirma o art. 489 do NCPC que “são elementos essenciais da sentença: I – relatório, que conterá o nome das 
partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no 
andamento do processo; II – os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III – o dispositivo, em que o 
juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem”. 
 
➢ Relatório: 
 É uma narrativa acerca dos principais atos praticados nos processos, englobando a identificação 
das partes, a descrição do pedido e da defesa/contestação, bem como a marcha do procedimento até a 
sentença, como a eventual impugnação do autor, reconvenção e até mesmo o requerimento de produção de 
prova, o seu possível indeferimento na decisão de saneamento e o resultado de sua produção, fazendo 
referência aos termos dos autos do processo. 
 A lei autoriza a sua dispensa nas decisões dos Juizados (art. 38, Lei 9.099/95) e também no 
procedimento sumaríssimo da Justiça do Trabalho (art. 852-A, CLT). 
 
➢ Fundamentação: 
 Nela o juiz aprecia os fundamentos fáticos e jurídicos apresentados pelas partes e dá os seus 
próprios fundamentos que formam a sua convicção (art. 371). 
 Há uma ordem na apreciação: primeiramente, o juiz enfrenta as preliminares de mérito, pois que, se 
acolhidas, levam à extinção precoce do procedimento; depois ele analisa as prejudiciais de mérito, como 
pagamento, prescrição decadência etc, e, por fim, o mérito propriamente dito. 
 A fundamentação tem duas finalidades: 
10 
 
a) extraprocessual => o povo, titular do poder, através da fundamentação exerce o controle externo da atividade 
do juiz; 
b) endoprocessual => permite ao vencido entender os motivos de seu fracasso e, se for o caso, interpor o recurso 
adequado; e também permite ao órgão de segundo grau verificar se manterá ou não a decisão recorrida. 
Assim, a fundamentação é exigência do Estado Democrático de Direito. 
 A obrigatoriedade da fundamentação decorre diretamente da Constituição Federal, que em seu 
art. 93, IX, impõe a pena de NULIDADE face a sua ausência. 
 O NCPC regulamentou de modo mais preciso o princípio constitucional da motivação das 
decisões judiciais, inibindo agora a velha prática judicial de se proferir decisão aparentemente 
fundamentada. 
 Nos termos do art. 489, §1º, não se considera fundamentada a decisão judicial que: 
I – se limitar a citar dispositivo de lei, sem fazer a devida aplicação ao caso; 
II – não traz o significado, no caso em apreciação, de conceitos jurídicos indeterminados; 
III – utilização de motivos genéricos que servem para qualquer outra decisão; 
IV – não enfrenta todos os argumentos deduzidos no processo capazes de determinar a conclusão; 
V – invocar súmula ou precedente judicial sem demonstrar o seu cabimento no caso em apreciação; 
VI – deixar de seguir súmula ou precedente judicial invocado pela parte sem justificar. 
 
 Importa esclarecer que sentença sucinta não é nula, mesmo porque o juiz não precisa, ao julgar 
procedente o pedido, examinar-lhe todos os fundamentos se convencer-se com o primeiro (interpretação do 
inciso IV do art. 489), mesmo porque os demais argumentos podem chegarao conhecimento do tribunal 
através da apelação (art. 1.013, § 1º). 
 Por outro lado, é também passível de nulidade, apesar da omissão da lei, a chamada “sentença 
suicida”, qual seja, aquela em que o dispositivo se encontra em descompasso com a fundamentação. 
 
➢ Dispositivo: 
 É a decisão em si, a solução ou a norma concreta. Como é a parte em que se dá resposta ao pedido 
do autor, ela também é chamada de conclusão da sentença. 
 Enquanto a fundamentação cuida de decidir questões incidentes que podem influir no resultado 
da demanda, revelando as razões do convencimento do juiz, o dispositivo decide questões principais, ficando, 
portanto, só ele revestido pela autoridade da coisa julgada material. 
 O art. 504 é bastante claro ao afirmar que: 
 
“Art. 504 – Não fazem coisa julgada: 
I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance, a compreensão da parte dispositiva; 
II – a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença”. 
 
11 
 
Importante observar que uma única sentença pode trazer mais de uma decisão. Isso ocorre quando 
há cumulação de pedidos ou mais de uma demanda ou relações jurídicas processuais dentre do mesmo 
processo. Ex: danos materiais e morais; ação principal e reconvenção etc. 
Assim, o dispositivo terá quantos comandos forem necessários para cada relação processual 
formada pelas partes. Ex: “Julgo procedente o pedido de danos materiais e improcedente o pedido de danos morais”. 
Ela é formalmente uma sentença, mas substancialmente várias. Será, então, chamada de sentença 
objetivamente complexa. Cada uma das decisões é chamada de capítulo, segundo Cândido Rangel Dinamarco (em 
sua obra “Capítulos de Sentença”). 
A observação é importante na medida em que este tipo de sentença pode gerar sucumbência 
parcial (ambas as partes são vencedoras e vencidas) e, por consequência, só autoriza o manejo de recurso nos 
limites desta sucumbência. 
Por outro lado, se o juiz julgar todos os pedidos improcedentes, faculta-se à parte recorrer de 
apenas um capítulo da sentença, permitindo que em fase de outro capítulo opere coisa julgada. 
A falta de qualquer um dos requisitos da sentença enseja nulidade absoluta, podendo, portanto, ser 
decretada de ofício pelo juiz. 
Há quem defenda a posição segundo a qual só há nulidade na ausência de relatório ou 
fundamentação, implicando a falta de dispositivo em inexistência da sentença. 
Mas, na verdade, a sentença só será reputada inexistente quando não houver assinatura do juiz, 
pois esta é imprescindível para se aferir a autenticidade do documento. 
 
e) Elementos formais da sentença 
 
1º) clareza 
 A sentença deve ser clara, pois que terá de ser inteligível e insuscetível de interpretações ambíguas 
ou equivocadas. 
 A clareza recomenda coerência textual e linguagem simples, sem vícios como o uso de giras ou de 
palavras rebuscadas demais. 
 Caso a sentença encerre um dualismo na solução do conflito, contra ela podem as partes opor 
embargos de declaração, recurso cuja finalidade é justamente esclarecer sentença obscura, contraditória, 
omissa ou que contenha erro material (art. 1.022, NCPC). 
 
2º) precisão 
 A sentença tem que ser precisa. Para isso, ela está limitada ao pedido formulado pelo autor. Este é 
o entendimento contido no art. 141 do NCPC, que diz: “o juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, 
sendo lhe vedado conhecer de questões não suscitada, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte”. 
 Em complemento e corroborando este entendimento, também é a dicção do art. 492, a saber: “é 
vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto 
12 
 
diverso do que lhe foi demandado”. Ou seja, não poderá o juiz proferir sentença extra, ultra3 e citra petita. É o que se 
denomina de princípio da congruência ou da adstrição da sentença ao pedido. 
 Também segundo o art. 492, parágrafo único, “a decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica 
condicional”. Assim, o juiz não pode decidir de uma forma que a eficácia do comando fique condicionada a 
verificação futura de fatos incertos. É uma proibição expressa de sentenças condicionais ou com reservas. 
 Exemplo: sentença que condena o réu a indenizar perdas e danos, desde que o autor prove, por 
ocasião da liquidação, que teve prejuízo. Ora, o prejuízo tem de ser demonstrado na fase cognitiva; o que 
poderia ter ficado para liquidação é o quantum do prejuízo. 
 E, falando em quantum, oportuno notar que, ainda que o autor tenha formulado pedido genérico 
em ação relativa à obrigação de pagar quantia, a decisão deverá ser líquida, salvo se não for possível 
determinar, de modo definitivo, o montante devido ou se a apuração do valor depender de prova mais 
dispendiosa ou demorada (art. 491, NCPC). Nestes casos, o quantum deverá ser apurado em fase de 
liquidação, após o trânsito em julgado da decisão e antes da fase do cumprimento de sentença (§1º). 
 
f) Efeitos da sentença – a sentença produz vários efeitos: 
 
➢ principais -> que, por sua vez, podem ser: 
- formal -> entrega da tutela jurisdicional (provisoriamente, pois só com o trânsito em julgado é que há a 
entrega definitiva), não podendo o juiz alterar a decisão (preclusão judicial, salvo nos casos previstos no art. 
494, NCPC: para corrigir inexatidões materiais ou erros de cálculo, ou por meio de embargos de declaração). 
 
- material -> condenação a uma obrigação; constituição ou desconstituição de uma relação jurídica, ou 
declaração de sua existência ou inexistência. OBS: sentença terminativa não produz efeito material, mas 
apenas processual. 
 No caso da tutela condenatória de obrigação de fazer, não fazer ou de entregar coisa distinta de 
dinheiro, rezam os arts. 497 e 498 do NCPC que a tutela jurisdicional deve ser entregue pelo juiz, 
preferencialmente, de modo específico, ou seja, deve entregar o bem da vida tal como se o réu a estivesse 
cumprindo espontaneamente (princípio da primazia da tutela específica), convertendo-se em perdas e danos 
(tutela genérica, também conhecida como tutela do equivalente em dinheiro) apenas quando o autor a 
requerer ou se tornar impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente (art. 499). 
 Para garantir a entrega da tutela específica ou o resultado prático equivalente, o juiz proferirá 
sentença mandamental ou executiva lato sensu respectivamente, adotando medidas de coerção indireta ou 
direta a depender do caso concreto. 
 
 
3 Não se considera sentença ultra petita: a que, sem pedido, condena ao pagamento de juros legais, despesas e honorários, prestações 
vincendas; que fixa juros legais, alimentos em investigação de paternidade (art. 7º, Lei 8.560/92); em ação de alimentos – o juiz pode 
fixar em valor superior. 
13 
 
➢ secundários ou anexos -> decorre da lei diretamente independente de pedido e desvinculado do 
conteúdo da sentença. Exemplos: a perempção é efeito secundário da 3ª sentença extintiva por abandono 
unilateral; a hipoteca judicial põe em garantia dinheiro ou coisa do réu condenado ao cumprimento de uma 
prestação (art. 495, §1º). 
 
2.2 Coisa julgada 
 
a) Conceito 
 Coisa julgada é uma qualidade da sentença, consistente na imutabilidade e na indiscutibilidade 
dos seus efeitos. 
 Esta é a dicção do art. 502 do NCPC, para quem a coisa julgada não é mais um efeito da sentença, a 
par da declaração, constituição ou condenação, mas a qualidade destes efeitos. A doutrina dominante é 
assente quanto a esta posição. 
 Nesse sentido, diz o art. 502: “Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e 
indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso”, seja porque a via recursal foi exaurida, seja porque sequer 
fora utilizada, deixando a parte interessadao prazo fluir em branco. 
 
b) Fundamento 
 A coisa julgada é uma opção política que remonta à Era das Luzes, que, pela obstinação de frear os 
abusos do absolutismo monárquico, adotou este instituto como alternativa para evitar a ingerência do 
Estado no patrimônio pessoal eternamente. 
 Portanto, a coisa julgada nunca foi instrumento de justiça, mas de proteção do cidadão contra o 
Estado, de segurança nas relações jurídicas. 
 Entretanto, com o passar dos tempos, o surgimento de decisões injustas, teratológicas, absurdas e 
até inconstitucionais, acobertadas pelo império da coisa julgada (como a que declara erroneamente a 
paternidade por não se fundar em exame de DNA), começaram a incomodar, emergindo no Brasil o 
movimento “da relativização ou da flexibilização da coisa julgada”. 
 O argumento utilizado é o de que, diante do choque entre os valores justiça das decisões e o da 
segurança das relações jurídicas, deve prevalecer, sob as balizas da proporcionalidade e da razoabilidade, o 
primeiro. Como já dizia Dinamarco, grande expoente do movimento. “não é legítimo eternizar injustiças a pretexto 
de evitar a eternização de incertezas”. Fazem coro ao pensamento do Min. Delgado do STJ, THeodoro Jr., Teresa 
Arruda Alvim Wambier e Eduardo Talamini. 
 Corrente diametralmente oposta é a defendida por Nelson Nery Jr., para quem tal movimento é 
nazista, antidemocrático, antirepublicano e jusnaturalista, não se podendo determinar a injustiça de uma 
decisão, questão esta permeada de subjetivismo. 
 Para tal posição, a discussão da coisa julgada só pode dar-se em sede de ação rescisória, e não, na 
falta da rescisória por ter findado o seu prazo decadencial, mediante ação declaratória de nulidade ou de 
14 
 
inexistência (antiga querella nulitatis do direito canônico), embargos à execução e exceção de pré-
executividade, como querem os relativistas. 
 No atual direito positivo, não há mais nenhuma disposição que autorize a aplicação desse 
movimento fora das hipóteses da rescisória, uma vez que o art. 535, §5º do NCPC permite a Fazenda Pública, 
em sede de embargos à execução, alegar inexequibilidade (desconstituição) do título judicial (sentença) 
quando fundado em lei ou ato normativo inconstitucional no controle concentrado (ADIN, ADPF) ou no 
difuso (interpretação conforme a CF; ou pela posterior suspensão de sua eficácia pelo Senado quando 
declarada incidentalmente pelo STF – art. 52, X, CF), desde que tal declaração do STF tenha ocorrido antes 
do trânsito em julgado. Se depois, é caso de desconstituição só por rescisória. 
 
c) Espécies: coisa julgada formal e material 
 
 Coisa julgada formal é a imutabilidade da sentença dentro do mesmo processo. Opera, portanto, 
eficácia interna ou endoprocessual. 
 Toda sentença, seja terminativa, seja definitiva, pode fazer coisa julgada formal, inclusive as 
decisões interlocutórias, porque se trata, na verdade, de mera preclusão consumativa, ou seja, perda da 
faculdade de praticar determinado ato jurídico por ter sido o mesmo já praticado no processo. Vimos que o 
juiz não pode alterar a sua decisão, salvo se para corrigir inexatidões materiais, erros de cálculo ou via 
embargos de declaração, conforme o já citado art. 494, bem como mediante juízo de retratação em sede de 
apelação nos termos dos arts. 331 (de indeferimento liminar da inicial) e 332, §3º (da improcedência liminar 
do pedido). 
 Já a coisa julgada material é a indiscutibilidade da decisão em qualquer processo, operando eficácia 
externa, geral ou extraprocessual. 
 Portanto, a coisa julgada material pressupõe a coisa julgada formal, e não o contrário. 
 Vale lembrar que apenas a sentença de mérito, fundada em cognição exauriente, faz coisa julgada 
material. 
 Portanto, a sentença no processo de execução não faz coisa julgada material, pois nesse tipo de 
processo não há cognição, pois já não há mais lide. O mesmo raciocínio se faz a respeito da sentença 
proferida nos procedimentos de jurisdição voluntária e da decisão cautelar (cognição sumária, superficial – 
funda-se no fumus boni iuris). 
 Outra exceção é a sentença que dispõe sobe relação jurídica continuativa (aquela que se protrai no 
tempo). 
 Exemplo: ação de alimentos visa a condenação em obrigação de prestar alimentos, obrigação esta 
que se renova periodicamente e cuja prestação varia de acordo com a necessidade do alimentado e com a 
possibilidade do alimentante. 
 Estas sentenças são chamadas de determinativas e podem ser alteradas em qualquer tempo porque 
contêm implicitamente em si a cláusula da teoria da imprevisão (rebus sic stantibus), a qual autoriza a 
15 
 
resolução de um negócio jurídico quando, diante de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, a 
prestação tornar-se extremamente onerosa para uma parte e vantajosa para a outra. 
 Assim, no mesmo exemplo, em caso de alteração da situação ou de direito, poder-se-á pleitear a 
revisão do estatuído na sentença (art. 505, I, NCPC). 
 
d) Efeitos da coisa julgada 
 
- negativo: a coisa julgada impede novo julgamento da lide. Caso isso ocorra, poderá o réu argui-la como 
matéria de defesa processual em sua contestação. 
 
- positivo: a coisa julgada deve ser considerada quando posta como fundamento de pedido formulado em 
outro processo pela parte a quem lhe aproveita. Ex: a declaração de paternidade, sob a qual pesa a autoridade 
da coisa julgada, não deve ser rediscutida em posterior ação de alimentos. 
 
- eficácia preclusiva da coisa julgada: segundo o art. 508, a coisa julgada cobre toda argumentação do autor 
ou da defesa, inclusive aquela que as partes poderiam ter deduzido e não o fizeram. Assim, entende-se que a 
coisa julgada material abrange o deduzido e o dedutível. 
 Exemplo: julgada improcedente ação de conhecimento, com pedido de indenização em acidente 
de veículo, fundado na culpa do motorista (causa de pedir), elencando o autor como argumentos a alta 
velocidade e pista escorregadia, não o autoriza, posteriormente, com base no mesmo pedido e causa de pedir, 
alegar, por exemplo, embriaguez do motorista culpado. Ainda que esta alegação não tenha sido deduzida, 
assim deve ser considerada por ficção legal. 
 
e) Limites da coisa julgada 
 
- Objetivos: de acordo com o art. 503 do NCPC, faz coisa julgada material a questão principal 
expressamente decidida, ou seja, aquela contida no dispositivo da sentença. Excepcionalmente também fará 
coisa julgada material a questão prejudicial decidida incidentemente no processo (§1º). Por outro lado, como 
já visto, não fazem coisa julgada: os motivos e a verdade dos fatos estabelecida como fundamento da sentença 
(art. 504, NCPC). 
 
- Subjetivos - há três regimes: 
➢ interpartes => só se submete à coisa julgada quem litigou. É a regra geral (art. 506 – “a sentença faz coisa 
julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros”). 
 Isso não significa dizer que os terceiros não devam submeter às decisões judiciais, pois que os seus 
efeitos valem para todos. Não se deve confundir eficácia da sentença com coisa julgada, esta sim qualidade da 
sentença que diz respeito apenas às partes envolvidas na lide. 
 
16 
 
➢ ultrapartes => afeta algumas pessoas que estão fora do processo, como o substituído processual, o 
adquirente ou cessionário da coisa ou do direito litigioso (art. 109, §3º), o sublocatário na sentença que 
decreta o despejo contra o locatário etc. 
 
➢ erga omnes => atinge a todos. Ex: nas ações coletivas fundadas no CDC (art. 103), e nas ações civis públicas; 
usucapião; ADI. 
 
 
 
 
17 
 
PARTE II - DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS 
 
2.1 NOÇÕES GERAIS 
 
São espécies de procedimentos no processo de conhecimento: 
a) comum 
b) especiais: 
• de jurisdição contenciosa – arts. 539 a 718, NCPC; 
• de jurisdição voluntária –arts. 719 a 770, NCPC; 
• em legislação especial – mandado de segurança (Lei n. 12.016/09); procedimento sumaríssimo dos 
Juizados Especiais (Leis n. 9.099/95; 10.259/01; 12.153/09); etc. 
 
Os procedimentos especiais são aqueles “destinados a orientar a tramitação judicial de certas 
pretensões que não encontrariam tratamento processual condizente dentro dos parâmetros do 
procedimento ordinário” (Humberto Theodoro Jr.). 
São medidas utilizadas para que os procedimentos especiais alcancem seus objetivos: 
- alteração de prazos; 
- alteração da sequência de atos; 
- eliminação de atos; 
- fusão de atos cognitivos e executivos; 
- delimitação do tema a ser deduzido na inicial ou na contestação; etc. 
Todavia, aplica-se, subsidiariamente, aos procedimentos especiais as regras do procedimento comum 
(art. 318, parágrafo único, CPC). 
 
2.2 PROCEDIMENTOS ESPECIAIS PREVISTOS NO NCPC 
 
Os procedimentos especiais estão previstos tanto no NCPC quanto na legislação especial (ex.: 
juizados especiais, mandado de segurança, etc.). 
São espécies de procedimentos especiais no NCPC: 
a) de jurisdição contenciosa: 
• ação de consignação em pagamento (arts. 539 a 549); 
• ação de exigir contas (arts. 550 a 553); 
• ações possessórias (arts. 554 a 568); 
• ação de divisão e da demarcação de terras particulares (arts. 569 a 598); 
• ação de dissolução parcial de sociedade (arts. 599 a 609); 
• inventário e partilha (arts. 610 a 673); 
• embargos de terceiro (arts. 674 a 681); 
• oposição (arts. 682 a 686); 
18 
 
• habilitação (arts. 687 a 692); 
• ações de família (arts. 693 a 699); 
• ação monitória (arts. 700 a 702); 
• homologação de penhor legal (arts. 703 a 706); 
• regulação de avaria grossa (arts. 707 a 711); 
• restauração de autos (arts. 712 a 718); 
 
Por outro lado, o NCPC não prevê mais como procedimento especial de jurisdição contenciosa as 
ações de depósito (que foi ‘desprocedimentalizada’ e transformou-se uma das hipóteses de tutela de evidência – 
art. 311, III); de anulação e substituição de título ao portador e de usucapião (prevendo apenas a imposição da citação 
por editais nestes feitos, que passaram a ser de rito comum – art. 259); além da nunciação de obra nova e venda a 
crédito com reserva de domínio. 
 
b) de jurisdição voluntária: 
• notificação e interpelação (arts. 726 a 729); 
• alienações judiciais (art. 730) 
• divórcio e separação consensuais, extinção consensual de união estável e da alteração do regime de bens 
do matrimônio (arts. 731 a 734); 
• testamentos e codicilos (arts. 735 a 737); 
• herança jacente (arts. 738 a 743); 
• bens do ausente (arts. 744 e 745); 
• coisas vagas (art. 746); 
• interdição (arts. 747 a 758); 
• tutela e curatela (arts. 759 a 763); 
• organização e fiscalização das fundações (arts. 764 e 765); 
• ratificação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis formados a bordo (arts. 766 a 770); 
 
19 
 
2.2.1 AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO (arts. 539 a 549 do CPC e 334 a 345 do CC) 
 
a) Introdução 
A lei não só obriga o devedor ao pagamento, como também assegura a ele e a qualquer interessado o 
direito de pagar, caso o credor se recusar a recebê-lo (mora accipiendi). A esta forma especial ou indireta de 
pagamento, a lei (art. 304, CC) denominou de consignação, consistente no depósito judicial ou em 
estabelecimento bancário da quantia ou coisa devida (portanto, o objeto será apenas obrigações de dar). 
Ex: o locador se recusa a receber o aluguel, ao argumento de que o valor devido é superior ao ofertado 
ou por qualquer outro motivo. Nesse caso, faculta-se ao devedor manejar a ação de consignação em 
pagamento ou de fazer a consignação extrajudicial. 
 
b) Cabimento 
O art. 539 do NCPC admite a consignação em pagamento “nos casos previstos em lei”, que são os 
previstos no art. 335, CC, ou seja, na lei civil estão elencadas as situações que podem impedir o devedor de 
solver a obrigação pelos meios normais, quais sejam: 
I - o credor se recusa injustamente a receber o pagamento ou dar quitação => mora accipiendi quando a dívida 
for portável; 
II - o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos => mora accipiendi 
quando a dívida for quesível; 
III - o credor for pessoa incapaz (representante desconhecido ou se recusa a receber), desconhecido (credor 
antigo, já falecido, e não se conhece os herdeiros), declarado ausente (se o curador for desconhecido ou se 
recusar a receber) ou reside em lugar inacessível (caso de dívidas portáveis); 
IV - há dúvida quanto ao credor (legitimado a receber); 
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. 
 
b) Modalidades: extrajudicial ou judicial. 
 
A consignação extrajudicial ocorre quando a prestação for quantia em dinheiro e, no lugar do 
pagamento, existir estabelecimento bancário, oficial ou particular. 
Trata-se, na verdade, de instrumento de direito material, pois visa evitar a demanda judicial. 
Consiste em depósito bancário, com AR ao credor, o qual, em 10 dias, poderá comparecer à agência 
bancária e levantar o depósito; ou permanecer inerte, quando então presumir-se-á a sua aceitação, liberando 
o devedor; ou manifestar por escrito ao estabelecimento bancário a recusa ao recebimento, quando então terá 
o devedor o prazo de 1 mês para ajuizar a ação consignatória (instruindo a inicial com a cópia do depósito e 
da recusa). Não ajuizada a ação no prazo, considera-se sem efeito o depósito, podendo o devedor levantá-lo, 
e, se quiser, oportunamente ajuizar a referida ação. 
Já consignação judicial tem lugar quando a prestação for coisa, ou quando não for possível a via 
extrajudicial. 
20 
 
d) Procedimento: 
 
- petição inicial: 
=> competência (territorial/relativa): segundo o art. 540 do NCPC, a petição inicial deverá ser dirigida ao 
juízo do lugar do pagamento (domicílio do autor/devedor – se a dívida for quesível, ou se o domicílio do 
credor for desconhecido; domicílio do réu/credor – se a dívida for portável); da situação da coisa (art. 341 do 
CC); ou do foro eleito. Consignação de aluguéis será ajuizada no lugar do foro contratual ou, na sua falta, no 
da situação do imóvel (art. 58, II, Lei n. 8.245/91). 
=> pedido: de depósito da quantia ou coisa devida e da citação do réu para levantar o depósito ou oferecer 
contestação (art. 542, NCPC). Se tratar de prestações periódicas, o devedor pode se utilizar de um só 
processo para promover o depósito das diversas prestações em que se divide a obrigação (art. 541, NCPC). 
=> valor da causa: será o valor da prestação devida, acrescido dos juros e demais encargos, ou o valor 
correspondente à coisa. Se tratarem de prestações periódicas, o valor da causa corresponderá à soma das 
prestações até o máximo de uma anuidade (súm. 449, STF). 
 
- despacho da inicial: ao analisar a inicial, o juiz defere o depósito, que deve ser efetuado no prazo de 5 dias 
(art. 893, I), sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito (art. 542, parágrafo único do NCPC), 
pois o depósito consiste em pressuposto processual específico do procedimento consignatório. 
 
- após o depósito: o juiz determina a citação do réu, que pode: 
• levantar o depósito: acarreta a extinção do processo com resolução do mérito; OU 
• oferecer resposta no prazo de 15 dias: caso não aceite o depósito. A resposta poderá ser nas modalidades 
da contestação, reconvenção ou exceção. Se for contestação, nos termos do art. 544 do NCPC o réu poderá 
alegar, além das preliminares: 
- inocorrência de recusa; 
- recusa justa; 
- não realização do deposito no prazo ou no lugar do pagamento; 
- não integralidade do depósito (deverá indicar o montante devido). Lembrando que, neste ultimo caso, a 
consignação ganhará feição de ação dúplice, ou seja, rejeitado o pedido do autor, o juiz o condenará a 
satisfazer o montante devido (art. 545). 
 
• permanecer inerte: quando então será decretada a sua revelia e haverá ojulgamento antecipado da lide. 
 
- oferecida contestação, a ação segue o procedimento ordinário, com instrução, se necessário, culminando na 
sentença, que, se julgar o pedido procedente, declarará extinta a obrigação e condenará o réu ao pagamento 
de custas e honorários advocatícios (art. 546, NCPC). O juiz fará o mesmo se o credor receber e der quitação 
(parágrafo único do art. 546). 
 
21 
 
e) Consignação de coisa indeterminada ou incerta (art. 543): se a coisa for indeterminada ou incerta, e a 
escolha couber ao réu (credor), este será, antes, citado para exercer o direito de escolha, no prazo de 5 dias 
(salvo outro prazo na lei ou no contrato), e comparecer para receber a prestação. Caso o credor não faça a 
escolha no prazo legal, a faculdade é devolvida ao devedor, que deve proceder ao depósito da coisa. 
 
f) Ação consignatória como ação dúplice (art. 545, NCPC): 
 
Como visto, a ação consignatória pode se revelar como uma ação dúplice na medida em que o réu, 
independentemente de reconvenção, poderá alegar na contestação a insuficiência do depósito, ocasião em 
que o autor poderá complementá-lo em 10 dias, salvo se o inadimplemento der causa à rescisão contratual. 
Assim, o réu pode levantar desde logo a quantia ou coisa depositada, o que acarreta liberação parcial 
do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida (§1º). 
Se a sentença concluir que o depósito foi insuficiente, ela determina, sempre que possível, o 
montante devido, podendo o réu executar o autor nos mesmos autos (a sentença valerá como título 
executivo e poderá desde já ser cumprida) - §2º. 
Caso o contrário, não sendo possível, na sentença, fixar o montante devido, deverá antes ser apurado 
em liquidação de sentença (§2º). 
 
g) Consignação quando há dúvida a quem se deve pagar: 
 
Nos termos do art. 547 do NCPC, se houver dúvida sobre quem deva legitimamente receber o 
pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu 
direito. 
Neste caso, diz o art. 548: 
I - se, citados, ninguém comparece: opera-se a revelia deles, o juiz libera o devedor julgando antecipadamente 
a lide, e o depósito converte-se em coisas vagas, ou seja, é arrecadado como bem de ausente, perdurando 
indefinidamente, até que um interessado provoque o seu levantamento; 
II - se comparece apenas um deles: o juiz decidirá de plano, julgando extinta a obrigação, e o credor, 
demonstrando o seu direito à prestação, levantará o depósito a seu favor. 
III - se comparece mais de um pretendente: do mesmo modo o juiz declara efetuado o depósito e extinta a 
obrigação, continuando, porém, o processo a correr unicamente entre os presuntivos credores, pelo 
procedimento comum, para se apurar quem é o verdadeiro titular do crédito. 
 
h) Consignação incidental: 
- ocorre quando outros pedidos são cumulados ao pedido consignatório (ex.: revisional); 
- é cabível, desde que se observe o procedimento comum (requisitos do art. 327); 
- atenção ao art. 328, §3º, NCPC. 
 
22 
 
2.2.2 AÇÃO DE EXIGIR CONTAS NO NCPC (arts. 550 a 553, CPC) 
 
Refere-se ao dever contratual de prestar contas por aquele que administra bens ou direitos alheios. Ex: 
síndico de condomínio. 
Portanto, a legitimidade passiva será do administrador e a legitimidade ativa, por consequência, será 
do interessado na administração dos bens ou direitos. 
Importante observar que o NCPC, no art. 550, reduziu a legitimidade ativa desta ação para apenas 
aquele que afirma ser titular do direito de exigir contas, ou seja, do interessado na administração dos bens ou 
direitos, razão pela qual foi renomeada como “ação de exigir contas”. Antes, o CPC/73 legitimava também 
ao administrador a prestá-las através da então chamada ação de prestação de contas. 
A ação de exigir de contas tem seu procedimento delineado pelo artigo 550 do NCPC e seus parágrafos, 
em que se vislumbra a ocorrência de duas fases distintas (bifásico), com objetos distintos: na 1ª fase, discute-
se apenas a existência da relação de direito material e a obrigação ou não de prestar contas; e, na 2ª, serão 
analisadas as contas, determinando a existência de saldo e sua apuração, bem como condenando o réu ao 
pagamento da referida quantia. 
 
- 1ª Fase: 
Nos termos do caput e §1º do art. 550, na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as 
razões pelas quais exige as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se 
existirem, requerendo a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 dias. 
Citado, o réu poderá adotar 3 comportamentos distintos: 
- prestar as contas (§2º) => tendo o autor, então, o prazo de 15 dias para se manifestar, prosseguindo-se o 
processo para as demais fases do rito comum (saneamento, instrução e decisão). 
- contestar (§3º) => de modo fundamentado e específico, com referência expressa ao lançamento questionado. 
O código não diz, mas naturalmente, neste caso, o processo também prosseguirá para as próximas fases. 
- não contestar (§4º) => o juiz decreta a revelia e julga antecipadamente o mérito reconhecendo a existência das 
contas. 
 
Em qualquer caso, a 1ª fase será encerrada pela decisão4 que julgar procedente ou improcedente o 
pedido. 
No caso de improcedência, não há que se falar numa 2ª fase, pois que não foram reconhecidas as 
contas exigidas pelo autor. 
Mas, havendo a condenação do réu a prestar as contas, este deverá apresentá-las em 15 dias, o que 
marca o início da 2ª fase. 
 
 
4 O NCPC, no §5º, não usa mais a expressão ‘sentença’, mas sim “decisão que julgar procedente o pedido....”, o que denota a ideia de 
que se trata de decisão interlocutória, e, nesse caso, de mérito (pois resolve um pedido principal sem colocar fim ao procedimento, 
que avançará rumo à 2ª fase), portanto, passível do recurso de agravo de instrumento (cf. art. 1.015, II, NCPC). 
 
23 
 
- 2ª Fase: 
Como já dito, esta 2ª fase será para analisar as contas, determinar a existência de saldo e apurá-lo, 
condenando o réu ao pagamento da referida quantia. 
Caso o réu condenado não apresente as contas em 15 dias após a decisão que as reconheceu na 1ª 
fase, perderá o direito a impugnar aquelas que ainda serão, em seguida, apresentadas pelo autor num prazo 
de 15 dias, podendo o juiz determinar realização de exame pericial, se necessário (§§5º e 6º, in fine). 
Mas, do contrário, se o réu as apresentar dentro do referido prazo (o qual deverá ser na forma 
adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver), o juiz abrirá 
prazo para o autor impugná-las (art. 551). 
Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá prazo razoável para 
que o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados (§1º do art. 
551), seguindo o processo para as próximas fases do procedimento comum (saneamento, instrução e decisão 
- §6º, 1ª parte, do art. 550). 
Aqui, a decisão, que será uma sentença, analisará 3 questões: 
- se as contas foram corretamente apresentadas; 
- a existência de saldo ou inexistência de saldo; 
- e, havendo saldo, a quantia sobre a qual recairá a condenação. 
Desta sentença caberá apelação e, após o trânsito em julgado, terá início a fase de cumprimento de 
sentença, uma vez que ela se constituirá em título executivo judicial (art. 552). 
 
 
24 
 
2.2.3 AÇÕES POSSESSÓRIAS (arts. 554 a 568, CPC) 
 
a) Juízo petitório x juízo possessório 
- possessório (ius possessionis): a pretensão diz respeito à posse em si mesma, sem cogitar qualquer outra 
relação jurídica. O fundamento da pretensão e o pedido são a posse. Portanto, instruir tais causas com prova 
da titularidade do domínio é irrelevante, uma vez que basta demonstrar a posse anterior e a ofensa a esta. 
Seguindo o mesmo raciocínio, mas em situação diversa, é o proprietário que nunca foi possuidor do seu bem,o qual será carecedor da ação possessória, cabendo-lhe, na verdade, a imissão na posse. 
 
- petitório (ius possidendi): a pretensão diz respeito ao direito de propriedade. O fundamento é a posse 
decorrente da propriedade, e o pedido é o domínio. Ex:. reivindicatória, imissão na posse, embargos de 
terceiro etc. O art. 557 do NCPC veda, na pendência da ação possessória, que o réu ou o autor ajuízem ação 
visando o reconhecimento do domínio. A tutela da posse seria inútil se fosse possível ao proprietário 
responder ao possuidor com a ação petitória. 
 
b) Espécies de Possessórias (art. 1210 CC): 
- ação de reintegração de posse: cabível quando há o esbulho da posse (perda violenta, clandestina ou 
precária da posse); 
- ação de manutenção de posse: cabível quando há turbação na posse (efetivo embaraço ao exercício da 
posse); e 
- interdito proibitório: cabível, preventivamente, quando há ameaça ao exercício da posse, ou seja, ameaça 
iminente de turbação ou esbulho. 
 
c) Fungibilidade das ações possessórias (art. 554, CPC/15): pela dificuldade em distinguir uma situação 
de esbulho e turbação; ou entre esta e simples ameaça a posse, o legislador previu, no art. 554, a aplicação do 
princípio da fungibilidade ou conversibilidade dos interditos, segundo o qual o juiz poderá conhecer de um pedido 
possessório, diverso do requerido pelo autor, desde que os requisitos estejam provados, outorgando-lhe a 
proteção adequada. Isso ocorre muito em caso da alteração da situação fática depois do ajuizamento da 
demanda possessória. 
Ex: ajuíza-se interdito proibitório em razão da ameaça de esbulho sofrida; porém, este, no curso do processo, 
se concretiza, deixando de ser simples ameaça; o juiz pode converter em ação de reintegração de posse. 
 
O princípio restringe-se às possessórias (independente do rito), não se aplicando, portanto, entre 
ação petitória e ação possessória, posto que tem pedidos e fundamentos completamente diversos, o que 
poderia implicar num julgamento extra petita. 
Também não se aplica se o novo ato espoliativo ocorreu após o trânsito em julgado da possessória, 
uma vez que se trata de causa de pedir para o ajuizamento de nova possessória. 
 
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d) Ações de força nova e de força velha – definição do rito (art. 558, NCPC) 
 
- ação de força nova: a ação é proposta dentro de 1 ano e 1 dia da ofensa da posse; o rito será especial do 
Capítulo. A concessão liminar será com base nos arts. 561 e 562, NCPC, ou seja, basta que o autor comprove 
a posse, o esbulho ou a turbação, a perda ou continuação na posse, principalmente a data do ato espoliativo, 
independentemente de demonstração de periculum in mora, que, nas possessórias, é presumido – in re ipsa. 
 
- ação de forca velha5: a ação é proposta após esse prazo; o rito a ser observado será o comum (o pedido 
liminar submeterá aos requisitos previstos no art. 300, NCPC, ou seja, a probabilidade do direito e o perigo 
de dano ou o risco ao resultado útil do processo), sem retirar o caráter possessório. 
 
Obs:. O interdito proibitório é sempre ação de força nova, porque a ameaça é constante e deve ser sempre 
atual. 
 
e) Objeto das ações possessórias 
 
Só é cabível ação possessória para bens e direitos capazes de serem apreendidos fisicamente, isto é, 
para bens materiais (bens móveis, semoventes e imóveis). 
• Sum. 228 STJ: não cabe ação possessória para a proteção do direito autoral. 
• Sum. 415 STF: cabe possessória para defender servidão de passagem. 
 
f) Procedimento das possessórias 
 
➢ Petição inicial (arts. 319/320 e 561 CPC): 
 
- Competência => foro do domicílio do réu, para bens móveis e semoventes (art. 46, NCPC); foro da situação da 
coisa, quando se tratar de bem imóvel (art. 47, §2º, NCPC). 
Neste último caso, ainda que se trate de ação fundada em direito pessoal, não se aplica o art. 46 do 
NCPC, que prevê a competência do foro do domicílio do réu, por haver previsão específica para as ações 
possessórias no art. 47, §2º, do mesmo diploma legal, segundo o qual a competência para a ação possessória 
 
5A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) cassou decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) que havia 
considerado impossível a concessão de antecipação de tutela em ação possessória, em caso de posse velha (com prazo superior a 
um ano e um dia). A disputa pela posse da Fazenda do Céu, situada na Prainha de Mambucaba, em Paraty (RJ), remonta a 1983. 
Segundo a ministra Isabel Gallotti, o fato de a ação possessória ser fundada em posse velha impõe que ela seja regida pelo 
procedimento ordinário, previsto no artigo 924, parte final, do Código de Processo Civil (CPC), e não pelo rito especial, reservado 
às ações intentadas com menos de ano e dia. Embora a posse velha impeça o deferimento da imissão liminar (prevista no artigo 
928 do CPC), nada impede – acrescentou a ministra – que o juiz atenda ao pedido de antecipação de tutela (artigo 273), cabível 
em todas as ações ordinárias, desde que estejam presentes no caso específico os requisitos legais para sua concessão (Notícia STJ 
08/08). 
 
26 
 
imobiliária será proposta no foro da situação da coisa, cujo critério territorial, ali estabelecido, se reveste 
excepcionalmente de caráter absoluto. 
Vale lembrar que, em alguns casos, a competência será do Juizado Especial. É o que ocorre nas 
possessórias cujo valor for igual ou inferior a 40 salários mínimos, conforme art. 3o, IV, da Lei n. 9.099/95. 
 
- Partes e sua qualificação: 
a) capacidade de ser parte => pessoas físicas e pessoas jurídicas, de direito privado ou de direito público. 
 As partes devem ser identificadas com precisão, salvo no caso de invasão por um número 
indeterminado de pessoas (indicação apenas dos ocupantes). O novo CPC estabelece regramento para a 
citação de grande número de pessoas, afirmando que se procede a citação dos ocupantes encontrados no 
local, e, dos demais, por edital, devendo-se ouvir o MP e, se for o caso, a Defensoria Pública (art. 554, §§1º e 2º, 
NCPC). 
b) capacidade de estar em juízo => apenas capazes. Se o responsável pelo ato for absolutamente incapaz, a 
ação é em face daquele encarregado pela sua vigilância (pai, tutor ou curador). 
c) legitimidade => quem figurou na lide. 
Será autor o possuidor esbulhado, turbado ou ameaçado, irrelevante se também detentor de direito 
real. 
Os compossuidores tem a faculdade de promover a ação em conjunto ou isoladamente, sendo que, no 
primeiro caso, formar-se-á um litisconsórcio facultativo unitário, e, no segundo, ainda que não tenham os 
demais figurados como partes, serão alcançados pelos efeitos da coisa julgada, atuando o autor em 
legitimidade extraordinária. 
Em se tratando de pessoas casadas compossuidoras, a regra é a mesma, com a diferença que, se NÃO 
formarem litisconsórcio facultativo, será necessária a outorga uxória/marital (art. 73, §2º, NCPC). 
A ação pode ser tanto contra o autor do ato como contra o seu mandante, podendo o primeiro 
requerer a sua substituição por este (art. 339, NCPC). 
Já o legitimado passivo é o autor do esbulho, turbação ou ameaça, ainda que seja possuidor da coisa. 
 
Observações importantes: 
• sucessor a título universal ou causa mortis é também legitimado, ativa ou passivamente, porque continua 
na posse de seu antecessor (art. 1.207, Código Civil - CC), e o sucessor a título singular responderá pelo vício 
apenas se recebeu por má fé a coisa esbulhada (art. 1.212, CC). 
• possuidores diretos e indiretos têm legitimidade um em face do outro, como também ambos em face de 
terceiros em litisconsórcio ativo facultativo. 
 
- Causa de Pedir (fatos e fundamentos jurídicos): 
 No caso da manutenção e reintegração de posse, segundo o art. 561, o autor dever provar: 
27 
 
• a posse anterior (e não o domínio6. Exemplos de documentos que demonstram a posse: contas de luz, 
correspondências, fotografias e outros); 
• a ofensa ou o ato espoliativo, ou seja, turbaçãoou o esbulho; 
• a data da turbação ou do esbulho (define o rito) – difícil de ser provada por prova documental, o que 
poderá ensejar a concessão da liminar por meio de audiência de justificação prévia (coleta de prova oral); 
• a continuação ou a perda da posse (se manutenção ou reintegração, respectivamente). 
 
Já no caso do interdito proibitório, conforme o art. 567, além da posse anterior, basta provar a 
iminência da turbação ou do esbulho, ou seja, a fundada e grave ameaça de tais atos consumarem (se ameaça 
for consumada, é caso de manutenção ou reintegração de posse). 
 
- Pedido => expedição do competente mandado (de manutenção, de reintegração ou de proibição do esbulho 
ou turbação). 
 Além do pedido principal, o art. 555 do NCPC permite a cumulação de outros pedidos sem prejuízo 
do rito especial, desde que tenham por fundamento a turbação ou o esbulho, como a cumulação com o 
pedido de condenação em perdas e danos e indenização dos frutos. Ademais, para efetivar a tutela relativa à 
posse, prevê o parágrafo único do art. 555 que o autor poderá requerer também a imposição de medida 
necessária e adequada para evitar nova turbação ou esbulho e para cumprir tutela provisória ou final. 
 Se o autor cumular outros pedidos, além dos previstos no art. 555, aí o rito será o comum. 
 O pedido de concessão da liminar é possível, como já visto, se tratar de ação de força nova (art. 558 
c/c art. 562, CPC), afastando, nesse caso, a aplicação da antecipação dos efeitos da tutela genericamente 
prevista no art. 300, NCPC, pertinente apenas se a ação de força velha (art. 558, parágrafo único). 
 
- Valor da causa => aplicação por analogia do art. 292, IV, NCPC (o valor de avaliação da área ou do bem objeto 
do pedido). 
- Provas => todos os meios de prova hábeis a demonstrar a posse (no caso de manutenção de posse e do 
interdito proibitório, a atualidade da posse), a ofensa e o tempo de sua ocorrência. 
 
- Requerimento de citação do réu => se o local for inacessível, não permitindo a aproximação do oficial de justiça, a 
citação será por edital. Lembrando que o art. 554, §1º, do NCPC, prevê, na ação em que figure no pólo passivo 
grande número de pessoas, a citação será pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e dos 
demais, por edital. 
- Documentos indispensáveis à propositura da ação (art. 320, CPC). 
 
➢ Apreciação da liminar antecipatória (arts. 561 a 564 – reintegração e manutenção na posse e 567 – 
interdito proibitório): 
 
6Por essa razão que o promitente comprador não tem interesse processual para intentar ação de reintegração de posse, mas sim 
imissão na posse, pois pleiteara a posse com fundamento no título de propriedade. 
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Provado o esbulho ou a turbação em menos de ano e dia, o mandado de reintegração ou de 
manutenção é deferido liminarmente (sem ouvir o réu), conforme o art. 562, ou em audiência de justificação 
prévia, consoante o art. 563. No caso do interdito proibitório, o juiz determinará ao réu uma obrigação de não 
fazer, proibindo-o de molestar a posse do autor, sob pena de incorrer em multa pecuniária. 
Mas se o ato espoliativo for mais de ano e dia (apenas se turbação ou esbulho, pois que, como visto, a 
ameaça é sempre nova), então, a liminar só será deferida se os requisitos do art. 300 (tutela de urgência 
antecipada genérica) estiverem satisfeitos. 
Sendo o réu for ente público, não é cabível liminar inaudita altera pars, ou seja, depende da oitiva dos 
seus representantes legais (art. 562, parágrafo único). 
A liminar na ação possessória tem natureza antecipatória posto que satisfativa, em nada se 
assemelhando com a cautelar, vez que não objetiva assegurar processo, mas restabelecer o mais rápido 
possível o status quo ante alterado pela ofensa à posse. 
Todavia, poderá ser deferida com ou sem audiência de justificação prévia, a depender se os seus 
requisitos (posse anterior e o tempo da ofensa há menos de ano e dia) forem comprovados por documentos 
ou por provas orais. 
O réu é citado para a audiência de justificação (art. 562, in fine), mas não pode produzir provas, 
apenas contraditar e reperguntar as testemunhas do autor. Isso porque, para o STJ, tal citação não é para 
defesa, mas apenas para o réu comparecer e participar da audiência, não ensejando em nulidade processual a 
sua ausência. 
O juiz pode condicionar a manutenção da liminar à prestação de caução real ou fidejussória pelo 
autor, se réu provar que o autor carece de idoneidade financeira para responder eventuais perdas e danos 
caso venha a sucumbir na ação, dispensada se tratar de parte economicamente hipossuficiente (art. 559). 
Da decisão judicial que concede ou não a liminar é cabível agravo de instrumento. 
 
➢ Respostas do réu: concedido ou não o mandado liminar, o autor promoverá, nos 5 dias subsequentes, a 
citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 dias (art. 564). Obviamente que se houve 
audiência de justificação prévia, o prazo será contado da intimação (e não citação) da decisão que deferir ou 
não a liminar (parágrafo único do art. 564). 
 Se o réu se quedar inerte e não apresentar resposta, ser-lhe-á decretada a revelia, seguindo o processo 
o rito comum, nos termos do art. 566. 
 Todavia, apresentando resposta, o réu poderá oferecer: 
a) contestação: o réu pode arguir quaisquer das preliminares do art. 337, CPC (inclusive, incompetência 
absoluta caso a regra do art. 47, §2º, aplicada às possessórias imobiliárias, não for observada, ou 
incompetência relativa se a regra do art. 46, aplicada às possessórias de bens móveis, não for observada); e, 
no mérito, pode alegar a ausência dos requisitos do art. 561; opor, como fato extintivo ao direito do autor, o 
usucapião (Sum. 237, STF – não se trata de defesa petitória, porque a discussão sobre prescrição aquisitiva se 
assenta na posse; ademais, o objetivo na possessória não é uma sentença declaratória do domínio); e a 
indenização por benfeitorias feitas na coisa. 
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Por fim, insta registrar que as ações possessórias têm caráter dúplice7, o que autoriza o réu também 
pleitear, mediante pedido contraposto, proteção possessória e perdas e danos pelos prejuízos decorrentes da 
suposta ofensa praticada pelo autor (art. 556, NCPC). 
b) Reconvenção ou pedido contraposto8: em razão do art. 556 prever a possibilidade de o réu formular pedido 
contraposto na própria contestação (por se tratar de ação dúplice), sustentou-se por muito tempo a 
impossibilidade de manejo da reconvenção nas possessórias por falta de interesse de agir. Porém, a 
jurisprudência afastou tal entendimento sob o argumento de que o pedido contraposto cinge-se às hipóteses 
tipificadas no art. 556 do CPC, sendo cabível a reconvenção para outras hipóteses. 
 
➢ Após o prazo da resposta: todas as ações possessórias seguem o procedimento comum (art. 566), o qual 
culmina na sentença. 
 A sentença possessória é objetivamente complexa, uma vez que pode conter, a par do mandado 
possessório, o pleito cominatório e até condenatório de indenização. Desta feita, ao julgar procedente o 
pedido principal e os cumulados, a sentença faz nascer obrigação de entregar coisa bem como de dar quantia. 
 No primeiro caso, a execução dar-se-á segundo a disciplina das tutelas específicas das obrigações de 
entrega de coisa, prevista no art. 498 (antigo art. 461-A), onde o juiz fixará prazo para a entrega da coisa, que, 
se desobedecido, ensejará a expedição de mandado de busca e apreensão, se coisa móvel, ou de manutenção 
ou reintegração na posse, se coisa imóvel. 
 Por outro lado, no que tange ao capítulo da sentença que condenou na obrigação de dar quantia 
(indenização, p.ex.), transitada esta em julgado e não cumprida voluntariamente pelo réu, o credor elaborará 
memória de cálculo atualizada e requererá a intimação do devedor para efetuar o pagamento no prazo de 15 
dias, sob pena de multa de 10% sobre a dívida e expedição de mandado de penhora

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