Prévia do material em texto
J U S N AT U R A L I S TA S E C O N T R AT U A L I S M O M O D E R N O S : T H O M A S H O B B E S , J O H N L O C K E E J E A N - J A C Q U E S R O U S S E A U A N A C A R O L I N A A C O M ana.acom@unioeste.br C O N T R AT U A L I S M O • Pensar o Contratualismo a partir dos filósofos modernos é pensar as origens do próprio estado moderno ou pelo menos, o modo como estes filósofos construíram suas teorias a respeito do ‘pacto’ que organiza a vida social e política. • O estágio dos homens anterior ao Contrato Social, composto apenas pelas leis naturais, dá se o nome de Estado de Natureza. Nesse sentido, cabe a realização de um pacto para se alcançar um estado de bem-estar social, ou seja, busca-se um Estado Civil, onde todos teriam seus direitos naturais garantidos através de governo de um Soberano. • O Estado Civil será a antítese do estado de natureza; e a formação das teorias contratualistas fundamentam o poder Estatal. • Há uma discussão ao longo da história da filosofia que pretende responder a seguinte questão: o ser humano, pelo próprio fato de possuir uma natureza humana, é possuidor de direitos? • Isto é, será que a posse de uma natureza humana implica, por si só, a atribuição de direitos àqueles que possuem tal natureza? Responder a essas perguntas é responder sobre a existência (ou inexistência) de um Direito Natural. Os que defendem que, de fato, há um direito natural, decorrente da própria natureza humana, defendem algum tipo de jusnaturalismo. • Essa discussão é um ponto central na Filosofia Política dos filósofos contratualistas modernos. Nela, a existência de certos direitos naturais explicará e justificará a existência do Estado, que é estabelecida através do contrato social. • Para os filósofos, ditos modernos, que pensaram o Contratualismo, temos uma oposição à Aristóteles onde o homem é na sua essência um ser social. • Para o filósofo grego, já haveria desde os primórdios da humanidade formações sociais e políticas. T H O M A S H O B B E S • ESTADO DE NATUREZA X ESTADO CIVIL (civilidade ou das constituições do estado moderno ) • O ser humano busca sair do primeiro através do estabelecimento do Estado Civil T H O M A S H O B B E S • Aspectos da Natureza Humana: • "A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. Porque quanto à força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo” (Leviatã, capítulo XIII). • Todos os homens, no estado de natureza, seriam mais ou menos iguais em capacidades: • “Dessa igualdade de capacidade entre os homens resulta a igualdade de esperança quanto ao nosso Fim. Essa é a causa de que, se os homens desejam a mesma coisa e não possam desfrutá-la por igual, tornam-se inimigos e, no caminho que conduz ao Fim (que é, principalmente, sua sobrevivência e, algumas vezes, apenas seu prazer) tratam de eliminar ou subjugar uns aos outros.” (Leviatã, Parte I, cap. XIII) • Instaura-se, assim, uma situação de desconfiança mútua, pois é “permitido ao homem aumentar seu domínio sobre seus semelhantes, uma vez que isso é necessário à sua sobrevivência”. • Portanto, não há indivíduo humano que seja tão forte e perspicaz que possa alcançar alguma espécie de invulnerabilidade em relação a possíveis agressões ou que esteja imune de ser subjugado por outros indivíduos. • O ser humano, por natureza, visa saciar seus desejos e alcançar seus objetivos. Dentre os desejos, o maior deles é preservar a própria vida. Nesse caso, o ser humano faz de tudo para assegurar que isso ocorra. Sendo esse o maior dos desejos, podemos determinar, por contraste, o maior dos medos: é o medo da morte violenta. Nesse caso, o ser humano faz de tudo para evitar que isso ocorra. Genocyber (1992 – 1993) • Supondo que não há um Estado Civil organizando e controlando as relações entre os indivíduos, como seriam essas relações? Ou seja, como seria, segundo Hobbes, o Estado de Natureza? Como se relacionariam os indivíduos humanos, cuja natureza é aquela que expomos anteriormente, neste Estado de Natureza? • No Estado de Natureza, além da igualdade de capacidades característica da natureza humana, há uma igualdade de liberdade, pelo fato de haver uma liberdade total: há o poder de tudo fazer e de tudo ter. Usando da Astúcia e da Força, o indivíduo tem o direito de fazer tudo o que lhe apetece. Como vimos, o que mais lhe apetece é preservar a sua vida e evitar a morte violenta. Desse modo, cada um tem o direito de empregar os meios que julgar necessários para alcançar tal objetivo. • Esse direito à liberdade total, limitada apenas pela própria capacidade do indivíduo, caracteriza o direito natural para Hobbes, conforme afirma no capítulo XIV do Leviatã: • “O direito de natureza (...) é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e, consequentemente, de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim.” • Esse Direito (por natureza) é liberdade. Diferente da “Lei” que para Hobbes é uma restrição a essa liberdade, impõe limites às ações dos indivíduos. • Direito e Lei para Thomas Hobbes não são sinônimos. • No estado de natureza há maior liberdade: há liberdade para tudo, incluindo os corpos uns dos outros. E é nessa situação que cada um visa saciar seus desejos e objetivos. Evidentemente, o mundo possui recursos limitados e, muitas vezes, há conflito entre o que uma pessoa quer e o que outra pessoa quer. Pode ocorrer que, para alguém alcançar aquilo que quer, outro alguém precise perder o que tem. • “Assim, existem na natureza humana três causas principais de discórdia: Competição, Desconfiança e Glória.” (Leviatã, Parte I, cap. XIII,) • A competição leva os homens a se atacarem para alcançar algum benefício. Faz com que a violência seja necessária para tomar para si a posse de pessoas (mulheres e crianças inclusas) e animais. No caminho da autopreservação, Hobbes concedia que qualquer atitude – inclusive se apropriar de outras pessoas – era algo esperado. • A desconfiança vem em decorrência da ânsia para preservar sua segurança e defender seus bens. • A glória é desejada porque dela advém a reputação. Aqui também a força é usada, só que dessa vez por motivos menos graves: • “um sorriso de escárnio, uma opinião diferente da sua, ou qualquer sinal de subestima, direta ou indiretamente, de forma a macular sua Decência, seus Amigos, sua Nação, sua Profissão ou Nome de Família.” (Leviatã, Parte I, cap. XIII) • Lembrando da “igualdade na fragilidade” que é compartilhada por todos, pela qual não é muito difícil o mais fraco matar o mais forte, um cenário de desconfiança generalizada surge: será que aquela pessoa pretende me atacar, a fim de obter alguma coisa? Será que não seria melhor atacá-la antes, a fim de evitar que me ataque? • Situação de permanente desconfiança e medo, principalmente o da morte violenta, incluindo uma tendência de atacar antes de ser atacado. Trata-se, então, de um cenário de guerra de todos contra todos (se não for uma “guerra real”, é uma “guerra iminente”). • Citação de Hobbes a Plauto: “o homem é o lobo do homem” • Estado de Natureza - situação de conflito, desconfiança e medo generalizado. • Como o maior desejo do ser-humano é preservar a própria vida, ele procurará maximamente obter isso. E como o maiordos medos é a morte violenta, fará de tudo para evitar isso. No Estado de Natureza, sua vida está em constante ameaça. Desse modo, a razão indica o seguinte caminho: sair desse Estado de Natureza. É desejável sair dessa situação a fim de obter aquilo o que mais quer. • Como o Estado de Natureza é onde há liberdade total para tudo fazer, fica claro que sair dessa situação implica uma limitação dessa liberdade. E é isso o que ocorre a partir do estabelecimento de um Estado Civil. Homem Lobo Do Homem (2020) - Álvaro Baldini Piuco • Primeiro preceito que trata da lei natural e do Direito Natural, expresso no Capítulo XIV da primeira parte do “Leviatã”: • “É um preceito ou regra geral da razão: que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida em que tenha esperança de consegui-la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas as ajudas e vantagens da guerra. “ • O dever de se esforçar para alcançar a paz, expresso na parte inicial, diz respeito à lei natural, na medida em que “restringe a liberdade”, com o intuito de obter aquilo que se pretende (que é a paz). • A parte final do preceito, que cita o direito de usar todas as ajudas e vantagens da guerra, trata do Direito Natural, pois indica que o indivíduo pode utilizar de todos os meios para preservar a sua integridade. Portanto, deve-se buscar a paz, mas, se preciso for, pode-se utilizar a guerra (ou qualquer meio necessário) para resguardar a vida. • Um segundo preceito também pode ser obtido a partir do que foi dito: se todos assim fizerem, é racional e desejável renunciar ao direito a todas as coisas, à liberdade total, isto é, ao próprio Estado de Natureza. É por isso que, pelo medo da morte violenta, e buscando maximizar as chances de preservar as suas vidas, os seres-humanos abrem mão da sua liberdade total, do poder de tudo fazer e, através de um PACTO SOCIAL, estabelecem o Estado Civil. • Nesse caso, conforme afirma Hobbes no Capítulo XIV do “Leviatã”, ocorre uma limitação da liberdade total, que é abarcada pelo Direito Natural, e uma transferência da mesma a um “um poder comum situado acima dos contratantes, com direito e força suficiente para impor seu cumprimento” • Estado Civil surge a partir de um contrato social, um pacto que abrange a todos os indivíduos, no qual abre-se mão do direito de tudo fazer e fica estabelecida a existência do Soberano, que é dotado de poder coercitivo, em relação ao qual todos os outros cidadãos serão súditos. • Soberano, empregando os poderes do Estado, como o monopólio da violência: deve garantir a ordem, de modo a assegurar que as promessas e os pactos sejam cumpridos, e deve assegurar a vida dos súditos. • Serão punidos aqueles que desobedecerem o que foi estabelecido pelo Estado, na figura da lei estabelecida pelo Soberano. Através da coerção, do medo, que se buscará garantir a ordem e se efetivar a justiça. John Michael Wright’s Charles II (around 1671-76) • Diz Hobbes, no Capítulo XV do Leviatã: • “[…] a justiça é a vontade constante de dar a cada um o que é seu. Portanto, onde não há o seu, isto é, onde não há propriedade, não pode haver injustiça. E onde não foi estabelecido um poder coercitivo, isto é, onde não há Estado, não há propriedade, pois todos os homens têm direito a todas as coisas.” • Portanto, a justiça pressupõe que haja instituição de um Estado e o estabelecimento de leis que atribuam o que pertence a cada pessoa (e apenas à ela), pois no Estado de Natureza todos têm direito a tudo. Por isso que só cabe falar de justiça e injustiça a partir da instituição de um Estado Civil. E é isso que Hobbes afirma no Capítulo XV do Leviatã: • “Onde não há Estado nada pode ser injusto. De modo que a natureza da justiça consiste no cumprimento dos pactos válidos, mas a validade dos pactos só começa com a instituição de um poder civil suficiente para obrigar os homens a cumpri-los, e é também só aí que começa a haver propriedade” • Hobbes apresentou suas ideias primeiro em sua obra Do cidadão (1642) e depois em Leviatã (1651), em que compara o Estado a uma criação monstruosa do ser humano, destinada a por fim à anarquia e ao caos das relações humanas. O nome Leviatã refere-se ao monstro bíblico citado no Livro de Jó (40-41), onde é assim descrito. • O seu corpo é como escudos de bronze fundido [...] Em volta de seus dentes está o terror [...] O seu coração é duro como a pedra, e apertado como a bigorna do ferreiro. No seu pescoço está a força, e diante dele vai a fome [...] Não há poder sobre a terra que se lhe compare, pois foi feito para não ter medo de nada. • Para Hobbes, o soberano pode ser um rei, um grupo de aristocratas ou uma assembléia democrática. O fundamental não é o número de governantes, mas a determinação de quem possui o poder ou a soberania. Esta pertence de modo absoluto ao Estado, que, por meio das instituições públicas, tem o poder para promulgar e aplicar as leis, definir e garantir a propriedade privada e exigir obediência incondicional dos governados, desde que respeite dois direitos naturais intransferíveis: o direito à vida e à paz, pois foi por eles que o soberano foi criado. O soberano detém a espada e a lei; os governados, a vida e a propriedade dos bens. • Estabelecimento do contrato social que deu origem ao Estado (Leviatã). • [...] conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade [...] é como se cada homem dissesse a cada homem [...] transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este Homem, ou a esta Assembleia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado [...] É esta a geração daquele grande Leviatã [...] ao qual devemos [...] nossa paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduo no Estado, é-lhe conferido o uso de tamanho poder e força que o terror assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles, no sentido da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contra os inimigos estrangeiros. É nele que consiste a essência do Estado, a qual pode ser assim definida: uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum. Àquele que é portador dessa pessoa se chama Soberano, e dele se diz que possui poder soberano. Todos os restantes são súditos. (Leviatã) • Pandemia da Covid-19 • Leviatã sanitário (Maristella Svampa) - (Leviatán climático de Geoff Mann y Joel Wainwright) • Estados de exceção para controle de pessoas • Pessoas confinadas para evitar o contágio • Estados intervindo em benefícios • China - controle tecnológico - tele-vigilância J E A N - J A C Q U E S R O U S S E A U ( 1 7 1 2 - 1 7 7 8 ) • Em sua obra Do Contrato Social, publicada em 1762, situa duas etapas determinantes do processo de transição do estado de natureza para o estado civil • início da sociedade civil com a instituição da propriedade privada e, segundo, como simultâneo ao aparecimento das desigualdades sociais. • R O U S S E A U • Estado de Natureza, Contrato Social, Estado Civil • O conceito de Estado de Natureza tem a função de explicar a situação pré-social na qual os indivíduos existem isoladamente. Duas foram as principais concepções do Estado de Natureza: • de Hobbes (no século XVII), Estado de Natureza, em que os indivíduos vivem isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos. Nesse estado, reina o medo, principalmente, o da morte violenta. Para se protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. Mas sempre haveráalguém mais forte que vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida não tem garantias; a posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe; a única lei é a força do mais forte, que pode tudo quanto tenha força para conquistar e conservar. • Na concepção de Rousseau (no século XVIII), no Estado de Natureza, os indivíduos vivem isolados pelas florestas, sobrevivendo com o que a Natureza lhes dá, desconhecendo lutas e comunicando-se pelo gesto, o grito e o canto, numa língua generosa e benevolente. Esse estado de felicidade original, no qual os humanos existem sob a forma do bom selvagem inocente, termina quando alguém cerca um terreno e diz: “É meu”. A divisão entre o meu e o teu, isto é, a propriedade privada, dá origem ao Estado de Sociedade. E S TA D O D E N AT U R E Z A • A definição da natureza humana é um equilíbrio perfeito entre o que se quer e o que se tem. O homem natural é um ser de sensações, somente. O homem no estado de natureza deseja somente aquilo que o rodeia. Então, os desejos do homem no estado de natureza são os desejos de seu corpo. • Seus desejos são suas necessidades físicas • Estado de natureza: é um lugar positivo que não necessariamente precisaria ser superado com um contrato social, pois o homem é naturalmente bom. POR ROUSSEAU • O “bom selvagem”: o homem ainda não foi corrompido pelo desejo da propriedade. Vivia da subsistência na natureza. • “Bom” não corresponde à moral, mas ao neutro – o homem simplesmente existia sem desejar nada. • O homem é um ser isolado, pois sendo autossuficiente não formava comunidades. É o absoluto oposto da sociedade, corrompida. • a felicidade humana se constituía plenamente, em razão do fato de que, nesta fase, encontrava - se o ‘bom selvagem’, este que possuía o ‘amor de si’, isto é, um instinto de auto conservação, altruísmo e piedade perante os seus semelhantes. Em suma, todos tem direitos e são soberanos de si mesmos. • O segundo momento do estado de natureza em Rousseau é caracterizado pela mutabilidade, o homem se aperfeiçoa visando o progresso • comunicação humana através da linguagem. • Conforme as interações se intensificam, nasce a propriedade, neste momento surge a desigualdades sociais e políticas, visto que é delimitada uma propriedade que pertence a um e não a todos. • os homens perdem sua liberdade natural, modificando, assim, seus valores naturais. • Necessidade do Pacto Social que fez surgir a Sociedade Civil C O R R U P Ç Ã O • Para Rousseau, é a Sociedade que corrompe o humano. • É o surgimento da propriedade privada que causa a desigualdade e a desarmonia, visto que, uma vez estabelecida a propriedade privada, alguns indivíduos possuem certos bens, que “são deles”, enquanto outros estão privados desses bens, pois “não são deles”. Com isso, surge a desigualdade na sociedade. P R O P R I E D A D E • A questão da propriedade na raiz do contrato - processo, de formação da sociedade civil • O verdadeiro fundador da sociedade foi o primeiro homem que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer ‘isto é meu’. • Origem numa usurpação, desencadeará inexoravelmente uma série de problemas. Esta situação passa a ser a origem de desigualdades que tornariam a sociedade nascente atravessada por conflitos insuperáveis. • Deu-se assim um pacto entre os ricos ou proprietários, que convenceram os não proprietários de que seria vantajoso também para eles um contrato em que todos se comprometessem em respeitar e proteger os bens adquiridos por cada um dos contratantes. • O que aconteceu então foi uma espécie de pacto no qual alguns tiraram proveito da ingenuidade e pretensa astúcia de outros, fazendo-os acreditar que participavam da fundação de uma sociedade legítima. • "O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bastantes simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes:"Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém !". (Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens, 1753) C O N T R AT O • Contrato Social Existente como uma contundente crítica de Rousseau à burguesia de sua época. • O homem tem o instinto natural, e seu instinto é suficiente. Esse instinto é individualista, ele não induz a qualquer vida social. Para viver em sociedade, é preciso a razão ao homem natural. A razão, para Rousseau, é o instrumento que enquadra o homem, nu, ao ambiente social, vestido. Assim como o instinto é o instrumento de adaptação humana à natureza, a razão é o instrumento de adaptação humana a um meio social e jurídico. • Ao se manter as desigualdades, mostra que o Contrato Social é ineficaz. • Homem adquire novas “necessidades”. Através do convívio social o homem torna-se um ser degradado e decompõe suas estruturas. • O contrato social tem por objetivo enfrentar essa desigualdade. Para Rousseau, a função do Estado é restabelecer a igualdade entre os indivíduos, pois o Estado deve ser pautado de acordo com a Vontade Geral, que é a Vontade Coletiva, a vontade do povo. É a Vontade Coletiva que deve orientar a formulação das Leis, por exemplo. Portanto, defende Rousseau, a igualdade estaria restabelecida nos processos decisórios do Estado, pois cada indivíduo participa da Vontade Geral. C O N T R AT O S O C I A L N O V O C O N T R AT O P R O P O S T O • O contrato ideal: já não se trata daquele pacto entre ricos que forjava um contrato ilegítimo entre as partes. Sugerido, então, é que os associados formem um único corpo que defenda a cada um dos indivíduos que o formam. Esse corpo seria o soberano e sua vontade, que deve ser sempre a única visada, é a vontade geral. • Rousseau propõe um Contrato Social através do racionalismo, utilizando as leis naturais e a essência humana, de maneira que tal contrato pudesse ser realizado mediante uma transformação política e educacional. • Vontade Geral: Procurando uma forma de proteger a si e o bem de todos sem ofender a liberdade individual, Rousseau propõe a alienação de todos os direitos particulares em favor da comunidade. A propriedade, que é cedida individualmente para o todo, é constituída para produzir para o coletivo. Os cidadãos livres renunciam à vontade própria em prol da vontade comum (vontade geral). • Se o pensarmos pelo aspecto jusnaturalista (direito natural): ele repõe na natureza humana a garantia e os recursos para a salvação do homem. • O efeito principal é dar origem a uma nova “entidade”, um “corpo moral e coletivo” que não é um simples agregado de homens, mas o “corpo político”. Deixando os princípios de individualidade de lado para adotar um real senso de comunidade política. • Situação oposta aos ricos que fazem contratos para manter a paz e propriedade, mas apenas para assegurarem suas propriedades, os pobres perderam tudo, inclusive liberdade • Novo contrato, garantiria igualdade, vontade geral • Este pacto social legítimo tende a desfazer as chamadas desigualdades convencionais (institucionalizadas) e restabelece a liberdade, transformando a liberdade natural em liberdade civil. • Para Rousseau, o soberano é o povo, entendido como vontade geral, pessoa moral coletiva livre e corpo político de cidadãos. Os indivíduos, pelo contrato, criaram-se a si mesmos como povo e é a este que transferem os direitos naturais para que sejam transformados em direitos civis. Assim sendo, o governante não é o soberano, mas o representante da soberania popular. Os indivíduos aceitam perder a liberdade civil; aceitam perder a posse natural para ganhar a individualidade civil, isto é, a cidadania. Enquanto criam a soberania e nela se fazem representar,são cidadãos. Enquanto se submetem às leis e à autoridade do governante que os representa chamam-se súditos. São, pois, cidadãos do Estado e súditos das leis. • O cidadão, enquanto ente político, é responsável por estabelecer as leis e os princípios do Estado. Consequentemente, é responsável por efetivar a justiça, pela livre participação nos processos decisórios – a vontade geral. • E, como o indivíduo estará agindo enquanto cidadão, sua preocupação deverá ser o bem comum, e não apenas o bem individual e particular. • O Estado existe para preservar a liberdade civil e restabelecer a igualdade entre os indivíduos, através da participação na Vontade Geral. E M Í L I O O U D A E D U C A Ç Ã O • Emílio, ou Da Educação (francês: Émile, ou De l'éducation) é um tratado sobre a natureza da educação e sobre a natureza do homem. Rousseau considerou o "melhor e mais importante" de todos os seus escritos. • Devido a uma seção do livro, Emilio foi banido em Paris e Genebra e foi queimado publicamente em 1762, o ano de sua primeira publicação. • Durante a Revolução Francesa, a obra serviu de inspiração para o que se tornou um novo sistema nacional de educação. • Aborda questões políticas e filosóficas fundamentais sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade: como, em particular, o indivíduo pode reter o que Rousseau via como bondade humana inata, mas permanecer parte de uma coletividade corruptora. • frase de abertura: "Tudo é certo em saindo das mãos do Autor das coisas, tudo degenera nas mãos do homem". Rousseau procura descrever um sistema de educação que permitiria que o homem natural que ele identifica em O Contrato Social sobrevivesse à sociedade corrupta. Ele emprega o dispositivo romancista de Emilio e seu tutor para ilustrar como um cidadão tão ideal poderia ser educado. Emilio dificilmente é um guia parental detalhado, mas contém alguns conselhos específicos sobre como criar filhos. • É considerado por alguns como a primeira filosofia da educação na cultura ocidental a ter uma séria reivindicação de completude e como um dos primeiros romances de formação" I N F L U Ê N C I A S Maria Antonieta (2006) de Sofia Coppola B O M S E LVA G E M Caramuru. Poema Épico do Descobrimento da Bahia é de Frei Santa Rita Durão, 1781. Conta a história de Diogo Álvares Correia, o "Caramuru", um náufrago português que viveu entre os Tupinambás. Moema (1866), Victor Meirelles. Ela retrata a personagem homônima do poema épico Caramuru (1781) I-Juca-Pirama é um poema Indianista brasileiro escrito pelo poeta Gonçalves Dias (1851) O poema relata a história de um guerreiro tupi sobrevivente e fugitivo da destruição na costa que cai aprisionado por uma tribo antropófaga dos Timbiras e que deve ser sacrificado conforme o rito. “Meu canto de morte, guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, nas selvas cresci, Guerreiros, descendo Da tribo Tupi." (112-117) Entretanto, a cena que se segue é um pedido de clemência em virtude de ser o último sobrevivente da sua tribo e ter ainda a responsabilidade de cuidar do velho pai, velho e cego. Depois do seu canto os Timbiras não querem mais sacrificá-lo. Quando descobre que o filho não terminou o ritual nem tampouco matou os seus agressores decide que devem ir à tribo terminar o ritual. “Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o covarde do forte: Pois choraste, meu filho não és.” (370-374). Iracema (1884), por José Maria de Medeiros R E V O L U Ç Ã O F R A N C E S A J O H N L O C K E ( 1 6 3 2 - 1 7 0 4 ) • Considerado o pai do liberalismo, defenderá a propriedade, liberdade e vida • Principal obra a ser tratada SEGUNDO TRATADO SOBRE O GOVERNO CIVIL publicada em 1690 • John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês – aliás, o principal representante do empirismo (teoria, que afirmava que o conhecimento seria essencialmente determinado pela experiência, tanto de origem externa, nomeadamente nas sensações, quanto na ordem interna, isto é, a partir das reflexões). • Mente tábula rasa - ideias da sensação - ideias da reflexão • Foi um dos principais defensores da teoria contratualista (contrato social). • Locke “transportou” suas teorias sobre o conhecimento humano para o campo sociopolítico. Para ele, assim como não existem ideias inatas, também não deveria existir poder inato (ou de origem divina), como defendiam os adeptos do absolutismo monárquico. E S TA D O D E N AT U R E Z A E M J O H N L O C K E • Ao contrário de Hobbes, Locke pode ser visto como otimista em relação à natureza humana e ao convívio entre os indivíduos, considerando como princípio básico da existência da sociedade o entendimento racional entre os homens. Locke se contrapõe tanto à concepção de Hobbes de um soberano absoluto quanto à dos defensores dos direitos divinos dos reis. • São dois os tratados acerca do governo civil, da autoria de John Locke. O primeiro consiste numa refutação da tese aventada por Robert Filmer, no livro “Patriarca” (1680), segundo a qual a origem do poder dos reis provém da circunstância de que correspondem à descendência de Adão. • Revelando sua preocupação em proteger a liberdade do cidadão, defendia que o poder social deveria nascer de um pacto entre as pessoas. Por sua vez, as leis deveriam expressar as normas estabelecidas pela própria comunidade, que escolheria, através do mútuo consentimento dos indivíduos, a forma de governo considerada mais conveniente ao bem comum. • "A única maneira pela qual uma pessoa qualquer renuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em concordar com outras pessoas em juntar-se e unir-se numa comunidade para viverem com segurança, conforto e paz". (Locke, Segundo tratado sobre o governo, p. 71.) • No pensamento político de Hobbes e Rousseau, a propriedade privada não é um direito natural, mas civil. Em outras palavras, mesmo que no Estado de Natureza (em Hobbes) e no Estado de Sociedade (em Rousseau) os indivíduos se apossem de terras e bens, essa posse é o mesmo que nada, se não existem leis para garanti-las. A propriedade privada é, portanto, um efeito do contrato social e um decreto do soberano. • Locke propõe a teoria da propriedade privada como direito natural. E S TA D O • Para evitar problemas é que o Estado teria sido criado. sua função seria a de garantir a segurança dos indivíduos e de seus direitos naturais, como a liberdade e a propriedade, conforme expõe Locke em sua obra Segundo tratado sobre o governo. • Diferentemente de Hobbes, Locke concebe a sociedade política como um meio de assegurar os direitos naturais e não como o resultado de uma transferência dos direitos dos indivíduos para o governante e as instituições de governo. Assim nasce a concepção de Estado liberal, segundo a qual o Estado deve regular as relações entre os indivíduos e atuar como juiz nos conflitos sociais. Mas deve fazer isso garantindo aquilo que precede a própria criação do Estado: as liberdades e os direitos individuais, tanto no que se refere ao pensamento e à sua expressão quanto à propriedade e à atividade econômica. • Cap.II, § 4: "Para compreender corretamente o poder político e traçar o curso de sua primeira instituição, é preciso que examinemos a condição natural dos homens, ou seja, um estado em que eles sejam absolutamente livres para decidir suas ações, dispor de seus bens e de suas pessoas como bem entenderem, dentro dos limites do direito natural, sem pedir a autorização de nenhum outro homem nem depender de sua vontade." • Redação da Declaração de Independência dos Estados Unidos em 1776 (c. 1900) – Jean Leon Gerome Ferris. A tarefa de escrever essa declaração foi delegada a uma comissão formada por cinco membros, entre os quais se destacaram Benjamin Franklin (1706-1790), Thomas Jefferson (1743-1826) e John Adams (1735-1826).o Estado liberal de Locke foi uma de suas principais fontes de inspiração, o que contribuiu para uma das maiores características desse país até hoje: o liberalismo político e econômico. • O “direito natural” para Locke designa uma validade anterior à formação do Estado, ou seja, uma categoria de direito que se refere a todos, na medida em que se materializa no chamado "estado de natureza”. • O direito natural se configura em um atributo do ser racional, e essa concepção perpassa uma fundamentação metafísica, pautando os direitos em decorrência da existência de Deus. • Para Locke, a lei da natureza é o desejo de Deus para o gênero humano. • A faculdade da razão do homem, ela em si, já é um dom de Deus, que o capacita para perceber sua retidão. • Ao colocar essa lei da natureza na prática política, permanece vaga e geral, ou, inevitavelmente dogmático. • Todo homem, por isso, “pelo direito que tem de preservar o gênero humano em geral... tem o direito de punir o ofensor e ser o executor da lei da natureza” (LOCKE, cap II. §11) • Se todo homem “tem o poder executivo da lei da natureza” em suas próprias mãos para manter a vida, a liberdade e os bens. Cada um é juiz de si próprio e daquilo que lhe ofende. • Temos um modelo totalmente parcial e frágil de justiça social. • Estado de natureza IDEAL (liberdade teórica) X REAL (todos juízes, poderiam julgar em causa própria) • Inconveniência de viver no Estado de Natureza e a necessidade do contrato social, que define o que é justo de modo imparcial. • Tomando a não violação desses Direitos como uma lei natural, todos nascem iguais perante a lei. Sendo assim, qual seria o papel do Estado? • O Estado deve garantir esses direitos. Ou seja, deve proteger e servir ao indivíduo, de modo a garantir que aquilo que lhe é naturalmente próprio não seja violado: deve preservar a propriedade, mediar possíveis conflitos e proteger os demais direitos. C O N T R AT O S O C I A L • Contrato de associação: a sociedade política só existe se os homens concordaram em desistir de seus poderes naturais e erigir uma autoridade comum para decidir disputas e punir ofensores. Concessão generalizada com intuito de se deixar o estado natural • Todos renunciam seus poderes em benefício da coletividade ainda no estado de natureza • Depois escolhe-se a forma de governo, ou sociedade política, que irá reger o Estado Civil. • Segundo a concepção de Locke, a sociedade resulta de uma reunião de indivíduos, visando garantir suas vidas, sua liberdade e sua propriedade, ou seja, aquilo que pertence a cada um. • É em nome dos direitos naturais do homem que o contrato social entre os indivíduos que cria a sociedade é realizado, e o governo deve portanto comprometer-se com a preservação destes direitos. O poder é então delegado a uma assembleia ou a um soberano para exercer essa função em nome da união voluntária e consentida entre os indivíduos. A legitimidade desse poder reside, em sua origem, no consentimento dos indivíduos que o constituíram, e que podem portanto retirá-lo daqueles que não governam no interesse da maioria ou que ameaçam a liberdade e os direitos dos indivíduos. • No Segundo tratado (cap. VIII), diz Locke a propósito da constituição e legitimação do Estado: • "E, assim, cada indivíduo, ao consentir com os outros em formar um corpo político com um governo, coloca-se a si próprio sob a obrigação em relação a todos os demais membros dessa sociedade de se submeter à determinação da maioria e de aceitar suas decisões. Caso contrário, esse pacto original, pelo qual ele e os outros formam uma sociedade, não significaria nada, e não seria um pacto se ele permanecesse tão livre e tão sem obrigações quanto quando se encontrava no estado de natureza." • O Estado pode se utilizar dos meios que possui, incluindo a força. Nesse sentido, o contrato social é estabelecido para proteger os Direitos Naturais. Portanto, em Locke, a Liberdade, naturalmente própria a cada ser humano, é mantida e garantida no Estado Civil. • O Contrato Social em Locke cria uma estrutura de segurança onde a liberdade teórica é restringida, mas a liberdade real se fortalece, conservando a vida e a propriedade. T E O R I A L I B E R A L D E L O C K E • O Estado deve existir para proteção da vida, liberdade e propriedade • A lei não é incompatível com a liberdade; ao contrário, é indispensável a ela, pois o objetivo de uma lei não é abolir ou restringir, mas preservar e ampliar a liberdade. Pois a liberdade deve ser livre de restrição e violência por parte dos outros, o que não pode existir onde não há lei. • A sociedade e o Estado nascem do direito natural, que coincide com a razão, a qual diz que, sendo todos os homens iguais e independentes, “ninguém deve prejudicar os outros na vida, na saúde, na liberdade e nas posses". São portanto "direitos naturais" o direito a vida, o direito a liberdade, o direito a propriedade e o direito a defesa desses direitos. • O fundamento da gênese do Estado, portanto, é a razão e não, como em Hobbes, o instinto selvagem. • Reunindo-se em uma sociedade, os cidadãos renunciam unicamente ao direito de se defenderem cada qual por conta própria, fortalecendo os outros direitos. • O Estado tem o poder de fazer as leis (poder legislativo), de as impor e fazer com que sejam cumpridas (poder executivo). Os limites do poder do Estado são estabelecidos por aqueles mesmos direitos dos cidadãos para cuja defesa nasceu. • Os cidadãos mantêm o direito de se rebelarem contra o poder estatal, quando este atua contrariamente as finalidades para as quais nasceu. E os governantes estão sempre sujeitos ao julgamento do povo. P R O P R I E D A D E • Para Locke, o principal objetivo dos homens se associarem em sociedades políticas “é a preservação de sua propriedade” (§.85). • A propriedade privada, é uma necessidade humana legítima e um direito natural que parte do estado de natureza, sendo um bem necessário para a conservação entre direito à vida e direito à liberdade. • Deus forneceu-nos a terra sem restrições. Aquele que a transforma com seu trabalho, recebe o direito a possuí-la. • O trabalho legitima a propriedade. • O que distingue se aquela maçã é minha? • O trabalho: colocou uma distinção no que impus minhas mãos, imprimi algo de meu e o tornei meu. O trabalho cria a propriedade, e o mesmo princípio se aplica à terra e aos bens móveis; a terra se torna propriedade de um homem quando ele a cercou e a cultivou. • A liberdade esta portanto não no "querer", e sim no poder de agir e de abster-se da ação. • No plano político, Locke teorizou o constitucionalismo liberal. A sociedade e o Estado nascem do direito natural, que é racional, e o governo tem o poder legislativo e executivo, mas continua sempre sujeito ao juízo do povo. • Por fim, para Locke o Estado não deve intervir nas questões religiosas: a fé não pode ser imposta, e é necessária a tolerância religiosa. • Locke teve por missão unificar o ponto de vista da elite e proporcionar encaminhamento diferente à luta fratricida vivenciada pelo país. Obtido tal resultado, com a chamada Revolução Gloriosa de 1688. • Resumidamente, depois da morte de Elisabete I, em 1603, a reintrodução do catolicismo, através da Casa Real, veio a constituir uma possibilidade efetiva. • Desde que Henrique VIII rompeu com o Papa, em 1534, e criara a Igreja Anglicana, ocorrera a conversão para o protestantismo da imensa maioria da população. Num ambiente destes, representava uma temeridade, de parte da Casa Real, dispor-se a enfrentar a ira popular tentando reaproximar-se do Papa. • Foi precisamente o que fez Carlos I, cujo reinado iniciou- se em 1625. Casou-se com uma católica, irmã do rei da França (Luís XIII) o que lhe daria suporte militar. A partir de 1629, deixou de convocar o Parlamento e instaurou governo pessoal. Em 1640 iniciou-seno país a guerra civil, da qual o monarca saiu derrotado. Carlos I foi decapitado em 1649, extinguiu-se a monarquia e o poder passou a ser exercido pelo Parlamento. Morte ao Rei (2003) - 73' • Essa experiência fracassou completamente. A prática mostrou que o Parlamento não conhecia precisamente sua função. Além disto, entendeu- se que os anglicanos não deviam fazer-se representar, manifestando o entendimento de que a composição do órgão devia ter uma base religiosa. Temerosos de que o país entrasse em colapso, os parlamentares resolvem entregar o poder a Oliver Cromwell (1599-1658), que se destacara no curso da guerra civil, revelando extrema competência militar. • Cromwell tornou-se Lorde Protetor e logo se deu conta da impossibilidade de governar com o Parlamento existente. Dissolveu-o e constituiu um outro, por nomeação pessoal, integrado por gente de sua confiança. De fato, governou como um ditador. • Ao falecer, restaurou-se a monarquia em 1660. Assumiu o filho do rei decapitado, com o título de Carlos II (reinou até 1685), sendo substituído por Jaime II, abertamente católico e que iniciou esforços para restabelecer a convivência com o Papa. • Em1688, Guilherme de Orange levou tropas para a Inglaterra e forçou Jaime II a fugir para França com sua esposa, Maria de Módena, após ver suas próprias tropas voltaram-se contra sua figura real. Jaime II exilou-se na França, local onde permaneceu pelo resto de sua vida. • Maria Stuart e Guilherme de Orange foram então coroados rainha e rei da Inglaterra. Essa transição de poder “pacífica”, isto é, sem o derramamento de sangue, ficou registrada na história inglesa como Revolução Gloriosa. • A Revolução Gloriosa é um marco na história da Inglaterra e também do mundo. Primeiramente, se considerarmos a revolução aqui abordada dentro do contexto da Revolução Inglesa, perceberemos que se trata da primeira revolução burguesa da história. A mobilização da burguesia tinha como objetivo combater os privilégios da nobreza típicos do feudalismo e do absolutismo, que impediam o desenvolvimento econômico burguês. No século seguinte, novas revoluções burguesas aconteceram — como a Revolução Francesa.