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CEPED/UFSC . Florianópolis, 2024 | 1ª edição FICHA INSTITUCIONAL REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Luiz Inácio Lula da Silva (Presidente da República) MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL – MIDR Waldez Góes (Ministro) SECRETARIA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL – SEDEC Wolnei Aparecido Wolff Barreiros (Secretário) DEPARTAMENTO DE ARTICULAÇÃO E GESTÃO – DAG Karine da Silva Lopes (Diretora) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC Prof. Irineu Manoel de Souza, Dr. (Reitor) CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ENGENHARIA E DEFESA CIVIL – CEPED Profa. Ana Maria Bencciveni Franzoni, Dra. (Coordenadora-Geral e do Projeto) Rafael Schadeck (Coordenador Técnico) FUNDAÇÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOCIOECONÔMICOS – FEPESE Prof. Mauro dos Santos Fiuza (Presidente) FICHA TÉCNICA EQUIPE TÉCNICA Danielle Alves de Oliveira Tabosana Diego Borges da Silva Fernanda Luisa da Costa França Flávia Ramponi Serrão Feres George Rodrigues Giovanna Aranda dos Santos Guilherme Salm Duarte Gustavo Bourdot Back Leticia Dalpaz de Azevedo Marcos de Oliveira Rafael Schadeck Vinicius Borges de Souza FOTOS DE CAPA DOS MÓDULOS Joédson Alves, Agência Brasil (Apresentação) Rafa Neddermeyer, Agência Brasil (Módulo 1) Eduardo Valente, SECOM/Governo de SC (Módulo 2) Joédson Alves, Agência Brasil (Módulo 3) Defesa Civil de SP, Divulgação (Módulo 4) Cemaden, Divulgação (Módulo 5) REVISÃO TÉCNICA Aldo Baptista Neto Alexandre Lucas Alves Arthur Rumenyng Mariano da Silva Cinthia Soares de Araújo Gonçalves de Oliveira Cléria Aparecida Moreira Cristiane Tinoco dos Santos Daniela Buosi Rohlfs Gil Correia Kempers Vieira Lidiane Natalie de Souza Lucas Mikosz Marcella Rodrigues de Jesus Marcos de Oliveira Rafael Pereira Machado Tiago Molina Schnorr SIGLAS E ABREVIATURAS ANA Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico APA Avaliação Pós-Ação BBB Build Back Better (Reconstruir Melhor, em português) Cemaden Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais Cenad Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres Cobrade Classificação e Codificação Brasileira de Desastres Compdec Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil DaLA Damage, Loss and Needs Assessment DC Defesa Civil DIRD Década Internacional para Redução dos Desastres Naturais FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FIDE Formulário de Informações do Desastres Gade Grupo de Apoio a Desastres GD Gerenciamento de Desastres Idap Interface de Divulgação de Alertas Públicos INMET Instituto Nacional de Meteorologia INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MIDR Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional Nupdec Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil P&DC Proteção e Defesa Civil Plancon Plano de contingência PMRR Plano Municipal de Redução de Riscos PNPDEC Política Nacional de Proteção e Defesa Civil Pramdec Plano Regional de Ajuda Mútua de Defesa Civil RRD Redução de riscos de desastres RSBR Rede Sismográfica Brasileira SBB/CPRM Serviço Geológico do Brasil SCO Sistema de Comando em Operações Sedec Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil Simpdec Sistema Municipal de Proteção e Defesa Civil Sinpdec Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil UNDRR Gabinete das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (United Nations Office for Disaster Risk Reduction, UNISDR, em inglês) UN-ECLAC United Nations Economic Commission for Latin America and the Caribbean (Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe, em português) SUMÁRIO Apresentação ............................................................................... 9 Módulo 1 ..................................................................................... 13 O Gerenciamento de Desastres e seus Impactos no Brasil ........ 14 Introdução ao Gerenciamento de Desastres ..................................................... 14 Os desastres e seus impactos no nível local .................................................................................. 14 O Gerenciamento de Desastres ..............................................................................................................24 Módulo 2 ..................................................................................... 32 Preparação: Articulação e Planejamento ....................................... 33 Articulação ......................................................................................................................... 33 A Preparação .......................................................................................................................................................33 O Órgão municipal de P&DC como articulador .............................................................................36 Planejamento .................................................................................................................... 45 Ferramentas de Planejamento.................................................................................................................45 Operacionalização e capacitação para atuação no desastre ..............................................53 Módulo 3 ..................................................................................... 57 Preparação: do Monitoramento ao Alarme .....................................58 Monitoramento .................................................................................................................58 Conceitos iniciais .............................................................................................................................................. 60 A trilha do monitoramento ao alerta ....................................................................................................63 Alerta e Alarme ................................................................................................................66 Alertas no nível local ..................................................................................................................................... 68 Alarmes e a mobilização ..............................................................................................................................72 Módulo 4 ..................................................................................... 78 Resposta e as Ações Emergenciais ....................................................79 Ações Emergenciais de Resposta ........................................................................... 79 Socorro ....................................................................................................................................................................84 Assistência ............................................................................................................................................................87 Restabelecimento ........................................................................................................................................... 89 Planejamento e Operacionalização .......................................................................92 Operacionalização das ações de resposta ......................................................................................94 Módulo 5 ...................................................................................104 Plano de Recuperação ........................................................................105 Fase de Recuperação ..................................................................................................105 Levantamento das necessidades pós-desastre ........................................................................110 Metodologia DaLA ..........................................................................................................................................116 Recuperação Pós-Desastre ......................................................................................articulador será apresentar a metodologia aos demais setores para demonstrar a importância de se adotar uma metodologia padrão de resposta. Ele servirá como modelo padrão de gerenciamento de respostas para qualquer tipo de desastre. No entanto, conforme vimos na primeira unidade deste curso, é necessário o desenvolvimento de capacitações acerca de sua aplicação, visto que é necessário seguir uma lista de ações para que a me- todologia seja aplicada corretamente e funcione conforme o previsto. É necessário preparar os agentes para atuar seguindo as premissas relacionadas ao SCO. Nupdec O Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil (Nupdec) é formado, principalmente, por voluntá- rios das comunidades ao qual fazem parte. Essa característica torna a atuação dos Núcleos essencial e a que reflete, de forma mais atualizada e dinâmica, a realidade das comunidades em risco. Ele tem como objetivo viabilizar espaços participativos e democráticos na comunidade, articulando os diversos atores sociais para a consolidação de uma cultura local de percepção de riscos e a consoli- dação de padrões de comportamento que favoreçam a autoproteção e a proteção comunitária e a apli- cação de ações de mitigação. Os Núcleos possuem um histórico de atuação no país marcado pela formação junto a comunidades em áreas de risco, quer pelo incentivo de gestores públicos, ONGs e projetos sociais, ou pela iniciativa da própria comunidade. Em função disso, os voluntários devem ser treinados para agir corretamente frente à ocorrência de um desastre e precisam ser reconhecidos pela comunidade como lideranças. Para saber mais sobre o SCO, acesse o material complementar: Sistema de Comando em Operações (SCO). Saiba mais https://drive.google.com/file/d/1DBkr2EC0lQ-VcajpJBRT8NQvXwRQybUq/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1DBkr2EC0lQ-VcajpJBRT8NQvXwRQybUq/view?usp=drive_link 52 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal TRAZENDO PARA A REALIDADE Visando a integração da Defesa Civil com a comunidade e a difusão de informação para a redução de risco de desastres, a Secretaria Executiva de Defesa Civil do município de Recife/PE iniciou, em 2015, uma campanha de formação de agentes multiplicadores no contexto escolar, realizada por meio do Nupdec. Para isso, foram desenvolvidas capacitações relacionadas com os temas de • Oficina de Defesa Civil; • Desastre e percepção de risco; • Mudança Climática; • Uso e ocupação do solo; • Práticas seguras e cidade resiliente; • Primeiros socorros e produtos perigosos; e • Simulado de preparação nas Escolas. Além disso, é realizado, como conclusão da formação, um simulado de evacuação nas escolas, com todas as etapas coordenadas pelos alunos. Para saber mais sobre o projeto, acesse o Banco de Boas Práticas da Sedec/MIDR. Você pode saber mais sobre o Nupdec, acessando a área de Capacitações do site da Sedec/MIDR, sobre o Plano de Capacitação Continuada em Proteção e Defesa Civil, ou direto no curso de Formação e Gestão de Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil (Nupdec). Monitoramento e Alerta O monitoramento e alerta representam processos que englobam a observação de ameaças por meio da análise de dados climáticos ou tecnológicos. A interpretação desses dados tem o objetivo de prever a iminência de desastres e deve deflagrar avisos, alertas e alarmes para que os gestores públicos, a popula- ção e as instituições relacionadas iniciem o preparo para a resposta à iminente ocorrência de um desastre. Como esse processo é o ponto no qual se dá início à fase de resposta, iremos aprofundar nosso conhe- cimento acerca dos processos e responsáveis que envolvem o monitoramento e alerta na próxima unidade. https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/protecao-e-defesa-civil/capacitacoes https://www.escolavirtual.gov.br/curso/1015 https://www.escolavirtual.gov.br/curso/1015 53 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal TRAZENDO PARA A REALIDADE A Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (COPDEC) do Rio Grande do Norte criou o Grupo de Trabalho Integrado para monitoramento da situação de risco nas falésias da Praia de Barra de Tabatinga, no município de Nísia Floresta. Por meio de mapeamento de áreas de risco e do monitoramento contínuo dos pontos de controle são aplicadas e fiscalizadas ações de redução de risco na área. As atividades desenvolvidas envolvem a realização de vistorias técnicas, diagnóstico geoambiental das falésias, reuniões com o GT por meio de videoconferências e fiscalização para verificar se os proprietários das propriedades envolvidas estão cumprindo a interdição emergencial das áreas delimitadas. O projeto foi realizado em conjunto com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA). Para acompanhar o relatório completo, acesse o Banco de Boas Práticas da Sedec/MIDR. Agora que conhecemos as principais ferramentas para planejar e preparar o município para atuação frente a um desastre, siga para o próximo tópico para entender melhor como ocorre a operacionalização e a preparação dos diferentes atores de forma integrada com as ferramentas de planejamento municipal. Operacionalização e capacitação para atuação no desastre O GD tem seu início na fase de preparação, na qual são planejadas e articuladas as ações a serem operacionalizadas no momento de resposta ao desastre. O Plancon e o SCO são ferramentas que orientam a atuação frente a emergências. No entanto, o desenvolvimento de um Plano de Contingência por si só não soluciona o processo de reposta. Muitos deles são negligenciados ou não são reconhecidos por aqueles que deveriam estar informados. Para garantir sua 54 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal eficácia, os planos devem ser objetivos, com linguagem direta, bem comunicados e com seus termos acor- dados entre as partes envolvidas. Sua estratégia de comunicação é tão importante quanto seu conteúdo. Para a elaboração e aplicação de um Plancon é necessário investir na construção de parcerias entre os diversos órgãos e instituições, para garantir que diante da ocorrência do desastre, todos saibam como agir, de forma unificada, segura e eficaz. Isso inclui a organização de treinamento e capacitações para que as pessoas saibam da existência do plano e saibam quais são suas responsabilidades na hora de agir. Dada a ocorrência dos desastres, cada um dos responsáveis por alguma medida ou atribuição deve responder com base em protocolos próprios de sua organização, mas atendendo as recomendações do Plancon, ou adotando a metodologia do Sistema de Comando em Operações (SCO) como padrão geren- cial para orientar as condutas dos envolvidos nas ações reais de resposta. Deve-se também estruturar um sistema não só de monitoramento de riscos, mas um sistema de comu- nicação, que garanta que existam canais eficazes entre o órgão de P&DC, as equipes de resposta, outros órgãos envolvidos e a população em geral. Dessa forma é possível garantir uma articulação setorial realmente efetiva. Ainda, é necessário compreender que a atuação de resposta a um desastre deve estar adequada ao local e ao tipo de evento do qual se espera enfrentar. As especificidades de recursos e forma de atu- ação de cada município ainda podem divergir de uma comunidade para a outra. Em função disso, mes- mo com um Plancon bem estruturado e atualizado, em situações críticas, deve-se estar preparado para responder adequadamente, mesmo quando as circunstâncias não se alinham ao planejado. Para esses casos, o conhecimento e aplicação do SCO tornam-se uma boa estratégia para atuação. É necessáriodesenvolver simulados tanto para preparar os envolvidos na atuação como para revi- sar e validar o que foi planejado no plano. Além do desenvolvimento, divulgação e realização de simulados definidos por meio do Plancon, o desenvolvimento de treinamentos e capacitações com todos os envolvidos nas ações de Proteção e Defesa Civil do município é fundamental para garantir que todos conheçam seus direitos e deveres rela- cionados ao tema. É essencial o envolvimento da população, principalmente da mais vulnerável, para que se sintam parte do sistema de P&DC do município e para fortalecer a percepção do risco de acordo com a comuni- dade da qual fazem parte. 55 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal As capacitações a serem desenvolvidas podem ser classificadas em duas categorias: Capacitações internas: envolve a estrutura de Proteção e Defesa Civil do município, com foco para os agentes e instituições atuantes. As capacitações têm principal foco na Gestão de Risco e de Desastres e envolve as responsabilidades e competências definidas legalmente para cada um. Capacitações externas: com foco na população, as capacitações externas podem envolver desde campanhas de conscientização, como orientações para descarte de lixos, ações contra a dengue, entre outras, assim como simulados de evacuação, de atuação diante situações de emergências, entre outros. A Sedec/MIDR apresenta em seu site as Certificações Especiais em Proteção e Defesa Civil. Atu- almente, estão disponíveis sete certificações, que englobam as áreas de: Gestão de Desastres Usuário Municipal Usuário Estadual Usuário Federal Gestão de Riscos Monitoramento e Alerta Plano de Contingência Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) Vale ressaltar que os cursos que envolvem cada uma dessas certificações são abertos e gratuitos, podendo ser realizados de forma online por qualquer pessoa interessada. https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/protecao-e-defesa-civil/capacitacoes/certificacao-especiais 56 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal TRAZENDO PARA A REALIDADE A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Cachoeira do Sul/RS desenvolveu o Projeto Capacitação Básica em Defesa Civil. Por meio dele, junto com o apoio da Defesa Civil Estadual, foram desenvolvidas capacitações com carga horária de 8 horas. Dentre os temas abordados é possível citar História, Ferramentas de Gestão, Planos de Contingência e Simulados de Mesa. O público-alvo engloba tanto os agentes relacionados com as ações de Proteção e Defesa Civil, como professores e acadêmicos relacionados às universidades locais. O projeto permitiu a qualificação dos atores envolvidos no processo, a busca pelo conhecimento de pessoas que não atuam diretamente na área e a valorização e reconhecimento da comunidade para com a Defesa Civil. Para saber mais acesse o Banco de Boas Práticas da Sedec/MIDR. Conforme estudamos, as primeiras etapas do processo de preparação envolvem a articulação mu- nicipal e o planejamento das ações a serem desenvolvidas. No entanto, além do planejamento anteci- pado, a liderança em situações de crise é essencial para a gestão eficaz de uma emergência. Assista a videoaula a seguir para saber mais sobre o tema. Siga para o próximo módulo do curso para aprofundar seus conhecimentos acerca das etapas complementares de preparação no Gerenciamento de Desastres, que envolvem os processos de moni- toramento, alerta e alarme. Apesar da qualidade e variedade dos temas abrangidos pela Sedec/MIDR em suas capacitações, é necessário ter em mente que o município pode e deve desenvolver campanhas, cursos e simulados es- pecíficos para a realidade que enfrenta no seu dia a dia e conforme as demandas de suas comunidades. Somente dessa forma é possível manter o Sistema de Proteção e Defesa Civil Municipal e a popu- lação atualizados e preparados para mitigar e enfrentar, quando necessário, as situações de emergência às quais o município está submetido. Videoaula 03: Planejamento e liderança nas ações de P&DC https://youtu.be/IhRzMEsT4kQ?si=pc7sKvmlEUIA3qjf Módulo 3 Joédson Alves, Agência Brasil Preparação: do Monitoramento ao Alarme Unidade 1. Monitoramento » Tópico 1. Conceitos iniciais » Tópico 2. A trilha do monitoramento e do alerta Unidade 2. Alerta e Alarme » Tópico 1. Alertas no nível local » Tópico 2. Alarmes e a mobilização 58 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Preparação: do Monitoramento ao Alarme Neste módulo iremos estudar a fase de preparação do gerenciamento de um desastre que engloba o processo de monitoramento, alerta e alarme. De modo geral, essa fase tem como principal objetivo fa- zer com que, principalmente, as populações mais vulneráveis possam se preparar e agir antecipadamen- te à ocorrência de um desastre, reduzindo os impactos gerados caso uma emergência venha a ocorrer. Monitoramento Nesta unidade vamos compreender a importância do monitoramento e do alerta, e como eles con- textualizam no ciclo de Gerenciamento de Desastres. Para isso, vamos iniciar entendendo a estrutura do Sistema de Monitoramento e Alerta de Desastres. Considerando seu principal objetivo, que é alcançar as populações mais vulneráveis para que elas possam se preparar e agir antecipadamente à ocorrência de um desastre, podemos definir quatro pilares (UNDP, 2018): 1. Conhecimento do Risco: por meio do mapeamento e identificação dos riscos existentes, é possível planejar quais são as ameaças a serem monitoradas e para quais comunidades os alertas devem ser encaminhados; 2. Monitoramento do risco: com as ameaças identificadas, criar redes de monitoramento com o objetivo de identificar a possibilidade de ocorrência de desastres; 3. Comunicação do risco: transformar os dados levantados e processados no monitoramento em avisos para que as populações possam agir antecipadamente; 4. Capacidade de resposta: preparação das comunidades para o desenvolvimento de ações de autoproteção em situações de risco ou, quando da ocorrência de um desastre, de emergência. 59 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal De modo geral, as ações de previsão, monitoramento e emissão de avisos e alertas se encaixam no conceito das ações de preparação. As ações de preparação, por sua vez, referem-se ao conhecimento e às capacidades desenvolvidas por governos, organizações de resposta e recuperação, comunidades e indivíduos para efetivamente antecipar, responder e se recuperar dos impactos de desastres prováveis, iminentes ou atuais (UNISDR, 2015). Portanto, os sistemas de monitoramento, alerta e alarme são processos de observação de amea- ças, cujos dados obtidos devem ser sistematizados, analisados, organizados e divulgados. A interpretação de dados e divulgação de informações têm o objetivo de prever a iminência de desastres; assim, ao receber avisos, alertas e alarmes, os gestores públicos e a população devem direcionar seus esforços para uma tomada de decisão ágil e direcionadas para as ações de preparação e resposta aos desastres. 60 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Com uma visão geral do objetivo central das ações de monitoramento, alerta e alarme, vamos estu- dar os conceitos necessários para garantir a compreensão e a efetiva execução desta fase de preparação. Conceitos iniciais No âmbito da P&DC, os sistemas de monitoramento foram inicialmente implementados por ques- tões de segurança em tempos de guerra. Com os crescentes impactos gerados pelos diferentes de- sastres, o monitoramentopassou a ser um instrumento adequado às ações de Redução de Riscos de Desastres (RRD). O processo de monitoramento consiste na observação sistêmica de potenciais fatores de risco causadores de desastres, os quais devem ser sistematizados, analisados e disseminados para gerar informações úteis ao adequado gerenciamento de ações de preparação, resposta e recuperação, fornecendo estimativas antecipadas dos riscos potenciais aos quais comunidades, infraestruturas, serviços e o meio ambiente estão expostos”. (CEPED/UFSC, 2022) Os sistemas de monitoramento são compostos por recursos tecnológicos e humanos capazes de interpretar fatores principalmente de ordem climática ou meteorológica, e assim prever os potenciais im- pactos de um desastre. Esta previsão permite realizar as comunicações formais às autoridades e, quando aplicável, a operacionalização adequada do Plano de Contingência (Plancon), acionando as agências mem- bros do Grupo de Ações Coordenadas (GRAC) e instalando o Sistema de Comando de Operações (SCO). Aliado a esses instrumentos e demais adotados pelos órgãos de Proteção e Defesa Civil (P&DC), o monitoramento subsidia a tomada de decisão das autori- dades, o Gerenciamento de Desastres, e possibilita mobilizar recursos adequa- dos e evacuar áreas de riscos antes da consolidação do evento extremo; assistir pessoas, atenuar danos, reduzir prejuízos e manter serviços essenciais durante a ocorrência; e garantir o reestabelecimento da normalidade após o desastre. 61 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal No Brasil, a Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012 atribuiu à União, aos Estados e Municípios a respon- sabilidade de realizar, articuladamente, o monitoramento meteorológico, hidrológico e geológico das áreas de risco, fornecendo dados e informações para o Sistema Nacional de Informações e Monitoramento de Desastres. De forma complementar, o Decreto nº 10.593, de 24 de dezembro de 2020, determina que o Sistema deve ser integrado pelos já existentes ou que venha a ser instituído pelos atores do Sinpdec. Ainda, a Lei nº 14.750, de 12 de dezembro de 2023 altera as Leis 12.608/2012 e 12.340/2010 para aprimorar os instrumentos de prevenção de acidentes ou desastres e de recuperação de áreas por eles atingidas, as ações de monitoramento de riscos de acidentes ou desastres e a produção de alertas ante- cipados. Veja, a seguir, exemplos de sistemas de monitoramento que o Brasil dispõe atualmente: Sistema de Coleta e Distribuição de Dados Meteorológicos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) Rede Hidrometeorológica Nacional da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) Rede Observacional do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Decreto/D10593.htm#art42 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/l14750.htm 62 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Além do nível nacional, há sistemas que atuam em escala estadual, regional ou municipal, tratando dados secundários, gerados pelos sistemas de maior abrangência, ou ainda dados primários. A exemplo disso tem-se como boa prática: » Sistema de Monitoramento dos Níveis dos Rios e Emissão de Alertas, de São Carlos/SP; » Sistema de Visualização Integrada de Dados e Alertas (SVIDA), de Niterói/RJ; » Sistema de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil de Santa Catarina. A partir do conhecimento dos riscos, o monitoramento permite o alerta antecipado, que por sua vez suporta tanto a comunicação dos riscos como o Gerenciamento de Desastres. O alerta trabalha critérios e parâmetros, em articulação com os sistemas de monitoramento, com o objetivo de informar situações de risco por meio de processos de comunicação preestabelecidos. Neste contexto, cabe destacar que o Marco de Sendai, vigente de 2015 até 2030, tem como uma de suas metas: “Aumentar substancialmente a disponibilidade e o acesso a sistemas de alerta precoce para vá- rios perigos e as informações e avaliações sobre o risco de desastres para o povo até 2030” (UNISDR, 2015). Além disso, o Marco trata da necessidade de investir e desenvolver soluções técnico-científicas de monitoramento tanto para a compreensão do risco de desastres, quanto para aumentar a prepara- ção para uma resposta eficaz e para “reconstruir melhor”. Esta abordagem demonstra que as ações de monitoramento não só contribuem para a redução de riscos, como também para o desenvolvimento de resiliência nas comunidades. Agora que você compreendeu os principais conceitos e características relacionados às ações de monitoramento e alerta, siga para o próximo tópico para aprender como esse sistema está inserido no dia a dia de um órgão de Proteção e Defesa Civil. 63 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal A trilha do monitoramento ao alerta No âmbito nacional, os centros de pesquisa e agências nacionais que integram a rede de monitora- mento distribuem, por meio do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), informa- ções aos estados e municípios. No âmbito local, cada ente deve avaliar qual a estrutura de monitoramento a ser implantada para garantir um sistema de monitoramento, alerta e alarme adequado à sua realidade. O sistema municipal pode ser organizado a partir de parcerias Nacionais e Estaduais, ou com a instalação de um sistema local. No âmbito Estadual, sugere-se a consulta ao órgão de Proteção e Defe- sa Civil existente, dando início à construção de uma solução com as agências estaduais ou regionais de monitoramento de clima e tempo. Cada ente tem características próprias em relação aos seus sistemas de monitoramento, alerta e alarme. Com isso, é possível existir ou não uma rede própria de equipamentos e sistemas que comple- mentam as informações federais e/ou estaduais. Para esses casos, é importante articular todas as informações recebidas (da rede federal, estadual e municipal) a fim de obter um diagnóstico mais preciso do risco, ter assertividade nos alertas emitidos e uma melhor comunicação à população. Veja no infográfico a seguir o fluxo das informações no Sistema Federal de Monitoramento e Alerta para Desastres. 64 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal TRAZENDO PARA A REALIDADE Uma vez inseridos no sistema do Cemaden, os municípios passam a ser monitorados e podem receber os alertas de risco geo-hidrológico. Esses alertas são emitidos com base em dados coletados por uma rede de sensores e estações meteorológicas instalados em diversas regiões do país. Quando os dados indicam uma situação de risco, o alerta é gerado e transmitido ao Cenad para difusão das informações às autoridades locais. São quatro diferentes níveis de alerta, sendo eles: • Observação; • Moderado; • Alto; • Muito Alto. O Cenad fica então como responsável por passar as informações de monitoramento para os municípios, gestores estaduais, municipais e instituições que fazem parte do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil. Para isso, são seguidos protocolos de comunicação conforme o tipo e nível do alerta. 65 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Importante esclarecer que, padronizar condutas é a ideia de que cada município sistematize as informações demonitoramento para alerta e alarme, e, para isso, poderá ajustar fluxos e informações à sua realidade local. Após o recebimento do alerta, as ações devem ser deflagradas no nível local, etapa que tem se mostrado mais desafiadora e de difícil efetividade. Considerando todas as limitações enfrentadas pelos gestores locais, alguns desafios são de difícil transposição, como manter serviços e o monitoramento em escala de 24 horas ininterruptas, para informar a população em tempo adequado, permitindo a ação pre- ventiva e de autoproteção das comunidades mais vulneráveis. Para isso são necessárias equipes e serviços bem estruturados, que tem um custo elevado. Em função disso, os órgãos de Defesa Civil, principalmente aqueles de municípios de pequeno porte, em função das dificuldades de estrutura operacional, necessitam constantemente de apoio das instituições estaduais e federais. Agora que estudamos sobre o fluxo do monitoramento e alerta, continue para o próximo módulo para compreender melhor o processo de transformação do alerta em alarme, e como conseguir incenti- var a mobilização da população em casos de emergência. 66 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Alerta e Alarme Os processos de alerta e alarme representam um conjunto de informações adequadas e significa- tivas, com a finalidade de permitir que pessoas, comunidades e organizações ameaçadas por qualquer tipo de risco se preparem e possam atuar de forma apropriada e em tempo hábil para reduzir possíveis perdas e danos. Porém, existem algumas diferenças entre o alerta e o alarme, vejamos: ALERTA ALARME O alerta trabalha critérios e parâmetros para repasse das informações em situações de desastres iminentes por meio de sistemas de comunicação em articulação com sistemas de monitoramento. O alarme trabalha com o acionamento da população para providências de preparação e resposta, envolvendo o acionamento de dispositivos ou recursos que de alguma forma chamem atenção da população para evacuação da área de risco ou alguma outra medida de autoproteção. O alerta pode ser emitido por mensagens, via diversos meios e mídias, como telefonia celular por meio de troca de mensagens (SMS) e aplicativos de mensagens instantâneas. Os tipos de alarmes mais utilizados são os sonoros, emitidos, normalmente, mediante o uso de sirenes, carros de som ou até mesmo com apitos. Quando falamos em monitoramento, alerta e alarme, é importante destacar que no Brasil, dada a dimensão territorial e o perfil de administração pública existente, o processo se divide em dois âmbitos: ampliado (que ocorre em âmbito federal e estadual); e local (que ocorre em âmbito municipal, com apoio estadual, se necessário). Vejamos detalhes desses processos a seguir: 67 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal AMPLIADO (nacional e/ou estadual) LOCAL (municipal) MONITORAMENTO O município acompanha o trabalho de órgãos especializados em monitoramento, que realizam uma observação sistemática e continuada de potenciais fatores causadores de desastres, por meio de equipamentos específicos que verificam a variação dos fatores geradores de risco. Com isso, é possível fornecer estimativas antecipadas dos riscos potenciais. O município é o próprio responsável pela implantação de equipamentos e pelo acompanhamento e análise dos dados dos sistemas de monitoramento locais. Podem ser utilizadas réguas de nível de rios, estações hidrológicas e pluviômetros e estações meteorológicas, por exemplo. A participação da população de áreas de risco também pode ser considerada no sistema de monitoramento, pela identificação de sinais de deslizamento, por exemplo. ALERTA Os órgãos especializados realizam a comunicação das informações produzidas pelo monitoramento. Um alerta será emitido toda vez que o monitoramento identificar uma situação potencial de risco e danos, a partir de critérios técnicos predefinidos e padronizados. Esta comunicação pode ocorrer da instituição para o município ou diretamente para a população. O município gerencia toda a comunicação que é feita com a população. Ele deve, portanto, acompanhar o que os órgãos federais e estaduais estão divulgando e organizar sua própria comunicação. Trata-se de uma divulgação feita diretamente à população, com informações verificadas e acompanhadas de orientações sobre o que fazer. Deve-se garantir que as comunidades estejam preparadas para atuar de forma apropriada e com tempo suficiente para reduzir possíveis perdas e danos. CONDUTA DE MONITORAMENTO, ALERTA E ALARME 68 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal ALARME Apenas em situações muito específicas os órgãos federais e estaduais atuam com alarmes diretamente à população. São casos de desastres iminentes ou de grande impacto, em que os alarmes podem ser emitidos por emissoras de rádio e TV, SMS e outros tipos de mídia, por exemplo. Nesta situação, o município orienta a população para uma ação de resposta a um desastre iminente, como a retirada de pessoas de uma área de risco para um abrigo, por exemplo. Geralmente, os alarmes utilizam algum sinal, dispositivo ou sistema sonoro que tenha sido previamente acordado com a população, levando os moradores da área de risco a uma rápida reação. Como vimos, diferentes órgãos do Governo Federal (como Inmet, Cemaden, CPRM, ANA, RSBR, INPE, dentre outros) enviam continuamente informações sobre riscos ao Cenad/Sedec. Essas informa- ções são avaliadas e processadas e encaminhadas aos órgãos de P&DC dos estados e municípios onde existam risco de ocorrência de desastres. Por sua vez, os órgãos de P&DC recebem as informações e, conforme a necessidade, organizam e encaminham o alarme para a população, principalmente para as comunidades mais vulneráveis. Conforme a realidade local, existem diversos mecanismos que podem ser utilizados para o envio de alertas ou alarmes. Siga para o primeiro tópico desta unidade para aprender um pouco mais sobre esses mecanismos. Alertas no nível local Até o momento não existe um padrão único para emissão de alarmes ou alertas pelos órgãos mu- nicipais de P&DC. No entanto, alguns procedimentos são definidos por meio da Portaria nº 2.216, de 4 de julho de 2023, do Ministério da Integração e do Desenvolvimento. Por meio dela, determina-se que haja articulação entre os órgãos e entidades estaduais, distritais e municipais de proteção e defesa civil para o envio de alertas à população. Também são definidos os procedimentos para a utilização do sistema Interface de Divulgação de Alertas Públicos (Idap). https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.216-de-4-de-julho-de-2023-494170139 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.216-de-4-de-julho-de-2023-494170139 69 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal A emissão dos alertas em casos de perigo iminente é de responsabilidade do município, no entanto, em caso de incapacidade dos órgãos municipais, os órgãos estaduais devem enviar os alertas. Logo, por ordem de prioridade, o envio de alertas à população é competência: 1. Órgãos de P&DC municipais; 2. Órgãos de P&DC estaduais; 3. Do Cenad, na impossibilidade de envio de alertas por parte do órgão estadual ou muni- cipal, ou em casos de desastres excepcionais, como o ocorrido durante as ocorrências ligadas à Covid; 4. Além da Idap, os dados do alerta também estão disponíveis, para consulta, nas plataformas das empresas parceiras (Google e aplicativos de mensagens instantâneas, por exemplo); 5. E dos órgãos federais, que também possuem meios de comunicação diretos com a popu- lação. Conforme o art. 10 daPortaria nº 2.216, de 4 de julho de 2023, “o envio de informações de alerta é restrito às etapas de preparação e resposta a um desastre, ou seja, enviadas na iminência de uma ocorrência ou quando esta ocorrer e as informações sejam necessárias para ações de socorro e assistência à popula- ção afetada”. (BRASIL, 2023b) Ainda, o art. 11 da mesma portaria, afirma que os alertas enviados devem estar acompanhados de recomendações ou ações emergenciais para a população em risco de desastre. As mensagens encaminhadas para a população devem conter as seguintes características: » Atender aos interesses da população, sejam de utilidade pública e tenham o caráter de prepa- ração para um possível desastre; » Conter informações emergenciais e recomendações relativas às condições de risco de uma determinada localidade; e » Conter informações claras e de fácil entendimento por parte da população. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.216-de-4-de-julho-de-2023-494170139 70 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal A Interface de Divulgação de Alertas Públicos (Idap) é uma plataforma para emissão de alertas de riscos de desastres e emergências à população. A ferramenta é oferecida aos estados e municípios para emissão de alertas via SMS, TV por assinatura, Telegram e pelo Google Alertas Públicos. Um dos grandes benefícios da Idap é a centralização de todos esses meios de comunicação em uma única plataforma, tornando muito mais rápida a disseminação de alertas à população, racionalizando esforços e poupando o tempo de agentes públicos em situações de risco e de desastre. O interessado no serviço de envio de alerta em seu município deve registrar-se junto ao Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), na Interface de Divulgação de Alertas Públicos (Idap), e poderá cadastrar, enviar e gerenciar alertas, de acordo com o seu nível de atuação e instituição vinculada. M O N TA G EM SO B R E FO TO FR EEPIK Saiba mais 71 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Para garantir a comunicação efetiva sobre a situação e as ações necessárias a serem desencadea- das, os municípios precisam estabelecer critérios com foco em seu perfil de risco para o monitoramento local. No entanto, orienta-se que os alertas sejam emitidos em consonância com o padrão da Idap, se- guindo diferentes níveis de severidade (ou criticidade, ou, ainda, operacionais). Por isso, os alertas são emitidos, de modo geral, classificados em quatro níveis: baixo, moderado, alto e muito alto. Existe ainda a possibilidade de classificação em um quinto nível. Com isso, as categorias e ações indicadas para cada uma delas podem ser definidas conforme o quadro a seguir. 72 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Além da classificação de severidade, os alertas geralmente contêm informações sobre as condi- ções meteorológicas e geológicas que indicam um risco iminente. É importante ressaltar que os elemen- tos que compõem um alerta podem variar de acordo com a gravidade da situação e com as especificida- des de cada caso. Independentemente do sistema utilizado para monitorar e antecipar a ocorrência de eventos crí- ticos, os diferentes níveis de alertas gerados pelo Governo Federal servem como parâmetros e também como gatilhos para a alteração do status operacional do órgão municipal ou estadual de P&DC e, conse- quentemente, para a tomada de ações de contingência específicas, requeridas para cada caso. É importante que, de acordo com a realidade local, cada município também padronize suas condu- tas de monitoramento, alerta e alarme, bem como estabeleça as estratégias de difusão das informações para a população, criando oportunidades de divulgação destas ferramentas de informação para a comu- nidade (Ex: entrega de panfletos com as informações das mídias de alerta durante a execução de pedá- gios beneficentes ou eventos municipais como feiras e exposições), fortalecendo, assim, suas ações de preparação e resposta a desastres. Para uma melhor gestão de riscos, recomenda-se que essas condutas estejam documentadas no Plano de Contingência Municipal, visando a identificação dos responsáveis e os critérios adotados para a emissão. Para complementar o conteúdo sobre o tema, assista a videoaula a seguir sobre boas práticas no uso de alertas para proteção à população. Videoaula 04: Boas práticas no uso de alertas Alarmes e a mobilização Entendendo que o principal objetivo de todo o sistema de monitoramento, alerta e alarme é permitir a atuação e mobilização antecipada, tanto dos agentes de proteção e defesa civil, como das comunidades em áreas de risco, vamos estudar agora como funciona todo o fluxo de informações e ferramentas que po- dem ser aplicadas para desencadear efetivamente as ações de autoproteção das populações vulneráveis. Conforme estudamos, toda a cadeia de informações de monitoramento até o alarme pode percor- https://youtu.be/tnWBcetD6gE?si=bvhJEv7dVESE2U3H 73 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal rer dois caminhos que envolvem basicamente o levantamento de dados por meio de órgãos federais ou locais (estaduais e municipais). Com isso, observe a trilha de comunicação a ser desenvolvida, conside- rando essas duas opções, para a emissão de alerta/alarme para atuação antecipada. 74 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Quando a ocorrência do desastre é iminente, as autoridades locais precisam empregar recursos que muitas vezes não estão disponíveis caso não tenham sido previstos de forma antecipada. Os disposi- tivos mais comuns utilizados pelas defesas civis são: redes sociais; carros de som; sirenes automatizadas; sirenes de operação manual. A partir daí o desafio consiste em aumentar a percepção do risco das comunidades para seu grau de exposição, sua vulnerabilidade, a necessidade de estabelecer uma convivência diária com o risco e a forma correta de se comportar em situações de iminência do impacto de um fenômeno natural que poderá resultar em desastre. Garantir que os alertas ou alarmes alcancem a população das comunidades em áreas de risco é fundamental para que todo o processo desenvolvido ao longo do sistema de monitoramento tenha sua função atingida. No entanto, conforme vimos no início desse módulo, um dos pilares a ser considerado é a Capacidade de Resposta. A Capacidade de Resposta está relacionada com a preparação das comunidades para o desenvolvimento de ações de autoproteção em situações de risco ou, quando da ocorrência de um desastre, de emergência. Para isso, além da importância da padronização das condutas e comunicação, é necessário que os alarmes resultem na mobilização das pessoas em áreas de risco e que elas estejam preparadas para realizar ações de autoproteção. Para que o alarme vire ação, algumas medidas devem ser desenvolvidas previamente principal- mente com as comunidades mais vulneráveis que estão em áreas de risco. Nesse contexto, indica-se: » Envolvimento da população em todas as etapas (Conhecimento do Risco; Monitoramento; Alerta e Comunicação do Risco); 75 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal » Desenvolvimento de campanhas de conscientização; » Construção de lideranças comunitárias (Nupdec); » Educação para Redução de Risco de Desastres; » Desenvolvimento de simulados. Essas ações são responsáveis por influenciar na Capacidade de Resposta diante da probabilidade de ocorrência de um desastre. TRAZENDO PARA A REALIDADENa cidade de Belo Horizonte/MG, a Prefeitura em parceria com a Defesa Civil Municipal, Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) e o Corpo de Bombeiros, capacita e treina os integrantes dos Núcleos de Defesa Civil e Alerta de Chuva, com foco principal para os moradores de áreas de risco de alagamento e geológico. A capacitação segue as recomendações da Organização das Nações Unidas, incluindo oficinas relacionadas com: • Primeiros socorros para vítimas de afogamento e trauma; • Acidentes domésticos; • Lançamento de cordas; • Comportamento em veículos em enchentes; • Nós e amarrações; • Atividade prática de salvamento em enchente e desmoronamento; • Retirada de vítimas em local de risco. Por meio do projeto desenvolvido promove-se o fortalecimento da cultura de autoproteção e interação de vários órgãos e grupos que trabalham com foco na área de risco. Para mais informações, acesse o Banco de Boas Práticas da Sedec/MIDR. D iv ul ga çã o, D ef es a C iv il de B H 76 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal A seguir, apresentamos o fluxo de ações que englobam todo o sistema de monitoramento, alerta e alarme, incluindo as ações reali- zadas pelos órgãos federais. Ressaltamos que, conforme apresentado no fluxograma, a mobilização da população e o aciona- mento das ações de resposta iniciam no período anterior à ocorrência do desastre. Elas são deflagradas com o recebimento das informações de monitoramento quando elas indicam a alta probabilidade de ocorrência de uma emergência no município. Com isso, tanto os agentes e órgãos de P&DC podem se preparar previamente para a resposta ao desastre, como a população pode agir de forma antecipada para garantir sua autoproteção e reduzir os danos caso o desastre venha a acontecer. 77 Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Ainda, é importante pontuar que essas ações, apesar do caráter emergencial, devem ser planejadas e acionadas no período de normalidade, ainda durante a fase de preparação do ciclo de ação da defesa civil. Agora que você estudou sobre o sistema de monitoramento, alerta e alarme, assista à videoaula a seguir para visualizar na prática a aplicação dos conceitos aprendidos. Videoaula 05: Sistemas de alerta e alarme: A autoproteção da população Agora que compreendemos o fluxo do sistema de monitoramento e alerta e o processo de ações a serem desenvolvidas durante a fase de preparação, siga para o próximo módulo do curso para estudar sobre a fase de resposta e as ações emergenciais. https://youtu.be/NVxKp06mzGI?si=HthvBEeOtzD9ubBB Módulo 4 Defesa Civil de SP, Divulgação Resposta e as Ações Emergenciais Unidade 1. Ações Emergenciais de Resposta » Tópico 1. Socorro » Tópico 2. Assistência » Tópico 3. Restabelecimento Unidade 2. Planejamento e operacionalização » Tópico 1. Operacionalização das ações de resposta 79 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Resposta e as Ações Emergenciais Conforme vimos anteriormente, o Gerenciamento de Desastres engloba ações de preparação e resposta. Neste módulo, abordaremos apenas a fase de resposta. Ações Emergenciais de Resposta No momento em que ocorre um desastre, ou na iminência dele ocorrer, a atuação imediata e planejada é essencial para que os impactos decorrentes sejam os mínimos possíveis e se reestabeleça o funcionamento dos serviços essenciais e a qualidade de vida local. Para essas situações, é necessário pré-estabelecer um plano conjunto e coordenado entre os diferen- tes atores e instituições que operarão na emergência. Dessa forma, todos os envolvidos devem estar prepara- dos e conhecer os processos a serem adotados para cada situação enfrentada. Os diversos setores de atuação municipal também precisam trabalhar em conjunto para garantir que os recursos necessários, como equipamentos e pessoal, estejam disponíveis e sejam empregados com efici- ência. Além disso, é importante estabelecer como se dará a relação do município com as concessionárias de serviços públicos, como de eletricidade e de distribuição de água. É nestes casos em que o papel articulador da Defesa Civil deve ser aplicado com clareza e de modo eficiente, coordenado e planejado. Para a maioria dos casos, os órgãos mais críticos com os quais a Defesa Civil deve se articular in- cluem a assistência social, corpo de bombeiros, polícia militar, obras, limpeza urbana, saúde e educação. Ainda, a declaração de Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública torna-se uma ferramenta importante para o fortalecimento e a legalidade da mobilização de recursos necessários para atuar no enfrentamento ao desastre. 80 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Vale lembrar que, dentre as competências definidas para os municípios pela Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012, estão: » Coordenar as ações do SINPDEC no âmbito local, em articulação com a União e os Estados; » Declarar situação de emergência e estado de calamidade pública; » Vistoriar edificações e áreas de risco e promover, quando for o caso, a intervenção preventiva e a evacuação da população das áreas de alto risco ou das edificações vulneráveis; » Organizar e administrar abrigos provisórios para assistência à população em situação de desas- tre, em condições adequadas de higiene e segurança; » Manter a população informada sobre áreas de risco e ocorrência de eventos extremos, bem como sobre protocolos de prevenção e alerta e sobre as ações emergenciais em circunstâncias de desastres; » Mobilizar e capacitar os radioamadores para atuação na ocorrência de desastre; » Promover a coleta, a distribuição e o controle de suprimentos em situações de desastre; » Proceder à avaliação de danos e prejuízos das áreas atingidas por desastres; » Manter a União e o Estado informados sobre a ocorrência de desastres e as atividades de prote- ção civil no Município; » Estimular a participação de entidades privadas, associações de voluntários, clubes de serviços, organizações não governamentais e associações de classe e comunitárias nas ações do SINP- DEC e promover o treinamento de associações de voluntários para atuação conjunta com as comunidades apoiadas; e » Prover solução de moradia temporária às famílias atingidas por desastres. Cabe reforçar que o coordenador municipal deve ter uma visão holística, com o objetivo de mini- mizar danos em todos os aspectos, sejam eles humanos, sociais, materiais, econômicos ou ambientais. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm 81 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Este é o cerne para definição e planejamento das ações de resposta, e deve ser a força motriz por trás de todas as decisões tomadas. Com isso, para a operacionalização eficiente das ações de resposta é necessário: » Definição clara das missões e responsabilidades dos órgãos envolvidos em situações de desastre; » Desenvolvimento de planos de gerenciamento de desastres para cenários específicos. Para melhor compreender os objetivos e o modo operacional das ações de resposta, vamos estu- dar, a seguir, sua definição e as atividades que englobam essa fase do Gerenciamento de desastres. As ações de resposta conceitualmente são definidas como: Medidas de caráter emergencial, executadas durante ou após a ocorrência do desastre, destinadas a socorrer e assistir a população atingida e restabelecer os serviços essenciais (BRASIL, 2020a). Dessa forma, podemos dividir as ações de resposta nas trêscategorias apresentadas no esquema a seguir. 82 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Outra boa definição que nos ajuda a compreender o conceito de resposta é a apresentada pela Estratégia Internacional para a Redução de Riscos das Nações Unidas, como: Ações realizadas durante ou imediatamente após um desastre, a fim de salvar vidas, reduzir os impactos na saúde, garantir a segurança pública e atender às necessidades básicas de subsistência das pessoas afetadas”. (UNDRR, 2017) As ações emergenciais que compõem a resposta aos desastres podem variar substancialmente e levar horas, dias, semanas e até mesmo meses, dependendo da intensidade do impacto do desastre e da capacidade local para o enfrentamento do evento (BRASIL, 2017). Em razão disso, os órgãos de Proteção e Defesa Civil precisam atuar de forma integrada, ajudando no acionamento, mobilização e emprego das diversas estruturas de serviços públicos, garantindo que os afetados pelos desastres sejam prontamente atendidos e rapidamente socorridos. Outro aspecto relevante é que, além das ações típicas feitas por bombeiros, policiais, médicos e socorristas, os agentes de P&DC também precisam se articular e agir de forma conjunta com outros profissionais oriundos dos serviços de assistência social, vigilância sanitária e epidemiológica, das áreas de eletricidade, abastecimento de água, comunicações, obras e drenagem, entre outras. Devemos lembrar que essas ações são normalmente realizadas por profissionais que atuam em serviços públicos de emergência, como Bombeiros, Polícia (Civil, Militar ou de Trânsito), SAMU, entre outros. 83 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Alguns desses serviços podem ter atribuições e responsabilidades no âmbito apenas municipal, como por exemplo, as guardas municipais de trânsito e as coordenadorias municipais de Proteção e Defesa Civil. No entanto, algumas atividades são de competência estadual, ou ainda da esfera federal, quando se trata das forças armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal. Em relação às diferentes ações emergenciais, cabe destacar que algumas demandas, principalmen- te relacionadas às questões de saúde, podem surgir de forma indireta após a ocorrência do desastre. A falta de abastecimento de água potável, dificuldade de gestão dos resíduos sólidos e dificuldade do retorno para a situação de normalidade de áreas alagadas são alguns exemplos de impactos que podem levar à trans- missão de doenças que, antes do desastre, não seriam uma demanda significativa para as áreas atingidas. TRAZENDO PARA A REALIDADE As chuvas intensas que ocorreram no ano de 2008 no sul do país fizeram com que cerca de 80 mil pessoas ficassem desabrigadas ou desalojadas. Os eventos de deslizamento de terra, inundação e alagamento interromperam o abastecimento de água potável e a coleta de lixo de diversas cidades. Ainda, alguns municípios permaneceram com água e lama por quase uma semana. Além de atingir as unidades de saúde, os eventos decorrentes das chuvas provocaram um aumento da demanda de atendimento, ultrapassando a capacidade de resposta e provocando o colapso do sistema de saúde. Mesmo alguns dias após a ocorrência do desastre, o registro de casos de diarreia na população aumentou, principalmente para os idosos e crianças que se encontravam nos abrigos provisórios. Por não existir um Plano de Preparação e Resposta para o setor saúde, as ações necessárias para evitar o agravamento da situação não foram previstas, e a resposta ao desastre baseou-se no atendimento das emergências que surgiam (FREITAS, 2018). Neiva Daltrozo, Secom, Governo de SC 84 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Para entender um pouco melhor sobre o tema, assista a videoaula a seguir, que aborda as ações de resposta no setor de saúde. Agora que vimos um pouco mais sobre o conceito geral de resposta, vamos aprofundar nosso co- nhecimento sobre cada uma das ações de socorro, assistência e restabelecimento. Videoaula 06: Vigilância em Saúde associada aos Desastres Socorro Conforme vimos anteriormente, a Defesa Civil Municipal, com o apoio das esferas estadual e fede- ral, deve trabalhar de forma preventiva, o que engloba ações como a avaliação de risco, medidas de RRD e de monitoramento e alerta. Entretanto, apesar de todos os esforços, mesmo assim temos a ocorrência de uma emergência ou desastre. Nessas situações é preciso iniciar as ações de socorro. Por definição, as ações de socorro são aquelas medidas iniciais de emergência que têm por finalidade socorrer e preservar a vida das pessoas afetadas pelo desastre. Os exemplos mais comuns incluem: » Isolamento e controle de acesso às áreas de risco iminente; » Controle de trânsito próximo ao local da emergência; » Evacuação das populações residentes em áreas em risco; https://youtu.be/C1rbEk6m3QI?si=c8rAeJy8PpNufH8w 85 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal » Controle de emergências de toda ordem (extinção de incêndios; estabilização de áreas, edifica- ções ou veículos instáveis; controle de vazamentos de produtos perigosos; entre outros); » Busca, resgate e salvamento de pessoas; » Prestação do socorro pré-hospitalar de feridos ou doentes; » Triagem de múltiplas vítimas em acidentes em massa; » Transporte de feridos e doentes para unidades hospitalares; » Assistência médica hospitalar dos feridos e doentes. As ações de resposta relacionadas ao socorro da população afetada podem variar bastante de acordo com a tipologia do desastre. Pense num prédio em chamas, qual seria a sua primeira prioridade? Possivelmente você pensou em acionar o alarme de incêndio, para que os moradores do prédio saibam do perigo e iniciem a evacuação do mesmo. E, em seguida, ligar para os bombeiros. E se a emergência é uma inundação, num determinado bairro da sua cidade, em decorrência de chuvas fortes e concentradas? Bem, nesse caso você deve ter pensado que as autoridades deveriam ter emitido avisos de alerta e alarme. Dessa forma, os moradores das áreas de risco conseguem antecipadamente, saber do problema que se aproxima, retirar seus pertences mais valiosos, e sair de casa em direção às áreas seguras em 86 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal abrigos públicos ou em casas de amigos e parentes. Ainda, para aqueles que não conseguiram sair da área de inundação, é necessário organizar equipes de resgate, abrigos, entre outras ações relacionadas. Essa lógica é a mesma para qualquer emergência ou desastre. Independentemente do que acon- teceu, devemos organizar as ações de resposta, de forma ágil e coordenada, para garantir a vida e mini- mizar danos e prejuízos, protegendo as pessoas, seus patrimônios e o meio ambiente. Essas ações envolvem o acionamento de órgãos públicos de resposta, a evacuação de pessoas e transferência delas para abrigos, e outras ações próprias de socorro (como retirar pessoas isoladas em áreas de risco, socorrer feridos, estabilizar estruturas danificadas, etc.). 87 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Assistência Por definição, as ações de assistência às vítimas são aquelas que têm por finalidade garantir a integridade física e restaurar as condições de vida digna das pessoas afetadas pelo desastre até o retorno da nor- malidade, mediante a prestação de assistência e ajuda humanitária. Os exemplos mais comuns de medidas de assistência incluem: » Suprimento de alimentos e de água potável;» Oferta de vestuário, material de higiene pessoal e itens de acomodação; » Suprimento de material de limpeza para o ambiente afetado; » Fornecimento de material (lonas) para a cobertura das edificações danificadas; » Recebimento, triagem e distribuição de itens de assistência humanitária; » Apoio logístico às equipes empenhadas nas ações assistenciais; » Oferta de serviços de transporte, comunicação, assistência farmacêutica, bem como ações de saúde, assistência psicossocial e psicológica; » Manejo de cadáveres e restos mortais (mediante ações de identificação, conservação, sepulta- mento e apoio aos familiares); » Assistência e manejo de animais domésticos; » Instalação de acampamentos e abrigos provisórios; » Oferta de aluguel social temporário; » Demais atividades logísticas e assistenciais até que se restabeleça a situação de normalidade. 88 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Da mesma forma que nas ações de socorro, identificada uma necessidade de assistência decorren- te da ocorrência de algum tipo de desastre, cabe ao órgão municipal de Proteção e Defesa Civil mobilizar os recursos de resposta necessários. Para isso, faz-se necessária a convocação pessoal dos órgãos go- vernamentais responsáveis, ou ainda, aqueles órgãos acordados nos planos de contingência, para atua- rem de forma coordenada e integrada, durante todo o período de crise. Ainda, é importante que todas as ações de resposta (socorro, assistência e restabelecimento) sejam desenvolvidas de forma planejada, complementar e conjunta. Veja que esse trabalho de mobilização, é na verdade, o ato de reunir as agências e pessoas pre- paradas para responder as demandas causadas por um desastre. Esse processo de mobilização de recursos humanos e materiais exige um sistema de logística organizado para que as tarefas possam ser realizadas de forma rápida, eficiente e eficaz. Percebe-se aí que a boa gestão do socorro e da assistência, incluindo ações de ajuda humanitária, mediante a aplicação de técnicas de logística, baseia-se em antecipar e identificar os problemas à medida que eles surgem, e prover suprimentos específicos nos momentos adequados e nos lugares em que eles são mais necessários. Isso exige que a DC atue como uma espécie de organismo articulador. Para isso, inicialmente é necessário identificar, com o apoio dos demais órgãos de resposta mobilizados, necessidades adicio- nais em termos de recursos operacionais e logísticos, de parte de cada um dos órgãos governamentais envolvidos, para o adequado atendimento das demandas decorrentes do desastre. Esse trabalho exige a atualização das informações relacionadas aos recursos mobilizados e disponíveis para fins de registro, controle e planificação das ações subsequentes. De forma geral, a Defesa Civil não atua diretamente efetuando ações de socorro e assistência, mas é ela quem ajuda no processo de articulação, mobilização e operacionalização dos órgãos de resposta por meio do acionamento de planos de chamada, levantamento de danos e prejuízos e consolidação de relatórios, repasse de kits de assistência, entre outras ações. 89 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Restabelecimento As ações de restabelecimento têm por finalidade garantir o fun- cionamento de serviços considerados essenciais, mediante o restabe- lecimento emergencial das condições de mobilidade, saúde, sanea- mento, habitação, geração e distribuição de energia e comunicações de uma determinada área afetado por desastres. Os exemplos mais comuns de medidas de restabelecimento de serviços essenciais incluem: » Restabelecimento do fornecimento de água potável; » Restabelecimento do fornecimento de energia elétrica e de comunicações; » Restabelecimento dos serviços de saúde e segurança pública; » Desobstrução e o restabelecimento das rotas de acesso e da trafegabilidade aos estabeleci- mentos de abrigamento, saúde, educação, compras básicas, entre outros; » Desmontagem de edificações com estruturas comprometidas; » Remoção de escombros em geral; » Estruturação de saneamento básico de caráter emergencial; » Construção de acessos públicos alternativos ou provisórios como alternativa a trechos interrompidos; » Recuperação emergencial de acessos públicos e obras de artes danificadas e/ou destruídas; » Tratamento emergencial e destinação de resíduos sólidos; » Limpeza e descontaminação de edificações e instalações afetadas pelos desastres; » Limpeza e desinfestação de ambientes comprometidos pelos desastres; 90 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal » Enterro de animais em locais adequados, segundo normas da zoonose; » Ações de vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental; » Realização de vistorias e emissão de laudos e pareceres técnicos; » Organização de mutirões para a recuperação de unidades habitacionais; » E todas as demais ações para a proteção de grupos populacionais vulneráveis e regularização dos serviços essenciais comprometidos. Neste ponto, vale uma observação importante. Veja que há uma diferenciação entre ações de res- tabelecimento e ações de reconstrução: Ações de restabelecimento Caráter provisório e visam apenas garantir emergencialmente o funcionamento de serviços essenciais interrompidos. Devido ao caráter de urgência, são obras mais simples, de execução rápida, que não exigem projeto executivo, e, normalmente possuem baixo custo global. Ações de reconstrução Caráter permanente, com objetivo do retorno do cenário destruído à normalidade. As obras de reconstrução necessitam de projetos completos, além de orçamento detalhado, mesmo que a contratação tenha a licitação dispensada. De acordo com o Decreto nº 11.219, de 05 de outubro de 2022, existe a possibilidade de solicitação direta de recursos federais, tanto pelos Municípios como pelos Estados e o Distrito Federal, para apoio às ações de resposta, compreendendo exclusivamente: » Ações de socorro e de assistência à população atingida pelo desastre; e » Ações de restabelecimento na área atingida pelo desastre (Ver art. 9º do Decreto). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2022/decreto/D11219.htm 91 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Mas não se enquadram como ações de resposta da Sedec: » Ações que não possuam relação direta com o desastre; » Aquisição de materiais destinados exclusivamente à composição e à estruturação de órgãos e entidades públicas e privadas; e » Outras ações estabelecidas em ato do Ministro de Estado do Desenvolvimento Regional. Essas solicitações devem ser motivadas e comprovadas pelo ente municipal ou estadual, ficando o ente recebedor responsável pela apresentação dos documentos e informações necessárias para análise do reconhecimento federal da situação de anormalidade. Cabe destacar ainda que constatadas, a qualquer tempo, a presença de vícios nos documentos apresentados, a inexistência da situação de emergência ou do estado de calamidade pública declara- dos ou a inexecução do objeto, o ato administrativo que tenha autorizado a realização da transferência obrigatória perderá seus efeitos, ficando o ente beneficiário obrigado a devolver os valores repassados devidamente atualizados. 92 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Planejamento e Operacionalização Agora que aprendemos os conceitos acerca das ações que envolvem a fase de resposta (socorro, assistência e restabelecimento), vamos estudar como o processo pode ser aplicado na prática, conside- rando as diferentes realidades dos municípios brasileiros. O Sistema de Comando em Operações (SCO),é uma metodologia de trabalho para orientar as ações de resposta, que foi construído a partir de uma série de características gerenciais baseadas em boas práticas e serve como uma excelente ferramenta de gestão de multiagências, caso outra forma de gestão não esteja sendo utilizada pelo ente atingido pelo desastre. O SCO é estruturado num modelo padronizado e hierarquizado para responder a situações críticas, que quando da ocorrência de um evento, nos momentos de crises há pouca informação, mas muita ur- gência no tempo para a tomada de decisão. Logo, é preciso que alguém assuma o comando de imediato, reúna as informações, estabeleça um plano inicial para a solução do problema, e inicie as operações de socorro na prática, garantindo a integração dos recursos disponíveis e o melhor emprego dos mesmos. Atualmente o SCO reúne 14 características gerenciais que devem ser seguidas para um melhor trabalho de resposta que exigem um maior controle da situação. Para saber mais sobre o SCO, acesse o material complementar: Sistema de Comando em Operações (SCO). Saiba mais Apesar da estrutura bem estabelecida e consolidada do SCO, muitos municípios apresentam difi- culdade na sua aplicação, principalmente pelo fato da metodologia exigir um preparo prévio e uma gran- de quantidade de atores para aplicação das ações definidas. Identificando essa dificuldade, os municípios da região da Grande Florianópolis, em Santa Catarina, fizeram um acordo de cooperação mútua, por meio do qual foi firmado o Plano Regional de Ajuda Mútua de Defesa Civil, o Pramdec. Por meio dele, os municípios envolvidos regularam: https://drive.google.com/file/d/1DBkr2EC0lQ-VcajpJBRT8NQvXwRQybUq/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1DBkr2EC0lQ-VcajpJBRT8NQvXwRQybUq/view?usp=drive_link 93 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal As ações de solicitação, mobilização, operações e desmobilização, quando o município integrante do Pramdec estiver em situação de necessidade especial/impactado e com a sua capacidade comprometida para execução das ações de resposta”. Para isso, foram definidos os procedimentos de acionamento e solicitação do mecanismo de ajuda mútua entre os municípios integrantes, assim como os mecanismos de mobilização e desmobilização dos recursos existentes. Considerando o processo de mobilização e aplicação das ações de resposta, definiu-se o procedi- mento simplificado na impossibilidade de operar com o SCO. O modelo desenvolvido foi aplicado nos municípios de Águas Mornas, Anitápolis, Rancho Queima- do e Santo Amaro. Apesar de ser simplificado, seu êxito exige experiência prática dos envolvidos para que as ações adotadas sejam efetivas. Todavia, seu funcionamento se apresentou muito eficaz para cidades de baixa organização gerencial, visto que seu principal resultado é justamente a organização dos proces- sos municipais para atendimento da situação de emergência. Apesar do exemplo prático apresentado, sabemos que é fundamental que existam planos de con- tingência previamente elaborados, aceitos e atualizados (que indicam quem são os responsáveis pelas diversas atribuições em cada órgão, ou seja, quem faz o que após a ocorrência de um desastre) e também que as pessoas que moram nas áreas de riscos estejam bem orientadas e treinadas para saber como agir diante dos desastres. Entretanto, essas medidas exigem uma estrutura organizacional e um planejamento que muitos municípios não têm. Por isso, com base na experiência obtida por meio do Pramdec em Santa Catarina e sabendo das demandas que surgem em situações de emergência, apresenta-se, a seguir, uma sugestão de um modelo simplificado de planejamento e organização para as ações de resposta. 94 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Operacionalização das ações de resposta Antes de iniciarmos o estudo deste tópico, assista a videoaula a seguir para visualizar, por meio de exemplos práticos, a construção e operacionalização das características básicas no processo de resposta a um desastre. Videoaula 07: Gerenciamento de Desastres: Aspectos essenciais e aprendizado prático A proposta apresentada a seguir representa uma orientação e, principalmente, uma ferramenta de suporte para os municípios que precisam de apoio na operacionalização das ações de resposta dado a falta de outros procedimentos gerenciais e operacionais pré-estabelecidos. Ressalta-se que o processo não representa etapas sequenciais, mas sim que ocorrem paralelamente para estruturação de todas as ações de resposta a serem realizadas para o enfrentamento a um desastre. É importante reforçar que o processo apresenta um modelo genérico, e deve ser adaptado à re- alidade e às especificidades de cada município, região e tipo de emergência para o qual será aplicado. De modo resumido, o fluxograma a seguir apresenta um resumo das principais ações a serem ado- tadas considerando as fases de mobilização inicial, ações emergenciais e a fase de pós-ação, quando o município não se encontra mais em situação de emergência. E, em seguida, as ações e objetivos a serem operacionalizados em cada uma delas. https://youtu.be/oXTie_ORqZg?si=RqGrwudPSXXOu1m_ 95 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Com isso posto, vamos iniciar o estudo do processo sugerido. 96 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Alerta e Acionamento Inicialmente, cabe ressaltar que as ações de mobilização e resposta ao desastre iniciam no mo- mento antes de sua ocorrência, quando os órgãos de P&DC recebem os alertas e alarmes do sistema de monitoramento, conforme vista no módulo anterior. As ações apresentadas a seguir já representam a resposta ao desastre, e ocorrem durante o período de emergência. MOBILIZAÇÃO INICIAL A fase de mobilização inicial representa as ações a serem tomadas nas primeiras horas após a ocorrência do desastre, e que precisam ser estabelecidas para que as demais ações sejam realizadas de forma coordenada, planejada e eficaz. Instalação do posto de comando A ação inicial para o enfrentamento ao desastre é a instalação do posto de comando, que deve ser realizada pela primeira equipe que chega ao local. 97 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Essa equipe deve assumir o comando da operação e instalar um Posto de Comando (PC) e uma área de estacionamento. Vale ressaltar que, para emergências menores, é melhor que o PC seja localiza- do próximo ao local da emergência para facilitar os trabalhos das equipes de resposta que atuarão con- juntamente. Já em emergências maiores, que envolvem por exemplo uma inundação em vários bairros de um município, o PC pode ser acionado junto a própria Prefeitura ou outra instalação adequada. Definição dos responsáveis Ao longo desse processo deverão ser definidos os principais responsáveis pelas ações que serão desenvolvidas durante a resposta ao evento. As atribuições a serem definidas são: 1. Coordenador(a) de Operações: Comanda toda a operação de resposta ao desastre; deter- mina prioridades, recepciona as informações, toma decisões em conjunto com o prefeito. 2. Coordenador(a) de Situação: Responsável por acompanhar a situação do desastre nas regi- ões afetadas, quantificando os danos e prejuízos e identificando as necessidades prioritárias, como a busca e socorro aos atingidos, necessidade de decretação de SE ou ECP, dentre outras informações. 3. Coordenador(a) de Recursos: Controla a alocação dos recursos conforme a ordem de prioridade de ações, entrando em contato com as pessoas responsáveis para mobilização de cada recurso. 4. Coordenador(a) de Processos:Organiza todos os procedimentos burocráticos e legais que envolvem as ações e consequências decorrentes do desastre, como decretação de SE ou ECP, licitações, solicitação de recursos, entre outros processos. Além disso, é responsável por organizar e implementar a Avaliação Pós-Ação da atuação de resposta ao desastre, com o objetivo de identificar lacunas e as ações que foram e que não foram efetivas, promovendo melhorias para o processo de Gerenciamento de Desastres no município. 5. Coordenador(a) de Assistência: Organiza e planeja todas as ações humanitárias, desde o aten- dimento aos feridos, organização de abrigos, encaminhamento de aluguel social, cadastramen- to da população atingida, acompanhando todo o processo até o retorno das famílias para casa. 6. Coordenador(a) de Comunicação: Responsável por todo o processo de comunicação impres- cindível para a resposta ao desastre, tanto interna como externa. Organiza os canais de comu- 98 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal nicação tanto com a equipe que está mobilizada para resposta ao desastre como com a popu- lação atingida, assim como organiza e repassa as informações demandadas pela imprensa. Dependendo da estrutura organizacional do município, as funções a serem desenvolvidas podem ser cumulativas, sendo uma mesma pessoa responsável por mais de uma coordenação. No entanto, é necessário que todos os envolvidos com as ações de resposta saibam com quem entrar em contato em cada uma das coordenadorias. Elaboração do Plano de Ação A elaboração e divulgação de um plano de ação específico, que não precisa ser de forma escrita, permite com que todos saibam seu papel ao longo de todo o período de resposta ao desastre. Considerando as urgências das ações a serem desenvolvidas, sugere-se a seguinte hierarquização de objetivos, de forma a priorizar a articulação de recursos e esforços, da seguinte forma: » Socorro e proteção dos atingidos; » Estabilização dos serviços essenciais e controle da situação crítica; » Preservação das propriedades e do meio. Avaliação da Situação Quem assumir a função de Coordenador(a) de Situação deve iniciar imediatamente o levantamen- to dos danos e impactos ocasionados pelo desastre. Dessa forma será possível planejar as ações emer- genciais e fazer com que elas sejam iniciadas da forma mais rápida possível. Após analisada a situação do desastre, caso seja identificada a necessidade, deverá ser iniciado o processo de decretação de situação de emergência ou estado de calamidade pública, ação realizada pelo(a) Coordenador(a) de Processos. 99 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Levantamento dos recursos O(a) Coordenador(a) de Recursos deverá iniciar o levantamento de todos os recursos disponíveis para atuação de enfrentamento ao desastre, caso esse material já não esteja organizado para o município. Para isso, alguns itens básicos devem ser considerados, como, por exemplo: » Órgão de P&DC municipal ativo e estabelecido legalmente; » Instalações de suporte e apoio (tais como: abrigos, infraestrutura de transporte, saúde, assistên- cia, segurança pública etc.); » Núcleos comunitários de P&DC ativos; » Rotas de fuga nos locais atingidos; » Fundos financeiros e recursos (humanos, materiais e tecnológicos) disponíveis para o enfrenta- mento de desastres; » Centros de suprimentos e logística humanitária. AÇÕES EMERGENCIAIS 100 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Conforme vimos na unidade anterior, as ações emergenciais podem ser divididas entre socorro, assistência e restabelecimento. No entanto, na prática elas ocorrem de forma simultânea e sem necessi- dade de definir qual tipo é, mas sim de organizar em ordem prioritária. Tendo em mente a máxima de salvar vidas, podemos organizar as ações emergenciais na sequên- cia apresentada a seguir: » Busca por feridos e mortos; » Atendimento aos feridos; » Acolhimento das famílias; » Desobstrução dos acessos essenciais; » Restabelecimento dos serviços essenciais; » Retorno das famílias para casa. Para a implementação dessas ações, é necessário que o(a) Coordenador(a) de Operações defina as prioridades conforme a avaliação de danos realizada anteriormente e que o(a) Coordenador(a) de Re- cursos acione e mobilize os responsáveis para execução das ações. O(a) Coordenador(a) de Comunicação fica responsável tanto pela comunicação externa, principal- mente com a população atingida, mas também com a imprensa, assim como pela comunicação interna, auxiliando o(a) Coordenador(a) de Recursos sempre que houver dificuldades com o contato com os res- ponsáveis por cada ação que está sendo executada. Busca por feridos e mortos Devido à urgência de início das ações, paralelo ao processo de definição dos coordenadores e de instalação o posto de comando, é necessário as ações de busca por feridos e mortos, função realizada pelo Corpo de Bombeiros. 101 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Atendimento aos feridos O atendimento aos feridos deverá ser organizado para ocorrer nos pontos de apoio mais próximos, como os hospitais locais. Caso não exista, é necessário instalar um posto de atendimento próximo à região de ocorrência do desastre, mas em um local seguro. Os Coordenadores de Recursos e de Operações devem trabalhar em conjunto para definir os melhores caminhos a serem tomados para o atendimento aos feridos. Acolhimento das famílias O acolhimento dos atingidos pode envolver o cadastramento da população desabrigada ou desalo- jada, a instalação e gerenciamento de abrigos, o encaminhamento de aluguel social e a distribuição de kits de higiene, limpeza e suprimentos, como alimentos e roupas. Essas ações devem ser desenvolvidas pela assistência social do município, com a orientação e acompanhamento do(a) Coordenador(a) de Assistência. Desobstrução dos acessos essenciais A desobstrução dos acessos essenciais envolve tanto a retirada de escombros das vias como a reconstrução de pontes e vias danificadas, de forma a permitir o acesso, principalmente, das equipes de resgate aos pontos atingidos. Restabelecimento dos serviços essenciais O restabelecimento dos serviços essenciais envolve a distribuição de água, luz, desobstrução ou re- construção de acessos, entre outros. Para essa atividade, são, comumente, desenvolvidas obras de caráter provisório para que, com muita rapidez, a população atingida consiga retomar suas atividades cotidianas. Encaminhamento final dos desabrigados/desalojados O processo de retorno dos atingidos para suas casas pode ocorrer rapidamente, após o restabele- cimento dos serviços essenciais e desobstrução dos acessos. No entanto, para alguns casos, principal- 102 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal mente quando as habitações são danificadas ou destruídas, o processo pode ser mais longo, exigindo com que seja definida uma moradia provisória, ação que pode ocorrer por meio do aluguel social. O tem- po do aluguel social deverá dar espaço para que essas pessoas possam restabelecer suas moradias ou encontrar uma nova habitação. Todo esse processo precisa ser acompanhado pela Assistência Social do município ou, caso seja necessário, pelo estado. PÓS-AÇÃO Desmobilização O processo de desmobilização das equipes envolvidas deverá acontecer conforme a necessidade de atuação de cada uma delas. As equipes mobilizadas apenas deverão sair do estado de alerta após o co- mando de desmobilização das mesmas, mesmo que permaneçam sem atuar efetivamente no processo. A desmobilização deverá ser definida em conjunto pelos(as) Coordenadores de Operações,118 Referências ...............................................................................125 Olá, seja bem-vindo(a) ao curso de Conceitos e Práticas para o Gerenciamento de Desastres no Âmbito Municipal. Antes de iniciar seu estudo sobre o tema, veja, a seguir, os objetivos do curso, para quem essa capacitação é destinada e como ela está estruturada. Boa leitura! Apresentação Joédson Alves, Agência Brasil 10 Apresentação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Apresentação O que se espera Desenvolver competências para o aperfeiçoamento das práticas dos agentes de Proteção e De- fesa Civil, especialmente no tocante a sensibilização, mobilização e emprego de lideranças, com vistas ao Gerenciamento de Desastres que desencadeiam impactos no ambiente urbano municipal. Capacitar as lideranças envolvidas no gerenciamento de desastres para responder de forma ade- quada e proteger da forma mais eficiente, reduzindo os impactos humanos e econômicos, que atingem, principalmente, as populações mais vulneráveis. Para quem será Essa capacitação destina-se a: » Agentes municipais de Proteção e Defesa Civil; » Atores envolvidos no Gerenciamento de Desastres, principalmente representantes do Poder Pú- blico que atuam no âmbito municipal; » Demais interessados na temática de Gerenciamento de Desastres. Como o curso está dividido? Neste curso, serão abordados os conhecimentos necessários para que os agentes municipais desenvolvam capacidades de gerenciar desastres, em articulação com demais atores de governo, setor privado e sociedade civil. Para entendermos o objetivo principal do curso e os temas que serão tratados ao longo de seus módulos, vamos conhecer a trilha do conhecimento da capacitação e os principais assuntos abordados. 11 Apresentação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal JORNADA DO ALUNO Módulo 4. Resposta e as Ações Emergenciais » 1. Ações Emergenciais de Resposta » 2. Planejamento e Operacionalização Módulo 5. Plano de Recuperação » 1. Fase de Recuperação » 2. Recuperação Pós-Desastre Conceitos e Práticas para o Gerenciamento de Desastres no Âmbito Municipal P re p ar aç ão R e sp o sta P ó s – G D Módulo 2. Preparação: Articulação e Planejamento » 1. Articulação » 2. Planejamento Módulo 3. Preparação: do Monitoramento ao Alarme » 1. Monitoramento » 2. Alerta e Alarme Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus Impactos no Brasil » 1. Introdução ao Gerenciamento de Desastres 12 Apresentação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Nesse sentido, esta capacitação está estruturada em cinco módulos: » No 1º módulo você irá estudar as características dos desastres de origem natural mais frequen- tes no Brasil, buscando entender seus impactos, principalmente, nas populações mais vulnerá- veis. Ainda, irá compreender o histórico de construção das ações e do ciclo de Gerenciamento de Desastres (GD) no Brasil e internacionalmente, principalmente em relação aos desastres de maior impacto no ambiente urbano. Por fim, você entenderá o processo de construção e con- solidação das ações que integram o modelo padrão de GD adotado pela Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC). » Já no 2º módulo você conhecerá a importância do papel de articulador da Defesa Civil Municipal relacionado às ações de GD. Também, serão apresentadas algumas ferramentas que podem e devem ser utilizadas como apoio para o GD no município, assim como a operacionalização e capacitação delas para a comunidade e agentes de Proteção e Defesa Civil (P&DC). » No 3º módulo você continuará estudando ações de preparação, mas agora com foco nas ati- vidades de previsão, monitoramento e emissão de avisos e alertas, bem como, o acionamento de alarmes, em casos de riscos de desastres, buscando melhor compreender como as coorde- nadorias municipais de P&DC devem organizar-se antecipadamente e de forma articulada, para garantir o bom funcionamento dessas atividades. » No 4º módulo, vamos conhecer as ações de resposta aos desastres, ou seja, como as coordenado- rias municipais de P&DC devem agir para garantir a mobilização e o emprego dos diferentes orga- nismos públicos de resposta e seus recursos, de forma eficiente e articulada, nas ações de socorro, assistência e restabelecimento de serviços essenciais, diante de desastres e eventos extremos. » E por fim, no 5º módulo, você entenderá os passos iniciais para o início do planejamento da fase de recuperação, e como as ações de Redução de Risco de Desastres (RRD) devem ser conside- radas ao longo de todo esse processo. Agora que você já sabe o que irá estudar neste curso, siga para as próximas páginas. Boa leitura! Módulo 1 Rafa Neddermeyer, Agência Brasil O Gerenciamento de Desastres e seus Impactos no Brasil Unidade 1. Introdução ao Gerenciamento de Desastres » Tópico 1. Os desastres e seus impactos no nível local » Tópico 2. O Gerenciamento de Desastres 14 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Para começarmos o curso é necessário entender a forma como os diversos tipos de desastres im- pactam os municípios, de forma que seja possível criar políticas públicas e estratégias de Gerenciamento dos Desastres (GD) adequadas para cada evento. Em seguida, veremos sobre o processo de construção e consolidação do GD, com base no histórico nacional e internacional. Ainda, é necessário compreender as principais ações adotadas no Brasil, principalmente relacionadas aos desastres súbitos. Introdução ao Gerenciamento de Desastres Uma perturbação grave do funcionamento de uma comunidade ou de uma sociedade, em qualquer escala, devido a eventos perigosos que interagem com condições de exposição, vulnerabilidade e capacidade, levando a um ou mais dos seguintes: perdas e impactos humanos, materiais, econômicos e ambientais”. (UNDRR, 2017) A Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade) divide os desastres de origem natu- ral em cinco grandes grupos. No entanto, observando a realidade brasileira, os movimentos de massa (de- finidos como geológico) e as chuvas intensas (definido como meteorológico) têm como agente deflagra- dor o excesso de chuvas. Dessa forma, para a análise desenvolvida nessa capacitação, iremos considerar as ocorrências registradas e classificadas entre três principais grupos, conforme apresentado a seguir: Os desastres e seus impactos no nível local Segundo o Escritório das Nações Unidas para Redução de Risco de Desastres (UNDRR), um desastre é: 15 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal 1. Grupo Hidrológico: eventos desencadeados pelo excesso de chuva, como as inundações, alagamentos, enxurradas e movimentos de massa. 2. Grupo Climatológico: desastres desencadeados pela escassez de chuva ou temperaturas extremas, como a estiagem, seca, ondas de calor ou frio e incêndios. 3. Grupo Meteorológico: eventos atmosféricos, como vendavais, ciclones e granizo. Cada desastre desencadeia diferentes formas de impactos. Com o objetivo de compreender seus danos e prejuízos no âmbito local, analisaremos o histórico de cada grupo citado anteriormente e a forma como ele atinge os municípios. Para isso, vamos considerar a base de dados do Atlas Digital de Desas- tres no Brasil, abrangendo o período de 1991 a 2022. https://atlasdigital.mdr.gov.br/ https://atlasdigital.mdr.gov.br/ 16 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Fonte: Baseado em Brasil (2023b). Para começar os estudos, veja, a seguir, a distribuiçãode Si- tuação e de Recursos. Avaliação Pós-Ação A Avaliação Pós-Ação (APA) é uma prática da Gestão do Conhecimento que permite com que os envolvidos no gerenciamento da crise participem ativamente do processo de avaliação e contribuam com 103 Módulo 4. Resposta e as ações emergenciais Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal suas experiências na identificação de boas práticas, lições aprendidas, pontos fortes e pontos a melhorar da atuação desenvolvida. Para isso, é possível desenvolver diferentes tipos de análises. O(a) Coordenador(a) de Comunicação pode, durante a atuação, definir responsáveis por recolher informações sobre pontos positivos e negativos, identificando, em tempo real, processos a melhorar e aqueles que foram desenvolvidos com êxito. Esse tipo de análise consegue identificar, no momento de ocorrência, as lacunas a serem melhora- das ao longo do gerenciamento da crise, permitindo, inclusive, que mudanças de gestão sejam aplicadas enquanto o processo ainda está em curso. No entanto, como as informações são levantadas pela observação de terceiros, não é possível obter uma análise completa da operação. Com isso, indica-se também a aplicação de formulários após a atua- ção, seguida da publicação do Relatório Avaliação Pós-Ação. Dessa forma, todos os envolvidos, com a sua própria experiência, colaboram indicando processos e ações exitosas e aquelas que precisam de melhorias. Indica-se que o formulário desenvolvido passe por todas as etapas operacionalizadas ao longo das ações de resposta, podendo ser dividido em blocos, conforme sugerido no fluxograma aqui apresentado (mobilização inicial, ações emergenciais, pós-ação). Planejamento das ações de recuperação Com o fim do período de emergência e o restabelecimento dos serviços essenciais, inicia-se o pro- cesso de planejamento das ações de recuperação. Agora que você já estudou sobre o processo de operacionalização proposto por meio deste curso, veja a videoaula a seguir para entender os 4 componentes básicos que devem permear toda a fase de resposta. Em função de sua complexidade, o módulo seguinte deste curso irá tratar, com maiores detalhes, sobre as ações a serem desenvolvidas nesta etapa. Dessa forma, continue estudando o conteúdo para compreender melhor sobre o processo de planejamento das ações de recuperação. Videoaula 08: Os 4 componentes do planejamento do Gerenciamento de Desastres https://youtu.be/Lu8CPkVqCmg?si=GrZGJiItAxeF0L3S Módulo 5 Cemaden, Divulgação Plano de Recuperação Unidade 1. Fase de recuperação » Tópico 1. Levantamento das necessidades pós-desastre » Tópico 2. Metodologia DaLa Unidade 2. Recuperação Pós-Desastre 105 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Plano de Recuperação Após a operacionalização das ações emergenciais de resposta, estudadas anteriormente, inicia-se a última etapa do ciclo de atuação da Proteção e Defesa Civil (P&DC) relacionada à ocorrência de um desastre: a recuperação. Para que essa seja efetiva e os impactos de um desastre futuro sejam mitigados, é fundamental que, durante a fase de resposta, as informações sejam estruturadas e as ações planejadas da forma mais completa e abrangente possível. Neste módulo, aprenderemos como conceber um plano para recuperação pós-desastre, por meio do qual são planejadas as ações de recuperação em médio e longo prazo. O plano é uma boa prática observada internacionalmente, e deve ser elaborado simultaneamente ao término das ações emergenciais consideran- do o conceito de “reconstruir melhor”. A seguir vamos aprofundar nosso conhecimento acerca desse tema. Fase de Recuperação De acordo com a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), incluída pela Lei nº 14.750 de 12 de dezembro de 2023, a fase de recuperação consiste no: Conjunto de ações de caráter definitivo tomadas após a ocorrência de acidente ou desastre, destinado a restaurar os ecossistemas, a reestabelecer o cenário destruído e as condições de vida da comunidade afetada, a impulsionar o desenvolvimento socioeconômico local, a recuperar as áreas degradadas e a evitar a reprodução das condições de vulnerabilidade, incluídas a reconstrução de unidades habitacionais e da infraestrutura pública e a recuperação dos serviços e das atividades econômicas, entre outras ações definidas pelos órgãos do Sinpdec.” (Brasil, 2023) https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14750.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14750.htm#art2 106 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Logo, observa-se que apesar de ser comumente associado apenas à reconstrução de infraestru- turas e habitações afetadas, o que se reflete na maior parte dos recursos e esforços empregados, o processo de recuperação é mais amplo, e abrange também a busca por restaurar o bem-estar social e econômico das populações atingidas. Neste sentido, destacam-se os esforços para reduzir fatores residuais de risco de desastres, os quais envolvem, por exemplo, programas de crédito para comércio e indústria afetados, acesso a re- cursos de políticas públicas aplicáveis ao desastre ocorridos e melhorias na preparação para desastres futuros com características similares. TRAZENDO PARA A REALIDADE Das ações de suporte desenvolvidas, possivelmente a mais comum é a disponibilização do Saque Calamidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Esta é uma medida prevista na Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, incluída pela Lei nº 10.878, de 8 de junho de 2004, que tem como objetivo atender às famílias atingidas mais vulneráveis, de forma que possam readquirir bens pessoais perdidos ou garantir o reestabelecimento de segurança e conforto. Observa-se que o saque é regulamentado pelo Decreto nº 5.113, de 22 de junho de 2004, que preconiza a sua disponibilização a partir de situação de emergência ou estado de calamidade pública decretado por ente federativo em razão da ocorrência de um desastre natural*. *Consideram-se desastres naturais: vendavais ou tempestades; vendavais muito intensos ou ciclones extratropicais; vendavais extremamente intensos, furacões, tufões ou ciclones tropicais; tornados e trombas d’água; precipitações de granizos; enchentes ou inundações graduais; enxurradas ou inundações bruscas; alagamentos; inundações litorâneas provocadas pela brusca invasão do mar e; desastre decorrente do rompimento ou colapso de barragens que ocasione movimento de massa, com danos a unidades residenciais. (BRASIL, 2004) https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8036consol.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8036consol.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5113.htm 107 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal A recuperação representa a fase de atuação que encerra do ciclo de atuação da P&DC em decor- rência de um desastre. A razão pela qual interpreta-se as fases de atuação como um clico se dá pelo fato que, após um desastre, devemos analisar qual a origem dos danos e quais as principais vulnerabilidades associadas, de forma a realizar a avaliação de risco para que as ações de recuperação, principalmente as obras de reconstrução, sejam executadas de forma a prevenir e mitigar os riscos existentes. Logo, mesmo que a prioridade inicial no gerenciamento do desastre resida nas ações emergenciais e no reestabelecimento dos serviços essenciais, é necessário garantir que os investimentos relacionados à reconstrução das infraestruturas, a continuidade de serviços públicos e privados, bem como a garantia de moradia seguras sejam planejados. A figura abaixo ilustra que a recuperação pode se iniciar ainda durante a resposta, mas usualmente perdura por muitomais tempo e consome muito mais recursos financeiros. Assim sendo, o planejamento eficiente das ações e investimentos necessários é fundamental para que os objetivos de curto, médio e longo prazo sejam alcançados. 108 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal APLICAÇÃO DE RECURSOS AO LONGO DO TEMPO Diante desse contexto, é importante entendermos como a prevenção aos desastres começou a ganhar força dentro da Proteção e Defesa Civil. As ações de Redução de Risco de Desastres (RRD) tiveram como marco internacional o Plano de Ação de Yokohama, no ano de 1994. O Plano foi um resultado da percepção da necessidade de prevenir antes de responder à ocorrência de desastres, movimento que iniciou com a definição do ano 1990 como a Década Internacional para Redução dos Desastres Naturais (DIRD) por meio da Resolução 44/236 da Organização das Nações Unidas. Essas medidas foram tomadas após a década de 80, quando o mundo enfrentou sucessivos desas- tres de alto impacto (é possível citar as inundações no Sudão e Bangladesh, tufões nas Filipinas, furacões na América Latina e no Caribe, infestações de gafanhotos na África, secas no Afeganistão e na Etiópia, entre outros eventos). 109 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Diante desse histórico, hoje reconhece-se a importância das ações de RRD dentro de todo o ciclo de atuação de P&DC. Com isso, entende-se que a fase de reconstrução precisa englobar e ser desen- volvida pensando na prevenção de desastres, não somente na reconstrução das infraestruturas atingidas para o mesmo estado de vulnerabilidade anterior à ocorrência do desastre. Segundo o Escritório da Nações Unidas para Redução do Risco de Desastres, o termo “Build Back Better” (BBB), ou, em português, Reconstruir Melhor, significa: A utilização das fases de recuperação, reabilitação e reconstrução após uma catástrofe para aumentar a resiliência das nações e comunidades por meio da integração de medidas de redução do risco de catástrofes na restauração das infraestruturas físicas e dos sistemas sociais, e na revitalização dos meios de subsistência, das economias e do ambiente”. (UNDRR, 2017) Aplicar o BBB no processo de reconstrução mostra-se como uma oportunidade de fortalecimento da resiliência das comunidades, criando estruturas e sistemas mais fortes, seguros e resilientes a desastres. Para isso, algumas atividades devem ser consideradas (GFDRR, 2017): » Desenvolvimento de códigos e regulamentos de construção para aumentar a resiliência das in- fraestruturas que estão sendo reconstruídas, principalmente em comunidades mais vulneráveis; » Aplicar regulamentos apropriados de ordenamento do território, que considerem o mapeamen- to das áreas de risco; » Reconstruir ou construir infraestruturas de controle de risco, como barragens de contenção de cheias; » Aplicar tecnologias atualizadas e que considerem o contexto e a necessidade da comunidade local; 110 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal » Utilizar a recuperação como uma oportunidade para reconstruir infraestruturas de modo a atender as demandas comunitárias, como, por exemplo, reconstruir hospitais com um maior número de leitos. Com isso, o desenvolvimento de um plano para recuperação pós-desastre torna-se essencial para o planejamento adequado da reconstrução das infraestruturas e comunidades atingidas. Vamos estudar, a seguir, quais as informações e o processo para o levantamento das informações necessárias para a elaboração do plano, que deve iniciar durante a fase de resposta ao desastre. Levantamento das necessidades pós-desastre A avaliação adequada das necessidades pós-desastre é fundamental para que o plano para recu- peração pós-desastre seja elaborado adequadamente. Ou seja, é preciso entender quais são as priorida- des para que os investimentos sejam planejados e executados de forma assertiva. Atendidas as questões básicas relacionadas à saúde e segurança da população, deve-se avaliar os impactos de uma forma participativa e o mais abrangente possível, onde o agente de P&DC deve atuar como o articulador do processo, trabalhando conjuntamente com os demais atores representantes dos setores afetados pelo desastre, como educação, infraestrutura, saúde, entre outros. As características do desastre e das áreas atingidas definem quais os setores são mais atingidos. Por exem- plo, uma ressaca ao atingir uma cidade litorânea pode causar danos físicos às vias e moradias, porém, é possível que o maior impacto esteja relacionado às perdas econômicas relacionadas ao turismo e comércio local. TRAZENDO PARA A REALIDADE No dia 05 de novembro de 2023, as orlas das praias de Ipanema e Leblon, no Rio de Janeiro (RJ), foram afetadas por uma ressaca. Além dos prejuízos diretos em decorrência do impacto da água do mar relatados pelos comerciantes locais, os danos às vias e infraestruturas próximas causaram prejuízos indiretos às atividades de turismo e comércio. https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/11/07/ondas-gigantes-no-rio-vi-clientes-flutuando-e-tive-prejuizo-de-r-3-mil.htm https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/11/07/ondas-gigantes-no-rio-vi-clientes-flutuando-e-tive-prejuizo-de-r-3-mil.htm 111 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Neste ponto é importante notar que, considerando o papel de articulador para a recuperação, o ór- gão de P&DC deve procurar informações junto aos setores potencialmente mais afetados, de forma que sejam entendidas as principais prioridades para o planejamento das ações. A seguir é apresentada uma lista de setores a ser considerada na avaliação dos impactos de desas- tres, segundo metodologias mais comumente adotadas internacionalmente. Cabe salientar que se trata de uma relação preliminar, que pode ser reduzida ou acrescida de outros setores conforme as caracte- rísticas locais. Para a elaboração de um plano para recuperação pós-desastre, não necessariamente demanda- -se o levantamento de uma série de dados novos. O essencial é organizá-los em uma estrutura capaz de caracterizar o desastre da melhor forma possível de modo a, principalmente, servir de base para a priorização e planejamento das necessidades de recuperação. A exemplo disso, nota-se a relação dos setores citados anteriormente com os campos de registro de danos materiais e prejuízos econômicos do Formulário de Informações do Desastres (FIDE), expostos a seguir. 112 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal » Assistência médica, saúde pública e atendimento de emergências médicas » Abastecimento de água potável » Esgoto de águas pluviais e sistema de esgotos sanitários » Sistema de limpeza urbana e de recolhi- mento e destinação do lixo » Sistema de desinfestação/desinfecção do habitat/controle de pragas e vetores » Geração e distribuição de energia elétrica » Telecomunicações » Transportes locais, regionais e de longo curso » Distribuição de combustíveis, especial- mente os de uso doméstico » Segurança pública » Ensino 1. Prejuízos econômicos públicos: 113 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal 2. Prejuízos econômicos privados: 3. Danos materiais: » Agricultura » Pecuária » Indústria » Unidades habitacionais » Obras de infraestrutura pública » Instalações públicas de saúde » Comércio » Serviços » Instalações públicas de ensino » Instalações públicas de uso comunitário » Instalações públicas prestadoras de ou- tros serviços É razoável concluir que o FIDE, usualmente, tem dificuldade em representar adequadamente quais são os danos e prejuízos, bem comoseus valores e quantitativos consolidados, principalmente para even- tos de maior porte. Isso porque trata-se de um instrumento que retrata, de forma estática, a situação verificada logo após o desastre. Em muitos casos, ele resume uma “fotografia” dos primeiros dias pós-de- sastre, pois habitualmente há a necessidade premente de decretar a situação de emergência e solicitar a homologação estadual e o reconhecimento federal. Todavia, as perdas econômicas evoluem ao longo do tempo, assim como o tempo necessário para o levantamento dos danos humanos e materiais tende a ser maior do que o disponível para a elabora- ção do FIDE. Ao contrário, o plano de recuperação pode e deve ser atualizado ao longo do tempo, o que permite que as informações sobre o desastre sejam mais fidedignas e possam ser consultadas no futuro. Antes de seguir em frente, neste ponto é importante recapitular as definições e diferenças entre danos e prejuízos. 114 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Dano: destruição total ou parcial de infraestrutura e ativos físicos. Seu custo é estimado na substituição ou na reparação dos ativos, considerando os valores de mercado anteriores ao desastre. Os danos são quantificados primeiramente em termos físicos. Prejuízo: referem-se a mudanças nos fluxos econômicos decorrentes do desastre, que usualmente continuam até a recuperação econômica total e a reconstrução, podendo perdurar vários anos. São estimados em valores monetários, obrigatoriamente. Os danos humanos e materiais, por serem quantificáveis, podem ser identificados mais facilmente. Os prejuízos econômicos, por sua vez, podem ser variados e dependem da natureza e da extensão do evento. Alguns dos tipos incluem: » Interrupção de Atividades Comerciais: Desastres podem afetar o funcionamento de empresas e comércios, levando à perda de receita e produtividade. » Danos à Infraestrutura: Bloqueios de estradas, pontes, redes de comunicação e outros ele- mentos da infraestrutura podem interromper ou prejudicar o transporte de produtos, afetando a economia local e regional. » Suspensão de Aulas: Recuperação de dias letivos de crianças sem acesso e pais que podem ter dificuldade em trabalhar para cuidar dos filhos. » Danos a Estrutura de Saúde: Mobilização de instalações temporárias, transporte de feridos e enfermos. » Impacto no Turismo: Em áreas onde o turismo é uma fonte importante de renda, desastres po- dem levar à diminuição ou suspensão temporária da atividade turística. » Perda de Empregos: Danos a empresas podem resultar na perda de empregos, afetando o sus- tento de muitas famílias e a economia local. 115 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal » Aumento de Gastos Públicos: Há um aumento nos gastos do governo com respostas emergen- ciais, assistência às vítimas e reconstrução. » Redução de Investimentos: A percepção de risco pode levar à redução de investimentos na área afetada, impactando seu desenvolvimento econômico a longo prazo. » Queda na Arrecadação de Impostos: Com a redução da atividade econômica, há também uma queda na arrecadação de impostos, o que pode afetar a capacidade do governo de fornecer serviços. Ao iniciar o levantamento dos impactos e identificação das ações de recuperação necessárias, o agente de P&DC deve se aproximar aos órgãos setoriais envolvidos, consultando os Secretários Munici- pais das diversas pastas para identificar os responsáveis pelas informações necessárias e acompanha- mento da elaboração do plano de recuperação. É fundamental que os setores envolvidos validem e que o Prefeito Municipal aprove e determine a implementação das ações propostas, sob o risco de o plano não ter o suporte necessário, financeiro e humano, ao longo de sua implementação. A forma como os dados são coletados pode ser adequada à realidade de cada município, porém, deve-se sempre buscar uma estrutura simples, adaptável a cada setor e de fácil compreensão. Segue um exemplo de um formulário para coleta de informações junto aos setores sociais de um município atingido por um vendaval. 116 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Metodologia DaLA Em 2011 foram conduzidas no Brasil, com apoio do Banco Mundial, as primeiras avaliações de da- nos e perdas econômicas associadas a desastres. A metodologia DaLA (Damage, Loss, and Needs Asses- sment) foi aplicada ao desastre da Região Serrana do Rio de Janeiro, ocorrida em janeiro daquele ano, e também, a título de experiência, aos desastres do Vale do Itajaí (SC), ocorridos em 2008, e às enxurradas e deslizamentos em Alagoas e Pernambuco, no ano de 2010. Os estudos referem-se a desastres de grande impacto, dentre os mais relevantes da história na- cional, e revelam a importância de investigações mais aprofundadas e realizadas com mais tempo para representar adequadamente o cenário de impacto decorrente do desastre. 117 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal As perdas econômicas estimadas para o evento da Região Serrana, por exemplo, foram de R$ 4,78 bi- lhões (valores não corrigidos), em diversos setores avaliados. Nenhum outro levantamento apontou valores próximos, nem tão pouco outros documentos consolidaram dados tão amplos e atualizados sobre o evento. Com o objetivo de quantificar os impactos dos grandes desastres, o Banco Mundial, em parceria com a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (UN-ECLAC - United Nations Economic Commission for Latin America and the Caribbean, em inglês), auxiliou no aperfeiçoamento e simplificação da metodologia para avaliação de danos e perdas de desastres, desenvolvida inicialmente pela UN-ECLAC. A metodologia DaLA (Damage, Loss, and Needs Assessment) pode ser utilizada de forma a identificar e determinar as necessidades pós-desastre, permitindo o planejamento de recuperação e o monitoramento e acompanhamento do progresso das ações desenvolvidas. Nesse sentido, ela apresenta duas aplicações principais: Para metas de curto prazo: definir intervenções governamentais para as consequências imediatas da catástrofe, que visam diminuir o sofrimento das pessoas e iniciar a recuperação econômica. Para metas de médio e longo prazo: definir as necessidades financeiras necessárias para alcançar a recuperação e reconstrução globais. Para mais informações, acesse o site do GFDRR e pesquise as publicações sobre o tema. Saiba mais Apesar de tratarem de estudos mais complexos, a estrutura setorial adotada e tipos de danos e prejuízos observados podem servir de referência e serem adequados a escalas menores. Mesmo que em volumes diferentes, os tipos de danos costumam manter uma certa semelhança em desastres que atingem grandes ou pequenos municípios. A relevância de se realizar um registro deste tipo é o mesmo: demonstrar a relevância do desastre, principalmente por meio de números, e consolidar uma base confiável de informação para o planejamento da recuperação. https://www.gfdrr.org/en 118 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Recuperação Pós-Desastre Um plano para recuperação pós-desastre trata-se de um instrumento de planejamento de ações de recuperação, em médio e longo prazo, após a ocorrência de um desastre. Sua importância se dá, prin- cipalmente, por três aspectos: » Registro adequado do desastre: o documento indica as principais informações consolidadas sobre o desastre, incluindo os eventos causadores, os danos humanos e materiais, os impac- tos econômicos e as áreas afetadas. Cabe aqui ressaltar que se trata de um documento mais fidedigno em relação ao FIDE, visto que enquanto este último retrata usualmente a realidade imediatados primeiros dias do desastre, e o plano apresenta dados atualizados ao longo das semanas que sucedem o desastre. » Planejamento e monitoramento da recuperação: a partir dos impactos do desastre são iden- tificadas as ações que devem ser tomadas e os responsáveis. Considerando que o processo de recuperação, principalmente no que tange as obras de reconstrução, pode se estender por anos, é fundamental que seja implementado um processo de monitoramento, de forma que as atividades planejadas não fiquem em segundo plano. Este procedimento trará, ainda, maior tran- quilidade no momento de realizar a prestação de contas da aplicação dos recursos com origem federal e estadual, uma vez que as informações são atualizadas periodicamente. » Avaliação das lições aprendidas: permite compreender as causas e efeitos do desastre, bem como identificar as melhorias necessárias para que o risco seja mitigado, incluindo uma melhor preparação e reconstrução resiliente. Ainda, a avaliação pós ação permite reconhecer as lacu- nas que ocorreram ao longo do processo de resposta ao desastre e planejar e aplicar melhorias para articulações futuras. Apesar de que muito pode ser feito previamente à ocorrência de um desastre, como o Plano de Contingência (Plancon) e outros instrumentos que antecipem as prováveis ações de recuperação, é ex- tremamente complexo antecipar com exatidão todas as consequências possíveis. Onde se dará o maior impacto, qual a sua intensidade, qual a população afetada, quais serão os se- tores mais afetados e quais serão os danos, são variáveis que podem ser estimadas, mas provavelmente as previsões, mesmo que existam, demandarão ajustes à realidade pós-impacto. 119 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Existem algumas metodologias para o desenvolvimento de um plano para recuperação pós-de- sastre. Algumas delas abrangem, inclusive, as etapas de avaliação de risco, estimativa dos impactos e planejamento de ações de prevenção. No entanto, apesar de ser extremamente importante as etapas de estudo e estimativa em relação aos riscos instaurados, esta unidade propõe o desenvolvimento de um planejamento para a recuperação com base em eventos que já ocorreram, ou seja, frente a um cenário no qual os impactos já estão concretizados. Dificilmente irá existir uma solução ou método universal para levar adiante e com êxito proces- sos de recuperação, mesmo existindo abordagens e estratégias bem consolidadas. Cada plano, projeto ou ação deve ser adaptado às realidades e necessidades locais em correspondência com os sistemas de desenvolvimento que as definem. Neste material serão utilizadas como referência a metodologia de elaboração do Disaster Recovery Framework (GFDRR, 2020), desenvolvida pelas Nações Unidas, Banco Mundial e União Europeia, e adaptada para a realidade local e legislação brasileira. Ao desenvolver um plano para recuperação pós-desastre, busca-se impulsionar um processo que une todos os esforços do governo local, dos órgãos estaduais e federais, do setor privado, dos voluntários e da comunidade, com foco na reconstrução mais forte, mais rápida e mais inclusiva. O Plano ajuda a articular uma visão de recuperação, priorizar ações e fornecer orientações sobre fontes de financiamento, implementação e monitoramento da recuperação. Dependendo da escala de recuperação necessária, deve ser desenvolvido no prazo de até 3 meses após um desastre. Fonte: Baseado em Post-Disaster Needs Assessment and Disaster Recovery Framework Training of Trainers, ITC (2017). 120 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Anteriormente, pontuou-se as principais razões para a elaboração do plano: registro adequado do desastre, planejamento e monitoramento da recuperação e avaliação das lições aprendidas. A seguir são listados quais os principais resultados da sua elaboração: » Posicionamento da Administração e Política bem definida e comunicada para Recuperação; » Planos de ações acordados entre todos os atores envolvidos; » Definição das atividades e estimativa de prazos, custos e responsabilidades; » Definição das prioridades para recuperação; » Indicação das lições aprendidas e principais ações de redução de risco necessárias; » Implementação de mecanismos para monitoramento, avaliação e atualização do plano de recu- peração; » Indicação das fontes de financiamento disponíveis; » Informações que apoiem a busca por fontes de financiamento complementares. Para alcançar estes resultados, o agente de Proteção e Defesa Civil deve articular as ações junto aos demais setores, já envolvidos no processo de levantamento de danos e das ações necessárias. A se- guir, indica-se o processo a ser utilizado como guia para elaboração do plano de recuperação. As ações definidas devem ser adaptadas à realidade local e ao tipo de desastre ocorrido. 121 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Passo 1 – Ratificar os objetivos Inicialmente deve se definir quais os principais objetivos a serem alcançados e quais os principais locais e população beneficiada com a recuperação. Neste momento é fundamental a participação e o comprometimento do prefeito ou autoridade competente designada. Idealmente, o Plano deve ser regu- lamentado por um ato administrativo municipal que suporte sua execução, como uma Portaria, de modo a definir os atos organizacionais e operacionais necessários. 122 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Este passo deve ser acompanhado por quem assumiu as Coordenadorias de Processos e de Ope- rações ao longo da resposta ao desastre, de modo a garantir que haverá continuidade nas ações desen- volvidas nessa fase. Passo 2 – Definir as responsabilidades As ações identificadas na etapa de levantamento dos impactos e necessidades pós desastre de- vem ser designadas para os setores responsáveis dentro da estrutura do município. Também devem ser articuladas e registradas as ações que serão apoiadas pelo Estado e Governo Federal. Cabe lembrar que enquanto este arranjo institucional pode ser estabelecido pelo executivo municipal, as relações com as outras esferas são formalizadas através de convênios, planos de trabalho ou outros instrumentos, que dever estar devidamente identificados no Plano. Passo 3 – Planejar as atividades Neste momento as ações identificadas são revisadas e acordadas com os responsáveis, que pas- sam a ser os responsáveis pelo seu detalhamento e controle dentro de cada instituição, incluindo prazos e revisão das estimativas de custo. Não é necessário que o plano tenha um detalhamento excessivo das atividades, pois trata-se de um instrumento que irá consolidar as informações do planejamento e execu- ção das atividades sob responsabilidade de cada instituição envolvida. Passo 4 – Identificar as fontes de financiamento Deve-se identificar quais ações poderão ser executadas com recursos próprios, de forma que o munícipio possa ter esta previsão no orçamento plurianual. Para aquelas onde serão necessário recursos financeiros complementares do Estado ou Governo Federal, deve-se estabelecer os instrumentos ade- quados, como os convênios para transferência do estado ou, por exemplo, Planos de Trabalho para obras de Reconstrução junto à Sedec. Passo 5 – Registro das Lições Aprendidas Como discutido no início deste módulo, a Recuperação é a fase final de um ciclo onde, além de restaurar a situação social e econômica anterior ao desastre, deve-se identificar quais as principais cau- sas e efeitos dos impactos observados. Estas chamadas Lições Aprendidas podem estar, por exemplo, relacionadas à infraestrutura pública, ao indicar que uma ponte levada por uma enxurrada não era estru- 123 Módulo 5. Plano de RecuperaçãoConceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal turalmente adequada e que, ao ser reconstruída, seu projeto de estar compatível a uma nova condição de risco. Podem ainda, estar relacionadas a questões de governança e planejamento, indicando a necessida- de de elaboração de um Plano de Contingência, uma vez que a Resposta poderia ter sido mais eficiente se os riscos, ações e responsabilidades tivessem sido identificados previamente. Passo 6 – Estabelecer os mecanismos de monitoramento Trata-se de uma etapa fundamental para que a recuperação seja efetiva. É natural esperar que con- forme as ações diárias sejam retomadas e, até mesmo, novas situações emergenciais sejam defrontadas, o foco seja reduzido. Neste contexto, disciplinar um processo de acompanhamento pode garantir a conti- nuidade das ações. Dentre os instrumentos de mais simples aplicação está o estabelecimento formal de um Grupo de Trabalho e o estabelecimento de reuniões periódicas (por exemplo, trimestralmente), onde os responsáveis devem apresentar a evolução das atividades planejadas e compartilhar os possíveis en- traves ou dificuldades encontradas. Os resultados são registrados em Atas e vinculadas ao Plano, que pode ser também ser revisado sempre que necessário. Também existem alguns instrumentos específicos disponíveis já determinados, como os relatórios parciais de execução das obras de reconstrução, solicita- dos pela Sedec através do S2ID. Passo 7 – Formalizar o plano Com todas as etapas anteriores cumpridas, é necessário encontrar a melhor a maneira para con- solidá-las em um instrumento que represente mais adequadamente o Plano. É inegável que a elabora- ção de um documento deste tipo demanda tempo, que usualmente é escasso para o agente de P&DC. Todavia, a formalização em um documento, mesmo que um relatório simples, concretiza todo o esforço realizado no levantamento de dados e articulação, bem como torna-se uma fonte de informações impor- tante para consultas futuras. Neste contexto, no qual não é possível desenvolver a documentação com recursos disponíveis dentro do órgão de P&DC, pode-se buscar apoio junto a instituições com mais ca- pacidade para esse tipo de trabalho, como em outras secretarias municipais, universidades ou institutos locais e, até mesmo, o setor privado. A seguir é apresentada uma estrutura de tópicos para o Plano, a título de sugestão, que pode ser adotada: » Apresentação e Objetivos. » Descrição do Evento e Principais Impactos. 124 Módulo 5. Plano de Recuperação Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal » Arranjos Institucionais. » Planos de Ação. » Fonte de Financiamento. » Mecanismos de Monitoramento. Agora que você já estudou sobre o processo de planejamento das ações de recuperação, assista a videoaula a seguir para revisar de forma sintetizada o conteúdo abordado neste módulo. Videoaula 09: Plano de Recuperação Pós Desastre: Atuação integrada para recuperação completa https://youtu.be/-qCEZg20J5U?si=wbpGZvG_LJK9jhIt REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº 10.593, de 24 de dezembro de 2020. Dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil e do Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil e sobre o Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil e o Sistema Nacional de Informações sobre Desastres. Diário Oficial da União, Brasília, ed. 247, p. 10, 28 dez. 2020. Seção 1. [2020a]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/d10593.htm. Acesso em: 11 de set de 2023. BRASIL. Decreto nº 10.689, de 27 de abril de 2021. Institui o Grupo de Apoio a Desastres no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Regional. Diário Oficial da União, Brasília, ed. 78, p. 6, 28 abr. 2021. Seção 1. [2021a]. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.689-de-27-de-abril- de-2021-316256826. Acesso em: 23 de out de 2023. BRASIL. Decreto nº 11.219, de 05 de outubro de 2022. Regulamenta o art. 1º-A, o art. 3º, o art. 4º, o art. 5º e o art. 5º-A da Lei nº 12.340, de 1º de dezembro de 2010, para dispor sobre as transferências obrigatórias de recursos financeiros da União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para a execução de ações de prevenção em áreas de risco de desastres e de resposta e recuperação em áreas atingidas por desastres. Diário Oficial da União, Brasília, pág. nº 4, de 06 out. 2022. Disponível em: https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2022/decreto/D11219.htm. Acesso em: 01 de nov de 2023. BRASIL. Instrução Normativa nº 02, de 20 de dezembro de 2016. Estabelece procedimentos e critérios para a decretação de situação de emergência ou estado de calamidade pública pelos Municípios, Estados e pelo Distrito Federal, e para o reconhecimento federal das situações de anormalidade decretadas pelos entes federativos e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, n. 245, p. 60, 22 dez. 2016. Seção 1. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/ Kujrw0TZC2Mb/content/id/24789597/do1-2016-12-22-instrucao-normativa-n-2-de-20-de- dezembro-de-2016--24789506. Acesso em: 03 jun 2019. BRASIL. Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC; dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - Sinpdec e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC; autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres; e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2012. Disponível em: https:// http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/d10593.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/d10593.htm https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.689-de-27-de-abril-de-2021-316256826 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.689-de-27-de-abril-de-2021-316256826 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2022/decreto/D11219.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2022/decreto/D11219.htm https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/24789597/do1-2016-12-22-instrucao-normativa-n-2-de-20-de-dezembro-de-2016--24789506 https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/24789597/do1-2016-12-22-instrucao-normativa-n-2-de-20-de-dezembro-de-2016--24789506 https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/24789597/do1-2016-12-22-instrucao-normativa-n-2-de-20-de-dezembro-de-2016--24789506 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12608.htm www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12608.htm. Acesso em: 19 abr 2022. BRASIL. Lei nº 14.750, de 12 de dezembro de 2023. Altera as Leis nºs 12.608, de 10 de abril de 2012, e 12.340, de 1º de dezembro de 2010, para aprimorar os instrumentos de prevenção de acidentes ou desastres e de recuperação de áreas por eles atingidas, as ações de monitoramento de riscos de acidentes ou desastres e a produção de alertas antecipados. Brasília, DF: Presidência da República, 2023a. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14750. htm#art2. Acesso em: 14 dez 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Guia prático de utilização de alertas do Governo Federal para ações de preparação para desastres. Projeto Fortalecimento da Cultura de Gestão de Riscos de Desastres no Brasil. 2 ed. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Regional, 2021b. Disponível em: www.gov.br/mdr/pt-br/centrais-de-conteudo/ publicacoes/protecao-e-defesa-civil-sedec/copy_of_guiapraticodesastres.pdf. Acesso em: 21 fev. 2022. BRASIL. Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. Secretaria de Proteção e Defesa Civil. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil. Atlas Digital de Desastres no Brasil. Brasília: MIDR,2023b. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Departamento de Minimização de Desastres. Módulo de formação: Resposta: gestão de desastres, decretação e reconhecimento federal e gestão de recursos federais em proteção e defesa civil para resposta: livro base. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 2017. BRASIL. Portaria nº 2.216, de 4 de julho de 2023. Define procedimentos para o envio de alertas à população sobre a possibilidade de ocorrência de desastres, em articulação com os órgãos e entidades estaduais, distritais e municipais de proteção e defesa civil, e para utilização do sistema Interface de Divulgação de Alertas Públicos (IDAP). Diário Oficial da União, Brasília, 05 de julho de 2023, ed. 126, seção 1, p. 62. [2023b]. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.216-de-4-de- julho-de-2023-494170139. Acesso em: 14 mai. 2023. BRASIL. Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990. Dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 14 mai. 1990. Disponível em: https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8036consol.htm. Acesso em: 23 de mar. de 2024. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12608.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14750.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14750.htm#art2 www.gov.br/mdr/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/protecao-e-defesa-civil-sedec/copy_of_guiapraticodesastres.pdf www.gov.br/mdr/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/protecao-e-defesa-civil-sedec/copy_of_guiapraticodesastres.pdf https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.216-de-4-de-julho-de-2023-494170139 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.216-de-4-de-julho-de-2023-494170139 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8036consol.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8036consol.htm BRASIL. Decreto nº 5.113, de 22 de junho de 2004. Regulamenta o art. 20, inciso XVI, da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990, que dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 26 jun. 2004. Disponível em: https://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5113.htm. Acesso em: 23 de mar. de 2024. CEPED/UFSC. Capacitação em Proteção e Defesa Civil. Curso 3: Gestão de Risco. 1 ed., 130 pp. Florianópolis, 2022. Freitas, Carlos Machado de et al. GUIA DE PREPARAÇÃO E RESPOSTAS DO SETOR SAÚDE AOS DESASTRES. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde; Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS); Fundação Oswaldo Cruz, 161 pp. 2018. GFDRR (Global Facility for Disaster Reduction and Recovery). Building Back Better in Post-Disaster Recovery: Note 0. 2017. GFDRR (Global Facility for Disaster Reduction and Recovery). Disaster Recovery Framework Guide: Revised version. Washington/USA: GFDRR, 2020. 106 p. UNDRR (United Nations Office for Disaster Risk Reduction). Sendai Framework Terminology on Disaster Risk Reduction. 2017. Disponível em: https://www.undrr.org/terminology. Acesso em: 10 out 2023. UNDP (United Nations Development Programme). The Sustainable Development Goals. 2018. UNISDR. Como Construir Cidades Mais Resilientes: um guia para gestores públicos locais. Genebra: Escritório das Nações Unidas Para A Redução de Riscos de Desastres (UNISDR, em Inglês), 2012. 102 p. Disponível em: https://www.unisdr.org/files/26462_guiagestorespublicosweb.pdf. Acesso em: 31 out. 2023. UNISDR. Sendai Framework for Disaster Risk Reduction 2015-2030. 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Climatológico Hidrológico Meteorológico Outros 10,8% 4,5% 70,3% 14,5% Região Norte 9,1% 7,7% 46,2% 37,0% Região Centro-Oeste 7,8% 3,0% 57,4% 31,7% Região Sudeste 24,2% 0,9% 41,7% 33,1% Região Sul 79,7% 18,5% 0,4% 1,5% Região Nordeste 17 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Observando a imagem é possível perceber que apenas o Nordeste tem predominância dos desas- tres climatológicos. O Norte apresenta a maior concentração de ocorrências hidrológicas, enquanto as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul têm o valor de registros mais equilibrado entre esses dois grupos. Para o grupo meteorológico, a principal concentração de ocorrências está na região Sul do país. Compreendendo a distribuição dos eventos no Brasil, é necessário entender os tipos de impactos relacionados a cada desastre para que, a partir desse conhecimento, seja possível planejar as ações a serem desenvolvidas e os órgãos, instituições e atores a serem acionados no momento de resposta a cada um deles. Dessa forma, iremos analisar os impactos separando-os nas categorias de danos e prejuízos eco- nômicos: Danos “Resultado de perdas humanas, materiais ou ambientais infligidas às pessoas, comunidades, instituições, instalações e aos ecossistemas, como consequência de um desastre” (Brasil, 2016). Dividido nas categorias de Danos Humanos, Materiais ou Ambientais. Prejuízos econômicos “Medida de perda relacionada com o valor econômico, social e patrimonial, de um determinado bem, em circunstâncias de desastre” (Brasil, 2016). Dividido entre os Prejuízos Públicos e os Privados. Agora que estamos familiarizados com os principais conceitos relacionados ao tema, vamos come- çar nossa análise observando cada grupo de desastres. 18 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal OCORRÊNCIAS AFETADOS DIRETOS PREJUÍZOS ECONÔMICOS DANOS MATERIAIS 50% Climatológico 38% Hidrológico 9% Meteorológico 2% Outros Climatológico Hidrológico Meteorológico Outros Fonte: Baseado em Brasil (2023). Públicos Privados 80%55% 16%40% 4% 2% 1% 3% 5%85% 7% 3% 1%92% 5% 2% 19 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Afetados diretos: são aqueles que sofreram lesões, doenças ou outros efeitos sobre a saúde; que foram evacuados, deslocados, realocados ou sofreram danos diretos nos seus meios de subsistência e bens econômicos, físicos, sociais, culturais e ambientais (UNDRR,2017). Afetados indiretos: são as pessoas que sofreram consequências devido a perturbações ou mudanças na economia, infraestruturas críticas, serviços básicos, comércio ou trabalho, ou consequências sociais, de saúde e psicológicas (UNDRR, 2017). Conforme apresentado na imagem, o Grupo Climatológico é o que acumula a maior quantidade de ocorrências registradas, no entanto, seus impactos estão relacionados, basicamente, aos prejuízos econômicos. Para o Grupo Hidrológico, apesar de apresentar valores significativos em todas as categorias, os principais impactos estão relacionados com as pessoas afetadas e com os danos materiais. Já o Grupo Meteorológico apresenta um equilíbrio nos valores, significando que, apesar de com- preender menor quantidade de ocorrências, os desastres meteorológicos costumam causar impactos em todas as categorias. Agora que analisamos a distribuição entre os grupos de desastres, vamos observar os impactos nos desastres de maior ocorrência no Brasil. A distribuição em cada categoria pode ser observada na figura a seguir. Saiba mais 20 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal DISTRIBUIÇÃO DOS IMPACTOS Fonte: Baseado em Brasil (2023b). As principais ocorrências estão relacionadas aos eventos de Estiagem e Seca, Enxurradas, Inunda- ções, Chuvas intensas e Vendavais e Ciclones. No entanto, é importante destacar o impacto dos eventos de movimentos de massa e dos alagamentos. Cabe ressaltar que os desastres de estiagem e seca têm seus impactos diretamente relacionados aos prejuízos privados, nos setores de agricultura e pecuária, e nos prejuízos públicos, na distribuição de água. Ainda, seu desenvolvimento ocorre de forma gradual, o que faz com que o gerenciamento desses eventos demande um planejamento a longo prazo e com o apoio do estado e da federação. Devido à frequência desses eventos no país, principalmente na região do Semiárido e, de forma menos intensa, no Sul, algumas ações de gerenciamento desse tipo de desastre já ocorrem de forma periódica no país. Conheça, a seguir, um pouco sobre alguns deles. 21 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Monitor de Secas O Monitor de Secas acompanha, de forma regular e periódica, a situação da seca no Brasil. Seus resultados são divulgados mensalmente com indicadores que permitem análises tanto de curto prazo (últimos 3, 4 e 6 meses) como de longo prazo (últimos 12, 18 e 24 meses), possibilitando a visualização da evolução da seca. Clique aqui para acessar o site. Monitoramento de secas e impactos no Brasil O Índice Integrado de Seca (IIS) combina alguns indicadores para realizar o monitoramento da seca no país. Os resultados são apresentados em duas escalas: 3 meses (IIS-3) e 6 meses (IIS-6), sendo a primeira indicada para análises relacionadas à agricultura e a segunda para a avaliação da condição de déficit hídrico. O IIS é disponibilizado pelo Cemaden/MCTI e os boletins podem ser acessados clicando aqui. Operação carro-Pipa (OCP) A Operação Carro- Pipa (OCP) é uma ação emergencial do Governo Federal para levar água potável a comunidades preferencialmente rurais do Semiárido Brasileiro. A iniciativa é coordenada pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e envolve a participação do Exército Brasileiro. Para mais informações, clique aqui. Divulgação/MDRReproduçãoReprodução AÇÕES DE GERENCIAMENTO Veja a videoaula a seguir para aprofundar seu conhecimento acerca dos desastres que desenca- deiam maiores impactos nas áreas urbanas e nas populações vulneráveis. Serão, portanto, analisados com destaque os desastres de enxurradas, inundações, chuvas intensas, vendavais e ciclones, granizo, alagamentos e movimentos de massa. https://monitordesecas.ana.gov.br/mapa https://www.gov.br/cemaden/pt-br/assuntos/monitoramento/monitoramento-de-seca-para-o-brasil https://www.gov.br/mdr/pt-br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/perguntas-frequentes-defesa-civil/operacao-carro-pipa-federal-ocp 22 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Conhecendo os impactos dos desastres, principalmente em relação às populações vulneráveis, é importante também compreender as características mais comuns do desenvolvimento urbano que re- sultam na instauração do risco e na ocorrência de eventos catastróficos. O guia “Como construir cidades mais resilientes” desenvolvido pelo Escritório das Nações Unidas para a Redução de Riscos de Desastres (UNDRR, em inglês) apresenta algumas dessas características, listadas a seguir. » O crescimento das populações urbanas e o aumento de sua densidade, ampliando as ocupa- ções de planícies costeiras, ao longo de encostas instáveis, e das áreas de risco; » A concentração de recursos e capacidade em âmbito nacional, com ausência de fiscalização, recursos humanos e capacidades no governo local, incluindo ordenspouco claras para ações de resposta e de redução de riscos de desastres; » A governança local fragilizada e a participação insuficiente dos públicos de interesse locais no planejamento e gestão urbana; » A gestão inadequada dos recursos hídricos, dos sistemas de drenagem e de resíduos sólidos; » O declínio dos ecossistemas, devido às atividades humanas que comprometem a capacidade de oferecer serviços essenciais; » A deterioração da infraestrutura e padrões de construção inseguros, que podem levar ao colap- so das estruturas; » Os serviços de emergência descoordenados, que afetam a capacidade de rápida resposta e preparação; » Os efeitos adversos das mudanças climáticas que irão, provavelmente, influenciar a frequência, intensidade e localização dos desastres relacionados ao clima. Considerando essas características e o perfil de impacto dos desastres que mais atingem as popu- Videoaula 01: GD e os desastres no âmbito municipal https://www.unisdr.org/files/26462_guiagestorespublicosweb.pdf https://www.unisdr.org/files/26462_guiagestorespublicosweb.pdf https://www.youtube.com/watch?v=dgQrVnuth20 23 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal lações vulneráveis, observa-se que as regiões mais afetadas são aquelas com as maiores aglomerações urbanas. Nesse sentido, as áreas que apresentam um processo de ocupação e uso do solo inadequados são as que demandam com maior urgência medidas preparatórias efetivas, com o objetivo de diminuir os impactos causados pelo desastre. Para isso, é necessário planejar as ações previamente, partindo de políticas e estratégias setoriais de redução de riscos de desastres (RRD), com instrumentos como a avaliação de riscos e Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), seguindo para o planejamento operacional, representado pelo Plano de Contingência (Plancon). Nesse seguimento, agora que já estudamos sobre os desastres no Brasil e seus impactos relacio- nados, vamos aprender melhor sobre o Gerenciamento de Desastres, seus objetivos dentro do Sistema de Proteção e Defesa Civil e como suas ações devem ser previstas e planejadas. 24 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal O Gerenciamento de Desastres Desde o ano 1988, a Defesa Civil no Brasil está organizada sob a forma de um sistema, o Sinpdec (Sis- tema Nacional de Proteção e Defesa Civil). Na época, suas ações eram focadas quase que integralmente na resposta e recuperação. ORGANIZAÇÃO DA PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Fonte: Ceped/UFSC (2024). Em 2012, ocorreu uma reforma em sua estrutura, regulamentada por meio da Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012 (alterada pela Lei nº 14.750/2023). Nela estão dispostas as diretrizes para uma atuação integrada e articulada entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, a fim de proporcionar um resultado mais eficiente e eficaz do que apenas a soma das ações individualizadas dos órgãos que compõem o sistema. Com isso, atualmente, o sistema é coordenado pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm 25 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal (Sedec), órgão que pertence ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). A lei tam- bém instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC). O seu art. 3º, afirma que: Além de ações de redução de riscos de desastres, a PNPDEC consolida as diretrizes que orientam os procedimentos a serem realizados no Gerenciamento de Desastres (GD), à medida que atua articula- damente a fim de estabelecer canais de comunicação e integração entre diferentes níveis de governo nas áreas atingidas pelos desastres, facilitando a efetividade das etapas de resposta e de recuperação. O Decreto nº 10.593, de 24 de dezembro de 2020, que dispõe sobre a organização e o funciona- mento tanto da PNPDEC quanto do Sinpdec, considera a Proteção e Defesa Civil (P&DC) como o conjunto de ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação destinadas a: 1. Evitar ou minimizar os efeitos decorrentes de desastre; 2. Preservar o moral da população; 3. Restabelecer a normalidade social e torná-la resiliente. A PNPDEC abrange as ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação voltadas à proteção e defesa civil”. (Brasil, 2012) https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/d10593.htm 26 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Dessa forma, podemos entender que o GD compreende as ações de preparação e resposta. Assim, podemos conceituar as ações do GD como (Brasil, 2020): O GD deve ser compreendido como um processo que abrange todas as etapas de coordenação, execução e constante aprimoramento das ações de preparação e resposta, a fim de reduzir os efeitos, danos e prejuízos dos desastres, não deixando de se preocupar, também, com a redução dos riscos de desastres, principalmente nas ações de restabelecimento dos serviços essenciais. Preparação Medidas destinadas a otimizar as ações de resposta e minimizar os danos e as perdas decorrentes do desastre. Resposta Medidas de caráter emergencial, executadas durante ou após a ocorrência do desastre, destinadas a socorrer e assistir a população atingida e restabelecer os serviços essenciais. Ações voltadas para atuação direcionada para a ocorrência de um desastre Preparação Resposta GERENCIAMENTO DE DESASTRE (GD) 27 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Ressalta-se que as ações de restabelecimento muitas vezes se sobrepõem com as ações de re- construção. Dessa forma, para alguns casos, nem sempre é possível separar tão claramente o término do restabelecimento e o início da reconstrução. O Decreto nº 10.689, de 27 de abril de 2021, recriou o Grupo de Apoio a Desastres (Gade) coor- denado pelo Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad). O Gade é composto por servidores da Sedec, agentes de Defesas Civis Estaduais e Municipais, especialistas e voluntários e tem como objetivos auxiliar a Sedec no exercício de suas competências e apoiar o Sinpdec na articulação e na coordenação de ações de gerenciamento de riscos e de desastres. Com a medida, estimula-se a atuação integrada entre a União e os entes federados em ações que exijam a articulação dos três níveis de governo na esfera de suas competências, com vistas a mitigar prejuí- zos e a coordenar essas ações. Considerando o Gerenciamento de Desastres, existem diferentes instrumen- tos que podem auxiliar os órgãos de proteção e defesa civil e as suas organizações parceiras envolvidas na resposta a desastres de forma integrada, colaborativa, eficiente e eficaz. A seguir, iremos conhecer brevemente duas ferramentas utilizadas atualmente para o Gerenciamen- to de Desastres no Brasil: O Plano de Contingência (Plancon) e o Sistema de Comando de Operações (SCO). Plancon De maneira geral, nas ações realizadas ainda no pré-desastre, que ocorrem normalmente em períodos de normalidade, são desenvolvidas prioritariamente medidas de prevenção, mitigação e de preparação. Com isso, deve-se atuar com foco na construção de planos de contingência e demais ações de preparação (preparação das equipes de resposta, orga- nização de suprimentos, atividades de capacitação e treinamentos, realização de simulados, entre outras). Um Plano de Contingência (Plancon) nada mais é do que um documento oficialque registra o pla- nejamento elaborado a partir do estudo de um cenário de risco, de forma a orientar ações diante de uma determinada hipótese de desastre identificada. Nele são organizadas as etapas, passo a passo, do que deve ser feito e dos responsáveis por fazer, ou seja, como vai funcionar a resposta ao desastre. Sua ela- boração envolve a tomada de decisão de forma antecipada no que diz respeito a mobilização e emprego dos recursos humanos, materiais e tecnológicos a serem utilizados em uma situação de emergência real. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.689-de-27-de-abril-de-2021-316256826 28 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal De acordo com a PNPDEC, o desenvolvimento do Plancon é uma responsabilidade dos municípios, os quais precisam elaborá-los e executá-los, com o apoio dos respectivos estados e da União. Cada mu- nicípio planeja, prepara, aprova, divulga e operacionaliza seus planos de acordo com as realidades locais, os cenários de risco específicos e os recursos disponíveis de cada município. Em razão disso, o Plancon é tão importante, pois permite que se pense no desastre em tempos de normalidade e se possa alinhar com outras instituições de resposta a melhor forma de trabalho articulado. Durante todo o processo de Gerenciamento de Desastre é preciso considerar que as ações relacionadas estejam alinhadas com o processo previsto no Plancon, quando aplicável. Sistema de Comando em Operações Após a ocorrência do desastre, nos períodos de anormalidade, ou seja, nos inter- valos de tempo caracterizados pela alteração do funcionamento normal de uma comunidade ou sociedade, são desenvolvidas prioritariamente ações de resposta e recuperação. Nesses casos, deve-se buscar responder aos desastres utilizando as recomendações dos Planos de Contingência existentes, sendo possível adotar a metodologia do Siste- ma de Comando em Operações (SCO) como padrão gerencial para orientar as condutas dos envolvidos nas ações de resposta. O emprego do SCO pode ajudar nos casos em que não existe um Plano de Contingência previamente elaborado, servindo como modelo padrão de gerenciamento de respostas para qualquer tipo de emergência. O SCO ainda pode ser utilizado para momentos não emergenciais, uma vez que a metodologia repre- O Decreto nº 10.593/2020 define o Plancon como: Conjunto de medidas preestabelecidas destinadas a responder a situação de emergência ou a estado de calamidade pública de forma planejada e intersetorialmente articulada, elaborado com base em hipóteses de desastre, com o objetivo de minimizar os seus efeitos. ESTÁ NA LEI 29 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Vale a pena destacar ainda, que o emprego do SCO permite que seus usuários adotem uma es- trutura organizacional padrão e integrada para enfrentar as incertezas e complexidades típicas de um desastre ou qualquer outro tipo de emergência ou não-emergência (como um evento planejado), sem prejuízo de suas competências e limites jurisdicionais, evitando jogos de poder e disputas institucionais. O emprego do SCO permite que diferentes atores e organizações atuem conjuntamente, a partir de 14 características gerenciais baseadas em boas práticas, instituídas com o objetivo de reduzir os proble- mas de falta de comunicação e melhorar a segurança e eficácia das ações de resposta, transformando complexidade e confusão em compreensão, colaboração e união de esforços em torno do alcance de objetivos comuns. As 14 características gerenciais do SCO são: 1. O emprego de terminologia comum; 2. O uso de um organograma padrão modular e flexível; 3. O estabelecimento e transferência formal do comando; 4. Cadeia e unidade de comando; senta o conjunto das melhores práticas e lições aprendidas ao longo do tempo. Nestes casos, se emprega o SCO para a coleta de informações e preparação de um Plano de Ação específico, de acordo com as recomen- dações da metodologia, para responder ao desastre ou situação de emergência. A metodologia do SCO pode ser conceituada como uma abordagem padronizada que representa as melhores práticas para facilitar o comando, o controle e a coordenação de ações de resposta, com vistas ao alcance de objetivos e prioridades previamente estabelecidos e o uso compartilhado e eficaz dos recursos disponíveis (humanos, materiais, financeiros, tecnológicos e de informação). 30 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal 5. O uso do Comando Único ou Comando Unificado; 6. A administração por objetivos (APO); 7. O uso de Planos de Ação específicos para cada período operacional; 8. O uso de um adequado alcance de controle; 9. O uso de instalações e áreas padronizadas; 10. O gerenciamento integrado de recursos; 11. A integração e interoperabilidade das comunicações; 12. O controle da mobilização/desmobilização dos recursos empregados; 13. A integração de informações e de inteligência; e 14. O uso de coletes de identificação e o emprego de formulários padronizados. Mas para que isso funcione, é necessária uma boa capacitação, de forma que todos os envolvidos nas ações de resposta possam atuar de forma integrada, padronizada, segura e eficiente, permitindo que as ações de Governo estejam alinhadas nas esferas Federal, Estadual e Municipal, permitindo ações cola- borativas e integradas com os setores privados, as organizações não-governamentais e a sociedade civil. Para saber mais sobre o SCO, acesse o material complementar na página do aluno. Cabe ressaltar que, para a metodologia SCO, todas as suas 14 características gerenciais devem ser aplicadas de forma simultânea. Caso alguma característica deixe de ser empregada, a metodologia não está sendo utiliza corretamente. 31 Módulo 1. O Gerenciamento de Desastres e seus impactos no Brasil Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Conforme estudamos, o Gerenciamento de Desastres é composto basicamente pelas ações de preparação e resposta. Siga para o próximo módulo do curso para aprofundar seus conhecimentos acer- ca das primeiras etapas do processo de preparação, que envolvem a articulação municipal e o planeja- mento das ações a serem desenvolvidas. Material complementar: Metodologia SCO TRAZENDO PARA A REALIDADE Em janeiro de 2020, no Município de Betim, em Minas Gerais, foi registrada situação de desastre, que, no período, teve um registro de 6 óbitos. Em decorrência deste cenário, durante o ano de 2020, um grupo se organi- zou para estudar a experiência de dezenas de profissionais que trabalharam, direta ou indiretamente, atrelados à Sala de Situação, criada especialmente para o enfrentamento das fortes chuvas que assolaram o município. Como resultado, foi confeccionado e publicado o Manual de Gerenciamento de Catástrofes, tendo como base o Sistema de Comando de Operações e configurado à realidade da cidade de Betim/MG. https://drive.google.com/file/d/1DBkr2EC0lQ-VcajpJBRT8NQvXwRQybUq/view?usp=drive_link https://www.betim.mg.gov.br/portal/secretarias/30/superintendencia-de-defesa-civil/ https://www.betim.mg.gov.br/portal/secretarias/30/superintendencia-de-defesa-civil/ https://www.betim.mg.gov.br/portal/secretarias/30/superintendencia-de-defesa-civil/ Módulo 2 Eduardo Valente, SECOM/Governo de SC Preparação: Articulação e Planejamento Unidade 1. Articulação » Tópico 1. A Preparação » Tópico 2. O Órgão municipal de P&DC como articulador Unidade 2. Planejamento » Tópico 1. Ferramentas de planejamento » Tópico 2. Operacionalização e capacitação para atuação no desastre 33 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastresno âmbito municipal Preparação: Articulação e Planejamento Conforme vimos nos módulos anteriores, o Gerenciamento de Desastres inicia suas atividades an- tes da ocorrência de um evento. Este é o momento no qual iniciam-se as ações de preparação, que en- volvem a articulação, planejamento, monitoramento e o alerta. Articulação Nesta unidade vamos entender melhor a importância do papel de articulador do órgão de Prote- ção e Defesa Civil Municipal relacionado às ações de Gerenciamento de Desastres (GD). Para isso, vamos iniciar aprofundando nossos conhecimentos acerca da fase de preparação. Siga para o primeiro tópico desta unidade para estudar sobre o tema. A Preparação A Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012, alterada pela Lei nº 14.750, de 12 de dezembro de 2023, conceitua as ações de preparação como: Ações destinadas a preparar os órgãos do Sinpdec, a comunidade e o setor privado, incluídas, entre outras ações, a capacitação, o monitoramento e a implantação de sistemas de alerta e da infraestrutura necessária para garantir resposta adequada aos acidentes ou desastres e para minimizar danos e prejuízos deles decorrentes”. (BRASIL, 2023a) Já o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR), denomina pre- paração como: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12608.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14750.htm#art2 34 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal O conhecimento e as capacidades desenvolvidas pelos governos, organizações de resposta e recuperação, comunidades e indivíduos para antecipar, responder e recuperar eficazmente dos impactos de desastres prováveis, iminentes ou atuais”. (UNDRR, 2017) A redução e a gestão do risco de desastres, que dependem de mecanismos de coordenação intra e interssetoriais e com as partes interessadas em todos os níveis, exigindo também o empenho integral de todas as instituições públicas de natureza executiva e legislativa em nível nacional e local e uma articulação clara das responsabilidades de cada uma das partes interessadas públicas e privadas, incluindo empresas e universidades, para garantir a comunicação, parceria e complementaridade de funções, bem como responsabilidade e acompanhamento”. (UNISDR, 2015) Ainda, como estratégia internacional para o Gerenciamento de Desastre, destaca-se o Marco de Sendai, em sua Prioridade de Ação 4, que é “melhorar a preparação para desastres para uma resposta efetiva e "reconstruir melhor” (Build Back Better) na recuperação, reabilitação e reconstrução”, e tem como um dos seus princípios norteadores: O planejamento na fase de preparação estabelece disposições que permi- tem o desenvolvimento de respostas oportunas, eficazes e apropriadas a eventos potenciais específicos ou situações de desastre súbitos que possam ameaçar a sociedade. Essa preparação se baseia numa análise sólida dos riscos de desastres e está diretamente relacionada com um monitoramento permanente e um sistema de alerta precoce, correlato a “prontidão”, resultando na capacidade de resposta 35 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal 35 rápida e adequada, quando necessário. Dessa forma, temos que a fase de preparação é realizada no con- texto do período de normalidade, ou seja, antes da ocorrência de um desastre. Esse processo inclui atividades como o planejamento de contingência, o armazenamento de equi- pamento e suprimentos, o desenvolvimento de mecanismos de coordenação, evacuação e divulgação de informações públicas. Logo, estas devem ser apoiadas por capacidades institucionais, jurídicas e or- çamentárias. Considerando essas definições, temos que a fase de preparação envolve as ações de: planejamen- to, capacitação, monitoramento e alerta, além das aquisições dos insumos essenciais para as ações de resposta (como cestas básicas, kits dormitórios, kits de higiene e colchões). Vamos estudar melhor sobre cada uma delas ao longo do curso. Nesse sentido, a preparação eficaz para o GD é um esforço contínuo que envolve a participação ativa de diversas partes interessadas visando o desenvolvimento das capacidades necessárias para gerir, de forma eficaz, todos os tipos de situações que venham a ocorrer com o evento e garantir que as comu- nidades estejam prontas para enfrentar e se recuperar o mais rápido possível de eventos adversos. 36 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Diante das demandas que surgem ao longo do processo de preparação, temos a articulação. Ela pode ser categorizada em duas grandes áreas, que envolvem a articulação estratégica, feita com os ti- tulares das secretarias, e a articulação operacional, feita com os responsáveis pela execução dos planos de ação. Ainda, é fundamental a conscientização dos setores políticos para os danos que os desastres podem causar, buscando obter apoio para o desenvolvimento de projetos de preparação e de resposta que minimizem os impactos gerados, como as ações de Redução de Risco de Desastres (RRD) e os Pla- nos de Contingência (Plancon). Em função de sua importância em todo o processo de Gerenciamento de Desastres, vamos estudar sobre a articulação e o papel do órgão de Proteção e Defesa Civil municipal nesse contexto. Siga para o próximo tópico para acompanhar o conteúdo. O Órgão municipal de P&DC como articulador A preparação não ocorre sozinha, ela precisa de uma articulação entre os órgãos de governo, insti- tuições públicas e privadas, setores de segurança, comunidade, ou seja, entre os diversos atores envolvi- dos na busca pela redução da perda de vidas e propriedades em decorrência dos desastres. Uma articulação bem-sucedida é fundamental para garantir uma abordagem integrada e eficaz diante de situações de emergência, de modo a garantir uma resposta coordenada, minimizando o impac- to nas comunidades afetadas. A articulação no GD refere-se à colaboração entre diferentes partes interessadas, organizações e setores envolvidos não só na preparação, mas também na resposta e recuperação de desastres. Todos atuando sob a coordenação segundo a vocação (missão) institucional de cada órgão envolvido. Seu objetivo durante a fase de preparação é o de promover a pactuação para o desenvolvimento dos processos de resposta, respeitando a autonomia de cada instituição, para o fortalecimento das capacidades técnicas e a conexão entre os vários níveis de governo e instituições que desempenham algum papel no GD. 37 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal A partir do acordo de participação nas ações, a colaboração entre as partes interessadas é decisiva para enfrentar os desafios complexos associados ao gerenciamento de uma emergência. Para que se mantenha uma articulação bem alinhada entre os envolvidos, alguns pontos devem ser desenvolvidos e estar bem estabelecidos, como: 1. Reuniões de pactuação: realizar encontros com cada órgão ou instituição envolvida no GD para que todos se vejam no sistema municipal de defesa civil a partir de suas missões ins- titucionais. É nesse momento que todos conhecerão sobre metodologias de coordenação, comunicação institucional e outras ações para atuação conjunta; 2. Coordenação interinstitucional: estabelecer mecanismos claros de coordenação operacio- nal entre agências governamentais, organizações não governamentais, setor privado e outras entidades relevantes, envolvendo a criação de comitês de gerenciamento de desastres e a definição de papéis e responsabilidades específicos para cada parte; 3. Comunicação eficiente: desenvolver sistemas de comunicação eficientes que permitam uma troca rápida e precisade informações entre todas as partes envolvidas, podendo incluir a utilização de redes de comunicação de emergência, plataformas online e outros meios de comunicação; 4. Treinamento conjunto: realizar exercícios simulados e treinamentos conjuntos para garantir que todas as agências e organizações estejam familiarizadas com os planos de emergência, protocolos de resposta e procedimentos de coordenação; 5. Compartilhamento de recursos: facilitar o compartilhamento eficiente de recursos, como equipamentos, pessoal treinado e suprimentos, entre as diferentes entidades envolvidas, sen- do importante para lidar com grandes desastres que sobrecarregam os recursos individuais; 6. Padronização de procedimentos: desenvolver planos de ação (protocolos padronizados) para garantir consistência nas operações, de modo a facilitar a compreensão mútua e reduzir conflitos durante situações de crise; 7. Gestão de informações: estabelecer sistemas para a gestão eficaz de informações, garan- tindo que todos os participantes tenham acesso às informações relevantes, incluindo dados sobre a situação, recursos disponíveis e necessidades emergenciais; 38 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal 8. Envolvimento da comunidade: incluir a comunidade na articulação, garantindo que suas ne- cessidades e seus insights sejam considerados na tomada de decisões, pois compreender as dinâmicas locais é fundamental para uma resposta eficaz; 9. Planejamento integrado: desenvolver planos de resposta integrados que considerem as ca- pacidades e responsabilidades de todas as partes envolvidas, ajudando a evitar lacunas na resposta e a maximizar a eficácia das operações; 10. Liderança centralizada e comando compartilhado: estabelecer uma liderança centralizada durante a resposta a desastres, com uma clara cadeia de comando, evitando a duplicação de esforços e garantindo uma tomada de decisão rápida e eficaz. No entanto, é necessário entender que, para cada objetivo identificado ao longo da operação, haverá uma instituição ou órgão com a missão pré-estabelecida de atender à essa demanda e operacionalizar as ações necessárias. Por exemplo, se a liderança centralizada identificar a demanda de resgate aos atingidos, a ação será comandada por meio do Corpo de Bombeiros e todos os demais órgãos devem ser coordenados para apoiá-lo; 11. Avaliação pós-evento: realizar avaliações pós-desastre para identificar pontos fortes e áreas de melhoria na articulação, pois aprendizados obtidos de eventos anteriores são valiosos para aprimorar os processos futuros. O órgão de P&DC desempenha um papel fundamental como articulador em situações de desas- tres. Ele coordena as ações entre os diversos setores, como governo, organizações não governamentais e a comunidade, visando garantir uma resposta eficaz aos desastres. Essa articulação é fundamental para maximizar os recursos, agilizar a assistência e minimizar os impactos adversos nas comunidades afetadas. O Decreto nº 10.593, de 24 de dezembro de 2020, que dispõe sobre a organização e o funciona- mento do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec), trata do objetivo do Sinpdec, que é atuar no planejamento, na articulação e na coordenação das ações de gerenciamento de riscos e de desastres no território nacional. Ainda, o mesmo Decreto, afirma que: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/d10593.htm 39 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal O Sinpdec atuará em articulação com as esferas de governo e complementará as ações de cada órgão ou entidade para proteção da população em situação de normalidade ou de desastre”. (BRASIL, 2020a) Logo, temos que é atribuição do gestor público municipal articular com entidades e instituições federais e estaduais acerca dos interesses do município quanto à obtenção de recursos e apoio técnico especializado, em programas governamentais destinados ao desenvolvimento municipal, tanto em perí- odo de normalidade quando da ocorrência de um desastre. Assim, o papel dos agentes de proteção e defesa civil municipais, além do operacional, está cada vez mais ligado ao papel de articulador, tanto junto aos demais entes federados (Estados e União), como principalmente na própria administração local, com as demais instituições, entidades e segmentos da sociedade situados no município. Conseguir articular políticas públicas e aproximar-se das demais secretarias de seu município é o caminho para garantir uma gestão integrada, que articule aspectos de participação social e prioridade à prevenção e minimização de desastres, por exemplo. Dessa forma, o sistema municipal de Proteção e Defesa Civil é responsável pela articulação, coor- denação e operacionalização com os demais órgãos setoriais e de apoio, como os órgãos da administra- ção pública municipal, estadual e federal sediados no município, bem como as organizações comuni- tárias, o qual também se responsabiliza pelas ações integradas que se fizerem necessárias. 40 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Esses órgãos devem pré-determinar em suas estruturas os responsáveis pela articulação com o ór- gão municipal de Proteção e Defesa Civil. A responsabilidade de cada órgão será designada pela função que melhor desempenhar as ações que lhes forem atribuídas de forma mais eficaz. É desejável que esses órgãos setoriais sejam amplamente diversificados, permitindo que haja amplitude multi e interdisciplinar, como os setores mencionados na Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012, que são: » Ordenamento Territorial; » Desenvolvimento Urbano; » Saúde; » Meio Ambiente; » Mudanças Climáticas; » Gestão de Recursos Hídricos; » Geologia; » Infraestrutura; » Educação; » Ciência e Tecnologia; » Demais políticas setoriais; É recomendado que o gestor local identifique e estabeleça contato com os órgãos setoriais que possuem ligação com a gestão de risco, principalmente os responsáveis pela execução local das políticas às quais a P&DC devem integrar-se. Caso o município apresente muitas áreas de risco e recorrência de desastres, este deve estabe- lecer um plano de encontros e reuniões com os órgãos setoriais e comunidades vulneráveis, a fim de estruturar uma gestão local participativa. Para se estabelecer uma boa articulação, o gestor municipal de defesa civil deve identificar no organograma da prefeitura, quais os órgãos que têm em suas atribuições ações de socorro, assistência social, abrigamento, limpeza de vias, obras, meios de transporte, garantia de mobilidade urbana, enfim, todas aquelas que são comuns durante a resposta a um desastre recorrente na cidade. Além disso, deve se ter em mente, a partir do Cobrade, quais os outros órgãos que podem atuar caso um dos desastres não recorrente ali acontecer. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm 41 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Da mesma forma, deve verificar quais os órgãos do estado e do governo federal estão instalados na cidade ou em cidades vizinhas para acioná-los segundo suas vocações institucionais para a resposta. O setor privado também pode contribuir para as ações de resposta. Desde o fornecimento de apoio logístico, com máquinas, veículos até o apoio de técnicos especializados. É na fase de preparação que essas oportunidades devem ser identificadas e os contatos com os responsáveis realizados. O resultado será a pactuação de processos essenciais para uma resposta eficiente e oportuna. Para tanto, compreender o conceito de intersetorialidade como uma nova forma de fazer gestão e de construir políticaspúblicas, possibilita entender a necessidade de olhar o todo e enxergar como os di- ferentes setores da gestão pública podem agir de maneira cooperada a fim de obter resultados melhores. Veremos agora algumas estratégias práticas para melhorar a articulação nas ações locais de um órgão municipal de P&DC: 42 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal 1. Coordenação e colaboração interinstitucional: reforçar a parceria entre diferentes órgãos e instituições locais, como bombeiros, polícia, serviços de saúde, secretarias municipais, entre outros, para promover a preparação e uma resposta unificada e eficaz em situações de desastre. 2. Desenvolvimento de planos de contingência específicos: elaborar e atualizar regularmente os planos de contingência para diferentes tipos de desastres que possam ocorrer na região, em conjunto com os órgãos setoriais e todos os envolvidos na resposta imediata ao desas- tre, levando em consideração as especificidades locais, as ocorrências mais recorrentes, os recursos disponíveis e as necessidades da população, assim como validar por meio de simu- lado real ou de mesa para conhecimento dos envolvidos. 3. Capacitação e treinamento: investir na capacitação e treinamento dos membros da equipe de proteção e defesa civil, bem como de todos os envolvidos na resposta a desastres, como os representantes dos órgãos setoriais, instituições e comunidades. Isso inclui capacitação inicial sobre percepção de risco e autoproteção, capacitação para cadastramentos social, socorro e assistência, capacitação para gestão de abrigos, etc. 4. Monitoramento e alerta precoce: estabelecer um sistema eficiente de monitoramento, emissão de alertas e alarme, com a instalação de sirenes, envio de mensagens de texto, uso de aplicativos móveis ou qualquer outro meio de comunicação de rápido alcance, além de ter equipes capacitadas para interpretar e transmitir corretamente as informações de alerta à população, de modo a fazer com que os alertas funcionem como gatilhos de ações previstas no plano de contingência. 5. Fortalecimento das infraestruturas locais: avaliar e fortalecer as infraestruturas locais, como sistemas de drenagem, pontes, estradas e edifícios públicos, levando em consideração as orientações de construção segura e mitigação de riscos de desastres, com a participação direta dos órgãos responsáveis. 6. Adoção de protocolos de Resposta e Recuperação: desenvolver e pactuar protocolos claros de resposta a desastres, com atribuição de papéis e responsabilidades apropriados, visando uma ação rápida e eficaz. Além disso, é importante estar preparado para iniciar a recupera- ção pós-desastre, priorizando a segurança, o bem-estar da população afetada e o retorno à situação de normalidade. 43 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal 7. Integração da RRD no planejamento municipal: incluir ações de RRD como parte integran- te do planejamento municipal em diferentes setores, como ordenamento territorial, saúde pública, educação e infraestrutura, garantindo a implementação de medidas preventivas de maneira transversal. TRAZENDO PARA A REALIDADE Temos o exemplo do Estado de Santa Catarina, onde um dos grandes diferenciais que se vê na prática é exatamente o nível de preparação dos municípios. Não somente para tipos específicos de desastres, mas principalmente para a capacidade de trabalhar num status quo de anormalidade, saindo de uma situação de preparação para o momento seguinte, que está no horizonte, que é o momento de resposta. Como exemplo o que ocorreu nos meses de outubro e novembro de 2023, que estava prevista a ocorrência de uma situação de emergência. O estado, mais precisamente o Vale do Itajaí, saiu do status de normalidade, onde, a partir de então, os órgãos estaduais de P&DC, de segurança e de monitoramento, passaram a divulgar informações nos veículos de comunicações e internet, e entrou-se no status de alerta, onde a população e os órgãos já sabiam que iriam receber um impacto decorrente de um evento climático. Mas, para que essas estratégias deem certo, alguns aspectos são fundamentais. O principal deles é que as lideranças precisam ter visão sistêmica e criar mecanismos de governança que assegurem espaços para avaliação, direcionamento e monitoramento conjunto entre os diversos atores. R oberto Zacarias, Secom /G overno SC 44 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal É importante ressaltar a necessidade de fortalecimento da gestão de comunicação relacionada aos desastres desde o momento da preparação. O desenvolvimento de planos de chamadas, determinação de porta-vozes oficiais e estratégias de combate às informações falsas são fundamentais para promover bons resultados para o gerenciamento de desastres municipal. O combate às informações falsas, que normalmente ocorrem em momentos de crises, pode ser realizado por meio de estratégias como a potencialização de agentes disseminadores de notícias reais, com atualizações em curto prazo das informações por meio de canais de comunicação como redes so- ciais, televisão, rádios, jornais, entre outros. Fazer a gestão das políticas de maneira sistêmica potencializa os resultados da administração pú- blica. Essa perspectiva é verdadeira na medida em que inúmeras políticas têm, entre si, relações diretas e indiretas de causa e efeito, que se consideradas de forma integrada representariam ganhos significativos de qualidade no desenho e de eficiência e eficácia na gestão das políticas; mas, conseguir compreender essas relações e integrar os processos para consolidar seu conhecimento e compreender melhor a im- portância da articulação dentro das ações de Proteção e Defesa Civil e no apoio aos municípios, assista a videoaula a seguir. Videoaula 02: Articulação Institucional: Pilar básico na Gestão de Riscos e Desastres https://www.youtube.com/watch?v=RHPh9Kzu6EY 45 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Planejamento Conforme vimos anteriormente, a fase de preparação envolve as ações de planejamento, capaci- tação, monitoramento e alerta. Nesse contexto, a atuação preventiva é essencial para a diminuição dos impactos decorrente de um desastre. Por isso, o GD deve ser iniciado nesse período. Ferramentas de Planejamento As ferramentas de planejamento para o GD envolvem, tanto as ações de RRD, como o planeja- mento para ação de enfrentamento a um desastre para o momento em que ele acontece. Quem trabalha no órgão de P&DC sabe disso e deve atuar preventivamente. Ou seja, deve-se de- senvolver a avaliação dos principais riscos do município, promover trabalhos de sensibilização e educa- ção da comunidade, realizar atividades de monitoramento de riscos, ajudar e coordenar a elaboração de planos de contingência, realizar treinamentos e simulados, fazer a articulação interinstitucional entre os diferentes atores que normalmente respondem aos desastres, dentre outras ações. Para isso, existem ferramentas que podem e devem ser utilizadas como apoio para o Gerenciamen- to do Desastre no município. Vamos conhecer, a seguir, as principais ferramentas utilizadas para as ações de planejamento e de capacitação. José C ruz, A gência B rasil 46 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Avaliação de Risco Ferramenta de estudo local das áreas de risco. PMRR Plano Municipal de Redução de Riscos – Intervenções para RRD. Nupdec Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil – Grupo composto, principalmente, pela comunidade com o objetivo de implementar açõeslocais de P&DC. Plancon Plano de Contingência – Ações e planejamento sistêmico para desastres específicos. Monitoramento e Alerta Acompanhamento e comunicação articulada acerca das probabilidades de ocorrência de desastres. SCO Sistema de Comando em Operações – padrão gerencial para orientar as condutas dos envolvidos nas ações de resposta. Para a construção dessas ferramentas de planejamento, a articulação política deve ser feita entre os órgãos de governo, as secretarias municipais, os representantes da sociedade civil, os moradores e lideranças comunitárias residentes nas áreas de interesse, levando em consideração a realidade local do município e os recursos disponíveis, para projetos de preparação e mitigação dos desastres. Avaliação de risco A avaliação de risco é o passo inicial para qualquer planejamento relacionado com as ações de Re- dução de Risco de Desastres ou de Gerenciamento de Desastres no município. Por meio dela é possível identificar, mapear e setorizar os principais riscos de um município ou uma região específica. Veja, a seguir, as ferramentas que estudaremos nesse tópico. 47 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal TRAZENDO PARA A REALIDADE A Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil de Juiz de Fora/MG desenvolve o mapeamento das áreas de risco de seu município há mais de 10 anos. No entanto, cada campanha realizada para atualização ou ampliação da cobertura do mapeamento aplicou uma metodologia diferente para setorização do risco. Em função disso, viu-se a urgência de padronização da metodologia aplicada, de forma a tornar possível a comparação dos resultados obtidos em cada campanha. Identificada a necessidade, a Compdec passou a definir a metodologia descrita no “Manual de mapeamento de perigo e risco a movimentos gravitacionais de massa”, elaborado pelo Projeto GIDES, como oficial para o município. Essa medida permitiu a consolidação do processo de mapeamento das áreas de risco no município, bem como o desenvolvimento de um plano de intervenções para redução do risco de desastres nos locais setorizados. Para acompanhar o relatório completo, acesse o Banco de Boas Práticas da Sedec/MIDR. Com seu desenvolvimento, as ações de P&DC do município passam a ser mais específicas e melhor orientadas, compreendendo a realidade local e as situações com as quais as instituições, os gestores e a comunidade deverão estar preparados para enfrentar ou combater. PMRR O Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) é desenvolvido considerando todas as ameaças do município. Seu objetivo é identificar as ações municipais, estruturais e não estruturais, necessárias para a implementação de medidas de RRD. Com isso, nele são consideradas ações que abrangem desde a estrutura e recursos do sistema municipal de Proteção e Defesa Civil, capacitações e campanhas de conscientização a serem desenvolvidas em conjunto com a população, até o desenvolvimento de obras e intervenções urbanas para redução e mitigação do risco de desastres. As ações previstas no PMRR devem ser trabalhadas em conjunto com todo o planejamento realiza- Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Paulo Pinto, A gência B rasil TRAZENDO PARA A REALIDADE São Sebastião, em SP, apresenta diversas áreas de risco, e que, em sua maioria, estão localizadas nas comunidades que apresentam a população mais vulnerável do município. Em função da dificuldade de planejar e aplicar medidas de redução de risco de desastres efetivas e específicas para cada região, a Defesa Civil Municipal desenvolveu o PMRR. Com isso, foram levantadas das áreas de risco do município e definidas as possíveis alternativas a serem implementadas para mitigar os riscos associados. Essa ação permitiu uma gestão de riscos mais eficiente das áreas de maior vulnerabilidade do município. Para saber mais, acesse o Banco de Boas Práticas da Sedec/MIDR. do para atuação no momento de resposta a um desastre. Isso ocorre uma vez que as mudanças imple- mentadas tanto nas áreas de risco como nas orientações de ações da própria comunidade influenciam nas demandas e na forma como os desastres impactam no município. Com isso, é necessário que as intervenções definidas no PMRR sejam estabelecidas de forma con- junta com outros setores do município, visando um planejamento coordenado e sistêmico em relação às ações de Proteção e Defesa Civil, objetivando sempre o bem-estar social e a proteção à vida das pessoas. 48 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento 49 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal Plancon O Plancon é o Plano de Contingência, que diferentemente do PMRR, aborda a fase de enfrenta- mento ao desastre e de uma forma específica, sendo cada plano desenvolvido para um tipo de risco. Segundo a Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012, alterada pela Lei nº 14.750, de 12 de dezembro de 2023, o Plano de Contingência é: Conjunto de procedimentos e de ações previsto para prevenir acidente ou desastre específico ou para atender emergência dele decorrente, incluída a definição dos recursos humanos e materiais para prevenção, preparação, resposta e recuperação, elaborado com base em hipóteses de acidente ou desastre, com o objetivo de reduzir o risco de sua ocorrência ou de minimizar seus efeitos. Para que o plano funcione na prática, é ne- cessário que todos os atores envolvidos (tanto os gestores e instituições como as comunidades) tenham acesso a ele e conheçam seus papéis e as ações que devem ser tomadas diante da ocor- rência do desastre. Para isso, torna-se imprescindível o desen- volvimento de simulados e a ampla divulgação e comunicação acerca do que foi estabelecido no Plancon. Ainda, é necessário que a Defesa Civil Municipal assuma o papel de liderança e articula- ção exigida ao longo de toda a atuação de respos- ta ao desastre e restabelecimento dos serviços. Rovena Rosa, Agência Brasil https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm 50 Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal TRAZENDO PARA A REALIDADE A Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil de São Paulo/SP desenvolveu, em parceria com outras instituições, o Plano de Contingência voltado para escorregamentos em áreas de encosta e solapamentos de margem de córregos. Devido à sua extensão, São Paulo apresenta muitas áreas de risco e relacionadas a diferentes tipos de desastres. Seria inviável a elaboração de um Plancon único assim como o desenvolvimento de um Plano para cada tipo de risco para o município inteiro. Foi desenvolvido e padronizado um fluxo de elaboração de Planos de Contingência por área de risco geológico, no qual as instituições responsáveis preenchiam os dados necessários relacionados a cada área analisada. Dessa forma, a Compdec atua como organizadora, planejadora e mediadora no desenvolvimento de cada Plancon, sendo responsável por fazer a articulação das atuações definidas por cada instituição. Para saber um pouco mais sobre esse e outros exemplos de desenvolvimento e aplicação de Planos de Contingência, acesse o Banco de Boas Práticas da Sedec/MIDR. Freepik Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento 51 Módulo 2. Preparação: Articulação e planejamento Conceitos e práticas para o Gerenciamento de Desastres no âmbito municipal SCO Ao contrário do Plancon, o Sistema de Comando de Operações (SCO) é uma metodologia de ges- tão de desastres que engloba as melhores práticas e lições aprendidas ao longo dos anos para responder a qualquer tipo de emergência. Ele deve ser aceito, treinado e aplicado por todos os órgãos que fazem parte do Simpdec. Na fase de preparação, uma das tarefas do