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W BA 01 35 _V 3. 0 SEGURIDADE SOCIAL: A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SUAS 2 Juscilene Galdino da Silva Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2023 SEGURIDADE SOCIAL: A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SUAS 1ª edição 3 2023 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Flaviana Aparecida de Mello Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Silva, Juscilene Galdino da Seguridade social: política de Assistência Social e o Suas/ Juscilene Galdino da Silva, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2023. 32 p. ISBN 978-65-5903-431-4 1. Direitos sociais. 2. Assistência. 3. SUAS. I. Título. CDD 362.10425 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 S586s © 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. https://www.cogna.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Direitos sociais: Marco históricos importantes _______________ 07 A Política de Assistência Social no Brasil ______________________ 21 Principais Serviços Socioassistênciais do SUAS ______________ 33 Debate contemporâneo sobre a política de assistência social no Brasil: Avanços e desafios ___________________________________ 44 SEGURIDADE SOCIAL: A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SUAS 5 Apresentação da disciplina A Política de Assistência Social e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no Brasil desempenham um papel fundamental na promoção do bem-estar e na garantia de direitos dos cidadãos. Por meio da assistência social, busca-se atender às demandas das pessoas em situação de vulnerabilidade e garantir-lhes acesso a serviços e benefícios essenciais. No contexto dos direitos sociais (Tema 1), é importante ressaltar alguns marcos históricos que foram fundamentais para a consolidação dos direitos conquistados. A Constituição Federal de 1988 representa um ponto crucial nesse sentido, reconhecendo a assistência social como direito do cidadão e atribuindo ao Estado a responsabilidade de sua efetivação. Ao adentrar o tema específico da política de assistência social no Brasil, com o Tema 2 serão exploradas suas características e princípios fundamentais. Será discutido como essa política tem evoluído ao longo do tempo, adaptando-se às necessidades da população e buscando proporcionar proteção social de forma inclusiva e integrada. No Tema 3 sobre o âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), serão apresentados os principais serviços socioassistenciais disponibilizados à população brasileira. Esses serviços, que englobam desde o acolhimento e o atendimento a famílias em situação de vulnerabilidade até o apoio à inclusão produtiva, visam promover a autonomia e a melhoria das condições de vida dos cidadãos. 6 Por fim, no Tema 4 será realizado um debate contemporâneo sobre a política de assistência social no Brasil, abordando os avanços conquistados ao longo dos anos, bem como os desafios que ainda persistem. Serão discutidas questões relacionadas à história da política de assistências, aos ganhos para a população ao longo das décadas, à influência do papel econômico no modo de construção e condução da política social e à efetivação dos direitos no contexto atual, destacando a importância de uma abordagem crítica e reflexiva sobre o tema. Esta disciplina é estruturada em quatro temas principais, cada um com suas particularidades e contribuições para o entendimento da política de assistência social e do SUAS no Brasil. Por meio da análise conceitual, do estudo dos marcos históricos e da compreensão das conquistas da Seguridade Social, busca-se uma visão ampla e aprofundada sobre o tema, considerando a dinâmica política e social do país. 7 Direitos sociais: Marco históricos importantes Autoria: Juscilene Galdino da Silva Leitura crítica: Flaviana Aparecida de Mello Objetivos • Compreender os direitos sociais e sua consolidação. • Refletir sobre as políticas sociais no âmbito brasileiro. • Elencar alguns avanços e desafios para a sua efetivação. 8 1. Direitos sociais: conceito, contexto histórico e suas influências no panorama nacional De modo geral, os direitos sociais são direitos fundamentais do sujeito, que são verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, com o objetivo de garantir ou ir em direção à igualdade social. É dada, nesse momento, uma espécie de avanço e emancipação simbólica e principalmente histórica dos indivíduos, já que o direito social se manifesta na realidade material. No Século XIX, as demandas por direitos sociais tiveram o seu primeiro ápice até então, tal fato se deu no contexto anteriormente citado, o da vida no trabalho, com a chegada da Revolução Industrial1. Os direitos sociais então surgiram em prol da classe operária durante a Revolução Industrial na Europa, iniciada no século XVIII e elaborada conforme avanços que se arrastaram até o século XIX. Algumas das mudanças incluem redução da jornada de trabalho, proibição do trabalho infantil, salário-mínimo, dentre outras igualmente importantes. Um ponto importante a se mencionar está na literatura de Burdeau, ele nos traz, que: Após a guerra de 1914/1918 as declarações de direitos conhecem um impulso enorme. Nos Estados criados ou transformados pela guerra, assembleias constituintes adotam nos preâmbulos das constituições um bom número de artigos fixando as bases políticas e sociais do novo regime. Elas registram o nascimento de novos direitos saídos da evolução da vida social; eles remetem ao dever do Estado, não mais simplesmente a garantia de independência jurídica do indivíduo, mas sobretudo a criação de condições necessárias para assegurar-lhe a independência social. O individualismo é corrigido pelo reconhecimento da legitimidade das intervenções do Estado em todos os domínios em que se possa demandar a solidariedade social. (Burdeau, 1996, p. 68) 1 Revolução Industrial foi o processo que levou à substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia huma- na pela energia motriz e do modo de produção doméstico (ou artesanal) pelo sistema fabril nos países da Europa e da América do Norte. 9 A igualdade material entre os indivíduos só poderia ser atingida diante da modificação do papel do Estado. Se antes ele se ausentou, com o aparecimento do Estado social a igualdade passa a ser assegurada, pelo menos na lei, mediante dupla atuação estatal: o aumento da intervenção estatal nas relações contratuais e a imposição de obrigações ao Estado, de forma que passou a estar comprometido com a manutenção de prestações em favor da população. Com todas as mudanças na atuação estatal, o Estado passa a ter um aparato para a promoção, através de legitimidade para intervenções, visando a garantia dos direitos individuais, fomentando políticas de amparo. No entanto, semBolsa Família, já citado anteriormente. De acordo com dados do Ministério da Cidadania, em 2020, o Bolsa Família beneficiou mais de 14 milhões de famílias em todo o país, proporcionando melhorias significativas nas condições de vida dessas famílias. Mas, outra política social relevante é a criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que busca organizar e articular a oferta de serviços e programas de assistência em todo o país. O SUAS tem como objetivo central promover a inclusão social, a autonomia e a melhoria das condições de vida das pessoas em situação de vulnerabilidade. Através do SUAS, são disponibilizados serviços como os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), que atuam no 50 acolhimento, orientação e encaminhamento de indivíduos e famílias em situação de risco ou violação de direitos. A criação dos conselhos de assistência social, como o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e os conselhos estaduais e municipais, foi um marco importante. Esses espaços de participação permitem que a sociedade civil, por meio de organizações e movimentos sociais, tenha voz ativa na formulação, implementação e monitoramento das políticas sociais. Os conselhos são responsáveis por discutir e deliberar sobre as diretrizes, metas e ações dos programas sociais, garantindo a transparência e a democratização na gestão dessas políticas. Além disso, os avanços tecnológicos têm contribuído para ampliar a participação popular. Através de plataformas digitais e ferramentas de comunicação, a sociedade civil tem sido capaz de se engajar de maneira mais ampla, participando de consultas públicas, enviando contribuições e acompanhando de perto as decisões e a implementação das políticas sociais. Os resultados desses avanços são visíveis em diversos aspectos. Houve uma expansão significativa da cobertura e do acesso aos programas sociais, beneficiando um maior número de pessoas em situação de vulnerabilidade. O Bolsa Família, por exemplo, alcançou mais de 14 milhões de famílias em 2020, representando um incremento considerável em relação aos primeiros anos de sua implementação. Em suma, os avanços da política de assistência social no Brasil são notáveis, trazendo melhorias significativas na vida das pessoas em situação de vulnerabilidade. No entanto, é fundamental que se mantenha o compromisso com a ampliação do acesso, a qualidade dos serviços prestados e a promoção da participação popular, visando a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e solidária. Por fim, será importante identificar e reconhecer os desafios que as políticas de assistência social ainda enfrentam. 51 3. Os desafios das políticas sociais A conjuntura “político-econômica-social” sofreu grandes mudanças após a pandemia que ocorreu entre os anos de 2019 e 2022, e, para falarmos de política social, é preciso estar atento em como esse cenário impactou o mundo do trabalho e consequentemente a área social. Os processos que marcaram a história do país são agravados pelo que ocorre desde o período anterior à pandemia, de profunda crise do capital. Houve uma reestruturação no mundo do trabalho que impacta profundamente a vida do trabalhador, por meio da reestruturação produtiva que vem após os períodos de expansão do fordismo2 e taylorismo3 como modos de produção, que expressavam um campo de luta sindicalista dos trabalhadores, e que perderam a força. As indústrias fordista e taylorista passaram a assumir estratégias do modo de produção toyotista japônes4, reduzindo assim a mão de obra e eliminando postos de trabalho. Percebemos que a necessidade de conciliação discutida anteriormente não seria mais relevante se adotarmos uma abordagem mais radical, pois a financeirização e a supremacia do capital já estão intrinsecamente sobrepondo-se aos interesses sociais no contexto das políticas públicas. Compreendendo o contexto em que as políticas sociais se inserem, é fundamental abordar o fenômeno da financeirização, pois ele desempenha um papel significativo na atual configuração econômica. Nesse processo, o setor financeiro assume uma posição central na economia, exercendo influência dominante na alocação de recursos, na geração de lucros e nas tomadas de decisões econômicas. A 2 O fordismo é um sistema de produção em massa desenvolvido por Henry Ford no início do século XX. Caracte- riza-se pela produção em larga escala, padronização dos produtos, divisão do trabalho e utilização de máquinas e tecnologias avançadas. 3 O taylorismo é um sistema de organização do trabalho desenvolvido por Frederick Taylor no final do século XIX. Ele busca aumentar a eficiência e a produtividade por meio da divisão detalhada das tarefas e do controle rigoroso dos processos de trabalho. 4 O toyotismo, também conhecido como Sistema Toyota de Produção, é um modelo de produção que foi desen- volvido pela Toyota no Japão, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. Resumidamente, o toyotismo busca eliminar desperdícios e maximizar a eficiência ao longo de toda a cadeia produtiva. 52 financeirização está intrinsecamente relacionada a mudanças estruturais na economia global, como a liberalização financeira, a desregulamentação, o avanço tecnológico e a busca incessante por retornos financeiros cada vez mais elevados. Esses elementos são relevantes para compreendermos as dinâmicas que permeiam as políticas sociais e as transformações que ocorrem no âmbito econômico, destacando a importância de uma abordagem crítica e abrangente no desenvolvimento e implementação dessas políticas. Uma das características marcantes da financeirização é a crescente interconexão entre a esfera financeira e as demais esferas da economia, como a produção, o consumo e o trabalho. A financeirização também pode ter implicações sociais, políticas e culturais. Ela pode levar a uma maior desigualdade econômica, concentrando poder e riqueza nas mãos de instituições financeiras e investidores privilegiados. Além disso, pode aumentar a instabilidade e a volatilidade no mercado financeiro, como evidenciado pelas crises financeiras. Como isso afeta as políticas sociais? A lógica da financeirização muitas vezes promove a privatização e mercantilização de serviços sociais. A ideia de que os serviços sociais devem ser tratados como commodities sujeitas às leis de oferta e demanda pode levar à redução do acesso universal a esses serviços, especialmente para os mais vulneráveis. Isso pode resultar em desigualdades e exclusão social. Além disso, existem vários outros fatores resultantes de processos como este que formam a base do tecido das desigualdades sociais no Brasil. A financeirização contribui para a ampliação das desigualdades sociais e econômicas, questões como essas foram atenuadas durante a pandemia do ano de 2019. Por exemplo, podemos notar que durante esse período houve um aumento na procura pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) devido aos impactos socioeconômicos provocados pela crise sanitária. A pandemia trouxe consequências como o aumento do desemprego, a redução da renda familiar, a falta de acesso a serviços básicos e a vulnerabilidade social, o que pode ter levado mais pessoas 53 a buscar assistência e suporte por meio do CRAS. É sabido que o CRAS faz parte da Política Nacional de Assistência Social, que é regulamentada pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), sendo uma das unidades públicas mais afetadas durante os governos de 2019 a 2021. 3.1 As questões ideológicas Na perspectiva das discussões contemporâneas que envolvem o desmonte das políticas sociais temos o campo de valores do conservadorismo como suporte de interesses a favor do nosso modo de produção econômico. No Brasil o capital se assimila a valores ideológicos quando necessário. Estamos considerando que existe um modo capitalista de pensar, que não se restringe à produção material, masAcesso em: 7 set. 2023. MARQUES, R. O lugar das políticas sociais no capitalismo contemporâneo. Disponível em: https://periodicos.ufes.brargumentum/article/view/10517. Acesso em: 7 set. 2023. MESTRINER, M. L. O Estado entre a filantropia e a assistência social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008. http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/FaPa1Oy8kQ65voJ4T345.pdf https://periodicos.ufes.brargumentum/article/view/10517 58 Sumário Apresentação da disciplina Direitos sociais: Marco históricos importantes Objetivos 1. Direitos sociais: conceito, contexto histórico e suas influências no panorama nacional 2. Avanços 3. Considerações finais Referências A Política de Assistência Social no Brasil Objetivos 1. Apontamentos sobre a história da política da Assistência Social no Brasil 2. Compreendendo as especificidades da Constituição Federal de 1988: a gênese da inclusão da assist 3. Compreendendo a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial, além de alguns desafios da a Referências Principais Serviços Socioassistênciais do SUAS Objetivos 1. Principais serviços socioassistenciais do SUAS 2. Os principais agentes do SUAS 3. A importância do SUAS e as suas formas práticas de implementação Referências Debate contemporâneo sobre a política de assistência social no Brasil: Avanços e desafios Objetivos 1. Apontamentos sobre a história da política de assistência social até a atualidade 2. Alguns avanços consideráveis com relação às políticas sociais no Brasil 3. Os desafios das políticas sociais Referênciasa manutenção constante e atualização desses parâmetros, as camadas mais afetadas socialmente serão e são em vários momentos prejudicadas. Já que percebemos que o Estado e a população são formativamente corpos distintos, de interesses distintos, diante disso os pactos surgem e estão suscetíveis à instabilidade de interesses, de onde eles mesmo foram criados. Um dos pontos iniciais importantes de comparação para a compreensão desse surgimento é a efetivação do Welfare State (Estado de bem-estar social), o modelo do século XX de intervenção estatal, pós-primeira Segunda Guerra, que fortalece o setor público e é o responsável por ativar e gerir os mecanismos de proteção social, sendo também o meio que abre caminho para as políticas sociais. A política social segue a conveniência das políticas de avanço popular, já que atenderá a essas necessidades populares, mas, sobretudo, aos objetivos econômicos, assim como complementa Pereira (p. 27, 2011): É esta característica da política social – herdada não propriamente da ordem burguesa, mas de todos os modos de produção divididos em classe (escravista, feudal, capitalista) – que faz dela, conforme Mishra, um fato ao mesmo tempo longevo e contemporâneo, além de simultaneamente positivo e negativo, diferenciando-o do Welfare State. Apesar disso, podemos reconhecer aqui que não há a “‘A’ Política Social”, correto? A Política Social se dá de formas diferentes e é atravessada por 10 aspectos e contextos culturais e sociais diversos, sendo conveniente ou não, tanto para a população, quanto para o Estado; então as políticas sociais não são exclusivamente um meio de afirmação e dominação burguesa, visto que há a oscilação entre a apropriação feita pela população e afastamento dela.2 Um grande desafio é ampliar a assistência, já que essas intervenções não são suficientes. O Estado passou a oferecer serviços públicos mais específicos, materializando-se em prestações relativas no campo da saúde, educação, proteção à velhice e à invalidez. Com a modernidade da ideia de Estado social, agora essa prestação é um direito garantido por lei, mesmo que não plenamente em alguns casos. Com isso, vale salientar aqui que postura em relação a essa ruptura de interesses deve se manter crítica, para a constante melhoria analítica do aluno, não só referente à sua área de conhecimento, mas também para a função ativa da profissão. Neste ponto, se pararmos para uma breve análise, para que o regime democrático fosse eficiente, as condições econômicas precisariam ser o meio pelo qual a liberdade do indivíduo e os seus direitos sejam usufruídos. Sem essa liberdade, entramos em um estado de contradição constante. Assim como Dalmo de Abreu Dallari (2004, p. 46) aponta, “afirmar que todos são iguais perante a lei; é indispensável que sejam assegurados a todos, na prática, um mínimo de dignidade e igualdade de oportunidades”. Diante de contradições e obstáculos, o Estado social de direito só encontrou condições propícias ao seu surgimento no início do século XX, como decorrência de diversos fatores, tais como a luta dos sindicalistas europeus pelo reconhecimento de direitos trabalhistas, o caos instaurado com o advento da I Guerra Mundial e a vitória dos 2 PERIERA, P. A. Política social contemporânea: concepções e configurações no contexto da crise capitalista. In: COSTA, L. C.; NOGUEIRA, V. M. R.; SILVA, V. R. (org). A política social na América do Sul: perspectivas e desafios no século XXI [on-line]. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2013. pp. 15–26. 11 bolcheviques russos em 1917, além do desenvolvimento pós II Guerra Mundial. Mas como isso se deu no nosso contexto? Com o surgimento do capitalismo e o surgimento e crescimento do processo de industrialização no Brasil, também ascende o papel da classe trabalhadora e dos movimentos sociais. Na conjuntura apresentada, não havia ainda as leis trabalhistas. Em 1º de maio de 1943, sob o governo de Getúlio Vargas, temos a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Até então, o cenário apresentava o crescimento do movimento liderado por Luís Carlos Prestes, que viria a propagar o ideal revolucionário, o que desemboca no histórico de greves dos trabalhadores no Brasil; em paralelo aos ideais do partido integralista conservador. A classe operária, extremamente explorada, passou a se organizar para reivindicar direitos e melhores condições de trabalho. De tal modo, as reivindicações passaram a incomodar o Estado. Os trabalhadores já se viam em condição de injustiça e de exploração (Iamamoto; Carvalho, 1983). Dando um salto histórico maior em relação aos direitos sociais, a primeira Constituição Brasileira inspirada na de Weimer, também ensaiava a origem de uma cartilha de função social. Isso nos trouxe, por meio dos atravessamentos dos movimentos citados, à atual Constituição Brasileira (1988), responsável por uma extensa garantia de direitos fundamentais, como estipulado em seu Artigo 6º, em relação à saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência, dentre outros. Já trazendo novamente os anos 40, temos os trabalhadores alcançaram algumas conquistas importantes, como a criação da CLT3. 3 A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) ocorreu apenas em 1943: foi criada por meio do Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas. Para consultar a Lei, acesse o site: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-5452-1-maio-1943-415500-publicacaoorigi- nal-1-pe.html. Acesso em: 16 maio 2023. 12 Figura 1 – Balança Social Fonte: Shutterstock.com O período de 1930 a 1945 foi marcado, no Brasil, pela “Era Vargas”, período de grandes conquistas para os trabalhadores, como resultado das suas reivindicações, ainda que com caráter conservador (NASCIMENTO; SILVA; ALGEBAILE, 2002). Nesse período, também foram estabelecidas algumas medidas relacionadas à aposentadoria e pensão, como a criação do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI) por meio da Lei no 367, de 31 de dezembro de 1936. O objetivo principal dos IAPs era reorganizar o setor previdenciário. Além disso, a Legião brasileira de assistência (LBA) foi fundada em 1942 por Darcy Vargas, para apoiar soldados brasileiros que participaram da 2ª Guerra Mundial. Vale salientar novamente que o Brasil passou por ondas autoritárias, com repressão aos movimentos sociais dos trabalhadores. Todavia, foi na década de 1980 que muitos direitos foram consolidados com a 13 Constituição Federal de 1988. Como já apontado, houve um avanço considerável, comparado aos anos anteriores marcados pela repressão e perseguição a direitos básicos fundamentais; sendo a maior parte dessas conquistas fruto do trabalho coletivo. Adiante poderemos observar como isso se deu. 2. Avanços Você consegue identificar quais são os avanços importantes que temos historicamente na luta por direitos? Como reafirma Nascimento, Silva e Algebaile (2002, p. 10), “de 1945 a 1964 o país não representou mudanças significativas em políticas sociais. Foram mantidas as estruturas construídas no período anterior, havendo, no máximo, expansão de alguns setores”. Então, apesar dos esboços da Era Vargas, explicitados anteriormente, as políticas sociais passaram por altos e baixos, principalmente em relação às dificuldades impostas pela Ditadura Militar. Por meio de uma intensa mobilização popular, a Assembleia Nacional Constituinte de 1987–1988 contou com a participação significativa da sociedade brasileira em sua elaboração. Durante esse processo, diversas organizações, atuando no congresso constituinte, propuseram emendas populares de grande relevância. Como resultado desse esforço coletivo, a Constituição Federal de 1988 foi promulgada. Notou-se, a partir dessa Constituição, um considerável avanço nas políticas públicas de maneira abrangente. Os direitos sociais elencados na Constituição são prestações materiais (orientam a atuação estatal)que devem ser patrocinadas pelo Estado, não podendo se abster desse dever. 14 Figura 2 – Constituição Federal de 1988 Fonte: Shutterstock.com Nos últimos 30 anos, vivemos um período de afirmação dos direitos sociais, garantidos de forma constitucional. O Título II da Constituição contempla os Direitos e Garantias Fundamentais — artigos 5° a 17 —, constando, ainda, o Capítulo dos Direitos Sociais. O art. 6º prevê como direitos sociais: “a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”. Os Direitos dos Trabalhadores são assegurados dentro deste Capítulo, reservado aos Direitos Sociais (artigos 6º a 11º). No Título II – Dos direitos e garantias fundamentais, Capítulo II: Dos direitos sociais, art. 6º da Constituição Brasileira de 1988, Art. 6º, diz: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. 15 A garantia dos direitos sociais preconizados na política de Assistência Social é dada por meio de políticas sociais que deverão ser ofertadas pelo Estado, de acordo com a perspectiva de Montaño (2000, p. 21): “as políticas sociais não são mecanismos lógico-formais estáveis de um Estado supraclassista de bem-estar, ou de um Estado apenas funcional ao capital, senão o resultado contraditório, tenso e instável destas lutas”. O último Título da Constituição é o VIII, que contempla a Ordem Social e possui 8 Capítulos, dentre os quais: 1. O II, que trata da Seguridade Social (inscrita nos arts. 194 a 204), englobando normas referentes à Saúde (arts. 196 a 200), à Previdência Social (arts. 201 a 202), e à Seguridade Social (art. 203 a 204); 2. O III, sobre Educação, Cultura e Desporto (arts. 205 a 217); 3. O VI, referente ao Meio Ambiente (art. 225); e 4. O VII, que trata da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso (arts. 226 a 230). Tais direitos sociais, associam-se a garantias de direitos individuais e direitos coletivos dos sujeitos. O Estado, portanto, deverá desenvolver políticas públicas para assegurá-los. Você provavelmente já ouviu discursos que atribuem à massa brasileira uma certa comodidade diante da realidade? Porém, a população, ou melhor, a classe trabalhadora compartilha de diversas nuances e opressões, saindo dela a força motriz que gera a crítica, os movimentos e as manifestações, como mostra a nossa história política. Assim como o então constituinte Ulysses Guimarães discursou solenemente durante a promulgação da constituição: 16 [...] Há, portanto, representativo e oxigenado sopro de gente, de rua, de praça de favela, de fábrica, de trabalhadores, de cozinheiras, de menores carentes, de índios, de posseiros, de empresários, de estudantes, de aposentados, de servidores civis e militares, atestando a contemporaneidade e autenticidade social do texto que ora passa a vigorar. (Trecho extraído de Discurso de Ulisses Guimarães em 05 de outubro de 1988) Ao que se refere à democracia participativa, ganhamos também por meio da criação de conselhos específicos (Conselhos Gestores de Políticas Públicas), que passaram a atuar nos níveis federal, estadual e municipal, tendo membros da sociedade civil, além dos do Estado. Inclui- se igualmente as políticas de Seguridade Social, da educação, da criança e do adolescente, que deverão ser descentralizados. 2.1 Desafios Como você pode imaginar, os direitos tiveram e ainda têm muitos desafios pela frente. Com base nas referências de estudo a seguir, apresentamos então esses grandes desafios que se confrontam com a efetivação dos direitos sociais, sendo alguns desses desafios: a falta de investimento em políticas essenciais, a retração de verbas e a defasagem das políticas neoliberais. Aliás, essas últimas fazem com que a responsabilidade do Estado recaia sobre a sociedade civil, fazendo surgir a denominada filantropia social, caso à parte, que se caracteriza pela transferência de responsabilidades e por meio do qual o Estado se abstém de investimentos em políticas sociais. Direitos sociais são direitos fundamentais do homem, caracterizando- se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria de condições de vida aos hipossuficientes, visando a concretização da igualdade social, e são consagrados como fundamentos do Estado democrático, pelo art.1º, IV, da Constituição Federal. (Moraes, 2011, p. 206) 17 As novas exigências do grande capital, em consequência do projeto neoliberal, resumiram-se na flexibilização, desregulamentação e privatização. Significa dizer que o avanço neoliberal impacta diretamente a vida dos sujeitos, que, sem perceber, perdem direitos sociais já conquistados, com argumentos infundados do neoliberalismo. Por mais que a organização dos movimentos sociais esteja agindo para levar a informação e atualização sobre perdas, há a máquina de informação geracional que ganha em partes, tornando ainda um certo grupo de sujeitos alienados. Você provavelmente já ouviu discursos em entrevistas e jornais de representantes da nossa sociedade citando as dificuldades econômicas para implementação de ações básicas, certo? Bom, os gastos públicos realmente existem, mas o redirecionamento financeiro a certos setores sociais são investimentos e não gastos efetivos. Porém, os argumentos neoliberais para justificar a falta de investimento do Estado em políticas sociais e/ou em direitos sociais são principalmente relacionados a essa “contenção de gastos” do Estado. “[...] conclama-se a necessidade de redução e/ou o não investimento de reduzir a ação do Estado para o atendimento das necessidades das grandes maiorias mediante a restrição de gastos sociais [...]” (Iamamoto, 2008, p. 144). Após breves avanços, as políticas de investimento para a área social tiveram um corte em 96% durante os anos de 2019 a 2022, período correspondente ao Governo Bolsonaro, essencialmente direitista, e igualmente alinhado à burguesia, ao que, segundo a Assessoria de Imprensa da CNTSS/CUT (2022): A nova direção o CNAS vem denunciado a situação gravíssima de “desfinanciamento” com as reduções orçamentárias impostas à Assistência Social pelo governo Bolsonaro. Em reunião do CNAS de 17/09, foi aprovado pelo Colegiado uma Nota denunciando e repudiando o corte de 96% nos 18 recursos destinados às despesas discricionárias da Proteção Social no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) para 2023. Tais momentos citados aqui pretendem exemplificar o quanto o modo de se fazer política se alinha à estrutura econômica predominante. Algumas hipóteses trazem que as fragilidades que já vinham sendo apresentadas, antes mesmo de alguns cenários, se devem aos alicerces do tecido social, ou seja, à proteção social trazida pela Constituição Federal de 1988, que, para Rodrigues (2012, p. 53), “sua meta (limitou- se) a emersão de uma seguridade assistencial, ou seja, de um padrão público de proteção social rebaixado”. Barroco (2003) acredita na possibilidade de se entender que o cenário atual provoca na sociedade uma descrença nas causas coletivas e no aumento da competitividade, aspectos não indissociáveis de posturas individualistas nas relações sociais. Então, para que você compreenda como se deram os direitos sociais, se torna imprescindível reavaliarmos temas que tangem a economia e a política, visto que as políticas sociais são geradas e ao mesmo tempo confrontadas pelo neoliberalismo. 3. Considerações finais Nas discussões aqui levantadas foram destacados alguns elementos importantes sobre os direitos sociais brasileiros, para a sua melhor compreensão do todo, com direcionamentos intencionais aos direitos trabalhistas e posteriormente aos avanços da Constituição Brasileira de 1988. Mesmode caráter conservador, alguma mobilização resultou em algumas conquistas por parte da classe trabalhadora. No entanto, é importante destacar que não houve uma ruptura total com o 19 liberalismo, com a implementação de políticas sociais pelo Estado. O que houve foi a adoção de uma roupagem, porque o Estado se viu pressionado pela classe trabalhadora a atender algumas de suas reivindicações, durante o período de industrialização do país. Cabe destacar, nessa discussão, que apesar de breves avanços e regulamentações que se dão a partir dos anos 2000, o que se percebe é a perda de direitos e o retrocesso em todas as áreas, visto que há uma presença forte de interesses que não pretendem reparar seus danos. Referências BARROCO, M. L. S. Ética e serviço social: fundamentos ontológicos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 1 jan. 2017. BURDEAU, G. Droit constitutionel et instituitions politiques. Paris, Librairie Géneral de Droit et de Jurisprudence,1996. CNTSSCUT. Cortes no orçamento da Assistência Social feitos por Bolsonaro Foram debatidos em Audiência Pública na Câmara Federal. Disponível em: http://www.cntsscut.org.br/destaques/4143/cortes-no-orcamento-da-assistencia- social-feitos-por-bolsonaro-foram-debatidos-em-audiencia-publica-na-camara- federal. Acesso em: 29 abr. 2023. DALLARI, D. A. Direitos humanos e cidadania. 2. ed. Reform. São Paulo: Moderna, 2004. IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez, 1983. MONTAÑO, C. La política social: espacio de inserción laboral y objeto de reflexión del Servicio Social. In: Política Social Hoy. Brasil: Cortez Editora, 2000. MORAES, A. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011 NASCIMENTO, A.; SILVA, A. F.; ALGEBAILE, M. E. Estado, mercado e trabalho: neoliberalismo e políticas sociais. In: NEVES, L. L. (org.). O empresariamento da Educação: novos contornos do ensino superior no Brasil dos anos 1990. São Paulo: Coletivo de Estudos sobre Política Educacional e Ed. Xamã, 2002. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.cntsscut.org.br/destaques/4143/cortes-no-orcamento-da-assistencia-social-feitos-por-bolso http://www.cntsscut.org.br/destaques/4143/cortes-no-orcamento-da-assistencia-social-feitos-por-bolso http://www.cntsscut.org.br/destaques/4143/cortes-no-orcamento-da-assistencia-social-feitos-por-bolso 20 RODRIGUES, M. P. O exercício profissional 30 anos depois do Congresso da Virada. Revista Praia Vermelha, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, 2012. Disponível em: https:// revistas.ufrj.br/index.php/praiavermelha/issue/viewIssue/746/256. Acesso em: 28 abr. 2023. PEREIRA, P. A. P. Política social: temas e questões. São Paulo: Cortez, 2008, 214p. https://revistas.ufrj.br/index.php/praiavermelha/issue/viewIssue/746/256 https://revistas.ufrj.br/index.php/praiavermelha/issue/viewIssue/746/256 21 A Política de Assistência Social no Brasil Autoria: Juscilene Galdino da Silva Leitura crítica: Flaviana Aparecida de Mello Objetivos • Contextualizar a política de Assistência Social no Brasil. • A construção da História do Serviço Social no Brasil através da Constituição de 1988. • A Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial, assim como os desafios atuais. 22 1. Apontamentos sobre a história da política da Assistência Social no Brasil O surgimento da Assistência Social, reconhecida hoje como “política social”, se encontra em âmbito mundial, relacionado sempre à ascensão e ao crescimento do capitalismo (Bering; Boschetti, 2007). A herança da desigualdade social se dá de maneira específica no Brasil, assim como nos demais países que passaram pela invasão e implementação do colonialismo. No Brasil tardiamente em 1889 ocorre a abolição da escravização por meio da Lei Áurea devido aos movimentos de resistência dos escravizados, mas principalmente para facilitar as transações comerciais do Brasil com países abolicionistas. Infelizmente a abolição se limitou apenas à efetivação jurídica e não às concessões de direitos necessárias para que os ex-escravizados pudessem então se estabelecer, como defendiam os grupos abolicionistas. Paralelamente, com a formação da República, houve o direcionamento de seus investimentos a áreas de desenvolvimento que envolvia a agricultura, a indústria e o comércio. Ao mesmo tempo em que embranquecia a população para o apagamento da história negra e de seus abusos sofridos. Houve campanhas abolicionistas e republicanas que estavam travando disputas pelo avanço social da igualdade, embora os cafeeiros do oeste paulista tivessem os seus interesses prevalecidos. No entanto, as relações de poder entre os setores não se movimentavam tanto. O que culmina na revolução burguesa de progresso lento até o ano de 1922, período em que surgem, ao mesmo tempo, o tenentismo, o Partido Comunista Brasileiro e a Semana de Arte Moderna de 22. O surgimento do capitalismo no Brasil também coincide com o surgimento do seu processo de industrialização. Ao longo do tempo, ele cresceu na mesma proporção que crescia o número de trabalhadores 23 industriais, os quais não tinham garantia alguma de direitos trabalhistas, nem condições básicas de sobrevivência (décadas de 1930 e 1940). De acordo Sposati (2004), a primeira grande instituição de Assistência foi a Legião Brasileira de Assistência (LBA), a qual teve sua origem marcada pela presença forte das mulheres, bem como pelo patriotismo latente. A Assistência Social tem a sua origem ainda nos âmbitos da filantropia, o que muda com o tempo tornando a definição de Assistência Social atualizada conforme os seus avanços. Mas aqui iniciou-se, portanto, o período do assistencialismo no Brasil, com o objetivo de atender às famílias dos brasileiros que foram à guerra. Essa organização se expandiu, formando um grupo de primeiras-damas, atuando em todo o Brasil, reforçando um modelo assistencialista, o qual não era baseado em políticas, mas em benesses, uma ação contrária à entrega de um direito legítimo. Em outubro de 1942, a L.B.A. se torna uma sociedade civil de finalidades não econômicas, voltadas para “congregar as organizações de boa vontade”. Aqui a assistência social como ação social é ato de vontade e não direito de cidadania. (Sposati, 2004, p. 20) A atuação da LBA se deu pela maior parte da extensão do país, incluindo alguns dos seguintes serviços1, como assistência social, assistência judiciária, atendimento médico-social e materno-infantil, entre outros. Posteriormente, foi criado o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), que objetivava atender às fundações privadas e de filantropia que promoviam assistência (Mestriner, 2001). Entre o período do Estado Novo (Era Vargas) até a atualidade houve avanços consideráveis e muitos desafios para que a consolidação da Assistência Social fosse efetivamente vista como direito e não como ação 1 Texto produzido para a Capacitação Regional de Conselheiros Estaduais e Municipais de Assistência Social em agosto de 2020. 24 caritativa, caracterizada pelo clientelismo e patrimonialismo2 para a população. A Constituição Federal de 1988 instituiu a Assistência social como política de direitos sob a ótica da proteção social, juntamente com a previdência social e a saúde, que é o tripé da seguridade social, de acordo com capítulo II, Art. 194: a Seguridade Social “compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. Ainda no mesmo artigo, a Constituição Federal de 88 atribui tal responsabilidadeao Estado. Veja: Parágrafo único. Compete ao poder público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I. universalidade da cobertura e do atendimento; II. uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III. seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV. irredutibilidade do valor dos benefícios; V. equidade na forma de participação no custeio; VI. diversidade da base de financiamento; VII. caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados. A Assistência Social atenderá pessoas carentes socialmente, sem exigência de contribuição, como forma de assegurar o mínimo 2 O Clientelismo e o Patrimonialismo são sistemas políticos e sociais. No Clientelismo as relações de poder são baseadas na troca de favores entre os líderes políticos e os seus votantes/seguidores, conhecidos como clientes. Já no Patrimonialismo o político age de maneira autoritária direta em sua atividade pública do cargo que já ocupa, assim não há separação clara entre os interesses públicos e privados. 25 existencial, materializando a dignidade da pessoa humana. Veja a diferença entre a previdência Social, Saúde e Assistência Social. Figura 1 – A tríade da Seguridade Social Fonte: elaborada pela autora. 1. A Assistência Social atende principalmente os sujeitos que estão na linha de pobreza ou, ainda, em estado de miséria. 2. A saúde é de acesso universal, ou seja, na Constituição Federal de 88, no art. 196, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução de danos causados pela desigualdade social. 3. Já a Previdência Social consiste nas contribuições feitas por trabalhadores (ou não trabalhadores, mas que contribuem), com o intuito de prover alguma subsistência na incapacidade de trabalhar posteriormente. As três se completam, visto que têm como objetivo atingir os mesmos grupos. Importante frisar que essas garantias estão previstas na Constituição de 1988, Art. 203. Seguridade Social 2- Assistência Social 26 No ano de 2004, após discussões nacionais, o congresso aprova a Política Nacional de Assistência Social, na ótica de implementação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. No ano seguinte, ou seja, em 2005, ocorreu a edição de uma Norma Operacional Básica que definiu as bases para a implantação do Sistema Único de Assistência Social. Os instrumentos de regulação da Política de Assistência Social em vigor são, portanto, a CF/88, a LOAS/93, a Política Nacional de Assistência Social/2004 e a Norma Operacional Básica/ SUAS/2005. O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é um modelo de gestão que organiza a Política de Assistência Social no Brasil que, dentre seus objetivos, também fornece apoio aos indivíduos, famílias e comunidade no enfrentamento de suas vulnerabilidades. Para atingir a finalidade são ofertados serviços, benefícios, programas e projetos sociais à população. A criação do SUAS está ligada diretamente ao reconhecimento da Assistência Social como direito do cidadão e dever do Estado na Constituição Federal de 1988. São alguns dos objetivos do SUAS: I. consolidar a gestão compartilhada, o cofinanciamento e a cooperação técnica entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, de modo articulado, operam a proteção social não contributiva e garantem os direitos dos usuários; II. estabelecer as responsabilidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na organização, regulação, manutenção e expansão das ações de assistência social; III. definir os níveis de gestão, de acordo com estágios de organização da gestão e ofertas de serviços pactuados nacionalmente; 27 (Norma Operacional Básicas do SUAS – NOB/SUAS, 2012). Para garantir o alcance dos objetivos, é essencial a organização de suas ações. Desse modo, a Assistência Social é dividida em dois tipos de proteção, a Básica e a especial. A partir dessa divisão entre as proteções sociais que são organizadas, as ações e os serviços buscam atender aos grupos de acordo com a sua necessidade. Algumas das legitimações também envolvem a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), formulada em 2004, estabelecendo os princípios e diretrizes para a implementação do SUAS e a Tipificação Nacional de serviços Socioassistenciais, aprovada pela Resolução nº 109/2009 do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Esse último documento estabelece a divisão dos serviços entre as Proteções Sociais Básica e Especial, e essa tipificação tem o objetivo de padronizar e qualificar os serviços socioassistenciais. A aprovação da LOAS, da PNAS, da tipificação e a constituição do SUAS significam um grande avanço no campo dos direitos sociais. A garantia dos mínimos sociais é uma conquista muito importante no processo de redemocratização do país. Tais documentos delimitaram atribuições municipais, estaduais e federais, resultando na criação da rede de serviços socioassistenciais, bem como a sua descentralização, como os CRAS e os CREAS; o que veremos a seguir. 2. Compreendendo as especificidades da Constituição Federal de 1988: a gênese da inclusão da assistência social A Constituição Federal de 1988 é o primeiro grande marco da história do Brasil, que garante direitos básicos que independem de características pessoais de cada cidadão. O exercício da cidadania se dá através de 28 direitos que garantem a integridade e desenvolvimento humano, como vemos a seguir: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e a infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Brasil, 1988, [s. p.]) O processo de redemocratização da década de 1980 possuía um conteúdo reformista no intuito de delinear, na Constituição Cidadã, políticas sob os princípios da universalização, responsabilidade pública e gestão democrática (Alvarenga, 2011), constituindo um cenário político neoliberal visando amenizar a situação precária de grande parte da população brasileira, embora as condições econômicas internas e internacionais fossem desfavoráveis (Behring; Boschetti, 2011). A Assistência Social passa a ser inserida no âmbito da seguridade social, o assistencialismo reformulado ganha a qualidade de política pública, assim como as políticas específicas de saúde e previdência. Com isso, os direitos sociais sofrem uma expansão nunca vista em contextos anteriores, que passam a ser gerados pelo novo modelo de Estado assumido, o de bem-estar social. Você já se perguntou alguma vez sobre a eficácia ou legitimação do termo igualdade? É importante destacarmos mais uma vez que os discursos que valorizam o esforço pessoal como uma espécie de garantia de oportunidades e dignidade básica são impraticáveis, já que nós, sujeitos, partimos de realidades díspares e as oportunidades decorrem de pontos específicos de privilégios usufruídos pela classe social. Na legitimação legal a Assistência Social é prevista, como vemos a seguir: 29 Art. 203 A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I. a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II. o amparo às crianças e adolescentes carentes; III. a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV. a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V–a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Portanto, essa etapa se torna importante para compreendermos a natureza das diretrizes normativas básicas.A Assistência Social passa a ser uma prestação que tem como objetivo alcançar a mínima equalização de direitos por meio da concessão de benefícios. Assim, como vimos anteriormente, os princípios da assistência são sustentados pelo LOAS3. 3. Compreendendo a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial, além de alguns desafios da atualidade A Proteção Social Básica (PSB) é um conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios da Assistência Social, com o objetivo de prevenir situação de vulnerabilidade e de risco social, por meio de desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do fortalecimento 3 O Art. 4 da Lei n. 8.742, de 1993. 30 de vínculos familiares e comunitários (Lei Orgânica da Assistência Social — LOAS, 1993). A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, por meio da Resolução nº 109/2009 do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), tipifica os seguintes serviços da proteção social básica: O Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) busca fortalecer e desenvolver as capacidades familiares, promovendo o enfrentamento de dificuldades e a melhoria da qualidade de vida. O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) tem como objetivo estimular o convívio social, fortalecer os vínculos familiares e comunitários, além de desenvolver habilidades e potencialidades de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. A proteção social básica também inclui o Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosas, que visa promover o acesso aos direitos e a autonomia dessas pessoas por meio de visitas domiciliares, orientações e acompanhamento. Outro serviço é o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), destinado a famílias e indivíduos em situação de violência, negligência, abuso, exploração ou outras formas de violação de direitos. O objetivo é promover o enfrentamento dessas situações e fortalecer os vínculos familiares. Já os Serviços da Proteção Especial, tipificados pela Resolução nº 109/2009 do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), são voltados para o atendimento de famílias e indivíduos que se encontram em situações de maior vulnerabilidade e risco social. Seguem os principais serviços dessa modalidade: O Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias visa garantir proteção, inclusão social e melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. É oferecido por meio de ações 31 como atendimento especializado, orientação, acompanhamento e apoio sociofamiliar. O Serviço de Proteção Social Especial para Crianças e Adolescentes com Direitos Violados tem como objetivo assegurar a proteção integral de crianças e adolescentes que tiveram seus direitos violados. Proporciona o atendimento especializado, acolhimento, orientação e encaminhamento adequados para essas situações. O Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas em Situação de Rua busca atender pessoas que vivem nas ruas, promovendo o acesso a direitos, à reintegração familiar, à reinserção social, além de dar autonomia. Envolve a oferta de acolhimento, abordagem social, orientação e encaminhamento para serviços e benefícios. O Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas em Situação de Trabalho Infantil busca combater e prevenir o trabalho infantil, oferecendo atendimento especializado, apoio sociofamiliar, inclusão em serviços e programas socioassistenciais, além de articulação com outros setores para garantir a proteção integral dessas crianças e adolescentes. Os desafios da Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE) incluem recursos financeiros limitados, demandas crescentes por serviços socioassistenciais, necessidade de capacitação e formação profissional, articulação intersetorial eficiente, superação de desafios culturais e estigma, e implementação de monitoramento e avaliação eficazes. Para enfrentar esses desafios, é necessário investir em recursos adequados, fortalecer a capacitação dos profissionais, promover a integração entre diferentes setores, combater preconceitos e estigmas, e aprimorar os sistemas de monitoramento e avaliação. Assim, será possível garantir uma proteção social mais abrangente e efetiva para as pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social. 32 Referências ALVARENGA, L. V.-B. H. A focalização e universalização na política social brasileira: opostos e complementares. Texto para Discussão 56, CEDES/UFF, 2011. BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2007. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 1 jan. 2017. BRASIL. Lei 8742, de 1993. Dispõe sobre a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS. Brasília, DF: Presidência da república, 1993. BRASIL. Ministério de Desenvolvimento Social e combate à Fome-MDS, Brasília, DF: Presidência da república, 2009. BRASIL. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – MDS. Brasília, DF: Presidência da república, 2005a. BRASIL. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social NOB/SUAS. Brasília, DF: Presidência da república, 2005b. BRASIL. Norma Operacional Básicas do SUAS – NOB/SUAS. Brasília, DF: Presidência da república, 2012. BRASIL. Política Nacional de Assistência social – PNAS. Brasília, DF: Presidência da república, 2000. MESTRINER, M. L. O Estado entre a filantropia e a assistência social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008. SPOSATI, A. A menina Loas: um processo de construção da assistência social. São Paulo: Cortez, 2004. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 33 Principais Serviços Socioassistênciais do SUAS Autoria: Juscilene Galdino da Silva Leitura crítica: Flaviana Aparecida de Mello Objetivos • Compreender quais são os Serviços Socioassistenciais do Suas. • Conhecer os principais agentes do SUAS, bem como a sua importância no âmbito da Assistência Social. • Refletir sobre a importância do sistema e apresentar os seus principais agentes. 34 1. Principais serviços socioassistenciais do SUAS O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é um sistema brasileiro que organiza e regula a política de assistência social no país. Ele foi criado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e trabalha de maneira articulada com outros sistemas, como o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). O objetivo principal do SUAS é garantir o acesso aos direitos socioassistenciais para indivíduos e famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Isso inclui pessoas em situação de pobreza, desemprego, violência, abuso, negligência, entre outros contextos de vulnerabilidade. O sistema é composto por uma rede de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, que são oferecidos nos diferentes níveis de governo (federal, estadual e municipal) em parceria com organizações da sociedade civil. Esses serviços abrangem desde a proteção social básica, que busca prevenir situações de risco, até a proteção social especial, voltada para o atendimento de situações de maior complexidade e gravidade. O SUAS também tem como princípios a participação social, a descentralização político-administrativa, a integralidade, a universalidade e a equidade. Isso significa que a participação da sociedade civil na formulação e acompanhamento das políticas é valorizada, que a responsabilidade pela implementação é compartilhada entre os diferentes entes federativos, que os serviços devem abranger as necessidades de forma integrada e abrangente, que o acesso aos benefícios deve ser garantido a todos os cidadãos e que as desigualdades devem serenfrentadas. 35 Durante a década de 1990, ocorreram avanços significativos na descentralização das políticas públicas, incluindo a área da assistência social. É possível afirmar com precisão que, antes da promulgação da Constituição de 1988, as políticas públicas eram menos estruturadas, havendo dispersão de ações entre diferentes órgãos que buscavam alcançar os mesmos objetivos. Como consequência, havia uma dispersão de recursos e dificuldades em atender plenamente às necessidades sociais. Já a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) é uma legislação fundamental que estabelece a estrutura básica e os princípios fundamentais de uma determinada entidade ou instituição. Ela serve como uma espécie de constituição interna, delineando as normas e diretrizes que regem o funcionamento e a organização da entidade em questão. No contexto brasileiro, a expressão “Lei orgânica” é frequentemente utilizada para se referir às leis orgânicas municipais. Essas leis são normas fundamentais que regem a organização político- administrativa dos municípios, estabelecendo, por exemplo, a estrutura do poder executivo e legislativo municipais, as competências do município, os direitos e deveres dos cidadãos, entre outros aspectos. A LOAS de um município é elaborada e aprovada pela Câmara de Vereadores e deve estar em conformidade com a Constituição Federal e as leis estaduais. Ela é considerada a lei mais importante do município, sendo responsável por estabelecer as bases legais para a governança local. Além das leis orgânicas municipais, existem também outras leis orgânicas que podem ser aplicadas a diferentes instituições ou entidades, como as leis orgânicas das Forças Armadas, que regulam a estrutura, atribuições e funcionamento dessas instituições militares. A LOAS define os princípios, os objetivos, as diretrizes e as bases do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que é o sistema responsável pela organização e regulação da política de assistência social no Brasil. O SUAS é implementado em parceria entre os governos federal, estaduais 36 e municipais, bem como com a participação da sociedade civil. Além de direitos e deveres dos cidadãos no âmbito da assistência social, como já citamos, ela define os tipos de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais que devem ser oferecidos, bem como os critérios para acesso a esses serviços. Além disso, a lei também aborda a gestão do SUAS, as fontes de financiamento, as responsabilidades dos entes federativos e a participação social na formulação e no controle das políticas sociais. A Constituição Federal de 1988 dedica um capítulo específico à Seguridade Social, que engloba a assistência social, a saúde e a previdência social. Esse capítulo é o Capítulo II do Título VIII, intitulado “Da Ordem Social”, mais especificamente nos artigos 194 a 204. Os artigos 203 e 204 da Constituição são particularmente relevantes para a assistência social. O artigo 203 estabelece que a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição, visando à proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, bem como a promoção da integração ao mercado de trabalho. O artigo 204 estabelece que a organização da assistência social será realizada pelo poder público, com a participação da sociedade, mediante políticas integradas e ações conjuntas dos governos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais. A LOAS, como mencionado anteriormente, foi instituída pela Lei nº 8.742/1993 e detalha as diretrizes, os princípios, as responsabilidades e as modalidades de benefícios e serviços da assistência social, de acordo com os preceitos constitucionais. No entanto, a LOAS sofreu uma atualização no ano de 2011, quando a Norma Operacional Básica NOB – SUAS alcança um novo patamar, por meio da aprovação da Lei nº 12.435 em 2011, a qual estabelece a plena 37 integração do Sistema Único de Assistência Social no âmbito da Lei Orgânica da Assistência Social. Isso significa que o SUAS passou a ser parte essencial da legislação que rege a assistência social no país. Essa atualização enfatiza a importância do SUAS como um sistema unificado e articulado, com o objetivo de promover a proteção social e garantir direitos aos cidadãos em situação de vulnerabilidade. A lei estabelece diretrizes para a organização, estruturação e funcionamento do SUAS, bem como os princípios que devem orientar as ações e serviços sociais. Além disso, a Lei nº 12.435 reforça a participação e o controle social na política de assistência social, estabelecendo a criação de conselhos de assistência social em todos os níveis (federal, estadual e municipal) e garantindo a participação da sociedade civil na formulação, implementação e avaliação das políticas sociais. Mas a partir desse panorama geral, como ocorreu de fato a criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no Brasil? Bom ela foi impulsionada por um conjunto de fatores e atores ao longo do tempo. Diversos movimentos sociais, organizações da sociedade civil, acadêmicos, profissionais da área de assistência social e gestores públicos contribuíram para a formulação e implementação do SUAS. A luta por direitos sociais e a garantia da proteção social são demandas históricas no Brasil. O movimento de reconhecimento da assistência social como política pública e o estabelecimento de um sistema unificado e integrado ganharam força com a Constituição Federal de 1988. A Constituição de 1988 foi um marco importante ao reconhecer a assistência social como um direito do cidadão e como parte integrante da seguridade social, ao lado da saúde e da previdência social. Ela estabeleceu os princípios e diretrizes gerais para a assistência social, 38 como a universalidade do atendimento, a descentralização político- administrativa, a participação da sociedade, entre outros. Após a promulgação da Constituição de 1988, várias leis, normativas e debates foram realizados para avançar na consolidação da assistência social como política pública. A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), de 1993, desempenhou um papel fundamental ao estabelecer as bases para a organização e a regulamentação da assistência social no Brasil. Além disso, a mobilização de diversos atores sociais, como trabalhadores da área, entidades representativas, movimentos sociais, usuários dos serviços e academia, contribuiu para a construção do SUAS. Esses atores pressionaram por mudanças, pela garantia de direitos e pela implementação de uma política de assistência social mais ampla, integrada e participativa. Temos com isso que não há um único incentivo ou protagonista na criação do SUAS, mas sim uma série de influências e esforços coletivos que contribuíram para a sua formulação e implementação. O processo envolveu um debate amplo e contínuo, com a participação de diferentes segmentos da sociedade em busca de uma política de assistência social mais efetiva e inclusiva. 2. Os principais agentes do SUAS Existem atores e grupos que desempenharam papéis importantes no incentivo à criação e implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no Brasil, são eles: os movimentos sociais, como o Movimento Nacional de População de Rua, o Movimento Nacional de Luta pela Moradia, o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, entre outros, os quais têm lutado pela garantia de direitos e pela inclusão social, destacando a importância da assistência social como política de proteção. 39 As entidades representativas, que são organizações representativas de assistentes sociais e outros profissionais da área, como o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), os quais têm contribuído com a formulação de propostas e defesa de políticas sociais mais amplas e integradas. O papel das Universidades e da Academia na atuação de professores, pesquisadores e instituições acadêmicastêm produzido estudos e pesquisas que embasam teoricamente o desenvolvimento do SUAS. Instituições como a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) têm desempenhado papéis relevantes nesse sentido. Os Gestores Públicos, tanto em âmbito federal quanto estadual e municipal, como ministros, secretários e dirigentes de órgãos de assistência social, têm tido papel fundamental na implementação do SUAS e na articulação com outros setores governamentais. Além deles, os usuários dos serviços, que são as pessoas em situação de vulnerabilidade social que utilizam os serviços socioassistenciais, têm participado de espaços de diálogo e mobilização, contribuindo com suas vivências e demandas para a construção de políticas mais adequadas e inclusivas. 2.1 A importância do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) No contexto do SUAS, o CFESS desempenha um papel relevante na construção e implementação das políticas sociais, incluindo a assistência social. Ele tem participação ativa na formulação de diretrizes e normativas que orientam a atuação dos assistentes sociais no âmbito do SUAS. 40 O CFESS contribui para a qualificação profissional, promove debates, realiza pesquisas, oferece capacitações e orienta os profissionais da área de assistência social. Além disso, o CFESS também atua na defesa dos direitos dos usuários e na luta pela garantia de uma política de assistência social mais ampla e inclusiva. Dessa forma, o CFESS tem uma relação importante com a LOAS e o SUAS, buscando fortalecer a Assistência Social e contribuir para a consolidação de políticas sociais que atendam às demandas da população vulnerável e promovam a justiça social. 3. A importância do SUAS e as suas formas práticas de implementação Alguns pontos são válidos para destacarmos e refletirmos melhor sobre esse resumo de um sistema tão importante quanto o SUAS. São eles: • Garantia de direitos: o SUAS é fundamental para a garantia dos direitos sociais e para a promoção da cidadania. Ele proporciona o acesso a serviços, benefícios e programas socioassistenciais de forma universal, contribuindo para a redução das desigualdades e para a inclusão social. • Integração e articulação: o SUAS promove a integração e a articulação entre os diversos níveis de governo, setores e políticas públicas. Essa integração é essencial para o atendimento integral das demandas das famílias em situação de vulnerabilidade, evitando a fragmentação das ações e otimizando os recursos disponíveis. • Enfrentamento das desigualdades: o SUAS possui um papel estratégico no enfrentamento das desigualdades sociais. Por meio da oferta de serviços e benefícios socioassistenciais, ele 41 contribui para a redução da pobreza, da exclusão social e para o fortalecimento da autonomia e da emancipação das pessoas em situação de vulnerabilidade. • Participação social: o SUAS valoriza a participação social e a construção coletiva das políticas sociais. Ele busca envolver a sociedade civil, os usuários dos serviços e a comunidade em geral na definição, no monitoramento e na avaliação das ações e serviços socioassistenciais, fortalecendo a democracia e a transparência. • Abordagem territorial: o SUAS adota uma abordagem territorial, levando em consideração as particularidades e as demandas de cada localidade. Essa abordagem permite uma maior adequação das políticas e ações às realidades locais, considerando as especificidades culturais, socioeconômicas e geográficas de cada região. Além disso existem formas práticas de Implementação do SUAS como os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), que são unidades de atendimento da assistência social presentes nos municípios. Eles oferecem serviços e ações de proteção social básica, como orientações e encaminhamentos para acesso a benefícios sociais, atendimento a famílias em situação de vulnerabilidade, acompanhamento de programas de transferência de renda, atividades socioeducativas, entre outros. O já citado PAIF, ou Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família, é um serviço realizado pelos CRAS, o qual visa fortalecer a convivência familiar e comunitária, promovendo a inclusão social. Ele oferece apoio e orientação às famílias em situação de vulnerabilidade, buscando fortalecer os vínculos familiares, desenvolver habilidades parentais, estimular a participação social e fomentar a autonomia e o protagonismo das famílias. 42 O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) é uma ação realizada também nos CRAS e em outros equipamentos socioassistenciais que busca promover a convivência, o fortalecimento de vínculos e o desenvolvimento de habilidades e potencialidades de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade social. São oferecidas atividades socioeducativas, culturais, esportivas e de lazer, contribuindo para o desenvolvimento pessoal e social dos participantes. Além disso, existem benefícios socioassistenciais ofertados pelo SUAS, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que é uma transferência de renda para idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade, e o Programa Bolsa Família, que é um programa de transferência de renda para famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza. Portanto, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) representa um marco significativo na organização e integração das políticas de assistência social no Brasil, promovendo a descentralização, articulação intersetorial e a oferta de serviços e benefícios socioassistenciais. Por meio de suas diversas formas de implementação, como os CRAS, o PAIF, e a articulação com outras políticas públicas, o SUAS busca garantir a proteção social e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, contribuindo para a inclusão social e o desenvolvimento integral dos cidadãos em situação de vulnerabilidade. Referências ALVES, A. A. F. Assistência social: história, análise crítica e avaliação. Curitiba, PR: Juruá Editora, 2009. BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social. Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993. 43 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Conselho Nacional de Assistência Social. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social – NOB-RH/SUAS. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 16. ed. São Paulo: Cortez, 2009. 44 Debate contemporâneo sobre a política de assistência social no Brasil: Avanços e desafios Autoria: Juscilene Galdino da Silva Leitura crítica: Flaviana Aparecida de Mello Objetivos • Trazer alguns pontos importantes sobre o cenário geral da assistência social. • Rememorar o viés econômico enquanto uma das principais influências de força na sociedade brasileira; e • Elencar alguns avanços e desafios do cenário atual 45 1. Apontamentos sobre a história da política de assistência social até a atualidade As Políticas de Assistência Social surgem no mundo moderno (na sociedade capitalista), como uma resposta do Estado ao agravamento daquilo que chamamos de “Questão social”. Esta questão, de maneira simplificada, refere-se à desigualdade estruturante do capitalismo, a qual no Brasil emerge na década de 1930, na Era Vargas, quando a classe operária brasileira se impõe no cenário político, reivindicando seus direitos em relação à área trabalhista. Precisamos lembrar que nos anos de 1930 grupos minoritários passam a ser atendidos por políticas específicas de intenção filantrópica. Quando eleito, o presidente Fernando Henrique Cardoso trouxe para a assistência social um programa chamado Comunidade Solidária, entregue à primeira-dama Ruth Cardoso, que pretendiacom isso ser uma rede assistencial apoiada nas iniciativas do cidadão, das ONGs, das entidades religiosas, e algumas iniciativas mais progressistas mesmo solidárias. Temos aqui uma atuação que dificilmente se relacionaria diretamente aos interesses da população de fato, pois se assemelharia a uma moeda de troca, a ajuda, ao assistencialismo, ou seja, as ideias no imaginário brasileiro sobre as políticas sociais já são geradas por uma fonte essencialmente problemática que traz a estigmatização dos programas e serviços até o século XXI. Em paralelo a esse cenário, a primeira lei que regulamenta a Assistência Social é de 1993, para que as políticas de seguridades contidas na Constituição Federal de 1988 fossem regulamentadas. Enquanto esses processos demonstravam o esforço dos profissionais em solidificar e trazer a regulamentação de seus processos temos este contraponto, já citado anteriormente. 46 De modo geral, todas as políticas nascem do resultado desse confronto de interesses de classe e para atender a necessidade do Estado de controlar e responder as demandas da classe trabalhadora. Assim, as políticas atuaram por um bom tempo de maneira desarticulada, infelizmente sendo movidas mais por interesses políticos do que como uma resposta efetiva do estado brasileiro ao reconhecimento dos direitos de seu cidadão. O Assistencialismo no Brasil é caracterizado pelo suprimento de necessidades imediatas sem estabelecer vínculo ou acompanhamento da evolução das pessoas atendidas. Essa prática pode ser realizada por qualquer cidadão, não necessariamente por profissionais de nível superior. No entanto, recebe críticas por não apresentar um caráter resolutivo diante dos problemas sociais enfrentados pelo país. Em contextos de crise econômica e vulnerabilidade social, o assistencialismo pode se tornar uma ferramenta de sobrevivência para parcelas da população em situação de precariedade, embora não ofereça soluções estruturais para os desafios sociais enfrentados pelo país. Então, no Brasil, a rede socioassistencial formada por entidades assistenciais começa a atuar por um viés religioso e se expande entre 1930 e 1940, passando a ser integrada por organizações que hoje chamamos de ONGs e algumas instituições ligadas a fundações empresariais como bancos (Fundação Bradesco e Fundação Itaú, no passado e presente), dentre outras. Isso contribuiu pare que houvesse um distanciamento do discurso de aquisição de direitos e proteção básica, pois essas organizações estão vinculadas às suas próprias afeições morais enquanto instituições privadas; mas ainda não são apenas esses problemas que tornam as entidades prejudiciais, aqui é importante focalizarmos no cerne de que: o Estado deveria agir diretamente, este que é institucionalizado sob leis e atribuições específicas, e, na sua falta, as entidades agem. E é nesse processo que as políticas de assistência têm a ideia de ação filantrópica reforçada. 47 Ainda no ano de 20231, no município de São Paulo 95% dos serviços na área da assistência social são conduzidos por rede de entidades socioassistencialistas A A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), é um grande exemplo dessas entidades, com as quais o Estado não consegue concorrer em atuação. As Apaes promovem ações de prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e inclusão social de pessoas com deficiência intelectual, múltipla ou autismo, bem como a defesa de seus direitos. Podemos afirmar que há políticas dentro das políticas sociais, pois estas estão intrinsicamente gerando resultado de uma interação entre as forças políticas. Então o Estado é um grande favorecedor dos processos de acumulação do capital, acionando mecanismos que favorecem esta acumulação. A crise de 2008 demostrou que o Estado apoia os banqueiros contra a quebra, mas, por outro lado, conforme a disputa entre as forças, ele também atua oferecendo serviços para atenuar os confrontos de classe. Com isso, as políticas sociais demonstram que não podem ser avaliadas apenas tecnicamente, pois existem modelos e sentidos políticos destas “políticas”. Tanto na saúde quanto na assistência temos que as políticas são profundamente tensionadas por essa disputa societária de projetos entre divisão de mundo e divisão de sociedade, e são pressionadas pelos interesses do neoliberalismo que propõe a redução dessa política. Assim como já aconteceu em cenários europeus com o Estado de bem-estar social. O Estado Brasileiro, como outros estados da América Latina, construiu- se como um importante aliado da burguesia no país atendendo à lógica da expansão do capitalismo no continente. Assim como os processos de colonização, destruiu os povos originários e escravizou pessoas africanas trazidas a força para o país. Nunca houve o reconhecimento de direitos a esses grupos. Tudo isso se conecta com a história que esbarra nas 1 FONIF, 2023. 48 questões fundamentais do século XXI, como o racismo, a luta pela terra e as questões de gênero. Então, existem traços dessa história que se condicionam para um constante papel de ação e reinvindicação desses direitos. A Constituição Federal de 1988 amplia o sistema protetivo brasileiro, na área da assistência social. É inegável que o Governo Lula da Silva (2003–2007/2007–2011) amplia a área de assistência. Tanto os governos de Lula, quanto os de Dilma Rousseff (2011–2016) nos proporcionaram grandes marcos. O Bolsa Família, como vimos anteriormente, reuniu vários benefícios e serviços em uma única construção formal. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Cidadania do Brasil em setembro de 2021, o Programa Bolsa Família já beneficiou mais de 14 milhões de famílias ao longo dos anos. Essas famílias incluem milhões de pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza, especialmente aquelas que vivem em áreas de maior vulnerabilidade social. Cerca de 79% das pessoas que recebiam os serviços do programa só tinham essa fonte de renda, sendo esse valor muito ínfimo, mas que naquele contexto nos mostra o nível de miserabilidade em que a população se encontrava. Outro ponto é que no início do mandato de Lula, uma parte da população vivia uma situação de invisibilidade na sociedade brasileira por não ter o registro geral (RG), assim não acessavam políticas sociais. Grande parte dessas pessoas viviam nos rincões dos estados na região norte e nordeste. Já em 2011, ao ser criado o Programa Brasil sem Miséria, o objetivo era prestar serviços na área da saúde, da assistência e dos direitos básicos de modo geral. Então, ainda naquele momento, grande parte da população estava despossuída de direitos e acesso à informação, oportunidades de trabalho e de formação, mesmo após as políticas de seguridade elencadas na Constituição Federal de 1988 e as primeiras políticas lulistas posteriores. O que esse cenário nos mostra? Havia um conjunto de políticas voltadas à tentativa de reparação da situação em que o país estava. 49 Alguns autores apontam essa política de Lula como uma política neodesenvolvimentista, que, basicamente, de um lado amplia a área social e de outro lado facilita/favorece a entrada e fortalecimento do neoliberalismo no campo financeiro. Dessa forma, podemos concluir que a premissa de que as demandas do capital não coincidem com as demandas do trabalho e da sobrevivência é amenizada por meio dessa conciliação. As políticas sociais então possuem certa autonomia maior que as tentativas anteriores, porém ainda disputam com os interesses econômicos. 2. Alguns avanços consideráveis com relação às políticas sociais no Brasil No cenário brasileiro, as políticas sociais, especialmente as da área da assistência social, desempenharam um papel crucial na transformação do país ao longo das últimas décadas. Essas políticas têm como objetivo principal promover a proteção social e garantir o acesso a direitos básicos para os cidadãos em situação de vulnerabilidade. Um exemplo emblemático é o ProgramaAcesso em: 7 set. 2023. MARQUES, R. O lugar das políticas sociais no capitalismo contemporâneo. Disponível em: https://periodicos.ufes.brargumentum/article/view/10517. Acesso em: 7 set. 2023. MESTRINER, M. L. O Estado entre a filantropia e a assistência social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008. http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/FaPa1Oy8kQ65voJ4T345.pdf https://periodicos.ufes.brargumentum/article/view/10517 58 Sumário Apresentação da disciplina Direitos sociais: Marco históricos importantes Objetivos 1. Direitos sociais: conceito, contexto histórico e suas influências no panorama nacional 2. Avanços 3. Considerações finais Referências A Política de Assistência Social no Brasil Objetivos 1. Apontamentos sobre a história da política da Assistência Social no Brasil 2. Compreendendo as especificidades da Constituição Federal de 1988: a gênese da inclusão da assist 3. Compreendendo a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial, além de alguns desafios da a Referências Principais Serviços Socioassistênciais do SUAS Objetivos 1. Principais serviços socioassistenciais do SUAS 2. Os principais agentes do SUAS 3. A importância do SUAS e as suas formas práticas de implementação Referências Debate contemporâneo sobre a política de assistência social no Brasil: Avanços e desafios Objetivos 1. Apontamentos sobre a história da política de assistência social até a atualidade 2. Alguns avanços consideráveis com relação às políticas sociais no Brasil 3. Os desafios das políticas sociais Referências