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ABC 123 Professora autora/conteudista: MIRLENE SIMÕES SEVEROÉ vedada, terminantemente, a cópia do material didático sob qualquer forma, o seu fornecimento para fotocópia ou gravação, para alunos ou terceiros, bem como o seu fornecimento para divulgação em locais públicos, telessalas ou qualquer outra forma de divulgação pública, sob pena de responsabilização civil e criminal.SUMÁRIO 1 - Introdução 4 1. Introdução 4 2. Desenvolvimento econômico e social: embates de projetos 16 2.1 Histórico do conceito de desenvolvimento 16 2.2 Modernização e desenvolvimento 21 2.3 Considerações sobre o desenvolvimento no Brasil 27 2.4 Novas configurações sobre o desenvolvimento 35 2 Caio Prado Júnior e Celso Furtado: o desenvolvimento por princípio 38 3. Caio Prado Júnior e Celso Furtado: o desenvolvimento por princípio 38 3.1 Principais obras de Caio Prado e Celso Furtado 41 4. Globalização neoliberal: nova etapa do capitalismo 53 3 - Crescimento econômico brasileiro 69 5. Crescimento econômico brasileiro: crescimento real e igualdade? 69 5.1. Considerações acerca do Produto Interno Bruto (PIB) e do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 69 5.2 Crise econômica nos países em desenvolvimento 73 5.3 Crise econômica no Brasil e suas consequências na sociedade 81 4 - Programas e políticas sociais no Brasil 85 6. Programas e políticas sociais no Brasil 85 6.1 Sobre as políticas sociais do período de 2003-2010 96 6.2 Redirecionamento das políticas sociais de 2011 a 2017 101 Conclusão 104 Referências 1061 - INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO Ao olharmos nosso cotidiano e o das pessoas com que temos relações, notamos que nosso dia a dia não se desvincula da ordem econômica. Temos necessidades de satisfazer nossa fome, de ter condições para nos deslocar, de estar em uma residência segura e confortável, entre outras que são próprias do ser humano e da vida em sociedade. Direta ou indiretamente, essas necessidades estão ligadas à economia e ao seu desenvolvimento. Desde as sociedades primitivas, o homem associa-se com outros homens com o intuito de se proteger, de se abrigar, como também de produzir e partilhar alimentos. A divisão do trabalho é observada desde as primeiras organizações sociais. Foi por meio dela que as sociedades, ao longo dos tempos, ficaram maiores e mais complexas. Assim como descreve Souza (2012, p. 2): No lar, os homens produziam as ferramentas e utensílios rudimentares para a agricultura, caça, pesca e para trabalhos com madeira (enxada, pás, machados, facas, arco, flechas e outras armas). Com o tempo, surgiram pessoas com habilidade que se especializaram na produção de cada um dos tipos de Alguns trabalhadores mais habilidosos não só aprenderam uma profissão específica, como passaram a reunir aprendizes e ajudantes. A escala de produção ampliou-se; os produtos adquiriram maior qualidade e os custos de produção se reduziram em função do aumento das quantidades produzidas. Aqueles que produziam armas ou ferramentas específicas tinham pouco tempo para se dedicar à caça, à pesca ou à agricultura: eles precisavam trocar os produtos que fabricavam por alimentos e peles para vestuário. Aos poucos, o trabalho de alguns homens passou a ser suficiente para atender às necessidades de um conjunto cada vez maior de pessoas. Pág. 4 de 110Figura 1 - Graffiti de Paulo Ito feito no período da Copa do Mundo de 2014 Fonte: :mercantilismo (iniciado a partir do século XV), sistema econômico que estendeu as relações comerciais e de troca para além do âmbito regional, foi um período fundamental para a transição do feudalismo para o capitalismo. Nesse período, surgiu a moeda como forma de pagamento das compras internacionais, ou seja, a moeda passou a ter um valor em si, o que eliminou os inúmeros problemas de trocas provocados pelo escambo, como elucida Napolioni (1979, p. 52): A moeda é um bem particular, que serve de meio geral de troca, ou seja, é um bem que por convenção todos aceitam em troca de seus bens, e que aceitam enquanto sabem que ela pode, por sua vez, ser trocada por outros bens. [...] Além do mais, pode ser útil acrescentar que o bem que serve de moeda deve ter, pelo menos, dois requisitos: deve ser, em primeiro lugar, divisível em partes inclusive muito pequenas, de modo a poder medir também os preços relativamente baixos, e deve, em segundo lugar, ser facilmente conservável sem se deteriorar, de modo a poder ser gasto também não imediatamente. Como não podia deixar de ser, o capitalismo surgiu nesse processo de novas relações econômicas, impulsionadas pelas trocas comerciais: o capital é um dos fatores de produção utilizados para facilitar o trabalho humano e aumentar a sua produtividade, ou seja, para permitir a obtenção da maior quantidade possível de produto por trabalhador, durante determinado período de tempo. Ele é constituído pela soma de bens, monetários e não monetários, possuídos por uma pessoa ou por uma empresa, constituindo um patrimônio, e que tem como finalidade gerar uma renda, através de aplicações financeiras ou por seu emprego na produção, com o fim de produzir outros bens e gerar lucro. [...] capitalismo é um sistema econômico e social que sucedeu o Mercantilismo e que se baseia na propriedade privada dos meios de produção e de troca. Esse sistema se caracteriza pela busca do lucro, pela livre iniciativa e pela concorrência entre os indivíduos e as empresas. o capitalista é aquele que possui capitais e que os empresta para a realização de empreendimentos por terceiros ou que os aplica diretamente na produção de bens e serviços (SOUZA, 2012, p. 7). Pág. 6 de 110sistema capitalista, assim como existe hoje, passou por uma série de transformações. No século XVI, com o desenvolvimento da produção manufatureira, esse sistema deu condições para que, mais adiante, a Revolução Industrial pudesse acontecer. A utilização de ferramentas e máquinas elevou a produção e, dessa forma, ampliou rapidamente novos setores da indústria. É importante ressaltar também que os trabalhadores, no sistema capitalista, são livres juridicamente e podem vender a força de trabalho para qualquer proprietário de meios de produção. [...] trabalho é uma mercadoria como qualquer outra, que é ofertada pelos trabalhadores e demandada pelos proprietários dos meios de produção, e que tem como todas as outras mercadorias, um preço que, no caso do trabalho, chama-se salário (NAPOLIONI, 1979, p. 50). Era necessário então, a partir desse momento, buscar análises e consensos em torno do setor produtivo, do lucro, das novas relações de mercado nacional e internacional, das relações de emprego, como também do desenvolvimento de técnicas para ampliar a produtividade. Assim, a economia surgiu como ciência com a obra A riqueza das nações, escrita em 1776 por Adam Smith (1723-1790). Até então, o debate das mudanças econômicas era atribuído a um ramo da filosofia social: o pensamento dos economistas clássicos fundamenta-se, portanto, na liberdade individual e no comportamento racional dos agentes Ao Estado caberia assegurar essa liberdade, proteger os empreendimentos e os direitos de propriedade; manter a ordem e a segurança dos cidadãos; investir na educação, saúde e em certas obras públicas. (SOUZA, 2012, p. 12). Pág. 7 de 110Figura 2 - Adam Smith Para Adam Smith (1973), a riqueza de um país é seu trabalho produtivo. Com essa concepção, o autor criou as bases para a teoria econômica moderna. Para ele, a expansão contínua do mercado e a absorção, cada vez maior, de mão de obra gerariam especializações na produção e, consequentemente, o aumento dos salários e do mercado interno. Dessa forma: a) a habilidade do trabalhador aumenta quando ele pode se dedicar somente a operações relativas à produção de um único bem, ou de poucos bens. b) quanto menor é o número de bens produzidos por cada um, tanto menor é a perda de tempo que cada um sofre quando deve passar da produção de um bem à produção de outro bem. c) quanto mais a atividade humana é limitada a determinados processos produtivos, tanto mais fácil se torna a invenção e o uso de todas as máquinas e, em geral, de todas as invenções que permitem ao trabalho produzir mais no mesmo tempo empregado. (NAPOLIONI, 1979, p. 50). Pág. 8 de 110A teoria de Smith (1973) circunscreve de forma inovadora uma noção do progresso diferente da que se entendia até então, ou seja, a busca pelos interesses individuais não é mais observada como um vício, mas sim como uma virtude que possibilitaria alcançar a felicidade. indivíduo seria livre para buscar seus interesses, e assim todos seriam livres e todos alcançariam, supostamente, a felicidade. A oposição entre os indivíduos e a oposição entre homem e natureza são estabelecidas como valores éticos legítimos. CARVALHO, 2008, p. 541). Ainda em sua teoria, constatamos que a defesa da liberdade de mercado é para o autor a fonte da satisfação de todo homem em realizar seus interesses. Ele também percebe que cada indivíduo na sociedade ocupa um lugar diferenciado. Também por isso, em meados do século XIX, os movimentos de trabalhadores ocuparam as ruas em toda a Europa, motivados pela crítica à concentração de renda decorrentes do processo de industrialização, bem como às precárias condições de trabalho. Ou seja, na prática, acontecera o oposto que pregava a teoria de Smith (1973). Duas questões fundamentais foram levantadas por esses movimentos: como manter o produto nacional em crescimento e como repartir os frutos desse crescimento? Essas questões são pertinentes até hoje e conduzem a política econômica dos países, como também são fonte para o desenvolvimento social e econômico. Antes de propriamente entrarmos nos fundamentos do desenvolvimento social e econômico, é importante ressaltar alguns aspectos da teoria marxista, sustentação dos movimentos de contestação da concentração de renda. Segundo Souza (2012), a distribuição de renda pode inibir ou travar o desenvolvimento econômico de um Para os teóricos da economia clássica, ela tem que se dar de forma desigual entre produtores de terra, capitalistas e trabalhadores assalariados. Posteriormente, essa teoria vai fundamentar as ideias liberais. Pág. 9 de 110Contrariamente a essa posição, a teoria marxista concebe que a distribuição de renda ocorre do conflito entre as diferentes classes, assim exposto: A dicotomia fundamental, por essa visão, ocorre entre o empresário (confundido com o capitalista) e o trabalhador assalariado. Este produz um excedente às suas necessidades de consumo, ou seja, ao produzir uma mesa no final de oito horas de trabalho, ele recebe como salário um valor inferior a essas oito horas; esse excedente corresponde a uma mais-valia que o capitalista se apropria às custas do trabalhador. A existência de mais-valia está indicada pelo fato de que o trabalhador não consegue comprar o produto que confecciona pelo salário correspondente. A ideia é a de que o valor de um produto seja igual à quantidade de trabalho que ele incorpora. Assim, o produto líquido de uma economia é igual à soma do trabalho necessário à reprodução do trabalhador (salários, ou capital variável) e o valor extraído dos trabalhadores, ou mais valia [...]. (SOUZA, 2012, p. 21). Enquanto o capital tende a se acumular, o salário dos trabalhadores cresce lentamente. Essa contradição do sistema capitalista foi explicada na teoria marxista pelas crises periódicas vividas por ele ao longo de sua transformação. o desemprego também gera acúmulo de renda, pois, quanto mais ele cresce, menor é a chance de garantias aos direitos trabalhistas, os salários são reduzidos e as condições de trabalho tornam-se precárias. Ou seja, a concentração de renda gera desemprego, e a economia deixa de crescer (SOUZA, 2012). Pág. 10 de 110Singer (1978) considera, a partir da teoria marxista, que a superação da situação de desemprego pode ser dada a partir da redução da mais-valia, ou seja, do excedente social: Para Marx, o limite da acumulação é atingido quando o exército industrial de reserva, ou seja, o conjunto dos desempregados, passa a ser incorporado à economia. Todo o sistema capitalista tende a ter uma parte da sua força de trabalho desempregada ou subempregada. Quando a acumulação se acelera, um número cada vez maior de empregos vai sendo criado e esses empregos vão dando ocupação ao exército de reserva. [...] Na medida que a acumulação vai levando à diminuição dos lucros, ela cessa, a demanda por bens de produção cai e a economia entra em crise, verificando-se queda no nível de produção e de emprego. Só depois que a crise atinge seu ponto mais baixo e se prolonga na depressão é que a acumulação começa. A acumulação torna parte dos equipamentos obsoletos, impondo sua substituição, o que intensifica a acumulação e leva a economia novamente a crescer. (SINGER, 1978, p. 68). Figura 3 - Stuart Mill (1806-1873) Pág. 11 de 110Ao pensar em superar essa condição de desigualdade de renda, Stuart Mill (1806-1873) considerou que o equilíbrio na sociedade derivaria do crescimento econômico zero, do "estado estacionário", ou seja, o ideal da sociedade não seria a aquisição de bens materiais, mas sim a busca, individual ou em grupos, pela cultura e pela formação do espírito (MILL, 1996). Para Karl Marx (1818-1883), o equilíbrio da sociedade se daria no socialismo, no qual as forças produtivas seriam comandadas pelos trabalhadores (MARX, 1982). Segundo esse autor, a história da sociedade é também a história da luta de classes e, assim, a história da produção material de vida. Para Souza (2004), o conjunto da obra marxista trouxe a análise do sistema capitalista como essencialmente cíclico, assim como afirma: Concluiu Marx que o fundamento das crises capitalistas está justamente na forma como esse sistema se organiza para produzir e distribuir riquezas. É uma economia baseada na propriedade privada e na divisão social do trabalho. Daí deriva a necessidade inelutável, obrigatória, de o conjunto dos bens produzidos assumir o caráter de mercadoria, de bens produzidos para a troca. o mercado é a forma necessária através da qual os produtos são distribuídos nesse sistema. [...] É uma produção que, por basear-se na propriedade privada, não pode ser globalmente planejada. E é essa a base das crises nas economias mercantis e das crises econômicas periódicas do capitalismo. (SOUZA, 2004, p. 32). Dessa forma, a economia capitalista passa por momentos históricos de crises e de prosperidade. A pergunta que cabe é: como então atingir um desenvolvimento que possibilite a inclusão e a participação da sociedade como um todo? Pág. 12 de 110Figura 4 - John Maynard Keynes (1883-1946) John Maynard Keynes (1883-1946), para responder a essa pergunta, atribuiu ao "pleno emprego" as condições para que a sociedade tenha maior distribuição de renda e, assim, equilibre as crises do sistema. Sua teoria pode ser assim apresentada: Keynes teve o mérito de, sacudido pela Grande Depressão, escapar dos preconceitos de seus mestres, os economistas neoclássicos, que achavam que, se as tais forças de mercado operassem livremente, a economia caminharia para o equilíbrio. Keynes percebeu que o processo era precisamente ao contrário: se funcionasse livremente, as 'forças de conduziriam, inevitavelmente, ao desequilíbrio, à crise. E, ainda que usando uma linguagem distinta e baseando-se em fenômenos mais ligados à superfície da economia capitalista, reproduziu, no fundamental, seis décadas depois, o raciocínio que já fora feito por Marx. Constatou ele que, quanto mais cresce o nível de renda da economia, também cresce o consumo total, mas a um ritmo inferior, isto é, os acréscimos de consumo derivados dos acréscimos de renda tendem a ser cada vez menores. Com isso, a propensão a consumir diminui com o crescimento da renda. Portanto, o consumo cresce menos do que a produção, como já constatara Marx. (SOUZA, 2004, p. 35). Pág. 13 de 110A expectativa de Keynes (1970) para que a economia possa gerar emprego e distribuir renda está centrada na queda da taxa de lucro. Uma dedução muito próxima da teoria marxista: "[...] enquanto Keynes trabalha com a expectativa de queda da taxa de lucro, Marx trabalha com a queda efetiva dessa taxa". (SOUZA, 2004, p. 35). keynesianismo orientou a política do "Estado de bem-estar", ou welfare state, e foi, assim, a alternativa para as sucessivas crises econômicas do liberalismo nos Estados Unidos. Descrevemos abaixo importante síntese que Leme (2010) faz sobre o Estado de bem-estar e a política econômica de Keynes: Welfare State foi uma forma histórica de reconciliação entre a economia de mercado, isto é, com a afirmação dos princípios da acumulação e da propriedade privada, com a democracia que faltou ao socialismo real, bem como também aos regimes nazifacistas, enfim, autoritários e/ou totalitários. o mercado enquanto agente autorregulador tenderá a proporcionar a desigualdade entre os indivíduos. Porém, as instituições democráticas irão parear todos os indivíduos e, do ponto de vista político todos os indivíduos são considerados cidadãos e, por meio da cidadania, são iguais [...]. São três os princípios fundamentais do Welfare State, quais sejam: a seguridade social (é um amparo ao trabalhador caso ocorra algum imprevisto, e ele perca temporária ou definitivamente sua capacidade de gerar renda); a ampliação das oportunidades de emprego e renda garantia do pleno emprego o que geraria a chamada Demanda Efetiva; e, por fim, a ampliação das políticas sociais, enfim, políticas redistributivas e compensatórias, que tem o objetivo de minimizar as desigualdades sociais. Esses três princípios somados deveriam instituir a chamada "cidadania social" o que, para Marshall, se expressaria nos direitos adquiridos e corresponderia a um padrão social mínimo que o Estado Moderno deveria assegurar aos seus cidadãos. A "cidadania social" seria o princípio ético, por assim dizer, e organizador do Welfare State, o que, em termos institucionais, implicaria grande integração de interesses entre atores coletivos, tais como as burocracias públicas, os trabalhadores organizados em sindicatos, os partidos políticos fortes e os detentores do capital, colocando dessa forma em diálogo o Estado, o capital e os trabalhadores, sendo esse o principal tripé de sustentação e debate do Welfare State [...]. Pág. 14 de 110o Welfare State pode ser entendido dentro de uma perspectiva de esfera pública donde, a partir de regras universais e pactuadas de diversas formas, passou-se a ser encarado como um pressuposto fundamental ao financiamento da acumulação do capital por um lado e, por outro, do financiamento da reprodução da força de trabalho, atingindo-se com isso, globalmente, toda a população por meio dos gastos sociais [...]. (LEME, 2010, p. 120). o Estado de bem-estar esteve como política hegemônica até meados da década de 1970. A desaceleração da economia provocada por uma nova crise fez reaparecer teses do liberalismo econômico como premissa para o desenvolvimento e a superação da recessão. "É este novo (velho) ideário liberalizante que surge como a (única) solução a crise econômica." (LEME, 2010, p. 121). A partir dessas teorias, fundamentou-se a tese do desenvolvimento econômico e social. Estudaremos esse tema a seguir. Pág. 15 de 1102. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL: EMBATES DE PROJETOS 2.1 Histórico do conceito de desenvolvimento o conceito de desenvolvimento sofreu profundas alterações ao longo de sua história nas ciências humanas no geral e nas ciências sociais em particular. Afinal, este é o conceito que classifica a partir do plano econômico como se dá a concentração de riqueza ou a produção dessas em diferentes sociedades. Por isso, também tal conceito é intersetorial, ou seja, está presente em abordagens das mais variadas. Figura 5 - Desenvolvimento Fonte: NatUlrich/ shutterstock.com Sua origem remonta à Revolução Industrial, no século XVIII, período que as possibilidades de transformação social eram intensas dadas as transformações econômicas e de produção. Daí muitas vezes seu uso estar mais próximo da economia do que do campo social. Pág. 16 de 110Há alguns autores que defendem que o conceito de desenvolvimento com o caráter que tem hoje surgiu após a Segunda Guerra, momento em que os mercados mundiais e também a economia teve um novo ordenamento no mundo. Vale lembrar que, embora o surgimento não tenha sido na Segunda Guerra, o conceito de desenvolvimento se reconfigurou nesse período, afinal, a partir desse momento os governos independentes procuravam alcançar o desenvolvimento dos países do capitalismo central, com alto poder de consumo e industrialização e comércio pujantes. Assim como descreve Amaro (2003, p. 6): Uma boa parte da produção teórica inicial sobre "desenvolvimento" visava a evolução desses países, pelo que o conceito apareceu quase sempre ligado à resolução dos chamados "problemas e vícios do subdesenvolvimento". Há, no entanto, outras razões que ajudam a explicar a importância e o interesse do novo conceito nesse período, dos quais destaco as seguintes: os desafios da reconstrução europeia, com o apoio do Plano Marshall, que levaram os países da Europa, destruídos ou afetados pela guerra, a visar a retoma dos seus caminhos de progresso e riqueza, ou seja de desenvolvimento; - as exigências do confronto Leste-Oeste (ou guerra fria), que implicaram a existência de uma base de acumulação produtiva que sustentasse a corrida aos armamentos, a constante inovação tecnológica e a apresentação de resultados de progresso, do ponto de vista ideológico; a afirmação do keynesianismo, como novo paradigma da Ciência Econômica, implicando o princípio da regulação através da intervenção do Estado na economia e viabilizando, portanto, o papel deste na realização do progresso e no aumento do bem estar das sociedades [...]; as novas afirmações idealistas saídas da Segunda Guerra Mundial, a favor do progresso e da paz entre os povos, que se traduziram em inúmeras referências e compromissos da O.N.U. [...]. (AMARO, 2003, p. 6). Vê-se com a afirmação de Amaro (2003) que, com a complexa rede formada após a Segunda Guerra, amplia-se o conceito de desenvolvimento, e por isso também começou ganhar força o campo de estudos e pesquisas desse conceito, com definições acerca dos caminhos e possibilidades de se alcançar modelos de desenvolvimento pautados nos países centrais do capitalismo. Pág. 17 de 110Ressalta-se que este conceito teve historicamente voltado aos países europeus e à sua industrialização por muito tempo. Muito se confunde, por conta desse aspecto, práticas de desenvolvimento semelhantes às ocorridas nesse continente, mas que não podem ser guias para outras nações dadas suas peculiaridades em torno das suas sociedades, das posições geográficas, entre outros componentes regionais. Amaro (2003, p. 10) que afirma que a influência desse conceito de desenvolvimento criou mitos acerca do que era desenvolvimento, tais como: economicismo, sendo considerado o crescimento económico a condição necessária e suficiente para o desenvolvimento e muitas vezes com ele confundido (ou tornado sinónimo); produtivismo, considerando-se a produtividade, o tempo e os critérios produtivos os fatores decisivos do desenvolvimento, levando à marginalização do que não é produtivo; consumismo, uma vez que é necessário vender o que se produz (para o crescimento económico) e, portanto, desenvolver-se é também consumir cada vez mais; quantitativismo, valorizando a quantidade (e as economias de escala), muitas vezes em detrimento da qualidade; industrialismo, uma vez que foi através da industrialização que os países desenvolvidos iniciaram e construíram o seu processo de desenvolvimento e o mesmo deviam fazer os outros, imitando aqueles; tecnologismo, acreditando-se no progresso tecnológico como a verdadeira alavanca e o motor mais potente da produtividade e do crescimento económico e, portanto, um dos pilares fundamentais do desenvolvimento; racionalismo, como base do conhecimento certo (a "ciência") e da ação produtiva (a "eficiência"); urbanicismo, traduzido no mito da superioridade do "urbano" sobre o "rural", e na consequente fuga para as cidades, e na adopção dos modos de vida urbanos, como símbolos de desenvolvimento; Pág. 18 de 110- antropocentrismo, colocando o homem acima dos outros seres vivos e no centro do processo de bem-estar, ainda que de forma parcial, valorizando sobretudo, ora o Indivíduo (no capitalismo), ora o Coletivo (no socialismo), mas esquecendo-se do "Homem na Natureza"; etnocentrismo, que não é propriamente uma característica específica deste contexto cultural e civilizacional (as "sociedades industriais"), mas que nele assume uma perspectiva eurocêntrica globalizante, ou seja interferindo e violentando todos os outros continentes (incluindo a destruição de civilizações) [...] A partir desses mitos é que se divulgou o conceito de desenvolvimento após a Segunda Guerra, amparado em uma perspectiva de que todas as nações poderiam chegar a ter o mesmo desenvolvimento que as nações europeias tiveram, bastando para isso seguir o seu receituário. Destaca-se que esse desenvolvimento prezou muito pelo econômico e pouco pelo social, assim como será estudado mais adiante. Figura 6 - Desenvolvimento Fonte: fatmawati achmad zaenuri/ shutterstock.com Foi a partir dessas características que se associou de forma bastante próxima os conceitos de desenvolvimento e de crescimento econômico, o que culminou no estabelecimento, inclusive, de indicadores de crescimento econômico para definir o nível do desenvolvimento das nações. Reforça Amaro (2003, p. 11): Pág. 19 de 110Esta ligação íntima entre os dois conceitos, por vezes tomado sinônimos, teve como principais consequências: considerar-se frequentemente o crescimento econômico (enquanto processo contínuo de aumento da produção de bens e serviços) como a condição necessária e suficiente do desenvolvimento, de que dependiam as melhorias de bem-estar da população, a todos os outros níveis (educação, saúde, habitação, relações sociais, sistema político, valores culturais, etc.); utilizar-se sistematicamente, como já foi referido, os indicadores de crescimento econômico, e em particular o nível de rendimento per capita, para classificar os países em termos de desenvolvimento. Estas consequências são importantes para nosso estudo, pois se referenciam com a ausência do desenvolvimento social e do impacto de políticas econômicas sob a condição social e distribuição de renda. Mas a transformação do conceito desenvolvimento dado pelos países de economia central não parou somente nessa associação entre desenvolvimento e crescimento econômico, também se relacionou com a industrialização: Esta "promiscuidade" dos dois conceitos alargou-se entretanto a um outro, o de industrialização, uma vez que, tendo sido o crescimento econômico (condição do desenvolvimento) assente historicamente nos países ditos desenvolvidos, em processos de industrialização, rapidamente a expressão "países industrializados" se converteu em sinônimo de "países desenvolvidos" e aquela foi apresentada como uma etapa obrigatória na caminhada dos países do Terceiro Mundo para o desenvolvimento. (AMARO, 2003, p. 11). As etapas de formulação do conceito de desenvolvimento foram se realizando de acordo com as demandas que os governos dos países do capitalismo central apresentavam, com a intenção de ampliar seu domínio e suas relações comerciais com os países de capitalismo periférico. A industrialização e o crescimento econômico deu-se também como sinônimo de desenvolvimento a modernização. No próximo capítulo será debatido o conceito de modernização associado ao desenvolvimento. Pág. 20 de 1102.2 Modernização e desenvolvimento Figura 7 - Desenvolvimento Fonte: SoleilC/ shutterstock.com o conceito de desenvolvimento, nascido na academia norte-americana no pós-guerra, foi adotado por países do capitalismo central que buscavam explicações para a reorganização política e econômica no mundo, assim como relata Kraychete (2012, p. 183): Teoricamente, a nova disciplina sustenta-se, em fundamentos keynesianos e neoclássicos. Dos primeiros fundamentos é tomada, em especial, a importância do Estado como garantidor da demanda efetiva, a partir de investimentos estatais e, posteriormente, numa leitura generosa da obra do economista inglês, como um dos fundamentos do welfare state. Da teoria neoclássica, será mantido o fundamento que orienta para o livre jogo das forças de mercado. A livre circulação de bens, de serviços e das finanças, em mercado autorregulador e autootimizador, não sujeito às restrições colocadas pelos estados nacionais, constitui-se nessa perspectiva, em um dos mais importantes vetores do crescimento e do desenvolvimento das nações. Pág. 21 de 110A teoria da modernização contribuiu também para a formulação e a difusão do conceito de desenvolvimento, isso porque fazia referência aos campos dicotômicos entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, ou seja, relacionava o tradicional e o moderno ou, ainda, o agrícola e o industrial. Para melhor compreendermos, vejamos a definição dessa teoria por Cardoso (2005, p. 3): As teorias da modernização trabalham sempre a partir da comparação entre padrões antagônicos. [...] Em geral, [...] seguem o mesmo padrão dicotômico opondo uma espécie de tipos ideais polares, entre os quais é possível criar tipos intermediários. Boa parte da importância que as teorias da modernização conseguiram está relacionada com a cientificidade e o rigor pretendidos pelas suas formulações. Cabe supor, no entanto, que sua importância decorre sobretudo do significado político de que a modernização se revestiu ao se propor enquanto engenharia social a serviço da identidade nacional, do governo norte-americano e do capital em expansão. Para pesquisadores desse tema, as teorias de modernização buscam alcance global com o objetivo de definir um padrão de sociedade moderno e outro de sociedade tradicional. É o suporte à teoria do subdesenvolvimento, sem, no entanto, criticar as formas que levaram determinados países a não se desenvolverem, como explicita Cardoso (2005, p. 2): A teoria da modernização vem então como que ampliar e sob esta nova forma fortalecer a teoria do subdesenvolvimento. Não o faz, porém, com argumentos que enfrentem os argumentos da crítica, mas com a astúcia de um deslocamento das questões: em lugar de discutir o desenvolvimento de um conjunto de regiões ou de nações 'atrasadas', o objeto da análise passa a ser 'a' sociedade, toda e qualquer sociedade, em qualquer tempo e lugar, atribuindo à história da sociedade assim pensada as mesmas características do evolucionismo e do determinismo em que a teoria do subdesenvolvimento se Agora, porém, com alto grau de abstração e de formalismo. Com base no rigor e na cientificidade, a teoria da modernização conseguiu ganhar espaço e importância. Mas seu significado político é bem maior, pois mescla teoria com ideologia. Para alguns autores, essa é a teoria do controle imperial dos países de capitalismo central sobre os em desenvolvimento. "Como a noção de modernização já não se tratava mais de ocidentalizar, agora se podia, antissepticamente, modernizar." (CARDOSO, 2005, p. 6). Pág. 22 de 110Para essa autora, após a queda da União Soviética, as teorias da modernização ganharam novo território e associaram o "mundo moderno" ao "mundo ocidental" de forma mais enfática (CARDOSO, 2005). Adiante neste trabalho, isso será apresentado com detalhes, mas ressalta-se que os defensores da globalização são herdeiros dessa teoria. As propostas por parte dos teóricos desse modelo econômico acentuavam a reforma do Estado, justificando-se pelo convencimento de que os países em desenvolvimento deveriam se adaptar à modernização dos países desenvolvidos, haja vista que o processo de mundialização exigia isso. Para que possamos ter uma síntese de tal teoria, citaremos novamente Cardoso (2005, p. 7): A modernização é por excelência uma sociologia da ordem. Toma como padrão referencial para a análise de toda e qualquer sociedade uma idealização da sociedade norte-americana, pensando-a como uma sociedade integrada, harmônica, em equilíbrio e tendendo ao equilíbrio cada vez que emerge qualquer alteração ou conflito maior, alterações ou conflitos que sempre são considerados como de algum modo disfuncionais (sinais de alguma patologia), razão pela qual requerem que seja ativado algum tipo de controle capaz de contê-los para restabelecer o status quo ante. A teoria da modernização foi construída nos Estados Unidos como parte de uma orientação deliberada em direção a uma teoria compreensiva da sociedade. [...] Estamos tratando de uma sociologia que, pela própria forma teórico-metodológica que adota, indica o controle social como cerne da estruturação da sociedade, entendendo ser necessária a sua aplicação sobre todo conflito que perturbe ou possa vir a o funcionamento considerando como "adequado" do sistema social. Então, por parte da sociologia, como ciência, fica explicitada a produção científica de conhecimento para que o diagnóstico da situação social possa ter um tratamento adequado e, assim, atinja-se o restabelecimento da ordem social. Salientamos que não há um estudo para a superação dos problemas sociais vividos, há apenas a aplicação, de natureza variada, de adaptações com o intuito de restabelecer a unidade e a harmonia, ou seja, sem a precisa compreensão dos motivos econômicos e sociais que levaram os indivíduos à precária situação de vida. Pág. 23 de 110A teoria da modernização pode ainda ser entendida sob três objetivos principais: o esforço de intelectuais para que se pudesse criar uma teoria geral da sociedade, o caminho para que no pós-guerra e durante a Guerra Fria os argumentos científicos pudessem responder às iniciativas de segurança internacional e, por fim, a integração à base de sustentação para as demandas capitalistas globais (CARDOSO, 2005). Fora as críticas pontuadas anteriormente neste texto, ressaltamos também que autores clássicos da sociologia, entre eles Max Weber (1864-1920), cercaram-se de ceticismo e desconfiança sobre a teoria da modernização. Isso porque, para eles, a estabilidade sugerida por ela coloca em ameaça o homem e suas realizações (BRITO, RIBEIRO, 2003). Figura 8 - Desenvolvimento Fonte: art4all/ shutterstock.com Assim como descrevemos no início deste capítulo, os intensos debates sobre o entendimento do conceito de desenvolvimento passam pela crítica à teoria de modernização, como vemos em Brito e Ribeiro (2003): "[...] a revisão do conceito de desenvolvimento, entendido como impulso à modernização, na atualidade, passa inevitavelmente por uma nova fundamentação da relação entre os homens e da relação entre estes e a natureza". (BRITO, RIBEIRO, 2003, p. 148). Pág. 24 de 110conceito de desenvolvimento, na atualidade, é tido como modernizador, pois se considera o seu caráter progressista sem avaliar a inclusão e a justiça social. "A polarização entre a aceitação e a não aceitação dos supostos da modernidade aprofunda as críticas e abala as crenças nas teses desenvolvimentistas." (BRITO, RIBEIRO, 2003, p. 151). o conceito de desenvolvimento deve ser rediscutido a partir do mito da existência de atividades econômicas tidas como globalizantes, mas que privilegiem apenas uma minoria. Assim como expõe Kraychete (2012), a ferramenta de comparação entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos na teoria da modernização tem como intuito: [...] dois desdobramentos: colocar as economias capitalistas avançadas como horizonte um espelho a ser alcançado pelas sociedades dispostas a trilhar o caminho do progresso e, ao mesmo tempo, abrir espaço para a assistência técnica, como uma missão a ser desempenhada pelos países desenvolvidos nos países atrasados. (KRAYCHETE, 2012, p. 184). A assistência técnica aos países em desenvolvimento citada anteriormente pela autora concretiza- se a partir de instituições que possam reformar ações já existentes nos Estados, tais como eficiência em gestão e produção, para que, com isso, seja possível alcançar excedentes econômicos, sem no entanto aumentar produção. Recorremos novamente a Kraychete (2012, p. 184) para entendermos essa relação: Repensar o mundo entrecortado pelas disputas da guerra fria, pelo surgimento de novos países desmembrados do sistema colonial, como também de um grande número de nações mais antigas que almejam modificar os termos de suas inserções internacionais a partir de uma contou com o importante aparato institucional internacional e nacional. No âmbito nacional as sucessivas reformulações no aparelho de estado, mas que se estendem às organizações não estatais. As organizações intergovernamentais resultantes das concertações do final da Segunda Guerra se encarregaram do ordenamento internacional. Da ordem econômica se incumbiram as organizações de Bretton Woods: Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e o Acordo Geral de Tarifas (GATT), com atribuições, respectivamente, de fornecer créditos para o financiamento da infraestrutura, conceder empréstimos a países que enfrentavam dificuldades em equilibrar as suas contas externas e definição de normas para que o comércio entre as nações ocorresse sem os entraves que não fossem decorrentes das leis do mercado. Pág. 25 de 110Vemos que, desde o final da Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento econômico internacional passou por modificações, com sucessivas transformações tecnológicas e inovações institucionais. As teorias neoclássicas e de modernização sustentaram essas mudanças e deram condições para implementar a desregulamentação e a livre competição no mercado (com a globalização e o neoliberalismo). Nesse cenário, a eleição da pobreza como tema prioritário para o desenvolvimento constituiu-se na nova agenda do sistema econômico: Sob o argumento de que o crescimento econômico não conduziria ao bem-estar das grandes maiorias das populações dos países subdesenvolvidos, apareceram os primeiros delineamentos de política de minoração da pobreza, inspiradas na ideia de justiça como equidade. Predomina no debate os princípios do liberalismo econômico e político, que vai apresentar-se com renovação na direção da redefinição do trato da questão social. discurso das Organizações Internacionais é perpassado pelos princípios liberais dos direitos, da liberdade e da justiça. (KRAYCHETE, 2012, p. 184). A concepção liberal que passa a orientar as ações de instituições internacionais, como também do governo de diversos países, utilizou técnicas de pesquisa para mensurar o nível de pobreza e determinar onde são mais latentes as carências, de que forma poderão ser aplicadas políticas orientadas a grupos específicos, assim como determinar as áreas de atuação (alimentação, saúde, educação etc.). Buscava-se não somente o número total de pobres, mas saber quais são os mais pobres e, assim, aplicar políticas sociais de caráter compensatório ou orientadas para o mercado. Essa formação, que também é ideológica, permite que os agentes do Estado sejam conduzidos a realizarem parcerias com os agentes do mercado, atuando com ações específicas. Busca-se também nesse processo realizar pactos com a sociedade civil e assim "[...] implementar reformas que venham conceber e conduzir novos modos de regulação [...]" (KRAYCHETE, 2012, p. 185). Ressalta-se que essa teoria faz com que os pobres sejam objeto da política de desenvolvimento concentrado, ou seja, eles não são parte do desenvolvimento. As políticas a eles aplicadas tão somente têm como fio condutor minorar sua condição. Retomemos: o conceito de desenvolvimento surge, assim como o de modernização, no pós- Segunda Guerra, a partir de interpretações de economistas e cientistas políticos que buscavam a realocação da economia no mundo. Pág. 26 de 1102.3 Considerações sobre desenvolvimento no Brasil Figura 9 - Brasil ORDEM E * Fonte: Stanislaw Mikulski/ shutterstock.com Para Ivo (2012), na sociedade brasileira, o desenvolvimento [...] abrange um repertório de problemas de interpretação da nação brasileira e se projeta no futuro, como 'solução possível', mas também deliberada, no sentido de ser promovida pelo Estado, com vistas a superar os óbices da tradição e implementar um projeto de modernização nacional urbano-industrial para o país. Esse 'mito' atualiza o ideário iluminista do adaptado à singularidade da formação da sociedade brasileira, que articula, de forma complexa e contraditória, o regime de acumulação às condições de reprodução das classes, e os processos de dominação que mobilizam grupos e poder político, e, ao mesmo tempo, forças externas do regime de acumulação. (IVO, 2012, p. 187). Pág. 27 de 110modelo de desenvolvimento diz respeito ao que se concebe como justiça distributiva, ou seja, ao modo como a riqueza de um país é distribuída e, assim, como está seu crescimento e para quem são seus resultados. Ivo (2012) considera que durante algumas décadas no Brasil se adotou a "modernização conservadora", ou seja, modernização excludente, que concentrou riqueza e excluiu uma grande parcela da sociedade brasileira. Considera também que diversos fatores históricos levaram a esse modelo de desenvolvimento: A modernização conservadora, [...], aponta um conjunto de fatores determinantes da iniquidade no Brasil: a longa história do escravismo e do latifúndio, que sedimentou relações profundamente verticais e desiguais, hierarquizadas; o caráter centralizador, patrimonialista e autoritário da cultura política brasileira, permeado por relações clientelistas que se alternam e (ou) se complementam com o círculo burocrático; o caráter dependente do capitalismo periférico; a natureza restrita da política de seguridade social, decorrente de uma inclusão imperfeita da massa trabalhadora aos empregos protegidos com a persistência de amplos contingentes de trabalhadores informais, excluídos com suas famílias de um sistema de proteção e de Direitos sociais; e o enorme volume da pobreza, como fenômeno de massa. São fatores que, articulados, contribuem para a formação de um massivo e histórico processo de exclusão das famílias de trabalhadores, dos benefícios do desenvolvimento brasileiro. (IVO, 2012, p. 195). A desigualdade econômica é reflexo da concentração de renda e de poder que o modelo de desenvolvimento imprime à sociedade. Ivo (2012) lembra que a herança da centralização de poder no Brasil vem do tempo do Império, que deixou de integrar as diversas classes sociais na constituição da economia e da sociedade brasileira. Deduz-se com isso que a política redistributiva é fator fundamental a um modelo de desenvolvimento equitativo para trabalhadores de todas as categorias, como exposto pela autora: Pág. 28 de 110A crítica liberal ao modelo de bem-estar, na década de 50, considerava que as políticas redistributivas eram incompatíveis com o crescimento econômico estável e representavam pressão inflacionária de difícil controle para os Estados nacionais. o crescimento acelerado da economia até os anos setenta neutralizou essas críticas. Na contramão da crítica dos liberais, na década de sessenta, setores da esquerda, dos trabalhadores e das diversas minorias organizadas em matéria de e direitos, criticavam o regime, exigindo expansão de benefícios e cobertura de direitos civis e sociais, pela pressão dos movimentos sociais. No Brasil, a expansão desses movimentos ocorreu especialmente nas décadas de 70 e 80. [...] Em 1981, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico - OCDE [...], que representa interesses dos países ricos, reforça a tese original que opõe políticas redistributivas (de bem-estar) aos objetivos do crescimento econômico, entendendo que a estagnação do crescimento dos anos 80, as altas taxas de inflação e o crescente desemprego resultavam diretamente da crise fiscal pelo excesso de demandas sociais, sem capacidade de processamento pelos Estados nacionais. (IVO, 2012, p. 197). As mudanças econômicas processadas a partir da definição de reduzir a política distributiva refletiram-se de forma mais intensa em países, como o Brasil, que historicamente guardam desigualdades sociais profundas e ausência de políticas de bem-estar. Estado sofreu transformações no sentido de descentralizar as políticas sociais e passou para a sociedade civil responsabilidades públicas, instituindo as "parcerias público-privado". No plano econômico, foram instituídas as seguintes mudanças: Pág. 29 de 110[...] priorizaram-se políticas monetárias voltadas para garantir estabilidade e condições necessárias à liberalização e mobilização de capitais, especialmente financeiros. Um dos atores internacionais centrais dessa mudança é o Fundo Monetário Internacional (FMI), que, na década de noventa, orienta e controla os Estados nacionais na aplicação de políticas de austeridade e ajustes fiscais, e de reforma do Estado, sob o argumento da administração da dívida externa. [...] Essa reforma, em prol de um modelo de Estado gerencial, assentado em critérios institucionais de eficiência e competitividade, representa, na realidade, um rearranjo interno de atores e instâncias de decisão e interesse, sob a hegemonia de políticas monetaristas, e envolveu aplicação rigorosa do ajuste fiscal, sobretudo nos governos dos países latino-americanos. (IVO, 2012, p. 198). Com isso, o modelo de desenvolvimento, expresso nas políticas de bem-estar, foi interrompido na década de 1990, dada a reestruturação do Estado e os ajustes fiscais. Vale ressaltar que as políticas sociais e de inclusão se realizaram a partir de então na lógica financeira e monetarista, sem a preocupação de superar a desigualdade, e sim de amenizá-la. Figura 10 - Banco Mundial THE WORLD BANK Fonte: iles/2016/04/the-world-bank.jpg?fit=800%2C451>. Pág. 30 de 110Ivo (2012) reitera que, nas décadas de 1980-1990, o Banco Mundial incentivou os países da América Latina para que o desenvolvimento estivesse associado a boas práticas "[...] de caráter moral (luta contra a corrupção, contra o familismo amoral, o corporativismo e o clientelismo, etc. [sic]), tendo em vista a construção de um novo consenso de Estado eficiente" (IVO, 2012, p. 199). Esses mecanismos, pautados pela política do Banco Mundial, fizeram surgir medidas na administração pública que a tornaram mais "competitiva" e "apropriada", com o objetivo de reduzir os gastos públicos: Esse movimento de desconcentração do Estado e de emergência desses novos atores e movimentos, na década de oitenta, é acompanhado, também, de uma crítica epistemológica ao caráter dedutivo e estrutural da noção de desenvolvimento como "um modelo universal" e único, regido pelo mercado e pela democracia liberal (ou modelos autoritários), como se só existisse um tipo de regulação para os conflitos sociais em todas as sociedades e em todos os seus segmentos. [...] As organizações não governamentais e outros movimentos sociais comprometidos com a formulação de novos entendimentos e alternativas ao desenvolvimento transnacionalizam as redes de inúmeros movimentos sociais na crítica ao regime de acumulação globalizado e ao "modelo único". (IVO, 2012, p. 200). A perspectiva de desconcentração e de adaptações reformistas no Estado abriu, por outro lado, nas comunidades tradicionais, a possibilidade de criar um desenvolvimento econômico pautado pela solidariedade entre seus pares e no distanciamento dos centros econômicos maiores. Segundo Ivo (2012, p. 202), uma "[...] contraditória', que expressa movimentos de hegemonia e contra-hegemonia [...]". Pág. 31 de 110Transcrevemos abaixo a síntese da presença dos Estados nacionais nesse modelo de desenvolvimento: Os efeitos dessocializadores (desemprego, precarização, insegurança e empobrecimento de setores médios urbanos) gerados pela reestruturação produtiva e a aplicação rigorosa do ajuste fiscal pressionaram os liberais para uma revisão crítica quanto à temática da integração. Aí se insere o que estamos chamando de pós-consenso de Washington, priorizando a agenda internacional "da luta contra a pobreza", nos anos 2000. Ela integrou os Objetivos do Milênio (2000) formulados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que estabeleceu metas para os países membros de: acabar com a extrema pobreza, promover a igualdade entre os sexos, erradicar as doenças e fomentar as bases de um desenvolvimento sustentável até 2015, entre outros objetivos. (IVO, 2012, p. 203). As diversas agências internacionais, como o PNUD, citado anteriormente, inspiram-se em teses liberais para, por um lado, criticar o modelo de desenvolvimento de bem-estar e, por outro, certificar que a pobreza deve ser enfrentada pelos próprios "pobres". Dessa forma, estes se tornam protagonistas da sua mobilidade social. Lembramos que, nesse modelo, a autonomia individual do sujeito prevalece em detrimento à perspectiva da sua condição material e estrutural, como esclarece Ivo (2012, p. 203): Essa tese orienta os relatórios das Nações Unidas (PNUD, 1997) quanto a uma nova perspectiva do desenvolvimento social e humano, e dá base para a construção de metodologias de mensuração da pobreza segundo "Necessidades Básicas", o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), induzindo políticas públicas que enfatizam o acesso dos 'pobres' a capacidades básicas (educação, saúde, poder, etc.). [...], o PNUD definiu, na década de 90, o "desenvolvimento humano" como um processo de: alargamento das escolhas pessoais em termos de acesso à vida longa e saudável; aquisição de conhecimentos; e acesso a recursos necessários a um padrão de vida adequado. Agregou a essas escolhas valores políticos e humanitários, como: liberdade política, direitos humanos e oportunidades dos indivíduos e cidadãos serem criativos, fomentando a (IVO, 2012, p. 203) Pág. 32 de 110Esse modelo de desenvolvimento tem influenciado as políticas sociais nos Estados nacionais, especialmente nos países da América Latina. o desenvolvimento é visto, assim como descrevemos anteriormente, pela capacitação dos mais "pobres" para que possam buscar a superação de sua condição de pobreza. Esse modelo institui uma tese em que se torna uma virtude de emancipação a inserção individual no mercado. "Ou seja, as formas de resistência dos trabalhadores autônomos da economia informal são ressignificadas como do capital'." (IVO, 2012, p. 204). Nessa concepção de desenvolvimento, os "pobres" são inseridos no mercado como consumidores e agentes financeiros e, assim, as políticas sociais de inclusão, que outrora eram de responsabilidade do Estado e, portanto, de seus governantes, agora passam a ser dos "pobres". Nos anos 2000, a política social desvincula-se do desenvolvimento econômico, ou seja, os "pobres" não fazem parte das mudanças estruturais do mercado de trabalho. A assistência social, nesse processo, atribui-se aos mais necessitados, ou seja, não se constitui em direitos, tão somente em programas e medidas técnicas destinadas a grupos específicos de indivíduos. "A responsabilidade do Estado no provimento do bem-estar é reorientada para a norma da eficiência na seletividade e acompanhamento das condicionalidades." (IVO, 2012, p. 205). Essa política produz na sociedade os "desamparados da proteção pública" (IVO, 2012, p. 205), que se baseiam na proteção de políticas de segurança, ou seja, voltadas para conter a violência e a insegurança, não necessariamente políticas sociais de assistência: As alternativas de encaminhamento da integração social, no período pós-consenso de Washington, nos anos 2000, mostram como as políticas sociais, ajustadas ao mercado e orientadas segundo princípios de gestão estratégica da focalização do Estado "eficiente", apresentam limites no padrão da distribuição, nos direitos da cidadania e nos objetivos mais amplos da seguridade econômica e alimentar, sem desconhecer as melhorias no alívio das famílias em condição de pobreza. (IVO, 2012, p. 206). Pág. 33 de 110Exige-se no Brasil de hoje, portanto, uma nova avaliação acerca do modelo de desenvolvimento, que seja capaz de envolver toda a sociedade brasileira e que permita políticas sociais mais amplas com o intuito de distribuir renda e novamente responder às perguntas: para quem é o desenvolvimento? Como se desenvolve? E quais os objetivos do desenvolvimento econômico? As pesquisas acadêmicas fazem-se necessárias para que se possa determinar os caminhos para associar desenvolvimento e distribuição de riqueza. Em parte, o modelo atual de desenvolvimento brasileiro seguiu a lógica internacional de política neoliberal e, consequentemente, a ausência das políticas sociais redistributivas. Pág. 34 de 1102.4 Novas configurações sobre 0 desenvolvimento Ressalta-se que, após a Segunda Guerra, especialmente durante o período de 1940-1970, algumas privações e também ausências de crescimento se processaram. Por mais que os países do capitalismo central propagandearam os novos e modernos modelos de desenvolvimento, este ficou restrito a alguns países e a poucos grupos sociais. É importante destacar que a nova configuração do mundo trouxe progresso para 1/3 da população mundial e marginalizou as demais (AMARO, 2003, p. 12). Além disso, aprofundou as taxas de analfabetismo e da fome, ampliou a competição agressiva, a pobreza e a exclusão social, tornou o trabalho desumano, e a diversidade religiosa base para a intolerância assim como a diversidade cultural e étnica. Isso se refere a visão economicista e não social do desenvolvimento, uma ausência da integração entre indivíduos/sociedade e economia. Figura 11 - Desenvolvimento ...... Fonte: a-image/ shutterstock.com A partir de meados da década de 1970 até o final da década de 1990, uma nova conceituação acerca do desenvolvimento começa ser propagandeada e isso de deveu ao fracasso do discurso modernizador, industrial e econômico associado ao desenvolvimento sob os países da América Latina, África, Índia, entre outros tidos como "subdesenvolvidos". Pág. 35 de 110Alguns dos motivos que aceleraram a busca por um novo conceito de desenvolvimento tem como fundamento as seguintes questões: A viragem neste caso refere-se à constatação feita de que não era possível continuar com os ritmos de crescimento econômico, de crescimento demográfico, de sobreutilização dos recursos naturais (renováveis e não renováveis) e de produção de resíduos (lixos) e poluentes, até aí verificados, impondo-se uma contenção que viabilizasse a durabilidade (ou sustentabilidade) do desenvolvimento; A persistente crise econômica que se instalou nos últimos 30 anos, com várias e irregularidades, tornando, no entanto e por enquanto, impossível o regresso à lógica dos supostos 'anos dourados', pôs em causa a crença anterior no crescimento económico para desenvolver os países; Por outro lado, o crescimento econômico tinha mudado de natureza, tornando-se muito menos criador de empregos (senão por vezes mesmo destruidor), e/ou cada vez mais criador de empregos precários e desqualificados, alterando o padrão fordista do pós-guerra (com emprego seguro e estável) e, portanto, o trade-off entre essas duas variáveis, o que também punha em causa a esperada relação virtuosa entre crescimento económico e desenvolvimento; É este conjunto de fatores que explica a grande movimentação na procura de novos conceitos de desenvolvimento nos últimos 30 anos, fazendo surgir inúmeros adjetivos acoplados à palavra 'desenvolvimento', e que dão conta de uma enorme variedade de propostas e (AMARO, 2003, p. 16). Foi por esse caminho que se criaram novos conceitos atrelados ao desenvolvimento: desenvolvimento sustentável, desenvolvimento local, desenvolvimento participativo, desenvolvimento humano, desenvolvimento social e desenvolvimento integrado. Ao agregar novos valores ao conceito de desenvolvimento, suas concepções tradicionais começam ser revistas e corrigidas. Seu caráter multidimensional foi pontuado, opondo-se ao que a visão economicista de desenvolvimento propunha. De facto, [...], julgo que o conceito de desenvolvimento está em vias de sofrer um processo de renovação (e reabilitação) radical, que o liberta, nas suas novas formulações, das responsabilidades históricas e das conotações negativas que lhe foram provocadas pelo fundamentalismo economicista dos primeiros 30 anos (e ainda dominante em muitos aspectos). (AMARO, 2003, p. 25). Pág. 36 de 110Percebe-se assim que viveremos um novo momento de aplicação do conceito de desenvolvimento que poderá compor de forma multidisciplinar as políticas públicas e governamentais, dando possibilidade para um novo vínculo entre teoria e prática. Antes de aprofundarmos essa prática dos novos valores aplicados ao desenvolvimento, será estudado o modelo nacional-desenvolvimentista que, desde a década de 1930 até meados da década de 1960, fez da política econômica brasileira parâmetro para o crescimento com inclusão social e justiça redistributiva. Pág. 37 de 1102 - CAIO PRADO E CELSO FURTADO: DESENVOLVIMENTO POR PRINCIPIO 3. CAIO PRADO JÚNIOR E CELSO FURTADO: 0 DESENVOLVIMENTO POR PRINCÍPIO modo de produção capitalista deve ser estudado a partir da história intrínseca de cada país (LEÃO, CARVALHO, 2008). Inicialmente, as primeiras teorias econômicas e de desenvolvimento no Brasil analisavam a dominação externa e as mudanças econômicas mundiais. As relações de produção e consumo aqui eram vistas como uma sucessão do modo de produção europeu. Caio Prado e Celso Furtado representam para o pensamento econômico e social brasileiro a independência de ideias, associada a ações que possam integrar desenvolvimento econômico com desenvolvimento social. Caio Prado Júnior (1907-1990) retratou em sua obra questões do desenvolvimento, da produção e do trabalho agrário no Brasil. É um intelectual do pensamento social brasileiro que tem em sua pesquisa a preocupação em demonstrar os caminhos para a modernização do Brasil sem que, no entanto, seja excludente. Defendeu que, para o país ter desenvolvimento, era necessário voltar-se para o mercado interno. Sua teoria ainda ressalta a importância no desenvolvimento nacional, e não somente a reinterpretação do que ocorria internacionalmente: [...] esse autor partiu da formação colonial brasileira nos quadros da acumulação primitiva européia e forjou uma categoria, a economia colonial, que retinha as principais características dessa fase de nossa história: a heterogeneidade nacional, a desigualdade, a ausência de soberania, e outros. Contrapôs essas características, que ele mapeou e estudou num árduo esforço histórico, a uma desejada e nascente economia nacional que envolvia características opostas [...]. CARVALHO, 2008, p. 545). Pág. 38 de 110Figura 12 - Caio Prado Júnior Fonte: Celso Furtado (1920-2004), em sua obra, também apresentou o conceito de desenvolvimento para o Brasil, tendo como referência o contexto latino-americano. Em sua teoria, apresentou que o subdesenvolvimento é um processo estrutural, parte da organização social do sistema capitalista. Por participar durante vários anos da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), foi muito influenciado pelo modelo teórico centro-periferia. Considerou que o Brasil era uma economia periférica, pois sua economia dependia de países de economias centrais, como os Estados Unidos: Também Celso Furtado, nosso maior economista, [...], deve muito a Caio Prado na sua caracterização de um capitalismo subdesenvolvido, marcado pela não-geração de tecnologia, pobreza de massa, heterogeneidade estrutural, subordinação às grandes filiais de empresas produtivas internacionalizadas e à banca internacional. Na mesma linha caminhou Maria da Conceição Tavares, com ênfase nos aspectos financeiros de subdesenvolvimento e nas características do nosso capitalismo tardio e periférico (LEÃO, CARVALHO, 2008, p. 546). Pág. 39 de 110Figura 13 - Celso Furtado Fonte: o Brasil ingressou tardiamente no processo de industrialização, "[...] com um empresariado que preferiu a parceria do capital estrangeiro e adotou um comportamento patrimonialista e de fragilização do Estado, onde os direitos sociais e políticos sempre foram minimizados [...]" (LEÃO, CARVALHO, 2008, p. 546). As principais cadeias produtivas brasileiras são de setores econômicos estrangeiros, e o investimento público é responsável por mais da metade da formação de capital, "mas o seu compromisso com o pagamento e amortizações de juros cria um problema para o crescimento do emprego e um expressivo resgate da dívida social" (LEÃO, CARVALHO, 2008, p. 546). Caio Prado e, em especial, Celso Furtado estudaram esse processo de desenvolvimento nacional brasileiro imbricado com as necessidades "de uma armação teórica que não exclua a imaginação criadora e a vontade de refundar a nação" (LEÃO, CARVALHO, 2008, p. 547). Nesse sentido, veremos a seguir algumas das principais obras de Caio Prado e Celso Furtado. Pág. 40 de 1103.1 Principais obras de Caio Prado e Celso Furtado Evolução política do Brasil, livro publicado em 1933 por Caio Prado Júnior, analisa a formação social do Brasil e a passagem para o período imperial. É demonstrada nessa obra a participação da população nas lutas por independência. Esse tipo de análise é pioneiro no Brasil até então. Em 1942, outra inovação de cunho histórico-econômico é elaborada por Caio Prado, em Formação do Brasil contemporâneo: Em 1942 publica sua obra-prima, Formação do Brasil um dos dez livros considerados mais importantes para ler e compreender o Brasil, no qual destaca a nossa formação colonial. o livro deveria ser seguido por outros dois, que abarcariam respectivamente o Império e a república burguesa, mas essa sequência se dissolveu, restando seu marco inicial e A história econômica do Brasil, cujo auge é a passagem para os primórdios da industrialização brasileira, a partir de 1930, com a Revolução de 1930 chefiada por Getúlio Vargas. Este último livro em sua primeira terça parte condensa Formação do Brasil contemporâneo, não apresentando nada teoricamente novo a este. (LEÃO, SILVA, 2011, p. 100). Figura 14 - Política no Brasil Fonte: Niyazz/ shutterstock.comNo capítulo inicial dessa obra, Caio Prado afirma que o Brasil foi colonizado como peça fundamental para a estruturação do capitalismo europeu ainda no mercantilismo, tanto com matérias-primas como com bens de consumo. Brasil é, pois, um espaço para a extração de bens destinados a mercados e população forâneos, e não para atender às necessidades da população que se formava na colônia e no que viria a ser a nação após a independência". SILVA, 2011, p. 100). Ainda nessa obra, Caio Prado afirma que a colonização brasileira ocorreria por ciclos, de acordo com a aceitação do mercado europeu, assim como aconteceu com o açúcar, a borracha e o café. Citaremos novamente Leão e Silva (2011, p. 100) para entendermos melhor essa relação estabelecida entre império e colônia: [...] a colonização brasileira ocorre por ciclos de produtos de grande aceitação no mercado europeu, como o ciclo do açúcar, do ouro ou da borracha, cada um dos quais pouco significando de construção durável para a formação da nação em lenta gestação. o ciclo do café, já no Império, deixaria algo mais, como o impulso para as primeiras fábricas, basicamente de produtos não duráveis, de tecnologia disponível no mercado e investimento inicial relativamente baixo, e como conformação da classe assalariada no país e impulso para o fim do trabalho escravo e do sistema político imperial. A própria independência vem como esgotamento do período colonial graças à industrialização européia a partir de 1780 na Inglaterra, inicialmente, e das Revoluções Burguesas naquele continente, destacando-se a Revolução Francesa iniciada em 1789. Estes acontecimentos ensejam a passagem para a independência na medida em que se torna imperativo o fim do estatuto colonial, com a ampliação do espaço brasileiro como mercado consumidor das manufaturas européias e grande produtor de mercadorias para o crescimento industrial e urbano europeu. (LEÃO, SILVA, 2011, p. 100). Caio Prado conclui, em Formação do Brasil contemporâneo, que a produção do mercado brasileiro, mesmo depois da independência, continuaria por satisfazer outros países, e não sua população. Ainda diz que "[...] em grande medida isto ocorre porque o grosso das fábricas instaladas no país é de origem estrangeira, ligadas ao imperialismo dos países do centro econômico mundial". (LEÃO, SILVA, 2011, p. 101). Pág. 42 de 110História econômica do Brasil, outra publicação de Caio Prado Júnior, lançada em 1945, é até hoje um dos textos mais utilizados nos cursos de graduação em economia no país Caio Prado renovou não só as ciências sociais, mas a historiografia nacional, e essa obra carrega consigo essa marca. Destacamos também, dentre as várias obras do autor, A revolução brasileira, de 1966, na qual, após analisar que o imperialismo não teria como permanecer de forma crescente em uma nação por muito tempo, conclui que chegaria um momento, em sua interpretação, em que uma transformação social e econômica de moldes revolucionários aconteceria: Talvez esteja em Caio Prado Junior a síntese das principais contradições da sociedade brasileira, entre as instituições políticas coloniais e a estrutura econômica do país. Tais contradições vão fundamentar os dilemas futuros do encaminhamento da questão social brasileira, caracterizada pelo enorme contingente de trabalhadores empobrecidos e desprotegidos de direitos sociais do mercado informal e por uma sociedade profundamente desigual no acesso a direitos. [...] Suas interpretações suscitaram debates nos círculos da esquerda brasileira, exatamente porque confrontavam com a tese, então predominante, de que a revolução econômica e nacional brasileira implicava a superação dos considerados traços "feudais", como etapa necessária, e viam, na burguesia nacional, o ator central do projeto de desenvolvimento nacional. (IVO, 2012, p. 190). Segundo Caio Prado, o conceito de nação é a superação do imperialismo e da dependência, associada com a sociabilidade cultural (LEÃO, SILVA, 2011, p. 101). Pág. 43 de 110Celso Furtado comunga desse mesmo conceito de nação com uma abordagem por meio da cultura material, social e política de um país: [Ele] apresenta uma teoria do desenvolvimento, na qual a cultura tem papel central na perpetuação ou ruptura das estruturas econômicas de poder que, ora facilitam, ora restringem à satisfação das "múltiplas necessidades de uma coletividade" origem do dinamismo que impele uma sociedade ao desenvolvimento (FURTADO, 1969). o autor parte, em alguma medida, do paradigma 'centro-periferia' e da "deterioração dos termos de intercâmbio" influenciado pelo ambiente intelectual da CEPAL no decênio de 1950. Contudo, esse referencial analítico serviu mais como base para a compreensão da materialidade econômica da condição subdesenvolvida e do movimento da economia global, do que para o entendimento das formas de sociabilidade que perpetuavam, nessas sociedades nacionais tão heterogêneas e joviais (países com um século e meio de existência formal), as estruturas rígidas de poder em associação com o estrangeiro. (LEÃO, SILVA, 2011, p. 101). Figura 15 - Economia Fonte: ktsdesign/ shutterstock.com Pág. 44 de 110Em Formação econômica do Brasil, publicado em 1959, Furtado examina o gasto na produção e exportação no Brasil colônia e o investimento induzido por esse mercado. Defende também que o processo de acumulação de capital a partir da ótica centro-periferia é fundamental para o entendimento das classes dirigentes locais que se associam à economia internacional e mantêm na periferia estruturas de poder do capitalismo periférico (LEÃO, SILVA, 2011). Reproduzimos a seguir breve análise de Silva (2011), relacionada a resenhas publicadas ainda na década de 1960 que retratavam o lançamento de Formação econômica do Brasil: [...] o que pareceu economicismo a alguns e a outros falta de domínio das fontes históricas, nada mais é que uma das maiores riquezas da obra, o que lhe garante o lugar de destaque pela rara qualidade em nossa produção. Pois somente o uso consciencioso das ciências sociais pode orientar a reconstrução histórica em busca de suas linhas gerais. É a teoria econômica e social presente no livro que irá conduzir a leitura histórica de Celso Furtado. A erudição histórica do autor é patente, a despeito da omissão de referências, e o método do autor se constrói na distinção entre processos e eventos, nos quais os primeiros dão o tom do livro, subordinando os segundos, os quais devem ser pressupostos e conhecidos do leitor. [...] Assim, as resenhas abordaram a obra sob o ponto de vista dos aspectos teóricos, na relação entre teoria econômica e história, ora sublinhando os excessos da primeira, ora acentuando as debilidades da segunda. Temas ausentes foram sempre marcados como faltas; ausência de referências, como despreparo. No entanto, a explicação de fundo, estrutural, do livro, demorou em ser percebida. Isso decorre, nos parece, não só de seu ineditismo, mas da falta de um corpo de obras econômicas e históricas que pudessem servir de referência e termos de comparação à Formação econômica do Brasil. Na ausência de trabalhos que examinassem os conteúdos e as hipóteses, a crítica só poderia recair sobre questões de método. (SILVA, 2011, p. 446). Ainda segundo Silva (2011), Celso Furtado buscou nessa obra decifrar a herança econômica do passado e justificar a intervenção estatal no sentido de consolidar a economia brasileira, com possibilidades de desenvolvimento pleno. A transição para o trabalho assalariado e, dessa forma, a multiplicação da renda no país é a tese principal de Furtado, que demonstrou que o desenvolvimento se consolidará a partir do mercado interno brasileiro. Pág. 45 de 110No exterior, Formação econômica do Brasil (1959) foi estudado como forma de comparação e crítica às teorias econômicas existentes à época de seu lançamento: [...] no âmbito internacional, a recepção da obra foi como contribuição à teoria do desenvolvimento econômico. Isso em centros onde há mais de um século a especialização das ciências humanas havia ocorrido. Nesse aspecto o esforço metodológico não surge como deficiente, mas como inovador, contribuindo como um exemplo histórico, como uma "lição de particularismo", ensejando perspectivas para compreender outras economias subdesenvolvidas da Europa [...]. (SILVA, 2011, p. 448). Assim, Celso Furtado conceitua nessa obra o subdesenvolvimento como uma "[...] especificidade histórica que não pode encontrar um modelo de transformação no desenvolvimento europeu, porque este também é histórico, particular e único em suas conjunturas e possibilidades" (SILVA, 2011, p. 447). E desse conceito formula a teoria da dependência, que exigiu do autor a interpretação dos fatores sociais, políticos, institucionais e econômicos acerca das classes dirigentes no Brasil presentes principalmente na economia açucareira e cafeeira: No Brasil, o pioneirismo de seu instrumental estruturalista aliado ao esforço de superar o factual fez com que a obra fosse julgada por suas deficiências históricas e sua alta imersão na teoria econômica - consequência de um campo de conhecimentos que ainda estava se consolidando e no qual as fronteiras entre história, ciências sociais e economia ainda não havia se concretizado. Disso resulta, também, o impacto das proposições de intervenção na realidade e na direção do desenvolvimento econômico do Brasil, o qual impôs a obra como clássica, suplantando, de certa forma, as críticas teóricas. (SILVA, 2011, p. 448). Pág. 46 de 110Pedrão (2011, p. 251) reforça que Formação econômica do Brasil foi: [...] o primeiro livro de economia que sublinhou os conflitos conceituais levantados pela primeira rodada de estudos da CEPAL. [...] A grande propriedade rural foi a referência básica do sistema colonial, mas não veio pronta da Europa, onde não havia latifúndios com as extensões que passaram a ser referências na América. Desde o século XVII a exploração agrária tornara-se um mecanismo interno na maior parte da América Latina e que no Brasil a própria escravização tornara-se um negócio conduzido por brasileiros. Figura 16 - Regime militar trabalho teórico de Celso Furtado nessa obra associa desenvolvimento e planejamento. Para isso, questiona a distribuição de renda por meio do salário do trabalhador pobre. Ele criou uma nova proposta de desenvolvimento que "[...] resultaria no desmonte de grupos oligárquicos que foram revitalizados pelos governos militares e que se reproduzem tal como a (PEDRÃO, 2011, p. 257). Traduziu, portanto, uma leitura independente da teoria do desenvolvimento nacional, diferente daquela que reproduzia a teoria internacional ao plano nacional. Pedrão (2011, p. 258) expõe a importância desse pensamento de Furtado: Pág. 47 de 110Com a Formação Econômica o trabalho de Celso Furtado se desprende do marco geral do trabalho da CEPAL e se abre ao movimento mais amplo e profundo de construção histórica da América Latina. [...] foco de Furtado é a colônia, cujo processo econômico tratou em seus dois eixos de relações internacionais e de relações internas, com sua territorialidade. Hoje se vê com mais clareza como esse processo colonial teve diferentes desdobramentos no tempo e efeitos colaterais, assumindo outras feições na construção e na atualização do bloco de poder dominante nas regiões do país. Para Celso Furtado entender o processo histórico de colônia de exploração era fundamental para que pudéssemos nos tornar uma nação independente, tanto econômica quanto culturalmente. A gênese desse livro é fundamental. Ele é um descolamento dessa busca teórica e surge no final de uma viagem pelo pensamento mundial e uma escolha do Brasil. [...] sujeito é o Brasil em formação! Na abordagem de Celso Furtado a economia é o aspecto através do qual se dá o acesso à totalidade nacional. Explica-se, assim, que já em 1933 tenha recomeçado a crescer a renda nacional no Brasil, quando nos EUA os primeiros sinais de recuperação só se manifestaram em 1934. Na verdade, no Brasil, em nenhum ano da crise houve inversões líquidas negativas, fato que ocorreu nos EUA e como regra geral em todos os países. Já em 1933 as inversões líquidas brasileiras alcançavam 1 milhão de contos, às quais cabia adicionar 1,1 milhão de estoques de café acumulados. Estava-se, portanto, a 2,1 milhões, valor que se aproximava do montante das inversões líquidas de 1929. Ora, os 2,3 de 1929 representavam 9% do produto líquido desse ano, enquanto os 2,1 de 1933 constituíam 10% do produto líquido deste último ano. impulso de que necessitava a economia para crescer já havia sido recuperado. É, portanto, perfeitamente claro que a recuperação da economia brasileira, que se manifesta a partir de 1933, não se deve a nenhum fator externo e sim à política de fomento seguida inconscientemente no país e que era um subproduto da defesa dos interesses cafeeiros. Consideremos o problema sob outro aspecto. A acumulação de estoques de café realizada antes da crise tinha a sua contrapartida em débito contraído no exterior. Não existia, portanto, nenhuma inversão líquida, pois o que se invertia dentro do país, acumulando estoque, se desinvertia no exterior contraindo dívidas. Tudo ocorria como se o café acumulado tivesse sido comprado por firmas estrangeiras que, no seu próprio interesse, postergavam o transporte da mercadoria Pág. 48 de 110para fora do país. A acumulação de café financiada no exterior se assemelha portanto a uma exportação. o mesmo não ocorria à acumulação de estoques financiada de dentro do país, se a base desse financiamento era uma expansão de crédito. A compra do café para acumular representava uma criação de renda que se adicionava à renda criada pelos gastos dos consumidores e dos inversionistas. Ao injetar-se na economia, em 1931, um bilhão de cruzeiros para aquisição de café e sua destruição, estava-se criando um poder de compra que em parte iria contrabalançar a redução dos gastos dos inversionistas, gastos estes que haviam sido reduzidos em 2 bilhões de cruzeiros. Celso Furtado, em mito do desenvolvimento econômico, publicado em 1974, dedica-se a temas que posteriormente irá desenvolver em outros livros. É um preâmbulo sobre a teoria do subdesenvolvimento: [...] o autor identifica três origens para o subdesenvolvimento: (a) expansão e difusão do capitalismo industrial inglês e, mais tarde, europeu e americano; (b) o sistema de divisão internacional do trabalho que implica a especialização produtiva dos países em torno de alguns bens (ou setores); (c) o aumento de produtividade do trabalho engendrado pela simples realocação de recursos para obter ganhos de vantagem comparativa (estática) no comercio - ou seja, esses países funcionaram como peças de acumulação primitiva de capital. (LEÃO, SILVA, 2011, p. 103). Nessa obra, Celso Furtado afirma também que a dependência se enraizou a partir da cultura do uso dos excedentes de capital por parte dos indivíduos no comércio internacional e da difusão dos hábitos de consumo de classe dirigente, tomados de forma natural na sociedade. [...] a importância da "dependência" como fenômeno essencialmente cultural está no fato de que a importação de bens materiais traz consigo a reprodução de um estilo de vida e um modo de pensar que fica embutido no 'homem de tipo (LEÃO, SILVA, 2011, p. 103). Pág. 49 de 110Ainda na obra mito do desenvolvimento econômico (1974), Celso Furtado relaciona o desenvolvimento nacional a uma fantasia, pois aumentava as desigualdades sociais, produzia uma homogeneização cultural e destruía recursos naturais, ao invés de promover como um todo o desenvolvimento nacional: [...] ao falar de desenvolvimento no seu livro Mito, infere-se que, em grande medida, ele esteja ali querendo se referir mais a crescimento econômico - a ideia de desenvolvimento, por contraste, implicando um modelo de evolução, de progresso em outras dimensões que não exclusivamente as do tamanho da economia. Na sua acepção, o desenvolvimento que ele considera "simplesmente irrealizável" consistiria na "ideia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos atuais povos ricos". Tal possibilidade estaria fora do alcance, simultaneamente, de todos os povos da Terra, não passando assim, a ideia do desenvolvimento econômico, de "um simples mito". Esse mito teria sido exposto em sua improbabilidade, segundo Furtado, pelo relatório do Clube de Roma, que fala de limites ao crescimento e cujas conclusões básicas Furtado aceita em termos do que elas encerram como referência. Na verdade, os limites ao crescimento não teriam que ser os que esse relatório indica. (CAVALCANTI, 2002, p. 77). Figura 17 - Segunda Guerra Mundial Fonte: KUCO/ shutterstock.com Pág. 50 de 110

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