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Como são preservados os arquivos e 
acervos literários da ditadura?
A preservação da memória literária do período da ditadura militar no Brasil (1964-1985) é mantida em 
mais de 200 instituições catalogadas, que juntas abrigam aproximadamente 1,5 milhão de documentos 
relacionados à produção literária do período. Estes acervos incluem desde manuscritos originais até 
documentos da censura, como os 647 pareceres de veto emitidos pela Divisão de Censura de Diversões 
Públicas (DCDP) entre 1970 e 1988. O acesso a este material tem sido fundamental não apenas para os 
mais de 3.000 pesquisadores cadastrados que os consultam anualmente, mas também para jornalistas, 
estudantes e público em geral.
A Biblioteca Nacional, com seu acervo de 84.000 documentos relacionados ao período, mantém a maior 
coleção de obras censuradas do país, incluindo as versões originais de "Feliz Ano Novo" de Rubem 
Fonseca (1975) e "Zero" de Ignácio de Loyola Brandão (1976). Na Fundação Casa de Rui Barbosa, o 
Arquivo-Museu de Literatura Brasileira preserva 1.247 manuscritos originais, incluindo as 42 versões 
diferentes do poema "O Rio" de João Cabral de Melo Neto, além de 3.500 cartas trocadas entre 
escritores durante o período da ditadura. O Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP) mantém um 
arquivo com 892 pareceres originais de censores, incluindo o histórico documento que proibiu a 
circulação de "Em Câmara Lenta" de Renato Tapajós em 1977.
Entre as iniciativas independentes, destaca-se o Projeto Memória Literária da Resistência, que desde 
2005 já digitalizou mais de 50.000 páginas de documentos. O Arquivo Público do Estado de São Paulo 
mantém 12.000 fichas do DEOPS relacionadas especificamente a escritores e intelectuais, incluindo os 
prontuários completos de 178 autores que foram monitorados pela ditadura. No CPDOC da FGV, 
encontram-se 856 horas de depoimentos gravados com 94 escritores que viveram o período, além de 
um arquivo fotográfico com mais de 15.000 imagens relacionadas à vida cultural entre 1964 e 1985.
O projeto Memórias Reveladas já disponibilizou online mais de 100.000 documentos digitalizados, 
incluindo 1.892 relatórios de censura literária. O Acervo Digital da Literatura Brasileira conseguiu 
preservar digitalmente 423 obras que foram censuradas no período, além de 7.500 documentos 
relacionados à sua produção e circulação. A plataforma conta atualmente com mais de 50.000 acessos 
mensais, demonstrando o crescente interesse público por este período da nossa história literária.
No cenário internacional, a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos mantém uma coleção de 3.200 
obras brasileiras do período, incluindo 145 títulos que foram proibidos no Brasil. A Bibliothèque Nationale 
de France preserva 278 obras de autores brasileiros exilados, incluindo primeiras edições de livros que 
só puderam ser publicados no Brasil após o fim da ditadura. Em Portugal, a Biblioteca Nacional possui 
um acervo especial com 892 documentos relacionados a escritores brasileiros que se exilaram no país 
durante o regime militar.
Este trabalho de preservação continua em expansão, com novos projetos sendo desenvolvidos. Em 
2022, foi iniciado o maior projeto de digitalização já realizado, com previsão de processar mais de 
200.000 documentos até 2025. O Programa Nacional de Preservação da Memória Literária conta com 
um orçamento de R$ 12 milhões para os próximos cinco anos, garantindo que estes importantes 
registros históricos permaneçam acessíveis para as futuras gerações.

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