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Como os escritores e intelectuais enfrentaram a ditadura? Como a literatura se tornou uma arma contra a ditadura? Entre 1964 e 1985, escritores e intelectuais transformaram a literatura em uma ferramenta de combate à ditadura. Lygia Fagundes Telles, em "As Meninas" (1973), retratou a vida de três jovens em São Paulo durante os anos de chumbo, usando metáforas sutis para criticar a repressão. Ivan Ângelo, com "A Festa" (1976), criou uma narrativa fragmentada que expôs a violência do regime através de histórias interligadas. Autores como Antonio Callado em "Quarup" (1967) e "Bar Don Juan" (1971) retrataram a guerrilha e a resistência armada, enquanto Osman Lins, através de "Avalovara" (1973), revolucionou a forma narrativa para burlar a censura. O jornal "Opinião", fundado em 1972, tornou-se um importante veículo de resistência intelectual, reunindo contribuições de escritores como Otto Maria Carpeaux e Antonio Candido. Quais artistas lideraram a resistência cultural? Entre os artistas mais ativos na resistência, Chico Buarque destacou-se com obras como "Calabar" (1973), censurada antes da estreia, e "Gota d'Água" (1975), uma adaptação de Medeia que denunciava a desigualdade social. Ariano Suassuna, através do Teatro Popular do Nordeste (1960-1974), encenou "O Auto da Compadecida" mais de 200 vezes, preservando a cultura popular mesmo sob vigilância. Cacaso, líder do movimento "poesia marginal", publicou obras mimeografadas como "Grupo Escolar" (1974) e "Na Corda Bamba" (1978). Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri enfrentaram a censura com a peça "Gota d'Água" no Teatro Ruth Escobar em São Paulo, que teve várias cenas cortadas mas permaneceu em cartaz por dois anos (1975-1977), atraindo mais de 500 mil espectadores. Como o regime perseguiu os intelectuais? A perseguição aos intelectuais intensificou-se após o AI-5 em dezembro de 1968. Plínio Marcos teve todas as suas 12 peças censuradas entre 1968 e 1975, incluindo "Navalha na Carne" e "Dois Perdidos numa Noite Suja". Marcelo Rubens Paiva, após publicar "Feliz Ano Velho" em 1982, foi intimado a prestar depoimento sobre o desaparecimento de seu pai, Rubens Paiva. Renato Tapajós foi preso em 1977 por "Em Câmara Lenta", romance que denunciava a tortura. Na USP, 69 professores foram aposentados compulsoriamente em 1969, incluindo Florestan Fernandes, Paulo Duarte e Caio Prado Júnior. O Decreto 477 de 1969 expulsou mais de 500 estudantes universitários e demitiu dezenas de professores entre 1969 e 1974. Para onde foram os escritores exilados? Clarice Lispector, mesmo não sendo explicitamente política, viveu entre 1969 e 1973 em Washington e Londres, onde escreveu "Água Viva", obra que refletia o silenciamento da época. João Cabral de Melo Neto, diplomata afastado em 1964 por suspeita de "subversão", serviu em exílio diplomático em Senegal e Honduras até 1968. Paulo Mendes Campos refugiou-se no Chile em 1970, onde colaborou com Pablo Neruda em traduções. Ferreira Gullar, exilado em Moscou, Buenos Aires e Lima entre 1971 e 1977, escreveu "Poema Sujo" em 1975, obra que circulou clandestinamente no Brasil em cópias mimeografadas. Em Paris, um grupo de escritores exilados, incluindo Mário Pedrosa e Antonio Callado, fundou em 1974 o "Comitê Brasileiro pela Anistia", que publicava regularmente denúncias sobre a situação brasileira em jornais europeus.